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campanha pela auditoria da dívida e a CPI da Dívi- da, Solidariedade entre os Povos – Haiti, Cuba, Bolí- via, Venezuela, Paraguai e contra a militarização. A construção de alternativas – ALBA, a luta em defesa dos direitos sociais, a realização da Semana da Pá- tria com o Grito dos Excluídos e não podemos dei- xar de mencionar a luta pela Reforma Agrária. Também, lutamos contra e denunciamos as saídas que o capital direcionou para a crise que atingiu os trabalhadores/as no último período. Diante de tantas lutas continuamos com a necessidade de compreender as mudanças so- ciais e lutar contra o massacre dos pobres, dos/ as excluídos/as, a criminalização da pobreza e dos Movimentos Sociais. Ou seja, a situação de nosso povo continua uma tragédia. Não foram enfrentados os grandes desafios da nação. A terra continua concentrada, já que a reforma agrária não avançou como devia. O desempre- go e a desocupação continuam altíssimos, já que as políticas públicas e a iniciativa privada não favoreceram a criação de oportunidades de trabalho. A maioria da população continua com menos de dois salários mínimos mensais, e muitos só contam com dois reais por dia para sobreviver. O trabalho continua desvalorizado, de modo especial o dos jovens, das mulheres, dos negros e negras. Frente as lutas, desafios, necessidades e a complexa realidade, continuamos firmes no propósito de construir O Brasil que Queremos. Muitos foram os esforços de constituição de espaços, grupos, coletivos locais, regionais, es- taduais de Assembléia Popular para debater os problemas, e, principalmente as alternativas, as saídas para o trabalhadores e trabalhadoras. Ain- da, foram vários os momentos que, desde 2005, nos reunimos em plenárias nacionais para de- bater o projeto popular O Brasil que Queremos. É chegado o momento de olharmos para a ela- boração que conseguimos fazer até este momento dentro de um processo coletivo e em mutirão. O material que ora chega às mãos de milhares de mi- litantes, articuladores/as da Assembléia Popular de Norte a Sul, de Leste a Oeste de nosso país faz parte deste primeiro esforço de uma equipe de atualiza- ção. Este material é um Instrumento de Trabalho do que conseguimos atualizar desde o nosso gran- de momento em 2005. Cada coletivo, pastoral, rede, movimentos, entidade e grupo de Assembléia Po- pular poderá em plenárias locais, regionais e esta- duais debater, sugerir, incluir mais elementos para que este material torne-se, de fato, um projeto po- pular com a cara de todos os brasileiros/as, e conte- nha O Brasil que Queremos. Todo o material que for recebido da contribui- ção das Assembléias Populares locais, regionais, estaduais fará parte de uma nova elaboração que será apresentado e debatido na II Assembléia Popular Nacional marcada para os dias 25 a 28 de maio de 2010. Os movimentos sociais, as igrejas e pastorais sociais, as organizações da sociedade civil, as re- des e fóruns de mulheres e homens, do campo e das cidades, as forças sociais, enfim, responsáveis pelo processo da Assembléia Popular – Mutirão por um Novo Brasil e que constroem O Brasil que Queremos chegam em mutirão a mais um impor- tante momento do longo caminho percorrido desde a I Assembléia Popular Nacional realizada em outubro de 2005. Vários foram os avanços dessa cami- nhada alcançados desde as Semanas So- ciais Brasileiras, das Campanhas contra a ALCA e a Dívida, os plebiscitos, o Grito dos Excluídos e tantos outros processos. E que podemos resumir numa definição geral de que tipo de país queremos ser: um país politicamente democrático; economicamente justo; socialmente equitativo e solidário; culturalmente plu- ral; ambientalmente sustentável. Dese- ja-se tudo isto como obra de toda a so- ciedade, de uma cidadania ativa que exige seus direitos, que radicaliza a de- mocracia, participa das decisões que di- zem respeito à vida de todas as pessoas em todos os âmbitos e dimensões da vida e do planeta. Desde a realização da I Assembléia Popular entre os dias 25 a 28 de outubro de 2005 muitos foram os desafios enfrentados pelo con- junto dos articuladores e articuladoras do proces- so da Assembléia Popular. Podemos citar: a Cam- panha pela reestatização da Companhia Vale do Rio Doce e o plebiscito, a luta pela não Transposi- ção do Rio São Francisco, a luta em defesa dos povos indígenas e a demarcação das terras indíge- nas, quilombolas e dos povos tradicionais, a luta das mulheres contra a violência e a opressão. Ainda ti- vemos a luta pela redução da Tarifa de Energia, a De Fevereiro a Abril/2010 Realização das Assembléias Populares (APs) locais, estaduais e regionais com o debate, sistematização e coleta das contribuições para os textos de atualização do Brasil que Queremos. O PROCESSO EM MUTIRÃO... Fique atento no Calendário da AP Até 30 de Abril de 2010 Envio das contribuições das APs locais, regionais e estaduais para a secretaria operativa. Enviar através do e-mail a ssembleiapopular@t err a.c om.br e/ou pelo fax (11) 3105-9702. MUTIRÃO POR UM NOVO BRASIL O BRASIL QUE QUEREMOS - INSTRUMENTO DE TRABALHO

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

campanha pela auditoria da dívida e a CPI da Dívi-da, Solidariedade entre os Povos – Haiti, Cuba, Bolí-via, Venezuela, Paraguai e contra a militarização. Aconstrução de alternativas – ALBA, a luta em defesados direitos sociais, a realização da Semana da Pá-tria com o Grito dos Excluídos e não podemos dei-xar de mencionar a luta pela Reforma Agrária.Também, lutamos contra e denunciamos as saídasque o capital direcionou para a crise que atingiu ostrabalhadores/as no último período.

Diante de tantas lutas continuamos com anecessidade de compreender as mudanças so-ciais e lutar contra o massacre dos pobres, dos/as excluídos/as, a criminalização da pobreza edos Movimentos Sociais. Ou seja, a situação denosso povo continua uma tragédia. Não foramenfrentados os grandes desafios da nação. Aterra continua concentrada, já que a reformaagrária não avançou como devia. O desempre-go e a desocupação continuam altíssimos, já queas políticas públicas e a iniciativa privada nãofavoreceram a criação de oportunidades de

trabalho. A maioria da população continua commenos de dois salários mínimos mensais, emuitos só contam com dois reais por dia parasobreviver. O trabalho continua desvalorizado,de modo especial o dos jovens, das mulheres,dos negros e negras.

Frente as lutas, desafios, necessidades e acomplexa realidade, continuamos firmes nopropósito de construir O Brasil que Queremos.Muitos foram os esforços de constituição deespaços, grupos, coletivos locais, regionais, es-taduais de Assembléia Popular para debater osproblemas, e, principalmente as alternativas, assaídas para o trabalhadores e trabalhadoras. Ain-da, foram vários os momentos que, desde 2005,nos reunimos em plenárias nacionais para de-bater o projeto popular O Brasil que Queremos.

É chegado o momento de olharmos para a ela-boração que conseguimos fazer até este momentodentro de um processo coletivo e em mutirão. Omaterial que ora chega às mãos de milhares de mi-litantes, articuladores/as da Assembléia Popular deNorte a Sul, de Leste a Oeste de nosso país faz partedeste primeiro esforço de uma equipe de atualiza-ção. Este material é um Instrumento de Trabalhodo que conseguimos atualizar desde o nosso gran-de momento em 2005. Cada coletivo, pastoral, rede,movimentos, entidade e grupo de Assembléia Po-pular poderá em plenárias locais, regionais e esta-duais debater, sugerir, incluir mais elementos paraque este material torne-se, de fato, um projeto po-pular com a cara de todos os brasileiros/as, e conte-nha O Brasil que Queremos.

Todo o material que for recebido da contribui-ção das Assembléias Populares locais, regionais,estaduais fará parte de uma nova elaboração queserá apresentado e debatido na II AssembléiaPopular Nacional marcada para os dias 25 a 28de maio de 2010.

Os movimentos sociais, as igrejas e pastoraissociais, as organizações da sociedade civil, as re-des e fóruns de mulheres e homens, do campo edas cidades, as forças sociais, enfim, responsáveispelo processo da Assembléia Popular – Mutirãopor um Novo Brasil e que constroem O Brasil queQueremos chegam em mutirão a mais um impor-tante momento do longo caminho percorrido

desde a I Assembléia Popular Nacionalrealizada em outubro de 2005.

Vários foram os avanços dessa cami-nhada alcançados desde as Semanas So-ciais Brasileiras, das Campanhas contraa ALCA e a Dívida, os plebiscitos, o Gritodos Excluídos e tantos outros processos.E que podemos resumir numa definiçãogeral de que tipo de país queremos ser:um país politicamente democrático;economicamente justo; socialmenteequitativo e solidário; culturalmente plu-ral; ambientalmente sustentável. Dese-ja-se tudo isto como obra de toda a so-ciedade, de uma cidadania ativa queexige seus direitos, que radicaliza a de-mocracia, participa das decisões que di-zem respeito à vida de todas as pessoasem todos os âmbitos e dimensões davida e do planeta.

Desde a realização da I AssembléiaPopular entre os dias 25 a 28 de outubro de 2005muitos foram os desafios enfrentados pelo con-junto dos articuladores e articuladoras do proces-so da Assembléia Popular. Podemos citar: a Cam-panha pela reestatização da Companhia Vale doRio Doce e o plebiscito, a luta pela não Transposi-ção do Rio São Francisco, a luta em defesa dospovos indígenas e a demarcação das terras indíge-nas, quilombolas e dos povos tradicionais, a luta dasmulheres contra a violência e a opressão. Ainda ti-vemos a luta pela redução da Tarifa de Energia, a

De Fevereiro a Abril/2010 Realização das Assembléias Populares(APs) locais, estaduais e regionais como debate, sistematização e coleta dascontribuições para os textos deatualização do Brasil que Queremos.

O PROCESSO EM MUTIRÃO...

Fique atento no Calendário da AP

Até 30 de Abril de 2010 Envio das contribuições das APs locais,regionais e estaduais para a secretariaoperativa. Enviar através do [email protected] e/oupelo fax (11) 3105-9702.

MUTIRÃO POR UM NOVO BRASILO BRASIL QUE QUEREMOS - INSTRUMENTO DE TRABALHO

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

O QUE É O PODER POPULAR?

Todas as atividades e lutas que o povo desen-volve, com autonomia e sem depender do Esta-do ou do poder econômico, são manifestaçõesdo Poder Popular.

Uma greve, uma ocupação de terra, moradia,fábrica, uma manifestação, uma marcha, assimcomo a construção de movimentos e organiza-ções autônomas e independentes do Estado e dopoder do capital, são manifestações da constru-ção do Poder Popular.

A luta histórica dos/as trabalhado-res/as comprovou que o Estado atual,mesmo com suas contradições, é aprincipal forma de organização políti-ca da classe dominante. O Estado nãoé apenas o Poder Executivo, mas tam-bém o Legislativo, Judiciário, as ForçasArmadas e todos os demais aparatosrepressivos, os meios de comunicaçãoe a estrutura de ensino. Enfim, todasas estruturas usadas para manter e re-produzir a ideologia da classe domi-nante.

Sem a construção de um ou-tro Estado, não é possível asseguraraos/as trabalhadores/as seus direitosplenos, assim como o controle da for-ma como os frutos do trabalho sãoproduzidos e distribuídos. A conquis-ta de um outro Estado é fundamentalna nossa luta de construção do Proje-to Popular para o Brasil.

A Assembléia Popular é um espaçocotidiano de construção do Poder Po-

pular. Neste sentido a AP não é apenas uma arti-culação de forças sociais e políticas, mas ela mes-ma deve se constituir enquanto uma força políti-ca com as características do Poder Popular quequeremos construir.

ONDE COMEÇA A CONSTRUÇÃO DOPODER POPULAR?

Quando se fala em Poder Popular, geral-mente as pessoas pensam em algo distante, algoque tem a ver com o poder político institucional,com Brasília etc. Mas não é isso. A construção doPoder Popular começa por onde as pessoas mo-ram e vivem. É ali que ocorrem os principais em-bates com o poder publico, quando este não aten-de os direitos de educação, de saúde, de mora-dia, de lazer etc., da maioria da população; é alique se sentem os efeitos das empresas explora-doras de nossas riquezas e destruidoras do meioambiente. É a partir do local de moradia e de vidaque começamos a nos organizar para mudar estarealidade.

Pensar o Poder Popular é ter um projeto deum novo bairro, um novo acampamento, um novoassentamento, enfim de um novo território. Umterritório que seja pensado e organizado paraatender os direitos da maioria da população, enão um território para poucos/as. Um territórioonde o povo tenha os instrumentos para ele pró-prio ser porta-voz de suas necessidades e de suaspropostas. Um território onde o povo tenha opoder de participar e de decidir. Um territórioonde o povo seja o poder.

É a partir desta luta permanente de constru-ção do Poder Popular local que vamos constru-indo o Poder Popular na Nação brasileira comoum todo.

EM QUE E COMO SE MANIFESTA OPODER POPULAR?

A forma principal de manifestação do PoderPopular é a organização autônoma e independen-te do povo e as suas lutas concretas. Só que estanossa organização não pode ter os mesmos víci-os que tem a organização dos poderosos, que écentralizada, personalista, machista, racista ediscriminatória. A nossa organização precisa sero espelho do que queremos construir: um PoderPopular onde o povo seja o Poder, e não apenasum poder onde o povo esteja no poder por umtempo.

Para tanto, precisamos terminar com todas asformas de desigualdades, sejam elas frutos dasclasses sociais, da questão de gênero, da questãoétnico-racial, de orientação sexual, de lugar ondemoramos etc. Poder Popular é um processo per-manente de organização popular e de construçãode uma nova sociedade, e ele se manifesta todasas vezes que nos organizamos e lutamos.

Mas não construímos um Poder Popular senão temos um Projeto Popular de Brasil. Semum projeto próprio é impossível alcançar conquis-tas reais, duradouras, importantes e com capaci-dade de mudar a lógica de como a vida é organi-zada hoje.

A CONCEPÇÃO DE PROJETO POPULAR,SEUS REFERENCIAIS, VALORES E PRINCÍPIOS

Constituem o Projeto Popular as definiçõesque expressam como o povo quer que seja orga-nizada a sociedade brasileira em todas as dimen-sões de sua vida e em todas as formas de relaçãocom os biomas que constituem o seu território,incluindo como quer que sejam organizadas asinstituições estatais.

Quando falamos em Projeto Popular, precisa-mos definir os princípios democráticos que onorteiam. Os princípios devem ser: igualdade, di-versidade, justiça, liberdade, cooperação, par-

ticipação, transparência e controle social. Po-demos definir estes princípios da seguinte ma-neira:

• Igualdade: é a busca permanente pelaigualdade entre as pessoas, respeitando a diver-sidade. Opõe-se às disparidades de renda, de pos-se de terra, de representação política, de apro-priação da riqueza produzida nas relações de tra-balho e de acesso à saúde, à educação, aos espa-ços de decisão e ao comércio internacional entreos países, entre outras.

• Diversidade: diferenças dadas por aspec-tos de gênero, geracional, raça/cor, etnia, orien-tação sexual, pessoas com deficiência, entre ou-tros. Diz respeito também aos diferentes espaçosgeográficos onde as populações se organizam(biomas, áreas urbana e rural, comunidades tra-dicionais, quilombolas, ribeirinhas e indígenas) eàs diferentes atividades econômicas praticadas(extrativista, artesanal, agricultura familiar, ativi-dade pesqueira e industrial). O conceito de diver-sidade não se opõe ao de igualdade, pois a igual-dade busca respeitar as diferenças.

• Justiça: defesa dos Direitos Humanos Eco-nômicos, Políticos, Civis, Sociais, Culturais eAmbientais (DhESCAs), buscando assegurar osdireitos ameaçados, bem como garantir aimplementação dos direitos não reconhecidos oua conquista de novos direitos. Tem como orien-tação posicionar-se contra práticas que benefici-em o interesse privado em detrimento do inte-resse público (entre essas, o clientelismo, opatrimonialismo, o nepotismo, a corrupção, opreconceito e as discriminações). O conceito dejustiça incorpora o direito à rebelião, isso é, dopovo se rebelar, lutar de todas as formas contraas injustiças e a opressão.

• Liberdade: princípio que prevê a livre ex-pressão, movimentação, atividade política e deorganização dos/as cidadãos/ãs. Orienta o cida-dão a expressar-se e a atuar politicamente emdefesa de valores democráticos, como a igualda-de e os Direitos Humanos; contestar e atuar poli-ticamente contra situações de desigualdades so-ciais, políticas, jurídicas e econômicas. O princi-pio da liberdade pressupõe a livre organização dasociedade civil.

• Cooperação: forma de relação entre aspessoas em todas as áreas, mas especialmenteno campo da economia, superando a concorrên-cia e a exploração através de iniciativas em queas pessoas participem solidariamente em todasas fases da produção do que é necessário e paraque todas as pessoas alcancem e tenham garan-tido o bom viver: desde o projeto, o planejamen-to, a execução, a avaliação e a distribuição doexcedente econômico.

• Participação: atuação da sociedade civil(movimentos sociais, organizações populares

CONSTRUIR O PODER POPULAR ÉCONSTRUIR UM PROJETO POPULAR DE BRASIL

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

etc.) nos espaços públicos de decisão. Deveocorrer, preferencialmente, por meio da insti-tucionalização de mecanismos de democraciaparticipativa e direta, inclusive na elaboração,deliberação, implementação, monitoramento eavaliação das políticas públicas. É também umprocesso de aprendizado, na medida em quequalifica a intervenção de cidadãos/ãs para aatuação nos espaços públicos de decisão. Nãoexiste participação sem poder de decisão.

• Transparência: acesso universal às infor-mações públicas, por meio da disponibilidadeinteligível ao conjunto da população. Inclui tam-bém a divulgação ampla, permanente e impar-cial das decisões públicas, sejam oriundas daburocracia ou dos representantes eleitos/nome-ados. É uma postura ética, necessária ao exercí-cio do poder público. A transparência e o acessoàs informações públicas fazem parte da defesado direito humano à comunicação.

• Controle social: monitoramento do Esta-do por parte da sociedade civil que atua no cam-po democrático, em especial por meio dos movi-mentos sociais, visando o controle das ações go-vernamentais. A qualidade do controle social pres-supõe a transparência e o acesso às informaçõespúblicas. O controle social visa à defesa e àimplementação de políticas públicas que respei-tem o conceito de igualdade, universalidade, di-versidade, justiça e liberdade.

O QUE O PROJETO POPULAR DEVEENFRENTAR

O Projeto Popular deve enfrentar problemasque estão na origem do Estado brasileiro, comoo patriarcalismo, o patrimonialismo, a oligar-quia, o nepotismo, o clientelismo, ocorporativismo, o personalismo e a corrupção.Entendemos por:

• patriarcalismo: qualquer sistema de orga-nização política, econômica, industrial, financei-ra, religiosa e social, no qual a esmagadora maio-ria das posições superiores na hierarquia seja ocu-pada por homens;

• patrimonialismo: conduta política de eli-tes dominantes no exercício de funções públicasde governo, que se caracteriza pela apropriaçãodo que é público – do Estado, suas instituições e

seus recursos – como se fosse patrimônio priva-do;

• oligarquia: forma de governo em que opoder está concentrado nas mãos de um peque-no número de indivíduos, em geral com laços fa-miliares e/ou vínculos partidários, e pertencen-tes a classes sociais privilegiadas. A organizaçãopolítica patriarcal e a conduta patrimonialista sãotraços marcantes dos poderes oligárquicos;

• nepotismo: prática de favorecimento e dis-tribuição de empregos a parentes por parte depessoas que exercem cargos e funções públicas;

• clientelismo: prática baseada na troca defavores e no apadrinhamento, usando-se as es-truturas e serviços públicos no interesse particu-lar daqueles que exercem a função pública;

• corporativismo: ação (sindical, política etc.)em que prevalece a defesa dos interesses ou pri-vilégios de um setor organizado da sociedade, emdetrimento do interesse público;

• personalismo: culto à personalidade, coma conseqüente desvalorização do debate políticoe a despolitização dos conflitos;

• corrupção: apropriação e desvio de recur-sos públicos para fins particulares, além de servircomo ardil para manter-se imune às punições le-gais existentes e meio para manter-se no poder.A corrupção é aqui entendida também como ausurpação do poder do povo.

Sem enfrentar este conjunto de desvios eabusos de poder não há como implementar oProjeto Popular baseado nos princípios que de-fendemos acima.

A QUEM PERTENCE O PODERPOPULAR E QUEM DEVE EXERCÊ-LO

Se “todo o poder emana do povo”, conformedefine a Constituição Federal brasileira, pensaro Poder Popular e o Projeto Popular é buscarformas para que este poder seja efetivamenteexercido pelo povo, que tem o direito de exercê-lo de forma direta e não apenas por delegação erepresentação.

Significa, também, pensar novos mecanis-mos que possibilitem o exercício do poder pelopovo. Hoje, basicamente, o poder é exercidovia partidos políticos e nos processos eleitorais.Isso é suficiente? Ou devemos ser ousados e

pensar em outras formas para se exercer o po-der?

Democracia é muito mais que o direito devotar e ser votado. A população não pode serchamada a participar apenas nos momentoseleitorais. É necessário criar novos mecanismosde participação, que resgatem o poder de deci-são da população. Precisamos pensar outrasformas de se fazer política, pois as atuais nãodão conta da participação efetiva da populaçãonos assuntos que lhes dizem respeito.

OS SUJEITOS POLÍTICOS DA CONSTRUÇÃODO PROJETO POPULAR

Participam da construção do Projeto Populartodas as iniciativas que procurem construir umasociedade em que todas as pessoas tenham seusdireitos reconhecidos e garantidos. No caso daAssembléia Popular, são sujeitos desse processotodas as organizações e movimentos que a cons-tituem, bem como todas as pessoas que estes vãomobilizando para que participem e sejam mem-bros das Assembléias Populares locais, estaduaise nacional.

É importante destacar a importância decisivadas lutas, reflexões críticas e propostas dos po-vos indígenas, afrobrasileiros/as, homoafetivos,comunidades tradicionais, camponeses/as, agri-cultores familiares, sem-terra, assalariados docampo e da cidade, desempregados... É na rique-za dessas práticas que se encontram experiênci-as, aspirações e propostas para um outro Brasil,construído com e pelos excluídos.

O QUE É A AP?

Toda prática que visa articular forças sociais epolíticas em vista da elaboração de um ProjetoPopular para o Brasil, desde as localidades, muni-cípios, estados e em âmbito nacional, faz parte eajuda a construir a AP.

Mais concretamente, a AP é formada pelosmovimentos sociais, pastorais sociais, organiza-ções populares articulados nos diferentes âmbi-tos da luta popular e que acreditam na constru-ção do Poder Popular e atuam segundo o ProjetoO Brasil que Queremos. As secretarias, as plená-rias e as assembléias locais, regionais, estaduaisou mesmo nacional são espaços organizativosda Assembléia Popular.

A conjuntura atual favorece ou dificulta a

construção de um Projeto Popular para o

Brasil? Qual o papel que a AP pode

cumprir nesta conjuntura?

O que vocês acham da concepção,

princípios e valores do nosso Projeto

Popular apresentados neste texto?

Acrescentamos outros? Retiramos

alguns? Quais?

SUGESTÕES DE PERGUNTAS PARA O DEBATE:

O que o nosso Projeto Popular deve

enfrentar?

Qual o sentido e significado da AP?

Em que e como a AP se relaciona com o

Poder Popular?

Quais as estratégias para a construção e

fortalecimento da AP?

Como pode ou deve se organizar a AP?

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

Os direitos da Terra1. OS DIREITOS DO PLANETA TERRA.

1.1– Ao clima: o planeta Terra comporta-secomo um ser vivo e deve ter as condições de vidapreservadas pelo ser humano, para benefício dopróprio planeta, da comunidade da vida que ohabita, particularmente o próprio ser humano.Nós dependemos do planeta para existir; ele nãodepende de nós. Não podemos modificar seu cli-ma, porque dependemos dele para estar aqui.

1.2– À cobertura vegetal: o planeta Terra,como qualquer ser vivo, tem seu próprio meta-bolismo. Ele precisa de sua cobertura vegetal paraprocessar seu metabolismo: absorver a luz do sol,realizar a fotossíntese, captar o gás carbônico exa-lado pelos animais, liberar oxigênio para todos osseres vivos. Portanto, nem toda a face da Terraestá disponível para o ser humano praticar agri-cultura, ou construir cidades, ou desmatar emfunção de seus próprios interesses. Oszoneamentos ecológico-econômicos podem seruma ferramenta útil no planejamento do quepode ser modificado e na definição do que nãopode ser modificado.

1.3– Direitos da comunidade da vida: todacomunidade da vida que habita a face da Terratem direito aos biomas, ecossistemas e demaiscondições ambientais para continuar vivendo. Oser humano depende dos demais seres vivos enão pode arrogar para si a exclusividade do direi-to à vida.

2. OS DIREITOS AMBIENTAIS DACIDADANIA PLANETÁRIA.

2.1– Direito dos cidadãos do mundo ao climaestável: todas as pessoas têm direito a um climasaudável para viver.

2.2– Direito à água limpa: todos os seres hu-manos, comunidades, povos, têm direito à águapotável para beber e para satisfazer as suas de-mais necessidades.

2.3– Direito à cobertura vegetal: todos os se-res humanos têm direito à cobertura vegetal ne-cessária para absorver o gás carbônico, ao climaadequado às suas vidas, aos bens produzidos pe-los vegetais como grãos, legumes, frutas, frutosetc.

3. RESPONSABILIDADES PLANETÁRIAS.

3.1– Deveres planetários para com a Terra:todas as pessoas, comunidades e povos têm obri-gações de manter o ambiente saudável da Terra.Respeitar as florestas nativas, a biodiversidadeque elas contém, os mananciais de água, os so-los, o ar que respiramos.

3.2– O cuidado com o clima: preservar o cli-ma adequado a todas as formas de vida é deverde todas as pessoas, comunidades e povos. Cabe

ao conjunto dos seres humanos, na compreen-são de uma cidadania planetária, construir umaaliança mundial para cuidar da Terra como umbem de todos os seres vivos, particularmente osseres humanos.

3.3– Com a vegetação: cabe a cada pessoa,comunidade e povo evitar que a pele da Terra sejaainda mais desmatada, destruindo abiodiversidade e expondo o planeta ao aqueci-mento global e demais males oriundos dodesmatamento. Cabe a cada pessoa, comunida-de e povo colaborar para que a Terra recupere acobertura vegetal necessária para processar seumetabolismo.

3.4– Com os solos: os solos estão destinadosa produzir alimentos para 6,5 bilhões de pessoasque hoje habitam a face da Terra. É uma respon-sabilidade que esses solos mantenham sua ferti-lidade para as futuras gerações. Portanto, é deresponsabilidade atual a preservação dos solospara que produzam alimentos para toda a huma-nidade em qualquer época. Evitar odesmatamento de áreas frágeis, a salinização, adesertificação, a degradação dos solos é obriga-ção da geração presente em vista das geraçõesfuturas.

3.5– Com a água: hoje, na humanidade, 1,4bilhão de pessoas não tem acesso à segurançahídrica e 2,4 bilhões não tem acesso ao sanea-mento ambiental. Em média 70% da água docesão destinados para agricultura, 20% para a in-dústria e 10% diretamente para o consumo hu-mano. Preservar as fontes de água doce, tanto asde superfície como as subterrâneas, evitar a po-luição das águas, evitar sua privatização emercantilização, é garantir o futuro dos humanose demais seres vivos na face da Terra, tanto paraos que dependem da água doce, como os quedependem da água salgada. Sem água não hávida. É dever de cada pessoa, cada comunidade,cada povo: preservar a água; mantê-la limpa; re-cuperar os mananciais degradados; respeitar ociclo das águas sem sobrecarregar os aqüíferos;fomentar uma agricultura de baixo consumo deágua e que não a polua; garantir a águaprioritariamente para saciar a sede humana edessedentar os animais; reconhecer a água comoum direito fundamental da pessoa humana e umpatrimônio de todos os seres vivos.

3.6– Para com todos os povos: na cidadaniaplanetária todos os povos têm direitos e deveres.A justiça climática, no caso em que os que maisusufruíram do planeta foram também os que maiso destruíram, exige que os maiores predadoresreconheçam os direitos dos prejudicados, inclu-sive os direitos da Terra, reorientem seu modelode desenvolvimento, assumam responsabilidadestecnológicas, ambientais, sociais e econômicasperante os mais prejudicados. Que esses, quetambém tem sua contribuição a dar, estejam dis-postos a utilizar seus recursos para o bem de seuspovos e de toda a Humanidade.

Direitos ambientais noBrasil a partir dos biomas

brasileiros

1. OS DIREITOS DO BIOMA AMAZÔNIA

O bioma Amazônia tem uma área de quase 4milhões e 200 mil quilômetros quadrados e ocu-pa a totalidade de cinco estados – Acre, Amapá,Amazonas, Pará e Roraima -, grande parte deRondônia (98,8%), mais da metade do Mato Gros-so (54%), além de parte do Maranhão (34%) eTocantins (9%). Sessenta por cento da Amazôniase encontra no Brasil, ocupando quase a metade– 49,29% – do território brasileiro. A Bacia Ama-zônica total ocupa 5% do território da AméricaLatina, com 6,5 milhões de quilômetros quadradose abriga a maior rede hidrográfica do planeta.

1. Os direitos do bioma Amazônia: por suaságuas, floresta e imensa biodiversidade, a Ama-zônia presta um serviço ambiental incalculável aosamazônidas, ao povo brasileiro, a toda a Huma-nidade e a todo o Planeta. Este bioma tem o di-reito de permanecer íntegro, livre da agressãohumana e continuar prestando serviçosambientais a toda a comunidade da vida e ao pró-prio Planeta.

1.1- Os direitos dos povos amazônidas: os po-vos amazônidas, incluindo todos os países e po-vos que a ocupam, têm o direito primordial dousufruto dos bens oferecidos pela floresta ama-zônica, a usufruir de suas águas e de toda suabiodiversidade.

1.2- Os povos amazônidas, em território bra-sileiro, têm o direito de usufruir das terras ama-zônicas, considerando a fragilidade de seus solos,desenvolvendo atividades econômicas como acoleta, a pesca, o extrativismo, o manejo flores-tal e demais atividades que respeitem o ambien-te em que vivem.

1.3- A reforma agrária que queremos naAmazônia precisa respeitar as características dobioma, mantendo a floresta em pé, desenvolven-do atividades econômicas que sejam adequadasao bioma.

1.4- Todas as demais formas de acesso à ter-ra, como os territórios indígenas, quilombolas,comunidades tradicionais, têm que ser conside-rados como serviços ambientais desses povos aopovo brasileiro, à Humanidade e a todo o plane-ta.

1.5- É dever de todos os povos, particularmen-te dos amazônidas, combater todas as formas dedestruição da floresta, em especial as madeirei-ras, a pecuária e as monoculturas, como a da sojae da cana.

1.6– Os direitos dos povos do mundo perantea Amazônia: todos os povos do mundo têm direi-to aos serviços ambientais oferecidos pela Ama-

EIXO 1

Direitos e deveres ambientais

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

zônia - fixação de CO2; ciclo das águas, que vematé o Cone Sul do Continente; essências efármacos oferecidos por sua biodiversidade, des-de que respeitem os direitos primordiais dos po-vos da floresta, reconheçam e respeitem seussaberes, respeitem as políticas de preservação esoberania dos Estados que têm aí parte de seuterritório.

1.7- Os deveres ambientais do mundo peran-te a Amazônia: todos os povos do mundo, exata-mente porque se beneficiam dos serviçosambientais dessa imensa floresta tropical, têm aobrigação de colaborar para que ela se mante-nha em pé, inclusive colaborando com o ônuseconômico que esse fato exige. Os povos do mun-do têm que contribuir com os povos amazônidaspara que protejam a floresta de toda destruição.

1.8– Os deveres ambientais dos povosamazônidas: os povos da Amazônia, uma vez res-peitados seus direitos ambientais e demais direi-tos, têm o dever de manter a floresta em pé, usu-fruindo de sua biodiversidade, de suas águas, deseus solos, porém, sem destruí-los.

2. OS DIREITOS DO BIOMA CAATINGA

O bioma Caatinga tem área de 844 mil e 453quilômetros quadrados, que corresponde a 11%do território nacional e 53% do Nordeste. Ocupatodo o estado do Ceará e mais da metade do RioGrande do Norte (95%), da Paraíba (92%), doPernambuco (83%), do Piauí (63%) e da Bahia(54%), quase a metade de Alagoas (48%), eSergipe (49%), além de pequenas porções de Mi-nas Gerais (2%) e do Maranhão (1%). A popula-ção do Semi-Árido de hoje é de 17 milhões dehabitantes, e dela faz parte a maior concentra-ção de população rural do Brasil. Mas os povosda Caatinga, alguns deles como sobreviventes,convivem com ela há mais de doze mil anos.

Os solos da Caatinga são rasos (0,60 metros,em média). A maior parte do subsolo (70%) éconstituída de rocha cristalino, mas são significa-tivas as regiões sedimentares, de solos mais pro-fundos e presença de importantes volumes deágua. O que caracteriza tecnicamente o climasemi-árido é uma precipitação pluviométrica(quantidade de chuva – 750 milímetros por ano)menor que a evapotranspiração (perda de águadevido a insolação – 3 mil horas de sol por ano).A temperatura é de 26 graus centígrados, emmédia.

O bioma Caatinga (“mata branca” em tupi),que só existe no Brasil, é também o mais desco-nhecido. Atualmente, são conhecidas na Caatin-ga 510 espécies de aves, 240 de peixes, 154 derépteis e anfíbios, 143 de mamíferos e mais de900 de plantas (eram apenas 50 em 1980). A Ca-atinga tem de 50 a 100 toneladas de biomassapor hectare, que podem absorver de 20 a 50 to-neladas de carbono.

2.1– Os direitos da comunidade da vida daCaatinga: a caatinga, cobertura vegetal caracte-rística do bioma, dá o nome a este bioma exclusi-vamente brasileiro. Ela é perfeitamente adapta-da ao clima semi-árido da região, com uma ricabiodiversidade, e tem o direito de permanecer empé, oferecendo seus serviços ambientais com er-vas medicinais, forrageira natural para os animais

silvestres e domesticados, flores para as abelhasproduzirem mel, além de árvores frutíferas.

2.2– Os direitos dos povos da Caatinga: ospovos da caatinga têm direito ao seu bioma comtodas as riquezas que ele oferece, com todas asformas de vida que ele abriga, à água que cai so-bre a região nos períodos chuvosos e que deveser estocada para ser usada nos períodos natu-ralmente sem chuva.

2.3– Os deveres ambientais dos povos da Ca-atinga: os povos deste bioma, juntamente comas autoridades em nível federal, estadual e muni-cipal, têm o dever de preservar a Caatinga, pro-tegendo sua rica biodiversidade animal e vege-tal, guardando a água nos períodos chuvosos paraser utilizada nos períodos sem chuva, promoven-do uma convivência adequada com o bioma - aconvivência com o semi-árido - através detecnologias apropriadas, manejos florestais, umaeducação contextualizada, uma reforma agráriacontextualizada, usufruindo e potencializando osbenefícios da região e respeitando os seus limites.

3. OS DIREITOS DO BIOMA PANTANAL

O Pantanal é a maior área alagada de águadoce do mundo. Possui grande diversidade emfauna e flora e rica diversidade cultural. No Bra-sil, o Pantanal abrange uma área de 150.355 qui-lômetros quadrados, compreendendo 25% deárea no Mato Grosso do Sul e 7 % do Mato Gros-so. Toda essa riqueza o faz ser reconhecido pelaUnesco como Patrimônio Natural Mundial e comoReserva da Biosfera, que inclui o patrimônio cul-tural. É necessário, então, implementar um con-junto de medidas que garantam sua recuperaçãoe preservação, e que sejam integradas com obioma Cerrado, já que boa parte dos rios que ali-mentam o Pantanal nasce naquele bioma.

3.1– Os direitos da comunidade da vida doPantanal: todos os seres vivos que formam oambiente do bioma Pantanal, sejam vegetais ouanimais, em perfeita interação com a dinâmicade suas águas, têm o direito de encontrar ali, de

forma permanente, o espaço para continuar vi-vendo e se reproduzindo.

3.2– Os direitos do povo pantaneiro: este éformado pelos povos indígenas, que convivemcom o Pantanal desde tempos imemoriais, e pe-los demais grupos sociais que, depois de muitosanos de ocupação na região, formam uma comu-nidade pantaneira, de gente que conhece e viveadaptada a esse ambiente. É direito da popula-ção pantaneira usufruir de seu bioma, pescandoem suas águas, cultivando seus animais e prote-gendo sua beleza, em função de suas comunida-des.

3.3– Os deveres ambientais dos povos do Pan-tanal: os povos que ocupam o Pantanal têm odever de preservar esse ambiente, preservandosuas matas, respeitando o ciclo de suas águas, areprodução dos animais, assim preservando esseambiente para a atual e as futuras gerações.

4. OS DIREITOS DO BIOMAMATA ATLÂNTICAO bioma Mata Atlântica tem área de 1 milhão

e 110 mil quilômetros quadrados. Ocupa inteira-mente três estados: Espírito Santo, Rio de Janei-ro e Santa Catarina, e 98% do Paraná, além deporções de outros 11 estados brasileiros: MinasGerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia,Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Gran-de do Norte, Goiás, Mato Grosso do Sul

4.1– Os direitos da comunidade da vida dobioma Mata Atlântica: a comunidade da vida daMata Atlântica concentra uma das maioresbiodiversidades da face da Terra por metro qua-drado. Restam da Mata Atlântica apenas 7% desuas condições originais. O que existe deste biomaprecisa ser preservado, para o bem de 120 milhõesde pessoas que habitam em seu espaço e de todasas espécies vegetais e animais que aí vivem.

4.2– Os direitos ambientais dos povos quehabitam a Mata Atlântica: os 120 milhões de bra-sileiros que vivem nesse espaço têm direito a umambiente sadio, preservando o que resta das nas-centes, das matas para dar qualidade ao ar e àtemperatura dos grandes centros urbanos.

4.3– Os deveres ambientais dos povos da MataAtlântica: é fundamental que os povos que ocu-pam o espaço da Mata Atlântica incentivem a re-cuperação do que for possível, preservando o queresta de biodiversidade vegetal e animal e de nas-centes de águas que abastecem os grandes cen-tros urbanos. É função, particularmente das au-toridades, criarem mecanismos de preservaçãodessas áreas, reprimindo a especulação imobiliá-ria e a devastação das áreas de risco e encostas. Éobrigação das autoridades constituir ambientessadios para as grandes cidades, em termos decoleta e tratamento de esgoto, saneamento derios, escoamento das águas pluviais, manejo deresíduos sólidos e controle de vetores de doen-ças. É preciso repensar as próprias cidades, suasfragilidades diante das possíveis falhas em siste-mas elétricos, abastecimento de água, caos notrânsito, poluição do ar e das águas, talvez comum incentivo à redistribuição da população emcidades menores, ambientalmente mais susten-táveis, humanamente mais dignas.

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

5. OS DIREITOS DO BIOMA CERRADO

O bioma Cerrado tem área de 1 milhão e 36mil quilômetros quadrados. Ocupa a totalidadedo Distrito Federal, quase todo o estado de Goiás(97%) e Tocantins (91%), mais da metade doMaranhão (65%), Mato Grosso do Sul (61%), Mi-nas Gerais (57%), além de porções de outros es-tados. O bioma vem sendo devastado pela pecu-ária extensiva, monoculturas de soja, eucaliptoetc, impactando de forma irrecuperável a grandecaixa d´água brasileira, que abastece as bacias doSão Francisco, Paraná e Amazônica.

5.1– É de direito dessa biodiversidade esociodiversidade que o Cerrado seja devidamentepreservado, pelo bem que é em si para toda suacomunidade de vida, pelo bem que presta distribu-indo águas para todo o território nacional.

5.2– Os direitos ambientais dos povos do Cer-rado: todas as comunidades que habitam tradici-onalmente o Cerrado – piquizeiros, geraizeiros,quilombolas, índios, pequenos agricultores, etc.,bem como os recém chegados – têm direito a umambiente sadio para viver no Cerrado, usufruin-do de sua biodiversidade animal e vegetal, de suaságuas, para o bem da atual e das futuras gera-ções.

5.3– Os deveres ambientais dos povos do Cer-rado: é dever de todos que habitam e exploram oCerrado evitar que ele seja desmatado, colaborarpara que todas as nascentes e aqüíferos sejampreservados, para o bem das gerações atuais efuturas, assim como de toda a comunidade devida desse bioma.

! Formar grupos de estudo nas comunida-des, escolas, universidades e igrejas sobre o Cer-rado, buscando aprofundar a consciência da po-pulação sobre a necessidade de preservá-lo parase viver bem.

! Fomentar estudos, pesquisas e registrossobre o patrimônio histórico e ecológico do Cer-rado para uma posterior difusão desse conheci-mento. Incentivar a criação de cursos de gradua-ção e pós-graduação específicos sobre o biomaCerrado.

! Incluir o estudo do bioma Cerrado no cur-rículo das escolas.

! Elaborar e aplicar políticas públicas efeti-vas e adequadas de respeito e valorização das cul-turas tradicionais: indígenas e quilombolas.

! Ampliar a fiscalização sobre as terras doCerrado. Combater sua ocupação desordenada eilegal, em especial das áreas de proteçãoambiental.

! Criar e/ou fortalecer o Conselho de Fiscali-zação das Secretarias do Meio Ambiente, com ointuito de barrar as investidas do latifúndio na re-gião. Incentivar também a criação de comitês eco-lógicos populares e de um serviço de disque-de-núncia do Cerrado.

! Combater o hidronegócio, que está secan-do as águas do Cerrado.

! Promover audiências públicas em todos osmunicípios da região sobre o bioma Cerrado.

! Democratizar o uso das terras, com-batendo a grilagem, a pecuária e a monocultura

extensivas (agronegócio), destinando-as aos po-vos tradicionais e camponeses para o cultivo dealimentos.

! Combater o financiamento público aoagronegócio, exigindo que os financiamentos pro-dutivos e estruturais sejam destinados para o for-talecimento da agricultura camponesa eagroecológica.

! Denunciar a biopirataria e exigir que o go-verno implemente ações de combate à apropria-ção indevida do conhecimento tradicional.

! Defender que o Cerrado seja consideradoPatrimônio da Humanidade, criando-se assimuma série de leis para protegê-lo.

6. OS DIREITOS DO BIOMA PAMPAO bioma Pampa tem área de quase 176 mil e

500 quilômetros quadrados. Ocupa 63% do terri-tório do estado do Rio Grande do Sul. “Pampa” étermo de origem indígena e significa “região pla-na”. Esta denominação, no entanto, correspondesomente a um dos tipos de campo, mais encon-trado ao sul do Estado do Rio Grande do Sul, atin-gindo o Uruguai e a Argentina. Outros tipos co-nhecidos, como “campos do alto da serra”, sãoencontrados em áreas de transição com o domí-nio de araucárias. Em outras áreas encontram-se,ainda, campos de fisionomia semelhantes àsavana. Os povos deste bioma têm cultura carac-terística e são responsáveis pela designação ge-nérica do toda a população do estado como “gaú-chos”.

6.1– Os direitos da comunidade da vida dobioma Pampa: o Pampa, bioma compartilhadocom vários países do Cone Sul, área natural depastagens, abriga também uma ricasociobiodiversidade. É direito de toda a comuni-dade de vida que o habita que sua vegetação na-tural seja preservada, bem como sua fauna, im-pedindo que monoculturas exóticas como o pinuse eucalipto tomem conta desse bioma.

6.2– Os direitos dos povos do Pampa: os po-vos que habitam o Pampa construíram através desua história uma convivência com esse bioma,ocupando os espaços de pastagem natural, orade forma adequada, ora de forma predatória. Éde direito desses povos terem a face natural des-se bioma preservada para continuar usufruindode seus benefícios, sem prejudicar a flora e afauna existentes.

6.3– Os deveres ambientais dos povos doPampa: é dever dos povos do Pampa preservar,juntamente com as autoridades competentes, abiodiversidade animal e vegetal do Pampa, pre-servando conjuntamente a cultura gaúcha aliconstruída em séculos de ocupação, tanto para obem das gerações presentes como das geraçõesfuturas.

Substituir o modo de produção das áreas hojeocupadas pelo agronegócio com monoculturas desoja, arroz e criação extensiva de gado pela agri-cultura camponesa através de uma reforma agrá-ria, incentivando sua utilização num processocombinado de recomposição da vegetação originale de cultivo agroecológico de alimentos saudáveis.

Recuperar as fontes de água potável, os rios ea Lagoa dos Patos, através de políticas de des-poluição, replantio das matas ciliares e redefiniçãode seu uso. Eliminar a produção transgênica,como no caso da soja.

Adotar medidas de controle da comer-cialização da água e sua exploração. Adotar polí-ticas de industrialização, adequando a necessida-de de busca de soberania alimentar e o potencialde matérias primas.

7. Os direitos do bioma Zona Costeira

Tem uma área de 4 milhões e 500 mil quilô-metros quadrados - metade do território do Bra-sil. É tão extenso por incluir as 200 milhas maríti-mas do Atlântico que estão sob jurisdição brasi-leira. É muito diversificado e complexo, porque éum berço de vida construído na relação entre omar e o continente, com toda a sua biodi-versidade. É um bioma formado por muitosecossistemas, isto é, por nichos diferenciados dearticulação entre os fatores que possibilitam emantém formas de vida que, contudo, constitu-em um berço de vida, um bioma, com muitas ca-racterísticas comuns. Alguns estudiosos denomi-nam o bioma como Ecossistemas Costeiros, tal adiversidade. Mas, como isso poderia passar a fal-sa idéia de que não haveriam características co-muns, assumimos a proposta de reconhecê-locomo Zona Costeira.

Os mangues são grandes nichos diferencia-dos de vida de peixes e outros seres vivos aquáti-cos, formados pelo casamento entre a água domar e, às vezes, de rios e lagos, terra e vegeta-ção. São ecossistemas frágeis, delicados, mas queservem, entre tantas outras coisas, como as arei-as das praias e das dunas, bem como as falésias eo emaranhado de raízes, galhos e folhagem davegetação, para amortecer eventuais movimen-tos mais bruscos das ondas do mar.

Muitas cidades brasileiras foram construídasà beira do mar, sobre áreas de mangue e, algu-mas vezes, sobre áreas tomadas ao mar.

7.1 – Direitos da comunidade de vida do biomaZona Costeira.

Existindo muito antes do ser humano, todosos seres vivos dos mares e dos territórios que comeles dialogam têm direito às condições que favo-reçam sua existência e reprodução. Direito à pu-reza das águas, das areias das praias, do ar; direi-to aos santuários dos mangues, em que se refaz afesta da vida de inúmeras espécies, terrestres eaquáticas...

7.2 – Direitos dos povos da Zona Costeira.

Os povos indígenas sobreviventes ao genocídioda colonização européia têm o direito originárioa viver neste bioma. Igual direito têm as comuni-dades que constituem o povo Caiçara, formado apartir de interações culturais de sobreviventesindígenas, negros e portugueses empobrecidos.Eles têm o direito a um território para viver se-gundo seu modo de vida, mas também o direitoa ter acesso às riquezas alimentares, farmacêuti-cas e bens geradores de renda, livres de poluiçõese outras iniciativas que comprometam o equilí-brio vital do bioma.

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

Também as comunidades de pescadores/asartesanais têm o direito adquirido de viver e pra-ticar a pesca como sua fonte principal de vida ede geração de renda, bem como de contar comum território comum para a produção de subsis-tência.

7.3. Deveres ambientais dos povos da ZonaCosteira.

É dever dos povos deste bioma preservar tudoque interfere, torna possível, mantém e torna

Direitos políticos1

É nosso objetivo comum lutar para que onosso país se torne uma verdadeira democracia.Usualmente a grande mídia considera democraciaum regime onde há eleições periódicas, onde aimprensa é formalmente livre, onde há liberdadede opinião e de expressão.

Democracia, porém, é mais que isso: é sobe-rania popular (“todo poder emana do povo”). Sóhá democracia onde a vontade do povo - da mai-oria dos cidadãos - é respeitada, onde seusgovernantes expressam, pelas políticas queimplementam, esta vontade. Para realizar esteintento, a democracia deve ser participativa, istoé, articular os elementos que fazem parte da de-mocracia representativa com formas de demo-cracia direta, de participação popular nos proces-sos decisórios, de controle social sobre os pode-res Executivo, Legislativo e Judiciário.

1. PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO DETOMADA DE DECISÕES

1.1 - Um país onde efetivamente seja a cida-dania – o conjunto dos cidadãos – que tome asdecisões fundamentais no que diz respeito àspolíticas públicas (especialmente a política eco-nômica) e que controle socialmente a atividadede seus representantes eleitos e a implementaçãodaquelas políticas.

! A condição básica do exercício democráti-co é a transparência, entendida como o acessouniversal às informações públicas, por meio deum instrumento público que seja acessível e com-preensível pelo conjunto da população. Incluitambém a divulgação ampla, permanente e im-parcial das decisões públicas, sejam oriundas dacidadania ou dos representantes eleitos/nomea-dos.

1.2- Um país que crie mecanismos permanen-tes de participação direta da população nas deci-sões políticas das várias instâncias de poder polí-tico e social.

! Convocação de plebiscitos, referendos econsultas populares para tomada de decisões deimportância para a população; audiências públi-cas; assembléias populares; consultas públicas;

conselhos populares; ampla liberdade de orga-nização social, política e sindical; ampla eirrestrita liberdade de organização partidária.

! Que plebiscitos e referendos possam serconvocados por iniciativa popular.

1.3- Um país que assegure as iniciativas popu-lares. As iniciativas do povo para o debate e apro-vação de leis precisam de instrumentos fortespara serem levadas a sério.

! Dar precedência para tramitação e vota-ção de projetos de lei de iniciativa popular, apre-sentados com quorum qualificado de assinaturasregularmente obtidas, com trancamento da pau-ta de votação para qualquer outra matéria e comvotação em caráter de urgência.

! Possibilitar a realização de iniciativa popu-lar sobre qualquer tema de interesse público.

2. MECANISMOS DE PARTICIPAÇÃO2.1- Um país que crie mecanismos de partici-

pação, deliberação e controle social das políticaseconômicas e de desenvolvimento.

! Criação de um Fórum Permanente – cons-tituído por membros do governo e da sociedadecivil - de acompanhamento da elaboração, exe-cução, monitoramento, avaliação e revisão doprocesso orçamentário.

O pressuposto da participação da sociedadecivil é a garantia de acesso universal às informa-ções orçamentárias. Para isso, devem ser criadoscanais de acesso público e universal às mesmas(lembrando da exigência de linguagem compre-ensível para o público não especialista).

Outra exigência é a necessidade de um siste-ma público de comunicação, baseado nos princí-pios da democratização e do controle social.

! O processo de discussão e aprovação doorçamento público (Plano Plurianual de Ação, Leide Diretrizes Orçamentárias e Lei do OrçamentoAnual) pelos legislativos deve contemplar a par-ticipação ativa da sociedade civil.

! Instalação de orçamento participativo in-tegrado ao conjunto de mecanismos de partici-pação popular na gestão pública, reconhecido

em lei federal, implementando esta prática emtodas as esferas do Executivo, garantindo parti-cipação popular em relação à totalidade dos re-cursos orçamentários.

! Constituir comitês populares de acompa-nhamento e fiscalização da execução orçamentá-ria dos vários órgãos do Estado e de obras e açõescontinuadas das várias instâncias.

3. CONTROLE SOCIAL3.1 - Um país que controle socialmente a ação

do Estado, com mecanismos efetivos que permi-tam o controle social sobre a ação dosgovernantes e representantes que exercem po-der político.

• Promover a participação popular direta e or-ganizada na gestão e fiscalização da ação do Esta-do e punição a todas as formas de corrupção, emtodos os poderes, alcançando e punindo corrup-tos e corruptores.

• Promover a participação popular na denún-cia e na busca de provas da corrupção, protegen-do a identidade de pessoas que se disponham acolaborar no esclarecimento e na obtenção deprovas de corrupção.

• Constituir promotorias populares com man-dato para fiscalizar as estruturas e as instânciasdo Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário), commecanismos de proteção de sua função de fisca-lização.

4.FINANCIAMENTO PÚBLICO4.1 - Instituir o financiamento público exclusi-

vo das campanhas eleitorais, proibindo desta for-ma o financiamento privado de empresas ou depessoas, impossibilitando relações de dependên-cia entre os eleitos e quem os financiou. Este temsido o atalho da corrupção, pois mantém o con-trole do poder político nas mãos de quem temdinheiro.

• Instituir o fim do sigilo bancário,patrimonial e fiscal – franqueando ao conheci-mento público os dados bancários, patrimoniais

1.Este texto retoma as propostas da Assembléia Popular de 2005, “Mutirão por um novo Brasil – o Brasil que queremos” e introduz modificações, inspirado, sobretudo pelo documento “Construindo aPlataforma dos Movimentos Sociais para a Reforma do Sistema Político no Brasil” (www.reformapolitica.org.br/maio 2009).

possível a reprodução da rica biodiversidade daZona Costeira. Devem, por isso, evitar todo e qual-quer tipo de atividade que polua as águas dosmares, dos rios e lagos, bem como as praias e ter-ritórios que constituem este bioma. É seu devertambém preservar a vegetação típica dos man-gues e das demais áreas próximas ao mar.

É dever particular das pessoas e comunidadesque passaram a viver em cidades e em vilas delazer próximas às praias tomar consciência daspotencialidades e fragilidades do bioma para, co-

erentemente, cuidar dele e evitar todo tipo deatividade que coloque em risco ou agrave asagressões já praticadas contra seu equilíbrio e vi-talidade. É seu dever exigir as mudanças que se-jam necessárias para que os projetos urbanos nãoagridam ao bioma.

É dever desses povos também exigir dosgovernantes que sejam evitados empreendimen-tos agressivos ao bioma, em particular no que serefere ao turismo, à indústria, aos portos e àcarcinicultura.

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e fiscais de qualquer cidadão/cidadã (e de em-presas das quais sejam sócios) que exerça cargopúblico durante o exercício do mandato e nosdois anos anteriores e dois anos posteriores aomesmo.

• Criar um conselho apartidário para fiscali-zar campanhas políticas, para impedir que hajacontribuições não oficiais.

5. DERRUBANDO ESTRUTURASANTI DEMOCRÁTICAS5.1 - Um país que rompa as malhas do

clientelismo e do fisiologismo, da cooptação, dadependência e da submissão do povo aos inte-resses dos políticos e dos grupos de poder, possi-bilitando que as formas de representação sejamautênticas e controladas socialmente. Oclientelismo, o fisiologismo, o assistencialismo eo paternalismo são as formas clássicas de mantero povo pobre devendo favor às elites políticas elhes retribuindo com o voto que perpetua estaselites no poder. Para isto, alguns instrumentos sãofundamentais:

• Acabar com as emendas individuais de par-lamentares ao orçamento público.

• Proibir os parlamentares ou detentores dequalquer cargo político de manter vínculos admi-nistrativos, de direção ou de propriedade comentidades assistenciais ou empresas que prestemserviços à comunidade, ou que mantenham vín-culos de prestação de serviços com o Estado, sobpena de perda do mandato.

• Proibir qualquer tipo de nepotismo, diretoou cruzado, nos três poderes, em todas as esfe-ras, sob pena de demissão dos nomeados e res-ponsáveis pela nomeação.

• Proibir qualquer tipo de doação, favor ou aju-da feita pessoalmente por candidatos – ou pes-soas ligadas a esses candidatos - ou detentoresde cargos políticos, sob pena de perda do man-dato para os eleitos.

• Proibir a contratação de cabos eleitorais emcampanhas.

6. CONTROLE SOCIAL SOBRE AATIVIDADE PARLAMENTAR6.1 - Um país que não possibilite o carreirismo

político. O carreirismo cria vícios e profissionalizaa representação, gerando uma enorme distânciaentre representantes e representados. É funda-mental criar mecanismos que impeçam ocarreirismo nas funções políticas:

Possibilitar que o controle popular sobre oseleitos seja exercido de fato, para que a eleiçãonão seja uma delegação de caráter absoluto. Paraisto, é importante criar mecanismos que permi-tam interromper mandatos executivos elegislativos através de:

• Em nível municipal, constituir Grupos ou Co-missões de Acompanhamento do Legislativo –formados por representantes de entidades dasociedade civil/movimentos sociais - para acom-panhar e fiscalizar a ação parlamentar.

• Referendo revogatório, convocado por 10%dos eleitores e eleitoras. A cassação de manda-tos eletivos se dará a partir dos 50% dos votos.

• Os processos de Impedimento(impeachment) serão realizados através de pro-nunciamento popular (referendo).

• Processo judicial instaurado pelo MinistérioPúblico, entidades representativas ou grupos decidadãos e cidadãs.

• Voto qualificado de convenção partidária dopartido ao qual o eleito pertença.

• Reeleição parlamentar apenas por um man-dato, a exemplo do poder Executivo.

7. SALÁRIOS DOS PARLAMENTARES7.1- Um país no qual a representação política

não tenha nenhum estímulo financeiro, bastan-do a reposição dos custos. Para isto, é precisoestabelecer normas:

• Garantir que o salário dos eleitos seja calcu-lado pela média dos salários dos servidores pú-blicos da instância da Federação à qual foi eleito(para deputados federais: média do funcionalis-mo federal; para deputados estaduais: média dosservidores de seu Estado, e assim por diante).

• Criação de mecanismos de impedimento doauto-reajuste de salários de parlamentares.

• Extinção de todas as verbas de representa-ção e outros benefícios dos ocupantes de cargoseletivos.

8. MANDATOS8.1- Um país que assegure a fidelidade parti-

dária. As trocas de partidos são formas de enfra-quecimento da representação, da falta de ideo-logia e fonte de corrupção para buscar maiorias.Para esta questão, também são necessários algunsmecanismos:

! Garantir que o mandato seja partidário;quem sair do partido deixa o mandato para o par-tido.

! Estabelecer a perda de mandato por de-cisão qualificada e democrática em convenção dopartido a que pertença o político.

! Que os mandatos sejam programáticos epartidários e não individuais.

! Se houver renúncia e cassação de um elei-to por corrupção ou malversação de recursospúblicos, que haja perda dos direitos políticos,ressarcimento dos cofres púbicos da quantia usur-pada e que o julgamento seja em fóruns da Justi-ça comum.

! Fim das votações secretas noslegislativos, pois o parlamentar tem de prestarcontas das suas ações e das suas posições políti-cas.

! Fim da imunidade parlamentar a não serexclusivamente quanto ao direito de opinião e de-núncia.

! Fim do foro privilegiado, exceto nos ca-sos em que a apuração refere-se ao estrito exer-cício do mandato ou do cargo.

9. Representação de setores específicos

9.1 - Um país que garanta a representação degênero e etnias historicamente excluídas. Há se-tores da sociedade cuja exclusão histórica exige

uma política de ação afirmativa para que seuspleitos e suas posições sejam levados em con-sideração. Para isto:

! Garantir mecanismos de representaçãoem todas as casas legislativas - municipais, es-taduais e federais - de representantes dos po-vos indígenas, da população negra e de mulhe-res.

10. JUDICIÁRIO10.1 - Um país que conte com um organismo

de controle do Judiciário, com maioria de repre-sentantes dos diferentes setores da sociedade ci-vil, zelando para que esse poder defenda de fatoo direito de todas as pessoas, sem discriminação.

! Estabelecimento de políticas públicas decombate à violência e à criminalidade, que con-greguem iniciativas das comunidades e do siste-ma público de segurança.

! Que o Conselho Nacional de Justiça sejacomposto majoritariamente pela sociedade civil.

! Que seja normatizada a realização de audi-ência semanal obrigatória, em dois turnos, entreo juiz e a população em todas as comarcas.

11. SEGURANÇA PÚBLICA11.1- Um país que promova programas comu-

nitários de segurança pública e uma política pe-nal inovadora, a partir do conceito da justiçarestaurativa do tecido social. Tais programas in-cluem:

! A implantação da Polícia Comunitária, bemcomo a ampliação de medidas e penas alternati-vas, entre elas a aplicação da prisão de regimesemi-aberto (para substituir as prisões desneces-sárias em regime fechado).

! Políticas públicas de prevenção ao crime.

! Prevenção e combate à tortura e aos casosde extermínio sumário.

! Fortalecimento substancial da infra-estru-tura da justiça penal e das defensorias públicasem geral.

A política de segurança deve ser uma políticade Estado, que proporcione a autonomia admi-nistrativa, financeira, orçamentária e funcionaldas instituições envolvidas, nos três níveis de go-verno, com descentralização e integraçãosistêmica do processo de gestão democrática etransparência na publicidade dos dados.

Deve ser pautada pela defesa da dignidade dapessoa humana, com valorização e respeito à vidae à cidadania, assegurando atendimento digno atodas as pessoas, com respeito às diversas iden-tidades religiosas, culturais, étnico-raciais,geracionais, de gênero, orientação sexual e as daspessoas com necessidades especiais. Deve aindacombater a criminalização da pobreza, da juven-tude, dos movimentos sociais e de seus defenso-res, valorizando e fortalecendo a cultura de paz.

Deve estar pautada na valorização do traba-lhador da área por meio da garantia de seus di-reitos e formação humanista, assegurando seubem estar físico, mental, familiar, laboral e social.

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

Deve considerar os trabalhadores /as da áreacomo educadores, enfatizando sua formaçãohumanista.

Deve ser pautada na intersetorialidade, natransversalidade e na integração sistêmica comas políticas sociais, como forma de prevenção daviolência e da criminalidade, reconhecendo queesses fenômenos têm origem em diversas causas(causas econômicas, sociais, políticas, culturais)e que a competência de seu enfrentamento nãopode ser de responsabilidade exclusiva dos órgãosde segurança pública.

Promover a reestruturação do sistema peni-tenciário, baseando-o na promoção dos direitoshumanos e no respeito às diversas identidades,com capacidade efetiva de ressocialização dosapenados, privilegiando formas alternativas à pri-vação da liberdade.

Estabelecer um sistema nacional de conselhosde segurança autônomos, independentes,deliberativos, participativos, tripartites para favo-recer o controle social nas três esferas do gover-no – nacional, estadual e municipal.

Criar, implantar, estruturar, reestruturar emtodos os municípios, conselhos municipais de se-gurança, conselhos comunitários de segurançapública, com poderes consultivo e deliberativo,propositivo e avaliador das Políticas Públicas deSegurança, com representação paritária e propor-

cional, com dotação orçamentária própria, a fimde garantir a sustentabilidade e condições ne-cessárias para seu efetivo funcionamento.

Desenvolver e estimular uma cultura da pre-venção nas políticas públicas de segurança, atra-vés da implementação e institucionalização deprogramas de policiamento comunitário, comfoco em três aspectos: 1) dentro das instituiçõesde segurança, com estudos, pesquisas, planeja-mento, sistemas de fiscalização e policiamentopreventivo, transparência nas ações policiais, bemcomo a própria reeducação e formação das for-ças policiais, reduzindo a postura militarizada; 2)com programas educativos de prevenção dentrodas escolas, famílias, movimentos sociais e cultu-rais e a comunidade como um todo; 3) apoiadosno desenvolvimento de redes sociais eintersetoriais para a criação de uma ampla redede prevenção e segurança.

Instituir políticas de valorização, qualidade devida, apoio biopsicossocial, ético e profissionaldos trabalhadores/as da área de Segurança Pú-blica. Criar planos de carreira com piso salarialdigno, justo e igualitário, para os profissionaisde segurança pública, nas três esferas governa-mentais, com reajuste periódico, visando à ga-rantia da dedicação integral e exclusiva dessesprofissionais ao serviço de segurança pública.

Garantir o acesso à justiça e assistência jurí-dica gratuita àqueles em conflito com a lei, por

intermédio da implementação e fortalecimen-to das defensorias públicas, assegurando maiorceleridade aos processos e aos benefícios da Lei.

Redução do mandato de senadores paraquatro anos ou extinção do Senado?

Questão a ser aprofundada:

O Art. 6º da Constituição Federal de 1988 es-tabelece oito direitos sociais: a educação, a saú-de, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdênciasocial, a proteção à maternidade e à infância, aassistência aos desamparados, na forma destaConstituição. Uma emenda constitucional no ano2000 acrescentou a moradia como direito social.Os direitos sociais são direitos de todos. A crian-ça que nasce, pelo fato de ser pessoa humana,nasce com o direito fundamental que é o direitoà vida. “Todas as pessoas nascem livres e iguaisem dignidade e direitos” (Declaração Universal,Artigo 1). Não o direito de apenas sobreviver, maso direito de viver com dignidade.

Por que, num país tão rico como o Brasil, osdireitos sociais básicos (alimentação, saúde, edu-cação, trabalho, habitação, segurança) não sãorespeitados e reconhecidos como direitos univer-sais (quer dizer de todos)? Os direitos sociais nãosão respeitados, porque vivemos numa socieda-de onde o capital e a riqueza têm mais valor doque a pessoa humana. Tudo funciona como se osentido da vida fosse de ter sempre mais, de acu-mular riqueza e poder, mesmo se o outro ao meulado sofre e morre na miséria.

Apesar de inscritos na lei, os direitos não sãoimutáveis e fixos. As lutas históricas da classe ope-rária e hoje as muitas formas de luta do povo sãolutas para conquistar novos direitos e para con-

solidar os que já existem. A conquista dos direi-tos é uma história de muitas lutas, de construçãoe desconstrução. Os avanços se dão nas lutas dopovo, e os resultados nunca são definitivos.

Há uma longa distância entre os direitos ins-critos na lei e os direitos aplicados na realidade.Trata-se de construir uma “cultura do direito” –uma cultura dos direitos sociais em particular –onde os cidadãos são bem informados sobre osseus direitos, não têm medo de exigir que sejamrespeitados e conseguem sem dificuldade quesejam praticados.

Esta tarefa, de fazer com que os direitos ins-critos na legislação se transformem em direitosem exercício pleno da cidadania continua penden-te e requer nossa ação política contundente e nãoconivente com a ineficiência e ineficácia, com oclientelismo e a corrupção, com qualquer formade discriminação.

1. SEGURIDADE SOCIALDesde a promulgação da Constituição Federal

de 1988, o Brasil instituiu explicitamente o seusistema de seguridade social nos moldes reco-mendados pela Convenção n° 102/1952 da OIT,caracterizado como “sistema de proteção socialque a sociedade proporciona a seus membros,mediante uma série de medidas públicas contra

as privações econômicas e sociais que, de outramaneira provocariam desaparecimento ou forteredução dos seus rendimentos em consequênciade enfermidade, maternidade, acidente de traba-lho, enfermidade profissional, emprego, invalidez,velhice e morte, bem como de assistência médi-ca e de apoio à família com filhos”.

Conforme a definição genérica da seguri-dadesocial acima indicada, nos termos da Convençãon° 102 da OIT, o sistema brasileiro, estruturado apartir de 1988 e mantido até o presente, adotouimplicitamente este conceito e explicitamenteainda alguns princípios-chave (C.F/88 - Art. 194),que devem orientar toda a política de SeguridadeSocial, na Previdência, na Assistência Social e naSaúde:

• universalidade da cobertura e aten-dimento;

• uniformidade e equivalência dos benefí-cios rurais e urbanos;

• seletividade e distributividade na presta-ção de serviços;

• irredutibilidade no valor dos benefícios;

• diversidade da base de financiamentoestruturada em Orçamento da SeguridadeSocial (autônomo);

Direitos sociaisEIXO 3

Iniciativas existentes:# “Grupos de Acompanhamento do

Legislativo” constituídos em váriosmunicípios do país.

# Projeto de lei em tramitação noCongresso – proposto pelo Conselho Federalda OAB e a CNBB, por meio da Comissão deLegislação Participativa - de regulamentaçãodo Plebiscito Popular.

# A construção da Plataforma dosMovimentos Sociais para a Reforma doSistema Político no Brasil(cf. www.reformapolitica.org.br).

# O projeto apresentado por umconjunto de organizações da sociedade civilna Comissão de Legislação Participativa daCâmara dos Deputados.

# Realização de formação política nostrês níveis de ensino, salientando: comofuncionam o sistema político, as políticaspúblicas, a gestão dos recursos públicos,entre outros temas.

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

• equidade na forma de participação nocusteio;

• caráter democrático dos subsistemasda seguridade social (Previdência, Saúde eAssistência).

A Seguridade Social é um dos melhores ins-trumentos para redistribuir em parte a riqueza dopaís. Houve importantes conquistas na Constitui-ção de 1988. Há forças poderosas e bem instala-das que, com o respaldo da mídia que fala de“rombos, rolos e ralos”, lutam para reduzir ou atésuprimir os direitos sociais. Há na pauta do go-verno uma reforma da Previdência Social. O cor-te dos direitos faz parte do receituário neoliberal.O povo tem que estar atento para defender o queé seu: o direito a uma vida digna. Possível refor-ma na Constituição deve servir para consolidar,ampliar e universalizar os direitos do povo.

Por isso, não aceitamos:

• Tocar nas fontes exclusivas e prioritárias dosrecursos que garantam a efetivação do Sistemade Seguridade Social;

• Estabelecimento de um teto para a cober-tura dos direitos garantidos no sistema deSeguridade Social;

• Enxugamento da Constituição, o queinviabilizaria a efetivação dos direitos.

Portanto, propomos:

• Manutenção das fontes de financiamentoexclusivas da Seguridade Social (Previdência, Saú-de e Assistência Social.

• Atendimento necessário e suficiente dos di-reitos sociais básicos como saúde, educação bá-sica, seguro-desemprego já garantidos na Consti-tuição (artigos 194 e 195).

• Autonomia do orçamento da SeguridadeSocial, como assegura a Constituição Federal, sema imposição de um teto financeiro que congeleos recursos destinados aos direitos sociais bási-cos.

• Progressividade na tributação, priorizandoa distribuição de renda. Os impostos devem re-cair sobre a renda mais elevada e não sobre o con-sumo da população.

• Instituição do Fundo Nacional daSeguridade Social, com recursos exclusivos paraatender as necessidades das gerações futuras.

• Apoiar um programa massivo de inclusãoprevidenciária com metas decenais.

2. DIREITO À SAÚDENo Brasil que queremos, a Saúde é um direito

de todos por que sem ela não há condições deuma vida digna, e é um dever do Estado, por queé financiada pelos impostos que são pagos pelapopulação. Desta forma, para que o direito à saú-de seja uma realidade, é preciso que o Estado criecondições de atendimento em postos de saúde,hospitais, programas de prevenção, medicamen-tos, etc., e, além disto, é preciso que este

atendimento seja universal (atingindo a todosos que precisam) e integral (garantindo tudo oque a pessoa precise).

Queremos um país que defenda a saúde pú-blica gratuita e de boa qualidade e que combatapolíticas neoliberais, como a privatização. O sis-tema público de saúde deve ser acessível em ní-vel municipal, estadual e nacional.

O SUS é um projeto nacional, solidário, justoe, acima de tudo, possível. Por isso, devemos pres-sionar para implementá-lo.

É necessário que se defina os principais valo-res e características das propostas alternativaspara a Saúde e a Seguridade Social, considerandoas distintas realidades econômicas e sociais, masafirmando as alternativas sustentáveis que garan-tam a universalidade e a integralidade das políti-cas públicas para todas e todos.

Precisamos combater as conseqüências dosacordos de “livre comércio” na soberania alimen-tar, no acesso a medicamentos, equipamentos econdições de trabalho profissional.

Em um novo modelo de sociedade é imperati-vo processos alternativos para a gestão de recur-sos humanos, defendendo a regulamentação dasrelações trabalhistas, a garantia dos direitos dostrabalhadores/as e o fim da flexibilização dotrabalho, o achatamento dos salários e a altarotatividade dos trabalhadores/as em Saúde.

2.1 Um país que proponha alternativas para agestão e para a educação permanente dos tra-balhadores/as do setor, e que dedique especial aten-ção à proteção da saúde dos trabalhadores/as.

Um Projeto Popular para a nação deve defi-nir diferentes estratégias de organização emobilização em prol da defesa do direito à Saúdee sua concretização de acordo com as agendasde luta dos movimentos populares.

Por isso, não aceitamos

• Que ainda não exista uma fonte estávelpara o financiamento do SUS.

• Que o gasto público em Saúde ainda sejade menos de 1 real por habitante/dia, muitoaquém de países menos ricos na América Latina.

• Que permaneçam as condições precáriasde atendimento nos serviços do SUS. O SUS podee deve prestar serviços dignos aos cidadãos.

• Que serviços do SUS ainda não funcionemcomo uma rede integrada, com porta de entradaúnica, deixando ao usuário a responsabilidade debuscar por conta própria os serviços de que ne-cessita.

• Que ainda não tenham sido imple-mentados, em todo o território nacional, meca-nismos elementares de gestão de filas que elimi-nem o sofrimento diário dos usuários.

• Que a atenção básica não seja até hoje oeixo estruturante de todo o sistema.

• Que ainda não tenha sido implantado o car-tão SUS, com informações seguras sobre o histó-rico de cuidados dos usuários, fonte de planeja-mento, transparência e combate à corrupção.

• Que a população não tenha ainda acessoseguro e regular aos medicamentos e exames vin-culados ao ato terapêutico.

• Que serviços do SUS ainda hoje não ga-rantam às mulheres grávidas a referência segurade onde vão parir.

• Que se mantenham discriminações de clas-se social, gênero, orientação sexual e raça em ser-viços do SUS.

• Que serviços e profissionais de saúde con-tinuem maltratando as mulheres que fazem abor-to, com negligência no atendimento, ajuizamentomoral, denúncias e outras formas de violação dedireitos.

• Que hospitais lucrativos continuem sendoconsiderados como filantrópicos e recebendosubsídios públicos.

• Que se mantenha a dupla porta de entra-da nos hospitais públicos e contratados.

• Que os profissionais de Saúde sejam des-valorizados e tenham suas condições de trabalhoe salariais aviltadas.

• Que o SUS permaneça sem uma política na-cional de formação e capacitação de recursoshumanos.

• Que profissionais usem a precariedade dascondições de trabalho como justificativa paraausências e não cumprimento de horários.

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

• Que o SUS continue sendo usado comomoeda política. É preciso criminalizar o uso po-lítico de cargos de direção e dos setores de com-pras de hospitais do SUS, que estimulam acorrupção, desviam recursos e comprometem aqualidade dos serviços.

• Que se mantenham transferências e sub-sídios do setor público para o setor privado deplanos e seguros, através da compra de planospara funcionários públicos e da dedução do pa-gamento de planos no imposto de renda. É in-justo que o conjunto da população financie oacesso diferenciado das camadas médias e a so-brevivência e crescimento do setor privado.

• Que o SUS ainda não estabeleça metas eresponsabilidades sanitárias claras a serem cum-pridas pelos gestores e governos.

• Que ainda não haja mecanismos legais deresponsabilização de governos e gestores pelosserviços não cumpridos. Essa ausência estimulae encobre a alarmante corrupção no setor.

• Que as políticas sociais sejam, ainda hoje,e cada vez mais, fragmentadas e setorializadas. Éurgente o estabelecimento de políticas que inte-grem as distintas áreas sociais, para garantir osdireitos instituídos no título VIII da Constituição.

• Que o país ainda careça de uma políticasaudável para o meio ambiente, que afaste os ris-cos do cultivo de transgênicos, do abuso deagrotóxicos, da poluição dos mananciais, dodesflorestamento.

• Que não se efetive a concepção deSeguridade Social prevista na Constituição de 88,como condição imprescindível para a coesão so-cial. Essa efetivação passa hoje pela convocaçãoda Conferência Nacional de Seguridade Social.

Portanto, propomos:

• Garantir e repassar os recursos públicosdestinados à saúde.

• Efetivar a participação do terceiro setornessa área

• Realizar o controle social nas ações públi-cas de Saúde

• Regulamentar a Emenda Constitucional 29,que define percentuais mínimos de aplicação emações e serviços públicos de Saúde

• Divulgar a campanha que lança o SUS comoPatrimônio Social, Cultural, Imaterial da Humani-dade

• Impedir a terceirização dos serviços públi-cos de Saúde

• Exigir que o SUS trabalhe em conjunto comos movimentos populares (Pastoral da Saúde,Pastoral da Criança, MPPS, Bio- energética etc.,valorizando o saber

• Popular e intensificando o Programa de Pla-nejamento Familiar Natural).

• Investir mais na Saúde Preventiva eEducativa melhorando o Programa de Saúde daFamília (PSF), garantindo o direito à moradia, sa-neamento básico e educação, melhorando a qua-lidade de vida.

• Defender a ampliação das Redes-Centrode Atenção Psicossociais em todas as regiões.

• Defender a formação humanizada e areciclagem dos profissionais da Saúde, visandoum melhor atendimento do paciente.

• Abrir cursos nas universidades federais e es-taduais de Saúde, para dar acesso aos movimen-tos sociais.

• Criar Conselhos de Saúde e fortalecer osque existem.

• Fiscalizar a distribuição de remédios noshospitais e postos de saúde, através do Ministé-rio da Saúde.

• Defender a criação de um Programa de Saú-de específico para indígenas e quilombolas.

• Reconhecer os profissionais brasileiros deSaúde formados em outros países através de bol-sas.

• Criar mecanismos para que profissionais re-cém formados prestem serviços na comunidade.

• Promover a soberania alimentar e a edu-cação alimentar, conscientizando as pessoas atra-vés de escolas, creches etc.

• Defender a seguridade social e a garantiadas farmácias populares.

• Defender políticas de Saúde Pública paralidar com Doenças Sexualmente Transmissíveis(DSTs) e com o consumo de drogas.

3. EDUCAÇÃO O Artigo 205 da Constituição Federal prevê

que a educação é um direito de todos e dever doEstado e da família, visando preparar as pessoaspara o exercício da cidadania e qualificação parao trabalho. Isto, porém, refere-se somente ao en-sino fundamental, possibilitando a mercan-tilização e a precarização da Educação. É precisogarantir educação de qualidade e oportunidadepara todos, em todos os níveis da Educação.

Por isso, não aceitamos:

• Transformar a Educação em mercadoria eo sistema educacional numa oportunidade demercado, onde lucram algumas empresas.

• O alto grau de analfabetismo existente emnosso país.

• Que a Educação seja privilégio apenas deuma pequena parcela da população.

Portanto, propomos:

• Garantir a escola pública e gratuita próxi-ma de sua residência

• Ser respeitado por seus educadores.

• Ter igualdade de condições para o acesso epermanência na escola.

• Direito de contestar os critérios de avalia-ção, podendo recorrer às instâncias escolares su-periores.

• Garantir educação universal, pública e gra-tuita, de qualidade

• Incentivar à criação de cursos profis-sionalizantes.

• Afirmar o direito universal a uma educaçãolibertadora e o pleno e inalienável direito à edu-cação pública, gratuita e de qualidade para todose todas.

• Recusar programas de ajuste estrutural quepressionam os governos a desmantelar serviçospúblicos.

• Rechaçar a ingerência de empresas nacio-nais e multinacionais no sistema educativo públi-co.

• Exigir do governo federal uma agenda quepriorize programas para a eliminação do analfa-betismo e valorize a experiência de educadorespopulares como Paulo Freire.

• Garantir que todo recurso público sejaprioritariamente destinado a iniciativas públicas.

• Valorizar a Educação Popular como pers-pectiva de conscientização da população, repre-sentando os princípios da igualdade, cooperação,autonomia e democracia, considerando a identi-dade regional.

• Promover ações que reconheçam as singu-laridades dos sujeitos e comunidades, e que ga-rantam a igualdade de acesso à Educação, consi-derando a diversidade de gênero, de etnia e decultura, e considerando a potencialidade educa-cional dos espaços não escolares.

• Incentivar o protagonismo das crianças,adolescentes e jovens, reconhecendo todas assuas identidades sociais como participantes daconstrução do conhecimento.

• Garantir o acesso, a permanência e o direi-to de aprender na escola e exija a democratiza-ção dos conhecimentos e saberes em beneficiode toda a humanidade, incluindo o avançotecnológico voltado para o povo.

• Defender uma forma de educação profissi-onal que recuse a lógica da empregabilidade e in-clua as dimensões ética, cultural, ambiental, es-tética e política.

• Garantir instrumentos de transporte, co-municação e segurança que viabilizem o acesso àescola e à ciência, inclusive viabilizando financia-mento para a educação infantil para todas as cri-anças de 0 a 5 anos.

• Rechaçar qualquer forma de privatização emercantilização da Educação, Cultura, Ciência eTecnologia.

• Condenar a apropriação ilegítima dos sa-beres populares e dos conhecimentos das comu-nidades tradicionais.

• Alfabetização dos povos indígenas em seusidiomas próprios.

• Criar universidades públicas em todas as re-giões e eliminar o vestibular.

• Criar núcleos de pesquisa de novos méto-dos de ensino, de acordo com a realidade local.

• Reafirmar a centralidade da Educação paraos Direitos Humanos, a Justiça e a Paz.

• Fortalecer as mobilizações mundiais deEducação para uma cultura de Justiça e Paz, Soli-dariedade e Sustentabilidade no mundo.

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

• Democratizar a gestão das instituições pú-blicas e das políticas sociais, em especial as edu-cacionais, relacionando-as a políticas inter-setoriais que as complementam, fortalecendo ascomunidades educativas.

• Promover o controle social do financia-mento da Educação.

• Defender projetos sociais que incentivema cultura popular brasileira.

• Valorizar os/as trabalhadores/as da educa-ção, preparando-os/as para interagir com e nascomunidades locais; que respeite seus direitosprofissionais e garanta condições dignas de tra-balho e salário.

• Articular-se com o Fórum Mundial de Edu-cação e outros fóruns de luta para garantir que asexperiências, qualificações e saberes dos tra-balhadores/as sejam respeitados.

• Garantir recursos para financiamento deformação continuada para profissionais da Edu-cação. Contemplar a diversidade e valorizar aespecificidade de cada comunidade. Que sejamformados agentes sociais para o resgate de jovensadultos fora da escola.

• Preservar e divulgar nosso maior patri-mônio - nossa cultura: textos, músicas, histórias,experiências coletivas, comidas, danças, esportes,lendas.

• Reconhecer nossa identidade, e exigir maisdireitos, aumentando nossa capacidade de orga-nização, aprendendo novas técnicas, comunican-do-nos melhor.

• Defender a criação de um canal de TV públi-co voltado à educação, cultura, que seja uma im-prensa responsável.

• Garantir o direito de acessar a Cultura, a par-ticipar de atividades culturais, elevando o nívelde conhecimento de toda a população.

• Ampliar o acesso à Cultura das populaçõesda periferia, através de centros culturais.

4. PREVIDÊNCIA

A Previdência Social é um seguro público quetem como função garantir que as fontes de rendado trabalhador e de sua família sejam mantidasquando ele perde a capacidade de trabalhar poralgum tempo (doença, acidente, maternidade) oupermanentemente (morte, invalidez e velhice).Ela é responsável pelo pagamento de diversosbenefícios do trabalhador brasileiro, tais comoaposentadoria, salário-maternidade, salário-famí-lia, auxílio-doença, auxílio-acidente e pensão pormorte. Para ser assegurado pela Previdência é pre-ciso contribuir regularmente para o INSS, que é ocaixa da Previdência Social, responsável pela ar-recadação das contribuições e pelo pagamentodos benefícios.

Todos os trabalhadores/as registrados comcarteira assinada são obrigatoriamente prote-gidos pela Previdência Social, e aqueles que nãosão registrados podem se filiar espontaneamen-te, como contribuintes individuais (caso dos tra-balhadores/as autônomos e empresários) oucomo contribuintes facultativos (caso dos es-tudantes, donas de casa, etc.).

Por isso, não aceitamos:

• Reduzir ou cortar direitos daquelesque tem direitos aos benefícios da previ-dência.

• Um salário que não garanta aos apo-sentados uma vida digna.

• Desvincular o salário dos aposentadosdo salário mínimo nacional.

• Estabelecer um salário diferenciadopara os aposentados rurais.

Portanto, propomos:

• A ampliação da rede de proteção socialprevista na Constituição brasi leira, com auniversalização do acesso e a qualificação daSeguridade Social.

• A revogação de toda a legislação aprova-da nos governos Lula e FHC, que reduziram osdireitos dos/as trabalhadores/as ativos/as eaposentados/as e dificultaram o acesso à apo-sentadoria.

• A revogação do fator previdenciário.

• A fiscalização, o controle rígido por usu-ários e beneficiários da Previdência de suascontas, o combate à sonegação, às isenções fis-cais fraudulentas e a punição de corruptos ecorruptores que utilizam o dinheiro público embenefício próprio ou dos banqueiros, com orestabelecimento de um Conselho Nacional deSeguridade Social, com poderes de gestãodeliberativa.

• O combate ao desemprego, àprecarização do trabalho e à informalidade, ga-rantindo carteira assinada para todos e o au-mento da arrecadação da Previdência.

• A efetivação dos direitos sociais: Previ-dência, direitos trabalhistas, aposentadoria,salário maternidade, seguro doença etc.

• A supressão da DRU, que retira 20% dosrecursos destinados à Previdência Social, oque a torna deficitária;

• Garantir que os recursos previstos naConstituição Federal sejam destinados aosfins por ela determinados, o que torna aPrevidência superavitária.

5. HABITAÇÃOÉ um dos direitos básicos da pessoa huma-

na. É obrigação do Estado, em todas as suas es-feras, criar políticas públicas aptas a asseguraro acesso a esse direito, mas atualmente isto énegado para mais de 10 milhões de brasileiros.

Por isso, não aceitamos:

• Transformar o direito à moradia em mer-cadoria e entregue às grandes construtoras queobtém imensos lucros à custa de um direito dopovo.

• A ausência de um amplo programa demoradias populares, que além de dar moradia

para milhões de pessoas, criaria milhares deempregos.

Portanto, propomos:

• Garantir o direito à moradia digna.

• Implementar políticas públicas que garan-tam a construção de habitação popular por auto-gestão, através de cooperativas de construção ehabitação, nas quais os associados se organizeme construam suas moradias.

• Garantir a implementação da resolução 460do Estatuto das Cidades, possibilitando o acessoà moradia para famílias com renda de até doissalários mínimos.

• Garantir programas habitacionais que aten-dam à população de rua sem comprovação deendereço.

• Garantir aos movimentos populares orga-nizados, de luta por moradia, a posse de imóveispúblicos e privados, abandonados há mais de umano, ou com IPTU atrasado há mais de cinco anos.

• Garantir que o processo de obtenção deusucapião urbano seja gratuito, para garantia dafunção social da terra.

• Contribuir com a organização, articulaçãoe fortalecimento dos movimentos de moradia noBrasil.

• Mobilizar os Movimentos de Sem Teto parapressionar os órgãos públicos para que implan-tem programas habitacionais para a população debaixa renda.

• Aprofundar as relações com as diversas es-feras de governo, participando das instânciasinstitucionais de controle social, apresentando aspropostas dos movimentos de moradia e negoci-ando alternativas de programas e atendimentoas demandas populares.

• Aprofundar as relações com entidades doCampo Popular, a partir da compreensão de queé preciso somar esforços e buscar apoios para asdiversas frentes de reivindicação e negociação.

• Implementar um programa de capacitaçãocontinuada para os participantes dos diversosmovimentos de moradia, no sentido de atualizare de formar novas lideranças, com perfil demo-crático e comprometido com as bandeiras de luta.

• Estabelecer uma política de comunicaçãosistemática entre os movimentos e com a socie-dade em geral.

6. SANEAMENTO

A água é fundamental à sobrevivência e se tor-nou um dos produtos mais valorizados neste sé-culo. Logo, o saneamento ambiental é um servi-ço público igualmente fundamental à promoçãoe à proteção da saúde. O acesso aos serviços dequalidade é direito social básico assegurado cons-titucionalmente a todos.

Investir em saneamento é economizar dinhei-ro público. A saúde está diretamente vinculadaao saneamento básico. Doenças seriam preveni-das e eliminadas se houvesse investimento nessesetor.

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

Consideramos que é urgente a integraçãodos setores de saneamento com o de Saúde e/ou com o de Recursos Hídricos, bem como a cri-ação de uma Política Nacional de SaneamentoBásico, garantindo as reivindicações do setor,no que diz respeito ao estabelecimento de ummarco regulatório que o fortaleça e os aspectosfundamentais, como titularidade municipal, di-reitos do cidadão, o conceito amplo de sanea-mento básico, mecanismos de participação econtrole social, planejamento, regulação e fis-calização.

Por isso, não aceitamos:

• A ausência quase que total de Saneamen-to Básico em imensas áreas das periferias de qua-se todas as grandes cidades do Brasil.

• O atendimento inadequado ao usuário;déficit de atendimento ao usuário de baixa rendae de regiões menos desenvolvidas; perdas nosserviços de água em função de aspectos físicos (va-zamentos) e comerciais (ausência de medição); for-necimento intermitente; lançamento, nos rios, nas-centes ou no solo, in natura, de 90% dos esgotoscoletados ou destituídos de tratamento; utilizaçãoda rede coletora de águas pluviais para esgotos.

Portanto, propomos:

• Garantir água potável, de boa qualidade, eenergia elétrica alternativa e sustentável para apopulação, incentivando a redução da tarifa deenergia elétrica para pessoas de baixa renda.

· Conscientizar a população sobre a utiliza-ção dos recursos hídricos nos grandes centrosurbanos.

• Promover a coleta e tratamento adequadodo esgoto e do lixo, priorizando o

reaproveitamento, como iniciativa popular, detodos os produtos recicláveis.

· Assegurar às cooperativas de catadores/as organizados a prioridade nos serviços públi-cos de limpeza urbana.

• Promover a recuperação e preservaçãodas nascentes, das matas ciliares, dos córregos,rios e lagos. Garantir a realização de estudos deimpacto ambiental e social antes do início dequalquer obra.

· Garantir programas de formação para asociedade, despertando a consciência e a sensi-bilidade para a causa dos portadores de necessi-dades especiais.

· Garantir e promover o acesso e a valoriza-ção da criatividade artística e cultural, bem comoo acesso a espaços e iniciativas de lazer e espor-tes.

• Redefinir o espaço urbano destinando áre-as adequadas para parques, para áreas de espor-te, lazer e livre caminhar das pessoas.

• Garantir infra-estrutura nos novos aglome-rados urbanos.

• Combater o tráfico de drogas, ampliandoo debate sobre o tema, mas sempre tratando ouso de drogas (lícitas e ilícitas) como uma ques-tão de Saúde Pública, possibilitando a efetiva re-cuperação do usuário, com especial atenção aosjovens.

7. TRANSPORTE PÚBLICO

O Transporte Público é um serviço essencial,um direito de todos, e deve visar à inclusão soci-al, à melhoria da qualidade de vida e o desenvol-vimento sustentável, com geração de emprego erenda.

O atual modelo das políticas públicas nestesetor vem produzindo diariamente enormes ín-dices de congestionamento, que afetam a SaúdePública, pela emissão de poluentes, contribu-em fortemente com o aquecimento global, ge-neralizam a doença do estresse para aquelesque vivem horas a fio nos seus carros, além doenorme desperdício de tempo e de energia.Além disso, a violência no trânsito aumenta eos recursos provenientes de multas e tributossão desviados para outros usos que não amelhoria do transporte público.

Por isso, não aceitamos:

• Políticas que sustentam e incentivam otransporte individual motorizado, com facilidadesde aquisição de automóveis promovidas pela in-dústria automobilística.

• A total ausência e fragilidade das políticasgovernamentais efetivas para combater o atualcenário, colocando o Brasil na contramão de so-luções de mobilidade existentes no mundo.

Portanto, propomos:

• Mobilidade para todos.

• Investir em sistemas estruturais (corre-dores de ônibus, veículos leves sobre trilhos ,metrôs e ferrovias urbanas) integrados a redescicloviárias, calçadas e estacionamentos de au-tomóveis nas periferias.

• Investimentos permanentes no transpor-te coletivo.

• Barateamento nas tarifas para a inclusãosocial.

• Prioridade ao transporte público no trân-sito.

• Transporte público com desenvolvimen-to tecnológico e respeito ao meio ambiente.

Queremos ser um país reconhecidamenteplural, que assegure a democratização econômica,social e política, rompendo com preconceitos ediscriminações ligadas ao gênero, à cor, à etnia,às orientações sexuais, classes sociais e crençasreligiosas; que respeite e garanta os direitos dascrianças, dos (as) jovens e idosos (as).

Um país que promova o Poder Popular comofonte soberana em relação a decisões que dizemrespeito à nossa sociedade.

1. Democracia e igualdade na diversidade

1.1 Um país constituído de mulheres e homensconscientes das potencialidades de suaslocalidades e de suas regiões, de seu poder detransformar a realidade: as questões queenvolvem a sociedade devem ser discutidas pela

própria sociedade; pessoas que participem demaneira engajada na vida de suas comunidades,de organizações e movimentos sociais,profissionais, políticas, culturais, artísticas oureligiosas, na luta por direitos fundamentais.

1.2 Um país assentado sobre a igualdade entrehomens e mulheres, que se expresse em todas asrelações sociais, econômicas, culturais e políticasnos diferentes espaços e situações vividas.

1.3 Um país que combata a opressão degênero/etnia e a exploração de classe,respeitando as diferenças regionais e o significadoque os sujeitos sociais atribuem às suasexperiências.

1.4 Um país que crie condições objetivas esubjetivas para o exercício das novas relações degênero e etnia, nos diferentes espaços de poder.

1.5 Um país soberano, que valorize o PoderPopular, a autodeterminação, o fortalecimentodos povos, o respeito à diversidade, àsolidariedade, à generosidade, à lealdade, àjustiça, à igualdade.

1.6 Um país que assuma sua dívida históricacom os povos indígenas, comunidades negras,qui lombolas, mulheres e pessoas comdiferentes orientações sexuais, entendendo quea luta anti-racista, anti-etnocentrista e anti-sexista é parte de um projeto estratégico deemancipação nacional. A luta anti-racista seentrelaça com o reconhecimento das propostashistóricas da população negra por um Brasilmelhor para todos e todas, assentadas em suacontribuição cultural e política. E vai além danecessária, mas limitada, postura contrainjustiças socioraciais.

Direitos civisEIXO 4:

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

1.7 Um país que viabilize acesso aos meios deprodução e distribuição igualitária da renda àscomunidades historicamente discriminadas.

1.8 Um país que promova a justiça em rela-ção aos povos indígenas e remanescentes dequilombos, devolvendo-lhes imediatamente suasterras, livres de invasão.

1.9 Um país que promova políticas educacio-nais que favoreçam o fim das discriminações,como racismo, machismo, homofobia, fortalecen-do políticas afirmativas; e possibilite condiçõesefetivas para a igualdade de oportunidades e devalorização de suas culturas e do trabalho, comigualdade de remuneração.

• Promover políticas públicas que reconhe-çam as populações indígenas urbanas.

• Garantir o ensino da história e da culturaafrodescendente e dos povos indígenas na edu-cação básica.

• Garantir os direitos constitucionais dos po-vos indígenas em relação ao uso e benefício dosbens naturais de seus territórios.

• Garantir a aprovação do Estatuto dos PovosIndígenas, encaminhado ao Congresso em 1991.

• Respeitar a visão de mundo dos povos indí-genas e sua relação com a natureza.

• Combater o projeto de transposição do rioSão Francisco e promover sua revitalização.

• Criar um Conselho Nacional de PolíticaIndigenista, com a efetiva participação dos povosindígenas, desenvolvendo políticas articuladas defortalecimento de seus projetos históricos.

• Estimular a participação das comunidadesciganas existentes no Brasil, nos espaços propíci-os de valorização da diversidade.

• Garantir que seja cumprida a ConstituiçãoFederal, no que diz respeito à criminalização doracismo, à liberdade de culto religioso e ao com-bate à intolerância religiosa.

• Promover a igualdade na remuneração pe-los trabalhos realizados por mulheres e homens.Valorizar o salário mínimo e remunerar o traba-lho doméstico, inclusive com a garantia da apo-sentadoria, bem como dos demais direitos traba-lhistas.

• Combater qualquer forma de mercan-tilização do corpo da mulher, o turismo sexual eo tráfico de mulheres, em especial de crianças eadolescentes.

• Criar mecanismos de punição efetiva paraeliminar todo o tipo de violência contra a mulher,incluindo a violência doméstica.

• Combater todo e qualquer tipo de discrimi-nação e preconceito referente à orientação sexu-al, punindo todas as formas de violência e opres-são bio ou psicossocial.

• Lutar para que haja efetiva igualdade, inclu-sive com a responsabilidade dos homens pelo tra-balho doméstico e de cuidado dos filhos, doen-tes e idosos, assim como para que não haja ne-nhuma forma de violência doméstica.

1.10 Um país que fortaleça e crie condiçõesefetivas de participação da população jovem naconstrução da sociedade nova, rural e urbana.

• Promover políticas que proporcionem odesenvolvimento das potencialidades dos e dasjovens, como a criação de oportunidades de tra-balho com todos os direitos sociais garantidos, olivre acesso ao conhecimento, destinando os re-cursos necessários.

1.11 Um país que garanta educação e saúde,públicas e gratuitas para todos, e que erradique oanalfabetismo.

1.12 Um país que priorize os investimentos empolíticas públicas, com a revisão da política, efe-tivada nos últimos anos, de redução dos recursospara a Assistência Social, que comprometeu amanutenção de vários programas previstos na LeiOrgânica da Assistência Social, sobretudo em fa-vor de crianças, adolescentes, pessoas com ne-cessidades especiais, negros, mulheres e povosindígenas.

1.13 Um país que promova medidas eficazespara o respeito, integração e participação plenadas pessoas com necessidades especiais.

1.14 Um país que favoreça o debate, em to-dos os seus aspectos e dimensões, sobre a ques-tão do aborto, tendo em vista a opção pela Vida.A maioria das mulheres que praticam o aborto,no Brasil, são pobres, excluídas e são elas que maissofrem as seqüelas deste ato.

Propostas

• Fortalecer as iniciativas pela regularizaçãodas terras dos povos indígenas e quilombolas.

• Assumir as propostas da Marcha Mundialde Mulheres.

• Criar o Conselho Nacional de PolíticaIndigenista

• Criar uma Secretaria Executiva Especial eAutônoma voltada para os povos indígenas.

2. O DIREITO À COMUNICAÇÃO2.1.Um país em que o Estado garanta espaço

a todas as pessoas e organizações sociais na dis-puta de idéias, através da democratização dosmeios de comunicação, reconhecendo as iniciati-vas dos movimentos sociais e impedindo a con-centração desses meios em poucas empresas pri-vadas.

• Incentivar a organização social pelo direitohumano à comunicação, estimulando práticas quefavoreçam a apropriação desse direito por toda apopulação.

• Exigir a democratização das concessões demeios de comunicação, a criação de instrumen-tos de controle público sobre o sistema privado eestatal, e leis que impeçam a concentração dosmeios de comunicação e promovam a diversida-de e a pluralidade cultural.

• Implementar o Sistema Público de Comu-nicação, comunitário e não comercial, que possi-bilite o funcionamento de rádios e TVs regionais,abertas à criatividade popular e que promovam adiversidade cultural.

• Incentivar as iniciativas de rádios e TVs li-vres e comunitárias, regularizando seu funcio-

namento. Colocar a TV digital e o rádio digital aserviço do povo.

• Apoiar o uso do software livre e promovera inclusão digital, com serviços públicos como, porexemplo, acesso à internet.

• Combater a repressão a toda forma de co-municação popular, livre e comunitária.

• Garantir para a sociedade conhecimentose condições para uma postura autônoma e críti-ca em relação à mídia.

• Incentivar e fortalecer práticas de Comuni-cação Popular, estimulando a articulação entreelas.

Propostas:

• Criação de um Conselho Nacional de Co-municação.

• Criação de um Fórum de Comunicação Po-pular / de Ouvidoria Popular.

• Cobrar dos candidatos às próximas eleiçõessuas propostas de política de comunicação.

• Exigir mudanças na Lei no 9.612/98 das rá-dios comunitárias, sobretudo em relação à potên-cia, publicidade e proteção.

• Exigir uma auditoria e/ou CPI sobre aAnatel (Agência Nacional de Telecomunicações)

• Exigir anistia de todos os condenados porações ligadas a rádios comunitárias e anulação dosprocessos por abertura de rádios comunitárias.

Iniciativas existentes:

• Lutas por rádios comunitárias.

• Jornal Brasil de Fato, TV Sur, Agência Aditale outras mídias independentes.

3. OS DIREITOS DOS MIGRANTES

O fenômeno migratório assume proporçõescada vez maiores. Embora seja difícil precisar onúmero exato de migrantes, é certo que o fatomigratório constitui-se na interpelação mais for-te e mais evidente do atual processo deglobalização. Tal processo tem duas marcas, queos migrantes questionam fortemente: éconcentrador e excludente. Os migrantes nãoquerem ficar de fora e não permitem que os be-nefícios do desenvolvimento sejam apenas parauma minoria. O tema das migrações está cada vezmais presente nas agendas.

Fenômeno complexo e contraditório, as migra-ções são ao mesmo tempo denúncia e anúncio.Denúncia do modelo de desenvolvimento que nãoprioriza as pessoas, mas o capital, principalmen-te o financeiro; denúncia da concentração da ri-queza, da terra e do poder e denúncia das restri-ções que são impostas para os migrantes (muros,polícia, perseguição, leis restritivas e diretivas); epor outro lado são anúncio de outra sociedadeque queremos construir. Uma sociedade econo-micamente justa, politicamente democrática, so-cialmente eqüitativa, culturalmente plural e reli-giosamente macro-ecumênica.

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

Causas

A migração é um processo que tem suas cau-sas profundas na globalização, é um processoeconômico, político, cultural e social relaciona-do diretamente com os efeitos que o modelocapitalista neoliberal imposto provoca mundi-almente.

As políticas econômicas, sociais e culturaisque formam a base da globalização atual im-pedem um desenvolvimento humano e susten-tável para os interesses e necessidades de to-das as sociedades. A ação das empresasmultinacionais, as dívidas, a perda de sobera-nia alimentar, o comércio injusto, a exploraçãodos recursos naturais e os conflitos armadosestão na raiz de muitos dos processos migrató-rios.

Existem políticas e práticas à margem dosdireitos humanos, como a externalização dasfronteiras, sistemas de vigilância, as zonas fran-cas de produção e os muros, físicos ou virtuais

O impacto dos mega-projetos econômicos,os desastres ambientais, a perseguição porquestão de gênero, orientação sexual, raça, re-ligião e a violação dos direitos econômicos esociais que não são considerados na legislaçãointernacional de proteção, são causa das migra-ções, além de outras formas de racismo, xeno-fobia, islamofobia e antisemitismo.

As migrações, tanto no norte como no sul, ea crescente deterioração das condições de vidasão provocadas pela globalização capitalista,neoliberal, concentradora e excludente,depredadora do ser humano e da natureza, cau-sa fundamental das migrações contemporâne-as. Nas condições atuais do capitalismo mun-dial, as pessoas migrantes são uma mostra evi-dente das desigualdades econômicas e sociaisentre os países e dentro dos países. Esta situa-ção se aprofunda com o avanço da crise mun-dial, de muitas dimensões: econômica,ambiental, alimentar e energética. Não se podefazer dos imigrantes os bodes expiatórios dacrise; os imigrantes não são a causa da crise esim a solução.

Força para a migração também a imposiçãode modelos de produção que provocam a saí-da dos territórios de origem, a fim de deixarespaço para “projetos de desenvolvimento”que inviabilizam a presença das comunidadese desconhecem os direitos das mesmas. Asmudanças nos padrões de plantação e a ten-dência de reconcentração e propriedade da ter-ra para produzir agrocombustíveis ou para aagricultura para fins de exportação, quedirecionam o uso da terra para objetivos dis-tintos da produção alimentar e geram gravesimpactos nas reservas aqüíferas, podem provo-car novos êxodos do campo para as cidades. Pro-duz-se, assim, o despovoamento urbano e rural.

Com o avanço da produção de agro-com-bustíveis, em terras antes ocupadas para aprodução de alimentos e que contribuíampara fixar as pessoas no campo e o conseqüen-te aumento do preço dos alimentos, as mi-grações só aumentarão. De 2007 a 2008 o trigo

aumentou 130%; o arroz aumentará 30% nes-te ano e o milho subiu 35% de 2007 a 2008.

Dívidas sociais com os migrantes

No caso do Brasil, uma das situações que maisestá exigindo o resgate das dívidas sociais é o casodos imigrantes bolivianos, que por estaremindocumentados2, vivem e trabalham em situa-ções análogas ao trabalho escravo, com medo dedenunciar, medo da polícia e das represálias. Nes-te caso, muitos dos imigrantes bolivianos na ci-dade de São Paulo, após o cumprimento dos me-ses para o pagamento dos custos da viagem, fo-gem; mas deparam-se com a legislação que oscriminaliza, mas não reconhece o tráfico de sereshumanos.

Muitos deles trabalham em condições de es-cravos. Olhando de perto a situação do povo bo-liviano, podemos destacar os seguintes pontos:

- A forma como são recrutados na Bolívia, compromessas enganosas de salários de até 500 dóla-res mensais, quando na verdade não passam de 100.

- O confinamento a que são submetidos emSão Paulo: trabalhar diversos meses para pagar aviagem e a impossibilidade de comunicação.

- Retenção dos documentos e chantagemcom ameaças de denúncias para a polícia.

- A longa e extenuante jornada de trabalhoa que são submetidos e que muitas vezes chega amais de 16 horas diárias.

- A contínua rotatividade de local de traba-lho, evitando assim qualquer tipo de organizaçãoe despistando as autoridades locais.

- As condições insalubres de trabalho: mo-rar e trabalhar no mesmo local, respirando a poei-ra do trabalho nas confecções.

- Cerceamento da liberdade, devido ao ho-rário de trabalho e a constante coação.

- Mas o mais grave de tudo é a impossibili-dade de exigir diretos, seja pela dificuldade da lín-gua, seja pelo fato de estarem indocumentados esubmetidos a uma lei dos estrangeiros que éautoritária, xenofóbica, restritiva e ainda é umafábrica que produz indocumentados.

Há uma tendência mundial de fechamentodos países, inclusive dos próprios blocos eco-nômicos, como é o caso da América do Norte eda Europa. São muros, legislações restritivas,externalização das fronteiras, sistemas de vigi-lância, patrulhas armadas e recentemente aDiretiva de Retorno aprovada na Europa, masque é mais conhecida como a Diretiva da Vergo-nha.

A construção de muros geográficos, políticos,legais e culturais, como a diretiva européia da“Vergonha”, e outras leis públicas e disposiçõessemelhantes, são uma estratégiacriminalizadora que, tendo em vista o maior lu-cro, elimina todos os direitos humanos.

A lutas dos migrantes enfatizam a necessi-dade de defender, reivindicar, estender frenteao trabalho forçado, escravo e precário, o traba-lho digno para uma vida digna.

Na perspectiva do resgate das dívidas soci-ais, a integração dos povos fundamenta-se numaidentidade sul-americana com valores comuns,tais como: a democracia, a solidariedade, os di-reitos humanos, a liberdade, a justiça social, orespeito à integridade territorial, a diversida-de, a não discriminação e a afirmação de suaautonomia, a igualdade soberana dos Estados ea solução pacífica de controvérsias.

“Criar outro mundo é possível, necessário eurgente. Nós, migrantes, somos sujeitos e agen-tes de transformação das sociedades às quaischegamos e das que saímos.... A cidadania uni-versal é uma necessidade para os processos deconvivência. Toda a pessoa que chega a um novopaís deve ter todos os direitos inerentes à con-dição de cidadão sem vincular-se à nacionalida-de, incluindo o voto” (II FSM das Migrações).

Propostas:

• Anistia Ampla e Geral para todos os imi-grantes dos países do Mercosul e a ele vincula-dos; desta forma todos os migrantes teriam osdireitos sociais, políticos e econômicos respei-tados em qualquer país.

• Acesso às políticas públicas, independen-te da situação administrativa dos imigrantes.

• Os imigrantes não sejam criminalizadospelo fato de não terem os papéis em dia.

• Os governos assinem, e seus respectivosparlamentos ratifiquem e ponham em prática,a Convenção Internacional para os Direitos dosTrabalhadores/as Migrantes e seus Familiares ese deve garantir o direito à livre circulação.

• O imigrante tenha direito ao voto e à par-ticipação na vida política do país onde escolheuviver – lutar por mudanças nas constituições nospaíses que restringem estes direitos.

• Igualdade nos direitos trabalhistas eprevidenciários entre nacionais e imigrantes(Mercosul)

• Desburocratização na descentralização doatendimento governamental aos imigrantes.

• Livre circulação na região, permitindo queas pessoas possam trabalhar e viver nos paísesda região e com acesso a todos os direitos.

• Ninguém pode ser criminalizado pelo fatode não ter os papéis regularizados.

• Assinar e implementar Tratados de Resi-dência no Mercosul e Associados.

• A anulação da Diretiva de Retorno da UniãoEuropéia, assim como todos os instrumentos le-gais que permitem a detenção e a criminalizaçãodos imigrantes no mundo.

• A incorporação em nossas lutas de exigên-cia de uma Justiça Ambiental e do reconhecimen-to e proteção jurídica aos refugiados que provo-ca a mudança ambiental e a destruição do meio-ambiente, bem como uma nova ordem mundial,que promova a dignidade humana das pessoas,em sintonia com as potencialidades do nosso pla-neta Terra.

• Participação no Fórum Social Mundial dasMigrações.

2 Palavra em castelhano que significa, sem documentos ou sem a possibilidade de ter documentos devido as leis do país ao qual se encontram como extrangeiros.

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

EIXO 5

Direitos econômicos1.Um país cuja economia esteja a serviço, não

do lucro, da acumulação de capital, nem do tercomo fim, mas sim do ser humano, da sua aspira-ção a ser sempre mais plenamente humano, rea-lizado e feliz.

2.Um país cujo desenvolvimento não é o cres-cimento econômico ilimitado mediante a explo-ração do trabalho humano, a desigualdade soci-al, de etnia e de gênero, e a destruição deecossistemas, mas sim a produção e distribuiçãoplanejada de bens e serviços suficientes para quecada um e todos possam compartilhar a abun-dância, o tempo para investir no desabrochar dosseus potenciais e atributos, e em sempre maisbem-viver.

3.Um país cuja democracia transforme em di-reitos de todos a propriedade e a gestão dos bense recursos produtivos, a tecnologia, o crédito, otrabalho emancipado como modo de realizar-sedo ser humano, a educação de qualidade, o aces-so aos mercados, a garantia do direito à Vida.

4.Um país em que o direito de planejar o de-senvolvimento não seja mais monopólio dascorporações e do Estado, mas sim um direito es-sencial de todos – cidadãs, cidadãos, comunida-des. Tal direito exige que se estabeleça ametodologia do orçamento público participativodesde o nível distrital e municipal até a esfera fe-deral. Exige também que sejam garantidos o aces-so da população aos recursos naturais locais e aosmeios de produzir bens e serviços.

5.Um país cujo desenvolvimento econômicoe tecnológico não sejam um fim em si, mas mei-os para o desenvolvimento social e humano. Paraisso, que ele seja guiado por indicadoresabrangentes, que contenham os elementos capa-zes de medir não apenas o bem-estar material,mas também as condições propícias para a cida-dania ativa, assim como para o bem-viver e a fe-licidade nas esferas comunitária, social, cultural,subjetiva e espiritual. Que o plano de desenvolvi-mento anual em todos os níveis de governo sejabalizado por metas igualmente abrangentes, queexpressem a prioridade do social e do humano.

6.Um país em que o direito à Vida esteja ga-rantido por um programa de renda mínima ousalário cidadão, pago pelo Estado a cada habitan-te do país – homem, mulher, jovem, criança – apartir de um fundo de democratização da rendanacional. Este fundo, de âmbito nacional, podeser gerado, por exemplo, pelos royalties do pe-tróleo, dos minérios e de toda riqueza naturalexplorada no país.

7.Um país que tenha superado a política irres-ponsável do sobreendividamento, tendo introdu-zido a auditoria anual da dívida pública na legis-lação, como um instrumento democrático deprestação de contas à sociedade, da gestão dasfinanças do Estado. Um país que limite as trans-ferências externas para efeito de juros e amorti-

zações a 10% do valor total das exportações decada ano; e limite o pagamento de juros e amor-tizações da dívida interna a 10% do orçamentopúblico da União, estados e municípios. Para isto,o país deve cumprir o artigo 192/VIII/3 da Consti-tuição Federal, praticando o teto máximo de 12%para a taxa de juros e impedindo que agentes fi-nanceiros privados pratiquem taxas superiores aesta.

8.Um país que apoie seus investimentos maisna poupança interna do que na externa. Um paísque cancele os mecanismos especulativos dosmercados de capitais, e crie regulações rigorosaspara os fluxos de capital externo, como a imposi-ção sobre os ganhos e, aos investidores externos,a obrigação de deixar os proventos do investimen-to no país durante pelo menos um ano. Um paísque tenha declarado na legislação o caráter deserviço público do sistema financeiro.

9.Um país que priorize a Economia Solidária,apoiando as iniciativas econômicas diretas dapopulação através de incentivos e subsídios pú-blicos, estimulando a formação de cadeias pro-dutivas e redes de colaboração solidária, favore-cendo a participação delas em licitações públicas,introduzindo a cooperação, a solidariedade, a res-ponsabilidade e o cuidado com a Vida e o meioambiente como pilares da produção, do comér-cio, das finanças, do consumo e do sistemaeducativo.

10.Um país que adote uma política fiscalredistributiva da renda e da riqueza: taxando asgrandes fortunas, punindo a sonegação, impedin-do e sancionando as transferências ilegais, crian-do alíquotas diretamente proporcionais à rendadas pessoas e das famílias, adotando critérios ri-gorosamente éticos nas escolhas relativas à re-

núncia fiscal, e priorizando os investimentos naeconomia doméstica e nas áreas sociais eambientais na gestão do orçamento.

11.Um país que defina suas relações com ou-tros povos e nações de forma soberana, com li-berdade e autodeterminação, com base na soli-dariedade e na cooperação, de maneira especialcom os países do Sul (África, América Latina, Ásia)

INTEGRAÇÃO DOS POVOS

Na América Latina, há um grande debate emtorno da integração dos povos, que pretende ado-tar medidas destinadas a integrar os imigrantes,tanto do ponto de vista trabalhista quanto de ci-dadania. Quanto maiores forem as assimetrias emtermos de renda, saúde, educação etc, maior seráo fluxo migratório potencial de regiões menosfavorecidas para regiões mais desenvolvidas.

A integração que queremos é ecológica, ino-vadora, alternativa, e de resistência à ordemneoliberal vigente, que está representada nos Tra-tados de Livre Comércio. Portanto, os acordos deintegração devem servir aos povos e não ao capi-tal, representado pelas transnacionais e elites lo-cais, devem tratar a questão migratória de formaampla e aberta, como um grande enriquecedorcultural e econômico, e não como um peso parao sistema de segurança social.

Há vários projetos de integração latino-ame-ricanos. A análise de cada um deles exige que for-mulemos alguns questionamentos impor-tantes.Integração para quem? Para os setores privilegi-ados ou para os povos de nosso Continente?

Não há nada na proposta de integração dosmercados que em si possa ser favorável para ofuturo dos povos do Continente. Não é suficienteser uma integração latino americana ou sul-ame-ricana para que corresponda aos interesses po-pulares. Tudo depende do modelo de integraçãoem questão. Em função de quais interesses e dequais valores ela se sustenta?

Não queremos uma integração que permitaao capital financeiro mover-se livremente emtodo o nosso Continente, mas para os povos, paraas maiorias empobrecidas e excluídas.

Não queremos uma integração orientada paraabrir ainda mais nossas economias a fim desubmetê-las à vontade dos donos do capital. Que-remos sim uma integração que busque construirespaços de autonomia e de soberania, tendo emvista estabelecer políticas e opções próprias.

Não queremos uma integração fundada noindividualismo, na competição de todos contratodos, onde esteja garantido o êxito dos mais for-tes explorando e excluindo os mais fracos. Que-remos uma integração baseada nos valores daigualdade, da participação, na pluralidade, na so-lidariedade; uma integração que reconheça,

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II ASSEMBLÉIA POPULAR NACIONAL

valorize e torne possível a variedade dos modosde vida dos povos de nosso Continente.

Enfim, não queremos uma integração enten-dida como área de livre comércio, como espaçoeconômico para a livre circulação das mercadori-as e dos capitais; buscamos uma integração a par-tir dos processos de resistência à ordem globalestabelecida, que quer impor a todo custo a polí-tica imperial do governo dos Estados Unidos.

A integração deve entender o desenvolvimen-to global, como responsabilidade pública, e queseja assumida pelos estados e organismos multi-laterais, com a participação da cidadania.

A integração dos povos fundamenta-se numaidentidade sul-americana, com valores comunstais como: a democracia, a solidariedade, os di-reitos humanos, a liberdade, a justiça social, orespeito à integridade territorial, a diversidade, a

não discriminação e a afirmação de sua autono-mia, a igualdade soberana dos estados e a solu-ção pacífica de controvérsias.

Propostas:• Resistir a projetos com interesses unilaterais

e imperiais, como a Alca (Área de Livre Comérciodas Américas) e a OMC (Organização Mundial doComércio) e lutar por um comércio justo.

• Defender novas formas de integração comoa Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas)e outras propostas como a TV Sur e o Plano deDesenvolvimento Latino-americano.

• Lutar contra a militarização e a guerra, comono caso da ocupação militar do Haiti e do Iraque,da presença de tropas dos EUA no Paraguai e emmuitos outros países.

• Lutar pelo fim do bloqueio econômico a Cuba.

# Campanha contra o LivreComércio e lutar em favor da Alba(Alternativa Bolivariana para asAméricas).

# Campanha pela Desmilitarizaçãodas Américas (Cada).

# Campanha pela libertação doscinco patriotas cubanos.

# Campanha contra o bloqueionorte-americano imposto a Cuba

Iniciativas existentes:

EIXO 6

Direitos Culturais O Poder Popular deverá ser exercido fa-

zendo-se valer dos direitos culturais, como direi-tos que constituem os indivíduos e comunidadeshumanas.

O nosso país foi construído a partir daocupação de um vasto território, milenarmentehabitado por centenas de diferentes povos indí-genas. Cada um destes povos possui seu próprioterritório, sua própria história e sua própria cul-tura, incluindo língua, costumes, religiosidade,mitologia, valores e tradições.

Há pouco mais de cinco séculos, os colo-nizadores europeus para cá vieram, ocuparamterritórios e construíram comunidades, trazendotambém suas histórias e suas culturas. Comuni-dades pobres, principalmente de origem portu-guesa, espanhola, italiana e alemã aportaramneste “Novo Mundo” e aqui se enraizaram e seespalharam, numa relação permanentementetensa e conflitiva com as populações já existen-tes.

Os colonizadores trouxeram, com suacultura, também seu modo econômico de pro-dução e, para realizá-lo, além da expropriação dasterras indígenas, criaram a expropriação do tra-balho povos negros escravizados, trazidosforçadamente do continente africano. Desde osseus inícios, a escravidão foi marcada pela resis-tência e pelas rebeliões escravas: os negros serebelavam, fugiam e buscavam refúgio em terri-tórios distantes, os quilombos, onde pudessemviver em paz, de acordo com suas tradições e suasculturas.

A enormidade territorial de nosso paíspermitiu que comunidades humanas migrantes,ao longo de séculos, vivessem de maneira isola-da, tanto na faixa litorânea como nas áreas ribei-rinhas, nas serras, vales e florestas, desenvolven-do formas próprias de sobrevivência e de convi-

vência, com padrões culturais próprios, confor-mando os povos tradicionais.

A formação da sociedade brasileira foimarcada pela múltipla contribuição destas comu-nidades humanas, tão diferentes em suas históri-as e características, e que construíram, duranteséculos, um verdadeiro mosaico cultural, ampla-mente diversificado e plural.

Todas estas comunidades têm suas histó-rias marcadas pela expropriação de suas rique-zas, materiais como imateriais, espirituais, pelaselites dominantes de cada período histórico. Du-rante o princípio da colonização, foram as elitesportuguesas que expropriaram os territórios dospovos indígenas, que levaram a guerra, a fome eas doenças a estes povos, exterminando cente-nas deles, apropriando-se de suas terras e aniqui-lando seus idiomas e suas culturas.

Durante ainda o período colonial, até o fi-nal do Império, foram as elites nacionais que ex-ploraram ao máximo o trabalho escravo, reprimi-ram as culturas de raiz africana, impuseram como açoite a religião e a cultura dominantes,ameaçaram com a morte a busca da liberdade e dadignidade pelos trabalhadores/as dos povos negros.

Durante o último século, foram as elitesnacionais e internacionais que vêm exproprian-do os povos tradicionais, invadindo suas terrascom estradas, roubando-os, expulsando-os etransformando seu patrimônio em mercadorias,ocupando seus territórios com o agronegócio oucom empreendimentos turísticos.

1. POVOS INDÍGENAS

Os povos indígenas são os primeiros habitan-tes destas terras ameríndias. Estudos indicam que,em 1.500, aqui viviam cerca de mil diferentes

povos, num total estimado em 6 milhões de pes-soas. Os dois primeiros séculos da colonizaçãoforam devastadores para estes povos, sendo que,além das guerras coloniais, a transmissão de do-enças teve um papel central no extermíniopopulacional.

Durante os séculos seguintes, a expropriaçãoterritorial e o extermínio continuaram passo apasso e chegamos ao século XX com a perspecti-va da integração planejada e definitiva dos povosindígenas aos segmentos camponeses mais po-bres, com sua correspondente extinção, a um sótempo física e cultural.

O último período ditatorial (1964 – 1985), noentanto, gerou uma reação a esta perspectiva. Aação genocida intensa do Estado, associada àsações criminosas de latifundiários e madeireiros,tornou a questão indígena um ponto permanen-te da agenda democrática e suscitou amobilização dos povos indígenas e a construçãode alianças profundas com segmentos importan-tes da sociedade nacional.

Durante o processo da Constituinte (1986-1988), a mobilização dos povos indígenas e deseus aliados viabilizou o reconhecimento de di-reitos constitucionais destes povos por parte daConstituição de 1988. O texto constitucional re-conhece aos povos indígenas, entre outros, o di-reito às terras que tradicionalmente ocupam eafirma que tal direito precede a qualquer títuloque sobre elas incidam. Reconhece também seudireito às formas próprias de reprodução cultu-ral, aos mecanismos próprios de educação e saú-de, à vivência plena de seus costumes e tradições.

Desde a aprovação da Constituição de 1988,os povos indígenas de todo o país vêm se mobili-zando para garantir, na prática, os direitos reco-nhecidos no texto constitucional. A luta pela

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demarcação dos territórios tem aqui especial re-levância, pois a terra é um elemento central paraque os povos indígenas possam se afirmar como tais,física e culturalmente, e se projetar no futuro.

Atualmente, um grande desafio que se co-loca para os povos indígenas é o do etno-desen-volvimento, ou seja, o do desenvolvimento deseus territórios segundo seus modos própriosde existência, suas culturas e suas tradições.

2. POVOS NEGROS E QUILOMBOLASOs povos negros foram trazidos da África,

para a formação da sociedade nacional, comotrabalhadores/as escravizados, como instru-mentos da empresa colonial. Ao longo da Co-lônia e do Império sucessivas rebeliões e fu-gas constituíram os territórios de quilombos,nos quais os povos negros recuperavam suaplena liberdade.

A Abolição da Escravatura, em 1888, foi umato em benefício dos proprietários de escravos,pois “libertava” os escravos para o mercado, massem dar-lhes condições de acesso à terra nem acondições dignas de existência. Pelo contrário,uma vez “livres” para permanecer sendo explo-rados no mercado, o ato “libertava”, isto sim, oproprietário da responsabilidade pela sobrevivên-cia física dos trabalhadores/as.

A prática da escravatura foi um elementomarcante da formação econômica nacional, cons-tituindo um tipo de relação patrão-empregadoque sobrevive até os dias de hoje, marcado pelasuper-exploração do trabalho braçal e pela ausên-cia de reconhecimento de direitos trabalhistas.

Além da presença nas lutas operárias e dostrabalhadores/as em geral, que permearamtodo o século XX, os Povos Negros e Quilombolasdesenvolveram lutas fundamentais pelo reco-nhecimento de Direitos Culturais, Religiosos eTerritoriais.

Estas lutas também se manifestaram duran-te o processo constituinte, sendo que o textoconstitucional reconhece os direitos territoriaisdos Quilombolas. Este reconhecimento de di-reitos, no entanto, não se transformou, até osdias de hoje, em conquistas práticas, sendo pou-cos os territórios de Quilombo reconhecidospelo Estado e absolutamente insuficientes osinstrumentos legais produzidos para este fim.

Continuam, portanto, fundamentais para arealização da democracia em nosso país as diver-sas formas de luta pelos Direitos Culturais do Po-vos Negros e Quilombolas.

Estas lutas se expressam na busca do respeitoàs práticas culturais e religiosas, de matriz africa-na, das comunidades negras, rurais e urbanas; naafirmação das culturas e religiões negras das pe-riferias das cidades; nas formas de ser e de convi-ver da juventude negra, nas suas formas de ex-pressão artística e cultural, na sua musicalidadee nas suas expressões poéticas e literárias, enfimna estética das comunidades negras, da sua ju-ventude, dos seus artistas, dos seus homens edas suas mulheres.

Estas lutas se expressam também na buscapelo reconhecimento dos direitos territoriaisdos Quilombolas, base para a sua reproduçãofísica e cultural. Tal como os Povos Indígenas, osQuilombolas necessitam do reconhecimento ju-rídico e da garantia de seus territórios para pode-rem construir seu futuro, de acordo com suasculturas e suas tradições.

Faltam ainda mais de quatro mil territóri-os de Quilombo a serem reconhecidos peloEstado brasileiro.

3. POVOS TRADICIONAISOs povos tradicionais foram se constituindo

nas “terras livres” do território nacional, ao lon-go dos últimos séculos, geralmente distantes dosgrandes centros econômicos.

Nestas áreas, comunidades foram formadastendo por base a posse coletiva da terra, o traba-lho de caráter comunitário e a criação de cultu-ras extremamente específicas, com formas pró-prias de religiosidade, de usos e de costumes combase em tradições comuns.

Tais comunidades, como os seringueiros, osribeirinhos, as quebradeiras de coco babaçu daregião norte; as comunidades de pescadores daregião nordeste; os caiçaras e as comunidades defundo de pasto da região leste/sudeste; ou ascomunidades de origem italiana, alemã, russa oupolonesa da região sul, conformam uma rica di-versidade cultural, marcada pelo vínculo com oterritório comunitário e com uma história e tra-dições comuns.

A incorporação sucessiva, ao longo do séculoXX, de espaços territoriais, antes distantes, aomercado capitalista, fez com que as áreas dospovos tradicionais também se tornassem alvo deinteresse das grandes empresas, principalmentedurante as últimas décadas. Áreas litorâneas,por exemplo, antes apenas ocupadas por comu-

nidades tradicionais de pescadores, ao seremcortadas por estradas durante os anos 70, tive-ram incorporadas novas regiões ao mercado doturismo e viram serem expulsas as comunida-des que ali viviam há muitas gerações.

A especulação imobiliária em determinadasregiões, o agronegócio em outras têm, de formapermanente e violenta, buscado a expropriaçãodas comunidades tradicionais de suas áreas, subs-tituindo-as pelo interesse privado, pela concen-tração da terra e pela sua transformação em mer-cadoria.

As lutas dos povos tradicionais possuem umaclara dimensão territorial, pois o território comu-nitário é a base de sua existência social, mas tam-bém possuem uma forte dimensão cultural, poisas comunidades tradicionais constituíram, ao lon-go de gerações, uma história comum e um ricopatrimônio comum de valores, práticas sociais,religiosidade, ritos e festas, com traços de iden-tidade coletiva extremamente diferenciados epróprios.

4. PROJETO POPULARNosso Projeto Popular deve significar uma

ruptura com toda a história de opressão e ex-propriação econômica, política, social e cultu-ral, que marcou a formação da sociedade brasi-leira desde o seu princípio.

A superação da opressão de classe, o fim daexploração e expropriação dos povos indígenas,negros e tradicionais pelas elites nacionais nãopode ter uma dimensão apenas econômica, polí-tica e social, mas uma dimensão também profun-damente cultural.

O exercício dos direitos culturais pelos di-versos povos – indígenas, negros e tradicionais– deve ter por base a liberdade e a igualdade,construindo uma interculturalidade, na socie-dade como no Estado, rica em valores éticos,espirituais e estéticos. Em nosso Projeto Popu-lar, tais direitos culturais têm a mesma relevân-cia dos direitos econômicos, civis, sociais oupolíticos, não guardando com estes nenhumarelação de cunho hierárquico.

Pelo contrário, a dimensão cultural dos di-reitos que defendemos diz respeito aos níveismais profundos da identidade individual e co-letiva, constituindo as diversas visões de mun-do, assim como de relações com o sagrado;construindo os diferentes modos de ser, de con-viver e de se projetar na realidade, no presen-te como no futuro.

Os direitos culturais dizem respeito, portan-to, às garantias da vivência e do exercício ple-nos da subjetividade e identidade individual ,assim como da identidade coletiva.

A dimensão cultural fornece aos indivíduosos elementos que lhes permitem o sentimentode pertencimento a uma determinada comuni-dade e fornece a cada comunidade os elemen-tos que geram a coesão interna, a diferencia-ção com relação a outras comunidades, o auto-

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reconhecimento e a auto-estima como enti-dade social única e portadora de uma história,possuidora de características, imaginário, esté-tica e valores próprios.

Em nosso Projeto Popular, cada povo - indí-gena, negro e tradicional – deve ter seus direi-tos culturais assegurados, como instrumentosde defesa de sua identidade e de seu própriopatrimônio imaterial - e como contribuição espe-cífica à nossa rica diversidade cultural, ao nossopatrimônio espiritual comum, diverso e plural,enquanto Nação brasileira.

1. Um país que assuma sua origem histórica,

cultural, geradora de princípios e valores, viven-ciando

novas relações de gênero e etnias, como fundamento

básico do novo Projeto Popular para o Brasil.

2. Um país que reconheça, valorize e se for-

taleça com seus povos indígenas, povos negros e

povos tradicionais e que garanta a esses povos o

direito a seu território, em boas condições

ambientais, assegurando sua reprodução física

e cultural, sua continuidade histórica com auto-

nomia econômica, política, cultural e religiosa.

3. Um país que promova e execute a edu-cação diferenciada nas comunidades indíge-nas, quilombolas e tradicionais, contribuindocom o fortalecimento cultural de cada comuni-dade.

4. Um país que valorize as culturas e tradi-ções de descendentes de imigrantes.

5. Um país que estimule, entre os países daAmérica Latina, a integração das línguas predo-minantes (português e espanhol), como possibi-lidade de intercâmbio e constituição da identida-de latino-americana.

EXPEDIENTEAssembléia Popular Nacional – Mutirão por um Novo Brasil

Secretaria Operativa e equipe de atualizaçãoAlexania Rosatto, Ari Alberti, Rosilene Wansetto, Marli de Fátima Aguiar, Fátima Sandalhel, Ir. Delci Franzen, Ivo Lesbaupin, Ivo Poletto, João Brant, Paulo Maldos,

João Paulo Rodrigues, Joaquin Piñero, José Antonio Moroni, Luciane Udovic, Luiz Bassegio, Luiz Cláudio Mandela, Luiz Dalla Costa, Marcos Arruda,Mauro Kano, Maria Luiza Mendonça, Ricardo Gebrin, Roberto Malvezzi, Ronaldo Pagotto, Diva Braga, Sandra Quintela, MMM, PO Nacional e AP/DF

Contato da Secretaria Nacional

Rua Abolição, 227 – 2º andar - Bairro Bela Vista - CEP 01319-010 São Paulo/SP - Tel. (11) 31059702 / 3112 1524E-mail: [email protected] - Página: www.assembleiapopular.org

Layout e diagramação: Luciane Udovic - Ilustrações: Gustavo Pavel Égüez - “El Grito de los Excluidos”

ANOTAÇÕES

APOIOS

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