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1 O FRACASSO ESCOLAR NA PRIMEIRA SÉRIE DO ENSINO MÉDIO: UMA PROPOSTA DE SUPERAÇÃO. Salette Vailati Mussoi 1 Isabel Cristina Neves 2 RESUMO O objetivo deste artigo é contribuir para a superação, ou minimização do problema do fracasso escolar nas primeiras séries do Ensino Médio. Os fatores são vários e complexos, mas não se pode fazer de conta que eles não existem, pois afetam diretamente a vida de muitos alunos. O trabalho é resultante das atividades de implementação do projeto “Intervenções para Promover o Sucesso de Alunos do Ensino Médio: Isto é Possível?” o qual foi realizado dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE em 2008/ 2009, SEED - PR. A idéia de pesquisar o tema partiu da inquietação diante de observações realizadas no cotidiano do Colégio onde muitos alunos passam por sucessivas reprovações ou por situações de evasão escolar. Neste contexto, foi desenvolvido um trabalho de pesquisa, através da aplicação de um questionário com perguntas abertas e fechadas, com o objetivo de descrever e analisar as causas do fracasso escolar segundo a visão de docentes, alunos e realizar as possíveis intervenções. Na sequência procedeu-se a implementação das atividades elaboradas, sendo que, os resultados do estudo apontam dados significativos para reflexão sobre o problema do fracasso escolar no Ensino Médio. Palavras-chave: Ensino Médio. Fracasso escolar. Motivação. Aprendizagem. ABSTRACT The purpose of this article is to contribute to overcoming or minimizing the problem of school failure in the first year of high school. The factors are various and complex, but one cannot pretend that they do not exist, because they directly affect the lives of many students. The work and activities resulted from implementation of the project “interventions to promote the success of high school students: is this possible?” 1 Autora e professora PDE da área de Pedagogia do Município de Laranjeiras do Sul, Estado do Paraná. 2 Mestra em Educação pela UEPG, professora de Metodologia de Ensino no Departamento de Pedagogia da UNICENTRO.

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O FRACASSO ESCOLAR NA PRIMEIRA SÉRIE DO ENSINO MÉDIO:

UMA PROPOSTA DE SUPERAÇÃO.

Salette Vailati Mussoi1

Isabel Cristina Neves2

RESUMO

O objetivo deste artigo é contribuir para a superação, ou minimização do problema do fracasso escolar nas primeiras séries do Ensino Médio. Os fatores são vários e complexos, mas não se pode fazer de conta que eles não existem, pois afetam diretamente a vida de muitos alunos. O trabalho é resultante das atividades de implementação do projeto “Intervenções para Promover o Sucesso de Alunos do Ensino Médio: Isto é Possível?” o qual foi realizado dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE em 2008/ 2009, SEED - PR. A idéia de pesquisar o tema partiu da inquietação diante de observações realizadas no cotidiano do Colégio onde muitos alunos passam por sucessivas reprovações ou por situações de evasão escolar. Neste contexto, foi desenvolvido um trabalho de pesquisa, através da aplicação de um questionário com perguntas abertas e fechadas, com o objetivo de descrever e analisar as causas do fracasso escolar segundo a visão de docentes, alunos e realizar as possíveis intervenções. Na sequência procedeu-se a implementação das atividades elaboradas, sendo que, os resultados do estudo apontam dados significativos para reflexão sobre o problema do fracasso escolar no Ensino Médio.

Palavras-chave: Ensino Médio. Fracasso escolar. Motivação. Aprendizagem.

ABSTRACT

The purpose of this article is to contribute to overcoming or minimizing the problem of school failure in the first year of high school. The factors are various and complex, but one cannot pretend that they do not exist, because they directly affect the lives of many students. The work and activities resulted from implementation of the project “interventions to promote the success of high school students: is this possible?”

1 Autora e professora PDE da área de Pedagogia do Município de Laranjeiras do Sul,

Estado do Paraná. 2 Mestra em Educação pela UEPG, professora de Metodologia de Ensino no Departamento

de Pedagogia da UNICENTRO.

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which was realized within the Education Development Program – EDP in 2008/2009, SEED, PR. The idea of researching the issue went before the restlessness of observations performed in the routine of college where many students go through repeated failures or situation as dropouts. In this context, we developed a research project through the application of a questionnaire with open and closed questions, aimed at describing and analyzing the causes of the second vision of the teachers, students, and realize the possible interventions. The sequence proceeded with the implementation of activities developed, and the results of the study indicate significant data for reflection on the problem of school failure in high school.

Keywords: High School. School Failure. Motivation. Learning.

1. INTRODUÇÃO

Há muito tempo, o fracasso escolar tem gerado preocupações no campo

educacional e, embora existam várias pesquisas que abordam o assunto, o

problema persiste e continua fazendo suas vítimas ano após ano.

Algumas teorias responsabilizam a família ou a realidade social vivida pelo

aluno. Outras culpam os governantes, as políticas públicas aplicadas à educação e

há quem culpe o aluno por seu desinteresse em relação aos estudos, tendo como

conseqüência o mau desempenho escolar.

O termo fracasso escolar aponta para a ideia de que o objetivo estabelecido

para a educação, que é a apropriação do conhecimento não foi atingido, ou, foi

atingido parcialmente. A escola não pode ignorar este fato, pois é o local onde se

processa o ensino e a aprendizagem dos alunos com suas histórias de vida,

culturas, dificuldades sociais, enfim, com suas especificidades e necessidades e, se

por algum motivo não obtiveram êxito neste processo, não devem ser

responsabilizados como únicos culpados pela situação apresentada.

Embora exista a reflexão de que o problema pode estar no processo

ensino-aprendizagem, poucas ações concretas estão sendo realizadas para mudar

este processo de tal forma que atenda às reais necessidades dos alunos.

O insucesso escolar do aluno é visto pela escola como falta de interesse. O

aluno que fracassa é diagnosticado como alguém que apresenta “problemas de

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aprendizagem” (BOCK, 2003, p.135). Diante desse quadro a escola se isenta dessa

responsabilidade e se justifica dizendo que as oportunidades são iguais para todos

e, se o aluno não atingiu o objetivo esperado é porque não se dedicou

adequadamente.

Segundo Paro (2001) o fato de a escola tentar isentar-se de culpa, pode

fazer com que ela se acomode e deixe de buscar meios para solucionar o problema,

de melhorar a qualidade do ensino e, assim, além de não promover o interesse do

aluno pelo conhecimento, estará contribuindo com sua exclusão.

O autor declara que:

Nunca é a escola que reprova, a escola que não ensina, a escola que falha; a ênfase é sempre no aluno que é reprovado, que não aprende, que fracassa. As reprovações, assim, servem ao duplo propósito de isentar a escola por sua incompetência em ensinar, e de produzir pseudocidadãos inculpados pela usurpação de seu acesso ao saber, de que em verdade são vítimas. (PARO, 2001, p.47).

Qual é o papel da escola diante desta situação? Ignorar a realidade ou

buscar um olhar diferente para a solução do problema evitando assim, o julgamento

futuro de que os alunos abandonam os estudos ou passam por reprovações porque

não se esforçaram o suficiente para desenvolver suas potencialidades?

Portanto, refletir sobre a realidade do aluno, sobre os seus problemas é

compromisso de todos os envolvidos no processo educativo, criando possibilidades

de aprendizagem e de superação dos conflitos, a fim de romper com o estigma do

aluno como o “único” culpado pelo seu fracasso.

Segundo Arroyo (2000) o fracasso escolar é um reflexo dos problemas

sociais, da política de exclusão que está presente em todas as instâncias sociais,

mas que isso não significa inocentar a escola de suas obrigações, pois “está nas

mãos dos educadores fazer as intervenções” necessárias (ARROYO, 2000, p.34).

Não podemos enxergar a escola como alternativa redentora para os

problemas sociais, mas com capacidade de realizar uma reflexão sobre os fatores

internos que levam tantos alunos a vivenciarem situações de desigualdade ou

exclusão.

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Sacristán (1998) afirma que o professor é considerado como um “intelectual

transformador”, e por isso, tem o “compromisso político de provocar a formação da

consciência,” tendo em vista o desejo de despertar no cidadão o senso crítico e a

construção de uma sociedade mais justa e igualitária. (SACRISTÁN, 1998, p.374)

Cortella (1998) compara o fracasso escolar a uma epidemia e chama a

atenção sobre a necessidade de nos debruçarmos sobre as causas intra-escolares

que levam tantos alunos ao insucesso. Ele enfatiza que:

Sustentado pelos pilares da evasão e da repetência, é usual serem apontadas causas extra-escolares: precárias condições econômicas e sociais da população, formação histórica colonizada, poderes públicos irresponsáveis ou atrelados aos interesses de uma elite predatória etc. Todas essas são causas reais e impactantes, mas não são as únicas. Devemos nos debruçar também sobre as causas intra-escolares do fracasso. (CORTELLA 1998, p.141).

Esteban (2001) corrobora com essa idéia afirmando que:

A preocupação com o fracasso escolar é constante entre muitos pesquisadores e educadores. O foco é posto na individualidade, que ilumina os argumentos dominantes no debate sobre o fracasso escolar. Várias são as justificativas usadas, recolhidas de aportes teóricos diversos e algumas vezes divergentes. Embora tratem, quase exclusivamente, das crianças das classes populares. (ESTEBAN, 2001, p.25).

São justamente estas crianças, os alunos das escolas públicas que “vêm de

realidades sofridas, de oportunidades negadas, de sonhos desfeitos, mas ávidas por

aprender” (Neves, 2008, p.192), as maiores vítimas da sociedade excludente e que,

no entanto, são as que mais precisam da escola para melhorar sua qualidade de

vida.

A autora nos lembra que o número expressivo de reprovações na educação

básica, relaciona-se também, com a preocupação excessiva de alguns docentes em

relação à avaliação, transformando o objetivo principal que é a aprendizagem, num

plano secundário. O que se valoriza é a nota, não só pela escola, mas também pelos

pais e a sociedade em geral.

Entende-se que, ao planejar suas aulas, os professores pensam primeiro na

forma de avaliar e a preocupação com a nota passa a ser o detalhe mais importante

no processo de ensino. Porém, não podemos esquecer que o próprio sistema cobra

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esta postura dos docentes. A reflexão deve existir no sentido de torná-la parte do

processo e não apenas como verificação da aprendizagem dos alunos em

resultados finais.

E na busca de caminhos que nos conduzam ao sucesso escolar não

podemos limitar-nos somente a denunciar as causas do fracasso; devemos refletir e

interagir com ações concretas que possibilitem atingir o resultado desejado.

Esteban (2001) recomenda que haja diálogo para que se evidencie a

pluralidade de vozes, idéias existentes no cotidiano escolar, que permita e estimule

a reflexão sobre o processo desenvolvido na sala de aula e a busca de formas

coletivas de intervenção no sentido de superar os obstáculos e garantir o acesso e a

permanência dos alunos na escola. O horizonte é a construção de práticas

pedagógicas favoráveis ao sucesso de todos os alunos da escola pública, sem

exclusão.

As conseqüências do fracasso escolar vão além da falta de esforço próprio

do aluno e têm, portanto, sido atribuído a diversos fatores. Mas, como mudar o foco?

Que ações serão necessárias para transformar um problema tão complexo e de

conseqüências sérias na vida de tantas pessoas? E, por que estudar o tema

fracasso escolar nas primeiras séries do Ensino Médio?

Através de observações constantes, relato de professores em Conselhos de

Classe e mesmo com os dados estatísticos ao final de cada ano letivo percebeu-se

que um grande número de alunos das primeiras séries, encontra dificuldades para

avançar em sua escolarização. Surgiu-nos então, a necessidade de pesquisar o

tema com o objetivo de compreender mais claramente quais motivos levam tantos

alunos a fracassarem nesta série e a possibilidade de encontrar formas de amenizar

o problema.

2. A PESQUISA

Diante das constatações levantadas, optou-se pela aplicação de um

questionário a alunos do Ensino Médio e que já vivenciaram situações de insucesso

escolar. O instrumento de pesquisa, também foi distribuído aos professores do

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Estabelecimento, mas somente alguns demonstraram interesse em participar e o

devolveram preenchido, mesmo assim, foi possível verificar o que pensam sobre o

tema e propor ações a partir destas análises e reflexões.

Ao serem questionados sobre as causas que levam alguns alunos a não

obterem sucesso em sua vida escolar, os próprios discentes apontam à falta de

interesse, dedicação e hábito de estudar como um dos principais motivos do

fracasso escolar.

Outro fator apontado e que chamou atenção refere-se aos problemas

familiares. A estrutura familiar sofreu grandes mudanças e, o fato do filho ser

adolescente faz com que os pais ou responsáveis deixem de acompanhar a sua vida

escolar acreditando não ser mais necessário. No entanto, a realidade nos mostra

que o apoio, o incentivo e o acompanhamento dos pais são imprescindíveis também

nesta fase da vida.

A necessidade de trabalhar para auxiliar a família também é citada na

pesquisa. Sabe-se que o aluno trabalhador tem menos tempo para dedicar-se aos

estudos. Mesmo assim, após uma jornada de trabalho, vai para o colégio (muitas

vezes cansado e com fome) e precisa ter muita força de vontade para assistir as

aulas e realizar as atividades.

Diante da realidade socioeconômica da família ele tem consciência de que

precisa conciliar as duas atividades, mas, neste caso, pelas circunstâncias vividas, o

estudo ficará em segundo plano e, mesmo permanecendo na escola tentando

concluir a série, não tem a força suficiente para dedicar-se adequadamente para ter

um bom rendimento.

Outros itens apontados pelos alunos referem-se à dificuldade em entender

alguns conteúdos, a problemas na relação professor/aluno, inclusive citam que

quando não há afinidade com o professor a disciplina torna-se “chata” de estudar.

Relataram que a influência das más companhias prejudica os estudos, pois

junto vêem as brincadeiras “bobas” durante as aulas, as faltas, os trabalhos não

realizados e assim por diante.

Percebeu-se que os alunos têm clareza de quais são as suas

responsabilidades para obter sucesso e as conseqüências negativas de suas

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atitudes como a falta de interesse, de dedicação e de hábitos de estudo. Mas, o que

fazer com esses jovens, com tanta vitalidade que lhe é peculiar para que tenham

interesse pelas aulas? Como motivá-los?

Na opinião dos docentes pesquisados os fatores que contribuem para o

fracasso escolar estão relacionados principalmente ao desinteresse do aluno pelos

estudos, por não terem o hábito de estudar, por falta de perspectivas no meio social

e profissional, e por isso, não têm motivação para aprender.

Segundo os professores há problemas familiares e a necessidade de

trabalhar para ajudar na renda familiar também é relevante. Os próprios pais não

colaboram no sentido de incentivar os filhos sobre a importância de estudar.

Também apontaram os conflitos da adolescência, o sistema educacional e de

avaliação como fatores de interferência no seu processo de aprendizagem.

Pelo fato do problema acontecer com mais freqüência nas primeiras séries

do Ensino Médio, acreditam estar relacionado com a imaturidade do aluno,

adaptação ao novo ciclo, defasagem de conteúdos básicos e por não serem

autônomos e persistentes. Enfim, para os professores, esses alunos demonstram

apatia, comodismo durante as aulas e não estudam.

Os apontamentos de alguns professores confirmam algumas pesquisas já

realizadas sobre a relação do insucesso do aluno com a falta de interesse, e desse

modo o foco passa a ser visto como problema individual, mas reforça-se aqui a

importância de um trabalho coletivo, com os mesmos objetivos, refletindo sobre o

papel e a contribuição de cada um para que estudar seja mais significativo e

interessante para os alunos.

E, essa tarefa exigirá do professor criatividade para estimular os estudantes,

sobretudo àqueles que apresentarem dificuldades de aprendizagem ou falta de

motivação para estudar.

Ao serem questionados sobre as ações de enfrentamento do fracasso

escolar que poderiam ser implementadas no colégio as respostas foram quase

unânimes falando em palestras sobre motivação, reuniões envolvendo pais e alunos,

atividades que incentivem o aluno a estudar para que se conscientizem da

importância dos estudos para melhorar sua qualidade de vida. Portanto, desenvolver

atividades que envolvam a comunidade escolar, estimulando a participação e o

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compromisso de todos os envolvidos no processo, na tentativa de superação do

problema.

Diante dos fatos abordados, análises e leituras realizadas, percebeu-se a

complexidade do problema e a relevância de se buscar caminhos que modificassem

o quadro que ora se apresentava.

Neste sentido procurou-se elaborar uma proposta de trabalho, enfocando o

tema motivação e hábitos de estudos, com a intenção de despertar maior interesse

dos alunos pelos conteúdos abordados pelos professores em sala de aula, e, por

consequência, tornar o conhecimento mais significativo. O material com as

atividades aplicadas aos alunos das primeiras séries do Ensino Médio, pais e

professores faz parte de um caderno pedagógico que foi elaborado durante o

Programa de Desenvolvimento Educacional - 2008 e implementado no Colégio no

primeiro semestre de 2009.

2.1 CONVERSANDO COM OS PROFESSORES

Para trabalhar a unidade destinada aos professores tratando da importância

da reflexão e discussão coletiva sobre o problema apresentado nas primeiras séries

do Ensino Médio, organizou-se uma reunião com apresentação do Projeto de

Intervenção, a análise da pesquisa realizada com alunos, professores e de dados

estatísticos sobre evasão e reprovação dos três últimos anos do estabelecimento de

ensino.

Realizou-se também, uma palestra destacando a relevância do papel do

professor no processo de transformação da escola com a professora orientadora

deste trabalho, visto que, os professores estão diretamente envolvidos no processo

de ensino.

Em seguida foi proposta uma atividade em grupo onde os docentes

reuniram-se por área de conhecimento, discutiram e elencaram ações possíveis de

serem desenvolvidas e que contribuiriam com os objetivos desta proposta para a

redução do fracasso escolar. Inclusive com relatos de experiências positivas que

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foram realizadas em sala de aula para alunos com defasagem de conteúdos

básicos.

Na primeira questão, os docentes deveriam apontar experiências realizadas

em sala de aula, visando superar dificuldades apresentadas pelos alunos. Relataram

que consideraram positivas as aulas desenvolvidas com a utilização do laboratório

de informática, de pesquisas e leituras na biblioteca, da TV multimídia e as aulas

práticas no laboratório de Ciências.

Salientou-se também, a conversa “franca” com os alunos, os contratos

didáticos, as palavras de incentivo, as orientações sobre a melhor forma de estudar

em cada disciplina. Citaram que o fato de ouvir as colocações deles sobre as aulas,

isto é, quando oportunizaram momentos para que relatassem as dificuldades

encontradas no decorrer das aulas, esclarecendo suas dúvidas, eram ações

simples, mas que perceberam diferença na postura dos alunos, e que estas,

refletiam de forma positiva na dedicação dos mesmos.

Outro grupo de docentes destacou a auto-avaliação e, também, os

momentos de conversa para que juntos encontrassem a melhor forma de solucionar

os problemas da turma e para que as aulas fossem mais produtivas.

Os professores perceberam que, quando preparam suas aulas utilizando-se

de metodologias diferenciadas despertam mais facilmente o interesse do aluno,

tornando-se uma prática e um aprendizado mais prazeroso e um trabalho menos

estressante.

Na segunda questão deveriam propor ações possíveis de serem

desenvolvidas pelos professores em sala de aula e que contribuíssem com o

interesse dos alunos pelas aulas. Apontaram a utilização dos recursos tecnológicos

sempre que possível para trabalhar os conteúdos, a realização de sondagens ou

observações constantes principalmente dos alunos com dificuldades de

aprendizagem e plano de estudos àqueles com defasagem de conhecimentos

básicos.

Um grupo de docentes sugeriu a formação de grupos de estudos entre os

alunos em contraturno, organizado pelo professor da disciplina que estão

encontrando dificuldades e também, o resgate da família na escola, pois,

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observaram que, quando os pais acompanham a vida escolar do filho, este é mais

dedicado e o seu desempenho é melhor.

Convém lembrar a fala dos professores na pesquisa realizada, quando

questionados sobre o porquê do problema acontecer com mais frequência nesta

série de ensino, ficando evidentes questões como imaturidade do adolescente,

conflitos da fase, problemas familiares, de adaptação ao novo nível de ensino,

defasagem de conhecimentos básicos, problemas na relação professor/aluno,

desinteresse dentre outros.

Nos relatos dos alunos em relação aos professores, percebeu-se a

dificuldade em fazer questionamentos quando não entendem o conteúdo, seja por

timidez ou por receio dos colegas e do próprio professor que não permite espaço

para esclarecer as dúvidas.

Por tais motivos, considerou-se necessário o desenvolvimento de posturas e

encaminhamentos diferentes em sala de aula com as primeiras séries, observando e

realizando sondagens, diagnósticos constantes para que os problemas não se

tornassem ainda mais complexos e dificultassem as possíveis intervenções, pois,

cabe à escola ter esse olhar diferenciado e ajudar o aluno para que este se sinta

incluso no processo e desafiado a vencer os obstáculos.

Ajudar o aluno com dificuldades não significa ignorar a realidade do mesmo

e simplesmente aprová-lo sem os conhecimentos necessários, mas encontrar meios,

propor novas formas de intervenção para que ele se motive para aprender.

Exigir o esforço do aluno indicando caminhos, ensinando aqueles em

situação escolar delicada, ao aluno trabalhador que dispõe de pouco tempo, é uma

das funções dos educadores para que não lhes seja privado o acesso aos

conhecimentos acumulados historicamente e promova as mudanças necessárias em

sua vida.

As diferentes estratégias utilizadas pelos professores estão sendo

analisadas e aprimoradas de acordo com a realidade ou necessidade dos alunos,

utilizando-se de criatividade com intuito de ser convincente em suas argumentações

e desafiando os discentes para a apreensão do conhecimento. É o desafio de ver a

sala de aula como um todo, olhando de forma diferenciada para cada um dos

alunos.

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Mesmo conhecendo a dinâmica da sala de aula que é complexa tendo em

vista o número de alunos, pela pluralidade de ideias e outras intervenções e, por

isso, não se teve a pretensão de culpar os professores, mas pretendeu-se, junto

com eles, refletir sobre suas práticas, além de aprender a ouvir os alunos sobre o

que pensam do trabalho desenvolvido pelos docentes.

Assim, ao propor uma unidade direcionada aos professores, a intenção era

de que esta contribuísse para a reflexão sobre o problema das primeiras séries e

diante desta realidade, novos encaminhamentos foram realizados, principalmente

para aqueles alunos em situação de risco de insucesso escolar e que são os que

mais necessitam da escola.

2.2 CONVERSANDO COM OS PAIS OU RESPONSÁVEIS

Quando os filhos são pequenos e estão iniciando a sua escolarização o

acompanhamento é considerado ótimo, no entanto, à medida que crescem, os pais

acreditam não ser mais necessário acompanhar os filhos nas séries posteriores, seja

pela restrição de conhecimentos, falta de tempo ou outros motivos, e dessa forma,

ficando visível o distanciamento da família em relação à vida escolar do adolescente

ou jovem, muitas vezes, só percebendo problemas quando estão em situação de

difícil solução.

O objetivo das atividades destinadas aos pais era de mobilizá-los para que

tivessem conhecimento do quanto é significativa à parceria família/escola para o

sucesso na formação dos seus filhos. Sendo assim, proporcionaram-se vários

momentos de reflexão sobre esta fase da vida - a adolescência - e sobre o seu papel

enquanto pais.

Com base em estudos apresentados por psicólogos e educadores pode-se

afirmar que, os pais contribuem muito em relação ao processo de aprendizagem dos

seus filhos, mesmo sendo eles adolescentes e passando a visão de certa

maturidade e autonomia. Várias são as formas desta contribuição, desde simples

questionamentos sobre as aulas, as atividades realizadas, as relações com os

colegas, os professores e funcionários, e assim, além de observar a visão do filho

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sobre o ambiente escolar é um momento de aproximação entre ambos, de diálogo,

de apoiar ou orientar, pois, muitas vezes, nesta fase, os adolescentes afastam-se

dos pais.

Segundo Ribeiro (2001) quando os filhos recebem atenção, apoio e

incentivos dos pais despertam neles equilíbrio emocional e um sentimento de

confiança que são elementos motivadores e necessários para a criação de um

projeto pessoal de vida. Nesse sentido, o autor enfatiza que:

Os pais devem mostrar os benefícios de estudar e aprender, apresentar uma visão otimista das portas que se abrirão com os novos conhecimentos adquiridos e principalmente procurar ser um exemplo personificado de que estudar e buscar novos conhecimentos são importantes. (RIBEIRO, 2001, p. 45).

Destacou-se que, mesmo pais que não tiveram a escolarização necessária

podem servir de exemplo e auxiliar os filhos através de relatos de suas histórias de

vida, acompanhando como está a freqüência, se realizam as atividades e exigindo

mais empenho quando necessário, sem esquecer-se de valorizar os pontos positivos

existentes para que estes reflitam e adote posturas de esforço, dedicação com as

atividades escolares.

O estudo deve ser visto pelos pais e estudantes como um compromisso que

exige dedicação, pois somente terá sucesso aquele que se esforçar e investir em

seu aprendizado. E, para que isso se efetive, a participação dos pais neste processo

é de suma importância. Delegar somente ao estabelecimento de ensino esta função

é ignorar o seu papel enquanto primeiros educadores.

A responsabilidade na formação dos filhos cabe aos pais para que tenham

atitudes e comportamentos éticos, contribuindo para que se tornem pessoas

realizadas e capazes de intervir no meio em que vivem.

Diante do exposto, os pais ou responsáveis foram chamados para

participarem das discussões que os fizessem refletirem sobre a importância da

família estar unida a escola no acompanhamento do processo ensino/aprendizagem

de seus filhos.

A sociedade vem mudando constantemente e isso faz com que os pais

disponham de menos tempo de convivência com os filhos, refletindo no ambiente

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escolar as conseqüências da falta de limites e da formação de valores. No entanto,

mesmo diante de situações em que as famílias podem estar juntas com mais

frequência, encontrar o caminho para educar com responsabilidade, de forma justa e

equilibrada são ações cada vez mais desafiadoras. É uma tarefa complexa para a

família, porém, quando menosprezada, repercutirá na escola, daí a necessidade de

ambas trabalharem em parceria.

A parte que cabe à escola nesta parceria é trabalhar com o saber

sistematizado e produzido socialmente pela humanidade, garantindo ao aluno não

só o acesso, mas sua permanência, a fim de possibilitar a apreensão desse

conhecimento.

Quanto à família, ficou evidente a necessidade de envolvimento nas

atividades desenvolvidas pela escola, comprometendo-se com a sua parte na

formação de valores morais, princípios éticos, padrões de comportamentos e

atenção a todos os aspectos do desenvolvimento de seus filhos.

Nas escolas a participação das famílias ainda se dá de forma bastante

limitada, seja por falha da escola que só convoca os pais para reuniões de entrega

de boletins, para trabalhar em eventos ou quando há algum problema mais sério

com o aluno ou por falha dos próprios pais que acabam delegando exclusivamente à

escola a tarefa de educar.

Com o objetivo de envolver o maior número de pais ou responsáveis

realizaram-se reuniões em dois períodos e de acordo com o planejamento

apresentou-se a proposta de intervenção e seus objetivos.

Durante a reunião houve uma palestra sobre a família, destacando a

importância do diálogo entre pais e filhos, a formação de valores e limites para que

os filhos sejam mais responsáveis, além de outras características dos adolescentes

e do acompanhamento na vida escolar dos mesmos.

O trabalho realizado foi interessante, embora nem todos os responsáveis

tenham comparecido, comprovando pesquisas existentes sobre a pouca

participação dos pais a partir do momento que o filho entra na adolescência. Para os

ausentes deu-se continuidade ao trabalho em outros momentos através de nova

convocação para que comparecessem ao Colégio para que se discutisse sobre a

relevância da parceria família e escola para o sucesso escolar do aluno.

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Os pais de maneira geral ficaram surpresos diante da apresentação de

dados estatísticos sobre evasão e reprovação que ocorre no Ensino Médio,

principalmente nas primeiras séries do referido Colégio, fizeram alguns

questionamentos e comprometeram-se em participar e acompanhar melhor a vida

escolar do filho.

2.3 CONVERSANDO COM OS ALUNOS

Nas unidades direcionadas aos alunos foram desenvolvidas atividades de

reflexão, enfocando o tema motivação e hábitos de estudos, com a intenção de

despertar o interesse, pois após a pesquisa realizada constatou-se que a “falta de

motivação e interesse” para estudar foi o item mais apontado pelos alunos e

docentes.

A motivação é de suma importância para o ser humano, é um sentimento

que desperta na pessoa o desejo de atingir determinados objetivos. Possibilita que o

indivíduo fique mais atento e perceptivo aos estímulos do meio, inclusive armazene

na sua memória uma maior quantidade de informações e estas com qualidade. Mas,

para isso é necessário interesse, determinação e persistência. Consequentemente,

a falta de motivação produz apatia, o desinteresse, alienação e o insucesso escolar.

Podemos defini-la como uma combinação de forças interiorizadas, que

direciona e impulsiona as ações do indivíduo a uma determinada meta. Segundo

Campos, “a motivação é um processo interior, no indivíduo, que deflagra, mantém e

dirige o comportamento” (CAMPOS, 1987, p.112).

A aprendizagem implica em esforço e atenção e para que os alunos realizem

este esforço de estudar e aprender, será preciso que encontre sentido, o significado

que compense tal empenho.

Para aprender é preciso agir, e para isso se faz necessária à atuação de um

ou mais motivos, que se entende como uma condição interna, que envolve

necessidades e desejos do ser humano e impulsionam na busca para alcançar o

objetivo esperado.

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Ainda para Campos (1987) a imaturidade intelectual e a falta de

sensibilidade aos fins últimos da educação podem, num primeiro momento, não

gerar motivo para realizar o estudo, e então, haverá a necessidade da utilização de

recursos externo motivadores para uma maior eficiência da aprendizagem.

A falta de motivação em sala de aula poderá não contribuir com a

aprendizagem e acarretar problemas disciplinares, conflitos, tensão emocional,

enfim, situações estressantes, inclusive para o próprio professor. Portanto, incentivar

os alunos, para participar das aulas com mais empenho e entusiasmo, é papel do

professor sempre que iniciar uma aula ou um novo conteúdo. Estas atividades

devem acontecer de forma contínua, fazendo parte do dia-a-dia da sala de aula e

estimulará nos alunos o desejo de progredir nos estudos.

De acordo com Paro (2001, p.122) “ainda não se apercebeu que ninguém

aprende por imposição. Não se “manda” estudar, se atrai para o estudo”. Não há

dúvidas, portanto, que os efeitos da motivação para que a aprendizagem seja

eficiente é um fator essencial nesse processo.

Ressalta-se que, o dinamismo, o entusiasmo pela vida e pelo ensino, a

cordialidade, o respeito, e outras virtudes do professor são fatores relevantes e que

influenciam naturalmente na motivação dos discentes para a aprendizagem.

Na sociedade contemporânea, o perfil do aluno está diferente em

conseqüência dos avanços da tecnologia, das mudanças ocorridas no modo de vida,

exigindo uma nova dinâmica em sala de aula, pois de alguma forma os alunos

demonstram desinteresse quando as aulas não permitem, por exemplo, a

participação da turma.

Quando as aulas são monótonas, repetitivas, citando como exemplo: “abram

o livro e respondam as questões” não provocam interesse, não são motivadoras e

não contribuem para a apreensão do conhecimento.

Os alunos por sua vez, que deveriam ver o desafio da aprendizagem como

importante e passar a questionar o professor sobre os conteúdos, as avaliações se

acomodam também, realizando as atividades apenas para cumprir a solicitação do

professor ou, até pelo receio de perder nota.

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Faz diferença quando o professor interage, questiona, explora o

conhecimento prévio dos alunos sobre determinado assunto e, nessa interação,

desperta a sua atenção para o conteúdo que irá desenvolver. Depois, ele pode até

solicitar que “abram o livro e respondam as questões” ou façam uma síntese. Esse

procedimento fará com que o processo de ensino/aprendizagem tenha outro

significado.

Segundo Gasparin (2003) envolver os alunos para uma “aprendizagem

significativa” dos conteúdos inicia-se quando o professor provoca uma situação e os

alunos participam dizendo aquilo que sabem sobre determinado assunto. É o passo

inicial para despertar o interesse pelos conhecimentos que o professor deseja

trabalhar.

Entretanto, haverá momentos em que o professor, mesmo que desenvolva

atividades com a intenção de incentivar o educando, não conseguirá a motivação

desejada, pois compete com os avanços na área tecnológica, com muitos atrativos

para os adolescentes, deixando muitas vezes, os próprios docentes desmotivados.

Por outro lado, os alunos não têm muita percepção dos objetivos do por que e para

quê devem estudar.

O aluno precisa ter clareza, que ele tem tanto compromisso nesse processo

de aprender, quanto o professor tem de ensinar. Não é algo fácil, pois exige

responsabilidade, disciplina, determinação, renúncia e precisa haver acima de tudo,

interesse e objetivos definidos. Ele deve se colocar na posição de sujeito

interessado, atencioso e participar ativamente das aulas, elaborando um plano de

estudo e colocá-lo em prática.

Cabe lembrar que devido à seletividade existente no mercado de trabalho, o

conhecimento passa a ser cada vez mais valorizado, não sendo possível abrir mão

do saber sistematizado, da formação.

O critério de escolha das turmas para aplicar a referida proposta (uma no

período da manhã com quarenta alunos e outra à tarde com vinte e cinco alunos),

realizou-se após o primeiro Conselho de Classe onde as referidas turmas foram

classificadas pelo grupo de docentes como problemáticas, muito difícil de trabalhar

e, também porque um grande número de alunos ficou com notas abaixo da média.

Os apontamentos dos professores referem-se aos alunos como agitados,

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desinteressados, desmotivados, não realizam as atividades propostas, não estudam,

são faltosos, entre outros motivos que interferem no ambiente de aprendizagem.

Durante o período de implementação várias atividades foram aplicadas nas

turmas, através de dinâmicas, vídeos, leituras sobre dicas e hábitos de estudo,

textos sobre exemplo de perseverança, superação, palestra sobre motivação,

debates e orientações, sempre procurando levá-los a refletir e a valorizar o momento

vivenciado por eles enquanto alunos, em suma, sobre a importância de estudar. Nas

discussões procurou-se destacar o quanto é importante ter objetivos definidos, estar

motivado para atingir suas metas e para que a aprendizagem se efetive.

Na primeira atividade desenvolvida com os alunos intitulada “O aluno

refletindo sobre o futuro”, apresentou-se o projeto, seus objetivos e também a

importância do envolvimento do grupo na realização das tarefas. Os mesmos alunos

foram receptivos, demonstraram interesse em participar ativamente e assumiram o

compromisso em mudar sua postura em sala de aula. Neste dia assistiram a um

vídeo sobre superação e participaram de uma dinâmica onde deveriam apontar

pontos positivos de uma pessoa que se dedica aos estudos, que tem alguma

formação e, das dificuldades enfrentadas por aquelas sem escolarização.

Ao ser questionado sobre as metas de cada um a maioria dos alunos

respondeu que sonham em fazer um curso superior, realizar-se profissionalmente e

“ser alguém na vida” como descreveu uma aluna. Outros relatos chamaram a

atenção:

“O meu objetivo é me formar para que os meus pais tenham orgulho de mim.

E, eu quero muito ter um bom emprego”.

“O meu maior sonho é passar no vestibular numa Universidade Pública

Federal, ter uma boa profissão para garantir meu futuro”.

“Quero vencer na vida, ter um bom emprego e para isso quero passar num

vestibular e entrar numa faculdade”.

Há descrições de alunos que pensam em arrumar “um trabalho” que possa

sustentá-los para depois continuar seus estudos. Analisando a fala dos alunos

percebeu-se que a grande maioria tem objetivos definidos e, portanto, deveriam

estar motivados a atingi-los.

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No entanto, houve também relatos preocupantes como do aluno que

pretende terminar o Ensino Médio para se “livrar” da escola, pois não gosta de

estudar, não realiza os trabalhos e tira notas baixas. Mesmo fazendo algo que não

gosta, porém, o referido aluno, talvez forçado pelos responsáveis ou pela própria

legislação, pretende concluir esse nível de ensino.

Os alunos relataram no questionário que para atingir os seus objetivos é

necessário levar a sério os estudos, frequentando as aulas, realizando as atividades

propostas, estudar e dedicar mais tempo às leituras.

Enquanto eram realizadas as atividades com as turmas, professores

comentavam mudanças no comportamento de alguns alunos o que nos fazia

lembrar a fala de Paro (2001, p.122) sobre a importância de o professor procurar

despertar no aluno o interesse pela sua aula, “não se manda estudar, se atrai para o

estudo”.

Na última atividade desenvolvida com os alunos aplicou-se um questionário

para que fosse possível observar a visão deles sobre o projeto.

Na primeira questão sobre como cada um avaliava o seu rendimento escolar

no primeiro semestre, os alunos descreveram as dificuldades encontradas como

adaptação ao Colégio, a dificuldade de concentração pelo fato da turma ser

numerosa, agitada, barulhenta, por se envolver com os colegas em brincadeiras

inadequadas, desinteresse pelas aulas, preguiça de realizar os trabalhos e por não

entender as explicações de alguns professores, resultando em notas baixas.

Há os alunos que consideraram o seu rendimento bom e atribuem isso a sua

dedicação, por estar atento, realizar as atividades propostas pelos professores e

demonstraram insatisfação pela falta de colaboração dos colegas que acabam

prejudicando o bom andamento das aulas.

Na segunda questão: Existe algo que vem atrapalhando a tua

aprendizagem? Os alunos deixaram claro que o principal problema na sala de aula

são as conversas inoportunas, pois não permitem a concentração, estressam os

professores e desmotivam quem quer estudar. Surgiram respostas referentes a

problemas familiares como separação dos pais, conflitos, alcoolismo entre outros.

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Em relação às atividades desenvolvidas no projeto sobre motivação e

hábitos de estudo, os alunos apontaram pontos positivos, destacando-se a fala de

um aluno que não tinha um bom conceito perante os professores, pela própria turma

e que, segundo relatos, ouve realmente mudanças significativas na postura do

mesmo.

Não fui muito bem neste semestre, não tirei notas boas. Eu só brincava e tinha várias reclamações sobre o meu comportamento. Agora me conscientizei que devo vir para o colégio para estudar e não para brincar. O projeto foi muito importante, serviu como motivação, pois sei que posso estudar de verdade e quero passar de ano.

Alguns alunos destacaram que passaram a se empenhar mais nas aulas,

que despertou a vontade de estudar, de aprender, de prestar mais atenção, que as

atividades desenvolvidas serviram para refletirem sobre o que é melhor para eles,

para que os bagunceiros percebam que podem melhorar e que estudar não é

brincadeira. Apontaram também que as conversas paralelas diminuíram e que com

as dicas de estudo “fica mais fácil estudar”. Um aluno assim se expressou:

Meu rendimento não foi muito bom, me dediquei muito pouco aos estudos, não estudei direito para as provas e fiquei com notas vermelhas. A conversa na sala atrapalha muito e em casa tenho pouco tempo para fazer os trabalhos. Mas, as atividades do projeto me motivaram a tentar recuperar, pois estava pensando em desistir de estudar. Em minha opinião o colégio deveria promover mais debates e palestras para ajudar os alunos a pensar e valorizar as aulas.

Outros relatos interessantes sobre as atividades e que foram motivadoras

para os alunos como se observou nas seguintes colocações:

Foram boas para mostrar a importância do estudo e também que se pode enfrentar qualquer obstáculo, dificuldade, melhorando e se aprimorando cada vez mais, tornando-se uma pessoa melhor.

A atividade foi legal, porque assim todos pararam e pensaram no que eles querem seguir com estudo ou sem estudo. Serviu para nos animar, mostrar que devemos correr atrás do que a gente quer e não desistir por pouca coisa, mesmo que tenha uma doença, você não deve desistir de tudo.

Não me considero bom aluno, meu desempenho no primeiro semestre foi péssimo, pois eu ia para o colégio para encontrar os amigos, comer e jogar bola. Saía da sala sem que o professor percebesse e não voltava mais, mas com o trabalho da professora passei a me esforçar.

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No entanto, assim como para alguns alunos o projeto foi positivo para outros

foi como se o mesmo não tivesse sido realizado, pois não mudaram nada em

relação às atitudes de classe, como se observou na fala de uma aluna:

As atividades do projeto seriam importantes se todos ouvissem e colocassem em prática, pois a grande maioria só ouve. Acho que deveria ser feito individualmente para alguns alunos que precisam de motivação para estudar.

Nessas colocações evidenciou-se claramente a realidade da sala de aula,

tais como o desinteresse, a indisciplina e a falta de domínio de turma por parte de

alguns professores e que, muitas vezes, não são levados em consideração como

fatores prejudiciais à aprendizagem.

As atividades foram importantes, porque fazem a gente refletir sobre nossas atitudes e objetivos. Neste semestre minhas notas não foram muito boas, sei que posso melhorar, mas na sala há conversas sem controle e eu não consigo me concentrar. Tem professor que controla a turma e outros que não conseguem. Para alguns alunos o projeto foi importante, pois passaram a se empenhar, porém tem gente que é teimosa, não está nem aí com essas atividades, com as normas da escola, com os professores e só vêem para atrapalhar quem quer estudar. Tem que ficar em cima, falando, falando, até que todos cooperem e mudem seus hábitos.

Percebeu-se nos relatos, que as ações desenvolvidas provocaram reflexões

e mudanças significativas na postura de alguns alunos. Para outros, no entanto,

teve-se a impressão que a meta não foi atingida, mas vale lembrar o número de

fatores determinantes que levam tantos alunos ao fracasso, e que, para estes,

atividades de reflexão e motivacionais talvez não sejam suficientes para desafiá-los

a enfrentar seus conflitos e valorizar os estudos.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o desenvolvimento dessa pesquisa foi possível observar a

importância do acompanhamento constante dos alunos, por parte da família,

professores, direção e equipe pedagógica, porque são vários os problemas, os

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atrativos, os interesses momentâneos que competem de forma muito intensa com as

atividades escolares.

Mesmo assim, apesar do pouco tempo de implementação seus resultados

foram significativos e na maioria dos casos demonstraram que, quando os

professores, os pais ou responsáveis e a escola se comprometem e olham com mais

atenção para os alunos a realidade se transforma.

Diante das observações realizadas durante as atividades de implementação,

considerou-se o tema tratado complexo pelo número de determinantes que

influenciam no problema do fracasso escolar, e que, exigem vários olhares e muita

dedicação. Percebeu-se, portanto, a necessidade de investigar ainda mais a

realidade dos alunos com dificuldades em sua escolarização para intervir de forma

mais efetiva.

Pela complexidade e dimensão do problema pesquisado considera-se que

os objetivos não são atingidos com prazos previamente determinados. Na realidade

a avaliação desse trabalho, de forma mais concreta, só será possível verificar

através dos próximos Conselhos de Classe e ao final do ano letivo, com os dados

estatísticos sobre os resultados finais.

4. REFERÊNCIAS

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Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

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1987.

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Campinas, SP: Autores Associados, 2003.

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SACRISTÁN, J. G. Compreender e Transformar o Ensino. 4 ed. Porto Alegre, RS:

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