o projeto executivo de arquitetura na gestão de projetos · fonte: instituto de pós graduação,...

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1 O Projeto Executivo de Arquitetura (PEA) na Gestão de Projetos dezembro/2014 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 O Projeto Executivo de Arquitetura (PEA) na Gestão de Projetos. Leandro Joaquim Silva Andrade [email protected] MBA Gestão de Projetos em Engenharias e Arquitetura Instituto de Pós-Graduação e Graduação IPOG Brasília, DF, 14 de Julho de 2014 Resumo A necessidade de captação de consumidores durante o período de crise nos anos 90 fez com que as construtoras começassem a se movimentar em busca de novos métodos de melhoria da qualidade de seus empreendimentos. A partir das primeiras pesquisas ficou comprovado que um dos maiores vilões era o setor de projetos, e em pouco tempo surgiu a tendência de redução dos problemas do setor. Dessa necessidade surgiu uma série de propostas e soluções para o setor de projetos, sendo uma delas o Projeto Executivo de Arquitetura - PEA, uma ferramenta para as construtoras alcançarem novas metas. Nas últimas duas décadas, novos métodos foram desenvolvidos, novas tecnologias surgiram, e o mercado reagiu bem. Seguindo essa linha de raciocínio, abaixo analisamos o PEA como ferramenta na Gestão de Projetos. O resultado é satisfatório, o PEA é uma ótima ferramenta de Gestão de Projetos e proporciona vários outros benefícios. É preciso conscientizar o mercado que a utilização do mesmo não só é necessária, mas também é uma ótima oportunidade de reduzir custos e melhorar a qualidade dos empreendimentos. Palavras chave: Planejamento. Integração. Interdisciplinaridade. Compatibilização. Execução. 1. Os anos 90 Os anos 90 começaram com instabilidade, com o confisco de poupanças pelo presidente Fernando Collor, que mais tarde levariam milhares de jovens, mobilizados por uma forte campanha de mídia, a criarem o movimento "Caras Pintadas" e pedirem seu impeachment. (WIKIPÉDIA, 2014). A necessidade de captação de consumidores durante o período de crise nos anos 90, fez com que as construtoras, motivadas por um melhor desempenho global, tanto técnico, quanto financeiro, começassem a se movimentar buscando novos métodos de melhoria da qualidade de seus empreendimentos. A partir das primeiras pesquisas ficou comprovado que um dos maiores vilões era o setor de projetos, e em pouco tempo surgiu a tendência de redução dos problemas vivenciados em obra, desde o início, ainda na fase de projeto. E dessa necessidade surge uma série de propostas e soluções, sendo uma delas o Projeto Executivo de Arquitetura - PEA, uma ferramenta para as construtoras alcançarem novas metas. Algumas questões tais como a falta de coordenação, a falta de compatibilização entre as disciplinas envolvidas no

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O Projeto Executivo de Arquitetura (PEA) na Gestão de Projetos dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

O Projeto Executivo de Arquitetura (PEA) na Gestão de Projetos.

Leandro Joaquim Silva Andrade – [email protected]

MBA Gestão de Projetos em Engenharias e Arquitetura

Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG

Brasília, DF, 14 de Julho de 2014

Resumo

A necessidade de captação de consumidores durante o período de crise nos anos 90 fez com

que as construtoras começassem a se movimentar em busca de novos métodos de melhoria da

qualidade de seus empreendimentos. A partir das primeiras pesquisas ficou comprovado que

um dos maiores vilões era o setor de projetos, e em pouco tempo surgiu a tendência de

redução dos problemas do setor. Dessa necessidade surgiu uma série de propostas e soluções

para o setor de projetos, sendo uma delas o Projeto Executivo de Arquitetura - PEA, uma

ferramenta para as construtoras alcançarem novas metas. Nas últimas duas décadas, novos

métodos foram desenvolvidos, novas tecnologias surgiram, e o mercado reagiu bem.

Seguindo essa linha de raciocínio, abaixo analisamos o PEA como ferramenta na Gestão de

Projetos. O resultado é satisfatório, o PEA é uma ótima ferramenta de Gestão de Projetos e

proporciona vários outros benefícios. É preciso conscientizar o mercado que a utilização do

mesmo não só é necessária, mas também é uma ótima oportunidade de reduzir custos e

melhorar a qualidade dos empreendimentos.

Palavras chave: Planejamento. Integração. Interdisciplinaridade. Compatibilização.

Execução.

1. Os anos 90

“Os anos 90 começaram com instabilidade, com o confisco de poupanças pelo presidente

Fernando Collor, que mais tarde levariam milhares de jovens, mobilizados por uma forte

campanha de mídia, a criarem o movimento "Caras Pintadas" e pedirem seu impeachment.”

(WIKIPÉDIA, 2014).

A necessidade de captação de consumidores durante o período de crise nos anos 90, fez com

que as construtoras, motivadas por um melhor desempenho global, tanto técnico, quanto

financeiro, começassem a se movimentar buscando novos métodos de melhoria da qualidade

de seus empreendimentos.

A partir das primeiras pesquisas ficou comprovado que um dos maiores vilões era o setor de

projetos, e em pouco tempo surgiu a tendência de redução dos problemas vivenciados em

obra, desde o início, ainda na fase de projeto. E dessa necessidade surge uma série de

propostas e soluções, sendo uma delas o Projeto Executivo de Arquitetura - PEA, uma

ferramenta para as construtoras alcançarem novas metas. Algumas questões tais como a falta

de coordenação, a falta de compatibilização entre as disciplinas envolvidas no

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empreendimento, a desatualização dos processos tecnológicos, até então encaradas como fatos

isolados, começaram a ter uma atenção especial por parte dos Stakeholders envolvidos no

projeto.

Os metódos de desenvolvimento do PEA evoluiram nas duas últimas décadas, novas

tecnologias surgiram, e o mercado reagiu bem. Abaixo você verá como se encontra o cenário

brasileiro atual.

2. Cenário brasileiro atual

Em 2008 veio a crise imobiliária norte-americana, em 2009 veio a ampliação do PAC, e em

2014 a Copa do Mundo no Brasil. Então eu lhe pergunto: e agora?

O setor de construção civil esteve no centro da crise norte-americana que

eclodiu no fim de 2008, mas a recessão econômica mundial causou pouco

impacto sobre planos de infraestrutura dos países em desenvolvimento, como

é percebido na manutenção dos grandes projetos, de modo que as empresas

que atuam no mercado internacional não foram prejudicadas.

No Brasil, os efeitos dessa crise foram sentidos no setor em decorrência da

redução do crédito privado. O país adotou várias medidas anticíclicas que

contribuíram para a recuperação da economia no terceiro trimestre de 2009.

Entre essas medidas, estão a desoneração tributária de alguns materiais de

construção, a expansão do crédito para habitação, notadamente o Programa

Minha Casa, Minha Vida, e o aumento de recursos para o Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC). (BNDES, 2009)

Nesse cenário uma parcela das empresas de incorporação imobiliária que abriram capital no

período de 2006 - 2008, aproveitaram o momento favorável de captação de recursos em bolsa

de valores. Em 2010 veio a injeção de investimentos pré Copa do Mundo. E em 2014 a copa

do mundo. Agora o mercado encontra-se desconfiado, mas as previsões não são assim tão

ruins. Existe um déficit habitacional no país, que apesar de vir reduzindo nos últimos anos,

ainda abre um grande mercado como mostra o Gráfico 1 e a Tabela 1.

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Gráfico 1 – Déficit Habitacional

Fonte: IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios –

PNAD 2007 / 2012.

Tabela 1 – Déficit Habitacional

Fonte: IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios –

PNAD 2007 / 2012.

O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, fez uma previsão de alta na

demanda por financiamentos para a compra da casa própria nos próximos anos, cujo valor

deve ficar entre 10% e 15% do Produto Interno Bruto (PIB), soma das riquezas geradas no

país. “Nós saímos da média 1,6% de participação em relação ao PIB para os atuais 8,6%,

destacou”. (EBC, 2014).

Os investimentos da União em financiamentos imobiliários, de acordo com o MP (2014), a

partir do Programa de Aceleração do Crescimento 2 – PAC 2, do Governo Federal, prevê no

Orçamento Geral da União, R$ 41,7 bilhões para o setor.

Nesse cenário a briga na busca por consumidores fica mais difícil, mas não definem os

tempos atuais como ruins. Há um grande campo para aqueles que querem investir em

ferramentas de gestão para melhoria da qualidade de seus produtos. Os Projetos Executivos de

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Arquitetura – PEA, podem servir como uma excelente ferramenta de Gestão de Projetos, na

busca por um produto de alta qualidade, entregue no tempo previsto, com custos mais baixos,

e ambientalmente responsável.

3. Hipótese

A hipótese é que o PEA também funcione como ferramenta uma excelente de Gestão de

Projetos, reduza o custo final da obra, melhore a qualidade do empreendimento, reduza riscos,

ajude na ampliação de mercado, e diminua o impacto ambiental.

Existem riscos comuns no mercado como atrasos no cronograma, erros de quantificação de

materiais, dentre outros. O principal deles, onde o PEA atua, é na incompatibilidade entre as

diversas disciplinas envolvidas na obra.

Esse último citado é um tanto quanto sério, pois recorrentemente acarreta grandes perdas de

investimento, atrasos de cronograma, altos índices de desperdício de materiais, e

consequentemente a perda de consumidores, em todas as escalas de empreendimentos.

Esses riscos podem ser mitigados utilizando o PEA, e no decorrer deste artigo daremos uma

atenção maior a este assunto, conversando um pouco mais sobre interdisciplinaridade.

4. Objetivo

O objetivo desse trabalho é analisar as vantagens de se utilizar o Projeto Executivo de

Arquitetura como ferramenta na Gestão de Projetos, e mostrar ao público interessado as

vantagens de se investir nessa ferramenta.

Conscientizar os investidores que a utilização do mesmo não só é necessária, mas também é

uma ótima oportunidade de reduzir custos e melhorar a qualidade de seus empreendimentos.

5. O que é o Projeto Executivo de Arquitetura - PEA

Entende-se como Projeto Executivo o conjunto de documentos técnicos que serão utilizados

para execução de um serviço, ou para a fabricação de um produto final.

A definição de Projeto Executivo, “segundo a lei 8.666 de 21 de junho de 1993 do Brasil, é a

seguinte: conjunto de elementos necessários e suficientes à execução completa da obra, de

acordo com as normas pertinentes da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)”.

(Wikipédia, 2014)

Mas para entendermos melhor o PEA primeiramente é necessário entender o que é Projeto

Básico de Arquitetura – PBA, e Projeto Legal de Arquitetura - PLA.

O Projeto Básico de Arquitetura – PBA, é formado por desenhos técnicos da edificação, e

expõe propostas para as soluções dos problemas apresentados ao profissional de arquitetura.

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Soluções como, a definição do partido adotado, os sistemas estruturais adotados, a cobertura,

e demais itens construtivos, que possibilitam a clara compreensão da obra a ser executada por

parte do contratante. O mesmo também servirá de base para a elaboração dos projetos

complementares de engenharia, estimar o custo aproximado da obra, elaborar o plano de

comunicação, etc.

Em geral os projetos complementares são elaborados por terceiros, e basicamente falando são

eles: Projeto Estrutural, Projeto Elétrico, Projeto de Telecomunicações e Projeto Hidro-

Sanitário. “Podem ainda existir projetos mais especializados, como: Prevenção e Combate a

Incêndios [...] Descargas Atmosféricas, Fundações Especiais, Cabeamento Estruturado, [...]

Estudos de Impacto Ambiental, entre outros...” (MELO, 2014)

O Projeto Legal de Arquitetura – PLA, pode, ou não ser contratado junto ao escritório de

arquitetura. Seu papel em um empreendimento imobiliário é servir como documento técnico

legal para registro em cartório, aprovação junto aos órgãos competentes, investidores, etc. Em

qualquer instância, sendo ela federal, estadual, ou municipal. Esse projeto é formatado

segundo a legislação vigente local, exigida por cada um dos órgãos fiscalizadores. O projeto

legal é composto por uma documentação técnica com o mínimo de informações necessárias

para a aprovação e legalização do projeto. O conteúdo técnico do objeto contratado

normalmente é formado pelo Memorial Descritivo do Projeto, e folhas padrão NBR contendo

desenhos técnicos da edificação, e informações que o profissional julgar serem necessários

para devida aprovação do mesmo.

Sabendo agora o que é Projeto Básico de Arquitetura – PBA, e Projeto Legal de Arquitetura –

PLA, vamos ao tão esperado:

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Projeto Executivo de Arquitetura – PEA, é uma complementação ao PBA, onde são

produzidos documentos técnicos necessários à melhor compreensão dos elementos

construtivos do projeto, e para sua execução em obra, fabricação ou montagem. Neste

documentos constam todas as informações referentes a estrutura, alvenaria, acabamentos,

cores, texturas, equipamentos, peças diversas, instalações e o seu funcionamento, metodologia

de execução, produção, ou montagem. Ou seja, Todas as informações pormenorizadas

referentes a todos os elementos construtivos da obra. O conteúdo técnico do PEA

normalmente é formado pelo Memorial Descritivo do Projeto, Registros, e Folhas padrão

NBR contendo desenhos técnicos da edificação, e demais informações que o profissional

julgar serem necessárias para devida execução do mesmo.

O PEA também funciona como uma excelente ferramenta de Gestão de Projetos, atividades

como a organização dos pacotes de trabalho na formatação do escopo do projeto,

dimensionamento do cronograma, estimativa de custos, quantificação de materiais, definição

de sistemas de controle de qualidade, identificação e mitigação de riscos; tornam-se mais

fáceis utilizando o projeto como ferramenta não só de execução, mas também como

ferramenta de gestão. Ao decorrer deste artigo você compreenderá melhor o PEA, e as

vantagens de utilizá-lo como ferramenta de gestão em um empreendimento imobiliário.

6. Interdisciplinaridade.

Para dar início a esse assunto primeiramente é preciso falar um pouco sobre Gestão da

Integração.

A Gestão da Integração está no centro do gerenciamento de um projeto e interliga todas as

disciplinas, e áreas de gestão envolvidas no projeto, como mostra a Figura 3.

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Figura 3 – Gestão da Integração

Fonte: Instituto de Pós Graduação, Apostila de Gestão da Qualidade (Montes, 2013).

Segundo o PMBOK (2008) “...inclui os processos e as atividades necessárias para identificar,

definir, combinar, unificar e coordenar os vários processos e atividades”, dentro dos grupos de

processos de gerenciamento de projetos, como mostra a Figura 1.

Figura 1 – Grupos de Processos

Fonte: Instituto de Pós Graduação, Apostila de Gestão da Integração (BOTASSI, 2013).

Seguindo essa sequência dos grupos de processos, nós temos as fazes de um projeto segundo

a metodologia do IPA (Independent Project Analysis), como mostra a Figura 2.

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Figura 2 – Fases do Projeto.

Fonte: Instituto de Pós Graduação, Apostila de Gestão da Integração (BOTASSI, 2013).

O PEA está ligado diretamente à Fase 5, onde é desenvolvido, e utilizado no planejamento e

na execução em obra.

Durante o seu desenvolvimento, utilizando-se a Gestão da Integração como ferramenta para

gerenciamento das diversas disciplinas envolvidas em um projeto (interdisciplinaridade), são

reunidos todos os Projetos Complementares, e partindo do princípio todos os desenhos da

arquitetura são revisados e incorporam a localização e a dimensão exatas dos elementos

construtivos como pilares, vigas, lajes, instalações, esquadrias, etc. Esse documento contém

todas as informações necessárias para a perfeita execução e interpretação da arquitetura na

obra.

Outros problemas também são identificados e repassados para os profissionais responsáveis

pelos projetos complementares para que sejam revisados. Problemas como a interferência de

um projeto no outro, inviabilidade parcial de execução do projeto, etc.

7. Vantagens da utilização do PEA como ferramenta na Gestão de Projetos:

Em vários processos do planejamento e execução da obra o PEA cumpre o papel de

ferramenta de gestão, mas nem sempre é visto, ou é utilizado como se deveria. Abaixo as

vantagens de se utilizar o PEA.

7.1 Na Gestão do Escopo

Na Gestão do Escopo, o processo de elaboração da Estrutura Analítica do Projeto – EAP,

faz a decomposição hierárquica orientada dos processos que contemplam todas as entregas do

trabalho a serem executas pela equipe do projeto. Os principais documentos gerados por essa

etapa é o Plano de Gerenciamento do Escopo e o Dicionário da EAP.

Sabendo-se que o PEA é um conjunto de documentos técnicos detalhado, pormenorizado, em

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todas as escalas, necessário para a compreensão dos elementos construtivos, para a fabricação

de peças, e para a execução dos serviços. Podemos dizer então que o PEA é uma ferramenta

técnica que auxilia na elaboração do Dicionário da EAP.

Com o PEA em mãos, o processo de identificação dos pacotes de trabalho fica mais fácil,

pois o mesmo contempla em seu conteúdo, seja nas folhas de desenho técnico ou no memorial

descritivo, todas as etapas da obra, a forma de execução dos serviços (pacotes de trabalho), os

materiais utilizados (especificações), e os detalhes técnicos construtivos de todos os

elementos da obra. Contribuindo para economia de tempo, e para a diminuição de erros

ocasionados pela falta de informações.

7.2 Na Gestão do Tempo

O tempo de execução de uma obra ou serviço é estimado a partir do sequenciamento das

atividades que serão executadas no projeto, do tempo de duração de cada atividade (pacote de

trabalho), e da estimativa dos recursos necessários. O principal documento gerado por essa

etapa é o Cronograma.

Entendendo-se que o principal documento de entrada desta fase é o Dicionário da EAP do

projeto, que será utilizado como base para o sequenciamento das atividades, e elaboração dos

documentos. Podemos dizer então que os benefícios da utilização do PEA durante a

elaboração do Dicionário da EAP do projeto, afeta diretamente a estimativa de tempo para a

execução do projeto.

Outro ponto que podemos citar é a redução de imprevistos causados por problemas projetuais

durante a execução da obra, através da compatibilização entre as disciplinas de projeto. O

PEA, também beneficia o controle do cronograma.

7.3 Na Gestão de Suprimentos e Aquisições

Segundo o PMBOK (2008), “O gerenciamento das aquisições do projeto inclui os processos

necessários para comprar ou adquirir produtos, serviços, [...] externos à equipe do projeto. [...]

Abrange os processos de gerenciamento de contratos e controle de mudanças...”. Também

abrange a administração de todos os contratos emitidos, compras e de materiais, e contratação

de serviços externos à equipe de projetos. O principal documento de projeto gerado por esse

setor é o Plano de Gerenciamento das Aquisições.

Tendo em mãos o Cronograma e a Estimativa de Recursos necessários para a execução das

atividades, o PEA auxilia na compra de materiais, na contratação de serviços, etc. Pois, em

seu conteúdo constam todas as especificações técnicas, detalhes construtivos, métodos de

execução dos serviços (memorial descritivo), e várias outras informações que explicam como

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os processos deverão ser desenvolvidos. Considerando-se sempre que o PEA é um

documento necessário para a compreensão dos processos que serão executados.

7.4 Na Gestão da Qualidade

“Com a globalização eminente e intensa dos mercados no fim do Século XX surge a

necessidade de criação de normas internacionais, visando fortalecer as relações empresariais,

e melhorar a qualidade dos produtos oferecidos” (MONTES, 2014).

Em 1987 a International Organization for Standardization - ISSO (Organização Internacional

para Padronização) adotou a norma britânica BS 5750 e dela lança a primeira versão da ISO

9000:

“Esta norma especifica requisitos para o desenvolvimento, implantação e melhoria de um

sistema de gestão da qualidade a empresas de qualquer natureza, independentemente do tipo,

porte ou produto que forneçam.” (MONTES, 2014).

Figura 4 – Grupos de Processos

Fonte: Instituto de Pós Graduação, Apostila de Gestão da Qualidade (MONTES, 2013).

Com base nesta normativa as empresas desenvolveram métodos de controle de qualidade

correntes através do projeto por ex. Seis Sigma, Lean Seis Sigma, Desdobramento da

função qualidade. CMMI, dentre outros.

Em um projeto o documento gerenciado por esse setor de é o Plano de Gerenciamento da

Qualidade, e engloba, solicitações de mudanças, atualizações dos ativos de processos

organizacionais, atualização do plano de gerenciamento do projeto, e atualizações dos

documentos do projeto.

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Na Gestão da Qualidade, a utilização do PEA juntamente com os métodos de controle citados

acima, possibilita por exemplo, o estabelecimento de requisitos mínimos para os materiais que

serão empregados na obra, os tipos de testes que serão empregados no programa de

amostragem, os métodos de medição, etc.

Outro ponto que o PEA pode ser útil na Gestão da Qualidade e que podemos analisar é o

seguinte. Sabendo-se que o PEA é um conjunto de documentos técnicos detalhados,

pormenorizado, em todas as escalas, necessário para a compreensão dos elementos

construtivos, e para a execução dos serviços. Podemos dizer que o mesmo reduz a

probabilidade de erros ocasionados pela falta de informações técnicas, ou pela interferência

de uma disciplina em outra (projetos complementares). O PEA também orienta os

profissionais envolvidos na execução dos serviços, sendo assim uma ótima ferramenta de

Gestão de Qualidade para o projeto.

7.5 Na Redução de Custos

O custo de um projeto, também chamado de investimento capital, “...são medidas monetárias

dos sacrifícios financeiros com os quais uma pessoa, uma organização ou um governo tem de

arcar a fim de atingir seus objetivos” (SOHLER, 2012:21).

“Esses objetivos consideram a utilização de um produto ou serviço qualquer na obtenção de

outros bens ou serviços” (SOHLER, 2012:21).

Nos processos contábeis de um empreendimento imobiliário, custo é a expressão monetária

dos insumos e consumos ocorridos para a produção e venda de um determinado produto ou

serviço.

A Gestão de Custos ocorre da seguinte forma:

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Figura 5 – Gestão de Custos

Fonte: Instituto de Pós Graduação, Apostila de Gestão de Custos (SOHLER, 2012:40)

Como ferramenta o PEA atua na estimativa de custos, e na orçamentação do

empreendimento.

“Fazer uma estimativa é prever o futuro! Mas o futuro é cheio de incertezas e não deveria ser

surpresa quando uma estimativa der errado. Estimativas falhas não são boas, pois elas

orientam decisões de investimentos (SOHLER, 2012:20). Projetos são únicos, e entende-los

assim, os tornam mais difíceis de estimá-los.

O desconhecimento de tecnologias que podem impactar diretamente o custo de um projeto,

como o PEA por exemplo, é um erro clássico e pode custar caro.

Lembrando-nos que o PEA está presente também em outras áreas do projeto através da

Gestão Integrada, erros ou a falta de informações nos processos de gestão das outras áreas

afetam diretamente o custo do projeto, por exemplo:

Um erro clássico no mercado que afeta diretamente o custo do projeto está na Gestão do

Escopo do Projeto, ocasionado pela falta de informações no processo de desenvolvimento do

Dicionário da EAP. Erros de quantidade, e tamanho, etc.

Outro erro clássico é fazer estimativas sem especificações completas. Especificações de

materiais e métodos que serão utilizados nos processos de execução dos serviços.

Informações do PEA muitas das vezes desconhecidas ou julgadas como supérfluas.

Imprevistos causados por problemas projetuais durante a execução da obra, também afetam

diretamente os custo final do empreendimento. Problemas como a interferência de um projeto

complementar em outro, são clássicos e podem facilmente ser mitigados através da

compatibilização entre as diversas disciplinas envolvidas no projeto, papel que o PEA

cumpre com grande desenvoltura.

Os erros e as vantagens de se contratar o PEA são muitos, por isso vamos seguir adiante.

De acordo com o PMI, a margem de erro de uma estimativa depende da fase do projeto,

quanto mais completas forem as informações sobre um projeto, menor é a margem de erro na

estimativa, como mostra a Figura 6. ICEC (International Cost Engineering Council):

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Figura 6 – Fases do Projeto e Margens de Erro

Fonte: Instituto de Pós Graduação, Apostila de Gestão de Custos (SOHLER, 2012:59)

Supervalorizar a estimativa, aumentar o tempo e o custo previsto para suprir a falta de

informações no projeto, visando a mitigação de riscos de estouro de prazos e custos não é

legítimo nem produtivo, e pode inviabilizar a execução do projeto.

7.6 Na Gestão de Riscos

Cada projeto é único e a Gestão de Riscos de um projeto é tão complexa e tão variável, que

daria para desenvolver um trabalho somente sobre este assunto. Vamos abordar alguns riscos

comuns no planejamento e na execução de obras, e os benefícios da utilização do PEA na

mitigação dos mesmos. Os principais riscos mitigados pelo PEA são:

Risco de falhas no Plano de Gerenciamento do Escopo e no Dicionário da EAP,

ocasionados pela falta de informações técnicas projetuais da arquitetura.

Risco de falhas na estimativa de tempo do Cronograma, ocasionado por falhas no

Dicionário da EAP utilizado.

Risco de patologias que afetam a Qualidade do empreendimento, ocasionado pela

falta de especificações técnicas dos materiais empregados na obra.

Risco de imprevistos durante a execução, que geram Custos Extras e tomam tempo.

Imprevistos como a interferência de um projeto complementar em outro, a falta de

informações pormenorizadas dos acabamentos (especificações), e a forma como os

processos devem ser executados (incluso no Memorial Descritivo do PEA).

7.7 Outras vantagens do PEA:

Lembrando-nos que o PEA é um documento técnico, existem outras vantagens diversas não

relacionadas até aqui que o mesmo proporciona em obra, como por exemplo:

Auxilia e orienta os colaboradores na compreensão do que será executado;

Auxilia os gerentes na fiscalização do que foi executado;

Auxilia fornecedores no levantamento quantitativo e nas diretrizes para a fabricação

de seus produtos (pré-moldados, esquadrias, guarda-corpos, etc.)

Auxilia na identificação dos pontos onde os projetos complementares sofreram

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interferência e foram revisados;

Além de todas as outras vantagens acima relacionadas citadas no decorrer deste trabalho.

8 Perfil ambiental do PEA:

Durante o desenvolvimento do PEA, são reunidos todos os Projetos Complementares, e

partindo do princípio, todos os desenhos da arquitetura são revisados e incorporam a posição

e dimensão exatas dos elementos construtivos dos Projetos Complementares, como pilares,

vigas, lajes, instalações, esquadrias, etc.). Esse documento conterá todas as informações

necessárias para a perfeita execução e interpretação da arquitetura na obra.

A compatibilização dos Projetos Complementares com a Arquitetura identifica interferências

construtivas entre eles, que podem inviabilizar a execução total ou parcial do projeto. O

famoso “Imprevisto de Obra”.

O risco de imprevistos durante a execução geram Custos Extras, tomam Tempo, e o

principal: gera Resíduos. O PEA atua diretamente na redução desse risco, reduzindo a

quantidade de resíduos gerados durante a obra, e cumprindo seu papel ambiental.

O PEA é uma ótima ferramenta para a redução de resíduos da construção civil, em um Plano

de Gerenciamento de Resíduos - PGR.

9 Conclusão:

A hipótese que o PEA também funcione como uma excelente ferramenta de gestão, motivou

a análise das vantagens de se utilizar o mesmo na Gestão de Projetos. Cruzamos conceitos

básicos de Gestão de Projetos com o conteúdo que compõe o PEA, e com base nessas

análises chegamos à conclusão que o PEA funciona como uma excelente ferramenta, e

proporciona vários outros benefícios. É preciso cconscientizar o mercado que a utilização do

mesmo não só é necessária, mas também é uma ótima oportunidade de reduzir custos e

melhorar a qualidade dos empreendimentos.

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