o que é história

4
2.1. O que é história? Além de tudo, a educação da sensibilidade histórica nem sempre está sozinha em questão. Ocorre de, em uma linha dada, o conhecimento do presente ser diretamente ainda mais importante para a compreensão do passado. (BLOCH, 2001, p. 66) 1 . Antes mesmo de comentar algo sobre a pergunta se a Filosofia é só história, precisa-se adentrar no conceito de história e seu papel como disciplina e legado, que a ela se espera. Logo, o que é história? O que leva a alguém passar pelo passado e trazê-lo à tona no presente? Que reflexão se quer fazer com os dados do passado? As repetidas análises que se tem feito com os dados do passado revelam um processo delicado através do qual o homem procura adentrar na história de um determinado tempo, estudá-lo com afinco, sem levar para esse estudo qualquer tipo de influência do tempo de hoje, ou seja, explorar a história no contexto da época, respeitando a cultura e o tempo do mesmo. Entretanto, é válido salientar que, apesar de seus esforços, o historiador é filho de seu tempo, e a história assim o faz, ou seja, o que leva o historiador a investigar no passado são questões levantadas no seu presente, questões esta que são dotadas do lugar de fala do mesmo, ou como nos mostra Jenkins 2 , O historiador tem a capacidade de articular o passado e o presente e seu interesses políticos, culturais e sociais vem interferir no 1 BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício de Historiador ; RJ: Editora ZAHAR, 2001. 2 JENKINS, Keith. A História repensada; SP, Contexto, 2001.

Upload: jeffersonalbino

Post on 25-Dec-2015

218 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Uma visão filosófica

TRANSCRIPT

Page 1: O Que é História

2.1. O que é história?

Além de tudo, a educação da sensibilidade histórica nem sempre está sozinha em questão. Ocorre de, em uma linha dada, o conhecimento do presente ser diretamente ainda mais importante para a compreensão do passado. (BLOCH, 2001, p. 66)1.

Antes mesmo de comentar algo sobre a pergunta se a Filosofia é só história,

precisa-se adentrar no conceito de história e seu papel como disciplina e legado, que a

ela se espera. Logo, o que é história? O que leva a alguém passar pelo passado e trazê-lo

à tona no presente? Que reflexão se quer fazer com os dados do passado?

As repetidas análises que se tem feito com os dados do passado revelam um

processo delicado através do qual o homem procura adentrar na história de um

determinado tempo, estudá-lo com afinco, sem levar para esse estudo qualquer tipo de

influência do tempo de hoje, ou seja, explorar a história no contexto da época,

respeitando a cultura e o tempo do mesmo. Entretanto, é válido salientar que, apesar de

seus esforços, o historiador é filho de seu tempo, e a história assim o faz, ou seja, o que

leva o historiador a investigar no passado são questões levantadas no seu presente,

questões esta que são dotadas do lugar de fala do mesmo, ou como nos mostra Jenkins2,

O historiador tem a capacidade de articular o passado e o presente e seu interesses

políticos, culturais e sociais vem interferir no seu objeto de estudo, o que mostra que a

história pode ser um uso de poder.

De fato, sem história não se tem como compreender o presente. Nenhuma é sem

a outra, pois a história influencia o comportamento do tempo presente, inclusive,

fazendo compreender a realidade de mundo hoje. Assim dizia Marc Bloch, em sua obra

Apologia da História, acerca da relação do passado com o presente:

Do mesmo modo, essa solidariedade das épocas tem tanta força que entre elas os vínculos de inteligibilidade são verdadeiramente de sentido duplo. A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez não seja menos vão esgotar-se em compreender o passado se nada se sabe do presente. (Idem: p. 66).

Entende-se, também, que indivíduos antes de agora, notoriamente fizeram

ocorrer o processo contínuo e ininterrupto de acontecimentos que ora abalaram, ora

surpreenderam a realidade humana histórica. Portanto, são as condições de

1  BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício de Historiador; RJ: Editora ZAHAR, 2001.

2 JENKINS, Keith. A História repensada; SP, Contexto, 2001.

Page 2: O Que é História

comportamentos dadas diante de um mundo que perpassa na história com a experiência

que se terá como influência para o entendimento de hoje.

Na verdade, conscientemente ou não, é sempre as nossas experiências cotidianas que, para nuançá-las onde se deve, atribuímos matizes novos, em última análise os elementos, que nos servem para reconstruir o passado: os próprios nomes que usamos a fim de caracterizar os estados de alma desaparecidos, as formas sociais evanescidas, que sentindo teriam para nós se não houvéssemos antes visto homens viverem? Vale mais [cem vezes] substituir essa impregnação instintiva por uma observação voluntária e controlada. (Idem: p. 66).

Além desses grandes acontecimentos, Carlos Ginzburg3 nos ensinou que os

pequenos acontecimentos, intitulados por ele de Micro – História, também são agentes

transformadores das sociedades, pois desta forma, ele busca quebrar a perspectiva da

história política que lê como história os grandes acontecimentos. Em seu livro, O queijo

e os vermes, Ginzburg busca através de um processo de inquisição, de um moleiro,

mostrar e explicar toda a macro estrutura desse sistema inquisitorial. Em suma, o que

podemos perceber é que todo e qualquer objeto histórico contribui para a análise do

presente.

Que ‘olhar’ se deve ter para com as circunstâncias do tempo passado nesse caso?

Primeiramente, respeitando-se o contexto daquela época, pois o pensamento, como bem

se sabe, é contínuo e passível de mudanças nos comportamentos e ações de alguma

causa, ou seja, evitar o anacronismo, pois o pensamento do homem dito contemporâneo

não é o mesmo dos seus antepassados.

Em suma, o contexto de um determinado tempo, manipulado pela cultura, pela

ideologia do momento e por outros fatores, transforma o pensamento e influencia-o no

contexto presente, assim como a reciproca também é verdadeira. Mas, já se sabe que

todo indicativo acerca da investigação histórica se dá de forma indireta, quando se

observa restritamente papel do historiador. Assim dizia Marc Bloch, fazendo essa

análise:

O historiador, por definição, está na impossibilidade de ele próprio constatar os fatos que estuda (...). Das eras que nos precederam, só poderíamos [portanto] falar segundo testemunhas. Estamos a esse respeito, na situação do investigador que se esforça para reconstruir um crime ao qual não assistiu (...). Em suma, em contraste com o conhecimento do presente, o do passado seria necessariamente ‘indireto. (Idem: p. 69).

3 GINZBURG, Carlo: O Queijo e os Vermes: o cotidiano de um moleiro perseguido pela inquisição. SP, Companhia das Letras, 2006.

Page 3: O Que é História

Portanto, através do estudo histórico, obtém-se um conjunto de informações

sobre processos e fatos ocorridos no passado que contribuem para a compreensão do

tempo presente. A história pode relatar a transformação do homem no tempo, como

dizia Bloch. Por isso, investigar o passado é dar passos efetivos que favoreçam o campo

do conhecimento e entendimento, referentes a um lugar, uma época, um povo ou um

indivíduo específico.

Referências Bibliográficas:

BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício de Historiador; RJ: Editora ZAHAR, 2001.

GINZBURG, Carlo: O Queijo e os Vermes: o cotidiano de um moleiro perseguido pela inquisição. SP, Companhia das Letras, 2006: p.9-11.

JENKINS, Keith. A História repensada; SP, Contexto, 2001: p. 47- 69.