o macho e fÊmea

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Em meio à extrema pobreza nasce Cozinho, na pequena Repentina, uma comunidade do sertão tão seca que a pele das pessoas fica acinzentada, assim como o mato e os sonhos... quase apagados. Contudo, este mundo de Cozinho é desprovido de enfeites e meias palavras. Em um ambiente repleto de limitações, ele vive as fases naturais da vida de acordo com os costumes comuns de sua idade – as brincadeiras, o futebol, a escola, até o dia em que descobre que possui uma estranha anomalia: ele é hermafrodita. Eis que surge o “macho e fêmea”, que agora precisa mudar os seus hábitos, enfrentar preconceitos, viver suas angústias e interagir com as transformações de sua cidade com a notável coragem de quem não foge do destino. Destino este limitado pela fé, conservadorismo e superstições.

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Rivanildo Feitosa

São Paulo, 2014

TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

O macho e fêmea

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2014IMPRESSO NO BRASIL

PRINTED IN BRAZILDIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO

À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA.CEA – Centro Empresarial Araguaia II

Alameda Araguaia, 2190 – 11o- andarBloco A – Conjunto 1111

CEP 06455-000 – Alphaville Industrial – SPTel. (11) 3699-7107 – Fax (11) 3699-7323

www.novoseculo.com.br

Copyright © 2014 by Rivanildo Feitosa

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográficoda Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no 54, de 1995)

Feitosa, RivanildoO macho e fêmea / Rivanildo Feitosa. – 1a- ed. – Barueri, SP : Novo Século Editora, 2014. – (Talentos da literatura brasileira)

1. Ficção brasileira I. Título. II. Série.

14-02001 cdd-869.93

Índices para catálogo sistemático:1. Ficção : Literatura brasileira 869.93

Coordenação Editorial Nair Ferraz Diagramação Edivane Andrade de Matos/Efanet Design Arte de Capa Rafael Gonçalves Josefina Gonçalves Composição de Capa Monalisa Morato Preparação Thais Coutinho Revisão Equipe Novo Século

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

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Agradeço à amiga Djanes Lemos, pelo incentivo na leitura crítica e revisão dos primeiros esboços.

Dedico aos mestres e escritores Ribamar Garcia e Dilson Lages, pelo incentivo aos novos autores.

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Nas limitações do espaço de um prefácio que me pediu o au-tor, Rivanildo Feitosa, jovem ficcionista e jornalista piauien-

se, para um segundo livro de ficção, O macho e fêmea (2014), sua segunda incursão no gênero romance, igualmente de título insólito, tanto quanto o primeiro, Reflexões de uma cadela vira-lata (2011), me vejo diante da responsabilidade que me pesa como crítico e, por esta mesma razão, com a possibilidade de aplaudir injustamente ou censurar por excesso.

Numa resenha que fiz para o primeiro romance do autor, julgo que, no conjunto geral das minhas ponderações, apostei no valor do ficcionista que, numa estreia, surgiu com um tema pouco explorado pela literatura brasileira da maneira conseguida por ele. Acoplou cria-tividade e nível técnico de construção estética, a fim e compor uma personagem, uma vira-lata de traços pícaros que, pelas suas deam-bulações, um pensamento tinha para torná-lo realidade: ser animal e ao mesmo tempo ser mulher. Quer dizer, nesta dimensão fabulosa, mágica, Sabiá, a personagem cadela, se não inaugura um tipo de pro-tagonista novo na ficção brasileira, pelo menos dilata essa possibilida-de para prováveis outras aventuras humanas misturando o irracional com o racional, além do mágico e do poético, em que o grande lance

Prefácio

A vez e a voz de Cozinho: o jogo do múltiplo e da dúvida

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do constructo ficcional não é só o enredo, mas sobretudo um mergu-lho profundo na caracterização de um jogo ficcional trabalhando o duplo, o proteico, a metamorfose, o “fingimento” do real, do imagi-nário, tendo ao mesmo tempo o disfarce como componente essencial da linguagem literária, feita de signos linguísticos intencionais – lin-guagem modelizante no conceito de Lotman – produto, enfim, de construções de realidades convincentes, de forte carga humana, mas feitas de palavras, frases e parágrafos, dessa pirotecnia fruto do talen-to, conhecimento e sensibilidade do fenômeno literário.

No segundo romance, objeto destes comentários, Rivanildo deixa transparecer algumas marcas já identificadas no livro de estreia: uma história cuja fabulação se passa numa cidade de nome inventa-do, “Sem nome”, que não consta do mapa geográfico do Piauí.

Nesta segunda obra, igualmente o narrador usa de um nome de cidade – Repentina – que, na realidade, não existe tampouco nas plagas piauienses. Mas, o espaço, a natureza, os costumes, as tradições claramente põem o leitor no cenário do sertão nordestino.

Assim como no primeiro livro, o autor ensaia passagens da nar-rativa de cunho metaficcional em O macho e fêmea; emprega recursos, já no primeiro capítulo, de teor digressivo, onde, em diálogo com o leitor, cria uma atmosfera narrativa de idas e vindas, de como acertar o passo narrativo. Ao mexer com a atenção ou curiosidade do leitor, ou mesmo irritá-lo, o narrador transmite a impressão de que a narra-tiva não quer cair na tentação de fazer ficção tradicional, linear, bem comportada, mas desautomatizar o leitor desse esquema fechado com a quebra da ilusão realista/naturalista do romance ocidental.

Outro traço recorrente em relação ao livro anterior está na natu-reza do tema, a sexualidade, desta vez com a diferença de que o pro-tagonista, de nome Cozinho (apelativo, por sinal, semântica, jocosa e sonoramente muito associado às implicações temáticas do livro) não pertence ao reino dos bichos, mas é alguém que, ao nascer, passou a alimentar a curiosidade das pessoas de Repentina.

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O seu parto se deu sob o signo da dúvida e do preconceito que poderia gerar na população local; gente pobre, sofrida, esquecida, em terra quente, de sol inclemente e ainda por cima, sobrecarregada de muitas superstições, de ignorância, de crenças no sobrenatural, como ainda é comum se encontrar em pequenas e desconhecidas cidades nordestinas.

O menino Cozinho é vítima de todas esses atrasos culturais de lugares como Repentina. Um dia, aconteceu-lhe algo fora da nor-malidade que se espera de uma criança que nascera com os traços de menino, normais aos olhos descuidados de uma parteira, mas que, na realidade, além do “saco, preto e grande”, ocultava algo mais. Tanto assim que, certo dia, Cozinho veio a menstruar.

Cozinho, enquanto personagem, cercado de vozes da incom-preensão e dos mexericos, a despeito de tudo, conduz sua vida da forma que melhor possa carregar seu ser diferente do comum dos mortais. Ser múltiplo, com seus “eus”, no entanto, é uma pessoa que cresceu, amadureceu como qualquer outro da espécie humana. Tem a boa índole, tem muitos talentos práticos de levar a vida: reza quando necessário, faz às vezes de enfermeiro, receita suas “mezinhas” e chega mesmo a revelar-se uma pessoa divertida.

A questão estética do grotesco, dos desvios físicos e dos proble-mas psicológicos é uma discussão que se impõe à consideração do leitor e dos especialistas em sexologia, psicanálise – áreas que, no meu juízo, seriam abordagens férteis, a meu ver, no aprofundamento do tema nuclear de O macho e fêmea.

Com todas as riquezas temáticas deste novo romance creio que outras possibilidades ficcionais se abrem para o romancista piauiense que, nesta segunda obra, reafirma seus méritos na prosa de ficção, em especial pelas virtualidades de imaginar mundos, pessoas e nature-za, além de levantar questões cruciais para alguns problemas huma-nos lamentavelmente não entendidos por parte de um mundo que

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não acordou ainda para o exercício pleno dos direitos de cidadania, notadamente daqueles ligados à sexualidade, ainda vítima de tantos tabus, hipocrisias e preconceitos estéreis.

Cunha e Silva Filho

Doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), crítico literário e escritor

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E le nasceu macho. Sob as pernas, o saco grande e preto. Esta-va tudo ali, embaixo, visível aos olhos tortos da parteira, de

quem vos falarei um pouco adiante. Primeiro será a vez dele, que insiste na ânsia de ser visto, puxando para si as rédeas do seu destino incerto, como o sexo. Quem dera ter o domínio das palavras para convencer de sua causa, pois este não é o seu dom natural, nem tão cedo (ao nascer), nem na prosa corrida da vida. Tentará, com sua linguagem tosca e rude, ser notado, embora o tempo seja mais veloz que seus passos. Então, quer nascer agora, viver plenamente para um dia renascer de outras formas e sentidos. Como as aves que renovam as penas para um novo ciclo – e o seu corpo era mutável, pois assim a natureza determinara desde o início, adaptando-se à intempéries do destino que certamente viriam, como anunciariam os anjos, ou a parteira, ou o diabo, ou a alma penada que o perseguiu com suas pragas certeiras.

Mutável diante da pequenez de sua existência melindrosa. Mu-tável porque esta é a natureza estranha que o caracterizava. Quase virou mito. Poderia ser santo (pois cultuava os mortos, as rezas, a igreja, seguia uma cartilha correta de bons costumes, sem fazer o mal nem a uma barata tonta – benza, Deus).

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Um mundo machista de parideiras

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Quem sabe poderia ser um semideus do seu tempo, pela sua multiplicidade de um faz-tudo, com poderes mágicos de curandei-ro. Mas não. Tira-se a aura de anjo cedo, em nome da sobrevida. Restaram-lhe apenas a carne, ossos, pobreza, medos e o instinto de sobrevivência, com dores e angústias, enfrentando preconceitos e os monstros da sociedade reacionária do fim de mundo onde nasceu, se criou e… após a temida visagem cruzar seu caminho, virar outra coisa.

Estranha, estranho, estranha ser, como tudo que é estranho e mutável.

Mutável como as tanajuras, que após anos submersas na terra alçam voos não sabem para onde e por quanto tempo, perdendo as asas pelo caminho. Experimentam a liberdade de ver o mundo de cima, mas como é de sua natureza mundana, retornam para o mesmo buraco oco de suas existências. Assim era ele. Cumprindo o seu pa-pel. Assim são as tanajuras, caso não virem comida exótica – torradas e misturadas com farinha seca.

Macho? Fêmea? Um ou outro. Um e outro. Outras partes do ser o que não é.

Será?Eis Cozinho, de quem vos deveria falar de inteiriço, pois seus

passos são apressados. Se bem que metade dele é disfarce. A outra metade… é uma de suas faces. Fases. Para alguns, quando se trans-formou, tornou-se uma piada pronta, com uma vírgula no meio das pernas, acusando:

– O que é que ele é? – perguntavam entre risos, questionando suas crenças e limitações o povo de Repentina, lá no sertão das bre-nhas mais de mato que habitado, mais rural do que urbano. Pouco civilizada e quente como uma fornalha em chamas... como os corpos das solteironas, que atravessam os tempos.

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– Casa comigo, moço bonito – diziam elas, implorando aos transeuntes que por lá passavam, contados nos dedos, ou os botões das saias, que dançavam nas matas alcoviteiras e acolhedoras.

– Mas que calor!Tesão também ferve.O sangue de Cozinho esquentava, pinicava, em uma avalanche

calorenta.Apesar de simples, no entanto, desajeitado pela complexidade

do “ser o que era”, tinha uma personalidade extravagante para aquele lugar – pelos trejeitos, pelas manias, pelas estranhezas, as rabiçacas para contestar a rejeição.

Um sujeito plural em tenra idade de adolescente quando a história já ia pelo caminho das moitas. Só que, antes, é necessário retornar para o início: o nascimento. Ele teima, e quer a palavra, mesmo com tropeços, mesmo engolindo letras – ou frases ou etapas. Quer contar tudo como um papagaio falante ou uma velha surda e faladeira – precisando ser notada para ser gente visível.

Difícil não ter ouvidos para seus clamores, como uma cansada ladainha, repetida e penosa, ora alegre, cantada, atirada; ora triste, tristonha, passarinho. Pois voltamos para aquele dia – o marco inicial daquela vida, para romper de súbito a rotina daquele “mundinho de bangas” com uns gritinhos calando o “deu à luz” um menino. Come-çar de novo. Marcha à ré – recomeçar o texto e a história do macho e fêmea do sertão.

Para quem o viu de perto, convivendo com seu drama e comé-dia, a criatura foi um herói com defeitos à flor de sua pele escurecida, sem eira nem beira, com boa conduta pontuando atos e ações por-menores. Acreditava que feiura não pega como gripe, assim como vadiagem não prolifera pelo suor de corpos nus. Todas essas particu-laridades da personalidade já se nascem com elas.

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“Ah, não. Cu também vicia”, pensam os mais incrédulos sobre o seu caso inconteste.

“Pobreza e sexo não definem caráter”, pensava. Assim, igualava as pessoas à condição humana de serem o que eram.

“Eu nasci aqui, e é aqui que vou ficar”, dizia sempre, batendo pezinho, enfrentando o vento, o mau tempo e as faladeiras, diante de sua condição – para alguns, vergonhosa, como doença que se pega no ar.

Sim, este é ele. De quem vos falo agorinha mesmo, sem mais enrolações.

Aos olhos dos outros, uma figura folclórica – uma definição mais acertada pelo comportamento imprevisível, em algumas fases que retratamos de suas memórias ou contos de ouvi dizer. Calmo ou exagerado, sofrido, meigo, raivoso, lunduzento, carente, amoroso, católico, pecador como os demais. Ou um pouco mais da conta. Um homem (?) e seu ambiente severo e injusto. Eram muitos seus retra-tos, pintados no quintal ou no terreiro, brincando de faz de conta que era feliz e tinha uma infância, ou que era valente, ou que era forte, ou que tinha futuro. De outro lado, também aparecia o sujeito (eu, tu, ele, ela?) dos gracejos, o do andar exagerado, o afetado, o acanhado. E era mais alegre do que triste, pois encarou seu fardo com uma leve calmaria, apesar da rima pobre que embalou seus dias. Inclui-se aqui o nascimento, prenúncio de uma sina “quase macabra”. Mas isso é para o porvir, pois primeiro vem o pronome o(a) indefinindo-o.

O verbo, definido pelo artigo, vem em seguida – e aqui o ser é o que pretendia a mãe natureza divina, que era unicamente o que se mostrava aos olhos dos demais cabeças chatas do seu tempo e de outras gerações dantes. E ele é. Ou não. E sim, e talvez seja o que foi, o que quis, ou o que a determinante natureza de-ter-mi-nou.

Cozinho, como todo personagem que se preza, quer começar a viver sua história pelo começo, com lágrimas e alegrias, choro e emoção da dor da ruptura umbilical. Eis o início, o meio, o começo

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do fim de uma era – a dos macho e fêmeas como ele, certamente um dos poucos de que ouviremos falar – pelo menos com a voz que ele possuía, pois muitos ficaram mudos pela história e os preconceitos de suas famílias, escondidos nos primeiros meses pós-maternidade com uma outra identidade, presos em seus quartos escuros como fan-tasmas indesejados, frutos de relação sexual proibida entre irmãos, primos, tios e sobrinhos, pais e filhas.

Para dar voz aos que foram calados pela ignorância, mutilados pela desesperança, ele quer ser gerado para, enfim, ser parido, cus-pido para a vida e pego pelas mãos da parteira, que tinha o nome Claudete. Este, o fato primeiro, não na ordem correta do aconteci-do, imaginado, sonhado, fantasiado, enrolando o tempo e o leitor. Assim, varonil, ele veio ao mundo. Masculino – acusam os escrotos. “Os possuídos” são mais escuros que os dos filhos que ela mesma costumava assear nos fins de tarde com os pensamentos longínquos e despreocupados, espantando a tristeza como quem abana moscas ululantes.

– É macho, vi o saco embaixo. É grande e preto! – foi tudo que ela disse, nervosa e incrédula, pois esquecera tudo que aprendera para o trabalhoso ofício.

Assim, livrara-o do martírio das crianças ignoradas pelas famí-lias, desprezadas nas portas das casas, ou enterradas vivas, ou jogadas no monturo, quando nasciam com alguma deformação física, o que era comum devido ao grande número de acasalamentos incomuns. Incestos eram frequentes, não tão explícitos, às escondidas no silêncio vergonhoso de noites escuras e indormidas, quando muitas emude-ciam durante anos sem fim temendo represálias. Até que a barriga crescia, e eles davam “oi de casa”, sendo recebidos como furúnculos indesejados, em quartos escuros e sombrios.

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