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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO O Programa Nacional de Alimentação Escolar e sua Contribuição no Desenvolvimento do Projeto de Assentamento Emiliano Zapata, em Uberlândia-MG JOÃO GEORGE MOREIRA Uberlândia-MG 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIAINSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

GRADUAÇÃO EM AGRONOMIATRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

O Programa Nacional de Alimentação Escolar e sua Contribuição noDesenvolvimento do Projeto de Assentamento Emiliano Zapata, em

Uberlândia-MG

JOÃO GEORGE MOREIRA

Uberlândia-MG2015

JOÃO GEORGE MOREIRA

O Programa Nacional de Alimentação Escolar e sua Contribuição noDesenvolvimento do Projeto de Assentamento Emiliano Zapata, em

Uberlândia-MG

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado aoInstituto de Ciências Agrárias, como requisito àobtenção do título de Engenheiro Agrônomo – soborientação do Prof. Dr. João Cleps Júnior.

Uberlândia-MG2015

Banca Examinadora

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado em 18 de dezembro de 2015 e aprovado pelaseguinte banca examinadora:

Prof. Dr. João Cleps Júnior – Orientador

Msc. Bruno Maia – Prefeitura Municipal de Uberlândia

Rafael Resende Finzi – UFU

AGRADECIMENTOS

A meu pai, João de Paulo, e à minha mãe (in memoriam), Valdeci, pelo apoio, amparo,

amor, paciência, tolerância, sustento e educação.

A meu orientador, João, pela amizade, respeito, atenção, contribuição, disponibilidade

e paciência.

Ao Filipe Inácio, que não sabe, mas foi o responsável por tirar minhas dúvidas acerca

dos assuntos que me interessavam estudar.

Aos meus amigos do PET, que contribuíram grandemente para meu aprendizado, e que

são grandes amigos, especialmente, Domingos, Thiago, Finzi, Felipe, Thays e Luciana.

À Andressa, pelo grande incentivo e amor.

Ao Bruno, por ser um grande amigo e um grande professor.

Ao Murilo, pelas contribuições sempre oportunas.

À Cidinha, pelos apontamentos imprescindíveis.

Ao Manezinho e ao Juarez, pela acolhida e pelas contribuições valiosas.

Às famílias do Projeto de Assentamento Emiliano Zapata, pela acolhida sempre

amigável, que é a marca registrada de sua natureza amistosa e batalhadora.

RESUMO

O processo de Reforma Agrária adotado no Brasil ainda oferece muitos questionamentos,

sendo que renda e qualidade de vida são essenciais na vida dos assentados. As políticas

públicas devem promover mais justiça social no campo. Este trabalho foi realizado com o

intuito de promover uma maior compreensão acerca dos efeitos e das possibilidades do

Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) na inclusão socioeconômica e na

dinâmica produtiva dos agricultores familiares do Projeto de Assentamento Emiliano Zapata.

Foram feitos levantamentos bibliográficos e discussões sobre as problemáticas de estudo, tais

como as políticas públicas, a agricultura familiar e a Reforma Agrária. Realizaram-se também

trabalhos de campo, com o intuito de analisar as impressões dos agricultores acerca do PNAE,

bem como coletar as impressões de gestores públicos dessa política. O programa tem se

mostrado relevante na promoção da qualidade de vida dos assentados, incremento de renda e

inserção socioeconômica. No âmbito produtivo, promoveu uma profissionalização maior na

produção olerícola dos assentados, preservando a diversidade de alimentos produzidos. Ainda

há grande necessidade de se oferecer assistência técnica em frequência e qualidade adequadas,

bem como de aprimorar o diálogo entre poder público e agricultores, de forma a tornar o

processo fluido, sem empecilhos burocráticos excessivos. Por fim, deve-se desenvolver uma

cadeia de qualificação intersetorial, a fim de garantir a oferta de alimentos saudáveis e de alta

qualidade aos estudantes da rede de ensino pública de Uberlândia.

Palavras-chave: Reforma Agrária. Políticas Públicas. PNAE. Assistência Técnica. Triângulo

Mineiro. Projeto de Assentamento Emiliano Zapata. Uberlândia-MG.

ABSTRACT

The process of Agrarian Reform adopted in Brazil still has many questions, and income and

quality of life are essential in the life of the settlers. Public policies should promote social

justice in the field. This work was carried out in order to promote greater understanding of the

effects and possibilities of the National School Feeding Programme (PNAE) on socio-

economic inclusion and productive dynamics of family farmers of the Settlement Project

Emiliano Zapata. They were made literature surveys and discussions on the study of issues

such as public policy, family farming and agrarian reform. They also conducted field work in

order to analyze the views of farmers about the PNAE and collect the impressions of public

managers of this policy. The program has been shown to be important in promoting the

quality of life of the settlers, income growth and socio-economic integration. In the

production area, has promoted greater professionalism in vegetable crop production of the

settlers, preserving the diversity of food produced. There is still great need to provide

technical assistance in appropriate frequency and quality and to improve the dialogue between

government and farmers, in order to make the process fluid without excessive bureaucratic

obstacles. Finally, one should develop a chain of inter-sectoral qualifications in order to

ensure the provision of healthy food and high quality students from the public school system

of Uberlândia.

Keywords: agrarian reform. Public policy. PNAE. Technical assistance. Mineiro Triangle.

Settlement Project Emiliano Zapata. Uberlândia-MG.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Produtos contratados para fornecimento pela ACAMPRA ao PNAE no municípiode Uberlândia-MG....................................................................................................................34

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Renda média antes e após o ingresso no PNAE....................................................27Gráfico 2 – Outras fontes de renda dos agricultores do PNAE no PA Emiliano Zapata..........28Gráfico 3 – Uso da renda obtida com o PNAE pelos agricultores do PA Emiliano Zapata..…31Gráfico 4 – Cultivos agrícolas feitos antes e depois do ingresso no PNAE pelos agricultoresdo PA Emiliano Zapata.............................................................................................................33Gráfico 5 – Impressões dos agricultores acerca de como é definido os cultivos a seremproduzidos para o PNAE..........................................................................................................35Gráfico 6 – Sugestões de melhorias ao PNAE dadas pelos agricultores e suas frequências....38

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Proporção de estabelecimentos rurais, área total e pessoal ocupado, entreestabelecimentos familiares e não familiares, de acordo com a Lei 11.326 de 24 de julho de2006...........................................................................................................................................15

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 – Uberlândia: Assentamentos Rurais (1998-2012)………………………………….23Mapa 2 – Uberlândia: Assentamento Emiliano Zapata............................................................24

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Foto 1 – Motocultivador obtido de Investimento Proveniente da Renda do PNAE.................31Foto 2 – Motocultivador adquirido com o Pronaf Mais Alimentos onde as parcelas dofinanciamento serão pagas com a renda do PNAE...................................................................32Foto 3 – Tomate tutorado produzido no PA Emiliano Zapata...................................................35

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACAMPRA – Associação Camponesa de Produção da Reforma Agrária

Ater – Assistência Técnica e Extensão Rural

CAAF – Central de Abastecimento da Agricultura Familiar

CIEPS-UFU – Centro de Incubação de Empreendimentos Populares Solidários da

Universidade Federal de Uberlândia

DAP – Declaração de Aptidão ao Pronaf

EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário

PA – Projeto de Assentamento

PAA – Programa de Aquisição de Alimentos

PMU – Prefeitura Municipal de Uberlândia

PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar

POLOCENTRO – Programa Para o Desenvolvimento do Cerrado

PRODECER – Programa Nipo-Brasileiro Para o Desenvolvimento do Cerrado

Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

UFU – Universidade Federal de Uberlândia

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................10

2. REFERENCIAL TEÓRICO..............................................................................................14

3. METODOLOGIA...............................................................................................................21

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................25

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................40

6. REFERÊNCIAS.................................................................................................................42

ANEXOS.................................................................................................................................46

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1. INTRODUÇÃO

O contexto atual da agricultura brasileira, bem como seus conflitos, está intimamente

ligado ao processo histórico construído ao longo dos séculos de colonização e consolidação

do poder no Brasil. Nesse sentido, entender como se deu a construção do território brasileiro,

pode elucidar os motivos que levaram o campo a se tornar um espaço de conflito e tensão,

bem como um foco de exclusão social.

A tradição de favorecimento do latifúndio remonta à lei de terras de 1850, que instituiu

a aquisição de terra mediante compra, não reconhecendo a pequena propriedade. Essa lógica

só se fortaleceu até o fim do Império, bem como durante República Velha, seja pelo

coronelismo, onde o poder permanecia nas mãos dos latifundiários, pela via política e pela

propriedade da terra, seja pela construção do pacote tecnológico que foi se desenvolvendo ao

longo do início do século XX, culminando com a “Revolução Verde”.

A partir da segunda metade do século XX, houve grande incremento tecnológico na

agricultura, que possibilitou aumento da produtividade dos cultivos, atendendo à preocupação

com a produção de alimentos para uma população crescente. Entretanto, ao mesmo tempo,

promoveu a exclusão dos agricultores que não foram capazes de competir com esse sistema

grande aporte de insumos à propriedade rural, devido aos altos custos de produção e alta

necessidade de investimento. Por outro lado, garantiu uma fatia ainda inexplorada de mercado

para as grandes corporações, constituindo de um monopólio maior, onde os pacotes

tecnológicos possibilitam um ganho exponencial dessas empresas com a agricultura.

As consequências desse sistema foram e são sentidas atualmente, com a crescente

redução da população e dos empregos no campo, com o crescimento desordenado da

população urbana, com o aumento da concentração de terra, marcada pelo monocultivo, pela

degradação ambiental e pela exclusão social, especialmente de agricultores familiares.

Mesmo sendo um setor tradicionalmente negligenciado, agricultura familiar mostra-se

extremamente importante em vários aspectos no Brasil. Nela, ocorre a geração da maioria dos

empregos no campo, o fornecimento de alimentos para abastecimento interno, preservação da

cultura e saberes populares, em um cenário onde vige a agroexportação, a vinculação da

produção de alimentos ao capital globalizado e a concentração de terras. Ao longo do último

século, viu-se o campesinato se erguer várias vezes, na luta por Reforma Agrária e condições

de vida adequadas no campo.

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O modelo de Reforma Agrária adotado a partir da redemocratização do Brasil foi o de

assentamentos rurais em áreas de conflito. Esse modelo, altamente questionável, tem-se

demonstrado ineficaz tanto na promoção de Reforma Agrária, quanto na inclusão social dos

agricultores familiares.

Considerando o contexto histórico da questão agrária no Brasil, é possível identificar a

necessidade de se trabalhar de maneira diversa com os diferentes tipos de agricultores. O

agricultor familiar assentado é fruto de um processo de recrudescimento das desigualdades

sociais no campo, proveniente da luta pela garantia do trabalho na terra, direito que deveria

ser garantido a todos, visto estar muito claro na Constituição Federal de 1988, no Art. 184:

“Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel

rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em

títulos da dívida agrária”.

Entretanto, mesmo com o acesso à terra para trabalhar, as dificuldades do assentado se

acumulam, visto ser necessário que o agricultor se integre à dinâmica do mercado, para

alcançar remuneração pelos seus produtos. Aí encontra-se um dos grandes gargalos da

produção nos assentamentos. Logo após receber a posse da terra, o agricultor se vê na

obrigação de produzir, entretanto, o incentivo é pequeno, e como geralmente ele não possui

capital, precisa se ocupar com outros empregos, para garantir o sustento da família. O

caminho é longo até conseguir a autonomia de sustento com a terra. Mesmo após essa

conquista, o escoamento da produção depende muito de feiras e vendas diretas, que não

asseguram um faturamento adequado.

Dessa forma, foram criadas algumas políticas direcionadas ao agricultor familiar, de

forma a buscar integrá-lo na concorrência do mercado. Em 1996, com o decreto nº 1.946, de

28 de junho, implementa-se o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar). Isso possibilitará o acesso a crédito e propiciará o surgimento de outras políticas de

fortalecimento da agricultura familiar. Em 1999, foi criado o Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA), que será o organizador da agricultura familiar perante o governo, e também

tratará das questões de uma suposta reforma agrária.

Neste trabalho, estudar-se-á o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE),

que consiste numa estruturação moderna de um processo que começou na década de 1950,

onde havia a preocupação com o fornecimento de alimentos aos estudantes das escolas

públicas, inicialmente denominado de Merenda Escolar. Posteriormente, houve um período

onde o programa esteve centralizado no governo federal, sendo a responsabilidade

posteriormente transferida a estados e municípios. Atualmente, existe uma cláusula presente

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na Medida Provisória n° 2.178, de 28/6/2001, que impõe aos estados e municípios a

investirem um mínimo de 30% dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação, na aquisição de alimentos produzidos pela agricultura

familiar.

Com vistas a esse contexto, busca-se entender, se essa política se apresenta efetiva na

sua proposta, de incluir econômica e socialmente os agricultores familiares, bem como qual

influência elas exercem na sua dinâmica produtiva e na definição das técnicas agrícolas

adotadas.

Como objetivo geral, o presente estudo busca avaliar se o PNAE possibilita a inclusão

socioeconômica dos agricultores familiares do Assentamento Emiliano Zapata, localizado no

município de Uberlândia-MG, e em que qualidade e quantidade ocorre essa inclusão.

Analisar-se-á quais os problemas que possivelmente dificultam uma maior efetividade desse

programa e as possíveis implicações técnicas e logísticas decorrentes da participação dos

agricultores no mesmo.

De maneira específica, o trabalho também se dedica a verificar se o programa influi na

maneira com que os assentados conduzem seus cultivos, considerando aspectos técnicos e

logísticos; analisar se essas políticas possibilitam algum complemento efetivo de assistência

técnica e extensão rural (Ater), por parte dos executores regionais de Ater (EMATER,

universidades, Prefeitura Municipal, empresas contratadas) e verificar se há fatores que

limitam o alcance e a efetividade dessa política, sejam ambientais, socioeconômicos,

estruturais, ou humanos, por parte dos próprios assentados.

Considerando a estrutura própria de operação do PNAE, pretende-se com esse trabalho

verificar se a participação dos agricultores familiares assentados no programa prejudica sua

autonomia frente à definição produtiva de cultivos. Também pretende-se verificar se a

dedicação produtiva exclusiva ao programa é capaz de garantir ao agricultor geração de renda

suficiente para o atendimento das demandas da família.

Para atender à proposta de trabalho, esse trabalho será dividido em quatro sessões.

Na primeira, será apresentado e discutido o Referencial Teórico.

Na segunda, será apresentada a metodologia, bem como o material utilizado.

Na terceira, os resultados obtidos, na qual serão demonstrados e confrontados com

outros trabalhos de mesma temática, promovendo uma discussão.

Na quarta, serão apresentadas as considerações finais.

Esse estudo mostra-se relevante, visto que a realidade de exclusão socioeconômica dos

agricultores familiares assentados é evidente, levando inclusive a ser questionada a

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viabilidade da criação de novos Projetos de Assentamentos. O PNAE vem se consolidando

como uma política de apoio e incentivo ao setor, possibilitando maior integração do assentado

ao mercado, e vem sendo operado ao longo de mais de uma década, devendo ser avaliado e

estudado, sob a ótica da gestão pública e, principalmente, sob a ótica do público-alvo, os

agricultores, com vistas ao seu aprimoramento e ajuste à realidade própria dos mesmos.

14

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Para se referir ao agricultor que possui pequena área, própria ou não, que cultiva seus

alimentos, principalmente para atender as necessidades familiares, comercializando o

excedente, com mão-de-obra majoritariamente familiar, existem algumas nomenclaturas:

agricultor familiar, camponês, pequeno produtor etc. Existem muitas discussões acerca da

conceituação do agricultor familiar.

Com o passar do tempo, houve a adoção da nomenclatura de agricultor familiar, visto

que as políticas públicas foram criadas com o intuito de integrar o mesmo ao mercado.

Fernandes (2001), se referindo aos estudiosos que adotam a terminologia “agricultura

familiar”, observam que o agricultor familiar se diferencia do camponês pelo maior uso de

recursos técnicos modernos e integração ao mercado capitalista. Dessa forma, o camponês

pode ser considerado agricultor familiar, mas o contrário nem sempre é verdade, ou seja, o

agricultor familiar nem sempre é um camponês. Essa construção terminológica encerra

determinada força teórico-política, que ele considera semelhante ao uso do termo “agricultura

patronal” adotado para tratar da agricultura capitalista.

Abramovay (1990) explora a definição de “agricultura familiar”, levando em

consideração a ação das políticas públicas desenvolvidas pelo Estado na integração ao

mercado e na incorporação de tecnologias pelo agricultor familiar. A adoção de uma ou outra

nomenclatura traz em si uma discussão acerca do protagonismo e autonomia do público

estudado. Este trabalho analisa as políticas públicas que servem para a inclusão do agricultor

ao mercado e, para efeitos de conceituação, o presente trabalho considera como agricultor

familiar a definição apresentada no Art. 3º, incisos I a IV, da Lei 11.326 de 24 de julho de

2006:

Art. 3o Para os efeitos desta Lei, considera-se agricultor familiar e empreendedorfamiliar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo,simultaneamente, aos seguintes requisitos:I - Não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;II - Utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividadeseconômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;III - Tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econômicasdo seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida pelo PoderExecutivo;IV - Dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

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O Quadro 1 demonstra a proporção de estabelecimentos agrícolas segundo esta lei, e

evidencia a relevância da agricultura familiar no cenário agrícola brasileiro, sendo o grupo

majoritário em número de estabelecimentos e de pessoal ocupado, apesar de abranger menor

área.

Quadro 1 - Proporção de estabelecimentos rurais, área total e pessoal ocupado, entreestabelecimentos familiares e não familiares, de acordo com a Lei 11.326 de 24 de julho

de 2006

Total de

estabelecimentosÁrea total (ha)

Pessoal ocupado no

estabelecimento

Total 5.175.489 329.941.393 16.567.544

Agricultura familiar - Lei 11.326 4.367.902 80.250.453 12.322.225

Não familiar 807.587 249.690.940 4.245.319

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006.Organização: MOREIRA, J.G. 2015.

Apesar desta opção pela nivelação socioeconômica e produtiva do agricultor, visto não

se ocupar com uma análise política mais profunda do grupo envolvido, não é possível ignorar

a importância da luta pela terra na manutenção e sobrevivência desse segmento, sendo que

essa luta é fator de manutenção da existência do agricultor familiar assentado.

Na discussão acerca do contexto de exclusão social e territorial no campo, Gadelha

(1989) mostra que a Lei de terras de 1850 foi um marco extremamente relevante, pois fixaria

o valor da terra aos posseiros, vinculando o acesso à terra à riqueza, restringindo a existência

dessas pequenas áreas, com dificuldades de sair da clandestinidade, e mantendo a estrutura

fundiária predominante, de grandes áreas.

A tradição de favorecimento do latifúndio, em detrimento à produção familiar e de

subsistência só se fortaleceu até o fim do Império, bem como durante República Velha, seja

pelo coronelismo, onde o poder permanecia nas mãos dos latifundiários, pela via política e

principalmente pela propriedade e acumulação da terra (LEAL, 1948), seja pela construção do

pacote tecnológico que foi se desenvolvendo até a metade do século XX, culminando com a

“Revolução Verde”.

A Revolução Verde trouxe como slogan o esforço pelo crescimento na produção de

alimentos, mediante o incremento tecnológico no campo, afim de acabar com a fome que

assolava a população crescente. Relativo à Revolução Verde, Andrades e Ganimi (2007)

ressaltam que para entender esses reais motivos, é necessário observar-se que o processo de

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modernização da agricultura não ocorreu simplesmente em decorrência do desenvolvimento

técnico e científico do campo, mas, principalmente, para permitir que a agricultura também

entrasse na gama de empreendimentos altamente rentáveis ao capital das grandes corporações.

Isso se comprovou ao notar-se que o problema da segurança alimentar, ou, em outras palavras,

a existência da fome, permanece vivo, mesmo depois desse incremento produtivo. Ao longo

das últimas décadas, outras ideias foram acrescentadas ao conceito de segurança alimentar,

além da garantia da produção e fornecimento suficientes, como o abastecimento e a segurança

nutricional, entretanto, ainda não foi cumprido o pretensioso propósito da “Revolução Verde”,

de proteger o mundo da fome.

Assim, organizações exportadores do grande capital, como Rockefeller e Ford, viram

na inclusão do excedente de produtos destinados à indústria bélica, após a Segunda Grande

Guerra, um caminho promissor de lucro na agricultura (ZAMBERLAN E FRONCHET,

2001). Indústrias de químicos passaram a oferecer produtos voltados à promoção de maiores

produtividades, como os agrotóxicos e fertilizantes minerais e sintéticos, além da busca pela

apropriação de fatias de mercado ainda não exploradas, como a venda de sementes

melhoradas (ROSA, 1998). Todos esses fatores culminam para a constituição de um

monopólio maior, onde os pacotes tecnológicos possibilitam um ganho exponencial dessas

empresas com a agricultura. Esse ganho não resulta em fortalecimento da Segurança e

Soberania Alimentares no país, visto que a dependência ao pacote tecnológico tem tornado o

Brasil um país altamente dependente das tecnologias das multinacionais, sendo incapaz até

mesmo de constituir uma indústria agrícola interna, mantendo-se como um foco de

fornecimento externo, num país ainda com problemas relacionados à fome e à subserviência

econômica.

Garantidos os aspectos tecnológicos, providenciaram-se também os aspectos técnicos e

culturais, onde os técnicos e agrônomos formados nas escolas brasileiras desempenharam o

papel de porta-vozes do pacote tecnológico, com o apelo ideológico da modernização, da

transformação do “lavrador” em “empresário rural”. Arruda (2003) mostra que, para garantir

essa formação, instituições e universidades, como a Universidade Federal de Viçosa,

contribuíram como polos de importação dessas tecnologias, com parcerias feitas com os

Estados Unidos.

Conjuntamente ao incremento tecnológico e ideológico, houve esforço político para a

viabilização da Revolução Verde no Brasil. Salim (1986) mostra que programas como o

POLOCENTRO e o PRODECER tiveram influência no Triângulo Mineiro, proporcionando

um grande desenvolvimento agrícola em uma região antes considerada infértil. Entretanto,

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esse desenvolvimento apresenta em sua base fortes contrastes, visto ter sido direcionado

apenas aos produtores com médias e grandes áreas e maior poder aquisitivo (MELO, 2005).

Além disso, a região tornou-se fortemente ligada ao agronegócio, perpetuando o modelo

focado no latifúndio e na agroexportação.

Guanzirolli (2006) contribui para a compreensão do processo de formação e as

consequências da aplicação das políticas públicas no meio rural brasileiro. Assim, quando

questiona o fato de o desenvolvimento agrícola não ter propiciado desenvolvimento rural, ele

reforça os questionamentos apresentados anteriormente acerca dos reais objetivos da

Revolução Verde, e discute a necessidade de políticas de combate à pobreza e

desenvolvimento rural territorial. Nesse sentido, o desenvolvimento de políticas que

reconheçam as especificidades regionais é marcante em suas contribuições, visto que um

modelo centralizado na União não foi capaz de atender às necessidades específicas de cada

região.

Esses programas, realizados durante o período da ditadura civil-militar, mostram o viés

desenvolvimentista do período. Em detrimento a isso, outro marco relevante na questão

agrária, o Estatuto da Terra foi aprovado durante o regime, buscando principalmente o

controle dos conflitos ocorridos em função da luta pela terra (MARTINS, 1999), mesmo

porque, o estatuto não foi colocado em prática, e o Plano Nacional de Reforma Agrária só foi

aprovado no governo de José Sarney.

O modelo de Reforma Agrária adotado a partir daí foi o de assentamentos rurais em

áreas de conflito. Esse modelo mostra-se extremamente questionável, visto que não realiza

nenhuma “reforma”, não abala a lógica do latifúndio e não permite a formação de um modelo

mais diverso e socialmente justo. Por outro lado, mostra-se moroso e ineficaz, visto não

realizar reforma alguma, mas sim agir de modo pontual, para conter conflitos regionalizados,

o que acaba gerando maior conflito e consolidando uma visão distorcida dos movimentos de

luta pela terra. Esse modelo foi seguido pobremente durante os governos de Fernando Collor e

Itamar Franco, havendo uma quantidade inexpressiva de desapropriações. Durante o governo

de Fernando Henrique Cardoso ocorreu como fato principal a regularização de posseiros

principalmente na Amazônia (OLIVEIRA, 2001), bem como o esforço para a implementação

do modelo banco da terra1, proposto pelo Banco Mundial.1 Modelo proposto pelo Banco Mundial, também chamado de Reforma Agrária de mercado. Nele, o governoadquire a terra e a financia para famílias cadastradas, que apresentarem histórico de trabalho no campo por pelomenos 5 anos. Nesse caso, a terra financiada deve ser paga em 20 anos, com 3 anos de carência. Esse modelo foiabandonado durante o governo FHC, gerando grandes transtornos às famílias, que permaneceram endividadas.Há atualmente um movimento que luta pelos seus direitos, denominado Movimento dos Atingidos pela ReformaAgrária de Mercado – MARAM.

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Ao governo Lula, é atribuída uma atuação abaixo das expectativas, com relação à

Reforma Agrária, sinalizando ainda um forte viés neoliberal vigente no país (SABOURIN,

2007). Ao governo Dilma é creditado uma ação ainda menos efetiva, com a criação de poucos

assentamentos e um distanciamento ainda maior da Reforma Agrária.

Gomes (2012) expõe a relevância da Reforma Agrária na garantia de Segurança e

Soberania Alimentar, mostrando que não existe convivência harmoniosa entre o agronegócio e

a agricultura familiar. Os dois sistemas são autoexcludentes, devido à constituição de cada

um. O agronegócio brasileiro tem como uma das bases o latifúndio, que tem absorvido a

pequena propriedade, onde se desenvolve a agricultura familiar. Outra base consiste na

agroexportação, ressaltando o problema da ausência de soberania alimentar nacional, que

depende da importação de alguns gêneros alimentícios, e que tem na agricultura familiar o

principal responsável pelo provimento regional de alimentos. Nesse contexto, a reforma

Agrária mostra-se a saída para reverter esse processo, possibilitando a diversificação da

produção agrícola, em detrimento ao monocultivo do agronegócio.

Atualmente Uberlândia possui 14 assentamentos de Reforma Agrária (DATALUTA,

2014). Os trabalhadores do acampamento Emiliano Zapata alcançaram a concessão de uso da

terra em 2004, com a desapropriação de três fazendas, que possibilitaram a criação do

assentamento Emiliano Zapata, Canudos e Flávia Nunes. A região mostra-se foco de

contradições acerca da questão agrária, devido à força do agronegócio na região, motor da

exclusão social no campo e da vinculação da agricultura às grandes corporações (VIEIRA,

2014).

Nas décadas de 1990 e 2000, algumas ações foram tomadas pelos governos, muitas

vezes para apaziguar as cobranças dos trabalhadores. Atualmente, a agricultura familiar tem

ganhado mais relevo, visto ser um setor estratégico da economia do país, propiciando geração

de trabalho, fornecimento de alimentos ao consumo interno e possibilitar a manutenção da

população no campo.

Dessa forma, foram criadas algumas políticas voltadas ao agricultor familiar. Em

1996, com o decreto nº 1.946, de 28 de junho, implementa o Pronaf (Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar). Isso possibilitará o acesso a crédito e propiciará o

surgimento de outras políticas de incentivo à agricultura familiar, que irá causar impacto

considerável na agricultura brasileira, possibilitando a expansão da atividade agrícola dos

agricultores familiares (GUANZIROLLI, 2007). O Pronaf sofreu algumas alterações ao longo

da última década, e o acesso ao mesmo está vinculada a um documento denominado

Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Esse documento atesta que a família atende aos

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requisitos propostos pela lei 11.326. As DAPs são definidas em várias categorias, que indicam

a realidade econômica, produtiva e social do agricultor, e servem para embasar a quantidade e

o tipo de crédito a ser acessada pelo mesmo. Atualmente, existem várias categorias, dentre as

quais a B, para famílias com renda anual de até 20.000 reais; a V, para famílias com renda

anual entre 20.000 e 360.000; a A, para agricultores assentados pelo Plano Nacional de

Reforma Agrária; AC, para agricultores assentados que já acessaram a categoria de

investimento do Pronaf, além de categorias para jovens, mulheres e outros. Para acessar o

crédito, os agricultores, apoiados por executores de Ater, como a EMATER ou empresas

privadas, apresentam seus projetos ao Banco do Brasil, que irá aprová-los ou não, com base

na sua estruturação e possibilidade de retorno (BRASIL, 2015).

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) foi criado em 2003, regulado pelo

artigo 19 da lei 10.696 de 02 de julho, com a proposta de incentivar a agricultura familiar,

bem como garantir a segurança alimentar de pessoas em situação de risco e promover a

formação de estoques estratégicos. Participam do programa agricultores familiares, assentados

da reforma agrária, comunidades indígenas e demais povos e comunidades tradicionais ou

empreendimentos familiares rurais portadores de DAP (Declaração de aptidão ao Pronaf)

(BRASIL, 2014). Existem 6 modalidades de operação do PAA, quais sejam: compra com

doação simultânea; compra direta, apoio à formação de estoques; incentivo à produção e ao

consumo de leite; compra institucional e aquisição de sementes. Cada modalidade pode ser

acessada pelos agricultores familiares, bem como suas organizações coletivas, sendo algumas

modalidades dependentes de chamada pública, ou de apresentação de demanda pelo poder

público. Os limites anuais de venda para as modalidades varia entre 6.500 a 20.000 reais para

DAP individual, e entre 500.000 e 6.000.000 de reais para DAP coletiva, ou jurídica, que

compõe associações ou cooperativas. O programa vem mostrando ainda a necessidade de

muitas melhorias e adequações, bem como sua expansão (SIMÃO et al., 2014).

Já o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) consiste numa estruturação

moderna de um processo que começou na década de 1950, onde ainda era denominado

merenda escolar. Esteve em pauta para atender à crescente preocupação relacionada à garantia

de segurança alimentar, passando por um período centralizado no governo federal, sendo

posteriormente aberto aos municípios e estados. O PNAE é o programa de suplementação

alimentar mais antigo, de maior abrangência e continuidade no Brasil (BRASIL, 2015).

Atualmente, após a Lei 11.947, de 16 de junho de 2009, onde o recurso repassado aos estados

e municípios deve ser investido em pelo menos 30% na aquisição de produtos da agricultura

20

familiar. Atualmente, cada família pode vender anualmente 20.000 reais em alimentos para o

PNAE, sendo esse valor abatido ao longo do ano, e operado pelos municípios e estados.

Abramovay (1990) questiona o fato de a agricultura familiar, em países desenvolvidos

apresentar-se com importância capital no desenvolvimento agrícola e econômico desses

países, sendo corroborado por Buainain e Pires (2003), mostrando que esse desenvolvimento

baseado na agricultura familiar possibilitou a formação de uma sociedade mais democrática.

Caporal (2014), acerca da Extensão Rural, ressalta a sua importância como política

pública, considerando-a um apoio às famílias rurais, respondendo a macropolíticas de

desenvolvimento e da agricultura, sendo habitual estar entre as políticas agrícolas e agrárias.

Por fim, deve ser ressaltada a contribuição de Gehlen (2004), ao demonstrar que a

integração do agricultor familiar ao mercado, mediante a profissionalização e

competitividade, não é suficiente para superar as desigualdades sociais no campo, indo ao

encontro do já mencionado fato de a promoção dos aspectos agrícolas não irão solucionar os

problemas agrários, inclusive de direito a território.

21

3. METODOLOGIA

O presente estudo consistiu numa pesquisa qualitativa, que visou avaliar alguns

aspectos acerca da política pública PNAE, na inserção socioeconômica e dinâmica produtiva

dos agricultores do Projeto de Assentamento Emiliano Zapata, localizado em Uberlândia-MG.

Para tanto, foram realizadas duas etapas de pesquisa, sendo que a primeira consistiu em um

levantamento bibliográfico junto à literatura especializada no assunto. A segunda etapa

consistiu no levantamento de informações diretamente relacionadas com os atores envolvidos,

mediante consultas a fontes primárias e secundárias, com o uso de roteiros de entrevistas e

consulta de dados disponíveis em veículos de informação pública ou privada.

Na primeira etapa, foram feitas buscas em revistas e livros acadêmicos especializados,

voltadas ao estudo sobre o desenvolvimento agrícola no Brasil, políticas públicas e agricultura

familiar, tanto em formato impresso, quanto digital. Também foram consultados sites

governamentais, acadêmicos e políticos tais como IBGE, MDA, FNDE etc. Todo esse

material forneceu subsídio para a formulação das hipóteses e da compreensão da problemática

ligada às políticas públicas, à agricultura familiar e à reforma agrária.

Na segunda etapa, realizou-se entrevistas com agricultores selecionados do PA

Emiliano Zapata, através de um roteiro de entrevistas aplicado pelo próprio pesquisador nos

dias 2 e 3 de dezembro de 2015. A escolha dos agricultores foi feita mediante uma consulta

aos registros da Associação Camponesa de Produção da Reforma Agrária (ACAMPRA), que

foi a licitante no processo de chamada pública para participação do PNAE municipal, no ano

de 2014 e 2015, bem como no fornecimento da alimentação escolar em algumas escolas da

rede estadual de ensino, que gerem o recebimento dos produtos de forma individualizada. No

total, 16 agricultores desse PA fornecem produtos ao programa. Dentre esses 16, 9 foram

selecionados, mediante orientação da liderança do assentamento, levando em consideração a

maior quantidade de produtos fornecidos ao programa. Dentre esses agricultores, dois grupos

principais foram identificados: os que eram horticultores antes de entrarem para o PNAE e os

que eram bovinocultores ou não trabalhavam com atividade agrícola. Os 9 agricultores foram

submetidos, assim, a uma entrevista (Roteiro – Anexo 1). Estas entrevistas objetivaram

coletar dados básicos e verificar as impressões dos agricultores acerca do programa, sobre a

contribuição financeira do mesmo, sobre a influência na forma de conduzir os cultivos e na

logística da produção, bem como na geração de assistência técnica vinculada ao programa. O

trabalho de campo também contou com o uso de uma caderneta de campo, que apoiou a

22

aplicação das entrevistas e serviu para colher outras informações importantes que não estavam

previamente determinadas no roteiro. Para contextualizar melhor o trabalho, foram

fotografadas as áreas dos lotes do assentamento, mediante permissão declarada pelos

agricultores, onde buscou-se salientar áreas produtivas do PNAE, bem como materiais e

investimentos produtos da capitalização obtida com o programa.

Como pode ser observado no Mapa 1, o assentamento se localiza ao sul do distrito

sede do município, ao lado da BR 455 e próximo ao PA Canudos. A área estudada

compreendeu os lotes n⁰ 7, 8, 9, 10, 12, 13, 14, 15, 16 do PA Emiliano Zapata, que pode ser

observada no Mapa 2.

Além da pesquisa com os agricultores, realizou-se entrevista com dois responsáveis

gestores do PNAE, funcionários da Prefeitura Municipal de Uberlândia (PMU), sendo que um

foi entrevistado com um outro roteiro de entrevista, apresentado no Anexo 2, e a outra foi

entrevistada em um diálogo livre, com anotações na caderneta de campo e em arquivo digital.

Nessa pesquisa, objetivou-se inferir as impressões do gestor acerca do programa, do ponto de

vista do setor público, relacionando esses aspectos na relação com os agricultores, os

investimentos e esforços da gestão pública para viabilizar o programa, bem como perspectivas

futuras ao programa.

Após colhidos os resultados das entrevistas, realizou-se a análise das respostas. No

caso dos agricultores, foi possível mensurar algumas informações apresentadas em questões

de múltipla escolha. Os resultados foram demonstrados em gráficos, e se encontram na sessão

de Resultados e Discussão. Ao longo das falas dos agricultores, foram gravados os

apontamentos feitos pelos mesmos e, posteriormente transcritos e aproveitados trechos das

falas, buscando o máximo de contextualização. Em relação ao roteiro aplicado ao gestor

público, o mesmo foi colhido em meio virtual, sendo esses apontamentos também

aproveitados na contextualização e discutidas também na sessão de Resultados e Discussão.

23

Mapa 1 – Uberlândia: Assentamentos Rurais (1998-2012)

Fonte: Vieira (2014)

24

Mapa 2 – Uberlândia: Assentamento Emiliano Zapata

Fonte: Vieira (2014)

25

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os trabalhadores do assentamento Emiliano Zapata alcançaram a concessão de uso da

terra em 2004. Desde então, 22 famílias trabalham em seus lotes, produzindo desde hortaliças,

cultivos anuais e pecuária, enfrentando dificuldades próprias do setor, desde estrutura precária

para morar, baixo incentivo econômico e penetração no mercado, assistência técnica e

extensão rural defasadas.

Em 2013, com a incubação do Centro de Incubação de Empreendimentos Populares

Solidários (CIEPS-UFU)2, 21 famílias, incluindo membros do PA Emiliano Zapata e membros

do PA Canudos iniciaram uma nova etapa, com a criação da Associação Camponesa de

Produção da Reforma Agrária (ACAMPRA), um grande passo no sentido de se fortalecerem

enquanto grupo (JUNQUEIRA, 2014). Essa associação também foi criada para possibilitar o

ingresso no PNAE, visto que o município de Uberlândia opera o programa mediante

chamadas públicas de caráter coletivo, ou seja, só participam cooperativas e associações.

Atualmente a ACAMPRA agrega mais de 50 famílias, abrangendo 8 assentamentos do

município de Uberlândia. Dentre essas famílias, 16 são do PA Emiliano Zapata, sendo que

essas fornecem produtos para o PNAE, através da associação.

O fornecimento é feito tanto para a Prefeitura de Uberlândia, quanto para algumas

escolas estaduais no município. Há uma diferença na logística de entrega e na forma de

contratação entre governo estadual e prefeitura municipal. Na prefeitura o processo ocorre de

maneira centralizada, mediante chamada pública, com apresentação de demandas e

contratação de cooperativas e associações, e entrega dos produtos na Central de

Abastecimento da Agricultura Familiar (CAAF), posteriormente destinada pela própria

prefeitura para as escolas municipais. Já as escolas estaduais organizam de maneira autônoma

essa aquisição, e as contratações ocorrem de maneira individualizada, e a entrega é feita pelos

agricultores diretamente na escola. Essas diferenças se tornam relevantes, com vistas a

trazerem implicações na forma como os agricultores escalonam seus cultivos, selecionam o

que produzir e organizam suas rotinas de entrega de produtos e comercialização.

Aos serem questionados acerca dessa diferença na operação, os agricultores

divergiram em suas considerações. Sobre a logística de entrega, a maioria considera mais

simples a entrega centralizada no CAAF, pelo PNAE municipal. Por outro lado, o poder de

2 O Centro de Incubação de Empreendimentos Populares Solidários é um dos focos principais de integração da Universidade Federal de Uberlândia com a comunidade, tendo atendido e incubado empreendimentos coletivos, com foco na constituição de bem-estar social dos envolvidos e racionalização dos esforços em prol da superação das dificuldades técnicas, jurídicas e burocráticas dos empreendimentos (JUNQUEIRA, 2014).

26

negociação e a proximidade com o gestor são considerados vantagens do PNAE estadual.

Todos concordaram que a forma de pagamento realizada nas escolas estaduais é mais pontual

e menos burocrática, sendo ainda levantado o fato de a entrega semanal nas mesmas torna o

escalonamento da produção mais flexível e os riscos de perda da produção menores. Situação

oposta ocorre na entrega dos produtos ao PNAE municipal, onde as entregas são em prazos

maiores, e em maiores quantidades. Esse ponto, acrescido do fato de haver ocorrido grande

demora na conclusão do processo de chamada pública e contratação do fornecimento,

provocou a perda de muitos alimentos produzidos na expectativa de haver venda ao PNAE no

início do ano letivo, entre fevereiro e março, sendo que as primeiras entregas só foram

possíveis no meio do ano.

Outro ponto levantado considera que a padronização e centralização do PNAE

municipal torna o processo mais organizado, possibilitando entregas em volume maior, o que

reduz despesas com transporte dos produtos em várias viagens. Foi relatada a dificuldade de

se organizar o direcionamento dos recursos, já que a cota anual atribuída a cada família, que é

de 20.000 reais, aparentemente não pode ser acumulada entre o PNAE operado no município

e no governo estadual, gerando problemas na definição e rateio dos produtos e dos ganhos

obtidos. Sobre a possibilidade de abertura para a participação em uma cota municipal e outra

estadual, foi dito:

A proposta que foi feita ao governo é resultado de luta pelos movimentos sociais anível nacional, pressionando, porque a cota é muito limitada [...] poderá ser entreguenas cotas R$20.000 para o município mais R$20.000 para as escolas estaduais, entãoteria mais facilidade para a gente fazer até na hora a relação de DAP, quem entregoupara quem, ficaria mais simples e a gente não teria que dividir. No caso de hoje agente tem uma dificuldade em saber quem entregou para escolas estaduais, qual foio seu montante que entregou, e quem entregou para as escolas municipais, qual foi omontante. Então, cria uma logística e umas contas muito complicadas de seremfeitas. (Trecho de entrevista com um agricultor do PA Emiliano Zapata)

Ainda sobre a forma de aquisição de contrato de fornecimento dos produtos para o

PNAE, o gestor público enuncia que o processo ocorre “Através de Chamada Pública para

Cooperativas e/ou Associações de Agricultura Familiar que possuam DAP Jurídica,

preferencialmente do município e se fora do município que comprovem condições de entrega

dos seus produtos”.

Acerca da renda obtida com o PNAE, referente à cota anual máxima de

R$20.000/DAP, foram feitas algumas arguições, conforme especificado no Anexo 1, que

buscaram verificar o nível de satisfação e promoção social das famílias.

27

Questionados acerca da renda mensal média antes e após a entrada no PNAE, 78% dos

entrevistados relataram aumento da renda, e não houve relatos de queda na renda média

mensal. O Gráfico 1 mostra que houve um aumento das famílias com renda média acima de 3

salários mínimos. Observa-se um aumento de 33% entre as famílias com mais de 3 salários

mínimos de renda média mensal. Da mesma forma, nota-se uma queda substancial entre as

famílias com renda entre 1 e 3 salários mínimos, na mesma proporção, de 33%, ou seja, pelo

menos 33% das famílias relataram aumento na faixa de renda de até 2 salários mínimos, após

o ingresso no PNAE. Outras, que se mantiveram na mesma faixa, ainda assim relataram um

incremento relevante na renda, sendo que apenas 2 relataram que a renda não se alterou com o

ingresso no programa.

Gráfico 1 – Renda média antes e após o ingresso no PNAE

Fonte: Trabalhos de Campo no PA Emiliano Zapata (dezembro de 2015)

Organização: MOREIRA, J.G. 2015.

Quanto à satisfação com a cota, 33% se declararam satisfeitos e 67% declararam ser

um valor insuficiente, inclusive porque o mesmo não leva em conta os custos de produção, o

que reduz substancialmente a renda obtida. Entretanto, apesar dessa majoritária insatisfação,

os valores acima se invertem, ao considerar a melhoria na qualidade de vida, onde 67% deram

resposta afirmativa e 33% declararam não ter havido alterações nas condições de vida. Essa

aparente contradição encontra-se no fato de mesmo insuficiente, a renda obtida com o PNAE

possibilitou uma maior inclusão econômica aos agricultores, favorecendo inclusive seu poder

28

de compra. Essa realidade também foi observada por Marques et al. (2014), em Araripe-CE.

O próprio gestor público corrobora essa visão, e acrescenta a observação de que essa melhora

ocorreu após a criação da ACAMPRA. Essa melhoria possivelmente se deu, além da renda

obtida com o PNAE, também pelo ingresso em outros mercados, bem como a existência de

outras fontes de renda. Sobre isso, apenas 22% declararam ser o PNAE a sua principal fonte

de renda. O Gráfico 2 mostra outras fontes de renda dos agricultores.

Gráfico 2 – Outras fontes de renda obtidas pelo agricultores do PNAE no PA Emiliano

Zapata

Fonte: Trabalhos de Campo no PA Emiliano Zapata (dezembro de 2015)

Organização: MOREIRA, J.G. 2015.

É importante frisar que os agricultores tiveram a liberdade de informar mais de uma

alternativa, de modo que o somatório de todas as opções ultrapassa os 100%, e o percentual

apresentado se refere à frequência de ocorrência dessas fontes de renda entre os entrevistados.

O Gráfico 2 ressalta a importância da participação dos agricultores nas vendas institucionais,

ao notar que todos os entrevistados afirmaram participar do Programa de Aquisição de

Alimentos (PAA). Assim, todos participam dos dois programas de compra institucional

possíveis (PAA e PNAE). Além disso, é perceptível o esforço pela diversificação de

mercados, ao notar que todos também participam de feiras ou comercializam na Central de

Abastecimento e Segurança Alimentar de Minas Gerais (CEASA). É relevante notar que

29

alguns relatos se referiam à feira camponesa, iniciativa focada na comercialização de produtos

produzidos por assentados de reforma agrária.

Nesse sentido, as políticas públicas de integração ao mercado (PAA e PNAE)

mostram-se capazes de incluir o agricultor numa dinâmica produtiva que o leva a aumentar

sua produção agropecuária, buscando atingir novos mercados e aumentar sua renda, deve ser

ressaltada a contribuição de Gehlen (2004), ao demonstrar que a integração do agricultor

familiar ao mercado, mediante a profissionalização e competitividade, não é suficiente para

superar as desigualdades sociais no campo, indo de encontro ao já mencionado fato de a

promoção dos aspectos agrícolas não irão solucionar os problemas agrários, inclusive de

direito a território. Fato é que a integração dos agricultores ao mercado os coloca numa

situação de intensidade de trabalho e dedicação que os absorve quase por completo, podendo

inclusive dificultar a vivência de atividades de lazer ou mesmo da articulação política antes

existente durante a luta pela terra. “O lote escraviza”3 (fala de um agricultor entrevistado no

PA Emiliano Zapata).

Em relação aos mercados para onde a produção é destinada, todos os agricultores

entrevistados consideraram os programas de compra institucional (PAA e PNAE) o principal

mercado, que absorve a maior parte da produção. Nesse sentido, nos deparamos com dois

rumos distintos a propor, no âmbito de aprimoramento dessas políticas: ou o agricultor se

especializa na produção para essas políticas, o que exige aumento da renda oferecida a cada

família, permitindo assim uma dedicação exclusiva a esses programas. Essa ideia esbarra na

dificuldade em expandir o programa para um número maior de famílias, bem como no

problema de reforçar seu aspecto de política de subsídio agrícola, que só não trouxe

problemas nas relações internacionais de mercado do Brasil por apresentar um montante de

recursos ainda irrelevante num contexto geral. Por outro lado, a manutenção desses programas

como fomentadores da agricultura familiar, mantendo o montante de valores oferecidos

atualmente ainda demanda vários ajustes em várias instâncias, mas vem contribuído com a

inserção desses agricultores ao mercado. “Ele veio para poder ajudar o pequeno agricultor,

entendeu? Tá ajudando, tirou muita gente que queria trabalhar realmente, da dificuldade.

Porque também não adianta você pegar a terra e não ter, às vezes produz e não tem para quem

vender, né?” (Trecho de entrevista com uma agricultora do PA Emiliano Zapata).

Quanto ao uso da renda obtida com o PNAE, o Gráfico 3 evidencia que o uso familiar

(alimentação, despesas com a casa, lazer, transporte) não chega a níveis elevados. Por outro

3 Essa fala não foi colhida durante os trabalhos de campo realizados em dezembro de 2015, mas durante um curso de extensão promovido pelo Instituto de Geografia nesse mesmo assentamento, em agosto de 2013.

30

lado, o custeio e investimento, na atividade agrícola é quase uma unanimidade. Isso se explica

por um fator que foi considerado um dos maiores problemas na relação com a prefeitura

municipal: a demora nos pagamentos de 3 meses ou mais. Essa realidade também pode ser

verificada por Marques et al. (2014), em um estudo de caso em Araripe-CE. Também foi

relatada grande flutuação na demanda dos produtos, onde um lote que está em atividade

durante todo o ano fica sem entregar produtos por 6 meses, como relataram alguns

agricultores.

E um problema que tem, principalmente esse aí detona com a gente: começo do ano,o programa, por exemplo as aulas começam em fevereiro, né? Em fevereiro vocêplaneja que você já vai começar a entregar. Eles arrumam uma burocracia tão grandepara a chamada pública, para arrumar documento, que você só consegue entregardepois das férias. A produção você fez para o início do ano, você perde ela toda,porque, onde você vai entregar? Não tem chamada pública, não acertou nada, vocênão entrega ela, você perde ela. Você só começa a entregar em agosto, praticamente.Aí o começo do ano é uma produção perdida, jogada fora. (Trecho de entrevista comum agricultor do PA Emiliano Zapata)

Quando o pagamento é feito, os agricultores optam por investir na produção,

adquirindo insumos ou mesmo equipamentos, como demonstrado na foto 1. Acerca dessa

realidade, a gestora pública entrevistada levantou alguns fatores que contribuem para atrasos

no processo, tais como a burocracia dos trâmites, bem como a discordância entre agricultores

e prefeitura acerca dos valores a serem pagos, que demandou o lançamento de um novo edital,

a fim de que as partes fossem atendidas. Explicações acerca dos atrasos em pagamentos

também foram apresentadas. Um dos fatores considerados pela gestora encontra-se no próprio

contrato de fornecimento, que prevê pagamento mensal aos produtos fornecidos, como

apresentado no contrato nº 237/2015, no tópico 3.3, que trata da forma de pagamento.

Assim, a frequência de disponibilização dos rendimentos, feita para a ACAMPRA, por

vezes pode encontrar obstáculos para sua efetivação, como inadequações nas planilhas de

produtos entregues pela associação e morosidade nos trâmites internos da prefeitura. Assim,

um atraso em um pagamento mensal pode gerar transtornos que dificultam o planejamento do

uso da renda obtida. Deve-se observar a necessidade de ajustes na organização burocrática do

processo, de forma a evitar o transtorno gerado pelo atraso de pagamentos, que pode inclusive

desestimular a participação do agricultor no programa. Carvalho (2009) contribui ao analisar

essa imagem do poder público de ser mau pagador, o que dificulta muito a manutenção e

expansão de programas de compra institucional, devido à descrença produzida por essas

situações.

31

Ainda sobre o uso da renda obtida com o PNAE, a contribuição com o investimento na

produção pode ser indireta, como foi relatado em uma entrevista, onde o PNAE é utilizado

como fonte de pagamento para um outro financiamento de equipamento, um outro

motocultivador que foi adquirido através do Pronaf Mais Alimentos (Foto 2).

Gráfico 3 – Uso da Renda Obtida com o PNAE pelos Agricultores do PA EmilianoZapata

Fonte: Trabalhos de Campo no PA Emiliano Zapata (dezembro de 2015)

Organização: MOREIRA, J.G. 2015.

Foto 1 – Motocultivador Obtido de Investimento Proveniente da Renda do PNAE

Fonte: Trabalhos de Campo/dezembro de 2015.

Autoria: MOREIRA, J.G. 2015.

32

Foto 2 – Motocultivador adquirido com o Pronaf Mais Alimentos onde as parcelas do

financiamento serão pagas com a renda do PNAE

Fonte: Trabalhos de Campo no PA Emiliano Zapata (dezembro de 2015)

Autoria: MOREIRA, J.G. 2015.

Quanto à influência na dinâmica produtiva, alguns tópicos puderam ser levantados

durante as entrevistas, tanto com os agricultores, quanto com o gestor público.

A primeira grande influência está nos cultivos produzidos. “O município adquire

hortifrutícolas. Não adquire produtos beneficiados pois não há oferta destes com a devida

legalização (inspeção e vigilância sanitária)” (Trecho da entrevista feita com o gestor do

poder público).

33

Assim, nem processados, nem lácteos são adquiridos pelo PNAE. Realidade

semelhante foi constatada por Costa et al. (2015), em cooperativas de agricultura familiar do

estado de Minas Gerais. Isso fez com que todos os agricultores direcionassem sua produção

para as hortaliças e produtos vegetais in natura, como mostra o gráfico 4.

Gráfico 4 – Cultivos Agrícolas feitos antes e depois do ingresso no PNAE pelosagricultores do PA Emiliano Zapata

Fonte: Trabalhos de Campo no PA Emiliano Zapata (dezembro de 2015)

Organização: MOREIRA, J.G. 2015.

Como evidenciado, a tendência de especialização para a produção de hortaliças se

mostra no crescimento da produção de hortaliças, que é item obrigatório em todas as

propriedades, para atender à demanda do programa. Turpin (2009) observa efeito semelhante,

detectando uma maior profissionalização dos agricultores, para atender à demanda do

programa. A Tabela 1 mostra a variedade de produtos presentes no contrato de fornecimento

de 2015, fornecido pelos agricultores da ACAMPRA ao PNAE, incluindo aí os agricultores

do PA Emiliano Zapata, bem como o seu volume total e preço unitário pago ao longo do ano.

34

Tabela 1 – Produtos contratados para fornecimento pela ACAMPRA ao PNAE nomunicípio de Uberlândia-MG

Item Descrição Unidade Quantidade Preço Unitário1 Abobrinha kg 9784 R$ 3,232 Berinjela kg 5000 R$ 2,423 Brócolis kg 6000 R$ 2,904 Cheiro Verde pt 20664 R$ 1,615 Couve mç 20000 R$ 1,606 Mandioca kg 40000 R$ 2,527 Melancia kg 56100 R$ 1,448 Repolho kg 25000 R$ 1,42

Fonte: Contrato nº 237/2015 (Prefeitura Municipal de Uberlândia)

Organização: MOREIRA, J.G. 2015.

Como pode ser observado, há uma diversificação relativamente alta, e quase todos os

agricultores oferecem mais de 3 produtos ao PNAE. Ainda houve relato da produção de

alface, limão, milho verde, pimentão e quiabo, que são fornecidos às escolas estaduais. Apesar

da supracitada profissionalização para atender a demanda, é possível observar uma tendência

maior de diversificação da produção, havendo sempre vários itens sendo produzidos por cada

agricultor. Silva et al (2015) fizeram observação semelhante em uma cooperativa de Vale

Feliz, corroborando essa tendência, que ocorre de maneira semelhante na ACAMPRA.

Apesar do incremento na produção de hortaliças, foi possível registrar que boa parte

dos agricultores já produziam as mesmas, aumentando a área produtiva e focando na

produção olerícola. Essa afirmação se confirma ao se observar que 89% dos agricultores

afirmaram ter expandido a área de produção agrícola, tendo em média 2,5 ha de área

produtiva e 78% relataram aumento na produção. Também se observa um aumento na ordem

de 22% no uso de equipamentos de preparo de solo específicos para olericultura, como

encanteiradora e enxada rotativa acoplada em motocultivador, que antes era em 44% dos

casos e agora é de 66%. A foto 3 exemplifica um caso de especialização na produção de

hortaliças, ao observar-se a produção de tomate tutorado, que é um cultivo de alto

investimento, com uso de insumos específicos, como estacas em V.

Relativamente à escolha dos cultivos a serem desenvolvidos no lote, os agricultores

apresentaram sua impressão acerca dessa definição, ou seja, quem eles acham que define a

escolha de cada produto a ser cultivado no lote, e essas impressões estão apresentadas no

gráfico 5.

35

Foto 3 – Tomate tutorado produzido no PA Emiliano Zapata

Fonte: Trabalhos de Campo (dezembro de 2015)

Autoria: MOREIRA, J.G. 2015.

Gráfico 5 – Impressões dos agricultores acerca de como é definido os cultivos a seremproduzidos para o PNAE

Fonte: Trabalhos de Campo no PA Emiliano Zapata em dezembro de 2015

Organização: MOREIRA, J.G. 2015.

Evidentemente que a definição dos cultivos considera regras e processos de discussão

e sugestão. Assim, questionado sobre o assunto, o gestor público informa que “A escolha é

36

feita na elaboração do cardápio escolar pelas nutricionistas do departamento PMAE4. Nos

últimos 2 anos foi feito maior diálogo entre agricultores e nutricionistas para adequação do

cardápio.”

Mais da metade dos agricultores entrevistados considera que há um acordo razoável,

entretanto, outros 22% consideram o processo de escolha dos produtos pouco discutida e

colocada de maneira impositiva por parte da prefeitura. Outros 22% consideram que a essa

definição é impositiva por parte da ACAMPRA. Com base em anotações complementares da

caderneta de campo, foi possível verificar diferentes níveis de articulação entre os agricultores

do assentamento. Dessa forma, alguns, exercendo papel de liderança, se relacionam mais

diretamente com o poder público, e com isso, argumentam certa dificuldade em negociar na

definição de o quê produzir. Outros têm uma vivência mais próxima às lideranças locais, que

organizam escalonamentos e distribuição da produção, e com isso, tem essa mesma

interpretação em relação às lideranças locais. O restante que se sente contemplado em um

acordo, ou seja, 56% considera que a negociação existe. Nenhum agricultor considerou fosse

possível a escolha ser totalmente pessoal.Ao observar a realidade do programa na região, é possível considerar o avanço

proporcionado pelo fato de não existir uma centralização nacional, ou mesmo estadual para o

mesmo. A centralização municipal mostra-se, se não suficiente, pelo menos promissora para

contemplar as especificidades, agrícolas, alimentares e culturais, relacionados à produção para

o PNAE. Como mencionado pelo gestor público, a escolha ainda segue critérios nutricionais,

discutidos com profissionais da área, que apresentam e discutem propostas de cardápio. Ainda

assim, é possível uma aproximação ainda maior com os atores da produção, visto que a

insatisfação relatada por alguns obedece percepções próprias da realidade diária no

assentamento, onde alguns se sentem mais capacitados a produzir determinados cultivos, em

detrimento a outros. Ainda nesse sentido, é importante ressaltar que o PNAE:

O PNAE é um Programa de Segurança Alimentar e Nutricional. No entanto,depende de outras coisas como estrutura das cozinhas das escolas, qualificação dasmerendeiras, investimento em logística de entregas. O que faz um programacomplexo e Intersetorial que tem muito a ser melhorado. (Trecho da entrevista feitacom o gestor público)

Dessa forma, os atores envolvidos no processo vão além dos próprios agricultores,

passando pelos estudantes, equipes de logística, cozinheiros, famílias ligadas à rede pública de

educação, devendo todos serem contemplados, de maneira intersetorial e democrática, o que

não se mostra um processo simples. Além disso, o fato de o público atendido ser composto

4 Programa Municipal de Alimentação Escolar. A nomenclatura difere, entretanto, trata-se do próprio PNAE, coma nomenclatura adaptada à organização municipal.

37

principalmente por crianças e adolescentes, mostra a necessidade de uma atenção ainda maior

de todos os atores envolvidos, como os agricultores. Um dos entrevistados faz uma

consideração muito relevante acerca do PNAE:

Eu considero que é uma maneira justa de fazer a alimentação das crianças, né.Porque ajuda as crianças a alimentar com um produto bom, e ajuda os produtores aconseguirem fluir a mercadoria. No caso, e mais um mercado local, você já entregapra eles, eles já levam pras escolas, é um negócio rápido, chega um produto bom praum consumo rápido.

Ainda levando em consideração a relação dos assentados com o poder público, quando

questionados acerca da assistência técnica, 78% dos agricultores declararam não haver

nenhuma ligada ao PNAE. Os demais 22% levaram em consideração a assistência técnica

oferecida em função do PAA, mas todos concordaram que há uma grande insuficiência na

prestação desse serviço. O gestor público corrobora essa dificuldade:

A prefeitura possui corpo técnico com 6 técnicos em agropecuária e 2 agrônomosespecífico para os programas PAA e PNAE, no entanto isso é insuficiente. Ainda háo apoio da EMATER com 2 agrônomos e o da Empresa Privada Agrolago que élicitada pelo INCRA para alguns assentamentos. Há a necessidade de grandesinvestimentos nessa área. (Trecho da entrevista feita com o gestor público)

Estudando as cooperativas de agricultores familiares do estado de Minas Gerais que

acessam o PNAE e outras políticas, Costa et al. (2015) demonstram que esse problema não é

exclusividade de Uberlândia, sendo uma problemática disseminada em todo o estado de

Minas. A assistência técnica mostra-se extremamente necessária, visto que o nível de

exigência de organização e intensidade de produção são elevados, bem como a necessidade de

acompanhamento do padrão de qualidade dos alimentos produzidos reforça ainda mais essa

necessidade. Ainda um outro detalhe reforça esse ponto, que é o fato de haver produtores

orgânicos ou em transição agroecológica. Esse processo demanda cuidado e planejamento,

para que seja viabilizada a mudança sem prejuízo da qualidade de vida das famílias. A gestora

pública considera ainda esse ponto com vistas ao fortalecimento da capacidade produtiva dos

agricultores, de modo a ser possível cumprir a cota e a meta anual de produção, o que não foi

a realidade nos últimos dois anos.

Questionados sobre quais pontos deveriam ser melhorados no PNAE, os agricultores

apresentarem várias observações, a proporção em que ocorrem aparece no Gráfico 6.

38

Gráfico 6 – Sugestões de melhorias ao PNAE dadas pelos agricultores e suas frequências

Fonte: Trabalhos de Campo no PA Emiliano Zapata (dezembro de 2015)

Organização: MOREIRA, J.G. 2015.

É importante ressaltar que os agricultores apresentaram mais de uma sugestão, sendo

que a frequência relatada no gráfico acima se refere à ocorrência da sugestão de determinada

melhoria, e não em números absolutos de agricultores. Os três pontos mais levantados foram

o aumento do limite da cota anual, a constituição de uma assistência técnica mais efetiva, e

acesso ao maquinário de preparo de solo da prefeitura, em tempo hábil para planejar os

cultivos e cumprir os prazos. Os dois primeiros pontos já foram discutidos anteriormente, e os

gestores públicos estão de acordo em relação à necessidade de assistência técnica. Quanto ao

aumento do limite da cota anual, está além da atribuição dos gestores municipais, de modo

que essa conquista depende alterações na Resolução nº 26 do MEC, de 17 de junho de 2013,

que regulamenta a aquisição de produtos da agricultura familiar pelo PNAE. Como

mencionado em um trecho de uma entrevista com um dos agricultores, a luta de movimentos

sociais pode pressionar alguma mudança no sentido de aumentar o valor limite da cota.

Quanto ao acesso ao maquinário da prefeitura, o gestor público admite a necessidade de

adequações nesse sentido.

Quanto aos outros itens propostos, todos são passíveis de implementação, havendo a

necessidade de mobilização do poder público para os ajustes, excetuando a questão do

fornecimento de mudas, que é um insumo de produção, e que, em tese, é responsabilidade do

próprio agricultor, bem como a linha de crédito, visto que o programa não possui caráter de

39

política de crédito, mas de compra institucional. Nesse caso, o indicado seria proposições no

âmbito do Pronaf.

Por fim, ainda são elencados outros fatores de ajuste, sob a ótica da gestão pública:

Melhorar a Central de Abastecimento da Agricultura Familiar e sua estruturalogísticaInvestir nas cozinhas das escolas e no preparo das merendeirasIncentivar as agroindústrias familiares devidamente regularizadas.Incentivar o cultivo de culturas menos comuns como arroz e feijão. (Trecho daentrevista com o gestor público)

Ressalta-se a percepção de deficiências no âmbito da execução do processo, no que se

refere ao fornecimento da alimentação aos estudantes, bem como da logística de distribuição,

ambos os casos, de responsabilidade do poder público. É colocada também a necessidade de

acrescentar novos produtos no fornecimento, como produtos beneficiados, que não são

adquiridos pelo programa devido à ausência de regularização sanitária, estando de acordo com

Prezzotto (2002), ao comentar que a agroindústria familiar pode favorecer a inclusão

socioeconômica dos mesmos. Nesse caso, faz-se mister que o poder público se junte aos

agricultores, incentivando a estruturação de agroindústrias no assentamento, devidamente

adequadas às normas, mediante apoio técnico e financeiro, se possível.

40

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos neste trabalho sistematizam um conjunto onde as impressões dos

agricultores ligados ao PNAE do PA Emiliano Zapata foram levantadas e discutidas, bem

como a visão de gestores públicos ligados ao programa e a literatura já constituída sobre o

tema.

Foi possível verificar que a entrada no PNAE possibilitou às famílias uma alteração

positiva na qualidade de vida, visto terem aumentado a renda média familiar e alcançarem

maior inclusão socioeconômica. É possível afirmar que o PNAE tem participação

preponderante nessa mudança, entretanto, os agricultores estão se desenvolvendo e se

aprimorando em sua dinâmica produtiva, de modo a poder atender a um volume maior de

demanda do programa, e participar também de outros mercados.

Há que se considerar também a importância da constituição da ACAMPRA, que

possibilitou a entrada dos agricultores nessa política pública, mantendo-os mais integrados e

articulados entre si, podendo cuidar melhor de seus interesses e se colocarem de maneira

menos vulnerável no mercado. Apesar desse incremento de renda, a cota anual do PNAE

ainda se mostra insuficiente para a manutenção das famílias e dos cultivos, e problemas

ligados a processos burocráticos tem comprometido a participação dos agricultores no

mesmo, gerando insegurança e indefinição, que prejudicam a organização da produção para o

fornecimento.

Quanto às alterações na dinâmica produtiva, foi evidente o fato de que os agricultores

direcionaram seus esforços em prol da produção olerícola, se profissionalizando mais nesse

tipo de cultivo, sem, contudo, deixar de possuir uma área produtiva diversificada, que

possibilita o fornecimento de vários produtos e a manutenção da produção para as

necessidades da família.

A respeito da relação dos agricultores com o poder público, ainda existem embates

dos interesses, que provocam ainda uma percepção de verticalidade na definição das

demandas de produção e entrega de alimentos. Entretanto, é perceptível um esforço para uma

aproximação maior por parte do poder público, justificado pelo esforço de regionalização

produtiva e cultural do programa, bem como da necessidade de se ter um grupo de produtores

grande, mobilizado para atender a exigência de 30% de investimento do recurso em aquisição

de produtos da agricultura familiar.

41

Relativo à assistência técnica, ainda há muito o que fazer, devendo haver um

incremento considerável de equipe e investimento no setor, para garantir uma prestação desse

serviço minimamente adequada, que possibilitará maior organização e segurança no

fornecimento dos alimentos e na qualificação progressiva dos envolvidos. É importante

considerar que a assistência técnica não é atribuição exclusiva do poder público, havendo

possibilidades de parceria entre o poder público e empresas de prestação desse serviço, além

da possibilidade de se realizar a contratação de profissionais para desempenhar o trabalho no

assentamento pela própria associação.

Deve-se ressaltar a importância de políticas públicas que favorecem a inserção

econômica e produtiva de agricultores familiares assentados. Da mesma forma que deve ser

ressaltada a importância dos assentamentos na garantia de fornecimento de alimentos para as

populações locais, e para as compras institucionais dessas políticas. No caso desse estudo, foi

verificado que essas políticas são indispensáveis, e que é necessário aprimorá-las, a fim de

haver maior segurança nesse processo de inclusão. Os agricultores assentados, devido ao

processo de luta pela terra, mostram-se capazes de se integrar, mesmo havendo conflitos, de

modo que o incentivo ao cooperativismo, através de incubações (como fez o CIEPS-UFU)

deve ser um dos focos desse esforço.

Por fim, ações de caráter intersetorial, abrangendo outros atores envolvidos na cadeia,

como merendeiras, transportadores e auxiliares logísticos devem receber mais atenção, com

foco na qualificação e alinhamento geral com a proposta do programa.

42

6. REFERÊNCIAS

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ANEXOS

ANEXO 1Roteiro de Entrevistas Aplicado com as Famílias do PA Emiliano Zapata

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA -UFUINSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA

Formulário de pesquisa elaborado e aplicado por: João George MoreiraOrientador: Prof. João Cleps JúniorPeríodo: 2014-2015

QUESTIONÁRIO TRABALHO DE CAMPO1. Idade:

a) Menos de 30 anosb) Entre 30 e 50c) 50 e 60d) Acima de 60 anos

2. Número de membros na família:a) Até 2 membrosb) Até 4 membrosc) Acima de 4 membros

3. Qual o seu nível de escolaridade?a) Não alfabetizadob) Fundamental completoc) Fundamental Incompletod) Médio completoe) Médio incompletof) Superior

4. Qual era a renda média mensal antes do PNAE?a) Menos de 1 saláriob) Entre 1 e 3 saláriosc) Acima de 3 salários

5. Qual a renda média mensal após o PNAE?a) Menos de 1 saláriob) Entre 1 e 3 saláriosc) Acima de 3 salários

6. O PNAE é a sua principal fonte de renda?a) Simb) Não

7. Quais outras fontes de renda?a) Nenhumab) PAAc) Outros mercados (CEASA, feiras livres)

d) Prestação de serviçose) Outra:___________________________

8. A respeito do ganho com o PNAE, a renda é utilizada principalmente:a) Aquisição de produtos de necessidade pela família (comida, vestuário, lazer)b) Aquisição de bens duráveis (carro, maquinário)c) O Custeio da atividade agrícolad) Construção de infraestrutura no lotee) Quitar dívidas

9. Quais produtos fornece para o PNAE?

10. Quais os cultivos agrícolas antes do PNAE?a) Hortaliçasb) Frutíferasc) Arroz e feijãod) Mandioca e milhoe) Outras:___________

11. Quais os cultivos agrícolas após o PNAE?a) Hortaliçasb) Frutíferasc) Arroz e feijãod) Mandioca e milhoe) Outras:___________

12. Como era feito o preparo do solo antes do PNAE?a) Enxada e equipamentos manuaisb) Arado, grade e outros implementos movidos a tração animalc) Arado, grade e outros implementos movidos a tratord) Não faziae) Outro:_____________

13. Como ficou o preparo do solo após o PNAE?a) Enxada e equipamentos manuaisb) Arado, grade e outros implementos movidos a tração animalc) Arado, grade e outros implementos movidos a tratord) Não faze) Outro:_____________

14. Adubação na área:a) Não fazb) Apenas adubação mineralc) Apenas adubação orgânica

d) Adubação orgânica e minerale) Outra:____________________

15. Como realiza o controle de pragas e doenças na área?a) Não realizab) Realiza, mas sem uso de agrotóxicosc) Realiza, com uso de agrotóxicos

16. Irrigação na área:a) Aspersãob) Gotejamentoc) Tripa (mangueira perfurada a laser)d) Por sulcose) Não fazf) Outro:________________________

17. Quais os tipos de criações de animais existentes antes do PNAE?a) Bovinosb) Suínosc) Avesd) Caprinose) Outro:____________

18. Quais os tipos de criações de animais existentes após do PNAE?a) Bovinosb) Suínosc) Avesd) Caprinose) Outro:_______________

19. A área utilizada para cultivo e criação animal aumentou?a) Simb) Não

20. Qual o tamanho da área explorada para produção agropecuária? Há reserva legal averbada? Quanto de reserva?

________________________________________________________________________21. Qual o principal mercado da produção agropecuária do lote?

a) Venda institucionalb) Empresa privadac) Atravessadord) Venda em feira livree) Ceasaf) Outro:_________________________

22. Como é feita a escolha dos cultivos produzidos no lote?a) Livre escolha do produtorb) Definido pela prefeiturac) Definido pela associação

d) Discutido e acordado entre as partese) Outra:_________________________

23. A Assistência técnica está vinculada à participação no PNAE?a) Simb) Não

24. A produção agropecuária aumentou após à entrada no PNAE?a) Simb) Não

25. O valor da cota é satisfatório?a) Simb) Não

26. Houve melhoria nas condições de vida após à entrada no programa?a) Simb) Não

27. Na sua opinião o que tornaria o PNAE melhor?a) Maior cotab) Pagamento mais rápidoc) Menos burocracia no processod) Outro:__________________________________________________________

28. Quais as suas considerações acerca das diferenças entre o PNAE operado no município para o PNAE operado pelo governo do estado?

29. Existe algum ponto a considerar a respeito do programa? Qual sua opinião sobre ele?

ANEXO 2Roteiro de Entrevistas Aplicado com o Gestor Público da Prefeitura

Municipal de UberlândiaUNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA -UFU

INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIASGRADUAÇÃO EM AGRONOMIA

Formulário de pesquisa elaborado e aplicado por: João George MoreiraOrientador: Prof. João Cleps JúniorPeríodo: 2014-2015

Roteiro de entrevistas realizadas nos Trabalhos de Campo1

1- A respeito dos programas para a agricultura existente no município de Uberlândia,existe algum financiado exclusivamente pela prefeitura?

2- A que tipo de agricultor se destina?3- Quando a prefeitura começou a implantar esses planos?4- Quais os critérios exigidos para se aderir aos planos?5- Sobre os programas de compra institucional, como o PNAE, tem registro de quando

chegou ao município?6- A que tipo de agricultor se destinava?7- A prefeitura desempenhava algum papel na aquisição dos produtos agrícolas?8- Qual era o tipo de produtos mais demandados no programa?9- Como funcionava a compra institucional?10- E atualmente, 2015, como se dá essa aquisição pelo PNAE?11- Qual o número (aproximado) de pessoas/famílias que acessam o programa?12- Em quais produtos agrícolas o município foca a demanda?13- Quanto recurso já foi investido desde que o programa chegou ao município?14- Como é definido a escolha dos produtos agrícolas a serem produzidos pelo PNAE?

Como os agricultores encaram o processo de escolha?15- A respeito dos assentamentos de reforma agrária, quando os assentados começaram a

acessar e participar do programa?16- Os critérios para a participação no PNAE aos assentados é o mesmo que para os demais

agricultores familiares?17- Em algum assentamento já é possível observar algum tipo de mudança (na produção,

qualidade de vida) após a entrada no PNAE?18- Qual o número de famílias que participam do programa atualmente?19- Quanto de recurso do programa já foi repassado aos assentamentos de reforma agrária

do município?20- Qual sua opinião sobre o programa?21- Em outros trabalhos realizados em assentamentos de reforma agrária, constatou-se a

necessidade (e vontade) que os assentados têm com relação à assistência técnica para aprodução. Em Uberlândia, a prefeitura oferece esse serviço nos assentamentos rurais?Quais?

1 Essas perguntas foram as norteadoras das entrevistas realizadas com um dos agrônomos da prefeitura. Jácom os assentados do PA Emiliano Zapata as entrevistas foram semiestruturadas (começando com umdirecionamento mas se tornando livres ao longo da conversa), pedi à eles que contassem suas trajetórias noassentamento e o que mais achassem relevante falar.

22- Existe alguma assistência técnica vinculada ao PNAE? Quem executa?23- Os técnicos que no geral possuem mais contato com os assentados, percebem a

(in)satisfação deles em relação à assistência técnica? 24- Como tem sido o pagamento dos produtos oferecidos pelos agricultores?25- Há problemas no fornecimento dos produtos por parte dos agricultores?26- Em quais pontos considera que o programa poderia ser aprimorado? Como a prefeitura

pode colaborar nessa melhoria, se houver?27- Qual a posição da secretaria municipal de agropecuária e abastecimento da

Prefeitura Municipal de Uberlândia em relação ao PNAE?