o gato do sr. grey - hemeroteca digitalhemerotecadigital.cm-lisboa.pt/efemerides/... · 2018. 8....

1
DIÁRIO ·DE LISBOA 28 OUTUB RO 1969 O gato do sr. O CATO I NCUS d·o senho·r Crey t ocava Mo-rs e e fa.l ava chinês. O ga1 to i1ng lê·s d·o s enho·r Crey (Anthony, ei·s o s· eu no· me - e mu• ito pra zer) o ga·to i•nglês ti•n ha 0 rabo escondi1do e o gato de fo ro . ( Po1 r isso ac•a1bou ma•I: os t emíveoi.s ch i·neses do Revolucão Cultu•ra.I en for ca1 ram -. no ). O gato i.nglês do se· nh or Grey a sort e do dono que foi acusad o de · e spionog•e·m e está, no pát ·rio dos bo·ns sen timentos, sor•ri. dente e dis posto a canta•r tu1do. O gato, ess e mo•rreu no seu posto, ti ma dum e r·ro ci·o·I. É tu.•do. O CARRASCO. DO SOL-NASCENTE . a segurança sCJ.c 1 al dos equí deos Enf orcar um g.acto é óo1sa qu·e só l·embra ao d i abo amarelo. Mas tem· br.ou - garante o s· enhor rey, ex·i· l•ado da Reuter e do lmpéri•o que agora, ao cab o de dois anos de ca- tiVeiro em Xangai, alcanç-o•u o pri· meioro l· ugar nos not iciários e nos mi ·oro lones d.a propaganda com en· tr evistas e declarações. S im , enforcaram-lhe . o gato . E de todas as turliuras pslc ológicas a qu e foi submetido o jorf'l.al<is.ta recu1pera· do foi ! sso que assombrou mais vee- mentemen· te o cidao br itânico. O Times e ó Guardian esco·lheram o crime do gato paira título d a priimel· ra pá{l n.a, deixando na sombra a ii :gura de G•r·ey . .. Al-heios ao facto, os ga1os resi· dentes na G·rã· Bretanha mantêm-se i nacessívefs, Yivendo bem e comen· do melhor. Não são como os nossos, qoo andam pel·os tel hados a faz.er pela v.id.a, nem fogem, desoon,f.i-ados, ao pr,i mei.ro si>nail dos humanos. lo contrár.io. Comportam-se com ou· tra tranqu ili dade, passeiam-<S·e oom um.a i oo.lferenç.a que não pode d ei· xar de i1 nt ·rigar o observador em trân- sito e que o obr,iga a C·ertas consi· derações de ci-vi1 l.id ada. Isto no q ue respeita aos gatos , em relaçã o aos cães a vi<la ai nda é mai,s folga<la na lf'lgla.terra. Uim cão aqui, seja emigrndo ou na· tural, tanto faz, goz.a de uma carta de que é comummente observada e q.ue se el·egeu em em· blema de quail1 idad·e humana e em índ i·ce d e •Civ.f.Mzação. De nonte a su;I, até 01 nde alcança o faro, as l1 i.gas lo· cais muHi1pHcam-se e faz·em apo• io à todo, poderosa So c i edade P.mtectorn dos Ani mais oom "1is1.as a gar antr·em o pr .estígio e a digni dade do maior amig'O do homem . E as·sim é que esoerto . Na Tel·evi são e na Imprensa uma das mai 'O-res per·cen· tagens de publi·c i dade i noi de sobr·e ai.imantas enil atados e arti{los de Piornpeza desHnados aos caninos , e a da ternura d.a i nfânc.ia dis 'trFbuída pelos mass media apar e- ce f.r-equente mente associada ao cão . Ao cão e ao cav al o. Mas n.este caipítul·o - Cavalos - mais r·espei· to aiinda, se · possível. · Desde o pro· verbi.al i1n. teroose que lihe d edica Sua Majestade, a Rainha, até a-0 asisom· broso comerdal que mobnM- za (·eXiposi.ções , rnovkmen1o ed ito· rfal, i :m,post os e s· eg.uros, d eribi es, apostas, etc.) o cavalo OCU1pa o pr ·i· mehr o l1U gar zool óg;ico na esool.a de John Bllll. Le Cheval et Mon Droit . a cavalo que Isa.bel U presid e ao j. urament o anual de todos os re- gi mentos, é a cav a;l'O que se coman- da o render da guard a, dii v<ulgado nos posta is CQll •o· ridos. Ali Kihan e Sor·aya posaram olbcialmen1e para a opinião i.n. g l,esa montados nos · seus pums..san g.ues; Onassi· S, i dem. 0 Do ai lto d·e .u.m belo cavailo po· dem oontem:plar-sie os séculos e o - pens·o eu. CAVALO (SEM TRólA Ã VISTA) Um cavalo 1J1ive, um cavalo morr e. Um •Cavalo :tem as suas g.lór.ias e o seu ocaso, aqui como noiJ'tr.a part e qual quer deste mundo tr an sit ór io. 110 en1 an to que d istingu ir en tre sob a protec ção b rit âni i.ca e os aza- r. es daquel.es que os maus f ados l ançaram para sooí·ed a<l es meno·s lavor -eoi das Caval·os de trabalho, aqui, nas do· ces H•has, não têm o destino cruel do ti<r o de mi ser i córd ia ou <la mão do aç-ouguei ro: Wi ght espera por el·es. Exacto . Wight, a famosa ilha dos el egan- tes, da·s ense·adas de yachts e das regatas do Duque de Edimburgo, t em pucó-Mcos e tranqu• lf os sanctua· · riss (assim mesmo: sanctuaries, co- mo são con. h-ec i dos) onde os roc i- nan.tes das minas e do campo vão ter mi nar os seus dias em ameno . e merecido r·epouso. Há outras estân· oias semelhantes po:r to<la a l•ng• la· terra, mas Wt{JM, hoje em dia, está para os cavalo·s refor mados como Br . ighton está para a burgueS1ia apo· sent ada e para os so.ciali.smos de Wil·son Esta z·oofi l1a sal utar desenvolve-se pefo rei no com devo t ado en·tusiasmo e grande abnegação d.as po.pulações tocais . Ocupa a lmpr ·ensa, mobi1 l1 iza o di1a a d·ia. Recentemente alguns so- oiólogos ver i:f i ca r am com prova for· ma da que à int·rodução de exo11i- mos no vestuár-io vem co rroesponden- do uma adopção <le novos ai .n i mais à vida domés tica. Assim, o esqui• lo, o pequeno l eopardo , aves raras. mangustos. sagui. s, hamsters e o ma is que <lá a fauna d isponível, tu - do ingressa no lar bni itâni i co sem despr imor para a co·nsag·rada trilo· gia. do Gato, Cavalo & Cão Houve protestos e .deba tes púb l1 · c o'S oontra ! 'SSO, mas sem -resulta<l o. É que n.a democra'Ci:a de Wilson as regras das i .nsti1uições seguem-se à letra e não favoni >ti·smos. Ainda tempos um stunt man foj levado aos tri buna s p1e• la So·c i.edade Pr otector.a dos Animais por ter ac· t uado em público com um or ocod ii lo c·ujas mandíbul as es tavam covarde- mente amarradas c.om um arame. OS ANIMAIS DO SR. TORY Enquanto o gato do ex-pnsion eii ro Grey tev.e o Nm dos hero·is e passou à histór fa como ilustração das llb er- dades hmoladas, os oo-nserv ador·es n.g·l·eses, ·r·eun : dos no seu Co.ng•res·so anuail, pretendem repor a pena d e morte por enf·o• rc a:mento. À falta de pon·tos de eia com o ·so• oi.a 1b is.mo trabat Mst a, este à ordem do di a. Es- te ·e o d.a Rodésia, olaro. No resto, até as suas d ivergênc ias encontram alguns aipoios n'O cam.po adv· eriS· ário, oomo é o caso do prog.r.essi'io Observer q ue, em airti go de fund o, declarava qu e os 500 mR I desempr·e· gado.s i ng 1 leses con·sNtu i am a de- monstração de uma poilítica i in1el.i· gente. Inteligente porque prnvava que o seguro de traba+ho garant ii .a, por si só, meio·s de subsis· tênoia aos que não trabalhavam ; e po•rque ·essa reserva de <lesocupados não tarda· r·ia a ser mobifüada com a .evolução oresoent·e da produção industni• ail , dado que a balança 1hmportação-ex· port ação ti nha aUngido, pela pr .i mera vez de há mui to'S anos, o equ iilí· e ,porque o desemprego em so- ciedades bem organizadas (?) é uma crise de cresoimento; e porque - -- ---- Gr ey mais isto e m.ai ·S aquilo nfim era uma política inteli gente ln<Ji:r-eotamen.te, O 0 r O g ' e S Si VO Observar trazia novos apoios ao ex- tremismo do . deputado cons·ervadof Enoch Powell -na sua campanha c CJ.n· tr.a a emj gração e o·s co/oured. peo· pies. Para cooft.r ma-lhe os núme- rps, · e depCJ.is, pela traqu ez.a do s ar·· gumêntos; o alarme. Alarme· em que? Alarme em tudo até no índi ce <l e homio1d ios que. segundo o' de Powell, cresce assus1a _d or.amente na Ing later- ra e tem :como ter.r·eno tavorito as áreas sociais pobres e com probl•emas d·e 'ntll'Qração - os imgrantes, subentende-se. Num debate · na TeJ.ev1são, Powelt pre tendeu defend er as suas teses entre apLilpos e argumentos que o d estr ukam. Disse-se crfstão. e pa· r·eoe que é; vive em Lond res o nde a oruel<l ade para com os é punida por lei . Deseja apenas, h'O· nestamente, oo i nter .esse de pôr co· bro ao d esempr ·ego e ao ta· er uma de e de- volvê-los com respei tosa s sauda· ções. · Ver d ade se dii.ga que, par a ou•tros co,legas de P owell , o dossíer do cr.1 - me tel)1 um a art i.ulação ditere nt e. Para · e.t.es, tori· es de boa c epa, o homicíd1 io alastra por que a poH c ia anda <l esarmada. A polícia d es arma- da é uma i nstituição que granjeo.u o resipeito de todo 0 Mundo e a conf i ança do cidadão (o que etecti- vamente é verd ade - nota minha, à margem), e modi.f.icar este prestígio senia rnvnoso. Logo é a br an<l ura do digo P.enal que etá errnd'O. Logo que desencorajar o crim e. agra- van<lo a pena. Logo o r eg reso à fo. r- ca. Quod erat.e demonstrandum BEHAN, O AVISO IGNORADO Eu bem sei que os oaises de costumes morigerados e de pena mansa nem por ·isso deixam de atin- g,ir a per.petuidade do castigo Vê-se fsso nalg·uns raros países da Europa e conhecem-se os í nvios processos por qu·e se alcança ess·e Mas regressar oni ,stãm ent e à pena de morte é e terrível nom país onde as leis se cumprem e não admi•tem f.l.exões de o.casião. O grnnde Br e nd han Behan. em The Quare Fel/ow, il·ustrou a lit er a- tu•ra unfversal com um arrojado l·i be- lo contrn a pena cap tal. O rebe,lde de nos seus anos de cadeia angar i ou uma exper nc ia que, on<ie- pendentemente de toda a argumen- taçã'O convenc i onal , d estró i os bons raoi oc infos de Mr . Pow eM e conser· v.ador-es c orrelativos. Mas The Quare Fellow ·está nas estant es das e há muito que .não é representado nos pa1 hcos do Rei-no. Do se nit enoiado desor lo por Beihan não há eoc·o que perconra a c idade ou a memórla. De momen· to , o que se sa be, pela boca des· d.el'llhosa de Mr. Gr-ey, é que algures, na OhÍlíl a, se enfo.rcou um gato LON[)iRm - Otvbu b1'0. José 'Cardoso Pir es

Upload: others

Post on 18-Mar-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: O gato do sr. Grey - Hemeroteca Digitalhemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/... · 2018. 8. 18. · O gato do sr. O CATO INCUS d·o senho·r Crey tocava Mo-rse e fa.l ava chinês

DIÁRIO ·DE LISBOA 28 OUTUBRO 1969

O gato do sr. O CATO INCUS d·o senho·r Crey t oca va Mo-rse e fa.l ava chinês. O ga1to i1ng lê·s d·o senho·r Crey (An t hony, ei·s o s·eu no·me - e mu•ito prazer) o ga·to i•nglês ti•nha 0 rabo escondi1do e o gato de foro . (Po1r isso ac•a1bou ma•I: os t emíveoi.s ch i·neses do Revol ucão Cultu•ra.I en forca1ram-.no). O ga•to i.ng lês do se·nhor Grey nã~ t~ve a sorte do dono que foi acusado de· espionog•e·m e iá cá está, no pát·rio dos bo·ns sent imentos, sor•ri.dente e dis posto a canta•r t u1do. O gato, esse mo•rreu no seu posto, vítima dum er·ro pol i~ ci·o·I. É tu.•do.

O CARRASCO. DO SOL-NASCENTE . a segurança sCJ.c1al dos equídeos

Enforcar um g.acto é óo1sa qu·e só l·embra ao d iabo amarelo. Mas tem· br.ou - garante o s·enhor G·rey, ex·i· l•ado da Reuter e do lmpéri•o que agora, ao cabo de do•is anos de ca­ti•Veiro em Xangai, alcanç-o•u o pri· meioro l·ugar nos not iciários e nos mi·oro lones d.a propaganda com en· trevistas e declarações.

Sim , enforcaram-lhe. o gato. E de todas as turliuras pslcológicas a qu e foi submetido o jorf'l.al<is.ta recu1pera· do fo i !sso que assombrou mais vee­mentemen·te o cidadão br itânico. O Times e ó Guardian esco·lheram o crime do gato paira título d a priimel· ra pá{l i·n.a, deixando na sombra a ii:gura de G•r·ey . ..

Al-heios ao facto, os ga1os resi· dentes na G·rã·Bretanha mantêm-se inacessívefs, Yivendo bem e comen· do melhor. Não são como os nossos, qoo andam pel·os telhados a faz.er pela v.id.a, nem fogem, desoon,f.i-ados, ao pr,imei.ro si>nail dos humanos. P~ lo contrár.io. Comportam-se com ou· tra tranquil idade, passeiam-<S·e oom um.a ioo.lferenç.a que não pode d ei· xar de i1nt·rigar o observador em trân­sito e que o obr,iga a C·ertas consi· derações de ci-vi1l.idada.

Isto no que respeita aos gatos, porq u~ em relação aos cães a vi<la ainda é mai,s folga<la na lf'lgla.terra. Uim cão aqui, seja emigrndo ou na· tural, tan to faz, goz.a de uma carta de priiv~lé g.i os que é comumment e observada e q.ue se el·egeu em em· blema de quail1idad·e humana e em índ i·ce d e •Civ.f.Mzação. De nonte a su;I, até 01nde alcança o faro , as l1i.gas lo· cais muHi1pHcam-se e faz·em apo•io à t odo,poderosa So c iedade P.mtectorn dos Animais oom "1is1.as a garanti· r·em o pr.estíg io e a dignidade do maior amig'O do homem. E as·sim é que está oerto . Na Tel·evisão e na Imprensa uma das mai'O-res per·cen· tagens de publi·cidade inoide sobr·e ai.imantas enilatados e arti{los de Piornpeza desHnados aos caninos, e a ~magem da ternura d.a infânc.ia d is'trFbuída pelos mass media apare­ce f.r-equente mente associada ao cão.

Ao cão e ao cavalo. Mas n.este caipítul·o - Cavalos - mais r·espei· to aiinda, se ·possível. ·Desde o pro· verbi.al i1n.teroose que lihe dedica Sua Majestade, a Rainha, até a-0 asisom· broso ci•rou~1o comerdal que mobnM­za (·eXiposi.ções, rnovkmen1o ed ito· rfal, i:m,postos e s·eg.uros, d eribies, apostas, etc.) o c avalo OCU1pa o pr·i· mehro l1Ugar zoológ;ico na esool.a d e John Bllll. Le Cheval et Mon Droit.

~ a cavalo que Isa.bel U preside ao j.uramento anual de tod os os re­g imentos, é a cava;l'O que se coman­da o render da guarda, diiv<ulgado nos postais CQll•o·ridos. Ali Kihan e Sor·aya posaram olbcialmen1e para a opinião públ ~ca i.n.g l,esa montados nos · seus pums..san g.ues; Onassi·S, idem. 0 Do ailto d·e .u.m belo cavail o po· dem oontem:plar-sie os séculos e o imp~nro - pens·o eu.

CAVALO (SEM TRólA Ã VISTA)

Um cavalo 1J1i•ve, um cavalo morre. Um •Cavalo :tem as suas g.lór.ias e o seu ocaso, aqu i como noiJ'tr.a parte qualquer deste mundo t ransitór io. Há 110 en1anto que d istinguir entre

sob a protecção britânii.ca e os aza­r.es daquel.es que os maus fados lançaram para sooí·ed a<l es meno·s lavor-eoidas

Caval·os de trabalho, aqui, nas do· ces H•has, não têm o destino cruel do ti<ro de miser icórd ia ou <la mão do aç-ougueiro: Wight espera por el·es. Exacto.

Wight, a famosa ilha dos el egan­tes, da·s ense·adas de yachts e das regatas do Duque de Edimburgo, tem pucó-Mcos e tranqu•lfos sanctua·

· riss (assim mesmo: sanctuaries, co­mo são con.h-ec idos) onde os roc i­nan.tes das minas e do c ampo vão terminar os seus dias em ameno . e merecid o r·epouso. Há outras estân· oias semelhant es po:r to<la a l•ng•la· terra, mas Wt{JM, hoje em d ia, está para os cavalo·s refo rmados como Br.ighton está para a burgueS1ia apo· sentada e para os so.ciali.smos de Wil·son

Esta z·oof il1a salutar desenvolve-se pefo reino com devotado en·tus iasmo e grande abnegação d.as po.pulações tocais. Ocupa a lmpr·ensa, mobi1l1iza o d i1a a d·ia. Recentemen te alguns so­oiólogos veri:ficaram com prova for· mad a que à int·rod ução de exo11i-s· mos no vestuár-io vem corroesponden­do uma adopção <le novos ai.n imais à vida doméstica. Ass im, o esqu i•lo, o pequeno leopardo, aves raras. mangustos. sagui.s, hamsters e o mais que <lá a fauna d ispon ível , tu­do ingressa no lar bniitâniico sem desprimor para a co·nsag·rada tr il o· gia . do Gato, Cavalo & Cão

Houve protestos e .d ebates púb l1· co'S oontra !'SSO, mas sem -resul ta<l o. É que n.a democra'Ci:a de Wilson as regras das i.nsti1uições seguem-se à letra e não admi~em favoni>ti·smos. Ainda há tempos um stunt man foj levado aos tribuna i·s p1e•la So·c i.edade Protecto•r.a dos Animais por ter ac· tuado em público com um orocod iilo c·ujas mandíbulas estavam covarde­ment e am arradas c.om um arame.

OS ANIMAIS DO SR. TORY

Enquanto o gato do ex-pnsion eii ro Grey tev.e o Nm dos hero·is e passou à histórfa com o ilustração das llber­dades hmoladas, os oo-nservador·es i·n.g·l·eses, ·r·eun :dos no seu Co.ng•res·so anuail, pretendem repor a pena d e morte por enf·o•rca:mento.

À falta de pon·tos de d.~s·oordân· eia com o ·so•oi.a1bis.mo trabatMsta, trou~eraim este à ordem do dia. Es­te ·e o d.a Rodésia, olaro . No resto, até as suas d ivergências encontram alguns aipoios n'O cam.po adv·eriS·ário, oomo é o caso d o prog.r.essi'io Observer que, em airtigo de fund o, declarava que os 500 mRI desempr·e· gado.s ing1leses con·sNtu iam a de­monstração d e uma poilíti ca iin1el.i· gente. Inteligente porque prnvava que o seguro d e traba+ho garantii.a, por si só, meio·s de subsis·tênoia aos que não trabalhavam; e po•rque ·essa reserva de <lesocupados não tarda· r·ia a ser mobifüada com a .evolução oresoent·e da produção industni•ail , dado que a balança 1hmportação-ex· portação t inha aUngido, pela pr.imei· ra vez de há muito'S anos, o equ iilí· b ~io ; e ,porque o desemprego em so­ciedades bem o rganizadas (?) é uma c rise de cresoim ento; e porque

-------

Grey mais isto e m.ai·S aqu ilo lõ nfim era uma política inteligente

ln<Ji:r-eotamen.te, O 0 r O g ' e S Si VO Observar trazia novos apoios ao ex­tremismo do .deputado cons·ervadof Enoch Powell -na sua campanha cCJ.n· tr.a a emjgração e o·s co/oured . peo· pies. Para já cooft.rma-lhe os núme­rps, · e depCJ.is, pela traqu ez.a dos ar· · gumêntos; ~ub l1inha-l h e o alarme.

Alarme· em que? Alarme em tudo até no índ ice <l e homio1d ios que. segundo o' n~ionaHsmo de Powell, cresce assus1a_d or.amente na Ing later­ra e tem :como ter.r·eno tavori to as áreas sociais mai~s pobres e com probl•emas d·e 'ntll'Qração - os imi· grantes, subentende-se.

Num debate · na TeJ.ev1são, Powelt pretendeu defend er as suas teses entre apLilpos e argumentos que o d estruk am. Disse-se crfstão. e pa· r·eoe que é; vive em Lond res onde a oruel<lade para com os an~mais é punida por lei. Deseja apenas, h'O· nestamente, oo inter.esse de pôr co· bro ao d esempr·ego e ao or~me, ta· Z·er uma esco~ha de ~migran tes e de­volvê-los com respeitosas sauda· ções. ·

Verd ade se dii.ga que, par a ou•tros co,legas d e Powell , o dossíer do cr.1-me tel)1 uma arti.c·ulação d iterente. Para ·e.t.es, tori·es de boa cepa, o homicíd1io alastra porque a poHc ia anda <lesarmada. A políc ia desarma­da é uma instituição que granj eo.u o resipeito de todo 0 Mundo e a conf iança do cidadão (o que etecti­vamente é verd ade - nota minha, à margem) , e mod i.f.icar este prestígio senia rnvnoso. Logo é a bran<l ura do Código P.enal q ue etá errnd'O. Lo go há que desencorajar o crim e. agra­van<lo a pena. Logo o reg reso à fo.r­ca. Quod erat.e demonstrandum

BEHAN, O AVISO IGNORADO

Eu bem sei que os oaises de costumes mor igerados e de pena mansa nem por ·isso deixam de atin­g,ir a per.petuidade do castigo Vê-se fsso nalg·uns raros países da Europa e conhecem-se os ínvios processos por qu·e se alcança ess·e r~m . Mas regressar oni,stãmente à pena de morte é sign~fiicativo e terrível nom país onde as leis se cumprem e não admi•tem f.l.exões de o.casião.

O grnnde Bre nd han Behan. em The Quare Fel/ow, il·ustrou a litera­tu•ra unfversal com um arrojado l·ibe­lo contrn a pena cap i·tal. O rebe,lde de Dub~fn , nos seus anos de cadeia angariou uma experiênc ia que, on<ie­pendentemente de toda a argumen­taçã'O convenc ional , d estró i os bons raoioc infos de Mr. PoweM e conser· v.ador-es correlativos .

Mas The Quare Fellow ·está nas estantes d as b~vranias e há muito que .não é representado nos pa1hcos do Rei-no. Do senitenoiado desori·lo por Beihan não há eoc·o que perconra a c idade ou a m emórla. De momen· to, o que se sabe, pela boca d es· d.el'llhosa de Mr. Gr-ey, é que algures, na OhÍlíla, se enfo.rcou um gato

LON[)iRm - Otvbu b1'0.

José 'Cardoso Pires