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O movimento de mulheres e a construção da transversalização da perspectiva de gênero no Mercosul Nayara de Lima Monteiro Mestre em Relações Internacionais – UEPB Orientador: Prof. Dr. Carlos Enrique Ruiz Ferreira RESUMO O contexto histórico da conformação do Mercado Comum do Sul – Mercosul 1 , criado em 1991 pelo Tratado de Assunção, direcionava-o a estar alinhado a temas comerciais, cambiários e financeiros. Eram estabelecidos, com isso, os objetivos, princípios e instrumentos para se alcançar uma integração econômico-comercial. No entanto, com a eleição de governos progressistas na região e o consequente redirecionamento político do bloco a partir do contexto de redemocratização dos Estados Partes do bloco, houve uma abertura para se debater outras formas de integração, que não fosse somente a econômica. Esse redirecionamento foi devido, em parte, à pressão política da sociedade civil por espaços de participação na construção do Mercosul trazendo dimensões sociais, políticas, culturais, não pensadas antes. Objetivando delinear um Mercosul que inclua na sua agenda as demandas destes atores, é que estes tem se articulado regionalmente para incidir na institucionalidade do bloco. Como exemplo da incidência política da sociedade civil, considerando o setor do movimento de mulheres, é constituída no bloco a Reunião Especializada da Mulher – REM, que teve como objetivo principal trazer o debate da igualdade de oportunidades e estabelecer um âmbito regional de análise da situação da Mulher entre os Estados participantes. Atualmente, com a inserção de novos temas na agenda deste foro e com a mudança do seu status jurídico-político em 2011 para Reunião de Ministras e Altas Autoridades da Mulher – RMAAM, observam-se que os êxitos da incidência política do movimento de mulheres e o cenário político da região estão propiciando uma integração considerável no tema da Igualdade de Gênero. Tendo isso em vista, a pesquisa delinea-se por dois objetivos: a) analisar como se dá a interlocução do movimento de mulheres para incidir no Mercosul; b) avaliar a transformação política desta integração, na tentativa de aprofundar a inclusão dos movimentos de mulheres no desenho e substância do Mercosul. Essas finalidades foram desenvolvidas desde à consideração da participação política das organizações e movimentos de mulheres que atuam na Reunião de Ministras e Altas Autoridades da Mulher do Mercosul – RMAAM. Para justificar este trabalho, considerou-se a importância dos alcances da prática política do movimento de mulheres nos cenários internacional e latino-americano, particularmente, na região dos países do Mercosul. No campo teórico, a pesquisa baseou-se na visão feminista das Relações Internacionais, que chama a atenção para diferenças sociais no campo da política internacional baseadas no sexo. Está presente o pluralismo nas concepções 1 O Mercosul está integrado pelas República Argentina, República Federativa do Brasil, República do Paraguai, República Oriental do Uruguai, República Bolivariana da Venezuela e o Estado Plurinacional da Bolívia (em processo de adesão). Tem como Estados Associados o Chile, a Colômbia, o Peru, o Equador, a Guiana e o Suriname (os dois últimos em processo de ratificação).

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O movimento de mulheres e a construção da transversalização da perspectiva de gênero

no Mercosul

Nayara de Lima Monteiro

Mestre em Relações Internacionais – UEPB

Orientador: Prof. Dr. Carlos Enrique Ruiz Ferreira

RESUMO

O contexto histórico da conformação do Mercado Comum do Sul – Mercosul1, criado em 1991 pelo Tratado de Assunção, direcionava-o a estar alinhado a temas comerciais, cambiários e financeiros. Eram estabelecidos, com isso, os objetivos, princípios e instrumentos para se alcançar uma integração econômico-comercial. No entanto, com a eleição de governos progressistas na região e o consequente redirecionamento político do bloco a partir do contexto de redemocratização dos Estados Partes do bloco, houve uma abertura para se debater outras formas de integração, que não fosse somente a econômica. Esse redirecionamento foi devido, em parte, à pressão política da sociedade civil por espaços de participação na construção do Mercosul trazendo dimensões sociais, políticas, culturais, não pensadas antes. Objetivando delinear um Mercosul que inclua na sua agenda as demandas destes atores, é que estes tem se articulado regionalmente para incidir na institucionalidade do bloco. Como exemplo da incidência política da sociedade civil, considerando o setor do movimento de mulheres, é constituída no bloco a Reunião Especializada da Mulher – REM, que teve como objetivo principal trazer o debate da igualdade de oportunidades e estabelecer um âmbito regional de análise da situação da Mulher entre os Estados participantes. Atualmente, com a inserção de novos temas na agenda deste foro e com a mudança do seu status jurídico-político em 2011 para Reunião de Ministras e Altas Autoridades da Mulher – RMAAM, observam-se que os êxitos da incidência política do movimento de mulheres e o cenário político da região estão propiciando uma integração considerável no tema da Igualdade de Gênero. Tendo isso em vista, a pesquisa delinea-se por dois objetivos: a) analisar como se dá a interlocução do movimento de mulheres para incidir no Mercosul; b) avaliar a transformação política desta integração, na tentativa de aprofundar a inclusão dos movimentos de mulheres no desenho e substância do Mercosul. Essas finalidades foram desenvolvidas desde à consideração da participação política das organizações e movimentos de mulheres que atuam na Reunião de Ministras e Altas Autoridades da Mulher do Mercosul – RMAAM. Para justificar este trabalho, considerou-se a importância dos alcances da prática política do movimento de mulheres nos cenários internacional e latino-americano, particularmente, na região dos países do Mercosul. No campo teórico, a pesquisa baseou-se na visão feminista das Relações Internacionais, que chama a atenção para diferenças sociais no campo da política internacional baseadas no sexo. Está presente o pluralismo nas concepções

1 O Mercosul está integrado pelas República Argentina, República Federativa do Brasil, República do Paraguai, República Oriental do Uruguai, República Bolivariana da Venezuela e o Estado Plurinacional da Bolívia (em processo de adesão). Tem como Estados Associados o Chile, a Colômbia, o Peru, o Equador, a Guiana e o Suriname (os dois últimos em processo de ratificação).

feministas deste campo de estudo, mas a influência do pós-positivismo é a mais relevante para essa pesquisa, pois rompe com a forma simplista que as feministas compreendiam as Relações Internacionais; além de motivar o aprofundamento no estudo da influência patriarcal na formação dos discursos e das práticas violentas na condução das políticas interna e externa dos Estados. Foram usadas autoras como Maria Odete de Oliveira, Joan Scott e Virginia Vargas Valente. Posto isto, a pesquisa pretende gerar novos conhecimentos para o avanço do debate acerca da participação cidadã no âmbito do Mercosul e para o fortalecimento da perspectiva de gênero na institucionalidade do bloco. Em seguida, abordaram-se a importância da perspectiva de gênero na institucionalidade do Mercosul e os principais pontos da agenda deste foro e suas atividades. Por fim, foram mostrados os perfis políticos de três organizações sociais2 que participam da RMAAM e como, a partir das suas vertentes políticas, tem-se dado a participação feminista neste processo de integração. Essa abordagem foi feita por meio de pesquisa bibliográfica e pela realização de entrevistas semiestruturadas com algumas líderes das organizações sociais referidas, contribuindo para refutar e/ou afirmar conclusões da pesquisa em questão.

Palavras-chave: Movimento de Mulheres – Transversalização da perspectiva de Gênero

– Reunião de Ministras e Altas Autoridades da Mulher do Mercosul

INTRODUÇÃO

O contexto histórico da conformação do Mercado Comum do Sul – Mercosul

direcionava política e economicamente tal processo integracionista a estar alinhado a temas

comerciais. Baseado na então dominante doutrina neoliberal que norteava os caminhos

político-econômicos ditados pela lógica da Globalização3, no ano de 1991 era assinado o

Tratado de Assunção estabelecendo os objetivos, princípios e instrumentos para se alcançar a

integração econômico-comercial almejada neste momento.

Contudo, por meio do movimento dialético da história, alguns elementos sócio-

políticos fundamentais fortificam e publicizam o questionamento sobre a maneira como essa

integração estava sendo construída. Quais sejam: a) o amadurecer das democracias dos países

do Mercosul, com a chegada às presidências de líderes progressistas de centro-esquerda e

esquerda proporcionaram um aprofundamento da cooperação política entre os Estados desta

região e uma maior abertura ao diálogo e participação4 social em cada cenário nacional dos

2 Fórum de Mulheres do Mercosul, Articulación Feminista Marcosur e Marcha Mundial das Mulheres.3 O termo “Globalização” por Firmenich (2004): “Se entiende por ‘globalización’ el fenómeno, también denominado como ‘mundialización’, que implica una creciente integración de los mercados financieros y de bienes y servicios en un único mercado mundial. Esta tendencia a la unificación de mercados tiene tras de sí un impulso hacia la unificación del proprio sistema económico mundial (…) (p. 37)”.

4 Visto que, no começo da redemocratização desses Estados, havia mais uma promoção da retórica da participação social e, de fato, não se tinha uma prática participativa apoiada pelos governos. E se caso houvesse tal prática, estes governos se valiam de organizações da sociedade civil cooptadas ou que estavam sempre de acordo com suas

Estados Partes desta integração (VAZQUEZ, 2011); b) como também, a institucionalidade do

Mercosul, que já contava com uma estrutura de participação social nos anos 1990, ampliou a

dimensão social da integração, a partir do ano 2000, fortalecendo as estruturas existentes e

criando novos espaços com competência para lidar com os vários temas sociais da sua agenda.

(FARIA; PIÑEIRO, 2010).

Nesse contexto, era necessária uma reivindicação mais contundente da sociedade civil

regional5 por espaços na própria estrutura institucional do bloco, no sentido de atuar

estrategicamente nestes espaços potencialmente propícios para demandar a efetividade de

suas pautas. Como exemplo dessa incidência política (considerando aqui o setor do

movimento de mulheres), é constituída no bloco a Reunião Especializada da Mulher – REM,

âmbito para se debater sobre os temas relacionados à Mulher e fazendo parte, portanto, do

panorama de aprofundamento democrático do Mercosul e das conjunturas internacional e

latino-americana que regiam a prática política do movimento de mulheres nos anos 90. Por

sua vez, essa prática começou a se organizar em torno do alinhamento de propostas para

serem levadas à discussão nos encontros preparatórios para a “IV Conferência Mundial da

ONU sobre a Mulher”, conhecida também como “Conferência de Beijing”. O momento

prévio de articulação para esta conferência foi determinante na união interna deste setor da

sociedade civil regional, influenciando, doravante, o questionamento do papel e da inclusão

da Mulher nos processos integracionistas regionais (ORSINO, 2010).

Posto isso, inicialmente a REM tinha como objetivo ser um foro de encontro e

discussão quanto à igualdade de oportunidades dentro do bloco, onde participavam as

instâncias dos governos que tratavam sobre a temática da Mulher e algumas organizações

sociais. No momento atual, dada sua atividade e importância política dentro do processo de

integração, em 2011 o seu status jurídico-político é elevado para Reunião de Ministras e Altas

Autoridades da Mulher (RMAAM), estando ligada diretamente ao Conselho Mercado

Comum (CMC), órgão máximo condutor do Mercosul, observando-se que o cenário político

da região está propiciando uma integração mais considerável no tema da Igualdade de

Gênero.

Desta maneira, o debate que esta pesquisa traz encontra base teórica na abordagem

feminista das Relações Internacionais, que é composta pelo pluralismo de concepções não

propostas governamentais (FERREIRA, 2010).5Falar em sociedade civil regional (transnacional) pressupõe a constituição de novos modos políticos de agir, que apresentam um grau de influência no cenário político internacional, contrapondo-se ao Estado em muitas ocasiões, mas dialogando e cooperando com ele, em outros momentos. (SERBIN, 1997).

existindo uma epistemologia única para este bloco teórico, principalmente porque o

feminismo tem como base perspectivas positivistas e pós-positivistas. A influência do pós-

positivismo é a mais relevante aqui, pois rompe com a forma simplista que as feministas

compreendiam as Relações Internacionais; além de motivar o aprofundamento no estudo da

influência patriarcal na formação dos discursos e das práticas violentas na condução das

políticas interna e externa dos Estados (SARFATI, 2005). O propósito do feminismo ao

insistir nestas críticas é contestar o espaço marginal delegado às mulheres e, igualmente,

enfatizar as contribuições que o gênero feminino pode produzir na construção das Relações

Internacionais, argumentando que as mulheres são uma base para a high politics independente

da multiplicidade de papéis que elas executem, sendo esposas, trabalhadoras ou prostitutas.

Observa-se, então, que os estudos sobre gênero e Relações Internacionais procuram

explicar as condições das mulheres, a partir das suas próprias experiências e perspectivas. As

vozes feministas propõem o reconhecimento da importância do gênero feminino para a

construção dessa ciência e reivindicam uma maior participação das mulheres, seja em nível

doméstico ou internacional, ou ainda nas esferas pública ou privada (OLIVEIRA, 2011).

Nesse sentido, as concepções feministas contribuem no entendimento da importância

que a participação feminina representa para a consolidação de um Mercosul democrático.

Como também, colaboram com a compreensão sobre a importância de discutir os Direitos

Humanos da Mulher e a perspectiva de Gênero dentro de um processo de integração regional,

no intuito de garantir a igualdade de oportunidades para ambos os sexos, como condição para

a equidade social e a eficiência na distribuição dos recursos. Estes processos apresentam

efeitos diferenciados, “o que faz com que os benefícios da expansão comercial possam ser

diferentes entre homens e mulheres, tanto como entre diferentes grupos de mulheres, o que

tem implicações para a equidade de gênero” (RODRIGUEZ; TAVARES, 2006, p.6).

A atual situação sóciopolítica do Mercosul tem gerado possibilidades para que as

mulheres participem dos espaços institucionais, potencializandoos para que se tornem mais

democráticos, atendendo aos interesses do conjunto das sociedades como um todo. Portanto,

este trabalho foi construído com foco na interação do movimento de mulheres com a

RMAAM, ressaltanto os alcances obtidos até o momento com a transversalização da

perspectiva de gênero na institucionalidade do bloco e as ações regionais empreendidas a

partir do diálogo político entre a RMAAM e o setor de mulheres da sociedade civil regional.

OBJETIVOS

Tendo isso em vista, o trabalho está delineado por alguns objetivos. São eles:

a) analisar como se dá a interlocução entre as organizações e movimentos sociais de

mulheres para incidir no Mercosul;

b) avaliar a transformação política desta integração, na tentativa de fortalecer a

inclusão dos movimentos de mulheres no desenho do Mercosul para aprofundar a

transversalidade e a equidade de gênero no bloco, conquistar ações e políticas públicas de

promoção dos Direitos Humanos das Mulheres e enfrentar todo tipo de violência contra elas.

METODOLOGIA

Posto isso, a presente pesquisa visa colaborar com os estudos transnacionais

relacionados com a inserção dos novos atores nas Relações Internacionais, que contribuem

com a construção da prática política além das fronteiras e reafirmam que não somente os

Estados devem ter o poder de decisão nos âmbitos nacional, regional e internacional. Sendo

assim, o trabalho pretendeu avançar no debate acerca da participação do movimento de

mulheres no Mercosul, com o fim de fortalecer a perspectiva de gênero na institucionalidade

do bloco e a promover a Igualdade de Gênero. No tópico posterior, serão abordadas a

importância da transversalização da perspectiva de gênero na institucionalidade do Mercosul.

Em seguida, será apresentado um breve histórico da conformação do movimento de mulheres

da região latino-americana e a inserção deste setor da sociedade civil na institucionalidade do

bloco.

Analisaram-se, através de pesquisa documental, atas e documentos da RMAAM,

disponibilizados na sua página oficial, os quais mostram como se deu a sua constituição e os

avanços e os desafios para aprofundar a transversalidade da perspectiva de gênero no

Mercosul. Como também, foram utilizadas legislações internacionais, normativas do

Mercosul e informações do seu site oficial para melhor respaldo deste estudo.

Serão mostrados, por fim, os perfis políticos das organizações sociais que participam

da RMAAM e como, a partir das suas vertentes políticas, tem-se dado a participação

feminista neste processo de integração. Essa abordagem foi feita por meio de pesquisa

bibliográfica em publicações das organizações sociais trabalhadas e em artigos de autoras

feministas das Relações Internacionais para embasar teoricamente o conteúdo da pesquisa

(LAKATOS; MARCONI, 2009). Bem como, foram realizadas entrevistas semiestruturadas

com as líderes dessas organizações presentes na RMAAM com o propósito de: aumentar a

familiaridade do pesquisador com os atores sociais que participam diretamente do objeto da

pesquisa; e modificar ou clarificar conceitos para fundamentar o produto decorrente deste

trabalho.

RESULTADOS DA PESQUISA E DISCUSSÃO

Em cada país integrante do Mercosul, com processos de construção histórico

semelhantes, porém com uma constituição político-social e econômica assimétricas, as

mulheres estão na organização dessas sociedades de maneira desigual, quando comparada ao

homem. Logo, o gênero, neste contexto, é um elemento constitutivo das relações sociais

baseado nas diferenças percebidas entre os sexos e uma forma primeira de dar significado às

relações de poder (SCOTT, 1987). O gênero é tomado aqui como categoria de análise e não a

partir da visão simplista das desigualdades entre masculino e feminino, já que é necessário

procurar não uma causalidade geral e universal, mas uma explicação significativa sobre o

gênero: “Me parece agora que o lugar das mulheres na vida social-humana não é diretamente

o produto do que ela faz, mas do sentido que as suas atividades adquirem através da interação

social concreta” (ROSALDO, 1980, p. 400).

Para que se tenha o sentido, é necessário tratar tanto do sujeito individual quanto da

organização social, articulando, assim, a natureza das suas inter-relações. Ambos são

importantes para compreender como funciona o gênero. No seio desses processos e estruturas,

há espaço para um conceito de realização humana como um esforço de construir uma

identidade, uma vida, um conjunto de relações, uma sociedade dentro de certos limites e com

a linguagem conceitual que ao mesmo tempo coloque os limites e contenha a possibilidade de

negação, de resistência e de reinterpretação, o jogo de invenção metafórica e de imaginação

(SCOTT, 1987). Dessa forma, deve-se ter uma visão mais ampla que inclua não só o universo

doméstico e a família como âmbitos em que o gênero é construído, mas também a educação, o

mercado de trabalho, o sistema político, na economia.

Por conseguinte, o núcleo da definição de gênero que Scott defende é constituído por

duas partes: 1) gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças

percebidas entre os sexos; 2) e o gênero é uma forma primeira de significar as relações de

poder, tomando este por algo próximo ao conceito foucaultiano de poder, constelações

dispersas de relações desiguais constituídas pelo discurso nos “campos de força” (SCOTT,

1987, p. 20).

Logo, as mudanças na organização das relações sociais correspondem sempre à

mudança nas representações de poder. Mas a direção da mudança não segue necessariamente

um sentido único. É o que se pode ver com a realidade do Mercosul nos últimos dez anos,

quando outras classes políticas assumiram os governos nacionais dos Estados Partes, fazendo

com que isso tivesse consequências nessa integração regional, como o aprofundamento da

transversalização da perspectiva de gênero na institucionalidade do bloco.

Neste cenário de separação de competências masculinas e femininas e sua reprodução

no tempo, os movimentos e organizações sociais de mulheres viram-se na obrigação de

continuar esta luta política de modificação do status quo dentro do processo de integração

tratado aqui, já que é outro lugar reprodutor dessa lógica sexista. As feministas, então, passam

a criar redes sociais poderosas e difundir seus objetivos, teorias e práticas, com o objetivo de

influenciar nas negociações internacionais, tendo o desdobramento consequente dessa atuação

a interessante abertura na política mundial e regional (OLIVEIRA; SILVA, p. 71, 2011).

É necessário mostrar, então, que o cenário global relativo à participação política dos

movimentos de mulheres nos espaços da ONU (Organização das Nações Unidas) foi

importante para que os movimentos e redes transnacionais de mulheres latino-americanos

pudessem ter uma visão dos motivos que embasariam sua articulação política nos processos

de integração regional na região. As principais conquistas alcançadas nos encontros da ONU

na década de 90 com relação às mulheres e que influenciarão nos movimentos de mulheres na

região latino-americana são: a) o reconhecimento da relevância da perspectiva de gênero para

se compreender as questões de meio ambiente, no âmbito da Rio-92; b) a afirmação em Viena

de que os direitos da mulher são parte integrante e fundamental dos direitos humanos e que

requerem, por suas especificidades, tratamento particular; c) a proclamação pela ONU da

Declaração sobre a violência contra a Mulher e ao estabelecimento de uma relatora especial

para monitorar esse tipo de violência pelo mundo, no âmbito da Comissão dos Direitos

Humanos; d) o reconhecimento em 1994, na Conferência do Cairo, do direito à saúde sexual e

reprodutivas e do empoderamento da mulher como pressuposto fundamental para a sua

autonomia em relação ao controle da própria fecundidade; e) o reconhecimento do papel

importante das ONGs de mulheres de atuação nas diferentes áreas de interesse global

(FONTÃO, 2011, p.54).

A amplitude dos temas tratados reflete o amadurecimento dos movimentos

reivindicatórios e a incorporação das problemáticas globais a partir de uma perspectiva de

gênero. Por exemplo, a recomendação trazida em Nairóbi6 e reafirmada em Beijing, de que

fossem construídos mecanismos para a promoção de ações especificamente voltadas à mulher,

6 Em 1985, aconteceu a Conferência Mundial para a Revisão e Avaliação das Realizações da Década das Nações Unidas para a Mulher: Igualdade, Desenvolvimento e Paz em Nairóbi (Quênia). Ela foi convocada num momento em que o movimento pela igualdade de gênero finalmente ganhou verdadeiro reconhecimento global e 15 mil representantes de organizações não-governamentais participaram em um Fórum paralelo de ONGs. (A ONU e as mulheres. Disponível em: < http://www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-e-as-mulheres/>. Acesso em 20 ago 2013.

tem impulsionado a criação de instituições nos países que estiveram presentes na IV

Conferência da Mulher – ONU em 1995, como é o caso da Secretaria de Políticas para as

Mulheres da Presidência da República do Brasil. Também foram criados mecanismos

regionais e internacionais para a promoção de direitos das mulheres, como a REM.

Em entrevista7 com Lilián Celiberti, representante do Cotidiano Mujer, coletivo

feminista do Uruguai, que faz parte e é a sede da Articulación Feminista Marcosur, conta que

neste momento dos anos 90, os movimentos e organizações sociais de mulheres não tinham

ainda muita sensibilidade e maturidade para encarar a proposição de uma pauta de gênero no

bloco. Mas se considerava que o Mercosul poderia se constituir em um novo cenário para

construir relações mais equitativas entre homens e mulheres e solicitavam que as políticas de

igualdade de oportunidades fossem incorporadas como um dos temas centrais na agenda do

bloco.

Com isso, foram realizados seminários com o setor de mulheres da sociedade civil

para capacitação sobre o impacto que teriam os processos de integração no mercado de

trabalho feminino e os motivos pelos quais era importante debater gênero nesses processos.

No ano de 1997, em um desses seminários, onde participaram representantes das áreas

governamentais sobre a Mulher dos países do bloco, foi emitida uma declaração conjunta que

reclamou, em termos gerais, a implementação por parte do CMC os mecanismos necessários

para assegurar a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres no desenvolvimento

dos trabalhos dos diversos âmbitos de negociação do Mercosul (CELIBERTI; MESA, 2010).

Esta declaração, antecedente à criação da Reunião Especializada da Mulher do

Mercosul, reconheceu a sociedade civil representada pelo Fórum das Mulheres do Mercosul

como assessor da reunião que ainda seria criada. Em entrevista com Emilia Therezinha Xavier

Fernandes8, presidenta do Fórum de Mulheres do MERCOSUL - Capítulo Brasil e integrante

do fórum desde 1996, ela comenta as articulações para a criação do fórum e seus objetivos.

O Fórum de Mulheres do MERCOSUL é uma organização não governamental, suprapartidária e sem fins lucrativos, criada em novembro de 1995, em reunião realizada em Buenos Aires/Argentina, a partir da articulação e jornadas de trabalho que contaram com a participação de representantes de setores políticos, empresariais, sindicais e da área da educação e da cultura dos Estados Parte do MERCOSUL.Na oportunidade, foi analisado intensamente o processo de integração do MERCOSUL, a partir da visão das mulheres, com o objetivo de desenvolver além de atividades com a perspectiva de gênero, raça/etnia, nos países da Argentina, do Brasil, do Paraguai e do Uruguai, (...) um espaço de discussão, participação e de propostas de todos os setores sobre a base de nossa necessária presença no MERCOSUL. (...)

7 Dados da entrevista com Lilián Celiberti realizada em 20 de abril de 2013. 8 Entrevista semiestruturada realizada em maio de 2013.

Tem, como suas ações fundamentais, o apoio à realização de alianças estratégicas para a equidade, a dignidade e a cidadania das mulheres, através de políticas de capacitação e de atuação junto a outros movimentos, a fim de obter avanços nas políticas públicas e nas condições socioeconômicas e culturais das mulheres do Brasil e dos países membros do MERCOSUL. Implementando ações de mobilização e articulação com entidades governamentais e a sociedade civil no enfrentamento a todas formas de discriminação e violência contra as mulheres, seja por questões de gênero, raça, etnia, situação econômica, escolaridade, opção sexual e idade, entre outras.

As estratégias foram múltiplas para se conseguir o espaço da REM na

institucionalidade do bloco: tentar participar nas reuniões de ministros e nos subgrupos de

trabalho do GMC; juntar esforços com as funcionárias dos mecanismos de promoção de

políticas para mulheres de cada país, com as diplomatas, legisladoras e representantes do

Mercosul que eram parte do Fórum de Mulheres do Mercosul e tinham os mesmos objetivos.

(ORSINO, 2009, p. 99)

Assim, em 1998, por meio da Resolução nº 20/98 do Grupo Mercado Comum era

criada a Reunião Especializada da Mulher – REM. A REM foi um órgão vinculado ao Foro

de Consulta e Concertação Política (FCCP) e ao Grupo do Mercado Comum (GMC), com o

objetivo de analisar a legislação vigente nos Estados Partes do Mercosul, no que se refere ao

conceito de igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. No funcionamento da

REM, do ano de 1998 a 2011, e com a mudança do seu status jurídico político para Reunião

de Ministras e Altas Autoridades da Mulher (RMAAM) em 2011, a perspectiva de gênero

trouxe às atividades do foro uma ampliação das suas atribuições e responsabilidades (art. 4º

do Regulamento Interno9 da RAAM). Esta ampliação se deu no espaço de diálogo e

articulação política que foi sendo desenvolvido sobre os direitos das mulheres da região dos

países do bloco, onde a perspectiva de gênero era introduzida de forma mais veemente para

ser tratada, questionada e transformada em ações e políticas públicas regionais.

Como exemplo prático de uma dessas atribuições da reunião, em entrevista feita para

esta pesquisa em abril de 2013, Maria Angélica Fontão10 menciona a divulgação de

informações e boas práticas que promovem avanços das questões de gênero e da situação da

mulher nos Estados Partes, que devem ser incentivadas através da cooperação e da troca de

experiências.

9 O Regulamento Interno da RMAAM encontra-se disponível em: <http://www.mercosurmujeres.org/userfiles/file/files/RMAAM_2013_1/RMAAM_2013_ACTA01_ANE04_ES_Acuerdo_01_2013_ES_Regl_Int_RMAAM.pdf>. Acesso em 28 ago 2013.

10 Dados da entrevista feita com Maria Angélica Fontão, ex-membro da Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM do Brasil e ex-assistente técnica nacional do projeto “Fortalecimento da Institucionalidade e perspectiva em gênero no Mercosul”, financiado pelo Programa de Cooperação MERCOSUL – AECID (Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento).

(...) essa proposta de integração nos aproxima mais, o que gera, por exemplo, esse intercâmbio de boas práticas em que temos vários exemplos de políticas/programas/ações de um país que foram inspiradas em outro da região (...) a RMAAM tem trabalhando muito com proposta de ações que tenham caráter regional. (...) um tema, por exemplo, que estamos puxando bastante atualmente é de se trabalhar nas regiões de fronteira, especialmente a questão do enfrentamento à violencia contra as mulheres, já que isso é uma prioridade da SPM que já vem sendo trabalhada e está, inclusive, dentro do Programa Mulher: Viver sem Violência (...)

Ela mencionou ainda que a própria pauta da SPM dentro da RMAAM, no

enfrentamento à violência contra as mulheres nas regiões de fronteira, tem influenciado outras

coordenações nacionais a levarem esse tema aos seus respectivos Estados Partes, conseguindo

uma cooperação entre os governos neste tema citado11. Outro exemplo é a resposta

institucional dos quatro países do Mercosul que criaram mecanismos de regência das políticas

públicas de igualdade de gênero e sobre o tráfico de pessoas.

Em termos relativos, uma vez que é um espaço institucional e tem sua lógica

burocrática própria, a RMAAM acompanha esse movimento contra-hegemônico das mulheres

organizadas. Não obstante, o ponto fulcral dessa reunião é que as ministras e autoridades que

acompanham seus trabalhos são as mesmas funcionárias que estão nos órgãos nacionais de

promoção da equidade de gênero de cada Estado Parte. Assim sendo, infere-se que facilita o

trabalho de conhecimento dos problemas da região atinentes aos temas de gênero e mulher,

influenciando no labor de cada mecanismo nacional de promoção da perspectiva de gênero

nos respectivos países.

Desde a criação da REM e atualmente com a RMAAM, conseguiu-se estampar

Decisões e Recomendações na agenda do Mercosul em áreas como: incorporação da

perspectiva de gênero no bloco; trabalho e emprego; violência baseada em gênero; educação

com perspectiva de gênero e participação política das mulheres. Por meio de pesquisa

documental (virtual) nos arquivos de atas tanto da REM quanto da RMAAM, fez-se um

11 O “Programa Mulher: Viver sem Violência” foi apresentado pela ministra E. Menicucci, da SPM-PR para avançar na implementação da Lei Maria da Penha (11.340/2006), dando mais celeridade ao atendimento às vítimas da violência de gênero. (...) No encontro de apresentação do programa, as gestoras levantaram necessidades como a de ampliar o número de núcleos de atendimento às mulheres em áreas de fronteira. Menicucci afirmou que serão implantados seis novos núcleos: dois no Rio Grande do Sul (Santana do Livramento e Jaguarão), dois em Mato Grosso do Sul (Corumbá e Pontaporã), um no Acre (Brasiléia) e um em Roraima (Bonfim). O programa prevê a criação de centros integrados de serviços especializados, humanização do atendimento em saúde, cooperação técnica com o sistema de justiça e campanhas educativas de prevenção e enfrentamento à violência de gênero. A iniciativa também aumentará os núcleos de atendimento às mulheres em áreas de fronteira do Brasil com a Bolívia, Guiana Francesa, Guiana Inglesa, Paraguai, Uruguai e Venezuela, abrangendo migrantes e o combate ao tráfico de pessoas. Disponível em: <http://www.spm.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2013/04/11-04-ministra-eleonora-apresenta018mulher-viver-sem-violencia-as-gestoras-do-pacto>. Acesso em maio de 2013.

levantamento das reuniões do ano de 2010 até a agenda da reunião de 201312, por incluir o

final do período da REM e toda a produtividade da RMAAM. A prioridade que se tem dado é

sobre os seguintes pontos: a) Fortalecimento e transversalização da perspectiva de gênero; b)

Mesas Técnicas: “Violência de gênero” e “Trabalho e integração econômica”; d) Participação

política das mulheres.

Cada ponto desses tem um motivo político de estar presente na agenda da RMAAM,

tem sua forma de ser gerido e financiado. Porém, escolheu-se o primeiro tema para discorrer

sobre, já que esse ponto é o que está conectado diretamente ao objetivo principal desta

pesquisa.

Assim sendo, o ponto sobre o “Fortalecimento e transversalização da perspectiva de

gênero” congrega quatro linhas de trabalho de grande importância que são motores para

chegar ao objetivo final que o tema em si já propõe. São estas as linhas: a) cooperação técnica

– Projeto Mercosul/AECID; b) criação de uma Secretaria Permanente da reunião; c) diálogo

sobre gênero com outras instâncias do bloco e; d) a adaptação da agenda da RMAAM a partir

da agenda internacional sobre gênero.

Em relação à cooperação técnica, o Programa de Cooperação Mercosul-AECID foi

firmado em 2008 e permitiu iniciar um programa conjunto de cooperação técnica em áreas

como gênero, integração produtiva e fortalecimento institucional. A REM estava a cargo de

um projeto na área de gênero e já no primeiro ano de execução (2008-2009) do programa,

além da organização interna de contratação de pessoal, formação de unidade de gestão, foi

aprovado pela institucionalidade do Mercosul em dezembro de 2008 o projeto

“Fortalecimento da institucionalidade e a perspectiva de gênero no Mercosul”.

No segundo ano de execução do projeto, de 2009 a 2010, em seu informe deste

período, vê-se que os avanços alcançados são mais de gestão interna e articulação entre seus

membros compostos por nacionais dos países do bloco e cooperação dos órgãos dos Estados

Partes que trabalham com os temas de gênero e mulher. Foi instalada a unidade de gestão do

projeto e contratadas as assistentes técnicas nacionais nos países, que permitiram intercâmbios

permanentes entre os países e as equipes técnicas e políticos, necessários para a tomada de

decisões no projeto.

12 Análise feita nas seguintes atas: MERCOSUR/REM/ACTA Nº 01/10; MERCOSUL/REM/ ATA N° 02/10; MERCOSUR/REM/ACTA N° 01/11; MERCOSUR/REM/ACTA N° 02/11; MERCOSUR/ I RMAAM/ ACTA N° 01/12; MERCOSUL/RMAAM/ ATA N° 02/12. Disponíveis na página oficial da RMAAM: <www.mercosurmujeres.org>. A agenda da reunião de 2013 foi conseguida por meio de contato feito com algumas organizações sociais que foram convidadas para a reunião em maio de 2013 e compartilharam o documento para esta pesquisa.

No relatório de 2012, os principais avanços obtidos foram: fortalecimento da

RMAAM, técnico e financeiro, e de intercâmbio e comunicação, pois o projeto permitiu que a

reunião transitasse processos técnicos regionais para operar os quatro eixos previstos do

projeto que se transformaram em avanços concretos; apoio à avaliação de indicadores em

violência doméstica13; promoção do concurso de participação política das mulheres “Paridade

é igualdade”14; publicado e difundido o primeiro Diagnóstico sobre tráfico de mulheres com

fins de exploração sexual por meio da perspectiva de gênero no Mercosul15. Com este

diagnóstico, permitiu-se avançar no trabalho interinstitucional das mesas dos órgãos nacionais

que trabalham com este tema e a mesa de violência de gênero da RMAAM (art. 5º do

Regulamento Interno); e as quatros chancelarias dos Estados Partes tem concretizado

atividades de sensibilização relacionadas à perspectiva de gênero com seus funcionários.

Tendo em vista todos esses avanços, é possível ver a efetividade da cooperação técnica

em relação aos objetivos da RMAAM. Na entrevista realizada com Maria Angélica Fontão,

citada anteriormente, ela comentou sobre a estreita relação entre a cooperação técnica do

projeto e os êxitos da reunião: “Olha, talvez eu possa estar sendo parcial (já que é de onde eu

estou), mas para mim é impossível dissociar as ações da RMAAM nos últimos anos da

execução do projeto”.

Prosseguindo, a segunda linha de trabalho trata da criação de uma Secretaria

Permanente para dar continuidade ao que é acordado nas reuniões da RMAAM. A ideia

surgiu com as primeiras conquistas da REM e pela ausência de consecução dessas conquistas

que acabaram não sendo tão exitosas assim. Antes havia sido proposto pedir auxílio

financeiro a vários órgãos internacionais e instâncias do Mercosul para implementar a

Secretaria. Como não se conseguiu, a proposta atualmente está pautada em, terminado o

projeto assinalado acima, dar continuidade a Unidade de Gestão formada no projeto para ser a

Secretaria Permanente da RMAAM.

13 Foi publicado o “Diagnóstico de indicadores em violência doméstica baseada em gênero no MERCOSUL” no ano de 2012. Este diagnóstico permite visualizar a situação da informação pública sobre a violência de gênero no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, nas seguintes áreas selecionadas: serviços públicos para mulheres em situação de violência doméstica nos âmbitos da justiça, segurança pública, saúde e mecanismos de políticas para as mulheres. A partir deste importante diagnóstico é possível visualizar o “estado da arte”, os avanços e os limites para a comparação de indicadores sobre a temática nos quatro países. A publicação está disponível em: < http://www.mercosurmujeres.org/pt/userfilesfileAvancesdiagn%C3%B3stico%20regional%20VDBGINDICADORES%20Portugues%20web.pdf>.14 Um dos vídeos do concurso pode ser visualizado nesta página: http://www.youtube.com/watch?v=pS8XxnPEGtg.15 O Diagnóstico completo pode ser encontrado neste endereço: < http://www.mercosurmujeres.org/userfiles/file/publicaciones/Trata/TRATA%20PORTUGUES%20para%20web.pdf>.

A terceira linha de trabalho do ponto da agenda da RMAAM que está sendo discutido

é referente ao diálogo sobre gênero com outras instâncias do bloco. O trabalho de diálogo

entre instâncias vem sendo realizado pela articulação política entre os ministros e políticos.

Com a criação da Comissão de Coordenação de Ministros de Ação Social (CCMAS) e do

Instituto Social do MERCOSUL (ISM), a reunião considerou pertinente articular com ambas

as instâncias a elaboração do Plano estratégico de Ação Social (PEAS), com o objetivo de que

todas as atividades planejadas por estas instâncias contemplem a perspectiva de gênero. Para

tanto, elevou sua solicitação às instâncias correspondentes, de modo a oficializar o trabalho

conjunto e coordenado (MERCOSUL/REM/ ATA N° 02/10, 2010).

Por fim, a quarta linha de trabalho refere-se à agenda da RMAAM está de acordo com

a agenda de gênero internacional. Em 2012, tratou-se sobre a atuação articulada da RMAAM

nos diferentes eventos da agenda internacional sobre gênero, com o intuito de mostrar sua

atividade nos âmbitos regional e internacional, para se fortalecer politicamente com as

estruturas internacionais e apoiarem-se mutuamente neste objetivo de conseguir a equidade de

gênero em todos os âmbitos da vida político-social de uma sociedade. No documento

MERCOSUL/RMAAM/ATA Nº02/12 há a referência sobre a prática desta adequação de

agenda da reunião com as agendas regional e a internacional. Participou-se, por exemplo, da

“I Conferência Regional sobre População e Desenvolvimento da América Latina e Caribe”

com a delegação do Uruguai a frente dos informes do evento.

Ainda que a RMAAM não tenha força política o suficiente para pautar um tema em

algum espaço regional ou internacional alinhando a postura dos cinco países constituintes do

Mercosul, o próprio lugar da RMAAM é adequado para que os órgãos nacionais, que tratam

as questões de gênero e mulher nos Estados Partes e Associados ensaiarem um alinhamento

de postura política. Igualmente, a reunião serve para que troquem experiências e dialoguem

sobre suas ações e tenham em conta as boas práticas que cada órgão está realizando em seus

respectivos países, pois isso influenciará tanto no êxito das ações regionais conjuntas

provindas do Mercosul, quanto em outros espaços regionais e internacionais ao alinhar suas

decisões para conseguir seus objetivos políticos por meio dessa cooperação mútua.

É sabido, pois, que esse processo estrutural de mudança para transversalizar a

perspectiva de gênero no bloco está relacionado diretamente à ânsia política de se ver de fato

a igualdade de gênero sendo praticada. Isso pode apresentar uma lentidão quanto aos seus

efeitos práticos no cotidiano das sociedades aqui envolvidas. Essa dificuldade,

primordialmente, é consequência da cultura patriarcal predominante nas comunidades que

integram o Mercosul. Logo, acredita-se que os movimentos de mulheres de toda a região tem

um papel fundamental na mudança desse paradigma sexista e opressor que orienta práticas de

discriminação e violência contra as mulheres atualmente.

Assim sendo, segue-se na análise do Regulamento Interno e o seu art. 18 que trata

sobre a participação social na RMAAM. Nota-se que, apesar de poucas alíneas tratando sobre

o tema, a informação mais pertinente para este trabalho é a de que “as redes e organizações

dos movimentos feministas e de mulheres de representação regional que promovam os

direitos das mulheres e a igualdade de gênero, poderão participar como observadoras das

reuniões da RMAAM”. A participação da sociedade civil é relevante, pois ela vem trazer

novos temas que não estão necessariamente inclusos nos pautados pelos governos e também

podem aprofundar a visão sobre os já pautados, que estejam sendo tratados superficialmente.

Disso, surge a necessidade do assessoramento da sociedade civil à RMAAM. Porém, a

condição de “observadoras” é limitada, já que é reservada às organizações um espaço para

considerações e fazer uso da palavra, somente (alínea e). Tendo isso em vista, as entrevistas

com algumas líderes das organizações e movimentos sociais de mulheres que estão na reunião

foi pensada como recurso metodológico para esclarecer as entrelinhas políticas da

participação social que nem atas, documentos e página na internet são capazes de evidenciar.

No entanto, quem são essas organizações e movimentos sociais que assessoram a

reunião? Por que escolheram a RMAAM como um espaço potencialmente capaz de efetivar

suas demandas? O quê as move para continuar em um espaço como este que aparentemente

limita sua atuação?

Segundo a página oficial da RMAAM, as redes de organizações e movimentos sociais

de mulheres que estão na reunião na condição de assessoras são: Fórum de Mulheres do

MERCOSUL16; Articulación Feminista Marcosur – AFM 17; Comitê Latino-Americano para a

Defesa dos Direitos da Mulher – CLADEM 18; Comissão de Mulheres da Coordenadora das

Centrais Sindicais do Cone Sul19; e a Red Internacional de Género y Comercio20.

O primeiro contato para debater um pouco sobre os questionamentos mencionados foi

feito por meio de uma entrevista semiestruturada em abril de 2013 com a Lilián Celiberti,

representante da Articulación Feminista Marcosur – AFM. A AFM é uma “corriente que

agrupa organizaciones feministas de los países de América del Sur que generaron su relación

de confianza política durante el proceso de Beijing y posterior”, segundo Lilián. Está

16 Site Oficial do Fórum de Mulheres do MERCOSUL: <http://www.forodemujeresdelmercosur.org/>.17 Site Oficial da Articulación Feminista Marcosur: <http://www.mujeresdelsur-afm.org.uy/>.18 Site Oficial do Comitê Latino-Americano para a Defesa dos Direitos da Mulher: <http://www.cladem.org/>.19 Site Oficial da Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul: < http://www.ccscs.org/>.20 Site Oficial da Red Internacional de Género y Comercio: < http://www.generoycomercio.org/>.

integrada por articulações e organizações nacionais de vários países, tais como: Articulação

de Mulheres Brasileiras (AMB)21, Coordenação de Mulheres do Paraguai (CMP), Rede

Nacional de Mulheres da Colômbia, Coordenação da Mulher de Bolívia22, Sos Corpo23,

Coletivo Leila Diniz, CFEMEA24, REDHE no Brasil, CISCSA na Argentina, Flora Tristán25

no Peru.

Dentre os seus objetivos, dois deles são os que transparecem o motivo da Articulación

participar de um espaço como a RMAAM. São eles26: 1) incidir politicamente nos debates

democráticos e na construção de uma integração que amplie as cidadanias e aprofunda a

democracia; e 2) fortalecer os espaços de articulação entre os movimentos sociais e,

particularmente, reforçar e incidir desde a presença feminista nestes âmbitos. Sobre a

participação da AFM na RMAAM, Lilián comenta que “en la RMAAM hemos participado

activamente a partir del 2005 cuando se generaron condiciones reales en los gobiernos para un

diálogo más fructífero con la sociedad civil”. Ela continua explicando essa participação:

(...) creo que las organizaciones feministas nos hemos involucrado en la institucionalidad del Mercosur principalmente con el objetivo de impulsar una perspectiva regional de las políticas y los problemas. La articulación de políticas en clave regional es un desafio para los estados nacionales en particular en lo que refiere a derechos ya que el Mercosur surge precisamente para crear un mercado regional de comercio y no ha logrado aún articular una política de complementariedad productiva.27

O Mercosul, mesmo sendo um processo que ainda não conseguiu articular sua política

de complementaridade produtiva, ainda assim é um lócus que na sua face política, deve

continuar sendo ocupado estrategicamente pelas organizações e movimentos sociais

(VAZQUEZ, 2011). Indo além do fortalecimento da perspectiva de gênero nesta

institucionalidade, a AFM está conectada a outros lócus de promoção da equidade de gênero,

tanto em nível regional e internacional, como o Comitê Internacional do Fórum Social

Mundial.

A ocupação de outros espaços e a manutenção da sua presença estratégica no

Mercosul ao mesmo tempo é o que move esta articulação. Como é constituída por muitas

21 Site Oficial da Articulação de Mulheres Brasileiras: < http://www.articulacaodemulheres.org.br/>.22 Site Oficial da Coordenação da Mulher de Bolívia: < http://www.coordinadoradelamujer.org.bo/web/.23 Site Oficial da Sos Corpo: < http://www.soscorpo.org.br/>.24 Site Oficial da CFEMEA: < http://www.cfemea.org.br>.25 Site Oficial da Flora Tristan: <http://www.flora.org.pe/web2/>. 26 Informações obtidas na página da Articulación Feminista Marcosur. Site: <http://www.mujeresdelsur-afm.org.uy/index.php?option=com_content&view=article&id=44&Itemid=112>. Acesso em: 18 abr 2013.27 Dados da entrevista semiestruturada realizada com Lilián Celiberti, representante da Articulación Feminista Marcosur.

organizações e movimentos sociais e por outras redes transnacionais, acredita-se que

acompanhar estes espaços é mais uma forma para permanecerem fortalecidas em uma posição

política comum relacionada a qualquer tema de gênero que venha a aparecer nos encontros

destas instituições. Igualmente, demonstra que a articulação entende o desafio da equidade de

gênero muito além do cenário do Mercosul e a importância de estarem sempre articuladas

regional e internacionalmente.

A segunda líder entrevistada foi Emilia T. Xavier, representante do Fórum Mulheres

do MERCOSUL. Como visto alhures, o objetivo ainda da sua criação foi o de estabelecer um

espaço de discussão, participação e de propostas de todos os setores sobre a base da

necessária presença da mulher neste processo integracionista. Contudo, o motivo mais

relevante que baseia a contínua atividade do Fórum na RMAAM é que esta entidade tem

conexão direta com o surgimento da REM e desde então, o Fórum é propositor da reunião e

órgão assessor das Ministras.

No seu propósito de mobilizar, informar e sensibilizar as mulheres para o fortalecimento de seus direitos e conquistas, e do seu empoderamento, o Fórum desde então vem realizando ampla interlocução entre suas integrantes - entidades feministas e os movimentos de mulheres, membros dos Poderes constituídos, e em especial com parlamentares e diferentes segmentos da sociedade civil, com o propósito de informar e buscar adesão aos temas em debate sobre direitos e avanços da mulher na legislação de cada país e na vida dos povos da região. Tendo, como suas ações fundamentais, o apoio à realização de alianças estratégicas para a equidade, a dignidade e a cidadania das mulheres, através de políticas de capacitação e de atuação junto a outros movimentos, a fim de obter avanços nas políticas públicas e nas condições socioeconômicas e culturais das mulheres do Brasil e dos países membros do Mercosul.28.

O perfil do Fórum é bem múltiplo em relação às origens políticas das mulheres as

quais participam desta entidade. São sindicalistas, acadêmicas, parlamentares, advogadas,

membros do Poder Judiciário, permitindo uma riqueza maior de proposituras e de visão no

assessoramento à RMAAM. Acredita-se que por essa organização ter sido criada para

acompanhar a reunião pode ser vantajosa comparada a uma rede transnacional de mulheres

que atua em vários outros espaços e não se concentra em somente um. A prioridade do

trabalho do Fórum é o Mercosul, é a RMAAM, diferente da AFM assinalada anteriormente.

Assim, vê-se que o esforço político que o Fórum tem para continuar pautando seus

temas e assessorando a RMAAM está direcionado ao fortalecimento em si da reunião, como

se pode comprovar em muitas atas da reunião. Além disso, e diante da realidade de que a

mulher se encontra substancialmente ausente dos altos cargos em todos os países do

MERCOSUL, o Fórum decidiu estabelecer, como uma de suas missões principais, o

28 Dados da entrevista realizada com Emilia T. Xavier – Fórum de Mulheres do Mercosul em maio de 2013.

fortalecimento e a aprofundamento da liderança feminina na região. Destarte, periodicamente

o Fórum elabora projetos e desenvolve atividades de capacitação visando à promoção de

liderança da mulher em cada setor e em todos os níveis de sua vida, entre eles destacam-se os

programas de “Liderança Empresarial, Político e para Jovens”, patrocinados pelo Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID).

De outra forma, alguns movimentos sociais optam por não assessorar diretamente a

RMAAM, mas acreditam na importância em estar presentes quando acontecem as reuniões. A

estratégia aqui é não priorizar o Mercosul e seus espaços, não por ser irrelevante, mas por sua

forma de organização ser mais burocrática quando comparada à natureza política dos

movimentos sociais menos institucionalizados. A Marcha Mundial das Mulheres - MMM é

um movimento feminista internacional que pode exemplificar a natureza política mais

autônoma dos movimentos sociais. Na análie das atas da RMAAM, notou-se a presença da

Marcha através da representante Cláudia Prates. Pela importância da MMM e sua forma de

atuação ser diferente das organizações feministas acima citadas, surgiu o interesse em saber

os motivos mais específicos da MMM estar participando da RMAAM. Porém, a reunião não é

um espaço de prioridade para a marcha e com a intenção de se fazer um contraponto entre os

perfis das organizações que participam da reunião, foi perguntado o motivo exatamente da

presença da MMM neste espaço.

Sobre a participação da MMM no Mercosul (...) a partir de 2006 - depois da derrota da Alca – colocou-se com mais peso o tema da integração. Com as mudanças de governos e conjuntura, o Mercosul também teve algumas mudanças, inclusive na ampliação da agenda, de colocar os temas sociais e solidários, de redução de assimetrias, etc. Passamos a participar mais nas Cúpulas dos Povos, e através dos canais de participação dos governos. No caso do governo brasileiro, nós participamos um tempo através da Secretaria geral no Governo Lula, chegaram a organizar um conselho que nós da MMM estávamos, mas era algo muito geral, sem concretude. A Marcha acompanhou mais até 2010. (...) Na REM (RMAAM) nunca participamos, não achamos que tem uma agenda que dê para dialogar, e mais que isso, funciona de um jeito que não leva a coisas concretas. Em alguns momentos, a SOF (que é a organização que secretaria a Marcha brasileira) contribuímos nos debates da REAF mulher, (...). Mas de forma geral, a MMM não prioriza o monitoramento dessas instâncias que estão voltadas mais para uma agenda normativa e de poucas mudanças. Mesmo a participação nas cúpulas dos povos, entendemos que é em momentos que estamos conseguindo, em conjunto com outros movimentos, ser mais ofensivos no debate da integração regional no sentido de tentar avançar o processo.

A questão sobre a não priorização, como já mencionado, é por questões mais

ideológicas e metodológicas da forma de atuação da MMM, já que a marcha dialoga com

outro processo de integração regional, a ALBA, que é substancialmente diferente do

Mercosul. E Cláudia Prates afirma, por fim, que essa não-prioridade da MMM sobre o

Mercosul não significa que a marcha é contra a integração regional que é liderada neste bloco,

é só por mais uma questão de princípios políticos que os diferenciam e fazem com que a

RMAAM não seja prioridade na sua agenda.

Por conseguinte, Virgínia V. Valente (2008) traz uma definição do que sejam as duas

correntes feministas que se formaram durante todo esse processo. A primeira parece se definir

por meio da defesa das primeiras práticas, alimentando uma forte política de identidades,

“negando” a possibilidade de negociar com o público-político, preferindo o movimento nas

ruas, como a Marcha Mundial das Mulheres. Uma segunda definição parece assumir a

importância de negociar com a sociedade e o Estado, e suas diferenças estariam pela ênfase

dada à construção de claros espaços feministas nas sociedades civis, à política de alianças e à

prioridade das negociações com os Estados. Esta última tendência, composta por diferentes

vertentes, está formada pelas feministas que direta ou indiretamente incursionaram nos

espaços de negociação público-político nos níveis nacionais, regional e global nas diferentes

conferências mundiais e que teve sua expressão mais significativa, por ter sido massiva e bem

articulada em nível regional, na participação do processo de Beijing. Exemplos dessa segunda

significação feminista estão a Articulación Feminista Marcosur e o Fórum de Mulheres do

MERCOSUL.

O desafio, portanto, está posto, depois de identificar os dois caminhos feministas mais

usuais na busca pela efetivação de direitos: como manter a radicalidade do pensamento e da

ação feministas ao mesmo tempo em que se incursiona nos espaços públicos e políticos

negociando e consensualizando as agendas das mulheres? É uma velha tensão dos

movimentos sociais, entre negociar espaços de poder a partir de posições subordinadas ou

preservar as agendas sem negociar, permanecendo débeis e isolados (TARROW, 2009).

Possivelmente, a melhor escolha está no balanço entre ambas expressões. No conflito,

o risco mais evidente para as vertentes está em não reconhecer as diferenças, ideologizando-as

como traição, e a conseguinte fratura das estratégias feministas que no conjunto,

potencializavam-se e quando polarizadas, debilitam-se mutuamente. Mas, hoje em dia, apesar

ainda da diferença de atuação política e princípios políticos, está mais presente esse respeito

mútuo e a construção conjunta de estratégias, pelo menos quando compartilham dos mesmos

espaços, que já caracteriza, assim, uma abertura das feministas autônomas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Falar em conquistas e desafios, ou seja, a conclusão de todo esse jogo político, sempre

vai depender de qual visão se aborda. Porém, ao considerar o cenário regional da atuação

inicial dos movimentos das mulheres, os ganhos democráticos de participação cidadã e o

direito a pautar suas demandas na institucionalidade do Mercosul é um ganho primordial que

influencia na transversalização da perspectiva de gênero no bloco.

Com isso, as normativas de caráter regional que advem da atividade da RMAAM,

além de ter o seu intrínseco poder legal, também disputam silensiosamente sentidos político-

culturais sobre a equidade de gênero. Assim como, mostram e reafirmam as violações dos

direitos humanos a que muitas mulheres são submetidas e unem, por meio da cooperação, os

órgãos nacionais dos Estados Partes que trabalham com os temas de gênero e mulher para

estarem em uma constante troca de boas práticas, estarem juntos no enfrentamento a crimes

de caráter transnacional e a cooperarem também na efetividade de ações regionais.

A efetividade das normativas, então, pode-se dizer que é um dos desafios maiores para

ser enfrentado neste cenário, pois o espaço da RMAAM tem mais o objetivo de impulsionar

uma perspectiva em nível regional sobre as políticas e problemas referentes à perspectiva de

gênero e aos direitos humanos da mulher. Faz parte de um processo político que vai além das

fronteiras do Mercosul.

Por fim, falar em desafios é um tema que pode não acabar rapidamente, visto que o

cenário político da região da América do Sul e a própria política internacional não são muito

propícios para o aprofundamento de práticas políticas mais cooperativas, solidárias e que

respeite as diferenças dos que não seguem os padrões políticos, econômicos e sociais do

mainstream. Com tudo isso, a análise feita é de ser satisfatório o cenário que se tem com a

RMAAM, com a sociedade civil presente nas reuniões, com os avanços obtidos no

fortalecimento da perspectiva de gênero em vários âmbitos das sociedades de cada Estado

Parte e Associado e que influenciarão de forma positiva o alcance do mesmo fortalecimento

feito em nível regional, a partir do bloco.

O trabalho dos movimentos de mulheres é um longo e gradual caminho de mudanças e

tomadas de posturas políticas que dialoguem a fim de obter uma postura comum de

pensamento entre estes movimentos e, assim, obter mais força política. A continuidade da

inequidade de gênero é um obstáculo para a democracia. Para toda a democracia, pois o

capital tem gênero, a pobreza tem gênero. E estamos aqui para enfrentar com cada vez mais

força e legitimidade política todas essas questões. O feminismo não é uma religião. É uma

ferramenta de transformação do mundo, independente de qual feminismo seja, o importante é

continuar na incidência política em busca de igualdade de direitos, autonomia e liberdade.

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