o que é psicologia

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5HYLVW G 3VLFRORJL G 8Q& YR Q S ZZZQHDGXQFQHWEUUHYLVWDSVLFRORJLD O que é a Psicologia? 1 Márcia Moraes 2 Resumo O artigo foi escrito para ser apresentado numa aula inaugural e tem o objetivo de apresentar uma discussão epistemológica acerca da definição da psicologia como ciência. Analisamos de modo positivo a dispersão no campo da psicologia, considerando como referenciais teóricos alguns trabalhos de Canguilhem e Foucault. Palavras-chave: Psicologia, Epistemologia, Ciência. What is Psychology? Abstract This paper was written to be presented in an opening class and has the purpose to present an epistemological discussion regarding the definition of psychology as a science. We take the dispersion in the field of psychology in a positive way, considering some works of Canguilhem and Foucault as our theoretical references. Keywords: Psychology, Epistemology, Science. Por que levantar essa questão? Para abordar este problema eu vou recorrer a um autor que eu gosto muito, Rubem Alves – um psicanalista que escreve sobre educação. Numa de suas crônicas este autor diz que os cozinheiros têm muito a ensinar aos professores. Porque o bom cozinheiro, diz ele, sabe que os banquetes não começam com a comida que é servida. Eles se iniciam com a fome. O verdadeiro cozinheiro é aquele que sabe a arte de produzir fome (Alves, 2003-a). Com essa história quero sublinhar o meu objetivo aqui hoje: não tenho a pretensão de responder de modo definitivo à pergunta que dá título a esta aula, mas antes fazer com que esta pergunta insista, fazer com que ela funcione como a fome da história do Rubem Alves. O que pretendo, portanto é levantar um problema, uma questão que nos leve a refletir sobre o que nós estamos fazendo, por que estamos aqui, todos nós, num curso de Psicologia e não em outro.

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O que é a Psicologia?1

Márcia Moraes2

Resumo

O artigo foi escrito para ser apresentado numa aula inaugural e tem o objetivo de apresentar uma discussãoepistemológica acerca da definição da psicologia como ciência. Analisamos de modo positivo a dispersão nocampo da psicologia, considerando como referenciais teóricos alguns trabalhos de Canguilhem e Foucault.

Palavras-chave: Psicologia, Epistemologia, Ciência.

What is Psychology?

Abstract

This paper was written to be presented in an opening class and has the purpose to present an epistemologicaldiscussion regarding the definition of psychology as a science. We take the dispersion in the field of psychologyin a positive way, considering some works of Canguilhem and Foucault as our theoretical references.

Keywords: Psychology, Epistemology, Science.

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Por que levantar essa questão? Para abordar esteproblema eu vou recorrer a um autor que eu gostomuito, Rubem Alves – um psicanalista queescreve sobre educação. Numa de suas crônicaseste autor diz que os cozinheiros têm muito aensinar aos professores. Porque o bom cozinheiro,diz ele, sabe que os banquetes não começam coma comida que é servida. Eles se iniciam com afome. O verdadeiro cozinheiro é aquele que sabe aarte de produzir fome (Alves, 2003-a).

Com essa história quero sublinhar o meu objetivoaqui hoje: não tenho a pretensão de responder demodo definitivo à pergunta que dá título a esta aula,mas antes fazer com que esta pergunta insista, fazercom que ela funcione como a fome da história doRubem Alves. O que pretendo, portanto é levantar umproblema, uma questão que nos leve a refletir sobre oque nós estamos fazendo, por que estamos aqui, todosnós, num curso de Psicologia e não em outro.

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Esta questão é para mim bastante intrigante. Senós observamos como a psicologia é inserida noexame do vestibular, um fato chama a atenção.Em alguns lugares a psicologia está ao lado dasciências humanas – as provas são entãodirecionadas para esta área. Em outros lugares apsicologia é um saber ligado à área médica e asprovas são outras, completamente diferentes.

Um outro fato, bastante atual, é também relevantepara o tema dessa aula. Como vocês sabem, oscursos de psicologia deverão passar em breve poruma reforma curricular. No governo passado, oMEC apresentou um documento chamadoDiretrizes curriculares para os cursos degraduação em psicologia. Esse documentoapresentava as novas bases curriculares a seremimplementadas em todos os cursos de graduaçãodo país. O documento proposto pelo MEC gerouuma forte reação da comunidade psi: osprofissionais psi recusavam a concepção depsicologia presente no documento. Há muitospontos polêmicos nessa história e vou selecionarapenas um destes pontos.

No documento apresentado pelo MEC, na parteque trata de justificar a pertinência das novasdiretrizes curriculares, os autores do documentoafirmam que a alteração curricular é fundamental“para coibir a banalização, a superficialidade e oanticientificismo que freqüentemente caracterizama abordagem aos processos psicológicos emimportantes espaços públicos, com claros reflexosno espaço acadêmico” (Feitosa, 1999, p. 80). Ora,neste trecho chama a atenção o fato de sernecessário coibir a banalização da psicologia. Umdos motivos que leva o MEC a pensar em novasbases curriculares diz respeito a um certoanticientificismo que atravessa a psicologia.Precisamos, ao que parece, marcar as fronteirasentre a psicologia e o senso comum.

Temos então que tentar entender o que épsicologia como ciência, suas relações com outrasáreas do saber, suas relações com o senso comum,o anticientificismo. O que interessa mostrar é quequando discutimos que tipo de profissionalqueremos formar temos que tomar uma posiçãoque é de natureza epistemológica, ou seja, temosque dizer – de um modo ou de outro – o quepensamos ser a psicologia.

Todas essas questões, a meu ver, colocam na ordemdo dia a discussão do tema a que nos propomos hoje:O que é a psicologia?

A psicologia como reflexão das contradições dohomem com ele mesmo

Num texto em que analisa a psicologia de 1850 a1950, Foucault (1990) levanta questões importantesquanto ao tema da cientificidade da psicologia e seuestatuto polêmico. Segundo Foucault, a psicologia doséculo XIX herdou do iluminismo a preocupação deencontrar no homem as mesmas leis que regem osfenômenos naturais. A psicologia então se ergueucomo um esforço metodológico tomado deempréstimo das ciências da natureza e se assentousobre dois postulados principais: em primeiro lugar,que a verdade do homem se esgotava em seu sernatural e, em segundo lugar, que o caminho de todoconhecimento científico devia passar peladeterminação de relações quantitativas, pelaconstrução de hipóteses e pela verificaçãoexperimental. Foucault salienta que até a metade doséculo XX a história da psicologia é a históriaparadoxal das contradições entre o projeto dereconhecer no homem as mesmas leis que regem anatureza e os postulados que norteiam a construção dapsicologia como ciência objetiva. Em outras palavras,com o intuito de mostrar que o homem era umaextensão da natureza, a psicologia ergueu-se a partirdos postulados de rigor, objetividade, neutralidade.No entanto, sua história foi marcada por sucessivosimpasses e dificuldades na execução desse projeto edaí decorre o caráter paradoxal e contraditório queatravessa a história da psicologia. A precisãomatemática e o rigor experimental encontravamlimites de aplicação no caso do saber psicológico.

A questão que importa ser ressaltada, não é retomar otema da inserção ou não do homem no domínio dasciências naturais, mas sim de tomar como fiocondutor para a invenção de um novo estilo de ciênciaos paradoxos enfrentados pela psicologia em seuprojeto de se estabelecer como ciência experimentaldo psiquismo. Isso significa dizer que os embates e osproblemas enfrentados pela psicologia para fazer dosujeito uma extensão da ordem natural são antes acondição para a invenção de um certo estilo deciência, que não se confunde com o modelo dasciências naturais no século XIX. Nesse sentido,Foucault (1990) registra que uma renovação radical

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da psicologia como ciência é uma tarefaincompleta a cumprir e que está na ordem do dia.

Foucault (1990) afirma que nos últimos 100 anosa psicologia estabeleceu relações novas com aprática: educação, medicina mental, organizaçãodos grupos. Essa prática tem se apresentado comoo solo de fundação racional e científico dapsicologia. Além disso, a psicologia se propõequestões oriundas dessas práticas: o problema doêxito ou do fracasso escolar, problema daadaptação do homem às suas condições detrabalho, as relações entre o doente e a sociedade.É interessante notar que, por esse laço constantecom a prática, pela reciprocidade de suas trocas, apsicologia no século XX se tornou semelhante atodas as ciências da natureza. Mas é preciso fazeruma ressalva, conforme adverte Foucault (1990).Enquanto as ciências naturais respondem apenaspelos problemas colocados pelas dificuldades daprática, seus fracassos temporários, as limitaçõesprovisórias de sua experiência, a psicologia, aocontrário, nasce no ponto em que a prática dohomem encontra sua própria contradição; noponto em que essa prática falha, erra. A psicologiado desenvolvimento nasceu como uma reflexãosobre as dificuldades do desenvolvimento; apsicologia da conduta, como uma análise dosdesajustes, aquela da memória, da consciência, dosentimento, do pensamento apareceu de iníciocomo uma psicologia do esquecimento, doinconsciente, das perturbações afetivas e dosproblemas do pensamento. Por isso, Foucault(1990) conclui que a psicologia contemporânea éuma reflexão das contradições do homem com elemesmo.

O que me parece importante é seguirmos a teseproposta no trabalho de Foucault (1990), isto é, osimpasses e contradições encontrados pelapsicologia para definir-se como ciência devem sertomados não como equívocos a serem superados,mas como positividades, como aquilo mesmo deque é feita a psicologia.

Então há na psicologia um campo problemáticoque nós estamos propondo considerar comopositivo. O que significa dizer isso?

Wundt e Canguilhem: a insistência doproblemático no saber psicológico

Para avançarmos nas reflexões sobre estas questõesconsidero dois autores como nossos aliados: de umlado, um autor clássico na história da psicologiachamado Wundt. E de outro lado, um autor tambémclássico na epistemologia, chamado Canguilhem.Estes dois autores são importantes para a nossareflexão porque, de modo diferente, ambos nospermitem pensar que há na psicologia um campoproblemático que deve ser tematizado. Ou seja, astensões e contradições que marcam a definição dapsicologia como ciência devem ser tomadas comofios condutores que nos conduzem a afirmação dapsicologia a partir das suas contradições.

No século XIX Wundt (apud Figueiredo, 1986)definiu a psicologia como ciência intermediária, istoé, uma disciplina entre outras disciplinas. Mas éimportante entendermos o sentido de intermediária.Não se trata para este autor de entender a psicologiacomo uma disciplina entre outras, porque afinal, isto épróprio de qualquer ciência. As ciências convivemumas com as outras e, em determinados momentos,várias disciplinas podem convergir para um mesmoponto. Quando Wundt (apud Figueiredo, 1986)aponta a psicologia como disciplina intermediária elepretende afirmá-la como sendo constituída no e peloentre. Wundt entendia (apud Figueiredo 1986) que apsicologia se constituía ao mesmo tempo por suasrelações com as ciências biológicas – nesse sentido, apsicologia era fisiológica, e por suas relações com asciências da cultura – nesse sentido, a psicologia eraetnopsicologia, psicologia social ou psicologia dospovos. A psicologia para definir-se deveria manterrelações tanto com as ciências biológicas quanto comas ciências da cultura. Esta tese é polêmica porque setrata de afirmar não que existem duas psicologias,mas de afirmar que a psicologia só se estabeleceatravés destas relações com outras disciplinas.

Os trabalhos de Canguilhem (1972, 1976, 1990),epistemológo francês, também nos indicam uma certamaneira de tratar como positividades as contradiçõesque estão na base da definição da psicologia comociência. Este autor dedicou boa parte de sua atividadeacadêmica a pesquisar a epistemologia das ciências davida. Ele apresenta uma tese interessante para nós.Ele faz uma pergunta semelhante a que levantamosaqui hoje, ele pergunta: o que é a vida? E mais ainda,

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a partir desta pergunta, ele avança e indaga: se háentre os vivos aqueles que são capazes deconhecer, temos que perguntar o que é o conhecerpara estes seres? Então, as características da vidasão também aquelas do conhecimento, porque oconhecer está, do ponto de vista deste autor,enraizado na vida.

Para este autor a vida é o que toleramonstruosidades. Isto é, a vida é a capacidade deerrar, de derivar. A vida é experimentação,experiência em todo o sentido. Para Canguilhem(1990) o que define a vida é a incessantecapacidade de questionar as normas e instituiroutras normas, sempre locais, provisórias eparciais. Assim, não é possível considerar onormal como algo exterior à história de umindivíduo. Isto é, o normal só é normal paraaquele indivíduo. E só é patológico aquilo queimpede a vida de diferir. Assim sendo, nem todaanomalia é patológica, porque nem toda anomaliaimpede a vida de derivar, de errar. O que éinteressante nesta tese é o estudo dessa deriva,desse campo problemático que faz a vida diferir.É nesse sentido, que o autor afirma que a vidatolera monstruosidade (Canguilhem, 1976). Avida tolera contradição, diferença. Viver não émais do que diferir. E se como dissemos acima, oconhecimento está enraizado na vida, é forçosoconcluir que o conhecer tolera a diferença. Isto é,o erro não é algo a ser expurgado do campo doconhecimento. O conhecimento – o científicoinclusive – só se produz através dos erros.Interessante notar que quando este autor investigao conhecimento científico ele aponta o erro comopróprio do pensamento. Dito de outro modo, opensamento ele mesmo está inserido na deriva davida.

Tanto Wundt (apud Figueiredo, 1986) quantoCanguilhem (1972, 1990) são autores que nospermitem pensar o que é a psicologia longe dequalquer estratégia purificadora que buscasseencontrar no rigor do método científico ou naestreiteza do objeto a definição última sobre o queé a psicologia. Tanto um quanto outro apontampara a possibili dade de pensarmos a psicologiacomo aquilo que se define através das relaçõescom outros saberes.

Dito de outro modo, podemos afirmar que apsicologia é o que tolera a diferença, isto é, apsicologia é o que se constitui através da dispersão,da interface com outros saberes. Não é que existammuitas psicologias, mas que a psicologia só existeatravés dessa dispersão. Este é o seu destino e a suapositividade.

Considerações Finais

Esta tese nos faz retomar o tema com quecomeçamos: e a formação em psicologia? Então comopodemos definir o profissional de psicologia? Onde ecomo ele se forma? Como vimos, no vestibular apsicologia ora está com as ciências biológicas, oracom as ciências humanas. As instituições acadêmicasconvivem mal com essa dispersão da psicologia.Somos organizados institucionalmente emcoordenações, depar-tamentos, sub-divisões sempremuito especializadas. E esta situação “entre” quecaracteriza a psicologia não casa bem com essemodelo universitário. Como enquadrar emdepartamentos, áreas e sub-áreas uma disciplina que éatravessada por outras, uma disciplina que, ao queparece, está sempre indo além dos limites dadisciplina?

Luis Claudio Figueiredo, professor da PUC de SãoPaulo, afirma que “para se manter viva e crescer apsicologia deve abrir-se para um pensamento e umaprática de pesquisa transdisciplinar, ou seja, para umpensamento capaz de circular, afetando e sendoafetado por outros saberes” (Figueiredo, 1995, p. 82).

E é o mesmo autor paulista quem pergunta: “Aonde,afinal, pode ir se formando um psicólogo?” E aexpressão ir se formando é intencional, serve paraassinalar o fato de que nunca estamos completamenteformados. O profissional de psicologia se forma noscursos de graduação, nos estágios supervisionados,nas atividades de pesquisa e extensão. Certamenteestes procedimentos acadêmicos são indispensáveis àformação do profissional. São necessários, mas nãosuficientes. Se levarmos a cabo o que dissemos hoje épreciso considerar que o profissional de psicologia seforma também através da literatura, das artes, dosestudos em filosofia. Tarefa para uma vida inteira.

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Para concluir eu gostaria de mais uma vez lembraro psicanalista Rubem Alves, o mesmo que nosajudou a começar esta aula. Ele conta a história doprofessor Pardal. É sabido que o “professor Pardalgostava muito do Huguinho, do Zezinho e doLuizinho e queria fazê-los felizes. Inventou,então, brinquedos que os fariam felizes parasempre, brinquedos que davam certo sempre: umapipa que voava sempre, um peão que rodavasempre e um taco de beisebol que acertava semprena bola. Os três patinhos ficaram felicíssimos aoreceber os presentes e se puseram logo a brincarcom seus brinquedos que funcionavam sempre.Mas a alegria durou pouco. Veio logo o enfado.

Porque não existe nada mais sem graça que umbrinquedo que dá certo sempre. Brinquedo, para serbrinquedo, tem de ser um desafio. Um brinquedo éum objeto que, olhando para mim, me diz: ‘Veja sevocê pode comigo!’ . O brinquedo me põe à prova.Testa as minhas habili dades (Alves, 2003-b).” Euperguntava no início: por que estamos aqui, todosnós, num curso de psicologia e não em outro? Talvezporque para nós todos – veteranos e calouros – apsicologia seja isso, um brinquedo que desafia ainteligência.

Desejo a todos um semestre letivo cheio desafios,porque sem eles a inteligência não funciona.

Referências Bibliográficas

Alves, R. (2003-a). A arte de produzir fome. Disponível na World Wide Web<http://www.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/r_alves/index.htm>.

Alves, R. (2003-b). É brincando que se aprende. Disponível na World Wide Web<http://www.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/r_alves/index.htm>.

Canguilhem, G. (1972). O que é a Psicologia? Epistemologia 2. Revista Tempo Brasileiro, nº 30/31, 104-123.

Canguilhem, G. (1976). El Conocimiento de la Vida. Barcelona, Ed. Angrama.

Canguilhem, G. (1990). O Normal e o Patológico. Rio de Janeiro, Forense Universitária.

Feitosa, M. A. G. et al. (1999). Notícia: Proposta de Diretrizes Curriculares para Curso de Graduação emPsicologia e Projeto de Resolução para sua Regulamentação. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 15, 1, 79-86.

Figueiredo, L. C. (1992). Psicologia. Uma Introdução. São Paulo: Educ.

Figueiredo, L. C. (1995). Revisitando as psicologias. São Paulo, Educ.

Figueiredo, L. C. W. (1986). Wundt e alguns impasses permanentes da Psicologia: uma proposta deinterpretação. História da Psicologia, Cadernos da PUC - SP,23, 25-49.

Foucault, M. (1990). La Psychologie de 1850 a 1950. Revue Internationale de Philosophie, nº 173, 2, 159-176.

Recebido em: 29/09/2003

Aceito em: 27/02/2004