o papel do enfermeiro na identificaÇÃo precoce do

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O PAPEL DO ENFERMEIRO NA IDENTIFICAÇÃO PRECOCE DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA José Chicuta Silva Junior 1 Luciana de Melo Mota² RESUMO O transtorno do espectro autista (TEA), decorre de um distúrbio do desenvolvimento caracterizado por déficit nas áreas de interação social, comunicação e comportamento. O diagnóstico é difícil e basicamente clínico, porém, quando detectado precocemente, ainda nos primeiros anos de vida, possibilita um tratamento adequado, favorecendo uma melhoria na qualidade de vida da criança e da sua família.Nesse sentido esse estudo busca analisar o que se tem publicado na literatura acerca do papel do enfermeiro na identificação precoce do TEA no âmbito da Atenção Primária à Saúde e as suas interfaces com o cuidado de enfermagem. Trata-se de uma revisão integrativa, sendo desenvolvida em 6 etapas. A busca dos estudos foi realizada nas bases Medline, Lilacs, BDENF de artigos publicados entre os anos 2009 e 2019 e avaliam o papel do enfermeiro na identificação precoce do TEA fornecendo evidências para o enfretamento da problemática. Com isso, ficou evidente que a atuação do enfermeiro vai desde a avaliação inicial da criança, o acompanhamento do tratamento, a educação e o apoio à família. DESCRITORES:Transtorno Autístico, Enfermagem, Intervenção Precoce e Cuidado da criança. 1 Acadêmico de Enfermagem do Centro Universitário Tiradentes - UNIT/AL, Campus Amélia Maria Uchôa, Maceió Alagoas. ² Professora adjunta I do Centro Universitário Tiradentes - UNIT/AL Campus Amélia Maria Uchôa, Maceió Alagoas.

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O PAPEL DO ENFERMEIRO NA IDENTIFICAÇÃO PRECOCE DO TRANSTORNO

DO ESPECTRO AUTISTA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA

José Chicuta Silva Junior1

Luciana de Melo Mota²

RESUMO

O transtorno do espectro autista (TEA), decorre de um distúrbio do desenvolvimento

caracterizado por déficit nas áreas de interação social, comunicação e

comportamento. O diagnóstico é difícil e basicamente clínico, porém, quando

detectado precocemente, ainda nos primeiros anos de vida, possibilita um

tratamento adequado, favorecendo uma melhoria na qualidade de vida da criança e

da sua família.Nesse sentido esse estudo busca analisar o que se tem publicado na

literatura acerca do papel do enfermeiro na identificação precoce do TEA no âmbito

da Atenção Primária à Saúde e as suas interfaces com o cuidado de enfermagem.

Trata-se de uma revisão integrativa, sendo desenvolvida em 6 etapas. A busca dos

estudos foi realizada nas bases Medline, Lilacs, BDENF de artigos publicados entre

os anos 2009 e 2019 e avaliam o papel do enfermeiro na identificação precoce do

TEA fornecendo evidências para o enfretamento da problemática. Com isso, ficou

evidente que a atuação do enfermeiro vai desde a avaliação inicial da criança, o

acompanhamento do tratamento, a educação e o apoio à família.

DESCRITORES:Transtorno Autístico, Enfermagem, Intervenção Precoce e Cuidado

da criança.

1Acadêmico de Enfermagem do Centro Universitário Tiradentes - UNIT/AL, Campus Amélia Maria

Uchôa, Maceió Alagoas. ² Professora adjunta I do Centro Universitário Tiradentes - UNIT/AL Campus Amélia Maria Uchôa, Maceió Alagoas.

ABSTRACT

Autism spectrum disorder results from a developmental disorder affected by deficit in

the areas of social interaction, communication and behavior. The diagnosis is difficult

and clinical, however, when detected early, even in the first years of life, allows an

appropriate treatment, favoring an improvement in the quality of life of the child and

his family. In this sense, this research study or what is published in the literature

about the role of nurses in the early identification of ASD in Primary Health Care and

its interfaces with nursing care. It is an integrative review, developed in 6 steps. A

research of the studies was conducted in the Medline, Lilacs, BDENF bases of

articles published between the years 2009 and 2019 and evaluated the nurse's role

in the early identification of ASD and the tests used to cope with the problem. With

this, it became evident that the nurse's performance ranges from the initial

assessment of the child, treatment follow-up, education and family support.

DESCRIPTORS: Autistic Disorder, Nursing, Early Intervention and Child Care.

1 INTRODUÇÃO

No início da vida de todas as crianças, existem processos inerentes dessa idade que

passam pelo desenvolvimento psicossocioemocional, evolução no comportamento e

crescimento, mudando todo o contexto corporal dessa criança. Diante desses

processos, o Brasil implantou os critérios do Crescimento e Desenvolvimento - C/D

de acordo com a Reunião de Cúpula de Nova York em 1990 e Conferência

Internacional de Nutrição em 1992, que fizeram uma análise comparando os

padrões de normalidade se as possíveis alterações e desvio nessa fase da primeira

infância. Diante desses estudos foram observados que o transtorno de espectro

autista se encaixa como um distúrbio que atinge o crescimento e desenvolvimento

das crianças (AUDURENS et al., 2017)

O Transtorno do Espectro do Autista (TEA) está classificado entre os Transtornos

Globais do Desenvolvimento (TGD), termo utilizado pela Classificação Internacional

de Doenças (CID-10) para definir problemas relacionados a crianças que

apresentam dificuldade ou inabilidade de relacionamento social, de comunicação e

comportamental. O TEA se manifesta, em geral, antes do terceiro ano de vida,

caracterizando-se pelo comprometimento do desenvolvimento psiconeurológico, o

que afeta diretamente a comunicação (fala e entendimento) e o convívio social

(CARVALHO et al., 2015).

Os sinais e sintomas se apresentam já nos primeiros meses de vida e, geralmente,

incluem o isolamento, hipersensibilidade, dificuldade em manter contato visual e

gestual, e hipoatividade. Posteriormente, começam a apresentar dificuldade de sair

da rotina, hiperatividade, movimentos repetitivos e estereotipados, irritabilidade,

déficit na fala e nas interações sociais (CARVALHO et al., 2015).

Segundo dados de 2017 da Organização das Nações Unidas para a Educação, a

Ciência e a Cultura (UNESCO), mais de um bilhão de pessoas em todo mundo vive

com alguma forma de deficiência, destas, quase 100 milhões são crianças. No Brasil

são 45,6 milhões de pessoas que representam quase ¼ da população com algum

tipo de deficiência. Já em relação ao Transtorno de Espectro Autista (TEA), estima-

se que no Brasil, onde existe uma população com cerca de 200 milhões de

habitantes, cerca de 1% dos indivíduos são portadores do deste transtorno

(UNESCO, 2017).

Atualmente, não existem dados oficiais sobre o quantitativo de pessoas portadoras

do TEA no Brasil. Contudo, em 18 de julho de 2019 o então presidente Jair Messias

Bolsonaro sancionou a lei 13.861/19 a qual obriga a inclusão, nos censos

demográficos, de informações específicas sobre pessoas com autismo a partir do

ano de 2020 (BRASIL, 2019).

Com base nos princípios do SUS, onde temos a universalidade que garante o

acesso no serviço de forma equânime e a integralidade que assegura atender a

necessidades desse indivíduo (Ministério da Saúde, 2017), temos em paralelo a lei

13.146/15 que dispõe a respeito da garantia de condições de igualdade visando à

inclusão social do indivíduo portador de algum tipo de deficiência (BRASIL, 2015).

Já a lei 12.764/12 institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos das Pessoas

com Transtorno do Espectro Autista viabilizando direitos a um diagnóstico precoce,

tratamento, terapias e medicamento; acesso à educação; à proteção e às provisões

adequadas de serviços que lhes propiciem a igualdade de oportunidades (BRASIL,

2012).

Em paralelo com, a criação da lei para as pessoas com deficiência (PCD) e

tambémas políticas públicas para pessoas portadoras do TEA, está o papel do

enfermeiro na identificação precoce do TEA durante as consultas de avaliação do

crescimento e desenvolvimento na atenção primária, e que um diagnóstico tardio

impossibilitaria assim um tratamento precoce, que irá influenciar no desenvolvimento

e melhor prognóstico infantil, fazendo com que a criança esteja cada vez mais

distanciada nas relações sociais (GIUNCO et al., 2010).

As políticas públicas têm se expandido a cada ano tornando o Brasil mais acessível

a todos, e as pessoas portadoras do TEA estão asseguradas quanto aos serviços

ofertados pelo SUS como qualquer outra pessoa, e, além disso, são garantidos

também os mesmos direitos regidos pelo estatuto da criança e do adolescente,

assim como também os mesmos direitos quando idoso pelo estatuto do idoso

(GIUNCO et al., 2010).

Culturalmente o Brasil é intolerante a toda forma que fuja do sujeito sem nenhum

transtorno ou limitação, há um forte estigma e preconceito com a PCD e também

com a família, e por o TEA ser um transtorno que afeta o desenvolvimento

psicossocioemocional dessa criança, causando uma introspecção social no seu

falar, pensar e agir, limitando o seu convívio com outras pessoas e a depender do

grau de comprometimento do TEA a perseguição e nível de estresse tende a

aumentar para essa família (SENA, et al., 2015).

A partir disso, surgiu a seguinte questão norteadora da pesquisa: O que se tem

publicado na literatura científica relacionado ao papel do enfermeiro na identificação

precoce do TEA? O estudo trará subsídios cientifico para a promoção da reflexão

sobre o tema e incentivará mais pesquisas que busquem detecção do TEA

precocemente para um melhor prognostico infantil.

Sendo assim, a pesquisa traz como objetivo identificar o papel do enfermeiro na

detecção precoce do TEA, analisando a capacitação do profissional de enfermagem

acerca da temática e se esse conhecimento irá possibilitar uma identificação

precoce, seguida de um bom prognóstico da criança portadora do TEA, durante as

consultas de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil.

2 METODOLOGIA

O presente estudo trata-se de uma revisão Integrativa, método de pesquisa que

possibilita a síntese de diversos estudos publicados, tendo em vista a formulação de

conclusões gerais sobre o tema pesquisado e levando a uma compreensão

completa do tema de interesse e direcionando pesquisas futuras (POMPEO, apud

NOGUEIRA, 2014)

A revisão integrativa de literatura é a mais ampla abordagem metodológica referente

aos tipos de revisão e requer que os pesquisados procedam à análise e à síntese

dos dados primários de forma sistemática e rigorosa (SOUZA et al., 2010).

Portanto, o presente estudo foi desenvolvido em seis etapas, conforme Mendes et

al. (2009) e Leal-David et al. (2018): (I) identificação do tema e seleção questão de

pesquisa; (II) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão dos estudos e

estruturação da busca na literatura; (III) definição das informações a serem extraídas

dos estudos selecionados; (IV) avaliação dos estudos incluídos; (V) interpretação

dos resultados; e (VI) síntese do conhecimento.

Foram incluídos artigos científicos, disponibilizados na íntegra, publicados nos anos

de 2009 à 2019, em português, com relevância para o tema estudado. Excluíram-se

notas prévias, editoriais, cartas ao editor, publicações duplicadas, trabalhos de

conclusão de curso, dissertações, teses e artigos com restrição de acesso

duplicidade. Posteriormente foram excluídos estudos que não atendiam ao recorte

temporal, língua de publicação e tipo, previamente definidos; foram ainda excluídos

estudos por critério de relevância.

A busca dos estudos foi realizada de março à novembro de 2019, nas bases Medline

(Medical LiteratureAnalysisandRetrievel System Online), Lilacs (Literatura Latino-

Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), e BDENF (Base de Dados de

Enfermagem), por meio da combinação dos Descritores em Ciências da Saúde:

Transtorno Autístico, Enfermagem, Intervenção Precoce e Cuidado da criança,

combinados pelo operador booleano AND.

O resgate nos bancos de dados resultou em 744 estudos, dos quais, 451 foram

excluídos na análise por indisponibilidade, 30 por estarem indexados em outras

bases de dados, 53 por possuírem datas de publicações distintas aos anos de 2009

a 2019, 140 excluídos por não atenderem a língua escolhida e 10 por não

atenderem ao critério de tipo de estudo. Igualmente, 37 foram excluídos por

atenderem ao critério de relevância, destes, 10 artigos foram excluídos por se

tratarem de estudo de revisão, ou se apresentarem em duplicata. O total de estudos

resgatados é composto por 08 artigos.

Para a descrição das buscas, utilizou-se a sistematização PRISMA

(PreferredReportingItems for SystematicReviewand Meta-Analyses), onde se utiliza

fluxograma, quadros ou tabelas, para explicar como foi realizada a busca e seleção

dos estudos (BORGES et al., 2017).

Fonte: dados da pesquisa, 2019.

Figura 1. Fluxograma de seleção dos estudos.

Estudos identificados nas

bases de dados: 744

BVS

("Transtorno Autistico" AND

“Enfermagem”) / ("Transtorno Autistico "

AND "Intervenção Precoce’’) /

("Transtorno Autistico " AND

“Enfermagem” AND ‘’cuidado da criança)

IDE

NT

IFIC

ÃO

1. Excluídos por indisponibilidade: 451; 2. Excluído por base de dados (LIS, INDEX, etc.): 30; 3. Excluídos por recorte temporal (publicação anterior a 2009): 53; 4. Excluído por língua (alemão, coreano, Chinês, Sueco, Japonês, Italiano, etc.): 140; 5. Excluído por tipo de estudo (teses, dissertações, monografias, etc.): 10.

Total de exclusões: 123

TR

IAG

EM

Estudos triados por

disponibilidade, base de

dados, recorte temporal,

língua de publicação e

tipo de estudo: 60

Estudos processados a

partir da leitura flutuante de

títulos e resumo, e

encaminhados para leitura

completa dos textos: 45

EL

EG

IBIL

IDA

DE

Estudos excluídos por não

atenderem o critério de

relevância e duplicidade: 15.

INC

LU

O

Estudos excluídos a partir da

leitura integral do texto, por

não atenderem critério de

relevância: 37

SOBRANDO 08 ESTUDOS

Estudos incluídos: 08

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Cabe destacar que 80% dos estudos incluídos nessa revisão foram publicados nos

últimos 3 anos, sinalizando um aumento na produção de conhecimento sobre o tema

nos últimos anos.

Os estudos resgatados nessa revisão trazem importantes evidências para o cuidado

e revelam um panorama atualizado sobre o tema. E, quanto ao objetivo,

preocuparam-se em destacar a importância da detecção precoce e o papel do

enfermeiro no contexto da Atenção Básica à Saúde, e as suas interfaces com o

cuidado de enfermagem, para inserção do portador do espectro autista nesse

espaço, revelando as dificuldades de inclusão e avanços no enfrentamento da

problemática.

Nesse contexto, os dados colhidos foram organizados e discutidos em três Unidades

Temáticas, sendo estas: A importância da identificação inicial dos sinais do TEA na

infância, A consulta de enfermagem na estratégia de saúde da família e A

assistência de enfermagem a criança portadora de TEA.

O quadro 01 traz a síntese e caracterização desses estudos, incluindo autores,

títulos, ano e país de publicação, periódico, metodologia e uma síntese dos

principais resultados colhidos nos estudos.

Quadro 01. Caracterização e síntese dos estudos incluídos na revisão

Autores e

Anos

Titulo Periódico Metodologia Principais

Resultados

HOFZMANN

et al., 2019

Experiência dos familiares no convívio de crianças com transtorno do espectro autista.

Revista oficial do COFEN

Estudo qualitativo

A partir da análise dos dados surgiram três categorias: ‘’a descoberta do autismo’’, ‘’experiência dos familiares após o diagnóstico’’, “entendimento em saúde da criança com autismo”.

MAPELLI et

al.,2018

Criança com transtorno do espectro autista: cuidados com a família.

Revista de Enfermagem e Atenção à Saúde

Estudo descritivo com abordagem qualitativa

As famílias percebem os sinais de autismo, no entanto, acreditam que não há comportamentos suspeitos.

FERREIRAet al., 2019

Conhecimento de Estudantes de enfermagem sobre os transtornos autísticos.

Jornal of nursing UFPE online

Estudo qualitativo.

Apontaram-se, como principais alterações do TEA, as dificuldades nas interações sociais, o comprometimento na comunicação e o uso da linguagem verbal e não verbal.

SEIZE; BORSA, 2017

Instrumentos para Rastreamento de Sinais Precoces do Autismo

Psico USF Revisão Sistemática.

Considerar a relevância da identificação e do diagnóstico precoce do autismo para a melhoria da qualidade de vida do sujeito.

AUDURENSet al., 2017

Reflexões acerca da possibilidade de prevenção do autismo

Saúde e Sociedade

Estudo exploratório, qualitativo.

Estudar e investigar a possibilidade da identificação dos traços autisticos em bebês ate 1 ano possibilitando a prevenção de psicopatologias na infância.

SENA et al., 2015

A família é o melhor recurso da criança: análise das trocas sociais entre mães e crianças com TEA

Ciências & Cognição

Estudo qualitativo.

Refere-se a investigação do papel dos cuidadores primários na construção da intersubjetividade primária

Fonte: dados da pesquisa, 2019.

Quadro 01. Caracterização e síntese dos estudos incluídos na revisão

(Continuação)

FERREIRA; KUBASKI, 2015

Intervenção precoce e Autismo: Um relato sobre o programa Son-

Psicologia em Revista

Estudo qualitativo

Descrever a condução do programa com crianças portadoras do espectro autista

Rise durante 12 meses, e o impacto dessa intervenção sobre o desenvolvimento da criança.

GIUNCOet al., 2010

Autismo: Conhecimento da equipe de enfermagem

Revista CuidARTE Enfermagem

Estudo quantitativo e exploratório

Verificar o conhecimento da equipe de enfermagem sobre os sinais e sintomas precoces no indivíduo portador do TEA

Fonte: dados da pesquisa, 2019.

3.1 A IMPORTÂNCIA DA IDENTIFICAÇÃO INICIAL DOS SINAIS DO TEA NA

INFÂNCIA

Em geral, os pais dos indivíduos portadores de TEA são os primeiros a identificar os

sinais de que algo diferente está acontecendo no desenvolvimento do seu filho. No

momento em que são identificados alguns sinais, começa a busca por auxílio, sendo

um período de incertezas o que antecede o processo de elaboração e formação do

diagnóstico (SEIZE et al., 2017).

A identificação dos sinais iniciais do TEA aumenta as chances de uma intervenção

que ameniza os aspectos desenvolvidos pelo TEA, assim como as respostas ao

tratamento, que se mostram mais eficazes, pois é nos primeiros anos de vida que o

cérebro faz suas conexões neurais de maior importância para a vida da criança,

determinando sua desenvoltura ao longo da vida. Se houver uma intervenção inicial

por um profissional, seja na assistência materno-infantil ou na atenção básica será

crucial para a detecção e encaminhamento para prognóstico ainda na primeira

infância (AUDURENS et al., 2017).

Podemos executar a realização da identificação precoce, pois muitos dos sinais

podem ser notados antes dos 3 anos de vida, o que é de extrema relevância

oportunizando uma intervenção também precoce. Por ser a primeira infância um

período de máxima plasticidade cerebral ,pode-se otimizar o aprendizado da criança,

prevenir efeitos secundários negativos do transtorno, melhorar as suas habilidades

funcionais e qualidade de vida. Estudos apontam um ganho significativo no

coeficiente de inteligência verbal (QI) e também na linguagem em crianças com

autismo que passaram por uma intervenção precoce (SEIZE et al., 2017)

Conforme relata Giunco et al. (2010), o enfermeiro serve de mediador entre a família

e outros profissionais da área da saúde, encaminhando-os a uma equipe

multiprofissional, conseguindo assim melhor assistência e criando um vínculo de

confiança com a família e o autista.

O enfermeiro tem como principal ação diante da criança portadora do TEA, “o

cuidar”, tendo a atenção voltada não somente para o indivíduo em questão, mas

também ao que ele representa para a família ou cuidador. O enfermeiro deverá

tentar diminuir, através do contato com a família, o medo do preconceito diante da

sociedade e o sentimento de inferioridade perante o transtorno da criança, como

ainda é visto culturalmente (GIUNCO et al.,2010).

3.2 A CONSULTA DE ENFERMAGEM NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

A consulta de enfermagem na estratégia saúde da família é regulamentada pela Lei

nº 7.498/86, sendo privativa do enfermeiro, onde é realizada a consulta de

enfermagem com a criança e seu responsável, e para todo processo ser eficaz o

critério do C/D infantil deve ter suas consultas mínimas seguindo o calendário do

Ministério da Saúde, e com a equipe multidisciplinar atendendo de forma integral

essa criança e família (BRASIL, 2014).

O papel do enfermeiro nesse processo de acompanhamento segundo, Sena et al

(2015),aborda da seguinte forma:

“O profissional enfermeiro pode colaborar de forma positiva para o diagnóstico e acompanhamento do TEA, através de observações comportamentais de crianças, mediante a consulta para analisar o crescimento e o desenvolvimento, como também, podem auxiliar os progenitores dando apoio e informando-os quanto aos desafios e procedimentos assistenciais que os mesmos utilizarão no processo de cuidar da criança com autismo” (SENA et al, 2015. P. 2708).

Tendo em vista a importância da detecção precoce do TEA, Brasil (2014) enfatiza o

papel fundamental dos profissionais de saúde da atenção básica na identificação

inicial dos sinais e sintomas de risco para o TEA e para isso o enfermeiro da atenção

primária de saúde quando em contato com a criança poderá subsidiar a avaliação do

C/D comparando o marco do desenvolvimento de acordo com o Quadro 01:

QUADRO 01: Comparação da Avaliação do C/D normal com os Sinais de TEA

IDADE

C/D NORMAL

C/D COM SINAIS DE TEA

2 a 4

MESES

Fixa o olhar no rosto do

examinador ou da mãe;

segue objeto na linha média;

reage ao som; eleva a

cabeça.

Por volta dos 3 meses de idade Criança

com TEA pode apresentar realização

oftálmica com menor freqüência ou se

ausentar dessa efetuação visual.

6

MESES

Alcança um brinquedo; se

leva objetos a boca;

localização do som; se rola.

Pode apresentar atração em objetos;

apatia; não há sorrisos e expressões

faciais e é um do marco mais importante

para avaliação dos sinais.

9

MESES

Brinca de esconde-achou;

transfere objetos de uma

mão para outra; bate um

objeto no outro; solta

objetosvoluntariamente;

duplica sílabas; senta sem

apoio.

Apresentam apatia; não realiza a

interação, evita emitir sons, caretas ou

sorrisos.

12

MESES

Imita gestos; faz pinça;

jargão; anda com apoio.

Não balbuciam ou se expressam como

bebê; não responde ao seu nome

quando chamado; ausência em apontar

para objetos no intuito de compartilhar

atenção; não segue com olhar a

gesticulação que outros lhe fazem.

15

MESES

Executa gestos a pedido;

coloca blocos na caneca;

produz uma palavra; anda

sem apoio.

Apresentam mutismo ou quando há fala

pronunciam palavras em jargão e abulia

(ausência da vontade).

18

MESES

Identifica dois objetos;

rabisca espontaneamente;

produz três palavras; anda

para trás.

Apresentam ecolalia (forma de afasia

em que o paciente repete

mecanicamente palavras ou frases que

ouve); mutismo (ausência da

necessidade de falar) e abulia

(incapacidade de tomar decisões

voluntárias)

24

MESES

Forma frase de duas

palavras com sentido que

não seja repetição; Gosta de

estar com crianças da

mesma idade e tem interesse

em brincar conjuntamente.

Apresentam ecolalia; mutismo e

estereotipia verbal.

36

MESES

Brinca com crianças da

mesma idade expressando

preferências; tira roupa.

Apresentam apatia; hipotimia isto é, não

empenham, ou evitam interações com

outras crianças; quando procurados;

constrói torre de 3 (três) cubos.

FONTE: BRASIL, 2013.

Corroborando com Sena et al. (2015), Giunco et al (2010), que ressalta como a

importância dessa detecção precoce objetiva na melhor resposta das intervenções,

feita por um plano de ação por uma equipe multidisciplinar estruturado de acordo

com as etapas de vida do paciente, tendo como fim um melhor prognóstico para o

paciente e sua família.

Para tanto, é fundamental que a equipe de saúde, isto inclui o enfermeiro, esteja

apta a observar e apontar os sinais de suspeita de Transtorno do Espectro Autista,

porque muitas vezes este é o primeiro profissional que a família tem acesso

(MAPELLI et al., 2018).

O papel do enfermeiro como profissional no autismo infantil é estar atento aos sinais

e sintomas apresentados pela criança com suspeita dessa patologia. Prestando

assistência de enfermagem o mais precocemente possível, apoiando a família,

transmitindo segurança e tranqüilidade, garantindo o bem-estar da criança,

esclarecendo dúvidas e incentivando o tratamento e acompanhamento da pessoa

portadora do TEA (GIUNCO et al., 2010).

3.3 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A CRIANÇA PORTADORA DE TEA

O papel do enfermeiro não se restringe a executar técnicas e procedimentos, ele

deve desenvolver a habilidade de comunicação que satisfaça a necessidade do

paciente portador de TEA, pois esta é uma ferramenta que garante a qualidade do

processo de cuidar. É também seu papel, orientar a família a se comunicar com a

criança no ambiente domiciliar, para estimulá-la a interagir com aqueles que com ela

convivem. O desenvolvimento da capacidade comunicativa é capaz de mudar os

hábitos da criança, integrá-la à sociedade e, com isso, melhorar sua qualidade de

vida (FERREIRA et al., 2019).

Tendo em vista que cada criança portadora do TEA possui suas particularidades a

depender do nível de acometimento, não existe um tratamento específico e eficaz

para trabalhar com estas crianças, pois cada situação exige do profissional de saúde

criar alternativas para lidar com ela. Portanto, para que o enfermeiro possa lidar com

este sujeito portador de TEA, é necessário conhecer seu cliente em suas

características e o assisti-lo mediante a suas necessidades ( HOFZMANN et al,

2019).

Ferreira e Kubaski (2015), discutem que é necessário evidenciar a carência de

produções cientificas sobre o tema discutido, o que impede a dimensão do

entendimento, conhecimento e atuação do profissional de enfermagem em

prescrever inclusive, sua sistematização da assistência a esta criança e como

resultado viabilizar a introdução e intervenção especializada multiprofissional.

Porém, Sena et al. (2015) argumenta de forma contrária afirmando que a busca

contínua de conhecimento e atualizações, assim como a produção de trabalhos vem

contribuir para o saber, estimulando efetivação de uma educação permanente

constante em saúde que realizem uma abordagem sobre o tema, posto que o

autismo vem ganhando cada vez mais visibilidade justo pelo maior entendimento de

sua principal característica, a exclusão social, causando um infame déficit no

desenvolvimento em áreas responsáveis pela cognição e aprendizagem.

Assim, pode-se concordar com Hofzmann. (2019) quando afirma que o aumento de

estudos científicos sobre o tema do autismo, justifica-se devido ao aumento nos dias

atuais das discussões em mídias sociais.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O profissional enfermeiro tem um papel essencial na assistência ao paciente com

Transtorno do Espectro Autista (TEA), que vem acometendo inúmeras crianças nos

últimos anos. É fundamental a detecção precoce, que favorece um plano de cuidado

adequado e permitam um bom desenvolvimento da criança.

A atuação do enfermeiro vai desde a avaliação inicial da criança, o

acompanhamento do tratamento, a educação e o apoio à família. É fundamental que

o enfermeiro trabalhe juntamente a família, proporcionando a troca de conhecimento

entre familiares-profissionais com intuito de aprimorar o cuidado a criança com TEA,

visando assegurar uma melhor qualidade de vida a criança.

Seguro que ainda existe um déficit na formação e na percepção da doença, muitas

vezes pela família e até mesmo pelo profissional que está na consulta de

Enfermagem. Compreender esse transtorno pode ser relativamente simples quando

estamos dispostos a nos colocar no lugar do outro, a buscar a essência mais pura

do ser humano e a resgatar a nobreza de realmente conviver com diferenças. E

talvez seja esse o maior dos nossos desafios: aceitar o diferente e ter a chance de

aprender com ele.

Prestar uma assistência criança com algum tipo de distúrbio mental constitui-se em

um grande desafio. Esta é a motivação para relatarmos a atuação do enfermeiro e

da sua equipe frente ao atendimento à criança autista na Atenção Básica de Saúde.

REFERÊNCIAS

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