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O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE SERGIPE REFERENTE AO PERÍODO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Autora: Roberta da Silva Rosa 1 Coautor: Gilson Rambelli 2 As evidências arqueológicas estão espalhadas por todo território nacional e fazem parte do Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural brasileiro. Os vestígios materiais encontrados se apresentam como elementos importantes para o conhecimento da história, já que fazem parte das informações do passado deixadas por pessoas que já não mais existem. Este legado é, portanto, nossa herança cultural. De acordo com o arqueólogo paulista Pedro Paulo Funari (2007) o conceito de Patrimônio Cultural é usado como referência a monumentos herdados de gerações anteriores, ou seja, este conceito vem das línguas românicas que se referem a propriedade herdada do pai ou dos antepassados, uma herança. Esta ideia procura demonstrar a importância de se construir uma consciência histórica relacionada aos vestígios deixados pelos nossos antepassados e que apresentam suas continuidades no presente. Segundo ele, não existe identidade sem memória e por este motivo: Os monumentos históricos e os restos arqueológicos são importantes portadores de mensagens e, por sua própria natureza como cultura material, são usados pelos atores sociais para produzir significado, em especial ao materializar conceitos como identidade nacional e diferença étnica (FUNARI, 2007, p. 60). A percepção do Patrimônio Cultural não se dá de maneira espontânea. Segundo o arqueólogo paulista Gilson Rambelli ela é construída social e historicamente (2008, p. 50). Com base nisso, podemos dizer que a relação existente entre a preservação do Patrimônio 1 Mestranda em Arqueologia pela Universidade Federal de Sergipe (2013), Graduanda em Arqueologia pela UFS (2010), Graduada licenciada em História pela Universidade Tiradentes (2009), Bolsista da CAPES, e-mail: roberta.ro25@hotmailcom. 2 Coordenador do Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos (LAAA-UFS), Professor do Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe (DAR-UFS), Bolsista de Produtividade Científica do CNPq, e-mail: [email protected].

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Page 1: O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE SERGIPE REFERENTE AO …...O Monumento do Cemitério dos Náufragos localizado no Mosqueiro é o mais preservado. O local é murado, não apresenta sinais

O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE SERGIPE

REFERENTE AO PERÍODO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Autora: Roberta da Silva Rosa1

Coautor: Gilson Rambelli2

As evidências arqueológicas estão espalhadas por todo território nacional e fazem

parte do Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural brasileiro. Os vestígios materiais

encontrados se apresentam como elementos importantes para o conhecimento da história, já

que fazem parte das informações do passado deixadas por pessoas que já não mais existem.

Este legado é, portanto, nossa herança cultural.

De acordo com o arqueólogo paulista Pedro Paulo Funari (2007) o conceito de

Patrimônio Cultural é usado como referência a monumentos herdados de gerações anteriores,

ou seja, este conceito vem das línguas românicas que se referem a “propriedade herdada do

pai ou dos antepassados, uma herança”. Esta ideia procura demonstrar a importância de se

construir uma consciência histórica relacionada aos vestígios deixados pelos nossos

antepassados e que apresentam suas continuidades no presente. Segundo ele, não existe

identidade sem memória e por este motivo:

Os monumentos históricos e os restos arqueológicos são importantes

portadores de mensagens e, por sua própria natureza como cultura material,

são usados pelos atores sociais para produzir significado, em especial ao

materializar conceitos como identidade nacional e diferença étnica

(FUNARI, 2007, p. 60).

A percepção do Patrimônio Cultural não se dá de maneira espontânea. Segundo o

arqueólogo paulista Gilson Rambelli ela é construída social e historicamente (2008, p. 50).

Com base nisso, podemos dizer que a relação existente entre a preservação do Patrimônio

1 Mestranda em Arqueologia pela Universidade Federal de Sergipe (2013), Graduanda em Arqueologia pela UFS

(2010), Graduada licenciada em História pela Universidade Tiradentes (2009), Bolsista da CAPES, e-mail:

roberta.ro25@hotmailcom. 2 Coordenador do Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos (LAAA-UFS), Professor do

Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe (DAR-UFS), Bolsista de Produtividade

Científica do CNPq, e-mail: [email protected].

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Arqueológico e a sociedade pode ser apontada como sendo o reconhecimento e a valorização

das identidades culturais de uma determinada região, e isto, está diretamente relacionado com

a identificação do sujeito na localidade em que ele vive, tornando-o uma parte deste passado,

identificando-se com ele.

Nesse contexto, podemos inserir o Patrimônio Histórico Estadual de Sergipe referente

à Segunda Guerra Mundial, o Cemitério dos Náufragos, que representa materialmente a

passagem trágico-naval dos torpedeamentos das embarcações brasileiras afundadas no litoral

sergipano em 1942 que vitimou covardemente centenas de pessoas inocentes.

O Cemitério dos Náufragos localizado em Aracaju consiste em uma Arquitetura

funerária do século XX, que foi elevada a Patrimônio Histórico pelo Decreto Estadual nº

2.571 em 20 de maio de 19733. Para se tornar um bem histórico tombado, passou por um

estudo avaliativo com critérios técnicos, levantamento histórico e de valor representativo

perante a comunidade em que está inserido.

Com o passar dos anos, no entanto, o importante acontecimento histórico sobre os

ataques navais em Sergipe se tornou desconhecido e distanciado das novas gerações. Isso se

deve ao fato desta temática ter sido pouco explorada pelas produções historiográficas. No

geral, as abordagens colocam o envolvimento do Brasil na Segunda Guerra como tendo uma

participação simbólica, merecendo apenas uma breve citação nos livros didáticos. No entanto,

discordamos veementemente com essa visão generalista que, de certa forma, despreza as

experiências dramáticas vividas pelas regiões litorâneas brasileiras que sofreram direta e

indiretamente com os atos de guerra praticados contra a nação brasileira em seu mar

territorial.

Os torpedeamentos praticados pelos submarinistas alemães aos navios Baependy,

Araraquara e Aníbal Benévolo na costa sergipana representou a chegada da grande guerra ao

Brasil. No entanto, atualmente, a situação do Patrimônio que representa materialmente essa

tragédia se encontra em condições lamentáveis. O primeiro Cemitério dos Náufragos

localizado na Atalaia Velha está “abandonado”, vítima do esquecimento das autoridades e

destruído pela ação do homem e do tempo.

3 O Decreto Estadual nº 2.571, de 20 de maio de 1973, elevou o Cemitério dos Náufragos a Patrimônio Histórico

de Sergipe. Disponível em: <http://sergipepatrimonios.wix.com/seeseuspatrimonios/ master-page-7>. Acesso em

11 de março de 2014.

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O segundo cemitério localizado no Mosqueiro, de acordo com os estudos, ele

representa apenas os locais que possivelmente abrigam ou abrigaram os restos mortais das

vítimas que foram removidos do cemitério original durante a construção da Rodovia dos

Náufragos que ligaria a capital às praias sergipanas, em 1973. Nessa época foi assinado o

Decreto Estadual 2.571 de 20 de maio, que passou a considerar o Cemitério dos Náufragos

como Patrimônio Histórico do Estado de Sergipe. Com a obra da rodovia, foi necessário então

mudar o cemitério da sua localização antiga para a atual, no Mosqueiro (MELLO;

CERQUEIRA, 2012). De acordo com relatos da população, o impacto da construção foi

grande, visto que “passaram por cima de tudo, reviraram as covas e depois colocaram tudo

no cemitério do Mosqueiro” 4. Muitos corpos foram trasladados, contudo ainda resta parte do

cemitério original, o qual se encontra interditado por medida judicial desde 2007 e carente da

devida proteção das autoridades públicas.

O Monumento do Cemitério dos Náufragos localizado no Mosqueiro é o mais

preservado. O local é murado, não apresenta sinais de violação nas sepulturas nem acúmulo

de entulhos e lixo na sua área. No entanto, falta na localidade uma maior divulgação a

respeito da existência deste Monumento. Ele se encontra em uma pequena rua lateral sem

saída, não existindo sequer uma placa na localidade que se refira a ele. Diante desse contexto,

podemos dizer que não há um sentimento de identidade deste patrimônio na comunidade,

principalmente na população jovem. A maioria não sabe nem de sua existência. Falta uma

ação de política pública por parte dos governantes na comunidade acerca da importância de se

preservar a memória destes episódios, principalmente na população jovem da comunidade.

Aracaju, ao que tudo indica, é a única cidade do Brasil que tem plantado em seu solo

um cemitério de náufragos da Segunda Guerra Mundial. Esse fato se justifica, levando em

conta que a maioria dos afundamentos e as batalhas navais ocorreram sempre em longitudes

bem distanciadas do continente, enquanto os afundamentos na costa de Sergipe, ocorreram a

poucas milhas de Aracaju, aonde chegaram a ser avistadas as luzes projetadas pelo Farol de

Aracaju.

4 Entrevista publicada In: Estudante quer garantir preservação de patrimônio estadual. Jornal da Cidade, 21

de novembro de 2010. Disponível em: <http://www.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=83899>. Acesso em

17 de dezembro de 2013.

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O Cemitério dos Naufrágios é resultado dos afundamentos dos navios mercantes

brasileiros Baependy, Araraquara e Aníbal Benévolo.5 Eles foram atacados brutalmente pelo

submarino alemão U-507 que vitimou mais de 500 pessoas no litoral nordestino. Esse evento

trágico teve grande peso no reconhecimento do Estado de Beligerância em todo território

nacional em 22 de agosto de 19426 e na Declaração Brasileira de Guerra aos países do Eixo

em 31 de agosto de 1942.

Os navios afundados na costa sergipana são considerados pela Arqueologia de

Ambientes Aquáticos como sítio de naufrágio7 formado pelos restos das três embarcações

naufragadas. Este tipo de sítio pode ser estudado in situ por meio da aplicação de métodos e

técnicas específicos voltados para a práxis da arqueologia praticada embaixo d’água, com

ferramentas especificas e adaptada ao ambiente (BASS, 1969; MUCKELROY, 1978; BLOT,

1999, RAMBELLI, 2003). O estudo também pode se deter na busca de conhecimento sobre a

própria embarcação, destacando as estruturas, tecnologias, cargas, partidas e destinos, assim

como seu uso enquanto meio de transporte, lugar de trabalho, segundo lar para os tripulantes,

enfim, as possibilidades de pesquisa são amplas.

BREVE HISTÓRICO SOBRE SERGIPE NO CONTEXTO DA SEGUNDA GUERRA

MUNDIAL

No início da década de 40 do século passado, as notícias da guerra chegavam a

Sergipe através de jornais, anúncios nos rádios e cinemas locais. No entanto, elas não

alteravam o cotidiano pacato da cidade de Aracaju, afinal o conflito ocorria no continente

europeu que estava muito distante. Mas, com o tempo a batalha naval empreendida pelos

nazistas no Atlântico começou a se expandir. Os Estados Unidos na defesa do seu litoral se

5 “Pela primeira vez as embarcações brasileiras, servindo o tráfego das nossas costas no transporte de passageiros

e cargas de um Estado para outro, sofreram ataque dos submarinos do Eixo. [...] Foram afundados em Sergipe os

vapores “Baependy” e “Aníbal Benévolo” do Lloyd Brasileiro e o “Araraquara” do Lloyd Nacional S.A. [...]

Deve o povo manter-se calmo e confiante na certeza de que não ficarão impunes os crimes praticados contra a

vida e bens dos brasileiros” (CORREIO DE ARACAJU, 1942, p.1). Cf. CRUZ, 2012, p.19. 6 Declaração de Estado de Beligerância em todo território nacional. Fonte: Correio de Aracaju. Aracaju/Se. 16

de Janeiro de 1943, p. 4 apud CRUZ, Luiz A. P. “A guerra já chegou entre nós”! O cotidiano de Aracaju

durante a Guerra Submarina (1942 -1945). 2012. 232f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade

Federal da Bahia - Faculdade de Filosofia d Ciências Humanas, Salvador, 2012, p. 232. 7 Sítio de naufrágio consiste em um sítio arqueológico formado por restos de uma ou mais embarcações

naufragadas. Disponível em: <http://laaa.ufs.br>. Acesso em 05 de março de 2014.

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aperfeiçoou tecnologicamente e reagiu aos ataques com seus caça-submarinos, afastando

assim os U-boots8 alemães que migraram para o Atlântico Sul. A guerra então começava a se

aproximar do litoral brasileiro.

O governo liderado pelo presidente Getúlio Vargas agia de forma “neutra” diante do

conflito, tanto desenvolvendo relações de solidariedade com os Estados Unidos, como

mantendo laços econômicos com os países eixistas. No entanto, essa política de

imparcialidade chegou ao fim logo após o ataque japonês a Pearl Harbor, em 7 de dezembro

de 1941 e com a Declaração de Guerra dos Estados Unidos ao Japão, à Itália e à Alemanha.

Na Conferência Pan-Americana dos Chanceleres realizada no Rio de Janeiro, em 28

de janeiro de 1942, contrariando a opinião dos militares pró-Alemanha, decidiu- se a favor do

rompimento das relações diplomáticas com os países do Eixo. Dessa forma, o Brasil rompia

com a sua neutralidade, contudo a maioria dos brasileiros não sabia dos riscos dessa decisão

política e continuou a navegar a bordo dos navios mercantes.

A presença dos submarinos no litoral do Brasil se intensificou, demonstrando assim

que a Alemanha nazista estava atenta ao comércio exterior do país. A rota brasileira se

apresentava como uma das linhas vitais para os Aliados e por esta razão é compreensível que

os submarinos viessem com a missão de obstruí-la. O desfecho foi o ataque brutal do

submarino U-507 ocorrido na área costeira de Sergipe contra os navios Baependy,

Araraquara e Aníbal Benévolo, ocasionando assim, uma das maiores tragédias brasileiras no

período da Segunda Guerra Mundial.

Os primeiros ataques ocorreram em águas internacionais, foi confirmado o

torpedeamento praticado pelo submarino alemão U-432 ao navio Buarque no dia 15 de

fevereiro de 1942, quando este navegava sozinho e desarmado pelo Atlântico Norte. Antes

disso, em 22 de março de 1941 o navio Taubaté tinha sido avariado por um avião da Força

Aérea Alemã e no mesmo mês o navio Santa Clara desapareceu de forma repentina, sem

8 O termo U-boots é originado da palavra alemã Unterseeboot que significa “pequeno-barco debaixo d’água”,

usado para designar qualquer submarino. “Os U-boots espalharam o terror pela costa nacional e afundaram os

navios mercantes em Sergipe deixando muitas marcas na memória da população” In CRUZ, Luiz A. P; SOUZA,

Antônio L. U-Boots no Brasil. As vivências do homem costeiro diante da Guerra Submarina em Sergipe.

(1942-1945). 2009. Trabalho apresentado no IV Congresso Internacional de História, Maringá - PR, 2009.

Disponível em: < http://pt.scribd.com/doc/58571408/U-BOOTS-NO-BRASIL-AS-VIVENCIAS-DO-HOMEM-

COSTEIRO-DIANTE-DA-GUERRA-SUBMARINA>. Acesso em 12 de dezembro de 2013.

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deixar rastros (SILVA, 1972 apud PORTO, 2010). A partir desses fatos, percebe-se que o

Brasil antes mesmo de entrar oficialmente na guerra já era alvo do Führer alemão.

A área atlântica brasileira afetada com as primeiras investidas nazistas foi o litoral

deserto de Sergipe, entre os dias 15 e 16 de agosto de 1942. Os torpedeamentos ocorrem de

forma inesperada e trágica com os navios Baependy, Araraquara e Aníbal Benévolo,

vitimando assim 549 pessoas. Na época, o anúncio do jornal aracajuano Folha da Manhã

destacou: “Sergipe nunca em sua vida, presenciou cenas tão tristes como nestes dias9”. O

clima de Aracaju era de consternação, afinal as perdas foram incalculáveis, os nazistas

assassinaram covardemente civis e militares, eram homens, mulheres e crianças. Os

acontecimentos foram assustador para a população e muito sofrido para os náufragos,

transformando assim, a capital numa cidade sitiada.

Sergipe se envolveu num clima de guerra, ocorreram várias manifestações e houve

perseguições a estrangeiros e sergipanos suspeitos de espionagens. O quebra-quebra se

instalou na cidade, o comércio local paralisou, as aulas foram suspensas, o expediente das

repartições públicas foi encerrado e nas ruas houve aumento das autoridades policiais para

intervir, a fim de conter a multidão e evitar ânimos mais exaltados.

Refém da ameaça submarina, a cidade ficou isolada sem os costumeiros navios

mercantes, dessa forma, ela perdia sua feição portuária. Com a guerra e os naufrágios

seguidos, sugere-se a desaparição da atração do porto, pois seu movimento paralisou quase

que completamente, tendo sido cancelada a circulação de mercadorias. Vale ressaltar que o

mar nessa época era a principal via de ligação com outros estados, já que as estradas de

rodagem interestaduais eram inexistentes e não havia um sistema ferroviário eficiente.

A população sofreu com o aumento da inflação que encareciam os alimentos. O

isolamento naval asfixiou o comércio e encalhou a safra açucareira nos trapiches ribeirinhos.

Medidas de defesa na costa sergipana se iniciaram, como o blackout10 que consistia no

escurecimento da cidade, no entanto, essa medida causou transtorno urbano, provocando um

9 Folha da Manhã. Nota publicada no jornal aracajuano. Cf. CRUZ; SOUZA, 2009. Disponível em:

<http://www.pph.uem.br/cih/anais/trabalhos/331.pdf>. Acesso em 12 de dezembro de 2013. 10 O “black-out” consistiu no escurecimento das cidades, das povoações e das residências particulares, originado

- seja pela extinção de todas as luzes, seja pelas medidas tomadas previamente para velar a iluminação, de modo

que as cidades, povoações, etc., não pudessem ser distinguidas pelos bombardeadores inimigos. Cf. PEREIRA,

1942, p.58 apud SCHURSTER 2013, p.49. Disponível em:

<http://www.revistanavigator.com.br/navig17/dossie/N17_dossie3.pdf>. Acesso em 23 de julho de 2013.

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aumento significativo da violência. Enfim, esse era o clima de Aracaju em tempos de guerra,

a capital deixava de ser uma mera espectadora de um conflito europeu para se transformar em

uma vítima da Segunda Guerra Mundial.

POSSIBILIDADES DE ESTUDO DESSES SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DE

NAUFRÁGIOS EM SERGIPE

A abordagem da Arqueologia de Ambientes Aquáticos utilizada neste trabalho buscou

analisar os múltiplos significados relacionados aos navios afundados na costa sergipana na

época da Segunda Guerra Mundial. O levantamento das fontes de informações foi feito

através de documentos, jornais, fotografias, mapas e observação da cultura material, a

exemplo do Cemitério dos Náufragos que foi consequência dos naufrágios que ocasionou

centenas de mortes. Para a arqueologia os restos mortais também podem ser estudados, eles

são considerados biofatos, nesse caso, associados aos sítios arqueológicos de naufrágios. A

partir das informações buscamos compreender o contexto em que os navios afundaram e

descrevemos sobre as suas estruturas, partidas e destinos, carregamento, profundidade em que

submergiram e identificamos a possível localização atual.

É importante destacar que já existem algumas pesquisas que abordam o tema Sergipe

no contexto da Segunda Guerra Mundial, a exemplo da monografia e dissertação do

arqueólogo Otávio Arruda Porto “Uma arqueologia da II grande guerra: Sergipe e os sítios

de naufrágios” (2010) e “Arqueologia Marítima/Subaquática da 2ª Guerra Mundial: sua

aplicabilidade no Brasil” (2013) respectivamente; a monografia do arqueólogo Alexandre

Araújo de Oliveira Santana “Arqueologia de naufrágios: Sergipe e os remanescentes da

segunda guerra mundial” (2012); e a dissertação do historiador Luiz Antônio Pinto Cruz “‘A

Guerra Já Chegou Entre Nós’! O cotidiano de Aracaju durante a Guerra Submarina (1942 -

1945)” (2012). Além desses trabalhos acadêmicos, se destacam também as ações exercidas

pelo Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos do Departamento de Arqueologia

da Universidade Federal de Sergipe coordenado pelo arqueólogo Gilson Rambelli, as atuações

são voltadas para pesquisas, cursos de extensão universitária e difusão cultural do

conhecimento sobre os sítios arqueológicos de ambientes aquáticos.

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Sobre o navio Baependy, sabe-se que ele era da classe paquete, ex-alemão Tijuca, que

tinha sido confiscado pelo governo brasileiro durante a Primeira Guerra Mundial. Seus

aspectos náuticos consistiam em casco de aço, com 119 metros de comprimentos, 14,10

metros de boca, e 9,26 metros de pontal. Deslocava 4.081 toneladas brutas e 3.066 líquidas

(WYNNE, 1973). O percurso realizado no dia 15 de agosto de 1942, foi o seguinte: zarpou do

Rio de Janeiro, fez escala em Salvador e se dirigiu à Recife, no entanto, foi surpreendido com

o ataque do submarino U-507 quando navegava de 11 a 20 milhas na barra do rio Real no

litoral sergipano a uma velocidade de nove nós (16,6 km/h). A embarcação foi atingida por

dois torpedos.

O navio afundou junto com a maioria das pessoas. A bordo estavam 73 tripulantes e

250 passageiros, entre os quais, 141 eram militares do 7º Grupo de Artilharia de Dorso.

Foram mortas 270 pessoas (CRUZ, 2012). A tragédia do Baependy foi a maior de todas as

que houve entre os navios brasileiros durante o período da Segunda Guerra Mundial

(SANDER, 2007 apud PORTO, 2013).

Para identificar a profundidade do local, foi utilizada a possível coordenada geográfica

do navio no momento do ataque, que era de Lat 11º 51’ S e Long 37º 02’ W. De acordo com

as coordenadas plotadas em cartas náuticas eletrônicas, a profundidade no provável local é de

mais de 2.000 metros, impossibilitando assim qualquer pesquisa in situ, sendo viável apenas,

através de veículo controlado remotamente (ROV) ou veículos subaquáticos autônomos

(PORTO, 2013).

O Araraquara respondia por um navio de classe paquete, com 4.872 toneladas de

deslocamento. Era armado em iate, visando a navegação de grande cabotagem. Ele pertencia à

frota dos “Ara” do Lloyd Nacional. Fora construído na Itália nos estaleiros de Cantiori

Nevale, em Triéste e registrado na Capitania dos Portos do Rio de Janeiro em 1937 (CRUZ,

2012). Seus aspectos náuticos consistiam em casco de aço, com 117, 9 metros de

comprimento, boca com 16,3 metros e calado com 4,4 metros. O percurso realizado no dia 15

de agosto de 1942 foi o seguinte: partiu de Salvador e se dirigia à Maceió, no entanto, antes

de chegar ao seu destino foi atacado de forma repentina e atingido por um torpedo disparado

pelo mesmo agressor do navio Baependy. Morreram o Comandante, o Imediato, seis oficiais,

58 tripulantes e 65 passageiros, somente 11 pessoas que estava a bordo sobreviveram

(SANDER, 2007 apud PORTO, 2013).

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As possíveis coordenadas geográficas da localização do navio no momento do ataque

eram de Lat 11º 53’ S e Long 37º 22’ W, plotadas em carta náutica eletrônica. De acordo com

essa informação, será possível realizar trabalhos sistemáticos in situ (PORTO, 2013), com

arqueólogos mergulhadores fazendo o levantamento das áreas do sitio arqueológico através de

várias técnicas, como inspeções visuais subaquáticas, levantamento em círculos concêntricos,

em retângulos, triângulos, pêndulo, como também com a ajuda e um propulsor, ou planador

puxado por barco (RAMBELLI, 2002).

O navio Aníbal Benévolo, ex-Comandante Alvim, foi construído em estaleiro alemão

em 1905 (CRUZ, 2012). Era um vapor com 1.905 toneladas de deslocamento. Seus aspectos

náuticos consistiam em casco de aço, com 82,2 metros de comprimento, boca com 11,5

metros e calado com 3,8 metros. O percurso realizado no dia 16 de agosto de 1942 foi o

seguinte: zarpou de Salvador com destino a Aracaju, saiu uma hora após do Araraquara. Ele

navegava com as luzes apagadas, mantendo apenas os faróis de navegação acesos, estava

muito próximo à costa aracajuana, por volta de sete milhas, aproximadamente 13 km, quando

foi surpreendido pelo ataque do submarino U-507. Era madrugada e quase todos estavam

dormindo, somente quatro dos 71 tripulantes sobreviveram, todos os 83 passageiros

pereceram (SANDER, 2007 apud PORTO, 2013).

De acordo com o historiador Luiz Cruz (2012), “o povo sergipano se identificava com

o navio Aníbal Benévolo, afinal Aracaju era o seu fim de viagem e as pessoas acostumaram a

vê-lo adentrar a boca da Barra e apontar na ponte do Lima. O navio afundou com vários

sergipanos que vinham de Salvador. Poucos sobreviveram”. As coordenadas geográficas da

possível localização do navio no momento do ataque era de Lat 11º 42’ S e Long 37º 23’ W,

plotadas em carta náutica eletrônica. Elas demonstram que será possível realizar trabalhos

sistemáticos in situ, com metodologias comparáveis as que poderão ser utilizados no

Araraquara (PORTO, 2013).

A tabela abaixo de Ações Beligerantes do U-507 na Costa do Brasil faz um recorte e

mostra os navios brasileiros que foram atacados pelo submarino U-507 em Sergipe e na Bahia

durante a Segunda Guerra Mundial. Quando comparamos a quantidade de mortos decorrente

dessa tragédia, notamos de forma clara através dos dados, que as maiores fatalidades no

período de guerra aconteceram em águas sergipanas. De acordo com o arqueólogo Otávio

Porto (2013), foram perdidas 549 vidas, ou seja, 52,3% das fatalidades brasileiras. Vale

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ressaltar, que não há um consenso em relação aos números efetivos de mortes, pois as fontes

de informações pesquisadas divergem.

Tabela - Ações Beligerantes do U-507 na Costa do Brasil11

NAVIOS LOCAL DATA

DO

ATAQUE

DE

TRIP.

Nº DE

PASS.

SAVOS MORTOS OU

DESAPAARECIDOS

TOTAL DE

MORTOS OU

DESAPARECIDOS TRIP. PASS. TRIP. PASS.

Baependy Sergipe 15/08/1942 73 233 18 18 55 215 270

Araraquara Sergipe 15/08/1942 74 68 8 3 66 65 131

Aníbal

Benévolo

Sergipe 16/08/1942 71 83 4 67 83 150

Itagiba Bahia 17/08/1942 60 121 50 95 10 26 36

Arara Bahia 17/08/1942 35 15 20 20

Jacira Bahia 19/08/1942 5 1 5 1

TOTAL GERAL 318 506 100 117 218 389 607

Diante dos fatos trágicos, a cidade de Aracaju foi alçada à condição de vítima da

Guerra Submarina, sendo o acontecimento considerado de grande peso no reconhecimento do

Estado de Beligerância em todo território nacional em 22 de agosto de 1942, e na Declaração

Brasileira de Guerra à Alemanha e à Itália em 31 de agosto de 1942. Alguns jornais da época

fizeram uma comparação interessante entre o “atentado nazista em Sergipe” e o “atentado

japonês a Pearl Harbor”, pois ambos foram executados por países beligerantes do Eixo e

arrastaram suas respectivas nações à Segunda Guerra Mundial (CRUZ; ARAS, 2012).

De acordo com as memórias do prático Zé Peixe12, contemporâneo dos

acontecimentos:

O Brasil não tinha entrado em guerra. Esses navios [...] Baependy,

Araraquara e Aníbal Benévolo foram torpedeados. Aí Getúlio Vargas

declarou guerra daí por diante. Torpedearam os navios brasileiros em águas

brasileiras. Dentro da nossa casa né? Na barra de Estância. De Estância

11 SERAFIM, Carlos Frederico S. & BITTENCOURT, Armando Senna. A Marinha na República. A

Importância do Mar na História do Brasil. 2006. Ministério da Educação, Brasília, 2006, p. 151. 12 José Martins Ribeiro Nunes, mais conhecido como Zé Peixe, nasceu em 05 de janeiro de 1927 na cidade de

Aracaju. Na época dos torpedeamentos ele era adolescente e suas memórias são consideradas privilegiadas, pois

sua casa se localizava próximo à Capitania dos Portos de Sergipe. Ele testemunhou vários acontecimentos, entre

eles, as operações antissubmarinas na cidade, os ensaios antiaéreos, o movimento estudantil e a perseguição aos

estrangeiros. Depois da guerra, Zé Peixe se tornou um prático, sendo inclusive um dos mais conhecidos na

Marinha do Brasil.

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para São Cristóvão. E os corpos davam na praia. Tinha o Cemitério dos

Náufragos, mas tinha corpos que não dava pra pegar mais que tava em

estado que não podia pegar mais. Aí botava na praia e enterrava lá [...]13.

O relato acima demonstra um olhar particular sobre o drama vivido com a guerra

submarina e a forma que foi compreendido. Afinal, consideramos os depoimentos orais

importantes fontes de informações que servem para preencher as lacunas existentes na

historiografia. As fontes orais se apresentam como diferentes percepções sociais, no entanto,

elas não podem ser consideradas isentas de imperfeições. Portanto, devem ser confrontadas

com outros tipos de informações, buscando assim uma melhor compreensão dos fatos

ocorridos através dos olhares da população que são imprescindíveis para a construção da

História.

O estudo de embarcações, enquanto cultura material pode ser percebido em suas

múltiplas dimensões, pois se trata de um meio de transporte, mas também representa um

“lugar de trabalho”, “espaço de convivialidade”, o “segundo lar”, a “pátria”, enfim, a “razão

de ser” da marujada (CABRAL, 1958 apud CRUZ; ARAS, 2012, p. 88). Os sítios mais

numerosos e estudados são os de naufrágios, pois conseguem alcançar um alto grau de

conservação. As novas análises, baseadas nas abordagens do pós-processualismo como a

arqueologia simbólica, contextual e crítica, buscam ampliar e diversificar as possibilidades de

estudo referentes aos sítios arqueológicos de ambientes aquáticos.

Segundo o arqueólogo Gilson Rambelli (2002), a Arqueologia de Ambientes

Aquáticos se debruça sobre a cultura material que se encontra submersa ou na interface do

ambiente aquático, a qual possibilita reconstituir aspectos do passado revelando riquezas

históricas que estão encobertas pelas águas. De acordo com o arqueólogo britânico Keith

Muckelroy (1978), essa abordagem estuda o material de restos de atividades humanas no mar

e as vias navegáveis, centrando-se nos naufrágios (MUCKELROY, 1978 apud GIBBINS;

ADAMS, 2001). George Fletcher Bass foi o arqueólogo pioneiro que desenvolveu métodos e

técnicas específicos voltados para a práxis da arqueologia praticada embaixo d’água, criando

ferramentas especificas e adaptando outras que eram utilizadas em superfície (BASS, 1969;

MUCKELROY, 1978; BLOT, 1999, RAMBELLI, 2003).

13 Entrevista de José Martins Ribeiro Nunes (Zé Peixe) concedida aos historiadores Luiz Antonio Pinto Cruz e

Antônio Lindvaldo Souza, em Aracaju dia 07 de abril de 2004 (CRUZ; SOUZA, 2009). Disponível em

<http://www.pph.uem.br/cih/anais/trabalhos/331.pdf>. Acesso em 12 de dezembro de 2013.

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Ao problematizar um sítio arqueológico de naufrágio devemos levar em consideração

vários fatores, como a época e o contexto em que o naufrágio aconteceu, sua localização e o

efeito da ação da erosão com o tempo. Para realizar um levantamento das estruturas e

artefatos é preciso fazer uma prospecção arqueológica, utilizado equipamentos geofísicos,

fazendo registro rigoroso e aplicando uma metodologia adequada que garanta a preservação

das informações arqueológicas.

O CEMITÉRIO DOS NÁUFRAGOS ENQUANTO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO

E O SEU “ABANDONO” PELO PODER PÚBLICO

Um dos objetivos deste trabalho é compreender a partir da Arqueologia Histórica a

relação entre a suposta criação do Cemitério dos Náufragos em Aracaju com os

torpedeamentos dos navios brasileiros na costa sergipana que vitimou centenas de pessoas no

período da Segunda Guerra Mundial. Faremos a ligação desses acontecimentos com as

memórias dos aracajuanos e analisaremos a questão do “abandono” pelas autoridades públicas

deste Monumento Histórico representativo que se encontra oficialmente interditado pelo

Ministério Público Estadual desde 2007, mas que ainda permanece em uso pela população

local que realiza os enterramentos de seus familiares.

De acordo com o arqueólogo Pedro Funari (2006) a pesquisa arqueológica se baseia

no estudo da cultura material que busca compreender as relações sociais e as transformações

ocorridas na sociedade. O fundamento teórico desta pesquisa segue a linha da corrente teórica

Pós-Processual que tem como principais pilares as concepções dos arqueólogos Ian Hodder,

Michael Shanks e Cristopher Tilley. Essa corrente possui métodos interpretativos e busca

entender os acontecimentos da vida social através dos contextos, analisando assim a

pluralidade dos significados impregnados na cultura material a partir de múltiplas visões.

Nesse sentido, essa vertente teórica também chamada de arqueologia Contextual

proporcionará uma melhor compreensão dos fatos ocorridos no litoral de Sergipe na época da

Segunda Guerra Mundial.

Durante muito tempo, os cemitérios serviram de fontes de pesquisas para a

Arqueologia Pré-Histórica. No entanto, a Arqueologia Histórica, responsável pelo estudo

contemporâneo, vem desenvolvendo poucas pesquisas referentes aos monumentos funerários

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urbanos existentes do século XX. No Brasil, o assunto é pouco explorado, destacam-se

trabalhos como o de Solimar G. Messias Bonjardim e Maria Augusta Mudin Vargas (2010),

que tratam sobre a materialidade e a imaterialidade da paisagem arqueológica da morte nas

cidades de São Cristóvão e Laranjeiras em Sergipe e o estudo de Gessonia Leite de Andrade

Carrasco e Sérgio Castello Branco Nappi (2009), sobre os cemitérios enquanto patrimônio

cultural como fonte de pesquisa, de educação patrimonial e de turismo.

O objeto de estudo escolhido, ao que tudo indica, é o único o cemitério de náufragos

do período da Segunda Guerra Mundial construído em solo de uma cidade brasileira. O

Cemitério dos Náufragos foi transformado em Patrimônio porque possui um valor simbólico e

histórico que representa materialmente a passagem das agressões dos nazistas no litoral

sergipano. De acordo com o arqueólogo estadunidense Charles Orser Jr. (1992), a

Arqueologia Histórica estuda um passado recente, ou seja, um passado moderno, que

“incorporou muitos processos, perspectivas e objetos materiais que ainda estão sendo usados

em nossos dias”. Sendo assim, o estudo do cemitério se encaixa muito bem nesse tipo de

pesquisa, já que o mesmo continua em uso até hoje pela população local.

Portanto, será feito aqui um breve histórico sobre o Cemitério dos Náufragos,

destacando questões referentes à sua fundação, mudança geográfica, tombamento, intervenção

judicial e sua apropriação na atualidade pela comunidade local. Para tanto, utilizaremos vários

tipos de informações como as fontes materiais, documentais, orais e pictóricas buscando dessa

forma, sanar várias questões.

Em Aracaju, não existe apenas um Cemitérios dos Náufragos, mas sim dois. Na

verdade, inicialmente foi construído o original em agosto de 1942 quando ocorreu o ataque do

submarino U-507 aos navios mercantes na costa sergipana que vitimou centenas de pessoas.

Nas praias de Atalaia, Mosqueiro, Caueira e Saco chagaram vários corpos espalhados juntos

aos destroços das embarcações.

Os corpos que conseguiram ser identificados foram enterrados nos seguintes

cemitérios: Cruz Vermelha e Santa Izabel. Já outros, deteriorados pelo mar ou mutilados pelas

explosões, tiveram seus restos destinados ao cemitério, que posteriormente foi chamado de

“Náufragos”. Segundo Cruz (2012, p.131), vários “cemitérios improvisados” foram abertos à

beira mar. Covas individuais e coletivas, com cruzes toscas e improvisadas. A Chefatura de

Polícia de Sergipe fez assinalar nas sepulturas a seguinte inscrição: “vítima do Nazismo”. Pela

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primeira vez, centenas de brasileiros tinham sido mortos em uma ação militar empreendida

pela Alemanha Nazista.

Na época, a pequena Aracaju não estava preparada para tamanha tragédia, os

cemitérios locais não comportavam tantos mortos. Supostamente, foi necessário criar o

Cemitério dos Náufragos para sepultar as vítimas da ação nazifascista. O médico Carlos

Moraes de Menezes (1888-1944) é considerado o fundador do cemitério que está localizado

na Rodovia Presidente José Sarney e que se encontra atualmente sem a devida proteção por

parte do poder público.

O segundo cemitério foi criado pela necessidade de mudar geograficamente o original,

pois com o crescimento da cidade foi preciso construir a Rodovia dos Náufragos que ligaria a

capital às praias, em 1973. Durante esse período foi assinado o Decreto Estadual 2.571 de 20

de maio, que passou a considerar o Cemitério dos Náufragos como Patrimônio Histórico do

Estado de Sergipe. Com a obra da rodovia, foi necessário mudar o cemitério da sua

localização antiga para a atual, no Mosqueiro (MELLO; CERQUEIRA, 2012). De acordo

com relatos da população, o impacto da construção foi grande, visto que “passaram por cima

de tudo, reviraram as covas e depois colocaram tudo no cemitério do Mosqueiro”14. Muitos

corpos foram trasladados, contudo ainda resta parte do cemitério original, o qual se encontra

interditado por medida judicial desde 2007 e carente da devida proteção das autoridades

públicas.

No entanto, há controvérsias sobre a criação do cemitério original, pois muitos

moradores antigos da Zona de Expansão de Aracaju, onde se localiza o cemitério, acreditam

que este monumento já existia muito antes dos torpedeamentos ocorrerem em 1942. Eles

afirmam que pessoas já haviam sido enterradas nele há mais de dois séculos. O local era

conhecido como Cemitério dos “Manguinhos” ou dos “Campinhos”15 e teria servido na época

da tragédia para enterrar os corpos dos náufragos.

14 ENTREVISTA. In: Estudante quer garantir preservação de patrimônio estadual. Jornal da Cidade, 21 de

novembro de 2010. Disponível em:< http://www.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=83899>. Acesso em 17

de dezembro de 2013. 15 Entrevista de José Dias Firmo dos Santos, presidente da Associação Desportiva Cultural e Ambiental do

Robalo (ADCAR). In: Cemitério dos Náufragos será aberto hoje. Jornal da Cidade, 18 de dezembro de 2010.

Disponível em: <http://www.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=86502>. Acesso em 17 de dezembro de

2013.

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Diante desses fatos, surgem alguns questionamentos. Quando realmente foi fundado o

Cemitério dos Náufragos? Será que a construção da Rodovia dos Náufragos descaracterizou o

cemitério “original”? Por que atualmente ele se encontra sem a devida proteção por parte do

poder público? A partir dessas indagações, buscaremos alguns caminhos que apontem

possíveis respostas. As questões simbólicas também serão aqui abordadas, do mesmo modo

como a verificação da transformação da paisagem cemiterial pela intervenção humana,

através da cultura material, como as sepulturas, as pedras tumulares, os ornamentos e as

iconografias, as quais revelam a dialética entre a relação homem e ambiente que pode ser

percebida na modificação da paisagem.

O Cemitério dos Náufragos é considerado pela Arqueologia Histórica como uma

estrutura16 que representa materialmente os trágicos naufrágios e os biofatos, restos mortais,

associados a eles. No cemitério localizado no Mosqueiro foi feita uma construção em

mármore que é simbólica, pois os túmulos estão vazios, nela se encontra uma placa com a

seguinte inscrição: “aí está o golpe mais traiçoeiro e terrível vibrado contra o coração da

nacionalidade”. De acordo com a pesquisa de campo, não há mais nenhuma sepultura

referente período da Segunda Guerra Mundial no Cemitério dos Náufragos original. Os

trabalhos que abordam sobre esse assunto deixam dúvidas quanto a atual existência desses

enterramentos, alguns sugerem o translado desses corpos para outros cemitérios, ou a

superposição de outros túmulos sobre os das vítimas de guerra.

Segundo Otávio Porto (2010), a ex-diretora do Departamento de Cultura do

Patrimônio Histórico, Núbia Marques, tentou esclarecer a ausência dos túmulos referentes ao

período de 1942. Ela explicou que os corpos dos náufragos já não se encontram mais no

cemitério original porque foram transladados para um monumento no Mosqueiro, isso ocorreu

durante o Governo de Leandro Maciel (1955-1959), contudo, não há documentos que

notifique o tal translado.

Diante dessa afirmação questionamos sobre a data correta do translado dos corpos do

cemitério original para o do Mosqueiro. Afinal, aconteceu durante o Governo de Leandro

Maciel em 1955 a 1959 (PORTO, 2013, p.53) ou na época da construção da Rodovia dos

náufragos em 1973 (MELLO; CERQUEIRA, 2011, p.77)? Que motivo levou a remoção dos

16 Estrutura é considerada pelo arqueólogo Charles Orser Jr. (1992) como uma das fontes de informações que

pode ser utilizada nas pesquisas de Arqueologia Histórica, assim como os artefatos, arquitetura, documentos

escritos, informações orais e imagens pictóricas. Cf. ORSEN, 1992, p.39.

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corpos dos náufragos para um monumento no Mosqueiro em 1955 a 1959? Esse monumento é

o mesmo Cemitério dos Náufragos localizado no Mosqueiro? Como foi possível em 1955-

1959 fazer uma transferência de corpos sem a exigência de um documento oficial notificando

a ocorrência? Afinal, como foi realizado esse procedimento? Os parentes dos mortos foram

avisados sobre esse enterramento “secundário”? Diante desse contexto, é preciso investigar

melhor e buscar outras fontes de informações, para assim poder corroborar ou refutar essas

afirmações.

Atualmente o cemitério original está em condições lastimáveis de conservação,

mesmo assim, continua sendo utilizado pela população local. Em 2006, o Ministério Público

Estadual (MPE) obrigou a Prefeitura Municipal de Aracaju a tomar providências em relação

aos vinte cemitérios irregulares existentes na capital, a fim de que suas ossadas fossem

transferidas para cemitérios legalizados. No entanto, o presidente da Associação de

Moradores do Robalo, Ademir da Silva, mostrou-se a favor da adequação física e ambiental

do Cemitério dos Náufragos, para que o mesmo continuasse a ser utilizado pela população,

desejosa de continuar a sepultar ali os seus mortos (MELLO; CERQUEIRA, 2012). No

entanto, essa adequação não aconteceu e os enterramentos foram proibidos.

De acordo o Jornal da Cidade de 18 de dezembro de 2010, houve um embate entre os

moradores dos povoados Mosqueiro e Robalo contra a Prefeitura de Aracaju envolvendo o

Cemitério dos Náufragos como protagonista, afinal, uma ordem judicial estava interditando o

cemitério. Todavia, como considerar ilegal um cemitério que através de Decreto Estadual é

tombado como Patrimônio Histórico? As consequências recaíram sobre a população, a qual

teve que buscar um local adequado para sepultar seus mortos, afinal a construção de um novo

cemitério não foi efetivada.

Em 2010, houve um ato de protesto da população da Zona de Expansão, a qual decidiu

reabrir por conta própria o Cemitério dos Manguinhos, mais conhecido como Cemitério dos

Náufragos realizando assim, o primeiro enterramento depois de quase quatro anos de

interdição determinada pela justiça e que ainda continua valendo. De acordo com a matéria

publicada no Jornal da Cidade17, o ato de protesto foi contra o descaso do poder público

17 JORNAL DA CIDADE. Edição: 18 de dezembro de 2010. Cf. MELLO; CERQUEIRA, 2012. Disponível em:

<http://www.getempo.org/index.php/revistas/50-edicao-n-09-setembro-de-2012/artigos/131-cemiterio-dos-

naufragos-uma-proposta-de-arqueologia-historica-em-sergipe-por-janaina-cardoso-de-mello-e-rafael-santa-rosa-

cerqueira>. Acesso em 11 de dezembro de 2013.

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referente à construção de um novo cemitério na região, que deveria ser realizado

principalmente no sentido de atender a necessidade da população que não tem onde enterrar

familiares mortos.

Em 2011, já com dezenas de corpos enterrados no Campo Santo, foi rezada pela

primeira vez, depois da interdição, uma missa no interior do Cemitério dos Náufragos, sendo

este um acontecimento significativo e de grande importância para a população local. No ano

de 2012, os moradores voltaram a se reunir no dia 02 de novembro, Dia de Finados,

realizando mais uma missa em homenagem aos mortos que estão enterrados no cemitério. Em

2013, eles prepararam novamente o cemitério para a celebração da terceira missa. Os

populares se revezaram para realizar serviços de capinagem, pintura e alvenaria, essas pessoas

eram voluntárias e parentes de pessoas que ali estavam enterradas. Embora o Cemitério esteja

oficialmente interditado por uma ação judicial, “não há a menor possibilidade dos moradores

deixarem de usá-lo”, afirmou José Firmo, presidente da Associação Desportiva Cultural e

Ambiental do Robalo18.

O estudo desse tipo de sítio arqueológico é relevante porque reproduz o simbólico e o

social de determinado grupo. A cultura material exposta na paisagem funciona como sinais

concretos de histórias particulares e historicidades. Segundo o arqueólogo argentino Andres

Zarankin (1999) a Arqueologia Histórica apreende as relações sociais à cultura material.

Tendo em vista que toda produção material humana é dinâmica e incorpora significados.

Neste panorama, é possível inferir que a cultura material agrupa significados dentro de um

sistema cultural e assim adquire dimensão ativa e ideológica.

Essa temática está sendo destacada porque se apresenta como importante fonte de

informação histórica que abarca “artefatos, estruturas, arquitetura, documentos escritos,

informações orais e imagens pictóricas” (ORSER, 1992, p.39). A pluralidade de dados

disponíveis contribui para um melhor entendimento sobre a importância desse monumento

para a sociedade. Assim, buscaremos de forma reflexiva e crítica, confrontar todas as

informações na tentativa de compreender melhor o contexto histórico da fundação e utilização

dos Cemitérios dos Náufragos em Aracaju.

18 Nota: Cemitério dos Náufragos terá missa de finados. ADCAR. Publicada em 29 outubro de 2013.

Disponível em: <http://www.faxaju.com.br/conteudo.asp?id=172933>. Acesso em 20 de dezembro de 2013.

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A proposta de estudar os cemitérios a partir da Arqueologia Histórica possibilitou o

uso de outras fontes além da material, a exemplo dos documentos históricos que permitem ao

arqueólogo interpretações interessantes e potencialmente significativas. Segundo Rambelli

(2008, p.58), é preciso ter cuidado ao trabalhar com fontes escritas, afinal, “a documentação

textual não deve ser aceita como a verdade dos fatos, deve ser criticada e questionada, devido

à carga ideológica que representa. É comum que as fontes textuais e arqueológicas se

contradigam”.

O cemitério dos Náufragos original enquanto sítio arqueológico é considerado recente,

afinal possuiu apenas 72 anos, já que algumas fontes afirmam que ele foi criado no período da

Segunda Guerra Mundial. Portanto, é indispensável o diálogo com a comunidade, a qual

detém memórias significativas sobre fatos e pessoas ligadas ao nosso objeto de estudo.

Segundo o arqueólogo Orser Jr. (1992), a informação oral torna-se muito útil, em geral, nos

casos em que o arqueólogo está estudando um sítio que foi ocupado em tempos ainda

presentes na memória de testemunhas, ou nos casos em que o arqueólogo deseja conhecer a

história do sítio após seu uso pelo povo que originalmente o construiu e usou.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa buscou apresentar o Patrimônio Arqueológico e Histórico imerso e

emerso de Sergipe referente ao período da Segunda Guerra Mundial, mostrando o contexto

em que está inserido. Sobre o Cemitério dos Náufragos foi exposto à problemática existente

em relação ao seu uso na atualidade de forma indevida, já que o mesmo está interditado, além

de destacar a sua situação de falta de proteção por parte do poder público. Infelizmente esse

Patrimônio Cultural Estadual se encontra em condições lamentáveis, destruído pela ação do

homem e do tempo, vítima do esquecimento das autoridades.

O papel do arqueólogo é agir no sentido em que as distâncias entre as pessoas e o

patrimônio arqueológico sejam diminuídas, propiciando a apropriação dos bens patrimoniais,

sua ressignificação e a construção de memórias. O desenvolvimento desta pesquisa

arqueológica poderá servir de instrumento para a conscientização e valorização destes

patrimônios, podendo estar aliada a atividades direcionadas para uma educação patrimonial na

região. O objetivo é buscar salvaguardar a memória das vítimas da Guerra Submarina que

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aqui pereceram em um dos momentos mais dramáticos e marcantes da história de Sergipe, os

naufrágios dos navios Baependy, Araraquara e Aníbal Benévolo, tragédia que arrastou o

Brasil para a Segunda Guerra Mundial.

Em Sergipe, as políticas de preservação ainda são pouco expressivas no que tange a

uma consolidação de práticas “preservacionistas”. Portanto, é necessário um engajamento,

uma mudança de postura do Governo Estadual na busca de efetivar a proteção do Patrimônio

Arqueológico e Histórico. A população também pode exercer seus diretos e deveres,

acionando e cobrando a fiscalização e proteção dos bens culturais, os quais representam

nossas histórias e fazem parte da memória do povo.

A maior lição deixada pelos sucessivos torpedeamentos foi a de despertar uma

consciência coletiva de que a guerra tinha chegado ao mar territorial do Brasil. Ao evidenciar

essas histórias na atualidade, significa revelar como elas foram marcantes para as gerações

contemporâneas dos torpedeamentos e como o Patrimônio Arqueológico serve para

demonstrar que a passagem da guerra foi algo ruim que trouxe medo, sofrimento e morte, por

isso ela tem que ser evitada e não deve voltar a acontecer.

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