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O Português Vernacular no Brasil ANNA FLÁVIA, BRUNO, JULIANA SANTOS, LAÍS, LAYARA, MARCELO, THAÍS

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Page 1: O Português Vernacular no Brasil

O Português Vernacular no Brasil

ANNA FLÁVIA, BRUNO, JULIANA SANTOS, LAÍS, LAYARA, MARCELO, THAÍS

Page 2: O Português Vernacular no Brasil

“Os fundadores dos estudos gramaticais da Antiguidade acreditavam que a língua podia ser dividida em partes bem delimitadas e estanques (como, aliás, era dividida a sociedade da época):

- Língua escrita literária (mais ou menos 3% da população)

- Língua escrita (mais ou menos 10% da população)

- Língua falada (o restante, 87% da população)

Da Gramática Tradicional da Antiguidade à Ciência Linguística Moderna

Page 3: O Português Vernacular no Brasil

Iniciam-se, nos séculos XIV e XV, as tentativas de se confeccionar gramáticas para as línguas vulgares (advindas do latim e do grego que, como vimos anteriormente, já possuíam sua gramática normativa). No entanto, “[...] em vez de tentarem analisar cuidadosamente a língua ser estudada para, com base nessa análise, descrever suas características próprias e peculiares, os gramáticos renascentistas tentaram “vestir” as línguas nacionais com as mesmas “roupas” do latim e do grego. Quiseram, a todo custo, que as línguas se encaixassem no modelo gramatical pronto [...]. Agiram, então, ao contrário do alfaiate sensato, que primeiro tira as medidas do freguês para só depois cortar e costurar a roupa!”.

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A Linguística “[...] atribuiu à língua falada a importância que sempre lhe tinha sido negada [...]. A língua falada é que é a verdadeira língua natural, a língua que cada pessoa aprende com seu pai, sua mãe, seus irmãos, sua tribo, seus grupos sociais etc.”

“Felizmente, numa oportuna mudança de postura, os órgãos oficiais responsáveis pela educação no Brasil já se deram conta da necessidade de mudar os conceitos da língua vigentes nas nossas escolas e na nossa cultura. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), por exemplo, publicados pelo Ministério da Educação, a gente encontra uma visão dos fenômenos linguísticos muito mais esclarecida do que a divulgada pelos meios de comunicação. Nos PCN de Língua Portuguesa (5ª. a 8ª. séries, 1998: 29), podemos ler, por exemplo:

 “A imagem de uma língua única, mais próxima da modalidade escrita da linguagem, subjacente às prescrições normativas da gramática escolar, dos manuais e mesmo dos programas de difusão da mídia sobre ‘o que se deve e o que não se deve falar e escrever’, não se sustenta na análise empírica dos usos da língua.”

Page 5: O Português Vernacular no Brasil

Norma: palavra que se presta a confusão e ambiguidades. Não há, entre os próprios teóricos, um consenso na definição dessa palavra. E alguns lançam mão de expressões que, para eles (valor subjetivo), correspondem a essa mesma “norma”: padrão formal, padrão culto, texto formal, linguagem formal, uso culto, língua culta, norma culta, etc.

Para Bagno:

Norma-padrão: conjunto de regras descritas nos compêndios. ÚNICA.

Variedades cultas: a fala [que pode diversificar regionalmente] do indivíduo com grau de escolaridade superior completa, nascido e criado na zona urbana. DIVERSAS.

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• Norma Urbana Culta

• É um projeto dos anos 1960 que reuniu e documentou o português falado em 5 grandes capitais brasileiras através de métodos de entrevista e transcrição previamente elaborados.

Projeto NURC

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• Dispor de material sistematicamente levantado que possibilite o estudo da modalidade oral culta da língua portuguesa em seus aspectos fonético, fonológico, morfossintático, sintático, lexical, e estilístico;

• Ajustar o ensino da língua portuguesa, em todos os graus, a uma realidade linguística concreta, evitando a imposição indiscriminada de uma só norma histórico-literária, por meio de um tratamento menos prescritivo e mais ajustado às diferenças linguísticas e culturais do país.

• Superar o empirismo na aprendizagem e ensino da língua padrão pelo estabelecimento de uma norma culta real.

• Basear o ensino em princípios metodológicos apoiados em dados linguísticos cientificamente estabelecidos;

• Conhecer as normas tradicionais que estão vivas e quais as superadas, a fim de não sobrecarregar o ensino com fatos linguísticos inoperantes;

• Corrigir distorções do esquema tradicional da educação, entravado por uma orientação acadêmica e beletrista.

Objetivos da NURC

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Qual o objetivo do ensino do português nas aulas e o que se deve ensinar nas escolas?

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Descrição de fenômenos singulares do português vernacular brasileiro

Page 10: O Português Vernacular no Brasil

•Você: tratamento informal e sem tensão, ou formal e sem tensão;

•Senhor: tratamento respeitoso; ao lado de Seu e Dona;

•A gente: utilizado para 1ª pessoa do plural, em concorrência com nós.

OCORRÊNCIAS DEVIDAS A ESSA VARIAÇÃO NO PORTUGUÊS VERNACULAR:

•Uso de possessivos e de oblíquos de 2ª pessoa (te, ti, teu) para concordar com você (pronome de tratamento > 3ª pessoa);

•Uso de verbos na 1ª pessoa do plural para concordar com a gente (de 3ª pessoa do singular).

Formas de tratamento

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O desaparecimento de cujo

Eu tenho uma televisão cuja imagem está tremida.

Cujo: pronome em desuso no português vernacular, praticamente extinto, exceto em ocasiões de fala monitorada.

É geralmente substituído pela seguinte construção, chamada pelos linguistas de relativa copiadora: Eu tenho uma televisão que a imagem dela está tremida.

Ou pela construção chamada de relativa cortadora:Eu tenho uma televisão que a imagem está tremida.

Os pronomes relativos no português vernacular

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A origem das relativas copiadoras

 

Essa é uma rua de que eu nunca ouvi falar.

Ordem natural: VERBO + PREPOSIÇÃO + CONSEQUENTE

FALAR + DE + RUA

O enunciado acima, normativamente correto, é uma drástica alteração dessa ordem. E o falante tenta reacomodá-la de acordo com sua gramática internalizada:

Essa é uma rua que eu nunca ouvi falar dela. (dela= de+ela > ordem natural)

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Transformação das orações adjetivas em coordenadas sindéticas

 

São Paulo é uma cidade rica que ela tem graves problemas sociais.

Que: passa a ter função apenas de conjunção coordenativa.

Ela: faz o papel de sujeito, antes ocupados pelo pronome relativo que.

O pronome que, de acordo com a gramática normativa, além de prestar função de ligar as orações, seria também o sujeito da oração adjetiva:

São Paulo é uma cidade rica que tem graves problemas sociais.

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:

As orações relativas cortadoras

 

Essa é uma rua que eu nunca ouvi falar.

O uso da opção normativamente correta soa pernóstico, enquanto o uso da relativa copiadora não é bem aceito por ser desprestigiado – associado a falantes ignorantes. Então, a maioria dos falantes cultos opta pelo uso das relativas cortadoras.

Nestas, há omissão da preposição regida pelo verbo, que fica elíptica, mas facilmente recuperada pelo contexto verbal e não-verbal envolvido na enunciação.

É comumente aplicada também em enunciados para os quais seria recomendado apenas o cujo:

Comprei um carro que a porta direita não abre.

  

 

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As três possibilidades

 

Você viu Pedro hoje?

-Não, não o vi hoje.

(tradicionalmente correta, mas considerada pedante pela maioria dos falantes cultos)

-Não, não vi ele hoje.

(geralmente associada a falantes com baixa escolaridade, mas é frequentemente utilizada pelos falantes cultos do português brasileiro)

-Não, não vi. (Ø, omissão do pronome)

(estratégia mais usada pelos falantes cultos, que evitam a variedade 1, certa demais, e também a variedade 2, desprestigiada)

Os pronomes oblíquos

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A próclise venceu

 

Acalme-se, por favor! Far-lhe-ei um chá!

Se acalma, por favor! Vou te fazer um chá!

No português vernacular brasileiro não há lugar para a ênclise, muito menos para a mesóclise.

A gramática lusitana que preconiza a ênclise, com suas exceções regidas pelos temidos fatores atrativos, nunca chegou à fala dos brasileiros.

Conservadorismo linguístico no Brasil: “[O Brasil] Continua a construir com o pronome átono em próclise enunciados com João se levantou, normais no português clássico, mas não no português europeu atual.” (TEYSSIER, 2007, p.105). Ou seja, quem mudou a colocação pronominal foi Portugal, não o Brasil.

Page 17: O Português Vernacular no Brasil

Ele como objeto direto

 

O chá acalmou ele.

“Podemos encontrar exemplos desse uso em textos literários arcaicos [...] na obra do historiador Fernão Lopes (séc. XVI) [...] e esse uso do pronome ELE permaneceu vivo na língua portuguesa trazida para o Brasil [...]” (BAGNO, 2001, p.103).

Esse uso remonta-se inclusive da passagem do Latim Clássico ao Latim Vulgar, quando ocorreu a integração dos pronomes do caso reto com função de sujeito. Entretanto, eles nunca perderam o caráter demonstrativo que possuíam no Latim, permitindo que até hoje tais pronomes possam ser usados como objetos.

Page 18: O Português Vernacular no Brasil

Deixa eu dizer o que penso disso.

Deixe-me dizer o que eu penso disso.

Verbos causativos e sensitivos, de acordo com as gramáticas normativas, fazem de seus pronomes oblíquos, a eles apensados, os sujeitos dos verbos que os seguem.

No português vernacular brasileiro, houve a tendência de apagar o objeto direto e explicitar o sujeito.

Com os verbos bastar, faltar e custar identificam-se fenômenos semelhantes:

Basta eu entrar num barco para ficar enjoado. (bastar > v. impessoal)

Os verbos tardar, demorar e levar, passaram a ser conjugados de forma mais pessoal.

As características singulares da sintaxe do português vernacular brasileiro

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Vou no cartório hoje à tarde. Cheguei no cartório.

Vou ao cartório hoje à tarde. Cheguei ao cartório.

É forte a tendência do português vernacular brasileiro de utilizar a preposição em para ocasiões em que o verbo seja de movimento.

A casa onde eu moro. A casa aonde eu moro.

A praça aonde fui. A praça onde fui.

É forte a tendência do português vernacular brasileiro de não diferenciar onde a aonde, fato já observado na Língua Portuguesa em clássicos da Literatura e também em textos jornalísticos.

As características singulares da regência do português vernacular brasileiro

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•-o gráfico se pronuncia [u] em posição átona final, como em Portugal, e nas pretônicas (costume > custumi)

•-e gráfico se pronuncia [i] em posição átona final, como em Portugal, e nas pretônicas (menino > mininu; estar > istar)

•Proclíticos e enclíticos em -e são pronunciados com [i]: me, te, se > mi, ti, si

•l em final de sílaba, vocaliza-se em [w]: final, qual > finaw, quaw

•Aparecimento de iodes com algumas chiantes (e sibilantes também) -s e -z: atrás, luz > atrais, luis

•Tendência à eliminação de sílabas mudas: pneu > peneu; admirar > adimirar

•Palatalização de [t] e [d]: tio, dedinho

•Em certos registros, há supressão do -r final: cantar > cantá; doutor > doutô

Português vernacular brasileiro e suas ocorrências fonéticas singulares

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Apesar da discordância entre pesquisadores a esse respeito, calcula-se que 85% das línguas indígenas encontram-se hoje extintas, e sobrevivem apenas 185 delas.

Para John Manuel Monteiro, a chamada língua geral era um “português mal falado” e serviu de base para a formação do português vernacular do Brasil.

Fatores sócio-históricos condicionantes na formação do português brasileiro

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O português vernacular brasileiro tem origem especialmente na língua geral, na mobilidade dos escravos no território nacional e na falta de escolarização dos habitantes nesse período.

No Brasil colonial e pós-colonial, a população brasileira foi majoritariamente de origem africana e adquiriu o português “na oralidade, numa situação de transmissão linguística irregular, tendo assim modelado o português vernáculo brasileiro, até hoje majoritário” .

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Brasil colônia: multilinguismo ou bilinguismo generalizado no Brasil.

Brasil do séc. XIX: multilinguismo ou bilinguismo mais localizado, em sítios específicos, mais distantes das cidades, e em camadas mais pobres da população.

Avanço da “norma-padrão” lusitanizante: gramáticos e gramáticas, imprensa, literatura etc. Isso pôs a “norma-padrão” como variante de prestígio.

Page 24: O Português Vernacular no Brasil

“Dizer que a língua falada no Brasil é somente português implica um esquecimento sério e perigoso: o esquecimento de que tem muitas coisas nesta língua que é caracteristicamente nossa, de que esta língua é parte integrante da nossa identidade nacional, construída a duras penas, com o extermínio de centenas de nações indígenas, com o monstruoso massacre físico e espiritual de milhões de negros africanos trazidos pra cá como escravos, e com todo as lutas que o povo brasileiro enfrentou e continua enfrentando para se constituir como nação.” (BAGNO, 2001, p. 176)

Que sacuda e arrebente o cordão de isolamento

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BAGNO, Marcos. Português ou Brasileiro? (um convite à pesquisa). São Paulo: Parábola Editorial, 2001.

MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. Ensaios para uma sócio-história do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

REFERÊNCIAS: