o problema da autoria na teoria literária

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7/25/2019 O Problema Da Autoria Na Teoria Literária http://slidepdf.com/reader/full/o-problema-da-autoria-na-teoria-literaria 1/20 O problema da autoria na teoria literária: apagamentos, retomadas e revisões Caio Gagliardi RESUMO Os debates mais recentes a respeito da autoria estão diretamente ligados ao problema da busca do sentido do texto. Por esse motivo, a autoria vem sendo encarada como uma das uest!es mais controversas relativas " teoria liter#ria. $as duas primeiras partes deste artigo, reali%a&se uma leitura cr'tica e sistem#tica das bases de (. recusa doautor como tutor do sentido do texto )Proust, Eliot, Croce, *imsatt e +eardsle, -errida, +artes e /oucault0 e de 1. de2esa e revisão desse conceito )+oot, +loom, Eco e Compagnon0. Em sua etapa consecutiva, 3. prop!e&se uma ip4tese particular de an#lise e interpreta5ão da autoria, mediante um deslocamento de contextos6 a recorr7ncia " no5ão de eteron'mia, de /ernando Pessoa. Palavras&cave6 8utoria, 9eteron'mia, :eoria liter#ria )s;culo <<0. $8 MO-ER$8 teoria da literatura, as 2ormas de re=ei5ão ue se vão acumulando )e depurando0 em torno da no5ão de autoria caracteri%am&na, sumariamente, como s'mbolo do umanismo e do universalismo ue os >novos> discursos cr'ticos procuraram eliminar dos estudos est;ticos. 8 contrapelo de uma cr'tica do 2en?meno liter#rio ue procura na psicologia, na biogra2ia e@ou na sociologia do indiv'duo 2atores determinantes do texto, a maior parte das correntes cr'ticas surgidas no s;culo << relega ao autor um papel meramente contingente ao 2a%er liter#rio. Esses di2erentes modos de desvalori%ar a a5ão atribu'da " inten5ão premeditada, uando analisados sistematicamente, tornam poss'vel acompanar alguns dos passos decisivos ue 2i%eram avan5ar o pensamento cr'tico&te4rico no s;culo <<.  8 limita5ão ou mesmo a elimina5ão do autor dos estudos cr'ticos sobre literatura se reali%a segundo a 2ormula5ão de anticonceitos ue se mostram decisivos como 2erramentas de an#lise e como de2inidores de ori%ontes de atua5ão cr'tica. Seu momento de cristali%a5ão po;tica data dos 2inais do s;culo <A<, por meio de Rimbaud e Mallarm;, sobretudo. 8companemos, no entanto, suas 2ormula5!es te4ricas mais sistem#ticas. Em >8 nova poesia russa> )(B(B0, aDobson de2ine a literariedade, isto ;, auilo ue torna um texto e2etivamente liter#rio, como algo inversamente proporcional " inten5ão do autor, uma ve% ue ela cobra aten5ão exclusiva para o discurso, em detrimento da poss'vel inten5ão ue o ter# guiado.

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7/25/2019 O Problema Da Autoria Na Teoria Literária

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O problema da autoria na teoria literária: apagamentos, retomadas e

revisões

Caio Gagliardi

RESUMO

Os debates mais recentes a respeito da autoria estão diretamente ligados ao problema da busca

do sentido do texto. Por esse motivo, a autoria vem sendo encarada como uma das uest!es mais

controversas relativas " teoria liter#ria. $as duas primeiras partes deste artigo, reali%a&se uma

leitura cr'tica e sistem#tica das bases de (. recusa doautor como tutor do sentido do texto )Proust,

Eliot, Croce, *imsatt e +eardsle, -errida, +artes e /oucault0 e de 1. de2esa e revisão desseconceito )+oot, +loom, Eco e Compagnon0. Em sua etapa consecutiva, 3. prop!e&se uma

ip4tese particular de an#lise e interpreta5ão da autoria, mediante um deslocamento de contextos6

a recorr7ncia " no5ão de eteron'mia, de /ernando Pessoa.

Palavras&cave6 8utoria, 9eteron'mia, :eoria liter#ria )s;culo <<0.

$8 MO-ER$8 teoria da literatura, as 2ormas de re=ei5ão ue se vão acumulando )e depurando0em torno da no5ão de autoria caracteri%am&na, sumariamente, como s'mbolo do umanismo e do

universalismo ue os >novos> discursos cr'ticos procuraram eliminar dos estudos est;ticos. 8

contrapelo de uma cr'tica do 2en?meno liter#rio ue procura na psicologia, na biogra2ia e@ou na

sociologia do indiv'duo 2atores determinantes do texto, a maior parte das correntes cr'ticas

surgidas no s;culo << relega ao autor um papel meramente contingente ao 2a%er liter#rio.

Esses di2erentes modos de desvalori%ar a a5ão atribu'da " inten5ão premeditada, uando

analisados sistematicamente, tornam poss'vel acompanar alguns dos passos decisivos ue2i%eram avan5ar o pensamento cr'tico&te4rico no s;culo <<.

 8 limita5ão ou mesmo a elimina5ão do autor dos estudos cr'ticos sobre literatura se reali%a

segundo a 2ormula5ão de anticonceitos ue se mostram decisivos como 2erramentas de an#lise e

como de2inidores de ori%ontes de atua5ão cr'tica. Seu momento de cristali%a5ão po;tica data dos

2inais do s;culo <A<, por meio de Rimbaud e Mallarm;, sobretudo. 8companemos, no entanto,

suas 2ormula5!es te4ricas mais sistem#ticas.

Em >8 nova poesia russa> )(B(B0, aDobson de2ine a literariedade, isto ;, auilo ue torna um texto

e2etivamente liter#rio, como algo inversamente proporcional " inten5ão do autor, uma ve% ue ela

cobra aten5ão exclusiva para o discurso, em detrimento da poss'vel inten5ão ue o ter# guiado.

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Sumariamente, entende&se por literariedade um ou mais procedimentos lingu'sticos ue con2erem

tra5os distintivos ao ob=eto liter#rio. $ão se trata, pois, de um contedo ualuer, uma ideia, uma

imagem, uma emo5ãoF não #, portanto, temas liter#rios, segundo aDobson. Os temas serão

liter#rios uma ve% ue se=am processados literariamente. -essa perspectiva, o tra5o distintivo da

poesia reside no 2ato de ue, nela, uma palavra ; percebida como uma palavra e não meramente

como um mandat#rio dos ob=etos denotados, nem como explosão de uma emo5ãoF reside no 2atode ue, nela, as palavras e seu arran=o, seu signi2icado, suas 2ormas externa e interna aduirem

peso e valor por si pr4prios.

$essa de2esa do discurso, a no5ão de autoria não 2igura como ob=eto de interesse do cr'tico

2ormalista. :al apagamento ; tanto mais signi2icativo uando se veri2ica ue, em seu detrimento,

at; mesmo o leitor ; contemplado, por CDlovsDi )(B(, p.H(06 >camaremos ob=eto est;tico, no

sentido pr4prio da palavra, os ob=etos criados atrav;s de procedimentos particulares, cu=o ob=etivo

; assegurar para estes ob=etos uma percep5ão est;tica>. Segundo essa perspectiva)evidentemente Dantiana0, o car#ter est;tico est# associado " nossa maneira de perceber o ob=eto,

uma ve% ue um texto pode ser >criado para ser prosaico, e ser percebido como po;tico, ou então

criado para ser po;tico e percebido como prosaico> )ibidem0. 8ssim, a despeito de uma poss'vel

inten5ão autoral, o modo de perceber, condu%ido pelo discurso, ; ue determina o e2eito est;tico.

Em Contre Sainte&+euve, Proust )(BII0 denuncia em tom especialmente combativo o m;todo de

pro=e5ão dos dados biogr#2icos sobre o per2il autoral como um retrato de super2'cie ue passa ao

largo da obra. 8 denncia ue Proust 2a% dauele ue era então considerado o maior cr'tico de seu

tempo em l'ngua 2rancesa sistemati%a uma posi5ão =# de2endida por Jal;r e Mallarm;,

respons#veis por con2erir " palavra uma autonomia uase m'stica. Proust ironi%a o >guia ineg#vel

da cr'tica no s;culo <A<>, preocupado em >munir&se de todas as in2orma5!es poss'veis sobre um

dado escritor, em colecionar correspond7ncia, em interrogar os omens ue o coneceram,

conversando com eles se ainda estiverem vivos, lendo auilo ue puderam escrever, caso este=am

mortos>. Segundo Proust )(BII, p.K(&10, >esse m;todo despre%ava auilo ue uma conviv7ncia

um tanto pro2unda com n4s mesmos pode ensinar6 ue um livro ; o produto de um outro eu e não

dauele ue mani2estamos nos costumes, na sociedade, nos v'cios>.

Especialmente sugestiva ; a concep5ão de um outro eu, um eu não biogr#2ico, ue, em :eoria da

literatura, *elleD e *arren de2iniriam como >eu 2ict'cio>, mas sem distingui&lo do eu l'rico.

Semelante adesão ao antibiogra2ismo levou Lte 9amburger )(BIN, p.(BN0 a a2irmar ue >não

existe crit;rio exato, nem l4gico, nem est;tico, nem interior, nem exterior, ue nos permita a

identi2ica5ão ou não do su=eito&de&enuncia5ão l'rico com o poeta>. Asso para di%er ue a

enuncia5ão l'rica, por mais ue se=a uma 2orma de aproxima5ão ao car#ter vivencial do

enunciador, não 2unciona numa conexão realF não ;, em suma, in2orma5ão sobre algu;m ou sobre

a realidade não liter#ria.

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Em outra s;ria contesta5ão do m;todo cr'tico de Sainte&+euve, :. S. Eliot )(BKK0 contrap!e "

investiga5ão dos testemunos do poeta, colidos sistematicamente pelo cr'tico 2ranc7s antes

mesmo do contato com o texto, uma concep5ão oposta do 2a%er po;tico6 >*at appens is a

continual surrender o2 imsel2 o poeta as e is at te moment to someting Qic is more

valuable. :e progress o2 an artist is a continual sel2&sacri2ice, a continual extinction o2 

personalit>( )ibidem, p.1N0. Para Eliot, a cr'tica onesta e a aprecia5ão sens'vel são direcionadassobre a poesia, não sobre o poeta. $ão são as emo5!es pessoais, provocadas por eventos

espec'2icos de sua vida, ue interessam " poesia. Sua complexidade ; outra, as emo5!es reais

não são 2ormas de expressão, mas mani2esta5!es naturais do pr4prio ser. $a poesia, o ue conta

; o trabalo intelectual sobre essas emo5!es, a 2im de 2a%7&las di%er algo uando transpostas para

outro plano e ali trans2ormadas. -a' a obten5ão do ue Eliot )(BBK, p.10 cama de >pra%er 

est;tico>, ue ;, segundo ele, de nature%a di2erente do pra%er na vida6 >te more per2ect te artist,

te more completel separate in im Qill be te man Qo su22ers and te mind Qic createsF te

more per2ectl Qill te mind digest and transmute te passions Qic are its material>.1

Em resumo, Eliot considera a poesia não como um simples >verter de emo5!es>, mas como uma

2uga delas. $ão ; a expressão da personalidade, mas o distanciamento dela ue 2a% o poeta. Por 

esse motivo, o ato de cria5ão inconsciente e deliberado torna, na visão do cr'tico, a poesia pessoal

e, em decorr7ncia disso, ruim. Segundo essa concep5ão, #, por evidente, uma recusa ao modus

operandi biogra2ista, ue con2ere ao texto o papel de espelo de seu autor.

-o ponto de vista do m;todo cr'tico, não di2ere desse procedimento o ue Croce )(BNK0 sugere,

em 8 poesia, ao a2irmar a especi2icidade dos estudos sobre o g7nero reuerendo ue se coloue

de lado todo e ualuer dado biogr#2ico a respeito do autor. Para Croce )(BNK, p.(30, o poeta ;

nada al;m ue sua poesia6

  ue deve 2a%er o cr'tico e istoriador da poesia uando se encontra ante um amontoado de

documentos e not'cias sobre o poeta Ele deve 2a%er o ue sempre 2a% uando realmente

conece o seu o2'cio6 a2astar os documentos e not'cias ue se re2erem exclusivamente " vida

privada do poeta ..., os ue se re2erem exclusivamente " sua vida pblica ..., e tamb;m tudo

auilo ue concerne aos seus estudos de botTnica, anatomia, 2iloso2ia ou ist4ria .... O cr'tico e

istoriador deve reter somente os documentos ue se re2erem " poesia.

Essa perspectiva se mant;m nos anos (BH, marcados nos Estados Unidos pela no5ão de >2al#cia

intencional>, expressão por meio da ual +eardsle e *imsatt asseveraram ue a explica5ão do

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texto pela inten5ão do autor inutili%aria a cr'tica liter#ria. -e seu ponto de vista, encontrar o sentido

do texto na inten5ão do autor signi2ica redu%ir a tare2a do cr'tico a uma entrevista, ou mera coleta

de testemunos & a uma investiga5ão distinta do contato mais detido com o pr4prio texto. $o neQ

criticism, torna&se poss'vel entrever ue a ascensão da assim camada >cr'tica pro2issional> na

Anglaterra e nos Estados Unidos se 2a% sobre uma s4lida bali%a 2ormalista, ue exclui da tare2a

investigativa a psicologia, a biogra2ia e a sociologia do autor como m;todos entendidos como>extr'nsecos> ao texto. V essa a denomina5ão ue le dão *elleD, 2ormado no C'rculo Wingu'stico

de Praga, e *arren, neQ critic norte&americano.

  $ão precisamos, por certo, ter uma inten5ão depreciativa ao a2irmarmos serem os estudos

biogr#2icos distintos dos po;ticos, dentro da especiali%a5ão liter#ria. 9#, entretanto, o risco de se

con2undirem os estudos biogr#2icos e os po;ticos, avendo ainda o perigo de tomar&se o

biogr#2ico pelo po;tico. )Wima, 11, p.NH0

$os anos (BN, assiste&se, na /ran5a, a uma s;rie de ataues ao biogra2ismo )não como g7nero,

este=a claro, mas como m;todo cr'tico0, cu=o >perigo> ; evitado, sobretudo, por tr7s trabalos

2undamentais, respons#veis por deitar por terra a tradicional imagem do autor. Em seu estudo

sobre 9usserl, >8 vo% e o 2en?meno>, -errida )(BBN0 ; o primeiro a combater o logocentrismo do

signi2icado, isto ;, o >uerer&di%er> vinculado " 2igura do autor. +artes, em seguida, lan5a mão

dauele ue seria o mais radical slogan anti&umanista da teoria da literatura. Em >8 morte do

autor>, +artes )(BII0 trata essa 2igura como uma constru5ão ist4rica e ideol4gica vinculada "

burguesia e ao individualismo, e ue deve ser preterida em prol da autonomia do discurso. Em sua

esteira, num texto mais desenvolvido, O ue ; um autor, /oucault )110 re2lete sobre a no5ão

ue cama de >2un5ão autor>, num momento em ue 2ica claramente marcada a passagem do

estruturalismo para o p4s&estruturalismo, ou se=a, para um con=unto de re2lex!es de car#ter cr'tico&

te4rico em ue a recusa do autor ; alargada para a recusa do signi2icado, e, no limite, do pr4prio

texto.

  Uma ve% a2astado o 8utor, a pretensão de >deci2rar> um texto se torna totalmente intil. -ar ao

texto um 8utor ; impor&le um travão, ; prov7&lo de um signi2icado ltimo, ; 2ecar a escritura.

Essa concep5ão conv;m muito " cr'tica, ue uer dar&se então como tare2a importante descobrir o

 8utor )ou as suas ip4teses6 a sociedade, a ist4ria, a psiue, a liberdade0 sob a obra6 encontradoo 8utor, o texto est# >explicado>, o cr'tico venceuF não ; de se admirar, portanto, ue,

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istoricamente, o reinado do 8utor tena sido tamb;m o do Cr'tico, nem tampouco ue a cr'tica

)mesmo a nova0 este=a o=e abalada ao mesmo tempo ue o 8utor. )+artes, (BII, p.NB0

O argumento de +artes p!e em xeue dois reinados, para ele indissoci#veis6 os reinados do

autor e do cr'tico. Se encontrar o signi2icado ; o mesmo ue desvendar a autoria, então devemosrecusar a signi2ica5ão.

$esse percurso ue abrange cerca de seis d;cadas do s;culo <<, a discussão ue se trava sobre

a autoria permanece, com algumas varia5!es, a mesma. O autor ;, grosso modo, considerado

uma 2igura contingente da enuncia5ão, como uma necessidade t'pica da cultura umanista

anterior " segunda metade do s;culo <A<, ue legava ao omem de g7nio o m;rito e o sentido de

seu texto.

Se, por um lado, a explica5ão pela inten5ão, ao redu%ir a cr'tica " busca de uma nica resposta

para o texto, desautori%a a liberdade interpretativa, por outro, essa mesma >vela> cr'tica, ue

pretende >explicar>, isto ;, resolver, encontrar a cave do texto, não permite particulari%ar a teoria

da literatura em rela5ão a outras 2ormas de investiga5ão ue tomam o texto como seu ob=eto,

como a /ilologia e a 9ist4ria, por exemplo.

Para -errida )em sua 2ase estruturalista, em (BN0, ao proteger o terreno da teoria liter#ria desses

outros m;todos de especula5ão, ao trat#&los como proleg?menos, e portanto como considera5!es

dispens#veis a respeito da circunvi%inan5a do texto, a teoria deve preocupar&se com preservar 

em seu ori%onte de interesses e atua5ão a ist4ria da pr4pria obra6

  Obedecendo " inten5ão leg'tima de proteger a verdade e o sentido internos da obra contra um

istoricismo, um biogra2ismo ou um psicologismo, arriscamo&nos a não mais prestar aten5ão "

istoricidade interna da pr4pria obra, na sua rela5ão com uma origem sub=etiva ue não ;

simplesmente psicol4gica ou mental. )-errida, (BBK, p.1I0

Essa breve considera5ão do cr'tico permite modali%ar tanto o sentido de um texto )a partir de seu

ist4rico de recep5ão, e não mais de sua ipot;tica premedita5ão0 como sua suposta inten5ão. 8

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discussão dessas possibilidades não se sobreleva, contudo, ao apagamento do autor. Para

-errida, >escrever ; retirar&se>. 8 escrita seria um procedimento de emancipa5ão da linguagem de

si mesmo6 >ser poeta ; saber abandonar a palavra>, >deix#&la 2alar so%ina> )ibidem, p.N(0.

  -iscutir as di2erentes ob=e5!es ao papel de relevo con2erido " autoria de um texto signi2ica aui,e numa primeira etapa, portanto, identi2icar uma signi2icativa inclina5ão do pensamento cr'tico&

te4rico no s;culo <<.

 

1

Um apro2undamento dessa discussão se desencadeia pela constata5ão de ue o autor ue ;

recusado por essas di2erentes correntes cr'ticas ; ainda, de certa 2orma, o su=eito psicol4gico e

biogr#2ico presente na 2ilologia e no positivismo causalista da explication de texte. V auela

imagem autoral ue se veri2ica nas Wundis, de Sainte&+euve, nas dedu5!es de car#ter 

determinista de :aine, e nauelas outras universali%antes a respeito da psicologia da >nature%a

umana>, ue /reud radicali%ou em textos como >8 Gradiva de ensen>, >Escritores criativos e

devaneios> e >-ostoi;vsDi e o parric'dio>. O autor ue se procura apagar da moderna teoria da

literatura não ; muito di2erente, a2inal, dauele concebido no romantismo, ue, das 2ormas mais

variadas, ; tomado como algu;m ue se con2essa na obra.

Para a cr'tica surgida =unto "s vanguardas modernistas e imediatamente depois delas, cr'ticoscomo *alter Pater, Sainte&+euve e :aine identi2icam&se entre si por en2ati%ar a visão pessoal do

autor, considerada como agente do sentido da obra. V preciso, por esse motivo, ponderar a

respeito do alvo e do alcance dos anticonceitos 2ormulados pela cr'tica com rela5ão " autoria.

Em muitos cr'ticos, a re=ei5ão ao eu biogr#2ico como princ'pio da cria5ão est;tica não se estende "

intencionalidade. $a contesta5ão de Proust a Sainte&+euve, re2erida no in'cio deste artigo, o ueest# em =ogo ; substituir a inten5ão super2icial, con2irmada pela vida ou pelos testemunos do

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autor, por outra mais pro2unda, como sendo auilo ue o autor uis di%er por meio dos enunciados

do texto.

Por seu turno, Eliot, em sua oposi5ão ao m;todo causalista, não nega a in2lu7ncia de uma visão

particular sobre o texto, mas a2irma ue ela ; 2ruto de uma >experi7ncia pessoal> ue resulta da2usão de sentimentos e sensa5!es de nature%a diversa e inuanti2ic#vel. Por esse motivo, o ue

um autor nos di% a respeito dauilo ue pretendeu com seu poema ; entendido por Eliot como

uma considera5ão a posteriori, ue provavelmente engloba ideias levadas em conta no ato da

escrita, mas ue terão recebido relevo especial apenas uando o trabalo =# estava 2inali%ado.

-e modo an#logo, *imsatt e +eardsle não negam, em seu 2amoso texto, a presen5a do

elemento intencional na estrutura de um poema, o ue recusam ; a aplicabilidade de ualuer 

an#lise gen;tica do conceito de intencionalidade. Seu argumento ; o de ue a linguagem ue ;

mat;ria&prima das estruturas verbais de um poema ; um sistema pblico, não um c4digo privado,

isto ;, um sistema regido por conven5!es sociais e não a consubstancia5ão do ue se passa com

um indiv'duo.

-e muitas maneiras, as teses anti&intencionalistas anteriores a +artes )ue ; uem realmente

con2isca a autoridade da investiga5ão do sentido0 não abalaram a no5ão de autoria, e sim os

m;todos explicativos do texto. 8p4s um per'odo relativamente longo de apoteose do discurso, a

autoria volta a ser reivindicada pela cr'tica contemporTnea, dessa ve% sobre bases bastante

diversas dauelas re=eitadas.

Entre os caminos tra5ados na dire5ão do autor, talve% o mais ortodoxo e combatido se=a o

percorrido por 9arold +loom. O cr'tico norte&americano 2a% pouco caso das ob=e5!es de +artes e

/oucault, e se mostra empenado em desautori%ar as leituras >multiculturalistas> ue, grosso

modo, se caracteri%am pela identi2ica5ão de grupos sociais minorit#rios )raciais, sexuais, ;tnicos,

religiosos etc.0 como geradores culturais. +loom )(BBH, p.H3, HK0 de2ende ue a experi7ncia

est;tica ; necessariamente individual, e ue as poss'veis 2ormas de atua5ão da superestrutura

social sobre o texto são in2initamente menos importantes do ue o g7nio individual6

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  *illiam SaDespeare escreveu trinta e oito pe5as, vinte e uatro delas obras&primas, enuanto

a energia social =amais escreveu uma nica cena. 8 morte do autor ; um tropo, e um tanto

perniciosoF a vida do autor ; uma entidade uanti2ic#vel.

  ...

  8 morte do autor, proclamada por /oucault, +artes e muitos clones depois deles, ; outro mito

antican?nico, semelante ao grito de guerra do ressentimento, ue gostaria de descartar >todos os

omens brancos europeus mortos>.

 8 despeito dos apagamentos dessa perspectiva, ; importante consider#&la como uma das

protagonistas de uma inversão importante de pap;is no ue di% respeito " no5ão contemporTnea

de autor. Para +loom, o autor ; antes de tudo um leitor criativo, ou, caso se pre2ira, um desleitor. V

desse ponto de vista ue o papel da tradi5ão ; visto como 2undamental para a escrita6 os demais

autores convertem&se na mat;ria&prima dauele ue os sucede. Essa não ; uma dimensão nova

para a no5ão de autoria. O ue +loom 2a% ; radicali%ar a visão de Eliot )e antes dele, de Jico0 a

respeito da tradi5ão, mas numa clave psicologi%ante. 8ssim, ; preciso modali%ar +loom, sem

simplesmente descart#&lo.

-essa inversão, no ue di% respeito ao lugar da autoridade de um texto, um escritor tem especial

relevo. Em >La2Da e seus precursores>, +orges )(BIB0 abala as no5!es de d'vida e in2lu7ncia ao

inverter o Tngulo das observa5!es sobre a tradi5ão6 para +orges, ; La2Da ue provoca uma leitura

criativa de seus precursores, e, mais ue isso, ; La2Da ue cria seus precursores. Essa inversão

da imagem autoral ; 2undamentalmente uma inversão cronol4gica6 +orges rompe com o senso

comum a respeito do passado e do 2uturo. $um conto seu, >Pierre Menard autor de uixote>

)+orges, 1c0, Menard teria reescrito os cap'tulos B e 3I da obra de Cervantes, e ao reescrev7&

los o autor o teria 2eito de 2orma id7ntica ao original. 8pesar disso, ao con2rontar dois 2ragmentos

per2eitamente iguais, o narrador borgiano os considera totalmente di2erentes. $essa con2ronta5ão

aparentemente absurda, tudo come5a a ganar sentido6 o 2ato de Cervantes reaparecer id7ntico

tr7s s;culos depois, ou se=a, o deslocamento temporal dos textos, modi2ica inteiramente seu

signi2icado. -e modo an#logo a esse, Silviano Santiago )(BI0 l7 E5a de ueir4s como autor deMadame +ovar.

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Estamos diante de um outro m;todo de leitura, baseado no 2amigerado anacronismo6 deslocar um

texto de seu momento de produ5ão mobili%a sua imagem autoral, rede2inindo seus poss'veis

sentidos.

O mesmo recurso utili%ado por +orges se veri2ica em Jladimir $aboDov )1H0, em /ogo p#lido, eem Atalo Calvino )(BI10, em Se um via=ante numa noite de inverno, ue discutem o estatuto do

romance como g7nero " lu% de posi5!es a2ins "s modernas est;ticas da recep5ão. $aboDov e

Calvino inserem no molde do romance policial uma discussão de cuno te4rico e cr'tico sobre os

destinos do autor e da narrativa de 2ic5ão. $um universo coalado de desconstrucionistas e

construtivistas, ambos trans2ormam o texto liter#rio na v'tima de suas tramas, ue não por acaso

se erigem como par4dias das atitudes mais modernas de cr'tica e de leitura.

V para denunciar esse pblico >constru'do> pelo romance moderno, com os estere4tipos e

limita5!es pr4prios de suas teorias, ue Calvino comp!e sua narrativa, voltando&se ironicamente

não mais contra a eventual passividade do leitor, mas contra o seu permanente e excessivo

estado de alerta, capa%, em certas circunstTncias, de alienar tanto uanto a leitura distra'da.

  # leste umas 3 p#ginas e a ist4ria =# come5a a te apaixonar. -e repente, te di%es6 >Mas esta

2rase, eu a cone5o. :eno a impressão de =# ter lido todo este treco>. V isso mesmo6 # motivos

ue retornam, o texto ; tecido dessas idas e vindas destinadas a tradu%ir as incerte%as do tempo.

Vs um leitor sens'vel a esse g7nero de sutile%as, um leitor pronto a captar as inten5!es do autor,

nada te escapa. ... Um instante, repara no nmero desta p#gina. V isto entãoX -a p#gina 31

retornaste " p#gina (. O ue tomavas por pesuisa estil'stica do autor ; um erro de impressão6

as mesmas p#ginas 2oram inseridas duas ve%es. )Calvino, (BI1, p.330

-essa perspectiva, a Est;tica da recep5ão e o Reader&response não são simplesmente um desvio

de aten5ão da autoria, mas sua re2ormula5ão, seu deslocamento para a outra ponta do sistema

liter#rio )autor&obra&pblico06 o leitor como legitimador do sentido. O autor est# vivo. O signi2icado

continua sob a tutela de algu;m, ue agora deixa de ser auele ue arran=a palavras no papel e

passa a ser o ue as percorre com os olos.

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O leitor torna&se autor. Eis uma ip4tese interpretativa para as di2erentes 2enomenologias do leitor 

individual )R. Angarden e *. Aser0 e coletivo )9. R. auss e U. Eco0. Possivelmente, uma de suas

bases est# na ob=e5ão ue *ane +oot 2ormulou ao =# re2erido texto de +readsle e *imsatt, e

ue =# era uma maneira de recusar o 2uturo clic7 da morte do autor. Segundo +oot, o autor 

nunca se retira totalmente de sua obra. Ele deixa nela sempre um substituto ue a controla em

sua aus7ncia6 o autor impl'cito. +oot a2irmava ue o autor constr4i seu leitor da mesma maneiraue ele constr4i o seu segundo eu )lembre&se do outro eu, de Proust0, e ue a leitura mais bem&

sucedida ; auela para a ual os >eus> constru'dos )autor e leitor0 podem entrar em acordo. O

autor impl'cito se dirige ao leitor impl'cito )ou o narrador ao narrat#rio0. uando isso acontece, o

autor de2ine as condi5!es de entrada do leitor real no livro6 o leitor impl'cito ; uma constru5ão

textual, prevista, portanto, pelo autor.

-essa aproxima5ão entre autor e leitor se vale com especial aten5ão Umberto Eco. Mas o

semi4logo italiano parece não assumir um posto espec'2ico na discussão, por de2ender um

aparente meio&termo entre a inten5ão do autor e a inten5ão do leitor, um so2isma ue cama de

intentio operis, e ue não resolve a aporia deixada. Seu argumento converte&se numa maneira

dissimulada de de2ender a supremacia do autor.

V curioso reparar no mecanismo ret4rico de Eco. $ele, ; constante a recorr7ncia a exemplos

pessoais e retirados de O nome da rosa. $ote&se a mea culpa, em tom de apelo, do autor italiano

com seu interlocutor6 >Espero ue meus ouvintes concordem ue introdu%i o autor emp'rico neste

 =ogo para en2ati%ar sua irrelevTncia e rea2irmar os direitos do texto> )Eco, (BB3a, p.(0. 8o ue

parece, Eco tenta encobrir, não sem engenosidade e apelo, uma postura conservadora6 di%

concordar com os neQ critics, ue re=eitam a inten5ão pr;&textual do autor como pedra de toue

interpretativa, mas em seguida a2irma ue o autor emp'rico deve ter ao menos a permissão de

re=eitar certas interpreta5!es. V =ustamente o autor de Obra aberta ue a2irma6 >:eno a impressão

de ue, no decorrer das ltimas d;cadas, os direitos dos int;rpretes 2oram exagerados> )ibidem,

p.10.

 8 maneira como Eco )(BB3b, p.(H0 arremata sua ltima con2er7ncia a respeito da >interpreta5ão>,

ou do papel e do lugar do leitor no processo de constru5ão do sentido de um texto, ; uma

reclama5ão da presen5a do autor, re2erido pela palavra texto6 >Entre a ist4ria misteriosa de umaprodu5ão textual e o curso incontrol#vel de suas interpreta5!es 2uturas, o texto enuanto tal

representa uma presen5a con2ort#vel, o ponto ao ual nos agarramos>.

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O >texto enuanto tal> ; uma maneira de di%er ue o sentido est# seguro e determinado pelo autor.

Esses postulados são estranos " cr'tica anti&intencionalista. O texto, considerado como um

c4digo aut?nomo com rela5ão ao autor, # muito deixou de ser considerado um porto seguro para

o leitor. Para muitos te4ricos da literatura )o +artes de S@Y, o -errida p4s&estruturalista, Aser, e, ;

claro, /is0, o texto ; apenas o ponto de partida, o est'mulo inicial, a partitura com base na ual as

expectativas de leitura de certas comunidades interpretativas atuarão. -esse Tngulo, a de2esa da

determina5ão do sentido com base em leituras >textuais> )Eco0 soa como um re2ugo te4rico,

porue um retorno ao porto seguro da autoria, na discussão a respeito da liberdade do leitor.

O retorno ao autor ; assim caracteri%ado por posi5!es tanto eterodoxas uanto tradicionalistas.

$o contexto das revis!es a respeito da intencionalidade, uma das interpreta5!es mais bem

embasadas ; uma an#lise retrospectiva ue Paul de Man 2a%, ainda na d;cada de (BK, a respeito

do neQ criticism. Para -e Man, os cr'ticos 2ormalistas americanos buscam em comum de2ender a

poesia de instrumentos deterministas simpli2icadores da rela5ão complexa entre tema e estilo. $o

entanto, essa de2esa careceria de uma re2lexão mais apurada a respeito da no5ão de

>intencionalidade>. Esse ; o ncleo argumentativo de >/orma e intencionalidade no $eQ Criticismamericano>.

Em linas gerais, -e Man 2igura entre os cr'ticos mais empenados em re2letir a respeito das

limita5!es de alcance das correntes 2ormalistas de an#lise, ou, di%endo de outro modo, das

correntes cr'ticas ue relegam ao autor uma 2un5ão acess4ria no processo de interpreta5ão. 8o

inv;s disso, ele de2ende a concep5ão de uma >estrutura intencional da 2orma liter#ria>6

  Um estudo verdadeiramente sistem#tico dos principais cr'ticos 2ormalistas de l'ngua inglesa dos

ltimos trinta anos revelaria sempre uma re=ei5ão mais ou menos deliberada do princ'pio da

intencionalidade. O resultado seria um endurecimento do texto numa mera super2'cie ue impede

a an#lise estil'stica de penetrar para al;m das apar7ncias sensoriais e cegar at; a percep5ão da

>luta com o sentido>, cu=a descri5ão deveria ser o ob=eto de toda a cr'tica, incluindo da cr'tica das

2ormas. Com e2eito, as super2'cies, ao serem arti2icialmente separadas do 2undo ue as suporta,

permanecem tamb;m ocultas. O malogro parcial do 2ormalismo americano, ue não produ%iu

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obras de primeira grande%a, deve&se a uma 2alta de consci7ncia da estrutura intencional da 2orma

liter#ria. )-e Man, (BBB, p.KB0

Entre seus trabalos relevantes para esse tema, incluem&se, al;m do estudo mencionado, as

re2lex!es a respeito das no5!es de >eu liter#rio>, >impessoalidade> e >sublima5ão do eu>, aplicadasrespectivamente "s cr'ticas de Georges Poulet, Maurice +lancot e WudQig +insQanger, as

an#lises do estruturalismo e do 2ormalismo, e, por 2im, a recensão cr'tica de :e 8nxiet o2 

in2luence, de 9. +loom )ibidem0.

-essas leituras resulta uma rela5ão mais pro2unda entre as no5!es de autoria e sentido, ue ;

exemplarmente solicitada pela cr'tica de 8ntoine Compagnon )130, para uem a presun5ão da

intencionalidade permanece nos estudos liter#rios. O ncleo da argumenta5ão do cr'tico 2ranc7s

consiste em desvencilar&se de ter ue decidir entre duas posi5!es extremas e contr#rias6 o

sub=etivismo determinista da tese intencionalista e o ob=etivismo relativista da tese anti&

intencionalista. Para Compagnon, a inten5ão ; o nico crit;rio conceb'vel de validade da

interpreta5ão, mas ela não se identi2ica com a premedita5ão clara e lcida. O cr'tico argumenta

ue, num texto, pode&se procurar o ue ele di% com re2er7ncia ao seu pr4prio contexto de origem,

bem como auilo ue ele di% com re2er7ncia ao contexto contemporTneo ao leitor. 8s alternativas,

colocadas dessa 2orma, deixam de ser excludentes e se tornam complementares.

Para Compagnon, compreender ; recuperar a inten5ão, mas não existe outra evid7ncia maior 

para se reali%ar essa tare2a do ue a pr4pria obra. Resulta dessa lina de re2lexão um

apro2undamento dessa no5ão, tal como reuerido por -e Man com rela5ão a +eardsle e *imsatt.

$essa lina de re2lexão, a inten5ão di2ere da premedita5ão.

Compagnon lan5a mão de um conceito&cave para essa discussão, o de inten5ão em ato. O ue

est# na base das distin5!es entre o texto e sua inten5ão ; a vela oposi5ão 2alaciosa entre

pensamento e linguagem. Uma ve% ue essa distin5ão se=a abolida, a inten5ão torna&se auilo ue

se uis di%er com o texto, e não mais antes dele. -essa perspectiva, ela não ; mais o pro=eto, mas

o sentido.

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Em sendo o autor mais do ue simplesmente o ser de carne e osso, biogra2i%#vel, psicologi%#vel e

sociologi%#vel, ue o positivismo novecentista tratou de alimentar, ; preciso repensar esse sistema

de re=ei5!es como um movimento ue não invalida outra sua dimensão, possivelmente mais

pro2unda e signi2icativa. Se para autores como Eco e Compagnon termos como intentio operis e

inten5ão em ato parecem resolver o problema da intencionalidade por meio de sua adesão ao

texto, o ue est# em =ogo aui ; uma discussão mais ampla ue essa, uma ve% ue aintencionalidade ; um aspecto da autoria. Em Compagnon, embora o percurso 2eito pela tradi5ão

te4rica a respeito do tema se=a de grande valia para este trabalo, esse camino não condu% a

uma visão realmente nova a respeito do autor. 8o nos 2iarmos em sua obsessão por se livrar da

dubiedade do racioc'nio cr'tico )intencionalistas versus anti&intencionalistas0, reca'mos em uma

aporia, um vago meio&termo entre autor e texto, ue, a rigor, est# longe de resolver o problema

te4rico por ele colocado.

Como tentativa de apro2undamento dessa discussão, apresento aui, muito sucintamente, uma

lina de investiga5ão resultante do desenvolvimento do cap'tulo conclusivo de mina tese de

doutorado, intitulado >-ep!e&se um rei6 a paternidade do poema>. Este artigo prop!e avan5ar 

auela investiga5ão numa outra dire5ão. Se, ali, discutir a autoria contribu'a para se ler um poema

de Pessoa, e, por decorr7ncia, o sistema eteron'mico como um todo, o ue se pretende agora ;

reali%ar o camino inverso dauele6 encaminar a discussão a respeito da eteron'mia para o

Tmbito da autoria, ue a suplanta e ; por ela enriuecido. Asso signi2ica, em outras palavras,

alterar seu contexto de discussão6 tra%er a po;tica de Pessoa para o plano de um debate te4rico

mais amplo.

Wembremos ue, ao compor poemas em di2erentes estilos e engendrando con=untos distintos de

ideias, /ernando Pessoa optou por produ%ir personalidades com biogra2ias, isto ;, com nomes,

uma certa apar7ncia, um redu%ido nmero de #bitos, local e data de nascimento, e uma

genealogia. :ra5ou o mapa astral dessas personalidades, e delimitou algumas de suas leituras.

 8tribuiu&les con=untos de poemas e, posteriormente, 2e% essas personagens criadoras interagirem

entre si, mediante uma troca de correspond7ncias ue pudesse deixar transparecer dvidas,

convic5!es e modos distintos de argumentar, a ponto de nos in2ormar sobre di2erentes vis!es de

mundo. Pessoa nos 2orneceu, em suma, contextos 2ict'cios de produ5ão para sua obra, por meio

de di2erentes autorias. O expediente resultou num pacto 2iccional6 uando nos re2erimos a Caeiro,

Campos e Reis, imaginamos su=eitos com atributos intelectuais, e não perspectivas sem dono, oucom um nico dono. uando se di% ue Reis ; despido de a2etos, algu;m imobili%ado diante do

destino das coisas, vem " mente um ser, um autor, e um ncleo de ideias das uais esse autor 

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tem convic5ão e ue nos reporta. E assim, se ueremos nos re2erir "s >Odes>, 2a%emos men5ão a

Reis, ao ue >ele> pensava e sentia, e ue >exprimiu> naueles textos. /a%emos isso mesmo

sabendo ue >ele>, como indiv'duo, nunca existiu.

V verdade ue a adesão inadvertida ao ue 2oi proposto por Pessoa levou a um psicologismo,desenvolvido na d;cada de (BK )Sim!es, (BB(0, respons#vel por cristali%ar uma imagem

edipiana do poeta. Embora ressonTncias dessa leitura se=am comuns ainda o=e, uma resposta a

ela não tardou a ser 2ormulada. Como notou de passagem Casais Monteiro )(BKI0 e depois dele

Eduardo Wouren5o )(BI(0, Pessoa não criou personalidades ue produ%iram poemasF Pessoa

escreveu poemas ue s4 depois suscitaram personalidades. Essa assertiva condu% a uma

inversão simples no nosso modo de 2alar, e ue di2icilmente adotaremos, mas ue implica di%er,

por exemplo, ue >O guardador de rebanos> ; ue ; autor de >Caeiro>, e não o contr#rio. 8ssim

como a Al'ada e a Odisseia são não apenas o c4digo gen;tico de >9omero>, mas as matri%es do

mundo grego antigo ue conecemos.

-espertada essa consci7ncia, " cr'tica 2oi dada a oportunidade de repensar parte de seu

vocabul#rio. Eduardo Wouren5o cunou a expressão >poemas&Caeiro>, para esva%iar o nome de

personalidade e inund#&lo de sentido, e de estilo. Caeiro ; o estilo, o eu l'rico resultante daueles

poemas, sem carne ou osso. Mas mesmo ap4s estar desvendado o =ogo de ideias e palavras ue

Pessoa criou, continuamos a nos reportar a Caeiro, do mesmo modo ue nos reportamos a

Cam!es ou a +ocageF isso porue, provavelmente, atribuir uma personalidade, e portanto uma

autoria a uma escrita, ; uma 2orma abitual de designar seu estilo.

Pessoa nos avia abilmente 2ornecido as 2erramentas para isso, não apenas para metonimi%ar 

seus textos )para nos re2erirmos " obra por meio do autor6 >ler Caeiro>, por exemplo0, mas para

ue pud;ssemos imaginar um indiv'duo ue consubstanciasse a pr4pria arte. 8ssim, não nos

apresentou Campos como um intelectual t'midoF provavelmente porue a ideia de um omem

pacato por tr#s da 2ria orgTnica de seus versos iniciais não os tradu% em vidaF não nos a=uda,

a2inal, a imaginar, a cultuar, como se 2a% com um 'dolo, a sua obra.

 8 atitude >moderna> de um cr'tico diante de um texto ; a de ignorar a vida ue o alimentaF a de umpoeta ; a de despersonali%ar&se no estilo constru'do. Essas são li5!es de ;poca. Embora nem

sempre nos interesse colocar em pr#tica esse preceito, aprendemos ue devemos deixar de

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uerer entrever no autor as ualidades do omem, e de explicar a obra pelas caracter'sticas do

indiv'duo. /alamos então em escrita, texto, e evitamos seu ipot;tico car#ter expressivo, porue a

2orte carga niilista e anti&umanista ue erdamos do pensamento cr'tico dos anos (BN e (B

impede ue incorramos na 2al#cia a2irmativa de ue um texto expressa algo exterior@anterior a si.

Um texto s4 pode expressar a si mesmo, eis o resultado.

$a tentativa de substituir o olar inespec'2ico, e persistente, ue tratava romanticamente o

indiv'duo como alvo de uma arueologia de saberes pass'veis de serem descritos por uma

explica5ão antropol4gica, o louvor a uma suposta onipot7ncia da linguagem tina, sem dvida,

uma conota5ão liberal. 9o=e, no entanto, essa mesma atitude con2igura em nossas pr#ticas cr'ticas

novos tabus.

 8 eteron'mia, por;m, carrega algo mais antigo ue isso, e ue ao mesmo tempo o ultrapassa,

porue concreti%a uma ilusão de vida ditada por estilos. Conseuentemente, o omem pacato ue

vivia na casa da tia 8nica, e ue trabalava como correspondente estrangeiro num escrit4rio da

+aixa, pode ser deixado de lado, apagado, e os eu&l'ricos, incluso o ort?nimo )uma m#scara

dis2ar5ada de >Pessoa>0, v7m para substitu'&lo como autores.

$ote&se ue essa descentrali%a5ão do su=eito da escrita exige uma no5ão mais pro2unda de

autoria. Uma ve% descon2igurada como disposi5ão mental de seu autor, ou con=unto de elei5!es de

per2is, a eteron'mia pode ser entendida não s4 como uma maneira de prolongar o ato criador,

mas, sobretudo, como a 2orma de exist7ncia dessa poesia. Asso porue, se a entendemos dessa

maneira, a eteron'mia deixa de ser um apelo original ao prest'gio de um autor ipot;tico, de uma

imagem criadora anterior " escrita, e passa a signi2icar um estado de concre5ão po;tica.

-o ponto de vista cr'tico, decorre da' uma enorme inversão de perspectiva, porue implica pensar 

ue Pessoa não antecede seus poemas, ue não ; um autor ue os alimenta de caracter'sticas

individuais, mas algu;m ue se torna autor uando coincide com a escrita, no ato da enuncia5ão,

e nunca antes ou depois dela. Plasmado em linguagem, não ; vo% ue se expressa, mas autor 

apenas uando presente no momento da enuncia5ão. E a enuncia5ão apenas vive e se repete no

ato da leitura. O ue se veri2ica, portanto, na recorr7ncia de uma escrita em di2erentes dom'niosdessa poesia, tanto não ; uma vo% una, porue uma >vo%> ; sempre a 2ala de algu;m, de um autor 

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ipot;tico, ao ual poder'amos 2ornecer uma biogra2ia etc., como não ; um espa5o an?nimo de

elocu5ão.

O 2en?meno eteron'mico empresta " autoria um novo estado de legitimidade enunciativa, na

medida em ue possibilita pens#&la como sendo a produ5ão de um su=eito da linguagem, umsu=eito ue pode ser, at; mesmo, imaginado como um corpo orgTnico e anterior ao texto, mas ue

2oi constitu'do e então lan5ado para tr#s por um material gen;tico composto por tra5os de estilo.

 8 biogra2ia de um escritor est# nos meandros de seu estilo.

:ornou&se lugar&comum entre os cr'ticos re2erir&se a autores como Proust, Eliot, +orges e Calvino

como escritores&cr'ticos, isto ;, semeadores de problemas cruciais para a :eoria da Witeratura.

-ada a sua nature%a especulativa e o grau de apro2undamento com ue o liter#rio ; discutido na

obra de Pessoa, causa certo estranamento a constata5ão de o uão pouco o 2en?meno

eteron'mico 2oi explorado de uma perspectiva te4rica imprevista por seu autor. $o +rasil, entre

poss'veis explica5!es para isso, est# o di#logo ainda t'mido, uando não unilateral, entre as #reas

de Witeratura Portuguesa e :eoria Witer#ria. Asso para di%er, em suma, ue as preocupa5!es ue

Pessoa tem suscitado entre seus cr'ticos são em geral preocupa5!es circunscritas pelo pr4prio

Pessoa, ou por uest!es relativas " tradi5ão portuguesa. 8 recontextuali%a5ão do problema

eteron'mico no campo de debates sobre a autoria, aui entendido como central da moderna

:eoria da Witeratura, tanto ; capa% de are=ar um espa5o de discussão exclusivo de alguns autores,

como de solicitar um passo al;m no territ4rio explorado por nomes como aDobson, Eliot, *imsatt,

+artes, /oucault, -errida e -e Man.

 

$otas

( >O ue acontece ; uma cont'nua entrega de si mesmo o poeta tal como ele ; no momento aalgo ue ; mais valioso. O progresso de um artista ; um cont'nuo autossacri2'cio, uma cont'nua

extin5ão da personalidade.>

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1 >uanto mais per2eito o artista, mais completamente separados estarão nele o omem ue so2re

e a mente ue criaF e mais per2eitamente a mente ir# digerir e transmutar as paix!es ue são o

seu material.>

 

Re2er7ncias

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Recebido em ((.1.1I e aceito em B.H.1I.

 

Caio Gagliardi ; pro2essor doutor na #rea de Witeratura Portuguesa no -epartamento de Wetras

Cl#ssicas e Jern#culas da USP e p4s&doutor em :eoria Witer#ria pelo -epartamento de :eoriaWiter#ria e Witeratura Comparada da USP. _ & caiogagliardi_gmail.com

ttp6@@[email protected]`S(3&H(H1(1(I\script`sciZarttext