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FILOSOFIA DO DIREITO O Problema da Justiça em Aristóteles

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Page 1: O PROBLEMA DA JUSTIÇA EM ARISTÓTELES

FILOSOFIA DO DIREITO

O Problema da Justiça em Aristóteles

Page 2: O PROBLEMA DA JUSTIÇA EM ARISTÓTELES

Filosofia do Direito

INTRODUÇÃO

As interrogações de Aristóteles (384-322 a.C.)

sobre a questão da Justiça podem ser encontradas

nas seguintes obras:

- Grande Ética, Ética à Eudemo e Ética à Nicômaco.

- Política.

- Constituição de Atenas.

- Retórica.

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Filosofia do Direito

Tal como Platão, Aristóteles analisa

a Justiça a partir da articulação entre

as dimensões Ética e Política.

Para Aristóteles, e nisso

aproximando-se de Platão, a Justiça

é uma Virtude.

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Filosofia do Direito

O que é a Justiça como Virtude?

[-]carência (------meio-termo------) excesso[+]

A justiça consiste em dar a cada um o que é

seu, conforme o seu mérito, ou conforme o

agravo sofrido, procurando restaurar a

situação inicial.

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Filosofia do Direito

Mas as aproximações entre os dois teóricos

encerram-se aí.

Em Platão temos:

► Conceitos absolutos (metafísicos).

► Noção de Justiça marcada por um forte

intelectualismo (racionalismo).

► Conceito de Justiça limitada à análise da

arquitetura da cidade (classes sociais).

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Filosofia do Direito

Aristóteles analisa a Justiça enquanto um

fenômeno cuja natureza é social e,

portanto, possui mais de uma acepção.

Ou seja, diferentemente de Platão,

Aristóteles admite o pluralismo

conceitual do termo Justiça.

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Filosofia do Direito

1. O Método:

Empirismo - Método Empírico

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Filosofia do Direito

“É da reunião das opiniões dos sábios, da opinião

do povo, da experiência prática, avaliados e

analisados criticamente, dentro de uma visão de

todo do problema (justiça da cidade, justiça

doméstica, justiça senhorial...) que surgiu uma

concepção propriamente aristotélica [de justiça].”

BITTAR, Eduardo C. B.; ALMEIDA, Guilherme Assis de.

Curso de Filosofia do Direito. 4. ed. São Paulo:

Atlas, 2005. p. 90-91.

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Filosofia do Direito

2. AS ACEPÇÕES DA JUSTIÇA:

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Filosofia do Direito

2. AS ACEPÇÕES DA JUSTIÇA:

2.1 A Justiça Total/Justo Total (díkaion nomikón):

Consiste na Virtude da observância da Lei, no

respeito àquilo que é legítimo e que vige para o

bem (interesse comum) da comunidade. O Justo Total

é a observância do que é regra social de caráter

vinculativo. A Justiça assume a forma de Legalidade.

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Filosofia do Direito

2.2 A Justiça Particular/Justo Particular:

Refere-se ao outro (a outra parte envolvida no litígio)

singularmente no relacionamento direto entre as partes.

Divide-se em:

JUSTIÇA PARTICULAR DISTRIBUTIVA

JUSTIÇA PARTICULAR CORRETIVA

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Filosofia do Direito

2.2.1 A Justiça Particular Distributiva:

Relaciona-se com todo tipo de distribuição

levada a efeito no interior da Cidade-Estado

(Politéia), seja de Dinheiro, seja de Honras, de

Cargos Públicos, ou quais quer outros bens

passíveis de serem participados aos

governados.

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Filosofia do Direito

2.2.2 A Justiça Particular Corretiva:

Consiste no estabelecimento e aplicação de um juízo corretivo

nas transações entre os indivíduos. Trata-se de uma Justiça apta

a produzir a reparação nas relações. Preside a igualdade nas

trocas e demais relações bilaterais.

Divide-se em:

JUSTIÇA PARTICULAR CORRETIVA

DAS RELAÇÕES VOLUNTÁRIAS

e

JUSTIÇA PARTICULAR CORRETIVA

DAS RELAÇÕES INVOLUNTÁRIAS

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Filosofia do Direito

Justiça Particular Corretiva das Relações

Voluntárias:

Regula os vínculos (associação) fundados na liberdade

e voluntariedade dos atos dos indivíduos envolvidos

nas transações bilaterais.

Ex: Trocas, Compra, Venda, Pactos e Contratos,

Empréstimo, Arrendamento, Depósito, Locação, etc.

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Filosofia do Direito

Justiça Particular Corretiva

das Relações Voluntárias

Direito Privado “Direito Civil”

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Filosofia do Direito

Justiça Particular Corretiva das Relações Involuntárias:

Visa a reparação das ações causadas contra a vontade da (outra) parte envolvida, sem vinculação.

Ex:

Furto, Roubo, Adultério, Envenenamento, Corrupção, Falso Testemunho, Seqüestro, Agressão, Homicídio, Mutilação, Insultos, Ofensa Moral, Assédio Sexual e Moral, Injúrias, etc.

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Filosofia do Direito

Justiça Particular Corretiva

das Relações Involuntárias

Direito Público “Direito Penal”

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Filosofia do Direito

2.2.3 A Reciprocidade como Justiça:

Direito e Economia

→Aplicação nas relações de produção.

→O dinheiro como medida/equivalência universal da justiça.

Valor de custo:

Casa ≠ Sapato ≠ Kg de determinada Planta

Reciprocidade↔Dinheiro↔Justiça

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Filosofia do Direito

3. Justiça da Cidade (díkaion politikón)

x

Justiça da Casa (oikonomikòn díkaion)

- patrikòn díkaion (filhos)

- despotikòn díkaion (escravos)

- gamikòn díkaion (mulher/esposa)

- díkaion oikonomikón (patrimônio)

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Filosofia do Direito

3.1 Justo da Cidade/Justo Político (díkaion

politikón):

O Justo é o equilíbrio realizado, numa Cidade,

entre os diversos cidadãos que nela se reúnem, se

associam, com interesses distintos, disputando

entre si honrarias e bens: funciona ente eles o

Justo Político, principal acepção do termo Justo

(e da Justiça).

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Filosofia do Direito

Os Tipos de Governo: finalidade e extensão do Poder

em Aristóteles.

EXERCÍCIO DO

PODER

Um só

Alguns

A maioria

No interesse de

TODOS

Monarquia

Aristocracia

República

No interesse

Próprio

Tirania

Oligarquia

Democracia

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Filosofia do Direito

4. Justo Legal (díkaion nomikón)

x

Justo Natural (díkaion physikón)

- a idéia moral do Direito.

- a universalidade. “idéia regulativa”

- a não-arbitrariedade.

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Filosofia do Direito

Justo Legal conteúdo da legislação

x

Justo Natural unidade de tratamento

Ex.

“Roubo” quantificação/dosimetria

da pena

“pena em si” (ato de punir)

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Filosofia do Direito

Justo Legal “conformidade” à Lei.

x

Justo Natural “adesão interior” à Lei.

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Filosofia do Direito

5. As Fontes do Direito em Aristóteles:

5.1 Direito Natural (díkaion physikón):

- Os Princípios (do Direito Natural).

- Aplicações.

- O “Direito Comparado” de Aristóteles.

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Filosofia do Direito

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Filosofia do Direito

5.2 Teoria das Leis Positivas:

►Da necessidade das Leis escritas: (a imprecisão do Direito

Natural, Inexatidão do “Direito escrito” e “Mobilidade histórica”

do Direito).

►Gênese da Regra (Positiva) de Direito:

Vontade do legislador/Política e Prudência

Nomotética

Jurisprudência

►Valor e autoridade das Leis Positivas: fundadas no Direito

Natural e emanadas pelo Legislador.

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Filosofia do Direito

Obs:

- Obediência às leis escritas; mas quando elas forem

injustas e desfavorável a causa da Justiça, o

“Advogado” deve reivindicar as “leis segunda a

natureza” (não escritas – Nómoi ágraphoi).

- Redação de Leis precisas.

- Legisladores x Juízes: imparcialidade.

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Filosofia do Direito

6. Equidade (epieíkeia) e Justiça:

Nas ocasiões em que a lei instituída não oferecer o

melhor remédio jurídico ao(s) fato(s), de modo que sua

aplicação literal possa ensejar injustiça, o legislador deve

proceder segundo a Equidade.

A equidade é oportuna correção

dos rigores da lei.

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Filosofia do Direito

“É na ausência da lei que a equidade guarda sua

utilidade maior, sobretudo, complementando,

particularizando e respondendo pelo que quedou

imprevisto” (BITTAR; ALMEIDA, 2005, p. 117).

“Situações que exigem a equidade são, em certa

medida, um caso-teste no qual se põe a prova a sua

justiça” (HÖFFE, 2008, p. 205).

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Filosofia do Direito

“[...], o direito precisa da norma geral [abstrata] em sua

preocupação pela igualdade; por outro lado, tem-se de

fazer jus ao caso particular na sua especificidade

inconfundível” (HÖFFE, 2008, p. 206).

Equidade “abrandamento racional” da

rigidez legislativa

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Filosofia do Direito

São características do homem equo (Legislador,

Árbitro e Juiz):

a) Capacidade de escolha deliberada e de ação com

coisa equa.

b) Não ser rigoroso na justiça, quando esta é a pior

solução.

c) Inclinar-se a ter menos, mesmo quando a lei lhe é

favorável, em detrimento do outro.

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Filosofia do Direito

7. Amizade (philía) e Justiça (dikaiosýne):

Para Aristóteles, a união entre Amizade e Justiça constituem o

fundamento ético de toda vida em comunidade.

A Amizade (reciprocidade) concorre para a saúde da Cidade, pois

a relações entre os indivíduos estariam balizadas pela concórdia

visando a harmonia social.

A Amizade supõe, neste caso, um disposição de acolhida em

relação a alteridade (ao Outro).

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Filosofia do Direito

Como afirma Aristóteles, “quando os

homens são amigos não necessitam de

justiça, ao passo que os justos necessitam

também da amizade; e considera-se que

a mais genuína forma de justiça é uma

espécie de amizade” (Eth. Nic., VIII, 1,

1155a, 26/28).

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Filosofia do Direito

8. Amizade, Escravidão e Justiça:

Como o Escravo (por dívida ou por natureza) é (ou

passou a ser) parte do Senhor, sendo seus braços e

pernas (isto é, o princípio motor da economia),

Aristóteles imagina que o Senhor jamais faria mal a

si mesmo, podendo tratar o Escravo como amigo (a

Amizade num sentido lato senso).

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Filosofia do Direito

9. Juiz (díkhastes):

a Justiça Animada

(díkaion empsychon: EN V 7, 1132a22)

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Filosofia do Direito

Referências Bibliográficas

ARISTÓTELES. Política. 3. ed. Brasília: UNB, 1997.

BITTAR, Eduardo C. B.; ALMEIDA, Guilherme A. de. Curso de

Filosofia do Direito. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

HÖFFE, Otfried. Aristóteles. Porto Alegre: Artmed, 2008.

VILLEY, Michel. A formação do pensamento jurídico

moderno. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

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Filosofia do Direito

Elaboração:

Profº MSc. Wescley Fernandes A. Freire

Universidade Federal do Maranhão – UFMA

Curso de Bacharelado em Direito

Disciplina: Filosofia (Direito)