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01/04/2011 1 Denis Borges Barbosa Docente da Pós Graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Professor permanente da Academia de Propriedade Intelectual e Inovação do INPI/Brasil. e do PPED do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Professor convidado da Universidade Federal de Santa Catarina. A Internet cria, em si, um espaço não físico, daí virtual. Ë verdade que a informação a que se visa acesso estará em algum computador localizado num espaço real. Mas tal fato não terá necessariamente efeitos jurídicos relevantes. Uma página na WWW pode estar localizada num provedor que mantenha seu computador em outra cidade, ou outro país; nem mesmo o “dono” da página saberá sua localização. Um programa de computador, objeto de FTP pode estar em várias localizações ao mesmo tempo, replicado em diversos computadores. O processo que leva o acesso de um ponto a outro da rede pode passar por dezenas, talvez centenas de computadores sitos em diferentes lugares físicos, dos quais nem o emitente do acesso, nem o destinatário têm qualquer controle. Se isso ocorre na esfera da realidade, mais ainda ocorrerá no que toca à apreensão do usuário que se desloca na interface contínua da WWW. Tal pode dar-se não só ao nível da interface dentro da web, como também no próprio suporte físico de comunicação. Casos judiciais indicam que certos provedores, oferecendo acesso gratuito, na verdade deslocavam imperceptivelmente seus usuários para ligações internacionais para a Moldávia. Tais usuários se viam lendo um documento da WWW aparentemente no Canadá, mas a rede subjacente passava pelo outro lado do mundo. A interface é ainda mais ilusória: o usuário acessa um grupo de entusiastas de um programa de televisão; onde estará o computador onde reside a informação? Ao responder a uma pergunta, é levado a uma editora de livros. Onde estará? Ao escolher um livro específico, é lançado num site de uma livraria. Onde? Ao fazer uma comanda, é lançado num site de outra empresa, que fará a remessa do livro. Ao autorizar que tal compra seja imputada a seu cartão de crédito, põe em ação inúmeros outros pontos de pertinência geográficos, todos desconhecidos. Mesmo o usuário profissional, que possa precisar o local físico de seu interlocutor na manifestação de vontade que dá origem ao negócio jurídico, poderá defrontar-se com sérias questões para distinguir os requisitos de sua formação. Que sistema jurídico determinará a forma própria da manifestação de vontade, segunda a regra locus regit actum? Onde existe a execução do contrato? Nas hipóteses em que não há circulação física de bens (por exemplo, o de um programa de computador adquirido via FTP), tais questões assumem transcendental complexidade. Tais incertezas são de certa forma agravadas pelo fato de que os negócios jurídicos, e mesmo os ilícitos, poderem decorrer de manifestação automática de um sistema, sem real emissão específica de vontade por pessoa física ou jurídica determinada. Tal fato, que de resto não é específico da Internet, implica na emissão de uma vontade in potentia, a ser concretizada automaticamente quando se configurem as circunstâncias materiais prefiguradas no sistema, seja o depósito de uma moeda numa máquina de venda automática, seja o pressionar de um botão na página da web. As consequências de tal “vontade automática”, por exemplo, na determinação dos defeitos dos negócios jurídicos, pode ser facilmente entrevista. De outro lado, não está claro se a doutrina da responsabilidade pelo fato da coisa será hábil a cobrir todas as modalidades de ilícito deste tipo. A solução mais fácil para tais impasses – o de atribuir ao espaço virtual uma juridicidade própria – está pelo menos por enquanto impossibilitada. A Internet é não supraestatal, mas aestatal. Não existem normas coativas próprias ao espaço virtual . E os atos jurídicos que nela ocorrem têm de adquirir pertinência nos vários sistemas estatais circundantes.

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01/04/2011

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Denis Borges BarbosaDocente da Pós Graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Professor permanente da Academia de Propriedade Intelectual e Inovação do INPI/Brasil.

e do PPED do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Professor convidado da Universidade Federal de Santa Catarina.

� A Internet cria, em si, um espaço não físico, daí virtual. Ë verdade que a informação a que se visa acesso estará em algum computador localizado num espaço real. Mas tal fato não terá necessariamente efeitos jurídicos relevantes.

� Uma página na WWW pode estar localizada num provedor que mantenha seu computador em outra cidade, ou outro país; nem mesmo o “dono” da página saberá sua localização. Um programa de computador, objeto de FTP pode estar em várias localizações ao mesmo tempo, replicado em diversos computadores. O processo que leva o acesso de um ponto a outro da rede pode passar por dezenas, talvez centenas de computadores sitos em diferentes lugares físicos, dos quais nem o emitente do acesso, nem o destinatário têm qualquer controle.

� Se isso ocorre na esfera da realidade, mais ainda ocorrerá no que toca à apreensão do usuário que se desloca na interface contínua da WWW. Tal pode dar-se não só ao nível da interface dentro da web, como também no próprio suporte físico de comunicação. Casos judiciais indicam que certos provedores, oferecendo acesso gratuito, na verdade deslocavam imperceptivelmente seus usuários para ligações internacionais para a Moldávia. Tais usuários se viam lendo um documento da WWW aparentemente no Canadá, mas a rede subjacente passava pelo outro lado do mundo.

� A interface é ainda mais ilusória: o usuário acessa um grupo de entusiastas de um programa de televisão; onde estará o computador onde reside a informação? Ao responder a uma pergunta, é levado a uma editora de livros. Onde estará? Ao escolher um livro específico, é lançado num site de uma livraria.

� Onde? Ao fazer uma comanda, é lançado num site de outra empresa, que fará a remessa do livro. Ao autorizar que tal compra seja imputada a seu cartão de crédito, põe em ação inúmeros outros pontos de pertinência geográficos, todos desconhecidos.

� Mesmo o usuário profissional, que possa precisar o local físico de seu interlocutor na manifestação de vontade que dá origem ao negócio jurídico, poderá defrontar-se com sérias questões para distinguir os requisitos de sua formação.

� Que sistema jurídico determinará a forma própria da manifestação de vontade, segunda a regra locus regitactum? Onde existe a execução do contrato? Nas hipóteses em que não há circulação física de bens (por exemplo, o de um programa de computador adquirido via FTP), tais questões assumem transcendental complexidade.

� Tais incertezas são de certa forma agravadas pelo fato de que os negócios jurídicos, e mesmo os ilícitos, poderem decorrer de manifestação automática de um sistema, sem real emissão específica de vontade por pessoa física ou jurídica determinada.

� Tal fato, que de resto não é específico da Internet, implica na emissão de uma vontade in potentia, a ser concretizada automaticamente quando se configurem as circunstâncias materiais prefiguradas no sistema, seja o depósito de uma moeda numa máquina de venda automática, seja o pressionar de um botão na página da web. As consequências de tal “vontade automática”, por exemplo, na determinação dos defeitos dos negócios jurídicos, pode ser facilmente entrevista. De outro lado, não está claro se a doutrina da responsabilidade pelo fato da coisa será hábil a cobrir todas as modalidades de ilícito deste tipo.

� A solução mais fácil para tais impasses – o de atribuir ao espaço virtual uma juridicidade própria – está pelo menos por enquanto impossibilitada. A Internet é não supraestatal, mas aestatal. Não existem normas coativas próprias ao espaço virtual . E os atos jurídicos que nela ocorrem têm de adquirir pertinência nos vários sistemas estatais circundantes.

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� Um interessante artigo de Joel R. Reidenberg propugna a coatividade de uma lex informatica, constituída não de normas jurídicas, mas de regras técnicas de informática (La régulation de l’Internet par la technique et la Lex Informatica, in LA COHERENCE DES REGULATIONS ECONOMIQUES, Marie Anne Frison-Roche, ed. (Dalloz: 2005)).

� Assim, o próprio sistema informático direcionaria o comportamento do usuário, permitindo-lhe ou negando-lhe acesso a bens, serviços ou informação, e estabelecendo sanções, ou antes, conseqüências automáticas para o descumprimento. O sistema, impessoal e ademocrático, funcionaria com a impassividade própria da tecnologia.

Um direito sobre um bem que está em toda parte

� "O pensamento não pode ser objeto de propriedade, como as coisas corpóreas. Produto da inteligência, participa da natureza dela, é um atributo da personalidade garantido pela liberdade da manifestação, direito pessoal.

� Uma vez manifestado, ele entra na comunhão intelectual da humanidade, não é suscetível de apropriação exclusiva. O pensamento não se transfere, comunica-se

� . . . chamo a atenção da Comissão sobre a necessidade do harmonizar os direitos do autor com a sociedade..."

� (Ata sessões Comiss. Org. Proj. Cód. Civ. 1889 Rev. Inst. Hist., vol. 68, lª parte, 33). D. Pedro II (1889)

•Thomas Jefferson -. If nature has made any one thing less susceptible than all others of exclusive property, it is the action of the thinking power called an idea, which an individual may exclusively possess as long as he keeps it to himself; but the moment it is divulged, it forces itself into the possession of every one, and the receiver cannot dispossess himself of it.

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Thomas Jefferson –

Its peculiar character, too, is that no one possesses the less, because every other

possesses the whole of it. � He who receives an idea from me, receives

instruction himself without lesseningmine; as he who lights his taper at mine,receives light without darkening me.

� That ideas should freely spread from oneto another over the globe, for the moraland mutual instruction of man, andimprovement of his condition, seems tohave been peculiarly and benevolentlydesigned by nature

� A Propriedade Intelectual, entre os vários ramos do Direito, nasceu com pretensões à ubiquidade: pela sua racionalidade econômica, a proteção tem de ser internacional para ser viável .

� A intangibilidade de seu objeto leva naturalmente à exigência de uma proteção internacionalizada, se possível unificada: é esta a demanda dos titulares dos respectivos direitos.

� Edith Penrose, no seu “La economia de Sistema Internacional de Patentes”, Ed. Siglo Vinteuno, 1973.

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� Segundo Edith Penrose, se há um sistema de propriedade da tecnologia, ele deve ser, necessariamente, internacional.

�O país que concede um monopólio de exploração ao titular de um invento está em desvantagem em relação aos demais, que terão sempre o benefício da concorrência, além de não necessitarem alocar recursos para a pesquisa e desenvolvimento

� Assim, um país que garante uma modalidade de PI que os outros estados, seus competidores na economia global, não concedem, lesa o interesse público nacional duas vezes;

1. por que aumenta absolutamente os custos da economia interna, e

2. porque acaba aumentando a competitividade internacional relativa dos países que não concedem o tipo especifico de PI

� Com a emergência da Internet, a questão da ubiquidade toma porém nova forma. A omnipresença já não é só, em potência, do objeto do direito, mas também, através de seu suporte informacional, do sujeito ativo e passivo.

�O espaço do sujeito do direito passa a ser em todo lugar, ou antes, em um locus virtual, que não corresponde a nenhum ponto do universo físico. Daí, o neologismo –ciberespaço.

� The Economic Structureof Intellectual PropertyLaw (Hardcover) William M. Landes (Author), The Honorable Richard A. Posner (Author)

� Belknap Press ofHarvard UniversityPress (November 28, 2003)

� ISBN-10: 0674012046

� Int. J. Intellectual Property Management, Vol. 4, Nos. 1/2, 2010 23

� Copyright © 2010 Inderscience Enterprises Ltd.� On artefacts and middlemen: a musician’s note

on the economics of copyright� Denis Borges Barbosa, http://denisbarbosa.addr.com/On%20artifacts%20and%20middlemen%20final.pdf

� Mídia e Propriedade Intelectual - A Crônica de um Modelo em Transformação - 2010

� Editora: Lumen juris

� Cláudio Lins de Vasconcelos

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�Ciência da ação humana proposital para a obtenção de certos fins em um mundo condicionado pela escassez(Ludwig von Mises)

Survey do Art Council UK 2007

� Pelo menos no tocante à produção intelectual expressiva, e até certo grau, a produção científica, há sempre o incentivo não econômico, a que se referia LordCamden em 1774:� It was not for gain, that Bacon, Newton, Milton, Locke, instructed and delightedthe world; it would be unworthy suchmen to traffic with a dirty bookseller for so much a sheet of a letter press.

� When the bookseller offeredMilton fivepound for his Paradise Lost, he did notreject it, and commit his poem to theflames, nor did he accept the miserablepittance as the reward of his labour; heknew that the real price of his work wasimmortality, and that posterity wouldpay it.

� (Donaldson v. Beckett, Proceedings in the Lords on theQuestion of Literary Property, February 4 through February22, 1774).

�So long as men

can breath, or eyes

can see,

So long lives this,

and this gives life

to thee.

�Shakespeare, soneto

XVIII

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A existência de direitos “morais”, que, na economia de artefatos,

atinge até mesmo os Estados Unidos.

� Economia..do excesso?

� Na verdadeadministraçãosocial da produção de bens culturais.

� Criação da escassez atravésde filtros: 1. Censura2. Le gout3. Mercado

�Os personagens do sistema de criação

�O criador�O provedor do funding�O consumidor�No modo de produção intermediado: o “publisher”

�O criador + detentor do funding= autor burguês (Engels) Gesualdo, Príncipe de Venosa

�O consumidor + detentor do funding = mecenato...� Príncipe Estehazy, Príncipe Rouanet

�Funding de risco: retorno de mercado

�Funding de risco, além do publisher� O empreendedor(impresario, produtor, editor...) que leva a criação ao mercado

� O marchand

� O agente, o editor musical, etc.

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�O criador + impresario = Handel, Telemann, Vivaldi

�O criador + consumidor (como insumo de produção) = transformação criativa (Antonio & Cleopatra...na análise de Posner)

1. O modo presencial (teatro, troubadour, show….)

2. Os artefatos (escultura, pintura, arquitetura)

3. O modo intermediado (escritos, dados, etc)

� O modo presencial� Infungibilidade da presença� Market-driven, mesmo antes dos meios de reprodução de massa

� Antes da exclusiva, economiade alta diversificação de produtos & lead time

� Demanda inaugural de proteção de exclusiva (semtecnologias de reprodução)

� Presença do intéprete -Direitos “conexos”

� Private ordering (ECAD) [Coase]

�Demanda inaugural de proteção de exclusiva (sem tecnologias de reprodução)

� Beaumarchais: O Barbeiro de Sevilha, o Casamento de Figaro “Autor burgues” tipo, convertido

�Société des auteurs et compositeurs dramatiques (1777)

� Connaissant un vif succès avec Le Barbier de Séville, Beaumarchais s'interroge sur le montant de la rétribution minime versée par la Comédie-Française. Le 3 juillet 1777, il propose la fondation de la première société des auteurs dramatiques. Sa lutte aboutit à la reconnaissance légale du droit d’auteur par l’Assemblée constituante le 13 janvier 1791 (loi ratifiée le 19 janvier 1791 par Louis XVI). La première loi édictée dans le monde pour protéger les auteurs et leurs droits (Wikipedia)

�A economia do artefato� Criação da aura: a infungibilidade do objeto

� Das Kunstwerk im Zeitalter seiner technischen Reproduzierbarkeit (Walter Benjamim)

� Even the most perfect reproduction of a work of art is lacking in one element: its presence in time and space, its unique existence at the place where it happens to be. This unique existence of the work of art determined the history to which it was subject throughout the time of its existence.

� The presence of the original is the prerequisite to the concept of authenticity.

Res ipsa loquitur

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�A economia da forma intermediada

� "[we are] aware that [our] comparatively broad interpretation of the term "invention" in Article 52(1) EPC will include activities which are so familiar that their technical character tends to be overlooked, such as the act of writing using pen and paper. (Conselho de Recursos do EPO )

�A economia da forma mediadaImmanuel Kant 1785: Von der Unrechtmäßigkeit desBüchernachdrucks� Artefatos são werke (obras)

� Livros são Handlungen (ações) (atos de fala…Habermas)� A ação é de comunicar através de um medium. O editor é um porta-voz.

� Daí poder-se distinguir entre a criação e o meio onde elase apresenta, sem nele se conter (dicotomia idéia-forma)

�A economia da forma intermediada� Entre o criador e o consumidor há um ato de comunicação não presencial através de umatécnica.

� A atividade profissional da mediação cria umacategoria econômica� “By the late thirteenth century in Paris (a century later

in England), ateliers of scribes and illuminators were known by the name of their master artists,” and “[t]he names of scribes, illuminators, parchment-makers and binders . . . [can be found] in tax records, though few names can be linked with surviving books.” (Of Monks, Medieval Scribes, and Middlemen PETER K. YU)

� O funding da técnica se separa do funding da criação.

�A economia da forma mediada� A revolução da imprensa: possibilidade de over supplying

� Necessidade de manter o funding da intermediação através da escassez induzida

� The printing press irrevocably altered the balance of moral and economic claims to works of authorship. It also presented copyright law’s central question. Paul GOLDSTEIN, COPYRIGHT’S HIGHWAY: FROM GUTENBERG TO THE CELESTIAL JUKEBOX 31 (rev. ed. 2003)

� “historical emergence [of copyright] is related to printing technology” MARK ROSE, AUTHORS AND OWNERS: THE INVENTION OF COPYRIGHT 9 (1993)

� A causação mediada pela técnica� Violas da Gamba e flautas doces são

instrumentos de pouco volume e

contrastes sutis, adequados para o

mecenato (Le petit salon…)

� Num sistema de funding de risco para

o mercado, é preciso media que

alcance o máximo de público pagante, com grandes contrastes: o violino

(1601…) e a flauta traversa

Boehm…..

� Diretamente na expressão: O

solo/ripieno de Corelli vs. o crescendo

de Rossini

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� O filtro do mercado

� Produção voltada para maximização do consumo, criando uma escassez de oferta(Grisham, Clancy, Steele, Rowling, Stephen King…)� “A razão pela qual os publishers querem escritores que

vendam um zilhão de cópias em vez de dez escritores que vendam – cada um - um décimo do infinito é por causa do custo de unidade.

� O custo de unidade é o custo de cada livro vendido.� Se você soma todo o custo para imprimir, o tempo editorial,

o tempo do projeto, e uma porcentagem do custo fixo para luz e água – e eis aí o que o que custa para fazer a um livro acontecer.

� Esse custo é quase mesmo se você vender 3000 livros ou 30000 livros”.

� http://misssnark.blogspot.com/2005/11/more-more-more.html

� Os filtros da produção expressiva:

� A censura (nos sec. XVI e

XVII par a par com o direito de impressão: )

� Le gout

� O mercado escolhe o que dá

mais retorno

�O filtro do mercado

� Produção voltada para a minimizaçãoda inovação:� Not only are the hit songs, stars, and soap

operas cyclically recurrent and rigidly invariable types, but the specific content of the entertainment itself is derived from them and only appears to change. The details are interchangeable. (Theodor Adorno and Max Horkheimer, The Culture Industry: Enlightenmentas Mass Deception - 1944)

� Doutrina da inadvertent duplication

� Coleção 2006� Dolce Gabana

� Prada� Donna Karan

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�O filtro do mercado: � Minimização da inovação, conducente à comoditização das obras – máximo de fungibilidade.� A maioria dos trabalhos do ficção que induziriam cópia são

concebidos para um público de massa – ou seja, devem usar os caracteres e as situações já em estoque a fim serem compreendidos. (Landes & Posner)

� só acedem ao mercado as obras cujo preço exceda o custo de expressão (mais o de cópia, num modo de produção intermediada)

� Assim, o mercado induz a uma escassez natural da produção, antes de ocorrer a escassez artificial da exclusiva.

� "Assim, o mercador ou comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse egoísta (self-interest), é levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez parte do interesse dele: o bem-estar da sociedade.“ Adam Smith

=

� As características desses bens são apontados pela literatura:� O que certos economistas chama de não-rivalidade. Ou seja, o uso ou consumo do bem por uma pessoa não impede o seu uso ou consumo por uma outra pessoa. O fato de alguém usar uma criação técnica ou expressiva não impossibilita outra pessoa de também fazê-lo, em toda extensão, e sem prejuízo da fruição da primeira.

� O que esses mesmos autores se referem como não-exclusividade: o fato de que, salvo intervenção estatal ou outras medidas artificiais, ninguém pode ser impedido de usar o bem.

� Assim, é difícil coletar proveito econômico comercializando publicamente no mercado esse tipo da atividade criativa.

� A principal desvantagem dessa dispersão do conhecimento é que não há retorno naatividade econômica da pesquisa ou criação.

� Consequentemente, é preciso resolver o queos economistas chamam de falha de mercado, que é, no caso, a tendência à dispersão dos bens imateriais, principalmente aqueles que pressupõemconhecimento ou criação.

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�falhas de mercado:� Assimetria de informação� Assimetria de poder econômico(Monopólios e monopsônios)

� Externalidades (poluição…) � Bens públicos

Por que falha?

Porque o mercado, com todaa prestidigitação de suamão invisível, não consegueassegurar a alocação de recursos para o investimento criativo, nemlhe assegurar o retorno.

Assim, torna-se indispensávelintervir no mercado.

J.H. Reichman, Charting the Collapseof the Patent-Copyright Dichotomy:Premises for a restructuredInternational Intellectual PropertySystem 13 Cardozo Arts & Ent. L.J.475 (1995).

� Este campo do direito garante aocriador um pacote de direitosexclusivos planejado para superar oproblema do domínio públicoresultante da natureza intangível,indivisível e inexaurível da criaçãointelectual, que permite aoscaronas, que não compartilharam docusto e risco criativo, ter-lhe plenoacesso.

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Custo de expressão + custo de distribuição

Custo de reprodução não autorizada

� A correção do desestímulo no investimento de longo prazo na inovação, assim, acontece através de uma garantia legal, por exemplo: 1. por meio de um direito exclusivo, ou seja,

a apropriação privada tanto do uso, da fruição, e também da possibilidade de transferir a terceiros a totalidade desses direitos (no latim tão querido aos juristas, usus, fructus; abusus, jus persequendi); ou então

� A correção do desestímulo no investimento de longo prazo na inovação, assim, acontece através de uma garantia legal, por exemplo:

2) por um direito não exclusivo, mas também de repercussão econômica, por exemplo, o direito de fruir dos resultados do investimento, cobrando um preço de quem usasse a informação, mas sem ter o direito de proibir o uso; ou ainda

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� A correção do desestímulo no investimento de longo prazo na inovação, assim, acontece através de uma garantia legal, por exemplo:

3) por uma garantia de indenização do Estado para quem investisse na nova criação tecnológica ou autoral (mecenato estatal, subvenção da FINEP,

compras militares e espaciais).

� A intervenção no mercado para assegurar um tipo de investimento cria um custopúblico:

� “To begin with, a genuine "invention" (...) must be demonstrated "lest in the constant demand for new appliances the heavy hand of tribute be laid on each slight technological advance in an art."Sears, Roebuck & Co. V. Stiffel Co., 376 U.S. 225 (1964) mr.Justice Black delivered the opinion of the Court

� E isso cria a necessidade de equilibrar os interesses sociais com os do favorecido pela intervenção:

� É importante notar a funcionalidade da aproximação do direito e da economia para o copyright.

� Os direito exclusivos concedidos aos autores não existem em virtude de direitos naturais ou intrínsecos, são simplesmente meios para se chegar a um fim. Este entendimento encontra a sustentação no mandato constitucional do copyright.

� O Congresso recebeu poderes para decretar leis tais como o copyright com a finalidade de promover “o progresso da ciência e das artes úteis.” A Constituição não contempla conceder direitos exclusivos aos autores puramente para seu enriquecimento pessoal. (...)

� Isto é consistente com uma teoria de Law & Economics para o copyright .

� Sag, Matthew J., "Beyond Abstraction: The Law and Economics of Copyright Scope and Doctrinal Efficiency" . Tulane Law Review, Vol. 81 Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=916603

� Sony Corp. of Am. v. Universal City Studios, Inc., 464 U.S. 417, 429 (1984) � The monopoly privileges that Congress may authorize are neither unlimited nor primarily designed to provide a special private benefit. Rather, the limited grant is a means by which an important public purpose may be achieved. It is intended to motivate the creative activity of authors and inventors by the provision of a special reward, and to allow the public access to the products of their genius after the limited period of exclusive control has expired.

� Eldred v. Ashcroft, 537 U.S. 186, 212 (2003):� ”copyright law celebrates the profit motive, recognizing that the incentive to profit from the exploitation of copyrights will redound to the public benefit by resulting in the proliferation of knowledge. The profit motive is the engine that ensures the progress of science.”

� O estudo econômico do sistema jurídico é reconhecido como indispensável para um melhor entendimento dos objetivos e dos resultados das leis. Focando em uma análise consequencialista, bem como visando examinar meios legais para garantir o fim adequado, tal doutrina atua como um balanço de eficiência do direito positivo.

� (...) Na busca de maximizar os benefícios, Posnerexplica que eficiência seria o melhor resultado que se poderia obter por qualquer sistema econômico.

� Entre outras definições, Pareto entende que eficiência é o que atua em prol de uns sem prejudicar os demais enquanto Hicks e Kaldor já consideram que eficiente quando os benefícios superam as perdas.

� Ana Beatriz Nunes Barbosa, Law & Economics – Uma Introdução, Revista de Direito Empresarial IBMEC no. 1, 2002.

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� William M. Landes and Richard A. Posner, An Economic Analysis of Copyright Law 18 J. Leg. Stud. 325, 325-33, 344-53 (1989)

� Economia do direito de exclusiva:� “Uma relação entre o incentivo ao investimento em bens de criação e a barreira ao acesso à produção (...)

� O problema central da lei de copyright é atingir o balanço correto entre o acesso e os incentivos.

� O problema central da lei de copyright é atingir o balanço correto entre o acesso e os incentivos.

� Para que a lei de copyright promova a eficiência econômica, suas doutrinas legais principais devem, pelo menos aproximadamente,

� (a) maximizar os benefícios de criar obras adicionais

� (b) menos as perdas de limitar o acesso e � (c) os custos de administrar a proteção do copyright.”

� os custos de administrar a proteção do copyright.”

� Os Custos de transação são essenciais na construção do sistema; se fica mais “caro” administrar o sistema, o sistema da exclusiva autoral perde sua razão de ser.

� Ainda assim, essa análise exercerá em muitos casos função meramente acessória, como na hipótese de uma medida qualquer que, embora ineficiente do ponto de vista estritamente econômico, será a mais adequada para a consecução de objetivos específicos. Em outros, contudo, a AED tende a ser fundamental, particularmente nas áreas em que a eficiência econômica consiste no próprio bem jurídico a ser tutelado.

� Em sua concepção contemporânea, como vimos, o DIPI tem como principal preocupação a busca do equilíbrio entre os interesses econômicos de titulares e usuários de bens intelectuais, o que equivale dizer que busca conceitualmente a melhor alocação possível dos recursos destinados tanto à produção quanto ao consumo desses bens. Não por acaso, alguns dos maiores nomes da AED são também referências obrigatórias em matéria de PI.

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� The paucity of IP users allows for efficient control: as preventing a massive surge of free-riding is inefficient (if not impossible), plaintiffs can choose the illegal competitor to strike, and, with one finger, close the dick spillage.

� That is precisely the strategy that makes Intellectual Property effective: shooting at the gatekeepers.

� [1] Reinier H. Kraakman, Gatekeepers: The Anatomy of a Third-party Enforcement Strategy,2 J. L. Econ. & Org. 53, 53–54 (1986).

� Os titulares de direitos de PI sempre evitaram atacar os usuários finais de obras protegidas. Isso ocorre porque, em parte, isso é antieconômico e impopular. Mas a principal razão de não fazê-lo é que os usuários não copiavam as obras ou, se o faziam, a reprodução era insignificante e raramente resultava em futura disseminação.

� Jane C. Ginsburg, Putting Cars On The “Information Superhighway”: Authors, Exploiters, and Copyright in Cyberspace, 95 Colum. L. Rev. 1466, 1488 (1995)

� Everyone is a publisher� O Xerox� O video� O cassete� O diskette

� Publishers and Scribes party intooblivion

�Internet

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� Art.L. 336-2.-En présence d'une atteinte à un droit d'auteur ou à un droit voisin occasionnée par le contenu d'un service de communication au public en ligne, le tribunal de grande instance, statuant le cas échéant en la forme des référés, peut ordonner à la demande des titulaires de droits sur les œuvres et objets protégés, de leurs ayants droit, des sociétés de perception et de répartition des droits visées à l'article L. 321-1 ou des organismes de défense professionnelle visés à l'article L. 331-1, toutes mesures propres à prévenir ou à faire cesser une telle atteinte à un droit d'auteur ou un droit voisin, à l'encontre de toute personne susceptible de contribuer à y remédier. »

� The Anti-Counterfeiting Trade Agreement (ACTA) is a concern for the Brazilian government.

� Although it is difficult to assert any concrete consideration on the project under negotiation, as the published text includes many passages in brackets, the eventual conclusion of a multilateral instrument on "enforcement" of rights may affect the balance of the intellectual property system and cause negative impact on international trade.

� Por isso a informação sempre foi considerada um bem livre. Devo respeitar o direito de autor sobre o livro que leio; não posso plagiá-lo, nem comerciá-lo sem autorização. Mas a informação que dele retirei está completamente disponível, e posso utilizá-la como bem entender, nomeadamente para fins comerciais.

� Porém, tal como se assiste ao assalto ao uso privado, também se assiste ao assalto à liberdade da informação. Por várias vias a informação está afinal a ficar apropriada nesta sociedade da informação. A informação, ela própria, passa a vender-se. Deixo de a poder utilizar livremente.

� O fenómeno tem muitas facetas, nos mais diversos sectores. Limitamo-nos a considerar uma, que respeita sobretudo ao próprio domínio da informática.

� A Comunidade Europeia criou o direito chamado sui generis sobre o conteúdo das bases de dados. Sejam elas ou não criativas, em qualquer caso o “fabricante” da base de dados tem a reserva sobre a extracção e a utilização comercial de partes substanciais do conteúdo da base de dados.

� Trata-se de um puro direito sobre a informação. �

� JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito de autor e desenvolvimento tecnológico: controvérsias e estratégias, Pág. 151 REVISTA FORENSE -VOL. 374 DOUTRINA

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�ANDERSON, Chris. Free – The Future of a Radical Price. Nova York: Hyperion, 2009. p. 241. (“In a competitive market, price falls to the marginal cost. The Internet is the most competitive market the world has ever seen, and the marginal costs of the technologies on which it runs —processing, bandwidth, and storage — get closer and closer to zero every year. Free becomes not just an option but an inevitability. Bits want to be free.”)

� A destruição criativa do direito autoral� Na produção de obras digitais o copyright é desnecessário.

� A retórica do direito autoral é a retórica do intermediário...

� Se o intermediário é prescindível, a função de incentivar a produção deve voltar-se ao criador.

� Haveria muito mais eficiência de recursos premiando o criador-divulgador pelo número de downloads.

� Ku, Raymond Shih Ray, "The Creative Destruction of Copyright: Napster and the New Economics of Digital Technology" . University of Chicago Law Review, Forthcoming Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=266964 or DOI: 10.2139/ssrn.266964

� “os escribas não foram à extinção rapidamente. Certamente, a venda dos manuscritos continuou a florescer no mínimo uma geração ou duas, e as publicações manuscritas continuaram a existir pelo menos até o décimo sétimo século”

� a importância dos intermediários muda com o tempo. Por exemplo, os impressores, com seu acesso único aos meios técnicos limitados do tempo, foram muito importantes nos XV e XVI sec.

� No fim do XVI, “começaram perder a influência em favor dos livreiros, titulares de direitos.

� No sec. XVII, esses perdem poder em favor do publisher, a (...) “a figura central [s] no comércio de livro” em virtude de sua habilidade de selecionar, organizar, e financiar a manufatura de livros. (Peter Yu...)

�Antes da exclusiva: economia de alta diversificação de produtos & lead time� Vivaldi:

� 500 concertos� 43 óperas� Mais de 100 concertos publicados � Il Pastor Fido (Chédeville) 1737

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• Antes da exclusiva: economia de alta diversificação de produtos & lead time

• Handel � 50 operas, 23 oratorios� Dezenas de concertos� Empresário

� Telemann� 8000 obras� Funcionário público + empresário + editor� Concertos em tabernas

�Efeitos do direito autoral� Beethoven

� 9 sinfonias� 8 concertos� 849 total (Biamonti)

� Gershwin� 19 peças eruditas� 35 shows da Broadway� 22 participações em outros � 7 filmes

� Leonard Bernstein� 3 sinfonias � 2 óperas � 5 musicais � 9 Grammys e 2 tonies

� Aram Khachaturian� Consumer-quality: Stanley

Kubrik 2001, BBC

� 3 ballets, 6 concertos, 3 sinfonias, 15 peças (arranjos de filmes) total 108 opi.

� 23 peças e 13 filmes

� SERGEI PROKOFIEV� 138 Opi, 81 no sistema de

produção soviético

� 7 filmes..Alexandre Nevski e Ivan o Terrível

� DMITRI SHOSTAKOVICH

� 147 opi

Rua do Ouvidor 121/6 Rio de Janeiro2004030

http://denisbarbosa.addr.com

(Acadêmico)

http://braziliancounsel.com

(Profissional)