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O MMM no Paraná e a professora Henrieta Dyminski Arruda Marytta Rennó Masseli 1 GD5 História da Matemática e Cultura O presente artigo apresentará um recorte de uma pesquisa de mestrado em andamento que tem como objetivo destacar as contribuições da professora Henrieta Dyminsi Arruda no grupo paranaense NEDEM - Núcleo de Estudo e Difusão do Ensino da Matemática e proceder à organização e guarda de seu acervo. Tal grupo se dedicou, entre as décadas de 60 e 70, à difusão da Matemática Moderna no Estado do Paraná. O recorte a ser apresentado trata de uma revisão feita em teses e dissertações defendidas até o momento e que abordavam especificamente o NESDEM, e a importância da professora Henrieta Dyminsi Arruda, como protagonista do Movimento da Matemática Moderna na cidade de Curitiba. Essa importância é destacada por meio de sua atuação como integrante do NEDEM, autora de livros para o ensino primário, coordenadora da Rede Municipal de Curitiba e assessora pedagógica no Instituto de educação. Com vistas a compreensão do papel da professora Henrieta Dyminsi Arruda optamos pela utilização da história oral em sua vertente metodológica para a coleta de depoimentos, além disso, faremos uma pesquisa documental no material fornecido pela professora organizando o acervo, catalogando e disponibilizando-o digitalmente para consulta. Palavras-chave: Educação Matemática, Movimento Matemática Moderna, Núcleo de Estudo e Difusão do Ensino da Matemática 1 . Introdução O presente artigo apresentará um recorte de uma pesquisa de mestrado em andamento que tem como objetivo destacar as contribuições da professora Henrieta Dyminsi Arruda no grupo paranaense NEDEM - Núcleo de Estudo e Difusão do Ensino da Matemática e proceder à organização e guarda de seu acervo. Tal grupo se dedicou, entre as décadas de 60 e 70, à difusão do Movimento Matemática Moderna (MMM) no Estado do Paraná. Com vistas a situar o leitor acerca de tal Movimento e localizar a pertença do NEDEM dentre os vários grupos brasileiros primeiramente teceremos considerações históricas sobre o MMM e discorremos brevemente sobre as características de determinados grupos. Segundo Soares (2001, p.67) os primeiros indícios do Movimento da Matemática Moderna (MMM) estão relacionados às reuniões de professores de Matemática, principalmente em Congressos, onde ocorriam apresentações e trocas de experiências, sugerindo também atividades para a compreensão da Matemática. Temos como marco do nascimento desse movimento o I Congresso Nacional de Ensino da Matemática no Curso Secundário, na Bahia em 1955, onde podemos encontrar registros de 1 Universidade Federal do Paraná, email: [email protected], orientador: Dr. Emerson Rolkouski

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O MMM no Paraná e a professora Henrieta Dyminski Arruda

Marytta Rennó Masseli1

GD5 – História da Matemática e Cultura

O presente artigo apresentará um recorte de uma pesquisa de mestrado em andamento que tem como objetivo

destacar as contribuições da professora Henrieta Dyminsi Arruda no grupo paranaense NEDEM - Núcleo de

Estudo e Difusão do Ensino da Matemática e proceder à organização e guarda de seu acervo. Tal grupo se

dedicou, entre as décadas de 60 e 70, à difusão da Matemática Moderna no Estado do Paraná. O recorte a ser

apresentado trata de uma revisão feita em teses e dissertações defendidas até o momento e que abordavam

especificamente o NESDEM, e a importância da professora Henrieta Dyminsi Arruda, como protagonista do

Movimento da Matemática Moderna na cidade de Curitiba. Essa importância é destacada por meio de sua

atuação como integrante do NEDEM, autora de livros para o ensino primário, coordenadora da Rede

Municipal de Curitiba e assessora pedagógica no Instituto de educação. Com vistas a compreensão do papel

da professora Henrieta Dyminsi Arruda optamos pela utilização da história oral em sua vertente metodológica

para a coleta de depoimentos, além disso, faremos uma pesquisa documental no material fornecido pela

professora organizando o acervo, catalogando e disponibilizando-o digitalmente para consulta.

Palavras-chave: Educação Matemática, Movimento Matemática Moderna, Núcleo de Estudo e Difusão do

Ensino da Matemática

1 . Introdução

O presente artigo apresentará um recorte de uma pesquisa de mestrado em andamento que

tem como objetivo destacar as contribuições da professora Henrieta Dyminsi Arruda no

grupo paranaense NEDEM - Núcleo de Estudo e Difusão do Ensino da Matemática e

proceder à organização e guarda de seu acervo. Tal grupo se dedicou, entre as décadas de

60 e 70, à difusão do Movimento Matemática Moderna (MMM) no Estado do Paraná. Com

vistas a situar o leitor acerca de tal Movimento e localizar a pertença do NEDEM dentre

os vários grupos brasileiros primeiramente teceremos considerações históricas sobre o

MMM e discorremos brevemente sobre as características de determinados grupos.

Segundo Soares (2001, p.67) os primeiros indícios do Movimento da Matemática Moderna

(MMM) estão relacionados às reuniões de professores de Matemática, principalmente em

Congressos, onde ocorriam apresentações e trocas de experiências, sugerindo também

atividades para a compreensão da Matemática.

Temos como marco do nascimento desse movimento o I Congresso Nacional de Ensino da

Matemática no Curso Secundário, na Bahia em 1955, onde podemos encontrar registros de

1Universidade Federal do Paraná, email: [email protected], orientador: Dr. Emerson Rolkouski

propostas de um ensino da Matemática preocupado com as aplicações e com as conexões

desta disciplina com outras ciências, e também registros de discussões como a necessidade

do aumento da carga horária semanal para o ginásio e secundário. Já em 1957, o II

Congresso Nacional de Ensino da Matemática, conta com a presença de Osvaldo Sangiorgi

e Ubiratan D’Ambrósio que, mesmo discretamente, começam a falar sobre Matemática

Moderna, não apenas no ensino secundário, mas também no ensino primário.

Com isso a discussão sobre o ensino da Matemática está presente em diversos estados

brasileiros, sendo criado em São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Paraná,

grupos de discussões e estudo de como a Matemática deveria ser ensinada.

Em São Paulo, temos o GEEM, Grupo de Estudos de Ensino de Matemática, fundado em

1961, pelo professor Osvaldo Sangiorgi que efetiva a divulgação do MMM no Brasil,

publicando então, em 1962 no IV Congresso Nacional, um trabalho sobre a Matemática

Moderna no ensino Secundário.

No Rio Grande do Sul, o GEEMPA, Grupo de Estudos sobre o Ensino da Matemática do

Porto Alegre, fundado em 1970, coordenado pela professora Esther Pillar Grossi que tinha

a preocupação, também com ensino da Matemática, pesquisando aperfeiçoamento de

métodos, técnicas, conteúdos, publicação de materiais e formação de professores. George

Papy e Zoltan Dienes tiveram grande influência nos trabalhos do GEEMPA, sendo que este

último esteve no Rio Grande do Sul, ministrando curso para professores no ano de 1972.

No Rio de Janeiro, destacam-se o Grupo de Estudos do Ensino de Matemática do Estado

de Guanabara (GEMEG), foi fundado em 1970 e tinha como coordenador, Arago Backx,

fundado e o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática (GEPEMG), fundado

em 1976 tendo como coordenadora a professora Maria Laura Leite Lopes.

No estado do Paraná, este movimento é difundido pelo Núcleo de Estudos e Difusão do

Ensino da Matemática (NEDEM) cujos encontros aconteciam no Colégio Estadual do

Paraná, e com data de fundação o ano de 1962. Esse grupo era coordenado pelo professor

Osny Antônio Dacol, e tinha como princípio a prática pedagógica nos ensinos ginasiais e

primários.

A formação do grupo no Paraná foi motivada por um curso ofertado pelo professor

Osvaldo Sangiorgi aos professores,. Naquele momento, o referido professor proferiu a

palestra intitulada "A Divulgação da Matemática Moderna através dos Diversos Grupos de

Estudos", e que, segundo Krul (2006) influenciou consideravelmente na formação de um

grupo de estudos no estado do Paraná.

O NEDEM tinha como objetivo não só o estudo de conteúdos matemáticos, mas também a

formação de docentes no ensino desses conteúdos. Krull (2006, p. 70) colabora afirmando

que “[...] os guias pedagógicos eram manuais que apresentavam os conteúdos de

aprendizagem e as orientações para o ensino desses conteúdos”.

Os encontros dos professores aconteciam no Colégio Estadual do Paraná de acordo com

uma dinâmica denominada de Complexos Escolares,

[...] nós tínhamos um Complexo Escolar, no Colégio Estadual do Paraná... E, ali,

a lei 'cinco meia nove dois' de 1971, permitia que se construíssem complexos

escolares... Ou seja, uma escola maior dando orientação pedagógico-didática

para outras menores.

Ai, nós pegamos o Colégio Tiradentes […] não, não era colégio, era Escola

Tiradentes; a escola “Professor Brandão”; lá no Jardim Social, a “Amâncio

Moro”, terceira, no Cemitério Municipal, “Dona Carola”, a quarta; a quinta era a

“Aline Pichet”; a sexta era a “Xavier da Silva”... Lá longe. Lá longe, porque daí

todo mundo tinha interesse...E a “Zacarias”. (SEARA, 2005, p. 20)2

As discussões ocorridas nesses encontros culminaram no lançamento de manuais didáticos

que corresponderiam mais adiante nos livros “Ensino moderno da matemática”, que

tinham como preocupação a metodologia do ensino da Matemática. Segundo Krull (2006,

p. 74) esses manuais eram lançados "mostrando que a modernização da prática pedagógica

era uma ação fundamental que poderia resultar positivamente do desenvolvimento da

inteligência dos alunos, lhes oportunizando o domínio de conhecimento mais elaborados".

Uma característica citada nas teses e dissertações lidas quanto à formação dos integrantes é

a diversidade, pois participavam do grupo professores de diversos estabelecimentos de

ensino, médicos e psicólogos que estavam interessados nessa modernização no ensino da

matemática. No início, os participantes estavam interessados no ensino da Matemática no

Ginásio, mais tarde contemplaram também o ensino primário. Nas teses e dissertações

mencionadas acima, que pesquisam o MMM e o NEDEM, encontramos como

participantes do segmento do ensino primário as professoras Clélia Tavares Martins,

Esther Holzman, Gliquéria Yaremtchuk e Henrieta Dyminsli Arruda.

2 Transcriação de SEARA, H. F. Não É Difícil Ensinar Matemática. 2005. 552f. Dissertação (Mestrado em

Ensino da Matemática) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.

Tomaremos a professora Henrieta Dyminski Arruda como personagem principal de nossa

pesquisa, pois é citada como uma importante integrante do NEDEM e no munícipio de

Curitiba, é citada como coordenadora de Matemática da Rede Municipal e na assessoria

pedagógica do Instituto Estadual do Paraná. Tal importância é destacada por Krull (2006):

Entretanto, a inserção da Matemática Moderna na Rede Municipal de Ensino de

Curitiba (RMEC) foi reforçada, em 1970, pela adoção dos livros do Núcleo de

estudos e Difusão do Ensino de Matemática (NEDEM); permitindo, assim, a

disseminação das ideias do Movimento da Matemática Moderna (MMM) em

suas unidades escolares. Em, 1970, ainda foi criada a Coordenação de

Matemática da RMEC, cuja finalidade era orientar as práticas pedagógicas da

disciplina […]

As atividades da referida coordenação iniciaram sob os cuidados de Henrieta

Dimynski Arruda, professora integrante do Núcleo de Estudos e Difusão do

Ensino de Matemática (NEDEM); por meio de sua dedicação à formação dos

professores da Rede Municipal de Ensino de Curitiba (RMEC) […]

( p.123)

Tais afirmações são recorrentes nas teses e dissertações de: Seara (2005), Ferreira (2006),

Simonete (2009), Dobrowolski (2011), Soares (2014), motivo pelo qual decidimos pelo

aprofundamento em sua contribuição. A seguir iremos descrever o NEDEM, e a

importância desse grupo na difusão da Matemática Moderna no estado do Paraná,

reservando para outra sessão o papel da professora Henrieta Dyminski Arruda.

2 . O Núcleo de Estudos e Difusão do Ensino da Matemática

Conforme já mencionamos o NEDEM foi um grupo de estudos formado por professores,

psicólogos, médicos que estudavam o ensino moderno da Matemática no Paraná.

O professor Osny Dacol, era o coordenador de Matemática do Colégio Estadual do Paraná

e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e tinha grande interesse no ensino

"dessa" Matemática. Sendo assim, a partir de uma palestra proferida pelo professor

Osvaldo Sangiorgi do NEDEM, o professor Osny, conscientiza e motiva um grupo de

professores a fazer pesquisa sobre o MMM.

Os encontros eram normalmente semanais e tinham discussões como, por exemplo, o

cálculo vetorial no ensino da Geometria Plana do ginásio. Nas teses e dissertações

encontramos alguns conteúdos considerados novidades e motivavam os estudos no grupo,

como, por exemplo, o uso de expoente fracionário ou a inserção de símbolos de

equivalência explicados pela lógica. Sendo assim, segundo Seara (2005, p. 16) “Nós

começamos a verificar todos os conteúdos que tinham esses assuntos e, em conjunto,

começamos a estudar. Cada uma particularidade de cada assunto, para as séries ginasiais”3.

Outra característica da dinâmica dos encontros desse grupo era como algumas discussões

eram fomentadas. O professor Osny, trocava ideias com professores de outras áreas de

conhecimento, como a filosofia, por exemplo, e em seguida traduzia essas discussões em

linguagem matemática para serem levadas ao grupo do NEDEM. O grupo analisava e

discutia, colocando as opiniões a favor ou contra a abordagem dada nos conteúdos. Sendo

encaminhados para as escolas e testados pelos professores.

O professor que coordenava o grupo era professor universitário, então ele

trocava idéias com um professor da Federal, que dava aula de ‘Lógica

Simbólica’, sobre Raciocínio Lógico; trocava idéia com outro, o

Professor Ivo Zanlorenzi, que era professor de Filosofia.

Então, ele traduzia aquilo tudo para linguagem matemática – ele era um

estudioso da teoria da Matemática aplicada na prática – e passava para o

grupo.

Primeiro ele fazia, depois mostrava para o grupo todo: ‘A idéia é essa, o

que vocês acham?’ Ai cada um dava a sua opinião, a gente imprimia o

assunto, levava, testava, voltava e, no final, a gente publicava.4

(SEARA, 2005, p.18)

Essa dinâmica resultou na produção de livros que foram distribuídos na cidade de Curitiba,

com o intuito de divulgar o ensino da Matemática Moderna.

O NEDEM teve grande importância na divulgação do MMM, e trabalhava com a linha

francesa, e com a psicologia de Piaget, a Lógica de Bertrand Russel e as ideias de Dienes,

estudavam o pensamento da criança, dando a Matemática uma estrutura para ter um

'corpo'. Segundo fulanos em seara (2005):

Porque a Matemática tinha noção de Corpo, não sei se você já ouviu falar? É, a

noção de Corpo... Tinha Anel... Tinha que ter uma Estrutura para ter um Corpo.

Então, aquele professor que dava aula na Federal, pegou a Análise Matemática,

onde se dava Estrutura de Corpo, e transformou numa linguagem simples

fazendo essa associação entre uma Estrutura Mental e uma Estrutura

Matemática.

A gente fazia uma correlação através dos Conjuntos, entendeu? Fazia assim:

Linguagem...No outro lado tinha Símbolos, né?! Daí, tinha Relação... Função. E

a outra era […] a Estrutura Mental. É só ver como que é uma Estrutura Mental e

dentro dessa Estrutura Mental pegar a correspondência em Matemática. 5

(SEARA, 2005, p. 23 e 24)

E com isso a partir das discussões do NEDEM em relação ao ensino da matemática

começa a substituir, em Curitiba, o conhecido ensino elementar pelo Ensino Moderno da

3 Transcriação de SEARA, H. F. Não É Difícil Ensinar Matemática. 2005. 552f. Dissertação (Mestrado em

Ensino da Matemática) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005. 4 Idem ao 3.

5 Idem ao 3.

Matemática.

A difusão desse movimento aconteceu entre as décadas de 1960 e 1980, havendo uma

redução à força do MMM, iniciando com algumas críticas ao uso excessivo de simbolismo

e a Teoria dos Conjuntos, bem como a falta de preparo por parte dos professores do ensino

primário.

Para o próximo tópico reservamos espaço, para apresentar o papel da professora Henrieta

no NEDEM, procurando dar evidência à sua trajetória nesse grupo e colocando em

evidência as produções desta professora.

3 . O papel de Henrieta no NEDEM

A professora Henrieta fez parte do NEDEM estudando o ensino da Matemática no ensino

primário, e divulgou esse movimento na rede municipal de Curitiba, com cursos para

professores e na rede estadual, e na rede estadual, fez parte da produção de livros desse

grupo de estudo.

Seara (2005) retrata a constituição do NEDEM no estado, citando a professora Henrieta

como integrante do grupo Primário desde o início do grupo, bem como autora da

elaboração dos materiais desse mesmo grupo.

A professora Henrieta além de professora de matemática da Escola Tiradentes no ensino

primário, fez parte da fundação de uma escola chamada 'Jean Piaget' e que atendia crianças

do ensino primário. Sendo assim tinha uma visão global e não apenas da disciplina, onde

usava os livros do NEDEM de primeira a quarta série do primário em sua prática escolar.

Um ponto que merece destaque é que a professora inicia a sua participação no grupo por se

incomodar com a sua maneira de ensinar a Matemática e com o objetivo de aprender a usar

o material concreto no ensino da Matemática.

A Henrieta era Normalista, com regência de Classe e ela achava, assim, que não

sabia ensinar Matemática. Era alfabetizadora e tudo... trabalhou dezessete anos

como alfabetizadora, mas, sempre que ia ensinar Matemática, ela dizia que não

ficava satisfeita com a aula que dava. Então, ela se interessou em ir porque

queria dar umas aulas interessantes, né? E aprender a usar material concreto.6

(SEARA, 2005, p. 44)

Os encontros do NEDEM no segmento do primário aconteciam na casa da professora, onde

6 Transcriação de SEARA, H. F. Não É Difícil Ensinar Matemática. 2005. 552f. Dissertação (Mestrado em

Ensino da Matemática) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.

a mesma cedia sua residência para que os estudos e as reuniões acontecessem aos sábados

a tarde durante duas horas.

Nesses encontros, as integrantes do ensino primário estudavam livros que eram trazidos

dos EUA e de outros países, bem como os livros do NEDEM de quinta a oitava série e

livros de exercícios que não eram de matemática moderna, mas de uma matemática

atraente. Segundo Seara (2005, p.45) “não tinha muita bibliografia! Mas, tinha muitos

livros que eram, assim... Livros de exercícios [...] de Matemática que eram usados noutros

países... Não eram bem de Matemática Moderna, mas era de uma Matemática mais

interessante de ser dada, sabe?!”7. E a partir desses estudos percebiam algumas vantagens

no uso do material concreto no ensino da Matemática.

Com essa dinâmica, as professoras Gliquéria e Esther, em conjunto com a professora

Henrieta, envolviam os alunos de “Didática da Matemática” do Instituto de Educação do

Paraná, na observação das aulas do ensino primário colocando-os frente à prática que

tinham como teoria nas aulas do Instituto.

O envolvimento dessas professoras em mostrar o como usar os livros elaborados por elas, é

citado em diversas dissertações e segundo Seara:

Tudo era feito, assim, graciosamente. Faziam ‘por amor à arte’, né?! Elas iam

treinar os professores para trabalhar os livros. Mas primeiro, com material

concreto! Para depois... O livro era assim, quase como uma verificação da

aprendizagem, uma fixação! O livro não era de ensinar, o livro fixava a

aprendizagem e avaliava o que você ensinou.

(SEARA, 2005, p. 46)

Assim, constatamos nas leituras que a construção dos livros do primário surgiram a partir

desses materiais e que a formação dos professores aconteciam após as aplicações desses

materiais, enfocando primeiro o material concreto.

Um ponto importante de observação é que a data de publicação dos livros do primário é de

1980, onde destacamos em todas as leituras que, mesmo depois da extinção do NEDEM, a

professora Henrieta continua utilizando os livros e os materiais desse grupo para preparar

cursos para professores da rede estadual e municipal de ensino.

Na dissertação de Seara (2005), essa prática é afirmada na menção a professora como

7 Transcriação de SEARA, H. F. Não É Difícil Ensinar Matemática. 2005. 552f. Dissertação (Mestrado em

Ensino da Matemática) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.

autora da apostila idealizada pela professora Clélia com o objetivo de apresentar o cálculo

graduado, mas que foi aplicado, elaborado efetivamente pela professora Henrieta para a

prefeitura de Curitiba na qual a mesma trabalhava como coordenadora, divulgando tudo o

que ela tinha aprendido no NEDEM.

Esse material de cálculo graduado retratava os passos das operações, onde segundo Seara

(2005, p.72) ‘[...] as crianças aprendiam a chegar nessas divisões ‘cabeludas’ sem usar

calculadora, ou seja, bastava seguir os passos apresentados, chegando até o cálculo

graduado de números decimais’8.

Mas além dessa sistematização do passo a passo, tinha-se a preocupação da conceituação,

partindo do material concreto.

A professora Henrieta fazia material concreto para trabalhar com os alunos, para

passar o conceito. Tinham casinhas de cachorro, ossinhos e cachorro de

tamanhos diferentes, tinha barquinho. Elas trabalhavam a Conservação do

Número: ‘Não importa se está espalhado ou junto, a quantidade não altera’...

Trabalhava Seriação, Ordenação, Classificação, Correspondência um a um...

[...]

O importante é a conceituação. Se tiver uma boa conceituação...9

(SEARA, 2005, p. 73).

A professora Henrieta estava sempre envolvida, elaborando material e atuando como

docente em cursos de formação de professores, levantando questionamentos sobre a

importância da conceituação e do uso de materiais concretos.

O trabalho desenvolvido com a Matemática Moderna, por ação das professoras

do NEDEM, se estendeu a outros espaços além de escolas da rede estadual de

ensino. A professora Henrieta elaborou, em maio de 1974, a apostila intitulada

‘Matemática Moderna na Escola Fundamental, no período em que exercia a

Assessoria Pedagógica nos cursos de Aperfeiçoamento no Instituto de Educação

e atuava como Coordenadora de Matemática na prefeitura Municipal de Curitiba.

O documento apresentava a formação de conceitos com jogos por meio da

utilização dos blocos lógicos e orientava o uso dos jogos em três fases:

Preliminar, Atividades Estruturadas e Atividades práticas. Os jogos se

fundamentavam em Dienes, apresentavam uma escala de graduação

considerando os quatro atributos dos Blocos Lógicos: grandeza, espessura, cor e

forma. Com esse material, a criança era incentivada a descobrir os conceitos

lógicos nas relações estabelecidas entre as peças dos Blocos Lógicos.

(PORTELA, 2009, p. 112)

Na tese de Soares (2014) também encontramos a professora Henrieta citada como:

8 Transcriação de SEARA, H. F. Não É Difícil Ensinar Matemática. 2005. 552f. Dissertação (Mestrado em

Ensino da Matemática) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005. 9 Idem ao 9.

Ativa componente do NEDEM, e Coordenadora de Matemática da Rede

Municipal de Educação de Curitiba RMEC, a professora Henrieta Arruda (2005),

declara que:

O ensino correto da Matemática, quando feito de maneira correta, deve

começar com a experimentação de material concreto. Por isso, primeiro, eram

propostas situações de brincadeira e jogo para os alunos; depois, sim, eram

trabalhadas as representações escritas das coisas; era fundamental que os

professores compreendessem o modo de pensar de seus alunos, respeitando cada

uma das fases do desenvolvimento cognitivo de uma criança. (itálico do autor)

(SOARES, 2014, p. 133)

Para a professora Maria Helena Juri Reston Pinto, em entrevista concedida à Soares, 2014

a professora Henrieta, tinha um papel efetivo na divulgação do MMM em Curitiba, sendo

considerada colaboradora nos documentos oficiais da Secretaria de Educação do Município

de Curitiba.

Sendo assim acreditamos que a professora Henrieta tem muito a contribuir com o ‘resgate’

da história da formação de docentes no período do MMM em Curitiba. E para isso,

entramos em contato com a professora, que se mostrou solicita em narrar a história vivida

por ela no período do MMM. Além disso, se mostrou disposta a nos fornecer seu acervo

para a devida guarda, catalogação e disponibilização.

Continuaremos a nossa busca por documentos, livros, notícias, entre outros documentos

que enriqueçam o suporte da estruturação da entrevista, e que possam em conjunto com a

história oral, ampliar o entendimento do papel da professora no NEDEM.

Já no próximo tópico, tomamos o cuidado de elucidar a história oral com sua vertente e

como a mesma nos ajudará a alcançar os primeiros objetivos dessa pesquisa que procura

elucidar as contribuições da professora no NEDEM.

4 . História Oral

Essa pesquisa tem cunho qualitativo com o uso da história oral temática em sua vertente

metodológica. Dessa maneira se faz necessário situar o leitor frente a alguns pressupostos

do uso de tal metodologia que vem sendo amplamente discutida no âmbito do GHOEM -

Grupo de Pesquisas em História Oral e Educação Matemática.

Segundo Garnica (sem ano, p.4) “temos concebido a História Oral como metodologia de

pesquisa que envolve a criação de fontes a partir da oralidade e compromente-se com

análises coerentes com sua fundamentação”.

A professora Henrieta foi professora no período do MMM, integrante do grupo NEDEM e

tinha como prática difundir esse movimento nas escolas, formando professores e

participando da escrita de livros voltados para o ensino primário desse mesmo período. E

com isso justificamos a captação das entrevistas com essa professora, sendo um dos

objetivos dessa pesquisa a compreensão desse movimento.

Nossa pesquisa tem como objetivo destacar as contribuições da professora Henrieta

Dyminsi Arruda no grupo paranaense NEDEM - Núcleo de Estudo e Difusão do Ensino da

Matemática e proceder à organização e guarda de seu acervo. Com isso, esperamos ampliar

a compreensão sobre o papel do NEDEM na Matemática Moderna Paranaense, unindo-se

aos esforços de pesquisadores que se dedicam a estudos da MMM de maneira geral.

Observarmos então, que nos valeremos tanto de fontes orais como de documentos. Para

GARNICA (2003):

... as narrações não devem ser tomadas como cantoras substitutas que só surgem

à cena na ausência das prima-donas (as fontes ditas primárias), mas obviamente

não se pode descartar a existência de registros escritos que esclarecem faces do

depoimento e auxiliam – em muitos – no detalhamento de ocorrências

fundamentais para a composição do cenário.

(GARNICA, 2003, p. 47)

Com vistas a ampliar nossas compreensões buscaremos também documentos no Colégio

Estadual do Paraná, onde em visitaremos o setor de memória como esperança encontrar os

registros completos da existência e funcionamento do NEDEM, como por exemplo, livros

atas, ou rascunhos de reuniões, ou ainda anotações feitas pelos integrantes, mas sempre

tendo como direção o ensino primário e a formação dos professores pelo NEDEM e pelos

integrantes desse grupo, no caso a professora Henrieta.

Nessa busca, também entramos em contato com os demais diretores dos Colégios que

faziam parte do complexo escolar do estadual, com o intuito similar de buscar documentos

que relatam o MMM e a presença do NEDEM na divulgação do ensino da matemática no

ensino primário.

Concomitante a esse processo de busca efetivaremos o diálogo com a professora Henrieta,

tomando como fundamentação a fala do Garnica, (2003):

[...] as entrevistas são, por excelência, o modo de dados. Ultrapassando a ideia

limitada do questionamento e do teste de múltipla escolha, as entrevistas – que

aqui chamaremos de ‘depoimentos dialogados -, são o momento no qual o

pesquisador ouve a narração de algo que pretende compreender e articular, a

partir das compreensões e articulações do depoente. E a narração é o momento

de construção das personagens para o pesquisador tanto quanto o é, na maioria

das vezes, para o próprio depoente.

(GARNICA, 2003, p 23)

5 . Conclusão

Até o momento, avançamos os tópicos traçando um perfil inicial dessa pesquisa, colocando

como meta destacar as contribuições da professora Henrieta Dyminski Arruda no grupo

paranaense NEDEM – Núcleo de Estudos e Difusão do Ensino da Matemática e proceder à

organização e guarda de seu acervo. E com vista a nos auxiliar na compreensão do

depoimento da professora nos valeremos também de documentos escritos do próprio

acervo e de arquivos escolares, sobretudo aqueles existentes no Colégio Estadual do

Paraná e no Instituto de Educação Erasmo Pilotto.

Então entendemos que a retomada do MMM no Paraná se justifica, pois o mesmo teve

grande força, e sendo a protagonista de nossa pesquisa, a professora Henrieta, uma pessoa

influente na elaboração de material de formação de professores e materiais de difusão

desse movimento.

Todo esse acervo hoje ainda se encontra de posse da mesma, precisando ser organizado

para que sejam disponibilizados a todos aqueles que queiram conhecer a história do ensino

da Matemática no primário e a formação de professores do Paraná no período de 1960 a

1980.

Em uma breve e inicial conversa ao telefone, a professora se mostra disposta a contribuir,

tendo como fala em diversos momentos a preocupação de disponibilizar esse material,

tendo essa certeza de que esse material pode, em suas palavras, “contribuir para a melhora

do ensino da Matemática”.

Referências

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de Matemática Moderna. 2006. 190 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia

Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2006.

GARNICA, A.V.M. História Oral e História da Educação Matemática: considerações

sobre um método. Disponível em < http://www.apm.pt/files/177852_C32_4dd79e66be182.pdf> Acesso em: 04/out. Sem ano

definido

GARNICA, A.V.M. História Oral e Educação Matemática: de um inventário a uma

regulação. ZETETIKÉ, Campinas, v.11, n.19, p. 9 – 56, Jan/Jun. 2003.

KRUL, L. Memórias da Educação Matemática: introdução de ‘Matemática Moderna’ na

rede municipal de ensino de Curitiba. 2006. 189f. Dissertação (Mestrado em Educação) –

Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2006.

MEIHY J.C.S. e HOLANDA F. História Oral: como fazer, como pensar. 2. Ed. São

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PORTELA, M.S. Práticas de Matemática Moderna na Formação de Normalistas no

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em Educação) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2009.

SEARA, H.F. Núcleo de Estudos e Difusão do Ensino da Matemática – NEDEM –

‘Não É Difícil Ensinar Matemática’. 2005. 552f. Dissertação (Mestrado em Educação) –

Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.

SOARES, E.T.P. Zoltan Paul Dienes e o Sistema de Numeração Decimal na Cultura

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