o fim dos tempos

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24h de BD João Henriques Página 1 de 24 01-03-2010 O FIM DOS TEMPOS (argumento para BD) # Pensamentos. G Génis, personagem principal NR Núria, mulher da personagem principal N Narrador R Robot do deserto A Anciões (cada um é representado por um número, o número 3 encontra-se ao centro, os anciãos 1/2 e 4/5 falam aos pares.) O Sol deverá sempre ser representado com tons vermelhos e maior que o normal. Está a morrer, a caminho de se tornar uma gigante vermelha. Página 1 Génis aproxima-se da sua antiga casa, que fica junto ao deserto. Enquanto uma nave espacial parte para o espaço. Estes dois acontecimentos são paralelos. Sequência 1 - Várias vinhetas mostram a aproximação à casa. Vinheta 1 Plano muito distante da cidade no deserto. V2 Cidade ainda mais próxima, com uma vista de Génis por trás. V3 Porta da casa com ele a perder as forças. V4 Génis caído frente à porta da casa. Ele tem a barba bastante grande, como quem esteve mais de um ano no deserto, com cuidados de higiene quase nulos. As suas roupas são farrapos. Traz um saco às costas e um cajado na mão. Apoia-se muito nele, pois as suas forças estão a chegar ao fim. Ao pescoço trás um fio com um pequeno osso pendurado.

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Argumento para BD, criado em 24 horas. Drama passado nos últimos dias do planeta Terra.

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24h de BD

João Henriques Página 1 de 24 01-03-2010

O FIM DOS TEMPOS

(argumento para BD)

# – Pensamentos.

G – Génis, personagem principal

NR – Núria, mulher da personagem principal

N – Narrador

R – Robot do deserto

A – Anciões (cada um é representado por um número, o número 3 encontra-se ao centro, os anciãos 1/2 e

4/5 falam aos pares.)

O Sol deverá sempre ser representado com tons vermelhos e maior que o normal. Está a

morrer, a caminho de se tornar uma gigante vermelha.

Página 1

Génis aproxima-se da sua antiga casa, que fica junto ao deserto. Enquanto uma nave

espacial parte para o espaço. Estes dois acontecimentos são paralelos.

Sequência 1 - Várias vinhetas mostram a aproximação à casa.

Vinheta 1

Plano muito distante da cidade no deserto.

V2

Cidade ainda mais próxima, com uma vista de Génis por trás.

V3

Porta da casa com ele a perder as forças.

V4

Génis caído frente à porta da casa.

Ele tem a barba bastante grande, como quem esteve mais de um ano no deserto, com

cuidados de higiene quase nulos. As suas roupas são farrapos. Traz um saco às costas e

um cajado na mão. Apoia-se muito nele, pois as suas forças estão a chegar ao fim. Ao

pescoço trás um fio com um pequeno osso pendurado.

24h de BD

João Henriques Página 2 de 24 01-03-2010

A cidade tem a organização de um gigante bairro de lata, com casas brancas que vistas

mais de perto estão cheias de rachas. No centro da cidade erguem-se muralhas enormes.

No meio dessas muralhas encontram-se arranha-céus com aspecto futurista.

Sequência 2 – Várias vinhetas mostram sequencialmente planos cada vez mais afastados

da nave espacial.

V1

Plano próximo da nave, não se percebe sequer o que se está a ver, de tão próximo. É mais

metal e parafusos.

V2

Motores ligam.

V3

Nave começa a levantar.

V4

Imagem a partir do chão, da Nave a caminho das altas camadas da atmosfera, com Sol ao

fundo, um pouco acima do horizonte, com tons de vermelho.

A nave fará o transporte das pessoas até ao espaço, deverá ser suficientemente grande

para transportar cerca de 500 passageiros até à órbita terrestre. Esta nave serve apenas

para fazer esse transporte. A nave parte na vertical, mas os passageiros estão sentados

também na vertical, como no movimento de um elevador.

O texto que se segue, aparece a meio das vinhetas das duas sequências.

V1

N – O Sol está morrer e quer levar-nos com ele.

V2

N – Os políticos diziam estar a seleccionar, entre a população, os escolhidos, para refazer a

humanidade em estrelas distantes.

V3

N – No entanto, sabia-se que os escolhidos apenas faziam parte da elite, das gentes da

Muralha. Por isso, a vida começou a perder o seu sentido para muitas pessoas.

24h de BD

João Henriques Página 3 de 24 01-03-2010

V4

N – Mas talvez fosse melhor que não tivéssemos encontrado sentido para nada. Afinal,

quem é Deus para nos dar ordens?

Página 2

V1

Génis está deitado. Núria cuida dele.

N – Amei Deus acima de todas as coisas, até que Ele levou tudo o que me restava.

O quarto tem muito pouca coisa. As paredes são brancas, há algumas rachas. Há uma

mesinha de cabeceira junto à cama. Sobre esta está uma vela e acima da cama um

crucifixo. No chão encontra-se um alguidar com água.

V2

Génis, transpira e agita-se na cama. Está com febre.

V3

Núria coloca um pano molhado sobre a sua testa.

V4

A imagem aproxima-se da sua face e passa para um flashback.

V5

Flashback

Génis está deitado a ser tratado pelo Robot, na cama. Tem feridas de queimaduras na cara.

Situação semelhante à de Núria a cuidar dele. Vê-se apenas a mão do Robot. Este é

humanóide, mas com um aspecto mecânico.

#R – A minha espera não foi em vão.

Termina flashback

24h de BD

João Henriques Página 4 de 24 01-03-2010

Página 3

V1

Imagem volta a ele na cama com Núria ao lado. Ela deixa cair uma lágrima. Um zoom nessa

gota e passa para um novo flashback.

V2

Flashback

Imagem de uma gota a cair.

R – O espírito do Homem é fraco, o seu corpo ainda mais. O Homem tem um corpo

emprestado por Deus. Este deverá ser cuidado para espalhar a Sua palavra e realizar a Sua

obra.

V3 e V4

Afasta-se de seguida para o ver a fazer flexões no meio do deserto. Sob um Sol escaldante.

Ao seu lado está o Robot.

#G – Parti com a intenção de morrer. Estava farto do que me rodeava, das pessoas, da

apatia generalizada, da falta de leis, da falta de segurança, dos falsos profetas. A civilização

não é mais que uma massa caótica, está gravemente doente. A sua doença é falta de fé. Eu

fui escolhido para a tratar.

Termina flashback

Página 4

Génis está recuperado, aparou a barba, mas não a cortou por completo. Núria e Génis

conversam nus na cama.

G – A gentes da Muralha não querem saber de Deus.

NR – Mas que podemos fazer contra isso?

G – É uma questão de números. Somos mais do que eles.

NR – Mas eles têm tecnologia.

24h de BD

João Henriques Página 5 de 24 01-03-2010

G – Nós temos Deus do nosso lado.

NR – Deus não te vai salvar da morte.

G – A vida não acaba aqui.

NR – Porque fazes isto?

G – Deveria estar morto. O tempo que me resta é Dele.

NR – Deus não quer morte.

G – Deus não quer ser esquecido. As pessoas têm uma importância relativa. Para que

interessa a vida sem Deus?

NR – Desde que voltaste, não te conheço.

G – Mudei.

NR – As pessoas mudam. Mas tu...

G – Encontrei algo pelo qual vale a pena lutar. É assim tão mau?

NR – Não é isso.

G – Então?

NR – Estive dois anos sem te ver. Não te quero perder novamente.

G – Estou aqui e quero que faças isto comigo.

NR – Eu e tu?

G – Sim.

NR – Contigo, vou até ao fim do mundo.

Beijam-se.

#NR – Não sei o que é feito de ti. Não sei o que te aconteceu. Só sei que não voltaste, mas

és tudo o que tenho.

Página 5

V1

Núria pega-lhe na mão esquerda, que até aqui não tinha aparecido. Falta-lhe o dedo

mindinho.

NR – O que foi isto?

24h de BD

João Henriques Página 6 de 24 01-03-2010

V2

Flashback

O Robot dá um cutelo a Génis.

R – Deus não está lá fora. Deus não se encontra nos outros.

V3

Este assenta o mindinho no extremo de uma mesa, com a mão fora desta. Isto passa-se no

meio do deserto, de noite.

R – Deus está em ti, dentro de cada um de vós. A viagem é vossa, só vossa. Deus vive no

Homem.

V4

O cutelo desce sobre o dedo.

R – Para encontrar Deus, têm de O procurar na vossa carne.

Página 6

V1

A mão de Génis sangra. A expressão de Génis é rígida. Não demonstra dor.

R – Porque a carne é vida.

V2

Ele pega no seu dedo e começa a comer a pouca carne que lá se encontra.

V3

Génis fica apenas com os ossos na mão. Põe-os em cima da mesa enquanto o Robot lhe

faz um torniquete para a mão.

R – Tens de ficar só para O encontrar.

24h de BD

João Henriques Página 7 de 24 01-03-2010

V4

Vê-se Génis de frente, sentado no chão a observar o osso e o Robot a afastar-se nas costas

dele.

Termina o flashback.

Página 7

V1

Génis e Núria estão frente a um espelho. Ela tem o osso maior do mindinho num fio que

Génis lhe está a pôr ao pescoço.

V2

Núria leva a sua mão esquerda até à mão direita de Génis que repousa sobre o ombro

direito dela. A mão dela tem um pano branco a passar na zona do mindinho que não está lá.

A parte do pano que cobre a zona do mindinho tem sangue.

#NR – Há uma confiança nele que não existia. Uma certeza do deve ser feito.

G – Agora estamos unidos.

NR – Até ao fim dos tempos.

N – Só não sabíamos que o fim estava tão próximo.

V3

Núria vira-se para ele.

NR – E agora?

G – Agora, espalhamos a Palavra.

V4

Flashback

Génis chora sentado numa cadeira.

R – Foste escolhido para liderar, foste escolhido para indicar o caminho. Tens de ser forte.

G – Mas o que te garante que consigo convencer alguém?

24h de BD

João Henriques Página 8 de 24 01-03-2010

R – Não és tu que vais falar, Deus falará por ti.

G – Como?

V5

O Robot aproxima-se de Génis e coloca o indicador na testa deste. Uma pequena seringa

penetra a carne de Génis e injecta um líquido nele.

R – Deixa-O fluir em ti.

Termina o flashback.

Página 8

As falas de Génis, nesta página saem de uma telefonia, que apenas se vê na última vinheta.

A cidade tem o aspecto de um bairro degradado. As casas são caiadas de branco, mas mal

conservadas.

V1

Rapazes a jogar à bola na rua.

N – Diz-se que em tempos a tecnologia era de todos, que as pessoas habitavam todo o

planeta. Diz-se mesmo, que houve uma altura em que ninguém vivia nos pólos.

G – A nossa hora chegou. O fim do domínio da Muralha está próximo.

V2

Prostituta aborda um homem.

N – Mas desde que nasci apenas conheço este mundo, onde não há ordem, onde reina a lei

do mais forte.

G – Não estamos sozinhos nesta luta.

V3

Um cadáver está estendido no chão, ignorado por uma senhora que passa com um saco na

mão.

24h de BD

João Henriques Página 9 de 24 01-03-2010

N – Ouvi também que a temperatura variava com o ano, com estações frias e outras

quentes. Agora há somente duas estações, uma quente e outra muito quente. E isto na zona

habitável do planeta, porque para Sul viver é impossível.

V4

Um velhote espreita com ar receoso de dentro de uma casa, através de uma pequena fresta

aberta no cortinado de uma janela.

G – Há Alguém que pode dar sentido a tudo.

V5

Um homem prepara uma corda para se suicidar.

G – Mesmo o Homem que julga ser uma ilha, está preenchido por Deus.

V6

A telefonia emite numa casa. Uma mulher com uma vassoura na mão está a ouvi-lo com

atenção.

G – Ele está entre nós. Ele está em nós. A nossa missão é encontrá-Lo e exigir o que é Dele

por direito.

Página 9

V1

Génis fala com um grupo de 4 pessoas dentro de casa.

N – As pessoas desejavam um líder.

V2

Génis fala frente a um grupo de pessoas num café.

N – Ansiavam por um líder.

24h de BD

João Henriques Página 10 de 24 01-03-2010

V3

Génis fala frente a um grupo de pessoas num mercado de rua.

N - Estavam à espera de um líder.

V4

Génis fala num anfiteatro cheio de gente, através de altifalantes.

N – As pessoas exigiam um líder.

V5

As pessoas do anfiteatro levantam as mãos esquerdas, às quais falta o mindinho.

População – Deus está connosco! Deus está em nós!

N – Talvez nada disto fizesse sentido noutra época, mas nós vivemos aqui e agora. A

população estava sedenta de sangue, só precisava de alguém que lhe desse o mote e

orientasse essa sede.

Página 10

V1

É de noite. Pequenas portas na base da Muralha abrem-se. Esta é escura, feita de metal e

tem uma altura de muitas dezenas de metros.

N – Queria viver, só isso.

V2

Núria dorme. Génis está sentado na cama a olhar para a palma da mão esquerda.

N – Queria ter filhos, criar uma família. Parece-me um desejo simples.

V3

Estão a sair homens com armadura e armas, de dentro da Muralha.

N – Gostava de ter a possibilidade de viver em paz, sem ter de enfrentar todas estas

questões, estes problemas.

24h de BD

João Henriques Página 11 de 24 01-03-2010

V4

Um estranho brilho vindo dela ilumina-lhe a face, e faz com que o seu cabelo pareça flutuar.

N – A humanidade habitou a Terra durante todo este tempo, porque não posso eu fazer isso

agora, sem a constante presença do fim que se aproxima?

V5

Movem-se pelo cidade organizados e disfarçados pelas sombras.

N – Porque é esta visualização do fim que nos atormenta a todos.

Página 11

V1

Um pouco acima da mão de Génis aparece uma luz branca/azulada com a uma forma de um

charuto com as duas extremidades pontiagudas.

N – É essa visão que nos faz tomar decisões sem sentido.

V2

Os homens com armas encontram-se à porta da casa de Génis.

N – Vivemos milhares de milhões de anos aqui, sem esse problema. A nossa morte parecia

ser esquecida com facilidade, só por vezes nos batia à porta.

V3

Ouve-se um enorme ruído do lado da porta a ser arrombada. Génis vira-se na direcção da

porta. A luz na mão dele já não existe. Núria aparece a acordar.

N – No mundo que conheço a morte vive connosco sob a forma de uma gigante esfera

vermelha, que paira no horizonte seis meses por ano.

V4

24h de BD

João Henriques Página 12 de 24 01-03-2010

Núria está agarrada a Génis, que continua sentado na cama. Estão rodeados pelos homens

com armaduras que lhes apontam armas.

N – Nunca quis esta vida para mim, mas não tive escolha.

Página 12

V1

Vêem-se de perfil, cinco homens já acima dos 60 anos, sentados num semicírculo. Vestem

batinas negras e têm enormes chapéus negros em forma de cone. Não têm sobrancelhas.

No seu lugar estão vários piercings orientados na vertical. Os lábios deles têm uma

tonalidade negra. Na base de cada um dos chapéus está representada uma fase da Lua.

Estão por ordem, o 3 tem a Lua cheia, à sua esquerda a Lua está a “crescer”, à direita está à

diminuir.

V2

A “câmara” está nas costas dos anciões, um pouco acima destes, e Génis está à sua frente.

Sentado numa cadeira. Na sala, ao fundo estão guardas. É uma audiência. Os anciões 1/2 e

4/5 falam aos pares. Apenas o 3 fala individualmente.

A1/2 – Temos ouvido as suas emissões de rádio. Acha que não íamos fazer nada?

G – Se pretendiam actuar deveriam tê-lo feito mais cedo.

A4/5 – Acha que se encontra em posição de nos ameaçar?

G – E você acha que está?

V3

Os anciões 1/2 olham para os 4/5 que os olham de volta. Apenas o 3 mantém o olhar em

Génis.

V4

A1/2 – Pode explicar-me porque está a fazer isto?

G – Estou numa missão divina, para salvar a humanidade.

24h de BD

João Henriques Página 13 de 24 01-03-2010

A1/2 – Se pretende um lugar na nave para fora deste planeta, podemos tratar disso, para si

e para a sua companheira.

G – Isso é algum tipo de suborno?

V5

A4/5 – Procuramos gente com valor, para continuar a humanidade, sabe disso. Você

demonstrou grande capacidade como líder da população.

G – Vocês estão à procura de gente com dinheiro para vos encher os bolsos. O mundo está

a acabar e continuam a pensar no mesmo.

V6

A1/2 – Se pudéssemos salvávamos todas as pessoas, mas isso não é possível, por isso...

G – Por isso, optam por escolher apenas aqueles que estão próximos de vocês, esquecendo

a população que durante anos a fio trabalhou para que conseguissem escapar da Terra.

Esquecem os ensinamentos de Deus para se poderem salvar sem pesos na consciência.

Página 13

V1

A3 – Deus? Mas de que fala?

G – De quem lhe trará a morte.

V2

O ancião 3 sorri com escárnio.

A3 – Deus morreu há muito. Servia apenas para suporte mental de pessoas fracas.

G – Deus não é nenhum instrumento. É real.

A3 – Deus era uma fantasia, nada mais que isso.

G – Se me chamou para me tentar convencer disso, está a perder o seu tempo.

V3

24h de BD

João Henriques Página 14 de 24 01-03-2010

A3 – Só o chamei para que tivesse algum bom senso. A vida para lá da Muralha pode ser

complicada. Mas se insistir nalgum tipo de rebelião muita gente pode acabar morta. É isso

que deseja?

G – O meu desejo é espalhar a Palavra pelo Universo, com ou sem mortes.

V4

A1/2 – Sabe que o podemos prender?

G – Podem, se quiserem que a população se rebele de vez.

V5

O ancião 3 encosta-se na cadeira. Tem um ar irritado.

V6

Génis olha-o no olhos e sorri.

A3 – Deixem-no ir.

V7

Os anciões 1,2,4 e 5 olham o 3 com ar de espanto.

A3 – LEVEM-NO DAQUI!

Página 14

V1

Génis está reunido com três homens e uma mulher em sua casa, também lá está Núria. A

reunião tem ar de conspiração. Estão no que seria a sala. À semelhança do quarto é

também bastante vazia. Para além da mesa e das cadeira apenas há dois vasos vazios.

Numa das paredes há um janela.

G – Ainda esta semana eles vão lançar a última nave. Não podemos perdê-la, ou tudo será

em vão.

Homem 1 – Mas como vamos conseguir entrar nas muralhas?

24h de BD

João Henriques Página 15 de 24 01-03-2010

G – É por isso mesmo que vos pedi para estarem aqui hoje. Vem aqui alguém que nos pode

ajudar.

V2

Génis vira-se para Núria.

G – Núria, podes ir buscá-lo?

V3

Ela levanta-se e sai da sala. Génis continua a falar para eles.

G – Ele vem da muralha, mas tem ouvido as minhas transmissões.

V4

O Homem 3 levanta-se com um ar irritado.

Homem 3 – Não podemos confiar em ninguém daquele lado!

V5

O Homem 3 hesita.

G – Deus pode chegar a todos, mesmo aqueles que parecem menos prováveis, confiem em

mim.

V6

O Homem 3 senta-se novamente.

Página 15

V1

Flashback

Génis está frente ao espelho a observar-se. O Robot encontra-se de pé ao lado dele.

R – O poder de Deus está no teu olhar.

R – O olhar de Deus é hipnotizante, pode funcionar quando a Palavra não chega aos outros.

24h de BD

João Henriques Página 16 de 24 01-03-2010

V2

O olhar de Génis mergulha no seus próprios olhos.

V3

Génis vê um túnel de luz branca. Continua a ouvir a voz do Robot de fundo.

R – Deixa-te ir.

V4

Génis flutua através do túnel.

V5

Chega ao seu fim e desemboca no interior de uma esfera, onde vários outros túneis também

vão ter. No seu centro vê uma espécie de teia luminosa.

R – Vai até ao centro.

V6

Génis está ao pé da teia.

R – Toca-lhe. Sente os teus pensamentos.

V7

Génis toca-lhe suavemente. Está fascinado.

R – Podes alterá-los, Deus deu-te esse dom. Usa-o com cuidado.

Termina o flashback.

Página 16

V1

O ancião 3 entra na sala acompanhado de Núria. Os homens olham-no com espanto.

Homem 1 – Que está ele a fazer aqui?!

24h de BD

João Henriques Página 17 de 24 01-03-2010

V2

Génis mantém-se sentado e apenas ergue a sua mão, num gesto apaziguador.

Génis – Calma. Está do nosso lado.

#G – Há segredos que não podem ser revelados. Sob pena de levar os outros a recear-nos.

O ancião retira a luva da mão esquerda e mostra aos outros como também já não tem

mindinho.

V3

O ancião senta-se com os outros.

N – Não sei o que ele fez, não sei como o convenceu, que conversa tiveram para lá da

Muralha, mas talvez tivesse sido melhor nunca descobrir.

V4

Mais uma imagem do pessoal que está lá em casa, mas com Núria em primeiro plano. Ela

tem um ar triste.

N – A verdade é que Génis conseguiu juntá-los todos à mesma mesa.

Página 17

As pessoas organizam-se para a tomada da Muralha.

V1

Uma dona de casa abre uma gaveta da cozinha onde se encontram facas.

N – Não podíamos levar toda a gente, mas Génis evitou sempre falar disso com a

população. Talvez de algum modo, ele já soubesse o que ia acontecer.

N – Finalmente havia uma causa comum, que unia toda a gente.

V2

Pessoas de volta de uma árvore a arrancar os seus ramos.

N – Os gangs que tinham povoado as ruas desde que me lembro, estavam agora connosco.

24h de BD

João Henriques Página 18 de 24 01-03-2010

N – O clima de terror que costumava inundar as ruas, não existia.

V3

Pessoas a aparar os ramos para fazer lanças, ou algo do género.

N – Os ossos ao peito eram uma constante.

N – Foram bons tempos, só foi pena terem sido tão curtos.

V4

Núria está sentada à porta da casa a ver o Sol quase a desaparecer no horizonte. Chora.

N – O pôr do Sol prolongava-se durante dias. Quando finalmente desaparecia as pessoas

respiravam de alívio. O Sol era necessário, mas não daquela maneira.

V5

Génis vem ter com Núria e senta-se ao pé dela.

N – Tínhamos uma relação de amor/ódio com o astro.

NR – Temos mesmo de fazer isto?

G – É a minha missão.

NR – Se é tua, porque tens de andar com esta gente toda atrás de ti?

G – Juntaram-se a mim de livre vontade e sabes bem que não temos muito mais tempo

neste planeta.

NR – Não podemos aproveitar esse pouco tempo que nos resta?

G – E deixar que Deus morra connosco?

NR – Se for esse o caso, porque não?

G – Há coisas que são mais importantes do que a nossa vida. Percebes isso?

V6

Núria abraça-o.

#NR – Não, nunca o vou perceber.

N – Aparentemente estava enganada.

24h de BD

João Henriques Página 19 de 24 01-03-2010

Página 18

V1

Uma multidão está numa praça. São milhares de pessoas juntas frente a Génis.

N – O dia do ataque chegou.

G – Deus trouxe-nos até aqui. É a Sua vontade que nós tenhamos sucesso na ocupação da

Muralha. Por isso não receiem!

Nas vinhetas seguintes seguem-se vários planos das pessoas na multidão.

V2

Plano de algumas pessoas que se encontram na multidão.

G – Se eu cair não quero que parem para me levantar. Sigam em frente!

G – Sintam-No no sangue, realizem o Seu desejo!

V3

G – Ainda hoje a Muralha vai ser nossa!

N – Este não era o Génis que eu conhecia. Mas era o Génis necessário para liderar aquela

massa de gente.

V4

G – Deus está convosco! Deus está em vós!

População – Deus está connosco! Deus está em nós!

Página 19

V1

A multidão separa-se em vários grupos liderados por diferentes pessoas.

O maior grupo segue directamente para o portão principal da Muralha liderado por Génis,

Núria caminha ao seu lado.

24h de BD

João Henriques Página 20 de 24 01-03-2010

V2

Uma imagem de cima mostra gotas a cair do céu. Começa a chover.

V3

Núria pára para olhar para o céu.

N – Vi chuva uma única vez na minha vida. Foi nesse dia.

V4

Alguém atrás dela está completamente indiferente ao fenómeno.

Alguém – Então? Porque paraste? Deus chama-nos.

N – Nunca tinha visto chuva e não a pude gozar. Sentia que caminhava para a minha morte.

V5

Ela recomeça a caminhar.

N – Parecia ser a única preocupada com isso.

V6

A algumas centenas de metros do portão, ainda no abrigo das casas que se encontram

afastadas da muralha, Génis ergue o braço. A multidão pára ao seu comando.

Página 20

V1

Génis olha para a Muralha, procura algo. Mantém o braço erguido.

V2

Os cabelos de Núria caem-lhe molhados pelo rosto.

N – O tempo arrasta-se. A lama que nos meus pés prendia-me ao chão. Julguei mesmo que

seria impossível caminhar.

24h de BD

João Henriques Página 21 de 24 01-03-2010

V3

Génis desce o braço e avança. A multidão segue-o sem hesitação.

N – Mas as forças não me faltaram. A multidão atrás de mim não pararia por nada neste

mundo.

Nas vinhetas seguintes são disparados rockets da Muralha, há explosões e corpos caem na

lama que se está a formar. As pessoas continuam a andar.

N – Os cadáveres acumularam-se, mas aquela massa humana era um força bruta.

N – Era imparável.

N – Não tínhamos armas de fogo.

N – O seu único objectivo era chegar aos portões.

Página 21

V1

A multidão aproxima-se da Muralha. Os portões abrem-se.

N – O ancião tentou colocar-nos lá dentro. Não estava à espera disso.

V2

Quando a multidão se aproxima. O corpo do ancião 3 cai do nosso lado da muralha. Sem

vida.

V3

Os portões voltam a fechar-se. A multidão estaca a olhar para Génis.

N – Tentou.

V4

Génis aproxima-se do portão e coloca a mão esquerda nesse.

A voz do Robot aparece como narrador.

24h de BD

João Henriques Página 22 de 24 01-03-2010

R – Deus corre-te nas veias, se te concentrares consegues alterar a realidade com as tua

mão. Ela é tua como é Dele.

V5

Uma luz espalha-se com origem na mão de Génis cobre o portão.

N – Foi nesse momento que o comecei a temer.

V6

O Portão que tem umas dezenas de metros de altura cai para dentro da muralha.

A multidão entra à frente de Génis que leva Núria pela mão. Vêem-se os arranha céus de

perto.

N – Nunca tinha estado no lado de dentro da Muralha. Fiquei deslumbrada, mas durou

pouco tempo.

Página 22

V1

A multidão corre contra a muralha de soldados, que está do outro lado. Os soldados não são

muitos.

V2 A multidão está cega. Morrem mais alguns, mas em pouco tempo aproximam-se dos

soldados que deitam as armas ao chão.

V3

A multidão mata os soldados com facas e bastões.

N – Tinham anos de ódio acumulado. Nada se poria entre eles e a sua vingança.

24h de BD

João Henriques Página 23 de 24 01-03-2010

V4

Depois dos soldados seguem-se os civis. Homens, mulheres e crianças. Nada escapa.

N – Nenhuma das pessoas que habitava a Muralha, sairia dali com vida.

V5

Génis observa a multidão em movimento. Núria está ao seu lado.

NR – Não os impedes?

G – Também não me agrada, mas é um mal necessário.

N – Odiei-te nesse momento, mas achei que não o devia demonstrar. Tornaste-te perigoso.

Página 23

V1

A nave prepara-se para partir. Esta nave é igual à que apareceu no início.

#NR – Não sei onde arranjou os pilotos. Achava que deveriam estar mortos, mas eles têm

um ar mais morto do que vivo.

V2

Os pilotos com a pele bastante pálida e ferimentos na face, com Génis por trás.

#NR – As pessoas que sobraram do ataque não chegam sequer para encher a nave.

V3

A Nave sobe, estamos a caminho do espaço.

#NR – Pior que esquecer Deus é deturpá-Lo.

V4

Núria está sentada na parte de trás. Levanta-se e entra numa porta nas traseiras. Sem que

ninguém dê por isso.

#NR – Já não sei o que Ele é, mas não pode ser isto.

24h de BD

João Henriques Página 24 de 24 01-03-2010

V5

Num recanto da nave, tira uma caixa do alto de uma prateleira.

#NR – Este Deus não pode viver.

V6

Tira da caixa um explosivo.

#NR – Não sei o que aconteceu a Génis quando esteve desaparecido. Amava-o cegamente,

antes disso.

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A nave explode.

#NR – Se foi Deus que ele encontrou, vou odiá-Lo para todo o sempre.