o papel do enfermeiro na identificaÇÃo precoce do
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O PAPEL DO ENFERMEIRO NA IDENTIFICAÇÃO PRECOCE DO TRANSTORNO
DO ESPECTRO AUTISTA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
José Chicuta Silva Junior1
Luciana de Melo Mota²
RESUMO
O transtorno do espectro autista (TEA), decorre de um distúrbio do desenvolvimento
caracterizado por déficit nas áreas de interação social, comunicação e
comportamento. O diagnóstico é difícil e basicamente clínico, porém, quando
detectado precocemente, ainda nos primeiros anos de vida, possibilita um
tratamento adequado, favorecendo uma melhoria na qualidade de vida da criança e
da sua família.Nesse sentido esse estudo busca analisar o que se tem publicado na
literatura acerca do papel do enfermeiro na identificação precoce do TEA no âmbito
da Atenção Primária à Saúde e as suas interfaces com o cuidado de enfermagem.
Trata-se de uma revisão integrativa, sendo desenvolvida em 6 etapas. A busca dos
estudos foi realizada nas bases Medline, Lilacs, BDENF de artigos publicados entre
os anos 2009 e 2019 e avaliam o papel do enfermeiro na identificação precoce do
TEA fornecendo evidências para o enfretamento da problemática. Com isso, ficou
evidente que a atuação do enfermeiro vai desde a avaliação inicial da criança, o
acompanhamento do tratamento, a educação e o apoio à família.
DESCRITORES:Transtorno Autístico, Enfermagem, Intervenção Precoce e Cuidado
da criança.
1Acadêmico de Enfermagem do Centro Universitário Tiradentes - UNIT/AL, Campus Amélia Maria
Uchôa, Maceió Alagoas. ² Professora adjunta I do Centro Universitário Tiradentes - UNIT/AL Campus Amélia Maria Uchôa, Maceió Alagoas.
ABSTRACT
Autism spectrum disorder results from a developmental disorder affected by deficit in
the areas of social interaction, communication and behavior. The diagnosis is difficult
and clinical, however, when detected early, even in the first years of life, allows an
appropriate treatment, favoring an improvement in the quality of life of the child and
his family. In this sense, this research study or what is published in the literature
about the role of nurses in the early identification of ASD in Primary Health Care and
its interfaces with nursing care. It is an integrative review, developed in 6 steps. A
research of the studies was conducted in the Medline, Lilacs, BDENF bases of
articles published between the years 2009 and 2019 and evaluated the nurse's role
in the early identification of ASD and the tests used to cope with the problem. With
this, it became evident that the nurse's performance ranges from the initial
assessment of the child, treatment follow-up, education and family support.
DESCRIPTORS: Autistic Disorder, Nursing, Early Intervention and Child Care.
1 INTRODUÇÃO
No início da vida de todas as crianças, existem processos inerentes dessa idade que
passam pelo desenvolvimento psicossocioemocional, evolução no comportamento e
crescimento, mudando todo o contexto corporal dessa criança. Diante desses
processos, o Brasil implantou os critérios do Crescimento e Desenvolvimento - C/D
de acordo com a Reunião de Cúpula de Nova York em 1990 e Conferência
Internacional de Nutrição em 1992, que fizeram uma análise comparando os
padrões de normalidade se as possíveis alterações e desvio nessa fase da primeira
infância. Diante desses estudos foram observados que o transtorno de espectro
autista se encaixa como um distúrbio que atinge o crescimento e desenvolvimento
das crianças (AUDURENS et al., 2017)
O Transtorno do Espectro do Autista (TEA) está classificado entre os Transtornos
Globais do Desenvolvimento (TGD), termo utilizado pela Classificação Internacional
de Doenças (CID-10) para definir problemas relacionados a crianças que
apresentam dificuldade ou inabilidade de relacionamento social, de comunicação e
comportamental. O TEA se manifesta, em geral, antes do terceiro ano de vida,
caracterizando-se pelo comprometimento do desenvolvimento psiconeurológico, o
que afeta diretamente a comunicação (fala e entendimento) e o convívio social
(CARVALHO et al., 2015).
Os sinais e sintomas se apresentam já nos primeiros meses de vida e, geralmente,
incluem o isolamento, hipersensibilidade, dificuldade em manter contato visual e
gestual, e hipoatividade. Posteriormente, começam a apresentar dificuldade de sair
da rotina, hiperatividade, movimentos repetitivos e estereotipados, irritabilidade,
déficit na fala e nas interações sociais (CARVALHO et al., 2015).
Segundo dados de 2017 da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (UNESCO), mais de um bilhão de pessoas em todo mundo vive
com alguma forma de deficiência, destas, quase 100 milhões são crianças. No Brasil
são 45,6 milhões de pessoas que representam quase ¼ da população com algum
tipo de deficiência. Já em relação ao Transtorno de Espectro Autista (TEA), estima-
se que no Brasil, onde existe uma população com cerca de 200 milhões de
habitantes, cerca de 1% dos indivíduos são portadores do deste transtorno
(UNESCO, 2017).
Atualmente, não existem dados oficiais sobre o quantitativo de pessoas portadoras
do TEA no Brasil. Contudo, em 18 de julho de 2019 o então presidente Jair Messias
Bolsonaro sancionou a lei 13.861/19 a qual obriga a inclusão, nos censos
demográficos, de informações específicas sobre pessoas com autismo a partir do
ano de 2020 (BRASIL, 2019).
Com base nos princípios do SUS, onde temos a universalidade que garante o
acesso no serviço de forma equânime e a integralidade que assegura atender a
necessidades desse indivíduo (Ministério da Saúde, 2017), temos em paralelo a lei
13.146/15 que dispõe a respeito da garantia de condições de igualdade visando à
inclusão social do indivíduo portador de algum tipo de deficiência (BRASIL, 2015).
Já a lei 12.764/12 institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos das Pessoas
com Transtorno do Espectro Autista viabilizando direitos a um diagnóstico precoce,
tratamento, terapias e medicamento; acesso à educação; à proteção e às provisões
adequadas de serviços que lhes propiciem a igualdade de oportunidades (BRASIL,
2012).
Em paralelo com, a criação da lei para as pessoas com deficiência (PCD) e
tambémas políticas públicas para pessoas portadoras do TEA, está o papel do
enfermeiro na identificação precoce do TEA durante as consultas de avaliação do
crescimento e desenvolvimento na atenção primária, e que um diagnóstico tardio
impossibilitaria assim um tratamento precoce, que irá influenciar no desenvolvimento
e melhor prognóstico infantil, fazendo com que a criança esteja cada vez mais
distanciada nas relações sociais (GIUNCO et al., 2010).
As políticas públicas têm se expandido a cada ano tornando o Brasil mais acessível
a todos, e as pessoas portadoras do TEA estão asseguradas quanto aos serviços
ofertados pelo SUS como qualquer outra pessoa, e, além disso, são garantidos
também os mesmos direitos regidos pelo estatuto da criança e do adolescente,
assim como também os mesmos direitos quando idoso pelo estatuto do idoso
(GIUNCO et al., 2010).
Culturalmente o Brasil é intolerante a toda forma que fuja do sujeito sem nenhum
transtorno ou limitação, há um forte estigma e preconceito com a PCD e também
com a família, e por o TEA ser um transtorno que afeta o desenvolvimento
psicossocioemocional dessa criança, causando uma introspecção social no seu
falar, pensar e agir, limitando o seu convívio com outras pessoas e a depender do
grau de comprometimento do TEA a perseguição e nível de estresse tende a
aumentar para essa família (SENA, et al., 2015).
A partir disso, surgiu a seguinte questão norteadora da pesquisa: O que se tem
publicado na literatura científica relacionado ao papel do enfermeiro na identificação
precoce do TEA? O estudo trará subsídios cientifico para a promoção da reflexão
sobre o tema e incentivará mais pesquisas que busquem detecção do TEA
precocemente para um melhor prognostico infantil.
Sendo assim, a pesquisa traz como objetivo identificar o papel do enfermeiro na
detecção precoce do TEA, analisando a capacitação do profissional de enfermagem
acerca da temática e se esse conhecimento irá possibilitar uma identificação
precoce, seguida de um bom prognóstico da criança portadora do TEA, durante as
consultas de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil.
2 METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma revisão Integrativa, método de pesquisa que
possibilita a síntese de diversos estudos publicados, tendo em vista a formulação de
conclusões gerais sobre o tema pesquisado e levando a uma compreensão
completa do tema de interesse e direcionando pesquisas futuras (POMPEO, apud
NOGUEIRA, 2014)
A revisão integrativa de literatura é a mais ampla abordagem metodológica referente
aos tipos de revisão e requer que os pesquisados procedam à análise e à síntese
dos dados primários de forma sistemática e rigorosa (SOUZA et al., 2010).
Portanto, o presente estudo foi desenvolvido em seis etapas, conforme Mendes et
al. (2009) e Leal-David et al. (2018): (I) identificação do tema e seleção questão de
pesquisa; (II) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão dos estudos e
estruturação da busca na literatura; (III) definição das informações a serem extraídas
dos estudos selecionados; (IV) avaliação dos estudos incluídos; (V) interpretação
dos resultados; e (VI) síntese do conhecimento.
Foram incluídos artigos científicos, disponibilizados na íntegra, publicados nos anos
de 2009 à 2019, em português, com relevância para o tema estudado. Excluíram-se
notas prévias, editoriais, cartas ao editor, publicações duplicadas, trabalhos de
conclusão de curso, dissertações, teses e artigos com restrição de acesso
duplicidade. Posteriormente foram excluídos estudos que não atendiam ao recorte
temporal, língua de publicação e tipo, previamente definidos; foram ainda excluídos
estudos por critério de relevância.
A busca dos estudos foi realizada de março à novembro de 2019, nas bases Medline
(Medical LiteratureAnalysisandRetrievel System Online), Lilacs (Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), e BDENF (Base de Dados de
Enfermagem), por meio da combinação dos Descritores em Ciências da Saúde:
Transtorno Autístico, Enfermagem, Intervenção Precoce e Cuidado da criança,
combinados pelo operador booleano AND.
O resgate nos bancos de dados resultou em 744 estudos, dos quais, 451 foram
excluídos na análise por indisponibilidade, 30 por estarem indexados em outras
bases de dados, 53 por possuírem datas de publicações distintas aos anos de 2009
a 2019, 140 excluídos por não atenderem a língua escolhida e 10 por não
atenderem ao critério de tipo de estudo. Igualmente, 37 foram excluídos por
atenderem ao critério de relevância, destes, 10 artigos foram excluídos por se
tratarem de estudo de revisão, ou se apresentarem em duplicata. O total de estudos
resgatados é composto por 08 artigos.
Para a descrição das buscas, utilizou-se a sistematização PRISMA
(PreferredReportingItems for SystematicReviewand Meta-Analyses), onde se utiliza
fluxograma, quadros ou tabelas, para explicar como foi realizada a busca e seleção
dos estudos (BORGES et al., 2017).
Fonte: dados da pesquisa, 2019.
Figura 1. Fluxograma de seleção dos estudos.
Estudos identificados nas
bases de dados: 744
BVS
("Transtorno Autistico" AND
“Enfermagem”) / ("Transtorno Autistico "
AND "Intervenção Precoce’’) /
("Transtorno Autistico " AND
“Enfermagem” AND ‘’cuidado da criança)
IDE
NT
IFIC
AÇ
ÃO
1. Excluídos por indisponibilidade: 451; 2. Excluído por base de dados (LIS, INDEX, etc.): 30; 3. Excluídos por recorte temporal (publicação anterior a 2009): 53; 4. Excluído por língua (alemão, coreano, Chinês, Sueco, Japonês, Italiano, etc.): 140; 5. Excluído por tipo de estudo (teses, dissertações, monografias, etc.): 10.
Total de exclusões: 123
TR
IAG
EM
Estudos triados por
disponibilidade, base de
dados, recorte temporal,
língua de publicação e
tipo de estudo: 60
Estudos processados a
partir da leitura flutuante de
títulos e resumo, e
encaminhados para leitura
completa dos textos: 45
EL
EG
IBIL
IDA
DE
Estudos excluídos por não
atenderem o critério de
relevância e duplicidade: 15.
INC
LU
SÃ
O
Estudos excluídos a partir da
leitura integral do texto, por
não atenderem critério de
relevância: 37
SOBRANDO 08 ESTUDOS
Estudos incluídos: 08
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Cabe destacar que 80% dos estudos incluídos nessa revisão foram publicados nos
últimos 3 anos, sinalizando um aumento na produção de conhecimento sobre o tema
nos últimos anos.
Os estudos resgatados nessa revisão trazem importantes evidências para o cuidado
e revelam um panorama atualizado sobre o tema. E, quanto ao objetivo,
preocuparam-se em destacar a importância da detecção precoce e o papel do
enfermeiro no contexto da Atenção Básica à Saúde, e as suas interfaces com o
cuidado de enfermagem, para inserção do portador do espectro autista nesse
espaço, revelando as dificuldades de inclusão e avanços no enfrentamento da
problemática.
Nesse contexto, os dados colhidos foram organizados e discutidos em três Unidades
Temáticas, sendo estas: A importância da identificação inicial dos sinais do TEA na
infância, A consulta de enfermagem na estratégia de saúde da família e A
assistência de enfermagem a criança portadora de TEA.
O quadro 01 traz a síntese e caracterização desses estudos, incluindo autores,
títulos, ano e país de publicação, periódico, metodologia e uma síntese dos
principais resultados colhidos nos estudos.
Quadro 01. Caracterização e síntese dos estudos incluídos na revisão
Autores e
Anos
Titulo Periódico Metodologia Principais
Resultados
HOFZMANN
et al., 2019
Experiência dos familiares no convívio de crianças com transtorno do espectro autista.
Revista oficial do COFEN
Estudo qualitativo
A partir da análise dos dados surgiram três categorias: ‘’a descoberta do autismo’’, ‘’experiência dos familiares após o diagnóstico’’, “entendimento em saúde da criança com autismo”.
MAPELLI et
al.,2018
Criança com transtorno do espectro autista: cuidados com a família.
Revista de Enfermagem e Atenção à Saúde
Estudo descritivo com abordagem qualitativa
As famílias percebem os sinais de autismo, no entanto, acreditam que não há comportamentos suspeitos.
FERREIRAet al., 2019
Conhecimento de Estudantes de enfermagem sobre os transtornos autísticos.
Jornal of nursing UFPE online
Estudo qualitativo.
Apontaram-se, como principais alterações do TEA, as dificuldades nas interações sociais, o comprometimento na comunicação e o uso da linguagem verbal e não verbal.
SEIZE; BORSA, 2017
Instrumentos para Rastreamento de Sinais Precoces do Autismo
Psico USF Revisão Sistemática.
Considerar a relevância da identificação e do diagnóstico precoce do autismo para a melhoria da qualidade de vida do sujeito.
AUDURENSet al., 2017
Reflexões acerca da possibilidade de prevenção do autismo
Saúde e Sociedade
Estudo exploratório, qualitativo.
Estudar e investigar a possibilidade da identificação dos traços autisticos em bebês ate 1 ano possibilitando a prevenção de psicopatologias na infância.
SENA et al., 2015
A família é o melhor recurso da criança: análise das trocas sociais entre mães e crianças com TEA
Ciências & Cognição
Estudo qualitativo.
Refere-se a investigação do papel dos cuidadores primários na construção da intersubjetividade primária
Fonte: dados da pesquisa, 2019.
Quadro 01. Caracterização e síntese dos estudos incluídos na revisão
(Continuação)
FERREIRA; KUBASKI, 2015
Intervenção precoce e Autismo: Um relato sobre o programa Son-
Psicologia em Revista
Estudo qualitativo
Descrever a condução do programa com crianças portadoras do espectro autista
Rise durante 12 meses, e o impacto dessa intervenção sobre o desenvolvimento da criança.
GIUNCOet al., 2010
Autismo: Conhecimento da equipe de enfermagem
Revista CuidARTE Enfermagem
Estudo quantitativo e exploratório
Verificar o conhecimento da equipe de enfermagem sobre os sinais e sintomas precoces no indivíduo portador do TEA
Fonte: dados da pesquisa, 2019.
3.1 A IMPORTÂNCIA DA IDENTIFICAÇÃO INICIAL DOS SINAIS DO TEA NA
INFÂNCIA
Em geral, os pais dos indivíduos portadores de TEA são os primeiros a identificar os
sinais de que algo diferente está acontecendo no desenvolvimento do seu filho. No
momento em que são identificados alguns sinais, começa a busca por auxílio, sendo
um período de incertezas o que antecede o processo de elaboração e formação do
diagnóstico (SEIZE et al., 2017).
A identificação dos sinais iniciais do TEA aumenta as chances de uma intervenção
que ameniza os aspectos desenvolvidos pelo TEA, assim como as respostas ao
tratamento, que se mostram mais eficazes, pois é nos primeiros anos de vida que o
cérebro faz suas conexões neurais de maior importância para a vida da criança,
determinando sua desenvoltura ao longo da vida. Se houver uma intervenção inicial
por um profissional, seja na assistência materno-infantil ou na atenção básica será
crucial para a detecção e encaminhamento para prognóstico ainda na primeira
infância (AUDURENS et al., 2017).
Podemos executar a realização da identificação precoce, pois muitos dos sinais
podem ser notados antes dos 3 anos de vida, o que é de extrema relevância
oportunizando uma intervenção também precoce. Por ser a primeira infância um
período de máxima plasticidade cerebral ,pode-se otimizar o aprendizado da criança,
prevenir efeitos secundários negativos do transtorno, melhorar as suas habilidades
funcionais e qualidade de vida. Estudos apontam um ganho significativo no
coeficiente de inteligência verbal (QI) e também na linguagem em crianças com
autismo que passaram por uma intervenção precoce (SEIZE et al., 2017)
Conforme relata Giunco et al. (2010), o enfermeiro serve de mediador entre a família
e outros profissionais da área da saúde, encaminhando-os a uma equipe
multiprofissional, conseguindo assim melhor assistência e criando um vínculo de
confiança com a família e o autista.
O enfermeiro tem como principal ação diante da criança portadora do TEA, “o
cuidar”, tendo a atenção voltada não somente para o indivíduo em questão, mas
também ao que ele representa para a família ou cuidador. O enfermeiro deverá
tentar diminuir, através do contato com a família, o medo do preconceito diante da
sociedade e o sentimento de inferioridade perante o transtorno da criança, como
ainda é visto culturalmente (GIUNCO et al.,2010).
3.2 A CONSULTA DE ENFERMAGEM NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
A consulta de enfermagem na estratégia saúde da família é regulamentada pela Lei
nº 7.498/86, sendo privativa do enfermeiro, onde é realizada a consulta de
enfermagem com a criança e seu responsável, e para todo processo ser eficaz o
critério do C/D infantil deve ter suas consultas mínimas seguindo o calendário do
Ministério da Saúde, e com a equipe multidisciplinar atendendo de forma integral
essa criança e família (BRASIL, 2014).
O papel do enfermeiro nesse processo de acompanhamento segundo, Sena et al
(2015),aborda da seguinte forma:
“O profissional enfermeiro pode colaborar de forma positiva para o diagnóstico e acompanhamento do TEA, através de observações comportamentais de crianças, mediante a consulta para analisar o crescimento e o desenvolvimento, como também, podem auxiliar os progenitores dando apoio e informando-os quanto aos desafios e procedimentos assistenciais que os mesmos utilizarão no processo de cuidar da criança com autismo” (SENA et al, 2015. P. 2708).
Tendo em vista a importância da detecção precoce do TEA, Brasil (2014) enfatiza o
papel fundamental dos profissionais de saúde da atenção básica na identificação
inicial dos sinais e sintomas de risco para o TEA e para isso o enfermeiro da atenção
primária de saúde quando em contato com a criança poderá subsidiar a avaliação do
C/D comparando o marco do desenvolvimento de acordo com o Quadro 01:
QUADRO 01: Comparação da Avaliação do C/D normal com os Sinais de TEA
IDADE
C/D NORMAL
C/D COM SINAIS DE TEA
2 a 4
MESES
Fixa o olhar no rosto do
examinador ou da mãe;
segue objeto na linha média;
reage ao som; eleva a
cabeça.
Por volta dos 3 meses de idade Criança
com TEA pode apresentar realização
oftálmica com menor freqüência ou se
ausentar dessa efetuação visual.
6
MESES
Alcança um brinquedo; se
leva objetos a boca;
localização do som; se rola.
Pode apresentar atração em objetos;
apatia; não há sorrisos e expressões
faciais e é um do marco mais importante
para avaliação dos sinais.
9
MESES
Brinca de esconde-achou;
transfere objetos de uma
mão para outra; bate um
objeto no outro; solta
objetosvoluntariamente;
duplica sílabas; senta sem
apoio.
Apresentam apatia; não realiza a
interação, evita emitir sons, caretas ou
sorrisos.
12
MESES
Imita gestos; faz pinça;
jargão; anda com apoio.
Não balbuciam ou se expressam como
bebê; não responde ao seu nome
quando chamado; ausência em apontar
para objetos no intuito de compartilhar
atenção; não segue com olhar a
gesticulação que outros lhe fazem.
15
MESES
Executa gestos a pedido;
coloca blocos na caneca;
produz uma palavra; anda
sem apoio.
Apresentam mutismo ou quando há fala
pronunciam palavras em jargão e abulia
(ausência da vontade).
18
MESES
Identifica dois objetos;
rabisca espontaneamente;
produz três palavras; anda
para trás.
Apresentam ecolalia (forma de afasia
em que o paciente repete
mecanicamente palavras ou frases que
ouve); mutismo (ausência da
necessidade de falar) e abulia
(incapacidade de tomar decisões
voluntárias)
24
MESES
Forma frase de duas
palavras com sentido que
não seja repetição; Gosta de
estar com crianças da
mesma idade e tem interesse
em brincar conjuntamente.
Apresentam ecolalia; mutismo e
estereotipia verbal.
36
MESES
Brinca com crianças da
mesma idade expressando
preferências; tira roupa.
Apresentam apatia; hipotimia isto é, não
empenham, ou evitam interações com
outras crianças; quando procurados;
constrói torre de 3 (três) cubos.
FONTE: BRASIL, 2013.
Corroborando com Sena et al. (2015), Giunco et al (2010), que ressalta como a
importância dessa detecção precoce objetiva na melhor resposta das intervenções,
feita por um plano de ação por uma equipe multidisciplinar estruturado de acordo
com as etapas de vida do paciente, tendo como fim um melhor prognóstico para o
paciente e sua família.
Para tanto, é fundamental que a equipe de saúde, isto inclui o enfermeiro, esteja
apta a observar e apontar os sinais de suspeita de Transtorno do Espectro Autista,
porque muitas vezes este é o primeiro profissional que a família tem acesso
(MAPELLI et al., 2018).
O papel do enfermeiro como profissional no autismo infantil é estar atento aos sinais
e sintomas apresentados pela criança com suspeita dessa patologia. Prestando
assistência de enfermagem o mais precocemente possível, apoiando a família,
transmitindo segurança e tranqüilidade, garantindo o bem-estar da criança,
esclarecendo dúvidas e incentivando o tratamento e acompanhamento da pessoa
portadora do TEA (GIUNCO et al., 2010).
3.3 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A CRIANÇA PORTADORA DE TEA
O papel do enfermeiro não se restringe a executar técnicas e procedimentos, ele
deve desenvolver a habilidade de comunicação que satisfaça a necessidade do
paciente portador de TEA, pois esta é uma ferramenta que garante a qualidade do
processo de cuidar. É também seu papel, orientar a família a se comunicar com a
criança no ambiente domiciliar, para estimulá-la a interagir com aqueles que com ela
convivem. O desenvolvimento da capacidade comunicativa é capaz de mudar os
hábitos da criança, integrá-la à sociedade e, com isso, melhorar sua qualidade de
vida (FERREIRA et al., 2019).
Tendo em vista que cada criança portadora do TEA possui suas particularidades a
depender do nível de acometimento, não existe um tratamento específico e eficaz
para trabalhar com estas crianças, pois cada situação exige do profissional de saúde
criar alternativas para lidar com ela. Portanto, para que o enfermeiro possa lidar com
este sujeito portador de TEA, é necessário conhecer seu cliente em suas
características e o assisti-lo mediante a suas necessidades ( HOFZMANN et al,
2019).
Ferreira e Kubaski (2015), discutem que é necessário evidenciar a carência de
produções cientificas sobre o tema discutido, o que impede a dimensão do
entendimento, conhecimento e atuação do profissional de enfermagem em
prescrever inclusive, sua sistematização da assistência a esta criança e como
resultado viabilizar a introdução e intervenção especializada multiprofissional.
Porém, Sena et al. (2015) argumenta de forma contrária afirmando que a busca
contínua de conhecimento e atualizações, assim como a produção de trabalhos vem
contribuir para o saber, estimulando efetivação de uma educação permanente
constante em saúde que realizem uma abordagem sobre o tema, posto que o
autismo vem ganhando cada vez mais visibilidade justo pelo maior entendimento de
sua principal característica, a exclusão social, causando um infame déficit no
desenvolvimento em áreas responsáveis pela cognição e aprendizagem.
Assim, pode-se concordar com Hofzmann. (2019) quando afirma que o aumento de
estudos científicos sobre o tema do autismo, justifica-se devido ao aumento nos dias
atuais das discussões em mídias sociais.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O profissional enfermeiro tem um papel essencial na assistência ao paciente com
Transtorno do Espectro Autista (TEA), que vem acometendo inúmeras crianças nos
últimos anos. É fundamental a detecção precoce, que favorece um plano de cuidado
adequado e permitam um bom desenvolvimento da criança.
A atuação do enfermeiro vai desde a avaliação inicial da criança, o
acompanhamento do tratamento, a educação e o apoio à família. É fundamental que
o enfermeiro trabalhe juntamente a família, proporcionando a troca de conhecimento
entre familiares-profissionais com intuito de aprimorar o cuidado a criança com TEA,
visando assegurar uma melhor qualidade de vida a criança.
Seguro que ainda existe um déficit na formação e na percepção da doença, muitas
vezes pela família e até mesmo pelo profissional que está na consulta de
Enfermagem. Compreender esse transtorno pode ser relativamente simples quando
estamos dispostos a nos colocar no lugar do outro, a buscar a essência mais pura
do ser humano e a resgatar a nobreza de realmente conviver com diferenças. E
talvez seja esse o maior dos nossos desafios: aceitar o diferente e ter a chance de
aprender com ele.
Prestar uma assistência criança com algum tipo de distúrbio mental constitui-se em
um grande desafio. Esta é a motivação para relatarmos a atuação do enfermeiro e
da sua equipe frente ao atendimento à criança autista na Atenção Básica de Saúde.
REFERÊNCIAS
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