o homem, o cowboy e o facínora o crepúsculo do wilderness por john ford

2
O homem, o cowboy e o facínora: o crepúsculo do wilderness por John Ford 25Sexta-feiraMAI 2012 POSTED BY ISABELLA NASCIMENTO PEREIRA IN CINEMA ≈DEIXE UM COMENTÁRIO [Editar] Etiquetas James Stewart, John Ford, O Homem que matou o facínora Com contribuições de Livia Radaeski e Maíra Macário O Homem Que Matou o Facínora (1962), um filme de John Ford, é inteligente e rico em significados, se tornando um clássico pela força de sua história e profundidade de seus questionamentos. Muito mais que um simples faroeste, sintetiza um momento histórico, onde a chegada da lei inevitavelmente causa o crepúsculo do legendário Oeste como o conhecemos. Ransom Stoddard (James Stewart), recém-formado em direito, ruma para o Oeste em busca de fama, fortuna e aventura. Ao ser alvo de uma gangue local, liderada por Liberty Valance (Lee Marvin), logo aprende a “lei do Oeste”, que pressupõe uma justiça rude, informal, muito longe daquela positivada em códigos, e personificada no “império da lei” presente nas bases do Leste americano. Ferido pelos bandidos, Stoddard é socorrido pelos habitantes da cidadezinha de Shibone, e é lá que busca cumprir sua missão civilizadora em um Oeste inóspito, violento, procurando incutir os valores de ordem e progresso já consolidados na Costa Leste. Ele é um herói atípico em westerns: acredita na justiça, mas não carrega armas; sua defesa se fundamenta na lei, não no gatilho. Maior prova disso é quando se recusa a aceitar a pistola que Tom Doniphon (John Wayne) lhe oferece para efetuar sua vingança contra Valance: “Não quero uma arma. Não quero matá-lo. Quero metê-lo na cadeia.”. O xerife da cidade não é lá um grande modelo de virtude e coragem, tendo esse posto moralmente ocupado pelo pistoleiro Tom Doniphon. Durão, salva e protege Stoddard de Liberty Valance, por quem é temido, e também disputa com o mocinho o amor de Hallie (Vera Miles) O personagem assume uma posição peculiar: caubói típico, forjado no mais puro espírito do self-made man, é a representação da liberdade individual, de uma lei subjetiva, que se torna efetiva pela bala. Mas, ao mesmo tempo em que é a simbolização

Upload: isabella-cristina-do-nascimento-pereira

Post on 12-Sep-2015

215 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Crítica escrita para o blog de cinema arrotos culturais.

TRANSCRIPT

O homem, o cowboy e o facnora: o crepsculo do wilderness por JohnFord25Sexta-feiraMai 2012PostedbyIsabella Nascimento PereirainCinemaDeixe um Comentrio[Editar]EtiquetasJames Stewart,John Ford,O Homem que matou o facnoraCom contribuies de Livia Radaeski e Mara Macrio

O Homem Que Matou o Facnora (1962), um filme de John Ford, inteligente e rico em significados, se tornando um clssico pela fora de sua histria e profundidade de seus questionamentos. Muito mais que um simples faroeste, sintetiza um momento histrico, onde a chegada da lei inevitavelmente causa o crepsculo do legendrio Oeste como o conhecemos.Ransom Stoddard (James Stewart), recm-formado em direito, ruma para o Oeste em busca de fama, fortuna e aventura. Ao ser alvo de uma gangue local, liderada por Liberty Valance (Lee Marvin), logo aprende a lei do Oeste, que pressupe uma justia rude, informal, muito longe daquela positivada em cdigos, e personificada no imprio da lei presente nas bases do Leste americano. Ferido pelos bandidos, Stoddard socorrido pelos habitantes da cidadezinha de Shibone, e l que busca cumprir sua misso civilizadora em um Oeste inspito, violento, procurando incutir os valores de ordem e progresso j consolidados na Costa Leste. Ele um heri atpico em westerns: acredita na justia, mas no carrega armas; sua defesa se fundamenta na lei, no no gatilho. Maior prova disso quando se recusa a aceitar a pistola que Tom Doniphon (John Wayne) lhe oferece para efetuar sua vingana contra Valance: No quero uma arma. No quero mat-lo. Quero met-lo na cadeia..O xerife da cidade no l um grande modelo de virtude e coragem, tendo esse posto moralmente ocupado pelo pistoleiro Tom Doniphon. Duro, salva e protege Stoddard de Liberty Valance, por quem temido, e tambm disputa com o mocinho o amor de Hallie (Vera Miles) O personagem assume uma posio peculiar: caubi tpico, forjado no mais puro esprito do self-made man, a representao da liberdade individual, de uma lei subjetiva, que se torna efetiva pela bala. Mas, ao mesmo tempo em que a simbolizao do que h de mais caracterstico do Oeste, sua moralidade e justia se tornam datadas a partir do momento em que Stoddard surge com suas leis e conceitos de civilidade, que fogem compreenso de Doniphon. Apesar do relacionamento de amizade que possuem, suas concepes de mundo so auto-excludentes, e mesmo com resistncia, o progresso avassalador.O elo final Liberty Valance, o tpico outlaw e representao pura do wilderness; se um dia aquelas terras selvagens foram domadas por homens em busca de uma vida melhor, agora a lei e a ordem que transformaro as relaes de informalidade estabelecidas por seus antigos habitantes. Os fazendeiros locais buscam evitar que o territrio permanea como tal, ao invs de transform-lo em estado e permitir que os cidados tivessem maiores poderes, e Valance, ao aliar-se a estes, se posiciona frontalmente contra Stoddard, e seu desfecho prediz o que ocorrer com o estilo de vida pelo qual lutava.O final do filme no s surpreendente em si mesmo, mas tambm nas questes que levanta. O papel da imprensa, o embate entre civilizao e wilderness, a democracia e a importncia da participao poltica, entre outras, so debatidas e vistas sobre diferentes perspectivas, o que permite que o espectador tenha uma viso panormica da situao e do desenrolar da trama. Nada disso seria possvel se no fosse a excelente mo de John Ford para guiar o filme e dosar seus elementos, dando leveza obra mesmo em seus momentos mais srios. As atuaes tambm esto timas, apesar da clara inadequao etria dos atores aos personagens, mas a coroa do filme certamente James Stewart. Como esquecer momentos como aquele em que Stoddard senta-se, perplexo, com olhar cabisbaixo, aps uma briga desmoralizante com Liberty Valence, sem saber muito bem como lidar com um mundo para o qual tudo que lhe parece importante simplesmente no tem valor ou eficcia? E como concluso, nada melhor do que a frase proferida por Hallie, j como sra. Stoddard, aps o seu marido senador decidir voltar para Shibone: It was once a wilderness. And now its a garden. Arent you proud?.