o impeachment no ordenamento jurídico brasileiro - revista synthesis

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SynThesis Revista Digital FAPAM, Pará de Minas, n.3, 130 - 137, abr. 2012 ISSN 2177-823X 130 www.fapam.edu.br/revista O IMPEACHMENT NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO Márcio Eduardo Pedrosa Morais 1 Alisson Magela Moreira Damasceno 2 RESUMO: Objetiva-se, por intermédio do presente artigo, num primeiro momento, discorrer sobre o procedimento do impeachment no ordenamento jurídico brasileiro, por intermédio da análise dos dispositivos constitucionais da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e da legislação infraconstitucional. Num segundo momento, após a explanação, conceituação e caracterização do impeachment, apresentar-se sucintamente o exemplo concreto do impeachment na história brasileira: o Caso Collor. PALAVRAS-CHAVE: Brasil. Direito Constitucional. Impeachment. ABSTRACT The objective of this article is, at first, discuss the procedure of impeachment in the Brazilian legal system, through the analysis of the constitutional provisions of the Constitution of the Federative Republic of Brazil of 1988 and the constitutional legislation. Secondly, after the explanation, conceptualization and characterization of impeachment, to present briefly a concrete example of impeachment in Brazilian history: the Collor Case. KEYWORDS: Brazil. Constitutional Law. Impeachment. ______________________________ 1 Docente no Curso de Direito da Faculdade de Pará de Minas – FAPAM. Doutorando e Mestre em Teoria do Direito - PUC MG. Especialista em Ciências Criminais. Advogado. E-mail: [email protected] 2 Bacharel licenciado em Geografia – PUC/MG. Graduando em Direito na Faculdade de Pará de Minas – FAPAM. Professor e Técnico Ambiental. E-mail: [email protected]

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  • SynThesis Revista Digital FAPAM, Par de Minas, n.3, 130 - 137, abr. 2012 ISSN 2177-823X 130 www.fapam.edu.br/revista

    O IMPEACHMENT NO ORDENAMENTO JURDICO BRASILEIRO

    Mrcio Eduardo Pedrosa Morais1

    Alisson Magela Moreira Damasceno2

    RESUMO:

    Objetiva-se, por intermdio do presente artigo, num primeiro momento, discorrer sobre o procedimento do impeachment no ordenamento jurdico brasileiro, por intermdio da anlise dos dispositivos constitucionais da Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 e da legislao infraconstitucional. Num segundo momento, aps a explanao, conceituao e caracterizao do impeachment, apresentar-se sucintamente o exemplo concreto do impeachment na histria brasileira: o Caso Collor. PALAVRAS-CHAVE: Brasil. Direito Constitucional. Impeachment.

    ABSTRACT

    The objective of this article is, at first, discuss the procedure of impeachment in the Brazilian legal system,

    through the analysis of the constitutional provisions of the Constitution of the Federative Republic of Brazil

    of 1988 and the constitutional legislation. Secondly, after the explanation, conceptualization and

    characterization of impeachment, to present briefly a concrete example of impeachment in Brazilian history:

    the Collor Case.

    KEYWORDS: Brazil. Constitutional Law. Impeachment.

    ______________________________ 1 Docente no Curso de Direito da Faculdade de Par de Minas FAPAM. Doutorando e Mestre em Teoria do Direito - PUC MG. Especialista em Cincias Criminais. Advogado. E-mail: [email protected] 2 Bacharel licenciado em Geografia PUC/MG. Graduando em Direito na Faculdade de Par de Minas FAPAM. Professor e Tcnico Ambiental. E-mail: [email protected]

  • MORAIS, M.E.P.; DAMASCENO, A.M.M. 131

    1 INTRODUO

    A Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 CRFB/88 dispe sobre crimes

    cometidos pelo Presidente da Repblica que podem ensejar o processo de impeachment de seu

    mandato. Neste sentido, prev o caput do artigo 85 da CRFB/88 que so crimes de

    responsabilidade os atos do Presidente da Repblica que atentem contra a Constituio Federal,

    (BRASIL, 2010) e o pargrafo nico aponta que esses crimes sero definidos em lei especial, que

    estabelecer as normas de processo e julgamento. (BRASIL, 2010). Assim, o Presidente pode ser

    impedido de continuar a exercer sua funo em virtude de prticas que coloquem o pas em risco.

    Porm, aquele s ser destitudo do cargo depois de admitida a denncia do crime pelo Poder

    Legislativo e de julgado procedente pelo Senado Federal, j que a possibilidade de impeachment

    vincula-se aos crimes de responsabilidade, pois trata-se de crime de natureza jurdica-poltica,

    sendo, portanto afastado da apreciao do Poder Judicirio. Da a motivao para o artigo 86 da

    Constituio Federal assegurar que admitida a acusao contra o Presidente da Repblica, por dois

    teros da Cmara dos Deputados, ser ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal

    Federal, nas infraes penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de

    responsabilidade. (BRASIL, 2011).

    Decorridos, aproximadamente, quatro anos da promulgao da Repblica Federativa do

    Brasil, o ento presidente da poca, Fernando Collor de Melo, teve decretado seu impeachment pelo

    Senado Federal, mesmo aps ter renunciado seu cargo, acreditando que no perderia seus direitos

    polticos por oito anos. Todavia o Senado Federal no acatou esse precedente e imps a pena

    prevista na legislao.

    Com considervel clamor popular, o impeachment de Collor foi marcado por inmeras

    denncias de corrupo dentro do governo, as quais, junto aos desfechos marcantes do perodo,

    deixaram um rastro poltico altamente discutido e discutvel.

    2 BREVE HISTRIA DO IMPEACHMENT

    O instituto do impeachment, tpico do direito ocidental, tem suas origens na Inglaterra

    medieval, sendo posteriormente recepcionado nos Estados Unidos com considerveis alteraes,

  • SynThesis Revista Digital FAPAM, Par de Minas, n.3, 130 - 137, abr. 2012 ISSN 2177-823X 132 www.fapam.edu.br/revista

    haja vista ter este instituto, inicialmente, natureza criminal e consistir-se, assim, instrumento de

    punio aos nobres ou qualquer outro cidado, institudos ou no de poder, acusados pelo clamor

    pblico, cominando a estes indivduos as mesmas sanes do direito penal; enquanto ter o

    impeachment se caracterizado nos Estados Unidos pela natureza poltica, instituindo penalizaes

    de perda de cargos pblicos e de direitos polticos.

    Neste sentido, Paulo Brossard em sua obra O Impeachment (1965) assevera que: Na

    Inglaterra o impeachment atinge a um tempo a autoridade e castiga o homem, enquanto, nos

    Estados Unidos, fere apenas a autoridade, despojando-a do cargo, e deixa imune o homem, sujeito,

    como qualquer, e quando for o caso, ao da justia. (BROSSARD, 1965, p. 21).

    Da pode-se entender que o impeachment britnico em sua fase inicial tinha jurisdio plena,

    impondo penas comuns aos acusados, enquanto que o norte-americano caracteriza-se, desde sua

    instituio, como jurisdio limitada, tendo por final efeito a punibilidade ao homem investido de

    cargo pblico.

    O fortalecimento do impeachment na Inglaterra foi possvel com a viabilizao do

    parlamentarismo, que dentro do contexto da Revoluo Liberal possibilitou um sistema de defesa

    dos interesses pblicos no verificados no cenrio absolutista, por exemplo, o princpio do the king

    can do not wrong (teoria da irresponsabilidade), segundo a qual somente os ministros poderiam

    sofrer impeachment, sendo o Rei isento de qualquer responsabilidade, ou seja, quando ficou a cargo

    do congresso governar, o impeachment tornou-se a principal ferramenta de controle popular. No

    obstante, o impeachment ingls passou por evolues ao longo da histria, e de suma relevncia a

    perda do carter criminal inicial, amoldando-se plenamente a um processo com resultados polticos.

    Porm as transformaes ocorreram de forma paulatina durante quase dois sculos e os autores

    chegam a divergir sobre alguns momentos, como o perodo de recesso em que vigorou a lei Bill Of

    Attainder que, segundo Mauricio Silva de Ges (2010), no conferia um julgamento para os rus,

    uma vez que para a sua aplicao no se exigia um crime especfico podendo ser usada para

    qualquer tipo de crime. Para alguns o perodo ocorreu entre 1449 e 1620 e outros aduzem o

    perodo de 1459 a 1620. Da a inviabilidade de precisar as evolues do impeachment ingls. Neste

    sentido, insta salientar a observao de Brossard (1965): no fcil dissertar acerca do

    impeachment ingls, precisando-lhe as caractersticas, pois elas mudaram ao longo do tempo

    (BROSSARD, 1965, p. 21).

    O nascimento da Constituio dos Estados Unidos fixou o impeachment como processo

    exclusivamente poltico, ao prever que somente ocupantes de alguns cargos pblicos poderiam ser

    acusados e processados, alm de cominar apenas sanes polticas aos condenados. Infere-se,

  • MORAIS, M.E.P.; DAMASCENO, A.M.M. 133

    portanto, que aquele que no fosse probo para preencher cargo pblico, necessariamente no estaria

    vinculado ao crime comum. Paulo Brossard, ao analisar o procedimento do impeachment norte

    americano, sustenta que: tratava-se de processo exclusivamente poltico, que mais visava a

    proteger o estado do que punir o delinqente, e esse conceito ainda hoje e reproduzido por autores

    de prol. (BROSSARD, 1965, p. 31).

    Ressalta-se que a introduo do impeachment nos Estados Unidos teve a finalidade de

    aprimorar a separao dos poderes, caracterstica essencial do Estado Democrtico de Direito,

    vinculando-o diretamente ao mecanismo dos freios e contrapesos, tornando assim imprescindvel

    a descriminalizao do instituto.

    Consideradas as relevantes diferenas entre o impeachment da Inglaterra e o impeachment

    dos Estados Unidos, figura-se afinidade guardada aos dois sistemas, qual seja instrumento pelo qual

    os ocupantes de cargo pblico so responsabilizados por condutas inadequadas s suas funes.

    No Brasil o processo de impeachment traz razes do direito anglo-saxnico. Por exemplo, a

    Constituio Brasileira de 1824 previa a responsabilizao, atravs de processo penal, aos ministros

    condenados por crimes de traio, suborno e abuso de poder. No entanto, o impeachment constituiu

    caractersticas prprias ao longo do tempo, sendo tipificado em todas as constituies brasileiras o

    instituto teve caractersticas distintas em cada momento histrico. Foi a partir do Brasil Repblica,

    com a Constituio de 1891, que o impeachment brasileiro trouxe previses que identificariam com

    o modelo atual, como a competncia da Cmara para julgar procedente, ou no, as acusaes contra

    o Presidente ou Ministros de Estado em crimes conexos com o Presidente e a competncia judicante

    do Senado Federal. Sob a Constituio de 1891, tambm predominou o entendimento do

    impeachment como processo de natureza poltica objetivando a proteo da coisa pblica. Neste

    sentido:

    Trata-se, pois, de um processo administrativo ou poltico e de uma pena de natureza disciplinar; e assim se explica a razo por que a acumulao da pena imposta ao Presidente da Repblica pelo senado e da pena criminal imposta pelos tribunais ordinrios, no constitui violao do princpio do non bis in idem; do mesmo modo por que esse princpio no ofendido, quando o empregado pblico, punido administrativamente, depois processado e punido criminalmente pelos tribunais, e em razo do mesmo delito. (BROSSARD, 1965, p. 74).

    No regime republicano comea a prevalecer o entendimento no qual os crimes de

    responsabilidade tambm, quando tipificados, devero ser julgados e responsabilizados como

    crimes comuns, com as mesmas sanes impostas a um cidado comum.

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    Assim o processo de impeachment, como todo ordenamento jurdico, sofreu modificaes

    substanciais o espao-tempo, mantendo em cada pas relevantes peculiaridades, porm mantendo

    sua funo essencial de controle sobre os atos do Presidente da Repblica.

    3 O IMPEACHMENT NO ORDENAMENTO JURDICO BRASILEIRO: A CRFB/88 E A LEI DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE - LEI N. 1.079 DE 1950

    O pargrafo nico do artigo 85 da CFRB/88, em consonncia com o caput que tipifica os

    crimes de responsabilidade do Presidente da Repblica, preleciona que: Esses crimes sero

    definidos em lei especial, que estabelecer as normas de processo e julgamento. Em virtude da

    inexistncia de lei posterior CFRB/88, permanece em vigncia a Lei n. 1.079 de 1950 cuja

    essncia converge com os princpios constitucionais que consideraram crimes os atos incompatveis

    com o exerccio honroso do cargo de Presidente da Repblica. Assim de acordo com a Constituio

    de 1988, depois de admitida acusao pela Cmara dos Deputados, por dois teros, ser o presidente

    submetido a julgamento perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade. No obstante,

    consta no pargrafo nico do seu artigo 52 da CRFB/88 que, nos casos de impeachment, o Senado

    Federal ser presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e decidido por qurum

    qualificado de dois teros dos votos, devendo a pena limitar-se perda do cargo, com inabilitao

    por oito anos para o exerccio de funo pblica, sem prejuzo das sanes judiciais cabveis. As

    sanes polticas so vinculadas; no h, por parte do Congresso Nacional discricionariedade de

    cominar uma ou outra pena. Malgrado, ressalta-se que a Constituio no recepcionou a anterior

    previso, constante da Lei n. 1.079 de 1950, de 5 (cinco) anos de afastamento do Presidente da

    Repblica, impondo uma pena mais gravosa, qual seja, 8 (oito) anos. Ainda h de se salientar que

    para salvaguardar o processo de influncias gravosas por parte do Presidente, prev a Constituio

    que, depois de admitida acusao pelo Congresso Nacional ficar o mesmo afastado de suas

    funes por um perodo de 180 (cento e oitenta) dias, fato este que traz diversas crticas

    doutrinrias. Dentre tais crticas, est uma feita ao procedimento de impeachment previsto na

    Constituio Brasileira de 1891, no qual tal previso j constava:

    O primeiro magistrado da nao, o gestor dos seus mais altos negcios polticos e governamentais, em to grave conjuntura, equiparado ao simples funcionrio administrativo, sem se ponderar a natureza caracterstica de suas funes, a origem nacional de sua investidura, sem terem-se em considerao os inconvenientes e perigo da substituio do governo num momento to arriscado e de tamanha expectao para o pas,

  • MORAIS, M.E.P.; DAMASCENO, A.M.M. 135

    como deve ser esse em que se trata de processar o presidente. (BARBALHO apud BARROS, 2011).

    Fato que, passado mais de um sculo da explanao supracitada, continua a previso de

    afastamento do Presidente em caso de crimes de responsabilidades, aps instaurao do processo,

    retornando o mesmo s suas funes aps cento e oitenta dias, caso no esteja concludo o

    julgamento, sem o prejuzo do regular prosseguimento do processo, como preleciona o pargrafo 2

    do artigo 85 da Constituio Federal de 1988.

    Finalmente, e no menos relevante, a vedao constitucional responsabilizao do

    Presidente da Repblica, na vigncia de seu mandato, por atos estranhos ao exerccio de suas

    funes, constante no pargrafo 4 do artigo 86. Assim o caput do artigo 86 que preleciona ser o

    Supremo Tribunal Federal competente para julgar o Presidente nas infraes penais comuns, aps

    admitida acusao na Cmara dos Deputados, refere-se aos crimes de responsabilidade que tenham

    tambm natureza comum, pois os atos praticados no inerentes ao seu cargo sero julgados aps o

    trmino de seu mandato, ficando suspenso o prazo prescricional.

    4 UMA HISTRIA CONCRETA DO IMPEACHMENT NO BRASIL: O CASO COLLOR

    Em dezembro de 1992, em sesso extraordinria no Congresso Nacional, um Presidente da

    Repblica foi deposto em processo de impeachment pela primeira e nica vez na histria

    constitucional brasileira. Insta inicialmente salientar que tal Presidente, Fernando Afonso Collor de

    Mello, havia sido eleito no Brasil por eleies diretas, aps trinta anos de ditadura militar (1964-

    1985).

    Iniciado aps denncias de corrupo expostas por seu irmo Pedro Collor aps pouco mais

    de dois anos de seu governo, o impeachment do Presidente Collor marcou a histria poltica do pas,

    considerando ter sido esse o nico caso de deposio no pas atravs de condenao por crimes de

    responsabilidade, conforme j salientado.

    A acusao de corrupo foi o marco final para que Collor fosse retirado do poder,uma vez

    que, com seu governo j fragilizado diante de uma conjuntura econmica altamente descontrolada e

    do mnimo apoio poltico do Congresso Nacional, j se era possvel vislumbrar o colapso. Neste

    sentido, Collor no controlou a assombrosa inflao que assolava o pas, e em certa feita, na

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    tentativa de cont-la, congelou as contas de poupana superiores a 1.200 dlares, o que ocasionou

    considervel revolta social.

    importante salientar tambm o papel decisivo da imprensa no processo. Em oposio

    direta ao Presidente da Repblica, a mdia inflou, sobremaneira, a populao sobre Collor, cobrindo

    de perto as denncias de corrupo, muitas vezes com expresso sensacionalismo. Neste sentido:

    A apurao das denncias de corrupo por uma Comisso Parlamentar de Inqurito, processo este que se tornou irreversvel depois que as acusaes partiram do prprio irmo do presidente, transformou-se em um fenmeno miditico cujo valor simblico sobrepujava as espetaculares aparies dominicais do acusado.

    A imprensa, que manteve austera oposio ao Presidente no processo de impeachment, havia

    anteriormente, durante as campanhas presidenciais de 1989, cedido considervel espao ao

    candidato Collor, que com impecvel discurso ganhou apoio popular culminando em sua eleio

    aps dois turnos. importante salientar ter sido a mdia a criadora e sustentadora do personagem

    Caador de Marajs em aluso ao perodo em que Collor foi governador de Alagoas, onde

    implantou uma administrao baseada no saneamento e moralizao da mquina pblica.

    Assim, esta imagem impecvel de Collor (inicialmente) foi decisiva quando surgiram as

    primeiras denncias de corrupo. O caminho inverso, qual seja, da desconstruo do carter do

    Presidente foi uma descaracterizao do poltico que chegou ao poder como smbolo de probidade.

    Assim aps diversas manifestaes, em variados setores da sociedade, e comprovado por uma

    Comisso Parlamentar de Inqurito CPI, o esquema de corrupo com o envolvimento do

    Presidente, lderes da Ordem dos Advogados do Brasil da imprensa solicitaram a instaurao do

    processo de impeachment.

    Collor foi afastado do cargo pela Cmara dos Deputados no dia 29 de setembro de 1992. O

    acontecimento, televisionado, parou o pas, tendo sido o juzo de admissibilidade aprovado pela

    Cmara dos Deputados por 441 votos a favor e 38 contra. Dias antes de ser julgado no Congresso

    Nacional, Collor renuncia ao cargo acreditando que assim poderia evitar a pena de perda dos

    direitos pelo perodo de oito anos. Porm, no dia 29 de dezembro de 1992 o Senado Federal

    decretou o impeachment, por 76 votos a 3, impondo, mesmo diante da renncia, a perda dos direitos

    polticos, encerrando-se assim um perodo marcante da histria presidencial brasileira.

    5 CONCLUSO

  • MORAIS, M.E.P.; DAMASCENO, A.M.M. 137

    A democracia pressupe equilbrio de poderes, probidade e moralidade na Administrao

    Pblica, predicados de construo e manuteno de uma ordem justa e equilibrada. Dentre os

    instrumentos de garantia desta probidade e moralidade est o instituto do impeachment, o qual,

    conforme visto, deita suas razes no direito ingls, estando previsto atualmente na Constituio

    brasileira de 1988 e tendo tambm seu procedimento previsto na Lei n. 1.079 de 1950.

    A histria constitucional brasileira, apesar de ter positivado h muito o instituto do

    impeachment nos textos legais, somente uma vez, com Fernando Collor, assistiu a um

    impeachment, o que demonstra o fato de que, na prtica no ser fcil acusar e julgar um Presidente

    da Repblica por crime de responsabilidade, o que comprova um dos argumentos referentes a uma

    das caractersticas do Presidencialismo: ser o mesmo uma ditadura por prazo determinado.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BARROS, Sergio Resende. Estudo sobre impeachment. Disponvel em . Acesso em: 11 set. 2011. BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia: Senado, 2010. BROSSARD, Paulo. O impeachment. Porto Alegre: Globo, 1965. GALLO, Carlos Alberto Provenciano. Crimes de responsabilidade: do impeachment. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1992. DIREITO, Carlos Alberto Menezes. A disciplina jurdica do impeachment. BDJur, Braslia, DF. Disponvel em: