o poder do circulo de mulheres casadasmatryoshkas

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    O Poder do Crculo de MulheresHelosa Monteiro de Moura Esteves

    Em um determinado momento de minha trajetria, comecei a perceber apoderosa energia que se forma quando um grupo de mulheres se senta emcrculo. Participei, nos ltimos anos, na minha frentica busca das respostasaos desafios que se me apresentavam, de muitas vivncias em que os

    participantes na maioria das vezes exclusivamente mulheres se sentavamem crculos, no cho, formando uma verdadeira roda de cura. Aos poucos,pude observar quo poderosa a energia manipulada quando se trabalhanesta formao. No crculo no h hierarquia, todos so iguais. O fluxo daenergia fica livre, flui com estranha leveza, impregnando todos os integrantes.O crculo lembra o sol e tambm a lua. Lembra os seios, as curvas do corpo damulher, o redondo feminino, as parbolas, as ondulaes que se formamquando uma pedra arremessada em um lago... O crculo nos remete nossaancestralidade, trazendo a lembrana dos povos primitivos, dos ndios, dos

    xams... O crculo nos tira do tempo linear, cartesiano e nos envolve nascurvas dos mantos, nos remete s entrelinhas, nos abre possibilidades, nosdesvela e nos revela segredos. O crculo mgico, nos evoca recordaes dainfncia, ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta,volta e meia vamos dar... Oh! Eu entrei na roda, oh! Eu entrei na contradana,

    eu no sei como se dana, eu no sei danar...

    Certo dia, Magui, amiga querida que vive na Serra da Moeda e que conduziuvrias rodas de cura das quais participei, me falou sobre o livro O MilionsimoCrculo, de Jean Shinoda Bolen1, me recomendando que no deixasse de ler apreciosa obra. Sa de sua casa com um exemplar emprestado e, em algumaspoucas horas, encantada, terminei a leitura.

    Quando, algum tempo depois, comecei a me permitir sair do tempo cartesiano,lgico, linear, construdo pelo patriarcado que vem dominando o mundo demaneira doentia e decidi abrir um espao para, ao lado de minha carreira narea jurdica, desenvolver um trabalho transformador com mulheres, tive

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    , . , , 2003.

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    certeza de que deveria estar conectada com a energia dos diversos crculosde mulheres espalhados pelo mundo, cujo poder de transformao fora tobem acentuado pela psicanalista americana.

    De fato, Jean Shinoda Bolen, analista junguiana, ao escrever O MilionsimoCrculo, nos conclama a acreditar na incrvel fora criada pela unio de vriosgrupos formados por mulheres, fora esta to necessria para trazer uma novaconscincia para as pessoas do terceiro milnio.

    A autora faz suas ponderaes a partir da histria O Centsimo Macaco.Segundo relata, h cerca de 30 anos, cientistas observavam macaquinhos emilhas do Japo. A ideia era atra-los com batata doce para que descessem dasrvores e se posicionassem em locais onde pudessem ser melhor analisados.Um dia, uma macaquinha chamada Imo resolveu lavar o alimento no mar antes

    de com-lo. Como a experincia foi bem sucedida, ela ensinou aos outroscomo fazer. E a prtica foi se difundindo at que todos os macacos daquelailha passaram a lavar suas batatas antes de com-las.

    O mais interessante, porm, que os cientistas observaram que, depois dealgum tempo, todos os macacos das ilhas do Japo adotaram o hbito, aindaque no houvesse nenhuma comunicao entre as colnias.

    A alegoria de O Centsimo Macacoescrita por Ken Keynes Jr2e baseada naTeoria do Campo Mrfico, do bilogo Rupert Sheldrake,comprova que quandoum comportamento atinge seu nmero crtico, ele se torna um padro para aespcie. Assim como funcionou com os macacos, nossa cultura pode mudarcom a existncia de um centsimo macaco.

    a partir da que Jean Shinoda Bolen discorre sobre o tema em seu livro OMilionsimo Crculo, acentuando o potencial das mulheres (e homensinteressados) em mudar nosso rumo ao criar um novo padro para uma eraps-patriarcal. Para a autora, a guinada j comeou.

    A chave de transformao seriam os Crculos de Mulheres, encontros quefazem emergir a sabedoria coletiva de que precisamos agora, para que haja

    uma integrao entre o yinque evoca a conexo com o sagrado feminino e adeusa e o yang(masculino) que tem dominado e desequilibrado as relaes nopatriarcado. De crculo em crculo, alcanaramos um nmero especfico (omilionsimo crculo) responsvel pela mudana de padro. Para o patriarcadomudar, precisamos unir essa sabedoria, que materializada no Crculo deMulheres. 3

    2 . , , , 11.

    3, . ...., 07.06.2011.

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    Desde 2007, venho reunindo mulheres em crculos, na viagem coletiva rumo aoautoconhecimento e, em 2010, fiz a inscrio desta atividade no site doMilionsimo Crculo, que congrega atividades semelhantes que acontecem emtodos os lugares do mundo. Afinal, no se sabe ao certo quando teremos milcrculos de cura, por isso preciso registrar naquele espao sagrado cadanovo crculo que se forma, inspirado no desejo de mudar as conscincias,atravs de uma silenciosa revoluo das mulheres, contaminando todo oplaneta.

    Meu trabalho acontece gradativamente. As mulheres vo chegando para osencontros, sentam-se em crculo no cho, formando uma linda ciranda. Nocentro da roda, so colocadas flores, uma vela, frutas, incenso, a imagem deNossa Senhora ou de alguma santa ou deusa pag. No crculo, as mulheresresgatam a cumplicidade perdida, choram e se emocionam, falam de suas

    dores e de seus medos, do risadas, contam seus sonhos, s vezes parecemmeninas na pr-escola, fazendo seus desenhos e guirlandas de maneiradivertida e ldica. As mulheres entendem que esto num espao sagrado, ondeno existe censura e nem crtica. A energia de acolhimento acessada em cadaencontro permanece com as participantes quando o trabalho se encerra e frequente o relato de vrias delas terem sentido a presena do circulo sagradoao longo do ms.

    Mirella Faur, precursora no trabalho com crculos sagrados para mulheres no

    Brasil, adverte que o poder criado por um grupo de mulheres meditando maior do que a soma das energias individuais, devido ressonncia criadadentro de um crculo pela vizualizao de uma nica imagem ou inteno4 .No de causar espanto, assim, que as participantes dos crculos consigampermanecer com a poderosa energia acessada no ltimo encontro, ao longo degrande perodo de tempo sem se encontrarem no plano fsico.

    A fora do crculo surpreende quem dele participa. Ele tem o condo deacolher, para fazer uma grande alquimia e permitir que suas integrantespossam alar novos vos com segurana e sabedoria. Com efeito, a mesmaterapeuta ressalta, ainda, que o crculo o mais antigo e sagrado smbolo.Vrios mitos da cosmognese mencionam o tero primordial, o ovo csmico, o

    ventre da Terra, a roda sagrada. Os povos antigos reconheciam e

    reverenciavam o crculo como a representao da unidade e da perfeio da

    Fonte Criadora. As culturas matrifocais e tribais construram suas casas e

    templos com formas redondas ou semi-esfricas. Os vasos ritualsticos, as

    lareiras, os tmulos, os crculos de menires, as comunidades, as rodas

    sagradas, as danas seguiam a forma circular. Os termos snscritos mandala

    4 , . , , 2003, . 62.

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    (desenho simblico circular) e chakra (centro de recebimento e distribuio de

    energia no corpo), o mapa astrolgico, a roda das encarnaes, a

    representao do Sol, da Lua, da Terra, dos ciclos de tempo reforam o

    simbolismo sagrado e eterno do crculo5

    Jean Shinoda Bolen observa que o crculo um princpio e tambm uma forma.Ele age contra a ordem social, a compartimentao superior/inferior, a

    hierarquia que compara uma mulher s outras. Sentada em um Crculo, cada

    mulher tem uma posio espacial que igual a cada outra no Crculo. Ela

    assume sua vez e o Crculo gira, ela fala e ouvida6. De fato, nos crculos demulheres no h hierarquia, conquanto seja necessrio existir a mulherfocalizadora, responsvel pelo desenvolvimento e conduo dos encontros.

    Costumo orientar as mulheres que tem participado dos crculos comigo a

    visualizarem um fogo sagrado no centro da roda, fixando o olhar neste ponto.Tudo aquilo que precisa ser transmutado deve ser enviado para este fogosagrado, a fim de que a alquimia acontea, as chamas do fogo cresam eemitam energia renovada e de fora para as participantes do encontro.Vejo ocrculo como um grande caldeiro alqumico, capaz de reunir e reciclarenergias, fazendo limpezas e expurgos e fortalecendo cada integrante dogrupo. Shinoda Bolen acentua que a conexo com o centro sentidaintuitivamente, de maneira subjetiva. Ela compara o crculo a uma roda debicicleta e adverte que cada mulher se conecta com o seu prprio centro e

    com o centro do Crculo e percebe-se tanto como um raio da roda, quantocomo o aro.Uma parte invisvel da roda, conectada com todas as outras do

    Crculo atravs do centro.7 Seja como for, a sensao experimentada porpertencer a um crculo de mulheres reconfortante, algo acolhedor e, aomesmo tempo, de muita fora. Que o crculo, presente no incio da vida naTerra, na natureza e no corpo feminino, possa atuar como instrumento decura, ajudando a movimentar e a ancorar a energia necessria ao grande saltoque se anseia nos novos tempos.

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