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O PATRIMÔNIO CULTURAL DA BAIXADA SANTISTA Estudo do Meio – n o 2 História – Prof. Caco 6 o ano – 2011 Ensino Fundamental 2 Nome:_____________________________________________________________ Nº: _______ Data: _______/ _______/_______

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O PATRIMÔNIO CULTURALDA BAIXADA SANTISTA

Estudo do Meio – no 2

História – Prof. Caco6o ano – 2011

Ensino Fundamental 2

Nome:_____________________________________________________________ Nº: _______

Data: _______/ _______/_______

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O PATRIMÔNIO CULTURAL DA BAIXADA SANTISTA

ENGENHO DOS ERASMOS

Em 1516 o rei D. Manuel procurou introduzir o cultivo da cana e a tecnologia da fabricação

do açúcar no Brasil. “Naquele mesmo ano, além de machados, enxadas e outras ferramentas, enviou

à colônia um homem prático e capaz, com instruções para instalar um engenho de açúcar, mandando

fornecer-lhe ferro, cobre, e mais todo o material necessário para a construção”.

A expedição de Martim Afonso de Souza a São Vicente em 1532, pode ser considerada o

ponto de partida para a indústria açucareira no Brasil, pois, segundo a citação do padre Simão de

Vaconcelos, a da Capitania de São Vicente “foi a primeira que teve plantas de cana de açúcar [...]

foi na Vila de São Vicente onde se fabricou o primeiro açúcar no Brasil”.

A produção regular de açúcar no Brasil só poderia se desenvolver com a fundação de uma vila, a de

Martim Afonso de Souza, donatário da Capitania de São Vicente, considerado pioneiro na colonização do

Brasil. Ele foi responsável pelo lançamento das bases da ocupação da região, criando uma infra estrutura

que permitiu a fixação dos portugueses no território. Além de doar sesmarias e construir fortalezas,

introduziu o cultivo da cana de açúcar na capitania, levando à construção do Engenho.

Dentre as unidades produtoras de açúcar, destacamos o outrora denominado Engenho do

Governador, posteriormente “dos Erasmos”, quando adquirido pela família Schetz de Antuérpia.

O Engenho dos Erasmos tornou-se propriedade dos Schetz por intermédio do flamengo Johan

Van Hielst ou João Ve Niste que, desempenhando a função de representante comercial da família,

contraiu sociedade com Martim Afonso, Pero Lopes de Souza, Francisco Lobo e Vicente Gonçalves em

1533 (os acionistas desta companhia chamavam-se “Armadores do Trato”). Nesta época o governador

da capitania objetivava arrecadar recursos para levantar o dito engenho que seria construído em 1534.

A sociedade desfez-se quando Martim Afonso viajou para as Índias e seus sócios negaram

recursos para dar continuidade aos investimentos na manufatura açucareira. Van Hielst permaneceu

no empreendimento mas, em 1540, as outras partes foram compradas por Erasmos Schetz, que

alguns anos mais tarde incorporou o que cabia a Van Hielst.

Originários da Franconia ou Aachen , atual área de fronteira entre Holanda, Bélgica e Alemanha,

os Schetz iniciaram suas atividades comerciais por volta de 1500, com a iniciativa do patriarca

Coenraedt Schetz, pai de Erasmos.

Ainda no primeiro quartel do século XVI, Erasmos Schetz aparece como fundador de uma

empresa em Leipzig. Seus negócios na Alemanha envolviam uma casa bancária, seguros marítimos e

minas de cobre e prata. Em seguida, suas atividades comerciais estenderam-se até Antuérpia, Bruxelas

e Amsterdã. Os Schetz distribuiam seus produtos por toda a Europa e tinham ligações de caráter

comercial com italianos, holandeses, franceses, portugueses, alemães, além da Companhia de Jesus.

Sem dúvida, o período de apogeu do Engenho São Jorge dos Erasmos como manufatura

açucareira foi sob a direção da família Schetz. Os documentos da época colonial registram que esses

negociantes flamengos fizeram várias tentativas de vender sua propriedade no Brasil entre 1593 e 1612.

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O Engenho funcionou, segundo Paul Meurs, até o século XVIII. E, ao longo desse período,

produziu cana para exportação, além de rapadura e aguardente para consumo interno no século XVIII.

Ao longo desse século, porém, podemos constatar a decadência da propriedade. Para a produção de

açúcar e derivados, além da fábrica propriamente dita, o Engenho comportava unidades administrativas

e residenciais, inclusive dependências dos escravos (senzalas). A documentação escrita revela, segundo

Stols, que o engenho se compunha de “[...] uma casa muito grande com seis lanços, uma senzala

com uma ferraria provida de baluartes e ainda duas casas cobertas de telhas, muito boas e fortes [...]

todas estas casas se erguem numa altura e todas juntas e próximas de maneira que nenhuma fazenda

seja tão forte para os contrários.”

Existem divergências em relação à data em que o Engenho São Jorge dos Erasmos teria sido

construído. Historiadores como Maria Regina da Cunha Rodrigues e Pedro Taques de A. Paes Leme

apontam o antigo Engenho do Governador como sendo o primeiro da Capitania de São Vicente

(1533). Francisco Martins dos Santos afirma que foi o segundo (1534-35); e Basílio de Magalhães e

Paul Meurs acreditam que o Engenho dos Erasmos foi o terceiro empreendimento desse tipo a ser

construído na região.

Em 1943, os terrenos com as ruínas foram adquiridos por Otávio Ribeiro de Araújo, que loteou

a propriedade e doou o Engenho São Jorge dos Erasmos à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências

Humanas da USP, no ano de 1958.

Em 1958, Luís Saia, chefe do 4º Distrito da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional, órgão federal, relatou ao presidente da Comissão Especial do Engenho São Jorge dos Erasmos

que realizou prospecção e definiu o partido arquitetônico como de “modelo açoriano, tipo real e

movido à água”. (Saia, 1958). No entanto, é importante salientar que o engenho é o único exemplar

que restou na Baixada Santista, como testemunho dos tempos em que a indústria açucareira era o

produto essencial nos negócios e na economia da Capitania de São Vicente.

http://www.usp.br/prc/engenho/

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Trens e cana-de-açúcar

Engenhos e ferrovias são os testemunhos das primeiras atividades industriais brasileiras

Patricia Mariuzzo

“Cada engenho é uma máquina e fábrica incrível. Em cada um, de ordinário há seis, oito ou mais brancos e, ao menos, 60 escravos, que se requerem para o serviço. Os trapiches, engenhos que moem a cana com bois, requerem 60 bois, os quais moem de doze em doze, revezados: começa-se de ordinário a tarefa à meia noite e acaba-se no dia seguinte às três ou quatro horas depois do meio dia. Em cada tarefa se deita 60 a 70 formas de açúcar branco e mascavo. Cada forma tem mais de meia arroba. Os serventes andam correndo, e por isso morrem muitos escravos. Tem necessidade cada engenho de feitor, carpinteiro, ferreiro mestre de açúcar com outros oficiais, que servem do purificar. Os mestres de açucares são os senhores do engenho, porque em sua mão está o rendimento e ter o engenho fama, pelo que são tratados com muitos mimos, e os senhores lhes dão mesa, e cem mil réis, e outros mais a cada ano”.

O trecho acima foi retirado de uma carta escrita pelo padre jesuíta Fernão Cardim, em missão no Brasil, entre os anos 1583 e 1590. O padre tenta descrever aquele que será o primeiro empreendimento industrial no Brasil. Quando se fala em indústria brasileira a imagem corrente relaciona-se muito fortemente a construções industriais do fim do século XIX e início do século XX. No entanto, os engenhos, por exemplo, marcam uma das primeiras atividades industriais do Brasil.”

Os engenhos podem ser considerados patrimônio industrial porque, embora não se refiram ao período da Revolução Industrial ou mesmo posterior, são registros do trabalho humano, do maquinário, das ferramentas e processos de produção que consideramos patrimônio industrial. Aliás, os primeiros trabalhos acadêmicos realizados no Brasil, nas décadas passadas, em termos de patrimônio industrial, foram exatamente sobre engenhos do Nordeste”, afirma Cristina Meneguello, historiadora da Unicamp e presidente do Comitê Brasileiro de Preservação do Patrimônio Industrial (TICCIH-Brasil).

Uma oportunidade de estudar o patrimônio industrial do Brasil Colonial pode ser encontrada nas ruínas do Engenho São Jorge dos Erasmos, na cidade de Santos, litoral de São Paulo. Fundado por Martin Afonso de Souza, o primeiro proprietário, governador da então Capitania de São Vicente, o Engenhos dos Erasmos é o mais antigo preservado no país. Pertence, desde 1958, à Universidade de São Paulo (USP). Foi tombado pelo Iphan em 1963 e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) em 1974. Em maio de 1995, a USP e a Prefeitura Municipal de Santos assinaram um termo de compromisso para escavação, revitalização e conservação do Engenho. A primeira etapa da escavação já foi concluída, permitindo avaliar o potencial arqueológico para posterior escavação mais detalhada e sistemática na área. “As ruínas já se constituem em um conjunto notável para criar uma narrativa sobre o tempo remoto do passado colonial, ou para relatar as lutas dos negros desterrados e dos índios espoliados, sendo ambos escravizados, ou mesmo para falar da terra com sua imensa biodiversidade”, explica Maria Cecília França Lourenço, que coordena o projeto das Ruínas do Engenho dos Erasmos.

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Segundo ela, é fundamental manter a área o mais visível e autêntica, como um museu ao ar livre. Entretanto, a despeito da importância histórica dos engenhos, sua preservação não é prática comum no país. O Engenho dos Erasmos, por exemplo, é o único exemplar que restou na Baixada Santista. “No Brasil, o período republicano (1889) interessado em cunhar um passado, sentiu a necessidade de criar marcos e fatos memoráveis, para se garantir a coesão identitária. Contudo, a escrita se voltou para a memória ligada não à matriz portuguesa, mas sim direcionada à separação política entre Ele, o colonizador, e Nós, os colonizados. Bastaria mencionar a valorização da figura de Tiradentes e dos locais em que este viveu, ambos alçados ao status de memoráveis”, acredita Maria Cecília. Os processos de tombamento de engenhos do Iphan são da década de 1940 e 1960. Nesses processos, a documentação sobre as motivações para o tombamento é escassa.

Entretanto, há que se ressaltar que, mesmo nesses engenhos tombados, a valorização se dava, na maior parte das vezes, em relação ao estilo arquitetônico, à casa grande, às capelas e não ao engenho enquanto patrimônio industrial, testemunho do ciclo da cana no Brasil. Por conta disso, boa parte dessas edificações simplesmente desapareceu. O Engenho Poxim, em São Cristóvão, Recife, teve a capela, construída em 1751, tombada. Na Bahia, foram tombadas as obras de arquitetura civil e religiosa do Engenho Vitória, na cidade de Cachoeira, Bahia. Estão protegidas a parte antiga do sobrado da residência – incluída a capela e o crucifixo do altar –, uma senzala e o banheiro primitivo, os dois últimos nas imediações do sobrado.

Para o pesquisador Fernando Luiz Tavares Marques, do Museu Goeldi, no Pará, os engenhos podem oferecer reflexões sobre vários aspectos desse tipo de empreendimento. “Esses locais guardam resquícios de atividades humanas que devem ser reveladas e, principalmente, interpretadas de maneira crítica e contextualizada”, diz. Ele pesquisou as ruínas do Engenho Murucutu, em Belém. O engenho possui quase trezentos anos de história. Em meio à sua documentação de venda, em 1841, está o registro dos bens: casa de vivenda, casa do engenho, senzala, roda d água, moendas de ferro, um vapor, serraria, alambique, tachas de ferro, balança e pertences da capela. O documento menciona ainda 48 escravos. Segundo Marques, o processo de colonização européia na bacia amazônica, a partir do fim do século XVI, motivou-se a partir de comércio de açúcar no Amazonas. Em pesquisas de arqueologia, desenvolvidas nas proximidades de Belém desde a década de 1990, foram registrados cerca de 40 sítios históricos de engenhos construídos. “Inteiramente esquecidos em meio às plantações e roças nos terrenos dos moradores ribeirinhos atuais, as evidências remanescentes do sucesso alcançado durante o período colonial transformaram-se irreversivelmente em sítios arqueológicos”, afirma. “O desconhecimento sobre o significado histórico dos sítios pelos moradores tem implicações não apenas para a preservação da integridade dos vestígios materiais em si, mas também na perda da memória cultural desta população”, completa.

http://www.labjor.unicamp.br/patrimonio/materia.php?id=167

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O CENTRO HISTÓRICO DA CIDADE DE SANTOS

Um museu ambulante no centro de Santos

Texto: Mirian Ribeiro

Fotos: Leandro Amaral, Juliana Barros, Anderson Bianchi e Cândido Gonzalez

Dentro de um mês a cidade ganhará um novo presente: mais um bonde será integrado à pequena frota que faz o circuito histórico e em uma data que homenageia o atrativo mais procurado no centro de Santos: 23 de setembro, o Dia do Bonde. Trata-se do segundo bonde português, originário da cidade do Porto, que há seis meses passa por restauro nas oficinas da CET de Santos. Os trabalhos estão quase concluídos e já é possível admirar a obra de arte em que se transformou o antigo veículo, que chegou a Santos quase na carcaça.

Ele se juntará aos outros três que servem à linha turística: dois escoceses dos tempos da City – um aberto e o outro fechado, de 1909 e 1911 –, e um português, além de um reboque. A idéia é aos poucos ir consolidando o Museu Vivo do Bonde, com modelos de diferentes países.

Nas oficinas da CET há mais um português (praticamente na carcaça) e um de origem americana, o Gilda, que no passado pertenceu à CMTC de São Paulo. São aguardados outros dois italianos, doados pela cidade de Turim – são veículos das décadas de 30 e 40, sendo que um deles é um bonde-restaurante – e um bonde, de origem ainda desconhecida, oferecido pela cidade paulista de Votorantim.

“Hoje mantemos um veículo por vez na linha, para cumprir um trajeto de 1,7 km em 15 minutos. Quando a expansão for completada, vão circular três bondes ao mesmo tempo. A linha de 5 km será percorrida em uma hora, com paradas em pontos históricos como o Monte Serrat, a Catedral, o Coliseu, o Valongo. O passageiro desce, faz a visita e toma outro bonde”, conta Rogério Crantschaninov, presidente da CET de Santos.

Segundo ele, está nos planos a expansão da garagem do bonde ao lado da Guarda Municipal, no Valongo, para receber os novos veículos e servir como ponto fixo do museu.

Rogério atribui ao bonde, que voltou a circular em Santos no ano 2000, grande parte do sucesso da revitalização do Centro Histórico como atração turística. “Virou ícone do Centro Histórico, as pessoas se emocionam. Antes, apesar da riqueza histórica e arquitetônica da região central, o turismo ficava mais restrito à orla. Agora, o visitante tem a possibilidade de, a bordo do bonde, chegar bem próximo das atrações e ouvir as explicações dos monitores”.

Para aumentar o realismo, idosos que trabalharam como motorneiros ou condutores organizam o embarque dos passageiros e contam histórias e curiosidades da época em que o veículo era o principal meio de transporte santista. O serviço foi paralisado em fevereiro de 1971.

Trabalho de mestres nas oficinas de restauroEstá em Santos a única equipe da América do Sul especializada em construir bondes. São

mecânicos, eletricistas, carpinteiros, pintores, que deixaram suas funções normais na empresa para se transformarem em verdadeiros mestres em seus ofícios. Para restaurar veículos tão antigos é preciso, inicialmente, um minucioso trabalho de pesquisa, orientando-se pelos indícios encontrados na pouca literatura a respeito. Eles também se valem de cópias de peças e até informações verbais de pessoas que testemunharam a época dos bondes.

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“Procura-se manter a originalidade. Se não der para recuperar, é analisada a possibilidade de adaptação, mas há peças que precisam ser fabricadas”, explica o presidente da CET. O custo do trabalho depende de cada veículo. “No caso dos três bondes portugueses houve um processo de canibalização. Fomos tirando de um para colocar no outro. No último, que ainda não foi mexido, teremos que fazer novas peças”.

No segundo bonde português resta concluir os serviços elétricos e mecânicos. A dificuldade maior, segundo o técnico em eletrotécnica Luiz Armando de Souza Araújo, 37 anos, foi com o sistema de alimentação de energia. “Tivemos que converter a tensão alternada para contínua e achar a resistência ideal, já que a concessionária fornece 900 volts e o motor de tração funciona a 600 volts”. Luiz teve que recorrer a muitas consultas, pois os bondes chegaram sem nenhuma instrução, “além do que, quando eu nasci, nem bonde tinha mais”.

O marceneiro Antonio Carlos do Prado Rocha, 51, e o encarregado de manutenção José Luis Alvarenga, 47, não podem dizer o mesmo. Eles chegaram a andar de bonde quando crianças e se dizem gratificados por pertencerem à equipe de restauração. “Para mim isso não é um trabalho, de tão prazeroso. Cada bonde é um desafio, sempre uma novidade”, diz Antonio Carlos.

A estrutura do bonde português, em madeira nobre, foi inteira substituída e algumas peças cromadas foram fabricadas especialmente para o veículo com base no modelo original. Já as janelas, assoalho, forro e acabamentos em geral foram todos confeccionados pelos ‘artistas da madeira’ na carpintaria da empresa.

Quando terminarem a obra, novos desafios os aguardam: o restauro do terceiro bonde português e do americano Gilda, com estrutura de placas galvanizadas, portas sanfonadas e bancos revestidos de palha branca que se movem, pois os veículo se movimentam dos dois lados. Dentro, ainda se mantém intacta a placa de alerta ao condutor: “Motorneiro cuidadoso não conversa em serviço”.

Achados históricosEm apenas três meses de trabalho de instalação dos novos trilhos já foram descobertos três

sítios arqueológicos As escavações revelaram a primeira cadeia de Santos e um pelourinho, da época da fundação da vila, em 1546; a segunda sede da Igreja Nossa Senhora da Misericórdia, de 1652; e o Cemitério da Igreja do Rosário dos Homens Pretos, de 1800.

Foram encontradas mais de 2 mil peças que ajudam a recompor a arquitetura e os costumes de então, como louças, azulejos, alvenarias e até uma ferradura. Os trabalhos são acompanhados pelo arqueólogo Manoel Gonzalez, integrante do Cerpa (Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas), e pelo historiador Waldir Ruedas.

Cultura

100 anos sobre os trilhos

Patrícia Diotto

Símbolo da inovação e do desenvolvimento de Santos no passado, o bonde elétrico, que completou 100 anos no dia 28, hoje representa o resgate à história e à cultura da cidade. Para comemorar este século de transformações, a Prefeitura de Santos realizou uma programação especial durante a semana. Entre palestras, exposições fotográficas e distribuição de cartões postais, a grande atração foi a inauguração do novo trecho da linha turística do Centro Histórico, que agora conta com 2,9 quilômetros.

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Ao som especial do chorinho, os bondes partiram da Estação do Valongo rumo ao Outeiro de Santa Catarina. A bordo, munícipes, crianças e autoridades locais conheceram o novo trajeto, contemplando diversos pontos de interesse histórico, artístico e cultural do centro da cidade, numa verdadeira viagem ao passado. Com a ampliação de 1,7 km, os bondes agora passam também pelo Pantheon dos Andradas e o Conjunto do Carmo, na Praça Barão do Rio Branco, o monumento ao fundador da cidade, Braz Cubas, os prédios da Alfândega e da Receita Estadual, na Praça da República, e a Casa do Trem Bélico. Em breve a linha será ampliada para 5 quilômetros, passando pelo Monte Serrat, Catedral e o Teatro Coliseu, entre outros pontos.

O processo de restauraçãoO processo de reativação dos bondes, iniciado em 2000, trouxe de volta às ruas exemplares

originais do meio de transporte completamente restaurados, que hoje oferecem aos munícipes e turistas um passeio pelo Centro Histórico da cidade, como parte do projeto de revitalização da área, realizado pela Prefeitura Municipal.

O idealizador do projeto, Luiz Dias Guimarães, que na época era o secretário de Turismo de Santos, diz que a cidade foi perdendo sua identidade ao longo do século passado, desde a época áurea do café, e que a extinção do bonde, em 1971, foi um marco dessa descaracterização. Segundo Guimarães, a reativação dos bondes reacendeu a identidade do santista genuíno, e permitiu um reconhecimento da cidade pelos novos santistas e também por turistas.

“Foi o encontro do elo perdido. Esse foi o sentido político da revitalização, mostrar que Santos é muito mais que praia e um grande jardim”, explica. Compartilha desta idéia o deputado federal Beto Mansur. Como prefeito de Santos, ele deu início ao projeto. “Com a volta dos bondes, a história está sendo preservada”, afirma.

A restauração dos veículos foi realizada pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), em 1999. O gerente de manutenção de bondes, Sérgio Pini, conta que foi uma tarefa bastante trabalhosa, já que os veículos foram abandonados por mais de 30 anos. “Recebemos esses bondes como um presente de grego, pois eles estavam em estado lamentável, completamente vampirizados. Vê-los agora, funcionando como se fossem zero quilômetro, é uma vitória, uma emoção indescritível”.

Símbolo do desenvolvimentoA reativação dos bondes faz parte do projeto de revitalização do Centro Histórico de

Santos, e tem um significado muito especial para a cidade. Para o prefeito João Paulo Tavares Papa, o projeto representa toda a história do desenvolvimento do município. “Hoje são comemorados os 100 anos do início de uma nova era em Santos. O bonde irradiou o desenvolvimento para todos os bairros”, explica. Papa diz que a implantação do transporte foi uma decisão arrojada para a época, mas que, a partir dela, “a cidade passou a constar no mapa do mundo como uma cidade moderna, progressista e contemporânea para a época”.

Contadores de históriaAo longo do passeio, não são apenas as vielas e edificações históricas que recordam o passado.

Durante o trajeto, os passageiros conhecem detalhes da história através daqueles que fizeram parte dela. Os antigos motorneiros, que por muitos anos conduziram os bondes, acompanham todos os passeios, contando curiosidades da profissão e das transformações da cidade.

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Um deles é José Soares Fontes, 82, que foi motorneiro por 12 anos. Conhecido por sua paixão pelo bonde e pela profissão, Fontes diz que foi uma emoção muito grande ter reencontrado ex-companheiros de trabalho, e que está muito satisfeito com sua atual função. “É uma higiene mental para alguém da minha idade”.

Aderbal de Godoy, 79, foi motorneiro de 1954 a 1971. Ele diz que quando foi chamado para voltar a trabalhar no bonde, estava desempregado. “Mandaram me buscar lá em casa”, conta entusiasmado. A ampliação dos trilhos também traz a ele boas expectativas. “O serviço vai dobrar. Mas é um ótimo trabalho, ainda mais agora, que ficou diferente por que temos que lidar com turistas, e também com passageiros comuns, como antes. É muito prazeroso”, afirma.

CASA DA FRONTARIA AZULEJADA

Construído em 1865, este sobrado azulejado da Rua do Comércio 92 a 98 foi tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) e pelo Condephaat por sua importância para a memória nacional. Este edifício funcionou como residência, armazém e escritório da Casa de Comércio Ferreira Netto & Cia.:

1865O casarão, “que ia até o porto, seguia o estilo neoclássico, característico do Segundo Império,

com arcos romanos e gradis de ferro atestando a Revolução Industrial na Arquitetura. Possui um terraço azulejado nos fundos e vestígios da senzala dos escravos na parte térrea”, registraram por sua vez as pesquisadoras Angela Maria G. Frigerio, Wilma Therezinha F. de Andrade e Yza Fava de Oliveira, na obra Santos – Um Encontro com a História e a Geografia (página 119, Gráfica A Tribuna, Santos/SP, 1992).

“Na fachada, a data 1865, mandada colocar por seu construtor e primeiro proprietário, o Comendador Manoel Joaquim Ferreira Neto. Tombada pelo SPHAN, pertence à Prefeitura Municipal de Santos, que a desapropriou para possibilitar sua restauração conforme promessa do SPHAN. É uma jóia arquitetônica da cidade”, complementam as pesquisadoras.

Casa de Frontaria Azulejada, no início do século XX

Foto: Poliantéia Santista

Relatam Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti, em suaHistória de Santos/Poliantéia Santista (volume II, página 170, Santos/SP, 1986), que “esta firma

comercial começou a funcionar em 1855, tendo como sócio do Comendador Netto, Luís Antônio da Silva Guimarães. Em sessão da Câmara Municipal de Santos de 18/2/1863, Ferreira Netto apresentou a planta da casa que pretendia construir na Rua Santo Antônio, atual Rua do Comércio. No mesmo ano, conseguiu a concessão de um trapiche no Porto do Bispo, nos fundos do terreno de sua casa.

“Sob o impulso da exportação cafeeira, a cidade desenvolveu-se a partir de meados do século XIX, ou seja, logo após sua elevação à categoria de cidade (a 26/1/1839). O edifício expressa assim todo um contexto, a importância do setor terciário no desenvolvimento das forças econômicas locais e nacionais.

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“Esta fachada é definida por 4 pilastras cujo intercolúnio é subdividido em 3 vãos de arco pleno em cantaria, no pavimento superior, guarnecidos por balcões de ferro. Na parte central do pavimento térreo o acesso é feito por um único vão, arrematado na altura da platibanda por um frontão clássico triangular. A residência, no pavimento superior, continha várias salas e quartos, o que pressupõe que o comendador recebia inúmeros hóspedes, para tratar de assuntos comerciais, visto que habitava no sobrado apenas o casal.”

Casarão, em 2001

Foto: Tadeu Nascimento (Assecom/Prefeitura Municipal de Santos)

O antigo jornal Cidade de Santos registrou, na edição de 9 de agosto de 1985:Impasse em torno do Casarão“Se o proprietário do imóvel realmente não concordar com o valor, terá que ser depositado em

juízo, abrindo-se um processo de expropriação judicial. Mas isso seria extremamente negativo, já que enquanto estiver pendente a questão, o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) não poderá começar a agir. Por isso, apelo para a sensibilidade deste cidadão”. O pronunciamento é do futuro secretário de Cultura do município, Tanah Corrêa, a respeito do impasse na expropriação do casarão de frontaria azulejada, localizado à rua do Comércio, 92.

Ele ressaltou que esta é a primeira vez que a Prefeitura de Santos se dispõe a aplicar uma vultosa quantia – atualmente superior a Cr$ 600 milhões - na preservação de um bem cultural da cidade. “Talvez este não seja o valor comercial do imóvel, que poderia virar um depósito de caminhões. Mas não é esta a questão: é o valor venal, visando manter um patrimônio extremamente importante de Santos”, acrescentou Tanah.

O dono do prédio é Francisco de Barros Mello, e a Prefeitura continuará procurando um acordo amigável. Caso não seja possível, partirá para o processo judicial. O município precisou realizar uma suplementação orçamentária para dispor dos recursos. A avaliação foi feita pela Secretaria de Obras e Serviços Públicos, e estipulado em 12.233.279 ORTNs. O decreto declarando-o de utilidade pública tem o número 171, assinado há poucos meses. O proprietário nunca se preocupou na manutenção do imóvel, que servia de depósito de adubo, apesar de tombado pelo Patrimônio Histórico.

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PALÁCIO DA BOLSA DO CAFÉ

Inaugurada em 1922 para centralizar, organizar e controlar as operações do mercado cafeeiro, na época a principal fonte de riqueza do país, a Bolsa Oficial de Café, em Santos, traduzia-se como arquitetura típica do ecletismo que caracterizou as mais importantes obras do período. Estilo e volumetria empregados ofereceram resposta compatível à monumentalidade almejada pelos idealizadores, que, durante sua construção, não pouparam esforços nem recursos para aquisição de materiais de acabamento de alta qualidade. Cúpulas de cobre, grandes figuras escultóricas, vitrais, mosaicos de mármore, robustas colunatas de granito são expressões de riqueza e prosperidade do ciclo cafeeiro no país e, ao mesmo tempo, representam a materialidade do desejo de converter o edifício da Bolsa no “Palácio do Porto de Santos”

Nos dias atuais, a imponência arquitetônica da edificação ainda repercute admiração no cidadão que transita pelo centro. Apesar do adensamento urbano ocorrido na região nas últimas décadas, a Bolsa se mantém como o edifício mais suntuoso e emblemático da Baixada Santista. A elevada torre do relógio, com mais de 40 metros de altura, se impõe, à frente do porto, como importante referência paisagística e temporal da cidade.

Caráter simbólico e expressão arquitetônica são atributos solicitados a uma edificação dessa natureza, inerentes desde a vocação – local de concentração dos negócios cafeeiros do país – à concepção final da obra. Necessidade e responsabilidade que talvez expliquem as mudanças sucessivas do projeto, três ao todo, que objetivaram aprimoramentos necessários até alcançar o escopo almejado. Preocupações que sensibilizaram a Câmara Municipal de Santos, que suspendeu as limitações legais impostas pelo Código de edificações vigente para permitir obter resultados formais e estéticos satisfatórios.

Extraído do Livro “Palácio do Café”

Tombamento pelo Iphan

No dia 12 de março de 2009, o Palácio da Bolsa Oficial de Café foi oficialmente tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A homologação foi publicada no Diário Oficial da União através da portaria nº 8, de 10 de março de 2009. Os trâmites para o tombamento começaram em 2006 em reunião entre o Conselho Consultivo do Iphan e a diretoria da Associação dos Amigos do Museu do Café. No entanto, a confirmação veio três anos mais tarde com a assinatura do Ministro da Cultura, Juca Ferreira.

http://www.museudocafe.com.br/palacio/palacio.asp

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PORTO DE SANTOS

A longa travessiaO marco oficial da inauguração do Porto de Santos é 2 de fevereiro de 1892, quando a então

Companhia Docas de Santos – CDS, entregou à navegação mundial os primeiros 260 m de cais, na área, até hoje denominada, do Valongo. Naquela data, atracou no novo e moderno cais, o vapor “Nasmith”, de bandeira inglesa. Com a inauguração, iniciou-se, também, uma nova fase para a vida da cidade, pois os velhos trapiches e pontes fincados em terrenos lodosos, foram sendo substituídos por aterros e muralhas de pedra. Uma via férrea de bitola de 1,60 m e novos armazéns para guarda de mercadorias, compunham as obras do porto organizado nascente, cujo passado longínquo iniciara-se com o feitor Braz Cubas, integrante da expedição portuguesa de Martim Afonso de Souza, que chegou ao Brasil em janeiro de 1531.

Foi de Braz Cubas a idéia de transferir o porto da baía de Santos para o seu interior, em águas protegidas, inclusive do ataque de piratas, contumazes visitantes e saqueadores do povoado.

Escolhido o sítio denominado Enguaguaçu, no acesso do canal de Bertioga, logo se formou um povoado, motivo para a construção de uma capela e de um hospital, cujas obras se concluíram em 1543. O hospital recebeu o nome de Casa da Misericórdia de Todos os Santos. Em 1546, o povoado foi elevado à condição de Vila do Porto de Santos. Em 1550 instalou-se a Alfândega.

Por mais de três séculos e meio, o Porto de Santos, embora tivesse crescido, manteve-se em padrões estáveis, com o mínimo de mecanização e muita exigência de trabalho físico. Além disso, as condições de higiene e salubridade do porto e da cidade resultaram altamente comprometidas, propiciando o aparecimento de doenças de caráter epidêmico.

O início da operação, em 1867, da São Paulo Railway, ligando, por via ferroviária, a região da Baixada Santista ao Planalto, envolvendo o estuário, melhorou substancialmente o sistema de transportes, com estímulo ao comércio e ao desenvolvimento da cidade e do Estado de S. Paulo.

A cultura do café estendia-se, na ocasião, por todo o Planalto Paulista, atingindo até algumas áreas da Baixada Santista, o que pressionava as autoridades para a necessidade de ampliação e modernização das instalações portuárias. Afinal, o café poderia ser exportado em maior escala e rapidez.

Em 12 de julho de 1888, pelo Decreto nº 9.979, após concorrência pública, o grupo liderado por Cândido Gaffrée e Eduardo Guinle foi autorizado a construir e explorar, por 39 anos, depois ampliado para 90 anos, o Porto de Santos, com base em projeto do engenheiro Sabóia e Silva. Com o

objetivo de construir o porto, os concessionários constituiram a empresa Gaffrée, Guinle & Cia., com sede no Rio de Janeiro, mais tarde transformada em Empresa de Melhoramentos do Porto de Santos e, em seguida, em Companhia Docas de Santos.

Inaugurado em 1892, o porto não parou de se expandir, atravessando todos os ciclos de crescimento econômico do país, aparecimento e desaparecimento de tipos de carga, até chegar ao período atual de amplo uso dos contêineres. Açúcar, café, laranja, algodão, adubo, carvão, trigo, sucos cítricos, soja, veículos, granéis líquidos diversos, em milhões de quilos, têm feito o cotidiano do porto, que já movimentou mais de l (um) bilhão de toneladas de cargas diversas, desde 1892, até hoje.

Em 1980, com o término do período legal de concessão da exploração do porto pela Companhia Docas de Santos, o Governo Federal criou a Companhia Docas do Estado de S. Paulo-Codesp, empresa de economia mista, de capital majoritário da União.

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Atualmente, o Porto de Santos, movimenta, por ano, mais de 60 milhões de toneladas de cargas diversas, número inimaginável em 1892, quando operou 125 mil toneladas. Com 12 km de cais, entre as duas margens do estuário de Santos, o porto entrou em nova fase de exploração, consequência da Lei 8.630/93, com arrendamento de áreas e instalações à iniciativa privada, mediante licitações públicas.

http://www.portodesantos.com.br

A CODESP avaliará o projeto da Prefeitura Municipal de São Vicente para a revitalização do Porto das Naus, considerado o primeiro trapiche alfandegário do país, tombado pelo Iphan e pelo Condephat. A iniciativa da CODESP foi apresentada pelo presidente da empresa, José Di Bella, durante visita ao local com o prefeito Tércio Garcia.

Di Bella destacou a importância do trabalho de resgate do patrimônio histórico da Baixada Santista, ampliando a relação do porto com as cidades da região. A CODESP já atua em conjunto com a Prefeitura de Santos na revitalização dos armazéns no Valongo e, em negociação com a Prefeitura do Guarujá, para projeto de revitalização de área no entorno do Forte Santa Cruz do Itapema, na margem esquerda do estuário.

No encontro em São Vicente, o presidente da CODESP afirmou que o Porto de Santos é o maior da América Latina também em ações como essa, que visam resgatar a história do povo brasileiro na atividade portuária.

A partir da entrega do projeto, a CODESP destaca uma equipe para avaliação, observando sua viabilidade e possíveis captações de recursos e ações necessárias para torná-lo realidade.

Assessoria de Comunicação Social

CODESP

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OS CANAIS DA CIDADE DA SANTOS

Condepasa define tombamento dos canais de SantosConsiderados símbolos da engenharia sanitária e da cidade, os canais foram tombados pelo

Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa).Os canais formam um conjunto de obras decorrentes do plano de saneamento concebido

pelo engenheiro Saturnino de Brito. São recohecidos como bens culturais, de interesse histórico, urbanístico, paisagístico e turístico. Dentro das comemorações alusivas ao centenário, a Prefeitura inaugurou um pórtico de 12x4 metros, com estrutura metálica, na ponte sobre o canal 1 (lado dos jardins), com fotos antigas.

PONTE PÊNSIL DE SÃO VICENTE

HistóricoEsta é uma das mais importantes pontes pênseis construídas no Brasil. A maioria dos dados

e informações aqui agrupadas foi extraída do Relatório IPT Nº 28.597 de 1990, elaborado pelo Agrupamento de Estruturas do IPT, tendo como equipe diretamente envolvida nos trabalhos os Engs. Eduardo Figueiredo Horta (Chefe do Agrupamento), Ivanísio de Lima Oliveira, James Campanha Alvim, Gilberto Massami Sacoda e Roberto Katumi Nakaguma, além dos técnicos Edivan Nogueira Batista e Gonçalo de Caires.Sua execução data de 1914, tendo sido importada da Alemanha.

O projeto é de August Kloenne da firma Bruckenbauanstalt de Dortmund. Foi utilizado o aço alemão denominado Holder 32.A ponte é de um só tramo de 180 m entre eixos das torres, com viga de rigidez em treliça metálica suspensa em 16 cabos de aço, sendo 12 de 64 m e quatro de 83. A viga de rigidez é simplesmente apoiada com distância entre apoios de 177,6 m. Essa viga é dividida em 30 painéis praticamente quadrados com 6m de lado e duas diagonais. Cada um dos montantes que dividem os painéis é suspenso aos cabos por meio de pendurais.

Os cabos na parte externa da ponte são retos e inclinados de 32 graus. A pista de rolamento está encaixada entre as duas vigas de rigidez que distam entre si 6,4 m.A ponte foi construída principalmente para transportar dois tubos metálicos de 40 cm do emissário de esgotos de Santos, presos às vigas de rigidez pelo lado externo.

O IPT de São Paulo participou em oito atuações em provas de carga, inspeções, medidas de deformações ou deslocamentos, estudos de novos carregamentos, acompanhamento de reforços, entre 1936 e 1990.

Resumo Informativo da Ponte Pênsil de São Vicente – SP

Localização São Vicente – SP

Obstáculo Baía de São Vicente

Inaugurada 1914

Projeto August Kloenne

Comprimento total 180 m

Fonte Livro Pontes Brasileiras Viadutos e Passarelas Notáveis – de Augusto C. VasconcelosPontes e Viadutos Brasil – Autor: Mercedez Benz do Brasil – S.A

http://www.transportes.gov.br/bit/pontes/SP/sao_vicente

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SÃO VICENTE SALVOU SÃO PAULO DAS EPIDEMIAS

A importância da Ponte Pênsil para a população do Estado de São Paulo não se resume ao importante fator de integração da região mas, principalmente ao de salvar vidas.

Na metade do século XIX, uma série de epidemias assolava o litoral que se tornara um grande foco da malária. São Vicente, alagadiça, cercada de mangues e matagais onde desaguavam as fossas negras de todas as moradias da cidade e também de Santos, passou a espantar até navegadores.

Em 1842 explodem as doenças: febre amarela, tuberculose, varíola, impaludismo, sarampo, gripe e febre tifóide. As epidemias, como comenta a historiadora Wilma Terezinha Fernandes de Andrade, coincidem com a expansão urbana da ilha de São Vicente. As doenças eram causadas pelas péssimas condições ambientais da ilha e de sua superlotação de nativos e imigrantes. Para se ter uma idéia do grau de mortandade provocado pelas epidemias, Santos na época ficou conhecida como “porto maldito” e teve que construir um novo cemitério, o da Filosofia. Até 1892, Santos dispunha apenas do cemitério do Paquetá que se tornou insuficiente diante de tantas mortes. Em meio a tantas perdas humanas e prejuízos comerciais, principalmente relacionados a exportação de café, setores econômicos e políticos começaram a debater a questão chegando ao ponto: saneamento. Sem ele a região seria devastada. Após anos de discussão, finalmente foi aprovado o plano de saneamento para a ilha de São Vicente, de autoria do engenheiro sanitarista Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, chefe da Comissão de Saneamento de Santos. O plano consiste em dois sistemas: um de esgoto e outro de galerias pluviais para recolhimento da águas da chuva. Em 1910, Saturnino já havia elaborado a planta de urbanização de Santos que incluía um plano completo de esgotos através de estações elevatórias cujo despejo inicial seria numa estação terminal onde hoje é o bairro do José Menino. Havia no entanto, necessidade de levar o esgoto mais adiante na ilha de São Vicente. Saturnino de Brito optou por levar o esgoto até a ponta do Morro de Itaipu, no atual município de Praia Grande, o que exigia a construção de uma ponte sobre o Mar Pequeno, capaz de suportar pesada tubulação. Diante dessa necessidade surgiu uma das maiores obras da engenharia brasileira, a Ponte Pênsil.

Após minuciosos estudos e aval do presidente de São Paulo, Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves, o material para a construção da ponte foi encomendado à Casa August Klõnne Dortoneud na Alemanha e em 17 de fevereiro de 1911, foi assinado contrato com a firma Trajano de Medeiros & Cia, do Rio de Janeiro, para a execução da obra. A Ponte Pênsil inaugurada em 21 de maio de 1914 criou uma nova realidade para o Litoral Sul até então abandonado, tornando-se também responsável pela expansão urbanística da região. Tombada pelo Condephaat em 30 de abril de 1982, a Ponte Pênsil com 180 metros sobre o Mar Pequeno, com torres de 23 metros de altura (8 metros enterrados no mar), sustenta a tubulação de aço (escoamento de esgoto) que salvou a região de epidemias. Cartão postal de São Vicente e do Brasil, marco da economia de uma época, a obra de Saturnino de Brito continua sendo importante meio de comunicação e integração do litoral paulista.

FONTE: Boletim do IHGSV

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CASARÃO BRANCO

Pinacoteca: um casarão centenárioImponente, austero, requintado. O casarão branco, como é conhecida a Pinacoteca Benedicto

Calixto, destaca-se na paisagem da orla santista e é o retrato de uma época de pompa e ostentação que não volta mais, o tempo dos barões do café.

Basta o visitante atravessar os portões do palacete, para começar a imaginar o modo de vida das pessoas que moraram ali. Erguido num terreno de 7 mil metros quadrados — que vai da Avenida Bartolomeu de Gusmão até a Avenida Epitácio Pessoa —, o imóvel com dois pavimentos, foi construído em 1900, em estilo eclético, por ordem do empresário alemão C.A. Dick, o Rei do Curtume. Três banheiros dentro de casa, quadra de críquete e tênis e uma casa de banhos externa eram algumas das novidades.

Edith Pires Gonçalves Dias morou no casarão dos 3 aos 14 anos e lembra muito bem o glamour da edificação. “Éramos em doze irmãos e tínhamos dez empregados. Hoje seria quase impossível uma família manter este padrão”, ressalta a autora do livro Memórias do Casarão Branco, que retrata muitos outros detalhes e histórias envolvendo a construção.

O pai de Edith, Francisco Pires, trabalhava com café e comprou a casa em 1910, quando Dick resolveu voltar para a Alemanha por causa da doença da esposa. Devido às dificuldades, os Pires foram obrigados a vender o casarão. Sete anos depois, readquiriram o imóvel, em péssimo estado de conservação. Durante dois anos, o local sofreu uma ampla reforma, ganhando varanda envidraçada, belos vitrais, mármore Carrara e corrimão de ferro fundido com imagens de parreiras e cachos de uva, na escada interna. Na década de 30, com a quebra da Bolsa de Nova Iorque que abalou o ramo cafeeiro, a família teve de se desfazer da casa.

Comprada pela Companhia Sul-América de Capitalização, a propriedade serviu de pensão e dois anos depois foi adquirida por Antônio Canero, o Rei do Ferro-Velho. O imóvel ficou com os Canero até 1972, quando os herdeiros resolveram vendê-lo; porém o alto preço dificultava o negócio.

Em 1979, o casarão foi declarado de utilidade pública, mas os donos não concordaram com o valor da desapropriação. Depois de muita briga, em 85 o casarão passou para o poder municipal. A administração da época e Darcy Barros tiveram a idéia de transformar o lugar num centro de cultura. Depois de restaurado e de ter a pintura artística e decorativa coordenada pela artista plástica Nazareth Mota Leite, nasceu a Pinacoteca Benedicto Calixto, inaugurada em 4 de abril de 1992.

ARTE À BEIRA-MAR Um dos maiores espaços culturais de Santos, a Pinacoteca funciona como uma grande galeria de arte. Além de abrigar mais de 50 obras de Benedicto Calixto é palco constante de exposições. Até o próximo dia 4, das 14 às 19 horas, santistas e turistas podem conferir duas exposições: A História das Telecomunicações, com a exibição de 21 aparelhos telefônicos e também a mostra intitulada Cidades Brasileiras, do fotógrafo Cristiano Mascaro, com 28 fotos de locais característicos das principais cidades do país, como o Viaduto do Chá e o Minhocão, em São Paulo; o Pelourinho, em Salvador; a Praia do Leme, no Rio de Janeiro, o Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, entre outros. Uma terceira exposição foi aberta na terça-feira passada (30) e poderá ser vista até 23 de fevereiro. 55 Portraits, do santista Juan Esteves, reúne fotos, em preto e branco, de nomes de destaque nacional e internacional nas áreas de literatura, cinema, música, artes plásticas, entre outras, como Quentin Tarantino, Pedro Almodóvar, Tom Jobim, Arnaldo Antunes, Lygia Fagundes Telles, Hector Babenco, Hilda Hist, entre outros. A Pinacoteca Benedicto Calixto fica na Avenida Bartolomeu de Gusmão, 15.

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Projetos Benedicto Calixto é um dos pintores que melhor conseguiu retratar Santos no início do século

passado. Seus quadros continuam disputadíssimos em leilões de arte. Para produzi-los, Calixto empenhava-se em pesquisas e, o que poucos sabem, era apaixonado por fotografia, utilizando-a como instrumento para produzir suas telas. Para mostrar esse lado do pintor, está sendo montado um Centro de Documentação, com matérias publicadas em jornais, catálogos de exposições e livros, e registro fotográfico das mais de 700 obras produzidas por ele. A ampliação do acervo e a produção de um CD Room com as obras do artista, com lançamento previsto para 31 de maio deste ano — data do seu falecimento -, também faz parte dos projetos da Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto. Além da verba de R$ 100 mil reais obtida no final do ano junto à Nossa Caixa Nosso Banco, a diretora executiva da Pinacoteca, Marli Nunes de Souza, também espera a ajuda de empresários, que poderão abater o valor total da doação no imposto de renda, garantia concedida pela Lei Rouanet. Maiores informações pelo telefone 3288-2260.

Uma privilegiadaAos 81 anos, Edith Pires Gonçalves Dias diz que a sua maior alegria é ter conseguido preservar o

casarão. Hoje, quando visita o local onde passou os melhores anos da sua vida é como se entrasse num túnel do tempo. “As imagens do passado ficam tão vivas na minha memória, as reuniões familiares, as apresentações de teatro que promovíamos, o footing na orla, um tempo onde os pais preocupavam-se em enriquecer o caráter e a cultura dos filhos”, lembra. Formada no curso Normal (atual Magistério) pelo Colégio São José, Edith faz parte da Academia Santista de Letras onde ocupa a cadeira de nº 25 que tem como patrono Vicente de Carvalho. Ela publicou dois livros Sociedade Espírita Anjo da Guarda – A Pioneira, de 94, em comemoração aos 110 anos da instituição (para a qual trabalha como voluntária há 32 anos) e Memórias do Casarão Branco, lançado em 99, cuja a edição está esgotada. “Logo que eu conseguir os fotolitos do livro, pretendo doá-los para a Fundação Benedicto Calixto, para que novas edições possam ser impressas”, revela.

http://www.santos.sp.gov.br

Fundação Pinacoteca Benedicto CalixtoA Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto é uma instituição de Direito Privado de natureza

cultural, criada em 1986, sem fins lucrativos, políticos ou religiosos, para estimular as artes em geral, especialmente as artes plásticas; recolher, por compra, doação ou empréstimo, e expor, convenientemente, obras de artistas plásticos nacionais ou estrangeiros, em particular a obra do pintor Benedicto Calixto.

Para desenvolvimento de suas finalidades, beneficia-se da Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura, através da qual promoveu o levantamento e catalogação da obra do pintor, criando o Centro de Documentação Benedicto Calixto. Através de outro projeto, adquiriu obras para a ampliação de seu acervo, permanentemente exposto.

Além de seu acervo, realiza exposições de artistas consagrados, cursos, apresentações musicais e disponibiliza para consulta do público, uma biblioteca especializada em artes.

Sua sede é um belo casarão do início do século, restaurado e conservado como um dos últimos exemplares das moradias dos barões do café.

http://www.pinacoteca.unisanta.br/portugues/fundacao.htm

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Cronologia – Casarão

1900 – C. A. Dick – curtume.

1910 – Francisco da Costa Pires – exportador de café.

1913 – 1921 – Asilo.

1921 – Francisco C. Pires, sócio da companhia cafeeira Rodrigues Alves e Cia. Reformada pelo Dr. Murilo Porto e seu assistente, o engenheiro Dalberto Moura Ribeiro.

1936 – Cia Sul América de Capitalização – Pensão.

1938 – Antônio Canero – Residência.

1947 – Via Anchieta e “boom” imobiliário.

1979 – Prefeito Carlos Caldeira Filho declara o casarão de utilidade pública para fins de desapropriação pelo Decreto 5645 e inicia o pagamento.

1980 – 1985 – Sublocação para mais de 20 famílias. Transformado em cortiço.

1985 – Expedido auto de desapropriação e emissão de posse do casarão. Criada a Comissão de Estudos para decidir o uso da casa.

1986 – Dezembro, publicado Decreto 447, aprovando os Estatutos de Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, com sede no casarão.

1986 – 1992 - Restauração.

1992 – Abril, abertura à visitação.

Contexto histórico

Séc. XVIII

Santos exporta café.

Séc. XIX

A cidade cresce.

1855 – A orla já é atração turística.

1872 – Aa inauguração da primeira linha de bondes puxados por animais, entre o Centro e o Boqueirão.

1889 – Começam as medidas de saneamento da cidade: instalação de redes de água e esgoto; construção do cais do porto.

1890 – 1900 – Metade da população é dizimada por epidemias.

Séc. XX

1903 – Mapa da cidade mostra boa parte da orla já loteada.

1906 – Francisco Pires preside o Clube Internacional de Regatas, por dois anos.

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1907 – Inauguração do canal 1, primeiro de uma série idealizada por Saturnino de Brito.

1910 – Saturnino de Brito propõe a implantação de Quarteirões Salubres. O plano não é considerado pelos proprietários de imóveis.

1922 – Comemoração do centenário da Independência – erguido monumento correspondente, no Gonzaga, sob salva de 21 tiros.

1938 – Júlio Conceição muda-se para o Boqueirão e cria o Parque Indígena.

Características

Lote nº 10 da Avenida da Barra (mais tarde, 15).

Terreno de 174,88m de comprimento; 38,30 m de frente; área de 6.600 metros quadrados.

Pavimento superior: seis quartos (o do casal, com saleta e terraço); dois banheiros.

Pavimento inferior: sala de jantar – mesa com 4 metros em madeira entalhada, cujo acabamento combinava com o rodapé; sala de música; sala de almoço, cozinha, despensa; biblioteca; sala de estar, que fazia as vezes de quarto de hóspedes; salão nobre; jardim de inverno.

Pavimento intermediário: quarto de costura.

Mobília – Nicásio Costillas e Filho.

Pintura das paredes – arte nouveau (em voga na época).

Vitrais – Casa Conrado

Escada – mármore italiano (Carrara).

Corrimão – em ferro, Liceu de Artes e Ofícios.

Cortinas e estofados – Tapeçaria Catelli

Mobiliário de serviço – Kisabo Kanaiama

Uso do terreno de forma diferente do colonial, descongestionado, de acordo com as construções na Europa.

Mudança em 1923 - “Vila Edith”, em homenagem à filha caçula.

Parte externa – Construções:

Casa de banhos, coberta com telhas de ardósia e dividida em compartimentos com WC e chuveiros.

Edícula de dois pavimentos no quintal, com os cinco quartos dos nove empregados, garagem para 2 carros, com poço; sala de aula, lavanderia, banheiros.

Outra construção anexa: despensa e cozinha para a dona de casa (com forno caipira).

Caixa d’água – erguida em 1939, por Antônio Canero.

Garagem (atual sala de cursos) – 1939 – construída pelo arquiteto Ciriaco Gonzalez (mesmo que ergueu o Teatro Coliseu).

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Quadra de tênis, casa de bonecas.

Canil.

Horta, pomar com bananeiras, carambolas, mangas, canteiros de morangos.

Galinhas, patos, perus, porcos, bodes.

Gramado com campo de croquê.

Avenida dos jambolões, roseiral.

Costumes

Fogareiro a gás no piso superior.

Festas juninas.

Procissões – forravam a rua em frente da casa com folhas de palmeiras e flores.

Professores em casa.

Teatrinho.

Estudar instrumentos musicais.

Namoro: moça no terraço da casa e rapaz no canal 4, através de acenos e códigos.

Cordão umbilical dos bebês era enterrado no jardim, pela avó, num canteiro de amor-perfeito.

Lixo doméstico, bastante orgânico na época, era enterrado em cova no quintal e transformado em adubo.

Noites de temporal – rezavam em frente ao oratório.

Casamentos no casarão.

Recebiam convidados para escutar a radiola com fone de galena.

Matinês no Miramar – centro de diversões com o 1º cassino da cidade, o qual projetou Santos como centro turístico. Nas matinês, os filmes mudos tinham sonorização ao vivo pela orquestra. Depois da fita, as cadeiras eram retiradas para o baile. (Construído em 1896 e reconstruído em 1923, depois de sua época áurea, virou quartel e depois demolido para construção de prédios).

http://www.pinacoteca.unisanta.br

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MONTE SERRAT

Passeio pelos templosApreciada em diversos países do mundo, a arquitetura de catedrais, basílicas, santuários e igrejas

manifesta a cultura dos povos e revela verdadeiras obras primas da arte sacra. O apelo à emoção nessas edificações seculares, principalmente nas igrejas em estilo barroco, visava seduzir a alma por meio da arte, em benefício da fé. Santos foi uma das primeiras cidades fundadas no Brasil, no século 16, e o município apresenta reais testemunhos através dos estilos arquitetônicos, pinturas e imagens existentes em seus templos, que evidenciam claramente a evolução histórica do local, desde o século 16 até o século 19.

Compreendendo cinco igrejas e o Museu de Arte Sacra, cada monumento disporá de guia próprio por meio do “Programa Vovô Sabe Tudo”, em que pessoas idosas são contratadas para contar a santistas e turistas fatos do passado. Para fazer a visita, de aproximadamente 30 minutos, as pessoas devem procurar dentro da igreja a “vovó”, que estará identificada por um broche do projeto. “É uma iniciativa muito feliz. Turismo e idosos são dois pontos importantes de atuação da Igreja. Este programa une os dois pólos, o que, para nós, é um grande satisfação”, comenta Dom Jacyr Francisco Braido, Bispo Diocesano de Santos.

Para João Paulo Tavares Papa, coordenador do Programa Alegra Centro, “essa é uma contribuição para a revitalização do Centro Histórico, pois revitalizar é dar vida ao patrimônio, e não apenas recuperar fachadas”.

Santuário de Nossa Senhora de Monte SerratPara chegar ao Santuário de Nossa Senhora do Monte Serrat embarca-se num bondinho que

funciona em sistema funicular. “Alguns devotos costumam pagar promessas subindo pela escadaria de 415 degraus, ao longo da qual existem nichos com bela via-sacra”, conta a idealizadora de Visitas Monitoradas do Roteiro Religioso, Helena Hartmann. A capela foi construída lá no alto, entre 1598 e 1603. Embora extremamente simples – nave única com telhado de duas águas, porta central, duas janelas simétricas e torre lateral – sua importância deve-se ao fato de abrigar a imagem da padroeira de Santos, Nossa Senhora do Monte Serrat.

Conta-se que, em 1614, quando o corsário holandês Joris Von Spielbergen invadiu a vila, parte da população fugiu para o morro. Ao tentar persegui-la, os corsários foram dizimados pela terra e as pedras rolaram da montanha. O povo atribuiu o fato a um milagre de Nossa Senhora do Monte Serrat, mas só em 1954 a Câmara Municipal oficializou-lhe o título de padroeira. No ano seguinte o

Papa Pio XII reafirmou o ato, determinando a coroação canônica, que foi efetuada em 8 de setembro.

http://www.revistamuseu.com.br

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2011/pat_cult2/my.