o grÊmio estudantil na escola de ensino … · nunca ter recebido convite para participar de...

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O GRÊMIO ESTUDANTIL NA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL E SUA REALAÇÃO COM O CONTEXTO ESCOLAR: Uma tentativa de fortalecimento e

resgate do seu papel frente à comunidade

Autora: Célia Maria Pauli1

Orientador: José Carlos da Silva2

Resumo

O Grêmio Estudantil é uma importante instância colegiada, cujo papel e função, precisam ser repensados, resgatados e valorizados pela comunidade, uma vez que se constitui em espaço privilegiado de aprendizagem, cidadania, convivência, responsabilidade e de luta por direitos dentro do princípio da gestão escolar democrática e à luz do PPP - Projeto Político Pedagógico do Estabelecimento. O objetivo desse projeto foi o de levar o Grêmio Estudantil a legitimar seu papel como instância colegiada autônoma dentro da escola, e refletir sobre seus limites e possibilidades de ação no processo de organização do trabalho pedagógico dentro de uma gestão escolar democrática, através da capacitação e formação continuada dos alunos no seu contexto escolar.

Palavras-chave: Grêmio Estudantil; Gestão Democrática; Capacitação; Formação Continuada.

Abstract

The Student Guild is an important collegial body, whose role and function, need to be rethought, rescued and valued by the community, since it constitutes a privilegedlearning, citizenship, fellowship, accountability and the fight for rights within the principle of management democratic school and in the light of the PPP - Political Pedagogical Project of the Establishment. The project goal was to bring the Student Guild to legitimizetheir role as autonomous collegial body within the school, and reflect on its limits and possibilities of action in the process of organization of educational work within ademocratic school management, through training and continuing education of students in their school context.

Keywords: Student Guild; Democratic Management; Training; Continuing Education.

1 Professora Pedagoga do Quadro Próprio do Magistério do Estado do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2010 2 Professor do Curso de Filosofia do Centro de Ciências Humanas e da Educação – UENP – Campus Jacarezinho

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“Cada um de nós compõe a sua história cada ser em si carrega o dom de ser capaz”

ALMIR SATER

1. Introdução

A participação dos jovens em segmentos estudantis é requisito importante e

necessário para o exercício da cidadania. Para tornar essa participação legítima a

Lei Federal de número 7.398 de 04/11/85 assegurou aos estudantes de 1º e 2º

Graus o direito de se organizarem, época em que foram criados mecanismos

institucionais de participação direta e representativa nos órgãos públicos envolvidos

com a educação como órgãos colegiados, sendo o Grêmio Estudantil, um deles.

Os Grêmios Estudantis surgiram como entidades autônomas representativas

dos interesses dos estudantes secundaristas, com “finalidades educacionais,

culturais, cívicas esportivas e sociais" (UNE – União Brasileira dos Estudantes).

Dessa forma, pretendia-se garantir a participação popular na gestão e no controle

social das políticas públicas e a universalização dos direitos sociais na promoção do

exercício da cidadania.

De maneira geral, os Grêmios Estudantis ainda não conseguiram consolidar

seu papel na maioria das escolas públicas. Numa gestão escolar democrática

pressupõem-se um planejamento participativo em que todos os envolvidos no

processo possam participar desde a concepção de uma ideia até a sua efetivação

através da ação coletiva. Essa participação ainda é muito tímida e limitada,

principalmente na escola que oferta exclusivamente os anos finais do Ensino

Fundamental, com alunos na faixa etária entre 10 (dez) e 14 (quatorze) anos de

idade, em processo de formação física e psicológica, ainda totalmente dependentes

para o exercício da cidadania. Essa escola – segundo referência do Estatuto da

Criança e do Adolescente - Lei nº 8.069 atende um alunado em fase de transição da

infância para a adolescência, fase da vida em que os conflitos se tornam mais

acentuados, o que justifica em parte a relação conflituosa, a falta de organização e

participação efetiva deste colegiado na gestão escolar.

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Partindo dessa suposição, buscou-se através de sondagem e avaliação in

loco numa escola pública estadual do estado do Paraná, que oferta exclusivamente

os anos finais do Ensino Fundamental, as possíveis causas da (não) participação do

Grêmio Estudantil e as suas implicâncias. Utilizou-se da metodologia da pesquisa-

ação vista ao mesmo tempo como um instrumento de investigação e uma proposta

que implica em possibilidades de intervenção sobre as práticas da instituição escolar

para transformação (BARBIER, 1985; 2002). A pesquisa-ação, pelas características

dos procedimentos que mobiliza, tem sido apontada como a que oferece maiores

possibilidades para que se construa esquemas de análise e interpretação das

situações vividas na escola (CHAMLIAN, 2004).

Objetivou-se também promover o fortalecimento e resgate do papel do

Grêmio Estudantil na gestão escolar democrática através da capacitação e formação

continuada dos dirigentes do Grêmio Estudantil e também dos alunos

representantes de turma no seu contexto escolar, pois a presente proposta partiu da

premissa de que o colegiado não atua e não participa pelo simples fato de ignorar

suas atribuições, âmbito de ação e também por falta de oportunidade.

2. O papel do Grêmio Estudantil na escola

O processo de democratização da escola exige a participação dos estudantes

nas discussões, cabendo à escola promover e incentivar a presença do Grêmio Es-

tudantil em todos os momentos da gestão, levando-os a participar efetivamente des-

se processo.

É nesse sentido, frente ao processo de democratização, que Melucci (1997. p.13) afirma :

Quando a democracia for capaz de garantir um espaço para que as vozes juvenis sejam ouvidas, a separação será menos provável e movimentos ju-venis poderão tornar-se importantes atores na inovação política e social da sociedade contemporânea. (REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO 5, p.13.14 Mai/Jun/Jul/Ago 1997 N º 5 Set/Out/Nov/Dez 1997 N º 6. Juventude, tempo e movimentos sociais).

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Assim, é justo que o Grêmio Estudantil, enquanto órgão representativo dos

estudantes participe efetivamente das decisões que envolvem questões educacio-

nais, até mesmo para que se possa ter um entendimento sobre o seu nível de com-

prometimento, organização e participação no processo de democratização da esco-

la, contribuindo de forma decisiva na construção de uma escola cuja gestão atenda

verdadeiramente aos princípios e ideais democráticos.

O Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola que serviu à presente pesqui-

sa, traz na sua Apresentação os motivos pelo qual foi construído:

[...] traçar um caminho que leve a escola a exercer o seu papel dentro da sociedade, reconhecendo crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, considerados em sua condição de pessoas em desenvolvimento e a quem se deve prioridade absoluta, sem distinção de raça, cor e classe social [...] (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2011, pág. 8)

Também prevê a gestão escolar democrática quando afirma que,

A participação da comunidade escolar e local no dia-a-dia da instituição e na elaboração e planejamento das ações que venha a desenvolver, possibilita um caminhar mais objetivo em termos de educação uma vez que há interes-se comum dos segmentos envolvidos com o projeto educativo da escola. (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2011, pág. 9)

Vale salientar que toda a comunidade: alunos, professores, pais e demais

segmentos, são protagonistas no processo de construção do PPP - Projeto Político

Pedagógico. Por isso, os princípios coletivamente nele delineados e expostos devem

orientar a organização e o funcionamento da instituição escolar, imprimindo direção

comum, significado e sentido para as ações de todos aqueles que nela convivem e

com ela interagem. Da mesma forma, as estratégias de ação delineadas através de

um processo democrático e participativo, são entendidas como capazes de promo-

ver mudanças desejáveis na realidade escolar.

É nessa direção que o Grêmio Estudantil deve traçar seus objetivos e ações.

Transparecidos no PPP ganham credibilidade e demonstram comprometimento com

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a qualidade da educação que a escola oferta aos alunos, além da consciência da

necessidade da construção de uma proposta coletiva de trabalho.

Nesse sentido, para que o trabalho e atuação do Grêmio se efetivem, é

fundamental a percepção da sua realidade quanto aos limites e potencialidades da

equipe e de cada um de seus integrantes, além da clareza do seu papel e função

dentro da escola, formas com que estabelece suas relações com o contexto escolar

e sobre quais bases legais estão amparados.

Para dar início ao processo avaliativo, leituras reflexivas de fragmentos dos

três marcos do PPP que falam diretamente sobre o Grêmio e a gestão escolar

democrática, no que se refere á participação das instâncias colegiadas foram

necessárias: o marco Situacional descreve a realidade da escola hoje, o marco

Conceitual referencia teoricamente todo o trabalho desenvolvido e o Operacional,

projeta medidas e ações para transformar a escola de acordo com a realidade

observada no primeiro marco.

Da mesma forma, a realização de uma auto avaliação da diretoria do Grêmio

e os representantes de turma também foram imprescindíveis, a princípio através de

depoimentos e observações espontâneas no grande grupo e posteriormente, através

de questionário anônimo, composto por questões abertas que direcionavam a

respostas sobre a existência de clareza sobre a função, papel, legislação e

competência do Grêmio do Estudantil e também sobre a sua participação na

construção e implementação do PPP.

Ao se fazer a leitura do PPP, fica evidente o princípio participativo na sua

constituição, porém, ao menos com relação aos alunos, pode-se constatar um total

desconhecimento e distanciamento desse segmento com relação à existência e

finalidade desse documento. A maioria dos alunos não souberam dizer o que é o

PPP, 90% deles nunca ouviram falar sobre esse documento, e todos eles afirmam

nunca ter recebido convite para participar de reunião ou encontro para construção

ou implementação desse projeto.

Questionados sobre ser verdadeira a afirmativa de que tanto o Grêmio

Estudantil quanto a Associação de Pais, Mestres e Funcionários não têm inciativa e

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são pouco atuantes na escola, responderam que, a participação dessas instâncias é

muito limitada e que lhes faltam iniciativa. Os alunos têm clareza sobre o que

impede ou dificulta a consolidação do Grêmio na escola e apontam algumas

sugestões para transformar essa realidade:

Aluno A: “..acho pouco atuante e que os alunos não sabem a força que o grêmio bem organizado possui, saindo como escola de futuros políticos.”

Aluno B: “Ajudaria muito se os representantes do grêmio conversassem mais com a diretora e os professores sobre esses tipos de assunto do grêmio, né”

Aluno C: “Eu acho que o que está impedindo é a falta de atuação própria e falta de projetos culturais. Poderia ser feito a cada ano um projeto cultural diferente e que o grêmio deve agir por vontade própria.”

Aluno D: “Acredito que nos últimos anos essas duas instâncias tem sido mais participativas e atuantes, e na minha opinião, o Grêmio deveria ter um responsável dentro da escola para orientá-los melhor.”

Aluno E: “Não tem iniciativa e não se desenvolve diretamente com a escola. Poderia ter mais pais e estudantes participando das festas promovidas pela escola”

Considerando sua pouca idade e experiência participativa, é possível afirmar,

pelo ponto de vista dos alunos, que o que falta às instâncias colegiadas da escola é

espaço para manifestação e abertura para o diálogo.

Com relação sobre a forma como a escola promove a participação da

comunidade, as considerações foram diversas, porém reafirmam a ausência, pouca

abertura ou valorização da participação da comunidade:

Aluno A: “Acho que a escola faz isso através da convocação da comunidade nas atividades escolares.”Aluno B: “Houve poucas atividades assim, mas ao meu ver a comunidade não demonstra vontade.”Aluno C: “Por meio dos campeonatos esportivos”.Aluno D: “Eu acho que ainda essa palavra “comunidade” não está no vocabulário deles. Deveriam pedir mais a opinião dos outros.”Aluno E: “Apesar de não ter muito conhecimento sobre esse assunto, acredito que a comunidade às vezes tem que ser chamada para tomar decisões mais importantes com a escola.”

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Um aspecto positivo constatado foi o de que 99% dos alunos manifestaram

ter conhecimento sobre o Estatuto do Grêmio Estudantil. Em algum momento da sua

jornada estudantil dentro da escola, receberam informações sobre a existência e

teor desse documento. Essa manifestação, porém, contradiz as negativas ao

questionamento acerca da legislação que ampara o Grêmio Estudantil, já que

declararam conhecer e saber o que dispõe o Estatuto.

Um dos principais objetivos da escola consiste em contribuir para aumentar a

participação dos alunos nas atividades de sua escola, fazendo com que eles tenham

voz ativa e participem efetivamente da atividade educativa.

Consta do Relatório da UNESCO, que

[...] a escola, [...] é tipicamente uma esfera de ação pública como ambiente e lócus de socialização... Em sociedades cada vez mais complexas e multiculturais, a emergência da escola como esfera pública acentua sua relevância insubstituível na promoção da coesão social, da mobilidade humana e da aprendizagem da vida em comunidade. (Relatório da UNESCO, p. 222-223, apud TRASSI, 2010)

É na escola que os alunos adquirem as suas primeiras lições de cidadania, e

de convivência em grupos. Essa convivência nem sempre é tranquila e os conflitos

são comuns, principalmente quando grupos afins se reúnem e passam a divulgar e a

impor suas ideologias. As análises sobre os novos movimentos sociais, segundo

Touraine,

[...] tenderam a enfatizar a importância dos sistemas educativos e a escola como possíveis lócus de conflitos sociais, tendo em vista o conjunto das mudanças que afetaram as sociedades nos últimos anos e a própria importância do acesso à informação e ao conhecimento como forma de dominação e controle social. (TOURAINE, apud SPOSITO, 2003)

Os espaços educacionais devem ser compreendidos como múltiplos,

ultrapassando os muros das escolas e atingindo outros espaços de referência, como

organizações sociais, movimentos sociais, etc. Os alunos devem ser estimulados a

tomarem iniciativa dos projetos a serem desenvolvidos, ao mesmo tempo em que

devem vivenciar possibilidades de escolha e de responsabilidades.

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Como o grêmio estudantil é uma instituição política, representativa e

democrática dentro da escola, sua atuação tende a tornar a unidade escolar um

espaço público amplo e difusor de politização, inclusive à comunidade do entorno.

3. Conselho Escolar e Grêmio Estudantil

Segundo Paro (2000), a escola fundamental deve pautar-se na realização de

objetivos nas dimensões individual e social. A primeira, a dimensão individual, está

relacionada ao provimento do saber necessário ao autodesenvolvimento do aluno e

a segunda, a social, está ligada a formação do cidadão tendo em vista sua

contribuição para a sociedade. Ainda segundo o autor é na dimensão social que a

escola mais falha pelo fato de ser omissa na função de educar para a democracia,

quando resiste ao “propiciar no ensino fundamental uma formação democrática que,

ao proporcionar valores e conhecimentos, capacite e encoraje seus alunos a

exercerem ativamente sua cidadania na construção de uma sociedade melhor.”

(PARO, 2000).

A representatividade e participação não só do Grêmio Estudantil como de

todos os segmentos da comunidade nas decisões e planejamentos escolares são

fatores muito importantes para a construção de uma escola democrática e de

qualidade.

De acordo com o PPP (2011, p. 46), o Conselho Escolar é a instância

representativa máxima da escola. Composto em paridade por representantes de

todos os segmentos da comunidade escolar, é responsável pela elaboração do PPP

e pela tomada de decisões em caráter deliberativo. Seu papel é o de elaborar,

normatizar, aconselhar e fiscalizar as ações da escola nos âmbitos pedagógico,

administrativo e financeiro e decidir sobre qual política de ação a escola deverá

adotar para cada um desses elementos.

Pela sua expressão, a proposta de uma pesquisa junto ao Conselho Escolar

sobre o Grêmio Estudantil foi bastante pertinente, possibilitando uma amostragem

da opinião de cada segmento. Foram apresentadas questões abertas, onde cada

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membro pode se expressar livremente, de maneira individual e anônima.

Questionados sobre a organização, atuação e participação do Grêmio

Estudantil verificou-se que a opinião dos representantes de turma e da diretoria do

Grêmio é bastante diversa da opinião dos Conselheiros. A grande maioria quando

consultada, se referiu ao Grêmio como participativo e colaborador, principalmente

por ocasião de festas e jogos organizados pela escola, e de maneira mais enfática,

apontaram a predisposição dos alunos em se organizar em chapas para o processo

eletivo da diretoria.

Conselheiro A: “...Eles participam assiduamente. Cada dois anos há

eleição para a escolha da Chapa. Tudo dentro da normalidade.”

Conselheiro B: “Em nossa escola percebo que o grêmio ainda não entendeu sua função, pois sua participação limita-se em organizar jogos e movimentar-se apenas nos dias de eleição..”

Conselheiro C: “...sempre que é solicitado, prestam sua colaboração. As eleições são bem concorridas entre os alunos.”

Conselheiro D: “É uma realidade atuante, com participação ativa dos alunos nos eventos que eles participam como a apresentação semanal do hino nacional, jogos inter-séries etc.”

Conselheiro E: “De certa forma sim, Participam através da organização de jogos, festas. ... As eleições são disputadas entre as várias chapas.”

Segundo o Conselho Escolar, o que dificulta ou impede a transformação do

Grêmio Estudantil numa organização positiva e dinâmica da vida escolar e da

comunidade são a falta de conhecimento sobre seu papel e esfera de atuação,

interação e ausência de formação e capacitação dos alunos para exercer de fato

seus direitos e deveres como membros naturais do colegiado.

Conselheiro A: “Os alunos que compõe o Grêmio tem idade entre 11 e 13 anos. Então as atividades do Grêmio precisam estar apoiadas na Proposta Pedagógica da Escola.”

Conselheiro B: “... temos dificuldades sim precisamos de uma organização...”

Conselheiro C: “Uma melhor preparação dos componentes do Grêmio, mais integração dos componentes do Grêmio com a direção, equipe pedagógica, professores e até a comunidade.”

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Foram também unânimes em afirmar que a escola incentiva e apoia as

iniciativas do Grêmio, considerado como espaço de efetivo exercício da democracia

e palco para revelação de dirigentes:

Conselheiro A: “... Ele permite que os alunos discutam, criem e fortaleçam inúmeras possibilidades de ação tanto no ambiente escolar como na comunidade. É também um importante espaço de aprendizagem, cidadania, convivência, etc.”

Conselheiro B: “...é uma maneira de criar e descobrir lideranças, mostrar habilidades e trabalhar a cidadania.”

Destacaram que as atividades das quais os dirigentes do Grêmio mais

participam, são as relacionadas à organização de jogos, festas, atividades

recreativas, culturais e cívicas.

Por meio do Grêmio, os alunos podem se organizar para representar os

interesses do estudante e fazer com que eles participem de forma mais direta nas

atividades e gestão de sua escola. A organização dos estudantes em torno do

Grêmio Estudantil abre um espaço democrático para opinião, debate e

solidariedade.

Mais ainda, qualquer aspecto da vida que envolva a ação coletiva não se desliga de uma busca de realização pessoal. Tanto a dimensão coletiva como a individual se integram em uma mesma configuração que incide sobre as individualidades, pois o ator coletivo e o sujeito se constróem juntos (TOURAINE, apud SPOSITO, 2003).

Também é preciso ter em mente que as relações no interior da ação coletiva

são conflituosas, principalmente num ambiente onde a faixa etária é problemática,

como no caso da adolescência, que para Trassi, é

Concebida como uma fase difícil do desenvolvimento humano, já surge como problema, quer no interior dos saberes que passam a esquadrinhar os seus aspectos físicos,m psíquicos, sexuais e morais; quer como acontecimento perturbador do cotidiano das relações familiares e de convivência. (TRASSI, 2008)

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Essa concepção define bem os conflitos observados no ambiente escolar,

com relação ao Grêmio Estudantil instituído numa escola de Ensino Fundamental

cujos alunos estão em fase de transição entre infância e adolescência, ou seja, na

faixa etária estabelecida juridicamente pelo ECA – Estatuto da Criança e do

Adolescente (Lei 8.069), como infância (0 a 12 anos) e adolescência (12 a 18 anos).

Os conflitos no interior da ação coletiva juvenil estudados por Melucci, aponta

[...].uma rede de interações tem caracterizado essas práticas, marcadas pelo intenso grau de trocas sociais que propiciam a construção de identidades comuns, de sentimentos de pertencimento e de canais de expressividade. Os momentos de visibilidade são esporádicos e respondem a problemas específicos, pois não há indícios de uma unificação em torno de um ator social privilegiado ou de apenas uma única dimensão do sujeito; os movimentos são protagonizados pelas variadas formas que articulam os interesses juvenis, sejam eles estudantes, rappers, skatistas, negros etc. [...] Por outro lado, ocorre o desenvolvimento de formas múltiplas de participação onde o sujeito interage em vários grupos sem uma adesão integral e total a apenas um, embora seja possível identificar uma forma de pertencimento que se torna às vezes dominante. (MELUCCI, apud SPOSITO, p.16. 1996)

As dificuldades de constituição da ação coletiva juvenil não são poucas e

tendem a ser atenuadas quando uma rede de apoio se consolida.

O Grêmio Estudantil dá aos alunos a possibilidade de transformarem a sua

realidade, proporem alternativas, lutarem por seus direitos e, o mais importante,

exercerem a sua cidadania.

Sem participação não há transformação. É preciso ter voz ativa, manifestar

nossa indignação, propor novas ideias para transformar e melhorar, compartilhar,

divulgar bons resultados e contribuir para que outras pessoas aprendam com nossa

experiência, ou seja, dessa forma estaremos exercendo e construindo nossa

cidadania. Esse é um papel que cabe à escola desempenhar. Estimular a

participação e a ação coletiva dos alunos não só no espaço da instituição mas

também da comunidade.

Na visão do “protagonismo juvenil”, termo esse incorporado à educação por

Costa (2000) o jovem é tomado como elemento central da prática educativa –

participa desde a elaboração, execução e avaliação das ações propostas, e

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extrapola os âmbitos de seus interesses individuais e familiares. Dessa forma,

contribui para a formação de pessoas mais autônomas e comprometidas

socialmente.

[...] a escola é um importante ente da vida comunitária, e tendo em vista que as ações políticas não podem ser restritas ao espaço físico desta, a criação e as ações do Grêmio estudantil não se restringem ao ambiente escolar, mas tendem a disseminar-se por toda a comunidade que o cerca, possibilitando um estreitamento e fortalecimento dos laços comunitários. Através deste fortalecimento do controle social informal, a participação política e a resolução de conflitos no próprio seio da comunidade tornam-se possíveis, o que representa a construção de importantes mecanismos de prevenção à violência e à criminalidade. (COSTA, 2000)

Além de abrir um leque de possibilidades para que os jovens alunos se mobilizem e

se fortaleça em busca de um bem comum, o Grêmio Estudantil, contribui de forma

significativa para o crescimento do cidadão como pessoa e se constitui, de acordo

com Bessa apud Gracio e Aguiar, 2000

[...] em espaço de participação política, de desenvolvimento do pensamento crítico frente à realidade encontrada na educação e de exercício da cidadania, colaborando para a introdução de uma gestão mais democrática, que envolve a participação de todos os atores da comunidade escolar.

Participar organizadamente das atividades da sociedade, da nossa

comunidade e da nossa escola é um ato que precisa ser aprendido, e a melhor

forma de aprender a participar é participando, de maneira a aproveitar todas as

oportunidades que possam surgir e ainda criando outras.

Paro (2000, p.3) afirma que “[...] uma sociedade democrática só se

desenvolve e se fortalece politicamente de modo a solucionar seus problemas se

pode contar com a ação consciente e conjunta de seus cidadãos [...]”. Assim, a

formação política é fundamental para qualquer cidadão e não só para um quadro de

grêmio. Um estudante que vota bem na eleição de um grêmio elegerá futuramente

bons representantes. Por isso, o principal ponto que a escola deve estar atenta

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quando da organização dos estudantes na formação do grêmio estudantil, é fazer

com que eles não fiquem parados. O principal objetivo é conseguir promover várias

atividades como debates, passeatas, recreação cultural e outras mobilizações, com

a finalidade do exercício para a cidadania.

4. A legislação

No Brasil, ainda se observa a ausência de estudos que reconstituam os

modos como foram concebidas as ações públicas destinadas aos jovens no século

XX. O movimento estudantil surge oficialmente em 1937 com a criação da UNE –

União Nacional de Estudantes, como entidade representativa dos estudantes

universitários e secundaristas. Em 1968, durante um conflito entre jovens estudantes

e o governo militar, a sede da UNE é invadida e incendiada e Getúlio Vargas, então

presidente do Brasil, coloca todas as organizações estudantis em condição de

ilegalidade. Somente em 1985 o Grêmio Estudantil aparece legalmente instituído.

O Grêmio Estudantil dá aos alunos a possibilidade de transformarem a sua

realidade, proporem alternativas, lutarem por seus direitos e, o mais importante,

exercerem a sua cidadania. A importância da participação dos alunos e do

movimento estudantil, do qual o grêmio faz parte, é legitimada pela legislação

brasileira, com as leis nº 7.398/85 que dispõe sobre a organização de entidades

estudantis de 1º e 2º graus que assegura aos estudantes o direito de se organizar

em grêmios; a Lei Complementar nº 444/85; a Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e

do Adolescente), que garante, sem seu artigo 53, o direito dos estudantes de se

organizar e participar de entidades estudantis; a Lei nº 9.394;96, que, ao estabelecer

as diretrizes e bases da educação, garante a criação dos Grêmios Estudantis.

O Regimento do Estabelecimento de Ensino em questão regulamenta o

Grêmio Estudantil em seu Título II, Capítulo I, Seção III:

[...]

Art. 22 O Grêmio Estudantil é o órgão máximo de representação dos

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estudantes do estabelecimento de ensino, com o objetivo de defender os interesses individuais e coletivos dos alunos, incentivando a cultura literária, artística e desportiva de seus membros.

Parágrafo Único – O Grêmio Estudantil é regido por Estatuto próprio, aprovado e homologado em Assembleia Geral, convocada especificamente para este fim.

[...]

Dessa forma, as instâncias colegiadas legitimam sua existência dentro de

uma escola democrática, uma vez que se constituem em

movimentos importantes de participação de alunos, funcionários, professores e pais, atuando diretamente na desconstrução das relações hierárquicas de poder e na ruptura com os processos de exclusão que têm levado ao fortalecimento dos conflitos entre alunos e professores, como fenômeno de resistência. Neste sentido, a democratização do processo de gestão deve garantir, através do exercício permanente de análise e de ações participativas o acesso igualitário às informações a todos os segmentos da comunidade escolar e a aceitação da diversidade de opiniões e interesses (BESSA, 2000, p.32)

A escola deve buscar caminhos para que a comunidade se aproprie do seu

espaço e a perceba como sua. O Grêmio Estudantil dentro da escola de ensino

fundamental poderia assim ser entendido como possibilidade de formação política

do aluno para o exercício consciente e responsável da cidadania.

Por se tratar de uma organização que faz parte de uma Instituição de Ensino,

o Grêmio necessita de um Estatuto. Esse documento legalmente instituído e

reconhecido traz os princípios básicos da instância e garante a sua organização e

autonomia através da definição dos objetivos e finalidades da entidade, a estrutura

administrativa, o processo eleitoral, os direitos e deveres de seus membros, etc.

“Estatuto é a regulamentação de um Estado, associação, corporação,

companhia, etc; lei orgânica, regulamento.” (MAGNO Dicionário Brasileiro de Língua

Portuguesa, 1995, p.401), e serve para regulamentar questões essenciais, referente

ao comportamento, atitudes das pessoas dentro de uma sociedade comum.

Apesar de não ser obrigatório o registro em cartório, no caso do Grêmio da

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Escola de Ensino Fundamental Regular, o Estatuto necessita ser aprovado em

Assembleia Geral para ter validade legal. O registro só é necessário se o Grêmio

possuir bens a serem administrados, porém, nesse caso, os cargos de Presidente e

de Diretor Financeiro têm que ser ocupados por alunos maiores de 18 anos.

5. Plano de Ação

Toda gestão necessita de um planejamento para executar suas atividades. O

Grêmio é uma organização coletiva que interage e discute os problemas da escola

sem dissociá-los do contexto geral, permitindo o debate e o amadurecimento

político. Formado por alunos que têm o mesmo interesse político e social, é

construído e fortalecido a partir do confronto de ideias, mobilização e articulação

política, sendo um espaço que permite ao aluno valorizar e perceber a importância

da participação na tomada de decisão frente ao Projeto Político Pedagógico.

A elaboração e implementação de um plano de ação, deve acontecer por

meio de um trabalho sério, bem planejado, do qual todos queiram participar e do

qual se sintam valorizados, orgulhosos e com a certeza de pertencimento ao grupo.

Os membros da diretoria, previamente capacitados e orientados, deverão construir o

Plano de Ação, que contemple os objetivos e os resultados esperados expressos de

maneira clara, as tarefas bem definidas e bem distribuídas, um cronograma realista,

momentos e formas de prestação de contas dessas ações também definidos e

obedecidos. A diretoria do Grêmio deve se lembrar de que está exercendo uma ação

que tem impactos sobre a comunidade interna e externa da escola. Portanto, é

preciso que esteja preparada para responder bem pelos seus atos.

Todo e qualquer plano de ação deve ser elaborado por meio de um processo

de discussão aberto e democrático. O plano de ação é extremamente importante

para garantir o atendimento de diversos assuntos. Para isto é necessário determinar

prioridades, quem é responsável pela resolução de determinado problema e ter

certeza de que todos estão envolvidos no trabalho de uma forma ativa. Também

permitirá verificar se as tarefas estão sendo cumpridas nos prazos determinados.

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Concebendo a gestão escolar como democrática, se faz necessário que as

ações e práticas que a revelam não se limitem ao interior da escola. Referenciados e

orientados pelo Projeto Político Pedagógico, há que se planejar e prever ações e

práticas que busquem a integração e o engajamento com outras instâncias,

associações, secretarias, projetos etc, visando a troca de experiências,

contextualização com a comunidade e com o entorno da escola, e assim dar um

significado social para o seu trabalho.

A avaliação das ações traçadas no Plano deve ser constante, sistemática e

processual, por isso há que se prever encontros para sua realização, previamente

agendados e cumpridos. Esses momentos são de extrema importância para o

sucesso dos trabalhos. Dada a natureza flexível do Plano de Ação, esse momento

permitirá a correção de desvios observados, realimentação e até mesmo a mudança

nos objetivos caso seja necessário.

6. Preparando Dirigentes

O governo do Paraná, através da Secretaria de Estado da Educação lançou a

Cartilha “Grêmio Estudantil na rede estadual de ensino do Paraná”, como parte de

uma proposta de política de expansão, criação e reativação de grêmios estudantis

na rede estadual de ensino do Paraná,

Segundo consta no portal educacional “Dia a dia Educação”, na página

“Grêmio Estudantil”, um dos objetivos desse trabalho era o de buscar fortalecer e

resgatar o papel do Grêmio Estudantil por entender que toda representação

estudantil deve ser estimulada pelo fato de apontar um caminho para a

democratização da escola pública, e também por entender que o grêmio é um apoio

à Direção numa gestão colegiada.

A Cartilha foi elaborada a partir de um trabalho de equipe após reuniões

realizadas com representantes da UPES (União Paranaense de Estudantes) e

UBES (União Brasileira de Estudantes) e contou com a participação de várias

coordenadorias da Secretaria de Estado da Educação.

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Com o auxílio da Cartilha, que descreve de forma bastante simples e didática,

no modelo passo a passo, sobre como criar o Grêmio na escola, como organizar as

eleições, constituir as chapas, além de sugestões de atas, Estatuto e legislação, o

esperado é que os alunos se apropriem mais tranquilamente dessas informações,

que no decorrer da sua trajetória estudantil, se constituirão em ferramentas

facilitadoras da sua organização e participação política na gestão e defesa dos seus

interesses frente à construção e implementação do Projeto Político Pedagógico.

O caminho que conduz à autonomia, assim como o caminho para a

democracia precisa ser aprendido. Até que o jovem consiga formular para si um

projeto de vida, ele precisa aprender a crer em si mesmo, em suas capacidades e

potencialidades e também a reconhecer suas limitações. Além disso, ele necessita

passar por experiências que o ajudem a se conhecer, a identificar suas forças e

tendências, a identificar o papel que deseja ocupar na coletividade.

O Grêmio Estudantil enquanto espaço de participação política, de

desenvolvimento do pensamento crítico e de exercício de cidadania, colabora para a

introdução de uma gestão mais democrática quando envolve a participação de todos

os atores da comunidade escolar. Nesse contexto, de acordo com Bessa (2000, p.

39) “a organização do corpo discente é fundamental para o enfrentamento do

coletivo nas suas divergências, para ampliação da capacidade de negociação e para

o fortalecimento dos vínculos que tecem a rede social na escola”

Conscientes de seu papel transformador, os estudantes poderão discutir,

opinar e participar da construção de uma escola democrática, e assim protagonizar a

transformação da realidade, conquistando esse espaço de participação política,

rompendo com a hierarquia presente, legitimada pela autoridade estabelecida

tradicionalmente para cada segmento da escola (Duhalde in BESSA, 2000). A escola

assim, na visão de Paro (2002):

Só será uma organização humana e democrática na medida em que a fonte desse autoritarismo, que ela identifica como sendo a administração (ou a burocracia, que é o termo que os adeptos dessa visão preferem utilizar), for substituída pelo espontaneísmo e pela ausência de todo tipo de autoridade ou hierarquia nas relações vigentes na escola. (PARO, p.12, 2002)

18

A gestão democrática só se efetiva na escola quando existe uma proposta

pedagógica que a exige. Dessa forma, a escola somente oportuniza o referido

aprendizado da cidadania e da participação política quando adota a participação

geral nas questões administrativas e na elaboração de políticas.

A efetiva participação dos alunos na escola exige explicitações claras a

respeito do caráter dessa participação. Nesse contexto, vale a afirmativa de que a

participação também precisa ser aprendida, incentivada e embasada. O processo de

formação dos alunos para a participação deve incluir a noção de valorização do

coletivo sobre o individual e a predominância da ética e do compromisso com a

melhoria da qualidade da educação. Trata-se de instalar na escola, uma política de

formação contínua direcionada para um trabalho com as representações.

A criação de uma dinâmica, na qual cada segmento possa em conjunto

elaborar suas próprias regras, permitindo a circulação do poder e a construção

individual e coletiva do conhecimento e de novos instrumentos de comunicação e

enfrentamento. Uma verdadeira cultura de formação e participação na qual esteja

subentendida a ideia de processo e conquista, pois o agir e refletir criticamente

sobre a prática é parte de um processo social mais amplo.

7. Considerações Finais

Acreditando na importância da participação efetiva dos alunos na gestão

escolar e na relevância que a organização dos segmentos estudantis tem para o

exercício da cidadania e da democracia, iniciou-se esse trabalho com o Grêmio

Estudantil, concebendo-o como espaço coletivo social e político de organização,

participação e de construção de novas relações de poder dentro da escola.

Não obstante ainda não seja uma realidade concreta na maioria das escolas,

sua trajetória é histórica e tem buscado ao longo do tempo reafirmar seu papel na

comunidade como instância colegiada legítima dentro das instituições escolares.

O pragmatismo de realizar festas culturais e esportivas, mesmo que

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secundarizadas pelos ideais dos gestores fazem parte do processo pedagógico e

constitui-se em possibilidades de exercício de trabalho coletivo de organização,

liderança, administração e responsabilidade. Evidencia o caráter de pertencimento

ao grupo e promove o desenvolvimento de habilidades e potencialidades, revela

talentos e lideranças e reforça o caráter cooperativo e colaborativo do Grêmio

Estudantil.

Empiricamente falando, dentro da realidade da Escola de Ensino

Fundamental, a autonomia do Grêmio Estudantil ainda está em processo de

constituição e, pode-se constatar que há uma necessidade emergente da escola e

também da comunidade em romper de vez com os paradigmas da escola tradicional

acerca da visão que detêm sobre o aluno. Ainda se observam alguns resquícios de

autoritarismo e relações hierarquizadas de poder dentro da escola, capazes de inibir

iniciativas ou ações mais arrojadas dos alunos.

De certo, a faixa etária dessa fase da vida estudantil é conflituosa e gera

incômodos que demandam atenção e trabalho redobrado por parte dos gestores e

professores, porém não pode constituir-se em impedimento para a participação, que

também precisa ser aprendida.

A gestão escolar democrática, compartilhada, expressa no Projeto Político

Pedagógico da escola observada, precisa ser legítima. Através de ações que

possam promover a interação e o diálogo aberto entre todos os segmentos da

sociedade é possível pensar numa escola que respeita a diversidade de opiniões

transformando-as em possibilidades a favor da qualidade do trabalho pedagógico.

Essa gestão política, voltada para o interesse da maioria, deve buscar instâncias de

consenso que permitam a participação da escola e da comunidade, tomando o

cuidado de não permitir o corporativismo e a manipulação político-partidária.

A constatação observada nos depoimentos dos conselheiros e até mesmo

dos alunos, de que é essencial a promoção de capacitação e formação para que os

integrantes do Grêmio e sua diretoria possam de fato exercer o seu papel,

conscientes de sua abrangência e função, é uma tarefa da qual a escola não pode

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declinar, consonante com a sua função social de formar cidadãos, com condições e

capacidade de exigir e exercer a cidadania plena e responsável.

Por ocasião da organização das novas chapas para concorrer à diretoria do

Grêmio Estudantil no ano subsequente à implementação do presente projeto,

pondero que os avanços foram poucos e se restringiram à elaboração de um Plano

de Ação durante a campanha e a preocupação e cuidado que os alunos tiveram com

o perfil de cada diretor na composição da chapa. A antiga diretoria, da qual esperava

a iniciativa em deflagar o processo eleitoral, se omitiu da função, secundarizando as

decisões para a equipe gestora da escola que acabou por assumir toda a

responsabilidade pelo processo eletivo.

Reitera-se que a participação necessita de aprendizado e de oportunidade.

Aos poucos ela vem se solidificando como prática necessária vinculada aos

princípios da gestão escolar democrática preconizada no Projeto Político

Pedagógico da escola. Nesse sentido, as políticas educativas deveriam prever

estratégias de formação para desenvolver e preparar a comunidade escolar para um

modelo de gestão capaz incorporar a diversidade e compartilhar a responsabilidade.

8. Referências

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