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Metodologia para Integração de Dados em Ambiente SIG para
Avaliação de Riscos Ambientais em Minas de Carvão em Subsolo
Autores:
Eduardo Pereira Krebs – Eng° Ambiental – mestrando PPGEM –
Dr. João Felipe Coimbra Leite Costa – Eng° de Minas – professor do
PPGEM - [email protected]
Dr. Jair Carlos Koppe - Eng° de Minas/Geólogo – professor do PPGEM
Resumo: Para assegurar a correta tomada de decisão quanto à viabilidade
ambiental de empreendimentos de mineração de carvão na Bacia Carbonífera Sul
Catarinense, incorporou-se ao processo de licenciamento ambiental a Análise de Risco
Ambiental - ARA. Poucos trabalhos empregando uma metodologia que considere as
peculiaridades das atividades minerárias, incluindo uma abordagem geoespacial com
integração de dados ambientais, foram desenvolvidos nesse tema. O presente trabalho
tem como meta a elaboração de uma metodologia para a realização de ARA para a
abertura de minas de carvão em subsolo por meio da integração de dados em um
Sistema de Informação Geográfica (SIG). A metodologia usada consistiu em uma
sobreposição de planos de informação na forma de arquivos vetoriais, os quais
representam os atributos ambientais relativos à vulnerabilidade natural do ambiente e os
aspectos técnicos relacionados à atividade de mineração. Gerou-se, então, um mapa de
riscos ambientais com as classes simbolizadas por uma escala de cores e sobrepostas ao
projeto da mina. Os resultados permitiram tecer considerações a respeito das áreas com
diferentes níveis de risco ambiental e a sua implicação social e econômica para os
envolvidos. A metodologia permite uma análise mais eficiente das informações
necessárias à tomada de decisão quanto à viabilidade ambiental para abertura de uma
mina de carvão.
Palavras-chave: sistema de informação geográfica, integração de dados,
subsolo, risco ambiental.
1. INTRODUÇÃO
Sendo a legislação ambiental brasileira considerada como uma das mais
avançadas do mundo, o licenciamento ambiental de atividades de mineração visa
compatibilizar as atividades econômicas relacionadas direta e indiretamente ao setor
mineral com a preservação e reabilitação ambiental. Dentre as leis que regem o sistema
nacional do meio ambiente, a lei n° 6.938, de 31 de agosto de1981, que estabelece a
Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) merece destaque. A referida lei tem por
objetivo “a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à
vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana”
Diante destes preceitos, as atividades ligadas ao setor mineral merecem especial
atenção tanto por serem em sua grande maioria atividades potencialmente poluidoras ou
degradantes, como pelo fato de serem imprescindíveis para a sociedade e seu
desenvolvimento. Este dilema torna difícil o processo de tomada de decisões quanto à
viabilidade ambiental de tais atividades.
As atividades de mineração, processamento e transporte de carvão realizadas na
Bacia Carbonífera Sul Catarinense sofrem uma rejeição pela maior parte da sociedade
em função dos danos ambientais causados no passado. A forma predatória como eram
realizadas tais atividades criaram um enorme passivo ambiental para a região. A estes
passivos estão relacionados o comprometimento dos recursos hídricos superficiais e
subterrâneos, contaminação dos solos, danos estruturais em edificações, alteração da
paisagem e, também, problemas sociais relacionados à formação de bolsões de pobreza
pela invasão de áreas abandonadas pelas companhias. Segundo Alexandre (2001), as
áreas consideradas críticas do estado de Santa Catarina em relação à disponibilidade
hídrica e qualidade das águas se encontram na bacia do rio Araranguá.
Atualmente, as empresas que atuam no setor estão sob uma forte pressão por
parte da sociedade e dos órgãos fiscalizadores e reguladores. O licenciamento ambiental
das atividades relacionadas ao carvão mineral, desde a sua extração até a sua utilização
na fabricação do coque ou na queima para geração de energia, têm se transformado em
processos morosos e caros em função da participação popular. Segundo Kirchhoff
(2004), o licenciamento ambiental, instrumento da PNMA, é procedimento
administrativo que permite ao órgão ambiental competente licenciar a localização,
instalação, ampliação e operação de empreendimentos e atividades que utilizam
recursos ambientais. É um instrumento que se mostra com estreita ligação com os
processos de avaliação de impacto ambiental, e somente deverá ser concedido após a
certeza da conciliação entre a atividade e a qualidade ambiental.
O instrumento mais utilizado para o licenciamento ambiental é o Estudo de
Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). A resolução
onama Nº 001, de 23 de janeiro de 1986 prevê “Dependerá de elaboração de estudo de
impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem
submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter
supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente...
Na maioria dos processos de licenciamento, o poder público encontra grande
dificuldade na tomada de decisões quanto a viabilidade ambiental de empreendimentos
do setor carbonífero. Kirchhoff (2004) afirma que para algumas questões específicas, a
avaliação de viabilidade ambiental pode requerer mais que um EIA. A avaliação de
risco (AR) é uma ferramenta que pode interagir com o EIA de forma a complementar
esta avaliação. Enquanto o EIA dá resposta sobre a viabilidade ambiental do
empreendimento por meio da análise dos impactos previsíveis associados ao mesmo, a
AR, para complementar a avaliação sobre a viabilidade ambiental do empreendimento,
tenta quantificar riscos associados à determinada ação antrópica.
De acordo com Kirchhoff (2004), o estudo de viabilidade ambiental necessita
instrumentos que atribuam confiabilidade ao processo decisório e a avaliação de risco
ambiental (ARA) é uma ferramenta importantíssima, pois complementa a avaliação
sobre a viabilidade ambiental do empreendimento, e se mostra útil para o licenciamento
ambiental de atividades. Dessa forma, o principal motivo de escolha desta ferramenta
decorre do fato de seu uso servir como instrumento para tomadas de decisões mais
racionais e efetivas onde exista possibilidade de danos, o que a torna de suma
importância na verificação da viabilidade ambiental de um empreendimento. Além
disso, o conhecimento sobre o risco pode servir como subsídio para o planejamento e
projeto de empreendimentos.
1.1 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A área do projeto Mina Lauro Müller está situada próxima ao perímetro urbano
do município de Lauro Müller, a leste da sede do município, e imediatamente ao norte
da localidade, encontrando-se entre as localidades de Rocinha e Barro Branco. Esta
região está situada na porção centro-sudeste do estado de Santa Catarina, sul do Brasil,
ao pé da conhecida serra do Rio do Rasto, que une as cidades de Lauro Müller,
depressão periférica, à Bom Jardim da Serra, borda do planalto serrano, nas
proximidades de São Joaquim (Figura1).
Figura 1: Localização da área de estudos.
2. PROBLEMA
Atualmente, na região da bacia carbonífera sul catarinense, os processos de
licenciamento ambiental de empreendimentos mineiros relacionados ao carvão vêm
sendo conduzidos conjuntamente pelo Ministério Público Federal (MPF), Fundação do
Meio Ambiente de Santa Catarina (FATMA) e o Departamento Nacional da Produção
Mineral (DNPM). Com o intuito de assegurar a correta tomada de decisões quanto a
viabilidade ambiental de tais empreendimentos, a ARA foi incorporada na listagem de
documentos necessários para obtenção de licenças ambientais. Em alguns casos, a ARA
deve acompanhar o EIA-RIMA, sendo submetida à apreciação popular e a audiências
publicas nas comunidades envolvidas.
Entretanto, existe a necessidade de se adaptar uma metodologia de trabalho que
leve em consideração as peculiaridades das atividades mineiras, dentre as quais destaca-
se a carência de uma abordagem geoespacial em função da necessidade de integração de
dados ambientais e a necessidade de espacialização das áreas de risco e das relações
causa-efeito para extensas áreas. Isto para que se possa utilizar a ARA no planejamento
mineiro, assim como no gerenciamento dos riscos ambientais durante as fases de
pesquisa, implantação, operação e desativação. Diante disto, a criação de mapas de risco
ambiental para estes empreendimentos vem sendo desenvolvida com a utilização das
informações produzidas nos EIA’s, principalmente na etapa de diagnóstico ambiental, e
na documentação técnica requisitada pelo DNPM.
Quando se trata de minas de subsolo, o problema se torna ainda maior, pois, as
possíveis causas de riscos ambientais possuem uma relação espacial com os efeitos
destes impactos. O entendimento destas relações espaciais de forma precisa é muito
importante se considerarmos os prejuízos econômicos do mal aproveitamento de uma
jazida em função de restrições legais e, por outro lado, a necessidade de se garantir um
adequado controle ambiental das atividades mineiras.
O problema abordado foca-se na necessidade de integração tridimensional de
dados ambientais como fator decisivo no gerenciamento de riscos ambientais de minas
de subsolo. Atualmente, as informações são processadas sem que haja uma metodologia
adequada e padronizada para geração dos mapas de risco ambiental.
Com os avanços na área de geotecnologias, uma ferramenta que pode ser
utilizada é a modelagem de dados em sistemas de informação geográfica (SIG).
Aproveitando os dados existentes nos processos de licenciamento, um banco de dados
georreferenciado poderia ser modelado, obtendo-se assim, informações mais precisas
para a tomada de decisões quanto à viabilidade ambiental dos empreendimentos
mineiros para carvão. Reduziria-se, inclusive, o tempo para obtenção de licenças que
muitas vezes estende-se por longos períodos justamente pela falta de informações claras
causando assim, prejuízos às empresas mineradoras.
3. METAS E OBJETIVOS
O presente trabalho tem como meta a elaboração de uma metodologia para a
realização de ARA para a abertura de minas de carvão em subsolo por meio da
integração de dados em um sistema de informação geográfica (SIG).
Com vistas a atingir a meta proposta, este trabalho buscou cumprir os objetivos
específicos definidos abaixo.
(i) Realizar um levantamento das informações ambientais e operacionais que venham a
proporcionar uma eficiente modelagem ambiental em ambiente SIG (sistema de
informações georreferenciadas)
(ii) Estabelecer uma metodologia para a definição da probabilidade de ocorrência de
efeitos danosos ao meio ambiente devido aminas de subsolo.
(iii) Estabelecer uma metodologia para integração dos dados pertinentes à análise de
risco ambiental para minas de carvão em subsolo.
(iv) Espacializar os níveis de risco ambiental com o intuito de proporcionar a
identificação dos fatores principais da geração de riscos.
(v) Elencar ações para o gerenciamento e minimização dos riscos ambientais para o
projeto.
4. METODOLOGIA
Para o processo de análise de risco ambiental, é fundamental a determinação da
vulnerabilidade natural do meio ambiente em seus aspectos físicos, bióticos, sociais e
econômicos.
A base cartográfica utilizada foi uma ortofotocarta planialtimétrica cadastral
fornecida pela empresa. A referida imagem, datada de novembro 2006, na escala
1:10.000, serviu como base para o mapeamento das feições de interesse.
As informações relativas à isocobertura foram fornecidas pela empresa na forma
de linhas de igual valor de cobertura da camada em arquivos vetoriais no formato .dwg.
Posteriormente, estes arquivos foram convertidos para o formato .shp e transformados
em feições do tipo polígono. As falhas geológicas também foram fornecidas pela
empresa em formato .dwg e tiveram que ser convertidas em .shp.
As classes de uso do solo e os recursos hídricos foram digitalizados diretamente
sobre a base cartográfica e posteriormente validados em campo.
Com a finalidade de manter um controle sobre o ajuste espacial das camadas de
informação, foi realizada a projeção destas no sistema de coordenadas métricas para o
South American Datun 1969 (SAD 69).
4.1 IDENTIFICAÇÃO DOS PERIGOS
Considerando-se as características do empreendimento e a vulnerabilidade
natural do meio ambiente foram identificados os perigos potenciais para o ecossistema.
Inicialmente, foram formulados, por abordagens exaustivas e dirigidas dos
procedimentos operacionais e dos dados históricos, os cenários acidentais prováveis no
caso da ocorrência de acidentes. Os perigos identificados foram as infiltrações de água
para o interior da mina e os abalos estruturais em edificações e subsidências.
Tendo como referência as informações históricas da mineração de carvão na
região e a análise dos procedimentos operacionais utilizados na empresa, foi
considerado como sendo o pior cenário acidental a ocorrência de uma subsidência
permitindo a infiltração de água superficial e subsuperficial para o interior da mina. Isto
ocasionaria a alteração no regime hidrológico local e proporcionaria a perda de solo
agricultável.
Os casos de infiltração de água para o interior da mina são relativamente comuns
em minas de subsolo. De maneira geral, estão sujeitas à infiltrar para o interior da mina
as águas subsuperficiais e superficiais em casos extremos, podendo ocorrer alterações
no regime hidrológico local. Estas ocorrências estão relacionadas diretamente à
existência de falhas e fraturas e de como estas se comportam.
Os abalos estruturais em edificações na superfície estão relacionados à
ocorrência de subsidências e também a vibrações gerados pelas detonações na frente de
lavra.
4.2 ESTIMATIVA DA FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA DE EVENTOS
Essa etapa envolve estimar a probabilidade de ocorrência dos eventos e situações
identificados na etapa anterior. Tipicamente, o desenvolvimento das freqüências
esperadas requer uma síntese de dados históricos, modelos de causas e julgamento de
especialistas.
Inicialmente, foram buscados registros históricos de ocorrências de cunho
ambiental em minas que utilizam o método de câmara de pilares, sem recúo e com
minerador contínuo na camada de carvão Bonito. Serão obtidas amostras significativas
para o cálculo da freqüência de ocorrência de eventos. Cabe salientar, que foram
consideradas apenas as lavras realizadas após a proibição da recuperação de pilares pelo
DNPM. Neste sentido, foram consultados ainda o Departamento de Meio Ambiente da
própria empresa, o Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), e o Sindicato
das Indústrias de Extração de Carvão Mineral de Santa Catarina (SIECESC), sendo
realizada uma triagem dos dados. Realizou-se, também, uma varredura na superfície das
áreas mineradas devidamente licenciadas e consultas aos moradores superficiários a
respeito da existência de problemas ligados à mineração de subsolo.
Durante a fase de triagem dos dados, foram determinados requisitos mínimos a
serem aplicados como informações espaciais, tipo de ocorrência, conseqüências e
causas prováveis. Este procedimento é fundamental para a análise da consistência dos
dados utilizados.
Em seguida foi realizado um tratamento estatístico avaliando-se as freqüências
esperadas (número de eventos / área minerada) (tabela I).
Tabela I: Freqüência de ocorrência de eventos por hectare minerado.
4.3 ESTIMATIVA DA SEVERIDADE DOS CENÁROS ACIDENTAIS
Ocorrência – Risco Ambiental Frequência
Infiltrações de água 0
Abalos estruturais em edificações 0
Subsidências 0,007299
A severidade dos cenários acidentais é uma variável utilizada para, após sua
interação com a freqüência das ocorrências, estabelecerem-se uma hierarquia entre estes
cenários, o que foi chamado de índice de criticidade ambiental.
Foram considerados os prováveis impactos ambientais negativos e suas
conseqüências adversas aos ecossistemas (fonte EIA). Estes impactos ambientais são
provenientes da liberação de sustâncias ou energias ao meio ambiente ou alterações em
sua dinâmica natural.
As ocorrências foram valoradas levando-se em conta a pior situação climática
possível, ou seja, a sua ocorrência durante períodos de alta precipitação. Outros fatores
como a reversibilidade dos impactos e o grau de dificuldade para remediação ou
mitigação também foram considerados. Os valores foram atribuídos subjetivamente
com base no conhecimento..
Os valores estabelecidos, através da análise por parte da equipe técnica variam
de 0 a 10 e podem ser observados na Tabela II.
Tabela II: Índice de Severidade para as ocorrências ambientais.
Ocorrência – Risco Ambiental Índice de Severidade
Infiltrações de água 6
Abalos estruturais em edificações 5
Subsidências 10
As infiltrações de água são comuns em minas de subsolo. Ocorrem devido à
existência de falhas e fraturas, as quais permitem a percolação das águas de superfície e
dos aqüíferos existentes sobre a mina, para as galerias ou painéis devido a existência de
conectividade em algumas destas estruturas geológicas. Até certo ponto, pode-se
considerar normal a ocorrência de água no interior da mina; porém, quando o regime
hidrológico da superfície sofre alterações como, por exemplo, a diminuição de água de
açudes, extinção de nascentes e alterações no regime de vazões de cursos d’água, as
conseqüências para o patrimônio, ao ecossistema e para a economia são severamente
danosas.
Os abalos estruturais em edificações podem estar relacionados tanto as vibrações
geradas pelas detonações na frente de lavra como à ocorrência de subsidências. A
acomodação de porções de rocha pode trazer sérias complicações estruturais nas
edificações localizadas sobre estes locais. Em alguns casos, as estruturas podem entrar
em colapso subitamente, intensificando seus efeitos adversos aos moradores.
As subsidências, de certa forma, estão relacionadas diretamente aos eventos
citados anteriormente. No caso de uma subsidência, as conseqüências dependerão
necessariamente das características ambientais do local onde ocorreu. Para efeito de
prevenção e com vistas a garantir a qualidade do ambiente na superfície, o evento
subsidência foi considerado em sua pior situação, ou seja, associado à infiltrações de
água da superfície para o interior da mina em grande proporção.
4.4 DETERMINAÇÃO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL
A determinação da vulnerabilidade ambiental foi embasada pelas informações
produzidas na elaboração do diagnóstico, o qual consta no EIA. A partir destas, foi
possível realizar um mapeamento dos fatores ambientais referentes aos condicionantes
geológicos, tais como à espessura da cobertura sobre a camada minerável de carvão e o
sistema de falhas, recursos hídricos e o uso do solo. Após a etapa de mapeamento, estes
fatores foram hierarquizados utilizando-se como os critérios de susceptibilidade à
contaminação, capacidade de dispersão, importância ecológica, importância econômica
e possibilidade de remediação. Os valores variam em um intervalo de 0 à 10.
A valoração realizada pela equipe técnica utilizou para a espessura da cobertura
as informações contidas no mapa de isópacas utilizado para o planejamento da mina. As
classes de cobertura foram divididas em três intervalos, sendo estes: 0 à 30m, 31 à 80m
e > 80 metros. A Figura 2 ilustra o zoneamento da região com base nas classes de
cobertura.
Figura 2: Mapa com as classes de isocobertura da camada de carvão.
Em relação às falhas geológicas, estas foram delineadas com uma área de
influência de 50 m ao longo de seu eixo. A Figura 3 apresenta as falhas mapeadas para a
área estudada.
Figura 3: Falhas geológicas na área de estudo.
Os valores de vulnerabilidade adotados para os condicionantes geológicos são
mostrados na Tabela III.
Tabela III: Índice de vulnerabilidade para as classes de isocobertura.
Condicionantes Geológicos Índice de Vulnerabilidade
Isocobertura 0 m à 30m 10
Isocobertura 31m à 80 m 5
Isocobertura > 80 m 0
Falhas Geológicas 10
Para os recursos hídricos superficiais, foram consideradas todas as ocorrências
de água em superfície. Os elementos considerados foram valorados em relação à sua
severidade, sendo espacializados utilizando-se uma área de influência determinada pelas
análises multidisciplinares.
Cabe salientar, que os polígonos de interesse referente aos recursos hídricos
superficiais foram valorados de acordo com os aspectos quali-quantitativos da água,
com seu uso, a importância social, econômica e ecológica. A Figura 4 apresenta o
mapeamento realizado para os recursos hídricos.
Figura 4: Recursos hídricos mapeados para a área de estudo.
Os corpos d’água da superfície foram divididos em lagoas, açudes, banhados,
cursos d’água e nascentes, recebendo valores de acordo com a tabela IV.
Tabela IV: Índice de vulnerabilidade para fatores referentes aos recursos hídricos
superficiais.
Recursos Hídricos Superficiais Índice de Vulnerabilidade
Lagoas/Açudes/Banhados 8
Cursos D’água 8
Nascentes 10
O uso do solo foi dividido em seis classes: reflorestamentos, agroecossistemas,
área degradada, campos antrópicos e vegetação secundária (Figura 5).
Figura 5: Classes de uso do solo e seu respectivo percentual de área em relação à
poção estudada.
Os valores atribuídos às classes de uso do solo podem ser observados na Tabela
V.
Tabela V: Índice de vulnerabilidade para as classes de uso do solo.
Uso do Solo Índice de Vulnerabilidade
Reflorestamento 2
Áreas Edificadas 10
Campo Antrópico 3
Agroecossistema 4
Vegetação Secundária 4
Área Degradada 3
Todos os fatores envolvidos foram avaliados quanto à sua área de influência e
posteriormente espacializados na forma de mapas em formato vetorial a fim de permitir
as operações dos níveis de informação. A área de influência de cada fator ambiental
acima citado pode ser observada na Tabela VI.
Tabela VI: Raio de influência dos fatores ambientais envolvidos.
Fatores Ambientais Raio de Influência (m)
Lagoas 120
Banhados/Açudes 50
Cursos D’água 30
Nascentes 50
Reflorestamento 0
Áreas Edificadas 20
Campo Antrópico 0
Agroecossistema 0
Vegetação secundária 0
Área Degradada 0
Falhas Geológicas 50
1.1. CARACTERIZAÇÃO DOS RISCOS
Nesta etapa, os riscos são determinados e estimados. Para tal, os resultados das
análises de probabilidade e de conseqüências são integrados.
A integração dos dados relativos ao risco ambiental foi realizada pelo
cruzamento de planos de informação em software específico para SIG, utilizando-se a
seguinte expressão algébrica:
1
3
3
1
2
2
1
1
11 .10..2 F
S
F
S
F
S
n
fafgicR
Onde:
R = Risco Ambiental.
ic = Índice de vulnerabilidade ambiental relativo às classes de isocobertura.
fg = Índice de vulnerabilidade ambiental relativo às falhas geológicas.
fa = Índice de vulnerabilidade ambiental relativo aos fatores ambientais da superfície
(uso do solo e recursos hídricos).
n = número de fatores ambientais envolvidos.
S1 = Índice de severidade para infiltrações de água.
S2 = Índice de severidade para abalos estruturais em edificações.
S3 = Índice de severidade para subsidências.
F1 = Freqüência de ocorrência de casos de infiltração de água.
F2 = Freqüência de ocorrência de casos de abalos estruturais em edificações.
F3 = Freqüência de ocorrência de casos de subsidência.
5. RESULTADOS
Gerou-se, então, um mapa de riscos ambientais com as classes simbolizadas por
uma escala de cores e sobrepostas ao projeto da mina. Cabe salientar, que a concepção
do projeto inicialmente foi realizada em parte da área estudada para posterior
ampliação.
O resultado dos riscos ambientais foi classificado em intervalos determinados
por meio da visualização de resultados, definindo-se que os intervalos de 0 à 0,160
representariam áreas com baixo risco por representarem um intervalo em que os
impactos adversos seriam facilmente remediáveis,, 0,161 à 0,235 áreas com risco médio
devido ao fato de que ainda poderiam ser remediados porém com o comprometimento
financeiro da empresa e superiores à 0,235, áreas com alto risco ambiental, sendo
irremediáveis independentemente da capacidade financeira da empresa. As
considerações quanto a possibilidade de remediação foram realizadas com base nas
possibilidades tecnológicas existentes e nos custos para realização da manutenção
ecológica de um ecossistema equilibrado.
Como critério de aceitabilidade dos riscos ambientais, foi definido que apenas as
áreas com baixo e médio risco seriam consideradas como tendo riscos aceitáveis, sendo
considerados toleráveis quando comparados à riscos ambientais aceitos pela sociedade
referentes a instalações industriais, transporte, etc .
A Figura 6 apresenta as classes de risco em uma escala de cores com o projeto
preliminar da mina sobreposto. Nele, pode-se identificar os pontos críticos do projeto.
Figura 6: Sobreposição do projeto inicial da mina no mapa de riscos ambientais.
Os resultados permitiram tecer considerações a respeito das áreas com diferentes
níveis de risco ambiental e a sua implicação social e econômica para os envolvidos.
Pôde-se perceber, a estreita relação entre os problemas ambientais relacionados aos
recursos hídricos e a geologia estrutural.
As áreas com alto nível de risco distribuíram-se ao longo da área de influência
das falhas, principalmente quando estas interceptam nascentes e cursos d’água.
6. CONCLUSÕES
Conclui-se com este trabalho que a espacialização dos riscos ambientais é
fundamental para o planejamento mineiro adequado do ponto de vista ambiental. A
metodologia utilizada pode ser melhorada com a utilização de modelos geológicos e
hidrogeológicos tridimensionais que permitam a correlação exata entre as causas e os
efeitos dos riscos ambientais.
No caso de infiltrações de água para o interior da mina, estas podem ocorrer com
um deslocamento horizontal em função da inclinação do plano de falha, dificultando o
entendimento da relação causa-efeito e dificultando assim o processo de gerenciamento
do risco.
No caso das possíveis vibrações e danos estruturais em edificações, a
intensidade e propagação de ondas mecânicas geradas pelas operações de desmonte de
rocha em subsolo variam de acordo com as características geológicas, sendo
fundamental a sua integração espacial com as edificações localizadas em superfície.
Outra consideração pertinente é a necessidade de segregação dos intervalos
estratigráficos e sua valoração quanto às respectivas características geotécnicas.
Como ações de gerenciamento de riscos, foi sugerida a utilização de minerador
contínuo em substituição ao desmonte realizado com explosivos, realização de um
monitoramento piezométrico e cadastramento de pontos de abastecimento de água
localizados em superfície, adoção de sondagens horizontais para realizar a previsão do
comportamento hidrogeológico das falhas, e com isto, planejar estratégias para a
abertura das galerias nos cruzamentos com as mesmas.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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