o livro da lei para o povo suplicante

81

Upload: lincolncoelho

Post on 04-Aug-2015

77 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

Page 1: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante
Page 2: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante
Page 3: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O Livro da Lei Para o Povo Suplicante

CIF - BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE

O Livro da Lei (Líber Legis) Para O Povo Suplicante

Comentários de Panyatara (Jayr Rosa de Miranda)

sobre os três capítulos do

“Líber Legis”, “A Estela da Revelação” e “O Mistério do Baphomet”

Capa: Foto cedida por Francisca de Souza Hardy

Fundação Biblioteca Nacional Ministério da Cultura Registro n° 141.283 Livro: 227 - Folha: 323

Page 4: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRECEITOS DA ALVORADA

Creio em Deus, Grande Arquiteto do Universo, em Seu duplo aspecto de Pai e Mãe e na Força Crística, o Amor Divino implantado no mais íntimo de toda a humanidade.

Creio que, antes de me fazer um só com o Espírito Universal e compreender a ação da Lei Espiritual, deve morrer o ser inferior e emergir o ser superior e novamente nascer.

Creio que eu mesmo julgarei as minhas faltas e encontrarei minha punição, esclarecido pela Grande Luz de Deus que está dentro de mim.

Creio em um Deus de Amor, Pai e Mãe de toda humanidade e na comunhão e trabalho conjunto dos Anjos e das Almas regeneradas.

Creio em minha união com todos os reinos da Natureza e no sagrado de toda a vida; esforçar-me-ei, com ajuda de Deus, para ver o bem em tudo, para me abster de tudo aquilo que conduz à vaidade, à ilusão, à impureza e ao apego do poder terrestre; esforçar-me-ei por estar ao lado dos aflitos, dar conselhos sinceros e impessoais a todos que procurem a minha ajuda e enviar pensamentos de paz aos que lutam e sofrem. Farei todos os dias algum trabalho para Deus e obedecerei às leis da hospitalidade. Tentarei cumprir minhas tarefas diárias de bom coração e tão preparado quanto me permitam as circunstâncias.

Lembrar-me-ei de que sou o templo de Deus Vivo. Procurá-Lo-ei interiormente, sabendo que no mais íntimo nasce o Radiante, Senhor do passado e do futuro, Senhor de todos os espaços e que, no entanto, está sempre mais próximo do que a própria mão.

Creio que pelo esforço contínuo chega-se ao Eterno e pela união com os Pais Divinos, desejos e tristezas desaparecem.

Creio que, se quiser a libertação dos renascimentos, devo cumprir a Lei, compreender a natureza do Fogo Celestial e alcançar a Sabedoria Oculta.

Procurarei que a minha mente não seja perturbada pelas coisas do mundo e não ser dominado pelas paixões e egoísmo; procurarei ser paciente no sofrimento e ter contentamento e gratidão.

Lembrar-me-ei de que todas as épocas foram nutridas pela Majestade de Deus – A Essência Crística que impregna a tudo e que todas as raças foram chamadas a ouvir a Voz de Deus, cada uma sob o aspecto e forma que mais lhe eram propícios.

Assim, com esse conhecimento, estarei em harmonia com tudo e poderei reverenciar a Deus em qualquer Templo e lugar e sob qualquer aspecto que O encontrar. Amém.

I-Em-Hotep.

Page 5: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O Livro da Lei para o Povo Suplicante

Nossa homenagem:

A Macarios Ptócos (Frater R+C.) Cuja iniciativa foi fundamental para incentivar-me na realização deste humilde trabalho.

A Déa Magalhães Bittencourt (Ramalhete) Pelas “flores” que ajudou a materializar em nossa mente.

Agradecimentos:

A Dulce Oiticica Por tornarem possível este livro.

Panyatara.

Page 6: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O Livro da Lei para o Povo Suplicante

“O CONHECIMENTO REAL NÃO É CONSTRUÇÃO

DE ALGUNS DIAS; É OBRA DO TEMPO”.

A.L.

Page 7: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O Livro da Lei para o Povo Suplicante

Considerando a natureza da presente obra, o Autor dispõe-se a

atender a consultas e pedidos de esclarecimentos que possam ocorrer

entre os leitores mais interessados.

Os pedidos poderão ser dirigidos por E-mail para:

[email protected]

Page 8: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

10

PREFÁCIO

Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei∴

“Podemos estar com Crowley, Contra Crowley, Porém, nunca sem Crowley”.

Fr. Tito C. da Costa.

Este livro, escrito por Panyatara, Irmão Jayr Rosa de

Miranda, é o resultado de um longo período de estudo, meditação e

aprofundamento, na compreensão do Líber Al vel Legis (O Livro da

Lei), recebido por Aleister Crowley, ou segundo alguns, por sua esposa

Rose Crowley, em 8, 9 e 10 de abril de 1904.

O Mestre Therion, ao publicar a obra com o “caráter

metafórico, cabalístico, cósmico e mágico”, como diz o autor no

prólogo, página 09, abriu os portais para a Era de Aquário, cujos

ensinamentos foram aproveitados por várias ordens iniciáticas, porém

o texto ainda continua velado para vários buscadores sinceros.

Os Thelemitas e o Povo Suplicante necessitavam de uma

obra básica escrita em português, introdutória ao Livro da Lei, para

enfrentar os desafios textuais, pois “O desafio é fundamental à

constituição do saber” (...), principalmente do saber hermético, no qual

pensar é criar, e para criar, é necessário vencer o medo e obter a

liberdade de pensar.

Page 9: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

A criação pode não materializar-se de pronto, mas o

objeto formado pelo poder mental vive, e por certo o desafio

mencionado neste livro será vencido pelo Povo Suplicante. Por

derradeiro, quero elogiar o autor desta obra pela coragem, pela

pesquisa e pela sincera exposição do Livro da Lei, a “serviço dos mais

humildes” (autor, p.09) ou iniciantes. É com grata satisfação que a

recomendo a todos os estudiosos.

Ao finalizar, agradeço a Panyatara a oportunidade de

prefaciá-la, augurando-lhe êxito, reedição e acolhimento pelos

estudiosos das ciências herméticas e pelos Thelemitas do Brasil e da

América Latina.

Campo Grande (MS), 27 de outubro de 1998.

Tito Corrêa da Costa

Ŧr. Tito Corrêa da Costa∴

Ir. Maior da F.R.A., da O.T.O, da A. A. Gr. 33 – REAA.

Page 10: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

10

PRÓLOGO Este trabalho surgiu de uma solicitação feita por algumas irmãs, com

alguns anos de freqüência em estudos esotéricos, que desejavam ardentemente

conhecer o significado oculto de alguns quesitos existentes numa revista Gnose,

publicação da F. R. A. de 27 de fevereiro de 1943. Como as respostas implicavam

em algo que também permitiriam atender ao cumprimento de uma promessa feita a

um amigo de muitas vidas, residente numa cidade interiorana de Minas Gerais, foi

um grande prazer a oportunidade de atendê-las, pois assim, estaria atendendo

àquele também.

Tudo se baseava na compreensão do Liber Al Vel Legis, obra recebida

por Aleister Crowley1 nos dias 8, 9 e 10 de abril de 1904, de forma mediúnica, de

acordo com as suas próprias palavras, quando afirma que Aiwass, a entidade

comunicante, que acreditou ser seu Anjo Guardião, era uma entidade “diferente” de

si mesmo, que lhe ditou a totalidade do livro naqueles três dias.

O caráter metafórico, cabalístico, cósmico e mágico como o livro foi

apresentado aos estudantes sinceros de todo o mundo suscitou desusada polêmica

e sua linguagem demolidora tem provocado as mais diversas reações, desde a sua

publicação.

Nosso propósito é esclarecer, o melhor possível, o que está oculto em

seu texto, certo de que nosso trabalho será apenas um intróito para pesquisadores

mais capacitados, que, através dele poderão chegar a conclusões ainda mais

transparentes sobre seus três capítulos, passíveis das mais variadas interpretações,

cuja função seria a de atuar como uma espécie de Bíblia Mágica da Era de Aquário,

quando preponderarão as energias do 7o. Raio, o Raio do Ritual e da Magia. Embora

possa ser esta a sua função, naturalmente só será alcançada quando for

devidamente compreendido, o que deverá acontecer quando a humanidade estiver

perfeitamente Iniciada nos Mistérios da Magia Sagrada.

Como dissemos acima, este trabalho não tem a pretensão de ser algo

definitivo; provavelmente contém apreciações a serem reformuladas por aqueles que

estão à frente na compreensão das verdades eternas e, também, muitos erros para

1 Muitos afirmam ter sido por intermédio de sua esposa, na época, Rose Crowley.

Page 11: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

11

quem procurar, no mesmo, somente o que se ajuste ao seu atual nível mental. Por

considerar válido tudo aquilo feito com boas intenções, tomamos a coragem de

apresentá-lo agora, ainda um produto inacabado, mas que já poderá auxiliar aqueles

que estão procurando sinceramente.

Alerto àqueles que vêem na obra de A. Crowley somente o lado libertário,

mágico e anarquista, a necessidade de reconhecerem também o enfoque

apresentado neste estudo, pois:

a) liberdade é a conseqüência direta da disciplina e responsabilidade com que

nos comportamos na vida;

b) magia representa o real conhecimento e não somente o poder de produzir

fenômenos, contrariando as leis da natureza; o verdadeiro Mago jamais faz

magia porquanto ele é o próprio fenômeno;

c) anarquia não representa desordem, mas o corolário da própria Lei, ou seja, o

respeito de cada um para todos e o de todos para cada um. Portanto, “Faz a

tua vontade será toda a Lei, porém, pensa bem no que fazes, pois terás de

dar conta de todos os teus atos”.

Sobre Aleister Crowley, a Besta 6662, cujos méritos, sensibilidade e

inteligência extraordinários permitiram a recuperação da Ciência mágica egípcia

para a humanidade, é preciso deixar claro que, se sua vida mundana de Iniciado não

se ajustou aos padrões dos ensinamentos que fazem parte, inclusive, de seu próprio

trabalho, demonstrou, entretanto, profunda compreensão e coragem à necessidade

de ultrapassar todos os limites impostos pelos padrões educacionais existentes em

sua época, para que pudesse atingir sua meta: a Verdade tão necessária a sua

personalidade, impulsionada por um interior repleto de uma vontade indômita que

somente os grandes heróis da humanidade possuem.

Não, Crowley não foi um santo nem um messias e muito menos um

enviado. Foi um homem comum, que atendeu mais aos anseios internos de sua

natureza espiritual do que os limites externos impostos pela sociedade, com

educação vitoriana, em que conviveu. Pagou um preço alto por suas experiências e

pelos excessos que cometeu, mas deixou o caminho aplainado para os que aspiram

2 Para entender a assunção deste epíteto, ler o Capítulo deste livro sobre “O Mistério do Baphomet”.

Page 12: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

12

à Verdade e a realeza interna, da mesma forma como ele aspirou. Não precisamos

nem devemos repeti-lo em suas extravagâncias pessoais, mas devemos “aproveitá-

lo” em sua realização espiritual. Desconhecê-lo por preconceito é jogar fora um

patrimônio inestimável, apenas por intolerância. Quem aprendeu a não julgar, para

não ser julgado e a perdoar para poder ser perdoado, compreenderá do que

estamos falando.

O nome que escolheu para identificar-se no início de sua carreira, deixa

entrever isto: PERDURABO ou seja “Perdurarei até o fim”.

Foi denodado em atingir seus objetivos pessoais de iluminação e

ultrapassou todos os limites da prudência para obter o sucesso no que

pessoalmente considerou importante. Hoje é reconhecido por aqueles que, longe de

torcerem o nariz para os aspectos exteriores de sua vida, procuram, em sua

experiência, uma verdade sempre negada àqueles que apenas ficam esperando.

Muito se escreveu e se tem escrito sobre sua personalidade controvertida,

excêntrica e fora dos padrões de moralidade aconselháveis, mas pouco sobre sua

interioridade, cheia de amor e luz, que procurou oferecer aos que possuem valor

para Saber, Querer, Ousar e Calar.

Se seu gosto pela magia levou-o a experimentações não recomendáveis,

isto não quer dizer que toda a sua obra esteja assentada somente sobre este

aspecto. Há muita coisa boa, aproveitável e importante para ser estudada e

praticada pelos estudantes da Nova Era.

O enfoque libertino que muitos vêem em sua obra é ditado apenas pela

apreciação canhestra dos que não conseguem compreender que suas ações

objetivavam apenas deixar claro a importância das energias sexuais no processo

iluminativo da entidade humana. Suas experiências pessoais não podem ser

compreendidas pelos que ainda estão presos a dogmas, onde o conceito de pecado

é aceito como o limite da ação humana. Da mesma forma, os seus julgadores

esquecem que em seu coração brilhava intensamente a luz de um Cristo que, por

sua vitória sobre a ignorância do mundo, naturalmente precisava ser crucificado no

altar erguido pelos preconceitos humanos.

Esquecem que o mesmo enfoque existe em todas as religiões do mundo,

inclusive no cristianismo, depois mascarado pela Igreja com pudores não encontrado

nos quatro Evangelhos e que permitiu, às autoridades eclesiásticas, destruir o

membro viril de todas as estátuas expostas no Museu da Capela Sistina, como se

Page 13: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

13

estes representassem pecado para aqueles que ali vão à busca da arte em todo o

seu esplendor e beleza, sempre encontrada na perfeita construção da forma

humana.

As energias sexuais representam o que há de mais sagrado no ser

humano, razão suficiente para que o lugar onde residem, seja conhecido como

região sacra ou sagrada.

Da mesma forma, o enfoque do Liber Legis a que se permitem alguns

seguidores de Crowley, apenas sob o ângulo grosseiro de que a Magia Sexual basta

para resolver todos os problemas da iluminação do ser humano é uma forma

ingênua da busca da verdade, realizada pelos aprendizes de feiticeiro que ainda

deveriam estar varrendo o chão do “laboratório” de seus Mestres; vêem a fumaça,

mas jamais encontrarão o fogo.

Esquecem o acervo de sabedoria sobre o assunto existente em todas as

religiões do mundo. O coração necessita ser preparado para tornar-se a morada de

Hadit (O Cristo Interno) e de Nuit, sua noiva imortal (A Divina Mãe Kundalinî). Esta,

em sua pureza original, jamais habitará lugares conspurcados pela ignorância do ser

humano. Ao sair de seu habitat atual, quando é “importunada” em sua manifestação

estabilizada (embora pareça incrível, atualmente ela é “protegida” de nossa

insensatez pelo Guardião do Umbral), procurará uma nova morada e, dependendo

das vibrações a que estiver sujeita, tanto seguirá o caminho para cima como para

baixo; tudo estará sujeito a qualidade das vibrações existentes dentro de nós;

portanto, os aventureiros devem cuidar-se, porque os pântanos do caminho estão

dentro de nós mesmos.

Querer é Poder. A condição de Thelemita3 advém de uma Vontade

poderosa e que só existe no Aspirante quando sustentada pelo amor de Hadit (o

Segundo Logos ou a Divina Presença EU SOU no homem encarnado). Esta só se

manifesta num coração bem formado; quando isto não acontece, primeiramente

vemos o orgulho e a vaidade, logo seguidos da insensatez e, finalmente, o desejo

emocional alicerçado na ilusão de que desejo é poder. Cresçamos; identifiquemo-

nos com nossa eternidade; pratiquemos a ciência da Paz, ou seja, a paciência; esta

é a primeira qualidade necessária Estejamos certos de que quando o Discípulo está

pronto, o Mestre sempre aparece.

3 Thelemita é o denominativo dos adeptos do axioma máximo do Liber Legis: Faze o que tu queres há de ser o

todo da Lei.

Page 14: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

14

A grande verdade é que o Liber Legis não foi ditado somente para os

Magos ou alguns privilegiados. Suas lições devem estar ao alcance de todos. Daí

considerarmos a interpretação filosófico-religiosa do livro (no bom sentido), bastante

providencial, exatamente quando ele completa 93 anos de existência. Nosso

propósito é atender ao Povo Suplicante, os humildes, porém sinceros, aspirantes da

Verdade, que bradam pelo conhecimento real em seus anseios de libertação da

canga da ignorância em favor de seus direitos espirituais. Todos passamos por esta

fase e sempre necessitamos dos que estão à frente, no caminho, para a ajuda

necessária.

Com este trabalho, pretendemos apenas servir aos mais humildes e não

aqueles que acreditam desfrutar dos graus superiores da Verdade.

O Líber Legis é mais do que um livro de acesso à magia experimental.

Encerra, dentro de si, todos os ensinamentos relacionados às energias que

preponderarão nos próximos dois mil anos, ou seja, as energias do 7o. Raio ou Raio

do Cerimonial e da Magia, expressão, em grau inferior, da energia do Primeiro Raio,

o Raio do Poder e da Vontade. Esclarece e ressalta a importância da compreensão

da energia do Quarto Raio de Harmonia e Beleza, que começará a fluir sobre o

Planeta já no ano 2025, ajudando a humanidade a trilhar o caminho do coração, a

morada de Hadit, a Luz Radiante, quando Este deverá influir decididamente, a fim de

que o homem só use a Magia e o Cerimonial de forma benéfica e progressista,

sempre para seu desenvolvimento superior, evitando o que já aconteceu nas duas

vezes em que as energias do Sétimo Raio estiveram atuando sobre a humanidade:

o afundamento da Lemúria e da Atlântida. Este é o aspecto que quero ressaltar

neste livro: Magia e Cerimonial sempre com amor e amor (nunca emoção), sob

vontade.

Onde existe muita luz, as trevas decorrentes são intensas. Que o Povo

Suplicante se acautele, mas persista, buscando, “pois todo o que pede recebe; o

que busca encontra e a quem bate, abrir-se-lhe-á.4

Rio de Janeiro, 10 de abril de 1997 Panyatara - A.R.C.

4 Lucas, Cap. 11, versículo 10.

Page 15: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

15

PRELIMINARES

“DO wHAT THOU wILT SHALL BE THE wHOLE OF THE LAw” “Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei”

A finalidade deste livro é analisar e comentar cada trecho do “Liber Legis”

(Livro da Lei) de Aleister Crowley, naturalmente dentro da compreensão pessoal do

Autor, derivada dos ensinamentos que amealhou, até a presente data, do que é

conhecido pelos estudantes de ocultismo, como Ciência Espiritual.

O verdadeiro objetivo da linguagem contida nos “Textos Sagrados de

Thelema”, onde o processo de estudo e compreensão extrapola os cânones

adotados na leitura comum, é a possibilidade de suscitar interpretações cada vez

mais judiciosas e categorizadas, principalmente da parte daqueles que realmente

podem fazê-las com maior autoridade, levando o estudante comum a um novo

patamar de percepção das verdades eternas.

Como ainda não existe, dentro da ótica que estamos abordando, qualquer

interpretação mais acurada daqueles textos, principalmente de seus valores

cabalísticos e do sentido real e místico daquilo que o constitui, não pudemos deixar

de dar nossa colaboração sobre o assunto, a fim de que suas lições possam

repercutir favoravelmente sobre os buscadores da verdade, em vez de assustá-los.

Antes de iniciar a análise dos Textos referidos, é importante sabermos

que a totalidade do Livro da Lei está calcada em metáforas, muitas vezes ocultando

ensinamentos relacionados à Cabala, o que torna imprescindível nos inteirarmos de

alguns elementos algébricos, derivados de operações cabalísticas, para podermos

entender, mesmo superficialmente, seu conteúdo aparentemente truncado. A

reprodução da Árvore da Vida ajudará neste sentido.

Ainda com a finalidade de facilitar o entendimento do que será exposto

neste livro, relembramos aos leitores o seguinte:

a) Metáfora é um tropo em que a significação natural de uma palavra é substituída

por outra, em virtude da relação de semelhança subentendida.

b) Tropo é o emprego de uma palavra em sentido figurado.

Page 16: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

16

c) A CABALA envolve o estudo das palavras, das letras e dos seus valores

numéricos, sempre estudados em três grandes subdivisões conhecidas como

Gematria (ocupa-se com o valor das palavras), Temurah (consiste na

combinação das letras de uma palavra com outras, alterando o seu valor e

significado) e Notarikon, que se envolve com a arte dos signos (pela letra inicial

de uma frase ou de uma palavra podemos saber o número chave da palavra).

Outro ponto importante a ser considerado é a forma como foram redigidos

os versículos, sempre em linguagem mágico-esotérica, com o determinado objetivo

de:

1) Afastar, de seu entendimento mágico, aqueles ainda sob o domínio de

preconceitos religiosos e interessados apenas naquilo que esteja de acordo

com sua ótica pessoal.

2) Da mesma forma, afastar os que se recusam, de pronto, a analisar o que

colide com aquilo que estabeleceu como verdade. Suas mentes não estão

ainda preparadas para compreender os dois lados da criação e aceitar que,

aquilo que as religiões rotulam como mal, é, apenas, um outro aspecto da

Divindade em manifestação, necessitando da compreensão e o amor do

verdadeiro Amante da Verdade, a fim de estabelecer o equilíbrio perfeito da

criação. Não da criação realizada pela Divindade, que já nasce perfeita,

apesar de nossa incompreensão para o fato, mas a do homem, divindade

em evolução.

3) Eliminar os medos enraizados pelas religiões em nossa psique e em nossa

formação moral, de forma que sejam extirpados e substituídos por uma

profunda compreensão da beleza existente em todas as formas, mesmo

aquelas onde nossa ignorância só consegue ver o feio e o grotesco; até

mesmo nestas, o Aspirante à Verdade deve chegar a compreender que

“Todas as coisas foram feitas por intermédio d‟Ele, e sem Ele nada do que

foi feito se fez” (Jo.1.3).

4) Tornar as coisas ocultas reveladas aos que realmente procuram de forma

intimorata a verdade, porém, testando o valor daqueles que dizem ”Abre-te

Sésamo”, para que ao depararem com os tesouros ocultos dentro de suas

cavernas pessoais, saibam separar o ouro das escórias e tornarem

luminosas todas as coisas.

Page 17: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

17

5) Fazer com que o leitor ultrapasse seus ascos pessoais e chegue a

compreender que o valor é a primeira qualidade daqueles que aspiram ao

poder.

Não terminam aí os objetivos do livro. Seu propósito máximo é a

realização do Altar Sagrado, onde o leitor-Aspirante deverá entrar em contato com a

Divina Presença em seu coração; nisto consiste a meta do homem da Era de

Aquário. Este acontecimento se realizará com a nossa colaboração ou independente

dela. A primeira recomendação que fazemos em relação a este livro é: “Leia-o do

princípio ao fim; ao terminá-lo, garantimos que existirá uma nova compreensão,

tanto em sua mente como em seu coração e sua religiosidade, no bom sentido, sem

pieguismo, será maior do que a de agora”.

Por causa de sua importância para o entendimento das lições contidas no

livro, estamos reproduzindo, em seguida, a Árvore da Vida com as dez Sephiroth e o

alfabeto hebraico com suas correspondências.

Como o processo iniciático é ascendente, de Malkuth até Kether, mas

envolve ainda um processo ascendente da consciência, através dos Quatro Mundos

considerados pela Cabala (Atziluth, Briah, Yetzirah e Assiah), também estampamos

o gráfico da “Árvore Composta”, para facilitar o entendimento do Estudante.

Page 18: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

18

A Árvore da Vida

Com as dez Sephiroth e os 22 caminhos

Page 19: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

19

Page 20: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

20

O ALFABETO HEBRAICO E SUAS CORRESPONDÊNCIAS

Letras: Nomes: Alfabeto Hieróglifo: Valores

Aleph A O homem 1 א

Beth B A habitação 2 ב

Ghimel G Órgão, a mão que aperta 3 ג

Daleth D Seio, divisibilidade 4 ד

He E-H O alento, o sopro vital 5 ה

Vo (Vau) U-V O olho, a Luz, clareza 6 ו

Zain Z A flecha, tendência 7 ז

Heth (Shet) Ch Trabalho, um campo 8 ח

Teth T Abrigo, uma cabana 9 ט

Iod I-Y-J O dedo índice, mando 10 י

Khaph C-K O punho cerrado, forma 20 כ

Lamed L O braço estendido, elevação 30 ל

Mem M A mulher 40 מ

Nun N O fruto 50 נ

Samekh S Serpente, movimento circular 60 ס

Hwain O-W Matéria, laço materializado 70 ע

Pe P-F-Ph A boca e a língua 80 פ

Tsade Tz Teto, abrigo, têrmo 90 צ

Koph K-Q Instrumento cortante, acha 100 ק

Resh R Cabeça humana 200 ר

Shin Sh-X Duração relativa 300 ש

Tho (Thau) Th Reciprocidade 400 ת

As seguintes cinco letras têm formas e valores diferentes quando se acham no fim de palavras;

tsade = 900 ץ phe= 800 ף nun = 700 ן mem = 600 מ Khaf = 500 ך

Page 21: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

21

COMENTÁRIOS SOBRE O TEXTO DA CAPA DO

LIBER LEGIS

Liber Al (1) vel Legis Sub Figura

(Significa: o Livro de toda a Lei velado sob imagens (ou figura) mentais.)

CCXX (220)

(é o número de versículos que tem o Liber Legis.)

As Delivered by (significa: como (foi) transmitido (ditado) por)

XCIII (2) = 418

(significa: 93 = 418, ou seja: AIWAZ cujos valores pelo alfabeto grego somam 93, tem como valores cabalísticos 1+10+6+1+400= 418

TO

(para)

DCLXVI (666, é o número da Besta (o Baphomet), assumido por Aleister Crowley) (3)

(1) AL significa Deus, o poder e a extensão. Designa o Todo Poderoso, o Desenvolvimento da

Unidade, do Princípio, sua difusão no espaço e no tempo. Aqui, quer dizer todo, toda.

(2) Na página 367 do Livro „MAGIA en teoria y práctica” (Luis Cárcamo, Editor - Barcelona) de A.

Crowley, consta “A Palavra da lei é ” “Vontade”; esta palavra tem o valor de 93”. Da mesma

forma, na página 368, do mesmo livro, declara: “Amor é a lei, amor sob vontade”. “Amor (= Agapé, em

grego ) bem como Vontade (=Thelema, em grego ) somam, cada palavra, 93”. Na linha

seguinte diz: “AIWAZ também soma 93”. Como todas estas conclusões são de Crowley e não

conseguimos o mesmo valor para AIWAZ, (pelos nossos cálculos, Aiwaz somaria 89), abstivemo-nos

de estender nosso comentário sobre o assunto. Queremos esclarecer, ainda, que 93 é, também, a

letra composta por Crowley a ser acrescentada ao mantra AUM, modificando a M para MGN (M=40,

G=3 e N=50) e transformando o som do mantra para AUMGN (A=1, U=6, M=40, G=3 e N=50), cujo

somatório é igual a 100, que expressa a unidade na forma de manifestação completa pelo simbolismo

do número puro, “conforme era ensinado aos Iniciados do Santuário da Gnosis da O.T.O.. O número

100 indica misteriosamente a fórmula Mágica do universo como um motor refletindo a luz

indefinidamente. Curiosamente, 93 anos passados da recepção do Liber Legis, o Autor teve a idéia

de fazer este livro.

(3) Ver, neste livro, o Capítulo sobre o Mistério do Baphomet.

Page 22: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

22

Exaltação A NUIT (Extraída do Livro “KUNDALINΔ ou A Serpente Ígnea de Nossos Poderes Mágicos Internos” de autoria de OM. Cherenzi-Lind)

Eterna e Universal fonte de amor, de sabedoria e felicidade!

Natureza: és o nume glorioso da vida, o livro grandioso em que está escrita a história do universo com caracteres de Forma e Consciência. Quem não esteja instruído em tua escola não pode compreender–te. Por isto nos fixamos em Ti, pois em Ti se ativa e desenvolve a inteligência criadora. Em Ti se move e se eterniza a essência da Realidade Vital5, da qual nossa vida é apenas lampejo fugaz.

Tu, Natureza, és a mãe e irmã virginal que nos alenta na vida e determinas nossos caminhos. O universo é tua realização; tudo quanto existe é modalidade de Teu incomensurável amor, manifestado como luz de vida e fogo benfeitor e perfectivo que tudo glorifica.

Tudo o que se venera como supremo no universo é Teu corpo, Tua forma, que manifesta a Consciência que nos inspira.

Nós somos viageiros do infinito; em Ti nos encontramos e eternizamos; em Ti encontra apoio o fraco, sustento o virtuoso, ajuda o modesto, justificação o sincero, alento o esforçado e força o digno Cavaleiro do Universo.

És tudo e estás em todas as partes, mas o melhor de Ti fixa–se por meio de laços morais nos Santuários Secretos do coração de Teus eleitos.

Ó Mãe Natureza: vive plenamente em nós e assiste-nos em nossos esforços para depurar–nos de todo o egoísmo, de todos os preconceitos e de todas as vaidades, de modo que, superando-nos, sejamos mais dignos de Teu hálito!

5 A Essência da Realidade Vital é Had e Hadit a sua manifestação.

Page 23: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

23

ESCLARECENDO SOBRE OS MANTRAS

HADIT E NUIT

Existem, dentro dos textos do Líber Legis, algumas palavras com

significado muito importante demandando uma compreensão toda especial, pois,

como em todos panteões religiosos, representam a divindade em sua manifestação

nos vários planos de consciência onde o homem vive.

O Egito, de cuja filosofia religiosa o Líber Legis nasceu, possuía um

panteão que pode parecer muito confuso, dentro de uma rápida apreciação feita

pelo leigo, onde RA, a Divindade máxima, representava o Uno e era adorado através

de sua expressão como o Sol que conhecemos. Dele, partia toda a criação, em suas

várias expressões, sempre produzidas pelos deuses, seus filhos, todos, por sua vez,

expressando-se também através de um aspecto feminino e, ao mesmo tempo,

considerando outra entidade de caráter antagônico, muito significativa, que

representava o lado negativo dessa divindade; é o caso de Hórus e Set e muitos

outros.

Acresce, ainda, que uma mesma divindade possuía nomes diferentes,

dependendo da atividade ou do plano em que se estava manifestando. Os próprios

egípcios, talvez para não se perderem nessa profusão de nomes, figuravam estes

deuses com características incompreensíveis para o leitor não acostumado com

seus significados, como Hórus Cabeça de Falcão, Tot Cabeça de Íbis, Anúbis

Cabeça de Chacal, etc., porém com um significado esotérico muito importante, onde

estes animais representavam uma característica especial da ação da Divindade.

Vemos que, no Líber Legis, Aiwass, a entidade que ditou o livro para

Crowley, usou bastante os princípios espirituais das divindades egípcias, porém,

alguns de seus nomes estão adaptados a valores cabalísticos, com a finalidade de

facilitar a apreciação correta do leitor e, ao mesmo tempo, evitar possíveis

confusões em relação à mensagem do livro, mantendo, porém, toda a beleza das

vivências espirituais dos mistérios egípcios, dos quais os 32 caminhos da Árvore

Cabalística são uma adaptação valiosa, pois não permitiu que se perdesse este

maravilhoso conhecimento interno que os egípcios possuíam da entidade humana.

Page 24: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

24

No Líber Legis temos a menção do nome HADIT6, que se revela como a

essência presente em tudo e todas as coisas do universo manifestado. É,

dependendo do plano consciencial onde se manifesta, Hórus (Hoor, Heru,

Harmachis, etc.), sempre relacionado ao Segundo Aspecto do Criador.

Para o entendimento perfeito deste mantra7 é preciso considerar que sua

posição na Árvore Sephirotal é como Chockmah (A sabedoria), a Segunda Pessoa

da Trindade, o Filho ou Cristo na Cosmogonia Cristã, sempre UNO com o Pai (O

Logos Manifestado), este representado por Kether (A Coroa, a Inteligência Oculta).

Ainda se manifesta como Daath (O Conhecimento), situando-se entre as duas

primeiras Trindades, (a Divina, formada por Kether, Chokmah e Binah e a Espiritual,

formada por Chesed, Geburah e Thipheret.

Na Sephirah Tiphareth aparece se expressando como o EU SOU (O

Filho, Hórus, Ieosus, Anjo Guardião, etc.), porém sempre mantendo o nome de Hadit

e a condição de “A Divina Presença Eu Sou” (a Expressão do Pai que está nos

céus).

A soma dos valores cabalísticos do mantra Hadit são: H = 5 A + 1 D + 4 I + 10

T + 9 = 29 = 11 = 2

permitindo concluir o seguinte:

1º) O número 2 (somatório dos valores formadores do mantra) é a

primeira quantidade emanada do 1 manifestado (Kether, a Coroa) ou seja, é o 2o.

Aspecto da Trindade, (Chokmah), o Unigênito, a Mônada Divina, o Filho ou DIVINA

PRESENÇA no homem, que se manifesta numa nova roda da espiral para baixo,

como 11 (10 = o número do nome do Pai, a fonte da Luz e, também, o número

perfeito, mais o 1, como o princípio de uma nova espiral em direção aos planos

menos sutis), representando A Divina Presença oculta no homem. Portanto, neste

trabalho, Hadit é o núcleo gerador em todos os planos de vida, seja como EU SOU,

6 HAD significa a essência primordial; é o germe (gameta masculino) que fecunda todo o Caos (o útero)

Universal, transformando-o em Cosmo. O sufixo “it” é a partícula que imprime caráter propulsor à ideia contida no radical. 7 Como dissemos anteriormente, todo nome de divindade é um mantra que objetiva o desenvolvimento de

determinados chacras, quando pronunciados corretamente. Em Hadit, temos as vogais “A“, relacionada ao peito (morada de Hórus ou o EU SOU) e “I”, relacionada a cabeça (a Casa do Pai).

Page 25: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

25

o Átomo Nous ou Aquele que sustenta a personalidade no plano físico. É a essência

existente no cerne de todas as coisas e a concentração do infinito na Cruz humana.

Ainda seguindo esta linha de raciocínio podemos concluir que:

a) O número 1 indica o 1o Logos - O Criador = Brahma, o RA dos Egípcios,

Deus, o Pai. Na Cabala é representado por Kether, A Coroa da Criação.

b) O número 2 representa o 2o Logos, O Unigênito, O Filho, a Mônada Divina,

a DIVINA PRESENÇA; em nosso estudo é também Hadit como

consciência do EU SOU no homem. É Chockmah na Cabala, aparecendo

também como Daath neste estudo, conforme poderemos ver no comentário

do versículo 49 do 2o. Capítulo do Líber Legis.

c) O número 3, portanto, identifica o 3o Logos, O Espírito Santo ou o Atma do

Hinduísmo. Como veremos em seguida, neste estudo é Nuit, ou seja, a

Virgem do qual tudo nasce e para onde tudo volta, a Mãe do Cosmo,

personificação de Akasha (o Tattwa de cor negra); a Natureza primordial. É

representada no homem por Kundalinî, a energia formadora do corpo do

Cristo (Eu Sou) no ventrículo esquerdo de nosso coração. Na Cabala é

Binah, a Mãe, o Grande Mar.

Esta é a Primeira Trindade manifestada. Não podemos, entretanto

esquecer que Ela é, sempre, a mesma pessoa em 3 aspectos diferentes; isto é

muito importante porque é comum o estudante colocar o Pai acima do Filho e

da Mãe ou Espírito Santo; isto representa uma deformidade da compreensão

da Trindade, já que o Espírito Santo é o próprio Pai, manifestando-se num

Plano diferente daquele da plenitude de sua própria Consciência e não uma

Entidade diferente num Plano diferente e uma consciência diferente. O Filho é

da mesma forma, o Pai e, também o Espírito Santo ou Mãe. Compreendido isto,

poderemos entender o que está exposto abaixo. Em verdade, só existe o UNO,

o Incriado, manifestando-se segundo a sua própria Vontade. Toda a

manifestação dentro do Universo é aspecto de sua vida, inclusive, obviamente,

nós, os seres humanos, que teimamos em não aceitar essa realidade e agimos

segundo aquilo que pensamos ser nossa vontade, utilizando uma criação

particular, divorciada de Seus propósitos, assentada exclusivamente no Plano

Page 26: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

26

Astral, cuja essência precisaria ser mais bem estudada pelos que buscam a

Realidade Última. Esta é a razão de nossa atual percepção da verdade ser

considerada, pelos hinduístas, apenas como Maya ou ilusão.

2o.) O número 11 é, portanto, o início de uma nova espiral da

manifestação em direção aos planos menos sutis (o exterior, no caso em pauta, ou

seja o Caminho 11 da Árvore Sephirotal, que vai de Kether a Chockmah), depois de

atingir o número perfeito: o 10.

3o.) Assim sendo, o 3o Logos aparece como Formador, do qual tudo

nasce, se manifesta ou se forma. É Akasha individualizado na forma de Nuit. É a

Matéria Negra que envolve todo o universo (vide reproduções de recortes de jornais

anexos na página 25). É a Divina Mãe Kundalinî (Isis no plano físico-etérico) que, ao

chegar à Gruta (ventrículo esquerdo do coração), dá nascimento ao corpo do Cristo-

criança, o Eu Sou ou o Cristo no homem, a expressão de Hadit no plano físico-

etérico.

Tudo isto é confirmado na análise do nome de NUIT, onde podemos

verificar:

1o.) Nuit é o mantra8 que encerra os significados mais próximos, à nossa

percepção, da parte que poderíamos considerar material da divindade. Analisando

separadamente seus valores:

N = 50 U + 6 = 56

I + 10 T + 9 = 19 = 75 = 12 = 3

encontraremos para NU os valores 56 que, da mesma forma para Hadit, dá o

resultado 11, assinalando, conforme explicamos acima, a manifestação da

Divindade, numa espiral abaixo como Filho. Porém, se em Hadit, tudo se encerra no

2, em NUIT vamos encontrar como número final o 3 (50+6+10+9=75 = 12 (o

Caminho que vai de Kether a Binah) = 3), o 1 mais o 2, formando uma nova

expressão numérica, que representa o 3o Logos, manifestando-se como o Espírito

Santo, a Virgem Maria, Akasha, ou sob qualquer nome, na força física, sempre

simbolizada pelo que conhecemos por Natureza.

8 No mantra Nuit, encontramos as vogais “U“, relacionado ao chacra Muladhara e que deve ser pronunciado com

o ânus contraído e “I”, relacionada ao chacra Ajna (frontal), a Casa do Pai.

Page 27: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

27

Recortes de Jornais com artigos sobre a matéria negra que envolve e permeia todo o universo conhecido e que intriga nossos cientistas atuais. Os antigos sacerdotes egípcios já a conheciam e a simbolizaram com a Virgem Negra, adorada nos altares cristãos, num sincretismo religioso bastante significativo.

2o.) Dentro desse contexto, NU é ainda O Pleroma Gnóstico, o rio que

corre no Abismo Celeste (Nut, o Caos), onde todos os deuses foram engendrados. É

também o Escultor celeste que cria uma jovem formosa e a envia (qual outra

Pandora a Batu) ao homem, cuja felicidade fica, desde então destruída (é a Pistis

Sofia dos Gnósticos). Campo da revolução invisível; é a própria Nuit e, também, o

TIAOU, a região dos Manes, a região infernal9. É também: o Abismo celeste (Caos),

o espaço Infinito personificado em Nuit (o Cosmos), o Princípio feminino, a massa

líquida da qual evolveram todos os deuses e a deusa do céu, pelo qual navega o

9 Ver página 42 do livro “Mistérios Iniciáticos”, de Henri Durville.

Page 28: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

28

barco do Deus Sol. Os sacerdotes egípcios a figuraram como uma mulher

debruçada, tendo em seu bojo a criação e, as suas costas, o firmamento estrelado.

Conseqüentemente Nuit é a própria Mulaprakriti da Teosofia, ou seja, a

raiz da Natureza (Isis) ou da Matéria. É o abstrato princípio deífico feminino: a

substância indiferenciada ou Akasha. H.P. Blavatsky diz, ainda, de Mulaprakriti: “é a

matéria cósmica indiferenciada, a matéria primordial, essência ou raiz da matéria,

eterna causa material e substância ainda não manifestada de tudo quanto existe; é a

imensa massa de matéria informe, caótica ou indiferenciada, da qual surgem todas

as formas ou manifestações materiais do universo visível ou manifestado. Os

Alquimistas ocidentais lhe dão o nome de “Terra de Adão” e os Vedantinos “O Véu

sobre Parabrahman”. NUIT, por sua vez, deve ser compreendida como Cosmos

manifestado ou, ainda, o princípio espiritual do universo material e Isis, a Natureza

material que nos envolve. Ainda segundo H.P. Blavatsky, cada partícula ou átomo

de Prakriti (matéria) contém Jiva (Vida Divina) e é, ao mesmo tempo, o corpo do

Jiva10 que contém.

Da mesma forma, cada Jiva é o “corpo” do Espírito Divino, já que Este

impregna (é a essência de) cada Ser. Para melhor entendimento, bastaria

compreender que este Espírito Divino-Criador (Brahmâ = Kether) é o Primeiro Logos

e, cada Jiva, é Hadit, a essência espiritual de cada universo individual, este

representado pelo ser humano, o que nos leva a compreender ainda melhor a

afirmação existente no item 23 do 2o Capítulo do Líber Al vel Legis, (Eu Sou só. Não

existe Deus onde Eu Sou) 11, comentado neste livro, daí ser verdade que “impregno

com meu ser cada partícula de Nuit, a minha eterna noiva imortal”.

3o.) Confirmando o item acima é importante não esquecermos que Nuit é

o esconderijo (que envolve - vide versículo 1 do Capítulo 2) e o complemento de

Hadit, ou seja, Nuit é expressão de HADIT no plano da forma, na qual este nasce o

homem, através da expressão daquela como Kundalinî.

10

Jiva, segundo H.P.Blavatski, é o Espírito vital ou vida, no sentido do Absoluto; significa também a Mônada

Divina ou o Aspecto Crístico no homem (“EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A Vida). 11

Cada Ser Humano é a manifestação de um Universo perfeito e neste universo individual não existe outro Deus

que o EU SOU, ou seja, Jiva, Cristo Interno, Mônada Divina, etc.

Page 29: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

29

É importante enfatizar que Hadit (como Cristo) só nasce, ou seja, se

manifesta no homem, pela ação de Kundalinî (Isis). Neste caso, Nuit é o útero

universal, gestor da infinita expansão da Rosa no coração humano. 12

Imagem de N. S. de Montserrat

Uma das muitas Virgens Negras adoradas nas grandes Catedrais européias, incorporando os predicados de Nuit/Isis para a Cristandade.

12

O Ser humano vive no externo, em Nuit/Isis (a matéria) e sua consciência ainda não penetrou Hadit, o núcleo e a essência das coisas. Hadit é a infinita concentração na cruz humana e também o próprio núcleo e a essência da vida escondida na matéria e na forma (Nuit/Isis).

Page 30: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

30

LIBER LEGIS

PRIMEIRO Capítulo COMENTADO

1. Had! A manifestação de Nuit.

Comentário: A compreensão deste versículo é muito sutil. Primeiramente,

o Estudante deve voltar a ler o comentário sobre a Trindade, na página 23 e imbuir-

se do sentido primário do mantra Had, como essência de tudo e de todas as coisas.

Isto feito poderá compreender que a manifestação de Nuit não pode ocorrer sem a

“anterioridade” de Had, bem como Hadit deve ser compreendido “escondido” no seio

de Nuit (ver 2o. capítulo, versículo 1).

2. O desvelar dos companheiros celestes.

Comentário: Had e Nu são as duas potências veladas no seio de Ra ou

Kether, a Coroa da Manifestação. Quando ocorre a manifestação de Nuit,

naturalmente Hadit13 está presente, daí que a manifestação de Nuit é,

verdadeiramente o desvelar dos companheiros celestes; pois a manifestação de um

é, implicitamente, a do outro.14 Na Cabala constam como Chokmah e Binah, e na

igreja cristã aparecem como Maria e seu filho Jesus, o que com todo o respeito, não

deixa de ser um entendimento imperfeito destes sublimes princípios da Divindade.

3. Todo homem e toda mulher é uma estrela.

Comentário: Esta é a grande verdade esotérica da natureza humana.

Para compreendê-la, primeiramente é necessário imaginar Hadit, o centro cósmico,

tanto do homem como da mulher, envolvido por Nuit, representada pelas energias

materiais sob as quais se manifesta o ser humano.

13

Tanto no homem como na mulher, Hadit é a Radiante Vida Eterna que ilumina e sustenta todos os átomos do

corpo humano, seja qual for o estado evolutivo em que se encontre. 14

A denominação “companheiros celestes” não deve confundir o estudante em relação aos Deuses Gêmeos

Heru-Nech-Hra-Tef e Heru-Quent-Anmaate, da cosmogonia egípcia, relacionados aos Átomos Elementais Animal e Humano (Castor e Pólux) no Universo cosmogônico humano. Sobre o assunto, ler o livro “Os Deuses Atômicos”, que pode ser “baixado” gratuitamente do Blog: http://revelandoosmisteriosdooculto.blogspot.com/

Page 31: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

31

Em seguida, devemos projetar as partes de um zodíaco, traçando um

triângulo eqüilátero, no qual o vértice superior fica consagrado ao signo de Áries (1o.

signo), o da esquerda ao signo de Leão (5o. signo) e o da direita a Sagitário (9o.

signo), formando, os três uma figura geométrica exclusivamente de signos de fogo,

como vemos abaixo:

(Áries)

(Leão) (Sagitário)

Continuando, vamos desenhar outro triângulo eqüilátero, agora com a

linha base na parte superior, onde vamos consagrar o vértice da esquerda ao signo

de Gêmeos (3o. signo), o da direita ao signo de Aquário (11o. signo) e o vértice

inferior ao signo de Libra (7o. signo), formando, desta vez uma figura somente com

signos de Ar, como está abaixo:

(Gêmeos (Aquário)

(Libra)

Numa terceira etapa, vamos projetar outro triângulo eqüilátero, com

signos do elemento terra, agora com um vértice voltado para a direita, onde

colocaremos o signo de Capricórnio (10o. Signo), no vértice superior, o signo de

Touro (2o. Signo) e, no inferior, o signo de Virgem (6o. Signo), como vemos abaixo:

(Touro)

(Virgem)

Finalmente, projetemos mais um triângulo eqüilátero, agora com um

vértice voltado para a esquerda, ao qual destinaremos aos signos de água,

colocando o signo de Câncer (4o. Signo) no vértice esquerdo, o signo Peixes (12o.

Signo) no vértice superior e o de Escorpião (8o. Signo), no vértice inferior, tendo

desta forma, a seguinte figura:

(Peixes)

(Escorpião)

(Capricórnio)

(Câncer)

Page 32: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

32

Agora, se sobrepusermos os dois primeiros triângulos, ou seja, os de fogo

e Ar, teremos a figura abaixo, formando uma estrela de 6 pontas, com seus

elementos em perfeita combinação ou seja:

Fogo & Ar:

Da mesma forma, sobrepondo os triângulos com signos de Terra com os

de Água, teremos a figura abaixo, também uma estrela de 6 pontas, da mesma

forma com seus elementos em perfeita combinação, ou seja:

Terra & Água

Se agora sobrepusermos as duas estrelas de 6 pontas, uma sobre a

outra, rotacionando-as, de forma que seus vértices ocupem lugares distintos dentro

de uma circunferência, teremos uma estrela de 12 pontas, figurando um zodíaco, a

expressão mais perfeita daquilo que tanto o homem como a mulher são no universo

manifestado. No centro, invisível, resplandece a origem de toda a consciência

perceptiva do homem real, em seus aspectos positivo/negativo. É Hadit (Jiva,

Mônada Divina ou Divina Presença EU SOU), perfeita manifestação do Uno, que

atua no ser humano utilizando os 12 pares de nervos cerebrais, representando os

vinte e quatro anciãos perante o Trono (o chacra coronário ou Kether, a Coroa (ver

Apocalipse 4, 4, e as referências à palavra Trono em toda a Bíblia).

Page 33: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

33

Cada triângulo forma uma expressão de consciência em três estágios de

percepção, que tanto pode ser positiva como negativa:

a) percepção sensitiva, táctil ou física com o triângulo do elemento terra, que

tem como fundamento o Tattwa Prithivî;

b) percepção emocional, sentimental ou amorável, com o triângulo do

elemento aquoso, que tem como fundamento o Tattwa Apas;

c) percepção mental, intuicional ou espiritual com o elemento fogo, que tem

como fundamento o Tattwa Tejas;

d) percepção divina, que começa após a intuicional (ainda insuspeitada pelo

ser humano) com o elemento aéreo, que tem como fundamento o Tattwa

Vayu.

A representação do ser humano como estrela implica na forma correta de

retratá-lo em seus diversos estágios de evolução.

A estrela de Davi com um ponto no meio , é sua representação

pessoal integrada ao seu aspecto divino .

A estrela de 5 pontas ou Pentagrama é a estrela da Teurgia, tanto

superior como inferior.

Representa o ser humano dentro da circunferência como vencedor dos

elementos inferiores de sua atual constituição e estágio de evolução, que culminará

quando tenha conquistado as energias superiores de Aquário, Áries, Sagitário,

Gêmeos e Libra (Vontade, Iluminação, Expansão, Sabedoria e Equilíbrio), que

ornarão sua representação no final da Ronda evolutiva em que a humanidade se

encontra (4a. Ronda).

Do centro desta estrela, no homem superior, emanam os raios do Sol

Espiritual (Signo de Leão) da seguinte forma:

a) vértice superior: Aquário (Ar), signo da Vontade Espiritual (Thélema).

b) vértice lateral esquerdo: Áries (Fogo), signo da iluminação Espiritual.

c) vértice lateral direito: Sagitário (Fogo), signo da Expansão Espiritual.

Page 34: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

34

d) vértice inferior esquerdo: Gêmeos (Ar), signo da Sabedoria Espiritual.

e) vértice inferior esquerdo: Libra (Ar) signo da Harmonia Espiritual.

A cruz também é uma representação estelar do ser humano ainda

submisso à matéria; é representada por um homem em pé, os pés juntos e

aprumados em relação à cabeça e com os braços abertos. 15

Seja qual for a forma da estrela, 7 (a estrela dos grandes iniciadas), 8 (a

estrela anunciadora do Cristo), 9, 10 ou 11 pontas ou triângulos, ela sempre é uma

representação do Andrógino Cósmico, em suas diferentes etapas de vivenciamento

nos mundos manifestados, conquanto, no âmago da forma estelar, possamos

sempre ver a luz que resplandece na forma. Esta é a razão pela qual todo homem e

toda mulher é uma estrela.

4. Todo número é infinito; não há diferença.

Comentário: Esta não é uma verdade matemática, porquanto todo número

dividido por si mesmo, anula-se, resultando zero ou nada. Entretanto, se atentarmos

que todo número é um fenômeno quantitativo e expressão de um númeno, podemos

compreender que, mesmo quando uma quantidade qualquer é anulada pela divisão

no mundo dos fenômenos, permanece a infinitude de sua origem no universo

essencial, embora não possa mais ser percebida pelos sentidos da percepção

humana. O número infinito é este Númeno16, ou seja, o UM imanifestado, do qual

procedem todos os números ou Mônadas Divinas, essencialmente todas iguais, sem

diferença e infinitas como expressão e, no caso, também essência (númeno) do Um.

15 A adoração ao Cristo pregado na cruz é uma criação promovida pela Igreja Católica Apostólica

Romana, com a finalidade de explorar a emocionalidade de seus seguidores, em consonância com o aspecto inferior do 6

o. Raio, que preponderou durante os últimos 2.000 anos, em vez de ensinar o verdadeiro sentido do

símbolo do Ser Divino na Cruz humana. Isto provocou o esquecimento do aspecto superior do 6o. Raio, o

Idealismo, ensinado pelo Cristo, incompreendido e negligenciado pelos religiosos ocidentais da Era de Peixes, embora existam meritórias exceções como foram Ghandi, Leibiniz, Newton, Anwar Sadat, Albert Einstein, Madre Teresa de Calcutá e muitos outros que, em suas áreas específicas, tudo fizeram em prol de uma humanidade melhor, objetivo máximo do Cristianismo. 16

Númeno (Nóumeno) - A verdadeira natureza essencial do ser, não perceptível pelos sentidos. A essência ou

substância das coisas, que é por si mesma, existente atrás dos fenômenos. Exemplo: O Raio é um fenômeno da eletricidade.

Page 35: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

35

Desta forma, todo número é infinito e não há diferença entre eles, pois a unidade é a

única realidade entre os números, que nada mais são do que somatórios do UM.

5. Ajuda-me, ó guerreiro senhor de Tebas, em minha revelação ante os Filhos dos homens!

Comentário: Esta fala é de Aiwass17, entidade comunicante do Líber Legis

dirigindo-se a Aleister Crowley, aqui denominado como Guerreiro de Tebas em

virtude de uma encarnação anterior em que este é designado como o sacerdote

Ank-f-n-khonsu, no capítulo sobre a “Estela da Revelação”). Guerreiro é sempre o

Iniciado nos mistérios menores e o titulo de Senhor de Tebas era dado àquele que

se tornava plenamente consciente no plano mental e, por conseguinte, um

“conquistador da morte”.

A exortação em análise apela para que Crowley se incumba da tarefa da

revelação que Aiwass desejava fazer “ante os Filhos dos homens” e acabou

resultando no Líber Legis.

6. Sê tu Hadit, meu centro secreto, meu coração e minha língua!

Comentário: São ainda da Entidade comunicante as palavras acima,

dirigidas a Hadit, a Divina Presença no homem, qualquer que seja o plano de

consciência em que este se encontre, exortando-o para que prevaleça em seu

coração e em suas palavras, ajudando-a e amparando-a na tarefa a que se propõe,

ou seja, ditar o Líber Legis para Aleister Crowley.

7. Observai! Está revelado por Aiwass, o ministro de Hoor-paar-kraat.

Comentário: A partir deste versículo, o 7, não por acaso, a fala, apesar de

ditada por Aiwass, representa Nuit, tanto em seus aspectos mais sutis como nos

mais mundanos, inclusive o de Isis (a natureza material como a conhecemos).

Para entendê-lo, primeiramente necessitamos conhecer os valores

cabalísticos de Hoor-paar-kraat:

Hoor = 5+70+70+200 = 345 = 12 = 3 (Hórus) Paar = 80+1+1+200 = 282 = 12 = 3 (Ra) Kraat= 20+200+1+1+ 9 = 231 = 6 (Nuit) 12 = 3

17

Aiwass chegou a ser considerado por Crowley como sendo o seu Santo Anjo Guardião (Guia), mas este, pela exortação contida neste versículo, parece deixar claro sua existência como individualidade (embora em outro plano de consciência), ainda dependente da Realidade Máxima que se manifestava nele: A Mônada Divina ou Divina Presença existente em cada Ser.

Page 36: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

36

As formas dos nomes das Divindades da teogonia egípcia, adaptadas ao

contexto do Líber Legis, estão condicionadas ao objetivo da mensagem, sem a

preocupação de estar vinculada a qualquer forma de vernáculo, a não ser a de seus

valores cabalísticos decorrentes da mesma. Assim, no decorrer da análise dos

versículos do livro comentado, vamos encontrar palavras aparentemente símiles

(Hoor-pa-kraath, Heru-pa-kraath, Ra-hoor-khuit, etc.), mas com valores cabalísticos

diferentes ou, então, com maior ênfase no objetivo perseguido.

No caso em estudo (Hoor-Paar-Kraat), foram aplicados os recursos da

Gematria, da Temurah e do Notarikon a fim de que esta palavra pudesse ser

compreendida, por causa da sua composição trina, como a própria Trindade e não

apenas a de um de seus aspectos isolados. Disso resultou a palavra Hoor-Paar-

Kraat, como uma Trindade de caráter inferior, de quem Aiwass se intitula ministro,

assumindo a responsabilidade e dando conotação divina ao que está escrito no

Líber Legis.

É importante ressaltar que Hoor-Paar-Kraat é o próprio Hórus (Heru-pa-

crat, o Harpócrates dos gregos), porém aparecendo aqui mais como um deus fálico

do que um deus solar e, enquanto Ra-Hoor-Khuit é a expressão da Trindade mais

elevada no homem, Hoor-Paar-Kraat é a mesma coisa para os planos inferiores.

Representam a mesma entidade, embora em níveis de consciência diferentes.

Na saudação que reproduzimos abaixo, que fazia parte do processo

iniciático egípcio, encontramos menção ao Deus Par (o mesmo que Paar, em função

do que já explicamos anteriormente), exaltado como Senhor da Coroa de Ureret18.

Isto considerado fica claro que é alguém ou algo que ainda cresce na re-assunção

de sua realeza espiritual:

“Homenagem a ti, ó deus Par, poderoso, Senhor da coroa Ureret, que governas com o chicote; és o senhor do falo, cresces à medida que brilhas com raios de luz e o teu brilhar chega as partes mais extremas (da terra e do céu e, neste caso, do corpo humano). És o senhor das transformações e tens múltiplas peles (reencarnações) que escondes no Utchat

19 quando nasce. És o poderoso dos

nomes entre os deuses, o poderoso corredor de passadas consideráveis; és o deus, o poderoso que chega e livra o necessitado e o aflito de quem o oprime”.

18

Coroa de Ureret é o disco Solar que encimava a cabeça de Hórus, de Ra e de todos os Iniciados que tinham conquistado sua emancipação espiritual. 19

UTCHAT é a imagem do olho de Hórus ou de Ra, atacado por Set, significando “percepção em muitas vidas e, também, em todos os planos de consciência”.

Page 37: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

37

8. O Khabs está no Khu, não o Khu no Khabs.

Comentário: O mantra KHABS tem os seguintes valores algébricos: K = 20 H =+ 5 A =+ 1 B =+ 2 S =+ 60 = 88 = 16 = 7

O número sete é o número da casa do ser real (Hadit, a Mônada ou

Divina Presença) em sua manifestação no Plano físico, compreendida com

facilidade por todos aqueles que já estudaram alguma coisa sobre os 7 chacras ou

centros de força e os 7 planos de consciência. Khabs é O Triângulo eqüilátero

sobre o quadrado ou a pirâmide triangular sobre o cubo. Como Hadit é o cerne

e o centro de todas as coisas, por analogia é fácil depreender que, sendo o chacra

cardíaco aquele que corresponde exatamente ao meio algébrico entre os chacras

superiores (Sahasrara, Ajna e Vishudda) e os inferiores (Manipura, Swadhisthana e

Muladhara) é na parte espiritual do coração onde Hadit mora, ou seja, o Coração

humano é a Khabs.

KHABS é sempre veículo, corpo ou morada, seja o coração do corpo

físico ou do espiritual. Nas iniciações egípcias, também era o corpo físico ou os mais

sutis (denominado Ka ou Kha), quando se tratava do duplo do iniciado ao se

desprender em busca das experiências fora do corpo grosseiro. É o veículo

manifestado da consciência, qualquer que seja o grau desta. 20

20

Observação: a) Analogamente, o Sol físico é o coração do Logos do nosso sistema planetário, pulsando a cada 2h40‟

a uma velocidade de cerca de 4 mph, alterando sua superfície em contrações e expansões de aproximadamente 10 quilômetros de altura.

b) Um eminente filólogo brasileiro, cuja inteligência, sinceridade com a Ciência Sagrada e

conhecimentos esotéricos o Autor reverencia pela sua estatura de “Mestre no coração”, dá outra interpretação na análise deste item, também respeitável, mas diferente da aqui exposta, principalmente quando diz que Hadit é o “átomo material”. Provavelmente referia-se ao átomo semente físico-etérico e compreendia esta passagem sob outra ótica, também muito respeitável, mas que não conseguimos alcançar em sua plenitude. No trecho em que diz que o coração é a própria morada de Khabs (?), acreditamos ter havido algum erro de datilografia, pois o Líber Legis diz claramente que “Khabs é o nome de minha casa”, ou seja, sendo Khabs morada ou casa de Hadit e considerando que Hadit expressa-se como EU SOU no ventrículo esquerdo do coração, seria incongruente pensar que Khabs (a casa de Hadit) pudesse morar em si mesma, ou seja, no coração. Entretanto, é importante ressaltar sua alta percepção espiritual e seu valor como bandeirante do pensamento humano, porquanto consideramos muito próxima sua concepção de Khabs (20+5+1+2+60 = 88 = 16 = 7), embora a tenha traduzido como “Kaukab”, uma palavra árabe que quer dizer estrela, quando, se usarmos as operações cabalísticas denominadas Gematria e Themurah, ela parece ser apenas a palavra egípcia “khat (100+5+1+9 = 115 = 7), usada no “Livro Egípcio dos Mortos” de E. A. Wallis Budge - Editora Pensamento (pág. 34), significando corpo físico, que, como morada de Hadit, é o coração, que aparece como “ab”, na página 35 do mesmo livro. (Na “Estela da Revelação”, “n khab” é traduzida como “ao corpo, ao homem e “sombra”).

Page 38: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

38

É importante também, na análise deste versículo, considerar que 7 é o

número da Sephirah Netzach (Vitória), relacionada à Alma como veículo inferior do

Espírito e superior da Personalidade, bem como suas implicações cabalísticas.

KHU, por sua vez, é, conforme já explicamos anteriormente, o 3o. Aspecto

da Trindade; a matéria negra, em estado potencial (o Caos, o Abismo) que envolve

todo o universo manifestado, do qual é a base e da qual tudo emana e para a qual

tudo volta.

Desta forma, podemos compreender perfeitamente que Khabs, o veículo

manifestado, seja o coração, o corpo físico ou o sutil está no Khu, base de toda a

manifestação existente; o inverso é inadmissível, embora alguns estudantes ainda

não se aperceberam da sutileza que representa o Khu dentro do Livro da Lei, pois

ele é o princípio “negro” perseguido pelo alquimista para obter a pedra filosofal.

9. Adorai então o Khabs e vejam, sobre vós, a manifestação de minha luz!

Comentário: Este versículo confirma o que foi comentado acima,

enfatizando a importância do coração (Khabs, a morada de Hórus - página 61 do

Livro Egípcio dos Mortos) como ponto focal da consciência humana21 para o próximo

estágio evolutivo da raça humana. “Adorai o coração e vede minha luz” é a grande

mensagem de Nuit para a humanidade, pois ela sabe que ali reside a Luz Radiante:

Hadit, Hórus, o Cristo, etc. o Filho, sua Luz e, também, da humanidade; o

sustentador da eternidade para toda a criação.

A focalização do coração retirará a mente humana de sua posição atual,

restrita ao plexo solar (atendimento dos apetites materiais e tudo o que é externo e

mundano) para centralizá-la no chacra cardíaco, de onde o homem “receberá a luz”

que vem do alto, quando, então, a intuição prosperará até chegar ao estágio em que

“já não sou eu quem vive, mas o Cristo vive em mim” (Gálatas, 2, 20).

21

Na contraparte etérica do corpo físico, na câmara superior do ventrículo esquerdo do coração humano, está presente a manifestação da Divina Presença ou Hadit, conhecida como “Eu Sou”, “Rei Artur” Átomo Nous, Cristo Interno, Moisés, Krishna, etc., etc.

Page 39: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

39

10. Que meus servidores sejam poucos e secretos: eles regerão a maioria e os conhecidos.

Comentário: Em primeiro lugar, quem são os servidores de Nuit?

Encontramo-los entre os servidores da Humanidade, os protetores da vida animal,

da vida vegetal, os ecologistas e todos aqueles que já compreenderam a

necessidade da preservação da vida no Planeta, em todas as suas formas de

expressão. São poucos em relação aos destruidores inconseqüentes e geralmente

trabalham de forma solitária, enfrentando as maiores dificuldades em seus afãs,

tendo como único propósito servir à vida. Vemo-los entre os componentes do

“Greenpeace”, nos cientistas que trabalham nas mais remotas e adversas regiões do

planeta e todos aqueles que estão sempre procurando salvar vidas, preservar a

natureza e recuperar sua expressão anterior para as gerações futuras. Recusam

sistematicamente o convívio com a maioria da sociedade e o conluio com as

autoridades reconhecidas, por tripudiarem sobre os valores de suas funções e

fazerem prevalecer os interesses subalternos e imediatos em detrimento do bem

geral, insurgindo-se, muitas vezes, contra os Servidores de Nuit, tachando-os de

loucos e “desligados”.

No âmbito esotérico. os Servidores de Nuit são aqueles que se preparam

devidamente para a subida de Kundalinî, preparando o Khabs para servir como nova

morada para a Divina Mãe. Nesta atividade, encontraremos aqueles que

compreenderam a necessidade de se manterem em paz, em silêncio e recusam os

valores perseguidos pela maioria da humanidade e as pretensas “autoridades” em

assuntos esotéricos; sabem que o processo é estritamente particular e depende

única e exclusivamente do esforço de cada um; a experiência de alguns não é válida

para todos. Sabem, também, que o verdadeiro Iniciador está dentro de nós mesmos.

Regerão os muitos e os conhecidos porque se tornarão sábios e dominarão tanto no

mundo externo como no interno.

11. Estes são tolos que os homens adoram; ambos, seus deuses e seus homens são ingênuos.

Comentário: Aqui Nuit refere-se à maioria e os reconhecidos

mencionados no versículo anterior, ou seja, os seres humanos ainda “adormecidos”

em relação à Senda Espiritual e as autoridades religiosas, que “fabricam” imagens

de Deuses (os santos da igreja cristã) completamente estranhas à Realidade Única,

Page 40: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

40

porquanto nunca chegaram a pressentir o que representa a vida espiritual e têm a

veleidade de, sobre a mesma, estabelecerem “valores” completamente fantasiosos,

apenas para satisfazer suas concepções e interesses particulares.

Na segunda frase, de forma metafórica, é deixado claro que ambos, os

homens e as divindades de suas concepções são fantasiosas, quiméricas e tolas,

por não corresponderem à Realidade Única, que está muito além dessas criações.

12. Avancem sob as estrelas, ó Crianças, e tomai vosso alimento de amor!

Comentário: Neste versículo temos uma palavra chave da ciência

esotérica: Crianças. Ela quase sempre está associada ao conceito de verdadeiro

Iniciado, em sua condição de pureza, alegria e a capacidade de crescer cada vez

mais em seu aperfeiçoamento espiritual. Era a essas “crianças” que o Mestre Jesus

se referiu quando disse: “Em verdade vos digo que se não vos converterdes e

não vos tornardes crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus”.22

Avançar sob as estrelas é o mesmo que vivenciar as energias de todas as

constelações do Zodíaco, tomando seu alimento de amor, representado pelas lições

superiores contidas em cada signo. Dessa forma, este versículo pode ser entendido

como a necessidade do Iniciado (o que começa) reencarnar novamente em cada

signo zodiacal, agora incorporando e aprendendo a comandar essas energias, com

a finalidade consciente de servir a sua própria evolução e ao Plano de evolução da

Divindade.

13. Eu Sou sobre vós e em vós. Meu êxtase está no vosso. Minha felicidade é

ver vossa alegria.

Comentário: Para compreender este versículo é imprescindível

aceitarmos Nuit como Akasha, de quem tudo nasce, tudo se mantém e para a qual

tudo volta. É o Terceiro Aspecto da Divindade, pressentido por Paulo em seu

discurso em Atenas23 quando diz: “pois nele vivemos, nos movemos e existimos

porque dele também somos geração”, testificando a imanência e transcendência da

presença divina no homem, conforme o item nos deixa perceber. Realmente Nuit, a

matéria-vida do Universo está sobre nós e em nós. Tudo o que se passa conosco é

vivenciado por este maravilhoso Aspecto da Consciência Divina que nos ama e

22

Mateus, capítulo l8, versículo 3. 23

Atos dos Apóstolos, capítulo 17, versículo 28.

Page 41: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

41

participa, tanto de nossas alegrias como também de nossas tristezas. Para o

Iniciado é fundamental compreender esta verdade e tudo fazer para viver em

Alegria, pois sua consciência não pode mais ultrajar o amor de Nuit; não pode mais

deixar-se envolver por pensamentos ou atitudes que não estejam em sintonia com a

intensidade do amor da Divina Mãe. Em consonância com esta verdade, é sempre

bom não esquecer as qualidades da Deusa Kâli, “a negra”, divindade do panteão

hindu que destrói aqueles que não sabem participar de seu amor.

A vibração-chave de nosso atual Universo é o puro Tattwa Prithivî. Êxtase

e alegria são vibrações prithivicas; vivenciá-las de noite e de dia é obrigação do

verdadeiro Iniciado.

14. Acima, o azul cintilante é o esplendor desnudo de Nuit; Ela curva-se em êxtase para beijar os ardores secretos de Hadit. O Globo alado, o azul estrelado. São meus, Ó Ank-af-na Khonsu! 24

Comentário: É clássica a figura de Nuit encurvada, tendo em seu bojo

toda a criação manifestada e, em suas espaldas, o azul do firmamento estrelado.

Este versículo é a representação poética deste símbolo, deixando perceber o

sentido místico do amor da Divina Mãe em relação a todos as criaturas. Os ardores,

energias e fogos secretos de Hadit representam a Luz das Mônadas Divinas dentro

da criação.

O Globo Alado (o “Urœus” ou “atef”) simboliza as duas verdades, ou seja,

o poder sobre o bem e o mal e, também, sobre a vida e a morte; nos antigos

Mistérios egípcios, era colocado sobre a cabeça do Osiris-defunto (o Iniciado),

conforme as narrativas hieroglíficas das cerimônias de Iniciação.

Ao dirigir-se a Ank-af-na Khonsu, Nuit alerta-o: o poder final sobre todas

as coisas é seu, pertence à Mãe Natureza que, na simbologia egípcia, também é

retratada como Tot ou Teuti, o julgador de vivos e mortos, conforme já foi explicado

anteriormente.

24

Ver explicações sobre este personagem no capítulo 4 deste livro, A ESTELA DA REVELAÇÃO. a) Ank-af-na Khonsu, é o que matou a si mesmo (superou a personalidade), ou seja, o vencedor da morte

ou Iniciado Real. b) Aleister Crowley acreditava ou aceitava a possibilidade de ter uma “certa identidade” ou ser uma

“continuidade” de Ank-f-n-khonsu, Alto Sacerdote no Egito Antigo, que teria empreendido, sem êxito, a restauração dos mistérios solares em sua época; foi sábio, praticante da Teurgia e adquiriu renome por ter conquistado sua iniciação maior com sucesso, sendo considerado um “vencedor da morte”. A Estela da Revelação, catalogada pelo Museu Boulaq, no Cairo, Egito, sob o n°. 666 (coincidência?) pertence a um monumento funerário dedicado a este sacerdote, que teria vivido nos idos de 725 a.C. “The Holy Book of Thelema” de A. Crowley, publicado por Samuel Weiser, Inc. (York Beach, Maine, USA) aborda com detalhes e comentários esclarecedores, os estudos feitos sobre esta Estela.

Page 42: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

42

Reprodução de uma gravura egípcia onde Nuit, encurvada, envolve em seu bojo toda a

criação, tendo, as suas costas, o firmamento azul estrelado.

Page 43: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

43

15. Agora sabereis que o escolhido, Sacerdote e apóstolo do espaço infinito, é o príncipe-sacerdote a Besta25; e em sua mulher, chamada a Mulher Escarlate está todo o poder outorgado. Eles acolherão minhas crianças em seu aprisco: trarão a glória das estrelas para os corações dos homens.

Comentário: O versículo acima parece conter algo muito importante para

o aprendizado do Estudante sincero, obrigando-o a uma perscrutação especial sobre

seu sentido velado.

Primeiramente, é preciso descartar a possibilidade do mesmo se referir a

Crowley e a sua esposa Rose, pois os títulos outorgados não se ajustam as suas

personalidades, nem tampouco os acontecimentos de suas vidas estão de acordo

com as afirmações metafóricas nele enunciadas.

Isto esclarecido, podemos analisar as palavras-chaves para chegar a uma

compreensão mais próxima da verdade.

A Besta é a mente inferior (he phren) e a Mulher Escarlate é a Grande

Cidade Babilônia que, em linguagem apocalíptica26, personifica a natureza física em

todas as suas expressões de vida; no caso do homem, é o corpo carnal e os desejos

pela existência, nele inerentes.

O escolhido, Sacerdote e apóstolo do espaço infinito, pode se estar

referindo ao homem real, a Mente superior (Iêsous = = 10+8+

200+70+400+200 = 888), pois somente ele é o superior (Príncipe = poder,

autoridade e sacerdote = o que dirige o processo mágico, aquele que determina o

que e como deve ser feito)

Isto esclarecido, poderíamos fazer a leitura do versículo da seguinte

forma: “A Mente Superior é a forma escolhida para ensinar a verdade por toda a

eternidade; ela está acima da mente inferior, a qual utiliza, com o propósito de

realizar a evolução definitiva da humanidade. A natureza física prepondera

atualmente sobre todas as formas de vida, entretanto, sua união com a Mente

Superior, objetiva receber todas as Almas em evolução e destiná-las à glória

das estrelas, através da iluminação do coração dos homens.

Poderíamos substituir, no versículo, o Príncipe-Sacerdote por Hadit,

Hórus, Cristo Interno, etc. e a Mulher Escarlate por Nuit, que seu sentido

25

Besta ( = 8+500+100+8+50=666). Veja o comentário do versículo na página seguinte. 26

Ver Apocalipse, capítulo 14, versículo 8.

Page 44: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

44

permaneceria integral; o fato é que estamos lidando com valores espirituais e

qualquer atitude de personificá-los, pode desfigurar seu sentido superior.

16. Pois ele é sempre um sol e ela uma lua. Porém para ele a alada chama secreta e para ela a inclinada luz estelar.

Comentário: Este versículo confirma o aspecto transcendental e esotérico

do versículo anterior, pois Hadit será sempre a manifestação das energias solares

positivas na natureza do homem, ao invés de Nuit, a representação das energias

refletidas, portanto passivas, em toda a criação.

17. Entretanto, vós não sois assim escolhidos.

Comentário: O esclarecimento indica que a raça humana ainda não

participa da transcendentalidade da natureza de Hadit e Nuit.

18. Arde em suas frontes, ó serpente esplendorosa!

Comentário: Este versículo representa uma exortação da própria Nuit

para que seu aspecto como Kundalinî, a energia serpentina, formadora do corpo

radiante do ser humano, atinja seu ponto mais elevado e brilhe esplendorosa no

chacra frontal de todos os que sabem ousar.

19. Ó mulher de pálpebras azul-celeste, inclina-te sobre eles!

Comentário: Nuit, aqui denominada “mulher de pálpebras azul-celeste” é

exortada a envolver os homens com seu amor e perfeição.

20. A chave dos rituais está na palavra secreta que lhe dei.

Comentário: É sempre temerário a tentativa de descobrirmos o que é

secreto, mas é importante intentarmos vencer as limitações antigas e elegermo-nos

para a participação no banquete da Nova Era que se aproxima. Para o Autor, a

palavra secreta, chave dos rituais dada a Crowley é Thelema = Vontade. Sem ela,

os rituais não tem expressão e se perdem nos desejos de “ver o que acontece”.

Querer é poder e ritual é poder quando realizado com amor, mas amor

sob vontade. Caberá ao estudante acrescentar sua experiência pessoal para o

enriquecimento da compreensão deste versículo.

Page 45: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

45

21. Com o Deus e o Adorador eu nada sou: eles não me vêem. Estão como que sobre a terra; Eu sou o Firmamento e não existe outro Deus que eu e meu Senhor Hadit.

Comentário: O Deus aqui referido é a cristalização da concepção humana

sobre a divindade; o Adorador é o homem devocional, que procura a divindade, sem

chegar a compreendê-la presente em tudo que envolve sua expressão de vida,

dentro e fora de si mesmo. Para estes, o imaginador e seu Deus imaginado, Nuit

nada é, pois estão impossibilitados de percebê-la como a real Divindade,

expressando-se em seu aspecto tangível, nas múltiplas formas da Natureza. Estes

estão como que sobre a Terra, ou melhor, materializados, e o imaginador não

percebe que apenas está utilizando as formas materiais que lhe foram concedidas

para aprender a se manifestar nos diversos mundos de consciência criados pela

Divina Mãe, o Terceiro Aspecto da Divindade, real e tangível. Não percebe que a

pátria de sua origem27 é o mundo espiritual; identifica-se com as aparências da

forma, sem procurar sua essência, onde, além de descobrir o real objeto da

adoração, ou seja, Hadit e sua Divina Mãe, atentaria que é nele mesmo onde

deveria construir o Altar dessa adoração.

No período seguinte, Nuit revela-se para o Estudante como o universo

manifestado; reconhece-se como a única Divindade perceptível, existente,

ressalvando, porém a Divindade de seu filho e, ao mesmo tempo, seu Senhor: Hadit,

o fruto de seu Amor, a razão de sua substância e de sua existência.

O alerta existente neste versículo é para que o Estudante procure o real

nas aparências e abandone sua posição de “mendigo dos favores das divindades de

sua criação”, reconhecendo, em si mesmo, a presença de Hadit e Nuit como os

únicos provedores de todas as suas reais necessidades. 28

Para isto, o Estudante deve sempre ser objetivo, aprender tudo sobre a

natureza (o estudo dos Tattwas é imprescindível) pois Nuit é Deus acessível ao

homem, ou como os católicos dizem: “é por intercessão de Nossa Senhora (a

Virgem Maria) que conseguimos a Graça do Filho”.

27

O homem real vive e sempre viveu em Briah, o Plano Mental, de onde projeta sua consciência nos mundos inferiores, para conformá-lo à sua expressão plena, de acordo com objetivos que fogem a consciência ilusória da personalidade. A ilusão da encarnação e do aprisionamento da consciência na matéria são provocados pela identificação da personalidade com o corpo físico e com a matéria grosseira de que é constituído e, também, por não perceber que esta faz parte da consciência de Nuit, o Terceira Aspecto da Divindade. 28

Reais em termos espirituais e não supérfluas, como as ditadas pelas suas ilusões materiais.

Page 46: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

46

22. Agora, portanto, Eu sou conhecida por vós pelo meu nome Nuit e, por

ele, através de um nome secreto que lhe darei quando, por fim, me conhecer. Posto que EU SOU o Espaço Infinito e a imensidade de estrelas nele existente, procedei vós também assim. Nada ligueis! Que não haja diferença feita em vosso meio entre uma coisa e qualquer outra coisa; pois daí vem a dor.

Comentário: Dentro dos cânones egípcios, a expressão do Universo

visível era conhecida como Nut, o Abismo celeste (Caos), o espaço Infinito

personificado em Nuit (o Cosmos), a massa líquida29 da qual evolveram todos os

deuses.

O nome Nuit também está relacionado à energia constitutiva do estado da

matéria que denominamos Kundalinî.

Para o Discípulo, que conquista o direito de trabalhar esta energia em si

mesmo, ela tem um outro nome, formado com a sexta vogal, ainda sem condições

de ser pronunciada pelo ser humano comum, porém formadora do som

imprescindível à entonação do mantra que deve ser pronunciado durante a operação

de libertação de Kundalinî, no chacra Muladhara. Esta vogal só é dada quando toma

conhecimento desta expressão da vida universal.

O versículo continua com a revelação de Quem é Nuit e depois com a

orientação para que nada liguemos na face da terra, ou seja, não nos envolvamos

com o que possa gerar carma, bom ou mau, porquanto isto sempre implicará em

dissonâncias vibratórias que não nos permitirão a necessária paz para a construção

do corpo Crístico em nosso coração. Todo tipo de emoção precisará ser controlado

e por isso vem o esclarecimento de que não há diferença entre os seres da criação,

pois todos são expressão da Realidade única e todo sentido de diferença é trazido

pela ilusão dos sentidos; é a ilusão sobre a realidade que provoca as apreciações

inadequadas da Verdade, alimentando ódios, sofrimentos, mágoas e tudo aquilo que

concorre para impedir a integração do homem com a vivência do poder de Kundalinî

e libertar-se da ignorância.

29

Expressão tattwica (Apas) se refere a energia sutil que precedeu o atual estado universal. Nele, o elemento mais denso foi uma espécie de “umidade aquosa”. No atual, o elemento preponderante é a energia sutil que denominamos Prithivi, que contém todas as outras energias sutis em si. O próximo Universo estará constituído novamente do elemento sutil denominado Apas, porém numa oitava vibratória superior.

Page 47: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

47

23. Porém, quem quer que se aproveite disto, que ele seja o chefe de tudo!

Comentário: Aquele que tira proveito da sabedoria real é o eterno

servidor. Cresce, não para mandar, mas para servir; sabe que todos são iguais, de

que não há diferença entre os seres, embora as várias escalas de vida e

compreensão da realidade, permite-lhe estar na chefia de tudo, para o bem de

todos.

24. Eu Sou Nuit e minha senha é seis e cinqüenta.

Comentário: No capítulo “Esclarecimentos sobre Hadit e Nuit” do

presente trabalho (páginas 21 a 27), analisamos suficientemente o mantra Nuit,

porém, agora, o temos escrito de forma inversa (“meu nome é 6=U e 50=N”) com o

mesmo valor cabalístico (11). Assim sendo, precisamos considerá-lo sob uma nova

ótica, obedecendo à inversão das letras e do sentido de manifestação. Isto nos leva,

naturalmente, à senha para o reconhecimento de Nuit como a 11a. letra do alfabeto

hebreu, a letra K, cujo valor é 20 (=2) e nos conduz, a Kteis, o órgão sexual

feminino ou para Olam Klippoht, residência de Samael, o Príncipe das Trevas, nas

alegorias cabalísticas, o Satã da crença cristã ou o Tifão dos egípcios.

Para se compreender bem esta afirmação de Nuit (minha senha é 6 e 50),

é necessário considerar que o mundo de Assiah é constituído da matéria de que

estão feitos os planetas, as estrelas e até mesmo os homens, demonstrando que a

inversão dos números, em sua afirmação, inclui a Klippoht Samael com suas legiões

indicando a existência da matéria caótica, descontrolada, que, em seu estado mais

sutil, é utilizada, na Magia e pelos “espíritos”, para a “criação” de suas formas. Isto

compreendido, podemos concluir que a região qliphótica é o aspecto de Akasha

reconhecido e usado na magia sob o nome prosaico de “luz astral”. O domínio e a

utilização deste aspecto de Nuit inversa é o objetivo do Mago. Como são energias

caóticas, não são fáceis de ser manipuladas, a não ser por uma vontade treinada e

poderosa, daí a necessidade das precauções que o Mago deve e tem de tomar.

25 Dividi, somai, multiplicai e entendei.

Comentário: Estas são instruções para o uso das operações cabalísticas,

já comentadas no intróito deste livro, com a finalidade de compreendermos as

mensagens contidas no Líber Legis, como vimos tentando fazer, mas deixando claro

que muito fica a ser dito em relação ao mesmo.

Page 48: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

48

26. Então disse o Profeta e escravo da Beleza una: Quem Sou e qual será o

sinal? E ela lhe respondeu, inclinando-se, numa delicada chama azul, tudo tocante, toda penetrante, suas amáveis mãos sobre a terra negra e seu flexível corpo arqueado para amar; seus suaves pés não magoam as florezinhas. Tu sabes! O sinal será meu êxtase, a consciência da continuidade da existência, a onipresença de meu corpo.

Comentário: A forma poética destes diálogos está de acordo com seu

objetivo básico: a linguagem ritualística, com a finalidade de provocar certos estados

psíquico-mentais necessários ao desenvolvimento interno do Estudante. Nuit não é

uma vida, mas a totalidade de toda vida; não tem forma e é a Mãe de todas as

formas. O modo pelo qual se apresenta nestes diálogos implica na necessidade do

Estudante desenvolver uma profunda imaginação e aprender, pela meditação, “a

ouvir” internamente as respostas que estão dentro dele mesmo. O exemplo disso é a

contida neste versículo ”Tu o sabes!” relacionada a clássica pergunta do “Buscador

da Verdade”: Quem Sou? Sobre “qual será o sinal?” a resposta não deixa dúvidas: é

imprescindível e profundamente necessário a integração do Estudante com as

forças da natureza, ao ponto em que seu amor envolva não somente os objetos de

seu desejo pessoal, mas acima de tudo, toda a criação. O êxtase de Nuit é a

resposta que o estudante recebe, em seu próprio corpo, da transformação que se

segue àquela integração amorosa. Compreende definitivamente a continuidade da

existência e a presença de Nuit em tudo e em todas as coisas.

Esta verdade é ainda mais fácil de ser alcançada quando consegue ver

em sua Mulher Escarlate, não o objeto de prazer de seus sentidos materiais, mas o

elo de ligação e adoração à sublimidade de Nuit que, então, lhe pode conferir os

louros da conquista espiritual sobre o bem e o mal, simbolizados no “atef” egípcio

que ornava a fronte dos conquistadores da morte. Este é o Tantra que o Iniciado

precisa realizar; para isto, precisa amar verdadeiramente e o amor verdadeiro não é

luxurioso, como alguns querem fazer crer.

Page 49: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

49

27. Então o sacerdote respondeu e disse à Rainha do Espaço, beijando amorosamente sua fronte; o rocio de sua luz banhando todo o seu corpo num doce aroma de água exsudada: Ó Nuit, contínua unidade do Céu, que seja sempre assim; que os homens não falem de Ti como Uma, mas como Nada; que jamais falem de ti, já que és eterna.

Comentário: Continua a linguagem ritualística. O canto a Nuit revela a

compreensão do Iniciado de que Nuit é a totalidade do existente e entoa o mantra

sagrado AUM (Amem; assim seja). Exorta que os homens não se refiram a Ela sob

seu aspecto manifestado ou universo visível, material, frio e impenetrável, mas

entendam sua essência divina, seu princípio de amor que agasalha em seu seio

toda a criação, por toda a eternidade.

28. Nada, respirando a claridade, lânguida e fantasiosa das estrelas e duas.

Comentário: e a “sente” na luz das estrelas, primeiramente em seu

Aspecto Invisível, sem forma, como Essência Divina de Amor e, em seguida, em seu

aspecto manifestado, onde sustenta toda a vida universal; Nenhuma e duas ao

mesmo tempo.

29. Pois estou dividida por amor ao amor, pela oportunidade da união.

Comentário: O Amor é Hadit, o Filho, o Chrestos Cósmico, o Segundo

Aspecto de uma trindade composta de Vontade-Poder (1o. Logos), Amor-Sabedoria

(2o. Logos) e Atividade Inteligente (o 3o. Logos). Nuit, o 3o. Aspecto dessa Trindade,

o aspecto materno que envolve e mantém em si toda a criação, está dividida pelo

amor ao Amor, ou seja, amor a Hadit e a oportunidade de unir-se a sua criação,

onde ele também se encontra.

30. Esta é a criação do mundo; a dor da divisão é nada e o prazer da dissolução tudo.

Comentário: Este item refere-se à criação do Universo (Manvantara),

quando o Logos, em seu aspecto trino (os três “véus“ da existência negativa da

Árvore da Vida, conhecidos como Ain, Ain Soph e Ain Soph Aur, cujo Malkuth é

Kether projeta-se” do Absoluto (O Sem Atributos da filosofia hindu), formando um

campo para a manifestação de Sua Consciência numa nova experiência (se assim

podemos dizer) para Seu aperfeiçoamento.

Page 50: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

50

Esta é a dor da divisão que é nada; está relacionada a separação do

Logos que se manifesta do Absoluto, Que Permanece, Sem Alteração.

O prazer da dissolução é o fenômeno conhecido como Pralaya, que

ocorre quando um Universo cumpriu sua finalidade e é reabsorvido no Seio do

Absoluto, com todas as experiências vivenciadas pelas Mônadas Divinas,

incorporadas naquela fantástica Consciência que aqui é mencionada sob o nome de

Absoluto. 30

31. Nunca te preocupes de modo algum com a infantilidade e a mágoa dos homens! Eles pouco percebem; o que existe, está equilibrado por débeis satisfações; porém sois meus escolhidos.

Comentário: O Estudante não se deve perturbar com a ignorância e os

desapontamentos vivenciados por seus semelhantes; ao contrário, deve

compreendê-los como a conseqüência direta do estado infantil da humanidade em

geral e aprender que tudo está equilibrado por reações cármicas que a própria

humanidade não chega a perceber. Entretanto estas reações podem e devem ser

ultrapassadas, por representarem débeis satisfações que o homem comum sente

prazer em testemunhar ao Deus de sua concepção particular, geralmente tido como

vingativo e necessitado de sacrifícios, mesmo que estes impliquem na cessação de

sua felicidade.

32. Sigam ao meu profeta! Levem ao extremo os ordálios de minha instrução! Procurem a mim somente! Então, os prazeres de meu amor vos redimirão de todo sofrimento. Isto é assim: Juro-o pela abóbada de meu corpo; por meu sagrado coração e língua; por tudo que posso proporcionar, por tudo que desejo de todos.

Comentário: Aparentemente, parece que os Estudantes são convidados a

tornarem Crowley o novo líder da humanidade, o que contrariaria o espírito da Nova

Era onde a mensagem de liberdade é total e a própria tônica deste “Profeta”, que

jamais aceitou a liderança de “carneiros” e daqueles que não querem realizar os

esforços necessários para a conquista do caminho espiritual.

Porém este versículo, como todos os outros do Líber Legis, contém outra

instrução. O Profeta aqui é a Inteligência Atômica conhecida na Ciência Oculta sob o

nome de Átomo Mestre (o que aparece quando o Discípulo está pronto),

30

O estudo da Cosmogênese sob a ótica dos Tattwas e da Árvore Sephirotal é imprescindível tanto para o entendimento do Líber Legis como de qualquer operação Mágica nele contida.

Page 51: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

51

localizada no lótus (chacra) de oito pétalas, que nasce na parte superior do “Salão

da Senhora dos Bosques”, relacionado à bolsa seminal do homem. A este, sim,

devemos segui-lo confiantemente, aceitando todas as provas (ordálios) do caminho,

pois estas representam as instruções de Nuit. O conselho para procurar somente

Nuit, implica na meditação profunda em Kundalinî, que não admitirá desvios de

atenção em sua ascese. Isto conquistado, então, novas capacidades surgirão na

consciência iluminada do Estudante, redimindo-o de toda a necessidade de

sofrimento, pois, então, passa a ser senhor de si mesmo e não está mais ao sabor

das ondas descontroladas dos pensamentos da maioria; sua meta passa ser a

subida ao monte31 e penetrar o “Altar dos Perfumes”32; só o conseguirá mantendo-se

firme em seu propósito espiritual.

O juramento de Nuit é o penhor de um estado de consciência

insuspeitado pelo Estudante, porquanto implica em venturas a que jamais poderia

aspirar, por suas implicações divinas.

33. Então o sacerdote caiu em profundo transe ou desfalecimento e disse para a Rainha do Céu: Escreve para nós os ordálios; escreve para nós os rituais; escreve para nós a lei!

Comentário: Sacerdote é aquele que pratica o sacro-ofício. No versículo

em estudo é o Estudante na sagrada tarefa de preparar o templo para a realização

dos “esponsais alquímicos”. Neste versículo, ele, num momento de arrebatamento,

pede a Nuit que lhe revele todos os passos que precisará dar para realizar sua

conquista: as provas que deverá sofrer, os rituais a serem praticados e os ditames

da lei a serem obedecidos.

34. Porém ela respondeu: os ordálios não posso escrever: os rituais serão metade conhecidos e metade velados: a Lei é para todos.

Comentário: Ela lhe contesta dizendo que os ordálios não podem ser

escritos, por ser impossível, pois cada Estudante terá aqueles de que,

particularmente, vier necessitar; que os rituais serão metade conhecidos, pois

estarão escritos, mas seu sentido real e oculto, permanecerá velado, implicando no

esforço a ser empreendido por ele para compreendê-lo macro e microcosmicamente;

31

Chacra cardíaco. 32

Vivência de prática cabalística realizada na Sephirah Tiphereth (o coração espiritual do homem).

Page 52: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

52

sem esse entendimento não poderá realizá-los com aproveitamento total; quanto à

Lei, porém, esta estará para todos, como deve ser.

35. Isto que escreves é o tresdobrado33 livro da Lei.

Comentário: O Líber Legis é constituído de três capítulos,

compreendendo, o primeiro a Revelação de Nuit, o segundo a de Hadit e o terceiro a

de Ra-Hoor-Khuit. Cada um apresenta um Aspecto do que poderíamos chamar a

Trindade existente em quase todas as religiões do mundo, relacionadas ao que os

Cristãos chamam de Pai, Filho e Espírito Santo e os hinduístas de Brahma, Shiva e

Vichnú. Suas implicações na vida do Estudante são ditadas por uma ótica de

compreensão e respeito para com a Natureza, com sua condição moral e social e

pelo entendimento supremo de que faz parte de uma realidade que transcende de

muito, os interesses de sua personalidade.

Além desses fatos, o Líber Legis objetiva a libertação do Estudante dos

dogmas religiosos, através do reconhecimento de sua condição divina e a realizar

diversos rituais, sendo o mais importante aquele que ensina como entrar em contato

com a Realidade existente em seu coração. 34

36. Meu escriba Ankh-af-na-Khonsu, o sacerdote dos príncipes, não mudará uma letra sequer deste livro, porém por temor a leviandade, comentará sobre ele pelo critério de Ra-Hoor-Khuit.

Comentário: O Escriba é Aleister Crowley, aqui sendo confirmado como

reencarnação de Ankh-af-na-Khonsu.35 Neste versículo está sendo alertado para

não mudar, absolutamente, nada do que está escrito no Líber Legis, ficando,

entretanto, autorizado a comentá-lo, utilizando, para isso, o critério da Divindade

mais elevada no Homem, que aparece no livro como Ra-Hoor-Khuit, com a

finalidade de evitar as modificações levianas daqueles que, por não entendê-lo como

33

O vocábulo inglês “threefold” significa triplo, tríplice, tresdobrado, porém a preferência dada a este último termo se justifica por melhor expressar a forma como foi instituído o Líber Legis. 34

Ver principalmente os versículos 21 a 34 e seus comentários, do terceiro capítulo. 35

A. Crowley acreditava ter sido, também, reencarnação de Eliphas Levy, com o qual, durante sua vida, teve várias provas de identificação, inclusive interesses mentais, aliados a particularidades acontecidas em sua vida social.

Page 53: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

53

está, em seu sentido oculto, tentarão adaptá-lo aos seus entendimentos pessoais ou

modificar seu texto a fim de que se ajuste aos seus interesses religiosos.36

37. Também os mantras e os conjuros; o obeah e a wanga,37 o trabalho do

cetro (caduceu) e o da espada; ele os aprenderá e ensinará.

Comentário: Também os mantras e as evocações não devem ser

modificados e respeitados, porém o “obeah” e a “wanga”, são formas de magia

inferior que precisam ser conhecidas, mas nunca praticadas, porquanto seus

princípios estão contra o lema e a meta daquilo que o próprio Crowley ensinou:

Magia é a arte da Vida, acrescentando que deve ser praticada para tornar a vida

mais agradável sem, entretanto envolver atitudes que impliquem em eliminar

inimigos ou estejam dirigidas contra Nuit, pois aí, ele começará a se autodestruir. A

lei é amor; portanto, o inimigo deve ser transformado em amigo, aplicando em si

mesmo a Lei, sempre sob vontade clara e determinada.

Quanto ao trabalho do cetro (o caduceu de Mercúrio ou o trabalho de

desenvolvimento dos centros de força da coluna vertebral) e o da espada (o falo, o

trabalho da magia sexual com a finalidade da superação humana) estes serão

ensinados por Crowley, como realmente aconteceu durante sua vida.

Apenas a título de observação sobre a necessidade de um estudo cada

vez mais acurado de cada versículo, acrescentamos ainda que a Espada é, também,

36

Existe um livro, sob o título “The Law is for All”- The Authorized Popular Commentary to The Book of the Law”, editado por Luis Wilskinson and Hymenaeus Beta, onde Crowley comenta os três capítulos do Líber Legis, naturalmente sob sua ótica pessoal, que naturalmente prescindiria nosso esforço. Entretanto, com todo o respeito a A. Crowley, decorridos 93 anos da recepção dos ditados (será coincidência o número 93 dentro do processo total que envolve o livro recebido por Crowley?), se os que estudam nada pudessem acrescentar, em termos de entendimento, àqueles ditados, o Autor acredita que perderiam, de certa forma, sua utilidade e continuariam sendo apenas “o patrimônio de uns poucos privilegiados”, o que não se ajusta aos princípios energéticos da Era de Aquário, quando tudo será desvelado e nada pode permanecer oculto. Acresce que os membros da O.T.O. são proibidos taxativamente de escrever qualquer comentário sobre o Livro da Lei - somente Crowley teria condições de fazê-lo - (apesar de que no versículo 47 do Terceiro Capítulo consta que “mas virá um após ele, de onde Eu não digo, que descobrirá a Chave para tudo isto”). Como a Direção da O.T.O. no Brasil, até a presente data, não saiu com qualquer trabalho neste sentido, nasceu “O Livro da Lei para o Povo Suplicante”, pois a humanidade vive um grande momento: o da Liberdade e da Fraternidade Universal. Nossa atitude implica num grande esforço daqueles que mais possuem em favor dos que muito necessitam. O isolamento e o silêncio do sábio só é permissível no que tange a sua realidade interna. Dentro da sociedade em que vive, suas responsabilidades são muito grandes e necessitadas do verdadeiro valor, pois precisa lutar contra o entenebrecimento cultural e religioso a que foram relegados “os mais tarde nascidos”; este entenebrecimento é escória (matéria Qlipphótica) e não pode permanecer no novo Éon que a humanidade viverá. 37

Nos Extratos do “novo comentário do livro da lei” Crowley, diz que Obeah é a magia da Luz Secreta, relacionada à ação do Mago e Wanga é a sua correspondência verbal ou mental, ou seja, Obeah são os atos e o Wanga as palavras próprias da Magia. Tudo muito bem, porém existem outros significados para as palavras acima e, sendo assim, o Mago deve saber onde se manifestam os efeitos de suas palavras e onde e quais os efeitos que provocam seus atos.

Page 54: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

54

o símbolo da força do 1o. Raio, o Raio da Vontade/Poder cujas energias o Mago

precisa aprender a utilizar.

38. Ele deve ensinar, porém deve tornar severos os ordálios.

Comentário: Esta é uma orientação no sentido de que os ensinamentos

do Líber Legis devem ser levados a todos, sem exceção, de forma, entretanto, que

os candidatos à sabedoria sejam bem provados, com ordálios severos, a fim de não

serem jogadas pérolas aos porcos, conforme consta de Mateus, cap. 7, vers. 6. Esta

recomendação continua válida, porém sem os exageros antigos e o cuidado para

que os julgamentos de aptidão dos candidatos sejam realizados por verdadeiros

Epoptas,38 a fim de que as aparências mundanas e as deficiências pessoais dos

julgadores impeçam um homem de bem, mas que ainda não está dentro dos

padrões de seus julgadores, seja prejudicado, permitindo-se que aconteça um novo

“Julgamento de Apolônio”, como costuma suceder quando pretensiosas

“autoridades” se insurgem contra o que é espiritual. Não julgueis para não serdes

julgados e Amor é a Lei, Amor sob vontade, sempre devem prevalecer.

39. A palavra da Lei é Thelema ( ).

Comentário: A palavra da Lei é VONTADE, tradução do vocábulo grego

(Thelema). Embora pequeno, este versículo aporta uma mensagem

transcendental para a Nova Era de Aquário, quando serão vivenciadas pela

humanidade as energias do 7o. Raio (o Raio do Ritual e da Magia), intimamente

relacionado com o 1o. Raio (Raio da Vontade e Poder)39.

Embora a quase totalidade dos seres humanos não goste de admitir,

jamais experimentaram esta energia denominada Vontade, vivenciada até agora

apenas pelos Grandes Instrutores do mundo e pelos verdadeiros Magos.

38

Epopta era o Iniciado nos Mistérios de Eleusis, possuidor da faculdade de clarividência e, geralmente, por ter passado por seu último grau iniciático, era o encarregado das novas iniciações. S.Paulo aplicou a si mesmo este grau conforme podemos ver em 1 Coríntios, cap. 3, versículo. 10. 39

Ler a obra “Tratado sobre os 7 Raios”, do Mestre Djwal Khul através de A. Bailey, publicação da Fundação Cultural Avatar, no Brasil e da Editorial Kier, na República Argentina.

Page 55: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

55

Quando movimentada pela mente humana, tem um poder fantástico e

assemelha-se ao conceito de fé, enunciado pelo Mestre Jesus quando disse “se

tiverdes fé do tamanho do grão da mostarda, direis a este monte: Passa daqui para

acolá e ele passará. Nada vos será impossível (Mt. 17, 20).

Em verdade, o ser humano comum ainda não é “um produto acabado”

que possa “metabolizar” esta energia adequadamente; seu cérebro ainda não está

suficientemente desenvolvido para manejá-la com aproveitamento. As exceções

(Napoleão, Hitler, e alguns tipos que alcançaram destaque pela firmeza de suas

atitudes) apresentaram-se à humanidade de forma desequilibrada e foram

tremendamente destruidores, embora haja exceções com grande aproveitamento

como foi o caso de Apolônio de Tiana, Conde de Saint Germain, Cagliostro e vários

outros grandes taumaturgos, inclusive aquele que recebeu nos Evangelhos o nome

de Jesus; estes, souberam utilizar essa energia em nível raramente capaz de ser

expressado pela mente humana em seu atual estágio de desenvolvimento.

O homem comum utiliza esta energia apenas em sua expressão mais

deletéria, relacionada ao chacra Manipura e ao plexo solar, na forma daquilo que

conhecemos como desejo; nada mais do que isso, a não ser em raras ocasiões e

em circunstâncias tão fortuitas que considera seus resultados como milagres.

Na Era de Aquário, esta energia estará atuando sobre toda a humanidade

e já se está fazendo presente, de forma inequívoca, sobre os tipos mais adiantados,

levando-os a uma consciente VONTADE de viver em harmonia, fraternidade e em

progresso. O resultado tem sido as grandes alianças políticas e econômicas em

desenvolvimento na Europa e nas Américas, embora sua ação sobre os tipos menos

evoluídos venha provocando, em contrapartida, o sentimento de ódio e revolta

organizada, como atualmente presenciamos em todas as partes do mundo.

Mas a Lei para o novo Éon é VONTADE, vontade com Amor e Amor sob

vontade; sem ela as energias do 7o. Raio (Ritual e Magia) poderão causar

novamente grande retrocesso ao progresso da humanidade, como já ocorreu na

Atlântida e na Lemúria, daí a coerência do Líber Legis em afirmar: A PALAVRA DA

LEI É THELEMA.

Page 56: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

56

40. Quem nos chama Thelemitas não errará, quando se adentra no sentido mais estrito (oculto, secreto) da palavra. Pois ali há Três Graus, o de Eremita, o de Amante e o de Homem da Terra. Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

Comentário: Existem três sugestões neste versículo: 1a.) os seguidores das instruções contidas no Líber Legis deveriam reunir-

se numa Fraternidade cujos membros seriam reconhecidos ou

denominados como Thelemitas;

2o.) somente deveriam ser admitidos em tal Fraternidade aqueles

dispostos a aprender, a desenvolver e a viver o que está implícito no

sentido mais estrito da palavra Vontade, a tremenda energia do 1o. Raio,

sucintamente descrita no versículo 39;

3o.) Esta Fraternidade seria constituída de 3 Graus:

1o. Grau = o de Homem da Terra, destinado aos aprendizes da

Ciência do Amor;

2o. Grau = o de Amante, destinado aos aprendizes da Ciência da

Vontade;

3o. Grau = o de Eremita, destinados aos aprendizes da Ciência do

Cosmo Interno (Onde EU SOU não há Deuses). Somente este

estará apto para viver integralmente o lema “Faze o que tu queres

há de ser tudo da Lei”.

41. A palavra de Pecado é Restrição. Ó homem! Não recuse tua esposa, se

ela quiser! Ó amante, se queres, vai! Não existe vínculo que possa unir o

dividido senão o amor: tudo, além disso, é uma blasfêmia. Maldito!

Maldito seja isto para sempre! Inferno.

Comentário: Não existe pecado a não ser na mente do homem. O

conceito de pecado é derivado da concepção de que tudo aquilo que infrinja as leis

sociais, morais e religiosas de um País ou de uma religião, está contra a Vontade de

Deus; portanto o pecador deverá ser julgado e castigado pelo que fez Isto é

puramente humano e falso, pois se fosse realmente uma das expressões d‟Aquele

ou d‟Isso que chamamos Deus, ou Amor-Sabedoria (a energia do 2o. Raio) não

haveria, de sua parte, outra atitude do que aquela de suprema compaixão e perdão

Page 57: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

57

às suas criaturas por desvios cometidos na execução de Seus Próprios Desígnios,

pois nada acontece que não esteja consubstanciado em sua vontade.

Sendo o homem, uma partícula da Divindade, seus erros, se os

houvesse, seriam erros da própria Divindade e isto é completamente fora de

propósito para a nossa compreensão.

Em vários trechos do Evangelho vemos o Cristo perdoando pecados (a

união do homem com seu Cristo Interno redime-o de seus desequilíbrios,

denominados pecados) e na Primeira Epístola de Pedro, Capítulo 4, versículo 8,

lemos: “tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre

multidão de pecados.

Em verdade, o conceito de pecado é tremendamente limitativo e restritivo,

atuando na mente do “pecador” de forma altamente destrutiva, sem lhe trazer

benefício algum; ao contrário estagna sua evolução em mundos de dor e sofrimento

criados mental e emocionalmente por ele mesmo.

Tudo o que acontece na vida do ser humano é necessário para sua

evolução e aprendizado, mesmo aquilo que denominamos erros de conduta, seja ela

social, moral ou religiosas. A Alma, muitas vezes, necessita de experiências para

atuar no futuro com mais perfeição, que parecerão “pecados” na mente estreita dos

julgadores inveterados; entretanto, dentro de sua sabedoria, o Aquele que foi o

Mestre Jesus aconselhou a perdoar não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes

(Mt. 18, 21). Perguntamos: Por que este perdão quase infinito? Porque sabia a razão

que movia a atitude humana e compreendia sua psique, portanto, não via “pecados”

e sim aprendizado necessário no caminho da Eternidade. E mais ainda: a

recomendação possibilitava que os de “sangue mais quente” viessem a “esfriar-se”

com o decorrer do tempo, dando tempo que a razão superior (deus no homem)

vencesse a razão inferior (o diabo no homem).

Do exposto acima, podemos inferir que o Thelemita não pode estar

acorrentado às instruções do passado e deve fazer sempre a sua vontade, pois isto

é o todo da lei. Sexo não é pecado nem existe o pecado original trazido pelo sexo.

Ao contrário, devemos ver as energias sexuais dentro de seu contexto divino e

libertador, principalmente quando utilizadas sob a égide do amor; nunca, porém, sob

a luxúria; mesmo sabendo que cada um pode fazer o que quiser, também sabemos

da existência de um caminho que constrói e de outro que destrói.

Page 58: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

58

O Thelemita não deve recusar as experiências do sexo, principalmente

com sua companheira de jornada, toda vez que ela quiser. Se existe amor, atração

real entre um homem e uma mulher, onde o objetivo seja realmente a integração

entre o casal e não a satisfação de uma vaidade pessoal, a conquista pelo simples

prazer, os amantes devem dar-se um ao outro (“Aquele dentre vós que estiver sem

pecado, atire a primeira pedra” - João, 8, 7).

Entretanto, devemos aceitar que Amor é a Lei, porém Amor sob Vontade.

O desejo, que movimenta a quase totalidade do relacionamento sexual entre os

casais, não levará a nada, no que tange ao avanço espiritual, mas aproxima o

homem da morte.

A afirmação da penúltima oração do versículo em estudo: “não existe

vínculo que possa unir o dividido senão o amor” é conseqüente e verdadeira; o

homem é um ser dividido e precisa reconstruir-se a fim de voltar a sua perfeição,

perdida com a separação dos sexos há mais de 20 milhões de anos atrás, quando

deixou sua condição de andrógino ovíparo para tornar-se homem e mulher com

reprodução vivípara.40 Chegará a essa perfeição quando, maximizado em sua

consciência, estiver vivendo, plenamente, em todos os mundos conscienciais; aí não

terá mais necessidade de procurar fora de si mesmo um complemento que lhe

permita criar. A alma gêmea do homem não está alhures, mas dentro dele mesmo e

a forma de unir-se a ela é o Amor; tudo, além disso, é uma blasfêmia. A imprecação

Maldito! Maldito seja isto para sempre, está relacionada ao conceito de pecado; que

sua concepção errônea seja maldita para sempre, por distanciar o homem de sua

realeza espiritual. Inferno é o lugar dos que acreditam no pecado.

40

Sobre isto, ver Gênesis 2, 24 e Efésios 5, 31/33: “Por isso deixa o homem (de ser) pai e mãe (andrógino ovíparo) e se une a sua mulher, tornando(-se) os dois uma só carne (para poder gerar; tornam-se vivíparos). “Grande é esse mistério, mas eu me refiro a Cristo e à Igreja. Não obstante vós, cada um de per si (sozinho, isoladamente) ame a sua própria esposa (sua contraparte feminina) como a si mesmo.

Page 59: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

59

42. Deixai-os manter esse estado de multiplicidade limitada e repugnante. Assim com teu todo; só tens direito de fazer a tua vontade.

Comentário: Faze o que quiseres é a totalidade da lei não só para o

Estudante, mas também para o homem ainda não desperto para sua realidade

interna; a tolerância para com estes deve ser ilimitada, respeitadas as conveniências

sociais que permitam o livre arbítrio de todos.

A multidão limitada e repugnante é formada por aqueles que, pelo medo

do pecado, se auto-limitam em todas as coisas, abdicando de sua majestade como

Filhos de Deus e se auto-escravizam às forças da ignorância e das trevas. Esses,

pelo estado vibratório em que vivem, acabam por impedir que a luz, como energia

divina interna, se manifeste plenamente em seus corpos e terminam por modificar a

estrutura de suas células, aparecendo à vista do clarividente como massas amorfas

e repugnantes. É por isto que, com teu todo, ou seja, na totalidade do teu ser (corpo,

alma e espírito) somente deves fazer a tua vontade, que deve ser compreendido

como a tua Vontade interna e não como os desejos insanos de tua personalidade.

Para isto, devem ser intensificados os exercícios de Pranayama e meditação, que

fortalecem sobremaneira a intuição, em detrimento da razão lógica, atributo da

personalidade.

43. Faça isto e ninguém se oporá.

Comentário: O fortalecimento das energias internas e da intuição,

proporciona ao Estudante uma forte e notável aura magnética,41 envolvendo em

profunda simpatia todos aqueles que se acercam de seu ambiente vibratório,

trazendo-lhe simpatia e concordância para a sua ação; esta passa a ser ilimitada,

sem nenhuma força de oposição.

44. Pela Vontade pura, isenta de propósito, liberta de desejo intenso por

resultado, é o único caminho perfeito.

Comentário: Este versículo confirma o comentário do versículo 42 quando

informamos que o axioma Faz a tua vontade... refere-se exclusivamente à Vontade

do Ser Interno, único senhor e agente capaz de manipular a energia do 1o. Raio. A

41

Envoltura Argentada do Mago Branco, formada por Átomos Transformadores do Plano mental superior; é o refulgente Augoeides ou Corpo causal dos teosofistas.

Page 60: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

60

vontade pura, isenta de propósitos e liberta do desejo por resultados, é a Lei para a

Nova Era; só será conquistada por aqueles que abandonarem seus propósitos

pessoais e procurarem, no interno, a comunhão com sua contraparte divina; este é o

único caminho perfeito.42 O resto são aventuras, válidas apenas como experiência

necessária à evolução das almas.

45. O Perfeito e o Perfeito são um Perfeito e não dois; ou melhor, são nada!

Comentário: O versículo nos fala do estado de arrebatamento extático

completo, conhecido como Samâdhi, ou seja, a contemplação supraconsciêncial

(ainda um estado mental, como tudo no presente universo), em que a concentração

no próprio Espírito chega a um ponto tão extremo, que a mente se unifica com aquilo

em que se acha concentrada. Nesse instante, cessam ou ficam em suspenso todas

as suas transformações e o Estudante perde a consciência de toda a

individualidade, inclusive a sua, convertendo-se no Todo. Em outras palavras,

experimenta seu Pralaya individual,43 não pela anulação de si mesmo, mas pela

expansão de seu ser, participando do que parece ser a totalidade, quando, então, se

torna um com esta consciência total, sobrevindo, posteriormente, o estado extático

“Eu e Pai (o Absoluto) somos Um”, ou melhor, Somos a Eternidade ou Nada.

46. Nada é uma chave secreta desta Lei. Os Judeus chamam-na sessenta e um; chamo-a oito, oitenta, quatrocentos e dezoito.

Comentário: Este versículo é corolário do anterior, onde Nada aparece

como a eternidade ou Consciência (se assim podemos dizer) do Absoluto, onde não

existe qualquer diferenciação. Os Judeus chamavam-na 61, que entendemos como

sendo ס (Samekh) cujo valor é 60 e representa hieroglificamente um movimento

circular cíclico, e א (Aleph), cujo valor é 1, significando a unidade, o ponto central, o

princípio abstrato de uma coisa. Estas duas letras representam o Círculo com um

ponto no meio e sua soma dá 7, a chave da criação de Moisés e o símbolo de

toda a sua religião, ou seja, da Lei Mosaica. Simbolicamente, esta chave também é

42

Naturalmente, esta afirmação provocará a contrariedade dos estudantes com conceitos de iluminação diferentes dos esposados pelo Autor e do que está contido no versículo. Somente podemos acrescentar para estes que a Sabedoria não nasce da contradição, mas da integração. O Autor sempre estará à disposição para conversar com seus discordantes, pois sempre respeitará o mundo mental de cada um, pois aprendeu o que é melhor para seus semelhantes. 43

Essa experiência individual é semelhante a do Pralaya universal, quando todo o Universo é recolhido ao Absoluto, Dele nada permanecendo manifesto.

Page 61: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

61

representada pelo Selo de Salomão 44 com um ponto no meio e, na Cabala, se

refere a Sephirah Netzach (A vitória), estando relacionada às polaridades, cuja

finalidade é estabelecer a harmonia do Superior com o Inferior, do Macrocosmo com

a Microcosmo, que leva ao Absoluto, à Eternidade ou Nada.

Em seguida, vem a afirmação: “Chamo-a oito, oitenta e quatrocentos e

dezoito” e isto nos leva novamente a um símbolo duplo, desta vez representado

pelas duas serpentes entrelaçadas do caduceu

formando o número 8 e

significando, sobretudo, a vida eterna, que se mantém pelo equilíbrio do

movimento.45 Oito é também o número do Cristo, conforme será demonstrado

posteriormente e Oitenta indica a extensão de 8 como reverberação da Eternidade

(Nada), por meio do mecanismo de opostos equilibrados,46 estando relacionado à

Sephirah Hod, cuja imagem mágica é o hermafrodita (o que tem dupla polaridade),47

cujo chacra mundano é Mercúrio, que corresponde ao Deus Egípcio Hermes, o

Trimegistus, o Patrono da Magia.

Quanto ao número quatrocentos e dezoito (418), que consta na Capa do

Liber Legis como igual (=) a XCIII, ou melhor XCIII = 418, remetemos a atenção do

Estudante ao comentário do versículo 78 do Segundo Capítulo do Líber Legis, neste

livro, onde é devidamente explicado, sob a análise do mantra ABRAHADABRA,

apenas acrescentando-se que a conotação de Eternidade justifica-se por ser a casa,

ou seja, onde Hadit permanece no centro: A ETERNIDADE.

47. Mas eles têm a metade: une por tua arte de maneira que tudo

desapareça.

Comentário: Os judeus têm a metade da chave porque possuem a

Cabala; é importante que o Estudante saiba unir os conhecimentos contidos no Líber

Legis com os da Cabala, para que todas as dificuldades desapareçam.

A importância da interação entre os versículos que vêm sendo estudados,

os trinta e dois caminhos (10+22) da Arvore Sephirotal (em verdade 33) e as práticas

ensinadas por Crowley no livro “Magick,” são de grande importância para o

Buscador sincero.

44

Também conhecido como Estrela de Davi. Na Índia, é chamado de “Sinal de Vichnú” e usado nas casas de todas as aldeias como um talismã contra o mal. 45

“Curso de Filosofia Oculta” de Éliphas Lévi, página 180, da Editora Pensamento. 46

“Magia - en teoria y práctica”, de Aleister Crowley, página 190, da Editora Luis Cárcamo, Editor. 47

A Palavra “hermafrodita” nasce da conjunção de Hermes com Afrodite, símbolo do casal perfeito.

Page 62: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

62

48. Meu profeta é um tolo com seu um, um, um; não são eles o Boi e nenhum pelo Livro?

Comentário: Aqui parece que o Profeta é o próprio Crowley, sendo

considerado um ingênuo por priorizar exclusivamente a parte numérico-cabalista que

envolve o Líber Legis, principalmente por não considerar que esta parte envolve

apenas a metade do que está sendo escrito. A pergunta: “não são eles o Boi, e

ninguém pelo Livro?” poderia ter duas interpretações:

- a primeira considerando o vocábulo Boi (está com letra maiúscula no

original de Crowley) a sustentação, a base religiosa de parte do que foi

ditado no tocante ao Livro, isto por causa da conotação de Boi com o

culto a Apis, pelos egípcios e judeus antes de Moisés;

- a segunda, considerando Crowley e sua esposa Rose apenas como

“veículos de carga” no que se refere à difusão do Líber Legis para a

humanidade e apenas isto, portanto ninguém, ou seja, não têm a

importância capital que se lhe poderia querer emprestar.

É possível interpretações melhores para o presente versículo, o que o

Autor incentiva ao máximo, pois um dos fundamentos do Líber Legis é fazer com

que o Estudante expanda sua consciência “ad infinitum”, a fim de conquistar as

condições necessárias para participar da Nova Era.

49. Ab-rogados estão todos os rituais, todos os ordálios, todas as palavras e sinais. Ra-Hoor-Khuit tomou seu assento no Oriente (Leste) ao Equinócio dos Deuses; e que Asar seja com Isa, os quais também são um. Mas eles não são de mim. Que Asar seja o adorador. Isa o sofredor; Hoor, em seu secreto nome e esplendor, é o Senhor iniciando.

Comentário: O versículo ordena que todos os rituais, ordálios, palavras de

passe e sinais secretos para “penetrar” no “Templo”, sejam abolidos, a partir da

publicação do Líber Legis, indicando que uma nova Era se inicia com a saída do Sol

no Equinócios dos Deuses, quando o domínio da Força Trina, representado por Ra-

Hoor-Khuit;48 marca um novo período de Primavera Espiritual para a Humanidade.

48

Ver o comentário do versículo 21 do Segundo Capítulo do Líber Legis, neste livro. Embora tenhamos encontrado outras explicações para Ra-Hoor-Khuit, depois de analisá-las com o devido respeito e reverência às mentes que as adotaram, preferimos permanecer com a que nos foi intuída.

Page 63: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

63

Preconiza, também, a integração de todas as religiões, explicando que

Ásár (um dos nomes de Osiris-defunto, ou seja, o Iniciado),49 seja um com Isa (ou

Issa é como os maometanos denominam Jesus no Corão) e que Ásár, represente a

coorte celestial e que Isa, represente a Humanidade (a sofredora).

Acrescenta que Hadit (o mesmo que Hórus, o morador do coração) é o

Iniciador da nova fase de evolução da humanidade, o que é confirmado pelos

diversos movimentos religiosos do Planeta que parecem convergir para a realidade

do EU SOU como o Cristo Interno em cada ser humano.

50. Há uma palavra para ser dita em relação à tarefa Hierofântica. Atentai! Existem três ordálios em um e isto deve ser dado em três caminhos. O grosseiro deve passar pelo fogo; que o sutil seja testado no intelecto e o sublime separado no mais elevado. Desta forma, existem estrela e estrela, sistema e sistema; que um não conheça bem o outro!

Comentário: Entendemos que estamos tratando de uma iniciação interna

e, embora o versículo 49 deixe claro que tudo o que era externo e antigo deve ser

abolido, isto não implica em que assim seja no que se refere ao interno, onde

devemos aprender a conhecer a “senha”50 a ser proferida, perante o guardião, capaz

de nos dar entrada, em cada esfera Sephirotica, onde temos de percorrer os

caminhos de nossa iluminação.

A advertência para os três ordálios em um e que isto será dado ao

Iniciante em três caminhos, provavelmente está relacionada aos caminhos 32 31 e

29 da Árvore Sephirotal, todos partindo de Malkuth, onde o grosseiro passa pelo

fogo (caminho 31), o sutil é testado no intelecto (caminho 29) e o sublime separado

no mais elevado (caminho 32), onde, neste, após a passagem no “labirinto” renasce

o espiritual do material.

Sobre estrela já falamos o suficiente, acrescentando que cada criatura

tem suas características vibratórias particulares, constituindo cada ser um sistema

atômico universal diferente do outro. Quanto à recomendação “que um não conheça

bem o outro” deve referir-se à necessidade de preservação, cada um, de sua

“seidade” enquanto individualidade, para evitar interferências quase sempre

maléficas no processo evolutivo.

49

Este nome também aparece associado a Osiris, seguido de Un-nefer, ou seja, “o que perdura para sempre”. 50

Esta “senha” pode ser uma exaltação, um hino, uma palavra-chave, etc., dependendo do Plano e da esfera (Sephirah) onde pretendemos entrar.

Page 64: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

64

51. Existem quatro portas para um palácio; o chão desse palácio é de prata e ouro; a lazulita e o jaspe estão ali; e todas as fragrâncias raras: jasmim e rosa e os emblemas da morte. Que entre alternativamente ou ao mesmo tempo pelas quatro portas; mantenha-se em pé sobre o chão do palácio. Não afundará? Amn. Ó Guerreiro! se teu servidor afundar? Porém há meios e meios.51 Seja admirável, contudo: vesti-vos com as mais finas roupagens; comei manjares excelentes e bebei vinhos doces e espumantes! Também, saciai-vos de amor ao máximo, quando, onde e com quem vós quereis! Mas sempre para mim.

Comentário: Novamente estamos “pisando” os caminhos da Árvore

Sephirotal, onde as indicações tanto nos falam da Sephirah de Saída como a de

Chegada, dos incensos adequados e da necessidade de reconhecimento dos níveis

mágicos de consciência que precisam ser observados.

Somente com o estudo e a prática dos Caminhos Cabalísticos e o

reconhecimento de cada esfera (Sephirah), este versículo poderá ser entendido. O

que o Estudante não pode fazer é tentar materializar o que consta do versículo,

porque tanto se perderá em imaginações inócuas como poderá chegar a uma

compreensão inexata e negativa (Qliphótica) do assunto, o que lhe será

extremamente prejudicial. Porém: faz o que quiseres, há de ser tudo da lei.

Vários livros que abordam a iniciação interna sempre mencionam o

Palácio ou Câmara de quatro portas (uma preta, outra azul, outra vermelha e outra

branca) que estariam relacionadas às quatro pétalas do chacra fundamental

(Muladhara). Estudo e prática da Cabala, empreendidos muitas vezes, levarão o

Estudante ao completo esclarecimento das manifestações do inconsciente não

racional, onde está a chave para a compreensão deste versículo.52

O que importa, no final de tudo, é que tudo seja feito por amor e respeito

à Divina Mãe.

51

Deve-se entender “métodos e métodos”. 52

Para os que desejarem maiores detalhes sobre estas experiências, recomendamos a leitura do livro “A Santíssima Trinosofia”, atribuído ao Conde de Saint Germain e editado pela Editora Mercúrio. Todo o processo ali narrado representa os diversos caminhos internos da iniciação humana.

Page 65: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

65

52. Se isto não estiver correto; se confundis as marcas do espaço, dizendo: Elas são uma; ou dizendo, são muitas; se o ritual não for sempre para mim: então esperai os terríveis julgamentos de Ra Hoor Khuith.

Comentário: Aí está a advertência: antes de iniciar um caminho, o

estudante deve preparar-se devidamente para o mesmo, estudando ao máximo suas

características e possíveis experiências, a fim de não fazer confusão dentro de seu

propósito. Cada caminho e cada Sephirah tem o seu ritual, que deve ser seguido por

amor à Divina Mãe. Práticas temerárias com as escórias energéticas ou confusas

(Qliphóticas), levarão o Estudante a um julgamento terrível.

53. Isto regenerará o mundo, o pequeno mundo minha irmã, meu coração e minha língua, para quem mando este beijo. Também, ó escriba e profeta, embora sejas dos príncipes, isto não te suavizará nem te absolverá. Porém que o êxtase seja teu e a alegria da terra: sempre para mim! A mim!

Comentário: Este versículo parece deixar claro que as “vivências”

experimentadas na Senda Cabalística regenerarão o pequeno mundo interno do

estudante, levando em conta os benefícios do reconhecimento dos mundos

anímicos que constituem a contraparte superior e inferior de sua própria expressão

individual-pessoal.

A frase “o pequeno mundo minha irmã” pode estar se referindo a Rose

Crowley (cada homem e cada mulher é um estrela), ao que parece o verdadeiro

médium psicógrafo do Líber Legis, principalmente porque tornou-se “o coração e a

língua” da entidade comunicante (Aiwass), merecendo, por isto, seu carinho, contido

na expressão “para quem mando este beijo”.

Entretanto, também poderíamos dizer que está se referindo ao pequeno

mundo de Nuit, o coração do Estudante, representado por todas as formas de vida

existentes, que se beneficiarão da reforma do homem e de sua língua, a expressão

criadora da Natureza, que, então, poderá fazer-se plena. O beijo enviado tanto pode

implicar num ato de carinho dessa expressão criadora, para a humanidade, como

também para o Líber Legis, com seus ensinamentos para a Nova Era.

No final, adverte Crowley, deixando claro que seu trabalho pela difusão do

livro, não lhe trará benefícios extras pelo serviço prestado, porém que a sua

conquista pessoal dos estados superiores de consciência se realizem e possa ser

Page 66: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

66

feliz em sua encarnação, sempre em benefício da Divina Mãe, sempre

compreendendo que ela é a vida e a expressão da vida, em toda a natureza.

54. Não mudes sequer o estilo de uma letra; pois observai! Tu, ó profeta não verás todos estes mistérios ali escondidos.

Comentário: Mais uma advertência de que nada, em relação ao livro,

deve ser modificado, até mesmo o estilo de uma letra; de modo estranho, mas

profeticamente, Aiwass, como mensageiro de Nuit, diz textualmente neste versículo,

que Crowley não perceberá todas as lições contidas no Líber Legis,53 o que ele de

certa forma comprovou ser verdade ao escrever “The Law is for All”, onde confirma

não perceber ou entender o sentido de uma boa parcela dos versículos analisados,

passando, inclusive, por cima de alguns, sem dar explicações.

55. A criança de tuas entranhas, ela os verá.

Comentário: A “criança” das entranhas de Crowley certamente é o seu

Cristo Interno ou Eu Superior, que tudo sabe e tudo vê, a qual ele buscou

tenazmente em sua vida e que denominava seu SANTO ANJO GUARDIÃO.

Este Cristo-criança (Hadit ou Hórus) existe no coração de cada ser

humano, nascendo quando Kundalinî, a matéria ígnea que reveste os corpos

divinos, é levada ao chacra do coração (Anahata). Quando isto ocorre, o ser humano

vence um grau em seu processo evolutivo e abandona o estado de humanidade,

tornando-se uma consciência cristificada, não necessitando mais reencarnar na face

da Terra.

Nos diversos mitos religiosos, esta “Divina Criança” sempre nasce numa

cova ou caverna, (como Jesus, do mito cristão), representação exotérica do

ventrículo esquerdo do coração, onde Esse Ser Radiante trabalha ativamente para

iluminar a consciência do homem adormecido.

53

As interpretações dos versículos do Líber Legis, pelo Autor deste livro, não pretende complementar o trabalho de Crowley no livro citado e, muito menos têm a pretensão de cotejar os conceitos emitidos pelo mesmo. É preciso que os “seguidores” de Crowley compreendam que o presente livro é para aqueles que se interessam por sua obra, realmente muito valiosa, porém, querem gozar do direito de concluir, diferentemente do mesmo, sobre os ensinamentos recebidos. É o que o Autor fez, sem temer os anatematizadores e intolerantes da liberdade de pensamento, tão defendida pelo próprio Crowley. Nisto não vai a recusa da obra, mas sua percepção sob uma ótica cheia de ensinamentos, também cheia da magia da beleza e do amor.

Page 67: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

67

56. Não o esperes do Oriente nem do Ocidente; pois de nenhuma casa presumível virá esta criança. Aum! Todas as palavras são sagradas e todos os profetas verdadeiros; salvo somente que entendem pouco; solucione a primeira metade da equação, deixe a segunda intocada. Porém tens tudo na claridade e algo, embora nem tudo, na escuridão.

Comentário: Confirmando o que dissemos no 2o. item da resposta ao

versículo 55, está claro que a “Criança” não deve ser esperada nem do Oriente nem

do Ocidente, pois está dentro de nós mesmos: é o EU SOU, Hadit ou o “Morador do

Coração”. O fato de não vir de nenhuma casa presumível consubstancia-se no fato

de que não está sujeita às Casas Astrológicas para seu nascimento, pois está acima

delas.

É proferido, em seguida, o mantra Aum, que deve ser pronunciado

jogando a respiração na parte interna dos lábios, sonorizando a letra A, levando

depois o som para o céu da boca, sonorizando a letra U e, por último, exalando o ar

pelo nariz, sob o som da letra M, mantendo o pensamento no chacra coronário,

como ressonância.

O Estudante sincero sabe que todas as palavras sagradas contêm sons

vocálicos que atuam vibratoriamente sobre os diversos centros de força. A

entonação da palavra e a qualidade do pensamento por ela expressa é que pode ser

benéfica ou maléfica.

A afirmação: “todos os profetas são verdadeiros, salvo somente que

entendem pouco”, seguida da recomendação de que “devemos solucionar a primeira

parte da equação e deixar a segunda intocada” é uma metáfora e provavelmente

está relacionada aos guias internos encontrados no percurso dos caminhos

existentes na árvore cabalística; cada um destes guias tem conhecimento adequado

exclusivamente ao caminho onde os encontramos e nada, além disso.

O fechamento do versículo parece ser uma comprovação do que estamos

dizendo.

Page 68: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

68

57. Invocai-me sob as minhas estrelas! Amor é a lei, amor sob vontade. Que os

ingênuos54 não interpretem mal o amor; pois há amor e amor. Existe a

pomba e a serpente. Escolhei bem! Ele, o meu profeta, escolheu

conhecendo a Lei da fortaleza e o grande mistério da Casa de Deus. Todas

estas letras antigas de meu Livro são como deve ser; mas tsade (צ) não é

uma Estrela. Isto também é secreto: meu profeta o revelará aos sábios.

Comentário: “O que está em cima, é igual o que está em baixo”; o

Macrocosmo é igual ao Microcosmo. Compreender este axioma é extremamente

necessário para a interpretação de alguns versículos do Líber Legis, senão a

maioria.

O que temos em estudo, tanto pode ser interpretado como a invocação de

Nuit no mundo externo, durante a noite, sob um céu estrelado, como também (e é o

que nos interessa), interna e conscientemente, sob as energias Sephiróticas, que

congregam as diversas Inteligências Atômicas, em todos os níveis de manifestação,

dentro do Universo-Templo representado pelo nosso corpo.

Entretanto, aqui, devemos entender Nuit em seu aspecto de Kundalinî,

quando a invocação deve pretender sua manifestação plena, sem abrigar qualquer

resquício emocional, e com o objetivo de obter a iluminação plena, direito inalienável

de todos os seres humanos.

O amor, ou seja, a integração plena da natureza feminina com a

masculina deve ser exercido sob o império de uma vontade firme, poderosa e

objetiva, capaz de controlar toda manifestação emocional com repercussão externa,

para que o êxtase seja puro e criativo somente nos reinos de nossa natureza

interna.

Existe, sobre isso, a advertência de que os ingênuos (os tolos, os

pretensos “sábios” e criadores de sistemas pessoais de Tantra) não devem

interpretar mal o Amor, o que infelizmente acontece com freqüência, com a

deturpação do que é Divino, substituído, por alguns seguidores do Tantra negro, por

uma bestialidade inconcebível pois, como arremata esta oração do versículo, há

amor e amor, portanto, necessitamos do amor sublime, SE QUEREMOS O QUE É

SUBLIME.

54

Ingênuos ou tolos (“fools”, em inglês). É a carta 22 do Tarot egípcio (Regresso, O Retorno).

Page 69: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

69

Podemos acrescentar ainda: todos os caminhos levam à meta, uns com

glória e felicidade e outros, com grandes sofrimentos, desequilíbrios e atrasos

fantásticos.

Em seguida, temos dois símbolos: a pomba e a serpente, com diversas

conotações cada um, aparecendo:

a) a pomba, como representação da paz, equilíbrio, esperança e,

também da “Shekinah”, título aplicado pelos cabalistas a Malkuth, porém pelos

judeus à “nuvem de glória” que permanecia sobre o lugar de Misericórdia no “Santo

dos Santos” e que, não obstante, é de natureza muito mais elevada, pois é o véu de

Ain Soph , o Infinito e o Absoluto, segundo ensinavam os rabinos da Ásia Menor. É

também uma espécie de Mûlaprakriti cabalístico, a luz primordial, a Luz eterna no

mundo do espírito (Glossário Teosófico).

Shekinah foi representada como pomba quando o Espírito Santo (Nuit, o

3o. Logos) “desceu” sobre Jesus, durante o “Batismo pelas águas”. É a iluminação

“por cima” através do chacra Sahasrara.

b) a serpente é o símbolo da Perfeição e Sabedoria Divinas e sempre

representou a Regeneração Psíquica e a Imortalidade; Hermes Trimegisto a

denominou como o mais espiritual de todos os seres e Moisés, iniciado na sabedoria

de Hermes, seguiu o seu exemplo no Gênesis. Os Gnósticos a tinham como

emblema, com as 7 vogais sobre a cabeça, representando as 7 Hierarquias dos

Criadores Planetários. Neste versículo ela aparece como símbolo das energias

nascidas no chacra Muladhara (Kundalinî) nos vários planos de consciência,

representados pelos 7 centros de força. Está relacionada a iluminação por baixo.

A advertência para que o Estudante escolha bem se justifica

perfeitamente, porque cada escolha envolve um sistema de iluminação diferente,

embora válidos, os dois, para o alcance do mesmo objetivo. O da Serpente implica

no Tantra, método de iluminação utilizando as energias sexuais que, segundo os

Tantristas, é mais natural e direto, pois alegam que “se o homem foi expulso do

Paraíso por causa da Serpente, é pelo caminho da Serpente que poderá voltar a

ingressar no Paraíso”.

Alegam, também, que a iluminação ocorre como o despertar do sono e o

morrer, pois ninguém acorda gradualmente ou morre aos poucos: ou está acordado

ou está dormindo e ou está vivo ou está morto. Por isso, para eles, a iluminação não

é conquistada aos poucos, vida após vida, pagando todo o carma acumulado, mas

Page 70: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

70

pela consecução do Mahamudra ou êxtase supremo,55 obtido pelo domínio da

energia sexual (Kundalinî, a força ou energia ígnea, base da vida nos planos

manifestados), posteriormente direcionada para a iluminação dos 7 estados de

consciência (7 chacras) onde a vida se desenvolve.

O Mahamudra, que traz a Suprema Sabedoria (A serpente) torna o

homem, pelo conhecimento da verdade sobre si mesmo, isento de pecados, ou seja,

do seu carma, que aflige aqueles que perseguem o sistema de desenvolvimento

gradual, pela conquista das virtudes que engalanam a Alma dos “antes nascidos”.

Como dissemos acima, os dois sistemas, ou seja:

a) o da iluminação gradual, vida após vida, realizando a conquista da

sabedoria através da experimentação e do domínio de si mesmo

perante a adversidade e,

b) aquele que preconiza o Tantra.

Os dois são válidos e levam à mesma meta.

O melhor? Não há resposta que possa ser aceita por quem ainda está

buscando; só quem chegou a realizá-los poderia dizer alguma coisa, mas, também o

que dissesse, não seria, da mesma forma, aceito; esta é uma verdade incontestável

para os que sabem alguma coisa.

Todavia, de forma sutil, porém fortemente presente neste versículo, está

um terceiro caminho para a conquista da iluminação: o Caminho do Coração 56ou a

Senda para a Morada de Hórus (Hadit, a Divina Presença ou a manifestação da

Mônada Divina no coração humano) ou, ainda, o EU SOU, no homem. Este

caminho, que vem sendo preparado há milhares de anos, ou seja, desde a Era de

Touro, que começou há mais de 6.000 anos atrás, propõe a libertação da

55

O Reino dos céus é arrebatado (pela) a força –(Mt. 11,12). A força é Kundalinî. 56

Aparentemente, apesar de ter enaltecido de todas as formas o Amor (dentro de sua compreensão), Crowley não chegou a perceber ou não quis dar ênfase ao aspecto superior da mensagem do Líber Legis: aquele que revela Hadit também como o EU SOU, a realidade divina no homem, como uma das partes mais importantes do livro. Deixou também de enfatizar o aspecto trino da manifestação divina como Ra-Hoor-Khuit, bem caracterizada nos três capítulos do Livro.

Ateve-se, quase que exclusivamente, ao aspecto mágico das revelações (aliás, de forma brilhante), parecendo (aos que não chegaram a compreendê-lo totalmente), não ter pressentido que existia outro caminho para obter os efeitos que buscava. Esse caminho estava contido exatamente na visão de Hadit como “a chama que arde em todo coração humano e no âmago de cada estrela”, ou seja, mais uma, e definitivamente a última, revelação do EU SOU para a humanidade que, com as energias que atuarão nos próximos dois mil anos sobre o Planeta (principalmente as do 4

o. Raio - Harmonia e Beleza, a se

iniciar no ano 2025), trarão amplas condições para que ela, a humanidade, definitivamente se reconheça como filha de Deus e realize, através de toda a Magia nascida no coração, a tremenda renovação do mundo, coerentemente com os primeiros Manifestos Rosa-cruzes. Os estudantes sinceros e não fanáticos devem meditar muito sobre o Líber Legis; procurar a sua real mensagem, vivenciar o seu conteúdo por dentro dos caminhos da Cabala e, aí então, praticar a Magia em toda a sua beleza, esplendor e poder: aquela que nasce no coração, a magia que liberta o homem imediatamente de seu carma, passado, presente e futuro, pois o identifica com a própria Divindade. Então compreenderá, como apóstolo da Verdade que: “O amor cobre multidão de pecados” (1Pedro 4, 8) e que a mensagem do Líber Legis para a Nova Era é o coração, onde encontraremos Hadit (Tiphareth), nascido pela ação do amor de Nuit (Binah em sua união com Chokmah), elevando-nos a Ra (Kether) para o conluio da Eternidade (Ain Soph).

Page 71: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

71

humanidade dos véus da ignorância, pela conscientização, do ser humano, de sua

Divindade Interna. Esta proposta fica explícita:

no Bhagavad Gîtâ (Era de Touro), por Krishna, quando se revela a

Arjuna como “EU SOU a Essência Espiritual que habita nas

profundezas da Alma e no Íntimo de cada criatura; o Princípio, o

Meio e o Fim de todas as coisas; a sua Origem, a sua Existência, o

seu Termo Final.

no Antigo Testamento (Era de Áries, há 4.000 anos atrás), a Moisés

(Êxodo 3, 14/15) quando diz “EU SOU o que Sou. Disse mais Deus a

Moisés: assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós

outros”.

no Novo Testamento (Era de Peixes, há 2.000 anos atrás), através de

Jesus, quando este, confirmando o dito por seus veículos anteriores,

afirma: EU SOU o Caminho, a Verdade e a Vida; EU SOU a Luz do

Mundo, etc. etc. (ver o Apêndice, no final deste Livro).

Atualmente (Era de Aquário, Éon de Hórus), nos três capítulos do Líber

Legis, vemos a constante afirmação de que EU SOU (“Eu Sou a Chama

que arde em cada coração humano; Eu Sou o Mago e o Exorcista...,

etc. etc.), principalmente no 2o. capítulo, que pode ser considerado o

Livro de Hadit.

E tudo isso fica muito claro se observarmos atentamente a oração do

versículo em estudo, que diz: “Também não deixe que os ingênuos interpretem mal

o amor; pois há amor e amor”. Ele se refere ao Amor do Coração, em consonância

com o versículo 7 do 2o. Capitulo que se complementa afirmando: “Eu sou o eixo da

Roda e o Cubo no Círculo. Vinde a mim é uma sentença ingênua, pois Eu Sou

o que vai”. 57

O versículo termina dizendo que o Profeta (neste caso: Crowley) escolheu

a lei da fortaleza e o Grande Mistério da Casa de Deus; cabe-nos, somente, tentar

compreender o que isto pode significar. Senão, vejamos:

a) A lei da Fortaleza relaciona-se a Sephirah Geburah, cujo chacra

mundano é Marte, que a despeito de seu aspecto de violência (espada

na mão), nem sempre deverá ser encarado dessa forma. É importante

57

Ver o comentário do versículo 7 do Capítulo 2, para maiores esclarecimentos.

Page 72: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

72

apreender o sentido superior da força marciana relacionada a Geburah,

representado pelo pentagrama, muito utilizado na magia “não só para a

invocação, como também na limpeza ou banimento, na esfera psíquica,

de elementos interiores indesejáveis”.58 Estes últimos seriam as energias

Qliphóticas.

b) O Grande Mistério da Casa de Deus (Luz demasiada causa Trevas) está

relacionado à Sephirah Geburah e se refere ao arcanjo Khamael, o Anjo

Brilhante, que aparece como um ovóide brilhando numa luz purpúrea e o

Anjo obscuro, que aparece como uma serpente escarlate de Fogo. Estes

dois são antropomorficamente tidos como o “Bem” e o “Mal” e, às vezes

apresentados sob o aspecto rigoroso, caótico, tenebroso, não que sejam

assim, mas por despertarem em nós estes estados.59

Assim esclarecidos, poderíamos deduzir: este é o caminho do “fio da

espada” (lembremo-nos que o signo complementar de Áries, regido por Marte, é

Libra, signo de nascimento material de Crowley, regido por Vênus, que representa o

amor mundano), onde só se admite duas contingências: Vencer ou sucumbir, o que

parece se enquadrar perfeitamente na tônica iniciática de Crowley. O resultado por

ele conseguido está acima de nossa avaliação. Procurou a Magia e chegou a

resultados extraordinários. Deixou, entretanto, bem claro, como mensagem mais

importante do que a Magia por ele praticada o axioma: “Amor é a Lei, Amor sob

Vontade”, aliás, como deve ser o Amor; nunca sob emoção, como a humanidade

ainda o vivencia.

O trecho do versículo: “Amor é a lei, amor sob vontade. Também não

deixe que os ingênuos interpretem mal o amor; pois há amor e amor” é muito

sugestivo. Ele representa a Sephirah Tipharet (a do Meio, se considerarmos Daath)

na coluna do Equilíbrio e, apesar do Abismo que a separa de Kether (O Pai que está

no céu, o “Eu Sou o que Sou” do Gênesis) podemos afirmar, com certeza, que é, no

caminho do coração onde podemos atingir a Primeira Glória do Homem como ser

Divino. O Amor libera o homem de seu carma; o Amor é, nele, o produto mais

sublime da manifestação divina; é mais facilmente atingível do que a conquista da

iluminação obtida pelo êxtase sexual; o Amor-Sabedoria é a expressão viva da

58

Mistérios Revelados da Cabala - William Whats - Edição da FEEU. 59

Idem, ibidem.

Page 73: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

73

consciência da Mônada Divina e pode ser experimentado em seus albores por

aquele que atinge o conhecimento em Tiphareth. Os mundos inferiores fazem parte

da entidade humana, porém são todos ilusórios; em Tiphereth, nos aproximamos da

Realidade. O trabalho no coração não oferece os perigos dos planos inferiores, pois

nele encontramos “paz e repouso para as nossas Almas”.

A última oração do versículo (Todas estas letras antigas de meu Livro

são como deve ser; mas Tsade (צ) não é uma Estrela. Isto também é secreto:

meu profeta o revelará aos sábios) é totalmente metafórica; portanto deve ser

encarada sob ângulos subjetivos para poder ser entendida.

Primeiramente, está claro que as letras antigas são as letras hebréias,

cujos significados devem permanecer no Líber Legis em toda a sua plenitude,

principalmente aqueles relacionados à Cabala. No que tange a letra Tsade (צ),

sabemos que está relacionada ao Arcano 18 do Tarot egípcio (O Crepúsculo),

governado pelo signo de Escorpião e representando, no caminho iniciático, a fase da

vida onde se deve abandonar os prazeres da vida animal, em todas as suas formas

de vivenciamento (principalmente aqueles provindos das energias sexuais), em favor

de um renascimento espiritual, representado pelo Arcano 17 (A Esperança) com

todas as suas promessas de uma superação humana no futuro.

A afirmação de que Tsade não é uma Estrela foi uma forma sutil, na

enunciação do versículo, de endereçar o raciocínio do Estudante para estes dois

arcanos e suas conotações espirituais, porquanto a letra Tsade encerra a

mensagem do arcano 18 e a palavra Estrela, a mensagem do Arcano 17. Se num a

mensagem é a morte no mundo lunar (o mundo das emoções), no outro existe a

promessa da vida espiritual, representado pela Esperança, irmã da Fé, cuja

conotação superior é Vontade-Força.

Para que o Estudante acompanhe melhor o que é exposto acima, pelo

comentário, reproduzimos, na página seguinte, estas duas cartas do Tarô egípcio,

onde vemos, no Arcano 18, relacionado a Tsade (צ), na parte central, dois cães

latindo e olhando para cima, um preto e outro branco, simbolizando a natureza

animal, tendo ao fundo, com os vértices para cima, dois triângulos, o primeiro branco

e o segundo preto.

Embaixo, dentro de um triângulo branco, com o vértice para baixo, um

escorpião, o único animal que “mata a si mesmo”.

Page 74: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

74

Em cima (representação da parte espiritual do Arcano), vemos uma lua

em fase crescente, encimada pelo chicote das gravuras egípcias que simboliza

sempre a soberania e, ao lado, a serpente e uma letra aparentemente do alfabeto

cuneiforme.

Como dissemos no comentário, esta carta representa o estágio de

declínio ou desinteresse pela vida material naqueles que começam a sentir a

aspiração pelo caminho espiritual. Acontece quando o homem, cansado da prisão da

existência sensorial, contempla o nascimento da luz em sua consciência espiritual,

embora permaneça ainda envolvido nos apelos animais da vida, nesta fase de sua

existência, mesmo permanecendo pleno de suas energias criadoras, não olha mais

para baixo e começa a aspirar somente a criação superior.

Profanamente, este Arcano está relacionado aos abismos do infinito, às

dificuldades que envolvem o Ser espiritual quando se submete aos domínios dos

instintos animais, as decepções amorosas e aos inimigos ocultos, representando

uma advertência e, também, o sinal de que se deve mudar de vida.

Após a vivência do Arcano 18 (que representa uma das fases da vida

iniciática, que vai do Arcano 22, representado pelo Tolo, o Ignorante, o homem

alheio a sua realidade espiritual, até o Arcano 1, o Mago, o Homem Perfeito, Senhor

do Céu e da Terra, o Estudante envereda pelas energias do Arcano 17, o da “Estrela

Resplandecente” ou da Esperança.

Neste, vemos o que seria a natureza feminina do Aspirante, representada

por uma jovem desnuda, com adornos na cabeça, formando, com as pernas, dois

triângulos que também estão representados no inferior por um quadrado dividido

diagonalmente, um branco (com o vértice para cima) e o outro preto (com o vértice

para baixo). Acima, entre o plano espiritual e o mental, a Estrela de oito pontas (a

estrela do Cristo) ligando os símbolos potenciais do céu a terra.

Segura, ainda, um vaso em cada mão, um de ouro e o outro de prata dos

quais jorram o que poderia ser o sêmen fecundante na terra ainda árida da natureza

espiritual.

Este Arcano está relacionado às experiências internas do Caminho 28 da

Árvore Sephirotal, que vai da Sephirah Yesod até Netzach, onde inclusive a jovem

desnuda, portando um cinturão com uma espada pode aparecer, como guia (a

Estrela Resplandecente) do caminho a ser percorrido. Já o Arcano 18 (O

Crepúsculo) está relacionado ao Caminho 29 (de Malkuth a Netzach). Este é um

Page 75: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

75

caminho sombrio em seus significados, cheio de percalços, porém onde adquirimos

o poder de fazer a nossa vontade, se soubermos querer verdadeiramente. Nestas

condições, chegaremos à vitória (Netzach).

Concluindo o comentário do versículo, podemos dizer ainda que a

esperança de um dia nos tornarmos sábios depende exclusivamente que “o profeta”,

neste caso não mais Crowley, mas o Átomo Mestre,60 o morador da bolsa seminal e

Iniciador nos planos Internos da vida, nos revele suas instruções.

60

Para compreender observe atentamente as figuras existentes dentro da ilustração do chacra Swadhisthana na Gravura “Anatomiæ Occultii” e os esclarecimentos sobre o assunto contido Na página 98 do livro “OS DEUSES ATÔMICOS”.

Page 76: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

76

58. Concedo inimagináveis alegrias sobre a Terra: certeza, não fé, enquanto em vida, sobre a morte; paz indescritível, repouso, êxtase; tampouco exijo alguma coisa em sacrifício.

Comentário: Este versículo está relacionado às vivências do Estudante

nos mundos e caminhos internos daquilo que a Psicanálise chama “inconsciente”,

por considerarem como realidades apenas as coisas do mundo material. Em

verdade, as percepções chamadas conscientes (Vigília) representam uma pequena

parcela da realidade que açambarca a personalidade integral da entidade humana;

mais de noventa por cento dessa personalidade integral (aí incluímos até mesmo as

percepções físicas, com um potencial grande ainda a ser desabrochado) manifesta-

se continuamente em mundos mais sutis, sem que a mente chamada consciente

perceba e que, entretanto, além de regular e comandar a maior parte das ações

humanas no estado de vigília, não faz parte das cogitações do homem comum,

totalmente ignorante das realidades mais sutis da vida. 61

Aqui estamos tratando das “vivências” que a Cabala situa na Sephirah

Tiphereth, em seu caminho para Binah, parcela real de nossa “integralidade”

humana (mais real e intensa do que nos pode proporcionar a consciência de vigília e

que, em verdade, constitui apenas um estado de sonho da verdadeira entidade

humana). Esta “vivência” é conhecida do praticante da Cabala por experiência

própria.

São simplesmente inenarráveis, em linguagem humana, as visões,

envolvimentos e participações a que o Estudante é submetido quando alcança este

estado de consciência; somente ali podem concretizar-se as promessas de Nuit. Os

prazeres na terra advêm do novo estado de consciência que passa a usufruir e lhe

permite considerar as coisas, após estas vivências, com muito maior poder de

avaliação.

61

Além do físico grosseiro, existem 4 estados de matéria sutil no universo, denominadas pelos hindus como: a) Prâna, a matéria vital de quem o Sol é o centro difusor. b) Manas, a matéria mental, que tem por centro o Manú. c) Vijñâna, a matéria psíquica, que tem por centro Brahma e, d) Ananda, a matéria espiritual, que tem Parabrahman como substrato infinito.

A Cabala também apresenta o universo com 4 estados de matéria que são: a) Assiah - plano físico - sistema solar visível. b) Yetzirah - o astral ou emocional. c) Briah - o plano mental ou das idéias e arquétipos. d) Atziluth - o plano divino, sede dos 10 Sephiroth.

O homem, enquanto encarnado, mantém, sem nenhuma interrupção, sua expressão de vida em todos estes planos, muitas vezes acessando-os através do sono ou, então, conscientemente, através das práticas cabalísticas.

Page 77: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

77

O conhecimento sobre-humano adquirido lhe traz certeza, nãos mais fé,

em tudo aquilo que se relacione com o processo eterno da vida e, portanto, lhe dá a

certeza da inexistência do que chamamos morte.

Naturalmente, de posse dessa certeza, conquistada numa vivência que

passa a integrar sua personalidade humana, o Estudante adquire, interiormente,

uma paz inexprimível, tranqüilidade absoluta e passa a manter sua consciência

extasiada perante verdades antes insuspeitadas. Nada disso é conquistado através

de sacrifícios, oferendas ou advém de favores especiais; tudo isto é oferecido ao

Estudante por amor à Divina Mãe Natureza, não como condição, mas proveniente

da conquista que realiza em busca de sua inerente realeza espiritual.

59. Meu incenso é de goma e madeiras resinosas; e não existe sangue ali dentro, por causa de meu cabelo, as árvores da Eternidade.

Comentário: Temos a continuidade da fala de Nuit, em prosseguimento ao

versículo 58. No caminho que está sendo percorrido, chega o momento de acender

o incenso, que deve ser adequado ao nível de consciência vivenciado e não possuir

resíduos industriais nem matéria cujo perfume possa criar vibrações nocivas, daí a

admoestação para que a oferenda não possua sangue, como acontece em algumas

operações mágicas.62 A oração seguinte justifica a razão para que não sejam

usados elementos grosseiros, afim de que não seja criada desarmonia nessa região

de perfeição, beleza e perenidade. 63

Chamamos a atenção dos praticantes de Magia para a sentença “por

causa dos meus cabelos, as árvores da Eternidade”. Para o autor, os cabelos de

Nuit (as árvores da Eternidade) estão relacionados exclusivamente as energias

tattwicas e já faziam parte das operações mágicas entre os antigos egípcios. O

trabalho mágico, através do domínio dos Tattwas, é feito de acordo com as leis que

governam os elementos e prescinde totalmente de qualquer forma grosseira de

magia cerimonial, em que são empregados recursos deletérios na invocação de

elementais. As várias referências aos “cabelos de Nuit” nos Livros dos Mortos e, de

alguma forma, nos rituais que eram celebrados durante as iniciações, nos levam a

62

Sobre a utilização de sangue em práticas mágicas, aconselhamos ao Estudante a ler a Terceira parte, Capítulo 12, do Livro Magia, en teoria y práctica, onde Crowley aborda o assunto, inclusive com sua vivência pessoal, repudiando toda e qualquer forma de tortura de animais até a morte e esclarecendo suficientemente o assunto. 63

No livro The Law is for All, Crowley oferece sua interpretação pessoal sobre a visão que teve sobre “because of my hair the trees of Eternity”, que traduzi como “por causa de meu cabelo, as árvores da Eternidade”. Naturalmente, nesses reinos mágicos internos, as experiências sempre estão condicionadas ao estado de desenvolvimento de cada um e Crowley teve a sua, particular.

Page 78: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

78

supor a manipulação de energias para sagrar a cabeça do iniciado, 64

proporcionando-lhe forças adequadas às viagens que deveria empreender na “Barca

Solar”.

60. Meu número é 11, tal como os números daqueles que são nossos. A

Estrela de cinco Pontas, com um Circulo no Meio e o circulo é Vermelho.

Minha cor é negra para os cegos, mas o azul e ouro são vistos da visão.

Também tenho uma glória secreta para aqueles que me amam.

Comentário: Como já foi explicado anteriormente (páginas 22 a 26), o

número onze é a soma natural das letras do alfabeto hebreu Nun (50) e Vau (6), ou

seja, NU = 56 = 11; também foi explicado que 11 é o Número de Hadit

(5+1+4+10+9=29=11), presente em toda a criação como Mônada Divina,

principalmente para os que “descobriram” a verdade do EU SOU em seus corações,

que podem ser considerados como identificados com Nuit, daí ela afirmar que 11 é

também o número dos que são nossos.

A Estrela de cinco pontas representa o poder de Marte, o chacra

mundano da Sephirah Geburah, já abordada no comentário do versículo 57; o

círculo vermelho está relacionado à própria esfera de Marte.

A afirmação de que “minha cor é negra (Akasha) para os cegos” já está

bem esclarecida nas páginas 21 a 27 do presente livro e sabemos que cegos são os

que ainda não compreenderam a essência da Vida Manifestada, onde o azul que

envolve nosso Planeta é a concentração de Vayu, o Tattwa do Ar, em forma de

atmosfera e o ouro (amarelo) é a cor de Prithivî, relacionado ao desenvolvimento

atual da Mente Universal e, também, o Tattwa da terra, perfeitamente perceptíveis

pela visão comum.

Sabemos que Kether é a Gloria Primordial, a manifestação primária

daquilo que é “Imanifesto”, representado na Árvore da Vida pelos três véus Ain, Ain

Soph e Ain Soph Aur. Deduzimos, pela Glória de cima que a Glória de Nuit é a

Gloria de Baixo, representada por Kundalinî, cujo poder e manifestação realiza a

glorificação do veículo humano para servir como o corpo Crístico da Divina Criança.

Mas como diz o versículo, a glória deste corpo é somente para aqueles que

adquirem a Sabedoria e tornam-se amantes da Divina Mãe.

64

A iniciação no candomblé mantém esta prática.

Page 79: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

79

61. Porém, amar-me é melhor do que todas as coisas: se sob o noturno céu

estrelado, no deserto, 65 presentemente queimas meu incenso ante mim,

invocando-me com um coração puro e dentro dele a chama da Serpente,

virás por algum tempo em meu peito deitar. Por um só beijo então

desejarás dar tudo; mas aquele que neste momento der uma partícula de

pó, perderá tudo nesta hora. Reunireis bens, provisão de mulheres e

especiarias; ostentareis jóias preciosas; ultrapassareis os povos da Terra

em esplendor e altivez; mas sempre por amor a mim e, então entrareis na

posse de minha alegria. Eu vos ordeno ardentemente a comparecer ante

mim numa túnica inconsútil e coberto com um magnífico adorno na

cabeça. Amo-vos! Desejo-vos ardentemente! Pálido ou purpúreo, vela do

ou voluptuoso. Eu, que sou todo prazer e dignidade real, a ebriedade do

mais íntimo sentido, desejo-vos. Colocai vossas asas e despertai o

serpentino esplendor dentro de vós: Vinde a mim!

Comentário: Uma constante neste primeiro capítulo do Líber Legis é a

necessidade do Estudante aprender a amar a Nuit, ou seja, a Natureza em todas as

suas expressões de vida.

Isto só pode ser alcançado pelos adeptos da Sofia, que aprendem a não

mais separar (discriminar) para poder conhecer; ao contrário, aprendem a discernir a

vida em seu habitat natural, identificando-se com as suas leis e integrando seus

padrões à sua própria consciência.

Assim procedendo externamente, passa a participar ativamente da vida

em seus diversos reinos de expressão (mineral, vegetal, animal, ígneo e aéreo), com

o objetivo de ajudá-la a conquistar níveis de expressão cada vez mais elevados,

identificando-se, dessa forma, com suas forças, e abandonando sua natural

agressividade contra os reinos inferiores, principalmente aqueles em que a Beleza

aparentemente está ausente.

Como conseqüência, harmoniza-se com a vida Elemental interna,

passando a desfrutar a amizade e o respeito das inteligências atômicas que

constituem seu universo de expressão nos vários planos conscienciais onde é, ou

65

É bom lembrar que toda iniciação passa pela visita que temos de fazer a região do “deserto” existente dentro de nós mesmos. Foi lá que Jesus enfrentou Satanás, vencendo-o (mas não destruindo-o) e onde também deveremos comparecer, em nossa busca interior. Sob a ótica cabalista, o aspirante vai de Malkuth a Yesod (Caminho 32 do Tarô) e lá chegando será tentado em sua maior fraqueza e se não tiver controle absoluto sobre suas energias sexuais falhará com certeza.

Page 80: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

80

seja, onde existe. E é essa harmonia com as forças que envolvem sua consciência

interna e externamente, que permite ao Estudante realmente amar verdadeiramente

a Nuit, daí Ela afirmar que: amá-la é melhor do que todas as coisas, pois seu amor

confere realeza, poder, sabedoria e desfrute em sua mais alta expressão ao Iniciado

(em seus Mistérios), tornando-o verdadeiramente um Mago, Soberano acima dos

Reis Elementais, aos quais respeita com seu amor e divina compreensão. 66

Após a advertência de que “amar-me é melhor que todas as coisas”, o

que deduzimos como uma senha de proteção, segue-se uma clara descrição do

caminho 31 (Malkuth a Yesod) onde “no deserto, sob o noturno céu estrelado,

queimas meu incenso ante mim, etc. etc.”, representando o trabalho e a orientação

mágica para o Estudante proceder o ritual necessário a fim de estabelecer o contato

com Kundalinî (a Serpente), que lhe trará prazeres inimagináveis.

A seguinte afirmação: “Por um só beijo então desejarás dar tudo...”

significa que, apenas pelo leve envolvimento, o Estudante terá a tendência de

entregar-se totalmente ao êxtase a que é levado, seguindo-se a dura advertência de

que, se “neste momento der uma partícula de pó, tudo para ele estará perdido".

Para o melhor entendimento da advertência, esclarecemos que o êxtase

experimentado pode levar o Estudante ao orgasmo (o que deve ser evitado

definitivamente), com emissão externa de esperma (= pó), cujo substrato é

imprescindível para a iluminação; se este for desperdiçado, anulará o êxito da

operação e todo o processo estará perdido.

Na oração seguinte fica claro que se ele vencer, recolherá bens,

fragrâncias e provisão67 de mulheres; ostentará jóias preciosas e ultrapassará todos

os povos da terra e, esplendor e altivez, mas que tudo seja por amor a Ela, Nuit; se

assim for, participará de sua santa alegria ou o êxtase contínuo em que vivem os

conquistadores de sua própria ignorância.

Segue-se a exortação para que o Estudante compareça ante Nuit em seu

corpo espiritual, numa túnica inconsútil,68 que nada mais é do sua armadura

argentada ou aura do corpo mental superior e coberto com um adorno na cabeça,

66

O Autor acredita ter deixado claro que a matança de animais nunca é realizada pelo verdadeiro Mago, que possui recursos naturais para realizar sua vontade, sempre em harmonia com as leis da Natureza. 67

Provisão de Mulheres não deve ser entendido como uma grande quantidade de mulheres que será dada ao Estudante, mas “abundância” de energias femininas, necessárias à harmonização de sua constituição

corporal-espiritual, a fim de que se torne um Andrógino Perfeito. 68

Túnica inconsútil, ou sem costura é, em linguagem esotérica, a aura do corpo humano.

Page 81: o Livro Da Lei Para o Povo Suplicante

O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

81

que deve ser entendido como as irradiações dos chacras frontal e coronário (Ajna e

Sahasrara), agora ativados pelos albores da energia de Kundalinî).

Posteriormente, segue-se o convite à divina integração do Estudante com

sua natureza feminina, a ser liberta, para fazer parte de seu ser; convida-o, em

troca, a fazer parte dela e experimentar todos os prazeres do êxtase espiritual,

representado pelo desfrute de sua consciência nos planos mais elevados da vida.

Isto posto, ordena que se prepare e desperte Kundalinî (o Poder Serpentino) dentro

dele e participe de seu Amor, o Amor da Divina Mãe.

62. Em todos os meus encontros convosco a sacerdotisa dirá – e seus olhos arderão com desejo enquanto ela permanece despida e regozijante em meu templo secreto – A mim! A mim! estimulando a chama de todos os corações em seu cântico amoroso.

Comentário: O versículo anterior e o presente são mágicos e Iniciáticos e

este é a culminação de um encontro que deverá sempre ser renovado pelo

Estudante. Em todas as práticas ele deverá reativar Kundalinî, até que ela ilumine

todos os seus veículos (todos os corações) em sua exaltação amorosa. A fala: “e

seus olhos arderão com desejo enquanto ela permanece despida e regozijante em

meu templo secreto” significa que Kundalinî, a energia ou sacerdotisa iniciadora,

anseia por sua libertação e permanece no esplendor de sua natureza ígnea, pura,

sem véus, no templo Secreto de Nuit, neste caso, o chacra Anahata.

63. Cantai a arrebatadora canção de amor para mim! Queimai perfumes para mim! Usai para mim jóias! Bebei para mim, pois amo-vos! Amo-vos!

64. Eu sou a filha de pálpebras azuis do crepúsculo; Sou a nua luminosidade do voluptuoso céu noturno.

65. A mim! A mim!

Comentário: Os três últimos representam um convite e um pedido para que o

Estudante permaneça sempre alegre e feliz e não deixe de cultuar a Natureza, fortalecendo

seus laços dentro de si mesmo. Não poderíamos terminar este capítulo sem ressaltar a

importância da alegria na vida daquele que busca, por ser condição imprescindível para a

harmonização com o Tattwa Universal da presente emanação Divina, ou seja, PRITHIVÎ.

66. Termina a Manifestação de Nuit.