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Rio de Janeiro 2019 O poder da economia chinesa na rocada de importância do eixo econômico do Atlântico para o do Pacífico. ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO Maj Inf VINÍCIUS VALVERDE ANDRIES

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Rio de Janeiro

2019

O poder da economia chinesa na rocada de

importância do eixo econômico do Atlântico para o

do Pacífico.

ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

Maj Inf VINÍCIUS VALVERDE ANDRIES

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Maj Inf VINÍCIUS VALVERDE ANDRIES

O poder da economia chinesa na rocada de importância do

eixo econômico do Atlântico para o do Pacífico.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.

Orientador: Ten Cel QMB MAXWELL NORBIM CALVI

Rio de Janeiro 2019

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A573p Andries, Vinícius Valverde

O poder da economia chinesa na rocada de importância do eixo econômico do

Atlântico para o do Pacífico. / Vinícius Valverde Andries一2019. 48 f. : il. ; 30 cm.

Orientação: Maxwell Norbim Calvi

Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências Militares)一Escola de

Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2019. Bibliografia: f. 45-48

1. CRESCIMENTO ECONÔMICO - CHINA 2. RELAÇÕES COMERCIAS - CHINA. 3.

EIXO ECONÔMICO – PACÍFICO. 4. DENG XIAPING I. Título. CDD 330.9

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Maj Inf VINÍCIUS VALVERDE ANDRIES

O poder da economia chinesa na rocada de importância do

eixo econômico do Atlântico para o do Pacífico.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.

Aprovado em 4 de outubro de 2019.

COMISSÃO AVALIADORA

_____________________________________ MAXWELL NORBIM CALVI - TC - Presidente

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_____________________________________________________ CANDIDO CRISTINO LUQUEZ MARQUES FILHO – Cel - Membro

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_____________________________________________ MARCOS ANTONIO SOARES DE MELO - Cel - Membro

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

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À minha esposa, às minhas filhas e aos meus

pais, fontes de inspiração, suporte e

exemplo.

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AGRADECIMENTOS

A Deus e aqueles que me orientam e me protegem no plano espiritual, pela saúde

e energia positiva que permitem que eu consiga continuar no caminho do

autoaperfeiçoamento constante.

À minha esposa Dahiana, meu amor nessa jornada terrena, e às minhas filhas

Helena e Maria, fontes de alegrias e renovação de entusiasmo diário. Agradeço

pela paciência, carinho e compreensão. É uma bênção compartilhar a vida com

vocês.

À minha mãe, Mildes, por todo o esforço, cumplicidade, dedicação, carinho, entrega

e amor que se dedica a mim. Obrigado por ser a estrutura base de tudo que sou.

Ao meu pai, Emmanuel, pela educação, que nortearam o meu ingresso na carreira

das armas, bem como me fizeram forte para me manter firme na busca pelos

objetivos por mim traçados.

Ao meu orientador, TC Maxwell, pelas orientações, ajuda, presteza,

profissionalismo e disponibilidade, que contribuíram e nortearam a execução do

trabalho em tela.

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“Quando escrito em chinês a palavra crise

compõe-se de dois caracteres: um

representa perigo e o outro representa

oportunidades” (Ex-presidente dos EUA,

Jhon Fritzgerald Kennedy -1917/1963)

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RESUMO

Desde o século XV, quando as potências europeias da época se lançaram às grandes navegações, no intuito de expandir suas pujantes economias, encontraram no oceano Atlântico as melhores “estradas” para chegarem nas Américas, bem como, contornando todo o continente africano, chegarem no continente asiático. Com o passar do tempo, já no século XX, a pujança da economia estadunidense aliada ao declínio do império soviético, pós 2ª Guerra Mundial, contribuíram para fomentar as relações comerciais entre as potências europeias e os EUA, também tendo como o oceano Atlântico como “caminho” principal. No entanto, no final do século XX, importantes, economias no leste e sudeste asiático ganham maior projeção no cenário internacional, com destaque para a economia chinesa, que após as medidas econômicas adotadas por Deng Xiaoping, no anos 80, permitiram um impressionante crescimento econômico do “Dragão Chinês”, tornando o país a segunda maior economia mundial atual e com isso, contribuindo decisivamente para o aumento das relações comerciais pelo oceano Pacífico, conferindo a este oceano um protagonismo crescente. Como foco desse trabalho, foram analisadas as medidas econômicas adotadas por Deng Xiaping que permitiram o início do crescimento econômico que por consequência fez com que esse país aumentasse suas relações comercias por meio do oceano Pacífico, inclusive com o Brasil. Desse modo, foi elaborada uma introdução que objetivou ambientar o leitor sobre o eixo econômico tradicional (oceano Atlântico) e o eixo econômico do Pacífico. No desenvolvimento foram apresentadas as medidas econômicas implementadas por Deng Xiaping, sustentáculos da rocada da economia chinês. Em seguida, foi apresentado o crescimento e a ampliação das relações comerciais chinesas nos últimos 30 anos. Por fim, como conclusão, foram identificadas os aumentos das relações comerciais da China com países da América que contribuem para o atual ganho de protagonismo do eixo comercial do Pacífico.

Palavras-chave: Crescimento econômico chinês; eixo econômico do pacífico, relações comerciais da China, medidas adotadas por Deng Xiaping.

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ABSTRACT In the 15th century, when the European powers of the time launched the great navigations to expand their economies, the Atlantic Ocean was the best route to reach the Americas and also the Asian continent, sailing round the southern tip of the African continent. Over the course of the 20th century, the strength of the US economy combined with the decline of the Soviet Empire by the end of the Second World War contributed to foster trade relations between the European powers and the US, also using the Atlantic as an important route. However, by the end of the 20th century, important economies in Southeast and East Asia gained more visibility in the international scenario, especially the Chinese economy, which after the economic measures adopted by Deng Xiaoping in the 1980s became known as the "Chinese Dragon" , due to great economic growth, which placed the country as the 2nd largest economy, contributing to the increase of trade relations throughout the Pacific Ocean, as well as Brazil. In this way, an introduction was elaborated in order to get the reader acquainted with the traditional economic axis (Atlantic Ocean) and the economic axis of the Pacific. In the development, the economic measures implemented by Deng Xiaping, basis of the rise of the Chinese economy, were presented. Afterwards, the growth and expansion of Chinese trade relations in the last 30 years was presented. Finally, as a conclusion, it was possible to identify some increase in the trade relations between China and countries from the Americas, which contributes to the current protagonism of the economic axis of the Pacific.

keywords: Chinese economic growth; the economic axis of the Pacific; China's trade

relations; economic measures implemented by Deng Xiaping

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LISTA DE ABREVIATURAS PIB Produto Interno Bruto

EUA Estados Unidos das Américas

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

ZEE Zonas Econômica Especiais

ASEAN Associação das Nações do Sudeste Asiático

APEC Cooperação Econômica Ásia-Pacífico

IED Investimentos Estrangeiros Diretos

ANCTAD Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento

AAPPT Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica

a.a Ao ano

BBC British Broadcasting Corporation (Corporação Britânica de

Radiodifusão)

APEC Cooperação Econômica Ásia-Pacífico

OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte

CO2 Gás Carbônico

IOE Industrialização Orientada para a Exportação

ZPE Zonas de Processamento de Exportações

PCC Partido Comunista Chinês

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – O número de estudantes chineses no exterior continua a crescer.............18

Figura 2 – Deng Xiaoping como capa da revista TIME.............................................20

Figura 3 – Deng Xiaoping........................................................................................20

Figura 4 – Oceano Atlântico.....................................................................................32

Figura 5 – APEC......................................................................................................33

Figura 6 – Oceano Pacífico......................................................................................34

Figura 7 – Membros da ASEAN...............................................................................36

Figura 8 – Membros do AATTP................................................................................36

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Número de pessoas pobres na China....................................................23

Gráfico 2 – Evolução do PIB chinês.........................................................................25

Gráfico 3 – Comparação de PIB..............................................................................26

Gráfico 4 – Composições Setoriais da China, Japão e EUA....................................27

Gráfico 5 – Investimento Estrangeiros Diretos em alguns países asiáticos..............39

Gráfico 6 – Consumo de eletricidade da China........................................................39

Gráfico 7 – Emissão de CO2 da China.....................................................................40

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – PIB das 10 maiores economias mundiais...............................................19

Tabela 2 – 20 maiores importadores e exportadores do mundo...............................37

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................. 14

2 METODOLOGIA............................................................................... 17

3 O CRESCIMENTO ECONÔMICO CHINÊS...................................... 18

3.1 APRESENTAÇÃO DE DENG XIAOPING.......................................... 20

3.2 POLÍTICAS ECONÔMICAS IMPLEMENTADAS POR DENG

XIAOPING......................................................................................... 22

3.3 AS RELAÇÕES COMERCIAIS DA CHINA COM O MUNDO, COM

DESTAQUE PARA O BRASIL.......................................................... 27

3.4 CONCLUSÃO PARCIAL ACERCA DO CRESCIMENTO

ECONÔMICO CHINÊS..................................................................... 30

4 A CRESCENTE IMPORTÂNCIA DO EIXO ECONÔMICO DO

PACÍFICO......................................................................................... 31

4.1 O EIXO ECONÔMICO DO ATLÂNTICO........................................... 32

4.2 O EIXO ECONÔMICO DO PACÍFICO.............................................. 34

4.3 O CRESCIMENTO ECONÔMICO DO EXTREMO ORIENTE.......... 38

4.4 CONCLUSÃO PARCIAL ACERCA DA CRESCENTE

IMPORTÂNCIA DO EIXO ECONÔMICO DO PACÍFICO................. 42

5 CONCLUSÃO................................................................................... 43

REFERÊNCIAS................................................................................

.

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho abordou a influência do crescimento econômico chinês

como grande fator contribuinte para o crescente protagonismo do Eixo Comercial do

Pacífico, que por sua vez, ganha cada vez mais destaque em relação ao tradicional

Eixo Comercial do Atlântico.

A China, país localizado no leste asiático, alcançou nos últimos anos, o status

de 2ª maior economia mundial, adotando um modelo único de governança e que

começou após a implantação de mudanças estruturantes no Estado a partir do

governo de Deng Xiaoping (1978 – 1989).

A China, até a década de 1970, era uma economia socialista e fechada aos

fluxos comerciais e financeiros internacionais. Em 1980, ela entrou num processo de

transição entre a economia planificada e a economia de mercado. Essa mudança em

relação à orientação da economia foi feita de maneira gradual, de modo que o

mercado não se tornou completamente livre, havendo interferência do Estado para

evitar surgimento de crises estruturais e financeiras, e para garantir as altas taxas de

crescimento econômico que tem sido observada (SANTIAGO, 2008, p. 87).

Sobre o papel do Estado na economia chinesa, Rodrik (2006) afirma:

“In brief, China opened up very gradually, and significant reforms lagged behind growth (in exports and overall incomes) by at least a decade or more. While monopoly state trading was liberalized relatively early (starting in the late 1970’s), what took its place was a complex and highly restrictive set of tariffs, non-tariff barriers, and licenses. These were not substantially relaxed until the early 1990s” (RODRIK, 2006, p. 3).1

O boom econômico da China nas três últimas décadas [...] tem fascinado

muitos e provocado uma gama extensa de reflexões sobre como uma potência

econômica está dando novas formas aos modelos de desenvolvimento de outras

economias do sul global. Há variadas análises que buscam retratar o crescimento

chinês como uma antítese ao Consenso de Washington, e muitos veem a China como

um exemplo de modelo de desenvolvimento alternativo que poderia ser replicado em

1 Em resumo, a China se abriu muito gradualmente, e reformas significativas retardaram o seu crescimento (nas exportações e na renda em geral) em pelo menos uma década ou mais. Embora o monopólio estatal nas relações comerciais tenha sido liberalizado relativamente cedo (a partir do final da década de 1970), o que ocorreu na prática, foi um conjunto complexo e altamente restritivo de tarifas, barreiras alfandegárias e licenças. Estes não foram substancialmente relaxados até o início dos anos 90 (RODRIK, 2006, p. 3, tradução nossa).

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outros países em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, muitos preveem que a China

irá desafiar a dominação geopolítica dos Estados Unidos e criar uma nova ordem

política na Ásia e até mesmo no mundo (HUNG, 2018, p. 3).

Durante as últimas três décadas, a economia chinesa cresceu a taxas

altíssimas, e ao final da década de 2000 já havia assumido a posição de segunda

maior economia mundial. A faceta mais evidente do desenvolvimento da China nesse

período foi seu comércio exterior. A emergência chinesa no cenário internacional

alarma vários países asiáticos, uma vez que sua dinâmica de crescimento econômico

assenta-se nas exportações, e a China se coloca como forte competidora em uma

gama muito variada de produtos (SANTOS, 2013, p. 4).

Nos últimos anos, o saldo comercial da China com os EUA ultrapassou o saldo

japonês que historicamente caracterizou o déficit comercial bilateral americano. Em

meio ao boom de exportações e investimentos diretos, a sustentação desta taxa se

deu com a política de formação de reservas do banco central chinês. É neste contexto

que as pressões dos EUA e também do Japão contra o regime cambial chinês e os

mecanismos de controle de capitais se afirmaram (MEDEIROS, 2006, p. 79).

Percebe-se que os países asiáticos demonstram um maior dinamismo

econômico frente aos países da América Latina no período pós-1990. Contudo, nem

sempre foi assim, se observarmos períodos anteriores à década de 1980, percebe-se

que o dinamismo econômico latino-americano era superior ao asiático (GONÇALVES,

2008, p. 47).

Aproveitando-se do aumento de suas exportações para todo o mundo a partir dos anos 80 e 90 (e para os EUA em particular) e ampliando o Investimento estatal (variável chave na explicação da expansão do PIB chinês) a China retirou quase 400 milhões de pessoas da pobreza (em 5 anos entre 1980 e 1985) e em cerca de 30 anos mudou completamente a estrutura econômica do país, com a indústria e o setor de serviços respondendo por mais de 70% do PIB. Essa mudança estrutural retirou milhões de pessoas do campo promovendo o maior processo de migração e urbanização já visto na história. Um processo de crescimento com industrialização e incorporação da mão de obra que transformou e vem transformando completamente uma sociedade milenar que já conta com quase 1,4 bilhões de pessoas (RIBEIRO, 2018, p. 14).

O Brasil tem como principal parceiro comercial a China, contribuindo de forma

significativa para o aumento das movimentações no Eixo Econômico do Pacífico. O

fortalecimento de outras economias localizadas no extremo leste e sudeste do

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continente asiático também impactam diretamente o fluxo comercial, uma vez que,

além de se comunicarem entre eles pelo oceano Pacífico, também utilizam esse

oceano para se comunicarem com o mundo.

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2. METODOLOGIA

Segundo a taxionomia de Vergara (2009, p. 51), essa pesquisa realizou-se de

forma qualitativa, uma vez que busca dados que permitam identificar o que se está

sendo dito sobre um determinado tema, permitindo obter a fundamentação teórica

daquilo que se pretenda demonstrar.

O presente estudo se deu por meio de pesquisas bibliográficas para investigar

como a China se tornou a segunda maior economia mundial, bem como vem

impulsionando o protagonismo do eixo comercial do Pacífico.

O universo da amostra foi amplo, uma vez que os dados apresentados em

tabelas e gráficos, oriundos das pesquisas, proporcionaram a visualização do avanço

da economia chinesa em relação à outras economias de destaque no cenário

internacional. Ao destacar as relações com o Brasil e com os EUA, buscou-se

contextualizar o aumento da utilização do oceano Pacífico como rota comercial entre

a Ásia e as Américas.

Esta pesquisa iniciou-se com a coleta de dados na literatura por meio de

pesquisa bibliográfica, utilizando livros, revistas, artigos, internet e trabalhos

acadêmicos. A partir daí, foi feita a seleção da documentação que foi utilizada no

trabalho. As conclusões decorrentes desta pesquisa visaram demonstrar como o

crescimento econômico chinês nos últimos 30 anos está contribuindo para o fomento

da importância do eixo econômico do Pacífico.

O método escolhido possui limitações, pois se trata de uma pesquisa

bibliográfica com fontes selecionadas pelo autor em um espaço de apenas 6 meses.

Outro limitador é a pouca profundidade, uma vez que o trabalho não contemplou

estudo de campo e entrevistas com especialistas. Porém, por ser um trabalho de

término de curso a ser realizado num pequeno espaço de tempo, o método escolhido

foi adequado e possibilitou alcançar o objetivo do Projeto de Pesquisa.

A seguir, será analisada a contribuição do crescimento econômico chinês para

o aumento da importância do eixo econômico do Pacífico e não mais apenas a

hegemonia do eixo econômico do Atlântico.

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3. O CRESCIMENTO ECONÔMICO CHINÊS

“A China é um dos maiores exportadores mundiais de bens e o quinto maior exportador de serviços, o maior consumidor de energia e um dos maiores produtores de energia renovável. A China é também o maior mercado consumidor de automóveis e o maior produtor de aço e navios. Além disso, a China também desempenhou um papel central no campo financeiro internacional: o país é o maior país de reserva cambial do mundo e suas reservas em moeda estrangeira em 2010 representaram 30% do total das reservas internacionais em moeda estrangeira. Ao mesmo tempo, a China é também o principal detentor de títulos do Tesouro dos EUA. Em 2010, a China substituiu a Alemanha como o país com o segundo maior número de publicações de pesquisa científica. Em outras palavras, a China desempenha um papel importante em vários campos, como produção, investimento, comércio e finanças na economia mundial, e desempenha um papel mais importante no campo da inovação e do progresso tecnológico” (JIANGTAO, 2018, p.20).

Figura 1: O número de estudantes chineses no exterior.

Fonte: Ministério da Educação da China, 2016.

A figura 1 exemplifica um dos campos tratados no parágrafo anterior, o da

educação, demonstrando que a aumento da influência chinesa no mundo não se dá

apenas no campo econômico e que o crescimento chinês ocorre em diversos setores

e não só no econômico que será o enfoque deste trabalho.

A China é uma das economias mais importantes do mundo, com taxas de

crescimento altas há mais de duas décadas. O país apresentou crescimento do PIB

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de 10,14% a.a., entre 1980 e 2000 e de 10,84% a.a., entre 2000 e 2010. Já os EUA,

a maior economia do mundo, apresentaram crescimento de 3,36% a.a. e 1,84% a.a.,

para os mesmos períodos, respectivamente (UNCTAD, 2014).

Tabela 1: PIB das 10 maiores economias mundiais

Fonte: FMI. WEO (2017)

A tabela 1 exemplifica em análise comparativa o quão grande se tornou a

economia chinesa no mercado mundial. Deixando para trás todas as demais potências

econômicas que dominavam o cenário internacional.

Para alcançar esse elevado índice de poderio econômico e crescimento

constante por vários anos, é preciso retornar ao século XX para analisar as ações que

permitiram encaminhar a China para seu amplo e sólido crescimento.

Entender o passado recente da China, permitirá compreender a importância

das ações realizadas lá atrás, que alicerçaram o alavancar da economia que mais

cresce no mundo.

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3.1 APRESENTAÇÃO DE DENG XIAOPING

Figura 2: Deng Xiaoping na revista TIME. Figura 3: Deng Xiaoping.

Fonte: Time Magazine (1997). Fonte: Wikmedia Commons (2019).

Deng Xiaoping nasceu em 22 de agosto de 1904, em Guang'an, província de

Sichuan, e faleceu aos 92 anos, em 19 de fevereiro de 1997, em Beijing, por

consequência de complicações causadas pelo mal de Parkinson e infecção pulmonar.

Ocupou a liderança do governo chinês de 1978 à 1989, após a morte de Mao Zedong

em 1976.

Formou-se em 1919 na Escola Preparatória de Chongqing e ganhou uma bolsa

para estudar na França. Naquele país também trabalhou como metalúrgico na fábrica

da Renault em Billancourt, bombeiro e assistente de cozinheiro em Paris. Já na França

conheceu o Marxismo o que o fez entrar para a Juventude Comunista Chinesa em

1921. Em 1926, Deng concluiu seus estudos em Moscou e retornou para a China

(BRASIL ESCOLA, 201-?).

Participou da guerra civil no Sul (1930-1934) onde foram derrotados pelo então

líder do governo por Chiang Kai Shek. Participou também da Longa Marcha até o

estabelecimento de uma nova base comunista em Yenan (1934-1936); nessa época,

alinhou-se às teses defendidas por Mao Zedong dentro do partido, que o colocou à

cabeça do movimento quando Mao ganhou o controle em 1935. Durante a guerra

contra os japoneses (1937-1945), Deng atuou como comissário político no exército,

estabelecendo estreitas relações com os chefes militares, que se revelariam decisivas

para impulsionar sua carreira posterior (BRASIL ESCOLA, 201-?).

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Participou da Longa Marcha comandada por Mao Zedong, e com a vitória dos

comunistas (1949), passou a ocupar altos cargos no governo, como vice-primeiro-

ministro (1952) e secretário-geral do Partido Comunista (1954). Foi decisivo na

mudança das relações sino-soviéticas na década seguinte (BRASIL ESCOLA, 201-?).

Como líder partidário entrou para o Comitê Central do Partido Comunista em

1945 e subiu à vice-presidência do governo, tornou-se secretário-geral do Partido e

membro do Politburo. Deng logo mostrou-se um líder pragmático, nos anos do Grande

Salto Adiante (ou Grande Salto em Frente, 1958-1961). Entre 1962 e 1965 tentou

reparar os estragos de Mao (WIKIPÉDIA, 2019).

Destituído durante a revolução cultural, movimento dado por encerrado no IX

Congresso do Partido Comunista Chinês (1969), foi preso acusado de seguir

tendências capitalistas. Retomou o cargo de vice-primeiro-ministro ao tempo em

criava o de vice-presidente do comitê central do Partido e de membro do Politburo

(1975). Homem forte do governo de Mao Tsé-tung, com a morte deste (1976) foi

afastado do poder temporariamente por Hua Kuo-feng, mas logo voltou a ser o

principal dirigente político da China, novamente tornando-se o homem forte do país

(BRASIL ESCOLA, 201-?).

A partir do ano seguinte afastou-se dos postulados maoístas, combatendo os

opositores radicais, especialmente o chamado bando dos quatro. Tornou-se

presidente da Comissão Militar Central do PCC (1981), cargo que exerceu até sua

renúncia (1990). Iniciou uma reforma econômica (1984), repelindo o modelo soviético

(BRASIL ESCOLA, 201-?).

Implantou a economia de mercado e realizou uma política de aproximação com

o Japão e os Estados Unidos, atraindo capitais estrangeiros para o país.

Reaproximou-se do governo soviético (1989) e, junto com Mikhail Gorbatchev,

anunciou a normalização das relações entre a China e a União Soviética. No campo

político manteve-se irredutível na defesa de um partido único, com rigoroso controle

sobre qualquer oposição (BRASIL ESCOLA, 201-?).

Sua imagem foi marcada negativamente pela autorização que concedeu para

o Exército Nacional encerrar de forma violenta os movimentos estudantis por reformas

democráticas, concentrados na praça da Paz Celestial, em Pequim (1989),

provocando milhares de mortes. Acabou renunciando no mesmo ano após a péssima

repercussão internacional.

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3.2 POLÍTICAS ECONÔMICAS IMPLANTADAS POR DENG XIAOPING

Com a morte de Mao, Deng Xiaoping se torna secretário-geral do PCC e se

transforma no dirigente máximo da China, governando o país de 1976 a 1997. Deng

Xiaoping promoveu inúmeras reformas econômicas, cujo desdobramento depois de

uma década foi a implantação de uma economia de mercado nos moldes capitalistas

(CANCIAN, 20--?).

Em 1978, a sociedade chinesa era baseada na agricultura, o que engendrava complexas decisões de alocação de recursos e investimentos na viabilização de um projeto de industrialização. Desse modo, as ações de Deng Xiaoping se deram no sentido de romper as restrições que limitavam a indústria chinesa, bem como a emergência da China como potência mundial. As principais questões enfrentadas por Deng Xiaoping foram: (I) instituições e gerenciamento do campo chinês; (II) o papel do Estado como investidor e planejador; (III) financiamento de máquinas e equipamentos modernos; (IV) modernização do parque industrial. Dessa forma, ao solucionar esses entraves, a China conseguiu abrir caminho para o crescimento econômico (BRANDÃO, 2016, p. 23).

Em 1978 começava o período das mudanças, exclusivamente com

planejamento do Estado, foi aprovado o “Programa das Quatro Modernizações” -

indústria, agricultura, ciência e tecnologia e defesa, que dava início ao que ficaria

conhecido como o socialismo com características chinesas. As reformas chinesas não

foram apenas de abertura econômica, mas também de inovação. As 4 modernizações

foram um amplo projeto nacional de política educacional, industrial, agrícola, ciência

e tecnologia, e defesa. Este programa foi praticado durante todo o governo de Deng

Xiaoping e estabeleceu um marco na história chinesa, materializando o início do

crescimento chinês apresentado nos últimos anos.

Deng Xiaoping conseguiu implementar as reformas, de dezembro de 1978, que

reconfiguraram o papel da China e possibilitaram a maior transformação já ocorrida

em um país em um prazo tão curto de tempo. Em dezembro de 2018, os chineses

comemoram os 40 anos das reformas e 40 anos de crescimento econômico que

possibilitaram a retirada de mais de 1 bilhão de chineses da pobreza e transforam o

país na maior economia do mundo (em poder de paridade de compra – ppp) (ALVES,

2018).

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23

Este dado pode ser visualizado na tabela a seguir:

Gráfico 1: número de pessoas pobres na China.

Fonte: Escritório Nacional de Estatísticas da China. (2018)

O gráfico 1 permite identificar como as medidas implementadas por Deng

Xiaping a partir de 1978, impuseram uma queda vertiginosa no número de pobres na

China, contribuindo para alavancar o mercado interno, que passou a poder consumir

mais.

A ascensão de Deng Xiaoping ao poder após a morte de Mao resultou em

profundas reformas na economia de mercado e na abertura da China ao comércio

global, mantendo suas raízes no socialismo. Deng Xiaoping era um revolucionário

chinês e estadista, o líder da República Popular da China de 1978 até sua

aposentadoria em 1989. Após a morte de Mao Tsé-Tung, Deng liderou a China através

de amplas reformas de economia de mercado (AULA ZEN, 20--?).

É Deng Xiaoping quem implantou as reformas econômicas que fariam da China

o país com maior crescimento econômico do planeta. Destacaram-se os setores da

agricultura, indústria, comércio, ciência, tecnologia e na área militar. A abertura

diplomática foi outro marco de seu governo. Em 1979, ele visitou os Estados Unidos,

buscando atrair investimentos estrangeiros. Criou as ZEE, onde empresas

estrangeiras podiam se instalar, desde que tivessem parceria com empresas

chinesas.

Nestas ZEE as empresas podem gozar de benefícios fiscais, câmbio

desvalorizado, taxas de juros reduzidas, além de mão de obra relativamente

Page 25: O poder da economia chinesa na rocada de importância do ......2 A573p Andries, Vinícius Valverde O poder da economia chinesa na rocada de importância do eixo econômico do Atlântico

24

qualificada e de baixo custo, comparado aos níveis de países desenvolvidos. Estes

incentivos se configuraram em atrativos muitos importantes para produzir, pois se

traduziam em preços menores dos bens finais e maior competitividade por parte das

empresas.

Em suma, as reformas econômicas de Xiaoping foram feitas de baixo para

cima: primeiro as mudanças foram testadas nos municípios e nas províncias; só

depois a reforma foi implantada, gradualmente, em todo o país. Gorbachev também

implantou amplas reformas, mas foram medidas que vieram de cima para baixo e que

foram postas em prática nacionalmente. É por isso que a URSS quebrou enquanto a

China estava a todo vapor (CULTS&RARIDADES, 20--?).

No XII Congresso do PCC (1982), Deng procurou preparar o partido e o governo para a boa implementação da abertura ao exterior e as "Quatro Modernizações" (da agricultura, da indústria, das forças armadas e das atividades de ciência e tecnologia), fixando-lhes para os anos 1980 uma agenda em quatro pontos: (1) reestruturar a administração e a economia; (2) construir uma civilização socialista, cultural e ideologicamente avançada; (3) coibir com firmeza atividades criminosas; e (4) corrigir o estilo de trabalho do partido. Este último ponto foi exigindo a substituição maciça dos velhos quadros, em geral pouco educados, por jovens crescentemente profissionalizados. Também a institucionalização gradual do serviço partidário, através da adoção de limites de idade e duração dos mandatos nos diversos níveis hierárquicos, inclusive nos escalões superiores. No XIII Congresso (1987), Deng deu exemplo quase sem paralelo de coerência com a própria pregação, renunciando voluntariamente à condição de membro do BP e do CC. Com isso, compeliu mais de noventa anciães a também deixarem as duas instâncias. O único maior de oitenta anos a permanecer foi Yang Shangkun, que era o Chefe do Estado e Vice-Presidente da Comissão Militar Central. Deng era o Presidente dessa CMC, e decidiu continuar por algum tempo no cargo, a fim de manter Yang Shangkun sob seu controle (OLIVEIRA, 2003).

Entre os primeiros atos de Deng, após retornar ao poder em 1978, esteve a convocação de uma Conferência Nacional de Ciência, para cuja organização ele chamou Jiang Nanxiang. Jiang foi o secretário-geral do evento, assumindo depois as funções de Vice-Presidente da Comissão Estatal de Ciência e Tecnologia. Deng Xiaoping por sua vez, ao praticamente inaugurar sua era com iniciativa dedicada ao trabalho científico, tornou patente a determinação de atribuir à ciência e tecnologia (C&T) o papel de base das três outras "modernizações", com cuja promoção se comprometera. Isso foi-se tornando mais claro à medida que eram adotadas políticas destinadas a reestruturar a comunidade científica, dizimada e desmoralizada pela Revolução Cultural, que proclamara a necessidade de os intelectuais se adaptarem à "visão proletária do mundo". Deng Xiaoping cuidou de elevar o estatuto dos cientistas enquanto grupo social, afastando da chefia de instituições científicas "generalistas" do partido, em favor de profissionais das áreas correspondentes. E formulou, ao ensejo da Conferência de 1978, duas importantes revisões ideológicas. Classificou as atividades de C&T entre as "forças de produção", e não como parte da "superestrutura"; valia dizer: atividades nem burguesas nem proletárias. Corolário dessa redefinição foi a

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25

aceitação dos cientistas e intelectuais como "partes da própria classe operária" (OLIVEIRA, 2003).

Na década de 1990, as reformas do sistema produtivo se aprofundaram ainda

mais e resultaram num vertiginoso crescimento da economia chinesa, cujas bases são

os investimentos estatais e o capital estrangeiro que foi atraído para a China num

volume sem precedentes na história do país e do continente asiático (CANCIAN, 20--

?).

No gráfico 2, a seguir, pode-se constatar o crescimento do PIB chinês a partir

de 1978, demonstrando também os efeitos positivos das medidas que começaram a

ser adotadas a partir daquele ano.

Gráfico 2: evolução do PIB chinês.

Fonte: BBC News. (2018)

Já o gráfico 3 a seguir, pode-se constatar o mesmo crescimento, em

comparação a outras potências mundiais. Neste gráfico, é possível identificar também

a grande importância de outras potências econômicas que contribuem para o

alavancar do Eixo Econômico do Pacífico, como o Japão e a Índia.

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26

Gráfico 3: comparação de PIB

Fonte: BBC News. (2015)

Não há dúvida de que desde que Deng lançou a política de abertura em 1978,

a China transformou-se de uma economia agrária, atrasada e politicamente isolada,

na maior potência e candidata a liderar a economia do mundo, sendo um ator

fundamental da governança global. Por exemplo, nos 30 anos de 1949 a 1978, apenas

200 mil chineses viajaram para o exterior. Contudo, somente em 2017, eles fizeram

130,5 milhões de viagens no exterior, enquanto estrangeiros fizeram 139 milhões de

visitas à China (ALVES, 2018).

O gráfico a seguir, demonstra mais uma vez a modernização chinesa

vivenciada a partir das mudanças estruturais implantadas nos anos setenta, onde

pode-se constatar a diminuição da participação do setor primário na economia

chinesa, ao passo que o setor terciário assume a liderança, se aproximando cada vez

mais de outras potências econômicas.

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Gráfico 4: composições setoriais da China, Japão e EUA.

Fonte: Blog – China Link Trading. (2018)

3.3 AS RELAÇÕES COMERCIAIS DA CHINA COM O MUNDO, COM DESTAQUE

PARA O BRASIL

Nas últimas décadas, a China tornou-se um ator fundamental no processo de

globalização. A China é ativa no crescimento econômico, no comércio internacional,

no investimento estrangeiro direto e na inovação tecnológica, e desempenha um papel

importante em áreas como as fontes de financiamento internacionais. Sob o efeito

combinado desses fatores, a China mudou rapidamente a paisagem econômica

mundial. A China estabeleceu inter-relações entre as economias em desenvolvimento,

o que permitiu às economias emergentes alcançar níveis sem precedentes de

crescimento econômico, comércio, investimento, redução da pobreza e

internacionalização (JIANGTAO, 2018).

O desempenho chinês atual é resultado de uma série de mudanças estruturais

que ocorreram, a partir da década de 1970. Durante esse período, o governo chinês

tinha como objetivo o aumento da participação chinesa no comércio internacional,

além de atrair investimentos externos. Logo, as reformas previam uma maneira de

viabilizar a abertura do mercado chinês e trazer investimentos para o país. Verificou-

se que a economia chinesa se tornou um dos principais receptores de investimento

direto estrangeiro, sendo que, a China representava 0,11% de todos os fluxos

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mundiais de IDE (Investimento Direto Estrangeiro), em 1980, passando a 9,1%, em

2012 (UNCTAD, 2014).

Como discutido por Sarti e Hiratuka (2010), a China direcionou e deslocou

diversos investimentos, não só da Ásia, como do resto do mundo, sendo peça

fundamental na configuração da divisão internacional do trabalho e na escolha de

investimentos internacionais.

Um dos pontos importantes da política externa brasileira foi a reaproximação

com a China. Em 30 de junho de 1988, o presidente Jose Sarney desembarcou em

Pequim para um encontro com o presidente, Deng Xiaoping. Na época o volume

comercial entre China e Brasil era inferior a US$ 2 bilhões, mas a visita histórica de

Sarney marcou a abertura de um novo período entre as duas nações, uma parceria

comercial estratégica, que tornou a China o principal destino das exportações

brasileiras. Visionários, Sarney e Deng Xiaoping anteviram que Brasil e China teriam

papel de destaque no século XXI (SARNEY, 20--?).

A forte demanda da China por matérias-primas e recursos naturais, alguns dos

quais fornecidos por economias africanas e latino-americanas, reflete o forte ímpeto

de crescimento da China. Nos últimos dez anos, o comércio entre a China e as duas

regiões acima cresceu rapidamente e agora se tornou um importante parceiro

comercial nesses dois continentes. O rápido crescimento da China também beneficia

economias que satisfazem suas necessidades de matéria-prima e recursos naturais.

A América do Sul, especialmente os países que exportam minerais, se beneficiaram

enormemente desse padrão de crescimento (JIANGTAO, 2018).

O Brasil é o primeiro país em desenvolvimento a estabelecer uma parceria

estratégica com a China. A relação entre a China e o Brasil ultrapassou o alcance

bilateral e a influência estratégica-global, sendo cada vez mais proeminente. A China

e o Brasil têm muitas pré-condições e fundamentos para o desenvolvimento

aprofundado de relações amigáveis: ambas são economias mundiais emergentes

igualmente importantes, e não há grandes contradições e grandes conflitos de

interesse (JIANGTAO, 2018).

Em 2009, a China substituiu os Estados Unidos da América como o maior

parceiro comercial do Brasil. Em 2012, a China e o Brasil incrementaram relações

bilaterais com a parceria estratégica integral. Além desse grande fluxo comercial,

ambos são membros do bloco do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul),

ocupando posição de destaque nas relações econômicas em seus continentes e no

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29

âmbito internacional. Essa relação China-Brasil é marcada por interesses em comum

que vêm sendo aperfeiçoados para que ambos países cooperam com seus

desenvolvimentos sustentáveis (JIANGTAO, 2018, p. 11).

Nos mais de 40 anos desde o estabelecimento de laços diplomáticos entre a

China e o Brasil, o comércio bilateral fez progressos consideráveis, especialmente nos

últimos anos, e a tendência de alta se mostrou é atraente. Estatísticas da Alfândega

da China mostram que em 1974 o volume de comércio bilateral entre os dois países

durante o período inicial de estabelecimento de relações diplomáticas foi de apenas

17,42 milhões de dólares, na década de 80 o volume médio anual de comércio chegou

a 755 milhões de dólares e estabeleceu a parceria estratégica do Século XX. No meio

e nos anos posteriores, as relações econômicas e comerciais entre os dois países

mantiveram um crescimento constante e aumentaram para 2,845 bilhões de dólares

em 2000 (JIANGTAO, 2018, p. 28).

No Século 21, sob a influência de múltiplos fatores, a tendência acelerada de

desenvolvimento do comércio bilateral entre a China e o Brasil se tornou ainda mais

aparente. Do ponto de vista do estado do comércio, desde 2001, a China ultrapassou

o Japão para se tornar o maior parceiro comercial do Brasil na Ásia, em 2005, pela

primeira vez ultrapassou a Alemanha para se tornar o terceiro maior parceiro

comercial do Brasil (depois de Estados Unidos, Argentina). Em abril de 2009, tornou-

se o maior parceiro comercial do Brasil e continua até hoje. As relações comerciais

entre a China e o Brasil têm forte complementaridade e são padrões típicos de ganhos

e ganhos (JIANGTAO, 2018, p. 28).

As importações brasileiras oriundas da China estão concentradas

principalmente em máquinas e equipamentos, peças, material de informática, itens de

tecnologia de comunicação, instrumentos de máquinas, aço, transporte e têxteis e

vestuário. Já o Brasil exporta minério de ferro, soja, petróleo bruto, celulose, óleo de

soja e aviões, fornecendo à China uma grande quantidade de matérias-primas,

alimentos e energia.

O relacionamento da China com a América Latina é crucial porque pode

atender à demanda atual e futura da China por matérias-primas e recursos minerais.

Como resultado, embora mantendo seu rápido crescimento, a China também pode

atender às necessidades nutricionais da maioria da população. A atual direção de

exportação e o padrão de investimento refletem o interesse da China em matérias-

primas na América Latina e no Caribe: minerais, metais e florestas (Chile e Peru),

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30

peixes e energia (Argentina, Venezuela, Equador), aço (Brasil). Carne e outros

alimentos (Argentina, Brasil, Chile e Peru) (JIANGTAO, 2018, p. 21).

Desde os anos 1980, o Brasil é o maior parceiro comercial da China na América

Latina e, em 2013, o comércio da China e do Brasil representou 34,5% do comércio

total entre a China e a América Latina.

3.4 CONCLUSÃO PARCIAL ACERCA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO CHINÊS

Ao realizar a análise dos dados factuais do capítulo, pode-se inferir de forma

parcial que Deng Xiaoping conseguiu identificar as deficiências do governo comunista

de Mao Zedong que não permitiam o avanço econômico chinês. A partir daí,

aproveitando-se de sua longa experiência na vida política, pôde realizar um governo

que não fosse maoísta e ao mesmo tempo mantivesse o apoio do Partido Comunista.

Então, com forte apoio popular e político, conseguiu implementar seus projetos

políticos, contribuindo para retirar a China da grave crise em que estava mergulhada.

Ao se constatar o crescimento chinês após os anos 80, fica evidenciado a

correlação, por meio do marco temporal, de como as medidas implementadas nos

mesmos anos 80, permitiram a arrancada do crescimento econômico chinês.

Observa-se ainda que as relações chinesas se espraiaram pelo mundo,

estabelecendo relações comerciais com diversificados Estados. Neste contexto,

identificamos as relações com o Brasil como sendo um importante parceiro comercial

da China, uma vez que o comércio Brasil-China é o maior dentre todos os demais

países da América Latina com a China, ao passo que China ocupa o 2º lugar no

ranking de relações comerciais do Brasil com o mundo.

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4. A CRESCENTE IMPORTÂNCIA DO EIXO ECONÔMICO DO PACÍFICO

Em 1900, o então secretário de Estado dos EUA, John Hay disse: “O

Mediterrâneo é o oceano do passado. O Atlântico é o oceano do presente. O Pacífico

o oceano do futuro”.

Nesse contexto, pode-se afirmar que o fluxo comercial realizado por meio do

oceano Atlântico foi protagonista desde o período das grandes navegações, quando

as potências econômicas do século XV se lançaram ao mar e começaram a ampliaram

suas capacidades de trocas comerciais em distâncias cada vez maiores. O oceano

Atlântico abrigava as embarcações nas relações comerciais entre Europa, Américas,

África e Ásia.

No entanto, diante do cenário apresentado em tela, constata-se a importância

do crescimento de novas economias no leste e sudeste asiático como contribuintes

para o aumento do fluxo comercial realizado pelo oceano Pacífico, conferindo ao Eixo

Econômico do Pacífico, uma importância antes não vista na história.

Historicamente, a incorporação de novos espaços à economia mundial tem

levado à decadência dos eixos econômicos tradicionais e o surgimento de novos polos

econômicos e de poder. Até o século XVI, o mundo mediterrânico era o centro da

civilização ocidental. Em torno de suas águas se concentrava o comércio, a cultura e

o poderio político e militar.

No entanto, no atual cenário mundial que apresenta-se complexo, ambíguo,

volátil e instável, os países buscam alternativas diversificadas para promoverem o

bem estar de seus povos, ampliando e diversificando suas rotas comerciais.

Desde a Antiguidade Clássica, a bacia do Mar Mediterrâneo abrigou as

civilizações egípcias, helênica, cartaginesa, romana, árabe e os modernos povos

cristãos que se valiam dele para efetuar o comércio com os povos “orientais”. Do outro

lado do mundo, civilizações como a chinesa, árabe e hindu organizavam cada uma

em seu entorno sistemas econômicos independentes de proporções maiores daquela

verificada na Europa (PIRES, 2008, p. 1).

Analisaremos a seguir algumas características de cada eixo, de forma a

identificar suas evoluções ao longo do tempo.

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32

4.1 O EIXO ECONÔMICO DO ATLÂNTICO

Figura 4: oceano Atlântico

Fonte: Wikimedia Commons (2019)

O Atlântico é considerado um dos mais importantes oceanos para a economia

mundial em razão dos grandes fluxos comerciais, ao possuir uma localização

favorável entre as maiores potências econômicas da Europa e América do Norte,

aonde os maiores fluxos de mercadorias são realizados por meio do transporte

marítimo (melhor custo benefício). Além da circulação de mercadorias, pessoas e

comunicação (cabos de fibra ótica submarinos), foram encontrados diversas reservas

de petróleo e gás natural, fatores importantes na extração e produção de energia

(FREITAS, 201-?).

Considerando os fatores físicos do Oceano Atlântico, é possível reconhece-lo

como o segundo maior oceano, com aproximadamente 106 milhões de km², e uma

profundidade máxima de 7.750 metros. Suas águas correspondem a 20% da

superfície terrestre e a maioria dos rios do planeta deságuam nele, fornecendo grande

biodiversidade e favorecendo a pesca marítima (FREITAS, 201-?).

Segundo o site Wikipedia, a menção mais antiga sobre seu nome é encontrada

em histórias de Heródoto, por volta de 450 a.C. e seu nome deriva-se de Atlas, uma

divindade da mitologia grega. É por isso que, às vezes, o oceano Atlântico é referido

como "mar de Atlas"

O eixo Atlântico levou à ascensão econômica e política dos países ibéricos, da

Inglaterra, da Holanda e da França e permitiu o acesso direto às riquezas do Oriente,

à captura de africanos para serem escravizadas na América, além de incorporar o

fluxo de mercadorias produzidas no continente americano. Nem mesmo a construção

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33

do Canal de Suez, no século XIX, o caminho mais curto para as “Índias Orientais”, fez

com que o Mediterrâneo revivesse os tempos áureos. O surgimento da grande

potência econômica da América do Norte ofuscou um possível reerguimento do

outrora chamado “Mare Nostrum” romano (PIRES, 2008, p. 3).

Atualmente, o eixo Atlântico de comércio, cultura e poder - assentado sobre a

“Aliança Atlântica”, cujo expoente mais expressivo é a OTAN2, mas também ancorado

nos fluxos comerciais da União Europeia, os Estados Unidos e América Latina – está

sob a ameaça de um eixo emergente na bacia do Oceano Pacífico, decorrente da

predominância assumida pelo o comércio entre os países da APEC3 – Asia-Pacific

Economic Cooperation, particularmente no eixo China e Estados Unidos (PIRES,

2008, p. 3).

Figura 5: APEC

Fonte: Wikipedia (2019)

2 É uma aliança militar intergovernamental baseada no Tratado do Atlântico Norte, que foi assinado em 4 de abril de 1949. A organização constitui um sistema de defesa coletiva através do qual seus Estados-membros concordam com a defesa mútua em resposta a um ataque por qualquer entidade externa à organização. 3 A APEC foi criada em 1989, por iniciativa do governo da Austrália, com vistas a promover a cooperação econômica entre os países da bacia do Oceano Pacífico. Num primeiro momento, 12 países aderiram à nova organização, destacando-se os EUA, Japão, Canadá, Austrália, Indonésia e demais países da Associação das Nações do Sudeste Asiático – ASEAN. De lá para cá, países latino-americanos como o México, o Peru e o Chile também ingressaram na organização, além de China, Rússia e Vietnam.

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34

4.2 O EIXO ECONÔMICO DO PACÍFICO

Figura 6: oceano Pacífico

Fonte: Geografia Ilustrada (2006)

O oceano Pacífico é o mais antigo e o maior do planeta Terra, ele era o oceano

que banhava a Pangeia até que ela começasse a se dividir nos continentes que

conhecemos hoje. Esse oceano representa mais da metade da superfície dos

oceanos e um terço da superfície da Terra, sua área é de 180 milhões de km2

(FREITAS, 201-?). Essa área e maior do que o somatório de todas as regiões emersas

do planeta.

Esse nome se dá ao Pacífico porque ao cruzar o estreito de Magalhães pela

primeira vez, o navegador Fernão de Magalhães acreditava que este oceano possuía

águas mais calmas que o Oceano Atlântico. Esse oceano banha o continente

americano, a Oceania, a Ásia e a Antártica. Por ser o maior do mundo e banhar vários

continentes existem vários climas que atingem este oceano, desde o polar, passando

pelo subtropical, pelo tropical e o equatorial. Por isso a variação de temperaturas de

suas águas vai das proximidades do 0°C nas regiões polares, até próximo aos 30°C

nas regiões mais quentes (FREITAS, 201-?).

É importante lembrar que o início da hegemonia europeia ocorreu num

momento em que o continente era pouco expressivo em termos de desenvolvimento

material e econômico. Conforme estudo do historiador britânico Angus Maddison4, a

Europa representava, em 1500, apenas 17% do PIB mundial, enquanto que a China,

da dinastia Ming, representava 24%, e a Índia outros 24%. Nesse sentido, cabe se

4 Angus Maddison. Historical Statistics for the World Economy: 1-2003 AD. Disponível em: http://www.ggdc.net/Maddison/Historical_Statistics/horizontal-file_03-2007.xls

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perguntar o que explicou esta virada na economia mundial. Por que não foram os

chineses ou indianos que se deslocaram para a Europa, e não o contrário? (PIRES,

2008, p. 2).

Um fator importante para isto foi o domínio de técnicas náuticas, que colocou

os europeus na frente do progresso técnico e possibilitou as navegações de alto-mar.

Mas, ainda assim, continua o problema, pois as técnicas apropriadas pelos europeus

que viabilizaram as navegações oceânicas eram, em grande parte, técnicas orientais.

Creio que o fator que permitiu a utilização prática de conhecimentos técnicos (bússola,

astrolábio, caravela) e de conhecimentos científicos (Astronomia e Cartografia) foi a

lógica da acumulação privada de riquezas (PIRES, 2008, p. 2).

A isto, Fernand Braudel traz um enfoque adicional:

“China e o Islã são, nessa época, sociedades providas, como chamaríamos hoje, com colônias. Ao lado delas, o Ocidente é ainda um ‘proletário’. Mas o importante, é a partir do século XIII a tensão da longa duração que levanta a sua vida material e transforma toda a psicologia do mundo ocidental. O que os historiadores chamaram uma fome do ouro, ou uma fome do mundo, ou uma fome de especiarias, acompanha-se no domínio técnico de uma procura constante de novidades e de aplicações utilitárias, isto é, ao serviço dos homens, para assegurar ao mesmo tempo a diminuição e a maior eficácia de seu trabalho. A acumulação de descobertas práticas e reveladoras de uma vontade consciente de dominar o mundo, um interesse cada vez maior por tudo o que é fonte de energia, dão à Europa, muito antes de seu êxito, o seu verdadeiro aspecto e a promessa da sua permanência” (BRAUDEL, 1970).

As transformações econômicas ocorridas desde o começo dos anos 1980

possibilitaram a emergência de novos países industrializados na Ásia, como a Coréia

do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong, além da incorporação de países da

Association of Southeast Asian Nations - ASEAN5 às cadeias produtivas regionais. O

motor desse crescimento foi o processo de terceirização e deslocalização produtiva

iniciado pelas multinacionais norte-americanas, europeias e japonesas para fugir dos

custos fixos elevados dos países de alto rendimento per capita. Consequentemente,

um novo eixo hegemônico começava a tomar corpo (PIRES, 2008, p. 3).

5 A ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático) é um bloco econômico que foi criado em 8 de agosto de 1967. É composto por doze países do sudeste asiático. Este bloco possui um acordo de cooperação econômica com a UE (União Europeia). A sede do bloco fica na cidade de Jacarta, capital da Indonésia. Embora o objetivo principal do bloco seja o desenvolvimento econômico, ele apresenta também propostas nos campos sociais e culturais.

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36

Figura 7: membros da ASEAN

Fonte: asean.org. (2019)

Outro importante bloco econômico que contribui de maneira decisiva para o

protagonismo do Eixo Econômico do Pacífico é o “Acordo Abrangente e Progressivo

para a Parceria Transpacífica6" (AAPPT). Da análise da figura 8, infere-se que esta

iniciativa irá promover ainda mais as relações comerciais entre seus membros, que

encontra-se “abraçados” ao oceano Pacífico e certamente farão uso dele nas trocas

comerciais pelo modal marítimo.

Figura 8: membros do AAPPT

Fonte: Wikipedia, 2019

A produção na China é essencial nas estratégias de gestão das principais empresas multinacionais do mundo. A partir da China, por meio de terceirizações, subcontratações ou joint-ventures, as multinacionais

6 Acordo de livre-comércio estabelecido entre onze países banhados pelo oceano Pacífico e relativo a uma variedade de questões de apoio mútuo na política e na econômia.

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produzem grande parte dos bens de consumo adquiridos no mundo. A participação das exportações das multinacionais no volume chinês se aproxima de 60% do total. Também é significativo o fato de que a economia chinesa é bastante aberta se considerada sua dimensão continental. A soma das exportações e das importações alcança quase 65% do seu produto anual, diferentemente de economias de forte capacidade exportadora, como Japão, Taiwan e Coréia do Sul, e de pequena absorção relativa de bens importados. Desde épocas remotas, quando o gigante chinês se move, arrasta consigo a economia de todo o Extremo Oriente (PIRES, 2008, p. 5).

É dessa experiência chinesa que deriva grande parte das transformações no

comércio mundial.

Tabela 2 - 20 Maiores Exportadores e Importadores do Mundo. 2006 – em € bilhões.

20 Maiores Exportadores e Importadores do Mundo (2006) *

Maiores Importadores Maiores Importadores Maiores Parceiros Comerciais

Rank. Imports. bilhões € % Mundo Rank. Exports. bilhões € % Mundo Rank. Imp.+ Exp. bilhões € %

Mundo Mundo 7.501 100 Mundo 7177 100

Mundo 14678 100

1 EUA 1491,6 19,9 1 U.Européia 1166,1 16,2 1 U.Européia 2516,6 17,1

2 U.Européia 1350,5 18,0 2 EUA 804,8 11,2 2 EUA 2296,5 15,6

3 China 559,2 7,5 3 China 752,8 10,5 3 China 1312,1 8,9

4 Japão 443,2 5,9 4 Japão 478,3 6,7 4 Japão 921,5 6,3

5 Canada 301,4 4,0 5 Canada 308,2 4,3 5 Canada 609,6 4,2

6 Hong Kong 245,8 3,3 6 Coréia do Sul 251,6 3,5 6 Coréia do Sul 496,1 3,4

7 Coréia do Sul 244,5 3,3 7 Hong Kong 246,1 3,4 7 Hong Kong 491,9 3,4

8 Mexico 190,7 2,5 8 Rússia 230,5 3,2 8 Singapura 385,8 2,6

9 Singapura 177,4 2,4 9 Singapura 208,4 2,9 9 Mexico 374,4 2,6

10 India 149,1 2,0 10 Mexico 183,7 2,6 10 Rússia 335,0 2,3

11 Suiça 138,3 1,8 11 Arábia Saudita 144,7 2,0 11 Suiça 249,8 1,7

12 Australia 113,3 1,5 12 Malásia 124,0 1,7 12 India 243,9 1,7

13 Turquia 107,5 1,4 13 Brasil 112,2 1,6 13 Malásia 221,9 1,5

14 Rússia 104,6 1,4 14 Suiça 111,6 1,6 14 Australia 206,3 1,4

15 Tailândia 98,0 1,3 15 Tailândia 101,1 1,4 15 Arábia Saudita 200,3 1,4

16 Malásia 97,9 1,3 16 Noruega 96,4 1,3 16 Tailândia 199,1 1,4

17 Em ir. Ár. Unidos 89,8 1,2 17 Índia 94,9 1,3 17 Brasil 193,0 1,3

18 Brasil 80,8 1,1 18 Austrália 93,0 1,3 18 Em ir. Ár. Unidos 176,7 1,2

19 Indonésia 70,5 0,9 19 Indonésia 87,9 1,2 19 Turquia 175,0 1,2

20 África do Sul 58,5 0,8 20 Em ir. Ár. Unidos 86,8 1,2 20 Indonésia 158,4 1,1

% sobre o total 81,5 % sobre o total 79,2 % sobre o total 80,1

Fonte: União Européia. DG TRADE SLG/CG/DS, 2007.

Da análise da Tabela 1, em que estão excluídos os dados do comércio interno

pertinentes aos 25 países da União Europeia, nota-se uma grande predominância dos

países da costa do Pacífico. Entre os 20 maiores traders estão 13 países da APEC,

que perfazem 54,7% do total mundial, demonstrando a força do eixo econômico na

Ásia e na Oceania e evidenciando a pujança do eixo econômico do Pacífico. Destaca-

se a presença do Brasil como integrante desse conjunto.

A rota marítima do Pacífico Norte vai ultrapassar os demais corredores de

transportes de mercadorias em termos de volume de fretes, crescendo em 100% mais

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rápido que a tradicional rota do Norte Atlântico, segundo o cenário publicado pelo

International Transport Forum (IFT) 2015 (SINVAL, 2015).

Nos últimos anos, vem aumentando a importância do comércio e transporte

pelas águas do Pacífico, pois esse oceano banha as costas do Japão, China, Coréia

e Austrália, países que vêm aumentando expressivamente suas exportações e

importações, que na maioria das vezes é feito por via marítima (PAREJO, 2014).

4.3 O CRESCIMENTO ECONÔMICO DO EXTREMO ORIENTE

A Ásia continua a ser a região do mundo que recebe mais investimento direto

estrangeiro (IED), com cerca de 30% dos fluxos globais de IDE, indica o Relatório

sobre Investimentos Mundiais 2014 (UNCTAD7 World Investment Report 2014). Os

ingressos totais de IED recebidos pelos países em desenvolvimento da Ásia (exceto

os da Ásia Ocidental) alcançaram 382 bilhões de dólares em 2013, 4% a mais que em

2012.

7 A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) foi estabelecida em 1964, em Genebra, Suíça, no contexto das discussões de liberalização do comércio no Acordo Geral de Tarifas e Comércio. É o órgão da Assembleia Geral das Nações Unidas que busca promover integração de países em desenvolvimento na economia mundial e atual como fórum para deliberações intergovernamentais.

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Gráfico 5: IED

Fonte: Nota à imprensa divulgada pela UNCTAD, 2014, Suíça

A China tornou-se o país mais dinâmico no comércio asiático e é

frequentemente chamada de “fábrica da Ásia”. Essa chamada fábrica é uma rede

complexa de cadeia industrial regional composta de corporações multinacionais, e a

China desempenha um papel importante na origem e no destino de produtos

relacionados. A China tornou-se um importante parceiro comercial da maioria dos

países latino-americanos em um curto período de tempo (JIANGTAO, 2018, p. 20).

Gráfico 6: consumo de eletricidade da China

Fonte: OECD/IEA (2014)

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Gráfico 7: emissão de CO2 da China

Fonte: Banco Mundial

Da observação dos gráficos 4 e 5, pode-se visualizar a crescente demanda

por energia para sustentar todo seu parque industrial, bem como as demandas

oriundas do seu grande e crescente contingente populacional. Outra percepção é a

dificuldade de lidar com a poluição lançada na atmosfera, muito devido a pujança de

sua produção industrial e a grande quantidade de automóveis. São indicadores que

evidenciam uma economia crescente, que terá que procurar formas para superar

esses óbices de forma a continuar sua evolução.

A estratégia chinesa, no entanto, era mais abrangente, pois tinha por objetivo

a constituição de uma moderna economia que pudesse, em médio e longo prazos,

recolocar o país entre as potências mundiais. A modernização visava a aumentar a

produtividade agrícola, dotar o parque industrial de tecnologias de ponta, aprimorar o

acervo científico e tecnológico do país e estruturar forças armadas modernas e

preparadas (PIRES, 2008, p. 5).

Para atingir esses objetivos, uma das táticas adotadas foi atração de empresas multinacionais, com o intuito de atrair investimentos e tecnologia, para formar internamente um poderoso e diversificado parque industrial. Ademais, à medida que o país crescia a taxas médias de 10% a.a., o seu mercado de consumo se expandia, tornando-o atrativo para novos investimentos locais e estrangeiros. Como consequência, dessa estratégia, a China se transformou num grande polo exportador e, simultaneamente, num grande importador, tanto de tecnologia como de matérias-primas e alimentos. Somente entre 1995 e 2006 o volume do comércio exterior chinês cresceu 6 vezes , e a participação da China no comércio mundial subiu de 1,4%, em 1986, para 8,0% em 2006, e esta tendência continua em ascensão (PIRES, 2008, p. 5).

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41

As iniciativas dos países do extremo oriente em estabelecer novos blocos de

cooperação econômica, de forma a se apoiarem mutuamente, tem contribuído para

alavancar as economias na região. Iniciativas como a APEC, ASEAN e AAPPT vêm

trazendo um protagonismo para a região que até então não havia existido.

Além disso, outras economias pujantes encontram-se nessa região, é o caso

dos Tigres Asiáticos. O termo Tigres Asiáticos se refere a quatro países da Ásia (Hong

Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan), que a partir da década de 1970 alcançaram

um acelerado desenvolvimento industrial e econômico. Em razão da agressividade

administrativa e da localização desses países, eles receberam tal denominação.

Foram vários os fatores responsáveis pelo desenvolvimento econômico dos

Tigres Asiáticos. Implantou-se nesses países um modelo industrial caracterizado

como IOE (Industrialização Orientada para a Exportação). Esse modelo econômico é

fundamentalmente exportador; dessa forma, sua produção é diversificada e voltada

para o mercado de países desenvolvidos. No entanto, o consumo interno não é

incentivado, uma vez que os impostos inseridos nos produtos são elevados (PENA,

20--?).

Os Tigres Asiáticos, com exceção da Coreia do Sul, adotaram uma política de incentivos para atrair as indústrias transnacionais. Foram criadas Zonas de Processamento de Exportações (ZPE), com doações de terrenos e isenção de impostos pelo Estado. O modelo sul coreano se baseou na instalação de chaebols8, que se caracteriza por redes de empresas com fortes laços familiares. Quatro grandes chaebols controlam a economia sul-coreana e têm forte atuação no mercado internacional: Hyunday, Daewoo, Samsung e Lucky Gold Star. Somente na década de 1970 começaram a instalar transnacionais na Coreia do Sul, entretanto, essas são associadas a empresas do país (PENA, 20--?).

Também estão presentes no extremo oriente os “Novos Tigres Asiáticos”.

Termo que se refere ao grupo de países de industrialização recente e que vêm

expandindo suas economias a partir dos investimentos gerados pela expansão dos

Tigres Asiáticos antigos e também pela maior inserção do capital estrangeiro

proveniente dos países desenvolvidos. Também chamados de Tigres da Segunda

Geração, os novos tigres são: Indonésia, Malásia, Tailândia, Filipinas e Vietnã. Os

dois últimos também costumam ser chamados de Novíssimos Tigres Asiáticos (PENA,

20--?).

8 Termo coreano que define um conglomerado de empresas em torno de uma empresa-mãe, normalmente controladas por famílias.

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A principal característica dos Novos Tigres Asiáticos é o amplo recebimento

de investimentos estrangeiros, principalmente por meio da atuação das empresas

multinacionais e também de fábricas de peças ou até maquiladoras (montadoras). As

principais fábricas que se instalaram no território dos Novos Tigres são dos setores

têxteis, alimentícios, de calçados, de brinquedos e também de materiais e produtos

eletroeletrônicos (PENA, 20--?).

4.4 CONCLUSÃO PARCIAL ACERCA DA CRESCENTE IMPORTÂNCIA DO EIXO

ECONÔMICO DO PACÍFICO

Conclui-se parcialmente que o a hegemonia obtida pelo Eixo Econômico

Atlântico, a partir do século XV, se deu pela espírito comercial existente nos povos

europeus, que se apropriaram das técnicas de navegação marítima desenvolvida em

grande parte pelos ocidentais e se lançaram ao mar em busca de novos mercados.

Essa expansão pelo mar não foi presenciada nas culturas chinesas e indianas do

século XV, mesmo estas sendo as maiores economias do período.

Outra constatação é a da crescente utilização do oceano Pacífico na medida

em que países banhados por esse oceano passaram a apresentar grande crescimento

comercial e como consequência, passaram a ampliar suas relações comerciais entre

si. Destaca-se as economias da China no leste asiático e a do Brasil e dos EUA no

continente americano.

Também contribui de forma decisiva para fomentar ainda mais a utilização do

Eixo Econômico do Pacífico o surgimento de outras potências econômicas, como os

Tigres Asiáticos e os Novos Tigres Asiáticos, que somando forças com a segunda

maior economia mundial, a da China, transformaram a região numa área de grandes

atrativos econômicos.

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43

5. CONCLUSÃO

A reforma econômica iniciada na China no final da década de 70 é apontada como o principal motivo que levou o país a apresentar o vertiginoso crescimento das últimas décadas e chegar ao posto de 2ª maior economia do mundo. Neste ano, o país que detém o maior mercado consumidor do planeta - 500 milhões de clientes potenciais - obteve o maior ritmo de expansão entre os países do G-20, de 1,8% no primeiro trimestre. O plano de reforma econômica em curso prevê uma economia de mercado socialista relativamente completa em vigor até 2020 e há previsões de que até 2030 a China seja a maior economia do mundo (EBC, 2012).

Pode-se observar também que as relações internacionais acontecem de forma

cada vez mais integrada e ágil nos dias atuais. Na medida que a globalização deu o

pontapé para um mundo cada vez mais multilateral e o advento da internet aproximou

os Estados, o mundo se vê cada vez mais entrelaçado, permitindo que ações ou a

simples ameaça de ações proferidas em um continente, possam afetar diversos

Estados de forma simultânea.

Em relação a China, Deng Xiaoping foi um ator fundamental para dar o

“pontapé” inicial na transformação da estrutura econômica. Seu legado permanece

como ponto de inflexão na transformação de um país que vivia fechado para o mundo

e apoiado em sua agricultura para o país da segunda maior economia mundial.

Já os EUA que ainda é uma potência hegemônica no campo militar, nos últimos

anos assiste uma crescente e desafiadora disputa econômica com a pujante, forte e

crescente economia chinesa, Dessa forma, o protagonismo americano na economia

mundial que foi dominante nos últimos oitenta anos, se depara com um concorrente

forte e ambicioso, fazendo com que os EUA desencadeie medidas estratégicas, como

forma de conter esse grande avanço, promovendo uma verdadeira guerra comercial,

no qual os dois mercados adotam medidas para crescerem ao passo que tentam

dificultar o crescimento e o aumento de influência de seu concorrente.

De acordo com Joseph Nye, em sua Teoria do Tabuleiro Tridimensional,

podemos admitir que no tabuleiro econômico, os EUA não estão soberanos no mundo.

A China mantém uma economia forte, superando as crises mundiais e se adaptando

as demandas de seu mercado interno e externo. Cada vez mais, buscando parceiros

econômicos, abrindo seu mercado e surpreendentemente, passando a contrapor os

EUA na defesa do liberalismo econômico.

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Na medida que a China amplia suas relações comerciais com países do

continente americano, o oceano Pacífico cresce de importância. Nesse contexto, as

relações comerciais entre China, EUA e Brasil, contribuem para alavancar o Eixo

Econômico do Pacífico. Da mesma forma, a pujante economia dos Tigres Asiáticos e

dos Novos Tigres Asiáticos contribuem para o aumento significativo das relações

comercias na costa leste do continente asiático, conferindo ainda mais relevância para

o oceano Pacífico.

Por fim, a relevância do assunto está ligada a necessidade de entender de

forma contextualizada o atual cenário geopolítico mundial no qual no campo

econômico se percebe uma verdadeira guerra comercial entre as duas maiores

economias mundiais, a chinesa e a americana. Cenário este que dificilmente estaria

nas projeções de futuro dos analistas econômicos de cinquenta anos atrás. Mas como

o Eixo Econômico do Pacífico, marcado por grandes distâncias físicas e palco de

países com grandes antagonismos no passado, pôde se alterar tanto nos últimos

cinquenta anos, contrapondo o tradicional Eixo Econômico do Atlântico? Para

responder este questionamento é mister fazer uma análise histórica a fim de

compreender a origem da mudança. Se faz necessário entender também como a

China transformou-se nos últimos cinquenta anos, contribuindo de forma decisiva para

o crescimento da importância econômica do Eixo Comercial do Pacífico.

Conclui-se que a China é a protagonista na crescente mudança de importância

do eixo econômico do Atlântico para o do Pacífico. Como o oceano Pacífico serve de

palco para a sua economia pujante e multilateral se relacionar com o mundo, ele vem

sofrendo nas últimas décadas uma ampliação de suas rotas marítimas, bem como

abarcando o aumento do fluxo comercial por suas águas. Destaca-se ainda que outras

economias fortes localizadas no leste e sudeste asiático, que também utilizam o

oceano Pacífico como rota comercial, contribuem para o aumento de importância do

Eixo Econômico do Pacífico, aumento este com grande chance de continuidade numa

visão prospectiva.

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