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O GL OBO � 4-1 1 68 g i 1 1 Do velh o rtul uma cultu ra nova A OBRA completa d José Caràoso Pires deverá ser em brev e lançada n o Brasil por tuna editõra ca. rioca . Eis uma notícia auspic iosa, que t alve_z impl i- que em ua pergunta ime- dia t a, por parte do leit or : - Quem é José Cardoso Pires? Faz pouco tempo, tive oca- sião de ant ar. a um dos ma. is ativos ensaísta s brasile i- ros. uma série de obras sig- nif icat ivas d a moderna lite- ratura portuguêsa - ensaio, poesia, t eatro, romance. Algo mais do que os três ou qua- , _ , . tro nomes habitualmente ci-. , tados entre nós e mes mo j aim, qu ase sempré d e oit i- va : José Régi . Miguel Tor- ga, Gaspar Simões. Ferna n- do Namora . O ensaísta. em qu estão é ho- me m de espantosa c apacida de de l eitura. Foi a uma liYra- ria d a Rua Miguel Couto es- pe ial ista em livros . rtu- gueses, e levou para casa vultoso carregamento : Rodri- gues Mi guéis, Man uel da Fon- seca, José Gomes Ferrei ra , ] Agustina Bea Luís. Alves - dol. gério de Freitas. Or- lando da Costa, Urbano Ta- vares Rodrigues. Aug usto. Abe - . lair a. Brnnqui nho da Fonse- ca, Virgíl io Ferrei ra, enfim, o materi al d;ponive l na oc a- sião. De qu ebra. algu en - saí stas de horizontes para êle surp re endentement e amolos : António José Saraiva, Óscar Lope s. Jacinto d Prado Coe- lho, Alexandre Pinh eiro Tór - res. c reio que, també m, pes- quisadores e sociólogos. c omo Joel Ser rão. Alberto Fe rrei ra . Flausino Torr . mo- dernos portas liri /soc ia is, os que, em u m context.o a tual, de envolveram a 1inl 1a pa r t i - cipant de que sã patrono. Gomes Le1 e Gu erra Jun- queiro ( ou. n o ca co de Gomes Ferrei ra. a té mesmo um João de De us) : os q ue . em éas - de ribombante retórica e re- prim idas an a ústia exist en- cia, el evaram o estro par a lrm dos páramo. � solitários ou seba,ti anis a�. prócmando inser ir-se na ida coleUva e tr duzir - lhe os espantos e 0.5 sofriment os . Com o p ode? Par a. o ens aísta. foi a •e- velação d e um mundo literal- ment e desconhecido e dupla- ment e fascinante: 1) uma cul- tura tradicionalmente rica não estava morta, na realidade não fôra destruída, como C trombeteara com prppósir .;u a t c.no ; ;�1.�i . :; ; ,J µ.1 ,·aleli 1 1 1 0 de ca m i n ho. en- tre formas mais represen- tat i a das du literaturas, amb+s se perseguindo e com- pletando como ramos do me.5- mo tronc o. A litera tura po rtug uêsa o organiz ara com o. movi men- tos do OrfetL e da Presença: o s·t o né o - realis t a coimbrão, em 45. desencadeara re vol u - ção consumad a na déca ds dos anos 50 com a cons a gra - ção dos corifeus da escola e dos jovens que, entretanto, alçavam võo animado pela praxis de Fernando Pe-soa - a que conf er e ao arti ta a dign ida de de servi r e não d e servi r-se. Uma t arde, descia o enaís - ta a Rio Branco com um ro- mance do ciclo Port Wine tle Redol ob o braço . . Encontra um a mio, secretário d e re- dação de um matu tino, que · J saúd a aos br a d os : - Vejam só. Lend o roman- ce português. Como pode? Escudou - se o ensaísta r vali a de sua abertura recen- te. Vinha de redescobrir o Velho Portugal (por favor não confu ndir com Portugal- . 1.M e 1i-Avózinho) e, mais do que is so - explic ou -. talvez um Portugal nõvo, forj ado e des envol vido cul t u ralment e à revelia d as ger ações br asile i - ras pós-getulianas. Um Por - tugal apaixon ad ament e volta- do par a a cri ação literá ria, editan do milhares e mi1 1u - res e tí tulos p or an o e man- tendo revistas cult urais e nível inter n a e i o na 1. entr e elas "O Tempo e o Modo". "Sear a Nov a" e "V é r t i ce ", perf eitament e sincronizads com os fluxos e refluxos do pensa m e n t o, em todos os quadrantes. També m o Brasil e se1 1s expo ent es cult urais cont it1 11- vam empolgando as ter túlias, a t al pont o que muito poeta. jovem andou cal cando seus va idos de estr eant e nos ver- Armindo Bla nco sos de Bandeira, Drummond mado por Fernando Lop. o e Joã o Cabral, enquant o ro- diretor de "Belarmino". Virá. manci d ú ti mas saf · a , a guma vez aqui? Qu antos , sobretudo alent ejano. e r i b - désce l ado do Oceano, c onhe- teianos. c o m o - . ntu nes da cem a i mportância v i ta l de Silva, se aber aY am se m r�- Carlos de Oliveira na modcr- ervas na font e d o m esmo na literatura port u gu ê s· ? Gr n: eano. - - ---- -< t us! ". hec · Do lad o de cá porém - e o en. aist a havi a sido exe m- plo dis so -, t.ud o se fôra re - duzindo à cat apora infanil das sel etas: Por tugal virou o país de C amões e do Eça, do Herculano e do Castil ho, · o pais folclórico dos vinl1ed, 1s a o Norte e das amendoeiras floridas ao Sul, um país on- de as pessoas fal am po rtu- guês com sota oue e s e dis tfa- guem pela sf m plic idade . de costumes e boas maneiras o - cíais. Um pais em suma, ainda domin ad o nela barrõco na vida cotídl a1 1a como •,a� . rt : ll' me lnmano a ·n1:J 1 , fOP 1rc111 r - a au ição de 1- umas c ompo;çõés c Fe:· - nando Lopes Graç a, iden ti- ficou apena. , no incau . á v e 1 ourives da música por t ug- sa. o zeloso guard ador de m:1 riquíssimo patr imõn io m u�- i- cal ; nm a.migo, a q:m ofre- ci o "Malhad i n has " , b! · a - prima de Aquil ino Ribe iro, eshm1brou- se com a forma, mas não pareceu avali ar a densi da de do conteúd o. A pers pectiva Ma is à esquerda, n o limbo imune ao s audosi smo e a o ver- bo do épico . camoni ano, a concepção é igualment e pos- t i ç a . Paulo Rocha. autor de dois filmes inter nacionalmen- te pr emiados - · ·o Verdes Anos" e ' '1udar de Vi da" -, àescr e,· eu, num debat e em Lisboa. a pers pectiv e que o encararrun no Brasil. q uan- do de sua primeira visit a : - Noos amigos bra sileiros nos véem de duas maneir: uma, como intel ectua de um pa ís t1"ístico, o tal j ardim à beira-mar pl ant ado onde gor - jeia a Amália ; outra, como intel ectuais sob um det ermi - nado regi me . ambos casos, consideram qu e nad a temos a diz er-lhes . Há uma ignorância generalizada acérca do oue fazemos. dos nossos prob iemas , das nossas lutas, d e noo.s acerto como de ncos eríos. Um dos filmes de Paulo c ha, "Os Verdes Anos", foi vendi do par a a Franç a, Ale - manh a, Canadá e outros p aí - ses . Em u ma só noile foi vis - to por dois milhões e psoas , através da TV franc es a . desconhecido no Brasil, onde cinema port ugu conti nua a ser sinónimo de "A Sev era• e "Capas Negras", f ado & ou - tras vagabundagens . Um dos mais notáve r o- mances portuguéses dêst.e sé- culo - "Uma Abe lha na Chu- Ya", de Carlos de Olive ira, ret rnto da deca dência das grandes casas senhoria is - está no moment o sendo fil- anterior de Ferna ndo Lope. aud acia incursão n domí- n i do Ci ne ma -Verda d e ? Quantos - oara man er a mo a qu - ã o o plano cine- mat og1· áfi co - conhecm obra àe Manuel de Oliv eira, cujos filme s, de "Dour o. Pai· na Fluvi al' ' a ' ' A Caç a' ' , in- tegram hoje o acervo da princ ipa is clnemate ca.s o mundo? Quem s e animou a more r uma palha para que . um filme como "Crin1e mi- Aldeia Velha" , de Manuel Gu i - . mar ã es , base ado na. peça ho- · mõni ma de un1 dos mais des• tac ados dramaturgo- portu- · ué scs coutmuo r àneos - - Bcr - twrüo a m: arenO - COll. E- g-uisse t1ma. vaa no ine- Í1 1as do Brasil, a - pós doi s auo.l · de mó na b agagem do ator que trouxe com esperança de most- lo ao público? São pc ru nt a. que com ple- tam as outras : - Quem é · José Cardoso Pires? - Como é que pod e l er 1·omance por- tugu? E, no e nt ant o, ao chega r agora ao Bril, a obra cós- mogónica de Jé Cardoso Pi- res - "Os Caminheiros", "O Hóspede de Job", "O Anjo An- c o rado", "Cartilha do Mari al- va" (ágil e argut a medit ação sõhre o medi evalismo contem- · porâneo) , "O Render dos He- rói-", ' ' Jog de Azar" e o en- tre tod os admirável e mais re- cent e "O Delfim", um poliedro de várias faces, uma nova re- pres entação d a re alidade qu e ultrapassa os limites conven- cio11ais da narração, como em Cort ázar, mas com o sal cb espilito portugu - já cir - cula ptica mente em tõda a Europa, verLida par a o fran- c, o it a- li ano, o alemã o, o inglês . Se ri a interessante indagRr das scudcries l iterária., infa n- ta-juvenis esp e c ial istas em st.yron, Bur roughs, Lorentz e poetas menores e alien antes da Vil lag e oice, se alma vez ouviram mencionar Jo1;é Cardo.50 Pi re� . Provà velmen- te , sornnam com desdém . Ora, José Cardoso Pires . . . Par a quê troc ar o uísque pela agu ardent e d e cantil? Enfim, é uma questão d . ento que no� últimos anos som·ou do No1ie (Cardoso Pi- res ain a não figur ou n os 10 . mais do Tim e ) e foi desmon- tando, em su a paaaem, exa- tament e o que nos deveria ser ma gr ato - a outra face de uma civil ização que, queira- mos ou não, foi cavoucada aqui por homens qu e tinham uma cultura. Uma cultura que conti nua e rejuv en esce, for rad a de arame f arpado, c o- mo diria. Gomes Ferrei ra., " que, por d emasi ado vi va, ,· - habituou à,; ind iferenç . 5 e intempérie .

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O GLOBO � 4- 1 1 �68 ::_.,_. Pàg i na 1 1

Do velho Portugal

uma cultura nova

A OBRA completa d1>. JoséCaràoso Pires deveráser em breve lançada

no Brasil por tuna editõra ca.rioca . Eis uma notícia auspic iosa, que talve_z impli­que em urna pergunta ime­dia t.a , por parte do leitor :

- Quem é José CardosoPires?

Faz pouco t.empo, tive oca­sião de apontar. a um dos ma.is ativos ensaístas brasilei­ros. uma série de obras sig­nificativas da moderna lite ­ratura portuguêsa - ensaio, poesia, tea tro, romance . Algo mais do que os três ou qua-

,_,. tro nomes habitualmente ci - ., tados entre nós e mesmo j assim, quase sempré de oiti-

va : José Régi:>. Miguel Tor­ga, Gaspar Simões . Fernan­do Namora .

O ensa ísta. em questão é ho­mem de espantosa capacidade de lei tura. Foi a uma liYra­ria. da Rua Miguel Couto es­pe�ialista em livros . portu­gueses, e levou para casa vultoso carregamento : Rodri­gues Miguéis, Manuel da Fon­seca , José Gomes Ferreira ,.

] Agustina Bessa Luís. Alves Re­dol . Rogério de Freitas. Or­lando da Costa , Urbano Ta­vares Rodrigues. Augusto .Abe- . la ira. Brnnquinho da Fonse­ca, Virgílio Ferreira, enfim , o material dfa;ponivel na oca­siã o . De quebra . alguns en­saístas de horizontes para êlesurpreendentemente amolos : António José Sara iva , ÓscarLopes. Jacinto d"I Prado Coe­lho, Alexandre Pinhe iro Tór­res. creio que, também, pes­quisadores e sociólogos. comoJoel Serrão. A lberto Ferreira .Flausino Torres . .I!: os mo­dernos portas liri /soc iais ,os que , em um context.o atual,de envolveram a 1inl1a parti­cipant-:: de que sã.o pa.trono.Gomes Le::11 e Guerra Jun­queiro (ou. no caco de GomesFerreira. a té mesmo um Joãode Deus) : os que. em épocas­de ribombante retórica e re­prim idas anaúst ia existen­c iais, elevaram o est ro paral'tlrm dos páramo.� solitáriosou seba ,t ianisl'a� . prócmandoinserir-se na \'ida coleUva et r:a duzir-lhe os espantos e 0.5sofrimentos .

Como pode?

Para. o ensaísta . foi a. •e­velação de um mundo literal­mente desconhecido e dupla.­mente fascinante : 1) uma cul ­tura. tradicionalmente rica não estava morta, na realidade não fôra destruída , como l'C trombeteara com prppósi r1J<i .;u a tc."'no,'.].;- � ;;�1.� i ..... :;; i'l ,J µ.1 ... ,·aleli 1110 de ca m i n ho. en ­tre as formas mais represen­tat i\'a das duas literaturas, amb11s se perseguindo e com­pleta ndo como ramos do me.5-mo tronco.

A litera tura portuguêsa T1<io organiza ra com o. movimen­tos do OrfetL e da Presença : o sUJ·to néo-realista coimbrão,em 45 . desencadeara. revolu­ção consumada na décads.dos anos 50 com a. consagra­ção dos corifeus da escola. edos j ovens que, entretanto,a lça vam võo animado pelapraxis de Fernando Pe-soa- a que confere ao arti;:ta adignidade de servir e não deservir-se.

Uma tarde, descia o en.-aís­ta a Rio Branco com um ro­mance do cicl.o Port Wine tle Redol s:ob o braço .. Encontra um a mig:o, secretário de re­dação de um matutino, que ·J saúda aos brados :

- Vejam só. Lendo roman­ce português. Como pode?

Escudou-se o ensaís ta rrn. valia de sua abertura recen­te. Vinha de redescobrir o Velho Portugal (por favor não confundir com Portugal- .

1.Me1i-Avózin. ho) e, mais doque isso - explicou -. talvezum Portugal nõvo, forjado e desenvolvido culturalmente à revelia das gerações brasilei­ras pós-getulianas. Um Por­tugal apaixonadamente volta­do para a criação literária ,ed itando milhares e mi11u­res el e títulos por ano e man­tendo revistas culturais cten ível intern a e i o n a 1 . entreelas "O Tempo e o Modo"."Seara Nova" e "V é r t i ce",perfeitamente sincronizadilscom os fluxos e refluxos dopensa m e n t o, em todos osquadrantes .

Também o Brasil e se 1 1sexpoentes cultura is conti t111::i­vam empolgando as tertúlias ,a tal ponto que muito poeta.jovem andou calcando seusva g'idos de estreante nos ver-

Armindo B lanco

sos de Bandeira, Drummond mado por Fernando Lopes. o e João Cabral, enquanto ro- diretor de "Belarmino" . Virá. mancis:ta das ú timas saf ·a , a guma vez aqui? Quantos, sobretudo alentejano. e rib<i - désce lado do Oceano, conhe-t e ianos . c o m o - . ntunes da cem a importância vit al de Silva, se abeberaYam sem r�- Carlos de Oliveira na modcr-s:ervas na fonte do mesmo na li teratura português· ? Grn:eiliano. - - -----<:llJ,aJJl!.tus._i!Dn". hecem ·

Do lado de cá porém - e o en. aista havia sido exem­plo disso -, t.udo se fôra re­duzindo à ca tapora infan::ildas seletas : Portugal virou opaís de Camões e do Eça, doHerculano e do Castilho, · o pais folclórico dos vinl1ed,1sao Norte e das amendoeirasfloridas ao Sul, um país on­de as pessoas falam portu­guês com sotaoue e se distfa­guem pela sfmplicidade . decostumes e boas maneiras ;;o­cíais. Um pais em suma,ainda dominado nela barrõcona vida cotídla11a como •,a�. rt!'� : ll '"'l melnman o a ·n 1é':J1, fOP 1rc1-611 r-a au ição de 1-i:.umas compo::;;çõés .:lc Fe:·­nando Lopes Graça , identi­ficou apena. , no incau. áve1 ourives da música portugué­sa . o zeloso guardador de m:1 riquíssimo patrimõnio m u�-i­cal ; nm a.migo, a q:\em of':!re­ci o "Malhadinhas", :>b!·a ­prima de Aquilino Ribeiro,cleshm1brou-se com a forma,mas não pareceu avaliar adensidade do conteúdo.

A perspectiva

Mais à esquerda, no limbo imune ao saudosismo e ao ver­bo do épico . camoniano, a concepção é igualmente pos ­tiça . Paulo Rocha. autor de dois filmes internacionalmen­te premiados - ·· o Verdes

Anos" e '':\1udar de Vida" -, àescre,·eu , num debate em Lisboa. a perspectiv ele que o encararrun no Brasil. quan­do de sua primeira visita :

- Nossos amigos brasileirosnos véem de duas maneiras : uma, como intelectuais de um pa ís tll1"ístico, o tal jardim à beira-mar plantado onde gor­jeia a Amália ; outra, como intelectuais sob um determi­nado regime . Em ambos os casos, consideram que nada temos a dizer-lhes . Há uma ignorância generalizada. acérca do oue fazemos. dos nossos probiemas, das nossas lutas, de nosso.s acerto,; como de ncssos eríos .

Um dos filmes de Paulo Rocha, "Os Verdes Anos", foi vendido para a França, Ale­manha , Canadá e outros paí­ses . Em uma só noile foi vis­to por dois milhões ele pessoas, através da TV francesa . i,: desconhecido no Brasil, onde cinema português continua a ser sinónimo de "A Severa•• e "Capas Negras", fado & ou­tras vagabundagens .

Um dos mais notáveis ro­mances portuguéses dêst.e sé­culo - "Uma Abelha na Chu­Ya", de Carlos de Oliveira, retrn to da decadência das grandes casas senhoriais -está no momento sendo fil-

anterior de Fernando Lope1;. audaciosa incursão nos domí­n ios do Cinema-Verdade ?

Quantos - oara man era mo.- a qu - ão 1io plano cine­matog1·áfico - conhec-::m ;'I,

obra àe Manuel de Oliveira, cujos filmes, de "Douro. Pa i· na Fluvial' ' a. ' 'A Caça ' ' , in­tegram hoje o acervo da.s principais clnemateca.s (\o mundo? Quem se animou a morer uma palha para que . um filme como "Crin1e mi­Aldeia Velha", de Manuel Gui - . marães, baseado na. peça. ho- · mõnima de un1 dos mais des• tacados dramaturgo- portu- · <>:uéscs cout.emuoràneos -- Bcr­twrüo ;:;am:arenO - COll. E ­g-uisse t1ma. vae-a n o c: ine­Í11as do Brasil, a-pós dois auo.l · de mófo na bagagem. do ator que <> trouxe com esperança de mostrá-lo ao público?

São pcrl('unta. que comple­tam as outras : - Quem é · José Cardoso Pires? - Como é que pode ler 1·omance por­tuguês?

E, no entanto, ao chega r agora ao Brasil, a obra cós­mogónica de José Cardoso Pi­

res - "Os Caminheiros", "O Hóspede de Job", "O Anjo An­corado", "Cartilha do Marial­va" (ágil e arguta. meditação sõhre o medievalismo contem-· porâneo) , "O Render dos He­rói-", ' 'Jogos de Azar" e o en­tre todos admirável e mais re­cente "O Delfim", um poliedro de várias faces, uma nova re­presentação da realidade que ultrapassa os limites conven ­cio11a is da narração, como em Cortázar, mas com o sal cb espilito português - já cir­cula pràticamente em tõda a Europa, verLida para o fran ­cês, o ita-l iano, o alemão, o inglês .

Seria in teressante indagRr das scudcries literária., infan­ta-juvenis e s p e c ialistas em st.yron, Burroughs, Lorentz e poetas menores e alienantes da Vil lage "\ oice, se algUma vez ouviram mencionar Jo1;é Cardo.50 Pire..� . Provàvelmen­te, sornnam com desdém . Ora, José Cardoso Pires . . . Para quê trocar o uísque pela aguardente de cantil?

Enfim, é uma questão df' . \'ento que no� últimos anos som·ou do No1ie (Cardoso Pi­res a incla não figurou nos 10 . mais do Time) e foi desmon­tando, em sua passaaem, exa­tamente o que nos deveria ser mais grato - a outra face de uma civilização que, queira ­mos ou não, foi cavoucada. aqui por homens que tinham uma cultura . Uma cul tura. que continua. e rejuvenesce, forrada de arame farpado, co­mo diria. Gomes Ferreira., " que, por demasiado viva , ,·i, ­habituou à,; indi ferenç:i.5 e É! .; intempéries: .