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Resenha BHABHA, Homi K. Interrogando a Identidade: Frantz Fanon e a prerrogativa pós-colonial. In: O Local da Cultura. Belo Horizonte: EDUFMG, 2005. sábado, 26 de janeiro de 2013

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Page 1: O Local da Cultura: interrogando a identidade · PDF filemodernidade. O Local da Cultura ... embate cultural, ... parecemos querer colocar todos os tipos de comportamento na panela

Resenha BHABHA, Homi K. Interrogando a Identidade: Frantz Fanon e a prerrogativa pós-colonial. In: O Local

da Cultura. Belo Horizonte: EDUFMG, 2005.

sábado, 26 de janeiro de 2013

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Homi K. Bhabha

Importante teórico dos estudos pós-colonias, o indiano Homi K. Bhabha discute em seu livro O Lugar da Cultura (Belo Horizonte: EDUFMG, 2005) questões ligadas à pós-modernidade.

O Local da Cultura: interrogando a identidade

sábado, 26 de janeiro de 2013

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BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: EDUFMG, 2005.Capítulo II: Interrogando a identidade: Franz Fanon e a prerrogativa pós-cultural

Sobre a obra “O Local da Cultura” (1994): Em sua crítica acerca das relações entre culturas ditas “centrais” e

“periféricas” (oposições binárias), o que se percebe é uma complexa interação entre estas, diferente do que alega os discursos hegemônicos, de caráter dicotômicos e essencialistas (p.ex., negro x branco; mulher x homem; civilizado x inculto, etc.), difundidos a partir da década de 50.

Tais discursos teriam sido promovidos por intelectuais do terceiro mundo como legado da Conferência de Bandung (1955).

Bhabha defende que tais “colisões” e intercâmbios culturais resultam no hibridismo cultural e na teorização acerca do “terceiro espaço”.

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BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: EDUFMG, 2005.Capítulo II: Interrogando a identidade: Franz Fanon e a prerrogativa pós-cultural

Compreendendo o Pós-Colonialismo:1.Seriam os discursos de contestação sobre a dominação colonial e os

legados do colonialismo (LOOMBA, 2005).

2.Seria uma tendência secundária do “Pós-Estruturalismo” e/ou da “Desconstrução” francesa (Ahmad (2002).

3.Teria por objeto de estudo a crítica ao ocidentalismo e ao discurso colonial, mas o faria a partir da própria tradição européia, retomando as perspectivas pós-estruturalistas contemporâneas (DIRLIK, 1997).

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A Conferência da Bandung:

Reunião de 23 países asiáticos e 06 africanos em Bandung, na Indonésia, entre 18 e 24 de Abril de 1955;

Teria como objetivo principal formar uma nova força política global, visando a cooperação econômica e cultural entre esses países:

Seria uma forma de oposição ao colonialismo ou neocolonialismo por parte das potências hegemônicas da época, EUA e URSS.

Conforme o sociólogo francês Alfred Sauvy, o planeta se dividia em "três mundos": o primeiro, das democracias capitalistas industrializadas; o segundo, do bloco soviético; e o terceiro, o dos países pós-coloniais.

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Compreendendo o Pós-Colonialismo:

Para Bhabha, as identidades no presente momento teriam como características a fluidez e a transitoriedade;

Desse modo, a questão da cultura estaria deslocada para um espaço projetivo do “além”, próprio de uma época em que populações estariam em constante movimento de migração e imigração, diáspora, exílio, etc.

O prefixo “pós” marcaria o emergir dos discursos de interstícios no embate cultural, implicando sobreposição e deslocamento do domínio da diferença.

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Compreendendo o Pós-Colonialismo:

Nestes discursos, quanto mais a tradição é transfigurada pelas novas gerações, mais as diferenças aí presentes seriam redefinidas a partir de novas relações constitutivas;

Para Bhabha, esta percepção renovada das diferenças poderia naturalizar nos sujeitos a prática do hibridismo cultural;

Este acolheria a diferença sem estabelecer hierarquias de valores.

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Sobre Frantz Fanon (1925-1961):

Intelectual dos movimentos de descolonização na África;

O texto “Pele negra, máscaras brancas” (1952): estudo psico-filosófico acerca da dinâmica das relações entre brancos e negros na contemporaneidade.

Defende a superação da estrutura de poder do capitalismo colonial na África; Defende, neste sentido, uma práxis popular anti-colonialista, liderado por um

partido revolucionário. Ao se libertar da dominação psicológica e cultural do colonialismo, seria

possível formar uma nova cultura popular, híbrida, em constante movimento, com práticas autóctones e européias.

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Sobre Frantz Fanon (1925-1961):

No texto “Pele negra, máscaras brancas”: defende que as relações entre brancos e negros seria caracterizada como um duplo narcisismo: o branco escravo de sua brancura, o negro escravo de sua negrura.

Desta forma, a busca por reconhecimento, que marcaria a percepção identitária, seria mais performática e estratégica do que essencialista.

Não significa o abandono, mas uma re-significação dos discursos identitários anteriores, próprio da transitoriedade e hibridez do presente.

Tais relações seriam derivadas da subalternização econômica de alguns povos sobre outros.

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Sobre Frantz Fanon (1925-1961):

Conforme Fanon:

“A análise que propomos é psicológica. No entanto, julgamos que a verdadeira desalienação do negro supõe uma súbita tomada de consciência das realidades econômicas e sociais. Se há um complexo de inferioridade, este surge após um processo duplo: econômico, inicialmente; em seguida, pela interiorização, ou melhor, epidermização dessa inferioridade” (FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Rio de Janeiro: Fator, 1983, p. 12).

Fanon define as esferas econômica e psicológica como constituintes do problema racial que formariam a estrutura de poder do mundo moderno.

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A leitura de Frantz Fanon por Bhabha

Para Bhabha, Fanon havia determinado a característica perfomática dos discursos culturais, em oposição aos discursos nacionalistas e racialistas construídos a partir da década de 50;

Esta ação cultural se daria como um ato inerentemente hibrido e projetivo.

Fanon, então, seria o criador da prerrogativa pós-colonial alicerçada sob a hibridez e fluidez da cultura.

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Exemplo de Hibridismo Cultural, nas palavras de Bhabha: Era uma jovem coberta por um véu, apenas os olhos aparecendo. As faces

de todos as demais pessoas estavam à vista, e aquilo me chocou. E minutos depois o trem para e ela se levanta para sair.

Quando passou por mim, olhei e descobri que as suas costas estavam completamente à vista. E ela usava uma calça jeans que chegava até as suas ancas, e tinha uma pequena tatuagem. Mas seu rosto estava mascarado.

Duas coisas eram claras para mim. Primeiro, que na nossa cultura sempre parecemos querer colocar todos os tipos de comportamento na panela maior da identidade.

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Exemplo de Hibridismo Cultural:

A maneira de se vestir, de falar, tudo tem de formar uma noção composta de identidade, aí nos sentimos seguros. Acho que isso é o problema real nesse caso.

Segundo, não devemos ler essas coisas como marcas de identidade, mas como mensagens misturadas, diferentes.

De um modo engraçado, esse era o direito da jovem de brincar com os diferentes tipos de linguagens, expectativas, normas e códigos de uma esfera pública metropolitana pós-migração ou da diáspora.

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Bhabha e o Hibridismo Cultural: Acho que toda sociedade deveria ter meios democráticos de negociar o que

considera ser uma remodelagem positiva e produtiva da esfera pública. Mas também acho que nossas maneiras de ler a ciência cultural em relação

aos modos de identificação humana deveriam ser mais sofisticadas. Se você lê os véus como uma identidade, talvez diga: “Oh, odeio véus”. Mas

se você os lê como algo que envia uma mensagem, algo que se dirige à sociedade, então é diferente.

Porém, como introduzir esse tipo de pensamento em círculos de políticas públicas?

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Referências citadas:

BARBOSA, Muryatan Santana. Homi Bhabha leitor de Frantz Fanon: acerca da prerrogativa pós-colonial. Revista Crítica Histórica. Ano III, Nº 5, Julho/2012.

DIRLIK, Arif. A aura pós-colonial na era do capitalismo global. Novos Estudos Cebrap, no. 49, 1997, pp. 7-32

LOOMBA, Ania. Colonialism, post-colonialism. London/New York: Routledge, 2005.

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