o prazer da leitura rubem alves

Upload: juliabelatriz

Post on 06-Jul-2018

560 views

Category:

Documents


10 download

TRANSCRIPT

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    1/24

    O prazer da leitura - Rubem Alves

    Rubem AlvesGaiolas ou Asas – A arte do voo ou a busca da alegria de aprender Porto, Edições Asa, 2004.

    Alfabetizar é esiar a ler. A palavra alfabetizar vem de !alfabeto!.!Alfabeto! é o "o#uto das letras de uma l$%ua, "olo"adas uma "ertaordem. & a mesma "oisa 'ue !abe"ed(rio!. A palavra !alfabeto! é formada"om as duas primeiras letras do alfabeto %re%o) !alfa! e !beta!. E!abe"ed(rio!, "om a #uç*o das 'uatro primeiras letras do osso alfabeto)!a!, !b!, !"! e !d!. Assim sedo, pesei a possibilidade e%raçada de 'ue!abe"edarizar!, palavra ie+istete, pudesse ser siimo de !alfabetizar!...

    !Alfabetizar!, palavra aparetemete io"ete, "otém a teoria de "omo seaprede a ler. Aprede-se a ler aprededo-se as letras do alfabeto.

    Primeiro as letras. epois, #utado-se as letras, as s$labas. epois, #utado-se as s$labas, apare"em as palavras...

    E assim era. embro-me da "riaçada a repetir em "oro, sob a re%/"ia daprofessora) !b/-(-b( b/-e-b/ b/-i-bi b/--b b/-u-bu!... Estou a ol1ar paraum postal, miiatura de um dos "artazes 'ue ati%amete se usavam "omotema de reda"ç*o) uma meia deitada de bruços sobre um div*, 'uei+oapoiado a m*o, tedo sua frete um livro aberto ode se v/ !fa!, !fe!,!3!, !fo!, !fu!...

    e é assim 'ue se esia a ler, esiado as letras, ima%io 'ue o esio da

    m5si"a se deveria "1amar !dorremizar!) apreder o d, o ré, o mi... 6utam-se as otas e a m5si"a apare"e7 Posso ima%iar, et*o, uma aula deii"iaç*o musi"al em 'ue os aluos 3"assem a repetir as otas, sob are%/"ia da professora, a esperaça de 'ue, da repetiç*o das otas, am5si"a apare"esse...

     8odo a %ete sabe 'ue *o é assim 'ue se esia m5si"a. A m*e pe%a obebé e embala-o, "atado uma "aç*o. E a "riaça per"ebe a "aç*o. O'ue o bebé ouve é a m5si"a, e *o "ada ota, separadamete7 E aevid/"ia da sua "omprees*o est( o fa"to de 'ue ele se tra'uiliza e

    dorme 9 mesmo ada sabedo sobre otas7Eu apredi a %ostar de m5si"a "l(ssi"a muito ates de saber as otas) ami1a m*e to"ava-as ao piao e elas 3"aram %ravadas a mi1a "abeça.omete depois, #( fas"iado pela m5si"a, fui apreder as otas 9 por'ue'ueria to"ar piao. A aprediza%em da m5si"a "omeça "omo per"epç*o deuma totalidade 9 e u"a "om o "o1e"imeto das partes.

    :sto é verdadeiro também sobre apreder a ler. 8udo "omeça 'uado a"riaça 3"a fas"iada "om as "oisas maravil1osas 'ue moram detro dolivro. ;*o s*o as letras, as s$labas e as palavras 'ue fas"iam. & a 1istria. Aaprediza%em da leitura "omeça ates da aprediza%em das letras) 'uadoal%uém l/ e a "riaça es"uta "om prazer. A "riaça volta-se para a'ueles

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    2/24

    siais misteriosos "1amados letras. ese#a de"ifr(-los, "ompreed/-los 9por'ue eles s*o a "1ave 'ue abre o mudo das del$"ias 'ue moram o livro7ese#a autoomia) ser "apaz de "1e%ar ao prazer do te+to sem pre"isar damediaç*o da pessoa 'ue o est( a ler.

    ;um primeiro mometo, as del$"ias do te+to e"otram-se a fala doprofessor. lei, o professor, o a"to deler para os seus aluos, é o !seio bom!, o mediador 'ue li%a o aluo aoprazer do te+to. ?ofesso u"a ter tido prazer al%um em aulas de%ram(ti"a ou de a(lise sit("ti"a. ;*o foi elas 'ue apredi as del$"ias daliteratura. =as lembro-me "om ale%ria das aulas de leitura. ;a verdade, *oeram aulas. Eram "o"ertos. A professora lia, iterpretava o te+to, e souv$amos, e+tasiados. ;i%uém falava.

    Ates de ler =oteiro obato, eu ouvi-o. E o bom era 'ue *o 1avia e+amessobre a'uelas aulas. Era prazer puro. E+iste uma i"ompatibilidade totaletre a e+peri/"ia prazerosa da leitura 9 e+peri/"ia va%abuda7 9 e ae+peri/"ia de ler a 3m de respoder a 'uestio(rios de iterpretaç*o e"omprees*o. Era sempre uma tristeza 'uado a professora fe"1ava olivro...

    @e#o, assim, a "ea ori%ial) a m*e ou o pai, livro aberto, a ler para o 3l1o...Essa e+peri/"ia é o aperitivo 'ue 3"ar( para sempre %uardado a memriaafe"tiva da "riaça. ;a aus/"ia da m*e ou do pai, a "riaça ol1ar( para olivro "om dese#o e ive#a. ese#o, por'ue ela 'uer e+perimetar as del$"ias

    'ue est*o "otidas as palavras. E ive#a, por'ue ela %ostaria de ter o saberdo pai e da m*e) eles s*o a'ueles 'ue t/m a "1ave 'ue abre as portas deum mudo maravil1oso7

    Rolad art1es faz uso de uma lida met(fora poéti"a para des"rever o 'ueele dese#ava fazer, "omo professor) maternagem 9 "otiuar a fazer a'uilo'ue a m*e faz. & isso mesmo) a es"ola, o professor dever( "otiuar opro"esso de leitura afe"tuosa. Ele l/) a "riaça ouve, e+tasiada7 eduzida,ela pedir() Por favor, ensine-me! Eu quero poder entrar no livro por minha

     própria conta...

     8oda a aprediza%em "omeça "om um pedido. e *o 1ouver o pedido, aaprediza%em *o a"ote"e. B( a'uele vel1o ditado) fcil levar a "guaat" ao meio do ribeir#o. $ dif%cil " convencer a "gua a beber. 8raduzido pelaAdélia Prado) o quero faca nem quei'o. (uero " fome. =et(fora para oprofessor.

     8odo o te+to é uma partitura musi"al. As palavras s*o as otas. e a'uele'ue l/ é um artista, se ele domia a té"i"a, se ele desliza sobre aspalavras, se ele est( possu$do pelo te+to 9 a beleza a"ote"e. E o te+toapossa-se do "orpo de 'uem ouve. =as se a'uele 'ue l/ *o domia a

    té"i"a, se luta "om as palavras, se *o desliza sobre elas 9 a leitura *oproduz prazer) 'ueremos lo%o 'ue ela a"abe.

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    3/24

    Assim, 'uem esia a ler, isto é, a'uele 'ue l/ para 'ue os seus aluoste1am prazer o te+to, tem de ser um artista. deveria ler a'uele 'ueest( possu$do pelo te+to 'ue l/. Por isso eu a"1o 'ue deveria serestabele"ida as ossas es"olas a pr(ti"a dos !"o"ertos de leitura!. e 1(

    "o"ertos de m5si"a erudita, #azz 9 por 'ue *o "o"ertos de leituraCOuvido, os aluos e+perimetar*o o prazer de ler.

    E a"ote"er( "om a leitura o mesmo 'ue a"ote"e "om a m5si"a) depois determos sido to"ados pela sua beleza, é imposs$vel es'ue"er. A leitura é umadro%a peri%osa) vi"ia... e os #oves *o %ostam de ler, a "ulpa *o é sdeles. Doram forçados a apreder tatas "oisas sobre os te+tos 9 %ram(ti"a,usos da part$"ula !se!, d$%rafos, e"otros "osoatais, a(lise sit("ti"a 9'ue *o 1ouve tempo para serem ii"iados a 5i"a "oisa 'ue importa) a

    beleza musi"al do te+to. E a miss*o do professorC

    A"1o 'ue as es"olas s ter*o realizado a sua miss*o se forem "apazes dedesevolver os aluos o prazer da leitura. O prazer da leitura é opressuposto de tudo o mais. uem %osta de ler tem as m*os as "1aves domudo. =as o 'ue ve#o a a"ote"er é o "otr(rio. *o rar$ssimos os "asosde amor leitura desevolvido as aulas de estudo formal da l$%ua.

    Paul Foodma, "otroverso pesador orte-ameri"ao, diz) &unca ouvi falar 

    de nenhum m"todo para ensinar literatura )humanities* que n#o acabasse por mat-la. Parece que a sobreviv+ncia do gosto pela literatura temdependido de milagres aleatórios que s#o cada ve menos frequentes.

    @edem-se, as livrarias, livros "om resumos das obras liter(rias 'ue saemos e+ames. uem aprede resumos de obras liter(rias para passar,aprede mais do 'ue isso) aprede a odiar a literatura.

    o1o "om o dia em 'ue as "riaças 'ue l/em os meus livri1os *o ter*o

    de aalisar d$%rafos e e"otros "osoatais e em 'ue o "o1e"imeto dasobras liter(rias *o se#a ob#e"to de e+ames) os livros ser*o lidos pelosimples prazer da leitura.

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    4/24

    Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando os livros que

    podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade, porque o dinheiro e o

    tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao

    me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um !

    Tenho necessidade imediata desse livro" Tenho outros, em casa, ainda não lidos" #osso

    esperar"$ E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo %s prateleiras. & despeito

    desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente

    para as minhas necessidades.

    'otei, % medida em que envelhecia, uma mudan(a nas minhas prefer)ncias passei a termais pra*er na se(ão dos livros de arte nas livrarias. +s livros de ci)ncia a gente l) uma ve*,

    fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. om os livros de arte acontece diferente.

    ada ve* que os abrimos é um encantamento novo reio que meu amor pelos livros de arte

    t)m a ver com experi)ncias infantis.

    Talve* que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifesta(ão neurtica de

    regressão. 'ão me incomodo. #ois, em oposi(ão % psican/lise que considera a inf0ncia como

    um per1odo de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu,

    inspirado por telogos e poetas, considero a maturidade como uma doen(a a ser curada.

    2em re*a a &délia #rado ! 3eu 4eus, me d/ cinco anos, me cura de ser grande5$ E não

    pensem que isso é maluquice de poeta. #eter 2erger, um socilogo inteligente e com senso

    de humor, definiu !maturidade$, essa qualidade tão valori*ada, como ! um estado de mente

    que se acomodou, ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e

    reali*a(ão5$ 3enino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de

    figuras. 6embro-me uma delas era um prédio de de* andares com a seguinte explica(ão

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    5/24

     !'os Estados 7nidos h/ casas de de* andares.$ E havia a figura de um ca(ador de jacarés, e

    de crian(as esquims saudando a chegada do sol.

    + fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para

    aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei !J/ sou velho. Terei tempo de ler todos

    esses livros" Eu quero ler todos esses livros"$ 'ão, nem tenho tempo e nem quero. Então,

    por que guard/-los" 8esolvi dar os livros que eu não amava. ompreendi, então, que não se

    pode falar em amor pelos livros, em geral. 7m homem que di* amar todas as mulheres na

    verdade não ama nenhuma. 'unca se apaixonar/. + mesmo vale para os livros. &ssim, fui

    aos meus livros com a pergunta !9oc) me ama"$ :&cha que estou louco" ; 8oland 2arthes

    que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja. e não tem cheiro humano, não como.

    'iet*sche também cheirava primeiro. 4i*ia s amar os livros escritos com sangue.

    6er é um ritual antropof/gico. >abia disso 3urilo 3endes quando escreveu !'o tempo em

    que eu não era antropfago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros B e os livros

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    6/24

    não são homens, não contém a subst0ncia, o prprio sangue do homem"$ & antropofagia

    não se fa*ia por ra*Des alimentares. Ca*ia-se por ra*Des m/gicas. uem come a carne do

    sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. omo na eucaristia cristã,

    que é um ritual antropof/gico !Esse pão é a minha carne, esse vinho é o meu sangue5$ 

    ada livro é um sacramento. ada leitura é um ritual m/gico. uem l) um livro escrito com

    sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. J/ aconteceu comigo5

    8ubem &lves

    Sobre Moluscos, Conchas e Belezas #ublished FG novembro, HII conchas e bele*a , >obre moluscos K omments 

    4esde que o objetivo da educa(ão é permitir que vivamos melhor, nossas escolas deveriam

    tomar a nature*a como mestra

    9oltamos ao mundo dos moluscos, que fe* #iaget pensar sobre os homens5 4eles a primeira

    coisa que vi foram as conchas. Eu vi, simplesmente, sem nada saber sobre suas origens.

    Lgnorava que existissem moluscos. 'ão sabia que elas, as conchas, tinham sido feitas para

    ser casas daqueles animais de corpo mole que, sem elas, seriam devorados pelos

    predadores. 3eus olhos apenas viram. 9iram e se espantaram.

    + espanto -os gregos sabiam que é no espanto que o pensamento come(a. + espanto vem

    quando um objeto se coloca diante de ns como um enigma a ser decifrado !4ecifra-me ou

    te devoro$. onchas são objetos espantosos.

    Coi um espanto estético. Coi a bele*a que exigiu que eu as decifrasse. onchas são objetos

    assombrosos, constru1dos segundo rigorosas rela(Des matem/ticas. +s moluscos eram

    também artistas, arquitetos. >uas casas tinham de ser belas. >er/ que a nature*a tem uma

    alma de artista" oisa estranha essa, com certe*a alucina(ão de poeta, imaginar que a

    nature*a seja a casa de um artista

    'ão para 2achelard, que não se envergonhava em falar sobre !imagina(ão da matéria$.

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    7/24

    #ensei que a vida não produ* apenas objetos Mteis, ferramentas adequadas % sobreviv)ncia.

    & vida não deseja apenas sobreviver, ela não se satisfa* com a utilidade. Ela constri os seus

    objetos segundo as normas da bele*a. & vida deseja alegria. &ssim acontece conosco

    precisamos sobreviver e, para isso, cultivamos repolhos, nabos e batatas e estabelecemos a

    ci)ncia do cultivo de repolhos, nabos e batatas. Esse é um dos sentidos da ci)ncia receitas

    para construir ferramentas para a sobreviv)ncia.

    3as, por ra*Des que se encontram além das ra*Des cient1ficas, talve* por obra do artista

    invis1vel que mora em ns, gastamos nosso tempo e nossas for(as na produ(ão de coisas

    inMteis, tais como violetas, orqu1deas e rosas, coisas que não servem para nada e s dão

    trabalho5 'osso corpo não se alimenta s de pão. Ele tem fome de bele*a. reio que Jesus

    risto não se importaria e até mesmo sorriria se eu fi*esse uma par/frase da sua resposta

    ao diabo, que o tentava com a solu(ão pr/tica !'ão s de repolhos, nabos e batatas viver/

    o homem, mas também de violetas, orqu1deas e rosas5$.

    7me menina perguntou a 3/rio uintana se era verdade que os machados pMblicos iriam

    cortar um maravilhoso pé de figueira que havia numa pra(a. Lsso o levou de volta aos seus

    tempos de menino. 'o quintal de sua casa havia uma paineira enorme, que, quando

    florescia, era uma glria. &té que um dia foi posta abaixo simplesmente !porque prejudicava

    o desenvolvimento das /rvores frut1feras. +ra, as /rvores frut1feras 2em sabes,

    menina*inha, que os nossos olhos também precisam de alimento5$.

    #enso que, desde que o objetivo da educa(ão é permitir que vivamos melhor, nossas escolas

    deveriam tomar a nature*a como sua mestra. &ssim, j/ que tanto falam em #iaget, imaginei

    que poderiam adotar as conchas como s1mbolos, afinal de contas, foi no estudo dos moluscos

    que o seu pensamento sobre educa(ão se iniciou.

    E quando indagados por pais e alunos sobre as ra*Des de serem as conchas os s1mbolos da

    escola, os professores teriam uma ocasião para lhes dar a primeira aula de filosofia da

    educa(ão + objetivo da educa(ão é ensinar as novas gera(Des a construir casas. ; preciso

    que as casas sejam slidas, por causa da sobreviv)ncia. #ara isso as escolas ensinam a

    ci)ncia. 3as não basta que nossas casas sejam slidas, é preciso que sejam belas. & vida

    deseja alegria. #ara isso as escolas ensinam as artes.

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    8/24

    egunda isso que estou ensinando contribui para que o meu aluno se torne mais sens1vel %

    bele*a" Educa a sua sensibilidade" &umenta suas possibilidades de alegria e de espanto"

    oncluo com as palavras de

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    9/24

    pergunta, sem dar a resposta. #orque se tivesse dado a resposta, teria com ela cortado as

    asas do pensamento. + pensamento é como a /guia que s al(a vNo nos espa(os va*ios do

    desconhecido. #ensar é voar sobre o que não se sabe. 'ão existe nada mais fatal para o

    pensamento que o ensino das respostas certas. #ara isso existem as escolas não para

    ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. &s respostas nos permitem andar

    sobre a terra firme. 3as somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.

    E, no entanto, não podemos viver sem respostas. &s asas, para o impulso inicial do vNo,

    dependem dos pés apoiados na terra firme. +s p/ssaros, antes de saber voar, aprendem a se

    apoiar sobre os seus pés. Também as crian(as, antes de aprender a voar t)m de aprender a

    caminhar sobre a terra firme.

    Terra firme as milhares de perguntas para as quais as gera(Des passadas j/ descobriram as

    respostas. + primeiro momento da educa(ão é a transmissão desse saber. 'as palavras de

    8oland 2arthes !ei amarrar os

    meus sapatos, automaticamente, sei dar o n na minha gravata automaticamente as mãos

    fa*em o trabalho com destre*a enquanto as idéias andam por outros lugares. &quilo que um

    dia eu não sabia me foi ensinado@ eu aprendi com o corpo e esqueci com a cabe(a. E a

    condi(ão para que as minhas mãos saibam bem é que a cabe(a não pense sobre o que elas

    estão fa*endo. 7m pianista que, na hora da execu(ão, pensa sobre os caminhos que seus

    dedos deverão seguir, trope(ar/ fatalmente.

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    10/24

    corpo aquilo que a cabe(a esqueceu. E assim escrevemos, lemos, andamos de bicicleta,

    nadamos, pregamos prego, guiamos carros sem saber com a cabe(a, porque o corpo sabe

    melhor. ; um conhecimento que se tornou parte inconsciente de mim mesmo. E isso me

    poupa do trabalho de pensar o j/ sabido. Ensinar, aqui, é inconscienti*ar.

    + sabido é o não pensado, que fica guardado, pronto para ser usado como receita, na

    memria deste computador que se chama cérebro. 2asta apertar a tecla adequada para que

    a receita apare(a no v1deo da consci)ncia. &perto a tecla moqueca. & receita aparecer/ no

    meu v1deo cerebral panela de barro, a*eite, peixe, tomate, cebola, coentro, cheiro-verde,

    urucum, sal, pimenta, seguidos de uma série de instru(Des sobre o que fa*er.

    'ão é coisa que eu tenha inventado. 3e foi ensinado. 'ão precisei pensar. Oostei. Coi para a

    memria. Esta é a regra fundamental desse computador que vive no corpo humano s vai

    para a memria aquilo que é objeto do desejo. & tarefa primordial do professor sedu*ir o

    aluno para que ele deseje e, desejando, aprenda.

    E o saber fica memori*ado de cor B etimologicamente, no cora(ão -, % espera de que o

    teclado desejo de novo o chame de seu lugar de esquecimento.

    3emria um saber que o passado sedimentou. Lndispens/vel para se repetir as receitas que

    os mortos nos legaram. E elas são boas. Tão boas que nos fa*em esquecer que é preciso

    voar. #ermitem que andemos pelas trilhas batidas. 3as nada t)m a di*er sobre os mares

    desconhecidos. 3uitas pessoas, de tanto repetir as receitas, metamorfosearam-se de /guias

    em tartarugas. E não são poucas as tartarugas que possuem diplomas universit/rios. &qui se

    encontra o perigo das escolas de tanto ensinar o que o passado legou B e ensinou bem B

    fa*em os alunos se esquecer de que o seu destino não é passado cristali*ado em saber, mas

    um futuro que se abre como va*io, um não-saber que somente pode ser explorado com as

    asas do pensamento. ompreende-se então, que 2arthes tenha dito que, seguindo-se ao

    tempo em que se ensina o que se sabe, deve chegar o tempo em que se ensina o que não se

    sabe.

    Escola e Sofrimento #ublished P outubro, HII Escola e sofrimento H omments 

    Estou com medo de que as crian(as me chamem de mentiroso. #ois eu disse que o negcio

    dos professores é ensinar a felicidade. &contece que eu não conhe(o nenhuma crian(a que

    https://rubemalves.wordpress.com/2007/10/03/escola-e-sofrimento/https://rubemalves.wordpress.com/category/escola-e-sofrimento/https://rubemalves.wordpress.com/category/escola-e-sofrimento/https://rubemalves.wordpress.com/2007/10/03/escola-e-sofrimento/#commentshttps://rubemalves.wordpress.com/2007/10/03/escola-e-sofrimento/https://rubemalves.wordpress.com/category/escola-e-sofrimento/https://rubemalves.wordpress.com/2007/10/03/escola-e-sofrimento/#comments

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    11/24

    concorde com isto. >e elas j/ tivessem aprendido as li(Des da pol1tica, me acusariam de

    porta vo* da classe dominante. #ois, como todos sabem, mas ninguém tem coragem de

    di*er, toda escola tem uma classe dominante e uma classe dominada a primeira, formada

    por professores e administradores, e que detém o monoplio do saber, e a segunda, formada

    pelos alunos, que detém o monoplio da ignor0ncia, e que deve submeter o seu

    comportamento e o seu pensamento aos seus superiores, se desejam passar de ano.

    2asta contemplar os olhos amedrontados das crian(as e os seus rostos cheios de ansiedade

    para compreender que a escola lhes tra* sofrimento. + meu palpite é que, se se fi*er uma

    pesquisa entre as crian(as e os adolescentes sobre as suas experi)ncias de alegria na escola,

    eles terão muito que falar sobre a ami*ade e o companheirismo entre eles, mas

    pouqu1ssimas serão as refer)ncias % alegria de estudar, compreender e aprender.

    & classe dominante argumentar/ que o testemunho dos alunos não deve ser levado em

    considera(ão. Eles não sabem, ainda5 uem sabe são os professores e os administradores.

    &contece que as crian(as não estão so*inhas neste julgamento. Eu mesmo s me lembro

    com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo, gin/sio e cient1fico. & primeira,

    uma gorda e maternal senhora, professora do curso de admissão, tratava-nos a todos como

    filhos. om ela era como se todos fNssemos uma grande fam1lia. + outro, professor de

    6iteratura, foi a primeira pessoa a me introdu*ir nas del1cias da leitura. Ele falava sobre os

    grandes cl/ssicos com tal amor que deles nunca pude me esquecer. uanto aos outros, a

    minha impressão era a de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e

    torturados por um saber cujas finalidade e utilidade nunca se deram ao trabalho de nos

    explicar. ompreende-se, portanto, que entre as nossas maiores alegrias estava a not1cia de

    que o professor estava doente e não poderia dar a aula. E até mesmo uma dor de barriga ouum resfriado era motivo de alegria, quando a doen(a nos dava uma desculpa aceit/vel para

    não ir % escola.

    'ão me espanto, portanto, que tenha aprendido tão pouco na escola. + que aprendi foi fora

    dela e contra ela. Jorge 6u1s 2orges passou por experi)ncia semelhante. 4eclarou que

    estudou a vida inteira, menos nos anos em que esteve na escola. Era, de fato, dif1cil amar as

    disciplinas representadas por rostos e vo*es que não queriam ser amados.

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    12/24

    Esta situa(ão, ao que parece, tem sido a norma, tanto que e assim que aparece

    freqQentemente relatada na literatura. 8omain 8olland conta a experi)ncia de um aluno !5

    afinal de contas, não entender nada j/ é um h/bito. Tr)s quartas partes do que se di* e do

    que me fa*em escrever na escola a gram/tica, ci)ncias, a moral e mais um ter(o das

    palavras que leio, que me ditam, que eu mesmo emprego B eu não sei o que elas querem

    di*er. J/ observei que em minhas reda(Des as que eu menos compreendo são as que levam

    mais chances de ser classificadas em primeiro lugar$. 3as nem precisar1amos ler 8omain

    8olland bastaria ler os textos que os nossos filhos t)m de ler e aprender. oncordo com #aul

    Ooodmann na sua afirma(ão de que a maioria dos estudantes nos colégios e universidades

    não desejam estar l/.

    Estão l/ porque são obrigados.

    +s métodos cl/ssicos de tortura escolar como a palmatria e a vara j/ foram abolidos. 3as

    poder/ haver sofrimento maior para uma crian(a ou um adolescente que ser for(ado a

    mover-se numa floresta de informa(Des que ele não consegue compreender, e que nenhuma

    rela(ão parecem ter com sua vida"

    ompreende-se que, com o passar do tempo a intelig)ncia se encolha por medo e horror

    diante dos desafios intelectuais., e que o aluno passe a se considerar como um burro.

    uando a verdade é outra a sua intelig)ncia foi intimidada pelos professores e, por isto,

    ficou paralisada.

    +s técnicos em educa(ão desenvolveram métodos de avaliar a aprendi*agem e, a partir dos

    seus resultados, classificam os alunos. 3as ninguém jamais pensou em avaliar a alegria dos

    estudantes B mesmo porque não h/ métodos objetivos para tal. #orque a alegria é uma

    condi(ão interior, uma experi)ncia de rique*a e de liberdade de pensamentos e sentimentos.& educa(ão, fascinada pelo conhecimento do mundo, esqueceu-se de que sua voca(ão é

    despertar o potencial Mnico que ja* adormecido em cada estudante. 4a1 o paradoxo com que

    sempre nos defrontamos quanto maior o conhecimento, menor a sabedoria. T. >. Eliot fa*ia

    esta terr1vel pergunta, que deveria ser motivo de medita(ão para todos os professores

     !+nde est/ a sabedoria que perdemos no conhecimento"$ 

    9ai aqui este pedido aos professores, pedido de alguém que sofre ao ver o rosto aflito das

    crian(as, dos adolescentes lembrem-se de que voc)s são pastores da alegria, e que a sua

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    13/24

    responsabilidade primeira é definida por um rosto que lhes fa* um pedido !#or favor, me

    ajude a ser feli*5$ 

    A Alegria de Ensinar #ublished P outubro, HII & alegria de ensinar H omments 

    3uito se tem falado sobre o sofrimento dos professores.

    Eu, que ando sempre na dire(ão oposta, e acredito que a verdade se encontra no avesso das

    coisas, quero falar sobre o contr/rio a alegria de ser professor, pois o sofrimento de se ser

    um professor é semelhante ao sofrimento das dores de parto a mãe o aceita e logo dele se

    esquece, pela alegria de dar % lu* um filho.

    8eli, fa* poucos dias, o livro de

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    14/24

    &o ler o texto de eus olhos procuram mãos estendidas que possam receber a sua

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    15/24

    rique*a. Aaratustra, o s/bio, se transforma em mestre. #ois ser mestre e isso ensinar a

    felicidade.

     !&h$, retrucarão os professores, !a felicidade não é a disciplina que ensino. Ensino ci)ncias,

    ensino literatura, ensino histria, ensino matem/tica5$ 3as ser/ que voc)s não percebem

    que essas coisas que se chamam !disciplinamSS, e que voc)s devem ensinar, nada mais são

    que ta(as multiformes coloridas, que devem estar cheias de alegria"

    #ois o que voc)s ensinam não e um deleite para a alma" >e não fosse, voc)s não deveriam

    ensinar. E se é, então é preciso que aqueles que recebem, os seus alunos, sintam pra*er

    igual ao que voc)s sentem. >e isso não acontecer, voc)s terão fracassado na sua missão,

    como a co*inheira que queria oferecer pra*er, mas a comida saiu salgada e queimada5

    + mestre nasce da exuber0ncia da felicidade. E, por isso mesmo, quando perguntados sobre

    a sua profissão, os professores deveriam ter coragem para dar a absurda resposta !>ou um

    pastor da alegria5$ 3as, e claro, somente os seus alunos poderão atestar da verdade da sua

    declara(ão5

    Não é prprio falar sobre os alunos #ublished FG agosto, HII 'ão é prprio falar dos alunos F omment 

    Oosto de ouvir conversas. 3ania de psicanalista. ; que nas conversas moram mundos

    diferentes do meu. Thomas 3ann, no seu livro !José do Egito$, conta um di/logo entre José e

    o mercador que o comprara para vend)-lo como escravo, no Egito !Estamos a um metro de

    dist0ncia um do outro. E, no entanto, ao teu redor gira um universo do qual o centro és tu, e

    não eu. E ao meu redor gira um universo do qual o centro sou eu, e não tu$. Cascinam-me

    esses universos que me tangenciam e que, no entanto, estão distantes de mim. Oosto de

    ouvir conversas para viajar por outros mundos.

    #or v/rios anos eu viajei diariamente de trem, de ampinas para 8io laro, no Estado de >ão

    #aulo, onde eu era professor na antiga Caculdade de Cilosofia. 'o mesmo vagão viajavam

    também muitos professores a caminho das escolas onde trabalhavam. Lam juntos, alegres e

    falantes5 #or anos escutei o que falavam. Calavam sempre sobre as escolas. Era ao redor

    delas que giravam os seus universos. Calavam sobre diretores, colegas, sal/rios, reuniDes,

    relatrios, férias, programas, provas. 3as nunca, nunca mesmo, eu os ouvi falar sobre os

    https://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/nao-e-proprio-falar-sobre-os-alunos/https://rubemalves.wordpress.com/category/nao-e-proprio-falar-dos-alunos/https://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/nao-e-proprio-falar-sobre-os-alunos/#commentshttps://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/nao-e-proprio-falar-sobre-os-alunos/#commentshttps://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/nao-e-proprio-falar-sobre-os-alunos/https://rubemalves.wordpress.com/category/nao-e-proprio-falar-dos-alunos/https://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/nao-e-proprio-falar-sobre-os-alunos/#comments

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    16/24

    seus alunos. #arece que nos universos em que viviam não havia alunos, embora houvesse

    escolas. >e não falavam sobre alunos é porque os alunos não tinham import0ncia.

    #articipei da banca que examinou uma tese de doutoramento cujo tema eram os livros em

    que, nas escolas, são registradas as reuniDes de diretores e professores. & candidata se dera

    ao trabalho de examinar tais reuniDes para saber sobre o que falavam diretores e

    professores. &s coisas registradas eram as coisas importantes que mereciam ser guardadas

    para a posteridade. 'os livros estavam registradas discussDes sobre leis, portarias,

    relatrios, assuntos administrativos e burocr/ticos, eventos, festas. 3as não havia registros

    de coisas relativas aos alunos. +s alunos, aqueles para os quais as escolas foram criadas,

    para os quais diretores e professoras existem ausentes. 'ão, não era bem assim os alunos

    estavam presentes quando se constitu1am em perturba(Des da ordem administrativa. +s

    alunos, meninos e meninas, alegres, brincalhDes, curiosos, querendo aprender, alunos como

    companheiros dessa brincadeira que se chama ensinar e aprender sobre tais alunos o

    sil)ncio era total.

    Essa aus)ncia do aluno não do aluno a quem o discurso administrativo das escolas se

    refere como o !o perfil dos nossos alunos$, nem esse nem aquele, todos, aluno abstrato

    não esse, mas aquele aluno de rosto inconfund1vel e nome Mnico, esse aluno de carne e osso

    que é a ra*ão de ser das escolas. &h, é importante nunca se esquecer disso alunos não são

    unidades biopsicolgicas mveis sobre os quais se devem gravar os mesmos saberes, não

    importando que sejam meninos nas praias do 'ordeste, nas montanhas de 3inas, %s

    margens do &ma*onas, ou nas favelas do 8io. +s alunos são crian(as de carne e osso que

    sofrem, riem, gostam de brincar, t)m o direito de ter alegrias no presente e não vão % escola

    para serem transformados em unidades produtivas no futuro. E é essa aus)ncia do aluno de

    carne e osso que est/ progressivamente marcando os universos que giram em torno da

    escola. +s professores não falam sobre os alunos. 'a verdade, não é prprio que os

    professores falem com entusiasmo e alegria sobre os alunos. +s alunos não são tema de

    suas conversas. &contece nas escolas prim/rias :ainda escrevo do jeito antigo porque não

    acredito que a mudan(a de nomes mude a realidade5=. 3as não s nelas. 6embro-me de

    uma brincadeira séria que corria entre os professores de uma de nossas universidades mais

    respeitadas. 4i*iam os professores que, para que a dita universidade fosse perfeita, s

    faltava uma coisa acabar com os alunos5 2rincadeira" #sicanalista não acredita na

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    17/24

    inoc)ncia das brincadeiras. om isso concordam os critérios de avalia(ão dos docentes,

    impostos pelos rgãos governamentais o que se computa, para fins de avalia(ão de um

    docente, não são as suas atividades docentes, a rela(ão com os alunos, mas a publica(ão de

    artigos em revistas indexadas internacionais. + que esses critérios estão di*endo aos

    professores é o seguinte !9oc)s valem os artigos que publicam publish or perish$ 'um

    universo assim definido pelo discurso dos burocratas, o aluno, esse em particular, cujo

    pensamento é obriga(ão do professor provocar e educar, esse aluno se constitui num

    empecilho % atividade que realmente importa. +s raros professores que t)m pra*er e se

    dedicam aos seus alunos estão perdendo o tempo precioso que poderiam dedicar aos seus

    artigos.

     !&quele que é um verdadeiro professor toma a sério somente as coisas que estão

    relacionadas com os seus estudantes inclusive a si mesmo$, afirmou 'iet*sche. Eu sonho

    com o dia em que os professores, em suas conversas, falarão menos sobre os programas e

    as pesquisas e terão mais pra*er em falar sobre os seus alunos.

    Curiosidade é uma coceira nas idéias #ublished FG agosto, HII uriosidade é uma coceira nas idéias 6eave a omment 

    Eu estava com a cabe(a quente. ueria descansar, parar de pensar. #ara parar de pensar

    nada melhor que trabalhar com as mãos. #eguei minha caixa de ferramentas, a serra circular

    e a furadeira e fui para o terceiro andar, onde guardo os meus livros.

    Lria fa*er umas estantes. &s t/buas j/ estavam l/. 'em bem comecei a trabalhar de

    carpinteiro e fui interrompido com a chegada da faxineira. om ela, sua filhinha de anos,

    4ionéia. arinha redonda, sorriso mostrando os dentes brancos, trancinhas estilo afro.

    + que se era de esperar numa menina da idade dela era que ela ficasse com a mãe. 'ão

    ficou. #referiu ficar comigo, vendo o que eu fa*ia. #or que ela fe* isso" uriosidade.

    uriosidade é uma coceira que d/ nas idéias5 &quelas ferramentas e o que eu estava

    fa*endo a fascinavam. Ela queria aprender.

     U+ que é isso que voc) tem na mão"U, ela perguntou. U; uma trenaU, respondi. U#ara que serve

    a trena", ela continuou. U& trena serve para medir. #reciso de uma t/bua de um metro e

    vinte. &ssim, vou medir um metro e vinte. 9ejaU

    https://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/curiosidade-e-uma-coceira-nas-ideias/https://rubemalves.wordpress.com/category/curiosidade-e-uma-coceira-nas-ideias/https://rubemalves.wordpress.com/category/curiosidade-e-uma-coceira-nas-ideias/https://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/curiosidade-e-uma-coceira-nas-ideias/#respondhttps://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/curiosidade-e-uma-coceira-nas-ideias/#respondhttps://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/curiosidade-e-uma-coceira-nas-ideias/https://rubemalves.wordpress.com/category/curiosidade-e-uma-coceira-nas-ideias/https://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/curiosidade-e-uma-coceira-nas-ideias/#respond

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    18/24

    #uxei a l0mina da trena e lhe mostrei os nMmeros. Ela olhou atentamente. U9oc) j/ sabe os

    nMmeros"U, perguntei. U>eiU, ela respondeu. ontinuei U9eja esses nMmeros sobre os

    risquinhos. + espa(o entre esses risquinhos mais compridos é um cent1metro. 7m metro tem

    cem cent1metros, cem desses pedacinhos. 9eja que de de* em de* cent1metros o nMmero

    aparece escrito em vermelho. ; que, para facilitar, os cent1metros são amarrados em

    pacotinhos de de*. 7m metro é feito com de* pacotinhos de de* cent1metros.. 7m metro e

    vinte são de* desses pacotinhos, para fa*er um metro, mais dois, para completar os vinte

    cent1metros que faltamU. 3arquei um metro e vinte na t/bua com um lapis me preparei para

    riscar a t/bua.

    &ssim se iniciou uma das mais alegres experi)ncias de ensino e aprendi*agem que tive na

    minha vida. & 4ionéia queria saber de tudo. 'ão precisei fa*er uso de nenhum artif1cio de

     !motiva(ão$ para que ela estivesse motivada. + que a motivava era o fasc1nio daquilo que eu

    estava fa*endo e das ferramentas que eu estava usando. >eus olhos e pensamentos estavam

    co(ando de curiosidade. Ela queria aprender para se curar da coceira5 +s Oregos di*iam que

    a cabe(a come(a a pensar quando os olhos ficam estupidificados diante de um objeto.

    #ensamos para decifrar o enigma da visão. #ensamos para compreender o que vemos. E as

    perguntas se sucediam. #ara que serve o esquadro" omo é que as serras serram" #orque éque a serra gira quando se aperta o botão" + que é a eletricidade"

    6embrei-me de Joseph Vnecht, o mestre supremo da ordem mon/stica Uast/liaU, do livro de

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    19/24

    &cho que &ristteles errou. Lsso não é verdade dos adultos. +s adultos j/ foram deformados.

    &cho que ele estaria mais prximo da verdade se tivesse dito UTodos os homens, enquanto

    crian(as, t)m, por nature*a, desejo de conhecer5U

    #ara as crian(as o mundo é um vasto parque de diversDes. &s coisas são fascinantes,

    provoca(Des ao olhar. ada coisa é um convite.

    &1 a 4ioneia sumiu. #ensei que ela tivesse voltado para a mãe. Engano. &lguns minutos

    depois ela voltou. Estivera examinando uma cole(ão de livros. U>abe aqueles livros, todos de

    capa parecida" +s tr)s primeiros livros estão de cabe(a para baixo.U 8etruquei U#ois ponha

    os livros de cabe(a para cimaU

    Ela saiu e logo depois voltou. UJ/ pus os livros de cabe(a para cima.U E acrescentou U>abe de

    uma coisa" + livro com o nMmero PK est/ fora do lugar.U &1 aconteceu comigo fui eu quem

    ficou estupidificado5Ela, que não sabia escrever, j/ sabia os nMmeros. E sabia mais, que os

    nMmeros indicam uma ordem.

    Ciquei a imaginar o que vai acontecer com a 4ionéia quando, na escola, os seus olhinhos

    curiosos vão ser subtra1dos do fascinio das coisas do mundo que a cerca, e vão ser obrigados

    a seguir aquilo a que os programas obrigam. >er/ poss1vel aprender sem que os olhos

    estejam fascinados pelo objeto misterioso que os desafia"

    #ois sabe de uma coisa" &cho que vou fa*er com a 4ionéia aquilo que Joseph Vnecht tinha

    vontade de fa*er5

    Bos!ues sombrios e lanternas #ublished FG agosto, HII 2osques sombrios e lanternas 6eave a omment 

    'ão se pode ensinar as del1cias do amor com aulas de anatomia e fisiologia dos rgãos

    sexuais. >e assim fosse o livro !0ntico dos 0nticos$, das >agradas Escrituras, nunca teria

    sido escrito. 'ão se pode ensinar o pra*er da leitura com aulas sobre as ci)ncias da

    linguagem. + conhecimento da gram/tica e das ci)ncias da interpreta(ão não fa*em poetas.

    'oel 8osa sabia disso e cantou !>amba não se aprende no colégio5$ 

    Tomei o livro de poemas de 8obert Crost e li um dos seus mais famosos poemas. !+s

    bosques são belos, sombrios, fundos. 3as h/ muitas milhas a andar e muitas promessas a

    guardar antes de se poder dormir. >im, antes de se poder dormir.$ 6i vagarosamente. #orque

    https://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/bosques-sombrios-e-lanternas/https://rubemalves.wordpress.com/category/bosques-sombrios-e-lanternas/https://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/bosques-sombrios-e-lanternas/#respondhttps://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/bosques-sombrios-e-lanternas/#respondhttps://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/bosques-sombrios-e-lanternas/https://rubemalves.wordpress.com/category/bosques-sombrios-e-lanternas/https://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/bosques-sombrios-e-lanternas/#respond

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    20/24

    cada poema tem um andamento que lhe é prprio. omo na mMsica. >e o primeiro

    movimento da !>onata ao 6uar$, de 2eethoven, que todos j/ ouviram e desejam ouvir de

    novo, !adagio sostenuto$, fosse tocado como !presto$, rapidamente B exatamente as

    mesmas notas B a sua bele*a se iria.

    Cicaria rid1culo. #orque o !presto$ é incompat1vel com aquilo que o primeiro movimento est/

    di*endo. + tempo de uma pe(a musical pertence % sua prpria ess)ncia. Eu até j/ sugeri que

    os escritores imitassem os compositores que, como medida protetora da bele*a, colocam, ao

    in1cio de uma pe(a, uma informa(ão sobre o !tempo$ em que ela deve ser tocada grave,

    andante, vivace, mestoso, allegro. ada texto liter/rio tem também o seu prprio tempo.

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    21/24

     !3as o que, no poema, lhe deu triste*a"$ !'ão sei professor. > sei que esse poema me fa*

    chorar5$ 

    6embrei-me de Cernando #essoa !5 e a melodia que não havia, se agora a lembro, fa*-me

    chorar.$ Orande mistério esse é o que não h/ que provoca o choro. omo disse 9alér?,

    vivemos pelo poder das coisas que não existem. #or isso os deuses são tão poderosos5

    :Essa jovem, que assim me marcou de forma inesquec1vel, pouco tempo depois morreu num

    desastre de carro. Espero que ela, no outro mundo, tenha visitado os bosques !belos,

    sombrios e fundos$ de 8obert Crost=.

    e o meu

    propsito fosse interpretar o poema de Crost, para aproveitar o tempo eu o teria lido um

    pouco mais depressa, teria despre*ado o sil)ncio e não teria repetido a leitura. Essas coisas

    nada tem a ver com a interpreta(ão. & interpreta(ão acontece a partir daquilo que est/

    escrito, se devagar ou depressa não importa. 3inha primeira pergunta teria sido !+ que é

    que 8obert Crost queria di*er"$ Toda interpreta(ão come(a com essa pergunta. ; a pergunta

    que surge numa *ona de obscuridade h/ sombras no texto. + intérprete é um ser luminoso.

    'ão suporta sombras. Ele tr/s então suas lanternas, suas idéias claras e distintas, e trata de

    iluminar os bosques sombrios5 'ão percebe que ao tentar iluminar os bosques, dele fogem

    as criaturas encantadas que habitam as sombras. Esquecem-se do que disse 2achelard

     !#arece que existe em ns cantos sombrios que toleram apenas uma lu* bruxoleante5$ +

    inconsciente é um bosque sombrio5 : 3)s que vem continuamos a conversa5=

     

    Arquivos&rquivos

    Links• &

    a

    sa

    de

    8

    ub

    buscago

    http://www.rubemalves.com.br/http://www.rubemalves.com.br/http://www.rubemalves.com.br/http://www.rubemalves.com.br/http://www.rubemalves.com.br/http://www.rubemalves.com.br/http://www.rubemalves.com.br/http://www.rubemalves.com.br/

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    22/24

    e

    m

    &l

    ve

    s

    • a

    nt

    o

    de

    >e

    rei

    a

    • Et

    er

    no

    8e

    to

    rn

    o

    • W

    or

    d#

    re

    ss

    .c

    o

    m

    Assinatura do blog

     &ssinar o feedOs 5 textos mais recentes

    • >o

    br

    e

    os

    pe

    ri

    go

    s

    http://www.rubemalves.com.br/http://www.rubemalves.com.br/http://www.rubemalves.com.br/http://www.rubemalves.com.br/http://www.rubemalves.com.br/http://www.cantodesereia.com/http://www.cantodesereia.com/http://www.cantodesereia.com/http://www.cantodesereia.com/http://www.cantodesereia.com/http://www.cantodesereia.com/http://www.cantodesereia.com/http://www.eternoretorno.com/http://www.eternoretorno.com/http://www.eternoretorno.com/http://www.eternoretorno.com/http://www.eternoretorno.com/http://www.eternoretorno.com/http://www.eternoretorno.com/http://wordpress.com/http://wordpress.com/http://wordpress.com/http://wordpress.com/http://wordpress.com/http://wordpress.com/http://wordpress.com/http://wordpress.com/http://feeds.feedburner.com/RubemAlvesBloghttps://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/http://www.rubemalves.com.br/http://www.rubemalves.com.br/http://www.cantodesereia.com/http://www.cantodesereia.com/http://www.cantodesereia.com/http://www.eternoretorno.com/http://www.eternoretorno.com/http://www.eternoretorno.com/http://wordpress.com/http://wordpress.com/http://wordpress.com/http://feeds.feedburner.com/RubemAlvesBloghttps://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    23/24

    da

    lei

    tu

    ra

    ue

    pi

    po

    qu

    e

    m

    ex

    pe

    ri

    m

    en

    to

    s

    • >o

    br

    e

    a

    m

    or

    te

    e

    o

    m

    or

    re

    r

    • +

    af 

    og

    ad

    o

    m

    ai

    https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/que-pipoquem-experimentos/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/

  • 8/18/2019 O Prazer Da Leitura Rubem Alves

    24/24

    s

    bo

    nit

    o

    do

    m

    un

    do

    • 8

    ub

    e

    m

    &l

    ve

    s

    so

    br

    e

    ca

    sa

    m

    en

    to

    Comentários recentes

    ikgdesigner  em Sobre a morte e o morrer 

    Família, Casamento e… emRubem Alves: sobre casame…

    A arte do Silêncio |… em Sobre a morte e o morrer 

    Dih Santos em ensar 

    ne! "ordans em A arte de ouvir 

    Textos Textos

    https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/http://ikgdiagramacao.wordpress.com/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/#comment-918http://theological.space/2015/11/29/familia-casamento-e-sexo-na-visao-do-cristianismo-em-perspectiva-historica/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/#comment-917https://facasualuzbrilhar.wordpress.com/2015/06/18/a-arte-do-silencio/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/#comment-876https://rubemalves.wordpress.com/2007/11/02/ler-pouco/#comment-875http://netadia.com/News/indoor-carpet-care/https://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/a-arte-de-ouvir/#comment-870https://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/a-arte-de-ouvir/#comment-870https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/12/30/o-afogado-mais-bonito-do-mundo/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/http://ikgdiagramacao.wordpress.com/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/#comment-918http://theological.space/2015/11/29/familia-casamento-e-sexo-na-visao-do-cristianismo-em-perspectiva-historica/https://rubemalves.wordpress.com/2008/04/16/rubem-alves-sobre-casamento/#comment-917https://facasualuzbrilhar.wordpress.com/2015/06/18/a-arte-do-silencio/https://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-a-morte-e-o-morrer/#comment-876https://rubemalves.wordpress.com/2007/11/02/ler-pouco/#comment-875http://netadia.com/News/indoor-carpet-care/https://rubemalves.wordpress.com/2007/08/16/a-arte-de-ouvir/#comment-870