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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 1263 O GRÊMIO LITERÁRIO RUI BARBOSA DO INSTITUTO SAMUEL GRAHAM DE JATAÍ GO (1956-1961) Kamila Gusatti Dias 1 Introdução Encerra-se essa reunião, nada mais havendo a tratar. Assim, foram concluídas durante cinco anos as atas que revelam o percurso do Grêmio Literário 2 Rui Barbosa, do Instituto Samuel Graham, uma instituição protestante instituída na cidade de Jataí, região no sudoeste do Estado de Goiás, no ano de 1942. É mister destacar que o estabelecimento dos missionários norte-americanos presbiterianos em Jataí no que tange ao percurso histórico, de constituição e consolidação da Igreja e a fundação de uma escola retratam o objetivo da Missão Central do Brasil 3 , a qual está pautada na vertente de “salvar almas e corpos”, por meio da tríade: educação, saúde e religião. O primado do presbiterianismo foi se estabelecendo em Jataí face a esse cenário. A história de sua expansão por todo o território nacional entrecruza-se com a disseminação do protestantismo em Goiás, região que recebia correntes migratórias advindas de várias regiões do país. Como o núcleo protestante da cidade de Jataí crescia, a leitura da Bíblia tornara-se fundamental para as famílias evangélicas. Dessa forma, evidencia-se que a educação das crianças por meio dos princípios protestantes, fazendo uso da Bíblia, seria uma garantia da permanência e progresso da expansão do protestantismo em terras goianas. (MENDONÇA, 2008). 1 Doutoranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás Goiânia. E-mail: <[email protected]>. 2 Localizamos no arquivo da instituição apenas um Livro Ata do Grêmio Literário Rui Barbosa com os registros de 1956-1961. Ao entrecruzarmos as fontes escritas com as orais não obtivemos indícios que comprovem, de fato, a existência dessa agremiação em outros anos e se houveram registros escritos em Livros Atas. 3 A Missão Central do Brasil, em 1912, enviou um representante para Goiás e Mato Grosso para escolher os locais para instalar estações missionárias. Dois anos depois, o trabalho em Mato Grosso foi transferido para a Missão Sul da Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos, pelas facilidades da linha férrea que ligava aquele Estado ao de São Paulo e pela navegabilidade do rio Paraguai, que permitiu a ocupação de Goiás pela Missão Central do Brasil. (FERREIRA, 1992, v. 2, p. 372 apud NASCIMENTO, 2005, p. 40).

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 1263

O GRÊMIO LITERÁRIO RUI BARBOSA DO INSTITUTO SAMUEL GRAHAM DE JATAÍ – GO (1956-1961)

Kamila Gusatti Dias1

Introdução

“Encerra-se essa reunião, nada mais havendo a tratar”. Assim, foram concluídas

durante cinco anos as atas que revelam o percurso do Grêmio Literário2 Rui Barbosa, do

Instituto Samuel Graham, uma instituição protestante instituída na cidade de Jataí, região no

sudoeste do Estado de Goiás, no ano de 1942.

É mister destacar que o estabelecimento dos missionários norte-americanos

presbiterianos em Jataí no que tange ao percurso histórico, de constituição e consolidação da

Igreja e a fundação de uma escola retratam o objetivo da Missão Central do Brasil3, a qual

está pautada na vertente de “salvar almas e corpos”, por meio da tríade: educação, saúde e

religião.

O primado do presbiterianismo foi se estabelecendo em Jataí face a esse cenário. A

história de sua expansão por todo o território nacional entrecruza-se com a disseminação do

protestantismo em Goiás, região que recebia correntes migratórias advindas de várias regiões

do país.

Como o núcleo protestante da cidade de Jataí crescia, a leitura da Bíblia tornara-se

fundamental para as famílias evangélicas. Dessa forma, evidencia-se que a educação das

crianças por meio dos princípios protestantes, fazendo uso da Bíblia, seria uma garantia da

permanência e progresso da expansão do protestantismo em terras goianas. (MENDONÇA,

2008).

1 Doutoranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás – Goiânia. E-mail: <[email protected]>.

2 Localizamos no arquivo da instituição apenas um Livro Ata do Grêmio Literário Rui Barbosa com os registros de 1956-1961. Ao entrecruzarmos as fontes escritas com as orais não obtivemos indícios que comprovem, de fato, a existência dessa agremiação em outros anos e se houveram registros escritos em Livros Atas.

3 A Missão Central do Brasil, em 1912, enviou um representante para Goiás e Mato Grosso para escolher os locais para instalar estações missionárias. Dois anos depois, o trabalho em Mato Grosso foi transferido para a Missão Sul da Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos, pelas facilidades da linha férrea que ligava aquele Estado ao de São Paulo e pela navegabilidade do rio Paraguai, que permitiu a ocupação de Goiás pela Missão Central do Brasil. (FERREIRA, 1992, v. 2, p. 372 apud NASCIMENTO, 2005, p. 40).

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Cabe destacar que ao se pesquisar uma instituição escolar, em especial protestante,

poderá se compreender melhor a ação educativa desenvolvida em seu interior. As escolas

instituídas pelos projetos missionários tinham como subsídios não só a evangelização

educacional, mas também a garantia da difusão do protestantismo em qualquer lugar que

estivesse sendo propalado.

A Escola Evangélica de Jataí surge, inicialmente, como uma biblioteca4 organizada pelo

missionário norte-americano Donald F. Schroeder e sua esposa, Helen. Essa provavelmente

foi a estratégia utilizada pelos missionários para iniciarem o processo de evangelização e de

educação na cidade.

A implantação do núcleo protestante, na cidade de Jataí/GO, com o intuito de propagar

o protestantismo no hinterland vai ao encontro da preocupação de suprimir o analfabetismo

por meio da evangelização educacional. Levar a “luz” para os jataienses seria a principal

missão de uma escola nesse lugar.

Desse modo, a primeira iniciativa foi implantar uma biblioteca em um estabelecimento

privado e de ordem religiosa presbiteriana, que seria um alento e incentivo à difusão do

protestantismo. Mais tarde, tornar-se-ia uma escola primária, com o objetivo de atender aos

filhos dos fiéis da Igreja e de outros núcleos religiosos.

O primeiro prédio da Escola Evangélica foi uma casa alugada, no ano de 1940, que

servia, também, para a realização dos cultos evangélicos, pois os presbiterianos ainda não

haviam construído o templo da Igreja. Assim, a casa já não comportava as crianças

matriculadas, tampouco os fiéis que vinham assistir aos cultos, sendo preciso sua ampliação,

o que foi realizado no ano de 1941.

Em 10 de julho de 1942, sob a diligência do pastor reverendo Robert Emerick Lodwick5,

o pequeno educandário foi registrado na Diretoria Geral de Educação do Estado de Goiás,

com o nome de Escola Evangélica de Jataí. A primeira professora e diretora, responsável pelo

ensino primário, foi sua esposa, a senhora Loide Emerick.

Sob a perspectiva de Certeau (1994), analisaremos o conceito de estratégia e tática que

corresponde analogicamente a um cálculo de relação de forças empreendido por um sujeito

detentor de algum tipo de poder que, por esta via, “[...] postula um lugar capaz de ser

4 Não encontramos fontes que nos permitissem a catalogação dos livros e materiais utilizados nessa biblioteca, desde sua implantação, antes da instalação da Escola Evangélica de Jataí.

5 Robert Emerick Lodwick, missionário norte-americano, também pastor da Igreja. Junto com sua esposa, Loide Emerick Lodwick, fundou a Escola Evangélica de Jataí. O casal estava morando em Rio Verde/ GO e, em um passeio à Jataí, encantou-se com a obra missionária já implantada pelo casal Schroeder.

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circunscrito como um próprio e, portanto, capaz de servir de base a uma gestão de suas

relações com uma exterioridade distinta”. (CERTEAU, 1994, p. 46).

Já o conceito de tática é apresentado como ações de afastamento que geram efeitos

inesperados. Em oposição às estratégias – que visam produzir, mapear e impor – as táticas

resultam em diferentes maneiras de fazer.

Como bem nos lembra Certeau (1994, p. 105), “o estudo de algumas táticas cotidianas

presentes não deve, no entanto, esquecer o horizonte de onde vêm e, no outro extremo, nem

o horizonte para onde poderiam ir”. A tática é a arte do fraco, sem lugar próprio, comandada

pela ausência de um poder.

Os conceitos de estratégia e tática de Certeau se aproximam de um dos objetivos da

Missão Central do Brasil, quando estrategicamente escolhia os lugares que iniciariam suas

missões e de que maneira começariam a planejar os detalhes de cada implantação.

Ao se estudar a história de uma instituição educativa, Sanfelice (2006) relaciona

algumas possibilidades e propõe que:

As instituições escolares têm também uma origem quase sempre muito peculiar. Os motivos pelos quais uma unidade escolar passa a existir são os mais diferenciados. Às vezes a unidade escolar surge como uma decorrência da política educacional em prática. Mas nem sempre. Em outras situações a unidade escolar somente se viabiliza pela conquista de movimentos sociais mobilizados, ou pela iniciativa de grupos confeccionais (sic) ou de empresários. A origem de cada instituição escolar, quando decifrada, costuma nos oferecer várias surpresas. (SANFELICE, 2006, p. 23).

Saviani (2013) corrobora com essa assertiva ao afirmar que, ao olharmos para o interior

de uma instituição, vislumbramos a instalação do seu prédio físico, com seus equipamentos,

material didático-pedagógico, enfim toda sua estrutura organizacional, todo subsídio para as

práticas educativas desenvolvidas em uma instituição.

Assim, baseado no pensamento de Certeau (1994), essa comunicação analisará as

questões sobre as práticas desenvolvidas no Grêmio Literário Rui Barbosa, buscando

desvelar os sentidos nas artes de se fazer de todo grupo docente e discente dessa instituição.

Os escritos da Ata do Grêmio Literário Rui Barbosa constitui objeto de estudo dessa

pesquisa, que procurará descobrir os enredos os quais legitimaram as experiências, os

saberes, os valores e as histórias ali contidas. Desses escritos podem emergir

posicionamentos e expressões dos sujeitos envolvidos naquela comunidade escolar.

Nessa perspectiva, apoiamo-nos no pensamento de Chartier (1990) quando afirma que

não há neutralidade nos discursos emitidos, eles legitimam e até justificam os fatos ocorridos

com os próprios indivíduos e suas posições assumidas diante desses discursos. Para isto, foi

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analisado o livro Ata pertencente ao Grêmio Literário, encontrado no arquivo da Biblioteca

Escolar James Buyers, na própria instituição, além da literatura que discute a temática.

Com a intenção de refletir sobre a problemática apresentada e para a consecução de

estudo intercruzaremos a Ata do Grêmio Literário, fotografias e depoimentos orais, que se

constituem em um corpus documental inestimável, sendo reveladores do contexto social, a

qual a instituição se insere.

Abordaremos a constituição do Grêmio Literário no Instituto Samuel Graham, no

contexto da cidade de Jataí, bem como apresentaremos o trabalho desenvolvido pelos

diretores e pelas professoras do Instituto as quais participavam do Grêmio Literário.

O Grêmio Literário Rui Barbosa

O acesso à documentação sobre o Grêmio Literário compõe uma gama de

possibilidades de apreensão das suas escritas e da cotidianidade da sua prática que legitima e

monumentaliza o trabalho da escola. Assim, por meio da análise das escritas do Livro Ata,

buscaremos desvelar as ações desse Grêmio em consonância com os depoimentos orais.

Dialogando com Le Goff (2003), percebemos a importância de analisar os documentos

utilizados como fontes, pois:

O documento não é inócuo. É antes de mais nada, o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da sociedade que o produziram, mas também das épocas sucessivas durante as quais continuou a viver, talvez esquecido, durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo silêncio. (LE GOFF, 2003, p. 538).

Ainda na esteira de reflexões de Le Goff (2003), os documentos não expressam os fatos

em evidência por si só, precisam, pois, ser problematizados:

O documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa. (LE GOFF, 2003, p. 545).

De acordo com os registros do Livro Ata do Grêmio Literário Rui Barbosa do Instituto

Samuel Graham, fundado em 27 de setembro de 1956, reuniram-se em uma manhã, com o

diretor do Instituto, o Reverendo James Buyers, professores e alunos do Curso Normal

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Regional6 para organização desse grêmio. Foi presidida a primeira reunião e definidas a

missão de cada integrante dos membros da diretoria.

O diretor explica a finalidade do grêmio na escola “o fim único é proporcionar

desenvolvimento literário a todos os seus associados”. Nomeia a professora Zélia Almeida de

Oliveira para presidente da sessão e como secretária a senhora Nilda de Castro Vilela,

secretária da instituição. Essa escolha foi provisória, haja vista que a escolha dos candidatos

para a eleição seria decidida naquela reunião. (LIVRO ATA DO GRÊMIO LITERÁRIO RUI

BARBOSA, p. 1). Assim, a gênese do Grêmio Literário Rui Barbosa foi se configurando no

cenário escolar.

Ao se investigar o Instituto em sua singularidade enquanto instituição educativa, e

sobretudo diante aos espaços de relação por ele estabelecidos, o Grêmio surge nesse cenário

educacional como um elemento que lhe confere identidade, local relevante de representação

estudantil. Essa conjuntura merece ser avaliada, partindo dos seus discursos e práticas.

A fundação dessa agremiação tornou-se, desde sua criação, palco de eventos culturais,

literários, esportivos e artísticos, não só diante à instituição, mas junto à cidade de Jataí.

Eram eventos culturais escolhidos por meio das reuniões presidiadas semanalmente nas

dependências do Instituto.

Na Ata de fundação do Grêmio Literário, dia 27 de setembro de 1956, a professora

Henriqueta expõe na assembleia: “[...] há necessidade da contribuição monetária para a

manutenção do grêmio, tornando-se sócios podemos contribuir anualmente. Meu desejo é

que esse seja o melhor grêmio da cidade [...]”. (LIVRO ATA DO GRÊMIO LITERÁRIO RUI

BARBOSA, p. 1).

Para a manutenção e assistência dos eventos realizados pelo Grêmio fazia-se um “caixa”

por meio do qual os alunos/sócios contribuíam financeiramente cuja função cabia ao

tesoureiro da comissão da diretoria, com a finalidade de adquirir materiais, a saber:

materiais esportivos, livros, passeios e outras necessidades que não foram descritas. Na Ata

n° 2, do dia 3 de outubro de 1956, é mencionado o valor a ser cobrado de cada sócio do

Grêmio, sendo a importância de Cr$ 20,00 (anualmente).

6 O Curso Normal Regional do ISG foi implantado em 1953 e funcionou até 1962. Apresentava a especificidade complementar, oferecendo uma formação para Regentes Primários, em nível de 1º grau, com uma organização didática sistematizada em quatro séries, atendendo aos princípios normativos do Regulamento de Ensino Primário. É mister destacar que o Curso Normal Regional ofertado no ISG seguia as normatizações do Decreto-Lei nº. 8530, de 2 de janeiro de 1946, o qual fixa as diretrizes para a Lei Orgânica do Ensino Normal, baseado no Art. 4º que trata sobre os três tipos de ensino. Em seu parágrafo 1º consta que o “Curso Normal Regional será o estabelecimento destinado a ministrar tão somente o primeiro ciclo de ensino normal.

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Na primeira reunião sediada, ficou decidida a eleição para escolha dos membros da

diretoria, contudo, ao analisar o Livro Ata7, não identificamos nos relatos quanto de fato essa

eleição aconteceu, não havendo registro no Livro Ata.

A partir da segunda Ata elaborada, localizamos os nomes dos alunos do Curso Normal

Regional que se candidataram e assumiram os cargos da diretoria. Ao confrontarmos com as

fontes escritas e com os depoimentos orais, percebemos que essa eleição aconteceu por meio

de votos abertos em uma das sessões do grêmio, como anualmente acontecia as demais

eleições para composição da diretoria. Mas, de fato, não podemos afirmar se ocorreu e como

foi organizada. Nos escritos da Ata, verificamos que essas eleições para diretoria aconteciam

anualmente.

Em sua estrutura apresentavam: presidente, vice-presidente, orador, tesoureiro, 1º e 2º

secretários e diretor esportivo, além dos demais associados, que eram escolhidos por votação

nas assembleias, como declamadores, discursantes de palestras e integrantes de demais

atividades culturais.

Segundo Delmonte (2010, p. 16) é importante que consideremos os Grêmios como

associações, assim “suas formas de organização, suas formas de expressão, sua constituição,

como os alunos dialogavam com essa prática e com a instituição que as englobava”. Assim,

nos ajudará a refletir como essas práticas foram inculcadas nas práticas da comunidade

escolar e na sociedade em que estava inserida.

Anna Clara de Moraes, aluna do Curso Normal Regional, desde o ano de 1955, passou a

fazer parte do Grêmio no ano de 1956, como 1ª secretária. Acreditava que o objetivo do

Grêmio Literário “era mesmo desenvolver habilidades dos alunos. A oradora, desenvolver a

fala, a secretária, vai aprender a redigir uma ata. O presidente vai aprender as normas de um

presidente. O que ele pode exigir o que ele pode liberar.”. (MORAES, 2015).

As sessões do Grêmio contavam, muitas vezes, com a presença de outros alunos

convidados pela diretoria para apresentação de palestras sobre determinados temas e até

para declamação de poemas. Alunos das turmas eram convidados para cantarem hinos

evangélicos, lerem passagem na Bíblia, declamarem poemas, apresentarem teatros,

proferirem palestras sobre variados temas. As escolhas dos temas aconteciam anteriormente,

na pauta das assembleias. Dessa maneira, acreditavam que a interação dos alunos com os

outros cursos se estreitava.

7 No arquivo da instituição foi localizado apenas um Livro Ata do Grêmio Literário Rui Barbosa.

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As atividades esportivas eram muito bem planejadas pelo Grêmio. Havia treino

semanal dos alunos desportistas. Eram realizados jogos com outras instituições educativas de

Jataí, como o Ginásio Nestório Ribeiro. O diretor esportivo do ano de 1956, aluno do Curso

Normal Regional Edney Batista Carvalho Castro deveria apresentar semanalmente um

relatório das atividades desportivas desenvolvidas nos treinos que aconteciam durante a

semana.

No registro da Ata nº 4 do dia 18 de outubro de 1956, percebemos a importância que se

dava aos jogos estudantis realizados entre algumas instituições da cidade de Jataí. “[...] O

diretor esportivo declara não haver treino naquele dia e convida a todos para assistir ao jogo

da mocidade contra o ginásio Nestório Ribeiro no dia seguinte.” (LIVRO ATA DO GRÊMIO

LITERÁRIO RUI BARBOSA, p. 8).

A escolha do nome Rui Barbosa muito nos intriga. Por que o nome? Como foi a

escolha? Os alunos participaram? De onde partiram as sugestões de nome? Essas questões

poderiam indicar pistas para o resgate da memória do Grêmio, entretanto, nas referências

existentes, já se apresentava a agremiação denominada Rui Barbosa, não havendo explicação

de como ocorrera mecanismos para a escolha do nome Rui Barbosa como patrono.

Desse modo, a investigação caminha no sentido da valorização dos entrevistados, no

intuito de tentar desvendar elementos para reconstituir a fundação do Grêmio. Nas

entrevistas realizadas, não foi possível identificar argumentos que pudessem nos ajudar a

compreender o motivo real da escolha do nome dessa agremiação.

De acordo com Alberti (2004), a entrevista oral pode ser aplicada ao estudo de

diferentes instituições. Dessa maneira contribui para esclarecer possíveis lacunas, na busca

por respostas que não temos. Para além, segundo Thompson (1998), a história oral nos

permite conhecer os sujeitos que vivenciaram determinado momento histórico,

aproximando-nos de suas experiências.

[...] a história oral é construída em torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis vindo não só dentre os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo. Estimula os professores e alunos a se tornarem companheiros de trabalho. E oferece meio para uma transformação radical do sentido social da história. (THOMPSON, 1998, p. 44).

A partir de então, buscamos essas pessoas a fim de preservar suas memórias e nos

ajudar na escrita desta proposta. Como nos afirma Bosi (1994, p. 55), “na maioria das vezes,

lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as

experiências do passado. A memória não é sonho, é trabalho”.

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Nesse sentido, a escolha de Rui Barbosa pode caracterizar como indício de afinidade

com o dom da oratória, por ser jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor e

exímio orador, merecendo sua “eleição” e inserção como patrono de agremiação, no período

em apreço, constituir-se em objeto de reflexão e identificação da presença do seu ideário nos

princípios e práticas privilegiados pelo Grêmio.

A escrita das Atas: pistas e vestígios de um tempo

Desde a sua fundação em setembro de 1956 o Grêmio Literário teve 75 reuniões

descritas em um Livro Ata, percorrendo até o ano de 1961. Várias informações foram

discutidas e decididas em plenária em prol do bom andamento do Instituto Samuel Graham.

Algumas decisões tomadas precisaram ser mediadas pelo diretor, pelos professores

orientadores responsáveis pelas turmas associadas à agremiação e até pelo conselheiro do

Grêmio, um professor escolhido pelos sócios, considerando que as decisões deviam ser

realizadas com muita cautela e bom senso.

Na escrita narrada na Ata do Grêmio Literário Rui Barbosa, é possível perceber fatos e

acontecimentos de variados assuntos, evidenciando pistas para o entendimento das decisões

tomadas, como percebemos nos fragmentos a seguir:

[...] tomando a palavra o Reverendo James Buyers, fala sobre as fardas que planejavam fazer e pede idéias de todos. [...] A aluna Delma levantando-se deixa sua sugestão sobre a farda: blusa branca de manga comprida com o distintivo usado no desfile. Manoel acha melhor o distintivo atual. Maria Luiza concorda com Delma, mas sendo a blusa com bolso. [...] A presidente pede uma votação [...] fica resolvido com bolso. [...]. Discutem sobre manga curta ou comprida, sendo feita a votação e a manga comprida fica escolhida. [...] sobre a escolha da gravata fica resolvido usar gravata, mesmo com a sugestão do Reverendo James do não uso por consequência do calor que se faz em Jataí. Reverendo James mostra diversas cores de tropical para a saia e as calças, discutiu muito mas, como o tempo é muito escasso deixam para a próxima reunião. [...]. [...] fica escolhida uma comissão de alunos para irem atrás dos tecidos na cidade. [...].[...]. (LIVRO ATA DO GRÊMIO LITERÁRIO RUI BARBOSA, p. 10-11).

Em reunião do dia 1º de novembro de 1956, o assunto sobre o uniforme, denominado

“fardas”, continua:

[...] Reverendo James Buyers afirma que o assunto fardas deve ser a pauta da reunião. [...] Sebastião Alankardec explica que não há pano na cidade, mas que os negociantes encomendam com o prazo de vinte e cinco dias. [...] A presidente pede uma das alunas para pegar a fita para tirar a medida afim dever quanto de pano precisa ser encomendado. A professora Henriqueta a pedido da presidente tira as medidas. Sebastião Alankardec fica responsável de encomendar o pano e receber o dinheiro de todos. Maria

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Luiza dá um pedaço de sua sai (verde) cuja cor todos gostam para encomendar. [...]. (LIVRO ATA DO GRÊMIO LITERÁRIO RUI BARBOSA, p. 12-13). [...] o Reverendo James usando de sua palavra, fêz alguns avisos sobre a organização do desfile para o Presidente da República Juscelino Kubitschek que visitaria a cidade, sobre as fardas e outros avisos. Em seguida o vice-presidente nomeou as comissões para a organização do desfile. [...]. (LIVRO ATA DO GRÊMIO LITERÁRIO RUI BARBOSA, p. 13).

No depoimento de Moraes (2015), percebemos a importância desse desfile para os

alunos do ISG:

[...] Quando Juscelino Kubitscheck já era presidente e ele veio aqui em Jataí. Nós desfilamos de camisa de manga comprida, de gravata verde, de quepe, saia verde de prega e sapato e meia [...]. A cidade não tinha asfalto, era terra pura e veio uma chuva e fez uma lama e nós continuamos o desfile bem organizado. [...] A gente fez ala para que o presidente passasse. E ele passou [...]. (MORAES, 2015).

Em outra reunião, realizada em 4 de abril de 1959, foi proposto pela presidente Delma

um piquenique para aproximar os estudantes e selar a amizade e companheirismo entre os

alunos do Curso Normal Regional e os do Ginásio. O diretor James Buyers bem como os

demais membros, consideraram uma excelente ideia. Dessa forma, o passeio foi preparado,

organizado e realizado em uma fazenda próxima a Jataí, a Fazenda Boa Vista. A Figura 1

mostra esse momento de confraternização entre os estudantes do Ensino Normal Regional e

os alunos do Ginásio do ISG.

A escolha do local do piquenique foi decidida por meio de uma sugestão apresentada

pelo Presidente do Grêmio, Edney Batista Carvalho, sendo apoiado pelo diretor do Instituto,

Reverendo James Buyers, e pelos demais membros. Ficando decidido o dia, horário e local de

saída dos alunos, bem como a contribuição financeira que cada sócio deveria fazer para

arrecadar fundos para o passeio, sendo o lanche compartilhado entre todos no momento do

passeio.

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Figura 1 – Piquenique entre alunos do Curso Normal Regional e do Ginásio, 1959 Fonte: Arquivo do Instituto Samuel Graham (Jataí-GO).

As reuniões do Grêmio Literário favoreciam essa interlocução; mesmo a educação

primária não participando do grêmio, por serem crianças ainda muito pequenas, as

apresentações teatrais e outras atividades que o Grêmio realizava fazia com que esse elo

participativo se estreitasse entre todos os alunos do ISG.

Na Ata de nº 43, realizada mediante uma reunião do dia 6 de abril de 1959, observamos

que foi discutida em umas das pautas, a compra de um jornal, vindo da cidade de Santa

Helena de Goiás – GO, podendo ser adquirido mediante uma oferta, sendo feita de maneira

espontânea, todavia não encontramos em nenhuma das fontes selecionadas evidências de

que esse jornal fora adquirido.

Nessa mesma Ata, foi exposta uma carta recebida da cidade de Rio Verde - GO,

indagando aos alunos do ISG a respeito da organização dos seus times de voleibol e

basquetebol, o que nos faz deduzir sobre a importância da prática esportiva propagada no

ISG. Podemos confirmar essa questão, por meio do relato de uma ex-professora de Educação

Física, quando afirmou preparar os alunos do ginásio para os times de voleibol e também do

basquetebol. (GOMES, 2015).

Por meio da análise dos registros escritos nas Atas do Grêmio, podemos constatar que

esses assuntos eram tratados com muito afinco pelos gremistas, sempre despertando nos

alunos a importância de uma “boa preparação” dos atletas do ISG. Verificamos, também, a

ocorrência de jogos estudantis entre os alunos do ginásio do ISG e do Nestório Ribeiro,

pontuados em uma das reuniões, registrado na Ata nº 42, de 30 de março de 1965.

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Todavia, podemos perceber, pelos relatos de uma das alunas ginasianas entrevistadas,

que o objetivo primordial do Grêmio Literário era fomentar as práticas sócio escolares,

enfatizando o atendimento da formação patriótica diante das atividades diárias e integrar os

alunos em uma disciplina moral e também cristã. Assim, as decisões por eles tomadas eram

voltadas para o senso moral e cristão.

No ano de 1963, foi debatida, em uma das reuniões, a importância de criar o Hino do

ISG. Isso demonstra o senso de coletividade e civismo princípios condizentes com a época da

época e inerente a toda comunidade escolar. A professora de Canto Orfeônico, Norah Buyers,

missionária norte-americana e esposa do diretor, James Buyers, foi escolhida para essa

tarefa. Exímia pianista e também escritora de cânticos e hinos evangélicos, Norah escreveu,

então, a letra e compôs a melodia do Hino do ISG.

HINO INSTITUTO SAMUEL GRAHAM (Letra e Música: Nora Buyers) Instituto ISG a ti cantamos. Levamos este canto de louvor. O teu símbolo de verdade, Seguiremos com todo ardor. A Cristo cujo nome procuramos, A verdade que nos libertará. Louvemos, vivamos guiados por Deus. Instituto ISG! ISG, ISG, ISG. (HISTÓRICO DO INSTITUTO SAMUEL GRAHAM, 1965, p. 1).

A proposta de elaboração de um hino oficial para o ISG, para ser cantado junto aos

hinos oficiais do Brasil, ilustrava o patriotismo e a civilidade que os alunos precisavam ter

diante da pátria. A decisão da criação do hino do Grêmio Literário Rui Barbosa e a feitura de

uma bandeira com o símbolo da agremiação também foram discutidas em algumas reuniões,

entretanto não localizamos fontes que nos revelassem indícios, se de fato foram realizados.

Inúmeras passagens nas atas denotam a preocupação do diretor e dos alunos em

angariar fundos para a compra de materiais esportivos e para a organização de um campo de

futebol e de voleibol. O que podemos ver:

[...] o presidente passou a palavra ao Reverendo James o qual depois de entregar ao diretor esportivo uma bola de futebol e gorros, explicou que o campo está ainda sob as vontades do prefeito, o Senhor Luziano Carvalho. [...]. (LIVRO ATA DO GRÊMIO LITERÁRIO RUI BARBOSA, nº 20, de 06/06/1957, p. 29). [...] o sócio Geraldo pede permissão ao vice-presidente e diz ao diretor que com sua permissão os alunos fariam o campo de voleibol. Segundo o conselheiro professor Izaltino, os alunos irão fazer em aulas de Trabalhos

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Manuais. [...]. (LIVRO ATA DO GRÊMIO LITERÁRIO RUI BARBOSA, nº 30, de 31/03/1958, p. 45-46).

A partir de reflexões sobre detalhes que aparentemente podiam sinalizar fatos pouco

importantes, acompanhamos pistas que surgiram seguindo as perspectivas abertas pela

historiografia contemporânea, preocupada em rastrear sinais e pegadas, capazes de fornecer

subsídios ao conhecimento histórico. Assim, prosseguindo a leitura atenta das atas, vemos

anunciada a preocupação na elaboração de um Estatuto:

[...] foi então nomeado pelo presidente uma comissão para elaborar os estatutos para a parte literária e para a parte da plenária. [...]. Dona Henriqueta sugeriu que fosse escalada os alunos de uma só classe de cada vez, para elaborar o estatuto, juntamente com a orientadora de cada classe. Cada grupo irá tratar de uma parte: literária e plenária. (LIVRO ATA DO GRÊMIO LITERÁRIO RUI BARBOSA, nº 23, de 15/08/1957, p. 34-35).

O Estatuto do Grêmio Literário é aprovado:

[...] o estatuto foi aprovado, este sendo elaborado pelos membros da diretoria. Foi lido e aprovado pelos sócios/membros presentes nesta reunião. (LIVRO ATA DO GRÊMIO LITERÁRIO RUI BARBOSA, nº 26, de 07/10/1957, p. 37).

O Estatuto sofre algumas mudanças, por não se encontrar de acordo com objetivos do

Grêmio. Passando a ser pauta nas assembleias.

[...] O professor Izaltino pede ao presidente para nomear uma comissão de alunos para a organização do estatuto, pois segundo ele está incompleto. [...] e assim foi feito. (LIVRO ATA DO GRÊMIO LITERÁRIO RUI BARBOSA, nº 30, de 31/03/1958, p. 45).

A preocupação em realizar reuniões com foco literário. Essa foi uma reivindicação do

Conselheiro do Grêmio, o professor Izaltino. Para ele, o objetivo principal da agremiação era

o de desenvolver o senso crítico dos alunos e uma das formas de se conseguir isso, seria por

meio de encontros literários. A oratória seria desenvolvida pelas plenárias. Dessa forma:

[...] O presidente depois de agradecer as palavras do conselheiro, falou sobre o número de reuniões literárias e de plenárias, que foi resolvido na reunião extra, sendo três literárias e uma de plenária no mês. [...]. (LIVRO ATA DO GRÊMIO LITERÁRIO RUI BARBOSA, nº 23, de 15/08/1957, p. 33-34).

A oratória dos alunos era uma preocupação constante nas reuniões do Grêmio:

[...] o professor Izaltino, conselheiro do Grêmio, explicou o objetivo do Grêmio. [...] e falou ainda que poderia ser feito um concurso de oratória e que quem falar melhor ganhará um prêmio. Sendo este um meio prático para o desenvolvimento intelectual dos alunos. [...]. (LIVRO ATA DO GRÊMIO LITERÁRIO RUI BARBOSA, nº 23, de 15/08/1957, p. 33).

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Havia também, nas sessões, palestras, leituras e declamações de poesias, biografias de

figuras ilustres, a saber: Rui Barbosa, Santos Dumont, Cristovão Colombo, Olavo Bilac,

Castro Alves, Caxias entre outras. Temas foram debatidos em palestras, como: Abelhas, O

Brasil no século XX, Dia das Crianças, Descobrimento da América, 7 de setembro, República,

Leituras de passagens bíblicas e outras.

A cada ano, uma nova diretoria era eleita e casos como o de desistência, trabalho

insatisfatório ou inadimplência do sócio constavam em afastamento do membro da

agremiação. Essas decisões eram tomadas conforme as pautas das reuniões e votadas em

plenárias, coletivamente. Novos sócios eram escolhidos quando alguma desistência

acontecia.

A última sessão do Grêmio, neste Livro Ata ocorreu no dia 6 de novembro de 1961, sem

nenhuma menção de sua extinção. O Livro Ata permanece com algumas páginas em branco,

sem termo de encerramento. Os sujeitos que nos concederam entrevistas não souberam

informar a respeito da data possível do fim do Grêmio Literário. Assim, localizamos apenas

um Livro Atas, a partir do qual podemos inferir algumas considerações acerca de

acontecimentos vivenciados no interior do Instituto Samuel Graham.

Considerações Finais

Durante a leitura e análise das Atas do Grêmio Literário Rui Barbosa, percebemos que

as práticas vivenciadas no interior do ISG pretendiam configurar-se como um local de

gestação de ideias e valores de glorificação patriótica, esportista e de um lugar onde os alunos

pudessem exercer sua oratória.

Rever as anotações do vivido em seu cotidiano, permitiu-nos reflexões que vão desde o

modo como o conteúdo das atas foram registrados, de forma evasiva, rotineira, submissa de

certa forma à presença institucional, carregada de valores morais, com as práticas

desenvolvidas, revelando, além de dados históricos, a presença de sujeitos de conviveram na

instituição em diferentes tempos e espaços sociais. As atas apresentam um vasto conteúdo e

inúmeras possibilidades de investigação.

Essas considerações podem apresentar-se superficiais ou até mesmo equivocadas,

contudo revelam princípios condizentes com o momento político e social da época, bem como

apresenta os vestígios do protestantismo religioso aliado com a educação.

Nossa pesquisa e nossas reflexões não se encerram aqui, ao contrário, remete-nos à

necessidade de um estudo mais aprofundado dos elementos constitutivos presentes nas Atas

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das sessões do Grêmio Literário, a identificação de novos indícios ou vestígios em seus

registros e que refletem a influência protestante e sua relação com a educação no ISG.

Referências

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DELMONTE, Priscila Villela. Práticas de grêmios literários no Instituto Metodista Granbery de Juiz de Fora – instituições dentro da instituição (1907-1956). 127f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de São João del Rei, Minas Gerais, 2010. GOMES, Maria Luiza da Silva. Entrevista concedida à mestranda Kamila Gusatti Dias. Jataí, 31 de julho de 2015.

INSTITUTO SAMUEL GRAHAM. Histórico do ISG, 1965. LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. In: LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução Irene Ferreira, Bernardo Leitão e Suzana Borges. 3. ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2003. p. 535-549. LIVRO ATA. Grêmio Literário do Instituto Samuel Graham (1956-1961). MORAES, Anna Clara de. Entrevista concedida à mestranda Kamila Gusatti Dias. Jataí, 24 de março de 2015. MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O Celeste Porvir: a inserção do protestantismo no Brasil. 3. ed. São Paulo: EUSP, 2008. NASCIMENTO, Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do. Educar, curar, salvar: uma ilha de civilização no Brasil tropical. 246f. Tese (Doutorado em Educação), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005. SANFELICE, José Luís. História, Instituições Escolares e Gestores Educacionais. Revista HISTEDBR on-line, Campinas, n. especial, p. 20-27, ago. 2006. Disponível em: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/22e/art4_22e.pdf>. Acesso em: 2 mar. 2017. SAVIANI, Demerval. Instituições de Memória e Organização de Acervos para a História das Instituições Escolares. In: SILVA, João Carlos da. et al. (Org.). História da Educação: arquivos, instituições escolares e memória histórica. Campinas, SP: Alínea, 2013. p. 13-31. THOMPSON, P. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.