o não-lugar da escritura -uma leitura de ensaio sobre a cegueira, de josé saramago

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O NÃO-LUGAR DA ESCRITURA: UMA LEITURA DE ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, DE JOSÉ SARAMAGO Shirley de Souza Gomes Carreira Universidade do Grande Rio Por ser uma das formas de expressão cultural de um povo, a literatura, na maioria das vezes, busca a sua referência no que Marc Augé denomina " lugar antropológico"(1). Em Ensaio sobre a cegueira, José Saramago desconstrói as referências típicas desse lugar, que confere ao homem uma identidade, define sua relação com o meio, bem como o situa em um contexto histórico. No romance em questão, surpreende-nos a ausência das marcas usuais da historicidade. Não há sequer uma referência temporal que nos permita dizer com segurança em que momento histórico o mundo ficcional deve ser inserido. No entanto, a própria ausência de marcadores temporais permite- nos fazer reflexões acerca do seu significado. A percepção do tempo se faz sentir apenas na memória das personagens e nas observações do narrador. No continuum do tempo, o passado do qual as personagens se recordam é o conjunto de atitudes e valores que incorporavam antes da cegueira e sob esse aspecto o passado e o presente são julgados um à luz do outro na diegese. Não se pode dissociar a ausência de referentes temporais da ausência de referentes espaciais. Numa perspectiva historicista, a definição do tempo e do espaço se faz essencial, mesmo porque os métodos da historiografia assim o exigem. No entanto, o olhar que o pós-modernismo lança ao passado ultrapassa as barreiras formais da história. Especificamente, a atitude pós-moderna consiste em tecer leituras do

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O NO-LUGAR DA ESCRITURA: UMA LEITURA DEENSAIO SOBRE ACEGUEIRA, DE JOS SARAMAGOShirley de Souza Gomes CarreiraUniversidade do Grande Rio

Por ser uma das formas de expresso cultural de um povo, a literatura, na maioria das vezes, busca a sua referncia no que Marc Aug denomina " lugar antropolgico"(1).EmEnsaio sobre a cegueira, Jos Saramago desconstri as referncias tpicas desse lugar, que confere ao homem uma identidade, define sua relao com o meio, bem como o situa em um contexto histrico.

No romance em questo, surpreende-nos a ausncia das marcas usuais da historicidade. No h sequer uma referncia temporal que nos permita dizer com segurana em que momento histrico o mundo ficcional deve ser inserido. No entanto, a prpria ausncia de marcadores temporais permite- nos fazer reflexes acerca do seu significado. A percepo do tempo se faz sentir apenas na memria das personagens e nas observaes do narrador. Nocontinuumdo tempo, o passado do qual as personagens se recordam o conjunto de atitudes e valores que incorporavam antes da cegueira e sob esse aspecto o passado e o presente so julgados um luz do outro na diegese.

No se pode dissociar a ausncia de referentes temporais da ausncia de referentes espaciais. Numa perspectiva historicista, a definio do tempo e do espao se faz essencial, mesmo porque os mtodos da historiografia assim o exigem. No entanto, o olhar que o ps-modernismo lana ao passado ultrapassa as barreiras formais da histria. Especificamente, a atitude ps-moderna consiste em tecer leituras do passado, tomando por parmetro a conscincia de que o conhecimento que se tem dele nada mais do que a textualizao das impresses humanas acerca dos eventos.

Ao criar um texto em que essas marcas de identificao espcio-temporal revelam-se enfraquecidas, Saramago faz dele um espelho onde o leitor poder mirar-se e refletir sobre o seu papel, enquanto cidado do mundo, na construo da histria da humanidade.

A supresso da identidade a partir do nome est associada cegueira que se espalha. As personagens so identificadas por outros meios: pelas profisses que exerciam antes de ficarem cegas, pelas relaes de parentesco ou por traos fsicos marcantes. Ao assumirem que os nomes so desnecessrios ao seu relacionamento no manicmio, as personagens deixam implcita a trajetria que tero de seguir, na descoberta dolorosa do eu e do outro.

Do ponto de vista da historiografia, dado o esbatimento dos trs conceitos inerentes compreenso histrica o tempo, o espao e a identidade- a histria do romance impossvel de se situar. Tentaremos, no entanto, mostrar que exatamente essa impossibilidade que faz do romance um retrato to contundente da condio humana.

No universo ficcional, exceo da mulher do mdico, todas as personagens temem muito mais a revelao do que realmente so do que a sensao de impotncia causada pela cegueira.

A mulher do mdico disse consigo mesma, Comportam-se como se temessem dar-se a conhecer um ao outro. Via-os crispados, tensos, de pescoo estendido como se farejassem algo, mas, curiosamente, as expresses eram semelhantes, um misto de ameaa e de medo, porm o medo de um no era o mesmo que o medo do outro, como tambm no o eram as ameaas.ESC, 49

Com o passar dos dias, as mscaras sociais deixam de ser importantes e necessrias na instncia de vida dos cegos na camarata. Os cdigos sociais, assim como os nomes, comeam a se perder em um microcosmo governado pelos sentidos:

To longe estamos do mundo que no tarda que comecemos a no saber quem somos, nem nos lembrmos sequer de dizer-nos como nos chamamos, e para qu, para que iriam servir- nos os nomes, nenhum co reconhece outro co, ou se lhe d a conhecer, pelos nomes que lhes foram postos, pelo cheiro que identifica e se d a identificar, ns aqui somos como uma outra raa de ces, conhecemo- nos pelo ladrar, pelo falar, o resto, feies, cor dos olhos, da pele, do cabelo, no conta, como se no existisse, eu ainda vejo, mas at quando.ESC,64

EmNo-lugares, Marc Aug analisa a relao do homem com o espao, a questo da identidade e da coletividade. Ele designa "no-lugar" todos os dispositivos e mtodos que visam circulao de pessoas, em oposio noo sociolgica de "lugar", isto , idia de uma cultura localizada no tempo e no espao. Segundo Aug, os espaos em que vivemos carecem de uma reavaliao, pois "vivemos num mundo que ainda no aprendemos a olhar"(2).No h como deixar de perceber a analogia entre a posio de Marc Aug e a epgrafe escolhida por Saramago: "Se podes olhar,v. Se podes ver, repara."

Ao analisar as relaes entre o homem e o seu grupo social, Aug nos alerta para o fato de que a organizao e a constituio de lugares so um dos desafios e uma das modalidades das prticas coletivas e individuais. As coletividades tm necessidade de pensar, simultaneamente, a identidade e a relao e de simbolizar os constituintes das diferentes formas de identidade: da identidade partilhada- pelo conjunto de um grupo; da identidade particular- de um grupo ou de um indivduo ante outros- e da identidade singular- naquilo em que um indivduo ou grupo difere de todos os outros. Os questionamentos suscitados pela condio das personagens doEnsaio sobre a cegueiraadvm da desconstruo e posterior construo desses conceitos.

A ausncia de marcadores temporais e espaciais na narrativa e a prpria cegueira das personagens reforam a idia dono-lugar. Todas as antigas razes, que marcam o lugar antropolgico- que pretende ser identitrio, relacional e histrico- so desfeitas.

Assim, o lugar antropolgico- cultural e espcio-temporalmente definido, substitudo pelo no-lugar, pela provisoriedade da subsistncia nas camaratas, pela reduo dos cdigos de convivncia social a um estado de barbrie, em que ser preciso aprender a viver de novo, a construir novos parmetros para a identidade e a relao. A cegueira branca descentralizadora; no privilegia classes:

Aqui no h s gente discreta e bem-educada, alguns so uns mal- desbastados que se aliviam matinalmente de escarros e ventosidades sem olhar a quem est, verdade seja que no mais do dia obram pela mesma conformidade, por isto a atmosfera vai se tornando cada vez mais pesada...ESC,99

A babel de indivduos de naturezas to distintas quanto s suas origens d mulher do mdico a impresso de que as distncias que separam os seres no mundo exterior se encurtaram e a diversidade de problemas que afligem os homens se resumiu no instinto de sobrevivncia. Essa impresso se resume a uma frase: " O mundo est todo aqui dentro" (ESC, 102).

precisamente esse instinto primordial do homem que revela aos cegos que nesse mundo em que agora vivem as mscaras sociais se fazem desnecessrias; o homem o que . Assim, ante a necessidade de estabelecer uma ordem na distribuio da comida, a fim de evitar trapaas, e mediante a afirmao de um dos cegos de que esto a lidar com gente honesta, algum retruca: " cavalheiro. O que somos de verdade aqui pessoas com fome" (ESC, 102).

relevante observar, no entanto, que, no no-lugar, recompem-se alguns lugares, at porque os lugares evocados pelos ritos da memria, onde se encontram inventariados, nunca se apagam completamente, assim como o no-lugar nunca se realiza totalmente. Graas reconstituio das relaes humanas, ainda que sob novos cdigos e regras, o no-lugar impedido de existir numa forma pura.

a existncia do no-lugar, a redimenso das relaes humanas que pem o indivduo em contato com outra imagem de si prprio e do outro. A individualidade absoluta torna-se impensvel, uma vez que h uma alteridade complementar que constitutiva de toda individualidade. J no se pode pensar o eu sem a figura do outro. O eu individual passa a ser um dos elementos da identidade partilhada; est condicionado ao grupo ao qual pertence. atravs da identidade partilhada que os cegos da primeira camarata reconstroem algo do lugar antropolgico.

Tambm no surpreender que busquem todos estar juntos o mais possvel, h por aqui muitas afinidades, umas que j so conhecidas, outras que agora mesmo se revelaro(...) contudo certo que nem todas essas afinidades se tornaro explcitas e conhecidas, seja por falta de ocasio, seja porque nem se imaginou que pudessem existir, seja por uma simples questo de sensibilidades e tacto. ESC, 67

O espao do no-lugar liberta aquele que l penetra das amarras de sua vida habitual, a tal ponto que , enquanto "passageiro" desse no-lugar, pode at mesmo ser capaz de gozar, momentaneamente, as alegrias passivas dessa desidentificao com o eu. Assim o ladro do carro, em meio s dores do ferimento na perna, encontra prazer na autodescoberta, isto , aprende a ver:

Assombrava-o o esprito lgico que estava descobrindo na sua pessoa e o acerto dos raciocnios, via-se a si mesmo diferente, outro homem, e se no fosse este azar da perna estaria disposto a jurar que nunca em toda a sua vida se sentira to bem.ESC, 79

A "presena do passado" no presente expressa-se numa polifonia em que o velho e o novo se cruzam, na evocao de uma temporalidade contnua. Ao mesmo tempo que as personagens evocam os lugares da memria, substitutos para o lugar antropolgico do qual j no fazem parte, as citaes e provrbios que entrecortam a narrativa so a evocao de lugares antropolgicos diversos, dos quais o romance, em sua aparente ausncia de espcio-temporalidade, no se afasta na realidade.

Isso se d, antes de mais nada, porque o lugar se concretiza pela palavra. Se a troca de palavras ocorre entre pessoas no nvel de uma intimidade cmplice, algo do lugar antropolgico pode ser recuperado e reordenado. Claro est que as citaes surgem invertidas, como a destiturem-se de um carter absoluto, desprovendo a si mesmas de sentido. Essa inverso metafrica. No esvaziamento do sentido, ela exibe a cegueira da palavra. H que gerar comportamentos verbais que se coadunem com esse novo padro de existncia.

J l dizia o outro que na terra dos cegos quem tem um olho rei. Deixa l o outro, Este no o mesmo, Aqui nem os zarolhos se salvariam(...) O outro tambm dizia que quem parte e reparte e no fica com a melhor parte , ou tolo, ou no partir no tem arte, Merda, acabe l com o que diz o outro, os ditados pem -me nervoso.ESC,103

A luta da mulher do mdico para que os cegos da primeira camarata no se entreguem barbrie no uma apologia do passado, do "mundo civilizado" que conheciam, como pode parecer primeira vista, mas o contraponto que h de evidenciar os sentimentos, as modulaes de sentido, que nortearo as relaes entre os cegos a partir da quarentena- a longa jornada do aprendizado da viso.

Segundo Aug, o que ns procuramos, na acumulao religiosa dos testemunhos, dos documentos, das imagens, de todos os signos visveis do que foi(...) a nossa diferena, a ntida revelao de uma identidade perdida(3).Saramago faz uso de um recurso tipicamente ps-moderno ao confrontar os princpios de civilizao que os cegos conheciam com aqueles que so levados a construir. Instaurando e subvertendo situaes, o autor deixa entrever no texto interrogaes que encenam o paradoxo ps-moderno de ser ao mesmo tempo cmplice e crtico das normas predominantes.

Se o romance faz eclodir a revolta do leitor ante a torpeza das atitudes dos cegos das outras camaratas, cada qual envolvido com sua prpria subsistncia, e, mais tarde, fazendo uso da comida como instrumento de poder, tambm leva o leitor reflexo de que esses instintos que parecem to torpes na fico so os mesmos que disfaramos no dia-a-dia de homens civilizados.

O fio condutor do romance a cegueira que leva no s as personagens como tambm o leitor a refletirem sobre as relaes entre o individual e o coletivo, erguendo o vu do nosso desconhecimento. A cegueira branca, que ilumina ao invs de lanar nas trevas os que a contraem, o smbolo do discurso da perplexidade.

Em um mundo, no qual j no se cr nas "narrativas -mestras", no discurso homogeneizante da modernidade, h que pensar a diferena. Se por um lado o ps-modernismo reconhece que os discursos so instrumento de poder, que enunciam "verdades", graas a sua capacidade de moldar prticas, por outro lado, o discurso ps-moderno problematizante, inquiridor. Longe de apontar solues, o ps-modernismo nos faz refletir criticamente sobre o passado e o presente.

O desfecho deEnsaio sobre a cegueirano um discurso legitimador, pois no aponta solues ou direes para a evoluo do homem; sequer advoga para si a verossimilhana. Muito embora o romance revele-se, ao final, detentor de um discurso moralizante, que se coaduna com a proposta do romance, isto , fazer ver a quem tem olhos, nenhum modelo nos fornecido para que possamos atingir esse fim. Este um percurso que o leitor h de fazer sozinho.

Assim como as personagens, o leitor "passageiro" no no-lugar que a escritura encena. Aos cegos que encontra pelo caminho, a mulher do mdico afirma: "S estamos de passagem" (p.215). O escritor que passa a viver na casa do primeiro cego, igualmente, afirma: "Estou de passagem" (p.278). Esse alter-ego do autor que "inscreve palavras na brancura do papel", guisa de sinais da sua passagem, diz mulher do mdico palavras que parecem ecoar do mundoextradiegtico, onde autor, narrador e leitor transitam, como um apelo : "no se perca, no se deixe perder". Apelo este que se quer prolongamento da epgrafe: veja, no se deixe cegar.

A reflexo do narrador acerca da inutilidade da memria nessa trajetria pode ser depreendida no exemplo a seguir:

(...) que no h comparao entre viver num labirinto racional, como , por definio, um manicmio, e aventurar-se, sem mo de guia nem trela de co, no labirinto dementado da cidade, onde a memria para nada servir, pois apenas ser capaz de mostrar a imagem dos lugares e no os caminhos para l chegar.ESC,211

Se no h modelos a serem seguidos e se o referencial do nome e do lugar j no so suficientes, cabe ao leitor, assim como s personagens, traarem individualmente a sua trajetria. A nova identidade construda a partir de um novo pensar coletivo.

Sob esse aspecto o desfecho se aproxima da proposta da ps-modernidade: questionar os sistemas e os postulados totalizantes por meio do paradoxo, buscando a identidade na diferena. A par do contedo moralizante, do formato convencional, o desfecho deEnsaio sobre a cegueirano contraria a proposta ps-moderna, uma vez que o ps-modernismo, dada a sua caracterstica de atuar dentro dos sistemas que subverte, no constri paradigmas. No h um modelo ps-moderno a ser seguido e sim um conjunto de estratgias mais ou menos freqentes que sugerem o que se convencionou chamar ps-modernismo(4).No plano da diegese no no-lugar, isto , no percurso que os cegos fazem desde a quarentena at o desfecho do romance, que as contradies da natureza humana se revelam e so experimentadas. No plano da narrao, por ser espao transitrio do pensamento e da reflexo sobre o romance enquanto obra de arte, onde as estratgias novas e antigas se encontram, onde passado e presente se cruzam no ato constante de recriar, a escritura revela-se olocusonde, por meio da exposio do caos, o leitor convidado a repensar o mundo em que vive.

O texto de Marc Aug, ao qual fizemos referncia em boa parte de nossa anlise, esclarece-nos quanto ao olhar que lanamos ao passado, quanto ao modo pelo qual revolvemos os resqucios do passado como uma maneira de manter vivo o lugar antropolgico do qual fazemos parte. Mais do que isso, esse texto nos chama ateno para o fato de que o habitante do lugar antropolgico vive na histria, no faz histria. no lugar da memria, contrapondo passado e presente, que construmos a nossa diferena.

OEnsaio sobre acegueira, conforme pudemos observar, no de modo algum desistoricizado. Ele incorpora a histria da arte e a histria do homem sem que, para isso, necessite de marcadores temporais ou espaciais.

O descentramento do sujeito, a multiplicidade de vozes e o discurso intertextual sugerem um deslocamento ainda maior, na direo da pluralidade e da heterogeneidade que so as marcas do ps-moderno. O tema que norteia o romance, a questo da alteridade, est em consonncia com a retrica pluralizante do ps-modernismo.

E se essa escritura nos parece to diferente, a ponto de nos causar estranheza, que nos sobrevenha mente a lio de Foucault: "somos a diferena, nossa razo a diferena dos discursos, nossa histria a diferena das pocas, nossos eus so a diferena das mscaras"(5).Essa diferena no pode nunca ser vista como um obstculo para a compreenso do mundo, pois o retrato mais fiel do que somos e do que fazemos.

NOTAS[1]AUG, M. 1994.

[2]idem

[3]idem, p.33

[4]HUTCHEON, L. 1991

[5]FOUCAULT, M. ApudHUTCHEON, L. 1991,p.94.

BibliografiaAUG, Marc.No- lugares: introduo a uma antropologia da sobremodernidade.Trad. Lcia Mucznik, Bertrand Editora, 1994.CARREIRA,Shirley. Entre o ver e o olhar: a recorrncia de temas e imagens na obra deJos Saramago. Atas do 6 Congresso da Associao Internacional de Lusitanistas,1999http://www.geocities.com/ail_br/entreovereoolhar.htmlCHATMAN,Seymour.Story and discourse. Ithaca, London, Cornell University Press,1978.FOUCAULT, Michel.The archeology of knowledge and the discourse of language. NewYork, Pantheon,1972.HUTCHEON,Linda.Narcisistic Narrative: the metaficcional paradox. New York,Methuen,1985a.______Potica do ps-modernismo. Rio de Janeiro, Imago Editora, 1991.______The politics of postmodernism. London, New York, Routledge, 1989SARAMAGO, Jos.Ensaio sobre a cegueira. SoPaulo,Cia. das Letras, 1995.