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7/21/2019 O Patriarca http://slidepdf.com/reader/full/o-patriarca 1/231  1 Rogério Hetmanek

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Rogério Hetmanek

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ÍndiceA família ............................................................................................................................................. 6 

Verdade e Pensamento .............................................................................................................. 10 

Local do Projeto Ideal ................................................................................................................. 21 

Visitas Oportunas .......................................................................................................................... 33 

Arte Unificadora ............................................................................................................................. 42 

Reencontro e Revelação ............................................................................................................ 48 

Ordem Natural da Verdade ....................................................................................................... 54 

Origem das Realidades ............................................................................................................... 74 

Ordem do Tempo ......................................................................................................................... 85 

Verdade da Lei da Natureza .................................................................................................... 93 

Verdade do Ser Humano ......................................................................................................... 103 

Grande Harmonia ........................................................................................................................ 110 

Educação Integral ....................................................................................................................... 114 

Hierarquia Natural ....................................................................................................................... 128 

Hierarquia dos Sentimentos ..................................................................................................... 137 

Hierarquia da Inteligência ......................................................................................................... 141 

Verdade e Pseudoverdade ....................................................................................................... 149 

Missão da Terra .......................................................................................................................... 168 

Elos espirituais ............................................................................................................................. 173 

Igualdade e Desigualdade ........................................................................................................ 179 

Universalismo ................................................................................................................................ 181 

Empresa Construtora do Paraíso Terrestre ........................................................................ 183 

O Johrei ......................................................................................................................................... 186 

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Agricultura Natural ...................................................................................................................... 190 

Promoção do Belo ...................................................................................................................... 204 

Soberania da Natureza ............................................................................................................. 210 

Análise da Verdade .................................................................................................................... 213 

Autêntica Civilização .................................................................................................................. 222 

Ideal Humanista ........................................................................................................................... 230 

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Apresentação

O Patriarca  é uma obra que apresenta uma alternativa para

o pensamento contemporâneo ao submeter as verdades religiosa,

científica e artística ao modelo da Verdade da Lei da Natureza.

Hélio, Seleno  e Geórgia são três personagens que

representam, respectivamente, as tendências sentimental, racional e

volitiva que constituem a estrutura básica do pensamento.

Na adolescência, ao buscarem a própria independência, eles

se afastam da convivência do Patriarca, objetivando a construção de uma

sociedade ideal, baseados na verdade de cada um. Porém, na

maturidade, diante da incapacidade de criarem a sociedade ideal queimaginavam ser possível, percebem, no reencontro com o Patriarca, o

quanto estiveram distantes dele e da Verdade. Tal reconhecimento os

conduz a transformar o pessimismo em otimismo, renascendo-lhes a

esperança de criarem uma sociedade ideal onde predominam a

harmonia, a evolução e a arte na vida humana.

Nesta obra, o autor destaca, com ineditismo, a manifestação do

tempo no espaço de três dimensões: a invisível, a perceptível e a visível.E revela, também, como conseqüência dessa original relação tempo-

espaço, a ordem que determina a existência de uma hierarquia natural

na criação. É a partir dessa hierarquia, considerada nos planos vertical e

horizontal, que se tem acesso ao sentido oculto que existe por trás da

realidade aparente de todos os seres.

É, sem dúvida, uma obra que apresenta um novo paradigma

para a epistemologia ao revelar que o conhecimento da Verdade  —  

Aletheia1  —   implica em submeter as “verdades relativas” de cada um à

“Verdade Superior” da Lei da Natureza.

Dr. Francisco Benjamin de Souza Netto.

Teólogo e Filósofo –  Unicamp, São Paulo.

1  Verdade, ἀληθεια / alêtheia, realidade – τά όντα / ta onta; originariamente, no seu sentido literal, significa “sem nada de oculto” ou não (derivativo 

do α privativo) escondido (λανθάνάω / lanthánô = ser ou estar escondido). Cf. SPINELLI, Miguel. Filósofos pré-socráticos. Porto Alegre:EDIPUCRS, 2003, p. 371. 

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Prefácio

Decorridos onze anos de seu lançamento, O Patriarca   é

reeditado de modo revisado, ampliado e atualizado, mantendo-se fiel ao

seu propósito inicial de aproximar os leitores da Filosofia de Mokiti

Okada.

Já na primeira edição, percebi que os textos, pela diversidade

e complexidade dos temas, exigiam ilustrações que facilitassem sua

compreensão.

Após receber inúmeros comentários, críticas e sugestões dos

leitores, percebi a necessidade de substituir algumas ilustrações e incluir

outras que pudessem contribuir para aproximar o Patriarca da imagemprojetada na capa do livro, ou seja, a imagem de um criador projetada

na sua criação.

Nesta edição, achei oportuno utilizar o ideograma da palavra

“SU”2, por identificá-lo como fiel revelador da natureza peculiar do Patriarca.

Quando o momento atual da humanidade registra certa

insegurança quanto ao destino do planeta Terra e do próprio ser

humano, e as teorias criacionistas e evolucionistas competem entre sipela hegemonia da Verdade, esta obra pretende mostrar que a evolução

é a razão maior da criação. E a partir dessa consciência tornar possível

a compreensão do real sentido da vida, em suas diversas formas de

manifestação.

O autor

2  “SU”— ideograma chinês, kanji—, cujo significado é senhor, soberano, proprietário, dono.

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A família

Os irmãos Hélio, Seleno e Geórgia pertencem a uma família nascida no quese poderia chamar “berço de ouro”. Muitos mistérios cercam a história dessa

família, mistérios que o avô, conhecido por todos como “Patriarca”, prometeu

revelar aos netos, assim que estes atingissem a fase denominada por ele “Idade

da Verdadeira Razão”. 

Quando os três ainda eram crianças, seus pais lhes comunicaram a decisão

de se afastarem do convívio do Patriarca. Enquanto buscavam um lugar da

nova moradia, era conveniente que os três irmãos ficassem juntos sob a guarda

do Patriarca. Não podiam, naquele momento, revelar aos filhos os motivos da

decisão que tomaram, mas um dia eles saberiam e entenderiam as razões que a

motivaram. Prometeram-lhes que, tão logo estivessem estabilizados, viriam buscá-

los, para viverem juntos. Até chegar esse momento, era conveniente que

ficassem com o avô.

Hélio, Seleno e Geórgia alimentaram por um longo período a esperança do

retorno dos pais, mas estes nunca mais deram notícias do seu paradeiro.

Vivendo sob a tutela do avô, receberam dele toda atenção possível. Jamaisenfrentaram dificuldades que não fossem logo superadas pelo apoio e pelas

sábias orientações do Patriarca, sempre atencioso em relação à boa formação

dos netos. Tiveram uma infância saudável, despreocupada e feliz. Ao entrarem

na fase da adolescência, entretanto, começaram a apresentar sérios problemas,

provocados pela evidência dos aspectos positivos e negativos de suas

personalidades. Problemas que se agravavam à medida que, julgando-se adultos,

questionavam tudo que contrariasse suas conveniências.

O Patriarca, deixando transparecer seu lado místico, costumava dizer que a

personalidade dos netos tinha íntima ligação com suas datas de nascimento,

conforme preconizavam os ensinamentos herméticos da numerologia.

Exemplificou isso dizendo que Hélio, o neto mais velho, nascera numa data de

numerologia 5, significando que nascera sob a regência do Sol, sob a influência

do elemento fogo. Por isso, ele ia revelando, aos poucos, sua tendência de agir

sempre motivado pelo sentimento.

Seleno, o segundo neto, nascera numa data de numerologia 6, significando

que nascera sob a regência da Lua, sob a influência do elemento água.

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Gradualmente, ele ia revelando sua tendência de agir sempre motivado pela

razão.

Geórgia, a caçula, nascera numa data de numerologia 7, significando que

nascera sob a regência da Terra, sob a influência do elemento terra. Aos

poucos, ela ia revelando sua tendência de sempre agir motivada pela vontade.Certa ocasião, o Patriarca explicou que os números 5, 6 e 7 representam,

respectivamente, o fogo, a água e a terra, cujas partículas atômicas infinitesimais,

quando se unem e se integram em harmonia, constituem a energia e o poder da

natureza.

Mostrando a importância isolada de cada um desses três elementos básicos e,

ao mesmo tempo, a força que nasce dos três quando se unem e se integram

em um único objetivo, o Patriarca mostrava aos netos a importância de se

unirem em torno de um ideal comum.

Sempre atencioso, o Patriarca levava, regularmente, os netos para

conhecerem parte do extenso e maravilhoso patrimônio da família, no qual se

incluíam montanhas, rios, cachoeiras de águas cristalinas, jazidas minerais, rica e

diversificada fauna e flora, e até mares, numa extensão de terra considerável.

Tendo em mãos vários mapas de localização do seu imenso patrimônio, o

Patriarca revelava conhecer toda sua extensão em seus mínimos detalhes. Mas

um desses mapas, denominado “Grande Cone”, ele fazia questão de destacardos demais.

Patriarca  ─ Observem este mapa: 

Hélio  ─  Qual a nossa localização neste mapa?

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O Patriarca, imediatamente, apontou no mapa, o local onde eles se

encontravam:

Seleno  ─  Por que o mapa está dividido ao meio e somente demarcado do

lado em que estamos agora?

O Patriarca explicou que o espaço total do referido mapa fora dividido ao meio

para determinar os limites do seu território. E que a divisão em três posições

básicas, do lado onde eles se encontravam, significava a existência de uma

hierarquia natural entre elas.

Geórgia  ─   Não existe nada do outro lado do mapa?

Imediatamente, o Patriarca pontuou o lado oposto do mapa.

P  ─  O lado oposto em que estamos agora se encontra em preparação para

um dia tornar-se um lugar paradisíaco. É aqui, neste espaço do mapa que

construiremos juntos um projeto maravilhoso, um autêntico paraíso!

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H  ─  O senhor está dizendo que nós participaremos dessa construção?

P  — Exatamente. Vocês é que o desenvolverão como principais instrumentos

de sua concretização e seus maiores beneficiários. Este projeto foi planejado

especialmente para vocês e para os seus descendentes.

Contente, por envolver os netos em seu ideal, o Patriarca dizia que tudo que

eles estavam vendo e conhecendo era apenas uma parte do que ele ainda

pretendia construir. Na realidade, seu patrimônio, em expansão, não estava

pronto nem acabado, como poderia parecer aos olhos de quem o visse. Seu

propósito era criar um modelo, um protótipo do que se poderia chamar de ideal

e, posteriormente, projetar esse modelo em toda a extensão de seus domínios.

Todo aquele patrimônio era da família e existia para os seus descendentes.

Por essa razão, concedera-lhes permissão especial para reproduzirem o que

quisessem ou achassem necessário ao desenvolvimento do seu grandioso projeto.

Projeto que, para ter sucesso, jamais poderia deixar de se fundamentar em algo

essencial.

S  ─  O que é essencial para o sucesso do seu projeto?

P  —   A Verdade! Jamais deixem de fundamentar seus pensamentos na

Verdade. É a Verdade que mantém o ciclo da criação, ordem, expansão, seleção

natural, harmonia e evolução do meu imenso patrimônio.

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Verdade e Pensamento

G  — O que é a Verdade?

Buscando simplificar a resposta, o Patriarca disse que a Verdade é o estado

natural das coisas, ou melhor, é a Natureza em seu estado original.

G — Por favor, poderia explicar melhor?

P  — Verdade é a ordem natural que determina a harmonia da Natureza; é o

curso natural das realidades que permite o Sol surgir no leste e desaparecer no

oeste; é, também, a realidade do ciclo regular das estações: primavera, verão,outono e inverno. É, em síntese, a ordem que determina o curso das realidades

da Natureza, responsável pela sobrevivência, funcionamento e evolução de todos

os seres.

O Patriarca ia dar continuidade à sua explicação acerca da Verdade, quando

foi interrompido por Seleno:

S  —  Esses exemplos são muito abstratos. Não existe um exemplo mais

esclarecedor do que simplesmente apresentar a Verdade como manifestação da

realidade?

P  — Em primeiro lugar, é bom saberem que a Verdade é a realidade que

constitui todos os seres. Todavia, é fundamental conhecerem as realidades que

constituem a verdade dos seres, pois não existe somente a realidade aparente e

visível na sua constituição. A partir do conhecimento das realidades que

constituem os seres é que se identifica a ordem natural da Verdade e...

Seleno, demonstrando certa impaciência e irreverência, interrompeu a

explicação do Patriarca, sugerindo que ele desse um exemplo mais concreto e

ilustrativo.

Percebendo que os netos ainda não tinham maturidade suficiente para buscar

e compreender o profundo significado da Verdade, o Patriarca perguntou:

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P  — Vocês acham que existem ordem e harmonia na administração do meu

imenso patrimônio, apesar das diferenças que existem entre todos que vivem

aqui?

Hélio, Seleno e Geórgia responderam que sim, não havia como negar talevidência.

P  — Sabem por que existem essa ordem e harmonia?

Eles se calaram por instantes, e, diante da indecisão deles, o Patriarca

continuou:

P  —  Essa grande harmonia existe porque todos estão submetidos ao

regulamento que eu criei para administrar esse imenso patrimônio. Se todos aqui

vivem em ordem e harmonia é porque respeitam as normas do meu pensamento.

Eu sempre digo que a Verdade se baseia no meu pensamento; por isso, é

fundamental que o meu pensamento seja conhecido, respeitado e considerado

como lei por todos aqueles que desejam viver em ordem e harmonia, em nossa

grande família.

H  — Em que consiste o pensamento?

P — O pensamento consiste na união da razão, do sentimento e da vontade

que existem dentro de cada um de nós. Vocês já me ouviram falar acerca da

trilogia do pensamento, não é?

G  — O senhor sempre fala sobre essa trilogia quando diz que dependemos donosso pensamento. E que o ato de pensar implica em acionar simultaneamente a

razão, o sentimento e a vontade.

P  — Eu sempre digo que aquele que deseja viver em ordem e harmonia na

nossa família precisa fundamentar seu pensamento na Verdade...

Ao ouvir isso, Seleno não se conteve e novamente interpelou o avô:

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S  — O senhor está querendo dizer que o padrão da Verdade é sempre o seu

pensamento? Sua razão, seu sentimento e sua vontade?

P  — Exatamente, é isso mesmo. Mas também poderá ser o seu pensamento, o

de seus irmãos e o dos que vivem aqui.

G  — Como assim?

P  — Desde que incorporem a Verdade do meu pensamento ao pensamento de

cada um!

Ao ouvir essa resposta, Seleno emudeceu. Não tinha dúvida de que ouvira o

maior absurdo da sua vida! Há muito tempo suspeitava do poder autoritário e

centralizador do avô. Inclusive, quando pequeno, ouvira o pai comentar a

respeito. Mas, agora, ao ouvir diretamente do Patriarca que a Verdade era o seu

pensamento, já não tinha nenhuma dúvida do seu caráter centralizador e

autoritário. Como poderia seguir sua própria verdade se o padrão ou referencial

da Verdade já estava determinado pelo pensamento do Patriarca? Irritou-se ainda

mais quando percebeu que Hélio aceitara passivamente aquelas colocações, e

Geórgia, sensível a elas, adotara simplesmente uma atitude de reflexão.

Seleno não conseguiu dormir naquela noite. Passou-a em claro, pensando no

que ouvira. Sentia-se angustiado. A ideia de que teria de viver comprometido

com a verdade do avô era demais para sua cabeça!

Pela manhã, reuniu os irmãos e falou-lhes sobre sua indignação e insatisfação.

S  —  Passei a noite em claro, enquanto vocês dormiam. Não sei como

conseguiram dormir após ouvirem as colocações do nosso avô e acharem tudo

normal. Eu não concordo com muita coisa que ele falou.

Em seguida, mais calmo, Seleno admitiu, que a vontade do avô criara,

expandira e mantivera até ali a ordem e a harmonia do seu imenso patrimônio,

mas isso não significava que deveria sempre ser assim. A propósito, tinha

opiniões contrárias ao pensamento dele com relação a vários assuntos. Não

admitia como verdade, por exemplo, a intransigência do Patriarca quando ele

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dizia ser necessário “esperar o tempo certo para fazer as coisas”. Achava essa

colocação pura falta de iniciativa e comodismo. Também não admitia vê-lo fre-

quentemente conversando com os vegetais e os animais. Isso era ridículo!

Prosseguindo no seu discurso contestador, Seleno levantou a questão da

hierarquia perguntando aos irmãos:

S  — Vocês não acham um absurdo e extremamente antipática a importância

que nosso avô dá ao que ele chama de ordem na relação entre as pessoas?

Por que tem de ser assim? Só para mostrar a superioridade dos velhos sobre os

novos, de uns sobre os outros?

Em seguida, manifestando toda sua insatisfação, Seleno deixou claro que as

coisas já poderiam estar bem melhores se não fosse o poder autoritário e

centralizador do Patriarca, impondo a tudo e a todos a sua verdade.

S  — O que mais me impressiona é a subserviência de todos aqui. Vocês já

repararam que ninguém questiona nosso avô? Ele vive dizendo que somos seus

herdeiros, que tudo existe para nós, mas condiciona esse “tudo” ao seu pensamento,

ao que ele chama de Verdade.

H  — E o que você quer que façamos?

Seleno, buscando o envolvimento de Geórgia, sugeriu que avaliassem juntos.

S  — Se devemos considerar a Verdade com base no pensamento do Patriarca,ou seja, com base na sua razão, sentimento e vontade, o que sobra para nós. 

Se cada um tem a sua razão, sentimento e vontade, não significa, também, que

cada um tem a sua própria verdade? Por que temos de viver sempre obedientes

à verdade de nosso avô? Pelo que me recordo da pouca convivência com os

nossos pais, eles nunca nos impuseram essa conduta autoritária...

Hélio e Geórgia ficaram bastante confusos com o que ouviram de Seleno. Pela

primeira vez os argumentos dele os conduziram a uma profunda reflexão.

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Hélio sempre fora obediente ao avô. Como irmão mais velho, desde cedo

recebera a tarefa de orientar a formação dos irmãos. No início não fora fácil,

mas, na medida em que eles cresciam, crescia também sua dificuldade de

orientá-los conforme o desejo do Patriarca.

Nas vezes em que reclamou da desobediência de Seleno ou de Geórgia, oPatriarca lhe dissera que a tarefa de orientar os irmãos não era simplesmente

para que eles lhe prestassem obediência. Era também uma oportunidade para ele

ganhar maior qualificação, a fim de desempenhar tarefas de maior relevância e

responsabilidade.

Hélio sempre buscava obedecer ao Patriarca, embora nem sempre aceitasse

suas razões. O fato é que, pela primeira vez, os argumentos de Seleno faziam-

no refletir profundamente sobre o significado da Verdade, levando-o perguntar a

si mesmo:

H  ─  “Será que cada um não tem que assumir o próprio pensamento baseado

na sua própria verdade?” 

Geórgia, por sua vez, também considerou os argumentos de Seleno fortes e

convincentes; faziam sentido para ela. Incomodava-a o fato de ter de viver

sempre comprometida com a verdade do avô. Sentindo-se sufocada por questõesque a incomodavam, deu vazão à sua reflexão:

G  ─  Onde fica, então, a nossa liberdade para pensar e agir, por diversas

vezes mencionada pelo Patriarca como atributo da superioridade deles sobre os

demais seres da Natureza? Se for sempre assim, como fica a minha intuição e

criatividade?

De repente os três irmãos sentiram-se envolvidos numa sensação diferente e

especial. Pela primeira vez viram-se unidos e integrados num só pensamento. O

sentimento, a razão e a vontade deles, naquele momento, eram uma coisa só:

transformaram-se em energia e poder. Eles estavam sentindo e querendo tornar

possível a mesma coisa: utilizar o livre-arbítrio para agirem

de acordo com seu pensamento, com sua concepção de Verdade. Afinal, tinham

livre-arbítrio. Não havia nada que pudesse impedi-los de criar o próprio destino.

Nem mesmo o Patriarca poderia detê-los, já que ele se mostrara, por diversas

vezes, grande defensor da liberdade de pensamento.

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Seleno, o mais ousado, foi logo dizendo:

S  — Hoje mesmo vou procurar nosso avô para comunicar-lhe minha decisão de

assumir meu destino, baseado na verdade do meu pensamento.

Esta decisão tocou Hélio, que logo tratou de ponderar:

H  —  Calma!  É preciso agir com cautela neste momento importante. Não

podemos confundir as coisas nem agir de maneira imatura e precipitada.

Devemos, sim, é mostrar ao nosso avô não apenas a nossa insatisfação, mas

principalmente a nossa maturidade. Já decidimos que não concordamos mais em

viver aprisionados em sua maneira de pensar, mas não será por isso que

devemos desrespeitá-lo, ignorando todo o apoio que ele nos deu até hoje.

G  —  Também concordo. Sinto que devemos expor-lhe toda a nossa

insatisfação, numa reunião...

Seleno não conseguiu reprimir uma repentina irritação.

S  —  Dessa estou fora! Sabem o que vai acontecer nessa reunião? Nosso avôvai nos ouvir pacientemente, como sempre faz. Em seguida, vai mostrar que

estamos pensando fora da sua verdade, e finalmente vai nos convencer a desistir

da nossa ideia de independência. Para mim chega!

Hélio buscou contemporizar, dizendo:

H  — Não é bem assim, Seleno. Na realidade, nosso avô age dessa forma, comovocê diz, quando a nossa atitude é de incerteza ou pedido de orientação; quando a

gente já tem uma firme decisão, geralmente ele a respeita.

Seleno aproveitou a colocação feita por Hélio para sugerir:

S  — Se é assim, então vamos deixar claro, nessa reunião, que desejamos

comunicar a nossa firme decisão de agir conforme o nosso pensamento e não

pedir orientação. Taí, Hélio, gostei da sugestão!

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Hélio, repentinamente, arrependera-se do que havia dito. Sabia que essa

maneira de conduzir a questão colocaria em xeque não apenas o avô, mas a to-

dos eles.

Era momento de ponderar, mas, tão logo quis manifestar-se dessa forma, foi

interrompido pela irmã, que, motivada pela decisão que tomaram, encontrou trêsrazões para justificá-la:

G  —  A vontade de seguir em frente com o nosso pensamento de

independência foi a primeira coisa que concordamos. A segunda foi a nossa

união em torno de um mesmo objetivo. A terceira foi buscarmos, juntos, as

condições para viabilizar o nosso pensamento de liberdade, sem precisar recorrer

as orientações do Patriarca.

Fez-se uma pausa significativa. Os irmãos se entreolharam em concordância.

Não havia mais como esconder que tinham definido que aquele era o momento

de agir em conformidade com a decisão que tomaram.

Hélio, então, sugeriu que marcassem a reunião com o avô para o dia

seguinte. Assim, teriam tempo de preparar melhor uma comunicação escrita sobre

a decisão que haviam tomado.

Seleno, por sua vez, alertou que constassem dessa comunicação algumas

reivindicações que eles achassem necessárias para assumirem o próprio destino.

Entre elas, a oportunidade de realizarem o projeto ideal do Patriarca no local

escolhido por ele. Afinal, por que não poderiam realizar o projeto ideal do avô

baseado no pensamento deles, na verdade deles, já que eram seus herdeiros

naturais?

Tal questão já estava definida ao decidirem seguir seus próprios pensamentos,

bastando encaminhar ao Patriarca a referida solicitação, numa reunião formal.

Por ocasião da reunião, após os cumprimentos iniciais, Seleno retirou do bolso

o documento elaborado por eles, colocando-o sobre a mesa, e, dirigindo-se ao

Patriarca, falou de maneira direta:

S  ─  Pedimos esta reunião para comunicar-lhe uma importante decisão, relativa

ao nosso destino. Achamos melhor escrever o que decidimos por consenso.

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O Patriarca consentiu com um gesto, e Seleno passou a ler o documento onde

constavam os pontos fundamentais que justificavam aquela memorável decisão

coletiva, bem como as inúmeras reivindicações que faziam, muitas das quais, pelo

exagero, imaginaram não serem aceitas pelo avô. Mas, esse exagero era parte de

uma estratégia para mostrarem que estavam dispostos a abrir mão de algumasreivindicações, caso houvesse alguma restrição.

Para a surpresa deles, o Patriarca nada questionou; simplesmente limitou-se a

ouvir tudo e a concordar com as reivindicações apresentadas.

Havia, na sala de reunião, um profundo e incomum silêncio, interrompido

somente pelas palavras de Seleno, que fez questão de terminar a leitura do

documento com uma frase em que constava a palavra “comunicação”,

considerada por todos como a “palavra-chave”.

S  — Então, decidimos assumir, daqui para frente, nosso próprio destino. Esta é

a comunicação que lhe fazemos, respeitosamente. Assinada por Hélio, Seleno e

Geórgia.

Quando olharam para o Patriarca, viram que caíam algumas lágrimas de seus

olhos. Mas antes que essas lágrimas pudessem sensibilizar seus irmãos, Seleno

tratou de imediatamente desfazer o clima:

S  — Ah! Estava esquecendo... Gostaríamos de comunicar que é nosso desejo

resolver tudo rapidamente, tão logo estejamos preparados para a viagem.

H  — O senhor tem alguma restrição às nossas reivindicações?

O Patriarca respondeu que não, limitando-se a ouvir e a concordar com tudoque havia sido relatado e reivindicado no documento lido por Seleno.

Ao saírem da sala, após a reunião, perceberam que o Patriarca se dirigiu ao

Grande Salão de Reunião, do lado oposto à sala em que estavam e onde os

principais encarregados do seu patrimônio o aguardavam para uma reunião

extraordinária.

Hélio, Seleno e Geórgia, já de volta aos seus aposentos, trocaram impressões

sobre como repercutiria a decisão tomada por eles.

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Sensibilizada com as lágrimas do Patriarca, Geórgia comentou:

G  — Coitado do nosso avô! Acho que ele ficou bastante triste com a nossa

decisão, vocês não acham?

S — Que triste nada! Aquelas lágrimas foram uma tentativa de fazer chantagem

emocional. Eu sabia que ele tentaria alguma coisa para impedir nossa decisão,

só que desta vez não colou. A sugestão de Hélio de optar pela “comunicação”

foi perfeita!

H  —  Não sei não... Você não acha estranho, exatamente no dia em que

marcamos a reunião, ele ter convocado uma reunião extraordinária com os

principais encarregados do seu patrimônio?  E se a reunião que está

acontecendo agora for para boicotar nosso plano de liberdade e independência?

G  — Tudo é possível. Existe a hipótese de perdermos os nossos privilégios,

em conseqüência da decisão que tomamos.

S  ─  Como assim?

G  ─  Se até hoje tudo correu às mil maravilhas para nós é porque nosso avô

sempre nos posicionou perante os outros como seus representantes naturais e

continuadores da sua vontade. E se agora, diante da nossa decisão, ele decidir

o contrário, como vai ser? Será que continuaremos a ser tratados com o mesmo

respeito e consideração pelos outros?

H  ─  Não acredito que nosso avô queira nos prejudicar.

Seleno, num gesto de impaciência, disparou seu verbo:

S  ─  Querem saber de uma coisa? Eu acho que nós estamos dando muita

importância ao que nosso avô acha ou que os outros acham... Para mim pouco

importa o que os outros pensem... Importante é o que nós achamos. O mais

importante é a nossa oportunidade de exercer livremente nosso pensamento,

nossa liberdade e nossa inteligência. Se devemos ter gratidão ao nosso avô,

como Hélio sempre nos recomenda, é, sobretudo, por ele nos ter ensinado que

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dependemos do nosso pensamento. Fora isso, já decidimos que vamos construir

um projeto ideal de vida, que acreditamos ser possível sem a interferência do

Patriarca ou de quem quer que seja! Continuamos de acordo ou não?

Geórgia, influenciada pelos convincentes argumentos de Seleno, confirmou combastante entusiasmo:

G  — Muito bem, irmão! Essa maneira de pensar é coerente com o exercício da

liberdade de pensamento e de expressão. Realmente faz sentido.

Hélio também mostrou-se sensível aos argumentos de Seleno sobre a

oportunidade de exercerem livremente a liberdade de pensamento. Enfim,

prevaleceu neles uma sensação comum de que, juntos, tomaram uma importante

decisão em suas vidas.

Na manhã do dia seguinte, os três irmãos souberam, pelo secretário do

Patriarca, que a grande reunião terminara bem tarde e que, nessa reunião, o

Patriarca comunicara a decisão deles de partirem para concretizar seu grande

projeto, no local que ele reservara para materializar

seu projeto. Deixou claro que os que desejassem participar desse projetopoderiam acompanhá-los e apoiá-los, fato que despertou grande interesse entre

os participantes da reunião.

Geórgia, um tanto surpresa, interrompeu o secretário para perguntar:

G  — Em nenhum momento o Patriarca censurou nossa decisão?

O secretário informou que não estava autorizado a revelar maiores detalhes da

reunião.  Quanto à viagem deles para o local preferido do Patriarca, tudo já

estava preparado, conforme as reivindicações que fizeram.

H  — Queríamos, antes de partir, nos despedir do Patriarca.

O secretário disse não ser possível atendê-los.

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Geórgia, ainda desconfiada do real sentimento do Patriarca em relação à

decisão que tomaram, insistiu:

G  — Por que ele não quer se despedir de nós? Ficou triste com a nossa

decisão?

O secretário tratou de tranquiliza-la, respondendo que o Patriarca não poderia

recebê-los porque precisou viajar logo após a reunião. E, como só voltará muito

depois da partida deles, deixou instruções para que tudo fosse providenciado

conforme as reivindicações que fizeram. Sobretudo, que fossem transportados até

aquele local em segurança. Em seguida, sugeriu que, até a partida,

selecionassem tudo que achassem necessário, relacionando também aqueles que

manifestaram o desejo de acompanhá-los. Dentro desses encontravam-se vários

encarregados da construção e preservação do patrimônio do Patriarca.

Hélio, Seleno e Geórgia estavam realmente surpresos. Não havia o mínimo

sinal de censura pela decisão tomada por eles. Ao contrário, surpreendentemente,

muitos até desejavam acompanhá-los. Afinal, o que acontecera naquela reunião

extraordinária que o Patriarca fizera? Infelizmente, não havia como saber, pois

todos que participaram da reunião tinham um compromisso ético de jamaisrevelar o seu conteúdo, sem a autorização do Patriarca. Mas isso já não im-

portava no momento; importante era o fato de terem conseguido abrir um novo

horizonte em suas vidas. Estavam diante da oportunidade de realizar algo inédito,

baseado na liberdade de pensamento, na verdade que acreditavam.

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Local do Projeto Ideal

Todos sabiam que a viagem para o local escolhido pelo Patriarca, para

concretizar seu grande projeto, seria realizada em segurança, pois ele havia

liberado os melhores transportes e os melhores transportadores para conduzi-los.

Estranhamente, após certo período da viagem, todos os caravanistas, com

exceção dos transportadores, caíram num sono profundo, só despertando pouco

antes da chegada.

Hélio perguntou ao chefe dos transportadores por que, a partir de determinado

momento, os caravanistas sentiram seus corpos pesados e dormiram por algum

tempo, só despertando na chegada? E obteve como resposta que a viagemtranscorrera conforme a previsão, mas que ele não sabia explicar o porquê

daquele estranho acontecimento.

Seleno, percebendo a inquietude de Hélio, tratou logo de mudar de assunto.

S — O que importa mesmo é que chegamos bem. Finalmente, estamos diante

do grande momento de nossas vidas. Isto é o que importa!

O chefe dos transportadores, dirigindo-se aos irmãos, perguntou se eles

precisavam de mais alguma coisa. Ao responderam que estavam bem, pediram-

lhe que agradecesse ao Patriarca o apoio que receberam.

G  — E se um dia quisermos voltar para visitar nosso avô? Como vamos saber

o caminho de volta?

O chefe dos transportadores disse que o Patriarca, prevendo essa hipótese,

revelou que a resposta à sua pergunta estava dentro do envelope que ele há

pouco entregara ao seu irmão Hélio. Imediatamente, Hélio abriu o referido

envelope, onde realmente havia três cópias do mapa denominado “  Grande

Cone”, utilizado com frequência pelo Patriarca.

Cada um deles pegou o seu mapa e notaram que eram idênticos ao que o

Patriarca utilizava quando os levava para conhecer parte do seu patrimônio.

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A diferença do mapa original é que nas cópias de cada um, além dos dois

pontos representativos dos lugares de onde saíram e onde estavam agora, um

detalhe despertava-lhes a atenção. Tratava-se de uma inscrição colocada na sua

base: “O segredo de tudo é a sinceridade”, frase  que Hélio leu em voz alta sem

conseguir entender seu significado.

G  — O senhor tem alguma ideia do que o Patriarca quis dizer com essa

frase?

O chefe dos transportadores disse não ter a mínima ideia. Todavia, lembrou-se

que certa vez ouviu o Patriarca dizer para seu secretário que este não estava

agindo com sinceridade, e sim com franqueza; e que, por isso, ele não conseguia

descobrir o ponto vital do problema que estava enfrentando, nem conseguia

encontrar a solução que estava buscando. Dito isto, despediu-se de todos

transmitindo seus votos de sucesso na concretização do ideal que tinham pela

frente.

Logo em seguida, Hélio pediu a atenção dos caravanistas.

H  ─ Estamos aqui para concretizar o grande projeto do Patriarca. Embora ainda

não exista nada de concreto, vamos nos organizar. Acredito que, unidos,

conseguiremos torná-lo em breve uma feliz realidade.

“o segredo de tudo é a sinceridade” 

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Seleno, buscando repetir o que eles constantemente ouviam do Patriarca,

manifestou-se:

S  ─ Tudo depende do nosso pensamento. Do nada podemos criar tudo!

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Alternância do Poder

Na primeira reunião que fizeram, os três irmãos agradeceram a confiança dos

que vieram participar do projeto especial “de todos para todos”, como gos tavam

de denominá-lo.

Não havia dúvida de que existia uma vontade geral de construir algo novo e

obviamente melhor do que tiveram ao lado do Patriarca. Mas como isso se

processaria ainda não estava claro nem definido na cabeça de ninguém.

A quantidade dos caravanistas que acompanharam os três irmãos era

considerável. A maioria viera recomendada pelos encarregados que participaram

da grande reunião com o Patriarca. Todos sabiam das dificuldades que teriam de

enfrentar para a concretização do grande projeto, mas não imaginaram que elas

seriam tão grandes, como transpareceram logo na primeira reunião.

Para os que conviveram diretamente com o Patriarca, a comparação com o

mundo em que viviam era inevitável. No aspecto físico da Natureza até que não

havia grandes diferenças, pois o local escolhido assemelhava-se pelas belezas

naturais. Quanto as edificações, elas precisavam ser construídas gradualmente.

Mas, a grande e principal diferença estava na estrutura do poder administrativo.Sob a direção do Patriarca, tudo estava sempre em ordem, harmonia e

evolução. Todavia, logo na primeira reunião percebeu-se o distanciamento da

visão administrativa do Patriarca. Havia a boa intenção dos três irmãos, mas não

havia um plano convincente para concretizar um projeto tão audacioso como eles

acreditam ser possível.

Hélio, no seu discurso de caráter sentimental, estimulava a conquista do

progresso na busca do modelo da verdade existente na Natureza.

Seleno, por sua vez, falou num modelo administrativo comprometido com a

verdadeira justiça, igualdade e progresso. Seu discurso de caráter racional

impressionava, mas não apresentava nenhuma proposta.

Quanto a Geórgia, ela não defendeu nenhuma proposta original, limitando-se a

dizer que apoiaria o modelo administrativo que viesse a ser escolhido como omelhor, pela maioria.

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Deste modo, projetaram-se, visivelmente, duas fortes tendências na busca do

modelo administrativo a ser adotado. Um representava o modelo sentimental,

sugerido por Hélio, e o outro representava o modelo racional, sugerido por

Seleno. Ambos, contudo, defendendo a tendência do próprio pensamento, o idealda verdade de cada um.

No início, ainda se tentou implantar um modelo administrativo que resultasse

de um consenso entre Hélio e Seleno. Mas durou pouco. Na prática, esse

modelo representou mera formalidade para esconder a real situação: não havia

nenhuma união e integração de pensamentos entre eles. Cada qual tentava, à

sua maneira, impor o seu próprio pensamento em suas ações públicas e

privadas.

Aos poucos tornou-se evidente a desunião entre Hélio e Seleno, principalmente

quando eles começaram a justificar em público suas fracassadas ações

administrativas. Esse tipo de

comportamento refletia a falta de uma liderança estável, uma única cabeça res-

ponsável pela política administrativa. Colocada essa proposta em votação, Héliofoi o escolhido pela maioria.

Os defensores da escolha de Hélio argumentaram que os irmãos estavam bem

intencionados, mas Hélio, por ser o mais velho e ter tido maior experiência de

vida junto ao Patriarca, apresentava as melhores condições para exercer a

liderança da sociedade.

Seleno não gostou da decisão, mas teve de se conformar com ela, pela formatransparente em que a eleição foi realizada.

A administração que Hélio planejou adotar fundamentava-se, segundo ele, no

modelo da verdade da Natureza, criado pelo Patriarca. Ele admitia não ter tido a

experiência necessária para apreender os fundamentos básicos da administração

do Patriarca, mas acreditava que, pela na prática, seria possível aproximar-se

dela.

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No fundo, Hélio sabia de uma coisa essencial, ensinada pelo Patriarca: a

harmonia, a evolução e a produtividade de tudo dependiam da aplicação dos

princípios universais da Verdade, em ação na Natureza. Assim. para começar

bem, estabeleceu seu critério de administração baseado na divisão de tarefas.

Ele ficou responsável pela política e o poder administrativos, e também pelaelaboração das normas e princípios fundamentais que deveriam ser conhecidos e

respeitados por todos como lei, conforme o modelo adotado pelo Patriarca.

Seleno ficou responsável pela execução de projetos ligados à produtividade e à

qualidade de vida dos habitantes, ao passo que a Geórgia coube a responsabilidade

pela execução de projetos sociais e de lazer.

Na teoria, o plano administrativo de Hélio agradou a todos. Entretanto, na prática,

ele se mostrou inoperante, deixando muito a desejar.

Hélio passava horas discursando sobre a necessidade de se respeitar e

reverenciar a Natureza. De buscar, no seu modelo, um estilo de vida capaz de

projetar o ideal de harmonia e felicidade. Lembrava-se de, certa vez, ter ouvido o

avô falar da existência dos protetores da Natureza e de serem eles que cuidam

para que ela jamais deixe de produzir alimentos para a manutenção e

preservação da vida.Baseado nisso, Hélio instituiu datas especiais para agradecer ao Sol, à Lua e

aos demais astros por eles auxiliarem na produção de fartas colheitas.

Seleno, por sua vez, jamais admitiu essa atitude. Desde a época do Patriarca

 já achava esse comportamento um grande atraso na evolução das coisas.

Seleno não escondia de ninguém sua insatisfação e oposição ao modelo admi-

nistrativo do irmão. Ele discursava para as pessoas que iam ouvi-lo fazeroposição ao governo do irmão que se o objetivo da agricultura era aumentar a

colheita, bastava adotar medidas de estímulo à terra. Isto, sim, era racional. O

resto não passava de conversa fiada!

Esse pensamento de Seleno a cada dia ganhava mais adeptos. Era um fato

incontestável diante da escassez de alimentos em relação ao progressivo aumento

populacional.

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Geórgia, por sua vez, estava envolvida na sua tarefa social, estimulando a

sensibilidade das pessoas e conduzindo-as a expressarem melhor sua criatividade

em tudo que realizavam.

O tempo passava e realmente passou muito depressa, trazendo novasgerações com inúmeros descendentes.

As principais tendências das personalidades dos três irmãos foram se

multiplicando física e mentalmente, em face da progressiva expansão

populacional.

Do ponto de vista físico, Hélio, Seleno e Geórgia se reproduziram nas

gerações de seus inúmeros descendentes, enquanto que, do ponto de vista

mental, suas ideologias se reproduziram nas gerações de inúmeros discípulos

comprometidos com novas ideias, fundamentadas no modelo cultural da verdade

de cada um.

Hélio, vendo-se incapaz de sustentar seu modelo administrativo e de

concretizar o tão sonhado projeto, resolvera mudar bastante seu discurso inicial.

Amparado numa conhecida frase do Patriarca: “O paraíso que eu idealizei tem

um tempo certo para ser concretizado”, partiu para um discurso mais resignado efuturista. Começou a dizer para os descontentes com sua administração que a

concretização de um mundo ideal dependia exclusivamente da mudança interior

de cada um. Isso significava que todos deviam buscar constantemente a causa da

harmonia e da desarmonia dentro de si mesmos. Disse, ainda, que os rituais

eram importantes para entrarem em sintonia com o pensamento cósmico da

Natureza, mas a captação da sua verdade dependia do nível de busca pessoal.

E, para manter viva a esperança, revelou que o Patriarca lhe prometera vir ali,no futuro, a fim de viabilizar a concretização do seu grande projeto.

Era isso que Hélio frequentemente falava ao povo. E irritado com a sistemática

oposição do irmão, alertava a população sobre o modelo que Seleno estava

propondo como solução, destacando-lhe os aspectos negativos. Sempre encerrava

seus discursos reafirmando a legitimidade da sua autoridade e também a

necessidade de todos buscarem o ideal do Patriarca na obediência à lei. O fato

é que, a cada novo discurso, crescia o movimento de oposição à sua

administração, liderada por Seleno.

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Sempre muito criativo, Seleno mostrava que o irmão desistira de concretizar o

grande projeto, já se admitindo incapaz de gerar o progresso necessário à sua

concretização. Por isso, estava sempre condicionando essa possibilidade à vinda

do Patriarca.

O fato é que o discurso de Hélio só teve força enquanto Seleno não

conseguiu sair da teoria para a prática. O fato é que Seleno desenvolvera

inúmeras ideias voltadas para a concretização de uma sociedade ideal. Seu

pensamento relativo à produção de alimentos era revolucionário. Sem precisar

fazer rituais para os “protetores da Natureza”, conseguiu aumentar bastante a

produção de alimentos, utilizando no solo uma grande quantidade e variedade de

adubos. Ao mostrar para o povo esse resultado concreto, imediatamente derrubou

os principais argumentos de Hélio. Disse, ainda, já ter em mãos inúmeros

projetos como aquele em diversos campos da atividade humana, mas a política

administrativa do irmão não permitia realizá-los.

O prestígio de Seleno foi crescendo proporcionalmente à queda do prestígio de

Hélio, culminando com uma grande pressão popular, que derrubou Hélio e

conduziu Seleno ao poder.

Geórgia, que sempre fora indiferente à política, continuou estimulando, no seu

trabalho social e de lazer, a criatividade e sensibilidade das pessoas. Viu-se, por

fidelidade, na administração de Hélio, apoiando mais sua tendência sentimental.

Agora, entretanto, sob a administração de Seleno, ainda por fidelidade, viu-se

inclinada a estimular mais a tendência racional, atuando em seu trabalho criativo

 junto ao povo.

O prestígio de Seleno cresceu muito. Com uma política administrativa

aparentemente democrática, ele estimulava a participação de todos nas decisões.

Mas isso era somente um aspecto da sua gestão. O outro era que os que se

opunham às suas ideias, como seu irmão Hélio, eram rotulados como oposição

perigosa e mantidos fora da sua administração.

Seleno defendia a tese de que “toda ação humana depende do pensamento,

mas também influencia o pensamento”, de modo que o ser humano jamais deve

desistir de pensar e agir na busca do seu ideal.

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Aliás, o que Seleno mais ressaltava e valorizava na educação que recebera do

Patriarca foi o ensinamento segundo o qual o ser humano tem liberdade ilimitada

e depende do seu próprio pensamento para ser feliz ou infeliz. Isso. segundo

sua interpretação, conferia-lhe a condição de interferir na Natureza e submetê-la

à sua vontade. Ele estimulava o ser humano a agir conforme o seu próprio pen-samento e a renovar sempre esse pensamento com novas ações, sem ficar

acomodado na falta de iniciativa ou na rotina do primitivismo. Nessa busca

constante, ele torna-se capaz de conhecer a si mesmo ao conhecer o imenso

potencial que existe no seu pensamento.

Baseado na ideologia de que o ser humano pode tudo  —   como medida de

todas as coisas  — , Seleno adotou uma política administrativa bastante

progressista. Era visível o progresso de técnicas nunca antes sequer imaginadas,

aplicadas com imediato sucesso na agricultura e nos demais campos da atividade

humana.

Hélio, nessa época, fazia forte oposição ao modelo administrativo de Seleno,

através de Lúcio, seu principal discípulo. Este criticava a excessiva propaganda

das técnicas adotadas no progresso material, impedindo o povo de enxergar os

prejuízos que elas estavam causando à Natureza.

Lúcio dizia não haver dúvida de que existia um grande progresso nas técnicasde se fazer as coisas, mas que, na realidade, a qualidade de vida das pessoas

não estava melhorando. Mostrou, estatisticamente, que muitas doenças apa-

receram, ceifando vidas; paralelamente ao aumento da produção agrícola,

aumentaram, também, as pragas e os insetos; o aumento da carga de trabalho,

cada vez mais estressante, não gerou a melhoria da distribuição de renda dos

trabalhadores, conforme as promessas de Seleno. Para agravar ainda mais a

situação, vários prejuízos foram provocados por enchentes e calamidades naturaisnunca antes ocorridas.

Hélio, por sua vez, defendia a tese de que todas as evidências danosas no

seio da sociedade eram castigos impostos pelos “protetores da Natureza”, que,

de algum modo, estavam advertindo os que insistiam em desrespeitar a verdade

das leis naturais. Essa tese, incorporada ao discurso de Lúcio, começou a

encontrar eco na sociedade, alarmada por tantos acontecimentos desastrosos,

principalmente os acontecimentos provocados pelas constantes batalhas de con-

quistas comerciais e territoriais.

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Fazendo prevalecer seus argumentos oposicionistas, Lúcio conseguiu derrubar

o governo de Seleno e conquistar o poder, implantando uma nova política admi-

nistrativa, um novo modelo de governo com tendência sentimental.

Lúcio gostava de se autodenominar neo-sentimentalista. Dizia respeitar seumestre Hélio, mas não abria mão das próprias interpretações sobre os

ensinamentos do Patriarca.

Gostava de falar sobre justiça e defendia constantemente a necessidade de se

acabar com o mal na sociedade. Erguia a bandeira de que o bem deveria vencer

sempre; para isso era necessário que ele não fosse passivo na presença do mal.

O mestre Hélio concordava em parte com sua interpretação, mas tinha grande

dificuldade de mostrar-lhe que nem tudo que ele achava que era mal, era

realmente mal. E buscava adverti-lo de que, sem sabedoria, acaba-se cometendo

injustiças e praticando o mal que se deseja combater.

Lúcio ouvia a advertência do mestre, mas não admitia estar cometendo injus-

tiças ou praticando o mal. Ele tinha consciência de estar apoiado na Verdade

ensinada pelo Patriarca. Portanto, era preciso ser rigoroso e intransigente com o

mal, do contrário acabava-se vencido por ele.

Seu modo de pensar seguia essa firme diretriz, por isso ele estimulou a forma-

ção educacional voltada para o estudo e a prática do pensamento do Patriarca.Segundo suas interpretações, aqueles que admitiam seguir o Patriarca, sem

questionamentos, seriam recompensados abundantemente em suas vidas. Quanto

aos incrédulos, não teriam a menor chance.

O discurso de Lúcio popularizou bastante a figura do Patriarca, criando uma

forte expectativa sentimental de que um dia ele viria para viabilizar seu grande

projeto.Todos deveriam se preparar na prática do bem até a chegada desse dia,

evitando o contato com aqueles que ignoravam o Patriarca, pois estesrepresentavam o mal, que não deixava a sociedade melhorar.

Era a semente de uma administração autoritária germinando. Muitos opor-

tunistas, a partir desse discurso, aceitaram a figura do Patriarca com o objetivo

de serem aceitos e beneficiados pela nova administração. Havia aqueles que não

mencionavam o nome do Patriarca, mas estes começaram a ser discriminados e

perseguidos pelo autoritarismo do governo de Lúcio, aumentando bastante, nessa

época, a distância ideológica entre os chamados sentimentalistas e racionalistas.

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O grupo discriminado levantou a bandeira de oposição radical ao regime

autoritário vigente, sinalizando a conquista de um novo período de liberdade,

capaz de romper com os falsos padrões de moral e de justiça impostos ao povo,

supostamente pela vontade do Patriarca.

Liderando esse novo movimento libertador, despontava o jovem Heleno,principal discípulo do mestre Seleno, que em pouco tempo conquistou a

confiança do povo e foi conduzido ao poder.

Heleno gostava de ser chamado de neo-racionalista. Ele respeitava o mestre

Seleno, mas fazia questão de dizer que tinha uma maneira nova e diferente de

pensar sobre as coisas. Defendia o profundo conhecimento racional sobre tudo,

privilegiando os estudos e as pesquisas sobre o ser humano, sem estabelecer

nenhuma fronteira ética. Qualquer coisa era importante para se chegar ao

conhecimento da Verdade.

Essa atitude desafiava qualquer poder que os chamados “protetores da

Natureza” pudessem ter sobre os seres humanos.

Heleno gostava muito de filosofar. Certa vez, quando o mestre Seleno lhe

perguntou o que significava filosofar, respondeu que significava levantar questões

e encontrar respostas que aproximem o ser humano do conhecimento da

Verdade.

Certa vez, ao ser questionado pelo mestre Seleno sobre o que é a Verdade,Heleno respondeu que a Verdade é o que é real; é a realidade que existe

realmente. Por princípio, para ele, a Verdade precisava ser convincente. Se não

lhe convencesse, ele não a consideraria como tal.

Heleno não fazia oposição ao movimento que defendia o pensamento do

Patriarca, mas o fato de coexistir com ele não significava que lhe fazia con-

cessões; pelo contrário, gostava de demonstrar que seu governo tinha os pés no

chão, voltado exclusivamente para melhorar materialmente o padrão de vida dopovo.

O modelo racionalista implantado por Heleno passou a incentivar a criatividade

de projetos especiais na sociedade. A partir daí, verificou-se um avanço tecno-

lógico nunca antes imaginado.

Seu governo, contudo, precisou enfrentar as crescentes reações oposicionistas

dispostas a demonstrar que o progresso material não estava trazendo para a

população o benefício que se esperava dele. Era evidente que, paralelamente ao

avanço tecnológico que permitia a conquista de muitos bens de consumo, havia

uma queda acentuada da qualidade de vida do povo, que vivia estressado

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mentalmente pelas pressões de um modelo de sociedade cada vez mais

competitivo e desumano.

Os movimentos oposicionistas agitavam-se nessa época. Seus discursos

direcionavam-se principalmente em defesa da igualdade social e do fim dasinjustiças, sinalizando uma nova tendência política na figura de Augusta, principal

discípula da mestra Geórgia.

Augusta valorizava a mestra Geórgia, mas não concordava com sua maneira

passiva de expressar a criatividade e a sensibilidade, sempre respeitando a

tendência do poder constituído, ora sentimental, ora racional.

Ela achava que já era tempo de assumir uma posição mais ativa. Queria

deixar de ficar à reboque do poder administrativo, e ter condições de influenciá-

los, participando na elaboração da sua política. Quem sabe, assim, um dia seria

capaz de exercê-la oficialmente...

Augusta defendia a ideia de que as formas de expressão da razão ou do

sentimento não podem, em hipótese alguma, sofrer qualquer tipo de restrição ou

preconceito. Ela dizia que todos devem ser livres para expressar sua vontade. Só

dessa maneira se tornaria possível usar plenamente a liberdade de expressão.

Irritava-se com a mestra Geórgia quando esta lhe advertia que o excessivo

estímulo à liberdade de expressão poderia constituir a principal causa doaumento de pessoas irresponsáveis. Augusta achava que esta advertência

contribuía para fortalecer o autoritarismo dos governantes, estimulando-os a insti-

tucionalizar a censura para inibir a crítica e encobrir suas falhas administrativas.

Augusta defendia a tese de que a liberdade de expressão era o único meio de

se utilizar a vontade no exercício da razão e do sentimento, na busca de me-

lhores condições de vida. Por isso não concordava com a ideia da mestra

Geórgia de inibir ou limitar essa liberdade sob qualquer pretexto.

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Visitas Oportunas

Preocupada com o rumo dos acontecimentos, Geórgia decidiu visitar Selenoem sua casa. Foi até lá movida pela necessidade de dividir suas reflexões sobre

os resultados obtidos pelas diversas concepções ideológicas na alternância do

poder.

Iniciaram a conversa relembrando os bons momentos que passaram juntos. Em

seguida, abordaram o tema sobre a atual conjuntura social da humanidade,

ocasião em que Geórgia fez o seguinte comentário:

G  —  Nós, os nossos discípulos diretos e os inúmeros discípulos que eles

formaram, assumimos, por um longo período, posições de liderança e destaque

no destino da nossa sociedade. Portanto, somos os pioneiros e responsáveis pelo

desenvolvimento da cultura, projetado nos progressos da agricultura, religião,

ciência, arte, educação, meio ambiente, política, economia e demais campos da

atividade humana.

S  ─  Pensando bem, não há como negar que a realidade atual é o resultadoda herança cultural que deixamos para os nossos discípulos e descendentes.

Buscando manter seu discurso num tom de reflexão, Geórgia continuou:

G  — Baseados nas ideologias dos governantes que se alternaram no poder, a

humanidade veio alimentando a esperança de conquistar uma sociedade

harmoniosa e feliz. Contudo, apesar dos esforços de todos e do elevado nível

tecnológico alcançado, ainda não foi possível viabilizar essa conquista. A cada dia

parece distanciar-se o sonho alimentado por todos de viverem com saúde,

prosperidade e paz.

S  — Também venho refletindo sobre  isso, e buscando encontrar as causas da

crescente insegurança, corrupção, doenças, misérias e conflitos em nossa

sociedade.

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Em tom de desabafo, Geórgia deixou escapar sua preocupação com a atitude

cada vez mais ousada de sua discípula Augusta.

G  ─  Uma das razões dessa minha visita, Seleno, é para dividir com você uma

preocupação que há muito eu venho tendo com a intransigência dosdescendentes e discípulos de Augusta.

S  ─  Sinta-se à vontade.

Geórgia desabafou:

G  ─   Augusta está sofrendo bastante por não conseguir conter os excessos

cometidos por eles em nome da liberdade de expressão. Sem assumir nenhum

compromisso com as sólidas estruturas da moral e da ética, preservadas desde a

época do Patriarca, os principais discípulos de Augusta passaram a estimular a

liberdade sem limites, em nome da liberdade de expressão.

Após ouvir a preocupação de sua irmã, Seleno comentou:

S  — Antes de você chegar, eu estava justamente refletindo sobre a situação

que Heleno está enfrentando com seus descendente e discípulos.Na semana passada, Heleno esteve aqui dizendo-se muito aborrecido porque

seus discípulos também não admitem críticas. Eles acham que seus pensamentos

estão sempre certos e baseados na Verdade. Quando ouvi isso, lembrei-me da

época do Patriarca. Eu o critiquei por não concordar que o pensamento dele era

a Verdade. Lembra-se daquela ocasião?

G — É claro que lembro!

S  — Pois é. O fato é que, sem que eu tivesse me dado conta, adotei meu

próprio pensamento como Verdade; vi Heleno adotar a mesma postura para si, e

o vejo agora aborrecido com seus descendentes e principais discípulos por eles

também terem adotado para si mesmos a postura de donos da Verdade.

G — E a que conclusão chegou?

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S  — Ainda não cheguei a uma conclusão! Apenas estava refletindo se essa

postura é hereditária ou pode ser evitada. Será que o modelo da verdade de

cada um, predominante na história da nossa sociedade, vai continuar passando

de pais para filhos, de mestres para discípulos? Ou será que um dia surgirá uma

teoria universal da Verdade que sirva de referência para a verdade de cada um?

G  — Você sabia que o Hélio vem enfrentando esse mesmo problema com

Lúcio e que este também vem sofrendo com atitudes semelhantes de seus

principais descendentes e discípulos?

S  —  Imagino! No fundo, esse tipo de preocupação já é coletiva. A realidade

vem demonstrando que prevalece na sociedade mundial a “teoria geral da verdade

de cada um”. Tenho percebido que as novas gerações estão cada vez mais

independentes e egoístas.

G ─  Talvez essa postura seja hereditária. Pensando bem, tivemos esse tipo de

comportamento com o nosso avô. Hoje, nossos filhos e discípulos estão tendo o

mesmo comportamento conosco, e os filhos e os discípulos deles já estão se

comportando do mesmo modo. Possivelmente, esse modelo de comportamento

independente e egoísta ainda vai fazer escola por muitas e muitas gerações.

S  —  É indiscutível que esse tipo de comportamento contribuiu muito para

desenvolver o progresso material do nosso mundo. Quando saímos da casa do

Patriarca, não havia o nível de progresso que temos hoje. Atualmente, já

fabricamos aviões controlados por poderosos computadores, e um

desenvolvimento tecnológico cada vez mais sofisticado.

G  —  Por falar nesse grande progresso tecnológico, você já o utilizou para

localizar o lugar de onde saímos ou para conseguir alguma pista que pudesse

localizar o Patriarca?

S  —  Já utilizei toda tecnologia ao meu alcance. Mas, infelizmente, não

consegui nenhuma pista.

G  ─  Sinto saudade do Patriarca! Às vezes me pergunto se valeu a pena ter

saído de casa... Sinto falta daquele tempo em que vivíamos em harmonia.

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Atualmente, vivemos num mundo cheio das conveniências do progresso material

em expansão...´

S — O que você acha que está faltando?

G — Conteúdo. Sinto que falta conteúdo nesse progresso, pois ele distancia as

pessoas. Não conseguimos sequer manter nossos descendentes unidos e, menos

ainda, próximos da grande harmonia em que vivíamos naquela época. Veja o seu

exemplo, a relação que existe entre você e o Hélio. Vocês nem parecem irmãos!

Mantêm uma relação agressiva, fria e formal, cada qual preso à sua ideologia, à

sua própria verdade. O pior é que os nossos descendentes agem entre si da

mesma forma. Por que você não abre seu coração para o Hélio e busca, junto

com ele, o desenvolvimento das ideias?

S  ─   A propósito, quando me fazem a pergunta que você me fez sobre a

localização do Patriarca, sinto uma grande frustração e tristeza. Para os outros

digo que estou próximo de encontrar o local de onde viemos. Mas, para você,

posso dizer a verdade: durante um longo período venho buscando decifrar aquele

mapa, em forma de um “Grande Cone”, e percorrendo vários territórios sem en-

contrar uma única pista. Já utilizei todos os recursos da tecnologia moderna, semnenhum resultado positivo. Às vezes penso que aquele lugar e o Patriarca não

existem mais...

G  ─  E quanto ao relacionamento com Hélio?

S  ─ Com  relação ao Hélio, nossas divergências prendem-se a questões

ideológicas completamente opostas e, também, a sérios atritos pessoais.Você perguntou há quanto tempo eu não abro meu coração para ele, não é?

Pois bem, eu respondo. Sei que sou irreverente e até certo ponto frio nas

minhas decisões, mas também tenho sentimento. Só que o Hélio jamais foi

capaz de admitir isso. Para ele, sou simplesmente racional, não tenho coração e

não uso de sinceridade quando discordo dele. Confesso que suas palavras e

atos me magoaram muito. Não consigo perdoá-lo. Só eu sei o que sofri em suas

mãos. Então, quando percebi que não adiantava mais dialogar com ele, resolvi

manter a minha independência de pensamento. Ele que viva a sua vida, pois eu

 já decidi o que vou fazer da minha!

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Geórgia esperou que o irmão se acalmasse para sugerir:

G  ─  Que tal se a gente se reunisse um dia, em nome dos velhos tempos?

S  —  Isso é impossível. Para ser honesto, pelo nível de distanciamento da

nossa maneira de pensar, não vejo como estabelecer com o Hélio um diálogo

que resulte em harmonia. Na última vez em que estivemos conversando, e isso

 já faz muito tempo, parecíamos duas pessoas completamente estranhas.

G  —   Se já faz muito tempo, será que já não é tempo de reverter essa

situação?

S  —  Não creio que um encontro com ele seja produtivo. Hélio, com suas

ideias místicas e autoritárias, sem nenhuma base científica, esgotou a minha

paciência. O pior é que ele sempre me rotulou de materialista e egoísta. Quando

percebi isso, tomei a decisão de viver de acordo com a minha maneira de

pensar, sem ficar obrigado a ouvir o que me aborrece e desagrada.

G  ─  O que mais lhe incomoda, na personalidade de Hélio?

S  ─  A sua postura sentimentalista! Ele vive orientando as pessoas a serem

felizes, mas não é exemplo de felicidade para ninguém. Pessoalmente, acho as

ideias do Hélio mais materialistas e egoístas do que as minhas. Ele insiste em

colocar seus pés fora do chão, com suas posições idealistas e místicas. A minha

realidade é mais “pés no chão”.

O fato é que você sempre se manteve neutra, respeitando os nossos pontosde vista pessoais, jamais tomando partido. Portanto, se alguém pode fazer o

“milagre” de nos reunir um dia, para usar a expressão preferida do Hélio, não há

dúvida de que esse alguém só pode ser você. Mas quero deixar claro que, se

depender de mim, é melhor que as coisas fiquem como estão, cada um na sua.

G — É interessante!

S — O que é interessante?

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G — Cheguei aqui para falar da minha preocupação com a Augusta e da sua

dificuldade em conter os excessos de seus discípulos. Encontrei você com o

mesmo tipo de preocupação no que se refere aos discípulos do Heleno. Falamos

da mesma preocupação que o Hélio está tendo com os discípulos do Lúcio, e

acabamos comentando sobre as divergências que deram origem a tudo isso.Afinal, que procedimento devemos adotar para reverter todo esse quadro de in-

satisfação coletiva, que vem comprometendo a felicidade de nossos descendentes

e a nossa própria felicidade?

S — Honestamente, eu não sei. Se você descobrir, me avise...

Geórgia despediu-se de Seleno. Ao sair de sua casa, sentiu a estranha

sensação de que tinha algo a fazer em benefício da família e,

consequentemente, em benefício das gerações que surgiram dela, separadas por

ideologias fundamentadas na concepção da verdade de cada um. Por isso, logo

após visitar Seleno, ela decidiu que deveria, também, visitar o Hélio. Este a

recebeu como sempre, com entusiasmo, dizendo-se contente com a sua visita.

Geórgia contou-lhe parte da conversa que tivera com Seleno e a reflexão que

 juntos fizeram sobre a caótica situação do mundo em que estavam vivendo. Demodo direto perguntou ao Hélio:

G — Você já conseguiu localizar o Patriarca, ou encontrar uma pista do local de

onde saímos?

H — Constantemente tenho pensado nisso! Na realidade, não penso em outra

coisa, ultimamente. Infelizmente, não consegui encontrar nenhuma pista.Quando vejo a caótica situação do mundo que criamos, sinto que, apesar de

todos os nossos esforços, não conseguimos concretizar o grande projeto do

Patriarca, nem fazer com que os nossos descendentes compreendam que tudo

que fazemos é para o bem deles. É por isso que jamais deixo de pensar na hi-

pótese de reencontrá-lo.

G ─   Nunca sentiu saudade do tempo em que vivíamos juntos, eu, você e

Seleno, na casa do Patriarca?

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H —  Sinto muita saudade! Nunca deixo de pensar no Patriarca e rogo

constantemente a sua proteção para todos nós. À propósito, jamais deixei de

buscar a Verdade que ele disse ser capaz de harmonizar as nossas vidas. Por

isso, venho estudando o mapa de localização do “Grande Cone”, que o chefe

dos transportadores entregou a cada um de nós. Lembra-se?

G —   É claro que lembro! Então, alguma descoberta significativa?

H — Minha descoberta foi observar atentamente esse mapa e ver que a solução

está diante dos meus olhos. Principalmente no conteúdo da frase escrita no

verso do mapa: “O segredo de tudo é a sinceridade.” 

G — Não entendi.

H —  Ultimamente, eu tenho buscado praticar a sinceridade, mas ainda não

consegui desvendar esse mistério. Por diversas vezes, tentei conversar com o

Seleno sobre isso, mas ele é um cabeça dura, nunca entendeu meu objetivo.

Quando eu dizia para ele deixar de ser materialista e egoísta, sempre usei de

sinceridade, buscando despertá-lo para outros valores. Ele, porém, acha que eu

sou sentimental e autoritário. Realmente, eu me magoei muito com suas ofensas.

G ─  O que mais lhe incomoda, na personalidade de Seleno?

H ─   A sua postura racionalista! Ele vive querendo explicação para tudo,

questionando tudo que não pertence ao âmbito dos fenômenos. Parece o dono

da Verdade! Ele vive me denominando egoísta e falso espiritualista. Confesso

que isso me entristece profundamente.

G ─  Que tal, um dia, nos reencontrarmos, como nos “velhos tempos” ? 

H ─  Não creio que esta seja uma boa idéia. Se um dia ele me procurar, pode

ser que eu o perdoe por suas ofensas, mas, se depender de mim, é melhor que

as coisas fiquem como estão, pois a distância ideológica que nos separa é

realmente muito grande.

G —  Será que posso sonhar com a hipótese de um reencontro?

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H ─  Você, Geórgia, pode tudo! Ninguém melhor do que você para conseguir

esse milagre. Até porque se manteve neutra nessa fase de distância ideológica

que nos mantêm separados.

Geórgia conseguiu captar a essência do pensamento manifestado por Hélio, a

exemplo do que já havia conseguido com Seleno.

De Seleno, captou a sua constante busca do local existente no mapa; de

Hélio, captou a importância que ele atribuía à frase existente no mapa,

sinalizando que a “sinceridade” era a chave de tudo. Isso significou para ela que

ambos, no fundo, desejavam reencontrar o Patriarca e o local de onde vieram,

mas ainda não sabiam como tornar isso possível.

Imediatamente Geórgia se lembrou do que lhe dissera o chefe dos

transportadores, ao ser indagado sobre o significado da palavra sinceridade.

Naquela ocasião, ele mencionara a palavra “franqueza” como obstáculo à prática

da sinceridade.

Quando Hélio concluiu sua versão sobre as divergências que tinha comSeleno, Geórgia intuiu uma solução concreta para reunir os irmãos: uma

exposição de artes plásticas, exclusiva para eles. E não seria difícil promover

esse encontro, pois era hábito seu, como grande artista plástica, convidar os ir-

mãos, separadamente, para opinarem sobre suas obras antes da exposição ao

público.

O plano de Geórgia era simples: sem que eles desconfiassem, iria tentar

reuni-los no seu “atelier”, localizado em sua casa.Antes de se despedir do irmão, ela fez a intimação habitual:

G — Na próxima quinta-feira, às 20 horas, espero você para opinar sobre o

novo trabalho que vou expor.

H — Estarei lá, sem falta.

Com a presença de Hélio confirmada, Geórgia tratou de confirmar também a

presença de Seleno para o mesmo dia e hora. Mesmo não sabendo ainda como

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organizar a exposição, sua intuição lhe dizia que fora dado o primeiro e

importante passo para a união dos irmãos.

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Arte Unificadora

Geórgia produziu, em tempo recorde, três grandes telas fundamentadas nos

motivos que a fizeram pensar em promover a união de Hélio e Seleno.

O primeiro motivo era o envelhecido mapa de localização, em forma de um

Grande Cone, fornecido pelo Patriarca; o segundo, a reprodução da frase sobre

a sinceridade, existente na base do mapa; o terceiro, a palavra franqueza,

mencionada pelo chefe dos transportadores, como obstáculo à sinceridade.

Geórgia, aliás, tinha como grande desafio pessoal desvendar esse enigma,

razão pela qual vinha tentando decifrá-lo ao longo de todo esse tempo. Quem

sabe, no encontro artístico que estava promovendo, não surgiria uma luz a esse

respeito?

Finalmente, chegara o dia do grande encontro.

Seleno foi o primeiro a chegar à casa de Geórgia. Como de hábito, após

cumprimentar a irmã, serviu-se de uma bebida e aumentou o volume do som

ambiente, acomodando-se no sofá da sala de estar.

Não demorou muito e a campainha do porteiro eletrônico soou, anunciando a

chegada de Hélio. Ao ouvir o anúncio, Seleno, surpreso e visivelmente

incomodado, quis mostrar para Geórgia sua insatisfação, mas ela imediatamente

foi abrir a porta para o irmão que chegara.

Ao adentrar na sala, Hélio constatou a presença inesperada de Seleno, e

ambos se cumprimentaram de modo frio e formal.

Antes que os dois irmãos se manifestassem dizendo algo que pudesse

comprometer aquele memorável encontro, Geórgia foi direto ao assunto:

G — Hoje é um dia muito especial. Vocês sempre disseram que eu me mantive

neutra nas divergências de vocês e que, por isso, eu seria a pessoa mais

adequada para um dia promover este encontro. Pois bem, peço desculpas porusar o motivo da exposição para reuni-los, sem consulta prévia, mas também

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quero deixar registrado que jamais me mantive neutra nas divergências de vocês.

Na realidade, venho sofrendo muito por vê-los cultivando uma distância ideológica

que não pode perdurar por muito tempo. Se continuarem agindo assim, jamais

conseguiremos atingir nossos objetivos de harmonia e felicidade, idealizados no

grande projeto do Patriarca.

Em seguida, Geórgia caminhou até os cavaletes onde estavam os três quadros

que ela produzira, cobertos por panos.

Retirou solenemente os panos, quebrando o “gelo” que havia se instalado no

ambiente.

G — O que significam para vocês estas obras?

Tanto Hélio quanto Seleno responderam, com palavras diferentes, o que ela já

esperava ouvir.

A tela que reproduzia o mapa, em forma de um Grande Cone, significava a

localização dos territórios que eles sabiam existir, embora não conseguissem

identificar, nele, o lugar de onde vieram ou o lugar exato onde estavam.

Principalmente quando confrontavam esse mapa com outros que foram

elaborados por especialistas, para delimitarem o território em que viviam.

A tela que reproduzia a palavra “sinceridade”, escrita em diagonal de cima

para baixo, significava o segredo para reencontrarem o caminho que estavam

buscando.

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Por sua vez, a tela que reproduzia a palavra “franqueza”, escrita em diagonal

de baixo para cima, significava, segundo o chefe dos transportadores, o grande

empecilho para a prática da sinceridade.

Seleno, dirigindo-se à irmã, disse:

S —  Não há dúvida de que você conseguiu armar aqui um grande quebra-

cabeça, embora eu tenha que reconhecer que utilizou uma técnica de alto nível

artístico. Mas qual foi a razão que a levou a pintar as palavras “sinceridade” e

“franqueza” na diagonal, de forma invertida?

G — Honestamente eu não sei. Foi pura intuição!

Hélio, contemplando as telas por algum tempo, assumiu de repente uma

atitude séria e reflexiva.

H —  Durante muito tempo eu venho exaltando minha prática de sinceridade,

mas estou percebendo, nestas obras de arte, algo muito estranho e revelador.

Percebo que até hoje vim confundindo “franqueza” com “sinceridade”. 

E após uma breve pausa para conter a emoção, prosseguiu:

H —  Estou compreendendo, agora, o verdadeiro significado da palavra

“sinceridade”. Sinceridade não é simplesmente falar o que se pensa, e sim

buscar compreender o pensamento do outro. Percebi, no contato com essas

obras, que a sinceridade é um sentimento que vem de cima para baixo. Quem

fala o que pensa, sem esforçar-se para compreender e considerar o pensamentodos outros, ou seja, o seu nível de razão, sentimento e vontade, não é sincero,

e sim franco. E franco eu tenho sido durante toda a minha vida...

Seleno, que também contemplava as telas, sensibilizado com o relato

emocionado do irmão, falou:

S — Eu também não consigo explicar o que está acontecendo comigo! Esses

momentos de reflexão que você, Geórgia, está nos propiciando, através da sua

arte, me abriram um novo horizonte. Ao contemplar essas telas, percebi que o

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sentimento de franqueza, que predomina na nossa sociedade, constitui a causa

da existência da verdade de cada um. Percebo, agora, que o princípio da

Verdade que buscamos, e pela qual o Patriarca disse ser possível solucionar

todas as coisas, fundamenta-se na sinceridade. A franqueza vem de baixo para

cima, não exigindo da pessoa franca nenhum esforço pessoal para compreenderou considerar o pensamento dos outros, ou seja, sua razão, sentimento e

vontade.

Seleno, motivado pela clareza que seu pensamento revelava, comentou:

S — A sinceridade é o oposto da franqueza. Ela exige que se amplie a ca-

pacidade para penetrar no pensamento dos outros, ou seja, na razão, no sen-

timento e na vontade que os motiva a agir da maneira como agem, em diferentes

circunstâncias. Censuramos os nossos descendentes por serem francos, e não

sinceros, mas esse foi o modelo que criamos e lhes deixamos como herança

cultural.

Percebo agora que jamais me esforcei para compreender o pensamento do

Patriarca, ou melhor, sua razão, seu sentimento e sua vontade. Infelizmente, ele

não está mais presente entre nós. Gostaria muito de lhe dizer isso pessoalmente!

Após o relato de Seleno, os três irmãos não conseguiram, por alguns

instantes, conter as lágrimas, principalmente quando Hélio e Seleno pediram

desculpas recíprocas por não terem agido com sinceridade. Como que por

encanto, eles conseguiram retirar de seus corações as antigas mágoas e

ressentimentos, envolvendo-se num forte e caloroso abraço.

Geórgia, por sua vez, sentia-se recompensada. Com a intuição e a criatividadeda sua arte, comprometida com o sincero desejo de unir os irmãos, ela via

renascer um pensamento forte e positivo entre eles. Uma razão, um sentimento e

uma vontade que os unia novamente. Renascia neles a união e a integração de

um pensamento de sinceridade, gerador de energia e poder de realização. Todos,

novamente, se sentiram fortemente unidos num único pensamento. Poderiam ficar

horas comungando esse momento maravilhoso, não fosse o toque inesperado da

campainha do porteiro eletrônico da casa.

Geórgia, pelo interfone, perguntou:

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 — Quem é?

Do outro lado, uma voz respondeu:

 — É o chefe dos transportadores.

Por alguns segundos, todos permaneceram atônitos. Seria algum tipo de

brincadeira?

A resposta confirmou o contrário, pois, assim que Geórgia abriu a porta, eles

viram tratar-se realmente do conhecido “chefe dos transportadores”.

CT — Prazer em revê-los. Vim em nome do Patriarca. Ele me disse que vocês

desejam reencontrá-lo.

Seleno, adiantando-se aos irmãos, fez a pergunta que todos queriam fazer:

S — Como é que ele soube?

:CT — Por acaso vocês manifestaram o desejo de vê-lo, com sinceridade?

G — Sim, a poucos minutos da sua chegada.

CT —  Então foi isso. O Patriarca capta imediatamente o pensamento das

pessoas. Sem dúvida, o sentimento de sinceridade de vocês tocou profundamente

o seu coração!

Geórgia foi invadida por uma emoção repentina, e destacou que eles sempre

buscaram de forma isolada e superficial reencontrar o Patriarca, mas não tinham

manifestado juntos essa vontade sincera. E relembrou o que outrora havia

acontecido para afastá-los do Patriarca, e só agora se revelava significativo.

G — O que aconteceu foi que, outrora, nos unimos na razão, no sentimento e

na vontade da franqueza para nos afastar do Patriarca. E agora... Agora percebo

que certamente foi a razão, o sentimento e a vontade de nos unir na sinceridade

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que restabeleceu com o Patriarca a comunicação de sentimentos que havia sido

interrompida.

H —  Agora consigo entender o porquê do Patriarca ter escrito, na base do

“Grande Cone”, que o segredo de tudo é a sinceridade.

S — Quando poderemos ver o Patriarca?

CT —  Quando quiserem. Tudo já está preparado para recebê-los. Basta me

acompanharem.

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Reencontro e Revelação

Movidos por uma força irresistível, Hélio, Seleno e Geórgia entraram em um

transporte ultramoderno que os aguardava, demonstrando estarem maravilhadoscom o nível de avanço tecnológico do novo transporte, infinitamente superior ao

existente na sociedade em que viviam.

Logo se acomodaram em poltronas confortáveis, experimentando imediatamen-

te uma profunda sensação de leveza e bem-estar.

Seleno, enquanto se ajeitava em sua poltrona, perguntou ao chefe dos trans-

portadores:

S — Aproximadamente, quanto tempo levará a viagem?

CT —  Já chegamos. A velocidade deste transporte está bem próxima da ve-

locidade média do pensamento. Nem deu para sentir a viagem, não é?

Os três irmãos estavam admirados com o que estavam vivenciando.

O desembarque ocorreu em um lugar de extrema beleza, destacando-se um

ambiente de ordem, limpeza, claridade e, sobretudo, com grande quantidade de

variadas espécies de flores.

Ao desembarcarem, Hélio, Seleno e Geórgia tiveram a primeira grande

surpresa: foram recepcionados com entusiasmo por seus pais, que receberam do

Patriarca a tarefa de recepcioná-los e conduzi-los à sua presença.

No caminho, expressando a grande curiosidade dos irmãos, Hélio perguntouaos pais:

H — Desde quando voltaram para junto do Patriarca?

A mãe respondeu:

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 AM — Recentemente. Eu e seu pai custamos muito a aceitar os conselhos do

Patriarca, mas felizmente conseguimos quebrar nosso orgulho e reconquistamos

sua confiança.

Desde que soubemos que vocês tinham saído da casa dele, sofremos muito.

Quando saímos de lá, pensávamos ser possível morar num lugar melhor. Mas arealidade foi diferente. Não conseguimos sequer manter a posição que tínhamos

na companhia do Patriarca. Nas condições em que ficamos, tornou-se impossível

buscá-los para viverem conosco, conforme era nosso desejo.

Seleno perguntou ao pai:

S — Qual foi a razão que os levou a sair de lá?

OP — A mesma de vocês. Mas sobre isso conversaremos depois. O Patriarca

os aguarda ansiosamente. Ele me prometeu que lhes dará todas as explicações

que desejarem obter. Portanto, perguntem o que quiserem. Confesso que estou

bastante interessado em aprender com as dúvidas de vocês.

Hélio, Seleno e Geórgia estavam maravilhados com a grande transformação

ocorrida no lugar de onde saíram. Após atravessarem um belo e imenso jardim,chegaram à nova mansão do Patriarca.

O próprio Patriarca veio à porta recepcioná-los. Abriu os braços e, revelando

uma fisionomia aparentemente rejuvenescida, disse, com a voz embargada pela

emoção:

P ─   Quero abraçá-los fortemente. Esperei muito por este momento!

Hélio, Seleno e Geórgia, emocionados, abraçaram o Patriarca demoradamente.

E se desculparam por não terem despertado antes para a sinceridade

mencionada por ele.

O Patriarca buscou tranquilizá-los e acomodá-los. Em seguida, disse que eles

despertaram no momento certo, por isso estavam ali.

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P — Nada poderia acontecer antes de vocês chegarem à “idade da verdadeira

razão.

H — O que significa a “idade da verdadeira razão”?

P ─   Não se trata da idade em sentido cronológico, mas, sim, da idade da

maturidade mental. É a fase em que o ser humano, após ultrapassar o período

de dúvida existencial, se liberta do apego à própria razão e desperta para a

busca da razão superior. É como sair da condição mental de criança para assu-

mir a condição mental de adulto.

H ─  Como assim?

P — Sem maturidade, a criança não busca a razão do pai, apenas exige seu apoio

para satisfazer as suas próprias conveniências, não é? Por outro lado, o pai, nessa

fase, não pode exigir muito da criança, pois ela ainda não tem maturidade para

compreender a razão paterna. No entanto, o bom pai jamais mantém o filho

dependente o tempo todo.

Abrindo um terno sorriso, o Patriarca complementou:

P — O objetivo de todo pai é que seus filhos, netos e descendentes cresçam e

assumam seu destino de felicidade. Vocês se lembram quando me comunicaram que

pretendiam viver de acordo com o próprio pensamento, baseados na verdade de

cada um?

Envergonhados, os três irmãos responderam que sim.

P — Qual foi a minha reação naquela época?

G — O senhor derramou algumas lágrimas de tristeza.

S — Naquela ocasião, eu achei que o senhor tentou fazer chantagem emocional

para nos impedir de agir conforme o nosso pensamento.

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H — Afinal, por que o senhor derramou aquelas lágrimas sem dizer uma só

palavra?

Novamente, com lágrimas nos olhos, o Patriarca comentou:

P — Aquelas lágrimas, tal como agora, não foram de tristeza. Eu as derramei de

alegria, por vocês terem decidido crescer. Eu estava esperando por aquele

momento, por isso manifestei a minha emoção quando vocês me comunicaram

que pretendiam assumir o próprio destino.

H ─   O senhor está querendo dizer que retornamos à sua presença porque

atingimos a idade da verdadeira razão?

P — Exatamente. Se hoje vocês estão aqui na minha presença, falando com

sinceridade, é porque deram o grande e importante passo do crescimento

individual a partir daquela importante decisão. Vocês jamais poderiam penetrar na

profundidade do meu pensamento sem antes aprofundarem no pensamento de

vocês. Jamais poderiam buscar a Verdade sem antes experimentarem a verdade

de cada um. Mas, felizmente, chegaram à idade da verdadeira razão capaz de

conhecer a razão superior.

S — Como assim?

O Patriarca assumiu por instantes uma fisionomia reflexiva e, num tom de voz

suave, embora firme, revelou:

P — Essa é uma longa história. Eu criei o ser humano com uma natureza peculiare especial, diferente dos demais seres da Natureza, atribuindo-lhe inteligência e

liberdade ilimitadas. Aos demais seres concedi inteligência e liberdade limitadas. Por

isso, vocês têm liberdade e inteligência para conquistar um nível mental superior, se

viverem de acordo com a Verdade do meu pensamento. Podem, também, conquistar

um nível mental inferior, se viverem afastados da Verdade.

S — O senhor está falando como se fosse o criador de tudo. Por acaso, o

senhor é o criador de todas as coisas?

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O Patriarca olhou fixamente para Seleno.

P — Você está querendo realmente saber a Verdade ou vai achar, como da

outra vez, que eu vou dizer um novo absurdo?

O Patriarca abaixou intencionalmente o tom da voz e, antes que Seleno se

manifestasse, revelou:

P —  Sim. Eu sou o criador de todas as coisas! Tudo foi criado por mim. Vocês

nasceram com missão especial. Seus pais deram origem a vocês para que

pudessem cumprir a missão de liderarem a concretização do meu plano para a

humanidade. Vocês saíram daqui por livre e espontânea vontade, e retornaram

também por livre e espontânea vontade. A personalidade de Hélio deu origem à

criação dos movimentos religiosos; a personalidade de Seleno deu origem à

criação dos movimentos científicos; a personalidade de Geórgia deu origem à

criação dos movimentos artísticos. Basicamente, todas as atividades humanas

tiveram origem nas características peculiares das personalidades de vocês.

Portanto, é bom saberem que se os referidos movimentos religiosos, científicos e

artísticos ainda não conseguem conduzir a humanidade à conquista do seu

destino de felicidade, o motivo principal reside no afastamento de vocês emrelação à Verdade. Como consequência desse afastamento, ainda não se

qualificaram para construir o mundo de plena felicidade que eu planejei para

vocês.

S — Qual foi a nossa principal falha?

O Patriarca, demonstrando absoluta serenidade, respondeu:

P —  Foi a mesma falha cometida por seus pais. Não acreditaram que meu

pensamento é a dinâmica Verdade.

Em seguida, o Patriarca fez a seguinte revelação:

Ao longo de três mil anos, a humanidade veio se afastando cada vez mais da Lei

da Natureza, que é a Lei do Universo, a vontade do Criador, a Verdade.

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Movido pelo materialismo, que o faz acreditar somente no que vê, e pelo

egoísmo, que o leva a agir de acordo com a sua própria conveniência, o ser

humano tornou-se prisioneiro de uma ambição desmedida e inconsequente. A

partir daí, vem destruindo o equilíbrio do planeta, criando, para si e para seus

semelhantes, desarmonia e infelicidade.As graves consequências do desrespeito às leis naturais podem ser verificadas

na agricultura, na medicina, na saúde, na educação, na arte, no meio ambiente,

na política, na economia e em todos os demais campos da atividade humana.

Essa situação já chegou ao seu limite. Se continuar agindo assim, é certo que

o ser humano acabará destruindo o planeta e a si mesmo.

A Verdade tem o objetivo de despertar a humanidade, alertando-a para a triste

realidade em que se encontra. Ela cultiva o espiritualismo e o altruísmo, faz o ser

humano crer no invisível e ensina que existem espírito e pensamento não só no

reino humano, mas também nos demais reinos. A Verdade é capaz de transformar

materialistas em espiritualistas, e egoístas em altruístas, restituindo ao planeta seu

equilíbrio original.

O objetivo final da Verdade é reconduzir a humanidade a uma vida concorde

com a Lei da Natureza e construir uma civilização ideal, alicerçada na autêntica

saúde, prosperidade e paz.

O Patriarca comentou, como já o fizera em outra ocasião, que a Verdade é

simples, mas difícil de ser compreendida e respeitada por quem ignora a Lei da

Natureza.

P —  Ao ignorar essa Lei universal, vocês se afastaram e continuam se

afastando cada vez mais da Verdade, interferindo indevidamente na vida de toda

a minha criação.

S — O que significa uma vida concorde com a Lei da Natureza?

P — Em síntese, significa uma vida concorde com a dinâmica Verdade do meu

pensamento. É uma vida que jamais contraria as leis naturais que constituem o

ordenamento jurídico do Universo, ou melhor, a ordem natural da Verdade,

responsável pela harmonia, evolução e arte da minha criação.

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Ordem Natural da Verdade

S — O que significa interferir indevidamente na ordem natural da Verdade?

P — Significa interferir na ordem que determina o curso natural das realidades

que constituem todos os seres da minha criação.  Vocês sabem por que

encontram dificuldades em conhecer a Verdade de um ser?

Após os três irmãos acenarem que não sabiam, o Patriarca explicou:

P —  Vocês encontram dificuldades porque, ao buscarem conhecer a totalidade

de um ser, consideram somente as realidades da sua forma, de natureza visível,

e das suas funções, de natureza perceptível, ignorando sua missão, de natureza

invisível. Certa ocasião, tentei explicar isso para vocês, lembram-se?

S ─   Naquela ocasião, eu impedi, com a minha irreverência, que o senhor

explicasse o que era a “ordem natural da Verdade”. Mas agora reconheço que o

seu pensamento representa a Verdade, e estou decidido a ouvi-lo, com atitudede aprendiz.

Hélio e Geórgia, em defesa de Seleno, disseram que, no fundo, eles também

ficaram confusos quando o Patriarca dissera que seu pensamento era a Verdade

e quem desejasse saber o que é a Verdade deveria conhecer o seu

pensamento.

O Patriarca explicou:

P —  Tudo tem seu tempo certo! Como eu já disse, vocês ainda não tinham

chegado à idade da verdadeira razão; ainda estavam presos ao exercício da

própria razão. Passada esta fase  —  amadurecidos mentalmente  ─ , já desejam

buscar a razão superior.

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S — O senhor sempre diz que a Verdade é simples. No entanto, é natural que

ela seja simples para o senhor, já que a Verdade é a manifestação do seu

pensamento. Entretanto, para nós, ela ainda se apresenta de difícil compreensão.

H — Na condição de Criador, o senhor não dispõe de nenhum modelo ilustrativoque nos possibilite conhecer o que denomina “ordem natural da Verdade”? 

Imediatamente, o Patriarca fez menção de abrir a pasta que trazia consigo,

mas mudou de ideia.

Seleno, percebendo que ele desistira de abrir a pasta, onde possivelmente se

encontrava um modelo da referida ordem natural da Verdade, insistiu na

pergunta:

S — O senhor já tem pronto o modelo ilustrativo da ordem natural da Verdade?

P —  Sim. Mas achei melhor conduzi-los a conhecerem o percurso da sua

elaboração. Caso contrário, vocês terão grandes dificuldades em avançar em

direção ao conhecimento da Verdade, em seu sentido mais amplo.

G —  Como assim?

P ─   Ao ignorarem a ordem natural da Verdade, vocês ignoram o que é a

autêntica Verdade. E, sem conhecer o que é a Verdade, não percebem que é da

sua ordem natural que resulta a harmonia, a evolução e a arte na vida dos

seres vivos da sua criação.

G — Por favor, explique isso melhor.

O Patriarca buscou clarear o raciocínio dos três irmãos por meio de

ilustrações, projetando inicialmente um círculo vazio.

Em seguida, perguntou:

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P — Com que realidade vocês têm o primeiro contato no mundo em que vivem?

G — Com a realidade visível.

Projetando em torno do círculo visível um novo círculo em branco, o Patriarca

voltou a perguntar:

P — E além da realidade visível?

S — A realidade perceptível.

Projetando um novo círculo em torno do círculo perceptível, o Patriarca voltoua perguntar:

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P — Além das realidades visível e perceptível, que outra realidade existe?

H — A realidade invisível.

Diante da projeção das três realidades, o Patriarca perguntou:

P — Vocês acham que este é curso da ordem natural da Verdade?

Seleno, prontamente, respondeu que sim, sendo seguido por Geórgia.

Percebendo que Hélio não estava participando da opinião dos irmãos, o

Patriarca dirigiu-se a ele:

P — Você não está concordando com essa ordem?

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H —  Eu não.  Particularmente, eu sempre acreditei, com base nas suas

orientações aos encarregados do seu patrimônio, que tudo começa pelo

pensamento. É do pensamento que nascem as palavras e as ações, não é

assim? Como a natureza do pensamento é invisível, eu sempre acreditei, embora

não entendendo muito bem, que tudo começa pela realidade invisível dopensamento e se materializa na realidade visível das ações.

O Patriarca, contente com os argumentos de Hélio, projetou um novo círculo

vazio:

Em seguida pediu que Hélio o preenchesse conforme seus argumentos.

Hélio preencheu-o com a palavra “invisível”.

À medida que o Patriarca ia projetando um novo círculo em torno do

antecedente, Hélio, imediatamente, o preenchia conforme a ordem iniciada pela

realidade invisível e, em seguida, pela realidade perceptível.

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Finalmente, pela realidade visível.

Em seguida, o Patriarca colocou em confronto os dois modelos: o primeiro,

partindo da realidade visível para a realidade invisível; o segundo, partindo da

realidade invisível para a realidade visível.

P — Na opinião de vocês, qual é o modelo representativo da ordem natural da

Verdade?

Seleno manifestou-se pelo modelo que parte da realidade visível para a

realidade invisível.

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Geórgia mostrou-se indecisa sobre as duas opções apresentadas. Para ela,

dependendo do ponto de vista, as duas opções poderiam representar a ordem

natural da Verdade.

Hélio, por sua vez, manteve sua opção pelo modelo que parte da realidade

invisível para a realidade visível, embora manifestasse sua dificuldade em

fundamentar melhor a sua escolha.

O Patriarca, no firme propósito de não apresentar uma solução pronta, mas

conduzi-los a buscá-la, projetou dois modelos da ordem natural da Verdade  — 

ONV —, conforme as duas opções divergentes:

Uma, segundo a opinião de Seleno, partindo da realidade visível da forma para a

realidade invisível da missão, conforme a seguinte ilustração:

A outra, segundo a opinião de Hélio, partindo da realidade invisível da missão

para a realidade visível da forma.

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Em seguida, dirigindo-se a Seleno, o Patriarca perguntou:

P — Eu soube que um de seus discípulos criou um aparelho conhecido pelo nome de

computador, não é? Você poderia projetar a sua forma no modelo da ONV que

escolheu?

S — O senhor quer que eu desenhe uma forma antiga ou uma forma mais

recente?

P — Quantas formas já foram criadas?

S — Inúmeras formas.

P — Projete uma forma recente.

S — Pronto, já projetei.

P — Agora, do lado oposto, no espaço da realidade invisível, coloque a razão

principal da existência do computador, ou seja, a sua missão.

Seleno começou a escrever: digitar, programar, arquivar, formatar...

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P — Eu pedi para você escrever a missão do computador.

S — Então, eu estou escrevendo!

P —  O que você está escrevendo são algumas das diversas funções do

computador e não a sua missão.

S — E não é a mesma coisa?

Dirigindo-se a Hélio e a Geórgia, o Patriarca perguntou:

P — Vocês também acham que é a mesma coisa?

H —  Percebo que não é a mesma coisa. Mas, confesso que não sei

exatamente qual é a missão do computador.

P — O que acontece quando o computador apresenta algum defeito?

G — Encaminhamos o computador ao fabricante.

P — Por quê?

G — Porque o fabricante conhece toda a sua estrutura e sabe como consertá-lo.

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P — Nesse caso, ele também deve saber qual é a missão do computador, não

é mesmo?

G — É claro que ele sabe!

P —  Por que, então, vocês não consultam o fabricante para saber qual a

missão que ele atribuiu à forma da sua criação?

S — Acho que já sei qual é a missão do computador.

P — Qual é?

S — É armazenar, processar e transmitir informações.

P — Como chegou a essa conclusão?

S —  Baseando-me na síntese do pensamento do criador do computador.

Lembrei-me de que, num antigo manual, ele disse que há muito tempo vinha

pensando em criar um aparelho que facilitasse o ser humano em suas

crescentes tarefas de armazenar, processar e transmitir informações.

P — Muito bem. Então coloque, no espaço reservado à missão, a síntese do

pensamento do criador do computador: “Armazenar, processar e transmitir

informações”. 

P — A missão do computador serve para todas as formas?

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S — Serve. Pelo que eu sei, a missão do computador continua a mesma.

P — Nada mudou?

S — O que vem mudando são as formas do computador.

P — Só as formas estão mudando?

S — Na realidade, nas formas mais modernas existem mais recursos.

P — Que recursos? Você está querendo dizer que existem mais funções?

S — Exatamente.

P — Por que existem mais funções?

S — Para permitir que o computador cumpra cada vez melhor sua missão de

armazenar, processar e transmitir informações.

P —  Então, não são apenas as formas do computador que estão se

modificando. Tudo indica que as novas formas estão mais adequadas a executar

uma quantidade maior de funções, o que permitirá ao computador cumprir melhor

sua missão. É isso, Seleno?

Seleno balançou a cabeça afirmativamente.

P — Então coloque, no espaço entre a missão e a forma, algumas funções do

computador.

Seleno escreveu o que havia colocado antes.

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S — Pronto, já coloquei.

O Patriarca olhando para os três, perguntou:

P —  O que representa para vocês esse modelo de criação mostrando a

realidade visível da forma, a realidade perceptível das funções e a realidade

invisível da missão, do computador?

:

G — Representa a plena verdade do computador.

P — Por que representa a plena verdade do computador?

Hélio antecipou-se na resposta:

H — Porque, através deste modelo de criação, é possível conhecer e visualizar

o computador na sua plena constituição, considerando suas três realidades

básicas: a sua forma, de natureza visível, as suas funções, de natureza

perceptível, e a sua missão, de natureza invisível.

P — Como é possível conhecer a forma material do computador?

G — Vendo ou tateando seu contorno.

P — E para conhecer suas funções?

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S —  É só ligar o computador que será possível perceber algumas das suas

múltiplas funções.

P — E para conhecer sua missão?

H ─   Basta, conforme a sua sugestão, consultar o manual do criador ou

fabricante, ou consultar alguém que a conheça e a revele.

O Patriarca, após conduzi-los ao conhecimento da plena verdade do

computador, retomou o assunto inicial sobre a definição do modelo da ordem

natural da Verdade.

P —  Será que agora, com base no conhecimento da verdade do computador, já

conseguem identificar, entre os dois modelos da ONV, o que realmente

corresponde à Verdade?

Diante das evidências, Seleno admitiu:

S — Não há dúvida que a ordem natural da Verdade do computador é a que a

parte da realidade invisível da sua missão para a realidade visível da sua forma.

Em seguida, buscando ser coerente com sua conclusão, Seleno projetou a

verdade do computador, na ordem correta, sugerida por Hélio.

Retomando a palavra, o Patriarca explicou:

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P — Embora a realidade visível da forma de um ser seja a primeira realidade

com que vocês têm contato, ela é a última realidade a ser criada. Guardem bem

esse princípio da Verdade, pois a constatação dessa evidência é de fundamental

importância quando se busca conhecer o curso que determina a ordem natural

da Verdade de qualquer ser, em seu processo natural de criação.Retirando de sua pasta o modelo do ONV que sempre utilizava em suas

criações, o Patriarca revelou:

P — Eis o autêntico modelo da ordem natural da Verdade de qualquer criação!

Hélio, fascinado com a didática do Patriarca ao conduzi-los a conhecerem a

ordem natural da Verdade da criação, exclamou:

G —  Fantástico! Como é interessante esse raciocínio com base na ONV!

Realmente ele confirma o que o senhor sempre vem dizendo.

P — Confirma o quê?

H — Que o conhecimento da Verdade se fundamenta no princípio universal daprecedência da realidade invisível sobre a realidade visível. Entretanto, algo em

sua explicação me causou uma dúvida.

P — Que dúvida?

H — Por que o senhor, quando pediu ao Seleno para preencher o espaço re-

servado à forma material do computador, pulou o espaço reservado às funções,pedindo que ele preenchesse, primeiro, o espaço reservado à missão? Por que o

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senhor não seguiu o curso iniciado pela forma, depois pelas funções para, então,

chegar à missão?

P — Porque eu quis confirmar que vocês, quando ignoram e desrespeitam o

curso da ordem natural da Verdade de um ser, não conseguem estabelecer umaclara distinção entre o que é missão e o que são funções. E, também, para

mostrar a vocês a impossibilidade de se chegar ao real conhecimento de um ser,

desconhecendo a missão que lhe dá origem, atribuída por seu criador.

G —  O que acontece quando se busca conhecer as funções de um ser

começando por sua forma e não por sua missão?

P — Geralmente,  acredita-se que as funções existem somente para manter a

forma do ser em funcionamento, ignorando-se a existência de sua missão.

G — E quando se busca conhecer as funções de um ser começando por sua

missão e não por sua forma?

P —  Nesse caso, percebe-se que as funções não existem somente para manter

a forma do ser em funcionamento; percebe-se que as funções existem,principalmente, para cumprir a missão do ser na sua forma.

H — Por favor, dê mais explicações sobre a importância da ordem natural da

Verdade na criação e constituição dos seres.

P ─   Como já foi dito, a ordem do curso natural da Verdade de qualquer

criação revela que todo criador determina primeiro a missão ou sentido da suacriação, de natureza invisível.

P — Em seguida, ele determina tantas funções, de natureza perceptível, quantas

sejam necessárias ao cumprimento da referida missão.

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P — Finalmente, ele busca a forma material, de natureza visível, mais adequada

a executar funções necessárias ao fiel cumprimento da missão da sua criação.

P —  Na ordem correta da Verdade de toda criação, a missão é a primeira

realidade a ser criada, a segunda são as funções, e a terceira e última é a

forma material.

S — Qual a importância prática dessa ordem?

P — Sem respeitar essa ordem é impossível existir autêntica harmonia na vida

dos seres vivos da minha criação.

A seguir, o Patriarca explicou que a expressão “harmonia” é considerada por

ele como o resultado da ordem natural da Verdade.

P — Quando a missão de um ser se desdobra em funções necessárias ao seu

fiel cumprimento, numa forma adequada, a harmonia surge como resultado

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natural da ordem que promove a união e a integração das partes constitutivas de

um ser.

Geórgia, após observar a referida ilustração, perguntou:

G — Por que o senhor deixou uma seta partindo da forma do ser em direção à

sua missão?

P — Porque esse é o modelo do ciclo virtuoso da harmonia de um ser, em seu

processo natural de evolução. É a ação constante desse ciclo virtuoso que

promove a harmonia do ser e, consequentemente, a sua evolução. Observem

essa evidência nestas ilustrações:

Enquanto os irmãos observavam as referidas ilustrações do ciclo virtuoso da

harmonia que promove a constante evolução de um ser, o Patriarca explicou a

importância do respeito à ordem natural da Verdade para que todos os seres

possam viver em harmonia e evolução.

P — Quando se quer cumprir a missão de um ser deve-se buscar funções e

formas adequadas a esse propósito. Esse procedimento regular permite que, a

partir da harmonia de um ser, promova-se a sua constante evolução.

G —  Quando ocorre a evolução de um ser?

P —  Quando se respeita o ciclo virtuoso da harmonia, ou seja, quando existe

constante submissão da forma de um ser à sua missão.

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H —   Quando não existe essa submissão, significa que não há evolução do

ser?

O Patriarca respondeu que quando não existe essa submissão, o que

prevalece já não é mais o ciclo virtuoso da harmonia, e, sim, o ciclo vicioso dadesarmonia. Em seguida, pediu que os irmãos observassem a nova ilustração:

Geórgia logo reparou que, diferentemente da ilustração anterior, a posição da

seta saindo da forma do ser estava direcionada para suas funções, e não para

sua missão. Diante dessa evidência, perguntou ao Patriarca:

G — A posição da seta voltada para as funções e não para a missão de um

ser significa desrespeito à ordem natural da Verdade, afastando o ser da sua

plena harmonia e evolução?

P —  Exatamente. Ao desrespeitarem a ordem natural da Verdade, vocês se

afastam da ordem do ciclo virtuoso, optando pela ordem do ciclo vicioso que

impede a harmonia e a evolução de um ser. Observem estas ilustrações:

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Em seguida, o Patriarca relembrou os principais passos que tinha revelado até

então. Falou que, para saber a verdade do computador, ele fez perguntas bá-

sicas, fundamentadas na ordem natural da Verdade. A partir daí, ficou claro que

a forma de qualquer ser encontra-se adequada a executar funções necessárias

ao fiel cumprimento da missão que lhe deu origem, atribuída por seu criador.Com sutileza, ele indagou:

P — Vocês não acham que a ordem natural da Verdade se fundamenta num

raciocínio lógico?

H ─  Esse raciocínio é realmente inquestionável. Contudo, nem sempre é possível

consultar o manual do criador ou do fabricante, a fim de conhecer a missão de

um ser. Nesse caso, como proceder?

P — Enquanto não souberem a missão de um ser, é bom cultivarem a prudência

e a humildade, reconhecendo que ainda não conhecem a plena verdade desse

ser. É bom saberem que o compromisso com a Verdade implica, também, em

admitir “não saber”, quando realmente não se sabe. Infelizmente, a grande maioria

dos seres humanos ainda não despertou para “saber que não sabe o que imagina

saber”. Concordam? 

Os três irmãos concordaram, sem levantar nova questão.

O Patriarca aproveitou a oportunidade para fazer a advertência que desejava

desde o início:

P — Vocês dizem que concordam, mas, infelizmente, ainda não perceberam queestão agindo assim com a minha criação. Fundamentados no conhecimento

parcial da Verdade, ignoram a missão ou sentido que eu atribuí aos seres da

minha criação. Por acaso, vocês sabem qual é a missão ou real sentido da

existência do Sol, da Lua, da Terra, da flor, do solo e do próprio ser humano?

HSG — Não sabemos.

P — Não sabem, mas não conseguem cultivar a prudência e a humildade para

consultar quem sabe, não é?

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Hélio aproveitou a ocasião para tirar uma dúvida que o incomodava desde que

o Patriarca afirmou existirem três realidades básicas na constituição de qualquer

ser da sua criação. De modo direto, perguntou:

H — Qual é a origem das realidades invisível, perceptível e visível? E por que elas,

na ordem natural da Verdade  ─  ONV  ─, se projetam, respectivamente, na missão do

ser, nas funções do ser e na forma do ser?

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Origem das Realidades

O Patriarca, diante da inusitada pergunta de Hélio, pediu ao seu secretário que

trouxesse o quadro que estava afixado na parede do salão onde ele reunia,

regularmente, os responsáveis pela preservação do seu patrimônio. Ao trazer o

referido quadro, conforme a solicitação do Patriarca, seu secretário, em atitude de

reverência, colocou-o em um cavalete para que todos pudessem apreciá-lo.

Em seguida, o Patriarca perguntou:

P —   Vocês conhecem este quadro, com o ideograma correspondente à palavra

“SU ”? 

Ao admitir que os três já conheciam o referido quadro, Geórgia destacou-o como

obra de arte de rara técnica e beleza, elaborada por quem dominava a arte da

caligrafia oriental.

Contente com a lembrança dos irmãos, especialmente com a sensibilidade de

Geórgia, o Patriarca perguntou:

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P — Vocês sabem qual é o significado da palavra “SU”, representada pelo ideograma

?

H ─  A maioria dos dicionários orientais atribuem ao referido ideograma o significado

de “senhor”, “soberano”, “proprietário”, “dono”.

Seleno, por sua vez, procurou satisfazer a curiosidade:

S — A pergunta do Hélio sobre a origem das realidades invisível, perceptível e visível

tem relação direta com o ideograma da palavra “SU”? 

Após responder que sim, o Patriarca perguntou aos irmãos:

P — Existe uma ordem na formação do ideograma ?

Geórgia, especialista em caligrafia oriental, respondeu:

G — Sim, existe uma ordem que deve ser respeitada. São necessários cinco traços

para a sua completa formação.

E imediatamente, utilizando-se de uma folha de papel, Geórgia projetou o primeiro

traço do referido ideograma.

G ─   Em seguida, projeta-se o segundo traço, correspondente à primeira linhahorizontal.

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G ─  Logo após, o terceiro traço, partindo da primeira linha horizontal, correspondente

à única linha vertical, longa.

G ─  Em seguida, o quarto traço, correspondente à segunda linha horizontal.

Finalmente, o quinto traço, correspondente à terceira linha horizontal.

O Patriarca, concordando com a ordem de formação do referido ideograma,

perguntou aos irmãos:

P — Vocês conhecem o real significado desta ordem na composição do ideograma

?

Após eles acenarem que não conheciam, o Patriarca perguntou:

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P — Querem saber o significado dessa ordem?

HSG — É claro! — responderam os irmãos.

O Patriarca, utilizando-se do mesmo ideograma apresentado por Geórgia, pediu aela que fosse nomeando cada um dos cinco traços, à medida que ele ia explicando

sobre o seu profundo significado.

Em seguida, fez as seguintes revelações:

P — O ideograma tem sua origem em um traço peculiar, não é? Sabem o que

representa esse traço peculiar?

Após manifestarem que não sabiam, o Patriarca, adotando uma atitude serena,

revelou:

P — Esse traço peculiar sou eu! Em síntese, eu sou a origem de tudo!

Ainda surpresa com a referida revelação, Geórgia nomeou o referido traço com a

palavra: Patriarca

Em seguida, o Patriarca revelou o significado da primeira linha horizontal, abaixo do

traço inicial.

P —  A projeção da primeira linha horizontal, abaixo do traço inicial, ligeiramente

inclinado para a esquerda, revela a projeção da minha peculiar essência no espaço de

dimensão divina. É nesta dimensão do espaço, de natureza invisível, que eu dei

origem à vida de todos os seres da minha criação. É dela que todos os seres vivos

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recebem uma partícula divina  — uma alma peculiar à natureza da sua missão —, cujo

interior tem em si mesma o real sentido de sua existência. É a partir desta dimensão

que a minha vontade se manifesta na vida de todos os seres da minha criação.

Geórgia nomeou o segundo traço da letra: dimensão divina.

Na sequência, o Patriarca revelou o significado da única linha vertical, longa,partindo da primeira linha horizontal representativa da dimensão divina:

P — A única linha vertical longa, partindo da dimensão divina, significa a projeção do

tempo nas dimensões do espaço que constitui o Universo, criado por mim. É através

da projeção do tempo no espaço que a minha vontade se manifesta na minha

criação.

Geórgia nomeou a referida linha vertical: tempo.

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Em seguida, o Patriarca revelou o significado da segunda linha horizontal, paralela

e abaixo da primeira:

P — A segunda linha horizontal revela o espaço na sua dimensão espiritual, de

natureza perceptível. Eu criei a dimensão espiritual com o objetivo de tornar perceptível

a manifestação invisível da dimensão divina.

Imediatamente, Geórgia nomeou o referido traço: dimensão espiritual.

Finalmente, o Patriarca revelou o significado da terceira linha horizontal, paralela e

abaixo da segunda, na extremidade da linha vertical.

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P — Eis o último traço do ideograma! A terceira linha horizontal revela o espaço na

sua dimensão material, de natureza visível. Eu criei esta dimensão com o objetivo de

tornar visível o espaço perceptível da dimensão espiritual.Geórgia nomeou o referido traço: dimensão material.

Fez-se uma pausa necessária para que todos observassem a representação do

ideograma com seus traços constitutivos devidamente nomeados por Geórgia. Em

seguida, com indisfarçável emoção, o Patriarca revelou:

P — Eis as representações do tempo e do espaço que constituem o Universo que

eu criei.

Voltando para o Hélio, perguntou:

P —   Essas explicações são suficientes para responder à sua pergunta sobre a

origem das realidades invisível, perceptível e visível?

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H —  Sem dúvida. Ficou claro para mim que o espaço compreendido pelas

dimensões divina, espiritual e material são, respectivamente, a origem das realidades

invisível, perceptível e visível.

Seleno, ao ouvir o Patriarca falar sobre a existência do espaço nas três dimensõesreferidas, perguntou:

S — A ordem entre essas três dimensões determina a existência de uma hierarquia

entre elas?

P — Sim. É com base na ordem da minha criação que se definem as posições

hierárquicas existentes no Universo que eu criei.

Enquanto os irmãos observavam atentamente o ideograma, o Patriarca perguntou:

P — Se tivessem que determinar uma hierarquia entre as três dimensões do espaço

que eu criei, atribuindo-lhes a condição de posição superior, posição intermediária e

posição inferior, como representariam essa hierarquia no referido ideograma?

Geórgia, após breve consulta aos irmãos, colocou na ilustração do ideograma oconsenso entre eles: a dimensão divina e invisível como posição superior, a dimensão

espiritual e perceptível como posição intermediária, e a dimensão material e visível

como posição inferior.

Contente com a representação do tempo, do espaço (em três dimensões

peculiares) e das posições (em três níveis básicos), na constituição da palavra SU, o

Patriarca explicou que um dos objetivos do ideograma é mostrar a sua peculiar

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natureza. E, a partir daí, demonstrar que ele é origem de tudo, tornando claro que

tudo existe a partir dele, nada existindo fora dele.

Ao ouvir isso, Geórgia perguntou ao Patriarca se o mapa em forma de

“Grande Cone”, também estaria dentro do ideograma da palavra “SU”. 

P ─  Por que não experimenta colocá-lo dentro do ideograma ?

Imediatamente, Geórgia projetou a figura do “  Grande Cone”  dentro do referido

ideograma:

Geórgia, sem conseguir ocultar seu entusiasmo com a nova ilustração, onde o

“Grande Cone” se encaixou adequadamente dentro do ideograma , comentou:

G — Esta nova ilustração do ideograma, ao incorporar o “Grande Cone”, revela que,

realmente, tudo existe submetido ao seu comando, na condição de “Soberano”,

“senhor”, “proprietário”, “dono” de toda a criação. 

Hélio, por sua vez, comentou:

H —  Olhando de cima para baixo, percebe-se que a dimensão divina, como um eixo

central, se manifesta na dimensão espiritual e se materializa na dimensão material,

na Terra.

S — Por que essas três dimensões do espaço existem simultaneamente na Terra?

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P —  Porque eu criei a Terra para materializar as posições da dimensão espiritual.

Como eu já expliquei, se eu tivesse criado somente a dimensão divina, toda realidade

seria invisível. Para tornar perceptível a realidade invisível é que eu criei a dimensão

espiritual. E para tornar visível as realidades perceptível e invisível é que eu criei a

dimensão material. É bom saberem que todas as formas visíveis da minha criação,tem por trás funções perceptíveis e missão invisível. Em toda minha criação estão

presentes as realidades das três dimensões do espaço. Observem esta lustração do

ideograma :

Após observar a referida ilustração, Geórgia comentou:

G ─  Realmente, sem o tempo não existiria o espaço, nas três dimensões, nem assuas respectivas realidades invisível, perceptível e visível. Esta ilustração revela

claramente que o tempo, como manifestação da sua vontade, tem origem na

dimensão divina, de natureza invisível, projeta-se na dimensão espiritual, de natureza

perceptível e se materializa na dimensão material, de natureza visível.

Após os comentários de Geórgia, o Patriarca revelou:

P— Na realidade, eu sou o próprio tempo, projetado nas diversas posições do

espaço que eu criei, nas posições que constituem uma hierarquia natural na minha

criação. Por isso, sou a autêntica manifestação da onipotência, onisciência e

onipresença.

Geórgia, fascinada com o que estava ouvindo, pediu ao Patriarca que ele

explicasse o real significado de ser onipotente, onisciente e onipresente.

O Patriarca, de modo resumido, explicou:

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P ─  Sou onipotente porque tenho poder absoluto e supremo sobre todas as coisas.

Sou onisciente porque tenho conhecimento absoluto e supremo sobre tudo. Sou

onipresente, porque estou presente simultaneamente em todos os lugares, no mesmo

instante. E isso é possível porque todos os seres da minha criação foram dotados deuma partícula divina, de natureza invisível, que lhe dá vida e constitui sua razão de

existir. Como a vida é um fenômeno, de natureza divina, criada por mim, é natural

que eu esteja presente em todos os seres vivos da minha criação. Isso me confere a

condição de estar, simultaneamente, fora e, também, dentro de cada ser vivo.

O Patriarca concluiu sua explicação, dizendo:

P ─  Quando a autêntica educação espiritualista for adotada na vida humana, será

possível compreender que é no compromisso com sua partícula divina (alma) que o

ser humano conquista o seu ideal de felicidade. É pela expansão da alma que o ser

humano se aproxima do paraíso que já existe potencialmente dentro de si.

Felizmente, no cronograma do meu plano de construção do paraíso terrestre, é

chegado o momento da verdade sobre a ordem do tempo ser conhecida.

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Ordem do Tempo

Seleno, sem conseguir conter sua curiosidade, perguntou ao Patriarca:

S —  Com base no ideograma , o senhor disse que o tempo, como

manifestação da sua vontade, se projeta no espaço compreendido pelas

dimensões divina, espiritual e material. Isso significa que, em cada uma dessas

dimensões, o tempo se manifesta de modo diferente?

O Patriarca explicou que, quando o tempo se manifesta nas dimensões do

espaço, o tempo é sempre o mesmo. As dimensões do espaço, onde o tempo

se manifesta é que são diferentes, em conformidade com suas respectivasnaturezas. É por isso que em relação ao tempo existem várias interpretações.

P — A propósito, na dimensão material, na Terra, o que significa o tempo para

vocês?

G — Muitas coisas. Usamos a expressão “tempo” para nos referir ao clima , às

épocas marcantes da história da humanidade, aos períodos de duração dosfenômenos naturais, tais como o movimento de rotação da Terra e o ciclo das

estações do ano. Também, como medida das horas, minutos e segundos, ao

nosso calendário, à descrição do passado, presente e futuro. Enfim, utilizamos a

expressão “tempo” em inúmeras situações do nosso cotidiano. 

O Patriarca, ao ouvir inúmeras colocações atribuídas ao “tempo”, comentou: 

P — Já refletiram sobre o fato de o tempo estar sempre presente na vida de

vocês, e vocês não conseguirem vê-lo nem interferir na ordem do seu curso

natural?

H — Realmente, o tempo é o grande mistério do Universo...

Ao ouvir este comentário de Hélio, o Patriarca fez questão de desmistificar

qualquer interpretação sobre o tempo, afirmando de modo categórico:

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P — O tempo não é o grande mistério do Universo. O único e grande mistério

do Universo sou eu! Todo mistério tem em mim sua origem! Quando se

aproximarem da Verdade do meu pensamento, vocês desvendarão todos os

mistérios.

G —Todos os mistérios?

P — Exatamente. Eu não criei o Universo pronto e acabado. Nem o Universo foi

criado por acaso, como pensam os que ignoram a minha existência. Como já

expliquei, sou onipotente, onisciente e onipresente. Como arquiteto do Universo,

projetei e venho respeitando fielmente as fases evolutivas do meu plano de

construção de um paraíso na Terra. Elaborei a Verdade da Lei da Natureza com

o objetivo de ordenar, regular e fazer evoluir toda a minha criação. Em síntese,

tudo existe porque o tempo existe. E o tempo, como manifestação da minha

vontade, só existe porque eu existo! É bom saberem que tudo no Universo

obedece à ordem do tempo!

H —  Nunca imaginei que o espaço é constituído pelas dimensões divina,

espiritual e material. E que o tempo se manifesta igualmente nessas dimensões,

mantendo sua natureza invisível nos fenômenos perceptíveis e visíveis, nadimensão material

.

S —  Para mim, o mais surpreendente de tudo é saber que o tempo, como

manifestação da sua vontade, ao se projetar no espaço, determina a ordem

natural da Verdade, estabelecendo, como consequência, uma hierarquia natural

na sua criação.

G ─  O que mais me chamou a atenção foi saber que o ser humano existe no

tempo e no espaço em uma determinada posição da dimensão espiritual,

podendo subir ou descer de posição. Essa revelação embora tenha me trazido

muitas respostas, também me trouxe muitos questionamentos, que eu pretendo

esclarecer com o senhor, oportunamente.

Contente com os comentários dos três irmãos, o Patriarca revelou:

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P —  Na dimensão divina, o tempo é invisível. Na dimensão espiritual, a

manifestação do tempo é percebida de acordo com o nível das posições superior,

intermediária e inferior. Na dimensão material, a manifestação do tempo é medida

pelo período de duração dos fenômenos.

S ─  Como é possível perceber a manifestação do tempo, na dimensão divina?

Em tom bem humorado, o Patriarca respondeu:

P —  Uma das hipóteses é conversando comigo, como estão fazendo agora. Não

acham?

H —  Sem dúvida. Mas, essa é uma hipótese inacessível à maioria. Além dessa

hipótese, existe outra?

P —  Sim. Ela existe acessível aos que conhecem o que é a Verdade.

P —  Como assim?

P —   Sendo o tempo a manifestação da minha vontade, percebe-se a suamanifestação, na dimensão divina quando se conhece e respeita o modelo da

ordem natural da Verdade. É com base na Verdade que a minha vontade se

manifesta na missão divina existente na forma material de todo ser vivo.

S ─   E na dimensão espiritual? Como é possível perceber a manifestação do

tempo nesta dimensão?

O Patriarca respondeu que, próximo da posição superior da dimensão

espiritual, predomina a freqüência de felicidade e alegria. Ao contrário, próximo

da posição inferior, predomina a frequência de infelicidade e tristeza. Explicou,

baseado nessa evidência, que na dimensão espiritual a duração do tempo é

medida pela sensação de alegria ou de tristeza. E buscou exemplificar:

P ─  Uma hora de grande alegria causa a sensação de que o tempo passa bem

rápido, não é? Por outro lado, uma hora de grande sofrimento causa a sensação

de que o tempo custa muito a passar, parecendo uma eternidade, não é assim?

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Após manifestar sua concordância com a explicação do Patriarca sobre a

manifestação do tempo na dimensão espiritual, Hélio perguntou:

H —  E na dimensão material, como é possível perceber a manifestação dotempo?

Antes que o Patriarca respondesse, Geórgia se antecipou, dizendo que,

recentemente, ao contemplar seu álbum de fotografias, percebeu a manifestação

do tempo em sua vida. E, em tom bem humorado, comentou:

G —  Pude perceber a ação do tempo em minha infância, em minha

adolescência e em minha maturidade. Realmente, na contemplação das fotos, o

tempo mostrou-se mais do que perceptível para mim; o tempo revelou-se bem

visível... Ele  mostrou-me nitidamente o que fui no passado e o que sou no

presente. Pelas evidências da manifestação e materialização do tempo em minha

vida, posso imaginar o que serei no futuro...

Após ouvir os comentários bem humorados de Geórgia sobre a materialização

do tempo como passado, presente e futuro, o Patriarca afirmou:

P —  É natural  que na dimensão material, o tempo, como duração dos

fenômenos, seja interpretado por vocês como passado, presente e futuro.

Todavia, na verdade, o tempo como manifestação da minha vontade só existe no

presente!

Diante da inusitada afirmação do Patriarca, os irmãos entreolharam-se. Seleno

antecipou-se na pergunta que todos queriam fazer:

S — O senhor está querendo dizer que a noção de passado, de presente e de

futuro só existe na dimensão material?

 — Exatamente. O período de duração do fenômeno de um dia, por exemplo, é

a manifestação do ciclo de rotação da Terra, não é?

S — Sim. É o período de rotação da Terra em torno do seu eixo, alternando o

dia e a noite.

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O Patriarca comentou que, se eles observassem atentamente o fenômeno do

ciclo regular de um dia, perceberiam que seu curso natural se renova

permanentemente, obedecendo a ordem do tempo. Com base nesse raciocínio, ele

perguntou aos irmãos:

P —  Como chegaram à conclusão de que um dia corresponde a um período

aproximado de vinte e quatro horas?

S — Observando o período de duração dos fenômenos que promovem a alternância

entre o dia e a noite, com base no movimento de rotação da Terra.

P —  E como chegaram à conclusão de que uma semana corresponde a

aproximadamente sete dias; um mês, a aproximadamente trinta dias; um ano, a

aproximadamente trezentos e sessenta e cinco dias; um século, a aproximadamente

cem anos; um milênio, a aproximadamente mil anos?

G —  Por simples convenção humana, com base na observação do período de

duração dos fenômenos da Natureza.

P — Dê um exemplo de um desses fenômenos da Natureza.

S ─ Os fenômenos das estações do ano, que se renovam anualmente na mesma

ordem: primavera, verão, outono e inverno.

Diante da colocação de Seleno, o Patriarca revelou que a Natureza, como um todo,

evolui em ciclos menores e maiores, partindo sempre de um modelo menor. Citou asemana, o mês, o ano, o século e o milênio como ciclos maiores, correspondentes ao

modelo de um ciclo menor de um único dia.

P — É com base nesses ciclos  ─  menores e maiores  ─   que os seres humanos

registram os períodos de duração dos fenômenos que promovem transformações

significativas no curso da sua história.

Hélio interrompeu a explicação do Patriarca para perguntar:

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H — Se tudo segue uma ordem natural da Verdade, e essa ordem é determinada

pelo tempo, como manifestação da sua vontade, isso significa que a dimensão

material, na Terra, sempre estará subordinada à dimensão espiritual? E que esta, por

sua vez, sempre estará subordinada à dimensão divina?

P —  Exatamente. E isso, também, em razão da ordem do tempo!

Em seguida, o Patriarca destacou que o tempo, como manifestação da sua

vontade, é sempre presente na vida do Universo. E que tal evidência revelava que o

tempo não foi nem será; simplesmente o tempo é!

S —  Como assim?

P —   Quando vocês estão no período da manhã, no período da tarde ou no

período da noite de um determinado dia, sempre estão no tempo presente, embora,

pela convenção humana, na dimensão material, vocês considerem o percurso do

tempo como “passado”, “presente” e “futuro”. 

Hélio, mostrando-se um pouco confuso, pediu ao Patriarca que ilustrasse melhor

seu raciocínio sobre o tempo, como uma realidade sempre presente.

P —   Com base na convenção que criaram em relação ao tempo, na dimensão

material, vocês dizem que um agricultor planta no presente para colher no futuro, não

é? Mas, na época da colheita, vocês costumam dizer que o agricultor está colhendo

no presente o que plantou no passado, não é assim?

Diante da concordância dos três irmãos, o Patriarca comentou:

P —   Vocês dizem isso porque ainda não perceberam que tudo acontece no

presente. Que só é possível plantar e colher no presente. Alguém consegue plantar no

passado e colher no futuro? Ou só consegue plantar no presente e colher no

presente?

G —  Na prática, o que representa para o senhor, o que para nós é passado e

futuro?

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P —   Representa o que vocês, também, já admitem como tempo verbal: o passado

como passado do presente e o futuro como futuro do presente. Na realidade, o

passado nada mais é do que a memória do presente; o futuro nada mais é do que o

presente em seu curso natural.

Hélio, convencido pelos argumentos do Patriarca, perguntou:

H — O que o senhor deseja que aprendamos com o raciocínio de que o tempo só

existe no presente?

Geórgia aproveitou a oportunidade para comentar que muitas pessoas, atualmente,

 já defendem a tese de que o tempo só existe no presente. Os que defendem essa

tese, de modo superficial, buscam aproveitar ao máximo o tempo de vida que lhes

resta na Terra, já que não acreditam na existência da vida após a morte.

Ao ouvir esse comentário, o Patriarca perguntou aos irmãos:

P — Sabem por que essas pessoas, mencionadas por Geórgia, pensam e agem de

modo superficial?

Diante da indecisão dos irmãos, o Patriarca explicou que elas pensam e agem

assim porque não acreditam na existência da dimensão espiritual e, menos ainda, na

existência da dimensão divina, acreditando que a manifestação do tempo ocorre

somente na dimensão material, e que a vida termina com a morte física. Em seguida,

devolveu aos irmãos a pergunta que Hélio lhe fizera:

P —  Vocês sabem por que eu insisto que aprendam que o tempo é semprepresente?

Após os três irmãos reconhecerem que não sabiam, exatamente, o Patriarca fez

uma breve e oportuna pausa. E, em tom de voz emocionado, revelou:

P — Quero que aprendam que a vida é eterna! E, também, que o tempo, como

manifestação da minha vontade, encontra-se, potencialmente, na vida da minha

criação! Sem o tempo cessa a vida cessa também, não é?

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Fez-se outra pausa, suficiente para que os três irmãos refletissem sobre a

eternidade da vida.

Em seguida, Hélio admitiu que, simplesmente por obediência, vivia repetindo a

advertência do Patriarca: “Sejam sempre seres do presente”, sem nunca ter buscadoaprofundar no seu real significado.

H — Confesso que, até agora, interpretei essa advertência somente no sentido de

estar atualizado com os progressos do nosso mundo material. Nunca havia imaginado

que estar atualizado com o presente significa, principalmente, estar atualizado com o

tempo, ou melhor, estar atualizado com a dinâmica manifestação do pensamento do

Patriarca.

Contente com a espontânea manifestação de Hélio, o Patriarca explicou que a vida

não está limitada à sua manifestação na dimensão material, onde o ciclo dos

fenômenos se materializa e desmaterializa, no permanente processo evolutivo da sua

criação, fundamentado na Verdade da Lei da Natureza, que, em síntese, é a Lei do

Universo.

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Verdade da Lei da Natureza

H ─   Qual é a Verdade da Lei da Natureza?

Retirando da pasta o modelo da ONV, o Patriarca respondeu:

P ─  Observem esta ilustração:

Em seguida, destacou, com certo entusiasmo:

P — Eis a Verdade da Lei da Natureza! Sua missão é garantir a ordem e a

grande harmonia do Universo. Suas funções são promover a sobrevivência, o

funcionamento e a evolução de todos os seres vivos da minha criação. Suas

formas, em constante evolução, estão adequadas ao princípio universal da

precedência da realidade invisível sobre a realidade visível.

De repente, o Patriarca parou de falar com o entusiasmo inicial, demonstrando

certo desconforto.

Os três irmãos logo descobriram o motivo, quando ele retomou a palavra:

P —  Infelizmente, por ignorar o meu plano para a humanidade, o ser humano

continua resistindo à Verdade e infringindo as leis naturais que jamais deveriam

ser desrespeitadas.

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S — Por que o senhor, na condição de criador da vida, não criou leis rigorosas

para impedir a impunidade, no caso de infração?

P — Do tipo que vocês criaram na dimensão material, na Terra?

S — Infelizmente, as nossas leis não conseguem evitar a impunidade. O ideal é

que existissem leis mais perfeitas e rigorosas que as nossas.

P — Vocês dizem isso porque desconhecem a perfeição e a rigorosidade da Lei

da Natureza, em ação no Universo.

O Patriarca explicou que a Lei da Natureza é, sem dúvida, muito mais rigorosa

do que eles imaginam. Acrescentou que, se de um lado é possível burlar as leis

humanas e ficar impune, de outro lado, essa impunidade não existe em relação

à Lei da Natureza. E deixou claro ser impossível burlar as leis que ele criou sem

sofrer as devidas penalidades, nos casos de infração.

P — Observem, nesta ilustração, como atua a Lei da Natureza, no caso de

infração dos princípios fundamentais da Verdade.

Após eles observarem a referida ilustração, o Patriarca explicou:

P — Quando o ser humano, por vontade ou ignorância, desrespeita as leis da

Natureza, seu espírito, sempre posicionado na dimensão espiritual, desce de

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posição. Isso acontece porque, qualquer infração às leis naturais, produz,

imediatamente, nuvens ou máculas no corpo espiritual do infrator.

Para ilustrar a explicação, ele apontou a referida ilustração:

P —  Observem como a densidade das nuvens ou máculas acumuladas noespírito humano funciona como peso, fazendo com que ele fique pesado e desça,

gradualmente, de posição. À medida que seu espírito vai descendo de posição,

na dimensão espiritual, o infrator vai reduzindo sua permissão de viver numa

frequência de harmonia e felicidade, ainda que consiga se manter em elevada

posição social, na Terra.

O Patriarca acrescentou, ainda, ser possível fugir das sanções impostas pelas

leis humanas, mas ser impossível livrar-se das sanções impostas pela Lei da

Natureza, criadas por ele. Em tom determinado, afirmou:

P — Não existe impunidade perante a Lei da Natureza! Todavia, o espírito da

Lei não é punir o ser humano, e sim promover a autêntica justiça.

S ─  E o que é a autêntica justiça?

P ─  É a justiça que resulta do princípio universal da precedência da realidade

invisível sobre a realidade visível. Quando adquirirem uma formação educacional

baseada na Verdade compreenderão que a Lei da Natureza é o Grande

Ordenamento Jurídico que promove a autêntica justiça na vida de todos os seres

vivos da minha criação.

H — O ideal é que as nossas leis também se fundamentem no modelo daVerdade da Lei da Natureza?

P —  Sim. Respeitar a Lei da Natureza é simplesmente uma questão de

sabedoria e bom senso. A propósito, na hierarquia das leis criadas por vocês,

qual é a lei principal?

S — A principal lei de cada país é a Constituição.

P ─  Todos que se encontram submetidos à lei, conhecem a Constituição?

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S ─   Infelizmente, não. Mas, existe um princípio jurídico que não permite a

alegação de desconhecimento da lei para livrar o infrator das penalidades

impostas, em caso de infração.

P ─  Isso significa que todos estão subordinados à lei, ainda que ignorando suaexistência?

S ─  Exatamente.

O Patriarca prosseguiu no seu questionamento:

P —  É permitido criar leis ou procedimentos que desrespeitem os princípios

fundamentais de uma Constituição?

S — Isso não é permitido. Qualquer lei ou regulamento que desrespeite a Cons-

tituição é julgada inconstitucional e considerada nula de pleno direito.

O Patriarca fez uma breve pausa para dizer o que desejava, desde o início:

P — Já é tempo de saberem que a Lei da Natureza é a grande Constituição doUniverso, a Verdade que submete toda a minha criação ao princípio universal da

precedência da realidade invisível sobre a realidade visível. Quaisquer leis ou

regulamentos que desrespeitem o referido princípio universal, que fundamenta a

Lei da Natureza, são julgados sumariamente, por mim, como inconstitucionais e

considerados nulos de pleno direito divino.

Seleno, demonstrando, ainda, certa resistência em submeter tudo ao princípioda precedência da realidade invisível sobre a realidade visível, perguntou:

S  — Os princípios universais que fundamentam outras leis da Natureza, como a

Lei da Ordem e a Lei de Causa e Efeito, também precisam fundamentar-se no

princípio universal da precedência do invisível sobre o visível?

Percebendo a resistência de Seleno, em relação ao referido princípio universal,

o Patriarca perguntou:

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P ─  Você está resistindo, porque prevalece, na Terra, a Lei da Ordem e a Lei

de Causa e Efeito, dentre outras, que não respeitam o modelo da ONV, não é?

Admitindo a inexistência da aplicação do modelo da ONV na formação

educacional da sociedade contemporânea, Seleno perguntou:

S ─ O fato de, ainda, não adotarmos o modelo de raciocínio baseado na ONV, produz,

na prática, que conseqüências? 

P ─  Por que você não experimenta submeter a Lei da Ordem e a Lei de Causa e Efeito.

Geórgia, imediatamente, projetou os dois modelos representativos da Lei da

Ordem e da Lei de Causa e Efeito, sugeridos pelo Patriarca. Ambos,

considerando somente as realidades visível e perceptível, desconsiderando a

realidade invisível.

Inicialmente, ela projetou o modelo da Lei da Ordem, predominante na

sociedade contemporânea, da dimensão material.

Em seguida, ela projetou o modelo da Lei de Causa e Efeito.

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Após uma breve pausa para a observação dos dois modelos, desconsiderando a

realidade invisível, Seleno pediu que Geórgia projetasse as mesmas Leis, desta

vez, considerando a realidade invisível.

Geórgia, prontamente, projetou os dois modelos da ONV, solicitados por Seleno.

Inicialmente, o modelo da Lei da Ordem:

Em seguida, o modelo da Lei de Causa e Efeito.

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Seleno, antecipando-se ao Patriarca, comentou:

S — Realmente, ao submeter a Lei da Ordem e a Lei de Causa e Efeito ao

modelo da ONV, torna-se possível verificar que o raciocínio correto é o que se

fundamenta nela. E o raciocínio incorreto é o que não respeita a verdade doprincípio universal da precedência da realidade invisível sobre a realidade visível.

Na prática, neste caso, não se coloca as coisas na verdadeira ordem, nem se

consegue conhecer a verdadeira causa dos seres.

Hélio, por sua vez, observou:

H — Na prática, pelo raciocínio incorreto, torna-se impossível, no caso dessas

leis, colocar as coisas na verdadeira ordem e, também, conhecer a verdadeira

causa dos seres e coisas.

Geórgia, atenta aos comentários dos irmãos, fez um resumo das duas

ilustrações:

G — Pela ordem do raciocínio incorreto, só é possível saber como o ser se

manifesta através de suas múltiplas funções, não sendo possível conhecer suamissão, ou seja, não é possível conhecer o ser tal qual ele é em sua plena

constituição. Ao contrário, pela ordem do raciocínio correto, é possível conhecer o

ser tal qual ele é em sua essência e plena constituição.

S —  Agora compreendo o significado da sua advertência em relação à

obediência ao princípio universal que dá autenticidade à Verdade da Lei da

Natureza.

G — Através destas ilustrações ficou evidente a limitação dos nossos conceitos

em relação à Lei da Natureza, à Ordem, à Causa e Efeito, e a tantos outros

conceitos importantes para a vida humana.

H —   Por que, sendo o senhor o criador de tudo, não obrigou o ser humano a

obedecer a Lei da Natureza?

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P — Se eu tivesse criado o ser humano com a obrigação de obedecer à Lei da

Natureza, não o teria criado com liberdade e inteligência ilimitadas.

G — Como assim?

P — É pelo exercício da liberdade que o espírito do ser humano sobe ou desce

de posição na dimensão espiritual. E pelo exercício da inteligência é que ele

compreende que, subindo, entra na frequência da harmonia e torna-se feliz, e,

descendo, entra na frequência da desarmonia e torna-se infeliz. Portanto, não sou

eu quem deve obrigá-lo a obedecer à minha vontade, manifestada na Lei da

Natureza. É o exercício responsável da sua inteligência e da sua liberdade que

deve conduzi-lo à obediência voluntária, reconhecendo que a Verdade existe para

promover o bem de toda a criação. Se eu criasse o ser humano com a

obrigação de me obedecer, eu o impediria de exercitar e desenvolver sua

principal e peculiar característica.

G — Qual a principal e peculiar característica do ser humano?

P — A criatividade! É pela criatividade que o ser humano projeta arte em sua

vida! Foi com essa intenção que eu lhe concedi liberdade e inteligência ilimitadas.Se eu tivesse criado o ser humano com a obrigação de me obedecer, eu teria

reduzido sua liberdade e sua inteligência, nivelando-o aos seres dos reinos

mineral, vegetal e animal. Deste modo, o impediria de ser criativo, pois o

exercício da criatividade é incompatível com a obrigação de obedecer. Quem é

obrigado a obedecer não consegue criar, não é?

S —  Obedecer voluntariamente à Verdade do seu pensamento não conduz o serhumano a reduzir e limitar sua própria liberdade, inteligência e criatividade?

P —  Ao contrário. O ser humano amplia ilimitadamente sua liberdade,

inteligência e criatividade quando se aproxima da Verdade do meu pensamento. 

Quando opta por obedecer à Verdade, ele se aproxima do absoluto, eterno e

ilimitado; Ao contrário, quando se afasta da Verdade, ele faz sua opção pelo

relativo, temporário e limitado.

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G — Não existe o risco da liberdade, inteligência e criatividade do se humano

comprometer seu plano de concretizar um paraíso na Terra?

P — Não. O meu plano será concretizado, ainda que alguns seres humanos não

acreditem nele ou conspirem contra ele. Estes é que comprometerão seu destinode viverem no paraíso.

H — Poderia explicar isso melhor?

P — Quando eu digo que o ser humano foi criado com inteligência e liberdade

ilimitadas, simplesmente quero dizer que essa liberdade e inteligência aumentam

ou diminuem proporcionalmente à sua posição na dimensão espiritual. Observem

esta ilustração:

O Patriarca explicou que quando, na dimensão espiritual, o ser humano sobe

de posição, ele amplia, proporcionalmente, seu nível de liberdade, inteligência e

criatividade. Quando, ao contrário, ele desce de posição, reduz,

proporcionalmente, seu nível de liberdade, inteligência e criatividade.

H — Essa é a principal razão que leva um ser humano, que um dia desfrutou

de bom conceito na sociedade, a tornar-se um malfeitor, de um dia para o

outro?

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P — Sim. Isso acontece porque, como eu já expliquei, seu espírito desce de

posição, na dimensão espiritual, pelo peso das nuvens ou máculas espirituais.

Posicionado nas camadas inferiores torna-se inevitável o seu afastamento da

Verdade.

S —  O que acontece quando o espírito do ser humano chega a esse nível?

P — Nessa situação é impossível esperar do ser humano um comportamento

compatível com sua natureza divina. Infelizmente, prevalecerá na sua vida a

manifestação da sua natureza animal. Diante desses casos, não há outra solução

para a sociedade humana senão excluí-lo do convívio social, não é?

H —  O que fazer para evitar ou reduzir o comportamento animal na vida do ser

humano?

P —  Promover uma autêntica educação comprometida com a Verdade. É preciso

conscientizá-lo de que ele é constituído de duas naturezas básicas: a divina e a

animal. E não educá-lo como se ele fosse simplesmente um animal racional. A

partir daí, deve-se estimular o desenvolvimento da sua natureza divina,conscientizando-o que é na expansão da sua alma que ele se aproxima do seu

ideal de felicidade.

É muito triste ver o ser humano optar pelo desenvolvimento da sua natureza

animal, quando ele foi criado para mantê-la sob o domínio da sua natureza

divina. Infelizmente, a maioria dos seres humanos ainda não percebeu que vive

subordinada à Lei da Natureza, ou seja, à Verdade que ordena, regula e

harmoniza a vida de todos os seres da minha criação.

G — Na prática, o que devemos aprender com a Natureza?

P — A respeitarem o modelo da ordem natural da Verdade − ONV!

G−  Neste caso, seria muito bom se tivéssemos acesso à ONV do ser

humano, não é?

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Verdade do Ser Humano

O Patriarca, imediatamente, reabriu sua pasta, retirou dela o modelo básico da

ONV do ser humano e falou, com indisfarçável emoção:

P — Eis a Verdade do ser humano!

Enquanto Helio, Seleno e Geórgia observavam atentamente a ilustração da

Verdade do ser humano, o Patriarca explicou:

P− Basicamente, o ser humano é constituído de alma, corpo espiritual e corpo

material. Sua alma é de natureza divina e invisível; seu corpo espiritual é de

natureza perceptível, e seu corpo material é de natureza visível. Isso significa

que, essencialmente, o ser humano é a sua alma, manifestada no seu corpo

espiritual, em cujo centro encontra-se sua consciência. É o corpo espiritual que

se materializa em um corpo material. Esta é a ordem de constituição da sua

Verdade!

H — Em essência, o ser humano é sua alma?

Com a voz embargada pela emoção, ao relembrar detalhes significativos da

criação do ser humano, o Patriarca respondeu:

P — Sim. De natureza superior, a alma humana é sua partícula divina que o

identifica como principal representante e beneficiário da minha criação. Na alma

humana, encontra-se pronto o protótipo de um mundo ideal de eterna felicidade.

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É importante saberem que, essencialmente, a alma é o que o ser humano é

como essência do espírito, de natureza invisível e eterna. Seu corpo físico ou

material e tudo mais que dele decorre, na dimensão material, é o que o ser

humano tem, de natureza visível e temporária. Portanto, ao priorizar sua alma, o

ser humano, como criatura, encurta a distância com seu criador, aproximando-sedo conhecimento da Verdade de si mesmo e, consequentemente, do seu destino

de eterna felicidade.

H — Que missão o senhor atribuiu ao ser humano?

P — A missão de servir ao meu plano de construção do paraíso terrestre, como

seu principal instrumento e seu maior beneficiário.

G —   Sua missão é servir na construção de um paraíso na Terra?

P — Sim. É importante saberem que a essência desse paraíso já existe latente

dentro da alma humana. Quando o ser humano conhece a verdade da sua plena

constituição e vive identificado com a missão da sua alma, a ação dessa

verdade promove o autêntico bem e projeta o autêntico belo em sua vida, per-

mitindo-lhe viver numa frequência espiritual de autêntica harmonia, evolução earte.

H− O estado natural do ser humano deveria estar comprometido com a sua

verdade?

P — Exatamente. É desse estado natural que ele se encontra afastado, pelo

pensamento materialista que o impede de saber que vive, na Terra,simultaneamente em três dimensões: a divina, a espiritual e a material.

S — É muito difícil, no nível atual da nossa cultura, compreender e aceitar a

existência de uma dimensão divina, de natureza invisível, e de uma dimensão

espiritual, de natureza perceptível, por trás de uma dimensão material, de

natureza visível. Mais difícil ainda é aceitar o fato da dimensão divina ser a

origem da dimensão espiritual, e esta ser a origem da dimensão material.

Portanto, de que modo podemos visualizar sua afirmação de que o ser humano

é espírito materializado?

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P− Observem esta ilustração:

Em seguida, explicou:

P — Quando o ser humano está vivendo na Terra, ele assume sua condição de

espírito materializado. Basicamente, como já expliquei, ele tem em sua

constituição um corpo material, de natureza visível; um corpo espiritual, de

natureza perceptível; e uma alma, de natureza invisível. Quando ele deixa de

viver na dimensão material, em conseqüência do fenômeno morte, seu corpo

espiritual, juntamente com sua alma, retornam à dimensão espiritual. É numa dasposições da dimensão espiritual (superior, intermediária e inferior) que o espírito

do ser humano continua existindo em seu corpo espiritual, de forma etérea.

S — Não há dúvida de que há certa lógica em sua explicação. Contudo, tenho

grande dificuldade de aceitar tudo isso, na prática.

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P− Essa dificuldade é natural para os que têm formação educacional

materialista que só admite o que vê e o que percebe, ignorando a existência do

que não vê. É

 justamente essa dificuldade que os impediu de perceberem, logo que chegaram

aqui, que as formas desta dimensão espiritual são de natureza etérea eperceptível.

Hélio, surpreso com o que estava ouvindo, perguntou:

H —  O senhor está querendo dizer que o lugar onde estamos agora é a

dimensão espiritual?

P — Exatamente. Vocês nasceram e viveram aqui durante algum tempo, não

foi? Depois, foram para a dimensão material, para o local que eu havia

escolhido para concretizar meu grande projeto. O que aconteceu durante aquela

viagem?

H — Nem deu para sentir a viagem. Num determinado momento, nossos corpos

ficaram tão pesados, que a grande maioria dormiu, despertando somente na

chegada. Aliás, perguntamos sobre isso ao chefe dos transportadores, mas ele

não soube nos responder.

P — E na viagem de retorno até aqui, sentiram alguma diferença?

S — Sentimos que nossos corpos ficaram mais leves.

P — Por não terem educação baseada na Verdade, vocês não perceberam umadiferença fundamental entre a realidade deste lugar e a realidade da Terra, onde

vivem. Por isso não interpretaram corretamente o mapa, cujas cópias mandei

entregar a cada um de vocês.

Em seguida, utilizando-se de outra ilustração do mapa, explicou:

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 — Este lado do “Grande Cone”, onde estamos agora, é a posição superior da

dimensão espiritual. Do outro lado, na Terra, é a dimensão material. Quando o

espírito sai daqui para habitar a Terra, fica mais pesado, porque se materializa.

Quando vem para cá, o espírito fica mais leve, porque se desmaterializa.

É importante saberem que a dimensão espiritual é o mundo do pensamento.

Por isso, nele é impossível esconder as verdadeiras razões, sentimentos e

vontades, ao contrário do que acontece na Terra, onde o espírito materializado

em um corpo físico encobre a forma etérea do pensamento.

S —  Os transportes que nos conduziram entre a dimensão espiritual e a

dimensão material são dotados de tecnologia especial?

P —  Sim. São transportes dotados de uma tecnologia especialíssima, que

permite materializar e desmaterializar os espíritos que estiverem dentro deles,

quando ultrapassam as fronteiras que dividem as duas dimensões do “Grande

Cone”. Eu utilizo esses transportes somente em casos muito especiais, como

esse que permitiu que estivessem aqui, desmaterializados, embora ainda em

missão, na dimensão material, na Terra.

G — Somente  em casos muito especiais ocorre a materialização e a desma-

terialização do espírito?

P — É claro que não. O fenômeno natural de materialização e desmaterialização

do espírito é comum na vida evolutiva de todo o Universo. O curso natural de

materialização do espírito humano, por exemplo, passa pelo processo de

concepção e gestação que vocês já conhecem na Terra, pela experiência do

nascimento de um ser vivo. Quanto à desmaterialização do espírito, ela ocorre,normalmente, com o fenômeno conhecido por vocês como a morte de um ser

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vivo. Esse ciclo de materialização e desmaterialização é o ciclo natural de

evolução do espírito, que alterna a vida entre a dimensão espiritual e a dimensão

material.

G —  Por que não notamos a diferença entre a dimensão espiritual e adimensão material logo que chegamos aqui?

P —  Porque a autêntica visão é espiritual. É com esta visão que vocês

enxergam, ainda que desmaterializados. O que vocês ainda não têm é educação

espiritualista para compreender e perceber essa evidência. A autêntica visão é

parte integrante do corpo espiritual, de forma etérea. Esse corpo espiritual, para

viver materializado na Terra, necessita de uma forma física. No caso da visão,

na dimensão material, os olhos são a forma física adequada à visão do espírito

materializado. Quanto ao espírito desmaterializado, basta-lhe a sua forma etérea,

de natureza espiritual.

G — Não consigo entender bem a relação entre a vida na dimensão espiritual e

a vida na dimensão material.

P —  Basta saberem que a essência da vida é de natureza divina e invisível,manifestada no espírito, de natureza espiritual e perceptível. É a partir da vida,

de natureza espiritual que se materializa a vida em um corpo físico, de natureza

material e visível.

G —  Por favor, explique mais sobre a essência da vida.

P —   Na dimensão espiritual é possível existir vida no espírito sem matéria,mas, na dimensão material é impossível existir vida na matéria sem a presença

do espírito que lhe dá origem e a mantém. Existe vida, na dimensão material

quando o espírito de qualquer ser, criado por mim, se materializa. Ocorre o

fenômeno morte, na dimensão material, quando o espírito se separa da matéria e

retorna à dimensão espiritual, que é seu mundo de origem. Essa evidência

demonstra a ordem da Verdade que existe entre o espírito e a matéria na

constituição do “Grande Cone”. É graças à ordem que existe entre a dimensão

espiritual e a dimensão material que se manifesta a grande harmonia do

Universo. E, como já foi dito, sem harmonia não é possível haver evolução.

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H ─  Por favor, fale mais sobre a grande harmonia.

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Grande Harmonia

P — O Universo, em seu processo evolutivo, está em constante movimento. O

objetivo desse movimento não se limita a promover a sobrevivência e o funcio-

namento dos seres da minha criação. Ele objetiva, principalmente, sua constante

e ilimitada evolução. Na realidade, enquanto o ser humano ignorar a minha

existência, o meu plano para a humanidade e a Lei da Natureza, será impossível

compreender a grande harmonia que existe no Universo.

G — O senhor diz que no Universo prevalece uma grande harmonia. Mas, o

fenômeno “morte” não constitui a maior das desarmonias?

P — Na limitada visão materialista, a morte física pode parecer uma grande de-

sarmonia, mas, na minha concepção, esse fenômeno natural, aparentemente

desarmônico, é parte da grande harmonia que promove a contínua e ilimitada

evolução espiritual e material dos seres vivos da minha criação. É importante o

ser humano preservar a vida na sua forma física, mas é fundamental saber que,

no percurso evolutivo da sua alma, a forma física cumpre uma missão tem-porária, renovando-se periodicamente.

G —  Como assim?

P —  Observem a Natureza. É pelo ciclo regular das estações do ano que as

formas físicas do reino vegetal se renovam, não é?

Diante da concordância dos irmãos, o Patriarca continuou:

P ─  Com base nessa evidência, será que a renovação periódica da forma física

do ser humano e dos demais seres vivos da criação, denominada “morte”, é

realmente uma grande desarmonia? Ou essa renovação periódica não passa de

uma aparente desarmonia no contexto da grande harmonia?

S — O princípio da grande harmonia sempre sinaliza que o homem deve buscara harmonia por trás da “desarmonia aparente”?

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P —  Sim. Não existe desarmonia na Natureza! O Universo encontra-se em

perfeita harmonia!

A aparente desarmonia observada na Natureza é simplesmente uma

questão de ponto de vista de quem desconhece o princípio da grande harmonia.

H — Por favor, dê um exemplo da grande harmonia no cotidiano da vida da

Natureza.

P — Como eu já disse, o movimento do Universo é constante. Esse movimento

cria impurezas que precisam ser frequentemente purificadas e eliminadas do

corpo espiritual e do corpo material dos seres vivos. Por isso, a ação natural do

fogo queima essas impurezas, que são lavadas pela ação natural da água; em

seguida, a ação natural do vento as espalha, incorporando-as à terra, totalmente

purificadas e renovadas. Considerar somente como harmonia a ausência do

processo purificador de impurezas, interpretado pelo senso comum como

desarmonia, é desconsiderar a necessidade de purificação dos seres vivos.

Quando vocês compreenderem isso, entenderão que o ser humano só desce de

posição na dimensão espiritual porque, ao acumular impurezas no seu espírito,

ele não permite que elas sejam eliminadas pelos processos naturais depurificação a que estão submetidos pela Lei da Natureza.

S —   Evitar o processo de purificação é uma ação contrária à harmonia da

Natureza?

P —  Evitar e impedir o processo de purificação, interpretado equivocadamente

como desarmonia, é conspirar contra o retorno da harmonia original, optando-sepelo ciclo vicioso da desarmonia.  Essa atitude contribui para manter e até

aumentar a quantidade de impurezas que deveriam ser purificadas e eliminadas

do corpo espiritual e do corpo material do ser humano.

S —  Se o processo de purificação, interpretado por nós como desarmonia,

existe, principalmente, para restabelecer a harmonia original, o fato de

impedirmos esse processo significa transformar a “transitória desarmonia” em

“permanente desarmonia? 

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P — Exatamente. Quando o ser humano, por ignorância ou vontade, se afasta

dos princípios purificadores da Natureza, ele cria e mantém o ciclo vicioso da

desarmonia em sua vida. Por isso eu costumo dizer que o ser humano sofre e

desarmoniza sua vida porque vive afastado da Verdade da Natureza; e, por

continuar afastado, não consegue retornar ao seu estado original de harmonia.

H —   Explique mais sobre a necessidade do processo de purificação na

Natureza.

P —   Baseado na Lei da Purificação, existe a necessidade da Natureza se

submeter, regularmente, aos fenômenos de calor, de frio, de vento, de chuva e

de tantos outros necessários à sua autorregulação e harmonização. Todavia, sem

conhecer essa necessidade, normatizada pela Lei da Natureza, o ser humano

vem interferindo no seu ciclo virtuoso. Como consequência dessa interferência

indevida, ele vem criando e mantendo o ciclo vicioso da desarmonia. A partir

daí, a Natureza reage em legítima defesa da harmonia. O que deveria ser um

processo normal de purificação, um vento normal, uma chuva normal, transforma-

se num processo purificador cada vez mais forte, em formas de furações,

tornados, tempestades, terremotos, maremotos e outros que, infelizmente,

provocam calamidades..

H — O conhecimento da Verdade me deixa um pouco receoso de cometer erros

e gerar impurezas, já que nem sempre conseguimos evitar a prática de ações

antinaturais. Como proceder diante dessa situação?

P —  Jamais tenham receio de errar ou de criar impurezas no caminho da

evolução. Basta que coexistam regularmente com os processos naturais depurificação. Os processos de purificação, aparentemente desarmônicos, sempre

corrigem os desvios do caminho da Verdade, e recolocam o ser humano no

caminho da harmonia e da evolução.

G — Dentro da ótica da grande harmonia, os nossos conceito de “desarmonia” se

revelam muito limitados. A lógica das suas explicações mostra que estamos muito

distantes da verdade do seu pensamento, não é?

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P — Se realmente estivessem muito distantes, não estariam aqui reconhecendo

essa distância! Esse reconhecimento demonstra que já começaram a perceber a

diferença entre o pensamento correto, da educação espiritualista, e o pensamento

incorreto, da educação materialista.

S —  Como é possível  obter a qualificação para distinguir, com certeza, se um

pensamento é espiritualista ou é materialista?

P —  Basta que se comprometam  com a formação de uma educação integral,

comprometida em conhecer a verdade de um ser na sua totalidade. E isso só é

possível se tiverem a determinação de conhecer o que é a Verdade como conceito

universal. O primeiro e importante passo é não excluir nada da competência da

Verdade.

S— Por que não devemos excluir nada da competência da Verdade?

P— Porque tudo existe dentro da Verdade! Somente uma educação integral, que

não exclua nada da competência da Verdade, é capaz de qualificar o ser humano a

distinguir a educação espiritualista da educação materialista.

G —  Como conseguir essa qualificação?

P —  Comecem submetendo tudo ao modelo universal da ONV.

Motivada pelo desafio de criar uma educação integral, conforme as orientações do

Patriarca, Geórgia utilizou o modelo da ONV para projetar o que para ela

representava a educação materialista.

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Educação Integral

P ─   Observem esta ilustração:

Após uma breve pausa para a observação, Geórgia perguntou ao Patriarca:

G —  Esta representação corresponde à ordem que fundamenta a educação

materialista?

P — Sim. Isso porque, ela busca o conhecimento da Verdade, partindo da forma

para a missão, ou seja, do visível para o invisível, mas permanece no limite da

realidade perceptível das funções.

Em seguida, Geórgia projetou no modelo da ONV o que para ela representava o

modelo da educação espiritualista:

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Ao observar a ilustração representativa da educação espiritualista, o Patriarca se

manifestou:

P —  Esta é a representação da educação que considero “autêntica”.

G —  Por quê?

P —   Porque corresponde à ordem natural da Verdade e permite o ensino de

uma educação integral. Observem esta ilustração:

Após observarem o modelo da educação integral, constituída do modelo

espiritualista (3/3 da Verdade), e do modelo materialista (2/3 da Verdade), Hélio,

Seleno e Geórgia, concluíram que, realmente, tudo existia dentro da Verdade.

S —   Antes, eu achava que “espiritualista” e “materialista” diziam respeito,

respectivamente, à presença ou ausência de religiosidade na atitude humana.

Percebo, agora, que esses dois termos não são exclusividade do âmbito

religioso. Eles pertencem à estrutura do pensamento que se manifesta tanto na

religião como na ciência e na arte. Realmente, tudo fica mais fácil quando seutiliza o modelo da ONV. Jamais imaginei que “espiritualismo” e “materialismo”

existissem e coexistissem dentro da Verdade.

Hélio, por sua vez, admitiu que vinha até hoje lutando contra o materialismo

sem perceber que ele era parte integrante do espiritualismo.

H —  Como fui limitado ao tentar acabar com uma parte importante do

espiritualismo, já que o verdadeiro espiritualismo coexiste com o materialismo

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dentro da Verdade! Na realidade, o espiritualismo que eu vinha defendendo não

era autêntico.

Geórgia, por sua vez, feliz com a revelação que a ilustração da ONV

projetava, comentou:

G — O modelo da ONV, como ferramenta para educar nosso pensamento com

base na Verdade, mostra, em sua utilização regular, sua eficiência e eficácia em

quebrar paradigmas que se rotulam de verdadeiros, mas que, de fato, não são.

Penso que devemos aprofundar as pesquisas na busca da Verdade, a fim de

criarmos um padrão que nos permita saber o que realmente é a Verdade.

O Patriarca elogiou as considerações feitas pelos três irmãos, acrescentando

ser fundamental eles conhecerem o que é a Verdade como conceito universal.

P ─  Quando vocês conhecerem o que é a Verdade saberão que o Universo

encontra-se alicerçado na trilogia Verdade-Belo-Belo. E que tudo tem origem na

Verdade!

Hélio, manifestando uma dúvida antiga, perguntou:

H ─  Até o Mal tem origem na Verdade?

O Patriarca sugeriu:

P —   Experimente utilizar o modelo anterior da ONV, substituindo a palavra

“Espiritualismo” por “Bem” e “Materialismo” por “Mal”.

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Em seguida, em tom de revelação, o Patriarca destacou:

P ─  Eis a origem do Bem e do Mal! Não seria exagero dizer que a origem do

Bem é pensamento espiritualista e a origem do Mal é o pensamento materialista.

E que a origem de ambos, Bem e Mal, é a Verdade!

Desta vez, ao invés de uma breve pausa, fez-se uma pausa mais longa,

suficiente para os irmãos comentarem entre si que só agora estavam

compreendendo as habituais advertências do Patriarca de que tudo existia dentro

da Verdade.

Hélio antecipou-se em seu comentário:

H ─  Esta ilustração mostra nitidamente que o Bem e o Mal existem dentro da

Verdade. Mostra, também, que o Bem é a manifestação da ordem natural da

Verdade, e o Mal é a manifestação contrária à essa ordem natural.

Seleno, por sua vez, comentou:

S ─ 

 Observa-se, nesta ilustração, que quando o Bem se manifesta como açãoda ordem natural da Verdade, o seu curso natural mantém o Mal sob controle e

domínio, ou seja, prevalece o Bem sobre o Mal, como ação da Verdade.

Geórgia, atenta aos comentários dos irmãos, comentou:

G ─   Quando o Bem não é verdadeiro, ou seja, quando ele não respeita a

ordem natural da Verdade, manifesta-se o bem de caráter limitado. Na prática, é

esse bem de caráter limitado, contrário à ordem natural da Verdade, que constitui

o verdadeiro Mal, dentro da Verdade.

O Patriarca, demonstrando satisfação com os oportunos comentários dos

irmãos, declarou:

P ─  Entenderam, agora, quando eu digo que tudo existe dentro da Verdade? E

que somente conhecendo o que é a Verdade torna-se possível distinguir o que éverdadeiro e o que é falso?

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Seleno, estimulado por sua natural curiosidade, perguntou ao Patriarca:

S ─  Quando o senhor diz que tudo existe dentro da Verdade está querendo

dizer que o bem e o mal, o espiritualismo e o materialismo, o verdadeiro e ofalso, é que constituem a Verdade?

P ─   Pelo contrário. Quando eu digo que tudo existe dentro da Verdade não

estou dizendo que o bem e o mal, o espiritualismo e o materialismo, o

verdadeiro e o falso, o positivo e o negativo é que formam a Verdade. Quero,

simplesmente, dizer que a Verdade, em seu curso natural, é que se desdobra

em positivo e negativo, bem e mal, espiritualismo e materialismo, verdadeiro e

falso.

H ─  Como assim? Poderia nos dar um exemplo?

P ─  O que vocês consideram como o oposto da Verdade?

HSG ─  A mentira!

P  ─  Para vocês, a mentira representa o que é verdadeiro ou o que é falso,

dentro da Verdade?

H ─  O que é falso.

P ─  E o que é verdadeiro, dentro da Verdade?

.

Diante da indecisão dos irmãos em responder, o Patriarca explicou que amentira não é o oposto da Verdade. A mentira é simplesmente a pseudoverdade,

ou seja, o desrespeito à ordem natural da Verdade.

P—  Essa evidência revela que não são o verdadeiro e o falso que constituem

a Verdade. Ao contrário, é a Verdade que se desdobra em verdadeiro e falso.

Percebendo a confusão mental que se instalara entre os irmãos, o Patriarcaperguntou:

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P ─   Qual é a ordem do depoimento de alguém que relata os fatos de um

acontecimento, sendo fiel ao que realmente aconteceu?

S —   É a ordem natural da Verdade. Nesse depoimento, seu pensamento,

palavras e ações manifestam o que é verdadeiro, ou seja, não há divergências

entre a realidade invisível do seu pensamento, a realidade perceptível de suas

palavras e a realidade visível das suas ações.

P ─  E qual é a ordem do depoimento de alguém que relata os fatos de um

acontecimento, sendo infiel ao que realmente aconteceu?

S ─   É a ordem contrária à ordem natural da Verdade, estabelecendo

divergências entre seu pensamento, palavras e ações. Geralmente, quem faz um

depoimento falso busca nas palavras e nas ações ocultar a realidade que o seu

pensamento reconhece como verdadeiro.

G— É interessante!

P — O que é interessante?

G — Percebo que quando se trata do que é verdadeiro, o princípio universal da

precedência do invisível sobre o visível é sempre respeitado. Como dentro da

Verdade existe o verdadeiro e o falso, sempre prevalecerá o que é verdadeiro

como ação natural da Verdade, ainda que, temporariamente, o que é falso seja

considerado como ação da Verdade.

Contente com o comentário de Geórgia ao concordar que tudo existe dentro

da Verdade, o Patriarca revelou:

P  ─  No Universo só existe a Verdade! É a ação da Verdade que se manifesta

como Bem e se materializa como Belo! Por isso, eu vivo repetindo que o meu

plano de construção de um paraíso na Terra é um mundo material dotado de

completa Verdade, Bem e Belo. E essa palavra “completa” é uma palavra-chave!

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H ─   Por que o senhor deu destaque à palavra “completa” ao se referir à

Verdade?

P ─   Justamente para chamar a atenção para o fato de que existe a

“incompleta” Verdade. Como “incompleta” Verdade, refiro-me à verdade parcial oupseudoverdade que não contempla a totalidade constituída de dois polos: o positivo e o

negativo.

S ─  Por que existem os pólos positivo e negativo dentro da Verdade?

P ─   Porque existe a evolução da minha criação! Eu criei a Verdade não

somente para promover a sobrevivência e o funcionamento dos seres vivos, mas,

principalmente, para promover a sua ilimitada evolução.

H— Eu pensava que a mentira era o oposto da Verdade. Agora entendo que

a mentira é parte da Verdade, ou seja, é a sua limitação, a sua parte falsa.

Seleno, por sua vez, deu ênfase à evidência de que a ONV constitui uma

importante ferramenta para se chegar a um conceito universal acerca da Verdade

de todas as coisas, principalmente quando submetida ao TEP (tempo-espaço-posição). E concluiu seu raciocínio manifestando um desejo:

S —  Daqui para frente meu objetivo é pesquisar sobre as consequências

práticas do espiritualismo e do materialismo na vida humana, já que ambos,

como revela a ONV, manifestam-se dentro da Verdade.

Contente com as colocações dos três irmãos, o Patriarca destacou a

disposição de Seleno de querer pesquisar as consequências práticas do

espiritualismo e do materialismo na vida humana.

P ─  Pesquisem sobre tudo, mas considerem sempre que tudo existe dentro da

Verdade. Nesse sentido é fundamental que utilizem a ONV (Ordem Natural da

Verdade), submetendo-a sempre ao TEP (Tempo, Espaço, Posição).

G ─  Por que devemos sempre agir assim?

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P ─   Porque o conhecimento da dinâmica Verdade implica em considerar,

basicamente, a sua manifestação nos planos vertical e horizontal.

H ─  De que modo a Verdade se manifesta no plano vertical ( | )?

P ─  Pelo TEP (Tempo-Espaço-Posição), projetado no ideograma .

Seleno, percebendo que a explicação do Patriarca guardava certa semelhança

com a frase de um de seus discípulos, exclamou:

S —   Realmente, “tudo depende da posição do observador no tempo e no

espaço”!  Pela sua explicação, dá para compreender que só é possível enxergara Verdade no limite de cada posição, da dimensão espiritual.

O Patriarca, diante da colocação de Seleno, revelou:

P ─   São as diversas posições do tempo e do espaço que determinam as

inúmeras “verdades relativas”, todas submetidas à posição da “Verdade

Absoluta”! 

S ─   Existe “Verdade Absoluta”?

P ─  Sim, existe. A expressão “Verdade Absoluta” eu a emprego como “Verdade

ilimitada e dinâmica”, por não estar limitada à  nenhuma posição da dimensão

espiritual e representar a minha dinâmica vontade no comando de toda minha

criação. Na realidade, é a partir dela que o tempo se projeta no espaço da

dimensão divina, como manifestação do meu pensamento. Observem estailustração:

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H —  E as “verdades relativas”, como são projetadas, nesta ilustração ?

Imediatamente, o Patriarca projetou as “verdades relativas”, considerando ,

basicamente, as posições superior, intermediária e inferior da dimensão espiritual.

Em seguida, explicou:

P—  São consideradas “verdades relativas” porque manifestam um nível de

conhecimento limitado às posições superior, intermediária e inferior, todas

submetidas à “Verdade Absoluta”.

G— Agora estou compreendendo...

P ─  O que você está compreendendo?

G ─  Eu nunca havia parado para refletir sobre a existência de tantas verdades

relativas. Agora sei que elas existem como resultado da posição de cada um no

tempo e no espaço, da dimensão espiritual. São consideradas “verdadesrelativas” porque são relativas às diversas posições que os nossos espíritos

ocupam do tempo e do espaço. Quando mudamos de posição espiritual, também

muda o nosso pensamento em relação à Verdade.

Contente com os comentários de Geórgia, o Patriarca concluiu:

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P— Exatamente por isso é que existe uma quantidade enorme de “verdades”. O

que não existiu até agora foi um referencial, um padrão universal da Verdade

capaz de avaliar se “determinadas verdades” se aproximam ou se afastam dela.

Após os três irmãos manifestarem concordância sobre a necessidade de se criarum padrão universal da Verdade, o Patriarca perguntou:

P —   Será que agora que já conhecem a linha vertical (TEP) e a linha

horizontal (ONV) da Verdade, conseguem utilizá-las para promover avaliações que

identifiquem se as “verdades relativas”  são de nível superior, intermediário ou

inferior? 

Seleno, buscando mostrar seu entendimento sobre a aplicação das linhas

vertical e horizontal da Verdade, utilizou o ideograma como modelo do TEP

(Tempo, Espaço, Posição) para demonstrar que o modelo da ONV (Ordem

Natural da Verdade: missão, funções e forma) se manifestava em todas as

posições da dimensão espiritual:

Em seguida, contente com a própria obra, onde demonstrou ter projetado

corretamente as linhas vertical e horizontal da Verdade, Seleno quis confirmar com o

Patriarca:

S ─   Não é desse modo que as linhas vertical e horizontal da Verdade se

manifestam?

P ─   Exatamente. Mas, será que é assim que todo observador, em diferentesposições do tempo e do espaço, compreendem a verdade de um ser?

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S ─  Como assim?

O Patriarca buscou clarificar a pergunta:

P ─  Vocês, agora, já sabem que todo ser da minha criação é constituído de missão,

funções e forma. Mas, será que os diversos observadores, nas diversas posições que

se encontram, no tempo e no espaço, consideram a Verdade em sua totalidade,

respeitando o curso da sua ordem natural?

Percebendo que os irmãos demonstravam certa dificuldade de entender o que ele

estava querendo dizer, o Patriarca pediu que observassem a seguinte ilustração:

Após uma breve pausa para que os irmãos observassem a referida ilustração,

o Patriarca comentou:

P —   Eu sempre digo que a hierarquia é o estado natural da Verdade. E queessa hierarquia é a ordem determinada pelo princípio universal da precedência da

realidade invisível sobre a realidade visível, não é?

Percebendo aonde o Patriarca queria chegar, Geórgia se antecipou:

G —   O senhor está querendo dizer que na posição superior, da dimensão

espiritual, percebe-se a ordem da Verdade na sua totalidade, mas o mesmo não

acontece nas posições intermediária e inferior?

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P —  Exatamente. Por isso, no nível superior da dimensão espiritual, eu projetei

a ordem que parte da realidade invisível da missão para a realidade visível da

forma, contemplando a totalidade dos 3/3. Os que atingem esse nível de

compreensão sabem da importância dessa ordem para a conquista da autêntica

harmonia, evolução e arte da minha criação. Por isso, esforçam-se para colocá-laem prática no seu dia-a-dia.

H―E nas demais posições?

P― À medida que se desce de posição, na dimensão espiritual, ocorre o

afastamento gradual da Verdade plena, ou seja, dos 3/3 da Verdade. No nível

intermediário, considera-se somente duas realidades na constituição do ser,

partindo-se da ordem inversa, ou seja, da realidade visível da forma para a

realidade invisível da missão, mantendo-se no nível da realidade perceptível das

funções. Prevalece nessa posição 2/3 da Verdade.

S―E na posição inferior?

P―Nessa posição, da dimensão espiritual, parte-se, também, da ordem inversa,

considerando somente a realidade visível da forma, na constituição do ser,prevalecendo 1/3 da Verdade.

Atenta às explicações do Patriarca sobre as posições que constituem a

dimensão espiritual, Geórgia questionou:

G― Se tudo depende da posição do observador no tempo e no espaço,

significa que o ser humano só poderá ser feliz quando concretizar a Verdade emsua vida?

P —  Exatamente. Sem concretizar a Verdade, em sua plena constituição, o ser

humano não conseguirá priorizar a elevação da sua alma, afastando-se cada vez

mais da posição superior da dimensão espiritual, onde existe ordem, harmonia e

felicidade. É por isso que eu coloquei uma “escada” na dimensão espiritual, a fim

de puxar para cima os que desejam evoluir, pela prática do autêntico

espiritualismo e altruísmo. Quanto mais próximos estiverem da posição superior,

mais próximos da Verdade estarão e, consequentemente, mais felizes serão!

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O Patriarca destacou que mais importante do que conhecer a Verdade, que

ele estava revelando, é o esforço para colocá-la em prática. E concluiu seu

raciocínio com a seguinte advertência:

P ─   Conhecer a Verdade é simplesmente ganhar habilitação para saber que a

“escada” que permite a subida é a mesma “escada” que permite a descida de

posição. Todavia, subir ou descer de posição na dimensão espiritual, já é uma

questão de opção e determinação pessoal.

H —   Isso significa que quando o ser humano conquista a posição superior da

dimensão espiritual, ele também se qualifica a conhecer a “Verdade Absoluta”? 

O Patriarca esclareceu:

P —   É bom saberem que, na hierarquia da Verdade, a “Verdade Absoluta”

corresponde exclusivamente ao dinâmico pensamento do criador de toda a vida.

Esse pensamento, como já foi dito, é ilimitado, correspondendo a vontade do

criador de criar, ordenar, harmonizar e fazer evoluir sua criação. Portanto, o fato

de se atingir o nível da Verdade da posição superior não é condição suficientepara se conhecer a “Verdade Absoluta”. Entretanto, os que se tornam autênticos

espiritualistas e altruístas habilitam-se a conhecer parte do meu pensamento,

porque colocam-se em posição de serem úteis ao desenvolvimento do meu plano

para a humanidade.

E concluiu sua exposição, perguntando aos três irmãos:

P — Não lhes parece óbvio que, sendo a “Verdade Absoluta” a manifestação do

meu pensamento, somente por minha revelação é possível conhecê-la?

H —  O fato de recebermos esta revelação significa que já atingimos a posição

superior da dimensão espiritual?

O Patriarca respondeu:

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P —   Por estarem na posição de servir ao meu plano para a humanidade,

ganharam habilitação para conhecer parte da Verdade do meu pensamento.

Contudo, ainda não conquistaram a qualificação da posição superior. O fato de

conhecerem o que é a Verdade já é um grande passo para essa qualificação,

mas somente a prática da Verdade qualifica o ser humano a conquistar posiçõessuperiores da dimensão espiritual. A “escada da Verdade” revela a existência de

uma hierarquia natural. Ela está colocada para todos, mas, depende do livre-

arbítrio de cada um optar por subir ou descer de posição na dimensão espiritual.

Ao ouvir sobre a existência de uma hierarquia natural, Hélio perguntou:

H — O que significa hierarquia natural?

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Hierarquia Natural

O Patriarca explicou:

P —   Hierarquia natural  é ordem determinada pelo princípio universal da

precedência da realidade invisível sobre a realidade visível, em ação no Universo.

Observem esta ilustração:

Após observar a referida ilustração, Seleno comentou:

S―A hierarquia da sociedade que criamos, na Terra, é igual a esta hierarquia

natural.

O Patriarca, sem ocultar sua surpresa com a afirmação de Seleno, solicitou:

P―Poderia projetá-la aqui.

Seleno projetou a referida ilustração da hierarquia social.

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Em seguida, ele explicou:

S —  Como se pode observar nesta ilustração, a hierarquia da dimensão

material, criada por nós, segue o mesmo padrão da hierarquia da dimensão

espiritual. O que o senhor nomeou como “posição superior”, “posição

intermediária” e “posição inferior”, nós nomeamos, respectivamente, como “classe

alta”, “classe média” e “classe baixa”. 

Percebendo que o Patriarca não estava concordando com a suposta igualdade,

defendida por Seleno, Hélio perguntou:

H — Existe alguma diferença entre a representação da hierarquia da dimensão

espiritual, determinada pelo senhor, e a representação da hierarquia da dimensão

material, determinada por nós?

P —  É claro que existe grande diferença. Na realidade, trata-se de umadiferença essencial, por contrariar a ordem natural da Verdade.

S —  Como assim?

O Patriarca buscou ilustrar sua afirmação dizendo que a hierarquia da dimensão

espiritual, criada por ele, fundamenta-se na ordem da precedência da dimensão

espiritual sobre a dimensão material. Em seguida, pediu que observassem a

seguinte ilustração:

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P —   Esta ilustração revela que prevalecerá sempre no corpo material do serhumano, na dimensão material, a manifestação da posição que seu espírito

estiver ocupando na dimensão espiritual, independentemente de sua posição

social: alta, média ou baixa. E isso ocorre, simplesmente, por uma questão de

ordem natural.

G —  Que ordem natural?

P —  A ordem imutável da Lei da Natureza, baseada no princípio universal da

precedência da realidade invisível sobre a realidade visível. Entretanto, nada

impede que haja correspondência entre o lado da dimensão material e o lado da

dimensão espiritual, conforme a ilustração da hierarquia apresentada por Seleno.

O importante é saberem que essa correspondência nunca é determinada pela

dimensão material, e, sim, pela dimensão espiritual.

S —  Como assim?

P —  Todos os que têm posição superior na dimensão material são autênticos

espiritualistas e altruístas?

G —  Não. Na realidade, poucos são os que têm esse perfil.

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P —  É importante saberem que só conquista posições superiores, na dimensão

espiritual, quem tem o perfil de autêntico espiritualista e altruísta. Esta condição é

inegociável. Deu para entender?

S ─  Poderia esclarecer melhor?

P ─  O princípio universal da precedência do invisível sobre o visível determina

que a posição espiritual precede à posição material. Por isso, eu disse que pode

haver correspondência, ou seja, pode alguém que tenha posição espiritual

superior ocupar posição material superior, mas a reciproca não é verdadeira se

esse alguém não tiver a qualificação de autêntico espiritualista e altruísta. Isso

acontece porque não é simplesmente o poder e a posição social que conferem

qualificação para conquistar posição espiritual superior. Somente quem conquistou

a qualificação de autêntico espiritualista e altruísta tem acesso garantido às

posições superiores da dimensão espiritual.

Geórgia não perdeu a oportunidade para fazer sua crítica à maioria que se

encontra em posições superiores da dimensão material:

G ─   Os exemplos pessoais da maioria que ocupa posições superiores nadimensão material são de puro materialismo e egoísmo. Atualmente, prevalece o

consenso de que sobe mais rápido de posição social quem busca a própria

felicidade à custa da infelicidade de seus semelhantes.

P —   Vivem iludidos os que pensam e agem dessa forma! Ainda não

perceberam a razão de eu ter demarcado somente o lado da dimensão espiritual

do “Grande Cone”. 

H —  Por que o senhor agiu desse modo?

P —  Porque isso corresponde ao princípio universal da precedência do espírito

sobre a matéria. A hierarquia da dimensão material, criada por vocês, ao

contrário da hierarquia que eu criei, fundamenta-se na ordem da precedência da

dimensão material sobre a dimensão espiritual. A propósito, sabem por que eu

não determinei uma hierarquia na dimensão material?

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Diante da indecisão dos irmãos, o Patriarca explicou:

P ─   Agi desse modo porque a hierarquia da dimensão espiritual é a que

prevalece na vida humana determinando-lhe um destino feliz ou infeliz. Como

sempre predomina a hierarquia espiritual sobre a hierarquia material, o ser humanoque deseja ser feliz não deve confiar que a simples posição social superior é

garantia de felicidade. Somente os que consquistam posições superiores na

dimensão espiritual obtêm a permissão de viver numa freqüência de harmonia e

felicidade.

G ─   Explique um pouco mais sobre a influência que a posição espiritual tem

sobre o destino do ser humano.

P — Subir de posição espiritual significa conquistar a permissão de desfrutar da

autêntica riqueza. Sempre prevalecerá na vida humana a hierarquia da dimensão

espiritual sobre a hierarquia da dimensão material. É na dimensão espiritual que

o ser humano projeta o seu destino de felicidade ou de infelicidade,

independentemente de sua posição social.

Hélio, convencido de que a materialização das posições da dimensão espiritualé que determinam o destino dos habitantes da dimensão material, na Terra,

projetou o “Grande Cone” que o Patriarca outrora lhes apresentara:

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H —  Quando o senhor diz que o seu plano é concretizar um paraíso na

dimensão material, significa materializar a posição superior da dimensão espiritual,

na Terra?

P — O meu plano é exatamente esse. De acordo com o cronograma de obras,algumas etapas do plano ainda estão sendo concluídas. Mas, felizmente,

aproxima-se o momento da sua concretização.

Seleno, buscando aprofundar ainda mais seu conhecimento sobre a relação

das posições da dimensão espiritual com o destino do ser humano, perguntou ao

Patriarca:

S — Se as pessoas conquistarem posições superiores na dimensão espiritual,

significa que elas conquistam a permissão de viverem felizes na dimensão

material?

P ─  Exatamente. Observem esta ilustração:

P — O lado da dimensão espiritual é que determina se o nível de permissão do

ser humano é de felicidade ou de infelicidade. Já o lado da dimensão material é

o que corresponde à materialização das posições superior, intermediária e

inferior, da dimensão espiritual. Quando o ser humano vive identificado com a

missão da sua alma de servir à concretização do meu plano, ele amplia,

gradualmente, sua permissão de conquistar um destino de felicidade.

G — Agora começo a compreender a razão que determina o porquê da maioria

dos seres humanos não conseguir desfrutar da permissão de ser feliz.

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P ─  Infelizmente, a permissão de viver com saúde e de adquirir bens materiais,

ao invés de tornar o ser humano grato, desapegado e altruísta, promove

 justamente o contrário. Deslumbrado com a posição social e o poder material que

conquista, muitos tornam-se ingratos, apegados e egoístas, aumentando suasdívidas espirituais, quando poderiam ampliar seus méritos. A grande maioria só

compreende isso quando começa a perder o vigor físico, a inteligência, o dinhei-

ro, a paz e os demais bens colocados à sua disposição.

S —  O senhor está querendo dizer que toda todo ser humano deveria se

comprometer com a concretização do seu plano de construção de um mundo

ideal?

P — Não foi com esse objetivo que vocês saíram daqui para viver na Terra? A

propósito, que missão vocês atribuem ao dinheiro?

S — A missão de materializar o valor das coisas. A história da criação do dinheiro

passou por muitas fases até chegar a ser aceito como padrão de unidade de valor

material. Mas, por que o senhor está perguntando sobre a missão do dinheiro?

P — Porque, conhecendo a missão que vocês atribuem ao dinheiro, dá para

saber o motivo que vem impedindo o ser humano de ser feliz com sua aquisição

e utilização.

H — Que motivo é esse?

P — Quando vocês dizem que o dinheiro existe para materializar o valor dascoisas, colocam esse valor numa base materialista e egoísta.

G — Por favor, explique isso melhor.

O Patriarca esclareceu que, ao ignorar a missão espiritual da matéria, o

homem valoriza apenas a matéria das coisas, e nunca seu espírito. A partir

dessa visão materialista e limitada, o dinheiro, como importante unidade de valor,

direciona-se somente para valorizar a matéria.

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P — É por essa razão que o ser humano sacrifica sua vida espiritual para ganhar

dinheiro; mas jamais admite a hipótese de sacrificar seu dinheiro para ganhar vida,

não é?

S — O que o senhor quer dizer com isso?

P —  Quero dizer que a missão do dinheiro deve se fundamentar no

espiritualismo e no altruísmo. Ele deve ser usado para valorizar a vida humana,

e não para escravizá-la. O ser humano não percebe, mas ele vem perdendo,

gradualmente, a condição de senhor do dinheiro para se transformar em seu

escravo. Atualmente, já não é o ser humano que dirige o destino do dinheiro; é

o dinheiro que dirige o destino do ser humano!

H —  O que o senhor está falando é a pura verdade! Frequentemente, as

oscilações de valor do dinheiro vêm dirigindo o destino da humanidade, na atual

fase de globalização em que se encontra a sociedade mundial.

Seleno, por sua vez, comentou que as frequentes oscilações de valor do

dinheiro estimulam a especulação, beneficiam poucos e sacrificam a vida de

muitos, que acabam vítimas do fracasso e do desespero. Em seguida, perguntouao Patriarca:

S  —  Que atitude deve ter o autêntico espiritualista na sua relação com o

dinheiro?

P — O autêntico espiritualista é aquele que dá valor tanto ao espírito quanto à

matéria. É aquele que sabe, principalmente, estabelecer uma hierarquia de valorentre essas duas dimensões.

S ─  Por favor, explique melhor.

P —   Por saber que o dinheiro é uma unidade de valor que materializa a

permissão de se adquirir de bens materiais, a atititude de um autêntico

espiritualista é antes de tudo agradecer a permissão de recebê-lo. Em seguida, é

utilizá-lo não somente para satisfazer suas necessidades materiais, mas também

para satisfazer suas necessidades de evolução espiritual.

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S ─  Por que, primeiro, deve-se agradecer a permissão de receber o dinheiro?

P —   Porque o autêntico espiritualista sabe que tudo parte da permissão da

vida. E que da permissão de viver é que decorrem as demais permissões.Alguém consegue dar algo que antes já não tenha recebido? Um agricultor, por

exemplo, consegue plantar algo que antes já não tenha colhido? Já perceberam

que, juntamente com o bem da vida, o ser humano recebe vários bens

necessários à sua sobrevivência, funcionamento e evolução?

Após concordar com as colocações do Patriarca, Seleno comentou:

S ─   Agora começo a perceber a importância da gratidão pela permissão de

receber antes, o que eu utilizo depois. Realmente, só é possível dar o que antes

 já se recebeu. Percebo que estou sendo despertado para a importância do

respeito à hierarquia que existe na Natureza como modelo universal.

H- Em tudo existe uma hierarquia natural?

P ─   Sem dúvida. E esta hierarquia é determinada pelas posições superior,intermediária e inferior da dimensão espiritual. A propósito, vocês não perceberam

que existe uma hierarquia natural entre os sentimentos?

G ─  Existe uma hierarquia dos sentimentos?

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Hierarquia dos Sentimentos

O Patriarca, de forma dinâmica, formulou uma série de perguntas, objetivando

conscientizá-los da existência de uma hierarquia dos sentimentos.

P — Por que vocês saíram deste lugar para habitar a Terra?

G — Porque desejávamos viver de acordo com o nosso pensamento, baseado

na nossa concepção de verdade.

P — Como se reaproximaram do meu pensamento?

G — Pela prática da sinceridade.

P —  E o que os impediu de praticar, desde o início, o sentimento de

sinceridade?

G — A prática do sentimento de franqueza.

P — E o que aprenderam, quando eu coloquei no mapa em forma de “Grande

Cone”, que “o segredo de tudo é a sinceridade”? 

G — Que nos afastamos do seu pensamento, pelo sentimento de franqueza, e

somente conseguimos retornar quando colocamos em prática o sentimento de

sinceridade.

P — Diante do que foi exposto, será que devem concluir que a franqueza não é

um sentimento que se encontra dentro da Verdade?

Antes que Geórgia e os irmãos saíssem do estado de dúvida em que

estavam, o Patriarca continuou:

P — Como já expliquei, o primeiro e importante passo para conhecer a Verdadeé não excluir nada da sua competência. O passo seguinte é admitir que se tudo

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existe dentro da Verdade, ou seja, se o maior, o médio e o menor existem numa

determinada categoria, é óbvio que dentro dela exista uma hierarquia natural.

S —   O senhor está querendo dizer que o sentimento de sinceridade e o

sentimento de franqueza existem dentro da Verdade do pensamento, mas entreeles existe uma hierarquia natural?

P ─   Exatamente. Para mim, ambos são importantes como manifestação do

pensamento ligados à Verdade.

S ─   Por que o sentimento de sinceridade é superior ao sentimento de

franqueza?

P ─   Porque ambos, embora se assemelham quando buscam manifestar a

Verdade, partem de posições contrárias.

G ─  O que caracteriza o sentimento de franqueza?

P ─   A franqueza é a qualidade de quem revela o que pensa, expressando,

quase sempre, reprovação, indignação e censura a alguém. Ela busca manifestar

uma opinião pessoal baseada na própria verdade de cada um. Como parte daprópria razão para julgar a razão dos outros, é um sentimento que se aproxima

mais da prática egoísta do que da prática altruísta.

G ─ E o que caracteriza o sentimento de sinceridade?

P ─  A sinceridade é a qualidade de quem revela o que pensa, expressando

sempre compreensão, preocupação e apoio a alguém, sem submetê-lo àcensura prévia. Ela busca manifestar uma opinião pessoal baseada na Verdade.

Como parte da busca da razão superior para compreender a razão dos outros, é

um sentimento que se aproxima mais da prática altruísta do que da prática

egoísta.

H — Qual o meio de sabermos se uma pessoa age com sinceridade?

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devo adequá-la à sua orientação, já que dentro da sinceridade existe lugar para

a manifestação da franqueza.

P ─  É a partir do conhecimento da existência de uma hierarquia natural na minha

criação, que se torna possível perceber diferenças básicas entre os sentimentossuperiores e os sentimentos inferiores. Por isso eu sempre digo que o segredo da

felicidade é a prática da sinceridade. Não é feliz quem, praticando a franqueza,

vive exigindo a sinceridade dos outros. É feliz quem pratica a sinceridade e, por

essa prática altruísta, amplia o próprio limite pessoal e conquista a inteligência

superior.

H — Quando o senhor menciona a inteligência superior, está querendo dizer que

também existe a hierarquia da inteligência?

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Hierarquia da Inteligência

P —  Sim. A hierarquia é o estado natural da Verdade. Sem respeitá-la, é

impossível criar e manter a grande harmonia do Universo. Gravem bem essa

verdade! Na Natureza, a hierarquia se define pelo nível da missão de cada ser

da criação. Portanto, é natural que também exista hierarquia na inteligência. A

propósito, que critérios vocês utilizam para avaliar o nível de inteligência do ser

humano?

S — Para avaliar o nível da inteligência racional do ser humano, medimos seu

Quociente Racional (Q.I.). Fazemos testes específicos medindo sua capacidade de

raciocínio, de cálculo e de expressão das suas potencialidades racionais. 

Qualificamos sua inteligência conforme o nível das suas respostas. A partir daí, é

possível saber se o ser humano possui inteligência normal, abaixo do normal,

acima do normal ou excepcional.

P —  Tudo se resume nesses testes?

S — Realizamos, também, testes para avaliar o nível da inteligência emocional,

medindo seu Quociente Emocional (Q.E.). Essa avaliação mede o nível de

controle que o ser humano tem sobre suas emoções e sentimentos ao enfrentar

as inúmeras situações que envolvem seu universo emocional.

P — Na concepção de vocês, qual é o verdadeiro conceito de inteligência

G —  Inteligência é a faculdade do pensamento de identificar, compreender e

conhecer as coisas. O ser humano é considerado inteligente quando demonstra

facilidade no exercício dessas aptidões. E na sua concepção?

P ─  Na minha concepção todo ser humano é inteligente, em maior ou menor

grau. Isso porque eu criei o ser humano com capacidade mental de conhecer a

Verdade. Quando o ser humano coloca seu pensamento em ação, ele evidencia

naturalmente seu nível de razão, sentimento e vontade. O meu critério para saber

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se um ser humano possui inteligência normal, abaixo do normal, acima do normal

ou excepcional difere substancialmente do critério de vocês.

O ambiente se encheu de expectativa. Depois de alguns instantes, Seleno

perguntou.

S — Em que se fundamenta seu critério de avaliação?

P — Fundamenta-se no Quociente Espiritual.

S — O que significa Quociente Espiritual?

P —  Quociente Espiritual é a medida que resulta da trilogia do pensamento

(razão-sentimento-vontade), ou seja, do nível de manifestação do Quociente

Racional, do Quociente Sentimental e do Quociente Volitivo.

H — Por favor, explique melhor.

P — Pelo Quociente Espiritual é possível saber em que posição da dimensão

espiritual se encontra o pensamento do ser humano, se na posição superior,intermediária ou inferior.

H — O referencial da verdadeira inteligência é o seu pensamento?

P — Exatamente. Vocês acham que existe um referencial superior à suprema

Inteligência que criou e mantém o Universo em harmonia?

G —  Agora percebo que não podemos simplesmente manifestar nossa razão,

sentimento e vontade ignorando a hierarquia existente na dimensão espiritual,

onde tem origem o nosso pensamento.

P —  Por isso, eu sempre digo que não basta simplesmente estimular o

desenvolvimento do Quociente Racional, do Quociente Sentimental e do

Quociente Volitivo. É fundamental colocar o pensamento nas posições superiores

da dimensão espiritual.

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S — O que o ser humano deve fazer para conquistar a inteligência superior?

P —  Ele deve utilizar sua vontade para desenvolver sua razão baseada no

raciocínio espiritualista e desenvolver seu sentimento na prática do altruísmo.

Quando a sua vontade, representada pela constante busca da Verdade, estimulao cruzamento dos níveis superiores de razão e sentimento, o ser humano é

aprovado nos testes do Quociente Espiritual, aplicados por mim. Deste modo, ele

conquista a inteligência superior, aproximando-se da Verdade do meu

pensamento. Enquanto o ser humano manifestar níveis inferiores de Quociente

Espiritual, ele jamais será considerado verdadeiramente inteligente, ainda que seu

nível de razão, sentimento e vontade seja considerado por vocês como

excepcional.

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Tendências do Pensamento

Geórgia, aproveitando o momento perguntou:

G — Na estrutura do pensamento, qual é a tendência da razão, do sentimento e

da vontade?

P — A tendência da razão, que caracteriza a personalidade de Seleno, é dar

destaque ao racionalismo. Essa é a tendência científica, que acredita ser possível

penetrar no pleno conhecimento da Verdade simplesmente pelo exercício da

razão. Essa tendência faz com que Seleno primeiro seja estimulado aracionalizar, para sentir depois.

G —  E a tendência do sentimento?

P — A tendência do sentimento, que caracteriza a personalidade de Hélio é dar

destaque ao sentimentalismo. Essa é a tendência religiosa, que acredita ser

possível penetrar no pleno conhecimento da Verdade simplesmente pelo exercíciodo sentimento. Essa tendência faz com que Hélio primeiro seja estimulado a

sentir, pela prática da fé, para racionalizar depois.

G —  E a tendência da vontade?

P — Finalmente, a tendência da vontade, que caracteriza a sua personalidade,

Geórgia, é dar destaque ao voluntarismo. Essa é a tendência artística, que

acredita ser possível penetrar no pleno conhecimento da Verdade simplesmente

pelo exercício da vontade. Essa tendência faz com que você primeiro seja

estimulada, pela vontade, a sentir, a racionalizar ou a cruzar razão e sentimento,

não é?

G —   Realmente, o senhor conhece bem a tendência de cada um de nós!

Hélio, buscando satisfazer sua curiosidade, perguntou:

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H —   O que é mais importante, na estrutura do pensamento, para o

conhecimento da Verdade: a razão, o sentimento ou a vontade?

P —  Na estrutura do pensamento, só a união das três tendências consegue

captar o pleno conhecimento da Verdade. Quando uma pessoa busca conhecer averdade de um pensamento somente pela tendência racional, ela reduz o

pensamento ao simples ato de racionalizar. Não percebe que o sentimento e a

vontade, tal qual a razão, são manifestações inseparáveis do pensamento, sendo

impossível excluir qualquer uma dessas tendências no ato de pensar.

H — O que acontece quando buscamos conhecer a verdade de um pensamento

desconsiderando qualquer das tendências que o constituem?

P — Não se conhece plenamente a verdade do pensamento.

G — Por que não?

P —  Porque, isoladamente, razão, sentimento e vontade são incapazes de

captar a plena verdade de um pensamento.

G — Por que são incapazes?

P —  Porque, isoladamente, todos eles se revelam deficientes. Em princípio,

quando há união e integração entre as tendências do pensamento, a razão

enxerga, o sentimento ouve e a vontade fala a plena verdade do pensamento.

G — E quando não há essa união e integração?

P — A razão, sem sentimento e vontade, revela-se surda; o sentimento, sem

razão e vontade, revela-se cego; a vontade, sem razão e sentimento, revela-se

muda. Isso acontece porque, isoladamente, cada uma dessas tendências limita a

verdade do pensamento. Unidas, elas manifestam a plena verdade do

pensamento.

Hélio, atento às explicações do Patriarca, perguntou:

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H — Sempre devemos considerar, na manifestação do pensamento das pessoas,

a razão, o sentimento e a vontade que elas desejam transmitir?

P — Exatamente. A propósito, eu gostaria que não considerassem somente a

razão do meu pensamento, de revelar a vocês o real significado da Verdade.Gostaria que captassem, também, o meu sentimento de beneficiá-los pela

Verdade. E, sobretudo, que captassem a minha vontade de vê-los comprometidos

com a prática da Verdade. A síntese do meu pensamento, ao revelar a vocês a

Verdade, é libertá-los da ignorância, aproximando-os do destino humano de plena

harmonia e felicidade.

Sem esconder a emoção causada pelas palavras do Patriarca, Geórgia

comentou:

G —   Nunca imaginei que a trilogia razão-sentimento-vontade constituísse a

estrutura do pensamento e que somente a união dessas três tendências

conduzisse ao seu pleno conhecimento.

P — Quando eu digo que o pensamento é constituído de razão, sentimento e

vontade, no fundo quero mostrar que o verdadeiro pensamento unifica e integra amanifestação científica, a manifestação religiosa e a manifestação artística. Na

prática, o meu pensamento é a síntese dessas três tendências projetadas na

Verdade da Lei da Natureza. A Lei que, sendo a própria Verdade, submete toda

a criação aos seus princípios universais.

G —  A distância ideológica que atualmente separa as verdades religiosa,

científica e artística sinaliza que o conhecimento da Verdade, na educaçãocontemporânea, ainda é parcial?

P —  Sim. Até agora, como não havia chegado o tempo da Verdade ser

plenamente revelada, cada tendência do pensamento buscou apresentar como

Verdade o que, na realidade, representou apenas uma parte dela.

S —  Durante muito tempo, prevaleceu a verdade religiosa como Verdade

absoluta. Sua limitação ficou evidente quando ela começou a impor suas

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convicções através de dogmas, sem fundamentos convincentes. Felizmente, surgiu

a verdade científica para questionar os dogmas da verdade religiosa.

Geórgia, interrompeu Seleno para comentar:

G —   Desde então, com a alternância no poder, de políticas com tendências

racionalistas e tendências sentimentalistas, ampliou-se a distância ideológica que

atualmente separa a religião da ciência.

Retomando a palavra, o Patriarca explicou:

P — Seleno falou sobre a intervenção da verdade científica na verdade religiosa.

Essa intervenção, sem dúvida, foi necessária para o desenvolvimento e o

equilíbrio do pensamento humano, mas a ciência criou uma situação preocupante

ao colocar em dúvida a minha existência como criador, ordenador e mantenedor

de toda a vida. Apesar de estar com frequência modificando seus conceitos

acerca da Verdade, a ciência se posicionou, na sociedade contemporânea, como

responsável pela existência e manutenção da vida. Isso representa um grande

perigo! Pelo alto nível de progresso tecnológico alcançado pela ciência, a

humanidade corre sério risco de extinção.

H — Como assim?

P — Antes, sem o grande progresso da tecnologia, principalmente no campo da

informática, o afastamento do ser humano em relação à Verdade da Lei da

Natureza era lento e curto. Hoje, esse afastamento está sendo rápido e longo,

assumindo proporções alarmantes.

Seleno, buscando mostrar o lado positivo da conquista tecnológica, comentou:

S — A Terra, atualmente, vive um inédito momento de globalização, gerado pelo

progresso da informática. Hoje, sai na frente quem detém primeiro as principais

informações.

P — Sai na frente para ir aonde? Em direção à posição superior ou à posição

inferior da dimensão espiritual?

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S — Não entendi.

P —  Antes, como já expliquei, sem o grande progresso da tecnologia e da

informática, o afastamento do ser humano em relação à Verdade ocorria de

forma lenta e curta; mas agora, com o grande progresso tecnológico, oafastamento da Verdade está sendo rápido e longo. Por isso, esse conceito de

sair na frente é muito perigoso! Principalmente quando o ser humano é

estimulado pela educação materialista a evoluir materialmente, sem nenhuma

preocupação com sua evolução espiritual. Enquanto não for adotada a autêntica

educação espiritualista, baseada na Verdade da Lei da Natureza, não é bom

confiar cegamente nas duvidosas informações que estão sendo apresentadas,

atualmente, como Verdade.

H —  Por quê?

P —  Muitas dessas informações, pelos estímulos imediatistas que provocam,

poderão conduzir rapidamente as pessoas para os níveis inferiores da dimensão

espiritual, comprometendo não somente sua existência material, mas principalmente

sua existência espiritual. Por isso é fundamental que vocês conheçam a Verdade.

Daqui para frente, será muito perigoso a criatura viver baseada napseudoverdade, afastada da Verdade do pensamento do seu criador!

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Após observar atentamente a referida ilustração, Geórgia comentou:

G ─  Esta ilustração, ao desdobrar a Verdade de um ser nas realidades básicas

que o constitui, nos permite considerar as verdades da missão, das funções e da

forma de qualquer ser. E a partir daí perceber que essas verdades se

manifestam, respectivamente, no bem da missão, no bem das funções e no bem

da forma. E o mais importante é que, pelo respeito à ordem natural da Verdade,

torna-se possível saber que o verdadeiro bem é o que manifesta a Verdade da

plena constituição do ser, priorizando sua missão.

Após ser elogiada pelo Patriarca por seus oportunos comentários, Geórgia

projetou, imediatamente, no modelo da ONV, as setas correspondentes ao Belo

como materialização do Bem:

Seleno comentou que esta ilustração não deixava dúvida de que a Verdade,em ação, manifesta-se como Bem e materializa-se como Belo. Destacou,

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também, que existe o belo da missão, o belo das funções e o belo da forma de

um ser. Mas, deu ênfase ao Belo que materializa o Bem que, por sua vez,

manifesta a Verdade, em sua plena constituição. Em seguida, dirigindo-se ao

Patriarca, comentou:

S ─  Agora está ficando claro para mim a importância que o senhor dá à trilogia

Verdade-Bem-Belo, quando diz: “Denomino ―paraíso na Terra‖ o mundo da

dimensão material dotado de completa Verdade, Bem e Belo”. 

Hélio, por sua vez, lembrou que na referida frase sempre achou que a palavra

“completa” significava uma palavra “chave”.  O que ele não imaginava é que

essa trilogia se manifestava, basicamente, nas três posições, da dimensão

espiritual. E que somente na posição superior se manifesta completa, por

contemplar a totalidade das realidades que constituem a Verdade, respeitando a

ordem natural que existe entre elas.

Contente com as manifestações de Hélio e de Seleno, o Patriarca perguntou

aos irmãos:

P ─   Agora que já sabem o que é a Verdade, em sua plena constituição, já

conseguem identificar o que é a pseudoverdade, o pseudobem e o pseudobelo?

Seleno levantou a seguinte questão:

S ─  O senhor sempre fala que tudo existe dentro da Verdade. No caso, da

pseudoverdade, ela também existe dentro da Verdade?

O Patriarca, após mencionar que a colocação de Seleno fora bem oportuna,

respondeu:

P ─   Eu também costumo dizer que não é possível saber se algo é verdadeiro

ou falso sem antes conhecer o que é a Verdade. Portanto, se a Verdade, como já sabem, sempre respeita a sua ordem natural, é evidente que qualquer verdade

que não respeita essa ordem revela-se como pseudoverdade, sem, entretanto,

deixar de ser parte da Verdade.

Geórgia manifestou-se dizendo que se é a Verdade que dá origem ao Bem e

ao Belo, tudo indica que é a pseudoverdade que dá origem ao pseudobem e ao

pseudobelo. E, como de costume, tomou a iniciativa de projetar o modelo da

ONV, demonstrando o que para ela representava a pseudoverdade dentro da

Verdade.

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Em seguida comentou:

G ─   Se a Verdade é o curso natural que existe entre a missão, as funções ea forma de qualquer ser, não há dúvida que a “pseudoverdade” é a que ignora a

sua missão. Observem esta ilustração da trilogia pseudoverdade:

Após observar as duas ilustrações, Geórgia comentou:

G — Quando o senhor fala em autêntico Bem e autêntico Belo está querendo

dizer que eles são autênticos porque têm origem na Verdade?

P — Exatamente. O que dá autenticidade ao Bem e ao Belo é sua origem na

Verdade.

S — E o que dá autenticidade à Verdade?

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P — O que dá autenticidade à Verdade é a realidade invisível da sua missão.

Portanto, não é exagero dizer que o que torna autêntica a Verdade de um ser é

a sua realidade invisível, pois é ela que dá o real sentido à sua existência.

H — Qual a consequência prática da trilogia Verdade-Bem-Belo na vida do serhumano?

P — É a conquista da harmonia como representação da Verdade, a evolução

como representação do Bem e a arte como representação do Belo. Na posição

superior da dimensão espiritual, esta trilogia se manifesta completamente.

Observem esta ilustração:

Após observar a referida ilustração, Seleno perguntou:

S —  Quando essa trilogia não se manifesta completamente, desrespeitando a

ordem natural da Verdade, significa que ela dá origem à pseudo-harmonia,

pseudo-evolução e pseudo-arte?

P —  Exatamente. Nas posições intermediária e inferior, da dimensão espiritual

prevalece o que não é autêntico, em razão de não considerar as três realidades

básicas que constituem a Verdade, desrespeitando a ordem natural que deve

existir entre elas. Observem esta ilustração da posição intermediária:

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E agora a ilustração da posição inferior:

Atento às explicações do Patriarca acerca da autenticidade da Verdade, Seleno

perguntou:

S — Quando a Verdade não contempla a realidade invisível da missão de um

ser, ignorando o real sentido de sua existência, significa que não é autêntica e,

por conseguinte, não promove a autêntica harmonia, evolução e arte?

P — Sim. Na prática, a pseudoverdade, apresentada, atualmente, como Verdade,

é incapaz de promover a autêntica harmonia, evolução e arte na vida humana.

E conclui sua explicação afirmando:

P ─  O conhecimento da Verdade qualifica o ser humano a estar sempre certo!

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H — O senhor está querendo dizer que o conhecimento da Verdade faz com que

o ser humano esteja sempre certo?

P — Exatamente.

Seleno, revelando não ter compreendido a afirmação do Patriarca, indagou:

S — Ao conhecer a Verdade, o ser humano não erra nunca?

O Patriarca respondeu com humor:

P — Eu jamais disse que, ao conhecer a Verdade, o ser humano não mais

comete erros. O que eu quis dizer é que quem realmente conhece a Verdade

qualifica-se para estar sempre certo: certo quando acerta e certo quando erra.

S — Explique melhor isso.

P —  Percebo que vocês se encontram tão afastados da Verdade, que,

constantemente, usam justificativas para dizer que fizeram tudo certo, mas o

resultado foi negativo. Ora, se essa afirmação é correta, das duas uma: ou vocêsnão percebem onde se dá o erro quando erram, ou simplesmente a Verdade não

existe!

G — Como assim?

O Patriarca continuou:

P — A Verdade é simples! Se alguém faz algo certo, acerta; se faz algo errado,

erra. Quando eu disse que quem conhece a Verdade sempre está certo, referi-

me a essa evidência. Estar sempre certo não significa acertar sempre; antes,

significa admitir que se algo deu errado houve erro na sua execução,

considerando-se três hipóteses:

1) o respeito à sua missão;

2) a promoção das suas funções;

3) a adequação das suas formas.

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G  ─  Por favor, poderia detalhar mais a sua explicação?

P —   O ser humano acerta quando respeita a missão de um ser, promove

corretamente as suas funções e utiliza formas adequadas.

Por outro lado, ele erra quando:

1)  não respeita a missão de um ser;

2)  respeita a missão de um ser, mas não promove corretamente suas funções;

3)  respeita a missão de um ser, promove corretamente suas funções, mas

utiliza formas inadequadas ao exercício das funções necessárias ao fiel

cumprimento de sua missão. Entenderam?

Percebendo que os três irmãos esperavam por uma conclusão mais

convincente, o Patriarca os levou à seguinte reflexão:

P — Se alguém admite que acertou quando acerta, está certo, não é? E se

alguém admite que errou quando erra, também não está certo? Por isso, eu

afirmo que quem conhece a Verdade e se submete à sua ordem natural está

sempre certo: certo quando percebe que acerta e admite que acertou. E também

certo quando percebe que erra e admite que errou. Entenderam, agora, porqueaqueles que conhecem a Verdade se qualificam para estarem sempre certos?

Hélio, concordando com a simplicidade e a objetividade da explicação do

Patriarca sobre a evidência da Verdade, comentou:

H —Está sempre certo quem, diante da evidência de um resultado positivo ou

negativo, admite que acertou porque fez certo ou admite que errou porque fezerrado. Não há dúvida de que ambos estão certos. Está certo quem diz saber

quando realmente sabe, e está certo quem diz não saber quando realmente não

sabe. A vida em sociedade seria bem melhor se ao invés de justificarmos tantos

fracassos, atribuíssemos à ignorância da Verdade a nossa incapacidade de criar

harmonia e felicidade na vida humana.

O Patriarca, feliz com a reflexão de Hélio, acrescentou:

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P — O conhecimento da Verdade assemelha-se ao conhecimento de um caminho

seguro que conduz seus praticantes ao destino de harmonia e felicidade. Este foi

um de meus propósitos ao criar a Verdade! Quando, por alguma razão, alguns se

desviam desse caminho, não significa que não possam retornar.

H — Como assim?

P — O mais importante é perceberem que, quando se aproximam do destino de

infelicidade, já se desviaram e estão num caminho oposto à Verdade. Ao invés

de justificarem, como bem disse o Hélio, devem admitir que erraram de rota.

Estarão certos se admitirem que erraram; e mais certos ainda quando retomarem

o caminho que conduz à Verdade. Por isso, é fundamental que priorizem o

princípio da precedência do invisível sobre o visível. Este princípio universal

fundamenta as leis naturais que regulam, ordenam e harmonizam a vida dos seres

da Natureza.

O Patriarca disse, ainda, ser necessário que todos compreendam que a

Verdade da Lei da Natureza representa a expressão máxima da Ordem, da

Justiça e do Amor Universal.

Seleno, expressando sua dúvida, perguntou:

S — Pela sua explicação, é possível admitir a perfeição da Lei da Natureza em

sua rigorosa promoção da Ordem e da Justiça. Entretanto, sinto dificuldade de

compreendê-la como manifestação do Amor Universal. O senhor poderia explicar

isso melhor?

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Amor Universal

O Patriarca perguntou a Hélio e a Geórgia:

P — Vocês também sentem essa dificuldade de compreensão?

Após eles acenarem que sim, o Patriarca justificou:

P — Essa dificuldade é natural quando ainda não se conhece a Verdade. Na

realidade, o que eu denomino “Amor Universal” é a expressão máxima da

Verdade.

G — Gostaria de entender melhor os fundamentos do Amor Universal.

P — Vocês não aprenderam que Verdade é a própria Lei da Natureza.

HSG  —  Acenaram afirmativamente.

P — Não aprenderam que a Lei da Natureza, como manifestação da Verdade,

tem a missão de garantir a ordem e a harmonia da minha criação? Não

aprenderam que ela existe para promover a sobrevivência, o funcionamento e a

evolução de todos os seres vivos? Não aprenderam que suas formas encontram-

se perfeitamente adequadas aos princípios naturais e universais, fundamentados

na precedência da realidade invisível sobre a realidade visível?

Após a concordância dos três irmãos, o Patriarca, concluiu seu raciocínio:

P — Vocês realmente acreditam que exista um amor superior à esse Amor

Universal?

G —  Não há dúvida de que a Lei da Natureza, como manifestação do seu

pensamento, é prova incontestável do seu grandioso e incomparável amor pela

sua criação. Contudo, gostaria que o senhor desse um exemplo da manifestação

desse amor, na realidade que envolve o nosso cotidiano.

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P — Na dimensão do mundo material, vocês constroem prédios, não é?

Seleno, que tinha experiência em construção, respondeu que sim..

P — Que altura têm esses prédios?

S — Varia muito.

P — Antes de elevarem um prédio na altura de 10 andares, por exemplo, o que

é necessário fazer?

S — O alicerce.

P — E antes do alicerce?

S — Se houver alguma edificação no terreno, é preciso, antes, promover sua

demolição. Se o terreno estiver livre, basta iniciar a fundação.

P — O que é necessário para fazer a fundação?

S —  Inicialmente, é preciso fazer uma grande abertura no solo  —  continuou

Seleno —, a fim de preparar as bases do alicerce, conforme o cálculo estrutural.

P — O que é um cálculo estrutural?

S — É o resultado de um estudo sobre a natureza, a dimensão e as condições

do solo, objetivando adequá-lo às condições do projeto de uma edificação a ser

construída. Basicamente, em linguagem popular, — explicou Seleno — é o cálculo

responsável pelo equilíbrio e harmonia da edificação a ser construída,

considerando sua altura, largura e comprimento/profundidade.

P — Acredito que vocês não chegaram a essa conclusão de um dia para o

outro, não é?

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Seleno respondeu que, no início, tentaram edificar prédios altos sem alicerces

suficientes, e em pouco tempo esses prédios caíram. Foi somente através da

repetição de experiências como essas que se conseguiu estabelecer um equilíbrio

entre a realidade do solo e a realidade da altura, da largura e da profundidade

do prédio que se deseja construir.

S — Atualmente, é possível edificar um prédio de grande altura com base num

bom cálculo estrutural, sabendo que ele tem alicerce suficiente para se manter

de pé e em segurança. Já preparamos alicerces capazes de suportar grandes

abalos provocados por terremotos.

Geórgia, impaciente para ouvir a conclusão do Patriarca, perguntou:

G — Que relação tem o modelo da construção de prédios com a Verdade da

Lei da Natureza como manifestação do Amor Universal?

P — Tem tudo a ver! O exemplo da construção revela a perfeição das leis da

evolução. Vocês evoluíram na arte da construção de prédios, mas, infelizmente,

não perceberam o ponto fundamental do processo que envolve qualquer tipo de

construção.

G — O que não conseguimos perceber?

P —  Que eu utilizo esse mesmo princípio da construção de prédios para

promover a construção e a evolução de vocês.

H — Poderia exemplificar essa sua afirmação?

P ─  Observem esta ilustração do "Grande Cone”: 

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Em seguida, o Patriarca explicou:

P —  Na dimensão espiritual, cada posição tem sua altura, largura e

comprimento/profundidade. A Verdade da Lei da Natureza representa o Amor

Universal porque ela sempre visa à evolução da criação. Um dos principais

objetivos dessa Lei é permitir que todos vocês alcancem posições superiores na

dimensão espiritual, habilitando-se cada vez mais a desfrutar dos níveis

superiores de harmonia e felicidade. Mas, para que vocês alcancem alturas

correspondentes às posições superiores, é preciso que construam alicerces que

sustentem essas alturas, não é?

Os três concordaram, mantendo-se atentos ao que dizia o Patriarca.

P — Então, baseado na lógica da verdade da construção é que eu promovo

regularmente aberturas de buracos na vida de vocês! Quanto maior for a altura

espiritual que se pretenda alcançar, maior deverá ser a largura e a profundidade

correspondentes a essa altura, não é?

O Patriarca olhou para cada um dos três e completou sua explicação:

P ─  Eu também me baseio em um cálculo estrutural quando desejo promover,

espiritualmente, a altura, a largura e a profundidade daqueles que têm grande

missão a cumprir no meu plano para a humanidade.

Fixou o olhar em Hélio e falou:

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P — Lembra-se de quando lhe dei tarefas para cuidar de seus irmãos e nunca

concordava com suas reclamações ou razões pessoais?

H —  Eu nunca entendi por que o senhor sempre ignorava as minhas

reclamações, jamais repreendendo Seleno e Geórgia, que, ao desobedecerem àssuas ordens, me irritavam frequentemente.

P — E agora conseguiu entender o porquê da minha atitude?

H — Ouvindo seus argumentos, sei que tudo foi para minha evolução. Afinal, o

que o senhor quis, especificamente, que eu aprendesse com aquela tarefa?

P — Eu quis que você ampliasse seu limite de tolerância pelo treinamento da

paciência. Se, naquela época, eu concordasse com suas frequentes reclamações,

você não conseguiria obter o mínimo de tolerância para desempenhar bem a

tarefa que lhe atribuí, nem se qualificaria para as que vieram depois. Felizmente,

mesmo contra sua vontade, você conseguiu me obedecer. Ao suportar aquela

situação, desafiando seu limite pessoal de tolerância, você adquiriu largura e pro-

fundidade necessárias à altura espiritual que acabou conquistando, não foi?

Hélio admitiu que, através dessa experiência, é que ele conseguiu conquistar

um nível de paciência que não tinha antes. Buscando suportar o que por ele era

considerado insuportável, conquistou uma qualificação fundamental para seu

sucesso pessoal e profissional.

G — Sempre devemos pensar dessa maneira? 

P — Gostaria que soubessem que o objetivo da vida não é somente manter os

seres sobrevivendo e funcionando. A vida existe para possibilitar a eterna

evolução espiritual de todos os seres da minha criação, principalmente do ser

humano. É a partir desta consciência que se torna possível agradecer em

qualquer circunstância.

S —  No relacionamento humano, existem pessoas cujas atitudes egoístas nos

impedem de agradecer em qualquer circunstância. Como lidar com essa situação?

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P —   Na realidade, não são as pessoas ou suas práticas “egoístas” que

impedem outras de sentirem gratidão em qualquer circunstância, e sim o próprio

pensamento de cada uma, quando interpreta os fatos negativamente.

S — Como assim?

O Patriarca explicou que, basicamente, existem três tipos de pessoas no

relacionamento humano: um tipo que promove a altura de seus semelhantes, um

tipo que promove sua largura e um tipo que promove sua profundidade.

Voltando-se para Seleno, perguntou:

P — Por que a maioria das pessoas consegue agradecer aos “amigos”, mas

tem dificuldade de agradecer aos “inconvenientes” e nunca consegue agradecer

aos “inimigos”? 

S —  Porque os “amigos” ajudam, os “inconvenientes” atrapalham, e os “inimigos”

prejudicam a relação humana.

Geórgia, mais comedida, comentou a respeito:

G — Basicamente, as pessoas do primeiro tipo são consideradas “amigas” por

se mostrarem altruístas e só verem o lado positivo dos que convivem com elas;

as do segundo tipo são consideradas “inconvenientes” por exigirem dos outros a

ampliação de seus limites de tolerância e outros mais; as do terceiro tipo são as

consideradas “inimigas” por serem egoístas e só verem o lado negativo dos

outros.

P —  Como puderam observar, tanto as pessoas “amigas”, como as

“inconvenientes” e as “inimigas”, são importantes no relacionamento humano, para

quem percebe que, por trás de tudo, está sempre em curso a construção de um

ser humano cada vez mais alto, mais largo e mais profundo. Se conseguirem

pensar com base nessa verdade, torna-se possível agradecer até os “inimigos”,

não é?

Hélio, demonstrando ter compreendido algo que há muito o incomodava,

comentou:

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H —  Agora estou entendendo a razão da sua constante orientação sobre a

importância da gratidão em qualquer circunstância.

P — O que está entendendo?

H — Que o pior “inimigo” do ser humano é ele mesmo. Isso porque, quando ele

busca maior altura sem conquistar a largura e a profundidade correspondentes,

não há como manter por muito tempo a altura que ele deseja conquistar.

O Patriarca, contente com o oportuno comentário de Hélio, continuou:

P — Quem consegue compreender e viver baseado na Verdade do Amor Uni-

versal agradece em qualquer circunstância. Esse tipo de pessoa jamais deixa de

aproveitar as oportunidades para adquirir maior altura, maior largura e maior

profundidade em seu percurso evolutivo.

Hélio comentou que, ultimamente, o que mais ele ouvia das pessoas eram la-

mentações sobre os “buracos” que estavam se abrindo em suas vidas.

H — Elas interpretam esses “buracos” como um mal, um castigo a que estão

sendo submetidas. A grande maioria manifesta desespero diante dessas situações

e o desejo de afastar esses “buracos” da sua vida imediatamente e a qualquer

preço.

G — Como seria maravilhoso se as pessoas entendessem o amor universal que

se encontra na base do pensamento do Patriarca.

H — Se tivessem tal compreensão, as pessoas jamais deixariam de aproveitar

esses “buracos”, esses supostos castigos, para construírem os alicerces da altura

espiritual que, no fundo, todos desejam conquistar e manter.

S — Quando o senhor diz que o homem depende do seu pensamento para ser

feliz ou infeliz, leva em consideração a distância que separa o pensamento

humano do seu pensamento?

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P —  Sem dúvida! Por isso, certa vez eu falei que a Verdade é o meu

pensamento, mas poderia também ser o seu pensamento, se você adotasse o

meu. Lembra-se?

S — Hoje entendo o que o senhor quis dizer. Confesso que, na época, eu merevoltei e acabei influenciando Hélio e Geórgia a pensarem que aquela colocação

era puro autoritarismo da sua parte.

Geórgia, saindo em defesa do irmão, disse:

G —  Naquela época, nenhum de nós tinha maturidade para reconhecer nem

admitir que seu pensamento é a Verdade.

H — No fundo, o que Seleno disse, na ocasião, era o que eu queria dizer, mas

não tive coragem!

P — Como eu já expliquei, vocês jamais poderiam compreender a razão do Criador

se, antes, não tivessem vivenciado plenamente a razão da criatura; jamais

penetrariam na Verdade do meu pensamento se não tivessem vivenciado plenamente

a verdade do pensamento de cada um.

Geórgia, sem conseguir ocultar sua emoção diante das sábias palavras do

Patriarca, comentou:

G —   Admiro o seu amor por nós e por sua criação. Sobretudo, admiro a sua

tolerância em permitir que o ser humano, no exercício do seu livre-arbítrio, até

duvide da existência de um criador que deu origem ao Universo. Muitos aindasustentam a ideia de que a perfeição da Natureza teve uma origem casual.

Como o senhor interpreta esse fato? Os que pensam assim terão condições de

subir de posição na dimensão espiritual?

P — Simplesmente acreditar ou não acreditar na existência de um criador do

Universo não é um fator relevante para quem respeita a Verdade da Lei da

Natureza e vive para servir à humanidade. Os que dizem não acreditar na

existência de um criador, mas pensam e agem de acordo com a Verdade,

subirão naturalmente de posição espiritual porque sua atitude, embora

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inconsciente, satisfaz as exigências da elevação de sua alma. Entretanto, os que

dizem acreditar na minha existência, mas pensam e agem em desacordo com a

Verdade da Lei da Natureza, terão surpresas desagradáveis!

O Patriarca, em tom bem humorado, disse que gostaria de levá-los à seguintereflexão:

P — Se, realmente, toda a perfeição do Universo teve uma origem casual, não

seria justo instituírem o “dia internacional do acaso”?

E elevou o nível de reflexão dos irmãos:

P — Não fere a inteligência de vocês a hipótese de obras tão perfeitas como o

Universo e o próprio ser humano terem sido criados por acaso? Foi o homem

quem criou o cérebro do computador, não foi? Será que, no futuro, o computador

também vai achar que sua existência foi obra do acaso?

G — Como assim?

P —  Vocês estão criando computadores tão inteligentes que, possivelmente,alguns deles comecem a reproduzir o pensamento humano e cheguem a

questionar se foram realmente criados pelo ser humano...

Seleno, ansioso por obter respostas para uma dúvida antiga, comentou:

G — O senhor, como criador do Universo, revela que seu grande projeto é a

construção de um paraíso na Terra. Dessa maneira, confere à Terra umacondição excepcional em relação aos outros planetas e astros do Universo. Pelo

desenvolvimento das pesquisas científicas sempre estamos descobrindo novos

astros. Com base nessas descobertas, não é lógico deduzirmos a possibilidade

de vida humana ideal fora da Terra?

O Patriarca respondeu com outra pergunta:

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P — Quando vocês descobrem novos planetas e astros, conseguem ver sua

forma material, não é? Pela forma material conseguem perceber todas as suas

funções e conhecer a missão desses planetas e astros?

S — Infelizmente, não.

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Missão da Terra

P — A propósito, conhecem a missão da Terra, o planeta em que vivem?

S ─  Ainda não sabemos a sua missão, mas, pelas nossas pesquisas científicas,

 já sabemos que a Terra foi formada a aproximadamente 4,5 bilhões de anos.

P ─  E a Natureza? E o ser humano?

S ─   A Natureza, foi formada a aproximadamente 300 milhões de anos. Em

relação ao ser humano, estima-se que ele existe na Terra a aproximadamente1,5 milhões de anos, inicialmente na condição de “homo” até chegar à condição

de “homo sapiens sapiens”.

Diante das afirmações de Seleno, o Patriarca comentou:

P ─  É muito Interessante!

H —  O que é muito interessante?

P ─  Todas as afirmações dessas pesquisas científicas, mencionadas por Seleno,

utilizam o termo “aproximadamente”, revelando não existir nenhuma certeza, não

é? Sabem por que não existem certezas nessas afirmações?

Diante da indecisão dos irmãos, o Patriarca explicou:

P ─   Não existem certezas por que não houve consulta prévia ao manual da

criação, ou seja, os pesquisadores não tiveram acesso à data da sua criação

nem conhecimento da missão que o criador lhe atribuiu ao criá-la. Na

impossibilidade de acesso ao criador, muitos duvidam da sua existência e

passam a atribuir aos seres da sua criação um sentido diferente do que eles já

têm, oculto em sua realidade aparente.

E retornando à sua pergunta sobre a missão da Terra, explicou:

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P — Se conhecessem a missão da Terra, atribuída por mim, admitiriam também

a existência da missão dos demais planetas e astros.  Possivelmente, agra-

deceriam a contribuição que eles dão para viabilizar na Terra uma vida

paradisíaca, perfeitamente adequada à sobrevivência, funcionamento e evoluçãoda minha criação. A propósito, o que os seres humanos pretendem, descobrindo

outros planetas e astros? Destruí-los também, a exemplo do que vêm fazendo

com a Terra?

Seleno, inquieto com a questão da possibilidade de vida em outros planetas,

insistiu na pergunta:

S — Não é lógico pensar que a existência de tantos planetas e astros sinalizam

a possibilidade de vida ideal fora da Terra?

P —  É bom saberem que o planeta Terra possui todas as condições para

materializar a vida humana porque todos os demais planetas e astros lhe dão a

devida cobertura. Nenhum planeta é, isoladamente, auto-suficiente para reunir

todas as condições ideais de vida que existem na Terra. Desde a sua formação,

a Terra vem sendo preparada para materializar as condições ideais de umparaíso terrestre. Somente depois que ela reuniu todas as condições ideais de

vida é que eu criei o ser humano para habitá-la. Ao invés de pensarem em vida

ideal em outros planetas, pensem que a existência de outros planetas e astros é

que possibilita existir vida ideal na Terra. As galáxias, o Sol, a Lua, os planetas

e demais astros não foram criados por acaso. Todos têm missão específica,

ligada à eterna harmonia de todo o Universo e, particularmente, ao meu plano de

construção de um paraíso terrestre.

Geórgia, atenta às explicações do Patriarca, pediu que ele explicasse mais

detalhadamente sobre o seu plano de construir na Terra um paraíso.

O Patriarca retomou a palavra dizendo que, na realidade, o ser humano já

entrou na Terra em condições paradisíacas. Clima adequado, extensa e rica

fauna e flora, águas cristalinas, flores magníficas, alimentação diversificada e

saborosa, ar puro e tantas outras benesses concedidas por uma Natureza farta e

generosa, que nunca reclamou de servir o ser humano, apesar de ser cons-

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tantemente maltratada. E, num tom mais de compreensão do que de censura,

perguntou aos irmãos:

P —  Atualmente, vocês desejam ter de volta as condições que perderam, não

é?

H —   Exatamente. Frequentemente, estamos realizando vários movimentos de

conscientização sobre a importância de preservarmos a Natureza e o meio

ambiente.

P —  Estão obtendo bons resultados?

.

S —  Infelizmente, não! Na realidade, após ouvir seus argumentos, percebo que

o fracasso dessas iniciativas tem como causa a nossa ignorância sobre a

Verdade. Até agora estávamos querendo voltar a ter o que já tivemos, mas não

sabíamos em que ponto havíamos nos afastado. Sem saber em que ponto nos

afastamos, como retornar?

P —  E agora já sabem?

S —   Agora já sabemos que nos afastamos da Verdade quando ignoramos a

missão dos seres sobre nossa proteção e guarda. E, consequentemente, já

sabemos que precisamos dar vida à missão de todos os seres, a partir de nós

mesmos.

Geórgia, insistiu que o Patriarca falasse mais sobre o seu plano de construção

de um paraíso na Terra.

O Patriarca revelou:

P―Com eu já disse, o meu plano para a Terra é a construção de um mundo

espiritual e materialmente evoluído. Ao criar a Terra com essa intenção, eu a

dotei de uma Natureza perfeitamente adequada à vida, em todas as suas formas

de manifestação. Primeiro, eu criei o reino mineral, depois o reino vegetal e, em

seguida, o reino animal. Somente depois de criar esses reinos, é que decidi pela

criação do reino humano.

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H  —  O reino humano foi o último reino a ser criado?

P —   Sim. E é bom saberem que o ser humano é a obra-prima da minha

criação. A propósito, antes de criar todos esses reinos, eu já havia criado o reinodivino, e aí criado os deuses como guardiões da minha criação, atribuindo-lhes

missões específicas, inclusive a de acompanharem a formação e o percurso

evolutivo dos seres humanos.

S —  Por que o ser humano é a obra-prima da sua criação?

P —  Porque ele foi criado com tudo que existe nos demais reinos. Se observarem

bem perceberão que dentro do reino vegetal existe o reino mineral; dentro do

reino animal existem os reinos mineral e vegetal; dentro do reino humano

existem os reinos mineral, vegetal, animal e, também, o divino. Ao ser humano,

eu atribuí o destino de maior beneficiário da minha criação, na Terra.

H  —  Como assim?

P —   Inicialmente, o ser humano foi submetido a um aprimoramento, visandocumprir seu estágio de homem-animal, necessitando, portanto, passar por essa

importante fase em seu processo evolutivo. Em sua fase primitiva, ele precisou

sobreviver entre os animais. Após o período de sobrevivência, entrou na fase

intermediária, ou seja, na fase de aprender a sobreviver e também a funcionar

melhor que o melhor dos seres do reino animal, tornando-se um animal superior.

Cumprida essa fase, ele entrou na fase da evolução, ou seja, na fase

verdadeiramente superior, despertando sua natureza como homem-divino,questionador da razão dos deuses. É a partir desse questionamento que ele

descobre que os deuses também, como ele, são criaturas criadas por um único

criador.

S —   É nesta fase do seu percurso evolutivo que o ser humano se encontra,

atualmente?

P —  Sim. O que ele precisa saber, nesta fase atual, é que não basta satisfazer

as exigências da sobrevivência e do bom funcionamento para conquistar sua

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felicidade. Essas conquistas satisfazem ao reino animal, mas não satisfazem às

exigências do reino divino.

H ─  O que o ser humano deve fazer para conquistar o reino divino?

P ─  Para conquistar esse reino, além dos aprimoramentos de sobrevivência e de

funcionamento, exige-se o aprimoramento da evolução. A maioria dos deuses

sabem que a concretização da “Verdade Absoluta” é a ilimitada e eterna

evolução da minha criação. E o ser humano, por ser dotado de natureza divina,

precisa, pelo conhecimento da Verdade, buscar a evolução dessa sua natureza

essencial. Como o reino humano foi criado no ponto médio entre o reino divino e

o reino animal, o ser humano foi dotado de duas naturezas básicas: a divina e a

animal, numa relação de positivo e negativo. Graças à essa polaridade é que ele

é capaz de evoluir ilimitadamente. Portanto, para conquistar o reino divino, o ser

humano precisa vencer sua natureza animal, mantendo-a sob o controle da sua

natureza divina.

S ─  O percurso que o senhor traçou para o ser humano não foi muito rigoroso?

P- Possivelmente, sim. Mas o destino que lhe reservei é sublime e maravilhoso!

O Patriarca também destacou, o destino da Terra, atribuindo-lhe o privilégio de

servir como palco para a concretização de um paraíso. E tom emocionado

revelou:

P ─  Existe vida em todo o Universo, sem dúvida. Mas, na Terra, existem plena

união e integração dos elementos fogo, água e terra, em suas complexas

dimensões divina, espiritual e material. E isso só é possível porque todo oUniverso se encontra comprometido com a concretização do meu plano para a

Terra.

Como palco principal do Universo, a Terra tem a missão de materializar a vida

em forma de arte. Cuidem bem da Terra!

S — De que maneira os planetas e os astros exercem influência sobre a Terra?

P — Através dos elos espirituais.

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Elos espirituais

G —  O que são elos espirituais?

P —  São elos de natureza invisível, que estabelecem íntima ligação entre a

missão, as funções e a forma de todos os seres da minha criação.

O princípio da relatividade, os raios cósmicos e os problemas da sociedade e

dos indivíduos, tudo se relaciona por intermédio dos elos espirituais, que são os

responsáveis pelo funcionamento regular do Universo. O planeta Terra, por

exemplo, mantém seu equilíbrio no espaço graças à existência e à atração de

um número incalculável de elos espirituais que o interpenetram. Eles são osresponsáveis diretos pela manutenção da gravitação universal.

Quando os seres humanos evoluírem espiritualmente, perceberão a perfeita

atuação dos elos espirituais ligando e interligando o Universo numa íntima e inse-

parável relação de interdependência. E, a partir daí, compreenderão que a minha 

íntima ligação e relação com o Universo também ocorre através dos elos

espirituais.

S —  Atualmente, as pesquisas científicas estão utilizando aparelhos cada vez

mais potentes e sensíveis para conhecerem a estrutura atômica dos seres, em

suas múltiplas divisões e subdivisões. O caminho da pesquisa é correto?

P — Qualquer pesquisa que objetive conhecer a Verdade deve ser estimulada e

apoiada. O perigo é quando a pesquisa apresenta uma pseudoverdade como

Verdade.

G — Por favor, esclareça melhor essa ideia.

P —  Frequentemente, pseudoverdades científicas são apresentadas como

verdades e equivocadamente consideradas como um bem universal.

S —  O esforço científico de promover o bem não deve ser estimulado e

reconhecido?

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P — O esforço científico que promove o bem de caráter limitado constitui, na

realidade, a autêntica causa do mal, que estimula o ciclo vicioso da desarmonia,

da qual o homem não consegue se libertar, por se manter afastado da Verdade.

Quando a pseudoverdade ocupa o lugar da Verdade, os prejuízos à vida humana

e à Natureza são incalculáveis, razão pela qual era fundamental identificar essafalha cultural e corrigi-la.

G — O que acontecerá se essa falha não for logo corrigida?

P — Se essa falha não for logo corrigida, a Terra, que há muito tempo vem

sendo preparada para materializar as posições superiores da dimensão espiritual,

necessitará passar, antes, por uma purificação ainda mais intensa e severa do

que a que está prevista, para se adequar à frequência superior da dimensão

espiritual.

H — Essa purificação é inevitável?

P — Sim, é inevitável. Pelo grande afastamento da Verdade, o ser humano criou

muitas máculas e impurezas em seu próprio espírito e no espírito da Terra. A

purificação dessas máculas é fundamental para que todos os seres da Naturezapossam retornar ao estado original de harmonia.

G — O espírito do ser humano sempre influencia e é influenciado pelos elos

espirituais?

P — Sim. Essa influência recíproca é bastante comum no cotidiano de vocês.

Geórgia manifestou curiosidade em compreender melhor essa ideia.

P —  Diariamente, vocês não estão influenciando seus semelhantes com seus

pensamentos, palavras e ações e recebendo a influência deles e dos veículos de

comunicação?

S — Essa influência recíproca ocorre pelos elos espirituais?

P — Você acha que essa influência ocorre de que maneira?

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H — Por favor, explique melhor a influência dos elos espirituais.

O Patriarca disse que, até agora, pouco se falou sobre os elos espirituais

porque ainda se desconhece a sua importância para a vida humana. Entretanto,embora esses elos sejam invisíveis e mais rarefeitos que o ar, através deles

todos os seres são influenciados consideravelmente.

P —  No ser humano, eles tornam-se o veículo transmissor da causa da

felicidade e da infelicidade. O ser humano não tem consciência de quantos elos

espirituais estão ligados a si; podem ser poucos, dezenas, centenas ou milhares.

Há elos grossos e finos, compridos e curtos, bons e maus, e constantemente

eles causam influência e transformação na relação humana. Portanto, não é

absurdo dizer que o ser humano se mantém vivo graças aos elos espirituais.

G — Os elos espirituais podem ser rompidos?

P — O elo espiritual entre pessoas que não têm laços de consanguinidade pode

ser rompido, mas é impossível romper o elo que existe entre parentes

consanguíneos. No caso de pais e filhos, por exemplo, é importante considerarque o caráter dos filhos sofre influência do caráter dos pais, através do elo

espiritual. Portanto, se os pais desejam melhorar os filhos, devem buscar, em

primeiro lugar, melhorar a si mesmos, a fim de exercerem influências positivas

sobre eles.

P —  O ser humano, pela sua constituição divina e animal, é ligado,

respectivamente, por elos espirituais positivos e negativos. Quando amplia ainfluência dos elos positivos, ele estimula e desenvolve sua natureza divina;

quando amplia a influência dos elos negativos, estimula e desenvolve sua

natureza animal.

H — É possível saber a quantidade de elos espirituais a que um ser humano

está ligado?

P —   O Patriarca explicou que essa quantidade varia de acordo com sua

posição social. Exemplificou que, numa família, quem os possui em maior número

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é o seu chefe; numa empresa, o seu responsável; na administração pública, o

presidente, o governador, o prefeito e outros; na religião, o sacerdote; na cultura

geral, os educadores, os cientistas e os artistas. É importante saberem, que

quanto mais elevada é a posição social do ser humano, maior se torna o número

de seus elos espirituais, e maior é o seu poder de influência, tanto positivaquanto negativa. Em contrapartida, também é maior o retorno para si próprio dos

sentimentos positivos ou negativos que resultarem dos seus pensamentos e

ações. Sendo assim, a personalidade de um líder tem de ser nobre, porque, se

no seu espírito houver negatividade, isso se refletirá nocivamente sobre um

grande número de pessoas, influenciando o pensamento delas.

S — Somente os seres humanos têm elos espirituais entre si?

P —  Não. Eu também tenho elos espirituais com todos os seres da minha

criação. Como eu já expliquei, é através dos elos espirituais que se estabelece a

minha relação com todo o Universo.

H —  Quando retornamos para cá, tivemos a grata surpresa de sermos

recepcionados por nossos pais, que, segundo soubemos, retornaram

recentemente ao seu convívio. Para onde eles foram naquela época quando seafastaram do senhor?

P —  Quando se afastaram de mim, seus pais desceram de posição,

permanecendo aqui na dimensão espiritual. O mesmo aconteceu com vocês. A

diferença é que, ao contrário de seus pais, vocês não permaneceram aqui na

dimensão espiritual, optando por viverem na dimensão material, na Terra.

G —  Como se processou o retorno de nossos pais à posição superior da

dimensão espiritual?

P —  Ao constatarem que a maioria dos habitantes da dimensão material, na

Terra, vivia nas posições intermediárias e inferiores da dimensão espiritual, seus

pais refletiram bastante sobre o exemplo de insubordinação que deram a vocês.

E, após um longo período de reflexão, se arrependeram sinceramente por terem

sido os precursores da teoria geral da verdade de cada um, predominante na

sociedade humana.

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H — Foi através desse sincero sentimento que eles reconquistaram a permissão

de retornar à posição superior da dimensão espiritual?

P — Sim. Eles compreenderam que, pela Lei da Ordem, vocês teriam grandedificuldade de subir de posição espiritual, caso eles não subissem primeiro.

H —  Quando despertamos para o sentimento de sinceridade, nossos pais já

haviam despertado?

P —  Sim. O arrependimento deles foi o primeiro passo para a mudança de

vocês, como descendentes. Pelos elos espirituais, esse sentimento os influenciou

a buscarem a sinceridade. No momento em que vocês, na dimensão material,

foram estimulados a buscar a sinceridade, fortaleceram ainda mais a decisão de

seus pais, estimulando-os a subirem de posição espiritual. Quando eles

conseguiram subir, facilitaram a elevação de vocês.

Hélio, Seleno e Geórgia, surpresos e comovidos com o que ouviram do

Patriarca, caminharam em direção aos pais.

O silencioso instante deu vez a calorosos abraços. Pais e filhos ficaramabraçados demoradamente.

Geórgia, sem conseguir conter sua emoção,  dirigiu-se aos pais com tocante

sinceridade.

G —  Perdoem-me! Durante todo esse tempo eu julguei vocês. No fundo do meu

coração nunca lhes perdoei. Sempre achei que não cuidaram de nós porque só

pensavam em si próprios. Mas agora compreendo o quanto sofreram! Narealidade, todos nós fomos vítimas do pensamento materialista e egoísta que nos

afastou do amor universal do nosso querido Patriarca. Jamais imaginei que

pudéssemos estar tão fortemente ligados pelos elos espirituais, ainda que distantes

fisicamente. Fico feliz por saber que o nosso despertar para o sentimento de

sinceridade teve origem no despertar de vocês. Muito obrigada!

O ambiente concentrou uma forte carga emocional, em função do

reconhecimento recíproco de pais e filhos em torno de um fato marcante em

suas vidas.

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H —  Esse fato sinaliza, para nós, a responsabilidade que temos com a

formação espiritual dos nossos descendentes e com o futuro deles. Muitos,

atualmente, sentem-se vítimas das desigualdades sociais por desconhecerem que

a causa da felicidade ou da infelicidade depende da posição que cada um

ocupa na dimensão espiritual.

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Igualdade e Desigualdade

S —  Por que na dimensão material existe grande desigualdade entre os

homens?

O Patriarca respondeu:

P —  Observem esta ilustração do Grande Cone, demarcada por mim:

P — A desigualdade a que você se refere decorre das diferentes posições que

constituem a hierarquia da dimensão espiritual. Posições espirituais diferentes dão

origem às diferenças naturais na dimensão material, interpretadas

equivocadamente como desigualdades. Na realidade, todos são iguais perante a

Lei da Natureza.

H — Por favor, explique isso melhor.

P — A igualdade é determinada pelas oportunidades iguais para todos. Todavia,

as desigualdades ocorrem naturalmente pela rigorosa hierarquia que existe na

dimensão espiritual. É impossível esperar igualdade entre a posição superior, a

posição intermediária e a posição inferior.

H — Um dos discípulos de Seleno, certa vez, disse que “a verdadeira igualdade

consiste em tratar desigualmente os desiguais”, e que “tratar igualmente os desiguais

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constitui a verdadeira desigualdade.” Muitos contestam essa afirmação, mas eu lhe

pergunto: Este raciocínio tem fundamento na Verdade?

O Patriarca afirmou que sim. Explicou, ainda, que tratar igualmente os

desiguais fere o princípio da hierarquia natural, fundamentada no princípiouniversal da precedência do espírito sobre a matéria.

P —   As desigualdades existem porque, embora exista igualdade de

oportunidades, há os que sobem e os que descem de posição nas dimensões

espiritual e material do “Grande Cone”, por conta do seu próprio esforço e

mérito. Por essa razão é que, hierarquicamente, tratar desigualmente os desiguais

significa verdadeira igualdade.

Em seguida, o Patriarca fez uma significativa advertência:

P —  Não confundam tratamento hierárquico social com tratamento humano.

Vocês podem estabelecer diferenças de tratamento na hierarquia social, mas

 jamais devem privar o ser humano de um tratamento digno da condição humana,

em razão de sua condição social desfavorável. Ninguém deve, em razão de sua

momentânea posição social inferior ser privado da dignidade humana.

H —  O que o senhor quer dizer com isso?

P− Quero dizer que a discriminação de seres humanos, que se encontram em

condições sociais inferiores, dá origem à discriminação de povos e de nações

que se encontram nas mesmas condições. Deste modo estimula-se o

individualismo e o nacionalismo em prejuízo do universalismo que deve prevalecerna convivência humana.

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Universalismo

S —

 Por que o universalismo deve prevalecer na vida humana?

O Patriarca explicou:

P — Eu criei a Terra com formas belas. Delimitei as fronteiras dos países com

uma grande variedade de linhas e cores. Atribuí a cada país uma missão

específica, de acordo com a peculiaridade da sua cor. Assim, criei o quadro do

mundo com arte superior. Por ignorar a missão das diferenças no contexto

universal, a educação materialista e egoísta leva cada país a considerar a sua

cor como a melhor. Indiferente ao universalismo das cores, essa educação es-

timula os países a pintarem o mundo da dimensão material com a sua cor,

estimulando a desarmonia entre os países e a expansão da arte de nível inferior.

Deste modo, a educação materialista, limitada pela visão individualista e na-

cionalista, cria sérios obstáculos ao meu plano de felicidade para toda a

humanidade.

G — Não é natural valorizar o nacionalismo?

P — Sem dúvida! Mas é fundamental submetê-lo ao universalismo.

G — Na prática, como se concretizará a ideia do universalismo?

P — Essa ideia se concretizará como decorrência natural da autêntica educaçãoespiritualista e altruísta, fundamentada na Verdade. O conhecimento pleno da

Verdade dará origem à cultura cruzada, que nada mais é do que o resultado

natural do cruzamento entre espírito e matéria, vertical e horizontal, Oriente e

Ocidente. A partir desse cruzamento ocorrerá uma grande revolução no

pensamento humano.

H ─  Em que consiste essa revolução?

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P —  Tudo será submetido ao universalismo, embora mantendo-se vivo o

sentimento nacionalista. Este sentimento, fundamentado no autêntico espiritualismo

e altruísmo, é que estimulará cada povo a sentir-se honrado de estar

contribuindo, de forma peculiar e efetiva, para o bem de toda a humanidade. Os

povos se reunirão, periodicamente, para escolherem um representante mundialcomprometido unicamente com a felicidade do ser humano.

S ─  Em que resultará o modelo universalista?

P — A união e a integração das potencialidades de cada país, em benefício da

humanidade, darão origem a um sentimento universal de respeito e gratidão entre

os povos.

G — O seu plano é tão abrangente, que seria melhor se ele fosse desenvolvido

por uma grande empresa, não é?

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Empresa Construtora do Paraíso Terrestre

P — Na realidade, esse sempre foi o meu objetivo. Por isso atribuí aos seres

humanos vocações especiais. O ideal é que todas as empresas, na dimensão

material, estejam comprometidas com o objetivo da empresa construtora do

paraíso terrestre, participando diretamente da construção de um mundo espiritual

e materialmente evoluído. Nesse tipo de empresa, não há distinção entre a

missão da empresa, a missão dos profissionais e, principalmente, a missão do

ser humano, atribuída por mim. Nela, o ser humano encontra a natural motivação

para conquistar, na vida da empresa e na sua própria vida, a autêntica qualidade

total.

S — O que significa autêntica qualidade total?

P — É a qualidade que tem seu referencial na missão do ser humano de servir

na construção do paraíso terrestre. Quando a missão da empresa, a missão do

profissional e a missão do ser humano buscam o único objetivo de servir à

concretização do meu plano, o ser humano experimenta, no seu íntimo, aindescritível satisfação de estar vivendo plenamente identificado com a missão da

sua alma. Essa satisfação constitui o elemento motivador natural para o ser

humano buscar constantemente o progresso da empresa e o seu próprio

progresso espiritual e material.

S — Os nossos conceitos de qualidade total encontram-se muito distante do seu

ideal, não é?

O Patriarca expôs que não existe autêntica qualidade total quando a empresa e o

profissional contrariam a missão do ser humano, conforme se verifica em muitas

empresas criadas pela cultura materialista e egoísta.

P —  Quando o ser humano compromete a missão da sua alma, qualquer

qualidade total que ele conquiste para sua empresa não lhe traz a plena

realização pessoal nem a verdadeira satisfação interior. A propósito, toda empresaé considerada por vocês como pessoa jurídica, não é?

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S — Sim.

P — E quem é o criador de uma pessoa jurídica?

S — Qualquer ser humano, considerado como pessoa física.

P — Então é uma pessoa física que cria uma pessoa jurídica, não é?

Sentindo que o Patriarca desejava conduzi-los a uma reflexão profunda, Seleno

procurou ser objetivo:

S — Aonde o senhor pretende chegar?

T — Quero que reflitam sobre o fato de uma pessoa física criar uma pessoa

 jurídica comprometida somente com os objetivos materiais da empresa, sem

considerar a missão do ser humano. A propósito, o percentual de empresas

comprometidas com os lucros espirituais, além dos lucros materiais, é grande ou

pequeno?

S — Ainda é bem pequeno.

P ─  Talvez esteja aí o principal motivo da propalada “qualidade total” não ser tão

total assim, não é?

H —  Qual o primeiro passo para a criação da empresa construtora do paraíso

terrestre?

P — É alertar a humanidade para o perigo a que ela está exposta e auxiliar o

ser humano na construção de uma nova e autêntica civilização.

G — Como podemos construir uma nova civilização?

P — Investindo na criação de uma nova educação fundamentada no modelo da

Verdade da Lei da Natureza, e na formação de recursos humanos e materiais

necessários à sua concretização.

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S — Existem atividades básicas capazes de dar suporte à criação de uma nova

educação, com vistas à criação de uma nova civilização?

P —  Sim. Já existem três colunas básicas capazes de dar esse suporte: OJohrei, a Agricultura Natural e a promoção do Belo, ao alcance de todos.

H — Por que as referidas práticas possuem tais condições?

P —  Porque elas reproduzem o modelo da dinâmica Verdade que já existe em

ação na Natureza.

S — O que é o Johrei? Em que ponto sua ação corresponde ao modelo da

dinâmica Verdade da Natureza?

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O Johrei

P —  Johrei é um método de purificação espiritual. Trata-se de uma palavra

 japonesa composta: “ joh”  significa purificar; “rei”  significa espírito. Em síntese,

Johrei é um método de purificação do espírito dos seres vivos. Eu permiti sua

criação com o objetivo de auxiliar o ser humano a purificar e eliminar as nuvens e

impurezas que se formam e se acumulam em seu corpo espiritual e, sobretudo, o

impede de expandir sua alma.

G — Por que razão se formam e se acumulam nuvens ou impurezas no espírito

do ser humano?

P —  Conforme já expliquei, anteriormente, no assunto referente à grande

harmonia do Universo, os seres vivos, em movimento, produzem impurezas que se

acumulam em seu espírito. Quando essas impurezas atingem um determinado nível

de acúmulo, entra em ação um processo natural de purificação e eliminação. Isso

acontece porque, se as impurezas se acumularem e solidificarem no espírito dos

seres vivos, eles não podem expandir e fazer evoluir sua partícula divina.

Consequentemente, ficam impedidos de cumprirem a missão para a qual foramcriados.

S ─  Por que os seres humanos resistem tanto à purificação e eliminação das

impurezas que se formam e se acumulam no interior do seu organismo?

P ─   Porque não aprenderam sobre a importância da Lei da Purificação na

aquisição e manutenção da boa saúde espiritual e material. Sem compreender que

é constituído de naturezas divina, espiritual e material, o ser humano se ocupa

somente com a limpeza do seu corpo material, mas não se ocupa com a limpeza

do seu corpo espiritual. Como conseqüência, ele jamais se vê livre das doenças

que têm como causas as impurezas acumuladas no interior do seu organismo. A

propósito, por que vocês tem o hábito de tomar banhos, regularmente?

G ─  Porque, regularmente, sujamos o nosso corpo físico.

P ─  O que acontece se não se submeterem aos banhos regulares?

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G ─  As sujeiras vão se acumulando em nosso corpo físico. E podem chegar ao

ponto de não somente prejudicar o convívio com nossos semelhantes, mas,

principalmente, comprometer a nossa saúde.

P ─  Quando vocês conhecerem os princípios universais da Verdade, em ação na

Natureza, aprenderão a cuidar não somente da limpeza do corpo material, mas,

principalmente, a cuidarem da limpeza do corpo espiritual. A partir daí, perceberão

a importância de certos fenômenos “aparentemente desarmônicos”  na Natureza,

que nada mais são do que processos necessários à purificação e eliminação das

impurezas, no corpo espiritual e no corpo material do seres vivos.

H ─   Por que o ser humano resiste tanto aos processos “aparentemente

desarmônicos”, provocados pela Natureza? 

P ─   Porque vivem na ilusão de que podem se livrar deles, colocando em

primeiro plano suas conveniências materiais. Ainda não despertaram para saber

que vivem subordinados à Lei da Natureza, cujo ordenamento divino objetiva, além

da sobrevivência e do funcionamento dos seres vivos, a sua evolução.

S — Como assim?

P ─  Como já expliquei, eu não criei os seres vivos somente para sobreviverem e

funcionarem. Eles existem, principalmente, para evoluírem. Isso significa, que é

possível mantê-los sobrevivendo e funcionando com máculas espirituais e

impurezas em seu corpo espiritual. Mas, é impossível promover a sua evolução,

enquanto houver máculas e impurezas impedindo a expansão da sua alma.

Hélio, impressionado com a revelação do Patriarca sobre a importância da

purificação do espírito para permitir a evolução da partícula divina dos seres vivos,

comentou:

H ─  Agora estou compreendendo o real significado e a importância do Johrei!

P ─  O que você está compreendendo?

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H ─  Antes, eu pensava que o Johrei era simplesmente um método de purificação

espiritual capaz de permitir que o ser humano viva com plena saúde espiritual e

material. Mas, agora, percebo que ele vai além ao objetivar a expansão e

evolução da alma do ser humano.

P ─  É por isso que o Johrei constitui uma das três colunas da empresa construtora

do paraíso terrestre. Sem ele, como um método eficaz de purificação espiritual,

não é possível pensar na construção de uma nova civilização espiritualista e

altruísta. Eu permiti a criação do Johrei objetivando despertar a natureza divina do

ser humano, adormecida pelo acúmulo de máculas espirituais e impurezas

materiais, ao longo de seu percurso evolutivo. À medida que a alma ocupar seu

devido lugar na consciência do ser humano, ele não pensará somente em

sobreviver e funcionar bem. Ele buscará, regularmente, a sua eterna expansão e

evolução!

S ─  Qual o resultado prático da expansão e evolução da alma na vida do ser

humano?

P ─  O ser humano se aproxima do seu destino de felicidade! À medida que sua

alma se expande e evolui, no sentido de ocupar cada vez mais alto posiçõessuperiores da dimensão espiritual, amplia-se a espessura e o brilho da sua aura.

Consequentemente, amplia-se a sua proteção natural. Infelizmente, o ser humano

ainda não sabe que a segurança e a proteção que vem buscando fora de si, já

existe dentro de si, bastando-lhe expandir e fazer evoluir a sua alma.

H ─  O Johrei foi criado para purificar o espírito do ser humano, sem que ele

tenha que se submeter aos rigorosos processos de purificação?

P ─  Exatamente. Pela constante prática do Johrei, o ser humano elimina suas

máculas e impurezas sem que tenha que ser submetido à severas purificações. O

Johrei é a energia cósmica capaz de despertar a natureza divina do ser humano e

conduzi-lo ao seu destino de felicidade.

S ─  O que ocorre no ato de canalização e transmissão da energia purificadora

do Johrei?

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P —  No ato do Johrei, o ser humano, pela imposição das mãos, canaliza e

transmite ondas de luz ilimitadamente. A frequência espiritual dessas ondas de luz

tem origem no meu espírito.

G — O Johrei é um ato religioso, científico ou artístico?

P ─  Qualquer ato que se fundamenta na Verdade da Lei da Natureza tem carac-

terísticas universais. É por isso que o Johrei, ao se fundamentar nesta Lei,

abrange, simultaneamente, os âmbitos religioso, científico e artístico, podendo ser

praticado por qualquer pessoa.

S —  Não há dúvida que o Johrei se apresenta como uma “coluna”

indispensável à criação de uma nova civilização fundamentada na Verdade da Lei

da Natureza. A Agricultura Natural a que o senhor se refere também se

fundamenta nela?

P ─  Sim. Esta agricultura revela, acima de tudo, o modelo natural da Verdade

que deu origem aos alimentos e os mantêm com energia vital.

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Agricultura Natural

S — Na prática, o que é agricultura natural?

P — É a agricultura que respeita a Verdade da Lei da Natureza. É o caminho

que o ser humano deve utilizar para produzir alimentos verdadeiramente

saudáveis. É a prática da verdadeira agricultura, que jamais contraria a missão

do solo de produzir alimentos com energia vital.

S ─  A agricultura natural significa agricultura primitiva? A agricultura que deixa nas

mãos da natureza a tarefa de produzir alimentos sem a interferência do ser

humano?

P — A agricultura natural é aquela que dá consciência ao ser humano de que

ele não criou nenhum alimento que recebeu do solo. Por isso, ele deve aprender

com a Natureza o modelo de estímulo à produção de alimentos sem

comprometer a missão espiritual do solo, atribuída por mim. A agricultura natural

é aquela que estimula a Natureza a manifestar seu poder vital.

G — Quando é que o ser humano compromete a missão do solo?

P —  Quando ele utiliza adubos químicos e agrotóxicos em seu interior,

enfraquecendo e matando os microrganismos que constituem a vida do solo.

Deste modo, o ser humano vai comprometendo a capacidade natural do solo de

produzir alimentos com energia vital, necessária à manutenção da vida humana e

dos demais seres da criação.

S —  Colocamos adubos químicos porque, sem eles, é impossível garantir a

produção de alimentos que atendam às necessidades do aumento populacional.

Graças ao desenvolvimento da engenharia genética, houve um grande progresso

na produção de alimentos. Não é uma atitude lógica pensar em aumentar a

quantidade de alimentos diante do desafio do aumento populacional?

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P — Se continuarem utilizando o método de interferência indevida no solo, um

dia conseguirão realmente obter grande quantidade de produtos, só que

envenenados e, consequentemente, inadequados à manutenção da vida humana.

Fez uma pausa e buscou ser claro:

P — Eu criei o solo a fim de que produzisse alimentos com sabor, necessários

à nutrição e à preservação da vida. Portanto, basta semear a terra, para que a

semente germine e o caule, as folhas e os frutos se desenvolvam,

proporcionando fartas colheitas. O solo é um técnico maravilhoso, que deveria ser

amado e respeitado. Ao obrigá-lo a produzir grande quantidade de alimentos con-

taminados pelos agrotóxicos, vocês causam sérios danos ao meio ambiente, com-

prometendo a vida da natureza, do solo, dos animais e do próprio ser humano.

S — Como assim?

P —  A engenharia genética de vocês contraria os princípios fundamentais da

engenharia genética que deu origem à criação, causando impactos e prejuízos

incalculáveis à vida dos seres, de maneira geral.

H — Quais as consequências que os produtos químicos utilizados na produção

de alimentos podem trazer para a vida humana?

P — Esses produtos não só podem como vêm trazendo inúmeras consequências

nocivas. As reações químicas dos agrotóxicos provocam alterações hormonais e

comportamentais além da imaginação. O uso continuado desses produtos

químicos reduz e até extingue a fertilidade do homem e demais seres da Natu-reza, além de dar origem a doenças cada vez mais resistentes e incontroláveis.

G — O que devemos fazer para evitar esses efeitos nocivos?

P — Basta que amem verdadeiramente o solo, mantendo-o livre das impurezas

que o impedem de manifestar seu sentimento e sua capacidade natural de

produzir alimentos saudáveis. Este é um fator importantíssimo e desconhecido

pelo nível da cultura contemporânea. O ser humano, até agora, imaginava que o

pensamento constituído de razão, sentimento e vontade se limitava ao reino

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humano. Entretanto, a trilogia do pensamento existe também no reino vegetal, no

reino animal e em todo ser vivo. Obviamente, como o solo e as plantações se

enquadram nesses reinos, respeitando a missão do solo e dispensando-lhe amor,

a sua capacidade natural de produção se manifestará ao máximo.

G — O que significa, na prática, respeitar e amar o solo?

P — Respeitar e amar o solo é, principalmente, não sujá-lo, contribuindo para

torná-lo o mais puro possível. Com isso, o solo ficará alegre e, logicamente, se

tornará mais ativo na sua missão de produzir alimentos saudáveis. Quando o solo

é mantido puro e tratado com amor, ele reage prontamente aos sentimentos hu-

manos.

G — Existem diferenças entre o pensamento do reino humano e o pensamento

do reino vegetal?

P — Sim. Uma diferença fundamental é que o pensamento do ser humano é

mais livre e móvel, ao passo que o pensamento do solo e o pensamento das

plantas têm liberdade e movimentos limitados. Assim, se o ser humano pedir ao

solo uma farta colheita com sincero sentimento de gratidão, o solo jamaisdeixará de atendê-lo.

H — Se o homem simplesmente respeitar e amar o solo, sem submetê-lo aos

produtos químicos, não haverá escassez de alimentos?

O Patriarca confirmou que, se o ser humano amar e respeitar o solo, este

 jamais deixará de produzir alimentos, porque essa é sua missão. Explicou que,atualmente, o uso abusivo de produtos químicos, além de contaminar o solo,

promove a sua compactação, o seu endurecimento e a sua dificuldade de

respiração. O resultado dessa ação humana antinatural é o aumento da erosão

do solo, contribuindo significativamente para o aquecimento global do planeta.

H — De que modo deve-se respeitar o solo?

P — Se o solo for mantido puro e as plantações forem expostas ao sol e abun-

dantemente abastecidas de água, produzir-se-á mais do que o necessário para o

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sustento humano. A eficácia do adubo natural consiste em aquecer a terra e não

deixar que ela resseque ou endureça. Em síntese, fazer com que a terra absorva

água e calor e não fique dura, preservando a sua capacidade natural de res-

piração. Nesse tipo de solo proliferam e predominam os microrganismos eficazes

do tipo fermentadores. Esses microrganismos têm capacidade de regeneração dosolo. Ao contrário, no solo contaminado de agrotóxicos, proliferam e predominam

os microrganismos do tipo putrefatores. Esses microrganismos têm capacidade

degenerativa. Eles impedem o crescimento das plantas e infestam o solo de

pragas e doenças.

Impressionada com o que ouvia, Geórgia perguntou:

G — O senhor quer dizer que a Terra, a exemplo do homem, também respira?

P — Sim. A propósito, é bom saberem que o globo terrestre respira uma vez

por ano. A sua respiração inicia-se na primavera e chega ao ponto culminante no

verão.

S —  Por favor, explique com mais detalhes.

P — O ar que o globo terrestre respira é quente, e isso se deve à dispersão do

seu próprio calor. Na primavera, essa dispersão é mais intensa, e tudo começa a

crescer; as folhas começam a brotar. Com a chegada do verão, as folhas

tornam-se mais vigorosas, atingindo-se o clímax da expiração. A partir daí, o

globo terrestre começa a inspirar, as folhas começam a cair. Tudo toma, então,

um sentido decrescente, atingindo-se o ponto culminante no inverno. Essa é a

imagem viva da natureza, que se renova a cada ciclo evolutivo.

S — Que tipo de energia é o ar expirado pelo globo terrestre?

P — É a energia espiritual do solo. A parte material dessa energia é conhecida

por vocês como nitrogênio. Graças a ele, as plantas se desenvolvem. O

nitrogênio sobe às camadas mais altas da atmosfera, junto com a corrente de ar

ascendente, e lá se acumula, retornando ao solo com as chuvas. Esse é o

adubo natural, à base de nitrogênio.

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S ─  O que acontece quando se utilizam adubos químicos no solo?

P — Quando vocês utilizam adubos químicos no solo, alcançam temporariamente

alguns resultados positivos. Mas essa interferência indevida macula o espírito e a

matéria do solo, produz chuvas ácidas e exige da natureza um grande esforçode purificação para retornar ao seu equilíbrio e harmonia originais. O ciclo vicioso

da utilização de adubos químicos torna o solo dependente e cada vez mais fraco

para cumprir sua missão de produzir alimentos verdadeiramente saudáveis, com

intensa energia vital.

G ─ O que significavam alimentos com intensa energia vital?

P — Significam alimentos com intensa energia espiritual. Ignorando que o espírito

é que dá origem à matéria, e a energia espiritual dos alimentos é que se

materializa nos nutrientes necessários à preservação da vida, vocês buscam maior

quantidade de alimentos, mas de qualidade espiritual cada vez menor e inferior.

S —  Como assim?

O Patriarca respondeu com outra pergunta:

P — Qual a parte do organismo encarregada de digerir os alimentos?

S — O aparelho digestivo.

P — Vocês conhecem a missão específica do aparelho digestivo como parte da

missão global do organismo humano, como um todo?

S — A forma do aparelho digestivo e algumas de suas funções nós já sabemos,

através do estudo da anatomia e da fisiologia, mas, como o senhor nos orientou,

talvez só pela “missiologia” seja possível conhecer sua missão... Já que estou na

sua presença, aproveito para perguntar-lhe: qual é a missão do aparelho di-

gestivo?

P — A missão do aparelho digestivo, subordinada à missão do organismo, como

um todo, é semelhante à missão de uma usina de transformação. Contudo, o

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mais importante desse conhecimento é saber que a matéria-prima fundamental

para o bom funcionamento dessa usina é a energia espiritual dos alimentos.

H — O que acontece quando os alimentos são destituídos de energia espiritual?

O Patriarca respondeu que nessa hipótese o aparelho digestivo não recebe amatéria-prima necessária para transformar a energia espiritual em energia material.

Sem a energia espiritual dos alimentos, o organismo acaba fracassando na sua

missão de produzir os nutrientes necessários à manutenção da autêntica saúde.

P — Ignorando essa verdade, vocês insistem em colocar dentro dessa usina de

transformação produtos acabados, sem espírito.

S — Por favor, poderia explicar melhor?

P —  É importante saberem que todo alimento natural, a exemplo de todo ser

vivo, é constituído de partícula divina, espírito e matéria. E com os seres

vegetais, por exemplo, não é diferente. Ao disponibilizar farta alimentação natural

para a manutenção da vida humana, objetivei, principalmente, o espírito dos

alimentos.

S — O senhor está querendo dizer que o espírito dos alimentos deve ser a

base da alimentação humana?

P — Exatamente. E isso por uma razão essencial: é o espírito dos alimentos

que produz os nutrientes que o organismo necessita para se manter forte e

vigoroso.  Ao ignorar a importância do espírito dos alimentos, vocês, além de

optarem por alimentos envenenados por agrotóxicos, buscam nas vitaminas eproteínas artificiais suprir a carência alimentar cada vez mais acentuada.

H — Quais as consequências de uma alimentação antinatural?

P —  Grande parte da força vital do organismo acaba sendo utilizada para

eliminar, do seu interior, as impurezas e os tóxicos contidos nesse tipo de

alimentação. Entre as muitas consequências negativas desse tipo de alimentação,

constata-se que o organismo humano se debilita gradualmente, tornando-se

dependente dos complementos e suplementos alimentares artificiais. Fracassando

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na sua missão de transformar o espírito dos alimentos em nutrientes necessários

ao seu funcionamento regular, o organismo humano vai pouco a pouco perdendo

sua vitalidade natural e enfraquecendo sua capacidade imunológica, sendo vencido

pelos tóxicos e impurezas que se acumulam em seu interior.

H — O que representa o acúmulo de tóxicos e impurezas no organismo do ser

humano?

P —  Representa a manutenção do ciclo vicioso dos processos naturais de

purificação. Desconhecendo a missão desses processos denominados “doenças”,

pela educação materialista, vocês combatem a purificação e eliminação das

impurezas do corpo humano e do corpo do solo, quando deveriam até incentivá-

las. O pior de tudo é que chamam de científica tal interferência ...

S ─ Não é científica e até digna de reconhecimento a ação de combate às

pragas que destroem as plantações de alimentos?

P ─ Qual é o comportamento científico diante de um fenômeno que envolve uma

determinada “praga” comendo determinadas plantações? 

S ─  O que o senhor quer dizer?

O Patriarca buscou ser mais objetivo:

P ─  Vocês conseguem identificar a forma visível da “praga”, não é?

S — Sim. E até lhe dar um nome científico.

P ─   Conseguem, também, identificar, dentro de algumas de suas funções

perceptíveis, a função de “destruição” das plantações, não é?

S ─  Exatamente.

P ─  De que modo conseguem identificar a missão invisível dessas pragas?

S ─  Como assim?

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P ─ Não ficou claro para vocês que toda a minha criação é constituída de

missão (invisível), funções (perceptíveis) e forma (visível)?

Seleno, surpreendido pelos argumentos do Patriarca, admitiu, justificou:

S ─  O nível atual da ciência ainda se encontra no plano da observação dos

fenômenos. E esse plano contempla a observação da forma visível do ser vivo

e das suas múltiplas funções perceptíveis. Quanto à sua missão invisível, ainda

não se chegou a uma certeza absoluta, embora seja possível aproximar-se dela

pelo consenso.

P ─  Que consenso?

S ─ Graças ao raciocínio indutivo, reunimos o máximo de dados particulares

sobre determinado ser. São esses dados que nos conduzem a uma definição

geral sobre a missão do ser que pesquisamos.

P ─   No caso das pragas que, segundo vocês, destroem as plantações, o

consenso científico chegou a que conclusão? Qual é a missão dos seres vivosdenominados “pragas”? 

Sentindo-se em “xeque” na presença do criador de todos os seres vivos,

Seleno reconheceu não saber com certeza a referida missão, aproveitando a

ocasião para perguntar ao Patriarca:

S ─   Qual é a real missão dessas pragas? Por que eles destroem asplantações?

Sentindo a necessidade de não se limitar a responder às perguntas, mas

formá-los com base na ordem natural da Verdade da Lei da Natureza, o

Patriarca, dirigindo-se aos três irmãos, buscou envolvê-los numa reflexão:

P ─ O que levou vocês a concluírem que as pragas “destroem” as

plantações?

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S ─  A evidência constatada pelos fenômenos destrutivos.

P ─ Vocês pensam que as pragas e insetos “destroem” as plantações  porque

ignoram sua missão, atribuída por mim. Se conhecessem sua missão de purificar

e eliminar do solo as impurezas que o impedem de produzir alimentos saudáveis,com puro teor de energia vital, possivelmente não pensassem que eles

“destroem” as plantações, não é? 

Diante da interpretação do Patriarca, Seleno insistiu em seus argumentos:

S ─   Ainda que, como o senhor diz, a missão dessas pragas seja purificar e

eliminar do solo as impurezas, o fato de deixá-las cumprir sua missão significa,

também, deixá-las “destruir” as plantações, não é? 

P ─  Quando você diz que as pragas estão “destruindo” as plantações, utiliza um

termo impróprio para retratar o que realmente acontece. Na realidade, as pragas

nunca pensam em destruir as plantações; simplesmente, elas se alimentam das

impurezas que existem nas plantações. A natureza peculiar dessas pragas é

alimentar-se dos venenos e das impurezas que existem nos vegetais, assim

como a natureza peculiar do ser humano é alimentar-se da energia vital que

existe nos vegetais, não é? Ou a natureza do ser humano é “destruir” osvegetais ao utilizá-los como alimentos?

Além de ignorarem a missão das pragas, vocês ignoram sua importante função

de alertá-los de que a simples presença delas nas plantações significa que há

impurezas e venenos em seu interior.

G ─  Como assim?

P ─  Para que o ser humano não se alimente de venenos e impurezas, é que eu

criei as pragas, com a missão de purificarem o solo. Todavia, sem compreender

isso, o que vocês fazem?

S ─  Buscamos exterminar as pragas com inseticidas e pesticidas, envenenando-

as.

P ─  O extermínio dessas pragas é total?

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S─ No início, algumas resistem, mas, com o uso de pesticidas e inseticidas cada

vez mais potentes, percebe-se que elas acabam sendo totalmente exterminadas.

P ─  E não surgem mais pragas?

S ─ Do mesmo tipo, não. Surgem outras, mas de outro tipo.

P ─  Estas também estão são exterminadas?

S ─  Naturalmente.

P ─  Com o mesmos pesticidas e inseticidas?

S ─  Não. Em razão das novas pragas serem mais resistentes, é necessário usar

produtos mais potentes e duradouros. Atualmente, graças a esses produtos, já

não se observa mais tantas pragas na plantação.

P ─   Então, agora, já não é preciso usar mais estes produtos?

G ─   Ainda é necessário continuar utilizando-os. Sem eles, as pragas acabamvoltando.

P ─  Isso significa que o ser humano venceu a batalha contra as pragas?

S─   Parece que sim. Pelo menos estamos no caminho da vitória!

Após uma breve pausa, o Patriarca comentou:

P ─  Esse é o tipo de vitória com sabor de derrota, não é?

S ─  Por quê?

P ─  Porque o ser humano não percebe que ao impedir as pragas de cumprirem

sua missão, alimentando-se dos venenos e impurezas das plantações, ele

assumiu a missão das pragas. Atualmente, já não são mais as pragas que se

alimentam de venenos, e sim os seres humanos. O pior dessa atitude é que eles

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ainda se orgulham de manter e ampliar o ciclo vicioso das impurezas, na vida da

Natureza e em sua própria vida, dando causa ao surgimento de pragas cada vez

mais resistentes aos produtos utilizados para exterminá-las.

G ─ Por favor, explique melhor sobre isso.

O Patriarca sentindo a necessidade de basear sua explicação em conceitos que

 já havia ensinado antes, comentou:

P ─   Como eu já expliquei, anteriormente, eu não criei a Natureza e os seres

vivos simplesmente para eles sobreviverem e funcionarem, mas, principalmente,

para evoluírem ilimitadamente. Isso significa que um ser vivo não pode evoluir

tendo impurezas em seu corpo espiritual. Daí a necessidade de purificação e

eliminação das impurezas, regularmente. Portanto, a simples sobrevivência de um

ser vivo gera impurezas em seu organismo. O seu funcionamento constante exige

que essas impurezas sejam regularmente purificadas e eliminadas, caso contrário

elas se acumulam e se solidificam. A solidificação das impurezas no organismo

do ser vivo, além de prejudicar sua sobrevivência e funcionamento, compromete,

principalmente, sua evolução. É justamente para restabelecer o fluxo natural dasobrevivência, funcionamento e evolução, que determinados seres vivos foram

criados por mim com a missão de purificarem e eliminarem do organismo de

outros seres vivos as impurezas que existem em seu interior. As pragas são um

desses seres necessários. Elas não surgem e não atuam onde não há

impurezas!

S ─  O que acontece quando as exterminamos?

P ─   Além de não reduzirem o nível de impurezas existentes, vocês contribuem

para ampliá-las. Em razão desta ampliação, a Natureza é estimulada a produzir

pragas cada vez mais fortes e resistentes aos venenos e pesticidas, a fim de

recuperar seu nível de limpeza com vistas ao restabelecimento de sua harmonia

original. Quando se promove o extermínio das pragas com venenos, alimenta-se

o ciclo vicioso da sua proliferação.

E fez uma advertência significativa:

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P ─ Na aparente vitória contra as pragas, o que o ser humano vem conquistando

realmente é o título de quem come mais veneno e impurezas, não é?

H ─  Explique melhor a razão do aparecimento das pragas nas plantações.

P —  Essas pragas não aparecem nas colheitas por acaso. Elas surgem porque a

Natureza necessita purificar o solo contaminado por impurezas que comprometem sua

missão de produzir alimentos com energia espiritual. Ignorando isso, vocês utilizam, na

plantação, produtos químicos objetivando eliminar as pragas. Mas, na prática, o que

conseguem é provocar mutações genéticas, que simplesmente ampliam a resistência

dessas pragas às substâncias químicas que deveriam combatê-las, alimentando o ciclo

vicioso da dependência de produtos químicos, na agricultura. Deste modo, vocês não

matam somente as pragas; matam principalmente os microrganismos eficazes que

constituem a vida do solo. A partir daí, o uso de produtos químicos e fertilizantes

artificiais torna-se imprescindível à produção de alimentos, não é? Se buscassem

tornar o solo puro, ao invés de sujá-lo cada vez mais com produtos químicos,

vocês evitariam naturalmente o aparecimento de pragas “nocivas” à plantação.

G — Essa explicação assemelha-se muito à fábula do urubu.

P — Que fábula?

Geórgia contou que esta fábula conta a história de um ser humano que viveu

durante muito tempo tentando afastar inutilmente os urubus do seu quintal. Ele

reclamava o tempo todo da presença deles. Já tinha perdido a conta de

quantos urubus tinha exterminado, mas não conseguia impedir o aparecimentode outros. Até que um dia recebeu a visita de um amigo que lhe explicou que

os urubus são atraídos naturalmente para os lugares onde existem carniça e

outros detritos. A partir desse dia, ele percebeu que a sujeira existente no seu

quintal é que atraía os urubus. Bastou promover uma eficiente limpeza no

quintal para afastar natural e definitivamente a causa do aparecimento daqueles

bichos incômodos.

O Patriarca comentou a respeito dessa fábula:

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P — Essa história ilustra muito bem a Verdade. Infelizmente, a educação, que

ignora a missão dos seres vivos, encontra-se afastada da Verdade da Lei da

Natureza. Ela ilude o ser humano, fazendo-o crer que ele pode livrar-se dos

urubus que existem em sua vida sem precisar retirar do seu espírito as

impurezas que os atraem! Deste modo, essa educação vem alimentando o ciclovicioso da doença na vida do solo e na vida do próprio ser humano.

S —  Agora começo a entender a importância que o senhor dá à agricultura

natural. Sem ela, realmente é impossível se obter a verdadeira saúde, não é?

P — Se o ser humano não ingerir produtos que possuem energia espiritual, ele

 jamais poderá desfrutar de uma vida verdadeiramente saudável. Por isso,

alimentar-se de produtos com elevada e densa energia espiritual, além de ser

seguro, transforma os nutrientes em energia vital. Esses produtos jamais deixam

no organismo resíduos tóxicos que alimentam o ciclo vicioso da doença. Neste

caso, a diferença entre os alimentos que possuem energia vital e os que não

possuem é muito significativa para a manutenção da autêntica saúde e

preservação da vida. Por outro lado existe um detalhe importante da Natureza

que vocês jamais deveriam desprezar.

H — Que detalhe importante é esse?

P — O detalhe da época adequada à semeadura e à colheita de determinados

alimentos. Se vocês respeitassem o ciclo natural de produção de cada alimento,

não exigiriam que eles estivessem sempre disponíveis. Obrigando o solo a

produzir alimentos fora da sua época normal, através do estímulo de fertilizantes

artificiais, vocês, além de causarem prejuízos ao solo e à economia, diminuemconsideravelmente o prazer que deveriam sentir se esperassem o tempo certo

para saborear os produtos de cada época.

G ─  O que acontecerá se o ser humano continuar se alimentando de produtos

contaminados de agrotóxicos e sem energia vital?

P — Se nada for feito para reverter rapidamente a situação atual, o ser humano

se alimentará somente de venenos por não ter alternativa, comprometendo não

somente sua saúde, mas também a vida do meio ambiente e a sua própria vida.

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S — O que devemos fazer para reverter essa situação?

P —  Deem mais valor à vida, apoiando os verdadeiros agricultores, que se

esforçam para respeitar a Lei da Natureza na produção de alimentos comenergia vital. Eles enfrentam grandes dificuldades, impostas pelas conveniências

dos que só visam lucros materiais.

G─ O que se deve fazer neste sentido?

P — Estimulem o desenvolvimento da agricultura natural! Eu criei os alimentos

com energia vital para manter o ciclo virtuoso da saúde. Ao optarem pela agri-

cultura convencional, que se utiliza de agrotóxicos, vocês enfraquecem a energia

vital dos alimentos e mantêm o ciclo vicioso da doença na vida humana e na

vida dos demais seres da criação.

Satisfeita com as explicações do Patriarca sobre o Johrei e a Agricultura

Natural, Geórgia comentou:

G —  Realmente, ficou claro para mim que o Johrei e a Agricultura Natural,preconizadas pelo senhor, constituem “duas colunas” importantes para a criação

de uma nova civilização. Gostaria de saber, agora, em que consiste a “coluna”

da Promoção do Belo. Esta coluna, à exemplo das outras duas, é

indispensável para a criação de uma nova civilização?

P —   A coluna da promoção do Belo a que me refiro, além de ser

indispensável, é essencial para a criação de uma nova civilização! 

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Promoção do Belo

S —  Por que a “coluna” de promoção do Belo é essencial para a criação deuma nova civilização?

P —  Porque o Belo a que me refiro não é qualquer belo. Trata-se do Belo que

materializa o Bem, que por sua vez, manifesta a Verdade. Em outras palavras,

é o Belo que tem origem na Verdade e não o belo que tem origem na

pseudoverdade, como já foi explicado, anteriormente.

G —   O senhor está se referindo ao Belo da trilogia Verdade-Bem-Belo que,

segundo sua afirmação, constitui os fundamentos essenciais para a construção do

paraíso terrestre?

P —   Exatamente. A promoção deste Belo, cujo modelo se encontra

materializado na forma dos seres da Natureza, é responsável pela existência da

Arte como sua mais fiel representação. Este Belo sempre cumpre a missão da

arte de elevar o caráter do ser humano e enobrecer seus sentimentos.

S ─   Geralmente, a maioria das pessoas quando buscam promover o belo,

pensam tratar-se unicamente de colocar quadros nas paredes, fazer arranjos

florais, promover obras musicais, teatrais e outras inúmeras manifestações

artísticas. Isso não significa promover o belo?

P ─  Não há dúvida que todas essas práticas são promotoras do belo, devendo

ser apoiadas e incentivadas. Todavia, nem sempre o belo que resulta dessas

práticas satisfazem as condições da trilogia Verdade-Bem-Belo, cujo modelo

existe na Natureza.

G ─  Que condições o Belo da trilogia Verdade-Bem-Belo deve satisfazer para

corresponder à Verdade da Natureza?

P ─  Deve satisfazer as condições de harmonia, evolução e arte. Isso porque,

como já vimos, a harmonia é a representação da Verdade, a evolução é a

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representação do Bem e a arte é a representação do Belo. Portanto, a promoção

do Belo a que me refiro tem o compromisso com essas condições essenciais.

H —  Isso significa que o autêntico Belo tem que se fundamentar no Bem que

tem origem na Verdade?

P —   Exatamente. O autêntico Belo como manifestação da Verdade é o que

contempla a plena constituição do ser, privilegia a realidade invisível da sua

missão e prioriza seu sentido oculto.

G  —  O Belo a que o senhor se refere é o que tem compromisso com a missão

dos seres?

P —  Sim. Não é simplesmente o belo superficial e formal, sem conteúdo.

H — Na prática, como deve ser o Belo?

P — O Belo deve ser algo que não crie apenas uma satisfação individual, mas

que também cause uma sensação agradável aos outros. Como já expliquei, nas

posições superiores da dimensão espiritual prevalece o Belo superior. Num am-biente de harmonia, tudo se encontra em ordem, limpo, claro e adequado à

missão das flores de alegrar a vida pela beleza. Ao contrário, nas posições

inferiores da dimensão espiritual prevalece outro tipo de belo. Num ambiente de

pseudo-harmonia, tudo se encontra em desordem, sujo, escuro e inadequado à

missão das flores. Que nível de Belo vocês desejam promover?

HSG — O Belo da posição superior da dimensão espiritual.

P — Vocês responderam deste modo porque não estão em sintonia com as posições

inferiores da dimensão espiritual. Se estivessem, talvez achassem belo o nível de

pseudo-harmonia, pseudo-evolução e pseudo-arte que lá se projeta. Os que vivem

nessa frequência não deixam de sentir alguma satisfação pessoal. Contudo, a

promoção desse tipo de belo não consegue causar uma sensação agradável aos

outros, não é?

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H —  Isso significa que não é qualquer belo ou qualquer arte que influenciam

positivamente o caráter e os sentimentos do ser humano?

P — Exatamente. É importante saberem que o nível espiritual do artista, onde sua

arte tem origem, exerce forte influência sobre suas obras e, consequentemente,sobre as pessoas que mantêm contato com elas. Dessa maneira, dependendo do

caráter do artista, sua arte pode exercer influência positiva ou negativa sobre as

pessoas.

H — Poderia ilustrar melhor?

P — Em qualquer obra de arte encontra-se impregnado o pensamento do autor, ou

seja, sua razão, seu sentimento e sua vontade. Essa realidade invisível constitui a

base espiritual da sua obra, que se projeta na realidade visível através de uma

determinada forma material, estabelecendo-se, entre o espírito e a matéria dessa

obra, uma união íntima e inseparável.

S —  Isso significa que, no contato com as obras de arte, as pessoas recebem

constantemente a influência espiritual do pensamento do artista impregnado na

sua criação?

P — Sem dúvida. Se o artista tem compromisso com a Verdade e capta sua

essência, suas obras influenciam positivamente as pessoas que têm contato com

elas. Ao contrário, se as obras de arte se afastam da Verdade, elas influenciam

negativamente as pessoas.

S —  Poderia ilustrar com um exemplo?

P —  Um exemplo marcante de influência positiva vocês vivenciaram antes de vir

para cá, não foi?

H — O senhor está se referindo às obras de arte criadas por Geórgia?

P — Sim. Geórgia, como excelente artista que é, conseguiu projetar nas suas obras

não somente formas e funções do Belo. Ela conseguiu projetar, principalmente, a

missão do Belo, que nasce dos nobres sentimentos de harmonia. Ao pensar na

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união que deveria existir entre você e Seleno, ela impregnou em sua obra o seu

pensamento de uni-los e harmonizá-los.

S — Foi por isso que aquelas obras conseguiram nos sensibilizar e influenciar

positivamente?

P —  Foi exatamente por isso. As formas daquelas obras estavam fortemente

impregnadas da missão de promover a sincera união de vocês. O espírito delas

sensibilizou seus corações e transformou em positivo o sentimento negativo que

os manteve separados por longo período.

O ambiente carregou-se de forte emoção. Hélio e Seleno olharam para Geórgia

com imenso carinho e abraçaram-na calorosamente, agradecendo-a por ter

promovido o Belo que os uniu novamente.

Geórgia, por sua vez, adotou uma postura de humildade ao dizer:

G —  Se realmente me cabe algum mérito em tudo isso foi somente por ter

desejado sinceramente a união e a harmonia de vocês, e ter seguido a minha

intuição de promover uma exposição de arte com este objetivo.

P — O que Geórgia está dizendo é bastante significativo. Quando ela buscou

sinceramente a união e a harmonia de vocês dois, o seu pensamento entrou em

sintonia com a posição superior da dimensão espiritual. Nessa frequência

espiritual, onde existe harmonia, o seu espírito criou aquelas obras, influenciando

diretamente o sentimento de vocês, que tiveram contato com elas. Isso mostra

que, quando o artista entra em sintonia com a Verdade, ele manifesta overdadeiro Bem e promove o verdadeiro Belo em suas obras, contribuindo para

elevar o sentimento e o caráter das pessoas que têm contato com elas.

S — O Belo é sempre a projeção natural da Verdade?

P —  Sim. Na realidade, quanto mais alto grau de civilização a sociedade

alcançar, maior deverá ser a predominância do Belo, como manifestação da

Verdade, na vida das pessoas.

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G — O Belo, em relação ao ser humano é a beleza do seu corpo físico?

P — Em relação ao ser humano, o Belo é, principalmente, a beleza interior dos

seus sentimentos. É o belo espiritual, que resulta do seu pensamento ligado à

Verdade. Esse pensamento põe em ação sua razão, seu sentimento e suavontade de viver a Verdade. Como consequência, suas palavras e ações tornam-

se belas. É da expansão desse belo individual que nasce, cresce e expande o

belo social.

H — O senhor sempre diz que a Arte é a representação do Belo. Isso significa

que o estímulo ao Belo pode transformar todo homem em artista?

P —  Sem dúvida. Observem o exemplo dos grandes artistas. Eles sempre

buscam formas adequadas e belas para melhor expressarem a missão da sua

arte. Nessa constante busca, conseguem racionalizar o que sentem e sentir o

que racionalizam, transmitindo não somente a razão, mas, principalmente, o

sentimento, a emoção da sua arte. A atitude de buscar a forma mais adequada

e bela para dar vida à missão dos seres não deve limitar-se às artes teatrais,

plásticas, musicais e demais artes conhecidas. Ela deve estimular a sensibilidade

artística na culinária, na costura e nas inúmeras atividades que envolvem ocotidiano da vida humana.

G — O senhor sempre diz que a missão da flor é alegrar a vida pela beleza. O

estímulo à arte floral pode ser considerado como uma importante atividade de

promoção do Belo?

P — Sim. A arte floral ao alcance do povo é uma atividade altamente expressivade promoção do Belo, em ação Natureza. Se houver flores onde quer que haja

pessoas, a força para transformar a Terra em paraíso aumentará bastante, con-

tribuindo para criar e manter um ambiente de alegria e beleza na vida humana.

O Patriarca explicou que, quando o ser humano busca formas cada vez mais

adequadas e harmônicas para dar vida à missão dos seres, ele sempre

consegue projetar o Belo em forma de Arte. E é nessa busca constante que o

ser humano exerce plenamente sua criatividade, assumindo sua natural condição

de artista em tudo que realiza.

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H — Na constante busca do Belo, o ser humano se aproxima do seu criador?

P — Sim. A busca do Belo constitui uma prática do Bem que tem sua origem

na Verdade. Consequentemente, a busca do Belo aproxima a criatura do Bem eda Verdade do seu criador.

G —  Qual o exemplo mais expressivo do modelo da Verdade, Bem e Belo na

sua criação?

P — É a própria Natureza em seu estado original. Todos se sentem bem no

contato com ela, não é? Isso acontece porque a Natureza é a síntese do meu

pensamento como obra de arte que eleva o espírito dos que com ela têm

contato.

H —  Essa é razão do senhor estar sempre recomendando que nos tornemos

aprendizes da Natureza?

P —   Exatamente. Isso porque a Natureza sempre manifesta a Verdade que

promove o Bem e projeta o Belo em formas de arte superior. Portanto, sedesejam promover o Belo em formas de autêntica harmonia, evolução e arte,

pratiquem o Bem da Verdade da soberana Natureza.

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Soberania da Natureza

H ─  Por que a Natureza é soberana?

P — Porque a Natureza não precisa de avalistas para submeter todos os seres

vivos aos princípios universais da Verdade. E isso acontece porque ela é

autossuficiente para existir e funcionar, jamais admitindo interferências no curso

da sua ordem natural.

S — Por favor, explique isso melhor.

O Patriarca submeteu aos irmãos a seguinte questão:

P —  A Natureza precisa do aval da religião, da ciência ou da arte, para

promover a sobrevivência, o funcionamento e a evolução dos minerais, vegetais,

animais e humanos? Ela precisa de autorização para promover o clima, as es-

tações do ano, o vento, a chuva, a vida e a morte?

HSG — É óbvio que não.

P — Entenderam o porquê da Natureza não precisar de avalistas para cumprir

sua missão, submetendo toda criação à Verdade? A propósito, que critério vocês

utilizam para saber se determinadas teorias religiosas, científicas ou artísticas são

verdadeiras?

Fez-se um silêncio denunciador: os três irmãos foram apanhados de surpresa.

A indecisão deles ficara evidente.

S — O que o senhor realmente quer dizer quando afirma que a Natureza não

precisa de avalistas?

P — O que quero dizer é que a Verdade da Natureza, como modelo universal,

é que deve servir de padrão para avaliar se as teorias religiosas, científicas eartísticas são ou não são verdadeiras.

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S — Realmente, como já constatamos, prevalece em nossa sociedade a teoria

geral da verdade de cada um. Baseados nesse modelo de comportamento, es-

tamos vivendo e criando condições que achamos necessárias para melhorar o

padrão de vida da humanidade. Contudo, pelas suas explicações, já é possível

perceber a grande falha da nossa educação.

Hélio, por sua vez, manifestou ao Patriarca sua preocupação:

H — Como é possível conhecer a missão dos seres da sua criação sem ter a

possibilidade de consultar, regularmente, o manual do criador ou fabricante?

P — À medida que o ser humano vai subindo de posição na dimensão espiritu-

al, ele vai ampliando sua afinidade com meu pensamento e percebendo cada vez

mais e melhor a Verdade, através dos elos espirituais que ligam o criador à

criatura.

H — O que significa, na prática, perceber cada vez mais e melhor a Verdade?

P — Significa apropriar-se dos princípios universais da Lei da Natureza. Esses

princípios universais, que constituem a Verdade, são capazes de libertar o serhumano da ignorância.

H —  O senhor, certa ocasião, nos estimulou a conhecer a Verdade, pois a

Verdade nos libertaria da ignorância. Realmente, naquela época, não entendi nem

me interessei pelo assunto. Mas, hoje, já não tenho nenhuma dúvida de que a

Verdade é o seu pensamento. Nosso ideal sempre foi tornar possível a

elaboração de uma teoria educacional que, fundamentada em princípios universaisda Verdade, pudesse conduzir o ser humano à conquista da felicidade.

Infelizmente, não conseguimos perceber que esses princípios universais sempre

existiram, em ação na Natureza, à espera de ser descobertos, uma vez que já

foram inventados pelo criador de toda a vida.

S — Percebo, agora, que a Verdade que sempre buscamos como referencial para

conduzir-nos à felicidade sempre existiu. Minha tendência de querer submeter

tudo à minha razão, sem admitir uma razão superior, já não é mais a mesma,

diante das evidências que distinguem a inteligência do criador e a inteligência da

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criatura. Sinto que quando o ser humano conhecer o destino de felicidade que se

encontra projetado em sua alma, ocorrerá uma grande revolução em seu

pensamento. Por isso, quero deixar registrado que nunca estive tão motivado

quanto estou agora para promover a Verdade.

Realmente, faltava-nos uma visão universalista capaz de unir as diferençasnum ideal comum. O momento é de união universal em torno da Verdade da

Natureza. Acredito que chegou o momento do ser humano deixar de se

preocupar com a sua própria verdade, comprometendo-se de corpo e alma com

a Verdade do seu criador. Não vejo a hora de divulgar o seu plano para a hu-

manidade!

G — Faço minhas as palavras de vocês. Até porque já não há dúvida de que o

objetivo final da Verdade é reconduzir a humanidade a uma vida concorde com a

Lei da Natureza e construir uma nova civilização, alicerçada na autêntica saúde,

prosperidade e paz. Tivemos a permissão de conhecer uma teoria universalista,

fundamentada na Verdade e acessível a todos.

Seleno, demonstrando certo entusiasmo, destacou:

S — Já é possível saber o sentido e a razão da nossa existência. Sem dúvida,é o triunfo definitivo da razão humana, que, finalmente, compreende e incorpora

em sua vida a razão do seu criador.

P —  Gostaria que utilizassem todo esse entusiasmo na elaboração de uma

autêntica educação espiritualista e altruísta, com vistas à construção de uma

autêntica civilização.

G — A elaboração de uma autêntica educação espiritualista e altruísta deve se

fundamentar na Verdade da Natureza?

P —  Sem dúvida. Somente uma educação que tenha compromisso com os

fundamentos da Verdade da Natureza pode ser considerada autêntica e capaz de

promover a construção de uma autêntica civilização.

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Análise da Verdade 

Em seguida, o Patriarca perguntou aos irmãos:

P — Existe, na sociedade humana, um conceito universal da Verdade capaz de

avaliar se a verdade de cada um se aproxima ou se afasta desse conceito

universal?

H —  Ainda não existe um conceito universal da Verdade. Quando se questiona

o que é a Verdade, a maioria responde o que é verdade para cada um, nunca o

que é a Verdade como conceito universal.

S —  De certo modo, o que existe é um “consenso” sobre o que é a Verdade,

e vários dicionários registram esse consenso.

P — Como esse “consenso” dos dicionários conceitua o que é a “Verdade”?

Seleno, recorrendo ao que diz a maioria dos dicionários, respondeu:

S —  Basicamente,  “Verdade”  é a realidade. É a realidade tal qual ela é

exatamente.

P — E como esse “consenso” dos dicionários conceitua o que é a “realidade”?

S —  Basicamente, “r ealidade”  é a verdade; realidade é aquilo que é real,

verdadeiro.

P — Essas definições são suficientes para fundamentar um conceito universal da

Verdade como sendo a realidade, e realidade como sendo a Verdade?

Seleno, admitindo a fragilidade dos referidos conceitos, na educação

contemporânea, concordou com o Patriarca sobre a necessidade de se chegar a

um conceito universal da Verdade, principalmente depois de receberem inúmerasrevelações sobre o que é a Verdade como manifestação do seu pensamento. E

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assumindo uma atitude filosófica levantou as seguintes questões em relação à

criação de um conceito universal da Verdade, com base nas revelações do

Patriarca:

a)  Se a verdade é a realidade e a realidade é a verdade, que realidadeconstitui a verdade de um ser?

b)  A verdade de um ser é somente a realidade visível da sua forma material?

c)  A verdade de um ser é somente a realidade perceptível das suas funções

que mantêm sua forma em funcionamento?

d)  A verdade de um ser é somente a realidade invisível da sua missão, que,

segundo o Patriarca, constitui sua razão de existir?

e)  A verdade de um ser é simplesmente uma dessas três realidades,

isoladamente, ou é o conjunto dessas três realidades?

f)  Existe uma ordem natural da verdade (ONV) entre as três realidades

básicas que constituem a verdade de um ser?

g)  A verdade de um ser deve sempre ser submetida ao tempo-espaço-posição

(TEP), ou seja, à posição que um ser ocupa no tempo e no espaço?

Geórgia, atenta às questões levantadas por Seleno, mostrou-se sufocada

com tantas questões para se chegar à compreensão do real significado da

Verdade. Para ela, a Verdade era algo bem mais simples, bastando reproduzir omodelo existente na Natureza, tal qual fora ensinado pelo Patriarca.

Hélio, por sua vez, disse não achar necessário exercitar tanto a razão humana

para se chegar ao conhecimento da Verdade, bastando obedecer à vontade do

criador. Isso porque, pelas revelações do Patriarca, já era possível saber que a

Verdade é a manifestação da sua vontade de promover a harmonia, a evolução

e a arte da sua criação.

Retomando a palavra, o Patriarca comentou:

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P — Acho louvável a postura de Geórgia em buscar a Verdade pela vontade de

reproduzir o modelo existente na Natureza. Também acho louvável a atitude de

Hélio em buscar a Verdade pelo sentimento de obediência à minha vontade. Mas

é importante destacar também como louvável a atitude de Seleno em buscar aVerdade pelo exercício da razão.

Após tornar evidente a manifestação da tendência voluntarista de Geórgia, da

tendência sentimentalista de Hélio e da tendência racionalista de Seleno, na

busca da Verdade, o Patriarca fez o seguinte comentário:

P — É interessante constatar que todos vocês buscam manifestar o pensamento

pela tendência de cada um. Com isso, contribuem, como eu já disse, para o

desenvolvimento dos movimentos religiosos, científicos e artísticos, de maneira

geral. O que precisam considerar sempre é que o meu pensamento, como

manifestação da Verdade, é a síntese dessas tendências. Dentro do pensamento

de vocês também existem essas três tendências; portanto, é essencial buscarem

sempre a harmonia entre elas, e não ficarem presos à tendência de cada um.

G — O que o senhor quer dizer com isso?

P — Quero dizer que a minha razão, o meu sentimento e a minha vontade

constituem o pensamento universal que se manifesta na Verdade da Natureza,

devendo servir como um modelo para o pensamento humano.

Percebendo que os irmãos esperavam por uma explicação mais direta e

objetiva, em relação à tendência de cada um, o Patriarca comentou que quandoGeórgia diz que a Verdade é simples, bastando reproduzir o modelo da

Natureza, ela coloca em evidência sua tendência voluntarista. Mas essa

tendência, limitada na sua própria verdade, acaba limitando a Verdade da

Natureza à realidade visível da dimensão material.

Em relação ao Hélio, quando ele induz as pessoas a obedecerem à “Verdade” 

do criador, coloca em evidência sua tendência sentimentalista. Mas essa

tendência, sem consulta prévia ao meu real sentimento, não consegue,

efetivamente, ligar as pessoas a mim. Deste modo, acaba limitando-lhes a

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liberdade, a inteligência e a criatividade, atribuindo-me “verdades” que eu jamais

reconheceria como de minha autoria.

Por sua vez, Seleno, quando busca interpretar a verdade dos seres vivos da

minha criação, confiando somente na própria razão “como medida de todas ascoisas”, coloca em evidência sua tendência racionalista. Mas essa tendência, sem

consulta prévia à minha razão, o impede de conhecer e dar vida à missão

desses seres. Como conseqüência, acaba interferindo indevidamente na ordem

natural da Verdade da minha criação.

Hélio, sentindo-se incomodado com a colocação de que algumas “verdades”, o

Patriarca não reconhece como de sua autoria, perguntou-lhe:

H ─  Que “verdade”, por exemplo, o senhor não considera como sendo de sua

autoria?

Antecipando-se à resposta do Patriarca, Seleno, há muito incomodado por uma

posição radical do Hélio, em relação à uma suposta afirmação do Patriarca,

destacou:

S ─   A propósito, Hélio, certa vez, baseado em conversas que disse ter tido

com o senhor, começou a pregar que o seu grande patrimônio foi criado “pronto”

e “acabado”.

O fato é que, pelas pesquisas científicas percebeu-se que tudo se encontra

em evolução, ou seja, nada existe “pronto” nem “acabado”. Por diversas vezes

tentei demonstrar a evidência da evolução dos seres, mas ele resolveu manter a

sua convicção como um dogma inquestionável.

H ─   Não é bem assim como Seleno está falando. Após ter dito que o seu

grande patrimônio fora criado “pronto e acabado”, procurei mostrar o motivo da

minha convicção para os que duvidavam dela. Como me faltaram argumentos

lógicos e científicos para satisfazer os questionamentos levantados por Seleno,

resolvi deixar que o tempo esclarecesse a questão.

G ─  Na minha opinião, a divergência de opinião de que tudo foi criado “pronto”

e “acabado” constitui a causa do distanciamento ideológico entre Hélio e Seleno.

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Hélio acredita e mantém essa convicção como um dogma, por não apresentar

argumentos convincentes nem submetê-la à refutação.

Seleno, por sua vez, veio até hoje questionando a crença de que tudo foi

criado “pronto e acabado”, argumentando que, pelas pesquisas científicas, tudo se

encontra em contínua evolução. Daí surgiu uma dúvida universal, que persisteaté hoje!

P ─  Que dúvida?

G ─  A dúvida de quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?

P ─  O que vocês acham?

HSG ─  Opiniões todos têm. Mas, certeza...

S ─  Já que estamos na presença do criador, cabe perguntar ao senhor: quem

nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?

O Patriarca respondeu de modo direto e objetivo:

P ─ Foi a galinha.

S ─  Existe uma razão lógica e científica para esta afirmação?

P ─   Sem dúvida. Só que não é uma razão lógica tradicional, baseada na

verdade da educação contemporânea, que só admite a existência da dimensão

material. Refiro-me à lógica da Verdade da autêntica educação espiritualista,baseada no respeito à ordem natural da Verdade das dimensões divina, espiritual

e material.

Antes de fundamentar sua afirmação de que a galinha fora criada primeiro que

o ovo, o Patriarca explicou que, em primeiro lugar era preciso que eles

entendessem a diferença essencial entre o criador do ser vivo e as suas

criaturas. De modo direto, perguntou:

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P ─  Sabem qual é a diferença essencial que existe entre mim, como criador,

e vocês, como criaturas?

Diante da indecisão deles, o Patriarca respondeu:

P ─   Somente eu, como criador, tenho a competência exclusiva de criar e

extinguir a vida. Vocês só têm competência para reproduzir a vida, não podendo

criá-la nem extingui-la.

Após uma breve pausa para que os três irmãos refletissem sobre a revelação

do Patriarca, Seleno se manifestou:

S ─  Pensando bem, realmente o ser humano não tem competência para criar a

vida, podendo apenas reproduzi-la. Mas, sempre pensei ser possível extingui-la.

P ─  De que modo? Dê um exemplo de uma hipótese de extinção.

S ─  Praticando o homicídio ou suicídio!

P ─  Isso não passa de pura ilusão! Quando cometem o homicídio ou suicídio, oque extinguem é somente a parte material do espírito de um ser vivo. Mas, a

criação e a extinção do espírito propriamente dito, constituído de consciência e

alma, não é da competência humana criar ou extinguir. Isso porque a vida é,

antes e acima de tudo, um fenômeno divino manifestado espiritualmente e

materializado numa forma física, como já expliquei.

G ─  Em que ponto essa sua explicação constitui em fundamento convincentesobre a sua afirmação de que a galinha nasceu primeiro que o ovo?

O Patriarca destacou que essa explicação preliminar era importante para

mostrar a eles que a diferença essencial entre o criador da vida e as criaturas

criadas, determinava atitudes diferentes nos respectivos processos de criação

divino e humano.

P ─  Quando o ser humano, como existência criada, cria um ser inanimado, por

exemplo um computador, a potência (seu pensamento de criar) termina no ato da

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sua criação, não é? Isso significa que o computador quando é criado “pronto” e

“acabado” não pode dar origem a outro computador por não ter dentro de si a

potência necessária, não é assim?

HSG ─  Extamente.

P ─  No meu caso, como criador de todo ser vivo, quando crio um ser animado,

por exemplo, uma árvore, transformo sua potência (meu pensamento de criar um

ser com natureza divina, invisível) em ato, ou seja, numa árvore “pronta” e

“acabada”. Contudo, diferentemente do computador, essa árvore traz dentro de si

a potência, ou seja, traz sementes da árvore capaz de criar outras árvores.

Perceberam a diferença básica entre o processo de criação do criador e o

processo de criação da criatura?

S ─   Realmente, é uma diferença essencial. Agora compreendo a sua

observação de que a criação e a extinção da vida é de sua exclusiva

competência. No ser vivo, animado, criado pelo senhor, existe potência > ato >

potência ad infinitum . No ser inanimado, criado pelo ser humano, a potência

termina no ato, não existindo no ato “pronto” e “acabado” potência para dar

origem a um novo ser.

H ─   Agora tenho os fundamentos científicos que eu precisava para sustentar

minha convicção de que o grande patrimônio, criado pelo senhor, foi feito

“pronto” e “acabado”. Realmente, foi feito pronto e acabado porque foi feito em

“ato”, plenamente constituído da dimensão divina, da dimensão espiritual e da

dimensão material.

O Patriarca explicou que toda a sua criação possui uma partícula divina,

peculiar à missão de cada ser. E que todo ser vivo existe para ser feliz,

bastando cumprir sua missão. É no cumprimento dessa missão que todo ser vivo

transforma em ato o que tem dentro de si como potência. E isso significa que a

vida como um fenômeno divino, de natureza invisível, se manifesta como

fenômeno espiritual, de natureza perceptível, e se materializa como fenômeno

material, de natureza visível.

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P ─   Limitar a vida aos fenômenos materiais e espirituais é reduzir à vida a

simples sobrevivência e funcionamento dos seres humanos, ignorando a

importância da sua evolução. Sem compreender que a evolução é o objetivo

maior da minha criação, é impossível ao ser humano direcionar sua consciência

para a evolução da sua alma.

Retornando ao assunto inicial, Geórgia perguntou ao Patriarca:

S ─  Baseado na sua explicação, pode-se afirmar que foi a galinha que nasceu

primeiro?

O Patriarca, demonstrando bom humor, concluiu:

P ─  Sem dúvida. Foi a galinha, como ato “pronto” e “acabado”.

Já refletiram na hipótese de que o cruzamento do galo com a galinha é que

permite a produção de ovos denominados “galados” (que dão vida aos pintos)?

Na realidade, não foi somente a galinha que nasceu como ato “pronto” e

“acabado”. O galo e todos os demais seres da minha criação foram criados em

“ato” com “potência” permitindo-lhes a reprodução e a evolução ilimitadas.

Fez-se uma breve pausa para que os irmãos manifestassem entre si a alegria

de terem desvendado alguns dos mistérios que eles cultivaram por um longo

período.

H ─  Agora entendendo melhor a sua afirmação quando certa vez disse que o

tempo não representava nenhum mistério, pois sendo o tempo a manifestação da

sua vontade, o único mistério do Universo era o senhor. E que se encurtássemosa distância do nosso pensamento com o seu pensamento, todos os “mistérios”

seriam revelados.

S ─  O que devemos fazer para encurtar a distância do nosso pensamento com

o seu pensamento?

P — Tornem-se úteis ao desenvolvimento do meu plano. Comecem pela prática

de pequenas ações altruístas. O acúmulo dessas práticas permitirá que vocês se

aproximem cada vez mais de mim e do meu pensamento. Não há nada que me

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deixa mais feliz do que ver seres humanos traçando o próprio destino de

felicidade pela prática de fazerem seus semelhantes felizes. A esses,

gradualmente eu revelo a Verdade, ainda que não se esforcem para conhecê-la.

G — Por que esses têm acesso à Verdade, ainda que não se esforcem paraconhecê-la?

O Patriarca respondeu, sem conseguir ocultar sua emoção:

P — Porque a sua vontade de ser útil à humanidade me sensibiliza tanto, que

não consigo deixar sem acesso ao conhecimento da Verdade quem se coloca

nessa posição. A propósito, é bom saberem que a criação de uma nova e

autêntica civilização deve ter como requisito essencial a reunião de pessoas

comprometidas em buscar a própria felicidade pela prática altruísta de fazer feliz

seus semelhantes.

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Autêntica Civilização

Após os irmãos manifestarem sua concordância com o perfil dos que

construirão uma nova e autêntica civilização, o Patriarca comentou:

P — Esse modelo universal da Verdade terá o efeito de uma pedra jogada no

centro de um lago, formando ondas concêntricas que atingem as margens. Se

vocês querem beneficiar toda a humanidade, comecem construindo um modelo

de civilização verdadeiramente espiritualista e altruísta. É fundamental que

comecem qualquer grande obra a partir de um pequeno modelo.

S — A construção de uma autêntica civilização pode ter uma pequena cidade

como modelo?

P —  Pode e deve. Entretanto, é bom começar pela conscientização de um

indivíduo modelo. É a soma dos indivíduos modelos que tornará possível a

construção de uma cidade modelo.

H — É preciso ter muita fé e experiência para construir uma cidade modelo, não

é?

P —  Não é preciso ter muita fé nem muita experiência para construí-la. A

participação na construção da cidade modelo, com fundamentos na Verdade, é

que construirá a fé e a experiência dos que participarem dela. Se conseguirem

desenvolver um pensamento positivo, grande, forte e constante, conseguirão atrair

e sensibilizar muitas almas para a sua concretização.

S — Basicamente, o que devemos fazer?

P —  Ao retornarem à Terra, iniciem a criação de uma autêntica educação

espiritualista e altruísta, diferente da educação materialista e egoísta que criaram.

Pois, a que criaram é incapaz de corresponder aos anseios de uma autêntica

civilização!

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G — Por que a educação contemporânea se revelou incapaz?

P —  Porque, não tendo compromisso com o conhecimento da Verdade, a

educação contemporânea acomodou-se no conhecimento parcial da Verdade. A

partir daí, ela simplesmente vem confundindo cultura com civilização.

G — O que o senhor quer dizer com isso?

P ─  Quero dizer que civilização é o estado ideal da sociedade humana, sem o

predomínio da sua natureza animal. Por sua vez, cultura é o conjunto de

conhecimentos e práticas que o ser humano adquire de seus ancestrais e

transmite aos seus descendentes, ao longo da existência humana, por meio de

aprendizagem. Em resumo, o que quero dizer é que a formação educacional

contemporânea consegue dar cultura ao “ser humano animal”, mas não é capaz

de conduzi-lo à autêntica civilidade, peculiar ao “ser humano divino”. Não seria

exagero dizer que a cultura contemporânea encontra-se num nível intermediário

entre a selvageria e a civilização. 

G — É realmente impressionante o registro que atualmente se faz dos crimes

denominados “colarinhos brancos”. Antigamente, registrava-se o aumento decrimes entre as pessoas sem instrução educacional. Mas, agora,  sempre se

constata a presença de criminosos com formação educacional superior. Quando

eles não estão diretamente ligados à execução dos crimes, estão por trás deles,

como autores intelectuais.

S — Qual é a principal falha da educação contemporânea?

P —  É não ter compromisso com o ensino da Verdade! Significa que a

educação contemporânea não é capaz de conduzir o ser humano ao

autoconhecimento, ou melhor, ao conhecimento da sua plena constituição.

G — Por favor, explique melhor sobre a plena constituição do ser humano.

Imediatamente, o Patriarca retirou de sua pasta o modelo ampliado da ONV do

ser humano, pedindo que eles, após observarem a referida ilustração, fizessem

comentários a respeito.

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Fez-se uma longa pausa para a observação do modelo ampliado da ONV do

ser humano.

Geórgia foi a primeira a se manifestar, destacando que o modelo da ONV,

ampliado, mostrava a Verdade do ser humano com suas duas naturezas básicas:

a primária, representando sua natureza divina, e a secundária, representando sua

natureza animal.

Seleno, que sempre defendera a concepção de que o ser humano é

simplesmente um animal racional, rendeu-se à evidência da ONV, admitindo a

natureza divina na sua constituição. Após observar a referida ilustração,

perguntou ao Patriarca:

S — O ser humano identifica-se com o animal pelos sentidos?

P — Sim. É pelos sentidos que o ser humano, a exemplo do animal, busca sua

sobrevivência e seu funcionamento.

G — O que distingue o ser humano do animal?

P —  A natureza peculiar do seu pensamento. Só o pensamento humano é

capaz de identificar a alma como parte essencial de sua plena constituição e

priorizar sua expansão e evolução.

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H ─  O que leva o ser humano a afastar-se de sua alma?

P ─   Basicamente, é a ignorância da Verdade em relação à sua plena

constituição. Outro fator relevante é a sua ignorância em relação aos necessários

e regulares processos de purificação e eliminação das máculas e impurezas quese acumulam em seu organismo.

S —  Qual a conseqüência dessa ignorância?

P —  O acúmulo de máculas e impurezas no espírito do ser humano fortalece a

atuação da sua natureza animal, enfraquecendo a atuação da sua natureza

divina. Nesta situação, a consciência ocupa-se somente com a sobrevivência e o

funcionamento do corpo material, deixando de promover a evolução da alma.

Quando se ignora a ordem natural da Verdade, opta-se pelo fortalecimento da

natureza animal, em prejuízo da natureza divina.

Observem esta ilustração que contraria a ONV:

Após uma breve pausa para observarem a referida ilustração, o Patriarca

comentou que, sem conhecer a plena Verdade do ser humano e priorizar a

missão da sua alma, a educação contemporânea vem contribuindo para dareducação ao selvagem. E na condição de “selvagem culto”, o ser humano não

consegue assumir sua condição superior, quando se trata de preservar a vida

dos seres inferiores sob sua proteção e guarda. Como conseqüência da

ignorância da Verdade, o ser humano se afasta cada vez mais do seu destino

de felicidade, atribuído por mim.

G  ─  O que a educação deve fazer para dar consciência da Verdade ao ser

humano?

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P ─  Ela deve ser capaz de ensinar que a Verdade de qualquer ser consiste em

considerar sua plena constituição, respeitar a ordem natural que existe entre as

realidades da sua missão, funções e forma, e priorizar sempre o sentido oculto

na missão do ser, atribuído por seu criador.

H─  Em que consiste o sentido oculto na invisível missão do ser, atribuído por

seu criador? Ou melhor, em relação ao ser humano, qual o sentido que o

senhor atribuiu à sua alma?

P─   Um destino de felicidade! Eu criei o ser humano para ser feliz! Esse é o

sentido da existência da sua alma, cuja missão é servir ao plano de construção

do paraíso terrestre.

H —   Isso significa que o ideal de felicidade do ser humano já existe prontodentro da sua alma?

P —   Exatamente. Em potência, a alma humana tem o destino de felicidade,

bastando o ser humano transformar em ato o que já existe dentro de si como

potência.

S —  De que modo isso lhe é possível?

P — 

  Basta-lhe cumprir a missão da sua alma de servir ao meu plano deconstrução do paraíso terrestre. A efetiva participação do ser humano nesta

construção o conduz naturalmente ao seu destino de felicidade.

H —   Agora estou compreendendo melhor a sua advertência de que a

consciência do ser humano deve priorizar a expansão e a evolução da alma,

submetendo-se sempre à ordem natural da Verdade, promotora da harmonia, da

evolução e da arte na vida humana.

Contente com o comentário de Hélio, o Patriarca pediu que eles observassemas seguintes ilustrações, representativas do ciclo evolutivo do ser humano, com

base na ONV:

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G —  Realmente, estas ilustrações representam o curso do ciclo evolutivo, com

base no respeito à ordem natural da Verdade. Percebe-se claramente a

submissão do corpo material à alma. Quando há essa submissão, a consciência

do ser humano prioriza a evolução da alma, sem, contudo, deixar de cuidar dasobrevivência e do funcionamento do corpo material.

S —  A liberdade para respeitar ou desrespeitar o curso do ciclo evolutivo, significa

que o ser humano é o responsável direto por seu destino, feliz ou infeliz?

P —   Sim, ele é! Como já expliquei, anteriormente, eu criei o ser humano com

duas naturezas básicas: a divina e a animal. Por essa razão, o ser humano tem,

em comum com os animais, os sentidos. Difere deles pelo grau superior de

inteligência, liberdade e criatividade ilimitadas. Sua responsabilidade perante seu

destino decorre do seu livre-arbítrio.

H —   Isso significa que o ser humano tem liberdade para escolher o próprio

destino?

P —   Exatamente. No exercício da sua liberdade ele pode subir ou descer de

posição na dimensão espiritual. E no exercício da sua inteligência ele percebe

que quando sobe promove a evolução da sua natureza divina (alma) e torna-sefeliz; quando ele desce promove a evolução da sua natureza animal e torna-se

infeliz. Observem esta ilustração:

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Após observar a referida ilustração, Seleno comentou que agora estava

compreendendo porque o ideal humanista, que pretende conduzir o ser humano à

conquista da felicidade, ainda não obteve o êxito desejado.

S ─   Realmente, sem conhecer a Verdade é impossível concretizar o sonho

humanista de felicidade. Se o destino do ser humano é ser feliz pelo

desenvolvimento da sua natureza divina, qualquer ideologia que não promova a

evolução da alma humana constitui “propaganda enganosa”. 

H ─  Até agora eu destaquei a importância da alma humana, mas não sabia a

razão da sua existência, ou melhor, que o seu real sentido é destinar ao serhumano uma vida de plena felicidade. Com isso aprendi que a felicidade que

buscamos fora de nós, já existe dentro de nós. E que depende de cada um

assumir às rédeas da sua natureza divina, entregando-lhe o comando da sua

natureza animal.

S — Todos os seres da sua criação nasceram com o destino de felicidade?

P —  Sim.  Todos os seres da minha criação possuem partícula divina na sua

constituição. Isso significa que eles nasceram com uma essência divina, uma

identidade com missão peculiar, que constitui a principal razão de sua existência.

É por esse motivo que todos os seres criados por mim aspiram, mesmo

inconscientemente, a ser o que são em essência. Existe, no íntimo de cada ser

vivo, uma vontade latente de cumprir sua missão. É o cumprimento dessa missão

que resulta na sua felicidade, mesmo os seres que nascem e logo morrem para

permitir que outros vivam.

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G —  O fato de todo ser humano desejar ser feliz significa que, mesmo

inconscientemente, ele aspira a ser o que é em essência?

P — Exatamente. Como eu já disse, todos os seres criados por mim nasceram

para ser felizes. Esse é o destino natural dos que vivem para cumprir suamissão, atribuída por mim. O ser humano é o único que, pela excepcionalidade

do seu pensamento, foi dotado de capacidade para conhecer a própria missão e

a missão dos demais seres da minha criação. Sua partícula divina ou alma é de

natureza superior. Ele nasceu com a missão de servir ao meu plano de

felicidade para toda a humanidade, como principal instrumento e maior

beneficiário do paraíso terrestre. A consciência da missão da sua alma o conduz

a buscar não somente a sua sobrevivência e o seu bom funcionamento, mas,

principalmente, a sua ilimitada evolução espiritual e material, conforme deve ser o

verdadeiro ideal humanista.

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Ideal Humanista

Hélio, que há muito tempo buscava fundamentos de um ideal humanista,

comentou:

H — Não há dúvida de que a educação atual, fundamentada na lógica contrária

à ordem natural da Verdade, é incapaz de estimular a expansão e a evolução da

natureza divina do ser humano. Agora começo a entender o porquê de estar

crescendo, entre a maioria das pessoas consideradas cultas, os índices de

criminalidade, mentira, corrupção e maldade. Sem dúvida, essas manifestações

são frutos da educação materialista e egoísta. Esta educação, embora deseje ebusque a felicidade do ser humano, estimula na sua consciência o

desenvolvimento da sua natureza animal, em prejuízo da sua natureza divina,

limitando-se a dar cultura ao “selvagem”. 

Seleno, por sua vez, demonstrou sua disposição de colocar em prática a

autêntica educação espiritualista e altruísta ensinada pelo Patriarca. Entusiasmado

com a conclusão a que chegara ao refletir sobre a plena constituição do ser

humano, ele se mostrava feliz em participar do autêntico ideal humanista de

felicidade, a partir do pleno conhecimento da Verdade do ser humano.

G —  Felizmente, chegou o momento da lógica da Verdade criar a ética do

autêntico Bem e projetar a estética do autêntico Belo na vida humana.

Contente com a conclusão dos três irmãos, o Patriarca sinalizou que tudo que

eles disseram será realizado no tempo certo. E como já estava se aproximando omomento deles retornarem à dimensão material, recomendou:

P─ Coloquem seus pensamentos na posição superior da dimensão espiritual, e

mantenham seus pés firmes no chão da Terra. Hajam como se tudo dependesse

de vocês, e sintonizem com o meu pensamento, como se tudo dependesse de mim.

Com a união entre o criador e a criatura concretizaremos juntos o ideal da

humanidade.

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Vocês já conhecem a missão do ser humano e sabem o que fazer, como

meus representantes, para concretizarem meu plano para a humanidade.

Esforcem-se para cumprir a missão que receberam. Eu estarei lá quando o

paraíso terrestre estiver concretizado.

Hélio, Seleno e Geórgia, dirigindo-se ao transporte encarregados de trazê-los

de volta à Terra, pediram ao Patriarca que ele dissesse algo significativo, uma

mensagem que impregnasse suas mentes e envolvesse seus corações, naquele

especial momento da despedida.