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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ Curso de Especialização em Administração Judiciária Ednélia Barbosa Menezes O IMPACTO DE AMPLIAÇÃO DA DEMANDA POR SERVIÇOS JURISDICIONAIS NA 4ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA FORTALEZA - 2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ Curso de Especialização em Administração Judiciária

Ednélia Barbosa Menezes

O IMPACTO DE AMPLIAÇÃO DA DEMANDA POR SERVIÇOS JURISDICIONAIS NA 4ª VARA DA

FAZENDA PÚBLICA

FORTALEZA - 2008

Ednélia Barbosa Menezes

O IMPACTO DE AMPLIAÇÃO DA DEMANDA POR SERVIÇOS JURISDICIONAIS NA 4ª VARA DA

FAZENDA PÚBLICA

Monografia apresentada à Universidade Estadual Vale do Acaraú como requisito parcial para a obtenção do título de especialista em Administração Judiciária. Orientador: Prof. Ms. Osterne Feitosa Ferro Neto

FORTALEZA - 2008

Ednélia Barbosa Menezes

O IMPACTO DE AMPLIAÇÃO DA DEMANDA POR SERVIÇOS JURISDICIONAIS NA 4ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA

Monografia apresentada à Universidade Estadual Vale do Acaraú como requisito

parcial para a obtenção do título de especialista em Administração Judiciária.

Monografia aprovada em: 25/ agosto/ 2008

Orientador: __________________________________________________________ Prof. Ms. Osterne Feitosa Ferro Neto

1º Examinador: _______________________________________________________ Prof. Ms. Pedro Cavalcante de Oliveira Neto

2º Examinador: _______________________________________________________ Prof. Ms. Flávio José Moreira Gonçalves

Coordenador do Curso:

________________________________________ Prof. Dr.: Edílson Baltazar Barreira Júnior

Dedicatória Dedico este trabalho à minha mãe e a Dedé, verdadeiros tesouros da minha família. À minha irmã Cláudia, que sempre demonstrou com suas ações, muito apoio e incentivo a todas as minhas empreitadas. Ao pai que eu perdi muito cedo, mas que não deixa de ser exemplo de virtude e honestidade. Ao meu marido e filhos que me dão forças para seguir em frente. Aos amigos que me incentivaram e ajudaram. E, especialmente, àquele Ser Supremo que colocou todas essas pessoas na minha vida.

Não tenho nada que me prove a existência de Deus e, mesmo assim, Ele continua sendo o Absoluto dos meus dias. Nunca choveu maná no quintal da minha casa, e a imagem que tenho da Virgem Maria nunca derramou uma lágrima. O que tenho aqui é esta mão machucada, este humano desconsolo, esta dor, esta cor e este olhar desconcertante de Deus, me deixando sem jeito ao dizer que me ama.

Fábio de Melo, scj

RESUMO

Esta monografia teve como objetivo verificar o impacto da ampliação de demanda

por serviços jurisdicionais na 4ª Vara da Fazenda Pública, na Comarca de Fortaleza.

Para tanto, faz-se a apresentação do Poder Judiciário Nacional, desde o início da

colonização do Brasil pelos portugueses, bem como sua história no Estado do

Ceará, discorrendo sobre os órgãos e funções. Sobre a Fazenda Pública, destacam-

se as prerrogativas processuais, ações mais recorrentes, trabalho minucioso e

burocrático e a relação desproporcional entre juiz/servidor e o número de processos

em tramitação. Iniciativas despontam como soluções para mais celeridade

processual do Poder Judiciário Nacional: súmula vinculante e processo virtual. O

estudo aponta que os institutos supramencionados são iniciativas de grande valor,

entretanto a complexidade dos problemas atuais da Secretaria da 4ª Vara da

Fazenda Pública exigem soluções bem mais concentradas.

Palavras-chave: Demanda. Fazenda Pública. Poder Judiciário.

ABSTRACT

This monograph had as main reason to check the impact of the enlargement of the

demand for jurisdictional services in the secretarial which works with lawsuit involving

the State, the municipality, the autarchy, among the other ones into the Cearense

judiciary, hosted in the Judicature of Fortaleza. Therefore, It was presented the

National Judiciary, since the beginning of the colonization of Brazil by the

Portuguese, as well as its history in the state of the Ceará, talking about its organs

and functions. It talked about the Secretarial above mentioned and its processual

prerogatives, the most recurrent actions, the minute and bureaucratic work, and the

disproportionate relation between judge / server and the number of processes in

course in the secretarial. It dealed with two initiatives that are emerging like solution

to be more processual celerity near the national Judiciary, what they are: the linked

summula and the virtual process. The study allowed visualizing that the two institutes

mentioned are initiatives of great value; however, the complexity of the existing

problems currently in the secretarial demands much more concentrated solutions.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9 CAPÍTULO l - O PODER JUDICIÁRIO NO BRASIL ................................................ 12

1.1. Histórico ....................................................................................................... 12 1.2. FUNÇÕES E COMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO .... 23

1.2.1. Supremo Tribunal Federal ..................................................................... 25 1.2.2. Conselho Nacional de Justiça ............................................................... 25 1.2.3. Superior Tribunal de Justiça .................................................................. 26 1.2.4. Justiça Federal ...................................................................................... 26 1.2.5. Justiça do Trabalho ............................................................................... 27 1.2.6. Justiça Eleitoral ........................................................................................ 27 1.2.7. Justiça Militar ........................................................................................... 28 1.2.8. Justiça Estadual ....................................................................................... 28

CAPÍTULO ll - O PODER JUDICIÁRIO NO CEARÁ ................................................ 30 2.1. Histórico .......................................................................................................... 30 2.2. Composição do Poder Judiciário no Estado do Ceará ................................... 33

2.2.1. Justiça de Segundo Grau – Tribunal de Justiça ....................................... 33 2.2.2. Justiça de Primeiro Grau .......................................................................... 34

CAPÍTULO lll - A FAZENDA PÚBLICA ................................................................... 39 3.1. As Ações mais recorrentes na Fazenda Pública ............................................ 43 3.2. A Burocracia ................................................................................................... 49 3.3. A Lotação da 4ª Vara da Fazenda Pública ..................................................... 50

CAPÍTULO IV – A CRISE DO JUDICIÁRIO E AS SOLUÇÕES BUSCADAS .......... 53 4.1. A Súmula Vinculante ....................................................................................... 53 4.2. O Processo Virtual .......................................................................................... 55

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 60 ANEXO A – Lei nº 14.128 ........................................................................................ 62 ANEXO B – Dados Estatísticos .............................................................................. 66 ANEXO C – Ofício Circular nº 44/ 2008 .................................................................. 74 ANEXO D – Provimento nº 004/2007 ...................................................................... 79

INTRODUÇÃO

Este trabalho é pensado em face dos problemas do ambiente de trabalho

em Vara da Fazenda Pública, notadamente no que tange à desproporção entre o

número de servidores efetivos lotados na Secretaria e a quantidade de processos

em tramitação, em ambiente eminentemente burocrático. As dificuldades são muitas

e a insatisfação domina um lado e o outro dos envolvidos no processo; o particular e

seu representante legal alegam que demandam contra Estado que se utiliza de

brechas e artifícios dos Códigos e leis que o favorecem e o servidor que não

desenvolve seu trabalho por falta de condições adequadas.

A visão que a sociedade, de um modo geral, tem do servidor público é de

que trabalha pouco, ganha muito e tem privilégios que apenas o tornam ineficiente e

preguiçoso. A bem da verdade, a minoria se enquadra com perfeição no quadro

acima, mas a maioria é trabalhadora e procura desempenhar seu papel com

seriedade e responsabilidade, apesar das condições adversas.

O Poder Judiciário brasileiro se subordina a leis e recursos processuais

que precisam ser revistos de forma ampla para que haja, efetivamente, igualdade e

celeridade na pacificação dos conflitos, o que não ocorre hoje.

A administração do Judiciário cearense, cuja competência é do Tribunal

de Justiça do Estado, tornou público, recentemente, detalhes do plano estratégico

para o período 2007-2009 com o objetivo de, primeiro, assegurar prestação

jurisdicional célere e efetiva, em destaque os procedimentos internos: aceleração do

trâmite processual administrativo e judicial, aumento da produtividade do Poder

Judiciário, bem como continuidade de modernização. São propostas alentadoras do

processo de renovação no momento.

Em Vara Especializada que abrange demandas do Estado, tem-se a

impressão de que este trabalha contra si próprio, haja vista as contendas em que o

10

Ente Público deixa de resolver administrativamente, matérias que a Lei Maior

explicita de forma clara sobre o direito do cidadão, por exemplo, a saúde que o

Estado deixa de proporcionar alegando falta de leitos em hospitais públicos ou de

verbas para aquisição de medicamentos. Afinal, a Constituição Federal não abre

exceção ao estabelecer no artigo 6.º, que são direitos sociais a educação, a saúde, o

trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

maternidade e à infância, e a assistência aos desamparados.

Nesse cenário insere-se a problemática, cabendo indagar: Qual o impacto

da ampliação de demanda por serviços jurisdicionais na 4ª vara da fazenda pública?

Fazem-se outros questionamentos: Como se constitui, historicamente, a criação e a

implementação do serviço? O que caracteriza o serviço jurisdicional prestado pelo

Estado? Como é efetivado, na prática, o serviço, hoje? Qual a estrutura do Poder

Judiciário para atendimento à demanda por serviços jurisdicionais? Quais

alternativas estão sendo buscadas para melhor efetivação dos serviços prestados?

Diante disso, o objetivo geral deste trabalho: Analisar o impacto da

ampliação de demanda por serviços jurisdicionais, na 4ª Vara da Fazenda Pública,

com objetivos específicos:

a) apresentar a estrutura do Poder Judiciário, hoje, e sua formação

ao longo do tempo;

b) analisar a atuação do Poder Judiciário, na prestação do serviço

jurisdicional da 4ª Vara da Fazenda Publica;

c) identificar possíveis causas de morosidade e ineficiência do

serviço jurisdicional;

d) apontar alternativas para melhor efetivação dos serviços.

e)

A metodologia de pesquisa é principalmente bibliográfica, sobre doutrina

e legislação, e documental, isto é, dados estatísticos que indicam a necessidade de

reformulação do sistema, a fim de revitalizar a justiça, tornando-a célere e eficiente.

A monografia divide-se em quatro capítulos.

11

O primeiro discorre sobre a história do Poder Judiciário no Brasil.

O segundo mostra um pouco da história do Poder Judiciário no Ceará,

assim como funções e composição dos órgãos.

O terceiro capítulo aborda as causas do aumento de demanda pelos

serviços jurisdicionais e problemas do cidadão, na busca de proteção do Estado-

Juiz, frente a instituição arcaica e desacreditada do grande público. Enfoca também

os procedimentos precários e burocráticos do trabalho da 4ª Vara da Fazenda

Pública, bem como falta de servidores do quadro do Poder do Judiciário e

desdobramentos da situação.

O quarto capítulo aponta soluções para tornar os serviços jurisdicionais

mais eficientes e céleres, com ênfase na súmula vinculante e o processo virtual

considerado meio revolucionário de trâmite dos processos.

CAPÍTULO l - O PODER JUDICIÁRIO NO BRASIL

1.1. Histórico

Na busca de soluções dos problemas do Poder Judiciário, hoje, há que se

conhecer sua história e buscar, nas raízes, as possíveis causas.

A história do Poder Judiciário, no Brasil, inicia com as primeiras naus. No

descobrimento, aplica-se na Colônia, a lei de bordo dos capitães de navios e dos

líderes das expedições exploratórias.

No período colonial, de modelo português, o rei administrava a Justiça,

sua principal função. Justiça itinerante, o rei trazia sempre juízes, denominados de

ouvidores do cível ou do crime, de acordo com a matéria a ser julgada.

Componentes da Casa da Justiça da Corte, depois tribunal de apelação com o nome

de Casa da Suplicação, formada por duas Mesas: do Cível e do Crime, sendo a

última o Desembargo do Paço, denominada "Casinha", que julgava as apelações

nas causas criminais com pena de morte e para o que se postulava a clemência

régia. A partir de 1521, o Desembargo do Paço torna-se corte independente e

especial, e, em 1532, foi criada a Mesa de Consciência e Ordens para a resolução

dos casos jurídicos e administrativos referentes às ordens militar e religiosas.

A Casa da Suplicação, Corte Suprema para Portugal e para as Colônias,

com a instituição dos Tribunais de Relação como cortes de 2ª instância, transforma-

se em intérprete máximo do direito português. Suas decisões são acolhidas pelas

instâncias inferiores como jurisprudência vinculante.

A Justiça Portuguesa do século XV organiza-se de acordo com o

organograma abaixo:

13

Fonte: Revista Jurídica Virtual, Brasília, vol. 1, Setembro 1999

Com a implantação do sistema de capitanias hereditárias, em 1533, os

donatários recebem amplos poderes e passam a exercer funções de

administradores, chefes militares e juízes, investidos de competências em alçadas

cíveis e criminais, praticadas por ouvidor e demais oficiais.

O marco inicial do Judiciário brasileiro é a instalação, com Tomé de

Sousa, do Governo-Geral no Brasil, em 1549, com a vinda do Desembargador Pero

Borges na função de Ouvidor-Geral, encarregado da administração da Justiça. Eram

essas as linhas básicas da organização judicial da Colônia. O Ouvidor-Geral

constitui instância de apelação e agravo para as sentenças dos ouvidores das

capitanias, nomeados pela Coroa ou donatários. Na primeira instância atuavam os

juízes ordinários e os de vintena, correspondentes aos juízes de paz, ambos eleitos

pelas câmaras municipais, com funções administrativas, judiciais, legislativas e

policiais. O cargo de Ouvidor-Geral é um dos mais importantes, juntamente com o de

Governador-geral e o de Provedor-Mor da Fazenda, devido aos poderes quase

ilimitados.

Importante destacar que, nesse período, as funções judiciais confundiam-

se com as administrativas e policiais, daí exercerem atividades jurisdicionais nas

comarcas, chanceleres, contadores e vereadores de Conselhos ou Câmaras

14

Municipais. Com o crescimento da colonização faz-se necessária nova estrutura

administrativa. Surgem figuras como corregedores, provedores e juízes, conforme

organograma abaixo. Entretanto o sistema monocrático de estruturação judiciária

demonstra abuso de poder nas capitanias e na própria sede do governo-geral.

Fonte: Revista Jurídica Virtual, Brasília, vol. 1, Setembro 1999

Para diminuição dos poderes dos ouvidores instala-se, em 1609, órgão

colegiado, Tribunal de Relação na Bahia. O segundo tribunal é implantado no Rio de

Janeiro, em 1751, transformado em Casa de Suplicação para todo o Reino. Foram,

também, instalados os tribunais de Relação do Maranhão, em 1812, e de

Pernambuco, em 1821. A primeira corte a operar em solo brasileiro foi moldada à

feição da Casa da Suplicação de Portugal. Vide organograma abaixo.

Fonte: Revista Jurídica Virtual, Brasília, vol. 1, Setembro 1999

15

Assim, aos poucos, foi se estruturando a Justiça no Brasil, pela criação de

Cortes de Justiça responsáveis pela revisão de sentenças dos magistrados

singulares de 1º grau.

No final do período colonial a Justiça Brasileira contava com magistrados

e tribunais próprios, mas com instâncias recursais em Portugal, com a seguinte

estrutura:

JUSTIÇA BRASILEIRA NO PERÍODO COLONIAL 1ª Instância Juiz de Vintena Juiz de paz para os lugares com mais

de 20 famílias, decidindo verbalmente pequenas causas cíveis, sem direito a apelação ou agravo (nomeado por um ano pela Câmara Municipal)

Juiz Ordinário Eleito na localidade, para as causas comuns.

Juiz de Fora Nomeado pelo rei, para garantir a aplicação das leis gerais (substituía o ouvidor da comarca).

2ª Instância Relação da Bahia Fundada em 1609, como tribunal de apelação (de 1609 a 1758, teve 168 desembargadores)

Relação do Rio de Janeiro

Fundada em 1751, como tribunal de apelação

3ª Instância Casa da Suplicação Tribunal supremo de uniformização da interpretação do direito português, em Lisboa.

Desembargo do Paço Originariamente fazia parte da Casa da Suplicação, para despachar as matérias reservadas ao rei, tornou-se corte autônoma em 1521, como tribunal de graça para clemência nos casos de penas de morte e outras.

Mesa da Consciência e Ordens

Para as questões relativas às ordens religiosas e de consciência do rei (instância única).

Fonte: Revista Jurídica Virtual, Brasília, vol. 1, Setembro 1999

O Brasil, à época da colonização pelos portugueses, expressava sob

diversas formas o Direito: Direito real, dos senhores de terras, da justiça das

Câmaras Municipais ou da igreja Católica.

16

Pela Independência, a superposição de esferas judiciais tende a se

racionalizar. A competência no direito canônico é da Igreja e a Justiça também dá

importante passo no caminho da separação de outros poderes.

Em 1828 cria-se o Supremo Tribunal de Justiça e, em algumas províncias,

Cortes Recursais com o nome de Tribunais de Relação. O Supremo Tribunal de

Justiça foi criado à mesma época em que eram extintos a Casa de Suplicação, o

Desembargo do Paço e a Mesa de Consciência e Ordens, em 1828. No período

Imperial apenas o Juiz exerce o papel de magistrado de 1º grau, pela extinção das

funções de ouvidores, chanceleres e corregedores como magistrados.

A organização judiciária é fundamentalmente estruturada pelo Código de

Processo Penal de 1832 e reformas de 1841 e de 1871.

No Império, existiam apenas dois grandes partidos políticos; Liberal e

Conservador, com funcionários e autoridades públicas, inclusive magistrados,

filiados a um deles. Os indivíduos se entrelaçam com a vida política da época. Do

vínculo partidário e do aporte de influências muitas vezes dependia o rumo de um

processo. A ascensão à carreira tem estreita relação com influências político-

partidárias e a magistratura, por vezes, constituía trampolim para cargos eletivos.

Entretanto, nesse contexto, o Poder Judiciário desenvolve-se

consideravelmente em relação à estrutura da Colônia. Os magistrados fortalecem-se

com a reforma de 1841, conquistando garantias em relação ao Código de 1832.

A Justiça Brasileira, no período imperial, organiza-se da seguinte forma:

primeira instância – Juiz de Paz, para instrução inicial de causas criminais e

conciliação das cíveis, e Juízes de Direito, para julgamento das causas criminais e

cíveis; segunda instância – Tribunais de Relação, para revisão das decisões; e

terceira instância – Supremo Tribunal de Justiça, para solução de conflitos de

jurisdição e revisão de determinadas causas, conforme organograma abaixo.

17

Justiça Brasileira no Período Imperial 1ª

Instância Juízes de Paz Para conciliação prévia das

contendas cíveis e, pela Lei de 15 de outubro de 1827, para instrução inicial das criminais, sendo eleitos em cada distrito.

Juízes de Direito Para julgamento das contendas cíveis e crimes, sendo nomeados pelo Imperador.

2ª Instância

Tribunais de Relação (Provinciais)

Para julgamento dos recursos das sentenças (revisão das decisões)

3ª Instância

Supremo Tribunal de Justiça Para revista de determinadas causas e solução dos conflitos de jurisdição entre Relações Provinciais.

Fonte: Revista Jurídica Virtual, Brasília, vol. 1, Setembro 1999

Com a Proclamação da República veio a primeira Constituição,

estabelecendo a dualidade da Justiça Comum, com instituição da Justiça Federal

para apreciar as causas em que a União é parte.

Cada Estado ganha autonomia para organizar o aparelho judiciário e

códigos de processo, civil, penal e comercial. O Supremo Tribunal de Justiça torna-

se Supremo Tribunal Federal (STF), com função de uniformizar a jurisprudência.

Instituem-se os Tribunais Federais, e os Tribunais de Relação transformam-se em

Tribunais de Justiça dos Estados. Juízes de direito, juízes municipais, Tribunais do

Júri e juízes de paz são mantidos.

A Justiça de primeira instância é simplificada e passa a funcionar em dois

níveis. Os juízes distritais, chamados de juízes municipais ou de paz, são leigos,

nomeados pelo Presidente do Estado, indicados pelos chefes políticos locais, por

serviços prestados ao partido dominante. Preparavam processos e julgavam causas

até o valor de 500 mil réis. As causas maiores eram julgadas pelos juízes das

comarcas, denominados de juízes de direito, concursados e estáveis. Na prática, o

Presidente do Estado tem o poder de alterar resultados de concursos, bem como a

situação funcional dos magistrados.

18

O trânsito geral de influências é grande, pelos políticos, justiça, igreja e

até pela imprensa que, ao tomar partido, em seus comentários subjetivos e

apaixonados, influi nos processos jurídicos.

As prerrogativas do Supremo Tribunal Federal para garantia de

constitucionalidade dos diplomas e atos legais são limitadas, entretanto expande-se,

sobremaneira, a doutrina do habeas-corpus, convertendo-o em garantia ao indivíduo

face aos desmandos das autoridades políticas e administrativas da esfera judicial.

Estrutura do Poder Judiciário após promulgação da primeira constituição

republicana:

Fonte: Revista Jurídica Virtual, Brasília, vol. 1, Setembro 1999

A Revolução de 1930, que leva Getúlio Vargas ao Poder, e dá fim à

República Velha, é um período de grandes transformações de estrutura e do

funcionamento do Poder Judiciário. Um dos frutos imediatos é a instituição da

Justiça Eleitoral, pela promulgação do Código Eleitoral, pelo Decreto 21.076, de 24

de fevereiro de 1932. O governo provisório decreta também a reforma dos cursos

jurídicos em 1931, e a reforma do Supremo Tribunal Federal; a legislação trabalhista

e a Justiça do Trabalho, esta oficialmente instalada em 1º de maio de 1941, após

funcionamento das Juntas de Conciliação por 9 anos; instituição do recurso ex officio

para o Supremo Tribunal Federal das decisões das justiças de segunda instância,

nos julgamentos fundados em disposição contrária ao princípio constitucional ou às

leis federais.

19

A Constituição de 1934 fortalece o Poder Judiciário em todo o país,

embora com limitação de autonomia dos Estados membros. Autoriza a intervenção

federal nos Estados para garantia do livre exercício do Poder Judiciário. Unifica o

direito eleitoral e determina que os Estados, ao organizarem a Magistratura, devam

obedecer a impedimentos peculiares à magistratura federal e a certos princípios,

como investidura inicial mediante concurso, investidura superior mediante promoção

pelo critério alternado de antiguidade e merecimento, estabilidade, equiparação de

vencimentos dos Desembargadores aos dos Secretários de Estado, fixação dos

proventos dos juízes, lista tríplice organizada pelo próprio Tribunal para promoções

por merecimento, etc. A Constituição Federal introduz ainda a padronização do

tribunal do júri, o Mandado de Segurança e o quinto constitucional. Mantém a

dualidade da Justiça inserindo, no Poder Judiciário, a Justiça Militar e a Justiça

Eleitoral como especializadas. Institui a Justiça do Trabalho, não como órgão do

Poder Judiciário, mas administrativo e amplia a competência do Supremo Tribunal

Federal.

Estrutura do Poder Judiciário depois da Constituição Federal de 1934:

Fonte: Revista Jurídica Virtual, Brasília, vol. 1, Setembro 1999

20

A Constituição de 1937 extingue as Justiças Eleitoral e Federal, em

verdadeiro retrocesso ao controle de constitucionalidade. É o período da história

caracterizado por forte ingerência política do Executivo no Judiciário, inclusive com o

presidente do Supremo Tribunal Federal nomeado pelo chefe do Executivo,

esclarecendo-se que o controle de constitucionalidade das leis, exercido pelo

Supremo Tribunal Federal, não mais será respeitado caso o governo considere a

decisão do STF contrária ao interesse nacional. Dessa forma, a atividade de controle

de constitucionalidade existe apenas no papel, como toda a estrutura legal de

legitimação do governo.

A esta época os órgãos judiciários eram integrados pelas instâncias

expressas no organograma abaixo.

Fonte: Revista Jurídica Virtual, Brasília, vol. 1, Setembro 1999

Com a restauração democrática pela constituição de 1946, o Poder

Judiciário é estruturado com os seguintes órgãos: Supremo Tribunal Federal,

Tribunal Federal de Recursos, Juízes e Tribunais Militares, Juízes e Tribunais

Eleitorais, Juízes e Tribunal do Trabalho. Embora previsto o Tribunal Regional

Federal, não há disposição a respeito. A justiça federal de 1ª instância somente é

restaurada em 27/10/65 pelo Ato Institucional n.º 2.

A primeira autarquia no Brasil é de 1938. O início de implantação do

modelo de administração indireta, baseada na descentralização dos serviços

públicos.

21

A Constituição autoritária de 1967 e Emenda Constitucional n.º 1, de

1969, do Regime Militar implantado pela Revolução de 1964, mantém a estrutura

básica do Poder Judiciário, conforme o organograma abaixo.

Fonte: Revista Jurídica Virtual, Brasília, vol. 1, Setembro 1999

O Ato Institucional nº 5, de 1968, confere ao Chefe do Poder Executivo

Federal poderes quase ilimitados, dando-lhe o poder de demitir, remover, aposentar

ou colocar em disponibilidade os magistrados. Também foram suspensas as

garantias constitucionais da vitaliciedade e inamovibilidade. O Ato Institucional n.º 6

reduz o número de ministros do Supremo Tribunal Federal, de 16 para 11.

Com a Emenda nº 7/77, outorgada depois do fechamento do Congresso

pelo "Pacote de Abril", houve a criação do Conselho Nacional de Magistratura como

órgão disciplinar, competindo-lhe receber reclamações contra membros dos

Tribunais, facultando-se-lhe avocar processos disciplinares contra juízes de primeiro

grau. A emenda introduz a figura da avocatória: poder dado ao Supremo Tribunal

Federal, para solicitar do Procurador-Geral da República toda e qualquer causa em

curso perante qualquer órgão judicante. Uma vez avocada, cabe ao STF processá-la

e julgá-la como de sua competência originária.

22

Com a Constituição de 1988, tem-se o Superior Tribunal de Justiça (STJ),

órgão de cúpula da justiça comum, estadual e federal, como o Tribunal Superior do

Trabalho (TST), Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Superior Tribunal Militar (STM)

na Justiça Especializada. A criação do STJ é a maior inovação de estrutura do

Poder Judiciário. Instituem-se também os Juizados Especiais, cíveis e criminais

como forma de simplificação de acesso à justiça.

No STJ e STF, adota-se, como sistemática recursal, a orientação segundo

a qual o STJ apenas aprecia a questão infraconstitucional debatida na decisão do

Tribunal Regional Federal (TRF) ou do Tribunal de Justiça (TJ). Havendo matéria

constitucional envolvida, a parte deve interpor, simultaneamente, recurso especial

para o STJ e extraordinário ao STF.

A procura de Justiça, nas últimas décadas, no Brasil cresce bastante

devido a fatores positivos, como abertura política, melhora dos índices de

desenvolvimento humano do país, assim como melhora de nível de escolaridade,

renda e longevidade de vida.

A Justiça também procurou desenvolver mecanismos de aproximação do

cidadão comum mediante Conselhos de Conciliação, consolidados pela Constituição

de 1988, e Juizados Especiais cíveis que julgam causas cíveis de menor

complexidade, não excedentes a quarenta vezes o salário mínimo, e criminais, nas

infrações penais de menor potencial ofensivo. A simplificação do procedimento, com

dispensa de advogados, promoção de conciliação e revisão por turmas de juízes de

1ª instância, contribui na generalização de modelo mais rápido e barato. Apesar de

hoje não ser tão célere quanto no início, de qualquer maneira não deixa de ser

alternativa mais viável de solução em tempo mais curto e de uma forma menos

burocrática. Outro instrumento que deve ser bastante valorizado é a Defensoria

Pública pelo papel relevante que presta à sociedade carente.

A Constituição de 1988 e dezenas de emendas estão longe da perfeição,

mas ampliam de forma significativa, garantias cidadãs e fortalecem o Poder

Judiciário. Também propiciam notável expansão ao Ministério Público. A estrutura

23

do Poder Judiciário, pela Constituição Federal de 1988, é conforme o organograma

abaixo.

Fonte: Revista Jurídica Virtual, Brasília, vol. 1, Setembro 1999

1.2. FUNÇÕES E COMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO

A Constituição Pátria promulgada em 05 de outubro 1988 declara ser o

Brasil uma República Federativa formada pela união indissolúvel dos Estados, dos

Municípios, do Distrito Federal e da União. A União, pessoa jurídica de Direito

Público Interno, detentora da soberania nacional, caracterizada pela supremacia de

suas decisões e poder externo independente e soberano nas relações

internacionais. No que tange a relações, aparece a República Federativa do Brasil, e

manifesta-se em nome próprio e da federação. Os demais entes públicos detêm

autonomia local. Os Estados mantêm organização, governo e administração próprios

e regem-se pelas Constituições e leis, dentro dos limites da Constituição Federal. Os

Municípios e o Distrito Federal regem-se por lei orgânica aprovada pela Câmara

Municipal e pela Câmara Legislativa, respectivamente.

24

São Poderes da União: Legislativo, Executivo e Judiciário, independentes

e harmônicos entre si, de acordo com o art. 2º da Constituição Federal. A tripartição

tem a finalidade de evitar o poder de um só, e remonta às idéias de Aristóteles, Kant

e Montesquieu. Embora se fale em separação de poderes, é ponto pacífico que o

Poder do Estado é uno e indivisível e o que existe de fato é distribuição de funções.

Cada Poder tem funções típicas e atípicas.

As funções típicas dos poderes são basicamente as seguintes: o

Legislativo elabora as leis, o Executivo administra e as coloca em prática, e o

Judiciário tem a função de julgar. A função jurisdicional do Poder Judiciário consiste

na solução de conflitos de interesses mediante o devido processo legal. Esse é o

princípio que assegura aos litigantes e aos acusados, em geral, o contraditório e a

ampla defesa, com meios e recursos a ela inerentes. São funções atípicas do Poder

Judiciário de natureza executivo-administrativo: organização de secretarias,

concessão de licença e férias a membros, juízes e servidores imediatamente

vinculados, e de natureza legislativa: a elaboração do regimento interno.

Os órgãos da função jurisdicional são distribuídos de forma hierárquica: O

Supremo Tribunal Federal - STF e os Tribunais Superiores (Superior Tribunal de

Justiça - STJ, Tribunal Superior do Trabalho – TST, Tribunal Superior Eleitoral –

TSE, Superior Tribunal Militar – STM) são centros de convergência, responsáveis

pela última decisão em causas de competência de cada juizado especializado,

ressalvado o controle de constitucionalidade que cabe apenas ao STF. Quanto às

causas processadas na Justiça Federal ou nas justiças estaduais, em matéria

infraconstitucional, a convergência conduz ao STJ. Os Tribunais Superiores

convergem unicamente no STF, como órgão máximo da justiça brasileira e

responsável final pelo controle de constitucionalidade de leis, atos normativos e

decisões judiciárias. O STF e o STJ, Tribunais da União, não integram Justiça

alguma, classificados não só como órgãos de convergência, mas também de

superposição, pois suas decisões se sobrepõem àquelas da Justiça comum e

especial. As decisões do STJ sobrepõem às da Justiça Federal Comum, da Estadual

e da do Distrito Federal, ao passo que as decisões do STF se sobrepõem às dos

Tribunais.

25

1.2.1. Supremo Tribunal Federal

O Supremo Tribunal Federal (STF) tem a principal finalidade de guardião

da Constituição Federal, com competência para exercer o controle concentrado da

constitucionalidade de leis e atos normativos federais e estaduais, de julgar

determinadas autoridades federais, como o Presidente da República, Vice-

Presidente e membros do Congresso Nacional em infrações penais. (Art. 102, Título

IV, Capítulo III, Seção II da Constituição Federal de 1988).

O STF compõe-se de onze Ministros nomeados pelo Presidente da

República, aprovados pela maioria absoluta do Senado Federal, dentre cidadãos

brasileiros natos, com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de

idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.

1.2.2. Conselho Nacional de Justiça

O Conselho Nacional de Justiça foi criado pela emenda constitucional n.º

45, de 8 de dezembro de 2004, cuja finalidade maior é o controle da atuação

administrativa e financeira dos órgãos do Poder Judiciário Brasileiro, além da

supervisão do desempenho funcional de juízes.

Composição: um Ministro do Supremo Tribunal Federal, um do de

Superior Tribunal de Justiça, um do Tribunal Superior do Trabalho, um

Desembargador de Tribunal de Justiça, um juiz estadual, um juiz de Tribunal

Regional Federal, um juiz federal, um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, um juiz

do trabalho, um membro do Ministério Público, um do Ministério Público estadual,

dois advogados e dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada.

26

1.2.3. Superior Tribunal de Justiça

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é o guardião de lei federal. De

acordo com o artigo 105, Título IV, Capítulo III, Seção III da Constituição Federal,

tem competência de julgamento de causas decididas pelos Tribunais Regionais

Federais, pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, que

contrariem lei federal ou lhe dêem interpretação divergente de outro Tribunal; e de

julgar crimes comuns de governadores e outras autoridades.

O STJ compõe-se, no mínimo de, 33 Ministros, nomeados pelo

Presidente da República entre brasileiros de notável saber jurídico e reputação

ilibada: juízes de Tribunais Regionais Federais, desembargadores de Tribunais de

Justiça, advogados e membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito

Federal e Territórios, com base em sistema previsto na Constituição Federal.

1.2.4. Justiça Federal

A Justiça Federal é composta pelos Tribunais Regionais Federais (TRFs)

e pelos Juízes Federais. Segundo o art. 109, Título IV, Capítulo III, Seção IV, da

Constituição Federal, cabe-lhes processar e julgar causas em que União, entidade

autárquica ou empresa pública federal são interessadas, na condição de autora, ré,

assistente ou oponente, exceto em falência, acidente de trabalho e as sujeitas à

Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho.

Os TRFs processam e julgam, originariamente, os juízes federais de sua

jurisdição e, em grau de recurso, as causas apreciadas em primeira instância pelos

juízes federais e pelos estaduais.

Existem, hoje, no país, cinco Tribunais Regionais Federais, com jurisdição

em estados da federação.

27

Também integram a Justiça Federal, os Juizados Especiais Federais

compostos de juízes togados, ou togados e leigos, competentes para conciliação,

julgamento e execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais

de menor potencial ofensivo.

1.2.5. Justiça do Trabalho

Os órgãos de Justiça do Trabalho são o Tribunal Superior do Trabalho

(TST), Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) e Juízes do Trabalho. Conforme o

artigo 114 (Título IV, Capítulo III, Seção V) da Constituição Federal, compete à

Justiça do Trabalho processar e julgar causas oriundas de relações de trabalho, o

direito de greve, habeas corpus, mandados de segurança e habeas data envolvendo

matéria dentro da sua jurisdição, entre outras.

Os Juízes do Trabalho formam a primeira instância da Justiça do Trabalho

e suas decisões são apreciadas em grau de recurso pelos TRTs. O TST, entre

outras atribuições, zela pela uniformidade das decisões da Justiça do Trabalho.

1.2.6. Justiça Eleitoral

De acordo com o artigo 118, Título IV, Capítulo III, Seção VI da

Constituição Federal, a Justiça Eleitoral tem esta composição: o Tribunal Superior

Eleitoral (TSE), Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), Juízes Eleitorais e Juntas

Eleitorais. É de sua competência o julgamento de ações de pleito eleitoral e lisura,

além de administrar, organizar e normatizar as eleições.

28

Os TREs decidem, em grau de recurso, causas apreciadas em primeira

instância pelos Juízes Eleitorais. O TSE, dentre outras atribuições, zela pela

uniformidade das decisões da Justiça Eleitoral.

O Tribunal Superior Eleitoral compreende sete membros, três juízes

dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e dois dentre os Ministros do

Superior Tribunal de Justiça (STJ), mediante voto secreto, e dois juízes dentre seis

advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo

Tribunal Federal e nomeados pelo Presidente da República.

1.2.7. Justiça Militar

Pelo artigo 122, Título IV, Capítulo III, Seção VII da Constituição Federal,

a Justiça Militar compõe-se do Superior Tribunal Militar (STM) e dos Tribunais e

Juízes Militares, com competência de julgar crimes militares definidos em lei.

A Justiça Militar é formada por quinze ministros vitalícios, três oficiais-

generais da Marinha, quatro do Exército e três da Aeronáutica, todos da ativa e

posto mais elevado da carreira, e cinco civis.

1.2.8. Justiça Estadual

A Constituição Federal, no artigo 125, Título IV, Capítulo III, Seção VIII,

determina que os Estados organizem a Justiça Estadual, observando princípios

constitucionais federais.

A Justiça Estadual é composta de duas instâncias: Tribunal de Justiça

(TJ) e Juízes Estaduais. Os Tribunais de Justiça têm competência em linhas gerais,

29

conforme Constituição Federal e, em detalhe, na Lei de Divisão e Organização

Judiciária de cada Estado. Basicamente cabe ao Tribunal de Justiça, em grau de

recurso, revisar decisões de juízes e, em primeiro grau, processar e julgar ações

litigiosas.

A Constituição Federal prevê ainda no citado artigo, a criação da Justiça

Militar estadual com competência para processar e julgar policiais militares e

bombeiros militares em crimes militares definidos em lei.

A Justiça Estadual é integrada também pelos Juizados Especiais

Estaduais, compostos de juízes togados, ou togados e leigos, competentes para

conciliação, julgamento e execução de causas cíveis de menor complexidade e

infrações penais de menor potencial ofensivo.

CAPÍTULO ll - O PODER JUDICIÁRIO NO CEARÁ

2.1. Histórico

No Brasil Colônia, a primeira relação jurídica denominava-se Relação do

Brasil, com sede na Bahia, capital da Colônia.

Pelas resoluções de 23 de agosto de 1811 e de 15 de março de 1812,

surge a Relação do Maranhão, desmembramento da Relação da Bahia, a que

passam a pertencer as comarcas do Piauí, Pará, Rio Negro (hoje Amazonas) e do

Ceará – Grande, esta por oito anos, aproximadamente, até novo desmembramento.

Em cumprimento ao Alvará de 27 de junho de 1816, em ato do Rei Dom

João VI, criam-se a Comarca do Crato do Ceará, e os dois lugares de Juiz de Fora,

na Vila de Sobral e na de Aracati.

Em 06 de fevereiro de 1821, sob o reinado de D. João VI, é criada, por

Alvará, na Vila do Recife de Pernambuco, outra Relação, com alçada igual à do

Maranhão, a que se integra o Ceará em 13 de agosto de 1822, até 1873.

O Poder Judiciário do Estado do Ceará teve início com a instalação

solene do Tribunal de Justiça do Estado, em 03 de fevereiro de 1874. Na época,

conforme Decreto n.º 5.618, de 02 de maio de 1874, o território do império foi

dividido em 11 distritos, dentre eles, o 4º Distrito de Relações, formado pelas antigas

províncias do Ceará e do Rio Grande do Norte, com sede na cidade de Fortaleza,

cuja Relação é criada pelo Decreto Legislativo n.º 2.342 de 06 de agosto de 1873,

com sete Desembargadores.

31

O Tribunal do Estado compreende Presidente, Procurador da Coroa,

Fazenda e Soberania Nacional e Desembargadores, cuja Secretaria tinha a seguinte

composição: Secretário, Amanuense, Escrivães, Porteiro-Contínuo e Contínuo.

Em 03 de fevereiro de 1874, no Paço da Assembléia Provincial, instala-se

solenemente o Tribunal da Relação da Província do Ceará.

A Relação começa a funcionar no sobrado do Tenente-Coronel Antônio

Pereira de Brito e Paiva, na rua Amélia, n.º 28, hoje Senador Pompeu. A primeira

sessão ordinária ocorreu em 07 de fevereiro de 1874.

Conforme o decreto, o território do Império é dividido em 11 Distritos de

Relações, com as seguintes Províncias:

1º. Distrito – Município da Corte e províncias do Rio de Janeiro e Espírito

Santo, com sede na capital do Império;

2º. Distrito – Bahia e Sergipe, com sede na cidade de Salvador;

3º. Distrito – Pernambuco, Alagoas e Paraíba, com sede na cidade do

Recife.

4º. Distrito – Ceará e Rio Grande do Norte, com sede na cidade de

Fortaleza;

5º. Distrito – Maranhão e Piauí, com sede na cidade de São Luís;

6º. Distrito – Pará e Amazonas, com sede na cidade de Belém;

7º. Distrito – São Paulo e Paraná, com sede na cidade de São Paulo.

8º. Distrito – São Pedro do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com sede

na cidade de Porto Alegre;

9º. Distrito – Minas Gerais, com sede na cidade de Ouro Preto;

10º. Distrito – Goiás, com sede na cidade de Goiás;

11º. Distrito – Mato Grosso, com sede na cidade de Cuibá.

A antiga Relação de Fortaleza, denominada Tribunal de Apelação, passa

por modificações com o advento da República, denominada Superior Tribunal de

Justiça, com reforma do estatuto constitucional, em 19 de julho de 1908.

32

Pelo decreto n.º 947, de 22 de novembro de 1926, o Superior Tribunal de

Justiça divide-se em Câmaras especializadas por competência em relação à

matéria.

Com a nova organização, o Tribunal de Apelação funciona em Câmaras

Reunidas e em Câmaras Criminal e Cível, separadamente, organização mantida até

a revolução de 1930.

O Tribunal de Apelação, desde a fundação até 1937, tem as seguintes

denominações:

Relação do Distrito de Fortaleza – em virtude de desmembramento do

distrito de Pernambuco, com início em 03 de fevereiro de 1874.

Tribunal de Apelação – Pela Carta Política do Estado, de 23 de dezembro

de 1890.

Tribunal de Relação – Pela Constituição Política do Estado, de 12 de julho

de 1892.

Superior Tribunal de Justiça – Em virtude da Constituição Estadual

promulgada a 04 de novembro de 1921, denominação mantida até a promulgação

da Constituição Federal de 1934.

Corte de Apelação – Por força da Constituição Federal de 16 de julho de

1934, mudando o nome dos tribunais estaduais.

Tribunal de Apelação – pela segunda vez, em virtude da Constituição

Federal de 10 de novembro de 1937.

Atualmente o Tribunal de Apelação do Ceará denomina-se Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, sem nenhuma alteração desde a Constituição Federal

de 1946.

33

2.2. Composição do Poder Judiciário no Estado do Ceará

O Código de Divisão e Organização Judiciária do Estado do Ceará, Lei n.º

12.342, de 28 de julho de 1994, e alterações até a Lei n.º 14.128, de 06 de junho de

2008, listam os órgãos do Poder Judiciário do Estado do Ceará no artigo 3º.

Art. 3º. São órgãos do Poder Judiciário: l – Tribunal de Justiça; ll – Tribunais do Júri; lll – Juízes de Direito; lV – Juízes de Direito Auxiliares ou Zonais; V – Juízes Substitutos; Vl – Auditoria Militar; Vll – Juizados Especiais; Vlll – (Revogado pela Lei Estadual nº. 12.553, de 27/12/95 lX – Juizados de Paz; X – Outros órgãos criados por lei.

O Poder Judiciário do Ceará é formado pela Justiça de Segundo e de

Primeiro Grau.

2.2.1. Justiça de Segundo Grau – Tribunal de Justiça

A Justiça de Segundo Grau é constituída pelo Tribunal de Justiça, com

sede na Capital, Fortaleza, e jurisdição em todo o Estado do Ceará.

O Tribunal de Justiça possui órgãos julgadores e órgãos diretivos. Faz

parte também de sua estrutura administrativa, a Escola Superior da Magistratura do

Estado do Ceará – ESMEC.

Na composição plenária, o Tribunal de Justiça reúne os

Desembargadores, formando o Tribunal Pleno.

34

O Tribunal de Justiça tem como órgãos julgadores: Tribunal Pleno,

Câmaras Isoladas Cíveis e Criminais, Câmaras Reunidas Cíveis e Criminais e o

Conselho da Magistratura.

No Código de Divisão e Organização Judiciária do Estado do Ceará, Lei

n.º 12.342/94, Livro II, Título I, e alterações até a Lei n.º 14.128, de 06 de junho de

2008, tem-se a constituição e competência da Justiça de Segunda Instância:

Art. 18 A Justiça de Segunda Instância é constituída pelo Tribunal de Justiça. (...) Art. 32 Ao Tribunal Pleno compete: l – propor ao Poder Legislativo, observando o disposto no art. 169 da Constituição Federal, a alteração, mediante lei, da organização e da divisão judiciária; ll – propor à Assembléia Legislativa, observando o disposto no art. 169 da Constituição Federal: a) a alteração do número de seus membros; b) a criação e a extinção de cargos de juiz de primeiro grau, de serviços auxiliares e de Juizes de paz; c) e a fixação de vencimentos dos magistrados, dos servidores de justiça e dos órgãos que lhe forem vinculados; lll – propor à Assembléia Legislativa a aprovação ou alteração do Regimento de Custas.

2.2.2. Justiça de Primeiro Grau

A composição da Justiça de Primeira Instância está no Código de Divisão

e Organização Judiciária do Estado do Ceará, Lei n.º 12.342/94, Livro II, Título II, e

alterações até a Lei n.º 14.128, de 06 de junho de 2008, no artigo 81.

Art. 81 A Justiça de Primeira Instância compõe-se de: a) Juízes Substitutos; b) Juízes de Direito Auxiliares ou Zonais; c) Juízes de Direito; d) Tribunais do Júri; e) Auditoria Militar; f) Juizados Especiais; g) (Revogado pela Lei Estadual n.º 12.553, de 27/12/95) h) Juizados de Paz.

35

O território do Estado divide-se em unidades judiciárias, compreendidas

em comarcas sede de jurisdição, comarcas vinculadas e distritos judiciários, todos

agrupados em zonas judiciárias, para melhor administração da justiça.

As comarcas classificam-se em quatro (04) entrâncias: primeira, segunda,

terceira e entrância especial, que é a que responde pelas unidades judiciais da

capital.

2.2.2.1. Juízes Substitutos

Os Juízes Substitutos têm as mesmas funções, atribuições e

competências de Juízes de Direito, com jurisdição na unidade territorial da comarca

de primeira entrância.

O Código de Divisão e Organização Judiciária do Estado do Ceará, Lei n.º

12.342/94, Livro II, Título II, e alterações até a Lei n.º 14.128, de 06 de junho de

2008, no artigo 82 dispõe sobre o assunto.

Art. 82 - O Juiz Substituto é nomeado dentre Bacharéis em Direito concursados e, durante o transcurso do estágio probatório destinado a obtenção de vitaliciedade, tem a mesma função, atribuição e competência conferidas aos Juízes de Direito. Sua Jurisdição corresponderá à unidade territorial da comarca de primeira entrância para a qual for nomeado.

2.2.2.2. Juízes de Direito Auxiliares ou Zonais

A Lei n.º 13.102/2001 recria cargos de Juízes Auxiliares no interior do

Estado, por haverem sido transformados em Juizados Especiais Cíveis e Criminais

pela Lei n.º 12.698/97. Existem 12 cargos de Juízes Auxiliares em nove Zonas no

interior do Estado.

2.2.2.3. Juízes de Direito

36

Os Juízes de Direito são considerados órgãos de primeiro grau,

primeiramente conhecem e julgam as causas apresentadas ao Poder Judiciário nas

Comarcas.

Na Comarca da Capital, as atribuições dos Juízes de Direito são

exercidas mediante distribuição, respeitada a separação entre jurisdições cível,

criminal e especial.

Há menção às atribuições do Juiz de Direito, no Código de Divisão e

Organização Judiciária do Estado do Ceará, Lei n.º 12.342/94, Livro II, Título II, e

alterações até a Lei n.º 14.128, de 06 de junho de 2008, no artigo 90: Art. 90 - As

atribuições e competência dos Juízes de Direito do interior do Estado são as mesmas dos

Juízes Substitutos.

2.2.2.4 Tribunal do Júri

O Tribunal do Júri tem organização prevista na legislação processual

penal, competente para julgar crimes dolosos contra a vida, consumados ou

tentados, e são soberanos os seus veredictos, com observância da plenitude de

defesa e do sigilo das votações.

Em detalhe: o funcionamento do Tribunal do Júri, conforme Código de

Divisão e Organização Judiciária do Estado do Ceará, Lei n.º 12.342/94, Livro II,

Título II, e alterações até a Lei n.º 14.128, de 06 de junho de 2008, nos artigos 91 e

92.

Art. 91 O Tribunal do Júri funcionará em cada comarca, obedecendo a sua composição e funcionamento às normas estabelecidas em lei. § 1.º Nas Comarcas do interior, as sessões do Tribunal do Júri serão realizadas nos meses de maio e novembro; § 2.º Na Comarca da Capital, as sessões do Tribunal do Júri serão realizadas nos meses de fevereiro a junho e de agosto a dezembro; § 3.º Sempre que necessário e o exigir o interesse da Justiça, o Juiz poderá requerer ao Conselho da Magistratura que determine a convocação extraordinária do Tribunal do Júri. § 4.º O Conselho da Magistratura, a seu critério, também poderá determinar, de ofício, a convocação extraordinária do Júri. Art. 92 O alistamento de jurados será feito no mês de outubro de cada ano, pelo Juiz Presidente do Júri sendo a respectiva lista publicada no mês seguinte. O sorteio dos jurados titulares e suplentes será feito trinta (30)

37

dias antes do dia designado para a instalação das sessões do Tribunal Popular.

2.2.2.5. Auditoria Militar

A Justiça Militar é explicitada no Código de Divisão e Organização

Judiciária do Estado do Ceará, Lei n.º 12.342/94, Livro II, Título II, e alterações até a

Lei n.º 14.128, de 06 de junho de 2008, nos artigos 93, 94 e 96.

Art. 93 A Justiça Militar do Estado será exercida: a) Em primeiro grau, com jurisdição em todo o Estado, pelo Juiz Auditor e pelos Conselheiros de Justiça Militar; b) Em segundo grau, pelo Tribunal de Justiça. Art. 94. O Auditor será um juiz de entrância especial, removido ou promovido para o cargo. (...) Art. 96 Compete à Justiça Militar, por seus órgãos: a) processar e julgar os policiais militares e bombeiros militares nos crimes militares definidos em lei; b) cumprir as precatórias expedidas pela Justiça Militar de outros Estados da Federação, bem como da Justiça Militar do Distrito Federal e Territórios.

2.2.2.6. Juizados Especiais

No Estado do Ceará, os Juizados Especiais estão regulamentados pela

Lei n.º 12.553, de 27 de dezembro de 1995, que dispõe sobre o sistema de Juizados

Especiais Cíveis e Criminais, organização, composição e competência.

Os Juizados Especiais são organizados em Unidades, providos por

Juízes Substitutos e Juízes de Direito, com atribuições gerais, de natureza cível e

criminal.

No Código de Divisão e Organização Judiciária do Estado do Ceará, Lei

n.º 12.342/94, Livro II, Título II, e alterações até a Lei n.º 14.128, de 06 de junho de

2008, no artigo 97 §§ 1.º e 2.º há determinações de localização de Juizados

Especiais, como também de composição e remuneração de Turma Recursal.

Art. 97 (Revogado pela Lei Estadual n.º 12.553/95) § 1.º Os Juizados Especiais na Comarca de Fortaleza, serão localizados, mediante resolução do Tribunal de Justiça, em áreas de elevada densidade

38

residencial ou aglomerados urbanos, para maior comodidade e presteza no atendimento ao jurisdicionado. § 2.º Na Comarca da Capital, a Turma recursal será composta de três (03) Juízes integrantes da primeira quinta parte da lista de antiguidade, indicados pelo Tribunal de Justiça, fazendo jus a uma gratificação de trinta por cento (30%) sobre o vencimento básico e a representação.

2.2.2.7. Juizados de Paz

O Código de Divisão e Organização Judiciária do Estado do Ceará, Lei n.º

12.342/94, Livro II, Título II, e alterações até a Lei n.º 14.128, de 06 de junho de

2008, no artigo 99 traz especificidades da Justiça de Paz:

Art. 99 A Justiça de Paz, de caráter temporário, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos, remunerados pelos cofres públicos, tem competência para verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação de casamento, celebrar casamentos civis e exercer atribuições conciliatórias e outras, sem caráter jurisdicional, conforme dispuser este Código.

CAPÍTULO lll - A FAZENDA PÚBLICA

A Fazenda Pública é a Administração Pública em juízo representada, nos

pólos ativos ou passivos de uma demanda, por entidades da Administração Direta:

União, Estados, Distrito Federal, Municípios, e entes da Administração Indireta:

autarquias e fundações públicas de caráter autárquico. Num universo de 30 varas

cíveis, 03 de falências e concordatas, 18 de família, 05 de sucessões, 05 de

execuções fiscais e de crimes contra a ordem tributária, 02 de registro público, 05 da

infância e da juventude, 01 juizado especial da violência doméstica e familiar contra

a mulher, 18 varas criminais, 01 de execução criminal, corregedoria dos presídios e

hábeas corpus, 01 vara de execução de penas alternativas, 06 do júri, 02 de trânsito,

01 da justiça militar, 02 de delitos sobre tráfico e uso de substâncias entorpecentes,

20 unidades do juizado especial cível e criminal existem, no âmbito da Justiça

estadual cearense, 07 Varas da Fazenda Pública processando e julgando uma

média de 70.000 contendas envolvendo o Estado. Nas causas em que este é

acionado, tem-se sempre algum direito, aparente ou efetivamente desrespeitado,

pelo menos esse é o sentimento do cidadão comum que procura a justiça.

Com a promulgação do Código de Defesa do Consumidor, Lei nº. 8.078

de 11 de setembro de 1990, há mais consciência dos direitos, mais bem explicitados

a partir de então. Apesar de abranger, de uma forma geral, o consumo e

conseqüências, o movimento trouxe nova mentalidade e o cidadão busca seus

direitos, mesmo contra o gigante difícil de ser vencido que é o Estado, por ter a

bandeira de guardião da supremacia do interesse público.

A Administração Pública é norteada por princípios dispostos no artigo 37

da Constituição Federal: princípio da legalidade, em que a lei define e estabelece

limites da atuação administrativa, segundo o que, a Administração Pública só pode

fazer o que a lei permite; princípio da impessoalidade, que impede a Administração

de beneficiar ou prejudicar determinada pessoa em particular, uma vez que o

interesse público é que deve sempre nortear as ações; princípio da moralidade, que

40

sujeita Administração e administrado a comportamento não ofensivo à moral, aos

bons costumes, às regras de boa administração, aos princípios de justiça, de

equidade e de honestidade; princípio da publicidade que exige ampla divulgação

dos atos da Administração Pública, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas em

lei; princípio da eficiência que submete a Administração à realização de suas

atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional, com o intuito de atender

às necessidades de comunidade de forma positiva e satisfatória.

Há princípios desses decorrentes implicitamente positivados: princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado, também chamado

de princípio da finalidade pública, pois serve de fundamento ao direito público e

vincula a Administração em suas decisões. Está presente na construção da lei e na

sua execução pela Administração Pública.

O princípio da legalidade é observado concomitantemente com o da

supremacia do interesse público, uma vez que a Administração tem a

obrigatoriedade de praticar atos convenientes para a sociedade.

Para atender a coletividade, a lei concede à Administração Pública

poderes específicos, de caráter obrigatório, que, se não realizados, caracterizam

omissão, por exemplo, desapropriação, intervenção, requisição, poder de policiar e

de punir.

Com base no princípio da legalidade e da supremacia do interesse

público, a Administração tem como objetivo o benefício da coletividade, em

detrimento do interesse individual, minimizando, desta forma, as conseqüências das

desigualdades, principalmente na periferia das grandes cidades.

O Código de Processo Civil garante à Fazenda Pública prerrogativas

processuais quando esta se encontra no pólo passivo da relação processual. Nos

procedimentos ordinários, os prazos são diferenciados: para contestação conta-se

em quádruplo e para recorrer em dobro. Também a remessa obrigatória ou reexame

necessário constitui exigência legal para conferir eficácia e executoriedade à

sentença prolatada contra a Fazenda Pública isto é, a sentença que condena a

Fazenda Pública precisa ser confirmada pelo Tribunal de Justiça do Estado.

41

Segundo doutrinadores “tratando desigualmente os desiguais”, ao invés

de violar o art. 5º da Constituição Federal de 1988, está se resguardando o princípio

constitucional da isonomia. As especificidades intrínsecas à estrutura de entes da

Fazenda Pública e interesse nos litígios legitimam o tratamento distinto em Juízo.

Os bens da Fazenda Pública têm regime jurídico especial, pois não

podem ser alienados nem penhorados. Em decorrência disso, as dívidas contraídas

em processos em que a Fazenda Pública é vencida são pagas em precatórios,

ordens judiciais do presidente do Tribunal de Justiça às entidades de direito público

devedoras apresentadas até 1º de julho do ano em curso para que o pagamento

seja feito até o final do exercício seguinte, atualizados monetariamente.

Precatório é o meio pelo qual o juiz requisita ao presidente do Tribunal

competente ordem de pagamento à Fazenda Pública, em processo executivo.

Implica a materialização dos efeitos da sentença, com requisitos normalmente

definidos pelo regimento interno dos tribunais: indicação do quantum, nome do

credor; cópia da sentença, bem como do acórdão que julga a apelação ou remessa

confirmatória da decisão etc. A jurisprudência das Cortes Superiores do país veda a

prática de expedição de precatório em valores variáveis. O precatório não pode vir

expedido apenas em títulos da dívida pública, mas sim para inclusão no orçamento,

em moeda corrente.

O artigo 100 da Constituição Federal dispõe:

Art. 100. à exceção dos créditos de natureza alimentícia, os pagamentos devidos pela Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.

O procedimento para pagamento de créditos líquidos e certos em favor de

particulares contra a Administração tem vigência a partir da Carta Magna de 1934.

Até hoje, o procedimento em essência, se mantém: expedição de precatório em

42

caso de não interposição de embargos pela Fazenda devedora ou, se opostos, não

aceitos.

O art. 100 da Constituição Federal menciona créditos de natureza

alimentícia como exceção aos precatórios, o que não implica sua dispensa para

recebimento de tais créditos, apenas isenção de observância da cronologia comum,

duas ordens cronológicas: de créditos de natureza alimentícia e de créditos comuns.

Em regra, não cabe procedimento monitório contra a Fazenda Pública,

haja vista que, tratando-se de obrigação de pagar quantia certa, torna-se

completamente ineficaz expedição de mandado de pagamento imediato, somente

atendida mediante precatório. O pagamento simplesmente implica desobediência à

espera dos demais credores. (Artigo 730 do Código de processo Civil):

Art. 730. Na execução por quantia certa contra a Fazenda Pública, citar-se-á a devedora para opor embargos em 10 (dez) dias; se esta não os opuser, no prazo legal, observar-se-ão as seguintes regras: (Vide Lei nº 9.494, de 10.9.1997). I - o juiz requisitará o pagamento por intermédio do presidente do tribunal competente; II - far-se-á o pagamento na ordem de apresentação do precatório e à conta do respectivo crédito.

Entretanto, em causas em que a Fazenda Pública estadual é devedora de

valor abaixo de R$ 5.180,25, não é necessário a expedição de precatório. Caso

valor a maior, a parte vencedora poderá renunciar ao excedente, com prazo de

recebimento, no caso, de até sessenta dias. (Lei 8213/1991, no artigo 128):

Art. 128. As demandas judiciais que tiverem por objeto o reajuste ou a concessão de benefícios regulados nesta Lei cujos valores de execução não forem superiores a R$ 5.180,25 (cinco mil, cento e oitenta reais e vinte e cinco centavos) por autor poderão, por opção de cada um dos exeqüentes, ser quitadas no prazo de até sessenta dias após a intimação do trânsito em julgado da decisão, sem necessidade da expedição de precatório." (Redação dada pela Lei nº 10.099, de 19.12.2000)

Alguns autores consideram não ser possível a execução provisória contra

a Fazenda Pública, mas a antecipação de tutela é uma forma de executar

provisoriamente a Administração, conforme artigo 273 do Código de Processo Civil:

43

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994) = I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. § 1o Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e preciso, as razões do seu convencimento. § 2o Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado. § 3o A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme sua natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4o e 5o, e 461-A. (Redação dada pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002) = § 4o A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, em decisão fundamentada. § 5o Concedida ou não a antecipação da tutela, prosseguirá o prcesso até final julgamento. § 6o A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso. § 7o Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado.

Diante de tantas nuanças, litigar contra a Fazenda Pública torna-se ato

hercúleo, e o despreparado emocionalmente se desencanta e se desespera por ver

que, um dia, poderá vencer, mas será difícil ver o fruto da conquista que, em muitos

casos, fica para filhos ou até para netos.

3.1. As Ações mais recorrentes na Fazenda Pública

As ações mais recorrentes nas Varas da Fazenda Pública são intentadas

por pessoas físicas ou jurídicas lesadas por medidas, tomadas ou não, por órgãos

ou agentes públicos.

As manifestações do Ente Público, normalmente, dizem respeito a

desapropriação de imóveis para obra de interesse público ou reintegração de posse,

pela utilização de local público de forma indevida.

A maioria de ações protocoladas nas varas da Fazenda Pública vêm

acompanhadas de pedido de antecipação de tutela.

44

Há ações tratadas diferenciadamente. Referem-se à aquisição de

medicamento de doença grave, com custo muito elevado que o Estado se nega a

fornecer, ou à internação de cidadão necessitado de atendimento urgente negado

por hospitais da rede pública com a justificativa de falta de leito em UTI ou algo

similar. O problema atinge todos, de forma direta ou indiretamente, pois o Estado é o

provedor de saúde, educação, trabalho, de acordo com a Carta Magna no artigo 6.º:

Art. 6.º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Os impostos pagos pelo povo contribuem de forma expressiva na

elevação dos índices positivos do Estado lá fora, mas os serviços prestados ainda

deixam a desejar.

A Constituição Federal de 1988 consagra expressamente a saúde como

direito fundamental da pessoa humana, o que, na verdade, termina questionado com

a alegação de que, para sua aplicação, é preciso respeitar o Princípio da Reserva do

Possível.

Em questão de saúde do ser humano, é desrespeito aplicar esse

Princípio, principalmente, quando alegado por quem tem a missão de sua tutela. A

reserva do possível é a aplicação de um conceito da doutrina alemã que preceitua,

basicamente, que os direitos previstos em lei só podem ser garantidos quando há

recursos públicos.

Valores e bens jurídicos contemplados em Constituições como o direito

de ir e vir, instituto processual do hábeas corpus, liberdade de associação, de

reunião, proteção à intimidade da vida privada, do sigilo de comunicação, da

privacidade do domicílio, bem como o direito à propriedade nunca geraram tantas

controvérsias quanto os denominados direitos sociais.

Direitos sociais, especialmente educação, saúde, assistência social,

previdência social, enfim direitos fundamentais que dependem, para sua efetividade,

45

do aporte de recursos materiais e humanos, são motivo de debates e controvérsias.

Entretanto, em países cuja constituição não os traz expressamente, existe o

reconhecimento da saúde como um direito fundamental implícito.

Nos termos do artigo 5º, §1º da Constituição Federal de 1988, as normas

definidoras de direitos e garantias fundamentais são imediatamente aplicáveis e

vinculam diretamente as entidades estatais e particulares.

Nessas ações, comprovada a necessidade de atendimento ao pedido de

antecipação de tutela, o juiz defere imediatamente e determina que todos os

expedientes necessários sejam feitos com urgência.

Ações bastante questionadas nas Varas da Fazenda Pública, são sobre

multas de trânsito, por vezes, ignoradas pelo indivíduo até a descoberta de que,

para proceder ao licenciamento anual do veículo, é preciso estar livre delas. As

reclamações muitas vezes são improcedentes, pois advêm de comportamentos anti-

sociais de motoristas, com uma infinidade de multas, desde excesso de velocidade,

direção perigosa, avanço de sinal vermelho, parada em cima da faixa de pedestres,

até estacionamento em locais reservados a deficientes físicos.

Entretanto, há ações que o poder público poderia resolver

administrativamente, pois sabe de antemão que direito não lhe assiste. É o caso das

multas não notificadas no prazo legal de 30 (trinta) dias. O parágrafo único, inciso II,

do artigo 281, do Código de Trânsito Brasileiro disciplina a matéria e impõe

arquivamento dos autos nos casos em questão. Acrescente-se a Súmula do

Superior Tribunal de Justiça que corrobora a lei:

Art. 281. (...) Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu registro julgado insubsistente: (...) II – Se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a notificação da autuação SÚMULA 127 do STJ “È ilegal condicionar a renovação da licença de veículo ao pagamento de multa da qual o infrator não foi notificado”.

46

O Órgão Público defende a legalidade de condicionamento do

licenciamento e transferência ao pagamento de multas, alegando que o poder de

fiscalização constitui apanágios do Poder de Polícia e de nada adiantaria ao Estado

deter o poder de impor sanções, se não dispusesse de mecanismos necessários à

fiscalização da conduta. Conforme José Cretella Jr. :

“Do mesmo modo que os direitos individuais são relativos, assim também acontece com o poder de polícia, que, longe de ser onipotente, incontrolável, é circunscrito, jamais podendo pôr em perigo a liberdade à propriedade. Importando, regra geral, o poder de polícia em restrições a direitos individuais, a sua utilização não deve ser excessiva ou desnecessária, de modo a não figurar o abuso de poder”.

Nessa linha de raciocínio consolidam-se decisões em sede de apelação:

“À Administração Pública não é dado condicionar o licenciamento dos veículos sob sua fiscalização ao prévio pagamento das multas aplicadas aos condutores, eis que dispõe de medidas judiciais próprias à cobrança daquelas sanções pecuniárias” (Reexame Necessário e Apelação Cível n.º 2000.0013.2870-1, Relator: Desembargador josé Cláudio Nogueira Carneiro, Julgado em 03.03.2004).

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONDICIONAMENTO DO LICENCIAMENTO DE VEÍCULO AUTOMOTOR À QUITAÇÃO DAS RESPECTIVAS MULTAS. SANÇÃO POLÍTICA – CONFIGURAÇÃO. ADMINISTRAÇÃO. MEIOS. COBRANÇA. SANÇÕES PECUNIÁRIAS APLICADAS. RECURSO CONHECIDO, MAS IMPROVIDO. I. À administração não é dado condicionar o licenciamento dos veículos sob sua fiscalização ao prévio pagamento das multas aplicadas aos condutores, eis que dispõe de medidas próprias à cobrança daquelas sanções pecuniárias. Sanção política configurada. II. Antecipação de tutela confirmada. Fundamentação existente. Recurso conhecido, mas improvido. (Agravo de Instrumento n.º 2000.0015.8941-6/0”. Relator: Desa. Gisela Nunes da Costa, Órgão Julgador: 2ª Câmara Cível. Julgado em 06 de dezembro de 2006).

“APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. AÇÃO ORDINÁRIA. CONDICIONAMENTO DO LICENCIAMENTO DE VEÍCULO AO PRÉVIO PAGAMENTO DE MULTAS. ILEGALIDADE DO CONDICIONAMENTO. EXISTÊNCIA DE MEIOS JUDICIAIS VÁLIDOS PARA A COBRANÇA DAS MULTAS. APLICAÇÃO DA SÚMULA N.º 127 DO STJ. I. A Administração Pública dispõe de meios judiciais para a cobrança das sanções pecuniárias impostas ao administrado, razão pela qual esta não pode condicionar o licenciamento dos veículos sob fiscalização ao pagamento das multas impostas aos condutores. II. Apesar de válida, a regra prevista no art. 131, §2º, do Código de Trânsito Brasileiro, não pode ser interpretada à margem do devido processo legal, nem tampouco pode sobrepor aos direitos fundamentais da propriedade e da inafastabilidade da jurisdição, cláusulas pétreas da Constituição Federal. III. Inexistindo nos autos prova capaz de atestar com êxito a notificação, no prazo legal de 30 (trinta) dias, da apelante/ promovente das infrações e multas a ela impostas, devem ser os autos de infração arquivados e, por

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via de conseqüência, as multas que deles derivem declaradas nulas, conforme a disposição do parágarfo único, inciso II, do art. 281, do Código de Trânsito Brasileiroem conjunto com a Súmula 127 do STJ. IV. De acordo com entendimento doutrinário e jurisprudencial já solidificados, para serem consideradas válidas, as supracitadas notificações devem ser pessoais, através de correspondência postal registrada (AR) com o respectivo aviso de recebimento. V. Recursos conhecidos. Apelação Cível improvida. Recurso Adesivo provido.” (Processo nº 2003.0006.3404-8/8. Relator: Des. Francisco Sales Neto, Órgão Julgador: 1ª Câmara Cível. Julgado em 16 de abril de 2008).

Na prática, os processos se arrastam por anos, devido inúmeros recursos

e, no final, a parte mesmo ganhando não tem mais interesse na execução do

julgado, o que gera um acúmulo de processos, tornando difícil, inclusive, o

arquivamento dos autos. Com a demora no reconhecimento do direito, muitas vezes

o cidadão paga as multas, e, achando que sua vida está resolvida, esquece o

processo de anos atrás, que continua ocupando espaço e demandando trabalho.

Intimado o representante jurídico para execução do julgado, ciente do desinteresse

do cliente, não se digna fazer nem pequena petição informando à Secretaria a

resolução do caso. Assim, decorrido o prazo da parte, é necessária nova intimação,

desta feita pessoalmente para que não haja alegativas do autor da ação de que não

tomou conhecimento do ganho de causa.

Têm aumentado muito, na Fazenda Pública, pedidos de inclusão do

cônjuge varão como dependente no Instituto de Saúde dos Servidores do Estado do

Ceará (ISSEC) por servidoras públicas.

De um lado, a parte reclamante alega que o princípio da igualdade está

consagrado pela atual Constituição Federal, no artigo 5º, caput e inciso I, a seguir:

Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.

De outro lado, o ISSEC alega que a Lei n.º 10.776/82 (Lei Orgânica do

IPEC, hoje ISSEC), no art. 7º, inciso I, e art. 8.º, § 2º rege o órgão, disciplinando

inclusões de dependentes para assistência à saúde, finalidade exclusiva, como

vemos a seguir:

48

Art. 7.º São considerados dependentes: I – a esposa, o marido inválido, os filhos de qualquer condição e os enteados, enquanto solteiros e menores de 21 (vinte e um) anos, ou quando inválidos, e a ex-esposa, salvo se esta(...) Art. 8.º (...) § 2º A dependência econômica da esposa e dos filhos e enteados solteiros e menores de 21 (vinte e um) anos será presumida.

O ISSEC também se ampara no Princípio da Reserva do Possível ao

alegar que “A Seguridade Social, a compreender a Previdência Social, a Assistência

Social e a Saúde, está a exigir a estrita vinculação à fonte de custeio respectiva,

sendo defeso, por expressa determinação constitucional, a criação, majoração ou

extensão de qualquer benefício ou serviço da seguridade social sem que seja fixada

a devida fonte de custeio (art. 195, 5º. CF/88).” Dr. Ciro Leite Saraiva de Oliveira –

Procurador Autárquico, contestando a ação de nº 2007.0024.3615-7, em 24 de

janeiro de 2008.

Sobre o tema, o Prof. José Afonso da Silva disserta:

“Mais relevante ainda é que não se trata ai de mera isonomia formal. Significa que existem dois termos concretos de comparação: homens de um lado e mulheres de outro. Onde houver um homem e uma mulher, qualquer tratamento desigual entre eles, a propósito de situações pertinentes a ambos os sexos, constituirá uma infringência constitucional.” (in “Curso de Direito Constitucional Positivo”, 9ª ed., 2ª tiragem, São Paulo, Malheiros, 1993, p. 198)

A nova ordem constitucional confere ao homem e à mulher igualdade em

obrigações e direitos, conforme preceitua o at. 5º, inciso I da CF/88, e assim torna

inaplicável o art. 7º da Lei 10.776/82, que prevê como dependente apenas o marido

inválido. Em decisão recente, o Ministro Carlos Ayres Britto do Supremo Tribunal

Federal manifesta-se a favor desse posicionamento. Senão vejamos:

DECISÃO : Vistos, etc. O Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o RE 385.397-AgR, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, pôs fim à controvérsia ora em exame (Sessão Plenária de 29.06.2007). Esta colenda Corte entendeu que afronta o princípio constitucional da isonomia a lei que exige do marido, para fins de recebimento de pensão por morte da mulher, a comprovação da condição de invalidez. Na mesma oportunidade, este Supremo Tribunal ressaltou que, no caso, não se trata de “estender ao cônjuge varão a presunção de dependência que favorece a mulher”, mas de deixar de impor a ele, cônjuge varão, “exigência desarrazoada” (Informativo STF nº 473).

49

Não divergindo dessa orientação, o aresto impugnado não merece reparos. Assim, tendo em conta as disposições do caput do art. 557 do CPC, aplico o entendimento do Plenário e nego seguimento ao recurso. Publique-se. Brasília, 28 de agosto de 2007.

Ações assim levam anos em tramitação em Varas da Fazenda Pública,

com acúmulo de processos que exigem reformulação do sistema vigente, levando-

se em conta a precariedade da sistemática atual.

3.2. A Burocracia

Os autos do processo compõem-se de documentos das partes em litígio,

de pareceres expedidos pelo representante do Ministério Público, de despachos do

juiz, de expedientes, mandados, enfim de procedimentos vários. Para quem pleiteia

direito, vai ali um pouco da sua vida. Assim, há necessidade de cuidado com a peça.

A responsabilidade de guarda e conservação do processo é do Juízo, por

isso o rigor no manuseio, certificações, na carga do advogado afeito aos autos, o

que muitas vezes não é bem entendido pelas próprias partes, que interpretam o

cuidado necessário como má vontade do servidor.

Pelo que um processo significa e pela responsabilidade da Secretaria de

Vara, nas ações, há muita burocracia. Dada entrada na petição inicial, da tramitação

do processo até seu arquivamento é necessário ter-se sua localização exata e o

cuidado de mantê-lo em bom estado de conservação, inclusive durante o tempo de

arquivamento para atender, eventualmente, pedido das partes.

O processo é dinâmico: hoje é concluso na estante; depois, o juiz

despacha, publica-se, vai para outro local, a parte intimada faz carga dos autos,

passam dias, é devolvido com petição, quando será concluso novamente. Essas

fases são acompanhadas por certidões nos autos e movimentações no sistema de

informática. Tudo parece simples e rápido, mas demanda tempo. São procedimentos

50

sistemáticos e imprescindíveis para a segurança processual, tratando-se de “autos

físicos”, não virtuais.

3.3. A Lotação da 4ª Vara da Fazenda Pública

O Código de Divisão e Organização Judiciária do Estado do Ceará, de 28

de julho de 1994, no artigo 390, modificado pela Lei nº 13.551 de 29.12.2004 traz a

lotação das Secretarias de Varas:

Art.390. Além do Diretor, cada Secretaria de Vara contará com, pelo menos, 1 (um) Analista Judiciário, 3 (três) Analistas Judiciários Adjuntos, 2 (dois) Técnicos Judiciários e 2 (dois) Oficiais de Justiça Avaliadores.

A Lei nº 14.128, de 06 de junho de 2008, que dispõe sobre a

reestruturação das categorias funcionais de Oficial de Justiça, de Analista Judiciário

e Técnico Judiciário do Poder Judiciário do Estado do Ceará, no artigo 5º, §2º, que

trata da lotação dos cargos, afirma que cada unidade Judiciária da Capital será

composta de, no mínimo, 8 (oito) servidores, número que pode ser acrescido em

decorrência do volume processual e das especificidades das competências.

Após quatorze anos de vigência e várias modificações que abriam

possibilidades de aumento, a lotação da 4ª Vara da Fazenda Pública continua

sendo, até o dia 07 de agosto do corrente ano, a mesma, independente do número

de processos. Há sim redução de servidores efetivos, em virtude de duas vagas

ocupadas: por servidora que, após dois anos de licença para tratamento de saúde,

não teve condições de trabalhar e pleiteia aposentadoria, e por servidora com

suspensão de vínculo, em virtude de ter assumido outro emprego público com

melhor remuneração.

Outro fator contribuiu na redução do quadro funcional: saída de oficiais de

justiça das Secretarias de Vara, para lotação na Coordenadoria de Mandados –

COMAN.

51

Dessa forma, o quadro de servidores efetivos da 4ª Vara da Fazenda

Pública foi, por bom tempo, de quatro pessoas e o número de processos em

tramitação só tem aumentado. Pela última estatística, o número ultrapassa a casa

dos 7.000 (sete mil). Pelos dados colhidos em fevereiro de 2002, os processos em

tramitação, na 4ª Vara da Fazenda Pública, são de 2.800 (dois mil e oitocentos).

Torna-se mais difícil a situação, em outubro do ano passado com a

redistribuição de 2.670 processos oriundos da 3ª, 5ª e 7ª Varas da Fazenda Pública.

Matérias reguladas pelo §3º do artigo 109 da Lei Estadual nº. 12.342, são privativas

das Varas acima. Com a entrada em vigor da Lei Estadual nº. 13.891, de

25.05.2007, a solução para maior hegemonia no número de processos por vara, é a

redistribuição em aproximadamente 40 dias, dos processos excedentes. Ao

chegarem são carimbados, recebidos pelo juiz e separados por fase, além de

movimentados eletronicamente.

Ao tomar conhecimento da difícil situação da Vara, a direção do Fórum

disponibiliza três servidores para que fizessem, cada um, duas horas extras diárias.

A Secretaria dispõe de três funcionários terceirizados do Município de Fortaleza e do

Estado do Ceará cedidos para as Varas da Fazenda Pública e de Execuções

Fiscais, e uma estagiária.

O grupo de sete pessoas sempre foi de grande valia para a Secretaria,

todos muito engajados no trabalho. Entretanto a situação perante a Vara é de

instabilidade, por eles poderem deixar o trabalho a qualquer momento em busca de

algo melhor, e pela própria administração.

O período 2007/2008 é de grandes mudanças na 4ª Vara da Fazenda

Pública, para o que foi necessária muita coragem, determinação, responsabilidade e

união de quatro servidores efetivos para dar continuidade ao trabalhando.

Diretora e assessora do juiz, de mais de dez anos de trabalho em

conjunto, têm que deixar os cargos, o Juiz titular aposenta-se, chega outro ainda não

titular, além do acúmulo de trabalho e a sensação de impotência, que desestabiliza

52

emocionalmente o grupo. Apesar de tudo, mesmo de forma extremamente precária,

todos desempenham suas funções com muito brio.

A referência é feita especificamente ao servidor efetivo porque, no final

das contas, é quem realmente chama para si a responsabilidade. Pelo menos esse é

o modelo de servidor da 4ª Vara da Fazenda Pública até o início do mês em curso. A

partir de 08 de agosto de 2008, todos os servidores são transferidos para a 11ª Vara

Cível da Comarca de Fortaleza, para dar lugar ao novo juiz titular, Dr. Mantolvanni

Colares e sua equipe de servidores e colaboradores efetivos.

CAPÍTULO IV – A CRISE DO JUDICIÁRIO E AS SOLUÇÕES BUSCADAS

Alternativas à justiça mais célere é o que se busca atualmente, haja vista

o aumento da demanda por serviços jurisdicionais. As cidades crescem, o nível de

escolaridade aumenta, os meios de comunicação e suas informações em tempo

real, o Código de Defesa do Consumidor, a Defensoria Pública, levam o cidadão a

conhecer direitos na sociedade. As contendas se multiplicam e a justiça se torna

injusta para muitos que vêm pleitos demorarem anos para julgamento e, no caso da

Fazenda Pública, outros tantos em grau de recurso e mais outros para receberem o

que lhes é de direito.

4.1. A Súmula Vinculante

A súmula vinculante é instrumento jurídico inovador do Direito brasileiro,

caracterizado pela dependência de normas criadas, em regra, pelo poder

Legislativo. A súmula trata da sinopse da jurisprudência, considerando-se

jurisprudência o conjunto de soluções dadas pelos tribunais às questões de direito,

de forma reiterada, nos casos concretos submetidos a julgamento.

Jurisprudência e súmula são institutos que auxiliam os magistrados de

primeira instância, contribuindo para a solidez de decisão. Compatibilizada sua

fundamentação com o pensamento dominante nos tribunais superiores, caso se

entenda assim deva fazer, a sentença torna-se mais difícil de ser reformada pelo

tribunal a que esteja vinculado ou por tribunal superior.

A fonte primária do sistema jurídico brasileiro é sempre a lei, com

magistrado a interpretar livremente o conteúdo jurídico dos dispositivos normativos,

54

de modo a atingir o resultado, em sua opinião, mais adequado ao caso submetido à

tutela jurisdicional.

A idéia de súmula com efeitos vinculantes não é nova, proposta pela

primeira vez, em 1946, e rejeitada. Propõe-se em diversas outras ocasiões, por

emenda à constituição, ou por alteração infraconstitucional. Em dezembro de 2004,

incorpora-se ao texto constitucional pela Emenda Constitucional de número 45, da

"reforma do Poder Judiciário". Em 2006 é promulgada a Lei nº 11.417

regulamentando o art. 103-A da Constituição Federal, incluído pela EC 45, de 2004,

que disciplina a edição, revisão e cancelamento de súmula vinculante por parte do

Supremo Tribunal Federal, bem como a alteração da Lei do Processo Administrativo

Federal (nº 9.784, de 1999).

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade. 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.

A inserção de instituto que, por origem, pertence a sistema jurídico

diverso, gera questionamentos de defensores e opositores.

O engessamento do magistrado de instâncias inferiores é a primeira

questão ao se falar em súmula vinculante. Os argumentos são de que, uma vez

sumulada a matéria, dispensa-se a presença do magistrado para decisão de causa,

pois, em se adequando ao disposto na súmula, o juízo a quo tem necessariamente

que aplicar o conteúdo sumulado, sob pena de ter decisão impugnada por

reclamação constitucional, diretamente ao Supremo Tribunal Federal. Os opositores

55

alegam, ainda, que a súmula vinculante fere o Princípio do Juiz Natural, definido

como o que está previamente competente para o julgamento de determinadas

causas abstratamente previstas.

Entretanto os defensores respondem que o excesso de processos, uma

das principais causas de morosidade da Justiça Brasileira, justifica a aplicação da

súmula vinculante, com suas peculiaridades.

Na prática, a discussão de princípios se esvazia. Não há estrutura

material e humana, em estado de escassos recursos públicos, que consiga dar

vazão ao astronômico número de ações diariamente propostas ao Poder Judiciário,

por melhores que sejam as leis do rito processual.

Contudo, considera-se a súmula vinculante inovação relevante do sistema

processual brasileiro, por ter como função a garantia do respeito à segurança

jurídica e a celeridade processual, e por missão resgatar a credibilidade do Poder

Judiciário perante a sociedade.

4.2. O Processo Virtual

O processo virtual é uma peça informatizada em quase sua totalidade. É

armazenado em meio magnético, movimentado mediante assinaturas eletrônicas,

obtidas previamente por certificado digital em cadastro do usuário no Poder

Judiciário. É dada a opção de apresentar petição e documentos em forma física, os

quais serão digitalizados e acostados ao processo virtual, sendo os mesmos

devolvidos aos apresentantes. Os documentos tecnicamente impossíveis de

digitalização devem ser apresentados no prazo estabelecido e permanecer na

Secretaria até o trânsito em julgado da sentença.

Em relatório recente entregue pela então presidente do Conselho

Nacional de Justiça e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Ellen Gracie, ao

56

presidente do Congresso Nacional, Garibaldi Alves Filho, dá-se prioridade, em 2008,

ao movimento pela Conciliação, ao Sistema CNJ de Processo Virtual (Projudi) e ao

combate à morosidade da justiça.

O objetivo do Conselho é implementar o processo virtual nos órgãos do

Poder Judiciário, buscando padronização. Em dois terços dos tribunais de justiça do

País, o sistema é usado e, em outros, em processo de implantação. O relatório

ainda recomenda ao Judiciário "prioridade à modernização das primeiras instâncias".

A modernização da Justiça não passa apenas pela adoção de novas

tecnologias. À revolução tecnológica, deve seguir reflexão de antigos procedimentos

jurídicos, muitas vezes inadequados à nova sociedade. A efetiva participação de

magistrados, procuradores, promotores, analistas, oficiais de justiça e conciliadores

é de vital importância para o sucesso dos projetos.

É necessário viabilizar a implantação, suporte e manutenção de soluções

que, de fato, possam alavancar os rumos do Judiciário brasileiro. Têm-se mudanças

de natureza multidisciplinar. É importante que os envolvidos no processo, sejam do

meio jurídico ou tecnológico, pensem em conjunto e coloquem em prática, de forma

harmoniosa, as novas diretrizes. A lei 11.419/06, que dispõe sobre a informatização

do processo judicial é incentivo na busca desse objetivo.

Entretanto não se pode ter, no processo virtual, a solução de todos os

problemas. Sua virtude é indiscutível quando usado para otimizar a tramitação do

processo, eliminando fases arcaicas da burocracia processual como juntadas,

certificações, remessas, formação de autos etc, como instrumento de padronização

e celeridade da realização e comunicação dos atos processuais.

Porém o que o processo virtual não soluciona é o problema dos

processos que aguardam julgamento. Segundo dados do CNJ do começo do ano

em curso, 43 milhões de processos encontram-se nessa situação, em todo o país. O

processo em fase de julgamento não está “tramitando”; apenas aguarda ser julgado.

Por isso, mesmo solucionados os entraves que dispersam o processo no tempo,

nem assim estão solucionados os obstáculos que impedem célere prestação

57

jurisdicional, ultimada pela prática do ato judicial: decisão. O processo, mesmo

eletrônico/virtual, não dispensa a manifestação real. A ação instrumental da máquina

não substitui o pensar, compreender, criar, solucionar.

No Ceará, o Tribunal de Justiça, em parceria com o Conselho Nacional de

Justiça (CNJ), inaugurou em dia 12 de julho de 2007, no 17º Juizado Especial Cível

e Criminal de Fortaleza, o projeto-piloto do Processo Judicial Digital, Projudi.

Com a implantação piloto, Juizados Especiais da capital e do interior

passaram a receber, paulatinamente, o Projudi. As varas da Justiça comum são

contempladas em seguida, assim como a Justiça de segundo grau. O CNJ estima

que ao final de cinco anos o Poder Judiciário Brasileiro, em todos os níveis, terá os

processos em tramitação eletrônica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Poder Judiciário tem por finalidade precípua assegurar a prestação

jurisdicional, ou seja, dizer o direito e garantir a segurança nas relações conflituosas

apresentadas. No entanto, o Poder Judiciário brasileiro depara-se, nos últimos

tempos, com persistente incapacidade de satisfação da demanda pela prestação

jurisdicional. Há discussões que envolvem esses problemas, principalmente, a falta

de celeridade dos processos.

Historicamente, o aumento da demanda por serviços jurisdicionais dá-se

a partir do momento em que as classes menos favorecidas tiveram maior acesso à

informação e ao sistema judiciário, na busca de direitos, como também pelo

aumento populacional e maior rigor do Estado na fiscalização das normas de

convivência. Entretanto, insere-se mais um item passível de afogamento do sistema

jurisdicional: a quantidade excessiva de recursos, muitas vezes protelatórios,

oriundos de códigos e leis que necessitam de reformas para melhor desempenho da

legislação processual.

O estrangulamento da prestação jurisdicional na 4ª Vara da Fazenda

Pública advém de múltiplas causas: excesso de demanda, número insuficiente de

juiz e serventuários efetivos, burocratização dos expedientes, precária estrutura do

sistema de informatização, excesso de colaboradores que não fazem parte do

quadro de servidores do Tribunal de Justiça, levando a uma instabilidade constante,

entre outras.

A solução imediata e mais eficaz, a criação de Varas da Fazenda Pública

em número suficiente, haja vista o aumento de demanda por prestação jurisdicional,

conforme dados estatísticos dos últimos anos e a falta de condições de trabalho e

quadro funcional insuficiente. O aumento é de mais de 150% de demanda, nos

últimos 06 (seis) anos; números bastante expressivos.

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A Súmula Vinculante é um instituto valoroso para desafogar a justiça

como um todo, mas ainda um procedimento novo para ter sua real importância na 4ª

Vara da Fazenda Pública.

O Processo Virtual é uma realidade do judiciário cearense e apenas

questão de tempo para sua implantação nas Secretarias. A experiência prévia dos

Juizados Especiais serve de escola para futuros usuários, porém o que se vê é o

aparelhamento distribuído pelas Secretarias e nenhum treinamento para servidores,

nem ao menos cronograma de implantação divulgado.

O plano estratégico para o período 2007-2009 do Tribunal de Justiça do

Estado do Ceará aponta objetivos e análise do cenário externo com ameaças e

oportunidades, como também do cenário interno com pontos fracos e fortes. Lista as

anomalias internas, bem como projetos e ações estratégicas para atingir os objetivos

propostos, entre essas, mutirões, padronização de rotinas processuais, capacitação

de servidores e terceirizados em novas tecnologias de desenvolvimento, aquisição

de infra-estrutura de informática, treinamento de servidores em conhecimentos

jurídicos aplicados, elaboração e implantação do Plano de Cargos, Carreiras e

Vencimentos, bem como a realização de concurso público.

Com um plano estratégico e propostas de ações de curto, médio e longo

prazo, o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará mostra-se sensível à difícil situação

enfrentada pelo Poder Judiciário na atual conjuntura. A iniciativa deve ser

incentivada e aplaudida, pois representa o despertar para as mudanças exigidas

pela sociedade para fortalecimento das instituições, em prol de um país menos

desigual e mais justo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL Constituição do. Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado Federal, 1998. BRESSER-PEREIRA Luiz Carlos. Desenvolvendo a crise no Brasil: história, economia e política de Getúlio Vargas a Lula. São Paulo: Editora 34, 2003. CHIMENTI Ricardo Cunha et al. Curso de Direito Constitucional. São Paulo:5. ed., Saraiva, 2008. CÓDIGO DE DIVISÃO E ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO CEARÁ. Compêndio de Legislação para Concursos e Provas. Código de Divisão e Organização Judiciária, Lei nº 12.342/94 e alterações até a Lei nº 13.771/06. Fortaleza: DIN-CE – Edições Técnicas, 2006. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. Coleção RT Códigos, volume 4, 12. ed. Editora: Revista dos Tribunais, 2007. FERREIRA FILHO Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: 33. ed., Saraiva, 2007. FIGUEIRA JÚNIOR Joel Dias. Da Competência nos Juizados Especiais Cíveis. Editora: Revista dos Tribunais.1996. FIGUEIRA JÚNIOR Joel Dias; LOPES Maurício Antônio Ribeiro. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. 3. ed., Editora: Revista dos Tribunais, 1997. HISTÓRIA JURÍDICA DO CEARÁ – TOMO I. Instituto do Ceará em convênio com o Tribunal de Justiça do Ceará. Estudos dos Sócios Efetivos do I.C. Desembargador Paulino Nogueira, Barão de Studart, Bacharel Eusébio de Sousa, Dr. Manuel Albano Amora, 1987. DI PIETRO Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed., São Paulo: Atlas, 2005. PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO CEARÁ. Editora: Ceará. Tribunal de Justiça, Fortaleza, 1998. REVISTA JURÍDICA VIRTUAL. Evolução Histórica da Estrutura Judiciária Brasileira. Brasília, Vol.1, n.5, setembro, 1999. THEODORO JÚNIOR Humberto. Curso de Direito Processual Civil, volumes I, II e III. Rio de Janeiro: 47. ed., 41. ed., 38. ed., Forense, 2007.

ANEXOS

ANEXO A – Lei nº 14.128

Lei nº 14.128, de 06 de junho de 2008 que dispõe sobre a reestruturação das categorias funcionais integrantes do grupo ocupacional atividades judiciárias do quadro III do Poder Judiciário do Estado do Ceará e dá outras providências.

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ANEXO B – Dados Estatísticos

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ANEXO C – Ofício Circular nº 44/ 2008

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ANEXO D – Provimento nº 004/2007

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