o outro_franklin leopoldo e silva_coleção_filosofias_ o prazer do pensar

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    LIN LEOPOLDO E SILVA doulor em FilosofiaUSP e um dos mais importantes intelectuais

    brasileiros de sua gerao. E professor doDepartamento de Filosofia da USP e da Faculdade deSo Bento. Publicou, entre outros, Bergson: intuio ediscurso filosfico e Conhecimento de si.MARILENA CHAU1, nascida em Pindorama (SP), em 1941, uma das mais destacadas intelectuais brasileiras eprofessora titular do Departamento de Filosofia daUniversidade de So Paulo. Possui extensa obra na reade Filosofia e Cincias Humanas, tendo publicado, entreoutros, Convite Filosofia, Nervura do real, Experinciado pensamento e Cultura e democracia.JUVENAL SAVIAN FILHO, nascido em Ja (SP), em1974, doutor em Filosofia pela USP, sob orientao dafilsofa Marilena Chaui, e professor da UniversidadeFederal de So Paulo. Publicou, entre outros, Fe e razo:uma questo atua]?, Metafsica do ser em Bocio c Deus.

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    O ou

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    O outFranklin Leopoldo eSilFILOSOFIAS: 0 PRAZER DO PEN

    Co l e o d i r i g i d aM a r i l e n a C h a u i e J uv ena l Sa v i a n F

    II !/'/;;/martinsfoSo Paulo

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    Copyright 2022, Editora WMF Martins Fontes Ltda.,So Paulo, para a presente edio.

    V.e d i o 2022

    Acompanhamento e d i t o r i a lHelena Guimares Bittencourt

    R e v i s e s g r f i c a sLetcia Braun

    Maria Fernanda AlvaresE d i o de arte

    Katia Harumi TerasakaP r o d u o g r f i c aGeraldo Alves

    P a g i n a oMoacr Katsumi Matsusaki

    Dados I n t e r n a c i o n a i s de C a t a l o g a o n a P u b l i c a o ( C I P )( C m a r a B r a s i l e i r a do L i v r o , SP , B r a s i l )

    S i lv a , F r a n k l i n L e o p o l d o eO o u t r o / F r a n k l i n L e o p o l d o eS i l v a . - S o P a u l o : E d i t o r a

    W M F M a r t i n s F o n t e s , 2 0 1 2 . - ( F i l o s o f i a s : o p r a z e r do p e n s a r /d i r i g i d a p o r M a r i l e n a C h a u i e J u v e n a l S a v i a n F i l ho )

    I S B N 9 7 8 - 8 5 - 7 8 2 7 - 4 8 4 - 91. E n s a i o s b r a s i l e i r o s 2 . F i l o s o f i a I . C h a u i , M a r i l e n a . I I . S a v i a n

    F i l h o , J u v e n a l . I I I. Ttulo. IV. Srie1 1 - 1 1 7 5 5 C D D - 1 0 2

    n d i c e s p a r a c a t l o g o s i s t e m t i c o :1 . E n s a i o s filosficos 102

    Todos os direito s dest a edio reservados Editora WMFMartins Fontes Ltda,

    Rua Prof. Laerte Ramos de Carvalho , 133 01325,030 So Paulo SP BrasilTel. (11) 3293.8150 Fax (11) 3101.1042

    e-mail: info@zvmfmartins fontes.com.br http://ivww.wmfmartins fontes.com.br

    SUMRIO

    Apresentao 7Introduo 9

    1 0mesmo e ooutro: aarticulao 132 Deus como ooutro absoluto 183 Subjetividade eintersubjetividade 234 Concluso 35

    Ouvindo ostextos 43Exercitando areflexo 50Dicas deviagem 56Leituras recomendadas 59

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    A PR ES ENTAOMarilena Chaui e Juvenal Savian Filho

    0 exerccio do pensamento algo muito prazero com essa convico que convidamos voc a viconosco pelas reflexes de cada um dos volumes daleo Filosofias: o prazer do pensar.

    Atualmente, fala-se sempre que os exerccios cos do muit o prazer. Quando o corpo est bem treinele no apenas se sente bem com os exerccios, mas necessidade de continuar a repeti-los sempre. Nossaperincia a mesma com o pensamento: uma vez htuados a refletir, nossa mente tem prazer em exercitae quer expandir-se sempre mais. E com a vantagemque o pensamento no apenas uma atividade memas envolve tambm o corpo. o ser humano intque reflete e tem o prazer do pensamento!

    Essa a experincia que desejamos par t i l harnossos leitores. Cada um dos volumes desta coleoconcebido para auxili - lo a exercitar o seu pensar

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    f o r a m cuidadosamente selecionados para abormais importantes da reflexo fi losfica

    conectados com a histria do pensam ento.Assim, a coleo destina-se tanto queles que de

    iniciar-se nos caminhos das diferentes filosofiasqueles que j es to habituados a eles e querem

    falamos de " f i l o no p l u r a l , pois no h apenas uma forma de

    Pelo contrrio , h um caleidoscpio defilosficas muito diferentes e intensas.

    A o mesmo t e m p o , esses v o l u m e s s o t a m b m u meria l rico para o uso de professores e estudantes de

    Ensino Mdio e com as expectativas do s cursosfaculdades brasileiras. Os

    especialistas reconhecidos em suas reas,perspicazes, inteir ame nte preparados para

    dessa viag em pelo pas multif aceta do das

    Seja b e m - v i n d o e b o a v i a g e m !

    I N T R O D U O

    Po r vezes surge, em nossas conversas inform aie m c o m u n i c a e s f o r m a i s , a d i s c o r d n c i a acercareconhecimento de uma coisa ou de uma pessoa. Dmos: " o mesmo"; nosso i n t e r l o c u t o r d i z : " o uEsse objeto, que h muitos anos no via , parece-mmesmo e eu o identi fico com aquele que encontempos atrs. Mas alg u m que passou pela mesmaperincia contesta: trata-se de o u t r o , pois diferdaquele qu e estava aqui . Mas tam bm podemos disdar de ns mesmos ou duvidar do nosso r e c o n hmento: quando encontro uma pessoa que no vejm u i t o t e m p o , passo p o r u m m o m e n t o d e h e s i t aser ela mesma? No estarei confundindo com opessoa?

    Nesses exemplos, podemos assinalar certos terque indicam a presena de uma questo: mesmo, oidentidade, tempo, di ferena, reconhecimento. Qua

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    um pouco sobre o modo como empregamospalavras, percebemos que elas traduzem critrios

    or meio dos quais estabelecemos relaes em nossasaber se estou diante do

    objeto encontrado antes e, portan to, j conhecoisa, ainda desconhecida;

    pessoa. Adotarei, em cada caso,Tratando-se do mesmo objeto ou da mesma pes-

    base numaPercebo que o que vejo ig ual ao que j v iessa percepo mostra-se um aspecto relevante

    pessoa. Ser algo que me aparece pela pri mei ra vez e que no se

    a nenhuma imagem que me permita dizer queig ual ", ento preciso conhecer, no sentido de assi

    algo at ento desconhecido.Ora, se tudo se passasse sempre dessa maneira, a

    mesmo e o outro no seria, afinal, umduas situaes e proceder de modo

    adequado a cada uma. A que sto um pouco mcomplicada porque, vi a de regra, tudo se aprescomo sendo o mesmo e como sendo outro , como idt ico e como diferente. Tanto assim que, muitas vepara resolver a disc ordnc ia mencionada no exemin ic ia l , apresento ao meu interlo cut or os aspectosme levam a afirmar que se trata do mesmo, e ele, sua vez, me informa acerca dos aspectos que lhe mitem considerar que se trata de outro . Isso se deque, de um lado, entre as coisas que percebemos, quase sempre, pontos comuns e diferenas; de olado, verificamos que as coisas mudam, isto , torn-se diferentes, sem deixar de conservar algo de slongo dessas transformaes. E como se no pudmos dizer, de modo de f in i t i vo , nem que a realidmuda, nem que ela permanece. Surge assim a d i fdade para estabelecer uma relao entre situaesparecem completamente contrrias uma outra.Vimos que a questo abrange coisas e pessoas,, o conhecimento da natureza na forma da relasujeito/objeto e os vnculos entre os seres humanoou , se quisermos, entre os sujeitos. 0 segundo asp particularmente relevante porque, ao longo da h

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    i a da Filosofia, a compreenso da relao entre oshumanos mostra-se mais difcil e mais complexa

    daquelas que so explicadasexatas visando o conhecimento

    No que concerne a essa dificuldade, mereceespecial a funo do tempo, porque coisas e

    mudam conforme decorre o tempo de existnvezes chegamos mesmo a duvidar de qualqueraspecto permanente que pudesse fazer as

    de um fator de identificao ao longo desse tra-chamamos de temporalidade e cujo l i m i t e

    desaparecimento, a morte, o deixar de ser, istocomo completa oposio.

    1. 0 mesmo e o outro: a articula

    Como ocorre em quase todas as questes de qFilosofia se ocupa, os pensadores gregos foram osmeiros a encontrar motivo de perplexidade na relentre o mesmo e o ou t ro . A princpio, duas posiabsolutamente contrrias traduzi ram o impasse: dlado, a afirmao absoluta do ser, necessariamsempre o mesmo, sem nenhuma alterao (Parmnc. 530-460 a.C); de ou t ro , a afirmao da mudantra nsf orma o e da inst abil idade de tudo que e(Hercli to, c. 540-470 a.C). Percebe-se a nfase, nome i r o caso, na identidade do ser, e, no segundofato de que tudo que torna-se ou t ro . 0 problemaos sucessores desses pri meir os filsofos tiv eram def rentar consistia no fato de que, como j dissemoexperi ncia da percepo e do pensamento indicade algum modo, as duas perspectivas, embora annicas, esto presentes no nosso contato com o mu

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    Foi preciso ento, como fez Plato (428-348 a.C),apenas fixar-se no mesmo como garantia da ver

    ou t ro , isto , ode realidade relacionado com a diferena. Essa

    apresenta-se de modo mais intenso na relacons t i tu i , por excelnci a, o antagonismo dos

    o verdadeiro e o falso.Como ocorreu em um dos dilogos escritos porsuponhamos que o fi lsofo diz a verdade e que

    o falso. Poderemos, ento, def in i r o discomo verdadeiro, entendendo-o como

    e como expresso da realidade. Mas o que diremosdiscurso do sof sta? Por ser falso, ser inexistente?

    caso da afirmao eterna e necessria

    acontecer como a negao do ser. Mas o discursoa, e convi ncente para muitos. Ser,

    nesseno teramos de afirmar o contrrio do ser, quer

    Essa questo delicada, posta pela relao entre oe seu ou t ro , o sofsta, abala profundamente a

    lgica com que se afirmava o ser. Ser

    preciso articular a oposi o para que o conhecimenpossa superar aquilo que aparece a princpio como cotradio . Art ic ula r sig nifi ca: preservando aquilo qfaz com que algo seja ele mesmo, encontrar, todavia,modo de apreend-lo como ou t ro , de maneira que lugar da diferena no faa desaparecer a identidadAssim, torna-se possvel entender a mudana e a aprnc ia , alm da identidade e da realidade. Posso, entme situar na multiplicidade das imagens sem perder vista a unidade da realidade em si mesma. Quando dzemos: "isto uma imagem", queremos dizer queimagem , ou existe. Toda a questo est em entendesse modo de existncia. A fala do sofsta produtode imagens, e seu elemento a mult ipl ici dade; ele nvo l t a seu pensamento para a unidade, e, nesse sentiddiz o falso. 0 filsofo, por sua vez, considera as imgens e a multipli cidade das aparncias, mas seu obt i vo atingir a unidade, isto , a essncia ou a realidadPara o sofsta, a realidade sempre ou t ra ; para o fisofo, essa multiplicidade de outros deve ser questnada como forma de busca da unidade do mesmo.

    A experincia imediata a do movimento e mudan a . Se nos ativermos a este mundo percebido

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    transitoriedade e o carter efmero das coisas i m p e m --se com muita fora. Ora, se o que percebemos e o quepodemos afirmar variam a cada instante, como definira verdade? Ser ela relativa a cada u m desses m o m e n tos e to instvel como as qualidades passageiras? Seumbito ser esse c o n t n u o m o v i m e n t o d a p r e s e n a ausncia - do mesmo ao outro - que parece caracterstico da relao humana com as coisas? Assim seria sea realidade fosse apenas e to somente aquilo que nosaparece ou que nos afeta transitoriamen te. Mas, se pu dermos transportar-nos alm das aparncias e alm doesgotamento temporal de todas as coisas, poderemos,segundo Plato, encontrar a verdade como e s s n c i a ,isto , como a permanncia do ser. Ao pensar em outrainst ncia aquilo que percebido no mun do s ensv el,veremos, ento, que a realidade em si mesma p e r m a nece de modo absoluto e que tudo aquilo que vem a sere vem a desaparecer diante de ns, na experincia imediata, relativ o a formas inte ligve is, sempre idntic asa si mesmas. A realidade das coisas relativas provmde sua participao no absoluto. Por isso, as diferenas,as oposies e a instabilidade que pov oam o m und oem que vivemos possuem algum grau de realidade e16

    verdade na medida em que participam do ser em setido p l e n o .

    A s s i m deve ser tendo-se em vista que Ser e Vdade no comportam o outro de si mesmos, ma s apnas as variaes aparentes da unidade e da identida

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    2 . Deus como o outro ab so lu to

    A identidade est profundament e relacionada como Eu ou a conscincia de si. Somos levados a supor quea permanncia do mesmo ocorre de forma privilegiadanesse patamar da personalidade; da a oposio habitua l entre o Eu e o outro . Seja para afirmar a p r o x i m i dade ou para assinalar a dist ncia, seja para marcar aafinidade ou o antagonismo, a relao entre o Eu e ooutro tem sido, ao longo da Histria, um exemplo caracter s t ico . Contudo, possvel encontrar casos emque a busca da identidade, como conhecimento de si, ao mesmo tempo a tentativa de conhecer o outro .

    Assim vemos, nas Confisses de Santo Agostinho(354-430) , um itinerrio para Deus que tambm umatrajetria em que o indivduo vai ao encontro de si.Enquanto a busca de Deus e de si mesmo ocorre naexterioridade (em tudo o que exterior pessoa), o serhumano vaga, perdido, ao sabor das circunstncias.18

    Quando se volta para si (para a sua inter ior idade) , o shumano encontra Deus na prpria alma: a conveso . Trata-se, portanto, inseparavelmente, de um econ t ro de si e de um encontro de Deus, e a razo disest em que Deus habita no mais profundo da alma.na interioridade que se podem encontrar Deus e a mesmo, renunci ando aos simulacros que o mundo eterior oferece.Entre mim e Deus, no entanto, a relao de altridade. No pode haver mai or oposio do que aqueexistente entre a criatura f i n i t a e o ser i n f i n i t o . Pode-dizer, ento, que, em relao ao Eu, Deus absolutmente o Outro. Como explicar, a part i r dessa distnce dessa diferena, a convergncia da busca de si e busca de Deus? Como as duas perguntas - "quem seu?" e "quem Deus?" - podem estar to afastadasao mesmo tempo to prximas? A razo dessa verdaparadoxal reside na identidade da criatura. Com efeitno posso responder questo "quem sou eu?" sem mreferir a Deus, que, como criador, a causa e a razda minha existncia. Disso decorre que, ao procurminha identidade somente em mim , encontro sempuma resposta insuficiente. Como provenho de Deu

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    minha identidade me transcende na direo desseoutro absoluto, e nele se realiza de modo completo, porser Ele causa e razo de meu ser. S me encontro verdadeiramente encontrando a Deus, porque minha identidade est nele. A distncia que me separa de Deus tambm aquilo que me aproxima dele, e a compreenso desse paradoxo, tanto quanto seja possvel, passapelo Amor, que faz com que Deus, transcendendo-mei n f in i t amente , esteja, no entanto, presente no mais nt imo do meu ser. Alteridade e intimidade se associam,e at mesmo se confundem, pelo Amor.

    0 fato de que tanto o que sou como o que possosaber de mim somente se completem no encontro dooutro que Deus repete-se na filosofia de Ren Descartes (1596-1650). Depois que a dvida universal (a dvida estendida metodicamente a todos os campos dosaber) o faz encontrar a verdade indubitvel acerca daprpria existncia ("penso, logo existo"), a tarefa do f i lsofo foi a de investigar se alguma outra existnciapoderia ser afirmada com a mesma evidncia e certeza.Examinando as representaes que povoam a con scincia, Descartes encontrou a ideia de i n f i n i to , que possuia peculiaridade de ser maior do que a prpria mente20

    que a pensa, e que, portanto, no poderia ter sido p rduzida pela conscincia de um ser f in i to . Por consequcia, tal ideia s pode remeter a uma causa igualmenin f in i ta , o ser que ela representa - Deus -, cuja extncia demonstrada assim necessariamente.

    interessante observar que, na sequncia da contatao da prpria exi stnc ia, o fi lsofo no depacom a existncia de outras conscincias, seres pensates tambm, com os quais parti lharia a condio f in imas encontra diretamente a Deus, o outro absoluto, in f in i to . A razo desse salto para o in f in i to que mente a representao do ser i n f i n i to na conscinremete com necessidade realidade desse ser emmesmo. Todas as outras representaes, por se situarno mbito da f ini tude , podem remeter s suas respecvas realidades, mas essa correspondncia no deslogo necessria porque existe a possibilidade de que mesmo, ser f i n i t o , as tenha criado, uma vez que eso compatveis comigo em grandeza. Entre essas estas representaes de outros seres pensantes e a estrazo de que no chego a Deus passando pelos outrmas posso chegar aos outros depois de provar a extncia de Deus, o Outro absoluto e necessariame

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    xistente. Na ordem da lgica de Descartes, o Outro queDeus v e m antes do outro que seria outro Eu.

    Essa necessidade de passar do Eu f i n i t o ao Outroatende a exig nc ias relativas garantia daesta, embora encontrada pelo sujeito no

    das suas representaes, somente se torna obje-e absoluta na dependncia de um ser que posto

    anterior e acima da subjetividade f i n i t a . D i f e r e n Santo A g o s t i n h o , c o m Descartes n o e n Deus, mas a

    como a marca de DeusDeus deixa em nossa alma para

    e possamos e n c o n t r - l o , e esse sinal mais claroseres com os quais

    mesma natureza.A reflexo, isto , a busca metdica da certeza no

    leva-nos a encontrar comevidncia a existncia do Eu. Entretanto, por serobter a mesma certeza no que concerne exis

    o u t r o . Sou imanen te a m im mesm o, mas souo u t r o , no sentido de que no tenho acesso

    sua cons cin cia.

    3 . S u b j e t i v i d a d e ei n t e r s u b j e t i v i d a d e

    A di ficuldade que mencionamos a n t e r i o r m e nc o n s t i t u i o problema da intersubjetividade. Uma f i lsofia que elege o sujeito como centro de referncia teoria e da prtica no pode faci lmente passar da s igularidade do Eu pluralidade do Ns, isto , no poseno postular a presena de outros sujeitos porqueconhecimento subjetivo restringe-se ao Eu do sujequ e conhece. Com efeito, no posso habitar a conscicia do outro da mesma maneira que habito a minhNesse sentido, se a certeza relativa prpria conscicia for o nico ponto de partida, o sujeito corre o risde permanecer encerrado nessa representao originria, absolu tament e certo de si mes mo, mas ta mbp r i s i o n e i r o dessa certeza. Essa situ a o recebeu, Filosofia, a denominao de solipsismo. A p r o x i m i d aimediata do sujeito a si mesmo acarreta a distnctalvez intransponvel, entre ele e o o u t r o .

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    Quando a filosofia contempornea afirma, numasuas vertentes mais importantes que o existenci a

    a precedncia da existncia em relao essn

    quadro tende a ser vis to de outra maneira. Na f i Descartes, o sujeito se conhece de modo

    atr ibutoseparado do sujeito,por isso, a sua essncia, aquilo que o de

    e determina. Numa filosofia existencialista comode Jean-Paul Sartre (1905-1980), no se concebe ne

    dessa existndef i -

    part i r de projetos que formula para si mesmo.que o sujeito possa de fato escolher o caminhoas mltipl as possibilidades que se apresentam,

    seja to ta l : preciso que a subseja igual liberdade.Quando, porm, o ponto de partida a existncia

    m ele mesmo, e de um modo mais difcil , porque noa f i r -

    mada: tem de constru-la ao longo do processo extencia l , isto , da sua histria. No h um "si mesmdado no incio; trata-se de algo a ser alcanado, reazado na existncia. Nessa trajetria, que deveria ser autorrea l izao , o sujeito depara com a existncia outros , ou seja, de outras liberdades, de outros protos, de outras intenes que procuram, igualmenrealizar-se. No difcil entender como se relaciondois objetos determinados, por exemplo, dois fenmnos naturais. Mas quase impossvel compreendcomo se podem relacionar dois sujeitos l ivres, porqa liberdade, quando absoluta, tende a uma expansindef inida , em princpio incompatvel com o fato que ela teria de ser limit ada por outra liberdade. Tommos um exemplo clebre, a relao entre o senhor eescravo. A liberdade do senhor existe na medida submisso do escravo; o senhor se afirma como l ina proporo em que o escravo no o . Se no teno escravo, perco a minha condio de senhor.

    No l imi te , se a subjetividade liberdade e se e absoluta, como afi rma o existencialismo de Sarento s poderia haver um nico sujeito l i v re ; todos outros seriam objetos sobre os quais esse sujeito ex

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    nesse c o n t e x t o , o

    estabelecer relao com o outro tom -l o como

    nh a se anula: o outro tende a me determ inar, f ade mim um objeto, o que significa a paralisaoprocesso existencial numa imagem d e f i n i t i v a .

    direito , n o possuo.Observe-se que, embora o pensamento de Sartre se

    Descartes na exata medida em que o

    na essncia , ambos tm em comum o sujeitoo r i g e m d a r e f l e x o ; ambos c o n f i a m n a segu

    pensar que adotar o sujeito (o Eu) como p r i n c optar pelo solipsism o.

    Do fato de que o Eu no possui essncia que o

    a permanncia do Eu no processo de

    existncia, isto , na sucesso das escolhas e dos prjetos por meio dos quais tento me const ituir a mimesmo. Dito de outra maneira, a falta de uma determnao essencial faz co m que o sujeito jam ais esteja "esi", mas sempre projetado para fora, na direo do qvir a ser - para si. Isso equivale a dizer que o suje(o que seria "ele mesm o") est sempre e m vias de transformar em o u t r o . A s s i m , cada um no depara apnas com os outros, mas cada sujeito se v, a cada mmento, diante do outro que est para se tornar.

    Essa instabilidade do processo existencial decrncia da identificao entre subjetividade e liberdaComo somos o que fazemos de ns mesmos, ou o qfazemos com o que fazem de ns, cada determinaque assumimos, cada definio que damos de ns mmos relativa ao tempo e situao vivida: a situapode mudar, assim como as significaes que atribmos aos fatos e pessoas que constituem a nossa exprincia. Tra nsf orm amo s a n s mesmos quando i n t e rrizamos o que est for a de n s; e tran sfo rma mo smundo, ao menos na sua significao, quando exterrizamos nossos desejos e nossos projetos. 0 sujeitouma contnua construo que depende, sempre e

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    mesmo t e m p o , dele e dos outros; por isso ele sempreo utro , p u r o processo, e nunca algo consolidado.

    A id eia de que o sujeito um a con str u o, um atarefa existencial que por ven tura nunca cheg ar aof i m , est presente no pensamento de Paul Ricoeur( 1 9 1 3 - 2 0 0 5 ) . E o requisito para que tal tarefa seja as sumida auten ticamente a exc lus o dos pressupostosde identidade e de totalidade. 0 sujeito nunca i d n vem a ser, como

    nessa

    como realidade fechada em si mesma, p o r mais do que a ao de tor-

    sujeito, constantemente reiterada. E a alteridadedesse processo, porque a ao de tornar-se

    i n c l u i a constante alterao de si e nun ca aNesse sentido, o tempo e a hist

    a no so acidentais: subjetividade, temporalidade eseparam e no h nenhum p r e d i

    capaz de def inir o sujeito definitiv ame nte, p orqueser consiste n u m c o n t n u o fazer-se. Fica assim

    vezes, se penou como inerente ao "si mesmo"; por outro lado, no8

    se deve entender a instabilidade como uma categord e f i n i d o r a : ela o modo pelo qual o sujeito faz a eperincia de si , a vida subjetiva.

    A noo de experincia chave impo rtante paracompreenso do processo de tornar-se sujeito. A r enio de experincia e subjetividade permite, de ulado, conferir no o de experinc ia um a dim en smaior do que a relao objetiva com o m undo: exprincia significa aquilo que se , e no apenas aquque se faz. Por outro lado, a associao de subjetidade com experincia nos leva a considerar o cardinm ico da no o de sujeito: no se trata de umentidade metafsica , formal ou mesmo psicolgica , mdo mo do de ser da realidad e hum ana consid eracomo e x i s t n c i a . Essa existncia, em seu carter pcessual, contnua alterao de si , constante constito de si: passagem ao o utro , que faz com que o sujese reconhea no tempo e no apesar do tempo. E pciso tambm entender que o sujeito faz-se outro funo dos outros, isto , o processo de tornar-se j e i t o vi vi do em regime de intersubjetividade, e a perincia subjetiva sempre experincia intersubjetAs relaes humanas so constitutivas: o que venh

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    ser depende do modo como vivo com os outros, domodo como a experincia se desdobra em amor, amizade, conf lito s e dive rgn cia s. Ass im, se quisermoscontinuar a dizer que o sujeito ponto de partida, teremos de aceitar que esse ponto de partida acontece acada momento, na sucesso do processo de reconhecimento inseparvel da temporalidade.

    O ponto de partida pode, entretanto, ser pensadode outra maneira. A segurana que o sujeito oferecederi va de que a certeza acerca de si seria a mais imedi a ta , porque, por mais problemtico que seja o vnculo com as coisas exteriores, a coincidncia de cadasujeito com ele mesmo parece bvia. No entanto, seabandonarmos a busca desse t i p o de certeza e conce-dermos prioridade relao com o o u t r o , tomando-acomo ponto de partida, a presena do outro assume ocarter p r i m o r d i a l que antes se atribua a si mesmo.Parto, ento, do fato de que estou sempre em presenado o u t r o , e isso originrio e inevitvel: o outro estsempre diante de mim, e essa presena to forte queme constitui. 0 outro est antes do Eu.

    Essa perspec tiva, que a de Emmanue l Lv ina s( 1 9 0 6 - 1 9 9 5 ) , no apenas provoca uma significativa30

    i n v e r s o , questionando a prerroga tiva do Eu na Mdernidade, como tambm modifica profundamenteteor da relao que era vista como a mais importana do sujeito consigo mesmo, passando a considerar qa relao intersubjetiva a mais relevante e, mais que isso, que, nessa relao, o o u t r o , e no o Eu, qdesempenha o papel p r i n c i p a l . Em outras palavro princpio metafsico da identidade substitudo pprincpio tico da alteridade.

    Essa alterao do princpio deixa em plano secudrio o problema terico do Outro, isto , a demonstro de sua existncia, sempre necessariamente posrior demonstrao de minha existncia. No precque a presena do outro seja uma evidncia; basta qela seja uma certeza vivida e, mais do que isso, alque devo assumir para dar sentido minha prpe x i s t n c i a . 0 espanto i n i c i a l que Descartes teve ao pceber em si a ideia do Deus i n f i n i t o deu imediatamen-ugar ao exame racional do contedo e da provenicia dessa ideia, com a finalidade de entender sua prsena em mi m. Mas podemos tamb m sentir, diante presena de outro ser finito, a perplexidade diante dqu i lo que no podemos explicar inteirament e, mas q

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    ser depende do modo como vivo com os outros, domodo como a experincia se desdobra em amor, amizade, conf litos e dive rgn cia s. Ass im, se quisermoscontinuar a dizer que o sujeito ponto de partida, teremos de aceitar que esse ponto de partida acontece acada momento, na sucesso do processo de reconhecimento inseparvel da temporalidade.

    0 ponto de partida pode, entretanto, ser pensadode outra maneira. A segurana que o sujeito oferecederi va de que a certeza acerca de si seria a mais imedi a ta , porque, por mais problemtico que seja o vnculo com as coisas exteriores, a coincidncia de cadasujeito com ele mesmo parece bvia. No entanto, seabandonarmos a busca desse t i p o de certeza e conce-dermos prioridade relao com o o u t r o , tomando-acomo ponto de partida, a presena do outro assume ocarter p r i m o r d i a l que antes se atribua a si mesmo.Parto, ento, do fato de que estou sempre em presenado o u t r o , e isso originrio e inevitvel: o outro estsempre diante de mim, e essa presena to forte queme constitui. O outro est antes do Eu.

    Essa perspectiva, que a de Emma nuel L vinas( 1 9 0 6 - 1 9 9 5 ) , n o apenas provoca uma significativa30

    i n v e r s o , questionando a prerrogativ a do Eu na Mdernidade, como tambm modifica profundamenteteor da relao que era vista como a mais importana do sujeito consigo mesmo, passando a considerar qa relao intersubjetiva a mais relevante e, mais que isso, que, nessa relao, o o u t r o , e no o Eu, qdesempenha o papel p r i n c i p a l . Em outras palavro princpio metafsico da identidade substitudo pprincpio tico da alteridade.

    Essa altera o do princ pio deixa em plano secudrio o problema terico do Outro, isto , a demonsto de sua existncia, sempre necessariamente posrior demonstrao de minha existncia. No precque a presena do outro seja uma evidncia; basta qela seja uma certeza vivida e, mais do que isso, aque devo assumir para dar sentido minha prpe x i s t n c i a . 0 espanto i n i c i a l que Descartes teve ao pceber em si a ideia do Deus i n f i n i t o deu imediatamelugar ao exame racional do contedo e da provenicia dessa ideia, com a finalidade de entender sua psena em mi m. Mas podemos tambm sentir, diante presena de outro ser f i ni t o, a perplexidade diante qu i lo que no podemos explic ar inteira mente, mas q

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    , ao mesmo tem po, a fora que me cons titu i ao fazer--me ser na relao com ele. Note-se que substituir oponto de partida no Eu pelo carter originrio da relao com o outro no torna a questo mais fcil de serresolvida. A p resena do outro mant m- se indecifrveldo ponto de vista terico. 0 que muda a significaodo princpio, que agora vist o no carter imed iato darelao e na fora com que ela se impe. E esse o significado do princpio tico de alteridade. No se tratade conhecer o o u t r o ; trata-se de viver por ele e, tam

    m , de morre r por ele.Essa m o d i f i c a o conduz a outra de grande al

    cance. Como, desde o princpio, o Eu est constitudoelo o u t r o , o mais importante no a liberdade exer

    cida absolutamente e que encontra o outr o como u mobst culo que poder ia ser ven cido pelo proce dimen tode objetivao do outro sujeito. Pelo contrrio, a p r i o ridade do outro faz com que a responsabilidade por ele,qu e assumo como decorrncia de sua simples presena,seja o critrio mais relevante de conduta. Assim, a res

    como no exisencialis mo, mas a liberdade decorre da responsabilidade,ois , acerca de tudo que posso fazer, devo considerar

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    em prim eiro lugar se mi nh a ao atende exigncia deresponsabilidade para com o o u t r o . E x i g n c i a t o r a d i cal que dispensa a reciproc idade: no me responsab ilizo pelo outro esperando que ele faa o mesmo p o r m i m ;respons abilizo-me por ele como dever tico absoluto.

    Compreender que o outro referncia da vi dam o r a l e princpio orientador da existncia incide p r o fundam ente sobre o entend imento da con di o hu mana. J no a reflexo, no sentido do retorno dosujeito a si mesmo, que fornecer os parmetros f u n damentais do conh ecime nto do ho m e m. Trata-se,agora, de uma abertura quele que no sou eu e, nol imite, de uma renncia ao Eu como polo irradiador devalores. N o a con sci nc ia de si que d sentido aomundo, mas a conscincia do outro que constitui ocritrio direto r da existncia de cada sujeito, que seforma em sua integridade no apenas em relao aoo utro , mas em virtu de da exis tnc ia do o u t r o .

    0 alcance da transformao implicada nessa perspectiva mostra-se em toda a sua ampl itude quandoconsideramos que esse outro no , de for ma algum a,o prximo e o familiar, mas o estranho que devo esfor-ar-me para compreender. No devo esperar que o

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    o u t r o seja minh a imagem e seme lhana . Ass im, no a lgica nem a metafsica que nos conduzem a umauniver salidade efetiva, mas o carter p r i m o r d i a l da relao tica . 0 racionalismo m o r a l , quando aspira universalidade, de modo geral o faz em nome da ideiade humanidade, como em Immanuel Kant (1724-1804):os critrios orientadores de minhas aes devem poderser vistos como universais, pois, do contrrio, os motivos de agir seriam do mbito do interesse prprio;assim, todo homem deve ser visto como f im e jamaiscomo meio. Mas a universalidade formal da ideia nosustenta a efetiva relao com o o u t r o ; pode apenasfornecer uma lgic a da a o. A univ ersalidade realaparece, segundo Lvinas, na face do o u t r o , isto , napresena concreta daquele que a razo de minhaexistncia no plano tico.

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    4 . C o n c l u s o

    A questo do outro um grande testemu nh o que a Filosofia no deve ser vista como u m exerccterico separado do mundo. Vimos que, desde o incem Plato, o problema se impe, desafiando as p r e rgativas de um racionalismo f o r m a l , porque nos colodiante de uma realidade incontornvel. Assim, necesrio vincular a questo da alteridade s situaes cocretas em que ela viv en ciad a e a p a rtir das quais pose t o r n a r objeto de reflexo. Por exemplo, qual a reo que se pode estabelecer entre indivduo e comudade? 0 indivduo se define pelos laos com unitrique constituem o lastro da singularidade ou a comudade se define pela reunio de indivduos movidos penecessidade de estabelecer v n c u l o s i n s t i t u c i o n a i sjurdicos prprios da vida social?

    Se enten derm os qu e a realidade hum ana se def ipelo princpio da individualidade, e que a organiza

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    social deriva de necessidades pragmticas que jamaispodero superar o direito natural do indivduo a a f i r -mar-se em si mesmo, ento teremos de considerar ai n t e r s u b j e t i v i d a d e c o n c r e t am e n t e v i v i d a como u m arede de l igaes extrnsecas reguladas i n s t i t u c i o n a l mente. A relao com o outro se encerra na dimensoda sociabilidade estabelecida por acordo ou por contra to . A solidariedade torna-se uma questo de regrasde convenincia . As sociedades modernas, frutos dasteorias polticas liberais clssicas, atendem a esse perfil.

    Se concordarmos que o indivduo se define pela comunidade qual est organicamente vinculado e que osentido da existncia singular inseparvel do contextocom unitr io que o prod uz e o sustenta, ento poderemosentender que os vnculos intersubjetivos so intrnsecose so vividos como dimenso essencial da realidade humana . A rela o com o outro possui a densidade e afora dos princpios necessariamente vistos como r e q u i sitos primord iais da existnc ia, a tal ponto que o indiv duo autossuficiente seria um a abstra o. As nor mas desociabilidade seriam apenas, no l imite, regulaes a pos-teriori de uma condio originria. A polis grega e aciv iliza o crist med ieval pode riam ser os exemp los.36

    Essa alternativa no nos obriga a perguntar se sa humano , por natureza, inclinado preservao dindiv idualid ade ou vid a em comunidad e. M as necessrio refletir acerca do estatuto das relaes entre apessoas, j que a dime nso co letiva um dado de experincia, isto , viv emo s em coletividad es organizadaquer sejamos individualistas ou adeptos do princpicomunitrio . Como essas relaes acontecem, desdenvel privado e pessoal at a dimenso social e polticaComo so vi vi da s, se consideram os que a vi da emcom um secu ndria e conv encio nal, ou se entendemoque a relao com os outros basicamente necessria

    Na verdade, se entendermos que seria necessrisuperar a oposio Eu/outro, isto , o solipsismo ou relao como condio de origem, ento talvez devssemos perguntar por aquilo que de fato com parti lhamos e tam b m por aquilo que nos separa desdeconscincia mais obscura da existncia. Talvez v e n h amos a descobrir, assim, que, a princpio, no estamonem ss , nem num a comunid ade j forma da, mas qunosso modo de ser no mundo envolve ambas as posibilidades, e que tanto a solido quanto a vida emcom um esto de alg um modo presentes, imbricad a

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    uma na outra, nos primrdios da existncia, num momento em q ue a reflexo ainda no elab orou a dicotomia entre ser-em-si e ser-com -os-o utros. 0 pensadorM a u r i c e M e r l e a u - P o n t y ( 1 9 0 8 - 1 9 6 1 ) assinala q ue,antes de constituir o o u t r o , eu o vivo e ele vive emm i m , de um modo totalmente aq um da relao su-

    Antes de ser o polo de uma relao obje-o mundo a minha experincia do mundo. E outro no o hab ita de modo ob jetivo desde o princpio:

    minha experincia do mundo a minha experinciao u t r o . Quando Descartes olha pela janela e v

    e chapus" q ue apenas p r o v a v e l m e n t e p o d e mtomadas como outros sujeitos, temos de concordar,

    nesse nvel ob jetivo, no h mesmo como visaro u t r o . Ob jetivamente, o solipsismo no refutvel;

    se estou diante de um autmato ou de um espassim como no necessrio provar que existe um

    nteressado em dist in gu ir u m esprito de um au ato, mas em compreender a viv nc ia de uma situa

    coloca d i a n t e d e u m a o u t r a c o n s c i n c i a

    A existncia do outro no representada por anaogia c o m a m i n h a p r p r i a e x i s t n c i a p o r q u e , nesta

    no sob ra transparncia q ue possa ser atribuda aoj u t r o ; na verdade, falta em mim a transparncia dointeligvel , j q ue o que me con stitu i tam b m a inev i t v e l opacidade do corpo. E, assim como n o s opuro esprito, mas um conjunto de gestos e c o m p o r t amentos em que se d a experincia de existir, tambmo outro captado como esses gestos e c o m p o r t a m e n t oio s quais no fao a experincia, mas q ue fazem partia minha experincia. Sei da existncia do outro porque a objet ivida de no a n ic a form a de con tato comj que existe alm de mim. preciso reconhecer u mjb viedade: a intersub jetividade diferente da o b j e t i v idade. Nesse sentido, a experincia intersub jetiva n;onsiste em objetivar o o u t r o ; se a intersub jetividade uma dimenso prpria da existncia, ento na inte rf a c e das experincias subjetivas que reconhecemosalteridade: o outro eu no um paradoxo porq ue elej.a est desde sempre, uma vez q ue no constitumos intersub jetividade, mas ela nos constitui .

    A natureza pensante do sujeito somente se isola nfundo de si mesmo se entendermos que a certeza sub

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    traz consigo a incomunicabilidade como a suaMas, se essa certeza a da existncia (que a

    do pensamento revela a Descartes),

    esse mundo est simplescomo objeto, ento os

    s ta mbm so objetos. Mas, se se trata do mundo

    antes de ser um dado objetivo. Assim,no mundo , muito simplesmente, escapar do solip-

    como condio inevitvel sei n tu i sua existncia fora do mundo. A inter

    vidade a revelao recproca dos sujeitos uns

    um mundo comum. E, na medida em que esse mundo

    Isso no significa que as conscincias esto sempreumas s outras, em permanente comunicao.

    sentir no olhar do outro a distncia que ele tomaposso entrever no seu silncio um mundo a

    acesso. Mas, mesmo nessas condies,

    que seria, em todo caso, possvel. A no comunica uma forma de comunicao; o silncio no a impossibilidade da fala, mas a sua recusa. No univerhumano, a incomunicabilidade ocorre sobre o fundo possibilidade de comunicar, porque a i n t er sub je t i vdade a estrutura da existncia. Quando vejo o outcomo estranho e longnquo, essa constatao a cotrapart ida de outra possibilidade, a de conhec-loam - l o , compartilhar efetivamente o mundo em qvivemos.

    Em suma, assim como se concebe contemporanemente que o sujeito no uma entidade pronta e acbada, porque a subjetividade no um dom metafsicmas algo a ser realizado, assim tambm a intersubjevidade torna-se real quando a construmos no procesexistencial, social e histrico, em meio a toda sorte obstculos e decepes.

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    O U V I N D O OS T E X T O S

    T ex to 1 . P l a t o ( 4 2 8 - 3 4 8 a . C ) ,O ser e o ou t r o

    [Fala da personagem chamada Estrangeiro de Eleia:]Quanto ao que acabamos de afirmar a respeito do n-ser, ou nos prove algum que tudo aquilo est erradou , enquanto no puder faz-lo, diga conosco que gneros se misturam uns com os outros e o ser e o outrpenetram em todos e se interpenetram reciprocamente que o outro, por participar do ser, existe pelo prprfato dessa participao, sem ser aquilo de que participporm outro, e por ser outro que no o ser, mais quevidente que ter de ser no-ser. Por sua vez o ser, poparticipar do outro, torna-se um gnero diferente dooutros gneros, e por ser diferente de todos, no sernem cada um em particular, nem todos em conjuntmas apenas ele mesmo. A esse modo, no possvabsolutamente contestar que h milhares e milhares dcoisas que o ser no , e que os out ros, por sua vez, o

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    isoladamente ou considerados em conjunto, de muitasmaneiras so, como de muitas maneiras tambm no so.

    PLATO. "Sofsta" 259a-b. In : Dilogos. Trad. Carlos AlbertoNunes. Belm: Universidade Federal do Par, 1980, vol. X, p. 87.

    Texto 2. Santo Agostinho ( 3 5 4 - 4 3 0 ) , Como i nvocara Deus?

    [Fala de Santo Agostinho dirigida a Deus:]Por conseguinte eu no existiria, meu Deus; de modonenhum existiria, se no estivsseis em mim. Ou antes,existiria eu se no estivesse em Vs "de quem, porquem e em quem todas as coisas subsistem?". Assim ,Senhor, assim . Para onde vos hei de chamar se existoem Vs? Ou donde podereis vir at mim? Para quelugar, fora do cu e da terra, me retirarei, a fim de quevenha depois a mim o meu Deus, que disse: "Encho ocu e a terra?"[...][Fala de Santo Agostinho sobre Deus:]Por que andar de contnuo por caminhos difceis e tra-balhosos? No h descanso onde o procurais. Procuraisa vida feliz na regio da morte: no est l. Como en-

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    contrar vida feliz onde nem sequer vida existe?Fugiu dos nossos olhos para que entremos no core a 0 encontremos. Sim, separou-se de ns comtncia, mas ei-Lo aqui. No quis estar conosco mtempo, mas no nos abandonou. Arrancou-se de onunca se retirou.

    SANTO AGOSTINHO. Confisses ( I , 2; IV, 12). Trad. OliSantos e Ambrsio de Pina. So Paulo: Nova Cul1987, pp. 10

    Texto 3. Ren Descartes ( 1 5 9 6 - 1 6 5 0 ) , Prova daexi stncia de Deus pela ideia do infi nit o

    Portanto, resta to somente a ideia de Deus, na qupreciso considerar se h algo que no possa terv i n d o de mim mesmo? Pelo nome de Deus entendosubstncia i n f i n i t a , eterna, imutvel, independeonisciente, onipotente e pela qual eu prprio e todcoisas que so (se verdade que h coisas que exisforam criadas e produzidas. Ora, essas vantagensto grandes e to eminentes que, quanto mais atemente as considero, menos me persuado de queideia possa tirar sua origem de mim to somente. E

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    conseguinte, preciso necessariamente concluir, detudo o que foi dito antes, que Deus existe; pois, aindaque a ideia de substncia esteja em mim, pelo prpriofato de ser eu uma substncia, eu no teria, todavia, aideia de uma substncia inf inita , eu que sou um ser finito, se ela no tivesse sido colocada em mim por alguma substncia que fosse verdadeiramente inf inita .

    DESCARTES,R. Meditaes metafsicas (Terceira Meditao, 22). Trad. Bento Prado Jnior e Jac Guinsburg.

    So Paulo: Abril Cultural, 1973, pp. 115-6.

    Texto 4. Maurice Merleau-Ponty ( 1 9 0 8 - 1 9 6 1 ) ,A subjeti vidade tr anscendent al umaintersubjetividade

    Cada existncia s transcende definitivamente as outrasquando permanece ociosa e assentada em sua diferenanatural . Mesmo a meditao universal que corta o fil-sofo de sua nao, de suas amizades, de seus preconceitos, de seu ser emprico, em uma palavra, do mundo, eque parece deix-lo absolutamente s, na realidade ato, fala, por conseguinte dilogo. 0 solipsismo s seria

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    rigorosamente verdadeiro para algum que conseguisconstatar tacitamente a sua existncia sem ser nadasem fazer nada, o que impossvel, j que existir sno mundo. Em seu retiro reflexivo, o filsofo no poddeixar de arrastar os outros porque, na obscuridade dmundo, ele aprendeu para sempre a trat-los como cosortes, e porque toda a sua cincia est construda sobesse dado de opinio. A subjetividade transcendental uma subjetividade revelada, saberpara si mesma e paoutrem, e a esse ttulo ela uma intersubjetividade.

    MERLEAU-PONTY,M. Fenomenologia da percepTrad. Carlos Alberto Ribeiro de Moura. So Paul

    Martins Fontes, 1999, pp. 484-

    Texto 5. Jean-Paul Sartre ( 1 9 0 5 - 1 9 8 0 ) , A p r esenaconcreta e evidente do outr o

    Assim, pelo olhar, experimento o outro concretamentcomo sujeito livre e consciente que faz com que hajum mundo temporalizando-se rumo s suas prpriapossibilidades. E a presena sem intermedirio desssujeito a condio necessria de qualquer pensament

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    que tento formar a meu respeito. [...] Agora, j sabemoso bastante para tentar explicar essas resistncias inquebrantveis que o bom-senso sempre ops argumentao solipsista. Tais resistncias, com efeito, baseiam-seno fato de que o outro me aparece como presena concreta e evidente, que de modo algum posso derivar dem im mesmo e de modo algum pode ser posta em dvidanem tornar-se objeto de uma reduo fenomenolgicaou qualquer outra "epoqu". Com efeito, se me olham,tenho conscincia de ser objeto. Mas essa conscincias pode produzir-se na e pela existncia do outro.Quanto a isso, Hegel tinha razo. S que essa outraconscincia e essa outra liberdade nunca me so dadas,posto que, se o fossem, seriam conhecidas, logo, objetos, e eu deixaria de ser objeto.

    SARTRE, J.-P. Osereo nada. Trad. PauloPerdigo.Petrpolis: Vozes, 1997, p. 348.

    T e x t o 6 . E m m a n u e l L v i n a s ( 1 9 0 6 - 1 9 9 5 ) ,A g r a t u i dade do sa i r - de - si - pa ra -o -ou t r o

    Eis que surge, na vida vivida pelo humano, e a que,a falar com propriedade, o humano comea, pura even-

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    tualidade, mas desde logo eventualidade pura e santado devotar-se ao outro. Na economia geral do ser e dsua tenso sobre si, eis que surge uma preocupao peoutro at o sacrifcio, at a possibilidade de morrer pele: uma responsabilidade por outrem. De modo difrente que ser! essa ruptura da indiferena - indifrena que pode ser estatisticamente dominante - possibilidade de um-para-o-outro, um para o outro, qu o acontecimento tico. Na existncia humana que i nterrompe e supera seu esforo de ser - seu conatus esendi espinosista - a vocao de um existir-para-outremais forte que a amea a da morte: a aventura existencial do prximo importa ao eu antes que a sua prpricolocando o eu diretamente como responsvel pelo sde outrem. [...] Tudo se passa como se o surgimento dhumano na economia do ser provocasse uma virada nsentido, na intriga e na classe filosfica da ontologia. em-si do ser persistente-em-ser supera-se na gratuidaddo sair-de-si-para-o-outro.

    LVINAS, E. Entre ns: ensaios sobre a alteridadTrad. Pergentino Stefano Pivatto (coord.). Petrpoli

    Vozes, 2005, pp. 18-

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    EXERC ITAN DO A REFL EXO

    1. Alguns exerccios para voc compreender melhoro tema:

    1 . 1 . Por que, numa concepo rigorosamente lgica do ser, a mudana, o movimento e a pas-sagem do tempo levam necessidade de a f i r mar o no-ser?

    1 . 2 . possvel, numa interpretao l i tera l de San-to Agostinho, dizer que a presena de todosos outros (seres f in i tos) se anula diante dapresena de Deus em ns, e que, para ser fel i z , podemos dispensar a companhia dos outros , ficando apenas com Deus. 0 que voct em a dizer sobre isso?

    1 . 3 . E mui to significativo que, na filosofia de Des-cartes, o Outro primeiramente constatado sejaDeus e no os outros sujeitos. Qual a caracterstica do pensamento de Descartes (e da filo-

    sofia moderna) que permite essa prioridadde Deus sobre os outros homens na conscincia do sujeito?

    1.4. Sartre diz que o senso comum no cr nsolipsismo, mas, ao mesmo tempo, a filosofmoderna no consegue super-lo. A que pode atr ibu ir essa situao?

    1 . 5 . Comente a possibilidade, que se encontra nfilosofia de L vi nas , de uma completa " v i rda" no pensamento ocidental, que faa coque o outro passe a ocupar o lugar central ncontexto da existncia humana. Como espossibilidade pode ser considerada diante situao do mundo contemporneo?

    2. Analisando textos:2 . 1 . De acordo com o texto 1, por que Plato a f ima que o gnero do ser diferente de tod

    os outros gneros?2 . 2 . Por que, de acordo com o texto 2, Santo Ago

    t i n ho experimenta uma dificuldade em compreender o gesto da invocao de Deus?

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    2 . 3 . Reconstrua, de acordo com o texto 3, a provacartesiana da existncia de Deus.

    2 . 4 . De acordo com o texto 4, por que, para Mer-leau-Ponty, a experi nci a do solipsismo impossvel?

    2 . 5 . De acordo com o texto 5, qual o sentido dafrase de Sartre: "Com efeito, se me olham,tenho consci ncia de ser objeto"?

    2 . 6 . Qual experincia, segundo Lvinas, no texto6, produz o acontecimento tic o?

    3 . Estabelecendo referenciais:

    Abaixo indicamos alguns conceitos que se t o rna -ram referncias filosficas com o auxlio dos f i l -sofos que estudamos neste l i v ro . Analise cada umdeles e releia os textos transcritos anteriormente,procurando identificar neles a presena dessesconceitos:

    Aparncia: aquilo que nos dado na experinciaimediata e que no inteiramente verdadeiro por-

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    que apenas reflete a verdade da qual particippor vezes longinquamente. No , desde logo, fso, mas pode tornar-se falso se no a remeterm essncia e a considerarmos como nica dimeso do ser. No caso do tema examinado aqui, aparncia, na sua variao e relatividade, revela jogo do mesmo e do outro, questo que o filsodeve resolver.Conhecimento objetivo: conhecimento constitdo conforme as regras do mtodo e que permite sujeito atingir a verdade do objeto com certeza evidncia. No caso do tema aqui examinado, o nhecimento da existncia de outros sujeitos npode ser atingido com certeza e evidncia porqessas caractersticas s pertencem existncia prprio sujeito. O objetivismo seria a exacerbadessa lgica da evidncia e a considerao das gras de objetividade como a nica posio vlperante a realidade.

    Diferena/identidade: na tradio filosfica, identidade est sempre mais prxima da verda

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    de tal modo que a diferena deve, sempre que possvel, ser reduzida identidade. A razo disso que o ser de todas as coisas pressupe, antes dequalquer predicado que lhe possa ser acrescentado, que ele seja idntico a si mesmo. Por isso, notema aqui examinado, o aparecimento do outroconstitui um problema a ser decifrado.

    Multiplicidade/unidade: trata-se de uma relaosemelhante anterior. O privilgio da unidade corresponde relevncia concedida identidade e, assim, dever-se-ia reduzir o mltiplo ao uno quandose quer atingir a verdade e o fundamento. A multiplicidade dos outros se ope unidade do mesmo.

    Solipsismo: situao (terica) em que, devido aospressupostos e ao mtodo utilizados em Filosofia,torna-se impossvel concluir com certeza e evidncia a verdade da existncia do outro, que vistaapenas como provvel. O sujeito permanece encerrado em si. Em Sartre, acentua-se a impossibilidade do outro como sujeito, o que leva a trat-locomo objeto.

    Universalidade: como categoria lgica, correspode totalidade objetiva; como experincia, sugea comunidade dos indivduos estabelecida efetivmente por um tipo de relao em que se procuum equilbrio entre a singularidade individual eque todos os indivduos possuem em comum. tema que nos ocupa, pode-se perguntar se a uversalidade deve ser realizada a partir do Eu oupartir do outro.

    Temporalidade: a experincia humana do tepo, considerada estrutura bsica da existncia. tempo no apenas uma categoria, mas o mopelo qual o ser humano existe e produz a conscicia de si, que a conscincia do tempo, mesmquando se aspira eternidade. A temporalidano apenas a forma de vida do ser finito, mascondio a partir da qual ele apreende a si, aoutros e s coisas.

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    E V I A G E M

    Para voc continuar sua viagem pelo tema do

    . Assista aos seguintes filmes, tendo em mente a re-neste l i v r o :

    1 .1 . Terra estrangeira, direo de Walter Salles J -nior e Daniela Thom as, B rasil, 1981 .

    1 .2 . Quando tudo comea {a commence aujourd'hui),direo de Bert rand Tavernier, Fra na , 1999 .

    1 .3 . A vida dos outros (Das Leben der Anderen),direo de Florian Henckel vo n Donnersmarck,Alemanha, 2006.

    1 .4 . Persona (Persona), direo de Ingmar Bergman,Sucia, 1966.

    1 .5 . Identificao de uma mulher (Identificazione diuna dona), direo de Michelangelo Antonioni ,Itlia, 1982.

    1 .6 . O homem elefante {Elephant man), direo Dav id Lync h, Inglaterra e EUA, 1980.

    1 .7 . 0 retorno [Vozvrashcheniye], direo de Adrei Zvyagintsev, R ssia , 2002.

    1.8 . A religiosa portuguesa, direo de Eugne GreePortugal , 2008.

    2. Algumas obras literrias para ilustrar nossa r e f l e x

    BEAUVOIR, Simone de. A convidada. Trad. Vitor Ramos.de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

    BUARQUE, Chico. Budapeste. So Paulo: Companhia das tras, 2003.

    ISHIGURO, Kazuo. No me abandone jamais. Trad. BVieira. So Paulo: Companhia das Letras, 2005.

    PROUST, Mareei. A prisioneira. Trad. Manuel BandeiraLourdes Sousa de Alencar. So Paulo: Globo, 1994.

    3 . Jean-Paul Sartre escreveu duas peas de teatro qi lustram bem o tema de nossa r e f l e x o . Sugerimosleitura. Se voc encontrar uma encenao dessas peno deixe de assistir! So elas:

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    J.-R A prostituta respeitosa. Trad. Maria Lcia Pereira. So Paulo: Papirus, 1992.

    . Entre quatro paredes. Trad. Alcione Arajo e PedroHussak. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2007.

    Acesse, na internet, o site de Yann A r t h u s - B e r t r a n d6 bilhes de outros:

    http ://www. 6mill iardsdautres. orgNesse site, escolha o i d i o m a p o r t u g u s e f a a u m a

    l i v r e . Voc encontrar fotos de hab itantes deque enriquecero sua reflexo sobre o

    V i s i t e especialmente o l i n k "Testemunhos 6B0"., escolha "Filmes temticos" e assista aos diferentes

    pessoas de todo o mundo sobre temasa amizade, o sentido da vida, Deus, o perdo, ode cada um, a guerra, a famlia etc.

    L E I T U R A S R E C O M E N D A D A S

    As obras que esto na base de nossa r e f l e x o s DESCARTES, R. Meditaes metafsicas. Trad. Bento PraJr. e Jac Guinsburg. So Paulo: Abril Cultural, 19

    (Coleo Os Pensadores).LVTNAS, E. Entre ns. Ensaios sobre a alteridade. Tr

    Pergentino Stefano Pivatto (coord.). Petrpolis: Voz2005.

    MERLEAU-PONTY, M . Fenomenologia da percepo. TrCarlos Alberto Ribeiro de Moura. So Paulo: MartFontes, 1999.

    RICOEUR, P. O si-mesmo como um outro. Trad. Lucy MoreCsar. Campinas: Papirus, 1991.

    SANTO AGOSTINHO. Confisses. Trad. Oliveira SantosAmbrsio de Pina. So Paulo: Nova Cultural, 1987 (leo Os Pensadores).

    SARTRE, J.-P. 0 existencialismo um humanismo. TrRita Correia Guedes. So Paulo: Nova Cultural, 19(Coleo Os Pensadores).

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    J.-P. O ser e o nada. Trad. Paulo Perdigo. Petrpolis: Vozes, 1997.Tambm sugerimos a leitura das seguintes obras:

    G. A descoberta do outro. So Paulo: Agir, 2001.Livro de grande beleza estilstica e certo tom polmico,no qual o autor exprime sua experincia da transitoriedade humana e da alteridade.

    B. escuta do outro. Trad. Mrio Jos Zambiasi. SoPaulo: Paulinas, 2003.0 autor parte de uma dupla afirmao: a reflexo damodernidade tem como protagonista o Eu, a identidade,enquanto a contemporaneidade repe de maneira angustiada e inquieta a questo do Outro e da diferena.Os textos tratam dessa posio contempornea, tocandoem problemas filosficos e teolgicos e abordando pensadores diversos como Hegel, Schelling, Nietzsche, Jas-pers, Heidegger, Bultmann, Mounier, Dostoievski, DeLubac, Rahner, Lvinas e Bonheffer.

    J. A incluso do outro. Trad. George Sperber ePaulo Astor Soethe. So Paulo: Loyola, 2002.O filsofo alemo discute os problemas levantados pelomundo globalizado e a necessidade de convivncia entre

    as diferentes culturas. Esses problemas so discutidno nvel dos Estados nacionais e dos cidados.

    LANDOWSKI, E. Presenas do outro. Trad. Mary AmazonLeite de Barros. So Paulo: Perspectiva, 2002.Adotando a perspectiva da semitica, o autor investa prtica da determinao do sentido que atribumospresena do outro e da qual depende a forma de noprpria identidade.

    MARQUES, M. P. Plato pensador da diferena. Uma leitdo Sofsta. Belo Horizonte: Humanitas/Ed. da UFM2006.O autor investiga o sentido da diferena na obra 0 fsta, de Plato. No seu dizer, pensar significa partirsingular e avanar numa rede de diferenas e identides que possibilitem sempre maior inteligibilidade transformao.

    SANTE, C. Responsabilidade - o eu para o outro. So PauPaulus, 2005.Confrontando o tema hebraico-cristo da audio co tema grego da viso, este livro oferece uma reflexaprofundamento sobre o tema responsabilidade.

    SANTOS, A. C. (org.). 0 outro como problema: o surgimeda tolerncia na modernidade. So Paulo: Alame2010.

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    Coletnea de sete textos sobre o tratam ento filosfico dotema da tolerncia (a convivncia com a diferena): doisdo sculo XVII, de Bayle e Locke, e cinco do sculo XVIII,de Montesquieu, Rousseau, R omilly (verbete "Intolern-cia" da Encyclopdiej, Diderot e Voltaire. Cada um deles precedido de um texto de apresentao, elaborado porum pesquisador na rea, que foi o mesmo responsvelpela escolha e traduo do artigo do filsofo.

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    Temas da coleo FILOSOFIAS: 0 PRAZERDOPENSAR

    Boas-vindas Filosofia Amor e desejo Argumentaa ferramenta do filosofar A arte O bem e o mal A certeza 0 conhecimento cientfico Conscinciamemria Corpo e mente Demonstrao e interpret Deus 0 dever A dialtica 0 Estado A tica A existncia e a morte A felicidade A Histria A ideologia O inconsciente Indstria cultural emeide comunicao A justia e o direito A liberdade A linguagem Lgica Matria e esprito As neurocincias 0 outro As paixes Percepoimaginao A poltica A religio O ser humano ser social O ser vivo O sujeito do conhecimento O tempo Teoria e experincia 0 trabalho e a tcn A verdade As virtudes morais

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    O exerccio do pensamento algo muito prazeroso, e comessa convico que convidamos voc a viajar conosco pelasreflexes de cada um dos volumes da coleo Filosofias:o prazer do pensar. Ela se destina tanto queles que desejaminiciar-se nos caminhos das diferentes filosofias comoqueles que j esto habituados a eles e querem continuaro exerccio da reflexo. Tambm se destina a professorese estudantes, pois est inteiramente de acordo com asorientaes curriculares do Ministrio da Educao para oEnsino Mdio e com as expectativas dos cursos bsicos dasfaculdades brasileiras. E falamos de "filosofias", no plural,pois no h apenas uma forma de pensamento; h umcaleidoscpio de cores filosficas muito diferentes e intensas.VOLUME 13Neste volume, Franklin Leopoldo e Silva parte de umaproblemtica muito comum em nossa experincia do mundo:tudo se apresenta como sendo o mesmo e como sendooutro, como idntico e como diferente. Percorre, ento, opensamento de Plato, Santo Agostinho, Descartes, Sartre,Paul Ricocur c Lvinas para rcflctir sobre quem o outro.

    f////martinsfontes