o papel da comunicação pública como alternativa de ... · john thompson1 (2011) justifica o...

32
O papel da comunicação pública como alternativa de transformação social: uma análise de casos mundiais. Iasminny ábata Sousa Cruz Isabella Cristina Nascimento Corrêa Kelsiane Nunes de Souza 1 1 Agradecimentos especiais às jornalistas Ana Paula Lisboa, Laila Barbosa de Ataide Leite e ao doutor professor da Universidade de Brasília e ex-Ouvidor das rádios da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) Fernando Oliveira Paulino que com boa vontade trouxeram imensas contribuições para este trabalho. #18

Upload: trinhnguyet

Post on 10-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

O papel da comunicação pública como alternativa de transformação social: uma análise de casos mundiais.

Iasminny Thábata Sousa CruzIsabella Cristina Nascimento CorrêaKelsiane Nunes de Souza1

1 Agradecimentos especiais às jornalistas Ana Paula Lisboa, Laila Barbosa de Ataide Leite e ao doutor professor da Universidade de Brasília e ex-Ouvidor das rádios da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) Fernando Oliveira Paulino que com boa vontade trouxeram imensas contribuições para este trabalho.

#18

Page 2: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

577

Justiça Enquanto Responsabilidade

1. Introdução

Comunicar é criar relações de sentido com o mundo. Esta ideia – de que a comunicação relaciona ideias a pessoas e, assim, modifica o modo de enxergar o mundo – é uma definição da Es-cola de Chicago, responsável por defender a reflexão teórica do agir comunicativo no século XX. Isso significa que a reflexão te-órica das ações de comunicação transforma o ambiente em que vivemos. Nesse mundo cada vez mais complexo, a tese de que os processos de interação entre as pessoas são constituídos simboli-cam¬ente torna possível relacionar os tipos de comunicação com as diversas interpretações de mundo.

John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a comunicação é capaz de transformar o modo como a sociedade entende determinado fato ao garantir que, durante toda a histó-ria da humanidade, os seres humanos têm se ocupado de trocar informações e conteúdos repletos de sentidos. Ele afirma que, desde o uso da linguagem até os mais recentes desenvolvimentos tecnológicos, todos esses processos comunicativos de circulação de conteúdo simbólico têm sido centrais na vida em sociedade. Dessa forma, a escolha por determinado tipo de discurso molda e sustenta visões sobre determinado assunto, bem como hierar-quiza valores. A ideia de beleza sendo entendida como pessoas magras e musculosas, amplamente difundida em filmes, novelas e comerciais, é um exemplo desse impacto que a comunicação pode causar em uma sociedade. Ainda segundo o autor, a reprodução constante de símbolos entrelaçados aos discursos comunicacio-nais é uma das características que se encontram na base da explo-

1 Sociólogo que tem como principal área de atuação o estudo sobre a influência da mídia na formação das sociedades modernas. A publicação Ideology and Mass Culture é uma importante referência para diversos estudos na área da Comunicação.

Page 3: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

578

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

ração comercial dos meios de comunicação, o que torna mercanti-lizadas as formas simbólicas (THOMPSON, 2011). A partir dessa visão, entende-se que a comercialização desses discursos, ou seja, a transformação da informação em troca de algum lucro financei-ro ou social é parte do princípio de que comunicar é criar relações com o mundo.

Dentre os diversos tipos sistemas de comunicação - governa-mental, estatal, privado e público, esse último tem possibilidades de não ser regido pela lógica comercial típica, caracterizada pelo uso exacerbado de publicidade e técnicas de promoção de vendas, o conhecido merchandising.

Daniel Miller (2006) enxerga a comunicação através de lentes dos estudos da cultura material. Ou seja, ele afirma que o consu-mo, muitas vezes, é a destruição da cultura material e o considera intrinsecamente ruim. Para Miller (2006), faz-se necessária uma alternativa para o consumo, para o conteúdo veiculado e para a participação do público. De acordo com essa ideia, neste artigo, entende-se que tal alternativa pode ser desempenhada pelas em-presas públicas de comunicação.

Assim, transfere-se para o bem-estar social e para a manuten-ção da cidadania a função comunicativa dos meios. A comunica-çã¬o pública pode complementar pontos de interesse coletivos e, a partir de suas estruturas, procurar trazer outras visões de mundo, além da visão financeira. É interessante observar, no entanto, que embora as mídias tidas como privadas estejam relacionadas ao lu-cro financeiro, tais instituições têm, por princípio, compromissos éticos com a informação. O exercício desses compromissos éticos é assegurado por medidas, códigos e normas, que, ao menos em tese, asseguram o cumprimento da ética. Em contrapartida, por serem empresas que modificam discursos e símbolos, quando o mercado e a economia assim o ditam, essas companhias podem deixar de transmitir conteúdos de caráter social, artístico, cultural e intelectual às pessoas. Esses conteúdos são os mais visados pela mídia pública.

Nesse sentido, Thompson (2011) caracteriza a comunicação como um tipo diferente de atividade social que envolve a produ-ção, a transmissão e a recepção de formas simbólicas e que implica na utilização de recursos de vários tipos. Assim, quais sejam as es-truturas de pensamentos que regem as instituições, a troca da ló-gica comercial típica pela de caráter público transforma a maneira como o público receberá e disseminará ideias e posicionamentos dentro da própria sociedade.

A mídia pública é capaz de colaborar para a construção da par-

Page 4: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

579

Justiça Enquanto Responsabilidade

ticipação social dentro da sociedade. Murilo César Ramos (1996 apud SILVA, 2009) aponta que a presença de um sistema público de comunicação é essencial para o desenvolvimento democrático. Ele afirma que a chave para a democratização social do mundo caminha junto com o fortalecimento das organizações sociais de base e do sistema político.

2. Comunicação pública como visão de mundo

Na lógica comercial de fazer comunicação, o que vale predo-minantemente é uma programação com interesse mercadológico e que, portanto, prioriza assuntos ao gosto do cliente. Por outro lado, na lógica da comunicação pública, o que vale é uma programação de conteúdos que gerem reflexões profundas sobre temas que a mí-dia comum não sustenta. Toby Mendell (2011) defende, inclusive, que emissoras públicas têm o potencial de complementar serviços comerciais, já que satisfazem às necessidades de informação e aos interesses que não são alcançados pelo mercado tradicional.

Para Mendell (2011), a qualidade distingue a radiodifusão pú-blica das outras e, por essa razão, deveria servir de exemplo para outras emissoras já que tais empresas públicas têm o potencial de garantir diversidade de programas e de servir como ponto focal na promoção de sentido de identidade nacional, promovendo a cultura da democracia e o respeito aos direitos. Sivaldo Pereira da Silva (2009) complementa tal definição, pontuando que a atu-al concepção de mídia pública incorpora características educa-cionais e culturais e sustenta características relevantes a respeito do que seria uma mídia pública. A mídia pública é um meio de comunicação em que não se prevê a obtenção de lucro para pro-prietários ou acionistas e que prevê algum nível de participação pública no próprio gerenciamento (SILVA, 2009).

Quanto mais autônoma em relação ao mercado, quanto mais livre de ingerências governamentais e quanto mais aberta e predisposta à participação do cidadão, mais forte e qualificado é o adjetivo públi-co (SILVA. 2009, p. 03).

2.1 A comunicação pública e a sociedade

Levando em consideração essa concepção de comunicação ampla, de qualidade, promotora de cultura e de educação, e que permite participação pública no gerenciamento interno, surge a noção de que empresas públicas têm papel fundamental na trans-

Page 5: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

580

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

missão de conteúdo e de vivências importantes para a manuten-ção de uma sociedade plural e consciente de seus direitos e que pode colaborar com demandas sociais de promoção da justiça.

Um exemplo expressivo do impacto gerado pela falta de uma mídia que vise prioritariamente à informação pública pode ser observado na experiência brasileira. Após a redemocratização, em 1988, o sentimento de justiça social se estabeleceu com mais intensidade a partir da nova Constituição Federal e do Código do Consumidor. No entanto, segundo Jorge Duarte (2010), tais mu-danças não conseguiram despertar sentimento de cidadania na população. Ainda havia descrença na política e nos direitos sociais além de apatia e falta de interesse por assuntos públicos.

Em 2003, 15 anos após a nova Constituição, pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) para o Observatório da Educação e da Juventude apontava que, enquanto 44% dos brasileiros desejavam influenciar políticas pú-blicas, 56% não tinham esse interesse. Dos não interessados, 35% diziam que não queriam se engajar por não saberem como fazê-lo.

Para Duarte (2010), “no ambiente de interesse público, há res-ponsabilidade maior, do atendimento ao direito do cidadão de ter capacidade de agir em seu próprio interesse e na viabilização das demandas coletivas nas mais diversas áreas” (DUARTE, 2010, p. 2). Portanto, o sistema de comunicação que prioriza o interesse público cria mecanismos para que os cidadãos construam capaci-dades reflexivas sobre assuntos sobre os quais talvez não se interes-sem, mas que dizem respeito a eles e à sociedade a que pertencem.

É importante verificar o papel da mídia pública no mundo como instrumento de promoção de tais questões de interesse público no meio social, a partir da veiculação de conteúdos diferenciados, plurais e de assuntos relevantes, mas pouco explorados pela mídia comer-cial tradicional. Com o acesso a tais conteúdos, a população poderia criar argumentos e repercutir ideias construtivas para o crescimento intelectual do país. Uma população informada e incluída no debate crítico dos acontecimentos diários tem mais condições de criar meca-nismos com potencial para provocar mudanças na sociedade.

Criar instrumentos para a promoção do debate de diversos assuntos e para a promoção de visões plurais sobre a sociedade é uma capacidade do sistema público de comunicação. Ele se apre-senta como alternativa possível para que seja garantido o Artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

Todo o homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de

Page 6: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

581

Justiça Enquanto Responsabilidade

procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras (Organização das Nações Unidas. 1948, p. 4).

Ainda assim, o termo comunicação pública tem diversos sig-nificados e entendimentos, o que abre espaço para divergências conceituais. Entre as definições mais comuns, está a de que comu-nicação pública que se funde ao conceito de comunicação gover-namental por, em algum nível, ser dependente do Estado.

A transparência é uma característica que transforma a comu-nicação. O sistema público de comunicação é participante da nova cultura que deve considerar a cidadania, os debates democráti-cos, a responsabilidade social, a pluralidade, o interesse público, a busca pelo bem comum e pela prestação de contas ao cidadão. O aprofundamento das observações a respeito do assunto nos leva a destacar outros aspectos e diferenciações de conceitos, apresen-tados a seguir.

3. Comunicação pública, comunicação governamental e comunicação política

O conceito de comunicação pública é alvo de intensas discus-sões. Elizabeth Brandão (2012) afirma que, apesar de tantas defi-nições, todas compartilham a ideia de que a comunicação pública é um processo entre Estado, governo e sociedade e que tem por objetivo informar para a construção da cidadania. Comunicação pública é relacionada a informações sobre Estado, ações governa-mentais, terceiro setor2 e também ações privadas que são de inte-resse público.

Segundo Fossá e Kegler (2012), comunicação pública está mais relacionada à forma de fazer comunicação do que com quem a faz. Para os pesquisadores, ela é feita de forma dialógica, ou seja, entre o emissor e o público, e com interesse na própria mensagem, no conteúdo.

A comunicação pública deve prezar pela diversidade cultural e não se limitar a transmitir, simplesmente, uma programação cultu-ral, devendo se alimentar de conteúdo cultural próprio. O caráter cultural define o sistema público: “O que não envolve não se limitar a ter uma faixa de programação com conteúdo cultural, mas ter a cultura como projeto que atravessa qualquer um dos conteúdos e dos gêneros” (Martín-Barbero apud VALENTE, 2009, p. 71-72).

2 Instituições sem fins lucrativos e não governamentais que têm como objetivo gerar serviços de caráter público.

Page 7: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

582

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

Brandão (2012) afirma que a comunicação pública é uma pers-pectiva de comunicação que objetiva a viabilização dos direitos dos cidadãos. A pesquisadora entende que ela existe para funcio-nar como espaço de negociações entre interesses de diferentes ins-tâncias de poder da vida pública:

Só entendo a comunicação pública como parte integrante da vida política da sociedade e, como tal, ela não é um poder em si, mas resultado do poder do cidadão quando organizado e constituído como sociedade civil. A Comunicação Pública feita pelos governos, pelo terceiro setor ou pelas empresas privadas acontece na medida em que a voz do cidadão começa a ficar forte a ponto de pressio-nar essas instituições a se preocupar com as questões da cidadania (BRANDÃO, 2012, p. 31).

Segundo a pesquisadora, essa é a síntese da maioria dos con-ceitos desenvolvidos no Brasil sobre comunicação pública. Para ela, a comunicação é um ator político importante e ajuda na for-mação do novo espaço público (BRANDÃO, 2012). Jorge Duarte (2010) esclarece que o conceito de comunicação pública no Brasil teve origem na noção de comunicação governamental. A comu-nicação governamental diz respeito à troca de informações entre o Estado (conjunto das instituições ligadas aos Poderes Execu-tivo, Legislativo e Judiciário, como empresas públicas, institutos e agências reguladoras) e a sociedade. Serve para prestar contas sobre ações dos gestores, é instrumento de educação cívica e de relacionamento do Estado com a população (DUARTE, 2010).

A comunicação governamental existe para informar os cida-dãos a respeito das ações realizadas pelo governo e para incentivar a cidadania popular, de acordo com Brandão (2012). Segundo a autora, a comunicação governamental tem ainda a intenção de levar o sentimento cívico ao cidadão, bem como de educá-lo – quando o chama para atividades políticas –, e de conscientizá-lo de seus direitos – quando, por exemplo, chama a atenção para campanhas de saúde e de trânsito.

Essa comunicação pode ser considerada pública na medida em que é instrumento da agenda pública e em que direciona seu trabalho para a prestação de contas. Invariavelmente, o concei-to de comunicação pública diz respeito ao cidadão e, de algum modo, pretende levá-lo a propostas diferentes de conteúdo da mí-dia comercial.

Brandão e Duarte (2010) afirmam que a evolução do concei-to ocorreu após 1985, ao fim da ditadura militar, que utilizou a

Page 8: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

583

Justiça Enquanto Responsabilidade

comunicação governamental para controlar a população. Com a redemocratização na década de 1980, seguimentos da população passaram a exigir maneiras melhores de troca de informação entre Estado e população. Duarte (2010) afirma mais: tanto a comunica-ção política, quanto a pública e a governamental têm em comum o fato de que todas são formuladas em um cenário de interesse público, já que ali há responsabilidade maior no que diz respeito ao direito do cidadão e à viabilização das demanda coletivas.

A comunicação governamental é diferente de comunicação política. Duarte (2010) aponta que a comunicação política tem a função principal de informar sobre ações de governos e de parti-dos com objetivo de esclarecer e, por vezes, conquistar a opinião do público. Ela também divulga ideias e atividades relacionadas ao poder público e pode estar relacionada às eleições. Já a comunica-ção governamental se relaciona a Estados e não a governos, serve para prestar contas sobre ações dos gestores e é instrumento de educação cívica e de relacionamento do Estado com a população.

Neste artigo, a comunicação pública é entendida como a que busca informar o público com informações de qualidade e de in-teresse público. O objetivo desse sistema de comunicação é o de criar uma rede que envolva todos os agentes de uma sociedade na busca pelo interesse dos cidadãos, por meio do diálogo e con-siderando diferentes pontos de vista, objetivando consensos e a consolidação da democracia.

3.1 Critérios para um modelo de comunicação pública

Os conceitos anteriormente apresentados servem de base para entender minimamente a importância da existência de empresas públicas de comunicação ao redor do mundo. É inviável acreditar que sem pluralidade, cidadania, justiça e diversidade social faz-se comunicação de qualidade.

Independência e autonomia também são critérios para uma comunicação pública eficiente. Tais características são apontadas em relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) (2001) como o mínimo necessário para a radiodifusão pública. Segundo o documento, o modelo de serviço público foi baseado na “ideia de que nem o mercado nem o Estado poderiam satisfazer adequadamente os objetivos do serviço de radiodifusão e agir pelo interesse público” (UNESCO, 2001, p. 04).

A Organização das Nações Unidas (ONU) elencou quatro di-retrizes mundiais que cada sistema de comunicação no mundo

Page 9: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

584

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

deveria seguir. São elas: universalidade, diversidade, independên-cia e diferenciação.

Universalidade significa possibilitar conteúdo acessível a todos os cidadãos do país. Isso não quer dizer que a mídia pública deve procurar atingir a maior audiência. Na verdade, ela tem a meta de tornar sua programação compreensível tanto para o cidadão com maior aquisição intelectual quanto para o leigo. A mensagem deve ser transmitida sem barreiras de complexidade quanto à lingua-gem ou ao assunto abordado.

O sistema público deve tentar alcançar, ainda, diversidade na programação veiculada em três pontos: gêneros de programas, programas voltados para públicos específicos, sempre visando diversidade de interesses públicos, e assuntos discutidos. Mesmo que um programa seja voltado aos jovens, ela alcançará o objetivo de uma comunicação pública para todos porque o que faz o con-teúdo ser para toda a população é a programação integral, vista em seu conjunto.

Uma mídia pública só poderá agir livremente e criativamente em prol do interesse público se não estiver amarrada a pressões políticas e comerciais. Esse é um princípio essencial porque a co-municação pública tem função de ser útil e interessante aos cida-dãos de um país e não apenas a grupos empresariais ou governos. A liberdade de criação e de produção jamais seria possível sem independência e autonomia.

Por fim, a diferenciação deve suprir conteúdos que não exis-tem nas mídias tradicionais. Não faz sentido uma comunicação pública cujos interesses não estão intimamente ligados ao conhe-cimento, à educação, à cultura, à diversidade e ao cidadão.

Em 2009, o II Fórum Nacional de TVs Públicas do Brasil pro-duziu documento oficial que apresentava visões e metas de trabalho relacionadas à regulamentação, à gestão e à participação popular, ao financiamento, à programação, e à distribuição e à transição para plataformas digitais da comunicação pública no país. O texto reivin-dica para a programação pública uma qualificação técnica de pro-fissionais, de equipamentos, de pesquisas, de desenvolvimento de linguagens inovadoras, de criação de novos formatos de programa-ção elaborados a partir das possibilidades de interação do público e de fomento à produção independente de produtoras e mesmo dos cidadãos (II Fórum Nacional de TVs Públicas apud SILVA, 2009).

4. Comunicação pública no mundo

Apesar de não ser um fenômeno novo e de datar do início da

Page 10: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

585

Justiça Enquanto Responsabilidade

década de 1920, não há entendimento consolidado sobre aqui-lo que define a natureza dos sistemas públicos. Sivaldo Pereira (2009) utiliza, em seu livro, frase de César Ricardo Bolaño que ex-põe a ideia experimentada no início da formação da comunicação pública no mundo:

A radiodifusão pública aparece em muitos países, especialmente na Europa, como um contraponto ao poder que o privado poderia ter sobre o público em razão dessa posição assimétrica. A comunica-ção pública tem servido, nos países democráticos, como parâmetro de competência e credibilidade no trato da informação (BOLAÑO, César Ricardo apud SILVA, 2009, p.4).

A radiodifusão pública ao redor do mundo se desenvolveu de maneira distinta. As primeiras manifestações de sistemas públi-cos de comunicação surgiram na década de 1920 no continente europeu. Nessa década, surgiram a British Broadcasting Corpo-ration (BBC), no Reino Unido, como um monopólio público, e as primeiras rádios educativas conduzidas por universidades nos Estados Unidos.

Silva (2009) explica que, na segunda metade do século XX, as organizações de mídia pública floresceram como um me-canismo necessário às democracias modernas, que buscavam pluralidade e inovação na produção e na transmissão de con-teúdo e criavam mecanismos de financiamento público e de participação civil na comunicação.

Os que lutam pela comunicação pública exigem o estabe-lecimento de um novo modo de fazer radiodifusão. Busca-se diversidade e democracia de vozes. Com isso em mente, foram escolhidas como embasamento para a construção deste artigo a comparação e a análise de programação de empresas públicas de comunicação a partir dos critérios de Bernardo Lins expostos no artigo Análise comparativa de políticas públicas de comunicação social (LINS, 2002).

As programações de cinco empresas públicas do mundo serão comparadas e analisadas, por se entender que essa seja a forma mais concreta de medir as ações das instituições a partir do que produzem. Também serão levados em consideração conceitos de Jorge Duarte (2010) para uma comunicação dialógica, participati-va e de interesse público. Entender o processo de trabalho dessas empresas é essencial para compreender que tipo de influências elas oferecem ao público no que diz respeito à representatividade e à diversidade de vozes dentro da programação.

Page 11: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

586

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

Para trazer noção ampla do funcionamento e dos impactos de um sistema público de radiodifusão nas sociedades atuais, op-tou-se por apresentar cinco instituições públicas espalhadas pelo mundo. Dessa forma, cria-se uma ideia geral, ainda que inicial, de como a comunicação pública é moldada internacionalmente e de qual a importância de sua existência para a promoção da justiça. Serão abordados os exemplos da Inglaterra, dos Estados Unidos, do Japão, da Austrália e do Brasil. Outro ponto levado em consideração na escolha dos sistemas de comunicação pública desses países é a diferença cultural e econômica dentre as nações e também a forma como os sistemas foram inseridos e como se constituem atualmente.

4.1. O caso BBC - Inglaterra

Considerada por Jonas Valente (2009) como precursora no conceito de comunicação pública no mundo, a British Broadcas-ting Corporation, empresa pública de comunicação do Reino Uni-do, é considerada uma grande referência. Além de possuir credibi-lidade no âmbito interno, a BBC possui escritórios espalhados por grande parte do mundo, sendo uma empresa consolidada mun-dialmente. Os princípios editoriais, o substancial código de ética e a forma de gestão participativa mantidos pela empresa são as principais características que estudiosos usam para diferenciá-la das demais.

Entende-se que esses elementos fazem da BBC um modelo no-tável de empresa de comunicação pública, pois demonstram de for-ma concreta o esforço para promover a pluralidade, a comunicação de qualidade e a interação direta com o público. Segundo a BBC, as atividades da instituição começaram em 1922 como um conglo-merado de empresas de equipamentos eletrônicos. Em outubro do mesmo ano, fez-se a primeira transmissão de rádio para a popula-ção da Grã-Bretanha, que ocorria por algumas horas por dia. Em 1927, o governo britânico tornou a empresa um serviço público.

A cobertura jornalística da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) fez com que a BBC começasse uma considerável expansão a nível internacional (BRITISH BROADCASTING CORPORA-TION [BBC], [2013]). O primeiro serviço da empresa em terras estrangeiras ocorreu em 1938 no mundo árabe. No mesmo ano, a BBC fez transmissões no Brasil com notícias sobre a ascensão de Hitler na Alemanha. Segundo Fernanda Maurício Silva (2011), sua consolidação, tanto interna, quanto pelo mundo, deu-se por conta da consolidação dos princípios éticos e da busca por uma

Page 12: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

587

Justiça Enquanto Responsabilidade

cobertura objetiva dos fatos.Valente (2009) explica que a BBC mantem uma rede de oito

canais de televisão nacionais, com programação regional, dez es-tações de rádio nacionais e 40 estações de rádios locais. Na web, oferece serviço de portal de notícias. Além disso, possui uma agência de notícias mundial que produz conteúdo para rádio, tele-visão e internet em 33 línguas. O autor afirma que, para gerenciar esse império, a BBC mantém uma grande e capitalizada estrutura de gestão, que é feita a partir de um conselho, o denominado BBC trust, e da diretoria executiva.

O Conselho é responsável por representar interesses dos con-tribuintes que pagam anualmente impostos sobre aparelhos de te-levisão. Esta taxa é a principal fonte de renda da empresa. A dire-toria executiva é imbuída de manter o funcionamento da empresa. Segundo Valente (2009), o BBC trust tem como papel proteger o interesse público, administrar os recursos, representar os direitos dos contribuintes, garantir a liberdade, a transparência e o alto padrão da empresa, além de aprovar diretrizes e políticas de con-teúdo. O conselho é formado por 12 pessoas e é composto por um presidente, um vice e dez membros ordinários, dos quais quatro representam as nações do Reino Unido.

A diretoria executiva é encarregada de prover os serviços, de fazer a direção editorial e a gestão operacional da empresa, além de elaborar proposta de política de programação. Segundo o autor, para que os trabalhos sejam desenvolvidos dentro da empresa, o governo britânico publica, a cada dez anos, uma carta que dita as diretrizes a serem adotadas no dia a dia da companhia. A cada três anos, a direção da empresa se reúne com o Estado para traçar metas (VALENTE, 2009).

No entendimento de Valente (2009), o público pode atuar na gestão da empresa de diversas formas, por meio, por exemplo, dos conselhos de audiência. De forma geral, esses conselhos servem para monitorar e avaliar se as metas propostas pela empresa foram alcançadas e dão subsídio para o que o BBC trust tenha uma visão ampla de como a companhia atua. A participação do público pode se dar também por meio de mecanismos de sondagem, dentre eles consultas e debates públicos.

Outra característica importante para avaliar a forma de atua-ção da BBC é o financiamento. Valente (2009) afirma que existem duas formas de captação. No Reino Unido, existe uma taxa anual para todos aqueles que possuem serviço de televisão. Atualmente a taxa é de £ 145,50. A empresa é financiada com o recolhimento deste valor. O autor destaca ainda que a agência BBC Wolrdwide,

Page 13: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

588

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

braço internacional, utiliza, além do dinheiro proveniente da taxa, recursos da venda de programas para outras emissoras, de DVDs, da publicação de livros, dentre outros.

À parte das características estruturais da empresa, Fernanda Maurício Silva (2011) destaca os princípios editoriais da mesma. Segundo a autora, um deles é o ideal de serviço público, no qual a ideia do bem comum norteia as produções a serem veiculadas. Ou seja, a comunicação é feita para levar informações que acres-centem conhecimento à população. Outra característica, por vezes colocada em cheque, é a tentativa de ser apartidária, a despeito de ser uma empresa de responsabilidade do Ministério da Cultura, Mídia e Esporte e de Assuntos Exteriores do Reino Unido (no caso da BBC Wolrdwide).

Essas características apontadas conduzem os princípios edi-torias e éticos da equipe que trabalha na BBC. A Carta Real de 2006, um documento que estabelece metas da emissora, segundo Valente (2009), estabelece que os programas da BBC devem exibir conteúdos inovadores, atrativos, de alta qualidade e desafiadores. Sendo assim, cada um dos veículos da rede apresenta pelo menos um desses requisitos.

Valente (2009) também explica que as rádios da empresa, na-cionais e internacionais, têm programação estruturada em uma especificidade de conteúdo. As principais rádios são as nacionais que, ao todo são oito, cujas programações são específicas e dife-renciadas. Exemplos são a 1Xtra que tem programação baseada na música negra; a Rádio 4 que tem conteúdo voltado para notícias, leituras e atualidades; e a Rádio 6 que tem programação voltada para músicas fora do circuito comercial.

Uma pesquisa realizada pela BBC, em 2007, apontou que as au-diências dos canais de televisão da empresa alcançaram 33,8% das casas. Canais esses que seguem os mesmos princípios das rádios. Existem nove canais nacionais, dentre eles o BBC1, canal com maior audiência da empresa e que possui programação variada com ênfa-se em notícias, novelas, esportes e entretenimento factual; o BBC News 24h, canal exclusivo de notícias; e o Cbeebies, destinado a con-teúdos que levem educação e entretenimento a crianças.

4.2. O caso PBS TV e NPR - Estados Unidos

Nos Estados Unidos, o sistema público de radiodifusão é ca-racterizado por uma complexa rede que liga pequenas emissoras a grandes conglomerados de comunicação. Como explica Sivaldo Pereira da Silva (2009), em todo o território dos Estados Unidos,

Page 14: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

589

Justiça Enquanto Responsabilidade

é possível encontrar estações públicas que funcionam indepen-dentemente umas das outras, mas que são integradas a redes na-cionais. Essas redes nacionais reúnem os conteúdos de estações menores e os transmitem em uma conexão de notícias e de pro-gramações única. É o caso da Public Broadcasting Service (PBS), responsável por canais televisivos; e da National Public Radio (NPR), que reúne estações de rádio.

Além dessas, existe a Corporation for Public Broadcasting (CPB), agência autônoma que gere recursos que fomentam a ra-diodifusão pública local. Ela faz captação de recursos por meio de critérios pré-estabelecidos e é responsável por gerir, de maneira criteriosa e transparente o fundo de doações e de impostos vol-tados para o funcionamento de todo o sistema (SILVA, 2009). De acordo com a CPB, a diversidade e a produção digital definem o serviço norte-americano de radiodifusão pública (CORPORAR-TION FOR PUBLIC BROADCASTING [CPB], [2013]).

É interessante destacar que tal preocupação em determinar uma estrutura específica para a gestão dos recursos financeiros, gover-namentais ou não, foi a forma encontrada pelo país para manter uma rede de comunicação com vínculos públicos não comerciais. Segundo Sterling e Kittross (2002), a preocupação surgiu ainda na década de 1920, quando as primeiras rádios surgiram no país. Com baixa interferência financeira estatal, as empresas de comunicação públicas iniciaram atividades com investimentos comerciais (de empresas de meios eletrônicos, de tecnologia da informação, de te-légrafos e de satélites) e não comerciais (de fundos universitários, de fundações de diversos tipos e de governos estaduais).

As emissoras locais se ligam a canais nacionais que, por sua vez, reúnem conteúdos enviados de muitas localidades. Além de tais emissoras, dentro do sistema público norte-americano, encon-tram-se também organizações que atuam em diferentes setores da comunicação, como a televisão, o rádio, a produção, a distribuição de conteúdo e a internet. Elas não são responsáveis por transmitir a programação dos canais, mas auxiliam na alimentação da rede, já que trabalham na produção de conteúdo especializado. É o caso da Public Radio International (PRI), que produz e distribui infor-mações radiofônicas de conteúdo internacional.

Nem a PBS, nem a NPR estão subordinadas à CPB. Por lei, 95% dos valores recebidos pela CPB do governo federal norte-a-mericano vão para suporte de estações de televisão e rádios locais, bem como para a programação e o melhoramento delas. A CPB financia o Serviço Independente de Televisão e cinco programas que representam minorias e produções independentes. Ela oferece

Page 15: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

590

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

verba à PBS, primeiramente para apoiar programas de conteúdos infantis e, posteriormente, os fundos voltados para programação de rádio são distribuídos após licitação (CPB, [2013]).

Embora o sistema sofra de instabilidade na arrecadação, a plu-ralidade da programação e os diversos canais que recebem finan-ciamento são positivos para a democracia norte-americana. Silva (2009) explica que as doações vêm de fundações civis, de fundos governamentais, de particulares, de empresas privadas, dos gover-nos locais, estaduais e federal, das assinaturas de cidadãos, de lei-lões, de universidades e de faculdades particulares.

Além disso, rádios e televisões de caráter educativo têm liga-ção com grandes organizações nacionais e instituições como a Fundação Ford, que investe em projetos voltados para a constru-ção de um modelo alternativo de comunicação. Brooks e Ondrich (2006) destacam a existência de três tipos de estações públicas de televisão nos Estados Unidos: as universitárias, as independentes e as governamentais. A maior parte delas (39%) é independente, ou seja, não possui fins lucrativos.

Nas estações de rádio, a programação é basicamente própria, mas também há transmissão de conteúdos da NPR e de produtores independentes. Estações públicas de televisão e de rádio, juntas, alcançam mais de 98% da população dos EUA com programação e com serviços livres. Mais de 118 milhões de norte-americanos acessam estações da PBS a cada mês e 37 milhões escutam rádios públicas toda semana (BROOKS e ONDRICH, 2006).

Números estimados pelas emissoras indicam mais de 1,2 mil agentes participantes na realização da comunicação pública esta-dunidense. Desses, cerca de 860 são responsáveis pela transmissão de rádios predominantemente locais, de 360 estações locais de te-levisão e de 35 instituições produtoras, distribuidoras, promoto-ras ou financiadoras dentro desse modelo (SILVA, 2009). A PBS determina para si alguns tipos de programação a serem veicula-dos pelas emissoras locais: as que abordam arte, entretenimento, cultura, sociedade, saúde, história, casa, novidades, assuntos pú-blicos, ciência, natureza, tecnologia e material para professores, pais e crianças. No caso da NPR, a programação é parecida com a da TV, com temas variados em formatos de telejornal, entrevistas, debates, programação infantil, programas de música e auditório.

Tanto a Public Broadcasting Service (PBS) quanto a National Public Radio (NPR) mantêm um conselho diretor. O conselho da PBS tem 27 membros e o da NPR, 17. Os conteúdos das duas emissoras variam a depender da decisão das organizações. Nos televisores de cada região do país aparece o canal delimitado para

Page 16: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

591

Justiça Enquanto Responsabilidade

cada estação. Quando a marca PBS surge na tela, isso significa que ali existe uma filial da empresa, com programação mesclada entre a nacional da PBS e a local.

De acordo com Silva (2009), apesar da pluralidade de formatos disponibilizados pelas redes, cada estação pode dar diferentes ên-fases a determinados conteúdos. A decisão final está nas mãos das estações locais e isso garante à população programações distintas entre as emissoras, o que reforça o “princípio de pluralidade” que deve ser busca incessante de canais públicos de comunicação.

4.3 O caso EBC - Brasil

A radiodifusão no Brasil surgiu com caráter público, mas rapi-damente se transformou em comercial, fazendo com que os bra-sileiros se acostumassem apenas com a presença da mídia priva-da, a partir dos anos 1950. Silvado Pereira Silva (2009) acrescenta ainda que a criação do sistema público de comunicação brasileira só ocorreu após duas décadas da redemocratização do país, nos anos 2000.

Segundo o autor, alguns motivos podem justificar esse fenô-meno: primeiramente, embora o Brasil tenha tido a chance de se redemocratizar, ainda havia muitas barreiras para que a comu-nicação pública virasse realidade. Depois, a mídia comercial já estava enraizada no cotidiano brasileiro e a discussão sobre uma comunicação diferente não era realizada junto ao público. Além disso, o tema também era deixado de lado pelo Estado e não havia políticas públicas específicas sobre o assunto. E depois, a falta de legislação adequada e o sucateamento de outras esferas próximas do sistema público, como as televisões educativas, não colabora-vam para o debate aberto sobre a criação de uma mídia pública que atendesse às demandas que faltavam na mídia tradicional.

De acordo com Silva (2009), tais fatores não permitiram que a radiodifusão pública se desenvolvesse adequadamente no país. Com a priorização da radiodifusão comercial, criou-se um am-biente onde sistemas privados tinham maior apelo. Além disso, a insuficiência financeira e, portanto, a dependência governamen-tal, impediu, e ainda impede, que o sistema público de comunica-ção seja autônomo.

A Constituição Federal de 1988 estabelece, no artigo 223, a existência de um sistema público de comunicação. No entanto, apenas em 2007 a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) foi cria-da, por meio do Decreto 6.246 – revogado no ano seguinte pelo Decreto 6.689. No mesmo ano, nasceu a Lei 11.652, de 7 de abril

Page 17: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

592

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

de 2008, que oficializou a criação da instituição (SILVA, 2009).Atualmente, a EBC atua como sucessora das antigas estruturas

de comunicação do Governo Federal. A Radiobrás – instituição criada em 1975 para gerir as emissoras de rádio e televisão do Go-verno Federal – foi incorporada à EBC.

A lei de criação da EBC aponta como objetivo oferecer mecanis-mos que proporcionem o debate público sobre temas de relevância nacional e internacional, que desenvolvam a consciência crítica do cidadão e que colaborem com a construção da cidadania. A em-presa também deve ajudar a consolidar a participação popular, a democracia, a liberdade de expressão e deve cooperar para a forma-ção educacional dos cidadãos. A EBC visa, ainda, apoiar projetos de inclusão social, dar abertura para programas independentes, buscar formatos criativos e inovadores de transmissão de conteúdo, pro-mover parcerias a fim de fomentar produção audiovisual nacional e estimular produção de conteúdos interativos.

A respeito da estrutura, a empresa é formada por Assembleia Geral, Órgãos da Administração – Conselho de Administração e Diretoria Executiva – e Órgãos de Fiscalização – Conselho Cura-dor, Conselho Fiscal e Auditoria Interna. A composição desses ór-gãos é importante para garantir gestão plural e eficaz.

Cada setor é responsável por um ponto importante para ga-rantir as atribuições da EBC. Dentre elas, estão: aprovar projetos, propostas, fazer o planejamento anual da grade de programas, a linha editorial dos canais e orçamentos, propor regimento interno, planejar, administrar e fiscalizar o uso de recursos, supervisionar e zelar pelas funções exercidas, além de outras funções.

A Empresa Brasil de Comunicação possui dois canais de te-levisão, TV Brasil e TV Brasil Internacional, agência de notícias on-line Agência Brasil, agência de notícias de rádio Radioagência Nacional e o sistema público de rádio, composto por oito emis-soras. A radioagência produz conteúdo para ser transmitido em qualquer rádio do país. O sistema público de rádio tem programa-ção com conteúdo próprio voltado para as emissoras. A EBC ain-da conta com a EBC Serviços, que realiza trabalhos para os canais estatais ou governamentais. A EBC Serviços cuida da TV NBR, da Voz do Brasil, dos programas Brasil em Pauta e Bom dia Ministro e do serviço de rádio que agrega conteúdo realizado por diversos órgãos do governo.

Para Murilo César Ramos3, no entanto, a EBC deveria se des-

3 Murilo César Ramos falou sobre o assunto durante o Roteiro de Debates do Conselho Curador da EBC: O Modelo Institucional da EBC e as Relações com o Governo Federal, em 20 de março de 2013. Disponível em: www.conselhocurador.ebc.com.br/sites/_consel-

Page 18: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

593

Justiça Enquanto Responsabilidade

vincular dos programas diretamente ligados ao Governo Federal, a fim de garantir mais autonomia. O autor reforça a ideia ao dizer que a NBR é um canal do Poder Executivo Federal e que, portanto, não deveria ser produzido pelo sistema público de comunicação brasileiro – a separação permitiria que a empresa pública não ti-vesse suas finalidades interpretadas de maneira errada. Mesmo com equipes separadas para os canais do Executivo Federal e para os canais exclusivamente públicos, há margem para interpretações sobre influências do Governo dentro da EBC.

A proximidade entre o que é público e o que é governamental na EBC não ocorre apenas na gestão dos canais. A manutenção fi-nanceira vem do orçamento da União, motivo pelo qual ainda há dependência do governo para viabilizar o conteúdo da instituição. Ainda há verbas de publicidade e de impostos progressivos embuti-dos no preço dos aparelhos de rádio e de televisão (BRASIL, 2008).

Os conteúdos difundidos pelos veículos de comunicação da EBC devem seguir os padrões estabelecidos pelos objetivos da empresa determinados em lei (BRASIL, 2008). Na TV Brasil, por exemplo, há programas com temática de saúde, além de de-senhos infantis educativos, incentivando a produção nacional, e telejornais que têm agenda de pautas diferente dos telejornais tra-dicionais, com reportagens de cunho social, com debates sobre temas importantes para o telespectador, com análises econômicas e com análises políticas (EMPRESA BRASIL DE COMUNICA-ÇÃO, [2013]). Entre as rádios, por exemplo, a Nacional FM Bra-sília dispõe de conteúdo diversificado. Há espaço para programas musicais de choro, de jazz, de samba, de rock, além de programas educativos e de agenda cultural (EBC, [2013]).

O sistema público de comunicação brasileiro ainda é enten-dido, muitas vezes, como estatal – justamente pelo envolvimento íntimo do Governo Federal com a empresa. O tema gera polêmica porque até mesmo os integrantes civis do Conselho Curador, no começo da história da EBC, em 2007, foram indicados pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Desde a criação, foram realizadas duas consultas públicas para que tais cargos fossem ocupados por nomes indicados pela socie-dade civil e sem vínculo governamental. Apenas após tal indica-ção, o presidente pode ter liberdade para escolher quem fará parte do conselho (EBC, [2013]). A estratégia permite que, a cada car-go do conselho com o mandato vencido, após quatro anos, novas consultas sejam realizadas e cada vez menos haja influência direta

hocurador/files/files/Transcri%C3%A7%C3%A3o%20Roteiro%20de%20Debates.pdf. Acesso em: 25 nov. 2013

Page 19: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

594

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

da Presidência da República. Dessa forma, o Conselho Curador constitui importante meca-

nismo de autonomia dentro de sistema público de comunicação. A partir dele, é possível garantir que o conteúdo veiculado seja de interesse público. Com menos envolvimento governamental no conselho, são maiores as chances de ter debates editoriais voltados para o público.

Como está explicado na página do Conselho na internet, ele pode, por exemplo, emitir voto de desconfiança à Diretoria ou a qualquer um dos diretores e até tirá-los dos cargos que ocupam. O Conselho deve sempre fiscalizar a programação para garantir que está de acordo com os interesses da sociedade. Por isso, quan-to menor a participação do governo nas decisões do conselho e maior a da sociedade civil, maiores as possibilidades de uma co-municação realmente pública.

Outro instrumento importante para a garantia de serviço jun-to à população é a presença de ouvidorias. Elas agem como pontes entre os usuários e a empresa em prol da melhor forma de gerar controle social. A lei de criação da EBC prevê um retorno à so-ciedade por meio de programas de 25 minutos como maneira de prestar contas aos cidadãos das reclamações e sugestões que fazem à empresa (EBC, [2013]).

4.4 O caso NHK - Japão

O início da criação da rede de sistema público japonês ocor-reu em 1924, com a inauguração de três rádios públicas subor-dinadas ao governo. O sistema só se consolidou após 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial (SILVA, 2009). À época, por conta da presença de Frotas Aliadas, os ideais de democracia, cidadania, liberdade de imprensa e livre-comércio tiveram de ser absorvidas pela sociedade japonesa e, inadvertidamente, molda-ram toda a estrutura de trabalho e de prestação de serviço das agências públicas envolvidas.

Em 1925, a Nippon Hoso Kyokai (NHK) foi criada pelo governo japonês, que incorporou antigas agências radiofônicas e se tornou, desde então, a corporação central da estrutura midiática pública do Japão. Ela é a maior rede de rádio e de televisão do país, a que possui a maior audiência e a maior infraestrutura nacional, mes-mo entre empresas privadas do mesmo ramo. A estrutura física e administrativa da NHK soma mais de 54 estações no território japonês e 29 escritórios em outros países, em cidades como Lon-dres, Nova Iorque e São Paulo.

Page 20: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

595

Justiça Enquanto Responsabilidade

Até 1953, os serviços de comunicação pública japoneses eram restritos às rádios, que trabalhavam sob orientação estatal, che-gando a passar por censura prévia de conteúdos. Embora a criação do sistema público japonês tenha ocorrido inicialmente por im-posição de ideologias norte-americanas, as estruturas foram man-tidas mesmo após a saída das tropas daquele país do Japão (Kwak, 1999, apud SILVA, 2009). O papel da NHK vai além do usual para as televisões na maioria dos países, diferenciando-se, sobretudo, pelo caráter de responsabilidade social e de ajuda em momentos de desastres naturais, comuns na região. Paulo Yokota (2011) cita como exemplos práticos da atuação das instituições públicas ja-ponesas a prestação de serviços em ocasiões de acidentes como tsunamis e terremotos.

É quando ocorrem grandes desastres, que se torna possível avaliar a fundamental função atribuída a esta organização pela legislação japonesa. Seus centros de pesquisa desenvolveram equipamentos sofisticados para ajudar nos serviços de defesa civil e fornecem in-formações sobre os pontos de distribuição de água potável, estradas rodoviárias e ferroviárias que estão funcionando. (...) Eles possuem um sistema de alerta sobre os terremotos que continua alertando a população com alguns minutos de antecedência, transmitindo durante o sismo para informar a sua duração, e logo depois qual foi a intensidade nas diversas localidades. Efetua-se, além disso, um esforço para evitar o pânico evitando, por exemplo, cenas dos tsu-namis que envolvem pessoas desesperadas, selecionando-se os que mostram a extensão dos danos materiais (YOKOTA, 2011).

O sistema nipônico funciona, conforme explica Silva (2009), com investimentos financeiros desvinculados do Estado. A NHK é uma corporação de propriedade pública financiada a partir de licenças de televisão pagas pelos telespectadores. Ou seja, a cada aparelho televisivo vendido no Japão, parte do valor do produto é direcionada para a NHK a fim de possibilitar a continuidade dos serviços de radiotransmissão. Barbara Gatzen (2001) esclarece, ainda, que a receita da emissora pública é composta principal-mente por taxas para os serviços terrestres e de satélite e é comple-mentada pela renda de empresas subsidiárias. Outras estações co-merciais dependem de receita publicitária e de patrocínio, o que, como afirma Silva, afeta os conteúdos.

Isso gerou no país a percepção de que a qualidade do conteúdo do sistema comercial é duvidosa quando comparada ao sistema públi-

Page 21: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

596

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

co, que não sofre a pressão de produzir conteúdo apelativo, já que possui receita proveniente de taxas fixas (SILVA, 2009, p.197).

O autor esclarece que a Lei de Radiodifusão japonesa define dois sistemas de radiodifusão local: o público, sob organização da NHK, e o comercial, composto por outras empresas que obtêm conces-são para operar serviços com objetivos comerciais. Pela legislação, a NHK não pode vender espaço para publicidade ou propaganda com fins lucrativos: seu financiamento é proveniente de impostos, recebidos e gerenciados pela NHK sob a forma de tributos que são cobrados mensalmente de residências que possuam aparelho capaz de receber o sinal transmitido (SILVA, 2009). O sistema comercial obtém receita principalmente da venda de publicidade.

Arima e Cooper (2000) indicam que, historicamente, a NHK sempre teve maior facilidade em obter apoio formal do Ministério de Telecomunicações japonês, como, por exemplo, a primazia na disputa por concessões de canais.

Do ponto de vista da sobrevivência, os radiodifusores privados pre-cisam competir acirradamente uns contra os outros na briga pela receita proveniente de publicidade comercial. Em março de 2000, a NHK recebeu 18,9% da receita do mercado de mídia no Japão, enquanto a Fuji TV, maior rede de TV comercial japonesa, recebeu 9,1%. (Arima e Cooper 2000 p.423 apud SILVA, 2009, p.197).

A NHK opera quatro canais de televisão – General TV, Educa-tional TV, BS 1 e BS Premium, três canais de rádio – Radio 1, Ra-dio 2 e FM e oferece serviços para países estrangeiros pelo NHK World, na televisão, no rádio e na internet (NHK, [2013]).

A estrutura da NHK é dividida em três instâncias de gerencia-mentos com funções e com poderes predefinidos por lei: o Con-selho Diretor, o Conselho Executivo e o Conselho Fiscal. O Con-selho Diretor é a instância máxima de decisões do sistema público japonês, a qual os outros dois estão subordinados. Ele é composto por 12 pessoas escolhidas pelo primeiro-ministro e aprovado pelo Parlamento do país.

O Conselho Executivo também tem 12 conselheiros e a fun-ção deste grupo é a de tomar decisões cotidianas da empresa, bem como de executar políticas de comunicação e de diretrizes. Os três membros do Conselho Fiscal fazem o balanço de gastos e produ-zem auditorias sobre as contas da empresa.

A maior parte da programação dos canais de comunicação lo-cais (cerca de 80%) é fornecida por grandes estações, entre elas

Page 22: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

597

Justiça Enquanto Responsabilidade

a NHK. Como cerca de 70% do terreno do país é montanhoso, transmitir sinais de rádio e TV é um desafio. Para a maior parte das emissoras locais, a variedade de programação apresenta série de dramas, notícias e filmes (KANZAKI, 1996).

A programação da NHK aborda cobertura de notícias, educa-ção, cultura, conhecimentos gerais, entretenimento para a família e esportes. Desse conglomerado de comunicação pública local, é interessante destacar a Rádio 2, de perfil educativo, que possui conteúdo direcionado para aprendizagem. A rádio tem programa-ção voltada para o currículo básico escolar, programas culturais, ensino da língua japonesa, além de disponibilizar programas em outras línguas, como o inglês.

4.5. O caso ABC e SBS - Austrália

Silvado Pereira (2009) identifica que o sistema de comunica-ção publica vigente na Austrália é composto por duas empresas distintas, a Australia Broadcasting Corporation (ABC) e a Special Broadcasting Service (SBS). Segundo o autor, apesar de serem fi-nanciadas pelo governo, as duas possuem diferenças estruturais, financeiras e têm públicos-alvo distintos. Segundo a análise do au-tor, as empresas possuem abrangência nacional, porém, por conta de problemas financeiros, sofrem questionamentos internos em relação aos conteúdos reproduzidos, à programação e à forma de captação financeira.

De acordo com Silva (2009), a história do sistema público de comunicação na Austrália começou em 1932 com a criação dos serviços de rádio da ABC, por meio de decreto governamental. O principal objetivo da empresa é a produção e a distribuição de serviço radiofônico. Em 1956, porém, a empresa passou a trans-mitir sinais de TV.

A ABC, de acordo com Silva (2009), teria como base os prin-cípios da BBC do Reino Unido: a independência e a missão de prestar serviço ao público. Porém, na ABC, a receita advém de um fundo do governo australiano e não de um imposto estipulado como no caso da BBC.

O surgimento da SBS ocorreu em 1975 com a inauguração de duas estações de rádio. As primeiras transmissões de televisão ocorreram em 1980. O governo australiano tomou a iniciativa de criar mais uma empresa pública com o objetivo de buscar a di-fusão de diversas culturas presentes no país, utilizando inclusive produções em outras línguas que não o inglês.

Silva (2009) aponta que a emissora mais consolidada é a ABC,

Page 23: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

598

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

tanto em relação à estrutura técnica como à audiência. Ainda se-gundo o autor, entre as décadas de 1970 e de 1980, o governo ten-tou unir as duas empresas, mas houve resistências em incorporar a SBS à ABC por essa possuir público consolidado.

De acordo com Silva, existe diferença estrutural entre as em-presas. A ABC possui um sistema radiofônico constituído por quatro emissoras de rádios nacionais. A única programação co-mum entre as quatro são os noticiários. Cada emissora atende a uma especialidade: ABC Radio National preza por informações de utilidade pública e conteúdos generalistas; a ABC Classical FM difunde músicas clássicas e programação voltada para o público maior de 30 anos; a ABC Triple J possui conteúdo e programação musical voltada para jovens; e ABC Radio-News com objetivo de transmitir notícias.

Segundo o autor, a ABC possui dois canais de televisão. O ABC Television é voltado para a população urbana e aborda temas ge-neralistas. O ABC2 é um serviço complementar e só funciona em sinal digital com programação voltada para a população rural. A empresa ainda possui a ABC Internacional que retransmite parte da programação para o continente asiático e para regiões do Pacífico.

A SBS possui duas estações de rádios nas principais cidades do país, Sidney e Melbourne. Ela opera um canal de televisão e, pela internet, retransmite arquivos digitais. A partir de pesquisas feitas em 2008, Silva (2009) afirma que 80% da receita arrecadada pelas duas empresas vêm do governo.

Uma característica que diferencia a ABC e a SBS é que a pri-meira aceita campanhas publicitárias na programação, desde que não passem de 5 minutos a cada hora. Mesmo assim, o valor re-cebido pelos anúncios representa apenas pouco mais de 20% da receita total da empresa. É justamente essa alta porcentagem de financiamento do governo que compromete a visão de objetivida-de dos veículos.

5. Análise de comunicação

As tabelas abaixo apresentam comparações entre as empresas de comunicação públicas estudadas neste artigo. Elas servem de análise e levam em consideração as cinco funções citadas por Ber-nardo Lins (2002) como as mais usuais pela maioria das empresas de comunicação pública.

O autor aponta que existem estruturas típicas, mesmo que não necessariamente as ideais, no vasto quadro de emissoras públicas pelo mundo. Por isso, a comparação do autor sobre empresas pú-

Page 24: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

599

Justiça Enquanto Responsabilidade

blicas foi o ponto de partida para verificar como é feita a comu-nicação pública no mundo. Com a análise, também foi possível investigar se ela é eficiente na transmissão de conteúdos e de vi-vências importantes para a manutenção de uma sociedade plural e consciente de seus direitos, e que, assim, podem colaborar com demandas sociais da promoção à justiça e do interesse público.

As cinco funções usualmente atendidas por emissoras públicas são: 1) divulgação independente de fatos e procedimentos de ca-ráter público e governamental; 2) divulgação de programação de elite, que encontra pouco espaço nas emissoras comerciais, como programas voltados para temas eruditos, para a cultura clássica, para a divulgação científica, para debates, e para estudos de caso; 3) divulgação de programação educativa e de ensino à distância; 4) divulgação de programas locais, de cultura popular e de ativi-dades comunitárias; e 5) veiculação de programas experimentais.

A partir das observações dos diversos autores, independência gera diversidade, pois com mais pessoas produzindo, há mais di-versidade de vozes e de conteúdos. Para que isso ocorra, também é importante haver produções mais regionalizadas e com colabo-ração de produtores independentes. Além disso, é importante que haja divulgação de informações sobre fatos políticos e econômi-cos relevantes que podem ser tratados unilateralmente em canais institucionais ou não ser contemplados pelo sistema comercial. A radiodifusão pública funciona, então, como complemento aos outros sistemas midiáticos existentes, abrindo espaço para divul-gação, de forma independente, de informações que costumam ser deixadas de lado pela mídia tradicional.

A existência de um sistema de radiodifusão pública é ainda justificada por Lins (2002) pela necessidade de se preservar “va-lores frágeis”. Ou seja, “valores culturais e sociais que as emissoras comerciais têm dificuldades de disseminar, pois conflitam com sua finalidade comercial ou são irrelevantes para sua estratégia comercial” (LINS, 2002, p. 13). Essa dificuldade no setor privado deixa brechas para que a radiodifusão pública supra tais deman-das, ao divulgar informações locais que, por não terem relevância para o grande público, são preteridas pelas emissoras comerciais ou oficiais.

Como forma de esclarecer o entendimento a respeito dos conceitos de Lins, entende-se independência como a maneira de transmitir o conteúdo de maneira livre ou separada das mídias tradicionais em relação ao público e ao governo. É um critério po-sitivo que se relaciona à divulgação alternativa de fatos relevantes, sejam eles a respeito do governo ou não. Se uma empresa é inde-

Page 25: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

600

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

pendente em seu conteúdo, transmite informações diversificadas para o público a respeito de temas diversos.4

Divulgação independente

I n g l a t e r r a (BBC)

Apesar da presença do governo inglês na construção de metas e regras para o gerenciamento da BBC, a empresa, por meio dos conselhos, tem liberdade para escolher e criar a grade de programação. A única exigência feita pelo parlamento é a de que os conteúdos busquem alta qualidade, atratividade e ori-ginalidade.

Estados Unidos (PBS/ NPR)

Cada estação de rádio e de TV filiada tem uma grade espe-cífica. A programação de cada uma é definida a partir de conteúdos próprios, recebidos pela CPB (responsável por reunir o conteúdo das estações e transmiti-las em rede) e por distribuidores independentes, como produtores locais, ou de organizações estrangeiras como a BBC.

Brasil (EBC) A EBC consegue transmitir conteúdo independente dos sis-temas de comunicação privados. Aborda questões que co-laboram para a difusão da diversidade cultural, de assuntos científicos, de cunho social e informativo. A empresa também presta serviços ao governo por meio da EBC Serviços (TV NBR, Voz do Brasil, Bom dia, Ministro; Café com a presidenta e coberturas das atividades da presidente do Brasil). Assim, a empresa difunde conteúdo de caráter público-governamen-tal.

Japão (NHK) Embora dependa do primeiro-ministro japonês e do Parla-mento do país para eleição do Conselho Diretor da NHK, a empresa é independente para a decisão de conteúdos e conta com conselheiros para a discussão constante dos formatos e dos assuntos transmitidos. Atende ao critério de indepen-dência de conteúdos e transmite programação de interesse público, além de informar sobre questões do governo.O sistema funciona com investimentos financeiros desvincu-lados do Estado, a partir de licenças de televisão pagas pelo telespectador.

Programação de elite

I n g l a t e r r a (BBC)

No sistema de rádio da BBC existe a Rádio 3 que tem conteúdo voltado para música clássica e erudita e a Rádio 6 que transmite músicas alternativas, ou seja, de fora do circuito comercial. Na TV, a empresa possui o canal BBC4, com programação cultural onde são mostrados filmes alternativos, músicas e expressões ar-tísticas.

4 Nos Estados Unidos, são as emissoras locais que produzem a própria programação. É inviável analisar todas as filiadas, por isso, levou-se em consideração apenas as áreas de conteúdo apresentadas pela PBS: artes e drama, história, lar e hobbies, vida e cultura, jornalismo, ciência e natureza, e infantis e juvenis.

Page 26: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

601

Justiça Enquanto Responsabilidade

Estados Unidos (PBS/ NPR)

Programação temática voltada para arquitetura, dança, cinema, cultura popular, arte erudita, música, teatro, cozinha, lar, finanças pessoais e entretenimento.

Brasil (EBC) A emissora TV Brasil veicula, por exemplo, o programa Caçado-res de Alma, voltado para a arte e o ofício da fotografia, bem como programas de debates e entrevistas. Além disso, abre oportuni-dade para o debate científico com o programa TV é Ciência, em que apresenta inovações da ciência e da tecnologia. O programa A Grande Música apresenta o mundo da música clássica. Nas rádios é possível incluir, ainda, o programa Jazz Brasil, da rádio Nacio-nal FM Brasília. A rádio MEC FM do Rio de Janeiro mantém o programa A música clássica no Brasil e sempre veicula concertos na grade de programação.

Japão (NHK) Cada canal televisivo ou radiofônico tem perfil diferenciado. Como exemplo de programa de elite, há a FM Rádio, que possui programação voltada para conteúdos musicais, incluindo música clássica. Também disponibiliza informações e notícias quando há desastres ou emergências no país, como terremotos, furacões ou calamidades públicas.

Austrália(ABC e SBS)

Nesse seguimento, os programas que mais se destacam são vol-tados para a diversidade étnico-cultural pelas rádios regionais da SBS, com enfoque para os que são transmitidos em idioma aborí-gen e australiano. Além disso, as emissoras de televisão destinam em média 3,6% da sua programação para vincular programas so-bre expressões artísticas.

Programação educativa

Inglaterra (BBC) No sistema televisivo está o exemplo mais latente de programa-ção educativa, que é o do canal CBeebies, direcionado à educação e ao entretenimento de crianças por meio de conteúdos pedagó-gicos. Em outros canais e veículos, a empresa desenvolve a mes-ma função por meio da transmissão de informações.

Estados Unidos (PBS/ NPR)

Programação infanto-juvenil com temática educacional com ani-mações, documentários, talk-shows, séries, reportagens históri-cas, ciência e natureza (arqueologia, vida, saúde, medicina, física, tecnologia, invenções).

Brasil (EBC) A emissora TV Brasil transmite programas educativos por meio de desenhos infantis, programas de saúde, cursos à distância (Telecurso fundamental, ensino médio; Tecendo o Saber), docu-mentários e programas de entrevistas sobre assuntos históricos, que também remetem à reflexão da sociedade atual. Outra cola-boração da emissora para iniciativas educativas é a veiculação da série inglesa Como e por que? que busca explicar como as variadas coisas do mundo funcionam. O programa TV é Ciência também pode ser catalogado nessa categoria por permitir a divulgação de conteúdo científico e de assuntos sobre o universo e a astrono-mia. Na rádio Nacional FM Brasília, há o programa Momento Três, que destaca datas comemorativas e apresenta grandes no-mes da música brasileira.

Page 27: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

602

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

Japão (NHK) Como destaque, possui a Rádio 2, de perfil educativo e de conte-údo direcionado para aprendizagem, com programação voltada para o currículo básico escolar, programas culturais, ensino da língua japonesa, além de disponibilizar programas em outras lín-guas, como o inglês. A NHK a define como “canal de aprendiza-gem para toda a vida”.Outro destaque é a Educational TV, conhecida como a ETV, que dá suporte ao currículo escolar de aproximadamente 75% das escolas elementares do Japão. Também apresenta conteúdo em linguagem de sinais para pessoas com deficiência auditiva.

Austrália(ABC e SBS)

A programação educativa fica por conta da exibição de docu-mentários, programas infantis e outros programas específicos para a transmissão de conhecimentos. Segundo dados apresenta-dos por Silva (2009), as duas empresas juntas possuem em média 1,26% das grades de programação com programas voltados para a educação.

Programação de cultura popular

Inglaterra (BBC) Tanto na TV quanto na rádio, os canais e as estações valorizam a cultura popular por meio da programação musical, dando prio-ridade a músicas e a artistas regionais.

Estados Unidos (PBS/ NPR)

Entre os conteúdos, há programas de variedade, documentários com temática cotidiana, identidade cultural, espiritualidade, reli-gião e trabalho, além de jornalismo e notícias.

Brasil (EBC) A EBC transmite programas como o Contos Gauchences e o Vio-la, minha viola, que apresentam músicas de raiz. No telejornal Repórter Brasil, há espaço para reportagens produzidas por equi-pes de outros estados fora do eixo Brasília-São Paulo-Rio de Ja-neiro. A empresa ainda conta com rádios que transmitem conte-údo mais regionalizado, como a Nacional Amazônia e a Nacional Alto Solimões.

Japão (NHK) General TV, cujo slogan é “Programas de qualidade para toda a família” é o principal canal da NHK. Oferece conteúdos nas áreas de notícia, informação, documentários sobre atualidade, programas sobre conhecimentos gerais, além de entretenimento, teledramas, animações e programas de variedade.

Austrália(ABC e SBS)

A cultura popular está presente na programação das duas em-presas por meio de programas voltados para a realidade local, incluindo programas musicais.

Programas experimentais

Inglaterra (BBC) Como a Carta Real aprovada em 2006 exige originalidade na programação, o espaço para a experimentação é uma constante busca na programação de todos os veículos da empresa.

Estados Unidos (PBS/ NPR)

A programação do sistema público dos Estados Unidos é defini-da nas estações locais. Na lista de conteúdos indicada pela PBS não há alusão clara à programação experimental.

Page 28: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

603

Justiça Enquanto Responsabilidade

Brasil (EBC) Há espaço para conteúdos independentes nas seguintes propos-tas: 1) veiculação de pequenos vídeos independentes no telejor-nal noturno da TV Brasil, o Repórter Brasil, sobre assuntos de in-teresse público. O quadro é intitulado Outro Olhar e geralmente exibe curtas-metragens ou pequenos documentários de pessoas ou grupos que enviam trabalhos audiovisuais para a emissora. 2) Programas feitos por pequenos grupos, como é o caso do Rede Jovem de Cidadania, que promove debates e reflexões sobre o universo jovem. Na rádio Nacional FM Brasília é possível desta-car o programa Produção independente.

Japão (NHK) Canal Division Hi-Vision (BS-Hi) é o canal mais recente da NHK, lançado no fim de 2000 com sinal digital. Possui programação focada em arte, em cultura e em programas experimentais de ferramentas digitais de interação com o público.

Austrália(ABC e SBS)

Os conteúdos experimentais têm mais peso nas rádios da ABS e SBS do que nas emissoras de televisão. Na rádio ABC Triple J, voltada para o público jovem, há espaço para bandas indepen-dentes e conteúdos diferenciados. As experimentações cabem prioritariamente aos programas voltados a divulgar as diferentes culturas e etnias existentes no país.

6. Conclusão

Fazer comunicação é levar ideias de um local a outro. Diferen-tes tipos de comunicação carregam diferentes visões de mundo e espalham, entre a população, distintas concepções a respeito de diversos assuntos.

Por isso, a análise dos sistemas de comunicação do tipo públi-ca estudados nesse trabalho demonstrou que na Inglaterra, nos Estados Unidos, no Brasil, no Japão e na Austrália, as empresas contribuem, de modo geral, para a construção da cidadania, tor-nando-as complementares ao sistema comercial de radiodifusão. Essa conclusão ocorre com a justificativa de que as empresas apre-sentam todas as características indicadas por Lins (2002) como as usuais entre os sistemas públicos de comunicação.

De forma geral, todas estão de acordo com o entendimento de uma comunicação que busca informar a população valorizando o diálogo, considerando diferentes pontos de vista e buscando a consolidação da democracia. Isso ocorre por conta da ampla gama de conteúdos sociais e de formatos diferenciados de programação, que focam, consideravelmente, na educação, no serviço de infor-mação independente, no interesse público e na representativida-de. Por essas características, é possível perceber a importância de haver sistemas públicos de comunicação nas diversas sociedades.

De acordo com Lins (2002), a existência de um sistema pú-blico se justifica por três motivos: 1) porque há necessidade de se

Page 29: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

604

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

preservar valores culturais e sociais difíceis de serem encontrados em canais com fins comerciais; 2) para haver divulgação de as-suntos políticos e econômicos relevantes que em outros sistemas midiáticos não são abordados com profundidade; 3) para haver difusão de conteúdos que não são veiculados em grandes mídias por falta de interesse ao grande público, mas que fazem parte da cultura de uma sociedade (LINS, 2002).

Mesmo com as dificuldades evidenciadas, as empresas anali-sadas buscam promover a cidadania, a justiça social, a pluralidade e difundir informações de interesse coletivo por meio dos conte-údos transmitidos. Pode-se afirmar que sistemas públicos de co-municação são fundamentais para o exercício da cidadania e para a expressão da democracia nos países onde estão instalados. Elas dividem entre si características similares, já que têm como objeti-vo comum garantir o direito à comunicação.

É inicialmente possível agregar às empresas públicas a ideia citada por Duarte (2010) de espírito público, ou seja, de compro-misso em colocar o interesse da sociedade antes da conveniência da empresa, da entidade, do governante, ou do ator político; e de que o objetivo central delas é fazer com que a população ajude a melhorar a sociedade.

Tendo em vista a importância da discussão acerca do tema e a existência de outros parâmetros a respeito de empresas públicas de comunicação, que podem e devem ser estudadas de diversas maneiras e a partir de outras visões, é indicado que novas análises com outros parâmetros sejam também feitas de modo a aprofun-dar os conhecimentos sobre o assunto e a acrescentar observações.

8 – Referências bibliográficas

ARROYO; BECERRA; CASTILLEJO; SANTAMARÍA. 2012. apud SAFAR y PASQUA-LI, 2006. Intervozes. Contribuição ao II Fórum Nacional de TVs Públicas, 2009. Dispo-nível em: <http://www.cinemabrasil.org.br/site02/iifntvp-intervozes.pdf>. Acesso em: 12 set. 2013.

BRITISH BROADCASTING CORPORATION [BBC]. Disponível em: < http://www.bbc.co.uk/>. Acesso em: 11 out. 2013.

BICALHO, A. G.; SIMEONE, A.; TEODORO, D.; SILVA, L. O.; MARIA, M.; PINHO, O. Responsabilidade Social das empresas e comunicação. São Paulo: Peirópolis, 2003. Disponível em: <www.ethos.org.br>. Acesso em: 11 out. 2013.

BRANDÃO, E. P. Conceito de comunicação pública IN: DUARTE, Jorge Filho (org.). Conceito de comunicação pública - Estado, mercado, sociedade e interesse público. 3ª edição. São Paulo: Atlas, 2012. p 1-33.

BRASIL. Lei nº 11.652, de 7 de abril de 2008. Institui os princípios e objetivos dos ser-

Page 30: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

605

Justiça Enquanto Responsabilidade

viços de radiodifusão pública explorados pelo Poder Executivo ou outorgados a entida-des de sua administração indireta; autoriza o Poder Executivo a constituir a Empresa Brasil de Comunicação – EBC; altera a Lei no 5.070, de 7 de julho de 1966; e dá outras providências. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11652.htm>. Acesso em 25 nov. 2013.

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. O longo Caminho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

Coletivo Intervozes. Contribuições à audiência pública do Conselho Curador da EBC. Disponível em: <intervozes.org.br>. Acesso em: 10. Nov. 2013.

Corporation for Public Broadcasting (CPB). Disponível em: <http://www.cpb.org>. Acesso em: 15 out. 2013.

DUARTE, Jorge. Comunicação pública. In: SILVA, Luiz Martins da (Org.). Comunica-ção pública: algumas abordagens. Casa das Musas, Brasília, 2010. Disponível em:http://jforni.jor.br/forni/files/ComP%C3%BAblicaJDuartevf.pdf . Acesso em: 28 nov. 2013.

Encyclopædia Britannica. Nippon Hoso Kyokai. Disponível em: <global.britannica.com/EBchecked/topic/415855/Nippon-Hoso-Kyokai-NHK>http://www.asiacomentada.com.br/2011/03/tv-nhk-na-comunicao-dos-problemas-ja-poneses-2/>. Acesso em: 11 nov 2013.

Empresa Brasil de Comunicação. Roteiro de Debates do Conselho Curador da EBC: O Modelo Institucional da EBC e as Relações com o Governo Federal. 2013.Disponível em: <www.conselhocurador.ebc.com.br/sites/_conselhocurador/files/files/TranscriEEm%-C3%A7%C3%A3o%20Roteiro%20de%20Debates.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2013._______. Disponível em: <www.ebc.com.br>. Acesso em: 25 nov. 2013.

FOSSÁ, M. I. T.; KEGLER, B. Comunicação pública digital: reflexões teóricas para a análise de portais governamentais. Cadernos de Comunicação, Rio Grande do Sul, v.16, n.1, jan/jun. 2012. Disponível em: http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/ccomunicacao/article/view/5829. Acesso em: 27 nov. 2013.

GAZTZEN, B. Media and Communication in Japan, Current Issues and Future Rese-arch in The Asianization of Asia, German National Research Council. 2001. Disponível em: <www.japanesestudies.org.uk/discussionpapers/Gatzen.html>. Acesso em: 12 nov. 2013.

Informação é um direito seu. Unesco e Artigo 10 comemoram Dia Mundial da Li-berdade de Imprensa. 2010. Disponível em <artigo19.org/infoedireitoseu/?p=532>. Acesso em: 15 out 2013.

Japan Broadcasting Corporation (NHK). Disponível em: <http://www.nhk.or.jp/en-glish>. Acesso em: 11 nov 2013.

KANITZ, S. O que é o terceiro setor? Disponível em: <www.filantropia.org/OqueeTer-ceiroSetor.htm>. Acesso em: 7 jan. 2014.

KANZAKI. A Partial Guide to Broadcastings in Japan, 1996. Disponível em: <www.kanzaki.com/jpress/broadcast.html>. Acesso em: 12 nov.2013.

LINS, Bernado. F. E. Análise comparativa de políticas de comunicação social. Con-

Page 31: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

606

Simulação das Nações Unidas para Secundaristas – 2014

sultoria Legislativa da Camara dos Deputados. Brasília, 2002. Disponível em: <www.radiolivre.org/sites/radiolivre/files/politica-comunicacao-analise-comparativa.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2013.

MACIEL, E. Convergência e Integração na Comunicação Pública. Câmara dos Deputa-dos. 2013. Disponível em: <bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/14336/convergencia_integracao_comunicacao.pdf>. Acesso em: 28 out. 2013.

MENDELL, T. Serviço público de radiodifusão: um estudo de direito comparado. Brasília: UNESCO, 2011. Disponível em: <www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/public_service_broadcasting_a_comparative_legal_survey_in_portuguese>. Acesso em: 13 out 2013.

MILLER, Daniel, Consumo como cultura material, 2006, em Horizontes Antropológi-cos, Porto Alegre, ano 13, n. 28, p. 33-63, 2007.

OBSERVATÓRIO DO DIREITO À COMUNICAÇÃO. Conselho Curador da EBC dis-cute jornalismo público. 22 agosto 2013. Disponível em: <www.direitoacomunicacao.org.br/content.php?option=com_content&task=-view&id=9775>. Acesso em: 12 nov. 2013.

PAULINO, Fernando Oliveira, SILVA, Luiz Martins da, Comunicação Pública em de-bate: Ouvidoria e Rádio, Editora UnB, 2013.

PUBLIC BROADCASTING SERVICE (PBS). Public Broadcasting Service [2013]. Dis-ponível em: <www.pbs.org>. Acesso em: 23 out. 2013.

RESENDE, José Venâncio De. Os desafios da comunicação no serviço público. 2001. Disponível em: <www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=528 >. Acesso em: 27 set. 2013.

SILVA, Fernanda Maurício. O jornalismo como forma cultural: Uma breve análise histórica dos valores jornalísticos na Globo e na BBC. MATRIZES, Vol. 4, número 2, 2011. Disponível em: <revistas.univerciencia.org/index.php/MATRIZes/article/viewRST/8001/7378>. Aces-so em: 28 nov. 2013.

SILVA, Silvado P. Sistema Público de Comunicação no Brasil: As Conquistas e os Desafios em Observatório do Direito à Comunicação. Disponível em: <http://goo.gl/KDlmgP>. Acesso em: 15 nov. 2013.

THOMPSON, John B, A mídia e a Modernidade - uma teoria social da mídia, Editora Vozes, Petrópolis-RJ, 12ª edição, 2011.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E CULTU-RA [UNESCO]. Public Broadcasting: Why? How? 2013. Disponível em: <www.unesco.org/new/en/communication-and-information/resources/publications-and-communi-cation-materials/publications/full-list/public-broadcasting-why-how>. Acesso em: 10 out. 2013._______. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em: <unesdoc.unes-co.org/images/0013/001394/139423por.pdf>. Acesso em: 14 set. 2013.

VALENTE, J.; SILVA, Silvado P; AZEVEDO, F.; MOYSES, D. Sistema público de comu-nicação no Reino Unido in Sistemas públicos de comunicação pública pelo mundo:

Page 32: O papel da comunicação pública como alternativa de ... · John Thompson1 (2011) justifica o posicionamento de que a ... na formação das sociedades modernas. ... mo, muitas vezes,

607

Justiça Enquanto Responsabilidade

experiência de doze países e o caso brasileiro. São Paulo: Paulos, Intervozes, 2009.

YOKOTA, P. TV NHK na comunicação dos problemas japoneses. Ásia comentada. 13 março 2011. Disponível em:www.asiacomentada.com.br/2011/03/tv-nhk-na-comunicao-dos-problemas-japone-ses-2/. Acesso em: 21 out. 2013.