o que e desenvolvimento local

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    Captulo 2O QUE DESENVOLVIMENTO LOCAL?

    Enigma?FranciscodeOliveira, emnente economsta brasileiro, discute otema emquesto, emartigo com ttulo bastante sugestivo: "Aproxi-

    maes ao enigma: o que quer dizer Desenvolvimento Local?"Afirma o autor que buscar aetimologia da palavra desenvolver(fazer progresso) poderia ser um bom camnho para o incio deuma discusso sobre o tema, mas talvez fossemelhor analisar apa-lavra desenvolvimento, em seu uso corrente.Na dcada passada, o termo estevevinculado idia dedesen-volvimento econmco, mas gradativamente essesentido foi sendosubstitudo pela noo de crescimento. A adoo do indicador dedesenvolvimento humano pelo Pnud para medir o bem-estar e aqualidade devida nospases uma tentativa qualitativa derecupe-rar o sentido original do termo desenvolver.Sendo assim, "Desenvolvimento Local" poderia ser entendidocomo "desenvolvimento humano" emlugares menores deumpas?Isso nos aproximaria de nosso enigma "o que desenvolvimentolocal", mas no seria o suficiente (Oliveira, 2002).O que seria, ento, o "no-Desenvolvimento Local"? Oliveira37

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    38 CAPo2 - O QUE DESENVOLVIMENTO LOCAL?(2002) entende quearesposta pergunta o subdesenvolvimento,o que se encontra em pases pobres. A primeira implicao destaresposta que "o Desenvolvimento Local" no um elo de umacadeia dedesenvolvimento total; asegunda adeque" ouconce-bido como alternativa ou reproduzir aforma estrutural do desen-volvimento" (Oliveira, 2002).A outra dimenso apontada por Francisco de Oliveira para secompreender o que o Desenvolvimento Local acidadania.Ainda que o bem-estar euma boa qualidade devida devam serdireitos dos cidados, sedesconsiderarmos como cidados osqueno possuam osmeios materiais para obteno debem-estar equa-lidade devida, reduziramos estadimenso tica dacidadania aummero "economcismo inJi.ividualista". O fato de no terem conquis-tado os direitos sociais no impede que os sujeitos sociais sigamexercendo seus direitos civisepolticos. Issocidadania, o que tam-bm inclui osdireitos ambientais (Oliveira, 2002).Sendo assim, reduzir o Desenvolvimento Local amera quan-tificao de reservas debem-estar equalidade devida de um deter-mnado lugar nos impede deaquilatar toda adimenso eacomple-xidade dacidadania.Oliveira (2002) afirma ainda que "anoo da cidadania quedeve orientar a tentativa demedir os processos e reservas de bem-estar equalidadede vida serefereao indivduo autnomo, crtico ereflexivo, muit

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    40 CAPo2 - O QUE DESENVOLVIMENTO LOCAL?(diversidade), o que deveser respeitado e, sobretudo, considerado,no momento desetomar decises sobre o futuro dessas comunida-des locais".Sendo assim, adjetivaro "Desenvolvimento Local 11 como "inte-grado" e"sustentvel", mais do que uma figura de linguagem umarecomendao estratgica, ou seja, que acapacidade de combinar earticular sujeitos eorganizaes, semcomprometer o futuro dasnovasgeraes, seja imperativa, para que um lugar encontre seu desenvol-vimento fundado embases ticas.No obstante, como dizem Fortin & Prevost (1995) "tudo temumnome epossui qualidades edefeitos conhecidos erelacionadosprincipalmente comapersonalidade dos atores".Conseqentemen-te, uma iniciativa de Dtenvolvimento Local, Integrado e Susten-tvel (Dlis), no umprocesso mecnico, mas trata-se deum fen-meno humano, parte de uma coletividade viva, dinmca, aberta,simultaneamente, ao contato esolidariedade com outras coletivi-dades humanas em diferentes escalas (Santos & Rodrigues, 2002).Na dcada final do sculo XX, quando os efeitos da ltimaglobalizao se intensificam, adiscusso sobre o desenvolvimentoadquire muitas vezes conotaes polarizadas entre centralizao edescentralizao, entre o pblico eo privado ou entre o nacional eo local (Dowbor, 2002).Nossa persl2-ectiva se assentaria, portanto, em uma crtica racional idade econmca que sempre inspirou aspolticas dedesen-volvimento esua falta desubordinao aos valores eprincpios quelevam em conta acidadania, a induso social eo usufruto dos re-sultados do desenvolvimento que dizem respeito aamplas parcelasda populao. possvel estimular o Desenvolvimento Local?Para isso, preciso buscar conceitos e prticas que superem otradicional desenho depolticas locais. Tal desenho ,muitas vezes,centralizado, burocrtico, setorial edesarticulado; comaes sobre-

    CAP.2 - O QUE DESENVOLVIMENTO LOCAL? 41postas s de outras polticas; fechado para alianas enegociaes;rgido, sem foco; baseado emumpadro deofertas; assistencialista;que no levam em conta osativos humanos esociais jexistentes,depende unicamente de pressupostos institucionais eno sepreo-cupa commonit~ri~ e.avaliao. (De Franco,}~~~

    Emcontraposiao. inovar sena formular pohtlcas locais descen-tralizadas, integradas econvergentes; intersetbrias, promovidas pormeio de alianas; flexveis, baseadas na necessidade, naoferta enademanda, emvez debasear-se emumpadro deofertas, assistencia-listaecompensatrio; baseadas emdiagnsticos decarncias epoten-cialidades eno s nas necessidades sentidas; que realizem inversesem capacidades permanentes, em vez de tratar apenas de realizargastos para oferecer recursos ecoisas; que mobilizem eproporcio-nemnovos recursos;que tenham mecanismos decontrole social peloscidados beneficirios das polticas eque tenham monitoramento eavaliao (De Franco, 2004).Esseconjunto decaractersticas queconstituem umdesenho ino-vador depolticas locais, integradas, preocupadas com asfuturas ge-raese, intencionalmente, dedicadas alevarprogresso aumdeterm-nado territrio poderia receber o nome de Desenvolvimento Local;De Franco, 2004/ sintetiza o que lhe parece essencial em umaestratgia deDesenvolvimento Local Integrado eSustentvel (Dlis):1. Contribuir para mobilizar acriatividade ea inovao;2. Despertar o esprito empreendedor individual ecoletivo;3. Estimular acooperao eo "protagonismo policntrico" (ouasmltiplas diferenas);4. Propiciar acaptao eamultiplicao de recursos endgenos

    para solucionar problemas locais;5. Horizontalizar as relaes entre grupos, pessoas eorganiza-es;6. Estimular o surgimento eo funcionamento de redes eatoressociais;7. Inaugurar novas institucionalidades e novos processos par-ticipativos;

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    42 CAP.2 - O QUE DESENVOLVIMENTO LOCAL?8. Democratizar decises eprocedimentos;9. Incluir novos atores na esferapblica eampliar tal esfera;10.Empoderar aspopulaes eestimular ainteligncia coletiva

    dascomunidades.Muitosdessespontos apresentados como estratgicos paraoDlisjso aplicados no mbito da sade. Desde aconcepo de "Aten-o Primria na Sade", propiciam-se "captao emultiplicao derecursos endgenos para solucionar osproblemas locais" ebuscam-se"novos processos participativos". Essabusca amplia-se por meiodo movimento de Promoo daSade que "estimula o surgimentoeofuncionamento deredes deatores sociais" eosempreendimentosparticipativos e intersetoriais como o "Municpio Saudvel" e as"Escolas Promotoras deSatrde" que propem "horizontalizar asre-laes entre grupos, pessoas e organizaes". para "empoderar aspopulaes eestimular ainteligncia coletiva das comunidades".Mascomo conectar oacmulo conceitual eoperacional do cam-po da sade auma estratgia deDesenvolvimento Local? Osprxi-mos captulos problematizam alguns comnhos para esta interco-nexo.

    . . .

    Captulo 3EXPERINCIAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL

    Nadcada de1990, com aexpanso daglobalizao econm-ca, muitas polticas de descentralizao foram geradas edissem-nou-se grande quantidade deexperincias comoselo "Desenvolvi-mento Local", mas comgrande diversidade entre elas [Francia et al,2002).A Fundao Getlio Vargas de So Paulo, por exemplo, contacom cinco ml iniciativas de desenvolvimento, gesto pblica eci-dadania dediversos nveis degoverno edeorganizaes indgenasregistradas emseu banco deexperincias, desde 1996, no endereohttp://inovando.fgvsp.br. Essas experincias vo desde as que tmpressupostos participativos em uma cidade industrial atum pro-grama de incentivo para mulheres empreendedoras na capital deum estado brasileiro, passando por um projeto decultivo alternati-vo depalmto emuma aldeia indgena.

    Essarealidade levou Silveira et ai (2002) acunhar aexpresso"experimentalismo difuso" como oretrato detal ecloso deiniciati-vas. Se,por um lado, o fatopoderia indicar um empirismo desorde-nado, por outro, propicia o desenvolvimento decategorias dean-lises que aprofundem aleitura eindiquem potencial idades para asdiferentes alternativas de ao, pois os limtes e as possibilidades43