o programa de proteÇÃo ao emprego – ppe 2015 desviando o foco das atenÇÕes
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O PROGRAMA DE PROTEÇÃO AO EMPREGO – PPE 2015
DESVIANDO O FOCO DAS ATENÇÕES
Jesus Antonio da Silveira
A MP 680, surge galantemente como salvadora da pátria, possibilitando a flexibilização da
jornada de trabalho e consequente redução proporcional de salários. Como compensação oferece ao
trabalhador 50% da parcela referente à redução de salário, respeitadas as regras do seguro desemprego.
É o capitalismo influenciando o proletariado, lançando novamente uma cortina de fumaça com a nítida
intenção de desviar o foco das atenções do trabalhador, transferindo-lhe a responsabilidade pelo
possível desemprego, estabilização da economia, recuperação e fortalecimento da indústria e ao
mesmo tempo, de forma velada desestabilizar as entidades sindicais.
Na visão de Weber, o que define o capitalismo moderno não é a busca incessante do lucro,
mas a acumulação, que segundo Marx pode gerar mais capital, e, por fim utilizando-se do
trabalhador para arrecadar e produzir para vender.“À medida que a burguesia cresce, isto é, o
capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe operária moderna que só pode viver sob a
condição de encontrar trabalho e que só o encontra quando o seu trabalho aumenta o
capital”“Proletários de todos os países, uni-vos!” (Marx e Engels – “O Manifesto Comunista”).
Bem, não somos comunistas, entretanto, na visão dos capitalistas, se produzirmos para
aumentar o capital, teremos emprego. Mas não somos responsáveis pelas crises políticas nem
tampouco pelos reflexos dessa crise na economia do país. Também não somos culpados pelo
sucateamento do parque industrial, que ao longo dos anos vem enfraquecendo a capacidade de
produção e competitividade em nosso país. No cenário atual, fica nítido que o governo busca imputar
ao operário a responsabilidade pela própria manutenção de seu posto de trabalho, e para isso,
sujeitando-se aos mais diversos sacrifícios.
A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, no Capítulo VIII – DA FORÇA MAIOR, os
Artigos 501 a 510, tratam da possibilidade de redução de jornada e salário em até 25%, que
combinados com o artigo 7º, VI, X da Constituição Federal, prevê a negociação coletiva com o
sindicato representativo da categoria. Assim, EM CASO DE FORÇA MAIOR uma empresa pode
solicitar ao sindicato a aplicação do dispositivo legal, justificando sua necessidade e força maior para
que se evitem demissões. Este por sua vez, formula o acordo com base nas necessidades apresentadas
e em assembléia informa aos trabalhadores, que em maioria aprovam ou não.
Aprovado, o órgão competente do Ministério do Trabalho homologa o acordo e o sindicato
fiscaliza sua aplicação, e, na empresa passa a ocorrer a redução de até 02 (duas) horas diárias, o que é
lógico, o trabalhador passa a laborar apenas 06 (seis) horas, e a empresa reduz em 25% suas despesas
com salários, tributos e outras despesas acessórias. E isso, sem ter que cumprir outras metas ou
encerrar outros acordos coletivos em vigência. A única diferença está na oferta de 50% da perda do
trabalhador e na necessidade de a empresa estar em dia com suas obrigações tributárias,
previdenciárias e fiscais. Surgindo a seguinte dúvida: De que forma empresas endividadas irão saldar
eventuais débitos em banco de horas? Até porque, as negociações são livres desde que não traga
prejuízos ao trabalhador.
No decreto nº 8479 muito bem elaborado por sinal, temos a redução de até 30% índice que
jamais será aplicado, pois ninguém irá reduzir jornada em 2,4 horas. A crise política e econômica
provocada pela má administração gera a recessão e nesse senário, a mídia atira para todos os lados,
com matérias encomendadas instalando o terror. Assim é criada a condição necessária para o governo
surgir como salvador da pátria. Primeiro veio o ajuste com as MPS 664 e 665 que todos já conhecem o
resultado, instalando a crise e fazendo trabalhadores e aposentados se manifestarem contrariamente, e
com o resultado, perdemos e ganhamos. Agora vem o segundo tempo.
A proposta do governo busca beneficiar empregados e empresas, com um Plano de
Preservação do Emprego – PPE, que para a empresa aderir, tem que estar em dia com as obrigações
tributárias e previdenciárias, ai surge dúvidas, quais sejam: Será que a maioria das grandes empresas
nos últimos meses estão sendo obrigadas a inadimplir as obrigações tributárias para garantia de
salários e passaram a demitir em massa? O que foi feito do capital acumulado nos últimos anos? O que
será que está acontecendo com as médias e pequenas empresas não optantes pelo simples? Bom
lembrar que empresas não participam de concorrência para prestação de serviços públicos se não
estivere em dia com as obrigações tributárias e previdenciárias.
Ainda assim, grande é o número de empresas que estão inadimplentes com esses tributos para
garantirem pagamento de salários e permanência de profissionais, portanto, para aderirem terão que
saldar suas dívidas e abastecer os cofres do governo, que necessita desses valores para custear suas
despesas. Isso é errado, claro que não, ocorre que a forma como está sendo colocado o plano, apesar
de haver a exigência da participação dos sindicatos, as negociações coletivas estão tomando outro
rumo, o que fragiliza a atuação sindical, pois fica como se o sindicato estivesse cumprindo obrigação
exigida pelo governo. E esse não é o nosso papel, somos representantes de categorias, lutamos pelos
direitos já garantidos e conquistados com muita luta, buscando melhorias e novas conquistas para a
classe trabalhadora. Não devemos ser responsáveis pela realização e operacionalização das manobras
do governo. Não devemos ser manobrados para gerar informações sobre a saúde financeira das
empresas e repassá-las ao governo, isso é papel de auditores fiscais, e, esses profissionais concursados
estão em processo de extinção pela falta de concurso público.
A MP é transparente, em seu Artigo 1º Inciso II, visa “favorecer a recuperação econômico-
financeira das empresas” no Inciso III, busca “sustentar a demanda agregada durante momentos de
adversidade, para facilitar a recuperação da economia”. Diante disso, fica explicito o objetivo do
governo, apesar das constantes investidas em favor da recuperação das empresas nos últimos anos,
com isenção de impostos, leis de recuperação fiscal e judiciaria, concessão de empréstimos e assim
por diante. No Artigo 3º fica também explicita a intenção em manipulação da autonomia sindical,
“Art. 3º As empresas que aderirem ao PPE poderão reduzir, temporariamente, em até trinta por
cento, a jornada de trabalho de seus empregados, com a redução proporcional do salário. § 1º A
redução que trata o caput está condicionada à celebração de acordo coletivo de trabalho específico
com o sindicato de trabalhadores representativo da categoria da atividade econômica preponderante,
conforme disposto em ato do Poder Executivo”.
Nesse sentido, é o trabalhador quem está pagando a conta, com seu salário já minguado, de
que forma irá cumprir seus compromissos, acaso seus credores também concordarão em reduzir-lhes
os débitos em até 30%? Cremos que não. O Artigo 2º aponta claramente a intenção do governo em
proteger o poderio econômico “Art. 2º Poderão aderir ao PPE as empresas que se encontrarem em
situação de dificuldade econômico-financeira, nas condições e forma estabelecidas em ato do Poder
Executivo federal. § 1º A adesão ao PPE terá duração de, no máximo, doze meses e poderá ser feita
até 31 de dezembro de 2015.” Isso não é coisa pra peixe pequeno não, a exemplo, vejam o resultado
da situação econômica das empresas que não recebem seus créditos pelas obras contratadas pela
Petrobras, já são milhares de desempregados. Quantos milhares estão recebendo seguro desemprego?
Quantos ainda serão demitidos? Será que até dezembro de 2015 tudo se resolve?
Em última análise, a MP determina: “À Secretaria Executiva do PPE, caberá receber,
analisar e deferir as solicitações de adesão ao PPE e fornecer o apoio técnico e administrativo
necessário.”Num pais em crise, em dificuldades econômicas e políticas, quais e quantos serão os
técnicos que farão as análises? Onde estarão locados nos estados e municípios? Quanto tempo levará a
análise? Que treinamento terão? De onde sairão (quem indicará) tantos técnicos?
Jesus Antonio da Silveira é metalúrgico, bacharel em direito e diretor presidente dos
STIMMME/JATAÍ/GO