o pincel invisível do pintor - notas sobre o simbolismo iniciático nas artes medievais

18
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 1/18 O Pincel Invisível do Pintor otas  s obr e o Sim bolismo Iniciático nas Artes Medievais Eduardo  Carreira Aproximações Pensar  o  mundo medieval  é  sempre uma aventura ver tiginosa  que se  revela mais perturbadora ainda quando nos deparamos  com o simbólico de  suas artes.  Não só  pelo trajeto eruditíssimo a que  somos obrigados  a  percorrer para  ter êxito em tal jornada,  mas também  pelo exotismo  ao  olhar contem porâneo  das teses  aí  naturalmente  implicadas,  somos chamados a  nos  debruçar  sobre um  objeto  difícil e  inquietante, que  oferece, discretamente, perigos tais como aqueles  que  consumiram  o juízo do memorável  fidalgo manchego. Tbdavia, nesta curiosa empreitada, consola bastante saber  que a idéia de  uma  Idade Média, passível de ser  apreendida exemplarmente  através de métodos únicos e  roteiros perfeitos,  só  pode  ser  entendida  a título de  uma  redução ideológica que não  corresponde  à  riqueza da  experiência  plural,  apesar  de  seus riscos. Ainda  que a  solidez  do  projeto  cristão e de  sua hegemo nia  como articulador  da  mentalidade medieval apontem  um objeto  aparentemente  monolítico, a  Europa dos  séculos V  ao XV, para  utilizar um marco redondo, conheceu  e  viveu uma rede  de circuitos  culturais  tão  vasta  e  complexa,  que não  permite reco nhecer uma  única  Idade  Média, senão  que  várias,  já  suspeitadas Eduardo  Carreira  é  doutor  em História da  Arte  e bolsista do CNPq na UnB. Textos  i st [2]  1993):  32-*9. T E X T O S D E

Upload: andre-fssa

Post on 18-Feb-2018

228 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 1/18

O P i n c e l I n v i s ív e l d o P i n t o r

o t a s s o b r e o S i m b o l i s m o

I n i c i át i c o n a s A r t e s M e d i e v a i s

Eduardo

 Carreira

A p r o x i m a çõe s

P e n s a r o m u n d o m e d i e va l  é s e m p r e u m a a v e n t u r a v e r

t i g i nosa

  qu e s e   r e v e l a m a i s p e r t u r b a d o r a a i n d a q u a n d o  nos

d e p a r a m o s

  com o s im bólico d e

  sua s a r t e s .

 Não só

  pe lo tra jeto

e rud i t ís s im o a qu e  somos obr igad os  a   p e r co r r e r pa r a  te r êxito

e m t a l j or n a d a ,

 m a s ta m b ém

  pe lo exot ismo

  a o

  ol h a r c on t em

porâneo da s t eses a í n a t u r a l m e n t e

 im p l i cad a s ,

 som os cham ad os

a

  nos

 debruçar

 sob r e u m

 objeto

 difícil e

 i n qu i e t an t e , qu e

 oferece,

d isc re tamente , pe r i gos t a i s como aque l es   qu e   c on s u m i r a m  o

ju í zo do m em orável

  fi da lgo m anchego . Tb da v i a , n e s t a cu r i o sa

em pr e i t a da , c on so la b a s t an t e s ab e r  qu e a idé ia d e  u m a

  I d a d e

Média , pass íve l de se r  a p r e e n d i d a e x e m p l a r m e n t e  a t ravés de

métodos únicos e   rote iros per fe i tos,  só  pode  s e r  e n t e n d i d a  a

t ítu lo d e  u m a redu ção ideológica qu e não corresp onde   à r i qu e za

d a

 exp er iência  p l u r a l , a p e s a r  d e  seus r iscos .

A i n d a

  q u e a

 so l ide z

 d o

 p ro jeto

  cristão e de

 su a h eg emo

n i a

  como a r t i cu l ado r  d a   m e n t a l i d a d e m e d i e v a l a p o n t e m   u m

objeto

 a p a r e n t e m e n t e  m onolítico, a  E u r o p a d os séculos V ao X V,

p a r a

 u t i l i z a r u m m arco r edondo, conheceu e  v i v e u u m a r ed e  d e

c i rcui tos

  c u l t u r a i s tão v a s t a  e  com p l exa , qu e não pe rm i t e r eco

n h e ce r u m a

 ún ica

 Id ad e

 Média , senão

 qu e vár ias ,

 já

  suspe i t adas

Eduardo

  Carreira

 é

 doutor

  em H is tó r ia da Arte e bo ls is ta do CNP q n a UnB .

Textos

  ist

[2]  1993): 32-*9.

T E X T O S D E

Page 2: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 2/18

O P I N C E L

  IN V I S ÍV E L D O

  P I N T O R 33

i n c l u s i v e

  p e l a l i t e r a t u r a

 h istórica

  co r r en t e quando

  opõe

  a l t a

  e

ba i x a  I d a d e Méd i a , medioevo n órdico e m ed i terrân ico, ou , p a r a

u s a r  u m   e x emp l o m a i s  específico,  quando percebe  as vár ias

versões d o projeto  cristão n o contexto  d a s  l u t a s h erét icas. Já se

d i sse que a  c u l t u r a m e d i e v a l é aque l a que s e expre s sa e m l íngua

l a t i n a

  e

  ocorre entre

  as úl tim as

  c r i ses

  d o

 m u n d o rom a n o

  e a s

p r i m e i r a

  d o m e r ca n t i l i s m o

1

. O m éri to  d e s t a  def inição está em

que assoc ia  a idéia d e  Id a d e Méd ia com as ques tões de  l in g u a

g em

  e d e

 t empo ,

  e não às questões d o

 t r a b a l h o

 — o

  f euda l i smo

— e d a re l i g ião — o cr i s t i a n i s m o — ,  suger indo -nos a existência

de  u m a  t r a m a i r re g u l a r  (n o  s en t i do  têxt i l )  an t e s  qu e de u m

s i s t e m a .

 E s t a

  t r a m a , com pos ta po r e l emen tos  tão d iv ers os com o

os

  ecos

  confusos

  d a an t igü idad e , o gên io

  naif

  d a s

 e t n i a s

  g e r

m ânicas e a   m o d e r n i d a d e árabe m uçu lm ana , é u m a s ín t e s e

o r i g i n a l e  i n c r i v e lm en t e c om p l ex a qu e só pode s e r reconst i tuída

po r me io

  d e

  teses

  a p r o xi m a t i v a s . C o m o

  e m

 todo

  e s tudo a rque

ológico, t a l re f lexão  a s s eme l h a - s e mu i t o m a i s a u m exercício de

br i co l a g em  d o qu e à  m on t a g e m   d e  u m a e s t r u t u r a  i d e a l onde são

assoc iados  a expressão  i n s t i t u c i o n a l d e u m a  i g re j a p a r t i cu l a r

com   u m   s i s t e m a p r o du t i v o d e t e rm i n a do  e   u m as f ron t e i r a s

fechadas . C omo  todo m u n d o d o p a s s ad o, o  m u n d o m e d i e va l  não

se dá aos  olhos d o h i s t o r i a do r senão po r fragm entos  qu e   d e v e m

se r r ecompos to s s i n t e t i c amen te

  a t rav és d e u m exercício — o

r e l a to

  h is tór ico , a memór ia das

 coisa s

  —

  p r a t i c a m e n t e

  i n f i n

dáve l . A s s i m , m a i s  d o que  p r opor modelos p e rm ane n t em en t e

ques t ionados

  p or exceções, é

  e s ti m u l a n t e t r a b a l h a r

 e

  exp l o ra r

as  reflexões   c r i ado ras qu e não  i g no r em   o aspec to inv en t i vo d a

fa la  d o  h i s t o r i a do r  e   a s s u m a m   o seu cará t e r  i n t e r p r e t a t i v o ,

a p ro fundando  a   p e r s p e c t i v a  he rmenêut i ca , na  qu a l , como  r e

corda

 H e r m a n n B a u e r

 e m u m

 fe l iz a r gu m en to ,

  a interpretação

s e r i a

 j u s ta m e n t e  (...) com preensão e t ransm issão de  t udo aqu i

lo

 qu e

 possa

 s e r

 t r a n s m i t id o

 e m

 l in g u a g e m .

 A interpre tação não

se confunde

  c om o

 objeto,

  n e m

 p r o cu r a a t i n g i r

 o

 pon to

  ze ro d e

s u a  reconstrução p e r fe i t a , ma s a o contrário, v i s a e v i d enc i a r su a

H - l - S - T - Ó - R - l - A

Page 3: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 3/18

34

E D U A R D O

  C A R R E I R A

d imensão

  t e m p o r a l

  e

 e sp ac i a l , i nse r i - l o

 em p a râm e tros d e

 com

preensão in te l ig íve is e

  r e a l i z a r

  u m a com unicação

  tomando-o

como ponto  de re ferênc ia

2

.

J a n u s   I a n i t o r

Não há  como fazer  interpretações históricas

  rigorosas

n e m

 com un icações válida s

 sobre

 o

 que que r que se ja , i gn oran do-

se

 a ins crição n o

 t em p o

 d o

 objeto

 qu e nos

 a t r a i . T ra t a ndo -s e

  d a

a r t e med i eva l , i s to s i gn i f i ca

 qu e o

 p r i m e i r o ol h a r p a r a

 o

 p rob l e

m a  d e v e

 d i r ig i r -s e p r i o r i t a r i a m en t e

 à ant igüida de   l a t i n a , qu e é

onde  com eçam a s e r

 ca r dad as

  a s

 f r i b ras

  qu e i rão

 com por m a i s

t a r d e

  o

 tec ido  c u l t u r a l

  sob o

 q u a l acontece

 a

 I d a d e

 Méd ia .

Desd e

  o

 r e l a to

  d e

 P l u t a r c o

3

,

 qu e

 con ta

 d a

 r e f orm a  u r b a

n a  p r o m o v i d a

  n a

  R o m a e t r u s c a

dos

  l a d r i l h o s , v eme l h a

  e

t e r r o sa ,

 p o r

 N u m a P o m p i li o

  —

  onde

 são

 es tab e l ec idas zonas

  e

setores   d a

 c idad e

  d e

 acordo

  c om a s

 a t i v i da de s p ro f is s i ona i s

  d e

seus hab i t an t es , i ns t i tu indo- lhes cu l tos r e l i g i osos

  e prát icas

ce r imon ia i s a f i ns

  —, a an t i gü idad e   l a t i n a

  r e p a s s a

  à civilização

m e d i e v a l

  a noção de que os ofícios e as

  a r t es i m p l i c a v a m

  e m

ritos

  específicos q u e não se

  r e s t r i n g i a m

  a propósitos d e

  o r d em

soc ia l  ou técn ico-ar tesanal . D a

 m e s m a f or m a

  qu e a h is tór ia d e

N u m a , o

 sen t ido dos

 traçados e m

 c ru z

 qu e

 ca ra c t e r i za os a sse n

tam entos o r i g i n a i s das u rb es , rom an as , sobre os qua i s

 s e

 d e s en

vo l v e r am impor t an t e s c i dade s med i e va i s

  como

 B a r c e l ona , L y on

e

  Lon d r e s , en t r e ou t r a s , r e corda

  u m a d iv isão s im bólica do es

paço

  u r b a n o

  qu e

  t r a d u z

  e m b oa

 m e d i d a e s ta

  noção de   t r a n -

cendência das

  a r t e s

  e dos ofícios que o

  a r t i s t a m e d i e v a l

  v a i

h e r d a r

 d o

 m u n d o

 clássico s e m

 m u i to

 esforço.

T r a d i c i ona l men t e mon t a d a s

  a

  p a r t i r

 d e u m

 p l an o d i r e

tor

  básico, iden tificável

  i n c l u s i v e

 n o Pomerium  d a

 R o m a m a i s

a n t i g a  e

  s e m e l h a n t e

  a o

 d e s enho

  d o

 a ca m p a m e n t o m i l i t a r

 d a s

T E X T O S D E

Page 4: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 4/18

O P I N C E L

  IN V I S Í V E L D O

  P I N T O R

35

l eg iões , a

  c i d a d e r o m a n a i n s c r e v i a - s e b a s i c a m e n t e

  e m u m

quad r ado a t r a v e s s ado

  p o r

 dua s v i a s c en t r a i s p e r p en d i cu l a r e s

qu e o d i v i d i a m r e g u l a r m e n t e

4

. U m a da s r e ta s t om a v a  a d ireção

nor t e - su l ,  o

  c h a m a d o  cardo,

  ou dobrad iça , qu e s e

  r e f e r i a

  à

l i n h a  i d e a l d a abóboda  ce les te .  A   o u t r a r e t a ,  ou o  decumanus,

vocábulo de significação  i n c e r t a , t o m a v a  a direção  or iente-oc i -

den te , t endo como  referência a tra jetór ia do so l . O s  quad r a do s

m eno re s formado s a s s im p e lo d e s enho con t i nu a v am  a s e r d i v i

d idos

 e m quad r ícu las

  (decumani

  e

 ca rdines),

  p a r a l e l a s

 a os

 eixos

p r i n c i p a i s , s i t u ando - s e n o pon to d e intersecção d a  c r u z o

 ca pitó

lio,

  ou c abeça d a

  u r b e

  — u m

  t e m p l o

  e m

  g e r a l d ed i c ado

  a

Júpiter,   J u n o  e   M i n e r v a  — , e n a s quadr ícu las os   b a i r r os , d e

acordo

  c om a

 esp ec i fi cidad e func iona l

 d e

 s e u s h a b i t a n t e s

6

.

 N o s

ex t r emos i gua i s d os  eixos  s e  e d i fi c a v am   a s  po r ta s p r i n c i p a i s d a

c i d a d e , v o l t a d a s n a t u r a l m e n t e p a r a   os   pon to s ca rdea i s . Ta i s

po r t a s ,  únicas   v i a s  d e   a c e s so p e rm i t i d a s  à  c id ad e , e s t a v a m

con sa g r ada s

  à

  J an us .

U m a

  d a s  d i v i n d a d e s m a i s a n t i g a s  do pan teão  r omano ,

J a n u s

  e r a  p r o p r ia m e n t e  o  ianitor,  ou o  po r t e i ro ,  qu e  a b r i a  e

f echava  a s  po r t a s ,  ianuae,  d o  ciclo  a n u a l ,  ianua  caeli  e   ianua

inferiu,  ou se ja , os solstícios d e  i n v e r n o e ve rão, pontos ext rem os

do curso so lar  n o  c ic lo zodiaca l . Destas  v inculações   s u r g i u  o

n o m e  d e   j a n e i r o ,  ianuariiis,  a o  p r i m e i r o  m ês do an o , e a s

representações iconográficas

  d e s t a d i v i n d a d e , r e g i s t r a d a

 c om

b i f ron te

  e/ou

 p o r ta do r a

  d e

  d u a s c h a v e s

6

. Sug e r i n do

  a idé ia do

h ie ro fan te ,

  d os

 r i t u a i s

  de inic iação e dos

 cham ad os pequenos

m is tér ios , d e

 fato e r a Janus

  a

 d i v in d a d e

 qu e

 p r e s i d i a

 os

 cu l tos

mistér icos   r e l ac ionados  à prática   a r t e s a n a l , ch e g a n d o  a s e r no

período i m p e r i a l a  d i v in d a d e p a d r o e i ra d os  Collegia Fa brorum,

a s g r ande s  corporações de artesãos

7

.  M i t o  qu e

  r e m e t e

  a u m a

tradição  i n t e r i o r  dos ofícios e   re fere -se  a u m   conhec imen to

s a g r ado

  e

  secreto

  (arcanum magisterium),

  Janus

  Ianitor

  a d

v e r t e  sobre  a exis tênc ia d e  u m s a b e r m i s te r io s o q u e s e v e r i f i c a

v a  p r e c is a m e n t e  n o exercíc io d a s  a r t e s

8

.

H - l - S - T - Ó - R - l - A

Page 5: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 5/18

36

E D U A R D O   C A R R E I R A

C o m

 essas

 e

 ou t r a s i m a g e n s ,

 a ant i gü idad e

 l a t i n a

  r e pa s

s a à l a t in i d a d e cristã a

 forte

 t radição d e qu e a p rát ica a r t e s a n a l

en vo l v i a

  u m

 c a r ac t e r

 extraord inár io,

  recobr indo-se

  a

  a t i v i d ad e

do  a r t ífi ce de u m   im po r t a n t e s i gn i fi cado  demiúrgico, s ímbolo

v i v o d e potências m etafís icas.  E s t a sug estão i m p r e s s i o n ou v i v a

m e n t e

  a

  a l m a m e d i e v a l

  e foi

  i n t e n s a m e n t e t r a b a l h a d a

  po r

aque l e s  qu e s e  v i a m n e l a r e p r e s en t ado s .

M e r c ú r i o

A   noção d e u m a  o r ig e m   o u   n a t u r e z a  não  h u m a n a  d e

cer tas a r t es

  está

  p r e s en t e

  não só no

 p r es t i g ioso d eus r es pon

sáve l

  pe las por tas

  e

  ca m i n h o s ,

 m a s ta m b ém e m

 out ra s conhe-

cidíss imas   figuras  d a  m i t o lo g i a g r eco- l a t i n a , como P r om e t e u ,

Vu lcano  e , p r i n ci p a l m e n t e , Mercúrio, o s e r v i do r d a  a m b r o s ia à

m esa dos im o r t a i s

 e

 e m b a i xa d o r

  plenipotenciár io

 des t es ,

 o

 m a i s

ocupado e   i nqu i e t o d os  d euses , aque l e  qu e  i n v e n t a r a a  e s c r it a e

a l i ra .

D e n t r o  d o contexto  cris tão e n a  s u a express ão as trológi -

ca ,

  dep o is  d o So l , p a i c e l e s t i a l , e d a  L u a , m ãe   u n i v e r s a l , M e r

cúrio se

  m an i fe s t a v a como

  o

  filho

  e

  p a r t i cu l a rmen t e , c omo

  o

m ediad or , aspec to reforçad o p e l a figu ra a m b i v a l e n t e  d e  H e r m e s

qu e  d e u   o r i g em   a o  s im bo l i s m o zod iaca l . Pe r son i f i cad o como

m e n s a g e i r o

  d a

 d i v i n d a d e ,

  Mercúrio ou

 H e r m e s s i g n i fi ca v a ,

 d e

a l g u m a

  f o rma ,  a  pon te concre ta  e   a t i v a en t r e e s t a  e o  in te lec to

h u m a n o , ou , e m  ou t r a s p a l a v r a s , o com ércio en t r e dua s d i s t i n

t a s e conom i a s . R ep r e s en t an do

  u m a s ituação fronte ir iça , e le

a s s u m e o r a o asp ecto de interm ed iár io (o pr inc íp io úm ido qu e se

opõe à potência do  enxofre  n os   t r a t ados  a lquím icos ), ora de

i n t e r v e n t o r

  (a

 c a r t a

 d o

 m a g o

 ou

 ba teleur

  d o

 t a r o

  d e

 M a r s e l h a ) ;

se ja sob  a  f orm a  d e  u m d e u s m ítico, u m a s t r o, u m m e t a l , ou u m

princípio com o o

 r e g en t e

 dos  ofícios ar tísticos  an t es que a  m e la n

col ia

  r e n a s c e n t i s ta

 o su bsti tuísse

  p e lo s im bo l i smo

 d e

 s a t u r n o

9

,

Page 6: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 6/18

O P I N C E L

  IN V I S Í V E L D O

  P I N T O R

37

e vocava s empre

  a

  m e s m a

  noção de

  1

  .xòcendência p róp ria d o

s a b e r

 específico que

 o r ie n t a v a

 a p rática

 das a r t e s ,

 j á

 a n u n c ia do

p e l a   i m a g e m   d e  J a n u s  d en t r e ou t r a s do reper tór io  l e g ado  p e l a

ant i gü idade .

No processo

  de formação do vocabulár io s imból ico da

a r t e m e d i e v a l , a di f ícil a da pta ção d e  certos f ragm en tos  d o

 m u n

do clássico aos p rincípios dou trinários cristãos, com o a  m i to l og i a

es t r i to senso ,

  contará

  f u n d a m e n t a l m e n t e

  c o m o

  a m p a r o

  d e

herança pi tagór ica e neoplatônica —

  sob re v i v en t e

  a

  d u r a s

 p e

n as  n a  cu l t u r a  o c id en t a l ap ós o f ina l  d a an t igü idade — e  com  o

supo r t e  d a

 gn ose

  o p e r a t i v a  de inspiração egípcio-alexandrina,

p a r a

  r ec i c l a r essa  t rad ição e com pat ib i li zá-la com u m a  nova

cu l t u r a  q u e s e  ca r a c t e r i za v a   p or s e r a l érg i ca a   tudo aqu i l o qu e

pude s s e   s e r ide nt i f icad o com  a  crescente  degeneração p a g a qu e

a c o m p a n h a r a

  o im pério  r om an o .

P la tão é  conhec ido  e m   todo  o  medioevo  a t ravés d e co

mentár ios de

 P l o t i n o ,

 d e

 A g o s t in h o ,

 d e Ca lcíd io e de tradu ções

do T i m e u , p r o v a v e l m e n t e

  a única

  o b r a

  ínteg ra do fi lósofo i n

t r o d u z i d a

 no ocieden te

  a té

 os

 séculos X

 e

 X I e

 j u s t a m e n t e a q u e l a

qu e m a i s p r o x i m i d a d e a p r e s e n t a

  c om a trad ição pi tagór ica e

m a i s

  desenvo l ve

  o

 a specto p r opr i am en te

 cosm ológico d o

 d i s cu r

so

 platôn ico.

 A p e s a r

  d a  I d a d e Méd ia n ão t e r

 ti do me l ho r

  noção

d o p i t a g o r i s m o

  d o q u e d e

  o u t r o s i s t e m a

  f i losóf ico grego

qua lque r , a própr ia v inculação d a  g e ome t r i a  e d a m ús ica   d en t ro

do e squ em a das a r t e s l i b e ra i s , b e m como os  conceitos b ásicos d e

consonantia  o u   proportio  n a s   t e or i a s m e d i e v a i s  d o  b e l o

1 0

,

d e m o n s t r a m   q u e o  in f luxo  pitagórico  d e sde  o início  i n s p i r ou  a

cu l t u r a  cristã européia, não  sendo poucos aque les  f i lósofos e

teólogos  p r ofu n da m e n t e  míst icos, es tud iosos d as m atem áticas e

d a a s t r onom ia , p r eocupad os com  a  m e l od i a e  p ron tos  a  a t r i b u i r

aos as t ros ,

 a os

 objetos,

  às

 p a l a v r a s

  e aos núm eros

  m i s t e r i o s a s

signif icações, crédulos nos  m i la g r e s e nos  e n can t am en to s .

H l S T Ó R l A

Page 7: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 7/18

  8

E D U A R D O

 C A R R E I R A

E s s a

  p e r s p e c t i v a

 se

 con fund e ,

 a

 p a r t i r

 do século

 V I , com

e l emen t o s

  da

 c u l t u r a  a l e xa n d r i n a ,

 e

 m a i s p a r t i cu l a r m e n t e c om

a q u e l a s u a

 expressão

  r e l a c iona d a

 aos

 cu l tos m i s t e r i osos

 de

  Is is

e de Osíris,

 qu e

 v e i o a dar

 n o

 que se

 conh ece

 por

 h e r m e t i s m o

 ou

g no s t i c i smo

 egípcio.

 D u r a n t e

 os séculos IV e

 V, co inc id ind o com

a

  estabilização

  i n s t i tu c i on a l

 da I g r e j a ,

 s u r g e

 em

 a m b i e n te

  c r i s

tão de língua

  g re g a u m a

 série de

 p e r s ona g en s , m a i s

 ou

 m eno s

lendárias, que nos

  f a l a m

  de uma discussão

  s i t u a d a e n t re

  as

proposições

  m a i s m a t e r i a l i s t a s

  de Demócrito,

  T eo f r a s t o

  e

Dióscorides e o

  d i s c u r s o

  iniciático que se

  v i n c u l a

 à

  figura

  de

H e r m e s T r i m e g i s t o s

  e, por conseqüência, aos

  cu l tos

  místicos.

D e s d e

  M a r i a

  e

 J u d i a ,

  ch a m a d a

 também de

 M a r i a

  P r o f e t i s a

 ou

irmã de Moisés ,

  c r ia d o r a

 do Kerotakis

  ( a t ano r

  de

 cob r e p a r a

exposição a

  vapores ) ,

  lendária

  i n v e n t o r a

  do

  famoso ba nh o -

m a r i a , até Hipátia, a neo-platônica

 m o s tr a

 de Zózimo

  P a n o p o-

l i t ano ,

  d i t o

  a

  coroa

  dos filósofos ,

  e n c on t r a mos

  uma série de

artífices ou filósofos que

  t r a b a l h a m

  a

  gno s e

  metafísica

  como

referência

  i n t e l e c t u a l

  e se

  u t i l i z a m

  das

  i m a g e n s

  do

  m u n d o

n a t u r a l

  como base

  simbólica

11

. Com um

  i n t e r e s s e

  unânime

ac e r ca

 de

 p e d r a s ,

 pós,

 p i g m e n t os , e r v a s , i n s t r u m e n t o s

 e

 ou t r a s

t a n t a s

 espécies de

 coi sa s s em e l h a n t e s

  (além, é

 c l a ro ,

 de métodos

e técnicas,

 ou

 do arcan um mag isterium

  p r op r i a m en t e d i to ), e s t a

gno s e

 o p e r a t iv a a r t i c u l a v a u m a

 r e d e

 de

 s ab e r e s

 que se

 p a u t a v a

p r e c i s a men t e s ob r e

 o

 u so

 de

 s u a s

 matérias básicas

  como su por

te

  simbólico,

  sobre

  o

  t r a b a l h o m a n u a l com o n o r m a

  e

  sobre

  a

philosophia

  como pe r sp ec t i v a i n t e l e c tu a l , t endo como c en t r o u m

p r o g r a m a

  de tranformação e/ou mutação da

  n a t u r e z a

  e do

m u n d o

  das

  fo r ma s .

  E

  nes t e con tex to

  que a associação que se

d e s e n h a

  sob o

 s i g no

 de Mercúrio,

 e n t r e

  as

 c h a m a d a s

  ciências

s a g r a d a s

(a

 a l qu i m i a s ob re t u do ),

  a

 m e d i c in a (p a r t i cu l a r m e n t e

a farmácia) e as

 a r t e s (e sp ec i a lm en t e

  as fundições e a

 p i n t u r a ) ,

s i g n i f i c a

  m u i t o m a i s

 do que

 u m s i m p l e s a c id e n t e

 de

 p e r cu r so .

Nos

  ecos

 d i s t a n t e s

 das

 fonte s

 pitagóricas e

 a l e xa n d r i n a s

q u e t r a n s p a r e c e m

  no

 s i m b o l is m o

 do Mercúrio, se

 c on f i r m a

 as-

T E

- X

  T

- O - S

  D E

Page 8: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 8/18

O P I N C E L   IN V I S ÍV E L D O   P I N T O R

39

s im

  u m a

 associação

 s u g e s t iv a

  qu e d e m ão em m ão e d e

 boca

 a

ouv ido , l en t amen t e como  e r a própr io do  t emp o  ag rá rio qu e

cad enc i a va   a   v i d a f e u d a l ,  v e m a   c o n s t i t u i r u m a t rad ição tão

i mp o r t an t e

  e m

 t e rmos

  d a

 c u l t u r a  m ed i e v a l como ,

 p o r

 exem p lo ,

a

  c a v a l a r i a , g u a r d a d a s   a s  d e v i d a s  proporções, e o d i s t i n t o mo-

dus operandi  d e   a m b a s

1 2

. T an t o  os   a r t i s t a s  anôn imos que

p e r am b u l a v a m p e los c an t ei ros

 d e

 obras

 d a s

 ca t e dra i s o fe r ecen

do os seu s serviços, com o os ar tífices  p i edosos que faz ia m  a   fam a

de

  l egendár ias

  of ic inas

  comunitár ias

  (Sa in t

  G a l l

  n a Suíça, o

círculo d e São E l o y n a Fran ça ), ou os ar tesãos pr o le tár ios qu e

e n c a n t a v a m   a s   ma i s d i v e r sas co r t e s  semi-bárbaras com  s u a s

m a r a v i l h o s a s  h a b i l i d ad e s , fo r am t ecendo

  com

 e s t as

  noções a

s u a  p a r t e ,  s e m dúv ida   a l g u m a  m icroscópica, m a s ao   m e s m o

t empo m u i t o cu r i o sa , d a v a s t ís s im a   t e i a ou  t r a m a  c u l t u r a l qu e

en vo lv e a s a r t e s m ed i e v a i s . B a s t a o l h a r a cade i a  l i terár ia  qu e s e

conso l ida  c om o t r a t a d o anôn im o conh ecido com o  Compositione

ad tingenda,

  d o século V I I I

1 3

,

 ou

 a

 ob r a

 pictórica d e

 H i e r o n i m u s

B o s h ,

 já  no século X V, p a ra cer t ifi car -se do r ot e ir o, m u i t a s  v ezes

con fuso m as sem pre   de tectáve l , d a construção d e s s a trad ição.

rs

A t r a v és d a

 p a l a v r a  l a t i n a

  ars , a

 c u l t u r a m e d ie v a l

  v e i o a

c i r cun sc r e v e r

  conce i t u a lmen t e ,

  não u m a idéia

  r e l a c i o n ad a

  a

t eor ias  estét icas, posto  qu e  e s t as  a  r i g o r não e x i s t i r a m d u r a n t e

a

  I d a d e Méd i a , m a s , a n t e s , u m a t e or ia d o fazer  e  u m a lógica d o

cons t ru i r

  r e l a c i onadas  com a p oét ica. E   nesse s en t i do  qu e ,

r e t o man d o  u m  p e n s a m e n t o  qu e v e m de A r is t ót e le s e  p a s s a p o r

Cícero, p a r a os  q u a i s a poética é p r op r ia m e n t e  o

 modus operan

di  ou a   ratio  faciendi  d o  su j e i to  no a to do  f a z e r

1 4

,  Tbmás de

A q u i n o  a f i r m a v a  qu e  Ars est recta  ratio  factibilium

]5

,  ou  se ja ,

p r e c i s amen t e  u m a ciência do  fazer, en vo l vend o se m pr e  u m a

operação

 p r o d u t i v a

 (fa ciendi,

 factibilium)

  e

 u m processo cogn i t i

v o

  (ratio, cogitatio).

  C a r a c t e r i z a d a p r e ci s amen t e como

  operação

H - l - S - T - Ó - R - l - A

Page 9: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 9/18

4

E D U A R D O   C A R R E I R A

s ob r e m a t e r i a i s

 físicos e

 m a t e r i a i s m e n t a is

 —

 o

 m árm ore

 p a r a

 o

escultor, a lógica  p a r a o docente  — , a  a r t e  e r a  t om ad a como u m

m e i o p a r a  a consecução de u m a  fi na l i d ad e ,  ou u m a

  opus,

 q u e

ex i g i a ,  a lém d e esforço físico, o esforço  i n t e l e c tu a l . Co in c i d ind o

com   a sentença do  m e s tr e  d e   o b r a s p a r i s i e n s e , J e an M i g no t ,

coordenador

  d a s

 obras

  d o

 D u om o

  d e

 M i l a n o ,

 e m

  1 398 , p a r a

  o

q u a l  Ars sim

  scientia nihil

  esi

m

,

  a

 p e r spe c ti v a

  teológica

 v i a

 n o

exercíc io da

  fa cu ldade i n t e l e c tua l , r eque r i d o s em pre

  e p o r

definição ao

  t r a b a l h o

  do ar t ífice , u m

 e l emen t o

  qu e

  d i gn i f i ca va

s u a  a t i v i d a d e .

A lém d e

 cara c ter izar-s e com o

  ação

 i n t e l ig en t e ,

  a idé ia de

ars

  e s t e v e

  t ambém

  a s soc i ada

  à

  i m a g e m

  d a

  v i r t u d e ,

  qu e s e

r e f e r e , p o r s u a

 v e z ,

 u t i l i za n d o

 a expressão d e

 I s idoro

  d e

 S e v i l l a ,

àquelas

  coisas

 qu e são de

 ta l m a n e i r a ,

 m a s

 podem

  s e r d e

 ou t r a

— em oposição às

  d i s c i p l i n a s ,

 qu e são

  aqu i l o

  qu e são e não

pod em

  s e r d e

  ou t ra f orm a

  —, ou

 s e j a ,

  qu e

 en vo lv em processos

de

  cr iação

1 7

.

 Sobre

  a

 n a t u re za des t e p rocesso ,

  é

 sug e s t i v o

  qu e a

d e u s a

  a legór ica

  V i r t u d e ,  filha

  d a

 Ve rdade ,  fosse  r e p r e s en t a d a

i conog ra fi cam en t e s en t ad a sob r e

  u m

 cubo

 e

 e n c im a d a

 p o r

 u m a

coroa

  d e

 l o u r o s

1 8

.

 A

  s imbo log i a

  d o

 quad r a do

  e d o círculo

 i n d i c a

d a ,

 a s s im ,

 e m re ferênc ias

 c l a r a s , d em a rc a um a po l a r id a d e e n t r e

símbolos

  t e r r e s t r e s

  e s ímbolos

  ce les tes , conf i rmada pe lo d i to

p o p u l a r

 d e q u e a

 v i r t u d e

  es tá no

 m e i o,  Ion médio stat  virtus .

No

  âmb i to

  p a r t i c u l a r

  d a   p i n t u r a ,  pode ver -se  qu e no

preâmbulo dos

 e s t a tu tos

  d a corporação dos

 p i n t o r e s

  d e

  S i e na ,

e l abo rado

  p or

 v o l t a

  d e

  1357 ,

 o

 r e d a t o r

  d e

 d o cum en t o a f i rm a v a

qu e

  Nós

 somos pe la

 g raça de

 D eu s , m an i fe s t a n t e s

  a os

 h omen s

r u d e s

 qu e não têm

  l e t ras , das co isas m i r acu losas ope rad as pe la

v i r t u d e

 e e m

 v i r t u d e d a s a n t a fé

1 9

. A r t e

 d e

 m an i fe s t a r co is a s ,

 d e

fazer

  v is íve is as

 coisa s

  não

 h u m a n a s

 d o

 m u n d o d i v in o ,

 a

 a t i v i

d a d e

  d o

 a r t i s t a

 e r a

 u m a

 m ediação

  en t r e

  o terr i tór io da s

  form as

— o

  m u n d o m a t e r i a l m e n t e e n t e n d id o

  o u

  daque l e s

  qu e não

s a b e m

  l e r —, e o t e r r i tó r i o das

  r e a l i d a d e s

  metaf ís icas que

T E X T O S D E

Page 10: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 10/18

O P I N C E L

  I N V I S Í V E L D O

  P I N T O R

41

pe r t en c em

  a u m

 out ro r eg i s t r o .

  G r e gór io

 M a g n o

 j á

  a s s i n a l a v a ,

por vo l ta  d o a n o 600 , e s t a  função de   f a z e r  v e r ,  qu e  n o r t e a r i a

p a r t i c u l a r m e n t e

 a

 a r t e

 cristão d o

 ociden te ( d i s t in t a por

  e x em p lo

do c r is t i a n i sm o o r i e n t a l

 onde a tradição

 dos

 ícones

 p r e s s u p u n h a

a  p rópr ia m ag ne t i zação do objeto a r t í s t i co)

2 0

 e q u e  t or n a v a  a

a t i v i d a d e

  d o

 a r t i s t a ,

 a lém de

  i n t e l e c tua lme n t e d i g n a , m e t a f i s i-

c a m e n t e

  ne cessária. O

 a r t i s t a s e r i a a s s i m

 não só

 u m

  i l u s i on i s t a ,

u m

  f ab r i can t e  d e  i m a g e n s ,  u m técn ico d o be lo , m a s ta m b ém , e

e x a t a m e n t e

  p o r

 c on t a d e s t a h a b i l i d a d e

 esp ecífica , u m

 t r a d u t o r

ao p l ano

  d a s

  r e a l i d ad e concr e ta s d aque l a r e a l id ad e v i r t u a l

  e

imp r e c i s a

 d a s p a l a v r a s d i v i n a s .

C o n t r a d i çõe s

A i n d a  que a

 I d a d e

 Méd ia   t e n h a h e rd a d o  d o  e sc rav i smo

clássico o

  preconce i to

  e m r e lação ao

  t r a b a lh o m a n u a l ,

  e o

própr io

  m i t o

  d e

  o r i g em

  cristão

  su g e r i s s e

  a idé ia do

  t r a ba l ho

como

 exp iação,

 h a v i a u m a

 pe rcepção d e

 v i d a , c om pa r t i d a e n t r e

e rud i to s

 e

 i gna ro s , na qu a l toda

 e

 qu a l qu e r a t i v i d a d e

  n o

 m u n d o

e r a v i s t a   como  danação,  posto  que a própr ia ex is tência   nes te

mundo d e co r r i a

  d a expu l são de u m

 out ro , i d ea l

  e paradis íaco,

onde  a

  r e a l i dade co rpo ra l , i d en t i f i c ada

  com as pa ixões e as

t r e v a s ,  não  t i n h a  ra zão d e  ser . A   a t i v id a d e  artíst ica e   a r t e s a n a l

não

 e r a a s s i m u m c as o

 a

 p a r t e

 e m re lação a

 qu a l qu e r o u t r a

 ação

ne s t e mundo ,

 com o o exercício d a

 gu e r r a ou dos

 h ábitos

 a l im e n -

ta r e s , d i fe r enc iando - s e conce i tua lm en te somen te das a t i v i d ad es

c o n t e m p l a t i v a s ,

  qu e

 g u a r d a v a m

  em re lação a

  t u do m a i s

 u m a

transcendência única

2 1

.

 M a s , j u s t a m e n t e p or qu e

  s e

 o cup a va

 d o

p ro l on g amen to ,  invenção e ree laboração da  n a t u r e z a ,  a   a t i v i

d ad e a r t e s a na l , s e ja

  d o

 p i n to r ,

 d o

 f e r re i ro

  o u d o

 a rqu i t e t o,

 e r a

e n c a r a d a

  t ambém   como  u m a

  e p i f an i a

  d e

  D e u s a t u a n d o

  n o

m u n d o .

 A

  p e r s p e c t iv a

  d e qu e o art í fice constrói ou reconstrói a

obra

  d i v i n a

 e

 n e s s e

  exercício

  r e d im e

  e m

 p a r t e s eu

 p ecado

  o r i g i

n a l , g a r a n t i a - l h e a s s i m u m a r e s p e i t a b i li d a d e  intr ínseca ao  p e n -

H - l - S - T - Ó - R - l - A

Page 11: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 11/18

42

E D U A R D O   C A R R E I R A

s a m e n t o

  cr is tão que ,

 d i ga - s e

  d e

 p a s s a g e m , s e qu e r

  excluía por

definição os  escravos  d o u n i v e r s o d a sa lvação.

C e r t a m e n t e

  não

  pa s sou de sape rceb i do

  a o

  o l h a r m e d i

e v a l ,

 p a r t i c u l a r m e n t e a c u ra d o e m m a tér ia de he rm enêut ica , o

f r a gmen t o  3 1 d o

 Êxodo,

  n o

 q u a l ,

  e m  m om e n t o  tão  i m p o r t a n t e

como a consagração d o sábado e a  e n t r e g a  a Moisés  d a s Tábuas

d a

  L e i , H a h v e h u n ge  com o esp í r ito d e   E l o h i n  a   B e s a f e l ,  e o

e n c a r r e g a

  d a confecção d e  todo o

 a p a r a t o

 cenográfico d o

 T a b e r -

náculo. D a  m e s m a f or m a ,  a l e gendár ia h i s tór ia do  r e t r a t o  d e

Je s u s

  m e n in o  com

 M a r i a ,

  qu e  t e r i a e n t ra d o t r i u n f a l m e n t e e m

C o n s t a n t i n o p l a  n o

  f i n a l

  do século V,

  feito

  por São  L u c a s k  —

e v a n g e l i s t a  e   p o s s i v e lmen t e  médico,  p a t r ono  das corporações

med i e v a i s r e l a c i onada s

 à  p i n t u r a  e à fa rm ácia — , tam bém não

p a s s a r i a

  d e s a p e r c e b i d a

2 2

.  E n e m   p od e r i am . Com o Toda s  a s

ciências e  a r te s d e v em su a o r ig em   a os  p a t r i a r ca s e p rofe tas qu e

r e c e b e r am e x t e r i o rmen t e as reve lações d e  D e u s e  i n t e r i o r m e n t e

sua s  i lum inações , s e gu n d o  a s  p a l a r a s e o a r g u m e n t o  d e   Roge r

B a c o n

2 3

,

  n a d a m a i s

  n a t u r a l

  q u e a

  a t i v id a d e

  artíst ica se

  r e ves

t i s s e ,

 a os  o lhos d a  r e l ig i o s id a d e cr istã, d e  u m c a ra c te r

 m i r a cu l o

so,

 objeto d e  m a r a v i l h a e a ten ção.

Da s  m u i t a s a r te s

  qu e a  c u l t u r a

  m e d i ev a l

  c r iou ,

  conser

v ou   e

  e s t im u l o u ,

 o

 conhec ido

  (ou m a l

  conhecido) esquema esco-

lást ico do  Trivium  e d o  Quadrivium,  qu e   p r e s s u p u n h a  a

compart imentação hierárquica   en t r e a r t e s  mecânicas e   a r t e s

l i b e r a i s ,

  não  p a s s ou   d e u m a e xp re ss ão  p a r t i c u l a r d e   cunho

e m i n e n t e m e n t e

  i n s t i t u c i ona l

  qu e , a p e s a r  d e não t e r  s id o cr iad o

do nada

 e

 p o r t a n t o

  t e r

 boas

  razões

 p a r a e x is t i r ,

 não

 cor resp on

d eu   à

  c omp l e x i d a d e

  d os

  c i r cu i t o s , d i gam os

  artíst icos, com os

qua i s

  c o n v i v i a (o ofício do a rqu i t e t o p e r t ence  à e s f e ra  d a s  a r t e s

l i b e ra i s   o u d a s  a r t e s  mecânicas?,  onde

  s i t u a r

  a   c h a m a d a

 ars

regia   ou

 a rs

  magna?) .

T E X T O S D E

Page 12: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 12/18

O P I N C E L   I N V IS Í V E L D O   P I N T O R

43

Já o própr io Tomás de

 A q u i n o

  pe rc ebe

  qu e há

  a l g o

  d e

e s t r an h o  n o s is t e m a  d a s  s e t e  a r t e s , quando no t a  q u e a s   a r t es

l i b e r a i s , d e f i n i das s egu ndo  a t rad ição que v e m d e   C a s s i o d o ro

2 4

,

s e r e ssen t em   d e  a l g u m a s  características   a r t e s an a i s  e  p r o d u t i

va s  d a  a r t e d e f i n i d a  e m  ab s t r a t o.  E   a i n d a qu e reconheça qu e

e l as possam   s e r cons id e r a das , ap esa r d i s so,  t ambém   a r t e  p e r

quandam similitudinem

25

,  não  consegue s up e ra r  o  paradoxo

de  q u e a  a r t e  - s e  d e fi n indo  n o d i scu r so e ru d i t o m ed i e v a l p e l a

ação

 c on s t r u t i v a ,

 e

  s endo t an to ma i s

  e l a

 m e s m a q u a n t o m a i s

constrói

 

é cons i d e r ada , quan t o m a i s r e a l i z a su a própr ia essên

c ia ,  menos nobre  e   i mp o r t an t e  a os   olhos  d a s   e l it e s cu l t a s

2 6

.

C e r t a m e n t e  não  i n t e r e s s a e n t r a r a q u i  n o m é ri to da s   con

tradições  en t r e  a lógica  soc ia l d o f euda l ism o  e o

 proje to

 o r i g i n a l

do c r i s t i an i sm o qu e  p e r m i t iu

 e sse

 t i po d e  coi sas , m as

 v a l e

  f r i sar

que es ta  a m bigü idad e é s in tom ática d e u m   c i rcu i to  c u l t u r a l

esp ecífico q u e não r e p r e s en t a m a i s do qu e e l e  mesmo .

Q u a n d o C e n n i n o  C e n n i n i ,  n o p r i me i r o  capí tu lo de s e u

Libro deWArte,

  r e i v i n d i c a

  a herança ar t ís t ica de

  G i o t t o

  e dos

G a d d i ,  d os  qua i s  fo i  a l u n o  p o r m a i s  d e d e z  a n o s

2 7

,  ou   quando

V i l l a r d d e  Honn ecou r t , n a s p r im e i r a s pág inas de  s eu cade rno d e

notas , r ecorda

  a

  l i n h a g e m

  d e

  a rqu i t e t os

  a qu e e le e s e u a v ô

fa z iam p a r t e

2 8

, ambos f az em uma   referência   o r gu l ho sa e  i ncon

fun díve l à tradição a qu e

 p e r t e n cem .

  C e n n i n i ,

 p i n t o r

 d e

 e s t r i t a

observância   g iot t esca ,  começa a  r e d i g i r s eu t ra t ado  e m Pádu a ,

onde   passou pa r t e

  d e

 s u a m a t u r i d a d e , p a r a

  te rminá- lo

  a l g u n s

anos ma i s t a rde , en t r e  1 3 9 0 e 1 3 9 5 , e m   Co l l e  d e   Va l d e l s a ,

p r i v i n c i a n a  c idade  próxim a a F lorença , n a  qua l n a sc e r a . C e r ca

de 150 anos an tes ,  V i l l a r d ,

 qu e

 pode  s e r ch am ad o

  d e

 u m a r t i s t a

m u l t i m e i o s

  d e v i do

  às   s u a s  preocupações com a   e s c u l t u r a ,  a

p i n t u r a , a  a r q u i t e t u r a e a  e n g en h a r i a p r op r i am en t e d i t a , t e r m i

n a

 d e

 enche r

 o

 seu cadern o p or vo l t a

 d e

 1235

 ( v a l e

 l e m b r a r

 qu e

s e t r a t a l i t e r a lmen t e

  d o

  e n c h i m e n t o

d e u m

 cade rno

  d e

  notas

que  i nc lu i desenhos  e  pequenos

  textos ) ,

 e s t ando  e m  a l g u m l u g a r

do noroeste  francês   depois  d e   v i a j a r  p o r m u i t os can t e i r os  d e

H l S T Ó R l A

Page 13: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 13/18

44

E D U A R D O  C A R R E I R A

ob ra s

  d a

 E u r op a  C e n t r a l .

 A p e s a r da s g r a n d e s

 d i ferenças

  en t r e

V i l l a r d  e

 C e n n i n i ,

 os

 a p r o x im a

 a

 m e s m a

 preocupa ção e m

 r e g i s

t r a r u m a

 m em ória , a

 s u a a r t e ,

 e

 d a r co n t in u i d a d e

 a

 u m a ca d e i a

de cos tum es que lhes con fe re i de n t ida de

 e

 lhes

 p o s s i b i l i ta

 encon

t ra r - s e no m u n d o.

 Não

 fosse es sa

 consciência d e

 sabe r - se

 p róprio

e com u m a m issão específica , o art ífice

  m e d i e v a l

  não

  t e r i a

construído

  a l go

  tão

  complexo como

  a franco-ma çonar ia ou a

a l q u i m i a ,

  p a r a

  u t i l i z a r

  do is

  d os

 exem p los m a i s conh ec idos

  d e

tradições

 a r t e s a n a i s

 típica s

 d a Id a d e

 Méd ia . Trad ição de

 m u i t a s

faces, esta

  memór i a   ind ica  u m

  p ro je to in t e l ec tu a l p rec i so

  e

su g e r e

  u m a

 p e r s p e c ti v a

  cosmológica de

  g r a n d e e n v e r g a d u r a ,

e xp r e s s a

  e x e m p l a r m e n t e

  n a fórmu la d e

  Deus como

  Artifex

Afundi,  tão

 q u e r i d a

 dos p latônicos

 m e d i e v a i s .

O l e v a n t a m e n t o

  dos ep íte tos

  u t i l iz a do s

 n a s re ferências

aos a r t i s t a s

  e artesãos nos

  t e xt os m ed i e v a i s con f i rm a e s t a s

impressões .

 A c e r ca

 d e

 s e u r e nome p e s s oa l

 são

 c om u n s

 a s

 p a l a

v r a s

 famosus,

  egregius, electus ,

 incoparabilis,

  ocorrendo  o m e s

m o

  em re l ação à sua

 h a b i l i d a d e

  técnica,

  onde

  são

  n o r m a i s

 os

mot e s

 peritus, ingen iosus ,  pra  ecellentissimus,

  optimus, mirabi-

lis   e   virtuosus.  E m r e fe r ência ao

 s eu s abe r ,

 d e ord inár io

 encon

t r am os a s

 expressões

 doctus ,

 exquisitus , subtilissimus , litteratus ,

argutus  e  sub tilis  ingenii

29

.  N e m o

 com ba te r igoroso

  d e

 i n f lu e n

t e s p r ed i c ado re s como Be rna rdo

 d e

 C h i a ra ,

  n e m o s ilêncio dos

teólogos

 i n s t i t u c iona i s

  com

 s u a s

 m ãos

 d e l ic a d a s , n e m m e s m o

 a

crônica

  n e g r a

  d os

 t empos

  d a po lêmica

  i conoc las t a , onde

 u m ou

ou t ro a r t i s t a che gou

  a s e r

 l i n ch a d o

 p or populações

  e n s and e c i-

d a s ,  p e r m i t e s u p o r q u e a  c u l t u r a  m e d i ev a l  não  r e conh ec e r i a d e

a l g u m a  f o rma aque l e s que , como

  e m

 u m a

 m etáfora d a

 o b r a

 d e

D e u s , e r a m

 os

 cr i adores por

  excelência.

O u t r o  a s s u n t o

  é o

  q u a n t o

  os ar t í f i ces

  m e d i e v a i s

q u i s e r a m   s e r reconh ec idos  e d a r a   c onhe c e r i n d i s t i n t amen t e o

s eu

 m ag is tér io.

T E X T O S D E

Page 14: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 14/18

O P I N C E L  I N V IS Í V E L D O   P I N T O R

45

R e t o r n o

Havendo cu tucado  o  su f i c i en t e  a onça co m a   v a r a —

quem sab e  o quão  cu r t a  (o que   ficou  p o r d izer ,  os equívocos, a

insuf ic iência da expressão e

  d epo i s ,

  o

  fa to

  inexoráve l das

pa l a r a s imp r e s sa s )

  e à

 g u i s a

 d e conclusão do périplo

 l i g e i r o

 q u e

fo i rea l izado  -- , cabe r i a d i z e r a i n d a , como  e m u m a cáp su la d e

descom pressão no  r e t o rno  à su pe rfíc ie , d u a s ou três p a l a v r a s . A

p r i m e i r a

  d e l as

  é

 qu e , p a r a

 a

 p e r sp ec t iv a

  d e u m

 r e s g a t e

  r e a l

 d a

h is tór ia da

 a r t e m ed i e v a l , im po r t a pouco  ( isto

  não

  que r d i z e r

qu e

  não

  impor t e nada ) ,

  q u e a s

  t e ses  aqu i com en t adas soem

e s t r an h a s  à  m a i o r i a  d os própr ios   med i e v a i s . Fo s s e  u m   p a t r i

mônio d ado  e  u m s en so c om u m , a tra dição a r t e s a n a l não   i m p l i

ca r i a  e m  processos re st r i tos  d e in iciação. D a  m e s m a for m a  q u e

u m a  p esqu i sa ace rca

  do qu e

 p e n s a

  a

 m a i or i a

  d os cristãos

  con

temporâneos

 sobre

  a s

 fes tas r e l i g iosas r e ve la r i a m u i to pouco d a

comp l i c ada

 h is tór ia d o

 t emp o sa g rad o ,

  e

 i sso ap es ar de l es es ta

r em i me r s os n e l a , t o ma r  a metaf ís ica   sub j acen t e  a   cer tas

tradições e   certos  s ímbo los da   I d ad e  Méd ia   pe lo  qu e   de les

p e n s a v a

  o ind iv ídu o pad rão não

 r e v e l a r i a m u i t o m a i s

 do qu e a s

interpolações ideológicas que

  c a r a c t e r iz am

  o

  c r u z amen t o

  dos

c i rcui tos p opu l a r - e r ud i t o  e  sag rado-pro fano . C om o  não e r a  nos

so p ropóstio  fazer aqui sociologia  d a  a r t e , m u i t o m enos  d a  a r t e

m ed i e v a l , nos l im i t am os a  c om en t a r u m as e  ou t r as idéias  cer ta

men t e b a s t an t e c l a r a s p a r a a l g u n s h o men s

  e

  m u l h e r e s m e d i

e v a i s .

  T a m b é m é

  im po r t an t e r e s sa l t a r exp l i ci t am en t e , an t e s

que passe d esav i sado  o qu e  d e v e r i a  s e r no tado  à dis tância , qu e

ao t r a t a r  c om a  c u l t u r a  medieva l f i zemos  u m u so se l e t i vo  d a

p a l a v r a

  re l ig ião e ,  a p e s a r  do qu e   p o s sa su g e r i r  u m a   l e i t u r a

d i a g o n a l ,

 n os

 o cupam os aqu i

 com

 a l g o

 qu e e s tá a l ém d a

  es fera

r e l i g i o sa

  (ou d a s u a

  n a t u r e z a

  exotérica

  p r op r i am en t e d i t a ),

mu i t o emb o r a ,

  e

  i s to

  é

  certo,

  s e

  man i f e s t e

  e m b o a

  m e d i d a

a t ravés   d e l a . P o r outro lad o, e  q u an t o  à  a r t e toca ,  n os  p e r m i t i

m os  u t i l i z a r  com  r e l a t i v a fl ex ib i l i d ade   os   termos conexos  (ar

tesão,

  artíf ice e

  a r t i s t a ,

 p or e xem p l o )

  p a r a j u s t am en t e s u g e r i r

H - l - S - T - Ó - R - l - A

Page 15: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 15/18

4 6

E D U A R D O

  C A R R E I R A

u m a

  indis t inção qu e é e m

 s i r e v e l a do r a

 d o

 objeto

 que es t i vem os

e sp i ando .

 S e m

 p r e t en de r e s g o ta r

  o

 t em a

  ou

 s eque r ci r cuns c r e

v e r

  com

  t oda

  s egurança o âmbi to do

  p rob l ema , va l e f r i s a r ,

f i n a l m e n t e , qu e  e s t a com un icação ou

 e s t e

 exercício d e  i n t e r p r e

tação é

 a p e n a s ,

 e

 a n t e s

  d e

 m a i s n a d a ,

 u m

 conv i t e ,

 u m

 aceno ,

 à

reflexão

  sobre

 a

 a r t e m e d i e v a l .

No m a i s , s e r i a r e o r d en a r n o va s n o ta s , u m a o i t a v a   ac i

m a ,

 é

 c la ro .

otas

1.

  U m b e r t o E c o ,

 Arte. e Be.lle.zza NeW Es tetica M edievale  (M i lão :

 E d . B o m -

p i a n i ,

  1987 ) ,

 p p . 3 e s s .

2.  H e r m a n n B a u e r ,

 H istoriografia

  dei Arte  ( M a d r i d : E d .  T a u r u s ,  1 984 ) , p .

168 .

3 .  P l u t a r c o ,

 Viés,

  T o m o  I ( Th é s e e -Ro mu lu s , L i c u r g e - N u m a ) ,

 Numa,

  17/1

a  4   ( P a r i s : E d . B e l l e s L e t t r e s , 1 9 6 4 ) , p p . 2 0 5 /2 0 6 .

4 .  E   l e g i t i m o s u p o r  q u e   e s t a  co inc idênc ia d os t raçados s e d e v e   a n t e s  à

e c o n o m i a  d e s ím bo lo s qu e   n o r t e a v a  a

  c u l t u r a

  d os   p r i m e i r o s p ov os

l a t i n o s

 —

  s a c r a l i z a d a com o

  u m

 todo

  e

  r e s u m i d a

 n a

  figura

  d o

  Pontífex

—, qu e à s d e t e rm in a ç õe s d e   or d e n s m a t e r i a i s  o u  m i l i t a r e s . N a   o c u

pação  n o r m a l d o t e r r i t ó r i o,  a n t e s m e s m o  q u e o a g r im e n s o r  começasse

a s  med i çõ e s do t e r r e n o ,  e o m a g i s t r a d o  o u  c h e fe m i l i t a r o f i ci a l i z a s s e  o

a s s e n t a m e n t o , o a r a u t o c o n s u l t a v a  os aus píc ios e  a s s e g u r a v a - s e m e d i

a n t e   os  s i g n o s  v i s í v e i s a s cond ições m e ta f ís icas d o a m b i e n t e . H á  q u e m

s u p o n h a  u m a  o r d e m d i f e r e n t e  d e   p r i o r i d a d e s . P a r a m a i o r e s d e t a l h e s

p o d e m   s e r c on s u l t a d a s a s  o b r a s  d e  P i e r r e

  G r i m a l ,

 Les

 Villes Roma ines,

( P a r i s :  E d . P r e s s e s U n i v e r s i t a i r e s   d e   F r a n c e , 1 9 5 5 ) ;  e d e E .  S m i t h ,

Architectural Simbolism

  of Imperial  Rome an d the

 M iddle

  Ages ,

  ( P r i n -

c e t o n :

 E d . U n i v e r s i t y

 o f P r i n c e t o n ,

  1 956 ) ,

 p p . 3 0 e s s .

5 .

  Cons t i t u í da   ad  exmeplum

  republicae,

  a

  c o m u n i d a d e

  d e c i dadãos e s

t a v a  d i v i d i d a e m  ordos  e

 sodales

  e , t a l c om o  o exérc i to , s e  a p r e s e n t a v a

T

E X T O S D E

Page 16: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 16/18

O P I N C E L   I N V IS Í V E L D O   P I N T O R

47

n a s

  a s s emb l é i a s

  s o l e n e s f o rm a d a

  e m c en túr ia s e

  d e c u r i a s

  q u e s e

p o s i c i o n a v a m r i t u a l m e n t e

  n o e spaço

 c e r i m o n i a l .

6 . L o u i s C h a r b o n n e a u - L a s s a y , U n a n c i e n e m b lèm e  d u m o is  d e   j a n v i e r ,

Regnabit ,  V o l . I  ( ju lho/1929).

7.   J e a n  P i r r e W a l t i z i n g ,

  Les

  Corpora tions Professionelles

  chez les Ro-

mains  ( L ov a in : s/ed ., 1985 ) , vo l .

  I, p p .

 20 8

 e s s .

8 . D e r i v a d o  d o g r e g o misterion,  c u j a r a i z  é  mu,  d e  ond e p roc ed e  o  m o t e

l a t i n o  mutus,

  a  p a l a v r a  m i s t ér i o  i n d i c a  o r i g i n a r i a m e n t e a n t e s  o  i n e x -

p r im í v e l qu e o i n cogn i s c ív e l ,  a q u i l o  q u e n ã o s e n d o  s u s c e tív e l d e s e r

d i r e t a m e n t e e x p r e s s ad o

  n ão

 p o d e

 s e r

 m a i s

  q u e

 s u g e r i d o

  p o r

  r e p r e s e n

t ação s imbó l ica .

9 . R u d o l f W i t t o k o w e r ,  Bojo ei

  signo

  de  Saturno  ( M a d r i d :  E d . C á te d r a ,

1982) ,  p p .  7 9 e s s .

10 .

  E m

 R o g e r B a c o n ,

  Opus  Maius,  IV , 17 e

 V i c e n t e

  d e

 B o u v e a i s ,

  Especu-

lum Maius,  v o l . I I ,  11/12/14 (E xtr a tos i n

 Fu entes  y Documentos

  para

  la

H istória dei Arte,  o r g . Joaqu ín  Y a r z a , v o l .  I I ,  E d . G u s t a vo  G i l l i B a r c e

l o n a ,

  1 9 8 2), e n c o n t r a m o s d u a s t e n t a t i v a s , d e s i g u a i s  p o r s u p o s t o,  d e

e x p l o r a r e s t a s  noções d e i n sp i r ação p i t a gó r i ca n o âm b i t o d e  u m a t e o r i a

d a s f o rm a s .

1 1 .  C h i a r a C r i s c i a n i ,  Alvhemie  et  Philosophie  a u  Moyen  Age  ( M o n t r e a l :

E d .  L ' A u r o r e / U n i v e r s , 1 9 8 0 ) , p p .  1 3 e s s .

12.  Não é  d e s p r o p o s i t a d o e s t a b e l e c e r p a r a l e l o s e s t r e i t o s e n t r e   a t rad ição

a r t e s a n a l  e a   c a v a l a r i a .  O s   t r a t a d o s  d e  R a i m o n   L l u l  s ob r e  os   dois

t e m a s ,

  b e m

 com o

  a

  t r a m a

  q u e  e n v o l v e  o m a g o  M e r l i n  e o r e i

  A r t h u r ,

i n d i c a m   i n c l u s i v e  u m a   c e r t a  r e l ação de   c o m p l e m e n t a r i e d a d e e n t r e

a m b a s .

1 3 .  C o n h e c i d o  c o m  Compositione  a d  tingenda musiva  o u   M a n u s c r i t o  d e

L u c c a ,

  o

  t ex to

  q u e t e m o

 m o d o

  d e t í t u lo o

 n o m e m u i t o m a i s e xt e n s o

  e

s u g e s t i v o  d e

  Compositione

  a d  tingenda musiva,

  pelles,

  et  alia,  a d

deaurandiim  ferrum, ad  mineralia,  ad  chrysographia,  ad  glutina,

quaedam confacienda, aliaque artium  documenta, an te ann os  nongen -

tos

 scripta,  r e p r es e n t a — j u n t o  a  o u t r o  opúsculo p r a t i c a m e n t e c on t e m

po rân eo e t am bém anôn im o , o  ch a m a d o  Ma ppae Clavicula  — a   f on t e

m a i s c o p i a d a  e  r e p r o d u z i d a p el os a r t i s t a s , p a r t i c u l a r m e n t e p e los  p i n

t o r e s , e n t r e   os séculos X e  X V . A m b os  os t r a t a d o s r e co l h e m c o m g r a n d e

p rec i são u m col e ção he t e rogênea d e  a r t i g o s  d e  f on t e s l i t e r a  i a s c lás s i

ca s  ( T e o f r a s t o ,  P l ín i o , e t c ) , a l e xa n d r i n a s  ( r ep e t i çõe s d e  f r a g m e n t o s  d o s

p a p i r o s

  d e

  S t o k o l m o

  e

  L e y d e n )

  e d a t r a d i ç ão

  o r a l c i r c u l a n t e

  n a s

o f i c inas  d a It á l ia u m s écu l o ou  do i s d ep o i s  d e  C a r l o s M a g n o . A m b o s  s e

i n s c r e v e m   e m u m a h i s tó ri a l it e r ár i a q u e   r e m o n t a  a os   t a b l e t e s  d a

b i b l i o t e c a  d e A s s u r b a n í p a l ,  c e rca  d e 6 5 0 a C   ( D a n i e l T h o m p s o n ,  T h e

C o m p o s i t i o n e   a d   T i n g e n d a ,

  Technical

  Studies  (F og g A r t  M u s e u m ,

H a r v a r d ) , v o l .  I II , p p .  220 -231 .

H l S T Ó R l A

Page 17: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 17/18

48

E D U A R D O   C A R R E I R A

14 .

  Rosá r i o

  A s s u n t o , P o e t ic h e ,

  Enciclopédia

  Universale. delVArte

  ( V e n e

za/Roma , 1958/1967 ) , vo l . X , p p . 6 7 0 - 6 9 7 .

15 .  T o m á s d e  A q u i n o ,  Suma  Teológica,  I - I I , 57 , 4  ( M a d r i d : E d .  C a tó l i ca ,

1954 ) .

  V e r t a m b ém

 I,

 1 4 , 8 :

  (...) S c i e n t i a a u t e m a r t i f i ci s

  e s t

  c a u s a

a r t i f i c i a r u m ;  q u o d a r t i f e x o p e r a t u r

 p e r s u u m

  i n t e l l e c t u m (...). .

16 .  A n a n d a C o om a r a s w a m y ,

  Traditional  Art an d  Simbolism

  ( P r i n c e t o n :

P r i n c e t o n U n i v e r s i t y P r e s s , 19 8 9 ), p p .

 2 2 9 .

17.  I s i d o r o

  d e

 S e r v i l h o ,

 E timologias,

  L i r o

  I,

  c a p .

 I , a r t . 2

 e

 3

  ( Ma d r i d :

  E d .

B i b l i o t e c a   d e

 A u t o r e s C r i s t i a n o s , 1 9 54 ),

  p p . 6 .

18 .

  M i g u e l C o n t r e ra s

  e t a l t . ,

  Atlas

  Iconográfico de

 la

 M itologia Griegal

Romana,

  v o l . II ( B a r c e l on a : E d . B e l l a t e r r a , 1 98 3 ), p p .

  2 1 9 .

19 .  A l e s s a n d r o

  C o n t i ,

  L ' E v o l u z i o n e

 d e i

 A r t i s t a ,

  i n  Storia delVArte  Itali

ana,  v o l . II (T u r i m : E d . G i u l i o  E i n a u d i ,  1 969 ) , p p .  2 0 8 .

20 .

  G r e g o r i o M a g n o ,  Epistolae,  i b d e m , n o t a 1 1 . H á u m a g r an d e  co inc idên

c i a

  e n t r e  e s t e   a s p e c t o

  d a

  a r te m e d i e v a l e a l g u n s

  p r inc íp ios da

  a r t e

h i n d u  e d a

 a r t e

  taoís ta

  r e l a c i o n a d o s

  às idé ias d e rasa  e ching,

  r e s p e c

t i va m e n t e . E d u a r d o C a r r e i r a ,  L o s T r a t a d o s  d e  P i n t u r a  M e d i e v a l e s .

( B a r c e l o n a :  t e s e  d o u t o r a i , m i m e o , 1 9 9 2 ),

  p p . 2 6 3 e s s .

21 .  A o m e n os  é e s t a a  p o s t u r a d a q u e le s  cr istãos  v i n c u l a d o s a  u m a p e r s p ec

t i v a  m a i s

  m ís t i ca ,

  c omo

  o

 M e s t r e  E c k h a r t ,  p a r a q u e m  (...)

 a

  a l m a

  só

a t i n g e a s u p r e m a b e a t i tu d e e n t r a n d o

  n a

 d i v i n d a d e d e s e r t a on d e

  não

e x i s t e  n e m  o b r a n e m  i m a g e m (...). Sermones,  I, 3  {Opere,  v o l . I ,  R o m a :

E d .  M a l l a t e s t a , 1 9 8 2).

22.  S c h a e f e r ,  J e a n  O w e n s : S a i n t L u k e

  a s

 P a i n t e r : F r o m S a i n t

 to

 A r t i s t ,

i n

  Artistes, Artisan s  et P roductioti  Artistique  ou Moyen  Age,  c o l .

 I

( R e n n e s / P a r i s :  E d . U n i v e s i té d e   R e n n e s , 1 9 8 3 / 1 98 6 ),  p p . 4 1 4 . V e r

t a m b é m T o m á s d e

 A q u i n o ,

  Suma  Teológica,  I I I , 25 , 3

 e

 4 ( Id e m

  n o t a

15) .

23 .

  R o g e r B a c o m ,

 Opus

  Maius,  v o l .

 I I , 3 ( i n

 Y a r z a ,

 p p .

 1 9 4, i d e m n o t a

 1 0 ) .

24 .

  C a s s i d o r o ,

  D e

 A r t i b u s

 e t  D i s c i p l i n i s

  L i b e r a l i u m

  A r t iu m ,  P I . 70 , co l .

1 1 5 1

  ( i n

  A s s u n t o

  Rosár io ,  e  En ciclopedie delVOcc idente M edievale,

T u r i m :  E d . L o e s c h e r , 1 9 8 1 ).

25 .  T o m á s d e

 A q u i n o ,

 Suma  Teológica,  I- I I ,

  5 7 ,

 3

 ( Ib i d e m n o t a

  15 ) .

26 .  U m b e r t o E c o , I b i d e m n o t a

  1,

 p p .

 1 3 9 .

27.  (...)  E n t ã o  co m o p e q u e n o m e m b r o e x e r c i t a n t e  n a   a r t e  d a   p i n t u r a ,

C e n n i n o d ' A n d r e a

 d a

 C o l le

 d e

 V a l d e l s a n a t o,

 f u i

 i n f or m a d o

 n a

 d i t a  a r t e

d o z e   a n o s

  p o r

  A g n o lo

  d e

  T a d d e o

  d e F lo re n ça m e u

  m e s t re , o q u a l

a p r e n d e u

  a

  d i t a

  a r t e

  d e

 T a d e o

  s e u

 p a i ;

 o

 q u a l

 s e u p a i fo i

 b a t i z a d o

 p o r

G i o t t o e

 fo i s e u d i s cípu lo

  a n o s v i n t e e q u a t r o . (...) A p i n t u r a  m e r e c e

T

E X T O S  D E

Page 18: O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais

http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 18/18

O P I N C E L   I N V IS Í VE L D O   P I N T O R 4 9

e s t a r s e n t a d a

  a o

  l a d o

  da c i ênc i a e s e r

  c o r o a d a

  d e

  p o e s i a

 (...) •

  Libro

delVArte,

  c a p .  I  ( V oi c e n z a : E d . N e r i P o z z a , 1 9 7 1 ),  p p . 2/3.

28 .  N e s t e  l i v r o você poderá  e n c o n t r a r os  e n g e n h o s  d o b o m  f id a l g o A l e s s i s

F u l l i b i e n   m e u a v ô o

 q u a l

  s e

 c h a m a

  o

 s e n h o r

  d e

 M o n t g n i e ,

 você

  l e m b r e

d e l e   e d e

  t o d a

  s u a

  l i n h a g e m

  d e

  a r q u i t e t o s . Carnet

  de  Villard  de

Nonnecourt ,

  v o l . l / v e r so ( P a r i s : E d .  C e n t r e N a t i o n a l

 d e s

 L e t t r e s , 1 9 8 6 ).

29 .

  M u r a t o v a ,

  X e n i a :

  R e m a r q u e r

  s u r 1 'Im a g e s o à a l e e L i t t é r a i r e d e

1 'A r t i s t e  a u  M o y e n  A g e , i n

 Artistes, Artisan s  et Prodiiction Artistique

au Moyen  Age,  v o l . I

  ( R e n n e s / P a ri s : E d .

 U n i v e r s i t é d e

  R e n n e s ,

 1 9 8 3 /

1986 ) ,

 p . 5 7 .

H l S T Ó R l A