o policiamento ostensivo preventivo como atividade jurídica constitucional

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5/12/2018 OPoliciamentoOstensivoPreventivocomoAtividadeJurdicaConstitucio... http://slidepdf.com/reader/full/o-policiamento-ostensivo-preventivo-como-atividade-juridica-c ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO PARANÁ XXIX CURSO DE PREPARAÇÃO À MAGISTRATURA NÚCLEO CURITIBA CLAUDIO FREDERICO DE CARVALHO O POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO COMO ATIVIDADE JURÍDICA CONSTITUCIONAL CURITIBA 2011

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O presente trabalho monográfico tem a intenção de servir como objeto de estudo para a reflexão e compreensão do que efetivamente vem a ser o policiamento ostensivo preventivo, e qual é o seu vínculo com a área do direito, em especial, a esfera penal, demonstrando com isso que o policial é um profissional do direito, assim como, o advogado, o promotor de justiça e o magistrado.É sabido que na esfera penal, senão na sua totalidade, a maioria dos processos judiciais criminais inicia-se nas ruas, durante o policiamento ostensivo preventivo, onde, o policial que inicialmente atendeu a ocorrência teve que fazer a sua avaliação sobre o fato, a fim de verificar se era ou não um caso de polícia (um crime).Para que se inicie a persecução penal, faz-se necessário antes que este profissional, no local do crime, tome todas as medidas cabíveis de acordo com o mandamento legal, ou seja, isolamento do local do crime, coleta de provas e evidências, além de arrolar as testemunhas e envolvidos quando houver.Para que o exercício de sua função seja realizado a contento, sem que o mesmo venha a responder por um crime comissivo por omissão, por um abuso de poder e/ou pelo crime de prevaricação, faz-se mister que, o profissional tenha uma formação sólida, alicerçada aos conhecimentos jurídicos, não apenas em breves relatos, mas sim de maneira aprofundada com várias disciplinas do direito e com uma carga horária significativa, além de ter que estar se atualizando constantemente.Desse modo e por estas razões cada vez mais, vemos profissionais da área da segurança pública, em específico, da esfera do policiamento ostensivo preventivo, buscando os bancos acadêmicos, nos cursos de direito, a fim de que possam exercer as suas funções laborais, de maneira exemplar e desejável, encontrando amparo para as suas ações, no exercício regular do direito em harmonia ao princípio da legalidade.

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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO PARANÁXXIX CURSO DE PREPARAÇÃO À MAGISTRATURA

NÚCLEO CURITIBA

CLAUDIO FREDERICO DE CARVALHO

O POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO COMO ATIVIDADE

JURÍDICA CONSTITUCIONAL

CURITIBA2011

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CLAUDIO FREDERICO DE CARVALHO

O POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO COMO ATIVIDADE

JURÍDICA CONSTITUCIONAL

Monografia apresentada como requisito parcialpara conclusão do Curso de Preparação àMagistratura em nível de Especialização. Escolada Magistratura do Paraná, Núcleo de Curitiba.

Orientador: Prof. Luiz Osório Moraes Panza

CURITIBA2011

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TERMO DE APROVAÇÃO

CLAUDIO FREDERICO DE CARVALHO

O POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO COMO ATIVIDADEJURÍDICA CONSTITUCIONAL

Monografia aprovada como requisito parcial para conclusão do Curso de Preparaçãoà Magistratura em nível de Especialização, Escola da Magistratura do Paraná,Núcleo de Curitiba, pela seguinte banca examinadora.

Orientador: Prof. Luiz Osório Moraes Panza

Avaliador: Prof. Fernando Gustavo Knoerr 

Avaliador: Prof. Evandro Portugal

Curitiba, de de 2011.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta obra aos Honrosos Policiais com suas diversas

denominações em todo o Brasil e em especial aos Guardas Municipais, que nestes

últimos dois séculos vêm procurando trazer a paz e a harmonia em uma sociedade

conturbada pelos momentos políticos, aspectos socioculturais e econômicos de uma

nação em desenvolvimento.

Seus serviços, prestados quase sempre no anonimato, refletem de

maneira significativa para a garantia do exercício de cidadania em seus Municípios,

Estados e União.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por estar sempre me guiando, me dando saúde, paz

interior, auxílio nas horas difíceis, por ter me abençoado com uma família

maravilhosa e por me dar inspiração para redigir esta obra, pois Ele é o criador de

tudo e de todos.

Agradeço ao meu filho Lucas, pela compreensão em ser privado da minha

companhia nos momentos que dediquei à elaboração deste trabalho, bem como a

minha esposa Viviane, que sempre esteve ao meu lado, principalmente, no incentivo

para a concretização de mais esta etapa acadêmica.

Agradeço ao corpo docente e discente da Escola da Magistratura do

Paraná, onde junto passamos a compor uma grande família.

A todos que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a conclusão

deste curso, meus sinceros agradecimentos.

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EPÍGRAFE

“O povo é a polícia e a polícia é o povo, a polícia nada mais é que aqueles,

 pagos e uniformizados, para fazer aquilo que é dever de todos nós.” 

Sir Robert Peele (Pai do policiamento moderno / 1828).

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 9

2 CONCEITOS E FUNDAMENTOS ....................................................................... 10

2.1 UM CONCEITO COM VÁRIOS SENTIDOS .................................................. 10

2.2 O QUE É DEFESA SOCIAL .............................................................................. 11

2.3 O QUE É SEGURANÇA PÚBLICA ................................................................... 12

3 POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO ................................................... 13

3.1 QUAIS SÃO AS INSTITUIÇÕES POLICIAIS QUE EXERCEM O

POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO NO BRASIL ............................. 16

3.2 PRINCÍPIOS QUE REGEM O POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO . 18

4 DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL ..................................................................... 20

4.1 DO POLICIAL FERROVIÁRIO FEDERAL ........................................................ 22

4.2 DO POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL ......................................................... 24

4.3 DO POLICIAL MILITAR ..................................................................................... 25

4.4 DO GUARDA MUNICIPAL ................................................................................ 27

5 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ELENCADOS NO ART. 5.º ........................ 305.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCINAIS DO ART. 5°, INCISO, XIII; .......................... 32

6 A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL E A ATIVIDADE POLICIAL .........36

7 O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, O CONSELHO NACIONAL DO

MINISTÉRIO PÚBLICO E A ATIVIDADE JURÍDICA ...................................... 40

8 DOS JULGADOS DOS TRIBUNAIS QUANTO A ATIVIDADE POLICIAL ........ 47

9 DO RECONHECIMENTO DA ATIVIDADE JURÍDICA PELOS PROFISSIONAIS

QUE EXERCEM O POLICIAMENTO REPRESSIVO JUDICIÁRIO .................... 5010 CONCLUSÃO.................................................................................................... 55

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 59

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RESUMO

O presente trabalho monográfico tem a intenção de servir como objeto de estudopara a reflexão e compreensão do que efetivamente vem a ser o policiamentoostensivo preventivo, e qual é o seu vínculo com a área do direito, em especial, aesfera penal, demonstrando com isso que o policial é um profissional do direito,assim como, o advogado, o promotor de justiça e o magistrado.É sabido que na esfera penal, senão na sua totalidade, a maioria dos processos judiciais criminais inicia-se nas ruas, durante o policiamento ostensivo preventivo,onde, o policial que inicialmente atendeu a ocorrência teve que fazer a sua avaliaçãosobre o fato, a fim de verificar se era ou não um caso de polícia (um crime).Para que se inicie a persecução penal, faz-se necessário antes que esteprofissional, no local do crime, tome todas as medidas cabíveis de acordo com o

mandamento legal, ou seja, isolamento do local do crime, coleta de provas eevidências, além de arrolar as testemunhas e envolvidos quando houver.Para que o exercício de sua função seja realizado a contento, sem que o mesmovenha a responder por um crime comissivo por omissão, por um abuso de poder e/ou pelo crime de prevaricação, faz-se mister que, o profissional tenha umaformação sólida, alicerçada aos conhecimentos jurídicos, não apenas em brevesrelatos, mas sim de maneira aprofundada com várias disciplinas do direito e comuma carga horária significativa, além de ter que estar se atualizandoconstantemente.Desse modo e por estas razões cada vez mais, vemos profissionais da área dasegurança pública, em específico, da esfera do policiamento ostensivo preventivo,buscando os bancos acadêmicos, nos cursos de direito, a fim de que possamexercer as suas funções laborais, de maneira exemplar e desejável, encontrandoamparo para as suas ações, no exercício regular do direito em harmonia ao princípioda legalidade.

Palavras-chave: policiamento ostensivo preventivo; profissional do direito; atividade jurídica;

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1 INTRODUÇÃO

Diversos são os serviços públicos e privados, os quais estão diretamente

vinculados a fiel execução e cumprimento da lei vigente em um país, contudo,

algumas instituições especificamente as de caráter público, em razão do poder de

polícia inerente ao Estado, tem como missão primordial além do cumprimento da lei,

a preservação da ordem pública e da incolumidade física do cidadão e do

patrimônio.

Essas instituições são comumente conhecidas como garantes da lei e da

ordem pública, sendo que seus profissionais consequentemente exercem o

respectivo poder de polícia, visando dar cumprimento aos seus preceitos

constitucionais.

O exercício da função policial efetivamente consiste em limitar o exercício

dos direitos individuais em benefício do interesse público, sempre primando pela lei

e a ordem.

Antes da Constituição de 1988, a ordem pública se restringia à segurança

pública e o poder de polícia, era então, sinônimo de segurança coletiva/pública.

Modernamente, porém, o Estado assumiu novas atribuições e o conceito de ordem

pública envolve agora, a ordem econômica e social. Assim, ampliou-se o poder de

polícia.

Deste modo, as organizações policiais passaram a se afeiçoar as novas

atribuições decorrentes da lei, onde assumiram uma nova função, agora, mais social

e menos truculenta, vindo a ser conhecida modernamente como polícia-cidadã.

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2 CONCEITOS E FUNDAMENTOS

Etimologicamente falando policiar é o ato de civilizar.

O termo Polícia tem origem em 1791 no ordenamento jurídico da França,

onde concomitantemente dividiu a polícia em administrativa e judiciária, contudo, já

em Roma Antiga tínhamos as “ polícias”, onde em virtude de sua natureza eram

divididas em Civita ou Militare.

CIVITA ⇒Civil⇒derivação de cidade⇒civis ⇒moradores da cidade.

MILITARE ⇒Militar ⇒combatente na guerra⇒moravam fora do limite das cidades.

2.1 UM CONCEITO COM VÁRIOS SENTIDOS

Confunde-se muito o termo polícia-função (sentido original) com polícia-

denominação (sentido usual).

1. FunçãoPOLÍCIA

2. Denominação

1. Ostensiva/Administrativa (+ preventiva, - repressiva)

POLÍCIA

2. Judiciária (+ repressiva, - preventiva)

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1. Função/Atividade Polícia Judiciária/Repressiva

(Tipicamente estatal) Polícia Ostensiva/Preventiva

POLÍCIA

(Conceito) 2. Denominação/Corporação

  (Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Federal, Polícia Rodoviária

Federal, Polícia Ferroviária Federal, Guarda Municipal)

2.2 O QUE É DEFESA SOCIAL

É a concepção de justiça criminal, como ação social de proteção e

prevenção, caracterizando-se pela aceitação da mutação de acordo com a evolução

da sociedade. O Direito Penal, é então, parte da polícia social; o crime está na

sociedade, o homem apenas o revela. A eficácia do Direito Penal e da polícia em

geral no controle da criminalidade é apenas de relativa importância. A prevenção

prevalece sobre a repressão.

A criminalidade não se resolve no contexto restrito do Direito Penal, mas

sim, num programa de ampla defesa social, isto é, numa política social que envolva

o punir (quando útil e justo) e o tratamento ressocializante do criminoso e do foco

social de onde emerge.

Um sistema de Defesa Social abrange segurança pública, defesa civil, entre

outras ações do poder público, sendo estas, na maioria de caráter preventivo,

minimizando assim, as situações de grande envergadura, as quais acabam

consequentemente incidindo efetivamente na esfera do Poder Judiciário.

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Ressalte se que, as situações envolvendo a esfera penal, geralmente são o

equivalente em média de 5% (cinco por cento) do atendimento realizado pelo

policial.

2.3 O QUE É SEGURANÇA PÚBLICA

É o afastamento, por meio de organizações próprias, de todo perigo, ou de

todo mal, que possa afetar a ordem pública, em prejuízo da vida, da liberdade, ou

dos direitos de propriedade do cidadão.

A segurança pública, assim, limita as liberdades individuais, estabelecendo

que a liberdade de cada cidadão, mesmo em fazer aquilo que a lei não lhe veda, não

pode ir além da liberdade assegurada aos demais, ofendendo-a.

É, pois, uma atividade pertinente aos órgãos estatais e a comunidade como

um todo, realizada com o fito de proteger a cidadania, prevenindo e controlando

manifestações de criminalidade e de violência, efetivas ou potenciais, garantindo o

exercício pleno da cidadania nos limites da lei.

Sistema de Segurança Pública

(Policiamento ostensivo preventivo)

* Guarda Municipal (nos Municípios)

Segurança Pública * Polícia Civil e Militar (nos Estados)

* Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e

Polícia Ferroviária Federal (na União)

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3 POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO

Para estudarmos o tema “policiamento ostensivo preventivo”  inicialmente

teremos que conceituar isoladamente cada um dos termos, no caso, policiamento

ostensivo e sucessivamente policiamento preventivo.

Ressalte-se que, ambos os conceitos foram inovados com a promulgação da

Constituição de 1988, a qual mudou significativamente a forma de estruturação e

ação das atuais instituições policiais no Brasil.

Antes da Carta Constitucional de 88, encontrava-se em vigor o Decreto-lei nº

667, de 2 de julho de 1969, o qual em seu artigo 3°, alínea “a”, outorgava com

exclusividade o policiamento ostensivo para as Polícias Militares, sendo ainda,

,inexistente o termo, policiamento preventivo.

Art. 3º- Instituídas para a manutenção da ordem pública e segurança internanos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, compete às PolíciasMilitares, no âmbito de suas respectivas jurisdições: (Redação dada peloDel nº 2010, de 12.1.1983)a) executar com exclusividade, ressalvas as missões peculiares dasForças Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, planejado pelaautoridade competente, a fim de assegurar o cumprimento da lei, amanutenção da ordem pública e o exercício dos poderes constituídos;(Redação dada pelo Del nº 2010, de 12.1.1983) o grifo é do autor 1

Com o advento da nova Constituição, o referido texto legal foi tacitamente

revogado, uma vez que não foi recepcionado pela Carta Magna, pelo fato de estar 

em completa contradição e desarmonia com o artigo 144, da atual Constituição

Federal.

1 BRASIL. Decreto-Lei n. 667, de 2 de julho de 1969. Reorganiza as Polícias Militares e os Corpos deBombeiros Militares dos Estados, dos Território e do Distrito Federal, e dá outras providências. Diário Oficial[da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 03 jul. 1969.

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Deste modo, tivemos uma evolução no conceito de   polícia ostensiva, e

sucessivamente do policiamento ostensivo, o qual pressupõe o exercício do poder 

de polícia lato sensu, não mais limitado apenas a uma instituição e com uma única

missão em específico, qual seja, “manutenção da ordem pública e segurança interna

nos Estados”.

Nas palavras de Soibelman, Polícia Ostensiva, “é a que age de uma forma

visível pelo público. Opõe-se a polícia secreta (V.). é a que obtém resultados

 preventivos pela simples ação da presença” 2 .

Quanto à função de policiamento preventivo, era completamente ignorada

em nosso ordenamento jurídico, uma vez que o policiamento além de ostensivo era

mais direcionado a repressão, seguindo o estabelecido na alínea “a” do art. 3º, do

Decreto-Lei nº 667/69 - “a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da

ordem pública e o exercício dos poderes constituídos” .

Feitos estes esclarecimentos, para Soibelman Polícia Preventiva, são:

“Medidas adotadas pela administração pública para prevenir comprometimento da

segurança, higiene, moralidade ou economia pública” 3.

Vemos que o conceito é oriundo de um período ditatorial, onde a própria

prevenção era confundida como apenas “medidas adotadas pela administração

 pública” , excluído assim a responsabilidade dos órgãos responsáveis pela

segurança pública e incolumidade física do cidadão.

Seguindo este entendimento teremos que definir o que vem a ser “ prevenir 

comprometimento da segurança”, ou seja, o que significa Polícia de Segurança? 

Para Soibelman, “é a que protege o ordenamento jurídico e a integridade do

Estado. Órgão encarregado da proteção da ordem política e social. Função

2 SOIBELMAN, Leib. Enciclopédia do Advogado. 5ª ed. rev. Rio de Janeiro: Thex, 1994. p. 278.3 SOIBELMAN, L. Id.

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administrativa destinada a proteger a segurança e tranqüilidade (sic) públicas.

Polícia preventiva e administrativa” .4

Diante do exposto, podemos concluir que com o advento da Constituição de

1988, as instituições policiais passaram a ter as suas atribuições mais definidas

vindo inclusive a assumir efetivamente a função do policiamento ostensivo

preventivo, o que outrora não fazia parte do nosso ordenamento jurídico.

Hoje temos no policiamento preventivo uma das maiores razões para com a

diminuição e/ou o controle da criminalidade em determinadas regiões, devendo as

ações de governo assumir cada vez mais esta função que é efetivamente inerente

ao poder estatal, devendo ser realizado pelos órgãos de segurança pública.

Realiza o policiamento ostensivo preventivo o profissional da segurança

pública, que isoladamente ou em grupo, realiza o patrulhamento fardado e/ou

uniformizado, equipado de armamento mais ou menos letal, estando a pé, a cavalo,

em veículo de tração animal ou veículo de tração mecânica, em aeronave ou

embarcação fluvial, que procura durante o deslocamento estar atento a todas as

situações adversas da normalidade, aonde quer que esteja executando as suas

atividades laborais.

Sob esse aspecto, a principal característica do policiamento ostensivo

preventivo é a capacidade de ser visto e reconhecido como tal, mesmo que de

relance, uma vez que o potencial de dissuasão decorre justamente dessa

ostensividade.

É correto afirma que a redução do índice de criminalidade em um local é

inversamente proporcional a atuação do profissional da segurança pública, pois, o

policial fardado/uniformizado deve acabar por conseguinte dissuadindo o pretenso

4 SOIBELMAN, Leib. Enciclopédia do Advogado. 5ª ed. rev. Rio de Janeiro: Thex, 1994. p. 278.

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infrator em dado local, haja vista, sua presença mais efetiva através do policiamento

ostensivo.

Destarte, ao contrário do que pode parecer, um grande número de prisões

em flagrante realizadas pelo policiamento ostensivo não revela, necessariamente,

eficiência, pois demonstra sim que os agressores da sociedade estão agindo

livremente, apesar da presença do profissional da segurança pública, e/ou este não

está tão presente quanto se espera, permitindo aos delinqüentes agirem sem receio

algum.

3.1 QUAIS SÃO AS INSTITUIÇÕES POLICIAIS QUE EXERCEM O POLICIAMENTO

OSTENSIVO PREVENTIVO NO BRASIL

Conforme menciona a Carta Magna no artigo 144, todos os órgãos de

Segurança Pública tem as suas funções predefinidas no mencionado mandamus

constitucional.

Especificamente, sobre o policiamento ostensivo preventivo temos no inciso

II, a Polícia Rodoviária Federal ; no inciso III, a Polícia Ferroviária Federal ; no

inciso V, as Polícias Militares; e no parágrafo 8º as Guardas Municipais.

A Polícia Rodoviária Federal tem as suas atribuições especificadas no

parágrafo 2º, do referido texto constitucional, tendo como missão principal o

patrulhamento ostensivo das rodovias federais.

A Polícia Ferroviária Federal, como a própria denominação menciona,

destina-se ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.

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Às Polícias Militares dos Estados, conforme o parágrafo 5º, tem como

missão primordial o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública.

Equiparasse as Polícias Militares para fins de interpretação por analogia a

Brigada Militar do Rio Grande do Sul, a qual tem a mesma função que as citadas

organizações.

Os Municípios por sua vez, o constituinte foi mais modesto no termo

policiamento ostensivo, suprimindo esta denominação e inserido a respectiva função

na sentença: “proteção de seus bens, serviços e instalações” .

Neste diapasão facultou aos municípios no parágrafo 8º, a possibilidade de

se constituir Guardas Municipais destinadas à  proteção de seus bens, serviços e

instalações, permitindo assim uma ampla discussão quanto ao efetivo poder de

polícia dos municípios e das Guardas Municipais em relação à segurança pública

local.

Semelhante a interpretação por analógica da Brigada Militar do Estado do

Rio Grande do Sul em relação as demais polícias militares, a qual manteve a sua

denominação após a Constituição Federal de 1946, temos também no Brasil as

Guardas Civis Municipais, instituições policiais municipais muito comum de se

encontrar principalmente nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, onde algumas

se mantiveram atuantes até os dias atuais, cruzando as fronteiras do período do

Brasil Imperial e completando mais de um século de existência.

Essas instituições, Guardas Civis Municipais, embora não estejam

especificadas na Constituição Federal são reconhecidas e aceitas principalmente

pelo Ministério da Justiça como sendo as Guardas Municipais descritas no texto

constitucional, em seu parágrafo 8º.

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Todo o texto constitucional de que trata sobre a Segurança Pública é

composto pelo artigo 144, o qual esta inserido no capitulo III “Da Segurança

Pública”, fazendo parte do título V, da Constituição Federal que trata sobre “a

Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”, não havendo com isso

necessidade de discorrer mais sobre o assunto.

Ressalte-se que, caso seja considerado incompleto o presente texto

constitucional, existe em seu parágrafo 7º, a previsão para que se discipline a

organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de

maneira a garantir a eficiência de suas atividades.

A preocupação do constituinte neste sentido foi de evitar estagnar o assunto,

segurança pública ao ponto de torná-lo inflexível e de certa forma arcaico,

permitindo com isso a sua evolução em harmonia com a sociedade de onde emerge.

3.2 PRINCÍPIOS QUE REGEM O POLICIAMENTO OSTENSIVO PREVENTIVO

A origem e os princípios que regem o policiamento ostensivo preventivo,

sendo um conceito novo e moderno, encontram o seu amparo legal no texto

Constitucional, em seu artigo 144, vejamos:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidadede todos, é exercida para a preservação da ordem pública e daincolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:[...]II - polícia rodoviária federal;III - polícia ferroviária federal;[...]V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.[...]

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§ 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas àproteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.5

Assim compreendemos que o policiamento ostensivo preventivo compõe-sedas ações de fiscalização de polícia, sobre a matéria de segurança pública, ou seja,

é o modo de atuar do Poder de Polícia, que, conforme esclarece Maria Silvia Zanella

Di Pietro, “é a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos

individuais em benefício do interesse público e o Policiamento Ostensivo objetiva,

 precipuamente, satisfazer as necessidades básicas de segurança pública inerentes

a qualquer comunidade ou a qualquer cidadão”6.

Neste diapasão concluímos que o policiamento ostensivo tem como função

precípua realizar a prevenção dos crimes, contravenções penais e violações de

normas administrativas em áreas específicas, como o trânsito, meio ambiente, e

posturas municipais. Constitui se em medidas preventivas de segurança, para evitar 

o acontecimento de delitos e de violações de norma, tendo como objetivo principal

eliminar e/ou dificultar a possibilidade de se delinquir.

O policiamento ostensivo é um serviço indispensável e que desempenha um

papel de suma importância na consecução dos objetivos finais da polícia; é a única

forma de serviço policial que diretamente trata de eliminar a oportunidade do mau

comportamento e reprime o desejo de delinquir, destruindo as expectativas e

influências negativas por parte do possível delinquente.

5 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p 37.6 DI PIETRO, Maria Silvia Zanella. Direito Administrativo, 13ª ed. – São Paulo: Atlas, 2001, p. 110

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4 DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A formação profissional, ou seja, a educação do profissional da segurança

pública é algo tão natural e universal, a qual pressupõe clara compreensão e

cumprimento por parte de todos os gestores públicos, contudo, nem sempre foi

assim, até o ano 2003 as instituições policiais, mantinham em suas grades

curriculares disciplinas diversas atingindo uma média de 220 horas/aulas até 1.160

horas/aulas, distribuídas em média em 30 (trinta) disciplinas.

O Ministério da Justiça, através da Secretaria Nacional de Segurança

Pública (SENASP), percebendo esta discrepância entre uma e outra formação, bem

como, a desproporcionalidade de conteúdo prático e teórico, no ano de 2003 durante

o Seminário Nacional sobre Segurança Pública, apresentou a primeira versão do

trabalho intitulado “Matriz Curricular Nacional” , propondo que o mesmo viesse a

servir como um referencial “teórico-metodológico para orientar as Ações Formativas

dos Profissionais da Área de Segurança Pública – Polícia Militar, Polícia Civil e

Bombeiros Militares – independentemente da instituição, nível ou modalidade de

ensino que se espera atender” (Matriz Curricular Nacional –MJ/SENASP).7

Proposta esta que foi aceita e implementada por todas as Instituições

voltadas a formação do profissional da área da segurança pública, assim, dado a

complexidade do assunto e a divergência entre o prático e o teórico, tivemos em

2005 a sua primeira revisão, quando foram agregados ao trabalho realizado pela

SENASP, as Diretrizes Pedagógicas para as Atividades Formativas dos

Profissionais da Área de Segurança Pública.

7 BRASIL, Ministério da Justiça – Secretaria Nacional de Segurança Pública. Matriz Curricular Nacional – ParaAções Formativas dos Profissionais da Área de Segurança Pública. Brasília: 2010. p.1

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No período de 2005 a 2007, a Senasp, em parceria com o ComitêInternacional da Cruz Vermelha, realizou seis seminários regionais,denominados Matriz Curricular em Movimento, destinados à equipe técnicae aos docentes das academias e centros de formação.Esses seminários possibilitaram a apresentação dos fundamentos didático-

metodológicos presentes na Matriz, a discussão sobre as disciplinas daMalha Curricular e a transversalidade dos Direitos Humanos, bem comoreflexões sobre a prática pedagógica e sobre o papel intencional doplanejamento e execução das Ações Formativas8.

Os resultados obtidos nos seminários e a crescente demanda dos Estados

com o intuito de se implantar a Matriz Curricular estimularam o governo federal,

através da SENASP, a lançar uma versão atualizada e ampliada da Matriz, agora

contendo em um só documento as orientações que servem de referência para as

Ações Formativas dos Profissionais da Área de Segurança Pública, tendo como

objetivo é garantir a unidade de pensamento e ação dos profissionais da área de

Segurança Pública.

O investimento e o desenvolvimento de ações formativas são necessários efundamentais para qualificação e aprimoramento dos resultados dasinstituições que compõem o Sistema de Segurança Pública frente aosdesafios e demandas da sociedade.9

Atualmente, as 27 (vinte e sete) Unidades da Federação utilizam a Matriz

Curricular como referencial pedagógico, para a formação, aperfeiçoamento e

qualificação do quadro funcional.

Amaral preleciona que: “O policial é um profissional do Direito, tanto quanto

o juiz, o advogado, o promotor de justiça, jamais um profissional da guerra. O policial 

não deve ter quartel porque não há de esperar para entrar em ação, ele deve estar 

 permanentemente bem distribuído” 10 .

8 BRASIL, Ministério da Justiça – Secretaria Nacional de Segurança Pública. Matriz Curricular Nacional – ParaAções Formativas dos Profissionais da Área de Segurança Pública. Brasília: 2010. p.29 Idem.10 AMARAL, Luiz Otavio de Oliveira. Direito e Segurança Pública – a juridicidade operacional da polícia.Brasília: Consulex, 2003. P 72.

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4.1 DO POLICIAL FERROVIÁRIO FEDERAL

A Polícia Ferroviária Federal é a polícia especializada mais antiga no Brasil,

foi criada no ano de 1852 e não apenas recepcionada pela Constituição Federal de

1988, mas sim, mantida como um órgão de segurança pública, vejamos:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidadede todos, é exercida para a preservação da ordem pública e daincolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:[...]

III - polícia ferroviária federal;[...]§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantidopela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, aopatrulhamento ostensivo das ferrovias federais.11

O Brasil dispõe de apenas 28.168 km de malha ferroviária em 1998. Cerca

de 35% de nossas ferrovias operam há mais de 60 anos. A falta de investimentos e

a baixa demanda por vagões e locomotivas, fazem com que a indústria ferroviáriaesteja com sua produção praticamente parada desde 1991.

Em igual proporção a Polícia Ferroviária Federal, que tem como missão

institucional zelar por todos os aspectos relacionados às ferrovias brasileiras,

incluindo a fiscalização e prevenção de acidentes nos 28 mil quilômetros de malha

ferroviária.

A sua carreira funcional por falta de regulamentação e incentivo do governo

federal quase chegou à extinção, tendo sido realizado o último concurso público

para o ingresso na carreira no ano de 1989. Resultando com isso, em um quadro de

servidores estagnado, pois os antigos policiais ferroviários federais acabaram sendo

demitidos, aposentados e ou emprestados a outras instituições (especialmente as de

gerência e controle dos trens urbanos).11 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p 37.

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Estimasse hoje que o quadro destes servidores gere em torno de mais ou

menos oitocentos policiais ferroviários no Brasil, com o mínimo de tempo de serviço

de 20 anos, ou seja, grande parte do seu quadro funcional esta próximo da

aposentadoria.12

Com isso a fiscalização e prevenção de acidentes nas ferrovias que deveria

ser função destes profissionais, acabam na prática, sendo realizada por outras

instituições (incluindo outras policiais) e por seguranças privados.

Atualmente, com a promulgação da Lei 12.462/11, a sua missão institucional

foi restabelecida, permitindo assim que esses profissionais possam voltar a

desenvolver suas atividades subordinadas ao Ministério da Justiça, assim como é

feito pela Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, restando tão somente a

devida regulamentação da profissão para que esses policiais exerçam com

eficiência e competência, a demanda que a sociedade exige, vejamos:

Art. 48. A Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, passa a vigorar com asseguintesalterações:"Art.29..........................................................................XIV - do Ministério da Justiça: o Conselho Nacional de Política Criminal ePenitenciária, o Conselho Nacional de Segurança Pública, o ConselhoFederal Gestor do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, o ConselhoNacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual,o Conselho Nacional de Arquivos, o Conselho Nacional de Políticas sobre

Drogas, o Departamento de Polícia Federal, o Departamento de PolíciaRodoviária Federal, o Departamento de Polícia Ferroviária Federal, aDefensoria Pública da União, o Arquivo Nacional e até 6 (seis) Secretarias;(Grifo do Autor)................................................................§ 8º“Os profissionais da Segurança Pública Ferroviária oriundos do grupoRede, Rede Ferroviária Federal (RFFSA), da Companhia Brasileira de TrensUrbanos (CBTU) e da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre(Trensurb) que estavam em exercício em 11 de dezembro de 1990, passama integrar o Departamento de Polícia Ferroviária Federal do Ministério daJustiça."13  (Grifo do Autor)

12 SINDICATO DOS METROVIÁRIOS DE PERNAMBUCO – PE. História da polícia ferroviária federal.Disponível em: <http://www.sindmetrope.org.br/historia>. Acesso em: 05 nov. 201113 BRASIL. Lei n. 12.462, de 4 de agosto de 2011. Institui o Regime Diferenciado de Contratações Públicas -RDC; altera a Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da República

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Diante do exposto, não podemos falar muito sobre o treinamento,

aprimoramento e formação destes profissionais no período compreendido entre

1991 a 2011.

Resta claro que com a entrada em vigor da Lei n.12.462/11, e o retorno da

Polícia Ferroviária Federal ao Ministério da Justiça, tratamento semelhante dado aos

policiais federais e policiais rodoviários federais, será dispensado a estes honrosos

profissionais que fizeram a história do Brasil, nestes últimos dois séculos.

4.2 DO POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL

Inicialmente criada com a denominação Polícia de Estradas, em 24 de julho

de 1928, a Polícia Rodoviária Federal, no ano de 1935, foi criado o primeiro quadro

de policiais denominados a época, "Inspetores de Tráfego".

Com a Constituição de 1988, assim como a Polícia Ferroviária Federal, a

Polícia Rodoviária Federal foi integrada ao Sistema Nacional de Segurança Pública,

recebendo como missão exercer o patrulhamento ostensivo das rodovias federais.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidadede todos, é exercida para a preservação da ordem pública e daincolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:[...]II - polícia rodoviária federal;[...]

e dos Ministérios, a legislação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a legislação da EmpresaBrasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero); cria a Secretaria de Aviação Civil, cargos de Ministro deEstado, cargos em comissão e cargos de Controlador de Tráfego Aéreo; autoriza a contratação de controladoresde tráfego aéreo temporários; altera as Leis nºs 11.182, de 27 de setembro de 2005, 5.862, de 12 de dezembro de1972, 8.399, de 7 de janeiro de 1992, 11.526, de 4 de outubro de 2007, 11.458, de 19 de março de 2007, e12.350, de 20 de dezembro de 2010, e a Medida Provisória nº 2.185-35, de 24 de agosto de 2001; e revogadispositivos da Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília,DF, 05 ago. 2011.

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§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantidopela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, aopatrulhamento ostensivo das rodovias federais.14

Desde 1991, a Polícia Rodoviária Federal integra a estrutura organizacional

do Ministério da Justiça, como Departamento de Polícia Rodoviária Federal.

A base da atuação da Polícia Rodoviária Federal é o trânsito, onde tudocomeça. Ao longo dos 61 mil quilômetros de malha federal, a PRF fiscalizao cumprimento do CTB, previne e reprime os abusos, como excesso develocidade e embriaguez ao volante, e presta atendimento às vítimas deacidentes.

A PRF também colabora com a segurança pública, prevenindo e reprimindoo tráfico de armas e de drogas, assalto a ônibus e roubo de cargas, furto eroubo de veículos, tráfico de seres humanos, exploração sexual demenores, trabalho escravo, contrabando, descaminho e pirataria e crimesconta o meio ambiente15.

Diante do fato de estar diretamente vinculada a Secretaria Nacional de

Segurança Pública, gestora da Matriz Curricular, dispensamos comentários a

respeito da formação, aperfeiçoamento e capacitação destes profissionais, os quais

assemelhassem às atenções dispensadas a formação do policial federal.

4.3 DO POLICIAL MILITAR

A estrutura hierárquica das Instituições Policiais Militares brasileiras está

organizada de forma seqüencial, onde encontramos os círculos de oficiais e dos

praças.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidadede todos, é exercida para a preservação da ordem pública e daincolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

14 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p 37.15 BRASIL. Polícia Rodoviária Federal. Net, Brasília, Nov. 2011. Seção Conheça a PRF. Disponível em: <http://www.dprf.gov.br/PortalInternet/conhecaPRF.faces> Acesso em: 05 nov.2011.

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[...]V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.[...]§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação daordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições

definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.16

Convém esclarecer que o ingresso na carreira ocorre em regra por meio de

concurso público em ambos os casos, contudo, o oficial ingressa inicialmente no

Curso de Formação de Oficial, após aprovação em procedimento seletivo paralelo

ao exame vestibular realizado pelas Universidades Federais, por sua vez, os praças

mesmo realizando concurso público para o ingresso na carreira, em virtude do grau

de complexidade da sua função, o nível escolar exigido não corresponde

efetivamente a ensino universitário, motivo pelo qual sua formação profissional

assemelhasse ao nível técnico.

Neste entendimento, percebemos que a formação de ambos profissionais

pertencentes a mesma instituição policial, se realiza de forma diferenciada, sendoque o oficial conclui o curso de formação de oficial em média no período

compreendido entre três a quatro anos, e por sua vez, o praça esta pronto para o

serviço operacional em média 1.160 horas/aulas, e/ou pouco mais que 40 (quarenta)

semanas de curso de formação.

O que convém ressaltar é que independente de estarmos falando do curso

de formação de praça ou de oficial, em ambas as formações a preocupação maior 

esta justamente no ensinamento com maior ênfase na cultura jurídica, em todas as

instruções independente do foco de abordagem em regra sempre procura se

trabalhar o aspecto legal, associado à prática policial.

16 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p 37.

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4.4 DO GUARDA MUNICIPAL

A Guarda Municipal, instituição que retornou ao ordenamento jurídico após

muitos anos estando distante, principalmente no período ditatorial em que o país

passou.

Após a promulgação da Carta Constitucional de 1988, de maneira modesta

o constituinte inseriu esta faculdade aos municípios, os quais aos poucos dado as

necessidades locais foram criando, re-criando e/ou transformando os seus serviços

municipais de vigilância em Guardas Municipais, vejamos:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidadede todos, é exercida para a preservação da ordem pública e daincolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:[...]§ 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à

proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.17

Visando dar uma resposta mais positiva aos anseios da sociedade, em abril

de 2002, o Governo Federal através do Instituto Cidadania apresentou aos órgãos

de segurança pública o Projeto Segurança Pública para o Brasil, podendo se afirmar 

que este é o marco divisor entre o antigo modo de se fazer segurança pública, e a

evolução do policiamento moderno, qual seja, o policiamento cidadão.

Este projeto foi fruto de trabalho de quinze meses, interagindo entre

pesquisadores, estudiosos, especialistas em segurança pública e membros dos Três

Poderes, entre outros representantes da sociedade.

Um dos pontos de suma importância para os municípios foi justamente em

relação as Guardas Municipais, uma vez que, segundo a edição do Plano Nacional

17 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p 37.

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de Segurança Pública em vigor desde junho de 2000, as atribuições do município

frente a segurança pública tomaram uma envergadura maior trazendo mais

responsabilidade e atribuições para o poder local, assim, o novo projeto apresentou

dentre uma das propostas a de reestruturar e redirecionar a atuação das Guardas

Municipais, vejamos:

“Reformular as Guardas Municipais, preparando-as para que se tornemagências de novo tipo, capazes de combinar eficiência e respeito aosdireitos humanos, gestoras da segurança pública local e operadoras

interativas, mediadoras de conflitos, preventivas da violência e dacriminalidade”.18

Com a edição da Matriz Curricular em 2003, assim como a polícia ferroviária

foi deixada de lado, a guarda municipal também teve este infortúnio.

Com o intuito de corrigir este relapso, em 2005 foi criada a Matriz Curricular 

Nacional para Formação das Guardas Municipais desenvolvida pela Secretaria

Nacional de Segurança Pública (SENASP), tendo como objetivo enfatizar a atuação

das Guardas Municipais na prevenção da violência e criminalidade, destacando o

papel dos municípios no Sistema Único de Segurança Pública (SUSP).

Segundo a Matriz Curricular o Guarda Municipal deve compreender o

exercício de sua atividade como prática da cidadania, motivando-se a adotar no dia

a dia, atitudes de justiça entre outros.

Por fim, estabelecem diretrizes e princípios que devem nortear a atuação

das Guardas Municipais existentes nas diversas regiões do país, respeitando e

considerando as especificidades regionais.

Assim, cumprindo os preceitos legais, bem como, a Matriz Curricular e o

Plano Nacional de Segurança Pública, as Guardas Municipais iniciaram um

18 INSTITUTO CIDADANIA. Projeto Segurança Pública para o Brasil. São Paulo, Fundação Djalma Guimarães,2002.

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processo de readequação profissionalizando e capacitando cada vez mais o seu

quadro de servidores.

A formação em Segurança Pública constitui hoje, uma necessidade de

âmbito nacional. Ela deve estar baseada no compromisso com a cidadania e a

educação para a paz, articulando-se permanentemente com os avanços científicos e

o saber acumulado.

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5 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ELENCADOS NO ART. 5º

A Constituição da República Federativa do Brasil, fruto de diversas lutas e

conquistas ao longo de toda a história desta nação e da própria humanidade, em 5

de outubro de 1988, foi promulgada vindo a estabelecer uma nova era no direito

Brasileiro, pois, ao restabelecer o regime democrático de direito, excluiu os

resquícios de um sistema ditatorial entre outros.

“Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País ainviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e àpropriedade, nos termos seguintes19:(...)”

Uma breve leitura feita no “caput ” do artigo 5º, da Constituição Federal nos

esclarece com precisão qual foi à fiel intenção do constituinte ao elencar o Título

“Dos Direitos e Garantias Fundamentais” , e neste Capítulo destinado aos “Direitos e

Garantias Individuais e Coletivos”.

Restou evidente que dentre os princípios basilares da Constituição, todo o

cidadão brasileiro e estrangeiro residente no Brasil, a garantia da “inviolabilidade do

Direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”  (Brasil, 1988,

p.11)20.

Neste raciocínio surge a indagação – Quem são os agentes públicos que

irão dar cumprimento a este texto Constitucional? No caso, a Garantia da

inviolabilidade e da proteção aos Direitos elencados.

19 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p 6.20 Idem

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Em verdade o profissional da área de segurança pública, em específico o

que realiza o policiamento ostensivo preventivo, tem por missão primordial proteger 

a integridade física do cidadão, quer seja, vítima ou infrator, o policial deve procurar 

sempre “combater o crime e não o criminoso” 21.

Neste diapasão, concluímos que para se dar cumprimento ao princípio

constitucional “segurança” ou aos demais princípios constitucionais, pelos órgãos

responsáveis pelo efetivo exercício das garantias constitucionais, devemos acima de

tudo ter um profissional capaz de compreender e colocar em prática tais premissas

existenciais.

Em outras palavras, para se aplicar o direito, cumprir e fazer cumprir o

mandamento legal, é mister que, o profissional deva estar tão capacitado quanto

outro operador do direito, segue neste entendimento o Professor Luiz Otavio Amaral.

“O policial é um profissional do Direito, tanto quanto o juiz, o advogado, opromotor de justiça, jamais um profissional da guerra. O policial não deve ter quartel porque não há de esperar para entrar em ação, ele deve estar permanentemente bem distribuído”.

Convém ressaltar que, o do artigo 5º da Carta Constitucional em seus 78

incisos e parágrafos, aborda com profundidade os cinco princípios basilares dos

“Direitos e Garantias Individuais e Coletivos”, quais sejam, à vida, à liberdade, à

igualdade, à segurança e à propriedade.

Por fim, em virtude da complexidade e o grau de importância do citado texto

constitucional, o mesmo é considerado pela Carta Magna de 1988, como sendo uma

cláusula pétrea, conforme dispõe o artigo 60, § 4º da CF.

21 CARVALHO, Claudio Frederico de. O que você precisa saber sobre Guarda Municipal e nunca teve a quem perguntar. 3ª ed. Curitiba: Edição do autor, 2011. p. 248.

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Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:[...]§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente aabolir:I - a forma federativa de Estado;

II - o voto direto, secreto, universal e periódico;III - a separação dos Poderes;IV - os direitos e garantias individuais.22

[...]

5.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO ART. 5º INCISO, XIII;

Em específico o objeto principal de estudo, tratasse da atividade do

policiamento ostensivo preventivo como equiparado ao exercício da função de

atividade jurídica em atividade não privativa do Bacharel em Direito, ou seja, a

prática reiterada de atos que exijam a utilização preponderante de conhecimento

 jurídico.

É notório que em regra todo o cidadão busca o seu crescimento quer na

carreira profissional que optou, quer em outras carreiras, as quais exigem uma maior 

preparação, dado as suas exigências escolares e demais requisitos.

Assim, um profissional da área de segurança pública, em específico o que

exerce o policiamento ostensivo preventivo, ao ingressar na carreira geralmente

procura inicialmente se formar em cursos superiores, vindo a atender as suas

habilidades e vocações, muitas vezes descobertas na caserna e/ou nos cursos de

formação23.

22 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p 23.23 Deixamos de abordar neste tópico sobre o policiamento repressivo judiciário, pois, já existe um parecer favorável proferido pelo eminente relator Ministro Claudio Godoy, em Pedido de Providências n.1238,formulado pelo Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal, o qual será objeto de estudo no item – 10 -DO RECONHECIMENTO DA ATIVIDADE JURÍDICA PELOS PROFISSIONAIS QUE EXERCEM OPOLICIAMENTO REPRESSIVO JUDICIÁRIO.

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Quando este profissional se especializa nas áreas da educação e saúde,

acaba podendo ser 100% (cem por cento) aproveitado dentro desta nova área de

atuação, muitas vezes sem precisar se desvincular da sua função policial.

Agora no caso, temos um profissional mais qualificado, atuando em uma

área mais específica, a qual esta diretamente vinculada ao exercício da função de

policiamento ostensivo preventivo, sem existir qualquer impedimento, quer dos

órgãos de classe e/ou restrições funcionais, pois em ambos os exemplos são

consideradas atividades técnicas, as quais permitem acumulação inclusive de cargo

ou emprego público, vejamos:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderesda União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aosprincípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade eeficiência e, também, ao seguinte:[...]XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto,quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso odisposto no inciso XI.a) a de dois cargos de professor;b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científicoc) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, comprofissões regulamentadas;24

Diferente situação ocorre com os profissionais da área de segurança

pública, no que concerne ao policiamento ostensivo preventivo, uma vez que ao

concluir a Faculdade de Direito, acaba sendo impedido de exercer as atividades

inerentes ao bacharelado, em completa desarmonia com os preceitos

Constitucionais, vejamos:

“Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País ainviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e àpropriedade, nos termos seguintes:[...]

24 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p 16.

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XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidasas qualificações profissionais que a lei estabelecer;”25

Neste aspecto devemos ressaltar o texto constitucional, “é livre o exercício

de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações

 profissionais que a lei estabelecer” , dentre as atividades desenvolvidas nas áreas

da saúde e da educação, não existem dúvidas quanto a sua fiel aplicação.

Fato contrário é o que ocorre com o profissional da área segurança pública

(policiamento ostensivo), sendo bacharel em direito. Os seus conhecimentos

acadêmicos serão por certo aproveitados e diga se, muito bem aproveitados, no seio

da sua corporação, e na sociedade onde presta seus serviços públicos, quer nas:

Atividades Administrativas, principalmente a área do direito administrativo,

na administração e apuração de procedimentos sindicantes; na elaboração de

minutas de legislações e normas específicas entre outras atividades administrativas;

Atividades de Ensino, nos diversos ramos do direito, nos cursos de

formação, aperfeiçoamento e especialização; nas palestras educativa e preventivas

 junto a comunidade em modo geral;

Atividades Específicas, de policiamento ostensivo preventivo, onde este

profissional irá aplicar efetivamente as habilidades acadêmicas, principalmente nas

áreas de Direito Administrativo (legislação de trânsito, posturas e normas

administrativas); Direito Constitucional (no cumprimento do seu dever legal, sendo

um garante da lei e da ordem); na área do Direito Penal (coibindo e prevenindo a

prática delituosa); na área do Direito Civil (atividade junto aos conselhos

comunitários e orientações as vítimas de infrações); e, por fim na área do Direito

Processual Penal, (durante o encaminhamento dos infratores a Autoridade Policial,

bem como, no isolamento do local do crime, coleta de informações e dados

25 Ibidem, p 6.

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necessários para o início da persecução penal, entre outras atividades inerentes a

função policial e que estão diretamente vinculadas ao estrito cumprimento da lei).

Este profissional com todo este arcabouço jurídico, sendo integrante de uma

corporação policial, em razão deste fato acaba sendo impedido de se almejar alçar 

sonhos em uma nova profissão quer seja, como advogado, juiz ou promotor de

 justiça.

Fase a distinção de ambos os enfoques, sendo um para o exercício da

função de advogado e outro em relação ao ingresso na carreira do ministério público

e na magistratura, ambos os temas serão discorridos em capítulo próprio, a fim de

poder dividir em dois grupos para uma melhor compreensão e abordagem do tema.

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6 A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL E A ATIVIDADE POLICIAL

Com a entrada em vigor do “Estatuto da Advocacia e a Ordem dos

 Advogados do Brasil” (OAB), Lei nº 8.906/94, em seu artigo 28, inciso V, de maneira

tácita o legislador tratou sobre a matéria em relação aos impedimentos legais, de

modo que é patente que o exercício da função da advocacia é incompatível com o

exercício da atividade policial de qualquer natureza, vejamos:

Art. 27. A incompatibilidade determina a proibição total, e o impedimento, aproibição parcial do exercício da advocacia.Art. 28. A advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com asseguintes atividades:[...]V - ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente aatividade policial de qualquer natureza;[...]§ 1º A incompatibilidade permanece mesmo que o ocupante do cargo ou

função deixe de exercê-lo temporariamente.26

Mesmo existindo norma neste sentido, alguns profissionais da segurança

pública, ao concluírem o seu bacharelado em direito, realizaram o exame da ordem

e ingressaram com o pedido de inscrição, pedido este que evidentemente foi negado

provimento, uma vez que efetivamente existe o risco da associação do exercício da

função em situações diversas, inclusive na captação de uma clientela específica em

razão da própria função policial.

Assim resta manifesto que o policial que atua nas ruas ao efetuar o

policiamento ostensivo preventivo, encontrasse diante de um fato delituoso, após

avaliar todo o contesto da ocorrência policial, toma as mediadas cabíveis a fim de

por termo a ocorrência.

26 MACEDO, Geronimo Theml de. Estatuto da Advocacia e da OAB e Legislação Complementar. 2ª ed. rev. atu.Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p 14.

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Neste caso, na hipótese do policial poder exercer cumulativamente a

atividade de advogado, este poderia acabar, não sabendo separar o policial do

advogado, prejudicando com isso todo o direcionamento da ocorrência, sem que

tivesse intenção escusa, mas sim, pela busca e o desejo de fazer o que considera

mais correto possível.

É evidente que o policiamento ostensivo preventivo na esfera do direito

penal é na maioria dos casos, o ponto de partida da  persecutio criminis, vindo a

culminar na aplicação da lei penal ao individuo infrator.

Conforme nos ensina Damásio de Jesus, “Quando o sujeito pratica um

delito, estabelece-se uma relação jurídica entre ele e o Estado. Surge o jus puniendi,

que é o direito que tem o Estado” .27

No ponto inicial de uma ação delituosa, teremos quase que na sua

totalidade, um profissional da área de segurança pública sendo que na sua maioria o

primeiro a ter contato com o crime e o local do crime será propriamente dito o

profissional que efetua o policiamento ostensivo preventivo.

Destarte é perfeitamente razoável a existência de uma norma legal

impeditiva neste aspecto, contudo, porém, a maneira que se apresenta hoje, torna

terminantemente impossível para o policial adquirir os três anos de atividade jurídica

de que trata o artigo 93, inciso I, da Constituição Federal, através do respectivo

órgão de classe.

Tendo em vista ser considerada uma incompatibilidade funcional e não

apenas um impedimento, para que o policial venha a ter a sua inscrição deferida

  junto a Ordem dos Advogados do Brasil, terá antes que pedir exoneração ou se

27 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal 1 – Parte Geral. 32ª ed. rev. atu. São Paulo: Saraiva, 2011. p 23.

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aposentar no seu cargo de policial, pois, a incompatibilidade permanece nos casos

de licença e afastamento funcional temporário, vejamos:

Recurso n.º 2010.08.01192-05. Recorrente: Armindo Maria. Recorrido:Conselheiro Seccional da OAB/Santa Catarina. Relator: Conselheiro JoséDanilo Correia Mota (CE). Ementa PCA/37/2010. Policial Militar transferidopara a reserva remunerada, aprovado no Exame de Ordem. Direito aoexercício pleno da advocacia. Afastada ofensa ao inciso I, do art. 30 da Lei8.906/94. Desaparecendo o vínculo funcional, com ele some a restrição deadvogar contra a Fazenda que o remunera. Precedentes do STJ e desta 1ªCâmara. Recurso conhecido e provido para determinar o cancelamento deanotações restritivas nos assentamentos do advogado. ACÓRDÃO: Vistos,relatados e discutidos acórdão os membros da Primeira Câmara doConselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, à unanimidade, emconhecer e dar provimento aos recursos interpostos, para determinar ocancelamento da anotação de impedimento do art. 30, I, do Estatuto daAdvocacia e da OAB, no cadastro do recorrente, nos termos do voto dorelator. Impedido de votar o representante da Seccional da OAB/SC.Brasília, 17 de Maio de 2010. Marcus Vinícius Furtado Coelho, Presidenteda Primeira Câmara. José Danilo Correia Mota, Conselheiro Relator. (DJ,27.05.2010, p. 15)

Ressalte-se que a incompatibilidade impede, inclusive, que este profissional

se inscreva no Quadro de Estagiários da OAB, como segue:

Ementa 035/2001/PCA. ESTAGIÁRIO. INSCRIÇÃO. GUARDA MUNICIPAL.IN COMPATIBILIDADE. Para a inscrição como estagiário nos Quadros daOAB a lei impõe os mesmos requisitos exigidos para a inscrição comoadvogado, exceto a prova de graduação em direito e o Exame de Ordem.Constitui causa de incompatibilidade com a advocacia o exercício deatividade relacionada, direta ou indiretamente, com cargo ou função policial.Recurso conhecido e provido para reformar a decisão do Conselho Pleno daSeccional da OAB/RJ que deferiu, por maioria, inscrição de estagiário aocupante de cargo de Guarda Municipal. (Recurso nº 5.551/2001/PCA-RJ.

Relator: Conselheiro Marcos Bernardes de Mello (AL), julgamento:10.09.2001, por unanimidade, DJ 18.09.2001, p. 720, S1).

Como podemos observar o impedimento é absoluto, não havendo conforme

o nosso ordenamento jurídico, condições do profissional que exerce o policiamento

ostensivo preventivo qualquer condição de ter a sua inscrição deferida junto a

Ordem dos Advogados do Brasil.

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Recurso nº 0459/2005/PCA. Recorrente: Delvanio Speck Miranda OAB/PR31.419. Recorrido: Conselho Seccional da OAB/Paraná. Relator:Conselheiro Ronald Cardoso Alexandrino (RJ). Redistribuição: ConselheiroDaylton Anchieta Silveira (GO). Ementa PCA/026/2007. Guarda Municipal.Incompatibilidade. Cancelamento de Inscrição. Guarda Municipal que faz

policiamento ostensivo, preventivo, uniformizado e armado, exerce a"atividade policial de qualquer natureza", incompatível com o exercício daadvocacia, de que trata o inciso V do art. 28 do EAOAB. Por isto, arespectiva Seccional da OAB pode, no exercício do seu poder de revisão doato administrativo, cancelar a inscrição deferida em evidente equívoco.Acórdão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam osmembros da Primeira Câmara do Conselho Federal da Ordem dosAdvogados do Brasil, à unanimidade de votos em negar provimento aorecurso, nos termos do voto do relator. Impedido de votar o representanteda OAB/PR. Brasília, 16 de abril de 2007. CLÉA CARPI DA ROCHAPresidente da Primeira Câmara, DAYLTON ANCHIETA SILVEIRA,Conselheiro Relator. (DJ, 17.05.2007, p. 741, S.1)

Concluímos assim que, em princípio o profissional que exerce o policiamento

ostensivo preventivo, ao concluir seu bacharelado em direito, muito embora possa

ter o desejo de adquirir os três anos de atividade jurídica, para o ingresso na

Carreira da Magistratura, conforme estabelece o artigo 93, inciso I, da CF:

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal,disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintesprincípios:I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, medianteconcurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dosAdvogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito,no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nasnomeações, à ordem de classificação;28

[...]Ou ainda, deseje adquiri esta experiência profissional com o intuito de

ingressar na carreira do Ministério Público, conforme dispõe o art. 129 da CF, não

poderá buscar esta prática forense junto a OAB, pelos fatos e razões descritas.

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:[...]§ 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concursopúblico de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dosAdvogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito,no mínimo, três anos de atividade jurídica e observando-se, nas

nomeações, a ordem de classificação.

29

28 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p 28.29 Ibidem, p 35.

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7 O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, O CONSELHO NACIONAL DO

MINISTÉRIO PÚBLICO E A ATIVIDADE JURÍDICA

Com a Emenda Constitucional nº 45/2004, o que antes era denominado de

“atividade forense”, foi alterado, passando com isso a ter um sentido mais amplo

com a terminologia: “atividade jurídica”. Essa alteração muito embora possa parecer 

desnecessária, trouxe para o ordenamento jurídico, uma mudança significativa,

vejamos:

“A expressão prática forense é, em si, restritiva porque se refere à prática doforo, dos tribunais. Ao passo que a expressão atividade jurídica (trazida pelaEC 45) é essencialmente ampla, uma vez que reputa a toda e qualquer ação vinculada ao direito, ao jurídico”30.

Feita esta alteração a exigência dos três anos foram mantidos, sendo agora

de atividade jurídica, tanto em relação ao ingresso na Carreira da Magistratura

quanto ao ingresso na Carreira do Ministério Público, vejamos:

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal,disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintesprincípios:I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, medianteconcurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dosAdvogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito,no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nasnomeações, à ordem de classificação;31

[...]

Nos mesmos moldes foi incorporada a exigência, de “no mínimo, três anos

de atividade jurídica”, conforme segue:

30 ALMEIDA, Dayse Coelho de. A exigência de 3 anos de atividade jurídica nos concursos públicos para oingresso na Magistratura e Ministério Público e a Resolução do TST. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 669, 5maio 2005. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/6680>. Acesso em: 5 nov. 2011.31 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p 28.

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Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:[...]§ 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concursopúblico de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dosAdvogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito,no mínimo, três anos de atividade jurídica e observando-se, nasnomeações, a ordem de classificação.32

Superada esta questão, a fim de consolidar e dar efetiva aplicação ao texto

Constitucional, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), através da Resolução nº 11

de 31 de janeiro de 2006, regulamentou a definição de “atividade jurídica”.

Em maio de 2009 com a edição da Resolução n.º 75, do Conselho Nacional

de Justiça, a Resolução nº 11 foi revogada passando a entrar em vigor o que segue:

Art. 59. Considera-se atividade jurídica, para os efeitos do art. 58, § 1º,alínea "i":I - aquela exercida com exclusividade por bacharel em Direito;II - o efetivo exercício de advocacia, inclusive voluntária, mediante aparticipação anual mínima em 5 (cinco) atos privativos de advogado (Lei nº8.906, 4 de julho de 1994, art. 1º) em causas ou questões distintas;III - o exercício de cargos, empregos ou funções, inclusive de magistériosuperior, que exija a utilização preponderante de conhecimento jurídico;IV - o exercício da função de conciliador junto a tribunais judiciais, juizadosespeciais, varas especiais, anexos de juizados especiais ou de varas judiciais, no mínimo por 16 (dezesseis) horas mensais e durante 1 (um) ano;V - o exercício da atividade de mediação ou de arbitragem na composiçãode litígios.§ 1º É vedada, para efeito de comprovação de atividade jurídica, acontagem do estágio acadêmico ou qualquer outra atividade anterior àobtenção do grau de bacharel em Direito.§ 2º A comprovação do tempo de atividade jurídica relativamente a cargos,

empregos ou funções não privativos de bacharel em Direito será realizadamediante certidão circunstanciada, expedida pelo órgão competente,indicando as respectivas atribuições e a prática reiterada de atos que exijama utilização preponderante de conhecimento jurídico, cabendo à Comissãode Concurso, em decisão fundamentada, analisar a validade dodocumento.33

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), mantendo também o

mesmo objetivo de poder regulamentar de maneira mais clara possível, com o intuito

de não deixar lacunas, acabou, por conseguinte editando a Resolução nº 04/06,32 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 45ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p 35.33 Dispõe sobre os concursos públicos para ingresso na carreira da magistratura em todos os ramos do Poder Judiciário nacional. (Publicada no Diário Oficial da União, Seção 1, em 21/5/09, p. 72-75, e no DJ-e nº 80/2009,em 21/5/09, p. 3-19. e Republicada no DJ-e n° 155/2010, em 25/08/2010, p. 2-16, em obediência à Resolução n°118, de 3 de agosto de 2010, Publicada no DJ-e n° 150/2010, em 18/08/2010, p. 5-7).

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alterando o seu texto com a Resolução nº 11/06, revogando ambas com a

Resolução nº 29/08, a qual foi posteriormente revogada pela Resolução nº 40/0934, e

que teve por fim, o seu texto alterado pela Resolução nº 57, em 27 de abril de 2010.

Art. 1º Considera-se atividade jurídica, desempenhada exclusivamente apósa conclusão do curso de bacharelado em Direito:I – O efetivo exercício de advocacia, inclusive voluntária, com a participaçãoanual mínima em 5 (cinco) atos privativos de advogado (Lei nº 8.906, de 4Julho de 1994), em causas ou questões distintas.II – O exercício de cargo, emprego ou função, inclusive de magistériosuperior, que exija a utilização preponderante de conhecimentos jurídicos.III – O exercício de função de conciliador em tribunais judiciais, juizados

especiais, varas especiais, anexos de juizados especiais ou de varas  judiciais, assim como o exercício de mediação ou de arbitragem nacomposição de litígios, pelo período mínimo de 16 (dezesseis) horasmensais e durante 1 (um) ano.§ 1º É vedada, para efeito de comprovação de atividade jurídica, acontagem de tempo de estágio ou de qualquer outra atividade anterior àconclusão do curso de bacharelado em Direito.§ 2º A comprovação do tempo de atividade jurídica relativa a cargos,empregos ou funções não privativas de bacharel em Direito será realizadapor meio da apresentação de certidão circunstanciada, expedida pelo órgãocompetente, indicando as respectivas atribuições e a prática reiterada deatos que exijam a utilização preponderante de conhecimentos jurídicos,cabendo à comissão de concurso analisar a pertinência do documento e

reconhecer sua validade em decisão fundamentada.Art. 2º Também serão considerados atividade jurídica, desde queintegralmente concluídos com aprovação, os cursos de pós-graduação emDireito ministrados pelas Escolas do Ministério Público, da Magistratura e daOrdem dos Advogados do Brasil, bem como os cursos de pós-graduaçãoreconhecidos, autorizados ou supervisionados pelo Ministério da Educaçãoou pelo órgão competente.§ 1º Os cursos referidos no caput deste artigo deverão ter toda a cargahorária cumprida após a conclusão do curso de bacharelado em Direito, nãose admitindo, no cômputo da atividade jurídica, a concomitância de cursosnem de atividade jurídica de outra natureza. (Texto alterado pela Resoluçãonº 57, de 27 de abril de 2010).§2º Os cursos lato sensu compreendidos no caput deste artigo deverão ter,

no mínimo, um ano de duração e carga horária total de 360 horas-aulas,distribuídas semanalmente.§3º Independente do tempo de duração superior, serão computados comoprática jurídica:a) Um ano para pós-graduação lato sensu.b) Dois anos para Mestrado.c) Três anos para Doutorado.§4º Os cursos de pós-graduação (lato sensu ou stricto sensu) que exigiremapresentação de trabalho monográfico final serão consideradosintegralmente concluídos na data da respectiva aprovação desse trabalho.[...]

34 Regulamenta o conceito de atividade jurídica para concursos públicos de ingresso nas carreiras do MinistérioPúblico e dá outras providências.

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Deste modo, através do Conselho Nacional do Ministério Público, temos em

vigor a Resolução nº 40, de 26 de maio de 2009, com alterações feitas pela

Resolução nº 57/10.

Podemos com isso esclarecer que em virtude de vários estudos, edições e

correções, hoje o conceito de atividade jurídica obtido pelo CNMP, esta sendo mais

amplo que a interpretação aplicada atualmente pelo Conselho Nacional de Justiça.

Ressalte se que, em ambos os Conselhos Nacionais o objeto principal dos

estudos e elaboração das resoluções é tão somente a interpretação da terminologia,

“atividade jurídica”, para fins de ingresso em ambas as carreiras públicas.

Feitas estas considerações, podemos observar que em específico para o

profissional que exerce o policiamento ostensivo preventivo, o qual conclui o

bacharelado em direito, tendo no seu íntimo o desejo de seguir uma nova carreira

pública quer seja na Magistratura ou no Ministério Público, seguindo o que

estabelece a Resolução nº 75/09 do CNJ e a Resolução nº 40/09, as limitações

serão muito maiores, tornando o sonho quase inatingível.

Isso é claro, considerando que este profissional no desenvolvimento de sua

atividade laboral, executa efetivamente atividade jurídica relativa à função não

privativa de bacharel em Direito, contudo, ambas as Resoluções não trataram deste

assunto em específico, ficando a questão merecedora de maiores reflexão e

possível regulamentação por parte de ambos os Conselhos Nacionais.

É elementar que este profissional pode a qualquer tempo pedir exoneração

da sua função pública de policial e iniciar uma carreira na advocacia durante o

período de três anos e/ou utilizar este período de três anos para exercer as diversas

atividades elencadas como prática jurídica, em ambas as Resoluções, a fim de se

preparar e poder ingressar na carreira jurídica tão almejada.

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Com isso temos duas considerações a serem analisadas:

A primeira vem a ser sobre o “espírito da lei”, quando da implantação da

exigência dos três anos de atividade jurídica, o legislador nada mais buscou que

regulamentar o referido critério a fim de evitar que bacharéis em direito, recém

formados, sem nenhuma ou ao menos com pouca vivência prática da vida em

sociedade, viessem a ingressar em ambas as carreiras públicas as quais exigem do

profissional a maturidade suficiente e necessária para o bom e pleno

desenvolvimento de suas atividades jurisdicionais.

Na mesma linha de entendimento temos a posição do Professor Hugo Nigro

Mazzilli, para quem “a idéia que fundamentou essa inovação foi a de que é preciso

que os juízes, antes de ingressarem no exercício da nobre e relevante função,

adquiram um mínimo de experiência na seara jurídico-profissional, evitando-se que

bacharéis ainda imaturos quanto à vida prática possam estar aptos a julgar os

destinos alheios” 35.

Seguindo o mesmo entendimento temos a manifestação doutrinária de

Walber de Moura Agra, vejamos:

“A finalidade almejada pela Reforma do Judiciário nesse tópico foi o deexigir dos novos membros do Ministério Público e da Magistratura um tempomínimo de experiência no mundo jurídico. O referido tempo de maturação

servirá para que os bacharéis afeitos às mencionadas carreiras jurídicaspossam se preparar melhor para exercerem suas funções, acumulandovivência no mundo jurídico, após a conclusão do bacharelado, que lhespropiciará melhor desempenho em seu mister.Por outro lado, a nova exigência constitucional impedirá que bacharéisrecém-ingressos dos bancos escolares possam vir a ocupar osmencionados cargos. Não se está contestando a capacidade teóricadaqueles que recentemente deixaram as Universidades, contudo, falta-lhes,em alguns casos, maturidade para enfrentar os complexos problemas queserão postos cotidianamente para sua resolução e, principalmente,experiência para a apreciação das questões apresentadas. O prazo de trêsanos de exercício de atividade jurídica é um tempo de maturação, desedimentação do conhecimento acumulado durante o Curso de Direito. Um

35 MAZZILLI, Hugo Nigro. A prática de "atividade jurídica" nos concursos - Reforma do Judiciário. São Paulo:Método, 2005.

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lapso temporal para que o bacharel possa colocar em prática o queaprendeu durante a sua preparação universitária.”36

A segunda observação trata justamente dos quesitos razoabilidade eproporcionalidade, qual seja o profissional do direito que durante grande parte da

sua vida atuou em atividade de policiamento ostensivo preventivo, colocando em

prática os seus conhecimentos acadêmicos diuturnamente, e inclusive passando a

adquirir uma sensibilidade maior no trato com a sociedade, não teria maturidade

suficiente para ingressar em ambas as carreiras públicas?

Visando corrigir esta questão, atualmente está em trâmite na Assembléia

Legislativa do Estado de Minas Gerais, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC)

Estadual nº 59/2010. Esta PEC do estado mineiro pretende acrescentar os §§ 3º e 4º

ao art. 142, da Constituição Estadual.

Sendo aprovada esta proposta, os dois pontos principais de alteração serão

no que concerne ao ingresso na carreira para o quadro de oficiais da Polícia Militar,

passando a ser exigido o título de bacharel em Direito, por conseguinte, a PEC

insere a atividade exercida pelos oficiais da Polícia Militar no rol das carreiras

 jurídicas, vejamos:

Art. 1º. Ficam acrescentados ao art. 142 da Constituição do Estado osseguintes §§ 3º e 4º:“Art. 142. (...)

§ 3º. Para o ingresso no Quadro de Oficiais da Polícia Militar – QO-PM – éexigido o título de bacharel em Direito e a aprovação em concurso públicode provas ou de provas e títulos, realizado com a participação da Ordemdos Advogados do Brasil, Seção do Estado de Minas Gerais.§ 4º. O cargo de Oficial do Quadro de Oficiais da Polícia Militar – QO-PM –,com competência para o exercício da função de Juiz Militar e das atividadesde polícia judiciária militar, integra, para todos os fins, a carreira jurídicamilitar do Estado.”37

Nas palavras de Mário Leite de Barros Filho, temos o seguinte comentário:

36 AGRA, Walber de Moura. Obrigatoriedade de três anos de exercício de Atividades Jurídicas", in Comentáriosà Reforma do Poder Judiciário. São Paulo: Forense, 2005.37 Minas Gerais - Proposta de Emenda à Constituição Estadual nº 59/2010. Minas Gerais: AssembléiaLegislativa, 2010.

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“É importante ressaltar que a apresentação do aludido projeto foi motivadapela aprovação recente da proposta de emenda à Constituição nº 14/2007,que reconheceu a atividade exercida pelos delegados de polícia de MinasGerais como de natureza jurídica, ficando, desta forma, evidente que osprincipais objetivos da iniciativa dos oficiais da Polícia Militar são a disputade espaço e a defesa de interesse Institucional.”38

Com a devida vênia, muito embora não concorde com o autor no que se

refere à intenção da presente proposta, quanto à origem, não paira dúvidas que o

fato motivador foi, além de valorizar a carreira do oficial da Polícia Militar, ainda,

reconhecer que o exercício da sua função utilizada primordialmente o conhecimento

científico do direito, e não apenas de modo superficial.

Feitas essa considerações, inicialmente podemos afirmar que na atualidade

o profissional que exerce o policiamento ostensivo preventivo, ao se graduar 

bacharel em direito, muito embora a sua função pública exija que atue

preponderantemente como sendo um operador do direito, caso, este profissional

queira seguir uma nova função pública na carreira jurídica, deverá equipara-se a

todas as demais pessoas, as quais pela sua condição gozam de prerrogativas,

vedadas ao policial, qual seja, a inscrição como estagiário e/ou advogado junto a

OAB, entre outras atividades descritas em ambas às resoluções.

38 BARROS FILHO, Mário Leite de. Natureza Jurídica da Atividade Exercida pelos Delegados de Polícia.Delegadoplantonista, Minas Gerais: Disponível em: <http://www.delegadoplantonista.net/news/natureza- juridica-da-atividade-exercida-pelo-delegados-de-policia/>. Acesso em: 5 nov. 2011

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8 DOS JULGADOS DOS TRIBUNAIS QUANTO A ATIVIDADE POLICIAL

Tratando de maneira apenas exemplificativa, sem discorrer muitas laudas

sobre o tema, uma vez que não é o objeto central da pesquisa acadêmica, temos

como resultado da atuação em específico das Guardas Municipais, no policiamento

ostensivo preventivo e o entendimento jurisprudencial dos tribunais o que segue:

Em Curitiba, nos últimos anos, através do policiamento ostensivo preventivo

realizado pela Guarda Municipal de Curitiba, foram evitados em média mais de 300

operações impedindo as invasões de áreas pertencentes ao município, evitando

com isso o assentamento desordenado e a posterior desapropriação dos seus

“invasores”.

Em 27 de abril de 2004, em virtude de uma ocupação desordenada em área

de risco, pertencente ao Município de Curitiba, a Guarda Municipal recebeu através

dos autos 196/04, da 2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Curitiba, a

incumbência de efetuar a reintegração de posse, sendo deferido pelo eminente Juiz

de Direito, Dr. Luiz Osório Moraes Panza, o “uso da Guarda Municipal para

desocupação dessa área” .

Este entendimento foi alicerçado justamente na ausência de atuação do

órgão policial estadual, o qual em desrespeito a determinação judicial, seguiu as

determinações expedidas pelo governo estadual da época.

Situação desta natureza muitas vezes se repete em várias regiões do Brasil,

demonstrando que estes profissionais estão aptos para dar cumprimento a estas

determinações judiciais sem que haja qualquer desvio ou desvirtuamento de função

pública.

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Em relação às ocorrências policiais envolvendo a participação de integrantes

das Guardas Municipais, temos alguns entendimentos que demonstram o seu

efetivo poder de policia e o seu reconhecimento junto ao Poder Judiciário, vejamos;

RHC 11938/SP; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS2001/0127472-8Relator(a) Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA (1106)Orgão Julgador - T5 - QUINTA TURMAData do Julgamento - 11/06/2002Data da Publicação/Fonte - DJ 01.07.2002 p.00354Ementa "RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUALPENAL. PRISÃO PREVENTIVA.

Prisão cautelar decretada, com esteio no artigo 312, do CPP, aofundamento da necessidade de garantia da ordem pública e aplicação da leipenal. Paciente foragido do distrito de acusação.Impetração e razões recursais que alvejam, exclusivamente ilegalidade naatuação de guardas municipais e de um policial, que ingressaram naresidência do paciente, sem mandado, e efetivaram apreensão de cocaína.Argüição que não possui o condão de elidir a custódia prévia imposta. Nãose trata de auto de prisão em flagrante".Recurso desprovido.AcórdãoPor unanimidade, negar provimento ao recurso.

Seguindo este mesmo entendimento temos em relação a prisão em flagrante

realizada por Guardas Municipais, conforme segue:

RHC 9142/SP; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS1999/0088332-2Relator(a) Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA (1106)Orgão Julgador - T5 - QUINTA TURMAData do Julgamento - 22/02/2000

Data da Publicação/Fonte - DJ 20.03.2000 p.00082LEXSTJ VOL.:00130p.00286 RT VOL.:00779 p.00524Ementa HABEAS CORPUS. PRISÃO EM FLAGRANTE. GUARDAMUNICIPAL. ENTORPECENTE. BUSCA E APREENSÃO. CRIMEPERMANENTE. Em se tratando de delito de natureza permanente, éprescindível a apresentação de mandado para o efeito de apreensão dasubstância entorpecente e prisão do portador ou depositário. Recursodesprovido.AcórdãoVistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da QUINTATURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e dasnotas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso.Votaram com o Relator os Ministros EDSON VIDIGAL, FELIX FISCHER,

GILSON DIPP e JORGE SCARTEZZINI.Resumo EstruturadoDESCABIMENTO, RELAXAMENTO DE PRISÃO, DENUNCIADO,

TRAFICO DE ENTORPECENTE, HIPOTESE, GUARDA MUNICIPAL,

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REALIZAÇÃO, PRISÃO EM FLAGRANTE, DECORRENCIA, BUSCA EAPREENSÃO, ENTORPECENTE, RESIDENCIA, REU, INDEPENDENCIA,EXISTENCIA, MANDADO JUDICIAL, INEXISTENCIA,CONSTRANGIMENTO ILEGAL, CARACTERIZAÇÃO, CRIMEPERMANENTE.

Entendimento este aos poucos esta se consolidando junto ao Poder 

Judiciário, vejamos:

RHC 7916/SP; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS1998/0066804-7Relator(a) Ministro FERNANDO GONÇALVES (1107)

Órgão Julgador -T6 - SEXTA TURMAData do Julgamento - 15/10/1998Data da Publicação/Fonte - DJ 09.11.1998 p.00175 LEXSTJ VOL.:00115p.00302 EmentaRHC. PRISÃO EM FLAGRANTE. GUARDA MUNICIPAL. APREENSÃO DECOISAS. LEGALIDADE. DELITO PERMANENTE.1. A guarda municipal, a teor do disposto no § 8°, do art. 144, daConstituição Federal, tem como tarefa precípua a proteção do patrimônio domunicípio, limitação que não exclui nem retira de seus integrantes acondição de agentes da autoridade, legitimados, dentro do princípio de auto-defesa da sociedade, a fazer cessar eventual prática criminosa, prendendoquem se encontra em flagrante delito, como de resto facultado a qualquer do povo pela norma do art. 301 do Código de Processo Penal. (grifei)

2. Nestas circunstâncias, se a lei autoriza a prisão em flagrante,evidentemente que faculta - também - a apreensão de coisas, objeto docrime.3. Apenas o auto de prisão em flagrante e o termo de apreensão serãolavrados pela autoridade policial.4. Argüição de nulidade rejeitada, visto que os acusados, quando detidos,estavam em situação de flagrância, na prática do crime previsto no art. 12,da Lei nº 6.368/76 - modalidade guardar substância entorpecente.5. RHC improvido.AcórdãoPor unanimidade, negar provimento ao recurso.Resumo Estruturado

LEGALIDADE, PRISÃO EM FLAGRANTE, APREENSÃO,

ENTORPECENTE, HIPOTESE, GUARDA MUNICIPAL, PERSEGUIÇÃO,REU, APRESENTAÇÃO, AUTORIDADE POLICIAL, LAVRATURA,APREENSÃO, AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE, CRIME, GUARDA,ENTORPECENTE, CRIME PERMANENTE.

Assim, resta evidente que efetivamente a Guarda Municipal, órgão

pertencente ao Sistema Único de Segurança Pública, conforme Lei 10.201/01, tem

nos seus agentes, profissionais da área de segurança pública que efetuam o

policiamento ostensivo preventivo nas cidades onde foram constituídas.

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9 DO RECONHECIMENTO DA ATIVIDADE JURÍDICA PELOS PROFISSIONAIS

QUE EXERCEM O POLICIAMENTO REPRESSIVO JUDICIÁRIO

Uma grande incógnita que permeia nas corporações policiais é justamente

em razão da exigência quanto a comprovação de 3 (três) anos de prática jurídica

para ingresso nas carreiras da Magistratura e do Ministério Público.

Afinal, se, enquanto policiais, o exercício de suas funções é incompatível

com o exercício da advocacia, como estes profissionais poderiam depois de

formados, amealharem a prática jurídica sem pedir demissão?

Diante desta lacuna deixada pelo legislador, haja vista o entendimento

sedimentado em todas as organizações policiais de que o desempenho da sua

atividade laboral esta diretamente vinculada à aplicação do direito, ou seja, o

exercício da função de polícia nada mais é do que o direito aplicado propriamente

dito.

Seguindo este entendimento o Sindicato dos Policiais Federais protocolou

consulta ao Conselho Nacional de Justiça, questionando se as funções exercidas

pelos agentes de polícia judiciária eram ou não consideradas atividades de cunho

 jurídico.

A resposta ao Pedido de Providências nº 1238, foi favorável, não somente

para os agentes e escrivães da Polícia Federal, mas também sendo extensivo aos

demais integrantes das polícias civis dos estados da federação.

Pedido de Providências nº 1238

Relator: Conselheiro Cláudio GodoyRequerente: Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal –SINDIPOL/DFRequerido: Conselho Nacional de Justiça

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CERTIFICO que o PLENÁRIO, ao apreciar o processo em epígrafe, emsessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:‘O Conselho, por unanimidade, em obediência à decisão plenária tomadano julgamento do Pedido de Providências n. 1079 (relator ConselheiroEduardo Lorenzoni), respondeu afirmativamente à consulta formulada, com

as ressalvas indicadas no voto do relator. Ausentes, justificadamente osConselheiros Ellen Gracie (Presidente), Marcus Faver, Jirair AramMeguerian e Eduardo Lorenzoni. Presidiu o julgamento o ExcelentíssimoSenhor Ministro Gilmar Mendes. Plenário, 20 de março de 2007’.Presentes à sessão os Excelentíssimos Senhores Conselheiros Antônio dePádua Ribeiro (Corregedor Nacional de Justiça), Vantuil Abdala, DouglasRodrigues, Cláudio Godoy, Germana Moraes, Paulo Schimidt, RuthCarvalho, Oscar Argollo, Paulo Lobo, Alexandre de Moraes e JoaquimFalcão.Ausentes, justificadamente, o Procurador-Geral da República e o Presidentedo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.

Segundo o Conselho Nacional de Justiça, não restam dúvidas quanto ao

indispensável conhecimento técnico jurídico para o exercício da função de

policiamento repressivo judiciário. Vejamos a íntegra da decisão:

PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS Nº 1238REQUERENTE: SINDICATO DOS POLICIAIS FEDERAIS NO DISTRITOFEDERAL – SINDIPOL/DFPedido de Providências. Extensão do conceito de atividade jurídica.Resolução CNJ n. 11. Função dos escrivães de polícia e agentes da PolíciaFederal. Utilização preponderante de conhecimentos jurídicos. Submissão aprevisão do art. 2º Consulta respondida.O Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal consulta sobre se asfunções desempenhadas pelos escrivães de polícia e agentes federaispodem ser consideradas atividade jurídica para os fins e nos termos daResolução CNJ n.11. Aduzem, para tanto, que, em sua atuação, inclusiveconforme normatização própria, os servidores referidos se valem, demaneira preponderante, de conhecimentos técnicos jurídicos.É o relatório.Pela sua repercussão e dada a particularidade em especial da atuação dosagentes, como, na polícia civil, da atuação dos investigadores, entende-sede conhecer da consulta e submetê-la ao Plenário, até para se evitar, umavez proferida decisão monocrática, a superveniência de eventual conflitointerpretativo.Não parece haver dúvida, pelo que se considera, de que a atuação doescrivão da polícia, quer federal, quer mesmo estadual, esteja a pressupor preparo jurídico, esteja a exigir, marcadamente, a utilização dessesconhecimentos técnicos. E isto mesmo que, como no caso, para orespectivo concurso não se reclame, propriamente, curso de direitocompleto, mas sim qualquer curso superior.Lembre-se, a propósito, que a Resolução n. 11, em seu artigo 2º,mencionou não só o bacharelato em direito, como, também, o exercício decargo, emprego ou função que exija a utilização preponderante de

conhecimento jurídico.E, nesse sentido, ao escrivão incumbe, basicamente, a prática de atosatinentes ao desenvolvimento de inquérito policial, peça investigativa docometimento de delitos, típicos porque previstos em lei, assim cujo

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conhecimento não pode ser estranho ao funcionário. Mais, trata-se deprocedimento administrativo também disciplinado por normas técnicas e jurídicas de manejo constante.Na espécie isto se confirma pelo teor da Portaria 523/89 do Ministério doPlanejamento, que estabelece as funções do escrivão, dentre tantas a de

dar cumprimento a formalidades processuais, lavratura de termos, autos emandados, além da escrituração dos livros cartorários. Repita-se, atividadetécnico-jurídica.Situação talvez menos clara seja a do agente, tal como o é, no âmbito daspolícias civis estaduais, a do investigador. Veja-se que, como está namesma portaria citada, a função essencial do agente é de investigação e derealização, nessa senda, de operações e coleta de informações. Tudo isso,porém, voltado a um fim, que é o de esclarecimento de delitos.Ora, se assim é, igualmente se reputa haja preponderante uso deconhecimentos técnicos. Por um lado, investigativa está a pressupor conhecimento das normas próprias que regem a coleta de provas ou aefetivação de diligências como de prisão, apreensão, e outras do gênero.De outra parte, se toda a gama dessas atividades se destina a apurar a

prática de um delito e sua autoria, decerto que ainda aqui a utilização deconhecimentos técnicos, legais, jurídicos, é uma constante.Nem se olvide, por fim, que o sentido da norma em exame foi o de alcançar toda e qualquer atividade que servisse a demonstrar a vivência do candidatoao concurso da magistratura no mundo jurídico, em sua acepção maisampla, como agente atuante, o que, na hipótese vertente, se considera que,evidentemente, ocorra.Por isso é que se responde afirmativamente a consulta formulada, mas, emobediência a decisão plenária tomada no julgamento do PP 1079, relator oCons. Eduardo Lorenzzoni, ressalvando-se que sempre facultada aexigência de que, a despeito do cargo ocupado, seja comprovado o efetivodesempenho de funções a que pressuposto conhecimento técnico jurídico,no caso de escrivania e de investigação.Este o voto.CLAUDIO GODOYRelator”39

Quanto à decisão proferida pelo egrégio Conselho Nacional de Justiça, não

pairam quaisquer dúvidas em relação a estes profissionais (policiamento repressivo

 judiciário) e o efetivo exercício de atividade jurídica não privativas de Bacharel em

Direito.

É oportuno, porém tecer alguns comentários sobre a matéria, haja vista a

similaridade desta função pública, para com o exercício da função de policiamento

ostensivo preventivo, pois, como discorrido em tópicos anteriormente, a origem da

persecução penal se dá efetivamente nas ruas e não nas repartições públicas, quais

sejam as Delegacias de Polícia.

39 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Pedido de Providência nº 1238, Requerente Sindicato dos PoliciaisFederais no Distrito Federal. Relator Ministro Cláudio Godoy. Brasília: 2007

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Destarte, tornasse evidente a pretensão de demonstrar a necessidade do

reconhecimento pelo Conselho Nacional de Justiça, quanto à preponderante

utilização de conhecimento jurídico para o exercício da função de policiamento

ostensivo preventivo, a qual presta um serviço de estrema relevância a sociedade,

principalmente em razão do exercício da atividade técnico-jurídica, conhecimento

este muitas vezes adquiridos nos cursos de formação e aperfeiçoamento na carreira.

Não nos parece haver dúvida, pelo que se considera, atividade técnico-

 jurídica, de que a atuação dos profissionais que executam o policiamento ostensivo

preventivo, esteja a pressupor o preparo jurídico necessário para o bom

desempenho da função.

Lembremos que o propósito, da Resolução nº 11, a qual foi revogada pela

Resolução nº 75 do CNJ, em seu artigo 59, parágrafo 2º, traz no seu bojo a previsão

do exercício de cargo, não exclusivo de Bacharel em Direito, mas que exija a

utilização preponderante de conhecimento jurídico, vejamos:

Art. 59. Considera-se atividade jurídica, para os efeitos do art. 58, § 1º,alínea "i":[...]§ 2º A comprovação do tempo de atividade jurídica relativamente a cargos,empregos ou funções não privativos de bacharel em Direito será realizadamediante certidão circunstanciada, expedida pelo órgão competente,indicando as respectivas atribuições e a prática reiterada de atos que exijama utilização preponderante de conhecimento jurídico, cabendo à Comissãode Concurso, em decisão fundamentada, analisar a validade dodocumento.40

Se, para o escrivão de polícia o exercício de sua função “incumbe,

basicamente, a prática de atos atinentes ao desenvolvimento de inquérito policial ”,

neste entendimento ao policial ostensivo preventivo, cabe o início da referida peça

40 Dispõe sobre os concursos públicos para ingresso na carreira da magistratura em todos os ramos do Poder Judiciário nacional. (Publicada no Diário Oficial da União, Seção 1, em 21/5/09, p. 72-75, e no DJ-e nº 80/2009,em 21/5/09, p. 3-19. e Republicada no DJ-e n° 155/2010, em 25/08/2010, p. 2-16, em obediência à Resolução n°118, de 3 de agosto de 2010, Publicada no DJ-e n° 150/2010, em 18/08/2010, p. 5-7).

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inquisitória, assim também, “disciplinado por normas técnicas e jurídicas de manejo

constante” .

Nesse raciocínio lógico, podemos seguir a interpretação onde

extensivamente os agentes de polícia, quer civil ou federal, na função de

investigador, tiveram os mesmos direitos reconhecidos para fins de considerar o

exercício de sua função investigativa com sendo “atividade técnico-jurídica” .

Veja-se que, na referida função a alegação para considerar atividade

técnico-jurídica, foi justamente em razão de que:

“[...]a função essencial do agente é de investigação e de realização, nessasenda, de operações e coleta de informações. Tudo isso, porém, voltado aum fim, que é o de esclarecimento de delitos.Ora, se assim é, igualmente se reputa haja preponderante uso deconhecimentos técnicos. Por um lado, investigativa está a pressupor conhecimento das normas próprias que regem a coleta de provas ou aefetivação de diligências como de prisão, apreensão, e outras do gênero.De outra parte, se toda a gama dessas atividades se destina a apurar a

prática de um delito e sua autoria, decerto que ainda aqui a utilização deconhecimentos técnicos, legais, jurídicos, é uma constante.[...]”41

Diante do exposto, é evidente que a função do profissional que exerce o

policiamento ostensivo preventivo é de suma importância para o cumprimento da

função do policial que exercer o policiamento repressivo judiciário, haja vista, ser em

verdade o fato gerador para que as demais atividades se desencadeiem, inclusive a

própria elucidação da ação criminosa e a punição do infrator pelo Poder Judiciário.

Neste diapasão entendemos que por analogia o exercício da função de

policiamento ostensivo preventivo equiparasse ao exercício da função de

policiamento repressivo judiciário, haja vista a necessidade do conhecimento

preponderante na área jurídica, sendo considerado como “atividade técnico-jurídica”.

41 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Pedido de Providência nº 1238, Requerente Sindicato dos PoliciaisFederais no Distrito Federal. Relator Ministro Cláudio Godoy. Brasília: 2007

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10 CONCLUSÃO

Com os estudos realizados em torno da temática “policiamento ostensivo

preventivo como atividade jurídica constitucional”, podemos compreender que muito

embora ainda não exista uma previsão legal neste aspecto, as tendências jurídicas

levam a crer que em breve o nosso ordenamento jurídico irá regulamentar este

ponto falho.

Atualmente esta em trâmite na Assembléia Legislativa do Estado de Minas

Gerais, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Estadual nº 59/2010. Com a

aprovação desta PEC, teremos no estado mineiro a exigência do bacharelado em

direito para o ingresso como oficial nos quadros da Polícia Militar, bem como, o

reconhecimento legal desta atividade como sendo eminentemente jurídicas.

Como marco inicial entre o reconhecimento da atividade jurídica, realizada

pelos profissionais da área de segurança pública, existe a previsão legal da Lei nº

8.906/94, onde em seu artigo 28, inciso V, considera incompatível a função

desempenhada pelo advogado e a atividade policial de qualquer natureza.

Tal impedimento surgiu não aleatoriamente, mas sim, em razão de ambas as

funções estarem intimamente ligadas na execução de suas atividades, em regra um

profissional prende e ou outro profissional por sua vez oportuniza condições de

oferecer a defesa e inclusive, obter a liberdade e/ou absolvição do seu cliente.

No caso são profissionais que trabalham no mesmo ramo do direito, contudo

em pólos distintos, um defendendo os interesses da sociedade e o outro cumprindo

com a sua missão constitucional que é oportunizar o direito a ampla defesa e ao

contraditório a todo o cidadão que se encontrar em conflito com a lei.

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Neste raciocínio consideramos perfeitamente coerente a existência desta

norma impeditiva, evitando assim possíveis conflitos entre o profissional que queira

atuar em ambos os pólos do direito ao mesmo tempo.

Relembremos os ensinamentos do Prof. Luiz Otavio Amaral, onde nos

ensina que, “o policial é um profissional do Direito, tanto quanto o juiz, o advogado,

o promotor de justiça, jamais um profissional da guerra. O policial não deve ter 

quartel porque não há de esperar para entrar em ação, ele deve estar 

 permanentemente bem distribuído”.

Assim, passamos ao segundo ponto da explanação sobre a atividade de

policiamento ostensivo preventivo, como efetiva atividade jurídica.

Para tanto seguimos o entendimento proferido no Pedido de Providências nº

1238, formulado pelo Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal, junto ao

Egrégio Conselho Nacional de Justiça.

Como resultado desta pesquisa (pedido de providências), tivemos o parecer 

favorável, emitido pelo eminente Ministro Cláudio Godoy, onde considera em síntese

a atuação da atividade de policiamento repressivo judiciário, como “atividade

técnico-jurídica” , ou seja, atividade não exclusiva de bacharel em direito que utiliza

preponderante de conhecimento jurídico.

Seguindo este entendimento, podemos considerar que os demais

profissionais da área da segurança pública, os quais exercem o policiamento

ostensivo preventivo, uniformizados e armados, procurando manter a lei e a ordem,

sendo inclusive considerados “garantes”, da sociedade, devem ser acolhidos pelo

supra mencionado entendimento emitido pelo CNJ, pelos menos motivos

apresentados ora elencados.

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Feitas estas considerações concluímos que o nosso ordenamento jurídico

ainda carece de uma atenção especial em específico ao profissional que exerce o

policiamento ostensivo preventivo, e que em paralelo concluíram o bacharelado em

direito.

São profissionais que em regra procuram sempre dar o melhor de si, para

com a Nação e em especial a sociedade onde desempenham as suas atividades

laborais, prova maior disso esta justamente no fato de procurarem o crescimento,

tanto profissional quanto pessoal, utilizando com isso os bancos acadêmicos como,

possibilidade de um novo horizonte.

A sociedade brasileira exige, cada vez mais, que seus agentes públicos

sejam dotados de boa capacidade intelectual, aptidão para o exercício das

atribuições que lhe foram conferidas e preparo técnico compatível à complexidade

do serviço realizado. A profissão policial é, indiscutivelmente, complexa, pois o

encarregado de levar segurança ao cidadão lida com conflitos que podem acarretar 

em perda de vidas, antes disso, sabe-se que sua missão é a de preservá-la.

Neste contexto, é necessário lembrar do princípio constitucional da eficiência

administrativa, através do emprego de policiais bem orientados e esclarecidos

quanto à correta aplicação da lei.

Assim, ressalta-se que as políticas públicas de segurança, promovidas pela

União, pelos estados federados e municípios, devem passar pela preocupação com

a excelência na formação e treinamento dos profissionais que lidam nesta área.

A correta preparação do policial repercute em ações revestidas de respeito à

população, ressalte-se que o principal instrumento de trabalho do policial, quer seja

no policiamento ostensivo preventivo ou repressivo judiciário, é, e sempre será o seu

conhecimento técnico científico principalmente com a cultura jurídica.

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Como nos ensina Edgard Antonio, no trabalho intitulado “considerações

sobre a formação jurídica da praça de polícia militar”, conforme segue:

Na área de cultura jurídica, o militar receberá aulas dos diversos ramos doDireito, objetivando alcançar os conhecimentos necessários aodesenvolvimento das atribuições correspondentes à graduação que ocuparána Instituição. No ensino ministrado à praça de polícia militar encontram-seos seguintes ramos: Constitucional, Administrativo, ProcessualAdministrativo, Penal, Processual Penal, Penal Militar, Processual PenalMilitar, Cível, Legislação Jurídica Especial (leis ordinárias criminais) eDireitos Humanos. Para a formação do soldado, o estudo das disciplinas  jurídicas corresponde a aproximadamente 15 % (quinze por cento) dacarga-horária total do curso, elevando-se este percentual para a formaçãoou atualização de sargentos, uma vez que estes exercerão funções decomando.42

A criminalidade não se resolve no contexto restrito da Segurança Pública,

mas em um programa de ampla defesa social, isto é, numa política social que

envolva o punir (quando útil e justo) e o tratamento ressocializante do criminoso e do

foco social de onde emerge. Conforme comenta Theodomiro Dias Neto:

“Pesquisas norte-americanas realizadas durante os anos de 60 e 70revelaram que embora a cultura e estrutura policial estivessem inteiramentevoltadas à repressão policial, parte significativa dos pedidos de assistênciareferia-se a pequenos conflitos. Hoje é fato conhecido que a polícia, mesmoem contexto de alta criminalidade, chega a consumir 80% de seu tempocom questões como excesso de ruído, desentendimento entre vizinhos oucasais, distúrbios causados por pessoas alcoolizadas ou doentes mentais,problemas de trânsito, vandalismo de adolescentes, condutas ofensivas àmoral, uso indevido do espaço público, ou serviços de assistência social,como partos”43

Como vimos na pesquisa, o que nos Estados Unidos era realidade nos anos

60 e 70, aqui no Brasil continua sendo uma rotina, a qual faz parte do cotidiano do

profissional que atua na área da segurança pública, exigindo com isso que este

esteja em constante processo de aperfeiçoamento e capacitação.

42 SOUZA JUNIOR, Edgard Antonio de. Considerações sobre a formação jurídica da praça de polícia militar. Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2173, 13 jun. 2009. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/12986>.Acesso em: 6 nov. 2011.43 CARVALHO, Claudio Frederico de. O que você precisa saber sobre Guarda Municipal e nunca teve a quem perguntar. 3ª ed. Curitiba: Edição do autor, 2011. p. 252

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REFERÊNCIAS

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AMARAL, Luiz Otavio de Oliveira. Direito e Segurança Pública – a juridicidadeoperacional da polícia. Brasília: Consulex, 2003.

BALESTRERI, Ricardo Brisolla. Direitos Humanos: Coisas de Polícia. 2ª ed.Passo Fundo: Berthier, 2002.

BARROS FILHO, Mário Leite de. Natureza Jurídica da Atividade Exercida peloDelegados de Polícia. Delegadoplantonista, Minas Gerais: Disponível em:<http://www.delegadoplantonista.net/news/natureza-juridica-da-atividade-exercida-pelo-delegados-de-policia/>. Acesso em: 5 nov. 2011

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Pedido de Providência nº 1238,Requerente Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal. Relator MinistroCláudio Godoy. Brasília: 2007.

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Brasil. Ministério da Justiça – Secretaria Nacional de Segurança Pública. VadeMecum Segurança Pública. Brasília: 2010.

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BRASIL, Ministério da Justiça – Secretaria Nacional de Segurança Pública. MatrizCurricular Nacional – Para Ações Formativas dos Profissionais da Área deSegurança Pública. Brasília: 2010. p.160.

BRASIL, Ministério da Justiça – Secretaria Nacional de Segurança Pública. DireitosHumanos e Segurança Pública: Algumas Premissas e Abordagens – JornadasFormativas de Direitos Humanos com ênfase no Estudo e na Pesquisa em

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