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Metodologia para Integração de Dados em Ambiente SIG para Avaliação de Riscos Ambientais em Minas de Carvão em Subsolo Autores: Eduardo Pereira Krebs Eng° Ambiental mestrando PPGEM [email protected] Dr. João Felipe Coimbra Leite Costa Eng° de Minas professor do PPGEM - [email protected] Dr. Jair Carlos Koppe - Eng° de Minas/Geólogo professor do PPGEM - [email protected] Resumo: Para assegurar a correta tomada de decisão quanto à viabilidade ambiental de empreendimentos de mineração de carvão na Bacia Carbonífera Sul Catarinense, incorporou-se ao processo de licenciamento ambiental a Análise de Risco Ambiental - ARA. Poucos trabalhos empregando uma metodologia que considere as peculiaridades das atividades minerárias, incluindo uma abordagem geoespacial com integração de dados ambientais, foram desenvolvidos nesse tema. O presente trabalho tem como meta a elaboração de uma metodologia para a realização de ARA para a abertura de minas de carvão em subsolo por meio da integração de dados em um Sistema de Informação Geográfica (SIG). A metodologia usada consistiu em uma sobreposição de planos de informação na forma de arquivos vetoriais, os quais representam os atributos ambientais relativos à vulnerabilidade natural do ambiente e os aspectos técnicos relacionados à atividade de mineração. Gerou-se, então, um mapa de riscos ambientais com as classes simbolizadas por uma escala de cores e sobrepostas ao projeto da mina. Os resultados permitiram tecer considerações a respeito das áreas com diferentes níveis de risco ambiental e a sua implicação social e econômica para os envolvidos. A metodologia permite uma análise mais eficiente das informações necessárias à tomada de decisão quanto à viabilidade ambiental para abertura de uma mina de carvão.

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Metodologia para Integração de Dados em Ambiente SIG para

Avaliação de Riscos Ambientais em Minas de Carvão em Subsolo

Autores:

Eduardo Pereira Krebs – Eng° Ambiental – mestrando PPGEM –

[email protected]

Dr. João Felipe Coimbra Leite Costa – Eng° de Minas – professor do

PPGEM - [email protected]

Dr. Jair Carlos Koppe - Eng° de Minas/Geólogo – professor do PPGEM

- [email protected]

Resumo: Para assegurar a correta tomada de decisão quanto à viabilidade

ambiental de empreendimentos de mineração de carvão na Bacia Carbonífera Sul

Catarinense, incorporou-se ao processo de licenciamento ambiental a Análise de Risco

Ambiental - ARA. Poucos trabalhos empregando uma metodologia que considere as

peculiaridades das atividades minerárias, incluindo uma abordagem geoespacial com

integração de dados ambientais, foram desenvolvidos nesse tema. O presente trabalho

tem como meta a elaboração de uma metodologia para a realização de ARA para a

abertura de minas de carvão em subsolo por meio da integração de dados em um

Sistema de Informação Geográfica (SIG). A metodologia usada consistiu em uma

sobreposição de planos de informação na forma de arquivos vetoriais, os quais

representam os atributos ambientais relativos à vulnerabilidade natural do ambiente e os

aspectos técnicos relacionados à atividade de mineração. Gerou-se, então, um mapa de

riscos ambientais com as classes simbolizadas por uma escala de cores e sobrepostas ao

projeto da mina. Os resultados permitiram tecer considerações a respeito das áreas com

diferentes níveis de risco ambiental e a sua implicação social e econômica para os

envolvidos. A metodologia permite uma análise mais eficiente das informações

necessárias à tomada de decisão quanto à viabilidade ambiental para abertura de uma

mina de carvão.

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Palavras-chave: sistema de informação geográfica, integração de dados,

subsolo, risco ambiental.

1. INTRODUÇÃO

Sendo a legislação ambiental brasileira considerada como uma das mais

avançadas do mundo, o licenciamento ambiental de atividades de mineração visa

compatibilizar as atividades econômicas relacionadas direta e indiretamente ao setor

mineral com a preservação e reabilitação ambiental. Dentre as leis que regem o sistema

nacional do meio ambiente, a lei n° 6.938, de 31 de agosto de1981, que estabelece a

Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) merece destaque. A referida lei tem por

objetivo “a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à

vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos

interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana”

Diante destes preceitos, as atividades ligadas ao setor mineral merecem especial

atenção tanto por serem em sua grande maioria atividades potencialmente poluidoras ou

degradantes, como pelo fato de serem imprescindíveis para a sociedade e seu

desenvolvimento. Este dilema torna difícil o processo de tomada de decisões quanto à

viabilidade ambiental de tais atividades.

As atividades de mineração, processamento e transporte de carvão realizadas na

Bacia Carbonífera Sul Catarinense sofrem uma rejeição pela maior parte da sociedade

em função dos danos ambientais causados no passado. A forma predatória como eram

realizadas tais atividades criaram um enorme passivo ambiental para a região. A estes

passivos estão relacionados o comprometimento dos recursos hídricos superficiais e

subterrâneos, contaminação dos solos, danos estruturais em edificações, alteração da

paisagem e, também, problemas sociais relacionados à formação de bolsões de pobreza

pela invasão de áreas abandonadas pelas companhias. Segundo Alexandre (2001), as

áreas consideradas críticas do estado de Santa Catarina em relação à disponibilidade

hídrica e qualidade das águas se encontram na bacia do rio Araranguá.

Atualmente, as empresas que atuam no setor estão sob uma forte pressão por

parte da sociedade e dos órgãos fiscalizadores e reguladores. O licenciamento ambiental

das atividades relacionadas ao carvão mineral, desde a sua extração até a sua utilização

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na fabricação do coque ou na queima para geração de energia, têm se transformado em

processos morosos e caros em função da participação popular. Segundo Kirchhoff

(2004), o licenciamento ambiental, instrumento da PNMA, é procedimento

administrativo que permite ao órgão ambiental competente licenciar a localização,

instalação, ampliação e operação de empreendimentos e atividades que utilizam

recursos ambientais. É um instrumento que se mostra com estreita ligação com os

processos de avaliação de impacto ambiental, e somente deverá ser concedido após a

certeza da conciliação entre a atividade e a qualidade ambiental.

O instrumento mais utilizado para o licenciamento ambiental é o Estudo de

Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). A resolução

onama Nº 001, de 23 de janeiro de 1986 prevê “Dependerá de elaboração de estudo de

impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem

submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter

supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente...

Na maioria dos processos de licenciamento, o poder público encontra grande

dificuldade na tomada de decisões quanto a viabilidade ambiental de empreendimentos

do setor carbonífero. Kirchhoff (2004) afirma que para algumas questões específicas, a

avaliação de viabilidade ambiental pode requerer mais que um EIA. A avaliação de

risco (AR) é uma ferramenta que pode interagir com o EIA de forma a complementar

esta avaliação. Enquanto o EIA dá resposta sobre a viabilidade ambiental do

empreendimento por meio da análise dos impactos previsíveis associados ao mesmo, a

AR, para complementar a avaliação sobre a viabilidade ambiental do empreendimento,

tenta quantificar riscos associados à determinada ação antrópica.

De acordo com Kirchhoff (2004), o estudo de viabilidade ambiental necessita

instrumentos que atribuam confiabilidade ao processo decisório e a avaliação de risco

ambiental (ARA) é uma ferramenta importantíssima, pois complementa a avaliação

sobre a viabilidade ambiental do empreendimento, e se mostra útil para o licenciamento

ambiental de atividades. Dessa forma, o principal motivo de escolha desta ferramenta

decorre do fato de seu uso servir como instrumento para tomadas de decisões mais

racionais e efetivas onde exista possibilidade de danos, o que a torna de suma

importância na verificação da viabilidade ambiental de um empreendimento. Além

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disso, o conhecimento sobre o risco pode servir como subsídio para o planejamento e

projeto de empreendimentos.

1.1 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A área do projeto Mina Lauro Müller está situada próxima ao perímetro urbano

do município de Lauro Müller, a leste da sede do município, e imediatamente ao norte

da localidade, encontrando-se entre as localidades de Rocinha e Barro Branco. Esta

região está situada na porção centro-sudeste do estado de Santa Catarina, sul do Brasil,

ao pé da conhecida serra do Rio do Rasto, que une as cidades de Lauro Müller,

depressão periférica, à Bom Jardim da Serra, borda do planalto serrano, nas

proximidades de São Joaquim (Figura1).

Figura 1: Localização da área de estudos.

2. PROBLEMA

Atualmente, na região da bacia carbonífera sul catarinense, os processos de

licenciamento ambiental de empreendimentos mineiros relacionados ao carvão vêm

sendo conduzidos conjuntamente pelo Ministério Público Federal (MPF), Fundação do

Meio Ambiente de Santa Catarina (FATMA) e o Departamento Nacional da Produção

Mineral (DNPM). Com o intuito de assegurar a correta tomada de decisões quanto a

viabilidade ambiental de tais empreendimentos, a ARA foi incorporada na listagem de

documentos necessários para obtenção de licenças ambientais. Em alguns casos, a ARA

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deve acompanhar o EIA-RIMA, sendo submetida à apreciação popular e a audiências

publicas nas comunidades envolvidas.

Entretanto, existe a necessidade de se adaptar uma metodologia de trabalho que

leve em consideração as peculiaridades das atividades mineiras, dentre as quais destaca-

se a carência de uma abordagem geoespacial em função da necessidade de integração de

dados ambientais e a necessidade de espacialização das áreas de risco e das relações

causa-efeito para extensas áreas. Isto para que se possa utilizar a ARA no planejamento

mineiro, assim como no gerenciamento dos riscos ambientais durante as fases de

pesquisa, implantação, operação e desativação. Diante disto, a criação de mapas de risco

ambiental para estes empreendimentos vem sendo desenvolvida com a utilização das

informações produzidas nos EIA’s, principalmente na etapa de diagnóstico ambiental, e

na documentação técnica requisitada pelo DNPM.

Quando se trata de minas de subsolo, o problema se torna ainda maior, pois, as

possíveis causas de riscos ambientais possuem uma relação espacial com os efeitos

destes impactos. O entendimento destas relações espaciais de forma precisa é muito

importante se considerarmos os prejuízos econômicos do mal aproveitamento de uma

jazida em função de restrições legais e, por outro lado, a necessidade de se garantir um

adequado controle ambiental das atividades mineiras.

O problema abordado foca-se na necessidade de integração tridimensional de

dados ambientais como fator decisivo no gerenciamento de riscos ambientais de minas

de subsolo. Atualmente, as informações são processadas sem que haja uma metodologia

adequada e padronizada para geração dos mapas de risco ambiental.

Com os avanços na área de geotecnologias, uma ferramenta que pode ser

utilizada é a modelagem de dados em sistemas de informação geográfica (SIG).

Aproveitando os dados existentes nos processos de licenciamento, um banco de dados

georreferenciado poderia ser modelado, obtendo-se assim, informações mais precisas

para a tomada de decisões quanto à viabilidade ambiental dos empreendimentos

mineiros para carvão. Reduziria-se, inclusive, o tempo para obtenção de licenças que

muitas vezes estende-se por longos períodos justamente pela falta de informações claras

causando assim, prejuízos às empresas mineradoras.

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3. METAS E OBJETIVOS

O presente trabalho tem como meta a elaboração de uma metodologia para a

realização de ARA para a abertura de minas de carvão em subsolo por meio da

integração de dados em um sistema de informação geográfica (SIG).

Com vistas a atingir a meta proposta, este trabalho buscou cumprir os objetivos

específicos definidos abaixo.

(i) Realizar um levantamento das informações ambientais e operacionais que venham a

proporcionar uma eficiente modelagem ambiental em ambiente SIG (sistema de

informações georreferenciadas)

(ii) Estabelecer uma metodologia para a definição da probabilidade de ocorrência de

efeitos danosos ao meio ambiente devido aminas de subsolo.

(iii) Estabelecer uma metodologia para integração dos dados pertinentes à análise de

risco ambiental para minas de carvão em subsolo.

(iv) Espacializar os níveis de risco ambiental com o intuito de proporcionar a

identificação dos fatores principais da geração de riscos.

(v) Elencar ações para o gerenciamento e minimização dos riscos ambientais para o

projeto.

4. METODOLOGIA

Para o processo de análise de risco ambiental, é fundamental a determinação da

vulnerabilidade natural do meio ambiente em seus aspectos físicos, bióticos, sociais e

econômicos.

A base cartográfica utilizada foi uma ortofotocarta planialtimétrica cadastral

fornecida pela empresa. A referida imagem, datada de novembro 2006, na escala

1:10.000, serviu como base para o mapeamento das feições de interesse.

As informações relativas à isocobertura foram fornecidas pela empresa na forma

de linhas de igual valor de cobertura da camada em arquivos vetoriais no formato .dwg.

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Posteriormente, estes arquivos foram convertidos para o formato .shp e transformados

em feições do tipo polígono. As falhas geológicas também foram fornecidas pela

empresa em formato .dwg e tiveram que ser convertidas em .shp.

As classes de uso do solo e os recursos hídricos foram digitalizados diretamente

sobre a base cartográfica e posteriormente validados em campo.

Com a finalidade de manter um controle sobre o ajuste espacial das camadas de

informação, foi realizada a projeção destas no sistema de coordenadas métricas para o

South American Datun 1969 (SAD 69).

4.1 IDENTIFICAÇÃO DOS PERIGOS

Considerando-se as características do empreendimento e a vulnerabilidade

natural do meio ambiente foram identificados os perigos potenciais para o ecossistema.

Inicialmente, foram formulados, por abordagens exaustivas e dirigidas dos

procedimentos operacionais e dos dados históricos, os cenários acidentais prováveis no

caso da ocorrência de acidentes. Os perigos identificados foram as infiltrações de água

para o interior da mina e os abalos estruturais em edificações e subsidências.

Tendo como referência as informações históricas da mineração de carvão na

região e a análise dos procedimentos operacionais utilizados na empresa, foi

considerado como sendo o pior cenário acidental a ocorrência de uma subsidência

permitindo a infiltração de água superficial e subsuperficial para o interior da mina. Isto

ocasionaria a alteração no regime hidrológico local e proporcionaria a perda de solo

agricultável.

Os casos de infiltração de água para o interior da mina são relativamente comuns

em minas de subsolo. De maneira geral, estão sujeitas à infiltrar para o interior da mina

as águas subsuperficiais e superficiais em casos extremos, podendo ocorrer alterações

no regime hidrológico local. Estas ocorrências estão relacionadas diretamente à

existência de falhas e fraturas e de como estas se comportam.

Os abalos estruturais em edificações na superfície estão relacionados à

ocorrência de subsidências e também a vibrações gerados pelas detonações na frente de

lavra.

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4.2 ESTIMATIVA DA FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA DE EVENTOS

Essa etapa envolve estimar a probabilidade de ocorrência dos eventos e situações

identificados na etapa anterior. Tipicamente, o desenvolvimento das freqüências

esperadas requer uma síntese de dados históricos, modelos de causas e julgamento de

especialistas.

Inicialmente, foram buscados registros históricos de ocorrências de cunho

ambiental em minas que utilizam o método de câmara de pilares, sem recúo e com

minerador contínuo na camada de carvão Bonito. Serão obtidas amostras significativas

para o cálculo da freqüência de ocorrência de eventos. Cabe salientar, que foram

consideradas apenas as lavras realizadas após a proibição da recuperação de pilares pelo

DNPM. Neste sentido, foram consultados ainda o Departamento de Meio Ambiente da

própria empresa, o Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), e o Sindicato

das Indústrias de Extração de Carvão Mineral de Santa Catarina (SIECESC), sendo

realizada uma triagem dos dados. Realizou-se, também, uma varredura na superfície das

áreas mineradas devidamente licenciadas e consultas aos moradores superficiários a

respeito da existência de problemas ligados à mineração de subsolo.

Durante a fase de triagem dos dados, foram determinados requisitos mínimos a

serem aplicados como informações espaciais, tipo de ocorrência, conseqüências e

causas prováveis. Este procedimento é fundamental para a análise da consistência dos

dados utilizados.

Em seguida foi realizado um tratamento estatístico avaliando-se as freqüências

esperadas (número de eventos / área minerada) (tabela I).

Tabela I: Freqüência de ocorrência de eventos por hectare minerado.

4.3 ESTIMATIVA DA SEVERIDADE DOS CENÁROS ACIDENTAIS

Ocorrência – Risco Ambiental Frequência

Infiltrações de água 0

Abalos estruturais em edificações 0

Subsidências 0,007299

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A severidade dos cenários acidentais é uma variável utilizada para, após sua

interação com a freqüência das ocorrências, estabelecerem-se uma hierarquia entre estes

cenários, o que foi chamado de índice de criticidade ambiental.

Foram considerados os prováveis impactos ambientais negativos e suas

conseqüências adversas aos ecossistemas (fonte EIA). Estes impactos ambientais são

provenientes da liberação de sustâncias ou energias ao meio ambiente ou alterações em

sua dinâmica natural.

As ocorrências foram valoradas levando-se em conta a pior situação climática

possível, ou seja, a sua ocorrência durante períodos de alta precipitação. Outros fatores

como a reversibilidade dos impactos e o grau de dificuldade para remediação ou

mitigação também foram considerados. Os valores foram atribuídos subjetivamente

com base no conhecimento..

Os valores estabelecidos, através da análise por parte da equipe técnica variam

de 0 a 10 e podem ser observados na Tabela II.

Tabela II: Índice de Severidade para as ocorrências ambientais.

Ocorrência – Risco Ambiental Índice de Severidade

Infiltrações de água 6

Abalos estruturais em edificações 5

Subsidências 10

As infiltrações de água são comuns em minas de subsolo. Ocorrem devido à

existência de falhas e fraturas, as quais permitem a percolação das águas de superfície e

dos aqüíferos existentes sobre a mina, para as galerias ou painéis devido a existência de

conectividade em algumas destas estruturas geológicas. Até certo ponto, pode-se

considerar normal a ocorrência de água no interior da mina; porém, quando o regime

hidrológico da superfície sofre alterações como, por exemplo, a diminuição de água de

açudes, extinção de nascentes e alterações no regime de vazões de cursos d’água, as

conseqüências para o patrimônio, ao ecossistema e para a economia são severamente

danosas.

Os abalos estruturais em edificações podem estar relacionados tanto as vibrações

geradas pelas detonações na frente de lavra como à ocorrência de subsidências. A

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acomodação de porções de rocha pode trazer sérias complicações estruturais nas

edificações localizadas sobre estes locais. Em alguns casos, as estruturas podem entrar

em colapso subitamente, intensificando seus efeitos adversos aos moradores.

As subsidências, de certa forma, estão relacionadas diretamente aos eventos

citados anteriormente. No caso de uma subsidência, as conseqüências dependerão

necessariamente das características ambientais do local onde ocorreu. Para efeito de

prevenção e com vistas a garantir a qualidade do ambiente na superfície, o evento

subsidência foi considerado em sua pior situação, ou seja, associado à infiltrações de

água da superfície para o interior da mina em grande proporção.

4.4 DETERMINAÇÃO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL

A determinação da vulnerabilidade ambiental foi embasada pelas informações

produzidas na elaboração do diagnóstico, o qual consta no EIA. A partir destas, foi

possível realizar um mapeamento dos fatores ambientais referentes aos condicionantes

geológicos, tais como à espessura da cobertura sobre a camada minerável de carvão e o

sistema de falhas, recursos hídricos e o uso do solo. Após a etapa de mapeamento, estes

fatores foram hierarquizados utilizando-se como os critérios de susceptibilidade à

contaminação, capacidade de dispersão, importância ecológica, importância econômica

e possibilidade de remediação. Os valores variam em um intervalo de 0 à 10.

A valoração realizada pela equipe técnica utilizou para a espessura da cobertura

as informações contidas no mapa de isópacas utilizado para o planejamento da mina. As

classes de cobertura foram divididas em três intervalos, sendo estes: 0 à 30m, 31 à 80m

e > 80 metros. A Figura 2 ilustra o zoneamento da região com base nas classes de

cobertura.

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Figura 2: Mapa com as classes de isocobertura da camada de carvão.

Em relação às falhas geológicas, estas foram delineadas com uma área de

influência de 50 m ao longo de seu eixo. A Figura 3 apresenta as falhas mapeadas para a

área estudada.

Figura 3: Falhas geológicas na área de estudo.

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Os valores de vulnerabilidade adotados para os condicionantes geológicos são

mostrados na Tabela III.

Tabela III: Índice de vulnerabilidade para as classes de isocobertura.

Condicionantes Geológicos Índice de Vulnerabilidade

Isocobertura 0 m à 30m 10

Isocobertura 31m à 80 m 5

Isocobertura > 80 m 0

Falhas Geológicas 10

Para os recursos hídricos superficiais, foram consideradas todas as ocorrências

de água em superfície. Os elementos considerados foram valorados em relação à sua

severidade, sendo espacializados utilizando-se uma área de influência determinada pelas

análises multidisciplinares.

Cabe salientar, que os polígonos de interesse referente aos recursos hídricos

superficiais foram valorados de acordo com os aspectos quali-quantitativos da água,

com seu uso, a importância social, econômica e ecológica. A Figura 4 apresenta o

mapeamento realizado para os recursos hídricos.

Figura 4: Recursos hídricos mapeados para a área de estudo.

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Os corpos d’água da superfície foram divididos em lagoas, açudes, banhados,

cursos d’água e nascentes, recebendo valores de acordo com a tabela IV.

Tabela IV: Índice de vulnerabilidade para fatores referentes aos recursos hídricos

superficiais.

Recursos Hídricos Superficiais Índice de Vulnerabilidade

Lagoas/Açudes/Banhados 8

Cursos D’água 8

Nascentes 10

O uso do solo foi dividido em seis classes: reflorestamentos, agroecossistemas,

área degradada, campos antrópicos e vegetação secundária (Figura 5).

Figura 5: Classes de uso do solo e seu respectivo percentual de área em relação à

poção estudada.

Os valores atribuídos às classes de uso do solo podem ser observados na Tabela

V.

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Tabela V: Índice de vulnerabilidade para as classes de uso do solo.

Uso do Solo Índice de Vulnerabilidade

Reflorestamento 2

Áreas Edificadas 10

Campo Antrópico 3

Agroecossistema 4

Vegetação Secundária 4

Área Degradada 3

Todos os fatores envolvidos foram avaliados quanto à sua área de influência e

posteriormente espacializados na forma de mapas em formato vetorial a fim de permitir

as operações dos níveis de informação. A área de influência de cada fator ambiental

acima citado pode ser observada na Tabela VI.

Tabela VI: Raio de influência dos fatores ambientais envolvidos.

Fatores Ambientais Raio de Influência (m)

Lagoas 120

Banhados/Açudes 50

Cursos D’água 30

Nascentes 50

Reflorestamento 0

Áreas Edificadas 20

Campo Antrópico 0

Agroecossistema 0

Vegetação secundária 0

Área Degradada 0

Falhas Geológicas 50

1.1. CARACTERIZAÇÃO DOS RISCOS

Nesta etapa, os riscos são determinados e estimados. Para tal, os resultados das

análises de probabilidade e de conseqüências são integrados.

A integração dos dados relativos ao risco ambiental foi realizada pelo

cruzamento de planos de informação em software específico para SIG, utilizando-se a

seguinte expressão algébrica:

1

3

3

1

2

2

1

1

11 .10..2 F

S

F

S

F

S

n

fafgicR

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Onde:

R = Risco Ambiental.

ic = Índice de vulnerabilidade ambiental relativo às classes de isocobertura.

fg = Índice de vulnerabilidade ambiental relativo às falhas geológicas.

fa = Índice de vulnerabilidade ambiental relativo aos fatores ambientais da superfície

(uso do solo e recursos hídricos).

n = número de fatores ambientais envolvidos.

S1 = Índice de severidade para infiltrações de água.

S2 = Índice de severidade para abalos estruturais em edificações.

S3 = Índice de severidade para subsidências.

F1 = Freqüência de ocorrência de casos de infiltração de água.

F2 = Freqüência de ocorrência de casos de abalos estruturais em edificações.

F3 = Freqüência de ocorrência de casos de subsidência.

5. RESULTADOS

Gerou-se, então, um mapa de riscos ambientais com as classes simbolizadas por

uma escala de cores e sobrepostas ao projeto da mina. Cabe salientar, que a concepção

do projeto inicialmente foi realizada em parte da área estudada para posterior

ampliação.

O resultado dos riscos ambientais foi classificado em intervalos determinados

por meio da visualização de resultados, definindo-se que os intervalos de 0 à 0,160

representariam áreas com baixo risco por representarem um intervalo em que os

impactos adversos seriam facilmente remediáveis,, 0,161 à 0,235 áreas com risco médio

devido ao fato de que ainda poderiam ser remediados porém com o comprometimento

financeiro da empresa e superiores à 0,235, áreas com alto risco ambiental, sendo

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irremediáveis independentemente da capacidade financeira da empresa. As

considerações quanto a possibilidade de remediação foram realizadas com base nas

possibilidades tecnológicas existentes e nos custos para realização da manutenção

ecológica de um ecossistema equilibrado.

Como critério de aceitabilidade dos riscos ambientais, foi definido que apenas as

áreas com baixo e médio risco seriam consideradas como tendo riscos aceitáveis, sendo

considerados toleráveis quando comparados à riscos ambientais aceitos pela sociedade

referentes a instalações industriais, transporte, etc .

A Figura 6 apresenta as classes de risco em uma escala de cores com o projeto

preliminar da mina sobreposto. Nele, pode-se identificar os pontos críticos do projeto.

Figura 6: Sobreposição do projeto inicial da mina no mapa de riscos ambientais.

Os resultados permitiram tecer considerações a respeito das áreas com diferentes

níveis de risco ambiental e a sua implicação social e econômica para os envolvidos.

Pôde-se perceber, a estreita relação entre os problemas ambientais relacionados aos

recursos hídricos e a geologia estrutural.

As áreas com alto nível de risco distribuíram-se ao longo da área de influência

das falhas, principalmente quando estas interceptam nascentes e cursos d’água.

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6. CONCLUSÕES

Conclui-se com este trabalho que a espacialização dos riscos ambientais é

fundamental para o planejamento mineiro adequado do ponto de vista ambiental. A

metodologia utilizada pode ser melhorada com a utilização de modelos geológicos e

hidrogeológicos tridimensionais que permitam a correlação exata entre as causas e os

efeitos dos riscos ambientais.

No caso de infiltrações de água para o interior da mina, estas podem ocorrer com

um deslocamento horizontal em função da inclinação do plano de falha, dificultando o

entendimento da relação causa-efeito e dificultando assim o processo de gerenciamento

do risco.

No caso das possíveis vibrações e danos estruturais em edificações, a

intensidade e propagação de ondas mecânicas geradas pelas operações de desmonte de

rocha em subsolo variam de acordo com as características geológicas, sendo

fundamental a sua integração espacial com as edificações localizadas em superfície.

Outra consideração pertinente é a necessidade de segregação dos intervalos

estratigráficos e sua valoração quanto às respectivas características geotécnicas.

Como ações de gerenciamento de riscos, foi sugerida a utilização de minerador

contínuo em substituição ao desmonte realizado com explosivos, realização de um

monitoramento piezométrico e cadastramento de pontos de abastecimento de água

localizados em superfície, adoção de sondagens horizontais para realizar a previsão do

comportamento hidrogeológico das falhas, e com isto, planejar estratégias para a

abertura das galerias nos cruzamentos com as mesmas.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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do Rio Araranguá (SC). 2001. 294f. Dissertação (Mestrado em Utilização e

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