o livro de letras

39

Upload: markao-aborigine

Post on 22-Mar-2016

250 views

Category:

Documents


13 download

DESCRIPTION

Livro contendo as letras do Rapper Markão Aborígine lançadas em seu primeiro álbum

TRANSCRIPT

Page 1: O Livro de letras
Page 2: O Livro de letras

Enquanto houver opressão e violênciaHaverá luta e resistência

@MarkaoAborigine

Page 3: O Livro de letras

01-Natural da Terra

02-Adolescencia em retratos

03-Nomenclatura

04-O azul de uma caneta

05-A colônia

06-Pangéia

07-Rap Amador

08-As primeiras letras do alfabeto

09-Comicos Conteúdos

10-Cumplicidade

11-Ossos secos

12-Pretérito imperfeito

13-Coisas que sempre quis dizer

Page 4: O Livro de letras

Natural da Terra

Como Conselheiro incomodo o sistema sem o uso de armasAborígine. A ação faz a vanguardaCom formação não há dominação, retrocessoMicrofone dispara rimas, atitude, protesto.

Diferentes a aqueles que o próprio idioma negaQue enxergam heróis naqueles que promovem a paz com guerrasPersegui o talibã pelos afegãos é pacíficoMortes causadas por patrocínio

Deles próprios. Estados Unidos da AméricaSe a Amazônia é o pulmão vocês são...Bem parecido a parlamentares, terno e gravataQue reduzem a alegria do povo em uma cesta básica

Contorcem meu caráter, minha imagem é de bandidoMe negam o lazer e mesmo assim não fui eu que assassinei o GaldinoSei que sou teu alvo. Tua munição não me acertaMinha mente é revestida de aço, sou Lamarca, sou Marighela

...Natural da Terra...

Do ódio e tristeza, seqüestro o embaixadorSem usar de torturas transformo em alegria e amorDou aos pobres o que com suor tirei dos ricosSou cangaceiro, sou nordestino, Brilhante Jesuíno

Não comemoro hipocrisia, festejos, vai verSou excluído, sou sem terra, sou Pataxó MatalauêMais de cinco milhões de almas representa o jovem aquiA dor dos xavantes, tapuias, caiapós e tupis

Sou senzala, mas se preferir sou a favelaSou o escravo no açoite sua seqüelaSou quem cresceu desconfortado com as desigualdadesSou imortal, sou ágil, sou Zumbi dos Palmares.

Canhões de consciência apontados para o governoSou João Candido o almirante negroPulmão brasileiro defendo com unhas e dentesNo jardim de Margarida, vive sempre Chico Mendes.

Page 5: O Livro de letras

...Natural da Terra...

Ribeirinhos, seringueiros, bóia fria, carvoeiroSou a coluna que percorre os estados brasileirosO R puxado, o S chiado, sou a catira, sou o repenteSou o forró, sou o bumbá, sou tchê oxente

Sou o arroz tropeiro, baião de dois, sarapatel, o açaíA buchada de bode, o queijo, feijoada, o pequiSou a mistura, sou mestiço, sou um sóSou a criança, sou o adulto, sou o avô, sou a avó

Sou caatinga, sou sertão, sou o cerradoSou pantanal, sou planícies, sou planaltosSou São Francisco, Amazonas, ParnaíbaSou as nascentes, as correntes cristalinas

Sou as grutas, vida selvagem, belo vale, fauna e floraSou o cantador que canta a dor com pandeiros e violasSou instruído, destemido, revoltado, sou a chamaSou mais um louco desta terra, sou Pindorama.

Pronto pra guerraPra viver de defende esta terra

*Letra composta em 2004 e originalmente batizada de Pindorama, palavra que em tupi guarani significa Terra de Palmeiras. Logo reflete-se através da mesma a força, beleza e povo do verdadeiro Brasil.

Page 6: O Livro de letras

Adolescência em retratosOh pátria armada, estagnada, um berço hostil.Inocente sensualidade, contraste infanto juvenil.No Brasil sem censura, sem vergonha, sem caráter.Em close, televisores ensinam posições em sessões a tarde.

Modernidade... Infância com vestimentas adultasNormalidade... Danças eróticas e crianças semi nuasComo se não bastasse a triste gramática da vidaJovens ligados às palavras crime, drogas e bebida.

Fotografia construída da juventude que não se interessaAfoitos por uma pobre conversa, mas não pra uma palestra.Desértica mentalidade, repleta de futilidade.Pensa que é uma fase da vida, mas transforma a vida em fase.

Terminal! Vivem na Terra do nunca. Nunca crescemNunca amadurecem ao mesmo tempo em que envelhecemHey garoto me responda o que é ser brega14 anos em escola ou 14 anos em uma cela?

Hey garota me responda o que é ser brega14 anos virgem ou 14 anos aidética?

Vem ver, retratos desta adolescência.O porquê do meu grito de urgênciaSabe cercados de más influências.Aonde vão chegar?

Imagine Maria retirando o líquido amnióticoA esperança esquartejada, saída fechada, o futuro em destroços.Assassino. Substantivo mais adequado a quem pratica tal açãoPois a vida se forma no momento da concepção irmão.

Desconheço sua opinião, o que pensa, mas te falo.Que o DNA está completo já no óvulo fecundadoDesculpe se pressiono a mesma tecla e nela sempre insistoÉ chocante, mas imagine o aborto de Jesus Cristo.

Não é paranóia. Quantos livros não escritos?Quantas soluções não apresentadas, quantos amores não vividos?Por outro lado pesadelos, traumas psicológicos.Gravidez ectópica nas trompas de falópio

Sentimentos culposos, fleches, fiel companhia.

Page 7: O Livro de letras

Reflexos de risos inocentes, transpiração, taquicardia.Muitos desejam o que você desperdiça o amor de um filho.Amor, fidelidade, palavras chave, o livra do abismo.

Com elas, salvará vidas.Tanto da haste, quanto da Síndrome da imune deficiência adquirida.Seres burros fazem sexo e não amorNão pensam com o cérebro, mas com o órgão reprodutor.

Assim se entregam, se usam, se tocam, se vendem.Assim são traídos, assim se arrependem.Porém tarde. O olho azul foi falso e do mesmo modo o corpo malhadoPrazer individual, momentâneo, indelicado.

E esta tolice origina consequências muito sériasDescem pelo ralo lágrimas de remorso e venéreasEis o resultado da falta de diálogo e alienação da juventudeMarcas levadas por toda senectude.

Vem ver, retratos desta adolescência.O porquê do meu grito de urgênciaSabe cercados de más influências.Aonde vão chegar?

Click... Fotografia é tirada da juventude nesse mundo podreTriste... Que muitas vezes nós jovens fazemos pose.

*Letra composta em 2006. Vencedora dos prêmios Melhor Letra e Originalidade no Festival de Música Popular de Samambaia no ano de 2009.

Web Vídeo lançado em 2009 gerou grande repercussão e excelentes críticas por todo o país. Sendo utilizado em escolas públicas do DF como objeto de formação.

Page 8: O Livro de letras

NomenclaturaEu canto em todo canto, mas quando canto não encantoPois meu canto em quem escuta só traz espantoPois analiso a conjuntura da inexistência da alegriaDia e noite, dia açoite, noite fria

Daqueles que de madrugada com a mão calejada pedem a parada do ônibusSe dirigem ao combate, mas no primeiro round soa o congoDerrota. Ao invés do lábio amado sentem a lonaApós o máximo recebem o mínimo que compra a mortuária semi-pronta

Não é faz de conta, mas se conta o que se fazPõe-se data de validade em humanos. Não mais trabalharásAliás somos ensinados a sermos individualistasAprendemos a administrar e não ajudar que precisa

Assim uma fila de pós-graduados, formados, doutorados.A procura do emprego onde varrerão seus currículos rasgadosResultado alcançado sem esforço pela eliteQue comemora com vinho do porto no conforto da Fashion Week

Um calçado onde o cadarço equivale a meu salárioEnquanto isso uma pessoa morre a cada três segundos por não ser alimentadoQuanto vale uma vida?Responda-me você desta corja legislativa maldita

Recebe três vezes o salário, mas nada fazConvocações extraordinárias para orgias sexuaisTem mais. São estes que sustentam a exploração humana por contendasComo o governador que mantém o trabalho escravo em suas fazendas

Eu canto e em meu canto questiono a pena brandaO cifrão criminoso, a guerra negra, a paz brancaQuem canta? O natural da terra PindoramaEm luta nomenclatura Marcus Dantas

Enquanto houver opressão e violênciaHaverá luta e resistência

Page 9: O Livro de letras

No Brasil de caboclo, de mãe preta e pai João.No sertão onde a palma de gado se faz alimentaçãoGrão é cozido na lata de alumínio. VerdadeEm outra parte, berço 18 quilates, foi sustagem.

Tecle Sap. Entenda que os Brasis são bem parecidosNão existem diferenças entre pobres e ricosApenas um erro em substantivosUm é bandido e o outro cleptomaníaco

Frutos perdidos da família que não conversaUma muito pouco e a outra através das teclasE é nessa terra, nesse contexto que escrevo texto, com o pretextoDe voltar a ação e uma ação com efeito

Pois meus feitos são bem feitos, denunciam os defeitosEncontrados em deputados, senadores, vereadores, prefeitosEstes que financiam indústrias, secas, enchentes.Constroem atingidos por barragens, destroem esta gente

Quantos indigentes que migraram em busca de gabinetes, escritóriosMas tal sonho hoje migra para cidades dormitóriosObvio. Aceita-se currículo com foto A aparência leva a competência a óbito

Triste episódio. Mamãe me dá uma bonecaPapai me dá uma bicicleta. Ao pranto se entrega e molha a terra Onde floresce o subemprego, a subsistência, o viaduto habitatMas a resistência vem em pequenas sementes que se tornam um belo colar

Eu canto e em meu canto pronuncio a esperançaTocada em latas de tintas por jovens e criançasQuem canta? O natural da terra PindoramaEm luta, nomenclatura Marcus Dantas.

Enquanto capitalizam a realidade Eu socializo meus sonhos

Eu canto e em meu canto uso a mesma narrativaO discurso de uma vida coletivaQue é vivida não por uma, mas por tantas.Em luta nomenclatura Militância.

*Letra composta em 2004.

Page 10: O Livro de letras

O azul de uma canetaAcordo bem cedo, missão encontrar emprego.Ônibus lotado, mal alimentado, vários do mesmo jeito.Olhares em que só vejo insegurançaO corpo de pé, mas adormecida a esperança.

Pela janela noto boas condições, privilégios.Contando moedas para o meu retorno ao infernoNessa curta viagem vejo dois mundosOnde sou um degrau a ser pisado na escada do futuro

Sirvo pra servir, básico ao acabamento.Barrado na entrada, porta fechada, suspeito, elemento.Minhas mãos calejadas deram o nó em muitas gravatasO suor de meu rosto ainda limpa suas privadas

A procura de mais uma chance... Aqui estouChegou minha parada minha jornada começouAvenidas, endereços, entrevistas, imploro.Dou meu sangue por um subemprego, por favor, vem logo.

Curriculum não tenho, mas me empenho palavra de homem.Minha agonia se soma a de todos os meus clones.

Nunca, nunca, nunca posso desistir

Bater de porta em porta e o que vier aceito.Lavador de chão, peão, servente, pedreiro.Aceito o que tiver de braços abertosSó pra ver meu filho com um caderno

Não hei de me render, pois meu Senhor és forte.Um centavo honesto é um milhão perante o ouro do revolverMesmo que do lixo tire meu sustentoDa sobra do restaurante meu alimento

O dinheiro é necessário pro comer, pro vestuário.Me contento com diárias, mas meu sonho é um salárioE na carteira de trabalho ver o azul de uma canetaHoje não realizado! No céu estrelas

Que iluminam meu desgosto, meu entristecer.Juntamente a uma pergunta: Emprego algum por quê?Talvez porque o segundo grau não tenha completadoOu pelo endereço do meu lar, do meu bairro.

Page 11: O Livro de letras

Entre o endereço de firmas perdi meu vale transporteDormi fora de casa não podeSe eu pedir eu sei que alguém vai me ajudar“Sai fora vagabundo tu quer é si drogar”.

Nunca, nunca, nunca posso desistir

Achei uma cobertura vou deitar, tenta dormir.Espero que ninguém venha se divertirMinha carteira de trabalho em branco vira um diárioOnde a caneta azul escreve o triste fato

Mais um dia cansado, sem emprego.Portas se fechando, o caminho mais estreito.Escutando insultos, vítima do preconceito.“Não contrato bandido, não contrato preto”.

Pros homens um suspeito, humilhado pela madame.Soco, sangue, e como se não fosse o bastante.Sem emprego, sem experiência.Será que acordar com consciência?

E ver minha família sem um salárioOu será que esta noite morrerei queimado?

Nunca, nunca, nunca posso desistir

Não posso desistir, Vou ter que prosseguir,pois a caminhada é árdua na nação;É triste meu irmãover meu filho sem um pão, mas se hoje eu não consigo amanhã eu vou atrás.

Meu filho não vai mais chorarMinha mulher vai se alegraruma vida boa eu vou lhes dar.

E tirarei as amargurasO sofrimento, a dor sem cura.E lhes trarei tudo de bom eu sei, pois derrotado nunca serei.

Page 12: O Livro de letras

Mãe por que o papai ta demorando?Será que vai trazer o brinquedo que quero tanto?Eu vejo em teus olhos que a senhora ta preocupadaA senhora sabe de alguma e não quer me dizer nada

Não é nada não, são apenas algumas contas que tenho para pagarVai assistir o desenho que já vai começarMas a esperança e o desenho foram interrompidosAcharam na noite passado o corpo de um mendigo

E uma voz inocente que não hesita em dizerMãe olha o papai na TV.

*Letra composta em 2001. Neste mesmo ano vence o Festival de Música Escolar do CEM 03 de Taguatinga DF.

Em 2008 levou os prêmios de Melhor Letra e Originalidade junto ao Festival de Música Popular de Samambaia e em 2009 Melhor Letra no Festival de Música Popular de Santa Maria.

Page 13: O Livro de letras

A colôniaO saber me é negadoDesprezaram minha raizNas argolas do submundo me amarraramFui esquecido pelo país

Restou-me ler nos livrosA história de um povo submissoCabisbaixo e preguiçosoUma colônia de conformismo

Li que o invasor é o heróiQue o natural da terra é selvagemEsta nação não foi erguida por nósMas por coroas de coragem

Que entravam mata adentroBandeirantes, catequistasEncontravam minérios e frutoMas estupravam as indígenas

Esta parte não foi contadaPra muitos não existePois a educação foi compradaPor gravatas imundas da elite

Puseram um quadro negroDepois trouxeram o gizNa senzala vejo cadeirasA cada sentar uma cicatriz

Mais que chibatadas e correntesA desigualdade muito me fereAo saber que governadores e presidentesEm educação nada investem

Pois o conhecimento não é de interesseMelhorias no ambiente da escolaPredominaria nos gabinetes o medoPois o jovem saberia em quem vota.

*Poesia composta em 2004 e musicada por Rodriggo Misquita em 2009 para o CD ‘Dia e noite. Dia açoite. Noite fria.’

Page 14: O Livro de letras

Pangéia

Dos olhos tire a venda, veja os problemas que o mundo enfrenta.Entenda. Resolva-os! Não trate pessoas diferentes com indiferençaCoisas banais como estas escondem os demônios verdadeirosLobos em pele de cordeiro, multiplicadores do preconceito.

Asnos, estúpidos, cérebros atrofiados.Não entendem que descendem de Adão e Eva ou evoluíram dos macacos?Não acredita, tem dúvidas, pensa que é bobagem?Consulte, leia a bíblia, estude e escute Darwin.

Achei que era pouco, pesquisei e fiquei fascinado.Ao saber que a seis milhões de anos na África surgiram nossos primeiros antepassadosContinente distante... Não como se imaginaA cada ano que passa dele a gente se aproxima

Desculpe-me deixe prosseguir com meus argumentosDo início ao fim destes versos tu irás mudar alguns conceitosContinuar como está é difícil prepare-se para o choque.O primeiro habitante brasileiro possuía traços negroides

Essa foi profunda, alta voltagem.Não foi descarga elétrica foi apenas a verdadeAme ao próximo, não é isso que disse Jesus?Quando chegaram nesta terra não encontram mulheres e homens nus?

E hoje aqui estamos três raças, três estilosUm só povo, um só sangue, um só sorrisoPortanto a pessoa que tu julga contigo a um laço, parentescoSe não possui a competência de amar pelo menos use o respeito.

Somos um povo, uma só gente.Mais semelhantes do que diferentes.

Inferioridade feminina, mentira, adjetivo inexistenteMe entenda, nove meses, placenta, útero, ventreLembre-se. O primeiro cidadão brasileiro era mulherLuzia como Maria mãe de Jesus e esposa de José

Page 15: O Livro de letras

Espero que estes versos entrem em seu coraçãoE entenda que o amor nasceu para todos independentemente da opçãoPois o que importa é atenção, felicidade, cumplicidade, carinhoSaiba que nunca erra o alvo, o tal chamado cupido

A gente que erra. Vemos a flecha onde não estáO que bombeia o sangue ta longe órgão reprodutor quer procriarEste erro cometi, vivi, deixei-me levar pela atraçãoEsqueci o interior e conheci a dor da traição

Nisto adquiri experiência para toda uma vidaA embalagem pode ser bonita, mas a validade pode está vencidaToda uma vida. Meu e seu futuro próximoDepois do plantio vem a colheita vê se respeita os idosos

Fábricas, estradas, escolas, faculdadesForam construídas graças a união de vários sotaquesDe costumes, emoções, transpiraçõesEsta terra que você pisa não contém um, mas cinco corações

Lições de amizade que não combinam com intolerânciaMas são exemplos... Para que encontre mudança.

Somos um povo, uma só gente.Mais semelhantes do que diferentes

*Letra composta em 2008 com título original ‘Lhe mostro como estás errado’.

Page 16: O Livro de letras

Rap amadorAborígine Rap amadorNão por falta de profissionalismo, mas por excesso em amorAonde vou carrego lembranças de minha trajetóriaDo primeiro Rap que fiz em um trabalho da escola

Percorri várias lojas a procura de bases de RapEnsaios e mais ensaios tenho gravado em fitas k7Tamanha emoção quando escutava o resultadoE notava que o microfone não tinha chiado

Próximo passo levar o som para outro cômodoPois no horário da novela provoca certo incomodoComponho iluminado pela clave que brilha no horizonteResulta nesta sombra um jovem empunhando um microfone

Um pequeno homem que caminha com uma cadernetaMostra orgulhoso ao irmão suas simples letrasSe queixa que é reconhecido na escola, notas máximasO que não acontece em sua casa

Lições que promovem crescimento, amadurecimentoPara que após uma década escutam a voz e vejam o talentoAmigo e amiga, façam da vida um verdadeiro palcoProtagonista da própria história de sucesso, receba os aplausos

Efetuados com carinho e calorAborígine Rap amador

Muitos cantam por amor a músicaEu por amor a quem escuta

A qualidade deste disco é compatível com as oportunidadesNegado ao plebeu, pois com a “alta corte” não mantém amizadeNão cantarei o que cantas só pra satisfazer teu egoSou diferente de você não pleiteio sucesso

E esta diferença discrimina minha competênciaSintonize, mas não encontrará esta canção feita com excelênciaTenho consciência que tudo é possível para a realização de um sonhoE que na procura da mesma ocorrem vários tombos

Page 17: O Livro de letras

Mas o importante é erguer-se. Não escutar os gritos de contraPois como você ninguém sonhaMeu objetivo? Calma lá espere que lhe contoGravar um disco! Produzido com um programa comprado por dez contos

Tecle control, como o mouse arraste o loopVê? É tão simples possuir atitudeO programa é falso, mas o sonho é verdadeiroBuscar o que acredita não é vergonhoso, mas digno de bater no peito

De coração fiz a canção e os ‘bicos’ mudam de estaçãoEscutam e dizem... Ihhh é a mesma base do MarkãoOu o Markão imitou? Que absurdoNão lhe ensinaram que as ordens dos fatores não alteram o produto?

E tal produto se deu a soma de simplicidade e fervorCom muito orgulho Aborígine Rap amador

Muitos cantam por amor a músicaEu por amor a quem escuta

*Letra composta dentre 2006 e 2009.

Page 18: O Livro de letras

As primeiras letras do alfabetoAntes alcançávamos amizade, amor à arte.Agora atingimos, armas, algemas, ápice.Alienados, amarguramos, atiramosAtravessamos a atmosfera, ainda andamos.

Acabando, atrasando, arruinandoA alma antes aberta agora acoima ao avançoAzarenta arruína a amigosArranca, abafa, abate ao alívio

Abolimos a alegria, aceitamos ao avessoAinda asseguramo-nos, atestamo-nos aos acertosAtravesso a avenida, acelero à alguémA arte armada amedronta. Ave... Amem

Atinge abundantemente, acaba a alegriaAdia a anistia, ação aterroriza.Ataca algo, alguém. Acrescenta a agoniaAtribui a alguém aonde a alienação asfixia

Alicia, altera, arrebenta alicercesApenas apela as angústias aparentemente alegresAntes alcançávamos aptidão, atitudeAgora atingimos armas assim ataúdes.

Bravamente brigamos, batalhamos, Brasil.Bombas, bandidos, bandos, Brasil.Bombardeando, benfeitores brasilianosBravos, brutos, bambas brigando

Bravamente brigamos, batalhamos, Brasil.Bombas, bandidos, bandos, Brasil.Bases, batidas, Brasília – bravezaBenevolente, busco brotar beneficência, beleza

Corruptos corrompem cidadãos com covardiaCrimes com causa certa contra cidadaniaCandidatos. Canalhas com contratoCertificam-se, cheques, cestas, cartões, cidadãos comprados.

Page 19: O Livro de letras

Como cabrestos, currais construídos com concreto.Carreatas, contribuem com crescimento, cemitérios.Criminalidade, contamina, comanda comunidadeCultura cai, corrupção cresce, chacina, cárcere.

Característica certa, centros, caatinga, cerradoCapangas, cheira-cola, calafrio, cansaçoCorações cauterizados, catástrofes.Cavalaria, cassetete, calabouço, choro, choques.

Cenário cheio: Caçadores cinzentos carregam códigosCovardes criminosos.Corajosos caem cronicamente. ComâClausulas, causas, cada cinco contra.

Cinco. Certificados cara cuidado.Crimes? Câmaras, congressos contém capitulados.Carregue consigo coragem.Cristo concede, combate. Capital criminal canta cale-se

Como costume caminha comandadoCanção completada, cantada calado.Corpos cegamente cometem ciladasConsciências corrompidas, corpos, covas cavadas.

*Letra composta dentre os anos 2004 e 2007.

Page 20: O Livro de letras

Cômicos conteúdosPropagandas autorizadas me oferecem entorpecentesSó chapo o coco se por cocada em chapa de fazer misto quenteEntende? Nacionalista derramo Rum, vodca, whiskyNordestino é arretado comigo só alambique vice?

Não! Isso não é comigoPrefiro leite fermentado, pois contém lactobacilos vivosMe responda amigo, qual é o melhor veneno pra rato?Aquele que contém formol, pra conservar por mais tempo o defunto usuário

Mais um cigarro jogado no cheio cinzeiroJunto com teus dentes, teus pulmões e teus cabelosIsso é fraco. Me amarro na erva - chá mateFarinha de mandioca e lança perfume Kaiak

Ao meu ver tudo isso é ridículoÉ lógico aos olhos portadores de miopia e astigmatismoCatarata, daltonismo Joy cadê seus óculos?Eu rimo mesmo é a base d’água pouco cloro

Me deu foi sede traz pra cá quero tomarPreferencialmente não gaseificada, pois dá vontade de arrotarRimas metafóricas que provocam sorrisosConteúdos cômicos, pois ouvido não é pinico.

Agradando a tudo e a todos, minha rima é unissex.Perfeccionista passo a lixa depois de usar unhexO doce mais doce dos doces, puro açúcar é minha rimaSe for diabético é adoçante, ou melhor, insulina.

Se divirta, pois meu Rap lhe deixa alegre.Até alivia o estresseSe divirta, pois meu Rap lhe deixa alegre.Sorrir até emagrece

Meu Rap é como engenho de cana de açúcarAdiciona o caldo no tacho e cria rapaduraMerece uma surra quem diz que isto é toliceMeu Rap é uma peia de galho de xique-xique

Page 21: O Livro de letras

Relaxante como uma rede debaixo de um pé de umbuTão criativo como o menino vestido de papangúDe norte a sul minha fala aglutina, enche de graçaIgual ao interior. O povo reunido em volta da TV da praça

Mas foi de graça toda alegria da primeira idadeMinha mãe tratando o machucado com mercúrio e mertiolateE como arde a falta de cultura nesta vidaÉ como trocar o papel higiênico por folha de urtiga

E há quem diga que existe artista lacto purgaAquele que quando canta dá dor de barriga em quem escutaPropagandas autorizadas oferecem o sexoMúsicas venéreas, mulheres-cadelas, letras um décimo do alfabeto

Lá no Congresso tem gente carente, sem renda algumaSem dinheiro pra comprar carteira leva o dinheiro na sungaNão se importe se no Big Brother quem venceu não lhe deixou feliz“Agente vamos mudar” tudo, com diz o Roriz.

Se divirta, pois meu Rap lhe deixa alegre.Até alivia o estresseSe divirta, pois meu Rap lhe deixa alegre.Sorrir até emagrece

*Letra composta dentre os anos 2006 e 2009.

Page 22: O Livro de letras

CumplicidadeFalaram-me de mentiras.Eu de verdades.Falaram-me de intrigasEu de amizade.

Falaram-me de tristezasEu de alegriaFalaram-me de solidãoEu de sua companhia.

Falaram-me de lágrimasEu de sorrisosFalaram-me de riquezasEu em espírito

Falaram-me do rancorEu do perdãoViraram-me a faceEu estendi a mão.

Falaram-me de pesadelosEu estou sonhandoFalaram-me “Eu odeio”Respondi “Eu te amo.”.

Veja só... O amor choraFeliz, pois agora o silêncio não é resposta.O perfume da rosa e não a dor do espinhoSocialização do respirar, um pulsar, um caminho.

Veja só... O milagre que contemploA fonte da vida, energia que obtenho.Quando olho para ti e o coração, enxergo.É na despedida que eu te espero.

*Poesia composta em 2004, musicada por Thaís Ribeiro e Jefferson Diego para o CD ‘Dia e noite. Dia açoite. Noite fria.’

Page 23: O Livro de letras

Ossos Secos

O sopro da vida que bate em meu peitoO sopro da vida...O sopro da vida que traz a vida Aos ossos secos...

Para o azul do céu se clama que no solo aja um verdeO pranto que cai é a água que a terra não sente há mesesVida sofrida, cacimba vazia, riacho de terra.Carne resseca, mas a esperança não hiberna.

É embalada pela cantiga, pelo som da viola.Pela nuvem negra que mal chega e já vai emboraNa roça, carroça de palma, para o gado cultivador.Devido à gota que caiu daquela nuvem que passou

Lavrador. Sempre na certeza que não esta a sósSua esperança é resistente à seca como um AvelozInspiração pra nós da caatinga de concretoFrustração no pretérito e para o futuro incrédulos

Pra que? Por quê? E Como?Suponho que já foram de encontro aos seus sonhosEsperar, alcançar – verbos ligados.Espera e alcança, mas não na cama, acordado.

Levanta e anda, pois a chama arde, nunca é tarde.Nos ossos secos brotarão músculos e carnesNas adversidades o crer não pode ser mortoPois a vida vem do azul do céu em forma de sopro.

O sopro da vida que bate em meu peitoO sopro da vida...O sopro da vida que traz a vida Aos ossos secos...

Em partículas de água vejo o rosto de um só povoEnxergar uma beleza nas cores do arco-íris é o tesouroQue deve ser utilizado como um bem comumDe modo que unidos na mão, não sejam, senão um.

E não distintos pelo reflexo do espelhoHomem é homem. E não homem branco/homem negroLivres da exclusão de nobres horáriosEm novelas os índios não serão brancos maquiados

Page 24: O Livro de letras

Do quadro negro e do giz branco flui o ensinoIsolados só resta o vazioEste vazio que se expandeFaz enxergar diferente cores em um vermelho de um mesmo sangue

Relevante é o todo em um e o um em todoO pequeno gigante o fraco poderosoO conflito, o insulto, o olhar agressivo.É interrompido pela força de um suspiro

Gemido produzido pela idosa debilitadaQue em sua fraqueza busca força e traz a calmaPára! Quem briga se reconciliaEsta idosa é o osso seco com sopro de vida.

O sopro da vida que bate em meu peitoO sopro da vida...O sopro da vida que traz a vida Aos ossos secos...

Pois a vida é pra se viverE a felicidade alcansarCom dignidade colherE solidariedade plantar

*Letra composta em 2006

Page 25: O Livro de letras

Pretérito Imperfeito

Como é belo o nascer de uma estrela vividaNunca pude contemplar com um andar tremulo e mente entorpecidaSenti a brisa do orvalho puro, mas foi envolvidaPelo refluxo alimentício, perfume combustível, incendeia e vicia

Se subia de degrau em degrau em silencioPois o filho não interrompe o sono da mãe em sofrimentoConsciência inativa, cansaço, murmuro, os muros acolhemO balancear do responsável pelo sofrimento que nunca dormem

Situações ridículas, o mundo gira sem o despertar da luzDesentupidores de pias são os membros que limpam a não digestão de alimentos crusBoas idéias, prestigiar Sol com grandes amigosSó ele é assim lhe faz descer em círculos

Viciosos que no caminhar se mostram dolorososAssinatura na carteira de trabalho? Na certidão de óbitoCorpos não reconhecidos, presos, despedaçadosComo o meu coração em uma dose de ilusão e fracasso

Braços levantados, preso na insensatez, inconsciênciaViram copos, viram carros. Riem alegres, choram na doençaDesrespeito com o templo, com a crençaNo momento santo o pecado faz a presença

Atos burros, atos tolos, sujo como rato de esgotoO cheiro é o mesmo, mas o rato não procura o veneno diferente do outroPrestação da morte, caso de saúde públicaResponsável pela destruição através de torturas

Físicas, emocionais, psicológicasPalavras ferem mais que tapasSe irrigam com álcool as rosasNo despertar amanhecem mortas

São as histórias de vida que foram destruídasDepositadas em calçadas, corredores de hospitais e clínicasCoincidem com a minha. Felizmente sem agravantesPois o acaso tinha preparado algo pra mim muito tempo antes

Page 26: O Livro de letras

Ao invés de ser arrastado por não conseguir andarAndo para arrastar pessoas que como eu não conseguem enxergarQue o vazio do coração não é preenchido por alegrias mundanasGargalhadas na madrugada de um chão frio que se faz cama

Mas a propaganda sempre usa o sucessoArtistas, modelos jovens esbeltosPódio certo, 1º colocação em júris internacionaisÉ o Brasil a terra dos melhores comerciais

Mas é claro quantos sorrisos damos, quanto compramos?Daquilo pelo qual atravessamos o atlânticoTambém né com esse calorSó uma gelada e uma mulata de maiô

Absurdo a imagem feminina usada como objetoPara atrair o profissional competente, mas agora doente e sem sucessoAbsurdo a imagem de jovens contentes e sempre alegresMas escondem o futuro adulto que acorda em suas próprias fezes.

Num país que desce redondoSegue arruinando sonhos

Quantas, quantos?Que nesta noite adentraram seus lares e ao invés de trazer alegria, fartura, bênçãosTrarão somente a tristeza, pranto, sofrimento

Quantas, quantos?Nesta noite serão encontrados aos pedaços dentro carros devido o acidente provocado pela embriaguezQuantos nesta noite provarão o álcool pela primeira vez?

Quantos, quantas?Eu? Eu não! Eu não serei mais conivente com isto, nunca mais.

*Música composta em 2007. Integra a Revista Aborígine VOL.1 e é utilizada nas oficinas e palestras sobre Drogadição através do projeto Aborígine – Juventude, cultura e cidadania.

Page 27: O Livro de letras

Coisas que sempre quis dizer

Papais e mamães prematuras continuam a calcularPreço, custo, despesa, que uma vida lhes traráAdolescência perdida, preconceito, sufocoA solução é bem simples. Assassinato não! Aborto

É fácil imaginar o pulso acelerado o medoTentativa de fuga da haste, do esquartejoÉ fácil imaginar um tubo sugando a massa cerebralVida corroída por substancia que contem sal

Hoje em dia é inválida essa dádiva divinaCom conseqüências brutais o viver se assassinaA criança que faria sorrir espera o lixeiroPara ser incinerada e não pra ir pro berço

Foi o anjo que partiu, olhar não reluziuPois seria um dos 26 que morrem entre milQuem comete isto não foi nascido, foi tirado de um tumorSão os monstros pegajosos que Holywood não mostrou

Eu sempre quis dizer onde o preconceito nasceA boneca não é preta, criança penteia uma BarbieHomem, mulher. Branco, negro. Abismo nos salários63% dos pobres, negros e pardos

Porcentagem atingida pelos residentes de BrasíliaQue em 12.720 os salário fixaSempre quis dizer sobre você que permanece caladoDiante dos camponeses assassinados e do trabalho escravo

No Pará, do tribunal internacional sou o júri popularCondenando FHC culpado por Eldorado dos CarajásA justiça esqueceu, eu sei que seu mandato acabouMas para as famílias camponesas restou a dor.

Infelizmente motivos não faltam pra eu escreverCoisas que sempre quis dizer. 4x

É a igualdade social que preocupa as classes altasComo se vê no não apoio a reforma agráriaIsto se é notado quando fazendeiro criam milícias armadasPois tem medo de perderem seu peões e suas enxadas

Page 28: O Livro de letras

Ganância patrocinada por robozinhos de gravataO tal da ética à deputada agride, ofende, maltrataPois ao saber do erro na casaA verdade doeu, a pactuação saiu cara

Sempre quis dizer minha arma é minha culturaO exemplo mais claro de que um filho teu não foge a lutaSou a favor da greve, do protesto, da queima de pneusMesmo que atrasem o caminhar dos meus e do seus

Pois sei que é fácil discordar quando se está com estômago cheioQue é difícil se calar quando a desrespeito aos seu direitosO futuro a Deus pertence. Não corra por seus objetivosFrase burguesa capitalista que financia seu conformismo

Capitalismo. Muito perigo, não injete em seus organismoBeba coca cola diariamente e em uma década estará com câncer malignoUrsinhos constantemente são entregue as namoradasNa fauna brasileira não existem, não vejo pelúcias de araras

Você parou pra pensar no que falei na última rimaNotou que não fala eu te amo, mas ‘i love you’ pra sua mina500 anos de invasão, dominação exercida pelo FMIVamos resitir, ao invés de inglês nas escolas que se ensine o Tupi.

Infelizmente motivos não faltam pra eu escreverCoisas que sempre quis dizer.

*Letra composta em 2006.

Markão Aborígine, 26 anos, é MC e Conselheiro Tutelar. Fundador e coordenador de projetos da ONG Coletivo ArtSam. É idealizador do Sarau Samambaia Poética e Prêmio Hip Hop Zumbi.

Possui 02 CD’s lançados: ‘Dia e noite. Dia açoite. Noite fria’ de 2009 e o CD de poesias ‘A Vida em Poesia’ lançado em 2010. Produziu documentário, vídeo clipe e mostra Meio Século e série fotográfica ‘Retratos do abandono’.

Contatos:[email protected] 061 – 9602 6711

Page 29: O Livro de letras