o estado e as relações internacionais: o complexo

274
O Estado e as Relações Internacionais: O Complexo Econômico- Industrial da Saúde na relação de influência mútua entre as agendas interna e externa do Brasilpor Sandra Pereira Soares Tese apresentada com vistas à obtenção do título de Doutor em Ciências na área de Saúde Pública. Orientador: Prof. Dr. Carlos Augusto Grabois Gadelha Rio de Janeiro, novembro de 2012.

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Page 1: O Estado e as Relações Internacionais: O Complexo

ldquoO Estado e as Relaccedilotildees Internacionais O Complexo Econocircmico-

Industrial da Sauacutede na relaccedilatildeo de influecircncia muacutetua entre as agendas

interna e externa do Brasilrdquo

por

Sandra Pereira Soares

Tese apresentada com vistas agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em Ciecircncias

na aacuterea de Sauacutede Puacuteblica

Orientador Prof Dr Carlos Augusto Grabois Gadelha

Rio de Janeiro novembro de 2012

ii

Esta tese intitulada

ldquoO Estado e as Relaccedilotildees Internacionais O Complexo Econocircmico-

Industrial da Sauacutede na relaccedilatildeo de influecircncia muacutetua entre as agendas

interna e externa do Brasilrdquo

apresentada por

Sandra Pereira Soares

foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros

Profordf Drordf Monica Sutton

Prof Dr Leonardo Marco Muls

Prof Dr Marcus Vinicius Siqueira

Prof Dr Joseacute Manuel Santos de Varge Maldonado

Prof Dr Carlos Augusto Grabois Gadelha ndash Orientador

Tese defendida e aprovada em 30 de novembro de 2012

iii

Catalogaccedilatildeo na fonte

Instituto de Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

Biblioteca de Sauacutede Puacuteblica

S676 Soares Sandra Pereira

O Estado e as Relaccedilotildees Internacionais O Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede na relaccedilatildeo de influecircncia muacutetua

entre as agendas interna e externa do Brasil Sandra Pereira

Soares -- 2012

xxiv274 f il tab graf

Orientador Gadelha Carlos Augusto Grabois

Tese (Doutorado) ndash Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio

Arouca Rio de Janeiro 2012

1 Estado 2 Desenvolvimento Econocircmico 3 Poliacuteticas e

Cooperaccedilatildeo em Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo

4 Vulnerabilidade 5 Cooperaccedilatildeo Internacional 6 Cooperaccedilatildeo

Horizontal 7 Poliacutetica Externa 8 Globalizaccedilatildeo 9 Agenda Sul-

Sul I Tiacutetulo

CDD ndash 22ed ndash 3621

iv

A U T O R I Z A Ccedil Atilde O

Autorizo exclusivamente para fins acadecircmicos e cientiacuteficos a

reproduccedilatildeo total ou parcial desta tese por processos

fotocopiadores

Rio de Janeiro 30 de novembro de 2012

________________________________

Sandra Pereira Soares

v

ldquoMeditai se soacute as naccedilotildees fortes podem fazer ciecircncia ou se eacute a ciecircncia que as faz fortesrdquo

Oswaldo Cruz

vi

Aos meus pais

vii

Agradecimentos

Estes uacuteltimos quatro anos (e mais ldquo25920000 segundosrdquo) foram tatildeo

intensos e tatildeo representativos em minha vida que estabeleceram sobre mim

uma nova percepccedilatildeo sobre o futuro Paradigmas foram quebrados e no lugar

estabeleceram-se perspectivas para novas construccedilotildees Pilares foram

destruiacutedos pilares reconstruiacutedos e construiacutedos novos para uma vida inteira

Estando nesse grande canteiro de obras natildeo me senti sozinha Nunca

estive sozinha Foram tantas matildeos tantos olhares amigos e solidaacuterios tantos

carinhos tantas palavras tanta forccedila tanta orientaccedilatildeo tantas surpresas e

tantos puxotildees de orelha necessaacuterios por sinal

Ao reconhecer a generosidade do ser humano e do ser amigo com a

qual fui brindada por tantos presto a minha mais sincera homenagem

declarando o quanto sou grata pela existecircncia de cada um em minha vida

tentando fazer refletir a emoccedilatildeo que transborda em meu sentimento por vocecircs

em cada palavra que segue

A todos a minha gratidatildeo e o meu carinho

Ao meu Orientador e aos professores da Banca o meu sincero e

agradecido reconhecimento

Cariacutessimo Dr Gadelha honra-me a oportunidade de ter sido sua aluna e

a sua franca e querida amizade Sou grata por ter acreditado nesta profissional

discente que queria falar de sauacutede como questatildeo de defesa e soberania

nacional Sou grata por ter expandindo o meu olhar e tambeacutem por ensinar-me a

focalizar esse mesmo olhar A sua respeitosa trajetoacuteria profissional e sua

prestigiada competecircncia fizeram com que eu me sentisse privilegiada por tecirc-lo

como orientador E o mais importante o seu comprometimento entusiasmado

com a sauacutede eacute contagiante Como sua orientanda fui ldquocontaminadardquo Principal

sintoma brilho no olhar Muito obrigada por oferecer a oportunidade de que os

meus olhos brilhassem com os horizontes (que nesta tese satildeo internacionais)

do Complexo que eacute tatildeo complexo

A cada um dos professores da banca sinto um grande respeito e

admiraccedilatildeo pela competecircncia e pelo comprometimento profissional e

viii

acadecircmico ao mesmo tempo em que nutro por cada um uma carinhosa

amizade Agradeccedilo sinceramente a participaccedilatildeo de vocecircs

Querida Dra Mocircnica sempre disponiacutevel vocecirc que tanto me ouviu

acolheu e me acalmou sua objetividade suas dicas e suas preocupaccedilotildees

amigas foram satildeo e seratildeo sempre muito preciosas para mim

Dr Maldonado sempre muito franco e objetivo a sua disponibilidade

amiga seu pronto comprometimento e suas sugestotildees praacuteticas foram por

demais importantes

Dr Leonardo professor que tambeacutem se tornou um querido amigo

Sempre atento e comprometido muito me ajudou com sua leitura cuidadosa e

seus comentaacuterios precisos

Dr Marcus Vinicius amigo querido profissional ilibado mais do que um

professor um companheiro A sua disposiccedilatildeo em estar em minha banca a sua

preocupaccedilatildeo com os meus prazos e seus comentaacuterios preciosos refletem a

pessoa que vocecirc eacute

Dr Jorge Costa cariacutessimo profissional e querido amigo sou muito grata

por sua pronta e gentil disponibilidade em participar desta missatildeo com os

prazos de leitura tatildeo exiacuteguos Gentileza que reconheccedilo e agradeccedilo muito

Dr Willer que tanto me ouviu na construccedilatildeo do meu projeto de

qualificaccedilatildeo o meu reconhecimento ldquoaquelardquo longa conversa foi um ldquomarcordquo

Gostaria de poder ldquofalarrdquo com cada um que esteve comigo quebrando os

paradigmas e solidificando os pilares desta nova construccedilatildeo Gostaria que as

palavras traduzissem a importacircncia que cada um teve nessa etapa da minha

vida Entretanto natildeo poderei estender-me natildeo porque eu natildeo queira mas

porque teria que incorporar muitas e muitas paacuteginas a esta tese e mesmo

assim natildeo conseguiria expressar tudo que penso e sinto por cada um de

vocecircs meus amigos e companheiros

Agrave Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz o meu prazer por fazer parte Muito

obrigada pela oportunidade

ix

Agrave Vice-Presidecircncia de Produccedilatildeo e Inovaccedilatildeo em Sauacutede o meu

reconhecimento agradecido

Ao Vice-Presidente Dr Bermudez sou grata por ter o seu apoio e sua

autorizaccedilatildeo para continuidade do meu afastamento das minhas atividades

laborais Proporcionou-me condiccedilotildees para que a finalizaccedilatildeo deste estudo fosse

factiacutevel

Ao Jorge Costa sem o seu apoio amigo natildeo sei o que teria acontecido

Sua autorizaccedilatildeo proporcionou-me o focirclego necessaacuterio para que a construccedilatildeo

tomasse forma Obrigada de coraccedilatildeo

Agraves companheiras amigas e queridas da Assessoria Gabi Rita e Rosi

sempre positivas Agradeccedilo sinceramente a forccedila e o companheirismo

fraterno e profissional

Querida Silvania amiga que tanto me ouviu e que cuidou com especial

zelo dos meus processos institucionais agradeccedilo de coraccedilatildeo as palavras

carinhosas e todo o apoio recebido

Mansur agradeccedilo a fraterna torcida e as longas conversas sobre

construccedilotildees e (re) construccedilotildees

Carlinha sempre disponiacutevel sempre companheira e amiga muito

obrigada por toda a forccedila pelo apoio constante (em todos os momentos deste

curso de doutorado) pelas longas conversas e por todo carinho que vocecirc tem

me dado

Marcelo e Adriana agradeccedilo o carinho e a torcida

Querida Laiacutes amiga e companheira de artigos do corpo discente de

trabalho e de pesquisa o seu desprendimento foi-me muito caro Solidaacuteria e

preocupada com os meus prazos mesmo atolada de serviccedilos vocecirc teve tempo

para me apoiar nesta construccedilatildeo Obrigada de coraccedilatildeo

Paulinha companheira de artigos e tambeacutem com forte desprendimento

Agradeccedilo o apoio Agradeccedilo a torcida

x

Socircnia e Marluce do DAPS valeu toda a forccedila Eacute muito gratificante

quando encontramos profissionais que se envolvem e torcem pelos alunos E

vocecircs satildeo assim

Ao Serviccedilo de Gestatildeo Acadecircmica da ENSP especialmente

representado por Ceciacutelia Eduardo e Faacutebio agradeccedilo a paciecircncia o apoio

recebido em todos os momentos (e em especial ldquonaquelerdquo periacuteodo mais

complicado) Sou grata pela gentil presteza

Agrave Coordenaccedilatildeo de Poacutes-Graduaccedilatildeo o meu muito obrigado pela

compreensatildeo e por todo o apoio recebido

Queridiacutessimas amigas da turma de doutorado especialmente Andreacutea

Angeacutelica Helena Ialecirc Camila Acircndrea e Ana Paula foram tantas as

emoccedilotildees Posso afirmar com toda certeza sem o apoio sem a torcida sem

os puxotildees de orelha sem as tantas e tantas conversas sem o

compartilhamento de artigos sem as discussotildees sem os ldquoombrosrdquo e sem a

amizade de vocecircs teria sido muito mas muito mais difiacutecil terminar esse curso

Obrigada por terem sido vocecircs a existirem no curso da minha vida

Dr Henry Jouval por quem nutro admiraccedilatildeo e respeito suas ideacuteias

nossas conversas sua leitura cuidadosa do meu projeto de qualificaccedilatildeo e suas

preciosas dicas fundamentarem os novos pilares na minha construccedilatildeo

Agradeccedilo de forma muito especial a sua amizade a sua gentileza a sua

sempre disponibilidade e o seu carinho com os quais sempre fui brindada por

vocecirc

Querida Caacutetia profissional a quem devo o meu reconhecimento e o meu

agradecimento por todas as reflexotildees feitas nos uacuteltimos anos Algumas

ldquoparedesrdquo foram derrubadas com sua ajuda e a construccedilatildeo foi se ampliando E

ganhando mais solidez Obrigada

Querida Emiacutelia amiga especial que daacute chamada que daacute colo que chora

junto que sorri junto que sacode e que torce Agradeccedilo as longas conversas

Agradeccedilo a sua amizade Agradeccedilo o seu carinho

xi

Jorge ldquoMcFlyrdquo estimado amigo da Fiocruz e companheiro de longa

jornada agradeccedilo natildeo ter desistido desta amiga (e espero que ainda consiga

se lembrar de mim) Grata por sua fraterna e carinhosa torcida

Ivonete reconheccedilo a sua paciecircncia Sou grata a vocecirc por ter escutado

tantas vezes as minhas apreensotildees e expectativas Sei que sua torcida eacute muito

amiga Obrigada

Zeacute Paulo amigo querido por quem tenho especial carinho e admiraccedilatildeo

pelo profissional e pela pessoa que eacute Suas chamadas para que eu natildeo

perdesse o ldquofocordquo para que eu parasse de ldquoler ler e lerrdquo e passasse a

ldquoescrever escrever e escreverrdquo foram traduzidas por mim como uma

preocupaccedilatildeo carinhosa genuiacutena e amiga refletindo uma grande torcida

Obrigada de coraccedilatildeo

Querido Naldo sempre espirituoso Nossas conversas regadas a

gargalhadas foram muito produtivas Representaram momentos que

oxigenaram periacuteodos conturbados de minha vida e momentos que deram mais

cor a periacuteodos coloridos Agradeccedilo a sua torcida amiga e sua amizade

carinhosa Agradeccedilo tambeacutem as longas conversas com a ldquoBelrdquo Aos almoccedilos

vindouros que venham com muita frequecircncia

Moniquita amiga generosa companheira solidaacuteria e querida Rimos e

choramos juntas Sou privilegiada por ter construiacutedo este trabalho no mesmo

periacuteodo que a nossa amizade foi construiacuteda Os pilares dela seratildeo soacutelidos Jaacute

satildeo soacutelidos Obrigada por sua paciecircncia pelas conversas tatildeo amigas e tatildeo

francas Obrigada pelas risadas Obrigada por ajudar-me na (re) construccedilatildeo da

minha vida

Marquinhos e Marcelinho generosos queridos e apaixonantes amigos

sei o quanto se importam comigo sei o quanto sou agraciada pela torcida e

pela amizade de vocecircs E esse sentimento faz toda a diferenccedila Saibam que

amo vocecircs hoje e sempre

Fatinha querida com seu jeito uacutenico de ser sua torcida ldquoa la Fatinhardquo eacute

muito especial para mim Sempre juntas desde pequeninas Obrigada por se

preocupar com minha felicidade minha querida prima e irmatilde de coraccedilatildeo

xii

D Leila Noira Lulu e Mauricio tatildeo amados por mim algumas estruturas

que representavam tanto foram destruiacutedas e alguns pilares perdidos

Reconstruccedilotildees satildeo necessaacuterias e sustentam-se com o amor existente com a

torcida presente e com o carinho sentido A nossa relaccedilatildeo eacute sob essas bases

Joseacute Mauriacutecio agradeccedilo a vocecirc a fraterna torcida O meu muito obrigado

por sua sempre disponibilidade e por sua amizade de tantos anos Nutro por

vocecirc um carinho muito grande e uma forte torcida que se estendem por toda

uma vida

O mais importante eacute a constataccedilatildeo de que a estrutura da vida estaacute na

solidez dos pilares que a compotildeem Alguns satildeo fundamentais Satildeo centrais

Sem eles nada teria razatildeo Sem eles nada teria sustentaccedilatildeo Meus pilares

Zaida e Antonio minha matildee e meu pai Razotildees da minha existecircncia A quem

devo tudo De quem me orgulho A quem dedico e recebo amor de forma

incondicional Do colo que eu nasceria um milhatildeo de vezes Amo vocecircs

Obrigada por existirem na minha vida Obrigada por eu ser da vida de vocecircs

Tenho um ldquopar-pilarrdquo Algo do tipo ldquocoluna duplardquo sustentaccedilatildeo

necessaacuteria Sem esse pilar a minha construccedilatildeo ficaria igual a da Torre de Pisa

tortinha Sem a sua torcida seu olhar seu carinho suas defesas seu amor eu

seria incompleta Obrigada por existir minha irmatilde Te amo Bel

Eis que surge um pequeno pilar na minha vida Sua existecircncia se daacute no

decorrer do meu doutorado E eu me pergunto ldquocomo passei a vida inteira sem

esse pilarrdquo Querida Alecirc a titia dedica um amor lindo e um agradecimento

especial a vocecirc que tomou conta dos coraccedilotildees da nossa famiacutelia e ldquosequestrourdquo

o meu no primeiro olhar Um beijo meu amor

E eis que surge mais um pilar Um lindo e moreno pilar Surge em um

momento tatildeo complicado tatildeo necessaacuterio Fez-me sentir ldquoestruturadardquo especial

querida e muito amada E eacute querido eacute especial e eacute muito amado A vocecirc

Mauriacutecio dedico de forma especial o meu amor

E de todos os agradecimentos o principal faccedilo a Deus Ao grande

Arquiteto dedico o meu maior reconhecimento

xiii

Resumo

Esta tese aborda a inter-relaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais com as relaccedilotildees internacionais onde a correlaccedilatildeo do poder e da sauacutede estaacute presente e eacute vislumbrada principalmente no papel do Estado no contexto das relaccedilotildees internacionais e na influecircncia da globalizaccedilatildeo e de seus impactos sobre a poliacutetica de sauacutede - em particular sobre o Complexo Econocircmico- Industrial da Sauacutede (CEIS) ndash conjunto de atividades produtivas e de serviccedilos que pautam uma relaccedilatildeo sistecircmica entre setores industriais e os prestadores de serviccedilos em sauacutede - e na sua respectiva correlaccedilatildeo com a conduccedilatildeo da poliacutetica externa do Paiacutes Subsidia a aproximaccedilatildeo do campo da sauacutede com o do desenvolvimento nacional e regional caminhando em um sentido duplo de um lado traz a agenda de desenvolvimento para o campo da sauacutede e de outro fornece pistas de como as accedilotildees em sauacutede podem contribuir para uma perspectiva mais geral de desenvolvimento e integraccedilatildeo onde as demandas exercidas por influecircncias poliacutetico-econocircmicas na arena internacional tecircm poder significativo na conduccedilatildeo de poliacuteticas nacionais e na conduccedilatildeo da poliacutetica externa do Paiacutes

Dada a contemporaneidade do tema este estudo eacute fundamentado em pesquisas documentais e descritivas de natureza exploratoacuteria com base na anaacutelise das informaccedilotildees disponibilizadas em publicaccedilotildees ndash livros artigos legislaccedilotildees e perioacutedicos aleacutem da anaacutelise de relatoacuterios divulgados em portais governamentais e especializados e de apresentaccedilotildees de experts disponiacuteveis em domiacutenio puacuteblico

A construccedilatildeo dos capiacutetulos se desenvolve de forma ascendente em que as relaccedilotildees internacionais destacam o papel do Estado na complexidade das relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e de poderes internacionais assimeacutetricos e em que os direitos sociais e humanitaacuterios procuram se estabelecer Nesse contexto a retomada do papel estrateacutegico do Estado para o desenvolvimento nacional encontra na sauacutede e nos contornos estrateacutegicos da poliacutetica externa brasileira um contexto feacutertil para fundamentar a relaccedilatildeo virtuosa entre sauacutede e desenvolvimento em que o CEIS se estabelece a partir do pilar estrateacutegico da inovaccedilatildeo

Eacute apresentada sob o recorte geograacutefico das relaccedilotildees Sul-Sul onde se observa tendecircncia positiva para temas como a sauacutede serem considerados como elementos fundamentais para a promoccedilatildeo do desenvolvimento em estreita interaccedilatildeo e parceria com a comunidade internacional notadamente com as naccedilotildees do Sul

Em capiacutetulos subsequentes o estudo indica como resultado da relaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais e externa que o CEIS vem a partir da consolidaccedilatildeo produtiva nacional exercendo maior influecircncia na conduccedilatildeo das poliacuteticas externas da naccedilatildeo Essa constataccedilatildeo tem ocupado nos uacuteltimos anos posiccedilatildeo mais efetiva e menos secundaacuteria na formulaccedilatildeo das diretrizes que orientam a poliacutetica externa brasileira notadamente no que se refere agraves cooperaccedilotildees humanitaacuterias e agraves cooperaccedilotildees teacutecnicas internacionais Quanto agraves cooperaccedilotildees teacutecnicas internacionais satildeo pontuais as cooperaccedilotildees Sul-Sul tendo como principais balizadores questotildees como doenccedilas negligenciadas HIVAIDS e bancos de leite humanos especificamente junto aos paiacuteses do MERCOSUL da UNASUL e da CPLP

Portanto o CEIS - Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede - no Brasil estabelece-se como diferencial estrateacutegico para que nos contextos nacional regional e inter-regional sejam superadas vulnerabilidades econocircmicas assimetrias tecnoloacutegicas resguardadas as soberanias e os estados de bem-estar e potencializadas cooperaccedilotildees e negociaccedilotildees internacionais em conjunto com atores nacionais e internacionais

Palavras-chave Sauacutede Desenvolvimento Estado Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede Globalizaccedilatildeo Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede Cooperaccedilatildeo Sul-Sul Relaccedilotildees Internacionais Diplomacia em Sauacutede Poliacutetica externa Vulnerabilidade Assimetrias Tecnoloacutegicas Soberania estado de Bem-Estar

xiv

Abstract

This thesis addresses the interrelationship of national policies with international relations where the correlation of power and health is present and is envisioned primarily in the role of the state in the context of international relations and the influence of globalization and its impacts on health policy - in particular the Health Economic-Industrial Complex (CEIS) ndash set of productive and services activities that guide a systemic relation between industry activities and service providers in health ndash and in their respective correlation with the conduction of foreign policy‟s BrazilIt subsidizes the approach in the health field with the national and regional development walking in a double sense on one hand brings the development agenda for the field of health and on the other provides clues as how health actions can contribute to a more general development and integration where the demands exerted by political and economic influences in the international arena have significant power in the conduction of national policies and in the conduction of foreign policy‟s country

Given the contemporary theme this study is based on documentary and descriptive research of exploratory nature based on analysis of the information available in publications - books articles journals and Laws as well as analysis of governmental reports released on portals and specialized presentations of experts available in the public domain

The construction of the chapters is developed in ascending order where the international relations situate the role of the State in the complexity of political economic and international relationships as well as international asymmetric powers and in the social and humanitarian rights seek to be established In this context the resumption of the strategic role of the State to the national development finds in the health and strategic contours of the Brazilian foreign policy a fertile environment to support the virtuous relationship between health and development in what the Health Economic- Industrial Complex - CEIS is settled from a strategic pillar of innovation

It is presented under the cut of the geographical South-South relations which is a positive trend for subjects such as health to be considered as key elements in the promotion of the development in close interaction and partnership with the international community especially with the South nations

In the subsequent chapters the study indicates as a result of national and external policies that CEIS is exerting increasing influence on the conduction of foreign policy of the nation since the national productive consolidation In recent years this finding has occupied a more effective and less secondary position in formulating of guidelines that guide the Brazilian foreign policy especially regarding the humanitarian cooperation and international technical cooperation As for international technical cooperation the south-south cooperation are very isolated having as the main indicators issues as neglected diseases HIV AIDS and Human Milk Banks specifically at Mercosur Unasur and the ldquoCPLPrdquo

Therefore the Health Economic -Industrial Complex in Brazil establishes itself as a strategic differentiator so that the national regional and inter-regional scenarios can overcome economic vulnerabilities technological asymmetries safeguarding the sovereignty and the Welfare states as well as maximize international cooperation and negotiations along with national and international actors

Keywords Health Development State Health Economic and Industrial Complex Globalization

International Cooperation in Health South-South Cooperation International Relations Health Diplomacy

External Policy Vulnerability Technological Asymmetries Sovereignty Welfare State

xv

Lista de Siglas e Abreviaturas

AMS Assembleacuteia Mundial da Sauacutede

ABC Agecircncia Brasileira de Cooperaccedilatildeo

ABDI Agecircncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial

ACNUR Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Refugiados

ALADI Associaccedilatildeo Latino-Americana de Integraccedilatildeo

ALBA Alianccedila Bolivariana para as Ameacutericas

ALC-EU Cuacutepula Ameacuterica Latina Caribe e Uniatildeo Europeacuteia

AOD Ajuda Oficial para o Desenvolvimento

ASA Cuacutepula Ameacuterica do Sul - Aacutefrica

ASPA Cuacutepula Ameacuterica do Sul - Paiacuteses Aacuterabes

ATS Avaliaccedilatildeo de Tecnologias em Sauacutede

BBFC Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo e Controle

BIO-

MANGUINHOS Instituto de Tecnologia em Imunobioloacutegicos

BLH Banco de Leite Humano

BRICS Agrupamento Brasil Ruacutessia Iacutendia China e Aacutefrica do Sul

BVS

CampT

Biblioteca Virtual em Sauacutede

Ciecircncia e Tecnologia

CAN Comunidade Andina de Naccedilotildees

CCM Comissatildeo de Comeacutercio do Mercosul

CDC Centro para Controle e Prevenccedilatildeo de Doenccedilas

CE Comitecirc Executivo

CE Conselho Executivo (OMS)

CEIS Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

CELAC Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos

CEWG

Consultative Expert Working Group on Research and Development

Financing and Coordination

CICT Centro Internacional de Cooperaccedilatildeo Tecnoloacutegica em HIVAIDS

CID Cooperaccedilatildeo Internacional para o Desenvolvimento

CMC Conselho Mercado Comum

xvi

CPC Comissatildeo Parlamentar Conjunta

CPLP Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa

CQCT Convenccedilatildeo-Quadro para o Controle do Tabaco

CSNU Conselho de Seguranccedila das Naccedilotildees Unidas

CSS Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

CSS Conselho Sauacutede Sul-Americano

CTCampT Cooperaccedilatildeo Teacutecnica Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

CTIME Centros Teacutecnicos de Instalaccedilatildeo e Manutenccedilatildeo de Equipamentos

CTPD Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre Paiacuteses em Desenvolvimento

DNDI Iniciativa Medicamentos para Doenccedilas Negligenciadas

EB Executive Board

EPI Economia Poliacutetica Internacional

EUA Estados Unidos da Ameacuterica

FAO Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para Alimentaccedilatildeo e Agricultura

FAR-

MANGUINHOS Instituto de Tecnologia em Faacutermacos

FCES Foro Consultivo Econocircmico-Social

FHC Fernando Henrique Cardoso

FIOCRUZ Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz

FMI Fundo Monetaacuterio Internacional

FOCALAL Foacuterum de Cooperaccedilatildeo Ameacuterica Latina - Aacutesia do Leste

G-20 Grupo dos 20

G-77 Grupo dos 77

G-8 Grupo dos 8

GECIS Grupo Executivo do Complexo Industrial da Sauacutede

GMC Grupo Mercado Comum

GPP Grandes Paiacuteses Perifeacutericos

GSK Glaxo SmithKline

GTI-AHI

Grupo de Trabalho Interministerial sobre Assistecircncia Humanitaacuteria

Internacional

H1N1 Influenza A

HIB Haemophilus Influzae tipo b

IBAS Foacuterum de Diaacutelogo Iacutendia Brasil e Aacutefrica do Sul ou G-3

xvii

IBERBLH Programa Ibero-Americano de Bancos de Leite Humano

IGWG

Intergovernmental Working Group on Public Health Innovation and

Intellectual Property

IPEA Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada

ISAGS Instituto Sul-Americano de Governanccedila em Sauacutede

MCT Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo

MDIC Ministeacuterio do Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Exterior

MERCOSUL Mercado Comum do Sul

MNA Movimento dos Paiacuteses natildeo-Alinhados

MRE Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores

MS Ministeacuterio da Sauacutede

MSTI Main Science and Technology Indicators

NETHIS Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacutetica e Diplomacia em Sauacutede

OCDE Organizaccedilatildeo para Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico

OCHA Escritoacuterio das Naccedilotildees Unidas para Coordenaccedilatildeo de Assuntos Humanitaacuterios

ODM Objetivo de Desenvolvimento do Milecircnio

OMC Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

OMS Organizaccedilatildeo Munidial da Sauacutede

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OPAS Organizaccedilatildeo Pan-Americana de Sauacutede

ORIS Oficinas de Relaccedilotildees Internacionais em Sauacutede

OTCA Organizaccedilatildeo de Tratado de Cooperaccedilatildeo Amazocircnica

PampD Pesquisa e Desenvolvimento

PAC Plano de Aceleraccedilatildeo do Crescimento

PALOP Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa

PCB Programme Coordinating Board

PDP Parcerias para Desenvolvimento de Produtos

PECS Plano de Sauacutede da Comunidade de Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa

PIB Produto Interno Bruto

PITCE Poliacutetica Industrial Tecnologia e de Comeacutercio Exterior

PMA Programa Mundial de Alimentos

PNUD Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento

xviii

PNUMA Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio-Ambiente

PPD Partners in Population and Development

PPT Presidecircncia Pro-Tempore

REDSUR-

ORISS

Rede de Oficinas de Relaccedilotildees Internacionais e Cooperaccedilatildeo

Internacional em Sauacutede

RESP Rede de Escolas de Sauacutede Puacuteblica

RETS Rede de Escolas Teacutecnicas de Sauacutede

RI Relaccedilotildees Internacionais

RINC Rede de Institutos Nacionais de Cacircncer

RINS Rede de Institutos Nacionais de Sauacutede

RMS Reuniatildeo de Ministros da Sauacutede do Mercosul

SAM Secretaria Administrativa do Mercosul

SELA Sistema Econocircmico Latino-Americano de Integraccedilatildeo

SGT-11 Subgrupo de Trabalho n11

SI Sociedade Internacional

SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede

TEC Tarifa Externa Comum

TRIPS

Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados com

o Comeacutercio

UE Uniatildeo Europeacuteia

UNAIDS

Joint United Nations Programme on HIVAIDS Progama Conjunto das

Naccedilotildees Unidas sobre HIVAIDS

UNASUL Uniatildeo das Naccedilotildees Sul-Americanas

UNDP United Nations Development Programme

UNICEF Fundo das Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia

WDI World Development Indicators

WHO World Health Organization

WIPO World Intellectual Property Organization

xix

Lista de Tabelas

Tabela 1 ndash As Principais Economias no Mundo (PIB) ndash 2011

090

Tabela 2 ndash Orccedilamento Governamental em PampD - objetivo socioeconocircmico ldquoSauacutede e Meio-Ambienterdquo Brasil e OCDE 2000-2011

092

Tabela 3 ndash Redes de Instituiccedilotildees Estruturantes no Campo da Sauacutede na Unasul

157

Tabela 4 ndash Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede em accedilotildees vinculadas ao CEIS (Prestaccedilatildeo de Assistecircncia Humanitaacuteria) - periacuteodo 2006 a 05-2010

198

Tabela 5 ndash Principais resultados (2003-2009) CEIS e Poliacutetica Externa

215

Tabela 6 ndash Incorporaccedilatildeo Tecnoloacutegica ndash Principais Accedilotildees da Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz relacionadas ao CEIS - periacuteodo 2003-2009

227

xx

Lista de Quadros

Quadro 1 ndash Principais Teorias da EPI 052

Quadro 2 ndash Relaccedilatildeo de Documentos Internacionais Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e Sauacutede

126

Quadro 3 ndash Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede Relaccedilatildeo de Paiacuteses e Banco de Leite Humano

214

Quadro 4 ndash Resoluccedilotildees do Mercosul ndash CEIS

220

xxi

Lista de Graacuteficos

Graacutefico 1 ndash Investimentos em Cooperaccedilatildeo Teacutecnica (em )

135

Graacutefico 2 ndash Relaccedilatildeo de Investimentos em Cooperaccedilatildeo Brasileira para o Desenvolvimento em Assistecircncia Humanitaacuteria (em )

135

Graacutefico 3 ndash Investimentos em Cooperaccedilatildeo Internacional Brasileira para o Desenvolvimento Internacional ndash entre 2005 e 2009 (em )

136

Graacutefico 4 ndash Baixo Crescimento das Economias Maduras

139

xxii

Lista de Figuras

Figura 1 ndash Representaccedilatildeo do Impacto do CEIS em Expansatildeo

032

Figura 2 ndash Sistema Econocircmico Internacional ndash Esquema Analiacutetico Baacutesico

049

Figura 3 ndash Modus Operandi da OMS

104

Figura 4 ndash Reuniatildeo de Ministros da Sauacutede do Mercosul ndash RMS

149

Figura 5 ndash Intercessatildeo Geopoliacutetica do Brasil na Aacuterea da Sauacutede

204

Figura 6 ndash Formaccedilatildeo da Cadeia de Conhecimentos

208

Figura 7 ndash CEIS e Relaccedilotildees Internacionais Categorias Centrais

256

xxiii

SUMAacuteRIO

Resumo xiii

Abstract xiv

Lista de Siglas e Abreviaturas xv

Lista de Tabelas xix

Lista de Quadros xx

Lista de Graacuteficos xxi

Lista de Figuras xxii

Introduccedilatildeo 025

Objetivo Geral 035

Objetivos Especiacuteficos 036

Hipoacutetese 036

Limitaccedilotildees e Desafios 037

Metodologia da Pesquisa 039

Procedimentos de Pesquisa 039

Capiacutetulo I Relaccedilotildees Internacionais 042

1 ndash Introduccedilatildeo 042

2 ndash A Abordagem da Sociedade Internacional 043

3 ndash A Abordagem da Economia Poliacutetica Internacional 045 Capiacutetulo II Estado e Relaccedilotildees Internacionais ndash A Retomada do Papel dos Estados Nacionais 062

1 ndash Introduccedilatildeo 062

2 ndash Estado como Ator Estrateacutegico nas Relaccedilotildees Internacionais 063

3 ndash Protagonismo do Estado no Contexto da Globalizaccedilatildeo

e da Inovaccedilatildeo 077

xxiv

Capiacutetulo III Inserccedilatildeo do Brasil no Contexto Internacional da Sauacutede 088

1 ndash Sauacutede nas Relaccedilotildees Internacionais 100

2 ndash Agenda Sul-Sul 122 21 Mercosul 144

22 Unasul 152

23 Aacutefrica 161

24 Cooperaccedilatildeo Triangular 166

25 Reflexotildees sobre o Papel do Brasil na

Cooperaccedilatildeo Sul-Sul 169

Capiacutetulo IV CEIS O Papel do Estado na Inovaccedilatildeo e no Campo da Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede na Agenda Sul-Sul 175

1 ndash CEIS Estado e Inovaccedilatildeo Sauacutede e Desenvolvimento 175

2 ndash Cooperaccedilatildeo Internacional e as Relaccedilotildees Internacionais um olhar sobre o CEIS na relaccedilatildeo Sul-Sul 191

21 Cooperaccedilatildeo Internacional sob a Abordagem da

Assistecircncia Humanitaacuteria 196

22 Cooperaccedilatildeo Internacional sob a Abordagem da

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica Internacional 201

Capiacutetulo V CEIS Poliacutetica Externa em Accedilatildeo um Olhar sobre o Sul 210 Consideraccedilotildees Finais 234 Referecircncias Bibliograacuteficas 259 Bibliografia Consultada 270 Anexo I 274

INTRODUCcedilAtildeO

Mais claramente observada no Seacuteculo XXI como estrateacutegia poliacutetica a

aacuterea da sauacutede eacute priorizada no campo poliacutetico em funccedilatildeo da relevacircncia e da

relaccedilatildeo que as bases de conhecimento os campos da ciecircncia da tecnologia e

da inovaccedilatildeo tecircm como estado de bem-estar da sociedade

Aleacutem disso o setor sauacutede tem sido cada vez mais considerado como

indutor e parte constitutivo do modelo de desenvolvimento dos paiacuteses

desenvolvidos em forte expansatildeo e dos paiacuteses em desenvolvimento em

consolidaccedilatildeo

Estaacute inserido local e globalmente de forma cada vez mais intensa em

um processo de mutaccedilatildeo social industrial e institucional o que passa a ser

aleacutem de uma oportunidade um desafio ao se tentar associar agraves dinacircmicas

nacionais e internacionais sociais econocircmicas de inovaccedilatildeo e de produccedilatildeo

Sob a perspectiva social temas como o da sauacutede ganharam relevacircncia

na agenda da poliacutetica internacional apoacutes a Guerra Fria Com a perda de nitidez

do confronto ideoloacutegico e com o advento da multipolaridade os temas sociais

tornaram-se globais interessando a todas as sociedades A sauacutede portanto

cada vez mais vem avanccedilando na agenda das relaccedilotildees exteriores e nos

assuntos globais mesclando-se agraves questotildees econocircmicas comerciais e de

seguranccedila nacional (Buss e Ferreira 2008) [1]

Assim questotildees como as relacionadas agrave guerra e agrave paz agrave economia e

ao comeacutercio ditas como hard power vecircm cedendo espaccedilo nas uacuteltimas

deacutecadas para questotildees como a sauacutede em funccedilatildeo do aumento de acordos

internacionais sobre esse tema reconhecido no cenaacuterio internacional como soft

power

Haacute entretanto segundo definem Kickbusch e Berger 1 uma tendecircncia a

que essas questotildees reconhecidas como ldquosoftrdquo se imbriquem nas questotildees

ldquohardrdquo das economias nacionais Esses autores justificam sob essa nova

1 Fonte Buss P Ferreira J Documento institucional interno da Fiocruz Rio de Janeiro

Fiocruz 2008

26

loacutegica que haacute um reconhecimento cada vez maior acerca dos ldquobens puacuteblicos

globaisrdquo que satildeo ldquonegociados e assegurados e que regimes na aacuterea do

comeacutercio e do desenvolvimento econocircmico devem ser complementados por

outros em esferas como ambiente e sauacutederdquo 1 (p 20)

Por outro lado em que pese a importacircncia do enfoque econocircmico a

consequente valorizaccedilatildeo dos temas sociais eacute fruto da reformulaccedilatildeo das

concepccedilotildees ateacute entatildeo vigentes do desenvolvimento confere agrave aacuterea social uma

essencialidade em que se privilegia a solidariedade social e o ser humano

como centrais nas preocupaccedilotildees e nos interesses estatais

Nesse sentido o tema ganhou representatividade em funccedilatildeo de uma

seacuterie de movimentos entre os Estados em foacuteruns e conferecircncias mundiais que

deu relevacircncia e sustentabilidade aos temais sociais nas questotildees estrateacutegicas

das relaccedilotildees internacionais

Portanto questotildees relacionadas agrave sauacutede ultrapassaram a sua

abordagem mais teacutecnica e tornaram-se essenciais nas poliacuteticas externa de

seguranccedila e comercial tanto pelo seu valor intriacutenseco como pela

predominacircncia de valores humanos incidentes sobre outros interesses

Por outro lado sob a perspectiva econocircmico-industrial a sauacutede exerce

papel estrateacutegico e fundamental no contexto do desenvolvimento nacional e da

poliacutetica industrial seja interagindo com o sistema econocircmico-industrial e o

potencial de inovaccedilatildeo no setor seja contribuindo para uma perspectiva mais

geral de desenvolvimento e integraccedilatildeo 234

Representa simultaneamente a dimensatildeo social e da cidadania com a

econocircmica e da inovaccedilatildeo 5 A sauacutede nesse sentido em intriacutenseca interaccedilatildeo

com os interesses sociais eacute uma variaacutevel estrateacutegica para a competitividade

nacional 23 apresentando as dimensotildees do direito e da cidadania do

desenvolvimento econocircmico seja pela geraccedilatildeo de inovaccedilatildeo de renda e de

emprego da promoccedilatildeo do desenvolvimento nacional seja pelas caracteriacutesticas

de transformar o contexto atual em uma saiacuteda estrutural e de longo prazo para

o desenvolvimento brasileiro

27

Os investimentos sociais na aacuterea da sauacutede representam 88 do PIB

valor correspondente a quase US$ 100 bilhotildeesano O setor gera 10 dos

empregos formais qualificados tem o maior investimento em PampDampI no Brasil e

participa com cerca de 25 das publicaccedilotildees nacionais [2] Eacute um setor prioritaacuterio

dado o fato de aliar alto potencial de inovaccedilatildeo e priorizar o atendimento ao

sistema universal de sauacutede

A sauacutede estaacute inserida em aacutereas determinantes para o futuro do Paiacutes tais

como a biotecnologia a nanotecnologia a quiacutemica fina a microeletrocircnica aleacutem

de perpassar pela aacuterea dos serviccedilos assim como ceacutelulas-tronco e

telemedicina Todas essas aacutereas segundo Padilha e Gadelha [3] ldquorepresentam

22 do esforccedilo mundial de inovaccedilatildeo e quem ficar fora seraacute dependente fraacutegil

e subservienterdquo

Portanto o campo da sauacutede apresenta-se como um campo privilegiado

para as questotildees de soberania para o fortalecimento do papel do estado

nacional e da hegemonia no campo da ciecircncia e tecnologia E nesse sentido o

Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede (CEIS) emerge como ponte entre a

ciecircncia a tecnologia a inovaccedilatildeo o desenvolvimento econocircmico a soberania e

o bem-estar social Formado por setores industriais de base quiacutemica e

biotecnoloacutegica (induacutestrias de faacutermacos medicamentos vacinas

hemoderivados e reagentes para diagnoacutestico) e de base mecacircnica eletrocircnica

de proacuteteses e oacuterteses e de materiais de consumo aleacutem de organizaccedilotildees

prestadoras de serviccedilos em sauacutede (hospitais ambulatoacuterios e serviccedilos de

diagnoacutestico e tratamento) o CEIS eacute um conjunto de atividades produtivas e de

serviccedilos em sauacutede que pautam uma relaccedilatildeo sistecircmica entre os setores

envolvidos 23

No Brasil o CEIS inserido nesse contexto de constante transformaccedilatildeo

industrial e institucional destaca-se como espaccedilo institucional e econocircmico

particular ldquoformado por induacutestrias fortemente inovadoras e veiacuteculos

importantes de novos paradigmas tecnoloacutegicosrdquo 3 Tem no Estado um papel de

2 Fonte IBGE (2012) e dados disponibilizados pelo Grupo de Pesquisa GISENSP Fiocruz

3 Fonte Padilha A Gadelha CAG Sauacutede na agenda industrial e do desenvolvimento Jornal

Valor Econocircmico 17012012

28

grande importacircncia social e estrateacutegica como ator essencial na promoccedilatildeo da

articulaccedilatildeo da sauacutede com o sistema de inovaccedilatildeo

Isso posto poliacuteticas nacionais efetivas ultrapassam vulnerabilidades e

oferecem contornos que definem o CEIS e a sauacutede no Brasil como promotores

do desenvolvimento nacional cujo protagonismo natildeo se esgota nos limites da

fronteira nacional favorecendo condiccedilotildees e diferenciais para que o Paiacutes se

estabeleccedila no contexto internacional como parceiro na promoccedilatildeo do

desenvolvimento econocircmico de paiacuteses do eixo Sul-Sul e forte player nas

discussotildees sobre sauacutede em foacuteruns internacionais

Portanto o CEIS estabelece-se com representatividade estrateacutegica para

que a sauacutede do Paiacutes natildeo sucumba agraves vulnerabilidades histoacutericas que

comprometem sua base produtiva tecnoloacutegica endoacutegena Quando apontamos

a vertente da vulnerabilidade ressaltamos notadamente e cada vez mais o

crescente deacuteficit da balanccedila comercial da sauacutede do Brasil O que representa

forte dependecircncia externa de produtos do CEIS sobretudo os de maior

dependecircncia tecnoloacutegica vulneraacutevel agrave oscilaccedilatildeo cambial tornando quase

irreversiacutevel as consequecircncias da poliacutetica liberal dos anos 90 Poliacutetica essa que

destruiu a produccedilatildeo de produtos de alta tecnologia em sauacutede no Paiacutes [4]

O aumento exponencial do deacuteficit na balanccedila comercial do CEIS pode

ser observado ao destacar que no final da deacutecada de 80 o deacuteficit chegava a

US$ 700 milhotildees em 2005 alcanccedilava US$ 3 bilhotildees e em 2011 US$ 11

bilhotildees [5] O que representa nos uacuteltimos seis anos um aumento alarmante de

quase 300 e nas trecircs uacuteltimas deacutecadas um incremento de 1500 no deacuteficit da

balanccedila comercial da sauacutede Qualquer oscilaccedilatildeo cambial poderaacute tornar

inexequiacuteveis programas essenciais de sauacutede como o de assistecircncia

farmacecircutica de cacircncer de imunizaccedilatildeo infantil tratamentos de HIV dentre

outros

Esse quadro da balanccedila comercial do CEIS eacute um grande desafio que

requer a inovaccedilatildeo como um meio para viabilizar o desenvolvimento e o

4 A dependecircncia de importaccedilotildees de faacutermacos nesse periacuteodo chegou a 85 das necessidades

nacionais Fonte Elaboraccedilatildeo do Grupo de Pesquisa de Inovaccedilatildeo em Sauacutede - GISENSPFiocruz 2011 5 Dados fornecidos pelo GISENSPFiocruz em maio de 2012 a partir dos dados da Rede Alice

do MDIC

29

atendimento agrave dimensatildeo social relacionada ao acesso universal preconizado

no Brasil Sendo assim reverter esse quadro passa pela busca do

desenvolvimento da produccedilatildeo inovadora endoacutegena a fim de garantir a

sustentabilidade do acesso aos bens da sauacutede atender agrave sociedade brasileira

e ampliar possibilidades para atendimento das demandas de paiacuteses em

desenvolvimento principalmente daqueles que a poliacutetica externa brasileira vem

priorizando sob os laccedilos Sul-Sul

A esse quadro de vulnerabilidades soma-se a competiccedilatildeo assimeacutetrica da

induacutestria nacional composta por pequenas e meacutedias empresas com estruturas

oligopolizadas e multinacionais que se estabelecem sob a loacutegica financeira

internacional formando uma forte vertente de desequilibrada concorrecircncia

Muacuteltiplas forccedilas exoacutegenas influenciam a poliacutetica de sauacutede puacuteblica 6 Haacute

de se competir no plano da estrutura industrial onde se percebe um movimento

de concentraccedilatildeo de capital e de tecnologia que resulta de interesses

internacionais e em imensos conglomerados multinacionais que competem e

repartem o mercado mundial da induacutestria da sauacutede Para o autor o Estado

moderno vem sofrendo tambeacutem accedilotildees de muacuteltiplas forccedilas simultacircneas Satildeo

pressotildees exercidas por acordos promovidos por agecircncias internacionais aleacutem

da diminuiccedilatildeo do papel do Estado por conta da expansatildeo da globalizaccedilatildeo e

pela crescente influecircncia de organizaccedilotildees natildeo-governamentais Tudo isso

reflete na conduccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede puacuteblica

Logo dados o novo caraacuteter e o peso cada vez maior das relaccedilotildees

econocircmicas transnacionais a accedilatildeo do Estado tende a ficar cada vez mais

constrita Sendo assim a globalizaccedilatildeo provoca interdependecircncia entre as

economias nacionais que em funccedilatildeo das estrateacutegias governamentais podem

levar as naccedilotildees agrave consolidaccedilatildeo ou agrave vulnerabilidade externa 7 Isto eacute com a

globalizaccedilatildeo haacute uma perda da capacidade do mesmo em conduzir seus

objetivos poliacuteticos de maneira autocircnoma ficando cada vez mais subordinado

agraves exigecircncias da economia global ldquodesmantelando-se arranjos [caracteriacutesticos

do] Estado-Sociedaderdquo

Esta questatildeo afeta desproporcionalmente paiacuteses em desenvolvimento

de forma desfavoraacutevel em dois aspectos marcantes o primeiro refere-se agraves

30

dificuldades de governanccedila governabilidade e de harmonizaccedilatildeo institucional

dentre o bloco desses paiacuteses ocasionando sobre os mesmos uma perda na

autonomia na tomada de decisatildeo que deixa de se pautar por prioridades

nacionais sem que haja entretanto contrapartida do fortalecimento regional o

segundo aspecto em parte decorrente do anterior refere-se ao desequiliacutebrio

geopoliacutetico na definiccedilatildeo das prioridades da agenda global da sauacutede

Numa perspectiva de fortalecimento da sauacutede puacuteblica a globalizaccedilatildeo

enfatiza oportunidades para a sauacutede por meio de uma seacuterie de iniciativas

globais resultantes da accedilatildeo entre paiacuteses A despeito das diferenccedilas de forccedila

observadas entre os atores globais o resultado de alianccedilas e coalizotildees

intergovernamentais e com outros atores da sociedade civil tende a fortalecer a

incorporaccedilatildeo de temas importantes para a agenda nacional de sauacutede de paiacuteses

menos desenvolvidos em debates globais e na formaccedilatildeo da agenda de sauacutede

global 8

Assim sendo as mudanccedilas percebidas no estabelecimento das

prioridades para a tomada de decisotildees das poliacuteticas puacuteblicas em sauacutede tecircm

sido fundamentalmente um reflexo das circunstacircncias nacionais e do que a

sauacutede precisa Este posicionamento destaca a potencialidade de fortalecimento

da voz poliacutetica dos interesses de naccedilotildees menos desenvolvidas mesmo que em

condiccedilotildees assimeacutetricas de influecircncia sobre a agenda

Diante do exposto a sauacutede ultrapassa as fronteiras nacionais e promove

caminhos internacionais Isso posto em que pese natildeo terem sido observados

ganhos suficientes que alterassem o peso brasileiro no contexto mundial ateacute o

final do Seacuteculo XX 9 haacute fortes evidecircncias de mudanccedila notadamente no

contexto da sauacutede em que a poliacutetica externa brasileira vem apresentando

mudanccedila na sua atuaccedilatildeo no cenaacuterio internacional particularmente a partir da

primeira deacutecada do Seacuteculo XXI [6]

Nesse sentido ganha a sauacutede um papel internacional que integra e

articula o Ministeacuterio da Sauacutede e o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores A sauacutede

portanto se relaciona com o processo de globalizaccedilatildeo com a diversificaccedilatildeo de

6 Daiacute ter sido escolhida a primeira deacutecada do Seacuteculo XXI como recorte temporal desta tese de

doutorado

31

mercados com a geopoliacutetica internacional com a soberania nacional e com a

solidariedade internacional principalmente com os paiacuteses do Sul

Vale destacar que sob o enfoque das cooperaccedilotildees Norte-Sul e Sul-Sul

a sauacutede nos torna simultaneamente parceiros receptores e doadores O CEIS

nessa relaccedilatildeo dual ganha caraacuteter estrateacutegico para a consolidaccedilatildeo das

cooperaccedilotildees internacionais Considerado como aacuterea estrateacutegica de Estado o

CEIS quando fortalecido e consolidado e nesse sentido a cooperaccedilatildeo Norte-

Sul eacute fator determinante [7] representa forte impacto no desenvolvimento

socioeconocircmico do Paiacutes e de paiacuteses cuja busca eacute semelhante a do Brasil

alargando o alcance do exerciacutecio diplomaacutetico brasileiro da sua projeccedilatildeo no

cenaacuterio externo e no fortalecimento das cooperaccedilotildees estruturantes no acircmbito

dos paiacuteses do Sul

Ao mesmo tempo em que um paiacutes precisa ampliar o seu acesso a novos

mercados e a novos conhecimentos precisa tambeacutem obter espaccedilo para a

conduccedilatildeo das suas poliacuteticas puacuteblicas Situaccedilatildeo essa enfatizada na medida em

que a capacidade de produccedilatildeo de bens de sauacutede - contextualizado o impacto

do CEIS na geraccedilatildeo de inovaccedilatildeo e a relaccedilatildeo desta com a competitividade em

cenaacuterio global ndash acaba se configurando como preacute-condiccedilatildeo para legitimar e

fortalecer o aspecto soberano de uma naccedilatildeo na nova arena geopoliacutetica Essa

situaccedilatildeo pode ser refletida na figura 1 a seguir que representa o impacto na

expansatildeo do desenvolvimento nacional e por consequecircncia na expansatildeo da

atuaccedilatildeo do Paiacutes no cenaacuterio internacional quando o CEIS se expande

Representa portanto a relaccedilatildeo direta do fortalecimento e da consolidaccedilatildeo do

CEIS sobre o desenvolvimento nacional e a expansatildeo da atuaccedilatildeo do Paiacutes no

cenaacuterio internacional

7 Natildeo eacute pretensatildeo desta tese analisar eou aprofundar discussotildees acerca do contexto da sauacutede nas

relaccedilotildees Norte-Sul a despeito da grande importacircncia do tema Requerer-se-ia um aprofundamento que

demandaria uma abordagem distinta para a tese ora apresentada Nesse sentido para este estudo optou-se

pela abordagem das cooperaccedilotildees Sul-Sul

32

Figura 1 Representaccedilatildeo do Impacto do CEIS em expansatildeo

Elaboraccedilatildeo proacutepria

Entretanto haacute de se considerar que a inter-relaccedilatildeo das poliacuteticas

nacionais com as relaccedilotildees internacionais encerra desafios diversos

enfrentados no mercado nacional que natildeo satildeo ultrapassados sem que se

cumpra uma agenda de transformaccedilotildees internas como preacute-condiccedilatildeo ou

consequecircncia da exposiccedilatildeo aos mercados externos As transformaccedilotildees daiacute

decorrentes trazem uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica e uma forte consolidaccedilatildeo da

gestatildeo poliacutetica estrateacutegica preparando o Paiacutes para um papel destacado no

contexto geopoliacutetico internacional

Parte-se portanto a priori da defesa da ideacuteia de que as influecircncias

exercidas por intermeacutedio do papel do Estado voltado para a consolidaccedilatildeo de

um sistema de inovaccedilatildeo dinacircmico com efeitos diretos no desenvolvimento do

Brasil e na soberania nacional tecircm relaccedilatildeo direta com a inserccedilatildeo ativa do Paiacutes

no contexto das suas relaccedilotildees internacionais

Sob essa abordagem a agenda de inserccedilatildeo soberana na aacuterea da sauacutede

eacute observada no CEIS e eacute sob essa perspectiva inclusive que se busca o

enfrentamento da relaccedilatildeo econocircmica e de poder assimeacutetrico no contexto da

geopoliacutetica internacional

ContextoNacional

ContextoExterno

CEIS (em expansatildeo)

33

A relevacircncia do presente estudo dada a assimetria tecnoloacutegica global

pauta-se portanto no esforccedilo para subsidiar um enfoque teoacuterico alternativo

que incorpore a retomada do papel do Estado nacional na dinacircmica da

transformaccedilatildeo socioeconocircmica e da inovaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede no Brasil

fundamentado pela relaccedilatildeo de poder existente entre o Estado soberano a

dinacircmica da sua poliacutetica externa e o contexto da globalizaccedilatildeo nas relaccedilotildees

internacionais

Em sequecircncia este estudo estaacute dividido em cinco capiacutetulos aleacutem desta

introduccedilatildeo que inclui objetivos hipoacutetese desafios e limitaccedilotildees e procedimentos

de pesquisa e das consideraccedilotildees finais

O Capiacutetulo I dialoga com duas das abordagens teoacutericas das Relaccedilotildees

Internacionais que pautam temas como direitos humanos e sociedade aleacutem de

poliacuteticas econocircmicas e de poder A discussatildeo posiciona o Estado na

abordagem da Sociedade Internacional e na abordagem da Economia Poliacutetica

Internacional em que a perspectiva humanitaacuteria tem como contraponto a

complexidade das relaccedilotildees econocircmicas internacionais

Em seguida no Capitulo II satildeo apresentados argumentos que justificam

a inserccedilatildeo do Estado com papel destacado no processo de retomada do seu

papel estrateacutegico para o desenvolvimento nacional sob a perspectiva das

relaccedilotildees internacionais a partir da globalizaccedilatildeo e das condiccedilotildees econocircmicas e

produtivas assimeacutetricas daiacute decorrentes

O Capiacutetulo III descreve a sauacutede sob a perspectiva da inserccedilatildeo brasileira

no contexto internacional da sauacutede Identifica a importacircncia receacutem-estabelecida

pelos contornos estrateacutegicos da poliacutetica externa brasileira na conformaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da agenda Sul-Sul em sauacutede Destaca a prioridade dada pela

poliacutetica externa do Paiacutes agraves cooperaccedilotildees junto agraves naccedilotildees do Sul notadamente

nas relaccedilotildees bilaterais triangulares eou multilaterais com paiacuteses do Mercosul

da Unasul e da CPLP considerados como prioritaacuterios no contexto das relaccedilotildees

internacionais do Brasil

O Capiacutetulo IV fundamenta a relaccedilatildeo virtuosa entre sauacutede e

desenvolvimento por meio da consolidaccedilatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial

34

da Sauacutede - CEIS a partir do pilar de sustentabilidade estrateacutegica da inovaccedilatildeo

Descreve como o movimento brasileiro de desenvolvimento nacional no

contexto do CEIS dialoga com a agenda internacional na relaccedilatildeo entre os

paiacuteses do Sul notoriamente com os paiacuteses africanos paiacuteses da Ameacuterica Latina

e da Ameacuterica Central O texto apresenta argumentos que defendem que tanto

em acircmbito interno quanto externo o CEIS representa para a sauacutede a

oportunidade de reduzir as vulnerabilidades decorrentes da relaccedilatildeo assimeacutetrica

de poder e de conhecimento aleacutem de favorecer condiccedilotildees de cooperaccedilatildeo e de

fortalecimento de paiacuteses com base em desenvolvimento estruturante e

integrador Destaca o entendimento de que no acircmbito da sauacutede o CEIS se

estabelece como um campo privilegiado para o exerciacutecio do papel dos Estados

nacionais da hegemonia no campo da ciecircncia e da tecnologia da sauacutede e da

consolidaccedilatildeo dos contornos estrateacutegicos da cooperaccedilatildeo internacional em

sauacutede ndash sob as perspectivas da assistecircncia humanitaacuteria e da cooperaccedilatildeo

teacutecnica internacional

Finalmente em seguida o capiacutetulo V retrata as principais

consequecircncias do movimento da cooperaccedilatildeo internacional em sauacutede na

poliacutetica externa brasileira identificando e descrevendo o comportamento do

Paiacutes no plano externo quanto agraves accedilotildees relacionadas agrave sauacutede e agraves cooperaccedilotildees

internacionais Sul-Sul promovidas principalmente pela Fundaccedilatildeo Oswaldo

Cruz Instituiccedilatildeo Estrateacutegica de Estado na aacuterea da sauacutede Accedilotildees essas

especificamente ligadas ao CEIS e sugerindo-o como diferencial representativo

para a consolidaccedilatildeo da poliacutetica externa e para a conformaccedilatildeo de mecanismos

de assistecircncia humanitaacuteria internacional e de desenvolvimento das

capacidades produtivas das naccedilotildees do Sul ressaltando-se sob essas bases

potencialidades e desafios para inserccedilatildeo ativa do Brasil no contexto da

geopoliacutetica internacional

Este estudo portanto tem no Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

a liga que perpassa e articula todos os capiacutetulos promovendo a dimensatildeo

social e humana a dimensatildeo poliacutetica a dimensatildeo econocircmica e a dimensatildeo

das relaccedilotildees internacionais com elementos que provocam desdobramentos na

35

discussatildeo que segue no decorrer desta tese Elementos esses que passam por

questotildees relacionadas agrave globalizaccedilatildeo e localizaccedilatildeo vulnerabilidades

assimetrias soberania Estado de Bem-estar e articulaccedilotildees puacuteblico-privadas

Objetivo Geral

A anaacutelise e a compreensatildeo da inter-relaccedilatildeo entre o papel do Estado e a

poliacutetica externa brasileira no contexto da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em

Sauacutede particularmente no que se refere ao Complexo Econocircmico-Industrial da

Sauacutede conduzem-nos a conhecer as relaccedilotildees intriacutensecas entre o nacional e o

internacional de forma a compreender inclusive o processo de inserccedilatildeo

soberana do Paiacutes na geopoliacutetica internacional notadamente junto agraves Naccedilotildees

do Sul

Portanto diante do exposto o objetivo geral do presente trabalho eacute o de

subsidiar a construccedilatildeo de uma abordagem teoacuterica que incorpore a relaccedilatildeo de

influecircncia muacutetua entre as agendas interna e externa na correlaccedilatildeo do poder da

Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede direcionada para o CEIS e da

poliacutetica externa brasileira focada na relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo estruturante entre

paiacuteses do Sul Busca-se nesse sentido identificar e analisar como a

dependecircncia e o fortalecimento das capacidades produtivas e de inovaccedilatildeo em

sauacutede relacionadas ao Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede - CEIS

podem influenciar a relaccedilatildeo do Brasil com outros paiacuteses especificamente os

paiacuteses do Sul

Tem como contribuiccedilatildeo destacar o processo de articulaccedilatildeo entre a

dimensatildeo social e a dimensatildeo econocircmica da sauacutede em dimensotildees

internacionais em que a vulnerabilidade que ultrapassa fronteiras existente em

funccedilatildeo da dependecircncia do conhecimento e do desenvolvimento tecnoloacutegico e

inovativo seja combatida com o fortalecimento da base produtiva tecnoloacutegica

endoacutegena e com a inclusatildeo dessa questatildeo na diplomacia e nas relaccedilotildees

internacionais em sauacutede pela via do desenvolvimento nacional e internacional

alicerccedilada pela ciecircncia e pela tecnologia

36

Objetivos Especiacuteficos

E os objetivos especiacuteficos que nortearam a presente pesquisa satildeo

1 Relacionar o papel do Estado ao desenvolvimento sob a perspectiva

da inovaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo e das teorias das relaccedilotildees internacionais na

confluecircncia da loacutegica sanitaacuteria e da loacutegica do desenvolvimento produtivo e

econocircmico

2 Descrever e analisar a inserccedilatildeo do Brasil no contexto internacional da

sauacutede notadamente junto aos paiacuteses do Sul

3 Destacar as principais consequecircncias do movimento da cooperaccedilatildeo

internacional em sauacutede na poliacutetica externa brasileira identificando e

descrevendo como o movimento brasileiro de desenvolvimento nacional no

contexto do CEIS dialoga com a agenda internacional na relaccedilatildeo entre os

paiacuteses do Sul notoriamente com os paiacuteses africanos paiacuteses da Ameacuterica Latina

e da Ameacuterica Central

4 Descrever o comportamento do Paiacutes no plano internacional quanto agraves

accedilotildees relacionadas agrave sauacutede especificamente ligadas ao CEIS notadamente

no que se referem agraves cooperaccedilotildees internacionais Sul-Sul identificando a

inserccedilatildeo ativa do Paiacutes no contexto da geopoliacutetica internacional

Hipoacutetese

O movimento nacional de retomada do papel do Estado nacional mais

claramente observado no iniacutecio do Seacuteculo XXI no tocante ao desenvolvimento

e fortalecimento do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede do Brasil exerce

um determinado niacutevel de influecircncia na inserccedilatildeo soberana do Paiacutes na

geopoliacutetica internacional em que o CEIS representa para a sauacutede a

oportunidade de reduzir vulnerabilidades provocadas pela relaccedilatildeo assimeacutetrica

de conhecimento e de poder e de favorecer condiccedilotildees de cooperaccedilatildeo e de

fortalecimento de paiacuteses com base em desenvolvimento estruturante e

integrador Nesse sentido parte-se do pressuposto de que assimetrias de

poder de conhecimento e de tecnologias inseridas no acircmbito da poliacutetica

37

econocircmica internacional podem influenciar a agenda da poliacutetica nacional

ressaltando-se que do papel exercido pelo Estado depende a consolidaccedilatildeo do

Paiacutes nessa aacuterea com efetivo protagonismo em processos e accedilotildees junto a

paiacuteses de relaccedilatildeo Sul-Sul ou a sua vulnerabilidade externa

Limitaccedilotildees e Desafios

Em funccedilatildeo da grande abrangecircncia do contexto internacional e das

diferenccedilas do papel exercido pelo Brasil nos diferentes contextos optamos por

limitar o escopo do presente estudo agraves cooperaccedilotildees Sul-Sul Tal opccedilatildeo se daacute

em funccedilatildeo da cada vez maior importacircncia estrateacutegica que essa relaccedilatildeo vem

recebendo nas uacuteltimas deacutecadas notadamente junto aos paiacuteses em

desenvolvimento do Hemisfeacuterio Sul tanto por conta do protagonismo recente

dos paiacuteses emergentes de renda meacutedia no cenaacuterio da cooperaccedilatildeo

internacional como eacute o caso do Brasil assim como quanto agrave perspectiva de

maiores benefiacutecios provenientes de uma relaccedilatildeo de maior equiliacutebrio que eacute

vislumbrado na cooperaccedilatildeo entre pares e tambeacutem por conta das restriccedilotildees

centralizadoras por parte dos paiacuteses desenvolvidos na praacutetica da cooperaccedilatildeo

Norte-Sul 10

Algumas dificuldades foram observadas a partir do presente estudo

representando desafios a serem ultrapassados

O tema sauacutede eacute transversal a outros temas como ciecircncia e tecnologia e

localiza-se junto a outras aacutereas tais como comeacutercio investimento propriedade

intelectual meio-ambiente e trabalho o que justifica a necessidade de se

estabelecer espaccedilos de articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo integrada

Aleacutem disso a complexidade das accedilotildees relacionadas agrave governanccedila da

sauacutede global em que se almeja a concentraccedilatildeo de ideacuteias comuns e sinergias

para aperfeiccediloar resultados aumenta o desafio de tornar estrateacutegica a

definiccedilatildeo do valor agregado de cada iniciativa regional eou inter-regional

Afinal a dispersatildeo e a fragmentaccedilatildeo das iniciativas espalham ineficiecircncias

38

Quanto agrave disponibilidade de informaccedilotildees percebeu-se que as fontes

oficiais disponiacuteveis para divulgaccedilatildeo das accedilotildees relacionadas agrave sauacutede na poliacutetica

externa fornecem informaccedilotildees generalizadas e dispersas Natildeo haacute uma linha

temporal para as informaccedilotildees disponiacuteveis Aleacutem disso os dados fornecidos satildeo

datados de forma intermitente (com maior representatividade nos uacuteltimos cinco

anos) natildeo sendo observados criteacuterios e indicadores norteando as informaccedilotildees

oferecidas o que representa um oacutebice no diagnoacutestico ampliado e comparativo

Por conta da recente importacircncia dada ao tema a anaacutelise dos resultados

tambeacutem fica limitada uma vez que haacute poucos estudos analiacuteticos relacionados

aos temas de forma integrada o que compromete a avaliaccedilatildeo fidedigna quanto

aos resultados efetivamente alcanccedilados diante dos almejados Faz-se

necessaacuterio portanto um periacuteodo maior para que accedilotildees formuladas e

implementadas possam ser consolidadas dadas as caracteriacutesticas produtivas

do CEIS e os respectivos resultados serem avaliados em sua relaccedilatildeo com a

efetiva diminuiccedilatildeo das vulnerabilidades tecnoloacutegicas e sociais atualmente

existentes dentro do contexto nacional regional eou inter-regional

Em anaacutelise junto ao material disponibilizado no portal do Itamaraty

observou-se que a sauacutede natildeo eacute evidenciada nos respectivos relatoacuterios

governamentais notadamente no que se refere agraves questotildees relacionadas agrave

cooperaccedilatildeo triangular Satildeo divulgadas de forma mais extensiva accedilotildees cuja

relaccedilatildeo esteja predominantemente relacionada a temas como seguranccedila

alimentar e ao meio-ambiente Essa exposiccedilatildeo ainda incipiente pode ser

reflexo da importacircncia receacutem-adquirida pelo tema da sauacutede nas questotildees

relacionadas agrave poliacutetica externa brasileira

Destaca-se que este trabalho natildeo tem a pretensatildeo de esgotar o tema

em questatildeo tampouco eacute conclusivo em si mesmo caracterizando uma

pesquisa de natureza exploratoacuteria Oferece entretanto dada a

contemporaneidade do tema subsiacutedios para novas linhas de pesquisa

ampliando alternativas para novos campos de discussatildeo Apresenta

referecircncias e indicaccedilotildees para reflexotildees quanto ao desenvolvimento cientiacutefico

tecnoloacutegico como um meacutetodo apropriado para enfrentar questotildees complexas

como a sauacutede inserida no contexto das relaccedilotildees internacionais

39

Metodologia da Pesquisa

Procedimentos de pesquisa

Este estado estaacute baseado em pesquisas documentais e descritivas de

natureza exploratoacuteria Satildeo propostos elementos analiacuteticos que visem agrave

compreensatildeo do processo de articulaccedilatildeo entre as dimensotildees social

econocircmica da sauacutede e internacionais com base na relaccedilatildeo da retomada do

papel do Estado buscando-se incorporar essa relaccedilatildeo agraves dimensotildees da

diplomacia e das relaccedilotildees internacionais em sauacutede

Para este trabalho cujo foco norteador foi a busca por uma nova

compreensatildeo e visatildeo de um campo em raacutepida transformaccedilatildeo 11 optou-se pela

realizaccedilatildeo do estudo da literatura com base na pesquisa bibliograacutefica e

documental isto eacute em informaccedilotildees disponibilizadas em publicaccedilotildees livros

artigos legislaccedilotildees e perioacutedicos aleacutem de relatoacuterios divulgados em sites

especializados e sites governamentais acrescido da anaacutelise das

apresentaccedilotildees disponibilizadas sobre o tema

A revisatildeo de literatura bibliograacutefica teve como objetivo apontar e explorar

os principais elementos conceituais aleacutem de promover a reflexatildeo sobre os

mesmos

As seguintes estrateacutegias foram utilizadas para a seleccedilatildeo do material

bibliograacutefico

Os bancos de dados e os editores de informaccedilatildeo cientiacutefica utilizados no

levantamento das informaccedilotildees bibliograacuteficas foram o MEDLINE o PUBMED o

LILACS o SCIELO e o Oxford Journal Foi tambeacutem utilizado o Google Acadecircmico

aleacutem de ter sido feito um levantamento das publicaccedilotildees das agecircncias

internacionais de maior representatividade para o tema em questatildeo OMSWHO

(Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede World Health Organization) e OPASPAHO

(Organizaccedilatildeo Panamericana de Sauacutede Panamerican Health Organization)

A seleccedilatildeo dos descritores (Ver Anexo I) foi feita junto agrave lista de

Descritores em Ciecircncias da Sauacutede da Biblioteca Virtual em Sauacutede (BVS)

Foram escolhidos tambeacutem os seguintes termos Relaccedilotildees

Internacionais ndash (International Relation) Relaccedilotildees Internacionais em Sauacutede

40

(Health International Relation) Brasil (Brazil) Defesa (Defense) Globalizaccedilatildeo

(Globalization) Diplomacia (Diplomacy) Soberania (Sovereignty) Diplomacia em

Sauacutede Global (Global Health Diplomacy) Complexo Industrial da Sauacutede (Health

Industrial Complex) Inovaccedilatildeo (Innovation) Produccedilatildeo (Production) Economia

(Economy) Desenvolvimento Econocircmico (Economic Development) Sauacutede

(Health) Cooperaccedilatildeo Sul-Sul (South-South Cooperation) Cooperaccedilatildeo Teacutecnica

Internacional (International Technical Cooperation) Cooperaccedilatildeo Triangular

(Triangular Coooperation) Brasil-CPLP Brasil-Unasul Sauacutede Brasil-Mercosul

Brasil-Africa Brasil-Ameacuterica Central dentre outras Apesar destas expressotildees natildeo

se encontrarem descritas na Biblioteca Virtual em Sauacutede foram utilizadas para o

refinamento da procura nos diversos bancos consultados

Foram utilizados tambeacutem recursos na estrateacutegia de busca tais como

ldquo$rdquo (para palavras no idioma portuguecircs) e ldquordquo em determinadas palavras (em

inglecircs) para expandir as suas derivaccedilotildees tais como por exemplo produ$ ou

produ que resultaram em mais ofertas de artigos como as palavras produccedilatildeo

produccedilotildees produtivos etc

O periacuteodo de anaacutelise foi definido em funccedilatildeo do contexto histoacuterico

contemporacircneo em que se evidencia a agenda poliacutetica de fortalecimento da

ciecircncia da tecnologia e da inovaccedilatildeo em sauacutede em que ganha contorno

estrateacutegico a formulaccedilatildeo de poliacuteticas nacionais focadas para o fortalecimento

do CEIS abarcando nesse caso o final da deacutecada de 90 ateacute 2008 limite esse

dado em funccedilatildeo da transiccedilatildeo para uma nova gestatildeo governamental no Brasil a

despeito da manutenccedilatildeo do partido poliacutetico ateacute entatildeo vigente Questotildees

histoacutericas e poliacuteticas e situaccedilotildees mais contemporacircneas obviamente alargaram

o periacuteodo definido em funccedilatildeo da necessidade de contextualizar em

determinados focos a construccedilatildeo da agenda e da arena poliacutetica seja em

acircmbito nacional ou internacional

Todos os descritores foram utilizados na busca por publicaccedilotildees que

fossem relacionados ao objeto deste artigo Entretanto vale ressaltar que nem

todos renderam materiais ora por conta da especificidade dos bancos de

dados e editores de informaccedilatildeo cientifica ora pela forma como foram

associados os descritores na ferramenta de busca Portanto natildeo houve

regularidade no uso dos mesmos descritores para todas as fontes Entretanto

as buscas pautaram-se principalmente na associaccedilatildeo dos descritores

41

ldquoCooperaccedilatildeo Internacionalrdquo ldquoCooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutederdquo

ldquoCooperaccedilatildeo Sul-Sulrdquo ldquorelaccedilotildees internacionaisrdquo ldquodiplomaciardquo ldquopoliacuteticas de

sauacutederdquo Brasil induacutestria inovaccedilatildeo tecnologia globalizaccedilatildeo economia

desenvolvimento eou soberania Ademais optou-se pela interface do material

coletado atraveacutes da sua convergecircncia aos temas Relaccedilotildees Internacionais e

Sauacutede Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede e Poliacuteticas Nacionais em

Sauacutede natildeo necessariamente vinculados entre si

Portanto foram selecionadas e usadas fontes primaacuterias e secundaacuterias

para a obtenccedilatildeo de dados qualitativos a fim de subsidiarem a investigaccedilatildeo

interpretativa em que fosse possiacutevel entender uma situaccedilatildeo atual ou uma

interaccedilatildeo especifica 1213 aprofundando o conhecimento da realidade

Aleacutem de documentos nas formas de legislaccedilatildeo (Leis Decretos Normas

etc) de documentos oficiais e administrativos ndash ministeriais (referentes aos

Ministeacuterios da Sauacutede das Relaccedilotildees Exteriores do Desenvolvimento Induacutestria

e Comeacutercio Exterior da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo e do Planejamento

aleacutem da Presidecircncia da Repuacuteblica e os principais institutos das estruturas

ministeriais tais como Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz Instituto de Pesquisa

Econocircmica Aplicada e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e

documentos e tratados internacionais foram selecionados livros e revistas

especializadas entrevistas e reportagens disponibilizadas em jornais e revistas

nacionais e internacionais aleacutem de apresentaccedilotildees em foacuteruns especializados

disponibilizadas com amplo acesso pela web por atores de relevacircncia na

temaacutetica em questatildeo Optou-se inclusive pela anaacutelise do conteuacutedo das

apresentaccedilotildees e pelo tratamento interpretativo do material bibliograacutefico e

documental

Ao material bibliograacutefico e documental foi direcionado tratamento

interpretativo cabendo agraves apresentaccedilotildees anaacutelise do seu conteuacutedo

42

CAPIacuteTULO I ndash RELACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

1 Introduccedilatildeo

Temas claacutessicos como riqueza e pobreza cooperaccedilatildeo e conflito paz e

guerra sempre pautaram as anaacutelises teoacutericas das Relaccedilotildees Internacionais- RI

natildeo se esgotando em cada debate apresentado Satildeo na verdade um diaacutelogo

inesgotaacutevel entre as diversas teorias [8] 141516 Ora enfatizando a anarquia e a

poliacutetica de poder inclusive o econocircmico ora enfocando a sociedade e o direito

internacional ora destacando o humanitarismo os direitos humanos e a justiccedila

humana

A interdependecircncia a integraccedilatildeo e a democracia a anarquia e a

balanccedila do poder portanto estatildeo no centro do debate das Relaccedilotildees

Internacionais Nessa arena traz-se para a discussatildeo deste estudo a

abordagem da Economia Poliacutetica Internacional ndash EPI que tem nos

neomarxistas alguns dos seus principais teoacutericos expandindo a aacuterea das

Relaccedilotildees Internacionais em direccedilatildeo agraves questotildees econocircmicas agraves relaccedilotildees entre

poliacutetica e economia entre Estados e mercados em acircmbito mundial e

introduzindo problemas distintos e complexos de paiacuteses em desenvolvimento

Por outro lado aleacutem da perspectiva da abordagem da EPI haacute de serem

consideradas tambeacutem as complexas relaccedilotildees sociais que vinculam indiviacuteduos

e Estados a existecircncia da prioridade da sociedade global principalmente no

que se refere ao aspecto moral associada agrave responsabilidade global pelas

necessidades humanas pelos direitos humanos e pelo meio ambiente Nesse

sentido apesar de o presente estudo natildeo ter a pretensatildeo de aprofundar o

debate entre as teorias eou abordagens das Relaccedilotildees Internacionais vale

destacar as principais caracteriacutesticas da abordagem da Sociedade

Internacional - SI dado o fato de que a aacuterea da sauacutede objeto da presente

8 Ver Jackson e Sorensen 2007

14 Nogueira e Messari 2005

15 Oliveira e Ri Junior 2003

16

43

anaacutelise perpassa tambeacutem pelos princiacutepios kantianos [9] com base nas

caracteriacutesticas de uma sociedade mundial solidarista

2 A Abordagem da Sociedade Internacional

A abordagem da Sociedade Internacional traduz as relaccedilotildees

internacionais como uma sociedade de Estados soberanos onde a arte da

poliacutetica eacute desenvolvida por estadistas especializados caracterizada pela

confianccedila expliacutecita no exerciacutecio do julgamento 18 cujas principais funccedilotildees satildeo a

promoccedilatildeo e a preservaccedilatildeo da ordem internacional com justiccedila internacional

Parte-se do pressuposto de que as relaccedilotildees internacionais fazem parte

das relaccedilotildees humanas No tocante agraves escolhas morais a Sociedade

Internacional apresenta dilemas de responsabilidades necessaacuterias em trecircs

niacuteveis distintos que natildeo satildeo excludentes entre si sob pena de se subestimar a

complexidade das Relaccedilotildees Internacionais O principal desafio consiste no

atendimento de todas elas a nacional a internacional e a humanitaacuteria 1914

Portanto na concepccedilatildeo dos autores

A primeira seria a responsabilidade nacional isto eacute ldquodevoccedilatildeo agrave proacutepria

naccedilatildeo e ao bem-estar de seus cidadatildeosrdquo ndash nesse caso os ldquopaiacuteses natildeo

tecircm obrigaccedilotildees internacionais que precedam seus interesses nacionais

Assim o direito internacional e as organizaccedilotildees internacionais satildeo

simplesmente consideraccedilotildees instrumentais na determinaccedilatildeo do

interesse nacional dos Estadosrdquo [10]

9 Idealista Immanuel Kant (1724 ndash 1804) levou a perspectiva universalista a um

desenvolvimento extremo Conforme Castro (2005 p 67- 77)17

para Kant (1971 p 255) natildeo existe

nenhum conflito entre moral e poliacutetica ―a verdadeira poliacutetica () natildeo pode dar um passo sem

antecipadamente ter prestado homenagem agrave moral significando que ―toda poliacutetica estaacute obrigada a dobrar

os joelhos diante do direito () 10

Nesse caso os poliacuteticos satildeo responsaacuteveis pelo bem-estar de seus cidadatildeos obrigaccedilatildeo de

proteger As consideraccedilotildees a seguir satildeo caracteriacutesticas de um sistema de Estados autocircnomos ndash acircmbito do

realismo cuja concepccedilatildeo daacute origem aos preceitos de Maquiavel ―priorizar sua naccedilatildeo e seus cidadatildeos

afastar riscos desnecessaacuterios com respeito agrave seguranccedila e ao bem-estar colaborar com outros paiacuteses

quando vantajoso ou necessaacuterio evitando complicaccedilotildees externas somente submeter a populaccedilatildeo agrave Guerra

quando absolutamente essencial Ver Jackson e Sorensen 2007 14

44

A segunda eacute a responsabilidade internacional isto eacute ldquorespeito pelos

interesses legiacutetimos pelos direitos de outros Estados e pelo direito

internacionalrdquo Nessa concepccedilatildeo ldquoos poliacuteticos tecircm obrigaccedilotildees externas

originadas da participaccedilatildeo de seus Estados na Sociedade Internacionalrdquo

[11]

Jaacute a terceira a responsabilidade humanitaacuteria fundamenta-se no

ldquocompromisso com os direitos humanos natildeo soacute em seus proacuteprios

paiacuteses mas em todo o mundordquo [12]

Como declarado anteriormente natildeo haacute vencedor tampouco perdedor no

tocante agraves abordagens que procuram analisar as relaccedilotildees internacionais Satildeo

os contextos histoacutericos que confirmam ou rejeitam as teorias defendidas por

cada uma das abordagens Mantendo-se inclusive um diaacutelogo interminaacutevel

entre as distintas teorias

Entretanto a fim de vincular o debate entre os teoacutericos da Economia

Poliacutetica Internacional e os defensores da abordagem da Sociedade

Internacional [13] vale destacar a principal criacutetica dos teoacutericos da EPI a

abordagem da Sociedade Internacional ignora a economia e o Terceiro Mundo

11

Nesse caso direitos e obrigaccedilotildees satildeo definidos pelo direito internacional e desempenham

papel fundamental nas relaccedilotildees internacionais Tecircm-se os Estados natildeo como entidades isoladas e sim

relacionando-se uns com os outros e constituindo soberania externa por meio da praacutetica de

reconhecimento de diplomacia de comeacutercio etc a partir das quais extraem importantes direitos e

benefiacutecios Satildeo independentes das obrigaccedilotildees nacionais e simultaneamente as complementam Esse

padratildeo de avaliaccedilatildeo das poliacuteticas externas tem como base os ―preceitos grotianos Preceitos esses

relacionados agrave uma ―sociedade pluralista de Estados com base no direito internacional ndash no

racionalismo ―ser um bom cidadatildeo da sociedade internacional reconhecimento de que outros Estados

tecircm direitos e interesses legiacutetimos dignos de respeito agir com boa intenccedilatildeo cumprir o direito

internacional e respeitar as leis de Guerra Ver Jackson e Sorensen 200714

12 Base de padratildeo cosmopolita de poliacutetica responsaacutevel pelos direitos humanos que ultrapassa a

responsabilidade internacional derivando da obrigaccedilatildeo humana ―antes de sermos cidadatildeos de um Estado

e membro de seu governo somos seres humanos Esse padratildeo eacute pautado nos princiacutepios kantianos Com

caracteriacutesticas de uma sociedade mundial solidarista com base na comunidade humana ndash no

revolucionismo ―todos satildeo seres humanos respeito aos direitos humanos abrigo aos perseguidos

assistecircncia aos necessitados de ajuda material no caso de guerra ter misericoacuterdia com os natildeo-

combatentes Ver Jackson e Sorensen 200714

13Para aprofundamento das criacuteticas a essa abordagem ver Jackson e Sorensen 2007

14 Para os

autores no que se refere aos teoacutericos do realismo haacute pouca evidecircncia de normas internacionais como

determinantes do comportamento e da poliacutetica estatal onde haacute predominacircncia de interesses distintos Jaacute

os liberais justificam que a tradiccedilatildeo da Sociedade Internacional subestima a poliacutetica nacional ignorando o

progresso da poliacutetica internacional e a democracia

45

[14] natildeo conferindo o necessaacuterio peso agrave luta competitiva entre os Estados

nacionais sendo incapaz de justificar as relaccedilotildees econocircmicas internacionais

Pode-se questionar tambeacutem o fato de que a abordagem da Sociedade

Internacional negligencia as complexas relaccedilotildees sociais que vinculam

indiviacuteduos e Estados 14 Natildeo considera o fato de que haacute prioridade da

sociedade global notadamente no aspecto moral 14 (p 233)

ldquosobre a sociedade de Estados e estaacute associada agrave responsabilidade global pelas

necessidades humanas pelos direitos humanos e pelo meio ambiente sem

levar em consideraccedilatildeo a jurisdiccedilatildeo estatal nem as fronteiras internacionaisrdquo

Inclusive tampouco considera a ldquosociedade mundialrdquo que existe por meio de

relaccedilotildees sociais inerentes agrave produccedilatildeo e agrave troca global de produtos baacutesicos da

cultura global e da comunicaccedilatildeo de massas e do desenvolvimento cada vez

mais amplo da poliacutetica mundial

E eacute no sentido de se agregar agrave perspectiva humanitaacuteria da Sociedade

Internacional com a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas internacionais

considerando notadamente os paiacuteses em desenvolvimento eacute que daremos

continuidade a este trabalho destacando a abordagem da Economia Poliacutetica

Internacional

3 A abordagem da Economia Poliacutetica Internacional -EPI [15]

A ldquointerdependecircncia econocircmica ndash o alto grau de dependecircncia econocircmica

muacutetua entre os paiacuteses ndash eacute uma caracteriacutestica do sistema estatal

contemporacircneordquo 14 (p24) Sob essa perspectiva a globalizaccedilatildeo econocircmica

pode ser conceituada como a ocorrecircncia simultacircnea da expansatildeo dos fluxos

14 Em que pese a expressatildeo ―Terceiro Mundo cunhada na abordagem das Relaccedilotildees

Internacionais ndash EPI e SI optaremos neste estudo por adotar a expressatildeo ―paiacuteses em desenvolvimento

dado o novo contexto geopoliacutetico e econocircmico internacional que abarca o processo de desenvolvimento

tanto dos paiacuteses desenvolvidos quanto dos em desenvolvimento

15 Dado o objetivo da presente tese de doutorado natildeo eacute pretensatildeo aprofundar a abordagem da

EPI nas Relaccedilotildees Internacionais Entretanto busca-se destacaras suas principais caracteriacutesticas de

maneira que possam ser consideradas e avaliadas no escopo da interaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais com as

poliacuteticas internacionais foco do presente estudo Para maior aprofundamento ver Gilpin 1987 20

Gonccedilalves 2003 21

Jackson e Sorensen 2007 14

46

internacionais de bens serviccedilos e capitais do acirramento da concorrecircncia nos

mercados mundiais e da maior integraccedilatildeo entre os sistemas econocircmicos

nacionais 21 (p29)

Na percepccedilatildeo dos primeiros autores a globalizaccedilatildeo tanto pode ser

considerada positiva como negativa Isto eacute assim como a expansatildeo do

mercado global pode gerar um aumento da liberdade e da riqueza por meio de

maior eficiecircncia assim como maior produtividade e especializaccedilatildeo aleacutem de

alternativas de distribuiccedilatildeo e meios de distribuiccedilatildeo por outro lado tambeacutem

promove a desigualdade entre os Estados uma vez que haacute dominacircncia dos

paiacuteses desenvolvidos mais ricos e poderosos detentores de vantagens

financeiras e econocircmicas aleacutem de vantagens de conhecimento e de inovaccedilotildees

tecnoloacutegicas paiacuteses esses que exercem grande influecircncia e por vezes

dominaccedilatildeo junto aos paiacuteses normalmente mais pobres e fracos que natildeo satildeo

possuidores dessas vantagens

Portanto o processo de globalizaccedilatildeo resulta em um sistema complexo

de interdependecircncias entre economias nacionais E nesse caso segundo

Ramonet 21 a interdependecircncia apresenta-se assimeacutetrica ldquode tal forma que se

pode falar de bdquovulnerabilidade unilateral‟ por parte da grande maioria de paiacuteses

do mundo que tecircm uma capacidade miacutenima de repercussatildeo em escala

mundialrdquo (p 20) O que nos remete ao conceito de poder no sistema

internacional 21 (p20) ldquoo poder efetivo eacute inversamente proporcional agrave

vulnerabilidade externardquo [16] isto eacute

ldquoquanto mais elevada a probabilidade de um ator

social sujeito poliacutetico ou agente econocircmico realizar a

sua proacutepria vontade ou resistir a pressotildees fatores

desestabilizadores e choques externos maior eacute o seu

poder efetivo no sistema internacionalrdquo (p20)

No caso do sistema internacional quanto agrave tipologia das formas de

poder esta pode ser classificada de vaacuterias formas de poder conforme os meios

de que se serve o ldquosujeito ativo sobre o passivordquo 23 (p 955-7) Isso posto

16

Vulnerabilidade externa ―expressa a capacidade de resistecircncia das economias nacionais a

pressotildees fatores desestabilizadores ou choques externos em funccedilatildeo das opccedilotildees de resposta com os

instrumentos de poliacutetica disponiacuteveis e dos custos de enfrentamento ou de ajuste diante dos eventos

externos 22

(p19)

47

distingue-o em trecircs grandes classes o poder ideoloacutegico o poder poliacutetico e o

poder econocircmico

Para o autor 23 o poder ideoloacutegico eacute o que ldquose baseia na influecircncia que

as ideacuteias formuladas de certo modo expressas em certas circunstacircncias por

certa pessoa investida de certa autoridade e difundidas mediante certos

processos exercem sobre a conduta dos consociadosrdquo (p 955) Eacute o sentido do

poder das ideacuteias dos valores e dos ideais O poder tambeacutem perpassa pelo

conceito de hegemonia 22 (p21) O autor cita Gramsci (1971) ao distinguir que

enquanto o centro de irradiaccedilatildeo do poder poliacutetico eacute o Estado o de irradiaccedilatildeo do

poder cultural-ideoloacutegico eacute a sociedade civil Isto eacute ldquoenquanto o poder poliacutetico

envolve o aspecto da coaccedilatildeo o poder ideoloacutegico tem o aspecto da submissatildeo

via consentimento Ou seja o poder assenta-se em dois pilares coaccedilatildeo e

consentimentordquo (p21)

No que se refere ao poder poliacutetico este ldquose baseia na posse dos

instrumentos mediante os quais se exerce a forccedila fiacutesica () eacute o poder coator

no sentido mais estrito da palavrardquo 23 (p955) Todavia o exerciacutecio do poder natildeo

se limita exclusivamente agrave coaccedilatildeo por meio do uso da forccedila 22 (p20)

ldquoo poder pode derivar da ameaccedila e da legitimidade e portanto dispensar o uso da forccedila e da violecircncia A legitimidade por seu turno pode derivar da tradiccedilatildeo e do carisma ou ter um fundamento racional-legal () Nesses casos o poder baseia-se no consentimento e natildeo na coaccedilatildeo ou na violecircnciardquo

O conceito do poder econocircmico 23 (p955) ldquoeacute o que se vale da posse de

certos bens necessaacuterios ou considerados como tais numa situaccedilatildeo de

escassez para induzir aqueles que natildeo os possuem a manter um certo

comportamentordquo No que se refere aos meios de produccedilatildeo o autor declara que

aiacute ldquoreside uma enorme fonte de poder para aqueles que os tecircm em relaccedilatildeo

agravequeles que os natildeo tecircmrdquo (p955)

Satildeo portanto essas trecircs grandes classes de poder o ideoloacutegico o

poliacutetico e o econocircmico relacionados ao sistema internacional que

fundamentam e manteacutem uma sociedade de desiguais

48

E sob as perspectivas das classes de poder o mercado moderno

inserido no sistema internacional apresenta-se estruturado em normas

poliacuteticas isto eacute em regras e regulamentos poliacuteticos que garantem o seu

funcionamento Entretanto a forccedila econocircmica nesse cenaacuterio tem um valor

importante que se soma ao poder poliacutetico Dessa forma considerando que a

economia eacute a busca da riqueza e a poliacutetica [17] eacute a do poder as duas tecircm uma

interaccedilatildeo complexa e difiacutecil

No contexto internacional portanto a essecircncia da Economia Poliacutetica

Internacional estaacute na base dessa interaccedilatildeo complexa entre poliacutetica e economia

entre Estados e mercados 142024

Logo a EPI eacute considerada como aacuterea do conhecimento cujo objeto de

estudo nas RI eacute ldquoo impacto da economia mundial de mercado sobre as

relaccedilotildees dos Estados e as formas pelas quais os Estados procuram influenciar

as forccedilas de mercado para sua proacutepria vantagemrdquo 20 (p24)

Entretanto haacute de se transcender a articulaccedilatildeo entre Estado e mercado

22 (p10) Para o autor a EPI eacute antes de tudo um meacutetodo de anaacutelise que natildeo

deve limitar-se agrave interaccedilatildeo entre o Estado e o mercado

ldquoA EPI eacute um meacutetodo de anaacutelise que tem como foco a

dinacircmica do sistema econocircmico internacional em suas

distintas esferas e dimensotildees que resulta das decisotildees

e accedilotildees de atores nacionais e transnacionais cuja

conduta eacute determinada por fatores objetivos e

subjetivosrdquo (p10)

Nesse sentido relaccedilotildees processos e estruturas compreendem a

dinacircmica do sistema econocircmico internacional18 conforme apresentado na

figura 2 abaixo

17

O conceito de Poliacutetica entendida como ―uma forma de atividade ou de praacutexis humana estaacute

estreitamente ligado ao de poder 23

(p954) Para o autor este tem sido tradicionalmente definido como

―consistente nos meios adequados agrave obtenccedilatildeo de qualquer vantagemou analogamente como conjunto dos

meios que permitem alcanccedilar os efeitos desejados 18

A interaccedilatildeo de variaacuteveis no sistema internacional se expressa num ―conjunto integrado de

relaccedilotildees processos e estruturas A relaccedilatildeo eacute um ―ato de natureza determinada envolvendo pelo menos

dois atores de diferentes nacionalidades ou atores transnacionais 22

O processo expressa a ―evoluccedilatildeo a

sucessatildeo de estados ou mudanccedilas causada pelas relaccedilotildees entre atores A estrutura significa a ―disposiccedilatildeo

e ordem das partes de um todo Para maior aprofundamento ver Gonccedilalves (2005) 22

49

Figura 2 Sistema Econocircmico Internacional ndash Esquema Analiacutetico Baacutesico

Fonte Gonccedilalves (200512) 22

As esferas relacionadas nessa dinacircmica satildeo a comercial isto eacute o

ldquocomeacutercio transfronteiriccedilo de bens e serviccedilos bem como do deslocamento

internacional de consumidores de um paiacutes para acessar produtos (bens e

serviccedilos) no mercado de outro paiacutesrdquo a produtiva-real ou seja o ldquodeslocamento

de produtores de bens e serviccedilos de um paiacutes para outro via investimento

externo diretordquo a monetaacuteria-financeira que se refere ldquoaos fluxos de capitais

internacionais na forma de empreacutestimos financiamento e investimentosrdquo e

finalmente a tecnoloacutegica que envolve ldquoa transferecircncia internacional de ativos

intangiacuteveis e conhecimentordquo tratando-se tambeacutem dos ldquodireitos de propriedade

intelectual e industrial e de know-howrdquo 22 (p18)

E as dimensotildees em que ocorre a dinacircmica satildeo a bilateral envolvendo

dois atores de diferentes nacionalidades ou atores transnacionais a plurilateral

quando pelo menos trecircs atores estatildeo interagindo (por exemplo relaccedilotildees

comerciais no contexto do Mercosul) e a multilateral ldquoenvolvendo todos ou

50

praticamente todos os principais atoresrdquo como exemplo a interaccedilatildeo dos

governos no acircmbito da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio ndash OMC

Quanto aos atores nacionais e transnacionais podem ser ldquoestatais

paraestatais e natildeo-estataisrdquo

Determina-se a questatildeo relacionada agrave conduta dos atores por fatores

objetivos ldquocomo os interesses materiais (geraccedilatildeo de riqueza) e poliacuteticos

(geraccedilatildeo de poder)rdquo e tambeacutem por fatores subjetivos ldquocom destaque para os

valores e os ideaisrdquo

Dessa forma cria-se um diferencial para o enfoque da EPI associando-

se a anaacutelise econocircmica e poliacutetica agrave apreciaccedilatildeo ideoloacutegico e cultural mais

pertinente ao campo social Procura-se portanto identificar as motivaccedilotildees da

accedilatildeo dos atores que operam no sistema internacional

Somadas agraves motivaccedilotildees autores como Susan George (1988) e JC

Santos (2000) citados por Gonccedilalves 22 (p15) incorporam aos sistemas poliacutetico

cultural e econocircmico estruturas de poder na economia mundial ldquoproduccedilatildeo

financeira seguranccedila e conhecimentordquo e ldquociecircncia e teacutecnicardquo respectivamente

Os primeiros produccedilatildeo e financeira satildeo tratados como esferas especiacuteficas do

sistema econocircmico internacional juntamente com a esfera comercial e

tecnoloacutegica No que diz respeito aos dois uacuteltimos ciecircncia e teacutecnica satildeo

reconhecidos como parte dos sistemas econocircmico e poliacutetico 22

Ganha destaque nesse sentido a interdependecircncia [19] entre a Ciecircncia

e a Teacutecnica e a economia e Poliacutetica 22

ldquoDe fato eacute difiacutecil compreender a dinacircmica dos

processos de desenvolvimento cientiacutefico e de inovaccedilatildeo

tecnoloacutegica nos paiacuteses desenvolvidos sem levar em

conta as estrateacutegias e as poliacuteticas dos Estados-

nacionais20

tanto no que se refere ao desenvolvimento

econocircmico quanto agrave estrateacutegia de defesa nacionalrdquo

(p16)

19

Interdependecircncia essa que seraacute detalhada no Capiacutetulo II do presente estudo

20 Estado-nacional ―tipo de Estado que possui o monopoacutelio do que afirma ser o uso legiacutetimo da

forccedila dentro de um territoacuterio demarcado e que procura unir o povo submetido a seu governo por meio da

homogeneizaccedilatildeo criando uma cultura siacutembolos e valores comuns revivendo tradiccedilotildees e mitos de origem

ou agraves vezes inventando-os (Guibernau 1997 p56 apud Gonccedilalves 2005 p 29) 22

51

A despeito de Gonccedilalves 22 (p8) considerar que a EPI natildeo se constitui

num campo teoacuterico especiacutefico e sim num meacutetodo ou enfoque analiacutetico para o

presente estudo seraacute considerado a abordagem da EPI de maneira que se

procure analisar as relaccedilotildees internacionais a partir da interaccedilatildeo entre as

ciecircncias da Economia e da Poliacutetica mesmo que natildeo seja a pretensatildeo deste

trabalho aprofundar essa anaacutelise e tatildeo somente apresentar uma breve

introduccedilatildeo acerca da temaacutetica

Assim posto destacando-se por ora tanto a perspectiva poliacutetica quanto

a perspectiva econocircmica no acircmbito da EPI como primordiais na anaacutelise da

globalizaccedilatildeo econocircmica ou seja na difusatildeo e na intensificaccedilatildeo de todos os

tipos de relaccedilotildees poliacutetico e econocircmicos entre os paiacuteses tem-se relaccedilatildeo com as

principais classificaccedilotildees tradicionais das abordagens das Relaccedilotildees

Internacionais isto eacute com o nacionalismo ou realismo o liberalismo e o

marxismo Essas relaccedilotildees seratildeo apresentadas a seguir mas vale o destaque

que para o presente estudo dado o nosso interesse sobre os paiacuteses em

desenvolvimento seraacute destacada a ldquoabordagem marxista da EPIrdquo

De maneira resumida e simplificada podemos diferenciar essas teorias

da EPI da seguinte forma

52

Quadro 1 Principais Teorias da EPI

Para a visatildeo

realista

(tambeacutem

conhecido por

mercantilismo ou

nacionalismo

econocircmico)

A economia estaacute subordinada agrave poliacutetica A atividade econocircmica deve se dedicar agrave ldquoconstruccedilatildeo de um Estado forte e ao apoio do interesse nacionalrdquo

Eacute um instrumento da poliacutetica uma base para o poder poliacutetico Nesse contexto ldquoa economia internacional eacute uma arena de conflito entre

interesses nacionais opostos ao inveacutes de uma aacuterea de cooperaccedilatildeo e ganho muacutetuordquo

14

A criaccedilatildeo da riqueza eacute a ldquobase necessaacuteria para aumentar o poder do Estadordquo A riqueza exerce a base primordial para se alcanccedilar a seguranccedila e o bem-estar nacionais O poder poliacutetico nesse caso funciona como sustentaccedilatildeo de uma economia mundial liberal isto eacute ldquosem um poder hegemocircnico natildeo eacute possiacutevel existir uma economia mundial liberalrdquo

1424

Para a visatildeo

liberal

Busca-se ldquoa prosperidade econocircmica por meio do livre comeacutercio e da troca econocircmica abertardquo contra ldquoo acuacutemulo de poder por meio da forccedila militar e da expansatildeo territorialrdquo

A produccedilatildeo e os preccedilos natildeo dependem do planejamento do governo A economia liberal opera em um ldquomercado livrerdquo baseado em uma harmonia de

interesses onde a distribuiccedilatildeo da riqueza eacute naturalmente proporcional ao meacuterito

Entende-se o capitalismo internacional como ldquouma forma de mudanccedila

progressiva para todos os paiacuteses independentes do seu niacutevel de

desenvolvimentordquo defendendo o mercado livre a propriedade privada e a

liberdade individual para a criaccedilatildeo da base do progresso econocircmico auto-

sustentaacutevel dos paiacuteses envolvidos Argumenta-se que ldquoa prosperidade humana

pode ser alcanccedilada por meio da livre expansatildeo global do capitalismo aleacutem das

fronteiras do Estado soberano e por meio do decliacutenio da importacircncia desses

limites territoriaisrdquo

Para a visatildeo

marxista

(Visatildeo Claacutessica)

A caracteriacutestica predominante no marxismo eacute a definiccedilatildeo de que a economia capitalista baseia-se na burguesia e no proletariado Apresenta uma visatildeo materialista onde a produccedilatildeo econocircmica eacute a base para todas as atividades humanas incluindo a poliacutetica

A poliacutetica e a economia estatildeo interligadas Algumas consideraccedilotildees sobre o marxismo no contexto da Economia Poliacutetica

Internacional podem ser destacadas (1) os Estados natildeo satildeo autocircnomos sendo motivados e orientados pelos interesses da classe governante e pelos interesses de suas burguesias (2) o conflito de classes eacute mais fundamental do que aquele entre Estados (3) existecircncia de uma busca infinita por novos mercados e por mais lucros (4) as classes ultrapassam as fronteiras estatais e os conflitos natildeo se restringem aos Estados expandindo-se no capitalismo globalizaccedilatildeo econocircmica liderada por corporaccedilotildees transnacionais

O capitalismo internacional eacute entendido como um instrumento para a exploraccedilatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento pelos paiacuteses desenvolvidos

Elaboraccedilatildeo proacutepria (2012) a partir da fonte Jackson e Sorensen 2007 14

Uma vez que a este estudo interessa o olhar sobre os paiacuteses em

desenvolvimento seraacute dado destaque para a abordagem marxista da EPI

apresentando breves comentaacuterios [21] sobre dois de seus principais teoacutericos

Wallerstein e Fiori

21

Parte-se da anaacutelise de Osorio LFB O sistema mundo no pensamento de Arrighi Wallerstein e

Fiori um estudo comparativo In Coloacutequio Brasileiro em Economia Poliacutetica dos Sistemas-Mundo 4

53

Na perspectiva do neomarxista Wallerstein 25262728 a noccedilatildeo do Terceiro

Mundo eacute reinterpretada Para ele existe um mundo articulado por um complexo

sistema de trocas econocircmicas sob a base da dicotomia entre capital e trabalho

e a acumulaccedilatildeo de capital entre notadamente Estados-Naccedilatildeo concorrentes

cujo equiliacutebrio eacute ameaccedilado por questotildees e conflitos internos Conceito esse

denominado como ldquosistema-mundordquo isto eacute um sistema mundial capitalista

norteado pelo comportamento dos Estados em um contexto competitivo

interestatal que admite uma hierarquia dividida entre centro semiperiferia e

periferia

Em conformidade com a tipologia esquemaacutetica apresentada por

Wallerstein 252627 o ldquoSistema-Mundordquo tem as seguintes caracteriacutesticas

(1) A economia mundial capitalista sustenta-se sobre uma hierarquia de

aacutereas centrais perifeacutericas e semiperifeacutericas em funccedilatildeo da divisatildeo do

trabalho entre as regiotildees assim definidas

a Aacutereas centrais ndash grande desenvolvimento tecnoloacutegico atividades

econocircmicas avanccediladas e complexas controladas pela burguesia

local ndash induacutestrias comeacutercios e agricultura complexa como

exemplos

b Perifeacutericas ndash base da hierarquia produzem artigos de primeira

necessidade A matildeo de obra eacute natildeo especializada e haacute pouca

atividade industrial (normalmente sob controle externo dos

capitalistas dos paiacuteses centrais)

c Semiperifeacutericas ndash camada intermediaacuteria entre a superior de

paiacuteses centrais e a inferior de paiacuteses perifeacutericos

(2) Troca desigual O excedente econocircmico eacute transferido da periferia para o

centro Isto eacute o excedente eacute derivado dos produtores com lucros e

2010 Santa Catarina Anais eletrocircnicos Santa Catarina UFSC 2010 Disponiacutevel em

lthttpwwwgpepsmufscbrhtmlarquivoso_sistema_mundo_no_pensamento_de_arrighi_wallerstein_e

_fioripdfgt Acesso em 21 set 2010

54

salaacuterios baixos na periferia e destinado aos produtores com lucros e

salaacuterios altos das aacutereas centrais

(3) Governos fortes no centro e governos mais fracos na periferia Isto eacute os

Estados fortes impotildeem trocas desiguais aos mais fracos O capitalismo

envolve ldquouma apropriaccedilatildeo do excedente de toda a economia mundial

pelas aacutereas centraisrdquo 29

Sob a perspectiva de um olhar diferenciado para o sistema mundial

formado pelos ldquoEstados-economias nacionaisrdquo e pelas ldquoeconomias liacutederesrdquo -

transnacionais e imperiais - satildeo apresentadas as seguintes caracteriacutesticas 30

(p33-4)

1 Cada ldquoEstado-economia imperialrdquo produz seu proacuteprio rastro e nesse

contexto as demais economias nacionais satildeo hierarquizadas em trecircs

grupos conforme suas estrateacutegias poliacutetico-administrativas

a economias nacionais que se desenvolvem sob o efeito protetor

imediato do liacuteder (ou vinculado ao liacuteder)

b economias nacionais que adotam estrateacutegias de catch up [22]

para alcanccedilar as ldquoeconomias liacutederesrdquo Segundo o autor sejam

por motivos ofensivos ou defensivos ldquoaproveitam os periacuteodos de

mudanccedila internacional para mudar sua posiccedilatildeo na hierarquia de

poder internacional por meio de poliacuteticas agressivas de

crescimento econocircmicordquo isto eacute o fortalecimento econocircmico

antecedendo ao fortalecimento militar e ao aumento do poder

internacional do paiacutes o que pode alcanccedilar sucesso e neste

caso ocorrer a criaccedilatildeo de um novo ldquoEstado-Economia liacutederrdquo ou

ser devidamente ldquobloqueadordquo

22 Entendem-se ―estrateacutegias de catch up como as habilidades que uma determinada

economia desenvolve para viabilizar a reduccedilatildeo da distacircncia que o separa de um paiacutes ou de uma economia

liacuteder

55

c em um grupo amplo concentra-se a grande maioria das demais

economias nacionais do sistema mundial atuantes na ldquoperiferia

econocircmica do sistemardquo fornecendo ldquoinsumos primaacuterios e

industriais especializados para as economias dos ldquoandares

superioresrdquo Para o autor essas economias podem apresentar

intensos ciclos de crescimento com alta renda per capita aleacutem

de se industrializar seguindo como ldquoeconomias perifeacutericasrdquo

2 A desigualdade no desenvolvimento da distribuiccedilatildeo da riqueza entre as

naccedilotildees eacute tida como uma dimensatildeo econocircmica fundamental do ldquosistema

mundial modernordquo mesmo considerando a existecircncia da ldquopossibilidade

seletiva de mobilidade nacional dentro desse sistemardquo a depender da

estrateacutegia econocircmica adotada por cada paiacutes aleacutem da estrateacutegia poliacutetica

assumida

Com o avanccedilo da troca desigual criam-se conflitos e o sistema

econocircmico eacute tensionado Nesse caso algumas caracteriacutesticas podem ser

apresentadas 2728

(a) A semiperiferia tem um papel de apaziguador poliacutetico

Uma vez que natildeo haacute necessariamente uma oposiccedilatildeo

unificada com relaccedilatildeo aos paiacuteses centrais a

semiperiferia acaba exercendo o papel de estabilizador

poliacutetico

(b) A economia mundial natildeo eacute estaacutetica Podem existir

mudanccedilas nas posiccedilotildees assumidas entre os paiacuteses do

centro e nos de semiperiferia A troca tambeacutem pode

ocorrer entre os paiacuteses da periferia e da semiperiferia

(c) Pode existir uma mudanccedila dinacircmica entre os tipos de

produtos relacionados agraves atividades econocircmicas

perifeacutericas e centrais O avanccedilo tecnoloacutegico pode

representar o dinamismo da atividade econocircmica

passamos pela aacuterea tecircxtil depois industrial e atualmente

a informaccedilatildeo e a biotecnologia em conjunto com o

56

sistema financeiro e outros serviccedilos Para o economista

a estrutura fundamental do sistema capitalista natildeo muda

A hierarquia do centro da semiperiferia e da periferia eacute

caracterizada pela troca desigual

O ldquoSistema-Mundordquo apresenta uma divisatildeo sistecircmica na economia-

mundo capitalista o que na percepccedilatildeo do autor leva os Estados centrais a

uma situaccedilatildeo de tensatildeo econocircmica e militar constante concorrendo pelo

privileacutegio de explorar as aacutereas perifeacutericas O que leva ao enfraquecimento dos

aparelhos desses Estados perifeacutericos poreacutem essa divisatildeo permite que certos

paiacuteses desempenhem um papel intermediaacuterio especializado como potecircncias

semiperifeacutericas

A economia-mundo estaacute fadada agrave desintegraccedilatildeo por causa de seu

proacuteprio sucesso 28 Isto eacute atingiu ldquouma enorme expansatildeo da produccedilatildeo mundial

e um incriacutevel avanccedilo tecnoloacutegicordquo mas ldquocriou uma enorme quantidade de

destruiccedilatildeo e de empobrecimento de amplos segmentos das populaccedilotildees

mundiaisrdquo Ele aponta a crise estrutural atual em funccedilatildeo do seu sucesso

relacionado agrave acumulaccedilatildeo do capital

ldquoSeu sucesso demanda trecircs coisas e cada uma delas estaacute atingindo um niacutevel ameaccedilador para a continuaccedilatildeo da acumulaccedilatildeo de capital Primeiro em todo o mundo o custo da matildeo-de-obra tem aumentado constantemente para os produtores () que tambeacutem pesa na acumulaccedilatildeo do capital Segundo os capitalistas tecircm mantido seus preccedilos baixos natildeo pagando suas contas algo que os economistas chamam de externalizaccedilatildeo dos custos Isso significa que boa parte dos custos de produccedilatildeo como a renovaccedilatildeo de recursos ou de infraestruturas eacute paga pelo Estado (e portanto pela populaccedilatildeo em geral) natildeo pelos empreendedores que lucram com os negoacutecios () Assim os governos comeccedilaram a pressionar os produtores para que eles internalizassem seus custos Terceiro para evitar rebeliotildees sociais constantes os Estados foram democratizados () o que significa que eacute exigido dos Estados que forneccedilam trecircs coisas baacutesicas aos cidadatildeos educaccedilatildeo sauacutede e garantias de uma receita duraacutevel Ou seja o Estado do Bem-Estar Socialrdquo

28

O Estado do Bem-Estar Social tem alto custo e eacute obtido por meio de

impostos e em uacuteltima anaacutelise por cortes na acumulaccedilatildeo de capital Vale

57

destacar que a sustentaccedilatildeo do Estado do Bem-Estar nos paiacuteses desenvolvidos

encontra-se em severa crise particularmente junto aos paiacuteses europeus 28

Caracteriza portanto o periacuteodo atual como o de crise e transiccedilatildeo da

hegemonia dos paiacuteses centrais notadamente dos EUA como tambeacutem o de

crise terminal do proacuteprio sistema mundial moderno a prolongar-se nas proacuteximas

deacutecadas para finalmente ocorrer um novo sistema internacional diferente do

que eacute apresentado na atualidade ldquoo sistema internacional marcharaacute para uma

reestruturaccedilatildeo que seraacute repressiva ou igualitaacuteria () para algo totalmente

diferenterdquo 26 (p 209)

O que pode ser contra-argumentado ao se questionar se estamos

vivendo ldquouma crise terminal do sistema capitalista e interestatal modernordquo ou

apenas ldquouma crise de transiccedilatildeo ou reafirmaccedilatildeo hegemocircnicardquo30 (p63)

Fiori 30 em discordacircncia agrave tese de Wallerstein apresenta como

contraditoacuteria a previsatildeo de que o sistema econocircmico capitalista seja destruiacutedo

por uma crise terminal provocada por uma contraccedilatildeo dos lucros (profit

squeeze) diante de um cenaacuterio internacional que apresenta grandes inovaccedilotildees

tecnoloacutegicas Para o autor haacute de ser considerada a importacircncia estrateacutegica da

tecnologia em quase todos os setores decisivos da economia

Durante os periacuteodos de bonanccedila econocircmica internacional e nos de

ldquointensificaccedilatildeo da competiccedilatildeo e das lutas entres as grandes potecircncias do

sistema mundialrdquo ocorrem a ampliaccedilatildeo de oportunidades para os Estados

situados na periferia do sistema 30 (p35) Nesse sentido a relaccedilatildeo da periferia

com o sistema mundial eacute expandida diferentemente do que defende o modelo

de Wallerstein

Apesar de considerar a intensificaccedilatildeo da competiccedilatildeo e das lutas entres

as grandes potecircncias do sistema mundial e sua respectiva consequecircncia Fiori

30 (p 67) destaca a importacircncia da ldquonatureza e do funcionamento hieraacuterquico

do poder globalrdquo devendo-se levar em consideraccedilatildeo as ldquodiferenccedilas

gigantescas que existem entre os vaacuterios paiacuteses e as economias nacionais

dispersas pelo mundordquo Em sua opiniatildeo

58

a O processo de internacionalizaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo do

capitalismo foi decorrente da tentativa e da busca da imposiccedilatildeo

dos Estados e economias nacionais ao resto do sistema mundial

de seus respectivos poder soberano moeda diacutevidas e sistema

de tributaccedilatildeo (expansatildeo do capital financeiro nacional)

b Existe um Estado nacional mais poderoso que exerce influecircncia

e imposiccedilatildeo dos seus interesses nacionais aos demais Estados

isto eacute ao resto mundo E natildeo um ldquoEstado ou impeacuterio que

absorve e dissolve os Estados nacionaisrdquo

c Existem Estados nacionais sem soberania eou sem

possibilidade de desenvolvimento econocircmico nacional

No que se refere aos paiacuteses em desenvolvimento caracterizados como

ldquosemi-Estadosrdquo 14 incapazes de atender ao conjunto de regras estabelecidas

pelos paiacuteses desenvolvidos apresentam quase sempre uma economia pobre e

subdesenvolvida natildeo sendo capazes de se manter sozinhos no sistema

internacional requerendo um tratamento especial e preferencial do mundo

desenvolvido Obrigam-se a conseguir o que querem ou o que precisam dos

paiacuteses mais ricos e mais fortes

Haacute de se destacar nesse sentido que as mudanccedilas na hierarquia desse

sistema podem ser observadas por meio dos reflexos concretos das atuaccedilotildees

estatais nos foros multilaterais e nas institucionalidades dos organismos

intergovernamentais globais e regionais como por exemplo OMC OMS G-20

que se espera defendam o reposicionamento no sistema interestatal

Sob o contexto da natureza e do funcionamento hieraacuterquico do poder

global natildeo se pode deixar de considerar a legitimidade da soberania e os

consequentes reflexos concretos que o mesmo impotildee agraves complexas relaccedilotildees

interestatais Considerando que a economia nacional eacute uma base de recursos

estrateacutegicos para o Estado nacional a questatildeo da soberania [ 23 ] eacute tambeacutem

apontada pela EPI

23

Soberania ndash Qualidade do Estado de ser politicamente independente de todos os outros

Estados O conceito poliacutetico juriacutedico de Soberania indica o poder de mando de uacuteltima instacircncia numa

59

Nesse sentido os Estados satildeo independentes uns dos outros pelo

menos legalmente (o que se caracteriza pela detenccedilatildeo de soberania)

Entretanto natildeo estatildeo isolados 14 ldquoPelo contraacuterio se unem e se influenciamrdquo e

devem encontrar meios de ldquocoexistir e de lidar uns com os outrosrdquo Para os

autores soberania ldquoeacute uma instituiccedilatildeo internacionalrdquo isto eacute ldquoum conjunto de

regras personificadas pelos Estadosrdquo que constituem e regulam a sua

independecircncia externa e a sua autoridade nacional Perante o direito

internacional os Estados satildeo juridicamente iguais [ 24 ] Portanto a soberania eacute

a independecircncia poliacutetica que um Estado usufrui com relaccedilatildeo a outros sendo o

governo a autoridade suprema dentro do seu territoacuterio Haacute o entendimento da

soberania como uma instituiccedilatildeo baacutesica da sociedade internacional

No entanto para esses autores esse tema ganha um sentido mais

contemporacircneo jaacute que se desenvolve e varia de maneira natildeo prevista

suficientemente pelas abordagens tradicionais Isso posto os principais

desafios agrave soberania estatildeo nas (1) forccedilas de mercado globais que atravessam

fronteiras com facilidade e afetam economias nacionais no (2)

desenvolvimento de normas sobre proteccedilatildeo internacional dos direitos humanos

e do direito humanitaacuterio acerca dos direitos humanos que prevecirc infraccedilotildees agrave

soberania (desafio ao princiacutepio da natildeo-intervenccedilatildeo) [ 25 ] e no (3) conflito

armado e no controle dos meios de violecircncia quando natildeo haacute garantia do

controle exclusivo dos meios de violecircncia pelos Estados em sua jurisdiccedilatildeo

domeacutestica

O paradoxo da questatildeo da soberania se daacute portanto em muitos casos

quando o fracasso estatal leva agrave intervenccedilatildeo humanitaacuteria o que acaba por

desafiar o princiacutepio da soberania da natildeo-intervenccedilatildeo

Nesse sentido conclui-se que a soberania permanece como uma

instituiccedilatildeo importante e estrateacutegica para a poliacutetica mundial apresentando

sociedade poliacutetica Portanto seu conceito estaacute ligado ao do poder poliacutetico Eacute a racionalizaccedilatildeo juriacutedica do

poder no sentido da transformaccedilatildeo da forccedila em poder legiacutetimo do poder de fato em poder de direito 23

(p

1179) 24

Declaraccedilatildeo de Princiacutepios do Direito Internacional ONU 1970 ― nenhum Estado ou grupo de

Estados tem o direito de intervir direta ou indiretamente por qualquer que seja a razatildeo nos assuntos

internos ou externos de qualquer outro Estado 25

Princiacutepio da Natildeo-Intervenccedilatildeo direito dos Estados de governar seus cidadatildeos sem a

interferecircncia externa

60

mudanccedilas na sua essecircncia cujas variaccedilotildees indicam importantes alteraccedilotildees na

natureza da condiccedilatildeo do Estado independente tornando-se segundo citaccedilatildeo

de Keohane (1995) 14 (p 379) ldquouma barreira menos territorialmente definida do

que um recurso de barganha para uma poliacutetica caracterizada por complexas

redes transnacionaisrdquo

Mesmo considerando a complexa relaccedilatildeo exercida pelo papel da

soberania estatal no sistema mundial ressalta-se a importacircncia do

funcionamento hieraacuterquico do poder global considerando-se as distinccedilotildees

existentes entre os diversos Estados e economias dispersas pelo mundo

defendendo tambeacutem a existecircncia de um Estado nacional mais poderoso e

influente que impotildee os seus interesses nacionais aos demais Estados 30 (p

67)

Nesse sentido Fiori 30 fundamenta a sua teoria do universo em

expansatildeo contiacutenua justificando portanto o poder como a mola propulsora das

relaccedilotildees internacionais cuja incessante pressatildeo competitiva direciona os

Estados a criarem e a conviverem simultaneamente com a ordem e

desordem guerra e paz onde esse movimento de constante fortalecimento de

alguns Estados significa a retraccedilatildeo de outros

Ainda sob essa perspectiva para o autor a necessidade de acumulaccedilatildeo

de poder e do excedente produtivo pode ser justificada pelo somatoacuterio do ldquojogo

das trocasrdquo ao ldquojogo das guerrasrdquo 31 Esse movimento segue na busca por mais

poder O conceito do poder poliacutetico estaacute relacionado agrave ideacuteia de fluxo e natildeo

necessariamente a do estoque 32 (p 334) Nesse sentido

ldquoO exerciacutecio do poder requer instrumentos materiais e ideoloacutegicos mas o essencial eacute que o poder eacute uma relaccedilatildeo social assimeacutetrica indissoluacutevel que soacute existe quando eacute exercido e para ser exercido precisa se reproduzir e acumular constantemente A conquista como disse Maquiavel eacute o ato fundador que instaura e acumula o poder e ningueacutem pode conquistar nada sem ter poder e sem ter mais poder do que o conquistado Num mundo em que todos tivessem o mesmo poder natildeo haveria poderrdquo

61

O que nos remete novamente ao conceito de poder no sistema

internacional como sendo ldquoo poder efetivo inversamente proporcional agrave

vulnerabilidade externardquo 22 (p 20) E baseando-se nessa relaccedilatildeo inclui-se

portanto as relaccedilotildees de mercado na perspectiva da EPI nas Relaccedilotildees

Internacionais que ressaltam o impacto da economia mundial de mercado

sobre as relaccedilotildees dos Estados e as maneiras pelas quais esses Estados

tentam tirar vantagem influenciando as forccedilas de mercado 2414

Dessa forma percebe-se a relaccedilatildeo de poder e o papel poliacutetico do

Estado como um agente central de induccedilatildeo das mudanccedilas nas economias

nacionais isto eacute uma relaccedilatildeo direta da economia com a poliacutetica uma vez que

as estruturas poliacutetica e econocircmica satildeo dependentes uma da outra fazendo-se

cada vez mais presentes no contexto da economia mundial moderna

Nesse sentido a essecircncia das Relaccedilotildees Internacionais encontra-se no

papel estrateacutegico desempenhado pelo Estado E portanto a relaccedilatildeo entre a

poliacutetica e a economia (aleacutem da relaccedilatildeo entre o desenvolvimento e o

subdesenvolvimento nos paiacuteses em desenvolvimento e a natureza e a

extensatildeo da globalizaccedilatildeo econocircmica) estaacute na agenda dos debates abordados

pela Economia Poliacutetica Internacional fundamentando o presente estudo e

inserindo ldquoo papel do Estado nacionalrdquo como ator estrateacutegico nas Relaccedilotildees

Internacionais

62

CAPIacuteTULO II - ESTADO E DESENVOLVIMENTO ndash A RETOMADA

DO PAPEL DOS ESTADOS NACIONAIS

1 Introduccedilatildeo

O processo dinacircmico provocado pela globalizaccedilatildeo promove mudanccedilas

nas relaccedilotildees entre os Estados e as economias nacionais Exerce nesse

sentido forte impacto sobre a atuaccedilatildeo do Estado gerando nova agenda

poliacutetica interna e internacional onde predominam temas e interesses

conflituosos entre os desejos e necessidades econocircmicas nacionais e as

demandas internacionais aleacutem de gerar um novo cenaacuterio onde forccedilas

exoacutegenas trazem novos significados para as relaccedilotildees das autoridades poliacuteticas

A economia contemporacircnea traz grandes desafios para a atuaccedilatildeo do

Estado tanto no contexto interno como na arena das suas relaccedilotildees

internacionais colocando agrave prova a sua capacidade de resistecircncia sua forccedila e

vitalidade aleacutem da sua capacidade de construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo de inovaccedilatildeo

e de produccedilatildeo competitiva

Nesse sentido diante do desafio apresentado pela globalizaccedilatildeo

marcada por um cenaacuterio internacional que apresenta um (re) posicionamento

de consenso no que se refere agrave retomada da vanguarda tecnoloacutegica e inovativa

em praticamente todos os setores da economia cabe ao Estado portanto

sobreviver agraves consequecircncias do impacto da (tentativa de) integraccedilatildeo dos

mercados e dos fluxos de capitais e tornar-se mais forte e resistente capaz de

superar os limites impostos pela globalizaccedilatildeo Mantendo iacutentegra a sua

capacidade soberana decisoacuteria no contexto das relaccedilotildees internacionais e haacutebil

nas suas negociaccedilotildees internacionais e na sua poliacutetica externa aleacutem da sua

capacidade de desenvolvimento econocircmico e tecnoloacutegico capaz de superar as

desigualdades e promover mudanccedilas significativas no contexto do seu

desenvolvimento nacional e no reposicionamento estrateacutegico das suas relaccedilotildees

internacionais

63

2 Estado como Ator Estrateacutegico nas Relaccedilotildees Internacionais

Estados soberanos exercem diplomacia entre si com o objetivo de

preservar a sua independecircncia a sua soberania a sua seguranccedila proteger e

promover os seus interesses influenciar os demais e simultaneamente resistir

agraves influecircncias dos demais Estados Devem lidar com as poliacuteticas de coerccedilatildeo e

reconduzi-las para uma negociaccedilatildeo diplomaacutetica que considere opiniotildees e

perspectivas diferentes

A diplomacia nesse sentido ocorre em um cenaacuterio altamente complexo

e eacute exercida entre Estados soberanos com diferentes graus de

desenvolvimento econocircmico social e institucional O exerciacutecio da diplomacia

abriga conflitos entre razotildees interesses e conveniecircncias 33 (p23)

ldquopela proacutepria natureza de suas funccedilotildees o diplomata acha-se obrigado a lidar constantemente com as disjuntivas entre a razatildeo do Estado e a razatildeo do homem entre interesses unilaterais e demandas coletivas entre as conveniecircncias de um mundo ainda caracterizado pela soberania de seus componentes estatais e as exigecircncias do multilateralismo e do transnacionalismordquo

A poliacutetica externa exercida pela diplomacia eacute a expressatildeo do ponto de

vista de um paiacutes sobre o mundo e o seu funcionamento cuja responsabilidade

passa pela ldquodevoccedilatildeo agrave proacutepria naccedilatildeo e ao bem-estar de seus cidadatildeosrdquo 34

(p89) aleacutem do respeito pelos ldquointeresses legiacutetimos pelos direitos de outros

Estados e pelo direito internacionalrdquo assim como pelo ldquocompromisso com os

direitos humanosrdquo 14 (p219)

Considerando o cenaacuterio internacional complexo onde o mundo se

apresenta como dinacircmico e em constante transformaccedilatildeo na sua realidade

poliacutetica onde haacute interesses heterogecircneos e por vezes conflituosos a poliacutetica

externa de um Estado tem como objetivo preservar a sua identidade nacional e

garantir sua soberania nem sempre faacutecil de manter ao largo da negociaccedilatildeo

buscando-se valer das janelas de oportunidades oferecidas pelas negociaccedilotildees

e tendecircncias globais e regionais

64

Nesse sentido no tocante ao Brasil um Paiacutes cujas caracteriacutesticas o

definem como ldquonem o mais atrasado nem o mais adiantado nem o mais rico

nem o mais pobre nem o mais justo nem tambeacutem o mais injustordquo um Paiacutes que

ldquobusca se transformar natildeo por impulsos autoritaacuterios ou visotildees impositivasrdquo mas

sim ldquomediante a gestaccedilatildeo de consensos aproximativos que se natildeo

representam o caminho mais raacutepido constitui certamente o mais seguro e

duradourordquo 33 (p 30) Teremos finalmente um Paiacutes cuja poliacutetica externa visa agrave

ampliaccedilatildeo da inserccedilatildeo internacional do Paiacutes como fator de estiacutemulo ao

desenvolvimento econocircmico e social e por consequecircncia uma poliacutetica externa

mais assertiva e mais marcante no cenaacuterio internacional com os reflexos do

desenvolvimento nacional

Portanto temas de natureza poliacutetica econocircmica ou social passaram a

ocupar a agenda internacional Nesse sentido a accedilatildeo diplomaacutetica brasileira

tem ido ao encontro do que a sociedade deseja para si proacutepria e para este

ldquomundo de polaridades indefinidasrdquo e citando Celso Lafer exemplifica

ldquodemocracia respeito aos direitos humanos abertura econocircmica e sentido de

solidariedade socialrdquo 30 (p 31) Busca essa autonomia atraveacutes da aproximaccedilatildeo

do diaacutelogo e do estiacutemulo agrave cooperaccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo

Entretanto essa busca pela autonomia tem ocorrido em um mundo cada

vez mais interdependente nas informaccedilotildees nas comunicaccedilotildees na economia e

no campo social tanto na aacuterea das necessidades humanas quanto nos

aspectos culturais

Aleacutem disso vale destacar que diferentemente do que ocorria ateacute poucas

deacutecadas atraacutes notadamente no periacuteodo conhecido como ldquoGuerra Friardquo onde o

uso da forccedila para o estabelecimento do sistema de poder entre os Estados e a

consequente hierarquia dos temas da poliacutetica internacional era ditado pelo

Estado forte com predomiacutenio da seguranccedila militar o modelo de

interdependecircncia em predominacircncia leva em consideraccedilatildeo a existecircncia de

outros atores internacionais e as novas perspectivas dos temas da poliacutetica

externa aleacutem da inter-relaccedilatildeo entre poliacutetica interna e externa 35

65

Perspectivas essas relacionadas agrave revoluccedilatildeo contemporacircnea nas

tecnologias de informaccedilatildeo e da ciecircncia e agrave transnacionalizaccedilatildeo da economia

que acabam justificando a interdependecircncia do sistema mundial globalizado

Isso posto mesmo considerando a relaccedilatildeo de interdependecircncia entre

naccedilotildees e liacutederes poliacuteticos visando agrave cooperaccedilatildeo e agrave reduccedilatildeo dos conflitos de

interesses Keohane e Nye [ 26 ] citados por Ricobom 35 consideram natildeo haver

garantia de um sistema de equiliacutebrio entre os atores o que

consequentemente acaba por gerar relaccedilotildees assimeacutetricas de poder entre os

atores nacionais Nesse sentido as assimetrias podem proporcionar fontes de

influecircncia aos atores em suas relaccedilotildees com os demais Essa interdependecircncia

assimeacutetrica eacute que gera as relaccedilotildees de poder de um ator sobre os demais 35 (p

253)

Nesse contexto podemos incluir a aacuterea da sauacutede que nos uacuteltimos anos

vem ganhando maior espaccedilo na relaccedilatildeo de interdependecircncia entre os Estados

Seja por conta de um maior envolvimento e comprometimento entre os liacutederes

estatais delineando uma nova abordagem para a governanccedila mundial mais

integrada e focada no bem-estar da comunidade internacional seja pela busca

do atendimento agraves aspiraccedilotildees agraves soluccedilotildees dos problemas e dos desafios

relacionados agrave aacuterea da sauacutede tanto no acircmbito nacional regional

supranacional ou global

Obviamente natildeo podem ser excluiacutedas dessa relaccedilatildeo de poder as

influecircncias exercidas por atores natildeo governamentais cujo determinismo passa

pela questatildeo mercadoloacutegica as empresas multinacionais e transnacionais

Diante do exposto tem-se portanto o contexto contemporacircneo na

perspectiva das relaccedilotildees internacionais sob a anaacutelise da complexidade do

enfoque muacuteltiplo e natildeo mais pelo determinismo do Estado

Nesse sentido tem-se um desafio diplomaacutetico Quando o interesse se

volta agrave proteccedilatildeo da sua capacidade de desenvolvimento o Estado deve

considerar que no jogo diplomaacutetico sempre que houver algum tipo de restriccedilatildeo

26

Keohane R Nye J Poder e Interdependecircncia La poliacutetica mundial em transicioacuten Buenos

AiresGrupo Editor Latino Americano 1988 p23

66

agraves poliacuteticas que favoreccedilam a economia nacional estas devem ser

compensadas por oportunidades atraentes de investimentos desde que natildeo

haja coalizotildees que desagradem agraves economias hegemocircnicas e suas poliacuteticas

internacionais e tampouco possam ferir os interesses nacionais

O que estaacute em jogo portanto eacute a possibilidade de um paiacutes superar seu

subdesenvolvimento no ldquoexerciacutecio da margem da soberania permissiacutevel nas

condiccedilotildees internacionaisrdquo 36 Nesse sentido afirma o autor o processo de

globalizaccedilatildeo e a influecircncia dos paiacuteses hegemocircnicos notadamente dos EUA

tenderatildeo a restringir ldquode maneira significativa senatildeo decisiva as possibilidades

de um desenvolvimento nacional autocircnomordquo

ldquoA internacionalizaccedilatildeo dos processos de desenvolvimento em predominante medida correspondendo para o periacuteodo em apreccedilo [isto eacute Seacuteculo XXI ndash minha inclusatildeo] agrave sua americanizaccedilatildeo tenderaacute a converter tais processos em um ajustamento territorial das economias locais agraves conveniecircncias da economia hegemocircnica convertendo os correspondentes territoacuterios em segmentos do mercado internacionalrdquo

36 (p13)

Isto eacute o processo da globalizaccedilatildeo e a hegemonia das economias

desenvolvidas acabam acarretando seacuterios entraves que dificultam o

desenvolvimento das economias em desenvolvimento No tocante ao poder de

influecircncia das economias desenvolvidas junto agravequelas relacionadas aos paiacuteses

em desenvolvimento o autor 36 prevecirc que

ldquoas aacutereas que permaneccedilam subdesenvolvidas no mundo no provaacutevel curso da primeira metade do seacuteculo XXI tenderatildeo a se converter em territoacuterio cuja economia se processaraacute de conformidade com a conveniecircncia da economia hegemocircnica e se constituiratildeo assim independentemente da persistecircncia formal das procedentes soberanias em meros segmentos do mercado mundialrdquo (p18)

Sob esse contexto portanto a defesa do interesse nacional eacute

constantemente focalizada levando-se em consideraccedilatildeo inclusive a

existecircncia de empresas multinacionais e de organismos transgovernamentais

que exercem grande influecircncia na determinaccedilatildeo do interesse nacional em

67

diversos setores exercendo fortes pressotildees multilaterais nem sempre

convergentes aos interesses nacionais do Estado

Poreacutem eacute em funccedilatildeo do surgimento desses fortes e por vezes desleais

atores internacionais que se daacute o enfraquecimento do Estado uma vez que se

percebe intensa influecircncia desses atores globais Ademais vale citar Ricobom

34 (p264) quando alega com base no preceito liberal que ldquoas relaccedilotildees de

poder se limitam reciprocamente fazendo com que o destino da comunidade

internacional dependa de um jogo entre os personagens determinantesrdquo

Eacute por meio da extensa rede de relaccedilotildees entre diferentes atores

organizaccedilotildees empresas transnacionais empresas privadas e atores

governamentais denominadas como ldquocanais muacuteltiplosrdquo 35 que se observa o

enfraquecimento do Estado na medida em que este natildeo soacute reconhece o

surgimento de novos atores como tambeacutem atribui um peso demasiado a todos

eles Para a autora os canais muacuteltiplos ldquoapagam as fronteiras entre a poliacutetica

interna e externa pois geram o enfraquecimento da polarizaccedilatildeo das relaccedilotildees

internacionais do Estadordquo (p260)

Dentre os atores predominantes nesse jogo podemos destacar as

empresas transnacionais e bancos multinacionais aleacutem das organizaccedilotildees

internacionais que apesar de natildeo serem totalmente controlados pelos

governos exercem forte influecircncia quando das formulaccedilotildees de poliacuteticas

puacuteblicas Nesse sentido haacute uma maior interferecircncia na agenda da poliacutetica

exterior de cada Estado

Portanto em contraposiccedilatildeo agrave abordagem claacutessica onde os Estados satildeo

atores principais e detentores do poder de decisatildeo e coerccedilatildeo (notadamente

pelo uso da forccedila) seguidos das organizaccedilotildees internacionais e

intergovernamentais (ldquocriadas pelos Estados e administradas pelos seus

membros ou instituiccedilotildeesrdquo) e em terceiro plano seguidos das forccedilas

transnacionais (ldquoresultado da intensificaccedilatildeo entre pessoas privadas ndash ONGs

empresas transnacionais e opiniatildeo puacuteblicardquo) remete-se agrave abordagem da

interdependecircncia dos atores com habilidade para mobilizar recursos com

unidade de decisatildeo e atuaccedilatildeo que permitam alcanccedilar seus objetivos de forma

estruturada e dinacircmica com capacidade de influecircncia e autonomia sobre

68

outros atores natildeo havendo uma hierarquia delimitada ldquoO Estado e a

territorialidaderdquo nesse sentido ldquoperdem importacircnciardquo 35 (p 261-3) Os atores

internacionais passam a ser portanto o Estado as Organizaccedilotildees

Internacionais as Organizaccedilotildees Natildeo-Governamentais e as empresas

transnacionais

Obviamente esses atores em sintonia atendem agrave concepccedilatildeo dada pela

construccedilatildeo ideoloacutegica da globalizaccedilatildeo interferindo e dando novo movimento agrave

poliacutetica nacional e internacional subestimando nesse caso o exerciacutecio central

do Estado minando a defesa dos respectivos interesses puacuteblicos e adjetivando

superlativos aos demais atores internacionais

Entretanto as relaccedilotildees internacionais contemporacircneas satildeo dinacircmicas e

estatildeo sempre em processo de (re) construccedilatildeo Assim sendo o

enfraquecimento do papel do Estado ganha um valor que deve ser revisto a

fim de permitir o seu posicionamento de forma mais ativa e soberana no

cenaacuterio internacional

Com essa percepccedilatildeo Fiori 30 esclarece que a primeira deacutecada do seacuteculo

XXI eacute marcada pelo reconhecimento da ldquoutopia da globalizaccedilatildeo e o fim das

fronteiras nacionaisrdquo O autor reconhece que o ldquosistema mundial retornou agrave sua

velha ldquogeopoliacutetica das naccedilotildeesrdquo com o fortalecimento das fronteiras nacionais e

da competiccedilatildeo econocircmica mercantilista e com o aumento das lutas pelas

hegemonias regionaisrdquo (p40)

Ademais a visatildeo da interaccedilatildeo entre uma loacutegica integradora do cenaacuterio

internacional e uma dinacircmica contestadora dessa loacutegica denominando a

globalizaccedilatildeo como excludente assimeacutetrica e tendenciosa tem que conviver

com as incertezas econocircmico-financeiras como essas que assolaram a Europa

em 2011 refletindo em escala mundial uma crise cambial fiscal monetaacuteria e

financeira que permeiam de forma virulenta o corpo econocircmico de cada paiacutes

Aquele que estiver com a imunidade mais baixa tende a adoecer mais

rapidamente apresentando sintomas mais dolorosos e demorando a sair da

crise infecciosa Os que tecircm a sua estrutura econocircmica fiscal e produtiva mais

fortalecida articuladas e integradas em sintonia com um equilibrado

69

desenvolvimento social tendem a apresentar uma pequena recaiacuteda poreacutem

com tendecircncias a breve recuperaccedilatildeo

Nesse sentido apesar do dinamismo presente nas relaccedilotildees de

interdependecircncia contemporacircnea haacute de se rever a engrenagem desse sistema

e garantir o papel de destaque que o Estado requer garantindo-lhe forccedila motriz

orientadora para uma nova realidade que natildeo se esgote no sentido

mercadoloacutegico Sob essa perspectiva Ricobom 35 reitera

ldquoAinda que a interdependecircncia apresente estruturas conceituais capazes de revelar uma realidade dinacircmica eacute inegaacutevel que contribui para a construccedilatildeo ideoloacutegica da globalizaccedilatildeo que prima pelo enfraquecimento do Estado e da relativizaccedilatildeo da soberania principalmente em nome dos grandes grupos transnacionais Ademais revelou-se inadequada porquanto as preocupaccedilotildees com as questotildees sociais teriam sido desleixadas pela poliacutetica internacionalrdquo (p 263)

Nesse sentido corrobora Lafer 34 ao reafirmar o posicionamento do

Estado no contexto da globalizaccedilatildeo Para o autor diferentemente da visatildeo dos

demais autores que vecircem na globalizaccedilatildeo o fim da autonomia do Estado a

globalizaccedilatildeo natildeo eliminou a importacircncia dos Estados na dinacircmica

internacional afinal as expectativas e o bem-estar da sociedade seguem

vinculados ao desempenho dos seus respectivos paiacuteses Os Estados dessa

forma satildeo instacircncias puacuteblicas de intermediaccedilatildeo e no plano externo ldquoesta

intermediaccedilatildeo parte de uma visatildeo assinaladora de especificidadesrdquo Dentre

essas especificidades ldquoque configuram o pluralismo do mundo e explicam a

perspectiva organizadora e a latitude da inserccedilatildeo de um paiacutes no sistema

internacionalrdquo 34 (p 89) destacam-se a localizaccedilatildeo geograacutefica o repertoacuterio dos

conhecimentos a estrutura produtiva o niacutevel de desenvolvimento e os dados

da estratificaccedilatildeo social

Portanto haacute de se buscar novas abordagens para as relaccedilotildees dos

atores internacionais onde temas relacionados agraves questotildees de sauacutede

ambientais sociais e humanitaacuterias aleacutem das econocircmicas prevaleccedilam e onde

natildeo se pode desvincular a importacircncia de cada um dos atores envolvidos jaacute

que se encontram num complexo sistema de engrenagem geopoliacutetico

70

internacional onde qualquer anulaccedilatildeo pode significar rupturas poliacuteticas com

severas repercussotildees internas Entretanto deve-se garantir ao Estado o papel

de ator diferentemente da abordagem claacutessica onde prevalecia o poder pela

forccedila e pela coerccedilatildeo um novo papel mais adequado aos novos tempos regidos

pela paz entre os povos isto eacute mais articulado poreacutem centrado nos seus

principais interesses e no alcance da sua soberania

Isso posto tem-se uma estreita relaccedilatildeo entre o desenvolvimento

econocircmico e a sustentabilidade da soberania Quanto mais desenvolvido o

paiacutes maior a sua autonomia mais plena eacute a sua soberania Uma equaccedilatildeo de

relaccedilatildeo direta entre desenvolvimento e autonomia e capacidade soberana

justificando inclusive uma inter-relaccedilatildeo entre as forccedilas endoacutegenas e exoacutegenas

do desenvolvimento isto eacute poliacuteticas nacionais de desenvolvimento promovem

autonomia externa sustentam as bases soberanas de uma naccedilatildeo que por sua

vez permitem maior autonomia interna E eacute a partir desse entendimento que

abordaremos o Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede tema desta tese no

decorrer deste trabalho

O que eacute corroborado por Jaguaribe 36 (p17-9) ao reconhecer que

somente os paiacuteses que atingirem um elevado niacutevel de desenvolvimento e de

auto-regulabilidade de sua economia aleacutem de preservarem consideraacutevel

margem de autonomia externa preservaratildeo ldquosignificativas margens de

autonomia internardquo (p18)

Afirma ainda que essa causalidade entre autonomia interna e externa

soacute eacute possiacutevel quando haacute consenso do poder nacional e apropriado

relacionamento internacional No caso brasileiro o autor defende que o Paiacutes

somente lograraacute a permissibilidade internacional necessaacuteria para um

sustentaacutevel regime de reciacuteproca condicionalidade

entre autonomia interna e externa caso acelere a

ldquopromoccedilatildeo nacional do seu desenvolvimento e regule a sua autonomia interna de

sorte que o coeficiente interno de nacionalismo de fins e seus respectivos

instrumentos sejam compensados pela atratividade de um mercado aberto de capitaisrdquo

36 (p 18)

71

Afinal de contas a globalizaccedilatildeo com o seu respectivo movimento de

centralizaccedilatildeo de capitais e recursos junto aos conglomerados transnacionais

apresenta complexos desafios para os paiacuteses em desenvolvimento

principalmente para aqueles que jaacute apresentam uma relativa base industrial

alvos da desequilibrada concorrecircncia globalizada como eacute o caso do Brasil

Vale destacar que no tocante agraves poliacuteticas para promoccedilatildeo do

desenvolvimento econocircmico e industrial dos paiacuteses mais desenvolvidos tem-

se historicamente um maior pragmatismo na defesa da sua competitividade

industrial [ 27 ]

Portanto no caso do Brasil o desafio estaacute na possibilidade de um paiacutes

respeitando os seus limites soberanos superar seu subdesenvolvimento de

forma basicamente autocircnoma tanto nos planos domeacutestico quanto no

internacional

Entretanto deve ser considerado que esse processo encerra desafios

diversos notadamente no que se refere agraves consequecircncias provenientes da

globalizaccedilatildeo que inibem parcial ou totalmente as condiccedilotildees de

desenvolvimento nacional de forma autocircnoma estando os paiacuteses mais ou

menos vinculados agraves conveniecircncias e aos ditames das economias mais

desenvolvidas

Ou seja o desafio brasileiro estaacute em manter a sua inserccedilatildeo internacional

de forma equilibrada e pragmaacutetica em relaccedilatildeo ao antagonismo das forccedilas

transnacionais considerando as dimensotildees da realidade brasileira e a

manutenccedilatildeo de suas perspectivas soberanas dando maior importacircncia agraves

questotildees econocircmicas ambientais e de sauacutede relacionando-as aos consensos

de influecircncia da poliacutetica interna e consequentemente da externa

No Brasil poliacuteticas integradas e integradoras vecircm sendo adotadas

principalmente nas uacuteltimas duas deacutecadas buscando-se lograr resultados que

27

Apesar do pacto firmado na Rodada do Uruguai (origem da Organizaccedilatildeo Mundial do

Comeacutercio) no tocante as medidas liberalizantes das suas economias nacionais o que se tem eacute que paiacuteses

mais desenvolvidos tentam proteger a sua economia e forccedilar aos demais paiacuteses o atendimento ao pacto

firmado o que ironicamente pode ser traduzido como faccedila o que mando mas natildeo faccedila o que eu faccedilo

Garantindo-se dessa forma o fortalecimento da sua soberania e uma maior capacidade de

desenvolvimento o que obviamente leva agrave diferenciaccedilatildeo e a um maior protagonismo no espaccedilo

geopoliacutetico e econocircmico internacionais

72

tendem a superar as expectativas desenvolvimentistas a meacutedio e longo prazos

A aceleraccedilatildeo da promoccedilatildeo do desenvolvimento nacional ldquocomo nacionalrdquo deve

considerar uma margem de autonomia e articulaccedilotildees internacionais 36

inclusive

ldquopode-se seguramente asseverar que a exequibilidade de um desenvolvimento nacional depende por um lado de se iniciar o processo o mais pronta e energicamente possiacutevel e por outro da medida em que o paiacutes que intente fazecirc-lo disponha de suficiente massa criacutetica

28 de fatores de poder e de satisfatoacuterias

articulaccedilotildees internacionais Tal parece ser o caso do Brasil domeacutestica e internacionalmente no acircmbito do Mercosul e de outras convenientes articulaccedilotildees internacionaisrdquo

36 (p 13)

No tocante ao entendimento da sociedade brasileira quanto agrave redefiniccedilatildeo

dos interesses nacionais haacute argumentos 37 de que se focou prioritariamente na

agenda domeacutestica isto eacute ldquonos esforccedilos de estabilizaccedilatildeo econocircmica na

reforma do Estado na consolidaccedilatildeo institucional da democracia nos efeitos da

abertura comercial e na atenuaccedilatildeo de graviacutessimos problemas sociaisrdquo (p34)

Entretanto questotildees relacionadas agrave aacuterea externa passaram a ganhar mais

evidecircncia Afinal a sociedade brasileira se vecirc cada vez mais inserida e

afetada pelas relaccedilotildees internacionais

Portanto ganha destaque a agenda externa em sintonia com a agenda

interna Nesse argumento defende os autores o que importa eacute a capacidade

de crescimento de produccedilatildeo de conhecimento de ser competitivo de atrair

investimentos produtivos aleacutem de ldquosalvaguardar um razoaacutevel grau de

autonomia decisoacuteria na definiccedilatildeo do nosso futurordquo 37 (p34)

Nesse sentido importa que o interesse nacional seja defendido e na

busca pelo desenvolvimento nacional requisitos baacutesicos de ordem conceitual

devem ser considerados pelo Paiacutes 36 Para a nossa anaacutelise interessa-nos

destacar no Brasil o ldquotipo de paiacutes que importe constituir no que se possa

28

Para o autor o que viabiliza um paiacutes ao desenvolvimento eacute principalmente a conscientizaccedilatildeo

da sua massa criacutetica formadora de um consenso nacional voltado para as accedilotildees de desenvolvimento

Nesse sentido compara o Brasil com a China apresentando este paiacutes com ―plena consciecircncia do que

necessita fazer no curso dos proacuteximos dececircnios para assegurar domeacutestica e internacionalmente sua

soberana viabilidade dispondo de um ―soacutelido consenso nacional competentemente operacionalizado

pelo Estado e pelos quadros dirigentes chineses (p14) Na comparaccedilatildeo o Brasil ainda natildeo apresenta

essas condiccedilotildees de plena consciecircncia e consenso nacional

73

designar de exequivelmente desejaacutevelrdquo (p15) Nesse sentido aponta o autor

haacute determinadas opccedilotildees a fazer na relaccedilatildeo entre ldquoqualidade de vida e poder

nacionalrdquo bem como na ldquorelaccedilatildeo entre o domiacutenio puacuteblico e privadordquo (p15)

Quanto agrave relaccedilatildeo entre qualidade de vida e poder nacional o contexto

contemporacircneo apresenta uma dualidade entre a busca pela maximizaccedilatildeo do

poder nacional e a priorizaccedilatildeo da qualidade de vida Quando pensamos no

Brasil e conforme bem aponta Jaguaribe 36 o nosso Paiacutes tende de uma forma

consensuada a priorizar a qualidade de vida em detrimento do ldquostatus de

superpotecircnciardquo O poder nacional sob a oacutetica do Brasil natildeo deve suprimir o

status de bem-estar nacional Entretanto haacute um consenso em que deve ser

satisfatoacuterio e denotar certa evidecircncia quando se discute poliacuteticas internacionais

que valorizem o Soft Power isto eacute a diplomacia pela negociaccedilatildeo e pelo melhor

entendimento cooperativo e natildeo pelo uso da forccedila ameaccedilas e a coerccedilatildeo

econocircmica eou militar ndash a Hard Power sob a oacutetica do realismo nas relaccedilotildees

internacionais

A poliacutetica externa adotada pelo Brasil eacute um reflexo da maneira pela qual

a autonomia interna vem sendo respaldada Esse comportamento natildeo eacute

exclusivo de somente um governo sendo reconhecido nas uacuteltimas duas

deacutecadas poreacutem mais intensificado nas gestotildees do Governo Lula

Quanto agrave questatildeo da relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado apresentado

pelo autor como requisito baacutesico de ordem conceitual haacute uma complexidade a

ser considerada uma vez que tem sido ldquoequivocadamente abordada a partir de

pressupostos ideoloacutegicos confrontando no limite a perspectiva neoliberal com

a socializanterdquo 36 (p 15)

Na verdade a essecircncia dessa relaccedilatildeo deve se pautar em uma

conveniente equaccedilatildeo a fim de assegurar a execuccedilatildeo dos programas de

desenvolvimento nacional e garantir autonomia domeacutestica e internacional 36 (p

15)

ldquoo que importa eacute determinar com plena lucidez em que medida uma compensatoacuteria ou corretiva intervenccedilatildeo do setor puacuteblico na sociedade eacute necessaacuteria ou conveniente para os fins em vista nas condiccedilotildees de um paiacutes emergente com as caracteriacutesticas socioculturais do Brasilrdquo

74

Isto posto denota-se a importacircncia estrateacutegica da agenda de poliacuteticas

puacuteblico-privadas integradas articuladas e pactuadas entre os diversos entes

envolvidos considerando-se inclusive a necessaacuteria e eficaz governabilidade e

a garantia dos interesses legiacutetimos das partes O equiliacutebrio desses interesses

por vezes divergentes e a necessaacuteria convergecircncia do entendimento das

traduccedilotildees representativas do puacuteblico e do privado isto eacute o entendimento

convergente do que tambeacutem eacute contraditoacuterio entre as abordagens marxista e

neoliberal representa a diferenccedila entre o sucesso e o fracasso do alcance dos

resultados almejados quanto ao desenvolvimento nacional

Cabe portanto ao Estado um papel que garanta uma atuaccedilatildeo

pragmaacutetica e operacional isto eacute

ldquose o objetivo em vista eacute assegurar no menor prazo possiacutevel a conversatildeo do Brasil num paiacutes pleno e integralmente desenvolvido com o maacuteximo de autonomia nacional domeacutestica e externa que as condiccedilotildees internacionais permitam eacute evidente a necessidade de compatibilizar a eficiecircncia de uma economia de mercado com uma prudente mas eficaz intervenccedilatildeo do Estado de caraacuteter promocional corretivo e preservador da autonomia nacional () em virtude de determinadas poliacuteticas e em funccedilatildeo de

determinados instrumentosrdquo 36 (p 16)

Nessa perspectiva a atuaccedilatildeo do Brasil como ator internacional estaacute

voltada para o desenvolvimento do espaccedilo nacional isto eacute ldquoa utilizaccedilatildeo da

relaccedilatildeo externa como fator de arregimentaccedilatildeo de recursos de negociaccedilatildeo de

coalizotildees e de neutralizaccedilatildeo de obstaacuteculos ao desenvolvimento econocircmico e

social do Paiacutesrdquo 33 (p 28)

Quanto agraves questotildees cientiacutefico-tecnoloacutegicas o Brasil eacute submetido a um

contexto de grande ampliaccedilatildeo nas possibilidades teacutecnico-cientiacuteficas 36 Assim

tem um grande desafio a ser superado no seacuteculo XXI que eacute se reconstruir

nessa arena tanto na perspectiva nacional quanto internacional dadas as

novas bases herdadas do seacuteculo anterior

Nesse sentido no tocante agrave aacuterea da sauacutede considerando-se uma das

vertentes de anaacutelise que incorporam essa aacuterea na relaccedilatildeo com o

75

desenvolvimento e que satildeo apontadas por Gadelha 338 e demais autores 5 (p

3006) retoma-se a abordagem estruturalista e de economia poliacutetica para

relacionaacute-la agrave sociedade contemporacircnea que eacute marcada pelo processo

assimeacutetrico da globalizaccedilatildeo assim como pelo protagonismo do conhecimento e

da inovaccedilatildeo fatores esses determinantes das transformaccedilotildees estruturais e do

dinamismo econocircmico

Sob essa perspectiva a sauacutede pode ser considerada como um sistema

complexo onde interagem segmentos produtivos e de serviccedilos no escopo dos

esforccedilos puacuteblicos e privados nacionais em prol de incrementar o

desenvolvimento inovativo ldquocom potencial para alavancar aacutereas-chave da

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em cursordquo 5 (p3006) aliando a loacutegica econocircmica com a

loacutegica social com determinismo na criaccedilatildeo de oportunidades para o

desenvolvimento local nacional regional e global

Entretanto o Brasil ainda possui um forte deacuteficit tecnoloacutegico e de

conhecimento que o inabilita a enfrentar os desafios vindouros caso natildeo supere

o seu atraso tecnoloacutegico Apesar de se comparado aos demais paiacuteses em

desenvolvimento jaacute ter alcanccedilado um determinado niacutevel que o diferencia de

forma positiva ainda haacute de se buscar alternativas que o levem a um

desenvolvimento autocircnomo e soberano

Nesse sentido sugere Jaguaribe 36

ldquose eacute certo que o prazo histoacuterico para que naccedilotildees do Terceiro Mundo superem seu subdesenvolvimento de forma autocircnoma e soberana tende (no seacuteculo XXI) a se encurtar de modo acelerado um prazo da ordem de vinte anos provavelmente se conserva por um lado nos limites do que ainda lhes seja internacionalmente permissiacutevel e por outro para um paiacutes como o Brasil no domesticamente exequiacutevelrdquo (p 12)

Ainda que seja este um periacuteodo relativamente curto para que ocorram as

necessaacuterias mudanccedilas estruturais o Estado na perspectiva de superaccedilatildeo tem

que lidar com a necessidade de aliar uma economia de mercado eficiente com

uma intervenccedilatildeo prudente e eficaz promovendo e preservando a autonomia

nacional e o consequente desenvolvimento econocircmico nacional Para tanto

deve considerar que ao mesmo tempo em que a globalizaccedilatildeo promove

76

condiccedilotildees para que ocorram inovaccedilotildees cientiacutefico-tecnoloacutegicas tambeacutem

desarticula cadeias produtivas e minimiza a importacircncia das relaccedilotildees

interestatais tambeacutem ressalta as relaccedilotildees governamentais e natildeo-

governamentais puacuteblicas e privadas tornando essas redes de interaccedilatildeo mais

complexas e dominantes na estruturaccedilatildeo e na dinacircmica do sistema nacional O

Estado na perspectiva de superaccedilatildeo tem que lidar com a necessidade de aliar

uma economia de mercado eficiente com uma intervenccedilatildeo prudente e eficaz

promovendo e preservando a autonomia nacional e o consequente

desenvolvimento econocircmico nacional

Essas questotildees manifestam-se no contexto do seacuteculo XXI como

determinantes no campo da ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo Nesse sentido haacute

de se promover metas econocircmicas sociais poliacuteticas e culturais aleacutem das

cientiacuteficas e tecnoloacutegicas que situem o Brasil no atual contexto geopoliacutetico

internacional tanto na perspectiva regional e na perspectiva internacional mas

principalmente no fortalecimento da sua capacidade de produccedilatildeo e de

inovaccedilatildeo local

Emerge desse contexto o Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede ndash

CEIS [ 29 ] que se apresenta como diferencial estrateacutegico com potencial para o

fortalecimento do Paiacutes ante o cenaacuterio globalizado e com motivaccedilatildeo para

alcanccedilar uma posiccedilatildeo competitiva em um espaccedilo de diversidade e assimetria

mundial tendo o foco da sauacutede sob as bases da soberania e da cidadania e

em relaccedilatildeo direta com o desenvolvimento econocircmico e social Estabelece-se

portanto sob as premissas dos valores sociais econocircmicos e eacuteticos e eacute

sustentado pelos pilares da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

Com vistas agrave consolidaccedilatildeo e ao fortalecimento do CEIS haacute de ser

transformar o conhecimento produzido local ou internacionalmente em

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que melhorem o desempenho do setor produtivo

nacional no campo da sauacutede em sua dimensatildeo nacional e global Eacute nesse

contexto desenvolvimentista que se observa o protagonismo do Estado

nacional junto agrave dinacircmica das relaccedilotildees internacionais A capacidade de

29

O Capiacutetulo IV especificamente o seu item 1 ―CEIS Estado e Inovaccedilatildeo Sauacutede e

Desenvolvimento aprofunda a discussatildeo sobre o Complexo

77

produccedilatildeo de bens de sauacutede deve ser traduzida como determinante da

capacidade soberana de um paiacutes em garantir o direito agrave sauacutede de sua

populaccedilatildeo e reduzir a vulnerabilidade da poliacutetica de sauacutede na medida em que

sauacutede eacute preacute-condiccedilatildeo para a soberania de qualquer naccedilatildeo

3 Protagonismo do Estado no Contexto da Globalizaccedilatildeo e da

Inovaccedilatildeo

Busca-se nesta parte do trabalho destacar o conceito da globalizaccedilatildeo

sob o ponto de vista econocircmico e sob a perspectiva da inovaccedilatildeo O termo

ldquoglobalizaccedilatildeordquo nesse sentido eacute cercado de significados e mitos Alguns

autores 39 em sua anaacutelise buscam a desmistificaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo

Destacam ldquoo carregado conteuacutedo ideoloacutegico do termordquo no que se refere agrave

utoacutepica direccedilatildeo do conceito voltada para um predominante sistema

internacional autocircnomo e socialmente sem raiacutezes ldquoonde os mercados de bens

e serviccedilos se tornam crescentemente globaisrdquo (p 41)

Poreacutem primeiramente longe de esgotar o conceito sob uma exclusiva

abordagem vale apontar perspectivas mais ampliadas da globalizaccedilatildeo O

conceito da globalizaccedilatildeo natildeo descreve o processo como um todo ldquomas o faz

somente de um certo ponto de vistardquo 40 (p 33) Para os autores juntamente

com a ldquoglobalizaccedilatildeo do grande capital ocorre a fragmentaccedilatildeo do mundo do

trabalho a exclusatildeo de grupos humanos e o abandono do continente e

regiotildeesrdquo aleacutem da ldquoconcentraccedilatildeo da riqueza em certas empresas e paiacuteses a

fragilizaccedilatildeo da maioria dos Estadosrdquo dentre outros Essa relaccedilatildeo de poder que

eacute concentrada e assimeacutetrica se repete na concentraccedilatildeo e na posse das

tecnologias e das inovaccedilotildees por parte dos paiacuteses centrais

Ademais as mudanccedilas provocadas pela globalizaccedilatildeo requerem

readaptaccedilotildees e reestruturaccedilotildees na hierarquia poliacutetica e econocircmica das

sociedades nacionais nas atividades e nos setores produtivos nas formas de

organizaccedilatildeo e atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees inclusive nos centros de pesquisa e

desenvolvimento e na atuaccedilatildeo do Estado e do indiviacuteduo 39 Fato este que

resulta na exigecircncia de novas poliacuteticas para o desenvolvimento industrial e

78

inovativo sendo que para os autores satildeo necessaacuterias revisotildees das

concepccedilotildees do Estado-naccedilatildeo e das formas de intervenccedilatildeo

Isto posto as poliacuteticas nacionais e os interesses dos projetos nacionais

podem ser parcial ou totalmente comprometidos em funccedilatildeo do processo de

globalizaccedilatildeo Comprometimento que poderia ocorrer por conta da ldquodemora em

conhecer melhor suas especificidades e traccedilar poliacuteticas visando sua

superaccedilatildeordquo 41 (p 769) identificando novos papeacuteis e formas de estrateacutegias e

intervenccedilatildeo do Estado

Portanto satildeo reconhecidos a inovaccedilatildeo e o conhecimento como

protagonistas centrais da dinacircmica e do crescimento dos paiacuteses e de suas

respectivas organizaccedilotildees institucionais e empresariais onde o conhecimento eacute

recurso fundamental para acelerar o processo de inovaccedilatildeo constituindo-se a

inovaccedilatildeo segundo os autores como um ldquoprocesso de busca e aprendizado o

qual enquanto dependente de interaccedilotildees eacute socialmente determinado e

fortemente influenciado por formatos institucionais e organizacionais

especiacuteficosrdquo 41 (p774) Logo quanto maior o potencial inovativo maior o

impacto competitivo Entretanto esse potencial pode ter seu processo mais ou

menos influenciado por determinados contextos sociais poliacuteticos e

institucionais existentes Nesse sentido o processo inovativo e as poliacuteticas

para estiacutemulo desse processo ldquonatildeo podem ser vistos como elementos isolados

de seus contextos nacional setorial regional organizacional e institucionalrdquo 42

(p183)

Reconhece-se portanto que a fase da aceleraccedilatildeo do processo de

globalizaccedilatildeo notadamente a partir da deacutecada de 90 trouxe desafios

importantes quanto agrave formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas nacionais que

passaram a ter ldquoalcance desenho objetivos e instrumentos reformulados

visando o atendimento dos novos requerimentos impostos por um conjunto de

fatores associados ao padratildeo de acumulaccedilatildeordquo 43 (p32) dentre os quais

aqueles relacionados agrave aceleraccedilatildeo do processo de globalizaccedilatildeo

Adicionalmente aponta-se a aceleraccedilatildeo da globalizaccedilatildeo da economia

com tendecircncia a diminuir cada vez mais as ldquochances de as especificidades

locais poderem ser aproveitadas como alternativa de desenvolvimento

79

autoacutectonerdquo 39 (p66) O que nos leva agrave conclusatildeo de que as empresas locais

com determinadas condiccedilotildees de desenvolvimento satildeo candidatas a

participarem de uma acirrada e desleal competiccedilatildeo com players globais

fortemente capacitados e habilitados a permanecerem no protagonismo do

mercado global levando as demais empresas a sucumbir agraves regras

estabelecidas pelas grandes corporaccedilotildees

Resta ao Paiacutes buscar soluccedilotildees e mecanismos que o protejam de

maiores perdas notadamente na sua capacidade de desenvolvimento

inovativo tecnoloacutegico produtivo econocircmico e social soluccedilotildees e mecanismos

estes que seratildeo apontados no decorrer deste estudo

Na busca pelo desenvolvimento da capacidade inovativa e do

conhecimento na busca pelo desenvolvimento industrial e tecnoloacutegico [30] os

Estados satildeo desafiados a atuar sob uma seacuterie de exigecircncias que abrangem a

esfera econocircmica poliacutetica e social sob a eacutegide da soberania nacional

Devendo considerar para tal o que os autores 41 apontam como ldquoa ascensatildeo de

novas (e renovadas) forccedilas (econocircmicas poliacuteticas sociais culturais etc)

operando em escala mundialrdquo aleacutem da ldquocrescente subordinaccedilatildeo das poliacuteticas

nacionais a condicionantes externos e supranacionaisrdquo (p775) Portanto o

Estado tem papel central no reconhecimento da diversidade relacionada a

essas forccedilas e na conduccedilatildeo das poliacuteticas adequadas atentando para a

heterogeneidade dessas caracteriacutesticas tanto sob a perspectiva nacional

quanto internacional

Segundo Furtado [31] citado por Cassiolato e Lastres 41 (p778) a

globalizaccedilatildeo nesse sentido ldquoestaacute longe de conduzir agrave adoccedilatildeo de poliacuteticas

uniformes ()rdquo O autor destaca que as disparidades entre economias natildeo

decorrem somente de fatores econocircmicos decorrem tambeacutem de ldquodiversidades

nas matrizes culturais e das particularidades histoacutericasrdquo desafiando portanto o

Estado ao reconhecimento das variaccedilotildees nacionais e internacionais para a

30

Caracterizada como Paradigma Tecno-Econocircmico afeta embora de forma desigual todos os

setores Nesse sentido ―novos requerimentos tecircm sido impostos agrave economia mundial envolvendo aleacutem

de importantes mudanccedilas tecnoloacutegicas vaacuterias mudanccedilas organizacionais e institucionais 41

(p775)

associada a uma nova fase do desenvolvimento do capitalismo mundial ―denominada de Era da

Informaccedilatildeo e do Conhecimento

31

Furtado C O Capitalismo Global Satildeo Paulo Paz e Terra 1998 p 74

80

formulaccedilatildeo de poliacuteticas que fortaleccedilam o padratildeo competitivo tanto nacional

quanto internacionalmente

Conclusatildeo essa corroborada quando se afirma que natildeo haacute um caminho

uacutenico ldquopor mais estreitas que sejam as margens de manobra haacute sempre um

espaccedilo para a criatividade na busca de alternativas proacutepriasrdquo 44 (p 9) Para a

autora paiacuteses em desenvolvimento devem realizar suas proacuteprias escolhas

ldquoconsultando seus interesses e respeitando suas especificidades histoacutericas e

culturaisrdquo Sob esse contexto afirma a autora

ldquoa busca de uma alternativa nacional eacute natildeo soacute possiacutevel como crucial implicando autonomia de reflexatildeo independecircncia de accedilatildeo e certamente um Estado ativo e com alta capacidade de coordenaccedilatildeo de forma a conduzir a transiccedilatildeo para uma das possiacuteveis variedades de capitalismo conciliando estabilidade econocircmica crescimento sustentado e maior equidade socialrdquo (p16)

Cabe ao Estado portanto atuar de forma estruturada em busca de

maior desenvolvimento inovativo econocircmico tecnoloacutegico e social valendo-se

da atual fase do processo da globalizaccedilatildeo no que se refere aos novos padrotildees

de acumulaccedilatildeo associados agraves tecnologias de informaccedilatildeo Atuaccedilatildeo essa que

poderaacute ser mais bem desempenhada se o Estado possuir coesatildeo estrateacutegia e

poliacuteticas eficientes para o melhor aproveitamento das oportunidades para a

consolidaccedilatildeo do seu desenvolvimento e de sua capacidade competitiva

Vale destacar que a informaccedilatildeo e o conhecimento pautam as

transformaccedilotildees da nova fase de desenvolvimento do capitalismo mundial [32]

redirecionam as poliacuteticas nacionais e as condiccedilotildees para a sua implementaccedilatildeo

afetando as perspectivas de crescimento e do proacuteprio desenvolvimento

nacional aleacutem da interaccedilatildeo dos governos com suas economias isto eacute da

poliacutetica com a economia tanto no acircmbito nacional quanto no internacional [33]

32

Nesse contexto o paradigma das tecnologias de informaccedilatildeo inaugurou uma nova dinacircmica

tecnoloacutegica e econocircmica internacional ―o conhecimento torna-se um ativo primordial de competiccedilatildeo ao

mesmo tempo em que vecircm-se impondo novas formas de organizaccedilatildeo e interaccedilatildeo entre as empresas e entre

estas e outras instituiccedilotildees (incluindo as de ensino e pesquisa) e favorecendo raacutepidas mudanccedilas nas

estruturas de pesquisa produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo 39

(p 43)

33

Nessa direccedilatildeo outras caracteriacutesticas podem ser destacadas 41

(p 775-6) (a) ―a intensificaccedilatildeo

da complexidade das novas tecnologias e a aceleraccedilatildeo dos novos desenvolvimentos implicando uma taxa

81

Defende-se nesse sentido que a competitividade tem relaccedilatildeo estreita

com a capacidade inovativa das empresas e dos paiacuteses Observa-se a sua

relaccedilatildeo direta com o conhecimento Logo investir em PampD eacute investir em uma

forccedila diferenciadora para nortear o crescimento econocircmico

Nesse sentido vale destacar que o apoio puacuteblico agrave atividade de PampD e

inovaccedilatildeo nas empresas eacute uma praacutetica comum nos paiacuteses desenvolvidos

admitida pela Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio [34]

Por outro lado atividades de PampD satildeo realizadas em conjunto em

diversas partes do planeta - sob a eacutegide da centralizaccedilatildeo do ativo mais

estrateacutegico o conhecimento e satildeo controladas e coordenadas por

transnacionais graccedilas aos mesmos avanccedilos das tecnologias de comunicaccedilatildeo

e de informaccedilatildeo Sendo denominadas como globalizaccedilatildeo tecnoloacutegica ou como

ldquotecnoglobalismordquo 39

Esses autores interpretam visotildees paradoxais do tecnoglobalismo Para

alguns autores o tecnoglobalismo desloca os sistemas nacionais de inovaccedilatildeo

ldquotornando redundante e no limite sem efeito qualquer tentativa por parte dos

governos nacionais em promover o desenvolvimento tecnoloacutegico domeacutesticordquo 39

(p46)

Sob essa perspectiva protecionista as atividades estrateacutegicas de

inovaccedilatildeo satildeo desenvolvidas na matriz e portanto nos paiacuteses de origem das

grandes empresas e quando compartilhadas o satildeo de forma monitorada e

controlada Manteacutem-se portanto a matriz como detentora dos principais

conhecimentos relacionados aos seus processos de inovaccedilatildeo (que satildeo

de mudanccedila mais raacutepida nos processos e produtos (b) ―o aprofundamento do niacutevel de conhecimentos

taacutecitos natildeo codificaacuteveis e especiacuteficos de cada unidade industrial e a ampliaccedilatildeo da necessidade de investir

em intangiacuteveis tornando-se a atividade inovativa ainda mais localizada e especiacutefica (c) ―as mudanccedilas

nos processos de produccedilatildeo e as mudanccedilas fundamentais na estrutura organizacional das empresas

gerando maior integraccedilatildeo tanto nas funccedilotildees das empresas como entre outras instituiccedilotildees (d) ―os novos

requerimentos por regulaccedilatildeo e desregulaccedilatildeo (e) ―as exigecircncias de novo formato de intervenccedilatildeo

governamental e de novas poliacuteticas de promoccedilatildeo do desenvolvimento industrial e tecnoloacutegico

34

Segundo MCT 2007 - Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo para o Desenvolvimento Nacional

wwwmctgovbr na meacutedia dos paiacuteses europeus por exemplo 35 das empresas industriais inovadoras

no periacuteodo de 2002 e 2004 receberam financiamento puacuteblico para o desenvolvimento de suas atividades

inovativas Segundo o relatoacuterio ―no Brasil a proporccedilatildeo de empresas industriais com atividades

inovativas que satildeo financiadas pelo governo eacute especialmente reduzida - 19 no periacuteodo de 2003-2005

82

fortemente influenciados por seus sistemas nacionais de inovaccedilatildeo) Inovaccedilotildees

e respectivos processos que satildeo compartilhados de forma calculada isto eacute

desde que jaacute estejam em domiacutenio puacuteblico eou em decliacutenio do seu valor

agregado eou que natildeo sejam mais um ativo estrateacutegico tanto em termos

tecnoloacutegicos quanto em retorno financeiro

Consequentemente a transferecircncia e a difusatildeo da tecnologia para os

espaccedilos perifeacutericos satildeo sempre parciais ldquodificultando ainda mais do que no

passado a possibilidade de criaccedilatildeo de uma capacidade endoacutegena de progresso

teacutecnicordquo 39 (p 49)

Ampliando essa perspectiva protecionista para uma perspectiva indutora

e colonialista vale ressaltar que ao mesmo tempo em que as grandes

empresas exportam seus produtos e serviccedilos em escala mundial e

internacionalizam seus processos de produccedilatildeo em busca de condiccedilotildees mais

atraentes para a sua capacidade produtiva e inovativa tambeacutem agem como

indutoras de ldquopadronizaccedilatildeo e homogeneizaccedilatildeo do consumo da produccedilatildeo e da

tecnologiardquo 39 (p 47)

No que se refere agrave geraccedilatildeo e agrave realizaccedilatildeo de acordos de cooperaccedilatildeo

tecnoloacutegica limitam-se a espaccedilos econocircmicos ldquoonde informaccedilotildees e

conhecimentos satildeo produzidos e circulamrdquo 41 (p772) Nesse sentido reiteram

os autores

ldquoassim contrariamente agrave visatildeo mais ou menos difundida sobre uma pretensa internacionalizaccedilatildeo dos esforccedilos e resultados do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico o padratildeo que se observa eacute o de uma concentraccedilatildeo nitidamente nacional de tais atividades com as articulaccedilotildees sendo efetuadas quase que exclusivamente no acircmbito dos paiacuteses mais avanccediladosrdquo (p 772)

O que pode ser comprovado quando se analisam dados sobre patentes

e acordos de cooperaccedilatildeo relacionados aos paiacuteses da OCDE 39

ldquoa geraccedilatildeo de tecnologia permanece basicamente bdquodomeacutestica no sentido de que o essencial da PampD continua sendo desenvolvido nos paiacuteses de origem das empresas a colaboraccedilatildeo internacional por sua vez eacute um fenocircmeno que diz respeito essencialmente agraves empresas dos paiacuteses desenvolvidos e deste modo bdquotriadizada‟ configura-se portanto a visatildeo de empresa-

83

polvo que usa seus tentaacuteculos para adquirir e explorar em cada paiacutes suas excelecircncias em pesquisa mais propriamente do que descentralizar seu ceacuterebrordquo (p46-7)

Nesse sentido a globalizaccedilatildeo tende a reforccedilar o ldquocaraacuteter cumulativo das

vantagens competitivas baseadas na inovaccedilatildeo das grandes empresas

transnacionais mas pode estar enfraquecendo a base de recursos e coesatildeo

organizacional dos sistemas domeacutesticos de inovaccedilatildeordquo 41 (p778)

Tecircm-se portanto a propriedade o controle e grande parte das

atividades em PampD sendo formuladas e desenvolvidas nos paiacuteses de origem

das grandes empresas e para os autores a tese da globalizaccedilatildeo tecnoloacutegica

na verdade representa um caso de natildeo-globalizaccedilatildeo ou melhor um caso da

ldquo‟triadizaccedilatildeo [35] (ao inveacutes da globalizaccedilatildeo) tecnoloacutegicardquo Isto eacute trata-se de um

processo que vem se desenvolvendo notadamente entre os paiacuteses mais

desenvolvidos

A fim de que seja garantida posiccedilatildeo estrateacutegica para empresas e

governos no domiacutenio das tecnologias de ponta como forma de conquistar e

garantir posiccedilotildees hegemocircnicas no cenaacuterio econocircmico e poliacutetico internacional

multiplicam-se os obstaacuteculos agrave circulaccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos e

tecnoloacutegicos 36 Como consequecircncia o progresso tecnoloacutegico e seus efeitos

chegam agrave periferia de maneira restrita e segmentada resultantes de decisotildees

tomadas dentro do oligopoacutelio mundial

Essas decisotildees fortemente concentradas apresentam poder cada vez

maior na hierarquizaccedilatildeo econocircmica dos espaccedilos poliacuteticos nacionais

estabelecidas a partir da importacircncia deles para os governos ou empresas

decisoras Segundo os autores como resultado desta reordenaccedilatildeo natildeo se

observa uma globalizaccedilatildeo tecnoloacutegica difundindo conhecimento e sim um

maior estreitamento do acesso dos paiacuteses menos desenvolvidos ao

conhecimento e agraves tecnologias de ponta ldquosua utilizaccedilatildeo flexiacutevel e segmentada

corresponde a este controle concentradordquo 39 (p48)

35

Isto eacute no que se refere agraves redes de PampD os paiacuteses alvos se concentravam na ―triacuteade Estados

Unidos Japatildeo e Europa

84

Quanto aos paiacuteses em desenvolvimento notadamente os latino-

americanos percebe-se uma mudanccedila no comportamento dos seus processos

de inovaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Em estudo avaliando a deacutecada de 90 41

foram observados os seguintes movimentos (a) esperava-se que em funccedilatildeo

da retraccedilatildeo dos Estados nos financiamentos das atividades cientiacutefico-

tecnoloacutegicas houvesse um papel mais efetivo dos agentes privados o que de

fato natildeo ocorreu (b) um crescente uso de bens de capital importados aleacutem de

uma maior utilizaccedilatildeo dos demais componentes importados o que acabou por

enfraquecer a capacidade fabril domeacutestica destruindo inclusive cadeias

produtivas locais (c) a maior parte das firmas locais cuja capacidade de

desenvolvimento tecnoloacutegica era premente acabou por ser ou absorvida por

empresas estrangeiras ou fechadas

Em referecircncia ao Brasil historicamente este Paiacutes eacute apresentado como

excluiacutedo dos processos gerais de geraccedilatildeo e de cooperaccedilotildees internacionais de

tecnologia poreacutem incluiacutedo no processo de exploraccedilatildeo global de tecnologia

conforme aponta Maldonado [36]

ldquoas multinacionais satildeo mais propensas a realizar a comercializaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de suas inovaccedilotildees no territoacuterio nacional via patenteamento mais propriamente do que o desenvolvimento de atividades tecnoloacutegicas no Paiacutes seja de forma individual ou em parceria com empresas nacionais Em relaccedilatildeo agrave importaccedilatildeo de tecnologia () vem ocorrendo uma diminuiccedilatildeo destes fluxos o que significa um acesso cada vez mais restrito agraves novas tecnologias por parte dos agentes nacionaisrdquo

39 (p49)

Portanto as novas formas de investimento externo nos paiacuteses em

desenvolvimento estrategicamente posicionam estes paiacuteses como paiacuteses

receptores de tecnologias ultrapassadas e haacute muito exploradas sem valia

inovativa e tampouco consideradas como ativo estrateacutegico para os paiacuteses

desenvolvidos

ldquoconcentram-se em projetos que utilizam tecnologias estaacuteveis ou maduras apontando-se como principal

36

MALDONADO J M V O Brasil face ao processo de globalizaccedilatildeo tecnoloacutegica o

segmento de novos poliacutemeros em foco Rio de Janeiro 1996 Tese (Doutorado) - Universidade Federal do

Rio de Janeiro

85

motivo para tal o fato de as empresas estrangeiras estarem mais propensas a dividir o controle e a propriedade de um investimento quando a tecnologia envolvida eacute amplamente disponiacutevel ou natildeo se constitui em um ativo estrateacutegicordquo

39 (p 49)

Eacute a partir deste contexto que se evidencia o posicionamento da Ameacuterica

Latina e do Mercosul 39 (p 50) considerando-se ldquoa aderecircncia quase que

ilimitada aos princiacutepios do Consenso de Washington que resultou na ausecircncia

completa de poliacuteticas ativas de promoccedilatildeo ao desenvolvimento industrial e

tecnoloacutegicordquo (o que no entanto natildeo eacute pactuado pela experiecircncia dos paiacuteses

mais avanccedilados) Os autores consideram tambeacutem a perda do dinamismo das

economias da regiatildeo o que acabou por conduzir pelo decliacutenio dos

investimentos a uma ldquodefasagem na absorccedilatildeo das transformaccedilotildees

tecnoloacutegicas e organizacionaisrdquo e a uma perda de posiccedilatildeo desses paiacuteses no

comeacutercio internacional

A partir do seacuteculo XXI percebe-se um maior esforccedilo governamental em

mudar esse cenaacuterio Temos o caso brasileiro que desde entatildeo vem

promovendo ajustes macroeconocircmicos em sua economia prestigiando o

desenvolvimento produtivo local por meio de parcerias entre os setores puacuteblico

e privado37 e formulando poliacuteticas puacuteblicas estrateacutegicas para o fortalecimento

da capacidade de produccedilatildeo local e para a promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo

Eacute sob essa perspectiva que a inovaccedilatildeo no Brasil a partir do final da

deacutecada de 90 marcado eacute marcada pela construccedilatildeo das poliacuteticas cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas evidenciando-se inclusive a adoccedilatildeo de novas e estrateacutegicas

prioridades na agenda de poliacuteticas nacionais inclusive na aacuterea da sauacutede A

poliacutetica nesse sentido exerce um papel estrateacutegico pois

ldquodeve dar conta das dimensotildees do conhecimento e dos atores envolvidos na

37

No tocante agrave sauacutede ateacute o ano de 2011 as parcerias na sauacutede envolviam 32 laboratoacuterios sendo

dez puacuteblicos e 22 privados nacionais e estrangeiros Tecircm a expectativa de gerar uma economia de R$ 400

milhotildeesano aplicados em inovaccedilatildeo tecnoloacutegica aleacutem das vacinas com melhor gestatildeo de recursos

economizando R$ 500 milhotildees por ano e R$ 800 milhotildees anuais com ganhos de eficiecircncia levando a uma

economia geral de R$ 17 bilhatildeo por ano no orccedilamento do Ministeacuterio da Sauacutede Os produtos satildeo voltados

principalmente para a detecccedilatildeo e tratamento de Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis doenccedilas crocircnicas

doenccedila de Crohn antipsicoacuteticos hemofilia e tuberculose Disponiacutevel em wwwsaudegovbr 17112011

86

pesquisa em sauacutede em funccedilatildeo da complexidade dos processos de produccedilatildeo de

conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico no setorrdquo [38]

A agenda contemporacircnea nacional ganha portanto aleacutem dos ajustes

macroeconocircmicos novas diretrizes que marcam a passagem do neoliberalismo

para uma poliacutetica menos excludente e mais igualitaacuteria que redefinem

prioridades para a agenda puacuteblica 44

ldquopassam ao primeiro plano temas como a reduccedilatildeo da exclusatildeo social o inconformismo diante de uma posiccedilatildeo perifeacuterica na ordem internacional a aspiraccedilatildeo por transformaccedilotildees na geopoliacutetica mundial pela busca de autonomia e pelo reforccedilo da integraccedilatildeo regional pela diversificaccedilatildeo das parcerias e alianccedilas pela revitalizaccedilatildeo do debate sobre as reformas sociais ou ainda pela defesa de novas formas de inserccedilatildeo externardquo (p10-1)

ldquoO novo milecircnio apresenta-se como um ambiente marcado pela

controveacutersia e pelo debaterdquo 44 (p10) Logo natildeo eacute de se estranhar que o novo

debate em curso paute-se em torno de estrateacutegias de desenvolvimento e de

formas alternativas de inserccedilatildeo na ordem global

Portanto a fim de alcanccedilar esses objetivos o que se tem observado

notadamente na uacuteltima deacutecada eacute o estabelecimento de novas diretrizes

poliacuteticas39 por parte do governo nacional para um maior dinamismo nas accedilotildees

que visem ao desenvolvimento tecnoloacutegico inovativo e produtivo do Paiacutes A

viabilizaccedilatildeo das capacidades relacionadas aos bens sociais econocircmicos e

tecnoloacutegicos que requerem informaccedilotildees e conhecimentos inovativos

principalmente relacionados agraves aacutereas da sauacutede da ciecircncia e tecnologia da

defesa e da energia tecircm sido alvos de accedilotildees financiamentos e poliacuteticas

puacuteblicas coordenadas a fim de garantir a sua promoccedilatildeo [40]

38

Conforme preconiza o Consolidado dos Relatoacuterios das Conferecircncias Estaduais de Sauacutede Brasiacutelia

07 a 11122003

39 Diretrizes essas objetos de anaacutelise no capiacutetulo IV do presente estudo

40 Como por exemplo o que pode ser observado na priorizaccedilatildeo dada pela Poliacutetica de

Desenvolvimento Produtivo (2008) do Ministeacuterio da Induacutestria e Comeacutercio Exterior o ―PAC da

Inovaccedilatildeo (2007) do Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia e mais recentemente o Plano Brasil Maior

87

Finalmente a globalizaccedilatildeo considerada assimeacutetrica natildeo tornou o

mundo mais harmocircnico Afinal o conhecimento a inovaccedilatildeo a PampD a

tecnologia a informaccedilatildeo satildeo fontes de poder e estatildeo localizados em paiacuteses

mais desenvolvidos com distanciamento crescente das dinacircmicas inovativas e

desenvolvimentistas entre as empresas e instituiccedilotildees dos paiacuteses menos

desenvolvidos

Isto posto a globalizaccedilatildeo natildeo eliminou o papel dos Estados nacionais da

luta de poder entre os Estados isto eacute nas suas relaccedilotildees internacionais Nesse

sentido a busca por inovaccedilatildeo por maior conhecimento e mais informaccedilatildeo

tornou-se estrateacutegica e fundamental para o equiliacutebrio dos poderes entre os

Estados nacionais aleacutem do seu proacuteprio e sustentaacutevel desenvolvimento

econocircmico interno

(Brasil 2011) lanccedilado ainda em 2011 que daacute continuidade tanto agrave PDP quanto agrave Poliacutetica Industrial

Tecnoloacutegica e de Comeacutercio Exterior (PITCE 2003)

88

CAPIacuteTULO III - INSERCcedilAtildeO DO BRASIL NO CONTEXTO INTERNACIONAL DA SAUacuteDE

ldquoA globalizaccedilatildeo eacute irrefreaacutevel sobretudo por corresponder a muitas

exigecircncias dos seres humanosrdquo Essa frase de Berlinguer 45 (p21) representa a

pluralidade de entendimentos sobre o tema Corresponde agrave acumulaccedilatildeo de

capital a migraccedilotildees de povos agrave informaccedilatildeo simultacircnea aos sistemas de

poder ao trabalho humano aos conhecimentos cientiacuteficos agrave tecnologia aleacutem

de principalmente corresponder ao predomiacutenio das financcedilas internacionais Sua

origem intencionou segundo o autor a negaccedilatildeo da funccedilatildeo poliacutetica e da

democracia Mas como dito inicialmente a globalizaccedilatildeo eacute irrefreaacutevel assim

como o eacute a vontade humana Positiva pelo grau de conhecimento e

desenvolvimento poreacutem negativa se desequilibrada em termos de poder e

metas Portanto o ldquojogo estaacute na mesardquo E a ldquomesa pode ser viradardquo e limitar o

arbiacutetrio de alguns paiacuteses eou instituiccedilotildees monetaacuterias destacando-se os

direitos humanos fundamentais e legitimando esses interesses globais como

universais e irrevogaacuteveis em que se destaca a sauacutede e tambeacutem a seguranccedila

ldquocomo direito agrave vida e como condiccedilatildeo para o exerciacutecio de todas as liberdadesrdquo

45 (p 36)

E sendo assim inimaginaacuteveis ateacute muito pouco tempo atraacutes os novos

cenaacuterios do contexto global tecircm sido reflexos da dinacircmica estabelecida pelas

mudanccedilas contemporacircneas e pelo vigor com que as mesmas acontecem

A julgar pelo comportamento dos paiacuteses que compotildeem o sistema

mundial em tempos recentes haacute de se considerar que novas formas de

convivecircncia e de pertencimento a esse sistema ultrapassam a ideologia e

alcanccedilam os proacuteprios interesses estatais tornando-se mais pragmaacuteticos natildeo

mais ditados pelos dogmas e conceitos de regimes fechados ou capitalistas O

que se reflete tambeacutem na Ameacuterica Latina Os Estados tecircm nesse sentido

atuado em busca do equiliacutebrio entre ganhos e perdas isto eacute entre benefiacutecios e

riscos [41]

41

Corrobora nesse sentido destacar paiacuteses como China e Cuba que ateacute entatildeo orbitavam em um

cenaacuterio de bipolaridade mundial passam para a abertura econocircmica e social ndash a despeito do ainda forte

controle estatal comportando por exemplo na sauacutede relaccedilotildees entre empresas puacuteblicas e privadas

89

E eacute sob o contexto da globalizaccedilatildeo fortemente assimeacutetrica que as

naccedilotildees se deparam com novos desafios para seu fortalecimento poliacutetico e

econocircmico

No tocante ao Brasil em estudo recente [42] o IPEA ndash Instituto de

Pesquisa Econocircmica Aplicada defende que as mudanccedilas contemporacircneas

ocorridas nos sistemas globais tanto econocircmico quanto poliacutetico vem

permitindo ao Paiacutes novas oportunidades de superaccedilatildeo dos desafios e dos

entraves que impedem seu desenvolvimento ldquoo momento atual aponta para

uma confluecircncia ineacutedita da reduccedilatildeo da pobreza queda de desigualdade e

dinamismo econocircmicordquo 46 (p3) Depreende-se do estudo que o Brasil estaacute

diante de oportunidades de superaccedilatildeo das condiccedilotildees estruturais que o

imobilizara nas uacuteltimas deacutecadas e que frente agraves mudanccedilas globais recentes

poderaacute encontrar meios de reposicionar seu dinamismo econocircmico

Situaccedilatildeo essa que jaacute reflete o reposicionamento do Brasil na economia

mundial Conforme dados do estudo do IPEA partindo-se da instabilidade

econocircmica e social afinal na deacutecada de 90 encontrava-se como 8ordf economia

mundial passando para 13ordf posiccedilatildeo em 2000 (quando o niacutevel de desemprego

aumentou de menos 2 milhotildees para cerca de 10 milhotildees de trabalhadores

desempregados) o Paiacutes chega em 2011 como a sexta posiccedilatildeo econocircmica

mundial Reposicionamento motivado segundo esse estudo pela retomada do

dinamismo econocircmico no Brasil aliado ao direcionamento redistributivo das

poliacuteticas puacuteblicas e o baixo dinamismo nos paiacuteses ricos

A despeito do reposicionamento brasileiro motivado pelas

ldquotransformaccedilotildees mais amplas na economia (renda ocupaccedilatildeo entre outros) e

nas poliacuteticas puacuteblicas (educaccedilatildeo garantia de renda entre outros)rdquo [43] 46 (p4)

cuja convergecircncia de poliacuteticas puacuteblicas no segmento social eacute base estruturante

para o novo padratildeo de mudanccedila social (concomitante com o desenvolvimento

econocircmico) eacute preciso entender e ultrapassar ldquoas mudanccedilas recentes na ordem

42

Comunicados do IPEA nordm 100 ndash Mudanccedilas na Ordem Global desafios para o desenvolvimento

brasileiro ndash 23112011 Disponiacutevel em httpwwwipeagovbr acessado em 03 de janeiro de 2012

43

Natildeo eacute intenccedilatildeo desta tese aprofundar o estudo nos indicadores econocircmicos registrados no

Brasil nem a anaacutelise dos diferentes padrotildees de mudanccedila social percebidos no reposicionamento brasileiro

nosuacuteltimosanos Para mais detalhes ver Comunicado do Ipea nordm 100 Mudanccedilas na Ordem Global

desafios para o desenvolvimento brasileiro

90

global sua loacutegica e tendecircnciasrdquo (p7) e na visatildeo da promoccedilatildeo contemporacircnea

do projeto nacional de desenvolvimento procurar identificar os desafios e

oportunidades que surgem ldquonum cenaacuterio de realinhamento de poder econocircmico

e poliacutetico entre as naccedilotildeesrdquo 46 (p7)

Otimismo questionado quando comparamos os indicadores das maiores

economias do mundo Conforme pode ser observado na tabela 1 o

posicionamento do Paiacutes se daacute em funccedilatildeo do tamanho da sua populaccedilatildeo

Quando comparado agrave renda per capita do Reino Unido a renda brasileira

equivale a um terccedilo da britacircnica Assim como em sentido oposto quando

comparamos o PIB per capita chinecircs ao do brasileiro que a despeito de ser a

China a segunda economia pela projeccedilatildeo do PIB total representa menos do

que a metade do PIB per capita brasileiro

Tabela 1 ndash As Principais Economias no Mundo (PIB) 2011

Fonte Banco Mundial httpdatabankworldbankorg Acesso em 10082012

Portanto a despeito do posicionamento brasileiro no ranking das

principais economias do mundo o PIB per capita do Paiacutes quando comparado

aos demais paiacuteses desenvolvidos reflete vulnerabilidades e desafios que

devem ser ultrapassados Se considerarmos como indicadores investimentos

91

em PampD em relaccedilatildeo ao PIB paiacuteses como Sueacutecia (389) Finlacircndia (348)

Japatildeo (336em 2009) Coreacuteia do Sul (299) Estados Unidos (290 em

2009) Alemanha (282 em 2010) Cingapura (227 em 2009) Franccedila

(226 em 2010) Canadaacute (192 em 2009) Reino Unido (177 - 2010)

China (170 em 2009) e Ruacutessia (116 em 2010) quando comparados ao

Brasil (097 em 2005 e 116 em 2010) agrave Hungria (094) Aacutefrica do Sul

(093 em 2008) Portugal (080 em 2005 e 159 em 2010) Turquia

(067) e Argentina (051 em 2007) ndash dados do Main Science and

Technology Indicators (MSTI) 2007 OCDE World Development Indicators

(WDI) 2006 [44] posicionam o Brasil como intermediaacuterio no cenaacuterio

internacional ldquotanto no campo acadecircmico quanto no produtivo distante ainda

das naccedilotildees desenvolvidas ainda que em posiccedilatildeo superior a dos paiacuteses de

correspondente niacutevel de desenvolvimentordquo A situaccedilatildeo brasileira se agrava

quando comparada a valores absolutos de investimentos em PampD na relaccedilatildeo

com o PIB dos demais paiacuteses Paiacuteses desenvolvidos como os EUA investem

percentuais maiores sobre um PIB que jaacute eacute elevado o que resulta em volumes

altos de investimentos em PampD

Soma-se a ainda o fato de que as empresas brasileiras investem em

atividades de PampD uma pequena proporccedilatildeo do PIB (051) ldquoinferior ao que

fazem as suas congecircneres nos paiacuteses mais avanccedilados mas relativamente

superior as de paiacuteses como Argentina e Portugalrdquo 47

O mesmo limite se aplica quando focamos a anaacutelise para a perspectiva

empresarial baixo iacutendice de investimento quando comparado agraves empresas de

paiacuteses mais desenvolvidos o que perpetua o posicionamento mediano frente

aos demais paiacuteses Segundo relatoacuterio do MCT 47 ldquoas empresas industriais no

Brasil que desenvolveram atividades inovativas investiram cerca de 09 de

seu faturamento em atividades de PampD em 2005 muito abaixo do que ocorre

em paiacuteses como Alemanha Franccedila e Holanda em que a proporccedilatildeo varia entre

22 e 27 mas superior ao que se verifica por exemplo na Argentina e em

Portugal onde a proporccedilatildeo se situa na faixa dos 03 e 04rdquo

44

Disponiacutevel em wwwmctgovbr acesso em 05042012

92

Quando avaliado sob o enfoque da dotaccedilatildeo orccedilamentaacuteria governamental

em pesquisa e desenvolvimento (PampD) por objetivos socioeconocircmicos isto eacute

sauacutede controle e proteccedilatildeo do meio ambiente desenvolvimento social e

exploraccedilatildeo da terra e da atmosfera o investimento brasileiro na aacuterea da sauacutede

e meio-ambiente deixa muito a desejar quando comparado a paiacuteses

desenvolvidos e alguns paiacuteses em desenvolvimento conforme pode ser

observado na tabela 2 a seguir

Tabela 2 - Orccedilamento Governamental em PampD () ndash Objetivo

Socioeconocircmico Sauacutede e Meio-Ambiente ndash Brasil e OCDE 2000-2011

Paiacutes 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Brasil 78 84 63 78 90 91 96 86 81 80 67 -

Alemanha 94 96 94 99 102 101 101 102 99 103 92 93

Argentina 175 175 166 187 182 174 170 194 191 - - -

Australia 187 190 199 208 233 272 318 279 316 311 325 332

Canadaacute 213 215 238 239 230 242 238 248 234 - - -

Coreacuteia 148 155 164 161 155 138 162 153 140 140 138 14

1

Espanha 156 128 131 138 193 191 205 212 193 185 190 -

EUA 499 512 544 558 555 558 548 547 547 581 562 -

Franccedila 97 120 122 124 124 118 134 132 111 118 126 98

Italia 104 116 - - - 151 155 203 194 164 180 186

Japao 66 70 68 69 69 58 68 71 72 72 74 70

Mexico 79 78 164 206 185 205 164 - - - - -

Portugal 128 140 136 127 141 128 111 123 157 177 180 182

Reino

Unido

283 266 248 260 273 258 268 267 291 288 315 -

Russia 114 90 - - - - - - - - - -

Fonte Organization for Economic Co-operation and Development Main Science and Technology Indicators 20112 in Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede Disponiacutevel em wwwmctgovbrindexphpcontentview336722html Acesso em 22 de julho de 2012

A Tabela 2 posiciona o Brasil de forma criacutetica perante os demais paiacuteses

e reflete accedilatildeo mais assertiva dos governos dos demais paiacuteses em que os

percentuais aplicados em PampD satildeo mais representativos como eacute o caso da

93

Austraacutelia do Reino Unido e dos Estados Unidos este uacuteltimo tendo no governo

o seu maior investidor A assimetria observada na tabela indica um reflexo da

baixa prioridade que essa aacuterea representa na alocaccedilatildeo do orccedilamento

governamental do Brasil em PampD Situaccedilatildeo portanto que pode ser observada

quando em comparaccedilatildeo internacional da distribuiccedilatildeo dos gastos por objetivos

socioeconocircmicos o Paiacutes apresenta alocaccedilotildees menores do que os dos demais

paiacuteses relacionados na Tabela 2

Portanto pode-se concluir que as condiccedilotildees estruturais da economia

brasileira vigentes no passado natildeo criaram condiccedilotildees adequadas para o

desenvolvimento tecnoloacutegico endoacutegeno e portanto os esforccedilos institucionais

para inovar e agregar valor aos bens e serviccedilos ateacute entatildeo incipientes limitaram

a sua inserccedilatildeo na dinacircmica tecnoloacutegica e econocircmica do mundo globalizado

Em que pese a economia brasileira situar-se entre as seis primeiras

economias mundiais haacute muitos desafios a serem ultrapassados nas questotildees

relacionadas agrave educaccedilatildeo renda infraestrutura sauacutede seguranccedila dentre

outras tatildeo importantes quanto as citadas Poreacutem vale ressaltar que economia

grande eacute tambeacutem aquela que produz tecnologia que tenha capacidade

produtiva e de inovaccedilatildeo Portanto eacute preciso crescer com qualidade onde a

educaccedilatildeo e a sauacutede o conhecimento a pesquisa a tecnologia e a inovaccedilatildeo

sejam pilares para o desenvolvimento brasileiro cabendo ao Estado a

implementaccedilatildeo de poliacuteticas industriais e tecnoloacutegicas provedoras do

desenvolvimento econocircmico nacional

No entanto para dar sustentaccedilatildeo agrave convergecircncia dessas poliacuteticas

puacuteblicas a fim de se tornarem estruturantes para o desenvolvimento nacional

brasileiro deve-se compreender as mudanccedilas recentes na ordem global Eacute

preciso considerar que um projeto nacional de desenvolvimento somente seraacute

possiacutevel se forem considerados os limites e as possibilidades decorrentes das

transformaccedilotildees no capitalismo global Nesse sentido

ldquoeacute preciso compreender que as mudanccedilas do mundo impactaram

profundamente a relaccedilatildeo entre o nacional e o globalrdquo de maneira que

ldquoeconomia nacional pressupotildee a integraccedilatildeo internacionalrdquo 46 (p20)

94

E eacute nesse sentido que o Brasil vem exercendo uma seacuterie de movimentos

e iniciativas de poliacutetica exterior que colocaram o Paiacutes em alianccedila com os paiacuteses

mais desenvolvidos ndash relaccedilatildeo Sul-Norte assim como em coalizatildeo com os

paiacuteses menos desenvolvidos em sua relaccedilatildeo Sul-Sul Movimentos esses que

na percepccedilatildeo de Correa 33 estatildeo em sintonia com os poderes internos poreacutem

dependentes da relaccedilatildeo de poder no plano internacional

A respeito do que defende Correa 33 quanto aos poderes internos Lima48

reitera a relaccedilatildeo entre a poliacutetica externa e os interesses domeacutesticos que por ela

satildeo representados podendo avanccedilar ou natildeo em funccedilatildeo da dependecircncia dos

atores nacionais sejam eles o proacuteprio Estado os atores poliacuteticos incluindo a

decisatildeo do legislativo (que exerce forte influecircncia decisoacuteria na internalizaccedilatildeo de

questotildees de poliacutetica externa na agenda domeacutestica) aleacutem dos poderes federal

estaduais e municipais de coalizotildees diversas do interesse do empresariado

da miacutedia das organizaccedilotildees puacuteblicas e privadas das ONG‟s da opiniatildeo puacuteblica

e da sociedade como um todo Portanto a poliacutetica externa estaacute ligada agrave

estrutura domeacutestica e agrave poliacutetica nacional e eacute resultante das muacuteltiplas forccedilas e

dos interesses dos atores envolvidos

Ademais a despeito dos interesses domeacutesticos ldquoeacute fundamental

compreender que as mudanccedilas no mundo tambeacutem mudaram a posiccedilatildeo do

Brasil nelerdquo 46 (p 21) A convergecircncia das poliacuteticas e estrateacutegias nacionais de

longo prazo agrave superaccedilatildeo dos desafios para a atuaccedilatildeo brasileira na ordem

global objetiva ao Brasil maiores condiccedilotildees de superaccedilatildeo do atual status de

Paiacutes em desenvolvimento Segundo o estudo 46 os desafios a serem

superados passam pelas seguintes consideraccedilotildees (a) ldquoo deslocamento do

centro dinacircmico da economia global e o papel do BRICSrdquo (b) ldquoa inserccedilatildeo do

Brasil nas transformaccedilotildees tecnoloacutegicas do padratildeo de acumulaccedilatildeo capitalistardquo

(c) ldquoa necessaacuteria dimensatildeo ambiental do desenvolvimento econocircmicordquo e (d) ldquoa

possibilidade de construir uma governanccedila planetaacuteria legiacutetima de acordo com

as grandes mudanccedilas operadas no seio das relaccedilotildees internacionaisrdquo (p21)

95

Quanto ao primeiro desafio o papel do Brasil no BRICS o estudo do

IPEA 46 aponta o movimento global em direccedilatildeo agrave multipolaridade [45] em

adequaccedilatildeo agraves novas condicionantes poliacuteticas e econocircmicas A questatildeo

ideoloacutegica deixa de existir poreacutem natildeo desapareceram os contenciosos

relacionados agrave poliacutetica hegemocircnica ldquoa tocircnica da poliacutetica externa tem sido

desde entatildeo pressionar por relaccedilotildees internacionais mais equitativas e pela

ampliaccedilatildeo do centro decisoacuterio mundialrdquo 49 pressotildees essas presentes de forma

mais discreta na gestatildeo do governo FHC (1995-2002) e mais intensas na

gestatildeo Lula (2003-2010)

E eacute sob esse novo contexto que o Brasil vem se destacando com forte

atuaccedilatildeo junto aos BRICS (o conceito de mercados emergentes provocou o

lanccedilamento em 2001 do acrocircnimo BRIC para caracterizar novos mercados de

massa nos paiacuteses fora do eixo do Atlacircntico Norte 50) que tem nos uacuteltimos anos

representado a contrapartida da crise econocircmica internacional Poreacutem natildeo se

pode deixar de ressaltar que o movimento protagonista chinecircs [46] dentro do

BRIC eacute absoluto ldquoeacute o centro dentro desse novo centrordquo 46 (p10) criando-se um

ldquomundo sino-centrado em uma indicaccedilatildeo de se estar assistindo a um processo

gradual de difusatildeo de poder econocircmico em marcha mais acentuada desde o

iniacutecio da deacutecada de 2000rdquo 50 (p 02) Exercendo consequentemente fortes

implicaccedilotildees para a estabilidade e homogeneidade do BRIC dadas as

assimetrias econocircmicas entre a China e os demais paiacuteses no grupo

Considerando ainda que ldquoquando os foros tradicionais de decisatildeo se vecircem na

contingecircncia de incluir membros deste grupo de paiacutesesrdquo 51 (p05) devido agrave sua

importacircncia na economia mundial e quando o regionalismo acaba se

sobressaindo no contexto global impera-se a importacircncia do fortalecimento do

papel poliacutetico e econocircmico que cabe ao Brasil dentro e fora desse grupo de

paiacuteses

45

―Com a derrocada da Uniatildeo Sovieacutetica (1991) e a restauraccedilatildeo do capitalismo na China

desapareceu o conflito ideoloacutegico LesteOeste substituiacutedo por novas formas de antagonismo entre Sul

(paiacuteses em desenvolvimento) e Norte (paiacuteses desenvolvidos) ndash Frias Filho O Brasil 2050 um horizonte

Geopoliacutetico Folha de Satildeo Paulo 10 abr 2011 Caderno Ilustriacutessima

46

―Entre 1979 e 2005 o PIB chinecircs passou de menos 150 bilhotildees de doacutelares para 165 trilhotildees o

comeacutercio exterior aumentou de 206 bilhotildees para 115 trilhotildees e a renda per capita cresceu de 190

doacutelares para 1200 doacutelares aumentando a sua participaccedilatildeo na economia global de cerca de 1 para 4

(Eisenman et al 2007 pXIV apud Lima 50

(p02) Esses indicadores refletem a inserccedilatildeo vigorosa da

China na economia internacional

96

Complementando o estudo do IPEA entendemos que dada a

importacircncia estrateacutegica poliacutetica e socioeconocircmica que representa o processo

de integraccedilatildeo regional para o Brasil a Ameacuterica do Sul tem-se traduzido em um

ambiente favoraacutevel para a intersecccedilatildeo dos interesses das economias sul-

americanas como base de integraccedilatildeo e consolidaccedilatildeo fortalecida de um espaccedilo

unificado na Ameacuterica do Sul que traduza as vontades regionais e resulte no

fortalecimento conjunto perante o contexto geopoliacutetico internacional Assim

corrobora Jaguaribe 52 (p173)

Nas proacuteximas deacutecadas o sistema internacional tenderaacute a se cristalizar em torno de grandes blocos ou paiacuteses continentais Nesse cenaacuterio o Mercosul eacute o principal instrumento de que dispotildeem os seus membros para assegurar a proteccedilatildeo de seus interesses e a longo prazo preservar suas respectivas identidades nacionais Para alcanccedilar esses objetivos satildeo necessaacuterias uma maior institucionalizaccedilatildeo do bloco a ampliaccedilatildeo em direccedilatildeo aos demais paiacuteses da Ameacuterica do Sul ()rdquo

Complementarmente vale destacar que com o seacuteculo XXI desponta o

Brasil alcanccedilando uma projeccedilatildeo do seu poder externo pautada pela ldquopremissa

de que o aumento da margem de accedilatildeo externa do Brasil eacute facilitado pela

diversificaccedilatildeo de seus viacutenculos internacionaisrdquo denominando-se como a

ldquoautonomia pelo universalismordquo 53 (p 53) Aleacutem da busca por novos horizontes

ateacute entatildeo espaccedilados pela centralidade do sistema mundial e pela

consolidaccedilatildeo do continente sul-americano as relaccedilotildees com a Aacutefrica tambeacutem

continuam prioritaacuterios na relaccedilatildeo do Brasil com os paiacuteses do Sul haja vista sua

efetiva participaccedilatildeo na CPLP no IBAS aleacutem do BRICS

No que se refere agrave inserccedilatildeo no padratildeo de competiccedilatildeo monopolizado e agrave

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica global a anaacutelise do IPEA chama a atenccedilatildeo para a

construccedilatildeo de um padratildeo de competiccedilatildeo (em consequecircncia do modelo de

globalizaccedilatildeo neoliberal) monopolizado pelas corporaccedilotildees transnacionais [47] O

que resulta ldquono aprofundamento do processo de concentraccedilatildeo competitiva sem

47

Segundo o estudo do IPEA 46

(p 10) ―na primeira deacutecada de 2000 natildeo mais do que 500

corporaccedilotildees transnacionais possuiacuteam faturamentos anuais que equivaliam em conjunto quase a metade

do Produto Interno Bruto mundial

97

paralelo histoacutericordquo 46 (p11) retirando do Estado a determinaccedilatildeo do

protagonismo central

ldquoessa real concentraccedilatildeo tenciona para um processo ineacutedito desde a formaccedilatildeo dos Estados modernos de que natildeo sejam mais os paiacuteses que detenham empresas mas sim as grandes corporaccedilotildees competitivas que possuam paiacuteses cujo faturamento supera o Produto Interno Bruto de vaacuterias naccedilotildeesrdquo (p11)

Em funccedilatildeo dessa perspectiva diminuta para o poder estatal passa a ser

condiccedilatildeo estrateacutegica e sine qua non o fortalecimento dos Estados Entretanto

o estudo aponta para o fortalecimento de instacircncias supranacionais visando agrave

melhoria das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo dos mercados onde a poliacutetica

tambeacutem se transnacionaliza isto eacute ldquosomente o fortalecimento do Estado para

aleacutem do espaccedilo nacional poderaacute colocar em novas bases a condiccedilatildeo humana

do desenvolvimentordquo 46 (p11)

Independente de para dentro ou para fora ou ainda para ambas as

direccedilotildees simultacircneas eacute determinante para o Estado ldquoo movimento de raacutepida

internalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefico no processo de produccedilatildeo e

consumordquo 46 (p11) O estudo observa o protagonismo dos serviccedilos gerados

pela ldquoeconomia do conhecimentordquo e que a esse novo processo de produccedilatildeo

de tecnologia de desenvolvimento e de inovaccedilatildeo caiba a harmonia com a

sustentabilidade ambiental

Finalmente no tocante agrave participaccedilatildeo na governanccedila global quarto

desafio apontado pelo IPEA 46 o Brasil tem buscado uma maior e mais efetiva

participaccedilatildeo na ordem internacional O que de certa forma tem sido

assegurada pela crise econocircmica internacional instalada em 2008 propiciando

desde entatildeo um novo contexto no qual os paiacuteses em desenvolvimento

ganharam um protagonismo mais assertivo e participativo nos organismos e

foacuteruns internacionais

Preservando-se os interesses nacionais e a sustentaccedilatildeo do projeto de

desenvolvimento nacional ao mesmo tempo em que se ativa a sua

contribuiccedilatildeo na conduccedilatildeo da poliacutetica internacional e nas estrateacutegias de

98

inserccedilatildeo internacional os principais esforccedilos de inserccedilatildeo internacional

soberana do Brasil no cenaacuterio internacional focalizam segundo o IPEA 46 a

busca pelo reordenamento da ordem poliacutetica internacional Envidando-se

esforccedilos junto aos foros multilaterais de decisatildeo para que haja maiores

reflexotildees sobre as ldquoestruturas de poderrdquo e a busca por uma desconcentraccedilatildeo

relativa onde prevaleccedila o debate sobre a multipolaridade no sistema

internacional na expectativa de se alcanccedilar maior representatividade e

legitimidade na comunidade internacional [48]

Ademais desde os anos 90 temos em prevalecircncia o processo de

reforma da ONU cuja proposta eacute o fortalecimento da dimensatildeo interestatal das

instituiccedilotildees das Naccedilotildees Unidas enfatizando-se sua democratizaccedilatildeo e a

ampliaccedilatildeo de sua representatividade 50 Tal reflexatildeo sobre as ldquoestruturas de

poderrdquo pauta-se inclusive nos fraacutegeis alicerces resultantes da crise econocircmica

contemporacircnea demandando um novo olhar sobre a ordem econocircmica

internacional onde paiacuteses em desenvolvimento assim como o Brasil ganham

uma nova participaccedilatildeo na articulaccedilatildeo com as economias dos paiacuteses

desenvolvidos [49]

Portanto paiacuteses em desenvolvimento estatildeo se reposicionando no novo

contexto internacional Nesse sentido a anaacutelise do IPEA 46 (p19) conclui

ldquoa reforma na arquitetura financeira internacional e a reorganizaccedilatildeo da estrutura de poder das instituiccedilotildees multilaterais legitimando o papel crescente dos paiacuteses em desenvolvimento na gestatildeo da ordem financeira internacional deve ser uma luta brasileira por entender que a governanccedila atual aumenta a desigualdade traz retrocesso nos direitos sociais e reduz o raio de manobra dos paiacuteses em desenvolvimentordquo

48

Isso posto interessa ao Brasil que o ―peso dos paiacuteses em desenvolvimento no acircmbito do

Conselho de Seguranccedila das Naccedilotildees Unidas- CSNU seja equivalente agrave sua importacircncia na cena

internacional 46

(p19) E sendo assim esse objetivo refletiraacute certamente em uma accedilatildeo contiacutenua do

governo brasileiropela busca do seu assento permanente no CSNU

49 Resultado principalmente da articulaccedilatildeo do G20 grupo que congrega ministros de Economia

e presidentes de bancos centrais de 19 paiacuteses grandes economias desenvolvidas e emergentes aleacutem da

UE e se reuacutene todos os anos desde 1999 Eacute composto pelos oito paiacuteses do G8 (Alemanha Canadaacute

Estados Unidos Franccedila Reino Unido Itaacutelia Japatildeo e Ruacutessia) aleacutem UE da Aacutefrica do Sul Araacutebia Saudita

Argentina Austraacutelia Brasil China Coreacuteia do Sul Iacutendia Indoneacutesia Meacutexico e Turquia Fonte

httpwww1folhauolcombrfolhadinheiroult91u534294shtml Acesso em 15032012

99

Haacute entretanto um longo caminho a trilhar e muito mais o que fazer na

arena internacional Ao considerarmos o exposto pelo estudo do IPEA 46

destacando algumas das principais tendecircncias que desafiam a poliacutetica externa

brasileira utilizamos a delimitaccedilatildeo do recorte dado por esse Instituto para

abordarmos o miacutenimo necessaacuterio para se compreender o estado da arte da

ordem econocircmica e da poliacutetica internacionais Eacute um cenaacuterio que se apresenta

do contexto internacional e no qual inegavelmente o Brasil tem um papel a

desempenhar

Poreacutem estamos tratando do contexto global do tamanho do mundo

poliacutetico do mundo econocircmico e do social e a anaacutelise natildeo esgota a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria

No decorrer deste estudo incorporaremos a essa consolidaccedilatildeo o atual

posicionamento do Brasil nas relaccedilotildees internacionais em que a sauacutede eacute tema

relevante dentro dos novos horizontes voltados para os direitos humanos para

as perspectivas relacionadas agrave agenda Sul-Sul e no que cabe ao papel indutor

do Estado para o fortalecimento e a protagonizaccedilatildeo do Complexo Econocircmico

Industrial da Sauacutede

Com a expectativa de incorporar ao nosso estudo as abordagens que

resultam na relaccedilatildeo contemporacircnea da sauacutede com as relaccedilotildees internacionais

notadamente com a poliacutetica externa brasileira adotaremos nas anaacutelises a

seguir a premissa de que a inserccedilatildeo do Brasil no contexto internacional na

aacuterea da sauacutede ganhou maior protagonismo a partir das seguintes vertentes

(a) Relaccedilatildeo mais efetiva da sauacutede com as relaccedilotildees internacionais observadas

a partir da deacutecada de 90

(b) Protagonismo na agenda internacional da relaccedilatildeo Sul-Sul fundamentada na

cooperaccedilatildeo multilateral e nos laccedilos horizontais da qual emerge a agenda do

Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede a partir do seu caraacuteter estrateacutegico na

agenda do desenvolvimento na reduccedilatildeo das assimetrias e na questatildeo da

proacutepria soberania

Em consequecircncia a esses movimentos a importacircncia da inovaccedilatildeo

emerge no campo produtivo da sauacutede isto eacute no Complexo Econocircmico-

100

Industrial da Sauacutede construindo mecanismos e oportunidades para o

fortalecimento de uma agenda tecnoloacutegica hegemocircnica que previna e reduza

a vulnerabilidade estrutural e produtiva fruto da globalizaccedilatildeo assimeacutetrica de

poder e de conhecimento onde os ganhos satildeo compartilhados dentro e fora

das fronteiras nacionais

1 Sauacutede nas Relaccedilotildees Internacionais

Apesar do avanccedilo poacutes Guerra Fria o diaacutelogo entre sauacutede e relaccedilotildees

internacionais ganhou novos contornos somente a partir do final da primeira

deacutecada do seacuteculo XXI conforme explica Almeida 54

ldquoganhou novo impulso e adquiriu novos contornos

englobando novos temas e demandando mais do que

nunca novas abordagens para a apreensatildeo dessa

nova realidade A sauacutede global a governanccedila global

em sauacutede a diplomacia da sauacutede a sauacutede na poliacutetica

externa nacional a sauacutede e a seguranccedila nacional e

internacional satildeo exemplos de temas que passaram a

ocupar o centro das atenccedilotildees dos governos da

academia e de inuacutemeros outros atores ndash locais

regionais internacionais e globaisrdquo (p1)

No tocante ao conceito da sauacutede global este pode ser traduzido como

questotildees de sauacutede que ldquotranscendem fronteiras nacionais e governos e

demandam intervenccedilotildees nas forccedilas e fluxos globais que determinam a sauacutede

das pessoasrdquo 1 (p19) caracterizando-se pelo sentido da responsabilidade

coletiva pela sauacutede Requerendo ldquonovas formas de governanccedila em niacutevel

nacional e internacional as quais procuram incluir uma ampla gama de atoresrdquo1

(p 19) ultrapassando segundo esses uacuteltimos autores os usos ideoloacutegicos

anteriores da sauacutede internacional [50] e compartilhando suscetibilidades

experiecircncias e responsabilidades globais pela sauacutede

50

Ateacute a deacutecada de 90 utilizava-se o termo ―sauacutede internacional para os fenocircmenos ligados agrave

sauacutede em diversos paiacuteses com reflexos no niacutevel internacional Segundo Simotildees 2009 as agecircncias

internacionais tecircm utilizado o termo ―sauacutede global para eventos que afetam diversos paiacuteses e suas

populaccedilotildees ao mesmo tempo 55

A partir deste ponto do estudo buscaremos abordar ambas as

conceituaccedilotildees conforme as distintas nuances que se apresentarem no texto

101

Ademais dimensotildees globais e dimensotildees internacionais relacionados agrave

sauacutede complementam o conceito da ldquosauacutede globalrdquo Segundo diferenciam

Paulo Buss e Jose Roberto Ferreira em documento institucional interno da

Fiocruz de 2008 entendem-se como dimensotildees internacionais as relaccedilotildees

poliacuteticas e teacutecnicas entre paiacuteses e organizaccedilotildees internacionais e organismos

multilaterais E as dimensotildees globais podem ser compreendidas como as que

superam as fronteiras nacionais e referem-se a problemas tais como carecircncia

de recursos teacutecnicos deterioraccedilatildeo do meio ambiente e mudanccedilas climaacuteticas

globais pobreza extrema movimentos migratoacuterios ameaccedilas de pandemias

supranacionais

E aqui vale destacar o tamanho da responsabilidade global alcanccedilamos

a marca dos 7 bilhotildees de habitantes e por estimativa de Frias Filho 49 em

2050 o nosso universo estaraacute carregando a 9 bilhotildees de habitantes exercendo

forte impacto nas questotildees de sauacutede dentre todas as outras que se traduzem

em sobrevivecircncia humana

Natildeo eacute por acaso afirma Almeida 54 (p01) que se faz necessaacuteria a inter-

relaccedilatildeo da sauacutede com as relaccedilotildees internacionais o que ldquoeacute claramente

recomendada na Declaraccedilatildeo Ministerial de Oslo [51] - bdquoGlobal Health a pressing

foreign policy issue of hour timerdquo de 2007rdquo

Daiacute surge um novo olhar sobre a aacuterea da sauacutede que passa a pertencer a

um campo especiacutefico da diplomacia [52] a diplomacia da sauacutede 54 que se

estabelece a partir do campo de conhecimentos e praacuteticas aleacutem de conjunto

de recursos teacutecnicos e poliacuteticos oriundos dos setores governamentais de

relaccedilotildees exteriores sauacutede e correlatos para atuar sobre temas de sauacutede nos

51

A Declaraccedilatildeo de Oslo eacute um mecanismo voluntaacuterio assinado pelos titulares das pastas das

Relaccedilotildees Exteriores de 7 paiacuteses (Brasil Franccedila Noruega Indoneacutesia Senegal Aacutefrica do Sul e Tailacircndia)

em 20032007 em que se estabelece a sauacutede como prioridade nas agendas de poliacutetica externa dos

respectivos paiacuteses e reiterando o compromisso previsto na Declaraccedilatildeo de Doha (OMC) 2001 quanto agraves

flexibilidades no contexto do Acordo TRIPS sobre Propriedade intelectual e comeacutercio a fim de se

ultrapassar barreiras que limitam o acesso a medicamentos essenciais pelos paiacuteses em desenvolvimento

52 Diplomacia eacute a arte e a praacutetica da conduccedilatildeo das negociaccedilotildees sendo mais comumente

reconhecida como meio de conduzir as relaccedilotildees internacionais pelos diplomatas dos Ministeacuterios das

Relaccedilotildees Exteriores 01

102

planos multilaterais global e regionais assim como nas relaccedilotildees bilaterais

entre paiacuteses (Buss e Ferreira 2010)

Entretanto esse termo diplomacia em sauacutede ainda eacute pouco elaborado

e carece de referencial analiacutetico e conceitual sendo aos poucos construiacutedo 54

Poreacutem dada a contemporaneidade da discussatildeo - necessitando de uma

linha temporal maior para o estabelecimento dessa construccedilatildeo conceitual

como bem afirma Almeida 54 - consideraacute-lo-emos suficiente para este estudo o

olhar atribuiacutedo por Buss et Ferreira 55 quanto agrave diplomacia da sauacutede como

campo de conhecimentos e de praacutetica direcionado agraves negociaccedilotildees poliacuteticas e

teacutecnicas no cenaacuterio internacional com foco na aacuterea da sauacutede e seus

determinantes

Aleacutem da sauacutede puacuteblica e das relaccedilotildees internacionais o exerciacutecio da

diplomacia da sauacutede une temas da gestatildeo da legislaccedilatildeo e da economia

Relacionando-se principalmente agraves seguintes aacutereas ldquonegociaccedilatildeo para a

sauacutede puacuteblica entre fronteiras nos foros da sauacutede e de outras aacutereas afins

governanccedila da sauacutede global poliacutetica externa e sauacutede e desenvolvimento de

estrateacutegias de sauacutede nacionais e globaisrdquo 1 (p 20)

Vale ressaltar o desafio da governanccedila da sauacutede global que

ultrapassando a ldquogovernanccedila claacutessica da sauacutede internacionalrdquo 1 em que os

governos seriam os responsaacuteveis pela sauacutede da sua populaccedilatildeo agindo em

cooperaccedilatildeo com outros paiacuteses e protegendo sua populaccedilatildeo dos riscos agrave

sauacutede passa a contar com cada vez maiores riscos interfronteiriccedilos aleacutem de

maior ldquoquantidade e niacutevel de influecircncia de agentes natildeo vinculados ao Estado

na governanccedila da Sauacutederdquo (p21) Sob essa perspectiva mais restritiva no que

concerne agrave centralizaccedilatildeo no Estado os autores justificam a nova percepccedilatildeo

ampliada

ldquoa governanccedila da sauacutede global eacute portanto a criaccedilatildeo conformaccedilatildeo orientaccedilatildeo fortalecimento e uso consciente das instituiccedilotildees internacionais e transnacionais e dos seus regimes de princiacutepios normas regras e procedimentos de tomadas de decisotildees para fins de organizar a promoccedilatildeo e a proteccedilatildeo da sauacutede em escala globalrdquo (p21)

103

E como afirma Berlinguer 45 (p 37) ldquonatildeo pode haver sauacutede global sem

governo globalrdquo

Sob esse contexto a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede ndash OMS agecircncia

internacional especializada em assuntos sanitaacuterios criada em 1948 dentro do

sistema das Naccedilotildees Unidas se destaca como relevante para a sauacutede no

acircmbito internacional no poacutes-Guerra Segundo Santarosa 57 a OMS eacute uma

organizaccedilatildeo intergovernamental de caraacuteter universal dotada de autonomia

financeira e administrativa possui recursos orccedilamentaacuterios proacuteprios aportados

pelos Estados-membros elege seus Diretores-Gerais e atua com

independecircncia E eacute composta pela Assembleacuteia Mundial da Sauacutede (AMS) ndash

instacircncia deliberativa maacutexima pelo Conselho Executivo (CE) ndash exerce a funccedilatildeo

de oacutergatildeo diretivo e de acompanhamento da implementaccedilatildeo das decisotildees da

AMS pelo Secretariado ndash oacutergatildeo executivo da OMS que implementa poliacuteticas e

programas da Organizaccedilatildeo

A OMS natildeo tem subordinaccedilatildeo formal em relaccedilatildeo agrave ONU afirma o autor

Eacute uma agecircncia especializada autocircnoma ligada agrave ONU por acordo

internacional e que busca atuar em consonacircncia com os estabelecimentos das

Naccedilotildees Unidas Tem por finalidade ldquoalcanccedilar para todos os povos o mais alto

grau possiacutevel de sauacutederdquo sendo esta definida conforme artigo 1ordm da

Constituiccedilatildeo da OMS ldquoum estado de completo bem-estar fiacutesico mental e

social e natildeo apenas a ausecircncia de sintomas ou doenccedilasrdquo Nesse sentido cabe

agrave OMS dentre outras atividades

(a) formular diretrizes e recomendaccedilotildees e

(b) divulgar e estabelecer boas-praacuteticas e prestar assistecircncia teacutecnica aos

Estados-membros nas mateacuterias de sua competecircncia ldquocomo prevenccedilatildeo e

controle de enfermidades poliacuteticas de sauacutede cuidados meacutedicos pesquisa e

usos de medicamentos classificaccedilatildeo de doenccedilas formaccedilatildeo e treinamento de

profissionais da sauacutede etcrdquo

O texto de Santarosa 57 aponta dois aspectos importantes que

influenciam a conformaccedilatildeo da agenda da OMS criando desafios que devem

ser suplantados

104

1 Modus Operandi do tipo circular (ver figura 3) que pode representar um

obstaacuteculo na inserccedilatildeo de temas imediatistas na OMS ldquodaiacute a importacircncia

de uma adequada e oportuna preparaccedilatildeo das propostas pelas

delegaccedilotildees de sua inserccedilatildeo em pauta no momento correto e da

construccedilatildeo de apoios que permitam sua aprovaccedilatildeordquo

Figura 3 Modus Operandi da OMS

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados da OMS (wwwwhoint) Acesso em 23012012

2 A perda do perfil teacutecnico da agenda da OMS passando a tratar de

temas que repercutem aleacutem do campo sanitaacuterio Sob essa nova

abordagem o autor afirma que se faz ldquonecessaacuteria uma dosagem entre

os componentes teacutecnico e poliacuteticordquo como por exemplos os casos da

OMPI (propriedade intelectual) da OMC (tabaco e medicamentos) da

Convenccedilatildeo sobre Armas Bioloacutegicas (epidemias com agentes bioloacutegicos)

etc O que se desprende do sistema multilateral contemporacircneo ldquoa

existecircncia de uma interpenetraccedilatildeo horizontal das agendas das

organizaccedilotildees internacionaisrdquo

105

A atuaccedilatildeo em sauacutede em niacutevel internacional obviamente aleacutem dos

especialistas sanitaacuterios natildeo prescinde da aacuterea diplomaacutetica e das relaccedilotildees

internacionais Correlaccedilatildeo essa mais evidente no final do seacuteculo XX defendida

pela OPAS em 1993 Por outro lado a diplomacia e a poliacutetica externa natildeo mais

se resumem aos diplomatas 1 Logo no tocante agrave sauacutede esse cenaacuterio se

repete Haacute a participaccedilatildeo de uma grande gama de agentes tanto do Estado

como fora do seu acircmbito Como exemplo da importacircncia dessa correlaccedilatildeo

atualmente o Ministro da Sauacutede como eacute o caso do Brasil tem responsabilidade

dupla ldquopromover a sauacutede do seu Paiacutes e fomentar os interesses em sauacutede da

comunidade globalrdquo (p22)

Isso posto mesmo considerando os interesses muitas vezes

contraditoacuterios entre os diversos atores envolvidos a fim de se dar conta das

lacunas provocadas pelas condiccedilotildees de vida e de sauacutede adversas pelas

deficiecircncias relacionadas aos determinantes sociais e econocircmicos e pela

insuficiente capacidade de gestatildeo por parte de alguns paiacuteses satildeo necessaacuterias

accedilotildees e iniciativas com condiccedilotildees de suporte estrateacutegico por parte das Naccedilotildees

Unidas das agecircncias de cooperaccedilatildeo dos paiacuteses mais desenvolvidos (ou ateacute

mesmo em desenvolvimento com condiccedilotildees superiores agravequeles que natildeo a

detecircm) e tambeacutem da filantropia internacional 56 Accedilotildees essas que possam dar

encaminhamentos a essas questotildees preocupantes priorizando-se

principalmente a sauacutede na agenda internacional na agenda de cooperaccedilatildeo

internacional e nos diversos programas de ajuda para o desenvolvimento

Ao que soma ao panorama da sauacutede global no sentido da ampliaccedilatildeo da

atuaccedilatildeo de outros atores o que Kickbusch et Berger 1 destacam em seu

estudo que o crescimento de parcerias puacuteblico-privados de doadores fundos

e demais atores acabam diversificando os envolvimentos no campo da sauacutede

global Isto eacute a competecircncia natildeo se esgota na OMS e correlacionadas

Expandem-se atuaccedilotildees alianccedilas fundos e foacuteruns globais junto agrave OMC ao

Banco Mundial agraves organizaccedilotildees regionais e demais organizaccedilotildees aleacutem das

organizaccedilotildees natildeo governamentais do setor privado do campo acadecircmico da

miacutedia dentre outros atores participantes no universo global

106

Aleacutem de caber agrave Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede a OPAS e aos outros

oacutergatildeos programas e agecircncias especializadas da ONU a formulaccedilatildeo de

diretrizes e orientaccedilotildees quanto aos compromissos pactuados entre os Estados-

membros haacute cada vez mais essencialidade nas accedilotildees das agecircncias e das

organizaccedilotildees bilaterais de assistecircncia ao desenvolvimento dos bancos

multilaterais de desenvolvimento (Banco Mundial Banco Interamericano de

Desenvolvimento) das fundaccedilotildees filantroacutepicas e das organizaccedilotildees natildeo

governamentais e das alianccedilas puacuteblico-privadas

Dentre os exemplos dessas alianccedilas envolvendo diversos atores

destacam-se (a) Fundo Mundial de Luta contra AIDS a Tuberculose e a

Malaacuteria estabelecida em 2002 e integrada por representantes de doadores

paiacuteses receptores empresas ONG`s organizaccedilotildees internacionais fundaccedilotildees

e das comunidades afetadas tornando-se importante fonte financeira de ajuda

agrave sauacutede (b) Alianccedila Mundial para Vacinas e Imunizaccedilatildeo com forte atuaccedilatildeo

mundial (c) CDC ndash Centros para Controle e Prevenccedilatildeo de Doenccedilas (d) e do

DNDI ndash Iniciativa Medicamentos para Doenccedilas Negligenciadas 58

Aleacutem dos fundos de paiacuteses doadores tais como a Ajuda Oficial ao

Desenvolvimento (AOD) que engloba os empreacutestimos e doaccedilotildees dos paiacuteses

desenvolvidos destinados ao bem-estar e ao desenvolvimento econocircmico dos

paiacuteses em desenvolvimento (que destina agrave sauacutede ndash assistecircncia primaacuteria

prevenccedilatildeo e controle de doenccedilas planejamento familiar gestatildeo do setor e

infraestrutura ndash parte do seu fundo) e de outros importantes doadores como o

Center Carter e notadamente a Fundaccedilatildeo Bill e Melinda Gates

Ademais a sauacutede cada vez mais ganha espaccedilo nas cuacutepulas do G8

G20 nas Assembleacuteias Gerais da ONU das estrateacutegias de reduccedilatildeo de pobreza

e determinantes sociais A sauacutede passa portanto de uma questatildeo de poliacutetica

domeacutestica para uma questatildeo de poliacutetica externa Haacute de se considerar apesar

da ampliaccedilatildeo da atuaccedilatildeo de outros atores o caraacuteter estrateacutegico da sauacutede haja

visto tratar-se de ldquouma questatildeo importante para a busca dos paiacuteses pelos seus

interesses e valores nas relaccedilotildees internacionaisrdquo 59 (p53) dadas as

107

consideraccedilotildees do compromisso da sauacutede global como poliacutetica externa

(Declaraccedilatildeo de Oslo [53] 2007)

Isso posto destacaremos alguns dos principais instrumentos legais que

no plano internacional mais ampliado fundamentaram a inserccedilatildeo da sauacutede no

contexto internacional 60 (p 123-126)

1 Carta das Naccedilotildees Unidas (1945)

a O preacircmbulo estabelece o compromisso dos fundadores da

organizaccedilatildeo isto eacute ldquopromover o progresso social e a melhoria

das condiccedilotildees de vida dos povosrdquo empregando um

ldquomecanismo internacional para promover o progresso

econocircmico e socialrdquo onde natildeo seratildeo medidos esforccedilos para a

busca desses objetivos

b Artigo Primeiro ndash 3ordm paraacutegrafo reconhece as dificuldades

existentes poreacutem tem como objetivo ldquoconseguir uma

cooperaccedilatildeo internacional para resolver os problemas

internacionais de caraacuteter econocircmico social cultural ou

humanitaacuteriordquo

c Capiacutetulo IV artigo 13 aliacutenea b e artigo 55 e Capiacutetulo IX artigo

55 aliacutenea b ndash atribui agrave Assembleacuteia Geral estudos e

recomendaccedilotildees para promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional

nas aacutereas econocircmica social cultural educacional e sanitaacuteria

reforccedilando a necessidade do envolvimento da comunidade

internacional com a sauacutede e determinando o compromisso das

Naccedilotildees Unidas na busca de ldquosoluccedilotildees para os problemas

internacionais econocircmicos sociais sanitaacuterios e conexos com o

fim de criar condiccedilotildees de estabilidade e bem-estar necessaacuterias

agraves relaccedilotildees paciacuteficas e amistosas entre as naccedilotildeesrdquo

d Artigo 62 ndash Paraacutegrafo 1 ndash atribui competecircncia ao Conselho

Econocircmico e Social para tratar de assuntos sanitaacuterios e para

criar comissotildees necessaacuterias para o desempenho das funccedilotildees

53

No decorrer desta anaacutelise seratildeo apresentados mais detalhes acerca dessa declaraccedilatildeo

108

(artigo 68)

2 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (Resoluccedilatildeo 217 A (III) da

Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas 1948 artigo 25 ndash prevendo a

obrigaccedilatildeo dos paiacuteses em zelarem pela sauacutede puacuteblica garantindo a

dignidade dos seres humanos e correlacionando a sauacutede aos demais

fatores sociais ldquotodo ser humano tem direito a um padratildeo de vida

adequado para assegurar a sauacutede e o bem-estar de si mesmo e de sua

famiacutelia incluindo alimentaccedilatildeo vestuaacuterio moradia assistecircncia meacutedica e

serviccedilos sociais apropriadosrdquo

3 Pacto Internacional sobre Direitos Econocircmicos Sociais e Culturais

elaborado pela Comissatildeo de Direitos Humanos das Naccedilotildees Unidas e

ratificado em 1976 ndash destinado a regular e controlar a aplicaccedilatildeo dos

direitos reconhecidos internacionalmente Direitos esses que o seu artigo

12 estabelece ldquoassegurar a diminuiccedilatildeo da mortalidade infantil e o

desenvolvimento sadio das crianccedilas garantir a prevenccedilatildeo e o tratamento

das doenccedilas epidecircmicas endecircmicas e outras criar condiccedilotildees que

assegurem a todos assistecircncia e serviccedilos meacutedicos em caso de

enfermidades e melhorar todos os aspectos relacionados com a higiene

do trabalho e do meio ambienterdquo

4 Conferecircncia de Alma Ata ndash representa um diferencial na conduccedilatildeo do

tema ldquosauacutederdquo na agenda internacional A Assembleacuteia Geral da ONU

(Resoluccedilatildeo 3458) referendou em 1979 as recomendaccedilotildees da

Conferecircncia de Alma Ata sobre Atenccedilatildeo Primaacuteria ocorrida em 1978

resultando na ldquoEstrateacutegia de Sauacutede Para Todos no ano 2000rdquo O

diferencial se fundamenta na consideraccedilatildeo da sauacutede como parte

integrante do processo de desenvolvimento destacando-se a importacircncia

da cooperaccedilatildeo internacional como instrumento para a realizaccedilatildeo de

objetivos internacionalmente pactuados

E mais recentemente dentre outros destacamos os seguintes

5 Conferecircncia de Otawa ndash Primeira Conferecircncia Internacional sobre

109

Promoccedilatildeo da Sauacutede - 1986 Decorrente da expectativa mundial pela

eficiecircncia na sauacutede puacuteblica defende a promoccedilatildeo da sauacutede como

fundamental para a qualidade de vida cuja responsabilidade natildeo eacute

exclusiva da sauacutede na busca do bem estar global Dentre os criteacuterios

pactuados na Carta de Intenccedilatildeo destaca-se a busca pelo

reconhecimento da importacircncia da sauacutede nas aacutereas poliacuteticas sociais

econocircmicas ambientais culturais bioloacutegicos e comportamentais

6 Declaraccedilatildeo do Milecircnio [54] de 2000 ndash Aprovado por 147 Chefes de Estado

e de Governo (aleacutem de representantes dos paiacuteses membros da ONU)

representa o comprometimento dos signataacuterios em estabelecer meios

para garantir um mundo com maior equidade social e reduzir a pobreza

extrema Estipula oito grandes objetivos relacionados ao

desenvolvimento para o milecircnio e o tema da sauacutede estaacute entre os

grandes objetivos dessa declaraccedilatildeo diminuir drasticamente a

mortalidade infantil e materna combater a malaacuteria e HIVAIDS aleacutem de

possibilitar o acesso agrave aacutegua potaacutevel a todos diminuir pela metade o

nuacutemero de miseraacuteveis no mundo e acabar com a fome garantir educaccedilatildeo

fundamental a todas as crianccedilas no mundo lutar contra a discriminaccedilatildeo

das mulheres e promover parceria global de desenvolvimento

7 Declaraccedilatildeo de Doha sobre Sauacutede Puacuteblica adotada no acircmbito da OMC ndash

ldquoDeclaraccedilatildeo sobre o Acordo TRIPS e Sauacutede Puacuteblicardquo 2001 Conferecircncia

ministerial que reconhece a gravidade dos problemas de sauacutede puacuteblica

que afligem paiacuteses em desenvolvimento e paiacuteses menos desenvolvidos

Reconhece no Acordo TRIPS (Aspectos dos Direitos de Propriedade

Intelectual Relacionados com o Comeacutercio sobre sauacutede puacuteblica em geral)

a necessidade da proteccedilatildeo agrave propriedade intelectual e a sua implicaccedilatildeo

para o desenvolvimento de novos medicamentos poreacutem tambeacutem

acordam no sentido de que o TRIPS natildeo poderaacute impedir que os paiacuteses

membros possam adotar medidas para proteger a sauacutede puacuteblica

refletindo portanto sobre as implicaccedilotildees do Acordo da OMC sobre a

sauacutede puacuteblica em geral

54

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Declaraccedilatildeo do Milecircnio New York setembro de

2000

110

8 Declaraccedilatildeo de Oslo ndash Sauacutede Global um tema urgente da Poliacutetica Externa

contemporacircnea assinada em 2007 pelos Ministeacuterios das Relaccedilotildees

Exteriores do Brasil da Franccedila da Indoneacutesia da Noruega do Senegal

da Aacutefrica do Sul e da Tailacircndia reforccedila a questatildeo da sauacutede como

elemento baacutesico em estrateacutegias de combate agrave pobreza e de incentivo ao

desenvolvimento social e estimulando o debate sobre os problemas de

sauacutede nas discussotildees relacionadas agrave poliacutetica externa

9 Resoluccedilatildeo 6595 das Naccedilotildees Unidas sobre Sauacutede Global e Poliacutetica

Externa ndash 2011 ocorrida na 61ordf Sessatildeo da Assembleacuteia Geral

Reconhece a necessidade de esforccedilos integrados e de um ambiente de

poliacutetica global de apoio agrave sauacutede global para dar conta dos desafios da

sauacutede mundial e nesse sentido estimula aos Estados-Membros

ao sistema das Naccedilotildees Unidas agraves academias agraves instituiccedilotildees e agraves redes

a estreitar a relaccedilatildeo entre poliacutetica externa e a sauacutede global fortalecendo

inclusive a formaccedilatildeo de diplomatas e gestores de sauacutede em particular

dos paiacuteses em desenvolvimento Objetiva tambeacutem a construccedilatildeo de um

relatoacuterio que reflita sobre maneiras de melhorar a coordenaccedilatildeo a

coerecircncia e a eficaacutecia da governanccedila em sauacutede global discuta o papel

do Estado e de outros atores envolvidos nesse processo e apresente

recomendaccedilotildees para fortalecer as poliacuteticas sobre os determinantes

sociais da sauacutede reafirmando o papel central das Naccedilotildees Unidas nesse

processo

10 Conferecircncia de Monterrey de 2011 ndash Consenso de Monterrey para o

Financiamento do Desenvolvimento - cujo objetivo eacute superar os desafios

de financiamento de desenvolvimento que visem agrave erradicaccedilatildeo da

pobreza e a melhoria das condiccedilotildees sociais e dos padrotildees de vidas dos

seres humanos Deu-se em um contexto econocircmico de desaceleraccedilatildeo da

economia global e de reduccedilatildeo das taxas de crescimento econocircmico

11 Conferecircncia Mundial de Determinantes Sociais da Sauacutede aprovada pelo

Conselho Executivo da OMS 130ordf Sessatildeo 2012 ndash Resoluccedilatildeo EB130

R11 submetida agrave 65ordf Assembleacuteia Mundial de Sauacutede realizada em maio

de 2012 A Resoluccedilatildeo reiterava os principais toacutepicos da Declaraccedilatildeo

Poliacutetica do Rio que foi pactuada nessa Conferecircncia e visava agrave

111

distribuiccedilatildeo equitativa dos recursos e a luta contra as condiccedilotildees que

afetam a sauacutede

Aleacutem da sequecircncia de conferecircncias mundiais promovidos pela

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre assuntos relacionados agrave aacuterea social o

tema tambeacutem eacute valorizado pelo ldquocrescimento do interesse dos organismos

internacionais e dos bancos multilaterais de desenvolvimentordquo pela ldquoinclusatildeo

de toacutepicos de natureza social em negociaccedilotildees de mecanismos regionais e sub-

regionais de integraccedilatildeordquo e pela ldquoampliaccedilatildeo da oferta de apoio e programas e

projetos sociais pelas agecircncias governamentais bilaterais de cooperaccedilatildeordquo 60

Portanto os marcos histoacutericos mostram que a sauacutede tem espaccedilo privilegiado

na agenda internacional estando fortemente vinculados aos temas dos direitos

humanos aleacutem da estreita vinculaccedilatildeo com o desenvolvimento econocircmico

Ao que afirma Simotildees 55 que a caracteriacutestica intersetorial da sauacutede tem

amplificado e ramificado influenciando e afetando diversas aacutereas de atividades

ndash econocircmico-comercial social e poliacutetica A representatividade de sua

importacircncia eacute medida inclusive por sua presenccedila em todas as conferecircncias

sociais ocorridas na deacutecada de 90 por exemplo Mais uma forte indicaccedilatildeo do

protagonismo do tema eacute o fato de que dos oito Objetivos do Milecircnio cinco

estatildeo relacionados agrave sauacutede seja de forma direta ou indireta [55]

Proveniente da Conferecircncia Mundial de Determinantes Sociais da

Sauacutede a Resoluccedilatildeo EB130R11 com os resultados dessa Conferecircncia eacute de

incontestaacutevel valor para a sauacutede e para os temas sociais que estabelecem

transversalidade com a sauacutede Essa resoluccedilatildeo aponta como condiccedilotildees sine

qua non para o estabelecimento da condiccedilatildeo humana (a) o fortalecimento da

cooperaccedilatildeo internacional para promoccedilatildeo da equidade em sauacutede (b) a

transferecircncia de conhecimentos especializados tecnologias e conhecimentos

cientiacuteficos e (c) a facilitaccedilatildeo do acesso a recursos financeiros no sentido de

que os recursos provenientes dos paiacuteses em desenvolvimento (meta de 07

55

Isto eacute reduzir a mortalidade infantil melhorar a sauacutede das gestantes e combater a AIDS

malaacuteria e outras doenccedilas satildeo objetivos diretos e os indiretos acabar com a fome e a pobreza educaccedilatildeo

baacutesica de qualidade para todos qualidade de vida e respeito ao meio ambiente busca pelo

desenvolvimento e sustentabilidade ambiental que satildeo alguns dos determinantes sociais da sauacutede

112

do PIB) como ajuda oficial para o desenvolvimento sejam destinados ao

cumprimento dos objetivos e metas de desenvolvimento 61

O documento destaca em seu Preacircmbulo a necessidade de se proteger

a sauacutede das pessoas contra as consequecircncias nocivas das crises econocircmicas

mundiais em um esforccedilo de manter o atual posicionamento do conceito de

desenvolvimento aliado agraves condiccedilotildees sociais do indiviacuteduo

A erradicaccedilatildeo da fome e da pobreza a garantia de acesso a

medicamentos seguros e eficazes com custo acessiacutevel a garantia da

seguranccedila alimentar e nutricional o acesso agrave aacutegua potaacutevel e saneamento o

acesso ao emprego e trabalho decentes e agrave proteccedilatildeo social a proteccedilatildeo ao

meio ambiente e a busca por garantir o crescimento econocircmico equitativo por

meio de accedilotildees que ajam sobre os determinantes sociais da sauacutede satildeo desafios

a serem ultrapassados por todos os paiacuteses

O que vem a complementar o estipulado pelas Metas do Milecircnio cujo

objetivo seria combater a pobreza mundial datadas de 2000 as quais

especialistas defendem a sua reformulaccedilatildeo 62 As Metas da ONU natildeo seriam

mais apropriadas em funccedilatildeo da sua simplicidade em oposiccedilatildeo agrave complexidade

dinacircmica do mundo contemporacircneo Apesar de alguns avanccedilos haacute muito a ser

ultrapassado e alcanccedilado Defendem-se nesse sentido novas incorporaccedilotildees

tais como as aacutereas da ecologia e do clima regras para o mercado financeiro

mundial e o combate a paraiacutesos fiscais e reconsideraccedilotildees quanto agrave

heterogeneidade de cada naccedilatildeo Segundo argumenta a autora a reformulaccedilatildeo

natildeo garantiraacute o alcance das metas poreacutem buscaraacute alcanccedilar o desenvolvimento

que leve em consideraccedilatildeo primeiramente a condiccedilatildeo e o comportamento do

ser humano

Alguns desafios podem ser destacados na abordagem da sauacutede com a

diplomacia e as relaccedilotildees internacionais Aleacutem da necessaacuteria dosagem entre os

componentes teacutecnicos e poliacuteticos relacionados aos diversos atores envolvidos

na relaccedilatildeo entre a sauacutede e as relaccedilotildees internacionais vale ressaltar tambeacutem a

transversalidade das agendas relacionadas agrave sauacutede tanto pela interface

temaacutetica quando agrave inter-relaccedilatildeo de governanccedila entre os diversos organismos

uma vez que haacute participaccedilatildeo concomitante de representantes em oacutergatildeos

113

decisoacuterios entre eles Conhecer o funcionamento e as complexas inter-relaccedilotildees

entre as agecircncias e os organismos internacionais sanitaacuterios eacute fundamental

Tambeacutem cabe apontar neste estudo a perda evidente de legitimidade

que impera junto agrave ONU e por consequecircncia junto agraves suas organizaccedilotildees

Como destacado na reportagem do Le Monde Diplomatiquendash ONU como se

desfazer dela de 06022012 essa organizaccedilatildeo enfrenta uma ldquodivisatildeo de

tarefas que se desenha em escala mundialrdquo Questotildees poliacuteticas de grande

importacircncia estatildeo sendo referendadas por grupos de potecircncias (exemplo G-8

G-20) como instacircncias de decisatildeo de fato sem no entanto serem No

tocante agrave sauacutede tem sido abordada a necessidade de a OMS atualizar o seu

compromisso puacuteblico primeiramente dando ordem ldquoao caleidoscoacutepio de

organizaccedilotildees programas e agecircnciasrdquo que se reproduz nas relaccedilotildees

internacionais em sauacutede afim de que natildeo haja contradiccedilotildees nos

encaminhamentos e normas relacionados aos consensos estipulados para a

aacuterea da sauacutede Afinal afirma a jornalista Anne-Ceacutecile Robert na reportagem do

Le Monde ldquoSe a supremacia da ONU no tabuleiro internacional parece

desgastada eacute tambeacutem porque seus textos fundadores permanecem

impregnados de uma filosofia humanista pouco disseminada na ordem

econocircmica globalizadardquo

Conforme defende Berlinger 45 (p23) ldquoa luta contra as desigualdades eacute

um poderoso estiacutemulordquo para a sauacutede global como finalidade social desejaacutevel

Poreacutem afirma que ldquono plano praacutetico tem o mesmo valor senatildeo maior a

consciecircncia de que a sauacutede eacute um bem indivisiacutevel e de que o gecircnero humano

estaacute vinculado por um destino comumrdquo Essa consciecircncia global ainda estaacute em

formaccedilatildeo Verdade mais evidente hoje do que haacute dez anos E indubitavelmente

muito mais estrategicamente priorizado do que houvera sido haacute vinte anos

quando as poliacuteticas neoliberais decorrentes do Consenso de Washington

imperavam nos interesses internacionais

Entretanto esse atraso e essa passividade generalizada e histoacuterica

poderatildeo implicar grandes custos agrave humanidade 45 (p23) Passividade essa

compartilhada pelos ldquosilecircncios interessados de quem deteacutem o saber o

oportunismo de quem deteacutem o poderrdquo Nesse sentido o autor critica a

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede e a cumplicidade da poliacutetica uma vez que a

114

OMS deveria ser o local privilegiado cujo interesse resguardasse o interesse

coletivo o interesse global a sauacutede como um bem uacutenico indivisiacutevel siacutembolo

predominante dos valores humanos fundamentando a sauacutede como finalidade

primordial do crescimento econocircmico Ainda segundo o autor 45 (p26) a

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede ldquopor seus defeitos e pelo desinteresse dos

governos perdeu a funccedilatildeo de guia nas poliacuteticas mundiais da sauacutederdquo

interpelada inclusive pela difusatildeo de novas fontes de poder e de influecircncia dos

atores que emergiram nas uacuteltimas deacutecadas (fontes de fomento e organizaccedilotildees

natildeo governamentais dentre outros) Situaccedilatildeo essa que impotildee a necessaacuteria

revisatildeo dos valores macros da Organizaccedilatildeo legitimando-a de fato para a

missatildeo que lhe impera

Haacute de se destacar tambeacutem um oacutebice a ser ultrapassado o tempo

diplomaacutetico nas relaccedilotildees internacionais Certamente eacute um fator que necessita

ser observado e corrigido Os temas sociais e notadamente a sauacutede

requerem celeridade na conduccedilatildeo das negociaccedilotildees internacionais dada a

essencialidade que esse tema traduz para o ser humano Do estudo de

Rubarth 60 podemos apontar como exemplo o absurdo do prazo e do tempo da

poliacutetica internacional na conduccedilatildeo de uma proposta a Comissatildeo de Direitos

Humanos das Naccedilotildees Unidas em meados do seacuteculo XX foi incumbida de

preparar um instrumento legal que regulasse e controlasse a aplicaccedilatildeo dos

direitos que foram reconhecidos internacionalmente Nesse sentido apoacutes

exaustivas negociaccedilotildees a Assembleacuteia Geral oficializou em 1951 a solicitaccedilatildeo

de dois pactos um para os Direitos Civis e Poliacuteticos e outro sobre Direitos

Econocircmicos Sociais e Culturais A aprovaccedilatildeo deles entretanto ocorreu

somente em 1966 E as ratificaccedilotildees (necessaacuterias para que entrassem em

vigor) tatildeo somente em 1976 Significa afirmar que da solicitaccedilatildeo inicial jaacute

pactuada ateacute a ratificaccedilatildeo do documento elaborado tivemos ldquoo curto prazordquo de

um quarto de seacuteculo Obviamente estamos em um contexto histoacuterico mais

acelerado onde conduccedilotildees ciberneacuteticas agilizam o tracircnsito burocraacutetico Poreacutem

haacute muito que se priorizar negociaccedilotildees preacutevias coalizotildees consensos

deliberaccedilotildees aprovaccedilotildees e implantaccedilotildees de poliacuteticas e medidas para as

condiccedilotildees de sauacutede Negociaccedilotildees econocircmicas comerciais culturais e outras

podem ateacute em alguma medida aguentar essa espera A sauacutede humana natildeo

115

Ademais alguns dos desafios importantes para o tratamento dos temas

da sauacutede nas relaccedilotildees internacionais satildeo ldquoo avanccedilo das doenccedilas e a crescente

intersetorialidade da sauacutederdquo 55 (p 14) E esses temas em um futuro cada vez

mais presente exigiratildeo cada vez mais um grande esforccedilo de sintonia entre o

corpo diplomaacutetico e os demais atores intrinsecamente relacionados sejam eles

externos ou nacionais para equilibrar as necessidades de sauacutede puacuteblica com

os interesses econocircmicos sociais e poliacuteticos nas negociaccedilotildees internacionais

O Brasil vem se projetando com maior evidecircncia na arena internacional

a partir do final da deacutecada de 90 e da entrada no seacuteculo XXI Reflexo do novo

status quo do Brasil no acircmbito do sistema internacional 63 Segundo os autores

ldquoestaacute em curso um amplo e crescente processo de reconhecimento

internacional do Paiacutes como uma economia emergente com elevada capacidade

interna em diversos setoresrdquo (p39) sendo portanto ldquoum ator-chave da

cooperaccedilatildeo internacionalrdquo Resultado de dois fatores principais a prolongada

estabilidade poliacutetico-econocircmica nacional e o acuacutemulo de experiecircncias

nacionais em programas sociais inovadores de grande repercussatildeo em todo o

mundo 63 (p 39)

Como exemplos da atuaccedilatildeo brasileira citamos a recente lideranccedila que o

Brasil vem exercendo na conduccedilatildeo do G20 notadamente nas questotildees

relacionadas agrave grave crise econocircmica participaccedilotildees nos encontros do G8

efetiva e decisiva participaccedilatildeo do Brasil na criaccedilatildeo da Uniatildeo das Naccedilotildees do Sul

ndash Unasul formalizada em 2008 e crescente participaccedilatildeo em organismos

multilaterais (CPLP UNICEF OMS OPAS Mercosul OTCA por exemplo)

E essa atuaccedilatildeo do Brasil tambeacutem se projeta na aacuterea da sauacutede como um

dos temas prioritaacuterios da agenda social na poliacutetica externa e nos assuntos

globais entre os quais comeacutercio e seguranccedila Apesar de pouco reconhecida no

Brasil a aacuterea de cooperaccedilatildeo internacional em sauacutede vem se tornando mais

ativa nas uacuteltimas deacutecadas 64

O que tambeacutem pode ser observado no fortalecimento dado aos temas

sociais na pauta de trabalho do Itamaraty por conta da necessidade de superar

a reduzida importacircncia atribuiacuteda a esses assuntos pela Chancelaria 60

Outra indicaccedilatildeo da importacircncia dada ao tema da sauacutede no contexto das

116

relaccedilotildees internacionais eacute apresentada por Jouval [56] quando conclui acerca da

potencialidade e da direccedilatildeo dada agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica isto eacute ldquoo

desenvolvimento da agenda poliacutetica com base na agenda teacutecnicardquo [57]

A correlaccedilatildeo da sauacutede e do Ministeacuterio da Sauacutede com as accedilotildees de

poliacutetica externa do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores do Brasil estatildeo previstas

nas prioridades e diretrizes especiacuteficas da Presidecircncia da Repuacuteblica e do

Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores Aleacutem disso essa correlaccedilatildeo tem como

base legal as referecircncias nacionais e internacionais que estreitam os laccedilos da

sauacutede com a poliacutetica externa A saber (a) Art 4 da Constituiccedilatildeo de 1988 - a

cooperaccedilatildeo entre os povos como princiacutepio constitucional - Paraacutegrafo uacutenico ldquoA

Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social

e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma

comunidade latino-americana de naccedilotildeesrdquo (b) Art 196 ldquoa sauacutede eacute direito de

todos e dever do Estadordquo (c) Em 2001 Declaraccedilatildeo de Doha sobre Sauacutede

Puacuteblica e Acordo TRIPS (OMC) (d) Em 2007 Declaraccedilatildeo Ministerial de Oslo

Sauacutede Global um tema urgente da poliacutetica externa contemporacircnea (f) aleacutem de

diversos e distintos documentos e negociaccedilotildees internacionais [58]

A orientaccedilatildeo da interaccedilatildeo da sauacutede com a poliacutetica externa tambeacutem eacute

observada na Resoluccedilatildeo CE 142R14 ndash Washington DC EUA 23-27 de

junho de 2008 aprovada durante a 142ordf Sessatildeo do Comitecirc Executivo da

OPASOMS

Em que pese o Brasil mais ativo no cenaacuterio internacional tambeacutem vem

adotando um comportamento de maior independecircncia e autonomia em foacuteruns

internacionais Como por exemplo as discussotildees sobre patentes de

medicamentos ocorridas na OMC e a forte oposiccedilatildeo brasileira junto agrave

56

Jouval H Construindo pontes entre sauacutede puacuteblica e relaccedilotildees internacionais In Ciclo de

Debates sobre Bioeacutetica Diplomacia e Sauacutede Puacuteblica Brasiacutelia Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacuteticas e

Diplomacia em Sauacutede ndash NETHIS 2011 Disponiacutevel em wwwbioeticaediplomaciaorg Acesso em

27012012 57

Em funccedilatildeo da aproximaccedilatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede com o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores

verificam-se demandas feitas ao Ministeacuterio da Sauacutede para participar em foros internacionais da

harmonizaccedilatildeo legislativa internacionais da certificaccedilatildeo de programas nacionais de iniciativas de

cooperaccedilatildeo internacional da promoccedilatildeo de ajuda humanitaacuteria em organismos internacionais etc 58

Barbosa Eduardo 2009 Apresentaccedilatildeo no Ciclo de Debates ndash 1 Ciclo Integraccedilatildeo Regional e

Sauacutede AISA-Ministeacuterio da Sauacutede Disponiacutevel em

httpportalsaudegovbrportalarquivospdfciclo_debates_aisa_eduardo_manhapdf Acesso em

27012012

117

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede no tocante ao ldquoWorld Health Report 2000rdquo

(Relatoacuterio sobre a Sauacutede no Mundo do ano 2000) quanto ao desempenho dos

sistemas de sauacutede criacuteticas fundamentadas que foram endossadas pela

Assembleacuteia Mundial da Sauacutede 66 Vale destacar o posicionamento do Brasil a

favor do acesso ao conhecimento para produccedilatildeo de medicamentos

antirretrovirais (tratamento para portadores de HIV) Em 2001 apoacutes meses de

discussotildees e negociaccedilotildees o Paiacutes com base no artigo 71 da Lei de

Propriedade Intelectual alegando emergecircncia na sauacutede (uma das situaccedilotildees

previstas pela legislaccedilatildeo para autorizar a licenccedila compulsoacuteria e a produccedilatildeo da

droga por outros laboratoacuterios) obteve sucesso nas negociaccedilotildees com o

fabricante (Roche) chegando a um consenso que beneficiou o Paiacutes com a

diminuiccedilatildeo do custo com aquisiccedilatildeo do medicamento Nelfinavir para tratamento

de HIV 65 (p 180)

Outra situaccedilatildeo meritoacuteria para o Brasil ocorreu na reuniatildeo ministerial da

Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio no final de 2001 em Doha no Catar onde

se aprovou a interpretaccedilatildeo menos riacutegida do TRIPS [59] representando que

tanto o Brasil como qualquer outro paiacutes em situaccedilatildeo de emergecircncia poderia

aplicar licenccedilas compulsoacuterias para produccedilatildeo de medicamentos no Paiacutes Apesar

de prevista na legislaccedilatildeo brasileira ateacute entatildeo a medida natildeo era considerada

pela Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

Vale citar que somente em 2007 junto agrave gestatildeo do entatildeo Ministro da

Sauacutede Joseacute Gomes Temporatildeo no governo Lula eacute que ocorreu de fato o

primeiro licenciamento compulsoacuterio [60] de um medicamento patenteado

utilizado pelo SUS no coquetel de tratamento anti-HIV o Efavirenz do

Laboratoacuterio Merck Sharp amp Dohme Agrave eacutepoca o laboratoacuterio se recusara a

vender o medicamento ao Brasil pelos valores negociados juntos a paiacuteses

asiaacuteticos No dia 07 de maio de 2012 por decreto publicado no Diaacuterio Oficial da

59

TRIPS ndash Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights (Acordo sobre

Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comeacutercio) Declaraccedilatildeo do acordo

TRIPS e sauacutede puacuteblica (Nov 14 2001) Disponiacutevel em

httpwwwwtoorgenglishthewto_eminist_emin01_emindecl_trips_ehtm Acesso em 27022012

60

Uma das possibilidades do Governo eacute lanccedilar matildeo da chamada licenccedila compulsoacuteria ndash quebra de

patentes por necessidade de sauacutede puacuteblica Esses instrumentos caracteriacutesticos dos paiacuteses em

desenvolvimento defendido pelo Brasil inclusive proveacutem da Declaraccedilatildeo de Doha sobre Sauacutede Puacuteblica

da OMC 55

118

Uniatildeo o licenciamento compulsoacuterio foi prorrogado por mais cinco anos [61] E

atualmente o Efavirenz eacute produzido no Brasil por Farmanguinhos unidade de

produccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz suprindo toda a necessidade nacional

do Efavirenz 600mg

O Brasil vem se evidenciando como destaque nos temas de sauacutede

global O fato de o Brasil ser portador de programas de sauacutede reconhecidos

como paradigma em niacutevel internacional como a implantaccedilatildeo do SUS o

aleitamento materno o tratamento de HIVAIDS o controle do tabagismo

fazem o diferencial do Brasil Conforme reforccedila o diplomata Santarosa 57 o

Paiacutes tem exercido nos uacuteltimos anos uma efetiva participaccedilatildeo com alto perfil nos

temas de sauacutede globais ldquointegramos simultaneamente o CE [62] da OMS e o

PCB [63] da Unaidsrdquo (Joint United Nations Programme on HIVAIDS) aleacutem de

exercer ldquouma lideranccedila fundamental no processo de negociaccedilatildeo da CQCT [64] e

desempenhar um papel relevante na criaccedilatildeo do fundo globalrdquo Esta atuaccedilatildeo

reflete a efetiva participaccedilatildeo brasileira

E para melhor aperfeiccediloar as interaccedilotildees entre as distintas organizaccedilotildees

Santarosa 57 destaca a importacircncia de saber ldquoexplorar as interfaces da OMS

com as demais agecircncias e organizaccedilotildees internacionais particularmente a

OMC com vistas por um lado a preservar instrumentos de autonomia em

termos de poliacuteticas puacuteblicas de sauacutede que garantam o atendimento das

necessidades sanitaacuterias da populaccedilatildeo brasileira e por outro a promover

interesses globais de nossa diplomacia como as agendas sociais de direitos

humanos e de desenvolvimentordquo

Outros exemplos de participaccedilatildeo estrateacutegica do Brasil nas questotildees da

sauacutede eleiccedilatildeo do Brasil para o Comitecirc Executivo da OMS (2008-2011)

lideranccedila nos debates do Intergovernmetal Working Group on Public Health

Innovation and Intelectual Property (IGWG)- OMS papel na formulaccedilatildeo do

Plano de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede da Unasul e do Programa Estrateacutegico de

Cooperaccedilatildeo em Sauacutede da CPLP na constituiccedilatildeo do ISAGS dentre outros

61

httpg1globocomciencia-e-saudenoticia201205dilma-prorroga-quebra-de-patente-de-

remedio-anti-aidshtml acessado em 09 de maio de 2012 62

CE = Comitecirc Executivo 63

PCB= Programme Coordinating Board 64

CQCT= Convenccedilatildeo Quadro para o Controle do Tabaco OMS em 2003 Ver tambeacutem

FCTC64 2011 apud Buss 2011

119

projetos de cooperaccedilatildeo e de apoio a paiacuteses estrangeiros

O protagonismo brasileiro tambeacutem pode ser observado em sua atuaccedilatildeo

ativa e articuladora em foacuteruns internacionais da sauacutede tais como

(a) a Conferecircncia Mundial de Determinantes Sociais em Sauacutede ocorrida em

2011 quando a Assembleacuteia Mundial da Sauacutede foi sediada no Rio de Janeiro o

que significou uma vitoacuteria da Chancelaria brasileira e das autoridades

sanitaacuterias dada inclusive agrave representatividade para o Brasil tanto pelo caraacuteter

simboacutelico por ter sido originado no Rio de Janeiro assim como pela

importacircncia de inestimaacutevel valor para todos os envolvidos no combate agraves

iniquidades em sauacutede em que os determinantes sociais da sauacutede satildeo

balizadores do sucesso ou do fracasso dos objetivos relacionados ao pacto

(b) a Conferecircncia Rio 92 cuja defesa eacute a relaccedilatildeo intriacutenseca da sauacutede agraves

condiccedilotildees de desenvolvimento sustentaacutevel e tambeacutem a defesa da priorizaccedilatildeo

de poliacuteticas de proteccedilatildeo e de promoccedilatildeo social Aleacutem de expressar um forte

movimento articulador com os demais paiacuteses em desenvolvimento nos

Tratados de Quioto nos Objetivos do Milecircnio na Agenda 21 [65] dentre outros

Esse protagonismo do Brasil tem repercutido positivamente no cenaacuterio

internacional Como exemplo pode ser citado o uacuteltimo Foacuterum Mundial

Econocircmico ocorrido em janeiro de 2012 em que o Brasil foi destaque pelo

alcance dos resultados positivos provenientes do modelo de crescimento

associado ao desenvolvimento social

Em mais um exerciacutecio de inserir o Brasil na discussatildeo da sauacutede sob a

perspectiva do contexto internacional o Ministeacuterio da Sauacutede promoveu a

inclusatildeo do tema ldquosauacutederdquo na discussatildeo da agenda de desenvolvimento

sustentaacutevel dos paiacuteses na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o

Desenvolvimento Sustentaacutevel a Rio+20 realizada em junho de 2012 em uma

demonstraccedilatildeo de que o Brasil estaacute se consolidando como potencial player nas

discussotildees da arena internacional Enfatizou-se a relaccedilatildeo central da sauacutede

com o desenvolvimento sustentaacutevel destacou-se o reconhecimento da sauacutede

65

Esses Tratados e Convenccedilotildees seratildeo mais detalhados no item 1 do Capiacutetulo IV quando o meio

ambiente for apontado como abordagem a ser relacionada agrave sauacutede e ao desenvolvimento

120

como condiccedilatildeo sine qua non para o desenvolvimento econocircmico social e

ambiental e vista internacionalmente natildeo apenas de forma individual mas em

sua dimensatildeo coletiva onde as consideraccedilotildees sobre a sauacutede devem perpassar

as poliacuteticas de todos os demais setores [66] destacou-se a necessidade da

adoccedilatildeo de accedilotildees para erradicar local nacional e internacionalmente a

circulaccedilatildeo de doenccedilas imunopreveniacuteveis (principalmente) ampliando a

capacidade de produccedilatildeo internacional suficiente acessiacutevel e segura de

vacinas sobretudo para os paiacuteses em desenvolvimento (o que tem reflexo

direto no objeto deste nosso estudo CEIS) aleacutem da vital importacircncia ao

acesso a medicamentos para doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis

minimizando os impactos que acarretam ao desenvolvimento econocircmico e agrave

estabilidade poliacutetica dos paiacuteses em funccedilatildeo do caraacuteter crocircnico e incapacitante

provocados por essas doenccedilas

Finalmente apesar de se destacar uma relaccedilatildeo mais efetiva da sauacutede

com as relaccedilotildees internacionais a partir da deacutecada de 90 (os temas da sauacutede

estiveram presentes em todas as conferecircncias sociais da deacutecada de 90) 55 o

movimento da sauacutede eacute endoacutegeno e vem de longa data

Questotildees sanitaacuterias relacionadas ao comeacutercio internacional e a

seguranccedila internacional satildeo dimensotildees que se somaram mais recentemente

na relaccedilatildeo da sauacutede com as questotildees internacionais

A sauacutede sob a perspectiva das relaccedilotildees econocircmicas internacionais com

especial destaque para as questotildees de grande impacto econocircmico e social

tais como os relacionados agraves induacutestrias farmacecircuticas ndash onde a questatildeo do

acesso ganha um protagonismo ateacute entatildeo pouco reconhecido nas discussotildees

das patentes de medicamentos por exemplo ndash satildeo assuntos mais recentes

inseridos nas discussotildees das relaccedilotildees econocircmicas internacionais como os que

acontecem na Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio - OMC

66

A sauacutede sob a perspectiva da produccedilatildeo da tecnologia e da inovaccedilatildeo apresenta acircngulos bem

distintos de desenvolvimento Sob a perspectiva euro-nipo-americano (dentre outros paiacuteses que se

inserem nos chamados ―paiacuteses desenvolvidos) a industrializaccedilatildeo comporta maior desenvolvimento O

que natildeo ocorre quando focamos os demais paiacuteses

121

Em maio de 2012 a 65ordf Assembleacuteia Mundial da Sauacutede (AMS) da OMS

aprovou resoluccedilatildeo sobre o financiamento global da pesquisa para a geraccedilatildeo de

novos medicamentos e vacinas de interesse da populaccedilatildeo brasileira e de

outros paiacuteses em desenvolvimento O documento se apoacuteia em um ldquoamplo e

longo processo de entendimento sobre as fronteiras e correlaccedilotildees entre a

sauacutede puacuteblica a inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e as poliacuteticas de propriedade

intelectualrdquo67

Ainda sob a oacutetica da sauacutede nas relaccedilotildees internacionais vale ressaltar o

sentido duplo nem sempre convergente que esse assunto suscita quando se

evidencia mais claramente para a aacuterea da sauacutede qual eacute o seu papel em relaccedilatildeo

agrave dimensatildeo internacional e qual o papel que representa o seu complexo

industrial Sentidos esses com posicionamentos e estrateacutegias distintos e por

vezes conflituosos nem sempre esclarecidos pelos atores das aacutereas sanitaacuterias

e industriais

O Brasil nesse sentido no tocante ao Complexo Econocircmico-Industrial

da Sauacutede apresenta maior tradiccedilatildeo na questatildeo da inserccedilatildeo internacional isto

eacute na poliacutetica internacional dado o seu caraacuteter econocircmico mais convergente

com as negociaccedilotildees internacionais Dimensatildeo essa que ateacute o final do Seacuteculo

XX era predominante por consideraccedilotildees agrave poliacutetica industrial e agraves poliacuteticas de

ciecircncia e tecnologia no qual o Brasil de forma relevante se articulava

notadamente na relaccedilatildeo com a OMC

Por outro lado no Paiacutes a dimensatildeo da sauacutede na oacutetica da diplomacia da

sauacutede eacute tema contemporacircneo entrando na agenda articulada do Ministeacuterio da

Sauacutede e do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores com maior representatividade

no iniacutecio do seacuteculo XXI uma vez que o Brasil priorizara ateacute entatildeo a

construccedilatildeo do SUS o que representara ateacute esse momento olhar para si

mesmo

Haacute de se considerar tambeacutem que a relaccedilatildeo da sauacutede ldquostricto sensurdquo com

a OMC eacute uma relaccedilatildeo mais recente onde o tema ldquosauacutederdquo tem sido abordado

sob uma nova contextualizaccedilatildeo sob a perspectiva mais humanitaacuteria o que de

certa forma fundamentada na interface multilateral jaacute ocorria na relaccedilatildeo com a

OMS e a OPAS Logo essas duas dimensotildees natildeo podem mais estar

122

desvinculadas satildeo interfaces no contexto externo e devem ser somadas e natildeo

excluiacutedas

Finalmente a primeira deacutecada do seacuteculo XXI consolida um periacuteodo cuja

representaccedilatildeo paradigmaacutetica se estabelece na superaccedilatildeo de entraves e

desafios concernentes agrave inserccedilatildeo da sauacutede na poliacutetica externa consolidando-a

e ampliando a participaccedilatildeo da sauacutede na poliacutetica exterior colaborando

efetivamente para a construccedilatildeo de uma agenda internacional do Paiacutes

Nesse sentido podemos inferir que uma das principais accedilotildees da sauacutede

na poliacutetica externa eacute a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento dos sistemas de

sauacutede dos paiacuteses do sul onde o CEIS se estabelece como diferencial para a

superaccedilatildeo de limites e vulnerabilidades tecnoloacutegicas criadas pela realidade

assimeacutetrica de poder e de conhecimento e simultaneamente sob os auspiacutecios

da cooperaccedilatildeo humanitaacuteria fortalecer a presenccedila do Paiacutes no cenaacuterio

internacional

2 Agenda Sul-Sul

Embora mais evidente na atualidade a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul pode ser

atribuiacuteda ao periacuteodo da criaccedilatildeo do Movimento dos Paiacuteses Natildeo-Alinhados ndash

MNA [67] em oposiccedilatildeo ao confronto ideoloacutegico Leste-Oeste e do Grupo dos 77

- G-77 [68] isto eacute a partir dos anos 50 e dos anos 60 respectivamente

Movimentos de paiacuteses que buscavam alternativas para uma maior

67

Historicamente decorrente da Conferecircncia Aacutesia-Aacutefrica em Bandung Indoneacutesia no ano de

1955 o MNA teve a sua Primeira Conferecircncia dos Chefes de Estado e de Governo Natildeo-Alinhados em

Belgrado Iugoslaacutevia em 1961 Sua formaccedilatildeo ocorreu em funccedilatildeo do aparecimento dos dois grandes

blocos opostos durante a Guerra Fria liderados pelos EUA e URSS tendo como objetivo inicial manter

uma posiccedilatildeo neutra e natildeo associada a nenhum dos grandes blocos Atualmente comporta 115 paiacuteses com

importacircncia reduzida em funccedilatildeo da natildeo continuidade da Guerra Fria Disponiacutevel em wwwnamgovbr

68

Fundado em 15 de junho de 1964 o G77 foi firmado por 77 paiacuteses signataacuterios por meio da

―Declaraccedilatildeo Conjunta dos Setenta e Sete Paiacuteses apresentada na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre

Comeacutercio e Desenvolvimento (UNCTAD) agrave eacutepoca Atualmente eacute composto por 131 paiacuteses em

desenvolvimento dentre os quais o Brasil cujo objetivo eacute a promoccedilatildeo dos interesses econocircmicos comuns

aos seus membros e o estabelecimento de uma maior capacidade de negociaccedilatildeo conjunta e coesa

na Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Disponiacutevel em wwwg77orgdoc Acesso em 18 de abril de 2012

123

independecircncia e determinaccedilatildeo e para um afastamento mais efetivo agrave forte

influecircncia poliacutetica e econocircmica dos paiacuteses dominantes no sistema

internacional68

O termo paiacutes do Sul relacionado aos paiacuteses em desenvolvimento por se

localizarem no hemisfeacuterio Sul cunhou a expressatildeo Cooperaccedilatildeo Sul-Sul E foi

no dia 19 de dezembro de 1978 quando se endossou na Assembleacuteia Geral da

ONU o Plano de Accedilatildeo de Buenos Aires sobre a Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre

Paiacuteses em desenvolvimento (CTPD) que a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul tambeacutem

conhecida como cooperaccedilatildeo horizontal ou CTPD ganhou espaccedilo nas Naccedilotildees

Unidas

A cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses do Sul apresenta um marco

representativo que ocorreu na ocasiatildeo do 30ordm aniversaacuterio da Conferecircncia das

Naccedilotildees Unidas sobre Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre Paiacuteses em Desenvolvimento

onde os representantes dos governos reunidos em Nairoacutebi em dezembro de

2009 renovaram o compromisso de aplicar revitalizar e fortalecer a

cooperaccedilatildeo Sul-Sul

O Documento Final dessa Conferecircncia passou a ser base da

Cooperaccedilatildeo Sul-Sul que em seu acordo estimula dentre outros os seguintes

objetivos (a) a lideranccedila e a propriedade dos paiacuteses em desenvolvimento (b) a

complementaridade e a natildeo competitividade com a cooperaccedilatildeo Norte-Sul (c) o

intercacircmbio de tecnologias benefiacutecio e aprendizagem muacutetuos (d) o

compartilhamento de experiecircncias (e) a promoccedilatildeo da autosuficiecircncia nacional

e coletiva (f) o fortalecimento muacutetuo de capacidades (g) a formaccedilatildeo de

coalizotildees

Busca aumentar a responsabilidade muacutetua dos paiacuteses envolvidos na

cooperaccedilatildeo maior transparecircncia de accedilotildees e resultados coordenaccedilatildeo conjunta

do programa de cooperaccedilatildeo com planejamento em prol das prioridades

nacionais e maior qualidade e gerenciamento quanto aos resultados esperados

e alcanccedilados refletindo os princiacutepios fundamentais pautados pela Declaraccedilatildeo

de Paris sobre Eficaacutecia da Ajuda ao Desenvolvimento apropriaccedilatildeo

harmonizaccedilatildeo resultados responsabilidade muacutetua e alinhamento

124

Apesar de estar fundamentada a um tratamento igualitaacuterio a

cooperaccedilatildeo Sul-Sul comporta seus princiacutepios em bases que balizam as

relaccedilotildees internacionais (a) soberania e independecircncia nacional (b) igualdade

e horizontalidade (c) solidariedade (d) natildeo condicionalidade (e) propriedade

nacional e respectiva lideranccedila (f) natildeo interferecircncia nos assuntos internos

O termo Cooperaccedilatildeo Sul-Sul (CSS) se estabelece no cenaacuterio

internacional no acircmbito da pressatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento por

acordos internacionais que reduzissem as disparidades econocircmicas entre os

paiacuteses do Norte e do Sul 69 por consequecircncia das restriccedilotildees centralizadoras

por parte dos paiacuteses desenvolvidos na praacutetica da cooperaccedilatildeo Norte-Sul 10

Natildeo visava portanto agrave substituiccedilatildeo dos programas mais tradicionais de

cooperaccedilatildeo Entretanto buscava o melhor aproveitamento das capacidades e

da cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses em desenvolvimento em prol de otimizar

benefiacutecios para esses paiacuteses

A cooperaccedilatildeo Sul-Sul cria condiccedilotildees para que haja o compartilhamento

do conhecimento para a geraccedilatildeo do desenvolvimento e a promoccedilatildeo do

crescimento diferencial complementar agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica e ao

financiamento 70 Apresenta-se portanto como uma cooperaccedilatildeo estruturante

dinacircmica em constante evoluccedilatildeo geradora de oportunidades para o

desenvolvimento e capaz de ampliar as fontes de conhecimento

Quando se diz que a CSS eacute fundamentada na horizontalidade temos a

traduccedilatildeo da cooperaccedilatildeo horizontal Quer dizer que existem consensos

estabelecidos para a efetividade dessa cooperaccedilatildeo dos quais destacam-se os

seguintes 71 (p 10)

(a) o voluntariado e a natildeo condicionalidade isto eacute ldquoindependente das

diferenccedilas nos niacuteveis de desenvolvimento relativo entre os paiacuteses a

colaboraccedilatildeo eacute realizada voluntariamente e sem condicionalidadesrdquo

(b) o consenso o que significa ser baseado em uma negociaccedilatildeo em que

as partes concordem e

125

(c) a equidade isto eacute ldquoseus benefiacutecios devem ser distribuiacutedos de forma

igualitaacuteria entre os envolvidos na accedilatildeo de cooperaccedilatildeordquo assim como

distribuiccedilatildeo equitativa dos custos conforme possibilidade de cada participante

Obviamente a loacutegica solidaacuteria e humaniacutestica pauta a CSS Ademais a

Cooperaccedilatildeo Sul-Sul notadamente na aacuterea da sauacutede foco do presente estudo

tem respaldo nos documentos internacionais firmados entre os paiacuteses-

membros

Nesse sentido pode ser observada no quadro 2 a seguir a cronologia

dos documentos internacionais relacionados agrave Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e agrave

Diplomacia em Sauacutede cuja maior representatividade daacute-se no final da deacutecada

de 90 e na primeira deacutecada do Seacuteculo XXI o que se traduz no caraacuteter

estrateacutegico que o tema sauacutede suscita Perpassando inclusive questotildees

meramente econocircmicas e sobressaindo a conjugaccedilatildeo do interesse nacional

combinado com a solidariedade no que se refere aos destinos dos outros

paiacuteses e seus povos

126

Quadro 2 Relaccedilatildeo de Documentos Internacionais Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e Sauacutede

Documento

Descriccedilatildeo

Ano

Declaraccedilatildeo de

Busan

A declaraccedilatildeo eacute o resultado do 4ordm Foacuterum de Alto Niacutevel sobre a Eficaacutecia da Ajuda realizado em Busan Repuacuteblica da Coreacuteia Esta declaraccedilatildeo estabelece pela primeira vez um acordo-marco para a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento que abarca os doadores tradicionais os cooperadores Sul-Sul os BRICs e as fundaccedilotildees privadas

2011

Declaraccedilatildeo de Pequim

A Declaraccedilatildeo de Pequim assinada pelos Ministros da Sauacutede do bloco de paiacuteses emergentes BRICS (Brasil Ruacutessia Iacutendia China e Aacutefrica do Sul) ressalta a importacircncia do acesso universal a medicamentos e busca promover a transferecircncia de tecnologia entre os paiacuteses BRICS bem como com outros paiacuteses em desenvolvimento para aumentar a capacidade de produccedilatildeo de medicamentos a preccedilos acessiacuteveis

2011

Resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre Sauacutede Global e Poliacutetica Externa

Esta resoluccedilatildeo encoraja os Estados-Membros a considerar a relaccedilatildeo estreita entre poliacutetica externa e a sauacutede global e a reconhecer que os desafios da sauacutede mundial exigiratildeo esforccedilos concertados e sustentados a fim de promover um ambiente de poliacutetica global de apoio da sauacutede global

2011

Plano Estrateacutegico

de Cooperaccedilatildeo em

Sauacutede (PECS) da

CPLP

Compromisso coletivo de cooperaccedilatildeo estrateacutegica entre os Estados-membros da CPLP no setor da sauacutede Este plano estaacute estruturado em sete eixos estrateacutegicos e inclui um total de 21 projetos de desenvolvimento no setor da Sauacutede sendo cinco dos quais considerados prioritaacuterios com grande ecircnfase ao reforccedilo de capacidades e ao desenvolvimento institucional dos Sistemas de Sauacutede

2009-2012

Documento final de Nairoacutebi sobre a Conferecircncia de Alto Niacutevel das Naccedilotildees Unidas sobre a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Na ocasiatildeo do 30ordm aniversaacuterio da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre Paiacuteses em Desenvolvimento os representantes dos governos reunidos em Nairoacutebi em dezembro de 2009 renovaram o compromisso de aplicar revitalizar e fortalecer a cooperaccedilatildeo Sul-Sul

2009

Ata Constitutiva do Conselho de Sauacutede Sul-Americano

Ministros da Sauacutede e representantes dos paiacuteses sul-americanos reuniram-se para consolidar a Ameacuterica do Sul como um espaccedilo de integraccedilatildeo para a sauacutede criando o Conselho de Sauacutede Sul-Americano ndash Unasul

2009

127

Cont

Documento

Descriccedilatildeo

Ano

A Sauacutede e as RI Seu Viacutenculo com a Gestatildeo do Desenvolvimento Nacional da Sauacutede

Esta resoluccedilatildeo insta aos Estados a que estreitem as relaccedilotildees de coordenaccedilatildeo e intercacircmbio das autoridades sanitaacuterias com as autoridades encarregadas da poliacutetica exterior e de cooperaccedilatildeo internacional dos governos promovendo mecanismos institucionais entre o setor da sauacutede e das relaccedilotildees internacionais

2008

Consenso de Yamoussoukro sobre Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Reunidos em Yamoussoukro Costa do Marfim os Membros do G-77 (coalizatildeo que inclui atualmente mais de 130 naccedilotildees) e a China adotam o Consenso de Yamoussoukro que delineia os elementos essenciais da estrutura conceitual da cooperaccedilatildeo Sul-Sul

2008

Agenda para Accedilatildeo de Acra

A Agenda de Accedilatildeo de Acra endossada pelos participantes do Terceiro Foacuterum de Alto Niacutevel sobre Eficaacutecia da Ajuda em setembro de 2008 destaca a necessidade de acelerar a eficaacutecia da ajuda em trecircs aacutereas fortalecimento da apropriaccedilatildeo por parte dos paiacuteses construccedilatildeo de parcerias mais eficazes e inclusivas e apresentaccedilatildeo e prestaccedilatildeo de contas de resultados para o desenvolvimento responsabilizando-se publicamente por eles

2008

Declaraccedilatildeo Ministerial de Oslo ndash Sauacutede Global um tema urgente da poliacutetica externa contemporacircnea

Baseados na iniciativa sobre Sauacutede Global e Poliacutetica Externa os Ministros das Relaccedilotildees Exteriores do Brasil Franccedila Indoneacutesia Noruega Senegal Aacutefrica do Sul e Tailacircndia emitem em marccedilo de 2007 a Declaraccedilatildeo Ministerial de Oslo que busca aumentar a consciecircncia sobre os problemas de sauacutede nas arenas de discussotildees e decisotildees de poliacutetica externa

2007

Declaraccedilatildeo de Paris sobre a Eficaacutecia da Ajuda ao Desenvolvimento

A Declaraccedilatildeo de Paris destaca cinco princiacutepios fundamentais para tornar a ajuda mais eficaz apropriaccedilatildeo harmonizaccedilatildeo alinhamento resultados e responsabilidade muacutetua

2005

Resoluccedilatildeo da Assembleacuteia Geral das NU sobre a Cooperaccedilatildeo Teacutecnica e Econocircmica entre os Paiacuteses em Desenvolvimento

Esta resoluccedilatildeo reconhece que a cooperaccedilatildeo Sul-Sul pode ter um impacto positivo sobre as poliacuteticas globais regionais e nacionais e as accedilotildees nos domiacutenios econocircmico social e de desenvolvimento nos paiacuteses em desenvolvimento e insta esses paiacuteses e seus parceiros a intensificar a cooperaccedilatildeo Sul-Sul e a cooperaccedilatildeo triangular nestas aacutereas

2004

Declaraccedilatildeo de Marrakesh sobre a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

A Declaraccedilatildeo de Marrakesh reconhece a cooperaccedilatildeo Sul-Sul como um complemento imperativo agrave cooperaccedilatildeo Norte-Sul para contribuir no alcance dos objetivos de desenvolvimento acordados internacionalmente incluindo os Objetivos de Desenvolvimento do Milecircnio

2003

128

Cont Documento

Descriccedilatildeo

Ano

Declaraccedilatildeo de Roma sobre Harmonizaccedilatildeo

A Declaraccedilatildeo de Roma resume o compromisso alcanccedilado em Roma em 2003 pelas instituiccedilotildees multilaterais e agecircncias bilaterais de desenvolvimento e os paiacuteses parceiros para aumentar a eficaacutecia da ajuda ao desenvolvimento e contribuir para atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milecircnio A Declaraccedilatildeo de Roma eacute o apoio a um amplo consenso da comunidade internacional enunciado no Consenso de Monterrey

2003

Consenso de

Monterrey

A Cuacutepula de Monterrey (Meacutexico) deu-se em marccedilo de 2002 com cerca de 50 chefes de Estado e de governo Intitulou-se Conferecircncia Internacional sobre Financiamento ao Desenvolvimento O Consenso de Monterrey eacute o documento resultante dessa conferecircncia e pretende relacionar as medidas necessaacuterias para se cumprir as metas determinadas na Declaraccedilatildeo do Milecircnio como reduzir agrave metade a pobreza extrema ateacute o ano de 2015

2002

Declaraccedilatildeo sobre o

Acordo de TRIPS e

Sauacutede Puacuteblica

A Declaraccedilatildeo de Doha reconhece a gravidade dos problemas de sauacutede puacuteblica que afligem aos paiacuteses menos desenvolvidos e em desenvolvimento Tambeacutem reflete as preocupaccedilotildees desses paiacuteses sobre as implicaccedilotildees do Acordo da OMC sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados com o Comeacutercio (Acordo TRIPS) sobre sauacutede puacuteblica em geral

2001

Declaraccedilatildeo do

Milecircnio das Naccedilotildees

Unidas

Documento aprovado por 147 Chefes de Estado e de Governo aleacutem de representantes dos demais 191 paiacuteses membros da ONU que participaram na maior reuniatildeo de dirigentes mundiais (em Nova Iorque setembro de 2000) assumindo compromissos em reduzir a pobreza extrema fornecer aacutegua potaacutevel e educaccedilatildeo a todos inverter a tendecircncia de propagaccedilatildeo do VIHSIDA e alcanccedilar outros objetivos no domiacutenio do desenvolvimento

2000

Declaraccedilatildeo dos

Ministros da Sauacutede

da Ameacuterica Central

e Panamaacute sobre

Necessidades

Prioritaacuterias de

Sauacutede

Os Ministros da Sauacutede de Guatemala Honduras El Salvador Nicaraacutegua Costa Rica e Panamaacute cientes da situaccedilatildeo no istmo centro-americano adotam a sauacutede como uma ponte para a paz identificando problemas comuns e propondo soluccedilotildees conjuntas

1984

129

Cont

Documento

Descriccedilatildeo

Ano

Plano de Accedilatildeo de

Buenos Aires

Em setembro de 1978 as delegaccedilotildees de 178 paiacuteses adotam o Plano de Accedilatildeo para Promover e Realizar a Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre os Paiacuteses em Desenvolvimento (CTPD) Esse plano constitui-se no documento fundacional da Cooperaccedilatildeo Sul-Sul porque a partir dele a CTPD vira uma nova modalidade de cooperaccedilatildeo internacional que oferece um espaccedilo diferenciado para os paiacuteses em desenvolvimento que aleacutem de receptores passam a ser tambeacutem ofertantes de cooperaccedilatildeo

1978

Convecircnio Hipoacutelito

Unanue sobre

Cooperaccedilatildeo em

Sauacutede dos Paiacuteses

da Aacuterea Andina

Os governos de Boliacutevia Colocircmbia Chile Equador Peru e Venezuela representados por seus Ministros da Sauacutede estabelecem o Convecircnio Hipoacutelito Unanue com o objetivo de melhorar a sauacutede nos paiacuteses da regiatildeo andina mediante poliacuteticas e accedilotildees coordenadas

1971

Conferecircncia de

Bandung

Os liacutederes de vinte e nove Estados asiaacuteticos e africanos reuniram-se em abril de 1955 na Conferecircncia de Bandung com o objetivo de promover a cooperaccedilatildeo econocircmica e cultural entre as duas regiotildees como forma de oposiccedilatildeo a toda naccedilatildeo imperialista Nessa conferecircncia adaptaram-se por unanimidade 10 princiacutepios para a promoccedilatildeo da paz e da cooperaccedilatildeo

1955

Fonte Adaptado do Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacutetica e Diplomacia em Sauacutede ndash Nethis wwwbioeticaediplomaciaorg Acesso em 01032012

Na poliacutetica externa brasileira contemporacircnea [69] a sauacutede tem ampliado

sua importacircncia a partir de um modelo horizontal e estruturante de cooperaccedilatildeo

Sul-Sul Destacam-se como exemplos mais efetivos os paiacuteses latino-

americanos os paiacuteses africanos de liacutengua oficial portuguesa (PALOP) o Haiti

o grupo da Aacutefrica do Sul China e Iacutendia bem como os paiacuteses integrantes da

UNASUL

69

Em representaccedilatildeo agrave importacircncia que a inter-relaccedilatildeo da sauacutede com a poliacutetica externa o

Programa Mais Sauacutede direito de todos ndash 2008-2011 lanccedilado no governo Lula estabeleceu como diretriz

―fortalecer a presenccedila do Brasil no cenaacuterio internacional na aacuterea da sauacutede em estreita articulaccedilatildeo com o

Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores ampliando sua presenccedila nos oacutergatildeos e programas de sauacutede das Naccedilotildees

Unidas e cooperando com o desenvolvimento dos sistemas de sauacutede dos paiacuteses da Ameacuterica do Sul em

especial com o Mercosul com os paiacuteses da Ameacuterica Central da CPLP e da Aacutefrica

130

Portanto a partir desse modelo segundo defende Temporatildeo [70] o

objetivo eacute substituir a visatildeo colonizadora tradicional da cooperaccedilatildeo

internacional Isto eacute no lugar de simplesmente doar medicamentos busca-se

ajudar o paiacutes receptor a superar a dependecircncia frente agrave induacutestria O ex-Ministro

da Sauacutede exemplifica apontando a cooperaccedilatildeo brasileira com Moccedilambique [71]

Por outro lado a despeito dos princiacutepios baacutesicos estabelecidos pela

CSS questiona-se se essa Cooperaccedilatildeo pode ser influenciada por interesses

econocircmicos e poliacuteticos dos paiacuteses doadores se haacute interferecircncia de

condicionalidades ou se pode ser movida por fins comerciais eou lucrativos

Natildeo se deve portanto desprezar o potencial que a CSS evidencia no

tocante a aspectos comerciais e mercadoloacutegicos aleacutem do aspecto do ganho

diplomaacutetico no tabuleiro geopoliacutetico internacional Logo seria leviano afirmar

que as questotildees diplomaacuteticas da CSS estatildeo calcadas exclusivamente na

solidariedade e na ajuda humanitaacuteria

A CSS consolidou-se como uma modalidade dentro da Cooperaccedilatildeo

Internacional isto eacute gradativamente foi deixando de ser apenas

ldquouma experiecircncia pontual e se tornando parte da estrateacutegia de cooperaccedilatildeo de

muitos paiacuteses que a perceberam como um meio importante para o processo de

desenvolvimentordquo 71 (p100) Vista como mais eficiente na promoccedilatildeo do

desenvolvimento Aylloacuten Pino e Leite 72 (p18) justificam essa posiccedilatildeo

estrateacutegica apontando a ldquomaior aplicabilidade de soluccedilotildees concebidas nos

paiacuteses do Sulrdquo e o ldquodeslocamento das atividades de pesquisa nos paiacuteses

industrializados para o setor privado impossibilitando sua transferecircncia

gratuitardquo (p 18) como importantes razotildees para que a CSS se destaque como

alternativa de grande impacto para os paiacuteses em desenvolvimento

Ademais a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul eacute um dos poucos espaccedilos de inovaccedilatildeo

na cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento capaz de ampliar as fontes de

70

Temporatildeo J Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e complexo econocircmico-industrial da sauacutede In Ciclo de

Debates sobre Bioeacutetica Diplomacia e Sauacutede Puacuteblica Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacuteticas e Diplomacia em

Sauacutede ndash NETHIS Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel em

wwwbioeticaediplomaciaorg Acesso em 27012012

71

Instalaccedilatildeo de faacutebrica de antirretrovirais em Moccedilambique com cooperaccedilatildeo brasileira por meio

do apoio e de orientaccedilatildeo da Fiocruz inaugurada em 2012

131

conhecimentos e experiecircncias uma vez que parte do princiacutepio que todos os

paiacuteses tecircm experiecircncias para compartilhar 70 Aleacutem disso a perspectiva de

maiores benefiacutecios provenientes de uma relaccedilatildeo de maior equiliacutebrio eacute

vislumbrada na cooperaccedilatildeo entre pares criando condiccedilotildees de igualdade na

definiccedilatildeo de instrumentos de mecanismos da formataccedilatildeo e do escopo de

processos de cooperaccedilatildeo

O que tambeacutem eacute afirmado por Aylloacuten 73 (p 35) quando declara que a

igualdade nas relaccedilotildees cooperativas se daacute com mais frequecircncia quando

existem recursos similares de poder entre os participantes

Portanto esse formato de cooperaccedilatildeo tem-se apresentado como

estrateacutegico na busca do equiliacutebrio entre as forccedilas globais assimeacutetricas Sua

importacircncia deve-se tambeacutem aos benefiacutecios decorrentes de uma relaccedilatildeo mais

equilibrada em contraposiccedilatildeo agravequela observada na cooperaccedilatildeo Norte-Sul

especialmente pela assimetria de poderes 10 Representa respeito muacutetuo e

permite maior independecircncia para o paiacutes receptor ldquoa resposta principal desse

debate eacute que a uacutenica saiacuteda natildeo importa o caminho eacute que os paiacuteses

recebedores tenham mais lideranccedila sobre seu processo de

desenvolvimento70

Estrategicamente a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul passou a compor esse novo

posicionamento reivindicando um novo ordenamento internacional onde

ganham maior protagonismo Estados ldquoque dispotildeem de recursos suficientesrdquo

(denominados Estados system-affeting) aleacutem de Estados que compotildeem

grandes mercados emergentes em atuaccedilatildeo internacional ativa afetando o

andamento da agenda poliacutetica internacional 74 (p42)

E eacute sob essa perspectiva de reconhecimento do (re) posicionamento no

contexto geopoliacutetico e econocircmico internacional que se experimenta (e se

busca) um novo reordenamento dos interesses e de demandas por novas

formas de lideranccedila tanto no acircmbito regional quanto internacional

Em que pese premente necessidade do reequiliacutebrio econocircmico mundial

uma nova estrateacutegia deve ser implementada em outro grupo e natildeo nas

economias ricas da OCDE Conforme argumentam Jean-Michel Severino e

132

Olivier Ray em artigo publicado no Jornal Valor Econocircmico [72] em 16032012

ldquoOs pobres podem salvar o mundordquo para que os paiacuteses mais pobres possam

efetivamente fazer diferenccedila no atual momento econocircmico deve haver uma

combinaccedilatildeo de trecircs fatores essenciais

ldquoPrimeiro o comeacutercio entre paiacuteses em desenvolvimento e paiacuteses emergentes precisa acelerar-se desenvolvendo portanto o mesmo tipo de relaccedilatildeo entre consumidor e fornecedor existente entre paiacuteses avanccedilados e emergentes Segundo os mercados internos dos paiacuteses mais pobres do mundo precisam ser desenvolvidos de forma a alimentar mais crescimento domeacutestico E terceiro os fluxos financeiros para os paiacuteses em desenvolvimento - sejam investimentos externos diretos ou fundos assistenciais ao desenvolvimento - precisam aumentar e precisam vir natildeo apenas das economias industrializadas mas tambeacutem dos paiacuteses emergentes e dos exportadores de petroacuteleordquo

Outros aspectos relevantes marcam o novo posicionamento dos paiacuteses

emergentes nomeados como ldquoGrandes Paiacuteses Perifeacutericos (GPP)rdquo 50 ldquopaiacuteses

com massa criacutetica suficiente para a participaccedilatildeo real ou potencial na economia

globalrdquo (p3) Satildeo paiacuteses com ldquoexpressivo mercado de massas domeacutesticas e

poder de compra no mercado mundialrdquo e principalmente possuem poliacuteticas

externas proativas com ldquoinclinaccedilatildeo para um revisionismo soft que se manifesta

em posturas reformistas nas instacircncias de governanccedila globalrdquo (p3)

A autora cita ainda que esse revisionismo eacute pragmaacutetico e as coalizotildees

satildeo de ldquogeometria variaacutevelrdquo dependendo da questatildeo temaacutetica e relacionado a

interesses concretos

Nesse sentido ao compartilharem caracteriacutesticas e desafios comuns a

CSS tem cada vez mais ganhado expressatildeo no cenaacuterio internacional

Portanto o formato CSS surge na busca por um maior equiliacutebrio entre as

forccedilas globais como resposta aos efeitos da intensificaccedilatildeo do comeacutercio

mundial e da globalizaccedilatildeo que tornaram mais vulneraacuteveis as economias menos

72

Severino JM Ray O Os pobres podem salvar o mundo Jornal Valor Econocircmico 16032012

Disponiacutevel em httpwwwvalorcombropiniao2573146os-pobres-podem-salvar-o-

mundoutm_source=newsletter_manhaamputm_medium=16032012amputm_term=os+pobres+podem+salvar

+o+mundoamputm_campaign=informativoampNewsNid=2572524 Acesso em 16032012

133

desenvolvidas na perspectiva de potencializar a sustentabilidade

socioeconocircmica e poliacutetica das naccedilotildees do Sul

Por outro lado Saraiva 74 (p 43) afirma que ldquoem termos produtivos a

transnacionalizaccedilatildeo progressiva tomou impulso com os avanccedilos tecnoloacutegicosrdquo

Ao que a proacutepria autora 74 (p43-4) argumenta como consequecircncia dicotocircmica

da nova ordem ao mesmo tempo em que apresenta necessidades e

constrangimentos para os paiacuteses do Sul tambeacutem apresenta novas opccedilotildees

internacionais de inserccedilatildeo sem os quais em longo prazo tornar-se-atildeo inoacutecuos

todos os esforccedilos de promoccedilatildeo do desenvolvimento de forma competitiva e

estruturante

Haacute entretanto desafios a serem ultrapassados

Em termos geopoliacuteticos apesar de uma maior participaccedilatildeo dos paiacuteses

em desenvolvimento junto aos organismos internacionais sem que haja uma

efetiva atuaccedilatildeo em bloco nos foros de debate e nos organismos multilaterais

tende a persistir assimetrias de poder e distribuiccedilatildeo desigual de benefiacutecios

aleacutem de perda de barganha frente agraves economias mais fortes 75

Portanto a despeito dos benefiacutecios potenciais da CSS seu sucesso

relaciona-se intriacutenseca e diretamente com a existecircncia de instituiccedilotildees

confiaacuteveis a governanccedila legiacutetima e estabelecida a garantia de financiamento

a adoccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas consensuadas a existecircncia de matildeo de obra

qualificada aleacutem de um sistema poliacutetico que promova oportunidades para a

maioria e natildeo para uma minoria privilegiada

Isto eacute ainda que os paiacuteses do Sul jaacute considerem a CSS como uma

ferramenta fundamental para responder agraves demandas da agenda global e aos

compromissos para o desenvolvimento sustentaacutevel 73767769 haacute que se

ponderar que sem instituiccedilotildees fortemente interligadas com capacidade de

planejamento de prioridades conjuntas interface entre os distintos atores

envolvidos e desenvolvimento de mecanismos de governanccedila esta natildeo

representaraacute avanccedilos significativos

Historicamente o Brasil se inseriu no marco dessa cooperaccedilatildeo como

prestador de cooperaccedilatildeo teacutecnica para diversos paiacuteses em desenvolvimento

134

Tendo se beneficiado da transferecircncia de conhecimento dos paiacuteses mais

desenvolvidos na aacuterea da Cooperaccedilatildeo Internacional para o Desenvolvimento ndash

CID o Brasil passou a exercer prestaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo internacional a partir

de 1970 quando da assinatura da CTPD Com o passar dos anos o Paiacutes vem

atuando de forma cada vez mais ativa com participaccedilatildeo crescente no nuacutemero

de projetos implementados e na ldquoquantidade de parceiros nacionais tanto

burocraacuteticos como da sociedade civil envolvidos na prestaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

junto ao Governo brasileirordquo 78 (p 06)

O Brasil no tocante agrave cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses tem dado importacircncia

cada vez maior agraves suas relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento

internacional o que vem a atender inclusive a meta dos Objetivos de

Desenvolvimento do Milecircnio (ODM) ndash ODM 8 ldquoestabelecimento de parceria

mundial para o desenvolvimentordquo

O reflexo da priorizaccedilatildeo dada pelo governo agrave cooperaccedilatildeo brasileira para

o desenvolvimento internacional pode ser observado ao considerar que em

2005 o valor aplicado fora de R$ 3842 milhotildees alcanccedilando em 2009 o

montante de R$ 724 milhotildees praticamente dobrando o valor inicialmente

aplicado 79 [73]

Segundo o estudo do IPEA 79 do montante total investido durante o

periacuteodo 2005 e 2009 cerca de R$ 29 bilhotildees aproximadamente 872 do

total referem-se agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica (o que pode ser observado no graacutefico 1

a seguir)

73

Em conjunto com a Secretaria de Assuntos Especiais da Presidecircncia da Repuacuteblica e a Agecircncia

Brasileira de Cooperaccedilatildeo e o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores o IPEA publicou dados sobre

cooperaccedilatildeo brasileira para o desenvolvimento internacional relativos ao periacuteodo compreendido entre 2005

e 2009

135

Graacutefico 1 Investimentos em Cooperaccedilatildeo Teacutecnica (em )

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do IPEA 2010

No tocante agraves poliacuteticas humanitaacuterias foram aproximadamente R$ 1554

milhotildees aplicados em accedilotildees humanitaacuterias abarcando nesse periacuteodo 54 do

total aplicado conforme pode ser observado no graacutefico 2

Graacutefico 2 Relaccedilatildeo de Investimentos em Cooperaccedilatildeo Brasileira para o

Desenvolvimento Assistecircncia Humanitaacuteria (em )

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do IPEA 2010

722

543

625

953

1349

872

2005

2006

2007

2008

2009

Meacutedia - 2005 a 2009

0 5 10 15

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica

2005

2006

2007

2008

2009

Meacutedia - 2005 a 2009

031

091

559

483

1202

536

2005

2006

2007

2008

2009

Meacutedia - 2005 a 2009

0 20 40 60 80 100

Contribuiccedilotildees para organizaccedilotildees int`s

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica

Bolsas a estrangeiros

Assistecircncia Humanitaacuteria

136

Ainda segundo o estudo do IPEA 79 em que pese maior investimento

nas questotildees relacionadas a contribuiccedilotildees para organismos internacionais

(7613 do total no periacuteodo) a cooperaccedilatildeo teacutecnica tem uma perspectiva

positiva quando comparada aos demais Mesmo a despeito de ter sofrido uma

pequena queda em 2006 (543) nos investimentos efetuados quando

comparada ao ano anterior (722) conforme pode ser observado no graacutefico 1

os investimentos para a cooperaccedilatildeo teacutecnica a partir de entatildeo passaram a

refletir a importacircncia que o tema vem adquirindo nos uacuteltimos anos o que pode

ser observado no aumento dos percentuais aplicadas na aacuterea (ver graacutefico 3 a

seguir)

Graacutefico 3 Investimentos em Cooperaccedilatildeo Internacional Brasileira para o

Desenvolvimento Internacional ndash entre 2005 e 2009 (em )

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de IPEA 2011

Pode ser observado no graacutefico 3 que apesar da dominacircncia dos

investimentos junto agraves organizaccedilotildees internacionais os mesmos vecircm

decrescendo de forma lenta e por outro lado haacute ligeiro aumento nos

investimentos para a assistecircncia humanitaacuteria e para a cooperaccedilatildeo teacutecnica o

que acena para uma tendecircncia agrave formaccedilatildeo de um novo olhar da governanccedila

brasileira junto agraves cooperaccedilotildees para o desenvolvimento internacional e um

031 091559 483

1202 536146934 99 1146 614 98

722543 625 953

1349

872

7786

8432

78257418

6835

7613

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

2005 2006 2007 2008 2009 Media -2005 a 2009

Assistecircncia Humanitaacuteria

Bolsas a estrangeiros

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica

Contribuiccedilotildees para organizaccedilotildees int`s

137

olhar estrateacutegico em busca da diminuiccedilatildeo de vulnerabilidade estrutural que a

aacuterea comporta nos paiacuteses em desenvolvimento

A intensificaccedilatildeo das praacuteticas de CSS brasileira eacute beneficiada pelas

oportunidades vigentes no sistema internacional Essa situaccedilatildeo eacute possibilitada

tanto pela passagem para uma nova ordem em funccedilatildeo do esgotamento

provocado pelas atuais crises internacionais com reflexo nos paiacuteses do Norte

como pela queda do bipolarismo assim como em consequecircncia agrave nova ordem

internacional observada principalmente a partir do inicio da deacutecada de 90

ldquomarcada por accedilotildees mais isoladas da dimensatildeo Norte-Sulrdquo 74 (p 42)

Na questatildeo da influecircncia relacionada aos demais paiacuteses inseridos nesse

contexto internacional vale citar que considerando o conceito defendido por

Wallerstein 80 o Brasil hoje se insere no ldquoSistema-Mundordquo como um Estado

importante exercendo grande influecircncia destacando-se entre os seus pares e

repercutindo na conduccedilatildeo geopoliacutetica internacional O que pode ser justificado

tanto por sua dimensatildeo territorial e populacional quanto pela lideranccedila

exercida frente aos interesses da Ameacuterica Latina e mais amplamente com

grande expressatildeo perante os interesses dos paiacuteses do eixo Sul-Sul ou

partiacutecipes da ldquoPeriferiardquo conforme conceitua o autor

Ayllon Pino e Leite 72 defendem em seu estudo sobre o Brasil na

relaccedilatildeo da CSS uma ligaccedilatildeo que aleacutem do aspecto da solidariedade

ldquotem relaccedilatildeo com objetivos mais amplos ligados agrave abertura de mercados para produtos serviccedilos e investimentos brasileiros

74 agrave preservaccedilatildeo dos

interesses nacionais em paiacuteses onde estejam ameaccedilados

75 e agrave busca de prestiacutegio e de apoio para

que o Brasil venha eventualmente ocupar um assento permanente no Conselho de Seguranccedila da ONUrdquo (p18)

Ao mesmo tempo em que compara o Brasil com a China e a Iacutendia os

autores afirmam que o Brasil diferentemente desses dois paiacuteses natildeo tem

interesse poliacutetico e econocircmico de curto prazo ldquomas pela realizaccedilatildeo de

74

O Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede a ser aprofundando no Capiacutetulo IV desta tese

vincula-se diretamente na relaccedilatildeo da abertura de mercados para produtos serviccedilos e investimentos

brasileiros 75

Como eacute o caso da relaccedilatildeo Brasil-Haiti

138

interesses comuns em prol do desenvolvimento sem que isso implique

reproduccedilatildeo da clivagem Norte-Sul caracteriacutestica da Guerra Friardquo 72 (p18)

indicando portanto o comprometimento com o multilateralismo

Natildeo eacute objeto do presente estudo a discussatildeo dos principais movimentos

econocircmicos internos entretanto eacute importante ressaltar que uma poliacutetica

econocircmica mais consolidada vislumbra maiores garantias para a efetividade da

poliacutetica externa Nesse sentido o Brasil notadamente no iniacutecio do seacuteculo XXI

promoveu accedilotildees que favoreceram o Paiacutes na sua projeccedilatildeo internacional oferta

de maiores garantias ao capital internacional poliacuteticas de manutenccedilatildeo ao

controle inflacionaacuterio poliacuteticas de controle de juros reformas fiscais controles

cambiais programas e poliacuteticas focadas na reduccedilatildeo da desigualdade

socioeconocircmica e da pobreza extrema somente para citar algumas accedilotildees

Poliacuteticas essas que dentre outras ajudaram a manter o Paiacutes mais

incoacutelume agraves uacuteltimas crises globais que afetaram profundamente a ldquosauacutederdquo de

diversas economias e naccedilotildees Como exemplo podemos citar a depressatildeo

econocircmica de 2008 que acabou resultando no natildeo restabelecimento do

crescimento sustentaacutevel nas economias maduras e impondo um aumento

acelerado do seu endividamento puacuteblico em um cenaacuterio de acentuada queda

na atividade econocircmica Segundo o graacutefico 4 ateacute o ano de 2010 as economias

maduras natildeo conseguiram recuperar as fortes perdas em decorrecircncia da crise

139

Graacutefico 4 - Baixo Crescimento das Economias Maduras

Fonte Bloomberg 2011 ndash wwwbloombergcom

Por consequecircncia crises como essa criaram oportunidades para uma

participaccedilatildeo mais efetiva e com maior evidecircncia dos paiacuteses do eixo Sul-Sul no

contexto internacional Segundo aponta o graacutefico 4 os paiacuteses emergentes

quando comparados com paiacuteses da zona do Euro e os EUA foram os que mais

se destacaram no crescimento econocircmico mundial da primeira deacutecada do

seacuteculo XXI

O Brasil a despeito de ser portador de forte desigualdade interna com

uma base de pesquisa e de desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico inovativo

em formaccedilatildeo e uma capacidade produtiva ainda fraacutegil vem mantendo uma

posiccedilatildeo de destaque principalmente nas duas uacuteltimas deacutecadas em funccedilatildeo da

adoccedilatildeo de uma poliacutetica externa ativa em convergecircncia com a consolidaccedilatildeo da

poliacutetica econocircmica nacional e regional

EUAZona do

EuroEmergen

tes

Meacutedia 2000-2007

26 22 66

Meacutedia 2008-2010

-03 -07 54

-2-101234567

a

o a

no

Economias MadurasBaixo Crescimento

140

Dessa forma o Brasil passou a exercer novos vetores de influecircncia com

forte potencialidade para ajudar a sustentabilidade das naccedilotildees do Sul 75

(p106) Muito embora o Brasil tivesse a CSS como um instrumento para o

fortalecimento da sua presenccedila no cenaacuterio internacional a cooperaccedilatildeo Sul-Sul

somente se estabeleceu mais efetivamente como prioridade da poliacutetica

externa brasileira tornando-se inclusive estrateacutegica para o Paiacutes a partir do

governo Lula isto eacute na primeira deacutecada do seacuteculo XXI

O governo Lula (2003-2010) considerou como estrateacutegia importante

realizar coalizotildees entre paiacuteses do Sul visando obter sucesso em iniciativas

multilaterais Poliacutetica externa mais intensa do que no governo precursor haja

vista a loacutegica vigente da sua diplomacia influenciada por bases ideoloacutegicas e

humanitaacuterias e tambeacutem por mudanccedilas no contexto internacional que

permitiram essas articulaccedilotildees entre os paiacuteses do Sul 81 dadas ldquoas profundas

alteraccedilotildees sistecircmicas do poacutes Guerra Friardquo 75 (p107)

A CSS passou a ter dupla funccedilatildeo Conforme afirma Gonccedilalves 78

tornou-se um instrumento duplo na poliacutetica exterior

ldquoservindo tanto como uma forma de promover solidariedade entre os paiacuteses inserindo-se diplomacia solidaacuteria do governo Lula como tambeacutem um suporte para a realizaccedilatildeo dos interesses nacionais visto que eacute capaz de reforccedilar as relaccedilotildees Sul-Sul auxiliar no processo de afirmaccedilatildeo do Brasil como um ator relevante na poliacutetica internacional e promover o comeacutercio com paiacuteses do Sulrdquo (p19)

Entretanto para uma efetiva inserccedilatildeo paiacuteses como o Brasil buscam

inserir-se competitivamente na economia internacional demandando

simultaneamente uma maior capacidade produtiva competitiva e sustentaacutevel

em niacutevel nacional

Ademais em que pese a importacircncia da CSS tanto na perspectiva

estruturante quanto na perspectiva do desenvolvimento local nacional e

regional haacute de se considerar o legado histoacuterico imperialista e intervencionista

e nesse sentido pode-se dizer que fortalecer a autonomia regional natildeo eacute

trivial A despeito da mudanccedila do paradigma geopoliacutetico e da integraccedilatildeo entre

as naccedilotildees do continente passar a ser considerada como prioritaacuteria - e sob essa

141

perspectiva do novo contexto poliacutetico priorizar a estrateacutegia de integraccedilatildeo como

meio de fortalecimento poliacutetico e econocircmico frente a um contexto de

globalizaccedilatildeo fortemente assimeacutetrico - devemos ter em mente todos os tipos de

dificuldades que travam esse processo sejam oacutebices de origem poliacutetica

diplomaacutetica econocircmica comercial fiscal ou cambial de remetentes (Estados

Unidos principalmente ndash paiacutes central no sistema-mundo) que tencionam o

processo de integraccedilatildeo

Isso posto tem grande importacircncia a necessidade de coordenar projetos

e programas de integraccedilatildeo latino-americanos (ou os demais referentes ao eixo

Sul-Sul) cuja hegemonia seja baseada no interesse regional comum a

despeito da diversidade e da assimetria socioeconocircmicas heterogecircneas

percebidas nesses paiacuteses Nesse sentido tem importacircncia estrateacutegica a

continuidade da integraccedilatildeo latino-americana e tambeacutem projetos que integrem

paiacuteses do eixo Sul-Sul como por exemplo paiacuteses africanos com o Brasil ndash

CPLP [76] - ou paiacuteses emergentes como Brasil Ruacutessia Iacutendia China e Aacutefrica do

Sul conhecidos como BRICS destacando-se tambeacutem o acordo de caraacuteter

poliacutetico estrateacutegico e econocircmico firmado entre Iacutendia Brasil e Aacutefrica do Sul

reconhecido como IBAS ou Foacuterum de Dialogo Iacutendia-Brasil-Aacutefrica do Sul ou G3

Aleacutem disso haacute de se considerar como um grande obstaacuteculo a ser

ultrapassado a grande desigualdade existente na regiatildeo no caso especiacutefico da

Ameacuterica Latina Eacute consenso entre as Organizaccedilotildees Internacionais que a regiatildeo

eacute a mais desigual do planeta 82 E essas diferenccedilas tambeacutem dificultam o

estabelecimento e o fortalecimento de accedilotildees integradoras e endoacutegenas entre

os paiacuteses em questatildeo

Algumas das dificuldades internas e dos limites estruturais e

institucionais que desafiam a conduccedilatildeo e a integraccedilatildeo regional podem ser

definidas como (a) diacutevidas histoacutericas (b) orccedilamentos decrescentes dos paiacuteses

76

CPLP ndash Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa criado em 1996 eacute foro multilateral

para cooperaccedilatildeo e eacute composto por 8 paiacuteses Brasil Angola Cabo Verde Guineacute Bissau Moccedilambique

Portugal Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e Timor-Leste e tem como objetivos dentre outros a concertaccedilatildeo poliacutetico-

diplomaacutetica entre seus estados membros nomeadamente para o reforccedilo da sua presenccedila no cenaacuterio

internacional e a cooperaccedilatildeo em todos os domiacutenios inclusive os da educaccedilatildeo sauacutede ciecircncia e tecnologia

defesa agricultura administraccedilatildeo puacuteblica comunicaccedilotildees justiccedila seguranccedila puacuteblica cultura desporto e

comunicaccedilatildeo social Disponiacutevel em httpwwwcplporgid-46aspx Acesso em 04032012

142

(c) heterogeneidade da capacidade de produccedilatildeo (d) desigualdades estruturais

e das capacidades produtivas tecnoloacutegicas e de conhecimento (e) limitada

capacidade de inovaccedilatildeo e de pesquisa e de desenvolvimento (f) falta de

continuidade das decisotildees poliacuteticas isto eacute maior tendecircncia agrave formaccedilatildeo de

poliacuteticas de governo e natildeo de Estado (g) a incoerecircncia com as demais

poliacuteticas e (h) incapacidade de governanccedila e de mensuraccedilatildeo dos resultados e

dos impactos alcanccedilados

A despeito das dificuldades existentes tanto no acircmbito interno de cada

paiacutes (do Sul) quanto agraves questotildees soacutecio-poliacuteticas e econocircmicas dos paiacuteses e a

forte desigualdade entre eles muitos desses paiacuteses estatildeo se organizando e

fortalecendo a sua atuaccedilatildeo em blocos (nos organismos multilaterais) O que

reforccedila o multilateralismo e a defesa do todo e natildeo somente de muito poucos

Isso posto alternativas ao Sul estabelecidas em consenso e em

coalizotildees pelos paiacuteses e por suas poliacuteticas externas satildeo consequecircncias da

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees internacionais na era Poacutes-Guerra Fria em que o

multilateralismo amplia os poderes de decisatildeo nos principais foacuteruns

internacionais

Alternativas essas que durante o governo Lula se estabeleceram

sedimentando uma trajetoacuteria ativa e cada vez mais influente que se estende ateacute

os dias de hoje Essas alternativas podem ser reconhecidas como intra e inter-

regionais A Ameacuterica do Sul a criaccedilatildeo do Unasul pela defesa do regionalismo

a aproximaccedilatildeo com a Aacutefrica por meio do fortalecimento dos PALOPS (e CPLP)

a constituiccedilatildeo do IBAS e a o BRICS satildeo focos dessa poliacutetica

Em consequecircncia desse movimento podem ser apontados tanto sob a

perspectiva intra-regional quanto na perspectiva inter-regional os principais

mecanismos da poliacutetica externa do Brasil [77]

Sob o recorte da Ameacuterica do Sul destacam-se dentre outras iniciativas

Mercado Comum do Sul - MERCOSUL

Uniatildeo de Naccedilotildees Sul-Americanas - UNASUL

Organizaccedilatildeo do Tratado de Cooperaccedilatildeo Amazocircnica -OTCA

77 Disponiacutevel em wwwmregovbr

143

Associaccedilatildeo Latino-Americana de Integraccedilatildeo - ALADI

Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos - CELAC

em conjunto com Ameacuterica Central e Caribe

Sistema Econocircmico Latino-Americano de Integraccedilatildeo - SELA incluindo o

Caribe

Comunidade Andina de Naccedilotildees - CAN [78] e

Alianccedila Bolivariana para as Ameacutericas - ALBA [79]

Envolvendo mais de um continente

Agrupamento Brasil Ruacutessia Iacutendia China e Aacutefrica do Sul ndash BRICS

Foacuterum de Diaacutelogo Iacutendia Brasil e Aacutefrica do Sul ndash IBAS

Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa ndash CPLP [80]

Cuacutepula Ibero-Americana

Cuacutepula Ameacuterica do Sul-Aacutefrica - ASA

Cuacutepula Ameacuterica Latina Caribe e Uniatildeo Europeacuteia - ALC-EU

Cuacutepula Ameacuterica do Sul - Paiacuteses Aacuterabes - ASPA e

Foacuterum de Cooperaccedilatildeo Ameacuterica Latina ndash Aacutesia do Leste - FOCALAL

Natildeo eacute pretensatildeo deste estudo apresentar cada uma das iniciativas da

poliacutetica externa brasileira

Entretanto em funccedilatildeo da priorizaccedilatildeo estrateacutegica dada agrave integraccedilatildeo sul-

americana que tem no MERCOSUL e na UNASUL seus principais pilares e agrave

aproximaccedilatildeo estrateacutegica com a Aacutefrica com a intensificaccedilatildeo do relacionamento

do Brasil com o continente africano em termos gerais optamos por destacar

mesmo que brevemente as principais iniciativas referentes a esses dois

continentes isto eacute o MERCOSUL a UNASUL e o CPLP Destas iniciativas no

capitulo V seratildeo identificados os principais movimentos relacionados agrave sauacutede

questatildeo que norteia esta tese de doutoramento

78

Brasil como Estado associado

79

Brasil natildeo eacute Estado-membro

80

Os paiacuteses membros do PALOPS inserem-se na CPLP

144

Isso posto a integraccedilatildeo sul-americana em funccedilatildeo do potencial que a

Ameacuterica do Sul representa para o Brasil tem caraacuteter primordial A regiatildeo eacute

potencialmente positiva para a integraccedilatildeo a despeito da desigualdade

existente no que se refere a questotildees de mercado Os paiacuteses possuem

condiccedilotildees geopoliacuteticas e econocircmicas muito distintas apesar da similaridade

dos aspectos culturais de colonizaccedilatildeo religiosos linguiacutesticos e geograacuteficos

Conforme portal do Itamaraty [81] ao definir a integraccedilatildeo regional sob a

abordagem positiva

ldquoa regiatildeo eacute potencialmente autossuficiente em energia tem as maiores reservas de aacutegua do mundo e uma enorme capacidade de produccedilatildeo agriacutecola A regiatildeo tambeacutem representa um mercado em expansatildeo com perspectivas auspiciosas no conjunto da regiatildeo de crescimento econocircmico Aleacutem disso todos os paiacuteses da Ameacuterica do Sul satildeo democracias com governos constitucionalmente eleitos que colocaram a causa da justiccedila social no centro de seus cenaacuterios poliacuteticosrdquo

Ainda de acordo com o Itamaraty optou-se pela priorizaccedilatildeo da regiatildeo

sul-americana entendida como o entorno geograacutefico imediato ao territoacuterio

brasileiro com maior viabilidade nas coordenaccedilotildees poliacuteticas e dos projetos

concretos de integraccedilatildeo

21 Mercosul

O Mercado Comum do Sul ndash MERCOSUL importante projeto de poliacutetica

externa do Brasil representa mais do que um acordo comercial Eacute um processo

de integraccedilatildeo econocircmica entre Argentina Brasil Paraguai e Uruguai iniciado

com a assinatura do Tratado de Assunccedilatildeo [82] em 260391 tendo adquirido

personalidade juriacutedica internacional e estabelecida a sua estrutura institucional

81

Disponiacutevel em wwwitamaratygovbr Acesso em 22052012

82

Tratado de Assunccedilatildeo ndash Tratado para a Constituiccedilatildeo de um Mercado Comum entre a Repuacuteblica

Argentina a Repuacuteblica Federativa do Brasil a Repuacuteblica do Paraguai e a Repuacuteblica Oriental do Uruguai

Disponiacutevel emhttpwwwmercosulgovbrtratados-e-protocolostratado-de-assuncao-1 Acesso em

18 de abril de 2012

145

com o Protocolo de Ouro Preto [83] em 170294 Atualmente satildeo Estados

Associados Boliacutevia Chile Peru Colocircmbia e Equador Venezuela assinou o

Protocolo de Adesatildeo ao Mercosul em 2006 poreacutem para a conclusatildeo da adesatildeo

falta a aprovaccedilatildeo do Congresso Parlamentar do Paraguai

A fim de se promover a reforma das economias e a abertura de

mercados o Tratado previa uma agenda de integraccedilatildeo que se dividia em

etapas distintas A primeira a aacuterea de livre comeacutercio Esta deu origem agrave tarifa

externa comum na regiatildeo A segunda a uniatildeo aduaneira E a terceira o

mercado comum Estas duas uacuteltimas etapas ainda natildeo foram definidas por

conta da dificuldade de os paiacuteses convergirem nas suas poliacuteticas cambial

orccedilamentaacuteria e monetaacuteria Entretanto eacute mais evidente a integraccedilatildeo comercial

promovida pela primeira etapa do projeto do Mercosul e as expectativas em

relaccedilatildeo ao incremento de poder de negociaccedilatildeo junto a outras instacircncias que o

Mercosul tende a promover apesar das divergecircncias ainda constantes entre os

parceiros notadamente Brasil e Argentina

Representa em 2011 uma populaccedilatildeo de mais de 200 milhotildees de

habitantes dos quais 80 se encontram no Brasil O que segundo o Ministeacuterio

do Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Exterior [84] para o Brasil ldquopode natildeo

parecer um grande mercado ampliado mas permite uma importante

experiecircncia para nossas empresas em especial as pequenas e meacutedias no

contato com o mercado externo e expansatildeo das relaccedilotildees comerciais com

outros mercadosrdquo Ainda segundo o portal do MDIC o MERCOSUL eacute

atualmente a quarta aacuterea geoeconocircmica do mundo e um dos mercados

emergentes com maior renda per capita

Considerado como uma ferramenta estrateacutegica para a defesa dos

projetos nacionais dos seus parceiros na economia-mundo promovida pela

globalizaccedilatildeo constitui uma zona de livre comeacutercio e uma uniatildeo aduaneira que

visa agrave formaccedilatildeo de um mercado comum entre seus Estados Partes

83

Protocolo de Outro Preto ndash Protocolo Adicional ao Tratado de Assunccedilatildeo sobre a Estrutura

Institucional do Mercosul Disponiacutevel emhttpwwwmercosulgovbrtratados-e-protocolosprotocolo-

de-ouro-preto-1 Acesso em 18 de abril de 2012

84

Ver wwwmdicgovbr 2012

146

Tem como objetivo a livre circulaccedilatildeo de bens serviccedilos trabalhadores e

capital entre os paiacuteses do bloco buscando o aumento e a diversificaccedilatildeo da

oferta de bens e serviccedilos com padrotildees comuns de qualidade seguindo normas

internacionais com economias de escala Visa ao estabelecimento de uma

tarifa externa comum isto eacute o estabelecimento de uma poliacutetica comercial

uniforme em relaccedilatildeo a terceiros paiacutesesblocos Objetiva a coordenaccedilatildeo de

posiccedilotildees comuns em foros econocircmico-comerciais regionais e internacionais a

coordenaccedilatildeo de poliacuteticas macroeconocircmicas e a harmonizaccedilatildeo das poliacuteticas

setoriais e dos coacutedigos legislativos dos paiacuteses membros nas aacutereas

relacionadas ao processo de integraccedilatildeo

Aleacutem disso objetiva a promoccedilatildeo de modo coordenado do

desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico e a busca permanente de pautas

comuns para o desenvolvimento sustentaacutevel dos recursos regionais aleacutem de

visar participaccedilatildeo crescente dos setores privados no processo de integraccedilatildeo

[85]

Ademais segundo o Itamaraty 83 o Mercosul caracteriza-se pelo

regionalismo aberto isto eacute aleacutem do comeacutercio intrazona visa ao intercacircmbio

comercial com terceiros paiacuteses

Passados 20 anos da criaccedilatildeo do Mercosul o otimismo sobre a

integraccedilatildeo deu lugar agrave ldquoprevalecircncia das visotildees nacionaisrdquo agraves ldquodiferenccedilas

surgidas na Ameacuterica do Sulrdquo e agrave ldquoemergecircncia da China como primeiro parceiro

comercial de muitos paiacuteses da regiatildeo inclusive o Brasilrdquo o que acarretou

grandes obstaacuteculos agrave negociaccedilatildeo no acircmbito do Mercosul 84

As medidas protecionistas entre os paiacuteses membros do Mercosul

tornaram-se constantes O que acabou gerando conflitos comerciais mais

evidentes entre os maiores e menores representantes respectivamente Brasil

ndash Argentina e Paraguai - Uruguai A fragilidade em funccedilatildeo das barreiras

comerciais impostas entre os seus pares tambeacutem ocasionou desgastes que

comprometeram os fundamentos do Mercosul em que ateacute poucos anos atraacutes

tinha a sua continuidade comprometida 85

85

Disponiacutevel em wwwmdicgovbr Acesso em 22052012

147

Entretanto segundo o MDIC 86 as ldquoperspectivas indicam que o

intercacircmbio intra-zona continuaraacute crescendo demonstrando que ainda natildeo se

configurou o esgotamento do potencial de comeacuterciordquo Entre 2002 a 2008 [86] a

corrente de comeacutercio entre o Brasil e os demais paiacuteses do Mercosul passou de

US$ 89 bilhotildees para US$ 366 bilhotildees Logicamente a recente crise

econocircmica mundial impactou o comeacutercio do bloco A partir de 2010 houve a

retomada comercial Entretanto apesar das apostas no desenvolvimento e no

comercio intra-bloco deve-se considerar a possibilidade da aproximaccedilatildeo dos

seus limites ldquorecomendando-se a ampliaccedilatildeo das fronteiras seja pela conquista

de novos parceiros seja pela diversificaccedilatildeo das pautas de comeacuterciordquo conforme

defende o MDIC 86

Por outro lado a despeito de inicialmente estar voltado para a

integraccedilatildeo econocircmica e comercial com as dificuldades institucionais e

estruturais decorrentes e imersos em crises econocircmicas reconhecendo-se

inclusive no Brasil o reduzido impacto para a estrutura produtiva nacional e a

quase marginalidade para as necessidades brasileiras de modernizaccedilatildeo

produtiva os paiacuteses do Mercosul notadamente o Brasil passaram a dar maior

ecircnfase nos primeiros anos do seacuteculo XXI agraves questotildees poliacuteticas e sociais da

regiatildeo 84

ldquoEmbora essas novas ecircnfases representem uma distorccedilatildeo do Tratado de Assunccedilatildeo muitos vecircem tais medidas como igualmente importantes para a integraccedilatildeo regional Esse processo no entanto vive hoje um momento de crise institucional que caso fosse superada poderia fazer crescer ainda mais o relacionamento comercial entre os paiacuteses-membrosrdquo

Nessa perspectiva segundo avaliaccedilatildeo de Lafer 34 (p 90 -91) o Mercosul

lida com o ldquoconflito e a cooperaccedilatildeo na moldura do direito e da diplomacia

lastreados no potencial de sociabilidade e solidariedade que vem sendo

desenvolvido entre os seus membros no correr do tempordquo Na projeccedilatildeo do

autor o Mercosul comporta forte potencialidade

ldquotem como base fazer natildeo apenas a melhor poliacutetica mas tambeacutem a melhor economia de suas geografias no contexto de valores comuns de inspiraccedilatildeo democraacutetica voltados para a construccedilatildeo de paz e para

86

Segundo dados disponiacuteveis em httpsi3govplanejamentogovbr Acesso em 22062012

148

a promoccedilatildeo do desenvolvimento da sua regiatildeo Eacute isso que vem sustentando a agenda da integraccedilatildeo econocircmica e a efetiva transformaccedilatildeo das fronteiras de claacutessicas fronteiras-separaccedilatildeo em modernas fronteiras-cooperaccedilatildeordquo

Nesse sentido declara Barbosa 84 ldquoo processo de integraccedilatildeo sub-

regional eacute um ganho poliacutetico e econocircmico para os paiacuteses-membros pela

relevacircncia no plano estrateacutegico-diplomaacuteticordquo Em meio agrave crise institucional do

Mercosul eacute que a priorizaccedilatildeo dada pelo Brasil a essa integraccedilatildeo mais

notadamente a partir da gestatildeo do governo Lula a despeito da criaccedilatildeo do

Unasul e a esperada superposiccedilatildeo de competecircncias reflete a expectativa do

fortalecimento e do alcance dos objetivos previstos e pactuados entre os

paiacuteses membros do Mercosul

No tocante agraves questotildees da ldquoSauacutederdquo esse tema encontra-se inserido no

Subgrupo de Trabalho nordm 11 ndash SGT-11 dentro da estrutura do Grupo Mercado

Comum ndash GMC [87] aleacutem de ser tema com destaque especiacutefico das Reuniotildees

de Ministros da Sauacutede no acircmbito do Conselho do Mercado Comum - CMC A

formalizaccedilatildeo de propostas provenientes desses dois foros eacute direcionada a

esses dois oacutergatildeos principais do Mercosul que tecircm como caracteriacutestica o poder

decisoacuterio de conduccedilatildeo poliacutetica e executiva o CMC e o GMC

A Reuniatildeo de Ministros da Sauacutede do Mercosul (RMS) foi criada em

1995 Tem como funccedilatildeo propor ao CMC medidas para a coordenaccedilatildeo de

poliacuteticas voltadas para a aacuterea da sauacutede no Mercosul Tem como objetivo definir

planos estrateacutegias programas e diretrizes visando ao processo de integraccedilatildeo

Ademais atua na formulaccedilatildeo no acordo e no apoio a accedilotildees de promoccedilatildeo

prevenccedilatildeo proteccedilatildeo e atenccedilatildeo agrave sauacutede que satildeo realizadas em cada Estado

membro seja por meio de recursos dos sistemas nacionais de sauacutede ou por

meio de projetos de cooperaccedilatildeo intra ou extra bloco

87 Compotildeem o GMC outros 13 grupos de trabalho ndash SGT-1 Comunicaccedilotildees SGT-2 - Aspectos

Institucionais SGT-3 - Regulamentos Teacutecnicos e Avaliaccedilatildeo de Conformidade SGT-4 - Assuntos

Financeiros SGT-5 - Transporte SGT- 6 - Meio-Ambiente SGT-7 - Induacutestria SGT-8 -Agricultura

SGTndash 9 - Energia e mineraccedilatildeo SGT-10 - Assuntos de Trabalho Emprego e Seguridade Social SGT-12 -

Investimentos SGT-13 - Comeacutercio Eletrocircnico e SGT- 14 - Acompanhamento da Conjuntura Econocircmica e

Social

149

Figura 4 Reuniatildeo dos Ministros da Sauacutede do Mercosul - RMS

RMSDecisatildeo CMC 011995Decisatildeo CMC 031995

Comitecirc Coordenador (CC)Decisatildeo CMC 031995

CI Controle do TabacoAcordo 062003

CI Implementaccedilatildeo do RSIAcordo 082005

CI Doaccedilatildeo e TransplanteAcordo 032006

CI Gestatildeo de Riscos e Reduccedilatildeo de

VulnerabilidadesAcordo 052004

CI HIV -AIDSAcordo 022002

CI Sauacutede Ambiental e do TrabalhadorAcordo 052004

CI Controle da Dengue

Acordo 012001

CI Poliacutetica de MedicamentosAcordo 012000

CI Sauacutede e DesenvolvimentoAcordo 072004

CI Sexual e Reprodutiva

Acordo 132003

CI Sistemas de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo

em SauacutedeAcordo 012006

Banco de Preccedilos de

Medicamentos

Acordo 012005

Versatildeo 13072007

Fonte httpwwwmercosulsaudedevsitecombrPDFOrganograma20RMS_13_07_2007_PTpdf

Sob a orientaccedilatildeo do Grupo Mercado Comum o Subgrupo de Trabalho

nordm 11 criado pela Resoluccedilatildeo GMC nordm 15196 comporta na atual estrutura a

Comissatildeo dos Serviccedilos de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede a Comissatildeo dos Produtos para

Sauacutede e a Comissatildeo de Vigilacircncia em Sauacutede com suas Subcomissotildees e

Grupos Ad hoc O SGT-11 tem caraacuteter deliberativo e os trabalhos do grupo satildeo

organizados conforme pauta de interesse comum da qual constam temas

priorizados pelos Estados Partes sendo acordada e aprovada pelo GMC

Nesse sentido executam suas atividades conforme pauta aprovada pela

Resoluccedilatildeo GMC nordm 1307 que relaciona os temas sobre os quais se buscaraacute a

harmonizaccedilatildeo de legislaccedilotildees e diretrizes promovendo a cooperaccedilatildeo teacutecnica e

coordenando as accedilotildees necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo entre os

Estados-Partes segundo a proposta de uma norma na aacuterea da sauacutede comum a

todos os Estados membros O relacionamento do SGT nordm 11 Sauacutede com as

150

demais instacircncias do Mercosul busca promover a integraccedilatildeo e a

complementaccedilatildeo das accedilotildees A despeito do caraacuteter supranacional eacute mister

destacar que se faz necessaacuteria a incorporaccedilatildeo das normas pelos Estados

partiacutecipes junto aos oacutergatildeos competentes nacionais normas essas passiacuteveis de

adendos e modificaccedilotildees poreacutem necessaacuterias com retificaccedilotildees ou natildeo de

serem incorporadas pelo Estado

Accedilotildees e atividades implementadas pelo Mercosul no tema ldquoSauacutederdquo por

meio desses foros especiacuteficos seratildeo abordados no capiacutetulo V cujo objetivo eacute

identificar a inter-relaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais com a poliacutetica externa dentro

da concepccedilatildeo da cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Antes de apresentar a Unasul contemporacircnea na regiatildeo vale destacar

uma organizaccedilatildeo centenaacuteria a OPAS Criada em 1902 na 2ordf Conferecircncia

Internacional da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos a Organizaccedilatildeo Pan-

Americana da Sauacutede ndash OPAS eacute um organismo regional de sauacutede puacuteblica com

um seacuteculo de experiecircncia dedicado a melhorar as condiccedilotildees de sauacutede dos

paiacuteses das Ameacutericas Segundo seu site oficial a OPAS exerce atuaccedilatildeo no

Escritoacuterio Regional da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede para as Ameacutericas e faz

parte dos sistemas da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) e da

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU)

A OPAS coopera com os governos atraveacutes de teacutecnicos e cientistas

para melhorar poliacuteticas e serviccedilos puacuteblicos de sauacutede estimulando o trabalho

em conjunto com os paiacuteses para alcanccedilar metas comuns como iniciativas

sanitaacuterias multilaterais de acordo com as decisotildees dos governos que fazem

parte do corpo diretivo da Organizaccedilatildeo Conforme sua missatildeo baseia-se na

orientaccedilatildeo de esforccedilos estrateacutegicos de colaboraccedilatildeo entre Estados membros a

fim de promover a equidade na sauacutede combater doenccedilas melhorar a

qualidade e elevar a expectativa de vida dos povos das Ameacutericas seus

cientistas incentivam a promoccedilatildeo da transferecircncia de tecnologia e a difusatildeo do

conhecimento acumulado atraveacutes de experiecircncias produzidas nos Estados

Membros da OPASOMS [88]

88

Disponiacutevel em httpnewpahoorgbra

151

Aleacutem disso essa organizaccedilatildeo busca contribuir para o fortalecimento do

setor da sauacutede nos paiacuteses a fim de que os programas prioritaacuterios sejam

executados e sejam privilegiados enfoques multisetoriais e integrais de sauacutede

Ademais sob os auspiacutecios da OPAS em seu Documento Oficial 328

referente ao Plano Estrateacutegico 2008 ndash 2012 de junho de 2009 vale destacar

dentre os objetivos estrateacutegicos da OPAS 87 aqueles que asseguram a

melhoria do acesso da qualidade e do uso de produtos meacutedicos e de

tecnologias sanitaacuterias o fortalecimento da autoridade sanitaacuteria nacional a

diminuiccedilatildeo das desigualdades em sauacutede entre os paiacuteses e as iniquidades no

interior dos mesmos e o aproveitamento dos conhecimentos da ciecircncia e da

tecnologia (p18)

Cabe destacar a estreita correlaccedilatildeo desses objetivos ao firmado na

Agenda da Sauacutede para as Ameacutericas 2008-2017 88 o que denota uma

convergecircncia da questatildeo do acesso a bens e serviccedilos de sauacutede e ao

fortalecimento da capacidade de produccedilatildeo dos paiacuteses e de mecanismos

correlacionados

Aumentar la Proteccioacuten Social y el Acceso a los Servicios de Salud de Calidad ndash (48)El acceso a medicamentos y tecnologias de salud es un requerimiento para tener intervenciones de salud efectivas Para promover el acceso a los medicamentos los paiacuteses debieren considerar a) usar al maacuteximo las provisiones em los acuerdos de comercio incluyendo sus flexibilidades b) fortalecer el sistema de provisioacuten c) fortalecer los mecanismos de compras subregionales y regionales d) promover el uso racional de los medicamentos y e) reducir las barreras tarifarias a los medicamentos y tecnologiacuteas de salu

88 (p15)

Em que pese a importacircncia histoacuterica da OPAS para a regiatildeo o novo

cenaacuterio internacional traacutes desafios diversos para a sauacutede puacuteblica que requerem

um processo de reforma e governanccedila na estrutura da OPAS capaz de

acompanhar a atual multiplicidade de atores na cooperaccedilatildeo teacutecnica em sauacutede

nos niacuteveis global regional e nacional

A despeito do desafio da governanccedila global ressalta-se que a OPAS

dado o embasamento histoacuterico em prol da regiatildeo exerce papel de fundamental

importacircncia na promoccedilatildeo do desenvolvimento da cooperaccedilatildeo SulndashSul

152

inclusive via mecanismos de integraccedilatildeo como MERCOSUL UNASUL e os

paiacuteses de liacutengua portuguesa (CPLP)

22 Unasul

Composta pelos doze paiacuteses da Ameacuterica do Sul [89] a Uniatildeo de Naccedilotildees

Sul-Americanas - UNASUL teve o seu Tratado Constitutivo [90] assinado em

Brasiacutelia no dia 23052008 O compromisso com o desenvolvimento e a

sustentabilidade foi reafirmado pela Unasul em sua reuniatildeo extraordinaacuteria de

chefas e chefes de Estado em 28 de julho de 2011

A integraccedilatildeo latino-americana eacute condiccedilatildeo necessaacuteria para o

desenvolvimento sustentaacutevel e o bem-estar dos povos Representa o

adensamento da integraccedilatildeo regional e o comprometimento poliacutetico de todos os

paiacuteses sul-americanos a fim de avanccedilar segundo o Tratado Constitutivo da

Unasul rumo ao desenvolvimento sustentaacutevel e o bem-estar dos povos assim

como para contribuir para resolver os problemas que ainda afetam a regiatildeo

como a pobreza a exclusatildeo e a desigualdade social persistentes

Sua estrutura institucional eacute disposta em dois niacuteveis diferenciados

centrais e setoriais Os oacutergatildeos centrais isto eacute o Conselho de Chefes de

Estado e de Governo o Conselho de Ministros das Relaccedilotildees Exteriores o

Conselho de Delegados e a Secretaria-Geral satildeo os responsaacuteveis pela

orientaccedilatildeo poliacutetica geral e pela supervisatildeo do processo de integraccedilatildeo Os

setoriais comportam atualmente oito Conselhos Ministeriais (a) sauacutede (b)

defesa (c) desenvolvimento social (d) energia (e) sobre o problema mundial

das drogas (f) infraestrutura e planejamento (g) educaccedilatildeo cultura ciecircncia

tecnologia e inovaccedilatildeo (h) economia e financcedilas

89

Argentina Boliacutevia Brasil Colocircmbia Chile Equador Guiana Paraguai Peru Suriname

Uruguai e Venezuela

90 httpwwwitamaratygovbrtemasamerica-do-sul-e-integracao-regionalunasultratado-

constitutivo-da-unasulsearchterm=unasul

153

Em conformidade ao objetivo estrateacutegico da poliacutetica externa brasileira

quanto agrave integraccedilatildeo sul-americana ultrapassa a simples concertaccedilatildeo poliacutetica

presente em outros foacuteruns regionais A integraccedilatildeo visa portanto ao

desenvolvimento socioeconocircmico da Ameacuterica do Sul e agrave preservaccedilatildeo da paz

na regiatildeo ao desenvolvimento do mercado interno sul-americano e ao

aumento da competitividade dos paiacuteses no mercado internacional e ao

fortalecimento da capacidade de atuaccedilatildeo do Brasil em outros foacuteruns

internacionais

A integraccedilatildeo sob essa perspectiva eacute um passo decisivo rumo ao

fortalecimento do multilateralismo e agrave vigecircncia do direito nas relaccedilotildees

internacionais para alcanccedilar um mundo multipolar equilibrado e justo no qual

prevaleccedila a igualdade soberana dos Estados e uma cultura de paz

Nesse sentido diferentemente do Mercosul que tem uma natureza

predominantemente econocircmica a Unasul apresenta uma natureza mais

poliacutetica

Portanto a Unasul objetiva a construccedilatildeo de forma consensual e

participativa de um espaccedilo de integraccedilatildeo articulada nos acircmbitos poliacutetico

econocircmico social e cultural entre seus povos Ainda segundo o Tratado

prioriza o diaacutelogo poliacutetico as poliacuteticas sociais a educaccedilatildeo a energia a

infraestrutura o financiamento e o meio ambiente entre outros com vistas a

eliminar a desigualdade socioeconocircmica alcanccedilar a inclusatildeo social e a

participaccedilatildeo cidadatilde fortalecer a democracia e reduzir as assimetrias no marco

do fortalecimento da soberania e independecircncia dos Estados

Cabe destacar dentre outros os objetivos especiacuteficos da Unasul que

possuem interface com o tema da sauacutede conforme o artigo 3ordm do Tratado

Constitutivo

a) o fortalecimento do diaacutelogo poliacutetico entre os Estados Membros que assegure

um espaccedilo de concertaccedilatildeo para reforccedilar a integraccedilatildeo sul-americana e a

participaccedilatildeo da UNASUL no cenaacuterio internacional

b) o desenvolvimento social e humano com equidade e inclusatildeo para erradicar

a pobreza e superar as desigualdades na regiatildeo

154

c) a integraccedilatildeo industrial e produtiva com especial atenccedilatildeo agraves pequenas e

meacutedias empresas cooperativas redes e outras formas de organizaccedilatildeo

produtiva

d) a definiccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas e projetos comuns ou

complementares de pesquisa inovaccedilatildeo transferecircncia e produccedilatildeo tecnoloacutegica

com vistas a incrementar a capacidade a sustentabilidade e o desenvolvimento

cientiacutefico e tecnoloacutegico proacuteprios

e) a cooperaccedilatildeo econocircmica e comercial para avanccedilar e consolidar um

processo inovador dinacircmico transparente equitativo e equilibrado que

contemple um acesso efetivo promovendo o crescimento e o desenvolvimento

econocircmico que supere as assimetrias mediante a complementaccedilatildeo das

economias dos paiacuteses da Ameacuterica do Sul assim como a promoccedilatildeo do bem-

estar de todos os setores da populaccedilatildeo e a reduccedilatildeo da pobreza

f) a proteccedilatildeo da biodiversidade dos recursos hiacutedricos e dos ecossistemas

assim como a cooperaccedilatildeo na prevenccedilatildeo das cataacutestrofes e na luta contra as

causas e os efeitos da mudanccedila climaacutetica

g) o desenvolvimento de mecanismos concretos e efetivos para a superaccedilatildeo

das assimetrias alcanccedilando assim uma integraccedilatildeo equitativa

h) o intercacircmbio de informaccedilatildeo e de experiecircncias em mateacuteria de defesa

i) a cooperaccedilatildeo setorial como um mecanismo de aprofundamento da

integraccedilatildeo sul-americana mediante o intercacircmbio de informaccedilatildeo experiecircncias

e capacitaccedilatildeo

j) o desenvolvimento de uma infraestrutura para a interconexatildeo da regiatildeo e de

nossos povos de acordo com criteacuterios de desenvolvimento social e econocircmico

sustentaacuteveis

k) a cooperaccedilatildeo em mateacuteria de migraccedilatildeo com enfoque integral e baseado no

respeito irrestrito aos direitos humanos e trabalhistas para a regularizaccedilatildeo

migratoacuteria e a harmonizaccedilatildeo de poliacuteticas e

155

l) a participaccedilatildeo cidadatilde por meio de mecanismos de interaccedilatildeo e diaacutelogo entre

a Unasul e os diversos atores sociais na formulaccedilatildeo de poliacuteticas de integraccedilatildeo

Sul-Americana

A UNASUL portanto como organismo internacional representa um

organismo do sistema multilateral com caracteriacutesticas contemporacircneas isto eacute

compromissado politicamente e com crescente peso poliacutetico inclusive por

representar uma aacuterea continental paciacutefica sem reservas nucleares com

projetos comuns de integraccedilatildeo e com capacidade de superaccedilatildeo dos efeitos

nocivos das graves crises econocircmicas internacionais

De forma mais ativa as aacutereas da sauacutede e da defesa receberam maior

protagonismo junto agrave Unasul E nesse sentido conforme afirma Temporatildeo em

palestra proferida em Brasilia [91] a Unasul se estabelece inicialmente sob

duas prioridades principais a defesa e a sauacutede A Argentina protagonizou a

institucionalizaccedilatildeo dos esforccedilos na aacuterea da defesa E no tocante agrave sauacutede o

paiacutes com maior expressatildeo nessa aacuterea tem sido o Brasil cujo esforccedilo e

determinaccedilatildeo eacute observado no Plano Quinquenal de Sauacutede 2010-2025 aleacutem da

criaccedilatildeo e instalaccedilatildeo definitiva do Instituto Sul Americano de Governo em Sauacutede

(ISAGS)

Foi em dezembro de 2008 durante a Cuacutepula da Costa do Sauiacutepe que

os chefes de Estado e de Governo da Unasul com base nos artigos 3o 5o e 6o

do Tratado Constitutivo da UNASUL firmaram o Conselho de Sauacutede Sul-

Americano ou simplesmente Unasul Sauacutede como oacutergatildeo de consulta e

consenso em mateacuteria de sauacutede

Integrado pelos 12 ministros da Sauacutede dos paiacuteses-membros tem entre

outros objetivos a promoccedilatildeo de poliacuteticas comuns atividades coordenadas e

cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses e a promoccedilatildeo de respostas coordenadas e

solidaacuterias perante situaccedilotildees de emergecircncia e cataacutestrofes bem como a

91

Temporatildeo J Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e complexo econocircmico-industrial da sauacutede In Ciclo de

Debates sobre Bioeacutetica Diplomacia e Sauacutede Puacuteblica Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacuteticas e Diplomacia em

Sauacutede ndash NETHIS Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel em

wwwbioeticaediplomaciaorg Acesso em 27012012

156

priorizaccedilatildeo das accedilotildees no acircmbito das fronteiras [92] Dentre os propoacutesitos

previstos estatildeo a construccedilatildeo de um espaccedilo de integraccedilatildeo nas questotildees

relacionadas agrave sauacutede otimizando os esforccedilos e os resultados de outros

mecanismos de integraccedilatildeo regional como por exemplo o Mercosul a OPAS e

a OTCA aleacutem da promoccedilatildeo de poliacuteticas comuns e de atividades articuladas

consensuadas e coordenadas entre todos os paiacuteses partiacutecipes da Unasul

O Conselho de Sauacutede Sul-Americana (CSS) formado pelos Ministros da

Sauacutede dos paiacuteses-membros da Unasul eacute a instacircncia maacutexima da sauacutede na

Unasul Aleacutem do Conselho haacute o Comitecirc Coordenador que eacute responsaacutevel pela

preparaccedilatildeo dos projetos dos Acordos e Resoluccedilotildees e eacute formado pelos

representantes titulares e adjuntos de cada Estado Membro e um

representante do Mercosul ORAS CONHU OTCA e OPAS como

observadores [93]

O diferencial nessa composiccedilatildeo eacute que o CSS apoiado pela Secretaria

Teacutecnica que fica a cargo da Presidecircncia Pro-Tempore (PPT) da Unasul Sauacutede

ndash ocupado pelo respectivo Ministro da Sauacutede do paiacutes que ocupa a Presidecircncia

Pro-Tempore (PPT) da Unasul tambeacutem recebe o apoio dos dois paiacuteses da

PPT passada e seguinte o que promove uma maior garantia de continuidade

dos trabalhos

Tambeacutem fazem parte da estrutura os Grupos Teacutecnicos ldquoencarregados

de analisar elaborar preparar e desenvolver propostas planos e projetos que

contribuam para a integraccedilatildeo sul-americana em sauacutede de acordo com o

alinhamento estabelecido pela Agenda de Sauacutede Sul-Americanardquo [94]

Aleacutem dos Grupos Teacutecnicos a Unasul Sauacutede comporta Redes

Estruturantes que objetivam compartilhar o conhecimento no campo da sauacutede

conforme tabela abaixo

92

Unasul Conselho de Sauacutede Sul-AmericanoAcordo nordm 0209 ndash 21042009

93

Disponiacutevel em wwwisags-unasulorg

94

Disponiacutevel em wwwisags-unasulorg

157

Tabela 3 Redes de Instituiccedilotildees Estruturantes no campo da Sauacutede da Unasul

Redes

Estruturantes

Data da Criaccedilatildeo

Local da Criaccedilatildeo

Descriccedilatildeo

RINS - Rede dos Institutos Nacionais de Sauacutede

Marccedilo 2010

Peru

Relaciona-se aos Institutos Nacionais de Sauacutede ou similares dos paiacuteses membros da Unasul Visa contribuir para o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede com soluccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas para os problemas sanitaacuterios Busca o desenvolvimento dos Sistemas de Sauacutede mediante a integraccedilatildeo e o fortalecimento dos Institutos Nacionais de Sauacutede e seus homoacutelogos com a finalidade de alcanccedilar o melhoramento das condiccedilotildees de vida a reduccedilatildeo das desigualdades sociais em sauacutede e o bem-estar dos povos sul-americanos

RETS ndash Rede de Escolas Teacutecnicas de

Sauacutede [95

]

1997 2005

Brasil

Articulaccedilatildeo entre instituiccedilotildees e organizaccedilotildees envolvidas com a formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo de pessoal teacutecnico da aacuterea da sauacutede nas Ameacutericas e no Caribe Paiacuteses Africanos de Lingua Oficial Portuguesa (PALOP) e Portugal Tem como desafio expandir a Rede para outras regiotildees assim como para todos os paiacuteses que fazem parte da Comunidade de Paiacuteses de Lingua Portuguesa (CPLP)

RINC ndash Rede de Institutos Nacionais de Cacircncer

Setembro 2010

Argentina

Estrateacutegia de articulaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo entre instituiccedilotildees puacuteblicas de acircmbito nacional nos paiacuteses membros da UNASUL e nos demais paiacuteses da Ameacuterica Latina Eacute responsaacutevel por elaborar eou executar poliacuteticas e programas para o controle de cacircncer na regiatildeo da Ameacuterica do Sul Seu objetivo eacute somar esforccedilos regionais para trabalhar em rede em busca de fortalecimento da prevenccedilatildeo e controle integral do cacircncer na regiatildeo da Unasul

95

A RETS entre 1997 e 2001 englobava apenas paiacuteses latino-americanos A partir da sua

reativaccedilatildeo em 2005 vem buscando expandir a Rede para outras regiotildees inserindo os paiacuteses que fazem

parte da Comunidade de Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa

158

Continuaccedilatildeo

Redes Estruturantes

Data da Criaccedilatildeo

Local da Criaccedilatildeo

Descriccedilatildeo

RESP ndash Rede de Escolas de Sauacutede Puacuteblica

Abril 2011

Paraguai

Eacute uma rede de escolas de governo em sauacutede formada por instituiccedilotildees que atuam na formaccedilatildeo de recursos humanos para os sistemas de sauacutede dos paiacuteses membros do bloco Propotildee-se a articular diretamente com as poliacuteticas nacionais de sauacutede dos paiacuteses membros constituindo um espaccedilo de integraccedilatildeo para a produccedilatildeo de novas tecnologias que contribuam para o aperfeiccediloamento dos sistemas de sauacutede da regiatildeo Constitui-se em uma plataforma proativa para intercacircmbio de informaccedilotildees co-participaccedilatildeo de conhecimento e construccedilatildeo de capacidade A rede tem como objetivo promover educaccedilatildeo investigaccedilatildeo e intercacircmbios teacutecnicos de modo que se crie uma infraestrutura educacional para o desenvolvimento da forccedila de trabalho em sauacutede puacuteblica

REDSUR-ORISS ndash Rede de Oficina de Relaccedilotildees Internacionais e de Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede

Novembro 2009

Peru

Eacute uma estrateacutegia de articulaccedilatildeo que busca promover o fortalecimento institucional dos Ministeacuterios de Sauacutede da Unasul atraveacutes do aprimoramento e da intensificaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo inter-regional regional e internacional Busca o aperfeiccediloamento da coordenaccedilatildeo das accedilotildees de cooperaccedilatildeo teacutecnica inter-regional a promoccedilatildeo de uma maior articulaccedilatildeo entre as Oficinas de Relaccedilotildees Internacionais em Sauacutede (ORIS) com o intuito de melhorar os processos de cooperaccedilatildeo na regiatildeo e a promoccedilatildeo da capacitaccedilatildeo contiacutenua dos membros da ORIS e dos teacutecnicos do MINSA que atuam no acircmbito internacional

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir do site wwwisags-unasulorg

O estatuto da Unasul define a Agenda Sul-Americana de Sauacutede isto eacute

seu plano de Trabalho que eacute composto por cinco grandes aacutereas de trabalho

[96]

96

Ver anaacutelise de Buss PM A Unasul sauacutede Le Monde Diplomatique Brasil 2009 2630-31

159

1) Estabelecimento do escudo epidemioloacutegico (problemas de sauacutede da

regiatildeo processos endecircmicos e epidecircmicos)

2) Desenvolvimento dos Sistemas de Sauacutede Universais (com acesso a

toda a populaccedilatildeo)

3) Acesso Universal a Medicamentos (e a outros insumos para a sauacutede e

desenvolver o Complexo Produtivo da Sauacutede na Ameacuterica do Sul)

4) Promoccedilatildeo da Sauacutede e Accedilatildeo sobre os Determinantes Sociais

5) Desenvolvimento e Gestatildeo de Recursos Humanos em Sauacutede

No tocante a essas aacutereas de trabalho foi aprovado o Plano de Accedilatildeo

2010-2015 que detalha as atividades de cada um dos cinco toacutepicos propostos

A fim de priorizar a questatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede -

CEIS optou-se para este estudo dar destaque aos entendimentos relativos agrave

aacuterea de trabalho correlacionada ao CEIS no Plano de Trabalho da Unasul

Sauacutede a ser apresentado nos proacuteximos capiacutetulos

Ademais ganha relevacircncia a constituiccedilatildeo do Instituto Sul Americano de

Governanccedila em Sauacutede ndash ISAGS que dentre os desafios assumidos tem como

objetivo valorizar o parque e a capacidade produtiva da regiatildeo

Formado com o principal objetivo de promover o intercacircmbio a reflexatildeo

criacutetica a gestatildeo do conhecimento e a geraccedilatildeo de inovaccedilotildees no campo da

poliacutetica e governanccedila em sauacutede sob a perspectiva da agenda estrateacutegica para

o setor isto eacute do Plano Quinquenal de Sauacutede 2010-2015 o ISAGS foi criado

pelo Conselho de Chefes de Estado e de Governo no Equador em abril de

2010 Entidade intergovernamental de caraacuteter puacuteblico integrante do Conselho

de Sauacutede Sul-Americano da Uniatildeo das Naccedilotildees Sul-Americanas Tem como

membros os 12 paiacuteses da Ameacuterica do Sul aderidos agrave Unasul e tem como

representantes oficiais e formais os Ministeacuterios da Sauacutede e os Ministeacuterios das

Relaccedilotildees Exteriores de cada paiacutes partiacutecipe Formado pelos Conselhos Diretivo

e Consultivo e pela Direccedilatildeo Executiva busca preparar dirigentes e experts para

os sistemas de sauacutede regionais

O ISAGS eacute uma entidade com maior atuaccedilatildeo na gestatildeo do

conhecimento e na oferta de cooperaccedilatildeo teacutecnica e tem trecircs componentes

160

centrais formaccedilatildeo de quadros cooperaccedilatildeo teacutecnica e promoccedilatildeo do diaacutelogo

integrando e articulando os Ministros da sauacutede dos distintos paiacuteses Sua

atuaccedilatildeo daacute-se portanto (a) na gestatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento (b) no

desenvolvimento de liacutederes em Gestatildeo em Sauacutede (c) no assessoramento

teacutecnico e (d) no trabalho em rede [97]

Nesse sentido o ISAGS se propotildee a colaborar com instituiccedilotildees

nacionais regionais e globais com redes de gestores e de acadecircmicos Sua

agenda eacute consensuada isto eacute pactuada entre os paiacuteses membros (seus 12

Ministros da Sauacutede)

O ISAGS portanto eacute uma instituiccedilatildeo que pertence aos Estados

membros da Unasul e exercita suas atividades em representaccedilatildeo e por

delegaccedilatildeo dos mesmos Para Temporatildeo 89 a natureza do ISAGS estaacute

intrinsecamente relacionada aos conceitos de Estado Soberania Governo e

Mandato Suas iniciativas devem ser interpretadas como instrumentos de

poliacuteticas intergovernamentais que respondam a interesses comuns e pactuados

entre os Estados Membros expressos por seu Conselho Diretivo por meio de

um Plano de Trabalho

Sob essa perspectiva o ISAGS trabalha na construccedilatildeo do Plano Trienal

de Trabalho 2012-2015 que resulta das prioridades definidas no Plano

Quinquenal 2010-2015 do Conselho de Sauacutede Sul-Americano O

plano abrange as necessidades identificadas pelos Ministeacuterios da Sauacutede dos

paiacuteses membros Suas atividades tambeacutem satildeo desenvolvidas em estreita

articulaccedilatildeo com as Redes e Grupos Teacutecnicos da Unasul-Sauacutede [98]

Vale ressaltar que a despeito do pouquiacutessimo tempo da constituiccedilatildeo do

ISAGS esse Instituto se destaca em funccedilatildeo do dinamismo do Conselho de

Sauacutede Sul-Americano da Unasul A criaccedilatildeo do ISAGS com a aprovaccedilatildeo do

seu Estatuto em 2011 e a imediata aprovaccedilatildeo do orccedilamento proacuteprio e

instalaccedilatildeo definitiva da sua sede no RJ em abril de 2012 bem como a

97

Temporatildeo J Palestra ―Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

ocorrida em setembro de 2011 no NETHIS em Brasiacutelia

98

Disponiacutevel no portal httpisags-unasurorg

161

constituiccedilatildeo de um ato protocolar diplomaacutetico que daacute ao ISAGS status

diplomaacutetico representam a consolidaccedilatildeo da integraccedilatildeo poliacutetica da regiatildeo para

o tema em questatildeo ressaltando notadamente a estreita vinculaccedilatildeo da sauacutede

com a poliacutetica externa e a diplomacia entre os paiacuteses Correlaccedilatildeo essa que

tambeacutem pode ser observada nos encontros promovidos pelo Instituto ao

estimular e ter em participaccedilatildeo expertises da sauacutede e da poliacutetica externa

Segudo Buss 90 a qualidade de conduccedilatildeo e lideranccedila coordenaccedilatildeo e

gestatildeo formulaccedilatildeo de poliacuteticas de sauacutede e intersetoriais capacitaccedilatildeo

avanccedilada produccedilatildeo de conhecimento e outros aspectos relacionados agraves

funccedilotildees essenciais da sauacutede puacuteblica satildeo pilares fundamentais para sedimentar

o apoio necessaacuterio ao fortalecimento das capacidades intriacutensecas e exoacutegenas

relacionadas aos paiacuteses membros da Unasul O ISAGS se apresenta como

instituto legiacutetimo entre os paiacuteses da regiatildeo com a finalidade de promover a

construccedilatildeo desses pilares

Finalmente de forma semelhante ao adotado em relaccedilatildeo ao Mercosul a

descriccedilatildeo das principais iniciativas referentes agrave aacuterea da sauacutede sob a

perspectiva do CEIS junto agrave Unasul seraacute aprofundada no decorrer do capiacutetulo

V

23 Aacutefrica

A poliacutetica externa do Brasil mais notadamente a partir do seacuteculo XXI

vem reconhecendo a relaccedilatildeo com a Aacutefrica como prioridade estrateacutegica A

intensificaccedilatildeo dessa relaccedilatildeo estaacute inserida na prioridade mais ampliada que foi

conferida pelo Governo brasileiro nas suas relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Segundo aponta Celso Amorim no prefaacutecio do livro de Carneiro 91 (p9)

com o objetivo de contribuir para a promoccedilatildeo do desenvolvimento de paiacuteses

mais pobres os mecanismos de cooperaccedilatildeo Sul-Sul satildeo instrumentos com os

quais o Brasil vem atuando de forma cada vez mais significativa o que para

Amorim ldquotranscende o campo diplomaacuteticordquo e busca alcanccedilar uma perspectiva

humaniacutestica da poliacutetica internacional

162

Em uma dimensatildeo mais ampliada dado o comprometimento do governo

brasileiro com a integraccedilatildeo sul-americana o Brasil acolheu o interesse

manifestado pelo entatildeo presidente da Nigeacuteria que recebendo a visita do

presidente Lula ao seu paiacutes em abril de 2005 sugeriu o estabelecimento de um

mecanismo de aproximaccedilatildeo dos paiacuteses africanos com o Brasil

Daiacute surge a iniciativa que efetivamente buscou envolver os paiacuteses dos

dois continentes Segundo dados do Itamaraty 83 em novembro de 2006

ocorreu a I Cuacutepula Ameacuterica do Sul ndash Aacutefrica (ASA) em Abuja Nigeacuteria resultando

na Declaraccedilatildeo de Abuja no Plano de Accedilatildeo de Abuja e na Resoluccedilatildeo que criou

o Foacuterum de Cooperaccedilatildeo Ameacuterica do Sul-Aacutefrica Desses movimentos resultou a

previsatildeo de encontros de Chefes de Estado e Governo a cada dois anos

encontros de chanceleres entre cada Cuacutepula e outros encontros inclusive

ministeriais setoriais

Eacute portanto um Foacuterum intergovernamental natildeo possuindo capacidade

operativa uma vez que tem como objetivo incrementar articulaccedilotildees e a

execuccedilatildeo dos projetos relacionados sendo estabelecido com o propoacutesito de

promover melhor entendimento diaacutelogo e cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses-

membros A ASA reflete a constituiccedilatildeo da gradual ascensatildeo dos paiacuteses em

desenvolvimento no cenaacuterio poliacutetico e econocircmico internacional que por meio

de foacuteruns inter-regionais ou multilaterais contribuem para que haja uma reforma

da estrutura do poder mundial e para o estabelecimento de uma ordem menos

centralizada mais multipolar e mais democraacutetica [99] Tendo como objetivos a

promoccedilatildeo da aproximaccedilatildeo do diaacutelogo poliacutetico do entendimento e a

cooperaccedilatildeo entre os Estados-Membros aleacutem da exploraccedilatildeo das

potencialidades de cooperaccedilatildeo multidisciplinar dentre os quais emerge a

questatildeo sauacutede

Segundo o Itamaraty o Brasil foi anfitriatildeo de quatro reuniotildees do Comitecirc

Consultivo de Embaixadores da ASA sendo que a uacuteltima ocorreu em setembro

de 2010 refletindo o dinamismo do Paiacutes nas accedilotildees de convergecircncia entre os

dois continentes

99

Disponiacutevel em wwwmregovbr

163

Ademais no campo bilateral o Brasil prioriza as relaccedilotildees com os paiacuteses

do continente africano tanto pela busca de cooperaccedilatildeo econocircmica e pela

coordenaccedilatildeo em questotildees de agenda internacional assim como pelo propoacutesito

marcado pelo histoacuterico da aproximaccedilatildeo com o continente e tambeacutem por

questotildees de inspiraccedilatildeo humanitaacuteria A aproximaccedilatildeo com a Aacutefrica natildeo se esgota

no plano bilateral compreendendo tambeacutem a esfera multilateral africana [100]

O fortalecimento da presenccedila diplomaacutetica brasileira no continente

africano eacute reflexo do interesse e da priorizaccedilatildeo do governo brasileiro junto a

esse continente O que pode ser atestado na reportagem da BBC Brasil [101]

ao relatar a forte presenccedila da diplomacia brasileira representada pela

quantidade de embaixadas no continente Em relaccedilatildeo agraves 54 naccedilotildees africanas

o Paiacutes tem atualmente embaixadas em 37 delas ldquodas quais 19 foram

inauguradas desde o iniacutecio do governo Lulardquo Eacute o quinto Paiacutes com maior

presenccedila diplomaacutetica na Aacutefrica soacute perdendo para Estados Unidos que

comporta com 49 missotildees China com 48 Franccedila com 46 e Ruacutessia com 38 Se

considerarmos os paiacuteses do eixo Sul-Sul o Brasil ganha maior dinamismo ao

se destacar nessa relaccedilatildeo

Por outro lado conforme atesta a reportagem o movimento inverso eacute

tambeacutem significativo Desde 2003 somando-se agraves 16 missotildees que jaacute existiam

no Brasil foram inauguradas mais 17 missotildees dos paiacuteses africanos

A construccedilatildeo de parcerias com os paiacuteses africanos vem sendo

conduzida pela diplomacia brasileira de forma soacutelida e estruturante em que as

100 Em estreita relaccedilatildeo com a Uniatildeo Africana (UA) A UA facilita a implementaccedilatildeo das

atividades de cooperaccedilatildeo entre Brasil e paiacuteses partiacutecipes atuando como mediadora e promotora do Brasil

como parceiro preferencial A UA instituiacuteda em julho de 2001 eacute composta por todos os Estados

africanos agrave exceccedilatildeo do Marrocos totalizando 53 membros Tem como propoacutesitos acelerar o processo de

integraccedilatildeo regional promover e consolidar a unidade do continente fomentar a uniatildeo a solidariedade e a

coesatildeo eliminar o flagelo dos conflitos e habilitar a Aacutefrica a fazer face aos desenvolvimentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais da ordem internacional Disponiacutevel em wwwmregovbr Acesso em 30 de maio de

2012

101 BBC Brasil Disponiacutevel em

httpwwwbbccoukportuguesenoticias201110111017_diplomacia_africa_br_jfshtmls

164

relaccedilotildees satildeo construiacutedas de forma participativa em uma perspectiva horizontal

entre iguais

Ainda de acordo com a reportagem a despeito dos bons resultados

comerciais brasileiros alcanccedilados nos uacuteltimos anos e o fato de a Aacutefrica abrigar

um sexto da populaccedilatildeo mundial estar sob os holofotes da China - que deteacutem

grande interesse na regiatildeo - e com previsatildeo de crescimento nas proacuteximas

deacutecadas existem criacuteticas recebidas pelo governo brasileiro em apostar a sua

poliacutetica externa agraves relaccedilotildees com paiacuteses subdesenvolvidos Entretanto eacute uma

aposta que merece ser cuidadosamente cultivada dado o compartilhamento

dos laccedilos histoacutericos eacutetnicos e culturais a poliacutetica adotada pelo Brasil de

alcance global na busca pela soluccedilatildeo agrave fome e pela diminuiccedilatildeo das

desigualdades socioeconocircmicas a semelhanccedila dos propoacutesitos e do

compartilhamento dos problemas brasileiros e principalmente dada a poliacutetica

externa do Brasil que busca alcanccedilar uma dimensatildeo humana da poliacutetica

internacional

Tambeacutem focada nessa perspectiva a Comunidade dos Paiacuteses de

Liacutengua Portuguesa - CPLP que engloba os Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial

Portuguesa (Angola Cabo Verde Guineacute Bissau Moccedilambique e Satildeo Tomeacute e

Priacutencipe) - PALOP aleacutem do Brasil Portugal e Timor-Leste foi criada em 1996

constituindo-se em foro privilegiado ligados pela liacutengua comum em que em

todas as instacircncias deliberativas privilegiam-se as decisotildees tomadas em

consenso

Segundo o portal do Itamaraty a CPLP tem trecircs objetivos gerais (1) a

concertaccedilatildeo poliacutetico-diplomaacutetica isto eacute a promoccedilatildeo da concertaccedilatildeo de

posiccedilotildees em relaccedilatildeo a temas da agenda internacional o apoio muacutetuo a

candidaturas a cargos em organismos internacionais e ao fortalecimento

institucional dos paiacuteses membros (PALOP e Timor Leste) (2) a cooperaccedilatildeo em

todos os domiacutenios em particular aqueles que sejam estrateacutegicos para o

desenvolvimento econocircmico e social dos PALOP e Timor Leste em bases

sustentaacuteveis e (3) a promoccedilatildeo e difusatildeo da Liacutengua Portuguesa

Ainda segundo o Itamaraty na aacuterea da cooperaccedilatildeo busca-se a

promoccedilatildeo de projetos que visem ao fortalecimento dos paiacuteses membros

165

capacitando os PALOP e o Timor Leste em aacutereas estrateacutegicas para seu

desenvolvimento socioeconocircmico como por exemplo a aacuterea da sauacutede O

Brasil com base na identificaccedilatildeo histoacuterico-cultural somado ao fato de possuir

ldquoexpertiserdquo e compartilhar conhecimentos em setores estrateacutegicos para o

desenvolvimento econocircmico e social vem exercendo papel fundamental na

consolidaccedilatildeo de benefiacutecios fundamentais para o fortalecimento da capacidade

institucional dos paiacuteses africanos

Nesse sentido a cooperaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede se insere na estrateacutegia

do relacionamento do Brasil com o continente africano em termos gerais

promovida como poliacutetica de Estado principalmente a partir do Governo Lula

Nessa perspectiva o principal diferencial tem sido o alto grau de prioridade que

os mais diversos oacutergatildeos do Estado brasileiro tecircm dado agrave cooperaccedilatildeo com a

Aacutefrica A Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz [102] vem se destacando na difusatildeo de

conhecimento no fortalecimento das atividades de cooperaccedilatildeo teacutecnica na aacuterea

da sauacutede e da ciecircncia e tecnologia em sauacutede na implantaccedilatildeo de projetos

estrateacutegicos para a aacuterea da sauacutede e na respectiva capacitaccedilatildeo profissional dos

paiacuteses africanos fundamentada principalmente pelo Plano Estrateacutegico de

Cooperaccedilatildeo em Sauacutede da CPLP ndash PECSCPLP adotada em 2009 [103]

Essa relaccedilatildeo brasileira com o continente africano tanto sob o enfoque

bilateral quanto em bases comunitaacuterias e multilaterais consolidam o paradigma

da cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Conforme destaca o portal do Itamaraty ldquoas ldquovantagens comparativasrdquo

do Brasil como prestador de cooperaccedilatildeo teacutecnica aos PALOP tecircm levado

doadores tradicionais bilaterais e multilaterais a manifestarem interesse em

projetos de triangulaccedilatildeo com o Brasil nesses paiacuteses

102

Instituiccedilatildeo vinculada ao Ministeacuterio da Sauacutede reconhecida nacional e internacionalmente e

considerada como instituiccedilatildeo puacuteblica estrateacutegica de Estado para a sauacutede

103

Quanto ao aprofundamento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees em sauacutede no que se refere ao continente

africanoseraacute considerada a mesma metodologia adotada por este estudo agraves questotildees do Mercosul e da

Unasul seratildeo apresentadas nos capiacutetulos subsequentes

166

24 Cooperaccedilatildeo Triangular

Exemplos de cooperaccedilatildeo triangular do Brasil com outros paiacuteses em

desenvolvimento vecircm ganhando espaccedilo na agenda contemporacircnea inclusive

tendo sido um dos projetos premiados pelas Naccedilotildees Unidas como melhor

projeto de CSS em 2006 ldquoColeta de Resiacuteduos Soacutelidosrdquo financiado pelo Foacuterum

de Diaacutelogo Iacutendia Brasil e Aacutefrica do Sul (IBAS) e beneficiando o Haiti Pode ser

citada tambeacutem a reconstruccedilatildeo de posto de sauacutede em Cabo Verde [104] 92 Essa

relaccedilatildeo acrescenta a representaccedilatildeo de oportunidades de promoccedilatildeo de

aprendizado pelas experiecircncias do desenvolvimento e tambeacutem maximiza

recursos capacidades e conhecimento

Ademais destaca-se a atuaccedilatildeo brasileira junto agraves iniciativas com

organizaccedilotildees internacionais e paiacuteses desenvolvidos que financiam ou oferecem

conhecimento especiacutefico para serem transferidos para paiacuteses menos

desenvolvidos Inseridos na cooperaccedilatildeo triangular podemos citar como

exemplo a relaccedilatildeo do Brasil com o Haiti e o Canadaacute nas accedilotildees de imunizaccedilatildeo

Para Herlt [105] compotildeem a cooperaccedilatildeo triangular projetos estruturantes

cujo objetivo eacute apoiar e fortalecer processos e mudanccedilas nacionais Trata-se

de uma cooperaccedilatildeo entre governos focada nas estrateacutegias poliacuteticas nacionais

cuja participaccedilatildeo da sociedade civil eacute presente Segundo a apresentadora o

grande diferencial eacute relacionado aos princiacutepios que a regem Isto eacute a

horizontalidade a apropriaccedilatildeo pelo paiacutes beneficiaacuterio a sustentabilidade e a

intersetorialidade Eacute como se posiciona o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores do

Brasil conforme portal do Itamaraty diferenciando o Paiacutes na modalidade da

cooperaccedilatildeo teacutecnica internacional

ldquoa cooperaccedilatildeo trilateral natildeo representa modalidade que visa o financiamento ou a terceirizaccedilatildeo da capacidade brasileira senatildeo o compartilhamento de recursos teacutecnicos humanos e financeiros de forma complementar entre os parceiros para a realizaccedilatildeo de

104

Fonte wwwitamaratygovbr

105

Herlt C Apresentaccedilatildeo ―Cooperaccedilatildeo triangular o papel das parcerias na cooperaccedilatildeo Sul-Sul

In Foacuterum Sul-Americano de Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede no Rio de Janeiro em 24112011

167

projetos com maior efeito positivo e sustentabilidade nos paiacuteses beneficiaacuteriosrdquo

Quanto agrave divisatildeo de responsabilidades entre os paiacuteses normalmente

cabem agravequeles mais desenvolvidos participar com o conhecimento fomentos

tecnologias dentre outras atividades que requerem uma maior especializaccedilatildeo

Aos menos favorecidos a responsabilidade eacute com a estrutura e a

disponibilidade interna

Segundo o observador permanente da Partners in Population and

Development (PPD) junto agrave ONU Sethuramiah Rao [106] a cooperaccedilatildeo Sul-Sul

e a cooperaccedilatildeo triangular para o desenvolvimento representam atualmente

cerca de 10 da cooperaccedilatildeo total ao desenvolvimento em que o Brasil

juntamente com China Iacutendia e Aacutefrica do Sul eacute um dos principais paiacuteses que

respondem pela contribuiccedilatildeo a essas cooperaccedilotildees

Isso posto tem-se na cooperaccedilatildeo triangular a capacidade de

intercambiar experiecircncias reunindo vantagens comparativas dos parceiros e

pactuar etapas dos projetos de forma consensuada entre os parceiros

envolvidos (caracteriacutestica da horizontalidade) Projetos esses baseados na

demanda dos paiacuteses receptores e com a lideranccedila do paiacutes beneficiaacuterio

estimulando o desenvolvimento das capacidades locais e fortalecendo seus

processos nacionais com a integraccedilatildeo dos diversos setores incluindo a

sociedade civil estimulando inclusive a integraccedilatildeo regional (ao que atendem

aos princiacutepios da apropriaccedilatildeo pelo paiacutes beneficiaacuterio da sustentabilidade e da

intersetorialidade)

O grande desafio segundo aponta o Itamaraty [107] eacute o de articular as

accedilotildees de cooperaccedilatildeo Sul-Sul com as da cooperaccedilatildeo Norte-Sul dos paiacuteses

doadores a partir de mecanismos que sejam operacionalmente eficientes e

que valorizem as contribuiccedilotildees de cada parceiro

106

Disponiacutevel em httpenvolverdecombrnoticiascooperacao-sul-sul-acompanha-aumento-

demografico Acesso em 10052012

107

Conforme disponiacutevel em wwwitamaratygovbr

168

Em que pese maior evidecircncia na carteira de projetos a partir dos

relatoacuterios disponiacuteveis no portal do Itamaraty de temas relacionados agrave

alimentaccedilatildeo fome desenvolvimento agriacutecola meio ambiente trabalho infantil

previdecircncia social seguranccedila infraestrutura e educaccedilatildeo a sauacutede natildeo

apresenta destaque

Entretanto no que se refere agrave cooperaccedilatildeo triangular envolvendo o Brasil

na aacuterea da sauacutede o maior enfoque estaacute nas questotildees relacionadas agrave AIDS

Como exemplo apresentado por Herlt 93 tem-se a cooperaccedilatildeo firmada entre o

Brasil a Alemanha e paiacuteses parceiros no tocante ao fortalecimento do sistema

de sauacutede como um todo e agrave integraccedilatildeo horizontal da resposta ao HIV-AIDS

Em que pesem contribuiccedilotildees especiacuteficas de cada um dos paiacuteses o Brasil

nessa cooperaccedilatildeo especiacutefica tem atuaccedilatildeo na expertise teacutecnica e experiecircncia

na aacuterea do SUS em questotildees de descentralizaccedilatildeo de participaccedilatildeo de sauacutede

familiar de redes de sauacutede etc Paiacuteses do Norte como no caso da Alemanha

tem o conhecimento em gestatildeo e monitoramento de projetos Os demais

paiacuteses parceiros nesse projeto em particular paiacuteses da Ameacuterica Latina do

Caribe e da Aacutefrica isto eacute paiacuteses da relaccedilatildeo Sul-Sul entram com o

conhecimento local a infraestrutura e a logiacutestica

Outro exemplo de cooperaccedilatildeo triangular firmado com o Brasil na aacuterea da

sauacutede foi a cooperaccedilatildeo cujo objeto vacina contra Febre Amarela foi firmada

com a JICA [108] do Japatildeo com a Aacutefrica e o Brasil

Podemos destacar tambeacutem possibilidades de cooperaccedilatildeo com

organizaccedilotildees internacionais e a expansatildeo da cooperaccedilatildeo trilateral com os

paiacuteses desenvolvidos visando beneficiar as naccedilotildees mais pobres Exemplo que

pode ser citado foi o apoio dado pelo Brasil - em parceria com o Canadaacute - ao

programa haitiano de vacinaccedilatildeo contra a hepatite-B [109]

Finalmente em termos poliacuteticos os esforccedilos relacionados aos

investimentos direcionados para a efetividade da agenda Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

108

Japan International Cooperation Agency Maiores detalhes sobre a JICA disponiacuteveis em

wwwjicagojp 109

Discurso do Ministro Celso Amorim na 60ordf Assembleacuteia Mundial de Sauacutede em Genebra em

maio de 2007 (fonte wwwmregovbr)

169

natildeo encontram ressonacircncia junto aos principais atores internacionais mas tecircm

grande impacto junto agrave comunidade em desenvolvimento 70

Haacute evidentemente conflitos quantos aos interesses e expectativas entre

os distintos paiacuteses Diferentes comentaacuterios da Alemanha Japatildeo Brasil Iacutendia

abordam o discurso poliacutetico em debate ocorrido em 2010 acerca da

Cooperaccedilatildeo Sul-Sul 70

ldquoRather than focusing on the AAA let‟s learn from the perspectives of new actors and their innovationsrdquo (Alemanha) ldquoConflict between developed and developing countries on the framework that governs SSC How do we move forwardrdquo (Japatildeo) ldquoIt is a mistake to superimpose the paradigms that were established to reduce the serious shortcomings of N-S Cooperation on SSC hellipThe UN is failing to lead on SSC because it reflects the priorities of Northern donorsrdquo (India) ldquoSSC is based on principles and on the similarity of conditions among developing countries SSC should be understood in its own terms and not as a sub-category of international cooperationrdquo (Brasil)

O que nos leva a refletir sobre necessaacuterias condiccedilotildees para a efetividade

das cooperaccedilotildees seja no tocante agrave legitimidade da governanccedila da ONU seja

na tambeacutem legitimidade dos interesses dos paiacuteses do Sul e na redefiniccedilatildeo de

prioridades focadas nas necessidades dos paiacuteses envolvidos e recebedores da

cooperaccedilatildeo e natildeo em prioridades refletidas pelos doadores do Norte por

exemplo

3 Reflexotildees sobre o Papel do Brasil na Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Concluindo diante do exposto anteriormente o Brasil vem se

consolidando como um dos mais importantes protagonistas nas iniciativas da

CSS principalmente a partir da primeira deacutecada do seacuteculo XXI replicando

inclusive teacutecnicas e soluccedilotildees que tiveram impacto positivo sobre o

desenvolvimento nacional e podem ser compartilhados com paiacuteses que

apresentam desafios semelhantes Ademais a cooperaccedilatildeo promove aleacutem do

170

desenvolvimento institucional a capacidade de gestatildeo e o estiacutemulo ao

engajamento ao objeto do projeto

Nesse sentido a cooperaccedilatildeo Sul-Sul se apresenta como novo

paradigma de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento em que o conhecimento

sustenta o desenvolvimento Dessa forma o Brasil vem adotando cada vez

mais a premissa de que se faz cooperaccedilatildeo internacional Sul-Sul com o

reconhecimento da capacidade e potencialidade dos parceiros Cooperaccedilatildeo

essa que parte do princiacutepio que se faz entre iguais Abordagem essa que deixa

para traacutes o ldquoolharrdquo assistencialista da cooperaccedilatildeo em favor do domiacutenio do

objeto cooperado seja serviccedilo bem ou conhecimento

Esse novo sentido definido como cooperaccedilatildeo estruturante 94 apresenta

a perspectiva do estabelecimento de cooperaccedilotildees fundamentadas em uma

nova arquitetura pautada na relaccedilatildeo ldquoganha-ganhardquo Ganham-se

conhecimentos participaccedilatildeo efetiva trocas de experiecircncias promovem-se

pilares para uma estruturaccedilatildeo mais soacutelida e contiacutenua dos paiacuteses favorecidos e

partiacutecipes dos consensos praticados Podemos citar as cooperaccedilotildees bilaterais

e multilaterais com questotildees especiacuteficas como eacute o caso da sauacutede como por

exemplo a criaccedilatildeo de uma Rede dos Institutos Nacionais de Sauacutede da CPLP

[110]

Isso posto a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul continuaraacute se definindo por meio do

diaacutelogo poliacutetico e das praacuteticas estabelecidas entre as partes aleacutem de ser

elaborada como um espaccedilo agregador aberto para oportunidades O

compartilhamento do conhecimento eacute uma ferramenta estrateacutegica para

promover crescimento e desenvolvimento complementar agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica

e financeira Aponta entretanto a necessidade de monitoramento e avaliaccedilatildeo

dos resultados sistematicamente 70

Sua eficaacutecia depende de monitoramentos sistemaacuteticos e avaliaccedilatildeo dos

resultados para eventuais correccedilotildees de rumos A cooperaccedilatildeo deve ultrapassar

110

Fruto da reuniatildeo dos Institutos Nacionais de Sauacutede da CPLP em novembro de 2006 ocorrida

em Lisboa e organizada pela Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz (Brasil) em parceria com o Instituto de Higiene e

Medicina Tropical (Portugal) Fonte

httpwwwcplporgFilesFilercplpredessaudeDelibCPLP_SAUDEpdf Acesso em 15052012

171

o caraacuteter instrumental e eminentemente teacutecnico para se tornar estruturadora

seja na CSS seja em toda a projeccedilatildeo internacional brasileira

Os desafios para o Paiacutes estatildeo na construccedilatildeo de um modelo institucional

para a cooperaccedilatildeo brasileira que vislumbre agilidade seja participativa ofereccedila

transparecircncia e prestaccedilatildeo de contas e viabilize interligaccedilotildees e interaccedilotildees com

os distintos parceiros envolvidos seja em acircmbito local regional ou

internacional aleacutem da construccedilatildeo de um modelo coordenador com outros

paiacuteses que cooperam juntamente com o Brasil isto eacute por meio da cooperaccedilatildeo

triangular envolvendo paiacuteses desenvolvidos ou natildeo

A cooperaccedilatildeo Sul-Sul deve ser entendida por seus proacuteprios termos e

natildeo como uma subcategoria de cooperaccedilatildeo internacional Tambeacutem natildeo deve

ser definida como um estaacutegio para se tornar doador permitindo-se ao

aprendizado a partir das perspectivas de novos atores e das suas inovaccedilotildees

assim como natildeo deve ser imposta a esse tipo de cooperaccedilatildeo a

responsabilidade de suprir eventuais fracassos eou lacunas da cooperaccedilatildeo

Norte-Sul

Natildeo haacute mais como retroceder Jaacute fazem parte da realidade

contemporacircnea dos paiacuteses do eixo Sul-Sul processos de integraccedilatildeo e

cooperaccedilotildees horizontes e estruturantes principalmente paiacuteses da Ameacuterica

Latina que projetam uma maior participaccedilatildeo no tabuleiro geopoliacutetico mundial e

dependem dessa concepccedilatildeo integradora e fortalecedora

Por outro lado eacute de vital importacircncia a busca pelo contiacutenuo

fortalecimento do desenvolvimento seja por mecanismos exoacutegenos ou

endoacutegenos e nesse sentido natildeo basta compartilhar eacute necessaacuterio obter

conhecimentos estruturar-se aumentar a sua capacidade de governanccedila de

produccedilatildeo e de inovaccedilatildeo Isto eacute a cooperaccedilatildeo Sul-Sul natildeo se manteacutem em longo

prazo se natildeo houver nos paiacuteses liacutederes do Sul um sustentaacutevel grau de

desenvolvimento (em PampD) que permita autonomia tecnoloacutegica para que de

fato se efetive e sustente a cooperaccedilatildeo Sul-Sul Enquanto natildeo houver essa

lideranccedila natildeo deve ser descartado o benefiacutecio da relaccedilatildeo Norte Sul

privilegiando nessa relaccedilatildeo os interesses dos paiacuteses do sul quanto agrave

transferecircncia de conhecimentos e capacitaccedilatildeo Logo a relaccedilatildeo Norte-Sul-Sul eacute

172

fundamental para a capacitaccedilatildeo dos paiacuteses do Sul de maneira que seus

resultados positivos se sustentem em longo prazo e natildeo se tornem inoacutecuos no

meio do caminho

Ademais questotildees como desigualdade socioeconocircmica pobreza fome

satildeo desafios que precisam ser ultrapassados A sauacutede correlaciona-se a essas

questotildees tanto como igualmente viacutetima assim como potencial aacuterea para

crescimento bem-estar e desenvolvimento

O viacutenculo entre o desenvolvimento dos sistemas nacionais de sauacutede e o

acesso universal a medicamentos e a outros insumos para a sauacutede apontam

como estrateacutegico o estabelecimento e o fortalecimento do Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede

Sistemas de sauacutede satildeo estruturas tecnoloacutegicas complexas ndash

dependentes de equipamentos meacutedico-ciruacutergicos medicamentos vacinas kits

para diagnoacutestico oacuterteses e proacuteteses sangue e hemoderivados materiais de

consumo insumos diversos e instalaccedilotildees especializadas 390 E satildeo caras Os

paiacuteses do Sul apresentam preocupante deacuteficit na balanccedila comercial referente

aos bens e produtos do CEIS

E nessa perspectiva em que se busca aliar questotildees econocircmicas agraves

necessidades de sauacutede ndash como direito do ser humano - o Precircmio Nobel de

Economia Joseph Stiglitz 95 reforccedila que em um periacuteodo de reflexotildees e

decisotildees decorrentes do encontro mundial dos liacutederes em sauacutede dos paiacuteses

signataacuterios da OMS o sistema de inovaccedilatildeo requer reformas amplas na esfera

internacional

A Organizaccedilatildeo divulgou relatoacuterio do Consultative Expert Working Group-

CEWG ldquoPesquisa e desenvolvimento para fazer frente agraves necessidades do

setor de sauacutede nos paiacuteses em desenvolvimentordquo que recomenda soluccedilotildees com

abordagens abrangentes como por exemplo ldquocontribuiccedilotildees obrigatoacuterias dos

governos para pesquisas sobre as necessidades dessas naccedilotildeesrdquo e um

ldquoobservatoacuterio global que monitoraria onde estatildeo as maiores necessidadesrdquo

Accedilotildees essas que segundo Stiglitz 95 devem ser pautadas primordialmente

sob a promoccedilatildeo de maior compartilhamento do conhecimento cientiacutefico A

173

Resoluccedilatildeo aprovada na 65ordf AMS [111] acerca do financiamento global da

pesquisa para a geraccedilatildeo de novos medicamentos e vacinas tanto de interesse

brasileiro quanto de outros paiacuteses em desenvolvimento estaacute pautada em

entendimentos sobre correlaccedilotildees entre sauacutede puacuteblica inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e

poliacuteticas de propriedade intelectual [112]

Os resultados das pesquisas provenientes de recursos aplicados aos

objetivos da Estrateacutegia Global e do respectivo plano de accedilatildeo seratildeo tratados

como ldquobens puacuteblicos globais contribuindo para desvincular o custo da pesquisa

do preccedilo do medicamentordquo 67 A despeito das dificuldades concretas e de natildeo

abordar mudanccedilas estruturais relacionadas agrave ordem econocircmica e poliacutetica

assimeacutetrica os autores avanccedilam ao propor que a adoccedilatildeo de um instrumento

global dessa natureza representaraacute um elo virtuoso entre modelos de

incentivos a sauacutede puacuteblica e a poliacutetica tecnoloacutegica brasileira angariando para

o Brasil recursos estrateacutegicos para o Complexo Industrial da Sauacutede e novos

parceiros para a busca de soluccedilotildees tecnoloacutegicas

O Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede emerge portanto como

diferencial no enfrentamento das vulnerabilidades decorrentes da fraacutegil ou ateacute

mesmo ausecircncia de uma base concreta produtiva tecnoloacutegica endoacutegena nos

paiacuteses em desenvolvimento Para o Brasil o CEIS representa a possibilidade

de reverter o que Buss e Chamas 67 destacam em seu artigo que o Foacuterum

Global para a Pesquisa em Sauacutede cunhou em 1998 como o gap 1090

111

Em conformidade com Buss e Chamas em artigo publicado no Valor Econocircmico em 310812

―com a aprovaccedilatildeo da resoluccedilatildeo pela AMS de 2012 que acolheu o relatoacuterio do CEWG foram

estabelecidas algumas metas Ainda segundo o artigo as propostas do relatoacuterio do CEWG seratildeo

discutidas e analisadas por meio de consultas em niacuteveis nacional regional e global com vistas a

posteriores avaliaccedilotildees na AMS de 2013 O que representaoportunidades para aprimoramento em niacutevel

ampliado e correccedilotildees de rumos e ajustes para uma efetiva aplicabilidade com vistas agrave eficiecircncia e eficaacutecia

das propostas do relatoacuterio

112 Em termos histoacutericos ―em 2008 os Estados-membros da OMS aprovaram a Estrateacutegia

Global e um Plano de Accedilatildeo sobre Sauacutede Puacuteblica Inovaccedilatildeo e Propriedade Intelectual um acordo poliacutetico

e teacutecnico para orientar a geraccedilatildeo a produccedilatildeo e o acesso de soluccedilotildees terapecircuticas satisfatoacuterias a

populaccedilotildees negligenciadas Para subsidiar a implementaccedilatildeo da Estrateacutegia foi criado o Grupo Consultivo

de Especialistas em Pesquisa e Desenvolvimento Financiamento e Coordenaccedilatildeo (CEWG em inglecircs) que

produziu ―um relatoacuterio (disponiacutevel em wwwwhointphinewscewg_2011en) com recomendaccedilotildees

inovadoras que incluem a criaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo governamental obrigatoacuteria de 001 do PIB para todos

os paiacuteses distribuindo-se de modo mais equilibrado as responsabilidades Estes recursos deveratildeo ser

aplicados em PampD em situaccedilotildees nas quais a tecnologia natildeo existe ou natildeo eacute a mais adequada ou o preccedilo do

produto natildeo eacute compatiacutevel com a realidade econocircmica dos paiacuteses em desenvolvimento 67

174

indicando que apenas 10 da pesquisa era dedicada aos problemas de sauacutede

de 90 da populaccedilatildeo mundialrdquo e que a despeito dos avanccedilos jaacute conquistados

os problemas persistem natildeo soacute se restringindo agraves doenccedilas negligenciadas

Portanto questotildees como o crescente (e insustentaacutevel) deacuteficit da balanccedila

comercial da sauacutede 5 a corrente crise da induacutestria farmacecircutica (em funccedilatildeo do

decliacutenio no nuacutemero de novas moleacuteculas aprovadas e as patentes de

blockbusters expiraacuteveis em curto prazo e natildeo substituiacutedas) e a preferecircncia por

doenccedilas crocircnicas do que por antibioacuteticos e vacinas (ldquoem que se identifica uma

disseminaccedilatildeo de bacteacuterias resistentes agraves prescriccedilotildees disponiacuteveisrdquo) satildeo falhas

de mercado 67 que representam vulnerabilidades que podem se tornar

resistentes e ldquofataisrdquo se natildeo combatidas em niacuteveis nacionais e globais

Nesse sentido considera-se que o CEIS se apresenta como diferencial

na conduccedilatildeo da poliacutetica nacional de sauacutede de paiacuteses em desenvolvimento

notadamente no Brasil e dada a sua representatividade em niacutevel global eacute

tema que se incorpora agraves discussotildees das relaccedilotildees internacionais e da poliacutetica

externa do nosso Paiacutes e dos demais paiacuteses desenvolvidos ou natildeo

175

CAPIacuteTULO IV - CEIS O PAPEL DO ESTADO NA INOVACcedilAtildeO E NO CAMPO DA COOPERACcedilAtildeO INTERNACIONAL EM SAUacuteDE

NA AGENDA SUL-SUL

Em termos econocircmicos a sauacutede no Brasil representa 88 do PIB 96

constitui um mercado anual de mais de R$ 173 bilhotildees ou seja 62 do valor

adicionado total da economia em 2009 96 empregando com trabalhos

qualificados cerca de 10 da populaccedilatildeo brasileira com viacutenculos empregatiacutecios

formais 23497 e investe 25 dos gastos em PampD 98 sendo a aacuterea com os mais

expressivos investimentos com pesquisa e desenvolvimento O setor sauacutede

junto com o de defesa de acordo com Gadelha 3 ocupa posiccedilatildeo de lideranccedila

quanto ao investimento para a geraccedilatildeo de conhecimento em PampD

transformando-o em importante catalisador de inovaccedilatildeo configurando-se como

grande diferencial na capacidade competitiva nacional 97 notadamente em

ambiente marcado pela globalizaccedilatildeo

1 CEIS Estado e Inovaccedilatildeo Sauacutede e Desenvolvimento

A partir do perfil apresentado inserindo-se a sauacutede na trajetoacuteria

nacional de desenvolvimento natildeo somente como direito de cidadania mas

tambeacutem como uma aacuterea estrateacutegica de desenvolvimento nacional tem-se na

convivecircncia desse duplo valor a forte influecircncia provocada pela dinacircmica

trazida pela globalizaccedilatildeo com caracteriacutesticas assimeacutetricas e com forte

competitividade embutida em seu contexto

O desafio estaacute portanto em tentar associar as dinacircmicas da induacutestria

da inovaccedilatildeo e das instituiccedilotildees do setor sauacutede em um contexto de constante

transformaccedilatildeo industrial e institucional Ou seja cabe ao Estado inserido na

loacutegica intersetorial da sauacutede o papel de promotor e dinamizador da articulaccedilatildeo

176

entre as dimensotildees sanitaacuterias e econocircmicas onde a demanda pela accedilatildeo social

estatal promove a dinacircmica da dimensatildeo econocircmica

O Estado portanto eacute ator essencial na promoccedilatildeo da articulaccedilatildeo da

sauacutede com o sistema de inovaccedilatildeo exercendo o equiliacutebrio necessaacuterio para a

correlaccedilatildeo de forccedilas entre os distintos interesses e divergecircncias que

desprezam o alcance do muacutetuo benefiacutecio na articulaccedilatildeo equilibrada entre as

dimensotildees econocircmica e sanitaacuteria - tanto para o desenvolvimento da

capacidade produtiva e inovativa quanto para a garantia do bem estar e da

sauacutede do indiviacuteduo e da sociedade

No tocante agrave relaccedilatildeo entre a sauacutede e o desenvolvimento a interligaccedilatildeo

entre as duas aacutereas ganha distintas vertentes de anaacutelise que incorporam e

posicionam o campo da sauacutede no campo do desenvolvimento econocircmico 5

Argumentos analiacuteticos que em maior ou menor intensidade justificam a sauacutede

como estrateacutegica e vital para o desenvolvimento nacional pela loacutegica das

poliacuteticas econocircmica e social

Portanto em um esforccedilo de conjunccedilatildeo dessas dimensotildees analiacuteticas os

autores relacionam e analisam sete vertentes partindo da transversalidade da

sauacutede na qualidade de vida e na geraccedilatildeo de bem-estar agrave interaccedilatildeo da sauacutede

com a geopoliacutetica internacional

Primeiramente destacam a transversalidade da sauacutede na qualidade de

vida na geraccedilatildeo de bem-estar promoccedilatildeo de equidade e de inclusatildeo social

demandando ldquoampliaccedilatildeo dos esforccedilos e dos investimentos setoriais e a

confluecircncia e a articulaccedilatildeo entre diversas poliacuteticasrdquo 5 (p 3005) fundamental na

qualidade de vida e componente de intervenccedilatildeo puacuteblica na aacuterea social 5

remetendo-se portanto ao padratildeo nacional de desenvolvimento econocircmico e

social

A segunda vertente passa pela defesa da visatildeo da sauacutede na essecircncia do

desenvolvimento e na evoluccedilatildeo da taxa de investimento ldquocomo uma das

variaacuteveis da funccedilatildeo de produccedilatildeo que explica o crescimento econocircmico medido

pela renda per capita em longo prazordquo 5 (p 3006) inserida portanto na

177

conformaccedilatildeo do ldquoambiente soacutecio-institucional indutor de crescimento

econocircmico e de investimentosrdquo (p3005)

A terceira vertente de anaacutelise incorporando a sauacutede na sua relaccedilatildeo com

o desenvolvimento cujo escopo do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

[113] [114] passa pela interaccedilatildeo entre os segmentos industriais e de serviccedilos

com ldquopotencial para alavancar aacutereas-chave da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso

[115] sendo estrateacutegico para o desenvolvimento das regiotildees e dos paiacuteses 23 e

criando oportunidade de aliar a loacutegica econocircmica com a socialrdquo 5 (p 3006)

A quarta vertente de anaacutelise insere a sauacutede na conformaccedilatildeo dos

sistemas de proteccedilatildeo social onde a descontemporaneidade dos processos de

desmercantilizaccedilatildeo da sauacutede (sauacutede como direito onde a responsabilizaccedilatildeo

social se daacute por parte do Estado) e a mercantilizaccedilatildeo da oferta e a acumulaccedilatildeo

de capital (sauacutede como bem econocircmico sob a conformaccedilatildeo do Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede) produziu no Brasil uma situaccedilatildeo que natildeo foi

capaz de romper com a natureza dual do sistema de sauacutede brasileiro 99

convivendo de forma complexa e contraditoacuteria nos distintos sistemas de sauacutede

[116] dificultando a constituiccedilatildeo de um sistema que efetivamente garanta o

acesso agrave sauacutede como direito social

Para os autores haacute muito que se avanccedilar dado que os reflexos da

liberalizaccedilatildeo da economia se estabeleceram na conformaccedilatildeo dos sistemas de

proteccedilatildeo social Dessa forma tem o Estado a responsabilizaccedilatildeo poliacutetica e

socioeconocircmica e a determinaccedilatildeo que o crescimento acelerado de acumulaccedilatildeo

de capital das induacutestrias da sauacutede se efetive num ldquomovimento mais abrangente

113

O Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede (CEIS) tem em sua terminologia a

caracterizaccedilatildeo a partir de um conjunto selecionado de atividades produtivas que mantecircm relaccedilotildees

intersetoriais de compra e venda de bens e serviccedilos e (ou) de conhecimentos e tecnologias 5

114

A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo e a financeirizaccedilatildeo da economia mundial propiciaram

a formaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo do Complexo da Sauacutede 99

115

Definidos como as aacutereas da microeletrocircnica biotecnologia quiacutemica fina novos materiais

nanotecnologia mecacircnica de precisatildeo 5

116

No Brasil a diretriz da universalizaccedilatildeo desse sistema ―estabeleceu-se com o mercado privado

jaacute consolidado e razoavelmente organizado pautando as demandas tecnoloacutegicas e pressionando custos 5

(p 3005)

178

que integra natildeo soacute a demanda de serviccedilos insumos e produtos mas tambeacutem

consolida um determinado modelo de intervenccedilatildeo do Estado na aacuterea socialrdquo 5

(p3006)

Gadelha e demais autores 5 (p3005) apresentam como a quinta vertente

de anaacutelise que insere a sauacutede na relaccedilatildeo com o desenvolvimento o fato de ser

a sauacutede uma ldquoaacuterea que ao mobilizar uma magnitude expressiva da renda e da

riqueza dos paiacuteses reuacutene interesses diversos que acentuam a disputa pelo

poder na definiccedilatildeo das diretrizes poliacuteticas da sauacutederdquo Isto eacute ldquoos interesses do

capital continuam a pautar preponderantemente a dinacircmica desses setores

produtivosrdquo (p 3006)

A sexta vertente de anaacutelise que incorpora a sauacutede na sua relaccedilatildeo com o

desenvolvimento eacute apontada na articulaccedilatildeo poliacutetico-institucional com o

envolvimento de diferentes esferas de governo e com a sociedade civil 5 Isto eacute

no que diz respeito ao processo de formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo das poliacuteticas

a sauacutede ainda tem encontrado resistecircncias que precisam ser superadas para a

efetivaccedilatildeo das suas bases socioprodutivas e institucionais [117] 5 (p 3005)

Articulaccedilatildeo que natildeo fica restrita ao cenaacuterio local A interligaccedilatildeo da sauacutede

com o desenvolvimento ultrapassa as fronteiras nacionais ganhando maior

destaque e influenciando cada vez mais a conduccedilatildeo da poliacutetica externa na

geopoliacutetica internacional

Finalmente no caso do Brasil Gadelha Machado Lima e Baptista 5

apresentam em seu artigo o que seria para eles a seacutetima de sete vertentes da

anaacutelise na relaccedilatildeo da sauacutede com o desenvolvimento isto eacute a sauacutede se

destacando como aacuterea estrateacutegica notadamente na ldquointegraccedilatildeo de paiacuteses de

uma mesma regiatildeo ou continente como eacute o caso do Mercosul e da Ameacuterica do

Sulrdquo [118] 1005 (p3005)

117

Brandatildeo CA Costa EJM Alves MAS Construir o espaccedilo supralocal de articulaccedilatildeo

socioprodutiva e das estrateacutegias de desenvolvimento os novos arranjos institucionais In Diniz CC

Crocco M organizadores Economia regional e urbana contribuiccedilotildees teoacutericas recentes Belo Horizonte

Editora UFMG 2006 p 195-224 118

E Draibe SM Coesatildeo social e integraccedilatildeo regional aagenda social do Mercosul e os grandes

desafios das poliacuteticas sociais integradas Cad Sauacutede Publica 2007 23(Supl2)174-183

179

Entretanto segundo os autores ainda haacute muito que percorrer para que a

sauacutede se efetive totalmente na consolidaccedilatildeo da integraccedilatildeo regional eou

continental Priorizaccedilotildees poliacuteticas institucionais e diplomaacuteticas ainda natildeo

encontraram equiliacutebrio entre os distintos interesses estatais Ademais a crise

econocircmica atual somada aos ateacute entatildeo recursos econocircmicos existentes em

cada uma das naccedilotildees da Ameacuterica do Sul trouxe limitaccedilotildees financeiras para os

orccedilamentos dos paiacuteses dificultando a priorizaccedilatildeo desse tema na poliacutetica

externa de cada paiacutes

Portanto inserido em um contexto de globalizaccedilatildeo assimeacutetrica com

resultados impactantes na potencializaccedilatildeo de mudanccedilas estruturais o

complexo de segmentos produtivos em relaccedilatildeo iacutentima com os segmentos de

serviccedilos sociais tem como determinantes o conhecimento e a inovaccedilatildeo para o

dinamismo do desenvolvimento econocircmico com a regecircncia do Estado em

estreita articulaccedilatildeo com os esforccedilos puacuteblicos e privados

O CEIS se insere em um espaccedilo institucional e econocircmico particular de

difiacutecil equiliacutebrio dado a complexidade observada entre as abordagens

apresentadas e entre os heterogecircneos interesses da loacutegica empresarial e das

necessidades da sauacutede Traduz-se portanto sob duas plataformas ndash loacutegica

empresarial e proteccedilatildeo social

No Brasil o CEIS envolve um conjunto de atividades produtivas e de

serviccedilos que pautam uma relaccedilatildeo sistecircmica entre os setores industriais

(subsistema de base quiacutemica e biotecnoloacutegica) - induacutestrias de faacutermacos e

medicamentos vacinas hemoderivados e reagentes para diagnoacutestico - e de

base mecacircnica eletrocircnica e de materiais ndash equipamentos mecacircnicos

equipamentos eletroeletrocircnicos proacuteteses e oacuterteses e materiais de consumo

ligados a setores prestadores de serviccedilos aleacutem do conjunto de organizaccedilotildees

prestadoras de serviccedilos em sauacutede - hospitais ambulatoacuterios e serviccedilos de

diagnoacutestico e tratamento 23 Eacute portanto um conjunto selecionado de atividades

produtivas que mantecircm relaccedilotildees intersetoriais de compra e venda de bens e

serviccedilos eou de conhecimentos e tecnologias envolvendo a prestaccedilatildeo de

serviccedilos como o espaccedilo econocircmico para o qual flui toda a produccedilatildeo em sauacutede

399

180

Formado por induacutestrias fortemente inovadoras e veiacuteculos importantes de

novos paradigmas tecnoloacutegicos 2397 tem fundamentalmente como diferencial

o foco da sauacutede nas condiccedilotildees de cidadania e soberania em um espaccedilo

destacado de desenvolvimento econocircmico traduzindo a questatildeo da sauacutede

como sauacutede ndash stricto sensu ndash e como geradora de renda empregos e como

alavanca de conhecimentos e de tecnologias

Haacute de se considerar entretanto que a loacutegica empresarial dita

conveniecircncias que representam interesses conflituosos na vinculaccedilatildeo da sauacutede

com o desenvolvimento ocorrendo uma dimensatildeo heterogecircnea para a poliacutetica

da sauacutede Ora referem-se aos interesses dos que usam os serviccedilos de sauacutede

ora aos dos que os provecircem dos que pagam por eles eou daqueles que os

regulam [119] 5 Dimensatildeo essa que acaba por exercer influecircncia na formaccedilatildeo

da agenda e nas diretrizes poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede

O deacuteficit comercial cada vez mais crescente no segmento da sauacutede [120]

eacute um grande desafio que requer muacuteltiplos esforccedilos no sentido de minimizar os

riscos consequentes onde o maior peso dos produtos importados estaacute nos

bens de maior densidade de conhecimento e tecnologia aleacutem de recuperar a

perda da competitividade internacional das induacutestrias nacionais que satildeo

extremamente dependentes em setores estrateacutegicos provocando uma situaccedilatildeo

de vulnerabilidade quanto agrave garantia e agrave consolidaccedilatildeo do bem bem-estar da

populaccedilatildeo Considerando que para se manter em vigecircncia os preceitos do

SUS haacute uma total dependecircncia das oscilaccedilotildees cambiais que podem

comprometer definitivamente a existecircncia do Sistema Uacutenico de Sauacutede Haacute no

sentido de se reverter esse quadro urgecircncia no estabelecimento de estrateacutegias

nacionais na aacuterea de produccedilatildeo e desenvolvimento tecnoloacutegico de insumos

estrateacutegicos para a sauacutede

Nesse sentido em que pesem as divergecircncias existentes o CEIS

representa um ldquocaminho disponiacutevel e realrdquo para um virtuoso elo de

119

Freeman R Moran M A sauacutede na Europa In Negri B Viana ALA organizadores O SUS

em dez anos de desafio Satildeo Paulo SobravimeCealag 2002 p 45-64 apud Gadelha et al (20113006)

120Passando de US$ 700 milhotildeesano no final da deacutecada de 80 para mais de US$ 11 bilhotildees em

2010 ndash Fonte a partir da elaboraccedilatildeo dos dados do GISENSPFiocruz 2012 a partir dos dados da Rede

Alice do MDIC

181

desenvolvimento e atendimento agraves demandas soacutecio-sanitaacuterias Entretanto deve

ser considerado que o CEIS eacute uma estrutura industrial complexa Competitiva

em alguns setores poreacutem carente de uma maior capacidade tecnoloacutegica e de

inovaccedilatildeo nos segmentos que formam esse complexo E a sua existecircncia estaacute

estreitamente vinculada agrave inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e ao avanccedilo cientiacutefico Nesse

sentido natildeo eacute possiacutevel estabelecer um sistema de sauacutede avanccedilado e universal

num paiacutes com a complexidade e a dimensatildeo do Brasil se as induacutestrias

possuiacuterem fragilidades estruturais que as tornam pouco competitivas

vulneraacuteveis e dependentes do conhecimento internacional

A carecircncia por uma maior capacidade de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica aliada agrave

criacutetica situaccedilatildeo macroeconocircmica justifica a importacircncia crescente que a

inovaccedilatildeo vem adquirindo e consolida essa aacuterea como estrateacutegica para o

fortalecimento e a capacitaccedilatildeo nacional com vistas agrave competitividade

internacional

A induccedilatildeo de poliacuteticas fomentadoras do mercado nacional

representando investimento social da sauacutede em desenvolvimento e inovaccedilatildeo

ganha um olhar diferenciado para o exponencial aumento relacionado agraves

despesas com bens e insumos industriais que comprometem o interesse

puacuteblico e suas necessidades em sauacutede inviabilizando acesso a medicamentos

e tratamentos essenciais e comprometendo demais programas de sauacutede jaacute que

o ldquocobertor estaacute cada vez mais curtordquo isto eacute os recursos satildeo escassos e

vulneraacuteveis agraves dependecircncias externas cambiais e inovativas

Nessa perspectiva a formulaccedilatildeo das poliacuteticas cientiacuteficas e tecnoloacutegicas

para a aacuterea da sauacutede no Brasil ganhou maior evidecircncia a partir do final da

deacutecada de 90 e no iniacutecio do seacuteculo XXI evidenciando-se a adoccedilatildeo de novas

prioridades e ganhando destaque na agenda de CampT o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo no

setor Sauacutede

Buscou-se no Brasil reforccedilar na Ciecircncia e Tecnologia uma maneira de

promover o desenvolvimento nacional pela inovaccedilatildeo

182

Dentre as principais accedilotildees implantadas algumas merecem especial

destaque em funccedilatildeo do alcance estrateacutegico e dos desafios suplantados [121]

(a) Integraccedilatildeo entre as poliacuteticas industriais ndash PDP PITCE PACTI

(b) Promoccedilatildeo e Intensificaccedilatildeo da articulaccedilatildeo entre os atores ndash

governamentais (federal estaduais municipais) e privados

(c) Aprimoramento do marco regulatoacuterio

(d) Expansatildeo dos instrumentos de apoio e recursos aleacutem da articulaccedilatildeo

entre os fomentadores ndash FINEP e BNDES

(e) Ampliaccedilatildeo da capacidade de recursos para as instituiccedilotildees cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas e empresas

(f) Incentivo agrave promoccedilatildeo de inovaccedilatildeo para o desenvolvimento nacional

com aumento dos investimentos globais em CampT

(g) Criaccedilatildeo do Sistema Brasileiro de Tecnologia e de mais de uma centena

de Institutos Nacionais de Ciecircncia e Tecnologia

(h) Programas diversos mobilizados com foco nas principais aacutereas

estrateacutegicas para o Paiacutes dos quais destacamos o Complexo

Econocircmico-Industrial como programa mobilizador em aacutereas

estrateacutegicas

(i) Priorizaccedilatildeo de criteacuterios que fortaleccedilam a autonomia tecnoloacutegica do

Paiacutes tais como o poder de compra puacuteblica isto eacute no acircmbito de uma

poliacutetica que promova internamente atividades de PampDampI esses criteacuterios

por meio de contratos e concessotildees com o poder puacuteblico estimulam a

aquisiccedilatildeo de produccedilatildeo e serviccedilos nacionais e

(j) Fortalecimento dos sistemas produtivos em especial o Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede

Dessa forma ganha cada vez maior evidecircncia o papel do Estado para a

reversatildeo desse quadro pessimista seja na formaccedilatildeo da agenda e na

formulaccedilatildeo de poliacuteticas e programas integradas e articuladas entre os diversos

ministeacuterios e representaccedilotildees civis promovendo medidas e accedilotildees concretas

para implementaccedilatildeo do marco regulatoacuterio brasileiro referente agrave estrateacutegia de

desenvolvimento do Governo Federal para aacuterea da sauacutede

Nesse sentido com o Programa Mais Sauacutede o Plano de Accedilatildeo 2007-

2010 do MCT e a Poliacutetica de Desenvolvimento Produtivo assim como com o

receacutem-criado GECIS (12052008) aleacutem do estiacutemulo agrave capacidade produtiva e

inovativa do setor baseado inclusive no poder de compra [122] do Estado

121

Fontes wwwmctgovbr wwwmdicgovbr

122

―O poder de compra do setor puacuteblico eacute um instrumento para promoccedilatildeo do desenvolvimento

tecnoloacutegico das empresas brasileiras tanto por intermeacutedio da compra direta de produtos e processos

inovadores (como permitido pela Lei de Inovaccedilatildeo) quanto pelo estabelecimento de contrapartidas de

acesso a tecnologias na aquisiccedilatildeo pelo governo no exterior de significativos lotes de produtos ou

183

como garantia para o desenvolvimento produtivo busca-se alcanccedilar

mecanismos estrateacutegicos para a consolidaccedilatildeo de um sistema de inovaccedilatildeo

dinacircmico com efeitos diretos no desenvolvimento nacional

Isso posto a dimensatildeo tecnoloacutegica da sauacutede vem sendo definida nos

uacuteltimos anos como aacuterea estrateacutegica no acircmbito da agenda social constando

como uma das prioridades no Mais Sauacutede - PAC da Sauacutede 101 assim como

consta como prioritaacuterias a poliacutetica externa e a cooperaccedilatildeo internacional O que

marca a importacircncia da relaccedilatildeo entre a sauacutede e as relaccedilotildees internacionais

Aleacutem disso outras poliacuteticas produtivas e de geraccedilatildeo de conhecimento

conforme citaccedilotildees anteriores datildeo a centralidade da sauacutede na agenda de

desenvolvimento como o PAC da Inovaccedilatildeo 102 do Ministeacuterio da Ciecircncia e

Tecnologia a Poliacutetica de Desenvolvimento Produtivo 103 do Ministeacuterio da

Induacutestria e Comeacutercio Exterior o Plano Brasil Maior [123] 104 lanccedilado em 2011

que daacute continuidade agrave PDP e agrave Poliacutetica Industrial Tecnoloacutegica e de Comeacutercio

Exterior ndash PITCE 105 a Poliacutetica Nacional de Sauacutede 106 e a Estrateacutegia Nacional

de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo ndash ENCTI 107 do Ministeacuterio da Ciecircncia

Tecnologia e Inovaccedilatildeo

Logo busca-se inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e aproveitamento das

oportunidades no mercado brasileiro onde se faz necessaacuteria a transformaccedilatildeo

de conhecimento em produtos afinal o crescente deacuteficit da balanccedila comercial

da sauacutede representa uma enorme lacuna na aacuterea tecnoloacutegica em sauacutede Diante

disso no atual momento histoacuterico brasileiro pautado pela retomada do papel do

Estado na definiccedilatildeo de uma trajetoacuteria de desenvolvimento socialmente

inclusivo deve-se empreender poliacuteticas que apresentem uma abordagem

sistecircmica da sauacutede considerando natildeo somente a sua dimensatildeo social como

tambeacutem a econocircmica e a tecnoloacutegica inclusive sob a perspectiva do

desenvolvimento sustentaacutevel

serviccedilos Como exemplo dessa aplicaccedilatildeo aponta-se a induacutestria de produtos farmacecircuticos por ser um

dos segmentos preferenciais em funccedilatildeo das suas peculiaridades tais como ―consideraacutevel porte das

compras puacuteblicas no mercado nacional para esses produtos e a importacircncia deles para a sauacutede puacuteblica

aleacutem do fato desse setor ter sido incluiacutedo entre os prioritaacuterios da PITCE 102

123

Aproveitando a experiecircncia das poliacuteticas anteriores o Plano prevecirc um conjunto de medidas

de estiacutemulo ao investimento e agrave inovaccedilatildeo apoio ao comeacutercio exterior e defesa da induacutestria e do mercado

interno Mais detalhes wwwmdicgovbrbrasilmaior

184

Em relaccedilatildeo agrave questatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel este estudo

acrescenta agraves vertentes analisadas anteriormente uma nova abordagem

analiacutetica com base na perspectiva da equidade e do direito agrave sauacutede na agenda

global O desenvolvimento sustentaacutevel ganha terreno na interaccedilatildeo entre a

sauacutede e o desenvolvimento

A inter-relaccedilatildeo da sauacutede com o desenvolvimento tambeacutem nos remete agrave

preocupaccedilatildeo social com o uso indiscriminado do meio ambiente que ao ser

explorado de forma predatoacuteria e degradante acaba ocasionando mudanccedilas

ambientais e climaacuteticas levando a danos irreversiacuteveis agrave vida humana e agrave

sustentabilidade do planeta

Portanto eacute indissociaacutevel a correlaccedilatildeo do meio ambiente com a interaccedilatildeo

entre sauacutede e desenvolvimento Cunha 108 interpreta o meio ambiente de forma

ampla referindo-o natildeo apenas agrave natureza propriamente dita ldquomas sim a uma

realidade complexa resultante do conjunto de elementos fiacutesicos quiacutemicos

bioloacutegicos e socioeconocircmicosrdquo [124] O meio ambiente interage portanto com o

desenvolvimento das atividades humanas

E nessa perspectiva segundo destaca o autor ldquoa sauacutede tem como

fatores determinantes e condicionantes entre outros a alimentaccedilatildeo a moradia

o saneamento baacutesico o meio ambiente o trabalho a renda a educaccedilatildeo o

transporte o lazer e o acesso aos bens e serviccedilos essenciaisrdquo conforme artigo

3ordm da Lei 808090 citado por Cunha 108

Ora se a sauacutede se vincula ao acesso aos bens e serviccedilos essenciais e o

CEIS assim o propicia por meio da sua capacidade produtiva tambeacutem deve

considerar o meio ambiente como bem e fator determinante para a garantia da

sauacutede do indiviacuteduo Sob esse enfoque uma vez que danos ao meio ambiente

interferem diretamente na condiccedilatildeo da sauacutede puacuteblica eacute mister afirmar a

intriacutenseca condiccedilatildeo sine qua non da proteccedilatildeo ao meio ambiente na relaccedilatildeo

virtuosa do desenvolvimento com a sauacutede

124

Ver Cunha PR A relaccedilatildeo entre meio ambiente e sauacutede e a importacircncia dos princiacutepios da

prevenccedilatildeo e da precauccedilatildeo Jus Navigandi Teresina 2 abr 2005 10(633) Disponiacutevel em

lthttpjuscombrrevistatexto6484gt Acesso em 20 jan 2012

185

Assim corrobora McMichael e demais autores 109 (p 220) ao apontar em

sua anaacutelise os efeitos adversos provocados pela emissatildeo de gases poluentes

no clima e na sauacutede e a necessaacuteria intervenccedilatildeo para minimizar as

consequecircncias negativas da mudanccedila climaacutetica

ldquoWhile there are considerable uncertainties as the knowledge base on climate change and health impacts have grown so has interest in developing response options to reduce adverse health effects That is in addition to measures aimed at reducing greenhouse gases and slowing climate change measures can be aimed at reducing adverse effects (or exploiting beneficial effects) associated with climate change Even with reductions in greenhouse gas emissions Earth‟sclimate is expected to continue to change so that adaptation strategies are viewed as a necessary complement to mitigation actionsrdquo

Sob essas consideraccedilotildees a inovaccedilatildeo ganha portanto uma nova

perspectiva focada no desenvolvimento sustentaacutevel a partir de encadeamentos

intersetoriais e institucionais que alavanquem a proteccedilatildeo ao meio ambiente e

que simultaneamente integrem a aacuterea da sauacutede ao desenvolvimento

econocircmico e sustentaacutevel

Impactos severos agraves condiccedilotildees ambientais e por consequecircncia agrave sauacutede

puacuteblica satildeo percebidos na ausecircncia de uma visatildeo estrateacutegica que engendre

em seus programas e poliacuteticas adequaccedilatildeo da sua capacidade produtiva agraves

causas ambientais [125]

Aleacutem disso avanccedilos na tecnologia satildeo apontados como estrateacutegicos na

busca de soluccedilotildees para minimizar os danos provocados pelas condiccedilotildees

125 A relaccedilatildeo entre o meio ambiente e sauacutede eacute sustentada sob argumentos e normas legais

108

Artigo 225 da Constituiccedilatildeo Federal do Brasil Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado bem de uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder

Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildees Artigo

200 da Lei Maior que fixa algumas atribuiccedilotildees do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) dentre os quais se

menciona a fiscalizaccedilatildeo de alimentos bebidas e aacutegua para o consumo humano (inciso VI) e a colaboraccedilatildeo

na proteccedilatildeo do meio ambiente (inciso VIII) Lei Federal nordm 693881 Poliacutetica Nacional do Meio

Ambiente que tem por objetivo a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da qualidade ambiental favoraacutevel

agrave vida e portanto agrave sauacutede visando assegurar condiccedilotildees ao desenvolvimento socioeconocircmico e agrave proteccedilatildeo

da dignidade humana (artigo 2ordm) Lei nordm 808090 que aleacutem de consignar o meio ambiente como um dos

vaacuterios fatores condicionantes para a sauacutede (artigo 3ordm) prevecirc uma seacuterie de accedilotildees integradas relacionadas agrave

sauacutede meio ambiente e saneamento baacutesico

186

climaacuteticas adversas tornando-se necessariamente tecnologias portadoras de

futuro 109 (p 227)

ldquoAdvances in technology such as new drugs or diagnostic equipment can increase substantially our ability to solve health problems More generally the availability and access to technology at the individual local and national levels in key sectors (eg agriculture water resources health) is an important determinant of adaptive capacity Many of the adaptive strategies that protect human health involve technology (eg warning systems air conditioning pollution controls housing storm shelters vector control vaccination water treatment and sanitation) While much of this technology is well established (water treatment anitation) some is relatively new and still being disseminated (well-equipped mobile laboratories computer information and reporting systems which can support disease surveillance) In other cases there is a need for new Technologies (new vaccines and pesticides) to enhance the ability to cope with a changing climate Countries that are open to the use of technologies and can develop and disseminate new technologies have enhanced adaptive capacityrdquo

Portanto poliacuteticas e programas vinculados ao CEIS sob a alianccedila das

dimensotildees sanitaacuterias e econocircmicas devem exercer a necessaacuteria

responsabilizaccedilatildeo em garantir as condiccedilotildees adequadas ao meio ambiente em

prol da sauacutede puacuteblica aleacutem de buscar mecanismos tecnoloacutegicos e inovadores

que minimizem os danos provocados pelas mudanccedilas climaacuteticas agrave sauacutede local

e globalmente

Buscas essas que aleacutem de preservar a sauacutede sob os princiacutepios

ambientais e sob as expectativas climaacuteticas poderatildeo diferenciar e promover o

modelo do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede sob as discussotildees e

construccedilotildees internacionais tais como o Tratado de Quioto [126] Objetivos de

Desenvolvimento do Milecircnio a Agenda 21 [127] Conferecircncia Mundial sobre os

126

Expira em 2012 Apesar de natildeo ter alcanccedilado ecircxito no atendimento de todas as suas metas de

reduccedilatildeo das emissotildees de gases prejudiciais ao meio ambiente trouxe agrave agenda global a necessaacuteria revisatildeo

dos seus valores com o meio ambiente Haacute perspectivas de um novo tratado ou uma emenda no Tratado a

partir de 2012 127

Fruto da Conferecircncia Rio 92 Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento consagrou o conceito de desenvolvimento sustentaacutevel Busca a associaccedilatildeo mundial em

prol do desenvolvimento sustentaacutevel estabelecendo a importacircncia de que cada ente governamental reflita

(e aja) global e localmente sobre a busca de soluccedilotildees para os problemas socioambientais

187

Determinantes Sociais da Sauacutede em 2011 [128] e a Rio+20 ocorrida no Rio de

Janeiro em junho de 2012 [129]

Ressalta-se portanto a importacircncia da sauacutede na abordagem do

desenvolvimento e do meio ambiente

Finalmente a capacidade de produccedilatildeo de bens de sauacutede eacute determinante

para a capacidade soberana de um paiacutes em garantir o direito agrave sauacutede da sua

populaccedilatildeo e reduzir a vulnerabilidade da poliacutetica de sauacutede Haacute uma estreita

relaccedilatildeo entre o desenvolvimento econocircmico e a sustentabilidade da soberania

afinal quanto mais o paiacutes for desenvolvido e tiver mais autonomia mais plena

seraacute a sua soberania

Ao mesmo tempo em que um paiacutes precisa obter espaccedilo para a

conduccedilatildeo das suas poliacuteticas puacuteblicas precisa tambeacutem ampliar o seu acesso a

novos mercados e a novos conhecimentos Nesse sentido poliacuteticas nacionais

que promovam o desenvolvimento propiciam autonomia externa sustentam as

bases soberanas de um paiacutes e promovem maior autonomia no acircmbito interno

Reforccedila-se portanto como condiccedilatildeo estrateacutegica da sauacutede o seu

Complexo Econocircmico-Industrial projetando-se a discussatildeo da sauacutede no

contexto nacional mas tambeacutem inserindo o Brasil em posiccedilatildeo de maior

protagonismo no cenaacuterio internacional em que haja o reconhecimento da

sauacutede como condiccedilatildeo sine qua non para o desenvolvimento econocircmico social

e ambiental vista na sua forma mais solidaacuteria a coletiva

Em que pesem as accedilotildees coletivas na defesa do interesse do bem-estar

comum das naccedilotildees fundamento da abordagem da Sociedade Internacional

resultando em oportunidades de maior acesso agraves informaccedilotildees e agraves inovaccedilotildees

necessaacuterias para a reduccedilatildeo das condiccedilotildees de maior vulnerabilidade decorrente

de riscos sanitaacuterios e pandecircmicos eou da baixa ou nula capacidade produtiva

apontamos como conclusatildeo um grande desafio cujo pertencimento passa pela

128

Imbuiacutedo no propoacutesito de aproximar a sauacutede do desenvolvimento sustentaacutevel a Organizaccedilatildeo

Mundial da Sauacutede realizou a Conferecircncia Mundial sobre os Determinantes Sociais da Sauacutede no Rio de

Janeiro em 2011 129

A Rio+20 Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Desenvolvimento Sustentaacutevel (UNCSD)

teve como um dos objetivos avaliar o progresso alcanccedilado poacutes Rio 92 pactuando entre os Estados

Membros novas tratativas para os desafios atuais e emergentes

188

Economia Poliacutetica Internacional que eacute o fortalecimento da capacidade produtiva

nacional e o alcance de uma posiccedilatildeo competitiva em um espaccedilo de

diversidade complexidade e conflito onde intervenccedilotildees e limitaccedilotildees impostas

em foacuteruns poliacutetico-econocircmicos internacionais e supranacionais precisaratildeo ser

traduzidas repensadas e renegociadas para garantir a sauacutede como condiccedilatildeo

de bem-estar social de desenvolvimento da atividade econocircmica e de garantia

agrave soberania nacional como bases de participaccedilatildeo em um mercado altamente

globalizado

Isso posto o Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede desempenha um

papel estrateacutegico na dinamizaccedilatildeo da economia e nas articulaccedilotildees da poliacutetica

externa Tendo na atuaccedilatildeo do Estado mesmo em um espaccedilo de diversidade

complexidade e conflito onde a globalizaccedilatildeo comanda os processos

econocircmicos e sociais caraacuteter estrateacutegico e fundamental

O que ressalta a cada vez maior importacircncia da Ciecircncia Tecnologia e

da Inovaccedilatildeo na agenda das poliacuteticas interna e externa de um paiacutes Mais um

desafio a ser superado que eacute o de consolidar a sauacutede como um bem puacuteblico

integrado ao exerciacutecio da poliacutetica externa

Entretanto a despeito da grande importacircncia social e estrateacutegica para o

Estado o CEIS tem sofrido influecircncias diversas nos seus padrotildees de

desenvolvimento que natildeo especificamente na diretriz maior que abrange os

aspectos relacionados agraves condiccedilotildees de sauacutede mas mais amplamente no

tocante agrave situaccedilatildeo de desenvolvimento da naccedilatildeo em questatildeo A velocidade

crescente no avanccedilo mundial do conhecimento e o decorrente aumento da

competiccedilatildeo entre os detentores do mesmo e dos processos de inovaccedilatildeo

tecnoloacutegica satildeo variaacuteveis que influenciam diretamente o fortalecimento e a

competiccedilatildeo dos setores relacionados ao Complexo Econocircmico-Industrial da

Sauacutede

Haacute de se competir tambeacutem no plano da estrutura industrial onde os

interesses internacionais e de grandes transnacionais movimentam e

concentram o capital e a tecnologia competindo em clusters e repartindo entre

os seus pares o mercado mundial da induacutestria da sauacutede

189

Portanto a relaccedilatildeo entre as poliacuteticas nacionais com as relaccedilotildees

internacionais encerra desafios diversos enfrentados no mercado nacional que

natildeo satildeo ultrapassados sem que se cumpra uma agenda de transformaccedilotildees

internas como preacute-condiccedilatildeo ou consequecircncia da exposiccedilatildeo aos mercados

externos E estas transformaccedilotildees trazem uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica e uma forte

consolidaccedilatildeo da gestatildeo estrateacutegica preparando o Paiacutes para um papel de

destaque no contexto geopoliacutetico internacional

A conduccedilatildeo das prioridades para a tomada de decisotildees das poliacuteticas

puacuteblicas em sauacutede tem sido um reflexo das circunstacircncias nacionais e

internacionais e tambeacutem do que a sauacutede precisa Nesse sentido o CEIS tem

suas diretrizes fortemente influenciadas por uma agenda global o que traz

benefiacutecios poreacutem relaciona seacuterios desafios para a implementaccedilatildeo de poliacuteticas

de sauacutede dada a assimetria de forccedilas e de governanccedila dos paiacuteses que

definem esta agenda Reich 6 ao ressaltar as accedilotildees de muacuteltiplas forccedilas

exercidas sobre o Estado moderno ndash como por exemplo a diminuiccedilatildeo do seu

papel decorrente da expansatildeo da descentralizaccedilatildeo ou da crescente influecircncia

de organizaccedilotildees natildeo-governamentais assim como pelos acordos promovidos

por agecircncias internacionais e pelo poder de empresas multinacionais - aponta

que as mesmas trazem seacuterias implicaccedilotildees para a sauacutede puacuteblica

Portanto a fim de se fortalecer o CEIS no Paiacutes algumas soluccedilotildees satildeo

apontadas devendo ser alcanccediladas (1) transformar o conhecimento produzido

em inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que melhorem o desempenho do setor produtivo no

campo da sauacutede (2) promover poliacuteticas e accedilotildees complementares e integradas

para o desenvolvimento de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede em

interface com as poliacuteticas interna e externa de maneira que o governo trace

poliacuteticas puacuteblicas estaacuteveis e duradouras para fortalecer o CEIS (3) destacar a

sauacutede e seu complexo como estrateacutegicos de fundamental importacircncia e de

caraacuteter taacutecito e criacutetico notadamente para a relaccedilatildeo entre paiacuteses fronteiriccedilos e a

relaccedilatildeo Sul-Sul tornando-se cada vez mais essenciais nas poliacuteticas voltadas

para a integraccedilatildeo de paiacuteses de uma mesma regiatildeo ou continente como o

Mercosul e a Ameacuterica do Sul ou para a inserccedilatildeo mais ativa nas relaccedilotildees

internacionais com paiacuteses dependentes de accedilotildees mais efetivas em sauacutede

puacuteblica como eacute o caso dos paiacuteses africanos (4) ultrapassar o desafio de se

190

promover de forma articulada poliacuteticas puacuteblicas que simultaneamente

fortaleccedilam a sauacutede o desenvolvimento econocircmico e o desenvolvimento

sustentaacutevel

Dito isto o grande desafio do CEIS refere-se agrave constituiccedilatildeo de um

modelo que permita a reestruturaccedilatildeo da base produtiva nacional na direccedilatildeo do

dinamismo econocircmico e na superaccedilatildeo do atraso em aacutereas criacuteticas para a

atenuaccedilatildeo da desigualdade e da exclusatildeo social nacional Precisa direcionar-

se agrave superaccedilatildeo da forte dependecircncia tecnoloacutegica da naccedilatildeo cuja

vulnerabilidade piora em ambiente de globalizaccedilatildeo ficando mais suscetiacutevel agrave

oscilaccedilatildeo cambial e agraves questotildees que ultrapassam as fronteiras sanitaacuterias como

o caso das pandemias e doenccedilas Natildeo se pode considerar irrelevante o fato de

que os detentores do conhecimento manter-se-atildeo condutores externos que

influenciam as decisotildees dos formuladores das poliacuteticas nacionais em uma

conduccedilatildeo maquiaveacutelica onde quem deteacutem o conhecimento deteacutem o poder

Somente com os pilares do desenvolvimento construiacutedos sob uma forte

e consolidada capacidade produtiva tecnoloacutegica e inovativa aliada agrave loacutegica

soacutecio-sanitaacuteria eacute que se cria capacidade de ultrapassar os limites impostos

pelas condiccedilotildees resultantes da globalizaccedilatildeo e da forte concorrecircncia

internacional Logo o que determina a expansatildeo econocircmica do CEIS e daacute

sustentaccedilatildeo ao modelo eacute a ldquoestrateacutegia poliacutetica e a concepccedilatildeo de Estado e do

proacuteprio desenvolvimentordquo consolidando tambeacutem um modelo de intervenccedilatildeo

estatal na aacuterea social 5 (p 3006) Para os autores esse movimento tem como

grande desafio superar os oacutebices apontados e os limites herdados pela

liberalizaccedilatildeo econocircmica e pelos efeitos da globalizaccedilatildeo assimeacutetrica e lidar com

a imprevisibilidade da economia internacional atual em crise desde o iniacutecio do

Seacuteculo XXI

Superaccedilatildeo que deve dar a devida relevacircncia a questotildees centrais como a

vulnerabilidade externa e as assimetrias tecnoloacutegicas e de poder elementos

que estatildeo em jogo na luta competitiva dos Estados nacionais Em que haja o

reconhecimento da relaccedilatildeo direta entre desenvolvimento e autonomia e

capacidade soberana justificando inclusive uma inter-relaccedilatildeo entre forccedilas

endoacutegenas e exoacutegenas do desenvolvimento onde poliacuteticas nacionais de

191

desenvolvimento promovam autonomia externa sustentem bases soberanas e

permitam maior autonomia interna Que se sustentem bases estruturais para a

conformaccedilatildeo dos estados de Bem-Estar inclusive sob o escopo da interaccedilatildeo

dos segmentos produtivos e de serviccedilos no acircmbito dos esforccedilos puacuteblicos e

privados nacionais em prol de incrementar o desenvolvimento produtivo e

inovativo

A questatildeo do CEIS eacute portanto fio condutor expliacutecito e impliacutecito na

abordagem da economia poliacutetica internacional na medida em que sintetiza as

categorias centrais que se mesclam agrave discussatildeo contemporacircnea das relaccedilotildees

internacionais e da poliacutetica externa globalizaccedilatildeo e localizaccedilatildeo relaccedilotildees

puacuteblico-privadas vulnerabilidades externas e internas assimetrias

tecnoloacutegicas econocircmicas e de poder soberania e estado de Bem-estar

2 Cooperaccedilatildeo Internacional e as Relaccedilotildees Internacionais um olhar

sobre o CEIS na relaccedilatildeo Sul-Sul

A Resoluccedilatildeo sobre ldquoSauacutede Puacuteblica Inovaccedilatildeo e Propriedade Intelectualrdquo

no acircmbito da Estrateacutegia Global e Plano de Accedilatildeo sobre Sauacutede Puacuteblica

Inovaccedilatildeo e Propriedade Intelectual aprovada na 61ordf AMS [130] daacute iniacutecio ao

processo de implantaccedilatildeo de estrateacutegias globais cujos objetivos pautam-se pela

ampliaccedilatildeo do acesso a medicamentos E para tanto foi formado um grupo de

Trabalho Intergovernamental em Sauacutede Puacuteblica Inovaccedilatildeo e Propriedade -

Intelectual ou Intergovernamental Working Group on Public Health Innovation

and Intellectual Property - IGWG cuja perspectiva busca o equiliacutebrio entre as

regras de proteccedilatildeo agrave propriedade intelectual e o direito agrave sauacutede e ao bem-estar

Sob a perspectiva dessa resoluccedilatildeo o Brasil vem atuando intensamente

apresentando-se como player importante na construccedilatildeo desse documento e na

composiccedilatildeo do Consultative Expert Working Group on Research and

130

Disponiacutevel em httpwwwwhointmediacentreevents2009wha62enindexhtml Acessado

em 20 de maio de 2012

192

Development Financing and Coordination (CEWG) [131] cuja centralidade a ser

combatida eacute a insuficiecircncia preocupante de recursos dedicados mundialmente

agrave pesquisa e desenvolvimento - PampD para tratamentos de doenccedilas que afetam

principalmente os paiacuteses em desenvolvimento Objetiva portanto buscar

estrateacutegias que aperfeiccediloem as condiccedilotildees de promoccedilatildeo de PampD e o maior

acesso ao desenvolvimento tecnoloacutegico e a insumos para a sauacutede dos paiacuteses

em desenvolvimento

Para o Brasil accedilotildees de inclusatildeo social o fortalecimento dos sistemas de

sauacutede e a promoccedilatildeo de equidade devem nortear a comunidade internacional

estando os mesmos amparados pelos marcos internacionais [132] instituiacutedos e

legitimados pelos paiacuteses partiacutecipes das organizaccedilotildees internacionais

ldquoA Estrateacutegia Global defende o uso das flexibilidades inerentes ao regime de patentes em apoio agraves poliacuteticas puacuteblicas de acesso a medicamentos e ao tratamento de todas as enfermidades com incidecircncia significativa em paiacuteses em desenvolvimento () Por sua vez a Declaraccedilatildeo Ministerial de Doha sobre o Acordo de Trips e Sauacutede Puacutebica afirma que o acordo de Trips pode e deve ser interpretado e implementado de modo a apoiar os direitos dos Membros da Organizaccedilatildeo Mundial de Comeacutercio de proteger a sauacutede puacuteblica e em particular de promover o acesso a medicamentos para todos Seja na OMS seja na OMC ou ainda na Organizaccedilatildeo Mundial de Propriedade Intelectual no contexto da Agenda para o Desenvolvimento a comunidade internacional reconhece que a plena utilizaccedilatildeo das flexibilidades previstas e admitidas nos tratados internacionais de propriedade intelectual constitui acervo juriacutedico consolidado () accedilotildees de inclusatildeo social a promoccedilatildeo da equidade e o fortalecimento dos sistemas puacuteblicos de sauacutede () estatildeo tambeacutem consignados no comunicado divulgado hoje pela Iniciativa bdquoPoliacutetica Externa e Sauacutede‟ ndash o chamado bdquoGrupo de Oslo‟ ndash que reuacutene paiacuteses do norte

e do sul desenvolvidos e em desenvolvimentordquo [133

]

131

Para mais informaccedilotildees quanto ao plano de trabalho do IGWG apresentado na 62ordf AMS ver

wwwwhointphinewscewg-2011enindexhtml

132

Natildeo eacute objeto deste estudo o aprofundamento das accedilotildees previstas nos documentos resultados

dos encontros estabelecidos na Assembleacuteia Mundial da Sauacutede tampouco na OMS e na OMC poreacutem

queremos reforccedilar o reconhecimento estabelecido entre os paiacuteses partiacutecipes acerca da importacircncia ao

acesso ao conhecimento e agraves poliacuteticas puacuteblicas de acesso a medicamentos

133

Discurso do Ministro Patriota na Conferecircncia Mundial sobre Determinantes Sociais da Sauacutede

no RJ em 2110 2011 Disponiacutevel em wwwitamaratygovbr Acesso em 20 de maio de 2012

193

O reconhecimento do pleno atendimento agraves necessidades humanas e o

de que a inflexibilidade quanto agrave proteccedilatildeo da propriedade intelectual natildeo

sejam necessariamente garantia de inovaccedilatildeo satildeo entretanto indutores para

que se ultrapasse a reflexatildeo e a retoacuterica e se estabeleccedilam accedilotildees efetivas para

o atendimento real agraves necessidades humanas de forma global O que por si

soacute garante novos comportamentos e debates internacionais entre os paiacuteses

partiacutecipes das Assembleacuteias Mundiais da Sauacutede na OMS e tambeacutem em foacuteruns

especializados na OMC no tocante ao acesso ao conhecimento e agraves poliacuteticas

puacuteblicas de acesso a medicamentos Nesse sentido a expectativa da

necessidade quanto ao fortalecimento do papel de governanccedila mundial em

sauacutede em que a OMS e os respectivos Estados membros possam efetivar

accedilotildees previstas nos documentos firmados em accedilotildees concretas na busca por

melhores conduccedilotildees estrateacutegicas orientadas para a promoccedilatildeo da sauacutede de

toda a sociedade

Fomentando o debate teoacuterico no contexto das relaccedilotildees internacionais o

posicionamento do Brasil perpassa pela abordagem da Sociedade

Internacional o que segundo Wight 19 e Jackson e Sorensen 14 tem como

principal desafio o atendimento aos interesses coletivos nos acircmbitos nacional

internacional e humanitaacuterio Entretanto natildeo se pode negligenciar as complexas

relaccedilotildees sociais que ligam o indiviacuteduo ao Estado 110 14 Nesse sentido o

Estado tampouco deve negligenciar sua vinculaccedilatildeo agrave sociedade global Ao que

Jackson e Sorensen 14 sublinham como responsabilidade dos Estados como

sociedade a responsabilidade global pelos direitos humanos pelo meio

ambiente e pelas necessidades humanas A abordagem da Economia Poliacutetica

Internacional cuja base se sustenta nas relaccedilotildees econocircmicas internacionais

revelandashse como o contraponto que existe por meio de relaccedilotildees sociais

inerentes agrave produccedilatildeo e agrave troca global de produtos baacutesicos e do

desenvolvimento cada vez mais amplo da poliacutetica mundial 14

Retomando o debate para a sauacutede e para o sistema de propriedade

intelectual Amorim [134] revela que o Brasil defende um sistema internacional

134

Ministro das Relaccedilotildees Exteriores do Brasil durante a gestatildeo do Governo Lula entre 2003 e

2010 In Cooperaccedilatildeo Sauacutede - Boletim da Atuaccedilatildeo Internacional Brasileira em Sauacutede n02 abril de 2010

AISAMinisteacuterio da Sauacutede Brasil

194

de propriedade intelectual efetivo e justo em que se promovam os incentivos agrave

inovaccedilatildeo e se proteja os pequenos e grandes detentores de marcas e patentes

Ao que para o Brasil segundo o ex-Chanceler esses objetivos natildeo satildeo

conflitantes com a perspectiva de que os direitos humanos e as principais

metas internacionais de desenvolvimento devem reger os entendimentos

globais sobre certos temas econocircmicos em particular quando se discutem

questotildees relativas agrave sauacutede humana

Nessa perspectiva o que tem que ser superado segundo o diplomata eacute

o favorecimento pelo sistema internacional de marcas e patentes de

laboratoacuterios privados em paiacuteses desenvolvidos notadamente os da Ameacuterica do

Norte e os europeus em detrimento da sauacutede das populaccedilotildees dos paiacuteses em

desenvolvimento Logicamente essa superaccedilatildeo impotildee desafios complexos

Em que pesem (1) a pressatildeo e a limitaccedilatildeo impostas pelas induacutestrias (2)

o favorecimento dos laboratoacuterios privados de paiacuteses desenvolvidos (3) as

artimanhas judiciais impostas pelos detentores da marca para a continuidade

dos direitos de exploraccedilatildeo de patentes de medicamentos que estejam com o

prazo a expirar (na tentativa de embargar o direito agrave exploraccedilatildeo por

laboratoacuterios de produccedilatildeo de medicamentos geneacutericos impedindo assim o

barateamento do medicamento e buscando uma continuidade comercial com

vistas agrave maximizaccedilatildeo do lucro que ultrapassa a legislaccedilatildeo que daacute aos

detentores da patente a garantia de exploraccedilatildeo do medicamento por 20 anos) e

(4) os artifiacutecios como o ocorrido em janeiro de 2009 quando se deu o embargo

alfandegaacuterio e a retenccedilatildeo da carga embarcada para o Brasil no porto

holandecircs de medicamentos geneacutericos da Iacutendia para tratamento de hipertensatildeo

embarcada para o Brasil em frontal oposiccedilatildeo ao princiacutepio internacionalmente

garantido do acesso universal aos medicamentos a busca pela garantia agrave vida

e agrave sauacutede de todas as naccedilotildees satildeo objetivos incontestes tampouco inegaacuteveis

A pandemia da gripe A (H1N1) ocorrida em 2009 eacute um caso

emblemaacutetico na relaccedilatildeo do acesso a medicamentos evidenciando o quatildeo

vulneraacutevel pode ser tornar um paiacutes o que demonstra a importacircncia estrateacutegica

da cooperaccedilatildeo articulada entre os paiacuteses

195

Isso posto a sauacutede passa a exercer legitimidade e representatividade

nas decisotildees e accedilotildees da poliacutetica externa dos paiacuteses Portanto a centralidade

estaacute no estado de bem-estar do ser humano em sua interface com a base

produtiva e de inovaccedilatildeo em sauacutede Perspectiva essa lanccedilada inclusive na

discussatildeo sobre os Determinantes Sociais da Sauacutede em que a sauacutede eacute

considerada como resultado da interaccedilatildeo de fatores sociais e de poliacuteticas

puacuteblicas

Diante do exposto o Brasil tem fortalecido seu papel de governanccedila nos

assuntos da sauacutede concentrando seus esforccedilos junto aos paiacuteses do eixo Sul-

Sul assim como atuando de forma articulada e proativa junto aos organismos

multilaterais Aleacutem da cooperaccedilatildeo com os paiacuteses do sul satildeo diretrizes da

poliacutetica externa brasileira a busca por maior governanccedila quanto agraves situaccedilotildees

pandecircmicas e pelo efetivo desenvolvimento de mecanismos alternativos para

financiar a pesquisa e a promoccedilatildeo do acesso aos medicamentos

Essa atuaccedilatildeo eacute refletida por exemplo no posicionamento da Unasul

junto agrave Conferecircncia Mundial da Sauacutede ocorrida em 2010 em Genebra em que

o Brasil exerceu forte papel integrador e articulador na defesa ao direito do

acesso a medicamentos como bens puacuteblicos em que se privilegiam os

interesses sociais ao inveacutes dos interesses comerciais 111 Defesa feita tambeacutem

pelo Ministro da Sauacutede do Brasil em maio de 2011 por ocasiatildeo da 64ordf

Assembleacuteia Mundial da Sauacutede em que foi destacado o acesso universal agrave

sauacutede como um dos pilares do governo brasileiro para o desenvolvimento do

paiacutes assim como a erradicaccedilatildeo da pobreza extrema onde para tanto satildeo

necessaacuterias condiccedilotildees de financiamento de incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica e acesso

a medicamentos

Essa situaccedilatildeo tambeacutem apontou o Brasil como lideranccedila junto agrave Unasul e

ao Mercosul na promoccedilatildeo de accedilotildees coordenadas junto agrave 62ordf Assembleacuteia

Mundial da Sauacutede (AMS) ocorrida em maio de 2009 a fim de que fossem

disponibilizados os conhecimentos e inovaccedilotildees relacionados a essa pandemia

(Gripe H1N1) a todos os paiacuteses viacutetimas e potencialmente viacutetimas isto eacute sem

exceccedilatildeo ou priorizaccedilatildeo de paiacuteses representando hegemonia no acesso a

196

soluccedilotildees seja por meio do conhecimento ou pela disponibilizaccedilatildeo de insumos

para a sauacutede que atendessem agraves necessidades das sociedades

Em que pesem os desafios estruturais e econocircmicos a serem

ultrapassados e cuja complexidade e interesses conflituosos satildeo oacutebices que

retardam as condiccedilotildees necessaacuterias para o acesso agrave sauacutede mantendo

vulneraacuteveis os sistemas de sauacutede de uma sociedade cada vez mais o tema da

sauacutede vem requerendo um protagonismo baseado no estado de bem-estar

social de uma naccedilatildeo eou de um conjunto de naccedilotildees

21 Cooperaccedilatildeo Internacional sob a Abordagem da Assistecircncia

Humanitaacuteria

A Constituiccedilatildeo Federal brasileira em seu Tiacutetulo I Art 4 inciso IX prevecirc

que ldquoas relaccedilotildees internacionais do Brasil regem-se entre outras por uma

cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidaderdquo A Constituiccedilatildeo

portanto foi clara estabelecendo que o Brasil fundamente suas relaccedilotildees

internacionais com base na prevalecircncia dos direitos humanos e na cooperaccedilatildeo

entre os povos para o progresso da humanidade [135] Segundo entrevista de

Celso Amorim ex-Ministro das Relaccedilotildees Exteriores ldquoao elaborar e implementar

projetos de cooperaccedilatildeo internacional Sul-Sul fundados na solidariedade para

com paiacuteses mais pobres o Governo brasileiro age em cumprimento ao

disposto em sua Carta Constituinterdquo [136]

A priorizaccedilatildeo aos direitos humanos ao direito humanitaacuterio e agrave

solidariedade brasileira a paiacuteses atingidos por calamidades soacutecio-naturais

marcou a primeira deacutecada do Seacuteculo XXI Passa o Brasil a estruturar-se em

dinacircmicas multidisciplinares em conjunto com oacutergatildeos governamentais e com a

135

Portanto a solidariedade eacute um dos pilares da poliacutetica externa Ao que complementa Amorim

(2009) ao reiterar que o Brasil defende uma atitude de natildeo-indiferenccedila sem descuidar dos princiacutepios

basilares da soberania estatal e da natildeo-intervenccedilatildeo nas relaccedilotildees internacionais Para o ex-Ministro essa

posiccedilatildeo se reflete nas iniciativas do Brasil no Conselho de Direitos Humanos nos projetos de cooperaccedilatildeo

Sul-Sul e na ampliaccedilatildeo da ajuda humanitaacuteria que o Brasil envia ao exterior Fonte Amorim C O Brasil

e os Direitos Humanos em busca de uma agenda positiva publicado na revista Poliacutetica Externa vol 18

nordm 2 - set-out-nov2009 - Brasiacutelia 01092009 Disponiacutevel em wwwitamaratygovbr

136httpportalsaudegovbrportalarquivospdfentrevista_celso_amorimpdf

197

participaccedilatildeo da sociedade civil facilitada pela criaccedilatildeo o Grupo de Trabalho

Interministerial sobre Assistecircncia Humanitaacuteria Internacional (GTI-AHI) criado

por Decreto Presidencial em 2006 e coordenado pelo Itamaraty Essa gestatildeo

habilita o Paiacutes a prestar assistecircncia humanitaacuteria com base na solidariedade e

foco em desenvolvimento sustentaacutevel contemplando aspectos de prevenccedilatildeo

recuperaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo [137]

Segundo Divisatildeo de Projetos da Assessoria Internacional do Ministeacuterio

da Sauacutede [138] as accedilotildees humanitaacuterias solicitadas [139] ao governo brasileiro

tiveram um grande crescimento nos uacuteltimos anos Entre 2006 e 2009 foram

mais de 22 paiacuteses na Aacutefrica na Ameacuterica Latina no Caribe e na Aacutesia atendidos

Accedilotildees que se distribuem no atendimento de emergecircncias diversas tais como

dificuldade de medicamentos essenciais nos estoques dos paiacuteses desastres

de origem natural epidemias dentre outros

O Brasil considera o Projeto de Cooperaccedilatildeo Brasil-Haiti como uma de

suas prioridades na aacuterea internacional Inclusive na cooperaccedilatildeo em sauacutede

como pode ser observado no desenvolvimento de projeto de Banco de Leite

Humano nesse paiacutes e em outras accedilotildees necessaacuterias em funccedilatildeo do terremoto de

2010 Aumentando-se a representatividade dessa aacuterea em accedilotildees bilaterais de

reestruturaccedilatildeo e multilaterais tais como a relacionada ao Memorando de

Entendimento Brasil-Cuba-Haiti para o fortalecimento do Sistema de Sauacutede do

Haiti Na questatildeo relacionada agrave infraestrutura e insumos um dos principais

eixos do Memorando destaca-se a aquisiccedilatildeo de medicamentos insumos e

material meacutedico-hospitalar Cabe destacar tambeacutem a formaccedilatildeo de grupos

teacutecnicos para abordarem os compromissos prioritaacuterios do Memorando [140] O

Grupo Teacutecnico de Imunizaccedilatildeo em sua IV reuniatildeo do Comitecirc Gestor (agosto de

137

Disponiacutevel em httpwwwitamaratygovbrtemasbalanco-de-politica-externa-2003-

20107110-assistencia-humanitaria

138httpsi3govplanejamentogovbrMS_interface_Accedilotildees20Internacionais20para20Rep

araccedilatildeo20de20Desastresdoc ndash Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede para

Prevenccedilatildeo e Reparaccedilatildeo de Desastres - Divisatildeo de Projetos da AISAMS

139 Assim o governo brasileiro presta assistecircncia humanitaacuteria mediante solicitaccedilatildeo do paiacutes

recipiendaacuterio por questatildeo de princiacutepio e respeito agrave soberania dos Estados e em consonacircncia com a

Resoluccedilatildeo 46182 da Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas

140 Disponiacutevel em httpsi3govplanejamentogovbr Acesso em 22062012

198

2010) abordou possibilidades de cooperaccedilatildeo teacutecnica de Cuba e do Brasil para

o Programa de Imunizaccedilatildeo do Haiti com participaccedilatildeo da Fiocruz pelo Brasil e

Instituto Finlay por Cuba para estudo de viabilidade

Na tabela a seguir procuramos correlacionar com base no

Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede para

Prevenccedilatildeo e Reparaccedilatildeo de Desastres comportando o periacuteodo de 2006 a 05-

2010 e no Relatoacuterio de Assistecircncia Humanitaacuteria do Ministeacuterio das Relaccedilotildees

Exteriores relativo ao periacuteodo de 2006 a 2009 a importacircncia do Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede do Brasil para o atendimento vigoroso e

imediato das accedilotildees humanitaacuterias realizadas pelo governo brasileiro apontando

para tanto as principais demandas ocorridas nesses periacuteodos

Tabela 4 Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede

em Accedilotildees Vinculadas ao CEIS (Prestaccedilatildeo de Assistecircncia Humanitaacuteria) ndash

Periacuteodo 2006 a 052010

Data da doaccedilatildeo

Paiacutes

beneficiado

Produtos doados relacionados

ao CEIS

Situaccedilatildeo ocorrida

082006 Liacutebano 42 t de medicamentos 5 kits de farmaacutecia baacutesica

Guerrra Hezbolha X Israel

092006 Equador 11 t de medicamentos Erupccedilatildeo do vulcatildeo Tungurahua

012007 El Salvador 1200 frascos de medicamentos para tuberculose

Terremoto

02 e

032007

Boliacutevia 230 kg de medicamentos Enchentes

062007 Repuacuteblica Dominicana

10000 doses de vacinas contra febre amarela

Epidemia

199

Cont

Data da

doaccedilatildeo

Paiacutes beneficiado

Produtos doados relacionados ao CEIS

Situaccedilatildeo ocorrida

082007 Nicaraacutegua 14 t de medicamentos Epidemia

082007 Peru 65 t de medicamentos e 720 caixas de hipoclorito de soacutedio

Terremoto de 8 graus na escala Richter

082007 Jamaica 100 mil doses de vacinas dupla adulta 4 t de medicamentos e 3750 frascos de hipoclorito de soacutedio

Furacatildeo Dean

08 e

092007

Nicaraacutegua 14 t de medicamentos e 2000 doses de soro antiofiacutedico

Ciclone Feacutelix

10 e

112007

Repuacuteblica Dominicana

18 t de medicamentos e 115 t de hipoclorito de soacutedio

Tempestade Noel

112007 Nicaraacutegua 18 t de medicamentos Tempestade Noel

112007 Haiti 18 t de medicamentos 115 t de hipoclorito de soacutedio

Tempestade Noel

112007 Argentina 200 ampolas de soro antiescorpiocircnico

Infestaccedilatildeo de escorpiotildees

022008 Boliacutevia 15 milhotildees de comprimido de rifampicina

Tuberculose

02 a

042008

Boliacutevia 14 t de medicamentos Enchentes

032008 Equador 15 t de medicamentos Enchentes e erupccedilatildeo de vulcatildeo Tungurahua

032008 Guineacute-Bissau 2 t de medicamentos contra malaria

Epidemia de malaacuteria

032008 Angola 2 t de medicamentos contra malaria

Epidemia de malaacuteria

032008 Moccedilambique 3 t de medicamentos e 15000 frascos de rifampicina

Enchentes

032008 Zacircmbia 3 t de medicamentos e 15000 frascos de rifampicina

Enchentes

200

Cont

Data da

doaccedilatildeo

Paiacutes beneficiado

Produtos doados relacionados ao CEIS

Situaccedilatildeo ocorrida

092008 Haiti 73 t de medicamentos Furacotildees Gustav Ike e Hanna

092008 Jamaica 15 t de medicamentos Furacatildeo Gustav

122008 Timor Leste Doaccedilao de vacinas para cooperantes brasileiros

-

012009 Palestina Fator 9 (hemoderivados) 20000 Uis em frascos de 500 UI e 10000 envelopes de sais para reidratacao oral

Guerra Israel X Palestina

022009 Bolivia 10 t de Temefos 300 l de AquakacuteOthrine e envio de velas de andiroba para combate ao mosquito da dengue e transferecircncia de tecnologia pela Fiocruz para produccedilatildeo local de velas

Enchentes epidemia de dengue

012010

a

052010

Haiti 400 t de medicamentos insumos e equipamentos para sauacutede

Terremoto de 70 graus na escala Richter

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede para Prevenccedilatildeo e Reparaccedilatildeo de Desastres comportando o periacuteodo de 2006 a 2010 ndash disponiacutevel em httpsi3govplanejamentogovbrMS_interface_Accedilotildees20Internacionais20para20Reparaccedilatildeo20

de20Desastresdoc e do Relatoacuterio de Assistecircncia Humanitaacuteria do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores relativo ao periacuteodo de 2006 a 2009 ndash disponiacutevel em wwwitamaratygovbr

Nota 1 ndash Natildeo eacute intenccedilatildeo deste trabalho fazer o levantamento dos custos decorrentes das doaccedilotildees efetuados e sim ressaltar o impacto do conceito humanitaacuterio e de solidariedade nas accedilotildees de poliacutetica externa brasileira relacionadas agraves necessidades de suprimento de insumos da sauacutede

Nota 2 ndash A tabela acima apresenta um recorte especifico para os produtos relacionados ao CEIS Obviamente a assistecircncia humanitaacuteria brasileira comporta doaccedilotildees diversas (assistecircncia alimentar material de limpeza de assistecircncia a moradia material escolar etc) atendendo a distintas demandas dos paiacuteses tanto por doaccedilotildees provenientes do Brasil como por aquisiccedilotildees locais e contribuiccedilotildees a ONGS Organismos Internacionais e Programa e Fundos diversos entre os quais a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura (FAO) o Programa Mundial de Alimentos (PMA) o Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Refugiados (ACNUR) e o Escritoacuterio das Naccedilotildees Unidas para Coordenaccedilatildeo de Assuntos Humanitaacuterios (OCHA)

201

22 Cooperaccedilatildeo Internacional sob a Abordagem da Cooperaccedilatildeo

Teacutecnica Internacional

Entre 2003 e 2009 [141] no tocante agrave Cooperaccedilatildeo Teacutecnica Internacional

o governo brasileiro promoveu a negociaccedilatildeo aprovaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de

mais de 400 acordos ajustes protocolos e Memorandos de Entendimentos

com governos de paiacuteses em desenvolvimento da Ameacuterica Latina Caribe

Aacutefrica Aacutesia e Oceania O nuacutemero de paiacuteses beneficiaacuterios da cooperaccedilatildeo

brasileira teve um crescimento superior a 150 isto eacute passou de 21 para 56

paiacuteses Dentre os paiacuteses beneficiaacuterios destacam-se primeiramente os paiacuteses

africanos e os paiacuteses da Ameacuterica Latina

Quanto agrave sauacutede sob a perspectiva da CampT a projeccedilatildeo brasileira

fundamenta-se em experiecircncias positivas tais como o Programa de

Imunizaccedilatildeo a implantaccedilatildeo do SUS o acesso universal e gratuito ao

diagnoacutestico agrave prevenccedilatildeo e ao tratamento das pessoas com HIVAIDS a defesa

ao acesso a medicamentos fundamentais sobre os quais pesem patentes

(como foram os casos do Efavirenz em 2007 e do Tenofovir [142] em 2010) a

participaccedilatildeo estrateacutegica no debate internacional pela diminuiccedilatildeo dos preccedilos de

medicamentos importados e pela produccedilatildeo nacional de medicamentos aleacutem

da promoccedilatildeo de accedilotildees articuladas para aprovaccedilatildeo de documentos junto agraves

organizaccedilotildees internacionais como a Estrateacutegia Global sobre Sauacutede Puacuteblica

Inovaccedilatildeo e Propriedade Intelectual aprovada durante a 61ordf AMS em 2008 e a

aprovaccedilatildeo do fundo global para o desenvolvimento de tecnologia e

conhecimento defendido pelo entatildeo Ministro da Sauacutede Joseacute Gomes

Temporatildeo

ldquoo acesso aos frutos do conhecimento humano estatildeo crescentemente segmentados por linhas legais e de mercado Noacutes temos a obrigaccedilatildeo moral de assegurar e tornar o mais acessiacutevel possiacutevel os benefiacutecios do progresso humano para todos Estruturas inovadoras satildeo necessaacuterias para acumular e sustentar o acesso a

141 Segundo dados disponibilizados no portal httpsi3govplanejamentogovbr

142

Medicamento antirretroviral para tratamento de HIVAIDS

202

niacuteveis mais elevados de sauacutede para os paiacuteses em

desenvolvimento do mundordquo [143]

Nesse escopo a visibilidade alcanccedilada pelo Brasil no contexto

internacional eacute reforccedilada por sua voz ativa na defesa por formulaccedilatildeo de

poliacuteticas voltadas para o fortalecimento da capacidade produtiva para

atendimento agraves demandas de sauacutede

Satildeo atrativos portanto que justificam o Brasil como paiacutes que eacute

demandado por outros paiacuteses em desenvolvimento E eacute nessa perspectiva de

cooperaccedilatildeo com os demais paiacuteses em desenvolvimento que o IPEA 79 relata

que o volume de recursos federais investidos em cooperaccedilatildeo teacutecnica cientiacutefica

e tecnoloacutegica aumentou consideravelmente Em 2005 o total anual investido

no contexto da sauacutede foi de R$ 278 milhotildees Em 2009 chegou a R$ 138

milhotildees na aacuterea da sauacutede um aumento de aproximadamente 400 do valor

aplicado em 2005 O volume total da cooperaccedilatildeo teacutecnica cientiacutefica e

tecnoloacutegica segundo a anaacutelise na aacuterea da sauacutede ldquode 2005 a 2009 equivale a

9 do total investido no periacuteodo ou seja quase R$ 24 milhotildeesrdquo 79 (p38)

Dos temas mais presentes na realidade dessa cooperaccedilatildeo em sauacutede

ganham destaques accedilotildees sobre doenccedilas negligenciadas aleacutem da forte

presenccedila e dos recursos investidos pela Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz

ldquoA CTCampT do Brasil na aacuterea da sauacutede contempla diversos outros temas que afligem os paiacuteses em desenvolvimento parceiros como a prevenccedilatildeo e controle da malaacuteria a atenccedilatildeo agrave sauacutede materno-infantil a capacitaccedilatildeo para a produccedilatildeo de vacinas contra febre amarela o diagnoacutestico e o manejo da doenccedila de Chagas () Entre as instituiccedilotildees participantes o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores concentra 49 dos recursos investidos em projetos de CTCampT na aacuterea da sauacutede seguido pelo Ministeacuterio da Sauacutede (24) e pela Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz (20)rdquo

79 (p38)

Ademais accedilotildees articuladas entre o Ministeacuterio da Sauacutede e o Ministeacuterio

das Relaccedilotildees Exteriores estimulam transferecircncias de tecnologia e de

conhecimento cujo objetivo maior eacute a promoccedilatildeo do desenvolvimento dos

143

Disponiacutevel em httpwwwpanoramabrasilcombrbrasil-propoe-fundo-global-para-pesquisa-

em-saude-id2996html

203

paiacuteses carentes do saber tecnoloacutegico e inovativo E eacute sob esse escopo de

reforccedilar a questatildeo da sauacutede como elemento central para a estrateacutegia de

combate agrave pobreza e para incentivar o desenvolvimento social que os

chanceleres de sete paiacuteses assinaram em 2007 a Declaraccedilatildeo de Oslo [144]

aprovada em dezembro de 2009 pela ONU Essa aprovaccedilatildeo elevou a condiccedilatildeo

da sauacutede global a tema especiacutefico da poliacutetica externa dos paiacuteses membros

O que corrobora a diretriz do governo brasileiro em articulaccedilatildeo com o

Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores pela busca do fortalecimento da presenccedila

brasileira junto ao cenaacuterio internacional Nesse sentido o Brasil por intermeacutedio

das accedilotildees em sauacutede amplia sua presenccedila nos oacutergatildeos e programas de sauacutede

das Naccedilotildees Unidas e principalmente amplia suas accedilotildees de cooperaccedilatildeo com

os paiacuteses da Ameacuterica do Sul da CPLP e da Aacutefrica 106 112

Nessa perspectiva a pauta da sauacutede vem se evidenciando de forma

cada vez mais robusta no Brasil Algumas accedilotildees se destacam (a) o seu

posicionamento na defesa da sauacutede global (b) a coordenaccedilatildeo internacional do

enfrentamento das doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis (c) a defesa dos

sistemas universais de sauacutede (d) a introduccedilatildeo na agenda global dos

Determinantes Sociais da Sauacutede (e) o processo de reforma da OMS [145] (f) a

sua atuaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo teacutecnica atraveacutes do Centro Internacional de

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica em HIVAIDS (CICT) (g) a organizaccedilatildeo da Rede de

Cooperaccedilatildeo Tecnoloacutegica em HIVAIDS (h) a atuaccedilatildeo notadamente na questatildeo

do acesso aos medicamentos (i) o BRICS (j) a constituiccedilatildeo do Tratado da

Unasul e seu papel de forte protagonismo regional inclusive junto ao Mercosul

(k) o estiacutemulo agrave cooperaccedilatildeo regional (oficinas como a de diagnoacutestico de ofertas

e demandas de cooperaccedilatildeo dos paiacuteses da Unasul e o Foacuterum de Cooperaccedilatildeo

Internacional em Sauacutede) (l) a instalaccedilatildeo e inauguraccedilatildeo do Isags e (m) a forte

articulaccedilatildeo e accedilatildeo proativa junto agrave Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua

Portuguesa e junto ao BRICS em assuntos correlatos agrave sauacutede

144

Para mais detalhes Capiacutetulo III 1Sauacutede nas Relaccedilotildees Internacionais e Quadro 2 ndash ―Relaccedilatildeo

de Documentos Internacionais cooperaccedilatildeo Sul-Sul e sauacutede do presente estudo

145

Conforme Botelho E Boletim de Atuaccedilatildeo Internacional Brasileira em Sauacutede nordm 5 ndash

Cooperaccedilatildeo Sauacutede Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede Nov 2011

204

Quanto agrave geopoliacutetica a temaacutetica da sauacutede por ser considerada

estrateacutegica na conduccedilatildeo poliacutetica nacional e internacional eacute amplificada quando

observamos o posicionamento do Brasil ldquona intercessatildeo dos vaacuterios

agrupamentos servindo de ponte entre os processos e interesses de cada

grupo promovendo o entendimento em torno dos temas principais da agenda

globalrdquo [146] Essa intercessatildeo pode ser observada na figura 5

Figura 5 Intercessatildeo Geopoliacutetica do Brasil na Aacuterea da Sauacutede

Elaboraccedilatildeo proacutepria

Nesse sentido a representatividade brasileira agrega valor inegaacutevel e

incontestaacutevel agrave conduccedilatildeo e ao destaque dos assuntos relacionados agrave sauacutede e

o consequente fortalecimento da aacuterea junto aos paiacuteses relacionados

Em que pese a priorizaccedilatildeo brasileira na relaccedilatildeo Sul-Sul eacute imprescindiacutevel

a contiacutenua busca pela minimizaccedilatildeo da vulnerabilidade tecnoloacutegica nacional

Articulaccedilotildees produtivas entre instituiccedilotildees e laboratoacuterios de produccedilatildeo puacuteblica e

empresas privadas ganham contorno estrateacutegico e imprescindiacutevel sobretudo

146

Botelho E Boletim de Atuaccedilatildeo Internacional Brasileira em Sauacutede nordm 5 ndash Cooperaccedilatildeo Sauacutede

Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede Nov de 2011

MERCO-SUL

UNASUL

CPLP

IBAS

BRICS

205

com empresas e instituiccedilotildees de paiacuteses desenvolvidos detentores de

conhecimento e tecnologia de ponta com diferencial em PampD

Podem ser destacados por exemplo os seguintes casos de parcerias

entre o Brasil e naccedilotildees e instituiccedilotildees mais desenvolvidas (a) com o Reino

Unido empresa GlaxoSmithKline - GSK e Fiocruz como contraparte brasileira ndash

desenvolvimento e produccedilatildeo de vacinas contra HIB Triacuteplice Viral Pneumococo

e Rotaviacuterus aleacutem de parceria firmada em 2009 para o desenvolvimento de

vacinas contra dengue e malaacuteria e mais recentemente acordo firmado para

produccedilatildeo de vacinas tetraviral que incluiraacute a varicela agrave atual triacuteplice viral (b)

com a organizaccedilatildeo DNDI ndash Drugs for Neglected Diseases Initiativee Fiocruz ndash

produccedilatildeo de Artemisina + Mefloquina em doses fixas para tratamento contra

malaacuteria (c) com Cuba Poacutelo Cientiacutefico de Cuba e Fiocruz como contraparte

brasileira ndash projetos e produtos tais como Eritropoetina e Interferon Alfa kits

para diagnoacutestico e antineoplaacutesicos (d) com a Ucracircnia ndash Instituto Indar e Fiocruz

como contraparte brasileira ndash produccedilatildeo de insulina e (e) Estados Unidos ndash

empresa Genzyme e Fiocruz (como contraparte brasileira) ndash novos tratamentos

para a doenccedila de Chagas

O Brasil comporta um grande potencial para a aacuterea de vacinas

Inclusive potencial exportador uma vez que haacute demanda internacional

reprimida para vacinas para doenccedilas negligenciadas pelos grandes

laboratoacuterios Nesse sentido vale citar o caso de Bio-Manguinhos da Fundaccedilatildeo

Oswaldo Cruz que mesmo considerando ser uma instituiccedilatildeo puacuteblica voltada

para o atendimento agraves necessidades do SUS tem possibilidade de aumentar

sua capacidade de exportaccedilatildeo que em 2010 chegou a 47 milhotildees de doses

produzidas cerca de 3 da sua produccedilatildeo direcionada para o Brasil nesse

mesmo ano 1501 milhotildees [147]

A Fundaccedilatildeo Bill e Melinda Gates [148] a partir de um novo patamar de

relaccedilatildeo estabelecida com o Ministeacuterio da Sauacutede tambeacutem tem projetos com a

147

Disponiacutevel em httpwwwestadaocombrnoticiasimpressotransferencia-de-tecnologia-

alavanca-bio-manguinhos7206300htm Acesso em 18052011

148

Bill Gates em maio de 2011 convocou os ministros de sauacutede de todos os paiacuteses a vacinar 10

milhotildees de crianccedilas ateacute 2020 a chamada ―deacutecada de vacinaccedilatildeo Fonte

206

Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz e a Fundaccedilatildeo Butantan e projeta o Brasil como um

potencial exportador mundial de vacinas Sua parceria busca fomentar a

capacidade produtiva dessas instituiccedilotildees nacionais que em contrapartida

poderatildeo atender demandas de paiacuteses mais pobres como por exemplo de

paiacuteses africanos que necessitam de vacinas tais como vacina contra a Febre

Amarela Meningite e Pentavalente

Em funccedilatildeo das experiecircncias exitosas e dos resultados alcanccedilados junto

agraves parcerias para produccedilatildeo de vacinas no Brasil vale destacar como exemplo

de sucesso o histoacuterico da parceria entre a empresa GlaxoSmithkline -GSK e a

Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz mais especificamente a sua unidade de produccedilatildeo de

imunobioloacutegicos Bio-Manguinhos

Foi a partir dos anos 80 com a tecnologia para produccedilatildeo de vacina

contra poliomielite obtida por meio de parceria firmada com o Japan

Poliomyelitis Institute que Bio-Manguinhos incorporou a tecnologia de

produccedilatildeo dessa vacina utilizando o concentrado viral adquirido da GSK

produccedilatildeo fundamental para a eliminaccedilatildeo dessa doenccedila no Paiacutes

Desde entatildeo acordos de transferecircncia de tecnologia com a GSK foram

firmados entre as duas instituiccedilotildees O primeiro para a produccedilatildeo da vacina

conjugada contra Haemophilus Influenzae tipo b (HIB) teve a sua tecnologia

transferida totalmente em 2005 Em outubro de 2003 mais um acordo firmado

transferecircncia de tecnologia da vacina combinada de sarampo caxumba e

rubeacuteola com o processo de nacionalizaccedilatildeo de todas as etapas de produccedilatildeo

em andamento com previsatildeo para realizaccedilatildeo de estudos cliacutenicos previstos

para 2013 Mais uma parceria em 2007 contrato de transferecircncia de tecnologia

para produccedilatildeo da vacina contra rotaviacuterus com nacionalizaccedilatildeo completa das

etapas de produccedilatildeo prevista para 2013 Em 2009 firmado acordo de

colaboraccedilatildeo (ineacutedito) entre as instituiccedilotildees para o desenvolvimento e a

produccedilatildeo conjunta de uma vacina contra dengue E em 2010 firmado acordo

de transferecircncia de tecnologia para produccedilatildeo de vacina pneumocoacutecica

conjugada a ser fabricado em Bio-Manguinhos a partir de 2013 Mais

httpwwwestadaocombrnoticiasimpressobill-gates-sonda-laboratorios-do-pais-para-financiar-

producao-de-vacinas7206230htm Acesso em 18052011

207

recentemente iniacutecio de agosto de 2012 foi firmado acordo de transferecircncia de

tecnologia para produccedilatildeo de vacina contra varicela (catapora) a ser combinado

com a triacuteplice viral que inclui vacina contra sarampo caxumba e rubeacuteola

tornando-se uma vacina tetraviral [149]

Ultrapassando as fronteiras da incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica a FIOCRUZ

Instituiccedilatildeo Estrateacutegica de Estado na aacuterea da sauacutede estabelece-se com forte

protagonismo estrateacutegico na poliacutetica setorial de cooperaccedilatildeo internacional O

que seraacute apresentado no decorrer deste estudo

Nesse sentido a inovaccedilatildeo tecnoloacutegica assim como o conhecimento eacute

diferencial determinante para serem estabelecidas como centrais nos ditames

do processo de desenvolvimento do Brasil Essa centralidade eacute observada no

discurso da poliacutetica nacional conforme Lei de Inovaccedilatildeo nordm 10973 de 2004

ldquoo desafio de se estabelecer no Paiacutes uma cultura de inovaccedilatildeo estaacute amparado na constataccedilatildeo de que a produccedilatildeo de conhecimento e a inovaccedilatildeo tecnoloacutegica passaram a ditar crescentemente as poliacuteticas de desenvolvimento dos paiacuteses Nesse contexto o conhecimento eacute o elemento central das novas estruturas econocircmicas que surgem e a inovaccedilatildeo passa a ser o veiacuteculo de transformaccedilatildeo de conhecimento em riqueza e melhoria da qualidade de vida das sociedadesrdquo

Portanto partindo da ideacuteia de atrair empresas ampliar os processos de

transferecircncia de tecnologia implementar a produccedilatildeo em solo brasileiro

valendo-se do mercado continental e do poder de compra do Brasil o Paiacutes se

fortalece e expande sua capacidade produtiva compartilhando oportunamente

os conhecimentos adquiridos com os paiacuteses possuidores de vulnerabilidades

locais que comprometem a sauacutede das suas populaccedilotildees

Isso posto a despeito das consideraccedilotildees financeiras e comerciais

ocorre um processo de formaccedilatildeo de cadeia do conhecimento onde aqueles que

detecircm maiores condiccedilotildees de pesquisa de desenvolvimento de tecnologia e de

inovaccedilatildeo tornam-se multiplicadores do saber junto agravequeles com menor acesso

agrave tecnologia e ao conhecimento

149

Dados extraiacutedos da Agecircncia Fiocruz de Notiacutecias 07082012 Disponiacutevel em

wwwfiocruzbrccs Acesso em 10082012

208

Essa cadeia pode ser ilustrada conforme figura 6 onde o topo comporta

paiacuteses desenvolvidos detentores de tecnologias de ponta e de conhecimento

avanccedilado O topo firma projetos e negociaccedilotildees com a faixa central isto eacute com

paiacuteses como o Brasil que nesse exemplo especiacutefico possui uma base

industrial favoraacutevel e capacidade de PampD instalada com poliacuteticas integradas e

estruturantes amplo poder de compra do Estado programas de fomentos

fortalecidos aleacutem de capacidade regulatoacuteria e de poliacuteticas governamentais

favoraacuteveis para a promoccedilatildeo de parcerias puacuteblico-privadas e acadecircmicas e de

uma agenda internacional favoraacutevel para expansatildeo do conhecimento adquirido

em acircmbito regional e internacional Esses paiacuteses repassam suas tecnologias

para paiacuteses detentores de grandes fragilidades tecnoloacutegicas normalmente

paiacuteses com capacidade de produccedilatildeo em sauacutede nula ou em estaacutegio inicial

inseridos na base da piracircmide desde que haja viabilidade para estruturaccedilatildeo

produtiva e tecnoloacutegica

Figura 6 Formaccedilatildeo da Cadeia de Conhecimentos

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Assim o estaacutegio de desenvolvimento que o Brasil obteve em funccedilatildeo dos

benefiacutecios da cooperaccedilatildeo internacional recebida fez com que o habilitasse a

ofertar determinados conhecimentos e produtos a paiacuteses demandantes e a

organismos internacionais como eacute o caso da vacina contra Febre Amarela e os

Bancos de Leite Humano150 Nesse sentido afirma Amorim 113 [151]

150

Exemplos que seratildeo detalhados no decorrer do Capiacutetulo V

209

ldquoA cooperaccedilatildeo internacional prestada pelo Brasil atua como uma via de duas matildeos beneficiando por um lado os paiacuteses mais pobres com as boas praacuteticas tecnologias e conhecimento desenvolvidos com base na experiecircncia do SUS e por outro nos obrigando a aperfeiccediloar constantemente o universo de iniciativas e programas de sauacutede puacuteblica que atendam a um nuacutemero cada vez maior de seres humanosrdquo

113 (p5)

Na perspectiva da via de ldquoduas matildeosrdquo seria incompleto e limitante

imaginar que a promoccedilatildeo do desenvolvimento ocorra exclusivamente por conta

das accedilotildees exoacutegenas e de inputs externos cuja ldquodependecircncia cegardquo cerceie

movimentos e imobilize a capacidade produtiva quando interesses externos

divergem das escolhas e necessidades nacionais Tampouco se deve

considerar o desenvolvimento como uma questatildeo autoacutectone uma vez que

mesmo em um contexto global assimeacutetrico a realidade contemporacircnea das

relaccedilotildees entre os paiacuteses impotildee-se sob a base de um mundo interligado e

globalizado

Realidade essa que se fundamenta na cada vez maior relevacircncia da

relaccedilatildeo que as bases de conhecimento e os campos da ciecircncia da tecnologia

e da inovaccedilatildeo tecircm com o estado de bem-estar das naccedilotildees A cooperaccedilatildeo

internacional prestada pelo Brasil aos paiacuteses do Sul notadamente junto aos

paiacuteses da Ameacuterica Latina e Central e aos paiacuteses africanos eacute reflexo do

estabelecimento no Brasil de poliacuteticas de incentivo agrave inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e ao

conhecimento aliadas agrave conduccedilatildeo da poliacutetica externa sedimentada sobre os

alicerces da solidariedade e do desenvolvimento

151

Celso Amorim em entrevista Disponiacutevel em Cooperaccedilatildeo Sauacutede Boletim de Atuaccedilatildeo

Internacional Brasileira em Sauacutede do Ministeacuterio da Saude 2010 24-5

210

CAPIacuteTULO V CEIS POLIacuteTICA EXTERNA EM ACcedilAtildeO UM OLHAR SOBRE O SUL

A priorizaccedilatildeo e o fortalecimento das accedilotildees de cooperaccedilatildeo com as

naccedilotildees do Sul focando principalmente os paiacuteses da Ameacuterica do Sul e os

paiacuteses africanos e as recentes diretrizes da poliacutetica externa brasileira

contribuiacuteram para que a agenda da sauacutede ganhasse nas uacuteltimas deacutecadas maior

destaque na poliacutetica externa do Paiacutes

Nessa perspectiva a cooperaccedilatildeo Sul-Sul nas questotildees da sauacutede como

justificado anteriormente fundamenta-se em modelo horizontal e estruturante

cuja perspectiva eacute colaborar na superaccedilatildeo das deficiecircncias e limitaccedilotildees dos

paiacuteses cooperados Nesse sentido busca-se ultrapassar o caraacuteter instrumental

que ateacute hoje se deu a cooperaccedilatildeo brasileira e transformaacute-la em um necessaacuterio

elemento estruturador Situaccedilatildeo essa que obviamente torna possiacutevel uma

diferenciaccedilatildeo na conduccedilatildeo da poliacutetica externa brasileira e solidifica a projeccedilatildeo

internacional do Brasil aleacutem dos ganhos oacutebvios resultantes das mudanccedilas

provocadas pelo processo de desenvolvimento dos paiacuteses beneficiaacuterios da

cooperaccedilatildeo

Uma dimensatildeo da cooperaccedilatildeo internacional da sauacutede notadamente nos

paiacuteses em desenvolvimento eacute a parceria internacional em atividades de

inovaccedilatildeo para o desenvolvimento de produtos para a sauacutede Como exemplo de

diversas iniciativas podemos destacar (a) o apoio aos projetos de cooperaccedilatildeo

Sul-Sul para o desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico cujo objetivo eacute viabilizar

e fortalecer o desenvolvimento da aacuterea de Avaliaccedilatildeo de Tecnologias em Sauacutede

ndash ATS no acircmbito do Mercosul e (b) as Parcerias para Desenvolvimento de

Produtos (PDPs) pesquisa e ao desenvolvimento de insumos voltados para

doenccedilas negligenciadas

No tocante agraves ATS cuja Ata de formaccedilatildeo data de janeiro de 2009 [152] eacute

a partir da formaccedilatildeo do grupo de experts e da construccedilatildeo de uma rede de

avaliaccedilatildeo de tecnologias que promovam a difusatildeo do conhecimento na aacuterea

152

Disponiacutevel em httpsi3govplanejamentogovbr

211

tecnoloacutegica para sauacutede que alguns resultados jaacute foram alcanccedilados Para este

estudo vale destacar a concretizaccedilatildeo de um espaccedilo virtual para troca de

informaccedilotildees e a formaccedilatildeo de bases de dados para comparaccedilatildeo de preccedilos de

medicamentos e produtos para a sauacutede

Sob a perspectiva das doenccedilas antes negligenciadas a Fiocruz inserida

na estrateacutegia abrangente do Ministeacuterio da Sauacutede para a pesquisa e inovaccedilatildeo

em sauacutede comporta diversas iniciativas de parcerias dentre as quais com a

ldquoMedicines for Malaria Venture (MMV) a ldquoGlobal Alliance for TB Drug

Development (TB Alliance) e Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDI)

Essas parcerias se manifestam de forma global poreacutem conforme aponta Morel

[153] o movimento do Brasil no sistema global de inovaccedilatildeo ainda eacute recente

Segundo Morel um dos motivos para que esse movimento ainda natildeo esteja

maduro quando comparado a paiacuteses desenvolvidos eacute o fato de tatildeo somente

recentemente temas como inovaccedilatildeo terem sido priorizados nas discussotildees

poliacuteticas internas (a exemplo da Lei de Inovaccedilatildeo datada de 2005 isto eacute a

menos de uma deacutecada) Para o autor [154] o ateacute entatildeo avanccedilo incipiente foi

decorrente do fato de se descuidar ldquodo sistema educacional da poliacutetica

industrial e da poliacutetica sanitaacuteria que fizessem suas conexotildees com as poliacuteticas

de CampTrdquo ao que exemplifica apontando que foi somente a partir de 2004 que o

Ministeacuterio da Sauacutede montou o Departamento de CampT atualmente inserido na

tambeacutem recente Secretaria de Ciecircncia e Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos em

Sauacutede para promover de forma estrateacutegica pesquisa tecnoloacutegica e inovaccedilatildeo

em sauacutede Entretanto vale destacar que este movimento estrateacutegico acelera-

se acentuadamente com a criaccedilatildeo de novas estruturas e poliacuteticas cuja

descriccedilatildeo fugiria aos propoacutesitos desta tese [155]

153

Entrevista concedida pelo pesquisador da Fiocruz Carlos Morel em 12112011 Disponiacutevel

em httpwwwdndiorgbrptcentro-de-documentacaocomunicados-de-imprensa253-12-01-2011-o-

modelo-pdp-e-as-doencas-negligenciadashtml Acesso em 06022012

154

Entrevista concedida ao Informe ENSP em 09032006 Disponiacutevel em wwwenspfiocruzbr

Acesso em 06022012

155

Para mais informaccedilotildees ver PIB - Perspectivas do investimento em sauacutede coordenador

Carlos A Grabois Gadelha Equipe Joseacute Maldonado [et al] Rio de Janeiro UFRJ 20082009

212

Ainda assim para Morel haacute muito que fazer no Brasil para estimular

essas parcerias prejudicadas pelos entraves burocraacuteticos que obstaculizam as

accedilotildees decorrentes Nesse sentido medidas de atraccedilatildeo factiacuteveis e exequiacuteveis

devem ser implementadas para atrair e fortalecer novas parcerias em PDP em

sauacutede entre o Brasil e demais paiacuteses sejam eles representados por

organizaccedilotildees sem fins lucrativos ou por empresas privadas

ldquoNa induacutestria de faacutermacos haacute uma necessidade de

aperfeiccediloar os procedimentos e processos nas

instituiccedilotildees envolvidas bem como estimular e facilitar a

interaccedilatildeo entre as mesmas Universidades institutos

de pesquisa e desenvolvimento hospitais e redes onde

ocorre a pesquisa cliacutenica ANVISA [Agecircncia Nacional

de Vigilacircncia Sanitaacuteria] CONEP [Comissatildeo Nacional

de Eacutetica em Pesquisa] INPI [Instituto Nacional da

Propriedade Industrial] Satildeo instituiccedilotildees criacuteticas e

fundamentais para que nosso Paiacutes possa desenvolver

um verdadeiro sistema nacional de inovaccedilatildeo em sauacutede

componente fundamental do Complexo Industrial da

Sauacutederdquo [153]

Em um sentido mais afirmativo vale ressaltar a existecircncia de resultados

positivos provenientes de esforccedilos dirigidos para doenccedilas negligenciadas

pouco visiacuteveis na agenda global Esses esforccedilos representam benefiacutecios para

paiacuteses que natildeo tecircm condiccedilotildees de promover o desenvolvimento e o

fortalecimento de sua base industrial voltada para a sauacutede tornando o Brasil

um paiacutes estrateacutegico para os seus parceiros do eixo Sul-Sul no Sistema Global

de Inovaccedilatildeo em Sauacutede

Como exemplo concreto brasileiro no esforccedilo global para ampliaccedilatildeo do

acesso a medicamentos tem-se ao final de 2011 o compromisso assumido

pelo Paiacutes no acircmbito da Opas enfatizando o protagonismo do Brasil a se

converter no provedor mundial de medicamentos contra o mal de Chagas

graccedilas agrave estrateacutegia da associaccedilatildeo de laboratoacuterios puacuteblicos e privados [156]

156 O laboratoacuterio privado Nortec entrega mateacuteria-prima ao laboratoacuterio puacuteblico Lafepe que

fabrica o medicamento Vale citar que segundo a Assessoria de Comunicaccedilatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede

em relaccedilatildeo a doenccedilas negligenciadas o Brasil produz diversos medicamentos para ajuda humanitaacuteria

internacional por meio de parcerias entre laboratoacuterios puacuteblicos e privados O investimento em

laboratoacuterios puacuteblicos produtores saltou de R$ 88 milhotildees em 2000 para mais de R$ 54 milhotildees em 2011

―() O Brasil estaacute no topo da lista de paiacuteses que financiam pesquisa em dengue segundo a GFinder List

instituiccedilatildeo inglesa que realiza levantamento anual de pesquisas De 2002 a 2010 o Ministeacuterio da Sauacutede

213

suprindo em conjunto com a logiacutestica da Organizaccedilatildeo Meacutedico Sem Fronteiras

a demanda mundial desse medicamento [157]

Ademais segundo a Divisatildeo de Projetos da Assessoria Internacional do

Ministeacuterio da Sauacutede [158] experiecircncias exitosas relacionadas agrave cooperaccedilatildeo

internacional em sauacutede estatildeo relacionadas aos temas HIVAIDS e Bancos de

Leite Humano

Referentemente ao primeiro tema ndash HIVAIDS eacute a principal referecircncia de

cooperaccedilatildeo com a Aacutefrica representando 37 dos projetos atuais e o 4ordm tema

da agenda de cooperaccedilatildeo brasileira com os paiacuteses da Ameacuterica Latina e Caribe

representando 13 da totalidade dos projetos Dentre os 21 projetos de

cooperaccedilatildeo nessa aacuterea 13 satildeo na Aacutefrica e 8 na Ameacuterica Latina e Caribe

Dentre os programas na aacuterea o Laccedilo Sul-Sul [159] oferece medicamentos

antirretrovirais brasileiros para os paiacuteses da Ameacuterica Latina e os paiacuteses

africanos representando um estrateacutegico instrumento de ampliaccedilatildeo ao acesso a

esses medicamentos

Conforme o Ministeacuterio o Banco de Leite Humano [160] eacute o principal tema

de cooperaccedilatildeo com a Ameacuterica Latina e Caribe representando 39 dos

projetos e o terceiro tema de cooperaccedilatildeo com a Aacutefrica com 17 do total Satildeo

25 projetos registrados entre concluiacutedos em execuccedilatildeo e em negociaccedilatildeo Tem

como principal meta implementar um banco de leite humano de referecircncia

financiou 518 projetos de pesquisa em doenccedilas negligenciadas investindo um total de quase R$ 95

milhotildees Disponiacutevel em wwwsaudegovbr Acesso em 02 de dezembro de 2011

157 Fontes Portal da Sauacutede 2011 e httpenvolverdecombripsinter-press-service-

reportagensbrasil-em-esforco-global-para-ampliar-acesso-a-medicamentos Acesso em 15 de novembro

de 2011

158

Apresentaccedilatildeo ocorrida no Rio de Janeiro durante o I Foacuterum Sul-Americano de Cooperaccedilatildeo

Internacional em Sauacutede em 23 a 25 de novembro de 2011

159

Lanccedilada em 2004 pelo governo brasileiro em alianccedila com a Unicef a iniciativa Laccedilos Sul-

Sul (LSS) reuacutene outros sete paiacuteses Boliacutevia Cabo Verde Guineacute-Bissau Nicaraacutegua Paraguai Satildeo Tomeacute

e Priacutencipe e Timor Leste Busca assegurar o acesso universal agrave prevenccedilatildeo ao tratamento do HIVAIDS e

agrave assistecircncia em uma perspectiva de atenccedilatildeo integral Promove a solidariedade entre paiacuteses em

desenvolvimento e um modelo de cooperaccedilatildeo horizontal Proporciona o intercacircmbio de informaccedilotildees e a

elaboraccedilatildeo conjunta de estrateacutegias e planos de accedilatildeo Disponiacutevel em httpsistemasaidsgovbrlss 160

O BLH eacute fruto de uma accedilatildeo integrada entre o Instituto Nacional Fernandes Figueira da

Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz e o Ministeacuterio da Sauacutede do Brasil Em 2011 recebeu precircmio da OMS como

maior contribuiccedilatildeo para reduccedilatildeo da mortalidade infantil na deacutecada de 90

214

nacional em cada um dos paiacuteses parceiros servindo de instrumento de

combate agrave morbimortalidade e desnutriccedilatildeo infantis conforme preconiza os

Objetivos de Desenvolvimento do Milecircnio

A Rede Brasileira de Banco de Leite Humano atua de forma bastante

ampliada na sua cooperaccedilatildeo internacional O que pode ser observado quando

observamos seus respectivos projetos bilaterais (por intermeacutedio da Agecircncia

Brasileira de Cooperaccedilatildeo do MRE) e seus trabalhos em rede e multilaterais

Satildeo os seguintes paiacuteses em cooperaccedilatildeo com o Brasil no que concerne

aos Bancos de Leite Humano

Quadro 3 ndash Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede Relaccedilatildeo de Paiacuteses e Banco de Leite Humano

Projetos Bilaterais ndash Brasil e

Belize

Boliacutevia

Cuba

Panamaacute

Costa Rica

Repuacuteblica Dominicana

El Salvador

Mexico

Nicaragua

Peru e

Haiti

Rede BLH e CPLP ndash Brasil e

Cabo Verde

Moccedilambique

Angola e

Aacutefrica do Sul

Multilaterais ndash Programa Ibero-Americano de Bancos de Leite Humanos ndash IBERBLH [161]

Argentina

Colocircmbia

Espanha

Portugal

Paraguai

Uruguai e

Venezuela

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados disponibilizados no I Foacuterum Sul-Americano de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede ocorrida no Rio de Janeiro em 2011

161

O Programa Ibero-Americano de Bancos de Leite Humano criado na XVII Cuacutepula Ibero-

Americana ocorrida em Novembro de 2007 objetiva apoiar a implantaccedilatildeo de pelo menos um Banco de

Leite Humano em cada paiacutes Iacutebero-americano como um espaccedilo para o intercacircmbio do conhecimento e de

tecnologia no campo da lactacircncia materna focando a reduccedilatildeo da mortalidade infantil Para

maioresinformaccedilotildees Mais informaccedilotildees

httpsegiborguploadFileIniciativa_Bancos_de_Leiteportupdf Acesso em 20 de marccedilo de 2012

215

No tocante aos demais temas da aacuterea da sauacutede vaacuterias satildeo as accedilotildees

exitosas relativas agrave cooperaccedilatildeo internacional em sauacutede sejam relacionadas agrave

Aacutefrica ao Mercosul agrave Unasul agrave Cuba ou agrave Aacutesia A tabela a seguir consolida os

principais resultados alcanccedilados pela poliacutetica externa do Brasil nas questotildees

relacionadas ao CEIS junto aos paiacuteses prioritaacuterios na relaccedilatildeo Sul-Sul

compreendendo o periacuteodo entre 2003 e 2009

Tabela 5 Principais Resultados (2003-2009) CEIS e Poliacutetica Externa

RELACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

EM SAUacuteDE

DESCRICcedilAtildeO DOS PRINCIPAIS RESULTADOS ALCANCcedilADOS ENTRE 2003-2009

BRASIL ndash AFRICA

A poliacutetica externa do periacuteodo foi marcada pela intensificaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo na aacuterea de combate a doenccedilas tropicais como a malaacuteria combate ao HIVAIDS combate a anemia falciforme aleacutem da capacitaccedilatildeo de teacutecnicos estrangeiros e o auxiacutelio ao desenvolvimento do sistema de sauacutede puacuteblica

Instalaccedilatildeo de um escritoacuterio da Fiocruz em Maputo Moccedilambique representando uma forma ineacutedita de cooperaccedilatildeo na aacuterea de sauacutede com potencial para dinamizar a cooperaccedilatildeo em sauacutede com o continente africano

Instalaccedilatildeo da Faacutebrica de medicamentos do governo de Moccedilambique ndash unidade produtora de medicamentos antirretrovirais e demais medicamentos (sendo inaugurado em 2012) Os lotes pilotos dos medicamentos comeccedilam a ser produzidos em 2012 Sua produccedilatildeo prevecirc inicialmente 21 antirretrovirais que estatildeo em domiacutenio puacuteblico aleacutem de outros medicamentos que incluem antibioacuteticos antianecircmicos anti-hipertensivos antiinflamatoacuterios hipoglicemiantes diureacuteticos antiparasitaacuterios e corticosteroacuteides como aacutecido foacutelico diclofenaco de potaacutessio captopril e metronidazol e

Projetos integrados em sauacutede infantil e sauacutede reprodutiva (incluindo Banco de Leite Humano)

BRASIL - MERCOSUL

Atuaccedilatildeo das Comissotildees Intergovernamentais de Poliacuteticas de Medicamentos e Bancos de Preccedilos de Medicamentos do Mercosul de HIV-AIDS dentre outras comissotildees que conduzem os temas prioritaacuterios de sauacutede

Assinatura de 124 acordos pelos Ministros da Sauacutede do Mercosul (entre 2003-2010) envolvendo dentre outros temas Poliacuteticas de Medicamentos e Bancos de Preccedilos de Medicamentos do Mercosul e HIV-AIDS e

Aprovaccedilatildeo pelo Ministeacuterio da Sauacutede da proposta da delegaccedilatildeo brasileira da instituiccedilatildeo de um Regime Comum de Medicamentos e

princiacutepios ativos natildeo fabricados no Mercosul

Aquisiccedilatildeo conjunta de vacinas contra a gripe H1N1 pelo fundo Rotatoacuterio da OPAS

Unasul-Sauacutede ndash Plano quinquenal 2010-2015 ndash Diretriz Acesso Universal a Medicamentos Tem como objetivo estrateacutegico o desenvolvimento de estrateacutegias e planos de trabalho a fim de melhorar o acesso a medicamentos visando alcanccedilar o fortalecimento da coordenaccedilatildeo das capacidades produtivas da regiatildeo promovendo a produccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo de medicamentos geneacutericos

216

BRASIL ndash UNASUL

Criaccedilatildeo do Instituto Sul-Americano de Governo em Sauacutede ndash ISAGS que objetiva apoiar todos os paiacuteses membros no fortalecimento das capacidades nacionais e subregionais para a conduccedilatildeo formulaccedilatildeo implementaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de poliacuteticas e planos de longo prazo no que se refere inclusive ao Complexo Econocircmico e Industrial da Sauacutede Dentre os principais projetos conjuntos entre Brasil e demais paiacuteses destacam-se os seguintes

ARGENTINA ndash (2009) projeto de Fortalecimento das Farmacopeacuteias Brasileira e Argentina com o reconhecimento muacutetuo de substacircncias de referecircncia utilizadas no controle de qualidade dos medicamentos produzidos nesses paiacuteses e estabelecimento de cooperaccedilatildeo bilateral e o intercacircmbio de conhecimentos tecnoloacutegicos para aumentar a produccedilatildeo local de substacircncias de referecircncia contribuindo para reduzir a dependecircncia tecnoloacutegica na importaccedilatildeo dessas substacircncias com impacto direto na reduccedilatildeo de custos para as empresas nacionais

BOLIacuteVIA ndash (2009) apoio agrave implementaccedilatildeo do Banco de Leite Humano

PARAGUAI ndash (2006) instalaccedilatildeo do primeiro Banco de Leite Humano

EQUADOR ndashcriaccedilatildeo de bancos de leite humano

COLOcircMBIA GUIANA e VENEZUELA ndash projetos de estabelecimento de bancos de leite e de tratamento de HIVAIDS

BRASIL ndash CUBA

1

Produccedilatildeo conjunta pelo Instituto Biomanguinhos da Fiocruz e o Instituto Finlay de Cuba da vacina contra meningite A e C no final de 2007 a pedido emergencial da OMS para os paiacuteses africanos do bdquocinturatildeo de meningite‟(Mali Etioacutepia Senegal Burkina Faso Niacuteger Chade etc)

Cooperaccedilatildeo brasileira para a instalaccedilatildeo de faacutebrica de vacinas pertencente ao Instituto Finlay de Havana ocorrida em dezembro de 2008

Apoio a projetos de transferecircncia de tecnologia a fim de viabilizar e fortalecer o desenvolvimento da aacuterea de biotecnologiacutea aplicada agrave sauacutede em Cuba e no Brasil A estruturaccedilatildeo do Comitecirc Gestor Binacional para a cooperaccedilatildeo Bilateral entre Cuba e Brasil na aacuterea de Biotecnologia para a Sauacutede ocorrida em julho de 2010 tem como propoacutesito a promoccedilatildeo do desenvolvimento das aacutereas de interesse comum sob os aspectos da inovaccedilatildeo do direito de acesso a produtos de sauacutede e do desenvolvimento dos complexos industriais dos paiacuteses no que se refere agrave aacuterea da biotecnologia em sauacutede (wwwitamaratygovbr) Realizaccedilatildeo Seminaacuterio Teacutecnico-Cientiacutefico Brasil-Cuba sobre Biotecnologia para Sauacutede (Rio de Janeiro 15 e 16 de julho de 2010)

A Rede Nacional de Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo de Faacutermacos Anticacircncer (Redefac) instituiacuteda em outubro de 2011 pelo Ministeacuterio da Sauacutede fechou parceria de cooperaccedilatildeo tecnoloacutegica com Cuba envolvendo produccedilatildeo nacional via transferecircncia de tecnologia cubana de sete medicamentos oncoloacutegicos (principalmente anticorpos monoclonais)

Acordos de cooperaccedilatildeo em sauacutede firmados recentemente (iniacutecio de 2012) entre os governos do Brasil e de Cuba satildeo relacionados a trecircs eixos temaacuteticos e visando agrave promoccedilatildeo da capacitaccedilatildeo tecnoloacutegica do Complexo Econocircmico e Industrial da Sauacutede ndash setor farmacecircutico diagnoacutestico equipamentos e outros ao aumento do acesso da populaccedilatildeo a produtos de alto valor agregado aleacutem da diminuiccedilatildeo dos custos para os Ministeacuterios da Sauacutede do Brasil e de Cuba e

Cont DESCRICcedilAtildeO DOS PRINCIPAIS RESULTADOS ALCANCcedilADOS ENTRE 2003-

RI EM SAUacuteDE 2009

E

217

diminuiccedilatildeo da vulnerabilidade dos Sistemas de Sauacutede

Desenvolvimento tecnoloacutegico envolvendo pesquisa e produccedilatildeo de medicamentos e outros produtos para a aacuterea da sauacutede

Articulaccedilatildeo regulatoacuteria para harmonizar as exigecircncias para registros de produtos e processos em sauacutede favorecendo a cooperaccedilatildeo e inovaccedilatildeo em sauacutede

Articulaccedilatildeo para a pesquisa cliacutenica em oncologia com terapia e diagnoacutestico de cacircncer

Instalaccedilatildeo de Bancos de Leite Humano

Desenvolvimento da alfapeginterferona 2 b humana recombinante entre Bio-Manguinhos e Centro de Ingenieria Geneacutetica y Biotecnologia de Cuba com Transferecircncia de Tecnologia e estabelecimento da plataforma de peguilaccedilao de proteiacutenas - projeto em andamento

BRASIL ndash AacuteSIA1

INDIA

Acordo de cooperaccedilatildeo para transferecircncia de tecnologia agrave empresa indiana privada Cipla para produccedilatildeo de medicamento antimalaacuterico ndash o ASMQ (combinaccedilatildeo do artesunato e mefloquina) desenvolvida pela Fiocruz e a organizaccedilatildeo internacional DNDI ocorrida em agosto de 2008 tendo como objetivo o abastecimento do sudeste asiaacutetico que tem alta incidecircncia de malaacuteria e

Interesse brasileiro na expertise da Iacutendia na produccedilatildeo de faacutermacos e na aacuterea de produccedilatildeo de geneacutericos

CHINA [

162]

ldquoA China assim como a Iacutendia estaacute conseguindo consolidar sua estrateacutegia de desenvolvimento Esses paiacuteses hoje satildeo parceiros tecnoloacutegicos que podem contribuir para alavancar a competitividade brasileirardquo afirma o ministro da Sauacutede Joseacute Gomes Temporatildeo

2

Dentre os principais interesses manifestados pelo governo brasileiro destacam-se as cooperaccedilotildees em aacutereas estrateacutegicas como biobiofaacutermacos reagentes para diagnoacutestico e parcerias puacuteblico-privadas na aacuterea de medicamentos e equipamentos e

Acordo de TT na sauacutede assinado em 2009 ndash EMS e Shanghai Biomabs ndash produccedilatildeo no Brasil de 6 biotecnoloacutegicos de uacuteltima geraccedilatildeo - anticorpos monoclonais medicamentos indicados no combate a doenccedilas graves e de tratamento de alto custo como cacircncer artrite reumatoacuteide e osteoporose

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados disponiacuteveis nos portais do Itamaraty ndash wwwitamaratygovbr e do Relatoacuterio Balanccedilo de Governo 2003-2010 ndash Brasil disponiacutevel em meio eletrocircnico wwwbalancodegovernopresidenciagovbr

Nota 1 A despeito do recorte de anaacutelise deste estudo se restringir ao Mercosul agrave Unasul e aos paiacuteses africanos optamos por apresentar algumas accedilotildees de grande importacircncia relacionadas agrave Iacutendia Cuba e China dada a relevacircncia desses paiacuteses no cenaacuterio produtivo da sauacutede

Nota 2 Artigo ldquoMinistro da Sauacutede lidera missatildeo para expandir relaccedilotildees com a China na Sauacutederdquo de 03122009 disponiacutevel em httpportalsaudegovbr

162

A China deteacutem 10 do deacuteficit comercial brasileiro em sauacutede (dados de 2008) o que

representa um desafio para o Brasil para construir um caminho de parcerias para desenvolver e produzir

tecnologias de interesse da sauacutede puacuteblica brasileira Segundo o artigo ―Ministro da Sauacutede lidera missatildeo

para expandir relaccedilotildees com a China na Sauacutede de 03122009 disponiacutevel em httpportalsaudegovbr o

mercado de faacutermacos e equipamentos hospitalares estaacute em franco crescimento na China Em 2008 o

Brasil importou neste segmento o equivalente a R$ 617 milhotildees daquele paiacutes mdash um aumento de 83 em

relaccedilatildeo ao ano anterior Por outro lado as exportaccedilotildees brasileiras agrave China somaram R$ 78 milhotildees em

2008 uma queda de 22 em relaccedilatildeo a 2007

Cont DESCRICcedilAtildeO DOS PRINCIPAIS RESULTADOS ALCANCcedilADOS ENTRE 2003-

RI EM SAUacuteDE 2009

E

218

Na Aacutefrica um exemplo a ser citado de cooperaccedilatildeo Sul-Sul

fundamentando em modelo horizontal e estruturante eacute o caso da cooperaccedilatildeo

brasileira na aacuterea de transferecircncia de tecnologia firmada pela Fiocruz [163] para

a implantaccedilatildeo de uma faacutebrica de medicamentos diversos e de antirretrovirais

em Moccedilambique aleacutem de trecircs projetos integrados em sauacutede infantil e sauacutede

reprodutiva (incluindo um Banco de Leite Humano)

A Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz instituiccedilatildeo com forte atuaccedilatildeo na aacuterea da

sauacutede junto aos paiacuteses africanos tem sido crucial na implementaccedilatildeo do Plano

Estrateacutegico de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede (PECS) aprovado pelos ministros da

Sauacutede da Comunidade de Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa ndashCPLP [164]

em 2009 tendo esse plano o objetivo de contribuir para reforccedilar os sistemas de

sauacutede dos Estados partiacutecipes da CPLP visando a garantia do acesso universal

a sauacutede de qualidade

A missatildeo da CPLP inclui apoiar os paiacuteses membros na reduccedilatildeo da

mortalidade infantil melhoria da sauacutede materno-infantil aleacutem do combate ao

HIVAIDS malaacuteria e outras doenccedilas graves que atingem os paiacuteses da regiatildeo

Dentre as diretrizes orientadoras a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento

de um complexo produtivo comunitaacuterio com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico que contribua para um maior acesso a insumos estrateacutegicos em

sauacutede e para um maior controle da qualidade dos insumos de sauacutede resultou

no eixo estrateacutegico ldquoDesenvolvimento do Complexo Produtivo da Sauacutederdquo

Sob essa perspectiva foram considerados prioritaacuterios os seguintes

projetos (a) o desenvolvimento da induacutestria farmacecircutica a reduccedilatildeo da

dependecircncia externa de insumos para a sauacutede e a ampliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica ndash accedilotildees estruturantes levantamento da situaccedilatildeo atual

163

Outras iniciativas de atuaccedilatildeo da Fiocruz no continente africano que por natildeo estarem

diretamente relacionadas ao tema do CEIS natildeo seratildeo apontadas no corpo do texto na aacuterea de ensino ndash

cursos de Poacutes-graduaccedilatildeo em diferentes aacutereas capacitaccedilotildees em serviccedilo ensino agrave distacircncia e estruturaccedilatildeo

de uma rede de escolas teacutecnicas em sauacutede implantaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo dos institutos nacionais de sauacutede

dos paiacuteses da Comunidade de Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa - CPLP aleacutem da lideranccedila da Rede de

Institutos Nacionais de Sauacutede Puacuteblica e de diversas outras accedilotildees de cooperaccedilatildeo das unidades teacutecnico-

cientiacuteficas da Fiocruz com muitos paiacuteses da Aacutefrica Vale citar a abertura do escritoacuterio internacional da

Fundaccedilatildeo em Maputo Moccedilambique em outubro de 2008 Dados disponiacuteveis em wwwfiocruzbr

164 A saber Angola Brasil Cabo Verde Guineacute Bissau Moccedilambique Portugal Satildeo Tomeacute e

Priacutencipe e Timor-Leste (conforme apresentado no capiacutetulo anterior)

219

identificaccedilatildeo de oportunidades atividades e financiamento sendo a Fiocruz

responsaacutevel pela articulaccedilatildeo com todos os paiacuteses (b) Centros Teacutecnicos de

Instalaccedilatildeo e Manutenccedilatildeo de Equipamentos (CTIME) - por meio do apoio e

qualificaccedilatildeo da organizaccedilatildeo de serviccedilos de manutenccedilatildeo de equipamentos da

sauacutede sendo Portugal responsaacutevel pela articulaccedilatildeo [165]

A priorizaccedilatildeo do Complexo Produtivo da Sauacutede como eixo estrateacutegico no

Plano Estrateacutegico de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede (PECS) denota a importacircncia que

o tema sucinta para o conjunto de paiacuteses partiacutecipes do CPLP notadamente

paiacuteses africanos A participaccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz na construccedilatildeo e

na implementaccedilatildeo do PECS se fundamenta em accedilotildees estruturantes que visam

agrave concretude exitosa do Plano Estrateacutegico sendo portanto essa instituiccedilatildeo de

grande representaccedilatildeo para o CPLP

No tocante ao Mercosul o Paiacutes visa a integraccedilatildeo com base no

desenvolvimento econocircmico e social dos paiacuteses membros e tem nos seus

partiacutecipes o compromisso de harmonizar suas legislaccedilotildees nas aacutereas

pertinentes a fim de fortalecer esse processo de integraccedilatildeo Nesse sentido a

sauacutede com base na Resoluccedilatildeo GMC 132007 (Grupo Mercado Comum ao qual

se liga o Subgrupo de Trabalho ndash SGT nordm11) firmou a Pauta Negociadora das

accedilotildees em sauacutede que vem sendo conduzida em conformidade a determinadas

diretrizes de accedilatildeo dentre as quais se destacam

1 Harmonizaccedilatildeo de legislaccedilotildees e diretrizes promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

teacutecnica e coordenaccedilatildeo de accedilotildees entre os Estados-Partes na aacuterea da

sauacutede necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo

2 Promoccedilatildeo do aperfeiccediloamento e da articulaccedilatildeo dos sistemas nacionais

voltados agrave qualidade eficaacutecia e seguranccedila dos produtos e serviccedilos

ofertados agrave populaccedilatildeo com o objetivo de reduzir riscos agrave sauacutede

3 Promoccedilatildeo do aperfeiccediloamento e articulaccedilatildeo dos sistemas nacionais

voltados para a regulamentaccedilatildeo e o controle de produtos que trazem

riscos para a sauacutede

165

Plano Estrateacutegico de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede da CPLP (PECSCPLP) - 2009-2012 disponiacutevel

em httpwwwcplporgid-1787aspx

220

4 Promoccedilatildeo e gerenciamento de propostas de cooperaccedilatildeo que visem agrave

reduccedilatildeo das assimetrias existentes e a integraccedilatildeo regional no setor

sauacutede

O SGT 11 ldquoSauacutederdquo desenvolve suas atividades em trecircs aacutereas de

trabalho Vigilacircncia em Sauacutede Serviccedilos de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede e Produtos para a

Sauacutede Esta uacuteltima de responsabilidade da Comissatildeo de Produtos para a

Sauacutede Dentre as 95 Resoluccedilotildees que tratam do tema da Sauacutede que foram

elaboradas aprovadas e incorporadas pelos Estados-Parte do Mercosul

destacam-se

Quadro 4 Resoluccedilotildees Mercosul ndash CEIS

RESOLUCcedilOtildeES DO GRUPO AD HOC PRODUTOS MEacuteDICOS

RESOLUCcedilAtildeO

ASSUNTO

Res 495 ldquoPraacuteticas Adequadas para a Fabricaccedilatildeo de Produtos Meacutedicosrdquo

Res 3896 Regulamento Teacutecnico referente agrave Verificaccedilatildeo do Cumprimento de Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo e Controle em Estabelecimentos de Produtos para Diagnoacutestico uso ldquoin vitrordquo

Res 6596 ldquoGuia de Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo e Controle para Reativos de Diagnoacutestico de uso bdquoin vitro‟rdquo

Res 7996 Registro intrazona de produtos de diagnoacutestico de uso ldquoin vitrordquo

Res 13196 Regulamento Teacutecnico sobre a Verificaccedilatildeo do Cumprimento das Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo de Produtos Meacutedicos

Res 2598 Programa de Capacitaccedilatildeo de Inspetores para a Verificaccedilatildeo do Cumprimento das BPF de Produtos Meacutedicos

Res 7298 Regulamento teacutecnico ldquoRequisitos essenciais de seguranccedila e eficaacutecia dos produtos meacutedicosrdquo

Res 4000 Registros de Produtos Meacutedicos (Revoga a Resoluccedilatildeo GMC 3796)

Res 4608 Diretrizes para o Mecanismo de Intercacircmbio de Aviso Alerta sobre Eventos Adversos Causados Por Produtos Meacutedicos Fabricados Intra-Zona

RESOLUCcedilOtildeES DO GRUPO AD HOC MEDICAMENTOS

Res 492 Praacuteticas adequadas para a fabricaccedilatildeo e a inspeccedilatildeo de qualidade de medicamentos

Res 693 Guia para inspeccedilatildeo de estabelecimentos da Induacutestria Farmacecircutica

Res 2395 Requisitos para o registro de produtos farmacecircuticos registrados e elaborados em um Estado-Parte produtor similares a produtos registrados em um Estado-Parte receptor

Res 1396 Regulamento de Boas Praacuteticas na Fabricaccedilatildeo de Produtos Farmoquiacutemicos Substitui a Resoluccedilatildeo 9293

221

Cont RESOLUCcedilOtildeES DO GRUPO AD HOC MEDICAMENTOS

Res 5196 Empresas e Titularidade de Registros requisitos que devem preencher as

empresas no Estado-Parte receptor para serem titulares de registros de produtos farmacecircuticos fabricados em outro EP do Mercosul para aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo 2395

Res 5296 ldquoLista de Informaccedilotildees e Documentaccedilatildeo requerida para o Registro de Produtos Farmacecircuticos Similares de acordo com a Resoluccedilatildeo GMC 2395rdquo

Res 5396 Estabilidade de Produtos Farmacecircuticos

Res 5496 ldquoVigecircncia Modificaccedilatildeo Renovaccedilatildeo e Cancelamento de Registro de Produtos Farmacecircuticos para aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo GMC 2395

Res 5796 ldquoBoas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo de Soluccedilotildees Parenterais de Grande Volumerdquo

Res 3399 Regulamento Teacutecnico para a Produccedilatildeo e Controle de Qualidade de Hemoderivados de Origem Plasmaacutetico (Substitui a Resoluccedilatildeo 9694)

Res 5002 Contrataccedilatildeo de Serviccedilos de Terceirizaccedilatildeo para Produtos Farmacecircuticos no Acircmbito do Mercosul

Res 1308 Diretrizes sobre Combate e Falsificaccedilatildeo e Fraude de Medicamentos e Produtos Meacutedicos no Mercosul

Res 5308 Plano Estrateacutegico de Cooperaccedilatildeo Teacutecnica em Regulaccedilatildeo de Vacinas no acircmbito do Mercosul

Res 5408 Diretrizes sobre Promoccedilatildeo Propaganda e Publicidade de Medicamentos no Mercosul

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de wwwi3govplanejamentogovbr

Com a Comissatildeo de Comeacutercio do Mercosul oacutergatildeo encarregado de

assessorar nos temas comerciais a Coordenaccedilatildeo Nacional da Sauacutede no

Mercosul encontra um espaccedilo para proteger a sauacutede da populaccedilatildeo no que se

refere agrave qualidade e agrave seguranccedila na cadeia de medicamentos Nesse sentido

participa desse Foacuterum atuando nas seguintes frentes [166]

(a) Fortalecimento dos trabalhos para a harmonizaccedilatildeo dos regulamentos

sanitaacuterios que contemplem o tratamento prioritaacuterio agrave regulamentaccedilatildeo

relacionada aos testes de equivalecircncia - biodisponibilidade

bioequivalecircncia e dissoluccedilatildeo in vitro

(b) Estiacutemulo para colocaccedilatildeo em vigecircncia de todas as normativas acordadas

no Mercosul que tratam do registro de produtos farmacecircuticos e da

verificaccedilatildeo do cumprimento das Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo e Controle

ndash BPFC e outros regulamentos de Boas Praacuteticas acordados

166

Disponiacutevel em www3govplanejamentogovbr

222

(c) Atenccedilatildeo das autoridades sanitaacuterias na concessatildeo do registro sanitaacuterio

de medicamentos no sentido de avaliar a relaccedilatildeo riscobenefiacutecio natildeo

somente em termos da qualidade farmacoloacutegica e farmacecircutica mas

tambeacutem em termos das vantagens terapecircuticas e da efetiva

necessidade de cada medicamento quanto aos aspectos econocircmico e

social

(d) Implementaccedilatildeo de programas de fiscalizaccedilatildeo e controle que evitem a

distribuiccedilatildeo comercializaccedilatildeo e uso de medicamentos ilegiacutetimos na

regiatildeo

(e) Definiccedilatildeo de diretrizes e regulamentos harmonizados dirigidos ao

controle da qualidade seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

importados extrazona

Vale ressaltar a importacircncia do Mercosul na definiccedilatildeo tarifaacuteria das

mercadorias relacionadas ao CEIS O Mercosul realiza periodicamente

modificaccedilotildees pontuais e permanentes agrave Tarifa Externa Comum ndash TEC ldquoEm

siacutentese as estrateacutegias adotadas no Mercosul para modificaccedilatildeo da TEC satildeo a

elevaccedilatildeo forma de proteccedilatildeo agraves produccedilotildees regionais e a reduccedilatildeo mercadorias

sem produccedilatildeo regionalrdquo

No tocante a aacuterea de trabalho que compotildee a Agenda Sul-Americana

da Sauacutede (Unasul-Sauacutede) foi aprovado o Plano de Accedilatildeo 2010-2015 Dentre as

atividades de cada um dos toacutepicos propostos as relacionadas ao ldquoacesso

Universal a Medicamentos (e a outros insumos para a sauacutede e desenvolver o

Complexo Produtivo da Sauacutede na Ameacuterica do Sul)rdquo seratildeo priorizadas neste

estudo a fim de destacar a questatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial da

Sauacutede ndash CEIS

Nesse sentido em conformidade com o Acordo nordm 0109 de 21042009

do Conselho de Sauacutede Sul Americano da Unasul a questatildeo do ldquoacesso

universal a medicamentosrdquo comporta as seguintes atividades

a) Estabelecimento do mapa das capacidades da Ameacuterica do Sul para

produzir medicamentos e outros insumos de sauacutede

223

b) Troca de experiecircncias para instituir mecanismos que permitam enfrentar

de maneira integrada as barreiras que limitam o acesso a medicamentos

essenciais e de alto custo

c) Elaboraccedilatildeo de uma proposta de poliacutetica sul-americana de Acesso

Universal a Medicamentos considerando o complexo produtivo de

sauacutede sul-americano

d) Estabelecimento de um espaccedilo de comunicaccedilatildeo de riscos sobre o

controle da qualidade de medicamentos bem como sobre a falsificaccedilatildeo

de faacutermacos e o traacutefico iliacutecito

Ganha destaque a constituiccedilatildeo do Instituto Sul Americano de

Governanccedila em Sauacutede ndash ISAGS que dentre os desafios assumidos tem como

objetivo valorizar o parque e a capacidade produtiva da regiatildeo Dentre as aacutereas

consideradas como prioritaacuterias do ISAGS destacamos a seguir os principais

desafios relacionados agraves aacutereas ldquoComplexo Econocircmico-Industrial da Sauacutederdquo ndash

CEIS e ldquoSauacutede e Diplomaciardquo temas relacionados ao objeto deste estudo de

doutorado

No que se refere ao CEIS o ISAGS aponta os seguintes desafios a

serem ultrapassados e as questotildees a serem consideradas (1) a relaccedilatildeo do

desenvolvimento produtivo e a soberania (2) a valorizaccedilatildeo do parque e da

capacidade produtiva da regiatildeo (c) os incentivos fiscais (d) a harmonizaccedilatildeo

regional do sistema de compras e de distribuiccedilatildeo (e) os sistemas de regulaccedilatildeo

de preccedilos

Quanto agrave aacuterea da ldquoSauacutede e Diplomaciardquo o ISAGS considera as

seguintes questotildees a serem priorizadas (a) a baixa cultura diplomaacutetica em

sauacutede (b) a distinccedilatildeo entre diplomacia e cooperaccedilatildeo internacional (c) a

negociaccedilatildeo e a construccedilatildeo da posiccedilatildeo estrutural em sauacutede para decisotildees

internacionais coletivas regionais ou globais e (d) o alinhamento de poliacuteticas

regionais para a cooperaccedilatildeo internacional

No tocante ao Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede destaca-se o

estreito viacutenculo que essa questatildeo relaciona com o desenvolvimento dos

sistemas universais de sauacutede e o acesso de toda a populaccedilatildeo 90

224

O atendimento a essa proposta especiacutefica da Agenda Sul-Americana de

Sauacutede fundamenta-se no entendimento da complexidade que esse tema

comporta desde ao que se refere agrave especializaccedilatildeo do complexo produtivo

com suas caracteriacutesticas pautadas na inovaccedilatildeo na articulaccedilatildeo entre os

distintos atores envolvidos tanto no acircmbito governamental acadecircmico ou

privado ateacute ao que representa as questotildees cambiais jaacute que a balanccedila

comercial eacute exponencialmente deficitaacuteria no que se refere aos produtos

relacionados ao CEIS

Ademais em que pesem os desafios apresentados a propriedade

intelectual de produtos farmacecircuticos eacute uma questatildeo que requer uma especial

atenccedilatildeo dos formuladores das poliacuteticas puacuteblicas de paiacuteses em

desenvolvimento Ao que Stiglitz 95 precircmio Nobel de Economia afirma como

uma falha de economia e do direito o fato de milhotildees de pessoas morrerem

todo ano em funccedilatildeo do alto custo dos medicamentos quando poderiam ser

salvas caso houvesse acesso a drogas capazes de salvar suas vidas ou ateacute

mesmo a existecircncia de medicamentos ou vacinas para as doenccedilas dos pobres

Segundo Carlos Correa citado por Buss 90 contar com uma induacutestria

farmacecircutica local capaz de produzir os medicamentos necessaacuterios para

atender agrave sauacutede passou a ser uma questatildeo estrateacutegica e natildeo um simples

objetivo de poliacutetica industrial ao que estende para os demais bens e serviccedilos

do CEIS percepccedilatildeo essa inclusive dos chefes de Estados da Unasul haja

vista a importacircncia dada agrave temaacutetica em questatildeo

Isso posto Buss 90 (p 30-31) destaca no contexto da regiatildeo sul-

americana o estreito viacutenculo entre os sistemas de sauacutede com as estruturas

tecnoloacutegicas

ldquoSistemas de sauacutede poreacutem satildeo estruturas tecnoloacutegicas complexas dependem de equipamentos meacutedico-ciruacutergicos medicamentos vacinas kits para diagnoacutestico oacuterteses e proacuteteses sangue e hemoderivados materiais de consumo e outros insumos aleacutem de instalaccedilotildees cada vez mais especializadas Portanto o acesso a algo desse porte deve ser considerado no marco de poliacuteticas de sauacutede industrial e de ciecircncia e tecnologia Tais recursos satildeo produzidos pelo que se denomina ldquocomplexo produtivo

225

da sauacutederdquo [167

] ou seja pelo conjunto de empresas produtoras e de consumidores institucionais (governos prestadores de serviccedilos de sauacutede hospitais etc) e individuais de bens e serviccedilos de sauacutede aleacutem das instituiccedilotildees que elaboram inovaccedilotildees (universidades e empresas) () A regiatildeo tem enorme deacuteficit comercial na balanccedila relativa a insumos e serviccedilos de sauacutede Sem xenofobia a proposta implica que os insumos em sauacutede necessaacuterios para a populaccedilatildeo sul-americana devam ser produzidos dentro do possiacutevel pelo complexo produtivo da sauacutede instalado no proacuteprio subcontinente Isso aponta para a necessidade de uma articulaccedilatildeo puacuteblico-privada em niacutevel regional que harmonize poliacuteticas industriais nesse complexo aleacutem de enfrentar desafios como o acesso a novos produtos e a regulaccedilatildeo do mercado farmacecircutico frente agraves novas biotecnologias genocircmica e proteocircmicardquo

Com papel estrateacutegico na construccedilatildeo dos pilares do desenvolvimento e

da sauacutede natildeo se restringindo agrave atuaccedilatildeo nacional a Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz

ndash Fiocruz como instituiccedilatildeo estrateacutegica do Estado destaca-se

internacionalmente com accedilotildees efetivas estruturadoras e transformadoras

principalmente junto a paiacuteses da Ameacuterica Latina Ameacuterica Central e a paiacuteses

africanos tendo intensificado suas atividades notadamente no iniacutecio do seacuteculo

XXI Essa instituiccedilatildeo tida como Instituiccedilatildeo Puacuteblica Estrateacutegica de Estado para

a Sauacutede alinhada ao conceito de Sauacutede e Diplomacia em atuaccedilatildeo conjunta

com o Ministeacuterio da Sauacutede e com as orientaccedilotildees do Ministeacuterio das Relaccedilotildees

Exteriores constitui-se como a principal protagonista da poliacutetica setorial de

cooperaccedilatildeo internacional

Dentre os resultados alcanccedilados (que incluem formaccedilatildeo de recursos

humanos capacitaccedilotildees formaccedilatildeo de Institutos Nacionais de Sauacutede Puacuteblica

dentre outros) podemos observar igualmente a importacircncia exercida pelos

segmentos do Complexo Econocircmico Industrial da Sauacutede e que se

correlacionam com o desenvolvimento da estrutura e dos sistemas de sauacutede

dos paiacuteses citados anteriormente (Ver Tabela 6) Accedilotildees essas que ressaltam o

caraacuteter poliacutetico-estrateacutegico da sua atuaccedilatildeo com consequecircncias positivas e

estruturantes para o desenvolvimento dos paiacuteses beneficiaacuterios

167

GADELHA CAG Desenvolvimento complexo industrial da sauacutede e poliacutetica

industrial Revista Sauacutede Puacuteblica [online] 2006 vol 40 (nspe) p 11-23

226

No tocante agrave incorporaccedilatildeo de tecnologia eacute principalmente a partir de

2004 que se tem observado a intensificaccedilatildeo dessas accedilotildees em funccedilatildeo

primordialmente das diretrizes poliacuteticas vigentes que visam a autossuficiecircncia

tecnoloacutegica e comercial para os programas nacionais de sauacutede puacuteblica

E a Fiocruz no contexto da sauacutede e do Complexo Econocircmico-Industrial

da Sauacutede tambeacutem vem representando papel de fundamental importacircncia nas

accedilotildees de incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica Satildeo observadas accedilotildees nas aacutereas

estrateacutegicas para o SUS (imunobioloacutegicos biofaacutermacos e faacutermacos)

principalmente Vale comentar que os ganhos com a incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica

natildeo se esgotam no mercado interno podendo ser replicados em accedilotildees de

cooperaccedilatildeo internacional notadamente como paiacuteses em desenvolvimento

cujos laccedilos Sul-Sul conforme explicado anteriormente satildeo prioridades da

poliacutetica externa brasileira

A tabela 6 apresenta as principais accedilotildees de incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica

relacionadas ao CEIS

227

Tabela 6 ndash Incorporaccedilatildeo Tecnoloacutegica ndash Principais Accedilotildees da Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz Relacionadas ao CEIS - Periacuteodo 2003-2009

Tema

Produto

Ano

Comentaacuterios

Kit de Diagnoacutestico Programa AIDS

Teste raacutepido para diagnoacutestico

2004 a 2006

Contrato de transferecircncia de tecnologia entre o

Biomanguinhos e a empresa norte-americana Chembio Diagnostics

Reduccedilatildeo da dependecircncia tecnoloacutegica na aacuterea Favorecimento do diagnoacutestico precoce

comeccedilando pela prevenccedilatildeo da transmissatildeo vertical ndash de matildee para filho

Natildeo necessita de infraestrutura laboratorial e o resultado fica pronto em dez minutos

Entre 2006 a 2009 foram produzidos 36 milhotildees de kits diagnoacutesticos

Medicamentos Programa Aids

Produccedilatildeo do Medicamento Efavirenz

2009

Licenciamento compulsoacuterio decretado pelo

Governo brasileiro em maio de 2007 Um dos projetos mais estrateacutegicos e de

extrema relevacircncia no ano de 2009 no campo da produccedilatildeo e do fornecimento de insumos para a sauacutede

Integra valores agrave cadeia produtiva O IFA eacute produzido no Brasil com expectativa para produccedilatildeo de intermediaacuterios em territoacuterio nacional

Diminuiccedilatildeo da dependecircncia do Brasil em relaccedilatildeo ao mercado farmacecircutico economia de recursos para os cofres puacuteblicos e fortalecimento da participaccedilatildeo nacional no Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

Iniacutecio da produccedilatildeo por Farmanguinhos da Fiocruz

Produccedilatildeo de 18 milhotildees de unidades farmacecircuticas em 2009

Biofaacutermacos

Produccedilatildeo de Eritropoetina Humana e Interferon

2006

Contrato de transferecircncia de tecnologia entre

Bio-Manguinhos da Fiocruz com Cuba Viabilizaccedilatildeo do acesso gratuito agrave populaccedilatildeo a

produtos de alta tecnologia para tratamento de cacircncer hepatites e insuficiecircncia renal crocircnica

Entre 2006 e 2009 foram fornecidos ao SUS cerca de 24 milhotildees de unidades de biofaacutermacos

Biofaacutermaco

Produccedilatildeo de Interferon Peguilado

2009

Contrato de transferecircncia de tecnologia de

Cuba para Bio-Manguinhos

228

Cont

Tema

Produto

Ano

Comentaacuterios

Biofaacutermaco Recombinante

Produccedilatildeo de insulina

2007

Contrato de incorporaccedilatildeo de tecnologia de

biofaacutermacos por DNA recombinante para a produccedilatildeo nacional de insulina com o Instituto Ucraniano CJSC ndash Indar

A geraccedilatildeo de um produto final mais barato e eficaz impactaraacute natildeo soacute em melhorias no cuidado ao diabeacutetico mas tambeacutem na regulaccedilatildeo do mercado e na diminuiccedilatildeo do gasto com esse insumo suprindo a necessidade do Paiacutes e proporcionando desenvolvimento tecnoloacutegico associado visando a outros biofaacutermacos

Medicamento e Kit de diagnoacutestico H1N1

Produccedilatildeo do medicamento Fosfato de Oseltamivir e pesquisa para desenvolvimento do teste de diagnoacutestico

2009

Acordo com a OMS Considerado o medicamento mais eficiente ateacute

o momento no tratamento da influenza A H1N1 Farmanguinhos iniciou em 2009 a produccedilatildeo e

a distribuiccedilatildeo do medicamento Em 2009 foram produzidos cerca de seis

milhotildees de unidades farmacecircuticas Pesquisadores da Fiocruz estatildeo envolvidos em

um projeto que visa aperfeiccediloar o diagnoacutestico laboratorial do viacuterus da influenza A H1N1 hoje fornecido pela OMS visando agrave substituiccedilatildeo por similares nacionais de maior qualidade e sensibilidade aleacutem de promover maior autonomia para o sistema brasileiro economia de recursos puacuteblicos e ampliaccedilatildeo da capacidade de anaacutelises de amostras

Vacina

Produccedilatildeo de vacina contra Rotaviacuterus

2008

Contrato de transferecircncia de tecnologia com a

GlaxoSmithkline (GSK) e Bio-Manguinhos Entre 2008 e 2009 foram fornecidas mais de

16 milhotildees de doses da vacina

Vacina

Produccedilatildeo de vacina Triacuteplice Viral

2004

Contrato de transferecircncia de tecnologia com a

GlaxoSmithKline e Bio-ManguinhosFiocruz para a produccedilatildeo da vacina combinada contra rubeacuteola sarampo e caxumba (chamada Triacuteplice Viral) ateacute entatildeo o uacutenico imunobioloacutegico presente no calendaacuterio baacutesico de vacinaccedilatildeo ainda importado pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Medicamento Malaacuteria

Medicamento ASMQ

2008

Parceria com a Iniciativa de Medicamentos para Doenccedilas Negligenciadas ndash Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDI) para o desenvolvimento e produccedilatildeo do medicamento Artesunato + Mefloquina (ASMQ) utilizado por pacientes com malaacuteria

Produto inovador desenvolvido e registrado no Brasil

229

Cont

Tema

Produto

Ano

Comentaacuterios

Vacina

Produccedilatildeo da vacina pneumocoacutecica conjugada

2009

Contrato de transferecircncia de tecnologia com a

empresa GlaxoSmithKline (GSK) e Bio-Manguinhos para a produccedilatildeo da vacina pneumocoacutecica conjugada que protege contra a pneumonia e a meningite por pneumococo a otite meacutedia e as formas de bronquite e de sinusite causadas pela bacteacuteria pneumococo

A produccedilatildeo foi iniciada no final de 2009

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir do relatoacuterio ldquoBalanccedilo de Governo 2003-2010rdquo ndash Brasil ndash disponiacutevel em wwwbalancodegovernopresidenciagovbr

Sob a perspectiva poliacutetica estrateacutegica entre 2000 e 2011 [168] a

Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz protagonizou accedilotildees que resultaram em diferenciais

estrateacutegicos para o fortalecimento da sauacutede puacuteblica e para a inserccedilatildeo da

mesma no contexto das relaccedilotildees internacionais

a) Em referecircncia agrave aacuterea de produccedilatildeo de vacinas (i) atendimento a

Programas de Imunizaccedilatildeo e a situaccedilotildees emergenciais com fornecimento

de vacina contra Febre Amarela e Meningite Meningocoacutecica (ii) aleacutem do

aumento exponencial na sua capacidade de exportaccedilatildeo [169]

168

Conforme dados disponiacuteveis nos portais httpsi3govplanejamentogovbr e

wwwitamaratygovbr e nos Relatoacuterios de Atividades da Fiocruz

169 ―Em decorrecircncia da preacute-qualificaccedilatildeo da vacina febre amarela pela Organizaccedilatildeo Mundial da

Sauacutede obtida em 2001 Bio-Manguinhos da Fiocruz deteacutem o direito de fornecer esse imunobioloacutegico para

as Agecircncias das Naccedilotildees Unidas desde que cumprido o convecircnio com o Ministeacuterio da Sauacutede O excedente

de produccedilatildeo pode ser exportado para governos e instituiccedilotildees puacuteblicas internacionais Mais de 768

milhotildees de doses da vacina febre amarela foram exportadas para agecircncias das Naccedilotildees Unidas entre 2005

e 2009 Com a exportaccedilatildeo deste produto para mais de 70 paiacuteses Bio-Manguinhos consolida-se num curto

espaccedilo de tempo como o maior fornecedor de vacinas febre amarela para as Ameacutericas Latina e Central e

um dos maiores em todo o mundo contribuindo com os esforccedilos para a melhoria das condiccedilotildees de sauacutede

em todo o globo Tambeacutem exporta vacina meningocoacutecica AC que protege contra meningite sorogrupos

A e C De 2007 ano em que comeccedilou a exportar essa vacina ateacute 2009 aproximadamente 85 milhotildees de

doses foram enviadas ao exterior Disponiacutevel em

httpwwwbiofiocruzbrindexphpprodutosfornecimento

230

b) Instalaccedilatildeo do Escritoacuterio da Fiocruz na Aacutefrica em Moccedilambique em 2008

[170]

c) Indicaccedilatildeo pelo governo brasileiro como ponto focal no Comitecirc de

Cooperaccedilatildeo do Conselho de Sauacutede Sul-Americano (Unasul-Sauacutede)

d) Formulaccedilatildeo e implantaccedilatildeo do Instituto Sul-Americano de Governo em

Sauacutede tendo a Fiocruz como Secretaria Executiva Criado pelo

Conselho de Chefes de Estado e de Governo da Unasul o Isags integra

o Conselho de Sauacutede Sul-Americano da Unasul Tem dentre os seus

principais compromissos [171] a promoccedilatildeo do intercacircmbio da reflexatildeo

da criacutetica da gestatildeo do conhecimento e da geraccedilatildeo de inovaccedilotildees no

campo da poliacutetica e governanccedila da sauacutede [172]

e) Indicaccedilatildeo do Instituto Nacional Fernandes Figueira da Fiocruz como

base da nova Secretaria-Executiva da Rede Ibero-Americana de Bancos

de Leite Humano (compartilhamento do conhecimento e tecnologias nos

campos de aleitamento materno e sauacutede da matildee e da crianccedila) [173][174]

170

Decreto Legislativo nordm 2352011 oficializou o acordo entre o Governo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil e o Governo da Repuacuteblica de Moccedilambique para a instalaccedilatildeo da sede do Escritoacuterio

Regional da Fiocruz na Aacutefrica

171

Ademais o Isags tem como compromisso a articulaccedilatildeo dos ministeacuterios da Sauacutede da Ameacuterica

do Sul com vistas agrave qualificaccedilatildeo da gestatildeo da sauacutede na regiatildeo ao desenvolvimento de lideranccedilas de

sistemas serviccedilos organizaccedilotildees e programas na aacuterea da sauacutede e ao apoio teacutecnico agraves instituiccedilotildees de

governodo setor sauacutede

172

Seu plano de trabalho plurianual resulta das prioridades definidas no Plano Quinquenal 2010-

2015 do Conselho de Sauacutede Sul-Americano em que o Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede ganha

caraacuteter estrateacutegico aleacutem das necessidades identificadas pelos ministeacuterios da Sauacutede

173

A cooperaccedilatildeo internacional para a reduccedilatildeo da mortalidade infantil e a promoccedilatildeo da seguranccedila

nutricional neonatal meta estabelecida pela ONU como um dos Objetivos de Desenvolvimento do

Milecircnio tem registrado importantes avanccedilos por meio da expansatildeo com consolidaccedilatildeo da Rede de Bancos

de Leite Humano (rBLH) Liderada pelo Brasil por meio da Fiocruz a iniciativa integra mais de 20 paiacuteses

e constitui uma poliacutetica puacuteblica internacional para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e apoio ao aleitamento materno e

a amamentaccedilatildeo natural de receacutem-nascidos Fonte Relatoacuterio de Atividades da Fiocruz 2009-2011

174

Fiocruz (juntamente com a Agecircncia Brasileira de Cooperaccedilatildeo) apoia teacutecnica e

financeiramente a instalaccedilatildeo qualificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bancos de leite humano em todo o mundo por

meio de acordos bilaterais ou multilaterais Suas accedilotildees de compartilhamento de experiecircncias saberes e

tecnologias e o fortalecimento de capacidades locais superam a perspectiva de replicaccedilatildeo de um modelo a

ser meramente copiado Ao contraacuterio o objetivo eacute que o conceito de promoccedilatildeo proteccedilatildeo e apoio ao

aleitamento materno preconizado pelos bancos de leite humano seja adaptado aos diferentes contextos

socioeconocircmicos e culturais dos paiacuteses O compromisso assumido pela rBLH para reduccedilatildeo da

231

f) Instalaccedilatildeo da Faacutebrica de medicamentos do governo de Moccedilambique

(Sociedade Moccedilambicana de Medicamentos) ndash unidade produtora de

medicamentos antirretrovirais e demais medicamentos (sendo

inaugurado em 2012) [175] Os lotes pilotos dos medicamentos comeccedilam

a ser produzidos em 2012 Sua produccedilatildeo prevecirc inicialmente 21

antirretrovirais que estatildeo em domiacutenio puacuteblico aleacutem de outros

medicamentos que incluem antibioacuteticos antianecircmicos anti-

hipertensivos antiinflamatoacuterios hipoglicemiantes diureacuteticos

antiparasitaacuterios e corticosteroacuteides como aacutecido foacutelico diclofenaco de

potaacutessio captopril e metronidazol [176]

g) Assinatura de protocolo de intenccedilotildees sobre a possibilidade de

transferecircncia de tecnologia do Brasil para a Argentina para a produccedilatildeo

da vacina febre amarela e

h) Colaboraccedilatildeo com organismos internacionais e atuaccedilatildeo ativa junto agrave

representaccedilatildeo brasileira na Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede Ademais

participa de debates no acircmbito da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

(OMC) e da Organizaccedilatildeo Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO) No

que se refere aos temas afins do CEIS sua atuaccedilatildeo estaacute voltada para

questotildees criacuteticas como propriedade intelectual acesso a medicamentos

em defesa dos interesses dos pacientes sobre as questotildees comerciais e

sobre patentes Ganham destaque parcerias da Fiocruz com o Programa

das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Fundo das

Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia (UNICEF) o Banco Mundial o Programa

das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (TOMA) e o Programa

Conjunto das Naccedilotildees Unidas sobre HIVAIDS (Unaids) A Fundaccedilatildeo

mortalidade infantil no mundo eacute formalizado pela Carta de Brasiacutelia 2010 assinada por 26 paiacuteses ao final

do 1ordm Foacuterum de Cooperaccedilatildeo Internacional em Bancos de Leite Humano realizado em Brasiacutelia em 2010

175

A responsabilidade brasileira atraveacutes de Farmanguinhos da Fiocruz consiste na transferecircncia

de conhecimentos teacutecnicas e tecnologias relacionadas agrave produccedilatildeo de medicamentos a tecnologia de

construccedilatildeo fabril teacutecnicas de gestatildeo administrativa e laboratorial doaccedilatildeo de equipamentos dentre outras

accedilotildees 176

A estimativa eacute que a faacutebrica produza cerca de 450 milhotildees de unidades farmacecircuticas por ano

300 milhotildees de antirretrovirais e 150 milhotildees de outros medicamentos Dados Relatoacuterio de Atividades ndash

2009-2011 ndash Presidecircncia da Fiocruz

232

tambeacutem estabelece convecircnios com organizaccedilotildees privadas e

associaccedilotildees internacionais

Concluindo a primeira deacutecada do seacuteculo XXI representou superaccedilatildeo de

entraves e desafios concernentes agrave inserccedilatildeo da sauacutede na poliacutetica externa

consolidando-a e ampliando a participaccedilatildeo da sauacutede na poliacutetica exterior

colaborando efetivamente para a construccedilatildeo de uma agenda internacional do

Paiacutes Nesse sentido podemos inferir que uma das principais accedilotildees da sauacutede

na poliacutetica externa eacute a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento dos sistemas de

sauacutede dos paiacuteses do sul inclusive sob os auspiacutecios da cooperaccedilatildeo humanitaacuteria

o que vem fortalecendo a presenccedila do Paiacutes no cenaacuterio internacional Quando o

enfoque eacute recortado na perspectiva do CEIS a despeito da sua importacircncia

que converge para questotildees de ajuda humanitaacuteria considerando inclusive os

casos exitosos de transferecircncia de tecnologia e os projetos relacionados agrave

produccedilatildeo do CEIS (que apesar de poucos representam grande impacto para a

sauacutede regional e global) dado o curto prazo de tempo de formulaccedilatildeo de

poliacuteticas voltadas para a aacuterea e a necessaacuteria maturaccedilatildeo da implementaccedilatildeo de

accedilotildees fomentadoras e fortalecedoras haacute muito ainda que ser explorado Em

que pese inclusive a demanda de paiacuteses ldquopares e bdquoiacutempares‟rdquo [177] do sul por

conhecimento e transferecircncias de tecnologias o Brasil ainda tem um caminho

a trilhar tanto no que se refere agrave internacionalizaccedilatildeo dos seus processos de

produccedilatildeo assim como na sua capacidade de produccedilatildeo e de inovaccedilatildeo

endoacutegenas e agrave consolidaccedilatildeo de diferenciais produtivos que justifiquem maior

acesso aos produtos e insumos da sauacutede tanto em acircmbito nacional quanto

regional e internacional

Nesta uacuteltima deacutecada o Brasil conforme demostrado no decorrer desta

anaacutelise articulou de forma estrateacutegica a sauacutede e as suas relaccedilotildees

internacionais Formulou e implementou poliacuteticas nacionais que fortalecessem

a aacuterea da sauacutede no Brasil contribuindo para a consolidaccedilatildeo do projeto de

desenvolvimento nacional As accedilotildees delas decorrentes alinhadas com a

necessidade de sauacutede da populaccedilatildeo exercem forte impacto na capacidade de

177

Essa expressatildeo pode ser justificada por considerarmos que mesmo sob a perspectiva

conceitual dos paiacuteses do sul ainda assim haacute heterogeneidade em suas caracteriacutesticas estruturais com

maior ou menor capacidade de desenvolvimento

233

desenvolvimento endoacutegeno e produtivo aleacutem de melhor posicionar o Paiacutes no

contexto geopoliacutetico internacional contribuindo para a ampliaccedilatildeo aleacutem-

fronteiras dos benefiacutecios alcanccedilados pela promoccedilatildeo dessas poliacuteticas

Haacute portanto uma relaccedilatildeo de interaccedilatildeo virtuosa entre a sauacutede e o

desenvolvimento Nesse sentido a poliacutetica de sauacutede vem contribuindo para o

desenvolvimento e ao mesmo tempo ser influenciada por ele Seja em acircmbito

nacional ou internacional

234

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Primeiramente destacamos a sauacutede sob a perspectiva de uma

sociedade comprometida com a cidadania constituiacuteda de valores com forte

impressatildeo social e ambiental cuja base eacute alicerccedilada pelos criteacuterios da ciecircncia

contemporacircnea que resultam de um mundo globalmente tecnoloacutegico

projetando-se para os anos vindouros uma abordagem cuja formaccedilatildeo passa

pelo ldquohumanismo tecnoloacutegico de caraacuteter social-ecoloacutegicordquo 36 (p09)

Nesse sentido o social e o cientiacutefico e o social e o teacutecnico estabelecem

uma relaccedilatildeo de convivecircncia e sobrevivecircncia em um mundo altamente

globalizado e assimeacutetrico Abrigando a constataccedilatildeo de que nas condiccedilotildees de

um mundo tecnologicamente globalizado ldquosomente uma ordenaccedilatildeo racional e

equitativa do conjunto do mundo dispotildee da possibilidade de lhe assegurar um

equiliacutebrio estaacutevel conveniente para todos ()rdquo 36 (p12) isto eacute onde a relaccedilatildeo

do teacutecnico-cientiacutefico com o caraacuteter social e ecoloacutegico pode ser considerada

como antiacutedoto contra o desequiliacutebrio mundial e a favor de um ordenamento

possiacutevel ante a qualquer eminecircncia de antagonismo entre novas e antigas

potecircncias inclusive as militares

Em que pese a vinculaccedilatildeo das accedilotildees humanitaacuterias na questatildeo da sauacutede

e da poliacutetica internacional faz-se pertinente um olhar prudente frente a uma

globalizaccedilatildeo marcada pela assimetria entre naccedilotildees e entre os blocos regionais

que enfatiza o desequiliacutebrio de forccedilas observado entre os paiacuteses inclusive na

atenccedilatildeo de suas prioridades poliacuteticas junto agrave pactuaccedilatildeo de uma nova agenda

global onde o espaccedilo do Estado-Naccedilatildeo se depara com uma contemporacircnea

percepccedilatildeo paradigmaacutetica os Estados-Regiatildeo

Conforme apontado neste estudo [178] essa nova condiccedilatildeo afeta

desproporcionalmente paiacuteses em desenvolvimento de forma desfavoraacutevel em

dois aspectos marcantes o primeiro refere-se agraves dificuldades de governanccedila

governabilidade e de harmonizaccedilatildeo institucional dentre o bloco desses paiacuteses

ocasionando sobre os mesmos uma perda na autonomia na tomada de

178

Ver Capiacutetulo II 2 desta tese ―Estado como Ator Estrateacutegico nas Relaccedilotildees Internacionais

235

decisatildeo que deixa de pautar-se por prioridades nacionais sem que haja

entretanto contrapartida do fortalecimento regional o segundo aspecto em

parte decorrente do anterior refere-se ao desequiliacutebrio geopoliacutetico na definiccedilatildeo

das prioridades da agenda global da sauacutede

Nesse sentido entendendo-se a legitimidade do campo da sauacutede global

e a inescapabilidade da relaccedilatildeo entre sauacutede e poliacutetica externa haacute que se

buscar instrumentalizar os paiacuteses menos desenvolvidos de modo que sejam

ouvidos na definiccedilatildeo das prioridades da agenda de sauacutede Deve-se

pertinentemente garantir que as prioridades impostas pelas condiccedilotildees de

sauacutede da populaccedilatildeo natildeo sejam atropeladas pela agenda internacional aleacutem de

criar condiccedilotildees para o desenvolvimento do ambiente institucional que favoreccedila

a implementaccedilatildeo dos bens puacuteblicos para a sauacutede em seus territoacuterios nacionais

Estas satildeo diretrizes sem as quais o proacuteprio campo de sauacutede global perderia

legitimidade de atuaccedilatildeo e passaria a refletir majoritariamente a imposiccedilatildeo por

parte de paiacuteses mais ricos sobre as accedilotildees de sauacutede no mundo sem para tanto

pensar no benefiacutecio do mesmo como um todo

ldquoA globalizaccedilatildeo eacute irrefreaacutevel sobretudo por corresponder a muitas

exigecircncias dos seres humanosrdquo Essa expressatildeo de Berlinguer 45 (p21) citada

no decorrer deste estudo nos leva a refletir sobre os direitos humanos

fundamentais e suas respectivas conquistas em que a sauacutede se estabelece

com fertilidade

A sauacutede sob esse contexto expande-se na agenda das poliacuteticas de

sauacutede de niacuteveis locais para niacuteveis regionais e global buscando-se os meios

necessaacuterios para restringir os limites e as delimitaccedilotildees inerentes agrave

globalizaccedilatildeo

No que se refere agraves implicaccedilotildees produtivas e tecnoloacutegicas na questatildeo

da sauacutede destaca-se a complexidade do sistema de interdependecircncias entre

economias nacionais apresentada como assimeacutetrica em que o seu poder

efetivo eacute inversamente proporcional agrave sua vulnerabilidade externa A relaccedilatildeo

inversa estabelecida entre o poder efetivo e a vulnerabilidade externa

apontada no Capiacutetulo I desta tese efetivamente relacionada agrave abordagem da

Economia Poliacutetica Internacional sustenta o que Gonccedilalves 21 afirma que

236

quanto maior a capacidade de resistecircncia a pressotildees fatores

desestabilizadores choques externos isto eacute agrave capacidade de sua proacutepria

realizaccedilatildeo maior seraacute o seu poder efetivo no sistema internacional

Ainda no tocante agrave relaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo com a sauacutede e agrave questatildeo da

vulnerabilidade unilateral seja econocircmica ou tecnoloacutegica reconhecida em

grande parte pelos paiacuteses em desenvolvimento inclusive no Brasil sob a

perspectiva da busca por um equiliacutebrio mais pragmaacutetico aspectos favoraacuteveis

podem vir a ser observados desde que as accedilotildees sejam devidamente

articuladas entre os paiacuteses na busca por melhorias nas condiccedilotildees sanitaacuterias

globais Iniciativas globais resultantes da accedilatildeo entre paiacuteses no acircmbito da ONU

e da OMS assim como coalizotildees e alianccedilas intergovernamentais podem

promover o fortalecimento da relaccedilatildeo com a sauacutede Afinal em posiccedilatildeo solitaacuteria

muito pouca coisa pode ser feita ou convencida a ser aceita Assim os

resultados satildeo favoraacuteveis quando uma posiccedilatildeo eacute fortalecida pela uniatildeo de

interesses semelhantes em foacuteruns especiacuteficos sejam regionais inter-regionais

multilaterais ou internacionais relacionados agrave OMS agrave OMC ou a outros que

articulem e tratem direta ou indiretamente de assuntos relacionados agrave sauacutede

O vieacutes entretanto estaacute na relaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo com a pobreza e a

iniquidade com impactos diretos na aacuterea da sauacutede e na sua respectiva

capacidade produtiva assim como na percepccedilatildeo anteriormente citada de que

o Estado-Naccedilatildeo perde espaccedilo para os Estados-Regiatildeo com impacto direto nos

limites das condiccedilotildees soberanas de um paiacutes

Sobre essa uacuteltima questatildeo a globalizaccedilatildeo provocadora de intensa

mudanccedila estrutural da economia internacional exerce um peso crescente que

ultrapassa o exerciacutecio soberano do Estado Conforme apresentado no decorrer

dos capiacutetulos o Estado eacute pressionado pela accedilatildeo de muacuteltiplas forccedilas exoacutegenas

que acabam por influenciar a formaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede seja por meio

de acordos promovidos por agecircncias internacionais e pelo poder de empresas

multinacionais seja pela influecircncia de Organizaccedilotildees Natildeo-Governamentais

Aleacutem disso o crescente protagonismo da sauacutede na agenda de

desenvolvimento e de inserccedilatildeo competitiva global se soma agrave dimensatildeo que a

sauacutede internacional ganhou principalmente nas duas uacuteltimas deacutecadas

237

aumentando a complexidade e assimetria das forccedilas envolvidas na produccedilatildeo

de serviccedilos e insumos de sauacutede na articulaccedilatildeo entre os distintos atores

governamentais e natildeo governamentais e na formaccedilatildeo da agenda internacional

da sauacutede aleacutem do grande desafio que eacute a promoccedilatildeo do acesso aos bens da

sauacutede representando simultaneamente novos desafios e novas

oportunidades para os paiacuteses em desenvolvimento

Da expectativa agrave plena realidade muito haacute que ser superado No tocante

agrave sauacutede esse processo estaacute em formaccedilatildeo contiacutenua mais evidente em tempos

atuais

Entretanto como evidenciado no capiacutetulo III 2 ndash ldquoSauacutede nas Relaccedilotildees

Internacionaisrdquo percebe-se passividades a serem combatidas decorrentes

principalmente por conta da transversalidade das agendas relacionadas agrave

sauacutede seja pela concomitacircncia da interface temaacutetica ou pela relaccedilatildeo de

semelhanccedila da governanccedila dos diversos organismos seja pela crescente perda

de legitimidade observada junto agraves organizaccedilotildees da ONU provocadas

inclusive pela constituiccedilatildeo de organizaccedilotildees de programas e agecircncias cujos

objetivos se interpotildeem refletindo esforccedilos repetidos e diluindo os resultados

almejados

A multiplicidade de atores e de agenda no cenaacuterio internacional e a

ausecircncia de uma coordenaccedilatildeo geral efetiva levam inevitavelmente agrave ineficaacutecia

e agrave ineficiecircncia dos esforccedilos envidados Essa situaccedilatildeo tende a piorar com a

crise econocircmica e a reduccedilatildeo de financiamento Ademais haacute o aspecto poliacutetico

a considerar pois sinaliza distintas camadas ideoloacutegicas aleacutem de representar

uma desconcertante falta de otimizaccedilatildeo de recursos levando a perdas de

recursos por ingerecircncia integrada e eficaz

Satildeo percebidos tambeacutem oportunismos ditados pela forccedila econocircmica

assimeacutetrica

Portanto a fim de natildeo sucumbir agraves dificuldades em sustentar o

dinamismo que as mudanccedilas estruturais demandam por conta do processo da

globalizaccedilatildeo e pela assimetria tecnoloacutegica internacional observada na relaccedilatildeo

entre os paiacuteses detentores de poder produtivo e tecnoloacutegico (isto eacute paiacuteses

238

desenvolvidos) com os paiacuteses com menor capacidade de produccedilatildeo e de PampD

(observado em maior intensidade junto aos paiacuteses em desenvolvimento)

requerem-se accedilotildees e poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o fortalecimento e o

aprimoramento das suas capacidades endoacutegenas notadamente nas aacutereas que

necessitam de maior capacidade de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e produtiva

Accedilotildees essas que devem ser buscadas considerando-se

simultaneamente uma paradigmaacutetica realidade de que o compromisso com os

direitos humanos e a responsabilidade humanitaacuteria notadamente na questatildeo

relativa agrave sauacutede e ao acesso aos seus bens e insumos natildeo se esgota em suas

proacuteprias fronteiras Questatildeo que vem se discutindo ultimamente de forma

mais ativa por todo o mundo conforme preconizam as Declaraccedilotildees do Milecircnio

de Doha de Oslo dentre outras declaraccedilotildees e acordos internacionais firmados

entre os paiacuteses signataacuterios

Nesse sentido os fundamentos teoacutericos das Relaccedilotildees Internacionais

adotados na abordagem do presente estudo isto eacute os referentes agrave Sociedade

Internacional e agrave Economia Poliacutetica Internacional vinculam-se mutuamente

onde o diaacutelogo se sustenta seja pela caracteriacutestica kantiana a que a sauacutede se

reserva fundamentada por uma sociedade mundial solidaacuteria e humanitaacuteria

seja pelo reconhecimento da complexidade e da alta interdependecircncia

econocircmica entre os paiacuteses e a respectivas relaccedilotildees econocircmicas internacionais

as quais inevitavelmente a sauacutede se insere

Portanto visando a uma ativa inserccedilatildeo sustentaacutevel do Paiacutes junto a um

cenaacuterio internacional de poderes assimeacutetricos tem-se na relaccedilatildeo do poder e do

papel poliacutetico do Estado o agente fundamental na recuperaccedilatildeo e no

fortalecimento das economias nacionais resultando numa relaccedilatildeo direta e vital

da economia com a poliacutetica Essa relaccedilatildeo logra resultados a meacutedio e longo

prazos quando se considera o espaccedilo de autonomia e de articulaccedilotildees

internacionais reforccedilando-se a importacircncia da sintonia entre as agendas

interna e externa

No tocante agrave questatildeo da sauacutede o Brasil principalmente nas duas

uacuteltimas deacutecadas conforme apresentado no decorrer desta tese vem

promovendo o seu diaacutelogo com a poliacutetica exterior e a diplomacia Diaacutelogo esse

239

que vem exercendo forte influecircncia no discurso da poliacutetica externa e na

conduccedilatildeo dos rumos das suas relaccedilotildees internacionais

A representatividade da sauacutede nesse coloacutequio estaacute pautada

(a) na expressatildeo e na consolidaccedilatildeo do SUS

(b) na hegemonia da relaccedilatildeo virtuosa da sauacutede com o desenvolvimento

(c) no reconhecimento de que a ciecircncia a tecnologia e a inovaccedilatildeo promovem a forccedila de uma naccedilatildeo

(d) na formulaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais voltadas para a consolidaccedilatildeo do CEIS

(e) na centralidade do bem-estar e da qualidade de vida do cidadatildeo

(f) no comportamento do Brasil ndash naccedilatildeo prudente e sobrevivente junto aos cenaacuterios de crises econocircmicas internacionais

(g) no crescente protagonismo regional e internacional junto agraves relaccedilotildees Sul-Sul

(h) no crescente e efetivo exerciacutecio do discurso soberano junto agraves relaccedilotildees Norte-Sul

(i) no sentimento de ldquopertencimentordquo agrave arena global [179]

(j) na ampliaccedilatildeo do acesso a bens e serviccedilos de sauacutede e de programas e poliacuteticas exitosas do SUS [180]

(k) nas accedilotildees efetivas junto agrave Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio em defesa ao acesso a tratamentos medicamentos e insumos para a sauacutede

(l) no maior reconhecimento externo quanto ao discurso poliacutetico internacional do Brasil

(m) no protagonismo observado nas relaccedilotildees entre naccedilotildees pares isto eacute entre os paiacuteses Sul-Sul e

(n) nas conquistas que projetam o Brasil no discurso ambiental e soacutecio-cultural [181] promovendo maior consolidaccedilatildeo ldquosoacutecio-ambiental-cultural-econocircmicardquo

179

Elevando o sentido de identidade nacional fundamental para situar o discurso poliacutetico e

diplomaacutetico do Brasil no mundo dadas conquistas recentes como o fato do Brasil ocupar a 6ordf economia

mundial 180

Haja visto o Programa da Sauacutede da Famiacutelia o Programa de Aleitamento Materno o Programa

Nacional de Imunizaccedilatildeo as poliacuteticas para prevenccedilatildeo e para portadores de HIV dentre outros

181

Como a Rio+20 ocorrida em 2012 a Copa do Mundo a realizar-se em 2014 e as

Olimpiacuteadas em 2016

240

Portanto diante da expressiva representatividade a sauacutede aleacutem dos

princiacutepios de cunho social carrega a marca da potencialidade de sua alianccedila

entre o desenvolvimento e a relevacircncia social constituindo mecanismos para a

consolidaccedilatildeo de um sistema de inovaccedilatildeo dinacircmico com efeitos diretos no

desenvolvimento nacional e na sua inserccedilatildeo competitiva internacional

ultrapassando fronteiras e favorecendo caminhos internacionais correlaccedilatildeo

evidenciada no decorrer do Capiacutetulo IV

Dito isto aponta-se o desafio a ser enfrentado que eacute o fortalecimento da

capacidade produtiva nacional da sauacutede para alcanccedilar uma posiccedilatildeo

competitiva em um espaccedilo de diversidade complexidade e conflito onde

intervenccedilotildees e limitaccedilotildees impostas em foacuteruns poliacutetico-econocircmicos

internacionais e ateacute supranacionais precisaratildeo ser traduzidas repensadas e

renegociadas para garantir a sauacutede como condiccedilatildeo de bem-estar social e de

cidadania de desenvolvimento da atividade econocircmica e de garantia agrave

soberania nacional como bases de participaccedilatildeo em um mercado altamente

globalizado

Assim a agenda de formaccedilatildeo de poliacuteticas estrateacutegicas para a

consolidaccedilatildeo dessa poliacutetica de desenvolvimento produtivo e de inovaccedilatildeo para a

aacuterea da sauacutede isto eacute o CEIS ganha diretrizes de forte impacto estruturante

para a sustentabilidade e inserccedilatildeo competitiva de uma naccedilatildeo Formaccedilatildeo essa

que impacta na proteccedilatildeo agrave soberania de uma naccedilatildeo e agrave defesa dos seus

principais interesses

Entretanto eacute sob o impacto resultante de extenso desequiliacutebrio de

poderes observado entre as naccedilotildees - em que poder eacute a mola propulsora das

relaccedilotildees internacionais pois afinal ldquonum mundo em que todos tivessem o

mesmo poder natildeo haveria poderrdquo conforme argumenta Fiori 32 (p 334) citado

no primeiro capiacutetulo do presente estudo - que se acaba influenciando as

agendas de negociaccedilotildees levando os interesses das naccedilotildees menos

competitivas em CTampIS a serem relegados para segundo plano

Conclui-se nesse sentido conforme observado no decorrer da presente

tese que a capacidade de produccedilatildeo de bens de sauacutede deve ser traduzida

como determinante da capacidade soberana de um paiacutes em garantir o direito agrave

241

sauacutede de sua populaccedilatildeo e reduzir a vulnerabilidade da poliacutetica de sauacutede na

medida em que sauacutede eacute preacute-condiccedilatildeo para a soberania de qualquer naccedilatildeo

Afinal ao mesmo tempo em que um paiacutes precisa ampliar o seu acesso a novos

mercados e a novos conhecimentos precisa tambeacutem obter espaccedilo para a

conduccedilatildeo das suas poliacuteticas puacuteblicas

Sob esse aspecto no acircmbito das poliacuteticas sociais e produtivas

nacionais a priorizaccedilatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede tem

potencial para o fortalecimento brasileiro ante o cenaacuterio globalizado motivando

ao paiacutes a capacidade de alcanccedilar uma posiccedilatildeo competitiva em um espaccedilo de

diversidade e assimetria mundial

O setor sauacutede especificamente o seu Complexo Econocircmico-Industrial

incorpora a tendecircncia do desenvolvimento na perspectiva da capacidade

produtiva e inovativa de bens da sauacutede e daacute sustentaccedilatildeo agrave reformulaccedilatildeo das

concepccedilotildees do desenvolvimento que passaram a destacar a aacuterea social como

elemento essencial em que o ser humano tem a centralidade nessas

concepccedilotildees Dada a vulnerabilidade da base produtiva tecnoloacutegica endoacutegena

exerce papel estrateacutegico na dinamizaccedilatildeo da economia e nas articulaccedilotildees da

poliacutetica externa seja no contexto geopoliacutetico internacional seja na promoccedilatildeo

do comeacutercio internacional no fortalecimento da capacidade de

desenvolvimento regional e internacional ou no fortalecimento das condiccedilotildees

de bem-estar social De forma anaacuteloga aponta-se o papel estrateacutegico do

Estado para o fortalecimento do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

considerando o espaccedilo diverso pautado pela globalizaccedilatildeo cuja estrutura

desenha-se por forccedilas externas exercendo forte influecircncia sobre processos

econocircmicos e sociais nacionais e internacionais em que o Estado precisa

atuar

Dadas a potencialidade e a complexidade relacionadas agrave sauacutede e ao

desenvolvimento o CEIS estabelece-se sob as premissas do valor social eacutetico

e econocircmico da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Fundamenta-se na inovaccedilatildeo

institucional (a) por meio da articulaccedilatildeo e das dinacircmicas organizacionais com

funccedilotildees inovativas e difusoras de tecnologias (b) sob os fundamentos dos

marcos regulatoacuterios assim como na regulaccedilatildeo da propriedade intelectual (c)

242

pelos criteacuterios de regulaccedilatildeo na introduccedilatildeo e utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de

sauacutede estabelecendo-se sob as loacutegicas de intervenccedilatildeo de produccedilatildeo difusatildeo

e utilizaccedilatildeo de tecnologias e pela perspectiva de sustentabilidade da inovaccedilatildeo

tecnoloacutegica por meio da sinergia do modelo de acumulaccedilatildeo econocircmica e o

sistema de proteccedilatildeo social em sauacutede

Com vistas agrave consolidaccedilatildeo e ao fortalecimento do CEIS haacute de se

transformar o conhecimento produzido local ou internacionalmente em

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que melhorem o desempenho do setor produtivo

nacional no campo da sauacutede em sua dimensatildeo nacional e global Eacute nesse

contexto desenvolvimentista que se observa o protagonismo do Estado

nacional junto agrave dinacircmica das relaccedilotildees internacionais Observa-se portanto o

papel estrateacutegico do Estado para o fortalecimento dessa aacuterea da sauacutede Eacute

nesse espaccedilo complexo e conflituoso que o Estado precisa atuar O desafio

entretanto eacute manter o desenvolvimento com inclusatildeo social em um ambiente

de maior liberdade econocircmica fruto da globalizaccedilatildeo e ao mesmo tempo com

restriccedilotildees e limites provocados pelos conflitos de interesses entre os paiacuteses

Esta nova configuraccedilatildeo em que o CEIS tem suas diretrizes fortemente

influenciadas por uma agenda global traz benefiacutecios mas tambeacutem pauta

seacuterios desafios para a implementaccedilatildeo de poliacuteticas de sauacutede dada a assimetria

de forccedilas e de governanccedila dos paiacuteses que definem esta agenda Reich 6 ao

ressaltar as accedilotildees de muacuteltiplas forccedilas exercidas sobre o Estado moderno ndash

como por exemplo a diminuiccedilatildeo do seu papel decorrente da expansatildeo da

descentralizaccedilatildeo ou da crescente influecircncia de organizaccedilotildees natildeo-

governamentais assim como pelos acordos promovidos por agecircncias

internacionais e pelo poder de empresas multinacionais - aponta que as

mesmas trazem seacuterias implicaccedilotildees para a sauacutede puacuteblica

Dito isto reforccedila-se o impacto estruturante que se almeja das poliacuteticas

de desenvolvimento produtivo e de inovaccedilatildeo para a aacuterea da sauacutede para a sua

sustentabilidade e para a defesa dos principais interesses e inserccedilatildeo

competitiva de uma naccedilatildeo

O desafio a ser superado refere-se portanto agrave transformaccedilatildeo do

conhecimento produzido em inovaccedilotildees tecnoloacutegicas para atender ao campo da

243

sauacutede por meio do seu Complexo Econocircmico-Industrial incorporando a

retomada do papel do Estado nacional na dinacircmica da transformaccedilatildeo

econocircmica e da inovaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede

Nesse sentido o maior desafio nacional na arena internacional eacute atuar

de forma equilibrada e pragmaacutetica sem deixar de considerar como relevante a

necessaacuteria harmonizaccedilatildeo da realidade brasileira diante de um contexto

globalizado que abriga vulnerabilidade e assimetrias no sistema internacional

As premissas relacionadas aos valores socioeconocircmicos da inovaccedilatildeo

tecnoloacutegica expandem-se para a orientaccedilatildeo da poliacutetica externa cuja priorizaccedilatildeo

estabelece as relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo Sul-Sul Identifica-se portanto no CEIS

um ferramental apropriado para o estabelecimento de mecanismos que

ultrapassem as vulnerabilidades tecnoloacutegicas unilaterais provocadas pela

relaccedilatildeo de poder internacional observada na conduccedilatildeo dos laccedilos (ou ldquonoacutes

cegosrdquo) entre os paiacuteses do Norte com os paiacuteses do Sul

De forma antagocircnica a essa questatildeo dado o impacto das relaccedilotildees

econocircmicas transnacionais e da representatividade da forccedila da poliacutetica

econocircmica internacional a accedilatildeo do Estado tende a ficar cada vez mais

constrito O que daacute agraves estrateacutegias governamentais importacircncia fundamental no

sentido de se reverter essa condiccedilatildeo de limite Nesse sentido o papel do

Estado e suas poliacuteticas estrateacutegicas governamentais fazem a diferenccedila entre

levar a naccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo e ao fortalecimento ou agrave vulnerabilidade externa

Pode-se inferir que para o governo traccedilar estrateacutegias e poliacuteticas puacuteblicas

estaacuteveis e duradouras para desenvolver e fortalecer o Complexo Econocircmico-

Industrial da Sauacutede favorecendo-se da dinacircmica das relaccedilotildees internacionais e

dela se tornando ativo e potencial protagonista de cooperaccedilotildees internacionais

(a partir de um modelo horizontal e estruturante junto aos paiacuteses do Sul e

pautado pela induccedilatildeo eou pelo fortalecimento da capacidade nacional

cientiacutefica tecnoloacutegica e de inovaccedilatildeo em sauacutede) o Estado deve buscar a

promoccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees complementares e integradas para o

desenvolvimento da ciecircncia da tecnologia e da inovaccedilatildeo em sauacutede em

interface com as poliacuteticas interna e externa cujos resultados esperados estatildeo

244

embasados em forte perspectiva de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica e de consolidaccedilatildeo da

gestatildeo estrateacutegica

Dito isto prepara-se a naccedilatildeo simultaneamente para a concorrecircncia

global e para a promoccedilatildeo da sustentabilidade e do acesso aos insumos para a

sauacutede seja no contexto nacional ou frente agraves necessidades das naccedilotildees do eixo

Sul-Sul habilitando assim o Brasil para um papel de forte protagonismo no

contexto geopoliacutetico internacional

Segue-se portanto agrave defesa da ideacuteia de que as influecircncias exercidas

por intermeacutedio das Poliacuteticas de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede

voltadas para o fortalecimento do CEIS visando agrave consolidaccedilatildeo de um sistema

de inovaccedilatildeo dinacircmico com efeitos diretos no desenvolvimento do Brasil e na

soberania nacional tecircm relaccedilatildeo direta com a inserccedilatildeo ativa do Paiacutes no

contexto das suas relaccedilotildees internacionais

Haacute de se considerar entretanto que o jogo de forccedilas assimeacutetricas no

cenaacuterio internacional encerra desafios diversos enfrentados no mercado

nacional A lideranccedila tecnoloacutegica portanto eacute determinante para a condiccedilatildeo

hegemocircnica do Estado no tocante agrave consolidaccedilatildeo de accedilotildees de cooperaccedilatildeo

internacional junto aos paiacuteses detentores de menor capacidade tecnoloacutegica na

aacuterea da sauacutede

Nesse sentido a inter-relaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais com as relaccedilotildees

internacionais se daacute efetivamente quando ultrapassados os desafios da

incorporaccedilatildeo do papel do Estado nacional na dinacircmica da transformaccedilatildeo

econocircmica e da inovaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede no Brasil Logo para fundamentar

a relaccedilatildeo de poder existente entre o Estado soberano e a dinacircmica da sua

poliacutetica externa no atual contexto da geopoliacutetica internacional cumpre-se para

tanto uma agenda de transformaccedilotildees internas como preacute-condiccedilatildeo eou como

consequecircncia da exposiccedilatildeo aos mercados externos o que vem sendo

observado notadamente na agenda poliacutetica nacional dos uacuteltimos dez anos

Portanto a evidecircncia da correlaccedilatildeo do Estado no exerciacutecio condutor de

poliacuteticas nacionais especialmente no que se refere ao CEIS e de seus reflexos

na conduccedilatildeo da poliacutetica externa assegura inclusive uma inserccedilatildeo ativa na

245

questatildeo da sauacutede global e na conduccedilatildeo ao acesso universal a bens e insumos

da sauacutede O desafio eacute constante e poliacutetico antecedendo inclusive ao

econocircmico natildeo menos importante requerendo o engajamento ativo e contiacutenuo

dos atores nacionais e internacionais

Cabe considerar no estudo em questatildeo a multiplicidade no exerciacutecio da

poliacutetica externa e da diplomacia e o fato de que certos temas como o da aacuterea

da sauacutede admitam vaacuterios portadores de valores tanto no acircmbito local quanto

nacional regional eou internacional Dado o alcance geopoliacutetico que o tema

projeta aleacutem do exerciacutecio diplomaacutetico a relaccedilatildeo da sauacutede no exerciacutecio

diplomaacutetico requer maior interaccedilatildeo e convergecircncia de informaccedilotildees e interesses

entre todos os atores internacionais envolvidos diplomatas sanitaristas

governantes ONGS Organizaccedilotildees Internacionais Organizaccedilotildees multilaterais

doadores assim como agentes e grupos sociais e sociedade de forma geral

segmentos produtivos ndash puacuteblicos e privados nacionais e internacionais

academias universidades centros de pesquisa aleacutem do proacuteprio discurso

governamental Discursos que se somam para a compreensatildeo mais apurada

dos rumos que se pretende alcanccedilar notadamente no objeto deste estudo

apresentando neste eixo histoacuterico do iniacutecio do Seacuteculo XXI mais e maiores

contornos doutrinaacuterios cuja consistecircncia analiacutetica ainda se encontra em fase

de construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo

Este estudo aponta a sauacutede cada vez mais inserida nas reflexotildees

poliacutetico-diplomaacuteticas em que as questotildees sanitaacuterias estatildeo presentes haacute largo

tempo em diferentes foros de negociaccedilatildeo admitidas em diferentes

instrumentos internacionais ampliando o campo de interesse da sauacutede para

novas percepccedilotildees a respeito do seu significado e de sua inter-relaccedilatildeo com

distintas aacutereas

Portanto em decorrecircncia dos instrumentos institucionais e dos marcos

internacionais disponiacuteveis para os atores e formuladores de poliacuteticas

internacionais de sauacutede que fundamentaram a inserccedilatildeo da sauacutede no contexto

internacional notadamente a partir da Carta das Naccedilotildees Unidas passando

pela Conferecircncia de Alma Ata ateacute a Declaraccedilatildeo de Oslo dentre outros firmados

246

mais recentemente a partir de 2000 [182] vaacuterios satildeo os foacuteruns e mecanismos

de decisatildeo que orientam a sauacutede nas relaccedilotildees internacionais passando pelas

organizaccedilotildees multilaterais oficiais das Naccedilotildees Unidas ateacute instituiccedilotildees mais

recentes como o Grupo dos Oito (G8) Eacute nesse ambiente em raacutepida

transformaccedilatildeo que a aacuterea da sauacutede vem se destacando e solidificando na base

de uma boa governanccedila cuja conduccedilatildeo a priori se sustenta (ou deveria se

sustentar) nos interesses da sociedade e nas suas necessidades de sauacutede e

de bem-estar

Poreacutem uma parte das atividades de PampD principalmente em paiacuteses

desenvolvidos tende a ser protegida dentro dos seus paiacuteses por motivos de

seguranccedila nacional ou proteccedilatildeo agrave propriedade intelectual e industrial Cabe

destacar que o apoio puacuteblico agrave atividade de PampD e inovaccedilatildeo nas empresas eacute

uma praacutetica comum nos paiacuteses desenvolvidos admitida pela Organizaccedilatildeo

Mundial do Comeacutercio [183]

Portanto a definiccedilatildeo da prioridade do foco de desenvolvimento de CampT

pode sofrer influecircncia desproporcional por parte dos paiacuteses industrializados

detentores da maior parte dos recursos de pesquisa

Lee 114 aponta uma seacuterie de experiecircncias no campo da sauacutede global

cujos resultados observados apresentaram diferentes graus de efetividade em

funccedilatildeo de maior ou menor grau de institucionalidade e governanccedila das naccedilotildees

Aleacutem disto chama a atenccedilatildeo que para se alcanccedilar impacto realmente global

reflexotildees mais criteriosas acerca da relevacircncia de accedilotildees selecionadas devem

182

A cada vez maior pactuaccedilatildeo dos documentos internacionais traduz a representatividade e a

importacircncia crescente do tema da sauacutede nas Relaccedilotildees Internacionais - como por exemplo a Declaraccedilatildeo

do MilecircnioONU (2000) a Declaraccedilatildeo de Doha sobre Sauacutede Puacuteblica adotada no acircmbito da OMC ndash

Declaraccedilatildeo sobre o Acordo TRIPS e Sauacutede Puacuteblica (2001) a Declaraccedilatildeo de Oslo ndash Sauacutede Global um

tema urgente da Poliacutetica Externa (2007) ndash mecanismo voluntaacuterio firmado por 7 paiacuteses a Resoluccedilatildeo

6595 das Naccedilotildees Unidas sobre Sauacutede Global e Poliacutetica Externa (2011) a Conferecircncia de

MonterreyONU (2011) e a Conferecircncia Mundial de Determinantes Sociais da SauacutedeOMS(2012)

183

Segundo dados do MCT 2007 - Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo para o Desenvolvimento

Nacional disponiacuteveis em wwwmctgovbr na meacutedia dos paiacuteses europeus por exemplo 35 das

empresas industriais inovadoras no periacuteodo de 2002 e 2004 receberam financiamento puacuteblico para o

desenvolvimento de suas atividades inovativas Segundo o relatoacuterio ―no Brasil a proporccedilatildeo de empresas

industriais com atividades inovativas que satildeo financiadas pelo governo eacute especialmente reduzida - 19

no periacuteodo de 2003-2005 Diferenccedila ampliada quando considera condiccedilotildees inapropriadas em funccedilatildeo do

creacutedito e do respectivo custo Tendecircncia essa que tenderaacute a ser revertida em funccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

implantaccedilatildeo de diversos instrumentos de fomentos e programas de estiacutemulos agraves induacutestrias nacionais

puacuteblicas ou privadas

247

ser feitas a priori evitando que o sucesso das accedilotildees natildeo fique ldquoconfinado aos

paiacuteses industrializadosrdquo Ressalta-se ainda a importacircncia de avaliar a

pertinecircncia do estabelecimento de parcerias que podem trazer forccedilas e

interesses antagocircnicos para a conduccedilatildeo das poliacuteticas

No tocante agrave agenda nacional de sauacutede de paiacuteses menos desenvolvidos

em que pesem as diferenccedilas de forccedilas existentes entre os distintos atores

globais as alianccedilas e coalizotildees intergovernamentais promovem e fortalecem a

incorporaccedilatildeo de temas importantes para esses paiacuteses Eacute o caso por exemplo

dos esforccedilos focados em doenccedilas negligenciadas isto eacute doenccedilas que natildeo

fazem parte da plataforma de pesquisa da induacutestria mundial de faacutermacos e que

apresentam graves consequecircncias principalmente para os paiacuteses mais

necessitados

De fato novos atores em projeccedilatildeo como o caso das naccedilotildees do eixo Sul-

Sul instrumentos e a consolidaccedilatildeo de novas e antigas iniciativas multilaterais

regionais e intra-regionais [184] ao dirigirem seus esforccedilos para promover a

sauacutede e o acesso a doenccedilas historicamente negligenciadas que natildeo mais se

restringem agraves fronteiras institucionais territoriais podem representar benefiacutecios

para alguns paiacuteses em especial aqueles sem quaisquer condiccedilotildees de

promover o desenvolvimento e fortalecimento de sua base industrial voltada

para a sauacutede

A constituiccedilatildeo de distintos mecanismos de interface entre os paiacuteses de

relaccedilatildeo Sul-Sul discutidos neste estudo busca fortalecer os paiacuteses parceiros e

criar condiccedilotildees de equiliacutebrio simeacutetrico entre os assuntos relacionados agrave sauacutede

e agrave cooperaccedilatildeo internacional dos paiacuteses onde o diaacutelogo e a negociaccedilatildeo de

temas importantes para a sauacutede global e regional objetos de debates em

foacuteruns internacionais e o ldquocasamentordquo entre a sauacutede e a diplomacia exercem

uma nova condiccedilatildeo paradigmaacutetica na relaccedilatildeo da sauacutede com a aacuterea

internacional

Entretanto dado o caraacuteter humanitaacuterio vinculado agraves questotildees da sauacutede

haacute necessidade de manter prudecircncia antes de generalizar resultados positivos

da fusatildeo da sauacutede internacional com os princiacutepios da poliacutetica externa Afinal eacute

184

Unasul Mercosul CPLP BRICS IBAS dentre outros

248

arriscado generalizar a relaccedilatildeo da sauacutede e da poliacutetica externa como

exclusivamente de inspiraccedilatildeo altruiacutestica Haacute de se ponderar essa tratativa com

as questotildees da economia poliacutetica internacional que refletem as conduccedilotildees

hieraacuterquicas da poliacutetica externa sob o contexto das relaccedilotildees internacionais

Por outro lado a sauacutede exerce uma definiccedilatildeo positivista na agenda da

poliacutetica externa e nas suas relaccedilotildees internacionais na possibilidade da

utilizaccedilatildeo do CEIS como estiacutemulo ao desenvolvimento no estiacutemulo ao estado

de bem-estar do cidadatildeo universal e consequentemente no estimulo agrave paz e agrave

cooperaccedilatildeo internacional de caraacuteter humanitaacuterio e integrador tornando-se uma

resposta efetiva agraves vulnerabilidades e fragilidades decorrentes da dimensatildeo

internacional assimeacutetrica tecnoloacutegica e produtiva agraves quais as naccedilotildees do Sul

estatildeo inseridas

A projeccedilatildeo do tema da sauacutede tambeacutem ganha especial importacircncia

quando se pensa em soberania e seguranccedila nacional O desenvolvimento e a

capacidade produtiva estabelecem uma condiccedilatildeo de seguranccedila e de garantia

de acesso a medicamentos considerados essenciais para a sobrevivecircncia de

uma sociedade Os ditames das condiccedilotildees do capital e a consequente

maximizaccedilatildeo do lucro esperado estabelecem restriccedilotildees e riscos de

consideraacutevel periculosidade tanto em paiacuteses desenvolvidos quanto

principalmente em paiacuteses em desenvolvimento Em 2009 The New York

Times publicou uma reportagem que ressaltava a preocupaccedilatildeo americana com

a fabricaccedilatildeo de medicamentos no exterior e com o fechamento de faacutebricas no

seu paiacutes que forneciam insumos-chave para a produccedilatildeo de medicamentos

essenciais para a sua seguranccedila nacional como por exemplo a penicilina

criando uma dependecircncia da produccedilatildeo externa e uma situaccedilatildeo de

vulnerabilidade que natildeo eacute exatamente muito comum aos americanos

Em que pese o mundo globalizado ser dependente de insumos vacinas

medicamentos dentre outros principalmente em situaccedilotildees pandecircmicas pode

levar uma sociedade ao colapso e deixaacute-la de ldquojoelhosrdquo perante qualquer

situaccedilatildeo de risco internacional A reportagem natildeo distingue o rico do pobre

Portanto pode-se afirmar que o CEIS se estabelece como diferencial entre

ficar em peacute ou de joelhos E que para tanto se estabeleccedilam como propositivas

249

as condiccedilotildees favoraacuteveis da poliacutetica externa quanto agrave integraccedilatildeo regional eou

inter-regional entre paiacuteses pares como eacute o caso do Brasil no eixo Sul-Sul e a

respectiva relaccedilatildeo com a cooperaccedilatildeo internacional otimizando recursos e

maximizando resultados aleacutem da necessaacuteria condiccedilatildeo de assimilaccedilatildeo de

conhecimento avanccedilado o que daacute agrave cooperaccedilatildeo Norte-Sul condiccedilatildeo de

continuidade com vista agrave ampliaccedilatildeo e sustentabilidade do conhecimento e da

capacidade produtiva dos segmentos relacionados ao CEIS

A desvinculaccedilatildeo do conhecimento avanccedilado dos paiacuteses desenvolvidos

por parte dos paiacuteses em desenvolvimento atestaria o suiciacutedio de qualquer

poliacutetica fomentadora de ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo em sauacutede de paiacuteses em

desenvolvimento Portanto a cooperaccedilatildeo Norte-Sul e a cooperaccedilatildeo triangular

ainda satildeo fundamentais balizando a capacitaccedilatildeo e o desenvolvimento

produtivo desses paiacuteses desde que orientadas pelos interesses e

necessidades das naccedilotildees do Sul como eacute o caso do Brasil

Nesse sentido cooperaccedilotildees teacutecnicas bilaterais e principalmente

multilaterais internacionais no campo da sauacutede estatildeo sendo cada vez mais

promovidas e o Brasil tem encontrado nos foacuteruns internacionais espaccedilo e

reconhecimento que o diferencia na governanccedila da sauacutede global e das

relaccedilotildees internacionais

Sob essa perspectiva o CEIS apresenta a convergecircncia adequada entre

o tema social e as questotildees econocircmicas como poliacuteticas puacuteblicas para a sauacutede

e a poliacutetica externa Contempla a possibilidade de o Brasil reforccedilar suas

poliacuteticas estrateacutegicas nacionais modificando situaccedilotildees internas atendendo a

demandas econocircmicas e buscando soluccedilotildees para as deficiecircncias da

capacidade produtiva e inovativa em sauacutede ao mesmo tempo em que se

estabelece como possibilidade de cooperaccedilatildeo no cenaacuterio internacional e se

promove dadas a atual conduccedilatildeo e o protagonismo brasileiro na governanccedila

global em sauacutede um novo posicionamento do Brasil no contexto internacional

De fato o Brasil estabeleceu na primeira deacutecada do Seacuteculo XXI o

fortalecimento das coalizotildees entre os paiacuteses do Sul e nesse sentido a

cooperaccedilatildeo Sul-Sul se tornou ldquoum instrumento duplo na poliacutetica exterior

servindo tanto como uma forma de promover solidariedade entre os paiacuteses

250

como tambeacutem um suporte para a realizaccedilatildeo dos interesses nacionaisrdquo 78 (p

19) isto eacute auxiliando no processo de afirmaccedilatildeo do Brasil como ator relevante

na poliacutetica internacional e na promoccedilatildeo do comeacutercio com paiacuteses do Sul

Podemos inferir inclusive que ao focarmos nos blocos

intergovernamentais como a Unasul o Mercosul e a CPLP destacam-se a

convergecircncia de pontos de vista e estrateacutegias feitas de compromissos e

cooperaccedilotildees intergovernamentais baseadas pela percepccedilatildeo conjunta quanto a

uma visatildeo geoeconocircmica e poliacutetica comum incluindo os assuntos

relacionados agrave sauacutede contornando estrategicamente os multilateralismos

paralisados pelo expressivo nuacutemero de participantes e de interesses

divergentes

Dito isto este estudo aponta accedilotildees e atividades de cooperaccedilatildeo em

sauacutede junto aos paiacuteses do Sul que mesmo ainda incipientes comeccedilam a

refletir alguns resultados provenientes da estruturaccedilatildeo e da consolidaccedilatildeo dessa

aacuterea na poliacutetica externa brasileira

Entretanto desponta como desafio saber apropriar-se de forma

contundente do potencial de cooperaccedilatildeo com Cuba China e Iacutendia e da

retomada das accedilotildees poliacuteticas com os paiacuteses da Aacutefrica especialmente a Aacutefrica

lusoacutefona e com os paiacuteses da Ameacuterica do Sul

Quanto aos planos multilaterais e regionais o engajamento nas diversas

frentes reuniotildees e conferecircncias pode levar agrave diluiccedilatildeo de esforccedilos Natildeo se pode

perder da diretriz que eacute o fortalecimento da regiatildeo e do laccedilo Sul-Sul tampouco

distanciar-se dos benefiacutecios da relaccedilatildeo Norte-Sul

Ademais deve-se fortalecer cada vez mais o diaacutelogo entre os

especialistas das aacutereas da sauacutede da economia e da diplomacia de maneira

que se mobilizem para a importacircncia que o tema deteacutem na formulaccedilatildeo de

poliacuteticas externas que favoreccedilam o discurso da sauacutede em todas as suas

nuances estimulando o debate de ideacuteias e criando condiccedilotildees de

aprimoramento

Obviamente o Estado tem papel central na relaccedilatildeo da sauacutede com a

poliacutetica externa poreacutem outros atores satildeo igualmente importantes como as

251

parcerias puacuteblico-privadas as empresas e as academias de modo a que se

alcancem melhores niacuteveis de sauacutede para a sociedade nacional ou

internacional

Aleacutem disso observa-se a interdisciplinaridade da sauacutede com accedilotildees

intersetoriais envolvendo aleacutem do Ministeacuterio da Sauacutede e o Ministeacuterio das

Relaccedilotildees Exteriores o Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo e o

Ministeacuterio do Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Nesse sentido deve-se

buscar maior transparecircncia nos objetivos fluidez na conduccedilatildeo das poliacuteticas

integradas aleacutem do engajamento dos atoresgestores nacionais e

internacionais evitando interesses corporativistas que impeccedilam integraccedilotildees

regionais e o fortalecimento muacutetuo nas condiccedilotildees de sauacutede puacuteblica

Parafraseando Oswaldo Cruz a ciecircncia faz as naccedilotildees fortes Poreacutem na

atualidade a ciecircncia se expande fortalece e integra paiacuteses Dito isto a ciecircncia

e o poder da sauacutede natildeo soacute fazem as naccedilotildees mais fortes como fortalecem a

sua integraccedilatildeo das naccedilotildees baseada em objetivos humanitaacuterios e em condiccedilotildees

de bem-estar socioeconocircmico

Hoje um seacuteculo depois da afirmaccedilatildeo de Oswaldo Cruz percebemos que

essa noccedilatildeo ateacute entatildeo aceita como incontestaacutevel foi contestada natildeo eacute mais a

riqueza de uma naccedilatildeo que leva agrave sauacutede Eacute a sauacutede que se estabelece como

parte endoacutegena da geraccedilatildeo da riqueza e da forccedila de uma naccedilatildeo Note que natildeo

nos detemos no conceito de forccedila como algo beacutelico voltado para a seguranccedila

ou para a guerra tiacutepico da abordagem realista das relaccedilotildees internacionais A

forccedila e a riqueza emergem no sentido do protagonismo entre os pares em que

as vulnerabilidades tecnoloacutegicas e produtivas satildeo combatidas com base no

fortalecimento da capacidade cientiacutefica e tecnoloacutegica das naccedilotildees

Vale destacar que as parcerias brasileiras e demais paiacuteses do Sul que

visam o acesso ao conhecimento e aos bens e insumos voltados para a sauacutede

vinculam-se a projetos estruturantes promotores e incentivadores do

desenvolvimento autocircnomo do paiacutes parceiro O que pode ser traduzido como

fase inicial e vinculante para uma situaccedilatildeo de maior equiliacutebrio entre os paiacuteses

excluindo a perspectiva de submissatildeo aos ditames ateacute entatildeo observados na

relaccedilatildeo entre os paiacuteses do Norte e paiacuteses do Sul sugerindo que transferecircncias

252

de tecnologia e cooperaccedilotildees teacutecnicas internacionais requerem um paiacutes

receptor com condiccedilotildees adequadas para sustentar a curto e meacutedio prazos a

nova fase tecnoloacutegica Situaccedilatildeo essa ainda observada na totalidade dos paiacuteses

do eixo Sul-Sul em funccedilatildeo da heterogeneidade das condiccedilotildees assimeacutetricas

econocircmicas e produtivas

Foram observados neste estudo resultados ainda iniciais no que se

refere agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica internacional Entretanto o CEIS projeta o Brasil

diferenciando o Paiacutes e projetando-o como protagonista nas relaccedilotildees entre os

paiacuteses do eixo Sul-Sul notadamente os destacados neste estudo paiacuteses da

Ameacuterica do Sul da Ameacuterica Central e paiacuteses africanos

A ainda incipiecircncia dos resultados observados pode ser justificada em

funccedilatildeo da contemporaneidade do tema na agenda da recente implantaccedilatildeo das

poliacuteticas nacionais de CTampIS e das caracteriacutesticas produtivas particulares dos

segmentos do CEIS (da maturaccedilatildeo da PampD ao processo produtivo do insumo

para a sauacutede como eacute o caso da produccedilatildeo de faacutermacos)

Portanto a discussatildeo efetiva acerca da cooperaccedilatildeo internacional em

sauacutede eacute recente assim como o reconhecimento do CEIS como propulsor do

desenvolvimento e das condiccedilotildees de sauacutede Considerando a inevitabilidade da

ordem global onde a globalizaccedilatildeo e o capitalismo orientam fortemente os

ditames econocircmicos poliacutetico e internacionais o CEIS eacute restrito se pensado

unicamente entre fronteiras Ao contraacuterio ganha forccedilas se ultrapassaacute-las

tornando-se mais forte para superar as vulnerabilidades e fragilidades

tecnoloacutegicas frutos das assimetrias que imperam no sistema mundial

Portanto o CEIS eacute um recurso que estabelece como possiacutevel a relaccedilatildeo social e

a poliacutetica econocircmica exercendo-se como uma referecircncia no contexto

geopoliacutetico e econocircmico nas questotildees relacionadas agrave sauacutede e

simultaneamente induzindo e estabelecendo o desenvolvimento nacional

assim como o desenvolvimento regionalinter-regional

Em funccedilatildeo do contexto internacional em implantaccedilatildeo em que o

desenvolvimento se sustenta sob as bases das condiccedilotildees humanas ndash o que

pode ser evidenciado nas diretrizes nos consensos e pactos internacionais

formulados - haacute ainda muito a ser refletido sobre a nova abordagem da sauacutede

253

global e sobre os paradigmas relacionados aos temas sociais (sauacutede) e

econocircmicos onde o Estado se insere em uma perspectiva ampliada ao mesmo

tempo em que necessita consolidar novos conhecimentos novas tecnologias e

capacidades produtivas em prol da sauacutede puacuteblica interna A atuaccedilatildeo do Estado

portanto aleacutem de focar na conduccedilatildeo e no fortalecimento dos seus interesses

nacionais deve convergir sua atuaccedilatildeo em conformidade com os interesses

pactuados em foros internacionais e junto aos demais atores externos

fortalecendo seu posicionamento na poliacutetica externa

Projetos e parcerias focadas em relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo humanitaacuteria e

doaccedilotildees satildeo observados com maior frequecircncia entre o Brasil e os paiacuteses

analisados neste estudo O que demonstra o caraacuteter humanitaacuterio assumido

pelo Brasil junto aos paiacuteses mais necessitados

Entretanto uma vertente natildeo estaacute desvinculada da outra isto eacute a

cooperaccedilatildeo com perfil humanitaacuterio natildeo inibe a condiccedilatildeo de existecircncia da

cooperaccedilatildeo teacutecnica internacional Poreacutem condiccedilotildees assimeacutetricas das

capacidades produtivas de cada paiacutes podem justificar timing e condiccedilotildees

diferentes de assimilaccedilotildees dos projetos em parcerias

Vale destacar que haacute um longo caminho a percorrer

Poreacutem em sentido mais positivo alguns resultados provenientes de

esforccedilos do Brasil voltados para paiacuteses que natildeo tecircm condiccedilotildees de promover o

desenvolvimento e o fortalecimento da sua base produtiva para a sauacutede

podem ser destacados como exemplos concretos no sentido de ampliar o

acesso a medicamentos [185]

O estudo destacou experiecircncias exitosas relacionadas agrave cooperaccedilatildeo

internacional em sauacutede no que se refere aos temas HIVAIDS e Bancos de

Leite Humanos

Quanto ao primeiro tema a Aacutefrica eacute a principal referecircncia de cooperaccedilatildeo

brasileira Em que o destaque atualmente eacute a instalaccedilatildeo da faacutebrica de

medicamentos do governo de Moccedilambique para a produccedilatildeo de antirretrovirais

185

Como eacute o caso dos medicamentos para as doenccedilas negligenciadas Em relaccedilatildeo ao Mal de

Chagas o Brasil se estabeleceraacute como provedor mundial de medicamentos em funccedilatildeo da associaccedilatildeo de

laboratoacuterios puacuteblicos e privados e da parceria com a Organizaccedilatildeo Meacutedico Sem Fronteiras

254

e outros medicamentos (antibioacuteticos antianecircmicos anti-hipertensivos

antiinflamatoacuterios hipoglicemiantes diureacuteticos antiparasitaacuterios e

corticosteroacuteides) medicamentos esses que tenderatildeo a atender as demandas

de outros paiacuteses africanos aleacutem da instalaccedilatildeo de um escritoacuterio da Fiocruz em

Moccedilambique com potencial para fortalecer cooperaccedilotildees em sauacutede com o

continente africano

Quanto aos Bancos de Leite Humanos referecircncia da Fiocruz este tema

eacute a principal referecircncia de cooperaccedilatildeo na dimensatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica

com a Ameacuterica Latina e Caribe

Accedilotildees poliacuteticas e atuaccedilatildeo das Comissotildees Intergovernamentais focadas

ao acesso universal a medicamentos e ao fortalecimento da capacidade

produtiva regional tecircm resultado em compromissos pactuados entre os paiacuteses

partiacutecipes do Mercosul da Unasul e da CPLP Dentre eles a criaccedilatildeo do ISAGS

representa uma importante estrateacutegia que alia a coalizatildeo entre a expertise da

sauacutede e da diplomacia dos paiacuteses partiacutecipes da Unasul cuja defesa pela

sauacutede incluindo o fortalecimento do CEIS eacute o seu principal mote

Cuba dentre os paiacuteses da Ameacuterica Central representa a dualidade da

cooperaccedilatildeo internacional brasileira Sua importacircncia estaacute na oferta e na

demanda por accedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses destacando-se acordos de

cooperaccedilatildeo para a promoccedilatildeo da capacitaccedilatildeo tecnoloacutegica do CEIS focados em

produtos de alto valor tecnoloacutegico agregado

Este estudo reconhece o papel estrateacutegico que a Fundaccedilatildeo Oswaldo

Cruz vem exercendo no contexto desta anaacutelise ldquotida como Instituiccedilatildeo Puacuteblica

Estrateacutegica de Estado para a Sauacutede alinhada ao conceito de sauacutede e

diplomaciardquo As principais e a grande maioria das accedilotildees aqui evidenciadas satildeo

protagonizadas por essa instituiccedilatildeo que se destaca internacionalmente com

accedilotildees de grande efetividade estruturaccedilatildeo e transformaccedilatildeo junto aos paiacuteses do

eixo Sul-Sul

Portanto ainda que partam de uma premissa adequada ndash o

desenvolvimento produtivo nacional e a sustentabilidade de suas accedilotildees as

recomendaccedilotildees para a inter-relaccedilatildeo da sauacutede com as relaccedilotildees internacionais

255

tornar-se-atildeo utoacutepicas se natildeo forem adequadamente conciliadas entre os

diversos atores envolvidos Estado instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas e

sociedade civil Accedilotildees que passam pela negociaccedilatildeo da balanccedila comercial de

salvaguardas e de incentivos para proteccedilatildeo da praacutetica do dumping estiacutemulos agrave

produccedilatildeo interna acordos que promovam poliacuteticas que otimizem o aumento de

emprego no setor negociaccedilatildeo de assistecircncia econocircmica e financeira para o

enraizamento das empresas nacionais regulaccedilatildeo e marco regulatoacuterio

transparente poder de compra garantido garantia agrave sustentabilidade

ambiental atendimento prioritaacuterio agraves demandas da sociedade e do SUS dentre

outras

Essas satildeo diretrizes repletas de bom senso mas tornam-se

incompatiacuteveis se natildeo houver coesatildeo entre os atores envolvidos O discurso

dividido movimenta as forccedilas que presidem suas accedilotildees para direccedilotildees

divergentes e opostas entre si

Finalmente este trabalho natildeo tem a pretensatildeo de esgotar o tema em

questatildeo tampouco eacute conclusivo em si mesmo Entretanto oferece subsiacutedios

para novas linhas de pesquisa ampliando alternativas para novos campos de

discussatildeo Apresenta referecircncias e indicaccedilotildees para reflexotildees quanto ao

desenvolvimento cientiacutefico tecnoloacutegico como um meacutetodo apropriado para

enfrentar questotildees complexas como a sauacutede inserida no contexto das relaccedilotildees

internacionais

Os capiacutetulos apresentados neste estudo a partir de pesquisa

exploratoacuteria tecircm no Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede sua principal

linha condutora Nesse sentido procuramos ampliar a discussatildeo da relaccedilatildeo

intriacutenseca do CEIS com as Relaccedilotildees Internacionais

A Figura 7 a seguir representa os principais elementos destacados no

decorrer desta tese que impactam desafiam e estimulam essa relaccedilatildeo

256

Figura 7 CEIS e Relaccedilotildees Internacionais Categorias Centrais

Elaboraccedilatildeo Proacutepria

Isso posto observamos que o CEIS permite o diaacutelogo entre as teorias

das Relaccedilotildees Internacionais apresentando-se sob a perspectiva humanitaacuteria e

social projetada pela Sociedade Internacional e estabelecendo-se mais

claramente na visatildeo da Economia Poliacutetica Internacional em que se descreve a

perspectiva da inserccedilatildeo brasileira no contexto internacional na interaccedilatildeo

complexa entre poliacutetica e economia entre Estados e mercados 142024 e em que

o poder efetivo do Estado no sistema internacional eacute inversamente proporcional

a sua vulnerabilidade externa 22

Ganha destaque neste estudo o impacto da economia mundial de

mercado sobre as relaccedilotildees dos Estados e as maneiras pelas quais esses

257

Estados tentam tirar vantagem influenciando as forccedilas de mercado 1420 Essa

evidecircncia tem relaccedilatildeo direta com o exerciacutecio efetivo do CEIS

Sob mais uma perspectiva o CEIS encontra na questatildeo da soberania

estatal instituiccedilatildeo estrateacutegica que move o funcionamento hieraacuterquico do poder

global uma estreita relaccedilatildeo entre o desenvolvimento econocircmico e a

sustentabilidade da soberania

Poreacutem relaccedilotildees assimeacutetricas de poder proporcionam fontes de

influecircncia frente agraves relaccedilotildees com os demais atores Logo a interdependecircncia

assimeacutetrica gera relaccedilotildees de poder de um ator sobre os demais 35 O CEIS eacute

desafiado para promover potencialidades para superaccedilatildeo de assimetrias

tecnoloacutegicas assimetrias econocircmicas e de poder provocadas pela

globalizaccedilatildeo a partir de abordagens que promovam o conhecimento e a

inovaccedilatildeo como fatores determinantes das transformaccedilotildees estruturais e do

dinamismo econocircmico

Como consequecircncia observamos no decorrer deste estudo que o

Estado ganha potencialidade na agenda contemporacircnea e na relaccedilatildeo de poder

O exerciacutecio do seu papel poliacutetico eacute central na induccedilatildeo das mudanccedilas nacionais

em uma relaccedilatildeo direta com as estruturas econocircmicas e poliacuteticas internacionais

Logo o CEIS a partir do entendimento do papel estrateacutegico desempenhado

pelo Estado encontra-se inserido na essecircncia das relaccedilotildees internacionais

Em que pesem o pluralismo mundial e a respectiva inserccedilatildeo do Paiacutes no

contexto internacional esta tese ressalta algumas questotildees como

fundamentais para o posicionamento efetivo e sustentaacutevel do CEIS no contexto

das relaccedilotildees internacionais aliando a loacutegica econocircmica e social com o

determinismo na criaccedilatildeo de oportunidades para o desenvolvimento local e

nacional assim como regional inter-regional e global Satildeo fundamentais

portanto (a) o posicionamento do Paiacutes no contexto geopoliacutetico e econocircmico

internacional (b) a base de conhecimentos (c) a estrutura produtiva (d) o niacutevel

de desenvolvimento (e) a relaccedilatildeo de bem-estar social e (f) a interaccedilatildeo dos

segmentos produtivos e de serviccedilos no escopo dos esforccedilos puacuteblicos e

privados nacionais em prol do fortalecimento do desenvolvimento produtivo e

inovativo

258

Fundamenta-se portanto a ligaccedilatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial

da Sauacutede na relaccedilatildeo entre a poliacutetica e a economia o desenvolvimento e a

natureza da extensatildeo da globalizaccedilatildeo

A questatildeo do CEIS eacute portanto fio condutor expliacutecito e impliacutecito na

abordagem da economia poliacutetica internacional na medida em que sinaliza as

categorias centrais que se mesclam agrave discussatildeo contemporacircnea das relaccedilotildees

internacionais e da poliacutetica externa globalizaccedilatildeo e localizaccedilatildeo relaccedilotildees

puacuteblico-privadas vulnerabilidades externas e internas assimetrias

tecnoloacutegicas econocircmicas e de poder soberania e estado de Bem-estar

Finalmente sob os argumentos da poliacutetica externa brasileira

apresentados no decorrer desta tese o CEIS a partir do seu caraacuteter

estrateacutegico exerce potencialidades para destacar o Brasil na agenda

internacional com as naccedilotildees do Sul baseadas no exerciacutecio das cooperaccedilotildees

multilaterais e nos laccedilos horizontais

Esperamos portanto que esta tese possa contribuir fornecendo

subsiacutedios para provocar reflexotildees quanto agrave importacircncia e ao papel do CEIS na

agenda da poliacutetica externa brasileira e quanto agrave sua representatividade

estrateacutegica nacional e internacional notadamente junto aos paiacuteses do eixo

Sul-Sul seja na luta contra as vulnerabilidades econocircmicas e tecnoloacutegicas que

comprometem a sauacutede das sociedades seja no fortalecimento nacional

regional e inter-regional seja no estabelecimento do Paiacutes como naccedilatildeo solidaacuteria

e cooperante

259

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ANEXO I

Relaccedilatildeo de Descritores

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir da Biblioteca Virtual em Sauacutede

Descritor Traduccedilatildeo (InglecircsEspanhol)

Interpretaccedilatildeo

Cooperaccedilatildeo Internacional

Cooperacioacuten Internacional ndash International Cooperation

ldquoInteraccedilatildeo de pessoas ou grupos de pessoas que representam vaacuterias naccedilotildees na busca de uma meta ou interesse comumrdquo

Agecircncias Internacionais

Agencias Internacionales ndash International Agencies

ldquoOrganizaccedilotildees internacionais que cooperam teacutecnica eou financeiramente no campo da sauacutede ou em outros campos com finalidade de desenvolver poliacutetica programa eou projetos nos acircmbitos federal estadual ou municipalrdquo

Negociaccedilatildeo Negociacion - Negotiation ldquoO processo de barganha para chegar a um acordo ou a um meio-termo em uma questatildeo de importacircncia para as partes envolvidas Tambeacutem se aplica agrave audiecircncia ou resoluccedilatildeo de um caso por uma terceira parte escolhida pelas partes em desacordo assim como agrave interposiccedilatildeo de uma terceira parte para conciliar as partes em desacordordquo

Pol e Coop em Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo

Poliacuteticas y Cooperacioacuten em Ciecircncia Tecnologia y Innovacioacuten

ldquoConjunto de Poliacuteticas planos e programas de cooperaccedilatildeo em ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeordquo

Poliacutetica Nacional de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo

Poliacutetica Nacional de Ciecircncia Tecnologia y Innovacioacuten ndash National Science Technology and Innovation Policy

ldquoConjunto de elementos orientadores de atividades cientificas e tecnoloacutegicas nacionais de forma a interagir com o setor produtor de bem e serviccedilos e contribuir para a soluccedilatildeo de problemas que conduza ao desenvolvimento do Paiacutesrdquo

Poliacutetica de Inovaccedilatildeo e Desenvolvimento

Poliacutetica de Innovacioacuten y Desarrollo - Innovation and Development Policy

ldquoOrientaccedilotildees sobre a abordagem da cultura de inovaccedilatildeo nas empresas atraveacutes de accedilotildees concretas de e desenvolvimento de estrateacutegias tecnoloacutegicas de longo prazordquo

Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede

Poliacuteticas Puacuteblicas de Salud ndash Health Public Policy

ldquoConjunto de accedilotildees disposiccedilotildees legais e orccedilamentaacuterias geradas no marco de procedimento e instituiccedilotildees governamentais Satildeo legitimadas atraveacutes de legislaccedilotildees ou regulaccedilotildees e promovem mudanccedilas no comportamento de instituiccedilotildees e indiviacuteduos em relaccedilatildeo a um problema setorial ou temaacuteticordquo

Poliacutetica de Sauacutede

Poliacutetica de Salud ndash Health Policy

ldquoDecisotildees geralmente desenvolvidas por formuladores de poliacuteticas do governo para definiccedilatildeo de objetivos imediatos e futuros do sistema de sauacutedeldquo

Induacutestria Induacutestria ndash Industry ldquoConjunto de empresas de manufatura ou de produccedilatildeo teacutecnica em uma aacuterea particular frequentemente denominado segundo seu produto principal como induacutestria automobiliacutestica induacutestria do accedilo Inclui a propriedade e a administraccedilatildeo de companhias faacutebricas plantas industriais etcrdquo

Organizaccedilatildeo Internacional

Organizacioacuten Internacional - International Organization

Apesar de constar na BVS natildeo haacute definiccedilatildeo atribuiacuteda para o termo

Gestatildeo de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede

Gestioacuten de Ciecircncia Tecnologia e Innovacion em Salud ndash Health Sciences Technology and Innovation

Apesar de constar na BVS natildeo haacute definiccedilatildeo atribuiacuteda para o termo

Page 2: O Estado e as Relações Internacionais: O Complexo

ii

Esta tese intitulada

ldquoO Estado e as Relaccedilotildees Internacionais O Complexo Econocircmico-

Industrial da Sauacutede na relaccedilatildeo de influecircncia muacutetua entre as agendas

interna e externa do Brasilrdquo

apresentada por

Sandra Pereira Soares

foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros

Profordf Drordf Monica Sutton

Prof Dr Leonardo Marco Muls

Prof Dr Marcus Vinicius Siqueira

Prof Dr Joseacute Manuel Santos de Varge Maldonado

Prof Dr Carlos Augusto Grabois Gadelha ndash Orientador

Tese defendida e aprovada em 30 de novembro de 2012

iii

Catalogaccedilatildeo na fonte

Instituto de Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

Biblioteca de Sauacutede Puacuteblica

S676 Soares Sandra Pereira

O Estado e as Relaccedilotildees Internacionais O Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede na relaccedilatildeo de influecircncia muacutetua

entre as agendas interna e externa do Brasil Sandra Pereira

Soares -- 2012

xxiv274 f il tab graf

Orientador Gadelha Carlos Augusto Grabois

Tese (Doutorado) ndash Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio

Arouca Rio de Janeiro 2012

1 Estado 2 Desenvolvimento Econocircmico 3 Poliacuteticas e

Cooperaccedilatildeo em Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo

4 Vulnerabilidade 5 Cooperaccedilatildeo Internacional 6 Cooperaccedilatildeo

Horizontal 7 Poliacutetica Externa 8 Globalizaccedilatildeo 9 Agenda Sul-

Sul I Tiacutetulo

CDD ndash 22ed ndash 3621

iv

A U T O R I Z A Ccedil Atilde O

Autorizo exclusivamente para fins acadecircmicos e cientiacuteficos a

reproduccedilatildeo total ou parcial desta tese por processos

fotocopiadores

Rio de Janeiro 30 de novembro de 2012

________________________________

Sandra Pereira Soares

v

ldquoMeditai se soacute as naccedilotildees fortes podem fazer ciecircncia ou se eacute a ciecircncia que as faz fortesrdquo

Oswaldo Cruz

vi

Aos meus pais

vii

Agradecimentos

Estes uacuteltimos quatro anos (e mais ldquo25920000 segundosrdquo) foram tatildeo

intensos e tatildeo representativos em minha vida que estabeleceram sobre mim

uma nova percepccedilatildeo sobre o futuro Paradigmas foram quebrados e no lugar

estabeleceram-se perspectivas para novas construccedilotildees Pilares foram

destruiacutedos pilares reconstruiacutedos e construiacutedos novos para uma vida inteira

Estando nesse grande canteiro de obras natildeo me senti sozinha Nunca

estive sozinha Foram tantas matildeos tantos olhares amigos e solidaacuterios tantos

carinhos tantas palavras tanta forccedila tanta orientaccedilatildeo tantas surpresas e

tantos puxotildees de orelha necessaacuterios por sinal

Ao reconhecer a generosidade do ser humano e do ser amigo com a

qual fui brindada por tantos presto a minha mais sincera homenagem

declarando o quanto sou grata pela existecircncia de cada um em minha vida

tentando fazer refletir a emoccedilatildeo que transborda em meu sentimento por vocecircs

em cada palavra que segue

A todos a minha gratidatildeo e o meu carinho

Ao meu Orientador e aos professores da Banca o meu sincero e

agradecido reconhecimento

Cariacutessimo Dr Gadelha honra-me a oportunidade de ter sido sua aluna e

a sua franca e querida amizade Sou grata por ter acreditado nesta profissional

discente que queria falar de sauacutede como questatildeo de defesa e soberania

nacional Sou grata por ter expandindo o meu olhar e tambeacutem por ensinar-me a

focalizar esse mesmo olhar A sua respeitosa trajetoacuteria profissional e sua

prestigiada competecircncia fizeram com que eu me sentisse privilegiada por tecirc-lo

como orientador E o mais importante o seu comprometimento entusiasmado

com a sauacutede eacute contagiante Como sua orientanda fui ldquocontaminadardquo Principal

sintoma brilho no olhar Muito obrigada por oferecer a oportunidade de que os

meus olhos brilhassem com os horizontes (que nesta tese satildeo internacionais)

do Complexo que eacute tatildeo complexo

A cada um dos professores da banca sinto um grande respeito e

admiraccedilatildeo pela competecircncia e pelo comprometimento profissional e

viii

acadecircmico ao mesmo tempo em que nutro por cada um uma carinhosa

amizade Agradeccedilo sinceramente a participaccedilatildeo de vocecircs

Querida Dra Mocircnica sempre disponiacutevel vocecirc que tanto me ouviu

acolheu e me acalmou sua objetividade suas dicas e suas preocupaccedilotildees

amigas foram satildeo e seratildeo sempre muito preciosas para mim

Dr Maldonado sempre muito franco e objetivo a sua disponibilidade

amiga seu pronto comprometimento e suas sugestotildees praacuteticas foram por

demais importantes

Dr Leonardo professor que tambeacutem se tornou um querido amigo

Sempre atento e comprometido muito me ajudou com sua leitura cuidadosa e

seus comentaacuterios precisos

Dr Marcus Vinicius amigo querido profissional ilibado mais do que um

professor um companheiro A sua disposiccedilatildeo em estar em minha banca a sua

preocupaccedilatildeo com os meus prazos e seus comentaacuterios preciosos refletem a

pessoa que vocecirc eacute

Dr Jorge Costa cariacutessimo profissional e querido amigo sou muito grata

por sua pronta e gentil disponibilidade em participar desta missatildeo com os

prazos de leitura tatildeo exiacuteguos Gentileza que reconheccedilo e agradeccedilo muito

Dr Willer que tanto me ouviu na construccedilatildeo do meu projeto de

qualificaccedilatildeo o meu reconhecimento ldquoaquelardquo longa conversa foi um ldquomarcordquo

Gostaria de poder ldquofalarrdquo com cada um que esteve comigo quebrando os

paradigmas e solidificando os pilares desta nova construccedilatildeo Gostaria que as

palavras traduzissem a importacircncia que cada um teve nessa etapa da minha

vida Entretanto natildeo poderei estender-me natildeo porque eu natildeo queira mas

porque teria que incorporar muitas e muitas paacuteginas a esta tese e mesmo

assim natildeo conseguiria expressar tudo que penso e sinto por cada um de

vocecircs meus amigos e companheiros

Agrave Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz o meu prazer por fazer parte Muito

obrigada pela oportunidade

ix

Agrave Vice-Presidecircncia de Produccedilatildeo e Inovaccedilatildeo em Sauacutede o meu

reconhecimento agradecido

Ao Vice-Presidente Dr Bermudez sou grata por ter o seu apoio e sua

autorizaccedilatildeo para continuidade do meu afastamento das minhas atividades

laborais Proporcionou-me condiccedilotildees para que a finalizaccedilatildeo deste estudo fosse

factiacutevel

Ao Jorge Costa sem o seu apoio amigo natildeo sei o que teria acontecido

Sua autorizaccedilatildeo proporcionou-me o focirclego necessaacuterio para que a construccedilatildeo

tomasse forma Obrigada de coraccedilatildeo

Agraves companheiras amigas e queridas da Assessoria Gabi Rita e Rosi

sempre positivas Agradeccedilo sinceramente a forccedila e o companheirismo

fraterno e profissional

Querida Silvania amiga que tanto me ouviu e que cuidou com especial

zelo dos meus processos institucionais agradeccedilo de coraccedilatildeo as palavras

carinhosas e todo o apoio recebido

Mansur agradeccedilo a fraterna torcida e as longas conversas sobre

construccedilotildees e (re) construccedilotildees

Carlinha sempre disponiacutevel sempre companheira e amiga muito

obrigada por toda a forccedila pelo apoio constante (em todos os momentos deste

curso de doutorado) pelas longas conversas e por todo carinho que vocecirc tem

me dado

Marcelo e Adriana agradeccedilo o carinho e a torcida

Querida Laiacutes amiga e companheira de artigos do corpo discente de

trabalho e de pesquisa o seu desprendimento foi-me muito caro Solidaacuteria e

preocupada com os meus prazos mesmo atolada de serviccedilos vocecirc teve tempo

para me apoiar nesta construccedilatildeo Obrigada de coraccedilatildeo

Paulinha companheira de artigos e tambeacutem com forte desprendimento

Agradeccedilo o apoio Agradeccedilo a torcida

x

Socircnia e Marluce do DAPS valeu toda a forccedila Eacute muito gratificante

quando encontramos profissionais que se envolvem e torcem pelos alunos E

vocecircs satildeo assim

Ao Serviccedilo de Gestatildeo Acadecircmica da ENSP especialmente

representado por Ceciacutelia Eduardo e Faacutebio agradeccedilo a paciecircncia o apoio

recebido em todos os momentos (e em especial ldquonaquelerdquo periacuteodo mais

complicado) Sou grata pela gentil presteza

Agrave Coordenaccedilatildeo de Poacutes-Graduaccedilatildeo o meu muito obrigado pela

compreensatildeo e por todo o apoio recebido

Queridiacutessimas amigas da turma de doutorado especialmente Andreacutea

Angeacutelica Helena Ialecirc Camila Acircndrea e Ana Paula foram tantas as

emoccedilotildees Posso afirmar com toda certeza sem o apoio sem a torcida sem

os puxotildees de orelha sem as tantas e tantas conversas sem o

compartilhamento de artigos sem as discussotildees sem os ldquoombrosrdquo e sem a

amizade de vocecircs teria sido muito mas muito mais difiacutecil terminar esse curso

Obrigada por terem sido vocecircs a existirem no curso da minha vida

Dr Henry Jouval por quem nutro admiraccedilatildeo e respeito suas ideacuteias

nossas conversas sua leitura cuidadosa do meu projeto de qualificaccedilatildeo e suas

preciosas dicas fundamentarem os novos pilares na minha construccedilatildeo

Agradeccedilo de forma muito especial a sua amizade a sua gentileza a sua

sempre disponibilidade e o seu carinho com os quais sempre fui brindada por

vocecirc

Querida Caacutetia profissional a quem devo o meu reconhecimento e o meu

agradecimento por todas as reflexotildees feitas nos uacuteltimos anos Algumas

ldquoparedesrdquo foram derrubadas com sua ajuda e a construccedilatildeo foi se ampliando E

ganhando mais solidez Obrigada

Querida Emiacutelia amiga especial que daacute chamada que daacute colo que chora

junto que sorri junto que sacode e que torce Agradeccedilo as longas conversas

Agradeccedilo a sua amizade Agradeccedilo o seu carinho

xi

Jorge ldquoMcFlyrdquo estimado amigo da Fiocruz e companheiro de longa

jornada agradeccedilo natildeo ter desistido desta amiga (e espero que ainda consiga

se lembrar de mim) Grata por sua fraterna e carinhosa torcida

Ivonete reconheccedilo a sua paciecircncia Sou grata a vocecirc por ter escutado

tantas vezes as minhas apreensotildees e expectativas Sei que sua torcida eacute muito

amiga Obrigada

Zeacute Paulo amigo querido por quem tenho especial carinho e admiraccedilatildeo

pelo profissional e pela pessoa que eacute Suas chamadas para que eu natildeo

perdesse o ldquofocordquo para que eu parasse de ldquoler ler e lerrdquo e passasse a

ldquoescrever escrever e escreverrdquo foram traduzidas por mim como uma

preocupaccedilatildeo carinhosa genuiacutena e amiga refletindo uma grande torcida

Obrigada de coraccedilatildeo

Querido Naldo sempre espirituoso Nossas conversas regadas a

gargalhadas foram muito produtivas Representaram momentos que

oxigenaram periacuteodos conturbados de minha vida e momentos que deram mais

cor a periacuteodos coloridos Agradeccedilo a sua torcida amiga e sua amizade

carinhosa Agradeccedilo tambeacutem as longas conversas com a ldquoBelrdquo Aos almoccedilos

vindouros que venham com muita frequecircncia

Moniquita amiga generosa companheira solidaacuteria e querida Rimos e

choramos juntas Sou privilegiada por ter construiacutedo este trabalho no mesmo

periacuteodo que a nossa amizade foi construiacuteda Os pilares dela seratildeo soacutelidos Jaacute

satildeo soacutelidos Obrigada por sua paciecircncia pelas conversas tatildeo amigas e tatildeo

francas Obrigada pelas risadas Obrigada por ajudar-me na (re) construccedilatildeo da

minha vida

Marquinhos e Marcelinho generosos queridos e apaixonantes amigos

sei o quanto se importam comigo sei o quanto sou agraciada pela torcida e

pela amizade de vocecircs E esse sentimento faz toda a diferenccedila Saibam que

amo vocecircs hoje e sempre

Fatinha querida com seu jeito uacutenico de ser sua torcida ldquoa la Fatinhardquo eacute

muito especial para mim Sempre juntas desde pequeninas Obrigada por se

preocupar com minha felicidade minha querida prima e irmatilde de coraccedilatildeo

xii

D Leila Noira Lulu e Mauricio tatildeo amados por mim algumas estruturas

que representavam tanto foram destruiacutedas e alguns pilares perdidos

Reconstruccedilotildees satildeo necessaacuterias e sustentam-se com o amor existente com a

torcida presente e com o carinho sentido A nossa relaccedilatildeo eacute sob essas bases

Joseacute Mauriacutecio agradeccedilo a vocecirc a fraterna torcida O meu muito obrigado

por sua sempre disponibilidade e por sua amizade de tantos anos Nutro por

vocecirc um carinho muito grande e uma forte torcida que se estendem por toda

uma vida

O mais importante eacute a constataccedilatildeo de que a estrutura da vida estaacute na

solidez dos pilares que a compotildeem Alguns satildeo fundamentais Satildeo centrais

Sem eles nada teria razatildeo Sem eles nada teria sustentaccedilatildeo Meus pilares

Zaida e Antonio minha matildee e meu pai Razotildees da minha existecircncia A quem

devo tudo De quem me orgulho A quem dedico e recebo amor de forma

incondicional Do colo que eu nasceria um milhatildeo de vezes Amo vocecircs

Obrigada por existirem na minha vida Obrigada por eu ser da vida de vocecircs

Tenho um ldquopar-pilarrdquo Algo do tipo ldquocoluna duplardquo sustentaccedilatildeo

necessaacuteria Sem esse pilar a minha construccedilatildeo ficaria igual a da Torre de Pisa

tortinha Sem a sua torcida seu olhar seu carinho suas defesas seu amor eu

seria incompleta Obrigada por existir minha irmatilde Te amo Bel

Eis que surge um pequeno pilar na minha vida Sua existecircncia se daacute no

decorrer do meu doutorado E eu me pergunto ldquocomo passei a vida inteira sem

esse pilarrdquo Querida Alecirc a titia dedica um amor lindo e um agradecimento

especial a vocecirc que tomou conta dos coraccedilotildees da nossa famiacutelia e ldquosequestrourdquo

o meu no primeiro olhar Um beijo meu amor

E eis que surge mais um pilar Um lindo e moreno pilar Surge em um

momento tatildeo complicado tatildeo necessaacuterio Fez-me sentir ldquoestruturadardquo especial

querida e muito amada E eacute querido eacute especial e eacute muito amado A vocecirc

Mauriacutecio dedico de forma especial o meu amor

E de todos os agradecimentos o principal faccedilo a Deus Ao grande

Arquiteto dedico o meu maior reconhecimento

xiii

Resumo

Esta tese aborda a inter-relaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais com as relaccedilotildees internacionais onde a correlaccedilatildeo do poder e da sauacutede estaacute presente e eacute vislumbrada principalmente no papel do Estado no contexto das relaccedilotildees internacionais e na influecircncia da globalizaccedilatildeo e de seus impactos sobre a poliacutetica de sauacutede - em particular sobre o Complexo Econocircmico- Industrial da Sauacutede (CEIS) ndash conjunto de atividades produtivas e de serviccedilos que pautam uma relaccedilatildeo sistecircmica entre setores industriais e os prestadores de serviccedilos em sauacutede - e na sua respectiva correlaccedilatildeo com a conduccedilatildeo da poliacutetica externa do Paiacutes Subsidia a aproximaccedilatildeo do campo da sauacutede com o do desenvolvimento nacional e regional caminhando em um sentido duplo de um lado traz a agenda de desenvolvimento para o campo da sauacutede e de outro fornece pistas de como as accedilotildees em sauacutede podem contribuir para uma perspectiva mais geral de desenvolvimento e integraccedilatildeo onde as demandas exercidas por influecircncias poliacutetico-econocircmicas na arena internacional tecircm poder significativo na conduccedilatildeo de poliacuteticas nacionais e na conduccedilatildeo da poliacutetica externa do Paiacutes

Dada a contemporaneidade do tema este estudo eacute fundamentado em pesquisas documentais e descritivas de natureza exploratoacuteria com base na anaacutelise das informaccedilotildees disponibilizadas em publicaccedilotildees ndash livros artigos legislaccedilotildees e perioacutedicos aleacutem da anaacutelise de relatoacuterios divulgados em portais governamentais e especializados e de apresentaccedilotildees de experts disponiacuteveis em domiacutenio puacuteblico

A construccedilatildeo dos capiacutetulos se desenvolve de forma ascendente em que as relaccedilotildees internacionais destacam o papel do Estado na complexidade das relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e de poderes internacionais assimeacutetricos e em que os direitos sociais e humanitaacuterios procuram se estabelecer Nesse contexto a retomada do papel estrateacutegico do Estado para o desenvolvimento nacional encontra na sauacutede e nos contornos estrateacutegicos da poliacutetica externa brasileira um contexto feacutertil para fundamentar a relaccedilatildeo virtuosa entre sauacutede e desenvolvimento em que o CEIS se estabelece a partir do pilar estrateacutegico da inovaccedilatildeo

Eacute apresentada sob o recorte geograacutefico das relaccedilotildees Sul-Sul onde se observa tendecircncia positiva para temas como a sauacutede serem considerados como elementos fundamentais para a promoccedilatildeo do desenvolvimento em estreita interaccedilatildeo e parceria com a comunidade internacional notadamente com as naccedilotildees do Sul

Em capiacutetulos subsequentes o estudo indica como resultado da relaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais e externa que o CEIS vem a partir da consolidaccedilatildeo produtiva nacional exercendo maior influecircncia na conduccedilatildeo das poliacuteticas externas da naccedilatildeo Essa constataccedilatildeo tem ocupado nos uacuteltimos anos posiccedilatildeo mais efetiva e menos secundaacuteria na formulaccedilatildeo das diretrizes que orientam a poliacutetica externa brasileira notadamente no que se refere agraves cooperaccedilotildees humanitaacuterias e agraves cooperaccedilotildees teacutecnicas internacionais Quanto agraves cooperaccedilotildees teacutecnicas internacionais satildeo pontuais as cooperaccedilotildees Sul-Sul tendo como principais balizadores questotildees como doenccedilas negligenciadas HIVAIDS e bancos de leite humanos especificamente junto aos paiacuteses do MERCOSUL da UNASUL e da CPLP

Portanto o CEIS - Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede - no Brasil estabelece-se como diferencial estrateacutegico para que nos contextos nacional regional e inter-regional sejam superadas vulnerabilidades econocircmicas assimetrias tecnoloacutegicas resguardadas as soberanias e os estados de bem-estar e potencializadas cooperaccedilotildees e negociaccedilotildees internacionais em conjunto com atores nacionais e internacionais

Palavras-chave Sauacutede Desenvolvimento Estado Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede Globalizaccedilatildeo Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede Cooperaccedilatildeo Sul-Sul Relaccedilotildees Internacionais Diplomacia em Sauacutede Poliacutetica externa Vulnerabilidade Assimetrias Tecnoloacutegicas Soberania estado de Bem-Estar

xiv

Abstract

This thesis addresses the interrelationship of national policies with international relations where the correlation of power and health is present and is envisioned primarily in the role of the state in the context of international relations and the influence of globalization and its impacts on health policy - in particular the Health Economic-Industrial Complex (CEIS) ndash set of productive and services activities that guide a systemic relation between industry activities and service providers in health ndash and in their respective correlation with the conduction of foreign policy‟s BrazilIt subsidizes the approach in the health field with the national and regional development walking in a double sense on one hand brings the development agenda for the field of health and on the other provides clues as how health actions can contribute to a more general development and integration where the demands exerted by political and economic influences in the international arena have significant power in the conduction of national policies and in the conduction of foreign policy‟s country

Given the contemporary theme this study is based on documentary and descriptive research of exploratory nature based on analysis of the information available in publications - books articles journals and Laws as well as analysis of governmental reports released on portals and specialized presentations of experts available in the public domain

The construction of the chapters is developed in ascending order where the international relations situate the role of the State in the complexity of political economic and international relationships as well as international asymmetric powers and in the social and humanitarian rights seek to be established In this context the resumption of the strategic role of the State to the national development finds in the health and strategic contours of the Brazilian foreign policy a fertile environment to support the virtuous relationship between health and development in what the Health Economic- Industrial Complex - CEIS is settled from a strategic pillar of innovation

It is presented under the cut of the geographical South-South relations which is a positive trend for subjects such as health to be considered as key elements in the promotion of the development in close interaction and partnership with the international community especially with the South nations

In the subsequent chapters the study indicates as a result of national and external policies that CEIS is exerting increasing influence on the conduction of foreign policy of the nation since the national productive consolidation In recent years this finding has occupied a more effective and less secondary position in formulating of guidelines that guide the Brazilian foreign policy especially regarding the humanitarian cooperation and international technical cooperation As for international technical cooperation the south-south cooperation are very isolated having as the main indicators issues as neglected diseases HIV AIDS and Human Milk Banks specifically at Mercosur Unasur and the ldquoCPLPrdquo

Therefore the Health Economic -Industrial Complex in Brazil establishes itself as a strategic differentiator so that the national regional and inter-regional scenarios can overcome economic vulnerabilities technological asymmetries safeguarding the sovereignty and the Welfare states as well as maximize international cooperation and negotiations along with national and international actors

Keywords Health Development State Health Economic and Industrial Complex Globalization

International Cooperation in Health South-South Cooperation International Relations Health Diplomacy

External Policy Vulnerability Technological Asymmetries Sovereignty Welfare State

xv

Lista de Siglas e Abreviaturas

AMS Assembleacuteia Mundial da Sauacutede

ABC Agecircncia Brasileira de Cooperaccedilatildeo

ABDI Agecircncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial

ACNUR Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Refugiados

ALADI Associaccedilatildeo Latino-Americana de Integraccedilatildeo

ALBA Alianccedila Bolivariana para as Ameacutericas

ALC-EU Cuacutepula Ameacuterica Latina Caribe e Uniatildeo Europeacuteia

AOD Ajuda Oficial para o Desenvolvimento

ASA Cuacutepula Ameacuterica do Sul - Aacutefrica

ASPA Cuacutepula Ameacuterica do Sul - Paiacuteses Aacuterabes

ATS Avaliaccedilatildeo de Tecnologias em Sauacutede

BBFC Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo e Controle

BIO-

MANGUINHOS Instituto de Tecnologia em Imunobioloacutegicos

BLH Banco de Leite Humano

BRICS Agrupamento Brasil Ruacutessia Iacutendia China e Aacutefrica do Sul

BVS

CampT

Biblioteca Virtual em Sauacutede

Ciecircncia e Tecnologia

CAN Comunidade Andina de Naccedilotildees

CCM Comissatildeo de Comeacutercio do Mercosul

CDC Centro para Controle e Prevenccedilatildeo de Doenccedilas

CE Comitecirc Executivo

CE Conselho Executivo (OMS)

CEIS Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

CELAC Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos

CEWG

Consultative Expert Working Group on Research and Development

Financing and Coordination

CICT Centro Internacional de Cooperaccedilatildeo Tecnoloacutegica em HIVAIDS

CID Cooperaccedilatildeo Internacional para o Desenvolvimento

CMC Conselho Mercado Comum

xvi

CPC Comissatildeo Parlamentar Conjunta

CPLP Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa

CQCT Convenccedilatildeo-Quadro para o Controle do Tabaco

CSNU Conselho de Seguranccedila das Naccedilotildees Unidas

CSS Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

CSS Conselho Sauacutede Sul-Americano

CTCampT Cooperaccedilatildeo Teacutecnica Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

CTIME Centros Teacutecnicos de Instalaccedilatildeo e Manutenccedilatildeo de Equipamentos

CTPD Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre Paiacuteses em Desenvolvimento

DNDI Iniciativa Medicamentos para Doenccedilas Negligenciadas

EB Executive Board

EPI Economia Poliacutetica Internacional

EUA Estados Unidos da Ameacuterica

FAO Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para Alimentaccedilatildeo e Agricultura

FAR-

MANGUINHOS Instituto de Tecnologia em Faacutermacos

FCES Foro Consultivo Econocircmico-Social

FHC Fernando Henrique Cardoso

FIOCRUZ Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz

FMI Fundo Monetaacuterio Internacional

FOCALAL Foacuterum de Cooperaccedilatildeo Ameacuterica Latina - Aacutesia do Leste

G-20 Grupo dos 20

G-77 Grupo dos 77

G-8 Grupo dos 8

GECIS Grupo Executivo do Complexo Industrial da Sauacutede

GMC Grupo Mercado Comum

GPP Grandes Paiacuteses Perifeacutericos

GSK Glaxo SmithKline

GTI-AHI

Grupo de Trabalho Interministerial sobre Assistecircncia Humanitaacuteria

Internacional

H1N1 Influenza A

HIB Haemophilus Influzae tipo b

IBAS Foacuterum de Diaacutelogo Iacutendia Brasil e Aacutefrica do Sul ou G-3

xvii

IBERBLH Programa Ibero-Americano de Bancos de Leite Humano

IGWG

Intergovernmental Working Group on Public Health Innovation and

Intellectual Property

IPEA Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada

ISAGS Instituto Sul-Americano de Governanccedila em Sauacutede

MCT Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo

MDIC Ministeacuterio do Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Exterior

MERCOSUL Mercado Comum do Sul

MNA Movimento dos Paiacuteses natildeo-Alinhados

MRE Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores

MS Ministeacuterio da Sauacutede

MSTI Main Science and Technology Indicators

NETHIS Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacutetica e Diplomacia em Sauacutede

OCDE Organizaccedilatildeo para Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico

OCHA Escritoacuterio das Naccedilotildees Unidas para Coordenaccedilatildeo de Assuntos Humanitaacuterios

ODM Objetivo de Desenvolvimento do Milecircnio

OMC Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

OMS Organizaccedilatildeo Munidial da Sauacutede

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OPAS Organizaccedilatildeo Pan-Americana de Sauacutede

ORIS Oficinas de Relaccedilotildees Internacionais em Sauacutede

OTCA Organizaccedilatildeo de Tratado de Cooperaccedilatildeo Amazocircnica

PampD Pesquisa e Desenvolvimento

PAC Plano de Aceleraccedilatildeo do Crescimento

PALOP Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa

PCB Programme Coordinating Board

PDP Parcerias para Desenvolvimento de Produtos

PECS Plano de Sauacutede da Comunidade de Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa

PIB Produto Interno Bruto

PITCE Poliacutetica Industrial Tecnologia e de Comeacutercio Exterior

PMA Programa Mundial de Alimentos

PNUD Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento

xviii

PNUMA Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio-Ambiente

PPD Partners in Population and Development

PPT Presidecircncia Pro-Tempore

REDSUR-

ORISS

Rede de Oficinas de Relaccedilotildees Internacionais e Cooperaccedilatildeo

Internacional em Sauacutede

RESP Rede de Escolas de Sauacutede Puacuteblica

RETS Rede de Escolas Teacutecnicas de Sauacutede

RI Relaccedilotildees Internacionais

RINC Rede de Institutos Nacionais de Cacircncer

RINS Rede de Institutos Nacionais de Sauacutede

RMS Reuniatildeo de Ministros da Sauacutede do Mercosul

SAM Secretaria Administrativa do Mercosul

SELA Sistema Econocircmico Latino-Americano de Integraccedilatildeo

SGT-11 Subgrupo de Trabalho n11

SI Sociedade Internacional

SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede

TEC Tarifa Externa Comum

TRIPS

Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados com

o Comeacutercio

UE Uniatildeo Europeacuteia

UNAIDS

Joint United Nations Programme on HIVAIDS Progama Conjunto das

Naccedilotildees Unidas sobre HIVAIDS

UNASUL Uniatildeo das Naccedilotildees Sul-Americanas

UNDP United Nations Development Programme

UNICEF Fundo das Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia

WDI World Development Indicators

WHO World Health Organization

WIPO World Intellectual Property Organization

xix

Lista de Tabelas

Tabela 1 ndash As Principais Economias no Mundo (PIB) ndash 2011

090

Tabela 2 ndash Orccedilamento Governamental em PampD - objetivo socioeconocircmico ldquoSauacutede e Meio-Ambienterdquo Brasil e OCDE 2000-2011

092

Tabela 3 ndash Redes de Instituiccedilotildees Estruturantes no Campo da Sauacutede na Unasul

157

Tabela 4 ndash Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede em accedilotildees vinculadas ao CEIS (Prestaccedilatildeo de Assistecircncia Humanitaacuteria) - periacuteodo 2006 a 05-2010

198

Tabela 5 ndash Principais resultados (2003-2009) CEIS e Poliacutetica Externa

215

Tabela 6 ndash Incorporaccedilatildeo Tecnoloacutegica ndash Principais Accedilotildees da Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz relacionadas ao CEIS - periacuteodo 2003-2009

227

xx

Lista de Quadros

Quadro 1 ndash Principais Teorias da EPI 052

Quadro 2 ndash Relaccedilatildeo de Documentos Internacionais Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e Sauacutede

126

Quadro 3 ndash Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede Relaccedilatildeo de Paiacuteses e Banco de Leite Humano

214

Quadro 4 ndash Resoluccedilotildees do Mercosul ndash CEIS

220

xxi

Lista de Graacuteficos

Graacutefico 1 ndash Investimentos em Cooperaccedilatildeo Teacutecnica (em )

135

Graacutefico 2 ndash Relaccedilatildeo de Investimentos em Cooperaccedilatildeo Brasileira para o Desenvolvimento em Assistecircncia Humanitaacuteria (em )

135

Graacutefico 3 ndash Investimentos em Cooperaccedilatildeo Internacional Brasileira para o Desenvolvimento Internacional ndash entre 2005 e 2009 (em )

136

Graacutefico 4 ndash Baixo Crescimento das Economias Maduras

139

xxii

Lista de Figuras

Figura 1 ndash Representaccedilatildeo do Impacto do CEIS em Expansatildeo

032

Figura 2 ndash Sistema Econocircmico Internacional ndash Esquema Analiacutetico Baacutesico

049

Figura 3 ndash Modus Operandi da OMS

104

Figura 4 ndash Reuniatildeo de Ministros da Sauacutede do Mercosul ndash RMS

149

Figura 5 ndash Intercessatildeo Geopoliacutetica do Brasil na Aacuterea da Sauacutede

204

Figura 6 ndash Formaccedilatildeo da Cadeia de Conhecimentos

208

Figura 7 ndash CEIS e Relaccedilotildees Internacionais Categorias Centrais

256

xxiii

SUMAacuteRIO

Resumo xiii

Abstract xiv

Lista de Siglas e Abreviaturas xv

Lista de Tabelas xix

Lista de Quadros xx

Lista de Graacuteficos xxi

Lista de Figuras xxii

Introduccedilatildeo 025

Objetivo Geral 035

Objetivos Especiacuteficos 036

Hipoacutetese 036

Limitaccedilotildees e Desafios 037

Metodologia da Pesquisa 039

Procedimentos de Pesquisa 039

Capiacutetulo I Relaccedilotildees Internacionais 042

1 ndash Introduccedilatildeo 042

2 ndash A Abordagem da Sociedade Internacional 043

3 ndash A Abordagem da Economia Poliacutetica Internacional 045 Capiacutetulo II Estado e Relaccedilotildees Internacionais ndash A Retomada do Papel dos Estados Nacionais 062

1 ndash Introduccedilatildeo 062

2 ndash Estado como Ator Estrateacutegico nas Relaccedilotildees Internacionais 063

3 ndash Protagonismo do Estado no Contexto da Globalizaccedilatildeo

e da Inovaccedilatildeo 077

xxiv

Capiacutetulo III Inserccedilatildeo do Brasil no Contexto Internacional da Sauacutede 088

1 ndash Sauacutede nas Relaccedilotildees Internacionais 100

2 ndash Agenda Sul-Sul 122 21 Mercosul 144

22 Unasul 152

23 Aacutefrica 161

24 Cooperaccedilatildeo Triangular 166

25 Reflexotildees sobre o Papel do Brasil na

Cooperaccedilatildeo Sul-Sul 169

Capiacutetulo IV CEIS O Papel do Estado na Inovaccedilatildeo e no Campo da Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede na Agenda Sul-Sul 175

1 ndash CEIS Estado e Inovaccedilatildeo Sauacutede e Desenvolvimento 175

2 ndash Cooperaccedilatildeo Internacional e as Relaccedilotildees Internacionais um olhar sobre o CEIS na relaccedilatildeo Sul-Sul 191

21 Cooperaccedilatildeo Internacional sob a Abordagem da

Assistecircncia Humanitaacuteria 196

22 Cooperaccedilatildeo Internacional sob a Abordagem da

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica Internacional 201

Capiacutetulo V CEIS Poliacutetica Externa em Accedilatildeo um Olhar sobre o Sul 210 Consideraccedilotildees Finais 234 Referecircncias Bibliograacuteficas 259 Bibliografia Consultada 270 Anexo I 274

INTRODUCcedilAtildeO

Mais claramente observada no Seacuteculo XXI como estrateacutegia poliacutetica a

aacuterea da sauacutede eacute priorizada no campo poliacutetico em funccedilatildeo da relevacircncia e da

relaccedilatildeo que as bases de conhecimento os campos da ciecircncia da tecnologia e

da inovaccedilatildeo tecircm como estado de bem-estar da sociedade

Aleacutem disso o setor sauacutede tem sido cada vez mais considerado como

indutor e parte constitutivo do modelo de desenvolvimento dos paiacuteses

desenvolvidos em forte expansatildeo e dos paiacuteses em desenvolvimento em

consolidaccedilatildeo

Estaacute inserido local e globalmente de forma cada vez mais intensa em

um processo de mutaccedilatildeo social industrial e institucional o que passa a ser

aleacutem de uma oportunidade um desafio ao se tentar associar agraves dinacircmicas

nacionais e internacionais sociais econocircmicas de inovaccedilatildeo e de produccedilatildeo

Sob a perspectiva social temas como o da sauacutede ganharam relevacircncia

na agenda da poliacutetica internacional apoacutes a Guerra Fria Com a perda de nitidez

do confronto ideoloacutegico e com o advento da multipolaridade os temas sociais

tornaram-se globais interessando a todas as sociedades A sauacutede portanto

cada vez mais vem avanccedilando na agenda das relaccedilotildees exteriores e nos

assuntos globais mesclando-se agraves questotildees econocircmicas comerciais e de

seguranccedila nacional (Buss e Ferreira 2008) [1]

Assim questotildees como as relacionadas agrave guerra e agrave paz agrave economia e

ao comeacutercio ditas como hard power vecircm cedendo espaccedilo nas uacuteltimas

deacutecadas para questotildees como a sauacutede em funccedilatildeo do aumento de acordos

internacionais sobre esse tema reconhecido no cenaacuterio internacional como soft

power

Haacute entretanto segundo definem Kickbusch e Berger 1 uma tendecircncia a

que essas questotildees reconhecidas como ldquosoftrdquo se imbriquem nas questotildees

ldquohardrdquo das economias nacionais Esses autores justificam sob essa nova

1 Fonte Buss P Ferreira J Documento institucional interno da Fiocruz Rio de Janeiro

Fiocruz 2008

26

loacutegica que haacute um reconhecimento cada vez maior acerca dos ldquobens puacuteblicos

globaisrdquo que satildeo ldquonegociados e assegurados e que regimes na aacuterea do

comeacutercio e do desenvolvimento econocircmico devem ser complementados por

outros em esferas como ambiente e sauacutederdquo 1 (p 20)

Por outro lado em que pese a importacircncia do enfoque econocircmico a

consequente valorizaccedilatildeo dos temas sociais eacute fruto da reformulaccedilatildeo das

concepccedilotildees ateacute entatildeo vigentes do desenvolvimento confere agrave aacuterea social uma

essencialidade em que se privilegia a solidariedade social e o ser humano

como centrais nas preocupaccedilotildees e nos interesses estatais

Nesse sentido o tema ganhou representatividade em funccedilatildeo de uma

seacuterie de movimentos entre os Estados em foacuteruns e conferecircncias mundiais que

deu relevacircncia e sustentabilidade aos temais sociais nas questotildees estrateacutegicas

das relaccedilotildees internacionais

Portanto questotildees relacionadas agrave sauacutede ultrapassaram a sua

abordagem mais teacutecnica e tornaram-se essenciais nas poliacuteticas externa de

seguranccedila e comercial tanto pelo seu valor intriacutenseco como pela

predominacircncia de valores humanos incidentes sobre outros interesses

Por outro lado sob a perspectiva econocircmico-industrial a sauacutede exerce

papel estrateacutegico e fundamental no contexto do desenvolvimento nacional e da

poliacutetica industrial seja interagindo com o sistema econocircmico-industrial e o

potencial de inovaccedilatildeo no setor seja contribuindo para uma perspectiva mais

geral de desenvolvimento e integraccedilatildeo 234

Representa simultaneamente a dimensatildeo social e da cidadania com a

econocircmica e da inovaccedilatildeo 5 A sauacutede nesse sentido em intriacutenseca interaccedilatildeo

com os interesses sociais eacute uma variaacutevel estrateacutegica para a competitividade

nacional 23 apresentando as dimensotildees do direito e da cidadania do

desenvolvimento econocircmico seja pela geraccedilatildeo de inovaccedilatildeo de renda e de

emprego da promoccedilatildeo do desenvolvimento nacional seja pelas caracteriacutesticas

de transformar o contexto atual em uma saiacuteda estrutural e de longo prazo para

o desenvolvimento brasileiro

27

Os investimentos sociais na aacuterea da sauacutede representam 88 do PIB

valor correspondente a quase US$ 100 bilhotildeesano O setor gera 10 dos

empregos formais qualificados tem o maior investimento em PampDampI no Brasil e

participa com cerca de 25 das publicaccedilotildees nacionais [2] Eacute um setor prioritaacuterio

dado o fato de aliar alto potencial de inovaccedilatildeo e priorizar o atendimento ao

sistema universal de sauacutede

A sauacutede estaacute inserida em aacutereas determinantes para o futuro do Paiacutes tais

como a biotecnologia a nanotecnologia a quiacutemica fina a microeletrocircnica aleacutem

de perpassar pela aacuterea dos serviccedilos assim como ceacutelulas-tronco e

telemedicina Todas essas aacutereas segundo Padilha e Gadelha [3] ldquorepresentam

22 do esforccedilo mundial de inovaccedilatildeo e quem ficar fora seraacute dependente fraacutegil

e subservienterdquo

Portanto o campo da sauacutede apresenta-se como um campo privilegiado

para as questotildees de soberania para o fortalecimento do papel do estado

nacional e da hegemonia no campo da ciecircncia e tecnologia E nesse sentido o

Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede (CEIS) emerge como ponte entre a

ciecircncia a tecnologia a inovaccedilatildeo o desenvolvimento econocircmico a soberania e

o bem-estar social Formado por setores industriais de base quiacutemica e

biotecnoloacutegica (induacutestrias de faacutermacos medicamentos vacinas

hemoderivados e reagentes para diagnoacutestico) e de base mecacircnica eletrocircnica

de proacuteteses e oacuterteses e de materiais de consumo aleacutem de organizaccedilotildees

prestadoras de serviccedilos em sauacutede (hospitais ambulatoacuterios e serviccedilos de

diagnoacutestico e tratamento) o CEIS eacute um conjunto de atividades produtivas e de

serviccedilos em sauacutede que pautam uma relaccedilatildeo sistecircmica entre os setores

envolvidos 23

No Brasil o CEIS inserido nesse contexto de constante transformaccedilatildeo

industrial e institucional destaca-se como espaccedilo institucional e econocircmico

particular ldquoformado por induacutestrias fortemente inovadoras e veiacuteculos

importantes de novos paradigmas tecnoloacutegicosrdquo 3 Tem no Estado um papel de

2 Fonte IBGE (2012) e dados disponibilizados pelo Grupo de Pesquisa GISENSP Fiocruz

3 Fonte Padilha A Gadelha CAG Sauacutede na agenda industrial e do desenvolvimento Jornal

Valor Econocircmico 17012012

28

grande importacircncia social e estrateacutegica como ator essencial na promoccedilatildeo da

articulaccedilatildeo da sauacutede com o sistema de inovaccedilatildeo

Isso posto poliacuteticas nacionais efetivas ultrapassam vulnerabilidades e

oferecem contornos que definem o CEIS e a sauacutede no Brasil como promotores

do desenvolvimento nacional cujo protagonismo natildeo se esgota nos limites da

fronteira nacional favorecendo condiccedilotildees e diferenciais para que o Paiacutes se

estabeleccedila no contexto internacional como parceiro na promoccedilatildeo do

desenvolvimento econocircmico de paiacuteses do eixo Sul-Sul e forte player nas

discussotildees sobre sauacutede em foacuteruns internacionais

Portanto o CEIS estabelece-se com representatividade estrateacutegica para

que a sauacutede do Paiacutes natildeo sucumba agraves vulnerabilidades histoacutericas que

comprometem sua base produtiva tecnoloacutegica endoacutegena Quando apontamos

a vertente da vulnerabilidade ressaltamos notadamente e cada vez mais o

crescente deacuteficit da balanccedila comercial da sauacutede do Brasil O que representa

forte dependecircncia externa de produtos do CEIS sobretudo os de maior

dependecircncia tecnoloacutegica vulneraacutevel agrave oscilaccedilatildeo cambial tornando quase

irreversiacutevel as consequecircncias da poliacutetica liberal dos anos 90 Poliacutetica essa que

destruiu a produccedilatildeo de produtos de alta tecnologia em sauacutede no Paiacutes [4]

O aumento exponencial do deacuteficit na balanccedila comercial do CEIS pode

ser observado ao destacar que no final da deacutecada de 80 o deacuteficit chegava a

US$ 700 milhotildees em 2005 alcanccedilava US$ 3 bilhotildees e em 2011 US$ 11

bilhotildees [5] O que representa nos uacuteltimos seis anos um aumento alarmante de

quase 300 e nas trecircs uacuteltimas deacutecadas um incremento de 1500 no deacuteficit da

balanccedila comercial da sauacutede Qualquer oscilaccedilatildeo cambial poderaacute tornar

inexequiacuteveis programas essenciais de sauacutede como o de assistecircncia

farmacecircutica de cacircncer de imunizaccedilatildeo infantil tratamentos de HIV dentre

outros

Esse quadro da balanccedila comercial do CEIS eacute um grande desafio que

requer a inovaccedilatildeo como um meio para viabilizar o desenvolvimento e o

4 A dependecircncia de importaccedilotildees de faacutermacos nesse periacuteodo chegou a 85 das necessidades

nacionais Fonte Elaboraccedilatildeo do Grupo de Pesquisa de Inovaccedilatildeo em Sauacutede - GISENSPFiocruz 2011 5 Dados fornecidos pelo GISENSPFiocruz em maio de 2012 a partir dos dados da Rede Alice

do MDIC

29

atendimento agrave dimensatildeo social relacionada ao acesso universal preconizado

no Brasil Sendo assim reverter esse quadro passa pela busca do

desenvolvimento da produccedilatildeo inovadora endoacutegena a fim de garantir a

sustentabilidade do acesso aos bens da sauacutede atender agrave sociedade brasileira

e ampliar possibilidades para atendimento das demandas de paiacuteses em

desenvolvimento principalmente daqueles que a poliacutetica externa brasileira vem

priorizando sob os laccedilos Sul-Sul

A esse quadro de vulnerabilidades soma-se a competiccedilatildeo assimeacutetrica da

induacutestria nacional composta por pequenas e meacutedias empresas com estruturas

oligopolizadas e multinacionais que se estabelecem sob a loacutegica financeira

internacional formando uma forte vertente de desequilibrada concorrecircncia

Muacuteltiplas forccedilas exoacutegenas influenciam a poliacutetica de sauacutede puacuteblica 6 Haacute

de se competir no plano da estrutura industrial onde se percebe um movimento

de concentraccedilatildeo de capital e de tecnologia que resulta de interesses

internacionais e em imensos conglomerados multinacionais que competem e

repartem o mercado mundial da induacutestria da sauacutede Para o autor o Estado

moderno vem sofrendo tambeacutem accedilotildees de muacuteltiplas forccedilas simultacircneas Satildeo

pressotildees exercidas por acordos promovidos por agecircncias internacionais aleacutem

da diminuiccedilatildeo do papel do Estado por conta da expansatildeo da globalizaccedilatildeo e

pela crescente influecircncia de organizaccedilotildees natildeo-governamentais Tudo isso

reflete na conduccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede puacuteblica

Logo dados o novo caraacuteter e o peso cada vez maior das relaccedilotildees

econocircmicas transnacionais a accedilatildeo do Estado tende a ficar cada vez mais

constrita Sendo assim a globalizaccedilatildeo provoca interdependecircncia entre as

economias nacionais que em funccedilatildeo das estrateacutegias governamentais podem

levar as naccedilotildees agrave consolidaccedilatildeo ou agrave vulnerabilidade externa 7 Isto eacute com a

globalizaccedilatildeo haacute uma perda da capacidade do mesmo em conduzir seus

objetivos poliacuteticos de maneira autocircnoma ficando cada vez mais subordinado

agraves exigecircncias da economia global ldquodesmantelando-se arranjos [caracteriacutesticos

do] Estado-Sociedaderdquo

Esta questatildeo afeta desproporcionalmente paiacuteses em desenvolvimento

de forma desfavoraacutevel em dois aspectos marcantes o primeiro refere-se agraves

30

dificuldades de governanccedila governabilidade e de harmonizaccedilatildeo institucional

dentre o bloco desses paiacuteses ocasionando sobre os mesmos uma perda na

autonomia na tomada de decisatildeo que deixa de se pautar por prioridades

nacionais sem que haja entretanto contrapartida do fortalecimento regional o

segundo aspecto em parte decorrente do anterior refere-se ao desequiliacutebrio

geopoliacutetico na definiccedilatildeo das prioridades da agenda global da sauacutede

Numa perspectiva de fortalecimento da sauacutede puacuteblica a globalizaccedilatildeo

enfatiza oportunidades para a sauacutede por meio de uma seacuterie de iniciativas

globais resultantes da accedilatildeo entre paiacuteses A despeito das diferenccedilas de forccedila

observadas entre os atores globais o resultado de alianccedilas e coalizotildees

intergovernamentais e com outros atores da sociedade civil tende a fortalecer a

incorporaccedilatildeo de temas importantes para a agenda nacional de sauacutede de paiacuteses

menos desenvolvidos em debates globais e na formaccedilatildeo da agenda de sauacutede

global 8

Assim sendo as mudanccedilas percebidas no estabelecimento das

prioridades para a tomada de decisotildees das poliacuteticas puacuteblicas em sauacutede tecircm

sido fundamentalmente um reflexo das circunstacircncias nacionais e do que a

sauacutede precisa Este posicionamento destaca a potencialidade de fortalecimento

da voz poliacutetica dos interesses de naccedilotildees menos desenvolvidas mesmo que em

condiccedilotildees assimeacutetricas de influecircncia sobre a agenda

Diante do exposto a sauacutede ultrapassa as fronteiras nacionais e promove

caminhos internacionais Isso posto em que pese natildeo terem sido observados

ganhos suficientes que alterassem o peso brasileiro no contexto mundial ateacute o

final do Seacuteculo XX 9 haacute fortes evidecircncias de mudanccedila notadamente no

contexto da sauacutede em que a poliacutetica externa brasileira vem apresentando

mudanccedila na sua atuaccedilatildeo no cenaacuterio internacional particularmente a partir da

primeira deacutecada do Seacuteculo XXI [6]

Nesse sentido ganha a sauacutede um papel internacional que integra e

articula o Ministeacuterio da Sauacutede e o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores A sauacutede

portanto se relaciona com o processo de globalizaccedilatildeo com a diversificaccedilatildeo de

6 Daiacute ter sido escolhida a primeira deacutecada do Seacuteculo XXI como recorte temporal desta tese de

doutorado

31

mercados com a geopoliacutetica internacional com a soberania nacional e com a

solidariedade internacional principalmente com os paiacuteses do Sul

Vale destacar que sob o enfoque das cooperaccedilotildees Norte-Sul e Sul-Sul

a sauacutede nos torna simultaneamente parceiros receptores e doadores O CEIS

nessa relaccedilatildeo dual ganha caraacuteter estrateacutegico para a consolidaccedilatildeo das

cooperaccedilotildees internacionais Considerado como aacuterea estrateacutegica de Estado o

CEIS quando fortalecido e consolidado e nesse sentido a cooperaccedilatildeo Norte-

Sul eacute fator determinante [7] representa forte impacto no desenvolvimento

socioeconocircmico do Paiacutes e de paiacuteses cuja busca eacute semelhante a do Brasil

alargando o alcance do exerciacutecio diplomaacutetico brasileiro da sua projeccedilatildeo no

cenaacuterio externo e no fortalecimento das cooperaccedilotildees estruturantes no acircmbito

dos paiacuteses do Sul

Ao mesmo tempo em que um paiacutes precisa ampliar o seu acesso a novos

mercados e a novos conhecimentos precisa tambeacutem obter espaccedilo para a

conduccedilatildeo das suas poliacuteticas puacuteblicas Situaccedilatildeo essa enfatizada na medida em

que a capacidade de produccedilatildeo de bens de sauacutede - contextualizado o impacto

do CEIS na geraccedilatildeo de inovaccedilatildeo e a relaccedilatildeo desta com a competitividade em

cenaacuterio global ndash acaba se configurando como preacute-condiccedilatildeo para legitimar e

fortalecer o aspecto soberano de uma naccedilatildeo na nova arena geopoliacutetica Essa

situaccedilatildeo pode ser refletida na figura 1 a seguir que representa o impacto na

expansatildeo do desenvolvimento nacional e por consequecircncia na expansatildeo da

atuaccedilatildeo do Paiacutes no cenaacuterio internacional quando o CEIS se expande

Representa portanto a relaccedilatildeo direta do fortalecimento e da consolidaccedilatildeo do

CEIS sobre o desenvolvimento nacional e a expansatildeo da atuaccedilatildeo do Paiacutes no

cenaacuterio internacional

7 Natildeo eacute pretensatildeo desta tese analisar eou aprofundar discussotildees acerca do contexto da sauacutede nas

relaccedilotildees Norte-Sul a despeito da grande importacircncia do tema Requerer-se-ia um aprofundamento que

demandaria uma abordagem distinta para a tese ora apresentada Nesse sentido para este estudo optou-se

pela abordagem das cooperaccedilotildees Sul-Sul

32

Figura 1 Representaccedilatildeo do Impacto do CEIS em expansatildeo

Elaboraccedilatildeo proacutepria

Entretanto haacute de se considerar que a inter-relaccedilatildeo das poliacuteticas

nacionais com as relaccedilotildees internacionais encerra desafios diversos

enfrentados no mercado nacional que natildeo satildeo ultrapassados sem que se

cumpra uma agenda de transformaccedilotildees internas como preacute-condiccedilatildeo ou

consequecircncia da exposiccedilatildeo aos mercados externos As transformaccedilotildees daiacute

decorrentes trazem uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica e uma forte consolidaccedilatildeo da

gestatildeo poliacutetica estrateacutegica preparando o Paiacutes para um papel destacado no

contexto geopoliacutetico internacional

Parte-se portanto a priori da defesa da ideacuteia de que as influecircncias

exercidas por intermeacutedio do papel do Estado voltado para a consolidaccedilatildeo de

um sistema de inovaccedilatildeo dinacircmico com efeitos diretos no desenvolvimento do

Brasil e na soberania nacional tecircm relaccedilatildeo direta com a inserccedilatildeo ativa do Paiacutes

no contexto das suas relaccedilotildees internacionais

Sob essa abordagem a agenda de inserccedilatildeo soberana na aacuterea da sauacutede

eacute observada no CEIS e eacute sob essa perspectiva inclusive que se busca o

enfrentamento da relaccedilatildeo econocircmica e de poder assimeacutetrico no contexto da

geopoliacutetica internacional

ContextoNacional

ContextoExterno

CEIS (em expansatildeo)

33

A relevacircncia do presente estudo dada a assimetria tecnoloacutegica global

pauta-se portanto no esforccedilo para subsidiar um enfoque teoacuterico alternativo

que incorpore a retomada do papel do Estado nacional na dinacircmica da

transformaccedilatildeo socioeconocircmica e da inovaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede no Brasil

fundamentado pela relaccedilatildeo de poder existente entre o Estado soberano a

dinacircmica da sua poliacutetica externa e o contexto da globalizaccedilatildeo nas relaccedilotildees

internacionais

Em sequecircncia este estudo estaacute dividido em cinco capiacutetulos aleacutem desta

introduccedilatildeo que inclui objetivos hipoacutetese desafios e limitaccedilotildees e procedimentos

de pesquisa e das consideraccedilotildees finais

O Capiacutetulo I dialoga com duas das abordagens teoacutericas das Relaccedilotildees

Internacionais que pautam temas como direitos humanos e sociedade aleacutem de

poliacuteticas econocircmicas e de poder A discussatildeo posiciona o Estado na

abordagem da Sociedade Internacional e na abordagem da Economia Poliacutetica

Internacional em que a perspectiva humanitaacuteria tem como contraponto a

complexidade das relaccedilotildees econocircmicas internacionais

Em seguida no Capitulo II satildeo apresentados argumentos que justificam

a inserccedilatildeo do Estado com papel destacado no processo de retomada do seu

papel estrateacutegico para o desenvolvimento nacional sob a perspectiva das

relaccedilotildees internacionais a partir da globalizaccedilatildeo e das condiccedilotildees econocircmicas e

produtivas assimeacutetricas daiacute decorrentes

O Capiacutetulo III descreve a sauacutede sob a perspectiva da inserccedilatildeo brasileira

no contexto internacional da sauacutede Identifica a importacircncia receacutem-estabelecida

pelos contornos estrateacutegicos da poliacutetica externa brasileira na conformaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da agenda Sul-Sul em sauacutede Destaca a prioridade dada pela

poliacutetica externa do Paiacutes agraves cooperaccedilotildees junto agraves naccedilotildees do Sul notadamente

nas relaccedilotildees bilaterais triangulares eou multilaterais com paiacuteses do Mercosul

da Unasul e da CPLP considerados como prioritaacuterios no contexto das relaccedilotildees

internacionais do Brasil

O Capiacutetulo IV fundamenta a relaccedilatildeo virtuosa entre sauacutede e

desenvolvimento por meio da consolidaccedilatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial

34

da Sauacutede - CEIS a partir do pilar de sustentabilidade estrateacutegica da inovaccedilatildeo

Descreve como o movimento brasileiro de desenvolvimento nacional no

contexto do CEIS dialoga com a agenda internacional na relaccedilatildeo entre os

paiacuteses do Sul notoriamente com os paiacuteses africanos paiacuteses da Ameacuterica Latina

e da Ameacuterica Central O texto apresenta argumentos que defendem que tanto

em acircmbito interno quanto externo o CEIS representa para a sauacutede a

oportunidade de reduzir as vulnerabilidades decorrentes da relaccedilatildeo assimeacutetrica

de poder e de conhecimento aleacutem de favorecer condiccedilotildees de cooperaccedilatildeo e de

fortalecimento de paiacuteses com base em desenvolvimento estruturante e

integrador Destaca o entendimento de que no acircmbito da sauacutede o CEIS se

estabelece como um campo privilegiado para o exerciacutecio do papel dos Estados

nacionais da hegemonia no campo da ciecircncia e da tecnologia da sauacutede e da

consolidaccedilatildeo dos contornos estrateacutegicos da cooperaccedilatildeo internacional em

sauacutede ndash sob as perspectivas da assistecircncia humanitaacuteria e da cooperaccedilatildeo

teacutecnica internacional

Finalmente em seguida o capiacutetulo V retrata as principais

consequecircncias do movimento da cooperaccedilatildeo internacional em sauacutede na

poliacutetica externa brasileira identificando e descrevendo o comportamento do

Paiacutes no plano externo quanto agraves accedilotildees relacionadas agrave sauacutede e agraves cooperaccedilotildees

internacionais Sul-Sul promovidas principalmente pela Fundaccedilatildeo Oswaldo

Cruz Instituiccedilatildeo Estrateacutegica de Estado na aacuterea da sauacutede Accedilotildees essas

especificamente ligadas ao CEIS e sugerindo-o como diferencial representativo

para a consolidaccedilatildeo da poliacutetica externa e para a conformaccedilatildeo de mecanismos

de assistecircncia humanitaacuteria internacional e de desenvolvimento das

capacidades produtivas das naccedilotildees do Sul ressaltando-se sob essas bases

potencialidades e desafios para inserccedilatildeo ativa do Brasil no contexto da

geopoliacutetica internacional

Este estudo portanto tem no Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

a liga que perpassa e articula todos os capiacutetulos promovendo a dimensatildeo

social e humana a dimensatildeo poliacutetica a dimensatildeo econocircmica e a dimensatildeo

das relaccedilotildees internacionais com elementos que provocam desdobramentos na

35

discussatildeo que segue no decorrer desta tese Elementos esses que passam por

questotildees relacionadas agrave globalizaccedilatildeo e localizaccedilatildeo vulnerabilidades

assimetrias soberania Estado de Bem-estar e articulaccedilotildees puacuteblico-privadas

Objetivo Geral

A anaacutelise e a compreensatildeo da inter-relaccedilatildeo entre o papel do Estado e a

poliacutetica externa brasileira no contexto da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em

Sauacutede particularmente no que se refere ao Complexo Econocircmico-Industrial da

Sauacutede conduzem-nos a conhecer as relaccedilotildees intriacutensecas entre o nacional e o

internacional de forma a compreender inclusive o processo de inserccedilatildeo

soberana do Paiacutes na geopoliacutetica internacional notadamente junto agraves Naccedilotildees

do Sul

Portanto diante do exposto o objetivo geral do presente trabalho eacute o de

subsidiar a construccedilatildeo de uma abordagem teoacuterica que incorpore a relaccedilatildeo de

influecircncia muacutetua entre as agendas interna e externa na correlaccedilatildeo do poder da

Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede direcionada para o CEIS e da

poliacutetica externa brasileira focada na relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo estruturante entre

paiacuteses do Sul Busca-se nesse sentido identificar e analisar como a

dependecircncia e o fortalecimento das capacidades produtivas e de inovaccedilatildeo em

sauacutede relacionadas ao Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede - CEIS

podem influenciar a relaccedilatildeo do Brasil com outros paiacuteses especificamente os

paiacuteses do Sul

Tem como contribuiccedilatildeo destacar o processo de articulaccedilatildeo entre a

dimensatildeo social e a dimensatildeo econocircmica da sauacutede em dimensotildees

internacionais em que a vulnerabilidade que ultrapassa fronteiras existente em

funccedilatildeo da dependecircncia do conhecimento e do desenvolvimento tecnoloacutegico e

inovativo seja combatida com o fortalecimento da base produtiva tecnoloacutegica

endoacutegena e com a inclusatildeo dessa questatildeo na diplomacia e nas relaccedilotildees

internacionais em sauacutede pela via do desenvolvimento nacional e internacional

alicerccedilada pela ciecircncia e pela tecnologia

36

Objetivos Especiacuteficos

E os objetivos especiacuteficos que nortearam a presente pesquisa satildeo

1 Relacionar o papel do Estado ao desenvolvimento sob a perspectiva

da inovaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo e das teorias das relaccedilotildees internacionais na

confluecircncia da loacutegica sanitaacuteria e da loacutegica do desenvolvimento produtivo e

econocircmico

2 Descrever e analisar a inserccedilatildeo do Brasil no contexto internacional da

sauacutede notadamente junto aos paiacuteses do Sul

3 Destacar as principais consequecircncias do movimento da cooperaccedilatildeo

internacional em sauacutede na poliacutetica externa brasileira identificando e

descrevendo como o movimento brasileiro de desenvolvimento nacional no

contexto do CEIS dialoga com a agenda internacional na relaccedilatildeo entre os

paiacuteses do Sul notoriamente com os paiacuteses africanos paiacuteses da Ameacuterica Latina

e da Ameacuterica Central

4 Descrever o comportamento do Paiacutes no plano internacional quanto agraves

accedilotildees relacionadas agrave sauacutede especificamente ligadas ao CEIS notadamente

no que se referem agraves cooperaccedilotildees internacionais Sul-Sul identificando a

inserccedilatildeo ativa do Paiacutes no contexto da geopoliacutetica internacional

Hipoacutetese

O movimento nacional de retomada do papel do Estado nacional mais

claramente observado no iniacutecio do Seacuteculo XXI no tocante ao desenvolvimento

e fortalecimento do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede do Brasil exerce

um determinado niacutevel de influecircncia na inserccedilatildeo soberana do Paiacutes na

geopoliacutetica internacional em que o CEIS representa para a sauacutede a

oportunidade de reduzir vulnerabilidades provocadas pela relaccedilatildeo assimeacutetrica

de conhecimento e de poder e de favorecer condiccedilotildees de cooperaccedilatildeo e de

fortalecimento de paiacuteses com base em desenvolvimento estruturante e

integrador Nesse sentido parte-se do pressuposto de que assimetrias de

poder de conhecimento e de tecnologias inseridas no acircmbito da poliacutetica

37

econocircmica internacional podem influenciar a agenda da poliacutetica nacional

ressaltando-se que do papel exercido pelo Estado depende a consolidaccedilatildeo do

Paiacutes nessa aacuterea com efetivo protagonismo em processos e accedilotildees junto a

paiacuteses de relaccedilatildeo Sul-Sul ou a sua vulnerabilidade externa

Limitaccedilotildees e Desafios

Em funccedilatildeo da grande abrangecircncia do contexto internacional e das

diferenccedilas do papel exercido pelo Brasil nos diferentes contextos optamos por

limitar o escopo do presente estudo agraves cooperaccedilotildees Sul-Sul Tal opccedilatildeo se daacute

em funccedilatildeo da cada vez maior importacircncia estrateacutegica que essa relaccedilatildeo vem

recebendo nas uacuteltimas deacutecadas notadamente junto aos paiacuteses em

desenvolvimento do Hemisfeacuterio Sul tanto por conta do protagonismo recente

dos paiacuteses emergentes de renda meacutedia no cenaacuterio da cooperaccedilatildeo

internacional como eacute o caso do Brasil assim como quanto agrave perspectiva de

maiores benefiacutecios provenientes de uma relaccedilatildeo de maior equiliacutebrio que eacute

vislumbrado na cooperaccedilatildeo entre pares e tambeacutem por conta das restriccedilotildees

centralizadoras por parte dos paiacuteses desenvolvidos na praacutetica da cooperaccedilatildeo

Norte-Sul 10

Algumas dificuldades foram observadas a partir do presente estudo

representando desafios a serem ultrapassados

O tema sauacutede eacute transversal a outros temas como ciecircncia e tecnologia e

localiza-se junto a outras aacutereas tais como comeacutercio investimento propriedade

intelectual meio-ambiente e trabalho o que justifica a necessidade de se

estabelecer espaccedilos de articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo integrada

Aleacutem disso a complexidade das accedilotildees relacionadas agrave governanccedila da

sauacutede global em que se almeja a concentraccedilatildeo de ideacuteias comuns e sinergias

para aperfeiccediloar resultados aumenta o desafio de tornar estrateacutegica a

definiccedilatildeo do valor agregado de cada iniciativa regional eou inter-regional

Afinal a dispersatildeo e a fragmentaccedilatildeo das iniciativas espalham ineficiecircncias

38

Quanto agrave disponibilidade de informaccedilotildees percebeu-se que as fontes

oficiais disponiacuteveis para divulgaccedilatildeo das accedilotildees relacionadas agrave sauacutede na poliacutetica

externa fornecem informaccedilotildees generalizadas e dispersas Natildeo haacute uma linha

temporal para as informaccedilotildees disponiacuteveis Aleacutem disso os dados fornecidos satildeo

datados de forma intermitente (com maior representatividade nos uacuteltimos cinco

anos) natildeo sendo observados criteacuterios e indicadores norteando as informaccedilotildees

oferecidas o que representa um oacutebice no diagnoacutestico ampliado e comparativo

Por conta da recente importacircncia dada ao tema a anaacutelise dos resultados

tambeacutem fica limitada uma vez que haacute poucos estudos analiacuteticos relacionados

aos temas de forma integrada o que compromete a avaliaccedilatildeo fidedigna quanto

aos resultados efetivamente alcanccedilados diante dos almejados Faz-se

necessaacuterio portanto um periacuteodo maior para que accedilotildees formuladas e

implementadas possam ser consolidadas dadas as caracteriacutesticas produtivas

do CEIS e os respectivos resultados serem avaliados em sua relaccedilatildeo com a

efetiva diminuiccedilatildeo das vulnerabilidades tecnoloacutegicas e sociais atualmente

existentes dentro do contexto nacional regional eou inter-regional

Em anaacutelise junto ao material disponibilizado no portal do Itamaraty

observou-se que a sauacutede natildeo eacute evidenciada nos respectivos relatoacuterios

governamentais notadamente no que se refere agraves questotildees relacionadas agrave

cooperaccedilatildeo triangular Satildeo divulgadas de forma mais extensiva accedilotildees cuja

relaccedilatildeo esteja predominantemente relacionada a temas como seguranccedila

alimentar e ao meio-ambiente Essa exposiccedilatildeo ainda incipiente pode ser

reflexo da importacircncia receacutem-adquirida pelo tema da sauacutede nas questotildees

relacionadas agrave poliacutetica externa brasileira

Destaca-se que este trabalho natildeo tem a pretensatildeo de esgotar o tema

em questatildeo tampouco eacute conclusivo em si mesmo caracterizando uma

pesquisa de natureza exploratoacuteria Oferece entretanto dada a

contemporaneidade do tema subsiacutedios para novas linhas de pesquisa

ampliando alternativas para novos campos de discussatildeo Apresenta

referecircncias e indicaccedilotildees para reflexotildees quanto ao desenvolvimento cientiacutefico

tecnoloacutegico como um meacutetodo apropriado para enfrentar questotildees complexas

como a sauacutede inserida no contexto das relaccedilotildees internacionais

39

Metodologia da Pesquisa

Procedimentos de pesquisa

Este estado estaacute baseado em pesquisas documentais e descritivas de

natureza exploratoacuteria Satildeo propostos elementos analiacuteticos que visem agrave

compreensatildeo do processo de articulaccedilatildeo entre as dimensotildees social

econocircmica da sauacutede e internacionais com base na relaccedilatildeo da retomada do

papel do Estado buscando-se incorporar essa relaccedilatildeo agraves dimensotildees da

diplomacia e das relaccedilotildees internacionais em sauacutede

Para este trabalho cujo foco norteador foi a busca por uma nova

compreensatildeo e visatildeo de um campo em raacutepida transformaccedilatildeo 11 optou-se pela

realizaccedilatildeo do estudo da literatura com base na pesquisa bibliograacutefica e

documental isto eacute em informaccedilotildees disponibilizadas em publicaccedilotildees livros

artigos legislaccedilotildees e perioacutedicos aleacutem de relatoacuterios divulgados em sites

especializados e sites governamentais acrescido da anaacutelise das

apresentaccedilotildees disponibilizadas sobre o tema

A revisatildeo de literatura bibliograacutefica teve como objetivo apontar e explorar

os principais elementos conceituais aleacutem de promover a reflexatildeo sobre os

mesmos

As seguintes estrateacutegias foram utilizadas para a seleccedilatildeo do material

bibliograacutefico

Os bancos de dados e os editores de informaccedilatildeo cientiacutefica utilizados no

levantamento das informaccedilotildees bibliograacuteficas foram o MEDLINE o PUBMED o

LILACS o SCIELO e o Oxford Journal Foi tambeacutem utilizado o Google Acadecircmico

aleacutem de ter sido feito um levantamento das publicaccedilotildees das agecircncias

internacionais de maior representatividade para o tema em questatildeo OMSWHO

(Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede World Health Organization) e OPASPAHO

(Organizaccedilatildeo Panamericana de Sauacutede Panamerican Health Organization)

A seleccedilatildeo dos descritores (Ver Anexo I) foi feita junto agrave lista de

Descritores em Ciecircncias da Sauacutede da Biblioteca Virtual em Sauacutede (BVS)

Foram escolhidos tambeacutem os seguintes termos Relaccedilotildees

Internacionais ndash (International Relation) Relaccedilotildees Internacionais em Sauacutede

40

(Health International Relation) Brasil (Brazil) Defesa (Defense) Globalizaccedilatildeo

(Globalization) Diplomacia (Diplomacy) Soberania (Sovereignty) Diplomacia em

Sauacutede Global (Global Health Diplomacy) Complexo Industrial da Sauacutede (Health

Industrial Complex) Inovaccedilatildeo (Innovation) Produccedilatildeo (Production) Economia

(Economy) Desenvolvimento Econocircmico (Economic Development) Sauacutede

(Health) Cooperaccedilatildeo Sul-Sul (South-South Cooperation) Cooperaccedilatildeo Teacutecnica

Internacional (International Technical Cooperation) Cooperaccedilatildeo Triangular

(Triangular Coooperation) Brasil-CPLP Brasil-Unasul Sauacutede Brasil-Mercosul

Brasil-Africa Brasil-Ameacuterica Central dentre outras Apesar destas expressotildees natildeo

se encontrarem descritas na Biblioteca Virtual em Sauacutede foram utilizadas para o

refinamento da procura nos diversos bancos consultados

Foram utilizados tambeacutem recursos na estrateacutegia de busca tais como

ldquo$rdquo (para palavras no idioma portuguecircs) e ldquordquo em determinadas palavras (em

inglecircs) para expandir as suas derivaccedilotildees tais como por exemplo produ$ ou

produ que resultaram em mais ofertas de artigos como as palavras produccedilatildeo

produccedilotildees produtivos etc

O periacuteodo de anaacutelise foi definido em funccedilatildeo do contexto histoacuterico

contemporacircneo em que se evidencia a agenda poliacutetica de fortalecimento da

ciecircncia da tecnologia e da inovaccedilatildeo em sauacutede em que ganha contorno

estrateacutegico a formulaccedilatildeo de poliacuteticas nacionais focadas para o fortalecimento

do CEIS abarcando nesse caso o final da deacutecada de 90 ateacute 2008 limite esse

dado em funccedilatildeo da transiccedilatildeo para uma nova gestatildeo governamental no Brasil a

despeito da manutenccedilatildeo do partido poliacutetico ateacute entatildeo vigente Questotildees

histoacutericas e poliacuteticas e situaccedilotildees mais contemporacircneas obviamente alargaram

o periacuteodo definido em funccedilatildeo da necessidade de contextualizar em

determinados focos a construccedilatildeo da agenda e da arena poliacutetica seja em

acircmbito nacional ou internacional

Todos os descritores foram utilizados na busca por publicaccedilotildees que

fossem relacionados ao objeto deste artigo Entretanto vale ressaltar que nem

todos renderam materiais ora por conta da especificidade dos bancos de

dados e editores de informaccedilatildeo cientifica ora pela forma como foram

associados os descritores na ferramenta de busca Portanto natildeo houve

regularidade no uso dos mesmos descritores para todas as fontes Entretanto

as buscas pautaram-se principalmente na associaccedilatildeo dos descritores

41

ldquoCooperaccedilatildeo Internacionalrdquo ldquoCooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutederdquo

ldquoCooperaccedilatildeo Sul-Sulrdquo ldquorelaccedilotildees internacionaisrdquo ldquodiplomaciardquo ldquopoliacuteticas de

sauacutederdquo Brasil induacutestria inovaccedilatildeo tecnologia globalizaccedilatildeo economia

desenvolvimento eou soberania Ademais optou-se pela interface do material

coletado atraveacutes da sua convergecircncia aos temas Relaccedilotildees Internacionais e

Sauacutede Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede e Poliacuteticas Nacionais em

Sauacutede natildeo necessariamente vinculados entre si

Portanto foram selecionadas e usadas fontes primaacuterias e secundaacuterias

para a obtenccedilatildeo de dados qualitativos a fim de subsidiarem a investigaccedilatildeo

interpretativa em que fosse possiacutevel entender uma situaccedilatildeo atual ou uma

interaccedilatildeo especifica 1213 aprofundando o conhecimento da realidade

Aleacutem de documentos nas formas de legislaccedilatildeo (Leis Decretos Normas

etc) de documentos oficiais e administrativos ndash ministeriais (referentes aos

Ministeacuterios da Sauacutede das Relaccedilotildees Exteriores do Desenvolvimento Induacutestria

e Comeacutercio Exterior da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo e do Planejamento

aleacutem da Presidecircncia da Repuacuteblica e os principais institutos das estruturas

ministeriais tais como Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz Instituto de Pesquisa

Econocircmica Aplicada e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e

documentos e tratados internacionais foram selecionados livros e revistas

especializadas entrevistas e reportagens disponibilizadas em jornais e revistas

nacionais e internacionais aleacutem de apresentaccedilotildees em foacuteruns especializados

disponibilizadas com amplo acesso pela web por atores de relevacircncia na

temaacutetica em questatildeo Optou-se inclusive pela anaacutelise do conteuacutedo das

apresentaccedilotildees e pelo tratamento interpretativo do material bibliograacutefico e

documental

Ao material bibliograacutefico e documental foi direcionado tratamento

interpretativo cabendo agraves apresentaccedilotildees anaacutelise do seu conteuacutedo

42

CAPIacuteTULO I ndash RELACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

1 Introduccedilatildeo

Temas claacutessicos como riqueza e pobreza cooperaccedilatildeo e conflito paz e

guerra sempre pautaram as anaacutelises teoacutericas das Relaccedilotildees Internacionais- RI

natildeo se esgotando em cada debate apresentado Satildeo na verdade um diaacutelogo

inesgotaacutevel entre as diversas teorias [8] 141516 Ora enfatizando a anarquia e a

poliacutetica de poder inclusive o econocircmico ora enfocando a sociedade e o direito

internacional ora destacando o humanitarismo os direitos humanos e a justiccedila

humana

A interdependecircncia a integraccedilatildeo e a democracia a anarquia e a

balanccedila do poder portanto estatildeo no centro do debate das Relaccedilotildees

Internacionais Nessa arena traz-se para a discussatildeo deste estudo a

abordagem da Economia Poliacutetica Internacional ndash EPI que tem nos

neomarxistas alguns dos seus principais teoacutericos expandindo a aacuterea das

Relaccedilotildees Internacionais em direccedilatildeo agraves questotildees econocircmicas agraves relaccedilotildees entre

poliacutetica e economia entre Estados e mercados em acircmbito mundial e

introduzindo problemas distintos e complexos de paiacuteses em desenvolvimento

Por outro lado aleacutem da perspectiva da abordagem da EPI haacute de serem

consideradas tambeacutem as complexas relaccedilotildees sociais que vinculam indiviacuteduos

e Estados a existecircncia da prioridade da sociedade global principalmente no

que se refere ao aspecto moral associada agrave responsabilidade global pelas

necessidades humanas pelos direitos humanos e pelo meio ambiente Nesse

sentido apesar de o presente estudo natildeo ter a pretensatildeo de aprofundar o

debate entre as teorias eou abordagens das Relaccedilotildees Internacionais vale

destacar as principais caracteriacutesticas da abordagem da Sociedade

Internacional - SI dado o fato de que a aacuterea da sauacutede objeto da presente

8 Ver Jackson e Sorensen 2007

14 Nogueira e Messari 2005

15 Oliveira e Ri Junior 2003

16

43

anaacutelise perpassa tambeacutem pelos princiacutepios kantianos [9] com base nas

caracteriacutesticas de uma sociedade mundial solidarista

2 A Abordagem da Sociedade Internacional

A abordagem da Sociedade Internacional traduz as relaccedilotildees

internacionais como uma sociedade de Estados soberanos onde a arte da

poliacutetica eacute desenvolvida por estadistas especializados caracterizada pela

confianccedila expliacutecita no exerciacutecio do julgamento 18 cujas principais funccedilotildees satildeo a

promoccedilatildeo e a preservaccedilatildeo da ordem internacional com justiccedila internacional

Parte-se do pressuposto de que as relaccedilotildees internacionais fazem parte

das relaccedilotildees humanas No tocante agraves escolhas morais a Sociedade

Internacional apresenta dilemas de responsabilidades necessaacuterias em trecircs

niacuteveis distintos que natildeo satildeo excludentes entre si sob pena de se subestimar a

complexidade das Relaccedilotildees Internacionais O principal desafio consiste no

atendimento de todas elas a nacional a internacional e a humanitaacuteria 1914

Portanto na concepccedilatildeo dos autores

A primeira seria a responsabilidade nacional isto eacute ldquodevoccedilatildeo agrave proacutepria

naccedilatildeo e ao bem-estar de seus cidadatildeosrdquo ndash nesse caso os ldquopaiacuteses natildeo

tecircm obrigaccedilotildees internacionais que precedam seus interesses nacionais

Assim o direito internacional e as organizaccedilotildees internacionais satildeo

simplesmente consideraccedilotildees instrumentais na determinaccedilatildeo do

interesse nacional dos Estadosrdquo [10]

9 Idealista Immanuel Kant (1724 ndash 1804) levou a perspectiva universalista a um

desenvolvimento extremo Conforme Castro (2005 p 67- 77)17

para Kant (1971 p 255) natildeo existe

nenhum conflito entre moral e poliacutetica ―a verdadeira poliacutetica () natildeo pode dar um passo sem

antecipadamente ter prestado homenagem agrave moral significando que ―toda poliacutetica estaacute obrigada a dobrar

os joelhos diante do direito () 10

Nesse caso os poliacuteticos satildeo responsaacuteveis pelo bem-estar de seus cidadatildeos obrigaccedilatildeo de

proteger As consideraccedilotildees a seguir satildeo caracteriacutesticas de um sistema de Estados autocircnomos ndash acircmbito do

realismo cuja concepccedilatildeo daacute origem aos preceitos de Maquiavel ―priorizar sua naccedilatildeo e seus cidadatildeos

afastar riscos desnecessaacuterios com respeito agrave seguranccedila e ao bem-estar colaborar com outros paiacuteses

quando vantajoso ou necessaacuterio evitando complicaccedilotildees externas somente submeter a populaccedilatildeo agrave Guerra

quando absolutamente essencial Ver Jackson e Sorensen 2007 14

44

A segunda eacute a responsabilidade internacional isto eacute ldquorespeito pelos

interesses legiacutetimos pelos direitos de outros Estados e pelo direito

internacionalrdquo Nessa concepccedilatildeo ldquoos poliacuteticos tecircm obrigaccedilotildees externas

originadas da participaccedilatildeo de seus Estados na Sociedade Internacionalrdquo

[11]

Jaacute a terceira a responsabilidade humanitaacuteria fundamenta-se no

ldquocompromisso com os direitos humanos natildeo soacute em seus proacuteprios

paiacuteses mas em todo o mundordquo [12]

Como declarado anteriormente natildeo haacute vencedor tampouco perdedor no

tocante agraves abordagens que procuram analisar as relaccedilotildees internacionais Satildeo

os contextos histoacutericos que confirmam ou rejeitam as teorias defendidas por

cada uma das abordagens Mantendo-se inclusive um diaacutelogo interminaacutevel

entre as distintas teorias

Entretanto a fim de vincular o debate entre os teoacutericos da Economia

Poliacutetica Internacional e os defensores da abordagem da Sociedade

Internacional [13] vale destacar a principal criacutetica dos teoacutericos da EPI a

abordagem da Sociedade Internacional ignora a economia e o Terceiro Mundo

11

Nesse caso direitos e obrigaccedilotildees satildeo definidos pelo direito internacional e desempenham

papel fundamental nas relaccedilotildees internacionais Tecircm-se os Estados natildeo como entidades isoladas e sim

relacionando-se uns com os outros e constituindo soberania externa por meio da praacutetica de

reconhecimento de diplomacia de comeacutercio etc a partir das quais extraem importantes direitos e

benefiacutecios Satildeo independentes das obrigaccedilotildees nacionais e simultaneamente as complementam Esse

padratildeo de avaliaccedilatildeo das poliacuteticas externas tem como base os ―preceitos grotianos Preceitos esses

relacionados agrave uma ―sociedade pluralista de Estados com base no direito internacional ndash no

racionalismo ―ser um bom cidadatildeo da sociedade internacional reconhecimento de que outros Estados

tecircm direitos e interesses legiacutetimos dignos de respeito agir com boa intenccedilatildeo cumprir o direito

internacional e respeitar as leis de Guerra Ver Jackson e Sorensen 200714

12 Base de padratildeo cosmopolita de poliacutetica responsaacutevel pelos direitos humanos que ultrapassa a

responsabilidade internacional derivando da obrigaccedilatildeo humana ―antes de sermos cidadatildeos de um Estado

e membro de seu governo somos seres humanos Esse padratildeo eacute pautado nos princiacutepios kantianos Com

caracteriacutesticas de uma sociedade mundial solidarista com base na comunidade humana ndash no

revolucionismo ―todos satildeo seres humanos respeito aos direitos humanos abrigo aos perseguidos

assistecircncia aos necessitados de ajuda material no caso de guerra ter misericoacuterdia com os natildeo-

combatentes Ver Jackson e Sorensen 200714

13Para aprofundamento das criacuteticas a essa abordagem ver Jackson e Sorensen 2007

14 Para os

autores no que se refere aos teoacutericos do realismo haacute pouca evidecircncia de normas internacionais como

determinantes do comportamento e da poliacutetica estatal onde haacute predominacircncia de interesses distintos Jaacute

os liberais justificam que a tradiccedilatildeo da Sociedade Internacional subestima a poliacutetica nacional ignorando o

progresso da poliacutetica internacional e a democracia

45

[14] natildeo conferindo o necessaacuterio peso agrave luta competitiva entre os Estados

nacionais sendo incapaz de justificar as relaccedilotildees econocircmicas internacionais

Pode-se questionar tambeacutem o fato de que a abordagem da Sociedade

Internacional negligencia as complexas relaccedilotildees sociais que vinculam

indiviacuteduos e Estados 14 Natildeo considera o fato de que haacute prioridade da

sociedade global notadamente no aspecto moral 14 (p 233)

ldquosobre a sociedade de Estados e estaacute associada agrave responsabilidade global pelas

necessidades humanas pelos direitos humanos e pelo meio ambiente sem

levar em consideraccedilatildeo a jurisdiccedilatildeo estatal nem as fronteiras internacionaisrdquo

Inclusive tampouco considera a ldquosociedade mundialrdquo que existe por meio de

relaccedilotildees sociais inerentes agrave produccedilatildeo e agrave troca global de produtos baacutesicos da

cultura global e da comunicaccedilatildeo de massas e do desenvolvimento cada vez

mais amplo da poliacutetica mundial

E eacute no sentido de se agregar agrave perspectiva humanitaacuteria da Sociedade

Internacional com a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas internacionais

considerando notadamente os paiacuteses em desenvolvimento eacute que daremos

continuidade a este trabalho destacando a abordagem da Economia Poliacutetica

Internacional

3 A abordagem da Economia Poliacutetica Internacional -EPI [15]

A ldquointerdependecircncia econocircmica ndash o alto grau de dependecircncia econocircmica

muacutetua entre os paiacuteses ndash eacute uma caracteriacutestica do sistema estatal

contemporacircneordquo 14 (p24) Sob essa perspectiva a globalizaccedilatildeo econocircmica

pode ser conceituada como a ocorrecircncia simultacircnea da expansatildeo dos fluxos

14 Em que pese a expressatildeo ―Terceiro Mundo cunhada na abordagem das Relaccedilotildees

Internacionais ndash EPI e SI optaremos neste estudo por adotar a expressatildeo ―paiacuteses em desenvolvimento

dado o novo contexto geopoliacutetico e econocircmico internacional que abarca o processo de desenvolvimento

tanto dos paiacuteses desenvolvidos quanto dos em desenvolvimento

15 Dado o objetivo da presente tese de doutorado natildeo eacute pretensatildeo aprofundar a abordagem da

EPI nas Relaccedilotildees Internacionais Entretanto busca-se destacaras suas principais caracteriacutesticas de

maneira que possam ser consideradas e avaliadas no escopo da interaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais com as

poliacuteticas internacionais foco do presente estudo Para maior aprofundamento ver Gilpin 1987 20

Gonccedilalves 2003 21

Jackson e Sorensen 2007 14

46

internacionais de bens serviccedilos e capitais do acirramento da concorrecircncia nos

mercados mundiais e da maior integraccedilatildeo entre os sistemas econocircmicos

nacionais 21 (p29)

Na percepccedilatildeo dos primeiros autores a globalizaccedilatildeo tanto pode ser

considerada positiva como negativa Isto eacute assim como a expansatildeo do

mercado global pode gerar um aumento da liberdade e da riqueza por meio de

maior eficiecircncia assim como maior produtividade e especializaccedilatildeo aleacutem de

alternativas de distribuiccedilatildeo e meios de distribuiccedilatildeo por outro lado tambeacutem

promove a desigualdade entre os Estados uma vez que haacute dominacircncia dos

paiacuteses desenvolvidos mais ricos e poderosos detentores de vantagens

financeiras e econocircmicas aleacutem de vantagens de conhecimento e de inovaccedilotildees

tecnoloacutegicas paiacuteses esses que exercem grande influecircncia e por vezes

dominaccedilatildeo junto aos paiacuteses normalmente mais pobres e fracos que natildeo satildeo

possuidores dessas vantagens

Portanto o processo de globalizaccedilatildeo resulta em um sistema complexo

de interdependecircncias entre economias nacionais E nesse caso segundo

Ramonet 21 a interdependecircncia apresenta-se assimeacutetrica ldquode tal forma que se

pode falar de bdquovulnerabilidade unilateral‟ por parte da grande maioria de paiacuteses

do mundo que tecircm uma capacidade miacutenima de repercussatildeo em escala

mundialrdquo (p 20) O que nos remete ao conceito de poder no sistema

internacional 21 (p20) ldquoo poder efetivo eacute inversamente proporcional agrave

vulnerabilidade externardquo [16] isto eacute

ldquoquanto mais elevada a probabilidade de um ator

social sujeito poliacutetico ou agente econocircmico realizar a

sua proacutepria vontade ou resistir a pressotildees fatores

desestabilizadores e choques externos maior eacute o seu

poder efetivo no sistema internacionalrdquo (p20)

No caso do sistema internacional quanto agrave tipologia das formas de

poder esta pode ser classificada de vaacuterias formas de poder conforme os meios

de que se serve o ldquosujeito ativo sobre o passivordquo 23 (p 955-7) Isso posto

16

Vulnerabilidade externa ―expressa a capacidade de resistecircncia das economias nacionais a

pressotildees fatores desestabilizadores ou choques externos em funccedilatildeo das opccedilotildees de resposta com os

instrumentos de poliacutetica disponiacuteveis e dos custos de enfrentamento ou de ajuste diante dos eventos

externos 22

(p19)

47

distingue-o em trecircs grandes classes o poder ideoloacutegico o poder poliacutetico e o

poder econocircmico

Para o autor 23 o poder ideoloacutegico eacute o que ldquose baseia na influecircncia que

as ideacuteias formuladas de certo modo expressas em certas circunstacircncias por

certa pessoa investida de certa autoridade e difundidas mediante certos

processos exercem sobre a conduta dos consociadosrdquo (p 955) Eacute o sentido do

poder das ideacuteias dos valores e dos ideais O poder tambeacutem perpassa pelo

conceito de hegemonia 22 (p21) O autor cita Gramsci (1971) ao distinguir que

enquanto o centro de irradiaccedilatildeo do poder poliacutetico eacute o Estado o de irradiaccedilatildeo do

poder cultural-ideoloacutegico eacute a sociedade civil Isto eacute ldquoenquanto o poder poliacutetico

envolve o aspecto da coaccedilatildeo o poder ideoloacutegico tem o aspecto da submissatildeo

via consentimento Ou seja o poder assenta-se em dois pilares coaccedilatildeo e

consentimentordquo (p21)

No que se refere ao poder poliacutetico este ldquose baseia na posse dos

instrumentos mediante os quais se exerce a forccedila fiacutesica () eacute o poder coator

no sentido mais estrito da palavrardquo 23 (p955) Todavia o exerciacutecio do poder natildeo

se limita exclusivamente agrave coaccedilatildeo por meio do uso da forccedila 22 (p20)

ldquoo poder pode derivar da ameaccedila e da legitimidade e portanto dispensar o uso da forccedila e da violecircncia A legitimidade por seu turno pode derivar da tradiccedilatildeo e do carisma ou ter um fundamento racional-legal () Nesses casos o poder baseia-se no consentimento e natildeo na coaccedilatildeo ou na violecircnciardquo

O conceito do poder econocircmico 23 (p955) ldquoeacute o que se vale da posse de

certos bens necessaacuterios ou considerados como tais numa situaccedilatildeo de

escassez para induzir aqueles que natildeo os possuem a manter um certo

comportamentordquo No que se refere aos meios de produccedilatildeo o autor declara que

aiacute ldquoreside uma enorme fonte de poder para aqueles que os tecircm em relaccedilatildeo

agravequeles que os natildeo tecircmrdquo (p955)

Satildeo portanto essas trecircs grandes classes de poder o ideoloacutegico o

poliacutetico e o econocircmico relacionados ao sistema internacional que

fundamentam e manteacutem uma sociedade de desiguais

48

E sob as perspectivas das classes de poder o mercado moderno

inserido no sistema internacional apresenta-se estruturado em normas

poliacuteticas isto eacute em regras e regulamentos poliacuteticos que garantem o seu

funcionamento Entretanto a forccedila econocircmica nesse cenaacuterio tem um valor

importante que se soma ao poder poliacutetico Dessa forma considerando que a

economia eacute a busca da riqueza e a poliacutetica [17] eacute a do poder as duas tecircm uma

interaccedilatildeo complexa e difiacutecil

No contexto internacional portanto a essecircncia da Economia Poliacutetica

Internacional estaacute na base dessa interaccedilatildeo complexa entre poliacutetica e economia

entre Estados e mercados 142024

Logo a EPI eacute considerada como aacuterea do conhecimento cujo objeto de

estudo nas RI eacute ldquoo impacto da economia mundial de mercado sobre as

relaccedilotildees dos Estados e as formas pelas quais os Estados procuram influenciar

as forccedilas de mercado para sua proacutepria vantagemrdquo 20 (p24)

Entretanto haacute de se transcender a articulaccedilatildeo entre Estado e mercado

22 (p10) Para o autor a EPI eacute antes de tudo um meacutetodo de anaacutelise que natildeo

deve limitar-se agrave interaccedilatildeo entre o Estado e o mercado

ldquoA EPI eacute um meacutetodo de anaacutelise que tem como foco a

dinacircmica do sistema econocircmico internacional em suas

distintas esferas e dimensotildees que resulta das decisotildees

e accedilotildees de atores nacionais e transnacionais cuja

conduta eacute determinada por fatores objetivos e

subjetivosrdquo (p10)

Nesse sentido relaccedilotildees processos e estruturas compreendem a

dinacircmica do sistema econocircmico internacional18 conforme apresentado na

figura 2 abaixo

17

O conceito de Poliacutetica entendida como ―uma forma de atividade ou de praacutexis humana estaacute

estreitamente ligado ao de poder 23

(p954) Para o autor este tem sido tradicionalmente definido como

―consistente nos meios adequados agrave obtenccedilatildeo de qualquer vantagemou analogamente como conjunto dos

meios que permitem alcanccedilar os efeitos desejados 18

A interaccedilatildeo de variaacuteveis no sistema internacional se expressa num ―conjunto integrado de

relaccedilotildees processos e estruturas A relaccedilatildeo eacute um ―ato de natureza determinada envolvendo pelo menos

dois atores de diferentes nacionalidades ou atores transnacionais 22

O processo expressa a ―evoluccedilatildeo a

sucessatildeo de estados ou mudanccedilas causada pelas relaccedilotildees entre atores A estrutura significa a ―disposiccedilatildeo

e ordem das partes de um todo Para maior aprofundamento ver Gonccedilalves (2005) 22

49

Figura 2 Sistema Econocircmico Internacional ndash Esquema Analiacutetico Baacutesico

Fonte Gonccedilalves (200512) 22

As esferas relacionadas nessa dinacircmica satildeo a comercial isto eacute o

ldquocomeacutercio transfronteiriccedilo de bens e serviccedilos bem como do deslocamento

internacional de consumidores de um paiacutes para acessar produtos (bens e

serviccedilos) no mercado de outro paiacutesrdquo a produtiva-real ou seja o ldquodeslocamento

de produtores de bens e serviccedilos de um paiacutes para outro via investimento

externo diretordquo a monetaacuteria-financeira que se refere ldquoaos fluxos de capitais

internacionais na forma de empreacutestimos financiamento e investimentosrdquo e

finalmente a tecnoloacutegica que envolve ldquoa transferecircncia internacional de ativos

intangiacuteveis e conhecimentordquo tratando-se tambeacutem dos ldquodireitos de propriedade

intelectual e industrial e de know-howrdquo 22 (p18)

E as dimensotildees em que ocorre a dinacircmica satildeo a bilateral envolvendo

dois atores de diferentes nacionalidades ou atores transnacionais a plurilateral

quando pelo menos trecircs atores estatildeo interagindo (por exemplo relaccedilotildees

comerciais no contexto do Mercosul) e a multilateral ldquoenvolvendo todos ou

50

praticamente todos os principais atoresrdquo como exemplo a interaccedilatildeo dos

governos no acircmbito da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio ndash OMC

Quanto aos atores nacionais e transnacionais podem ser ldquoestatais

paraestatais e natildeo-estataisrdquo

Determina-se a questatildeo relacionada agrave conduta dos atores por fatores

objetivos ldquocomo os interesses materiais (geraccedilatildeo de riqueza) e poliacuteticos

(geraccedilatildeo de poder)rdquo e tambeacutem por fatores subjetivos ldquocom destaque para os

valores e os ideaisrdquo

Dessa forma cria-se um diferencial para o enfoque da EPI associando-

se a anaacutelise econocircmica e poliacutetica agrave apreciaccedilatildeo ideoloacutegico e cultural mais

pertinente ao campo social Procura-se portanto identificar as motivaccedilotildees da

accedilatildeo dos atores que operam no sistema internacional

Somadas agraves motivaccedilotildees autores como Susan George (1988) e JC

Santos (2000) citados por Gonccedilalves 22 (p15) incorporam aos sistemas poliacutetico

cultural e econocircmico estruturas de poder na economia mundial ldquoproduccedilatildeo

financeira seguranccedila e conhecimentordquo e ldquociecircncia e teacutecnicardquo respectivamente

Os primeiros produccedilatildeo e financeira satildeo tratados como esferas especiacuteficas do

sistema econocircmico internacional juntamente com a esfera comercial e

tecnoloacutegica No que diz respeito aos dois uacuteltimos ciecircncia e teacutecnica satildeo

reconhecidos como parte dos sistemas econocircmico e poliacutetico 22

Ganha destaque nesse sentido a interdependecircncia [19] entre a Ciecircncia

e a Teacutecnica e a economia e Poliacutetica 22

ldquoDe fato eacute difiacutecil compreender a dinacircmica dos

processos de desenvolvimento cientiacutefico e de inovaccedilatildeo

tecnoloacutegica nos paiacuteses desenvolvidos sem levar em

conta as estrateacutegias e as poliacuteticas dos Estados-

nacionais20

tanto no que se refere ao desenvolvimento

econocircmico quanto agrave estrateacutegia de defesa nacionalrdquo

(p16)

19

Interdependecircncia essa que seraacute detalhada no Capiacutetulo II do presente estudo

20 Estado-nacional ―tipo de Estado que possui o monopoacutelio do que afirma ser o uso legiacutetimo da

forccedila dentro de um territoacuterio demarcado e que procura unir o povo submetido a seu governo por meio da

homogeneizaccedilatildeo criando uma cultura siacutembolos e valores comuns revivendo tradiccedilotildees e mitos de origem

ou agraves vezes inventando-os (Guibernau 1997 p56 apud Gonccedilalves 2005 p 29) 22

51

A despeito de Gonccedilalves 22 (p8) considerar que a EPI natildeo se constitui

num campo teoacuterico especiacutefico e sim num meacutetodo ou enfoque analiacutetico para o

presente estudo seraacute considerado a abordagem da EPI de maneira que se

procure analisar as relaccedilotildees internacionais a partir da interaccedilatildeo entre as

ciecircncias da Economia e da Poliacutetica mesmo que natildeo seja a pretensatildeo deste

trabalho aprofundar essa anaacutelise e tatildeo somente apresentar uma breve

introduccedilatildeo acerca da temaacutetica

Assim posto destacando-se por ora tanto a perspectiva poliacutetica quanto

a perspectiva econocircmica no acircmbito da EPI como primordiais na anaacutelise da

globalizaccedilatildeo econocircmica ou seja na difusatildeo e na intensificaccedilatildeo de todos os

tipos de relaccedilotildees poliacutetico e econocircmicos entre os paiacuteses tem-se relaccedilatildeo com as

principais classificaccedilotildees tradicionais das abordagens das Relaccedilotildees

Internacionais isto eacute com o nacionalismo ou realismo o liberalismo e o

marxismo Essas relaccedilotildees seratildeo apresentadas a seguir mas vale o destaque

que para o presente estudo dado o nosso interesse sobre os paiacuteses em

desenvolvimento seraacute destacada a ldquoabordagem marxista da EPIrdquo

De maneira resumida e simplificada podemos diferenciar essas teorias

da EPI da seguinte forma

52

Quadro 1 Principais Teorias da EPI

Para a visatildeo

realista

(tambeacutem

conhecido por

mercantilismo ou

nacionalismo

econocircmico)

A economia estaacute subordinada agrave poliacutetica A atividade econocircmica deve se dedicar agrave ldquoconstruccedilatildeo de um Estado forte e ao apoio do interesse nacionalrdquo

Eacute um instrumento da poliacutetica uma base para o poder poliacutetico Nesse contexto ldquoa economia internacional eacute uma arena de conflito entre

interesses nacionais opostos ao inveacutes de uma aacuterea de cooperaccedilatildeo e ganho muacutetuordquo

14

A criaccedilatildeo da riqueza eacute a ldquobase necessaacuteria para aumentar o poder do Estadordquo A riqueza exerce a base primordial para se alcanccedilar a seguranccedila e o bem-estar nacionais O poder poliacutetico nesse caso funciona como sustentaccedilatildeo de uma economia mundial liberal isto eacute ldquosem um poder hegemocircnico natildeo eacute possiacutevel existir uma economia mundial liberalrdquo

1424

Para a visatildeo

liberal

Busca-se ldquoa prosperidade econocircmica por meio do livre comeacutercio e da troca econocircmica abertardquo contra ldquoo acuacutemulo de poder por meio da forccedila militar e da expansatildeo territorialrdquo

A produccedilatildeo e os preccedilos natildeo dependem do planejamento do governo A economia liberal opera em um ldquomercado livrerdquo baseado em uma harmonia de

interesses onde a distribuiccedilatildeo da riqueza eacute naturalmente proporcional ao meacuterito

Entende-se o capitalismo internacional como ldquouma forma de mudanccedila

progressiva para todos os paiacuteses independentes do seu niacutevel de

desenvolvimentordquo defendendo o mercado livre a propriedade privada e a

liberdade individual para a criaccedilatildeo da base do progresso econocircmico auto-

sustentaacutevel dos paiacuteses envolvidos Argumenta-se que ldquoa prosperidade humana

pode ser alcanccedilada por meio da livre expansatildeo global do capitalismo aleacutem das

fronteiras do Estado soberano e por meio do decliacutenio da importacircncia desses

limites territoriaisrdquo

Para a visatildeo

marxista

(Visatildeo Claacutessica)

A caracteriacutestica predominante no marxismo eacute a definiccedilatildeo de que a economia capitalista baseia-se na burguesia e no proletariado Apresenta uma visatildeo materialista onde a produccedilatildeo econocircmica eacute a base para todas as atividades humanas incluindo a poliacutetica

A poliacutetica e a economia estatildeo interligadas Algumas consideraccedilotildees sobre o marxismo no contexto da Economia Poliacutetica

Internacional podem ser destacadas (1) os Estados natildeo satildeo autocircnomos sendo motivados e orientados pelos interesses da classe governante e pelos interesses de suas burguesias (2) o conflito de classes eacute mais fundamental do que aquele entre Estados (3) existecircncia de uma busca infinita por novos mercados e por mais lucros (4) as classes ultrapassam as fronteiras estatais e os conflitos natildeo se restringem aos Estados expandindo-se no capitalismo globalizaccedilatildeo econocircmica liderada por corporaccedilotildees transnacionais

O capitalismo internacional eacute entendido como um instrumento para a exploraccedilatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento pelos paiacuteses desenvolvidos

Elaboraccedilatildeo proacutepria (2012) a partir da fonte Jackson e Sorensen 2007 14

Uma vez que a este estudo interessa o olhar sobre os paiacuteses em

desenvolvimento seraacute dado destaque para a abordagem marxista da EPI

apresentando breves comentaacuterios [21] sobre dois de seus principais teoacutericos

Wallerstein e Fiori

21

Parte-se da anaacutelise de Osorio LFB O sistema mundo no pensamento de Arrighi Wallerstein e

Fiori um estudo comparativo In Coloacutequio Brasileiro em Economia Poliacutetica dos Sistemas-Mundo 4

53

Na perspectiva do neomarxista Wallerstein 25262728 a noccedilatildeo do Terceiro

Mundo eacute reinterpretada Para ele existe um mundo articulado por um complexo

sistema de trocas econocircmicas sob a base da dicotomia entre capital e trabalho

e a acumulaccedilatildeo de capital entre notadamente Estados-Naccedilatildeo concorrentes

cujo equiliacutebrio eacute ameaccedilado por questotildees e conflitos internos Conceito esse

denominado como ldquosistema-mundordquo isto eacute um sistema mundial capitalista

norteado pelo comportamento dos Estados em um contexto competitivo

interestatal que admite uma hierarquia dividida entre centro semiperiferia e

periferia

Em conformidade com a tipologia esquemaacutetica apresentada por

Wallerstein 252627 o ldquoSistema-Mundordquo tem as seguintes caracteriacutesticas

(1) A economia mundial capitalista sustenta-se sobre uma hierarquia de

aacutereas centrais perifeacutericas e semiperifeacutericas em funccedilatildeo da divisatildeo do

trabalho entre as regiotildees assim definidas

a Aacutereas centrais ndash grande desenvolvimento tecnoloacutegico atividades

econocircmicas avanccediladas e complexas controladas pela burguesia

local ndash induacutestrias comeacutercios e agricultura complexa como

exemplos

b Perifeacutericas ndash base da hierarquia produzem artigos de primeira

necessidade A matildeo de obra eacute natildeo especializada e haacute pouca

atividade industrial (normalmente sob controle externo dos

capitalistas dos paiacuteses centrais)

c Semiperifeacutericas ndash camada intermediaacuteria entre a superior de

paiacuteses centrais e a inferior de paiacuteses perifeacutericos

(2) Troca desigual O excedente econocircmico eacute transferido da periferia para o

centro Isto eacute o excedente eacute derivado dos produtores com lucros e

2010 Santa Catarina Anais eletrocircnicos Santa Catarina UFSC 2010 Disponiacutevel em

lthttpwwwgpepsmufscbrhtmlarquivoso_sistema_mundo_no_pensamento_de_arrighi_wallerstein_e

_fioripdfgt Acesso em 21 set 2010

54

salaacuterios baixos na periferia e destinado aos produtores com lucros e

salaacuterios altos das aacutereas centrais

(3) Governos fortes no centro e governos mais fracos na periferia Isto eacute os

Estados fortes impotildeem trocas desiguais aos mais fracos O capitalismo

envolve ldquouma apropriaccedilatildeo do excedente de toda a economia mundial

pelas aacutereas centraisrdquo 29

Sob a perspectiva de um olhar diferenciado para o sistema mundial

formado pelos ldquoEstados-economias nacionaisrdquo e pelas ldquoeconomias liacutederesrdquo -

transnacionais e imperiais - satildeo apresentadas as seguintes caracteriacutesticas 30

(p33-4)

1 Cada ldquoEstado-economia imperialrdquo produz seu proacuteprio rastro e nesse

contexto as demais economias nacionais satildeo hierarquizadas em trecircs

grupos conforme suas estrateacutegias poliacutetico-administrativas

a economias nacionais que se desenvolvem sob o efeito protetor

imediato do liacuteder (ou vinculado ao liacuteder)

b economias nacionais que adotam estrateacutegias de catch up [22]

para alcanccedilar as ldquoeconomias liacutederesrdquo Segundo o autor sejam

por motivos ofensivos ou defensivos ldquoaproveitam os periacuteodos de

mudanccedila internacional para mudar sua posiccedilatildeo na hierarquia de

poder internacional por meio de poliacuteticas agressivas de

crescimento econocircmicordquo isto eacute o fortalecimento econocircmico

antecedendo ao fortalecimento militar e ao aumento do poder

internacional do paiacutes o que pode alcanccedilar sucesso e neste

caso ocorrer a criaccedilatildeo de um novo ldquoEstado-Economia liacutederrdquo ou

ser devidamente ldquobloqueadordquo

22 Entendem-se ―estrateacutegias de catch up como as habilidades que uma determinada

economia desenvolve para viabilizar a reduccedilatildeo da distacircncia que o separa de um paiacutes ou de uma economia

liacuteder

55

c em um grupo amplo concentra-se a grande maioria das demais

economias nacionais do sistema mundial atuantes na ldquoperiferia

econocircmica do sistemardquo fornecendo ldquoinsumos primaacuterios e

industriais especializados para as economias dos ldquoandares

superioresrdquo Para o autor essas economias podem apresentar

intensos ciclos de crescimento com alta renda per capita aleacutem

de se industrializar seguindo como ldquoeconomias perifeacutericasrdquo

2 A desigualdade no desenvolvimento da distribuiccedilatildeo da riqueza entre as

naccedilotildees eacute tida como uma dimensatildeo econocircmica fundamental do ldquosistema

mundial modernordquo mesmo considerando a existecircncia da ldquopossibilidade

seletiva de mobilidade nacional dentro desse sistemardquo a depender da

estrateacutegia econocircmica adotada por cada paiacutes aleacutem da estrateacutegia poliacutetica

assumida

Com o avanccedilo da troca desigual criam-se conflitos e o sistema

econocircmico eacute tensionado Nesse caso algumas caracteriacutesticas podem ser

apresentadas 2728

(a) A semiperiferia tem um papel de apaziguador poliacutetico

Uma vez que natildeo haacute necessariamente uma oposiccedilatildeo

unificada com relaccedilatildeo aos paiacuteses centrais a

semiperiferia acaba exercendo o papel de estabilizador

poliacutetico

(b) A economia mundial natildeo eacute estaacutetica Podem existir

mudanccedilas nas posiccedilotildees assumidas entre os paiacuteses do

centro e nos de semiperiferia A troca tambeacutem pode

ocorrer entre os paiacuteses da periferia e da semiperiferia

(c) Pode existir uma mudanccedila dinacircmica entre os tipos de

produtos relacionados agraves atividades econocircmicas

perifeacutericas e centrais O avanccedilo tecnoloacutegico pode

representar o dinamismo da atividade econocircmica

passamos pela aacuterea tecircxtil depois industrial e atualmente

a informaccedilatildeo e a biotecnologia em conjunto com o

56

sistema financeiro e outros serviccedilos Para o economista

a estrutura fundamental do sistema capitalista natildeo muda

A hierarquia do centro da semiperiferia e da periferia eacute

caracterizada pela troca desigual

O ldquoSistema-Mundordquo apresenta uma divisatildeo sistecircmica na economia-

mundo capitalista o que na percepccedilatildeo do autor leva os Estados centrais a

uma situaccedilatildeo de tensatildeo econocircmica e militar constante concorrendo pelo

privileacutegio de explorar as aacutereas perifeacutericas O que leva ao enfraquecimento dos

aparelhos desses Estados perifeacutericos poreacutem essa divisatildeo permite que certos

paiacuteses desempenhem um papel intermediaacuterio especializado como potecircncias

semiperifeacutericas

A economia-mundo estaacute fadada agrave desintegraccedilatildeo por causa de seu

proacuteprio sucesso 28 Isto eacute atingiu ldquouma enorme expansatildeo da produccedilatildeo mundial

e um incriacutevel avanccedilo tecnoloacutegicordquo mas ldquocriou uma enorme quantidade de

destruiccedilatildeo e de empobrecimento de amplos segmentos das populaccedilotildees

mundiaisrdquo Ele aponta a crise estrutural atual em funccedilatildeo do seu sucesso

relacionado agrave acumulaccedilatildeo do capital

ldquoSeu sucesso demanda trecircs coisas e cada uma delas estaacute atingindo um niacutevel ameaccedilador para a continuaccedilatildeo da acumulaccedilatildeo de capital Primeiro em todo o mundo o custo da matildeo-de-obra tem aumentado constantemente para os produtores () que tambeacutem pesa na acumulaccedilatildeo do capital Segundo os capitalistas tecircm mantido seus preccedilos baixos natildeo pagando suas contas algo que os economistas chamam de externalizaccedilatildeo dos custos Isso significa que boa parte dos custos de produccedilatildeo como a renovaccedilatildeo de recursos ou de infraestruturas eacute paga pelo Estado (e portanto pela populaccedilatildeo em geral) natildeo pelos empreendedores que lucram com os negoacutecios () Assim os governos comeccedilaram a pressionar os produtores para que eles internalizassem seus custos Terceiro para evitar rebeliotildees sociais constantes os Estados foram democratizados () o que significa que eacute exigido dos Estados que forneccedilam trecircs coisas baacutesicas aos cidadatildeos educaccedilatildeo sauacutede e garantias de uma receita duraacutevel Ou seja o Estado do Bem-Estar Socialrdquo

28

O Estado do Bem-Estar Social tem alto custo e eacute obtido por meio de

impostos e em uacuteltima anaacutelise por cortes na acumulaccedilatildeo de capital Vale

57

destacar que a sustentaccedilatildeo do Estado do Bem-Estar nos paiacuteses desenvolvidos

encontra-se em severa crise particularmente junto aos paiacuteses europeus 28

Caracteriza portanto o periacuteodo atual como o de crise e transiccedilatildeo da

hegemonia dos paiacuteses centrais notadamente dos EUA como tambeacutem o de

crise terminal do proacuteprio sistema mundial moderno a prolongar-se nas proacuteximas

deacutecadas para finalmente ocorrer um novo sistema internacional diferente do

que eacute apresentado na atualidade ldquoo sistema internacional marcharaacute para uma

reestruturaccedilatildeo que seraacute repressiva ou igualitaacuteria () para algo totalmente

diferenterdquo 26 (p 209)

O que pode ser contra-argumentado ao se questionar se estamos

vivendo ldquouma crise terminal do sistema capitalista e interestatal modernordquo ou

apenas ldquouma crise de transiccedilatildeo ou reafirmaccedilatildeo hegemocircnicardquo30 (p63)

Fiori 30 em discordacircncia agrave tese de Wallerstein apresenta como

contraditoacuteria a previsatildeo de que o sistema econocircmico capitalista seja destruiacutedo

por uma crise terminal provocada por uma contraccedilatildeo dos lucros (profit

squeeze) diante de um cenaacuterio internacional que apresenta grandes inovaccedilotildees

tecnoloacutegicas Para o autor haacute de ser considerada a importacircncia estrateacutegica da

tecnologia em quase todos os setores decisivos da economia

Durante os periacuteodos de bonanccedila econocircmica internacional e nos de

ldquointensificaccedilatildeo da competiccedilatildeo e das lutas entres as grandes potecircncias do

sistema mundialrdquo ocorrem a ampliaccedilatildeo de oportunidades para os Estados

situados na periferia do sistema 30 (p35) Nesse sentido a relaccedilatildeo da periferia

com o sistema mundial eacute expandida diferentemente do que defende o modelo

de Wallerstein

Apesar de considerar a intensificaccedilatildeo da competiccedilatildeo e das lutas entres

as grandes potecircncias do sistema mundial e sua respectiva consequecircncia Fiori

30 (p 67) destaca a importacircncia da ldquonatureza e do funcionamento hieraacuterquico

do poder globalrdquo devendo-se levar em consideraccedilatildeo as ldquodiferenccedilas

gigantescas que existem entre os vaacuterios paiacuteses e as economias nacionais

dispersas pelo mundordquo Em sua opiniatildeo

58

a O processo de internacionalizaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo do

capitalismo foi decorrente da tentativa e da busca da imposiccedilatildeo

dos Estados e economias nacionais ao resto do sistema mundial

de seus respectivos poder soberano moeda diacutevidas e sistema

de tributaccedilatildeo (expansatildeo do capital financeiro nacional)

b Existe um Estado nacional mais poderoso que exerce influecircncia

e imposiccedilatildeo dos seus interesses nacionais aos demais Estados

isto eacute ao resto mundo E natildeo um ldquoEstado ou impeacuterio que

absorve e dissolve os Estados nacionaisrdquo

c Existem Estados nacionais sem soberania eou sem

possibilidade de desenvolvimento econocircmico nacional

No que se refere aos paiacuteses em desenvolvimento caracterizados como

ldquosemi-Estadosrdquo 14 incapazes de atender ao conjunto de regras estabelecidas

pelos paiacuteses desenvolvidos apresentam quase sempre uma economia pobre e

subdesenvolvida natildeo sendo capazes de se manter sozinhos no sistema

internacional requerendo um tratamento especial e preferencial do mundo

desenvolvido Obrigam-se a conseguir o que querem ou o que precisam dos

paiacuteses mais ricos e mais fortes

Haacute de se destacar nesse sentido que as mudanccedilas na hierarquia desse

sistema podem ser observadas por meio dos reflexos concretos das atuaccedilotildees

estatais nos foros multilaterais e nas institucionalidades dos organismos

intergovernamentais globais e regionais como por exemplo OMC OMS G-20

que se espera defendam o reposicionamento no sistema interestatal

Sob o contexto da natureza e do funcionamento hieraacuterquico do poder

global natildeo se pode deixar de considerar a legitimidade da soberania e os

consequentes reflexos concretos que o mesmo impotildee agraves complexas relaccedilotildees

interestatais Considerando que a economia nacional eacute uma base de recursos

estrateacutegicos para o Estado nacional a questatildeo da soberania [ 23 ] eacute tambeacutem

apontada pela EPI

23

Soberania ndash Qualidade do Estado de ser politicamente independente de todos os outros

Estados O conceito poliacutetico juriacutedico de Soberania indica o poder de mando de uacuteltima instacircncia numa

59

Nesse sentido os Estados satildeo independentes uns dos outros pelo

menos legalmente (o que se caracteriza pela detenccedilatildeo de soberania)

Entretanto natildeo estatildeo isolados 14 ldquoPelo contraacuterio se unem e se influenciamrdquo e

devem encontrar meios de ldquocoexistir e de lidar uns com os outrosrdquo Para os

autores soberania ldquoeacute uma instituiccedilatildeo internacionalrdquo isto eacute ldquoum conjunto de

regras personificadas pelos Estadosrdquo que constituem e regulam a sua

independecircncia externa e a sua autoridade nacional Perante o direito

internacional os Estados satildeo juridicamente iguais [ 24 ] Portanto a soberania eacute

a independecircncia poliacutetica que um Estado usufrui com relaccedilatildeo a outros sendo o

governo a autoridade suprema dentro do seu territoacuterio Haacute o entendimento da

soberania como uma instituiccedilatildeo baacutesica da sociedade internacional

No entanto para esses autores esse tema ganha um sentido mais

contemporacircneo jaacute que se desenvolve e varia de maneira natildeo prevista

suficientemente pelas abordagens tradicionais Isso posto os principais

desafios agrave soberania estatildeo nas (1) forccedilas de mercado globais que atravessam

fronteiras com facilidade e afetam economias nacionais no (2)

desenvolvimento de normas sobre proteccedilatildeo internacional dos direitos humanos

e do direito humanitaacuterio acerca dos direitos humanos que prevecirc infraccedilotildees agrave

soberania (desafio ao princiacutepio da natildeo-intervenccedilatildeo) [ 25 ] e no (3) conflito

armado e no controle dos meios de violecircncia quando natildeo haacute garantia do

controle exclusivo dos meios de violecircncia pelos Estados em sua jurisdiccedilatildeo

domeacutestica

O paradoxo da questatildeo da soberania se daacute portanto em muitos casos

quando o fracasso estatal leva agrave intervenccedilatildeo humanitaacuteria o que acaba por

desafiar o princiacutepio da soberania da natildeo-intervenccedilatildeo

Nesse sentido conclui-se que a soberania permanece como uma

instituiccedilatildeo importante e estrateacutegica para a poliacutetica mundial apresentando

sociedade poliacutetica Portanto seu conceito estaacute ligado ao do poder poliacutetico Eacute a racionalizaccedilatildeo juriacutedica do

poder no sentido da transformaccedilatildeo da forccedila em poder legiacutetimo do poder de fato em poder de direito 23

(p

1179) 24

Declaraccedilatildeo de Princiacutepios do Direito Internacional ONU 1970 ― nenhum Estado ou grupo de

Estados tem o direito de intervir direta ou indiretamente por qualquer que seja a razatildeo nos assuntos

internos ou externos de qualquer outro Estado 25

Princiacutepio da Natildeo-Intervenccedilatildeo direito dos Estados de governar seus cidadatildeos sem a

interferecircncia externa

60

mudanccedilas na sua essecircncia cujas variaccedilotildees indicam importantes alteraccedilotildees na

natureza da condiccedilatildeo do Estado independente tornando-se segundo citaccedilatildeo

de Keohane (1995) 14 (p 379) ldquouma barreira menos territorialmente definida do

que um recurso de barganha para uma poliacutetica caracterizada por complexas

redes transnacionaisrdquo

Mesmo considerando a complexa relaccedilatildeo exercida pelo papel da

soberania estatal no sistema mundial ressalta-se a importacircncia do

funcionamento hieraacuterquico do poder global considerando-se as distinccedilotildees

existentes entre os diversos Estados e economias dispersas pelo mundo

defendendo tambeacutem a existecircncia de um Estado nacional mais poderoso e

influente que impotildee os seus interesses nacionais aos demais Estados 30 (p

67)

Nesse sentido Fiori 30 fundamenta a sua teoria do universo em

expansatildeo contiacutenua justificando portanto o poder como a mola propulsora das

relaccedilotildees internacionais cuja incessante pressatildeo competitiva direciona os

Estados a criarem e a conviverem simultaneamente com a ordem e

desordem guerra e paz onde esse movimento de constante fortalecimento de

alguns Estados significa a retraccedilatildeo de outros

Ainda sob essa perspectiva para o autor a necessidade de acumulaccedilatildeo

de poder e do excedente produtivo pode ser justificada pelo somatoacuterio do ldquojogo

das trocasrdquo ao ldquojogo das guerrasrdquo 31 Esse movimento segue na busca por mais

poder O conceito do poder poliacutetico estaacute relacionado agrave ideacuteia de fluxo e natildeo

necessariamente a do estoque 32 (p 334) Nesse sentido

ldquoO exerciacutecio do poder requer instrumentos materiais e ideoloacutegicos mas o essencial eacute que o poder eacute uma relaccedilatildeo social assimeacutetrica indissoluacutevel que soacute existe quando eacute exercido e para ser exercido precisa se reproduzir e acumular constantemente A conquista como disse Maquiavel eacute o ato fundador que instaura e acumula o poder e ningueacutem pode conquistar nada sem ter poder e sem ter mais poder do que o conquistado Num mundo em que todos tivessem o mesmo poder natildeo haveria poderrdquo

61

O que nos remete novamente ao conceito de poder no sistema

internacional como sendo ldquoo poder efetivo inversamente proporcional agrave

vulnerabilidade externardquo 22 (p 20) E baseando-se nessa relaccedilatildeo inclui-se

portanto as relaccedilotildees de mercado na perspectiva da EPI nas Relaccedilotildees

Internacionais que ressaltam o impacto da economia mundial de mercado

sobre as relaccedilotildees dos Estados e as maneiras pelas quais esses Estados

tentam tirar vantagem influenciando as forccedilas de mercado 2414

Dessa forma percebe-se a relaccedilatildeo de poder e o papel poliacutetico do

Estado como um agente central de induccedilatildeo das mudanccedilas nas economias

nacionais isto eacute uma relaccedilatildeo direta da economia com a poliacutetica uma vez que

as estruturas poliacutetica e econocircmica satildeo dependentes uma da outra fazendo-se

cada vez mais presentes no contexto da economia mundial moderna

Nesse sentido a essecircncia das Relaccedilotildees Internacionais encontra-se no

papel estrateacutegico desempenhado pelo Estado E portanto a relaccedilatildeo entre a

poliacutetica e a economia (aleacutem da relaccedilatildeo entre o desenvolvimento e o

subdesenvolvimento nos paiacuteses em desenvolvimento e a natureza e a

extensatildeo da globalizaccedilatildeo econocircmica) estaacute na agenda dos debates abordados

pela Economia Poliacutetica Internacional fundamentando o presente estudo e

inserindo ldquoo papel do Estado nacionalrdquo como ator estrateacutegico nas Relaccedilotildees

Internacionais

62

CAPIacuteTULO II - ESTADO E DESENVOLVIMENTO ndash A RETOMADA

DO PAPEL DOS ESTADOS NACIONAIS

1 Introduccedilatildeo

O processo dinacircmico provocado pela globalizaccedilatildeo promove mudanccedilas

nas relaccedilotildees entre os Estados e as economias nacionais Exerce nesse

sentido forte impacto sobre a atuaccedilatildeo do Estado gerando nova agenda

poliacutetica interna e internacional onde predominam temas e interesses

conflituosos entre os desejos e necessidades econocircmicas nacionais e as

demandas internacionais aleacutem de gerar um novo cenaacuterio onde forccedilas

exoacutegenas trazem novos significados para as relaccedilotildees das autoridades poliacuteticas

A economia contemporacircnea traz grandes desafios para a atuaccedilatildeo do

Estado tanto no contexto interno como na arena das suas relaccedilotildees

internacionais colocando agrave prova a sua capacidade de resistecircncia sua forccedila e

vitalidade aleacutem da sua capacidade de construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo de inovaccedilatildeo

e de produccedilatildeo competitiva

Nesse sentido diante do desafio apresentado pela globalizaccedilatildeo

marcada por um cenaacuterio internacional que apresenta um (re) posicionamento

de consenso no que se refere agrave retomada da vanguarda tecnoloacutegica e inovativa

em praticamente todos os setores da economia cabe ao Estado portanto

sobreviver agraves consequecircncias do impacto da (tentativa de) integraccedilatildeo dos

mercados e dos fluxos de capitais e tornar-se mais forte e resistente capaz de

superar os limites impostos pela globalizaccedilatildeo Mantendo iacutentegra a sua

capacidade soberana decisoacuteria no contexto das relaccedilotildees internacionais e haacutebil

nas suas negociaccedilotildees internacionais e na sua poliacutetica externa aleacutem da sua

capacidade de desenvolvimento econocircmico e tecnoloacutegico capaz de superar as

desigualdades e promover mudanccedilas significativas no contexto do seu

desenvolvimento nacional e no reposicionamento estrateacutegico das suas relaccedilotildees

internacionais

63

2 Estado como Ator Estrateacutegico nas Relaccedilotildees Internacionais

Estados soberanos exercem diplomacia entre si com o objetivo de

preservar a sua independecircncia a sua soberania a sua seguranccedila proteger e

promover os seus interesses influenciar os demais e simultaneamente resistir

agraves influecircncias dos demais Estados Devem lidar com as poliacuteticas de coerccedilatildeo e

reconduzi-las para uma negociaccedilatildeo diplomaacutetica que considere opiniotildees e

perspectivas diferentes

A diplomacia nesse sentido ocorre em um cenaacuterio altamente complexo

e eacute exercida entre Estados soberanos com diferentes graus de

desenvolvimento econocircmico social e institucional O exerciacutecio da diplomacia

abriga conflitos entre razotildees interesses e conveniecircncias 33 (p23)

ldquopela proacutepria natureza de suas funccedilotildees o diplomata acha-se obrigado a lidar constantemente com as disjuntivas entre a razatildeo do Estado e a razatildeo do homem entre interesses unilaterais e demandas coletivas entre as conveniecircncias de um mundo ainda caracterizado pela soberania de seus componentes estatais e as exigecircncias do multilateralismo e do transnacionalismordquo

A poliacutetica externa exercida pela diplomacia eacute a expressatildeo do ponto de

vista de um paiacutes sobre o mundo e o seu funcionamento cuja responsabilidade

passa pela ldquodevoccedilatildeo agrave proacutepria naccedilatildeo e ao bem-estar de seus cidadatildeosrdquo 34

(p89) aleacutem do respeito pelos ldquointeresses legiacutetimos pelos direitos de outros

Estados e pelo direito internacionalrdquo assim como pelo ldquocompromisso com os

direitos humanosrdquo 14 (p219)

Considerando o cenaacuterio internacional complexo onde o mundo se

apresenta como dinacircmico e em constante transformaccedilatildeo na sua realidade

poliacutetica onde haacute interesses heterogecircneos e por vezes conflituosos a poliacutetica

externa de um Estado tem como objetivo preservar a sua identidade nacional e

garantir sua soberania nem sempre faacutecil de manter ao largo da negociaccedilatildeo

buscando-se valer das janelas de oportunidades oferecidas pelas negociaccedilotildees

e tendecircncias globais e regionais

64

Nesse sentido no tocante ao Brasil um Paiacutes cujas caracteriacutesticas o

definem como ldquonem o mais atrasado nem o mais adiantado nem o mais rico

nem o mais pobre nem o mais justo nem tambeacutem o mais injustordquo um Paiacutes que

ldquobusca se transformar natildeo por impulsos autoritaacuterios ou visotildees impositivasrdquo mas

sim ldquomediante a gestaccedilatildeo de consensos aproximativos que se natildeo

representam o caminho mais raacutepido constitui certamente o mais seguro e

duradourordquo 33 (p 30) Teremos finalmente um Paiacutes cuja poliacutetica externa visa agrave

ampliaccedilatildeo da inserccedilatildeo internacional do Paiacutes como fator de estiacutemulo ao

desenvolvimento econocircmico e social e por consequecircncia uma poliacutetica externa

mais assertiva e mais marcante no cenaacuterio internacional com os reflexos do

desenvolvimento nacional

Portanto temas de natureza poliacutetica econocircmica ou social passaram a

ocupar a agenda internacional Nesse sentido a accedilatildeo diplomaacutetica brasileira

tem ido ao encontro do que a sociedade deseja para si proacutepria e para este

ldquomundo de polaridades indefinidasrdquo e citando Celso Lafer exemplifica

ldquodemocracia respeito aos direitos humanos abertura econocircmica e sentido de

solidariedade socialrdquo 30 (p 31) Busca essa autonomia atraveacutes da aproximaccedilatildeo

do diaacutelogo e do estiacutemulo agrave cooperaccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo

Entretanto essa busca pela autonomia tem ocorrido em um mundo cada

vez mais interdependente nas informaccedilotildees nas comunicaccedilotildees na economia e

no campo social tanto na aacuterea das necessidades humanas quanto nos

aspectos culturais

Aleacutem disso vale destacar que diferentemente do que ocorria ateacute poucas

deacutecadas atraacutes notadamente no periacuteodo conhecido como ldquoGuerra Friardquo onde o

uso da forccedila para o estabelecimento do sistema de poder entre os Estados e a

consequente hierarquia dos temas da poliacutetica internacional era ditado pelo

Estado forte com predomiacutenio da seguranccedila militar o modelo de

interdependecircncia em predominacircncia leva em consideraccedilatildeo a existecircncia de

outros atores internacionais e as novas perspectivas dos temas da poliacutetica

externa aleacutem da inter-relaccedilatildeo entre poliacutetica interna e externa 35

65

Perspectivas essas relacionadas agrave revoluccedilatildeo contemporacircnea nas

tecnologias de informaccedilatildeo e da ciecircncia e agrave transnacionalizaccedilatildeo da economia

que acabam justificando a interdependecircncia do sistema mundial globalizado

Isso posto mesmo considerando a relaccedilatildeo de interdependecircncia entre

naccedilotildees e liacutederes poliacuteticos visando agrave cooperaccedilatildeo e agrave reduccedilatildeo dos conflitos de

interesses Keohane e Nye [ 26 ] citados por Ricobom 35 consideram natildeo haver

garantia de um sistema de equiliacutebrio entre os atores o que

consequentemente acaba por gerar relaccedilotildees assimeacutetricas de poder entre os

atores nacionais Nesse sentido as assimetrias podem proporcionar fontes de

influecircncia aos atores em suas relaccedilotildees com os demais Essa interdependecircncia

assimeacutetrica eacute que gera as relaccedilotildees de poder de um ator sobre os demais 35 (p

253)

Nesse contexto podemos incluir a aacuterea da sauacutede que nos uacuteltimos anos

vem ganhando maior espaccedilo na relaccedilatildeo de interdependecircncia entre os Estados

Seja por conta de um maior envolvimento e comprometimento entre os liacutederes

estatais delineando uma nova abordagem para a governanccedila mundial mais

integrada e focada no bem-estar da comunidade internacional seja pela busca

do atendimento agraves aspiraccedilotildees agraves soluccedilotildees dos problemas e dos desafios

relacionados agrave aacuterea da sauacutede tanto no acircmbito nacional regional

supranacional ou global

Obviamente natildeo podem ser excluiacutedas dessa relaccedilatildeo de poder as

influecircncias exercidas por atores natildeo governamentais cujo determinismo passa

pela questatildeo mercadoloacutegica as empresas multinacionais e transnacionais

Diante do exposto tem-se portanto o contexto contemporacircneo na

perspectiva das relaccedilotildees internacionais sob a anaacutelise da complexidade do

enfoque muacuteltiplo e natildeo mais pelo determinismo do Estado

Nesse sentido tem-se um desafio diplomaacutetico Quando o interesse se

volta agrave proteccedilatildeo da sua capacidade de desenvolvimento o Estado deve

considerar que no jogo diplomaacutetico sempre que houver algum tipo de restriccedilatildeo

26

Keohane R Nye J Poder e Interdependecircncia La poliacutetica mundial em transicioacuten Buenos

AiresGrupo Editor Latino Americano 1988 p23

66

agraves poliacuteticas que favoreccedilam a economia nacional estas devem ser

compensadas por oportunidades atraentes de investimentos desde que natildeo

haja coalizotildees que desagradem agraves economias hegemocircnicas e suas poliacuteticas

internacionais e tampouco possam ferir os interesses nacionais

O que estaacute em jogo portanto eacute a possibilidade de um paiacutes superar seu

subdesenvolvimento no ldquoexerciacutecio da margem da soberania permissiacutevel nas

condiccedilotildees internacionaisrdquo 36 Nesse sentido afirma o autor o processo de

globalizaccedilatildeo e a influecircncia dos paiacuteses hegemocircnicos notadamente dos EUA

tenderatildeo a restringir ldquode maneira significativa senatildeo decisiva as possibilidades

de um desenvolvimento nacional autocircnomordquo

ldquoA internacionalizaccedilatildeo dos processos de desenvolvimento em predominante medida correspondendo para o periacuteodo em apreccedilo [isto eacute Seacuteculo XXI ndash minha inclusatildeo] agrave sua americanizaccedilatildeo tenderaacute a converter tais processos em um ajustamento territorial das economias locais agraves conveniecircncias da economia hegemocircnica convertendo os correspondentes territoacuterios em segmentos do mercado internacionalrdquo

36 (p13)

Isto eacute o processo da globalizaccedilatildeo e a hegemonia das economias

desenvolvidas acabam acarretando seacuterios entraves que dificultam o

desenvolvimento das economias em desenvolvimento No tocante ao poder de

influecircncia das economias desenvolvidas junto agravequelas relacionadas aos paiacuteses

em desenvolvimento o autor 36 prevecirc que

ldquoas aacutereas que permaneccedilam subdesenvolvidas no mundo no provaacutevel curso da primeira metade do seacuteculo XXI tenderatildeo a se converter em territoacuterio cuja economia se processaraacute de conformidade com a conveniecircncia da economia hegemocircnica e se constituiratildeo assim independentemente da persistecircncia formal das procedentes soberanias em meros segmentos do mercado mundialrdquo (p18)

Sob esse contexto portanto a defesa do interesse nacional eacute

constantemente focalizada levando-se em consideraccedilatildeo inclusive a

existecircncia de empresas multinacionais e de organismos transgovernamentais

que exercem grande influecircncia na determinaccedilatildeo do interesse nacional em

67

diversos setores exercendo fortes pressotildees multilaterais nem sempre

convergentes aos interesses nacionais do Estado

Poreacutem eacute em funccedilatildeo do surgimento desses fortes e por vezes desleais

atores internacionais que se daacute o enfraquecimento do Estado uma vez que se

percebe intensa influecircncia desses atores globais Ademais vale citar Ricobom

34 (p264) quando alega com base no preceito liberal que ldquoas relaccedilotildees de

poder se limitam reciprocamente fazendo com que o destino da comunidade

internacional dependa de um jogo entre os personagens determinantesrdquo

Eacute por meio da extensa rede de relaccedilotildees entre diferentes atores

organizaccedilotildees empresas transnacionais empresas privadas e atores

governamentais denominadas como ldquocanais muacuteltiplosrdquo 35 que se observa o

enfraquecimento do Estado na medida em que este natildeo soacute reconhece o

surgimento de novos atores como tambeacutem atribui um peso demasiado a todos

eles Para a autora os canais muacuteltiplos ldquoapagam as fronteiras entre a poliacutetica

interna e externa pois geram o enfraquecimento da polarizaccedilatildeo das relaccedilotildees

internacionais do Estadordquo (p260)

Dentre os atores predominantes nesse jogo podemos destacar as

empresas transnacionais e bancos multinacionais aleacutem das organizaccedilotildees

internacionais que apesar de natildeo serem totalmente controlados pelos

governos exercem forte influecircncia quando das formulaccedilotildees de poliacuteticas

puacuteblicas Nesse sentido haacute uma maior interferecircncia na agenda da poliacutetica

exterior de cada Estado

Portanto em contraposiccedilatildeo agrave abordagem claacutessica onde os Estados satildeo

atores principais e detentores do poder de decisatildeo e coerccedilatildeo (notadamente

pelo uso da forccedila) seguidos das organizaccedilotildees internacionais e

intergovernamentais (ldquocriadas pelos Estados e administradas pelos seus

membros ou instituiccedilotildeesrdquo) e em terceiro plano seguidos das forccedilas

transnacionais (ldquoresultado da intensificaccedilatildeo entre pessoas privadas ndash ONGs

empresas transnacionais e opiniatildeo puacuteblicardquo) remete-se agrave abordagem da

interdependecircncia dos atores com habilidade para mobilizar recursos com

unidade de decisatildeo e atuaccedilatildeo que permitam alcanccedilar seus objetivos de forma

estruturada e dinacircmica com capacidade de influecircncia e autonomia sobre

68

outros atores natildeo havendo uma hierarquia delimitada ldquoO Estado e a

territorialidaderdquo nesse sentido ldquoperdem importacircnciardquo 35 (p 261-3) Os atores

internacionais passam a ser portanto o Estado as Organizaccedilotildees

Internacionais as Organizaccedilotildees Natildeo-Governamentais e as empresas

transnacionais

Obviamente esses atores em sintonia atendem agrave concepccedilatildeo dada pela

construccedilatildeo ideoloacutegica da globalizaccedilatildeo interferindo e dando novo movimento agrave

poliacutetica nacional e internacional subestimando nesse caso o exerciacutecio central

do Estado minando a defesa dos respectivos interesses puacuteblicos e adjetivando

superlativos aos demais atores internacionais

Entretanto as relaccedilotildees internacionais contemporacircneas satildeo dinacircmicas e

estatildeo sempre em processo de (re) construccedilatildeo Assim sendo o

enfraquecimento do papel do Estado ganha um valor que deve ser revisto a

fim de permitir o seu posicionamento de forma mais ativa e soberana no

cenaacuterio internacional

Com essa percepccedilatildeo Fiori 30 esclarece que a primeira deacutecada do seacuteculo

XXI eacute marcada pelo reconhecimento da ldquoutopia da globalizaccedilatildeo e o fim das

fronteiras nacionaisrdquo O autor reconhece que o ldquosistema mundial retornou agrave sua

velha ldquogeopoliacutetica das naccedilotildeesrdquo com o fortalecimento das fronteiras nacionais e

da competiccedilatildeo econocircmica mercantilista e com o aumento das lutas pelas

hegemonias regionaisrdquo (p40)

Ademais a visatildeo da interaccedilatildeo entre uma loacutegica integradora do cenaacuterio

internacional e uma dinacircmica contestadora dessa loacutegica denominando a

globalizaccedilatildeo como excludente assimeacutetrica e tendenciosa tem que conviver

com as incertezas econocircmico-financeiras como essas que assolaram a Europa

em 2011 refletindo em escala mundial uma crise cambial fiscal monetaacuteria e

financeira que permeiam de forma virulenta o corpo econocircmico de cada paiacutes

Aquele que estiver com a imunidade mais baixa tende a adoecer mais

rapidamente apresentando sintomas mais dolorosos e demorando a sair da

crise infecciosa Os que tecircm a sua estrutura econocircmica fiscal e produtiva mais

fortalecida articuladas e integradas em sintonia com um equilibrado

69

desenvolvimento social tendem a apresentar uma pequena recaiacuteda poreacutem

com tendecircncias a breve recuperaccedilatildeo

Nesse sentido apesar do dinamismo presente nas relaccedilotildees de

interdependecircncia contemporacircnea haacute de se rever a engrenagem desse sistema

e garantir o papel de destaque que o Estado requer garantindo-lhe forccedila motriz

orientadora para uma nova realidade que natildeo se esgote no sentido

mercadoloacutegico Sob essa perspectiva Ricobom 35 reitera

ldquoAinda que a interdependecircncia apresente estruturas conceituais capazes de revelar uma realidade dinacircmica eacute inegaacutevel que contribui para a construccedilatildeo ideoloacutegica da globalizaccedilatildeo que prima pelo enfraquecimento do Estado e da relativizaccedilatildeo da soberania principalmente em nome dos grandes grupos transnacionais Ademais revelou-se inadequada porquanto as preocupaccedilotildees com as questotildees sociais teriam sido desleixadas pela poliacutetica internacionalrdquo (p 263)

Nesse sentido corrobora Lafer 34 ao reafirmar o posicionamento do

Estado no contexto da globalizaccedilatildeo Para o autor diferentemente da visatildeo dos

demais autores que vecircem na globalizaccedilatildeo o fim da autonomia do Estado a

globalizaccedilatildeo natildeo eliminou a importacircncia dos Estados na dinacircmica

internacional afinal as expectativas e o bem-estar da sociedade seguem

vinculados ao desempenho dos seus respectivos paiacuteses Os Estados dessa

forma satildeo instacircncias puacuteblicas de intermediaccedilatildeo e no plano externo ldquoesta

intermediaccedilatildeo parte de uma visatildeo assinaladora de especificidadesrdquo Dentre

essas especificidades ldquoque configuram o pluralismo do mundo e explicam a

perspectiva organizadora e a latitude da inserccedilatildeo de um paiacutes no sistema

internacionalrdquo 34 (p 89) destacam-se a localizaccedilatildeo geograacutefica o repertoacuterio dos

conhecimentos a estrutura produtiva o niacutevel de desenvolvimento e os dados

da estratificaccedilatildeo social

Portanto haacute de se buscar novas abordagens para as relaccedilotildees dos

atores internacionais onde temas relacionados agraves questotildees de sauacutede

ambientais sociais e humanitaacuterias aleacutem das econocircmicas prevaleccedilam e onde

natildeo se pode desvincular a importacircncia de cada um dos atores envolvidos jaacute

que se encontram num complexo sistema de engrenagem geopoliacutetico

70

internacional onde qualquer anulaccedilatildeo pode significar rupturas poliacuteticas com

severas repercussotildees internas Entretanto deve-se garantir ao Estado o papel

de ator diferentemente da abordagem claacutessica onde prevalecia o poder pela

forccedila e pela coerccedilatildeo um novo papel mais adequado aos novos tempos regidos

pela paz entre os povos isto eacute mais articulado poreacutem centrado nos seus

principais interesses e no alcance da sua soberania

Isso posto tem-se uma estreita relaccedilatildeo entre o desenvolvimento

econocircmico e a sustentabilidade da soberania Quanto mais desenvolvido o

paiacutes maior a sua autonomia mais plena eacute a sua soberania Uma equaccedilatildeo de

relaccedilatildeo direta entre desenvolvimento e autonomia e capacidade soberana

justificando inclusive uma inter-relaccedilatildeo entre as forccedilas endoacutegenas e exoacutegenas

do desenvolvimento isto eacute poliacuteticas nacionais de desenvolvimento promovem

autonomia externa sustentam as bases soberanas de uma naccedilatildeo que por sua

vez permitem maior autonomia interna E eacute a partir desse entendimento que

abordaremos o Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede tema desta tese no

decorrer deste trabalho

O que eacute corroborado por Jaguaribe 36 (p17-9) ao reconhecer que

somente os paiacuteses que atingirem um elevado niacutevel de desenvolvimento e de

auto-regulabilidade de sua economia aleacutem de preservarem consideraacutevel

margem de autonomia externa preservaratildeo ldquosignificativas margens de

autonomia internardquo (p18)

Afirma ainda que essa causalidade entre autonomia interna e externa

soacute eacute possiacutevel quando haacute consenso do poder nacional e apropriado

relacionamento internacional No caso brasileiro o autor defende que o Paiacutes

somente lograraacute a permissibilidade internacional necessaacuteria para um

sustentaacutevel regime de reciacuteproca condicionalidade

entre autonomia interna e externa caso acelere a

ldquopromoccedilatildeo nacional do seu desenvolvimento e regule a sua autonomia interna de

sorte que o coeficiente interno de nacionalismo de fins e seus respectivos

instrumentos sejam compensados pela atratividade de um mercado aberto de capitaisrdquo

36 (p 18)

71

Afinal de contas a globalizaccedilatildeo com o seu respectivo movimento de

centralizaccedilatildeo de capitais e recursos junto aos conglomerados transnacionais

apresenta complexos desafios para os paiacuteses em desenvolvimento

principalmente para aqueles que jaacute apresentam uma relativa base industrial

alvos da desequilibrada concorrecircncia globalizada como eacute o caso do Brasil

Vale destacar que no tocante agraves poliacuteticas para promoccedilatildeo do

desenvolvimento econocircmico e industrial dos paiacuteses mais desenvolvidos tem-

se historicamente um maior pragmatismo na defesa da sua competitividade

industrial [ 27 ]

Portanto no caso do Brasil o desafio estaacute na possibilidade de um paiacutes

respeitando os seus limites soberanos superar seu subdesenvolvimento de

forma basicamente autocircnoma tanto nos planos domeacutestico quanto no

internacional

Entretanto deve ser considerado que esse processo encerra desafios

diversos notadamente no que se refere agraves consequecircncias provenientes da

globalizaccedilatildeo que inibem parcial ou totalmente as condiccedilotildees de

desenvolvimento nacional de forma autocircnoma estando os paiacuteses mais ou

menos vinculados agraves conveniecircncias e aos ditames das economias mais

desenvolvidas

Ou seja o desafio brasileiro estaacute em manter a sua inserccedilatildeo internacional

de forma equilibrada e pragmaacutetica em relaccedilatildeo ao antagonismo das forccedilas

transnacionais considerando as dimensotildees da realidade brasileira e a

manutenccedilatildeo de suas perspectivas soberanas dando maior importacircncia agraves

questotildees econocircmicas ambientais e de sauacutede relacionando-as aos consensos

de influecircncia da poliacutetica interna e consequentemente da externa

No Brasil poliacuteticas integradas e integradoras vecircm sendo adotadas

principalmente nas uacuteltimas duas deacutecadas buscando-se lograr resultados que

27

Apesar do pacto firmado na Rodada do Uruguai (origem da Organizaccedilatildeo Mundial do

Comeacutercio) no tocante as medidas liberalizantes das suas economias nacionais o que se tem eacute que paiacuteses

mais desenvolvidos tentam proteger a sua economia e forccedilar aos demais paiacuteses o atendimento ao pacto

firmado o que ironicamente pode ser traduzido como faccedila o que mando mas natildeo faccedila o que eu faccedilo

Garantindo-se dessa forma o fortalecimento da sua soberania e uma maior capacidade de

desenvolvimento o que obviamente leva agrave diferenciaccedilatildeo e a um maior protagonismo no espaccedilo

geopoliacutetico e econocircmico internacionais

72

tendem a superar as expectativas desenvolvimentistas a meacutedio e longo prazos

A aceleraccedilatildeo da promoccedilatildeo do desenvolvimento nacional ldquocomo nacionalrdquo deve

considerar uma margem de autonomia e articulaccedilotildees internacionais 36

inclusive

ldquopode-se seguramente asseverar que a exequibilidade de um desenvolvimento nacional depende por um lado de se iniciar o processo o mais pronta e energicamente possiacutevel e por outro da medida em que o paiacutes que intente fazecirc-lo disponha de suficiente massa criacutetica

28 de fatores de poder e de satisfatoacuterias

articulaccedilotildees internacionais Tal parece ser o caso do Brasil domeacutestica e internacionalmente no acircmbito do Mercosul e de outras convenientes articulaccedilotildees internacionaisrdquo

36 (p 13)

No tocante ao entendimento da sociedade brasileira quanto agrave redefiniccedilatildeo

dos interesses nacionais haacute argumentos 37 de que se focou prioritariamente na

agenda domeacutestica isto eacute ldquonos esforccedilos de estabilizaccedilatildeo econocircmica na

reforma do Estado na consolidaccedilatildeo institucional da democracia nos efeitos da

abertura comercial e na atenuaccedilatildeo de graviacutessimos problemas sociaisrdquo (p34)

Entretanto questotildees relacionadas agrave aacuterea externa passaram a ganhar mais

evidecircncia Afinal a sociedade brasileira se vecirc cada vez mais inserida e

afetada pelas relaccedilotildees internacionais

Portanto ganha destaque a agenda externa em sintonia com a agenda

interna Nesse argumento defende os autores o que importa eacute a capacidade

de crescimento de produccedilatildeo de conhecimento de ser competitivo de atrair

investimentos produtivos aleacutem de ldquosalvaguardar um razoaacutevel grau de

autonomia decisoacuteria na definiccedilatildeo do nosso futurordquo 37 (p34)

Nesse sentido importa que o interesse nacional seja defendido e na

busca pelo desenvolvimento nacional requisitos baacutesicos de ordem conceitual

devem ser considerados pelo Paiacutes 36 Para a nossa anaacutelise interessa-nos

destacar no Brasil o ldquotipo de paiacutes que importe constituir no que se possa

28

Para o autor o que viabiliza um paiacutes ao desenvolvimento eacute principalmente a conscientizaccedilatildeo

da sua massa criacutetica formadora de um consenso nacional voltado para as accedilotildees de desenvolvimento

Nesse sentido compara o Brasil com a China apresentando este paiacutes com ―plena consciecircncia do que

necessita fazer no curso dos proacuteximos dececircnios para assegurar domeacutestica e internacionalmente sua

soberana viabilidade dispondo de um ―soacutelido consenso nacional competentemente operacionalizado

pelo Estado e pelos quadros dirigentes chineses (p14) Na comparaccedilatildeo o Brasil ainda natildeo apresenta

essas condiccedilotildees de plena consciecircncia e consenso nacional

73

designar de exequivelmente desejaacutevelrdquo (p15) Nesse sentido aponta o autor

haacute determinadas opccedilotildees a fazer na relaccedilatildeo entre ldquoqualidade de vida e poder

nacionalrdquo bem como na ldquorelaccedilatildeo entre o domiacutenio puacuteblico e privadordquo (p15)

Quanto agrave relaccedilatildeo entre qualidade de vida e poder nacional o contexto

contemporacircneo apresenta uma dualidade entre a busca pela maximizaccedilatildeo do

poder nacional e a priorizaccedilatildeo da qualidade de vida Quando pensamos no

Brasil e conforme bem aponta Jaguaribe 36 o nosso Paiacutes tende de uma forma

consensuada a priorizar a qualidade de vida em detrimento do ldquostatus de

superpotecircnciardquo O poder nacional sob a oacutetica do Brasil natildeo deve suprimir o

status de bem-estar nacional Entretanto haacute um consenso em que deve ser

satisfatoacuterio e denotar certa evidecircncia quando se discute poliacuteticas internacionais

que valorizem o Soft Power isto eacute a diplomacia pela negociaccedilatildeo e pelo melhor

entendimento cooperativo e natildeo pelo uso da forccedila ameaccedilas e a coerccedilatildeo

econocircmica eou militar ndash a Hard Power sob a oacutetica do realismo nas relaccedilotildees

internacionais

A poliacutetica externa adotada pelo Brasil eacute um reflexo da maneira pela qual

a autonomia interna vem sendo respaldada Esse comportamento natildeo eacute

exclusivo de somente um governo sendo reconhecido nas uacuteltimas duas

deacutecadas poreacutem mais intensificado nas gestotildees do Governo Lula

Quanto agrave questatildeo da relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado apresentado

pelo autor como requisito baacutesico de ordem conceitual haacute uma complexidade a

ser considerada uma vez que tem sido ldquoequivocadamente abordada a partir de

pressupostos ideoloacutegicos confrontando no limite a perspectiva neoliberal com

a socializanterdquo 36 (p 15)

Na verdade a essecircncia dessa relaccedilatildeo deve se pautar em uma

conveniente equaccedilatildeo a fim de assegurar a execuccedilatildeo dos programas de

desenvolvimento nacional e garantir autonomia domeacutestica e internacional 36 (p

15)

ldquoo que importa eacute determinar com plena lucidez em que medida uma compensatoacuteria ou corretiva intervenccedilatildeo do setor puacuteblico na sociedade eacute necessaacuteria ou conveniente para os fins em vista nas condiccedilotildees de um paiacutes emergente com as caracteriacutesticas socioculturais do Brasilrdquo

74

Isto posto denota-se a importacircncia estrateacutegica da agenda de poliacuteticas

puacuteblico-privadas integradas articuladas e pactuadas entre os diversos entes

envolvidos considerando-se inclusive a necessaacuteria e eficaz governabilidade e

a garantia dos interesses legiacutetimos das partes O equiliacutebrio desses interesses

por vezes divergentes e a necessaacuteria convergecircncia do entendimento das

traduccedilotildees representativas do puacuteblico e do privado isto eacute o entendimento

convergente do que tambeacutem eacute contraditoacuterio entre as abordagens marxista e

neoliberal representa a diferenccedila entre o sucesso e o fracasso do alcance dos

resultados almejados quanto ao desenvolvimento nacional

Cabe portanto ao Estado um papel que garanta uma atuaccedilatildeo

pragmaacutetica e operacional isto eacute

ldquose o objetivo em vista eacute assegurar no menor prazo possiacutevel a conversatildeo do Brasil num paiacutes pleno e integralmente desenvolvido com o maacuteximo de autonomia nacional domeacutestica e externa que as condiccedilotildees internacionais permitam eacute evidente a necessidade de compatibilizar a eficiecircncia de uma economia de mercado com uma prudente mas eficaz intervenccedilatildeo do Estado de caraacuteter promocional corretivo e preservador da autonomia nacional () em virtude de determinadas poliacuteticas e em funccedilatildeo de

determinados instrumentosrdquo 36 (p 16)

Nessa perspectiva a atuaccedilatildeo do Brasil como ator internacional estaacute

voltada para o desenvolvimento do espaccedilo nacional isto eacute ldquoa utilizaccedilatildeo da

relaccedilatildeo externa como fator de arregimentaccedilatildeo de recursos de negociaccedilatildeo de

coalizotildees e de neutralizaccedilatildeo de obstaacuteculos ao desenvolvimento econocircmico e

social do Paiacutesrdquo 33 (p 28)

Quanto agraves questotildees cientiacutefico-tecnoloacutegicas o Brasil eacute submetido a um

contexto de grande ampliaccedilatildeo nas possibilidades teacutecnico-cientiacuteficas 36 Assim

tem um grande desafio a ser superado no seacuteculo XXI que eacute se reconstruir

nessa arena tanto na perspectiva nacional quanto internacional dadas as

novas bases herdadas do seacuteculo anterior

Nesse sentido no tocante agrave aacuterea da sauacutede considerando-se uma das

vertentes de anaacutelise que incorporam essa aacuterea na relaccedilatildeo com o

75

desenvolvimento e que satildeo apontadas por Gadelha 338 e demais autores 5 (p

3006) retoma-se a abordagem estruturalista e de economia poliacutetica para

relacionaacute-la agrave sociedade contemporacircnea que eacute marcada pelo processo

assimeacutetrico da globalizaccedilatildeo assim como pelo protagonismo do conhecimento e

da inovaccedilatildeo fatores esses determinantes das transformaccedilotildees estruturais e do

dinamismo econocircmico

Sob essa perspectiva a sauacutede pode ser considerada como um sistema

complexo onde interagem segmentos produtivos e de serviccedilos no escopo dos

esforccedilos puacuteblicos e privados nacionais em prol de incrementar o

desenvolvimento inovativo ldquocom potencial para alavancar aacutereas-chave da

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em cursordquo 5 (p3006) aliando a loacutegica econocircmica com a

loacutegica social com determinismo na criaccedilatildeo de oportunidades para o

desenvolvimento local nacional regional e global

Entretanto o Brasil ainda possui um forte deacuteficit tecnoloacutegico e de

conhecimento que o inabilita a enfrentar os desafios vindouros caso natildeo supere

o seu atraso tecnoloacutegico Apesar de se comparado aos demais paiacuteses em

desenvolvimento jaacute ter alcanccedilado um determinado niacutevel que o diferencia de

forma positiva ainda haacute de se buscar alternativas que o levem a um

desenvolvimento autocircnomo e soberano

Nesse sentido sugere Jaguaribe 36

ldquose eacute certo que o prazo histoacuterico para que naccedilotildees do Terceiro Mundo superem seu subdesenvolvimento de forma autocircnoma e soberana tende (no seacuteculo XXI) a se encurtar de modo acelerado um prazo da ordem de vinte anos provavelmente se conserva por um lado nos limites do que ainda lhes seja internacionalmente permissiacutevel e por outro para um paiacutes como o Brasil no domesticamente exequiacutevelrdquo (p 12)

Ainda que seja este um periacuteodo relativamente curto para que ocorram as

necessaacuterias mudanccedilas estruturais o Estado na perspectiva de superaccedilatildeo tem

que lidar com a necessidade de aliar uma economia de mercado eficiente com

uma intervenccedilatildeo prudente e eficaz promovendo e preservando a autonomia

nacional e o consequente desenvolvimento econocircmico nacional Para tanto

deve considerar que ao mesmo tempo em que a globalizaccedilatildeo promove

76

condiccedilotildees para que ocorram inovaccedilotildees cientiacutefico-tecnoloacutegicas tambeacutem

desarticula cadeias produtivas e minimiza a importacircncia das relaccedilotildees

interestatais tambeacutem ressalta as relaccedilotildees governamentais e natildeo-

governamentais puacuteblicas e privadas tornando essas redes de interaccedilatildeo mais

complexas e dominantes na estruturaccedilatildeo e na dinacircmica do sistema nacional O

Estado na perspectiva de superaccedilatildeo tem que lidar com a necessidade de aliar

uma economia de mercado eficiente com uma intervenccedilatildeo prudente e eficaz

promovendo e preservando a autonomia nacional e o consequente

desenvolvimento econocircmico nacional

Essas questotildees manifestam-se no contexto do seacuteculo XXI como

determinantes no campo da ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo Nesse sentido haacute

de se promover metas econocircmicas sociais poliacuteticas e culturais aleacutem das

cientiacuteficas e tecnoloacutegicas que situem o Brasil no atual contexto geopoliacutetico

internacional tanto na perspectiva regional e na perspectiva internacional mas

principalmente no fortalecimento da sua capacidade de produccedilatildeo e de

inovaccedilatildeo local

Emerge desse contexto o Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede ndash

CEIS [ 29 ] que se apresenta como diferencial estrateacutegico com potencial para o

fortalecimento do Paiacutes ante o cenaacuterio globalizado e com motivaccedilatildeo para

alcanccedilar uma posiccedilatildeo competitiva em um espaccedilo de diversidade e assimetria

mundial tendo o foco da sauacutede sob as bases da soberania e da cidadania e

em relaccedilatildeo direta com o desenvolvimento econocircmico e social Estabelece-se

portanto sob as premissas dos valores sociais econocircmicos e eacuteticos e eacute

sustentado pelos pilares da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

Com vistas agrave consolidaccedilatildeo e ao fortalecimento do CEIS haacute de ser

transformar o conhecimento produzido local ou internacionalmente em

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que melhorem o desempenho do setor produtivo

nacional no campo da sauacutede em sua dimensatildeo nacional e global Eacute nesse

contexto desenvolvimentista que se observa o protagonismo do Estado

nacional junto agrave dinacircmica das relaccedilotildees internacionais A capacidade de

29

O Capiacutetulo IV especificamente o seu item 1 ―CEIS Estado e Inovaccedilatildeo Sauacutede e

Desenvolvimento aprofunda a discussatildeo sobre o Complexo

77

produccedilatildeo de bens de sauacutede deve ser traduzida como determinante da

capacidade soberana de um paiacutes em garantir o direito agrave sauacutede de sua

populaccedilatildeo e reduzir a vulnerabilidade da poliacutetica de sauacutede na medida em que

sauacutede eacute preacute-condiccedilatildeo para a soberania de qualquer naccedilatildeo

3 Protagonismo do Estado no Contexto da Globalizaccedilatildeo e da

Inovaccedilatildeo

Busca-se nesta parte do trabalho destacar o conceito da globalizaccedilatildeo

sob o ponto de vista econocircmico e sob a perspectiva da inovaccedilatildeo O termo

ldquoglobalizaccedilatildeordquo nesse sentido eacute cercado de significados e mitos Alguns

autores 39 em sua anaacutelise buscam a desmistificaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo

Destacam ldquoo carregado conteuacutedo ideoloacutegico do termordquo no que se refere agrave

utoacutepica direccedilatildeo do conceito voltada para um predominante sistema

internacional autocircnomo e socialmente sem raiacutezes ldquoonde os mercados de bens

e serviccedilos se tornam crescentemente globaisrdquo (p 41)

Poreacutem primeiramente longe de esgotar o conceito sob uma exclusiva

abordagem vale apontar perspectivas mais ampliadas da globalizaccedilatildeo O

conceito da globalizaccedilatildeo natildeo descreve o processo como um todo ldquomas o faz

somente de um certo ponto de vistardquo 40 (p 33) Para os autores juntamente

com a ldquoglobalizaccedilatildeo do grande capital ocorre a fragmentaccedilatildeo do mundo do

trabalho a exclusatildeo de grupos humanos e o abandono do continente e

regiotildeesrdquo aleacutem da ldquoconcentraccedilatildeo da riqueza em certas empresas e paiacuteses a

fragilizaccedilatildeo da maioria dos Estadosrdquo dentre outros Essa relaccedilatildeo de poder que

eacute concentrada e assimeacutetrica se repete na concentraccedilatildeo e na posse das

tecnologias e das inovaccedilotildees por parte dos paiacuteses centrais

Ademais as mudanccedilas provocadas pela globalizaccedilatildeo requerem

readaptaccedilotildees e reestruturaccedilotildees na hierarquia poliacutetica e econocircmica das

sociedades nacionais nas atividades e nos setores produtivos nas formas de

organizaccedilatildeo e atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees inclusive nos centros de pesquisa e

desenvolvimento e na atuaccedilatildeo do Estado e do indiviacuteduo 39 Fato este que

resulta na exigecircncia de novas poliacuteticas para o desenvolvimento industrial e

78

inovativo sendo que para os autores satildeo necessaacuterias revisotildees das

concepccedilotildees do Estado-naccedilatildeo e das formas de intervenccedilatildeo

Isto posto as poliacuteticas nacionais e os interesses dos projetos nacionais

podem ser parcial ou totalmente comprometidos em funccedilatildeo do processo de

globalizaccedilatildeo Comprometimento que poderia ocorrer por conta da ldquodemora em

conhecer melhor suas especificidades e traccedilar poliacuteticas visando sua

superaccedilatildeordquo 41 (p 769) identificando novos papeacuteis e formas de estrateacutegias e

intervenccedilatildeo do Estado

Portanto satildeo reconhecidos a inovaccedilatildeo e o conhecimento como

protagonistas centrais da dinacircmica e do crescimento dos paiacuteses e de suas

respectivas organizaccedilotildees institucionais e empresariais onde o conhecimento eacute

recurso fundamental para acelerar o processo de inovaccedilatildeo constituindo-se a

inovaccedilatildeo segundo os autores como um ldquoprocesso de busca e aprendizado o

qual enquanto dependente de interaccedilotildees eacute socialmente determinado e

fortemente influenciado por formatos institucionais e organizacionais

especiacuteficosrdquo 41 (p774) Logo quanto maior o potencial inovativo maior o

impacto competitivo Entretanto esse potencial pode ter seu processo mais ou

menos influenciado por determinados contextos sociais poliacuteticos e

institucionais existentes Nesse sentido o processo inovativo e as poliacuteticas

para estiacutemulo desse processo ldquonatildeo podem ser vistos como elementos isolados

de seus contextos nacional setorial regional organizacional e institucionalrdquo 42

(p183)

Reconhece-se portanto que a fase da aceleraccedilatildeo do processo de

globalizaccedilatildeo notadamente a partir da deacutecada de 90 trouxe desafios

importantes quanto agrave formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas nacionais que

passaram a ter ldquoalcance desenho objetivos e instrumentos reformulados

visando o atendimento dos novos requerimentos impostos por um conjunto de

fatores associados ao padratildeo de acumulaccedilatildeordquo 43 (p32) dentre os quais

aqueles relacionados agrave aceleraccedilatildeo do processo de globalizaccedilatildeo

Adicionalmente aponta-se a aceleraccedilatildeo da globalizaccedilatildeo da economia

com tendecircncia a diminuir cada vez mais as ldquochances de as especificidades

locais poderem ser aproveitadas como alternativa de desenvolvimento

79

autoacutectonerdquo 39 (p66) O que nos leva agrave conclusatildeo de que as empresas locais

com determinadas condiccedilotildees de desenvolvimento satildeo candidatas a

participarem de uma acirrada e desleal competiccedilatildeo com players globais

fortemente capacitados e habilitados a permanecerem no protagonismo do

mercado global levando as demais empresas a sucumbir agraves regras

estabelecidas pelas grandes corporaccedilotildees

Resta ao Paiacutes buscar soluccedilotildees e mecanismos que o protejam de

maiores perdas notadamente na sua capacidade de desenvolvimento

inovativo tecnoloacutegico produtivo econocircmico e social soluccedilotildees e mecanismos

estes que seratildeo apontados no decorrer deste estudo

Na busca pelo desenvolvimento da capacidade inovativa e do

conhecimento na busca pelo desenvolvimento industrial e tecnoloacutegico [30] os

Estados satildeo desafiados a atuar sob uma seacuterie de exigecircncias que abrangem a

esfera econocircmica poliacutetica e social sob a eacutegide da soberania nacional

Devendo considerar para tal o que os autores 41 apontam como ldquoa ascensatildeo de

novas (e renovadas) forccedilas (econocircmicas poliacuteticas sociais culturais etc)

operando em escala mundialrdquo aleacutem da ldquocrescente subordinaccedilatildeo das poliacuteticas

nacionais a condicionantes externos e supranacionaisrdquo (p775) Portanto o

Estado tem papel central no reconhecimento da diversidade relacionada a

essas forccedilas e na conduccedilatildeo das poliacuteticas adequadas atentando para a

heterogeneidade dessas caracteriacutesticas tanto sob a perspectiva nacional

quanto internacional

Segundo Furtado [31] citado por Cassiolato e Lastres 41 (p778) a

globalizaccedilatildeo nesse sentido ldquoestaacute longe de conduzir agrave adoccedilatildeo de poliacuteticas

uniformes ()rdquo O autor destaca que as disparidades entre economias natildeo

decorrem somente de fatores econocircmicos decorrem tambeacutem de ldquodiversidades

nas matrizes culturais e das particularidades histoacutericasrdquo desafiando portanto o

Estado ao reconhecimento das variaccedilotildees nacionais e internacionais para a

30

Caracterizada como Paradigma Tecno-Econocircmico afeta embora de forma desigual todos os

setores Nesse sentido ―novos requerimentos tecircm sido impostos agrave economia mundial envolvendo aleacutem

de importantes mudanccedilas tecnoloacutegicas vaacuterias mudanccedilas organizacionais e institucionais 41

(p775)

associada a uma nova fase do desenvolvimento do capitalismo mundial ―denominada de Era da

Informaccedilatildeo e do Conhecimento

31

Furtado C O Capitalismo Global Satildeo Paulo Paz e Terra 1998 p 74

80

formulaccedilatildeo de poliacuteticas que fortaleccedilam o padratildeo competitivo tanto nacional

quanto internacionalmente

Conclusatildeo essa corroborada quando se afirma que natildeo haacute um caminho

uacutenico ldquopor mais estreitas que sejam as margens de manobra haacute sempre um

espaccedilo para a criatividade na busca de alternativas proacutepriasrdquo 44 (p 9) Para a

autora paiacuteses em desenvolvimento devem realizar suas proacuteprias escolhas

ldquoconsultando seus interesses e respeitando suas especificidades histoacutericas e

culturaisrdquo Sob esse contexto afirma a autora

ldquoa busca de uma alternativa nacional eacute natildeo soacute possiacutevel como crucial implicando autonomia de reflexatildeo independecircncia de accedilatildeo e certamente um Estado ativo e com alta capacidade de coordenaccedilatildeo de forma a conduzir a transiccedilatildeo para uma das possiacuteveis variedades de capitalismo conciliando estabilidade econocircmica crescimento sustentado e maior equidade socialrdquo (p16)

Cabe ao Estado portanto atuar de forma estruturada em busca de

maior desenvolvimento inovativo econocircmico tecnoloacutegico e social valendo-se

da atual fase do processo da globalizaccedilatildeo no que se refere aos novos padrotildees

de acumulaccedilatildeo associados agraves tecnologias de informaccedilatildeo Atuaccedilatildeo essa que

poderaacute ser mais bem desempenhada se o Estado possuir coesatildeo estrateacutegia e

poliacuteticas eficientes para o melhor aproveitamento das oportunidades para a

consolidaccedilatildeo do seu desenvolvimento e de sua capacidade competitiva

Vale destacar que a informaccedilatildeo e o conhecimento pautam as

transformaccedilotildees da nova fase de desenvolvimento do capitalismo mundial [32]

redirecionam as poliacuteticas nacionais e as condiccedilotildees para a sua implementaccedilatildeo

afetando as perspectivas de crescimento e do proacuteprio desenvolvimento

nacional aleacutem da interaccedilatildeo dos governos com suas economias isto eacute da

poliacutetica com a economia tanto no acircmbito nacional quanto no internacional [33]

32

Nesse contexto o paradigma das tecnologias de informaccedilatildeo inaugurou uma nova dinacircmica

tecnoloacutegica e econocircmica internacional ―o conhecimento torna-se um ativo primordial de competiccedilatildeo ao

mesmo tempo em que vecircm-se impondo novas formas de organizaccedilatildeo e interaccedilatildeo entre as empresas e entre

estas e outras instituiccedilotildees (incluindo as de ensino e pesquisa) e favorecendo raacutepidas mudanccedilas nas

estruturas de pesquisa produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo 39

(p 43)

33

Nessa direccedilatildeo outras caracteriacutesticas podem ser destacadas 41

(p 775-6) (a) ―a intensificaccedilatildeo

da complexidade das novas tecnologias e a aceleraccedilatildeo dos novos desenvolvimentos implicando uma taxa

81

Defende-se nesse sentido que a competitividade tem relaccedilatildeo estreita

com a capacidade inovativa das empresas e dos paiacuteses Observa-se a sua

relaccedilatildeo direta com o conhecimento Logo investir em PampD eacute investir em uma

forccedila diferenciadora para nortear o crescimento econocircmico

Nesse sentido vale destacar que o apoio puacuteblico agrave atividade de PampD e

inovaccedilatildeo nas empresas eacute uma praacutetica comum nos paiacuteses desenvolvidos

admitida pela Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio [34]

Por outro lado atividades de PampD satildeo realizadas em conjunto em

diversas partes do planeta - sob a eacutegide da centralizaccedilatildeo do ativo mais

estrateacutegico o conhecimento e satildeo controladas e coordenadas por

transnacionais graccedilas aos mesmos avanccedilos das tecnologias de comunicaccedilatildeo

e de informaccedilatildeo Sendo denominadas como globalizaccedilatildeo tecnoloacutegica ou como

ldquotecnoglobalismordquo 39

Esses autores interpretam visotildees paradoxais do tecnoglobalismo Para

alguns autores o tecnoglobalismo desloca os sistemas nacionais de inovaccedilatildeo

ldquotornando redundante e no limite sem efeito qualquer tentativa por parte dos

governos nacionais em promover o desenvolvimento tecnoloacutegico domeacutesticordquo 39

(p46)

Sob essa perspectiva protecionista as atividades estrateacutegicas de

inovaccedilatildeo satildeo desenvolvidas na matriz e portanto nos paiacuteses de origem das

grandes empresas e quando compartilhadas o satildeo de forma monitorada e

controlada Manteacutem-se portanto a matriz como detentora dos principais

conhecimentos relacionados aos seus processos de inovaccedilatildeo (que satildeo

de mudanccedila mais raacutepida nos processos e produtos (b) ―o aprofundamento do niacutevel de conhecimentos

taacutecitos natildeo codificaacuteveis e especiacuteficos de cada unidade industrial e a ampliaccedilatildeo da necessidade de investir

em intangiacuteveis tornando-se a atividade inovativa ainda mais localizada e especiacutefica (c) ―as mudanccedilas

nos processos de produccedilatildeo e as mudanccedilas fundamentais na estrutura organizacional das empresas

gerando maior integraccedilatildeo tanto nas funccedilotildees das empresas como entre outras instituiccedilotildees (d) ―os novos

requerimentos por regulaccedilatildeo e desregulaccedilatildeo (e) ―as exigecircncias de novo formato de intervenccedilatildeo

governamental e de novas poliacuteticas de promoccedilatildeo do desenvolvimento industrial e tecnoloacutegico

34

Segundo MCT 2007 - Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo para o Desenvolvimento Nacional

wwwmctgovbr na meacutedia dos paiacuteses europeus por exemplo 35 das empresas industriais inovadoras

no periacuteodo de 2002 e 2004 receberam financiamento puacuteblico para o desenvolvimento de suas atividades

inovativas Segundo o relatoacuterio ―no Brasil a proporccedilatildeo de empresas industriais com atividades

inovativas que satildeo financiadas pelo governo eacute especialmente reduzida - 19 no periacuteodo de 2003-2005

82

fortemente influenciados por seus sistemas nacionais de inovaccedilatildeo) Inovaccedilotildees

e respectivos processos que satildeo compartilhados de forma calculada isto eacute

desde que jaacute estejam em domiacutenio puacuteblico eou em decliacutenio do seu valor

agregado eou que natildeo sejam mais um ativo estrateacutegico tanto em termos

tecnoloacutegicos quanto em retorno financeiro

Consequentemente a transferecircncia e a difusatildeo da tecnologia para os

espaccedilos perifeacutericos satildeo sempre parciais ldquodificultando ainda mais do que no

passado a possibilidade de criaccedilatildeo de uma capacidade endoacutegena de progresso

teacutecnicordquo 39 (p 49)

Ampliando essa perspectiva protecionista para uma perspectiva indutora

e colonialista vale ressaltar que ao mesmo tempo em que as grandes

empresas exportam seus produtos e serviccedilos em escala mundial e

internacionalizam seus processos de produccedilatildeo em busca de condiccedilotildees mais

atraentes para a sua capacidade produtiva e inovativa tambeacutem agem como

indutoras de ldquopadronizaccedilatildeo e homogeneizaccedilatildeo do consumo da produccedilatildeo e da

tecnologiardquo 39 (p 47)

No que se refere agrave geraccedilatildeo e agrave realizaccedilatildeo de acordos de cooperaccedilatildeo

tecnoloacutegica limitam-se a espaccedilos econocircmicos ldquoonde informaccedilotildees e

conhecimentos satildeo produzidos e circulamrdquo 41 (p772) Nesse sentido reiteram

os autores

ldquoassim contrariamente agrave visatildeo mais ou menos difundida sobre uma pretensa internacionalizaccedilatildeo dos esforccedilos e resultados do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico o padratildeo que se observa eacute o de uma concentraccedilatildeo nitidamente nacional de tais atividades com as articulaccedilotildees sendo efetuadas quase que exclusivamente no acircmbito dos paiacuteses mais avanccediladosrdquo (p 772)

O que pode ser comprovado quando se analisam dados sobre patentes

e acordos de cooperaccedilatildeo relacionados aos paiacuteses da OCDE 39

ldquoa geraccedilatildeo de tecnologia permanece basicamente bdquodomeacutestica no sentido de que o essencial da PampD continua sendo desenvolvido nos paiacuteses de origem das empresas a colaboraccedilatildeo internacional por sua vez eacute um fenocircmeno que diz respeito essencialmente agraves empresas dos paiacuteses desenvolvidos e deste modo bdquotriadizada‟ configura-se portanto a visatildeo de empresa-

83

polvo que usa seus tentaacuteculos para adquirir e explorar em cada paiacutes suas excelecircncias em pesquisa mais propriamente do que descentralizar seu ceacuterebrordquo (p46-7)

Nesse sentido a globalizaccedilatildeo tende a reforccedilar o ldquocaraacuteter cumulativo das

vantagens competitivas baseadas na inovaccedilatildeo das grandes empresas

transnacionais mas pode estar enfraquecendo a base de recursos e coesatildeo

organizacional dos sistemas domeacutesticos de inovaccedilatildeordquo 41 (p778)

Tecircm-se portanto a propriedade o controle e grande parte das

atividades em PampD sendo formuladas e desenvolvidas nos paiacuteses de origem

das grandes empresas e para os autores a tese da globalizaccedilatildeo tecnoloacutegica

na verdade representa um caso de natildeo-globalizaccedilatildeo ou melhor um caso da

ldquo‟triadizaccedilatildeo [35] (ao inveacutes da globalizaccedilatildeo) tecnoloacutegicardquo Isto eacute trata-se de um

processo que vem se desenvolvendo notadamente entre os paiacuteses mais

desenvolvidos

A fim de que seja garantida posiccedilatildeo estrateacutegica para empresas e

governos no domiacutenio das tecnologias de ponta como forma de conquistar e

garantir posiccedilotildees hegemocircnicas no cenaacuterio econocircmico e poliacutetico internacional

multiplicam-se os obstaacuteculos agrave circulaccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos e

tecnoloacutegicos 36 Como consequecircncia o progresso tecnoloacutegico e seus efeitos

chegam agrave periferia de maneira restrita e segmentada resultantes de decisotildees

tomadas dentro do oligopoacutelio mundial

Essas decisotildees fortemente concentradas apresentam poder cada vez

maior na hierarquizaccedilatildeo econocircmica dos espaccedilos poliacuteticos nacionais

estabelecidas a partir da importacircncia deles para os governos ou empresas

decisoras Segundo os autores como resultado desta reordenaccedilatildeo natildeo se

observa uma globalizaccedilatildeo tecnoloacutegica difundindo conhecimento e sim um

maior estreitamento do acesso dos paiacuteses menos desenvolvidos ao

conhecimento e agraves tecnologias de ponta ldquosua utilizaccedilatildeo flexiacutevel e segmentada

corresponde a este controle concentradordquo 39 (p48)

35

Isto eacute no que se refere agraves redes de PampD os paiacuteses alvos se concentravam na ―triacuteade Estados

Unidos Japatildeo e Europa

84

Quanto aos paiacuteses em desenvolvimento notadamente os latino-

americanos percebe-se uma mudanccedila no comportamento dos seus processos

de inovaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Em estudo avaliando a deacutecada de 90 41

foram observados os seguintes movimentos (a) esperava-se que em funccedilatildeo

da retraccedilatildeo dos Estados nos financiamentos das atividades cientiacutefico-

tecnoloacutegicas houvesse um papel mais efetivo dos agentes privados o que de

fato natildeo ocorreu (b) um crescente uso de bens de capital importados aleacutem de

uma maior utilizaccedilatildeo dos demais componentes importados o que acabou por

enfraquecer a capacidade fabril domeacutestica destruindo inclusive cadeias

produtivas locais (c) a maior parte das firmas locais cuja capacidade de

desenvolvimento tecnoloacutegica era premente acabou por ser ou absorvida por

empresas estrangeiras ou fechadas

Em referecircncia ao Brasil historicamente este Paiacutes eacute apresentado como

excluiacutedo dos processos gerais de geraccedilatildeo e de cooperaccedilotildees internacionais de

tecnologia poreacutem incluiacutedo no processo de exploraccedilatildeo global de tecnologia

conforme aponta Maldonado [36]

ldquoas multinacionais satildeo mais propensas a realizar a comercializaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de suas inovaccedilotildees no territoacuterio nacional via patenteamento mais propriamente do que o desenvolvimento de atividades tecnoloacutegicas no Paiacutes seja de forma individual ou em parceria com empresas nacionais Em relaccedilatildeo agrave importaccedilatildeo de tecnologia () vem ocorrendo uma diminuiccedilatildeo destes fluxos o que significa um acesso cada vez mais restrito agraves novas tecnologias por parte dos agentes nacionaisrdquo

39 (p49)

Portanto as novas formas de investimento externo nos paiacuteses em

desenvolvimento estrategicamente posicionam estes paiacuteses como paiacuteses

receptores de tecnologias ultrapassadas e haacute muito exploradas sem valia

inovativa e tampouco consideradas como ativo estrateacutegico para os paiacuteses

desenvolvidos

ldquoconcentram-se em projetos que utilizam tecnologias estaacuteveis ou maduras apontando-se como principal

36

MALDONADO J M V O Brasil face ao processo de globalizaccedilatildeo tecnoloacutegica o

segmento de novos poliacutemeros em foco Rio de Janeiro 1996 Tese (Doutorado) - Universidade Federal do

Rio de Janeiro

85

motivo para tal o fato de as empresas estrangeiras estarem mais propensas a dividir o controle e a propriedade de um investimento quando a tecnologia envolvida eacute amplamente disponiacutevel ou natildeo se constitui em um ativo estrateacutegicordquo

39 (p 49)

Eacute a partir deste contexto que se evidencia o posicionamento da Ameacuterica

Latina e do Mercosul 39 (p 50) considerando-se ldquoa aderecircncia quase que

ilimitada aos princiacutepios do Consenso de Washington que resultou na ausecircncia

completa de poliacuteticas ativas de promoccedilatildeo ao desenvolvimento industrial e

tecnoloacutegicordquo (o que no entanto natildeo eacute pactuado pela experiecircncia dos paiacuteses

mais avanccedilados) Os autores consideram tambeacutem a perda do dinamismo das

economias da regiatildeo o que acabou por conduzir pelo decliacutenio dos

investimentos a uma ldquodefasagem na absorccedilatildeo das transformaccedilotildees

tecnoloacutegicas e organizacionaisrdquo e a uma perda de posiccedilatildeo desses paiacuteses no

comeacutercio internacional

A partir do seacuteculo XXI percebe-se um maior esforccedilo governamental em

mudar esse cenaacuterio Temos o caso brasileiro que desde entatildeo vem

promovendo ajustes macroeconocircmicos em sua economia prestigiando o

desenvolvimento produtivo local por meio de parcerias entre os setores puacuteblico

e privado37 e formulando poliacuteticas puacuteblicas estrateacutegicas para o fortalecimento

da capacidade de produccedilatildeo local e para a promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo

Eacute sob essa perspectiva que a inovaccedilatildeo no Brasil a partir do final da

deacutecada de 90 marcado eacute marcada pela construccedilatildeo das poliacuteticas cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas evidenciando-se inclusive a adoccedilatildeo de novas e estrateacutegicas

prioridades na agenda de poliacuteticas nacionais inclusive na aacuterea da sauacutede A

poliacutetica nesse sentido exerce um papel estrateacutegico pois

ldquodeve dar conta das dimensotildees do conhecimento e dos atores envolvidos na

37

No tocante agrave sauacutede ateacute o ano de 2011 as parcerias na sauacutede envolviam 32 laboratoacuterios sendo

dez puacuteblicos e 22 privados nacionais e estrangeiros Tecircm a expectativa de gerar uma economia de R$ 400

milhotildeesano aplicados em inovaccedilatildeo tecnoloacutegica aleacutem das vacinas com melhor gestatildeo de recursos

economizando R$ 500 milhotildees por ano e R$ 800 milhotildees anuais com ganhos de eficiecircncia levando a uma

economia geral de R$ 17 bilhatildeo por ano no orccedilamento do Ministeacuterio da Sauacutede Os produtos satildeo voltados

principalmente para a detecccedilatildeo e tratamento de Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis doenccedilas crocircnicas

doenccedila de Crohn antipsicoacuteticos hemofilia e tuberculose Disponiacutevel em wwwsaudegovbr 17112011

86

pesquisa em sauacutede em funccedilatildeo da complexidade dos processos de produccedilatildeo de

conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico no setorrdquo [38]

A agenda contemporacircnea nacional ganha portanto aleacutem dos ajustes

macroeconocircmicos novas diretrizes que marcam a passagem do neoliberalismo

para uma poliacutetica menos excludente e mais igualitaacuteria que redefinem

prioridades para a agenda puacuteblica 44

ldquopassam ao primeiro plano temas como a reduccedilatildeo da exclusatildeo social o inconformismo diante de uma posiccedilatildeo perifeacuterica na ordem internacional a aspiraccedilatildeo por transformaccedilotildees na geopoliacutetica mundial pela busca de autonomia e pelo reforccedilo da integraccedilatildeo regional pela diversificaccedilatildeo das parcerias e alianccedilas pela revitalizaccedilatildeo do debate sobre as reformas sociais ou ainda pela defesa de novas formas de inserccedilatildeo externardquo (p10-1)

ldquoO novo milecircnio apresenta-se como um ambiente marcado pela

controveacutersia e pelo debaterdquo 44 (p10) Logo natildeo eacute de se estranhar que o novo

debate em curso paute-se em torno de estrateacutegias de desenvolvimento e de

formas alternativas de inserccedilatildeo na ordem global

Portanto a fim de alcanccedilar esses objetivos o que se tem observado

notadamente na uacuteltima deacutecada eacute o estabelecimento de novas diretrizes

poliacuteticas39 por parte do governo nacional para um maior dinamismo nas accedilotildees

que visem ao desenvolvimento tecnoloacutegico inovativo e produtivo do Paiacutes A

viabilizaccedilatildeo das capacidades relacionadas aos bens sociais econocircmicos e

tecnoloacutegicos que requerem informaccedilotildees e conhecimentos inovativos

principalmente relacionados agraves aacutereas da sauacutede da ciecircncia e tecnologia da

defesa e da energia tecircm sido alvos de accedilotildees financiamentos e poliacuteticas

puacuteblicas coordenadas a fim de garantir a sua promoccedilatildeo [40]

38

Conforme preconiza o Consolidado dos Relatoacuterios das Conferecircncias Estaduais de Sauacutede Brasiacutelia

07 a 11122003

39 Diretrizes essas objetos de anaacutelise no capiacutetulo IV do presente estudo

40 Como por exemplo o que pode ser observado na priorizaccedilatildeo dada pela Poliacutetica de

Desenvolvimento Produtivo (2008) do Ministeacuterio da Induacutestria e Comeacutercio Exterior o ―PAC da

Inovaccedilatildeo (2007) do Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia e mais recentemente o Plano Brasil Maior

87

Finalmente a globalizaccedilatildeo considerada assimeacutetrica natildeo tornou o

mundo mais harmocircnico Afinal o conhecimento a inovaccedilatildeo a PampD a

tecnologia a informaccedilatildeo satildeo fontes de poder e estatildeo localizados em paiacuteses

mais desenvolvidos com distanciamento crescente das dinacircmicas inovativas e

desenvolvimentistas entre as empresas e instituiccedilotildees dos paiacuteses menos

desenvolvidos

Isto posto a globalizaccedilatildeo natildeo eliminou o papel dos Estados nacionais da

luta de poder entre os Estados isto eacute nas suas relaccedilotildees internacionais Nesse

sentido a busca por inovaccedilatildeo por maior conhecimento e mais informaccedilatildeo

tornou-se estrateacutegica e fundamental para o equiliacutebrio dos poderes entre os

Estados nacionais aleacutem do seu proacuteprio e sustentaacutevel desenvolvimento

econocircmico interno

(Brasil 2011) lanccedilado ainda em 2011 que daacute continuidade tanto agrave PDP quanto agrave Poliacutetica Industrial

Tecnoloacutegica e de Comeacutercio Exterior (PITCE 2003)

88

CAPIacuteTULO III - INSERCcedilAtildeO DO BRASIL NO CONTEXTO INTERNACIONAL DA SAUacuteDE

ldquoA globalizaccedilatildeo eacute irrefreaacutevel sobretudo por corresponder a muitas

exigecircncias dos seres humanosrdquo Essa frase de Berlinguer 45 (p21) representa a

pluralidade de entendimentos sobre o tema Corresponde agrave acumulaccedilatildeo de

capital a migraccedilotildees de povos agrave informaccedilatildeo simultacircnea aos sistemas de

poder ao trabalho humano aos conhecimentos cientiacuteficos agrave tecnologia aleacutem

de principalmente corresponder ao predomiacutenio das financcedilas internacionais Sua

origem intencionou segundo o autor a negaccedilatildeo da funccedilatildeo poliacutetica e da

democracia Mas como dito inicialmente a globalizaccedilatildeo eacute irrefreaacutevel assim

como o eacute a vontade humana Positiva pelo grau de conhecimento e

desenvolvimento poreacutem negativa se desequilibrada em termos de poder e

metas Portanto o ldquojogo estaacute na mesardquo E a ldquomesa pode ser viradardquo e limitar o

arbiacutetrio de alguns paiacuteses eou instituiccedilotildees monetaacuterias destacando-se os

direitos humanos fundamentais e legitimando esses interesses globais como

universais e irrevogaacuteveis em que se destaca a sauacutede e tambeacutem a seguranccedila

ldquocomo direito agrave vida e como condiccedilatildeo para o exerciacutecio de todas as liberdadesrdquo

45 (p 36)

E sendo assim inimaginaacuteveis ateacute muito pouco tempo atraacutes os novos

cenaacuterios do contexto global tecircm sido reflexos da dinacircmica estabelecida pelas

mudanccedilas contemporacircneas e pelo vigor com que as mesmas acontecem

A julgar pelo comportamento dos paiacuteses que compotildeem o sistema

mundial em tempos recentes haacute de se considerar que novas formas de

convivecircncia e de pertencimento a esse sistema ultrapassam a ideologia e

alcanccedilam os proacuteprios interesses estatais tornando-se mais pragmaacuteticos natildeo

mais ditados pelos dogmas e conceitos de regimes fechados ou capitalistas O

que se reflete tambeacutem na Ameacuterica Latina Os Estados tecircm nesse sentido

atuado em busca do equiliacutebrio entre ganhos e perdas isto eacute entre benefiacutecios e

riscos [41]

41

Corrobora nesse sentido destacar paiacuteses como China e Cuba que ateacute entatildeo orbitavam em um

cenaacuterio de bipolaridade mundial passam para a abertura econocircmica e social ndash a despeito do ainda forte

controle estatal comportando por exemplo na sauacutede relaccedilotildees entre empresas puacuteblicas e privadas

89

E eacute sob o contexto da globalizaccedilatildeo fortemente assimeacutetrica que as

naccedilotildees se deparam com novos desafios para seu fortalecimento poliacutetico e

econocircmico

No tocante ao Brasil em estudo recente [42] o IPEA ndash Instituto de

Pesquisa Econocircmica Aplicada defende que as mudanccedilas contemporacircneas

ocorridas nos sistemas globais tanto econocircmico quanto poliacutetico vem

permitindo ao Paiacutes novas oportunidades de superaccedilatildeo dos desafios e dos

entraves que impedem seu desenvolvimento ldquoo momento atual aponta para

uma confluecircncia ineacutedita da reduccedilatildeo da pobreza queda de desigualdade e

dinamismo econocircmicordquo 46 (p3) Depreende-se do estudo que o Brasil estaacute

diante de oportunidades de superaccedilatildeo das condiccedilotildees estruturais que o

imobilizara nas uacuteltimas deacutecadas e que frente agraves mudanccedilas globais recentes

poderaacute encontrar meios de reposicionar seu dinamismo econocircmico

Situaccedilatildeo essa que jaacute reflete o reposicionamento do Brasil na economia

mundial Conforme dados do estudo do IPEA partindo-se da instabilidade

econocircmica e social afinal na deacutecada de 90 encontrava-se como 8ordf economia

mundial passando para 13ordf posiccedilatildeo em 2000 (quando o niacutevel de desemprego

aumentou de menos 2 milhotildees para cerca de 10 milhotildees de trabalhadores

desempregados) o Paiacutes chega em 2011 como a sexta posiccedilatildeo econocircmica

mundial Reposicionamento motivado segundo esse estudo pela retomada do

dinamismo econocircmico no Brasil aliado ao direcionamento redistributivo das

poliacuteticas puacuteblicas e o baixo dinamismo nos paiacuteses ricos

A despeito do reposicionamento brasileiro motivado pelas

ldquotransformaccedilotildees mais amplas na economia (renda ocupaccedilatildeo entre outros) e

nas poliacuteticas puacuteblicas (educaccedilatildeo garantia de renda entre outros)rdquo [43] 46 (p4)

cuja convergecircncia de poliacuteticas puacuteblicas no segmento social eacute base estruturante

para o novo padratildeo de mudanccedila social (concomitante com o desenvolvimento

econocircmico) eacute preciso entender e ultrapassar ldquoas mudanccedilas recentes na ordem

42

Comunicados do IPEA nordm 100 ndash Mudanccedilas na Ordem Global desafios para o desenvolvimento

brasileiro ndash 23112011 Disponiacutevel em httpwwwipeagovbr acessado em 03 de janeiro de 2012

43

Natildeo eacute intenccedilatildeo desta tese aprofundar o estudo nos indicadores econocircmicos registrados no

Brasil nem a anaacutelise dos diferentes padrotildees de mudanccedila social percebidos no reposicionamento brasileiro

nosuacuteltimosanos Para mais detalhes ver Comunicado do Ipea nordm 100 Mudanccedilas na Ordem Global

desafios para o desenvolvimento brasileiro

90

global sua loacutegica e tendecircnciasrdquo (p7) e na visatildeo da promoccedilatildeo contemporacircnea

do projeto nacional de desenvolvimento procurar identificar os desafios e

oportunidades que surgem ldquonum cenaacuterio de realinhamento de poder econocircmico

e poliacutetico entre as naccedilotildeesrdquo 46 (p7)

Otimismo questionado quando comparamos os indicadores das maiores

economias do mundo Conforme pode ser observado na tabela 1 o

posicionamento do Paiacutes se daacute em funccedilatildeo do tamanho da sua populaccedilatildeo

Quando comparado agrave renda per capita do Reino Unido a renda brasileira

equivale a um terccedilo da britacircnica Assim como em sentido oposto quando

comparamos o PIB per capita chinecircs ao do brasileiro que a despeito de ser a

China a segunda economia pela projeccedilatildeo do PIB total representa menos do

que a metade do PIB per capita brasileiro

Tabela 1 ndash As Principais Economias no Mundo (PIB) 2011

Fonte Banco Mundial httpdatabankworldbankorg Acesso em 10082012

Portanto a despeito do posicionamento brasileiro no ranking das

principais economias do mundo o PIB per capita do Paiacutes quando comparado

aos demais paiacuteses desenvolvidos reflete vulnerabilidades e desafios que

devem ser ultrapassados Se considerarmos como indicadores investimentos

91

em PampD em relaccedilatildeo ao PIB paiacuteses como Sueacutecia (389) Finlacircndia (348)

Japatildeo (336em 2009) Coreacuteia do Sul (299) Estados Unidos (290 em

2009) Alemanha (282 em 2010) Cingapura (227 em 2009) Franccedila

(226 em 2010) Canadaacute (192 em 2009) Reino Unido (177 - 2010)

China (170 em 2009) e Ruacutessia (116 em 2010) quando comparados ao

Brasil (097 em 2005 e 116 em 2010) agrave Hungria (094) Aacutefrica do Sul

(093 em 2008) Portugal (080 em 2005 e 159 em 2010) Turquia

(067) e Argentina (051 em 2007) ndash dados do Main Science and

Technology Indicators (MSTI) 2007 OCDE World Development Indicators

(WDI) 2006 [44] posicionam o Brasil como intermediaacuterio no cenaacuterio

internacional ldquotanto no campo acadecircmico quanto no produtivo distante ainda

das naccedilotildees desenvolvidas ainda que em posiccedilatildeo superior a dos paiacuteses de

correspondente niacutevel de desenvolvimentordquo A situaccedilatildeo brasileira se agrava

quando comparada a valores absolutos de investimentos em PampD na relaccedilatildeo

com o PIB dos demais paiacuteses Paiacuteses desenvolvidos como os EUA investem

percentuais maiores sobre um PIB que jaacute eacute elevado o que resulta em volumes

altos de investimentos em PampD

Soma-se a ainda o fato de que as empresas brasileiras investem em

atividades de PampD uma pequena proporccedilatildeo do PIB (051) ldquoinferior ao que

fazem as suas congecircneres nos paiacuteses mais avanccedilados mas relativamente

superior as de paiacuteses como Argentina e Portugalrdquo 47

O mesmo limite se aplica quando focamos a anaacutelise para a perspectiva

empresarial baixo iacutendice de investimento quando comparado agraves empresas de

paiacuteses mais desenvolvidos o que perpetua o posicionamento mediano frente

aos demais paiacuteses Segundo relatoacuterio do MCT 47 ldquoas empresas industriais no

Brasil que desenvolveram atividades inovativas investiram cerca de 09 de

seu faturamento em atividades de PampD em 2005 muito abaixo do que ocorre

em paiacuteses como Alemanha Franccedila e Holanda em que a proporccedilatildeo varia entre

22 e 27 mas superior ao que se verifica por exemplo na Argentina e em

Portugal onde a proporccedilatildeo se situa na faixa dos 03 e 04rdquo

44

Disponiacutevel em wwwmctgovbr acesso em 05042012

92

Quando avaliado sob o enfoque da dotaccedilatildeo orccedilamentaacuteria governamental

em pesquisa e desenvolvimento (PampD) por objetivos socioeconocircmicos isto eacute

sauacutede controle e proteccedilatildeo do meio ambiente desenvolvimento social e

exploraccedilatildeo da terra e da atmosfera o investimento brasileiro na aacuterea da sauacutede

e meio-ambiente deixa muito a desejar quando comparado a paiacuteses

desenvolvidos e alguns paiacuteses em desenvolvimento conforme pode ser

observado na tabela 2 a seguir

Tabela 2 - Orccedilamento Governamental em PampD () ndash Objetivo

Socioeconocircmico Sauacutede e Meio-Ambiente ndash Brasil e OCDE 2000-2011

Paiacutes 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Brasil 78 84 63 78 90 91 96 86 81 80 67 -

Alemanha 94 96 94 99 102 101 101 102 99 103 92 93

Argentina 175 175 166 187 182 174 170 194 191 - - -

Australia 187 190 199 208 233 272 318 279 316 311 325 332

Canadaacute 213 215 238 239 230 242 238 248 234 - - -

Coreacuteia 148 155 164 161 155 138 162 153 140 140 138 14

1

Espanha 156 128 131 138 193 191 205 212 193 185 190 -

EUA 499 512 544 558 555 558 548 547 547 581 562 -

Franccedila 97 120 122 124 124 118 134 132 111 118 126 98

Italia 104 116 - - - 151 155 203 194 164 180 186

Japao 66 70 68 69 69 58 68 71 72 72 74 70

Mexico 79 78 164 206 185 205 164 - - - - -

Portugal 128 140 136 127 141 128 111 123 157 177 180 182

Reino

Unido

283 266 248 260 273 258 268 267 291 288 315 -

Russia 114 90 - - - - - - - - - -

Fonte Organization for Economic Co-operation and Development Main Science and Technology Indicators 20112 in Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede Disponiacutevel em wwwmctgovbrindexphpcontentview336722html Acesso em 22 de julho de 2012

A Tabela 2 posiciona o Brasil de forma criacutetica perante os demais paiacuteses

e reflete accedilatildeo mais assertiva dos governos dos demais paiacuteses em que os

percentuais aplicados em PampD satildeo mais representativos como eacute o caso da

93

Austraacutelia do Reino Unido e dos Estados Unidos este uacuteltimo tendo no governo

o seu maior investidor A assimetria observada na tabela indica um reflexo da

baixa prioridade que essa aacuterea representa na alocaccedilatildeo do orccedilamento

governamental do Brasil em PampD Situaccedilatildeo portanto que pode ser observada

quando em comparaccedilatildeo internacional da distribuiccedilatildeo dos gastos por objetivos

socioeconocircmicos o Paiacutes apresenta alocaccedilotildees menores do que os dos demais

paiacuteses relacionados na Tabela 2

Portanto pode-se concluir que as condiccedilotildees estruturais da economia

brasileira vigentes no passado natildeo criaram condiccedilotildees adequadas para o

desenvolvimento tecnoloacutegico endoacutegeno e portanto os esforccedilos institucionais

para inovar e agregar valor aos bens e serviccedilos ateacute entatildeo incipientes limitaram

a sua inserccedilatildeo na dinacircmica tecnoloacutegica e econocircmica do mundo globalizado

Em que pese a economia brasileira situar-se entre as seis primeiras

economias mundiais haacute muitos desafios a serem ultrapassados nas questotildees

relacionadas agrave educaccedilatildeo renda infraestrutura sauacutede seguranccedila dentre

outras tatildeo importantes quanto as citadas Poreacutem vale ressaltar que economia

grande eacute tambeacutem aquela que produz tecnologia que tenha capacidade

produtiva e de inovaccedilatildeo Portanto eacute preciso crescer com qualidade onde a

educaccedilatildeo e a sauacutede o conhecimento a pesquisa a tecnologia e a inovaccedilatildeo

sejam pilares para o desenvolvimento brasileiro cabendo ao Estado a

implementaccedilatildeo de poliacuteticas industriais e tecnoloacutegicas provedoras do

desenvolvimento econocircmico nacional

No entanto para dar sustentaccedilatildeo agrave convergecircncia dessas poliacuteticas

puacuteblicas a fim de se tornarem estruturantes para o desenvolvimento nacional

brasileiro deve-se compreender as mudanccedilas recentes na ordem global Eacute

preciso considerar que um projeto nacional de desenvolvimento somente seraacute

possiacutevel se forem considerados os limites e as possibilidades decorrentes das

transformaccedilotildees no capitalismo global Nesse sentido

ldquoeacute preciso compreender que as mudanccedilas do mundo impactaram

profundamente a relaccedilatildeo entre o nacional e o globalrdquo de maneira que

ldquoeconomia nacional pressupotildee a integraccedilatildeo internacionalrdquo 46 (p20)

94

E eacute nesse sentido que o Brasil vem exercendo uma seacuterie de movimentos

e iniciativas de poliacutetica exterior que colocaram o Paiacutes em alianccedila com os paiacuteses

mais desenvolvidos ndash relaccedilatildeo Sul-Norte assim como em coalizatildeo com os

paiacuteses menos desenvolvidos em sua relaccedilatildeo Sul-Sul Movimentos esses que

na percepccedilatildeo de Correa 33 estatildeo em sintonia com os poderes internos poreacutem

dependentes da relaccedilatildeo de poder no plano internacional

A respeito do que defende Correa 33 quanto aos poderes internos Lima48

reitera a relaccedilatildeo entre a poliacutetica externa e os interesses domeacutesticos que por ela

satildeo representados podendo avanccedilar ou natildeo em funccedilatildeo da dependecircncia dos

atores nacionais sejam eles o proacuteprio Estado os atores poliacuteticos incluindo a

decisatildeo do legislativo (que exerce forte influecircncia decisoacuteria na internalizaccedilatildeo de

questotildees de poliacutetica externa na agenda domeacutestica) aleacutem dos poderes federal

estaduais e municipais de coalizotildees diversas do interesse do empresariado

da miacutedia das organizaccedilotildees puacuteblicas e privadas das ONG‟s da opiniatildeo puacuteblica

e da sociedade como um todo Portanto a poliacutetica externa estaacute ligada agrave

estrutura domeacutestica e agrave poliacutetica nacional e eacute resultante das muacuteltiplas forccedilas e

dos interesses dos atores envolvidos

Ademais a despeito dos interesses domeacutesticos ldquoeacute fundamental

compreender que as mudanccedilas no mundo tambeacutem mudaram a posiccedilatildeo do

Brasil nelerdquo 46 (p 21) A convergecircncia das poliacuteticas e estrateacutegias nacionais de

longo prazo agrave superaccedilatildeo dos desafios para a atuaccedilatildeo brasileira na ordem

global objetiva ao Brasil maiores condiccedilotildees de superaccedilatildeo do atual status de

Paiacutes em desenvolvimento Segundo o estudo 46 os desafios a serem

superados passam pelas seguintes consideraccedilotildees (a) ldquoo deslocamento do

centro dinacircmico da economia global e o papel do BRICSrdquo (b) ldquoa inserccedilatildeo do

Brasil nas transformaccedilotildees tecnoloacutegicas do padratildeo de acumulaccedilatildeo capitalistardquo

(c) ldquoa necessaacuteria dimensatildeo ambiental do desenvolvimento econocircmicordquo e (d) ldquoa

possibilidade de construir uma governanccedila planetaacuteria legiacutetima de acordo com

as grandes mudanccedilas operadas no seio das relaccedilotildees internacionaisrdquo (p21)

95

Quanto ao primeiro desafio o papel do Brasil no BRICS o estudo do

IPEA 46 aponta o movimento global em direccedilatildeo agrave multipolaridade [45] em

adequaccedilatildeo agraves novas condicionantes poliacuteticas e econocircmicas A questatildeo

ideoloacutegica deixa de existir poreacutem natildeo desapareceram os contenciosos

relacionados agrave poliacutetica hegemocircnica ldquoa tocircnica da poliacutetica externa tem sido

desde entatildeo pressionar por relaccedilotildees internacionais mais equitativas e pela

ampliaccedilatildeo do centro decisoacuterio mundialrdquo 49 pressotildees essas presentes de forma

mais discreta na gestatildeo do governo FHC (1995-2002) e mais intensas na

gestatildeo Lula (2003-2010)

E eacute sob esse novo contexto que o Brasil vem se destacando com forte

atuaccedilatildeo junto aos BRICS (o conceito de mercados emergentes provocou o

lanccedilamento em 2001 do acrocircnimo BRIC para caracterizar novos mercados de

massa nos paiacuteses fora do eixo do Atlacircntico Norte 50) que tem nos uacuteltimos anos

representado a contrapartida da crise econocircmica internacional Poreacutem natildeo se

pode deixar de ressaltar que o movimento protagonista chinecircs [46] dentro do

BRIC eacute absoluto ldquoeacute o centro dentro desse novo centrordquo 46 (p10) criando-se um

ldquomundo sino-centrado em uma indicaccedilatildeo de se estar assistindo a um processo

gradual de difusatildeo de poder econocircmico em marcha mais acentuada desde o

iniacutecio da deacutecada de 2000rdquo 50 (p 02) Exercendo consequentemente fortes

implicaccedilotildees para a estabilidade e homogeneidade do BRIC dadas as

assimetrias econocircmicas entre a China e os demais paiacuteses no grupo

Considerando ainda que ldquoquando os foros tradicionais de decisatildeo se vecircem na

contingecircncia de incluir membros deste grupo de paiacutesesrdquo 51 (p05) devido agrave sua

importacircncia na economia mundial e quando o regionalismo acaba se

sobressaindo no contexto global impera-se a importacircncia do fortalecimento do

papel poliacutetico e econocircmico que cabe ao Brasil dentro e fora desse grupo de

paiacuteses

45

―Com a derrocada da Uniatildeo Sovieacutetica (1991) e a restauraccedilatildeo do capitalismo na China

desapareceu o conflito ideoloacutegico LesteOeste substituiacutedo por novas formas de antagonismo entre Sul

(paiacuteses em desenvolvimento) e Norte (paiacuteses desenvolvidos) ndash Frias Filho O Brasil 2050 um horizonte

Geopoliacutetico Folha de Satildeo Paulo 10 abr 2011 Caderno Ilustriacutessima

46

―Entre 1979 e 2005 o PIB chinecircs passou de menos 150 bilhotildees de doacutelares para 165 trilhotildees o

comeacutercio exterior aumentou de 206 bilhotildees para 115 trilhotildees e a renda per capita cresceu de 190

doacutelares para 1200 doacutelares aumentando a sua participaccedilatildeo na economia global de cerca de 1 para 4

(Eisenman et al 2007 pXIV apud Lima 50

(p02) Esses indicadores refletem a inserccedilatildeo vigorosa da

China na economia internacional

96

Complementando o estudo do IPEA entendemos que dada a

importacircncia estrateacutegica poliacutetica e socioeconocircmica que representa o processo

de integraccedilatildeo regional para o Brasil a Ameacuterica do Sul tem-se traduzido em um

ambiente favoraacutevel para a intersecccedilatildeo dos interesses das economias sul-

americanas como base de integraccedilatildeo e consolidaccedilatildeo fortalecida de um espaccedilo

unificado na Ameacuterica do Sul que traduza as vontades regionais e resulte no

fortalecimento conjunto perante o contexto geopoliacutetico internacional Assim

corrobora Jaguaribe 52 (p173)

Nas proacuteximas deacutecadas o sistema internacional tenderaacute a se cristalizar em torno de grandes blocos ou paiacuteses continentais Nesse cenaacuterio o Mercosul eacute o principal instrumento de que dispotildeem os seus membros para assegurar a proteccedilatildeo de seus interesses e a longo prazo preservar suas respectivas identidades nacionais Para alcanccedilar esses objetivos satildeo necessaacuterias uma maior institucionalizaccedilatildeo do bloco a ampliaccedilatildeo em direccedilatildeo aos demais paiacuteses da Ameacuterica do Sul ()rdquo

Complementarmente vale destacar que com o seacuteculo XXI desponta o

Brasil alcanccedilando uma projeccedilatildeo do seu poder externo pautada pela ldquopremissa

de que o aumento da margem de accedilatildeo externa do Brasil eacute facilitado pela

diversificaccedilatildeo de seus viacutenculos internacionaisrdquo denominando-se como a

ldquoautonomia pelo universalismordquo 53 (p 53) Aleacutem da busca por novos horizontes

ateacute entatildeo espaccedilados pela centralidade do sistema mundial e pela

consolidaccedilatildeo do continente sul-americano as relaccedilotildees com a Aacutefrica tambeacutem

continuam prioritaacuterios na relaccedilatildeo do Brasil com os paiacuteses do Sul haja vista sua

efetiva participaccedilatildeo na CPLP no IBAS aleacutem do BRICS

No que se refere agrave inserccedilatildeo no padratildeo de competiccedilatildeo monopolizado e agrave

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica global a anaacutelise do IPEA chama a atenccedilatildeo para a

construccedilatildeo de um padratildeo de competiccedilatildeo (em consequecircncia do modelo de

globalizaccedilatildeo neoliberal) monopolizado pelas corporaccedilotildees transnacionais [47] O

que resulta ldquono aprofundamento do processo de concentraccedilatildeo competitiva sem

47

Segundo o estudo do IPEA 46

(p 10) ―na primeira deacutecada de 2000 natildeo mais do que 500

corporaccedilotildees transnacionais possuiacuteam faturamentos anuais que equivaliam em conjunto quase a metade

do Produto Interno Bruto mundial

97

paralelo histoacutericordquo 46 (p11) retirando do Estado a determinaccedilatildeo do

protagonismo central

ldquoessa real concentraccedilatildeo tenciona para um processo ineacutedito desde a formaccedilatildeo dos Estados modernos de que natildeo sejam mais os paiacuteses que detenham empresas mas sim as grandes corporaccedilotildees competitivas que possuam paiacuteses cujo faturamento supera o Produto Interno Bruto de vaacuterias naccedilotildeesrdquo (p11)

Em funccedilatildeo dessa perspectiva diminuta para o poder estatal passa a ser

condiccedilatildeo estrateacutegica e sine qua non o fortalecimento dos Estados Entretanto

o estudo aponta para o fortalecimento de instacircncias supranacionais visando agrave

melhoria das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo dos mercados onde a poliacutetica

tambeacutem se transnacionaliza isto eacute ldquosomente o fortalecimento do Estado para

aleacutem do espaccedilo nacional poderaacute colocar em novas bases a condiccedilatildeo humana

do desenvolvimentordquo 46 (p11)

Independente de para dentro ou para fora ou ainda para ambas as

direccedilotildees simultacircneas eacute determinante para o Estado ldquoo movimento de raacutepida

internalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefico no processo de produccedilatildeo e

consumordquo 46 (p11) O estudo observa o protagonismo dos serviccedilos gerados

pela ldquoeconomia do conhecimentordquo e que a esse novo processo de produccedilatildeo

de tecnologia de desenvolvimento e de inovaccedilatildeo caiba a harmonia com a

sustentabilidade ambiental

Finalmente no tocante agrave participaccedilatildeo na governanccedila global quarto

desafio apontado pelo IPEA 46 o Brasil tem buscado uma maior e mais efetiva

participaccedilatildeo na ordem internacional O que de certa forma tem sido

assegurada pela crise econocircmica internacional instalada em 2008 propiciando

desde entatildeo um novo contexto no qual os paiacuteses em desenvolvimento

ganharam um protagonismo mais assertivo e participativo nos organismos e

foacuteruns internacionais

Preservando-se os interesses nacionais e a sustentaccedilatildeo do projeto de

desenvolvimento nacional ao mesmo tempo em que se ativa a sua

contribuiccedilatildeo na conduccedilatildeo da poliacutetica internacional e nas estrateacutegias de

98

inserccedilatildeo internacional os principais esforccedilos de inserccedilatildeo internacional

soberana do Brasil no cenaacuterio internacional focalizam segundo o IPEA 46 a

busca pelo reordenamento da ordem poliacutetica internacional Envidando-se

esforccedilos junto aos foros multilaterais de decisatildeo para que haja maiores

reflexotildees sobre as ldquoestruturas de poderrdquo e a busca por uma desconcentraccedilatildeo

relativa onde prevaleccedila o debate sobre a multipolaridade no sistema

internacional na expectativa de se alcanccedilar maior representatividade e

legitimidade na comunidade internacional [48]

Ademais desde os anos 90 temos em prevalecircncia o processo de

reforma da ONU cuja proposta eacute o fortalecimento da dimensatildeo interestatal das

instituiccedilotildees das Naccedilotildees Unidas enfatizando-se sua democratizaccedilatildeo e a

ampliaccedilatildeo de sua representatividade 50 Tal reflexatildeo sobre as ldquoestruturas de

poderrdquo pauta-se inclusive nos fraacutegeis alicerces resultantes da crise econocircmica

contemporacircnea demandando um novo olhar sobre a ordem econocircmica

internacional onde paiacuteses em desenvolvimento assim como o Brasil ganham

uma nova participaccedilatildeo na articulaccedilatildeo com as economias dos paiacuteses

desenvolvidos [49]

Portanto paiacuteses em desenvolvimento estatildeo se reposicionando no novo

contexto internacional Nesse sentido a anaacutelise do IPEA 46 (p19) conclui

ldquoa reforma na arquitetura financeira internacional e a reorganizaccedilatildeo da estrutura de poder das instituiccedilotildees multilaterais legitimando o papel crescente dos paiacuteses em desenvolvimento na gestatildeo da ordem financeira internacional deve ser uma luta brasileira por entender que a governanccedila atual aumenta a desigualdade traz retrocesso nos direitos sociais e reduz o raio de manobra dos paiacuteses em desenvolvimentordquo

48

Isso posto interessa ao Brasil que o ―peso dos paiacuteses em desenvolvimento no acircmbito do

Conselho de Seguranccedila das Naccedilotildees Unidas- CSNU seja equivalente agrave sua importacircncia na cena

internacional 46

(p19) E sendo assim esse objetivo refletiraacute certamente em uma accedilatildeo contiacutenua do

governo brasileiropela busca do seu assento permanente no CSNU

49 Resultado principalmente da articulaccedilatildeo do G20 grupo que congrega ministros de Economia

e presidentes de bancos centrais de 19 paiacuteses grandes economias desenvolvidas e emergentes aleacutem da

UE e se reuacutene todos os anos desde 1999 Eacute composto pelos oito paiacuteses do G8 (Alemanha Canadaacute

Estados Unidos Franccedila Reino Unido Itaacutelia Japatildeo e Ruacutessia) aleacutem UE da Aacutefrica do Sul Araacutebia Saudita

Argentina Austraacutelia Brasil China Coreacuteia do Sul Iacutendia Indoneacutesia Meacutexico e Turquia Fonte

httpwww1folhauolcombrfolhadinheiroult91u534294shtml Acesso em 15032012

99

Haacute entretanto um longo caminho a trilhar e muito mais o que fazer na

arena internacional Ao considerarmos o exposto pelo estudo do IPEA 46

destacando algumas das principais tendecircncias que desafiam a poliacutetica externa

brasileira utilizamos a delimitaccedilatildeo do recorte dado por esse Instituto para

abordarmos o miacutenimo necessaacuterio para se compreender o estado da arte da

ordem econocircmica e da poliacutetica internacionais Eacute um cenaacuterio que se apresenta

do contexto internacional e no qual inegavelmente o Brasil tem um papel a

desempenhar

Poreacutem estamos tratando do contexto global do tamanho do mundo

poliacutetico do mundo econocircmico e do social e a anaacutelise natildeo esgota a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria

No decorrer deste estudo incorporaremos a essa consolidaccedilatildeo o atual

posicionamento do Brasil nas relaccedilotildees internacionais em que a sauacutede eacute tema

relevante dentro dos novos horizontes voltados para os direitos humanos para

as perspectivas relacionadas agrave agenda Sul-Sul e no que cabe ao papel indutor

do Estado para o fortalecimento e a protagonizaccedilatildeo do Complexo Econocircmico

Industrial da Sauacutede

Com a expectativa de incorporar ao nosso estudo as abordagens que

resultam na relaccedilatildeo contemporacircnea da sauacutede com as relaccedilotildees internacionais

notadamente com a poliacutetica externa brasileira adotaremos nas anaacutelises a

seguir a premissa de que a inserccedilatildeo do Brasil no contexto internacional na

aacuterea da sauacutede ganhou maior protagonismo a partir das seguintes vertentes

(a) Relaccedilatildeo mais efetiva da sauacutede com as relaccedilotildees internacionais observadas

a partir da deacutecada de 90

(b) Protagonismo na agenda internacional da relaccedilatildeo Sul-Sul fundamentada na

cooperaccedilatildeo multilateral e nos laccedilos horizontais da qual emerge a agenda do

Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede a partir do seu caraacuteter estrateacutegico na

agenda do desenvolvimento na reduccedilatildeo das assimetrias e na questatildeo da

proacutepria soberania

Em consequecircncia a esses movimentos a importacircncia da inovaccedilatildeo

emerge no campo produtivo da sauacutede isto eacute no Complexo Econocircmico-

100

Industrial da Sauacutede construindo mecanismos e oportunidades para o

fortalecimento de uma agenda tecnoloacutegica hegemocircnica que previna e reduza

a vulnerabilidade estrutural e produtiva fruto da globalizaccedilatildeo assimeacutetrica de

poder e de conhecimento onde os ganhos satildeo compartilhados dentro e fora

das fronteiras nacionais

1 Sauacutede nas Relaccedilotildees Internacionais

Apesar do avanccedilo poacutes Guerra Fria o diaacutelogo entre sauacutede e relaccedilotildees

internacionais ganhou novos contornos somente a partir do final da primeira

deacutecada do seacuteculo XXI conforme explica Almeida 54

ldquoganhou novo impulso e adquiriu novos contornos

englobando novos temas e demandando mais do que

nunca novas abordagens para a apreensatildeo dessa

nova realidade A sauacutede global a governanccedila global

em sauacutede a diplomacia da sauacutede a sauacutede na poliacutetica

externa nacional a sauacutede e a seguranccedila nacional e

internacional satildeo exemplos de temas que passaram a

ocupar o centro das atenccedilotildees dos governos da

academia e de inuacutemeros outros atores ndash locais

regionais internacionais e globaisrdquo (p1)

No tocante ao conceito da sauacutede global este pode ser traduzido como

questotildees de sauacutede que ldquotranscendem fronteiras nacionais e governos e

demandam intervenccedilotildees nas forccedilas e fluxos globais que determinam a sauacutede

das pessoasrdquo 1 (p19) caracterizando-se pelo sentido da responsabilidade

coletiva pela sauacutede Requerendo ldquonovas formas de governanccedila em niacutevel

nacional e internacional as quais procuram incluir uma ampla gama de atoresrdquo1

(p 19) ultrapassando segundo esses uacuteltimos autores os usos ideoloacutegicos

anteriores da sauacutede internacional [50] e compartilhando suscetibilidades

experiecircncias e responsabilidades globais pela sauacutede

50

Ateacute a deacutecada de 90 utilizava-se o termo ―sauacutede internacional para os fenocircmenos ligados agrave

sauacutede em diversos paiacuteses com reflexos no niacutevel internacional Segundo Simotildees 2009 as agecircncias

internacionais tecircm utilizado o termo ―sauacutede global para eventos que afetam diversos paiacuteses e suas

populaccedilotildees ao mesmo tempo 55

A partir deste ponto do estudo buscaremos abordar ambas as

conceituaccedilotildees conforme as distintas nuances que se apresentarem no texto

101

Ademais dimensotildees globais e dimensotildees internacionais relacionados agrave

sauacutede complementam o conceito da ldquosauacutede globalrdquo Segundo diferenciam

Paulo Buss e Jose Roberto Ferreira em documento institucional interno da

Fiocruz de 2008 entendem-se como dimensotildees internacionais as relaccedilotildees

poliacuteticas e teacutecnicas entre paiacuteses e organizaccedilotildees internacionais e organismos

multilaterais E as dimensotildees globais podem ser compreendidas como as que

superam as fronteiras nacionais e referem-se a problemas tais como carecircncia

de recursos teacutecnicos deterioraccedilatildeo do meio ambiente e mudanccedilas climaacuteticas

globais pobreza extrema movimentos migratoacuterios ameaccedilas de pandemias

supranacionais

E aqui vale destacar o tamanho da responsabilidade global alcanccedilamos

a marca dos 7 bilhotildees de habitantes e por estimativa de Frias Filho 49 em

2050 o nosso universo estaraacute carregando a 9 bilhotildees de habitantes exercendo

forte impacto nas questotildees de sauacutede dentre todas as outras que se traduzem

em sobrevivecircncia humana

Natildeo eacute por acaso afirma Almeida 54 (p01) que se faz necessaacuteria a inter-

relaccedilatildeo da sauacutede com as relaccedilotildees internacionais o que ldquoeacute claramente

recomendada na Declaraccedilatildeo Ministerial de Oslo [51] - bdquoGlobal Health a pressing

foreign policy issue of hour timerdquo de 2007rdquo

Daiacute surge um novo olhar sobre a aacuterea da sauacutede que passa a pertencer a

um campo especiacutefico da diplomacia [52] a diplomacia da sauacutede 54 que se

estabelece a partir do campo de conhecimentos e praacuteticas aleacutem de conjunto

de recursos teacutecnicos e poliacuteticos oriundos dos setores governamentais de

relaccedilotildees exteriores sauacutede e correlatos para atuar sobre temas de sauacutede nos

51

A Declaraccedilatildeo de Oslo eacute um mecanismo voluntaacuterio assinado pelos titulares das pastas das

Relaccedilotildees Exteriores de 7 paiacuteses (Brasil Franccedila Noruega Indoneacutesia Senegal Aacutefrica do Sul e Tailacircndia)

em 20032007 em que se estabelece a sauacutede como prioridade nas agendas de poliacutetica externa dos

respectivos paiacuteses e reiterando o compromisso previsto na Declaraccedilatildeo de Doha (OMC) 2001 quanto agraves

flexibilidades no contexto do Acordo TRIPS sobre Propriedade intelectual e comeacutercio a fim de se

ultrapassar barreiras que limitam o acesso a medicamentos essenciais pelos paiacuteses em desenvolvimento

52 Diplomacia eacute a arte e a praacutetica da conduccedilatildeo das negociaccedilotildees sendo mais comumente

reconhecida como meio de conduzir as relaccedilotildees internacionais pelos diplomatas dos Ministeacuterios das

Relaccedilotildees Exteriores 01

102

planos multilaterais global e regionais assim como nas relaccedilotildees bilaterais

entre paiacuteses (Buss e Ferreira 2010)

Entretanto esse termo diplomacia em sauacutede ainda eacute pouco elaborado

e carece de referencial analiacutetico e conceitual sendo aos poucos construiacutedo 54

Poreacutem dada a contemporaneidade da discussatildeo - necessitando de uma

linha temporal maior para o estabelecimento dessa construccedilatildeo conceitual

como bem afirma Almeida 54 - consideraacute-lo-emos suficiente para este estudo o

olhar atribuiacutedo por Buss et Ferreira 55 quanto agrave diplomacia da sauacutede como

campo de conhecimentos e de praacutetica direcionado agraves negociaccedilotildees poliacuteticas e

teacutecnicas no cenaacuterio internacional com foco na aacuterea da sauacutede e seus

determinantes

Aleacutem da sauacutede puacuteblica e das relaccedilotildees internacionais o exerciacutecio da

diplomacia da sauacutede une temas da gestatildeo da legislaccedilatildeo e da economia

Relacionando-se principalmente agraves seguintes aacutereas ldquonegociaccedilatildeo para a

sauacutede puacuteblica entre fronteiras nos foros da sauacutede e de outras aacutereas afins

governanccedila da sauacutede global poliacutetica externa e sauacutede e desenvolvimento de

estrateacutegias de sauacutede nacionais e globaisrdquo 1 (p 20)

Vale ressaltar o desafio da governanccedila da sauacutede global que

ultrapassando a ldquogovernanccedila claacutessica da sauacutede internacionalrdquo 1 em que os

governos seriam os responsaacuteveis pela sauacutede da sua populaccedilatildeo agindo em

cooperaccedilatildeo com outros paiacuteses e protegendo sua populaccedilatildeo dos riscos agrave

sauacutede passa a contar com cada vez maiores riscos interfronteiriccedilos aleacutem de

maior ldquoquantidade e niacutevel de influecircncia de agentes natildeo vinculados ao Estado

na governanccedila da Sauacutederdquo (p21) Sob essa perspectiva mais restritiva no que

concerne agrave centralizaccedilatildeo no Estado os autores justificam a nova percepccedilatildeo

ampliada

ldquoa governanccedila da sauacutede global eacute portanto a criaccedilatildeo conformaccedilatildeo orientaccedilatildeo fortalecimento e uso consciente das instituiccedilotildees internacionais e transnacionais e dos seus regimes de princiacutepios normas regras e procedimentos de tomadas de decisotildees para fins de organizar a promoccedilatildeo e a proteccedilatildeo da sauacutede em escala globalrdquo (p21)

103

E como afirma Berlinguer 45 (p 37) ldquonatildeo pode haver sauacutede global sem

governo globalrdquo

Sob esse contexto a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede ndash OMS agecircncia

internacional especializada em assuntos sanitaacuterios criada em 1948 dentro do

sistema das Naccedilotildees Unidas se destaca como relevante para a sauacutede no

acircmbito internacional no poacutes-Guerra Segundo Santarosa 57 a OMS eacute uma

organizaccedilatildeo intergovernamental de caraacuteter universal dotada de autonomia

financeira e administrativa possui recursos orccedilamentaacuterios proacuteprios aportados

pelos Estados-membros elege seus Diretores-Gerais e atua com

independecircncia E eacute composta pela Assembleacuteia Mundial da Sauacutede (AMS) ndash

instacircncia deliberativa maacutexima pelo Conselho Executivo (CE) ndash exerce a funccedilatildeo

de oacutergatildeo diretivo e de acompanhamento da implementaccedilatildeo das decisotildees da

AMS pelo Secretariado ndash oacutergatildeo executivo da OMS que implementa poliacuteticas e

programas da Organizaccedilatildeo

A OMS natildeo tem subordinaccedilatildeo formal em relaccedilatildeo agrave ONU afirma o autor

Eacute uma agecircncia especializada autocircnoma ligada agrave ONU por acordo

internacional e que busca atuar em consonacircncia com os estabelecimentos das

Naccedilotildees Unidas Tem por finalidade ldquoalcanccedilar para todos os povos o mais alto

grau possiacutevel de sauacutederdquo sendo esta definida conforme artigo 1ordm da

Constituiccedilatildeo da OMS ldquoum estado de completo bem-estar fiacutesico mental e

social e natildeo apenas a ausecircncia de sintomas ou doenccedilasrdquo Nesse sentido cabe

agrave OMS dentre outras atividades

(a) formular diretrizes e recomendaccedilotildees e

(b) divulgar e estabelecer boas-praacuteticas e prestar assistecircncia teacutecnica aos

Estados-membros nas mateacuterias de sua competecircncia ldquocomo prevenccedilatildeo e

controle de enfermidades poliacuteticas de sauacutede cuidados meacutedicos pesquisa e

usos de medicamentos classificaccedilatildeo de doenccedilas formaccedilatildeo e treinamento de

profissionais da sauacutede etcrdquo

O texto de Santarosa 57 aponta dois aspectos importantes que

influenciam a conformaccedilatildeo da agenda da OMS criando desafios que devem

ser suplantados

104

1 Modus Operandi do tipo circular (ver figura 3) que pode representar um

obstaacuteculo na inserccedilatildeo de temas imediatistas na OMS ldquodaiacute a importacircncia

de uma adequada e oportuna preparaccedilatildeo das propostas pelas

delegaccedilotildees de sua inserccedilatildeo em pauta no momento correto e da

construccedilatildeo de apoios que permitam sua aprovaccedilatildeordquo

Figura 3 Modus Operandi da OMS

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados da OMS (wwwwhoint) Acesso em 23012012

2 A perda do perfil teacutecnico da agenda da OMS passando a tratar de

temas que repercutem aleacutem do campo sanitaacuterio Sob essa nova

abordagem o autor afirma que se faz ldquonecessaacuteria uma dosagem entre

os componentes teacutecnico e poliacuteticordquo como por exemplos os casos da

OMPI (propriedade intelectual) da OMC (tabaco e medicamentos) da

Convenccedilatildeo sobre Armas Bioloacutegicas (epidemias com agentes bioloacutegicos)

etc O que se desprende do sistema multilateral contemporacircneo ldquoa

existecircncia de uma interpenetraccedilatildeo horizontal das agendas das

organizaccedilotildees internacionaisrdquo

105

A atuaccedilatildeo em sauacutede em niacutevel internacional obviamente aleacutem dos

especialistas sanitaacuterios natildeo prescinde da aacuterea diplomaacutetica e das relaccedilotildees

internacionais Correlaccedilatildeo essa mais evidente no final do seacuteculo XX defendida

pela OPAS em 1993 Por outro lado a diplomacia e a poliacutetica externa natildeo mais

se resumem aos diplomatas 1 Logo no tocante agrave sauacutede esse cenaacuterio se

repete Haacute a participaccedilatildeo de uma grande gama de agentes tanto do Estado

como fora do seu acircmbito Como exemplo da importacircncia dessa correlaccedilatildeo

atualmente o Ministro da Sauacutede como eacute o caso do Brasil tem responsabilidade

dupla ldquopromover a sauacutede do seu Paiacutes e fomentar os interesses em sauacutede da

comunidade globalrdquo (p22)

Isso posto mesmo considerando os interesses muitas vezes

contraditoacuterios entre os diversos atores envolvidos a fim de se dar conta das

lacunas provocadas pelas condiccedilotildees de vida e de sauacutede adversas pelas

deficiecircncias relacionadas aos determinantes sociais e econocircmicos e pela

insuficiente capacidade de gestatildeo por parte de alguns paiacuteses satildeo necessaacuterias

accedilotildees e iniciativas com condiccedilotildees de suporte estrateacutegico por parte das Naccedilotildees

Unidas das agecircncias de cooperaccedilatildeo dos paiacuteses mais desenvolvidos (ou ateacute

mesmo em desenvolvimento com condiccedilotildees superiores agravequeles que natildeo a

detecircm) e tambeacutem da filantropia internacional 56 Accedilotildees essas que possam dar

encaminhamentos a essas questotildees preocupantes priorizando-se

principalmente a sauacutede na agenda internacional na agenda de cooperaccedilatildeo

internacional e nos diversos programas de ajuda para o desenvolvimento

Ao que soma ao panorama da sauacutede global no sentido da ampliaccedilatildeo da

atuaccedilatildeo de outros atores o que Kickbusch et Berger 1 destacam em seu

estudo que o crescimento de parcerias puacuteblico-privados de doadores fundos

e demais atores acabam diversificando os envolvimentos no campo da sauacutede

global Isto eacute a competecircncia natildeo se esgota na OMS e correlacionadas

Expandem-se atuaccedilotildees alianccedilas fundos e foacuteruns globais junto agrave OMC ao

Banco Mundial agraves organizaccedilotildees regionais e demais organizaccedilotildees aleacutem das

organizaccedilotildees natildeo governamentais do setor privado do campo acadecircmico da

miacutedia dentre outros atores participantes no universo global

106

Aleacutem de caber agrave Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede a OPAS e aos outros

oacutergatildeos programas e agecircncias especializadas da ONU a formulaccedilatildeo de

diretrizes e orientaccedilotildees quanto aos compromissos pactuados entre os Estados-

membros haacute cada vez mais essencialidade nas accedilotildees das agecircncias e das

organizaccedilotildees bilaterais de assistecircncia ao desenvolvimento dos bancos

multilaterais de desenvolvimento (Banco Mundial Banco Interamericano de

Desenvolvimento) das fundaccedilotildees filantroacutepicas e das organizaccedilotildees natildeo

governamentais e das alianccedilas puacuteblico-privadas

Dentre os exemplos dessas alianccedilas envolvendo diversos atores

destacam-se (a) Fundo Mundial de Luta contra AIDS a Tuberculose e a

Malaacuteria estabelecida em 2002 e integrada por representantes de doadores

paiacuteses receptores empresas ONG`s organizaccedilotildees internacionais fundaccedilotildees

e das comunidades afetadas tornando-se importante fonte financeira de ajuda

agrave sauacutede (b) Alianccedila Mundial para Vacinas e Imunizaccedilatildeo com forte atuaccedilatildeo

mundial (c) CDC ndash Centros para Controle e Prevenccedilatildeo de Doenccedilas (d) e do

DNDI ndash Iniciativa Medicamentos para Doenccedilas Negligenciadas 58

Aleacutem dos fundos de paiacuteses doadores tais como a Ajuda Oficial ao

Desenvolvimento (AOD) que engloba os empreacutestimos e doaccedilotildees dos paiacuteses

desenvolvidos destinados ao bem-estar e ao desenvolvimento econocircmico dos

paiacuteses em desenvolvimento (que destina agrave sauacutede ndash assistecircncia primaacuteria

prevenccedilatildeo e controle de doenccedilas planejamento familiar gestatildeo do setor e

infraestrutura ndash parte do seu fundo) e de outros importantes doadores como o

Center Carter e notadamente a Fundaccedilatildeo Bill e Melinda Gates

Ademais a sauacutede cada vez mais ganha espaccedilo nas cuacutepulas do G8

G20 nas Assembleacuteias Gerais da ONU das estrateacutegias de reduccedilatildeo de pobreza

e determinantes sociais A sauacutede passa portanto de uma questatildeo de poliacutetica

domeacutestica para uma questatildeo de poliacutetica externa Haacute de se considerar apesar

da ampliaccedilatildeo da atuaccedilatildeo de outros atores o caraacuteter estrateacutegico da sauacutede haja

visto tratar-se de ldquouma questatildeo importante para a busca dos paiacuteses pelos seus

interesses e valores nas relaccedilotildees internacionaisrdquo 59 (p53) dadas as

107

consideraccedilotildees do compromisso da sauacutede global como poliacutetica externa

(Declaraccedilatildeo de Oslo [53] 2007)

Isso posto destacaremos alguns dos principais instrumentos legais que

no plano internacional mais ampliado fundamentaram a inserccedilatildeo da sauacutede no

contexto internacional 60 (p 123-126)

1 Carta das Naccedilotildees Unidas (1945)

a O preacircmbulo estabelece o compromisso dos fundadores da

organizaccedilatildeo isto eacute ldquopromover o progresso social e a melhoria

das condiccedilotildees de vida dos povosrdquo empregando um

ldquomecanismo internacional para promover o progresso

econocircmico e socialrdquo onde natildeo seratildeo medidos esforccedilos para a

busca desses objetivos

b Artigo Primeiro ndash 3ordm paraacutegrafo reconhece as dificuldades

existentes poreacutem tem como objetivo ldquoconseguir uma

cooperaccedilatildeo internacional para resolver os problemas

internacionais de caraacuteter econocircmico social cultural ou

humanitaacuteriordquo

c Capiacutetulo IV artigo 13 aliacutenea b e artigo 55 e Capiacutetulo IX artigo

55 aliacutenea b ndash atribui agrave Assembleacuteia Geral estudos e

recomendaccedilotildees para promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional

nas aacutereas econocircmica social cultural educacional e sanitaacuteria

reforccedilando a necessidade do envolvimento da comunidade

internacional com a sauacutede e determinando o compromisso das

Naccedilotildees Unidas na busca de ldquosoluccedilotildees para os problemas

internacionais econocircmicos sociais sanitaacuterios e conexos com o

fim de criar condiccedilotildees de estabilidade e bem-estar necessaacuterias

agraves relaccedilotildees paciacuteficas e amistosas entre as naccedilotildeesrdquo

d Artigo 62 ndash Paraacutegrafo 1 ndash atribui competecircncia ao Conselho

Econocircmico e Social para tratar de assuntos sanitaacuterios e para

criar comissotildees necessaacuterias para o desempenho das funccedilotildees

53

No decorrer desta anaacutelise seratildeo apresentados mais detalhes acerca dessa declaraccedilatildeo

108

(artigo 68)

2 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (Resoluccedilatildeo 217 A (III) da

Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas 1948 artigo 25 ndash prevendo a

obrigaccedilatildeo dos paiacuteses em zelarem pela sauacutede puacuteblica garantindo a

dignidade dos seres humanos e correlacionando a sauacutede aos demais

fatores sociais ldquotodo ser humano tem direito a um padratildeo de vida

adequado para assegurar a sauacutede e o bem-estar de si mesmo e de sua

famiacutelia incluindo alimentaccedilatildeo vestuaacuterio moradia assistecircncia meacutedica e

serviccedilos sociais apropriadosrdquo

3 Pacto Internacional sobre Direitos Econocircmicos Sociais e Culturais

elaborado pela Comissatildeo de Direitos Humanos das Naccedilotildees Unidas e

ratificado em 1976 ndash destinado a regular e controlar a aplicaccedilatildeo dos

direitos reconhecidos internacionalmente Direitos esses que o seu artigo

12 estabelece ldquoassegurar a diminuiccedilatildeo da mortalidade infantil e o

desenvolvimento sadio das crianccedilas garantir a prevenccedilatildeo e o tratamento

das doenccedilas epidecircmicas endecircmicas e outras criar condiccedilotildees que

assegurem a todos assistecircncia e serviccedilos meacutedicos em caso de

enfermidades e melhorar todos os aspectos relacionados com a higiene

do trabalho e do meio ambienterdquo

4 Conferecircncia de Alma Ata ndash representa um diferencial na conduccedilatildeo do

tema ldquosauacutederdquo na agenda internacional A Assembleacuteia Geral da ONU

(Resoluccedilatildeo 3458) referendou em 1979 as recomendaccedilotildees da

Conferecircncia de Alma Ata sobre Atenccedilatildeo Primaacuteria ocorrida em 1978

resultando na ldquoEstrateacutegia de Sauacutede Para Todos no ano 2000rdquo O

diferencial se fundamenta na consideraccedilatildeo da sauacutede como parte

integrante do processo de desenvolvimento destacando-se a importacircncia

da cooperaccedilatildeo internacional como instrumento para a realizaccedilatildeo de

objetivos internacionalmente pactuados

E mais recentemente dentre outros destacamos os seguintes

5 Conferecircncia de Otawa ndash Primeira Conferecircncia Internacional sobre

109

Promoccedilatildeo da Sauacutede - 1986 Decorrente da expectativa mundial pela

eficiecircncia na sauacutede puacuteblica defende a promoccedilatildeo da sauacutede como

fundamental para a qualidade de vida cuja responsabilidade natildeo eacute

exclusiva da sauacutede na busca do bem estar global Dentre os criteacuterios

pactuados na Carta de Intenccedilatildeo destaca-se a busca pelo

reconhecimento da importacircncia da sauacutede nas aacutereas poliacuteticas sociais

econocircmicas ambientais culturais bioloacutegicos e comportamentais

6 Declaraccedilatildeo do Milecircnio [54] de 2000 ndash Aprovado por 147 Chefes de Estado

e de Governo (aleacutem de representantes dos paiacuteses membros da ONU)

representa o comprometimento dos signataacuterios em estabelecer meios

para garantir um mundo com maior equidade social e reduzir a pobreza

extrema Estipula oito grandes objetivos relacionados ao

desenvolvimento para o milecircnio e o tema da sauacutede estaacute entre os

grandes objetivos dessa declaraccedilatildeo diminuir drasticamente a

mortalidade infantil e materna combater a malaacuteria e HIVAIDS aleacutem de

possibilitar o acesso agrave aacutegua potaacutevel a todos diminuir pela metade o

nuacutemero de miseraacuteveis no mundo e acabar com a fome garantir educaccedilatildeo

fundamental a todas as crianccedilas no mundo lutar contra a discriminaccedilatildeo

das mulheres e promover parceria global de desenvolvimento

7 Declaraccedilatildeo de Doha sobre Sauacutede Puacuteblica adotada no acircmbito da OMC ndash

ldquoDeclaraccedilatildeo sobre o Acordo TRIPS e Sauacutede Puacuteblicardquo 2001 Conferecircncia

ministerial que reconhece a gravidade dos problemas de sauacutede puacuteblica

que afligem paiacuteses em desenvolvimento e paiacuteses menos desenvolvidos

Reconhece no Acordo TRIPS (Aspectos dos Direitos de Propriedade

Intelectual Relacionados com o Comeacutercio sobre sauacutede puacuteblica em geral)

a necessidade da proteccedilatildeo agrave propriedade intelectual e a sua implicaccedilatildeo

para o desenvolvimento de novos medicamentos poreacutem tambeacutem

acordam no sentido de que o TRIPS natildeo poderaacute impedir que os paiacuteses

membros possam adotar medidas para proteger a sauacutede puacuteblica

refletindo portanto sobre as implicaccedilotildees do Acordo da OMC sobre a

sauacutede puacuteblica em geral

54

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Declaraccedilatildeo do Milecircnio New York setembro de

2000

110

8 Declaraccedilatildeo de Oslo ndash Sauacutede Global um tema urgente da Poliacutetica Externa

contemporacircnea assinada em 2007 pelos Ministeacuterios das Relaccedilotildees

Exteriores do Brasil da Franccedila da Indoneacutesia da Noruega do Senegal

da Aacutefrica do Sul e da Tailacircndia reforccedila a questatildeo da sauacutede como

elemento baacutesico em estrateacutegias de combate agrave pobreza e de incentivo ao

desenvolvimento social e estimulando o debate sobre os problemas de

sauacutede nas discussotildees relacionadas agrave poliacutetica externa

9 Resoluccedilatildeo 6595 das Naccedilotildees Unidas sobre Sauacutede Global e Poliacutetica

Externa ndash 2011 ocorrida na 61ordf Sessatildeo da Assembleacuteia Geral

Reconhece a necessidade de esforccedilos integrados e de um ambiente de

poliacutetica global de apoio agrave sauacutede global para dar conta dos desafios da

sauacutede mundial e nesse sentido estimula aos Estados-Membros

ao sistema das Naccedilotildees Unidas agraves academias agraves instituiccedilotildees e agraves redes

a estreitar a relaccedilatildeo entre poliacutetica externa e a sauacutede global fortalecendo

inclusive a formaccedilatildeo de diplomatas e gestores de sauacutede em particular

dos paiacuteses em desenvolvimento Objetiva tambeacutem a construccedilatildeo de um

relatoacuterio que reflita sobre maneiras de melhorar a coordenaccedilatildeo a

coerecircncia e a eficaacutecia da governanccedila em sauacutede global discuta o papel

do Estado e de outros atores envolvidos nesse processo e apresente

recomendaccedilotildees para fortalecer as poliacuteticas sobre os determinantes

sociais da sauacutede reafirmando o papel central das Naccedilotildees Unidas nesse

processo

10 Conferecircncia de Monterrey de 2011 ndash Consenso de Monterrey para o

Financiamento do Desenvolvimento - cujo objetivo eacute superar os desafios

de financiamento de desenvolvimento que visem agrave erradicaccedilatildeo da

pobreza e a melhoria das condiccedilotildees sociais e dos padrotildees de vidas dos

seres humanos Deu-se em um contexto econocircmico de desaceleraccedilatildeo da

economia global e de reduccedilatildeo das taxas de crescimento econocircmico

11 Conferecircncia Mundial de Determinantes Sociais da Sauacutede aprovada pelo

Conselho Executivo da OMS 130ordf Sessatildeo 2012 ndash Resoluccedilatildeo EB130

R11 submetida agrave 65ordf Assembleacuteia Mundial de Sauacutede realizada em maio

de 2012 A Resoluccedilatildeo reiterava os principais toacutepicos da Declaraccedilatildeo

Poliacutetica do Rio que foi pactuada nessa Conferecircncia e visava agrave

111

distribuiccedilatildeo equitativa dos recursos e a luta contra as condiccedilotildees que

afetam a sauacutede

Aleacutem da sequecircncia de conferecircncias mundiais promovidos pela

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre assuntos relacionados agrave aacuterea social o

tema tambeacutem eacute valorizado pelo ldquocrescimento do interesse dos organismos

internacionais e dos bancos multilaterais de desenvolvimentordquo pela ldquoinclusatildeo

de toacutepicos de natureza social em negociaccedilotildees de mecanismos regionais e sub-

regionais de integraccedilatildeordquo e pela ldquoampliaccedilatildeo da oferta de apoio e programas e

projetos sociais pelas agecircncias governamentais bilaterais de cooperaccedilatildeordquo 60

Portanto os marcos histoacutericos mostram que a sauacutede tem espaccedilo privilegiado

na agenda internacional estando fortemente vinculados aos temas dos direitos

humanos aleacutem da estreita vinculaccedilatildeo com o desenvolvimento econocircmico

Ao que afirma Simotildees 55 que a caracteriacutestica intersetorial da sauacutede tem

amplificado e ramificado influenciando e afetando diversas aacutereas de atividades

ndash econocircmico-comercial social e poliacutetica A representatividade de sua

importacircncia eacute medida inclusive por sua presenccedila em todas as conferecircncias

sociais ocorridas na deacutecada de 90 por exemplo Mais uma forte indicaccedilatildeo do

protagonismo do tema eacute o fato de que dos oito Objetivos do Milecircnio cinco

estatildeo relacionados agrave sauacutede seja de forma direta ou indireta [55]

Proveniente da Conferecircncia Mundial de Determinantes Sociais da

Sauacutede a Resoluccedilatildeo EB130R11 com os resultados dessa Conferecircncia eacute de

incontestaacutevel valor para a sauacutede e para os temas sociais que estabelecem

transversalidade com a sauacutede Essa resoluccedilatildeo aponta como condiccedilotildees sine

qua non para o estabelecimento da condiccedilatildeo humana (a) o fortalecimento da

cooperaccedilatildeo internacional para promoccedilatildeo da equidade em sauacutede (b) a

transferecircncia de conhecimentos especializados tecnologias e conhecimentos

cientiacuteficos e (c) a facilitaccedilatildeo do acesso a recursos financeiros no sentido de

que os recursos provenientes dos paiacuteses em desenvolvimento (meta de 07

55

Isto eacute reduzir a mortalidade infantil melhorar a sauacutede das gestantes e combater a AIDS

malaacuteria e outras doenccedilas satildeo objetivos diretos e os indiretos acabar com a fome e a pobreza educaccedilatildeo

baacutesica de qualidade para todos qualidade de vida e respeito ao meio ambiente busca pelo

desenvolvimento e sustentabilidade ambiental que satildeo alguns dos determinantes sociais da sauacutede

112

do PIB) como ajuda oficial para o desenvolvimento sejam destinados ao

cumprimento dos objetivos e metas de desenvolvimento 61

O documento destaca em seu Preacircmbulo a necessidade de se proteger

a sauacutede das pessoas contra as consequecircncias nocivas das crises econocircmicas

mundiais em um esforccedilo de manter o atual posicionamento do conceito de

desenvolvimento aliado agraves condiccedilotildees sociais do indiviacuteduo

A erradicaccedilatildeo da fome e da pobreza a garantia de acesso a

medicamentos seguros e eficazes com custo acessiacutevel a garantia da

seguranccedila alimentar e nutricional o acesso agrave aacutegua potaacutevel e saneamento o

acesso ao emprego e trabalho decentes e agrave proteccedilatildeo social a proteccedilatildeo ao

meio ambiente e a busca por garantir o crescimento econocircmico equitativo por

meio de accedilotildees que ajam sobre os determinantes sociais da sauacutede satildeo desafios

a serem ultrapassados por todos os paiacuteses

O que vem a complementar o estipulado pelas Metas do Milecircnio cujo

objetivo seria combater a pobreza mundial datadas de 2000 as quais

especialistas defendem a sua reformulaccedilatildeo 62 As Metas da ONU natildeo seriam

mais apropriadas em funccedilatildeo da sua simplicidade em oposiccedilatildeo agrave complexidade

dinacircmica do mundo contemporacircneo Apesar de alguns avanccedilos haacute muito a ser

ultrapassado e alcanccedilado Defendem-se nesse sentido novas incorporaccedilotildees

tais como as aacutereas da ecologia e do clima regras para o mercado financeiro

mundial e o combate a paraiacutesos fiscais e reconsideraccedilotildees quanto agrave

heterogeneidade de cada naccedilatildeo Segundo argumenta a autora a reformulaccedilatildeo

natildeo garantiraacute o alcance das metas poreacutem buscaraacute alcanccedilar o desenvolvimento

que leve em consideraccedilatildeo primeiramente a condiccedilatildeo e o comportamento do

ser humano

Alguns desafios podem ser destacados na abordagem da sauacutede com a

diplomacia e as relaccedilotildees internacionais Aleacutem da necessaacuteria dosagem entre os

componentes teacutecnicos e poliacuteticos relacionados aos diversos atores envolvidos

na relaccedilatildeo entre a sauacutede e as relaccedilotildees internacionais vale ressaltar tambeacutem a

transversalidade das agendas relacionadas agrave sauacutede tanto pela interface

temaacutetica quando agrave inter-relaccedilatildeo de governanccedila entre os diversos organismos

uma vez que haacute participaccedilatildeo concomitante de representantes em oacutergatildeos

113

decisoacuterios entre eles Conhecer o funcionamento e as complexas inter-relaccedilotildees

entre as agecircncias e os organismos internacionais sanitaacuterios eacute fundamental

Tambeacutem cabe apontar neste estudo a perda evidente de legitimidade

que impera junto agrave ONU e por consequecircncia junto agraves suas organizaccedilotildees

Como destacado na reportagem do Le Monde Diplomatiquendash ONU como se

desfazer dela de 06022012 essa organizaccedilatildeo enfrenta uma ldquodivisatildeo de

tarefas que se desenha em escala mundialrdquo Questotildees poliacuteticas de grande

importacircncia estatildeo sendo referendadas por grupos de potecircncias (exemplo G-8

G-20) como instacircncias de decisatildeo de fato sem no entanto serem No

tocante agrave sauacutede tem sido abordada a necessidade de a OMS atualizar o seu

compromisso puacuteblico primeiramente dando ordem ldquoao caleidoscoacutepio de

organizaccedilotildees programas e agecircnciasrdquo que se reproduz nas relaccedilotildees

internacionais em sauacutede afim de que natildeo haja contradiccedilotildees nos

encaminhamentos e normas relacionados aos consensos estipulados para a

aacuterea da sauacutede Afinal afirma a jornalista Anne-Ceacutecile Robert na reportagem do

Le Monde ldquoSe a supremacia da ONU no tabuleiro internacional parece

desgastada eacute tambeacutem porque seus textos fundadores permanecem

impregnados de uma filosofia humanista pouco disseminada na ordem

econocircmica globalizadardquo

Conforme defende Berlinger 45 (p23) ldquoa luta contra as desigualdades eacute

um poderoso estiacutemulordquo para a sauacutede global como finalidade social desejaacutevel

Poreacutem afirma que ldquono plano praacutetico tem o mesmo valor senatildeo maior a

consciecircncia de que a sauacutede eacute um bem indivisiacutevel e de que o gecircnero humano

estaacute vinculado por um destino comumrdquo Essa consciecircncia global ainda estaacute em

formaccedilatildeo Verdade mais evidente hoje do que haacute dez anos E indubitavelmente

muito mais estrategicamente priorizado do que houvera sido haacute vinte anos

quando as poliacuteticas neoliberais decorrentes do Consenso de Washington

imperavam nos interesses internacionais

Entretanto esse atraso e essa passividade generalizada e histoacuterica

poderatildeo implicar grandes custos agrave humanidade 45 (p23) Passividade essa

compartilhada pelos ldquosilecircncios interessados de quem deteacutem o saber o

oportunismo de quem deteacutem o poderrdquo Nesse sentido o autor critica a

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede e a cumplicidade da poliacutetica uma vez que a

114

OMS deveria ser o local privilegiado cujo interesse resguardasse o interesse

coletivo o interesse global a sauacutede como um bem uacutenico indivisiacutevel siacutembolo

predominante dos valores humanos fundamentando a sauacutede como finalidade

primordial do crescimento econocircmico Ainda segundo o autor 45 (p26) a

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede ldquopor seus defeitos e pelo desinteresse dos

governos perdeu a funccedilatildeo de guia nas poliacuteticas mundiais da sauacutederdquo

interpelada inclusive pela difusatildeo de novas fontes de poder e de influecircncia dos

atores que emergiram nas uacuteltimas deacutecadas (fontes de fomento e organizaccedilotildees

natildeo governamentais dentre outros) Situaccedilatildeo essa que impotildee a necessaacuteria

revisatildeo dos valores macros da Organizaccedilatildeo legitimando-a de fato para a

missatildeo que lhe impera

Haacute de se destacar tambeacutem um oacutebice a ser ultrapassado o tempo

diplomaacutetico nas relaccedilotildees internacionais Certamente eacute um fator que necessita

ser observado e corrigido Os temas sociais e notadamente a sauacutede

requerem celeridade na conduccedilatildeo das negociaccedilotildees internacionais dada a

essencialidade que esse tema traduz para o ser humano Do estudo de

Rubarth 60 podemos apontar como exemplo o absurdo do prazo e do tempo da

poliacutetica internacional na conduccedilatildeo de uma proposta a Comissatildeo de Direitos

Humanos das Naccedilotildees Unidas em meados do seacuteculo XX foi incumbida de

preparar um instrumento legal que regulasse e controlasse a aplicaccedilatildeo dos

direitos que foram reconhecidos internacionalmente Nesse sentido apoacutes

exaustivas negociaccedilotildees a Assembleacuteia Geral oficializou em 1951 a solicitaccedilatildeo

de dois pactos um para os Direitos Civis e Poliacuteticos e outro sobre Direitos

Econocircmicos Sociais e Culturais A aprovaccedilatildeo deles entretanto ocorreu

somente em 1966 E as ratificaccedilotildees (necessaacuterias para que entrassem em

vigor) tatildeo somente em 1976 Significa afirmar que da solicitaccedilatildeo inicial jaacute

pactuada ateacute a ratificaccedilatildeo do documento elaborado tivemos ldquoo curto prazordquo de

um quarto de seacuteculo Obviamente estamos em um contexto histoacuterico mais

acelerado onde conduccedilotildees ciberneacuteticas agilizam o tracircnsito burocraacutetico Poreacutem

haacute muito que se priorizar negociaccedilotildees preacutevias coalizotildees consensos

deliberaccedilotildees aprovaccedilotildees e implantaccedilotildees de poliacuteticas e medidas para as

condiccedilotildees de sauacutede Negociaccedilotildees econocircmicas comerciais culturais e outras

podem ateacute em alguma medida aguentar essa espera A sauacutede humana natildeo

115

Ademais alguns dos desafios importantes para o tratamento dos temas

da sauacutede nas relaccedilotildees internacionais satildeo ldquoo avanccedilo das doenccedilas e a crescente

intersetorialidade da sauacutederdquo 55 (p 14) E esses temas em um futuro cada vez

mais presente exigiratildeo cada vez mais um grande esforccedilo de sintonia entre o

corpo diplomaacutetico e os demais atores intrinsecamente relacionados sejam eles

externos ou nacionais para equilibrar as necessidades de sauacutede puacuteblica com

os interesses econocircmicos sociais e poliacuteticos nas negociaccedilotildees internacionais

O Brasil vem se projetando com maior evidecircncia na arena internacional

a partir do final da deacutecada de 90 e da entrada no seacuteculo XXI Reflexo do novo

status quo do Brasil no acircmbito do sistema internacional 63 Segundo os autores

ldquoestaacute em curso um amplo e crescente processo de reconhecimento

internacional do Paiacutes como uma economia emergente com elevada capacidade

interna em diversos setoresrdquo (p39) sendo portanto ldquoum ator-chave da

cooperaccedilatildeo internacionalrdquo Resultado de dois fatores principais a prolongada

estabilidade poliacutetico-econocircmica nacional e o acuacutemulo de experiecircncias

nacionais em programas sociais inovadores de grande repercussatildeo em todo o

mundo 63 (p 39)

Como exemplos da atuaccedilatildeo brasileira citamos a recente lideranccedila que o

Brasil vem exercendo na conduccedilatildeo do G20 notadamente nas questotildees

relacionadas agrave grave crise econocircmica participaccedilotildees nos encontros do G8

efetiva e decisiva participaccedilatildeo do Brasil na criaccedilatildeo da Uniatildeo das Naccedilotildees do Sul

ndash Unasul formalizada em 2008 e crescente participaccedilatildeo em organismos

multilaterais (CPLP UNICEF OMS OPAS Mercosul OTCA por exemplo)

E essa atuaccedilatildeo do Brasil tambeacutem se projeta na aacuterea da sauacutede como um

dos temas prioritaacuterios da agenda social na poliacutetica externa e nos assuntos

globais entre os quais comeacutercio e seguranccedila Apesar de pouco reconhecida no

Brasil a aacuterea de cooperaccedilatildeo internacional em sauacutede vem se tornando mais

ativa nas uacuteltimas deacutecadas 64

O que tambeacutem pode ser observado no fortalecimento dado aos temas

sociais na pauta de trabalho do Itamaraty por conta da necessidade de superar

a reduzida importacircncia atribuiacuteda a esses assuntos pela Chancelaria 60

Outra indicaccedilatildeo da importacircncia dada ao tema da sauacutede no contexto das

116

relaccedilotildees internacionais eacute apresentada por Jouval [56] quando conclui acerca da

potencialidade e da direccedilatildeo dada agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica isto eacute ldquoo

desenvolvimento da agenda poliacutetica com base na agenda teacutecnicardquo [57]

A correlaccedilatildeo da sauacutede e do Ministeacuterio da Sauacutede com as accedilotildees de

poliacutetica externa do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores do Brasil estatildeo previstas

nas prioridades e diretrizes especiacuteficas da Presidecircncia da Repuacuteblica e do

Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores Aleacutem disso essa correlaccedilatildeo tem como

base legal as referecircncias nacionais e internacionais que estreitam os laccedilos da

sauacutede com a poliacutetica externa A saber (a) Art 4 da Constituiccedilatildeo de 1988 - a

cooperaccedilatildeo entre os povos como princiacutepio constitucional - Paraacutegrafo uacutenico ldquoA

Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social

e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma

comunidade latino-americana de naccedilotildeesrdquo (b) Art 196 ldquoa sauacutede eacute direito de

todos e dever do Estadordquo (c) Em 2001 Declaraccedilatildeo de Doha sobre Sauacutede

Puacuteblica e Acordo TRIPS (OMC) (d) Em 2007 Declaraccedilatildeo Ministerial de Oslo

Sauacutede Global um tema urgente da poliacutetica externa contemporacircnea (f) aleacutem de

diversos e distintos documentos e negociaccedilotildees internacionais [58]

A orientaccedilatildeo da interaccedilatildeo da sauacutede com a poliacutetica externa tambeacutem eacute

observada na Resoluccedilatildeo CE 142R14 ndash Washington DC EUA 23-27 de

junho de 2008 aprovada durante a 142ordf Sessatildeo do Comitecirc Executivo da

OPASOMS

Em que pese o Brasil mais ativo no cenaacuterio internacional tambeacutem vem

adotando um comportamento de maior independecircncia e autonomia em foacuteruns

internacionais Como por exemplo as discussotildees sobre patentes de

medicamentos ocorridas na OMC e a forte oposiccedilatildeo brasileira junto agrave

56

Jouval H Construindo pontes entre sauacutede puacuteblica e relaccedilotildees internacionais In Ciclo de

Debates sobre Bioeacutetica Diplomacia e Sauacutede Puacuteblica Brasiacutelia Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacuteticas e

Diplomacia em Sauacutede ndash NETHIS 2011 Disponiacutevel em wwwbioeticaediplomaciaorg Acesso em

27012012 57

Em funccedilatildeo da aproximaccedilatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede com o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores

verificam-se demandas feitas ao Ministeacuterio da Sauacutede para participar em foros internacionais da

harmonizaccedilatildeo legislativa internacionais da certificaccedilatildeo de programas nacionais de iniciativas de

cooperaccedilatildeo internacional da promoccedilatildeo de ajuda humanitaacuteria em organismos internacionais etc 58

Barbosa Eduardo 2009 Apresentaccedilatildeo no Ciclo de Debates ndash 1 Ciclo Integraccedilatildeo Regional e

Sauacutede AISA-Ministeacuterio da Sauacutede Disponiacutevel em

httpportalsaudegovbrportalarquivospdfciclo_debates_aisa_eduardo_manhapdf Acesso em

27012012

117

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede no tocante ao ldquoWorld Health Report 2000rdquo

(Relatoacuterio sobre a Sauacutede no Mundo do ano 2000) quanto ao desempenho dos

sistemas de sauacutede criacuteticas fundamentadas que foram endossadas pela

Assembleacuteia Mundial da Sauacutede 66 Vale destacar o posicionamento do Brasil a

favor do acesso ao conhecimento para produccedilatildeo de medicamentos

antirretrovirais (tratamento para portadores de HIV) Em 2001 apoacutes meses de

discussotildees e negociaccedilotildees o Paiacutes com base no artigo 71 da Lei de

Propriedade Intelectual alegando emergecircncia na sauacutede (uma das situaccedilotildees

previstas pela legislaccedilatildeo para autorizar a licenccedila compulsoacuteria e a produccedilatildeo da

droga por outros laboratoacuterios) obteve sucesso nas negociaccedilotildees com o

fabricante (Roche) chegando a um consenso que beneficiou o Paiacutes com a

diminuiccedilatildeo do custo com aquisiccedilatildeo do medicamento Nelfinavir para tratamento

de HIV 65 (p 180)

Outra situaccedilatildeo meritoacuteria para o Brasil ocorreu na reuniatildeo ministerial da

Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio no final de 2001 em Doha no Catar onde

se aprovou a interpretaccedilatildeo menos riacutegida do TRIPS [59] representando que

tanto o Brasil como qualquer outro paiacutes em situaccedilatildeo de emergecircncia poderia

aplicar licenccedilas compulsoacuterias para produccedilatildeo de medicamentos no Paiacutes Apesar

de prevista na legislaccedilatildeo brasileira ateacute entatildeo a medida natildeo era considerada

pela Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

Vale citar que somente em 2007 junto agrave gestatildeo do entatildeo Ministro da

Sauacutede Joseacute Gomes Temporatildeo no governo Lula eacute que ocorreu de fato o

primeiro licenciamento compulsoacuterio [60] de um medicamento patenteado

utilizado pelo SUS no coquetel de tratamento anti-HIV o Efavirenz do

Laboratoacuterio Merck Sharp amp Dohme Agrave eacutepoca o laboratoacuterio se recusara a

vender o medicamento ao Brasil pelos valores negociados juntos a paiacuteses

asiaacuteticos No dia 07 de maio de 2012 por decreto publicado no Diaacuterio Oficial da

59

TRIPS ndash Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights (Acordo sobre

Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comeacutercio) Declaraccedilatildeo do acordo

TRIPS e sauacutede puacuteblica (Nov 14 2001) Disponiacutevel em

httpwwwwtoorgenglishthewto_eminist_emin01_emindecl_trips_ehtm Acesso em 27022012

60

Uma das possibilidades do Governo eacute lanccedilar matildeo da chamada licenccedila compulsoacuteria ndash quebra de

patentes por necessidade de sauacutede puacuteblica Esses instrumentos caracteriacutesticos dos paiacuteses em

desenvolvimento defendido pelo Brasil inclusive proveacutem da Declaraccedilatildeo de Doha sobre Sauacutede Puacuteblica

da OMC 55

118

Uniatildeo o licenciamento compulsoacuterio foi prorrogado por mais cinco anos [61] E

atualmente o Efavirenz eacute produzido no Brasil por Farmanguinhos unidade de

produccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz suprindo toda a necessidade nacional

do Efavirenz 600mg

O Brasil vem se evidenciando como destaque nos temas de sauacutede

global O fato de o Brasil ser portador de programas de sauacutede reconhecidos

como paradigma em niacutevel internacional como a implantaccedilatildeo do SUS o

aleitamento materno o tratamento de HIVAIDS o controle do tabagismo

fazem o diferencial do Brasil Conforme reforccedila o diplomata Santarosa 57 o

Paiacutes tem exercido nos uacuteltimos anos uma efetiva participaccedilatildeo com alto perfil nos

temas de sauacutede globais ldquointegramos simultaneamente o CE [62] da OMS e o

PCB [63] da Unaidsrdquo (Joint United Nations Programme on HIVAIDS) aleacutem de

exercer ldquouma lideranccedila fundamental no processo de negociaccedilatildeo da CQCT [64] e

desempenhar um papel relevante na criaccedilatildeo do fundo globalrdquo Esta atuaccedilatildeo

reflete a efetiva participaccedilatildeo brasileira

E para melhor aperfeiccediloar as interaccedilotildees entre as distintas organizaccedilotildees

Santarosa 57 destaca a importacircncia de saber ldquoexplorar as interfaces da OMS

com as demais agecircncias e organizaccedilotildees internacionais particularmente a

OMC com vistas por um lado a preservar instrumentos de autonomia em

termos de poliacuteticas puacuteblicas de sauacutede que garantam o atendimento das

necessidades sanitaacuterias da populaccedilatildeo brasileira e por outro a promover

interesses globais de nossa diplomacia como as agendas sociais de direitos

humanos e de desenvolvimentordquo

Outros exemplos de participaccedilatildeo estrateacutegica do Brasil nas questotildees da

sauacutede eleiccedilatildeo do Brasil para o Comitecirc Executivo da OMS (2008-2011)

lideranccedila nos debates do Intergovernmetal Working Group on Public Health

Innovation and Intelectual Property (IGWG)- OMS papel na formulaccedilatildeo do

Plano de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede da Unasul e do Programa Estrateacutegico de

Cooperaccedilatildeo em Sauacutede da CPLP na constituiccedilatildeo do ISAGS dentre outros

61

httpg1globocomciencia-e-saudenoticia201205dilma-prorroga-quebra-de-patente-de-

remedio-anti-aidshtml acessado em 09 de maio de 2012 62

CE = Comitecirc Executivo 63

PCB= Programme Coordinating Board 64

CQCT= Convenccedilatildeo Quadro para o Controle do Tabaco OMS em 2003 Ver tambeacutem

FCTC64 2011 apud Buss 2011

119

projetos de cooperaccedilatildeo e de apoio a paiacuteses estrangeiros

O protagonismo brasileiro tambeacutem pode ser observado em sua atuaccedilatildeo

ativa e articuladora em foacuteruns internacionais da sauacutede tais como

(a) a Conferecircncia Mundial de Determinantes Sociais em Sauacutede ocorrida em

2011 quando a Assembleacuteia Mundial da Sauacutede foi sediada no Rio de Janeiro o

que significou uma vitoacuteria da Chancelaria brasileira e das autoridades

sanitaacuterias dada inclusive agrave representatividade para o Brasil tanto pelo caraacuteter

simboacutelico por ter sido originado no Rio de Janeiro assim como pela

importacircncia de inestimaacutevel valor para todos os envolvidos no combate agraves

iniquidades em sauacutede em que os determinantes sociais da sauacutede satildeo

balizadores do sucesso ou do fracasso dos objetivos relacionados ao pacto

(b) a Conferecircncia Rio 92 cuja defesa eacute a relaccedilatildeo intriacutenseca da sauacutede agraves

condiccedilotildees de desenvolvimento sustentaacutevel e tambeacutem a defesa da priorizaccedilatildeo

de poliacuteticas de proteccedilatildeo e de promoccedilatildeo social Aleacutem de expressar um forte

movimento articulador com os demais paiacuteses em desenvolvimento nos

Tratados de Quioto nos Objetivos do Milecircnio na Agenda 21 [65] dentre outros

Esse protagonismo do Brasil tem repercutido positivamente no cenaacuterio

internacional Como exemplo pode ser citado o uacuteltimo Foacuterum Mundial

Econocircmico ocorrido em janeiro de 2012 em que o Brasil foi destaque pelo

alcance dos resultados positivos provenientes do modelo de crescimento

associado ao desenvolvimento social

Em mais um exerciacutecio de inserir o Brasil na discussatildeo da sauacutede sob a

perspectiva do contexto internacional o Ministeacuterio da Sauacutede promoveu a

inclusatildeo do tema ldquosauacutederdquo na discussatildeo da agenda de desenvolvimento

sustentaacutevel dos paiacuteses na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o

Desenvolvimento Sustentaacutevel a Rio+20 realizada em junho de 2012 em uma

demonstraccedilatildeo de que o Brasil estaacute se consolidando como potencial player nas

discussotildees da arena internacional Enfatizou-se a relaccedilatildeo central da sauacutede

com o desenvolvimento sustentaacutevel destacou-se o reconhecimento da sauacutede

65

Esses Tratados e Convenccedilotildees seratildeo mais detalhados no item 1 do Capiacutetulo IV quando o meio

ambiente for apontado como abordagem a ser relacionada agrave sauacutede e ao desenvolvimento

120

como condiccedilatildeo sine qua non para o desenvolvimento econocircmico social e

ambiental e vista internacionalmente natildeo apenas de forma individual mas em

sua dimensatildeo coletiva onde as consideraccedilotildees sobre a sauacutede devem perpassar

as poliacuteticas de todos os demais setores [66] destacou-se a necessidade da

adoccedilatildeo de accedilotildees para erradicar local nacional e internacionalmente a

circulaccedilatildeo de doenccedilas imunopreveniacuteveis (principalmente) ampliando a

capacidade de produccedilatildeo internacional suficiente acessiacutevel e segura de

vacinas sobretudo para os paiacuteses em desenvolvimento (o que tem reflexo

direto no objeto deste nosso estudo CEIS) aleacutem da vital importacircncia ao

acesso a medicamentos para doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis

minimizando os impactos que acarretam ao desenvolvimento econocircmico e agrave

estabilidade poliacutetica dos paiacuteses em funccedilatildeo do caraacuteter crocircnico e incapacitante

provocados por essas doenccedilas

Finalmente apesar de se destacar uma relaccedilatildeo mais efetiva da sauacutede

com as relaccedilotildees internacionais a partir da deacutecada de 90 (os temas da sauacutede

estiveram presentes em todas as conferecircncias sociais da deacutecada de 90) 55 o

movimento da sauacutede eacute endoacutegeno e vem de longa data

Questotildees sanitaacuterias relacionadas ao comeacutercio internacional e a

seguranccedila internacional satildeo dimensotildees que se somaram mais recentemente

na relaccedilatildeo da sauacutede com as questotildees internacionais

A sauacutede sob a perspectiva das relaccedilotildees econocircmicas internacionais com

especial destaque para as questotildees de grande impacto econocircmico e social

tais como os relacionados agraves induacutestrias farmacecircuticas ndash onde a questatildeo do

acesso ganha um protagonismo ateacute entatildeo pouco reconhecido nas discussotildees

das patentes de medicamentos por exemplo ndash satildeo assuntos mais recentes

inseridos nas discussotildees das relaccedilotildees econocircmicas internacionais como os que

acontecem na Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio - OMC

66

A sauacutede sob a perspectiva da produccedilatildeo da tecnologia e da inovaccedilatildeo apresenta acircngulos bem

distintos de desenvolvimento Sob a perspectiva euro-nipo-americano (dentre outros paiacuteses que se

inserem nos chamados ―paiacuteses desenvolvidos) a industrializaccedilatildeo comporta maior desenvolvimento O

que natildeo ocorre quando focamos os demais paiacuteses

121

Em maio de 2012 a 65ordf Assembleacuteia Mundial da Sauacutede (AMS) da OMS

aprovou resoluccedilatildeo sobre o financiamento global da pesquisa para a geraccedilatildeo de

novos medicamentos e vacinas de interesse da populaccedilatildeo brasileira e de

outros paiacuteses em desenvolvimento O documento se apoacuteia em um ldquoamplo e

longo processo de entendimento sobre as fronteiras e correlaccedilotildees entre a

sauacutede puacuteblica a inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e as poliacuteticas de propriedade

intelectualrdquo67

Ainda sob a oacutetica da sauacutede nas relaccedilotildees internacionais vale ressaltar o

sentido duplo nem sempre convergente que esse assunto suscita quando se

evidencia mais claramente para a aacuterea da sauacutede qual eacute o seu papel em relaccedilatildeo

agrave dimensatildeo internacional e qual o papel que representa o seu complexo

industrial Sentidos esses com posicionamentos e estrateacutegias distintos e por

vezes conflituosos nem sempre esclarecidos pelos atores das aacutereas sanitaacuterias

e industriais

O Brasil nesse sentido no tocante ao Complexo Econocircmico-Industrial

da Sauacutede apresenta maior tradiccedilatildeo na questatildeo da inserccedilatildeo internacional isto

eacute na poliacutetica internacional dado o seu caraacuteter econocircmico mais convergente

com as negociaccedilotildees internacionais Dimensatildeo essa que ateacute o final do Seacuteculo

XX era predominante por consideraccedilotildees agrave poliacutetica industrial e agraves poliacuteticas de

ciecircncia e tecnologia no qual o Brasil de forma relevante se articulava

notadamente na relaccedilatildeo com a OMC

Por outro lado no Paiacutes a dimensatildeo da sauacutede na oacutetica da diplomacia da

sauacutede eacute tema contemporacircneo entrando na agenda articulada do Ministeacuterio da

Sauacutede e do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores com maior representatividade

no iniacutecio do seacuteculo XXI uma vez que o Brasil priorizara ateacute entatildeo a

construccedilatildeo do SUS o que representara ateacute esse momento olhar para si

mesmo

Haacute de se considerar tambeacutem que a relaccedilatildeo da sauacutede ldquostricto sensurdquo com

a OMC eacute uma relaccedilatildeo mais recente onde o tema ldquosauacutederdquo tem sido abordado

sob uma nova contextualizaccedilatildeo sob a perspectiva mais humanitaacuteria o que de

certa forma fundamentada na interface multilateral jaacute ocorria na relaccedilatildeo com a

OMS e a OPAS Logo essas duas dimensotildees natildeo podem mais estar

122

desvinculadas satildeo interfaces no contexto externo e devem ser somadas e natildeo

excluiacutedas

Finalmente a primeira deacutecada do seacuteculo XXI consolida um periacuteodo cuja

representaccedilatildeo paradigmaacutetica se estabelece na superaccedilatildeo de entraves e

desafios concernentes agrave inserccedilatildeo da sauacutede na poliacutetica externa consolidando-a

e ampliando a participaccedilatildeo da sauacutede na poliacutetica exterior colaborando

efetivamente para a construccedilatildeo de uma agenda internacional do Paiacutes

Nesse sentido podemos inferir que uma das principais accedilotildees da sauacutede

na poliacutetica externa eacute a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento dos sistemas de

sauacutede dos paiacuteses do sul onde o CEIS se estabelece como diferencial para a

superaccedilatildeo de limites e vulnerabilidades tecnoloacutegicas criadas pela realidade

assimeacutetrica de poder e de conhecimento e simultaneamente sob os auspiacutecios

da cooperaccedilatildeo humanitaacuteria fortalecer a presenccedila do Paiacutes no cenaacuterio

internacional

2 Agenda Sul-Sul

Embora mais evidente na atualidade a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul pode ser

atribuiacuteda ao periacuteodo da criaccedilatildeo do Movimento dos Paiacuteses Natildeo-Alinhados ndash

MNA [67] em oposiccedilatildeo ao confronto ideoloacutegico Leste-Oeste e do Grupo dos 77

- G-77 [68] isto eacute a partir dos anos 50 e dos anos 60 respectivamente

Movimentos de paiacuteses que buscavam alternativas para uma maior

67

Historicamente decorrente da Conferecircncia Aacutesia-Aacutefrica em Bandung Indoneacutesia no ano de

1955 o MNA teve a sua Primeira Conferecircncia dos Chefes de Estado e de Governo Natildeo-Alinhados em

Belgrado Iugoslaacutevia em 1961 Sua formaccedilatildeo ocorreu em funccedilatildeo do aparecimento dos dois grandes

blocos opostos durante a Guerra Fria liderados pelos EUA e URSS tendo como objetivo inicial manter

uma posiccedilatildeo neutra e natildeo associada a nenhum dos grandes blocos Atualmente comporta 115 paiacuteses com

importacircncia reduzida em funccedilatildeo da natildeo continuidade da Guerra Fria Disponiacutevel em wwwnamgovbr

68

Fundado em 15 de junho de 1964 o G77 foi firmado por 77 paiacuteses signataacuterios por meio da

―Declaraccedilatildeo Conjunta dos Setenta e Sete Paiacuteses apresentada na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre

Comeacutercio e Desenvolvimento (UNCTAD) agrave eacutepoca Atualmente eacute composto por 131 paiacuteses em

desenvolvimento dentre os quais o Brasil cujo objetivo eacute a promoccedilatildeo dos interesses econocircmicos comuns

aos seus membros e o estabelecimento de uma maior capacidade de negociaccedilatildeo conjunta e coesa

na Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Disponiacutevel em wwwg77orgdoc Acesso em 18 de abril de 2012

123

independecircncia e determinaccedilatildeo e para um afastamento mais efetivo agrave forte

influecircncia poliacutetica e econocircmica dos paiacuteses dominantes no sistema

internacional68

O termo paiacutes do Sul relacionado aos paiacuteses em desenvolvimento por se

localizarem no hemisfeacuterio Sul cunhou a expressatildeo Cooperaccedilatildeo Sul-Sul E foi

no dia 19 de dezembro de 1978 quando se endossou na Assembleacuteia Geral da

ONU o Plano de Accedilatildeo de Buenos Aires sobre a Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre

Paiacuteses em desenvolvimento (CTPD) que a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul tambeacutem

conhecida como cooperaccedilatildeo horizontal ou CTPD ganhou espaccedilo nas Naccedilotildees

Unidas

A cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses do Sul apresenta um marco

representativo que ocorreu na ocasiatildeo do 30ordm aniversaacuterio da Conferecircncia das

Naccedilotildees Unidas sobre Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre Paiacuteses em Desenvolvimento

onde os representantes dos governos reunidos em Nairoacutebi em dezembro de

2009 renovaram o compromisso de aplicar revitalizar e fortalecer a

cooperaccedilatildeo Sul-Sul

O Documento Final dessa Conferecircncia passou a ser base da

Cooperaccedilatildeo Sul-Sul que em seu acordo estimula dentre outros os seguintes

objetivos (a) a lideranccedila e a propriedade dos paiacuteses em desenvolvimento (b) a

complementaridade e a natildeo competitividade com a cooperaccedilatildeo Norte-Sul (c) o

intercacircmbio de tecnologias benefiacutecio e aprendizagem muacutetuos (d) o

compartilhamento de experiecircncias (e) a promoccedilatildeo da autosuficiecircncia nacional

e coletiva (f) o fortalecimento muacutetuo de capacidades (g) a formaccedilatildeo de

coalizotildees

Busca aumentar a responsabilidade muacutetua dos paiacuteses envolvidos na

cooperaccedilatildeo maior transparecircncia de accedilotildees e resultados coordenaccedilatildeo conjunta

do programa de cooperaccedilatildeo com planejamento em prol das prioridades

nacionais e maior qualidade e gerenciamento quanto aos resultados esperados

e alcanccedilados refletindo os princiacutepios fundamentais pautados pela Declaraccedilatildeo

de Paris sobre Eficaacutecia da Ajuda ao Desenvolvimento apropriaccedilatildeo

harmonizaccedilatildeo resultados responsabilidade muacutetua e alinhamento

124

Apesar de estar fundamentada a um tratamento igualitaacuterio a

cooperaccedilatildeo Sul-Sul comporta seus princiacutepios em bases que balizam as

relaccedilotildees internacionais (a) soberania e independecircncia nacional (b) igualdade

e horizontalidade (c) solidariedade (d) natildeo condicionalidade (e) propriedade

nacional e respectiva lideranccedila (f) natildeo interferecircncia nos assuntos internos

O termo Cooperaccedilatildeo Sul-Sul (CSS) se estabelece no cenaacuterio

internacional no acircmbito da pressatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento por

acordos internacionais que reduzissem as disparidades econocircmicas entre os

paiacuteses do Norte e do Sul 69 por consequecircncia das restriccedilotildees centralizadoras

por parte dos paiacuteses desenvolvidos na praacutetica da cooperaccedilatildeo Norte-Sul 10

Natildeo visava portanto agrave substituiccedilatildeo dos programas mais tradicionais de

cooperaccedilatildeo Entretanto buscava o melhor aproveitamento das capacidades e

da cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses em desenvolvimento em prol de otimizar

benefiacutecios para esses paiacuteses

A cooperaccedilatildeo Sul-Sul cria condiccedilotildees para que haja o compartilhamento

do conhecimento para a geraccedilatildeo do desenvolvimento e a promoccedilatildeo do

crescimento diferencial complementar agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica e ao

financiamento 70 Apresenta-se portanto como uma cooperaccedilatildeo estruturante

dinacircmica em constante evoluccedilatildeo geradora de oportunidades para o

desenvolvimento e capaz de ampliar as fontes de conhecimento

Quando se diz que a CSS eacute fundamentada na horizontalidade temos a

traduccedilatildeo da cooperaccedilatildeo horizontal Quer dizer que existem consensos

estabelecidos para a efetividade dessa cooperaccedilatildeo dos quais destacam-se os

seguintes 71 (p 10)

(a) o voluntariado e a natildeo condicionalidade isto eacute ldquoindependente das

diferenccedilas nos niacuteveis de desenvolvimento relativo entre os paiacuteses a

colaboraccedilatildeo eacute realizada voluntariamente e sem condicionalidadesrdquo

(b) o consenso o que significa ser baseado em uma negociaccedilatildeo em que

as partes concordem e

125

(c) a equidade isto eacute ldquoseus benefiacutecios devem ser distribuiacutedos de forma

igualitaacuteria entre os envolvidos na accedilatildeo de cooperaccedilatildeordquo assim como

distribuiccedilatildeo equitativa dos custos conforme possibilidade de cada participante

Obviamente a loacutegica solidaacuteria e humaniacutestica pauta a CSS Ademais a

Cooperaccedilatildeo Sul-Sul notadamente na aacuterea da sauacutede foco do presente estudo

tem respaldo nos documentos internacionais firmados entre os paiacuteses-

membros

Nesse sentido pode ser observada no quadro 2 a seguir a cronologia

dos documentos internacionais relacionados agrave Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e agrave

Diplomacia em Sauacutede cuja maior representatividade daacute-se no final da deacutecada

de 90 e na primeira deacutecada do Seacuteculo XXI o que se traduz no caraacuteter

estrateacutegico que o tema sauacutede suscita Perpassando inclusive questotildees

meramente econocircmicas e sobressaindo a conjugaccedilatildeo do interesse nacional

combinado com a solidariedade no que se refere aos destinos dos outros

paiacuteses e seus povos

126

Quadro 2 Relaccedilatildeo de Documentos Internacionais Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e Sauacutede

Documento

Descriccedilatildeo

Ano

Declaraccedilatildeo de

Busan

A declaraccedilatildeo eacute o resultado do 4ordm Foacuterum de Alto Niacutevel sobre a Eficaacutecia da Ajuda realizado em Busan Repuacuteblica da Coreacuteia Esta declaraccedilatildeo estabelece pela primeira vez um acordo-marco para a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento que abarca os doadores tradicionais os cooperadores Sul-Sul os BRICs e as fundaccedilotildees privadas

2011

Declaraccedilatildeo de Pequim

A Declaraccedilatildeo de Pequim assinada pelos Ministros da Sauacutede do bloco de paiacuteses emergentes BRICS (Brasil Ruacutessia Iacutendia China e Aacutefrica do Sul) ressalta a importacircncia do acesso universal a medicamentos e busca promover a transferecircncia de tecnologia entre os paiacuteses BRICS bem como com outros paiacuteses em desenvolvimento para aumentar a capacidade de produccedilatildeo de medicamentos a preccedilos acessiacuteveis

2011

Resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre Sauacutede Global e Poliacutetica Externa

Esta resoluccedilatildeo encoraja os Estados-Membros a considerar a relaccedilatildeo estreita entre poliacutetica externa e a sauacutede global e a reconhecer que os desafios da sauacutede mundial exigiratildeo esforccedilos concertados e sustentados a fim de promover um ambiente de poliacutetica global de apoio da sauacutede global

2011

Plano Estrateacutegico

de Cooperaccedilatildeo em

Sauacutede (PECS) da

CPLP

Compromisso coletivo de cooperaccedilatildeo estrateacutegica entre os Estados-membros da CPLP no setor da sauacutede Este plano estaacute estruturado em sete eixos estrateacutegicos e inclui um total de 21 projetos de desenvolvimento no setor da Sauacutede sendo cinco dos quais considerados prioritaacuterios com grande ecircnfase ao reforccedilo de capacidades e ao desenvolvimento institucional dos Sistemas de Sauacutede

2009-2012

Documento final de Nairoacutebi sobre a Conferecircncia de Alto Niacutevel das Naccedilotildees Unidas sobre a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Na ocasiatildeo do 30ordm aniversaacuterio da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre Paiacuteses em Desenvolvimento os representantes dos governos reunidos em Nairoacutebi em dezembro de 2009 renovaram o compromisso de aplicar revitalizar e fortalecer a cooperaccedilatildeo Sul-Sul

2009

Ata Constitutiva do Conselho de Sauacutede Sul-Americano

Ministros da Sauacutede e representantes dos paiacuteses sul-americanos reuniram-se para consolidar a Ameacuterica do Sul como um espaccedilo de integraccedilatildeo para a sauacutede criando o Conselho de Sauacutede Sul-Americano ndash Unasul

2009

127

Cont

Documento

Descriccedilatildeo

Ano

A Sauacutede e as RI Seu Viacutenculo com a Gestatildeo do Desenvolvimento Nacional da Sauacutede

Esta resoluccedilatildeo insta aos Estados a que estreitem as relaccedilotildees de coordenaccedilatildeo e intercacircmbio das autoridades sanitaacuterias com as autoridades encarregadas da poliacutetica exterior e de cooperaccedilatildeo internacional dos governos promovendo mecanismos institucionais entre o setor da sauacutede e das relaccedilotildees internacionais

2008

Consenso de Yamoussoukro sobre Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Reunidos em Yamoussoukro Costa do Marfim os Membros do G-77 (coalizatildeo que inclui atualmente mais de 130 naccedilotildees) e a China adotam o Consenso de Yamoussoukro que delineia os elementos essenciais da estrutura conceitual da cooperaccedilatildeo Sul-Sul

2008

Agenda para Accedilatildeo de Acra

A Agenda de Accedilatildeo de Acra endossada pelos participantes do Terceiro Foacuterum de Alto Niacutevel sobre Eficaacutecia da Ajuda em setembro de 2008 destaca a necessidade de acelerar a eficaacutecia da ajuda em trecircs aacutereas fortalecimento da apropriaccedilatildeo por parte dos paiacuteses construccedilatildeo de parcerias mais eficazes e inclusivas e apresentaccedilatildeo e prestaccedilatildeo de contas de resultados para o desenvolvimento responsabilizando-se publicamente por eles

2008

Declaraccedilatildeo Ministerial de Oslo ndash Sauacutede Global um tema urgente da poliacutetica externa contemporacircnea

Baseados na iniciativa sobre Sauacutede Global e Poliacutetica Externa os Ministros das Relaccedilotildees Exteriores do Brasil Franccedila Indoneacutesia Noruega Senegal Aacutefrica do Sul e Tailacircndia emitem em marccedilo de 2007 a Declaraccedilatildeo Ministerial de Oslo que busca aumentar a consciecircncia sobre os problemas de sauacutede nas arenas de discussotildees e decisotildees de poliacutetica externa

2007

Declaraccedilatildeo de Paris sobre a Eficaacutecia da Ajuda ao Desenvolvimento

A Declaraccedilatildeo de Paris destaca cinco princiacutepios fundamentais para tornar a ajuda mais eficaz apropriaccedilatildeo harmonizaccedilatildeo alinhamento resultados e responsabilidade muacutetua

2005

Resoluccedilatildeo da Assembleacuteia Geral das NU sobre a Cooperaccedilatildeo Teacutecnica e Econocircmica entre os Paiacuteses em Desenvolvimento

Esta resoluccedilatildeo reconhece que a cooperaccedilatildeo Sul-Sul pode ter um impacto positivo sobre as poliacuteticas globais regionais e nacionais e as accedilotildees nos domiacutenios econocircmico social e de desenvolvimento nos paiacuteses em desenvolvimento e insta esses paiacuteses e seus parceiros a intensificar a cooperaccedilatildeo Sul-Sul e a cooperaccedilatildeo triangular nestas aacutereas

2004

Declaraccedilatildeo de Marrakesh sobre a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

A Declaraccedilatildeo de Marrakesh reconhece a cooperaccedilatildeo Sul-Sul como um complemento imperativo agrave cooperaccedilatildeo Norte-Sul para contribuir no alcance dos objetivos de desenvolvimento acordados internacionalmente incluindo os Objetivos de Desenvolvimento do Milecircnio

2003

128

Cont Documento

Descriccedilatildeo

Ano

Declaraccedilatildeo de Roma sobre Harmonizaccedilatildeo

A Declaraccedilatildeo de Roma resume o compromisso alcanccedilado em Roma em 2003 pelas instituiccedilotildees multilaterais e agecircncias bilaterais de desenvolvimento e os paiacuteses parceiros para aumentar a eficaacutecia da ajuda ao desenvolvimento e contribuir para atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milecircnio A Declaraccedilatildeo de Roma eacute o apoio a um amplo consenso da comunidade internacional enunciado no Consenso de Monterrey

2003

Consenso de

Monterrey

A Cuacutepula de Monterrey (Meacutexico) deu-se em marccedilo de 2002 com cerca de 50 chefes de Estado e de governo Intitulou-se Conferecircncia Internacional sobre Financiamento ao Desenvolvimento O Consenso de Monterrey eacute o documento resultante dessa conferecircncia e pretende relacionar as medidas necessaacuterias para se cumprir as metas determinadas na Declaraccedilatildeo do Milecircnio como reduzir agrave metade a pobreza extrema ateacute o ano de 2015

2002

Declaraccedilatildeo sobre o

Acordo de TRIPS e

Sauacutede Puacuteblica

A Declaraccedilatildeo de Doha reconhece a gravidade dos problemas de sauacutede puacuteblica que afligem aos paiacuteses menos desenvolvidos e em desenvolvimento Tambeacutem reflete as preocupaccedilotildees desses paiacuteses sobre as implicaccedilotildees do Acordo da OMC sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados com o Comeacutercio (Acordo TRIPS) sobre sauacutede puacuteblica em geral

2001

Declaraccedilatildeo do

Milecircnio das Naccedilotildees

Unidas

Documento aprovado por 147 Chefes de Estado e de Governo aleacutem de representantes dos demais 191 paiacuteses membros da ONU que participaram na maior reuniatildeo de dirigentes mundiais (em Nova Iorque setembro de 2000) assumindo compromissos em reduzir a pobreza extrema fornecer aacutegua potaacutevel e educaccedilatildeo a todos inverter a tendecircncia de propagaccedilatildeo do VIHSIDA e alcanccedilar outros objetivos no domiacutenio do desenvolvimento

2000

Declaraccedilatildeo dos

Ministros da Sauacutede

da Ameacuterica Central

e Panamaacute sobre

Necessidades

Prioritaacuterias de

Sauacutede

Os Ministros da Sauacutede de Guatemala Honduras El Salvador Nicaraacutegua Costa Rica e Panamaacute cientes da situaccedilatildeo no istmo centro-americano adotam a sauacutede como uma ponte para a paz identificando problemas comuns e propondo soluccedilotildees conjuntas

1984

129

Cont

Documento

Descriccedilatildeo

Ano

Plano de Accedilatildeo de

Buenos Aires

Em setembro de 1978 as delegaccedilotildees de 178 paiacuteses adotam o Plano de Accedilatildeo para Promover e Realizar a Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre os Paiacuteses em Desenvolvimento (CTPD) Esse plano constitui-se no documento fundacional da Cooperaccedilatildeo Sul-Sul porque a partir dele a CTPD vira uma nova modalidade de cooperaccedilatildeo internacional que oferece um espaccedilo diferenciado para os paiacuteses em desenvolvimento que aleacutem de receptores passam a ser tambeacutem ofertantes de cooperaccedilatildeo

1978

Convecircnio Hipoacutelito

Unanue sobre

Cooperaccedilatildeo em

Sauacutede dos Paiacuteses

da Aacuterea Andina

Os governos de Boliacutevia Colocircmbia Chile Equador Peru e Venezuela representados por seus Ministros da Sauacutede estabelecem o Convecircnio Hipoacutelito Unanue com o objetivo de melhorar a sauacutede nos paiacuteses da regiatildeo andina mediante poliacuteticas e accedilotildees coordenadas

1971

Conferecircncia de

Bandung

Os liacutederes de vinte e nove Estados asiaacuteticos e africanos reuniram-se em abril de 1955 na Conferecircncia de Bandung com o objetivo de promover a cooperaccedilatildeo econocircmica e cultural entre as duas regiotildees como forma de oposiccedilatildeo a toda naccedilatildeo imperialista Nessa conferecircncia adaptaram-se por unanimidade 10 princiacutepios para a promoccedilatildeo da paz e da cooperaccedilatildeo

1955

Fonte Adaptado do Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacutetica e Diplomacia em Sauacutede ndash Nethis wwwbioeticaediplomaciaorg Acesso em 01032012

Na poliacutetica externa brasileira contemporacircnea [69] a sauacutede tem ampliado

sua importacircncia a partir de um modelo horizontal e estruturante de cooperaccedilatildeo

Sul-Sul Destacam-se como exemplos mais efetivos os paiacuteses latino-

americanos os paiacuteses africanos de liacutengua oficial portuguesa (PALOP) o Haiti

o grupo da Aacutefrica do Sul China e Iacutendia bem como os paiacuteses integrantes da

UNASUL

69

Em representaccedilatildeo agrave importacircncia que a inter-relaccedilatildeo da sauacutede com a poliacutetica externa o

Programa Mais Sauacutede direito de todos ndash 2008-2011 lanccedilado no governo Lula estabeleceu como diretriz

―fortalecer a presenccedila do Brasil no cenaacuterio internacional na aacuterea da sauacutede em estreita articulaccedilatildeo com o

Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores ampliando sua presenccedila nos oacutergatildeos e programas de sauacutede das Naccedilotildees

Unidas e cooperando com o desenvolvimento dos sistemas de sauacutede dos paiacuteses da Ameacuterica do Sul em

especial com o Mercosul com os paiacuteses da Ameacuterica Central da CPLP e da Aacutefrica

130

Portanto a partir desse modelo segundo defende Temporatildeo [70] o

objetivo eacute substituir a visatildeo colonizadora tradicional da cooperaccedilatildeo

internacional Isto eacute no lugar de simplesmente doar medicamentos busca-se

ajudar o paiacutes receptor a superar a dependecircncia frente agrave induacutestria O ex-Ministro

da Sauacutede exemplifica apontando a cooperaccedilatildeo brasileira com Moccedilambique [71]

Por outro lado a despeito dos princiacutepios baacutesicos estabelecidos pela

CSS questiona-se se essa Cooperaccedilatildeo pode ser influenciada por interesses

econocircmicos e poliacuteticos dos paiacuteses doadores se haacute interferecircncia de

condicionalidades ou se pode ser movida por fins comerciais eou lucrativos

Natildeo se deve portanto desprezar o potencial que a CSS evidencia no

tocante a aspectos comerciais e mercadoloacutegicos aleacutem do aspecto do ganho

diplomaacutetico no tabuleiro geopoliacutetico internacional Logo seria leviano afirmar

que as questotildees diplomaacuteticas da CSS estatildeo calcadas exclusivamente na

solidariedade e na ajuda humanitaacuteria

A CSS consolidou-se como uma modalidade dentro da Cooperaccedilatildeo

Internacional isto eacute gradativamente foi deixando de ser apenas

ldquouma experiecircncia pontual e se tornando parte da estrateacutegia de cooperaccedilatildeo de

muitos paiacuteses que a perceberam como um meio importante para o processo de

desenvolvimentordquo 71 (p100) Vista como mais eficiente na promoccedilatildeo do

desenvolvimento Aylloacuten Pino e Leite 72 (p18) justificam essa posiccedilatildeo

estrateacutegica apontando a ldquomaior aplicabilidade de soluccedilotildees concebidas nos

paiacuteses do Sulrdquo e o ldquodeslocamento das atividades de pesquisa nos paiacuteses

industrializados para o setor privado impossibilitando sua transferecircncia

gratuitardquo (p 18) como importantes razotildees para que a CSS se destaque como

alternativa de grande impacto para os paiacuteses em desenvolvimento

Ademais a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul eacute um dos poucos espaccedilos de inovaccedilatildeo

na cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento capaz de ampliar as fontes de

70

Temporatildeo J Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e complexo econocircmico-industrial da sauacutede In Ciclo de

Debates sobre Bioeacutetica Diplomacia e Sauacutede Puacuteblica Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacuteticas e Diplomacia em

Sauacutede ndash NETHIS Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel em

wwwbioeticaediplomaciaorg Acesso em 27012012

71

Instalaccedilatildeo de faacutebrica de antirretrovirais em Moccedilambique com cooperaccedilatildeo brasileira por meio

do apoio e de orientaccedilatildeo da Fiocruz inaugurada em 2012

131

conhecimentos e experiecircncias uma vez que parte do princiacutepio que todos os

paiacuteses tecircm experiecircncias para compartilhar 70 Aleacutem disso a perspectiva de

maiores benefiacutecios provenientes de uma relaccedilatildeo de maior equiliacutebrio eacute

vislumbrada na cooperaccedilatildeo entre pares criando condiccedilotildees de igualdade na

definiccedilatildeo de instrumentos de mecanismos da formataccedilatildeo e do escopo de

processos de cooperaccedilatildeo

O que tambeacutem eacute afirmado por Aylloacuten 73 (p 35) quando declara que a

igualdade nas relaccedilotildees cooperativas se daacute com mais frequecircncia quando

existem recursos similares de poder entre os participantes

Portanto esse formato de cooperaccedilatildeo tem-se apresentado como

estrateacutegico na busca do equiliacutebrio entre as forccedilas globais assimeacutetricas Sua

importacircncia deve-se tambeacutem aos benefiacutecios decorrentes de uma relaccedilatildeo mais

equilibrada em contraposiccedilatildeo agravequela observada na cooperaccedilatildeo Norte-Sul

especialmente pela assimetria de poderes 10 Representa respeito muacutetuo e

permite maior independecircncia para o paiacutes receptor ldquoa resposta principal desse

debate eacute que a uacutenica saiacuteda natildeo importa o caminho eacute que os paiacuteses

recebedores tenham mais lideranccedila sobre seu processo de

desenvolvimento70

Estrategicamente a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul passou a compor esse novo

posicionamento reivindicando um novo ordenamento internacional onde

ganham maior protagonismo Estados ldquoque dispotildeem de recursos suficientesrdquo

(denominados Estados system-affeting) aleacutem de Estados que compotildeem

grandes mercados emergentes em atuaccedilatildeo internacional ativa afetando o

andamento da agenda poliacutetica internacional 74 (p42)

E eacute sob essa perspectiva de reconhecimento do (re) posicionamento no

contexto geopoliacutetico e econocircmico internacional que se experimenta (e se

busca) um novo reordenamento dos interesses e de demandas por novas

formas de lideranccedila tanto no acircmbito regional quanto internacional

Em que pese premente necessidade do reequiliacutebrio econocircmico mundial

uma nova estrateacutegia deve ser implementada em outro grupo e natildeo nas

economias ricas da OCDE Conforme argumentam Jean-Michel Severino e

132

Olivier Ray em artigo publicado no Jornal Valor Econocircmico [72] em 16032012

ldquoOs pobres podem salvar o mundordquo para que os paiacuteses mais pobres possam

efetivamente fazer diferenccedila no atual momento econocircmico deve haver uma

combinaccedilatildeo de trecircs fatores essenciais

ldquoPrimeiro o comeacutercio entre paiacuteses em desenvolvimento e paiacuteses emergentes precisa acelerar-se desenvolvendo portanto o mesmo tipo de relaccedilatildeo entre consumidor e fornecedor existente entre paiacuteses avanccedilados e emergentes Segundo os mercados internos dos paiacuteses mais pobres do mundo precisam ser desenvolvidos de forma a alimentar mais crescimento domeacutestico E terceiro os fluxos financeiros para os paiacuteses em desenvolvimento - sejam investimentos externos diretos ou fundos assistenciais ao desenvolvimento - precisam aumentar e precisam vir natildeo apenas das economias industrializadas mas tambeacutem dos paiacuteses emergentes e dos exportadores de petroacuteleordquo

Outros aspectos relevantes marcam o novo posicionamento dos paiacuteses

emergentes nomeados como ldquoGrandes Paiacuteses Perifeacutericos (GPP)rdquo 50 ldquopaiacuteses

com massa criacutetica suficiente para a participaccedilatildeo real ou potencial na economia

globalrdquo (p3) Satildeo paiacuteses com ldquoexpressivo mercado de massas domeacutesticas e

poder de compra no mercado mundialrdquo e principalmente possuem poliacuteticas

externas proativas com ldquoinclinaccedilatildeo para um revisionismo soft que se manifesta

em posturas reformistas nas instacircncias de governanccedila globalrdquo (p3)

A autora cita ainda que esse revisionismo eacute pragmaacutetico e as coalizotildees

satildeo de ldquogeometria variaacutevelrdquo dependendo da questatildeo temaacutetica e relacionado a

interesses concretos

Nesse sentido ao compartilharem caracteriacutesticas e desafios comuns a

CSS tem cada vez mais ganhado expressatildeo no cenaacuterio internacional

Portanto o formato CSS surge na busca por um maior equiliacutebrio entre as

forccedilas globais como resposta aos efeitos da intensificaccedilatildeo do comeacutercio

mundial e da globalizaccedilatildeo que tornaram mais vulneraacuteveis as economias menos

72

Severino JM Ray O Os pobres podem salvar o mundo Jornal Valor Econocircmico 16032012

Disponiacutevel em httpwwwvalorcombropiniao2573146os-pobres-podem-salvar-o-

mundoutm_source=newsletter_manhaamputm_medium=16032012amputm_term=os+pobres+podem+salvar

+o+mundoamputm_campaign=informativoampNewsNid=2572524 Acesso em 16032012

133

desenvolvidas na perspectiva de potencializar a sustentabilidade

socioeconocircmica e poliacutetica das naccedilotildees do Sul

Por outro lado Saraiva 74 (p 43) afirma que ldquoem termos produtivos a

transnacionalizaccedilatildeo progressiva tomou impulso com os avanccedilos tecnoloacutegicosrdquo

Ao que a proacutepria autora 74 (p43-4) argumenta como consequecircncia dicotocircmica

da nova ordem ao mesmo tempo em que apresenta necessidades e

constrangimentos para os paiacuteses do Sul tambeacutem apresenta novas opccedilotildees

internacionais de inserccedilatildeo sem os quais em longo prazo tornar-se-atildeo inoacutecuos

todos os esforccedilos de promoccedilatildeo do desenvolvimento de forma competitiva e

estruturante

Haacute entretanto desafios a serem ultrapassados

Em termos geopoliacuteticos apesar de uma maior participaccedilatildeo dos paiacuteses

em desenvolvimento junto aos organismos internacionais sem que haja uma

efetiva atuaccedilatildeo em bloco nos foros de debate e nos organismos multilaterais

tende a persistir assimetrias de poder e distribuiccedilatildeo desigual de benefiacutecios

aleacutem de perda de barganha frente agraves economias mais fortes 75

Portanto a despeito dos benefiacutecios potenciais da CSS seu sucesso

relaciona-se intriacutenseca e diretamente com a existecircncia de instituiccedilotildees

confiaacuteveis a governanccedila legiacutetima e estabelecida a garantia de financiamento

a adoccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas consensuadas a existecircncia de matildeo de obra

qualificada aleacutem de um sistema poliacutetico que promova oportunidades para a

maioria e natildeo para uma minoria privilegiada

Isto eacute ainda que os paiacuteses do Sul jaacute considerem a CSS como uma

ferramenta fundamental para responder agraves demandas da agenda global e aos

compromissos para o desenvolvimento sustentaacutevel 73767769 haacute que se

ponderar que sem instituiccedilotildees fortemente interligadas com capacidade de

planejamento de prioridades conjuntas interface entre os distintos atores

envolvidos e desenvolvimento de mecanismos de governanccedila esta natildeo

representaraacute avanccedilos significativos

Historicamente o Brasil se inseriu no marco dessa cooperaccedilatildeo como

prestador de cooperaccedilatildeo teacutecnica para diversos paiacuteses em desenvolvimento

134

Tendo se beneficiado da transferecircncia de conhecimento dos paiacuteses mais

desenvolvidos na aacuterea da Cooperaccedilatildeo Internacional para o Desenvolvimento ndash

CID o Brasil passou a exercer prestaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo internacional a partir

de 1970 quando da assinatura da CTPD Com o passar dos anos o Paiacutes vem

atuando de forma cada vez mais ativa com participaccedilatildeo crescente no nuacutemero

de projetos implementados e na ldquoquantidade de parceiros nacionais tanto

burocraacuteticos como da sociedade civil envolvidos na prestaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

junto ao Governo brasileirordquo 78 (p 06)

O Brasil no tocante agrave cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses tem dado importacircncia

cada vez maior agraves suas relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento

internacional o que vem a atender inclusive a meta dos Objetivos de

Desenvolvimento do Milecircnio (ODM) ndash ODM 8 ldquoestabelecimento de parceria

mundial para o desenvolvimentordquo

O reflexo da priorizaccedilatildeo dada pelo governo agrave cooperaccedilatildeo brasileira para

o desenvolvimento internacional pode ser observado ao considerar que em

2005 o valor aplicado fora de R$ 3842 milhotildees alcanccedilando em 2009 o

montante de R$ 724 milhotildees praticamente dobrando o valor inicialmente

aplicado 79 [73]

Segundo o estudo do IPEA 79 do montante total investido durante o

periacuteodo 2005 e 2009 cerca de R$ 29 bilhotildees aproximadamente 872 do

total referem-se agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica (o que pode ser observado no graacutefico 1

a seguir)

73

Em conjunto com a Secretaria de Assuntos Especiais da Presidecircncia da Repuacuteblica e a Agecircncia

Brasileira de Cooperaccedilatildeo e o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores o IPEA publicou dados sobre

cooperaccedilatildeo brasileira para o desenvolvimento internacional relativos ao periacuteodo compreendido entre 2005

e 2009

135

Graacutefico 1 Investimentos em Cooperaccedilatildeo Teacutecnica (em )

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do IPEA 2010

No tocante agraves poliacuteticas humanitaacuterias foram aproximadamente R$ 1554

milhotildees aplicados em accedilotildees humanitaacuterias abarcando nesse periacuteodo 54 do

total aplicado conforme pode ser observado no graacutefico 2

Graacutefico 2 Relaccedilatildeo de Investimentos em Cooperaccedilatildeo Brasileira para o

Desenvolvimento Assistecircncia Humanitaacuteria (em )

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do IPEA 2010

722

543

625

953

1349

872

2005

2006

2007

2008

2009

Meacutedia - 2005 a 2009

0 5 10 15

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica

2005

2006

2007

2008

2009

Meacutedia - 2005 a 2009

031

091

559

483

1202

536

2005

2006

2007

2008

2009

Meacutedia - 2005 a 2009

0 20 40 60 80 100

Contribuiccedilotildees para organizaccedilotildees int`s

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica

Bolsas a estrangeiros

Assistecircncia Humanitaacuteria

136

Ainda segundo o estudo do IPEA 79 em que pese maior investimento

nas questotildees relacionadas a contribuiccedilotildees para organismos internacionais

(7613 do total no periacuteodo) a cooperaccedilatildeo teacutecnica tem uma perspectiva

positiva quando comparada aos demais Mesmo a despeito de ter sofrido uma

pequena queda em 2006 (543) nos investimentos efetuados quando

comparada ao ano anterior (722) conforme pode ser observado no graacutefico 1

os investimentos para a cooperaccedilatildeo teacutecnica a partir de entatildeo passaram a

refletir a importacircncia que o tema vem adquirindo nos uacuteltimos anos o que pode

ser observado no aumento dos percentuais aplicadas na aacuterea (ver graacutefico 3 a

seguir)

Graacutefico 3 Investimentos em Cooperaccedilatildeo Internacional Brasileira para o

Desenvolvimento Internacional ndash entre 2005 e 2009 (em )

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de IPEA 2011

Pode ser observado no graacutefico 3 que apesar da dominacircncia dos

investimentos junto agraves organizaccedilotildees internacionais os mesmos vecircm

decrescendo de forma lenta e por outro lado haacute ligeiro aumento nos

investimentos para a assistecircncia humanitaacuteria e para a cooperaccedilatildeo teacutecnica o

que acena para uma tendecircncia agrave formaccedilatildeo de um novo olhar da governanccedila

brasileira junto agraves cooperaccedilotildees para o desenvolvimento internacional e um

031 091559 483

1202 536146934 99 1146 614 98

722543 625 953

1349

872

7786

8432

78257418

6835

7613

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

2005 2006 2007 2008 2009 Media -2005 a 2009

Assistecircncia Humanitaacuteria

Bolsas a estrangeiros

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica

Contribuiccedilotildees para organizaccedilotildees int`s

137

olhar estrateacutegico em busca da diminuiccedilatildeo de vulnerabilidade estrutural que a

aacuterea comporta nos paiacuteses em desenvolvimento

A intensificaccedilatildeo das praacuteticas de CSS brasileira eacute beneficiada pelas

oportunidades vigentes no sistema internacional Essa situaccedilatildeo eacute possibilitada

tanto pela passagem para uma nova ordem em funccedilatildeo do esgotamento

provocado pelas atuais crises internacionais com reflexo nos paiacuteses do Norte

como pela queda do bipolarismo assim como em consequecircncia agrave nova ordem

internacional observada principalmente a partir do inicio da deacutecada de 90

ldquomarcada por accedilotildees mais isoladas da dimensatildeo Norte-Sulrdquo 74 (p 42)

Na questatildeo da influecircncia relacionada aos demais paiacuteses inseridos nesse

contexto internacional vale citar que considerando o conceito defendido por

Wallerstein 80 o Brasil hoje se insere no ldquoSistema-Mundordquo como um Estado

importante exercendo grande influecircncia destacando-se entre os seus pares e

repercutindo na conduccedilatildeo geopoliacutetica internacional O que pode ser justificado

tanto por sua dimensatildeo territorial e populacional quanto pela lideranccedila

exercida frente aos interesses da Ameacuterica Latina e mais amplamente com

grande expressatildeo perante os interesses dos paiacuteses do eixo Sul-Sul ou

partiacutecipes da ldquoPeriferiardquo conforme conceitua o autor

Ayllon Pino e Leite 72 defendem em seu estudo sobre o Brasil na

relaccedilatildeo da CSS uma ligaccedilatildeo que aleacutem do aspecto da solidariedade

ldquotem relaccedilatildeo com objetivos mais amplos ligados agrave abertura de mercados para produtos serviccedilos e investimentos brasileiros

74 agrave preservaccedilatildeo dos

interesses nacionais em paiacuteses onde estejam ameaccedilados

75 e agrave busca de prestiacutegio e de apoio para

que o Brasil venha eventualmente ocupar um assento permanente no Conselho de Seguranccedila da ONUrdquo (p18)

Ao mesmo tempo em que compara o Brasil com a China e a Iacutendia os

autores afirmam que o Brasil diferentemente desses dois paiacuteses natildeo tem

interesse poliacutetico e econocircmico de curto prazo ldquomas pela realizaccedilatildeo de

74

O Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede a ser aprofundando no Capiacutetulo IV desta tese

vincula-se diretamente na relaccedilatildeo da abertura de mercados para produtos serviccedilos e investimentos

brasileiros 75

Como eacute o caso da relaccedilatildeo Brasil-Haiti

138

interesses comuns em prol do desenvolvimento sem que isso implique

reproduccedilatildeo da clivagem Norte-Sul caracteriacutestica da Guerra Friardquo 72 (p18)

indicando portanto o comprometimento com o multilateralismo

Natildeo eacute objeto do presente estudo a discussatildeo dos principais movimentos

econocircmicos internos entretanto eacute importante ressaltar que uma poliacutetica

econocircmica mais consolidada vislumbra maiores garantias para a efetividade da

poliacutetica externa Nesse sentido o Brasil notadamente no iniacutecio do seacuteculo XXI

promoveu accedilotildees que favoreceram o Paiacutes na sua projeccedilatildeo internacional oferta

de maiores garantias ao capital internacional poliacuteticas de manutenccedilatildeo ao

controle inflacionaacuterio poliacuteticas de controle de juros reformas fiscais controles

cambiais programas e poliacuteticas focadas na reduccedilatildeo da desigualdade

socioeconocircmica e da pobreza extrema somente para citar algumas accedilotildees

Poliacuteticas essas que dentre outras ajudaram a manter o Paiacutes mais

incoacutelume agraves uacuteltimas crises globais que afetaram profundamente a ldquosauacutederdquo de

diversas economias e naccedilotildees Como exemplo podemos citar a depressatildeo

econocircmica de 2008 que acabou resultando no natildeo restabelecimento do

crescimento sustentaacutevel nas economias maduras e impondo um aumento

acelerado do seu endividamento puacuteblico em um cenaacuterio de acentuada queda

na atividade econocircmica Segundo o graacutefico 4 ateacute o ano de 2010 as economias

maduras natildeo conseguiram recuperar as fortes perdas em decorrecircncia da crise

139

Graacutefico 4 - Baixo Crescimento das Economias Maduras

Fonte Bloomberg 2011 ndash wwwbloombergcom

Por consequecircncia crises como essa criaram oportunidades para uma

participaccedilatildeo mais efetiva e com maior evidecircncia dos paiacuteses do eixo Sul-Sul no

contexto internacional Segundo aponta o graacutefico 4 os paiacuteses emergentes

quando comparados com paiacuteses da zona do Euro e os EUA foram os que mais

se destacaram no crescimento econocircmico mundial da primeira deacutecada do

seacuteculo XXI

O Brasil a despeito de ser portador de forte desigualdade interna com

uma base de pesquisa e de desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico inovativo

em formaccedilatildeo e uma capacidade produtiva ainda fraacutegil vem mantendo uma

posiccedilatildeo de destaque principalmente nas duas uacuteltimas deacutecadas em funccedilatildeo da

adoccedilatildeo de uma poliacutetica externa ativa em convergecircncia com a consolidaccedilatildeo da

poliacutetica econocircmica nacional e regional

EUAZona do

EuroEmergen

tes

Meacutedia 2000-2007

26 22 66

Meacutedia 2008-2010

-03 -07 54

-2-101234567

a

o a

no

Economias MadurasBaixo Crescimento

140

Dessa forma o Brasil passou a exercer novos vetores de influecircncia com

forte potencialidade para ajudar a sustentabilidade das naccedilotildees do Sul 75

(p106) Muito embora o Brasil tivesse a CSS como um instrumento para o

fortalecimento da sua presenccedila no cenaacuterio internacional a cooperaccedilatildeo Sul-Sul

somente se estabeleceu mais efetivamente como prioridade da poliacutetica

externa brasileira tornando-se inclusive estrateacutegica para o Paiacutes a partir do

governo Lula isto eacute na primeira deacutecada do seacuteculo XXI

O governo Lula (2003-2010) considerou como estrateacutegia importante

realizar coalizotildees entre paiacuteses do Sul visando obter sucesso em iniciativas

multilaterais Poliacutetica externa mais intensa do que no governo precursor haja

vista a loacutegica vigente da sua diplomacia influenciada por bases ideoloacutegicas e

humanitaacuterias e tambeacutem por mudanccedilas no contexto internacional que

permitiram essas articulaccedilotildees entre os paiacuteses do Sul 81 dadas ldquoas profundas

alteraccedilotildees sistecircmicas do poacutes Guerra Friardquo 75 (p107)

A CSS passou a ter dupla funccedilatildeo Conforme afirma Gonccedilalves 78

tornou-se um instrumento duplo na poliacutetica exterior

ldquoservindo tanto como uma forma de promover solidariedade entre os paiacuteses inserindo-se diplomacia solidaacuteria do governo Lula como tambeacutem um suporte para a realizaccedilatildeo dos interesses nacionais visto que eacute capaz de reforccedilar as relaccedilotildees Sul-Sul auxiliar no processo de afirmaccedilatildeo do Brasil como um ator relevante na poliacutetica internacional e promover o comeacutercio com paiacuteses do Sulrdquo (p19)

Entretanto para uma efetiva inserccedilatildeo paiacuteses como o Brasil buscam

inserir-se competitivamente na economia internacional demandando

simultaneamente uma maior capacidade produtiva competitiva e sustentaacutevel

em niacutevel nacional

Ademais em que pese a importacircncia da CSS tanto na perspectiva

estruturante quanto na perspectiva do desenvolvimento local nacional e

regional haacute de se considerar o legado histoacuterico imperialista e intervencionista

e nesse sentido pode-se dizer que fortalecer a autonomia regional natildeo eacute

trivial A despeito da mudanccedila do paradigma geopoliacutetico e da integraccedilatildeo entre

as naccedilotildees do continente passar a ser considerada como prioritaacuteria - e sob essa

141

perspectiva do novo contexto poliacutetico priorizar a estrateacutegia de integraccedilatildeo como

meio de fortalecimento poliacutetico e econocircmico frente a um contexto de

globalizaccedilatildeo fortemente assimeacutetrico - devemos ter em mente todos os tipos de

dificuldades que travam esse processo sejam oacutebices de origem poliacutetica

diplomaacutetica econocircmica comercial fiscal ou cambial de remetentes (Estados

Unidos principalmente ndash paiacutes central no sistema-mundo) que tencionam o

processo de integraccedilatildeo

Isso posto tem grande importacircncia a necessidade de coordenar projetos

e programas de integraccedilatildeo latino-americanos (ou os demais referentes ao eixo

Sul-Sul) cuja hegemonia seja baseada no interesse regional comum a

despeito da diversidade e da assimetria socioeconocircmicas heterogecircneas

percebidas nesses paiacuteses Nesse sentido tem importacircncia estrateacutegica a

continuidade da integraccedilatildeo latino-americana e tambeacutem projetos que integrem

paiacuteses do eixo Sul-Sul como por exemplo paiacuteses africanos com o Brasil ndash

CPLP [76] - ou paiacuteses emergentes como Brasil Ruacutessia Iacutendia China e Aacutefrica do

Sul conhecidos como BRICS destacando-se tambeacutem o acordo de caraacuteter

poliacutetico estrateacutegico e econocircmico firmado entre Iacutendia Brasil e Aacutefrica do Sul

reconhecido como IBAS ou Foacuterum de Dialogo Iacutendia-Brasil-Aacutefrica do Sul ou G3

Aleacutem disso haacute de se considerar como um grande obstaacuteculo a ser

ultrapassado a grande desigualdade existente na regiatildeo no caso especiacutefico da

Ameacuterica Latina Eacute consenso entre as Organizaccedilotildees Internacionais que a regiatildeo

eacute a mais desigual do planeta 82 E essas diferenccedilas tambeacutem dificultam o

estabelecimento e o fortalecimento de accedilotildees integradoras e endoacutegenas entre

os paiacuteses em questatildeo

Algumas das dificuldades internas e dos limites estruturais e

institucionais que desafiam a conduccedilatildeo e a integraccedilatildeo regional podem ser

definidas como (a) diacutevidas histoacutericas (b) orccedilamentos decrescentes dos paiacuteses

76

CPLP ndash Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa criado em 1996 eacute foro multilateral

para cooperaccedilatildeo e eacute composto por 8 paiacuteses Brasil Angola Cabo Verde Guineacute Bissau Moccedilambique

Portugal Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e Timor-Leste e tem como objetivos dentre outros a concertaccedilatildeo poliacutetico-

diplomaacutetica entre seus estados membros nomeadamente para o reforccedilo da sua presenccedila no cenaacuterio

internacional e a cooperaccedilatildeo em todos os domiacutenios inclusive os da educaccedilatildeo sauacutede ciecircncia e tecnologia

defesa agricultura administraccedilatildeo puacuteblica comunicaccedilotildees justiccedila seguranccedila puacuteblica cultura desporto e

comunicaccedilatildeo social Disponiacutevel em httpwwwcplporgid-46aspx Acesso em 04032012

142

(c) heterogeneidade da capacidade de produccedilatildeo (d) desigualdades estruturais

e das capacidades produtivas tecnoloacutegicas e de conhecimento (e) limitada

capacidade de inovaccedilatildeo e de pesquisa e de desenvolvimento (f) falta de

continuidade das decisotildees poliacuteticas isto eacute maior tendecircncia agrave formaccedilatildeo de

poliacuteticas de governo e natildeo de Estado (g) a incoerecircncia com as demais

poliacuteticas e (h) incapacidade de governanccedila e de mensuraccedilatildeo dos resultados e

dos impactos alcanccedilados

A despeito das dificuldades existentes tanto no acircmbito interno de cada

paiacutes (do Sul) quanto agraves questotildees soacutecio-poliacuteticas e econocircmicas dos paiacuteses e a

forte desigualdade entre eles muitos desses paiacuteses estatildeo se organizando e

fortalecendo a sua atuaccedilatildeo em blocos (nos organismos multilaterais) O que

reforccedila o multilateralismo e a defesa do todo e natildeo somente de muito poucos

Isso posto alternativas ao Sul estabelecidas em consenso e em

coalizotildees pelos paiacuteses e por suas poliacuteticas externas satildeo consequecircncias da

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees internacionais na era Poacutes-Guerra Fria em que o

multilateralismo amplia os poderes de decisatildeo nos principais foacuteruns

internacionais

Alternativas essas que durante o governo Lula se estabeleceram

sedimentando uma trajetoacuteria ativa e cada vez mais influente que se estende ateacute

os dias de hoje Essas alternativas podem ser reconhecidas como intra e inter-

regionais A Ameacuterica do Sul a criaccedilatildeo do Unasul pela defesa do regionalismo

a aproximaccedilatildeo com a Aacutefrica por meio do fortalecimento dos PALOPS (e CPLP)

a constituiccedilatildeo do IBAS e a o BRICS satildeo focos dessa poliacutetica

Em consequecircncia desse movimento podem ser apontados tanto sob a

perspectiva intra-regional quanto na perspectiva inter-regional os principais

mecanismos da poliacutetica externa do Brasil [77]

Sob o recorte da Ameacuterica do Sul destacam-se dentre outras iniciativas

Mercado Comum do Sul - MERCOSUL

Uniatildeo de Naccedilotildees Sul-Americanas - UNASUL

Organizaccedilatildeo do Tratado de Cooperaccedilatildeo Amazocircnica -OTCA

77 Disponiacutevel em wwwmregovbr

143

Associaccedilatildeo Latino-Americana de Integraccedilatildeo - ALADI

Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos - CELAC

em conjunto com Ameacuterica Central e Caribe

Sistema Econocircmico Latino-Americano de Integraccedilatildeo - SELA incluindo o

Caribe

Comunidade Andina de Naccedilotildees - CAN [78] e

Alianccedila Bolivariana para as Ameacutericas - ALBA [79]

Envolvendo mais de um continente

Agrupamento Brasil Ruacutessia Iacutendia China e Aacutefrica do Sul ndash BRICS

Foacuterum de Diaacutelogo Iacutendia Brasil e Aacutefrica do Sul ndash IBAS

Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa ndash CPLP [80]

Cuacutepula Ibero-Americana

Cuacutepula Ameacuterica do Sul-Aacutefrica - ASA

Cuacutepula Ameacuterica Latina Caribe e Uniatildeo Europeacuteia - ALC-EU

Cuacutepula Ameacuterica do Sul - Paiacuteses Aacuterabes - ASPA e

Foacuterum de Cooperaccedilatildeo Ameacuterica Latina ndash Aacutesia do Leste - FOCALAL

Natildeo eacute pretensatildeo deste estudo apresentar cada uma das iniciativas da

poliacutetica externa brasileira

Entretanto em funccedilatildeo da priorizaccedilatildeo estrateacutegica dada agrave integraccedilatildeo sul-

americana que tem no MERCOSUL e na UNASUL seus principais pilares e agrave

aproximaccedilatildeo estrateacutegica com a Aacutefrica com a intensificaccedilatildeo do relacionamento

do Brasil com o continente africano em termos gerais optamos por destacar

mesmo que brevemente as principais iniciativas referentes a esses dois

continentes isto eacute o MERCOSUL a UNASUL e o CPLP Destas iniciativas no

capitulo V seratildeo identificados os principais movimentos relacionados agrave sauacutede

questatildeo que norteia esta tese de doutoramento

78

Brasil como Estado associado

79

Brasil natildeo eacute Estado-membro

80

Os paiacuteses membros do PALOPS inserem-se na CPLP

144

Isso posto a integraccedilatildeo sul-americana em funccedilatildeo do potencial que a

Ameacuterica do Sul representa para o Brasil tem caraacuteter primordial A regiatildeo eacute

potencialmente positiva para a integraccedilatildeo a despeito da desigualdade

existente no que se refere a questotildees de mercado Os paiacuteses possuem

condiccedilotildees geopoliacuteticas e econocircmicas muito distintas apesar da similaridade

dos aspectos culturais de colonizaccedilatildeo religiosos linguiacutesticos e geograacuteficos

Conforme portal do Itamaraty [81] ao definir a integraccedilatildeo regional sob a

abordagem positiva

ldquoa regiatildeo eacute potencialmente autossuficiente em energia tem as maiores reservas de aacutegua do mundo e uma enorme capacidade de produccedilatildeo agriacutecola A regiatildeo tambeacutem representa um mercado em expansatildeo com perspectivas auspiciosas no conjunto da regiatildeo de crescimento econocircmico Aleacutem disso todos os paiacuteses da Ameacuterica do Sul satildeo democracias com governos constitucionalmente eleitos que colocaram a causa da justiccedila social no centro de seus cenaacuterios poliacuteticosrdquo

Ainda de acordo com o Itamaraty optou-se pela priorizaccedilatildeo da regiatildeo

sul-americana entendida como o entorno geograacutefico imediato ao territoacuterio

brasileiro com maior viabilidade nas coordenaccedilotildees poliacuteticas e dos projetos

concretos de integraccedilatildeo

21 Mercosul

O Mercado Comum do Sul ndash MERCOSUL importante projeto de poliacutetica

externa do Brasil representa mais do que um acordo comercial Eacute um processo

de integraccedilatildeo econocircmica entre Argentina Brasil Paraguai e Uruguai iniciado

com a assinatura do Tratado de Assunccedilatildeo [82] em 260391 tendo adquirido

personalidade juriacutedica internacional e estabelecida a sua estrutura institucional

81

Disponiacutevel em wwwitamaratygovbr Acesso em 22052012

82

Tratado de Assunccedilatildeo ndash Tratado para a Constituiccedilatildeo de um Mercado Comum entre a Repuacuteblica

Argentina a Repuacuteblica Federativa do Brasil a Repuacuteblica do Paraguai e a Repuacuteblica Oriental do Uruguai

Disponiacutevel emhttpwwwmercosulgovbrtratados-e-protocolostratado-de-assuncao-1 Acesso em

18 de abril de 2012

145

com o Protocolo de Ouro Preto [83] em 170294 Atualmente satildeo Estados

Associados Boliacutevia Chile Peru Colocircmbia e Equador Venezuela assinou o

Protocolo de Adesatildeo ao Mercosul em 2006 poreacutem para a conclusatildeo da adesatildeo

falta a aprovaccedilatildeo do Congresso Parlamentar do Paraguai

A fim de se promover a reforma das economias e a abertura de

mercados o Tratado previa uma agenda de integraccedilatildeo que se dividia em

etapas distintas A primeira a aacuterea de livre comeacutercio Esta deu origem agrave tarifa

externa comum na regiatildeo A segunda a uniatildeo aduaneira E a terceira o

mercado comum Estas duas uacuteltimas etapas ainda natildeo foram definidas por

conta da dificuldade de os paiacuteses convergirem nas suas poliacuteticas cambial

orccedilamentaacuteria e monetaacuteria Entretanto eacute mais evidente a integraccedilatildeo comercial

promovida pela primeira etapa do projeto do Mercosul e as expectativas em

relaccedilatildeo ao incremento de poder de negociaccedilatildeo junto a outras instacircncias que o

Mercosul tende a promover apesar das divergecircncias ainda constantes entre os

parceiros notadamente Brasil e Argentina

Representa em 2011 uma populaccedilatildeo de mais de 200 milhotildees de

habitantes dos quais 80 se encontram no Brasil O que segundo o Ministeacuterio

do Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Exterior [84] para o Brasil ldquopode natildeo

parecer um grande mercado ampliado mas permite uma importante

experiecircncia para nossas empresas em especial as pequenas e meacutedias no

contato com o mercado externo e expansatildeo das relaccedilotildees comerciais com

outros mercadosrdquo Ainda segundo o portal do MDIC o MERCOSUL eacute

atualmente a quarta aacuterea geoeconocircmica do mundo e um dos mercados

emergentes com maior renda per capita

Considerado como uma ferramenta estrateacutegica para a defesa dos

projetos nacionais dos seus parceiros na economia-mundo promovida pela

globalizaccedilatildeo constitui uma zona de livre comeacutercio e uma uniatildeo aduaneira que

visa agrave formaccedilatildeo de um mercado comum entre seus Estados Partes

83

Protocolo de Outro Preto ndash Protocolo Adicional ao Tratado de Assunccedilatildeo sobre a Estrutura

Institucional do Mercosul Disponiacutevel emhttpwwwmercosulgovbrtratados-e-protocolosprotocolo-

de-ouro-preto-1 Acesso em 18 de abril de 2012

84

Ver wwwmdicgovbr 2012

146

Tem como objetivo a livre circulaccedilatildeo de bens serviccedilos trabalhadores e

capital entre os paiacuteses do bloco buscando o aumento e a diversificaccedilatildeo da

oferta de bens e serviccedilos com padrotildees comuns de qualidade seguindo normas

internacionais com economias de escala Visa ao estabelecimento de uma

tarifa externa comum isto eacute o estabelecimento de uma poliacutetica comercial

uniforme em relaccedilatildeo a terceiros paiacutesesblocos Objetiva a coordenaccedilatildeo de

posiccedilotildees comuns em foros econocircmico-comerciais regionais e internacionais a

coordenaccedilatildeo de poliacuteticas macroeconocircmicas e a harmonizaccedilatildeo das poliacuteticas

setoriais e dos coacutedigos legislativos dos paiacuteses membros nas aacutereas

relacionadas ao processo de integraccedilatildeo

Aleacutem disso objetiva a promoccedilatildeo de modo coordenado do

desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico e a busca permanente de pautas

comuns para o desenvolvimento sustentaacutevel dos recursos regionais aleacutem de

visar participaccedilatildeo crescente dos setores privados no processo de integraccedilatildeo

[85]

Ademais segundo o Itamaraty 83 o Mercosul caracteriza-se pelo

regionalismo aberto isto eacute aleacutem do comeacutercio intrazona visa ao intercacircmbio

comercial com terceiros paiacuteses

Passados 20 anos da criaccedilatildeo do Mercosul o otimismo sobre a

integraccedilatildeo deu lugar agrave ldquoprevalecircncia das visotildees nacionaisrdquo agraves ldquodiferenccedilas

surgidas na Ameacuterica do Sulrdquo e agrave ldquoemergecircncia da China como primeiro parceiro

comercial de muitos paiacuteses da regiatildeo inclusive o Brasilrdquo o que acarretou

grandes obstaacuteculos agrave negociaccedilatildeo no acircmbito do Mercosul 84

As medidas protecionistas entre os paiacuteses membros do Mercosul

tornaram-se constantes O que acabou gerando conflitos comerciais mais

evidentes entre os maiores e menores representantes respectivamente Brasil

ndash Argentina e Paraguai - Uruguai A fragilidade em funccedilatildeo das barreiras

comerciais impostas entre os seus pares tambeacutem ocasionou desgastes que

comprometeram os fundamentos do Mercosul em que ateacute poucos anos atraacutes

tinha a sua continuidade comprometida 85

85

Disponiacutevel em wwwmdicgovbr Acesso em 22052012

147

Entretanto segundo o MDIC 86 as ldquoperspectivas indicam que o

intercacircmbio intra-zona continuaraacute crescendo demonstrando que ainda natildeo se

configurou o esgotamento do potencial de comeacuterciordquo Entre 2002 a 2008 [86] a

corrente de comeacutercio entre o Brasil e os demais paiacuteses do Mercosul passou de

US$ 89 bilhotildees para US$ 366 bilhotildees Logicamente a recente crise

econocircmica mundial impactou o comeacutercio do bloco A partir de 2010 houve a

retomada comercial Entretanto apesar das apostas no desenvolvimento e no

comercio intra-bloco deve-se considerar a possibilidade da aproximaccedilatildeo dos

seus limites ldquorecomendando-se a ampliaccedilatildeo das fronteiras seja pela conquista

de novos parceiros seja pela diversificaccedilatildeo das pautas de comeacuterciordquo conforme

defende o MDIC 86

Por outro lado a despeito de inicialmente estar voltado para a

integraccedilatildeo econocircmica e comercial com as dificuldades institucionais e

estruturais decorrentes e imersos em crises econocircmicas reconhecendo-se

inclusive no Brasil o reduzido impacto para a estrutura produtiva nacional e a

quase marginalidade para as necessidades brasileiras de modernizaccedilatildeo

produtiva os paiacuteses do Mercosul notadamente o Brasil passaram a dar maior

ecircnfase nos primeiros anos do seacuteculo XXI agraves questotildees poliacuteticas e sociais da

regiatildeo 84

ldquoEmbora essas novas ecircnfases representem uma distorccedilatildeo do Tratado de Assunccedilatildeo muitos vecircem tais medidas como igualmente importantes para a integraccedilatildeo regional Esse processo no entanto vive hoje um momento de crise institucional que caso fosse superada poderia fazer crescer ainda mais o relacionamento comercial entre os paiacuteses-membrosrdquo

Nessa perspectiva segundo avaliaccedilatildeo de Lafer 34 (p 90 -91) o Mercosul

lida com o ldquoconflito e a cooperaccedilatildeo na moldura do direito e da diplomacia

lastreados no potencial de sociabilidade e solidariedade que vem sendo

desenvolvido entre os seus membros no correr do tempordquo Na projeccedilatildeo do

autor o Mercosul comporta forte potencialidade

ldquotem como base fazer natildeo apenas a melhor poliacutetica mas tambeacutem a melhor economia de suas geografias no contexto de valores comuns de inspiraccedilatildeo democraacutetica voltados para a construccedilatildeo de paz e para

86

Segundo dados disponiacuteveis em httpsi3govplanejamentogovbr Acesso em 22062012

148

a promoccedilatildeo do desenvolvimento da sua regiatildeo Eacute isso que vem sustentando a agenda da integraccedilatildeo econocircmica e a efetiva transformaccedilatildeo das fronteiras de claacutessicas fronteiras-separaccedilatildeo em modernas fronteiras-cooperaccedilatildeordquo

Nesse sentido declara Barbosa 84 ldquoo processo de integraccedilatildeo sub-

regional eacute um ganho poliacutetico e econocircmico para os paiacuteses-membros pela

relevacircncia no plano estrateacutegico-diplomaacuteticordquo Em meio agrave crise institucional do

Mercosul eacute que a priorizaccedilatildeo dada pelo Brasil a essa integraccedilatildeo mais

notadamente a partir da gestatildeo do governo Lula a despeito da criaccedilatildeo do

Unasul e a esperada superposiccedilatildeo de competecircncias reflete a expectativa do

fortalecimento e do alcance dos objetivos previstos e pactuados entre os

paiacuteses membros do Mercosul

No tocante agraves questotildees da ldquoSauacutederdquo esse tema encontra-se inserido no

Subgrupo de Trabalho nordm 11 ndash SGT-11 dentro da estrutura do Grupo Mercado

Comum ndash GMC [87] aleacutem de ser tema com destaque especiacutefico das Reuniotildees

de Ministros da Sauacutede no acircmbito do Conselho do Mercado Comum - CMC A

formalizaccedilatildeo de propostas provenientes desses dois foros eacute direcionada a

esses dois oacutergatildeos principais do Mercosul que tecircm como caracteriacutestica o poder

decisoacuterio de conduccedilatildeo poliacutetica e executiva o CMC e o GMC

A Reuniatildeo de Ministros da Sauacutede do Mercosul (RMS) foi criada em

1995 Tem como funccedilatildeo propor ao CMC medidas para a coordenaccedilatildeo de

poliacuteticas voltadas para a aacuterea da sauacutede no Mercosul Tem como objetivo definir

planos estrateacutegias programas e diretrizes visando ao processo de integraccedilatildeo

Ademais atua na formulaccedilatildeo no acordo e no apoio a accedilotildees de promoccedilatildeo

prevenccedilatildeo proteccedilatildeo e atenccedilatildeo agrave sauacutede que satildeo realizadas em cada Estado

membro seja por meio de recursos dos sistemas nacionais de sauacutede ou por

meio de projetos de cooperaccedilatildeo intra ou extra bloco

87 Compotildeem o GMC outros 13 grupos de trabalho ndash SGT-1 Comunicaccedilotildees SGT-2 - Aspectos

Institucionais SGT-3 - Regulamentos Teacutecnicos e Avaliaccedilatildeo de Conformidade SGT-4 - Assuntos

Financeiros SGT-5 - Transporte SGT- 6 - Meio-Ambiente SGT-7 - Induacutestria SGT-8 -Agricultura

SGTndash 9 - Energia e mineraccedilatildeo SGT-10 - Assuntos de Trabalho Emprego e Seguridade Social SGT-12 -

Investimentos SGT-13 - Comeacutercio Eletrocircnico e SGT- 14 - Acompanhamento da Conjuntura Econocircmica e

Social

149

Figura 4 Reuniatildeo dos Ministros da Sauacutede do Mercosul - RMS

RMSDecisatildeo CMC 011995Decisatildeo CMC 031995

Comitecirc Coordenador (CC)Decisatildeo CMC 031995

CI Controle do TabacoAcordo 062003

CI Implementaccedilatildeo do RSIAcordo 082005

CI Doaccedilatildeo e TransplanteAcordo 032006

CI Gestatildeo de Riscos e Reduccedilatildeo de

VulnerabilidadesAcordo 052004

CI HIV -AIDSAcordo 022002

CI Sauacutede Ambiental e do TrabalhadorAcordo 052004

CI Controle da Dengue

Acordo 012001

CI Poliacutetica de MedicamentosAcordo 012000

CI Sauacutede e DesenvolvimentoAcordo 072004

CI Sexual e Reprodutiva

Acordo 132003

CI Sistemas de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo

em SauacutedeAcordo 012006

Banco de Preccedilos de

Medicamentos

Acordo 012005

Versatildeo 13072007

Fonte httpwwwmercosulsaudedevsitecombrPDFOrganograma20RMS_13_07_2007_PTpdf

Sob a orientaccedilatildeo do Grupo Mercado Comum o Subgrupo de Trabalho

nordm 11 criado pela Resoluccedilatildeo GMC nordm 15196 comporta na atual estrutura a

Comissatildeo dos Serviccedilos de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede a Comissatildeo dos Produtos para

Sauacutede e a Comissatildeo de Vigilacircncia em Sauacutede com suas Subcomissotildees e

Grupos Ad hoc O SGT-11 tem caraacuteter deliberativo e os trabalhos do grupo satildeo

organizados conforme pauta de interesse comum da qual constam temas

priorizados pelos Estados Partes sendo acordada e aprovada pelo GMC

Nesse sentido executam suas atividades conforme pauta aprovada pela

Resoluccedilatildeo GMC nordm 1307 que relaciona os temas sobre os quais se buscaraacute a

harmonizaccedilatildeo de legislaccedilotildees e diretrizes promovendo a cooperaccedilatildeo teacutecnica e

coordenando as accedilotildees necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo entre os

Estados-Partes segundo a proposta de uma norma na aacuterea da sauacutede comum a

todos os Estados membros O relacionamento do SGT nordm 11 Sauacutede com as

150

demais instacircncias do Mercosul busca promover a integraccedilatildeo e a

complementaccedilatildeo das accedilotildees A despeito do caraacuteter supranacional eacute mister

destacar que se faz necessaacuteria a incorporaccedilatildeo das normas pelos Estados

partiacutecipes junto aos oacutergatildeos competentes nacionais normas essas passiacuteveis de

adendos e modificaccedilotildees poreacutem necessaacuterias com retificaccedilotildees ou natildeo de

serem incorporadas pelo Estado

Accedilotildees e atividades implementadas pelo Mercosul no tema ldquoSauacutederdquo por

meio desses foros especiacuteficos seratildeo abordados no capiacutetulo V cujo objetivo eacute

identificar a inter-relaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais com a poliacutetica externa dentro

da concepccedilatildeo da cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Antes de apresentar a Unasul contemporacircnea na regiatildeo vale destacar

uma organizaccedilatildeo centenaacuteria a OPAS Criada em 1902 na 2ordf Conferecircncia

Internacional da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos a Organizaccedilatildeo Pan-

Americana da Sauacutede ndash OPAS eacute um organismo regional de sauacutede puacuteblica com

um seacuteculo de experiecircncia dedicado a melhorar as condiccedilotildees de sauacutede dos

paiacuteses das Ameacutericas Segundo seu site oficial a OPAS exerce atuaccedilatildeo no

Escritoacuterio Regional da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede para as Ameacutericas e faz

parte dos sistemas da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) e da

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU)

A OPAS coopera com os governos atraveacutes de teacutecnicos e cientistas

para melhorar poliacuteticas e serviccedilos puacuteblicos de sauacutede estimulando o trabalho

em conjunto com os paiacuteses para alcanccedilar metas comuns como iniciativas

sanitaacuterias multilaterais de acordo com as decisotildees dos governos que fazem

parte do corpo diretivo da Organizaccedilatildeo Conforme sua missatildeo baseia-se na

orientaccedilatildeo de esforccedilos estrateacutegicos de colaboraccedilatildeo entre Estados membros a

fim de promover a equidade na sauacutede combater doenccedilas melhorar a

qualidade e elevar a expectativa de vida dos povos das Ameacutericas seus

cientistas incentivam a promoccedilatildeo da transferecircncia de tecnologia e a difusatildeo do

conhecimento acumulado atraveacutes de experiecircncias produzidas nos Estados

Membros da OPASOMS [88]

88

Disponiacutevel em httpnewpahoorgbra

151

Aleacutem disso essa organizaccedilatildeo busca contribuir para o fortalecimento do

setor da sauacutede nos paiacuteses a fim de que os programas prioritaacuterios sejam

executados e sejam privilegiados enfoques multisetoriais e integrais de sauacutede

Ademais sob os auspiacutecios da OPAS em seu Documento Oficial 328

referente ao Plano Estrateacutegico 2008 ndash 2012 de junho de 2009 vale destacar

dentre os objetivos estrateacutegicos da OPAS 87 aqueles que asseguram a

melhoria do acesso da qualidade e do uso de produtos meacutedicos e de

tecnologias sanitaacuterias o fortalecimento da autoridade sanitaacuteria nacional a

diminuiccedilatildeo das desigualdades em sauacutede entre os paiacuteses e as iniquidades no

interior dos mesmos e o aproveitamento dos conhecimentos da ciecircncia e da

tecnologia (p18)

Cabe destacar a estreita correlaccedilatildeo desses objetivos ao firmado na

Agenda da Sauacutede para as Ameacutericas 2008-2017 88 o que denota uma

convergecircncia da questatildeo do acesso a bens e serviccedilos de sauacutede e ao

fortalecimento da capacidade de produccedilatildeo dos paiacuteses e de mecanismos

correlacionados

Aumentar la Proteccioacuten Social y el Acceso a los Servicios de Salud de Calidad ndash (48)El acceso a medicamentos y tecnologias de salud es un requerimiento para tener intervenciones de salud efectivas Para promover el acceso a los medicamentos los paiacuteses debieren considerar a) usar al maacuteximo las provisiones em los acuerdos de comercio incluyendo sus flexibilidades b) fortalecer el sistema de provisioacuten c) fortalecer los mecanismos de compras subregionales y regionales d) promover el uso racional de los medicamentos y e) reducir las barreras tarifarias a los medicamentos y tecnologiacuteas de salu

88 (p15)

Em que pese a importacircncia histoacuterica da OPAS para a regiatildeo o novo

cenaacuterio internacional traacutes desafios diversos para a sauacutede puacuteblica que requerem

um processo de reforma e governanccedila na estrutura da OPAS capaz de

acompanhar a atual multiplicidade de atores na cooperaccedilatildeo teacutecnica em sauacutede

nos niacuteveis global regional e nacional

A despeito do desafio da governanccedila global ressalta-se que a OPAS

dado o embasamento histoacuterico em prol da regiatildeo exerce papel de fundamental

importacircncia na promoccedilatildeo do desenvolvimento da cooperaccedilatildeo SulndashSul

152

inclusive via mecanismos de integraccedilatildeo como MERCOSUL UNASUL e os

paiacuteses de liacutengua portuguesa (CPLP)

22 Unasul

Composta pelos doze paiacuteses da Ameacuterica do Sul [89] a Uniatildeo de Naccedilotildees

Sul-Americanas - UNASUL teve o seu Tratado Constitutivo [90] assinado em

Brasiacutelia no dia 23052008 O compromisso com o desenvolvimento e a

sustentabilidade foi reafirmado pela Unasul em sua reuniatildeo extraordinaacuteria de

chefas e chefes de Estado em 28 de julho de 2011

A integraccedilatildeo latino-americana eacute condiccedilatildeo necessaacuteria para o

desenvolvimento sustentaacutevel e o bem-estar dos povos Representa o

adensamento da integraccedilatildeo regional e o comprometimento poliacutetico de todos os

paiacuteses sul-americanos a fim de avanccedilar segundo o Tratado Constitutivo da

Unasul rumo ao desenvolvimento sustentaacutevel e o bem-estar dos povos assim

como para contribuir para resolver os problemas que ainda afetam a regiatildeo

como a pobreza a exclusatildeo e a desigualdade social persistentes

Sua estrutura institucional eacute disposta em dois niacuteveis diferenciados

centrais e setoriais Os oacutergatildeos centrais isto eacute o Conselho de Chefes de

Estado e de Governo o Conselho de Ministros das Relaccedilotildees Exteriores o

Conselho de Delegados e a Secretaria-Geral satildeo os responsaacuteveis pela

orientaccedilatildeo poliacutetica geral e pela supervisatildeo do processo de integraccedilatildeo Os

setoriais comportam atualmente oito Conselhos Ministeriais (a) sauacutede (b)

defesa (c) desenvolvimento social (d) energia (e) sobre o problema mundial

das drogas (f) infraestrutura e planejamento (g) educaccedilatildeo cultura ciecircncia

tecnologia e inovaccedilatildeo (h) economia e financcedilas

89

Argentina Boliacutevia Brasil Colocircmbia Chile Equador Guiana Paraguai Peru Suriname

Uruguai e Venezuela

90 httpwwwitamaratygovbrtemasamerica-do-sul-e-integracao-regionalunasultratado-

constitutivo-da-unasulsearchterm=unasul

153

Em conformidade ao objetivo estrateacutegico da poliacutetica externa brasileira

quanto agrave integraccedilatildeo sul-americana ultrapassa a simples concertaccedilatildeo poliacutetica

presente em outros foacuteruns regionais A integraccedilatildeo visa portanto ao

desenvolvimento socioeconocircmico da Ameacuterica do Sul e agrave preservaccedilatildeo da paz

na regiatildeo ao desenvolvimento do mercado interno sul-americano e ao

aumento da competitividade dos paiacuteses no mercado internacional e ao

fortalecimento da capacidade de atuaccedilatildeo do Brasil em outros foacuteruns

internacionais

A integraccedilatildeo sob essa perspectiva eacute um passo decisivo rumo ao

fortalecimento do multilateralismo e agrave vigecircncia do direito nas relaccedilotildees

internacionais para alcanccedilar um mundo multipolar equilibrado e justo no qual

prevaleccedila a igualdade soberana dos Estados e uma cultura de paz

Nesse sentido diferentemente do Mercosul que tem uma natureza

predominantemente econocircmica a Unasul apresenta uma natureza mais

poliacutetica

Portanto a Unasul objetiva a construccedilatildeo de forma consensual e

participativa de um espaccedilo de integraccedilatildeo articulada nos acircmbitos poliacutetico

econocircmico social e cultural entre seus povos Ainda segundo o Tratado

prioriza o diaacutelogo poliacutetico as poliacuteticas sociais a educaccedilatildeo a energia a

infraestrutura o financiamento e o meio ambiente entre outros com vistas a

eliminar a desigualdade socioeconocircmica alcanccedilar a inclusatildeo social e a

participaccedilatildeo cidadatilde fortalecer a democracia e reduzir as assimetrias no marco

do fortalecimento da soberania e independecircncia dos Estados

Cabe destacar dentre outros os objetivos especiacuteficos da Unasul que

possuem interface com o tema da sauacutede conforme o artigo 3ordm do Tratado

Constitutivo

a) o fortalecimento do diaacutelogo poliacutetico entre os Estados Membros que assegure

um espaccedilo de concertaccedilatildeo para reforccedilar a integraccedilatildeo sul-americana e a

participaccedilatildeo da UNASUL no cenaacuterio internacional

b) o desenvolvimento social e humano com equidade e inclusatildeo para erradicar

a pobreza e superar as desigualdades na regiatildeo

154

c) a integraccedilatildeo industrial e produtiva com especial atenccedilatildeo agraves pequenas e

meacutedias empresas cooperativas redes e outras formas de organizaccedilatildeo

produtiva

d) a definiccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas e projetos comuns ou

complementares de pesquisa inovaccedilatildeo transferecircncia e produccedilatildeo tecnoloacutegica

com vistas a incrementar a capacidade a sustentabilidade e o desenvolvimento

cientiacutefico e tecnoloacutegico proacuteprios

e) a cooperaccedilatildeo econocircmica e comercial para avanccedilar e consolidar um

processo inovador dinacircmico transparente equitativo e equilibrado que

contemple um acesso efetivo promovendo o crescimento e o desenvolvimento

econocircmico que supere as assimetrias mediante a complementaccedilatildeo das

economias dos paiacuteses da Ameacuterica do Sul assim como a promoccedilatildeo do bem-

estar de todos os setores da populaccedilatildeo e a reduccedilatildeo da pobreza

f) a proteccedilatildeo da biodiversidade dos recursos hiacutedricos e dos ecossistemas

assim como a cooperaccedilatildeo na prevenccedilatildeo das cataacutestrofes e na luta contra as

causas e os efeitos da mudanccedila climaacutetica

g) o desenvolvimento de mecanismos concretos e efetivos para a superaccedilatildeo

das assimetrias alcanccedilando assim uma integraccedilatildeo equitativa

h) o intercacircmbio de informaccedilatildeo e de experiecircncias em mateacuteria de defesa

i) a cooperaccedilatildeo setorial como um mecanismo de aprofundamento da

integraccedilatildeo sul-americana mediante o intercacircmbio de informaccedilatildeo experiecircncias

e capacitaccedilatildeo

j) o desenvolvimento de uma infraestrutura para a interconexatildeo da regiatildeo e de

nossos povos de acordo com criteacuterios de desenvolvimento social e econocircmico

sustentaacuteveis

k) a cooperaccedilatildeo em mateacuteria de migraccedilatildeo com enfoque integral e baseado no

respeito irrestrito aos direitos humanos e trabalhistas para a regularizaccedilatildeo

migratoacuteria e a harmonizaccedilatildeo de poliacuteticas e

155

l) a participaccedilatildeo cidadatilde por meio de mecanismos de interaccedilatildeo e diaacutelogo entre

a Unasul e os diversos atores sociais na formulaccedilatildeo de poliacuteticas de integraccedilatildeo

Sul-Americana

A UNASUL portanto como organismo internacional representa um

organismo do sistema multilateral com caracteriacutesticas contemporacircneas isto eacute

compromissado politicamente e com crescente peso poliacutetico inclusive por

representar uma aacuterea continental paciacutefica sem reservas nucleares com

projetos comuns de integraccedilatildeo e com capacidade de superaccedilatildeo dos efeitos

nocivos das graves crises econocircmicas internacionais

De forma mais ativa as aacutereas da sauacutede e da defesa receberam maior

protagonismo junto agrave Unasul E nesse sentido conforme afirma Temporatildeo em

palestra proferida em Brasilia [91] a Unasul se estabelece inicialmente sob

duas prioridades principais a defesa e a sauacutede A Argentina protagonizou a

institucionalizaccedilatildeo dos esforccedilos na aacuterea da defesa E no tocante agrave sauacutede o

paiacutes com maior expressatildeo nessa aacuterea tem sido o Brasil cujo esforccedilo e

determinaccedilatildeo eacute observado no Plano Quinquenal de Sauacutede 2010-2025 aleacutem da

criaccedilatildeo e instalaccedilatildeo definitiva do Instituto Sul Americano de Governo em Sauacutede

(ISAGS)

Foi em dezembro de 2008 durante a Cuacutepula da Costa do Sauiacutepe que

os chefes de Estado e de Governo da Unasul com base nos artigos 3o 5o e 6o

do Tratado Constitutivo da UNASUL firmaram o Conselho de Sauacutede Sul-

Americano ou simplesmente Unasul Sauacutede como oacutergatildeo de consulta e

consenso em mateacuteria de sauacutede

Integrado pelos 12 ministros da Sauacutede dos paiacuteses-membros tem entre

outros objetivos a promoccedilatildeo de poliacuteticas comuns atividades coordenadas e

cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses e a promoccedilatildeo de respostas coordenadas e

solidaacuterias perante situaccedilotildees de emergecircncia e cataacutestrofes bem como a

91

Temporatildeo J Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e complexo econocircmico-industrial da sauacutede In Ciclo de

Debates sobre Bioeacutetica Diplomacia e Sauacutede Puacuteblica Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacuteticas e Diplomacia em

Sauacutede ndash NETHIS Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel em

wwwbioeticaediplomaciaorg Acesso em 27012012

156

priorizaccedilatildeo das accedilotildees no acircmbito das fronteiras [92] Dentre os propoacutesitos

previstos estatildeo a construccedilatildeo de um espaccedilo de integraccedilatildeo nas questotildees

relacionadas agrave sauacutede otimizando os esforccedilos e os resultados de outros

mecanismos de integraccedilatildeo regional como por exemplo o Mercosul a OPAS e

a OTCA aleacutem da promoccedilatildeo de poliacuteticas comuns e de atividades articuladas

consensuadas e coordenadas entre todos os paiacuteses partiacutecipes da Unasul

O Conselho de Sauacutede Sul-Americana (CSS) formado pelos Ministros da

Sauacutede dos paiacuteses-membros da Unasul eacute a instacircncia maacutexima da sauacutede na

Unasul Aleacutem do Conselho haacute o Comitecirc Coordenador que eacute responsaacutevel pela

preparaccedilatildeo dos projetos dos Acordos e Resoluccedilotildees e eacute formado pelos

representantes titulares e adjuntos de cada Estado Membro e um

representante do Mercosul ORAS CONHU OTCA e OPAS como

observadores [93]

O diferencial nessa composiccedilatildeo eacute que o CSS apoiado pela Secretaria

Teacutecnica que fica a cargo da Presidecircncia Pro-Tempore (PPT) da Unasul Sauacutede

ndash ocupado pelo respectivo Ministro da Sauacutede do paiacutes que ocupa a Presidecircncia

Pro-Tempore (PPT) da Unasul tambeacutem recebe o apoio dos dois paiacuteses da

PPT passada e seguinte o que promove uma maior garantia de continuidade

dos trabalhos

Tambeacutem fazem parte da estrutura os Grupos Teacutecnicos ldquoencarregados

de analisar elaborar preparar e desenvolver propostas planos e projetos que

contribuam para a integraccedilatildeo sul-americana em sauacutede de acordo com o

alinhamento estabelecido pela Agenda de Sauacutede Sul-Americanardquo [94]

Aleacutem dos Grupos Teacutecnicos a Unasul Sauacutede comporta Redes

Estruturantes que objetivam compartilhar o conhecimento no campo da sauacutede

conforme tabela abaixo

92

Unasul Conselho de Sauacutede Sul-AmericanoAcordo nordm 0209 ndash 21042009

93

Disponiacutevel em wwwisags-unasulorg

94

Disponiacutevel em wwwisags-unasulorg

157

Tabela 3 Redes de Instituiccedilotildees Estruturantes no campo da Sauacutede da Unasul

Redes

Estruturantes

Data da Criaccedilatildeo

Local da Criaccedilatildeo

Descriccedilatildeo

RINS - Rede dos Institutos Nacionais de Sauacutede

Marccedilo 2010

Peru

Relaciona-se aos Institutos Nacionais de Sauacutede ou similares dos paiacuteses membros da Unasul Visa contribuir para o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede com soluccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas para os problemas sanitaacuterios Busca o desenvolvimento dos Sistemas de Sauacutede mediante a integraccedilatildeo e o fortalecimento dos Institutos Nacionais de Sauacutede e seus homoacutelogos com a finalidade de alcanccedilar o melhoramento das condiccedilotildees de vida a reduccedilatildeo das desigualdades sociais em sauacutede e o bem-estar dos povos sul-americanos

RETS ndash Rede de Escolas Teacutecnicas de

Sauacutede [95

]

1997 2005

Brasil

Articulaccedilatildeo entre instituiccedilotildees e organizaccedilotildees envolvidas com a formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo de pessoal teacutecnico da aacuterea da sauacutede nas Ameacutericas e no Caribe Paiacuteses Africanos de Lingua Oficial Portuguesa (PALOP) e Portugal Tem como desafio expandir a Rede para outras regiotildees assim como para todos os paiacuteses que fazem parte da Comunidade de Paiacuteses de Lingua Portuguesa (CPLP)

RINC ndash Rede de Institutos Nacionais de Cacircncer

Setembro 2010

Argentina

Estrateacutegia de articulaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo entre instituiccedilotildees puacuteblicas de acircmbito nacional nos paiacuteses membros da UNASUL e nos demais paiacuteses da Ameacuterica Latina Eacute responsaacutevel por elaborar eou executar poliacuteticas e programas para o controle de cacircncer na regiatildeo da Ameacuterica do Sul Seu objetivo eacute somar esforccedilos regionais para trabalhar em rede em busca de fortalecimento da prevenccedilatildeo e controle integral do cacircncer na regiatildeo da Unasul

95

A RETS entre 1997 e 2001 englobava apenas paiacuteses latino-americanos A partir da sua

reativaccedilatildeo em 2005 vem buscando expandir a Rede para outras regiotildees inserindo os paiacuteses que fazem

parte da Comunidade de Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa

158

Continuaccedilatildeo

Redes Estruturantes

Data da Criaccedilatildeo

Local da Criaccedilatildeo

Descriccedilatildeo

RESP ndash Rede de Escolas de Sauacutede Puacuteblica

Abril 2011

Paraguai

Eacute uma rede de escolas de governo em sauacutede formada por instituiccedilotildees que atuam na formaccedilatildeo de recursos humanos para os sistemas de sauacutede dos paiacuteses membros do bloco Propotildee-se a articular diretamente com as poliacuteticas nacionais de sauacutede dos paiacuteses membros constituindo um espaccedilo de integraccedilatildeo para a produccedilatildeo de novas tecnologias que contribuam para o aperfeiccediloamento dos sistemas de sauacutede da regiatildeo Constitui-se em uma plataforma proativa para intercacircmbio de informaccedilotildees co-participaccedilatildeo de conhecimento e construccedilatildeo de capacidade A rede tem como objetivo promover educaccedilatildeo investigaccedilatildeo e intercacircmbios teacutecnicos de modo que se crie uma infraestrutura educacional para o desenvolvimento da forccedila de trabalho em sauacutede puacuteblica

REDSUR-ORISS ndash Rede de Oficina de Relaccedilotildees Internacionais e de Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede

Novembro 2009

Peru

Eacute uma estrateacutegia de articulaccedilatildeo que busca promover o fortalecimento institucional dos Ministeacuterios de Sauacutede da Unasul atraveacutes do aprimoramento e da intensificaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo inter-regional regional e internacional Busca o aperfeiccediloamento da coordenaccedilatildeo das accedilotildees de cooperaccedilatildeo teacutecnica inter-regional a promoccedilatildeo de uma maior articulaccedilatildeo entre as Oficinas de Relaccedilotildees Internacionais em Sauacutede (ORIS) com o intuito de melhorar os processos de cooperaccedilatildeo na regiatildeo e a promoccedilatildeo da capacitaccedilatildeo contiacutenua dos membros da ORIS e dos teacutecnicos do MINSA que atuam no acircmbito internacional

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir do site wwwisags-unasulorg

O estatuto da Unasul define a Agenda Sul-Americana de Sauacutede isto eacute

seu plano de Trabalho que eacute composto por cinco grandes aacutereas de trabalho

[96]

96

Ver anaacutelise de Buss PM A Unasul sauacutede Le Monde Diplomatique Brasil 2009 2630-31

159

1) Estabelecimento do escudo epidemioloacutegico (problemas de sauacutede da

regiatildeo processos endecircmicos e epidecircmicos)

2) Desenvolvimento dos Sistemas de Sauacutede Universais (com acesso a

toda a populaccedilatildeo)

3) Acesso Universal a Medicamentos (e a outros insumos para a sauacutede e

desenvolver o Complexo Produtivo da Sauacutede na Ameacuterica do Sul)

4) Promoccedilatildeo da Sauacutede e Accedilatildeo sobre os Determinantes Sociais

5) Desenvolvimento e Gestatildeo de Recursos Humanos em Sauacutede

No tocante a essas aacutereas de trabalho foi aprovado o Plano de Accedilatildeo

2010-2015 que detalha as atividades de cada um dos cinco toacutepicos propostos

A fim de priorizar a questatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede -

CEIS optou-se para este estudo dar destaque aos entendimentos relativos agrave

aacuterea de trabalho correlacionada ao CEIS no Plano de Trabalho da Unasul

Sauacutede a ser apresentado nos proacuteximos capiacutetulos

Ademais ganha relevacircncia a constituiccedilatildeo do Instituto Sul Americano de

Governanccedila em Sauacutede ndash ISAGS que dentre os desafios assumidos tem como

objetivo valorizar o parque e a capacidade produtiva da regiatildeo

Formado com o principal objetivo de promover o intercacircmbio a reflexatildeo

criacutetica a gestatildeo do conhecimento e a geraccedilatildeo de inovaccedilotildees no campo da

poliacutetica e governanccedila em sauacutede sob a perspectiva da agenda estrateacutegica para

o setor isto eacute do Plano Quinquenal de Sauacutede 2010-2015 o ISAGS foi criado

pelo Conselho de Chefes de Estado e de Governo no Equador em abril de

2010 Entidade intergovernamental de caraacuteter puacuteblico integrante do Conselho

de Sauacutede Sul-Americano da Uniatildeo das Naccedilotildees Sul-Americanas Tem como

membros os 12 paiacuteses da Ameacuterica do Sul aderidos agrave Unasul e tem como

representantes oficiais e formais os Ministeacuterios da Sauacutede e os Ministeacuterios das

Relaccedilotildees Exteriores de cada paiacutes partiacutecipe Formado pelos Conselhos Diretivo

e Consultivo e pela Direccedilatildeo Executiva busca preparar dirigentes e experts para

os sistemas de sauacutede regionais

O ISAGS eacute uma entidade com maior atuaccedilatildeo na gestatildeo do

conhecimento e na oferta de cooperaccedilatildeo teacutecnica e tem trecircs componentes

160

centrais formaccedilatildeo de quadros cooperaccedilatildeo teacutecnica e promoccedilatildeo do diaacutelogo

integrando e articulando os Ministros da sauacutede dos distintos paiacuteses Sua

atuaccedilatildeo daacute-se portanto (a) na gestatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento (b) no

desenvolvimento de liacutederes em Gestatildeo em Sauacutede (c) no assessoramento

teacutecnico e (d) no trabalho em rede [97]

Nesse sentido o ISAGS se propotildee a colaborar com instituiccedilotildees

nacionais regionais e globais com redes de gestores e de acadecircmicos Sua

agenda eacute consensuada isto eacute pactuada entre os paiacuteses membros (seus 12

Ministros da Sauacutede)

O ISAGS portanto eacute uma instituiccedilatildeo que pertence aos Estados

membros da Unasul e exercita suas atividades em representaccedilatildeo e por

delegaccedilatildeo dos mesmos Para Temporatildeo 89 a natureza do ISAGS estaacute

intrinsecamente relacionada aos conceitos de Estado Soberania Governo e

Mandato Suas iniciativas devem ser interpretadas como instrumentos de

poliacuteticas intergovernamentais que respondam a interesses comuns e pactuados

entre os Estados Membros expressos por seu Conselho Diretivo por meio de

um Plano de Trabalho

Sob essa perspectiva o ISAGS trabalha na construccedilatildeo do Plano Trienal

de Trabalho 2012-2015 que resulta das prioridades definidas no Plano

Quinquenal 2010-2015 do Conselho de Sauacutede Sul-Americano O

plano abrange as necessidades identificadas pelos Ministeacuterios da Sauacutede dos

paiacuteses membros Suas atividades tambeacutem satildeo desenvolvidas em estreita

articulaccedilatildeo com as Redes e Grupos Teacutecnicos da Unasul-Sauacutede [98]

Vale ressaltar que a despeito do pouquiacutessimo tempo da constituiccedilatildeo do

ISAGS esse Instituto se destaca em funccedilatildeo do dinamismo do Conselho de

Sauacutede Sul-Americano da Unasul A criaccedilatildeo do ISAGS com a aprovaccedilatildeo do

seu Estatuto em 2011 e a imediata aprovaccedilatildeo do orccedilamento proacuteprio e

instalaccedilatildeo definitiva da sua sede no RJ em abril de 2012 bem como a

97

Temporatildeo J Palestra ―Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

ocorrida em setembro de 2011 no NETHIS em Brasiacutelia

98

Disponiacutevel no portal httpisags-unasurorg

161

constituiccedilatildeo de um ato protocolar diplomaacutetico que daacute ao ISAGS status

diplomaacutetico representam a consolidaccedilatildeo da integraccedilatildeo poliacutetica da regiatildeo para

o tema em questatildeo ressaltando notadamente a estreita vinculaccedilatildeo da sauacutede

com a poliacutetica externa e a diplomacia entre os paiacuteses Correlaccedilatildeo essa que

tambeacutem pode ser observada nos encontros promovidos pelo Instituto ao

estimular e ter em participaccedilatildeo expertises da sauacutede e da poliacutetica externa

Segudo Buss 90 a qualidade de conduccedilatildeo e lideranccedila coordenaccedilatildeo e

gestatildeo formulaccedilatildeo de poliacuteticas de sauacutede e intersetoriais capacitaccedilatildeo

avanccedilada produccedilatildeo de conhecimento e outros aspectos relacionados agraves

funccedilotildees essenciais da sauacutede puacuteblica satildeo pilares fundamentais para sedimentar

o apoio necessaacuterio ao fortalecimento das capacidades intriacutensecas e exoacutegenas

relacionadas aos paiacuteses membros da Unasul O ISAGS se apresenta como

instituto legiacutetimo entre os paiacuteses da regiatildeo com a finalidade de promover a

construccedilatildeo desses pilares

Finalmente de forma semelhante ao adotado em relaccedilatildeo ao Mercosul a

descriccedilatildeo das principais iniciativas referentes agrave aacuterea da sauacutede sob a

perspectiva do CEIS junto agrave Unasul seraacute aprofundada no decorrer do capiacutetulo

V

23 Aacutefrica

A poliacutetica externa do Brasil mais notadamente a partir do seacuteculo XXI

vem reconhecendo a relaccedilatildeo com a Aacutefrica como prioridade estrateacutegica A

intensificaccedilatildeo dessa relaccedilatildeo estaacute inserida na prioridade mais ampliada que foi

conferida pelo Governo brasileiro nas suas relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Segundo aponta Celso Amorim no prefaacutecio do livro de Carneiro 91 (p9)

com o objetivo de contribuir para a promoccedilatildeo do desenvolvimento de paiacuteses

mais pobres os mecanismos de cooperaccedilatildeo Sul-Sul satildeo instrumentos com os

quais o Brasil vem atuando de forma cada vez mais significativa o que para

Amorim ldquotranscende o campo diplomaacuteticordquo e busca alcanccedilar uma perspectiva

humaniacutestica da poliacutetica internacional

162

Em uma dimensatildeo mais ampliada dado o comprometimento do governo

brasileiro com a integraccedilatildeo sul-americana o Brasil acolheu o interesse

manifestado pelo entatildeo presidente da Nigeacuteria que recebendo a visita do

presidente Lula ao seu paiacutes em abril de 2005 sugeriu o estabelecimento de um

mecanismo de aproximaccedilatildeo dos paiacuteses africanos com o Brasil

Daiacute surge a iniciativa que efetivamente buscou envolver os paiacuteses dos

dois continentes Segundo dados do Itamaraty 83 em novembro de 2006

ocorreu a I Cuacutepula Ameacuterica do Sul ndash Aacutefrica (ASA) em Abuja Nigeacuteria resultando

na Declaraccedilatildeo de Abuja no Plano de Accedilatildeo de Abuja e na Resoluccedilatildeo que criou

o Foacuterum de Cooperaccedilatildeo Ameacuterica do Sul-Aacutefrica Desses movimentos resultou a

previsatildeo de encontros de Chefes de Estado e Governo a cada dois anos

encontros de chanceleres entre cada Cuacutepula e outros encontros inclusive

ministeriais setoriais

Eacute portanto um Foacuterum intergovernamental natildeo possuindo capacidade

operativa uma vez que tem como objetivo incrementar articulaccedilotildees e a

execuccedilatildeo dos projetos relacionados sendo estabelecido com o propoacutesito de

promover melhor entendimento diaacutelogo e cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses-

membros A ASA reflete a constituiccedilatildeo da gradual ascensatildeo dos paiacuteses em

desenvolvimento no cenaacuterio poliacutetico e econocircmico internacional que por meio

de foacuteruns inter-regionais ou multilaterais contribuem para que haja uma reforma

da estrutura do poder mundial e para o estabelecimento de uma ordem menos

centralizada mais multipolar e mais democraacutetica [99] Tendo como objetivos a

promoccedilatildeo da aproximaccedilatildeo do diaacutelogo poliacutetico do entendimento e a

cooperaccedilatildeo entre os Estados-Membros aleacutem da exploraccedilatildeo das

potencialidades de cooperaccedilatildeo multidisciplinar dentre os quais emerge a

questatildeo sauacutede

Segundo o Itamaraty o Brasil foi anfitriatildeo de quatro reuniotildees do Comitecirc

Consultivo de Embaixadores da ASA sendo que a uacuteltima ocorreu em setembro

de 2010 refletindo o dinamismo do Paiacutes nas accedilotildees de convergecircncia entre os

dois continentes

99

Disponiacutevel em wwwmregovbr

163

Ademais no campo bilateral o Brasil prioriza as relaccedilotildees com os paiacuteses

do continente africano tanto pela busca de cooperaccedilatildeo econocircmica e pela

coordenaccedilatildeo em questotildees de agenda internacional assim como pelo propoacutesito

marcado pelo histoacuterico da aproximaccedilatildeo com o continente e tambeacutem por

questotildees de inspiraccedilatildeo humanitaacuteria A aproximaccedilatildeo com a Aacutefrica natildeo se esgota

no plano bilateral compreendendo tambeacutem a esfera multilateral africana [100]

O fortalecimento da presenccedila diplomaacutetica brasileira no continente

africano eacute reflexo do interesse e da priorizaccedilatildeo do governo brasileiro junto a

esse continente O que pode ser atestado na reportagem da BBC Brasil [101]

ao relatar a forte presenccedila da diplomacia brasileira representada pela

quantidade de embaixadas no continente Em relaccedilatildeo agraves 54 naccedilotildees africanas

o Paiacutes tem atualmente embaixadas em 37 delas ldquodas quais 19 foram

inauguradas desde o iniacutecio do governo Lulardquo Eacute o quinto Paiacutes com maior

presenccedila diplomaacutetica na Aacutefrica soacute perdendo para Estados Unidos que

comporta com 49 missotildees China com 48 Franccedila com 46 e Ruacutessia com 38 Se

considerarmos os paiacuteses do eixo Sul-Sul o Brasil ganha maior dinamismo ao

se destacar nessa relaccedilatildeo

Por outro lado conforme atesta a reportagem o movimento inverso eacute

tambeacutem significativo Desde 2003 somando-se agraves 16 missotildees que jaacute existiam

no Brasil foram inauguradas mais 17 missotildees dos paiacuteses africanos

A construccedilatildeo de parcerias com os paiacuteses africanos vem sendo

conduzida pela diplomacia brasileira de forma soacutelida e estruturante em que as

100 Em estreita relaccedilatildeo com a Uniatildeo Africana (UA) A UA facilita a implementaccedilatildeo das

atividades de cooperaccedilatildeo entre Brasil e paiacuteses partiacutecipes atuando como mediadora e promotora do Brasil

como parceiro preferencial A UA instituiacuteda em julho de 2001 eacute composta por todos os Estados

africanos agrave exceccedilatildeo do Marrocos totalizando 53 membros Tem como propoacutesitos acelerar o processo de

integraccedilatildeo regional promover e consolidar a unidade do continente fomentar a uniatildeo a solidariedade e a

coesatildeo eliminar o flagelo dos conflitos e habilitar a Aacutefrica a fazer face aos desenvolvimentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais da ordem internacional Disponiacutevel em wwwmregovbr Acesso em 30 de maio de

2012

101 BBC Brasil Disponiacutevel em

httpwwwbbccoukportuguesenoticias201110111017_diplomacia_africa_br_jfshtmls

164

relaccedilotildees satildeo construiacutedas de forma participativa em uma perspectiva horizontal

entre iguais

Ainda de acordo com a reportagem a despeito dos bons resultados

comerciais brasileiros alcanccedilados nos uacuteltimos anos e o fato de a Aacutefrica abrigar

um sexto da populaccedilatildeo mundial estar sob os holofotes da China - que deteacutem

grande interesse na regiatildeo - e com previsatildeo de crescimento nas proacuteximas

deacutecadas existem criacuteticas recebidas pelo governo brasileiro em apostar a sua

poliacutetica externa agraves relaccedilotildees com paiacuteses subdesenvolvidos Entretanto eacute uma

aposta que merece ser cuidadosamente cultivada dado o compartilhamento

dos laccedilos histoacutericos eacutetnicos e culturais a poliacutetica adotada pelo Brasil de

alcance global na busca pela soluccedilatildeo agrave fome e pela diminuiccedilatildeo das

desigualdades socioeconocircmicas a semelhanccedila dos propoacutesitos e do

compartilhamento dos problemas brasileiros e principalmente dada a poliacutetica

externa do Brasil que busca alcanccedilar uma dimensatildeo humana da poliacutetica

internacional

Tambeacutem focada nessa perspectiva a Comunidade dos Paiacuteses de

Liacutengua Portuguesa - CPLP que engloba os Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial

Portuguesa (Angola Cabo Verde Guineacute Bissau Moccedilambique e Satildeo Tomeacute e

Priacutencipe) - PALOP aleacutem do Brasil Portugal e Timor-Leste foi criada em 1996

constituindo-se em foro privilegiado ligados pela liacutengua comum em que em

todas as instacircncias deliberativas privilegiam-se as decisotildees tomadas em

consenso

Segundo o portal do Itamaraty a CPLP tem trecircs objetivos gerais (1) a

concertaccedilatildeo poliacutetico-diplomaacutetica isto eacute a promoccedilatildeo da concertaccedilatildeo de

posiccedilotildees em relaccedilatildeo a temas da agenda internacional o apoio muacutetuo a

candidaturas a cargos em organismos internacionais e ao fortalecimento

institucional dos paiacuteses membros (PALOP e Timor Leste) (2) a cooperaccedilatildeo em

todos os domiacutenios em particular aqueles que sejam estrateacutegicos para o

desenvolvimento econocircmico e social dos PALOP e Timor Leste em bases

sustentaacuteveis e (3) a promoccedilatildeo e difusatildeo da Liacutengua Portuguesa

Ainda segundo o Itamaraty na aacuterea da cooperaccedilatildeo busca-se a

promoccedilatildeo de projetos que visem ao fortalecimento dos paiacuteses membros

165

capacitando os PALOP e o Timor Leste em aacutereas estrateacutegicas para seu

desenvolvimento socioeconocircmico como por exemplo a aacuterea da sauacutede O

Brasil com base na identificaccedilatildeo histoacuterico-cultural somado ao fato de possuir

ldquoexpertiserdquo e compartilhar conhecimentos em setores estrateacutegicos para o

desenvolvimento econocircmico e social vem exercendo papel fundamental na

consolidaccedilatildeo de benefiacutecios fundamentais para o fortalecimento da capacidade

institucional dos paiacuteses africanos

Nesse sentido a cooperaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede se insere na estrateacutegia

do relacionamento do Brasil com o continente africano em termos gerais

promovida como poliacutetica de Estado principalmente a partir do Governo Lula

Nessa perspectiva o principal diferencial tem sido o alto grau de prioridade que

os mais diversos oacutergatildeos do Estado brasileiro tecircm dado agrave cooperaccedilatildeo com a

Aacutefrica A Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz [102] vem se destacando na difusatildeo de

conhecimento no fortalecimento das atividades de cooperaccedilatildeo teacutecnica na aacuterea

da sauacutede e da ciecircncia e tecnologia em sauacutede na implantaccedilatildeo de projetos

estrateacutegicos para a aacuterea da sauacutede e na respectiva capacitaccedilatildeo profissional dos

paiacuteses africanos fundamentada principalmente pelo Plano Estrateacutegico de

Cooperaccedilatildeo em Sauacutede da CPLP ndash PECSCPLP adotada em 2009 [103]

Essa relaccedilatildeo brasileira com o continente africano tanto sob o enfoque

bilateral quanto em bases comunitaacuterias e multilaterais consolidam o paradigma

da cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Conforme destaca o portal do Itamaraty ldquoas ldquovantagens comparativasrdquo

do Brasil como prestador de cooperaccedilatildeo teacutecnica aos PALOP tecircm levado

doadores tradicionais bilaterais e multilaterais a manifestarem interesse em

projetos de triangulaccedilatildeo com o Brasil nesses paiacuteses

102

Instituiccedilatildeo vinculada ao Ministeacuterio da Sauacutede reconhecida nacional e internacionalmente e

considerada como instituiccedilatildeo puacuteblica estrateacutegica de Estado para a sauacutede

103

Quanto ao aprofundamento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees em sauacutede no que se refere ao continente

africanoseraacute considerada a mesma metodologia adotada por este estudo agraves questotildees do Mercosul e da

Unasul seratildeo apresentadas nos capiacutetulos subsequentes

166

24 Cooperaccedilatildeo Triangular

Exemplos de cooperaccedilatildeo triangular do Brasil com outros paiacuteses em

desenvolvimento vecircm ganhando espaccedilo na agenda contemporacircnea inclusive

tendo sido um dos projetos premiados pelas Naccedilotildees Unidas como melhor

projeto de CSS em 2006 ldquoColeta de Resiacuteduos Soacutelidosrdquo financiado pelo Foacuterum

de Diaacutelogo Iacutendia Brasil e Aacutefrica do Sul (IBAS) e beneficiando o Haiti Pode ser

citada tambeacutem a reconstruccedilatildeo de posto de sauacutede em Cabo Verde [104] 92 Essa

relaccedilatildeo acrescenta a representaccedilatildeo de oportunidades de promoccedilatildeo de

aprendizado pelas experiecircncias do desenvolvimento e tambeacutem maximiza

recursos capacidades e conhecimento

Ademais destaca-se a atuaccedilatildeo brasileira junto agraves iniciativas com

organizaccedilotildees internacionais e paiacuteses desenvolvidos que financiam ou oferecem

conhecimento especiacutefico para serem transferidos para paiacuteses menos

desenvolvidos Inseridos na cooperaccedilatildeo triangular podemos citar como

exemplo a relaccedilatildeo do Brasil com o Haiti e o Canadaacute nas accedilotildees de imunizaccedilatildeo

Para Herlt [105] compotildeem a cooperaccedilatildeo triangular projetos estruturantes

cujo objetivo eacute apoiar e fortalecer processos e mudanccedilas nacionais Trata-se

de uma cooperaccedilatildeo entre governos focada nas estrateacutegias poliacuteticas nacionais

cuja participaccedilatildeo da sociedade civil eacute presente Segundo a apresentadora o

grande diferencial eacute relacionado aos princiacutepios que a regem Isto eacute a

horizontalidade a apropriaccedilatildeo pelo paiacutes beneficiaacuterio a sustentabilidade e a

intersetorialidade Eacute como se posiciona o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores do

Brasil conforme portal do Itamaraty diferenciando o Paiacutes na modalidade da

cooperaccedilatildeo teacutecnica internacional

ldquoa cooperaccedilatildeo trilateral natildeo representa modalidade que visa o financiamento ou a terceirizaccedilatildeo da capacidade brasileira senatildeo o compartilhamento de recursos teacutecnicos humanos e financeiros de forma complementar entre os parceiros para a realizaccedilatildeo de

104

Fonte wwwitamaratygovbr

105

Herlt C Apresentaccedilatildeo ―Cooperaccedilatildeo triangular o papel das parcerias na cooperaccedilatildeo Sul-Sul

In Foacuterum Sul-Americano de Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede no Rio de Janeiro em 24112011

167

projetos com maior efeito positivo e sustentabilidade nos paiacuteses beneficiaacuteriosrdquo

Quanto agrave divisatildeo de responsabilidades entre os paiacuteses normalmente

cabem agravequeles mais desenvolvidos participar com o conhecimento fomentos

tecnologias dentre outras atividades que requerem uma maior especializaccedilatildeo

Aos menos favorecidos a responsabilidade eacute com a estrutura e a

disponibilidade interna

Segundo o observador permanente da Partners in Population and

Development (PPD) junto agrave ONU Sethuramiah Rao [106] a cooperaccedilatildeo Sul-Sul

e a cooperaccedilatildeo triangular para o desenvolvimento representam atualmente

cerca de 10 da cooperaccedilatildeo total ao desenvolvimento em que o Brasil

juntamente com China Iacutendia e Aacutefrica do Sul eacute um dos principais paiacuteses que

respondem pela contribuiccedilatildeo a essas cooperaccedilotildees

Isso posto tem-se na cooperaccedilatildeo triangular a capacidade de

intercambiar experiecircncias reunindo vantagens comparativas dos parceiros e

pactuar etapas dos projetos de forma consensuada entre os parceiros

envolvidos (caracteriacutestica da horizontalidade) Projetos esses baseados na

demanda dos paiacuteses receptores e com a lideranccedila do paiacutes beneficiaacuterio

estimulando o desenvolvimento das capacidades locais e fortalecendo seus

processos nacionais com a integraccedilatildeo dos diversos setores incluindo a

sociedade civil estimulando inclusive a integraccedilatildeo regional (ao que atendem

aos princiacutepios da apropriaccedilatildeo pelo paiacutes beneficiaacuterio da sustentabilidade e da

intersetorialidade)

O grande desafio segundo aponta o Itamaraty [107] eacute o de articular as

accedilotildees de cooperaccedilatildeo Sul-Sul com as da cooperaccedilatildeo Norte-Sul dos paiacuteses

doadores a partir de mecanismos que sejam operacionalmente eficientes e

que valorizem as contribuiccedilotildees de cada parceiro

106

Disponiacutevel em httpenvolverdecombrnoticiascooperacao-sul-sul-acompanha-aumento-

demografico Acesso em 10052012

107

Conforme disponiacutevel em wwwitamaratygovbr

168

Em que pese maior evidecircncia na carteira de projetos a partir dos

relatoacuterios disponiacuteveis no portal do Itamaraty de temas relacionados agrave

alimentaccedilatildeo fome desenvolvimento agriacutecola meio ambiente trabalho infantil

previdecircncia social seguranccedila infraestrutura e educaccedilatildeo a sauacutede natildeo

apresenta destaque

Entretanto no que se refere agrave cooperaccedilatildeo triangular envolvendo o Brasil

na aacuterea da sauacutede o maior enfoque estaacute nas questotildees relacionadas agrave AIDS

Como exemplo apresentado por Herlt 93 tem-se a cooperaccedilatildeo firmada entre o

Brasil a Alemanha e paiacuteses parceiros no tocante ao fortalecimento do sistema

de sauacutede como um todo e agrave integraccedilatildeo horizontal da resposta ao HIV-AIDS

Em que pesem contribuiccedilotildees especiacuteficas de cada um dos paiacuteses o Brasil

nessa cooperaccedilatildeo especiacutefica tem atuaccedilatildeo na expertise teacutecnica e experiecircncia

na aacuterea do SUS em questotildees de descentralizaccedilatildeo de participaccedilatildeo de sauacutede

familiar de redes de sauacutede etc Paiacuteses do Norte como no caso da Alemanha

tem o conhecimento em gestatildeo e monitoramento de projetos Os demais

paiacuteses parceiros nesse projeto em particular paiacuteses da Ameacuterica Latina do

Caribe e da Aacutefrica isto eacute paiacuteses da relaccedilatildeo Sul-Sul entram com o

conhecimento local a infraestrutura e a logiacutestica

Outro exemplo de cooperaccedilatildeo triangular firmado com o Brasil na aacuterea da

sauacutede foi a cooperaccedilatildeo cujo objeto vacina contra Febre Amarela foi firmada

com a JICA [108] do Japatildeo com a Aacutefrica e o Brasil

Podemos destacar tambeacutem possibilidades de cooperaccedilatildeo com

organizaccedilotildees internacionais e a expansatildeo da cooperaccedilatildeo trilateral com os

paiacuteses desenvolvidos visando beneficiar as naccedilotildees mais pobres Exemplo que

pode ser citado foi o apoio dado pelo Brasil - em parceria com o Canadaacute - ao

programa haitiano de vacinaccedilatildeo contra a hepatite-B [109]

Finalmente em termos poliacuteticos os esforccedilos relacionados aos

investimentos direcionados para a efetividade da agenda Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

108

Japan International Cooperation Agency Maiores detalhes sobre a JICA disponiacuteveis em

wwwjicagojp 109

Discurso do Ministro Celso Amorim na 60ordf Assembleacuteia Mundial de Sauacutede em Genebra em

maio de 2007 (fonte wwwmregovbr)

169

natildeo encontram ressonacircncia junto aos principais atores internacionais mas tecircm

grande impacto junto agrave comunidade em desenvolvimento 70

Haacute evidentemente conflitos quantos aos interesses e expectativas entre

os distintos paiacuteses Diferentes comentaacuterios da Alemanha Japatildeo Brasil Iacutendia

abordam o discurso poliacutetico em debate ocorrido em 2010 acerca da

Cooperaccedilatildeo Sul-Sul 70

ldquoRather than focusing on the AAA let‟s learn from the perspectives of new actors and their innovationsrdquo (Alemanha) ldquoConflict between developed and developing countries on the framework that governs SSC How do we move forwardrdquo (Japatildeo) ldquoIt is a mistake to superimpose the paradigms that were established to reduce the serious shortcomings of N-S Cooperation on SSC hellipThe UN is failing to lead on SSC because it reflects the priorities of Northern donorsrdquo (India) ldquoSSC is based on principles and on the similarity of conditions among developing countries SSC should be understood in its own terms and not as a sub-category of international cooperationrdquo (Brasil)

O que nos leva a refletir sobre necessaacuterias condiccedilotildees para a efetividade

das cooperaccedilotildees seja no tocante agrave legitimidade da governanccedila da ONU seja

na tambeacutem legitimidade dos interesses dos paiacuteses do Sul e na redefiniccedilatildeo de

prioridades focadas nas necessidades dos paiacuteses envolvidos e recebedores da

cooperaccedilatildeo e natildeo em prioridades refletidas pelos doadores do Norte por

exemplo

3 Reflexotildees sobre o Papel do Brasil na Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Concluindo diante do exposto anteriormente o Brasil vem se

consolidando como um dos mais importantes protagonistas nas iniciativas da

CSS principalmente a partir da primeira deacutecada do seacuteculo XXI replicando

inclusive teacutecnicas e soluccedilotildees que tiveram impacto positivo sobre o

desenvolvimento nacional e podem ser compartilhados com paiacuteses que

apresentam desafios semelhantes Ademais a cooperaccedilatildeo promove aleacutem do

170

desenvolvimento institucional a capacidade de gestatildeo e o estiacutemulo ao

engajamento ao objeto do projeto

Nesse sentido a cooperaccedilatildeo Sul-Sul se apresenta como novo

paradigma de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento em que o conhecimento

sustenta o desenvolvimento Dessa forma o Brasil vem adotando cada vez

mais a premissa de que se faz cooperaccedilatildeo internacional Sul-Sul com o

reconhecimento da capacidade e potencialidade dos parceiros Cooperaccedilatildeo

essa que parte do princiacutepio que se faz entre iguais Abordagem essa que deixa

para traacutes o ldquoolharrdquo assistencialista da cooperaccedilatildeo em favor do domiacutenio do

objeto cooperado seja serviccedilo bem ou conhecimento

Esse novo sentido definido como cooperaccedilatildeo estruturante 94 apresenta

a perspectiva do estabelecimento de cooperaccedilotildees fundamentadas em uma

nova arquitetura pautada na relaccedilatildeo ldquoganha-ganhardquo Ganham-se

conhecimentos participaccedilatildeo efetiva trocas de experiecircncias promovem-se

pilares para uma estruturaccedilatildeo mais soacutelida e contiacutenua dos paiacuteses favorecidos e

partiacutecipes dos consensos praticados Podemos citar as cooperaccedilotildees bilaterais

e multilaterais com questotildees especiacuteficas como eacute o caso da sauacutede como por

exemplo a criaccedilatildeo de uma Rede dos Institutos Nacionais de Sauacutede da CPLP

[110]

Isso posto a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul continuaraacute se definindo por meio do

diaacutelogo poliacutetico e das praacuteticas estabelecidas entre as partes aleacutem de ser

elaborada como um espaccedilo agregador aberto para oportunidades O

compartilhamento do conhecimento eacute uma ferramenta estrateacutegica para

promover crescimento e desenvolvimento complementar agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica

e financeira Aponta entretanto a necessidade de monitoramento e avaliaccedilatildeo

dos resultados sistematicamente 70

Sua eficaacutecia depende de monitoramentos sistemaacuteticos e avaliaccedilatildeo dos

resultados para eventuais correccedilotildees de rumos A cooperaccedilatildeo deve ultrapassar

110

Fruto da reuniatildeo dos Institutos Nacionais de Sauacutede da CPLP em novembro de 2006 ocorrida

em Lisboa e organizada pela Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz (Brasil) em parceria com o Instituto de Higiene e

Medicina Tropical (Portugal) Fonte

httpwwwcplporgFilesFilercplpredessaudeDelibCPLP_SAUDEpdf Acesso em 15052012

171

o caraacuteter instrumental e eminentemente teacutecnico para se tornar estruturadora

seja na CSS seja em toda a projeccedilatildeo internacional brasileira

Os desafios para o Paiacutes estatildeo na construccedilatildeo de um modelo institucional

para a cooperaccedilatildeo brasileira que vislumbre agilidade seja participativa ofereccedila

transparecircncia e prestaccedilatildeo de contas e viabilize interligaccedilotildees e interaccedilotildees com

os distintos parceiros envolvidos seja em acircmbito local regional ou

internacional aleacutem da construccedilatildeo de um modelo coordenador com outros

paiacuteses que cooperam juntamente com o Brasil isto eacute por meio da cooperaccedilatildeo

triangular envolvendo paiacuteses desenvolvidos ou natildeo

A cooperaccedilatildeo Sul-Sul deve ser entendida por seus proacuteprios termos e

natildeo como uma subcategoria de cooperaccedilatildeo internacional Tambeacutem natildeo deve

ser definida como um estaacutegio para se tornar doador permitindo-se ao

aprendizado a partir das perspectivas de novos atores e das suas inovaccedilotildees

assim como natildeo deve ser imposta a esse tipo de cooperaccedilatildeo a

responsabilidade de suprir eventuais fracassos eou lacunas da cooperaccedilatildeo

Norte-Sul

Natildeo haacute mais como retroceder Jaacute fazem parte da realidade

contemporacircnea dos paiacuteses do eixo Sul-Sul processos de integraccedilatildeo e

cooperaccedilotildees horizontes e estruturantes principalmente paiacuteses da Ameacuterica

Latina que projetam uma maior participaccedilatildeo no tabuleiro geopoliacutetico mundial e

dependem dessa concepccedilatildeo integradora e fortalecedora

Por outro lado eacute de vital importacircncia a busca pelo contiacutenuo

fortalecimento do desenvolvimento seja por mecanismos exoacutegenos ou

endoacutegenos e nesse sentido natildeo basta compartilhar eacute necessaacuterio obter

conhecimentos estruturar-se aumentar a sua capacidade de governanccedila de

produccedilatildeo e de inovaccedilatildeo Isto eacute a cooperaccedilatildeo Sul-Sul natildeo se manteacutem em longo

prazo se natildeo houver nos paiacuteses liacutederes do Sul um sustentaacutevel grau de

desenvolvimento (em PampD) que permita autonomia tecnoloacutegica para que de

fato se efetive e sustente a cooperaccedilatildeo Sul-Sul Enquanto natildeo houver essa

lideranccedila natildeo deve ser descartado o benefiacutecio da relaccedilatildeo Norte Sul

privilegiando nessa relaccedilatildeo os interesses dos paiacuteses do sul quanto agrave

transferecircncia de conhecimentos e capacitaccedilatildeo Logo a relaccedilatildeo Norte-Sul-Sul eacute

172

fundamental para a capacitaccedilatildeo dos paiacuteses do Sul de maneira que seus

resultados positivos se sustentem em longo prazo e natildeo se tornem inoacutecuos no

meio do caminho

Ademais questotildees como desigualdade socioeconocircmica pobreza fome

satildeo desafios que precisam ser ultrapassados A sauacutede correlaciona-se a essas

questotildees tanto como igualmente viacutetima assim como potencial aacuterea para

crescimento bem-estar e desenvolvimento

O viacutenculo entre o desenvolvimento dos sistemas nacionais de sauacutede e o

acesso universal a medicamentos e a outros insumos para a sauacutede apontam

como estrateacutegico o estabelecimento e o fortalecimento do Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede

Sistemas de sauacutede satildeo estruturas tecnoloacutegicas complexas ndash

dependentes de equipamentos meacutedico-ciruacutergicos medicamentos vacinas kits

para diagnoacutestico oacuterteses e proacuteteses sangue e hemoderivados materiais de

consumo insumos diversos e instalaccedilotildees especializadas 390 E satildeo caras Os

paiacuteses do Sul apresentam preocupante deacuteficit na balanccedila comercial referente

aos bens e produtos do CEIS

E nessa perspectiva em que se busca aliar questotildees econocircmicas agraves

necessidades de sauacutede ndash como direito do ser humano - o Precircmio Nobel de

Economia Joseph Stiglitz 95 reforccedila que em um periacuteodo de reflexotildees e

decisotildees decorrentes do encontro mundial dos liacutederes em sauacutede dos paiacuteses

signataacuterios da OMS o sistema de inovaccedilatildeo requer reformas amplas na esfera

internacional

A Organizaccedilatildeo divulgou relatoacuterio do Consultative Expert Working Group-

CEWG ldquoPesquisa e desenvolvimento para fazer frente agraves necessidades do

setor de sauacutede nos paiacuteses em desenvolvimentordquo que recomenda soluccedilotildees com

abordagens abrangentes como por exemplo ldquocontribuiccedilotildees obrigatoacuterias dos

governos para pesquisas sobre as necessidades dessas naccedilotildeesrdquo e um

ldquoobservatoacuterio global que monitoraria onde estatildeo as maiores necessidadesrdquo

Accedilotildees essas que segundo Stiglitz 95 devem ser pautadas primordialmente

sob a promoccedilatildeo de maior compartilhamento do conhecimento cientiacutefico A

173

Resoluccedilatildeo aprovada na 65ordf AMS [111] acerca do financiamento global da

pesquisa para a geraccedilatildeo de novos medicamentos e vacinas tanto de interesse

brasileiro quanto de outros paiacuteses em desenvolvimento estaacute pautada em

entendimentos sobre correlaccedilotildees entre sauacutede puacuteblica inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e

poliacuteticas de propriedade intelectual [112]

Os resultados das pesquisas provenientes de recursos aplicados aos

objetivos da Estrateacutegia Global e do respectivo plano de accedilatildeo seratildeo tratados

como ldquobens puacuteblicos globais contribuindo para desvincular o custo da pesquisa

do preccedilo do medicamentordquo 67 A despeito das dificuldades concretas e de natildeo

abordar mudanccedilas estruturais relacionadas agrave ordem econocircmica e poliacutetica

assimeacutetrica os autores avanccedilam ao propor que a adoccedilatildeo de um instrumento

global dessa natureza representaraacute um elo virtuoso entre modelos de

incentivos a sauacutede puacuteblica e a poliacutetica tecnoloacutegica brasileira angariando para

o Brasil recursos estrateacutegicos para o Complexo Industrial da Sauacutede e novos

parceiros para a busca de soluccedilotildees tecnoloacutegicas

O Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede emerge portanto como

diferencial no enfrentamento das vulnerabilidades decorrentes da fraacutegil ou ateacute

mesmo ausecircncia de uma base concreta produtiva tecnoloacutegica endoacutegena nos

paiacuteses em desenvolvimento Para o Brasil o CEIS representa a possibilidade

de reverter o que Buss e Chamas 67 destacam em seu artigo que o Foacuterum

Global para a Pesquisa em Sauacutede cunhou em 1998 como o gap 1090

111

Em conformidade com Buss e Chamas em artigo publicado no Valor Econocircmico em 310812

―com a aprovaccedilatildeo da resoluccedilatildeo pela AMS de 2012 que acolheu o relatoacuterio do CEWG foram

estabelecidas algumas metas Ainda segundo o artigo as propostas do relatoacuterio do CEWG seratildeo

discutidas e analisadas por meio de consultas em niacuteveis nacional regional e global com vistas a

posteriores avaliaccedilotildees na AMS de 2013 O que representaoportunidades para aprimoramento em niacutevel

ampliado e correccedilotildees de rumos e ajustes para uma efetiva aplicabilidade com vistas agrave eficiecircncia e eficaacutecia

das propostas do relatoacuterio

112 Em termos histoacutericos ―em 2008 os Estados-membros da OMS aprovaram a Estrateacutegia

Global e um Plano de Accedilatildeo sobre Sauacutede Puacuteblica Inovaccedilatildeo e Propriedade Intelectual um acordo poliacutetico

e teacutecnico para orientar a geraccedilatildeo a produccedilatildeo e o acesso de soluccedilotildees terapecircuticas satisfatoacuterias a

populaccedilotildees negligenciadas Para subsidiar a implementaccedilatildeo da Estrateacutegia foi criado o Grupo Consultivo

de Especialistas em Pesquisa e Desenvolvimento Financiamento e Coordenaccedilatildeo (CEWG em inglecircs) que

produziu ―um relatoacuterio (disponiacutevel em wwwwhointphinewscewg_2011en) com recomendaccedilotildees

inovadoras que incluem a criaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo governamental obrigatoacuteria de 001 do PIB para todos

os paiacuteses distribuindo-se de modo mais equilibrado as responsabilidades Estes recursos deveratildeo ser

aplicados em PampD em situaccedilotildees nas quais a tecnologia natildeo existe ou natildeo eacute a mais adequada ou o preccedilo do

produto natildeo eacute compatiacutevel com a realidade econocircmica dos paiacuteses em desenvolvimento 67

174

indicando que apenas 10 da pesquisa era dedicada aos problemas de sauacutede

de 90 da populaccedilatildeo mundialrdquo e que a despeito dos avanccedilos jaacute conquistados

os problemas persistem natildeo soacute se restringindo agraves doenccedilas negligenciadas

Portanto questotildees como o crescente (e insustentaacutevel) deacuteficit da balanccedila

comercial da sauacutede 5 a corrente crise da induacutestria farmacecircutica (em funccedilatildeo do

decliacutenio no nuacutemero de novas moleacuteculas aprovadas e as patentes de

blockbusters expiraacuteveis em curto prazo e natildeo substituiacutedas) e a preferecircncia por

doenccedilas crocircnicas do que por antibioacuteticos e vacinas (ldquoem que se identifica uma

disseminaccedilatildeo de bacteacuterias resistentes agraves prescriccedilotildees disponiacuteveisrdquo) satildeo falhas

de mercado 67 que representam vulnerabilidades que podem se tornar

resistentes e ldquofataisrdquo se natildeo combatidas em niacuteveis nacionais e globais

Nesse sentido considera-se que o CEIS se apresenta como diferencial

na conduccedilatildeo da poliacutetica nacional de sauacutede de paiacuteses em desenvolvimento

notadamente no Brasil e dada a sua representatividade em niacutevel global eacute

tema que se incorpora agraves discussotildees das relaccedilotildees internacionais e da poliacutetica

externa do nosso Paiacutes e dos demais paiacuteses desenvolvidos ou natildeo

175

CAPIacuteTULO IV - CEIS O PAPEL DO ESTADO NA INOVACcedilAtildeO E NO CAMPO DA COOPERACcedilAtildeO INTERNACIONAL EM SAUacuteDE

NA AGENDA SUL-SUL

Em termos econocircmicos a sauacutede no Brasil representa 88 do PIB 96

constitui um mercado anual de mais de R$ 173 bilhotildees ou seja 62 do valor

adicionado total da economia em 2009 96 empregando com trabalhos

qualificados cerca de 10 da populaccedilatildeo brasileira com viacutenculos empregatiacutecios

formais 23497 e investe 25 dos gastos em PampD 98 sendo a aacuterea com os mais

expressivos investimentos com pesquisa e desenvolvimento O setor sauacutede

junto com o de defesa de acordo com Gadelha 3 ocupa posiccedilatildeo de lideranccedila

quanto ao investimento para a geraccedilatildeo de conhecimento em PampD

transformando-o em importante catalisador de inovaccedilatildeo configurando-se como

grande diferencial na capacidade competitiva nacional 97 notadamente em

ambiente marcado pela globalizaccedilatildeo

1 CEIS Estado e Inovaccedilatildeo Sauacutede e Desenvolvimento

A partir do perfil apresentado inserindo-se a sauacutede na trajetoacuteria

nacional de desenvolvimento natildeo somente como direito de cidadania mas

tambeacutem como uma aacuterea estrateacutegica de desenvolvimento nacional tem-se na

convivecircncia desse duplo valor a forte influecircncia provocada pela dinacircmica

trazida pela globalizaccedilatildeo com caracteriacutesticas assimeacutetricas e com forte

competitividade embutida em seu contexto

O desafio estaacute portanto em tentar associar as dinacircmicas da induacutestria

da inovaccedilatildeo e das instituiccedilotildees do setor sauacutede em um contexto de constante

transformaccedilatildeo industrial e institucional Ou seja cabe ao Estado inserido na

loacutegica intersetorial da sauacutede o papel de promotor e dinamizador da articulaccedilatildeo

176

entre as dimensotildees sanitaacuterias e econocircmicas onde a demanda pela accedilatildeo social

estatal promove a dinacircmica da dimensatildeo econocircmica

O Estado portanto eacute ator essencial na promoccedilatildeo da articulaccedilatildeo da

sauacutede com o sistema de inovaccedilatildeo exercendo o equiliacutebrio necessaacuterio para a

correlaccedilatildeo de forccedilas entre os distintos interesses e divergecircncias que

desprezam o alcance do muacutetuo benefiacutecio na articulaccedilatildeo equilibrada entre as

dimensotildees econocircmica e sanitaacuteria - tanto para o desenvolvimento da

capacidade produtiva e inovativa quanto para a garantia do bem estar e da

sauacutede do indiviacuteduo e da sociedade

No tocante agrave relaccedilatildeo entre a sauacutede e o desenvolvimento a interligaccedilatildeo

entre as duas aacutereas ganha distintas vertentes de anaacutelise que incorporam e

posicionam o campo da sauacutede no campo do desenvolvimento econocircmico 5

Argumentos analiacuteticos que em maior ou menor intensidade justificam a sauacutede

como estrateacutegica e vital para o desenvolvimento nacional pela loacutegica das

poliacuteticas econocircmica e social

Portanto em um esforccedilo de conjunccedilatildeo dessas dimensotildees analiacuteticas os

autores relacionam e analisam sete vertentes partindo da transversalidade da

sauacutede na qualidade de vida e na geraccedilatildeo de bem-estar agrave interaccedilatildeo da sauacutede

com a geopoliacutetica internacional

Primeiramente destacam a transversalidade da sauacutede na qualidade de

vida na geraccedilatildeo de bem-estar promoccedilatildeo de equidade e de inclusatildeo social

demandando ldquoampliaccedilatildeo dos esforccedilos e dos investimentos setoriais e a

confluecircncia e a articulaccedilatildeo entre diversas poliacuteticasrdquo 5 (p 3005) fundamental na

qualidade de vida e componente de intervenccedilatildeo puacuteblica na aacuterea social 5

remetendo-se portanto ao padratildeo nacional de desenvolvimento econocircmico e

social

A segunda vertente passa pela defesa da visatildeo da sauacutede na essecircncia do

desenvolvimento e na evoluccedilatildeo da taxa de investimento ldquocomo uma das

variaacuteveis da funccedilatildeo de produccedilatildeo que explica o crescimento econocircmico medido

pela renda per capita em longo prazordquo 5 (p 3006) inserida portanto na

177

conformaccedilatildeo do ldquoambiente soacutecio-institucional indutor de crescimento

econocircmico e de investimentosrdquo (p3005)

A terceira vertente de anaacutelise incorporando a sauacutede na sua relaccedilatildeo com

o desenvolvimento cujo escopo do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

[113] [114] passa pela interaccedilatildeo entre os segmentos industriais e de serviccedilos

com ldquopotencial para alavancar aacutereas-chave da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso

[115] sendo estrateacutegico para o desenvolvimento das regiotildees e dos paiacuteses 23 e

criando oportunidade de aliar a loacutegica econocircmica com a socialrdquo 5 (p 3006)

A quarta vertente de anaacutelise insere a sauacutede na conformaccedilatildeo dos

sistemas de proteccedilatildeo social onde a descontemporaneidade dos processos de

desmercantilizaccedilatildeo da sauacutede (sauacutede como direito onde a responsabilizaccedilatildeo

social se daacute por parte do Estado) e a mercantilizaccedilatildeo da oferta e a acumulaccedilatildeo

de capital (sauacutede como bem econocircmico sob a conformaccedilatildeo do Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede) produziu no Brasil uma situaccedilatildeo que natildeo foi

capaz de romper com a natureza dual do sistema de sauacutede brasileiro 99

convivendo de forma complexa e contraditoacuteria nos distintos sistemas de sauacutede

[116] dificultando a constituiccedilatildeo de um sistema que efetivamente garanta o

acesso agrave sauacutede como direito social

Para os autores haacute muito que se avanccedilar dado que os reflexos da

liberalizaccedilatildeo da economia se estabeleceram na conformaccedilatildeo dos sistemas de

proteccedilatildeo social Dessa forma tem o Estado a responsabilizaccedilatildeo poliacutetica e

socioeconocircmica e a determinaccedilatildeo que o crescimento acelerado de acumulaccedilatildeo

de capital das induacutestrias da sauacutede se efetive num ldquomovimento mais abrangente

113

O Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede (CEIS) tem em sua terminologia a

caracterizaccedilatildeo a partir de um conjunto selecionado de atividades produtivas que mantecircm relaccedilotildees

intersetoriais de compra e venda de bens e serviccedilos e (ou) de conhecimentos e tecnologias 5

114

A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo e a financeirizaccedilatildeo da economia mundial propiciaram

a formaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo do Complexo da Sauacutede 99

115

Definidos como as aacutereas da microeletrocircnica biotecnologia quiacutemica fina novos materiais

nanotecnologia mecacircnica de precisatildeo 5

116

No Brasil a diretriz da universalizaccedilatildeo desse sistema ―estabeleceu-se com o mercado privado

jaacute consolidado e razoavelmente organizado pautando as demandas tecnoloacutegicas e pressionando custos 5

(p 3005)

178

que integra natildeo soacute a demanda de serviccedilos insumos e produtos mas tambeacutem

consolida um determinado modelo de intervenccedilatildeo do Estado na aacuterea socialrdquo 5

(p3006)

Gadelha e demais autores 5 (p3005) apresentam como a quinta vertente

de anaacutelise que insere a sauacutede na relaccedilatildeo com o desenvolvimento o fato de ser

a sauacutede uma ldquoaacuterea que ao mobilizar uma magnitude expressiva da renda e da

riqueza dos paiacuteses reuacutene interesses diversos que acentuam a disputa pelo

poder na definiccedilatildeo das diretrizes poliacuteticas da sauacutederdquo Isto eacute ldquoos interesses do

capital continuam a pautar preponderantemente a dinacircmica desses setores

produtivosrdquo (p 3006)

A sexta vertente de anaacutelise que incorpora a sauacutede na sua relaccedilatildeo com o

desenvolvimento eacute apontada na articulaccedilatildeo poliacutetico-institucional com o

envolvimento de diferentes esferas de governo e com a sociedade civil 5 Isto eacute

no que diz respeito ao processo de formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo das poliacuteticas

a sauacutede ainda tem encontrado resistecircncias que precisam ser superadas para a

efetivaccedilatildeo das suas bases socioprodutivas e institucionais [117] 5 (p 3005)

Articulaccedilatildeo que natildeo fica restrita ao cenaacuterio local A interligaccedilatildeo da sauacutede

com o desenvolvimento ultrapassa as fronteiras nacionais ganhando maior

destaque e influenciando cada vez mais a conduccedilatildeo da poliacutetica externa na

geopoliacutetica internacional

Finalmente no caso do Brasil Gadelha Machado Lima e Baptista 5

apresentam em seu artigo o que seria para eles a seacutetima de sete vertentes da

anaacutelise na relaccedilatildeo da sauacutede com o desenvolvimento isto eacute a sauacutede se

destacando como aacuterea estrateacutegica notadamente na ldquointegraccedilatildeo de paiacuteses de

uma mesma regiatildeo ou continente como eacute o caso do Mercosul e da Ameacuterica do

Sulrdquo [118] 1005 (p3005)

117

Brandatildeo CA Costa EJM Alves MAS Construir o espaccedilo supralocal de articulaccedilatildeo

socioprodutiva e das estrateacutegias de desenvolvimento os novos arranjos institucionais In Diniz CC

Crocco M organizadores Economia regional e urbana contribuiccedilotildees teoacutericas recentes Belo Horizonte

Editora UFMG 2006 p 195-224 118

E Draibe SM Coesatildeo social e integraccedilatildeo regional aagenda social do Mercosul e os grandes

desafios das poliacuteticas sociais integradas Cad Sauacutede Publica 2007 23(Supl2)174-183

179

Entretanto segundo os autores ainda haacute muito que percorrer para que a

sauacutede se efetive totalmente na consolidaccedilatildeo da integraccedilatildeo regional eou

continental Priorizaccedilotildees poliacuteticas institucionais e diplomaacuteticas ainda natildeo

encontraram equiliacutebrio entre os distintos interesses estatais Ademais a crise

econocircmica atual somada aos ateacute entatildeo recursos econocircmicos existentes em

cada uma das naccedilotildees da Ameacuterica do Sul trouxe limitaccedilotildees financeiras para os

orccedilamentos dos paiacuteses dificultando a priorizaccedilatildeo desse tema na poliacutetica

externa de cada paiacutes

Portanto inserido em um contexto de globalizaccedilatildeo assimeacutetrica com

resultados impactantes na potencializaccedilatildeo de mudanccedilas estruturais o

complexo de segmentos produtivos em relaccedilatildeo iacutentima com os segmentos de

serviccedilos sociais tem como determinantes o conhecimento e a inovaccedilatildeo para o

dinamismo do desenvolvimento econocircmico com a regecircncia do Estado em

estreita articulaccedilatildeo com os esforccedilos puacuteblicos e privados

O CEIS se insere em um espaccedilo institucional e econocircmico particular de

difiacutecil equiliacutebrio dado a complexidade observada entre as abordagens

apresentadas e entre os heterogecircneos interesses da loacutegica empresarial e das

necessidades da sauacutede Traduz-se portanto sob duas plataformas ndash loacutegica

empresarial e proteccedilatildeo social

No Brasil o CEIS envolve um conjunto de atividades produtivas e de

serviccedilos que pautam uma relaccedilatildeo sistecircmica entre os setores industriais

(subsistema de base quiacutemica e biotecnoloacutegica) - induacutestrias de faacutermacos e

medicamentos vacinas hemoderivados e reagentes para diagnoacutestico - e de

base mecacircnica eletrocircnica e de materiais ndash equipamentos mecacircnicos

equipamentos eletroeletrocircnicos proacuteteses e oacuterteses e materiais de consumo

ligados a setores prestadores de serviccedilos aleacutem do conjunto de organizaccedilotildees

prestadoras de serviccedilos em sauacutede - hospitais ambulatoacuterios e serviccedilos de

diagnoacutestico e tratamento 23 Eacute portanto um conjunto selecionado de atividades

produtivas que mantecircm relaccedilotildees intersetoriais de compra e venda de bens e

serviccedilos eou de conhecimentos e tecnologias envolvendo a prestaccedilatildeo de

serviccedilos como o espaccedilo econocircmico para o qual flui toda a produccedilatildeo em sauacutede

399

180

Formado por induacutestrias fortemente inovadoras e veiacuteculos importantes de

novos paradigmas tecnoloacutegicos 2397 tem fundamentalmente como diferencial

o foco da sauacutede nas condiccedilotildees de cidadania e soberania em um espaccedilo

destacado de desenvolvimento econocircmico traduzindo a questatildeo da sauacutede

como sauacutede ndash stricto sensu ndash e como geradora de renda empregos e como

alavanca de conhecimentos e de tecnologias

Haacute de se considerar entretanto que a loacutegica empresarial dita

conveniecircncias que representam interesses conflituosos na vinculaccedilatildeo da sauacutede

com o desenvolvimento ocorrendo uma dimensatildeo heterogecircnea para a poliacutetica

da sauacutede Ora referem-se aos interesses dos que usam os serviccedilos de sauacutede

ora aos dos que os provecircem dos que pagam por eles eou daqueles que os

regulam [119] 5 Dimensatildeo essa que acaba por exercer influecircncia na formaccedilatildeo

da agenda e nas diretrizes poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede

O deacuteficit comercial cada vez mais crescente no segmento da sauacutede [120]

eacute um grande desafio que requer muacuteltiplos esforccedilos no sentido de minimizar os

riscos consequentes onde o maior peso dos produtos importados estaacute nos

bens de maior densidade de conhecimento e tecnologia aleacutem de recuperar a

perda da competitividade internacional das induacutestrias nacionais que satildeo

extremamente dependentes em setores estrateacutegicos provocando uma situaccedilatildeo

de vulnerabilidade quanto agrave garantia e agrave consolidaccedilatildeo do bem bem-estar da

populaccedilatildeo Considerando que para se manter em vigecircncia os preceitos do

SUS haacute uma total dependecircncia das oscilaccedilotildees cambiais que podem

comprometer definitivamente a existecircncia do Sistema Uacutenico de Sauacutede Haacute no

sentido de se reverter esse quadro urgecircncia no estabelecimento de estrateacutegias

nacionais na aacuterea de produccedilatildeo e desenvolvimento tecnoloacutegico de insumos

estrateacutegicos para a sauacutede

Nesse sentido em que pesem as divergecircncias existentes o CEIS

representa um ldquocaminho disponiacutevel e realrdquo para um virtuoso elo de

119

Freeman R Moran M A sauacutede na Europa In Negri B Viana ALA organizadores O SUS

em dez anos de desafio Satildeo Paulo SobravimeCealag 2002 p 45-64 apud Gadelha et al (20113006)

120Passando de US$ 700 milhotildeesano no final da deacutecada de 80 para mais de US$ 11 bilhotildees em

2010 ndash Fonte a partir da elaboraccedilatildeo dos dados do GISENSPFiocruz 2012 a partir dos dados da Rede

Alice do MDIC

181

desenvolvimento e atendimento agraves demandas soacutecio-sanitaacuterias Entretanto deve

ser considerado que o CEIS eacute uma estrutura industrial complexa Competitiva

em alguns setores poreacutem carente de uma maior capacidade tecnoloacutegica e de

inovaccedilatildeo nos segmentos que formam esse complexo E a sua existecircncia estaacute

estreitamente vinculada agrave inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e ao avanccedilo cientiacutefico Nesse

sentido natildeo eacute possiacutevel estabelecer um sistema de sauacutede avanccedilado e universal

num paiacutes com a complexidade e a dimensatildeo do Brasil se as induacutestrias

possuiacuterem fragilidades estruturais que as tornam pouco competitivas

vulneraacuteveis e dependentes do conhecimento internacional

A carecircncia por uma maior capacidade de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica aliada agrave

criacutetica situaccedilatildeo macroeconocircmica justifica a importacircncia crescente que a

inovaccedilatildeo vem adquirindo e consolida essa aacuterea como estrateacutegica para o

fortalecimento e a capacitaccedilatildeo nacional com vistas agrave competitividade

internacional

A induccedilatildeo de poliacuteticas fomentadoras do mercado nacional

representando investimento social da sauacutede em desenvolvimento e inovaccedilatildeo

ganha um olhar diferenciado para o exponencial aumento relacionado agraves

despesas com bens e insumos industriais que comprometem o interesse

puacuteblico e suas necessidades em sauacutede inviabilizando acesso a medicamentos

e tratamentos essenciais e comprometendo demais programas de sauacutede jaacute que

o ldquocobertor estaacute cada vez mais curtordquo isto eacute os recursos satildeo escassos e

vulneraacuteveis agraves dependecircncias externas cambiais e inovativas

Nessa perspectiva a formulaccedilatildeo das poliacuteticas cientiacuteficas e tecnoloacutegicas

para a aacuterea da sauacutede no Brasil ganhou maior evidecircncia a partir do final da

deacutecada de 90 e no iniacutecio do seacuteculo XXI evidenciando-se a adoccedilatildeo de novas

prioridades e ganhando destaque na agenda de CampT o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo no

setor Sauacutede

Buscou-se no Brasil reforccedilar na Ciecircncia e Tecnologia uma maneira de

promover o desenvolvimento nacional pela inovaccedilatildeo

182

Dentre as principais accedilotildees implantadas algumas merecem especial

destaque em funccedilatildeo do alcance estrateacutegico e dos desafios suplantados [121]

(a) Integraccedilatildeo entre as poliacuteticas industriais ndash PDP PITCE PACTI

(b) Promoccedilatildeo e Intensificaccedilatildeo da articulaccedilatildeo entre os atores ndash

governamentais (federal estaduais municipais) e privados

(c) Aprimoramento do marco regulatoacuterio

(d) Expansatildeo dos instrumentos de apoio e recursos aleacutem da articulaccedilatildeo

entre os fomentadores ndash FINEP e BNDES

(e) Ampliaccedilatildeo da capacidade de recursos para as instituiccedilotildees cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas e empresas

(f) Incentivo agrave promoccedilatildeo de inovaccedilatildeo para o desenvolvimento nacional

com aumento dos investimentos globais em CampT

(g) Criaccedilatildeo do Sistema Brasileiro de Tecnologia e de mais de uma centena

de Institutos Nacionais de Ciecircncia e Tecnologia

(h) Programas diversos mobilizados com foco nas principais aacutereas

estrateacutegicas para o Paiacutes dos quais destacamos o Complexo

Econocircmico-Industrial como programa mobilizador em aacutereas

estrateacutegicas

(i) Priorizaccedilatildeo de criteacuterios que fortaleccedilam a autonomia tecnoloacutegica do

Paiacutes tais como o poder de compra puacuteblica isto eacute no acircmbito de uma

poliacutetica que promova internamente atividades de PampDampI esses criteacuterios

por meio de contratos e concessotildees com o poder puacuteblico estimulam a

aquisiccedilatildeo de produccedilatildeo e serviccedilos nacionais e

(j) Fortalecimento dos sistemas produtivos em especial o Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede

Dessa forma ganha cada vez maior evidecircncia o papel do Estado para a

reversatildeo desse quadro pessimista seja na formaccedilatildeo da agenda e na

formulaccedilatildeo de poliacuteticas e programas integradas e articuladas entre os diversos

ministeacuterios e representaccedilotildees civis promovendo medidas e accedilotildees concretas

para implementaccedilatildeo do marco regulatoacuterio brasileiro referente agrave estrateacutegia de

desenvolvimento do Governo Federal para aacuterea da sauacutede

Nesse sentido com o Programa Mais Sauacutede o Plano de Accedilatildeo 2007-

2010 do MCT e a Poliacutetica de Desenvolvimento Produtivo assim como com o

receacutem-criado GECIS (12052008) aleacutem do estiacutemulo agrave capacidade produtiva e

inovativa do setor baseado inclusive no poder de compra [122] do Estado

121

Fontes wwwmctgovbr wwwmdicgovbr

122

―O poder de compra do setor puacuteblico eacute um instrumento para promoccedilatildeo do desenvolvimento

tecnoloacutegico das empresas brasileiras tanto por intermeacutedio da compra direta de produtos e processos

inovadores (como permitido pela Lei de Inovaccedilatildeo) quanto pelo estabelecimento de contrapartidas de

acesso a tecnologias na aquisiccedilatildeo pelo governo no exterior de significativos lotes de produtos ou

183

como garantia para o desenvolvimento produtivo busca-se alcanccedilar

mecanismos estrateacutegicos para a consolidaccedilatildeo de um sistema de inovaccedilatildeo

dinacircmico com efeitos diretos no desenvolvimento nacional

Isso posto a dimensatildeo tecnoloacutegica da sauacutede vem sendo definida nos

uacuteltimos anos como aacuterea estrateacutegica no acircmbito da agenda social constando

como uma das prioridades no Mais Sauacutede - PAC da Sauacutede 101 assim como

consta como prioritaacuterias a poliacutetica externa e a cooperaccedilatildeo internacional O que

marca a importacircncia da relaccedilatildeo entre a sauacutede e as relaccedilotildees internacionais

Aleacutem disso outras poliacuteticas produtivas e de geraccedilatildeo de conhecimento

conforme citaccedilotildees anteriores datildeo a centralidade da sauacutede na agenda de

desenvolvimento como o PAC da Inovaccedilatildeo 102 do Ministeacuterio da Ciecircncia e

Tecnologia a Poliacutetica de Desenvolvimento Produtivo 103 do Ministeacuterio da

Induacutestria e Comeacutercio Exterior o Plano Brasil Maior [123] 104 lanccedilado em 2011

que daacute continuidade agrave PDP e agrave Poliacutetica Industrial Tecnoloacutegica e de Comeacutercio

Exterior ndash PITCE 105 a Poliacutetica Nacional de Sauacutede 106 e a Estrateacutegia Nacional

de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo ndash ENCTI 107 do Ministeacuterio da Ciecircncia

Tecnologia e Inovaccedilatildeo

Logo busca-se inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e aproveitamento das

oportunidades no mercado brasileiro onde se faz necessaacuteria a transformaccedilatildeo

de conhecimento em produtos afinal o crescente deacuteficit da balanccedila comercial

da sauacutede representa uma enorme lacuna na aacuterea tecnoloacutegica em sauacutede Diante

disso no atual momento histoacuterico brasileiro pautado pela retomada do papel do

Estado na definiccedilatildeo de uma trajetoacuteria de desenvolvimento socialmente

inclusivo deve-se empreender poliacuteticas que apresentem uma abordagem

sistecircmica da sauacutede considerando natildeo somente a sua dimensatildeo social como

tambeacutem a econocircmica e a tecnoloacutegica inclusive sob a perspectiva do

desenvolvimento sustentaacutevel

serviccedilos Como exemplo dessa aplicaccedilatildeo aponta-se a induacutestria de produtos farmacecircuticos por ser um

dos segmentos preferenciais em funccedilatildeo das suas peculiaridades tais como ―consideraacutevel porte das

compras puacuteblicas no mercado nacional para esses produtos e a importacircncia deles para a sauacutede puacuteblica

aleacutem do fato desse setor ter sido incluiacutedo entre os prioritaacuterios da PITCE 102

123

Aproveitando a experiecircncia das poliacuteticas anteriores o Plano prevecirc um conjunto de medidas

de estiacutemulo ao investimento e agrave inovaccedilatildeo apoio ao comeacutercio exterior e defesa da induacutestria e do mercado

interno Mais detalhes wwwmdicgovbrbrasilmaior

184

Em relaccedilatildeo agrave questatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel este estudo

acrescenta agraves vertentes analisadas anteriormente uma nova abordagem

analiacutetica com base na perspectiva da equidade e do direito agrave sauacutede na agenda

global O desenvolvimento sustentaacutevel ganha terreno na interaccedilatildeo entre a

sauacutede e o desenvolvimento

A inter-relaccedilatildeo da sauacutede com o desenvolvimento tambeacutem nos remete agrave

preocupaccedilatildeo social com o uso indiscriminado do meio ambiente que ao ser

explorado de forma predatoacuteria e degradante acaba ocasionando mudanccedilas

ambientais e climaacuteticas levando a danos irreversiacuteveis agrave vida humana e agrave

sustentabilidade do planeta

Portanto eacute indissociaacutevel a correlaccedilatildeo do meio ambiente com a interaccedilatildeo

entre sauacutede e desenvolvimento Cunha 108 interpreta o meio ambiente de forma

ampla referindo-o natildeo apenas agrave natureza propriamente dita ldquomas sim a uma

realidade complexa resultante do conjunto de elementos fiacutesicos quiacutemicos

bioloacutegicos e socioeconocircmicosrdquo [124] O meio ambiente interage portanto com o

desenvolvimento das atividades humanas

E nessa perspectiva segundo destaca o autor ldquoa sauacutede tem como

fatores determinantes e condicionantes entre outros a alimentaccedilatildeo a moradia

o saneamento baacutesico o meio ambiente o trabalho a renda a educaccedilatildeo o

transporte o lazer e o acesso aos bens e serviccedilos essenciaisrdquo conforme artigo

3ordm da Lei 808090 citado por Cunha 108

Ora se a sauacutede se vincula ao acesso aos bens e serviccedilos essenciais e o

CEIS assim o propicia por meio da sua capacidade produtiva tambeacutem deve

considerar o meio ambiente como bem e fator determinante para a garantia da

sauacutede do indiviacuteduo Sob esse enfoque uma vez que danos ao meio ambiente

interferem diretamente na condiccedilatildeo da sauacutede puacuteblica eacute mister afirmar a

intriacutenseca condiccedilatildeo sine qua non da proteccedilatildeo ao meio ambiente na relaccedilatildeo

virtuosa do desenvolvimento com a sauacutede

124

Ver Cunha PR A relaccedilatildeo entre meio ambiente e sauacutede e a importacircncia dos princiacutepios da

prevenccedilatildeo e da precauccedilatildeo Jus Navigandi Teresina 2 abr 2005 10(633) Disponiacutevel em

lthttpjuscombrrevistatexto6484gt Acesso em 20 jan 2012

185

Assim corrobora McMichael e demais autores 109 (p 220) ao apontar em

sua anaacutelise os efeitos adversos provocados pela emissatildeo de gases poluentes

no clima e na sauacutede e a necessaacuteria intervenccedilatildeo para minimizar as

consequecircncias negativas da mudanccedila climaacutetica

ldquoWhile there are considerable uncertainties as the knowledge base on climate change and health impacts have grown so has interest in developing response options to reduce adverse health effects That is in addition to measures aimed at reducing greenhouse gases and slowing climate change measures can be aimed at reducing adverse effects (or exploiting beneficial effects) associated with climate change Even with reductions in greenhouse gas emissions Earth‟sclimate is expected to continue to change so that adaptation strategies are viewed as a necessary complement to mitigation actionsrdquo

Sob essas consideraccedilotildees a inovaccedilatildeo ganha portanto uma nova

perspectiva focada no desenvolvimento sustentaacutevel a partir de encadeamentos

intersetoriais e institucionais que alavanquem a proteccedilatildeo ao meio ambiente e

que simultaneamente integrem a aacuterea da sauacutede ao desenvolvimento

econocircmico e sustentaacutevel

Impactos severos agraves condiccedilotildees ambientais e por consequecircncia agrave sauacutede

puacuteblica satildeo percebidos na ausecircncia de uma visatildeo estrateacutegica que engendre

em seus programas e poliacuteticas adequaccedilatildeo da sua capacidade produtiva agraves

causas ambientais [125]

Aleacutem disso avanccedilos na tecnologia satildeo apontados como estrateacutegicos na

busca de soluccedilotildees para minimizar os danos provocados pelas condiccedilotildees

125 A relaccedilatildeo entre o meio ambiente e sauacutede eacute sustentada sob argumentos e normas legais

108

Artigo 225 da Constituiccedilatildeo Federal do Brasil Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado bem de uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder

Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildees Artigo

200 da Lei Maior que fixa algumas atribuiccedilotildees do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) dentre os quais se

menciona a fiscalizaccedilatildeo de alimentos bebidas e aacutegua para o consumo humano (inciso VI) e a colaboraccedilatildeo

na proteccedilatildeo do meio ambiente (inciso VIII) Lei Federal nordm 693881 Poliacutetica Nacional do Meio

Ambiente que tem por objetivo a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da qualidade ambiental favoraacutevel

agrave vida e portanto agrave sauacutede visando assegurar condiccedilotildees ao desenvolvimento socioeconocircmico e agrave proteccedilatildeo

da dignidade humana (artigo 2ordm) Lei nordm 808090 que aleacutem de consignar o meio ambiente como um dos

vaacuterios fatores condicionantes para a sauacutede (artigo 3ordm) prevecirc uma seacuterie de accedilotildees integradas relacionadas agrave

sauacutede meio ambiente e saneamento baacutesico

186

climaacuteticas adversas tornando-se necessariamente tecnologias portadoras de

futuro 109 (p 227)

ldquoAdvances in technology such as new drugs or diagnostic equipment can increase substantially our ability to solve health problems More generally the availability and access to technology at the individual local and national levels in key sectors (eg agriculture water resources health) is an important determinant of adaptive capacity Many of the adaptive strategies that protect human health involve technology (eg warning systems air conditioning pollution controls housing storm shelters vector control vaccination water treatment and sanitation) While much of this technology is well established (water treatment anitation) some is relatively new and still being disseminated (well-equipped mobile laboratories computer information and reporting systems which can support disease surveillance) In other cases there is a need for new Technologies (new vaccines and pesticides) to enhance the ability to cope with a changing climate Countries that are open to the use of technologies and can develop and disseminate new technologies have enhanced adaptive capacityrdquo

Portanto poliacuteticas e programas vinculados ao CEIS sob a alianccedila das

dimensotildees sanitaacuterias e econocircmicas devem exercer a necessaacuteria

responsabilizaccedilatildeo em garantir as condiccedilotildees adequadas ao meio ambiente em

prol da sauacutede puacuteblica aleacutem de buscar mecanismos tecnoloacutegicos e inovadores

que minimizem os danos provocados pelas mudanccedilas climaacuteticas agrave sauacutede local

e globalmente

Buscas essas que aleacutem de preservar a sauacutede sob os princiacutepios

ambientais e sob as expectativas climaacuteticas poderatildeo diferenciar e promover o

modelo do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede sob as discussotildees e

construccedilotildees internacionais tais como o Tratado de Quioto [126] Objetivos de

Desenvolvimento do Milecircnio a Agenda 21 [127] Conferecircncia Mundial sobre os

126

Expira em 2012 Apesar de natildeo ter alcanccedilado ecircxito no atendimento de todas as suas metas de

reduccedilatildeo das emissotildees de gases prejudiciais ao meio ambiente trouxe agrave agenda global a necessaacuteria revisatildeo

dos seus valores com o meio ambiente Haacute perspectivas de um novo tratado ou uma emenda no Tratado a

partir de 2012 127

Fruto da Conferecircncia Rio 92 Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento consagrou o conceito de desenvolvimento sustentaacutevel Busca a associaccedilatildeo mundial em

prol do desenvolvimento sustentaacutevel estabelecendo a importacircncia de que cada ente governamental reflita

(e aja) global e localmente sobre a busca de soluccedilotildees para os problemas socioambientais

187

Determinantes Sociais da Sauacutede em 2011 [128] e a Rio+20 ocorrida no Rio de

Janeiro em junho de 2012 [129]

Ressalta-se portanto a importacircncia da sauacutede na abordagem do

desenvolvimento e do meio ambiente

Finalmente a capacidade de produccedilatildeo de bens de sauacutede eacute determinante

para a capacidade soberana de um paiacutes em garantir o direito agrave sauacutede da sua

populaccedilatildeo e reduzir a vulnerabilidade da poliacutetica de sauacutede Haacute uma estreita

relaccedilatildeo entre o desenvolvimento econocircmico e a sustentabilidade da soberania

afinal quanto mais o paiacutes for desenvolvido e tiver mais autonomia mais plena

seraacute a sua soberania

Ao mesmo tempo em que um paiacutes precisa obter espaccedilo para a

conduccedilatildeo das suas poliacuteticas puacuteblicas precisa tambeacutem ampliar o seu acesso a

novos mercados e a novos conhecimentos Nesse sentido poliacuteticas nacionais

que promovam o desenvolvimento propiciam autonomia externa sustentam as

bases soberanas de um paiacutes e promovem maior autonomia no acircmbito interno

Reforccedila-se portanto como condiccedilatildeo estrateacutegica da sauacutede o seu

Complexo Econocircmico-Industrial projetando-se a discussatildeo da sauacutede no

contexto nacional mas tambeacutem inserindo o Brasil em posiccedilatildeo de maior

protagonismo no cenaacuterio internacional em que haja o reconhecimento da

sauacutede como condiccedilatildeo sine qua non para o desenvolvimento econocircmico social

e ambiental vista na sua forma mais solidaacuteria a coletiva

Em que pesem as accedilotildees coletivas na defesa do interesse do bem-estar

comum das naccedilotildees fundamento da abordagem da Sociedade Internacional

resultando em oportunidades de maior acesso agraves informaccedilotildees e agraves inovaccedilotildees

necessaacuterias para a reduccedilatildeo das condiccedilotildees de maior vulnerabilidade decorrente

de riscos sanitaacuterios e pandecircmicos eou da baixa ou nula capacidade produtiva

apontamos como conclusatildeo um grande desafio cujo pertencimento passa pela

128

Imbuiacutedo no propoacutesito de aproximar a sauacutede do desenvolvimento sustentaacutevel a Organizaccedilatildeo

Mundial da Sauacutede realizou a Conferecircncia Mundial sobre os Determinantes Sociais da Sauacutede no Rio de

Janeiro em 2011 129

A Rio+20 Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Desenvolvimento Sustentaacutevel (UNCSD)

teve como um dos objetivos avaliar o progresso alcanccedilado poacutes Rio 92 pactuando entre os Estados

Membros novas tratativas para os desafios atuais e emergentes

188

Economia Poliacutetica Internacional que eacute o fortalecimento da capacidade produtiva

nacional e o alcance de uma posiccedilatildeo competitiva em um espaccedilo de

diversidade complexidade e conflito onde intervenccedilotildees e limitaccedilotildees impostas

em foacuteruns poliacutetico-econocircmicos internacionais e supranacionais precisaratildeo ser

traduzidas repensadas e renegociadas para garantir a sauacutede como condiccedilatildeo

de bem-estar social de desenvolvimento da atividade econocircmica e de garantia

agrave soberania nacional como bases de participaccedilatildeo em um mercado altamente

globalizado

Isso posto o Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede desempenha um

papel estrateacutegico na dinamizaccedilatildeo da economia e nas articulaccedilotildees da poliacutetica

externa Tendo na atuaccedilatildeo do Estado mesmo em um espaccedilo de diversidade

complexidade e conflito onde a globalizaccedilatildeo comanda os processos

econocircmicos e sociais caraacuteter estrateacutegico e fundamental

O que ressalta a cada vez maior importacircncia da Ciecircncia Tecnologia e

da Inovaccedilatildeo na agenda das poliacuteticas interna e externa de um paiacutes Mais um

desafio a ser superado que eacute o de consolidar a sauacutede como um bem puacuteblico

integrado ao exerciacutecio da poliacutetica externa

Entretanto a despeito da grande importacircncia social e estrateacutegica para o

Estado o CEIS tem sofrido influecircncias diversas nos seus padrotildees de

desenvolvimento que natildeo especificamente na diretriz maior que abrange os

aspectos relacionados agraves condiccedilotildees de sauacutede mas mais amplamente no

tocante agrave situaccedilatildeo de desenvolvimento da naccedilatildeo em questatildeo A velocidade

crescente no avanccedilo mundial do conhecimento e o decorrente aumento da

competiccedilatildeo entre os detentores do mesmo e dos processos de inovaccedilatildeo

tecnoloacutegica satildeo variaacuteveis que influenciam diretamente o fortalecimento e a

competiccedilatildeo dos setores relacionados ao Complexo Econocircmico-Industrial da

Sauacutede

Haacute de se competir tambeacutem no plano da estrutura industrial onde os

interesses internacionais e de grandes transnacionais movimentam e

concentram o capital e a tecnologia competindo em clusters e repartindo entre

os seus pares o mercado mundial da induacutestria da sauacutede

189

Portanto a relaccedilatildeo entre as poliacuteticas nacionais com as relaccedilotildees

internacionais encerra desafios diversos enfrentados no mercado nacional que

natildeo satildeo ultrapassados sem que se cumpra uma agenda de transformaccedilotildees

internas como preacute-condiccedilatildeo ou consequecircncia da exposiccedilatildeo aos mercados

externos E estas transformaccedilotildees trazem uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica e uma forte

consolidaccedilatildeo da gestatildeo estrateacutegica preparando o Paiacutes para um papel de

destaque no contexto geopoliacutetico internacional

A conduccedilatildeo das prioridades para a tomada de decisotildees das poliacuteticas

puacuteblicas em sauacutede tem sido um reflexo das circunstacircncias nacionais e

internacionais e tambeacutem do que a sauacutede precisa Nesse sentido o CEIS tem

suas diretrizes fortemente influenciadas por uma agenda global o que traz

benefiacutecios poreacutem relaciona seacuterios desafios para a implementaccedilatildeo de poliacuteticas

de sauacutede dada a assimetria de forccedilas e de governanccedila dos paiacuteses que

definem esta agenda Reich 6 ao ressaltar as accedilotildees de muacuteltiplas forccedilas

exercidas sobre o Estado moderno ndash como por exemplo a diminuiccedilatildeo do seu

papel decorrente da expansatildeo da descentralizaccedilatildeo ou da crescente influecircncia

de organizaccedilotildees natildeo-governamentais assim como pelos acordos promovidos

por agecircncias internacionais e pelo poder de empresas multinacionais - aponta

que as mesmas trazem seacuterias implicaccedilotildees para a sauacutede puacuteblica

Portanto a fim de se fortalecer o CEIS no Paiacutes algumas soluccedilotildees satildeo

apontadas devendo ser alcanccediladas (1) transformar o conhecimento produzido

em inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que melhorem o desempenho do setor produtivo no

campo da sauacutede (2) promover poliacuteticas e accedilotildees complementares e integradas

para o desenvolvimento de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede em

interface com as poliacuteticas interna e externa de maneira que o governo trace

poliacuteticas puacuteblicas estaacuteveis e duradouras para fortalecer o CEIS (3) destacar a

sauacutede e seu complexo como estrateacutegicos de fundamental importacircncia e de

caraacuteter taacutecito e criacutetico notadamente para a relaccedilatildeo entre paiacuteses fronteiriccedilos e a

relaccedilatildeo Sul-Sul tornando-se cada vez mais essenciais nas poliacuteticas voltadas

para a integraccedilatildeo de paiacuteses de uma mesma regiatildeo ou continente como o

Mercosul e a Ameacuterica do Sul ou para a inserccedilatildeo mais ativa nas relaccedilotildees

internacionais com paiacuteses dependentes de accedilotildees mais efetivas em sauacutede

puacuteblica como eacute o caso dos paiacuteses africanos (4) ultrapassar o desafio de se

190

promover de forma articulada poliacuteticas puacuteblicas que simultaneamente

fortaleccedilam a sauacutede o desenvolvimento econocircmico e o desenvolvimento

sustentaacutevel

Dito isto o grande desafio do CEIS refere-se agrave constituiccedilatildeo de um

modelo que permita a reestruturaccedilatildeo da base produtiva nacional na direccedilatildeo do

dinamismo econocircmico e na superaccedilatildeo do atraso em aacutereas criacuteticas para a

atenuaccedilatildeo da desigualdade e da exclusatildeo social nacional Precisa direcionar-

se agrave superaccedilatildeo da forte dependecircncia tecnoloacutegica da naccedilatildeo cuja

vulnerabilidade piora em ambiente de globalizaccedilatildeo ficando mais suscetiacutevel agrave

oscilaccedilatildeo cambial e agraves questotildees que ultrapassam as fronteiras sanitaacuterias como

o caso das pandemias e doenccedilas Natildeo se pode considerar irrelevante o fato de

que os detentores do conhecimento manter-se-atildeo condutores externos que

influenciam as decisotildees dos formuladores das poliacuteticas nacionais em uma

conduccedilatildeo maquiaveacutelica onde quem deteacutem o conhecimento deteacutem o poder

Somente com os pilares do desenvolvimento construiacutedos sob uma forte

e consolidada capacidade produtiva tecnoloacutegica e inovativa aliada agrave loacutegica

soacutecio-sanitaacuteria eacute que se cria capacidade de ultrapassar os limites impostos

pelas condiccedilotildees resultantes da globalizaccedilatildeo e da forte concorrecircncia

internacional Logo o que determina a expansatildeo econocircmica do CEIS e daacute

sustentaccedilatildeo ao modelo eacute a ldquoestrateacutegia poliacutetica e a concepccedilatildeo de Estado e do

proacuteprio desenvolvimentordquo consolidando tambeacutem um modelo de intervenccedilatildeo

estatal na aacuterea social 5 (p 3006) Para os autores esse movimento tem como

grande desafio superar os oacutebices apontados e os limites herdados pela

liberalizaccedilatildeo econocircmica e pelos efeitos da globalizaccedilatildeo assimeacutetrica e lidar com

a imprevisibilidade da economia internacional atual em crise desde o iniacutecio do

Seacuteculo XXI

Superaccedilatildeo que deve dar a devida relevacircncia a questotildees centrais como a

vulnerabilidade externa e as assimetrias tecnoloacutegicas e de poder elementos

que estatildeo em jogo na luta competitiva dos Estados nacionais Em que haja o

reconhecimento da relaccedilatildeo direta entre desenvolvimento e autonomia e

capacidade soberana justificando inclusive uma inter-relaccedilatildeo entre forccedilas

endoacutegenas e exoacutegenas do desenvolvimento onde poliacuteticas nacionais de

191

desenvolvimento promovam autonomia externa sustentem bases soberanas e

permitam maior autonomia interna Que se sustentem bases estruturais para a

conformaccedilatildeo dos estados de Bem-Estar inclusive sob o escopo da interaccedilatildeo

dos segmentos produtivos e de serviccedilos no acircmbito dos esforccedilos puacuteblicos e

privados nacionais em prol de incrementar o desenvolvimento produtivo e

inovativo

A questatildeo do CEIS eacute portanto fio condutor expliacutecito e impliacutecito na

abordagem da economia poliacutetica internacional na medida em que sintetiza as

categorias centrais que se mesclam agrave discussatildeo contemporacircnea das relaccedilotildees

internacionais e da poliacutetica externa globalizaccedilatildeo e localizaccedilatildeo relaccedilotildees

puacuteblico-privadas vulnerabilidades externas e internas assimetrias

tecnoloacutegicas econocircmicas e de poder soberania e estado de Bem-estar

2 Cooperaccedilatildeo Internacional e as Relaccedilotildees Internacionais um olhar

sobre o CEIS na relaccedilatildeo Sul-Sul

A Resoluccedilatildeo sobre ldquoSauacutede Puacuteblica Inovaccedilatildeo e Propriedade Intelectualrdquo

no acircmbito da Estrateacutegia Global e Plano de Accedilatildeo sobre Sauacutede Puacuteblica

Inovaccedilatildeo e Propriedade Intelectual aprovada na 61ordf AMS [130] daacute iniacutecio ao

processo de implantaccedilatildeo de estrateacutegias globais cujos objetivos pautam-se pela

ampliaccedilatildeo do acesso a medicamentos E para tanto foi formado um grupo de

Trabalho Intergovernamental em Sauacutede Puacuteblica Inovaccedilatildeo e Propriedade -

Intelectual ou Intergovernamental Working Group on Public Health Innovation

and Intellectual Property - IGWG cuja perspectiva busca o equiliacutebrio entre as

regras de proteccedilatildeo agrave propriedade intelectual e o direito agrave sauacutede e ao bem-estar

Sob a perspectiva dessa resoluccedilatildeo o Brasil vem atuando intensamente

apresentando-se como player importante na construccedilatildeo desse documento e na

composiccedilatildeo do Consultative Expert Working Group on Research and

130

Disponiacutevel em httpwwwwhointmediacentreevents2009wha62enindexhtml Acessado

em 20 de maio de 2012

192

Development Financing and Coordination (CEWG) [131] cuja centralidade a ser

combatida eacute a insuficiecircncia preocupante de recursos dedicados mundialmente

agrave pesquisa e desenvolvimento - PampD para tratamentos de doenccedilas que afetam

principalmente os paiacuteses em desenvolvimento Objetiva portanto buscar

estrateacutegias que aperfeiccediloem as condiccedilotildees de promoccedilatildeo de PampD e o maior

acesso ao desenvolvimento tecnoloacutegico e a insumos para a sauacutede dos paiacuteses

em desenvolvimento

Para o Brasil accedilotildees de inclusatildeo social o fortalecimento dos sistemas de

sauacutede e a promoccedilatildeo de equidade devem nortear a comunidade internacional

estando os mesmos amparados pelos marcos internacionais [132] instituiacutedos e

legitimados pelos paiacuteses partiacutecipes das organizaccedilotildees internacionais

ldquoA Estrateacutegia Global defende o uso das flexibilidades inerentes ao regime de patentes em apoio agraves poliacuteticas puacuteblicas de acesso a medicamentos e ao tratamento de todas as enfermidades com incidecircncia significativa em paiacuteses em desenvolvimento () Por sua vez a Declaraccedilatildeo Ministerial de Doha sobre o Acordo de Trips e Sauacutede Puacutebica afirma que o acordo de Trips pode e deve ser interpretado e implementado de modo a apoiar os direitos dos Membros da Organizaccedilatildeo Mundial de Comeacutercio de proteger a sauacutede puacuteblica e em particular de promover o acesso a medicamentos para todos Seja na OMS seja na OMC ou ainda na Organizaccedilatildeo Mundial de Propriedade Intelectual no contexto da Agenda para o Desenvolvimento a comunidade internacional reconhece que a plena utilizaccedilatildeo das flexibilidades previstas e admitidas nos tratados internacionais de propriedade intelectual constitui acervo juriacutedico consolidado () accedilotildees de inclusatildeo social a promoccedilatildeo da equidade e o fortalecimento dos sistemas puacuteblicos de sauacutede () estatildeo tambeacutem consignados no comunicado divulgado hoje pela Iniciativa bdquoPoliacutetica Externa e Sauacutede‟ ndash o chamado bdquoGrupo de Oslo‟ ndash que reuacutene paiacuteses do norte

e do sul desenvolvidos e em desenvolvimentordquo [133

]

131

Para mais informaccedilotildees quanto ao plano de trabalho do IGWG apresentado na 62ordf AMS ver

wwwwhointphinewscewg-2011enindexhtml

132

Natildeo eacute objeto deste estudo o aprofundamento das accedilotildees previstas nos documentos resultados

dos encontros estabelecidos na Assembleacuteia Mundial da Sauacutede tampouco na OMS e na OMC poreacutem

queremos reforccedilar o reconhecimento estabelecido entre os paiacuteses partiacutecipes acerca da importacircncia ao

acesso ao conhecimento e agraves poliacuteticas puacuteblicas de acesso a medicamentos

133

Discurso do Ministro Patriota na Conferecircncia Mundial sobre Determinantes Sociais da Sauacutede

no RJ em 2110 2011 Disponiacutevel em wwwitamaratygovbr Acesso em 20 de maio de 2012

193

O reconhecimento do pleno atendimento agraves necessidades humanas e o

de que a inflexibilidade quanto agrave proteccedilatildeo da propriedade intelectual natildeo

sejam necessariamente garantia de inovaccedilatildeo satildeo entretanto indutores para

que se ultrapasse a reflexatildeo e a retoacuterica e se estabeleccedilam accedilotildees efetivas para

o atendimento real agraves necessidades humanas de forma global O que por si

soacute garante novos comportamentos e debates internacionais entre os paiacuteses

partiacutecipes das Assembleacuteias Mundiais da Sauacutede na OMS e tambeacutem em foacuteruns

especializados na OMC no tocante ao acesso ao conhecimento e agraves poliacuteticas

puacuteblicas de acesso a medicamentos Nesse sentido a expectativa da

necessidade quanto ao fortalecimento do papel de governanccedila mundial em

sauacutede em que a OMS e os respectivos Estados membros possam efetivar

accedilotildees previstas nos documentos firmados em accedilotildees concretas na busca por

melhores conduccedilotildees estrateacutegicas orientadas para a promoccedilatildeo da sauacutede de

toda a sociedade

Fomentando o debate teoacuterico no contexto das relaccedilotildees internacionais o

posicionamento do Brasil perpassa pela abordagem da Sociedade

Internacional o que segundo Wight 19 e Jackson e Sorensen 14 tem como

principal desafio o atendimento aos interesses coletivos nos acircmbitos nacional

internacional e humanitaacuterio Entretanto natildeo se pode negligenciar as complexas

relaccedilotildees sociais que ligam o indiviacuteduo ao Estado 110 14 Nesse sentido o

Estado tampouco deve negligenciar sua vinculaccedilatildeo agrave sociedade global Ao que

Jackson e Sorensen 14 sublinham como responsabilidade dos Estados como

sociedade a responsabilidade global pelos direitos humanos pelo meio

ambiente e pelas necessidades humanas A abordagem da Economia Poliacutetica

Internacional cuja base se sustenta nas relaccedilotildees econocircmicas internacionais

revelandashse como o contraponto que existe por meio de relaccedilotildees sociais

inerentes agrave produccedilatildeo e agrave troca global de produtos baacutesicos e do

desenvolvimento cada vez mais amplo da poliacutetica mundial 14

Retomando o debate para a sauacutede e para o sistema de propriedade

intelectual Amorim [134] revela que o Brasil defende um sistema internacional

134

Ministro das Relaccedilotildees Exteriores do Brasil durante a gestatildeo do Governo Lula entre 2003 e

2010 In Cooperaccedilatildeo Sauacutede - Boletim da Atuaccedilatildeo Internacional Brasileira em Sauacutede n02 abril de 2010

AISAMinisteacuterio da Sauacutede Brasil

194

de propriedade intelectual efetivo e justo em que se promovam os incentivos agrave

inovaccedilatildeo e se proteja os pequenos e grandes detentores de marcas e patentes

Ao que para o Brasil segundo o ex-Chanceler esses objetivos natildeo satildeo

conflitantes com a perspectiva de que os direitos humanos e as principais

metas internacionais de desenvolvimento devem reger os entendimentos

globais sobre certos temas econocircmicos em particular quando se discutem

questotildees relativas agrave sauacutede humana

Nessa perspectiva o que tem que ser superado segundo o diplomata eacute

o favorecimento pelo sistema internacional de marcas e patentes de

laboratoacuterios privados em paiacuteses desenvolvidos notadamente os da Ameacuterica do

Norte e os europeus em detrimento da sauacutede das populaccedilotildees dos paiacuteses em

desenvolvimento Logicamente essa superaccedilatildeo impotildee desafios complexos

Em que pesem (1) a pressatildeo e a limitaccedilatildeo impostas pelas induacutestrias (2)

o favorecimento dos laboratoacuterios privados de paiacuteses desenvolvidos (3) as

artimanhas judiciais impostas pelos detentores da marca para a continuidade

dos direitos de exploraccedilatildeo de patentes de medicamentos que estejam com o

prazo a expirar (na tentativa de embargar o direito agrave exploraccedilatildeo por

laboratoacuterios de produccedilatildeo de medicamentos geneacutericos impedindo assim o

barateamento do medicamento e buscando uma continuidade comercial com

vistas agrave maximizaccedilatildeo do lucro que ultrapassa a legislaccedilatildeo que daacute aos

detentores da patente a garantia de exploraccedilatildeo do medicamento por 20 anos) e

(4) os artifiacutecios como o ocorrido em janeiro de 2009 quando se deu o embargo

alfandegaacuterio e a retenccedilatildeo da carga embarcada para o Brasil no porto

holandecircs de medicamentos geneacutericos da Iacutendia para tratamento de hipertensatildeo

embarcada para o Brasil em frontal oposiccedilatildeo ao princiacutepio internacionalmente

garantido do acesso universal aos medicamentos a busca pela garantia agrave vida

e agrave sauacutede de todas as naccedilotildees satildeo objetivos incontestes tampouco inegaacuteveis

A pandemia da gripe A (H1N1) ocorrida em 2009 eacute um caso

emblemaacutetico na relaccedilatildeo do acesso a medicamentos evidenciando o quatildeo

vulneraacutevel pode ser tornar um paiacutes o que demonstra a importacircncia estrateacutegica

da cooperaccedilatildeo articulada entre os paiacuteses

195

Isso posto a sauacutede passa a exercer legitimidade e representatividade

nas decisotildees e accedilotildees da poliacutetica externa dos paiacuteses Portanto a centralidade

estaacute no estado de bem-estar do ser humano em sua interface com a base

produtiva e de inovaccedilatildeo em sauacutede Perspectiva essa lanccedilada inclusive na

discussatildeo sobre os Determinantes Sociais da Sauacutede em que a sauacutede eacute

considerada como resultado da interaccedilatildeo de fatores sociais e de poliacuteticas

puacuteblicas

Diante do exposto o Brasil tem fortalecido seu papel de governanccedila nos

assuntos da sauacutede concentrando seus esforccedilos junto aos paiacuteses do eixo Sul-

Sul assim como atuando de forma articulada e proativa junto aos organismos

multilaterais Aleacutem da cooperaccedilatildeo com os paiacuteses do sul satildeo diretrizes da

poliacutetica externa brasileira a busca por maior governanccedila quanto agraves situaccedilotildees

pandecircmicas e pelo efetivo desenvolvimento de mecanismos alternativos para

financiar a pesquisa e a promoccedilatildeo do acesso aos medicamentos

Essa atuaccedilatildeo eacute refletida por exemplo no posicionamento da Unasul

junto agrave Conferecircncia Mundial da Sauacutede ocorrida em 2010 em Genebra em que

o Brasil exerceu forte papel integrador e articulador na defesa ao direito do

acesso a medicamentos como bens puacuteblicos em que se privilegiam os

interesses sociais ao inveacutes dos interesses comerciais 111 Defesa feita tambeacutem

pelo Ministro da Sauacutede do Brasil em maio de 2011 por ocasiatildeo da 64ordf

Assembleacuteia Mundial da Sauacutede em que foi destacado o acesso universal agrave

sauacutede como um dos pilares do governo brasileiro para o desenvolvimento do

paiacutes assim como a erradicaccedilatildeo da pobreza extrema onde para tanto satildeo

necessaacuterias condiccedilotildees de financiamento de incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica e acesso

a medicamentos

Essa situaccedilatildeo tambeacutem apontou o Brasil como lideranccedila junto agrave Unasul e

ao Mercosul na promoccedilatildeo de accedilotildees coordenadas junto agrave 62ordf Assembleacuteia

Mundial da Sauacutede (AMS) ocorrida em maio de 2009 a fim de que fossem

disponibilizados os conhecimentos e inovaccedilotildees relacionados a essa pandemia

(Gripe H1N1) a todos os paiacuteses viacutetimas e potencialmente viacutetimas isto eacute sem

exceccedilatildeo ou priorizaccedilatildeo de paiacuteses representando hegemonia no acesso a

196

soluccedilotildees seja por meio do conhecimento ou pela disponibilizaccedilatildeo de insumos

para a sauacutede que atendessem agraves necessidades das sociedades

Em que pesem os desafios estruturais e econocircmicos a serem

ultrapassados e cuja complexidade e interesses conflituosos satildeo oacutebices que

retardam as condiccedilotildees necessaacuterias para o acesso agrave sauacutede mantendo

vulneraacuteveis os sistemas de sauacutede de uma sociedade cada vez mais o tema da

sauacutede vem requerendo um protagonismo baseado no estado de bem-estar

social de uma naccedilatildeo eou de um conjunto de naccedilotildees

21 Cooperaccedilatildeo Internacional sob a Abordagem da Assistecircncia

Humanitaacuteria

A Constituiccedilatildeo Federal brasileira em seu Tiacutetulo I Art 4 inciso IX prevecirc

que ldquoas relaccedilotildees internacionais do Brasil regem-se entre outras por uma

cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidaderdquo A Constituiccedilatildeo

portanto foi clara estabelecendo que o Brasil fundamente suas relaccedilotildees

internacionais com base na prevalecircncia dos direitos humanos e na cooperaccedilatildeo

entre os povos para o progresso da humanidade [135] Segundo entrevista de

Celso Amorim ex-Ministro das Relaccedilotildees Exteriores ldquoao elaborar e implementar

projetos de cooperaccedilatildeo internacional Sul-Sul fundados na solidariedade para

com paiacuteses mais pobres o Governo brasileiro age em cumprimento ao

disposto em sua Carta Constituinterdquo [136]

A priorizaccedilatildeo aos direitos humanos ao direito humanitaacuterio e agrave

solidariedade brasileira a paiacuteses atingidos por calamidades soacutecio-naturais

marcou a primeira deacutecada do Seacuteculo XXI Passa o Brasil a estruturar-se em

dinacircmicas multidisciplinares em conjunto com oacutergatildeos governamentais e com a

135

Portanto a solidariedade eacute um dos pilares da poliacutetica externa Ao que complementa Amorim

(2009) ao reiterar que o Brasil defende uma atitude de natildeo-indiferenccedila sem descuidar dos princiacutepios

basilares da soberania estatal e da natildeo-intervenccedilatildeo nas relaccedilotildees internacionais Para o ex-Ministro essa

posiccedilatildeo se reflete nas iniciativas do Brasil no Conselho de Direitos Humanos nos projetos de cooperaccedilatildeo

Sul-Sul e na ampliaccedilatildeo da ajuda humanitaacuteria que o Brasil envia ao exterior Fonte Amorim C O Brasil

e os Direitos Humanos em busca de uma agenda positiva publicado na revista Poliacutetica Externa vol 18

nordm 2 - set-out-nov2009 - Brasiacutelia 01092009 Disponiacutevel em wwwitamaratygovbr

136httpportalsaudegovbrportalarquivospdfentrevista_celso_amorimpdf

197

participaccedilatildeo da sociedade civil facilitada pela criaccedilatildeo o Grupo de Trabalho

Interministerial sobre Assistecircncia Humanitaacuteria Internacional (GTI-AHI) criado

por Decreto Presidencial em 2006 e coordenado pelo Itamaraty Essa gestatildeo

habilita o Paiacutes a prestar assistecircncia humanitaacuteria com base na solidariedade e

foco em desenvolvimento sustentaacutevel contemplando aspectos de prevenccedilatildeo

recuperaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo [137]

Segundo Divisatildeo de Projetos da Assessoria Internacional do Ministeacuterio

da Sauacutede [138] as accedilotildees humanitaacuterias solicitadas [139] ao governo brasileiro

tiveram um grande crescimento nos uacuteltimos anos Entre 2006 e 2009 foram

mais de 22 paiacuteses na Aacutefrica na Ameacuterica Latina no Caribe e na Aacutesia atendidos

Accedilotildees que se distribuem no atendimento de emergecircncias diversas tais como

dificuldade de medicamentos essenciais nos estoques dos paiacuteses desastres

de origem natural epidemias dentre outros

O Brasil considera o Projeto de Cooperaccedilatildeo Brasil-Haiti como uma de

suas prioridades na aacuterea internacional Inclusive na cooperaccedilatildeo em sauacutede

como pode ser observado no desenvolvimento de projeto de Banco de Leite

Humano nesse paiacutes e em outras accedilotildees necessaacuterias em funccedilatildeo do terremoto de

2010 Aumentando-se a representatividade dessa aacuterea em accedilotildees bilaterais de

reestruturaccedilatildeo e multilaterais tais como a relacionada ao Memorando de

Entendimento Brasil-Cuba-Haiti para o fortalecimento do Sistema de Sauacutede do

Haiti Na questatildeo relacionada agrave infraestrutura e insumos um dos principais

eixos do Memorando destaca-se a aquisiccedilatildeo de medicamentos insumos e

material meacutedico-hospitalar Cabe destacar tambeacutem a formaccedilatildeo de grupos

teacutecnicos para abordarem os compromissos prioritaacuterios do Memorando [140] O

Grupo Teacutecnico de Imunizaccedilatildeo em sua IV reuniatildeo do Comitecirc Gestor (agosto de

137

Disponiacutevel em httpwwwitamaratygovbrtemasbalanco-de-politica-externa-2003-

20107110-assistencia-humanitaria

138httpsi3govplanejamentogovbrMS_interface_Accedilotildees20Internacionais20para20Rep

araccedilatildeo20de20Desastresdoc ndash Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede para

Prevenccedilatildeo e Reparaccedilatildeo de Desastres - Divisatildeo de Projetos da AISAMS

139 Assim o governo brasileiro presta assistecircncia humanitaacuteria mediante solicitaccedilatildeo do paiacutes

recipiendaacuterio por questatildeo de princiacutepio e respeito agrave soberania dos Estados e em consonacircncia com a

Resoluccedilatildeo 46182 da Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas

140 Disponiacutevel em httpsi3govplanejamentogovbr Acesso em 22062012

198

2010) abordou possibilidades de cooperaccedilatildeo teacutecnica de Cuba e do Brasil para

o Programa de Imunizaccedilatildeo do Haiti com participaccedilatildeo da Fiocruz pelo Brasil e

Instituto Finlay por Cuba para estudo de viabilidade

Na tabela a seguir procuramos correlacionar com base no

Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede para

Prevenccedilatildeo e Reparaccedilatildeo de Desastres comportando o periacuteodo de 2006 a 05-

2010 e no Relatoacuterio de Assistecircncia Humanitaacuteria do Ministeacuterio das Relaccedilotildees

Exteriores relativo ao periacuteodo de 2006 a 2009 a importacircncia do Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede do Brasil para o atendimento vigoroso e

imediato das accedilotildees humanitaacuterias realizadas pelo governo brasileiro apontando

para tanto as principais demandas ocorridas nesses periacuteodos

Tabela 4 Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede

em Accedilotildees Vinculadas ao CEIS (Prestaccedilatildeo de Assistecircncia Humanitaacuteria) ndash

Periacuteodo 2006 a 052010

Data da doaccedilatildeo

Paiacutes

beneficiado

Produtos doados relacionados

ao CEIS

Situaccedilatildeo ocorrida

082006 Liacutebano 42 t de medicamentos 5 kits de farmaacutecia baacutesica

Guerrra Hezbolha X Israel

092006 Equador 11 t de medicamentos Erupccedilatildeo do vulcatildeo Tungurahua

012007 El Salvador 1200 frascos de medicamentos para tuberculose

Terremoto

02 e

032007

Boliacutevia 230 kg de medicamentos Enchentes

062007 Repuacuteblica Dominicana

10000 doses de vacinas contra febre amarela

Epidemia

199

Cont

Data da

doaccedilatildeo

Paiacutes beneficiado

Produtos doados relacionados ao CEIS

Situaccedilatildeo ocorrida

082007 Nicaraacutegua 14 t de medicamentos Epidemia

082007 Peru 65 t de medicamentos e 720 caixas de hipoclorito de soacutedio

Terremoto de 8 graus na escala Richter

082007 Jamaica 100 mil doses de vacinas dupla adulta 4 t de medicamentos e 3750 frascos de hipoclorito de soacutedio

Furacatildeo Dean

08 e

092007

Nicaraacutegua 14 t de medicamentos e 2000 doses de soro antiofiacutedico

Ciclone Feacutelix

10 e

112007

Repuacuteblica Dominicana

18 t de medicamentos e 115 t de hipoclorito de soacutedio

Tempestade Noel

112007 Nicaraacutegua 18 t de medicamentos Tempestade Noel

112007 Haiti 18 t de medicamentos 115 t de hipoclorito de soacutedio

Tempestade Noel

112007 Argentina 200 ampolas de soro antiescorpiocircnico

Infestaccedilatildeo de escorpiotildees

022008 Boliacutevia 15 milhotildees de comprimido de rifampicina

Tuberculose

02 a

042008

Boliacutevia 14 t de medicamentos Enchentes

032008 Equador 15 t de medicamentos Enchentes e erupccedilatildeo de vulcatildeo Tungurahua

032008 Guineacute-Bissau 2 t de medicamentos contra malaria

Epidemia de malaacuteria

032008 Angola 2 t de medicamentos contra malaria

Epidemia de malaacuteria

032008 Moccedilambique 3 t de medicamentos e 15000 frascos de rifampicina

Enchentes

032008 Zacircmbia 3 t de medicamentos e 15000 frascos de rifampicina

Enchentes

200

Cont

Data da

doaccedilatildeo

Paiacutes beneficiado

Produtos doados relacionados ao CEIS

Situaccedilatildeo ocorrida

092008 Haiti 73 t de medicamentos Furacotildees Gustav Ike e Hanna

092008 Jamaica 15 t de medicamentos Furacatildeo Gustav

122008 Timor Leste Doaccedilao de vacinas para cooperantes brasileiros

-

012009 Palestina Fator 9 (hemoderivados) 20000 Uis em frascos de 500 UI e 10000 envelopes de sais para reidratacao oral

Guerra Israel X Palestina

022009 Bolivia 10 t de Temefos 300 l de AquakacuteOthrine e envio de velas de andiroba para combate ao mosquito da dengue e transferecircncia de tecnologia pela Fiocruz para produccedilatildeo local de velas

Enchentes epidemia de dengue

012010

a

052010

Haiti 400 t de medicamentos insumos e equipamentos para sauacutede

Terremoto de 70 graus na escala Richter

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede para Prevenccedilatildeo e Reparaccedilatildeo de Desastres comportando o periacuteodo de 2006 a 2010 ndash disponiacutevel em httpsi3govplanejamentogovbrMS_interface_Accedilotildees20Internacionais20para20Reparaccedilatildeo20

de20Desastresdoc e do Relatoacuterio de Assistecircncia Humanitaacuteria do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores relativo ao periacuteodo de 2006 a 2009 ndash disponiacutevel em wwwitamaratygovbr

Nota 1 ndash Natildeo eacute intenccedilatildeo deste trabalho fazer o levantamento dos custos decorrentes das doaccedilotildees efetuados e sim ressaltar o impacto do conceito humanitaacuterio e de solidariedade nas accedilotildees de poliacutetica externa brasileira relacionadas agraves necessidades de suprimento de insumos da sauacutede

Nota 2 ndash A tabela acima apresenta um recorte especifico para os produtos relacionados ao CEIS Obviamente a assistecircncia humanitaacuteria brasileira comporta doaccedilotildees diversas (assistecircncia alimentar material de limpeza de assistecircncia a moradia material escolar etc) atendendo a distintas demandas dos paiacuteses tanto por doaccedilotildees provenientes do Brasil como por aquisiccedilotildees locais e contribuiccedilotildees a ONGS Organismos Internacionais e Programa e Fundos diversos entre os quais a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura (FAO) o Programa Mundial de Alimentos (PMA) o Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Refugiados (ACNUR) e o Escritoacuterio das Naccedilotildees Unidas para Coordenaccedilatildeo de Assuntos Humanitaacuterios (OCHA)

201

22 Cooperaccedilatildeo Internacional sob a Abordagem da Cooperaccedilatildeo

Teacutecnica Internacional

Entre 2003 e 2009 [141] no tocante agrave Cooperaccedilatildeo Teacutecnica Internacional

o governo brasileiro promoveu a negociaccedilatildeo aprovaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de

mais de 400 acordos ajustes protocolos e Memorandos de Entendimentos

com governos de paiacuteses em desenvolvimento da Ameacuterica Latina Caribe

Aacutefrica Aacutesia e Oceania O nuacutemero de paiacuteses beneficiaacuterios da cooperaccedilatildeo

brasileira teve um crescimento superior a 150 isto eacute passou de 21 para 56

paiacuteses Dentre os paiacuteses beneficiaacuterios destacam-se primeiramente os paiacuteses

africanos e os paiacuteses da Ameacuterica Latina

Quanto agrave sauacutede sob a perspectiva da CampT a projeccedilatildeo brasileira

fundamenta-se em experiecircncias positivas tais como o Programa de

Imunizaccedilatildeo a implantaccedilatildeo do SUS o acesso universal e gratuito ao

diagnoacutestico agrave prevenccedilatildeo e ao tratamento das pessoas com HIVAIDS a defesa

ao acesso a medicamentos fundamentais sobre os quais pesem patentes

(como foram os casos do Efavirenz em 2007 e do Tenofovir [142] em 2010) a

participaccedilatildeo estrateacutegica no debate internacional pela diminuiccedilatildeo dos preccedilos de

medicamentos importados e pela produccedilatildeo nacional de medicamentos aleacutem

da promoccedilatildeo de accedilotildees articuladas para aprovaccedilatildeo de documentos junto agraves

organizaccedilotildees internacionais como a Estrateacutegia Global sobre Sauacutede Puacuteblica

Inovaccedilatildeo e Propriedade Intelectual aprovada durante a 61ordf AMS em 2008 e a

aprovaccedilatildeo do fundo global para o desenvolvimento de tecnologia e

conhecimento defendido pelo entatildeo Ministro da Sauacutede Joseacute Gomes

Temporatildeo

ldquoo acesso aos frutos do conhecimento humano estatildeo crescentemente segmentados por linhas legais e de mercado Noacutes temos a obrigaccedilatildeo moral de assegurar e tornar o mais acessiacutevel possiacutevel os benefiacutecios do progresso humano para todos Estruturas inovadoras satildeo necessaacuterias para acumular e sustentar o acesso a

141 Segundo dados disponibilizados no portal httpsi3govplanejamentogovbr

142

Medicamento antirretroviral para tratamento de HIVAIDS

202

niacuteveis mais elevados de sauacutede para os paiacuteses em

desenvolvimento do mundordquo [143]

Nesse escopo a visibilidade alcanccedilada pelo Brasil no contexto

internacional eacute reforccedilada por sua voz ativa na defesa por formulaccedilatildeo de

poliacuteticas voltadas para o fortalecimento da capacidade produtiva para

atendimento agraves demandas de sauacutede

Satildeo atrativos portanto que justificam o Brasil como paiacutes que eacute

demandado por outros paiacuteses em desenvolvimento E eacute nessa perspectiva de

cooperaccedilatildeo com os demais paiacuteses em desenvolvimento que o IPEA 79 relata

que o volume de recursos federais investidos em cooperaccedilatildeo teacutecnica cientiacutefica

e tecnoloacutegica aumentou consideravelmente Em 2005 o total anual investido

no contexto da sauacutede foi de R$ 278 milhotildees Em 2009 chegou a R$ 138

milhotildees na aacuterea da sauacutede um aumento de aproximadamente 400 do valor

aplicado em 2005 O volume total da cooperaccedilatildeo teacutecnica cientiacutefica e

tecnoloacutegica segundo a anaacutelise na aacuterea da sauacutede ldquode 2005 a 2009 equivale a

9 do total investido no periacuteodo ou seja quase R$ 24 milhotildeesrdquo 79 (p38)

Dos temas mais presentes na realidade dessa cooperaccedilatildeo em sauacutede

ganham destaques accedilotildees sobre doenccedilas negligenciadas aleacutem da forte

presenccedila e dos recursos investidos pela Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz

ldquoA CTCampT do Brasil na aacuterea da sauacutede contempla diversos outros temas que afligem os paiacuteses em desenvolvimento parceiros como a prevenccedilatildeo e controle da malaacuteria a atenccedilatildeo agrave sauacutede materno-infantil a capacitaccedilatildeo para a produccedilatildeo de vacinas contra febre amarela o diagnoacutestico e o manejo da doenccedila de Chagas () Entre as instituiccedilotildees participantes o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores concentra 49 dos recursos investidos em projetos de CTCampT na aacuterea da sauacutede seguido pelo Ministeacuterio da Sauacutede (24) e pela Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz (20)rdquo

79 (p38)

Ademais accedilotildees articuladas entre o Ministeacuterio da Sauacutede e o Ministeacuterio

das Relaccedilotildees Exteriores estimulam transferecircncias de tecnologia e de

conhecimento cujo objetivo maior eacute a promoccedilatildeo do desenvolvimento dos

143

Disponiacutevel em httpwwwpanoramabrasilcombrbrasil-propoe-fundo-global-para-pesquisa-

em-saude-id2996html

203

paiacuteses carentes do saber tecnoloacutegico e inovativo E eacute sob esse escopo de

reforccedilar a questatildeo da sauacutede como elemento central para a estrateacutegia de

combate agrave pobreza e para incentivar o desenvolvimento social que os

chanceleres de sete paiacuteses assinaram em 2007 a Declaraccedilatildeo de Oslo [144]

aprovada em dezembro de 2009 pela ONU Essa aprovaccedilatildeo elevou a condiccedilatildeo

da sauacutede global a tema especiacutefico da poliacutetica externa dos paiacuteses membros

O que corrobora a diretriz do governo brasileiro em articulaccedilatildeo com o

Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores pela busca do fortalecimento da presenccedila

brasileira junto ao cenaacuterio internacional Nesse sentido o Brasil por intermeacutedio

das accedilotildees em sauacutede amplia sua presenccedila nos oacutergatildeos e programas de sauacutede

das Naccedilotildees Unidas e principalmente amplia suas accedilotildees de cooperaccedilatildeo com

os paiacuteses da Ameacuterica do Sul da CPLP e da Aacutefrica 106 112

Nessa perspectiva a pauta da sauacutede vem se evidenciando de forma

cada vez mais robusta no Brasil Algumas accedilotildees se destacam (a) o seu

posicionamento na defesa da sauacutede global (b) a coordenaccedilatildeo internacional do

enfrentamento das doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis (c) a defesa dos

sistemas universais de sauacutede (d) a introduccedilatildeo na agenda global dos

Determinantes Sociais da Sauacutede (e) o processo de reforma da OMS [145] (f) a

sua atuaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo teacutecnica atraveacutes do Centro Internacional de

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica em HIVAIDS (CICT) (g) a organizaccedilatildeo da Rede de

Cooperaccedilatildeo Tecnoloacutegica em HIVAIDS (h) a atuaccedilatildeo notadamente na questatildeo

do acesso aos medicamentos (i) o BRICS (j) a constituiccedilatildeo do Tratado da

Unasul e seu papel de forte protagonismo regional inclusive junto ao Mercosul

(k) o estiacutemulo agrave cooperaccedilatildeo regional (oficinas como a de diagnoacutestico de ofertas

e demandas de cooperaccedilatildeo dos paiacuteses da Unasul e o Foacuterum de Cooperaccedilatildeo

Internacional em Sauacutede) (l) a instalaccedilatildeo e inauguraccedilatildeo do Isags e (m) a forte

articulaccedilatildeo e accedilatildeo proativa junto agrave Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua

Portuguesa e junto ao BRICS em assuntos correlatos agrave sauacutede

144

Para mais detalhes Capiacutetulo III 1Sauacutede nas Relaccedilotildees Internacionais e Quadro 2 ndash ―Relaccedilatildeo

de Documentos Internacionais cooperaccedilatildeo Sul-Sul e sauacutede do presente estudo

145

Conforme Botelho E Boletim de Atuaccedilatildeo Internacional Brasileira em Sauacutede nordm 5 ndash

Cooperaccedilatildeo Sauacutede Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede Nov 2011

204

Quanto agrave geopoliacutetica a temaacutetica da sauacutede por ser considerada

estrateacutegica na conduccedilatildeo poliacutetica nacional e internacional eacute amplificada quando

observamos o posicionamento do Brasil ldquona intercessatildeo dos vaacuterios

agrupamentos servindo de ponte entre os processos e interesses de cada

grupo promovendo o entendimento em torno dos temas principais da agenda

globalrdquo [146] Essa intercessatildeo pode ser observada na figura 5

Figura 5 Intercessatildeo Geopoliacutetica do Brasil na Aacuterea da Sauacutede

Elaboraccedilatildeo proacutepria

Nesse sentido a representatividade brasileira agrega valor inegaacutevel e

incontestaacutevel agrave conduccedilatildeo e ao destaque dos assuntos relacionados agrave sauacutede e

o consequente fortalecimento da aacuterea junto aos paiacuteses relacionados

Em que pese a priorizaccedilatildeo brasileira na relaccedilatildeo Sul-Sul eacute imprescindiacutevel

a contiacutenua busca pela minimizaccedilatildeo da vulnerabilidade tecnoloacutegica nacional

Articulaccedilotildees produtivas entre instituiccedilotildees e laboratoacuterios de produccedilatildeo puacuteblica e

empresas privadas ganham contorno estrateacutegico e imprescindiacutevel sobretudo

146

Botelho E Boletim de Atuaccedilatildeo Internacional Brasileira em Sauacutede nordm 5 ndash Cooperaccedilatildeo Sauacutede

Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede Nov de 2011

MERCO-SUL

UNASUL

CPLP

IBAS

BRICS

205

com empresas e instituiccedilotildees de paiacuteses desenvolvidos detentores de

conhecimento e tecnologia de ponta com diferencial em PampD

Podem ser destacados por exemplo os seguintes casos de parcerias

entre o Brasil e naccedilotildees e instituiccedilotildees mais desenvolvidas (a) com o Reino

Unido empresa GlaxoSmithKline - GSK e Fiocruz como contraparte brasileira ndash

desenvolvimento e produccedilatildeo de vacinas contra HIB Triacuteplice Viral Pneumococo

e Rotaviacuterus aleacutem de parceria firmada em 2009 para o desenvolvimento de

vacinas contra dengue e malaacuteria e mais recentemente acordo firmado para

produccedilatildeo de vacinas tetraviral que incluiraacute a varicela agrave atual triacuteplice viral (b)

com a organizaccedilatildeo DNDI ndash Drugs for Neglected Diseases Initiativee Fiocruz ndash

produccedilatildeo de Artemisina + Mefloquina em doses fixas para tratamento contra

malaacuteria (c) com Cuba Poacutelo Cientiacutefico de Cuba e Fiocruz como contraparte

brasileira ndash projetos e produtos tais como Eritropoetina e Interferon Alfa kits

para diagnoacutestico e antineoplaacutesicos (d) com a Ucracircnia ndash Instituto Indar e Fiocruz

como contraparte brasileira ndash produccedilatildeo de insulina e (e) Estados Unidos ndash

empresa Genzyme e Fiocruz (como contraparte brasileira) ndash novos tratamentos

para a doenccedila de Chagas

O Brasil comporta um grande potencial para a aacuterea de vacinas

Inclusive potencial exportador uma vez que haacute demanda internacional

reprimida para vacinas para doenccedilas negligenciadas pelos grandes

laboratoacuterios Nesse sentido vale citar o caso de Bio-Manguinhos da Fundaccedilatildeo

Oswaldo Cruz que mesmo considerando ser uma instituiccedilatildeo puacuteblica voltada

para o atendimento agraves necessidades do SUS tem possibilidade de aumentar

sua capacidade de exportaccedilatildeo que em 2010 chegou a 47 milhotildees de doses

produzidas cerca de 3 da sua produccedilatildeo direcionada para o Brasil nesse

mesmo ano 1501 milhotildees [147]

A Fundaccedilatildeo Bill e Melinda Gates [148] a partir de um novo patamar de

relaccedilatildeo estabelecida com o Ministeacuterio da Sauacutede tambeacutem tem projetos com a

147

Disponiacutevel em httpwwwestadaocombrnoticiasimpressotransferencia-de-tecnologia-

alavanca-bio-manguinhos7206300htm Acesso em 18052011

148

Bill Gates em maio de 2011 convocou os ministros de sauacutede de todos os paiacuteses a vacinar 10

milhotildees de crianccedilas ateacute 2020 a chamada ―deacutecada de vacinaccedilatildeo Fonte

206

Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz e a Fundaccedilatildeo Butantan e projeta o Brasil como um

potencial exportador mundial de vacinas Sua parceria busca fomentar a

capacidade produtiva dessas instituiccedilotildees nacionais que em contrapartida

poderatildeo atender demandas de paiacuteses mais pobres como por exemplo de

paiacuteses africanos que necessitam de vacinas tais como vacina contra a Febre

Amarela Meningite e Pentavalente

Em funccedilatildeo das experiecircncias exitosas e dos resultados alcanccedilados junto

agraves parcerias para produccedilatildeo de vacinas no Brasil vale destacar como exemplo

de sucesso o histoacuterico da parceria entre a empresa GlaxoSmithkline -GSK e a

Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz mais especificamente a sua unidade de produccedilatildeo de

imunobioloacutegicos Bio-Manguinhos

Foi a partir dos anos 80 com a tecnologia para produccedilatildeo de vacina

contra poliomielite obtida por meio de parceria firmada com o Japan

Poliomyelitis Institute que Bio-Manguinhos incorporou a tecnologia de

produccedilatildeo dessa vacina utilizando o concentrado viral adquirido da GSK

produccedilatildeo fundamental para a eliminaccedilatildeo dessa doenccedila no Paiacutes

Desde entatildeo acordos de transferecircncia de tecnologia com a GSK foram

firmados entre as duas instituiccedilotildees O primeiro para a produccedilatildeo da vacina

conjugada contra Haemophilus Influenzae tipo b (HIB) teve a sua tecnologia

transferida totalmente em 2005 Em outubro de 2003 mais um acordo firmado

transferecircncia de tecnologia da vacina combinada de sarampo caxumba e

rubeacuteola com o processo de nacionalizaccedilatildeo de todas as etapas de produccedilatildeo

em andamento com previsatildeo para realizaccedilatildeo de estudos cliacutenicos previstos

para 2013 Mais uma parceria em 2007 contrato de transferecircncia de tecnologia

para produccedilatildeo da vacina contra rotaviacuterus com nacionalizaccedilatildeo completa das

etapas de produccedilatildeo prevista para 2013 Em 2009 firmado acordo de

colaboraccedilatildeo (ineacutedito) entre as instituiccedilotildees para o desenvolvimento e a

produccedilatildeo conjunta de uma vacina contra dengue E em 2010 firmado acordo

de transferecircncia de tecnologia para produccedilatildeo de vacina pneumocoacutecica

conjugada a ser fabricado em Bio-Manguinhos a partir de 2013 Mais

httpwwwestadaocombrnoticiasimpressobill-gates-sonda-laboratorios-do-pais-para-financiar-

producao-de-vacinas7206230htm Acesso em 18052011

207

recentemente iniacutecio de agosto de 2012 foi firmado acordo de transferecircncia de

tecnologia para produccedilatildeo de vacina contra varicela (catapora) a ser combinado

com a triacuteplice viral que inclui vacina contra sarampo caxumba e rubeacuteola

tornando-se uma vacina tetraviral [149]

Ultrapassando as fronteiras da incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica a FIOCRUZ

Instituiccedilatildeo Estrateacutegica de Estado na aacuterea da sauacutede estabelece-se com forte

protagonismo estrateacutegico na poliacutetica setorial de cooperaccedilatildeo internacional O

que seraacute apresentado no decorrer deste estudo

Nesse sentido a inovaccedilatildeo tecnoloacutegica assim como o conhecimento eacute

diferencial determinante para serem estabelecidas como centrais nos ditames

do processo de desenvolvimento do Brasil Essa centralidade eacute observada no

discurso da poliacutetica nacional conforme Lei de Inovaccedilatildeo nordm 10973 de 2004

ldquoo desafio de se estabelecer no Paiacutes uma cultura de inovaccedilatildeo estaacute amparado na constataccedilatildeo de que a produccedilatildeo de conhecimento e a inovaccedilatildeo tecnoloacutegica passaram a ditar crescentemente as poliacuteticas de desenvolvimento dos paiacuteses Nesse contexto o conhecimento eacute o elemento central das novas estruturas econocircmicas que surgem e a inovaccedilatildeo passa a ser o veiacuteculo de transformaccedilatildeo de conhecimento em riqueza e melhoria da qualidade de vida das sociedadesrdquo

Portanto partindo da ideacuteia de atrair empresas ampliar os processos de

transferecircncia de tecnologia implementar a produccedilatildeo em solo brasileiro

valendo-se do mercado continental e do poder de compra do Brasil o Paiacutes se

fortalece e expande sua capacidade produtiva compartilhando oportunamente

os conhecimentos adquiridos com os paiacuteses possuidores de vulnerabilidades

locais que comprometem a sauacutede das suas populaccedilotildees

Isso posto a despeito das consideraccedilotildees financeiras e comerciais

ocorre um processo de formaccedilatildeo de cadeia do conhecimento onde aqueles que

detecircm maiores condiccedilotildees de pesquisa de desenvolvimento de tecnologia e de

inovaccedilatildeo tornam-se multiplicadores do saber junto agravequeles com menor acesso

agrave tecnologia e ao conhecimento

149

Dados extraiacutedos da Agecircncia Fiocruz de Notiacutecias 07082012 Disponiacutevel em

wwwfiocruzbrccs Acesso em 10082012

208

Essa cadeia pode ser ilustrada conforme figura 6 onde o topo comporta

paiacuteses desenvolvidos detentores de tecnologias de ponta e de conhecimento

avanccedilado O topo firma projetos e negociaccedilotildees com a faixa central isto eacute com

paiacuteses como o Brasil que nesse exemplo especiacutefico possui uma base

industrial favoraacutevel e capacidade de PampD instalada com poliacuteticas integradas e

estruturantes amplo poder de compra do Estado programas de fomentos

fortalecidos aleacutem de capacidade regulatoacuteria e de poliacuteticas governamentais

favoraacuteveis para a promoccedilatildeo de parcerias puacuteblico-privadas e acadecircmicas e de

uma agenda internacional favoraacutevel para expansatildeo do conhecimento adquirido

em acircmbito regional e internacional Esses paiacuteses repassam suas tecnologias

para paiacuteses detentores de grandes fragilidades tecnoloacutegicas normalmente

paiacuteses com capacidade de produccedilatildeo em sauacutede nula ou em estaacutegio inicial

inseridos na base da piracircmide desde que haja viabilidade para estruturaccedilatildeo

produtiva e tecnoloacutegica

Figura 6 Formaccedilatildeo da Cadeia de Conhecimentos

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Assim o estaacutegio de desenvolvimento que o Brasil obteve em funccedilatildeo dos

benefiacutecios da cooperaccedilatildeo internacional recebida fez com que o habilitasse a

ofertar determinados conhecimentos e produtos a paiacuteses demandantes e a

organismos internacionais como eacute o caso da vacina contra Febre Amarela e os

Bancos de Leite Humano150 Nesse sentido afirma Amorim 113 [151]

150

Exemplos que seratildeo detalhados no decorrer do Capiacutetulo V

209

ldquoA cooperaccedilatildeo internacional prestada pelo Brasil atua como uma via de duas matildeos beneficiando por um lado os paiacuteses mais pobres com as boas praacuteticas tecnologias e conhecimento desenvolvidos com base na experiecircncia do SUS e por outro nos obrigando a aperfeiccediloar constantemente o universo de iniciativas e programas de sauacutede puacuteblica que atendam a um nuacutemero cada vez maior de seres humanosrdquo

113 (p5)

Na perspectiva da via de ldquoduas matildeosrdquo seria incompleto e limitante

imaginar que a promoccedilatildeo do desenvolvimento ocorra exclusivamente por conta

das accedilotildees exoacutegenas e de inputs externos cuja ldquodependecircncia cegardquo cerceie

movimentos e imobilize a capacidade produtiva quando interesses externos

divergem das escolhas e necessidades nacionais Tampouco se deve

considerar o desenvolvimento como uma questatildeo autoacutectone uma vez que

mesmo em um contexto global assimeacutetrico a realidade contemporacircnea das

relaccedilotildees entre os paiacuteses impotildee-se sob a base de um mundo interligado e

globalizado

Realidade essa que se fundamenta na cada vez maior relevacircncia da

relaccedilatildeo que as bases de conhecimento e os campos da ciecircncia da tecnologia

e da inovaccedilatildeo tecircm com o estado de bem-estar das naccedilotildees A cooperaccedilatildeo

internacional prestada pelo Brasil aos paiacuteses do Sul notadamente junto aos

paiacuteses da Ameacuterica Latina e Central e aos paiacuteses africanos eacute reflexo do

estabelecimento no Brasil de poliacuteticas de incentivo agrave inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e ao

conhecimento aliadas agrave conduccedilatildeo da poliacutetica externa sedimentada sobre os

alicerces da solidariedade e do desenvolvimento

151

Celso Amorim em entrevista Disponiacutevel em Cooperaccedilatildeo Sauacutede Boletim de Atuaccedilatildeo

Internacional Brasileira em Sauacutede do Ministeacuterio da Saude 2010 24-5

210

CAPIacuteTULO V CEIS POLIacuteTICA EXTERNA EM ACcedilAtildeO UM OLHAR SOBRE O SUL

A priorizaccedilatildeo e o fortalecimento das accedilotildees de cooperaccedilatildeo com as

naccedilotildees do Sul focando principalmente os paiacuteses da Ameacuterica do Sul e os

paiacuteses africanos e as recentes diretrizes da poliacutetica externa brasileira

contribuiacuteram para que a agenda da sauacutede ganhasse nas uacuteltimas deacutecadas maior

destaque na poliacutetica externa do Paiacutes

Nessa perspectiva a cooperaccedilatildeo Sul-Sul nas questotildees da sauacutede como

justificado anteriormente fundamenta-se em modelo horizontal e estruturante

cuja perspectiva eacute colaborar na superaccedilatildeo das deficiecircncias e limitaccedilotildees dos

paiacuteses cooperados Nesse sentido busca-se ultrapassar o caraacuteter instrumental

que ateacute hoje se deu a cooperaccedilatildeo brasileira e transformaacute-la em um necessaacuterio

elemento estruturador Situaccedilatildeo essa que obviamente torna possiacutevel uma

diferenciaccedilatildeo na conduccedilatildeo da poliacutetica externa brasileira e solidifica a projeccedilatildeo

internacional do Brasil aleacutem dos ganhos oacutebvios resultantes das mudanccedilas

provocadas pelo processo de desenvolvimento dos paiacuteses beneficiaacuterios da

cooperaccedilatildeo

Uma dimensatildeo da cooperaccedilatildeo internacional da sauacutede notadamente nos

paiacuteses em desenvolvimento eacute a parceria internacional em atividades de

inovaccedilatildeo para o desenvolvimento de produtos para a sauacutede Como exemplo de

diversas iniciativas podemos destacar (a) o apoio aos projetos de cooperaccedilatildeo

Sul-Sul para o desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico cujo objetivo eacute viabilizar

e fortalecer o desenvolvimento da aacuterea de Avaliaccedilatildeo de Tecnologias em Sauacutede

ndash ATS no acircmbito do Mercosul e (b) as Parcerias para Desenvolvimento de

Produtos (PDPs) pesquisa e ao desenvolvimento de insumos voltados para

doenccedilas negligenciadas

No tocante agraves ATS cuja Ata de formaccedilatildeo data de janeiro de 2009 [152] eacute

a partir da formaccedilatildeo do grupo de experts e da construccedilatildeo de uma rede de

avaliaccedilatildeo de tecnologias que promovam a difusatildeo do conhecimento na aacuterea

152

Disponiacutevel em httpsi3govplanejamentogovbr

211

tecnoloacutegica para sauacutede que alguns resultados jaacute foram alcanccedilados Para este

estudo vale destacar a concretizaccedilatildeo de um espaccedilo virtual para troca de

informaccedilotildees e a formaccedilatildeo de bases de dados para comparaccedilatildeo de preccedilos de

medicamentos e produtos para a sauacutede

Sob a perspectiva das doenccedilas antes negligenciadas a Fiocruz inserida

na estrateacutegia abrangente do Ministeacuterio da Sauacutede para a pesquisa e inovaccedilatildeo

em sauacutede comporta diversas iniciativas de parcerias dentre as quais com a

ldquoMedicines for Malaria Venture (MMV) a ldquoGlobal Alliance for TB Drug

Development (TB Alliance) e Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDI)

Essas parcerias se manifestam de forma global poreacutem conforme aponta Morel

[153] o movimento do Brasil no sistema global de inovaccedilatildeo ainda eacute recente

Segundo Morel um dos motivos para que esse movimento ainda natildeo esteja

maduro quando comparado a paiacuteses desenvolvidos eacute o fato de tatildeo somente

recentemente temas como inovaccedilatildeo terem sido priorizados nas discussotildees

poliacuteticas internas (a exemplo da Lei de Inovaccedilatildeo datada de 2005 isto eacute a

menos de uma deacutecada) Para o autor [154] o ateacute entatildeo avanccedilo incipiente foi

decorrente do fato de se descuidar ldquodo sistema educacional da poliacutetica

industrial e da poliacutetica sanitaacuteria que fizessem suas conexotildees com as poliacuteticas

de CampTrdquo ao que exemplifica apontando que foi somente a partir de 2004 que o

Ministeacuterio da Sauacutede montou o Departamento de CampT atualmente inserido na

tambeacutem recente Secretaria de Ciecircncia e Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos em

Sauacutede para promover de forma estrateacutegica pesquisa tecnoloacutegica e inovaccedilatildeo

em sauacutede Entretanto vale destacar que este movimento estrateacutegico acelera-

se acentuadamente com a criaccedilatildeo de novas estruturas e poliacuteticas cuja

descriccedilatildeo fugiria aos propoacutesitos desta tese [155]

153

Entrevista concedida pelo pesquisador da Fiocruz Carlos Morel em 12112011 Disponiacutevel

em httpwwwdndiorgbrptcentro-de-documentacaocomunicados-de-imprensa253-12-01-2011-o-

modelo-pdp-e-as-doencas-negligenciadashtml Acesso em 06022012

154

Entrevista concedida ao Informe ENSP em 09032006 Disponiacutevel em wwwenspfiocruzbr

Acesso em 06022012

155

Para mais informaccedilotildees ver PIB - Perspectivas do investimento em sauacutede coordenador

Carlos A Grabois Gadelha Equipe Joseacute Maldonado [et al] Rio de Janeiro UFRJ 20082009

212

Ainda assim para Morel haacute muito que fazer no Brasil para estimular

essas parcerias prejudicadas pelos entraves burocraacuteticos que obstaculizam as

accedilotildees decorrentes Nesse sentido medidas de atraccedilatildeo factiacuteveis e exequiacuteveis

devem ser implementadas para atrair e fortalecer novas parcerias em PDP em

sauacutede entre o Brasil e demais paiacuteses sejam eles representados por

organizaccedilotildees sem fins lucrativos ou por empresas privadas

ldquoNa induacutestria de faacutermacos haacute uma necessidade de

aperfeiccediloar os procedimentos e processos nas

instituiccedilotildees envolvidas bem como estimular e facilitar a

interaccedilatildeo entre as mesmas Universidades institutos

de pesquisa e desenvolvimento hospitais e redes onde

ocorre a pesquisa cliacutenica ANVISA [Agecircncia Nacional

de Vigilacircncia Sanitaacuteria] CONEP [Comissatildeo Nacional

de Eacutetica em Pesquisa] INPI [Instituto Nacional da

Propriedade Industrial] Satildeo instituiccedilotildees criacuteticas e

fundamentais para que nosso Paiacutes possa desenvolver

um verdadeiro sistema nacional de inovaccedilatildeo em sauacutede

componente fundamental do Complexo Industrial da

Sauacutederdquo [153]

Em um sentido mais afirmativo vale ressaltar a existecircncia de resultados

positivos provenientes de esforccedilos dirigidos para doenccedilas negligenciadas

pouco visiacuteveis na agenda global Esses esforccedilos representam benefiacutecios para

paiacuteses que natildeo tecircm condiccedilotildees de promover o desenvolvimento e o

fortalecimento de sua base industrial voltada para a sauacutede tornando o Brasil

um paiacutes estrateacutegico para os seus parceiros do eixo Sul-Sul no Sistema Global

de Inovaccedilatildeo em Sauacutede

Como exemplo concreto brasileiro no esforccedilo global para ampliaccedilatildeo do

acesso a medicamentos tem-se ao final de 2011 o compromisso assumido

pelo Paiacutes no acircmbito da Opas enfatizando o protagonismo do Brasil a se

converter no provedor mundial de medicamentos contra o mal de Chagas

graccedilas agrave estrateacutegia da associaccedilatildeo de laboratoacuterios puacuteblicos e privados [156]

156 O laboratoacuterio privado Nortec entrega mateacuteria-prima ao laboratoacuterio puacuteblico Lafepe que

fabrica o medicamento Vale citar que segundo a Assessoria de Comunicaccedilatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede

em relaccedilatildeo a doenccedilas negligenciadas o Brasil produz diversos medicamentos para ajuda humanitaacuteria

internacional por meio de parcerias entre laboratoacuterios puacuteblicos e privados O investimento em

laboratoacuterios puacuteblicos produtores saltou de R$ 88 milhotildees em 2000 para mais de R$ 54 milhotildees em 2011

―() O Brasil estaacute no topo da lista de paiacuteses que financiam pesquisa em dengue segundo a GFinder List

instituiccedilatildeo inglesa que realiza levantamento anual de pesquisas De 2002 a 2010 o Ministeacuterio da Sauacutede

213

suprindo em conjunto com a logiacutestica da Organizaccedilatildeo Meacutedico Sem Fronteiras

a demanda mundial desse medicamento [157]

Ademais segundo a Divisatildeo de Projetos da Assessoria Internacional do

Ministeacuterio da Sauacutede [158] experiecircncias exitosas relacionadas agrave cooperaccedilatildeo

internacional em sauacutede estatildeo relacionadas aos temas HIVAIDS e Bancos de

Leite Humano

Referentemente ao primeiro tema ndash HIVAIDS eacute a principal referecircncia de

cooperaccedilatildeo com a Aacutefrica representando 37 dos projetos atuais e o 4ordm tema

da agenda de cooperaccedilatildeo brasileira com os paiacuteses da Ameacuterica Latina e Caribe

representando 13 da totalidade dos projetos Dentre os 21 projetos de

cooperaccedilatildeo nessa aacuterea 13 satildeo na Aacutefrica e 8 na Ameacuterica Latina e Caribe

Dentre os programas na aacuterea o Laccedilo Sul-Sul [159] oferece medicamentos

antirretrovirais brasileiros para os paiacuteses da Ameacuterica Latina e os paiacuteses

africanos representando um estrateacutegico instrumento de ampliaccedilatildeo ao acesso a

esses medicamentos

Conforme o Ministeacuterio o Banco de Leite Humano [160] eacute o principal tema

de cooperaccedilatildeo com a Ameacuterica Latina e Caribe representando 39 dos

projetos e o terceiro tema de cooperaccedilatildeo com a Aacutefrica com 17 do total Satildeo

25 projetos registrados entre concluiacutedos em execuccedilatildeo e em negociaccedilatildeo Tem

como principal meta implementar um banco de leite humano de referecircncia

financiou 518 projetos de pesquisa em doenccedilas negligenciadas investindo um total de quase R$ 95

milhotildees Disponiacutevel em wwwsaudegovbr Acesso em 02 de dezembro de 2011

157 Fontes Portal da Sauacutede 2011 e httpenvolverdecombripsinter-press-service-

reportagensbrasil-em-esforco-global-para-ampliar-acesso-a-medicamentos Acesso em 15 de novembro

de 2011

158

Apresentaccedilatildeo ocorrida no Rio de Janeiro durante o I Foacuterum Sul-Americano de Cooperaccedilatildeo

Internacional em Sauacutede em 23 a 25 de novembro de 2011

159

Lanccedilada em 2004 pelo governo brasileiro em alianccedila com a Unicef a iniciativa Laccedilos Sul-

Sul (LSS) reuacutene outros sete paiacuteses Boliacutevia Cabo Verde Guineacute-Bissau Nicaraacutegua Paraguai Satildeo Tomeacute

e Priacutencipe e Timor Leste Busca assegurar o acesso universal agrave prevenccedilatildeo ao tratamento do HIVAIDS e

agrave assistecircncia em uma perspectiva de atenccedilatildeo integral Promove a solidariedade entre paiacuteses em

desenvolvimento e um modelo de cooperaccedilatildeo horizontal Proporciona o intercacircmbio de informaccedilotildees e a

elaboraccedilatildeo conjunta de estrateacutegias e planos de accedilatildeo Disponiacutevel em httpsistemasaidsgovbrlss 160

O BLH eacute fruto de uma accedilatildeo integrada entre o Instituto Nacional Fernandes Figueira da

Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz e o Ministeacuterio da Sauacutede do Brasil Em 2011 recebeu precircmio da OMS como

maior contribuiccedilatildeo para reduccedilatildeo da mortalidade infantil na deacutecada de 90

214

nacional em cada um dos paiacuteses parceiros servindo de instrumento de

combate agrave morbimortalidade e desnutriccedilatildeo infantis conforme preconiza os

Objetivos de Desenvolvimento do Milecircnio

A Rede Brasileira de Banco de Leite Humano atua de forma bastante

ampliada na sua cooperaccedilatildeo internacional O que pode ser observado quando

observamos seus respectivos projetos bilaterais (por intermeacutedio da Agecircncia

Brasileira de Cooperaccedilatildeo do MRE) e seus trabalhos em rede e multilaterais

Satildeo os seguintes paiacuteses em cooperaccedilatildeo com o Brasil no que concerne

aos Bancos de Leite Humano

Quadro 3 ndash Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede Relaccedilatildeo de Paiacuteses e Banco de Leite Humano

Projetos Bilaterais ndash Brasil e

Belize

Boliacutevia

Cuba

Panamaacute

Costa Rica

Repuacuteblica Dominicana

El Salvador

Mexico

Nicaragua

Peru e

Haiti

Rede BLH e CPLP ndash Brasil e

Cabo Verde

Moccedilambique

Angola e

Aacutefrica do Sul

Multilaterais ndash Programa Ibero-Americano de Bancos de Leite Humanos ndash IBERBLH [161]

Argentina

Colocircmbia

Espanha

Portugal

Paraguai

Uruguai e

Venezuela

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados disponibilizados no I Foacuterum Sul-Americano de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede ocorrida no Rio de Janeiro em 2011

161

O Programa Ibero-Americano de Bancos de Leite Humano criado na XVII Cuacutepula Ibero-

Americana ocorrida em Novembro de 2007 objetiva apoiar a implantaccedilatildeo de pelo menos um Banco de

Leite Humano em cada paiacutes Iacutebero-americano como um espaccedilo para o intercacircmbio do conhecimento e de

tecnologia no campo da lactacircncia materna focando a reduccedilatildeo da mortalidade infantil Para

maioresinformaccedilotildees Mais informaccedilotildees

httpsegiborguploadFileIniciativa_Bancos_de_Leiteportupdf Acesso em 20 de marccedilo de 2012

215

No tocante aos demais temas da aacuterea da sauacutede vaacuterias satildeo as accedilotildees

exitosas relativas agrave cooperaccedilatildeo internacional em sauacutede sejam relacionadas agrave

Aacutefrica ao Mercosul agrave Unasul agrave Cuba ou agrave Aacutesia A tabela a seguir consolida os

principais resultados alcanccedilados pela poliacutetica externa do Brasil nas questotildees

relacionadas ao CEIS junto aos paiacuteses prioritaacuterios na relaccedilatildeo Sul-Sul

compreendendo o periacuteodo entre 2003 e 2009

Tabela 5 Principais Resultados (2003-2009) CEIS e Poliacutetica Externa

RELACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

EM SAUacuteDE

DESCRICcedilAtildeO DOS PRINCIPAIS RESULTADOS ALCANCcedilADOS ENTRE 2003-2009

BRASIL ndash AFRICA

A poliacutetica externa do periacuteodo foi marcada pela intensificaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo na aacuterea de combate a doenccedilas tropicais como a malaacuteria combate ao HIVAIDS combate a anemia falciforme aleacutem da capacitaccedilatildeo de teacutecnicos estrangeiros e o auxiacutelio ao desenvolvimento do sistema de sauacutede puacuteblica

Instalaccedilatildeo de um escritoacuterio da Fiocruz em Maputo Moccedilambique representando uma forma ineacutedita de cooperaccedilatildeo na aacuterea de sauacutede com potencial para dinamizar a cooperaccedilatildeo em sauacutede com o continente africano

Instalaccedilatildeo da Faacutebrica de medicamentos do governo de Moccedilambique ndash unidade produtora de medicamentos antirretrovirais e demais medicamentos (sendo inaugurado em 2012) Os lotes pilotos dos medicamentos comeccedilam a ser produzidos em 2012 Sua produccedilatildeo prevecirc inicialmente 21 antirretrovirais que estatildeo em domiacutenio puacuteblico aleacutem de outros medicamentos que incluem antibioacuteticos antianecircmicos anti-hipertensivos antiinflamatoacuterios hipoglicemiantes diureacuteticos antiparasitaacuterios e corticosteroacuteides como aacutecido foacutelico diclofenaco de potaacutessio captopril e metronidazol e

Projetos integrados em sauacutede infantil e sauacutede reprodutiva (incluindo Banco de Leite Humano)

BRASIL - MERCOSUL

Atuaccedilatildeo das Comissotildees Intergovernamentais de Poliacuteticas de Medicamentos e Bancos de Preccedilos de Medicamentos do Mercosul de HIV-AIDS dentre outras comissotildees que conduzem os temas prioritaacuterios de sauacutede

Assinatura de 124 acordos pelos Ministros da Sauacutede do Mercosul (entre 2003-2010) envolvendo dentre outros temas Poliacuteticas de Medicamentos e Bancos de Preccedilos de Medicamentos do Mercosul e HIV-AIDS e

Aprovaccedilatildeo pelo Ministeacuterio da Sauacutede da proposta da delegaccedilatildeo brasileira da instituiccedilatildeo de um Regime Comum de Medicamentos e

princiacutepios ativos natildeo fabricados no Mercosul

Aquisiccedilatildeo conjunta de vacinas contra a gripe H1N1 pelo fundo Rotatoacuterio da OPAS

Unasul-Sauacutede ndash Plano quinquenal 2010-2015 ndash Diretriz Acesso Universal a Medicamentos Tem como objetivo estrateacutegico o desenvolvimento de estrateacutegias e planos de trabalho a fim de melhorar o acesso a medicamentos visando alcanccedilar o fortalecimento da coordenaccedilatildeo das capacidades produtivas da regiatildeo promovendo a produccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo de medicamentos geneacutericos

216

BRASIL ndash UNASUL

Criaccedilatildeo do Instituto Sul-Americano de Governo em Sauacutede ndash ISAGS que objetiva apoiar todos os paiacuteses membros no fortalecimento das capacidades nacionais e subregionais para a conduccedilatildeo formulaccedilatildeo implementaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de poliacuteticas e planos de longo prazo no que se refere inclusive ao Complexo Econocircmico e Industrial da Sauacutede Dentre os principais projetos conjuntos entre Brasil e demais paiacuteses destacam-se os seguintes

ARGENTINA ndash (2009) projeto de Fortalecimento das Farmacopeacuteias Brasileira e Argentina com o reconhecimento muacutetuo de substacircncias de referecircncia utilizadas no controle de qualidade dos medicamentos produzidos nesses paiacuteses e estabelecimento de cooperaccedilatildeo bilateral e o intercacircmbio de conhecimentos tecnoloacutegicos para aumentar a produccedilatildeo local de substacircncias de referecircncia contribuindo para reduzir a dependecircncia tecnoloacutegica na importaccedilatildeo dessas substacircncias com impacto direto na reduccedilatildeo de custos para as empresas nacionais

BOLIacuteVIA ndash (2009) apoio agrave implementaccedilatildeo do Banco de Leite Humano

PARAGUAI ndash (2006) instalaccedilatildeo do primeiro Banco de Leite Humano

EQUADOR ndashcriaccedilatildeo de bancos de leite humano

COLOcircMBIA GUIANA e VENEZUELA ndash projetos de estabelecimento de bancos de leite e de tratamento de HIVAIDS

BRASIL ndash CUBA

1

Produccedilatildeo conjunta pelo Instituto Biomanguinhos da Fiocruz e o Instituto Finlay de Cuba da vacina contra meningite A e C no final de 2007 a pedido emergencial da OMS para os paiacuteses africanos do bdquocinturatildeo de meningite‟(Mali Etioacutepia Senegal Burkina Faso Niacuteger Chade etc)

Cooperaccedilatildeo brasileira para a instalaccedilatildeo de faacutebrica de vacinas pertencente ao Instituto Finlay de Havana ocorrida em dezembro de 2008

Apoio a projetos de transferecircncia de tecnologia a fim de viabilizar e fortalecer o desenvolvimento da aacuterea de biotecnologiacutea aplicada agrave sauacutede em Cuba e no Brasil A estruturaccedilatildeo do Comitecirc Gestor Binacional para a cooperaccedilatildeo Bilateral entre Cuba e Brasil na aacuterea de Biotecnologia para a Sauacutede ocorrida em julho de 2010 tem como propoacutesito a promoccedilatildeo do desenvolvimento das aacutereas de interesse comum sob os aspectos da inovaccedilatildeo do direito de acesso a produtos de sauacutede e do desenvolvimento dos complexos industriais dos paiacuteses no que se refere agrave aacuterea da biotecnologia em sauacutede (wwwitamaratygovbr) Realizaccedilatildeo Seminaacuterio Teacutecnico-Cientiacutefico Brasil-Cuba sobre Biotecnologia para Sauacutede (Rio de Janeiro 15 e 16 de julho de 2010)

A Rede Nacional de Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo de Faacutermacos Anticacircncer (Redefac) instituiacuteda em outubro de 2011 pelo Ministeacuterio da Sauacutede fechou parceria de cooperaccedilatildeo tecnoloacutegica com Cuba envolvendo produccedilatildeo nacional via transferecircncia de tecnologia cubana de sete medicamentos oncoloacutegicos (principalmente anticorpos monoclonais)

Acordos de cooperaccedilatildeo em sauacutede firmados recentemente (iniacutecio de 2012) entre os governos do Brasil e de Cuba satildeo relacionados a trecircs eixos temaacuteticos e visando agrave promoccedilatildeo da capacitaccedilatildeo tecnoloacutegica do Complexo Econocircmico e Industrial da Sauacutede ndash setor farmacecircutico diagnoacutestico equipamentos e outros ao aumento do acesso da populaccedilatildeo a produtos de alto valor agregado aleacutem da diminuiccedilatildeo dos custos para os Ministeacuterios da Sauacutede do Brasil e de Cuba e

Cont DESCRICcedilAtildeO DOS PRINCIPAIS RESULTADOS ALCANCcedilADOS ENTRE 2003-

RI EM SAUacuteDE 2009

E

217

diminuiccedilatildeo da vulnerabilidade dos Sistemas de Sauacutede

Desenvolvimento tecnoloacutegico envolvendo pesquisa e produccedilatildeo de medicamentos e outros produtos para a aacuterea da sauacutede

Articulaccedilatildeo regulatoacuteria para harmonizar as exigecircncias para registros de produtos e processos em sauacutede favorecendo a cooperaccedilatildeo e inovaccedilatildeo em sauacutede

Articulaccedilatildeo para a pesquisa cliacutenica em oncologia com terapia e diagnoacutestico de cacircncer

Instalaccedilatildeo de Bancos de Leite Humano

Desenvolvimento da alfapeginterferona 2 b humana recombinante entre Bio-Manguinhos e Centro de Ingenieria Geneacutetica y Biotecnologia de Cuba com Transferecircncia de Tecnologia e estabelecimento da plataforma de peguilaccedilao de proteiacutenas - projeto em andamento

BRASIL ndash AacuteSIA1

INDIA

Acordo de cooperaccedilatildeo para transferecircncia de tecnologia agrave empresa indiana privada Cipla para produccedilatildeo de medicamento antimalaacuterico ndash o ASMQ (combinaccedilatildeo do artesunato e mefloquina) desenvolvida pela Fiocruz e a organizaccedilatildeo internacional DNDI ocorrida em agosto de 2008 tendo como objetivo o abastecimento do sudeste asiaacutetico que tem alta incidecircncia de malaacuteria e

Interesse brasileiro na expertise da Iacutendia na produccedilatildeo de faacutermacos e na aacuterea de produccedilatildeo de geneacutericos

CHINA [

162]

ldquoA China assim como a Iacutendia estaacute conseguindo consolidar sua estrateacutegia de desenvolvimento Esses paiacuteses hoje satildeo parceiros tecnoloacutegicos que podem contribuir para alavancar a competitividade brasileirardquo afirma o ministro da Sauacutede Joseacute Gomes Temporatildeo

2

Dentre os principais interesses manifestados pelo governo brasileiro destacam-se as cooperaccedilotildees em aacutereas estrateacutegicas como biobiofaacutermacos reagentes para diagnoacutestico e parcerias puacuteblico-privadas na aacuterea de medicamentos e equipamentos e

Acordo de TT na sauacutede assinado em 2009 ndash EMS e Shanghai Biomabs ndash produccedilatildeo no Brasil de 6 biotecnoloacutegicos de uacuteltima geraccedilatildeo - anticorpos monoclonais medicamentos indicados no combate a doenccedilas graves e de tratamento de alto custo como cacircncer artrite reumatoacuteide e osteoporose

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados disponiacuteveis nos portais do Itamaraty ndash wwwitamaratygovbr e do Relatoacuterio Balanccedilo de Governo 2003-2010 ndash Brasil disponiacutevel em meio eletrocircnico wwwbalancodegovernopresidenciagovbr

Nota 1 A despeito do recorte de anaacutelise deste estudo se restringir ao Mercosul agrave Unasul e aos paiacuteses africanos optamos por apresentar algumas accedilotildees de grande importacircncia relacionadas agrave Iacutendia Cuba e China dada a relevacircncia desses paiacuteses no cenaacuterio produtivo da sauacutede

Nota 2 Artigo ldquoMinistro da Sauacutede lidera missatildeo para expandir relaccedilotildees com a China na Sauacutederdquo de 03122009 disponiacutevel em httpportalsaudegovbr

162

A China deteacutem 10 do deacuteficit comercial brasileiro em sauacutede (dados de 2008) o que

representa um desafio para o Brasil para construir um caminho de parcerias para desenvolver e produzir

tecnologias de interesse da sauacutede puacuteblica brasileira Segundo o artigo ―Ministro da Sauacutede lidera missatildeo

para expandir relaccedilotildees com a China na Sauacutede de 03122009 disponiacutevel em httpportalsaudegovbr o

mercado de faacutermacos e equipamentos hospitalares estaacute em franco crescimento na China Em 2008 o

Brasil importou neste segmento o equivalente a R$ 617 milhotildees daquele paiacutes mdash um aumento de 83 em

relaccedilatildeo ao ano anterior Por outro lado as exportaccedilotildees brasileiras agrave China somaram R$ 78 milhotildees em

2008 uma queda de 22 em relaccedilatildeo a 2007

Cont DESCRICcedilAtildeO DOS PRINCIPAIS RESULTADOS ALCANCcedilADOS ENTRE 2003-

RI EM SAUacuteDE 2009

E

218

Na Aacutefrica um exemplo a ser citado de cooperaccedilatildeo Sul-Sul

fundamentando em modelo horizontal e estruturante eacute o caso da cooperaccedilatildeo

brasileira na aacuterea de transferecircncia de tecnologia firmada pela Fiocruz [163] para

a implantaccedilatildeo de uma faacutebrica de medicamentos diversos e de antirretrovirais

em Moccedilambique aleacutem de trecircs projetos integrados em sauacutede infantil e sauacutede

reprodutiva (incluindo um Banco de Leite Humano)

A Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz instituiccedilatildeo com forte atuaccedilatildeo na aacuterea da

sauacutede junto aos paiacuteses africanos tem sido crucial na implementaccedilatildeo do Plano

Estrateacutegico de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede (PECS) aprovado pelos ministros da

Sauacutede da Comunidade de Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa ndashCPLP [164]

em 2009 tendo esse plano o objetivo de contribuir para reforccedilar os sistemas de

sauacutede dos Estados partiacutecipes da CPLP visando a garantia do acesso universal

a sauacutede de qualidade

A missatildeo da CPLP inclui apoiar os paiacuteses membros na reduccedilatildeo da

mortalidade infantil melhoria da sauacutede materno-infantil aleacutem do combate ao

HIVAIDS malaacuteria e outras doenccedilas graves que atingem os paiacuteses da regiatildeo

Dentre as diretrizes orientadoras a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento

de um complexo produtivo comunitaacuterio com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico que contribua para um maior acesso a insumos estrateacutegicos em

sauacutede e para um maior controle da qualidade dos insumos de sauacutede resultou

no eixo estrateacutegico ldquoDesenvolvimento do Complexo Produtivo da Sauacutederdquo

Sob essa perspectiva foram considerados prioritaacuterios os seguintes

projetos (a) o desenvolvimento da induacutestria farmacecircutica a reduccedilatildeo da

dependecircncia externa de insumos para a sauacutede e a ampliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica ndash accedilotildees estruturantes levantamento da situaccedilatildeo atual

163

Outras iniciativas de atuaccedilatildeo da Fiocruz no continente africano que por natildeo estarem

diretamente relacionadas ao tema do CEIS natildeo seratildeo apontadas no corpo do texto na aacuterea de ensino ndash

cursos de Poacutes-graduaccedilatildeo em diferentes aacutereas capacitaccedilotildees em serviccedilo ensino agrave distacircncia e estruturaccedilatildeo

de uma rede de escolas teacutecnicas em sauacutede implantaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo dos institutos nacionais de sauacutede

dos paiacuteses da Comunidade de Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa - CPLP aleacutem da lideranccedila da Rede de

Institutos Nacionais de Sauacutede Puacuteblica e de diversas outras accedilotildees de cooperaccedilatildeo das unidades teacutecnico-

cientiacuteficas da Fiocruz com muitos paiacuteses da Aacutefrica Vale citar a abertura do escritoacuterio internacional da

Fundaccedilatildeo em Maputo Moccedilambique em outubro de 2008 Dados disponiacuteveis em wwwfiocruzbr

164 A saber Angola Brasil Cabo Verde Guineacute Bissau Moccedilambique Portugal Satildeo Tomeacute e

Priacutencipe e Timor-Leste (conforme apresentado no capiacutetulo anterior)

219

identificaccedilatildeo de oportunidades atividades e financiamento sendo a Fiocruz

responsaacutevel pela articulaccedilatildeo com todos os paiacuteses (b) Centros Teacutecnicos de

Instalaccedilatildeo e Manutenccedilatildeo de Equipamentos (CTIME) - por meio do apoio e

qualificaccedilatildeo da organizaccedilatildeo de serviccedilos de manutenccedilatildeo de equipamentos da

sauacutede sendo Portugal responsaacutevel pela articulaccedilatildeo [165]

A priorizaccedilatildeo do Complexo Produtivo da Sauacutede como eixo estrateacutegico no

Plano Estrateacutegico de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede (PECS) denota a importacircncia que

o tema sucinta para o conjunto de paiacuteses partiacutecipes do CPLP notadamente

paiacuteses africanos A participaccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz na construccedilatildeo e

na implementaccedilatildeo do PECS se fundamenta em accedilotildees estruturantes que visam

agrave concretude exitosa do Plano Estrateacutegico sendo portanto essa instituiccedilatildeo de

grande representaccedilatildeo para o CPLP

No tocante ao Mercosul o Paiacutes visa a integraccedilatildeo com base no

desenvolvimento econocircmico e social dos paiacuteses membros e tem nos seus

partiacutecipes o compromisso de harmonizar suas legislaccedilotildees nas aacutereas

pertinentes a fim de fortalecer esse processo de integraccedilatildeo Nesse sentido a

sauacutede com base na Resoluccedilatildeo GMC 132007 (Grupo Mercado Comum ao qual

se liga o Subgrupo de Trabalho ndash SGT nordm11) firmou a Pauta Negociadora das

accedilotildees em sauacutede que vem sendo conduzida em conformidade a determinadas

diretrizes de accedilatildeo dentre as quais se destacam

1 Harmonizaccedilatildeo de legislaccedilotildees e diretrizes promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

teacutecnica e coordenaccedilatildeo de accedilotildees entre os Estados-Partes na aacuterea da

sauacutede necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo

2 Promoccedilatildeo do aperfeiccediloamento e da articulaccedilatildeo dos sistemas nacionais

voltados agrave qualidade eficaacutecia e seguranccedila dos produtos e serviccedilos

ofertados agrave populaccedilatildeo com o objetivo de reduzir riscos agrave sauacutede

3 Promoccedilatildeo do aperfeiccediloamento e articulaccedilatildeo dos sistemas nacionais

voltados para a regulamentaccedilatildeo e o controle de produtos que trazem

riscos para a sauacutede

165

Plano Estrateacutegico de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede da CPLP (PECSCPLP) - 2009-2012 disponiacutevel

em httpwwwcplporgid-1787aspx

220

4 Promoccedilatildeo e gerenciamento de propostas de cooperaccedilatildeo que visem agrave

reduccedilatildeo das assimetrias existentes e a integraccedilatildeo regional no setor

sauacutede

O SGT 11 ldquoSauacutederdquo desenvolve suas atividades em trecircs aacutereas de

trabalho Vigilacircncia em Sauacutede Serviccedilos de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede e Produtos para a

Sauacutede Esta uacuteltima de responsabilidade da Comissatildeo de Produtos para a

Sauacutede Dentre as 95 Resoluccedilotildees que tratam do tema da Sauacutede que foram

elaboradas aprovadas e incorporadas pelos Estados-Parte do Mercosul

destacam-se

Quadro 4 Resoluccedilotildees Mercosul ndash CEIS

RESOLUCcedilOtildeES DO GRUPO AD HOC PRODUTOS MEacuteDICOS

RESOLUCcedilAtildeO

ASSUNTO

Res 495 ldquoPraacuteticas Adequadas para a Fabricaccedilatildeo de Produtos Meacutedicosrdquo

Res 3896 Regulamento Teacutecnico referente agrave Verificaccedilatildeo do Cumprimento de Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo e Controle em Estabelecimentos de Produtos para Diagnoacutestico uso ldquoin vitrordquo

Res 6596 ldquoGuia de Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo e Controle para Reativos de Diagnoacutestico de uso bdquoin vitro‟rdquo

Res 7996 Registro intrazona de produtos de diagnoacutestico de uso ldquoin vitrordquo

Res 13196 Regulamento Teacutecnico sobre a Verificaccedilatildeo do Cumprimento das Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo de Produtos Meacutedicos

Res 2598 Programa de Capacitaccedilatildeo de Inspetores para a Verificaccedilatildeo do Cumprimento das BPF de Produtos Meacutedicos

Res 7298 Regulamento teacutecnico ldquoRequisitos essenciais de seguranccedila e eficaacutecia dos produtos meacutedicosrdquo

Res 4000 Registros de Produtos Meacutedicos (Revoga a Resoluccedilatildeo GMC 3796)

Res 4608 Diretrizes para o Mecanismo de Intercacircmbio de Aviso Alerta sobre Eventos Adversos Causados Por Produtos Meacutedicos Fabricados Intra-Zona

RESOLUCcedilOtildeES DO GRUPO AD HOC MEDICAMENTOS

Res 492 Praacuteticas adequadas para a fabricaccedilatildeo e a inspeccedilatildeo de qualidade de medicamentos

Res 693 Guia para inspeccedilatildeo de estabelecimentos da Induacutestria Farmacecircutica

Res 2395 Requisitos para o registro de produtos farmacecircuticos registrados e elaborados em um Estado-Parte produtor similares a produtos registrados em um Estado-Parte receptor

Res 1396 Regulamento de Boas Praacuteticas na Fabricaccedilatildeo de Produtos Farmoquiacutemicos Substitui a Resoluccedilatildeo 9293

221

Cont RESOLUCcedilOtildeES DO GRUPO AD HOC MEDICAMENTOS

Res 5196 Empresas e Titularidade de Registros requisitos que devem preencher as

empresas no Estado-Parte receptor para serem titulares de registros de produtos farmacecircuticos fabricados em outro EP do Mercosul para aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo 2395

Res 5296 ldquoLista de Informaccedilotildees e Documentaccedilatildeo requerida para o Registro de Produtos Farmacecircuticos Similares de acordo com a Resoluccedilatildeo GMC 2395rdquo

Res 5396 Estabilidade de Produtos Farmacecircuticos

Res 5496 ldquoVigecircncia Modificaccedilatildeo Renovaccedilatildeo e Cancelamento de Registro de Produtos Farmacecircuticos para aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo GMC 2395

Res 5796 ldquoBoas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo de Soluccedilotildees Parenterais de Grande Volumerdquo

Res 3399 Regulamento Teacutecnico para a Produccedilatildeo e Controle de Qualidade de Hemoderivados de Origem Plasmaacutetico (Substitui a Resoluccedilatildeo 9694)

Res 5002 Contrataccedilatildeo de Serviccedilos de Terceirizaccedilatildeo para Produtos Farmacecircuticos no Acircmbito do Mercosul

Res 1308 Diretrizes sobre Combate e Falsificaccedilatildeo e Fraude de Medicamentos e Produtos Meacutedicos no Mercosul

Res 5308 Plano Estrateacutegico de Cooperaccedilatildeo Teacutecnica em Regulaccedilatildeo de Vacinas no acircmbito do Mercosul

Res 5408 Diretrizes sobre Promoccedilatildeo Propaganda e Publicidade de Medicamentos no Mercosul

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de wwwi3govplanejamentogovbr

Com a Comissatildeo de Comeacutercio do Mercosul oacutergatildeo encarregado de

assessorar nos temas comerciais a Coordenaccedilatildeo Nacional da Sauacutede no

Mercosul encontra um espaccedilo para proteger a sauacutede da populaccedilatildeo no que se

refere agrave qualidade e agrave seguranccedila na cadeia de medicamentos Nesse sentido

participa desse Foacuterum atuando nas seguintes frentes [166]

(a) Fortalecimento dos trabalhos para a harmonizaccedilatildeo dos regulamentos

sanitaacuterios que contemplem o tratamento prioritaacuterio agrave regulamentaccedilatildeo

relacionada aos testes de equivalecircncia - biodisponibilidade

bioequivalecircncia e dissoluccedilatildeo in vitro

(b) Estiacutemulo para colocaccedilatildeo em vigecircncia de todas as normativas acordadas

no Mercosul que tratam do registro de produtos farmacecircuticos e da

verificaccedilatildeo do cumprimento das Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo e Controle

ndash BPFC e outros regulamentos de Boas Praacuteticas acordados

166

Disponiacutevel em www3govplanejamentogovbr

222

(c) Atenccedilatildeo das autoridades sanitaacuterias na concessatildeo do registro sanitaacuterio

de medicamentos no sentido de avaliar a relaccedilatildeo riscobenefiacutecio natildeo

somente em termos da qualidade farmacoloacutegica e farmacecircutica mas

tambeacutem em termos das vantagens terapecircuticas e da efetiva

necessidade de cada medicamento quanto aos aspectos econocircmico e

social

(d) Implementaccedilatildeo de programas de fiscalizaccedilatildeo e controle que evitem a

distribuiccedilatildeo comercializaccedilatildeo e uso de medicamentos ilegiacutetimos na

regiatildeo

(e) Definiccedilatildeo de diretrizes e regulamentos harmonizados dirigidos ao

controle da qualidade seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

importados extrazona

Vale ressaltar a importacircncia do Mercosul na definiccedilatildeo tarifaacuteria das

mercadorias relacionadas ao CEIS O Mercosul realiza periodicamente

modificaccedilotildees pontuais e permanentes agrave Tarifa Externa Comum ndash TEC ldquoEm

siacutentese as estrateacutegias adotadas no Mercosul para modificaccedilatildeo da TEC satildeo a

elevaccedilatildeo forma de proteccedilatildeo agraves produccedilotildees regionais e a reduccedilatildeo mercadorias

sem produccedilatildeo regionalrdquo

No tocante a aacuterea de trabalho que compotildee a Agenda Sul-Americana

da Sauacutede (Unasul-Sauacutede) foi aprovado o Plano de Accedilatildeo 2010-2015 Dentre as

atividades de cada um dos toacutepicos propostos as relacionadas ao ldquoacesso

Universal a Medicamentos (e a outros insumos para a sauacutede e desenvolver o

Complexo Produtivo da Sauacutede na Ameacuterica do Sul)rdquo seratildeo priorizadas neste

estudo a fim de destacar a questatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial da

Sauacutede ndash CEIS

Nesse sentido em conformidade com o Acordo nordm 0109 de 21042009

do Conselho de Sauacutede Sul Americano da Unasul a questatildeo do ldquoacesso

universal a medicamentosrdquo comporta as seguintes atividades

a) Estabelecimento do mapa das capacidades da Ameacuterica do Sul para

produzir medicamentos e outros insumos de sauacutede

223

b) Troca de experiecircncias para instituir mecanismos que permitam enfrentar

de maneira integrada as barreiras que limitam o acesso a medicamentos

essenciais e de alto custo

c) Elaboraccedilatildeo de uma proposta de poliacutetica sul-americana de Acesso

Universal a Medicamentos considerando o complexo produtivo de

sauacutede sul-americano

d) Estabelecimento de um espaccedilo de comunicaccedilatildeo de riscos sobre o

controle da qualidade de medicamentos bem como sobre a falsificaccedilatildeo

de faacutermacos e o traacutefico iliacutecito

Ganha destaque a constituiccedilatildeo do Instituto Sul Americano de

Governanccedila em Sauacutede ndash ISAGS que dentre os desafios assumidos tem como

objetivo valorizar o parque e a capacidade produtiva da regiatildeo Dentre as aacutereas

consideradas como prioritaacuterias do ISAGS destacamos a seguir os principais

desafios relacionados agraves aacutereas ldquoComplexo Econocircmico-Industrial da Sauacutederdquo ndash

CEIS e ldquoSauacutede e Diplomaciardquo temas relacionados ao objeto deste estudo de

doutorado

No que se refere ao CEIS o ISAGS aponta os seguintes desafios a

serem ultrapassados e as questotildees a serem consideradas (1) a relaccedilatildeo do

desenvolvimento produtivo e a soberania (2) a valorizaccedilatildeo do parque e da

capacidade produtiva da regiatildeo (c) os incentivos fiscais (d) a harmonizaccedilatildeo

regional do sistema de compras e de distribuiccedilatildeo (e) os sistemas de regulaccedilatildeo

de preccedilos

Quanto agrave aacuterea da ldquoSauacutede e Diplomaciardquo o ISAGS considera as

seguintes questotildees a serem priorizadas (a) a baixa cultura diplomaacutetica em

sauacutede (b) a distinccedilatildeo entre diplomacia e cooperaccedilatildeo internacional (c) a

negociaccedilatildeo e a construccedilatildeo da posiccedilatildeo estrutural em sauacutede para decisotildees

internacionais coletivas regionais ou globais e (d) o alinhamento de poliacuteticas

regionais para a cooperaccedilatildeo internacional

No tocante ao Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede destaca-se o

estreito viacutenculo que essa questatildeo relaciona com o desenvolvimento dos

sistemas universais de sauacutede e o acesso de toda a populaccedilatildeo 90

224

O atendimento a essa proposta especiacutefica da Agenda Sul-Americana de

Sauacutede fundamenta-se no entendimento da complexidade que esse tema

comporta desde ao que se refere agrave especializaccedilatildeo do complexo produtivo

com suas caracteriacutesticas pautadas na inovaccedilatildeo na articulaccedilatildeo entre os

distintos atores envolvidos tanto no acircmbito governamental acadecircmico ou

privado ateacute ao que representa as questotildees cambiais jaacute que a balanccedila

comercial eacute exponencialmente deficitaacuteria no que se refere aos produtos

relacionados ao CEIS

Ademais em que pesem os desafios apresentados a propriedade

intelectual de produtos farmacecircuticos eacute uma questatildeo que requer uma especial

atenccedilatildeo dos formuladores das poliacuteticas puacuteblicas de paiacuteses em

desenvolvimento Ao que Stiglitz 95 precircmio Nobel de Economia afirma como

uma falha de economia e do direito o fato de milhotildees de pessoas morrerem

todo ano em funccedilatildeo do alto custo dos medicamentos quando poderiam ser

salvas caso houvesse acesso a drogas capazes de salvar suas vidas ou ateacute

mesmo a existecircncia de medicamentos ou vacinas para as doenccedilas dos pobres

Segundo Carlos Correa citado por Buss 90 contar com uma induacutestria

farmacecircutica local capaz de produzir os medicamentos necessaacuterios para

atender agrave sauacutede passou a ser uma questatildeo estrateacutegica e natildeo um simples

objetivo de poliacutetica industrial ao que estende para os demais bens e serviccedilos

do CEIS percepccedilatildeo essa inclusive dos chefes de Estados da Unasul haja

vista a importacircncia dada agrave temaacutetica em questatildeo

Isso posto Buss 90 (p 30-31) destaca no contexto da regiatildeo sul-

americana o estreito viacutenculo entre os sistemas de sauacutede com as estruturas

tecnoloacutegicas

ldquoSistemas de sauacutede poreacutem satildeo estruturas tecnoloacutegicas complexas dependem de equipamentos meacutedico-ciruacutergicos medicamentos vacinas kits para diagnoacutestico oacuterteses e proacuteteses sangue e hemoderivados materiais de consumo e outros insumos aleacutem de instalaccedilotildees cada vez mais especializadas Portanto o acesso a algo desse porte deve ser considerado no marco de poliacuteticas de sauacutede industrial e de ciecircncia e tecnologia Tais recursos satildeo produzidos pelo que se denomina ldquocomplexo produtivo

225

da sauacutederdquo [167

] ou seja pelo conjunto de empresas produtoras e de consumidores institucionais (governos prestadores de serviccedilos de sauacutede hospitais etc) e individuais de bens e serviccedilos de sauacutede aleacutem das instituiccedilotildees que elaboram inovaccedilotildees (universidades e empresas) () A regiatildeo tem enorme deacuteficit comercial na balanccedila relativa a insumos e serviccedilos de sauacutede Sem xenofobia a proposta implica que os insumos em sauacutede necessaacuterios para a populaccedilatildeo sul-americana devam ser produzidos dentro do possiacutevel pelo complexo produtivo da sauacutede instalado no proacuteprio subcontinente Isso aponta para a necessidade de uma articulaccedilatildeo puacuteblico-privada em niacutevel regional que harmonize poliacuteticas industriais nesse complexo aleacutem de enfrentar desafios como o acesso a novos produtos e a regulaccedilatildeo do mercado farmacecircutico frente agraves novas biotecnologias genocircmica e proteocircmicardquo

Com papel estrateacutegico na construccedilatildeo dos pilares do desenvolvimento e

da sauacutede natildeo se restringindo agrave atuaccedilatildeo nacional a Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz

ndash Fiocruz como instituiccedilatildeo estrateacutegica do Estado destaca-se

internacionalmente com accedilotildees efetivas estruturadoras e transformadoras

principalmente junto a paiacuteses da Ameacuterica Latina Ameacuterica Central e a paiacuteses

africanos tendo intensificado suas atividades notadamente no iniacutecio do seacuteculo

XXI Essa instituiccedilatildeo tida como Instituiccedilatildeo Puacuteblica Estrateacutegica de Estado para

a Sauacutede alinhada ao conceito de Sauacutede e Diplomacia em atuaccedilatildeo conjunta

com o Ministeacuterio da Sauacutede e com as orientaccedilotildees do Ministeacuterio das Relaccedilotildees

Exteriores constitui-se como a principal protagonista da poliacutetica setorial de

cooperaccedilatildeo internacional

Dentre os resultados alcanccedilados (que incluem formaccedilatildeo de recursos

humanos capacitaccedilotildees formaccedilatildeo de Institutos Nacionais de Sauacutede Puacuteblica

dentre outros) podemos observar igualmente a importacircncia exercida pelos

segmentos do Complexo Econocircmico Industrial da Sauacutede e que se

correlacionam com o desenvolvimento da estrutura e dos sistemas de sauacutede

dos paiacuteses citados anteriormente (Ver Tabela 6) Accedilotildees essas que ressaltam o

caraacuteter poliacutetico-estrateacutegico da sua atuaccedilatildeo com consequecircncias positivas e

estruturantes para o desenvolvimento dos paiacuteses beneficiaacuterios

167

GADELHA CAG Desenvolvimento complexo industrial da sauacutede e poliacutetica

industrial Revista Sauacutede Puacuteblica [online] 2006 vol 40 (nspe) p 11-23

226

No tocante agrave incorporaccedilatildeo de tecnologia eacute principalmente a partir de

2004 que se tem observado a intensificaccedilatildeo dessas accedilotildees em funccedilatildeo

primordialmente das diretrizes poliacuteticas vigentes que visam a autossuficiecircncia

tecnoloacutegica e comercial para os programas nacionais de sauacutede puacuteblica

E a Fiocruz no contexto da sauacutede e do Complexo Econocircmico-Industrial

da Sauacutede tambeacutem vem representando papel de fundamental importacircncia nas

accedilotildees de incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica Satildeo observadas accedilotildees nas aacutereas

estrateacutegicas para o SUS (imunobioloacutegicos biofaacutermacos e faacutermacos)

principalmente Vale comentar que os ganhos com a incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica

natildeo se esgotam no mercado interno podendo ser replicados em accedilotildees de

cooperaccedilatildeo internacional notadamente como paiacuteses em desenvolvimento

cujos laccedilos Sul-Sul conforme explicado anteriormente satildeo prioridades da

poliacutetica externa brasileira

A tabela 6 apresenta as principais accedilotildees de incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica

relacionadas ao CEIS

227

Tabela 6 ndash Incorporaccedilatildeo Tecnoloacutegica ndash Principais Accedilotildees da Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz Relacionadas ao CEIS - Periacuteodo 2003-2009

Tema

Produto

Ano

Comentaacuterios

Kit de Diagnoacutestico Programa AIDS

Teste raacutepido para diagnoacutestico

2004 a 2006

Contrato de transferecircncia de tecnologia entre o

Biomanguinhos e a empresa norte-americana Chembio Diagnostics

Reduccedilatildeo da dependecircncia tecnoloacutegica na aacuterea Favorecimento do diagnoacutestico precoce

comeccedilando pela prevenccedilatildeo da transmissatildeo vertical ndash de matildee para filho

Natildeo necessita de infraestrutura laboratorial e o resultado fica pronto em dez minutos

Entre 2006 a 2009 foram produzidos 36 milhotildees de kits diagnoacutesticos

Medicamentos Programa Aids

Produccedilatildeo do Medicamento Efavirenz

2009

Licenciamento compulsoacuterio decretado pelo

Governo brasileiro em maio de 2007 Um dos projetos mais estrateacutegicos e de

extrema relevacircncia no ano de 2009 no campo da produccedilatildeo e do fornecimento de insumos para a sauacutede

Integra valores agrave cadeia produtiva O IFA eacute produzido no Brasil com expectativa para produccedilatildeo de intermediaacuterios em territoacuterio nacional

Diminuiccedilatildeo da dependecircncia do Brasil em relaccedilatildeo ao mercado farmacecircutico economia de recursos para os cofres puacuteblicos e fortalecimento da participaccedilatildeo nacional no Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

Iniacutecio da produccedilatildeo por Farmanguinhos da Fiocruz

Produccedilatildeo de 18 milhotildees de unidades farmacecircuticas em 2009

Biofaacutermacos

Produccedilatildeo de Eritropoetina Humana e Interferon

2006

Contrato de transferecircncia de tecnologia entre

Bio-Manguinhos da Fiocruz com Cuba Viabilizaccedilatildeo do acesso gratuito agrave populaccedilatildeo a

produtos de alta tecnologia para tratamento de cacircncer hepatites e insuficiecircncia renal crocircnica

Entre 2006 e 2009 foram fornecidos ao SUS cerca de 24 milhotildees de unidades de biofaacutermacos

Biofaacutermaco

Produccedilatildeo de Interferon Peguilado

2009

Contrato de transferecircncia de tecnologia de

Cuba para Bio-Manguinhos

228

Cont

Tema

Produto

Ano

Comentaacuterios

Biofaacutermaco Recombinante

Produccedilatildeo de insulina

2007

Contrato de incorporaccedilatildeo de tecnologia de

biofaacutermacos por DNA recombinante para a produccedilatildeo nacional de insulina com o Instituto Ucraniano CJSC ndash Indar

A geraccedilatildeo de um produto final mais barato e eficaz impactaraacute natildeo soacute em melhorias no cuidado ao diabeacutetico mas tambeacutem na regulaccedilatildeo do mercado e na diminuiccedilatildeo do gasto com esse insumo suprindo a necessidade do Paiacutes e proporcionando desenvolvimento tecnoloacutegico associado visando a outros biofaacutermacos

Medicamento e Kit de diagnoacutestico H1N1

Produccedilatildeo do medicamento Fosfato de Oseltamivir e pesquisa para desenvolvimento do teste de diagnoacutestico

2009

Acordo com a OMS Considerado o medicamento mais eficiente ateacute

o momento no tratamento da influenza A H1N1 Farmanguinhos iniciou em 2009 a produccedilatildeo e

a distribuiccedilatildeo do medicamento Em 2009 foram produzidos cerca de seis

milhotildees de unidades farmacecircuticas Pesquisadores da Fiocruz estatildeo envolvidos em

um projeto que visa aperfeiccediloar o diagnoacutestico laboratorial do viacuterus da influenza A H1N1 hoje fornecido pela OMS visando agrave substituiccedilatildeo por similares nacionais de maior qualidade e sensibilidade aleacutem de promover maior autonomia para o sistema brasileiro economia de recursos puacuteblicos e ampliaccedilatildeo da capacidade de anaacutelises de amostras

Vacina

Produccedilatildeo de vacina contra Rotaviacuterus

2008

Contrato de transferecircncia de tecnologia com a

GlaxoSmithkline (GSK) e Bio-Manguinhos Entre 2008 e 2009 foram fornecidas mais de

16 milhotildees de doses da vacina

Vacina

Produccedilatildeo de vacina Triacuteplice Viral

2004

Contrato de transferecircncia de tecnologia com a

GlaxoSmithKline e Bio-ManguinhosFiocruz para a produccedilatildeo da vacina combinada contra rubeacuteola sarampo e caxumba (chamada Triacuteplice Viral) ateacute entatildeo o uacutenico imunobioloacutegico presente no calendaacuterio baacutesico de vacinaccedilatildeo ainda importado pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Medicamento Malaacuteria

Medicamento ASMQ

2008

Parceria com a Iniciativa de Medicamentos para Doenccedilas Negligenciadas ndash Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDI) para o desenvolvimento e produccedilatildeo do medicamento Artesunato + Mefloquina (ASMQ) utilizado por pacientes com malaacuteria

Produto inovador desenvolvido e registrado no Brasil

229

Cont

Tema

Produto

Ano

Comentaacuterios

Vacina

Produccedilatildeo da vacina pneumocoacutecica conjugada

2009

Contrato de transferecircncia de tecnologia com a

empresa GlaxoSmithKline (GSK) e Bio-Manguinhos para a produccedilatildeo da vacina pneumocoacutecica conjugada que protege contra a pneumonia e a meningite por pneumococo a otite meacutedia e as formas de bronquite e de sinusite causadas pela bacteacuteria pneumococo

A produccedilatildeo foi iniciada no final de 2009

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir do relatoacuterio ldquoBalanccedilo de Governo 2003-2010rdquo ndash Brasil ndash disponiacutevel em wwwbalancodegovernopresidenciagovbr

Sob a perspectiva poliacutetica estrateacutegica entre 2000 e 2011 [168] a

Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz protagonizou accedilotildees que resultaram em diferenciais

estrateacutegicos para o fortalecimento da sauacutede puacuteblica e para a inserccedilatildeo da

mesma no contexto das relaccedilotildees internacionais

a) Em referecircncia agrave aacuterea de produccedilatildeo de vacinas (i) atendimento a

Programas de Imunizaccedilatildeo e a situaccedilotildees emergenciais com fornecimento

de vacina contra Febre Amarela e Meningite Meningocoacutecica (ii) aleacutem do

aumento exponencial na sua capacidade de exportaccedilatildeo [169]

168

Conforme dados disponiacuteveis nos portais httpsi3govplanejamentogovbr e

wwwitamaratygovbr e nos Relatoacuterios de Atividades da Fiocruz

169 ―Em decorrecircncia da preacute-qualificaccedilatildeo da vacina febre amarela pela Organizaccedilatildeo Mundial da

Sauacutede obtida em 2001 Bio-Manguinhos da Fiocruz deteacutem o direito de fornecer esse imunobioloacutegico para

as Agecircncias das Naccedilotildees Unidas desde que cumprido o convecircnio com o Ministeacuterio da Sauacutede O excedente

de produccedilatildeo pode ser exportado para governos e instituiccedilotildees puacuteblicas internacionais Mais de 768

milhotildees de doses da vacina febre amarela foram exportadas para agecircncias das Naccedilotildees Unidas entre 2005

e 2009 Com a exportaccedilatildeo deste produto para mais de 70 paiacuteses Bio-Manguinhos consolida-se num curto

espaccedilo de tempo como o maior fornecedor de vacinas febre amarela para as Ameacutericas Latina e Central e

um dos maiores em todo o mundo contribuindo com os esforccedilos para a melhoria das condiccedilotildees de sauacutede

em todo o globo Tambeacutem exporta vacina meningocoacutecica AC que protege contra meningite sorogrupos

A e C De 2007 ano em que comeccedilou a exportar essa vacina ateacute 2009 aproximadamente 85 milhotildees de

doses foram enviadas ao exterior Disponiacutevel em

httpwwwbiofiocruzbrindexphpprodutosfornecimento

230

b) Instalaccedilatildeo do Escritoacuterio da Fiocruz na Aacutefrica em Moccedilambique em 2008

[170]

c) Indicaccedilatildeo pelo governo brasileiro como ponto focal no Comitecirc de

Cooperaccedilatildeo do Conselho de Sauacutede Sul-Americano (Unasul-Sauacutede)

d) Formulaccedilatildeo e implantaccedilatildeo do Instituto Sul-Americano de Governo em

Sauacutede tendo a Fiocruz como Secretaria Executiva Criado pelo

Conselho de Chefes de Estado e de Governo da Unasul o Isags integra

o Conselho de Sauacutede Sul-Americano da Unasul Tem dentre os seus

principais compromissos [171] a promoccedilatildeo do intercacircmbio da reflexatildeo

da criacutetica da gestatildeo do conhecimento e da geraccedilatildeo de inovaccedilotildees no

campo da poliacutetica e governanccedila da sauacutede [172]

e) Indicaccedilatildeo do Instituto Nacional Fernandes Figueira da Fiocruz como

base da nova Secretaria-Executiva da Rede Ibero-Americana de Bancos

de Leite Humano (compartilhamento do conhecimento e tecnologias nos

campos de aleitamento materno e sauacutede da matildee e da crianccedila) [173][174]

170

Decreto Legislativo nordm 2352011 oficializou o acordo entre o Governo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil e o Governo da Repuacuteblica de Moccedilambique para a instalaccedilatildeo da sede do Escritoacuterio

Regional da Fiocruz na Aacutefrica

171

Ademais o Isags tem como compromisso a articulaccedilatildeo dos ministeacuterios da Sauacutede da Ameacuterica

do Sul com vistas agrave qualificaccedilatildeo da gestatildeo da sauacutede na regiatildeo ao desenvolvimento de lideranccedilas de

sistemas serviccedilos organizaccedilotildees e programas na aacuterea da sauacutede e ao apoio teacutecnico agraves instituiccedilotildees de

governodo setor sauacutede

172

Seu plano de trabalho plurianual resulta das prioridades definidas no Plano Quinquenal 2010-

2015 do Conselho de Sauacutede Sul-Americano em que o Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede ganha

caraacuteter estrateacutegico aleacutem das necessidades identificadas pelos ministeacuterios da Sauacutede

173

A cooperaccedilatildeo internacional para a reduccedilatildeo da mortalidade infantil e a promoccedilatildeo da seguranccedila

nutricional neonatal meta estabelecida pela ONU como um dos Objetivos de Desenvolvimento do

Milecircnio tem registrado importantes avanccedilos por meio da expansatildeo com consolidaccedilatildeo da Rede de Bancos

de Leite Humano (rBLH) Liderada pelo Brasil por meio da Fiocruz a iniciativa integra mais de 20 paiacuteses

e constitui uma poliacutetica puacuteblica internacional para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e apoio ao aleitamento materno e

a amamentaccedilatildeo natural de receacutem-nascidos Fonte Relatoacuterio de Atividades da Fiocruz 2009-2011

174

Fiocruz (juntamente com a Agecircncia Brasileira de Cooperaccedilatildeo) apoia teacutecnica e

financeiramente a instalaccedilatildeo qualificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bancos de leite humano em todo o mundo por

meio de acordos bilaterais ou multilaterais Suas accedilotildees de compartilhamento de experiecircncias saberes e

tecnologias e o fortalecimento de capacidades locais superam a perspectiva de replicaccedilatildeo de um modelo a

ser meramente copiado Ao contraacuterio o objetivo eacute que o conceito de promoccedilatildeo proteccedilatildeo e apoio ao

aleitamento materno preconizado pelos bancos de leite humano seja adaptado aos diferentes contextos

socioeconocircmicos e culturais dos paiacuteses O compromisso assumido pela rBLH para reduccedilatildeo da

231

f) Instalaccedilatildeo da Faacutebrica de medicamentos do governo de Moccedilambique

(Sociedade Moccedilambicana de Medicamentos) ndash unidade produtora de

medicamentos antirretrovirais e demais medicamentos (sendo

inaugurado em 2012) [175] Os lotes pilotos dos medicamentos comeccedilam

a ser produzidos em 2012 Sua produccedilatildeo prevecirc inicialmente 21

antirretrovirais que estatildeo em domiacutenio puacuteblico aleacutem de outros

medicamentos que incluem antibioacuteticos antianecircmicos anti-

hipertensivos antiinflamatoacuterios hipoglicemiantes diureacuteticos

antiparasitaacuterios e corticosteroacuteides como aacutecido foacutelico diclofenaco de

potaacutessio captopril e metronidazol [176]

g) Assinatura de protocolo de intenccedilotildees sobre a possibilidade de

transferecircncia de tecnologia do Brasil para a Argentina para a produccedilatildeo

da vacina febre amarela e

h) Colaboraccedilatildeo com organismos internacionais e atuaccedilatildeo ativa junto agrave

representaccedilatildeo brasileira na Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede Ademais

participa de debates no acircmbito da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

(OMC) e da Organizaccedilatildeo Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO) No

que se refere aos temas afins do CEIS sua atuaccedilatildeo estaacute voltada para

questotildees criacuteticas como propriedade intelectual acesso a medicamentos

em defesa dos interesses dos pacientes sobre as questotildees comerciais e

sobre patentes Ganham destaque parcerias da Fiocruz com o Programa

das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Fundo das

Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia (UNICEF) o Banco Mundial o Programa

das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (TOMA) e o Programa

Conjunto das Naccedilotildees Unidas sobre HIVAIDS (Unaids) A Fundaccedilatildeo

mortalidade infantil no mundo eacute formalizado pela Carta de Brasiacutelia 2010 assinada por 26 paiacuteses ao final

do 1ordm Foacuterum de Cooperaccedilatildeo Internacional em Bancos de Leite Humano realizado em Brasiacutelia em 2010

175

A responsabilidade brasileira atraveacutes de Farmanguinhos da Fiocruz consiste na transferecircncia

de conhecimentos teacutecnicas e tecnologias relacionadas agrave produccedilatildeo de medicamentos a tecnologia de

construccedilatildeo fabril teacutecnicas de gestatildeo administrativa e laboratorial doaccedilatildeo de equipamentos dentre outras

accedilotildees 176

A estimativa eacute que a faacutebrica produza cerca de 450 milhotildees de unidades farmacecircuticas por ano

300 milhotildees de antirretrovirais e 150 milhotildees de outros medicamentos Dados Relatoacuterio de Atividades ndash

2009-2011 ndash Presidecircncia da Fiocruz

232

tambeacutem estabelece convecircnios com organizaccedilotildees privadas e

associaccedilotildees internacionais

Concluindo a primeira deacutecada do seacuteculo XXI representou superaccedilatildeo de

entraves e desafios concernentes agrave inserccedilatildeo da sauacutede na poliacutetica externa

consolidando-a e ampliando a participaccedilatildeo da sauacutede na poliacutetica exterior

colaborando efetivamente para a construccedilatildeo de uma agenda internacional do

Paiacutes Nesse sentido podemos inferir que uma das principais accedilotildees da sauacutede

na poliacutetica externa eacute a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento dos sistemas de

sauacutede dos paiacuteses do sul inclusive sob os auspiacutecios da cooperaccedilatildeo humanitaacuteria

o que vem fortalecendo a presenccedila do Paiacutes no cenaacuterio internacional Quando o

enfoque eacute recortado na perspectiva do CEIS a despeito da sua importacircncia

que converge para questotildees de ajuda humanitaacuteria considerando inclusive os

casos exitosos de transferecircncia de tecnologia e os projetos relacionados agrave

produccedilatildeo do CEIS (que apesar de poucos representam grande impacto para a

sauacutede regional e global) dado o curto prazo de tempo de formulaccedilatildeo de

poliacuteticas voltadas para a aacuterea e a necessaacuteria maturaccedilatildeo da implementaccedilatildeo de

accedilotildees fomentadoras e fortalecedoras haacute muito ainda que ser explorado Em

que pese inclusive a demanda de paiacuteses ldquopares e bdquoiacutempares‟rdquo [177] do sul por

conhecimento e transferecircncias de tecnologias o Brasil ainda tem um caminho

a trilhar tanto no que se refere agrave internacionalizaccedilatildeo dos seus processos de

produccedilatildeo assim como na sua capacidade de produccedilatildeo e de inovaccedilatildeo

endoacutegenas e agrave consolidaccedilatildeo de diferenciais produtivos que justifiquem maior

acesso aos produtos e insumos da sauacutede tanto em acircmbito nacional quanto

regional e internacional

Nesta uacuteltima deacutecada o Brasil conforme demostrado no decorrer desta

anaacutelise articulou de forma estrateacutegica a sauacutede e as suas relaccedilotildees

internacionais Formulou e implementou poliacuteticas nacionais que fortalecessem

a aacuterea da sauacutede no Brasil contribuindo para a consolidaccedilatildeo do projeto de

desenvolvimento nacional As accedilotildees delas decorrentes alinhadas com a

necessidade de sauacutede da populaccedilatildeo exercem forte impacto na capacidade de

177

Essa expressatildeo pode ser justificada por considerarmos que mesmo sob a perspectiva

conceitual dos paiacuteses do sul ainda assim haacute heterogeneidade em suas caracteriacutesticas estruturais com

maior ou menor capacidade de desenvolvimento

233

desenvolvimento endoacutegeno e produtivo aleacutem de melhor posicionar o Paiacutes no

contexto geopoliacutetico internacional contribuindo para a ampliaccedilatildeo aleacutem-

fronteiras dos benefiacutecios alcanccedilados pela promoccedilatildeo dessas poliacuteticas

Haacute portanto uma relaccedilatildeo de interaccedilatildeo virtuosa entre a sauacutede e o

desenvolvimento Nesse sentido a poliacutetica de sauacutede vem contribuindo para o

desenvolvimento e ao mesmo tempo ser influenciada por ele Seja em acircmbito

nacional ou internacional

234

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Primeiramente destacamos a sauacutede sob a perspectiva de uma

sociedade comprometida com a cidadania constituiacuteda de valores com forte

impressatildeo social e ambiental cuja base eacute alicerccedilada pelos criteacuterios da ciecircncia

contemporacircnea que resultam de um mundo globalmente tecnoloacutegico

projetando-se para os anos vindouros uma abordagem cuja formaccedilatildeo passa

pelo ldquohumanismo tecnoloacutegico de caraacuteter social-ecoloacutegicordquo 36 (p09)

Nesse sentido o social e o cientiacutefico e o social e o teacutecnico estabelecem

uma relaccedilatildeo de convivecircncia e sobrevivecircncia em um mundo altamente

globalizado e assimeacutetrico Abrigando a constataccedilatildeo de que nas condiccedilotildees de

um mundo tecnologicamente globalizado ldquosomente uma ordenaccedilatildeo racional e

equitativa do conjunto do mundo dispotildee da possibilidade de lhe assegurar um

equiliacutebrio estaacutevel conveniente para todos ()rdquo 36 (p12) isto eacute onde a relaccedilatildeo

do teacutecnico-cientiacutefico com o caraacuteter social e ecoloacutegico pode ser considerada

como antiacutedoto contra o desequiliacutebrio mundial e a favor de um ordenamento

possiacutevel ante a qualquer eminecircncia de antagonismo entre novas e antigas

potecircncias inclusive as militares

Em que pese a vinculaccedilatildeo das accedilotildees humanitaacuterias na questatildeo da sauacutede

e da poliacutetica internacional faz-se pertinente um olhar prudente frente a uma

globalizaccedilatildeo marcada pela assimetria entre naccedilotildees e entre os blocos regionais

que enfatiza o desequiliacutebrio de forccedilas observado entre os paiacuteses inclusive na

atenccedilatildeo de suas prioridades poliacuteticas junto agrave pactuaccedilatildeo de uma nova agenda

global onde o espaccedilo do Estado-Naccedilatildeo se depara com uma contemporacircnea

percepccedilatildeo paradigmaacutetica os Estados-Regiatildeo

Conforme apontado neste estudo [178] essa nova condiccedilatildeo afeta

desproporcionalmente paiacuteses em desenvolvimento de forma desfavoraacutevel em

dois aspectos marcantes o primeiro refere-se agraves dificuldades de governanccedila

governabilidade e de harmonizaccedilatildeo institucional dentre o bloco desses paiacuteses

ocasionando sobre os mesmos uma perda na autonomia na tomada de

178

Ver Capiacutetulo II 2 desta tese ―Estado como Ator Estrateacutegico nas Relaccedilotildees Internacionais

235

decisatildeo que deixa de pautar-se por prioridades nacionais sem que haja

entretanto contrapartida do fortalecimento regional o segundo aspecto em

parte decorrente do anterior refere-se ao desequiliacutebrio geopoliacutetico na definiccedilatildeo

das prioridades da agenda global da sauacutede

Nesse sentido entendendo-se a legitimidade do campo da sauacutede global

e a inescapabilidade da relaccedilatildeo entre sauacutede e poliacutetica externa haacute que se

buscar instrumentalizar os paiacuteses menos desenvolvidos de modo que sejam

ouvidos na definiccedilatildeo das prioridades da agenda de sauacutede Deve-se

pertinentemente garantir que as prioridades impostas pelas condiccedilotildees de

sauacutede da populaccedilatildeo natildeo sejam atropeladas pela agenda internacional aleacutem de

criar condiccedilotildees para o desenvolvimento do ambiente institucional que favoreccedila

a implementaccedilatildeo dos bens puacuteblicos para a sauacutede em seus territoacuterios nacionais

Estas satildeo diretrizes sem as quais o proacuteprio campo de sauacutede global perderia

legitimidade de atuaccedilatildeo e passaria a refletir majoritariamente a imposiccedilatildeo por

parte de paiacuteses mais ricos sobre as accedilotildees de sauacutede no mundo sem para tanto

pensar no benefiacutecio do mesmo como um todo

ldquoA globalizaccedilatildeo eacute irrefreaacutevel sobretudo por corresponder a muitas

exigecircncias dos seres humanosrdquo Essa expressatildeo de Berlinguer 45 (p21) citada

no decorrer deste estudo nos leva a refletir sobre os direitos humanos

fundamentais e suas respectivas conquistas em que a sauacutede se estabelece

com fertilidade

A sauacutede sob esse contexto expande-se na agenda das poliacuteticas de

sauacutede de niacuteveis locais para niacuteveis regionais e global buscando-se os meios

necessaacuterios para restringir os limites e as delimitaccedilotildees inerentes agrave

globalizaccedilatildeo

No que se refere agraves implicaccedilotildees produtivas e tecnoloacutegicas na questatildeo

da sauacutede destaca-se a complexidade do sistema de interdependecircncias entre

economias nacionais apresentada como assimeacutetrica em que o seu poder

efetivo eacute inversamente proporcional agrave sua vulnerabilidade externa A relaccedilatildeo

inversa estabelecida entre o poder efetivo e a vulnerabilidade externa

apontada no Capiacutetulo I desta tese efetivamente relacionada agrave abordagem da

Economia Poliacutetica Internacional sustenta o que Gonccedilalves 21 afirma que

236

quanto maior a capacidade de resistecircncia a pressotildees fatores

desestabilizadores choques externos isto eacute agrave capacidade de sua proacutepria

realizaccedilatildeo maior seraacute o seu poder efetivo no sistema internacional

Ainda no tocante agrave relaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo com a sauacutede e agrave questatildeo da

vulnerabilidade unilateral seja econocircmica ou tecnoloacutegica reconhecida em

grande parte pelos paiacuteses em desenvolvimento inclusive no Brasil sob a

perspectiva da busca por um equiliacutebrio mais pragmaacutetico aspectos favoraacuteveis

podem vir a ser observados desde que as accedilotildees sejam devidamente

articuladas entre os paiacuteses na busca por melhorias nas condiccedilotildees sanitaacuterias

globais Iniciativas globais resultantes da accedilatildeo entre paiacuteses no acircmbito da ONU

e da OMS assim como coalizotildees e alianccedilas intergovernamentais podem

promover o fortalecimento da relaccedilatildeo com a sauacutede Afinal em posiccedilatildeo solitaacuteria

muito pouca coisa pode ser feita ou convencida a ser aceita Assim os

resultados satildeo favoraacuteveis quando uma posiccedilatildeo eacute fortalecida pela uniatildeo de

interesses semelhantes em foacuteruns especiacuteficos sejam regionais inter-regionais

multilaterais ou internacionais relacionados agrave OMS agrave OMC ou a outros que

articulem e tratem direta ou indiretamente de assuntos relacionados agrave sauacutede

O vieacutes entretanto estaacute na relaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo com a pobreza e a

iniquidade com impactos diretos na aacuterea da sauacutede e na sua respectiva

capacidade produtiva assim como na percepccedilatildeo anteriormente citada de que

o Estado-Naccedilatildeo perde espaccedilo para os Estados-Regiatildeo com impacto direto nos

limites das condiccedilotildees soberanas de um paiacutes

Sobre essa uacuteltima questatildeo a globalizaccedilatildeo provocadora de intensa

mudanccedila estrutural da economia internacional exerce um peso crescente que

ultrapassa o exerciacutecio soberano do Estado Conforme apresentado no decorrer

dos capiacutetulos o Estado eacute pressionado pela accedilatildeo de muacuteltiplas forccedilas exoacutegenas

que acabam por influenciar a formaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede seja por meio

de acordos promovidos por agecircncias internacionais e pelo poder de empresas

multinacionais seja pela influecircncia de Organizaccedilotildees Natildeo-Governamentais

Aleacutem disso o crescente protagonismo da sauacutede na agenda de

desenvolvimento e de inserccedilatildeo competitiva global se soma agrave dimensatildeo que a

sauacutede internacional ganhou principalmente nas duas uacuteltimas deacutecadas

237

aumentando a complexidade e assimetria das forccedilas envolvidas na produccedilatildeo

de serviccedilos e insumos de sauacutede na articulaccedilatildeo entre os distintos atores

governamentais e natildeo governamentais e na formaccedilatildeo da agenda internacional

da sauacutede aleacutem do grande desafio que eacute a promoccedilatildeo do acesso aos bens da

sauacutede representando simultaneamente novos desafios e novas

oportunidades para os paiacuteses em desenvolvimento

Da expectativa agrave plena realidade muito haacute que ser superado No tocante

agrave sauacutede esse processo estaacute em formaccedilatildeo contiacutenua mais evidente em tempos

atuais

Entretanto como evidenciado no capiacutetulo III 2 ndash ldquoSauacutede nas Relaccedilotildees

Internacionaisrdquo percebe-se passividades a serem combatidas decorrentes

principalmente por conta da transversalidade das agendas relacionadas agrave

sauacutede seja pela concomitacircncia da interface temaacutetica ou pela relaccedilatildeo de

semelhanccedila da governanccedila dos diversos organismos seja pela crescente perda

de legitimidade observada junto agraves organizaccedilotildees da ONU provocadas

inclusive pela constituiccedilatildeo de organizaccedilotildees de programas e agecircncias cujos

objetivos se interpotildeem refletindo esforccedilos repetidos e diluindo os resultados

almejados

A multiplicidade de atores e de agenda no cenaacuterio internacional e a

ausecircncia de uma coordenaccedilatildeo geral efetiva levam inevitavelmente agrave ineficaacutecia

e agrave ineficiecircncia dos esforccedilos envidados Essa situaccedilatildeo tende a piorar com a

crise econocircmica e a reduccedilatildeo de financiamento Ademais haacute o aspecto poliacutetico

a considerar pois sinaliza distintas camadas ideoloacutegicas aleacutem de representar

uma desconcertante falta de otimizaccedilatildeo de recursos levando a perdas de

recursos por ingerecircncia integrada e eficaz

Satildeo percebidos tambeacutem oportunismos ditados pela forccedila econocircmica

assimeacutetrica

Portanto a fim de natildeo sucumbir agraves dificuldades em sustentar o

dinamismo que as mudanccedilas estruturais demandam por conta do processo da

globalizaccedilatildeo e pela assimetria tecnoloacutegica internacional observada na relaccedilatildeo

entre os paiacuteses detentores de poder produtivo e tecnoloacutegico (isto eacute paiacuteses

238

desenvolvidos) com os paiacuteses com menor capacidade de produccedilatildeo e de PampD

(observado em maior intensidade junto aos paiacuteses em desenvolvimento)

requerem-se accedilotildees e poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o fortalecimento e o

aprimoramento das suas capacidades endoacutegenas notadamente nas aacutereas que

necessitam de maior capacidade de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e produtiva

Accedilotildees essas que devem ser buscadas considerando-se

simultaneamente uma paradigmaacutetica realidade de que o compromisso com os

direitos humanos e a responsabilidade humanitaacuteria notadamente na questatildeo

relativa agrave sauacutede e ao acesso aos seus bens e insumos natildeo se esgota em suas

proacuteprias fronteiras Questatildeo que vem se discutindo ultimamente de forma

mais ativa por todo o mundo conforme preconizam as Declaraccedilotildees do Milecircnio

de Doha de Oslo dentre outras declaraccedilotildees e acordos internacionais firmados

entre os paiacuteses signataacuterios

Nesse sentido os fundamentos teoacutericos das Relaccedilotildees Internacionais

adotados na abordagem do presente estudo isto eacute os referentes agrave Sociedade

Internacional e agrave Economia Poliacutetica Internacional vinculam-se mutuamente

onde o diaacutelogo se sustenta seja pela caracteriacutestica kantiana a que a sauacutede se

reserva fundamentada por uma sociedade mundial solidaacuteria e humanitaacuteria

seja pelo reconhecimento da complexidade e da alta interdependecircncia

econocircmica entre os paiacuteses e a respectivas relaccedilotildees econocircmicas internacionais

as quais inevitavelmente a sauacutede se insere

Portanto visando a uma ativa inserccedilatildeo sustentaacutevel do Paiacutes junto a um

cenaacuterio internacional de poderes assimeacutetricos tem-se na relaccedilatildeo do poder e do

papel poliacutetico do Estado o agente fundamental na recuperaccedilatildeo e no

fortalecimento das economias nacionais resultando numa relaccedilatildeo direta e vital

da economia com a poliacutetica Essa relaccedilatildeo logra resultados a meacutedio e longo

prazos quando se considera o espaccedilo de autonomia e de articulaccedilotildees

internacionais reforccedilando-se a importacircncia da sintonia entre as agendas

interna e externa

No tocante agrave questatildeo da sauacutede o Brasil principalmente nas duas

uacuteltimas deacutecadas conforme apresentado no decorrer desta tese vem

promovendo o seu diaacutelogo com a poliacutetica exterior e a diplomacia Diaacutelogo esse

239

que vem exercendo forte influecircncia no discurso da poliacutetica externa e na

conduccedilatildeo dos rumos das suas relaccedilotildees internacionais

A representatividade da sauacutede nesse coloacutequio estaacute pautada

(a) na expressatildeo e na consolidaccedilatildeo do SUS

(b) na hegemonia da relaccedilatildeo virtuosa da sauacutede com o desenvolvimento

(c) no reconhecimento de que a ciecircncia a tecnologia e a inovaccedilatildeo promovem a forccedila de uma naccedilatildeo

(d) na formulaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais voltadas para a consolidaccedilatildeo do CEIS

(e) na centralidade do bem-estar e da qualidade de vida do cidadatildeo

(f) no comportamento do Brasil ndash naccedilatildeo prudente e sobrevivente junto aos cenaacuterios de crises econocircmicas internacionais

(g) no crescente protagonismo regional e internacional junto agraves relaccedilotildees Sul-Sul

(h) no crescente e efetivo exerciacutecio do discurso soberano junto agraves relaccedilotildees Norte-Sul

(i) no sentimento de ldquopertencimentordquo agrave arena global [179]

(j) na ampliaccedilatildeo do acesso a bens e serviccedilos de sauacutede e de programas e poliacuteticas exitosas do SUS [180]

(k) nas accedilotildees efetivas junto agrave Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio em defesa ao acesso a tratamentos medicamentos e insumos para a sauacutede

(l) no maior reconhecimento externo quanto ao discurso poliacutetico internacional do Brasil

(m) no protagonismo observado nas relaccedilotildees entre naccedilotildees pares isto eacute entre os paiacuteses Sul-Sul e

(n) nas conquistas que projetam o Brasil no discurso ambiental e soacutecio-cultural [181] promovendo maior consolidaccedilatildeo ldquosoacutecio-ambiental-cultural-econocircmicardquo

179

Elevando o sentido de identidade nacional fundamental para situar o discurso poliacutetico e

diplomaacutetico do Brasil no mundo dadas conquistas recentes como o fato do Brasil ocupar a 6ordf economia

mundial 180

Haja visto o Programa da Sauacutede da Famiacutelia o Programa de Aleitamento Materno o Programa

Nacional de Imunizaccedilatildeo as poliacuteticas para prevenccedilatildeo e para portadores de HIV dentre outros

181

Como a Rio+20 ocorrida em 2012 a Copa do Mundo a realizar-se em 2014 e as

Olimpiacuteadas em 2016

240

Portanto diante da expressiva representatividade a sauacutede aleacutem dos

princiacutepios de cunho social carrega a marca da potencialidade de sua alianccedila

entre o desenvolvimento e a relevacircncia social constituindo mecanismos para a

consolidaccedilatildeo de um sistema de inovaccedilatildeo dinacircmico com efeitos diretos no

desenvolvimento nacional e na sua inserccedilatildeo competitiva internacional

ultrapassando fronteiras e favorecendo caminhos internacionais correlaccedilatildeo

evidenciada no decorrer do Capiacutetulo IV

Dito isto aponta-se o desafio a ser enfrentado que eacute o fortalecimento da

capacidade produtiva nacional da sauacutede para alcanccedilar uma posiccedilatildeo

competitiva em um espaccedilo de diversidade complexidade e conflito onde

intervenccedilotildees e limitaccedilotildees impostas em foacuteruns poliacutetico-econocircmicos

internacionais e ateacute supranacionais precisaratildeo ser traduzidas repensadas e

renegociadas para garantir a sauacutede como condiccedilatildeo de bem-estar social e de

cidadania de desenvolvimento da atividade econocircmica e de garantia agrave

soberania nacional como bases de participaccedilatildeo em um mercado altamente

globalizado

Assim a agenda de formaccedilatildeo de poliacuteticas estrateacutegicas para a

consolidaccedilatildeo dessa poliacutetica de desenvolvimento produtivo e de inovaccedilatildeo para a

aacuterea da sauacutede isto eacute o CEIS ganha diretrizes de forte impacto estruturante

para a sustentabilidade e inserccedilatildeo competitiva de uma naccedilatildeo Formaccedilatildeo essa

que impacta na proteccedilatildeo agrave soberania de uma naccedilatildeo e agrave defesa dos seus

principais interesses

Entretanto eacute sob o impacto resultante de extenso desequiliacutebrio de

poderes observado entre as naccedilotildees - em que poder eacute a mola propulsora das

relaccedilotildees internacionais pois afinal ldquonum mundo em que todos tivessem o

mesmo poder natildeo haveria poderrdquo conforme argumenta Fiori 32 (p 334) citado

no primeiro capiacutetulo do presente estudo - que se acaba influenciando as

agendas de negociaccedilotildees levando os interesses das naccedilotildees menos

competitivas em CTampIS a serem relegados para segundo plano

Conclui-se nesse sentido conforme observado no decorrer da presente

tese que a capacidade de produccedilatildeo de bens de sauacutede deve ser traduzida

como determinante da capacidade soberana de um paiacutes em garantir o direito agrave

241

sauacutede de sua populaccedilatildeo e reduzir a vulnerabilidade da poliacutetica de sauacutede na

medida em que sauacutede eacute preacute-condiccedilatildeo para a soberania de qualquer naccedilatildeo

Afinal ao mesmo tempo em que um paiacutes precisa ampliar o seu acesso a novos

mercados e a novos conhecimentos precisa tambeacutem obter espaccedilo para a

conduccedilatildeo das suas poliacuteticas puacuteblicas

Sob esse aspecto no acircmbito das poliacuteticas sociais e produtivas

nacionais a priorizaccedilatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede tem

potencial para o fortalecimento brasileiro ante o cenaacuterio globalizado motivando

ao paiacutes a capacidade de alcanccedilar uma posiccedilatildeo competitiva em um espaccedilo de

diversidade e assimetria mundial

O setor sauacutede especificamente o seu Complexo Econocircmico-Industrial

incorpora a tendecircncia do desenvolvimento na perspectiva da capacidade

produtiva e inovativa de bens da sauacutede e daacute sustentaccedilatildeo agrave reformulaccedilatildeo das

concepccedilotildees do desenvolvimento que passaram a destacar a aacuterea social como

elemento essencial em que o ser humano tem a centralidade nessas

concepccedilotildees Dada a vulnerabilidade da base produtiva tecnoloacutegica endoacutegena

exerce papel estrateacutegico na dinamizaccedilatildeo da economia e nas articulaccedilotildees da

poliacutetica externa seja no contexto geopoliacutetico internacional seja na promoccedilatildeo

do comeacutercio internacional no fortalecimento da capacidade de

desenvolvimento regional e internacional ou no fortalecimento das condiccedilotildees

de bem-estar social De forma anaacuteloga aponta-se o papel estrateacutegico do

Estado para o fortalecimento do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

considerando o espaccedilo diverso pautado pela globalizaccedilatildeo cuja estrutura

desenha-se por forccedilas externas exercendo forte influecircncia sobre processos

econocircmicos e sociais nacionais e internacionais em que o Estado precisa

atuar

Dadas a potencialidade e a complexidade relacionadas agrave sauacutede e ao

desenvolvimento o CEIS estabelece-se sob as premissas do valor social eacutetico

e econocircmico da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Fundamenta-se na inovaccedilatildeo

institucional (a) por meio da articulaccedilatildeo e das dinacircmicas organizacionais com

funccedilotildees inovativas e difusoras de tecnologias (b) sob os fundamentos dos

marcos regulatoacuterios assim como na regulaccedilatildeo da propriedade intelectual (c)

242

pelos criteacuterios de regulaccedilatildeo na introduccedilatildeo e utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de

sauacutede estabelecendo-se sob as loacutegicas de intervenccedilatildeo de produccedilatildeo difusatildeo

e utilizaccedilatildeo de tecnologias e pela perspectiva de sustentabilidade da inovaccedilatildeo

tecnoloacutegica por meio da sinergia do modelo de acumulaccedilatildeo econocircmica e o

sistema de proteccedilatildeo social em sauacutede

Com vistas agrave consolidaccedilatildeo e ao fortalecimento do CEIS haacute de se

transformar o conhecimento produzido local ou internacionalmente em

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que melhorem o desempenho do setor produtivo

nacional no campo da sauacutede em sua dimensatildeo nacional e global Eacute nesse

contexto desenvolvimentista que se observa o protagonismo do Estado

nacional junto agrave dinacircmica das relaccedilotildees internacionais Observa-se portanto o

papel estrateacutegico do Estado para o fortalecimento dessa aacuterea da sauacutede Eacute

nesse espaccedilo complexo e conflituoso que o Estado precisa atuar O desafio

entretanto eacute manter o desenvolvimento com inclusatildeo social em um ambiente

de maior liberdade econocircmica fruto da globalizaccedilatildeo e ao mesmo tempo com

restriccedilotildees e limites provocados pelos conflitos de interesses entre os paiacuteses

Esta nova configuraccedilatildeo em que o CEIS tem suas diretrizes fortemente

influenciadas por uma agenda global traz benefiacutecios mas tambeacutem pauta

seacuterios desafios para a implementaccedilatildeo de poliacuteticas de sauacutede dada a assimetria

de forccedilas e de governanccedila dos paiacuteses que definem esta agenda Reich 6 ao

ressaltar as accedilotildees de muacuteltiplas forccedilas exercidas sobre o Estado moderno ndash

como por exemplo a diminuiccedilatildeo do seu papel decorrente da expansatildeo da

descentralizaccedilatildeo ou da crescente influecircncia de organizaccedilotildees natildeo-

governamentais assim como pelos acordos promovidos por agecircncias

internacionais e pelo poder de empresas multinacionais - aponta que as

mesmas trazem seacuterias implicaccedilotildees para a sauacutede puacuteblica

Dito isto reforccedila-se o impacto estruturante que se almeja das poliacuteticas

de desenvolvimento produtivo e de inovaccedilatildeo para a aacuterea da sauacutede para a sua

sustentabilidade e para a defesa dos principais interesses e inserccedilatildeo

competitiva de uma naccedilatildeo

O desafio a ser superado refere-se portanto agrave transformaccedilatildeo do

conhecimento produzido em inovaccedilotildees tecnoloacutegicas para atender ao campo da

243

sauacutede por meio do seu Complexo Econocircmico-Industrial incorporando a

retomada do papel do Estado nacional na dinacircmica da transformaccedilatildeo

econocircmica e da inovaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede

Nesse sentido o maior desafio nacional na arena internacional eacute atuar

de forma equilibrada e pragmaacutetica sem deixar de considerar como relevante a

necessaacuteria harmonizaccedilatildeo da realidade brasileira diante de um contexto

globalizado que abriga vulnerabilidade e assimetrias no sistema internacional

As premissas relacionadas aos valores socioeconocircmicos da inovaccedilatildeo

tecnoloacutegica expandem-se para a orientaccedilatildeo da poliacutetica externa cuja priorizaccedilatildeo

estabelece as relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo Sul-Sul Identifica-se portanto no CEIS

um ferramental apropriado para o estabelecimento de mecanismos que

ultrapassem as vulnerabilidades tecnoloacutegicas unilaterais provocadas pela

relaccedilatildeo de poder internacional observada na conduccedilatildeo dos laccedilos (ou ldquonoacutes

cegosrdquo) entre os paiacuteses do Norte com os paiacuteses do Sul

De forma antagocircnica a essa questatildeo dado o impacto das relaccedilotildees

econocircmicas transnacionais e da representatividade da forccedila da poliacutetica

econocircmica internacional a accedilatildeo do Estado tende a ficar cada vez mais

constrito O que daacute agraves estrateacutegias governamentais importacircncia fundamental no

sentido de se reverter essa condiccedilatildeo de limite Nesse sentido o papel do

Estado e suas poliacuteticas estrateacutegicas governamentais fazem a diferenccedila entre

levar a naccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo e ao fortalecimento ou agrave vulnerabilidade externa

Pode-se inferir que para o governo traccedilar estrateacutegias e poliacuteticas puacuteblicas

estaacuteveis e duradouras para desenvolver e fortalecer o Complexo Econocircmico-

Industrial da Sauacutede favorecendo-se da dinacircmica das relaccedilotildees internacionais e

dela se tornando ativo e potencial protagonista de cooperaccedilotildees internacionais

(a partir de um modelo horizontal e estruturante junto aos paiacuteses do Sul e

pautado pela induccedilatildeo eou pelo fortalecimento da capacidade nacional

cientiacutefica tecnoloacutegica e de inovaccedilatildeo em sauacutede) o Estado deve buscar a

promoccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees complementares e integradas para o

desenvolvimento da ciecircncia da tecnologia e da inovaccedilatildeo em sauacutede em

interface com as poliacuteticas interna e externa cujos resultados esperados estatildeo

244

embasados em forte perspectiva de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica e de consolidaccedilatildeo da

gestatildeo estrateacutegica

Dito isto prepara-se a naccedilatildeo simultaneamente para a concorrecircncia

global e para a promoccedilatildeo da sustentabilidade e do acesso aos insumos para a

sauacutede seja no contexto nacional ou frente agraves necessidades das naccedilotildees do eixo

Sul-Sul habilitando assim o Brasil para um papel de forte protagonismo no

contexto geopoliacutetico internacional

Segue-se portanto agrave defesa da ideacuteia de que as influecircncias exercidas

por intermeacutedio das Poliacuteticas de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede

voltadas para o fortalecimento do CEIS visando agrave consolidaccedilatildeo de um sistema

de inovaccedilatildeo dinacircmico com efeitos diretos no desenvolvimento do Brasil e na

soberania nacional tecircm relaccedilatildeo direta com a inserccedilatildeo ativa do Paiacutes no

contexto das suas relaccedilotildees internacionais

Haacute de se considerar entretanto que o jogo de forccedilas assimeacutetricas no

cenaacuterio internacional encerra desafios diversos enfrentados no mercado

nacional A lideranccedila tecnoloacutegica portanto eacute determinante para a condiccedilatildeo

hegemocircnica do Estado no tocante agrave consolidaccedilatildeo de accedilotildees de cooperaccedilatildeo

internacional junto aos paiacuteses detentores de menor capacidade tecnoloacutegica na

aacuterea da sauacutede

Nesse sentido a inter-relaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais com as relaccedilotildees

internacionais se daacute efetivamente quando ultrapassados os desafios da

incorporaccedilatildeo do papel do Estado nacional na dinacircmica da transformaccedilatildeo

econocircmica e da inovaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede no Brasil Logo para fundamentar

a relaccedilatildeo de poder existente entre o Estado soberano e a dinacircmica da sua

poliacutetica externa no atual contexto da geopoliacutetica internacional cumpre-se para

tanto uma agenda de transformaccedilotildees internas como preacute-condiccedilatildeo eou como

consequecircncia da exposiccedilatildeo aos mercados externos o que vem sendo

observado notadamente na agenda poliacutetica nacional dos uacuteltimos dez anos

Portanto a evidecircncia da correlaccedilatildeo do Estado no exerciacutecio condutor de

poliacuteticas nacionais especialmente no que se refere ao CEIS e de seus reflexos

na conduccedilatildeo da poliacutetica externa assegura inclusive uma inserccedilatildeo ativa na

245

questatildeo da sauacutede global e na conduccedilatildeo ao acesso universal a bens e insumos

da sauacutede O desafio eacute constante e poliacutetico antecedendo inclusive ao

econocircmico natildeo menos importante requerendo o engajamento ativo e contiacutenuo

dos atores nacionais e internacionais

Cabe considerar no estudo em questatildeo a multiplicidade no exerciacutecio da

poliacutetica externa e da diplomacia e o fato de que certos temas como o da aacuterea

da sauacutede admitam vaacuterios portadores de valores tanto no acircmbito local quanto

nacional regional eou internacional Dado o alcance geopoliacutetico que o tema

projeta aleacutem do exerciacutecio diplomaacutetico a relaccedilatildeo da sauacutede no exerciacutecio

diplomaacutetico requer maior interaccedilatildeo e convergecircncia de informaccedilotildees e interesses

entre todos os atores internacionais envolvidos diplomatas sanitaristas

governantes ONGS Organizaccedilotildees Internacionais Organizaccedilotildees multilaterais

doadores assim como agentes e grupos sociais e sociedade de forma geral

segmentos produtivos ndash puacuteblicos e privados nacionais e internacionais

academias universidades centros de pesquisa aleacutem do proacuteprio discurso

governamental Discursos que se somam para a compreensatildeo mais apurada

dos rumos que se pretende alcanccedilar notadamente no objeto deste estudo

apresentando neste eixo histoacuterico do iniacutecio do Seacuteculo XXI mais e maiores

contornos doutrinaacuterios cuja consistecircncia analiacutetica ainda se encontra em fase

de construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo

Este estudo aponta a sauacutede cada vez mais inserida nas reflexotildees

poliacutetico-diplomaacuteticas em que as questotildees sanitaacuterias estatildeo presentes haacute largo

tempo em diferentes foros de negociaccedilatildeo admitidas em diferentes

instrumentos internacionais ampliando o campo de interesse da sauacutede para

novas percepccedilotildees a respeito do seu significado e de sua inter-relaccedilatildeo com

distintas aacutereas

Portanto em decorrecircncia dos instrumentos institucionais e dos marcos

internacionais disponiacuteveis para os atores e formuladores de poliacuteticas

internacionais de sauacutede que fundamentaram a inserccedilatildeo da sauacutede no contexto

internacional notadamente a partir da Carta das Naccedilotildees Unidas passando

pela Conferecircncia de Alma Ata ateacute a Declaraccedilatildeo de Oslo dentre outros firmados

246

mais recentemente a partir de 2000 [182] vaacuterios satildeo os foacuteruns e mecanismos

de decisatildeo que orientam a sauacutede nas relaccedilotildees internacionais passando pelas

organizaccedilotildees multilaterais oficiais das Naccedilotildees Unidas ateacute instituiccedilotildees mais

recentes como o Grupo dos Oito (G8) Eacute nesse ambiente em raacutepida

transformaccedilatildeo que a aacuterea da sauacutede vem se destacando e solidificando na base

de uma boa governanccedila cuja conduccedilatildeo a priori se sustenta (ou deveria se

sustentar) nos interesses da sociedade e nas suas necessidades de sauacutede e

de bem-estar

Poreacutem uma parte das atividades de PampD principalmente em paiacuteses

desenvolvidos tende a ser protegida dentro dos seus paiacuteses por motivos de

seguranccedila nacional ou proteccedilatildeo agrave propriedade intelectual e industrial Cabe

destacar que o apoio puacuteblico agrave atividade de PampD e inovaccedilatildeo nas empresas eacute

uma praacutetica comum nos paiacuteses desenvolvidos admitida pela Organizaccedilatildeo

Mundial do Comeacutercio [183]

Portanto a definiccedilatildeo da prioridade do foco de desenvolvimento de CampT

pode sofrer influecircncia desproporcional por parte dos paiacuteses industrializados

detentores da maior parte dos recursos de pesquisa

Lee 114 aponta uma seacuterie de experiecircncias no campo da sauacutede global

cujos resultados observados apresentaram diferentes graus de efetividade em

funccedilatildeo de maior ou menor grau de institucionalidade e governanccedila das naccedilotildees

Aleacutem disto chama a atenccedilatildeo que para se alcanccedilar impacto realmente global

reflexotildees mais criteriosas acerca da relevacircncia de accedilotildees selecionadas devem

182

A cada vez maior pactuaccedilatildeo dos documentos internacionais traduz a representatividade e a

importacircncia crescente do tema da sauacutede nas Relaccedilotildees Internacionais - como por exemplo a Declaraccedilatildeo

do MilecircnioONU (2000) a Declaraccedilatildeo de Doha sobre Sauacutede Puacuteblica adotada no acircmbito da OMC ndash

Declaraccedilatildeo sobre o Acordo TRIPS e Sauacutede Puacuteblica (2001) a Declaraccedilatildeo de Oslo ndash Sauacutede Global um

tema urgente da Poliacutetica Externa (2007) ndash mecanismo voluntaacuterio firmado por 7 paiacuteses a Resoluccedilatildeo

6595 das Naccedilotildees Unidas sobre Sauacutede Global e Poliacutetica Externa (2011) a Conferecircncia de

MonterreyONU (2011) e a Conferecircncia Mundial de Determinantes Sociais da SauacutedeOMS(2012)

183

Segundo dados do MCT 2007 - Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo para o Desenvolvimento

Nacional disponiacuteveis em wwwmctgovbr na meacutedia dos paiacuteses europeus por exemplo 35 das

empresas industriais inovadoras no periacuteodo de 2002 e 2004 receberam financiamento puacuteblico para o

desenvolvimento de suas atividades inovativas Segundo o relatoacuterio ―no Brasil a proporccedilatildeo de empresas

industriais com atividades inovativas que satildeo financiadas pelo governo eacute especialmente reduzida - 19

no periacuteodo de 2003-2005 Diferenccedila ampliada quando considera condiccedilotildees inapropriadas em funccedilatildeo do

creacutedito e do respectivo custo Tendecircncia essa que tenderaacute a ser revertida em funccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

implantaccedilatildeo de diversos instrumentos de fomentos e programas de estiacutemulos agraves induacutestrias nacionais

puacuteblicas ou privadas

247

ser feitas a priori evitando que o sucesso das accedilotildees natildeo fique ldquoconfinado aos

paiacuteses industrializadosrdquo Ressalta-se ainda a importacircncia de avaliar a

pertinecircncia do estabelecimento de parcerias que podem trazer forccedilas e

interesses antagocircnicos para a conduccedilatildeo das poliacuteticas

No tocante agrave agenda nacional de sauacutede de paiacuteses menos desenvolvidos

em que pesem as diferenccedilas de forccedilas existentes entre os distintos atores

globais as alianccedilas e coalizotildees intergovernamentais promovem e fortalecem a

incorporaccedilatildeo de temas importantes para esses paiacuteses Eacute o caso por exemplo

dos esforccedilos focados em doenccedilas negligenciadas isto eacute doenccedilas que natildeo

fazem parte da plataforma de pesquisa da induacutestria mundial de faacutermacos e que

apresentam graves consequecircncias principalmente para os paiacuteses mais

necessitados

De fato novos atores em projeccedilatildeo como o caso das naccedilotildees do eixo Sul-

Sul instrumentos e a consolidaccedilatildeo de novas e antigas iniciativas multilaterais

regionais e intra-regionais [184] ao dirigirem seus esforccedilos para promover a

sauacutede e o acesso a doenccedilas historicamente negligenciadas que natildeo mais se

restringem agraves fronteiras institucionais territoriais podem representar benefiacutecios

para alguns paiacuteses em especial aqueles sem quaisquer condiccedilotildees de

promover o desenvolvimento e fortalecimento de sua base industrial voltada

para a sauacutede

A constituiccedilatildeo de distintos mecanismos de interface entre os paiacuteses de

relaccedilatildeo Sul-Sul discutidos neste estudo busca fortalecer os paiacuteses parceiros e

criar condiccedilotildees de equiliacutebrio simeacutetrico entre os assuntos relacionados agrave sauacutede

e agrave cooperaccedilatildeo internacional dos paiacuteses onde o diaacutelogo e a negociaccedilatildeo de

temas importantes para a sauacutede global e regional objetos de debates em

foacuteruns internacionais e o ldquocasamentordquo entre a sauacutede e a diplomacia exercem

uma nova condiccedilatildeo paradigmaacutetica na relaccedilatildeo da sauacutede com a aacuterea

internacional

Entretanto dado o caraacuteter humanitaacuterio vinculado agraves questotildees da sauacutede

haacute necessidade de manter prudecircncia antes de generalizar resultados positivos

da fusatildeo da sauacutede internacional com os princiacutepios da poliacutetica externa Afinal eacute

184

Unasul Mercosul CPLP BRICS IBAS dentre outros

248

arriscado generalizar a relaccedilatildeo da sauacutede e da poliacutetica externa como

exclusivamente de inspiraccedilatildeo altruiacutestica Haacute de se ponderar essa tratativa com

as questotildees da economia poliacutetica internacional que refletem as conduccedilotildees

hieraacuterquicas da poliacutetica externa sob o contexto das relaccedilotildees internacionais

Por outro lado a sauacutede exerce uma definiccedilatildeo positivista na agenda da

poliacutetica externa e nas suas relaccedilotildees internacionais na possibilidade da

utilizaccedilatildeo do CEIS como estiacutemulo ao desenvolvimento no estiacutemulo ao estado

de bem-estar do cidadatildeo universal e consequentemente no estimulo agrave paz e agrave

cooperaccedilatildeo internacional de caraacuteter humanitaacuterio e integrador tornando-se uma

resposta efetiva agraves vulnerabilidades e fragilidades decorrentes da dimensatildeo

internacional assimeacutetrica tecnoloacutegica e produtiva agraves quais as naccedilotildees do Sul

estatildeo inseridas

A projeccedilatildeo do tema da sauacutede tambeacutem ganha especial importacircncia

quando se pensa em soberania e seguranccedila nacional O desenvolvimento e a

capacidade produtiva estabelecem uma condiccedilatildeo de seguranccedila e de garantia

de acesso a medicamentos considerados essenciais para a sobrevivecircncia de

uma sociedade Os ditames das condiccedilotildees do capital e a consequente

maximizaccedilatildeo do lucro esperado estabelecem restriccedilotildees e riscos de

consideraacutevel periculosidade tanto em paiacuteses desenvolvidos quanto

principalmente em paiacuteses em desenvolvimento Em 2009 The New York

Times publicou uma reportagem que ressaltava a preocupaccedilatildeo americana com

a fabricaccedilatildeo de medicamentos no exterior e com o fechamento de faacutebricas no

seu paiacutes que forneciam insumos-chave para a produccedilatildeo de medicamentos

essenciais para a sua seguranccedila nacional como por exemplo a penicilina

criando uma dependecircncia da produccedilatildeo externa e uma situaccedilatildeo de

vulnerabilidade que natildeo eacute exatamente muito comum aos americanos

Em que pese o mundo globalizado ser dependente de insumos vacinas

medicamentos dentre outros principalmente em situaccedilotildees pandecircmicas pode

levar uma sociedade ao colapso e deixaacute-la de ldquojoelhosrdquo perante qualquer

situaccedilatildeo de risco internacional A reportagem natildeo distingue o rico do pobre

Portanto pode-se afirmar que o CEIS se estabelece como diferencial entre

ficar em peacute ou de joelhos E que para tanto se estabeleccedilam como propositivas

249

as condiccedilotildees favoraacuteveis da poliacutetica externa quanto agrave integraccedilatildeo regional eou

inter-regional entre paiacuteses pares como eacute o caso do Brasil no eixo Sul-Sul e a

respectiva relaccedilatildeo com a cooperaccedilatildeo internacional otimizando recursos e

maximizando resultados aleacutem da necessaacuteria condiccedilatildeo de assimilaccedilatildeo de

conhecimento avanccedilado o que daacute agrave cooperaccedilatildeo Norte-Sul condiccedilatildeo de

continuidade com vista agrave ampliaccedilatildeo e sustentabilidade do conhecimento e da

capacidade produtiva dos segmentos relacionados ao CEIS

A desvinculaccedilatildeo do conhecimento avanccedilado dos paiacuteses desenvolvidos

por parte dos paiacuteses em desenvolvimento atestaria o suiciacutedio de qualquer

poliacutetica fomentadora de ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo em sauacutede de paiacuteses em

desenvolvimento Portanto a cooperaccedilatildeo Norte-Sul e a cooperaccedilatildeo triangular

ainda satildeo fundamentais balizando a capacitaccedilatildeo e o desenvolvimento

produtivo desses paiacuteses desde que orientadas pelos interesses e

necessidades das naccedilotildees do Sul como eacute o caso do Brasil

Nesse sentido cooperaccedilotildees teacutecnicas bilaterais e principalmente

multilaterais internacionais no campo da sauacutede estatildeo sendo cada vez mais

promovidas e o Brasil tem encontrado nos foacuteruns internacionais espaccedilo e

reconhecimento que o diferencia na governanccedila da sauacutede global e das

relaccedilotildees internacionais

Sob essa perspectiva o CEIS apresenta a convergecircncia adequada entre

o tema social e as questotildees econocircmicas como poliacuteticas puacuteblicas para a sauacutede

e a poliacutetica externa Contempla a possibilidade de o Brasil reforccedilar suas

poliacuteticas estrateacutegicas nacionais modificando situaccedilotildees internas atendendo a

demandas econocircmicas e buscando soluccedilotildees para as deficiecircncias da

capacidade produtiva e inovativa em sauacutede ao mesmo tempo em que se

estabelece como possibilidade de cooperaccedilatildeo no cenaacuterio internacional e se

promove dadas a atual conduccedilatildeo e o protagonismo brasileiro na governanccedila

global em sauacutede um novo posicionamento do Brasil no contexto internacional

De fato o Brasil estabeleceu na primeira deacutecada do Seacuteculo XXI o

fortalecimento das coalizotildees entre os paiacuteses do Sul e nesse sentido a

cooperaccedilatildeo Sul-Sul se tornou ldquoum instrumento duplo na poliacutetica exterior

servindo tanto como uma forma de promover solidariedade entre os paiacuteses

250

como tambeacutem um suporte para a realizaccedilatildeo dos interesses nacionaisrdquo 78 (p

19) isto eacute auxiliando no processo de afirmaccedilatildeo do Brasil como ator relevante

na poliacutetica internacional e na promoccedilatildeo do comeacutercio com paiacuteses do Sul

Podemos inferir inclusive que ao focarmos nos blocos

intergovernamentais como a Unasul o Mercosul e a CPLP destacam-se a

convergecircncia de pontos de vista e estrateacutegias feitas de compromissos e

cooperaccedilotildees intergovernamentais baseadas pela percepccedilatildeo conjunta quanto a

uma visatildeo geoeconocircmica e poliacutetica comum incluindo os assuntos

relacionados agrave sauacutede contornando estrategicamente os multilateralismos

paralisados pelo expressivo nuacutemero de participantes e de interesses

divergentes

Dito isto este estudo aponta accedilotildees e atividades de cooperaccedilatildeo em

sauacutede junto aos paiacuteses do Sul que mesmo ainda incipientes comeccedilam a

refletir alguns resultados provenientes da estruturaccedilatildeo e da consolidaccedilatildeo dessa

aacuterea na poliacutetica externa brasileira

Entretanto desponta como desafio saber apropriar-se de forma

contundente do potencial de cooperaccedilatildeo com Cuba China e Iacutendia e da

retomada das accedilotildees poliacuteticas com os paiacuteses da Aacutefrica especialmente a Aacutefrica

lusoacutefona e com os paiacuteses da Ameacuterica do Sul

Quanto aos planos multilaterais e regionais o engajamento nas diversas

frentes reuniotildees e conferecircncias pode levar agrave diluiccedilatildeo de esforccedilos Natildeo se pode

perder da diretriz que eacute o fortalecimento da regiatildeo e do laccedilo Sul-Sul tampouco

distanciar-se dos benefiacutecios da relaccedilatildeo Norte-Sul

Ademais deve-se fortalecer cada vez mais o diaacutelogo entre os

especialistas das aacutereas da sauacutede da economia e da diplomacia de maneira

que se mobilizem para a importacircncia que o tema deteacutem na formulaccedilatildeo de

poliacuteticas externas que favoreccedilam o discurso da sauacutede em todas as suas

nuances estimulando o debate de ideacuteias e criando condiccedilotildees de

aprimoramento

Obviamente o Estado tem papel central na relaccedilatildeo da sauacutede com a

poliacutetica externa poreacutem outros atores satildeo igualmente importantes como as

251

parcerias puacuteblico-privadas as empresas e as academias de modo a que se

alcancem melhores niacuteveis de sauacutede para a sociedade nacional ou

internacional

Aleacutem disso observa-se a interdisciplinaridade da sauacutede com accedilotildees

intersetoriais envolvendo aleacutem do Ministeacuterio da Sauacutede e o Ministeacuterio das

Relaccedilotildees Exteriores o Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo e o

Ministeacuterio do Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Nesse sentido deve-se

buscar maior transparecircncia nos objetivos fluidez na conduccedilatildeo das poliacuteticas

integradas aleacutem do engajamento dos atoresgestores nacionais e

internacionais evitando interesses corporativistas que impeccedilam integraccedilotildees

regionais e o fortalecimento muacutetuo nas condiccedilotildees de sauacutede puacuteblica

Parafraseando Oswaldo Cruz a ciecircncia faz as naccedilotildees fortes Poreacutem na

atualidade a ciecircncia se expande fortalece e integra paiacuteses Dito isto a ciecircncia

e o poder da sauacutede natildeo soacute fazem as naccedilotildees mais fortes como fortalecem a

sua integraccedilatildeo das naccedilotildees baseada em objetivos humanitaacuterios e em condiccedilotildees

de bem-estar socioeconocircmico

Hoje um seacuteculo depois da afirmaccedilatildeo de Oswaldo Cruz percebemos que

essa noccedilatildeo ateacute entatildeo aceita como incontestaacutevel foi contestada natildeo eacute mais a

riqueza de uma naccedilatildeo que leva agrave sauacutede Eacute a sauacutede que se estabelece como

parte endoacutegena da geraccedilatildeo da riqueza e da forccedila de uma naccedilatildeo Note que natildeo

nos detemos no conceito de forccedila como algo beacutelico voltado para a seguranccedila

ou para a guerra tiacutepico da abordagem realista das relaccedilotildees internacionais A

forccedila e a riqueza emergem no sentido do protagonismo entre os pares em que

as vulnerabilidades tecnoloacutegicas e produtivas satildeo combatidas com base no

fortalecimento da capacidade cientiacutefica e tecnoloacutegica das naccedilotildees

Vale destacar que as parcerias brasileiras e demais paiacuteses do Sul que

visam o acesso ao conhecimento e aos bens e insumos voltados para a sauacutede

vinculam-se a projetos estruturantes promotores e incentivadores do

desenvolvimento autocircnomo do paiacutes parceiro O que pode ser traduzido como

fase inicial e vinculante para uma situaccedilatildeo de maior equiliacutebrio entre os paiacuteses

excluindo a perspectiva de submissatildeo aos ditames ateacute entatildeo observados na

relaccedilatildeo entre os paiacuteses do Norte e paiacuteses do Sul sugerindo que transferecircncias

252

de tecnologia e cooperaccedilotildees teacutecnicas internacionais requerem um paiacutes

receptor com condiccedilotildees adequadas para sustentar a curto e meacutedio prazos a

nova fase tecnoloacutegica Situaccedilatildeo essa ainda observada na totalidade dos paiacuteses

do eixo Sul-Sul em funccedilatildeo da heterogeneidade das condiccedilotildees assimeacutetricas

econocircmicas e produtivas

Foram observados neste estudo resultados ainda iniciais no que se

refere agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica internacional Entretanto o CEIS projeta o Brasil

diferenciando o Paiacutes e projetando-o como protagonista nas relaccedilotildees entre os

paiacuteses do eixo Sul-Sul notadamente os destacados neste estudo paiacuteses da

Ameacuterica do Sul da Ameacuterica Central e paiacuteses africanos

A ainda incipiecircncia dos resultados observados pode ser justificada em

funccedilatildeo da contemporaneidade do tema na agenda da recente implantaccedilatildeo das

poliacuteticas nacionais de CTampIS e das caracteriacutesticas produtivas particulares dos

segmentos do CEIS (da maturaccedilatildeo da PampD ao processo produtivo do insumo

para a sauacutede como eacute o caso da produccedilatildeo de faacutermacos)

Portanto a discussatildeo efetiva acerca da cooperaccedilatildeo internacional em

sauacutede eacute recente assim como o reconhecimento do CEIS como propulsor do

desenvolvimento e das condiccedilotildees de sauacutede Considerando a inevitabilidade da

ordem global onde a globalizaccedilatildeo e o capitalismo orientam fortemente os

ditames econocircmicos poliacutetico e internacionais o CEIS eacute restrito se pensado

unicamente entre fronteiras Ao contraacuterio ganha forccedilas se ultrapassaacute-las

tornando-se mais forte para superar as vulnerabilidades e fragilidades

tecnoloacutegicas frutos das assimetrias que imperam no sistema mundial

Portanto o CEIS eacute um recurso que estabelece como possiacutevel a relaccedilatildeo social e

a poliacutetica econocircmica exercendo-se como uma referecircncia no contexto

geopoliacutetico e econocircmico nas questotildees relacionadas agrave sauacutede e

simultaneamente induzindo e estabelecendo o desenvolvimento nacional

assim como o desenvolvimento regionalinter-regional

Em funccedilatildeo do contexto internacional em implantaccedilatildeo em que o

desenvolvimento se sustenta sob as bases das condiccedilotildees humanas ndash o que

pode ser evidenciado nas diretrizes nos consensos e pactos internacionais

formulados - haacute ainda muito a ser refletido sobre a nova abordagem da sauacutede

253

global e sobre os paradigmas relacionados aos temas sociais (sauacutede) e

econocircmicos onde o Estado se insere em uma perspectiva ampliada ao mesmo

tempo em que necessita consolidar novos conhecimentos novas tecnologias e

capacidades produtivas em prol da sauacutede puacuteblica interna A atuaccedilatildeo do Estado

portanto aleacutem de focar na conduccedilatildeo e no fortalecimento dos seus interesses

nacionais deve convergir sua atuaccedilatildeo em conformidade com os interesses

pactuados em foros internacionais e junto aos demais atores externos

fortalecendo seu posicionamento na poliacutetica externa

Projetos e parcerias focadas em relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo humanitaacuteria e

doaccedilotildees satildeo observados com maior frequecircncia entre o Brasil e os paiacuteses

analisados neste estudo O que demonstra o caraacuteter humanitaacuterio assumido

pelo Brasil junto aos paiacuteses mais necessitados

Entretanto uma vertente natildeo estaacute desvinculada da outra isto eacute a

cooperaccedilatildeo com perfil humanitaacuterio natildeo inibe a condiccedilatildeo de existecircncia da

cooperaccedilatildeo teacutecnica internacional Poreacutem condiccedilotildees assimeacutetricas das

capacidades produtivas de cada paiacutes podem justificar timing e condiccedilotildees

diferentes de assimilaccedilotildees dos projetos em parcerias

Vale destacar que haacute um longo caminho a percorrer

Poreacutem em sentido mais positivo alguns resultados provenientes de

esforccedilos do Brasil voltados para paiacuteses que natildeo tecircm condiccedilotildees de promover o

desenvolvimento e o fortalecimento da sua base produtiva para a sauacutede

podem ser destacados como exemplos concretos no sentido de ampliar o

acesso a medicamentos [185]

O estudo destacou experiecircncias exitosas relacionadas agrave cooperaccedilatildeo

internacional em sauacutede no que se refere aos temas HIVAIDS e Bancos de

Leite Humanos

Quanto ao primeiro tema a Aacutefrica eacute a principal referecircncia de cooperaccedilatildeo

brasileira Em que o destaque atualmente eacute a instalaccedilatildeo da faacutebrica de

medicamentos do governo de Moccedilambique para a produccedilatildeo de antirretrovirais

185

Como eacute o caso dos medicamentos para as doenccedilas negligenciadas Em relaccedilatildeo ao Mal de

Chagas o Brasil se estabeleceraacute como provedor mundial de medicamentos em funccedilatildeo da associaccedilatildeo de

laboratoacuterios puacuteblicos e privados e da parceria com a Organizaccedilatildeo Meacutedico Sem Fronteiras

254

e outros medicamentos (antibioacuteticos antianecircmicos anti-hipertensivos

antiinflamatoacuterios hipoglicemiantes diureacuteticos antiparasitaacuterios e

corticosteroacuteides) medicamentos esses que tenderatildeo a atender as demandas

de outros paiacuteses africanos aleacutem da instalaccedilatildeo de um escritoacuterio da Fiocruz em

Moccedilambique com potencial para fortalecer cooperaccedilotildees em sauacutede com o

continente africano

Quanto aos Bancos de Leite Humanos referecircncia da Fiocruz este tema

eacute a principal referecircncia de cooperaccedilatildeo na dimensatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica

com a Ameacuterica Latina e Caribe

Accedilotildees poliacuteticas e atuaccedilatildeo das Comissotildees Intergovernamentais focadas

ao acesso universal a medicamentos e ao fortalecimento da capacidade

produtiva regional tecircm resultado em compromissos pactuados entre os paiacuteses

partiacutecipes do Mercosul da Unasul e da CPLP Dentre eles a criaccedilatildeo do ISAGS

representa uma importante estrateacutegia que alia a coalizatildeo entre a expertise da

sauacutede e da diplomacia dos paiacuteses partiacutecipes da Unasul cuja defesa pela

sauacutede incluindo o fortalecimento do CEIS eacute o seu principal mote

Cuba dentre os paiacuteses da Ameacuterica Central representa a dualidade da

cooperaccedilatildeo internacional brasileira Sua importacircncia estaacute na oferta e na

demanda por accedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses destacando-se acordos de

cooperaccedilatildeo para a promoccedilatildeo da capacitaccedilatildeo tecnoloacutegica do CEIS focados em

produtos de alto valor tecnoloacutegico agregado

Este estudo reconhece o papel estrateacutegico que a Fundaccedilatildeo Oswaldo

Cruz vem exercendo no contexto desta anaacutelise ldquotida como Instituiccedilatildeo Puacuteblica

Estrateacutegica de Estado para a Sauacutede alinhada ao conceito de sauacutede e

diplomaciardquo As principais e a grande maioria das accedilotildees aqui evidenciadas satildeo

protagonizadas por essa instituiccedilatildeo que se destaca internacionalmente com

accedilotildees de grande efetividade estruturaccedilatildeo e transformaccedilatildeo junto aos paiacuteses do

eixo Sul-Sul

Portanto ainda que partam de uma premissa adequada ndash o

desenvolvimento produtivo nacional e a sustentabilidade de suas accedilotildees as

recomendaccedilotildees para a inter-relaccedilatildeo da sauacutede com as relaccedilotildees internacionais

255

tornar-se-atildeo utoacutepicas se natildeo forem adequadamente conciliadas entre os

diversos atores envolvidos Estado instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas e

sociedade civil Accedilotildees que passam pela negociaccedilatildeo da balanccedila comercial de

salvaguardas e de incentivos para proteccedilatildeo da praacutetica do dumping estiacutemulos agrave

produccedilatildeo interna acordos que promovam poliacuteticas que otimizem o aumento de

emprego no setor negociaccedilatildeo de assistecircncia econocircmica e financeira para o

enraizamento das empresas nacionais regulaccedilatildeo e marco regulatoacuterio

transparente poder de compra garantido garantia agrave sustentabilidade

ambiental atendimento prioritaacuterio agraves demandas da sociedade e do SUS dentre

outras

Essas satildeo diretrizes repletas de bom senso mas tornam-se

incompatiacuteveis se natildeo houver coesatildeo entre os atores envolvidos O discurso

dividido movimenta as forccedilas que presidem suas accedilotildees para direccedilotildees

divergentes e opostas entre si

Finalmente este trabalho natildeo tem a pretensatildeo de esgotar o tema em

questatildeo tampouco eacute conclusivo em si mesmo Entretanto oferece subsiacutedios

para novas linhas de pesquisa ampliando alternativas para novos campos de

discussatildeo Apresenta referecircncias e indicaccedilotildees para reflexotildees quanto ao

desenvolvimento cientiacutefico tecnoloacutegico como um meacutetodo apropriado para

enfrentar questotildees complexas como a sauacutede inserida no contexto das relaccedilotildees

internacionais

Os capiacutetulos apresentados neste estudo a partir de pesquisa

exploratoacuteria tecircm no Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede sua principal

linha condutora Nesse sentido procuramos ampliar a discussatildeo da relaccedilatildeo

intriacutenseca do CEIS com as Relaccedilotildees Internacionais

A Figura 7 a seguir representa os principais elementos destacados no

decorrer desta tese que impactam desafiam e estimulam essa relaccedilatildeo

256

Figura 7 CEIS e Relaccedilotildees Internacionais Categorias Centrais

Elaboraccedilatildeo Proacutepria

Isso posto observamos que o CEIS permite o diaacutelogo entre as teorias

das Relaccedilotildees Internacionais apresentando-se sob a perspectiva humanitaacuteria e

social projetada pela Sociedade Internacional e estabelecendo-se mais

claramente na visatildeo da Economia Poliacutetica Internacional em que se descreve a

perspectiva da inserccedilatildeo brasileira no contexto internacional na interaccedilatildeo

complexa entre poliacutetica e economia entre Estados e mercados 142024 e em que

o poder efetivo do Estado no sistema internacional eacute inversamente proporcional

a sua vulnerabilidade externa 22

Ganha destaque neste estudo o impacto da economia mundial de

mercado sobre as relaccedilotildees dos Estados e as maneiras pelas quais esses

257

Estados tentam tirar vantagem influenciando as forccedilas de mercado 1420 Essa

evidecircncia tem relaccedilatildeo direta com o exerciacutecio efetivo do CEIS

Sob mais uma perspectiva o CEIS encontra na questatildeo da soberania

estatal instituiccedilatildeo estrateacutegica que move o funcionamento hieraacuterquico do poder

global uma estreita relaccedilatildeo entre o desenvolvimento econocircmico e a

sustentabilidade da soberania

Poreacutem relaccedilotildees assimeacutetricas de poder proporcionam fontes de

influecircncia frente agraves relaccedilotildees com os demais atores Logo a interdependecircncia

assimeacutetrica gera relaccedilotildees de poder de um ator sobre os demais 35 O CEIS eacute

desafiado para promover potencialidades para superaccedilatildeo de assimetrias

tecnoloacutegicas assimetrias econocircmicas e de poder provocadas pela

globalizaccedilatildeo a partir de abordagens que promovam o conhecimento e a

inovaccedilatildeo como fatores determinantes das transformaccedilotildees estruturais e do

dinamismo econocircmico

Como consequecircncia observamos no decorrer deste estudo que o

Estado ganha potencialidade na agenda contemporacircnea e na relaccedilatildeo de poder

O exerciacutecio do seu papel poliacutetico eacute central na induccedilatildeo das mudanccedilas nacionais

em uma relaccedilatildeo direta com as estruturas econocircmicas e poliacuteticas internacionais

Logo o CEIS a partir do entendimento do papel estrateacutegico desempenhado

pelo Estado encontra-se inserido na essecircncia das relaccedilotildees internacionais

Em que pesem o pluralismo mundial e a respectiva inserccedilatildeo do Paiacutes no

contexto internacional esta tese ressalta algumas questotildees como

fundamentais para o posicionamento efetivo e sustentaacutevel do CEIS no contexto

das relaccedilotildees internacionais aliando a loacutegica econocircmica e social com o

determinismo na criaccedilatildeo de oportunidades para o desenvolvimento local e

nacional assim como regional inter-regional e global Satildeo fundamentais

portanto (a) o posicionamento do Paiacutes no contexto geopoliacutetico e econocircmico

internacional (b) a base de conhecimentos (c) a estrutura produtiva (d) o niacutevel

de desenvolvimento (e) a relaccedilatildeo de bem-estar social e (f) a interaccedilatildeo dos

segmentos produtivos e de serviccedilos no escopo dos esforccedilos puacuteblicos e

privados nacionais em prol do fortalecimento do desenvolvimento produtivo e

inovativo

258

Fundamenta-se portanto a ligaccedilatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial

da Sauacutede na relaccedilatildeo entre a poliacutetica e a economia o desenvolvimento e a

natureza da extensatildeo da globalizaccedilatildeo

A questatildeo do CEIS eacute portanto fio condutor expliacutecito e impliacutecito na

abordagem da economia poliacutetica internacional na medida em que sinaliza as

categorias centrais que se mesclam agrave discussatildeo contemporacircnea das relaccedilotildees

internacionais e da poliacutetica externa globalizaccedilatildeo e localizaccedilatildeo relaccedilotildees

puacuteblico-privadas vulnerabilidades externas e internas assimetrias

tecnoloacutegicas econocircmicas e de poder soberania e estado de Bem-estar

Finalmente sob os argumentos da poliacutetica externa brasileira

apresentados no decorrer desta tese o CEIS a partir do seu caraacuteter

estrateacutegico exerce potencialidades para destacar o Brasil na agenda

internacional com as naccedilotildees do Sul baseadas no exerciacutecio das cooperaccedilotildees

multilaterais e nos laccedilos horizontais

Esperamos portanto que esta tese possa contribuir fornecendo

subsiacutedios para provocar reflexotildees quanto agrave importacircncia e ao papel do CEIS na

agenda da poliacutetica externa brasileira e quanto agrave sua representatividade

estrateacutegica nacional e internacional notadamente junto aos paiacuteses do eixo

Sul-Sul seja na luta contra as vulnerabilidades econocircmicas e tecnoloacutegicas que

comprometem a sauacutede das sociedades seja no fortalecimento nacional

regional e inter-regional seja no estabelecimento do Paiacutes como naccedilatildeo solidaacuteria

e cooperante

259

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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Silva DH Cooperaccedilatildeo internacional em ciecircncia e tecnologia oportunidades e

riscos Revista Brasileira Poliacutetica Internacional 2007 50(1)5-28

Silveira CE Tecnologia e competitividade na economia brasileira In Costa C

Arruda C (Orgs) Em busca do futuro a competitividade no Brasil Rio de

Janeiro Campus 1999

Temporatildeo JG Guimaratildees R Sauacutede e inovaccedilatildeo Jornal O Globo 27 jan 2012

Thieren M Health and foreign policy in question the case of humanitarian

action Bulletin of the World Health Organization 2007 85(3)218-224

United Nations Regionalism and South-South cooperation the case of

Mercosur and India In United Nations Conference on Trade And Development

10 2004 Satildeo Paulo UNCTAD 2004 30 p

Vianna CMM Estruturas do sistema de sauacutede do complexo meacutedico-induacutestrial

ao meacutedico-financeiro Physis Rev Sauacutede Coletiva 2002 12(2)375-390

273

Vieira C Globalizacioacuten comercio internacional y equidad en materia de Salud

Rev Panam Salud Publica 2002 11(56)425-429

Wallerstein I World-system analysis London Duke University Press 2004

World Health Organization Resultados de la conferencia mundial sobre los

determinantes sociales de la salud Reuniatildeo 130 21 jan 2012 Geneva WHO

2012 Disponiacutevel em

lthtppappswhointGbebwhapdf_filesEB130B130_R11-sppdfgt

274

ANEXO I

Relaccedilatildeo de Descritores

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir da Biblioteca Virtual em Sauacutede

Descritor Traduccedilatildeo (InglecircsEspanhol)

Interpretaccedilatildeo

Cooperaccedilatildeo Internacional

Cooperacioacuten Internacional ndash International Cooperation

ldquoInteraccedilatildeo de pessoas ou grupos de pessoas que representam vaacuterias naccedilotildees na busca de uma meta ou interesse comumrdquo

Agecircncias Internacionais

Agencias Internacionales ndash International Agencies

ldquoOrganizaccedilotildees internacionais que cooperam teacutecnica eou financeiramente no campo da sauacutede ou em outros campos com finalidade de desenvolver poliacutetica programa eou projetos nos acircmbitos federal estadual ou municipalrdquo

Negociaccedilatildeo Negociacion - Negotiation ldquoO processo de barganha para chegar a um acordo ou a um meio-termo em uma questatildeo de importacircncia para as partes envolvidas Tambeacutem se aplica agrave audiecircncia ou resoluccedilatildeo de um caso por uma terceira parte escolhida pelas partes em desacordo assim como agrave interposiccedilatildeo de uma terceira parte para conciliar as partes em desacordordquo

Pol e Coop em Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo

Poliacuteticas y Cooperacioacuten em Ciecircncia Tecnologia y Innovacioacuten

ldquoConjunto de Poliacuteticas planos e programas de cooperaccedilatildeo em ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeordquo

Poliacutetica Nacional de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo

Poliacutetica Nacional de Ciecircncia Tecnologia y Innovacioacuten ndash National Science Technology and Innovation Policy

ldquoConjunto de elementos orientadores de atividades cientificas e tecnoloacutegicas nacionais de forma a interagir com o setor produtor de bem e serviccedilos e contribuir para a soluccedilatildeo de problemas que conduza ao desenvolvimento do Paiacutesrdquo

Poliacutetica de Inovaccedilatildeo e Desenvolvimento

Poliacutetica de Innovacioacuten y Desarrollo - Innovation and Development Policy

ldquoOrientaccedilotildees sobre a abordagem da cultura de inovaccedilatildeo nas empresas atraveacutes de accedilotildees concretas de e desenvolvimento de estrateacutegias tecnoloacutegicas de longo prazordquo

Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede

Poliacuteticas Puacuteblicas de Salud ndash Health Public Policy

ldquoConjunto de accedilotildees disposiccedilotildees legais e orccedilamentaacuterias geradas no marco de procedimento e instituiccedilotildees governamentais Satildeo legitimadas atraveacutes de legislaccedilotildees ou regulaccedilotildees e promovem mudanccedilas no comportamento de instituiccedilotildees e indiviacuteduos em relaccedilatildeo a um problema setorial ou temaacuteticordquo

Poliacutetica de Sauacutede

Poliacutetica de Salud ndash Health Policy

ldquoDecisotildees geralmente desenvolvidas por formuladores de poliacuteticas do governo para definiccedilatildeo de objetivos imediatos e futuros do sistema de sauacutedeldquo

Induacutestria Induacutestria ndash Industry ldquoConjunto de empresas de manufatura ou de produccedilatildeo teacutecnica em uma aacuterea particular frequentemente denominado segundo seu produto principal como induacutestria automobiliacutestica induacutestria do accedilo Inclui a propriedade e a administraccedilatildeo de companhias faacutebricas plantas industriais etcrdquo

Organizaccedilatildeo Internacional

Organizacioacuten Internacional - International Organization

Apesar de constar na BVS natildeo haacute definiccedilatildeo atribuiacuteda para o termo

Gestatildeo de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede

Gestioacuten de Ciecircncia Tecnologia e Innovacion em Salud ndash Health Sciences Technology and Innovation

Apesar de constar na BVS natildeo haacute definiccedilatildeo atribuiacuteda para o termo

Page 3: O Estado e as Relações Internacionais: O Complexo

iii

Catalogaccedilatildeo na fonte

Instituto de Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

Biblioteca de Sauacutede Puacuteblica

S676 Soares Sandra Pereira

O Estado e as Relaccedilotildees Internacionais O Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede na relaccedilatildeo de influecircncia muacutetua

entre as agendas interna e externa do Brasil Sandra Pereira

Soares -- 2012

xxiv274 f il tab graf

Orientador Gadelha Carlos Augusto Grabois

Tese (Doutorado) ndash Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio

Arouca Rio de Janeiro 2012

1 Estado 2 Desenvolvimento Econocircmico 3 Poliacuteticas e

Cooperaccedilatildeo em Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo

4 Vulnerabilidade 5 Cooperaccedilatildeo Internacional 6 Cooperaccedilatildeo

Horizontal 7 Poliacutetica Externa 8 Globalizaccedilatildeo 9 Agenda Sul-

Sul I Tiacutetulo

CDD ndash 22ed ndash 3621

iv

A U T O R I Z A Ccedil Atilde O

Autorizo exclusivamente para fins acadecircmicos e cientiacuteficos a

reproduccedilatildeo total ou parcial desta tese por processos

fotocopiadores

Rio de Janeiro 30 de novembro de 2012

________________________________

Sandra Pereira Soares

v

ldquoMeditai se soacute as naccedilotildees fortes podem fazer ciecircncia ou se eacute a ciecircncia que as faz fortesrdquo

Oswaldo Cruz

vi

Aos meus pais

vii

Agradecimentos

Estes uacuteltimos quatro anos (e mais ldquo25920000 segundosrdquo) foram tatildeo

intensos e tatildeo representativos em minha vida que estabeleceram sobre mim

uma nova percepccedilatildeo sobre o futuro Paradigmas foram quebrados e no lugar

estabeleceram-se perspectivas para novas construccedilotildees Pilares foram

destruiacutedos pilares reconstruiacutedos e construiacutedos novos para uma vida inteira

Estando nesse grande canteiro de obras natildeo me senti sozinha Nunca

estive sozinha Foram tantas matildeos tantos olhares amigos e solidaacuterios tantos

carinhos tantas palavras tanta forccedila tanta orientaccedilatildeo tantas surpresas e

tantos puxotildees de orelha necessaacuterios por sinal

Ao reconhecer a generosidade do ser humano e do ser amigo com a

qual fui brindada por tantos presto a minha mais sincera homenagem

declarando o quanto sou grata pela existecircncia de cada um em minha vida

tentando fazer refletir a emoccedilatildeo que transborda em meu sentimento por vocecircs

em cada palavra que segue

A todos a minha gratidatildeo e o meu carinho

Ao meu Orientador e aos professores da Banca o meu sincero e

agradecido reconhecimento

Cariacutessimo Dr Gadelha honra-me a oportunidade de ter sido sua aluna e

a sua franca e querida amizade Sou grata por ter acreditado nesta profissional

discente que queria falar de sauacutede como questatildeo de defesa e soberania

nacional Sou grata por ter expandindo o meu olhar e tambeacutem por ensinar-me a

focalizar esse mesmo olhar A sua respeitosa trajetoacuteria profissional e sua

prestigiada competecircncia fizeram com que eu me sentisse privilegiada por tecirc-lo

como orientador E o mais importante o seu comprometimento entusiasmado

com a sauacutede eacute contagiante Como sua orientanda fui ldquocontaminadardquo Principal

sintoma brilho no olhar Muito obrigada por oferecer a oportunidade de que os

meus olhos brilhassem com os horizontes (que nesta tese satildeo internacionais)

do Complexo que eacute tatildeo complexo

A cada um dos professores da banca sinto um grande respeito e

admiraccedilatildeo pela competecircncia e pelo comprometimento profissional e

viii

acadecircmico ao mesmo tempo em que nutro por cada um uma carinhosa

amizade Agradeccedilo sinceramente a participaccedilatildeo de vocecircs

Querida Dra Mocircnica sempre disponiacutevel vocecirc que tanto me ouviu

acolheu e me acalmou sua objetividade suas dicas e suas preocupaccedilotildees

amigas foram satildeo e seratildeo sempre muito preciosas para mim

Dr Maldonado sempre muito franco e objetivo a sua disponibilidade

amiga seu pronto comprometimento e suas sugestotildees praacuteticas foram por

demais importantes

Dr Leonardo professor que tambeacutem se tornou um querido amigo

Sempre atento e comprometido muito me ajudou com sua leitura cuidadosa e

seus comentaacuterios precisos

Dr Marcus Vinicius amigo querido profissional ilibado mais do que um

professor um companheiro A sua disposiccedilatildeo em estar em minha banca a sua

preocupaccedilatildeo com os meus prazos e seus comentaacuterios preciosos refletem a

pessoa que vocecirc eacute

Dr Jorge Costa cariacutessimo profissional e querido amigo sou muito grata

por sua pronta e gentil disponibilidade em participar desta missatildeo com os

prazos de leitura tatildeo exiacuteguos Gentileza que reconheccedilo e agradeccedilo muito

Dr Willer que tanto me ouviu na construccedilatildeo do meu projeto de

qualificaccedilatildeo o meu reconhecimento ldquoaquelardquo longa conversa foi um ldquomarcordquo

Gostaria de poder ldquofalarrdquo com cada um que esteve comigo quebrando os

paradigmas e solidificando os pilares desta nova construccedilatildeo Gostaria que as

palavras traduzissem a importacircncia que cada um teve nessa etapa da minha

vida Entretanto natildeo poderei estender-me natildeo porque eu natildeo queira mas

porque teria que incorporar muitas e muitas paacuteginas a esta tese e mesmo

assim natildeo conseguiria expressar tudo que penso e sinto por cada um de

vocecircs meus amigos e companheiros

Agrave Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz o meu prazer por fazer parte Muito

obrigada pela oportunidade

ix

Agrave Vice-Presidecircncia de Produccedilatildeo e Inovaccedilatildeo em Sauacutede o meu

reconhecimento agradecido

Ao Vice-Presidente Dr Bermudez sou grata por ter o seu apoio e sua

autorizaccedilatildeo para continuidade do meu afastamento das minhas atividades

laborais Proporcionou-me condiccedilotildees para que a finalizaccedilatildeo deste estudo fosse

factiacutevel

Ao Jorge Costa sem o seu apoio amigo natildeo sei o que teria acontecido

Sua autorizaccedilatildeo proporcionou-me o focirclego necessaacuterio para que a construccedilatildeo

tomasse forma Obrigada de coraccedilatildeo

Agraves companheiras amigas e queridas da Assessoria Gabi Rita e Rosi

sempre positivas Agradeccedilo sinceramente a forccedila e o companheirismo

fraterno e profissional

Querida Silvania amiga que tanto me ouviu e que cuidou com especial

zelo dos meus processos institucionais agradeccedilo de coraccedilatildeo as palavras

carinhosas e todo o apoio recebido

Mansur agradeccedilo a fraterna torcida e as longas conversas sobre

construccedilotildees e (re) construccedilotildees

Carlinha sempre disponiacutevel sempre companheira e amiga muito

obrigada por toda a forccedila pelo apoio constante (em todos os momentos deste

curso de doutorado) pelas longas conversas e por todo carinho que vocecirc tem

me dado

Marcelo e Adriana agradeccedilo o carinho e a torcida

Querida Laiacutes amiga e companheira de artigos do corpo discente de

trabalho e de pesquisa o seu desprendimento foi-me muito caro Solidaacuteria e

preocupada com os meus prazos mesmo atolada de serviccedilos vocecirc teve tempo

para me apoiar nesta construccedilatildeo Obrigada de coraccedilatildeo

Paulinha companheira de artigos e tambeacutem com forte desprendimento

Agradeccedilo o apoio Agradeccedilo a torcida

x

Socircnia e Marluce do DAPS valeu toda a forccedila Eacute muito gratificante

quando encontramos profissionais que se envolvem e torcem pelos alunos E

vocecircs satildeo assim

Ao Serviccedilo de Gestatildeo Acadecircmica da ENSP especialmente

representado por Ceciacutelia Eduardo e Faacutebio agradeccedilo a paciecircncia o apoio

recebido em todos os momentos (e em especial ldquonaquelerdquo periacuteodo mais

complicado) Sou grata pela gentil presteza

Agrave Coordenaccedilatildeo de Poacutes-Graduaccedilatildeo o meu muito obrigado pela

compreensatildeo e por todo o apoio recebido

Queridiacutessimas amigas da turma de doutorado especialmente Andreacutea

Angeacutelica Helena Ialecirc Camila Acircndrea e Ana Paula foram tantas as

emoccedilotildees Posso afirmar com toda certeza sem o apoio sem a torcida sem

os puxotildees de orelha sem as tantas e tantas conversas sem o

compartilhamento de artigos sem as discussotildees sem os ldquoombrosrdquo e sem a

amizade de vocecircs teria sido muito mas muito mais difiacutecil terminar esse curso

Obrigada por terem sido vocecircs a existirem no curso da minha vida

Dr Henry Jouval por quem nutro admiraccedilatildeo e respeito suas ideacuteias

nossas conversas sua leitura cuidadosa do meu projeto de qualificaccedilatildeo e suas

preciosas dicas fundamentarem os novos pilares na minha construccedilatildeo

Agradeccedilo de forma muito especial a sua amizade a sua gentileza a sua

sempre disponibilidade e o seu carinho com os quais sempre fui brindada por

vocecirc

Querida Caacutetia profissional a quem devo o meu reconhecimento e o meu

agradecimento por todas as reflexotildees feitas nos uacuteltimos anos Algumas

ldquoparedesrdquo foram derrubadas com sua ajuda e a construccedilatildeo foi se ampliando E

ganhando mais solidez Obrigada

Querida Emiacutelia amiga especial que daacute chamada que daacute colo que chora

junto que sorri junto que sacode e que torce Agradeccedilo as longas conversas

Agradeccedilo a sua amizade Agradeccedilo o seu carinho

xi

Jorge ldquoMcFlyrdquo estimado amigo da Fiocruz e companheiro de longa

jornada agradeccedilo natildeo ter desistido desta amiga (e espero que ainda consiga

se lembrar de mim) Grata por sua fraterna e carinhosa torcida

Ivonete reconheccedilo a sua paciecircncia Sou grata a vocecirc por ter escutado

tantas vezes as minhas apreensotildees e expectativas Sei que sua torcida eacute muito

amiga Obrigada

Zeacute Paulo amigo querido por quem tenho especial carinho e admiraccedilatildeo

pelo profissional e pela pessoa que eacute Suas chamadas para que eu natildeo

perdesse o ldquofocordquo para que eu parasse de ldquoler ler e lerrdquo e passasse a

ldquoescrever escrever e escreverrdquo foram traduzidas por mim como uma

preocupaccedilatildeo carinhosa genuiacutena e amiga refletindo uma grande torcida

Obrigada de coraccedilatildeo

Querido Naldo sempre espirituoso Nossas conversas regadas a

gargalhadas foram muito produtivas Representaram momentos que

oxigenaram periacuteodos conturbados de minha vida e momentos que deram mais

cor a periacuteodos coloridos Agradeccedilo a sua torcida amiga e sua amizade

carinhosa Agradeccedilo tambeacutem as longas conversas com a ldquoBelrdquo Aos almoccedilos

vindouros que venham com muita frequecircncia

Moniquita amiga generosa companheira solidaacuteria e querida Rimos e

choramos juntas Sou privilegiada por ter construiacutedo este trabalho no mesmo

periacuteodo que a nossa amizade foi construiacuteda Os pilares dela seratildeo soacutelidos Jaacute

satildeo soacutelidos Obrigada por sua paciecircncia pelas conversas tatildeo amigas e tatildeo

francas Obrigada pelas risadas Obrigada por ajudar-me na (re) construccedilatildeo da

minha vida

Marquinhos e Marcelinho generosos queridos e apaixonantes amigos

sei o quanto se importam comigo sei o quanto sou agraciada pela torcida e

pela amizade de vocecircs E esse sentimento faz toda a diferenccedila Saibam que

amo vocecircs hoje e sempre

Fatinha querida com seu jeito uacutenico de ser sua torcida ldquoa la Fatinhardquo eacute

muito especial para mim Sempre juntas desde pequeninas Obrigada por se

preocupar com minha felicidade minha querida prima e irmatilde de coraccedilatildeo

xii

D Leila Noira Lulu e Mauricio tatildeo amados por mim algumas estruturas

que representavam tanto foram destruiacutedas e alguns pilares perdidos

Reconstruccedilotildees satildeo necessaacuterias e sustentam-se com o amor existente com a

torcida presente e com o carinho sentido A nossa relaccedilatildeo eacute sob essas bases

Joseacute Mauriacutecio agradeccedilo a vocecirc a fraterna torcida O meu muito obrigado

por sua sempre disponibilidade e por sua amizade de tantos anos Nutro por

vocecirc um carinho muito grande e uma forte torcida que se estendem por toda

uma vida

O mais importante eacute a constataccedilatildeo de que a estrutura da vida estaacute na

solidez dos pilares que a compotildeem Alguns satildeo fundamentais Satildeo centrais

Sem eles nada teria razatildeo Sem eles nada teria sustentaccedilatildeo Meus pilares

Zaida e Antonio minha matildee e meu pai Razotildees da minha existecircncia A quem

devo tudo De quem me orgulho A quem dedico e recebo amor de forma

incondicional Do colo que eu nasceria um milhatildeo de vezes Amo vocecircs

Obrigada por existirem na minha vida Obrigada por eu ser da vida de vocecircs

Tenho um ldquopar-pilarrdquo Algo do tipo ldquocoluna duplardquo sustentaccedilatildeo

necessaacuteria Sem esse pilar a minha construccedilatildeo ficaria igual a da Torre de Pisa

tortinha Sem a sua torcida seu olhar seu carinho suas defesas seu amor eu

seria incompleta Obrigada por existir minha irmatilde Te amo Bel

Eis que surge um pequeno pilar na minha vida Sua existecircncia se daacute no

decorrer do meu doutorado E eu me pergunto ldquocomo passei a vida inteira sem

esse pilarrdquo Querida Alecirc a titia dedica um amor lindo e um agradecimento

especial a vocecirc que tomou conta dos coraccedilotildees da nossa famiacutelia e ldquosequestrourdquo

o meu no primeiro olhar Um beijo meu amor

E eis que surge mais um pilar Um lindo e moreno pilar Surge em um

momento tatildeo complicado tatildeo necessaacuterio Fez-me sentir ldquoestruturadardquo especial

querida e muito amada E eacute querido eacute especial e eacute muito amado A vocecirc

Mauriacutecio dedico de forma especial o meu amor

E de todos os agradecimentos o principal faccedilo a Deus Ao grande

Arquiteto dedico o meu maior reconhecimento

xiii

Resumo

Esta tese aborda a inter-relaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais com as relaccedilotildees internacionais onde a correlaccedilatildeo do poder e da sauacutede estaacute presente e eacute vislumbrada principalmente no papel do Estado no contexto das relaccedilotildees internacionais e na influecircncia da globalizaccedilatildeo e de seus impactos sobre a poliacutetica de sauacutede - em particular sobre o Complexo Econocircmico- Industrial da Sauacutede (CEIS) ndash conjunto de atividades produtivas e de serviccedilos que pautam uma relaccedilatildeo sistecircmica entre setores industriais e os prestadores de serviccedilos em sauacutede - e na sua respectiva correlaccedilatildeo com a conduccedilatildeo da poliacutetica externa do Paiacutes Subsidia a aproximaccedilatildeo do campo da sauacutede com o do desenvolvimento nacional e regional caminhando em um sentido duplo de um lado traz a agenda de desenvolvimento para o campo da sauacutede e de outro fornece pistas de como as accedilotildees em sauacutede podem contribuir para uma perspectiva mais geral de desenvolvimento e integraccedilatildeo onde as demandas exercidas por influecircncias poliacutetico-econocircmicas na arena internacional tecircm poder significativo na conduccedilatildeo de poliacuteticas nacionais e na conduccedilatildeo da poliacutetica externa do Paiacutes

Dada a contemporaneidade do tema este estudo eacute fundamentado em pesquisas documentais e descritivas de natureza exploratoacuteria com base na anaacutelise das informaccedilotildees disponibilizadas em publicaccedilotildees ndash livros artigos legislaccedilotildees e perioacutedicos aleacutem da anaacutelise de relatoacuterios divulgados em portais governamentais e especializados e de apresentaccedilotildees de experts disponiacuteveis em domiacutenio puacuteblico

A construccedilatildeo dos capiacutetulos se desenvolve de forma ascendente em que as relaccedilotildees internacionais destacam o papel do Estado na complexidade das relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e de poderes internacionais assimeacutetricos e em que os direitos sociais e humanitaacuterios procuram se estabelecer Nesse contexto a retomada do papel estrateacutegico do Estado para o desenvolvimento nacional encontra na sauacutede e nos contornos estrateacutegicos da poliacutetica externa brasileira um contexto feacutertil para fundamentar a relaccedilatildeo virtuosa entre sauacutede e desenvolvimento em que o CEIS se estabelece a partir do pilar estrateacutegico da inovaccedilatildeo

Eacute apresentada sob o recorte geograacutefico das relaccedilotildees Sul-Sul onde se observa tendecircncia positiva para temas como a sauacutede serem considerados como elementos fundamentais para a promoccedilatildeo do desenvolvimento em estreita interaccedilatildeo e parceria com a comunidade internacional notadamente com as naccedilotildees do Sul

Em capiacutetulos subsequentes o estudo indica como resultado da relaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais e externa que o CEIS vem a partir da consolidaccedilatildeo produtiva nacional exercendo maior influecircncia na conduccedilatildeo das poliacuteticas externas da naccedilatildeo Essa constataccedilatildeo tem ocupado nos uacuteltimos anos posiccedilatildeo mais efetiva e menos secundaacuteria na formulaccedilatildeo das diretrizes que orientam a poliacutetica externa brasileira notadamente no que se refere agraves cooperaccedilotildees humanitaacuterias e agraves cooperaccedilotildees teacutecnicas internacionais Quanto agraves cooperaccedilotildees teacutecnicas internacionais satildeo pontuais as cooperaccedilotildees Sul-Sul tendo como principais balizadores questotildees como doenccedilas negligenciadas HIVAIDS e bancos de leite humanos especificamente junto aos paiacuteses do MERCOSUL da UNASUL e da CPLP

Portanto o CEIS - Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede - no Brasil estabelece-se como diferencial estrateacutegico para que nos contextos nacional regional e inter-regional sejam superadas vulnerabilidades econocircmicas assimetrias tecnoloacutegicas resguardadas as soberanias e os estados de bem-estar e potencializadas cooperaccedilotildees e negociaccedilotildees internacionais em conjunto com atores nacionais e internacionais

Palavras-chave Sauacutede Desenvolvimento Estado Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede Globalizaccedilatildeo Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede Cooperaccedilatildeo Sul-Sul Relaccedilotildees Internacionais Diplomacia em Sauacutede Poliacutetica externa Vulnerabilidade Assimetrias Tecnoloacutegicas Soberania estado de Bem-Estar

xiv

Abstract

This thesis addresses the interrelationship of national policies with international relations where the correlation of power and health is present and is envisioned primarily in the role of the state in the context of international relations and the influence of globalization and its impacts on health policy - in particular the Health Economic-Industrial Complex (CEIS) ndash set of productive and services activities that guide a systemic relation between industry activities and service providers in health ndash and in their respective correlation with the conduction of foreign policy‟s BrazilIt subsidizes the approach in the health field with the national and regional development walking in a double sense on one hand brings the development agenda for the field of health and on the other provides clues as how health actions can contribute to a more general development and integration where the demands exerted by political and economic influences in the international arena have significant power in the conduction of national policies and in the conduction of foreign policy‟s country

Given the contemporary theme this study is based on documentary and descriptive research of exploratory nature based on analysis of the information available in publications - books articles journals and Laws as well as analysis of governmental reports released on portals and specialized presentations of experts available in the public domain

The construction of the chapters is developed in ascending order where the international relations situate the role of the State in the complexity of political economic and international relationships as well as international asymmetric powers and in the social and humanitarian rights seek to be established In this context the resumption of the strategic role of the State to the national development finds in the health and strategic contours of the Brazilian foreign policy a fertile environment to support the virtuous relationship between health and development in what the Health Economic- Industrial Complex - CEIS is settled from a strategic pillar of innovation

It is presented under the cut of the geographical South-South relations which is a positive trend for subjects such as health to be considered as key elements in the promotion of the development in close interaction and partnership with the international community especially with the South nations

In the subsequent chapters the study indicates as a result of national and external policies that CEIS is exerting increasing influence on the conduction of foreign policy of the nation since the national productive consolidation In recent years this finding has occupied a more effective and less secondary position in formulating of guidelines that guide the Brazilian foreign policy especially regarding the humanitarian cooperation and international technical cooperation As for international technical cooperation the south-south cooperation are very isolated having as the main indicators issues as neglected diseases HIV AIDS and Human Milk Banks specifically at Mercosur Unasur and the ldquoCPLPrdquo

Therefore the Health Economic -Industrial Complex in Brazil establishes itself as a strategic differentiator so that the national regional and inter-regional scenarios can overcome economic vulnerabilities technological asymmetries safeguarding the sovereignty and the Welfare states as well as maximize international cooperation and negotiations along with national and international actors

Keywords Health Development State Health Economic and Industrial Complex Globalization

International Cooperation in Health South-South Cooperation International Relations Health Diplomacy

External Policy Vulnerability Technological Asymmetries Sovereignty Welfare State

xv

Lista de Siglas e Abreviaturas

AMS Assembleacuteia Mundial da Sauacutede

ABC Agecircncia Brasileira de Cooperaccedilatildeo

ABDI Agecircncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial

ACNUR Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Refugiados

ALADI Associaccedilatildeo Latino-Americana de Integraccedilatildeo

ALBA Alianccedila Bolivariana para as Ameacutericas

ALC-EU Cuacutepula Ameacuterica Latina Caribe e Uniatildeo Europeacuteia

AOD Ajuda Oficial para o Desenvolvimento

ASA Cuacutepula Ameacuterica do Sul - Aacutefrica

ASPA Cuacutepula Ameacuterica do Sul - Paiacuteses Aacuterabes

ATS Avaliaccedilatildeo de Tecnologias em Sauacutede

BBFC Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo e Controle

BIO-

MANGUINHOS Instituto de Tecnologia em Imunobioloacutegicos

BLH Banco de Leite Humano

BRICS Agrupamento Brasil Ruacutessia Iacutendia China e Aacutefrica do Sul

BVS

CampT

Biblioteca Virtual em Sauacutede

Ciecircncia e Tecnologia

CAN Comunidade Andina de Naccedilotildees

CCM Comissatildeo de Comeacutercio do Mercosul

CDC Centro para Controle e Prevenccedilatildeo de Doenccedilas

CE Comitecirc Executivo

CE Conselho Executivo (OMS)

CEIS Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

CELAC Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos

CEWG

Consultative Expert Working Group on Research and Development

Financing and Coordination

CICT Centro Internacional de Cooperaccedilatildeo Tecnoloacutegica em HIVAIDS

CID Cooperaccedilatildeo Internacional para o Desenvolvimento

CMC Conselho Mercado Comum

xvi

CPC Comissatildeo Parlamentar Conjunta

CPLP Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa

CQCT Convenccedilatildeo-Quadro para o Controle do Tabaco

CSNU Conselho de Seguranccedila das Naccedilotildees Unidas

CSS Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

CSS Conselho Sauacutede Sul-Americano

CTCampT Cooperaccedilatildeo Teacutecnica Cientiacutefica e Tecnoloacutegica

CTIME Centros Teacutecnicos de Instalaccedilatildeo e Manutenccedilatildeo de Equipamentos

CTPD Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre Paiacuteses em Desenvolvimento

DNDI Iniciativa Medicamentos para Doenccedilas Negligenciadas

EB Executive Board

EPI Economia Poliacutetica Internacional

EUA Estados Unidos da Ameacuterica

FAO Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para Alimentaccedilatildeo e Agricultura

FAR-

MANGUINHOS Instituto de Tecnologia em Faacutermacos

FCES Foro Consultivo Econocircmico-Social

FHC Fernando Henrique Cardoso

FIOCRUZ Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz

FMI Fundo Monetaacuterio Internacional

FOCALAL Foacuterum de Cooperaccedilatildeo Ameacuterica Latina - Aacutesia do Leste

G-20 Grupo dos 20

G-77 Grupo dos 77

G-8 Grupo dos 8

GECIS Grupo Executivo do Complexo Industrial da Sauacutede

GMC Grupo Mercado Comum

GPP Grandes Paiacuteses Perifeacutericos

GSK Glaxo SmithKline

GTI-AHI

Grupo de Trabalho Interministerial sobre Assistecircncia Humanitaacuteria

Internacional

H1N1 Influenza A

HIB Haemophilus Influzae tipo b

IBAS Foacuterum de Diaacutelogo Iacutendia Brasil e Aacutefrica do Sul ou G-3

xvii

IBERBLH Programa Ibero-Americano de Bancos de Leite Humano

IGWG

Intergovernmental Working Group on Public Health Innovation and

Intellectual Property

IPEA Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada

ISAGS Instituto Sul-Americano de Governanccedila em Sauacutede

MCT Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo

MDIC Ministeacuterio do Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Exterior

MERCOSUL Mercado Comum do Sul

MNA Movimento dos Paiacuteses natildeo-Alinhados

MRE Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores

MS Ministeacuterio da Sauacutede

MSTI Main Science and Technology Indicators

NETHIS Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacutetica e Diplomacia em Sauacutede

OCDE Organizaccedilatildeo para Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico

OCHA Escritoacuterio das Naccedilotildees Unidas para Coordenaccedilatildeo de Assuntos Humanitaacuterios

ODM Objetivo de Desenvolvimento do Milecircnio

OMC Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

OMS Organizaccedilatildeo Munidial da Sauacutede

ONG Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OPAS Organizaccedilatildeo Pan-Americana de Sauacutede

ORIS Oficinas de Relaccedilotildees Internacionais em Sauacutede

OTCA Organizaccedilatildeo de Tratado de Cooperaccedilatildeo Amazocircnica

PampD Pesquisa e Desenvolvimento

PAC Plano de Aceleraccedilatildeo do Crescimento

PALOP Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa

PCB Programme Coordinating Board

PDP Parcerias para Desenvolvimento de Produtos

PECS Plano de Sauacutede da Comunidade de Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa

PIB Produto Interno Bruto

PITCE Poliacutetica Industrial Tecnologia e de Comeacutercio Exterior

PMA Programa Mundial de Alimentos

PNUD Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento

xviii

PNUMA Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio-Ambiente

PPD Partners in Population and Development

PPT Presidecircncia Pro-Tempore

REDSUR-

ORISS

Rede de Oficinas de Relaccedilotildees Internacionais e Cooperaccedilatildeo

Internacional em Sauacutede

RESP Rede de Escolas de Sauacutede Puacuteblica

RETS Rede de Escolas Teacutecnicas de Sauacutede

RI Relaccedilotildees Internacionais

RINC Rede de Institutos Nacionais de Cacircncer

RINS Rede de Institutos Nacionais de Sauacutede

RMS Reuniatildeo de Ministros da Sauacutede do Mercosul

SAM Secretaria Administrativa do Mercosul

SELA Sistema Econocircmico Latino-Americano de Integraccedilatildeo

SGT-11 Subgrupo de Trabalho n11

SI Sociedade Internacional

SUS Sistema Uacutenico de Sauacutede

TEC Tarifa Externa Comum

TRIPS

Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados com

o Comeacutercio

UE Uniatildeo Europeacuteia

UNAIDS

Joint United Nations Programme on HIVAIDS Progama Conjunto das

Naccedilotildees Unidas sobre HIVAIDS

UNASUL Uniatildeo das Naccedilotildees Sul-Americanas

UNDP United Nations Development Programme

UNICEF Fundo das Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia

WDI World Development Indicators

WHO World Health Organization

WIPO World Intellectual Property Organization

xix

Lista de Tabelas

Tabela 1 ndash As Principais Economias no Mundo (PIB) ndash 2011

090

Tabela 2 ndash Orccedilamento Governamental em PampD - objetivo socioeconocircmico ldquoSauacutede e Meio-Ambienterdquo Brasil e OCDE 2000-2011

092

Tabela 3 ndash Redes de Instituiccedilotildees Estruturantes no Campo da Sauacutede na Unasul

157

Tabela 4 ndash Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede em accedilotildees vinculadas ao CEIS (Prestaccedilatildeo de Assistecircncia Humanitaacuteria) - periacuteodo 2006 a 05-2010

198

Tabela 5 ndash Principais resultados (2003-2009) CEIS e Poliacutetica Externa

215

Tabela 6 ndash Incorporaccedilatildeo Tecnoloacutegica ndash Principais Accedilotildees da Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz relacionadas ao CEIS - periacuteodo 2003-2009

227

xx

Lista de Quadros

Quadro 1 ndash Principais Teorias da EPI 052

Quadro 2 ndash Relaccedilatildeo de Documentos Internacionais Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e Sauacutede

126

Quadro 3 ndash Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede Relaccedilatildeo de Paiacuteses e Banco de Leite Humano

214

Quadro 4 ndash Resoluccedilotildees do Mercosul ndash CEIS

220

xxi

Lista de Graacuteficos

Graacutefico 1 ndash Investimentos em Cooperaccedilatildeo Teacutecnica (em )

135

Graacutefico 2 ndash Relaccedilatildeo de Investimentos em Cooperaccedilatildeo Brasileira para o Desenvolvimento em Assistecircncia Humanitaacuteria (em )

135

Graacutefico 3 ndash Investimentos em Cooperaccedilatildeo Internacional Brasileira para o Desenvolvimento Internacional ndash entre 2005 e 2009 (em )

136

Graacutefico 4 ndash Baixo Crescimento das Economias Maduras

139

xxii

Lista de Figuras

Figura 1 ndash Representaccedilatildeo do Impacto do CEIS em Expansatildeo

032

Figura 2 ndash Sistema Econocircmico Internacional ndash Esquema Analiacutetico Baacutesico

049

Figura 3 ndash Modus Operandi da OMS

104

Figura 4 ndash Reuniatildeo de Ministros da Sauacutede do Mercosul ndash RMS

149

Figura 5 ndash Intercessatildeo Geopoliacutetica do Brasil na Aacuterea da Sauacutede

204

Figura 6 ndash Formaccedilatildeo da Cadeia de Conhecimentos

208

Figura 7 ndash CEIS e Relaccedilotildees Internacionais Categorias Centrais

256

xxiii

SUMAacuteRIO

Resumo xiii

Abstract xiv

Lista de Siglas e Abreviaturas xv

Lista de Tabelas xix

Lista de Quadros xx

Lista de Graacuteficos xxi

Lista de Figuras xxii

Introduccedilatildeo 025

Objetivo Geral 035

Objetivos Especiacuteficos 036

Hipoacutetese 036

Limitaccedilotildees e Desafios 037

Metodologia da Pesquisa 039

Procedimentos de Pesquisa 039

Capiacutetulo I Relaccedilotildees Internacionais 042

1 ndash Introduccedilatildeo 042

2 ndash A Abordagem da Sociedade Internacional 043

3 ndash A Abordagem da Economia Poliacutetica Internacional 045 Capiacutetulo II Estado e Relaccedilotildees Internacionais ndash A Retomada do Papel dos Estados Nacionais 062

1 ndash Introduccedilatildeo 062

2 ndash Estado como Ator Estrateacutegico nas Relaccedilotildees Internacionais 063

3 ndash Protagonismo do Estado no Contexto da Globalizaccedilatildeo

e da Inovaccedilatildeo 077

xxiv

Capiacutetulo III Inserccedilatildeo do Brasil no Contexto Internacional da Sauacutede 088

1 ndash Sauacutede nas Relaccedilotildees Internacionais 100

2 ndash Agenda Sul-Sul 122 21 Mercosul 144

22 Unasul 152

23 Aacutefrica 161

24 Cooperaccedilatildeo Triangular 166

25 Reflexotildees sobre o Papel do Brasil na

Cooperaccedilatildeo Sul-Sul 169

Capiacutetulo IV CEIS O Papel do Estado na Inovaccedilatildeo e no Campo da Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede na Agenda Sul-Sul 175

1 ndash CEIS Estado e Inovaccedilatildeo Sauacutede e Desenvolvimento 175

2 ndash Cooperaccedilatildeo Internacional e as Relaccedilotildees Internacionais um olhar sobre o CEIS na relaccedilatildeo Sul-Sul 191

21 Cooperaccedilatildeo Internacional sob a Abordagem da

Assistecircncia Humanitaacuteria 196

22 Cooperaccedilatildeo Internacional sob a Abordagem da

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica Internacional 201

Capiacutetulo V CEIS Poliacutetica Externa em Accedilatildeo um Olhar sobre o Sul 210 Consideraccedilotildees Finais 234 Referecircncias Bibliograacuteficas 259 Bibliografia Consultada 270 Anexo I 274

INTRODUCcedilAtildeO

Mais claramente observada no Seacuteculo XXI como estrateacutegia poliacutetica a

aacuterea da sauacutede eacute priorizada no campo poliacutetico em funccedilatildeo da relevacircncia e da

relaccedilatildeo que as bases de conhecimento os campos da ciecircncia da tecnologia e

da inovaccedilatildeo tecircm como estado de bem-estar da sociedade

Aleacutem disso o setor sauacutede tem sido cada vez mais considerado como

indutor e parte constitutivo do modelo de desenvolvimento dos paiacuteses

desenvolvidos em forte expansatildeo e dos paiacuteses em desenvolvimento em

consolidaccedilatildeo

Estaacute inserido local e globalmente de forma cada vez mais intensa em

um processo de mutaccedilatildeo social industrial e institucional o que passa a ser

aleacutem de uma oportunidade um desafio ao se tentar associar agraves dinacircmicas

nacionais e internacionais sociais econocircmicas de inovaccedilatildeo e de produccedilatildeo

Sob a perspectiva social temas como o da sauacutede ganharam relevacircncia

na agenda da poliacutetica internacional apoacutes a Guerra Fria Com a perda de nitidez

do confronto ideoloacutegico e com o advento da multipolaridade os temas sociais

tornaram-se globais interessando a todas as sociedades A sauacutede portanto

cada vez mais vem avanccedilando na agenda das relaccedilotildees exteriores e nos

assuntos globais mesclando-se agraves questotildees econocircmicas comerciais e de

seguranccedila nacional (Buss e Ferreira 2008) [1]

Assim questotildees como as relacionadas agrave guerra e agrave paz agrave economia e

ao comeacutercio ditas como hard power vecircm cedendo espaccedilo nas uacuteltimas

deacutecadas para questotildees como a sauacutede em funccedilatildeo do aumento de acordos

internacionais sobre esse tema reconhecido no cenaacuterio internacional como soft

power

Haacute entretanto segundo definem Kickbusch e Berger 1 uma tendecircncia a

que essas questotildees reconhecidas como ldquosoftrdquo se imbriquem nas questotildees

ldquohardrdquo das economias nacionais Esses autores justificam sob essa nova

1 Fonte Buss P Ferreira J Documento institucional interno da Fiocruz Rio de Janeiro

Fiocruz 2008

26

loacutegica que haacute um reconhecimento cada vez maior acerca dos ldquobens puacuteblicos

globaisrdquo que satildeo ldquonegociados e assegurados e que regimes na aacuterea do

comeacutercio e do desenvolvimento econocircmico devem ser complementados por

outros em esferas como ambiente e sauacutederdquo 1 (p 20)

Por outro lado em que pese a importacircncia do enfoque econocircmico a

consequente valorizaccedilatildeo dos temas sociais eacute fruto da reformulaccedilatildeo das

concepccedilotildees ateacute entatildeo vigentes do desenvolvimento confere agrave aacuterea social uma

essencialidade em que se privilegia a solidariedade social e o ser humano

como centrais nas preocupaccedilotildees e nos interesses estatais

Nesse sentido o tema ganhou representatividade em funccedilatildeo de uma

seacuterie de movimentos entre os Estados em foacuteruns e conferecircncias mundiais que

deu relevacircncia e sustentabilidade aos temais sociais nas questotildees estrateacutegicas

das relaccedilotildees internacionais

Portanto questotildees relacionadas agrave sauacutede ultrapassaram a sua

abordagem mais teacutecnica e tornaram-se essenciais nas poliacuteticas externa de

seguranccedila e comercial tanto pelo seu valor intriacutenseco como pela

predominacircncia de valores humanos incidentes sobre outros interesses

Por outro lado sob a perspectiva econocircmico-industrial a sauacutede exerce

papel estrateacutegico e fundamental no contexto do desenvolvimento nacional e da

poliacutetica industrial seja interagindo com o sistema econocircmico-industrial e o

potencial de inovaccedilatildeo no setor seja contribuindo para uma perspectiva mais

geral de desenvolvimento e integraccedilatildeo 234

Representa simultaneamente a dimensatildeo social e da cidadania com a

econocircmica e da inovaccedilatildeo 5 A sauacutede nesse sentido em intriacutenseca interaccedilatildeo

com os interesses sociais eacute uma variaacutevel estrateacutegica para a competitividade

nacional 23 apresentando as dimensotildees do direito e da cidadania do

desenvolvimento econocircmico seja pela geraccedilatildeo de inovaccedilatildeo de renda e de

emprego da promoccedilatildeo do desenvolvimento nacional seja pelas caracteriacutesticas

de transformar o contexto atual em uma saiacuteda estrutural e de longo prazo para

o desenvolvimento brasileiro

27

Os investimentos sociais na aacuterea da sauacutede representam 88 do PIB

valor correspondente a quase US$ 100 bilhotildeesano O setor gera 10 dos

empregos formais qualificados tem o maior investimento em PampDampI no Brasil e

participa com cerca de 25 das publicaccedilotildees nacionais [2] Eacute um setor prioritaacuterio

dado o fato de aliar alto potencial de inovaccedilatildeo e priorizar o atendimento ao

sistema universal de sauacutede

A sauacutede estaacute inserida em aacutereas determinantes para o futuro do Paiacutes tais

como a biotecnologia a nanotecnologia a quiacutemica fina a microeletrocircnica aleacutem

de perpassar pela aacuterea dos serviccedilos assim como ceacutelulas-tronco e

telemedicina Todas essas aacutereas segundo Padilha e Gadelha [3] ldquorepresentam

22 do esforccedilo mundial de inovaccedilatildeo e quem ficar fora seraacute dependente fraacutegil

e subservienterdquo

Portanto o campo da sauacutede apresenta-se como um campo privilegiado

para as questotildees de soberania para o fortalecimento do papel do estado

nacional e da hegemonia no campo da ciecircncia e tecnologia E nesse sentido o

Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede (CEIS) emerge como ponte entre a

ciecircncia a tecnologia a inovaccedilatildeo o desenvolvimento econocircmico a soberania e

o bem-estar social Formado por setores industriais de base quiacutemica e

biotecnoloacutegica (induacutestrias de faacutermacos medicamentos vacinas

hemoderivados e reagentes para diagnoacutestico) e de base mecacircnica eletrocircnica

de proacuteteses e oacuterteses e de materiais de consumo aleacutem de organizaccedilotildees

prestadoras de serviccedilos em sauacutede (hospitais ambulatoacuterios e serviccedilos de

diagnoacutestico e tratamento) o CEIS eacute um conjunto de atividades produtivas e de

serviccedilos em sauacutede que pautam uma relaccedilatildeo sistecircmica entre os setores

envolvidos 23

No Brasil o CEIS inserido nesse contexto de constante transformaccedilatildeo

industrial e institucional destaca-se como espaccedilo institucional e econocircmico

particular ldquoformado por induacutestrias fortemente inovadoras e veiacuteculos

importantes de novos paradigmas tecnoloacutegicosrdquo 3 Tem no Estado um papel de

2 Fonte IBGE (2012) e dados disponibilizados pelo Grupo de Pesquisa GISENSP Fiocruz

3 Fonte Padilha A Gadelha CAG Sauacutede na agenda industrial e do desenvolvimento Jornal

Valor Econocircmico 17012012

28

grande importacircncia social e estrateacutegica como ator essencial na promoccedilatildeo da

articulaccedilatildeo da sauacutede com o sistema de inovaccedilatildeo

Isso posto poliacuteticas nacionais efetivas ultrapassam vulnerabilidades e

oferecem contornos que definem o CEIS e a sauacutede no Brasil como promotores

do desenvolvimento nacional cujo protagonismo natildeo se esgota nos limites da

fronteira nacional favorecendo condiccedilotildees e diferenciais para que o Paiacutes se

estabeleccedila no contexto internacional como parceiro na promoccedilatildeo do

desenvolvimento econocircmico de paiacuteses do eixo Sul-Sul e forte player nas

discussotildees sobre sauacutede em foacuteruns internacionais

Portanto o CEIS estabelece-se com representatividade estrateacutegica para

que a sauacutede do Paiacutes natildeo sucumba agraves vulnerabilidades histoacutericas que

comprometem sua base produtiva tecnoloacutegica endoacutegena Quando apontamos

a vertente da vulnerabilidade ressaltamos notadamente e cada vez mais o

crescente deacuteficit da balanccedila comercial da sauacutede do Brasil O que representa

forte dependecircncia externa de produtos do CEIS sobretudo os de maior

dependecircncia tecnoloacutegica vulneraacutevel agrave oscilaccedilatildeo cambial tornando quase

irreversiacutevel as consequecircncias da poliacutetica liberal dos anos 90 Poliacutetica essa que

destruiu a produccedilatildeo de produtos de alta tecnologia em sauacutede no Paiacutes [4]

O aumento exponencial do deacuteficit na balanccedila comercial do CEIS pode

ser observado ao destacar que no final da deacutecada de 80 o deacuteficit chegava a

US$ 700 milhotildees em 2005 alcanccedilava US$ 3 bilhotildees e em 2011 US$ 11

bilhotildees [5] O que representa nos uacuteltimos seis anos um aumento alarmante de

quase 300 e nas trecircs uacuteltimas deacutecadas um incremento de 1500 no deacuteficit da

balanccedila comercial da sauacutede Qualquer oscilaccedilatildeo cambial poderaacute tornar

inexequiacuteveis programas essenciais de sauacutede como o de assistecircncia

farmacecircutica de cacircncer de imunizaccedilatildeo infantil tratamentos de HIV dentre

outros

Esse quadro da balanccedila comercial do CEIS eacute um grande desafio que

requer a inovaccedilatildeo como um meio para viabilizar o desenvolvimento e o

4 A dependecircncia de importaccedilotildees de faacutermacos nesse periacuteodo chegou a 85 das necessidades

nacionais Fonte Elaboraccedilatildeo do Grupo de Pesquisa de Inovaccedilatildeo em Sauacutede - GISENSPFiocruz 2011 5 Dados fornecidos pelo GISENSPFiocruz em maio de 2012 a partir dos dados da Rede Alice

do MDIC

29

atendimento agrave dimensatildeo social relacionada ao acesso universal preconizado

no Brasil Sendo assim reverter esse quadro passa pela busca do

desenvolvimento da produccedilatildeo inovadora endoacutegena a fim de garantir a

sustentabilidade do acesso aos bens da sauacutede atender agrave sociedade brasileira

e ampliar possibilidades para atendimento das demandas de paiacuteses em

desenvolvimento principalmente daqueles que a poliacutetica externa brasileira vem

priorizando sob os laccedilos Sul-Sul

A esse quadro de vulnerabilidades soma-se a competiccedilatildeo assimeacutetrica da

induacutestria nacional composta por pequenas e meacutedias empresas com estruturas

oligopolizadas e multinacionais que se estabelecem sob a loacutegica financeira

internacional formando uma forte vertente de desequilibrada concorrecircncia

Muacuteltiplas forccedilas exoacutegenas influenciam a poliacutetica de sauacutede puacuteblica 6 Haacute

de se competir no plano da estrutura industrial onde se percebe um movimento

de concentraccedilatildeo de capital e de tecnologia que resulta de interesses

internacionais e em imensos conglomerados multinacionais que competem e

repartem o mercado mundial da induacutestria da sauacutede Para o autor o Estado

moderno vem sofrendo tambeacutem accedilotildees de muacuteltiplas forccedilas simultacircneas Satildeo

pressotildees exercidas por acordos promovidos por agecircncias internacionais aleacutem

da diminuiccedilatildeo do papel do Estado por conta da expansatildeo da globalizaccedilatildeo e

pela crescente influecircncia de organizaccedilotildees natildeo-governamentais Tudo isso

reflete na conduccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede puacuteblica

Logo dados o novo caraacuteter e o peso cada vez maior das relaccedilotildees

econocircmicas transnacionais a accedilatildeo do Estado tende a ficar cada vez mais

constrita Sendo assim a globalizaccedilatildeo provoca interdependecircncia entre as

economias nacionais que em funccedilatildeo das estrateacutegias governamentais podem

levar as naccedilotildees agrave consolidaccedilatildeo ou agrave vulnerabilidade externa 7 Isto eacute com a

globalizaccedilatildeo haacute uma perda da capacidade do mesmo em conduzir seus

objetivos poliacuteticos de maneira autocircnoma ficando cada vez mais subordinado

agraves exigecircncias da economia global ldquodesmantelando-se arranjos [caracteriacutesticos

do] Estado-Sociedaderdquo

Esta questatildeo afeta desproporcionalmente paiacuteses em desenvolvimento

de forma desfavoraacutevel em dois aspectos marcantes o primeiro refere-se agraves

30

dificuldades de governanccedila governabilidade e de harmonizaccedilatildeo institucional

dentre o bloco desses paiacuteses ocasionando sobre os mesmos uma perda na

autonomia na tomada de decisatildeo que deixa de se pautar por prioridades

nacionais sem que haja entretanto contrapartida do fortalecimento regional o

segundo aspecto em parte decorrente do anterior refere-se ao desequiliacutebrio

geopoliacutetico na definiccedilatildeo das prioridades da agenda global da sauacutede

Numa perspectiva de fortalecimento da sauacutede puacuteblica a globalizaccedilatildeo

enfatiza oportunidades para a sauacutede por meio de uma seacuterie de iniciativas

globais resultantes da accedilatildeo entre paiacuteses A despeito das diferenccedilas de forccedila

observadas entre os atores globais o resultado de alianccedilas e coalizotildees

intergovernamentais e com outros atores da sociedade civil tende a fortalecer a

incorporaccedilatildeo de temas importantes para a agenda nacional de sauacutede de paiacuteses

menos desenvolvidos em debates globais e na formaccedilatildeo da agenda de sauacutede

global 8

Assim sendo as mudanccedilas percebidas no estabelecimento das

prioridades para a tomada de decisotildees das poliacuteticas puacuteblicas em sauacutede tecircm

sido fundamentalmente um reflexo das circunstacircncias nacionais e do que a

sauacutede precisa Este posicionamento destaca a potencialidade de fortalecimento

da voz poliacutetica dos interesses de naccedilotildees menos desenvolvidas mesmo que em

condiccedilotildees assimeacutetricas de influecircncia sobre a agenda

Diante do exposto a sauacutede ultrapassa as fronteiras nacionais e promove

caminhos internacionais Isso posto em que pese natildeo terem sido observados

ganhos suficientes que alterassem o peso brasileiro no contexto mundial ateacute o

final do Seacuteculo XX 9 haacute fortes evidecircncias de mudanccedila notadamente no

contexto da sauacutede em que a poliacutetica externa brasileira vem apresentando

mudanccedila na sua atuaccedilatildeo no cenaacuterio internacional particularmente a partir da

primeira deacutecada do Seacuteculo XXI [6]

Nesse sentido ganha a sauacutede um papel internacional que integra e

articula o Ministeacuterio da Sauacutede e o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores A sauacutede

portanto se relaciona com o processo de globalizaccedilatildeo com a diversificaccedilatildeo de

6 Daiacute ter sido escolhida a primeira deacutecada do Seacuteculo XXI como recorte temporal desta tese de

doutorado

31

mercados com a geopoliacutetica internacional com a soberania nacional e com a

solidariedade internacional principalmente com os paiacuteses do Sul

Vale destacar que sob o enfoque das cooperaccedilotildees Norte-Sul e Sul-Sul

a sauacutede nos torna simultaneamente parceiros receptores e doadores O CEIS

nessa relaccedilatildeo dual ganha caraacuteter estrateacutegico para a consolidaccedilatildeo das

cooperaccedilotildees internacionais Considerado como aacuterea estrateacutegica de Estado o

CEIS quando fortalecido e consolidado e nesse sentido a cooperaccedilatildeo Norte-

Sul eacute fator determinante [7] representa forte impacto no desenvolvimento

socioeconocircmico do Paiacutes e de paiacuteses cuja busca eacute semelhante a do Brasil

alargando o alcance do exerciacutecio diplomaacutetico brasileiro da sua projeccedilatildeo no

cenaacuterio externo e no fortalecimento das cooperaccedilotildees estruturantes no acircmbito

dos paiacuteses do Sul

Ao mesmo tempo em que um paiacutes precisa ampliar o seu acesso a novos

mercados e a novos conhecimentos precisa tambeacutem obter espaccedilo para a

conduccedilatildeo das suas poliacuteticas puacuteblicas Situaccedilatildeo essa enfatizada na medida em

que a capacidade de produccedilatildeo de bens de sauacutede - contextualizado o impacto

do CEIS na geraccedilatildeo de inovaccedilatildeo e a relaccedilatildeo desta com a competitividade em

cenaacuterio global ndash acaba se configurando como preacute-condiccedilatildeo para legitimar e

fortalecer o aspecto soberano de uma naccedilatildeo na nova arena geopoliacutetica Essa

situaccedilatildeo pode ser refletida na figura 1 a seguir que representa o impacto na

expansatildeo do desenvolvimento nacional e por consequecircncia na expansatildeo da

atuaccedilatildeo do Paiacutes no cenaacuterio internacional quando o CEIS se expande

Representa portanto a relaccedilatildeo direta do fortalecimento e da consolidaccedilatildeo do

CEIS sobre o desenvolvimento nacional e a expansatildeo da atuaccedilatildeo do Paiacutes no

cenaacuterio internacional

7 Natildeo eacute pretensatildeo desta tese analisar eou aprofundar discussotildees acerca do contexto da sauacutede nas

relaccedilotildees Norte-Sul a despeito da grande importacircncia do tema Requerer-se-ia um aprofundamento que

demandaria uma abordagem distinta para a tese ora apresentada Nesse sentido para este estudo optou-se

pela abordagem das cooperaccedilotildees Sul-Sul

32

Figura 1 Representaccedilatildeo do Impacto do CEIS em expansatildeo

Elaboraccedilatildeo proacutepria

Entretanto haacute de se considerar que a inter-relaccedilatildeo das poliacuteticas

nacionais com as relaccedilotildees internacionais encerra desafios diversos

enfrentados no mercado nacional que natildeo satildeo ultrapassados sem que se

cumpra uma agenda de transformaccedilotildees internas como preacute-condiccedilatildeo ou

consequecircncia da exposiccedilatildeo aos mercados externos As transformaccedilotildees daiacute

decorrentes trazem uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica e uma forte consolidaccedilatildeo da

gestatildeo poliacutetica estrateacutegica preparando o Paiacutes para um papel destacado no

contexto geopoliacutetico internacional

Parte-se portanto a priori da defesa da ideacuteia de que as influecircncias

exercidas por intermeacutedio do papel do Estado voltado para a consolidaccedilatildeo de

um sistema de inovaccedilatildeo dinacircmico com efeitos diretos no desenvolvimento do

Brasil e na soberania nacional tecircm relaccedilatildeo direta com a inserccedilatildeo ativa do Paiacutes

no contexto das suas relaccedilotildees internacionais

Sob essa abordagem a agenda de inserccedilatildeo soberana na aacuterea da sauacutede

eacute observada no CEIS e eacute sob essa perspectiva inclusive que se busca o

enfrentamento da relaccedilatildeo econocircmica e de poder assimeacutetrico no contexto da

geopoliacutetica internacional

ContextoNacional

ContextoExterno

CEIS (em expansatildeo)

33

A relevacircncia do presente estudo dada a assimetria tecnoloacutegica global

pauta-se portanto no esforccedilo para subsidiar um enfoque teoacuterico alternativo

que incorpore a retomada do papel do Estado nacional na dinacircmica da

transformaccedilatildeo socioeconocircmica e da inovaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede no Brasil

fundamentado pela relaccedilatildeo de poder existente entre o Estado soberano a

dinacircmica da sua poliacutetica externa e o contexto da globalizaccedilatildeo nas relaccedilotildees

internacionais

Em sequecircncia este estudo estaacute dividido em cinco capiacutetulos aleacutem desta

introduccedilatildeo que inclui objetivos hipoacutetese desafios e limitaccedilotildees e procedimentos

de pesquisa e das consideraccedilotildees finais

O Capiacutetulo I dialoga com duas das abordagens teoacutericas das Relaccedilotildees

Internacionais que pautam temas como direitos humanos e sociedade aleacutem de

poliacuteticas econocircmicas e de poder A discussatildeo posiciona o Estado na

abordagem da Sociedade Internacional e na abordagem da Economia Poliacutetica

Internacional em que a perspectiva humanitaacuteria tem como contraponto a

complexidade das relaccedilotildees econocircmicas internacionais

Em seguida no Capitulo II satildeo apresentados argumentos que justificam

a inserccedilatildeo do Estado com papel destacado no processo de retomada do seu

papel estrateacutegico para o desenvolvimento nacional sob a perspectiva das

relaccedilotildees internacionais a partir da globalizaccedilatildeo e das condiccedilotildees econocircmicas e

produtivas assimeacutetricas daiacute decorrentes

O Capiacutetulo III descreve a sauacutede sob a perspectiva da inserccedilatildeo brasileira

no contexto internacional da sauacutede Identifica a importacircncia receacutem-estabelecida

pelos contornos estrateacutegicos da poliacutetica externa brasileira na conformaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo da agenda Sul-Sul em sauacutede Destaca a prioridade dada pela

poliacutetica externa do Paiacutes agraves cooperaccedilotildees junto agraves naccedilotildees do Sul notadamente

nas relaccedilotildees bilaterais triangulares eou multilaterais com paiacuteses do Mercosul

da Unasul e da CPLP considerados como prioritaacuterios no contexto das relaccedilotildees

internacionais do Brasil

O Capiacutetulo IV fundamenta a relaccedilatildeo virtuosa entre sauacutede e

desenvolvimento por meio da consolidaccedilatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial

34

da Sauacutede - CEIS a partir do pilar de sustentabilidade estrateacutegica da inovaccedilatildeo

Descreve como o movimento brasileiro de desenvolvimento nacional no

contexto do CEIS dialoga com a agenda internacional na relaccedilatildeo entre os

paiacuteses do Sul notoriamente com os paiacuteses africanos paiacuteses da Ameacuterica Latina

e da Ameacuterica Central O texto apresenta argumentos que defendem que tanto

em acircmbito interno quanto externo o CEIS representa para a sauacutede a

oportunidade de reduzir as vulnerabilidades decorrentes da relaccedilatildeo assimeacutetrica

de poder e de conhecimento aleacutem de favorecer condiccedilotildees de cooperaccedilatildeo e de

fortalecimento de paiacuteses com base em desenvolvimento estruturante e

integrador Destaca o entendimento de que no acircmbito da sauacutede o CEIS se

estabelece como um campo privilegiado para o exerciacutecio do papel dos Estados

nacionais da hegemonia no campo da ciecircncia e da tecnologia da sauacutede e da

consolidaccedilatildeo dos contornos estrateacutegicos da cooperaccedilatildeo internacional em

sauacutede ndash sob as perspectivas da assistecircncia humanitaacuteria e da cooperaccedilatildeo

teacutecnica internacional

Finalmente em seguida o capiacutetulo V retrata as principais

consequecircncias do movimento da cooperaccedilatildeo internacional em sauacutede na

poliacutetica externa brasileira identificando e descrevendo o comportamento do

Paiacutes no plano externo quanto agraves accedilotildees relacionadas agrave sauacutede e agraves cooperaccedilotildees

internacionais Sul-Sul promovidas principalmente pela Fundaccedilatildeo Oswaldo

Cruz Instituiccedilatildeo Estrateacutegica de Estado na aacuterea da sauacutede Accedilotildees essas

especificamente ligadas ao CEIS e sugerindo-o como diferencial representativo

para a consolidaccedilatildeo da poliacutetica externa e para a conformaccedilatildeo de mecanismos

de assistecircncia humanitaacuteria internacional e de desenvolvimento das

capacidades produtivas das naccedilotildees do Sul ressaltando-se sob essas bases

potencialidades e desafios para inserccedilatildeo ativa do Brasil no contexto da

geopoliacutetica internacional

Este estudo portanto tem no Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

a liga que perpassa e articula todos os capiacutetulos promovendo a dimensatildeo

social e humana a dimensatildeo poliacutetica a dimensatildeo econocircmica e a dimensatildeo

das relaccedilotildees internacionais com elementos que provocam desdobramentos na

35

discussatildeo que segue no decorrer desta tese Elementos esses que passam por

questotildees relacionadas agrave globalizaccedilatildeo e localizaccedilatildeo vulnerabilidades

assimetrias soberania Estado de Bem-estar e articulaccedilotildees puacuteblico-privadas

Objetivo Geral

A anaacutelise e a compreensatildeo da inter-relaccedilatildeo entre o papel do Estado e a

poliacutetica externa brasileira no contexto da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em

Sauacutede particularmente no que se refere ao Complexo Econocircmico-Industrial da

Sauacutede conduzem-nos a conhecer as relaccedilotildees intriacutensecas entre o nacional e o

internacional de forma a compreender inclusive o processo de inserccedilatildeo

soberana do Paiacutes na geopoliacutetica internacional notadamente junto agraves Naccedilotildees

do Sul

Portanto diante do exposto o objetivo geral do presente trabalho eacute o de

subsidiar a construccedilatildeo de uma abordagem teoacuterica que incorpore a relaccedilatildeo de

influecircncia muacutetua entre as agendas interna e externa na correlaccedilatildeo do poder da

Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede direcionada para o CEIS e da

poliacutetica externa brasileira focada na relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo estruturante entre

paiacuteses do Sul Busca-se nesse sentido identificar e analisar como a

dependecircncia e o fortalecimento das capacidades produtivas e de inovaccedilatildeo em

sauacutede relacionadas ao Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede - CEIS

podem influenciar a relaccedilatildeo do Brasil com outros paiacuteses especificamente os

paiacuteses do Sul

Tem como contribuiccedilatildeo destacar o processo de articulaccedilatildeo entre a

dimensatildeo social e a dimensatildeo econocircmica da sauacutede em dimensotildees

internacionais em que a vulnerabilidade que ultrapassa fronteiras existente em

funccedilatildeo da dependecircncia do conhecimento e do desenvolvimento tecnoloacutegico e

inovativo seja combatida com o fortalecimento da base produtiva tecnoloacutegica

endoacutegena e com a inclusatildeo dessa questatildeo na diplomacia e nas relaccedilotildees

internacionais em sauacutede pela via do desenvolvimento nacional e internacional

alicerccedilada pela ciecircncia e pela tecnologia

36

Objetivos Especiacuteficos

E os objetivos especiacuteficos que nortearam a presente pesquisa satildeo

1 Relacionar o papel do Estado ao desenvolvimento sob a perspectiva

da inovaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo e das teorias das relaccedilotildees internacionais na

confluecircncia da loacutegica sanitaacuteria e da loacutegica do desenvolvimento produtivo e

econocircmico

2 Descrever e analisar a inserccedilatildeo do Brasil no contexto internacional da

sauacutede notadamente junto aos paiacuteses do Sul

3 Destacar as principais consequecircncias do movimento da cooperaccedilatildeo

internacional em sauacutede na poliacutetica externa brasileira identificando e

descrevendo como o movimento brasileiro de desenvolvimento nacional no

contexto do CEIS dialoga com a agenda internacional na relaccedilatildeo entre os

paiacuteses do Sul notoriamente com os paiacuteses africanos paiacuteses da Ameacuterica Latina

e da Ameacuterica Central

4 Descrever o comportamento do Paiacutes no plano internacional quanto agraves

accedilotildees relacionadas agrave sauacutede especificamente ligadas ao CEIS notadamente

no que se referem agraves cooperaccedilotildees internacionais Sul-Sul identificando a

inserccedilatildeo ativa do Paiacutes no contexto da geopoliacutetica internacional

Hipoacutetese

O movimento nacional de retomada do papel do Estado nacional mais

claramente observado no iniacutecio do Seacuteculo XXI no tocante ao desenvolvimento

e fortalecimento do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede do Brasil exerce

um determinado niacutevel de influecircncia na inserccedilatildeo soberana do Paiacutes na

geopoliacutetica internacional em que o CEIS representa para a sauacutede a

oportunidade de reduzir vulnerabilidades provocadas pela relaccedilatildeo assimeacutetrica

de conhecimento e de poder e de favorecer condiccedilotildees de cooperaccedilatildeo e de

fortalecimento de paiacuteses com base em desenvolvimento estruturante e

integrador Nesse sentido parte-se do pressuposto de que assimetrias de

poder de conhecimento e de tecnologias inseridas no acircmbito da poliacutetica

37

econocircmica internacional podem influenciar a agenda da poliacutetica nacional

ressaltando-se que do papel exercido pelo Estado depende a consolidaccedilatildeo do

Paiacutes nessa aacuterea com efetivo protagonismo em processos e accedilotildees junto a

paiacuteses de relaccedilatildeo Sul-Sul ou a sua vulnerabilidade externa

Limitaccedilotildees e Desafios

Em funccedilatildeo da grande abrangecircncia do contexto internacional e das

diferenccedilas do papel exercido pelo Brasil nos diferentes contextos optamos por

limitar o escopo do presente estudo agraves cooperaccedilotildees Sul-Sul Tal opccedilatildeo se daacute

em funccedilatildeo da cada vez maior importacircncia estrateacutegica que essa relaccedilatildeo vem

recebendo nas uacuteltimas deacutecadas notadamente junto aos paiacuteses em

desenvolvimento do Hemisfeacuterio Sul tanto por conta do protagonismo recente

dos paiacuteses emergentes de renda meacutedia no cenaacuterio da cooperaccedilatildeo

internacional como eacute o caso do Brasil assim como quanto agrave perspectiva de

maiores benefiacutecios provenientes de uma relaccedilatildeo de maior equiliacutebrio que eacute

vislumbrado na cooperaccedilatildeo entre pares e tambeacutem por conta das restriccedilotildees

centralizadoras por parte dos paiacuteses desenvolvidos na praacutetica da cooperaccedilatildeo

Norte-Sul 10

Algumas dificuldades foram observadas a partir do presente estudo

representando desafios a serem ultrapassados

O tema sauacutede eacute transversal a outros temas como ciecircncia e tecnologia e

localiza-se junto a outras aacutereas tais como comeacutercio investimento propriedade

intelectual meio-ambiente e trabalho o que justifica a necessidade de se

estabelecer espaccedilos de articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo integrada

Aleacutem disso a complexidade das accedilotildees relacionadas agrave governanccedila da

sauacutede global em que se almeja a concentraccedilatildeo de ideacuteias comuns e sinergias

para aperfeiccediloar resultados aumenta o desafio de tornar estrateacutegica a

definiccedilatildeo do valor agregado de cada iniciativa regional eou inter-regional

Afinal a dispersatildeo e a fragmentaccedilatildeo das iniciativas espalham ineficiecircncias

38

Quanto agrave disponibilidade de informaccedilotildees percebeu-se que as fontes

oficiais disponiacuteveis para divulgaccedilatildeo das accedilotildees relacionadas agrave sauacutede na poliacutetica

externa fornecem informaccedilotildees generalizadas e dispersas Natildeo haacute uma linha

temporal para as informaccedilotildees disponiacuteveis Aleacutem disso os dados fornecidos satildeo

datados de forma intermitente (com maior representatividade nos uacuteltimos cinco

anos) natildeo sendo observados criteacuterios e indicadores norteando as informaccedilotildees

oferecidas o que representa um oacutebice no diagnoacutestico ampliado e comparativo

Por conta da recente importacircncia dada ao tema a anaacutelise dos resultados

tambeacutem fica limitada uma vez que haacute poucos estudos analiacuteticos relacionados

aos temas de forma integrada o que compromete a avaliaccedilatildeo fidedigna quanto

aos resultados efetivamente alcanccedilados diante dos almejados Faz-se

necessaacuterio portanto um periacuteodo maior para que accedilotildees formuladas e

implementadas possam ser consolidadas dadas as caracteriacutesticas produtivas

do CEIS e os respectivos resultados serem avaliados em sua relaccedilatildeo com a

efetiva diminuiccedilatildeo das vulnerabilidades tecnoloacutegicas e sociais atualmente

existentes dentro do contexto nacional regional eou inter-regional

Em anaacutelise junto ao material disponibilizado no portal do Itamaraty

observou-se que a sauacutede natildeo eacute evidenciada nos respectivos relatoacuterios

governamentais notadamente no que se refere agraves questotildees relacionadas agrave

cooperaccedilatildeo triangular Satildeo divulgadas de forma mais extensiva accedilotildees cuja

relaccedilatildeo esteja predominantemente relacionada a temas como seguranccedila

alimentar e ao meio-ambiente Essa exposiccedilatildeo ainda incipiente pode ser

reflexo da importacircncia receacutem-adquirida pelo tema da sauacutede nas questotildees

relacionadas agrave poliacutetica externa brasileira

Destaca-se que este trabalho natildeo tem a pretensatildeo de esgotar o tema

em questatildeo tampouco eacute conclusivo em si mesmo caracterizando uma

pesquisa de natureza exploratoacuteria Oferece entretanto dada a

contemporaneidade do tema subsiacutedios para novas linhas de pesquisa

ampliando alternativas para novos campos de discussatildeo Apresenta

referecircncias e indicaccedilotildees para reflexotildees quanto ao desenvolvimento cientiacutefico

tecnoloacutegico como um meacutetodo apropriado para enfrentar questotildees complexas

como a sauacutede inserida no contexto das relaccedilotildees internacionais

39

Metodologia da Pesquisa

Procedimentos de pesquisa

Este estado estaacute baseado em pesquisas documentais e descritivas de

natureza exploratoacuteria Satildeo propostos elementos analiacuteticos que visem agrave

compreensatildeo do processo de articulaccedilatildeo entre as dimensotildees social

econocircmica da sauacutede e internacionais com base na relaccedilatildeo da retomada do

papel do Estado buscando-se incorporar essa relaccedilatildeo agraves dimensotildees da

diplomacia e das relaccedilotildees internacionais em sauacutede

Para este trabalho cujo foco norteador foi a busca por uma nova

compreensatildeo e visatildeo de um campo em raacutepida transformaccedilatildeo 11 optou-se pela

realizaccedilatildeo do estudo da literatura com base na pesquisa bibliograacutefica e

documental isto eacute em informaccedilotildees disponibilizadas em publicaccedilotildees livros

artigos legislaccedilotildees e perioacutedicos aleacutem de relatoacuterios divulgados em sites

especializados e sites governamentais acrescido da anaacutelise das

apresentaccedilotildees disponibilizadas sobre o tema

A revisatildeo de literatura bibliograacutefica teve como objetivo apontar e explorar

os principais elementos conceituais aleacutem de promover a reflexatildeo sobre os

mesmos

As seguintes estrateacutegias foram utilizadas para a seleccedilatildeo do material

bibliograacutefico

Os bancos de dados e os editores de informaccedilatildeo cientiacutefica utilizados no

levantamento das informaccedilotildees bibliograacuteficas foram o MEDLINE o PUBMED o

LILACS o SCIELO e o Oxford Journal Foi tambeacutem utilizado o Google Acadecircmico

aleacutem de ter sido feito um levantamento das publicaccedilotildees das agecircncias

internacionais de maior representatividade para o tema em questatildeo OMSWHO

(Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede World Health Organization) e OPASPAHO

(Organizaccedilatildeo Panamericana de Sauacutede Panamerican Health Organization)

A seleccedilatildeo dos descritores (Ver Anexo I) foi feita junto agrave lista de

Descritores em Ciecircncias da Sauacutede da Biblioteca Virtual em Sauacutede (BVS)

Foram escolhidos tambeacutem os seguintes termos Relaccedilotildees

Internacionais ndash (International Relation) Relaccedilotildees Internacionais em Sauacutede

40

(Health International Relation) Brasil (Brazil) Defesa (Defense) Globalizaccedilatildeo

(Globalization) Diplomacia (Diplomacy) Soberania (Sovereignty) Diplomacia em

Sauacutede Global (Global Health Diplomacy) Complexo Industrial da Sauacutede (Health

Industrial Complex) Inovaccedilatildeo (Innovation) Produccedilatildeo (Production) Economia

(Economy) Desenvolvimento Econocircmico (Economic Development) Sauacutede

(Health) Cooperaccedilatildeo Sul-Sul (South-South Cooperation) Cooperaccedilatildeo Teacutecnica

Internacional (International Technical Cooperation) Cooperaccedilatildeo Triangular

(Triangular Coooperation) Brasil-CPLP Brasil-Unasul Sauacutede Brasil-Mercosul

Brasil-Africa Brasil-Ameacuterica Central dentre outras Apesar destas expressotildees natildeo

se encontrarem descritas na Biblioteca Virtual em Sauacutede foram utilizadas para o

refinamento da procura nos diversos bancos consultados

Foram utilizados tambeacutem recursos na estrateacutegia de busca tais como

ldquo$rdquo (para palavras no idioma portuguecircs) e ldquordquo em determinadas palavras (em

inglecircs) para expandir as suas derivaccedilotildees tais como por exemplo produ$ ou

produ que resultaram em mais ofertas de artigos como as palavras produccedilatildeo

produccedilotildees produtivos etc

O periacuteodo de anaacutelise foi definido em funccedilatildeo do contexto histoacuterico

contemporacircneo em que se evidencia a agenda poliacutetica de fortalecimento da

ciecircncia da tecnologia e da inovaccedilatildeo em sauacutede em que ganha contorno

estrateacutegico a formulaccedilatildeo de poliacuteticas nacionais focadas para o fortalecimento

do CEIS abarcando nesse caso o final da deacutecada de 90 ateacute 2008 limite esse

dado em funccedilatildeo da transiccedilatildeo para uma nova gestatildeo governamental no Brasil a

despeito da manutenccedilatildeo do partido poliacutetico ateacute entatildeo vigente Questotildees

histoacutericas e poliacuteticas e situaccedilotildees mais contemporacircneas obviamente alargaram

o periacuteodo definido em funccedilatildeo da necessidade de contextualizar em

determinados focos a construccedilatildeo da agenda e da arena poliacutetica seja em

acircmbito nacional ou internacional

Todos os descritores foram utilizados na busca por publicaccedilotildees que

fossem relacionados ao objeto deste artigo Entretanto vale ressaltar que nem

todos renderam materiais ora por conta da especificidade dos bancos de

dados e editores de informaccedilatildeo cientifica ora pela forma como foram

associados os descritores na ferramenta de busca Portanto natildeo houve

regularidade no uso dos mesmos descritores para todas as fontes Entretanto

as buscas pautaram-se principalmente na associaccedilatildeo dos descritores

41

ldquoCooperaccedilatildeo Internacionalrdquo ldquoCooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutederdquo

ldquoCooperaccedilatildeo Sul-Sulrdquo ldquorelaccedilotildees internacionaisrdquo ldquodiplomaciardquo ldquopoliacuteticas de

sauacutederdquo Brasil induacutestria inovaccedilatildeo tecnologia globalizaccedilatildeo economia

desenvolvimento eou soberania Ademais optou-se pela interface do material

coletado atraveacutes da sua convergecircncia aos temas Relaccedilotildees Internacionais e

Sauacutede Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede e Poliacuteticas Nacionais em

Sauacutede natildeo necessariamente vinculados entre si

Portanto foram selecionadas e usadas fontes primaacuterias e secundaacuterias

para a obtenccedilatildeo de dados qualitativos a fim de subsidiarem a investigaccedilatildeo

interpretativa em que fosse possiacutevel entender uma situaccedilatildeo atual ou uma

interaccedilatildeo especifica 1213 aprofundando o conhecimento da realidade

Aleacutem de documentos nas formas de legislaccedilatildeo (Leis Decretos Normas

etc) de documentos oficiais e administrativos ndash ministeriais (referentes aos

Ministeacuterios da Sauacutede das Relaccedilotildees Exteriores do Desenvolvimento Induacutestria

e Comeacutercio Exterior da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo e do Planejamento

aleacutem da Presidecircncia da Repuacuteblica e os principais institutos das estruturas

ministeriais tais como Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz Instituto de Pesquisa

Econocircmica Aplicada e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e

documentos e tratados internacionais foram selecionados livros e revistas

especializadas entrevistas e reportagens disponibilizadas em jornais e revistas

nacionais e internacionais aleacutem de apresentaccedilotildees em foacuteruns especializados

disponibilizadas com amplo acesso pela web por atores de relevacircncia na

temaacutetica em questatildeo Optou-se inclusive pela anaacutelise do conteuacutedo das

apresentaccedilotildees e pelo tratamento interpretativo do material bibliograacutefico e

documental

Ao material bibliograacutefico e documental foi direcionado tratamento

interpretativo cabendo agraves apresentaccedilotildees anaacutelise do seu conteuacutedo

42

CAPIacuteTULO I ndash RELACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

1 Introduccedilatildeo

Temas claacutessicos como riqueza e pobreza cooperaccedilatildeo e conflito paz e

guerra sempre pautaram as anaacutelises teoacutericas das Relaccedilotildees Internacionais- RI

natildeo se esgotando em cada debate apresentado Satildeo na verdade um diaacutelogo

inesgotaacutevel entre as diversas teorias [8] 141516 Ora enfatizando a anarquia e a

poliacutetica de poder inclusive o econocircmico ora enfocando a sociedade e o direito

internacional ora destacando o humanitarismo os direitos humanos e a justiccedila

humana

A interdependecircncia a integraccedilatildeo e a democracia a anarquia e a

balanccedila do poder portanto estatildeo no centro do debate das Relaccedilotildees

Internacionais Nessa arena traz-se para a discussatildeo deste estudo a

abordagem da Economia Poliacutetica Internacional ndash EPI que tem nos

neomarxistas alguns dos seus principais teoacutericos expandindo a aacuterea das

Relaccedilotildees Internacionais em direccedilatildeo agraves questotildees econocircmicas agraves relaccedilotildees entre

poliacutetica e economia entre Estados e mercados em acircmbito mundial e

introduzindo problemas distintos e complexos de paiacuteses em desenvolvimento

Por outro lado aleacutem da perspectiva da abordagem da EPI haacute de serem

consideradas tambeacutem as complexas relaccedilotildees sociais que vinculam indiviacuteduos

e Estados a existecircncia da prioridade da sociedade global principalmente no

que se refere ao aspecto moral associada agrave responsabilidade global pelas

necessidades humanas pelos direitos humanos e pelo meio ambiente Nesse

sentido apesar de o presente estudo natildeo ter a pretensatildeo de aprofundar o

debate entre as teorias eou abordagens das Relaccedilotildees Internacionais vale

destacar as principais caracteriacutesticas da abordagem da Sociedade

Internacional - SI dado o fato de que a aacuterea da sauacutede objeto da presente

8 Ver Jackson e Sorensen 2007

14 Nogueira e Messari 2005

15 Oliveira e Ri Junior 2003

16

43

anaacutelise perpassa tambeacutem pelos princiacutepios kantianos [9] com base nas

caracteriacutesticas de uma sociedade mundial solidarista

2 A Abordagem da Sociedade Internacional

A abordagem da Sociedade Internacional traduz as relaccedilotildees

internacionais como uma sociedade de Estados soberanos onde a arte da

poliacutetica eacute desenvolvida por estadistas especializados caracterizada pela

confianccedila expliacutecita no exerciacutecio do julgamento 18 cujas principais funccedilotildees satildeo a

promoccedilatildeo e a preservaccedilatildeo da ordem internacional com justiccedila internacional

Parte-se do pressuposto de que as relaccedilotildees internacionais fazem parte

das relaccedilotildees humanas No tocante agraves escolhas morais a Sociedade

Internacional apresenta dilemas de responsabilidades necessaacuterias em trecircs

niacuteveis distintos que natildeo satildeo excludentes entre si sob pena de se subestimar a

complexidade das Relaccedilotildees Internacionais O principal desafio consiste no

atendimento de todas elas a nacional a internacional e a humanitaacuteria 1914

Portanto na concepccedilatildeo dos autores

A primeira seria a responsabilidade nacional isto eacute ldquodevoccedilatildeo agrave proacutepria

naccedilatildeo e ao bem-estar de seus cidadatildeosrdquo ndash nesse caso os ldquopaiacuteses natildeo

tecircm obrigaccedilotildees internacionais que precedam seus interesses nacionais

Assim o direito internacional e as organizaccedilotildees internacionais satildeo

simplesmente consideraccedilotildees instrumentais na determinaccedilatildeo do

interesse nacional dos Estadosrdquo [10]

9 Idealista Immanuel Kant (1724 ndash 1804) levou a perspectiva universalista a um

desenvolvimento extremo Conforme Castro (2005 p 67- 77)17

para Kant (1971 p 255) natildeo existe

nenhum conflito entre moral e poliacutetica ―a verdadeira poliacutetica () natildeo pode dar um passo sem

antecipadamente ter prestado homenagem agrave moral significando que ―toda poliacutetica estaacute obrigada a dobrar

os joelhos diante do direito () 10

Nesse caso os poliacuteticos satildeo responsaacuteveis pelo bem-estar de seus cidadatildeos obrigaccedilatildeo de

proteger As consideraccedilotildees a seguir satildeo caracteriacutesticas de um sistema de Estados autocircnomos ndash acircmbito do

realismo cuja concepccedilatildeo daacute origem aos preceitos de Maquiavel ―priorizar sua naccedilatildeo e seus cidadatildeos

afastar riscos desnecessaacuterios com respeito agrave seguranccedila e ao bem-estar colaborar com outros paiacuteses

quando vantajoso ou necessaacuterio evitando complicaccedilotildees externas somente submeter a populaccedilatildeo agrave Guerra

quando absolutamente essencial Ver Jackson e Sorensen 2007 14

44

A segunda eacute a responsabilidade internacional isto eacute ldquorespeito pelos

interesses legiacutetimos pelos direitos de outros Estados e pelo direito

internacionalrdquo Nessa concepccedilatildeo ldquoos poliacuteticos tecircm obrigaccedilotildees externas

originadas da participaccedilatildeo de seus Estados na Sociedade Internacionalrdquo

[11]

Jaacute a terceira a responsabilidade humanitaacuteria fundamenta-se no

ldquocompromisso com os direitos humanos natildeo soacute em seus proacuteprios

paiacuteses mas em todo o mundordquo [12]

Como declarado anteriormente natildeo haacute vencedor tampouco perdedor no

tocante agraves abordagens que procuram analisar as relaccedilotildees internacionais Satildeo

os contextos histoacutericos que confirmam ou rejeitam as teorias defendidas por

cada uma das abordagens Mantendo-se inclusive um diaacutelogo interminaacutevel

entre as distintas teorias

Entretanto a fim de vincular o debate entre os teoacutericos da Economia

Poliacutetica Internacional e os defensores da abordagem da Sociedade

Internacional [13] vale destacar a principal criacutetica dos teoacutericos da EPI a

abordagem da Sociedade Internacional ignora a economia e o Terceiro Mundo

11

Nesse caso direitos e obrigaccedilotildees satildeo definidos pelo direito internacional e desempenham

papel fundamental nas relaccedilotildees internacionais Tecircm-se os Estados natildeo como entidades isoladas e sim

relacionando-se uns com os outros e constituindo soberania externa por meio da praacutetica de

reconhecimento de diplomacia de comeacutercio etc a partir das quais extraem importantes direitos e

benefiacutecios Satildeo independentes das obrigaccedilotildees nacionais e simultaneamente as complementam Esse

padratildeo de avaliaccedilatildeo das poliacuteticas externas tem como base os ―preceitos grotianos Preceitos esses

relacionados agrave uma ―sociedade pluralista de Estados com base no direito internacional ndash no

racionalismo ―ser um bom cidadatildeo da sociedade internacional reconhecimento de que outros Estados

tecircm direitos e interesses legiacutetimos dignos de respeito agir com boa intenccedilatildeo cumprir o direito

internacional e respeitar as leis de Guerra Ver Jackson e Sorensen 200714

12 Base de padratildeo cosmopolita de poliacutetica responsaacutevel pelos direitos humanos que ultrapassa a

responsabilidade internacional derivando da obrigaccedilatildeo humana ―antes de sermos cidadatildeos de um Estado

e membro de seu governo somos seres humanos Esse padratildeo eacute pautado nos princiacutepios kantianos Com

caracteriacutesticas de uma sociedade mundial solidarista com base na comunidade humana ndash no

revolucionismo ―todos satildeo seres humanos respeito aos direitos humanos abrigo aos perseguidos

assistecircncia aos necessitados de ajuda material no caso de guerra ter misericoacuterdia com os natildeo-

combatentes Ver Jackson e Sorensen 200714

13Para aprofundamento das criacuteticas a essa abordagem ver Jackson e Sorensen 2007

14 Para os

autores no que se refere aos teoacutericos do realismo haacute pouca evidecircncia de normas internacionais como

determinantes do comportamento e da poliacutetica estatal onde haacute predominacircncia de interesses distintos Jaacute

os liberais justificam que a tradiccedilatildeo da Sociedade Internacional subestima a poliacutetica nacional ignorando o

progresso da poliacutetica internacional e a democracia

45

[14] natildeo conferindo o necessaacuterio peso agrave luta competitiva entre os Estados

nacionais sendo incapaz de justificar as relaccedilotildees econocircmicas internacionais

Pode-se questionar tambeacutem o fato de que a abordagem da Sociedade

Internacional negligencia as complexas relaccedilotildees sociais que vinculam

indiviacuteduos e Estados 14 Natildeo considera o fato de que haacute prioridade da

sociedade global notadamente no aspecto moral 14 (p 233)

ldquosobre a sociedade de Estados e estaacute associada agrave responsabilidade global pelas

necessidades humanas pelos direitos humanos e pelo meio ambiente sem

levar em consideraccedilatildeo a jurisdiccedilatildeo estatal nem as fronteiras internacionaisrdquo

Inclusive tampouco considera a ldquosociedade mundialrdquo que existe por meio de

relaccedilotildees sociais inerentes agrave produccedilatildeo e agrave troca global de produtos baacutesicos da

cultura global e da comunicaccedilatildeo de massas e do desenvolvimento cada vez

mais amplo da poliacutetica mundial

E eacute no sentido de se agregar agrave perspectiva humanitaacuteria da Sociedade

Internacional com a complexidade das relaccedilotildees econocircmicas internacionais

considerando notadamente os paiacuteses em desenvolvimento eacute que daremos

continuidade a este trabalho destacando a abordagem da Economia Poliacutetica

Internacional

3 A abordagem da Economia Poliacutetica Internacional -EPI [15]

A ldquointerdependecircncia econocircmica ndash o alto grau de dependecircncia econocircmica

muacutetua entre os paiacuteses ndash eacute uma caracteriacutestica do sistema estatal

contemporacircneordquo 14 (p24) Sob essa perspectiva a globalizaccedilatildeo econocircmica

pode ser conceituada como a ocorrecircncia simultacircnea da expansatildeo dos fluxos

14 Em que pese a expressatildeo ―Terceiro Mundo cunhada na abordagem das Relaccedilotildees

Internacionais ndash EPI e SI optaremos neste estudo por adotar a expressatildeo ―paiacuteses em desenvolvimento

dado o novo contexto geopoliacutetico e econocircmico internacional que abarca o processo de desenvolvimento

tanto dos paiacuteses desenvolvidos quanto dos em desenvolvimento

15 Dado o objetivo da presente tese de doutorado natildeo eacute pretensatildeo aprofundar a abordagem da

EPI nas Relaccedilotildees Internacionais Entretanto busca-se destacaras suas principais caracteriacutesticas de

maneira que possam ser consideradas e avaliadas no escopo da interaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais com as

poliacuteticas internacionais foco do presente estudo Para maior aprofundamento ver Gilpin 1987 20

Gonccedilalves 2003 21

Jackson e Sorensen 2007 14

46

internacionais de bens serviccedilos e capitais do acirramento da concorrecircncia nos

mercados mundiais e da maior integraccedilatildeo entre os sistemas econocircmicos

nacionais 21 (p29)

Na percepccedilatildeo dos primeiros autores a globalizaccedilatildeo tanto pode ser

considerada positiva como negativa Isto eacute assim como a expansatildeo do

mercado global pode gerar um aumento da liberdade e da riqueza por meio de

maior eficiecircncia assim como maior produtividade e especializaccedilatildeo aleacutem de

alternativas de distribuiccedilatildeo e meios de distribuiccedilatildeo por outro lado tambeacutem

promove a desigualdade entre os Estados uma vez que haacute dominacircncia dos

paiacuteses desenvolvidos mais ricos e poderosos detentores de vantagens

financeiras e econocircmicas aleacutem de vantagens de conhecimento e de inovaccedilotildees

tecnoloacutegicas paiacuteses esses que exercem grande influecircncia e por vezes

dominaccedilatildeo junto aos paiacuteses normalmente mais pobres e fracos que natildeo satildeo

possuidores dessas vantagens

Portanto o processo de globalizaccedilatildeo resulta em um sistema complexo

de interdependecircncias entre economias nacionais E nesse caso segundo

Ramonet 21 a interdependecircncia apresenta-se assimeacutetrica ldquode tal forma que se

pode falar de bdquovulnerabilidade unilateral‟ por parte da grande maioria de paiacuteses

do mundo que tecircm uma capacidade miacutenima de repercussatildeo em escala

mundialrdquo (p 20) O que nos remete ao conceito de poder no sistema

internacional 21 (p20) ldquoo poder efetivo eacute inversamente proporcional agrave

vulnerabilidade externardquo [16] isto eacute

ldquoquanto mais elevada a probabilidade de um ator

social sujeito poliacutetico ou agente econocircmico realizar a

sua proacutepria vontade ou resistir a pressotildees fatores

desestabilizadores e choques externos maior eacute o seu

poder efetivo no sistema internacionalrdquo (p20)

No caso do sistema internacional quanto agrave tipologia das formas de

poder esta pode ser classificada de vaacuterias formas de poder conforme os meios

de que se serve o ldquosujeito ativo sobre o passivordquo 23 (p 955-7) Isso posto

16

Vulnerabilidade externa ―expressa a capacidade de resistecircncia das economias nacionais a

pressotildees fatores desestabilizadores ou choques externos em funccedilatildeo das opccedilotildees de resposta com os

instrumentos de poliacutetica disponiacuteveis e dos custos de enfrentamento ou de ajuste diante dos eventos

externos 22

(p19)

47

distingue-o em trecircs grandes classes o poder ideoloacutegico o poder poliacutetico e o

poder econocircmico

Para o autor 23 o poder ideoloacutegico eacute o que ldquose baseia na influecircncia que

as ideacuteias formuladas de certo modo expressas em certas circunstacircncias por

certa pessoa investida de certa autoridade e difundidas mediante certos

processos exercem sobre a conduta dos consociadosrdquo (p 955) Eacute o sentido do

poder das ideacuteias dos valores e dos ideais O poder tambeacutem perpassa pelo

conceito de hegemonia 22 (p21) O autor cita Gramsci (1971) ao distinguir que

enquanto o centro de irradiaccedilatildeo do poder poliacutetico eacute o Estado o de irradiaccedilatildeo do

poder cultural-ideoloacutegico eacute a sociedade civil Isto eacute ldquoenquanto o poder poliacutetico

envolve o aspecto da coaccedilatildeo o poder ideoloacutegico tem o aspecto da submissatildeo

via consentimento Ou seja o poder assenta-se em dois pilares coaccedilatildeo e

consentimentordquo (p21)

No que se refere ao poder poliacutetico este ldquose baseia na posse dos

instrumentos mediante os quais se exerce a forccedila fiacutesica () eacute o poder coator

no sentido mais estrito da palavrardquo 23 (p955) Todavia o exerciacutecio do poder natildeo

se limita exclusivamente agrave coaccedilatildeo por meio do uso da forccedila 22 (p20)

ldquoo poder pode derivar da ameaccedila e da legitimidade e portanto dispensar o uso da forccedila e da violecircncia A legitimidade por seu turno pode derivar da tradiccedilatildeo e do carisma ou ter um fundamento racional-legal () Nesses casos o poder baseia-se no consentimento e natildeo na coaccedilatildeo ou na violecircnciardquo

O conceito do poder econocircmico 23 (p955) ldquoeacute o que se vale da posse de

certos bens necessaacuterios ou considerados como tais numa situaccedilatildeo de

escassez para induzir aqueles que natildeo os possuem a manter um certo

comportamentordquo No que se refere aos meios de produccedilatildeo o autor declara que

aiacute ldquoreside uma enorme fonte de poder para aqueles que os tecircm em relaccedilatildeo

agravequeles que os natildeo tecircmrdquo (p955)

Satildeo portanto essas trecircs grandes classes de poder o ideoloacutegico o

poliacutetico e o econocircmico relacionados ao sistema internacional que

fundamentam e manteacutem uma sociedade de desiguais

48

E sob as perspectivas das classes de poder o mercado moderno

inserido no sistema internacional apresenta-se estruturado em normas

poliacuteticas isto eacute em regras e regulamentos poliacuteticos que garantem o seu

funcionamento Entretanto a forccedila econocircmica nesse cenaacuterio tem um valor

importante que se soma ao poder poliacutetico Dessa forma considerando que a

economia eacute a busca da riqueza e a poliacutetica [17] eacute a do poder as duas tecircm uma

interaccedilatildeo complexa e difiacutecil

No contexto internacional portanto a essecircncia da Economia Poliacutetica

Internacional estaacute na base dessa interaccedilatildeo complexa entre poliacutetica e economia

entre Estados e mercados 142024

Logo a EPI eacute considerada como aacuterea do conhecimento cujo objeto de

estudo nas RI eacute ldquoo impacto da economia mundial de mercado sobre as

relaccedilotildees dos Estados e as formas pelas quais os Estados procuram influenciar

as forccedilas de mercado para sua proacutepria vantagemrdquo 20 (p24)

Entretanto haacute de se transcender a articulaccedilatildeo entre Estado e mercado

22 (p10) Para o autor a EPI eacute antes de tudo um meacutetodo de anaacutelise que natildeo

deve limitar-se agrave interaccedilatildeo entre o Estado e o mercado

ldquoA EPI eacute um meacutetodo de anaacutelise que tem como foco a

dinacircmica do sistema econocircmico internacional em suas

distintas esferas e dimensotildees que resulta das decisotildees

e accedilotildees de atores nacionais e transnacionais cuja

conduta eacute determinada por fatores objetivos e

subjetivosrdquo (p10)

Nesse sentido relaccedilotildees processos e estruturas compreendem a

dinacircmica do sistema econocircmico internacional18 conforme apresentado na

figura 2 abaixo

17

O conceito de Poliacutetica entendida como ―uma forma de atividade ou de praacutexis humana estaacute

estreitamente ligado ao de poder 23

(p954) Para o autor este tem sido tradicionalmente definido como

―consistente nos meios adequados agrave obtenccedilatildeo de qualquer vantagemou analogamente como conjunto dos

meios que permitem alcanccedilar os efeitos desejados 18

A interaccedilatildeo de variaacuteveis no sistema internacional se expressa num ―conjunto integrado de

relaccedilotildees processos e estruturas A relaccedilatildeo eacute um ―ato de natureza determinada envolvendo pelo menos

dois atores de diferentes nacionalidades ou atores transnacionais 22

O processo expressa a ―evoluccedilatildeo a

sucessatildeo de estados ou mudanccedilas causada pelas relaccedilotildees entre atores A estrutura significa a ―disposiccedilatildeo

e ordem das partes de um todo Para maior aprofundamento ver Gonccedilalves (2005) 22

49

Figura 2 Sistema Econocircmico Internacional ndash Esquema Analiacutetico Baacutesico

Fonte Gonccedilalves (200512) 22

As esferas relacionadas nessa dinacircmica satildeo a comercial isto eacute o

ldquocomeacutercio transfronteiriccedilo de bens e serviccedilos bem como do deslocamento

internacional de consumidores de um paiacutes para acessar produtos (bens e

serviccedilos) no mercado de outro paiacutesrdquo a produtiva-real ou seja o ldquodeslocamento

de produtores de bens e serviccedilos de um paiacutes para outro via investimento

externo diretordquo a monetaacuteria-financeira que se refere ldquoaos fluxos de capitais

internacionais na forma de empreacutestimos financiamento e investimentosrdquo e

finalmente a tecnoloacutegica que envolve ldquoa transferecircncia internacional de ativos

intangiacuteveis e conhecimentordquo tratando-se tambeacutem dos ldquodireitos de propriedade

intelectual e industrial e de know-howrdquo 22 (p18)

E as dimensotildees em que ocorre a dinacircmica satildeo a bilateral envolvendo

dois atores de diferentes nacionalidades ou atores transnacionais a plurilateral

quando pelo menos trecircs atores estatildeo interagindo (por exemplo relaccedilotildees

comerciais no contexto do Mercosul) e a multilateral ldquoenvolvendo todos ou

50

praticamente todos os principais atoresrdquo como exemplo a interaccedilatildeo dos

governos no acircmbito da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio ndash OMC

Quanto aos atores nacionais e transnacionais podem ser ldquoestatais

paraestatais e natildeo-estataisrdquo

Determina-se a questatildeo relacionada agrave conduta dos atores por fatores

objetivos ldquocomo os interesses materiais (geraccedilatildeo de riqueza) e poliacuteticos

(geraccedilatildeo de poder)rdquo e tambeacutem por fatores subjetivos ldquocom destaque para os

valores e os ideaisrdquo

Dessa forma cria-se um diferencial para o enfoque da EPI associando-

se a anaacutelise econocircmica e poliacutetica agrave apreciaccedilatildeo ideoloacutegico e cultural mais

pertinente ao campo social Procura-se portanto identificar as motivaccedilotildees da

accedilatildeo dos atores que operam no sistema internacional

Somadas agraves motivaccedilotildees autores como Susan George (1988) e JC

Santos (2000) citados por Gonccedilalves 22 (p15) incorporam aos sistemas poliacutetico

cultural e econocircmico estruturas de poder na economia mundial ldquoproduccedilatildeo

financeira seguranccedila e conhecimentordquo e ldquociecircncia e teacutecnicardquo respectivamente

Os primeiros produccedilatildeo e financeira satildeo tratados como esferas especiacuteficas do

sistema econocircmico internacional juntamente com a esfera comercial e

tecnoloacutegica No que diz respeito aos dois uacuteltimos ciecircncia e teacutecnica satildeo

reconhecidos como parte dos sistemas econocircmico e poliacutetico 22

Ganha destaque nesse sentido a interdependecircncia [19] entre a Ciecircncia

e a Teacutecnica e a economia e Poliacutetica 22

ldquoDe fato eacute difiacutecil compreender a dinacircmica dos

processos de desenvolvimento cientiacutefico e de inovaccedilatildeo

tecnoloacutegica nos paiacuteses desenvolvidos sem levar em

conta as estrateacutegias e as poliacuteticas dos Estados-

nacionais20

tanto no que se refere ao desenvolvimento

econocircmico quanto agrave estrateacutegia de defesa nacionalrdquo

(p16)

19

Interdependecircncia essa que seraacute detalhada no Capiacutetulo II do presente estudo

20 Estado-nacional ―tipo de Estado que possui o monopoacutelio do que afirma ser o uso legiacutetimo da

forccedila dentro de um territoacuterio demarcado e que procura unir o povo submetido a seu governo por meio da

homogeneizaccedilatildeo criando uma cultura siacutembolos e valores comuns revivendo tradiccedilotildees e mitos de origem

ou agraves vezes inventando-os (Guibernau 1997 p56 apud Gonccedilalves 2005 p 29) 22

51

A despeito de Gonccedilalves 22 (p8) considerar que a EPI natildeo se constitui

num campo teoacuterico especiacutefico e sim num meacutetodo ou enfoque analiacutetico para o

presente estudo seraacute considerado a abordagem da EPI de maneira que se

procure analisar as relaccedilotildees internacionais a partir da interaccedilatildeo entre as

ciecircncias da Economia e da Poliacutetica mesmo que natildeo seja a pretensatildeo deste

trabalho aprofundar essa anaacutelise e tatildeo somente apresentar uma breve

introduccedilatildeo acerca da temaacutetica

Assim posto destacando-se por ora tanto a perspectiva poliacutetica quanto

a perspectiva econocircmica no acircmbito da EPI como primordiais na anaacutelise da

globalizaccedilatildeo econocircmica ou seja na difusatildeo e na intensificaccedilatildeo de todos os

tipos de relaccedilotildees poliacutetico e econocircmicos entre os paiacuteses tem-se relaccedilatildeo com as

principais classificaccedilotildees tradicionais das abordagens das Relaccedilotildees

Internacionais isto eacute com o nacionalismo ou realismo o liberalismo e o

marxismo Essas relaccedilotildees seratildeo apresentadas a seguir mas vale o destaque

que para o presente estudo dado o nosso interesse sobre os paiacuteses em

desenvolvimento seraacute destacada a ldquoabordagem marxista da EPIrdquo

De maneira resumida e simplificada podemos diferenciar essas teorias

da EPI da seguinte forma

52

Quadro 1 Principais Teorias da EPI

Para a visatildeo

realista

(tambeacutem

conhecido por

mercantilismo ou

nacionalismo

econocircmico)

A economia estaacute subordinada agrave poliacutetica A atividade econocircmica deve se dedicar agrave ldquoconstruccedilatildeo de um Estado forte e ao apoio do interesse nacionalrdquo

Eacute um instrumento da poliacutetica uma base para o poder poliacutetico Nesse contexto ldquoa economia internacional eacute uma arena de conflito entre

interesses nacionais opostos ao inveacutes de uma aacuterea de cooperaccedilatildeo e ganho muacutetuordquo

14

A criaccedilatildeo da riqueza eacute a ldquobase necessaacuteria para aumentar o poder do Estadordquo A riqueza exerce a base primordial para se alcanccedilar a seguranccedila e o bem-estar nacionais O poder poliacutetico nesse caso funciona como sustentaccedilatildeo de uma economia mundial liberal isto eacute ldquosem um poder hegemocircnico natildeo eacute possiacutevel existir uma economia mundial liberalrdquo

1424

Para a visatildeo

liberal

Busca-se ldquoa prosperidade econocircmica por meio do livre comeacutercio e da troca econocircmica abertardquo contra ldquoo acuacutemulo de poder por meio da forccedila militar e da expansatildeo territorialrdquo

A produccedilatildeo e os preccedilos natildeo dependem do planejamento do governo A economia liberal opera em um ldquomercado livrerdquo baseado em uma harmonia de

interesses onde a distribuiccedilatildeo da riqueza eacute naturalmente proporcional ao meacuterito

Entende-se o capitalismo internacional como ldquouma forma de mudanccedila

progressiva para todos os paiacuteses independentes do seu niacutevel de

desenvolvimentordquo defendendo o mercado livre a propriedade privada e a

liberdade individual para a criaccedilatildeo da base do progresso econocircmico auto-

sustentaacutevel dos paiacuteses envolvidos Argumenta-se que ldquoa prosperidade humana

pode ser alcanccedilada por meio da livre expansatildeo global do capitalismo aleacutem das

fronteiras do Estado soberano e por meio do decliacutenio da importacircncia desses

limites territoriaisrdquo

Para a visatildeo

marxista

(Visatildeo Claacutessica)

A caracteriacutestica predominante no marxismo eacute a definiccedilatildeo de que a economia capitalista baseia-se na burguesia e no proletariado Apresenta uma visatildeo materialista onde a produccedilatildeo econocircmica eacute a base para todas as atividades humanas incluindo a poliacutetica

A poliacutetica e a economia estatildeo interligadas Algumas consideraccedilotildees sobre o marxismo no contexto da Economia Poliacutetica

Internacional podem ser destacadas (1) os Estados natildeo satildeo autocircnomos sendo motivados e orientados pelos interesses da classe governante e pelos interesses de suas burguesias (2) o conflito de classes eacute mais fundamental do que aquele entre Estados (3) existecircncia de uma busca infinita por novos mercados e por mais lucros (4) as classes ultrapassam as fronteiras estatais e os conflitos natildeo se restringem aos Estados expandindo-se no capitalismo globalizaccedilatildeo econocircmica liderada por corporaccedilotildees transnacionais

O capitalismo internacional eacute entendido como um instrumento para a exploraccedilatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento pelos paiacuteses desenvolvidos

Elaboraccedilatildeo proacutepria (2012) a partir da fonte Jackson e Sorensen 2007 14

Uma vez que a este estudo interessa o olhar sobre os paiacuteses em

desenvolvimento seraacute dado destaque para a abordagem marxista da EPI

apresentando breves comentaacuterios [21] sobre dois de seus principais teoacutericos

Wallerstein e Fiori

21

Parte-se da anaacutelise de Osorio LFB O sistema mundo no pensamento de Arrighi Wallerstein e

Fiori um estudo comparativo In Coloacutequio Brasileiro em Economia Poliacutetica dos Sistemas-Mundo 4

53

Na perspectiva do neomarxista Wallerstein 25262728 a noccedilatildeo do Terceiro

Mundo eacute reinterpretada Para ele existe um mundo articulado por um complexo

sistema de trocas econocircmicas sob a base da dicotomia entre capital e trabalho

e a acumulaccedilatildeo de capital entre notadamente Estados-Naccedilatildeo concorrentes

cujo equiliacutebrio eacute ameaccedilado por questotildees e conflitos internos Conceito esse

denominado como ldquosistema-mundordquo isto eacute um sistema mundial capitalista

norteado pelo comportamento dos Estados em um contexto competitivo

interestatal que admite uma hierarquia dividida entre centro semiperiferia e

periferia

Em conformidade com a tipologia esquemaacutetica apresentada por

Wallerstein 252627 o ldquoSistema-Mundordquo tem as seguintes caracteriacutesticas

(1) A economia mundial capitalista sustenta-se sobre uma hierarquia de

aacutereas centrais perifeacutericas e semiperifeacutericas em funccedilatildeo da divisatildeo do

trabalho entre as regiotildees assim definidas

a Aacutereas centrais ndash grande desenvolvimento tecnoloacutegico atividades

econocircmicas avanccediladas e complexas controladas pela burguesia

local ndash induacutestrias comeacutercios e agricultura complexa como

exemplos

b Perifeacutericas ndash base da hierarquia produzem artigos de primeira

necessidade A matildeo de obra eacute natildeo especializada e haacute pouca

atividade industrial (normalmente sob controle externo dos

capitalistas dos paiacuteses centrais)

c Semiperifeacutericas ndash camada intermediaacuteria entre a superior de

paiacuteses centrais e a inferior de paiacuteses perifeacutericos

(2) Troca desigual O excedente econocircmico eacute transferido da periferia para o

centro Isto eacute o excedente eacute derivado dos produtores com lucros e

2010 Santa Catarina Anais eletrocircnicos Santa Catarina UFSC 2010 Disponiacutevel em

lthttpwwwgpepsmufscbrhtmlarquivoso_sistema_mundo_no_pensamento_de_arrighi_wallerstein_e

_fioripdfgt Acesso em 21 set 2010

54

salaacuterios baixos na periferia e destinado aos produtores com lucros e

salaacuterios altos das aacutereas centrais

(3) Governos fortes no centro e governos mais fracos na periferia Isto eacute os

Estados fortes impotildeem trocas desiguais aos mais fracos O capitalismo

envolve ldquouma apropriaccedilatildeo do excedente de toda a economia mundial

pelas aacutereas centraisrdquo 29

Sob a perspectiva de um olhar diferenciado para o sistema mundial

formado pelos ldquoEstados-economias nacionaisrdquo e pelas ldquoeconomias liacutederesrdquo -

transnacionais e imperiais - satildeo apresentadas as seguintes caracteriacutesticas 30

(p33-4)

1 Cada ldquoEstado-economia imperialrdquo produz seu proacuteprio rastro e nesse

contexto as demais economias nacionais satildeo hierarquizadas em trecircs

grupos conforme suas estrateacutegias poliacutetico-administrativas

a economias nacionais que se desenvolvem sob o efeito protetor

imediato do liacuteder (ou vinculado ao liacuteder)

b economias nacionais que adotam estrateacutegias de catch up [22]

para alcanccedilar as ldquoeconomias liacutederesrdquo Segundo o autor sejam

por motivos ofensivos ou defensivos ldquoaproveitam os periacuteodos de

mudanccedila internacional para mudar sua posiccedilatildeo na hierarquia de

poder internacional por meio de poliacuteticas agressivas de

crescimento econocircmicordquo isto eacute o fortalecimento econocircmico

antecedendo ao fortalecimento militar e ao aumento do poder

internacional do paiacutes o que pode alcanccedilar sucesso e neste

caso ocorrer a criaccedilatildeo de um novo ldquoEstado-Economia liacutederrdquo ou

ser devidamente ldquobloqueadordquo

22 Entendem-se ―estrateacutegias de catch up como as habilidades que uma determinada

economia desenvolve para viabilizar a reduccedilatildeo da distacircncia que o separa de um paiacutes ou de uma economia

liacuteder

55

c em um grupo amplo concentra-se a grande maioria das demais

economias nacionais do sistema mundial atuantes na ldquoperiferia

econocircmica do sistemardquo fornecendo ldquoinsumos primaacuterios e

industriais especializados para as economias dos ldquoandares

superioresrdquo Para o autor essas economias podem apresentar

intensos ciclos de crescimento com alta renda per capita aleacutem

de se industrializar seguindo como ldquoeconomias perifeacutericasrdquo

2 A desigualdade no desenvolvimento da distribuiccedilatildeo da riqueza entre as

naccedilotildees eacute tida como uma dimensatildeo econocircmica fundamental do ldquosistema

mundial modernordquo mesmo considerando a existecircncia da ldquopossibilidade

seletiva de mobilidade nacional dentro desse sistemardquo a depender da

estrateacutegia econocircmica adotada por cada paiacutes aleacutem da estrateacutegia poliacutetica

assumida

Com o avanccedilo da troca desigual criam-se conflitos e o sistema

econocircmico eacute tensionado Nesse caso algumas caracteriacutesticas podem ser

apresentadas 2728

(a) A semiperiferia tem um papel de apaziguador poliacutetico

Uma vez que natildeo haacute necessariamente uma oposiccedilatildeo

unificada com relaccedilatildeo aos paiacuteses centrais a

semiperiferia acaba exercendo o papel de estabilizador

poliacutetico

(b) A economia mundial natildeo eacute estaacutetica Podem existir

mudanccedilas nas posiccedilotildees assumidas entre os paiacuteses do

centro e nos de semiperiferia A troca tambeacutem pode

ocorrer entre os paiacuteses da periferia e da semiperiferia

(c) Pode existir uma mudanccedila dinacircmica entre os tipos de

produtos relacionados agraves atividades econocircmicas

perifeacutericas e centrais O avanccedilo tecnoloacutegico pode

representar o dinamismo da atividade econocircmica

passamos pela aacuterea tecircxtil depois industrial e atualmente

a informaccedilatildeo e a biotecnologia em conjunto com o

56

sistema financeiro e outros serviccedilos Para o economista

a estrutura fundamental do sistema capitalista natildeo muda

A hierarquia do centro da semiperiferia e da periferia eacute

caracterizada pela troca desigual

O ldquoSistema-Mundordquo apresenta uma divisatildeo sistecircmica na economia-

mundo capitalista o que na percepccedilatildeo do autor leva os Estados centrais a

uma situaccedilatildeo de tensatildeo econocircmica e militar constante concorrendo pelo

privileacutegio de explorar as aacutereas perifeacutericas O que leva ao enfraquecimento dos

aparelhos desses Estados perifeacutericos poreacutem essa divisatildeo permite que certos

paiacuteses desempenhem um papel intermediaacuterio especializado como potecircncias

semiperifeacutericas

A economia-mundo estaacute fadada agrave desintegraccedilatildeo por causa de seu

proacuteprio sucesso 28 Isto eacute atingiu ldquouma enorme expansatildeo da produccedilatildeo mundial

e um incriacutevel avanccedilo tecnoloacutegicordquo mas ldquocriou uma enorme quantidade de

destruiccedilatildeo e de empobrecimento de amplos segmentos das populaccedilotildees

mundiaisrdquo Ele aponta a crise estrutural atual em funccedilatildeo do seu sucesso

relacionado agrave acumulaccedilatildeo do capital

ldquoSeu sucesso demanda trecircs coisas e cada uma delas estaacute atingindo um niacutevel ameaccedilador para a continuaccedilatildeo da acumulaccedilatildeo de capital Primeiro em todo o mundo o custo da matildeo-de-obra tem aumentado constantemente para os produtores () que tambeacutem pesa na acumulaccedilatildeo do capital Segundo os capitalistas tecircm mantido seus preccedilos baixos natildeo pagando suas contas algo que os economistas chamam de externalizaccedilatildeo dos custos Isso significa que boa parte dos custos de produccedilatildeo como a renovaccedilatildeo de recursos ou de infraestruturas eacute paga pelo Estado (e portanto pela populaccedilatildeo em geral) natildeo pelos empreendedores que lucram com os negoacutecios () Assim os governos comeccedilaram a pressionar os produtores para que eles internalizassem seus custos Terceiro para evitar rebeliotildees sociais constantes os Estados foram democratizados () o que significa que eacute exigido dos Estados que forneccedilam trecircs coisas baacutesicas aos cidadatildeos educaccedilatildeo sauacutede e garantias de uma receita duraacutevel Ou seja o Estado do Bem-Estar Socialrdquo

28

O Estado do Bem-Estar Social tem alto custo e eacute obtido por meio de

impostos e em uacuteltima anaacutelise por cortes na acumulaccedilatildeo de capital Vale

57

destacar que a sustentaccedilatildeo do Estado do Bem-Estar nos paiacuteses desenvolvidos

encontra-se em severa crise particularmente junto aos paiacuteses europeus 28

Caracteriza portanto o periacuteodo atual como o de crise e transiccedilatildeo da

hegemonia dos paiacuteses centrais notadamente dos EUA como tambeacutem o de

crise terminal do proacuteprio sistema mundial moderno a prolongar-se nas proacuteximas

deacutecadas para finalmente ocorrer um novo sistema internacional diferente do

que eacute apresentado na atualidade ldquoo sistema internacional marcharaacute para uma

reestruturaccedilatildeo que seraacute repressiva ou igualitaacuteria () para algo totalmente

diferenterdquo 26 (p 209)

O que pode ser contra-argumentado ao se questionar se estamos

vivendo ldquouma crise terminal do sistema capitalista e interestatal modernordquo ou

apenas ldquouma crise de transiccedilatildeo ou reafirmaccedilatildeo hegemocircnicardquo30 (p63)

Fiori 30 em discordacircncia agrave tese de Wallerstein apresenta como

contraditoacuteria a previsatildeo de que o sistema econocircmico capitalista seja destruiacutedo

por uma crise terminal provocada por uma contraccedilatildeo dos lucros (profit

squeeze) diante de um cenaacuterio internacional que apresenta grandes inovaccedilotildees

tecnoloacutegicas Para o autor haacute de ser considerada a importacircncia estrateacutegica da

tecnologia em quase todos os setores decisivos da economia

Durante os periacuteodos de bonanccedila econocircmica internacional e nos de

ldquointensificaccedilatildeo da competiccedilatildeo e das lutas entres as grandes potecircncias do

sistema mundialrdquo ocorrem a ampliaccedilatildeo de oportunidades para os Estados

situados na periferia do sistema 30 (p35) Nesse sentido a relaccedilatildeo da periferia

com o sistema mundial eacute expandida diferentemente do que defende o modelo

de Wallerstein

Apesar de considerar a intensificaccedilatildeo da competiccedilatildeo e das lutas entres

as grandes potecircncias do sistema mundial e sua respectiva consequecircncia Fiori

30 (p 67) destaca a importacircncia da ldquonatureza e do funcionamento hieraacuterquico

do poder globalrdquo devendo-se levar em consideraccedilatildeo as ldquodiferenccedilas

gigantescas que existem entre os vaacuterios paiacuteses e as economias nacionais

dispersas pelo mundordquo Em sua opiniatildeo

58

a O processo de internacionalizaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo do

capitalismo foi decorrente da tentativa e da busca da imposiccedilatildeo

dos Estados e economias nacionais ao resto do sistema mundial

de seus respectivos poder soberano moeda diacutevidas e sistema

de tributaccedilatildeo (expansatildeo do capital financeiro nacional)

b Existe um Estado nacional mais poderoso que exerce influecircncia

e imposiccedilatildeo dos seus interesses nacionais aos demais Estados

isto eacute ao resto mundo E natildeo um ldquoEstado ou impeacuterio que

absorve e dissolve os Estados nacionaisrdquo

c Existem Estados nacionais sem soberania eou sem

possibilidade de desenvolvimento econocircmico nacional

No que se refere aos paiacuteses em desenvolvimento caracterizados como

ldquosemi-Estadosrdquo 14 incapazes de atender ao conjunto de regras estabelecidas

pelos paiacuteses desenvolvidos apresentam quase sempre uma economia pobre e

subdesenvolvida natildeo sendo capazes de se manter sozinhos no sistema

internacional requerendo um tratamento especial e preferencial do mundo

desenvolvido Obrigam-se a conseguir o que querem ou o que precisam dos

paiacuteses mais ricos e mais fortes

Haacute de se destacar nesse sentido que as mudanccedilas na hierarquia desse

sistema podem ser observadas por meio dos reflexos concretos das atuaccedilotildees

estatais nos foros multilaterais e nas institucionalidades dos organismos

intergovernamentais globais e regionais como por exemplo OMC OMS G-20

que se espera defendam o reposicionamento no sistema interestatal

Sob o contexto da natureza e do funcionamento hieraacuterquico do poder

global natildeo se pode deixar de considerar a legitimidade da soberania e os

consequentes reflexos concretos que o mesmo impotildee agraves complexas relaccedilotildees

interestatais Considerando que a economia nacional eacute uma base de recursos

estrateacutegicos para o Estado nacional a questatildeo da soberania [ 23 ] eacute tambeacutem

apontada pela EPI

23

Soberania ndash Qualidade do Estado de ser politicamente independente de todos os outros

Estados O conceito poliacutetico juriacutedico de Soberania indica o poder de mando de uacuteltima instacircncia numa

59

Nesse sentido os Estados satildeo independentes uns dos outros pelo

menos legalmente (o que se caracteriza pela detenccedilatildeo de soberania)

Entretanto natildeo estatildeo isolados 14 ldquoPelo contraacuterio se unem e se influenciamrdquo e

devem encontrar meios de ldquocoexistir e de lidar uns com os outrosrdquo Para os

autores soberania ldquoeacute uma instituiccedilatildeo internacionalrdquo isto eacute ldquoum conjunto de

regras personificadas pelos Estadosrdquo que constituem e regulam a sua

independecircncia externa e a sua autoridade nacional Perante o direito

internacional os Estados satildeo juridicamente iguais [ 24 ] Portanto a soberania eacute

a independecircncia poliacutetica que um Estado usufrui com relaccedilatildeo a outros sendo o

governo a autoridade suprema dentro do seu territoacuterio Haacute o entendimento da

soberania como uma instituiccedilatildeo baacutesica da sociedade internacional

No entanto para esses autores esse tema ganha um sentido mais

contemporacircneo jaacute que se desenvolve e varia de maneira natildeo prevista

suficientemente pelas abordagens tradicionais Isso posto os principais

desafios agrave soberania estatildeo nas (1) forccedilas de mercado globais que atravessam

fronteiras com facilidade e afetam economias nacionais no (2)

desenvolvimento de normas sobre proteccedilatildeo internacional dos direitos humanos

e do direito humanitaacuterio acerca dos direitos humanos que prevecirc infraccedilotildees agrave

soberania (desafio ao princiacutepio da natildeo-intervenccedilatildeo) [ 25 ] e no (3) conflito

armado e no controle dos meios de violecircncia quando natildeo haacute garantia do

controle exclusivo dos meios de violecircncia pelos Estados em sua jurisdiccedilatildeo

domeacutestica

O paradoxo da questatildeo da soberania se daacute portanto em muitos casos

quando o fracasso estatal leva agrave intervenccedilatildeo humanitaacuteria o que acaba por

desafiar o princiacutepio da soberania da natildeo-intervenccedilatildeo

Nesse sentido conclui-se que a soberania permanece como uma

instituiccedilatildeo importante e estrateacutegica para a poliacutetica mundial apresentando

sociedade poliacutetica Portanto seu conceito estaacute ligado ao do poder poliacutetico Eacute a racionalizaccedilatildeo juriacutedica do

poder no sentido da transformaccedilatildeo da forccedila em poder legiacutetimo do poder de fato em poder de direito 23

(p

1179) 24

Declaraccedilatildeo de Princiacutepios do Direito Internacional ONU 1970 ― nenhum Estado ou grupo de

Estados tem o direito de intervir direta ou indiretamente por qualquer que seja a razatildeo nos assuntos

internos ou externos de qualquer outro Estado 25

Princiacutepio da Natildeo-Intervenccedilatildeo direito dos Estados de governar seus cidadatildeos sem a

interferecircncia externa

60

mudanccedilas na sua essecircncia cujas variaccedilotildees indicam importantes alteraccedilotildees na

natureza da condiccedilatildeo do Estado independente tornando-se segundo citaccedilatildeo

de Keohane (1995) 14 (p 379) ldquouma barreira menos territorialmente definida do

que um recurso de barganha para uma poliacutetica caracterizada por complexas

redes transnacionaisrdquo

Mesmo considerando a complexa relaccedilatildeo exercida pelo papel da

soberania estatal no sistema mundial ressalta-se a importacircncia do

funcionamento hieraacuterquico do poder global considerando-se as distinccedilotildees

existentes entre os diversos Estados e economias dispersas pelo mundo

defendendo tambeacutem a existecircncia de um Estado nacional mais poderoso e

influente que impotildee os seus interesses nacionais aos demais Estados 30 (p

67)

Nesse sentido Fiori 30 fundamenta a sua teoria do universo em

expansatildeo contiacutenua justificando portanto o poder como a mola propulsora das

relaccedilotildees internacionais cuja incessante pressatildeo competitiva direciona os

Estados a criarem e a conviverem simultaneamente com a ordem e

desordem guerra e paz onde esse movimento de constante fortalecimento de

alguns Estados significa a retraccedilatildeo de outros

Ainda sob essa perspectiva para o autor a necessidade de acumulaccedilatildeo

de poder e do excedente produtivo pode ser justificada pelo somatoacuterio do ldquojogo

das trocasrdquo ao ldquojogo das guerrasrdquo 31 Esse movimento segue na busca por mais

poder O conceito do poder poliacutetico estaacute relacionado agrave ideacuteia de fluxo e natildeo

necessariamente a do estoque 32 (p 334) Nesse sentido

ldquoO exerciacutecio do poder requer instrumentos materiais e ideoloacutegicos mas o essencial eacute que o poder eacute uma relaccedilatildeo social assimeacutetrica indissoluacutevel que soacute existe quando eacute exercido e para ser exercido precisa se reproduzir e acumular constantemente A conquista como disse Maquiavel eacute o ato fundador que instaura e acumula o poder e ningueacutem pode conquistar nada sem ter poder e sem ter mais poder do que o conquistado Num mundo em que todos tivessem o mesmo poder natildeo haveria poderrdquo

61

O que nos remete novamente ao conceito de poder no sistema

internacional como sendo ldquoo poder efetivo inversamente proporcional agrave

vulnerabilidade externardquo 22 (p 20) E baseando-se nessa relaccedilatildeo inclui-se

portanto as relaccedilotildees de mercado na perspectiva da EPI nas Relaccedilotildees

Internacionais que ressaltam o impacto da economia mundial de mercado

sobre as relaccedilotildees dos Estados e as maneiras pelas quais esses Estados

tentam tirar vantagem influenciando as forccedilas de mercado 2414

Dessa forma percebe-se a relaccedilatildeo de poder e o papel poliacutetico do

Estado como um agente central de induccedilatildeo das mudanccedilas nas economias

nacionais isto eacute uma relaccedilatildeo direta da economia com a poliacutetica uma vez que

as estruturas poliacutetica e econocircmica satildeo dependentes uma da outra fazendo-se

cada vez mais presentes no contexto da economia mundial moderna

Nesse sentido a essecircncia das Relaccedilotildees Internacionais encontra-se no

papel estrateacutegico desempenhado pelo Estado E portanto a relaccedilatildeo entre a

poliacutetica e a economia (aleacutem da relaccedilatildeo entre o desenvolvimento e o

subdesenvolvimento nos paiacuteses em desenvolvimento e a natureza e a

extensatildeo da globalizaccedilatildeo econocircmica) estaacute na agenda dos debates abordados

pela Economia Poliacutetica Internacional fundamentando o presente estudo e

inserindo ldquoo papel do Estado nacionalrdquo como ator estrateacutegico nas Relaccedilotildees

Internacionais

62

CAPIacuteTULO II - ESTADO E DESENVOLVIMENTO ndash A RETOMADA

DO PAPEL DOS ESTADOS NACIONAIS

1 Introduccedilatildeo

O processo dinacircmico provocado pela globalizaccedilatildeo promove mudanccedilas

nas relaccedilotildees entre os Estados e as economias nacionais Exerce nesse

sentido forte impacto sobre a atuaccedilatildeo do Estado gerando nova agenda

poliacutetica interna e internacional onde predominam temas e interesses

conflituosos entre os desejos e necessidades econocircmicas nacionais e as

demandas internacionais aleacutem de gerar um novo cenaacuterio onde forccedilas

exoacutegenas trazem novos significados para as relaccedilotildees das autoridades poliacuteticas

A economia contemporacircnea traz grandes desafios para a atuaccedilatildeo do

Estado tanto no contexto interno como na arena das suas relaccedilotildees

internacionais colocando agrave prova a sua capacidade de resistecircncia sua forccedila e

vitalidade aleacutem da sua capacidade de construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo de inovaccedilatildeo

e de produccedilatildeo competitiva

Nesse sentido diante do desafio apresentado pela globalizaccedilatildeo

marcada por um cenaacuterio internacional que apresenta um (re) posicionamento

de consenso no que se refere agrave retomada da vanguarda tecnoloacutegica e inovativa

em praticamente todos os setores da economia cabe ao Estado portanto

sobreviver agraves consequecircncias do impacto da (tentativa de) integraccedilatildeo dos

mercados e dos fluxos de capitais e tornar-se mais forte e resistente capaz de

superar os limites impostos pela globalizaccedilatildeo Mantendo iacutentegra a sua

capacidade soberana decisoacuteria no contexto das relaccedilotildees internacionais e haacutebil

nas suas negociaccedilotildees internacionais e na sua poliacutetica externa aleacutem da sua

capacidade de desenvolvimento econocircmico e tecnoloacutegico capaz de superar as

desigualdades e promover mudanccedilas significativas no contexto do seu

desenvolvimento nacional e no reposicionamento estrateacutegico das suas relaccedilotildees

internacionais

63

2 Estado como Ator Estrateacutegico nas Relaccedilotildees Internacionais

Estados soberanos exercem diplomacia entre si com o objetivo de

preservar a sua independecircncia a sua soberania a sua seguranccedila proteger e

promover os seus interesses influenciar os demais e simultaneamente resistir

agraves influecircncias dos demais Estados Devem lidar com as poliacuteticas de coerccedilatildeo e

reconduzi-las para uma negociaccedilatildeo diplomaacutetica que considere opiniotildees e

perspectivas diferentes

A diplomacia nesse sentido ocorre em um cenaacuterio altamente complexo

e eacute exercida entre Estados soberanos com diferentes graus de

desenvolvimento econocircmico social e institucional O exerciacutecio da diplomacia

abriga conflitos entre razotildees interesses e conveniecircncias 33 (p23)

ldquopela proacutepria natureza de suas funccedilotildees o diplomata acha-se obrigado a lidar constantemente com as disjuntivas entre a razatildeo do Estado e a razatildeo do homem entre interesses unilaterais e demandas coletivas entre as conveniecircncias de um mundo ainda caracterizado pela soberania de seus componentes estatais e as exigecircncias do multilateralismo e do transnacionalismordquo

A poliacutetica externa exercida pela diplomacia eacute a expressatildeo do ponto de

vista de um paiacutes sobre o mundo e o seu funcionamento cuja responsabilidade

passa pela ldquodevoccedilatildeo agrave proacutepria naccedilatildeo e ao bem-estar de seus cidadatildeosrdquo 34

(p89) aleacutem do respeito pelos ldquointeresses legiacutetimos pelos direitos de outros

Estados e pelo direito internacionalrdquo assim como pelo ldquocompromisso com os

direitos humanosrdquo 14 (p219)

Considerando o cenaacuterio internacional complexo onde o mundo se

apresenta como dinacircmico e em constante transformaccedilatildeo na sua realidade

poliacutetica onde haacute interesses heterogecircneos e por vezes conflituosos a poliacutetica

externa de um Estado tem como objetivo preservar a sua identidade nacional e

garantir sua soberania nem sempre faacutecil de manter ao largo da negociaccedilatildeo

buscando-se valer das janelas de oportunidades oferecidas pelas negociaccedilotildees

e tendecircncias globais e regionais

64

Nesse sentido no tocante ao Brasil um Paiacutes cujas caracteriacutesticas o

definem como ldquonem o mais atrasado nem o mais adiantado nem o mais rico

nem o mais pobre nem o mais justo nem tambeacutem o mais injustordquo um Paiacutes que

ldquobusca se transformar natildeo por impulsos autoritaacuterios ou visotildees impositivasrdquo mas

sim ldquomediante a gestaccedilatildeo de consensos aproximativos que se natildeo

representam o caminho mais raacutepido constitui certamente o mais seguro e

duradourordquo 33 (p 30) Teremos finalmente um Paiacutes cuja poliacutetica externa visa agrave

ampliaccedilatildeo da inserccedilatildeo internacional do Paiacutes como fator de estiacutemulo ao

desenvolvimento econocircmico e social e por consequecircncia uma poliacutetica externa

mais assertiva e mais marcante no cenaacuterio internacional com os reflexos do

desenvolvimento nacional

Portanto temas de natureza poliacutetica econocircmica ou social passaram a

ocupar a agenda internacional Nesse sentido a accedilatildeo diplomaacutetica brasileira

tem ido ao encontro do que a sociedade deseja para si proacutepria e para este

ldquomundo de polaridades indefinidasrdquo e citando Celso Lafer exemplifica

ldquodemocracia respeito aos direitos humanos abertura econocircmica e sentido de

solidariedade socialrdquo 30 (p 31) Busca essa autonomia atraveacutes da aproximaccedilatildeo

do diaacutelogo e do estiacutemulo agrave cooperaccedilatildeo e agrave integraccedilatildeo

Entretanto essa busca pela autonomia tem ocorrido em um mundo cada

vez mais interdependente nas informaccedilotildees nas comunicaccedilotildees na economia e

no campo social tanto na aacuterea das necessidades humanas quanto nos

aspectos culturais

Aleacutem disso vale destacar que diferentemente do que ocorria ateacute poucas

deacutecadas atraacutes notadamente no periacuteodo conhecido como ldquoGuerra Friardquo onde o

uso da forccedila para o estabelecimento do sistema de poder entre os Estados e a

consequente hierarquia dos temas da poliacutetica internacional era ditado pelo

Estado forte com predomiacutenio da seguranccedila militar o modelo de

interdependecircncia em predominacircncia leva em consideraccedilatildeo a existecircncia de

outros atores internacionais e as novas perspectivas dos temas da poliacutetica

externa aleacutem da inter-relaccedilatildeo entre poliacutetica interna e externa 35

65

Perspectivas essas relacionadas agrave revoluccedilatildeo contemporacircnea nas

tecnologias de informaccedilatildeo e da ciecircncia e agrave transnacionalizaccedilatildeo da economia

que acabam justificando a interdependecircncia do sistema mundial globalizado

Isso posto mesmo considerando a relaccedilatildeo de interdependecircncia entre

naccedilotildees e liacutederes poliacuteticos visando agrave cooperaccedilatildeo e agrave reduccedilatildeo dos conflitos de

interesses Keohane e Nye [ 26 ] citados por Ricobom 35 consideram natildeo haver

garantia de um sistema de equiliacutebrio entre os atores o que

consequentemente acaba por gerar relaccedilotildees assimeacutetricas de poder entre os

atores nacionais Nesse sentido as assimetrias podem proporcionar fontes de

influecircncia aos atores em suas relaccedilotildees com os demais Essa interdependecircncia

assimeacutetrica eacute que gera as relaccedilotildees de poder de um ator sobre os demais 35 (p

253)

Nesse contexto podemos incluir a aacuterea da sauacutede que nos uacuteltimos anos

vem ganhando maior espaccedilo na relaccedilatildeo de interdependecircncia entre os Estados

Seja por conta de um maior envolvimento e comprometimento entre os liacutederes

estatais delineando uma nova abordagem para a governanccedila mundial mais

integrada e focada no bem-estar da comunidade internacional seja pela busca

do atendimento agraves aspiraccedilotildees agraves soluccedilotildees dos problemas e dos desafios

relacionados agrave aacuterea da sauacutede tanto no acircmbito nacional regional

supranacional ou global

Obviamente natildeo podem ser excluiacutedas dessa relaccedilatildeo de poder as

influecircncias exercidas por atores natildeo governamentais cujo determinismo passa

pela questatildeo mercadoloacutegica as empresas multinacionais e transnacionais

Diante do exposto tem-se portanto o contexto contemporacircneo na

perspectiva das relaccedilotildees internacionais sob a anaacutelise da complexidade do

enfoque muacuteltiplo e natildeo mais pelo determinismo do Estado

Nesse sentido tem-se um desafio diplomaacutetico Quando o interesse se

volta agrave proteccedilatildeo da sua capacidade de desenvolvimento o Estado deve

considerar que no jogo diplomaacutetico sempre que houver algum tipo de restriccedilatildeo

26

Keohane R Nye J Poder e Interdependecircncia La poliacutetica mundial em transicioacuten Buenos

AiresGrupo Editor Latino Americano 1988 p23

66

agraves poliacuteticas que favoreccedilam a economia nacional estas devem ser

compensadas por oportunidades atraentes de investimentos desde que natildeo

haja coalizotildees que desagradem agraves economias hegemocircnicas e suas poliacuteticas

internacionais e tampouco possam ferir os interesses nacionais

O que estaacute em jogo portanto eacute a possibilidade de um paiacutes superar seu

subdesenvolvimento no ldquoexerciacutecio da margem da soberania permissiacutevel nas

condiccedilotildees internacionaisrdquo 36 Nesse sentido afirma o autor o processo de

globalizaccedilatildeo e a influecircncia dos paiacuteses hegemocircnicos notadamente dos EUA

tenderatildeo a restringir ldquode maneira significativa senatildeo decisiva as possibilidades

de um desenvolvimento nacional autocircnomordquo

ldquoA internacionalizaccedilatildeo dos processos de desenvolvimento em predominante medida correspondendo para o periacuteodo em apreccedilo [isto eacute Seacuteculo XXI ndash minha inclusatildeo] agrave sua americanizaccedilatildeo tenderaacute a converter tais processos em um ajustamento territorial das economias locais agraves conveniecircncias da economia hegemocircnica convertendo os correspondentes territoacuterios em segmentos do mercado internacionalrdquo

36 (p13)

Isto eacute o processo da globalizaccedilatildeo e a hegemonia das economias

desenvolvidas acabam acarretando seacuterios entraves que dificultam o

desenvolvimento das economias em desenvolvimento No tocante ao poder de

influecircncia das economias desenvolvidas junto agravequelas relacionadas aos paiacuteses

em desenvolvimento o autor 36 prevecirc que

ldquoas aacutereas que permaneccedilam subdesenvolvidas no mundo no provaacutevel curso da primeira metade do seacuteculo XXI tenderatildeo a se converter em territoacuterio cuja economia se processaraacute de conformidade com a conveniecircncia da economia hegemocircnica e se constituiratildeo assim independentemente da persistecircncia formal das procedentes soberanias em meros segmentos do mercado mundialrdquo (p18)

Sob esse contexto portanto a defesa do interesse nacional eacute

constantemente focalizada levando-se em consideraccedilatildeo inclusive a

existecircncia de empresas multinacionais e de organismos transgovernamentais

que exercem grande influecircncia na determinaccedilatildeo do interesse nacional em

67

diversos setores exercendo fortes pressotildees multilaterais nem sempre

convergentes aos interesses nacionais do Estado

Poreacutem eacute em funccedilatildeo do surgimento desses fortes e por vezes desleais

atores internacionais que se daacute o enfraquecimento do Estado uma vez que se

percebe intensa influecircncia desses atores globais Ademais vale citar Ricobom

34 (p264) quando alega com base no preceito liberal que ldquoas relaccedilotildees de

poder se limitam reciprocamente fazendo com que o destino da comunidade

internacional dependa de um jogo entre os personagens determinantesrdquo

Eacute por meio da extensa rede de relaccedilotildees entre diferentes atores

organizaccedilotildees empresas transnacionais empresas privadas e atores

governamentais denominadas como ldquocanais muacuteltiplosrdquo 35 que se observa o

enfraquecimento do Estado na medida em que este natildeo soacute reconhece o

surgimento de novos atores como tambeacutem atribui um peso demasiado a todos

eles Para a autora os canais muacuteltiplos ldquoapagam as fronteiras entre a poliacutetica

interna e externa pois geram o enfraquecimento da polarizaccedilatildeo das relaccedilotildees

internacionais do Estadordquo (p260)

Dentre os atores predominantes nesse jogo podemos destacar as

empresas transnacionais e bancos multinacionais aleacutem das organizaccedilotildees

internacionais que apesar de natildeo serem totalmente controlados pelos

governos exercem forte influecircncia quando das formulaccedilotildees de poliacuteticas

puacuteblicas Nesse sentido haacute uma maior interferecircncia na agenda da poliacutetica

exterior de cada Estado

Portanto em contraposiccedilatildeo agrave abordagem claacutessica onde os Estados satildeo

atores principais e detentores do poder de decisatildeo e coerccedilatildeo (notadamente

pelo uso da forccedila) seguidos das organizaccedilotildees internacionais e

intergovernamentais (ldquocriadas pelos Estados e administradas pelos seus

membros ou instituiccedilotildeesrdquo) e em terceiro plano seguidos das forccedilas

transnacionais (ldquoresultado da intensificaccedilatildeo entre pessoas privadas ndash ONGs

empresas transnacionais e opiniatildeo puacuteblicardquo) remete-se agrave abordagem da

interdependecircncia dos atores com habilidade para mobilizar recursos com

unidade de decisatildeo e atuaccedilatildeo que permitam alcanccedilar seus objetivos de forma

estruturada e dinacircmica com capacidade de influecircncia e autonomia sobre

68

outros atores natildeo havendo uma hierarquia delimitada ldquoO Estado e a

territorialidaderdquo nesse sentido ldquoperdem importacircnciardquo 35 (p 261-3) Os atores

internacionais passam a ser portanto o Estado as Organizaccedilotildees

Internacionais as Organizaccedilotildees Natildeo-Governamentais e as empresas

transnacionais

Obviamente esses atores em sintonia atendem agrave concepccedilatildeo dada pela

construccedilatildeo ideoloacutegica da globalizaccedilatildeo interferindo e dando novo movimento agrave

poliacutetica nacional e internacional subestimando nesse caso o exerciacutecio central

do Estado minando a defesa dos respectivos interesses puacuteblicos e adjetivando

superlativos aos demais atores internacionais

Entretanto as relaccedilotildees internacionais contemporacircneas satildeo dinacircmicas e

estatildeo sempre em processo de (re) construccedilatildeo Assim sendo o

enfraquecimento do papel do Estado ganha um valor que deve ser revisto a

fim de permitir o seu posicionamento de forma mais ativa e soberana no

cenaacuterio internacional

Com essa percepccedilatildeo Fiori 30 esclarece que a primeira deacutecada do seacuteculo

XXI eacute marcada pelo reconhecimento da ldquoutopia da globalizaccedilatildeo e o fim das

fronteiras nacionaisrdquo O autor reconhece que o ldquosistema mundial retornou agrave sua

velha ldquogeopoliacutetica das naccedilotildeesrdquo com o fortalecimento das fronteiras nacionais e

da competiccedilatildeo econocircmica mercantilista e com o aumento das lutas pelas

hegemonias regionaisrdquo (p40)

Ademais a visatildeo da interaccedilatildeo entre uma loacutegica integradora do cenaacuterio

internacional e uma dinacircmica contestadora dessa loacutegica denominando a

globalizaccedilatildeo como excludente assimeacutetrica e tendenciosa tem que conviver

com as incertezas econocircmico-financeiras como essas que assolaram a Europa

em 2011 refletindo em escala mundial uma crise cambial fiscal monetaacuteria e

financeira que permeiam de forma virulenta o corpo econocircmico de cada paiacutes

Aquele que estiver com a imunidade mais baixa tende a adoecer mais

rapidamente apresentando sintomas mais dolorosos e demorando a sair da

crise infecciosa Os que tecircm a sua estrutura econocircmica fiscal e produtiva mais

fortalecida articuladas e integradas em sintonia com um equilibrado

69

desenvolvimento social tendem a apresentar uma pequena recaiacuteda poreacutem

com tendecircncias a breve recuperaccedilatildeo

Nesse sentido apesar do dinamismo presente nas relaccedilotildees de

interdependecircncia contemporacircnea haacute de se rever a engrenagem desse sistema

e garantir o papel de destaque que o Estado requer garantindo-lhe forccedila motriz

orientadora para uma nova realidade que natildeo se esgote no sentido

mercadoloacutegico Sob essa perspectiva Ricobom 35 reitera

ldquoAinda que a interdependecircncia apresente estruturas conceituais capazes de revelar uma realidade dinacircmica eacute inegaacutevel que contribui para a construccedilatildeo ideoloacutegica da globalizaccedilatildeo que prima pelo enfraquecimento do Estado e da relativizaccedilatildeo da soberania principalmente em nome dos grandes grupos transnacionais Ademais revelou-se inadequada porquanto as preocupaccedilotildees com as questotildees sociais teriam sido desleixadas pela poliacutetica internacionalrdquo (p 263)

Nesse sentido corrobora Lafer 34 ao reafirmar o posicionamento do

Estado no contexto da globalizaccedilatildeo Para o autor diferentemente da visatildeo dos

demais autores que vecircem na globalizaccedilatildeo o fim da autonomia do Estado a

globalizaccedilatildeo natildeo eliminou a importacircncia dos Estados na dinacircmica

internacional afinal as expectativas e o bem-estar da sociedade seguem

vinculados ao desempenho dos seus respectivos paiacuteses Os Estados dessa

forma satildeo instacircncias puacuteblicas de intermediaccedilatildeo e no plano externo ldquoesta

intermediaccedilatildeo parte de uma visatildeo assinaladora de especificidadesrdquo Dentre

essas especificidades ldquoque configuram o pluralismo do mundo e explicam a

perspectiva organizadora e a latitude da inserccedilatildeo de um paiacutes no sistema

internacionalrdquo 34 (p 89) destacam-se a localizaccedilatildeo geograacutefica o repertoacuterio dos

conhecimentos a estrutura produtiva o niacutevel de desenvolvimento e os dados

da estratificaccedilatildeo social

Portanto haacute de se buscar novas abordagens para as relaccedilotildees dos

atores internacionais onde temas relacionados agraves questotildees de sauacutede

ambientais sociais e humanitaacuterias aleacutem das econocircmicas prevaleccedilam e onde

natildeo se pode desvincular a importacircncia de cada um dos atores envolvidos jaacute

que se encontram num complexo sistema de engrenagem geopoliacutetico

70

internacional onde qualquer anulaccedilatildeo pode significar rupturas poliacuteticas com

severas repercussotildees internas Entretanto deve-se garantir ao Estado o papel

de ator diferentemente da abordagem claacutessica onde prevalecia o poder pela

forccedila e pela coerccedilatildeo um novo papel mais adequado aos novos tempos regidos

pela paz entre os povos isto eacute mais articulado poreacutem centrado nos seus

principais interesses e no alcance da sua soberania

Isso posto tem-se uma estreita relaccedilatildeo entre o desenvolvimento

econocircmico e a sustentabilidade da soberania Quanto mais desenvolvido o

paiacutes maior a sua autonomia mais plena eacute a sua soberania Uma equaccedilatildeo de

relaccedilatildeo direta entre desenvolvimento e autonomia e capacidade soberana

justificando inclusive uma inter-relaccedilatildeo entre as forccedilas endoacutegenas e exoacutegenas

do desenvolvimento isto eacute poliacuteticas nacionais de desenvolvimento promovem

autonomia externa sustentam as bases soberanas de uma naccedilatildeo que por sua

vez permitem maior autonomia interna E eacute a partir desse entendimento que

abordaremos o Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede tema desta tese no

decorrer deste trabalho

O que eacute corroborado por Jaguaribe 36 (p17-9) ao reconhecer que

somente os paiacuteses que atingirem um elevado niacutevel de desenvolvimento e de

auto-regulabilidade de sua economia aleacutem de preservarem consideraacutevel

margem de autonomia externa preservaratildeo ldquosignificativas margens de

autonomia internardquo (p18)

Afirma ainda que essa causalidade entre autonomia interna e externa

soacute eacute possiacutevel quando haacute consenso do poder nacional e apropriado

relacionamento internacional No caso brasileiro o autor defende que o Paiacutes

somente lograraacute a permissibilidade internacional necessaacuteria para um

sustentaacutevel regime de reciacuteproca condicionalidade

entre autonomia interna e externa caso acelere a

ldquopromoccedilatildeo nacional do seu desenvolvimento e regule a sua autonomia interna de

sorte que o coeficiente interno de nacionalismo de fins e seus respectivos

instrumentos sejam compensados pela atratividade de um mercado aberto de capitaisrdquo

36 (p 18)

71

Afinal de contas a globalizaccedilatildeo com o seu respectivo movimento de

centralizaccedilatildeo de capitais e recursos junto aos conglomerados transnacionais

apresenta complexos desafios para os paiacuteses em desenvolvimento

principalmente para aqueles que jaacute apresentam uma relativa base industrial

alvos da desequilibrada concorrecircncia globalizada como eacute o caso do Brasil

Vale destacar que no tocante agraves poliacuteticas para promoccedilatildeo do

desenvolvimento econocircmico e industrial dos paiacuteses mais desenvolvidos tem-

se historicamente um maior pragmatismo na defesa da sua competitividade

industrial [ 27 ]

Portanto no caso do Brasil o desafio estaacute na possibilidade de um paiacutes

respeitando os seus limites soberanos superar seu subdesenvolvimento de

forma basicamente autocircnoma tanto nos planos domeacutestico quanto no

internacional

Entretanto deve ser considerado que esse processo encerra desafios

diversos notadamente no que se refere agraves consequecircncias provenientes da

globalizaccedilatildeo que inibem parcial ou totalmente as condiccedilotildees de

desenvolvimento nacional de forma autocircnoma estando os paiacuteses mais ou

menos vinculados agraves conveniecircncias e aos ditames das economias mais

desenvolvidas

Ou seja o desafio brasileiro estaacute em manter a sua inserccedilatildeo internacional

de forma equilibrada e pragmaacutetica em relaccedilatildeo ao antagonismo das forccedilas

transnacionais considerando as dimensotildees da realidade brasileira e a

manutenccedilatildeo de suas perspectivas soberanas dando maior importacircncia agraves

questotildees econocircmicas ambientais e de sauacutede relacionando-as aos consensos

de influecircncia da poliacutetica interna e consequentemente da externa

No Brasil poliacuteticas integradas e integradoras vecircm sendo adotadas

principalmente nas uacuteltimas duas deacutecadas buscando-se lograr resultados que

27

Apesar do pacto firmado na Rodada do Uruguai (origem da Organizaccedilatildeo Mundial do

Comeacutercio) no tocante as medidas liberalizantes das suas economias nacionais o que se tem eacute que paiacuteses

mais desenvolvidos tentam proteger a sua economia e forccedilar aos demais paiacuteses o atendimento ao pacto

firmado o que ironicamente pode ser traduzido como faccedila o que mando mas natildeo faccedila o que eu faccedilo

Garantindo-se dessa forma o fortalecimento da sua soberania e uma maior capacidade de

desenvolvimento o que obviamente leva agrave diferenciaccedilatildeo e a um maior protagonismo no espaccedilo

geopoliacutetico e econocircmico internacionais

72

tendem a superar as expectativas desenvolvimentistas a meacutedio e longo prazos

A aceleraccedilatildeo da promoccedilatildeo do desenvolvimento nacional ldquocomo nacionalrdquo deve

considerar uma margem de autonomia e articulaccedilotildees internacionais 36

inclusive

ldquopode-se seguramente asseverar que a exequibilidade de um desenvolvimento nacional depende por um lado de se iniciar o processo o mais pronta e energicamente possiacutevel e por outro da medida em que o paiacutes que intente fazecirc-lo disponha de suficiente massa criacutetica

28 de fatores de poder e de satisfatoacuterias

articulaccedilotildees internacionais Tal parece ser o caso do Brasil domeacutestica e internacionalmente no acircmbito do Mercosul e de outras convenientes articulaccedilotildees internacionaisrdquo

36 (p 13)

No tocante ao entendimento da sociedade brasileira quanto agrave redefiniccedilatildeo

dos interesses nacionais haacute argumentos 37 de que se focou prioritariamente na

agenda domeacutestica isto eacute ldquonos esforccedilos de estabilizaccedilatildeo econocircmica na

reforma do Estado na consolidaccedilatildeo institucional da democracia nos efeitos da

abertura comercial e na atenuaccedilatildeo de graviacutessimos problemas sociaisrdquo (p34)

Entretanto questotildees relacionadas agrave aacuterea externa passaram a ganhar mais

evidecircncia Afinal a sociedade brasileira se vecirc cada vez mais inserida e

afetada pelas relaccedilotildees internacionais

Portanto ganha destaque a agenda externa em sintonia com a agenda

interna Nesse argumento defende os autores o que importa eacute a capacidade

de crescimento de produccedilatildeo de conhecimento de ser competitivo de atrair

investimentos produtivos aleacutem de ldquosalvaguardar um razoaacutevel grau de

autonomia decisoacuteria na definiccedilatildeo do nosso futurordquo 37 (p34)

Nesse sentido importa que o interesse nacional seja defendido e na

busca pelo desenvolvimento nacional requisitos baacutesicos de ordem conceitual

devem ser considerados pelo Paiacutes 36 Para a nossa anaacutelise interessa-nos

destacar no Brasil o ldquotipo de paiacutes que importe constituir no que se possa

28

Para o autor o que viabiliza um paiacutes ao desenvolvimento eacute principalmente a conscientizaccedilatildeo

da sua massa criacutetica formadora de um consenso nacional voltado para as accedilotildees de desenvolvimento

Nesse sentido compara o Brasil com a China apresentando este paiacutes com ―plena consciecircncia do que

necessita fazer no curso dos proacuteximos dececircnios para assegurar domeacutestica e internacionalmente sua

soberana viabilidade dispondo de um ―soacutelido consenso nacional competentemente operacionalizado

pelo Estado e pelos quadros dirigentes chineses (p14) Na comparaccedilatildeo o Brasil ainda natildeo apresenta

essas condiccedilotildees de plena consciecircncia e consenso nacional

73

designar de exequivelmente desejaacutevelrdquo (p15) Nesse sentido aponta o autor

haacute determinadas opccedilotildees a fazer na relaccedilatildeo entre ldquoqualidade de vida e poder

nacionalrdquo bem como na ldquorelaccedilatildeo entre o domiacutenio puacuteblico e privadordquo (p15)

Quanto agrave relaccedilatildeo entre qualidade de vida e poder nacional o contexto

contemporacircneo apresenta uma dualidade entre a busca pela maximizaccedilatildeo do

poder nacional e a priorizaccedilatildeo da qualidade de vida Quando pensamos no

Brasil e conforme bem aponta Jaguaribe 36 o nosso Paiacutes tende de uma forma

consensuada a priorizar a qualidade de vida em detrimento do ldquostatus de

superpotecircnciardquo O poder nacional sob a oacutetica do Brasil natildeo deve suprimir o

status de bem-estar nacional Entretanto haacute um consenso em que deve ser

satisfatoacuterio e denotar certa evidecircncia quando se discute poliacuteticas internacionais

que valorizem o Soft Power isto eacute a diplomacia pela negociaccedilatildeo e pelo melhor

entendimento cooperativo e natildeo pelo uso da forccedila ameaccedilas e a coerccedilatildeo

econocircmica eou militar ndash a Hard Power sob a oacutetica do realismo nas relaccedilotildees

internacionais

A poliacutetica externa adotada pelo Brasil eacute um reflexo da maneira pela qual

a autonomia interna vem sendo respaldada Esse comportamento natildeo eacute

exclusivo de somente um governo sendo reconhecido nas uacuteltimas duas

deacutecadas poreacutem mais intensificado nas gestotildees do Governo Lula

Quanto agrave questatildeo da relaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado apresentado

pelo autor como requisito baacutesico de ordem conceitual haacute uma complexidade a

ser considerada uma vez que tem sido ldquoequivocadamente abordada a partir de

pressupostos ideoloacutegicos confrontando no limite a perspectiva neoliberal com

a socializanterdquo 36 (p 15)

Na verdade a essecircncia dessa relaccedilatildeo deve se pautar em uma

conveniente equaccedilatildeo a fim de assegurar a execuccedilatildeo dos programas de

desenvolvimento nacional e garantir autonomia domeacutestica e internacional 36 (p

15)

ldquoo que importa eacute determinar com plena lucidez em que medida uma compensatoacuteria ou corretiva intervenccedilatildeo do setor puacuteblico na sociedade eacute necessaacuteria ou conveniente para os fins em vista nas condiccedilotildees de um paiacutes emergente com as caracteriacutesticas socioculturais do Brasilrdquo

74

Isto posto denota-se a importacircncia estrateacutegica da agenda de poliacuteticas

puacuteblico-privadas integradas articuladas e pactuadas entre os diversos entes

envolvidos considerando-se inclusive a necessaacuteria e eficaz governabilidade e

a garantia dos interesses legiacutetimos das partes O equiliacutebrio desses interesses

por vezes divergentes e a necessaacuteria convergecircncia do entendimento das

traduccedilotildees representativas do puacuteblico e do privado isto eacute o entendimento

convergente do que tambeacutem eacute contraditoacuterio entre as abordagens marxista e

neoliberal representa a diferenccedila entre o sucesso e o fracasso do alcance dos

resultados almejados quanto ao desenvolvimento nacional

Cabe portanto ao Estado um papel que garanta uma atuaccedilatildeo

pragmaacutetica e operacional isto eacute

ldquose o objetivo em vista eacute assegurar no menor prazo possiacutevel a conversatildeo do Brasil num paiacutes pleno e integralmente desenvolvido com o maacuteximo de autonomia nacional domeacutestica e externa que as condiccedilotildees internacionais permitam eacute evidente a necessidade de compatibilizar a eficiecircncia de uma economia de mercado com uma prudente mas eficaz intervenccedilatildeo do Estado de caraacuteter promocional corretivo e preservador da autonomia nacional () em virtude de determinadas poliacuteticas e em funccedilatildeo de

determinados instrumentosrdquo 36 (p 16)

Nessa perspectiva a atuaccedilatildeo do Brasil como ator internacional estaacute

voltada para o desenvolvimento do espaccedilo nacional isto eacute ldquoa utilizaccedilatildeo da

relaccedilatildeo externa como fator de arregimentaccedilatildeo de recursos de negociaccedilatildeo de

coalizotildees e de neutralizaccedilatildeo de obstaacuteculos ao desenvolvimento econocircmico e

social do Paiacutesrdquo 33 (p 28)

Quanto agraves questotildees cientiacutefico-tecnoloacutegicas o Brasil eacute submetido a um

contexto de grande ampliaccedilatildeo nas possibilidades teacutecnico-cientiacuteficas 36 Assim

tem um grande desafio a ser superado no seacuteculo XXI que eacute se reconstruir

nessa arena tanto na perspectiva nacional quanto internacional dadas as

novas bases herdadas do seacuteculo anterior

Nesse sentido no tocante agrave aacuterea da sauacutede considerando-se uma das

vertentes de anaacutelise que incorporam essa aacuterea na relaccedilatildeo com o

75

desenvolvimento e que satildeo apontadas por Gadelha 338 e demais autores 5 (p

3006) retoma-se a abordagem estruturalista e de economia poliacutetica para

relacionaacute-la agrave sociedade contemporacircnea que eacute marcada pelo processo

assimeacutetrico da globalizaccedilatildeo assim como pelo protagonismo do conhecimento e

da inovaccedilatildeo fatores esses determinantes das transformaccedilotildees estruturais e do

dinamismo econocircmico

Sob essa perspectiva a sauacutede pode ser considerada como um sistema

complexo onde interagem segmentos produtivos e de serviccedilos no escopo dos

esforccedilos puacuteblicos e privados nacionais em prol de incrementar o

desenvolvimento inovativo ldquocom potencial para alavancar aacutereas-chave da

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em cursordquo 5 (p3006) aliando a loacutegica econocircmica com a

loacutegica social com determinismo na criaccedilatildeo de oportunidades para o

desenvolvimento local nacional regional e global

Entretanto o Brasil ainda possui um forte deacuteficit tecnoloacutegico e de

conhecimento que o inabilita a enfrentar os desafios vindouros caso natildeo supere

o seu atraso tecnoloacutegico Apesar de se comparado aos demais paiacuteses em

desenvolvimento jaacute ter alcanccedilado um determinado niacutevel que o diferencia de

forma positiva ainda haacute de se buscar alternativas que o levem a um

desenvolvimento autocircnomo e soberano

Nesse sentido sugere Jaguaribe 36

ldquose eacute certo que o prazo histoacuterico para que naccedilotildees do Terceiro Mundo superem seu subdesenvolvimento de forma autocircnoma e soberana tende (no seacuteculo XXI) a se encurtar de modo acelerado um prazo da ordem de vinte anos provavelmente se conserva por um lado nos limites do que ainda lhes seja internacionalmente permissiacutevel e por outro para um paiacutes como o Brasil no domesticamente exequiacutevelrdquo (p 12)

Ainda que seja este um periacuteodo relativamente curto para que ocorram as

necessaacuterias mudanccedilas estruturais o Estado na perspectiva de superaccedilatildeo tem

que lidar com a necessidade de aliar uma economia de mercado eficiente com

uma intervenccedilatildeo prudente e eficaz promovendo e preservando a autonomia

nacional e o consequente desenvolvimento econocircmico nacional Para tanto

deve considerar que ao mesmo tempo em que a globalizaccedilatildeo promove

76

condiccedilotildees para que ocorram inovaccedilotildees cientiacutefico-tecnoloacutegicas tambeacutem

desarticula cadeias produtivas e minimiza a importacircncia das relaccedilotildees

interestatais tambeacutem ressalta as relaccedilotildees governamentais e natildeo-

governamentais puacuteblicas e privadas tornando essas redes de interaccedilatildeo mais

complexas e dominantes na estruturaccedilatildeo e na dinacircmica do sistema nacional O

Estado na perspectiva de superaccedilatildeo tem que lidar com a necessidade de aliar

uma economia de mercado eficiente com uma intervenccedilatildeo prudente e eficaz

promovendo e preservando a autonomia nacional e o consequente

desenvolvimento econocircmico nacional

Essas questotildees manifestam-se no contexto do seacuteculo XXI como

determinantes no campo da ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo Nesse sentido haacute

de se promover metas econocircmicas sociais poliacuteticas e culturais aleacutem das

cientiacuteficas e tecnoloacutegicas que situem o Brasil no atual contexto geopoliacutetico

internacional tanto na perspectiva regional e na perspectiva internacional mas

principalmente no fortalecimento da sua capacidade de produccedilatildeo e de

inovaccedilatildeo local

Emerge desse contexto o Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede ndash

CEIS [ 29 ] que se apresenta como diferencial estrateacutegico com potencial para o

fortalecimento do Paiacutes ante o cenaacuterio globalizado e com motivaccedilatildeo para

alcanccedilar uma posiccedilatildeo competitiva em um espaccedilo de diversidade e assimetria

mundial tendo o foco da sauacutede sob as bases da soberania e da cidadania e

em relaccedilatildeo direta com o desenvolvimento econocircmico e social Estabelece-se

portanto sob as premissas dos valores sociais econocircmicos e eacuteticos e eacute

sustentado pelos pilares da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

Com vistas agrave consolidaccedilatildeo e ao fortalecimento do CEIS haacute de ser

transformar o conhecimento produzido local ou internacionalmente em

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que melhorem o desempenho do setor produtivo

nacional no campo da sauacutede em sua dimensatildeo nacional e global Eacute nesse

contexto desenvolvimentista que se observa o protagonismo do Estado

nacional junto agrave dinacircmica das relaccedilotildees internacionais A capacidade de

29

O Capiacutetulo IV especificamente o seu item 1 ―CEIS Estado e Inovaccedilatildeo Sauacutede e

Desenvolvimento aprofunda a discussatildeo sobre o Complexo

77

produccedilatildeo de bens de sauacutede deve ser traduzida como determinante da

capacidade soberana de um paiacutes em garantir o direito agrave sauacutede de sua

populaccedilatildeo e reduzir a vulnerabilidade da poliacutetica de sauacutede na medida em que

sauacutede eacute preacute-condiccedilatildeo para a soberania de qualquer naccedilatildeo

3 Protagonismo do Estado no Contexto da Globalizaccedilatildeo e da

Inovaccedilatildeo

Busca-se nesta parte do trabalho destacar o conceito da globalizaccedilatildeo

sob o ponto de vista econocircmico e sob a perspectiva da inovaccedilatildeo O termo

ldquoglobalizaccedilatildeordquo nesse sentido eacute cercado de significados e mitos Alguns

autores 39 em sua anaacutelise buscam a desmistificaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo

Destacam ldquoo carregado conteuacutedo ideoloacutegico do termordquo no que se refere agrave

utoacutepica direccedilatildeo do conceito voltada para um predominante sistema

internacional autocircnomo e socialmente sem raiacutezes ldquoonde os mercados de bens

e serviccedilos se tornam crescentemente globaisrdquo (p 41)

Poreacutem primeiramente longe de esgotar o conceito sob uma exclusiva

abordagem vale apontar perspectivas mais ampliadas da globalizaccedilatildeo O

conceito da globalizaccedilatildeo natildeo descreve o processo como um todo ldquomas o faz

somente de um certo ponto de vistardquo 40 (p 33) Para os autores juntamente

com a ldquoglobalizaccedilatildeo do grande capital ocorre a fragmentaccedilatildeo do mundo do

trabalho a exclusatildeo de grupos humanos e o abandono do continente e

regiotildeesrdquo aleacutem da ldquoconcentraccedilatildeo da riqueza em certas empresas e paiacuteses a

fragilizaccedilatildeo da maioria dos Estadosrdquo dentre outros Essa relaccedilatildeo de poder que

eacute concentrada e assimeacutetrica se repete na concentraccedilatildeo e na posse das

tecnologias e das inovaccedilotildees por parte dos paiacuteses centrais

Ademais as mudanccedilas provocadas pela globalizaccedilatildeo requerem

readaptaccedilotildees e reestruturaccedilotildees na hierarquia poliacutetica e econocircmica das

sociedades nacionais nas atividades e nos setores produtivos nas formas de

organizaccedilatildeo e atuaccedilatildeo das instituiccedilotildees inclusive nos centros de pesquisa e

desenvolvimento e na atuaccedilatildeo do Estado e do indiviacuteduo 39 Fato este que

resulta na exigecircncia de novas poliacuteticas para o desenvolvimento industrial e

78

inovativo sendo que para os autores satildeo necessaacuterias revisotildees das

concepccedilotildees do Estado-naccedilatildeo e das formas de intervenccedilatildeo

Isto posto as poliacuteticas nacionais e os interesses dos projetos nacionais

podem ser parcial ou totalmente comprometidos em funccedilatildeo do processo de

globalizaccedilatildeo Comprometimento que poderia ocorrer por conta da ldquodemora em

conhecer melhor suas especificidades e traccedilar poliacuteticas visando sua

superaccedilatildeordquo 41 (p 769) identificando novos papeacuteis e formas de estrateacutegias e

intervenccedilatildeo do Estado

Portanto satildeo reconhecidos a inovaccedilatildeo e o conhecimento como

protagonistas centrais da dinacircmica e do crescimento dos paiacuteses e de suas

respectivas organizaccedilotildees institucionais e empresariais onde o conhecimento eacute

recurso fundamental para acelerar o processo de inovaccedilatildeo constituindo-se a

inovaccedilatildeo segundo os autores como um ldquoprocesso de busca e aprendizado o

qual enquanto dependente de interaccedilotildees eacute socialmente determinado e

fortemente influenciado por formatos institucionais e organizacionais

especiacuteficosrdquo 41 (p774) Logo quanto maior o potencial inovativo maior o

impacto competitivo Entretanto esse potencial pode ter seu processo mais ou

menos influenciado por determinados contextos sociais poliacuteticos e

institucionais existentes Nesse sentido o processo inovativo e as poliacuteticas

para estiacutemulo desse processo ldquonatildeo podem ser vistos como elementos isolados

de seus contextos nacional setorial regional organizacional e institucionalrdquo 42

(p183)

Reconhece-se portanto que a fase da aceleraccedilatildeo do processo de

globalizaccedilatildeo notadamente a partir da deacutecada de 90 trouxe desafios

importantes quanto agrave formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas nacionais que

passaram a ter ldquoalcance desenho objetivos e instrumentos reformulados

visando o atendimento dos novos requerimentos impostos por um conjunto de

fatores associados ao padratildeo de acumulaccedilatildeordquo 43 (p32) dentre os quais

aqueles relacionados agrave aceleraccedilatildeo do processo de globalizaccedilatildeo

Adicionalmente aponta-se a aceleraccedilatildeo da globalizaccedilatildeo da economia

com tendecircncia a diminuir cada vez mais as ldquochances de as especificidades

locais poderem ser aproveitadas como alternativa de desenvolvimento

79

autoacutectonerdquo 39 (p66) O que nos leva agrave conclusatildeo de que as empresas locais

com determinadas condiccedilotildees de desenvolvimento satildeo candidatas a

participarem de uma acirrada e desleal competiccedilatildeo com players globais

fortemente capacitados e habilitados a permanecerem no protagonismo do

mercado global levando as demais empresas a sucumbir agraves regras

estabelecidas pelas grandes corporaccedilotildees

Resta ao Paiacutes buscar soluccedilotildees e mecanismos que o protejam de

maiores perdas notadamente na sua capacidade de desenvolvimento

inovativo tecnoloacutegico produtivo econocircmico e social soluccedilotildees e mecanismos

estes que seratildeo apontados no decorrer deste estudo

Na busca pelo desenvolvimento da capacidade inovativa e do

conhecimento na busca pelo desenvolvimento industrial e tecnoloacutegico [30] os

Estados satildeo desafiados a atuar sob uma seacuterie de exigecircncias que abrangem a

esfera econocircmica poliacutetica e social sob a eacutegide da soberania nacional

Devendo considerar para tal o que os autores 41 apontam como ldquoa ascensatildeo de

novas (e renovadas) forccedilas (econocircmicas poliacuteticas sociais culturais etc)

operando em escala mundialrdquo aleacutem da ldquocrescente subordinaccedilatildeo das poliacuteticas

nacionais a condicionantes externos e supranacionaisrdquo (p775) Portanto o

Estado tem papel central no reconhecimento da diversidade relacionada a

essas forccedilas e na conduccedilatildeo das poliacuteticas adequadas atentando para a

heterogeneidade dessas caracteriacutesticas tanto sob a perspectiva nacional

quanto internacional

Segundo Furtado [31] citado por Cassiolato e Lastres 41 (p778) a

globalizaccedilatildeo nesse sentido ldquoestaacute longe de conduzir agrave adoccedilatildeo de poliacuteticas

uniformes ()rdquo O autor destaca que as disparidades entre economias natildeo

decorrem somente de fatores econocircmicos decorrem tambeacutem de ldquodiversidades

nas matrizes culturais e das particularidades histoacutericasrdquo desafiando portanto o

Estado ao reconhecimento das variaccedilotildees nacionais e internacionais para a

30

Caracterizada como Paradigma Tecno-Econocircmico afeta embora de forma desigual todos os

setores Nesse sentido ―novos requerimentos tecircm sido impostos agrave economia mundial envolvendo aleacutem

de importantes mudanccedilas tecnoloacutegicas vaacuterias mudanccedilas organizacionais e institucionais 41

(p775)

associada a uma nova fase do desenvolvimento do capitalismo mundial ―denominada de Era da

Informaccedilatildeo e do Conhecimento

31

Furtado C O Capitalismo Global Satildeo Paulo Paz e Terra 1998 p 74

80

formulaccedilatildeo de poliacuteticas que fortaleccedilam o padratildeo competitivo tanto nacional

quanto internacionalmente

Conclusatildeo essa corroborada quando se afirma que natildeo haacute um caminho

uacutenico ldquopor mais estreitas que sejam as margens de manobra haacute sempre um

espaccedilo para a criatividade na busca de alternativas proacutepriasrdquo 44 (p 9) Para a

autora paiacuteses em desenvolvimento devem realizar suas proacuteprias escolhas

ldquoconsultando seus interesses e respeitando suas especificidades histoacutericas e

culturaisrdquo Sob esse contexto afirma a autora

ldquoa busca de uma alternativa nacional eacute natildeo soacute possiacutevel como crucial implicando autonomia de reflexatildeo independecircncia de accedilatildeo e certamente um Estado ativo e com alta capacidade de coordenaccedilatildeo de forma a conduzir a transiccedilatildeo para uma das possiacuteveis variedades de capitalismo conciliando estabilidade econocircmica crescimento sustentado e maior equidade socialrdquo (p16)

Cabe ao Estado portanto atuar de forma estruturada em busca de

maior desenvolvimento inovativo econocircmico tecnoloacutegico e social valendo-se

da atual fase do processo da globalizaccedilatildeo no que se refere aos novos padrotildees

de acumulaccedilatildeo associados agraves tecnologias de informaccedilatildeo Atuaccedilatildeo essa que

poderaacute ser mais bem desempenhada se o Estado possuir coesatildeo estrateacutegia e

poliacuteticas eficientes para o melhor aproveitamento das oportunidades para a

consolidaccedilatildeo do seu desenvolvimento e de sua capacidade competitiva

Vale destacar que a informaccedilatildeo e o conhecimento pautam as

transformaccedilotildees da nova fase de desenvolvimento do capitalismo mundial [32]

redirecionam as poliacuteticas nacionais e as condiccedilotildees para a sua implementaccedilatildeo

afetando as perspectivas de crescimento e do proacuteprio desenvolvimento

nacional aleacutem da interaccedilatildeo dos governos com suas economias isto eacute da

poliacutetica com a economia tanto no acircmbito nacional quanto no internacional [33]

32

Nesse contexto o paradigma das tecnologias de informaccedilatildeo inaugurou uma nova dinacircmica

tecnoloacutegica e econocircmica internacional ―o conhecimento torna-se um ativo primordial de competiccedilatildeo ao

mesmo tempo em que vecircm-se impondo novas formas de organizaccedilatildeo e interaccedilatildeo entre as empresas e entre

estas e outras instituiccedilotildees (incluindo as de ensino e pesquisa) e favorecendo raacutepidas mudanccedilas nas

estruturas de pesquisa produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo 39

(p 43)

33

Nessa direccedilatildeo outras caracteriacutesticas podem ser destacadas 41

(p 775-6) (a) ―a intensificaccedilatildeo

da complexidade das novas tecnologias e a aceleraccedilatildeo dos novos desenvolvimentos implicando uma taxa

81

Defende-se nesse sentido que a competitividade tem relaccedilatildeo estreita

com a capacidade inovativa das empresas e dos paiacuteses Observa-se a sua

relaccedilatildeo direta com o conhecimento Logo investir em PampD eacute investir em uma

forccedila diferenciadora para nortear o crescimento econocircmico

Nesse sentido vale destacar que o apoio puacuteblico agrave atividade de PampD e

inovaccedilatildeo nas empresas eacute uma praacutetica comum nos paiacuteses desenvolvidos

admitida pela Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio [34]

Por outro lado atividades de PampD satildeo realizadas em conjunto em

diversas partes do planeta - sob a eacutegide da centralizaccedilatildeo do ativo mais

estrateacutegico o conhecimento e satildeo controladas e coordenadas por

transnacionais graccedilas aos mesmos avanccedilos das tecnologias de comunicaccedilatildeo

e de informaccedilatildeo Sendo denominadas como globalizaccedilatildeo tecnoloacutegica ou como

ldquotecnoglobalismordquo 39

Esses autores interpretam visotildees paradoxais do tecnoglobalismo Para

alguns autores o tecnoglobalismo desloca os sistemas nacionais de inovaccedilatildeo

ldquotornando redundante e no limite sem efeito qualquer tentativa por parte dos

governos nacionais em promover o desenvolvimento tecnoloacutegico domeacutesticordquo 39

(p46)

Sob essa perspectiva protecionista as atividades estrateacutegicas de

inovaccedilatildeo satildeo desenvolvidas na matriz e portanto nos paiacuteses de origem das

grandes empresas e quando compartilhadas o satildeo de forma monitorada e

controlada Manteacutem-se portanto a matriz como detentora dos principais

conhecimentos relacionados aos seus processos de inovaccedilatildeo (que satildeo

de mudanccedila mais raacutepida nos processos e produtos (b) ―o aprofundamento do niacutevel de conhecimentos

taacutecitos natildeo codificaacuteveis e especiacuteficos de cada unidade industrial e a ampliaccedilatildeo da necessidade de investir

em intangiacuteveis tornando-se a atividade inovativa ainda mais localizada e especiacutefica (c) ―as mudanccedilas

nos processos de produccedilatildeo e as mudanccedilas fundamentais na estrutura organizacional das empresas

gerando maior integraccedilatildeo tanto nas funccedilotildees das empresas como entre outras instituiccedilotildees (d) ―os novos

requerimentos por regulaccedilatildeo e desregulaccedilatildeo (e) ―as exigecircncias de novo formato de intervenccedilatildeo

governamental e de novas poliacuteticas de promoccedilatildeo do desenvolvimento industrial e tecnoloacutegico

34

Segundo MCT 2007 - Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo para o Desenvolvimento Nacional

wwwmctgovbr na meacutedia dos paiacuteses europeus por exemplo 35 das empresas industriais inovadoras

no periacuteodo de 2002 e 2004 receberam financiamento puacuteblico para o desenvolvimento de suas atividades

inovativas Segundo o relatoacuterio ―no Brasil a proporccedilatildeo de empresas industriais com atividades

inovativas que satildeo financiadas pelo governo eacute especialmente reduzida - 19 no periacuteodo de 2003-2005

82

fortemente influenciados por seus sistemas nacionais de inovaccedilatildeo) Inovaccedilotildees

e respectivos processos que satildeo compartilhados de forma calculada isto eacute

desde que jaacute estejam em domiacutenio puacuteblico eou em decliacutenio do seu valor

agregado eou que natildeo sejam mais um ativo estrateacutegico tanto em termos

tecnoloacutegicos quanto em retorno financeiro

Consequentemente a transferecircncia e a difusatildeo da tecnologia para os

espaccedilos perifeacutericos satildeo sempre parciais ldquodificultando ainda mais do que no

passado a possibilidade de criaccedilatildeo de uma capacidade endoacutegena de progresso

teacutecnicordquo 39 (p 49)

Ampliando essa perspectiva protecionista para uma perspectiva indutora

e colonialista vale ressaltar que ao mesmo tempo em que as grandes

empresas exportam seus produtos e serviccedilos em escala mundial e

internacionalizam seus processos de produccedilatildeo em busca de condiccedilotildees mais

atraentes para a sua capacidade produtiva e inovativa tambeacutem agem como

indutoras de ldquopadronizaccedilatildeo e homogeneizaccedilatildeo do consumo da produccedilatildeo e da

tecnologiardquo 39 (p 47)

No que se refere agrave geraccedilatildeo e agrave realizaccedilatildeo de acordos de cooperaccedilatildeo

tecnoloacutegica limitam-se a espaccedilos econocircmicos ldquoonde informaccedilotildees e

conhecimentos satildeo produzidos e circulamrdquo 41 (p772) Nesse sentido reiteram

os autores

ldquoassim contrariamente agrave visatildeo mais ou menos difundida sobre uma pretensa internacionalizaccedilatildeo dos esforccedilos e resultados do desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico o padratildeo que se observa eacute o de uma concentraccedilatildeo nitidamente nacional de tais atividades com as articulaccedilotildees sendo efetuadas quase que exclusivamente no acircmbito dos paiacuteses mais avanccediladosrdquo (p 772)

O que pode ser comprovado quando se analisam dados sobre patentes

e acordos de cooperaccedilatildeo relacionados aos paiacuteses da OCDE 39

ldquoa geraccedilatildeo de tecnologia permanece basicamente bdquodomeacutestica no sentido de que o essencial da PampD continua sendo desenvolvido nos paiacuteses de origem das empresas a colaboraccedilatildeo internacional por sua vez eacute um fenocircmeno que diz respeito essencialmente agraves empresas dos paiacuteses desenvolvidos e deste modo bdquotriadizada‟ configura-se portanto a visatildeo de empresa-

83

polvo que usa seus tentaacuteculos para adquirir e explorar em cada paiacutes suas excelecircncias em pesquisa mais propriamente do que descentralizar seu ceacuterebrordquo (p46-7)

Nesse sentido a globalizaccedilatildeo tende a reforccedilar o ldquocaraacuteter cumulativo das

vantagens competitivas baseadas na inovaccedilatildeo das grandes empresas

transnacionais mas pode estar enfraquecendo a base de recursos e coesatildeo

organizacional dos sistemas domeacutesticos de inovaccedilatildeordquo 41 (p778)

Tecircm-se portanto a propriedade o controle e grande parte das

atividades em PampD sendo formuladas e desenvolvidas nos paiacuteses de origem

das grandes empresas e para os autores a tese da globalizaccedilatildeo tecnoloacutegica

na verdade representa um caso de natildeo-globalizaccedilatildeo ou melhor um caso da

ldquo‟triadizaccedilatildeo [35] (ao inveacutes da globalizaccedilatildeo) tecnoloacutegicardquo Isto eacute trata-se de um

processo que vem se desenvolvendo notadamente entre os paiacuteses mais

desenvolvidos

A fim de que seja garantida posiccedilatildeo estrateacutegica para empresas e

governos no domiacutenio das tecnologias de ponta como forma de conquistar e

garantir posiccedilotildees hegemocircnicas no cenaacuterio econocircmico e poliacutetico internacional

multiplicam-se os obstaacuteculos agrave circulaccedilatildeo dos conhecimentos cientiacuteficos e

tecnoloacutegicos 36 Como consequecircncia o progresso tecnoloacutegico e seus efeitos

chegam agrave periferia de maneira restrita e segmentada resultantes de decisotildees

tomadas dentro do oligopoacutelio mundial

Essas decisotildees fortemente concentradas apresentam poder cada vez

maior na hierarquizaccedilatildeo econocircmica dos espaccedilos poliacuteticos nacionais

estabelecidas a partir da importacircncia deles para os governos ou empresas

decisoras Segundo os autores como resultado desta reordenaccedilatildeo natildeo se

observa uma globalizaccedilatildeo tecnoloacutegica difundindo conhecimento e sim um

maior estreitamento do acesso dos paiacuteses menos desenvolvidos ao

conhecimento e agraves tecnologias de ponta ldquosua utilizaccedilatildeo flexiacutevel e segmentada

corresponde a este controle concentradordquo 39 (p48)

35

Isto eacute no que se refere agraves redes de PampD os paiacuteses alvos se concentravam na ―triacuteade Estados

Unidos Japatildeo e Europa

84

Quanto aos paiacuteses em desenvolvimento notadamente os latino-

americanos percebe-se uma mudanccedila no comportamento dos seus processos

de inovaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Em estudo avaliando a deacutecada de 90 41

foram observados os seguintes movimentos (a) esperava-se que em funccedilatildeo

da retraccedilatildeo dos Estados nos financiamentos das atividades cientiacutefico-

tecnoloacutegicas houvesse um papel mais efetivo dos agentes privados o que de

fato natildeo ocorreu (b) um crescente uso de bens de capital importados aleacutem de

uma maior utilizaccedilatildeo dos demais componentes importados o que acabou por

enfraquecer a capacidade fabril domeacutestica destruindo inclusive cadeias

produtivas locais (c) a maior parte das firmas locais cuja capacidade de

desenvolvimento tecnoloacutegica era premente acabou por ser ou absorvida por

empresas estrangeiras ou fechadas

Em referecircncia ao Brasil historicamente este Paiacutes eacute apresentado como

excluiacutedo dos processos gerais de geraccedilatildeo e de cooperaccedilotildees internacionais de

tecnologia poreacutem incluiacutedo no processo de exploraccedilatildeo global de tecnologia

conforme aponta Maldonado [36]

ldquoas multinacionais satildeo mais propensas a realizar a comercializaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de suas inovaccedilotildees no territoacuterio nacional via patenteamento mais propriamente do que o desenvolvimento de atividades tecnoloacutegicas no Paiacutes seja de forma individual ou em parceria com empresas nacionais Em relaccedilatildeo agrave importaccedilatildeo de tecnologia () vem ocorrendo uma diminuiccedilatildeo destes fluxos o que significa um acesso cada vez mais restrito agraves novas tecnologias por parte dos agentes nacionaisrdquo

39 (p49)

Portanto as novas formas de investimento externo nos paiacuteses em

desenvolvimento estrategicamente posicionam estes paiacuteses como paiacuteses

receptores de tecnologias ultrapassadas e haacute muito exploradas sem valia

inovativa e tampouco consideradas como ativo estrateacutegico para os paiacuteses

desenvolvidos

ldquoconcentram-se em projetos que utilizam tecnologias estaacuteveis ou maduras apontando-se como principal

36

MALDONADO J M V O Brasil face ao processo de globalizaccedilatildeo tecnoloacutegica o

segmento de novos poliacutemeros em foco Rio de Janeiro 1996 Tese (Doutorado) - Universidade Federal do

Rio de Janeiro

85

motivo para tal o fato de as empresas estrangeiras estarem mais propensas a dividir o controle e a propriedade de um investimento quando a tecnologia envolvida eacute amplamente disponiacutevel ou natildeo se constitui em um ativo estrateacutegicordquo

39 (p 49)

Eacute a partir deste contexto que se evidencia o posicionamento da Ameacuterica

Latina e do Mercosul 39 (p 50) considerando-se ldquoa aderecircncia quase que

ilimitada aos princiacutepios do Consenso de Washington que resultou na ausecircncia

completa de poliacuteticas ativas de promoccedilatildeo ao desenvolvimento industrial e

tecnoloacutegicordquo (o que no entanto natildeo eacute pactuado pela experiecircncia dos paiacuteses

mais avanccedilados) Os autores consideram tambeacutem a perda do dinamismo das

economias da regiatildeo o que acabou por conduzir pelo decliacutenio dos

investimentos a uma ldquodefasagem na absorccedilatildeo das transformaccedilotildees

tecnoloacutegicas e organizacionaisrdquo e a uma perda de posiccedilatildeo desses paiacuteses no

comeacutercio internacional

A partir do seacuteculo XXI percebe-se um maior esforccedilo governamental em

mudar esse cenaacuterio Temos o caso brasileiro que desde entatildeo vem

promovendo ajustes macroeconocircmicos em sua economia prestigiando o

desenvolvimento produtivo local por meio de parcerias entre os setores puacuteblico

e privado37 e formulando poliacuteticas puacuteblicas estrateacutegicas para o fortalecimento

da capacidade de produccedilatildeo local e para a promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo

Eacute sob essa perspectiva que a inovaccedilatildeo no Brasil a partir do final da

deacutecada de 90 marcado eacute marcada pela construccedilatildeo das poliacuteticas cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas evidenciando-se inclusive a adoccedilatildeo de novas e estrateacutegicas

prioridades na agenda de poliacuteticas nacionais inclusive na aacuterea da sauacutede A

poliacutetica nesse sentido exerce um papel estrateacutegico pois

ldquodeve dar conta das dimensotildees do conhecimento e dos atores envolvidos na

37

No tocante agrave sauacutede ateacute o ano de 2011 as parcerias na sauacutede envolviam 32 laboratoacuterios sendo

dez puacuteblicos e 22 privados nacionais e estrangeiros Tecircm a expectativa de gerar uma economia de R$ 400

milhotildeesano aplicados em inovaccedilatildeo tecnoloacutegica aleacutem das vacinas com melhor gestatildeo de recursos

economizando R$ 500 milhotildees por ano e R$ 800 milhotildees anuais com ganhos de eficiecircncia levando a uma

economia geral de R$ 17 bilhatildeo por ano no orccedilamento do Ministeacuterio da Sauacutede Os produtos satildeo voltados

principalmente para a detecccedilatildeo e tratamento de Doenccedilas Sexualmente Transmissiacuteveis doenccedilas crocircnicas

doenccedila de Crohn antipsicoacuteticos hemofilia e tuberculose Disponiacutevel em wwwsaudegovbr 17112011

86

pesquisa em sauacutede em funccedilatildeo da complexidade dos processos de produccedilatildeo de

conhecimento cientiacutefico e tecnoloacutegico no setorrdquo [38]

A agenda contemporacircnea nacional ganha portanto aleacutem dos ajustes

macroeconocircmicos novas diretrizes que marcam a passagem do neoliberalismo

para uma poliacutetica menos excludente e mais igualitaacuteria que redefinem

prioridades para a agenda puacuteblica 44

ldquopassam ao primeiro plano temas como a reduccedilatildeo da exclusatildeo social o inconformismo diante de uma posiccedilatildeo perifeacuterica na ordem internacional a aspiraccedilatildeo por transformaccedilotildees na geopoliacutetica mundial pela busca de autonomia e pelo reforccedilo da integraccedilatildeo regional pela diversificaccedilatildeo das parcerias e alianccedilas pela revitalizaccedilatildeo do debate sobre as reformas sociais ou ainda pela defesa de novas formas de inserccedilatildeo externardquo (p10-1)

ldquoO novo milecircnio apresenta-se como um ambiente marcado pela

controveacutersia e pelo debaterdquo 44 (p10) Logo natildeo eacute de se estranhar que o novo

debate em curso paute-se em torno de estrateacutegias de desenvolvimento e de

formas alternativas de inserccedilatildeo na ordem global

Portanto a fim de alcanccedilar esses objetivos o que se tem observado

notadamente na uacuteltima deacutecada eacute o estabelecimento de novas diretrizes

poliacuteticas39 por parte do governo nacional para um maior dinamismo nas accedilotildees

que visem ao desenvolvimento tecnoloacutegico inovativo e produtivo do Paiacutes A

viabilizaccedilatildeo das capacidades relacionadas aos bens sociais econocircmicos e

tecnoloacutegicos que requerem informaccedilotildees e conhecimentos inovativos

principalmente relacionados agraves aacutereas da sauacutede da ciecircncia e tecnologia da

defesa e da energia tecircm sido alvos de accedilotildees financiamentos e poliacuteticas

puacuteblicas coordenadas a fim de garantir a sua promoccedilatildeo [40]

38

Conforme preconiza o Consolidado dos Relatoacuterios das Conferecircncias Estaduais de Sauacutede Brasiacutelia

07 a 11122003

39 Diretrizes essas objetos de anaacutelise no capiacutetulo IV do presente estudo

40 Como por exemplo o que pode ser observado na priorizaccedilatildeo dada pela Poliacutetica de

Desenvolvimento Produtivo (2008) do Ministeacuterio da Induacutestria e Comeacutercio Exterior o ―PAC da

Inovaccedilatildeo (2007) do Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia e mais recentemente o Plano Brasil Maior

87

Finalmente a globalizaccedilatildeo considerada assimeacutetrica natildeo tornou o

mundo mais harmocircnico Afinal o conhecimento a inovaccedilatildeo a PampD a

tecnologia a informaccedilatildeo satildeo fontes de poder e estatildeo localizados em paiacuteses

mais desenvolvidos com distanciamento crescente das dinacircmicas inovativas e

desenvolvimentistas entre as empresas e instituiccedilotildees dos paiacuteses menos

desenvolvidos

Isto posto a globalizaccedilatildeo natildeo eliminou o papel dos Estados nacionais da

luta de poder entre os Estados isto eacute nas suas relaccedilotildees internacionais Nesse

sentido a busca por inovaccedilatildeo por maior conhecimento e mais informaccedilatildeo

tornou-se estrateacutegica e fundamental para o equiliacutebrio dos poderes entre os

Estados nacionais aleacutem do seu proacuteprio e sustentaacutevel desenvolvimento

econocircmico interno

(Brasil 2011) lanccedilado ainda em 2011 que daacute continuidade tanto agrave PDP quanto agrave Poliacutetica Industrial

Tecnoloacutegica e de Comeacutercio Exterior (PITCE 2003)

88

CAPIacuteTULO III - INSERCcedilAtildeO DO BRASIL NO CONTEXTO INTERNACIONAL DA SAUacuteDE

ldquoA globalizaccedilatildeo eacute irrefreaacutevel sobretudo por corresponder a muitas

exigecircncias dos seres humanosrdquo Essa frase de Berlinguer 45 (p21) representa a

pluralidade de entendimentos sobre o tema Corresponde agrave acumulaccedilatildeo de

capital a migraccedilotildees de povos agrave informaccedilatildeo simultacircnea aos sistemas de

poder ao trabalho humano aos conhecimentos cientiacuteficos agrave tecnologia aleacutem

de principalmente corresponder ao predomiacutenio das financcedilas internacionais Sua

origem intencionou segundo o autor a negaccedilatildeo da funccedilatildeo poliacutetica e da

democracia Mas como dito inicialmente a globalizaccedilatildeo eacute irrefreaacutevel assim

como o eacute a vontade humana Positiva pelo grau de conhecimento e

desenvolvimento poreacutem negativa se desequilibrada em termos de poder e

metas Portanto o ldquojogo estaacute na mesardquo E a ldquomesa pode ser viradardquo e limitar o

arbiacutetrio de alguns paiacuteses eou instituiccedilotildees monetaacuterias destacando-se os

direitos humanos fundamentais e legitimando esses interesses globais como

universais e irrevogaacuteveis em que se destaca a sauacutede e tambeacutem a seguranccedila

ldquocomo direito agrave vida e como condiccedilatildeo para o exerciacutecio de todas as liberdadesrdquo

45 (p 36)

E sendo assim inimaginaacuteveis ateacute muito pouco tempo atraacutes os novos

cenaacuterios do contexto global tecircm sido reflexos da dinacircmica estabelecida pelas

mudanccedilas contemporacircneas e pelo vigor com que as mesmas acontecem

A julgar pelo comportamento dos paiacuteses que compotildeem o sistema

mundial em tempos recentes haacute de se considerar que novas formas de

convivecircncia e de pertencimento a esse sistema ultrapassam a ideologia e

alcanccedilam os proacuteprios interesses estatais tornando-se mais pragmaacuteticos natildeo

mais ditados pelos dogmas e conceitos de regimes fechados ou capitalistas O

que se reflete tambeacutem na Ameacuterica Latina Os Estados tecircm nesse sentido

atuado em busca do equiliacutebrio entre ganhos e perdas isto eacute entre benefiacutecios e

riscos [41]

41

Corrobora nesse sentido destacar paiacuteses como China e Cuba que ateacute entatildeo orbitavam em um

cenaacuterio de bipolaridade mundial passam para a abertura econocircmica e social ndash a despeito do ainda forte

controle estatal comportando por exemplo na sauacutede relaccedilotildees entre empresas puacuteblicas e privadas

89

E eacute sob o contexto da globalizaccedilatildeo fortemente assimeacutetrica que as

naccedilotildees se deparam com novos desafios para seu fortalecimento poliacutetico e

econocircmico

No tocante ao Brasil em estudo recente [42] o IPEA ndash Instituto de

Pesquisa Econocircmica Aplicada defende que as mudanccedilas contemporacircneas

ocorridas nos sistemas globais tanto econocircmico quanto poliacutetico vem

permitindo ao Paiacutes novas oportunidades de superaccedilatildeo dos desafios e dos

entraves que impedem seu desenvolvimento ldquoo momento atual aponta para

uma confluecircncia ineacutedita da reduccedilatildeo da pobreza queda de desigualdade e

dinamismo econocircmicordquo 46 (p3) Depreende-se do estudo que o Brasil estaacute

diante de oportunidades de superaccedilatildeo das condiccedilotildees estruturais que o

imobilizara nas uacuteltimas deacutecadas e que frente agraves mudanccedilas globais recentes

poderaacute encontrar meios de reposicionar seu dinamismo econocircmico

Situaccedilatildeo essa que jaacute reflete o reposicionamento do Brasil na economia

mundial Conforme dados do estudo do IPEA partindo-se da instabilidade

econocircmica e social afinal na deacutecada de 90 encontrava-se como 8ordf economia

mundial passando para 13ordf posiccedilatildeo em 2000 (quando o niacutevel de desemprego

aumentou de menos 2 milhotildees para cerca de 10 milhotildees de trabalhadores

desempregados) o Paiacutes chega em 2011 como a sexta posiccedilatildeo econocircmica

mundial Reposicionamento motivado segundo esse estudo pela retomada do

dinamismo econocircmico no Brasil aliado ao direcionamento redistributivo das

poliacuteticas puacuteblicas e o baixo dinamismo nos paiacuteses ricos

A despeito do reposicionamento brasileiro motivado pelas

ldquotransformaccedilotildees mais amplas na economia (renda ocupaccedilatildeo entre outros) e

nas poliacuteticas puacuteblicas (educaccedilatildeo garantia de renda entre outros)rdquo [43] 46 (p4)

cuja convergecircncia de poliacuteticas puacuteblicas no segmento social eacute base estruturante

para o novo padratildeo de mudanccedila social (concomitante com o desenvolvimento

econocircmico) eacute preciso entender e ultrapassar ldquoas mudanccedilas recentes na ordem

42

Comunicados do IPEA nordm 100 ndash Mudanccedilas na Ordem Global desafios para o desenvolvimento

brasileiro ndash 23112011 Disponiacutevel em httpwwwipeagovbr acessado em 03 de janeiro de 2012

43

Natildeo eacute intenccedilatildeo desta tese aprofundar o estudo nos indicadores econocircmicos registrados no

Brasil nem a anaacutelise dos diferentes padrotildees de mudanccedila social percebidos no reposicionamento brasileiro

nosuacuteltimosanos Para mais detalhes ver Comunicado do Ipea nordm 100 Mudanccedilas na Ordem Global

desafios para o desenvolvimento brasileiro

90

global sua loacutegica e tendecircnciasrdquo (p7) e na visatildeo da promoccedilatildeo contemporacircnea

do projeto nacional de desenvolvimento procurar identificar os desafios e

oportunidades que surgem ldquonum cenaacuterio de realinhamento de poder econocircmico

e poliacutetico entre as naccedilotildeesrdquo 46 (p7)

Otimismo questionado quando comparamos os indicadores das maiores

economias do mundo Conforme pode ser observado na tabela 1 o

posicionamento do Paiacutes se daacute em funccedilatildeo do tamanho da sua populaccedilatildeo

Quando comparado agrave renda per capita do Reino Unido a renda brasileira

equivale a um terccedilo da britacircnica Assim como em sentido oposto quando

comparamos o PIB per capita chinecircs ao do brasileiro que a despeito de ser a

China a segunda economia pela projeccedilatildeo do PIB total representa menos do

que a metade do PIB per capita brasileiro

Tabela 1 ndash As Principais Economias no Mundo (PIB) 2011

Fonte Banco Mundial httpdatabankworldbankorg Acesso em 10082012

Portanto a despeito do posicionamento brasileiro no ranking das

principais economias do mundo o PIB per capita do Paiacutes quando comparado

aos demais paiacuteses desenvolvidos reflete vulnerabilidades e desafios que

devem ser ultrapassados Se considerarmos como indicadores investimentos

91

em PampD em relaccedilatildeo ao PIB paiacuteses como Sueacutecia (389) Finlacircndia (348)

Japatildeo (336em 2009) Coreacuteia do Sul (299) Estados Unidos (290 em

2009) Alemanha (282 em 2010) Cingapura (227 em 2009) Franccedila

(226 em 2010) Canadaacute (192 em 2009) Reino Unido (177 - 2010)

China (170 em 2009) e Ruacutessia (116 em 2010) quando comparados ao

Brasil (097 em 2005 e 116 em 2010) agrave Hungria (094) Aacutefrica do Sul

(093 em 2008) Portugal (080 em 2005 e 159 em 2010) Turquia

(067) e Argentina (051 em 2007) ndash dados do Main Science and

Technology Indicators (MSTI) 2007 OCDE World Development Indicators

(WDI) 2006 [44] posicionam o Brasil como intermediaacuterio no cenaacuterio

internacional ldquotanto no campo acadecircmico quanto no produtivo distante ainda

das naccedilotildees desenvolvidas ainda que em posiccedilatildeo superior a dos paiacuteses de

correspondente niacutevel de desenvolvimentordquo A situaccedilatildeo brasileira se agrava

quando comparada a valores absolutos de investimentos em PampD na relaccedilatildeo

com o PIB dos demais paiacuteses Paiacuteses desenvolvidos como os EUA investem

percentuais maiores sobre um PIB que jaacute eacute elevado o que resulta em volumes

altos de investimentos em PampD

Soma-se a ainda o fato de que as empresas brasileiras investem em

atividades de PampD uma pequena proporccedilatildeo do PIB (051) ldquoinferior ao que

fazem as suas congecircneres nos paiacuteses mais avanccedilados mas relativamente

superior as de paiacuteses como Argentina e Portugalrdquo 47

O mesmo limite se aplica quando focamos a anaacutelise para a perspectiva

empresarial baixo iacutendice de investimento quando comparado agraves empresas de

paiacuteses mais desenvolvidos o que perpetua o posicionamento mediano frente

aos demais paiacuteses Segundo relatoacuterio do MCT 47 ldquoas empresas industriais no

Brasil que desenvolveram atividades inovativas investiram cerca de 09 de

seu faturamento em atividades de PampD em 2005 muito abaixo do que ocorre

em paiacuteses como Alemanha Franccedila e Holanda em que a proporccedilatildeo varia entre

22 e 27 mas superior ao que se verifica por exemplo na Argentina e em

Portugal onde a proporccedilatildeo se situa na faixa dos 03 e 04rdquo

44

Disponiacutevel em wwwmctgovbr acesso em 05042012

92

Quando avaliado sob o enfoque da dotaccedilatildeo orccedilamentaacuteria governamental

em pesquisa e desenvolvimento (PampD) por objetivos socioeconocircmicos isto eacute

sauacutede controle e proteccedilatildeo do meio ambiente desenvolvimento social e

exploraccedilatildeo da terra e da atmosfera o investimento brasileiro na aacuterea da sauacutede

e meio-ambiente deixa muito a desejar quando comparado a paiacuteses

desenvolvidos e alguns paiacuteses em desenvolvimento conforme pode ser

observado na tabela 2 a seguir

Tabela 2 - Orccedilamento Governamental em PampD () ndash Objetivo

Socioeconocircmico Sauacutede e Meio-Ambiente ndash Brasil e OCDE 2000-2011

Paiacutes 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Brasil 78 84 63 78 90 91 96 86 81 80 67 -

Alemanha 94 96 94 99 102 101 101 102 99 103 92 93

Argentina 175 175 166 187 182 174 170 194 191 - - -

Australia 187 190 199 208 233 272 318 279 316 311 325 332

Canadaacute 213 215 238 239 230 242 238 248 234 - - -

Coreacuteia 148 155 164 161 155 138 162 153 140 140 138 14

1

Espanha 156 128 131 138 193 191 205 212 193 185 190 -

EUA 499 512 544 558 555 558 548 547 547 581 562 -

Franccedila 97 120 122 124 124 118 134 132 111 118 126 98

Italia 104 116 - - - 151 155 203 194 164 180 186

Japao 66 70 68 69 69 58 68 71 72 72 74 70

Mexico 79 78 164 206 185 205 164 - - - - -

Portugal 128 140 136 127 141 128 111 123 157 177 180 182

Reino

Unido

283 266 248 260 273 258 268 267 291 288 315 -

Russia 114 90 - - - - - - - - - -

Fonte Organization for Economic Co-operation and Development Main Science and Technology Indicators 20112 in Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede Disponiacutevel em wwwmctgovbrindexphpcontentview336722html Acesso em 22 de julho de 2012

A Tabela 2 posiciona o Brasil de forma criacutetica perante os demais paiacuteses

e reflete accedilatildeo mais assertiva dos governos dos demais paiacuteses em que os

percentuais aplicados em PampD satildeo mais representativos como eacute o caso da

93

Austraacutelia do Reino Unido e dos Estados Unidos este uacuteltimo tendo no governo

o seu maior investidor A assimetria observada na tabela indica um reflexo da

baixa prioridade que essa aacuterea representa na alocaccedilatildeo do orccedilamento

governamental do Brasil em PampD Situaccedilatildeo portanto que pode ser observada

quando em comparaccedilatildeo internacional da distribuiccedilatildeo dos gastos por objetivos

socioeconocircmicos o Paiacutes apresenta alocaccedilotildees menores do que os dos demais

paiacuteses relacionados na Tabela 2

Portanto pode-se concluir que as condiccedilotildees estruturais da economia

brasileira vigentes no passado natildeo criaram condiccedilotildees adequadas para o

desenvolvimento tecnoloacutegico endoacutegeno e portanto os esforccedilos institucionais

para inovar e agregar valor aos bens e serviccedilos ateacute entatildeo incipientes limitaram

a sua inserccedilatildeo na dinacircmica tecnoloacutegica e econocircmica do mundo globalizado

Em que pese a economia brasileira situar-se entre as seis primeiras

economias mundiais haacute muitos desafios a serem ultrapassados nas questotildees

relacionadas agrave educaccedilatildeo renda infraestrutura sauacutede seguranccedila dentre

outras tatildeo importantes quanto as citadas Poreacutem vale ressaltar que economia

grande eacute tambeacutem aquela que produz tecnologia que tenha capacidade

produtiva e de inovaccedilatildeo Portanto eacute preciso crescer com qualidade onde a

educaccedilatildeo e a sauacutede o conhecimento a pesquisa a tecnologia e a inovaccedilatildeo

sejam pilares para o desenvolvimento brasileiro cabendo ao Estado a

implementaccedilatildeo de poliacuteticas industriais e tecnoloacutegicas provedoras do

desenvolvimento econocircmico nacional

No entanto para dar sustentaccedilatildeo agrave convergecircncia dessas poliacuteticas

puacuteblicas a fim de se tornarem estruturantes para o desenvolvimento nacional

brasileiro deve-se compreender as mudanccedilas recentes na ordem global Eacute

preciso considerar que um projeto nacional de desenvolvimento somente seraacute

possiacutevel se forem considerados os limites e as possibilidades decorrentes das

transformaccedilotildees no capitalismo global Nesse sentido

ldquoeacute preciso compreender que as mudanccedilas do mundo impactaram

profundamente a relaccedilatildeo entre o nacional e o globalrdquo de maneira que

ldquoeconomia nacional pressupotildee a integraccedilatildeo internacionalrdquo 46 (p20)

94

E eacute nesse sentido que o Brasil vem exercendo uma seacuterie de movimentos

e iniciativas de poliacutetica exterior que colocaram o Paiacutes em alianccedila com os paiacuteses

mais desenvolvidos ndash relaccedilatildeo Sul-Norte assim como em coalizatildeo com os

paiacuteses menos desenvolvidos em sua relaccedilatildeo Sul-Sul Movimentos esses que

na percepccedilatildeo de Correa 33 estatildeo em sintonia com os poderes internos poreacutem

dependentes da relaccedilatildeo de poder no plano internacional

A respeito do que defende Correa 33 quanto aos poderes internos Lima48

reitera a relaccedilatildeo entre a poliacutetica externa e os interesses domeacutesticos que por ela

satildeo representados podendo avanccedilar ou natildeo em funccedilatildeo da dependecircncia dos

atores nacionais sejam eles o proacuteprio Estado os atores poliacuteticos incluindo a

decisatildeo do legislativo (que exerce forte influecircncia decisoacuteria na internalizaccedilatildeo de

questotildees de poliacutetica externa na agenda domeacutestica) aleacutem dos poderes federal

estaduais e municipais de coalizotildees diversas do interesse do empresariado

da miacutedia das organizaccedilotildees puacuteblicas e privadas das ONG‟s da opiniatildeo puacuteblica

e da sociedade como um todo Portanto a poliacutetica externa estaacute ligada agrave

estrutura domeacutestica e agrave poliacutetica nacional e eacute resultante das muacuteltiplas forccedilas e

dos interesses dos atores envolvidos

Ademais a despeito dos interesses domeacutesticos ldquoeacute fundamental

compreender que as mudanccedilas no mundo tambeacutem mudaram a posiccedilatildeo do

Brasil nelerdquo 46 (p 21) A convergecircncia das poliacuteticas e estrateacutegias nacionais de

longo prazo agrave superaccedilatildeo dos desafios para a atuaccedilatildeo brasileira na ordem

global objetiva ao Brasil maiores condiccedilotildees de superaccedilatildeo do atual status de

Paiacutes em desenvolvimento Segundo o estudo 46 os desafios a serem

superados passam pelas seguintes consideraccedilotildees (a) ldquoo deslocamento do

centro dinacircmico da economia global e o papel do BRICSrdquo (b) ldquoa inserccedilatildeo do

Brasil nas transformaccedilotildees tecnoloacutegicas do padratildeo de acumulaccedilatildeo capitalistardquo

(c) ldquoa necessaacuteria dimensatildeo ambiental do desenvolvimento econocircmicordquo e (d) ldquoa

possibilidade de construir uma governanccedila planetaacuteria legiacutetima de acordo com

as grandes mudanccedilas operadas no seio das relaccedilotildees internacionaisrdquo (p21)

95

Quanto ao primeiro desafio o papel do Brasil no BRICS o estudo do

IPEA 46 aponta o movimento global em direccedilatildeo agrave multipolaridade [45] em

adequaccedilatildeo agraves novas condicionantes poliacuteticas e econocircmicas A questatildeo

ideoloacutegica deixa de existir poreacutem natildeo desapareceram os contenciosos

relacionados agrave poliacutetica hegemocircnica ldquoa tocircnica da poliacutetica externa tem sido

desde entatildeo pressionar por relaccedilotildees internacionais mais equitativas e pela

ampliaccedilatildeo do centro decisoacuterio mundialrdquo 49 pressotildees essas presentes de forma

mais discreta na gestatildeo do governo FHC (1995-2002) e mais intensas na

gestatildeo Lula (2003-2010)

E eacute sob esse novo contexto que o Brasil vem se destacando com forte

atuaccedilatildeo junto aos BRICS (o conceito de mercados emergentes provocou o

lanccedilamento em 2001 do acrocircnimo BRIC para caracterizar novos mercados de

massa nos paiacuteses fora do eixo do Atlacircntico Norte 50) que tem nos uacuteltimos anos

representado a contrapartida da crise econocircmica internacional Poreacutem natildeo se

pode deixar de ressaltar que o movimento protagonista chinecircs [46] dentro do

BRIC eacute absoluto ldquoeacute o centro dentro desse novo centrordquo 46 (p10) criando-se um

ldquomundo sino-centrado em uma indicaccedilatildeo de se estar assistindo a um processo

gradual de difusatildeo de poder econocircmico em marcha mais acentuada desde o

iniacutecio da deacutecada de 2000rdquo 50 (p 02) Exercendo consequentemente fortes

implicaccedilotildees para a estabilidade e homogeneidade do BRIC dadas as

assimetrias econocircmicas entre a China e os demais paiacuteses no grupo

Considerando ainda que ldquoquando os foros tradicionais de decisatildeo se vecircem na

contingecircncia de incluir membros deste grupo de paiacutesesrdquo 51 (p05) devido agrave sua

importacircncia na economia mundial e quando o regionalismo acaba se

sobressaindo no contexto global impera-se a importacircncia do fortalecimento do

papel poliacutetico e econocircmico que cabe ao Brasil dentro e fora desse grupo de

paiacuteses

45

―Com a derrocada da Uniatildeo Sovieacutetica (1991) e a restauraccedilatildeo do capitalismo na China

desapareceu o conflito ideoloacutegico LesteOeste substituiacutedo por novas formas de antagonismo entre Sul

(paiacuteses em desenvolvimento) e Norte (paiacuteses desenvolvidos) ndash Frias Filho O Brasil 2050 um horizonte

Geopoliacutetico Folha de Satildeo Paulo 10 abr 2011 Caderno Ilustriacutessima

46

―Entre 1979 e 2005 o PIB chinecircs passou de menos 150 bilhotildees de doacutelares para 165 trilhotildees o

comeacutercio exterior aumentou de 206 bilhotildees para 115 trilhotildees e a renda per capita cresceu de 190

doacutelares para 1200 doacutelares aumentando a sua participaccedilatildeo na economia global de cerca de 1 para 4

(Eisenman et al 2007 pXIV apud Lima 50

(p02) Esses indicadores refletem a inserccedilatildeo vigorosa da

China na economia internacional

96

Complementando o estudo do IPEA entendemos que dada a

importacircncia estrateacutegica poliacutetica e socioeconocircmica que representa o processo

de integraccedilatildeo regional para o Brasil a Ameacuterica do Sul tem-se traduzido em um

ambiente favoraacutevel para a intersecccedilatildeo dos interesses das economias sul-

americanas como base de integraccedilatildeo e consolidaccedilatildeo fortalecida de um espaccedilo

unificado na Ameacuterica do Sul que traduza as vontades regionais e resulte no

fortalecimento conjunto perante o contexto geopoliacutetico internacional Assim

corrobora Jaguaribe 52 (p173)

Nas proacuteximas deacutecadas o sistema internacional tenderaacute a se cristalizar em torno de grandes blocos ou paiacuteses continentais Nesse cenaacuterio o Mercosul eacute o principal instrumento de que dispotildeem os seus membros para assegurar a proteccedilatildeo de seus interesses e a longo prazo preservar suas respectivas identidades nacionais Para alcanccedilar esses objetivos satildeo necessaacuterias uma maior institucionalizaccedilatildeo do bloco a ampliaccedilatildeo em direccedilatildeo aos demais paiacuteses da Ameacuterica do Sul ()rdquo

Complementarmente vale destacar que com o seacuteculo XXI desponta o

Brasil alcanccedilando uma projeccedilatildeo do seu poder externo pautada pela ldquopremissa

de que o aumento da margem de accedilatildeo externa do Brasil eacute facilitado pela

diversificaccedilatildeo de seus viacutenculos internacionaisrdquo denominando-se como a

ldquoautonomia pelo universalismordquo 53 (p 53) Aleacutem da busca por novos horizontes

ateacute entatildeo espaccedilados pela centralidade do sistema mundial e pela

consolidaccedilatildeo do continente sul-americano as relaccedilotildees com a Aacutefrica tambeacutem

continuam prioritaacuterios na relaccedilatildeo do Brasil com os paiacuteses do Sul haja vista sua

efetiva participaccedilatildeo na CPLP no IBAS aleacutem do BRICS

No que se refere agrave inserccedilatildeo no padratildeo de competiccedilatildeo monopolizado e agrave

revoluccedilatildeo tecnoloacutegica global a anaacutelise do IPEA chama a atenccedilatildeo para a

construccedilatildeo de um padratildeo de competiccedilatildeo (em consequecircncia do modelo de

globalizaccedilatildeo neoliberal) monopolizado pelas corporaccedilotildees transnacionais [47] O

que resulta ldquono aprofundamento do processo de concentraccedilatildeo competitiva sem

47

Segundo o estudo do IPEA 46

(p 10) ―na primeira deacutecada de 2000 natildeo mais do que 500

corporaccedilotildees transnacionais possuiacuteam faturamentos anuais que equivaliam em conjunto quase a metade

do Produto Interno Bruto mundial

97

paralelo histoacutericordquo 46 (p11) retirando do Estado a determinaccedilatildeo do

protagonismo central

ldquoessa real concentraccedilatildeo tenciona para um processo ineacutedito desde a formaccedilatildeo dos Estados modernos de que natildeo sejam mais os paiacuteses que detenham empresas mas sim as grandes corporaccedilotildees competitivas que possuam paiacuteses cujo faturamento supera o Produto Interno Bruto de vaacuterias naccedilotildeesrdquo (p11)

Em funccedilatildeo dessa perspectiva diminuta para o poder estatal passa a ser

condiccedilatildeo estrateacutegica e sine qua non o fortalecimento dos Estados Entretanto

o estudo aponta para o fortalecimento de instacircncias supranacionais visando agrave

melhoria das condiccedilotildees gerais de produccedilatildeo dos mercados onde a poliacutetica

tambeacutem se transnacionaliza isto eacute ldquosomente o fortalecimento do Estado para

aleacutem do espaccedilo nacional poderaacute colocar em novas bases a condiccedilatildeo humana

do desenvolvimentordquo 46 (p11)

Independente de para dentro ou para fora ou ainda para ambas as

direccedilotildees simultacircneas eacute determinante para o Estado ldquoo movimento de raacutepida

internalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefico no processo de produccedilatildeo e

consumordquo 46 (p11) O estudo observa o protagonismo dos serviccedilos gerados

pela ldquoeconomia do conhecimentordquo e que a esse novo processo de produccedilatildeo

de tecnologia de desenvolvimento e de inovaccedilatildeo caiba a harmonia com a

sustentabilidade ambiental

Finalmente no tocante agrave participaccedilatildeo na governanccedila global quarto

desafio apontado pelo IPEA 46 o Brasil tem buscado uma maior e mais efetiva

participaccedilatildeo na ordem internacional O que de certa forma tem sido

assegurada pela crise econocircmica internacional instalada em 2008 propiciando

desde entatildeo um novo contexto no qual os paiacuteses em desenvolvimento

ganharam um protagonismo mais assertivo e participativo nos organismos e

foacuteruns internacionais

Preservando-se os interesses nacionais e a sustentaccedilatildeo do projeto de

desenvolvimento nacional ao mesmo tempo em que se ativa a sua

contribuiccedilatildeo na conduccedilatildeo da poliacutetica internacional e nas estrateacutegias de

98

inserccedilatildeo internacional os principais esforccedilos de inserccedilatildeo internacional

soberana do Brasil no cenaacuterio internacional focalizam segundo o IPEA 46 a

busca pelo reordenamento da ordem poliacutetica internacional Envidando-se

esforccedilos junto aos foros multilaterais de decisatildeo para que haja maiores

reflexotildees sobre as ldquoestruturas de poderrdquo e a busca por uma desconcentraccedilatildeo

relativa onde prevaleccedila o debate sobre a multipolaridade no sistema

internacional na expectativa de se alcanccedilar maior representatividade e

legitimidade na comunidade internacional [48]

Ademais desde os anos 90 temos em prevalecircncia o processo de

reforma da ONU cuja proposta eacute o fortalecimento da dimensatildeo interestatal das

instituiccedilotildees das Naccedilotildees Unidas enfatizando-se sua democratizaccedilatildeo e a

ampliaccedilatildeo de sua representatividade 50 Tal reflexatildeo sobre as ldquoestruturas de

poderrdquo pauta-se inclusive nos fraacutegeis alicerces resultantes da crise econocircmica

contemporacircnea demandando um novo olhar sobre a ordem econocircmica

internacional onde paiacuteses em desenvolvimento assim como o Brasil ganham

uma nova participaccedilatildeo na articulaccedilatildeo com as economias dos paiacuteses

desenvolvidos [49]

Portanto paiacuteses em desenvolvimento estatildeo se reposicionando no novo

contexto internacional Nesse sentido a anaacutelise do IPEA 46 (p19) conclui

ldquoa reforma na arquitetura financeira internacional e a reorganizaccedilatildeo da estrutura de poder das instituiccedilotildees multilaterais legitimando o papel crescente dos paiacuteses em desenvolvimento na gestatildeo da ordem financeira internacional deve ser uma luta brasileira por entender que a governanccedila atual aumenta a desigualdade traz retrocesso nos direitos sociais e reduz o raio de manobra dos paiacuteses em desenvolvimentordquo

48

Isso posto interessa ao Brasil que o ―peso dos paiacuteses em desenvolvimento no acircmbito do

Conselho de Seguranccedila das Naccedilotildees Unidas- CSNU seja equivalente agrave sua importacircncia na cena

internacional 46

(p19) E sendo assim esse objetivo refletiraacute certamente em uma accedilatildeo contiacutenua do

governo brasileiropela busca do seu assento permanente no CSNU

49 Resultado principalmente da articulaccedilatildeo do G20 grupo que congrega ministros de Economia

e presidentes de bancos centrais de 19 paiacuteses grandes economias desenvolvidas e emergentes aleacutem da

UE e se reuacutene todos os anos desde 1999 Eacute composto pelos oito paiacuteses do G8 (Alemanha Canadaacute

Estados Unidos Franccedila Reino Unido Itaacutelia Japatildeo e Ruacutessia) aleacutem UE da Aacutefrica do Sul Araacutebia Saudita

Argentina Austraacutelia Brasil China Coreacuteia do Sul Iacutendia Indoneacutesia Meacutexico e Turquia Fonte

httpwww1folhauolcombrfolhadinheiroult91u534294shtml Acesso em 15032012

99

Haacute entretanto um longo caminho a trilhar e muito mais o que fazer na

arena internacional Ao considerarmos o exposto pelo estudo do IPEA 46

destacando algumas das principais tendecircncias que desafiam a poliacutetica externa

brasileira utilizamos a delimitaccedilatildeo do recorte dado por esse Instituto para

abordarmos o miacutenimo necessaacuterio para se compreender o estado da arte da

ordem econocircmica e da poliacutetica internacionais Eacute um cenaacuterio que se apresenta

do contexto internacional e no qual inegavelmente o Brasil tem um papel a

desempenhar

Poreacutem estamos tratando do contexto global do tamanho do mundo

poliacutetico do mundo econocircmico e do social e a anaacutelise natildeo esgota a

contextualizaccedilatildeo necessaacuteria

No decorrer deste estudo incorporaremos a essa consolidaccedilatildeo o atual

posicionamento do Brasil nas relaccedilotildees internacionais em que a sauacutede eacute tema

relevante dentro dos novos horizontes voltados para os direitos humanos para

as perspectivas relacionadas agrave agenda Sul-Sul e no que cabe ao papel indutor

do Estado para o fortalecimento e a protagonizaccedilatildeo do Complexo Econocircmico

Industrial da Sauacutede

Com a expectativa de incorporar ao nosso estudo as abordagens que

resultam na relaccedilatildeo contemporacircnea da sauacutede com as relaccedilotildees internacionais

notadamente com a poliacutetica externa brasileira adotaremos nas anaacutelises a

seguir a premissa de que a inserccedilatildeo do Brasil no contexto internacional na

aacuterea da sauacutede ganhou maior protagonismo a partir das seguintes vertentes

(a) Relaccedilatildeo mais efetiva da sauacutede com as relaccedilotildees internacionais observadas

a partir da deacutecada de 90

(b) Protagonismo na agenda internacional da relaccedilatildeo Sul-Sul fundamentada na

cooperaccedilatildeo multilateral e nos laccedilos horizontais da qual emerge a agenda do

Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede a partir do seu caraacuteter estrateacutegico na

agenda do desenvolvimento na reduccedilatildeo das assimetrias e na questatildeo da

proacutepria soberania

Em consequecircncia a esses movimentos a importacircncia da inovaccedilatildeo

emerge no campo produtivo da sauacutede isto eacute no Complexo Econocircmico-

100

Industrial da Sauacutede construindo mecanismos e oportunidades para o

fortalecimento de uma agenda tecnoloacutegica hegemocircnica que previna e reduza

a vulnerabilidade estrutural e produtiva fruto da globalizaccedilatildeo assimeacutetrica de

poder e de conhecimento onde os ganhos satildeo compartilhados dentro e fora

das fronteiras nacionais

1 Sauacutede nas Relaccedilotildees Internacionais

Apesar do avanccedilo poacutes Guerra Fria o diaacutelogo entre sauacutede e relaccedilotildees

internacionais ganhou novos contornos somente a partir do final da primeira

deacutecada do seacuteculo XXI conforme explica Almeida 54

ldquoganhou novo impulso e adquiriu novos contornos

englobando novos temas e demandando mais do que

nunca novas abordagens para a apreensatildeo dessa

nova realidade A sauacutede global a governanccedila global

em sauacutede a diplomacia da sauacutede a sauacutede na poliacutetica

externa nacional a sauacutede e a seguranccedila nacional e

internacional satildeo exemplos de temas que passaram a

ocupar o centro das atenccedilotildees dos governos da

academia e de inuacutemeros outros atores ndash locais

regionais internacionais e globaisrdquo (p1)

No tocante ao conceito da sauacutede global este pode ser traduzido como

questotildees de sauacutede que ldquotranscendem fronteiras nacionais e governos e

demandam intervenccedilotildees nas forccedilas e fluxos globais que determinam a sauacutede

das pessoasrdquo 1 (p19) caracterizando-se pelo sentido da responsabilidade

coletiva pela sauacutede Requerendo ldquonovas formas de governanccedila em niacutevel

nacional e internacional as quais procuram incluir uma ampla gama de atoresrdquo1

(p 19) ultrapassando segundo esses uacuteltimos autores os usos ideoloacutegicos

anteriores da sauacutede internacional [50] e compartilhando suscetibilidades

experiecircncias e responsabilidades globais pela sauacutede

50

Ateacute a deacutecada de 90 utilizava-se o termo ―sauacutede internacional para os fenocircmenos ligados agrave

sauacutede em diversos paiacuteses com reflexos no niacutevel internacional Segundo Simotildees 2009 as agecircncias

internacionais tecircm utilizado o termo ―sauacutede global para eventos que afetam diversos paiacuteses e suas

populaccedilotildees ao mesmo tempo 55

A partir deste ponto do estudo buscaremos abordar ambas as

conceituaccedilotildees conforme as distintas nuances que se apresentarem no texto

101

Ademais dimensotildees globais e dimensotildees internacionais relacionados agrave

sauacutede complementam o conceito da ldquosauacutede globalrdquo Segundo diferenciam

Paulo Buss e Jose Roberto Ferreira em documento institucional interno da

Fiocruz de 2008 entendem-se como dimensotildees internacionais as relaccedilotildees

poliacuteticas e teacutecnicas entre paiacuteses e organizaccedilotildees internacionais e organismos

multilaterais E as dimensotildees globais podem ser compreendidas como as que

superam as fronteiras nacionais e referem-se a problemas tais como carecircncia

de recursos teacutecnicos deterioraccedilatildeo do meio ambiente e mudanccedilas climaacuteticas

globais pobreza extrema movimentos migratoacuterios ameaccedilas de pandemias

supranacionais

E aqui vale destacar o tamanho da responsabilidade global alcanccedilamos

a marca dos 7 bilhotildees de habitantes e por estimativa de Frias Filho 49 em

2050 o nosso universo estaraacute carregando a 9 bilhotildees de habitantes exercendo

forte impacto nas questotildees de sauacutede dentre todas as outras que se traduzem

em sobrevivecircncia humana

Natildeo eacute por acaso afirma Almeida 54 (p01) que se faz necessaacuteria a inter-

relaccedilatildeo da sauacutede com as relaccedilotildees internacionais o que ldquoeacute claramente

recomendada na Declaraccedilatildeo Ministerial de Oslo [51] - bdquoGlobal Health a pressing

foreign policy issue of hour timerdquo de 2007rdquo

Daiacute surge um novo olhar sobre a aacuterea da sauacutede que passa a pertencer a

um campo especiacutefico da diplomacia [52] a diplomacia da sauacutede 54 que se

estabelece a partir do campo de conhecimentos e praacuteticas aleacutem de conjunto

de recursos teacutecnicos e poliacuteticos oriundos dos setores governamentais de

relaccedilotildees exteriores sauacutede e correlatos para atuar sobre temas de sauacutede nos

51

A Declaraccedilatildeo de Oslo eacute um mecanismo voluntaacuterio assinado pelos titulares das pastas das

Relaccedilotildees Exteriores de 7 paiacuteses (Brasil Franccedila Noruega Indoneacutesia Senegal Aacutefrica do Sul e Tailacircndia)

em 20032007 em que se estabelece a sauacutede como prioridade nas agendas de poliacutetica externa dos

respectivos paiacuteses e reiterando o compromisso previsto na Declaraccedilatildeo de Doha (OMC) 2001 quanto agraves

flexibilidades no contexto do Acordo TRIPS sobre Propriedade intelectual e comeacutercio a fim de se

ultrapassar barreiras que limitam o acesso a medicamentos essenciais pelos paiacuteses em desenvolvimento

52 Diplomacia eacute a arte e a praacutetica da conduccedilatildeo das negociaccedilotildees sendo mais comumente

reconhecida como meio de conduzir as relaccedilotildees internacionais pelos diplomatas dos Ministeacuterios das

Relaccedilotildees Exteriores 01

102

planos multilaterais global e regionais assim como nas relaccedilotildees bilaterais

entre paiacuteses (Buss e Ferreira 2010)

Entretanto esse termo diplomacia em sauacutede ainda eacute pouco elaborado

e carece de referencial analiacutetico e conceitual sendo aos poucos construiacutedo 54

Poreacutem dada a contemporaneidade da discussatildeo - necessitando de uma

linha temporal maior para o estabelecimento dessa construccedilatildeo conceitual

como bem afirma Almeida 54 - consideraacute-lo-emos suficiente para este estudo o

olhar atribuiacutedo por Buss et Ferreira 55 quanto agrave diplomacia da sauacutede como

campo de conhecimentos e de praacutetica direcionado agraves negociaccedilotildees poliacuteticas e

teacutecnicas no cenaacuterio internacional com foco na aacuterea da sauacutede e seus

determinantes

Aleacutem da sauacutede puacuteblica e das relaccedilotildees internacionais o exerciacutecio da

diplomacia da sauacutede une temas da gestatildeo da legislaccedilatildeo e da economia

Relacionando-se principalmente agraves seguintes aacutereas ldquonegociaccedilatildeo para a

sauacutede puacuteblica entre fronteiras nos foros da sauacutede e de outras aacutereas afins

governanccedila da sauacutede global poliacutetica externa e sauacutede e desenvolvimento de

estrateacutegias de sauacutede nacionais e globaisrdquo 1 (p 20)

Vale ressaltar o desafio da governanccedila da sauacutede global que

ultrapassando a ldquogovernanccedila claacutessica da sauacutede internacionalrdquo 1 em que os

governos seriam os responsaacuteveis pela sauacutede da sua populaccedilatildeo agindo em

cooperaccedilatildeo com outros paiacuteses e protegendo sua populaccedilatildeo dos riscos agrave

sauacutede passa a contar com cada vez maiores riscos interfronteiriccedilos aleacutem de

maior ldquoquantidade e niacutevel de influecircncia de agentes natildeo vinculados ao Estado

na governanccedila da Sauacutederdquo (p21) Sob essa perspectiva mais restritiva no que

concerne agrave centralizaccedilatildeo no Estado os autores justificam a nova percepccedilatildeo

ampliada

ldquoa governanccedila da sauacutede global eacute portanto a criaccedilatildeo conformaccedilatildeo orientaccedilatildeo fortalecimento e uso consciente das instituiccedilotildees internacionais e transnacionais e dos seus regimes de princiacutepios normas regras e procedimentos de tomadas de decisotildees para fins de organizar a promoccedilatildeo e a proteccedilatildeo da sauacutede em escala globalrdquo (p21)

103

E como afirma Berlinguer 45 (p 37) ldquonatildeo pode haver sauacutede global sem

governo globalrdquo

Sob esse contexto a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede ndash OMS agecircncia

internacional especializada em assuntos sanitaacuterios criada em 1948 dentro do

sistema das Naccedilotildees Unidas se destaca como relevante para a sauacutede no

acircmbito internacional no poacutes-Guerra Segundo Santarosa 57 a OMS eacute uma

organizaccedilatildeo intergovernamental de caraacuteter universal dotada de autonomia

financeira e administrativa possui recursos orccedilamentaacuterios proacuteprios aportados

pelos Estados-membros elege seus Diretores-Gerais e atua com

independecircncia E eacute composta pela Assembleacuteia Mundial da Sauacutede (AMS) ndash

instacircncia deliberativa maacutexima pelo Conselho Executivo (CE) ndash exerce a funccedilatildeo

de oacutergatildeo diretivo e de acompanhamento da implementaccedilatildeo das decisotildees da

AMS pelo Secretariado ndash oacutergatildeo executivo da OMS que implementa poliacuteticas e

programas da Organizaccedilatildeo

A OMS natildeo tem subordinaccedilatildeo formal em relaccedilatildeo agrave ONU afirma o autor

Eacute uma agecircncia especializada autocircnoma ligada agrave ONU por acordo

internacional e que busca atuar em consonacircncia com os estabelecimentos das

Naccedilotildees Unidas Tem por finalidade ldquoalcanccedilar para todos os povos o mais alto

grau possiacutevel de sauacutederdquo sendo esta definida conforme artigo 1ordm da

Constituiccedilatildeo da OMS ldquoum estado de completo bem-estar fiacutesico mental e

social e natildeo apenas a ausecircncia de sintomas ou doenccedilasrdquo Nesse sentido cabe

agrave OMS dentre outras atividades

(a) formular diretrizes e recomendaccedilotildees e

(b) divulgar e estabelecer boas-praacuteticas e prestar assistecircncia teacutecnica aos

Estados-membros nas mateacuterias de sua competecircncia ldquocomo prevenccedilatildeo e

controle de enfermidades poliacuteticas de sauacutede cuidados meacutedicos pesquisa e

usos de medicamentos classificaccedilatildeo de doenccedilas formaccedilatildeo e treinamento de

profissionais da sauacutede etcrdquo

O texto de Santarosa 57 aponta dois aspectos importantes que

influenciam a conformaccedilatildeo da agenda da OMS criando desafios que devem

ser suplantados

104

1 Modus Operandi do tipo circular (ver figura 3) que pode representar um

obstaacuteculo na inserccedilatildeo de temas imediatistas na OMS ldquodaiacute a importacircncia

de uma adequada e oportuna preparaccedilatildeo das propostas pelas

delegaccedilotildees de sua inserccedilatildeo em pauta no momento correto e da

construccedilatildeo de apoios que permitam sua aprovaccedilatildeordquo

Figura 3 Modus Operandi da OMS

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados da OMS (wwwwhoint) Acesso em 23012012

2 A perda do perfil teacutecnico da agenda da OMS passando a tratar de

temas que repercutem aleacutem do campo sanitaacuterio Sob essa nova

abordagem o autor afirma que se faz ldquonecessaacuteria uma dosagem entre

os componentes teacutecnico e poliacuteticordquo como por exemplos os casos da

OMPI (propriedade intelectual) da OMC (tabaco e medicamentos) da

Convenccedilatildeo sobre Armas Bioloacutegicas (epidemias com agentes bioloacutegicos)

etc O que se desprende do sistema multilateral contemporacircneo ldquoa

existecircncia de uma interpenetraccedilatildeo horizontal das agendas das

organizaccedilotildees internacionaisrdquo

105

A atuaccedilatildeo em sauacutede em niacutevel internacional obviamente aleacutem dos

especialistas sanitaacuterios natildeo prescinde da aacuterea diplomaacutetica e das relaccedilotildees

internacionais Correlaccedilatildeo essa mais evidente no final do seacuteculo XX defendida

pela OPAS em 1993 Por outro lado a diplomacia e a poliacutetica externa natildeo mais

se resumem aos diplomatas 1 Logo no tocante agrave sauacutede esse cenaacuterio se

repete Haacute a participaccedilatildeo de uma grande gama de agentes tanto do Estado

como fora do seu acircmbito Como exemplo da importacircncia dessa correlaccedilatildeo

atualmente o Ministro da Sauacutede como eacute o caso do Brasil tem responsabilidade

dupla ldquopromover a sauacutede do seu Paiacutes e fomentar os interesses em sauacutede da

comunidade globalrdquo (p22)

Isso posto mesmo considerando os interesses muitas vezes

contraditoacuterios entre os diversos atores envolvidos a fim de se dar conta das

lacunas provocadas pelas condiccedilotildees de vida e de sauacutede adversas pelas

deficiecircncias relacionadas aos determinantes sociais e econocircmicos e pela

insuficiente capacidade de gestatildeo por parte de alguns paiacuteses satildeo necessaacuterias

accedilotildees e iniciativas com condiccedilotildees de suporte estrateacutegico por parte das Naccedilotildees

Unidas das agecircncias de cooperaccedilatildeo dos paiacuteses mais desenvolvidos (ou ateacute

mesmo em desenvolvimento com condiccedilotildees superiores agravequeles que natildeo a

detecircm) e tambeacutem da filantropia internacional 56 Accedilotildees essas que possam dar

encaminhamentos a essas questotildees preocupantes priorizando-se

principalmente a sauacutede na agenda internacional na agenda de cooperaccedilatildeo

internacional e nos diversos programas de ajuda para o desenvolvimento

Ao que soma ao panorama da sauacutede global no sentido da ampliaccedilatildeo da

atuaccedilatildeo de outros atores o que Kickbusch et Berger 1 destacam em seu

estudo que o crescimento de parcerias puacuteblico-privados de doadores fundos

e demais atores acabam diversificando os envolvimentos no campo da sauacutede

global Isto eacute a competecircncia natildeo se esgota na OMS e correlacionadas

Expandem-se atuaccedilotildees alianccedilas fundos e foacuteruns globais junto agrave OMC ao

Banco Mundial agraves organizaccedilotildees regionais e demais organizaccedilotildees aleacutem das

organizaccedilotildees natildeo governamentais do setor privado do campo acadecircmico da

miacutedia dentre outros atores participantes no universo global

106

Aleacutem de caber agrave Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede a OPAS e aos outros

oacutergatildeos programas e agecircncias especializadas da ONU a formulaccedilatildeo de

diretrizes e orientaccedilotildees quanto aos compromissos pactuados entre os Estados-

membros haacute cada vez mais essencialidade nas accedilotildees das agecircncias e das

organizaccedilotildees bilaterais de assistecircncia ao desenvolvimento dos bancos

multilaterais de desenvolvimento (Banco Mundial Banco Interamericano de

Desenvolvimento) das fundaccedilotildees filantroacutepicas e das organizaccedilotildees natildeo

governamentais e das alianccedilas puacuteblico-privadas

Dentre os exemplos dessas alianccedilas envolvendo diversos atores

destacam-se (a) Fundo Mundial de Luta contra AIDS a Tuberculose e a

Malaacuteria estabelecida em 2002 e integrada por representantes de doadores

paiacuteses receptores empresas ONG`s organizaccedilotildees internacionais fundaccedilotildees

e das comunidades afetadas tornando-se importante fonte financeira de ajuda

agrave sauacutede (b) Alianccedila Mundial para Vacinas e Imunizaccedilatildeo com forte atuaccedilatildeo

mundial (c) CDC ndash Centros para Controle e Prevenccedilatildeo de Doenccedilas (d) e do

DNDI ndash Iniciativa Medicamentos para Doenccedilas Negligenciadas 58

Aleacutem dos fundos de paiacuteses doadores tais como a Ajuda Oficial ao

Desenvolvimento (AOD) que engloba os empreacutestimos e doaccedilotildees dos paiacuteses

desenvolvidos destinados ao bem-estar e ao desenvolvimento econocircmico dos

paiacuteses em desenvolvimento (que destina agrave sauacutede ndash assistecircncia primaacuteria

prevenccedilatildeo e controle de doenccedilas planejamento familiar gestatildeo do setor e

infraestrutura ndash parte do seu fundo) e de outros importantes doadores como o

Center Carter e notadamente a Fundaccedilatildeo Bill e Melinda Gates

Ademais a sauacutede cada vez mais ganha espaccedilo nas cuacutepulas do G8

G20 nas Assembleacuteias Gerais da ONU das estrateacutegias de reduccedilatildeo de pobreza

e determinantes sociais A sauacutede passa portanto de uma questatildeo de poliacutetica

domeacutestica para uma questatildeo de poliacutetica externa Haacute de se considerar apesar

da ampliaccedilatildeo da atuaccedilatildeo de outros atores o caraacuteter estrateacutegico da sauacutede haja

visto tratar-se de ldquouma questatildeo importante para a busca dos paiacuteses pelos seus

interesses e valores nas relaccedilotildees internacionaisrdquo 59 (p53) dadas as

107

consideraccedilotildees do compromisso da sauacutede global como poliacutetica externa

(Declaraccedilatildeo de Oslo [53] 2007)

Isso posto destacaremos alguns dos principais instrumentos legais que

no plano internacional mais ampliado fundamentaram a inserccedilatildeo da sauacutede no

contexto internacional 60 (p 123-126)

1 Carta das Naccedilotildees Unidas (1945)

a O preacircmbulo estabelece o compromisso dos fundadores da

organizaccedilatildeo isto eacute ldquopromover o progresso social e a melhoria

das condiccedilotildees de vida dos povosrdquo empregando um

ldquomecanismo internacional para promover o progresso

econocircmico e socialrdquo onde natildeo seratildeo medidos esforccedilos para a

busca desses objetivos

b Artigo Primeiro ndash 3ordm paraacutegrafo reconhece as dificuldades

existentes poreacutem tem como objetivo ldquoconseguir uma

cooperaccedilatildeo internacional para resolver os problemas

internacionais de caraacuteter econocircmico social cultural ou

humanitaacuteriordquo

c Capiacutetulo IV artigo 13 aliacutenea b e artigo 55 e Capiacutetulo IX artigo

55 aliacutenea b ndash atribui agrave Assembleacuteia Geral estudos e

recomendaccedilotildees para promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional

nas aacutereas econocircmica social cultural educacional e sanitaacuteria

reforccedilando a necessidade do envolvimento da comunidade

internacional com a sauacutede e determinando o compromisso das

Naccedilotildees Unidas na busca de ldquosoluccedilotildees para os problemas

internacionais econocircmicos sociais sanitaacuterios e conexos com o

fim de criar condiccedilotildees de estabilidade e bem-estar necessaacuterias

agraves relaccedilotildees paciacuteficas e amistosas entre as naccedilotildeesrdquo

d Artigo 62 ndash Paraacutegrafo 1 ndash atribui competecircncia ao Conselho

Econocircmico e Social para tratar de assuntos sanitaacuterios e para

criar comissotildees necessaacuterias para o desempenho das funccedilotildees

53

No decorrer desta anaacutelise seratildeo apresentados mais detalhes acerca dessa declaraccedilatildeo

108

(artigo 68)

2 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (Resoluccedilatildeo 217 A (III) da

Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas 1948 artigo 25 ndash prevendo a

obrigaccedilatildeo dos paiacuteses em zelarem pela sauacutede puacuteblica garantindo a

dignidade dos seres humanos e correlacionando a sauacutede aos demais

fatores sociais ldquotodo ser humano tem direito a um padratildeo de vida

adequado para assegurar a sauacutede e o bem-estar de si mesmo e de sua

famiacutelia incluindo alimentaccedilatildeo vestuaacuterio moradia assistecircncia meacutedica e

serviccedilos sociais apropriadosrdquo

3 Pacto Internacional sobre Direitos Econocircmicos Sociais e Culturais

elaborado pela Comissatildeo de Direitos Humanos das Naccedilotildees Unidas e

ratificado em 1976 ndash destinado a regular e controlar a aplicaccedilatildeo dos

direitos reconhecidos internacionalmente Direitos esses que o seu artigo

12 estabelece ldquoassegurar a diminuiccedilatildeo da mortalidade infantil e o

desenvolvimento sadio das crianccedilas garantir a prevenccedilatildeo e o tratamento

das doenccedilas epidecircmicas endecircmicas e outras criar condiccedilotildees que

assegurem a todos assistecircncia e serviccedilos meacutedicos em caso de

enfermidades e melhorar todos os aspectos relacionados com a higiene

do trabalho e do meio ambienterdquo

4 Conferecircncia de Alma Ata ndash representa um diferencial na conduccedilatildeo do

tema ldquosauacutederdquo na agenda internacional A Assembleacuteia Geral da ONU

(Resoluccedilatildeo 3458) referendou em 1979 as recomendaccedilotildees da

Conferecircncia de Alma Ata sobre Atenccedilatildeo Primaacuteria ocorrida em 1978

resultando na ldquoEstrateacutegia de Sauacutede Para Todos no ano 2000rdquo O

diferencial se fundamenta na consideraccedilatildeo da sauacutede como parte

integrante do processo de desenvolvimento destacando-se a importacircncia

da cooperaccedilatildeo internacional como instrumento para a realizaccedilatildeo de

objetivos internacionalmente pactuados

E mais recentemente dentre outros destacamos os seguintes

5 Conferecircncia de Otawa ndash Primeira Conferecircncia Internacional sobre

109

Promoccedilatildeo da Sauacutede - 1986 Decorrente da expectativa mundial pela

eficiecircncia na sauacutede puacuteblica defende a promoccedilatildeo da sauacutede como

fundamental para a qualidade de vida cuja responsabilidade natildeo eacute

exclusiva da sauacutede na busca do bem estar global Dentre os criteacuterios

pactuados na Carta de Intenccedilatildeo destaca-se a busca pelo

reconhecimento da importacircncia da sauacutede nas aacutereas poliacuteticas sociais

econocircmicas ambientais culturais bioloacutegicos e comportamentais

6 Declaraccedilatildeo do Milecircnio [54] de 2000 ndash Aprovado por 147 Chefes de Estado

e de Governo (aleacutem de representantes dos paiacuteses membros da ONU)

representa o comprometimento dos signataacuterios em estabelecer meios

para garantir um mundo com maior equidade social e reduzir a pobreza

extrema Estipula oito grandes objetivos relacionados ao

desenvolvimento para o milecircnio e o tema da sauacutede estaacute entre os

grandes objetivos dessa declaraccedilatildeo diminuir drasticamente a

mortalidade infantil e materna combater a malaacuteria e HIVAIDS aleacutem de

possibilitar o acesso agrave aacutegua potaacutevel a todos diminuir pela metade o

nuacutemero de miseraacuteveis no mundo e acabar com a fome garantir educaccedilatildeo

fundamental a todas as crianccedilas no mundo lutar contra a discriminaccedilatildeo

das mulheres e promover parceria global de desenvolvimento

7 Declaraccedilatildeo de Doha sobre Sauacutede Puacuteblica adotada no acircmbito da OMC ndash

ldquoDeclaraccedilatildeo sobre o Acordo TRIPS e Sauacutede Puacuteblicardquo 2001 Conferecircncia

ministerial que reconhece a gravidade dos problemas de sauacutede puacuteblica

que afligem paiacuteses em desenvolvimento e paiacuteses menos desenvolvidos

Reconhece no Acordo TRIPS (Aspectos dos Direitos de Propriedade

Intelectual Relacionados com o Comeacutercio sobre sauacutede puacuteblica em geral)

a necessidade da proteccedilatildeo agrave propriedade intelectual e a sua implicaccedilatildeo

para o desenvolvimento de novos medicamentos poreacutem tambeacutem

acordam no sentido de que o TRIPS natildeo poderaacute impedir que os paiacuteses

membros possam adotar medidas para proteger a sauacutede puacuteblica

refletindo portanto sobre as implicaccedilotildees do Acordo da OMC sobre a

sauacutede puacuteblica em geral

54

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Declaraccedilatildeo do Milecircnio New York setembro de

2000

110

8 Declaraccedilatildeo de Oslo ndash Sauacutede Global um tema urgente da Poliacutetica Externa

contemporacircnea assinada em 2007 pelos Ministeacuterios das Relaccedilotildees

Exteriores do Brasil da Franccedila da Indoneacutesia da Noruega do Senegal

da Aacutefrica do Sul e da Tailacircndia reforccedila a questatildeo da sauacutede como

elemento baacutesico em estrateacutegias de combate agrave pobreza e de incentivo ao

desenvolvimento social e estimulando o debate sobre os problemas de

sauacutede nas discussotildees relacionadas agrave poliacutetica externa

9 Resoluccedilatildeo 6595 das Naccedilotildees Unidas sobre Sauacutede Global e Poliacutetica

Externa ndash 2011 ocorrida na 61ordf Sessatildeo da Assembleacuteia Geral

Reconhece a necessidade de esforccedilos integrados e de um ambiente de

poliacutetica global de apoio agrave sauacutede global para dar conta dos desafios da

sauacutede mundial e nesse sentido estimula aos Estados-Membros

ao sistema das Naccedilotildees Unidas agraves academias agraves instituiccedilotildees e agraves redes

a estreitar a relaccedilatildeo entre poliacutetica externa e a sauacutede global fortalecendo

inclusive a formaccedilatildeo de diplomatas e gestores de sauacutede em particular

dos paiacuteses em desenvolvimento Objetiva tambeacutem a construccedilatildeo de um

relatoacuterio que reflita sobre maneiras de melhorar a coordenaccedilatildeo a

coerecircncia e a eficaacutecia da governanccedila em sauacutede global discuta o papel

do Estado e de outros atores envolvidos nesse processo e apresente

recomendaccedilotildees para fortalecer as poliacuteticas sobre os determinantes

sociais da sauacutede reafirmando o papel central das Naccedilotildees Unidas nesse

processo

10 Conferecircncia de Monterrey de 2011 ndash Consenso de Monterrey para o

Financiamento do Desenvolvimento - cujo objetivo eacute superar os desafios

de financiamento de desenvolvimento que visem agrave erradicaccedilatildeo da

pobreza e a melhoria das condiccedilotildees sociais e dos padrotildees de vidas dos

seres humanos Deu-se em um contexto econocircmico de desaceleraccedilatildeo da

economia global e de reduccedilatildeo das taxas de crescimento econocircmico

11 Conferecircncia Mundial de Determinantes Sociais da Sauacutede aprovada pelo

Conselho Executivo da OMS 130ordf Sessatildeo 2012 ndash Resoluccedilatildeo EB130

R11 submetida agrave 65ordf Assembleacuteia Mundial de Sauacutede realizada em maio

de 2012 A Resoluccedilatildeo reiterava os principais toacutepicos da Declaraccedilatildeo

Poliacutetica do Rio que foi pactuada nessa Conferecircncia e visava agrave

111

distribuiccedilatildeo equitativa dos recursos e a luta contra as condiccedilotildees que

afetam a sauacutede

Aleacutem da sequecircncia de conferecircncias mundiais promovidos pela

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre assuntos relacionados agrave aacuterea social o

tema tambeacutem eacute valorizado pelo ldquocrescimento do interesse dos organismos

internacionais e dos bancos multilaterais de desenvolvimentordquo pela ldquoinclusatildeo

de toacutepicos de natureza social em negociaccedilotildees de mecanismos regionais e sub-

regionais de integraccedilatildeordquo e pela ldquoampliaccedilatildeo da oferta de apoio e programas e

projetos sociais pelas agecircncias governamentais bilaterais de cooperaccedilatildeordquo 60

Portanto os marcos histoacutericos mostram que a sauacutede tem espaccedilo privilegiado

na agenda internacional estando fortemente vinculados aos temas dos direitos

humanos aleacutem da estreita vinculaccedilatildeo com o desenvolvimento econocircmico

Ao que afirma Simotildees 55 que a caracteriacutestica intersetorial da sauacutede tem

amplificado e ramificado influenciando e afetando diversas aacutereas de atividades

ndash econocircmico-comercial social e poliacutetica A representatividade de sua

importacircncia eacute medida inclusive por sua presenccedila em todas as conferecircncias

sociais ocorridas na deacutecada de 90 por exemplo Mais uma forte indicaccedilatildeo do

protagonismo do tema eacute o fato de que dos oito Objetivos do Milecircnio cinco

estatildeo relacionados agrave sauacutede seja de forma direta ou indireta [55]

Proveniente da Conferecircncia Mundial de Determinantes Sociais da

Sauacutede a Resoluccedilatildeo EB130R11 com os resultados dessa Conferecircncia eacute de

incontestaacutevel valor para a sauacutede e para os temas sociais que estabelecem

transversalidade com a sauacutede Essa resoluccedilatildeo aponta como condiccedilotildees sine

qua non para o estabelecimento da condiccedilatildeo humana (a) o fortalecimento da

cooperaccedilatildeo internacional para promoccedilatildeo da equidade em sauacutede (b) a

transferecircncia de conhecimentos especializados tecnologias e conhecimentos

cientiacuteficos e (c) a facilitaccedilatildeo do acesso a recursos financeiros no sentido de

que os recursos provenientes dos paiacuteses em desenvolvimento (meta de 07

55

Isto eacute reduzir a mortalidade infantil melhorar a sauacutede das gestantes e combater a AIDS

malaacuteria e outras doenccedilas satildeo objetivos diretos e os indiretos acabar com a fome e a pobreza educaccedilatildeo

baacutesica de qualidade para todos qualidade de vida e respeito ao meio ambiente busca pelo

desenvolvimento e sustentabilidade ambiental que satildeo alguns dos determinantes sociais da sauacutede

112

do PIB) como ajuda oficial para o desenvolvimento sejam destinados ao

cumprimento dos objetivos e metas de desenvolvimento 61

O documento destaca em seu Preacircmbulo a necessidade de se proteger

a sauacutede das pessoas contra as consequecircncias nocivas das crises econocircmicas

mundiais em um esforccedilo de manter o atual posicionamento do conceito de

desenvolvimento aliado agraves condiccedilotildees sociais do indiviacuteduo

A erradicaccedilatildeo da fome e da pobreza a garantia de acesso a

medicamentos seguros e eficazes com custo acessiacutevel a garantia da

seguranccedila alimentar e nutricional o acesso agrave aacutegua potaacutevel e saneamento o

acesso ao emprego e trabalho decentes e agrave proteccedilatildeo social a proteccedilatildeo ao

meio ambiente e a busca por garantir o crescimento econocircmico equitativo por

meio de accedilotildees que ajam sobre os determinantes sociais da sauacutede satildeo desafios

a serem ultrapassados por todos os paiacuteses

O que vem a complementar o estipulado pelas Metas do Milecircnio cujo

objetivo seria combater a pobreza mundial datadas de 2000 as quais

especialistas defendem a sua reformulaccedilatildeo 62 As Metas da ONU natildeo seriam

mais apropriadas em funccedilatildeo da sua simplicidade em oposiccedilatildeo agrave complexidade

dinacircmica do mundo contemporacircneo Apesar de alguns avanccedilos haacute muito a ser

ultrapassado e alcanccedilado Defendem-se nesse sentido novas incorporaccedilotildees

tais como as aacutereas da ecologia e do clima regras para o mercado financeiro

mundial e o combate a paraiacutesos fiscais e reconsideraccedilotildees quanto agrave

heterogeneidade de cada naccedilatildeo Segundo argumenta a autora a reformulaccedilatildeo

natildeo garantiraacute o alcance das metas poreacutem buscaraacute alcanccedilar o desenvolvimento

que leve em consideraccedilatildeo primeiramente a condiccedilatildeo e o comportamento do

ser humano

Alguns desafios podem ser destacados na abordagem da sauacutede com a

diplomacia e as relaccedilotildees internacionais Aleacutem da necessaacuteria dosagem entre os

componentes teacutecnicos e poliacuteticos relacionados aos diversos atores envolvidos

na relaccedilatildeo entre a sauacutede e as relaccedilotildees internacionais vale ressaltar tambeacutem a

transversalidade das agendas relacionadas agrave sauacutede tanto pela interface

temaacutetica quando agrave inter-relaccedilatildeo de governanccedila entre os diversos organismos

uma vez que haacute participaccedilatildeo concomitante de representantes em oacutergatildeos

113

decisoacuterios entre eles Conhecer o funcionamento e as complexas inter-relaccedilotildees

entre as agecircncias e os organismos internacionais sanitaacuterios eacute fundamental

Tambeacutem cabe apontar neste estudo a perda evidente de legitimidade

que impera junto agrave ONU e por consequecircncia junto agraves suas organizaccedilotildees

Como destacado na reportagem do Le Monde Diplomatiquendash ONU como se

desfazer dela de 06022012 essa organizaccedilatildeo enfrenta uma ldquodivisatildeo de

tarefas que se desenha em escala mundialrdquo Questotildees poliacuteticas de grande

importacircncia estatildeo sendo referendadas por grupos de potecircncias (exemplo G-8

G-20) como instacircncias de decisatildeo de fato sem no entanto serem No

tocante agrave sauacutede tem sido abordada a necessidade de a OMS atualizar o seu

compromisso puacuteblico primeiramente dando ordem ldquoao caleidoscoacutepio de

organizaccedilotildees programas e agecircnciasrdquo que se reproduz nas relaccedilotildees

internacionais em sauacutede afim de que natildeo haja contradiccedilotildees nos

encaminhamentos e normas relacionados aos consensos estipulados para a

aacuterea da sauacutede Afinal afirma a jornalista Anne-Ceacutecile Robert na reportagem do

Le Monde ldquoSe a supremacia da ONU no tabuleiro internacional parece

desgastada eacute tambeacutem porque seus textos fundadores permanecem

impregnados de uma filosofia humanista pouco disseminada na ordem

econocircmica globalizadardquo

Conforme defende Berlinger 45 (p23) ldquoa luta contra as desigualdades eacute

um poderoso estiacutemulordquo para a sauacutede global como finalidade social desejaacutevel

Poreacutem afirma que ldquono plano praacutetico tem o mesmo valor senatildeo maior a

consciecircncia de que a sauacutede eacute um bem indivisiacutevel e de que o gecircnero humano

estaacute vinculado por um destino comumrdquo Essa consciecircncia global ainda estaacute em

formaccedilatildeo Verdade mais evidente hoje do que haacute dez anos E indubitavelmente

muito mais estrategicamente priorizado do que houvera sido haacute vinte anos

quando as poliacuteticas neoliberais decorrentes do Consenso de Washington

imperavam nos interesses internacionais

Entretanto esse atraso e essa passividade generalizada e histoacuterica

poderatildeo implicar grandes custos agrave humanidade 45 (p23) Passividade essa

compartilhada pelos ldquosilecircncios interessados de quem deteacutem o saber o

oportunismo de quem deteacutem o poderrdquo Nesse sentido o autor critica a

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede e a cumplicidade da poliacutetica uma vez que a

114

OMS deveria ser o local privilegiado cujo interesse resguardasse o interesse

coletivo o interesse global a sauacutede como um bem uacutenico indivisiacutevel siacutembolo

predominante dos valores humanos fundamentando a sauacutede como finalidade

primordial do crescimento econocircmico Ainda segundo o autor 45 (p26) a

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede ldquopor seus defeitos e pelo desinteresse dos

governos perdeu a funccedilatildeo de guia nas poliacuteticas mundiais da sauacutederdquo

interpelada inclusive pela difusatildeo de novas fontes de poder e de influecircncia dos

atores que emergiram nas uacuteltimas deacutecadas (fontes de fomento e organizaccedilotildees

natildeo governamentais dentre outros) Situaccedilatildeo essa que impotildee a necessaacuteria

revisatildeo dos valores macros da Organizaccedilatildeo legitimando-a de fato para a

missatildeo que lhe impera

Haacute de se destacar tambeacutem um oacutebice a ser ultrapassado o tempo

diplomaacutetico nas relaccedilotildees internacionais Certamente eacute um fator que necessita

ser observado e corrigido Os temas sociais e notadamente a sauacutede

requerem celeridade na conduccedilatildeo das negociaccedilotildees internacionais dada a

essencialidade que esse tema traduz para o ser humano Do estudo de

Rubarth 60 podemos apontar como exemplo o absurdo do prazo e do tempo da

poliacutetica internacional na conduccedilatildeo de uma proposta a Comissatildeo de Direitos

Humanos das Naccedilotildees Unidas em meados do seacuteculo XX foi incumbida de

preparar um instrumento legal que regulasse e controlasse a aplicaccedilatildeo dos

direitos que foram reconhecidos internacionalmente Nesse sentido apoacutes

exaustivas negociaccedilotildees a Assembleacuteia Geral oficializou em 1951 a solicitaccedilatildeo

de dois pactos um para os Direitos Civis e Poliacuteticos e outro sobre Direitos

Econocircmicos Sociais e Culturais A aprovaccedilatildeo deles entretanto ocorreu

somente em 1966 E as ratificaccedilotildees (necessaacuterias para que entrassem em

vigor) tatildeo somente em 1976 Significa afirmar que da solicitaccedilatildeo inicial jaacute

pactuada ateacute a ratificaccedilatildeo do documento elaborado tivemos ldquoo curto prazordquo de

um quarto de seacuteculo Obviamente estamos em um contexto histoacuterico mais

acelerado onde conduccedilotildees ciberneacuteticas agilizam o tracircnsito burocraacutetico Poreacutem

haacute muito que se priorizar negociaccedilotildees preacutevias coalizotildees consensos

deliberaccedilotildees aprovaccedilotildees e implantaccedilotildees de poliacuteticas e medidas para as

condiccedilotildees de sauacutede Negociaccedilotildees econocircmicas comerciais culturais e outras

podem ateacute em alguma medida aguentar essa espera A sauacutede humana natildeo

115

Ademais alguns dos desafios importantes para o tratamento dos temas

da sauacutede nas relaccedilotildees internacionais satildeo ldquoo avanccedilo das doenccedilas e a crescente

intersetorialidade da sauacutederdquo 55 (p 14) E esses temas em um futuro cada vez

mais presente exigiratildeo cada vez mais um grande esforccedilo de sintonia entre o

corpo diplomaacutetico e os demais atores intrinsecamente relacionados sejam eles

externos ou nacionais para equilibrar as necessidades de sauacutede puacuteblica com

os interesses econocircmicos sociais e poliacuteticos nas negociaccedilotildees internacionais

O Brasil vem se projetando com maior evidecircncia na arena internacional

a partir do final da deacutecada de 90 e da entrada no seacuteculo XXI Reflexo do novo

status quo do Brasil no acircmbito do sistema internacional 63 Segundo os autores

ldquoestaacute em curso um amplo e crescente processo de reconhecimento

internacional do Paiacutes como uma economia emergente com elevada capacidade

interna em diversos setoresrdquo (p39) sendo portanto ldquoum ator-chave da

cooperaccedilatildeo internacionalrdquo Resultado de dois fatores principais a prolongada

estabilidade poliacutetico-econocircmica nacional e o acuacutemulo de experiecircncias

nacionais em programas sociais inovadores de grande repercussatildeo em todo o

mundo 63 (p 39)

Como exemplos da atuaccedilatildeo brasileira citamos a recente lideranccedila que o

Brasil vem exercendo na conduccedilatildeo do G20 notadamente nas questotildees

relacionadas agrave grave crise econocircmica participaccedilotildees nos encontros do G8

efetiva e decisiva participaccedilatildeo do Brasil na criaccedilatildeo da Uniatildeo das Naccedilotildees do Sul

ndash Unasul formalizada em 2008 e crescente participaccedilatildeo em organismos

multilaterais (CPLP UNICEF OMS OPAS Mercosul OTCA por exemplo)

E essa atuaccedilatildeo do Brasil tambeacutem se projeta na aacuterea da sauacutede como um

dos temas prioritaacuterios da agenda social na poliacutetica externa e nos assuntos

globais entre os quais comeacutercio e seguranccedila Apesar de pouco reconhecida no

Brasil a aacuterea de cooperaccedilatildeo internacional em sauacutede vem se tornando mais

ativa nas uacuteltimas deacutecadas 64

O que tambeacutem pode ser observado no fortalecimento dado aos temas

sociais na pauta de trabalho do Itamaraty por conta da necessidade de superar

a reduzida importacircncia atribuiacuteda a esses assuntos pela Chancelaria 60

Outra indicaccedilatildeo da importacircncia dada ao tema da sauacutede no contexto das

116

relaccedilotildees internacionais eacute apresentada por Jouval [56] quando conclui acerca da

potencialidade e da direccedilatildeo dada agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica isto eacute ldquoo

desenvolvimento da agenda poliacutetica com base na agenda teacutecnicardquo [57]

A correlaccedilatildeo da sauacutede e do Ministeacuterio da Sauacutede com as accedilotildees de

poliacutetica externa do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores do Brasil estatildeo previstas

nas prioridades e diretrizes especiacuteficas da Presidecircncia da Repuacuteblica e do

Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores Aleacutem disso essa correlaccedilatildeo tem como

base legal as referecircncias nacionais e internacionais que estreitam os laccedilos da

sauacutede com a poliacutetica externa A saber (a) Art 4 da Constituiccedilatildeo de 1988 - a

cooperaccedilatildeo entre os povos como princiacutepio constitucional - Paraacutegrafo uacutenico ldquoA

Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social

e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma

comunidade latino-americana de naccedilotildeesrdquo (b) Art 196 ldquoa sauacutede eacute direito de

todos e dever do Estadordquo (c) Em 2001 Declaraccedilatildeo de Doha sobre Sauacutede

Puacuteblica e Acordo TRIPS (OMC) (d) Em 2007 Declaraccedilatildeo Ministerial de Oslo

Sauacutede Global um tema urgente da poliacutetica externa contemporacircnea (f) aleacutem de

diversos e distintos documentos e negociaccedilotildees internacionais [58]

A orientaccedilatildeo da interaccedilatildeo da sauacutede com a poliacutetica externa tambeacutem eacute

observada na Resoluccedilatildeo CE 142R14 ndash Washington DC EUA 23-27 de

junho de 2008 aprovada durante a 142ordf Sessatildeo do Comitecirc Executivo da

OPASOMS

Em que pese o Brasil mais ativo no cenaacuterio internacional tambeacutem vem

adotando um comportamento de maior independecircncia e autonomia em foacuteruns

internacionais Como por exemplo as discussotildees sobre patentes de

medicamentos ocorridas na OMC e a forte oposiccedilatildeo brasileira junto agrave

56

Jouval H Construindo pontes entre sauacutede puacuteblica e relaccedilotildees internacionais In Ciclo de

Debates sobre Bioeacutetica Diplomacia e Sauacutede Puacuteblica Brasiacutelia Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacuteticas e

Diplomacia em Sauacutede ndash NETHIS 2011 Disponiacutevel em wwwbioeticaediplomaciaorg Acesso em

27012012 57

Em funccedilatildeo da aproximaccedilatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede com o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores

verificam-se demandas feitas ao Ministeacuterio da Sauacutede para participar em foros internacionais da

harmonizaccedilatildeo legislativa internacionais da certificaccedilatildeo de programas nacionais de iniciativas de

cooperaccedilatildeo internacional da promoccedilatildeo de ajuda humanitaacuteria em organismos internacionais etc 58

Barbosa Eduardo 2009 Apresentaccedilatildeo no Ciclo de Debates ndash 1 Ciclo Integraccedilatildeo Regional e

Sauacutede AISA-Ministeacuterio da Sauacutede Disponiacutevel em

httpportalsaudegovbrportalarquivospdfciclo_debates_aisa_eduardo_manhapdf Acesso em

27012012

117

Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede no tocante ao ldquoWorld Health Report 2000rdquo

(Relatoacuterio sobre a Sauacutede no Mundo do ano 2000) quanto ao desempenho dos

sistemas de sauacutede criacuteticas fundamentadas que foram endossadas pela

Assembleacuteia Mundial da Sauacutede 66 Vale destacar o posicionamento do Brasil a

favor do acesso ao conhecimento para produccedilatildeo de medicamentos

antirretrovirais (tratamento para portadores de HIV) Em 2001 apoacutes meses de

discussotildees e negociaccedilotildees o Paiacutes com base no artigo 71 da Lei de

Propriedade Intelectual alegando emergecircncia na sauacutede (uma das situaccedilotildees

previstas pela legislaccedilatildeo para autorizar a licenccedila compulsoacuteria e a produccedilatildeo da

droga por outros laboratoacuterios) obteve sucesso nas negociaccedilotildees com o

fabricante (Roche) chegando a um consenso que beneficiou o Paiacutes com a

diminuiccedilatildeo do custo com aquisiccedilatildeo do medicamento Nelfinavir para tratamento

de HIV 65 (p 180)

Outra situaccedilatildeo meritoacuteria para o Brasil ocorreu na reuniatildeo ministerial da

Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio no final de 2001 em Doha no Catar onde

se aprovou a interpretaccedilatildeo menos riacutegida do TRIPS [59] representando que

tanto o Brasil como qualquer outro paiacutes em situaccedilatildeo de emergecircncia poderia

aplicar licenccedilas compulsoacuterias para produccedilatildeo de medicamentos no Paiacutes Apesar

de prevista na legislaccedilatildeo brasileira ateacute entatildeo a medida natildeo era considerada

pela Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

Vale citar que somente em 2007 junto agrave gestatildeo do entatildeo Ministro da

Sauacutede Joseacute Gomes Temporatildeo no governo Lula eacute que ocorreu de fato o

primeiro licenciamento compulsoacuterio [60] de um medicamento patenteado

utilizado pelo SUS no coquetel de tratamento anti-HIV o Efavirenz do

Laboratoacuterio Merck Sharp amp Dohme Agrave eacutepoca o laboratoacuterio se recusara a

vender o medicamento ao Brasil pelos valores negociados juntos a paiacuteses

asiaacuteticos No dia 07 de maio de 2012 por decreto publicado no Diaacuterio Oficial da

59

TRIPS ndash Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights (Acordo sobre

Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comeacutercio) Declaraccedilatildeo do acordo

TRIPS e sauacutede puacuteblica (Nov 14 2001) Disponiacutevel em

httpwwwwtoorgenglishthewto_eminist_emin01_emindecl_trips_ehtm Acesso em 27022012

60

Uma das possibilidades do Governo eacute lanccedilar matildeo da chamada licenccedila compulsoacuteria ndash quebra de

patentes por necessidade de sauacutede puacuteblica Esses instrumentos caracteriacutesticos dos paiacuteses em

desenvolvimento defendido pelo Brasil inclusive proveacutem da Declaraccedilatildeo de Doha sobre Sauacutede Puacuteblica

da OMC 55

118

Uniatildeo o licenciamento compulsoacuterio foi prorrogado por mais cinco anos [61] E

atualmente o Efavirenz eacute produzido no Brasil por Farmanguinhos unidade de

produccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz suprindo toda a necessidade nacional

do Efavirenz 600mg

O Brasil vem se evidenciando como destaque nos temas de sauacutede

global O fato de o Brasil ser portador de programas de sauacutede reconhecidos

como paradigma em niacutevel internacional como a implantaccedilatildeo do SUS o

aleitamento materno o tratamento de HIVAIDS o controle do tabagismo

fazem o diferencial do Brasil Conforme reforccedila o diplomata Santarosa 57 o

Paiacutes tem exercido nos uacuteltimos anos uma efetiva participaccedilatildeo com alto perfil nos

temas de sauacutede globais ldquointegramos simultaneamente o CE [62] da OMS e o

PCB [63] da Unaidsrdquo (Joint United Nations Programme on HIVAIDS) aleacutem de

exercer ldquouma lideranccedila fundamental no processo de negociaccedilatildeo da CQCT [64] e

desempenhar um papel relevante na criaccedilatildeo do fundo globalrdquo Esta atuaccedilatildeo

reflete a efetiva participaccedilatildeo brasileira

E para melhor aperfeiccediloar as interaccedilotildees entre as distintas organizaccedilotildees

Santarosa 57 destaca a importacircncia de saber ldquoexplorar as interfaces da OMS

com as demais agecircncias e organizaccedilotildees internacionais particularmente a

OMC com vistas por um lado a preservar instrumentos de autonomia em

termos de poliacuteticas puacuteblicas de sauacutede que garantam o atendimento das

necessidades sanitaacuterias da populaccedilatildeo brasileira e por outro a promover

interesses globais de nossa diplomacia como as agendas sociais de direitos

humanos e de desenvolvimentordquo

Outros exemplos de participaccedilatildeo estrateacutegica do Brasil nas questotildees da

sauacutede eleiccedilatildeo do Brasil para o Comitecirc Executivo da OMS (2008-2011)

lideranccedila nos debates do Intergovernmetal Working Group on Public Health

Innovation and Intelectual Property (IGWG)- OMS papel na formulaccedilatildeo do

Plano de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede da Unasul e do Programa Estrateacutegico de

Cooperaccedilatildeo em Sauacutede da CPLP na constituiccedilatildeo do ISAGS dentre outros

61

httpg1globocomciencia-e-saudenoticia201205dilma-prorroga-quebra-de-patente-de-

remedio-anti-aidshtml acessado em 09 de maio de 2012 62

CE = Comitecirc Executivo 63

PCB= Programme Coordinating Board 64

CQCT= Convenccedilatildeo Quadro para o Controle do Tabaco OMS em 2003 Ver tambeacutem

FCTC64 2011 apud Buss 2011

119

projetos de cooperaccedilatildeo e de apoio a paiacuteses estrangeiros

O protagonismo brasileiro tambeacutem pode ser observado em sua atuaccedilatildeo

ativa e articuladora em foacuteruns internacionais da sauacutede tais como

(a) a Conferecircncia Mundial de Determinantes Sociais em Sauacutede ocorrida em

2011 quando a Assembleacuteia Mundial da Sauacutede foi sediada no Rio de Janeiro o

que significou uma vitoacuteria da Chancelaria brasileira e das autoridades

sanitaacuterias dada inclusive agrave representatividade para o Brasil tanto pelo caraacuteter

simboacutelico por ter sido originado no Rio de Janeiro assim como pela

importacircncia de inestimaacutevel valor para todos os envolvidos no combate agraves

iniquidades em sauacutede em que os determinantes sociais da sauacutede satildeo

balizadores do sucesso ou do fracasso dos objetivos relacionados ao pacto

(b) a Conferecircncia Rio 92 cuja defesa eacute a relaccedilatildeo intriacutenseca da sauacutede agraves

condiccedilotildees de desenvolvimento sustentaacutevel e tambeacutem a defesa da priorizaccedilatildeo

de poliacuteticas de proteccedilatildeo e de promoccedilatildeo social Aleacutem de expressar um forte

movimento articulador com os demais paiacuteses em desenvolvimento nos

Tratados de Quioto nos Objetivos do Milecircnio na Agenda 21 [65] dentre outros

Esse protagonismo do Brasil tem repercutido positivamente no cenaacuterio

internacional Como exemplo pode ser citado o uacuteltimo Foacuterum Mundial

Econocircmico ocorrido em janeiro de 2012 em que o Brasil foi destaque pelo

alcance dos resultados positivos provenientes do modelo de crescimento

associado ao desenvolvimento social

Em mais um exerciacutecio de inserir o Brasil na discussatildeo da sauacutede sob a

perspectiva do contexto internacional o Ministeacuterio da Sauacutede promoveu a

inclusatildeo do tema ldquosauacutederdquo na discussatildeo da agenda de desenvolvimento

sustentaacutevel dos paiacuteses na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o

Desenvolvimento Sustentaacutevel a Rio+20 realizada em junho de 2012 em uma

demonstraccedilatildeo de que o Brasil estaacute se consolidando como potencial player nas

discussotildees da arena internacional Enfatizou-se a relaccedilatildeo central da sauacutede

com o desenvolvimento sustentaacutevel destacou-se o reconhecimento da sauacutede

65

Esses Tratados e Convenccedilotildees seratildeo mais detalhados no item 1 do Capiacutetulo IV quando o meio

ambiente for apontado como abordagem a ser relacionada agrave sauacutede e ao desenvolvimento

120

como condiccedilatildeo sine qua non para o desenvolvimento econocircmico social e

ambiental e vista internacionalmente natildeo apenas de forma individual mas em

sua dimensatildeo coletiva onde as consideraccedilotildees sobre a sauacutede devem perpassar

as poliacuteticas de todos os demais setores [66] destacou-se a necessidade da

adoccedilatildeo de accedilotildees para erradicar local nacional e internacionalmente a

circulaccedilatildeo de doenccedilas imunopreveniacuteveis (principalmente) ampliando a

capacidade de produccedilatildeo internacional suficiente acessiacutevel e segura de

vacinas sobretudo para os paiacuteses em desenvolvimento (o que tem reflexo

direto no objeto deste nosso estudo CEIS) aleacutem da vital importacircncia ao

acesso a medicamentos para doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis

minimizando os impactos que acarretam ao desenvolvimento econocircmico e agrave

estabilidade poliacutetica dos paiacuteses em funccedilatildeo do caraacuteter crocircnico e incapacitante

provocados por essas doenccedilas

Finalmente apesar de se destacar uma relaccedilatildeo mais efetiva da sauacutede

com as relaccedilotildees internacionais a partir da deacutecada de 90 (os temas da sauacutede

estiveram presentes em todas as conferecircncias sociais da deacutecada de 90) 55 o

movimento da sauacutede eacute endoacutegeno e vem de longa data

Questotildees sanitaacuterias relacionadas ao comeacutercio internacional e a

seguranccedila internacional satildeo dimensotildees que se somaram mais recentemente

na relaccedilatildeo da sauacutede com as questotildees internacionais

A sauacutede sob a perspectiva das relaccedilotildees econocircmicas internacionais com

especial destaque para as questotildees de grande impacto econocircmico e social

tais como os relacionados agraves induacutestrias farmacecircuticas ndash onde a questatildeo do

acesso ganha um protagonismo ateacute entatildeo pouco reconhecido nas discussotildees

das patentes de medicamentos por exemplo ndash satildeo assuntos mais recentes

inseridos nas discussotildees das relaccedilotildees econocircmicas internacionais como os que

acontecem na Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio - OMC

66

A sauacutede sob a perspectiva da produccedilatildeo da tecnologia e da inovaccedilatildeo apresenta acircngulos bem

distintos de desenvolvimento Sob a perspectiva euro-nipo-americano (dentre outros paiacuteses que se

inserem nos chamados ―paiacuteses desenvolvidos) a industrializaccedilatildeo comporta maior desenvolvimento O

que natildeo ocorre quando focamos os demais paiacuteses

121

Em maio de 2012 a 65ordf Assembleacuteia Mundial da Sauacutede (AMS) da OMS

aprovou resoluccedilatildeo sobre o financiamento global da pesquisa para a geraccedilatildeo de

novos medicamentos e vacinas de interesse da populaccedilatildeo brasileira e de

outros paiacuteses em desenvolvimento O documento se apoacuteia em um ldquoamplo e

longo processo de entendimento sobre as fronteiras e correlaccedilotildees entre a

sauacutede puacuteblica a inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e as poliacuteticas de propriedade

intelectualrdquo67

Ainda sob a oacutetica da sauacutede nas relaccedilotildees internacionais vale ressaltar o

sentido duplo nem sempre convergente que esse assunto suscita quando se

evidencia mais claramente para a aacuterea da sauacutede qual eacute o seu papel em relaccedilatildeo

agrave dimensatildeo internacional e qual o papel que representa o seu complexo

industrial Sentidos esses com posicionamentos e estrateacutegias distintos e por

vezes conflituosos nem sempre esclarecidos pelos atores das aacutereas sanitaacuterias

e industriais

O Brasil nesse sentido no tocante ao Complexo Econocircmico-Industrial

da Sauacutede apresenta maior tradiccedilatildeo na questatildeo da inserccedilatildeo internacional isto

eacute na poliacutetica internacional dado o seu caraacuteter econocircmico mais convergente

com as negociaccedilotildees internacionais Dimensatildeo essa que ateacute o final do Seacuteculo

XX era predominante por consideraccedilotildees agrave poliacutetica industrial e agraves poliacuteticas de

ciecircncia e tecnologia no qual o Brasil de forma relevante se articulava

notadamente na relaccedilatildeo com a OMC

Por outro lado no Paiacutes a dimensatildeo da sauacutede na oacutetica da diplomacia da

sauacutede eacute tema contemporacircneo entrando na agenda articulada do Ministeacuterio da

Sauacutede e do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores com maior representatividade

no iniacutecio do seacuteculo XXI uma vez que o Brasil priorizara ateacute entatildeo a

construccedilatildeo do SUS o que representara ateacute esse momento olhar para si

mesmo

Haacute de se considerar tambeacutem que a relaccedilatildeo da sauacutede ldquostricto sensurdquo com

a OMC eacute uma relaccedilatildeo mais recente onde o tema ldquosauacutederdquo tem sido abordado

sob uma nova contextualizaccedilatildeo sob a perspectiva mais humanitaacuteria o que de

certa forma fundamentada na interface multilateral jaacute ocorria na relaccedilatildeo com a

OMS e a OPAS Logo essas duas dimensotildees natildeo podem mais estar

122

desvinculadas satildeo interfaces no contexto externo e devem ser somadas e natildeo

excluiacutedas

Finalmente a primeira deacutecada do seacuteculo XXI consolida um periacuteodo cuja

representaccedilatildeo paradigmaacutetica se estabelece na superaccedilatildeo de entraves e

desafios concernentes agrave inserccedilatildeo da sauacutede na poliacutetica externa consolidando-a

e ampliando a participaccedilatildeo da sauacutede na poliacutetica exterior colaborando

efetivamente para a construccedilatildeo de uma agenda internacional do Paiacutes

Nesse sentido podemos inferir que uma das principais accedilotildees da sauacutede

na poliacutetica externa eacute a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento dos sistemas de

sauacutede dos paiacuteses do sul onde o CEIS se estabelece como diferencial para a

superaccedilatildeo de limites e vulnerabilidades tecnoloacutegicas criadas pela realidade

assimeacutetrica de poder e de conhecimento e simultaneamente sob os auspiacutecios

da cooperaccedilatildeo humanitaacuteria fortalecer a presenccedila do Paiacutes no cenaacuterio

internacional

2 Agenda Sul-Sul

Embora mais evidente na atualidade a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul pode ser

atribuiacuteda ao periacuteodo da criaccedilatildeo do Movimento dos Paiacuteses Natildeo-Alinhados ndash

MNA [67] em oposiccedilatildeo ao confronto ideoloacutegico Leste-Oeste e do Grupo dos 77

- G-77 [68] isto eacute a partir dos anos 50 e dos anos 60 respectivamente

Movimentos de paiacuteses que buscavam alternativas para uma maior

67

Historicamente decorrente da Conferecircncia Aacutesia-Aacutefrica em Bandung Indoneacutesia no ano de

1955 o MNA teve a sua Primeira Conferecircncia dos Chefes de Estado e de Governo Natildeo-Alinhados em

Belgrado Iugoslaacutevia em 1961 Sua formaccedilatildeo ocorreu em funccedilatildeo do aparecimento dos dois grandes

blocos opostos durante a Guerra Fria liderados pelos EUA e URSS tendo como objetivo inicial manter

uma posiccedilatildeo neutra e natildeo associada a nenhum dos grandes blocos Atualmente comporta 115 paiacuteses com

importacircncia reduzida em funccedilatildeo da natildeo continuidade da Guerra Fria Disponiacutevel em wwwnamgovbr

68

Fundado em 15 de junho de 1964 o G77 foi firmado por 77 paiacuteses signataacuterios por meio da

―Declaraccedilatildeo Conjunta dos Setenta e Sete Paiacuteses apresentada na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre

Comeacutercio e Desenvolvimento (UNCTAD) agrave eacutepoca Atualmente eacute composto por 131 paiacuteses em

desenvolvimento dentre os quais o Brasil cujo objetivo eacute a promoccedilatildeo dos interesses econocircmicos comuns

aos seus membros e o estabelecimento de uma maior capacidade de negociaccedilatildeo conjunta e coesa

na Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Disponiacutevel em wwwg77orgdoc Acesso em 18 de abril de 2012

123

independecircncia e determinaccedilatildeo e para um afastamento mais efetivo agrave forte

influecircncia poliacutetica e econocircmica dos paiacuteses dominantes no sistema

internacional68

O termo paiacutes do Sul relacionado aos paiacuteses em desenvolvimento por se

localizarem no hemisfeacuterio Sul cunhou a expressatildeo Cooperaccedilatildeo Sul-Sul E foi

no dia 19 de dezembro de 1978 quando se endossou na Assembleacuteia Geral da

ONU o Plano de Accedilatildeo de Buenos Aires sobre a Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre

Paiacuteses em desenvolvimento (CTPD) que a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul tambeacutem

conhecida como cooperaccedilatildeo horizontal ou CTPD ganhou espaccedilo nas Naccedilotildees

Unidas

A cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses do Sul apresenta um marco

representativo que ocorreu na ocasiatildeo do 30ordm aniversaacuterio da Conferecircncia das

Naccedilotildees Unidas sobre Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre Paiacuteses em Desenvolvimento

onde os representantes dos governos reunidos em Nairoacutebi em dezembro de

2009 renovaram o compromisso de aplicar revitalizar e fortalecer a

cooperaccedilatildeo Sul-Sul

O Documento Final dessa Conferecircncia passou a ser base da

Cooperaccedilatildeo Sul-Sul que em seu acordo estimula dentre outros os seguintes

objetivos (a) a lideranccedila e a propriedade dos paiacuteses em desenvolvimento (b) a

complementaridade e a natildeo competitividade com a cooperaccedilatildeo Norte-Sul (c) o

intercacircmbio de tecnologias benefiacutecio e aprendizagem muacutetuos (d) o

compartilhamento de experiecircncias (e) a promoccedilatildeo da autosuficiecircncia nacional

e coletiva (f) o fortalecimento muacutetuo de capacidades (g) a formaccedilatildeo de

coalizotildees

Busca aumentar a responsabilidade muacutetua dos paiacuteses envolvidos na

cooperaccedilatildeo maior transparecircncia de accedilotildees e resultados coordenaccedilatildeo conjunta

do programa de cooperaccedilatildeo com planejamento em prol das prioridades

nacionais e maior qualidade e gerenciamento quanto aos resultados esperados

e alcanccedilados refletindo os princiacutepios fundamentais pautados pela Declaraccedilatildeo

de Paris sobre Eficaacutecia da Ajuda ao Desenvolvimento apropriaccedilatildeo

harmonizaccedilatildeo resultados responsabilidade muacutetua e alinhamento

124

Apesar de estar fundamentada a um tratamento igualitaacuterio a

cooperaccedilatildeo Sul-Sul comporta seus princiacutepios em bases que balizam as

relaccedilotildees internacionais (a) soberania e independecircncia nacional (b) igualdade

e horizontalidade (c) solidariedade (d) natildeo condicionalidade (e) propriedade

nacional e respectiva lideranccedila (f) natildeo interferecircncia nos assuntos internos

O termo Cooperaccedilatildeo Sul-Sul (CSS) se estabelece no cenaacuterio

internacional no acircmbito da pressatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento por

acordos internacionais que reduzissem as disparidades econocircmicas entre os

paiacuteses do Norte e do Sul 69 por consequecircncia das restriccedilotildees centralizadoras

por parte dos paiacuteses desenvolvidos na praacutetica da cooperaccedilatildeo Norte-Sul 10

Natildeo visava portanto agrave substituiccedilatildeo dos programas mais tradicionais de

cooperaccedilatildeo Entretanto buscava o melhor aproveitamento das capacidades e

da cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses em desenvolvimento em prol de otimizar

benefiacutecios para esses paiacuteses

A cooperaccedilatildeo Sul-Sul cria condiccedilotildees para que haja o compartilhamento

do conhecimento para a geraccedilatildeo do desenvolvimento e a promoccedilatildeo do

crescimento diferencial complementar agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica e ao

financiamento 70 Apresenta-se portanto como uma cooperaccedilatildeo estruturante

dinacircmica em constante evoluccedilatildeo geradora de oportunidades para o

desenvolvimento e capaz de ampliar as fontes de conhecimento

Quando se diz que a CSS eacute fundamentada na horizontalidade temos a

traduccedilatildeo da cooperaccedilatildeo horizontal Quer dizer que existem consensos

estabelecidos para a efetividade dessa cooperaccedilatildeo dos quais destacam-se os

seguintes 71 (p 10)

(a) o voluntariado e a natildeo condicionalidade isto eacute ldquoindependente das

diferenccedilas nos niacuteveis de desenvolvimento relativo entre os paiacuteses a

colaboraccedilatildeo eacute realizada voluntariamente e sem condicionalidadesrdquo

(b) o consenso o que significa ser baseado em uma negociaccedilatildeo em que

as partes concordem e

125

(c) a equidade isto eacute ldquoseus benefiacutecios devem ser distribuiacutedos de forma

igualitaacuteria entre os envolvidos na accedilatildeo de cooperaccedilatildeordquo assim como

distribuiccedilatildeo equitativa dos custos conforme possibilidade de cada participante

Obviamente a loacutegica solidaacuteria e humaniacutestica pauta a CSS Ademais a

Cooperaccedilatildeo Sul-Sul notadamente na aacuterea da sauacutede foco do presente estudo

tem respaldo nos documentos internacionais firmados entre os paiacuteses-

membros

Nesse sentido pode ser observada no quadro 2 a seguir a cronologia

dos documentos internacionais relacionados agrave Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e agrave

Diplomacia em Sauacutede cuja maior representatividade daacute-se no final da deacutecada

de 90 e na primeira deacutecada do Seacuteculo XXI o que se traduz no caraacuteter

estrateacutegico que o tema sauacutede suscita Perpassando inclusive questotildees

meramente econocircmicas e sobressaindo a conjugaccedilatildeo do interesse nacional

combinado com a solidariedade no que se refere aos destinos dos outros

paiacuteses e seus povos

126

Quadro 2 Relaccedilatildeo de Documentos Internacionais Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e Sauacutede

Documento

Descriccedilatildeo

Ano

Declaraccedilatildeo de

Busan

A declaraccedilatildeo eacute o resultado do 4ordm Foacuterum de Alto Niacutevel sobre a Eficaacutecia da Ajuda realizado em Busan Repuacuteblica da Coreacuteia Esta declaraccedilatildeo estabelece pela primeira vez um acordo-marco para a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento que abarca os doadores tradicionais os cooperadores Sul-Sul os BRICs e as fundaccedilotildees privadas

2011

Declaraccedilatildeo de Pequim

A Declaraccedilatildeo de Pequim assinada pelos Ministros da Sauacutede do bloco de paiacuteses emergentes BRICS (Brasil Ruacutessia Iacutendia China e Aacutefrica do Sul) ressalta a importacircncia do acesso universal a medicamentos e busca promover a transferecircncia de tecnologia entre os paiacuteses BRICS bem como com outros paiacuteses em desenvolvimento para aumentar a capacidade de produccedilatildeo de medicamentos a preccedilos acessiacuteveis

2011

Resoluccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre Sauacutede Global e Poliacutetica Externa

Esta resoluccedilatildeo encoraja os Estados-Membros a considerar a relaccedilatildeo estreita entre poliacutetica externa e a sauacutede global e a reconhecer que os desafios da sauacutede mundial exigiratildeo esforccedilos concertados e sustentados a fim de promover um ambiente de poliacutetica global de apoio da sauacutede global

2011

Plano Estrateacutegico

de Cooperaccedilatildeo em

Sauacutede (PECS) da

CPLP

Compromisso coletivo de cooperaccedilatildeo estrateacutegica entre os Estados-membros da CPLP no setor da sauacutede Este plano estaacute estruturado em sete eixos estrateacutegicos e inclui um total de 21 projetos de desenvolvimento no setor da Sauacutede sendo cinco dos quais considerados prioritaacuterios com grande ecircnfase ao reforccedilo de capacidades e ao desenvolvimento institucional dos Sistemas de Sauacutede

2009-2012

Documento final de Nairoacutebi sobre a Conferecircncia de Alto Niacutevel das Naccedilotildees Unidas sobre a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Na ocasiatildeo do 30ordm aniversaacuterio da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre Paiacuteses em Desenvolvimento os representantes dos governos reunidos em Nairoacutebi em dezembro de 2009 renovaram o compromisso de aplicar revitalizar e fortalecer a cooperaccedilatildeo Sul-Sul

2009

Ata Constitutiva do Conselho de Sauacutede Sul-Americano

Ministros da Sauacutede e representantes dos paiacuteses sul-americanos reuniram-se para consolidar a Ameacuterica do Sul como um espaccedilo de integraccedilatildeo para a sauacutede criando o Conselho de Sauacutede Sul-Americano ndash Unasul

2009

127

Cont

Documento

Descriccedilatildeo

Ano

A Sauacutede e as RI Seu Viacutenculo com a Gestatildeo do Desenvolvimento Nacional da Sauacutede

Esta resoluccedilatildeo insta aos Estados a que estreitem as relaccedilotildees de coordenaccedilatildeo e intercacircmbio das autoridades sanitaacuterias com as autoridades encarregadas da poliacutetica exterior e de cooperaccedilatildeo internacional dos governos promovendo mecanismos institucionais entre o setor da sauacutede e das relaccedilotildees internacionais

2008

Consenso de Yamoussoukro sobre Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Reunidos em Yamoussoukro Costa do Marfim os Membros do G-77 (coalizatildeo que inclui atualmente mais de 130 naccedilotildees) e a China adotam o Consenso de Yamoussoukro que delineia os elementos essenciais da estrutura conceitual da cooperaccedilatildeo Sul-Sul

2008

Agenda para Accedilatildeo de Acra

A Agenda de Accedilatildeo de Acra endossada pelos participantes do Terceiro Foacuterum de Alto Niacutevel sobre Eficaacutecia da Ajuda em setembro de 2008 destaca a necessidade de acelerar a eficaacutecia da ajuda em trecircs aacutereas fortalecimento da apropriaccedilatildeo por parte dos paiacuteses construccedilatildeo de parcerias mais eficazes e inclusivas e apresentaccedilatildeo e prestaccedilatildeo de contas de resultados para o desenvolvimento responsabilizando-se publicamente por eles

2008

Declaraccedilatildeo Ministerial de Oslo ndash Sauacutede Global um tema urgente da poliacutetica externa contemporacircnea

Baseados na iniciativa sobre Sauacutede Global e Poliacutetica Externa os Ministros das Relaccedilotildees Exteriores do Brasil Franccedila Indoneacutesia Noruega Senegal Aacutefrica do Sul e Tailacircndia emitem em marccedilo de 2007 a Declaraccedilatildeo Ministerial de Oslo que busca aumentar a consciecircncia sobre os problemas de sauacutede nas arenas de discussotildees e decisotildees de poliacutetica externa

2007

Declaraccedilatildeo de Paris sobre a Eficaacutecia da Ajuda ao Desenvolvimento

A Declaraccedilatildeo de Paris destaca cinco princiacutepios fundamentais para tornar a ajuda mais eficaz apropriaccedilatildeo harmonizaccedilatildeo alinhamento resultados e responsabilidade muacutetua

2005

Resoluccedilatildeo da Assembleacuteia Geral das NU sobre a Cooperaccedilatildeo Teacutecnica e Econocircmica entre os Paiacuteses em Desenvolvimento

Esta resoluccedilatildeo reconhece que a cooperaccedilatildeo Sul-Sul pode ter um impacto positivo sobre as poliacuteticas globais regionais e nacionais e as accedilotildees nos domiacutenios econocircmico social e de desenvolvimento nos paiacuteses em desenvolvimento e insta esses paiacuteses e seus parceiros a intensificar a cooperaccedilatildeo Sul-Sul e a cooperaccedilatildeo triangular nestas aacutereas

2004

Declaraccedilatildeo de Marrakesh sobre a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

A Declaraccedilatildeo de Marrakesh reconhece a cooperaccedilatildeo Sul-Sul como um complemento imperativo agrave cooperaccedilatildeo Norte-Sul para contribuir no alcance dos objetivos de desenvolvimento acordados internacionalmente incluindo os Objetivos de Desenvolvimento do Milecircnio

2003

128

Cont Documento

Descriccedilatildeo

Ano

Declaraccedilatildeo de Roma sobre Harmonizaccedilatildeo

A Declaraccedilatildeo de Roma resume o compromisso alcanccedilado em Roma em 2003 pelas instituiccedilotildees multilaterais e agecircncias bilaterais de desenvolvimento e os paiacuteses parceiros para aumentar a eficaacutecia da ajuda ao desenvolvimento e contribuir para atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milecircnio A Declaraccedilatildeo de Roma eacute o apoio a um amplo consenso da comunidade internacional enunciado no Consenso de Monterrey

2003

Consenso de

Monterrey

A Cuacutepula de Monterrey (Meacutexico) deu-se em marccedilo de 2002 com cerca de 50 chefes de Estado e de governo Intitulou-se Conferecircncia Internacional sobre Financiamento ao Desenvolvimento O Consenso de Monterrey eacute o documento resultante dessa conferecircncia e pretende relacionar as medidas necessaacuterias para se cumprir as metas determinadas na Declaraccedilatildeo do Milecircnio como reduzir agrave metade a pobreza extrema ateacute o ano de 2015

2002

Declaraccedilatildeo sobre o

Acordo de TRIPS e

Sauacutede Puacuteblica

A Declaraccedilatildeo de Doha reconhece a gravidade dos problemas de sauacutede puacuteblica que afligem aos paiacuteses menos desenvolvidos e em desenvolvimento Tambeacutem reflete as preocupaccedilotildees desses paiacuteses sobre as implicaccedilotildees do Acordo da OMC sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados com o Comeacutercio (Acordo TRIPS) sobre sauacutede puacuteblica em geral

2001

Declaraccedilatildeo do

Milecircnio das Naccedilotildees

Unidas

Documento aprovado por 147 Chefes de Estado e de Governo aleacutem de representantes dos demais 191 paiacuteses membros da ONU que participaram na maior reuniatildeo de dirigentes mundiais (em Nova Iorque setembro de 2000) assumindo compromissos em reduzir a pobreza extrema fornecer aacutegua potaacutevel e educaccedilatildeo a todos inverter a tendecircncia de propagaccedilatildeo do VIHSIDA e alcanccedilar outros objetivos no domiacutenio do desenvolvimento

2000

Declaraccedilatildeo dos

Ministros da Sauacutede

da Ameacuterica Central

e Panamaacute sobre

Necessidades

Prioritaacuterias de

Sauacutede

Os Ministros da Sauacutede de Guatemala Honduras El Salvador Nicaraacutegua Costa Rica e Panamaacute cientes da situaccedilatildeo no istmo centro-americano adotam a sauacutede como uma ponte para a paz identificando problemas comuns e propondo soluccedilotildees conjuntas

1984

129

Cont

Documento

Descriccedilatildeo

Ano

Plano de Accedilatildeo de

Buenos Aires

Em setembro de 1978 as delegaccedilotildees de 178 paiacuteses adotam o Plano de Accedilatildeo para Promover e Realizar a Cooperaccedilatildeo Teacutecnica entre os Paiacuteses em Desenvolvimento (CTPD) Esse plano constitui-se no documento fundacional da Cooperaccedilatildeo Sul-Sul porque a partir dele a CTPD vira uma nova modalidade de cooperaccedilatildeo internacional que oferece um espaccedilo diferenciado para os paiacuteses em desenvolvimento que aleacutem de receptores passam a ser tambeacutem ofertantes de cooperaccedilatildeo

1978

Convecircnio Hipoacutelito

Unanue sobre

Cooperaccedilatildeo em

Sauacutede dos Paiacuteses

da Aacuterea Andina

Os governos de Boliacutevia Colocircmbia Chile Equador Peru e Venezuela representados por seus Ministros da Sauacutede estabelecem o Convecircnio Hipoacutelito Unanue com o objetivo de melhorar a sauacutede nos paiacuteses da regiatildeo andina mediante poliacuteticas e accedilotildees coordenadas

1971

Conferecircncia de

Bandung

Os liacutederes de vinte e nove Estados asiaacuteticos e africanos reuniram-se em abril de 1955 na Conferecircncia de Bandung com o objetivo de promover a cooperaccedilatildeo econocircmica e cultural entre as duas regiotildees como forma de oposiccedilatildeo a toda naccedilatildeo imperialista Nessa conferecircncia adaptaram-se por unanimidade 10 princiacutepios para a promoccedilatildeo da paz e da cooperaccedilatildeo

1955

Fonte Adaptado do Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacutetica e Diplomacia em Sauacutede ndash Nethis wwwbioeticaediplomaciaorg Acesso em 01032012

Na poliacutetica externa brasileira contemporacircnea [69] a sauacutede tem ampliado

sua importacircncia a partir de um modelo horizontal e estruturante de cooperaccedilatildeo

Sul-Sul Destacam-se como exemplos mais efetivos os paiacuteses latino-

americanos os paiacuteses africanos de liacutengua oficial portuguesa (PALOP) o Haiti

o grupo da Aacutefrica do Sul China e Iacutendia bem como os paiacuteses integrantes da

UNASUL

69

Em representaccedilatildeo agrave importacircncia que a inter-relaccedilatildeo da sauacutede com a poliacutetica externa o

Programa Mais Sauacutede direito de todos ndash 2008-2011 lanccedilado no governo Lula estabeleceu como diretriz

―fortalecer a presenccedila do Brasil no cenaacuterio internacional na aacuterea da sauacutede em estreita articulaccedilatildeo com o

Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores ampliando sua presenccedila nos oacutergatildeos e programas de sauacutede das Naccedilotildees

Unidas e cooperando com o desenvolvimento dos sistemas de sauacutede dos paiacuteses da Ameacuterica do Sul em

especial com o Mercosul com os paiacuteses da Ameacuterica Central da CPLP e da Aacutefrica

130

Portanto a partir desse modelo segundo defende Temporatildeo [70] o

objetivo eacute substituir a visatildeo colonizadora tradicional da cooperaccedilatildeo

internacional Isto eacute no lugar de simplesmente doar medicamentos busca-se

ajudar o paiacutes receptor a superar a dependecircncia frente agrave induacutestria O ex-Ministro

da Sauacutede exemplifica apontando a cooperaccedilatildeo brasileira com Moccedilambique [71]

Por outro lado a despeito dos princiacutepios baacutesicos estabelecidos pela

CSS questiona-se se essa Cooperaccedilatildeo pode ser influenciada por interesses

econocircmicos e poliacuteticos dos paiacuteses doadores se haacute interferecircncia de

condicionalidades ou se pode ser movida por fins comerciais eou lucrativos

Natildeo se deve portanto desprezar o potencial que a CSS evidencia no

tocante a aspectos comerciais e mercadoloacutegicos aleacutem do aspecto do ganho

diplomaacutetico no tabuleiro geopoliacutetico internacional Logo seria leviano afirmar

que as questotildees diplomaacuteticas da CSS estatildeo calcadas exclusivamente na

solidariedade e na ajuda humanitaacuteria

A CSS consolidou-se como uma modalidade dentro da Cooperaccedilatildeo

Internacional isto eacute gradativamente foi deixando de ser apenas

ldquouma experiecircncia pontual e se tornando parte da estrateacutegia de cooperaccedilatildeo de

muitos paiacuteses que a perceberam como um meio importante para o processo de

desenvolvimentordquo 71 (p100) Vista como mais eficiente na promoccedilatildeo do

desenvolvimento Aylloacuten Pino e Leite 72 (p18) justificam essa posiccedilatildeo

estrateacutegica apontando a ldquomaior aplicabilidade de soluccedilotildees concebidas nos

paiacuteses do Sulrdquo e o ldquodeslocamento das atividades de pesquisa nos paiacuteses

industrializados para o setor privado impossibilitando sua transferecircncia

gratuitardquo (p 18) como importantes razotildees para que a CSS se destaque como

alternativa de grande impacto para os paiacuteses em desenvolvimento

Ademais a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul eacute um dos poucos espaccedilos de inovaccedilatildeo

na cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento capaz de ampliar as fontes de

70

Temporatildeo J Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e complexo econocircmico-industrial da sauacutede In Ciclo de

Debates sobre Bioeacutetica Diplomacia e Sauacutede Puacuteblica Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacuteticas e Diplomacia em

Sauacutede ndash NETHIS Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel em

wwwbioeticaediplomaciaorg Acesso em 27012012

71

Instalaccedilatildeo de faacutebrica de antirretrovirais em Moccedilambique com cooperaccedilatildeo brasileira por meio

do apoio e de orientaccedilatildeo da Fiocruz inaugurada em 2012

131

conhecimentos e experiecircncias uma vez que parte do princiacutepio que todos os

paiacuteses tecircm experiecircncias para compartilhar 70 Aleacutem disso a perspectiva de

maiores benefiacutecios provenientes de uma relaccedilatildeo de maior equiliacutebrio eacute

vislumbrada na cooperaccedilatildeo entre pares criando condiccedilotildees de igualdade na

definiccedilatildeo de instrumentos de mecanismos da formataccedilatildeo e do escopo de

processos de cooperaccedilatildeo

O que tambeacutem eacute afirmado por Aylloacuten 73 (p 35) quando declara que a

igualdade nas relaccedilotildees cooperativas se daacute com mais frequecircncia quando

existem recursos similares de poder entre os participantes

Portanto esse formato de cooperaccedilatildeo tem-se apresentado como

estrateacutegico na busca do equiliacutebrio entre as forccedilas globais assimeacutetricas Sua

importacircncia deve-se tambeacutem aos benefiacutecios decorrentes de uma relaccedilatildeo mais

equilibrada em contraposiccedilatildeo agravequela observada na cooperaccedilatildeo Norte-Sul

especialmente pela assimetria de poderes 10 Representa respeito muacutetuo e

permite maior independecircncia para o paiacutes receptor ldquoa resposta principal desse

debate eacute que a uacutenica saiacuteda natildeo importa o caminho eacute que os paiacuteses

recebedores tenham mais lideranccedila sobre seu processo de

desenvolvimento70

Estrategicamente a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul passou a compor esse novo

posicionamento reivindicando um novo ordenamento internacional onde

ganham maior protagonismo Estados ldquoque dispotildeem de recursos suficientesrdquo

(denominados Estados system-affeting) aleacutem de Estados que compotildeem

grandes mercados emergentes em atuaccedilatildeo internacional ativa afetando o

andamento da agenda poliacutetica internacional 74 (p42)

E eacute sob essa perspectiva de reconhecimento do (re) posicionamento no

contexto geopoliacutetico e econocircmico internacional que se experimenta (e se

busca) um novo reordenamento dos interesses e de demandas por novas

formas de lideranccedila tanto no acircmbito regional quanto internacional

Em que pese premente necessidade do reequiliacutebrio econocircmico mundial

uma nova estrateacutegia deve ser implementada em outro grupo e natildeo nas

economias ricas da OCDE Conforme argumentam Jean-Michel Severino e

132

Olivier Ray em artigo publicado no Jornal Valor Econocircmico [72] em 16032012

ldquoOs pobres podem salvar o mundordquo para que os paiacuteses mais pobres possam

efetivamente fazer diferenccedila no atual momento econocircmico deve haver uma

combinaccedilatildeo de trecircs fatores essenciais

ldquoPrimeiro o comeacutercio entre paiacuteses em desenvolvimento e paiacuteses emergentes precisa acelerar-se desenvolvendo portanto o mesmo tipo de relaccedilatildeo entre consumidor e fornecedor existente entre paiacuteses avanccedilados e emergentes Segundo os mercados internos dos paiacuteses mais pobres do mundo precisam ser desenvolvidos de forma a alimentar mais crescimento domeacutestico E terceiro os fluxos financeiros para os paiacuteses em desenvolvimento - sejam investimentos externos diretos ou fundos assistenciais ao desenvolvimento - precisam aumentar e precisam vir natildeo apenas das economias industrializadas mas tambeacutem dos paiacuteses emergentes e dos exportadores de petroacuteleordquo

Outros aspectos relevantes marcam o novo posicionamento dos paiacuteses

emergentes nomeados como ldquoGrandes Paiacuteses Perifeacutericos (GPP)rdquo 50 ldquopaiacuteses

com massa criacutetica suficiente para a participaccedilatildeo real ou potencial na economia

globalrdquo (p3) Satildeo paiacuteses com ldquoexpressivo mercado de massas domeacutesticas e

poder de compra no mercado mundialrdquo e principalmente possuem poliacuteticas

externas proativas com ldquoinclinaccedilatildeo para um revisionismo soft que se manifesta

em posturas reformistas nas instacircncias de governanccedila globalrdquo (p3)

A autora cita ainda que esse revisionismo eacute pragmaacutetico e as coalizotildees

satildeo de ldquogeometria variaacutevelrdquo dependendo da questatildeo temaacutetica e relacionado a

interesses concretos

Nesse sentido ao compartilharem caracteriacutesticas e desafios comuns a

CSS tem cada vez mais ganhado expressatildeo no cenaacuterio internacional

Portanto o formato CSS surge na busca por um maior equiliacutebrio entre as

forccedilas globais como resposta aos efeitos da intensificaccedilatildeo do comeacutercio

mundial e da globalizaccedilatildeo que tornaram mais vulneraacuteveis as economias menos

72

Severino JM Ray O Os pobres podem salvar o mundo Jornal Valor Econocircmico 16032012

Disponiacutevel em httpwwwvalorcombropiniao2573146os-pobres-podem-salvar-o-

mundoutm_source=newsletter_manhaamputm_medium=16032012amputm_term=os+pobres+podem+salvar

+o+mundoamputm_campaign=informativoampNewsNid=2572524 Acesso em 16032012

133

desenvolvidas na perspectiva de potencializar a sustentabilidade

socioeconocircmica e poliacutetica das naccedilotildees do Sul

Por outro lado Saraiva 74 (p 43) afirma que ldquoem termos produtivos a

transnacionalizaccedilatildeo progressiva tomou impulso com os avanccedilos tecnoloacutegicosrdquo

Ao que a proacutepria autora 74 (p43-4) argumenta como consequecircncia dicotocircmica

da nova ordem ao mesmo tempo em que apresenta necessidades e

constrangimentos para os paiacuteses do Sul tambeacutem apresenta novas opccedilotildees

internacionais de inserccedilatildeo sem os quais em longo prazo tornar-se-atildeo inoacutecuos

todos os esforccedilos de promoccedilatildeo do desenvolvimento de forma competitiva e

estruturante

Haacute entretanto desafios a serem ultrapassados

Em termos geopoliacuteticos apesar de uma maior participaccedilatildeo dos paiacuteses

em desenvolvimento junto aos organismos internacionais sem que haja uma

efetiva atuaccedilatildeo em bloco nos foros de debate e nos organismos multilaterais

tende a persistir assimetrias de poder e distribuiccedilatildeo desigual de benefiacutecios

aleacutem de perda de barganha frente agraves economias mais fortes 75

Portanto a despeito dos benefiacutecios potenciais da CSS seu sucesso

relaciona-se intriacutenseca e diretamente com a existecircncia de instituiccedilotildees

confiaacuteveis a governanccedila legiacutetima e estabelecida a garantia de financiamento

a adoccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas consensuadas a existecircncia de matildeo de obra

qualificada aleacutem de um sistema poliacutetico que promova oportunidades para a

maioria e natildeo para uma minoria privilegiada

Isto eacute ainda que os paiacuteses do Sul jaacute considerem a CSS como uma

ferramenta fundamental para responder agraves demandas da agenda global e aos

compromissos para o desenvolvimento sustentaacutevel 73767769 haacute que se

ponderar que sem instituiccedilotildees fortemente interligadas com capacidade de

planejamento de prioridades conjuntas interface entre os distintos atores

envolvidos e desenvolvimento de mecanismos de governanccedila esta natildeo

representaraacute avanccedilos significativos

Historicamente o Brasil se inseriu no marco dessa cooperaccedilatildeo como

prestador de cooperaccedilatildeo teacutecnica para diversos paiacuteses em desenvolvimento

134

Tendo se beneficiado da transferecircncia de conhecimento dos paiacuteses mais

desenvolvidos na aacuterea da Cooperaccedilatildeo Internacional para o Desenvolvimento ndash

CID o Brasil passou a exercer prestaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo internacional a partir

de 1970 quando da assinatura da CTPD Com o passar dos anos o Paiacutes vem

atuando de forma cada vez mais ativa com participaccedilatildeo crescente no nuacutemero

de projetos implementados e na ldquoquantidade de parceiros nacionais tanto

burocraacuteticos como da sociedade civil envolvidos na prestaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

junto ao Governo brasileirordquo 78 (p 06)

O Brasil no tocante agrave cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses tem dado importacircncia

cada vez maior agraves suas relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento

internacional o que vem a atender inclusive a meta dos Objetivos de

Desenvolvimento do Milecircnio (ODM) ndash ODM 8 ldquoestabelecimento de parceria

mundial para o desenvolvimentordquo

O reflexo da priorizaccedilatildeo dada pelo governo agrave cooperaccedilatildeo brasileira para

o desenvolvimento internacional pode ser observado ao considerar que em

2005 o valor aplicado fora de R$ 3842 milhotildees alcanccedilando em 2009 o

montante de R$ 724 milhotildees praticamente dobrando o valor inicialmente

aplicado 79 [73]

Segundo o estudo do IPEA 79 do montante total investido durante o

periacuteodo 2005 e 2009 cerca de R$ 29 bilhotildees aproximadamente 872 do

total referem-se agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica (o que pode ser observado no graacutefico 1

a seguir)

73

Em conjunto com a Secretaria de Assuntos Especiais da Presidecircncia da Repuacuteblica e a Agecircncia

Brasileira de Cooperaccedilatildeo e o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores o IPEA publicou dados sobre

cooperaccedilatildeo brasileira para o desenvolvimento internacional relativos ao periacuteodo compreendido entre 2005

e 2009

135

Graacutefico 1 Investimentos em Cooperaccedilatildeo Teacutecnica (em )

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do IPEA 2010

No tocante agraves poliacuteticas humanitaacuterias foram aproximadamente R$ 1554

milhotildees aplicados em accedilotildees humanitaacuterias abarcando nesse periacuteodo 54 do

total aplicado conforme pode ser observado no graacutefico 2

Graacutefico 2 Relaccedilatildeo de Investimentos em Cooperaccedilatildeo Brasileira para o

Desenvolvimento Assistecircncia Humanitaacuteria (em )

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do IPEA 2010

722

543

625

953

1349

872

2005

2006

2007

2008

2009

Meacutedia - 2005 a 2009

0 5 10 15

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica

2005

2006

2007

2008

2009

Meacutedia - 2005 a 2009

031

091

559

483

1202

536

2005

2006

2007

2008

2009

Meacutedia - 2005 a 2009

0 20 40 60 80 100

Contribuiccedilotildees para organizaccedilotildees int`s

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica

Bolsas a estrangeiros

Assistecircncia Humanitaacuteria

136

Ainda segundo o estudo do IPEA 79 em que pese maior investimento

nas questotildees relacionadas a contribuiccedilotildees para organismos internacionais

(7613 do total no periacuteodo) a cooperaccedilatildeo teacutecnica tem uma perspectiva

positiva quando comparada aos demais Mesmo a despeito de ter sofrido uma

pequena queda em 2006 (543) nos investimentos efetuados quando

comparada ao ano anterior (722) conforme pode ser observado no graacutefico 1

os investimentos para a cooperaccedilatildeo teacutecnica a partir de entatildeo passaram a

refletir a importacircncia que o tema vem adquirindo nos uacuteltimos anos o que pode

ser observado no aumento dos percentuais aplicadas na aacuterea (ver graacutefico 3 a

seguir)

Graacutefico 3 Investimentos em Cooperaccedilatildeo Internacional Brasileira para o

Desenvolvimento Internacional ndash entre 2005 e 2009 (em )

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de IPEA 2011

Pode ser observado no graacutefico 3 que apesar da dominacircncia dos

investimentos junto agraves organizaccedilotildees internacionais os mesmos vecircm

decrescendo de forma lenta e por outro lado haacute ligeiro aumento nos

investimentos para a assistecircncia humanitaacuteria e para a cooperaccedilatildeo teacutecnica o

que acena para uma tendecircncia agrave formaccedilatildeo de um novo olhar da governanccedila

brasileira junto agraves cooperaccedilotildees para o desenvolvimento internacional e um

031 091559 483

1202 536146934 99 1146 614 98

722543 625 953

1349

872

7786

8432

78257418

6835

7613

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

2005 2006 2007 2008 2009 Media -2005 a 2009

Assistecircncia Humanitaacuteria

Bolsas a estrangeiros

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica

Contribuiccedilotildees para organizaccedilotildees int`s

137

olhar estrateacutegico em busca da diminuiccedilatildeo de vulnerabilidade estrutural que a

aacuterea comporta nos paiacuteses em desenvolvimento

A intensificaccedilatildeo das praacuteticas de CSS brasileira eacute beneficiada pelas

oportunidades vigentes no sistema internacional Essa situaccedilatildeo eacute possibilitada

tanto pela passagem para uma nova ordem em funccedilatildeo do esgotamento

provocado pelas atuais crises internacionais com reflexo nos paiacuteses do Norte

como pela queda do bipolarismo assim como em consequecircncia agrave nova ordem

internacional observada principalmente a partir do inicio da deacutecada de 90

ldquomarcada por accedilotildees mais isoladas da dimensatildeo Norte-Sulrdquo 74 (p 42)

Na questatildeo da influecircncia relacionada aos demais paiacuteses inseridos nesse

contexto internacional vale citar que considerando o conceito defendido por

Wallerstein 80 o Brasil hoje se insere no ldquoSistema-Mundordquo como um Estado

importante exercendo grande influecircncia destacando-se entre os seus pares e

repercutindo na conduccedilatildeo geopoliacutetica internacional O que pode ser justificado

tanto por sua dimensatildeo territorial e populacional quanto pela lideranccedila

exercida frente aos interesses da Ameacuterica Latina e mais amplamente com

grande expressatildeo perante os interesses dos paiacuteses do eixo Sul-Sul ou

partiacutecipes da ldquoPeriferiardquo conforme conceitua o autor

Ayllon Pino e Leite 72 defendem em seu estudo sobre o Brasil na

relaccedilatildeo da CSS uma ligaccedilatildeo que aleacutem do aspecto da solidariedade

ldquotem relaccedilatildeo com objetivos mais amplos ligados agrave abertura de mercados para produtos serviccedilos e investimentos brasileiros

74 agrave preservaccedilatildeo dos

interesses nacionais em paiacuteses onde estejam ameaccedilados

75 e agrave busca de prestiacutegio e de apoio para

que o Brasil venha eventualmente ocupar um assento permanente no Conselho de Seguranccedila da ONUrdquo (p18)

Ao mesmo tempo em que compara o Brasil com a China e a Iacutendia os

autores afirmam que o Brasil diferentemente desses dois paiacuteses natildeo tem

interesse poliacutetico e econocircmico de curto prazo ldquomas pela realizaccedilatildeo de

74

O Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede a ser aprofundando no Capiacutetulo IV desta tese

vincula-se diretamente na relaccedilatildeo da abertura de mercados para produtos serviccedilos e investimentos

brasileiros 75

Como eacute o caso da relaccedilatildeo Brasil-Haiti

138

interesses comuns em prol do desenvolvimento sem que isso implique

reproduccedilatildeo da clivagem Norte-Sul caracteriacutestica da Guerra Friardquo 72 (p18)

indicando portanto o comprometimento com o multilateralismo

Natildeo eacute objeto do presente estudo a discussatildeo dos principais movimentos

econocircmicos internos entretanto eacute importante ressaltar que uma poliacutetica

econocircmica mais consolidada vislumbra maiores garantias para a efetividade da

poliacutetica externa Nesse sentido o Brasil notadamente no iniacutecio do seacuteculo XXI

promoveu accedilotildees que favoreceram o Paiacutes na sua projeccedilatildeo internacional oferta

de maiores garantias ao capital internacional poliacuteticas de manutenccedilatildeo ao

controle inflacionaacuterio poliacuteticas de controle de juros reformas fiscais controles

cambiais programas e poliacuteticas focadas na reduccedilatildeo da desigualdade

socioeconocircmica e da pobreza extrema somente para citar algumas accedilotildees

Poliacuteticas essas que dentre outras ajudaram a manter o Paiacutes mais

incoacutelume agraves uacuteltimas crises globais que afetaram profundamente a ldquosauacutederdquo de

diversas economias e naccedilotildees Como exemplo podemos citar a depressatildeo

econocircmica de 2008 que acabou resultando no natildeo restabelecimento do

crescimento sustentaacutevel nas economias maduras e impondo um aumento

acelerado do seu endividamento puacuteblico em um cenaacuterio de acentuada queda

na atividade econocircmica Segundo o graacutefico 4 ateacute o ano de 2010 as economias

maduras natildeo conseguiram recuperar as fortes perdas em decorrecircncia da crise

139

Graacutefico 4 - Baixo Crescimento das Economias Maduras

Fonte Bloomberg 2011 ndash wwwbloombergcom

Por consequecircncia crises como essa criaram oportunidades para uma

participaccedilatildeo mais efetiva e com maior evidecircncia dos paiacuteses do eixo Sul-Sul no

contexto internacional Segundo aponta o graacutefico 4 os paiacuteses emergentes

quando comparados com paiacuteses da zona do Euro e os EUA foram os que mais

se destacaram no crescimento econocircmico mundial da primeira deacutecada do

seacuteculo XXI

O Brasil a despeito de ser portador de forte desigualdade interna com

uma base de pesquisa e de desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico inovativo

em formaccedilatildeo e uma capacidade produtiva ainda fraacutegil vem mantendo uma

posiccedilatildeo de destaque principalmente nas duas uacuteltimas deacutecadas em funccedilatildeo da

adoccedilatildeo de uma poliacutetica externa ativa em convergecircncia com a consolidaccedilatildeo da

poliacutetica econocircmica nacional e regional

EUAZona do

EuroEmergen

tes

Meacutedia 2000-2007

26 22 66

Meacutedia 2008-2010

-03 -07 54

-2-101234567

a

o a

no

Economias MadurasBaixo Crescimento

140

Dessa forma o Brasil passou a exercer novos vetores de influecircncia com

forte potencialidade para ajudar a sustentabilidade das naccedilotildees do Sul 75

(p106) Muito embora o Brasil tivesse a CSS como um instrumento para o

fortalecimento da sua presenccedila no cenaacuterio internacional a cooperaccedilatildeo Sul-Sul

somente se estabeleceu mais efetivamente como prioridade da poliacutetica

externa brasileira tornando-se inclusive estrateacutegica para o Paiacutes a partir do

governo Lula isto eacute na primeira deacutecada do seacuteculo XXI

O governo Lula (2003-2010) considerou como estrateacutegia importante

realizar coalizotildees entre paiacuteses do Sul visando obter sucesso em iniciativas

multilaterais Poliacutetica externa mais intensa do que no governo precursor haja

vista a loacutegica vigente da sua diplomacia influenciada por bases ideoloacutegicas e

humanitaacuterias e tambeacutem por mudanccedilas no contexto internacional que

permitiram essas articulaccedilotildees entre os paiacuteses do Sul 81 dadas ldquoas profundas

alteraccedilotildees sistecircmicas do poacutes Guerra Friardquo 75 (p107)

A CSS passou a ter dupla funccedilatildeo Conforme afirma Gonccedilalves 78

tornou-se um instrumento duplo na poliacutetica exterior

ldquoservindo tanto como uma forma de promover solidariedade entre os paiacuteses inserindo-se diplomacia solidaacuteria do governo Lula como tambeacutem um suporte para a realizaccedilatildeo dos interesses nacionais visto que eacute capaz de reforccedilar as relaccedilotildees Sul-Sul auxiliar no processo de afirmaccedilatildeo do Brasil como um ator relevante na poliacutetica internacional e promover o comeacutercio com paiacuteses do Sulrdquo (p19)

Entretanto para uma efetiva inserccedilatildeo paiacuteses como o Brasil buscam

inserir-se competitivamente na economia internacional demandando

simultaneamente uma maior capacidade produtiva competitiva e sustentaacutevel

em niacutevel nacional

Ademais em que pese a importacircncia da CSS tanto na perspectiva

estruturante quanto na perspectiva do desenvolvimento local nacional e

regional haacute de se considerar o legado histoacuterico imperialista e intervencionista

e nesse sentido pode-se dizer que fortalecer a autonomia regional natildeo eacute

trivial A despeito da mudanccedila do paradigma geopoliacutetico e da integraccedilatildeo entre

as naccedilotildees do continente passar a ser considerada como prioritaacuteria - e sob essa

141

perspectiva do novo contexto poliacutetico priorizar a estrateacutegia de integraccedilatildeo como

meio de fortalecimento poliacutetico e econocircmico frente a um contexto de

globalizaccedilatildeo fortemente assimeacutetrico - devemos ter em mente todos os tipos de

dificuldades que travam esse processo sejam oacutebices de origem poliacutetica

diplomaacutetica econocircmica comercial fiscal ou cambial de remetentes (Estados

Unidos principalmente ndash paiacutes central no sistema-mundo) que tencionam o

processo de integraccedilatildeo

Isso posto tem grande importacircncia a necessidade de coordenar projetos

e programas de integraccedilatildeo latino-americanos (ou os demais referentes ao eixo

Sul-Sul) cuja hegemonia seja baseada no interesse regional comum a

despeito da diversidade e da assimetria socioeconocircmicas heterogecircneas

percebidas nesses paiacuteses Nesse sentido tem importacircncia estrateacutegica a

continuidade da integraccedilatildeo latino-americana e tambeacutem projetos que integrem

paiacuteses do eixo Sul-Sul como por exemplo paiacuteses africanos com o Brasil ndash

CPLP [76] - ou paiacuteses emergentes como Brasil Ruacutessia Iacutendia China e Aacutefrica do

Sul conhecidos como BRICS destacando-se tambeacutem o acordo de caraacuteter

poliacutetico estrateacutegico e econocircmico firmado entre Iacutendia Brasil e Aacutefrica do Sul

reconhecido como IBAS ou Foacuterum de Dialogo Iacutendia-Brasil-Aacutefrica do Sul ou G3

Aleacutem disso haacute de se considerar como um grande obstaacuteculo a ser

ultrapassado a grande desigualdade existente na regiatildeo no caso especiacutefico da

Ameacuterica Latina Eacute consenso entre as Organizaccedilotildees Internacionais que a regiatildeo

eacute a mais desigual do planeta 82 E essas diferenccedilas tambeacutem dificultam o

estabelecimento e o fortalecimento de accedilotildees integradoras e endoacutegenas entre

os paiacuteses em questatildeo

Algumas das dificuldades internas e dos limites estruturais e

institucionais que desafiam a conduccedilatildeo e a integraccedilatildeo regional podem ser

definidas como (a) diacutevidas histoacutericas (b) orccedilamentos decrescentes dos paiacuteses

76

CPLP ndash Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa criado em 1996 eacute foro multilateral

para cooperaccedilatildeo e eacute composto por 8 paiacuteses Brasil Angola Cabo Verde Guineacute Bissau Moccedilambique

Portugal Satildeo Tomeacute e Priacutencipe e Timor-Leste e tem como objetivos dentre outros a concertaccedilatildeo poliacutetico-

diplomaacutetica entre seus estados membros nomeadamente para o reforccedilo da sua presenccedila no cenaacuterio

internacional e a cooperaccedilatildeo em todos os domiacutenios inclusive os da educaccedilatildeo sauacutede ciecircncia e tecnologia

defesa agricultura administraccedilatildeo puacuteblica comunicaccedilotildees justiccedila seguranccedila puacuteblica cultura desporto e

comunicaccedilatildeo social Disponiacutevel em httpwwwcplporgid-46aspx Acesso em 04032012

142

(c) heterogeneidade da capacidade de produccedilatildeo (d) desigualdades estruturais

e das capacidades produtivas tecnoloacutegicas e de conhecimento (e) limitada

capacidade de inovaccedilatildeo e de pesquisa e de desenvolvimento (f) falta de

continuidade das decisotildees poliacuteticas isto eacute maior tendecircncia agrave formaccedilatildeo de

poliacuteticas de governo e natildeo de Estado (g) a incoerecircncia com as demais

poliacuteticas e (h) incapacidade de governanccedila e de mensuraccedilatildeo dos resultados e

dos impactos alcanccedilados

A despeito das dificuldades existentes tanto no acircmbito interno de cada

paiacutes (do Sul) quanto agraves questotildees soacutecio-poliacuteticas e econocircmicas dos paiacuteses e a

forte desigualdade entre eles muitos desses paiacuteses estatildeo se organizando e

fortalecendo a sua atuaccedilatildeo em blocos (nos organismos multilaterais) O que

reforccedila o multilateralismo e a defesa do todo e natildeo somente de muito poucos

Isso posto alternativas ao Sul estabelecidas em consenso e em

coalizotildees pelos paiacuteses e por suas poliacuteticas externas satildeo consequecircncias da

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees internacionais na era Poacutes-Guerra Fria em que o

multilateralismo amplia os poderes de decisatildeo nos principais foacuteruns

internacionais

Alternativas essas que durante o governo Lula se estabeleceram

sedimentando uma trajetoacuteria ativa e cada vez mais influente que se estende ateacute

os dias de hoje Essas alternativas podem ser reconhecidas como intra e inter-

regionais A Ameacuterica do Sul a criaccedilatildeo do Unasul pela defesa do regionalismo

a aproximaccedilatildeo com a Aacutefrica por meio do fortalecimento dos PALOPS (e CPLP)

a constituiccedilatildeo do IBAS e a o BRICS satildeo focos dessa poliacutetica

Em consequecircncia desse movimento podem ser apontados tanto sob a

perspectiva intra-regional quanto na perspectiva inter-regional os principais

mecanismos da poliacutetica externa do Brasil [77]

Sob o recorte da Ameacuterica do Sul destacam-se dentre outras iniciativas

Mercado Comum do Sul - MERCOSUL

Uniatildeo de Naccedilotildees Sul-Americanas - UNASUL

Organizaccedilatildeo do Tratado de Cooperaccedilatildeo Amazocircnica -OTCA

77 Disponiacutevel em wwwmregovbr

143

Associaccedilatildeo Latino-Americana de Integraccedilatildeo - ALADI

Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos - CELAC

em conjunto com Ameacuterica Central e Caribe

Sistema Econocircmico Latino-Americano de Integraccedilatildeo - SELA incluindo o

Caribe

Comunidade Andina de Naccedilotildees - CAN [78] e

Alianccedila Bolivariana para as Ameacutericas - ALBA [79]

Envolvendo mais de um continente

Agrupamento Brasil Ruacutessia Iacutendia China e Aacutefrica do Sul ndash BRICS

Foacuterum de Diaacutelogo Iacutendia Brasil e Aacutefrica do Sul ndash IBAS

Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa ndash CPLP [80]

Cuacutepula Ibero-Americana

Cuacutepula Ameacuterica do Sul-Aacutefrica - ASA

Cuacutepula Ameacuterica Latina Caribe e Uniatildeo Europeacuteia - ALC-EU

Cuacutepula Ameacuterica do Sul - Paiacuteses Aacuterabes - ASPA e

Foacuterum de Cooperaccedilatildeo Ameacuterica Latina ndash Aacutesia do Leste - FOCALAL

Natildeo eacute pretensatildeo deste estudo apresentar cada uma das iniciativas da

poliacutetica externa brasileira

Entretanto em funccedilatildeo da priorizaccedilatildeo estrateacutegica dada agrave integraccedilatildeo sul-

americana que tem no MERCOSUL e na UNASUL seus principais pilares e agrave

aproximaccedilatildeo estrateacutegica com a Aacutefrica com a intensificaccedilatildeo do relacionamento

do Brasil com o continente africano em termos gerais optamos por destacar

mesmo que brevemente as principais iniciativas referentes a esses dois

continentes isto eacute o MERCOSUL a UNASUL e o CPLP Destas iniciativas no

capitulo V seratildeo identificados os principais movimentos relacionados agrave sauacutede

questatildeo que norteia esta tese de doutoramento

78

Brasil como Estado associado

79

Brasil natildeo eacute Estado-membro

80

Os paiacuteses membros do PALOPS inserem-se na CPLP

144

Isso posto a integraccedilatildeo sul-americana em funccedilatildeo do potencial que a

Ameacuterica do Sul representa para o Brasil tem caraacuteter primordial A regiatildeo eacute

potencialmente positiva para a integraccedilatildeo a despeito da desigualdade

existente no que se refere a questotildees de mercado Os paiacuteses possuem

condiccedilotildees geopoliacuteticas e econocircmicas muito distintas apesar da similaridade

dos aspectos culturais de colonizaccedilatildeo religiosos linguiacutesticos e geograacuteficos

Conforme portal do Itamaraty [81] ao definir a integraccedilatildeo regional sob a

abordagem positiva

ldquoa regiatildeo eacute potencialmente autossuficiente em energia tem as maiores reservas de aacutegua do mundo e uma enorme capacidade de produccedilatildeo agriacutecola A regiatildeo tambeacutem representa um mercado em expansatildeo com perspectivas auspiciosas no conjunto da regiatildeo de crescimento econocircmico Aleacutem disso todos os paiacuteses da Ameacuterica do Sul satildeo democracias com governos constitucionalmente eleitos que colocaram a causa da justiccedila social no centro de seus cenaacuterios poliacuteticosrdquo

Ainda de acordo com o Itamaraty optou-se pela priorizaccedilatildeo da regiatildeo

sul-americana entendida como o entorno geograacutefico imediato ao territoacuterio

brasileiro com maior viabilidade nas coordenaccedilotildees poliacuteticas e dos projetos

concretos de integraccedilatildeo

21 Mercosul

O Mercado Comum do Sul ndash MERCOSUL importante projeto de poliacutetica

externa do Brasil representa mais do que um acordo comercial Eacute um processo

de integraccedilatildeo econocircmica entre Argentina Brasil Paraguai e Uruguai iniciado

com a assinatura do Tratado de Assunccedilatildeo [82] em 260391 tendo adquirido

personalidade juriacutedica internacional e estabelecida a sua estrutura institucional

81

Disponiacutevel em wwwitamaratygovbr Acesso em 22052012

82

Tratado de Assunccedilatildeo ndash Tratado para a Constituiccedilatildeo de um Mercado Comum entre a Repuacuteblica

Argentina a Repuacuteblica Federativa do Brasil a Repuacuteblica do Paraguai e a Repuacuteblica Oriental do Uruguai

Disponiacutevel emhttpwwwmercosulgovbrtratados-e-protocolostratado-de-assuncao-1 Acesso em

18 de abril de 2012

145

com o Protocolo de Ouro Preto [83] em 170294 Atualmente satildeo Estados

Associados Boliacutevia Chile Peru Colocircmbia e Equador Venezuela assinou o

Protocolo de Adesatildeo ao Mercosul em 2006 poreacutem para a conclusatildeo da adesatildeo

falta a aprovaccedilatildeo do Congresso Parlamentar do Paraguai

A fim de se promover a reforma das economias e a abertura de

mercados o Tratado previa uma agenda de integraccedilatildeo que se dividia em

etapas distintas A primeira a aacuterea de livre comeacutercio Esta deu origem agrave tarifa

externa comum na regiatildeo A segunda a uniatildeo aduaneira E a terceira o

mercado comum Estas duas uacuteltimas etapas ainda natildeo foram definidas por

conta da dificuldade de os paiacuteses convergirem nas suas poliacuteticas cambial

orccedilamentaacuteria e monetaacuteria Entretanto eacute mais evidente a integraccedilatildeo comercial

promovida pela primeira etapa do projeto do Mercosul e as expectativas em

relaccedilatildeo ao incremento de poder de negociaccedilatildeo junto a outras instacircncias que o

Mercosul tende a promover apesar das divergecircncias ainda constantes entre os

parceiros notadamente Brasil e Argentina

Representa em 2011 uma populaccedilatildeo de mais de 200 milhotildees de

habitantes dos quais 80 se encontram no Brasil O que segundo o Ministeacuterio

do Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Exterior [84] para o Brasil ldquopode natildeo

parecer um grande mercado ampliado mas permite uma importante

experiecircncia para nossas empresas em especial as pequenas e meacutedias no

contato com o mercado externo e expansatildeo das relaccedilotildees comerciais com

outros mercadosrdquo Ainda segundo o portal do MDIC o MERCOSUL eacute

atualmente a quarta aacuterea geoeconocircmica do mundo e um dos mercados

emergentes com maior renda per capita

Considerado como uma ferramenta estrateacutegica para a defesa dos

projetos nacionais dos seus parceiros na economia-mundo promovida pela

globalizaccedilatildeo constitui uma zona de livre comeacutercio e uma uniatildeo aduaneira que

visa agrave formaccedilatildeo de um mercado comum entre seus Estados Partes

83

Protocolo de Outro Preto ndash Protocolo Adicional ao Tratado de Assunccedilatildeo sobre a Estrutura

Institucional do Mercosul Disponiacutevel emhttpwwwmercosulgovbrtratados-e-protocolosprotocolo-

de-ouro-preto-1 Acesso em 18 de abril de 2012

84

Ver wwwmdicgovbr 2012

146

Tem como objetivo a livre circulaccedilatildeo de bens serviccedilos trabalhadores e

capital entre os paiacuteses do bloco buscando o aumento e a diversificaccedilatildeo da

oferta de bens e serviccedilos com padrotildees comuns de qualidade seguindo normas

internacionais com economias de escala Visa ao estabelecimento de uma

tarifa externa comum isto eacute o estabelecimento de uma poliacutetica comercial

uniforme em relaccedilatildeo a terceiros paiacutesesblocos Objetiva a coordenaccedilatildeo de

posiccedilotildees comuns em foros econocircmico-comerciais regionais e internacionais a

coordenaccedilatildeo de poliacuteticas macroeconocircmicas e a harmonizaccedilatildeo das poliacuteticas

setoriais e dos coacutedigos legislativos dos paiacuteses membros nas aacutereas

relacionadas ao processo de integraccedilatildeo

Aleacutem disso objetiva a promoccedilatildeo de modo coordenado do

desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico e a busca permanente de pautas

comuns para o desenvolvimento sustentaacutevel dos recursos regionais aleacutem de

visar participaccedilatildeo crescente dos setores privados no processo de integraccedilatildeo

[85]

Ademais segundo o Itamaraty 83 o Mercosul caracteriza-se pelo

regionalismo aberto isto eacute aleacutem do comeacutercio intrazona visa ao intercacircmbio

comercial com terceiros paiacuteses

Passados 20 anos da criaccedilatildeo do Mercosul o otimismo sobre a

integraccedilatildeo deu lugar agrave ldquoprevalecircncia das visotildees nacionaisrdquo agraves ldquodiferenccedilas

surgidas na Ameacuterica do Sulrdquo e agrave ldquoemergecircncia da China como primeiro parceiro

comercial de muitos paiacuteses da regiatildeo inclusive o Brasilrdquo o que acarretou

grandes obstaacuteculos agrave negociaccedilatildeo no acircmbito do Mercosul 84

As medidas protecionistas entre os paiacuteses membros do Mercosul

tornaram-se constantes O que acabou gerando conflitos comerciais mais

evidentes entre os maiores e menores representantes respectivamente Brasil

ndash Argentina e Paraguai - Uruguai A fragilidade em funccedilatildeo das barreiras

comerciais impostas entre os seus pares tambeacutem ocasionou desgastes que

comprometeram os fundamentos do Mercosul em que ateacute poucos anos atraacutes

tinha a sua continuidade comprometida 85

85

Disponiacutevel em wwwmdicgovbr Acesso em 22052012

147

Entretanto segundo o MDIC 86 as ldquoperspectivas indicam que o

intercacircmbio intra-zona continuaraacute crescendo demonstrando que ainda natildeo se

configurou o esgotamento do potencial de comeacuterciordquo Entre 2002 a 2008 [86] a

corrente de comeacutercio entre o Brasil e os demais paiacuteses do Mercosul passou de

US$ 89 bilhotildees para US$ 366 bilhotildees Logicamente a recente crise

econocircmica mundial impactou o comeacutercio do bloco A partir de 2010 houve a

retomada comercial Entretanto apesar das apostas no desenvolvimento e no

comercio intra-bloco deve-se considerar a possibilidade da aproximaccedilatildeo dos

seus limites ldquorecomendando-se a ampliaccedilatildeo das fronteiras seja pela conquista

de novos parceiros seja pela diversificaccedilatildeo das pautas de comeacuterciordquo conforme

defende o MDIC 86

Por outro lado a despeito de inicialmente estar voltado para a

integraccedilatildeo econocircmica e comercial com as dificuldades institucionais e

estruturais decorrentes e imersos em crises econocircmicas reconhecendo-se

inclusive no Brasil o reduzido impacto para a estrutura produtiva nacional e a

quase marginalidade para as necessidades brasileiras de modernizaccedilatildeo

produtiva os paiacuteses do Mercosul notadamente o Brasil passaram a dar maior

ecircnfase nos primeiros anos do seacuteculo XXI agraves questotildees poliacuteticas e sociais da

regiatildeo 84

ldquoEmbora essas novas ecircnfases representem uma distorccedilatildeo do Tratado de Assunccedilatildeo muitos vecircem tais medidas como igualmente importantes para a integraccedilatildeo regional Esse processo no entanto vive hoje um momento de crise institucional que caso fosse superada poderia fazer crescer ainda mais o relacionamento comercial entre os paiacuteses-membrosrdquo

Nessa perspectiva segundo avaliaccedilatildeo de Lafer 34 (p 90 -91) o Mercosul

lida com o ldquoconflito e a cooperaccedilatildeo na moldura do direito e da diplomacia

lastreados no potencial de sociabilidade e solidariedade que vem sendo

desenvolvido entre os seus membros no correr do tempordquo Na projeccedilatildeo do

autor o Mercosul comporta forte potencialidade

ldquotem como base fazer natildeo apenas a melhor poliacutetica mas tambeacutem a melhor economia de suas geografias no contexto de valores comuns de inspiraccedilatildeo democraacutetica voltados para a construccedilatildeo de paz e para

86

Segundo dados disponiacuteveis em httpsi3govplanejamentogovbr Acesso em 22062012

148

a promoccedilatildeo do desenvolvimento da sua regiatildeo Eacute isso que vem sustentando a agenda da integraccedilatildeo econocircmica e a efetiva transformaccedilatildeo das fronteiras de claacutessicas fronteiras-separaccedilatildeo em modernas fronteiras-cooperaccedilatildeordquo

Nesse sentido declara Barbosa 84 ldquoo processo de integraccedilatildeo sub-

regional eacute um ganho poliacutetico e econocircmico para os paiacuteses-membros pela

relevacircncia no plano estrateacutegico-diplomaacuteticordquo Em meio agrave crise institucional do

Mercosul eacute que a priorizaccedilatildeo dada pelo Brasil a essa integraccedilatildeo mais

notadamente a partir da gestatildeo do governo Lula a despeito da criaccedilatildeo do

Unasul e a esperada superposiccedilatildeo de competecircncias reflete a expectativa do

fortalecimento e do alcance dos objetivos previstos e pactuados entre os

paiacuteses membros do Mercosul

No tocante agraves questotildees da ldquoSauacutederdquo esse tema encontra-se inserido no

Subgrupo de Trabalho nordm 11 ndash SGT-11 dentro da estrutura do Grupo Mercado

Comum ndash GMC [87] aleacutem de ser tema com destaque especiacutefico das Reuniotildees

de Ministros da Sauacutede no acircmbito do Conselho do Mercado Comum - CMC A

formalizaccedilatildeo de propostas provenientes desses dois foros eacute direcionada a

esses dois oacutergatildeos principais do Mercosul que tecircm como caracteriacutestica o poder

decisoacuterio de conduccedilatildeo poliacutetica e executiva o CMC e o GMC

A Reuniatildeo de Ministros da Sauacutede do Mercosul (RMS) foi criada em

1995 Tem como funccedilatildeo propor ao CMC medidas para a coordenaccedilatildeo de

poliacuteticas voltadas para a aacuterea da sauacutede no Mercosul Tem como objetivo definir

planos estrateacutegias programas e diretrizes visando ao processo de integraccedilatildeo

Ademais atua na formulaccedilatildeo no acordo e no apoio a accedilotildees de promoccedilatildeo

prevenccedilatildeo proteccedilatildeo e atenccedilatildeo agrave sauacutede que satildeo realizadas em cada Estado

membro seja por meio de recursos dos sistemas nacionais de sauacutede ou por

meio de projetos de cooperaccedilatildeo intra ou extra bloco

87 Compotildeem o GMC outros 13 grupos de trabalho ndash SGT-1 Comunicaccedilotildees SGT-2 - Aspectos

Institucionais SGT-3 - Regulamentos Teacutecnicos e Avaliaccedilatildeo de Conformidade SGT-4 - Assuntos

Financeiros SGT-5 - Transporte SGT- 6 - Meio-Ambiente SGT-7 - Induacutestria SGT-8 -Agricultura

SGTndash 9 - Energia e mineraccedilatildeo SGT-10 - Assuntos de Trabalho Emprego e Seguridade Social SGT-12 -

Investimentos SGT-13 - Comeacutercio Eletrocircnico e SGT- 14 - Acompanhamento da Conjuntura Econocircmica e

Social

149

Figura 4 Reuniatildeo dos Ministros da Sauacutede do Mercosul - RMS

RMSDecisatildeo CMC 011995Decisatildeo CMC 031995

Comitecirc Coordenador (CC)Decisatildeo CMC 031995

CI Controle do TabacoAcordo 062003

CI Implementaccedilatildeo do RSIAcordo 082005

CI Doaccedilatildeo e TransplanteAcordo 032006

CI Gestatildeo de Riscos e Reduccedilatildeo de

VulnerabilidadesAcordo 052004

CI HIV -AIDSAcordo 022002

CI Sauacutede Ambiental e do TrabalhadorAcordo 052004

CI Controle da Dengue

Acordo 012001

CI Poliacutetica de MedicamentosAcordo 012000

CI Sauacutede e DesenvolvimentoAcordo 072004

CI Sexual e Reprodutiva

Acordo 132003

CI Sistemas de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo

em SauacutedeAcordo 012006

Banco de Preccedilos de

Medicamentos

Acordo 012005

Versatildeo 13072007

Fonte httpwwwmercosulsaudedevsitecombrPDFOrganograma20RMS_13_07_2007_PTpdf

Sob a orientaccedilatildeo do Grupo Mercado Comum o Subgrupo de Trabalho

nordm 11 criado pela Resoluccedilatildeo GMC nordm 15196 comporta na atual estrutura a

Comissatildeo dos Serviccedilos de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede a Comissatildeo dos Produtos para

Sauacutede e a Comissatildeo de Vigilacircncia em Sauacutede com suas Subcomissotildees e

Grupos Ad hoc O SGT-11 tem caraacuteter deliberativo e os trabalhos do grupo satildeo

organizados conforme pauta de interesse comum da qual constam temas

priorizados pelos Estados Partes sendo acordada e aprovada pelo GMC

Nesse sentido executam suas atividades conforme pauta aprovada pela

Resoluccedilatildeo GMC nordm 1307 que relaciona os temas sobre os quais se buscaraacute a

harmonizaccedilatildeo de legislaccedilotildees e diretrizes promovendo a cooperaccedilatildeo teacutecnica e

coordenando as accedilotildees necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo entre os

Estados-Partes segundo a proposta de uma norma na aacuterea da sauacutede comum a

todos os Estados membros O relacionamento do SGT nordm 11 Sauacutede com as

150

demais instacircncias do Mercosul busca promover a integraccedilatildeo e a

complementaccedilatildeo das accedilotildees A despeito do caraacuteter supranacional eacute mister

destacar que se faz necessaacuteria a incorporaccedilatildeo das normas pelos Estados

partiacutecipes junto aos oacutergatildeos competentes nacionais normas essas passiacuteveis de

adendos e modificaccedilotildees poreacutem necessaacuterias com retificaccedilotildees ou natildeo de

serem incorporadas pelo Estado

Accedilotildees e atividades implementadas pelo Mercosul no tema ldquoSauacutederdquo por

meio desses foros especiacuteficos seratildeo abordados no capiacutetulo V cujo objetivo eacute

identificar a inter-relaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais com a poliacutetica externa dentro

da concepccedilatildeo da cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Antes de apresentar a Unasul contemporacircnea na regiatildeo vale destacar

uma organizaccedilatildeo centenaacuteria a OPAS Criada em 1902 na 2ordf Conferecircncia

Internacional da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos a Organizaccedilatildeo Pan-

Americana da Sauacutede ndash OPAS eacute um organismo regional de sauacutede puacuteblica com

um seacuteculo de experiecircncia dedicado a melhorar as condiccedilotildees de sauacutede dos

paiacuteses das Ameacutericas Segundo seu site oficial a OPAS exerce atuaccedilatildeo no

Escritoacuterio Regional da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede para as Ameacutericas e faz

parte dos sistemas da Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos (OEA) e da

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU)

A OPAS coopera com os governos atraveacutes de teacutecnicos e cientistas

para melhorar poliacuteticas e serviccedilos puacuteblicos de sauacutede estimulando o trabalho

em conjunto com os paiacuteses para alcanccedilar metas comuns como iniciativas

sanitaacuterias multilaterais de acordo com as decisotildees dos governos que fazem

parte do corpo diretivo da Organizaccedilatildeo Conforme sua missatildeo baseia-se na

orientaccedilatildeo de esforccedilos estrateacutegicos de colaboraccedilatildeo entre Estados membros a

fim de promover a equidade na sauacutede combater doenccedilas melhorar a

qualidade e elevar a expectativa de vida dos povos das Ameacutericas seus

cientistas incentivam a promoccedilatildeo da transferecircncia de tecnologia e a difusatildeo do

conhecimento acumulado atraveacutes de experiecircncias produzidas nos Estados

Membros da OPASOMS [88]

88

Disponiacutevel em httpnewpahoorgbra

151

Aleacutem disso essa organizaccedilatildeo busca contribuir para o fortalecimento do

setor da sauacutede nos paiacuteses a fim de que os programas prioritaacuterios sejam

executados e sejam privilegiados enfoques multisetoriais e integrais de sauacutede

Ademais sob os auspiacutecios da OPAS em seu Documento Oficial 328

referente ao Plano Estrateacutegico 2008 ndash 2012 de junho de 2009 vale destacar

dentre os objetivos estrateacutegicos da OPAS 87 aqueles que asseguram a

melhoria do acesso da qualidade e do uso de produtos meacutedicos e de

tecnologias sanitaacuterias o fortalecimento da autoridade sanitaacuteria nacional a

diminuiccedilatildeo das desigualdades em sauacutede entre os paiacuteses e as iniquidades no

interior dos mesmos e o aproveitamento dos conhecimentos da ciecircncia e da

tecnologia (p18)

Cabe destacar a estreita correlaccedilatildeo desses objetivos ao firmado na

Agenda da Sauacutede para as Ameacutericas 2008-2017 88 o que denota uma

convergecircncia da questatildeo do acesso a bens e serviccedilos de sauacutede e ao

fortalecimento da capacidade de produccedilatildeo dos paiacuteses e de mecanismos

correlacionados

Aumentar la Proteccioacuten Social y el Acceso a los Servicios de Salud de Calidad ndash (48)El acceso a medicamentos y tecnologias de salud es un requerimiento para tener intervenciones de salud efectivas Para promover el acceso a los medicamentos los paiacuteses debieren considerar a) usar al maacuteximo las provisiones em los acuerdos de comercio incluyendo sus flexibilidades b) fortalecer el sistema de provisioacuten c) fortalecer los mecanismos de compras subregionales y regionales d) promover el uso racional de los medicamentos y e) reducir las barreras tarifarias a los medicamentos y tecnologiacuteas de salu

88 (p15)

Em que pese a importacircncia histoacuterica da OPAS para a regiatildeo o novo

cenaacuterio internacional traacutes desafios diversos para a sauacutede puacuteblica que requerem

um processo de reforma e governanccedila na estrutura da OPAS capaz de

acompanhar a atual multiplicidade de atores na cooperaccedilatildeo teacutecnica em sauacutede

nos niacuteveis global regional e nacional

A despeito do desafio da governanccedila global ressalta-se que a OPAS

dado o embasamento histoacuterico em prol da regiatildeo exerce papel de fundamental

importacircncia na promoccedilatildeo do desenvolvimento da cooperaccedilatildeo SulndashSul

152

inclusive via mecanismos de integraccedilatildeo como MERCOSUL UNASUL e os

paiacuteses de liacutengua portuguesa (CPLP)

22 Unasul

Composta pelos doze paiacuteses da Ameacuterica do Sul [89] a Uniatildeo de Naccedilotildees

Sul-Americanas - UNASUL teve o seu Tratado Constitutivo [90] assinado em

Brasiacutelia no dia 23052008 O compromisso com o desenvolvimento e a

sustentabilidade foi reafirmado pela Unasul em sua reuniatildeo extraordinaacuteria de

chefas e chefes de Estado em 28 de julho de 2011

A integraccedilatildeo latino-americana eacute condiccedilatildeo necessaacuteria para o

desenvolvimento sustentaacutevel e o bem-estar dos povos Representa o

adensamento da integraccedilatildeo regional e o comprometimento poliacutetico de todos os

paiacuteses sul-americanos a fim de avanccedilar segundo o Tratado Constitutivo da

Unasul rumo ao desenvolvimento sustentaacutevel e o bem-estar dos povos assim

como para contribuir para resolver os problemas que ainda afetam a regiatildeo

como a pobreza a exclusatildeo e a desigualdade social persistentes

Sua estrutura institucional eacute disposta em dois niacuteveis diferenciados

centrais e setoriais Os oacutergatildeos centrais isto eacute o Conselho de Chefes de

Estado e de Governo o Conselho de Ministros das Relaccedilotildees Exteriores o

Conselho de Delegados e a Secretaria-Geral satildeo os responsaacuteveis pela

orientaccedilatildeo poliacutetica geral e pela supervisatildeo do processo de integraccedilatildeo Os

setoriais comportam atualmente oito Conselhos Ministeriais (a) sauacutede (b)

defesa (c) desenvolvimento social (d) energia (e) sobre o problema mundial

das drogas (f) infraestrutura e planejamento (g) educaccedilatildeo cultura ciecircncia

tecnologia e inovaccedilatildeo (h) economia e financcedilas

89

Argentina Boliacutevia Brasil Colocircmbia Chile Equador Guiana Paraguai Peru Suriname

Uruguai e Venezuela

90 httpwwwitamaratygovbrtemasamerica-do-sul-e-integracao-regionalunasultratado-

constitutivo-da-unasulsearchterm=unasul

153

Em conformidade ao objetivo estrateacutegico da poliacutetica externa brasileira

quanto agrave integraccedilatildeo sul-americana ultrapassa a simples concertaccedilatildeo poliacutetica

presente em outros foacuteruns regionais A integraccedilatildeo visa portanto ao

desenvolvimento socioeconocircmico da Ameacuterica do Sul e agrave preservaccedilatildeo da paz

na regiatildeo ao desenvolvimento do mercado interno sul-americano e ao

aumento da competitividade dos paiacuteses no mercado internacional e ao

fortalecimento da capacidade de atuaccedilatildeo do Brasil em outros foacuteruns

internacionais

A integraccedilatildeo sob essa perspectiva eacute um passo decisivo rumo ao

fortalecimento do multilateralismo e agrave vigecircncia do direito nas relaccedilotildees

internacionais para alcanccedilar um mundo multipolar equilibrado e justo no qual

prevaleccedila a igualdade soberana dos Estados e uma cultura de paz

Nesse sentido diferentemente do Mercosul que tem uma natureza

predominantemente econocircmica a Unasul apresenta uma natureza mais

poliacutetica

Portanto a Unasul objetiva a construccedilatildeo de forma consensual e

participativa de um espaccedilo de integraccedilatildeo articulada nos acircmbitos poliacutetico

econocircmico social e cultural entre seus povos Ainda segundo o Tratado

prioriza o diaacutelogo poliacutetico as poliacuteticas sociais a educaccedilatildeo a energia a

infraestrutura o financiamento e o meio ambiente entre outros com vistas a

eliminar a desigualdade socioeconocircmica alcanccedilar a inclusatildeo social e a

participaccedilatildeo cidadatilde fortalecer a democracia e reduzir as assimetrias no marco

do fortalecimento da soberania e independecircncia dos Estados

Cabe destacar dentre outros os objetivos especiacuteficos da Unasul que

possuem interface com o tema da sauacutede conforme o artigo 3ordm do Tratado

Constitutivo

a) o fortalecimento do diaacutelogo poliacutetico entre os Estados Membros que assegure

um espaccedilo de concertaccedilatildeo para reforccedilar a integraccedilatildeo sul-americana e a

participaccedilatildeo da UNASUL no cenaacuterio internacional

b) o desenvolvimento social e humano com equidade e inclusatildeo para erradicar

a pobreza e superar as desigualdades na regiatildeo

154

c) a integraccedilatildeo industrial e produtiva com especial atenccedilatildeo agraves pequenas e

meacutedias empresas cooperativas redes e outras formas de organizaccedilatildeo

produtiva

d) a definiccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas e projetos comuns ou

complementares de pesquisa inovaccedilatildeo transferecircncia e produccedilatildeo tecnoloacutegica

com vistas a incrementar a capacidade a sustentabilidade e o desenvolvimento

cientiacutefico e tecnoloacutegico proacuteprios

e) a cooperaccedilatildeo econocircmica e comercial para avanccedilar e consolidar um

processo inovador dinacircmico transparente equitativo e equilibrado que

contemple um acesso efetivo promovendo o crescimento e o desenvolvimento

econocircmico que supere as assimetrias mediante a complementaccedilatildeo das

economias dos paiacuteses da Ameacuterica do Sul assim como a promoccedilatildeo do bem-

estar de todos os setores da populaccedilatildeo e a reduccedilatildeo da pobreza

f) a proteccedilatildeo da biodiversidade dos recursos hiacutedricos e dos ecossistemas

assim como a cooperaccedilatildeo na prevenccedilatildeo das cataacutestrofes e na luta contra as

causas e os efeitos da mudanccedila climaacutetica

g) o desenvolvimento de mecanismos concretos e efetivos para a superaccedilatildeo

das assimetrias alcanccedilando assim uma integraccedilatildeo equitativa

h) o intercacircmbio de informaccedilatildeo e de experiecircncias em mateacuteria de defesa

i) a cooperaccedilatildeo setorial como um mecanismo de aprofundamento da

integraccedilatildeo sul-americana mediante o intercacircmbio de informaccedilatildeo experiecircncias

e capacitaccedilatildeo

j) o desenvolvimento de uma infraestrutura para a interconexatildeo da regiatildeo e de

nossos povos de acordo com criteacuterios de desenvolvimento social e econocircmico

sustentaacuteveis

k) a cooperaccedilatildeo em mateacuteria de migraccedilatildeo com enfoque integral e baseado no

respeito irrestrito aos direitos humanos e trabalhistas para a regularizaccedilatildeo

migratoacuteria e a harmonizaccedilatildeo de poliacuteticas e

155

l) a participaccedilatildeo cidadatilde por meio de mecanismos de interaccedilatildeo e diaacutelogo entre

a Unasul e os diversos atores sociais na formulaccedilatildeo de poliacuteticas de integraccedilatildeo

Sul-Americana

A UNASUL portanto como organismo internacional representa um

organismo do sistema multilateral com caracteriacutesticas contemporacircneas isto eacute

compromissado politicamente e com crescente peso poliacutetico inclusive por

representar uma aacuterea continental paciacutefica sem reservas nucleares com

projetos comuns de integraccedilatildeo e com capacidade de superaccedilatildeo dos efeitos

nocivos das graves crises econocircmicas internacionais

De forma mais ativa as aacutereas da sauacutede e da defesa receberam maior

protagonismo junto agrave Unasul E nesse sentido conforme afirma Temporatildeo em

palestra proferida em Brasilia [91] a Unasul se estabelece inicialmente sob

duas prioridades principais a defesa e a sauacutede A Argentina protagonizou a

institucionalizaccedilatildeo dos esforccedilos na aacuterea da defesa E no tocante agrave sauacutede o

paiacutes com maior expressatildeo nessa aacuterea tem sido o Brasil cujo esforccedilo e

determinaccedilatildeo eacute observado no Plano Quinquenal de Sauacutede 2010-2025 aleacutem da

criaccedilatildeo e instalaccedilatildeo definitiva do Instituto Sul Americano de Governo em Sauacutede

(ISAGS)

Foi em dezembro de 2008 durante a Cuacutepula da Costa do Sauiacutepe que

os chefes de Estado e de Governo da Unasul com base nos artigos 3o 5o e 6o

do Tratado Constitutivo da UNASUL firmaram o Conselho de Sauacutede Sul-

Americano ou simplesmente Unasul Sauacutede como oacutergatildeo de consulta e

consenso em mateacuteria de sauacutede

Integrado pelos 12 ministros da Sauacutede dos paiacuteses-membros tem entre

outros objetivos a promoccedilatildeo de poliacuteticas comuns atividades coordenadas e

cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses e a promoccedilatildeo de respostas coordenadas e

solidaacuterias perante situaccedilotildees de emergecircncia e cataacutestrofes bem como a

91

Temporatildeo J Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e complexo econocircmico-industrial da sauacutede In Ciclo de

Debates sobre Bioeacutetica Diplomacia e Sauacutede Puacuteblica Nuacutecleo de Estudos sobre Bioeacuteticas e Diplomacia em

Sauacutede ndash NETHIS Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 2011 Disponiacutevel em

wwwbioeticaediplomaciaorg Acesso em 27012012

156

priorizaccedilatildeo das accedilotildees no acircmbito das fronteiras [92] Dentre os propoacutesitos

previstos estatildeo a construccedilatildeo de um espaccedilo de integraccedilatildeo nas questotildees

relacionadas agrave sauacutede otimizando os esforccedilos e os resultados de outros

mecanismos de integraccedilatildeo regional como por exemplo o Mercosul a OPAS e

a OTCA aleacutem da promoccedilatildeo de poliacuteticas comuns e de atividades articuladas

consensuadas e coordenadas entre todos os paiacuteses partiacutecipes da Unasul

O Conselho de Sauacutede Sul-Americana (CSS) formado pelos Ministros da

Sauacutede dos paiacuteses-membros da Unasul eacute a instacircncia maacutexima da sauacutede na

Unasul Aleacutem do Conselho haacute o Comitecirc Coordenador que eacute responsaacutevel pela

preparaccedilatildeo dos projetos dos Acordos e Resoluccedilotildees e eacute formado pelos

representantes titulares e adjuntos de cada Estado Membro e um

representante do Mercosul ORAS CONHU OTCA e OPAS como

observadores [93]

O diferencial nessa composiccedilatildeo eacute que o CSS apoiado pela Secretaria

Teacutecnica que fica a cargo da Presidecircncia Pro-Tempore (PPT) da Unasul Sauacutede

ndash ocupado pelo respectivo Ministro da Sauacutede do paiacutes que ocupa a Presidecircncia

Pro-Tempore (PPT) da Unasul tambeacutem recebe o apoio dos dois paiacuteses da

PPT passada e seguinte o que promove uma maior garantia de continuidade

dos trabalhos

Tambeacutem fazem parte da estrutura os Grupos Teacutecnicos ldquoencarregados

de analisar elaborar preparar e desenvolver propostas planos e projetos que

contribuam para a integraccedilatildeo sul-americana em sauacutede de acordo com o

alinhamento estabelecido pela Agenda de Sauacutede Sul-Americanardquo [94]

Aleacutem dos Grupos Teacutecnicos a Unasul Sauacutede comporta Redes

Estruturantes que objetivam compartilhar o conhecimento no campo da sauacutede

conforme tabela abaixo

92

Unasul Conselho de Sauacutede Sul-AmericanoAcordo nordm 0209 ndash 21042009

93

Disponiacutevel em wwwisags-unasulorg

94

Disponiacutevel em wwwisags-unasulorg

157

Tabela 3 Redes de Instituiccedilotildees Estruturantes no campo da Sauacutede da Unasul

Redes

Estruturantes

Data da Criaccedilatildeo

Local da Criaccedilatildeo

Descriccedilatildeo

RINS - Rede dos Institutos Nacionais de Sauacutede

Marccedilo 2010

Peru

Relaciona-se aos Institutos Nacionais de Sauacutede ou similares dos paiacuteses membros da Unasul Visa contribuir para o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede com soluccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas para os problemas sanitaacuterios Busca o desenvolvimento dos Sistemas de Sauacutede mediante a integraccedilatildeo e o fortalecimento dos Institutos Nacionais de Sauacutede e seus homoacutelogos com a finalidade de alcanccedilar o melhoramento das condiccedilotildees de vida a reduccedilatildeo das desigualdades sociais em sauacutede e o bem-estar dos povos sul-americanos

RETS ndash Rede de Escolas Teacutecnicas de

Sauacutede [95

]

1997 2005

Brasil

Articulaccedilatildeo entre instituiccedilotildees e organizaccedilotildees envolvidas com a formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo de pessoal teacutecnico da aacuterea da sauacutede nas Ameacutericas e no Caribe Paiacuteses Africanos de Lingua Oficial Portuguesa (PALOP) e Portugal Tem como desafio expandir a Rede para outras regiotildees assim como para todos os paiacuteses que fazem parte da Comunidade de Paiacuteses de Lingua Portuguesa (CPLP)

RINC ndash Rede de Institutos Nacionais de Cacircncer

Setembro 2010

Argentina

Estrateacutegia de articulaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo entre instituiccedilotildees puacuteblicas de acircmbito nacional nos paiacuteses membros da UNASUL e nos demais paiacuteses da Ameacuterica Latina Eacute responsaacutevel por elaborar eou executar poliacuteticas e programas para o controle de cacircncer na regiatildeo da Ameacuterica do Sul Seu objetivo eacute somar esforccedilos regionais para trabalhar em rede em busca de fortalecimento da prevenccedilatildeo e controle integral do cacircncer na regiatildeo da Unasul

95

A RETS entre 1997 e 2001 englobava apenas paiacuteses latino-americanos A partir da sua

reativaccedilatildeo em 2005 vem buscando expandir a Rede para outras regiotildees inserindo os paiacuteses que fazem

parte da Comunidade de Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa

158

Continuaccedilatildeo

Redes Estruturantes

Data da Criaccedilatildeo

Local da Criaccedilatildeo

Descriccedilatildeo

RESP ndash Rede de Escolas de Sauacutede Puacuteblica

Abril 2011

Paraguai

Eacute uma rede de escolas de governo em sauacutede formada por instituiccedilotildees que atuam na formaccedilatildeo de recursos humanos para os sistemas de sauacutede dos paiacuteses membros do bloco Propotildee-se a articular diretamente com as poliacuteticas nacionais de sauacutede dos paiacuteses membros constituindo um espaccedilo de integraccedilatildeo para a produccedilatildeo de novas tecnologias que contribuam para o aperfeiccediloamento dos sistemas de sauacutede da regiatildeo Constitui-se em uma plataforma proativa para intercacircmbio de informaccedilotildees co-participaccedilatildeo de conhecimento e construccedilatildeo de capacidade A rede tem como objetivo promover educaccedilatildeo investigaccedilatildeo e intercacircmbios teacutecnicos de modo que se crie uma infraestrutura educacional para o desenvolvimento da forccedila de trabalho em sauacutede puacuteblica

REDSUR-ORISS ndash Rede de Oficina de Relaccedilotildees Internacionais e de Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede

Novembro 2009

Peru

Eacute uma estrateacutegia de articulaccedilatildeo que busca promover o fortalecimento institucional dos Ministeacuterios de Sauacutede da Unasul atraveacutes do aprimoramento e da intensificaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo inter-regional regional e internacional Busca o aperfeiccediloamento da coordenaccedilatildeo das accedilotildees de cooperaccedilatildeo teacutecnica inter-regional a promoccedilatildeo de uma maior articulaccedilatildeo entre as Oficinas de Relaccedilotildees Internacionais em Sauacutede (ORIS) com o intuito de melhorar os processos de cooperaccedilatildeo na regiatildeo e a promoccedilatildeo da capacitaccedilatildeo contiacutenua dos membros da ORIS e dos teacutecnicos do MINSA que atuam no acircmbito internacional

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir do site wwwisags-unasulorg

O estatuto da Unasul define a Agenda Sul-Americana de Sauacutede isto eacute

seu plano de Trabalho que eacute composto por cinco grandes aacutereas de trabalho

[96]

96

Ver anaacutelise de Buss PM A Unasul sauacutede Le Monde Diplomatique Brasil 2009 2630-31

159

1) Estabelecimento do escudo epidemioloacutegico (problemas de sauacutede da

regiatildeo processos endecircmicos e epidecircmicos)

2) Desenvolvimento dos Sistemas de Sauacutede Universais (com acesso a

toda a populaccedilatildeo)

3) Acesso Universal a Medicamentos (e a outros insumos para a sauacutede e

desenvolver o Complexo Produtivo da Sauacutede na Ameacuterica do Sul)

4) Promoccedilatildeo da Sauacutede e Accedilatildeo sobre os Determinantes Sociais

5) Desenvolvimento e Gestatildeo de Recursos Humanos em Sauacutede

No tocante a essas aacutereas de trabalho foi aprovado o Plano de Accedilatildeo

2010-2015 que detalha as atividades de cada um dos cinco toacutepicos propostos

A fim de priorizar a questatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede -

CEIS optou-se para este estudo dar destaque aos entendimentos relativos agrave

aacuterea de trabalho correlacionada ao CEIS no Plano de Trabalho da Unasul

Sauacutede a ser apresentado nos proacuteximos capiacutetulos

Ademais ganha relevacircncia a constituiccedilatildeo do Instituto Sul Americano de

Governanccedila em Sauacutede ndash ISAGS que dentre os desafios assumidos tem como

objetivo valorizar o parque e a capacidade produtiva da regiatildeo

Formado com o principal objetivo de promover o intercacircmbio a reflexatildeo

criacutetica a gestatildeo do conhecimento e a geraccedilatildeo de inovaccedilotildees no campo da

poliacutetica e governanccedila em sauacutede sob a perspectiva da agenda estrateacutegica para

o setor isto eacute do Plano Quinquenal de Sauacutede 2010-2015 o ISAGS foi criado

pelo Conselho de Chefes de Estado e de Governo no Equador em abril de

2010 Entidade intergovernamental de caraacuteter puacuteblico integrante do Conselho

de Sauacutede Sul-Americano da Uniatildeo das Naccedilotildees Sul-Americanas Tem como

membros os 12 paiacuteses da Ameacuterica do Sul aderidos agrave Unasul e tem como

representantes oficiais e formais os Ministeacuterios da Sauacutede e os Ministeacuterios das

Relaccedilotildees Exteriores de cada paiacutes partiacutecipe Formado pelos Conselhos Diretivo

e Consultivo e pela Direccedilatildeo Executiva busca preparar dirigentes e experts para

os sistemas de sauacutede regionais

O ISAGS eacute uma entidade com maior atuaccedilatildeo na gestatildeo do

conhecimento e na oferta de cooperaccedilatildeo teacutecnica e tem trecircs componentes

160

centrais formaccedilatildeo de quadros cooperaccedilatildeo teacutecnica e promoccedilatildeo do diaacutelogo

integrando e articulando os Ministros da sauacutede dos distintos paiacuteses Sua

atuaccedilatildeo daacute-se portanto (a) na gestatildeo e na produccedilatildeo de conhecimento (b) no

desenvolvimento de liacutederes em Gestatildeo em Sauacutede (c) no assessoramento

teacutecnico e (d) no trabalho em rede [97]

Nesse sentido o ISAGS se propotildee a colaborar com instituiccedilotildees

nacionais regionais e globais com redes de gestores e de acadecircmicos Sua

agenda eacute consensuada isto eacute pactuada entre os paiacuteses membros (seus 12

Ministros da Sauacutede)

O ISAGS portanto eacute uma instituiccedilatildeo que pertence aos Estados

membros da Unasul e exercita suas atividades em representaccedilatildeo e por

delegaccedilatildeo dos mesmos Para Temporatildeo 89 a natureza do ISAGS estaacute

intrinsecamente relacionada aos conceitos de Estado Soberania Governo e

Mandato Suas iniciativas devem ser interpretadas como instrumentos de

poliacuteticas intergovernamentais que respondam a interesses comuns e pactuados

entre os Estados Membros expressos por seu Conselho Diretivo por meio de

um Plano de Trabalho

Sob essa perspectiva o ISAGS trabalha na construccedilatildeo do Plano Trienal

de Trabalho 2012-2015 que resulta das prioridades definidas no Plano

Quinquenal 2010-2015 do Conselho de Sauacutede Sul-Americano O

plano abrange as necessidades identificadas pelos Ministeacuterios da Sauacutede dos

paiacuteses membros Suas atividades tambeacutem satildeo desenvolvidas em estreita

articulaccedilatildeo com as Redes e Grupos Teacutecnicos da Unasul-Sauacutede [98]

Vale ressaltar que a despeito do pouquiacutessimo tempo da constituiccedilatildeo do

ISAGS esse Instituto se destaca em funccedilatildeo do dinamismo do Conselho de

Sauacutede Sul-Americano da Unasul A criaccedilatildeo do ISAGS com a aprovaccedilatildeo do

seu Estatuto em 2011 e a imediata aprovaccedilatildeo do orccedilamento proacuteprio e

instalaccedilatildeo definitiva da sua sede no RJ em abril de 2012 bem como a

97

Temporatildeo J Palestra ―Cooperaccedilatildeo Sul-Sul e Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

ocorrida em setembro de 2011 no NETHIS em Brasiacutelia

98

Disponiacutevel no portal httpisags-unasurorg

161

constituiccedilatildeo de um ato protocolar diplomaacutetico que daacute ao ISAGS status

diplomaacutetico representam a consolidaccedilatildeo da integraccedilatildeo poliacutetica da regiatildeo para

o tema em questatildeo ressaltando notadamente a estreita vinculaccedilatildeo da sauacutede

com a poliacutetica externa e a diplomacia entre os paiacuteses Correlaccedilatildeo essa que

tambeacutem pode ser observada nos encontros promovidos pelo Instituto ao

estimular e ter em participaccedilatildeo expertises da sauacutede e da poliacutetica externa

Segudo Buss 90 a qualidade de conduccedilatildeo e lideranccedila coordenaccedilatildeo e

gestatildeo formulaccedilatildeo de poliacuteticas de sauacutede e intersetoriais capacitaccedilatildeo

avanccedilada produccedilatildeo de conhecimento e outros aspectos relacionados agraves

funccedilotildees essenciais da sauacutede puacuteblica satildeo pilares fundamentais para sedimentar

o apoio necessaacuterio ao fortalecimento das capacidades intriacutensecas e exoacutegenas

relacionadas aos paiacuteses membros da Unasul O ISAGS se apresenta como

instituto legiacutetimo entre os paiacuteses da regiatildeo com a finalidade de promover a

construccedilatildeo desses pilares

Finalmente de forma semelhante ao adotado em relaccedilatildeo ao Mercosul a

descriccedilatildeo das principais iniciativas referentes agrave aacuterea da sauacutede sob a

perspectiva do CEIS junto agrave Unasul seraacute aprofundada no decorrer do capiacutetulo

V

23 Aacutefrica

A poliacutetica externa do Brasil mais notadamente a partir do seacuteculo XXI

vem reconhecendo a relaccedilatildeo com a Aacutefrica como prioridade estrateacutegica A

intensificaccedilatildeo dessa relaccedilatildeo estaacute inserida na prioridade mais ampliada que foi

conferida pelo Governo brasileiro nas suas relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Segundo aponta Celso Amorim no prefaacutecio do livro de Carneiro 91 (p9)

com o objetivo de contribuir para a promoccedilatildeo do desenvolvimento de paiacuteses

mais pobres os mecanismos de cooperaccedilatildeo Sul-Sul satildeo instrumentos com os

quais o Brasil vem atuando de forma cada vez mais significativa o que para

Amorim ldquotranscende o campo diplomaacuteticordquo e busca alcanccedilar uma perspectiva

humaniacutestica da poliacutetica internacional

162

Em uma dimensatildeo mais ampliada dado o comprometimento do governo

brasileiro com a integraccedilatildeo sul-americana o Brasil acolheu o interesse

manifestado pelo entatildeo presidente da Nigeacuteria que recebendo a visita do

presidente Lula ao seu paiacutes em abril de 2005 sugeriu o estabelecimento de um

mecanismo de aproximaccedilatildeo dos paiacuteses africanos com o Brasil

Daiacute surge a iniciativa que efetivamente buscou envolver os paiacuteses dos

dois continentes Segundo dados do Itamaraty 83 em novembro de 2006

ocorreu a I Cuacutepula Ameacuterica do Sul ndash Aacutefrica (ASA) em Abuja Nigeacuteria resultando

na Declaraccedilatildeo de Abuja no Plano de Accedilatildeo de Abuja e na Resoluccedilatildeo que criou

o Foacuterum de Cooperaccedilatildeo Ameacuterica do Sul-Aacutefrica Desses movimentos resultou a

previsatildeo de encontros de Chefes de Estado e Governo a cada dois anos

encontros de chanceleres entre cada Cuacutepula e outros encontros inclusive

ministeriais setoriais

Eacute portanto um Foacuterum intergovernamental natildeo possuindo capacidade

operativa uma vez que tem como objetivo incrementar articulaccedilotildees e a

execuccedilatildeo dos projetos relacionados sendo estabelecido com o propoacutesito de

promover melhor entendimento diaacutelogo e cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses-

membros A ASA reflete a constituiccedilatildeo da gradual ascensatildeo dos paiacuteses em

desenvolvimento no cenaacuterio poliacutetico e econocircmico internacional que por meio

de foacuteruns inter-regionais ou multilaterais contribuem para que haja uma reforma

da estrutura do poder mundial e para o estabelecimento de uma ordem menos

centralizada mais multipolar e mais democraacutetica [99] Tendo como objetivos a

promoccedilatildeo da aproximaccedilatildeo do diaacutelogo poliacutetico do entendimento e a

cooperaccedilatildeo entre os Estados-Membros aleacutem da exploraccedilatildeo das

potencialidades de cooperaccedilatildeo multidisciplinar dentre os quais emerge a

questatildeo sauacutede

Segundo o Itamaraty o Brasil foi anfitriatildeo de quatro reuniotildees do Comitecirc

Consultivo de Embaixadores da ASA sendo que a uacuteltima ocorreu em setembro

de 2010 refletindo o dinamismo do Paiacutes nas accedilotildees de convergecircncia entre os

dois continentes

99

Disponiacutevel em wwwmregovbr

163

Ademais no campo bilateral o Brasil prioriza as relaccedilotildees com os paiacuteses

do continente africano tanto pela busca de cooperaccedilatildeo econocircmica e pela

coordenaccedilatildeo em questotildees de agenda internacional assim como pelo propoacutesito

marcado pelo histoacuterico da aproximaccedilatildeo com o continente e tambeacutem por

questotildees de inspiraccedilatildeo humanitaacuteria A aproximaccedilatildeo com a Aacutefrica natildeo se esgota

no plano bilateral compreendendo tambeacutem a esfera multilateral africana [100]

O fortalecimento da presenccedila diplomaacutetica brasileira no continente

africano eacute reflexo do interesse e da priorizaccedilatildeo do governo brasileiro junto a

esse continente O que pode ser atestado na reportagem da BBC Brasil [101]

ao relatar a forte presenccedila da diplomacia brasileira representada pela

quantidade de embaixadas no continente Em relaccedilatildeo agraves 54 naccedilotildees africanas

o Paiacutes tem atualmente embaixadas em 37 delas ldquodas quais 19 foram

inauguradas desde o iniacutecio do governo Lulardquo Eacute o quinto Paiacutes com maior

presenccedila diplomaacutetica na Aacutefrica soacute perdendo para Estados Unidos que

comporta com 49 missotildees China com 48 Franccedila com 46 e Ruacutessia com 38 Se

considerarmos os paiacuteses do eixo Sul-Sul o Brasil ganha maior dinamismo ao

se destacar nessa relaccedilatildeo

Por outro lado conforme atesta a reportagem o movimento inverso eacute

tambeacutem significativo Desde 2003 somando-se agraves 16 missotildees que jaacute existiam

no Brasil foram inauguradas mais 17 missotildees dos paiacuteses africanos

A construccedilatildeo de parcerias com os paiacuteses africanos vem sendo

conduzida pela diplomacia brasileira de forma soacutelida e estruturante em que as

100 Em estreita relaccedilatildeo com a Uniatildeo Africana (UA) A UA facilita a implementaccedilatildeo das

atividades de cooperaccedilatildeo entre Brasil e paiacuteses partiacutecipes atuando como mediadora e promotora do Brasil

como parceiro preferencial A UA instituiacuteda em julho de 2001 eacute composta por todos os Estados

africanos agrave exceccedilatildeo do Marrocos totalizando 53 membros Tem como propoacutesitos acelerar o processo de

integraccedilatildeo regional promover e consolidar a unidade do continente fomentar a uniatildeo a solidariedade e a

coesatildeo eliminar o flagelo dos conflitos e habilitar a Aacutefrica a fazer face aos desenvolvimentos poliacuteticos

econocircmicos e sociais da ordem internacional Disponiacutevel em wwwmregovbr Acesso em 30 de maio de

2012

101 BBC Brasil Disponiacutevel em

httpwwwbbccoukportuguesenoticias201110111017_diplomacia_africa_br_jfshtmls

164

relaccedilotildees satildeo construiacutedas de forma participativa em uma perspectiva horizontal

entre iguais

Ainda de acordo com a reportagem a despeito dos bons resultados

comerciais brasileiros alcanccedilados nos uacuteltimos anos e o fato de a Aacutefrica abrigar

um sexto da populaccedilatildeo mundial estar sob os holofotes da China - que deteacutem

grande interesse na regiatildeo - e com previsatildeo de crescimento nas proacuteximas

deacutecadas existem criacuteticas recebidas pelo governo brasileiro em apostar a sua

poliacutetica externa agraves relaccedilotildees com paiacuteses subdesenvolvidos Entretanto eacute uma

aposta que merece ser cuidadosamente cultivada dado o compartilhamento

dos laccedilos histoacutericos eacutetnicos e culturais a poliacutetica adotada pelo Brasil de

alcance global na busca pela soluccedilatildeo agrave fome e pela diminuiccedilatildeo das

desigualdades socioeconocircmicas a semelhanccedila dos propoacutesitos e do

compartilhamento dos problemas brasileiros e principalmente dada a poliacutetica

externa do Brasil que busca alcanccedilar uma dimensatildeo humana da poliacutetica

internacional

Tambeacutem focada nessa perspectiva a Comunidade dos Paiacuteses de

Liacutengua Portuguesa - CPLP que engloba os Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial

Portuguesa (Angola Cabo Verde Guineacute Bissau Moccedilambique e Satildeo Tomeacute e

Priacutencipe) - PALOP aleacutem do Brasil Portugal e Timor-Leste foi criada em 1996

constituindo-se em foro privilegiado ligados pela liacutengua comum em que em

todas as instacircncias deliberativas privilegiam-se as decisotildees tomadas em

consenso

Segundo o portal do Itamaraty a CPLP tem trecircs objetivos gerais (1) a

concertaccedilatildeo poliacutetico-diplomaacutetica isto eacute a promoccedilatildeo da concertaccedilatildeo de

posiccedilotildees em relaccedilatildeo a temas da agenda internacional o apoio muacutetuo a

candidaturas a cargos em organismos internacionais e ao fortalecimento

institucional dos paiacuteses membros (PALOP e Timor Leste) (2) a cooperaccedilatildeo em

todos os domiacutenios em particular aqueles que sejam estrateacutegicos para o

desenvolvimento econocircmico e social dos PALOP e Timor Leste em bases

sustentaacuteveis e (3) a promoccedilatildeo e difusatildeo da Liacutengua Portuguesa

Ainda segundo o Itamaraty na aacuterea da cooperaccedilatildeo busca-se a

promoccedilatildeo de projetos que visem ao fortalecimento dos paiacuteses membros

165

capacitando os PALOP e o Timor Leste em aacutereas estrateacutegicas para seu

desenvolvimento socioeconocircmico como por exemplo a aacuterea da sauacutede O

Brasil com base na identificaccedilatildeo histoacuterico-cultural somado ao fato de possuir

ldquoexpertiserdquo e compartilhar conhecimentos em setores estrateacutegicos para o

desenvolvimento econocircmico e social vem exercendo papel fundamental na

consolidaccedilatildeo de benefiacutecios fundamentais para o fortalecimento da capacidade

institucional dos paiacuteses africanos

Nesse sentido a cooperaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede se insere na estrateacutegia

do relacionamento do Brasil com o continente africano em termos gerais

promovida como poliacutetica de Estado principalmente a partir do Governo Lula

Nessa perspectiva o principal diferencial tem sido o alto grau de prioridade que

os mais diversos oacutergatildeos do Estado brasileiro tecircm dado agrave cooperaccedilatildeo com a

Aacutefrica A Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz [102] vem se destacando na difusatildeo de

conhecimento no fortalecimento das atividades de cooperaccedilatildeo teacutecnica na aacuterea

da sauacutede e da ciecircncia e tecnologia em sauacutede na implantaccedilatildeo de projetos

estrateacutegicos para a aacuterea da sauacutede e na respectiva capacitaccedilatildeo profissional dos

paiacuteses africanos fundamentada principalmente pelo Plano Estrateacutegico de

Cooperaccedilatildeo em Sauacutede da CPLP ndash PECSCPLP adotada em 2009 [103]

Essa relaccedilatildeo brasileira com o continente africano tanto sob o enfoque

bilateral quanto em bases comunitaacuterias e multilaterais consolidam o paradigma

da cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Conforme destaca o portal do Itamaraty ldquoas ldquovantagens comparativasrdquo

do Brasil como prestador de cooperaccedilatildeo teacutecnica aos PALOP tecircm levado

doadores tradicionais bilaterais e multilaterais a manifestarem interesse em

projetos de triangulaccedilatildeo com o Brasil nesses paiacuteses

102

Instituiccedilatildeo vinculada ao Ministeacuterio da Sauacutede reconhecida nacional e internacionalmente e

considerada como instituiccedilatildeo puacuteblica estrateacutegica de Estado para a sauacutede

103

Quanto ao aprofundamento e avaliaccedilatildeo das accedilotildees em sauacutede no que se refere ao continente

africanoseraacute considerada a mesma metodologia adotada por este estudo agraves questotildees do Mercosul e da

Unasul seratildeo apresentadas nos capiacutetulos subsequentes

166

24 Cooperaccedilatildeo Triangular

Exemplos de cooperaccedilatildeo triangular do Brasil com outros paiacuteses em

desenvolvimento vecircm ganhando espaccedilo na agenda contemporacircnea inclusive

tendo sido um dos projetos premiados pelas Naccedilotildees Unidas como melhor

projeto de CSS em 2006 ldquoColeta de Resiacuteduos Soacutelidosrdquo financiado pelo Foacuterum

de Diaacutelogo Iacutendia Brasil e Aacutefrica do Sul (IBAS) e beneficiando o Haiti Pode ser

citada tambeacutem a reconstruccedilatildeo de posto de sauacutede em Cabo Verde [104] 92 Essa

relaccedilatildeo acrescenta a representaccedilatildeo de oportunidades de promoccedilatildeo de

aprendizado pelas experiecircncias do desenvolvimento e tambeacutem maximiza

recursos capacidades e conhecimento

Ademais destaca-se a atuaccedilatildeo brasileira junto agraves iniciativas com

organizaccedilotildees internacionais e paiacuteses desenvolvidos que financiam ou oferecem

conhecimento especiacutefico para serem transferidos para paiacuteses menos

desenvolvidos Inseridos na cooperaccedilatildeo triangular podemos citar como

exemplo a relaccedilatildeo do Brasil com o Haiti e o Canadaacute nas accedilotildees de imunizaccedilatildeo

Para Herlt [105] compotildeem a cooperaccedilatildeo triangular projetos estruturantes

cujo objetivo eacute apoiar e fortalecer processos e mudanccedilas nacionais Trata-se

de uma cooperaccedilatildeo entre governos focada nas estrateacutegias poliacuteticas nacionais

cuja participaccedilatildeo da sociedade civil eacute presente Segundo a apresentadora o

grande diferencial eacute relacionado aos princiacutepios que a regem Isto eacute a

horizontalidade a apropriaccedilatildeo pelo paiacutes beneficiaacuterio a sustentabilidade e a

intersetorialidade Eacute como se posiciona o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores do

Brasil conforme portal do Itamaraty diferenciando o Paiacutes na modalidade da

cooperaccedilatildeo teacutecnica internacional

ldquoa cooperaccedilatildeo trilateral natildeo representa modalidade que visa o financiamento ou a terceirizaccedilatildeo da capacidade brasileira senatildeo o compartilhamento de recursos teacutecnicos humanos e financeiros de forma complementar entre os parceiros para a realizaccedilatildeo de

104

Fonte wwwitamaratygovbr

105

Herlt C Apresentaccedilatildeo ―Cooperaccedilatildeo triangular o papel das parcerias na cooperaccedilatildeo Sul-Sul

In Foacuterum Sul-Americano de Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede no Rio de Janeiro em 24112011

167

projetos com maior efeito positivo e sustentabilidade nos paiacuteses beneficiaacuteriosrdquo

Quanto agrave divisatildeo de responsabilidades entre os paiacuteses normalmente

cabem agravequeles mais desenvolvidos participar com o conhecimento fomentos

tecnologias dentre outras atividades que requerem uma maior especializaccedilatildeo

Aos menos favorecidos a responsabilidade eacute com a estrutura e a

disponibilidade interna

Segundo o observador permanente da Partners in Population and

Development (PPD) junto agrave ONU Sethuramiah Rao [106] a cooperaccedilatildeo Sul-Sul

e a cooperaccedilatildeo triangular para o desenvolvimento representam atualmente

cerca de 10 da cooperaccedilatildeo total ao desenvolvimento em que o Brasil

juntamente com China Iacutendia e Aacutefrica do Sul eacute um dos principais paiacuteses que

respondem pela contribuiccedilatildeo a essas cooperaccedilotildees

Isso posto tem-se na cooperaccedilatildeo triangular a capacidade de

intercambiar experiecircncias reunindo vantagens comparativas dos parceiros e

pactuar etapas dos projetos de forma consensuada entre os parceiros

envolvidos (caracteriacutestica da horizontalidade) Projetos esses baseados na

demanda dos paiacuteses receptores e com a lideranccedila do paiacutes beneficiaacuterio

estimulando o desenvolvimento das capacidades locais e fortalecendo seus

processos nacionais com a integraccedilatildeo dos diversos setores incluindo a

sociedade civil estimulando inclusive a integraccedilatildeo regional (ao que atendem

aos princiacutepios da apropriaccedilatildeo pelo paiacutes beneficiaacuterio da sustentabilidade e da

intersetorialidade)

O grande desafio segundo aponta o Itamaraty [107] eacute o de articular as

accedilotildees de cooperaccedilatildeo Sul-Sul com as da cooperaccedilatildeo Norte-Sul dos paiacuteses

doadores a partir de mecanismos que sejam operacionalmente eficientes e

que valorizem as contribuiccedilotildees de cada parceiro

106

Disponiacutevel em httpenvolverdecombrnoticiascooperacao-sul-sul-acompanha-aumento-

demografico Acesso em 10052012

107

Conforme disponiacutevel em wwwitamaratygovbr

168

Em que pese maior evidecircncia na carteira de projetos a partir dos

relatoacuterios disponiacuteveis no portal do Itamaraty de temas relacionados agrave

alimentaccedilatildeo fome desenvolvimento agriacutecola meio ambiente trabalho infantil

previdecircncia social seguranccedila infraestrutura e educaccedilatildeo a sauacutede natildeo

apresenta destaque

Entretanto no que se refere agrave cooperaccedilatildeo triangular envolvendo o Brasil

na aacuterea da sauacutede o maior enfoque estaacute nas questotildees relacionadas agrave AIDS

Como exemplo apresentado por Herlt 93 tem-se a cooperaccedilatildeo firmada entre o

Brasil a Alemanha e paiacuteses parceiros no tocante ao fortalecimento do sistema

de sauacutede como um todo e agrave integraccedilatildeo horizontal da resposta ao HIV-AIDS

Em que pesem contribuiccedilotildees especiacuteficas de cada um dos paiacuteses o Brasil

nessa cooperaccedilatildeo especiacutefica tem atuaccedilatildeo na expertise teacutecnica e experiecircncia

na aacuterea do SUS em questotildees de descentralizaccedilatildeo de participaccedilatildeo de sauacutede

familiar de redes de sauacutede etc Paiacuteses do Norte como no caso da Alemanha

tem o conhecimento em gestatildeo e monitoramento de projetos Os demais

paiacuteses parceiros nesse projeto em particular paiacuteses da Ameacuterica Latina do

Caribe e da Aacutefrica isto eacute paiacuteses da relaccedilatildeo Sul-Sul entram com o

conhecimento local a infraestrutura e a logiacutestica

Outro exemplo de cooperaccedilatildeo triangular firmado com o Brasil na aacuterea da

sauacutede foi a cooperaccedilatildeo cujo objeto vacina contra Febre Amarela foi firmada

com a JICA [108] do Japatildeo com a Aacutefrica e o Brasil

Podemos destacar tambeacutem possibilidades de cooperaccedilatildeo com

organizaccedilotildees internacionais e a expansatildeo da cooperaccedilatildeo trilateral com os

paiacuteses desenvolvidos visando beneficiar as naccedilotildees mais pobres Exemplo que

pode ser citado foi o apoio dado pelo Brasil - em parceria com o Canadaacute - ao

programa haitiano de vacinaccedilatildeo contra a hepatite-B [109]

Finalmente em termos poliacuteticos os esforccedilos relacionados aos

investimentos direcionados para a efetividade da agenda Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

108

Japan International Cooperation Agency Maiores detalhes sobre a JICA disponiacuteveis em

wwwjicagojp 109

Discurso do Ministro Celso Amorim na 60ordf Assembleacuteia Mundial de Sauacutede em Genebra em

maio de 2007 (fonte wwwmregovbr)

169

natildeo encontram ressonacircncia junto aos principais atores internacionais mas tecircm

grande impacto junto agrave comunidade em desenvolvimento 70

Haacute evidentemente conflitos quantos aos interesses e expectativas entre

os distintos paiacuteses Diferentes comentaacuterios da Alemanha Japatildeo Brasil Iacutendia

abordam o discurso poliacutetico em debate ocorrido em 2010 acerca da

Cooperaccedilatildeo Sul-Sul 70

ldquoRather than focusing on the AAA let‟s learn from the perspectives of new actors and their innovationsrdquo (Alemanha) ldquoConflict between developed and developing countries on the framework that governs SSC How do we move forwardrdquo (Japatildeo) ldquoIt is a mistake to superimpose the paradigms that were established to reduce the serious shortcomings of N-S Cooperation on SSC hellipThe UN is failing to lead on SSC because it reflects the priorities of Northern donorsrdquo (India) ldquoSSC is based on principles and on the similarity of conditions among developing countries SSC should be understood in its own terms and not as a sub-category of international cooperationrdquo (Brasil)

O que nos leva a refletir sobre necessaacuterias condiccedilotildees para a efetividade

das cooperaccedilotildees seja no tocante agrave legitimidade da governanccedila da ONU seja

na tambeacutem legitimidade dos interesses dos paiacuteses do Sul e na redefiniccedilatildeo de

prioridades focadas nas necessidades dos paiacuteses envolvidos e recebedores da

cooperaccedilatildeo e natildeo em prioridades refletidas pelos doadores do Norte por

exemplo

3 Reflexotildees sobre o Papel do Brasil na Cooperaccedilatildeo Sul-Sul

Concluindo diante do exposto anteriormente o Brasil vem se

consolidando como um dos mais importantes protagonistas nas iniciativas da

CSS principalmente a partir da primeira deacutecada do seacuteculo XXI replicando

inclusive teacutecnicas e soluccedilotildees que tiveram impacto positivo sobre o

desenvolvimento nacional e podem ser compartilhados com paiacuteses que

apresentam desafios semelhantes Ademais a cooperaccedilatildeo promove aleacutem do

170

desenvolvimento institucional a capacidade de gestatildeo e o estiacutemulo ao

engajamento ao objeto do projeto

Nesse sentido a cooperaccedilatildeo Sul-Sul se apresenta como novo

paradigma de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento em que o conhecimento

sustenta o desenvolvimento Dessa forma o Brasil vem adotando cada vez

mais a premissa de que se faz cooperaccedilatildeo internacional Sul-Sul com o

reconhecimento da capacidade e potencialidade dos parceiros Cooperaccedilatildeo

essa que parte do princiacutepio que se faz entre iguais Abordagem essa que deixa

para traacutes o ldquoolharrdquo assistencialista da cooperaccedilatildeo em favor do domiacutenio do

objeto cooperado seja serviccedilo bem ou conhecimento

Esse novo sentido definido como cooperaccedilatildeo estruturante 94 apresenta

a perspectiva do estabelecimento de cooperaccedilotildees fundamentadas em uma

nova arquitetura pautada na relaccedilatildeo ldquoganha-ganhardquo Ganham-se

conhecimentos participaccedilatildeo efetiva trocas de experiecircncias promovem-se

pilares para uma estruturaccedilatildeo mais soacutelida e contiacutenua dos paiacuteses favorecidos e

partiacutecipes dos consensos praticados Podemos citar as cooperaccedilotildees bilaterais

e multilaterais com questotildees especiacuteficas como eacute o caso da sauacutede como por

exemplo a criaccedilatildeo de uma Rede dos Institutos Nacionais de Sauacutede da CPLP

[110]

Isso posto a Cooperaccedilatildeo Sul-Sul continuaraacute se definindo por meio do

diaacutelogo poliacutetico e das praacuteticas estabelecidas entre as partes aleacutem de ser

elaborada como um espaccedilo agregador aberto para oportunidades O

compartilhamento do conhecimento eacute uma ferramenta estrateacutegica para

promover crescimento e desenvolvimento complementar agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica

e financeira Aponta entretanto a necessidade de monitoramento e avaliaccedilatildeo

dos resultados sistematicamente 70

Sua eficaacutecia depende de monitoramentos sistemaacuteticos e avaliaccedilatildeo dos

resultados para eventuais correccedilotildees de rumos A cooperaccedilatildeo deve ultrapassar

110

Fruto da reuniatildeo dos Institutos Nacionais de Sauacutede da CPLP em novembro de 2006 ocorrida

em Lisboa e organizada pela Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz (Brasil) em parceria com o Instituto de Higiene e

Medicina Tropical (Portugal) Fonte

httpwwwcplporgFilesFilercplpredessaudeDelibCPLP_SAUDEpdf Acesso em 15052012

171

o caraacuteter instrumental e eminentemente teacutecnico para se tornar estruturadora

seja na CSS seja em toda a projeccedilatildeo internacional brasileira

Os desafios para o Paiacutes estatildeo na construccedilatildeo de um modelo institucional

para a cooperaccedilatildeo brasileira que vislumbre agilidade seja participativa ofereccedila

transparecircncia e prestaccedilatildeo de contas e viabilize interligaccedilotildees e interaccedilotildees com

os distintos parceiros envolvidos seja em acircmbito local regional ou

internacional aleacutem da construccedilatildeo de um modelo coordenador com outros

paiacuteses que cooperam juntamente com o Brasil isto eacute por meio da cooperaccedilatildeo

triangular envolvendo paiacuteses desenvolvidos ou natildeo

A cooperaccedilatildeo Sul-Sul deve ser entendida por seus proacuteprios termos e

natildeo como uma subcategoria de cooperaccedilatildeo internacional Tambeacutem natildeo deve

ser definida como um estaacutegio para se tornar doador permitindo-se ao

aprendizado a partir das perspectivas de novos atores e das suas inovaccedilotildees

assim como natildeo deve ser imposta a esse tipo de cooperaccedilatildeo a

responsabilidade de suprir eventuais fracassos eou lacunas da cooperaccedilatildeo

Norte-Sul

Natildeo haacute mais como retroceder Jaacute fazem parte da realidade

contemporacircnea dos paiacuteses do eixo Sul-Sul processos de integraccedilatildeo e

cooperaccedilotildees horizontes e estruturantes principalmente paiacuteses da Ameacuterica

Latina que projetam uma maior participaccedilatildeo no tabuleiro geopoliacutetico mundial e

dependem dessa concepccedilatildeo integradora e fortalecedora

Por outro lado eacute de vital importacircncia a busca pelo contiacutenuo

fortalecimento do desenvolvimento seja por mecanismos exoacutegenos ou

endoacutegenos e nesse sentido natildeo basta compartilhar eacute necessaacuterio obter

conhecimentos estruturar-se aumentar a sua capacidade de governanccedila de

produccedilatildeo e de inovaccedilatildeo Isto eacute a cooperaccedilatildeo Sul-Sul natildeo se manteacutem em longo

prazo se natildeo houver nos paiacuteses liacutederes do Sul um sustentaacutevel grau de

desenvolvimento (em PampD) que permita autonomia tecnoloacutegica para que de

fato se efetive e sustente a cooperaccedilatildeo Sul-Sul Enquanto natildeo houver essa

lideranccedila natildeo deve ser descartado o benefiacutecio da relaccedilatildeo Norte Sul

privilegiando nessa relaccedilatildeo os interesses dos paiacuteses do sul quanto agrave

transferecircncia de conhecimentos e capacitaccedilatildeo Logo a relaccedilatildeo Norte-Sul-Sul eacute

172

fundamental para a capacitaccedilatildeo dos paiacuteses do Sul de maneira que seus

resultados positivos se sustentem em longo prazo e natildeo se tornem inoacutecuos no

meio do caminho

Ademais questotildees como desigualdade socioeconocircmica pobreza fome

satildeo desafios que precisam ser ultrapassados A sauacutede correlaciona-se a essas

questotildees tanto como igualmente viacutetima assim como potencial aacuterea para

crescimento bem-estar e desenvolvimento

O viacutenculo entre o desenvolvimento dos sistemas nacionais de sauacutede e o

acesso universal a medicamentos e a outros insumos para a sauacutede apontam

como estrateacutegico o estabelecimento e o fortalecimento do Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede

Sistemas de sauacutede satildeo estruturas tecnoloacutegicas complexas ndash

dependentes de equipamentos meacutedico-ciruacutergicos medicamentos vacinas kits

para diagnoacutestico oacuterteses e proacuteteses sangue e hemoderivados materiais de

consumo insumos diversos e instalaccedilotildees especializadas 390 E satildeo caras Os

paiacuteses do Sul apresentam preocupante deacuteficit na balanccedila comercial referente

aos bens e produtos do CEIS

E nessa perspectiva em que se busca aliar questotildees econocircmicas agraves

necessidades de sauacutede ndash como direito do ser humano - o Precircmio Nobel de

Economia Joseph Stiglitz 95 reforccedila que em um periacuteodo de reflexotildees e

decisotildees decorrentes do encontro mundial dos liacutederes em sauacutede dos paiacuteses

signataacuterios da OMS o sistema de inovaccedilatildeo requer reformas amplas na esfera

internacional

A Organizaccedilatildeo divulgou relatoacuterio do Consultative Expert Working Group-

CEWG ldquoPesquisa e desenvolvimento para fazer frente agraves necessidades do

setor de sauacutede nos paiacuteses em desenvolvimentordquo que recomenda soluccedilotildees com

abordagens abrangentes como por exemplo ldquocontribuiccedilotildees obrigatoacuterias dos

governos para pesquisas sobre as necessidades dessas naccedilotildeesrdquo e um

ldquoobservatoacuterio global que monitoraria onde estatildeo as maiores necessidadesrdquo

Accedilotildees essas que segundo Stiglitz 95 devem ser pautadas primordialmente

sob a promoccedilatildeo de maior compartilhamento do conhecimento cientiacutefico A

173

Resoluccedilatildeo aprovada na 65ordf AMS [111] acerca do financiamento global da

pesquisa para a geraccedilatildeo de novos medicamentos e vacinas tanto de interesse

brasileiro quanto de outros paiacuteses em desenvolvimento estaacute pautada em

entendimentos sobre correlaccedilotildees entre sauacutede puacuteblica inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e

poliacuteticas de propriedade intelectual [112]

Os resultados das pesquisas provenientes de recursos aplicados aos

objetivos da Estrateacutegia Global e do respectivo plano de accedilatildeo seratildeo tratados

como ldquobens puacuteblicos globais contribuindo para desvincular o custo da pesquisa

do preccedilo do medicamentordquo 67 A despeito das dificuldades concretas e de natildeo

abordar mudanccedilas estruturais relacionadas agrave ordem econocircmica e poliacutetica

assimeacutetrica os autores avanccedilam ao propor que a adoccedilatildeo de um instrumento

global dessa natureza representaraacute um elo virtuoso entre modelos de

incentivos a sauacutede puacuteblica e a poliacutetica tecnoloacutegica brasileira angariando para

o Brasil recursos estrateacutegicos para o Complexo Industrial da Sauacutede e novos

parceiros para a busca de soluccedilotildees tecnoloacutegicas

O Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede emerge portanto como

diferencial no enfrentamento das vulnerabilidades decorrentes da fraacutegil ou ateacute

mesmo ausecircncia de uma base concreta produtiva tecnoloacutegica endoacutegena nos

paiacuteses em desenvolvimento Para o Brasil o CEIS representa a possibilidade

de reverter o que Buss e Chamas 67 destacam em seu artigo que o Foacuterum

Global para a Pesquisa em Sauacutede cunhou em 1998 como o gap 1090

111

Em conformidade com Buss e Chamas em artigo publicado no Valor Econocircmico em 310812

―com a aprovaccedilatildeo da resoluccedilatildeo pela AMS de 2012 que acolheu o relatoacuterio do CEWG foram

estabelecidas algumas metas Ainda segundo o artigo as propostas do relatoacuterio do CEWG seratildeo

discutidas e analisadas por meio de consultas em niacuteveis nacional regional e global com vistas a

posteriores avaliaccedilotildees na AMS de 2013 O que representaoportunidades para aprimoramento em niacutevel

ampliado e correccedilotildees de rumos e ajustes para uma efetiva aplicabilidade com vistas agrave eficiecircncia e eficaacutecia

das propostas do relatoacuterio

112 Em termos histoacutericos ―em 2008 os Estados-membros da OMS aprovaram a Estrateacutegia

Global e um Plano de Accedilatildeo sobre Sauacutede Puacuteblica Inovaccedilatildeo e Propriedade Intelectual um acordo poliacutetico

e teacutecnico para orientar a geraccedilatildeo a produccedilatildeo e o acesso de soluccedilotildees terapecircuticas satisfatoacuterias a

populaccedilotildees negligenciadas Para subsidiar a implementaccedilatildeo da Estrateacutegia foi criado o Grupo Consultivo

de Especialistas em Pesquisa e Desenvolvimento Financiamento e Coordenaccedilatildeo (CEWG em inglecircs) que

produziu ―um relatoacuterio (disponiacutevel em wwwwhointphinewscewg_2011en) com recomendaccedilotildees

inovadoras que incluem a criaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo governamental obrigatoacuteria de 001 do PIB para todos

os paiacuteses distribuindo-se de modo mais equilibrado as responsabilidades Estes recursos deveratildeo ser

aplicados em PampD em situaccedilotildees nas quais a tecnologia natildeo existe ou natildeo eacute a mais adequada ou o preccedilo do

produto natildeo eacute compatiacutevel com a realidade econocircmica dos paiacuteses em desenvolvimento 67

174

indicando que apenas 10 da pesquisa era dedicada aos problemas de sauacutede

de 90 da populaccedilatildeo mundialrdquo e que a despeito dos avanccedilos jaacute conquistados

os problemas persistem natildeo soacute se restringindo agraves doenccedilas negligenciadas

Portanto questotildees como o crescente (e insustentaacutevel) deacuteficit da balanccedila

comercial da sauacutede 5 a corrente crise da induacutestria farmacecircutica (em funccedilatildeo do

decliacutenio no nuacutemero de novas moleacuteculas aprovadas e as patentes de

blockbusters expiraacuteveis em curto prazo e natildeo substituiacutedas) e a preferecircncia por

doenccedilas crocircnicas do que por antibioacuteticos e vacinas (ldquoem que se identifica uma

disseminaccedilatildeo de bacteacuterias resistentes agraves prescriccedilotildees disponiacuteveisrdquo) satildeo falhas

de mercado 67 que representam vulnerabilidades que podem se tornar

resistentes e ldquofataisrdquo se natildeo combatidas em niacuteveis nacionais e globais

Nesse sentido considera-se que o CEIS se apresenta como diferencial

na conduccedilatildeo da poliacutetica nacional de sauacutede de paiacuteses em desenvolvimento

notadamente no Brasil e dada a sua representatividade em niacutevel global eacute

tema que se incorpora agraves discussotildees das relaccedilotildees internacionais e da poliacutetica

externa do nosso Paiacutes e dos demais paiacuteses desenvolvidos ou natildeo

175

CAPIacuteTULO IV - CEIS O PAPEL DO ESTADO NA INOVACcedilAtildeO E NO CAMPO DA COOPERACcedilAtildeO INTERNACIONAL EM SAUacuteDE

NA AGENDA SUL-SUL

Em termos econocircmicos a sauacutede no Brasil representa 88 do PIB 96

constitui um mercado anual de mais de R$ 173 bilhotildees ou seja 62 do valor

adicionado total da economia em 2009 96 empregando com trabalhos

qualificados cerca de 10 da populaccedilatildeo brasileira com viacutenculos empregatiacutecios

formais 23497 e investe 25 dos gastos em PampD 98 sendo a aacuterea com os mais

expressivos investimentos com pesquisa e desenvolvimento O setor sauacutede

junto com o de defesa de acordo com Gadelha 3 ocupa posiccedilatildeo de lideranccedila

quanto ao investimento para a geraccedilatildeo de conhecimento em PampD

transformando-o em importante catalisador de inovaccedilatildeo configurando-se como

grande diferencial na capacidade competitiva nacional 97 notadamente em

ambiente marcado pela globalizaccedilatildeo

1 CEIS Estado e Inovaccedilatildeo Sauacutede e Desenvolvimento

A partir do perfil apresentado inserindo-se a sauacutede na trajetoacuteria

nacional de desenvolvimento natildeo somente como direito de cidadania mas

tambeacutem como uma aacuterea estrateacutegica de desenvolvimento nacional tem-se na

convivecircncia desse duplo valor a forte influecircncia provocada pela dinacircmica

trazida pela globalizaccedilatildeo com caracteriacutesticas assimeacutetricas e com forte

competitividade embutida em seu contexto

O desafio estaacute portanto em tentar associar as dinacircmicas da induacutestria

da inovaccedilatildeo e das instituiccedilotildees do setor sauacutede em um contexto de constante

transformaccedilatildeo industrial e institucional Ou seja cabe ao Estado inserido na

loacutegica intersetorial da sauacutede o papel de promotor e dinamizador da articulaccedilatildeo

176

entre as dimensotildees sanitaacuterias e econocircmicas onde a demanda pela accedilatildeo social

estatal promove a dinacircmica da dimensatildeo econocircmica

O Estado portanto eacute ator essencial na promoccedilatildeo da articulaccedilatildeo da

sauacutede com o sistema de inovaccedilatildeo exercendo o equiliacutebrio necessaacuterio para a

correlaccedilatildeo de forccedilas entre os distintos interesses e divergecircncias que

desprezam o alcance do muacutetuo benefiacutecio na articulaccedilatildeo equilibrada entre as

dimensotildees econocircmica e sanitaacuteria - tanto para o desenvolvimento da

capacidade produtiva e inovativa quanto para a garantia do bem estar e da

sauacutede do indiviacuteduo e da sociedade

No tocante agrave relaccedilatildeo entre a sauacutede e o desenvolvimento a interligaccedilatildeo

entre as duas aacutereas ganha distintas vertentes de anaacutelise que incorporam e

posicionam o campo da sauacutede no campo do desenvolvimento econocircmico 5

Argumentos analiacuteticos que em maior ou menor intensidade justificam a sauacutede

como estrateacutegica e vital para o desenvolvimento nacional pela loacutegica das

poliacuteticas econocircmica e social

Portanto em um esforccedilo de conjunccedilatildeo dessas dimensotildees analiacuteticas os

autores relacionam e analisam sete vertentes partindo da transversalidade da

sauacutede na qualidade de vida e na geraccedilatildeo de bem-estar agrave interaccedilatildeo da sauacutede

com a geopoliacutetica internacional

Primeiramente destacam a transversalidade da sauacutede na qualidade de

vida na geraccedilatildeo de bem-estar promoccedilatildeo de equidade e de inclusatildeo social

demandando ldquoampliaccedilatildeo dos esforccedilos e dos investimentos setoriais e a

confluecircncia e a articulaccedilatildeo entre diversas poliacuteticasrdquo 5 (p 3005) fundamental na

qualidade de vida e componente de intervenccedilatildeo puacuteblica na aacuterea social 5

remetendo-se portanto ao padratildeo nacional de desenvolvimento econocircmico e

social

A segunda vertente passa pela defesa da visatildeo da sauacutede na essecircncia do

desenvolvimento e na evoluccedilatildeo da taxa de investimento ldquocomo uma das

variaacuteveis da funccedilatildeo de produccedilatildeo que explica o crescimento econocircmico medido

pela renda per capita em longo prazordquo 5 (p 3006) inserida portanto na

177

conformaccedilatildeo do ldquoambiente soacutecio-institucional indutor de crescimento

econocircmico e de investimentosrdquo (p3005)

A terceira vertente de anaacutelise incorporando a sauacutede na sua relaccedilatildeo com

o desenvolvimento cujo escopo do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

[113] [114] passa pela interaccedilatildeo entre os segmentos industriais e de serviccedilos

com ldquopotencial para alavancar aacutereas-chave da revoluccedilatildeo tecnoloacutegica em curso

[115] sendo estrateacutegico para o desenvolvimento das regiotildees e dos paiacuteses 23 e

criando oportunidade de aliar a loacutegica econocircmica com a socialrdquo 5 (p 3006)

A quarta vertente de anaacutelise insere a sauacutede na conformaccedilatildeo dos

sistemas de proteccedilatildeo social onde a descontemporaneidade dos processos de

desmercantilizaccedilatildeo da sauacutede (sauacutede como direito onde a responsabilizaccedilatildeo

social se daacute por parte do Estado) e a mercantilizaccedilatildeo da oferta e a acumulaccedilatildeo

de capital (sauacutede como bem econocircmico sob a conformaccedilatildeo do Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede) produziu no Brasil uma situaccedilatildeo que natildeo foi

capaz de romper com a natureza dual do sistema de sauacutede brasileiro 99

convivendo de forma complexa e contraditoacuteria nos distintos sistemas de sauacutede

[116] dificultando a constituiccedilatildeo de um sistema que efetivamente garanta o

acesso agrave sauacutede como direito social

Para os autores haacute muito que se avanccedilar dado que os reflexos da

liberalizaccedilatildeo da economia se estabeleceram na conformaccedilatildeo dos sistemas de

proteccedilatildeo social Dessa forma tem o Estado a responsabilizaccedilatildeo poliacutetica e

socioeconocircmica e a determinaccedilatildeo que o crescimento acelerado de acumulaccedilatildeo

de capital das induacutestrias da sauacutede se efetive num ldquomovimento mais abrangente

113

O Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede (CEIS) tem em sua terminologia a

caracterizaccedilatildeo a partir de um conjunto selecionado de atividades produtivas que mantecircm relaccedilotildees

intersetoriais de compra e venda de bens e serviccedilos e (ou) de conhecimentos e tecnologias 5

114

A revoluccedilatildeo tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo e a financeirizaccedilatildeo da economia mundial propiciaram

a formaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo do Complexo da Sauacutede 99

115

Definidos como as aacutereas da microeletrocircnica biotecnologia quiacutemica fina novos materiais

nanotecnologia mecacircnica de precisatildeo 5

116

No Brasil a diretriz da universalizaccedilatildeo desse sistema ―estabeleceu-se com o mercado privado

jaacute consolidado e razoavelmente organizado pautando as demandas tecnoloacutegicas e pressionando custos 5

(p 3005)

178

que integra natildeo soacute a demanda de serviccedilos insumos e produtos mas tambeacutem

consolida um determinado modelo de intervenccedilatildeo do Estado na aacuterea socialrdquo 5

(p3006)

Gadelha e demais autores 5 (p3005) apresentam como a quinta vertente

de anaacutelise que insere a sauacutede na relaccedilatildeo com o desenvolvimento o fato de ser

a sauacutede uma ldquoaacuterea que ao mobilizar uma magnitude expressiva da renda e da

riqueza dos paiacuteses reuacutene interesses diversos que acentuam a disputa pelo

poder na definiccedilatildeo das diretrizes poliacuteticas da sauacutederdquo Isto eacute ldquoos interesses do

capital continuam a pautar preponderantemente a dinacircmica desses setores

produtivosrdquo (p 3006)

A sexta vertente de anaacutelise que incorpora a sauacutede na sua relaccedilatildeo com o

desenvolvimento eacute apontada na articulaccedilatildeo poliacutetico-institucional com o

envolvimento de diferentes esferas de governo e com a sociedade civil 5 Isto eacute

no que diz respeito ao processo de formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo das poliacuteticas

a sauacutede ainda tem encontrado resistecircncias que precisam ser superadas para a

efetivaccedilatildeo das suas bases socioprodutivas e institucionais [117] 5 (p 3005)

Articulaccedilatildeo que natildeo fica restrita ao cenaacuterio local A interligaccedilatildeo da sauacutede

com o desenvolvimento ultrapassa as fronteiras nacionais ganhando maior

destaque e influenciando cada vez mais a conduccedilatildeo da poliacutetica externa na

geopoliacutetica internacional

Finalmente no caso do Brasil Gadelha Machado Lima e Baptista 5

apresentam em seu artigo o que seria para eles a seacutetima de sete vertentes da

anaacutelise na relaccedilatildeo da sauacutede com o desenvolvimento isto eacute a sauacutede se

destacando como aacuterea estrateacutegica notadamente na ldquointegraccedilatildeo de paiacuteses de

uma mesma regiatildeo ou continente como eacute o caso do Mercosul e da Ameacuterica do

Sulrdquo [118] 1005 (p3005)

117

Brandatildeo CA Costa EJM Alves MAS Construir o espaccedilo supralocal de articulaccedilatildeo

socioprodutiva e das estrateacutegias de desenvolvimento os novos arranjos institucionais In Diniz CC

Crocco M organizadores Economia regional e urbana contribuiccedilotildees teoacutericas recentes Belo Horizonte

Editora UFMG 2006 p 195-224 118

E Draibe SM Coesatildeo social e integraccedilatildeo regional aagenda social do Mercosul e os grandes

desafios das poliacuteticas sociais integradas Cad Sauacutede Publica 2007 23(Supl2)174-183

179

Entretanto segundo os autores ainda haacute muito que percorrer para que a

sauacutede se efetive totalmente na consolidaccedilatildeo da integraccedilatildeo regional eou

continental Priorizaccedilotildees poliacuteticas institucionais e diplomaacuteticas ainda natildeo

encontraram equiliacutebrio entre os distintos interesses estatais Ademais a crise

econocircmica atual somada aos ateacute entatildeo recursos econocircmicos existentes em

cada uma das naccedilotildees da Ameacuterica do Sul trouxe limitaccedilotildees financeiras para os

orccedilamentos dos paiacuteses dificultando a priorizaccedilatildeo desse tema na poliacutetica

externa de cada paiacutes

Portanto inserido em um contexto de globalizaccedilatildeo assimeacutetrica com

resultados impactantes na potencializaccedilatildeo de mudanccedilas estruturais o

complexo de segmentos produtivos em relaccedilatildeo iacutentima com os segmentos de

serviccedilos sociais tem como determinantes o conhecimento e a inovaccedilatildeo para o

dinamismo do desenvolvimento econocircmico com a regecircncia do Estado em

estreita articulaccedilatildeo com os esforccedilos puacuteblicos e privados

O CEIS se insere em um espaccedilo institucional e econocircmico particular de

difiacutecil equiliacutebrio dado a complexidade observada entre as abordagens

apresentadas e entre os heterogecircneos interesses da loacutegica empresarial e das

necessidades da sauacutede Traduz-se portanto sob duas plataformas ndash loacutegica

empresarial e proteccedilatildeo social

No Brasil o CEIS envolve um conjunto de atividades produtivas e de

serviccedilos que pautam uma relaccedilatildeo sistecircmica entre os setores industriais

(subsistema de base quiacutemica e biotecnoloacutegica) - induacutestrias de faacutermacos e

medicamentos vacinas hemoderivados e reagentes para diagnoacutestico - e de

base mecacircnica eletrocircnica e de materiais ndash equipamentos mecacircnicos

equipamentos eletroeletrocircnicos proacuteteses e oacuterteses e materiais de consumo

ligados a setores prestadores de serviccedilos aleacutem do conjunto de organizaccedilotildees

prestadoras de serviccedilos em sauacutede - hospitais ambulatoacuterios e serviccedilos de

diagnoacutestico e tratamento 23 Eacute portanto um conjunto selecionado de atividades

produtivas que mantecircm relaccedilotildees intersetoriais de compra e venda de bens e

serviccedilos eou de conhecimentos e tecnologias envolvendo a prestaccedilatildeo de

serviccedilos como o espaccedilo econocircmico para o qual flui toda a produccedilatildeo em sauacutede

399

180

Formado por induacutestrias fortemente inovadoras e veiacuteculos importantes de

novos paradigmas tecnoloacutegicos 2397 tem fundamentalmente como diferencial

o foco da sauacutede nas condiccedilotildees de cidadania e soberania em um espaccedilo

destacado de desenvolvimento econocircmico traduzindo a questatildeo da sauacutede

como sauacutede ndash stricto sensu ndash e como geradora de renda empregos e como

alavanca de conhecimentos e de tecnologias

Haacute de se considerar entretanto que a loacutegica empresarial dita

conveniecircncias que representam interesses conflituosos na vinculaccedilatildeo da sauacutede

com o desenvolvimento ocorrendo uma dimensatildeo heterogecircnea para a poliacutetica

da sauacutede Ora referem-se aos interesses dos que usam os serviccedilos de sauacutede

ora aos dos que os provecircem dos que pagam por eles eou daqueles que os

regulam [119] 5 Dimensatildeo essa que acaba por exercer influecircncia na formaccedilatildeo

da agenda e nas diretrizes poliacuteticas para a aacuterea da sauacutede

O deacuteficit comercial cada vez mais crescente no segmento da sauacutede [120]

eacute um grande desafio que requer muacuteltiplos esforccedilos no sentido de minimizar os

riscos consequentes onde o maior peso dos produtos importados estaacute nos

bens de maior densidade de conhecimento e tecnologia aleacutem de recuperar a

perda da competitividade internacional das induacutestrias nacionais que satildeo

extremamente dependentes em setores estrateacutegicos provocando uma situaccedilatildeo

de vulnerabilidade quanto agrave garantia e agrave consolidaccedilatildeo do bem bem-estar da

populaccedilatildeo Considerando que para se manter em vigecircncia os preceitos do

SUS haacute uma total dependecircncia das oscilaccedilotildees cambiais que podem

comprometer definitivamente a existecircncia do Sistema Uacutenico de Sauacutede Haacute no

sentido de se reverter esse quadro urgecircncia no estabelecimento de estrateacutegias

nacionais na aacuterea de produccedilatildeo e desenvolvimento tecnoloacutegico de insumos

estrateacutegicos para a sauacutede

Nesse sentido em que pesem as divergecircncias existentes o CEIS

representa um ldquocaminho disponiacutevel e realrdquo para um virtuoso elo de

119

Freeman R Moran M A sauacutede na Europa In Negri B Viana ALA organizadores O SUS

em dez anos de desafio Satildeo Paulo SobravimeCealag 2002 p 45-64 apud Gadelha et al (20113006)

120Passando de US$ 700 milhotildeesano no final da deacutecada de 80 para mais de US$ 11 bilhotildees em

2010 ndash Fonte a partir da elaboraccedilatildeo dos dados do GISENSPFiocruz 2012 a partir dos dados da Rede

Alice do MDIC

181

desenvolvimento e atendimento agraves demandas soacutecio-sanitaacuterias Entretanto deve

ser considerado que o CEIS eacute uma estrutura industrial complexa Competitiva

em alguns setores poreacutem carente de uma maior capacidade tecnoloacutegica e de

inovaccedilatildeo nos segmentos que formam esse complexo E a sua existecircncia estaacute

estreitamente vinculada agrave inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e ao avanccedilo cientiacutefico Nesse

sentido natildeo eacute possiacutevel estabelecer um sistema de sauacutede avanccedilado e universal

num paiacutes com a complexidade e a dimensatildeo do Brasil se as induacutestrias

possuiacuterem fragilidades estruturais que as tornam pouco competitivas

vulneraacuteveis e dependentes do conhecimento internacional

A carecircncia por uma maior capacidade de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica aliada agrave

criacutetica situaccedilatildeo macroeconocircmica justifica a importacircncia crescente que a

inovaccedilatildeo vem adquirindo e consolida essa aacuterea como estrateacutegica para o

fortalecimento e a capacitaccedilatildeo nacional com vistas agrave competitividade

internacional

A induccedilatildeo de poliacuteticas fomentadoras do mercado nacional

representando investimento social da sauacutede em desenvolvimento e inovaccedilatildeo

ganha um olhar diferenciado para o exponencial aumento relacionado agraves

despesas com bens e insumos industriais que comprometem o interesse

puacuteblico e suas necessidades em sauacutede inviabilizando acesso a medicamentos

e tratamentos essenciais e comprometendo demais programas de sauacutede jaacute que

o ldquocobertor estaacute cada vez mais curtordquo isto eacute os recursos satildeo escassos e

vulneraacuteveis agraves dependecircncias externas cambiais e inovativas

Nessa perspectiva a formulaccedilatildeo das poliacuteticas cientiacuteficas e tecnoloacutegicas

para a aacuterea da sauacutede no Brasil ganhou maior evidecircncia a partir do final da

deacutecada de 90 e no iniacutecio do seacuteculo XXI evidenciando-se a adoccedilatildeo de novas

prioridades e ganhando destaque na agenda de CampT o estiacutemulo agrave inovaccedilatildeo no

setor Sauacutede

Buscou-se no Brasil reforccedilar na Ciecircncia e Tecnologia uma maneira de

promover o desenvolvimento nacional pela inovaccedilatildeo

182

Dentre as principais accedilotildees implantadas algumas merecem especial

destaque em funccedilatildeo do alcance estrateacutegico e dos desafios suplantados [121]

(a) Integraccedilatildeo entre as poliacuteticas industriais ndash PDP PITCE PACTI

(b) Promoccedilatildeo e Intensificaccedilatildeo da articulaccedilatildeo entre os atores ndash

governamentais (federal estaduais municipais) e privados

(c) Aprimoramento do marco regulatoacuterio

(d) Expansatildeo dos instrumentos de apoio e recursos aleacutem da articulaccedilatildeo

entre os fomentadores ndash FINEP e BNDES

(e) Ampliaccedilatildeo da capacidade de recursos para as instituiccedilotildees cientiacuteficas e

tecnoloacutegicas e empresas

(f) Incentivo agrave promoccedilatildeo de inovaccedilatildeo para o desenvolvimento nacional

com aumento dos investimentos globais em CampT

(g) Criaccedilatildeo do Sistema Brasileiro de Tecnologia e de mais de uma centena

de Institutos Nacionais de Ciecircncia e Tecnologia

(h) Programas diversos mobilizados com foco nas principais aacutereas

estrateacutegicas para o Paiacutes dos quais destacamos o Complexo

Econocircmico-Industrial como programa mobilizador em aacutereas

estrateacutegicas

(i) Priorizaccedilatildeo de criteacuterios que fortaleccedilam a autonomia tecnoloacutegica do

Paiacutes tais como o poder de compra puacuteblica isto eacute no acircmbito de uma

poliacutetica que promova internamente atividades de PampDampI esses criteacuterios

por meio de contratos e concessotildees com o poder puacuteblico estimulam a

aquisiccedilatildeo de produccedilatildeo e serviccedilos nacionais e

(j) Fortalecimento dos sistemas produtivos em especial o Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede

Dessa forma ganha cada vez maior evidecircncia o papel do Estado para a

reversatildeo desse quadro pessimista seja na formaccedilatildeo da agenda e na

formulaccedilatildeo de poliacuteticas e programas integradas e articuladas entre os diversos

ministeacuterios e representaccedilotildees civis promovendo medidas e accedilotildees concretas

para implementaccedilatildeo do marco regulatoacuterio brasileiro referente agrave estrateacutegia de

desenvolvimento do Governo Federal para aacuterea da sauacutede

Nesse sentido com o Programa Mais Sauacutede o Plano de Accedilatildeo 2007-

2010 do MCT e a Poliacutetica de Desenvolvimento Produtivo assim como com o

receacutem-criado GECIS (12052008) aleacutem do estiacutemulo agrave capacidade produtiva e

inovativa do setor baseado inclusive no poder de compra [122] do Estado

121

Fontes wwwmctgovbr wwwmdicgovbr

122

―O poder de compra do setor puacuteblico eacute um instrumento para promoccedilatildeo do desenvolvimento

tecnoloacutegico das empresas brasileiras tanto por intermeacutedio da compra direta de produtos e processos

inovadores (como permitido pela Lei de Inovaccedilatildeo) quanto pelo estabelecimento de contrapartidas de

acesso a tecnologias na aquisiccedilatildeo pelo governo no exterior de significativos lotes de produtos ou

183

como garantia para o desenvolvimento produtivo busca-se alcanccedilar

mecanismos estrateacutegicos para a consolidaccedilatildeo de um sistema de inovaccedilatildeo

dinacircmico com efeitos diretos no desenvolvimento nacional

Isso posto a dimensatildeo tecnoloacutegica da sauacutede vem sendo definida nos

uacuteltimos anos como aacuterea estrateacutegica no acircmbito da agenda social constando

como uma das prioridades no Mais Sauacutede - PAC da Sauacutede 101 assim como

consta como prioritaacuterias a poliacutetica externa e a cooperaccedilatildeo internacional O que

marca a importacircncia da relaccedilatildeo entre a sauacutede e as relaccedilotildees internacionais

Aleacutem disso outras poliacuteticas produtivas e de geraccedilatildeo de conhecimento

conforme citaccedilotildees anteriores datildeo a centralidade da sauacutede na agenda de

desenvolvimento como o PAC da Inovaccedilatildeo 102 do Ministeacuterio da Ciecircncia e

Tecnologia a Poliacutetica de Desenvolvimento Produtivo 103 do Ministeacuterio da

Induacutestria e Comeacutercio Exterior o Plano Brasil Maior [123] 104 lanccedilado em 2011

que daacute continuidade agrave PDP e agrave Poliacutetica Industrial Tecnoloacutegica e de Comeacutercio

Exterior ndash PITCE 105 a Poliacutetica Nacional de Sauacutede 106 e a Estrateacutegia Nacional

de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo ndash ENCTI 107 do Ministeacuterio da Ciecircncia

Tecnologia e Inovaccedilatildeo

Logo busca-se inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e aproveitamento das

oportunidades no mercado brasileiro onde se faz necessaacuteria a transformaccedilatildeo

de conhecimento em produtos afinal o crescente deacuteficit da balanccedila comercial

da sauacutede representa uma enorme lacuna na aacuterea tecnoloacutegica em sauacutede Diante

disso no atual momento histoacuterico brasileiro pautado pela retomada do papel do

Estado na definiccedilatildeo de uma trajetoacuteria de desenvolvimento socialmente

inclusivo deve-se empreender poliacuteticas que apresentem uma abordagem

sistecircmica da sauacutede considerando natildeo somente a sua dimensatildeo social como

tambeacutem a econocircmica e a tecnoloacutegica inclusive sob a perspectiva do

desenvolvimento sustentaacutevel

serviccedilos Como exemplo dessa aplicaccedilatildeo aponta-se a induacutestria de produtos farmacecircuticos por ser um

dos segmentos preferenciais em funccedilatildeo das suas peculiaridades tais como ―consideraacutevel porte das

compras puacuteblicas no mercado nacional para esses produtos e a importacircncia deles para a sauacutede puacuteblica

aleacutem do fato desse setor ter sido incluiacutedo entre os prioritaacuterios da PITCE 102

123

Aproveitando a experiecircncia das poliacuteticas anteriores o Plano prevecirc um conjunto de medidas

de estiacutemulo ao investimento e agrave inovaccedilatildeo apoio ao comeacutercio exterior e defesa da induacutestria e do mercado

interno Mais detalhes wwwmdicgovbrbrasilmaior

184

Em relaccedilatildeo agrave questatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel este estudo

acrescenta agraves vertentes analisadas anteriormente uma nova abordagem

analiacutetica com base na perspectiva da equidade e do direito agrave sauacutede na agenda

global O desenvolvimento sustentaacutevel ganha terreno na interaccedilatildeo entre a

sauacutede e o desenvolvimento

A inter-relaccedilatildeo da sauacutede com o desenvolvimento tambeacutem nos remete agrave

preocupaccedilatildeo social com o uso indiscriminado do meio ambiente que ao ser

explorado de forma predatoacuteria e degradante acaba ocasionando mudanccedilas

ambientais e climaacuteticas levando a danos irreversiacuteveis agrave vida humana e agrave

sustentabilidade do planeta

Portanto eacute indissociaacutevel a correlaccedilatildeo do meio ambiente com a interaccedilatildeo

entre sauacutede e desenvolvimento Cunha 108 interpreta o meio ambiente de forma

ampla referindo-o natildeo apenas agrave natureza propriamente dita ldquomas sim a uma

realidade complexa resultante do conjunto de elementos fiacutesicos quiacutemicos

bioloacutegicos e socioeconocircmicosrdquo [124] O meio ambiente interage portanto com o

desenvolvimento das atividades humanas

E nessa perspectiva segundo destaca o autor ldquoa sauacutede tem como

fatores determinantes e condicionantes entre outros a alimentaccedilatildeo a moradia

o saneamento baacutesico o meio ambiente o trabalho a renda a educaccedilatildeo o

transporte o lazer e o acesso aos bens e serviccedilos essenciaisrdquo conforme artigo

3ordm da Lei 808090 citado por Cunha 108

Ora se a sauacutede se vincula ao acesso aos bens e serviccedilos essenciais e o

CEIS assim o propicia por meio da sua capacidade produtiva tambeacutem deve

considerar o meio ambiente como bem e fator determinante para a garantia da

sauacutede do indiviacuteduo Sob esse enfoque uma vez que danos ao meio ambiente

interferem diretamente na condiccedilatildeo da sauacutede puacuteblica eacute mister afirmar a

intriacutenseca condiccedilatildeo sine qua non da proteccedilatildeo ao meio ambiente na relaccedilatildeo

virtuosa do desenvolvimento com a sauacutede

124

Ver Cunha PR A relaccedilatildeo entre meio ambiente e sauacutede e a importacircncia dos princiacutepios da

prevenccedilatildeo e da precauccedilatildeo Jus Navigandi Teresina 2 abr 2005 10(633) Disponiacutevel em

lthttpjuscombrrevistatexto6484gt Acesso em 20 jan 2012

185

Assim corrobora McMichael e demais autores 109 (p 220) ao apontar em

sua anaacutelise os efeitos adversos provocados pela emissatildeo de gases poluentes

no clima e na sauacutede e a necessaacuteria intervenccedilatildeo para minimizar as

consequecircncias negativas da mudanccedila climaacutetica

ldquoWhile there are considerable uncertainties as the knowledge base on climate change and health impacts have grown so has interest in developing response options to reduce adverse health effects That is in addition to measures aimed at reducing greenhouse gases and slowing climate change measures can be aimed at reducing adverse effects (or exploiting beneficial effects) associated with climate change Even with reductions in greenhouse gas emissions Earth‟sclimate is expected to continue to change so that adaptation strategies are viewed as a necessary complement to mitigation actionsrdquo

Sob essas consideraccedilotildees a inovaccedilatildeo ganha portanto uma nova

perspectiva focada no desenvolvimento sustentaacutevel a partir de encadeamentos

intersetoriais e institucionais que alavanquem a proteccedilatildeo ao meio ambiente e

que simultaneamente integrem a aacuterea da sauacutede ao desenvolvimento

econocircmico e sustentaacutevel

Impactos severos agraves condiccedilotildees ambientais e por consequecircncia agrave sauacutede

puacuteblica satildeo percebidos na ausecircncia de uma visatildeo estrateacutegica que engendre

em seus programas e poliacuteticas adequaccedilatildeo da sua capacidade produtiva agraves

causas ambientais [125]

Aleacutem disso avanccedilos na tecnologia satildeo apontados como estrateacutegicos na

busca de soluccedilotildees para minimizar os danos provocados pelas condiccedilotildees

125 A relaccedilatildeo entre o meio ambiente e sauacutede eacute sustentada sob argumentos e normas legais

108

Artigo 225 da Constituiccedilatildeo Federal do Brasil Todos tecircm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado bem de uso comum do povo e essencial agrave sadia qualidade de vida impondo-se ao Poder

Puacuteblico e agrave coletividade o dever de defendecirc-lo e preservaacute-lo para as presentes e futuras geraccedilotildees Artigo

200 da Lei Maior que fixa algumas atribuiccedilotildees do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) dentre os quais se

menciona a fiscalizaccedilatildeo de alimentos bebidas e aacutegua para o consumo humano (inciso VI) e a colaboraccedilatildeo

na proteccedilatildeo do meio ambiente (inciso VIII) Lei Federal nordm 693881 Poliacutetica Nacional do Meio

Ambiente que tem por objetivo a preservaccedilatildeo melhoria e recuperaccedilatildeo da qualidade ambiental favoraacutevel

agrave vida e portanto agrave sauacutede visando assegurar condiccedilotildees ao desenvolvimento socioeconocircmico e agrave proteccedilatildeo

da dignidade humana (artigo 2ordm) Lei nordm 808090 que aleacutem de consignar o meio ambiente como um dos

vaacuterios fatores condicionantes para a sauacutede (artigo 3ordm) prevecirc uma seacuterie de accedilotildees integradas relacionadas agrave

sauacutede meio ambiente e saneamento baacutesico

186

climaacuteticas adversas tornando-se necessariamente tecnologias portadoras de

futuro 109 (p 227)

ldquoAdvances in technology such as new drugs or diagnostic equipment can increase substantially our ability to solve health problems More generally the availability and access to technology at the individual local and national levels in key sectors (eg agriculture water resources health) is an important determinant of adaptive capacity Many of the adaptive strategies that protect human health involve technology (eg warning systems air conditioning pollution controls housing storm shelters vector control vaccination water treatment and sanitation) While much of this technology is well established (water treatment anitation) some is relatively new and still being disseminated (well-equipped mobile laboratories computer information and reporting systems which can support disease surveillance) In other cases there is a need for new Technologies (new vaccines and pesticides) to enhance the ability to cope with a changing climate Countries that are open to the use of technologies and can develop and disseminate new technologies have enhanced adaptive capacityrdquo

Portanto poliacuteticas e programas vinculados ao CEIS sob a alianccedila das

dimensotildees sanitaacuterias e econocircmicas devem exercer a necessaacuteria

responsabilizaccedilatildeo em garantir as condiccedilotildees adequadas ao meio ambiente em

prol da sauacutede puacuteblica aleacutem de buscar mecanismos tecnoloacutegicos e inovadores

que minimizem os danos provocados pelas mudanccedilas climaacuteticas agrave sauacutede local

e globalmente

Buscas essas que aleacutem de preservar a sauacutede sob os princiacutepios

ambientais e sob as expectativas climaacuteticas poderatildeo diferenciar e promover o

modelo do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede sob as discussotildees e

construccedilotildees internacionais tais como o Tratado de Quioto [126] Objetivos de

Desenvolvimento do Milecircnio a Agenda 21 [127] Conferecircncia Mundial sobre os

126

Expira em 2012 Apesar de natildeo ter alcanccedilado ecircxito no atendimento de todas as suas metas de

reduccedilatildeo das emissotildees de gases prejudiciais ao meio ambiente trouxe agrave agenda global a necessaacuteria revisatildeo

dos seus valores com o meio ambiente Haacute perspectivas de um novo tratado ou uma emenda no Tratado a

partir de 2012 127

Fruto da Conferecircncia Rio 92 Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento consagrou o conceito de desenvolvimento sustentaacutevel Busca a associaccedilatildeo mundial em

prol do desenvolvimento sustentaacutevel estabelecendo a importacircncia de que cada ente governamental reflita

(e aja) global e localmente sobre a busca de soluccedilotildees para os problemas socioambientais

187

Determinantes Sociais da Sauacutede em 2011 [128] e a Rio+20 ocorrida no Rio de

Janeiro em junho de 2012 [129]

Ressalta-se portanto a importacircncia da sauacutede na abordagem do

desenvolvimento e do meio ambiente

Finalmente a capacidade de produccedilatildeo de bens de sauacutede eacute determinante

para a capacidade soberana de um paiacutes em garantir o direito agrave sauacutede da sua

populaccedilatildeo e reduzir a vulnerabilidade da poliacutetica de sauacutede Haacute uma estreita

relaccedilatildeo entre o desenvolvimento econocircmico e a sustentabilidade da soberania

afinal quanto mais o paiacutes for desenvolvido e tiver mais autonomia mais plena

seraacute a sua soberania

Ao mesmo tempo em que um paiacutes precisa obter espaccedilo para a

conduccedilatildeo das suas poliacuteticas puacuteblicas precisa tambeacutem ampliar o seu acesso a

novos mercados e a novos conhecimentos Nesse sentido poliacuteticas nacionais

que promovam o desenvolvimento propiciam autonomia externa sustentam as

bases soberanas de um paiacutes e promovem maior autonomia no acircmbito interno

Reforccedila-se portanto como condiccedilatildeo estrateacutegica da sauacutede o seu

Complexo Econocircmico-Industrial projetando-se a discussatildeo da sauacutede no

contexto nacional mas tambeacutem inserindo o Brasil em posiccedilatildeo de maior

protagonismo no cenaacuterio internacional em que haja o reconhecimento da

sauacutede como condiccedilatildeo sine qua non para o desenvolvimento econocircmico social

e ambiental vista na sua forma mais solidaacuteria a coletiva

Em que pesem as accedilotildees coletivas na defesa do interesse do bem-estar

comum das naccedilotildees fundamento da abordagem da Sociedade Internacional

resultando em oportunidades de maior acesso agraves informaccedilotildees e agraves inovaccedilotildees

necessaacuterias para a reduccedilatildeo das condiccedilotildees de maior vulnerabilidade decorrente

de riscos sanitaacuterios e pandecircmicos eou da baixa ou nula capacidade produtiva

apontamos como conclusatildeo um grande desafio cujo pertencimento passa pela

128

Imbuiacutedo no propoacutesito de aproximar a sauacutede do desenvolvimento sustentaacutevel a Organizaccedilatildeo

Mundial da Sauacutede realizou a Conferecircncia Mundial sobre os Determinantes Sociais da Sauacutede no Rio de

Janeiro em 2011 129

A Rio+20 Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Desenvolvimento Sustentaacutevel (UNCSD)

teve como um dos objetivos avaliar o progresso alcanccedilado poacutes Rio 92 pactuando entre os Estados

Membros novas tratativas para os desafios atuais e emergentes

188

Economia Poliacutetica Internacional que eacute o fortalecimento da capacidade produtiva

nacional e o alcance de uma posiccedilatildeo competitiva em um espaccedilo de

diversidade complexidade e conflito onde intervenccedilotildees e limitaccedilotildees impostas

em foacuteruns poliacutetico-econocircmicos internacionais e supranacionais precisaratildeo ser

traduzidas repensadas e renegociadas para garantir a sauacutede como condiccedilatildeo

de bem-estar social de desenvolvimento da atividade econocircmica e de garantia

agrave soberania nacional como bases de participaccedilatildeo em um mercado altamente

globalizado

Isso posto o Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede desempenha um

papel estrateacutegico na dinamizaccedilatildeo da economia e nas articulaccedilotildees da poliacutetica

externa Tendo na atuaccedilatildeo do Estado mesmo em um espaccedilo de diversidade

complexidade e conflito onde a globalizaccedilatildeo comanda os processos

econocircmicos e sociais caraacuteter estrateacutegico e fundamental

O que ressalta a cada vez maior importacircncia da Ciecircncia Tecnologia e

da Inovaccedilatildeo na agenda das poliacuteticas interna e externa de um paiacutes Mais um

desafio a ser superado que eacute o de consolidar a sauacutede como um bem puacuteblico

integrado ao exerciacutecio da poliacutetica externa

Entretanto a despeito da grande importacircncia social e estrateacutegica para o

Estado o CEIS tem sofrido influecircncias diversas nos seus padrotildees de

desenvolvimento que natildeo especificamente na diretriz maior que abrange os

aspectos relacionados agraves condiccedilotildees de sauacutede mas mais amplamente no

tocante agrave situaccedilatildeo de desenvolvimento da naccedilatildeo em questatildeo A velocidade

crescente no avanccedilo mundial do conhecimento e o decorrente aumento da

competiccedilatildeo entre os detentores do mesmo e dos processos de inovaccedilatildeo

tecnoloacutegica satildeo variaacuteveis que influenciam diretamente o fortalecimento e a

competiccedilatildeo dos setores relacionados ao Complexo Econocircmico-Industrial da

Sauacutede

Haacute de se competir tambeacutem no plano da estrutura industrial onde os

interesses internacionais e de grandes transnacionais movimentam e

concentram o capital e a tecnologia competindo em clusters e repartindo entre

os seus pares o mercado mundial da induacutestria da sauacutede

189

Portanto a relaccedilatildeo entre as poliacuteticas nacionais com as relaccedilotildees

internacionais encerra desafios diversos enfrentados no mercado nacional que

natildeo satildeo ultrapassados sem que se cumpra uma agenda de transformaccedilotildees

internas como preacute-condiccedilatildeo ou consequecircncia da exposiccedilatildeo aos mercados

externos E estas transformaccedilotildees trazem uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica e uma forte

consolidaccedilatildeo da gestatildeo estrateacutegica preparando o Paiacutes para um papel de

destaque no contexto geopoliacutetico internacional

A conduccedilatildeo das prioridades para a tomada de decisotildees das poliacuteticas

puacuteblicas em sauacutede tem sido um reflexo das circunstacircncias nacionais e

internacionais e tambeacutem do que a sauacutede precisa Nesse sentido o CEIS tem

suas diretrizes fortemente influenciadas por uma agenda global o que traz

benefiacutecios poreacutem relaciona seacuterios desafios para a implementaccedilatildeo de poliacuteticas

de sauacutede dada a assimetria de forccedilas e de governanccedila dos paiacuteses que

definem esta agenda Reich 6 ao ressaltar as accedilotildees de muacuteltiplas forccedilas

exercidas sobre o Estado moderno ndash como por exemplo a diminuiccedilatildeo do seu

papel decorrente da expansatildeo da descentralizaccedilatildeo ou da crescente influecircncia

de organizaccedilotildees natildeo-governamentais assim como pelos acordos promovidos

por agecircncias internacionais e pelo poder de empresas multinacionais - aponta

que as mesmas trazem seacuterias implicaccedilotildees para a sauacutede puacuteblica

Portanto a fim de se fortalecer o CEIS no Paiacutes algumas soluccedilotildees satildeo

apontadas devendo ser alcanccediladas (1) transformar o conhecimento produzido

em inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que melhorem o desempenho do setor produtivo no

campo da sauacutede (2) promover poliacuteticas e accedilotildees complementares e integradas

para o desenvolvimento de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede em

interface com as poliacuteticas interna e externa de maneira que o governo trace

poliacuteticas puacuteblicas estaacuteveis e duradouras para fortalecer o CEIS (3) destacar a

sauacutede e seu complexo como estrateacutegicos de fundamental importacircncia e de

caraacuteter taacutecito e criacutetico notadamente para a relaccedilatildeo entre paiacuteses fronteiriccedilos e a

relaccedilatildeo Sul-Sul tornando-se cada vez mais essenciais nas poliacuteticas voltadas

para a integraccedilatildeo de paiacuteses de uma mesma regiatildeo ou continente como o

Mercosul e a Ameacuterica do Sul ou para a inserccedilatildeo mais ativa nas relaccedilotildees

internacionais com paiacuteses dependentes de accedilotildees mais efetivas em sauacutede

puacuteblica como eacute o caso dos paiacuteses africanos (4) ultrapassar o desafio de se

190

promover de forma articulada poliacuteticas puacuteblicas que simultaneamente

fortaleccedilam a sauacutede o desenvolvimento econocircmico e o desenvolvimento

sustentaacutevel

Dito isto o grande desafio do CEIS refere-se agrave constituiccedilatildeo de um

modelo que permita a reestruturaccedilatildeo da base produtiva nacional na direccedilatildeo do

dinamismo econocircmico e na superaccedilatildeo do atraso em aacutereas criacuteticas para a

atenuaccedilatildeo da desigualdade e da exclusatildeo social nacional Precisa direcionar-

se agrave superaccedilatildeo da forte dependecircncia tecnoloacutegica da naccedilatildeo cuja

vulnerabilidade piora em ambiente de globalizaccedilatildeo ficando mais suscetiacutevel agrave

oscilaccedilatildeo cambial e agraves questotildees que ultrapassam as fronteiras sanitaacuterias como

o caso das pandemias e doenccedilas Natildeo se pode considerar irrelevante o fato de

que os detentores do conhecimento manter-se-atildeo condutores externos que

influenciam as decisotildees dos formuladores das poliacuteticas nacionais em uma

conduccedilatildeo maquiaveacutelica onde quem deteacutem o conhecimento deteacutem o poder

Somente com os pilares do desenvolvimento construiacutedos sob uma forte

e consolidada capacidade produtiva tecnoloacutegica e inovativa aliada agrave loacutegica

soacutecio-sanitaacuteria eacute que se cria capacidade de ultrapassar os limites impostos

pelas condiccedilotildees resultantes da globalizaccedilatildeo e da forte concorrecircncia

internacional Logo o que determina a expansatildeo econocircmica do CEIS e daacute

sustentaccedilatildeo ao modelo eacute a ldquoestrateacutegia poliacutetica e a concepccedilatildeo de Estado e do

proacuteprio desenvolvimentordquo consolidando tambeacutem um modelo de intervenccedilatildeo

estatal na aacuterea social 5 (p 3006) Para os autores esse movimento tem como

grande desafio superar os oacutebices apontados e os limites herdados pela

liberalizaccedilatildeo econocircmica e pelos efeitos da globalizaccedilatildeo assimeacutetrica e lidar com

a imprevisibilidade da economia internacional atual em crise desde o iniacutecio do

Seacuteculo XXI

Superaccedilatildeo que deve dar a devida relevacircncia a questotildees centrais como a

vulnerabilidade externa e as assimetrias tecnoloacutegicas e de poder elementos

que estatildeo em jogo na luta competitiva dos Estados nacionais Em que haja o

reconhecimento da relaccedilatildeo direta entre desenvolvimento e autonomia e

capacidade soberana justificando inclusive uma inter-relaccedilatildeo entre forccedilas

endoacutegenas e exoacutegenas do desenvolvimento onde poliacuteticas nacionais de

191

desenvolvimento promovam autonomia externa sustentem bases soberanas e

permitam maior autonomia interna Que se sustentem bases estruturais para a

conformaccedilatildeo dos estados de Bem-Estar inclusive sob o escopo da interaccedilatildeo

dos segmentos produtivos e de serviccedilos no acircmbito dos esforccedilos puacuteblicos e

privados nacionais em prol de incrementar o desenvolvimento produtivo e

inovativo

A questatildeo do CEIS eacute portanto fio condutor expliacutecito e impliacutecito na

abordagem da economia poliacutetica internacional na medida em que sintetiza as

categorias centrais que se mesclam agrave discussatildeo contemporacircnea das relaccedilotildees

internacionais e da poliacutetica externa globalizaccedilatildeo e localizaccedilatildeo relaccedilotildees

puacuteblico-privadas vulnerabilidades externas e internas assimetrias

tecnoloacutegicas econocircmicas e de poder soberania e estado de Bem-estar

2 Cooperaccedilatildeo Internacional e as Relaccedilotildees Internacionais um olhar

sobre o CEIS na relaccedilatildeo Sul-Sul

A Resoluccedilatildeo sobre ldquoSauacutede Puacuteblica Inovaccedilatildeo e Propriedade Intelectualrdquo

no acircmbito da Estrateacutegia Global e Plano de Accedilatildeo sobre Sauacutede Puacuteblica

Inovaccedilatildeo e Propriedade Intelectual aprovada na 61ordf AMS [130] daacute iniacutecio ao

processo de implantaccedilatildeo de estrateacutegias globais cujos objetivos pautam-se pela

ampliaccedilatildeo do acesso a medicamentos E para tanto foi formado um grupo de

Trabalho Intergovernamental em Sauacutede Puacuteblica Inovaccedilatildeo e Propriedade -

Intelectual ou Intergovernamental Working Group on Public Health Innovation

and Intellectual Property - IGWG cuja perspectiva busca o equiliacutebrio entre as

regras de proteccedilatildeo agrave propriedade intelectual e o direito agrave sauacutede e ao bem-estar

Sob a perspectiva dessa resoluccedilatildeo o Brasil vem atuando intensamente

apresentando-se como player importante na construccedilatildeo desse documento e na

composiccedilatildeo do Consultative Expert Working Group on Research and

130

Disponiacutevel em httpwwwwhointmediacentreevents2009wha62enindexhtml Acessado

em 20 de maio de 2012

192

Development Financing and Coordination (CEWG) [131] cuja centralidade a ser

combatida eacute a insuficiecircncia preocupante de recursos dedicados mundialmente

agrave pesquisa e desenvolvimento - PampD para tratamentos de doenccedilas que afetam

principalmente os paiacuteses em desenvolvimento Objetiva portanto buscar

estrateacutegias que aperfeiccediloem as condiccedilotildees de promoccedilatildeo de PampD e o maior

acesso ao desenvolvimento tecnoloacutegico e a insumos para a sauacutede dos paiacuteses

em desenvolvimento

Para o Brasil accedilotildees de inclusatildeo social o fortalecimento dos sistemas de

sauacutede e a promoccedilatildeo de equidade devem nortear a comunidade internacional

estando os mesmos amparados pelos marcos internacionais [132] instituiacutedos e

legitimados pelos paiacuteses partiacutecipes das organizaccedilotildees internacionais

ldquoA Estrateacutegia Global defende o uso das flexibilidades inerentes ao regime de patentes em apoio agraves poliacuteticas puacuteblicas de acesso a medicamentos e ao tratamento de todas as enfermidades com incidecircncia significativa em paiacuteses em desenvolvimento () Por sua vez a Declaraccedilatildeo Ministerial de Doha sobre o Acordo de Trips e Sauacutede Puacutebica afirma que o acordo de Trips pode e deve ser interpretado e implementado de modo a apoiar os direitos dos Membros da Organizaccedilatildeo Mundial de Comeacutercio de proteger a sauacutede puacuteblica e em particular de promover o acesso a medicamentos para todos Seja na OMS seja na OMC ou ainda na Organizaccedilatildeo Mundial de Propriedade Intelectual no contexto da Agenda para o Desenvolvimento a comunidade internacional reconhece que a plena utilizaccedilatildeo das flexibilidades previstas e admitidas nos tratados internacionais de propriedade intelectual constitui acervo juriacutedico consolidado () accedilotildees de inclusatildeo social a promoccedilatildeo da equidade e o fortalecimento dos sistemas puacuteblicos de sauacutede () estatildeo tambeacutem consignados no comunicado divulgado hoje pela Iniciativa bdquoPoliacutetica Externa e Sauacutede‟ ndash o chamado bdquoGrupo de Oslo‟ ndash que reuacutene paiacuteses do norte

e do sul desenvolvidos e em desenvolvimentordquo [133

]

131

Para mais informaccedilotildees quanto ao plano de trabalho do IGWG apresentado na 62ordf AMS ver

wwwwhointphinewscewg-2011enindexhtml

132

Natildeo eacute objeto deste estudo o aprofundamento das accedilotildees previstas nos documentos resultados

dos encontros estabelecidos na Assembleacuteia Mundial da Sauacutede tampouco na OMS e na OMC poreacutem

queremos reforccedilar o reconhecimento estabelecido entre os paiacuteses partiacutecipes acerca da importacircncia ao

acesso ao conhecimento e agraves poliacuteticas puacuteblicas de acesso a medicamentos

133

Discurso do Ministro Patriota na Conferecircncia Mundial sobre Determinantes Sociais da Sauacutede

no RJ em 2110 2011 Disponiacutevel em wwwitamaratygovbr Acesso em 20 de maio de 2012

193

O reconhecimento do pleno atendimento agraves necessidades humanas e o

de que a inflexibilidade quanto agrave proteccedilatildeo da propriedade intelectual natildeo

sejam necessariamente garantia de inovaccedilatildeo satildeo entretanto indutores para

que se ultrapasse a reflexatildeo e a retoacuterica e se estabeleccedilam accedilotildees efetivas para

o atendimento real agraves necessidades humanas de forma global O que por si

soacute garante novos comportamentos e debates internacionais entre os paiacuteses

partiacutecipes das Assembleacuteias Mundiais da Sauacutede na OMS e tambeacutem em foacuteruns

especializados na OMC no tocante ao acesso ao conhecimento e agraves poliacuteticas

puacuteblicas de acesso a medicamentos Nesse sentido a expectativa da

necessidade quanto ao fortalecimento do papel de governanccedila mundial em

sauacutede em que a OMS e os respectivos Estados membros possam efetivar

accedilotildees previstas nos documentos firmados em accedilotildees concretas na busca por

melhores conduccedilotildees estrateacutegicas orientadas para a promoccedilatildeo da sauacutede de

toda a sociedade

Fomentando o debate teoacuterico no contexto das relaccedilotildees internacionais o

posicionamento do Brasil perpassa pela abordagem da Sociedade

Internacional o que segundo Wight 19 e Jackson e Sorensen 14 tem como

principal desafio o atendimento aos interesses coletivos nos acircmbitos nacional

internacional e humanitaacuterio Entretanto natildeo se pode negligenciar as complexas

relaccedilotildees sociais que ligam o indiviacuteduo ao Estado 110 14 Nesse sentido o

Estado tampouco deve negligenciar sua vinculaccedilatildeo agrave sociedade global Ao que

Jackson e Sorensen 14 sublinham como responsabilidade dos Estados como

sociedade a responsabilidade global pelos direitos humanos pelo meio

ambiente e pelas necessidades humanas A abordagem da Economia Poliacutetica

Internacional cuja base se sustenta nas relaccedilotildees econocircmicas internacionais

revelandashse como o contraponto que existe por meio de relaccedilotildees sociais

inerentes agrave produccedilatildeo e agrave troca global de produtos baacutesicos e do

desenvolvimento cada vez mais amplo da poliacutetica mundial 14

Retomando o debate para a sauacutede e para o sistema de propriedade

intelectual Amorim [134] revela que o Brasil defende um sistema internacional

134

Ministro das Relaccedilotildees Exteriores do Brasil durante a gestatildeo do Governo Lula entre 2003 e

2010 In Cooperaccedilatildeo Sauacutede - Boletim da Atuaccedilatildeo Internacional Brasileira em Sauacutede n02 abril de 2010

AISAMinisteacuterio da Sauacutede Brasil

194

de propriedade intelectual efetivo e justo em que se promovam os incentivos agrave

inovaccedilatildeo e se proteja os pequenos e grandes detentores de marcas e patentes

Ao que para o Brasil segundo o ex-Chanceler esses objetivos natildeo satildeo

conflitantes com a perspectiva de que os direitos humanos e as principais

metas internacionais de desenvolvimento devem reger os entendimentos

globais sobre certos temas econocircmicos em particular quando se discutem

questotildees relativas agrave sauacutede humana

Nessa perspectiva o que tem que ser superado segundo o diplomata eacute

o favorecimento pelo sistema internacional de marcas e patentes de

laboratoacuterios privados em paiacuteses desenvolvidos notadamente os da Ameacuterica do

Norte e os europeus em detrimento da sauacutede das populaccedilotildees dos paiacuteses em

desenvolvimento Logicamente essa superaccedilatildeo impotildee desafios complexos

Em que pesem (1) a pressatildeo e a limitaccedilatildeo impostas pelas induacutestrias (2)

o favorecimento dos laboratoacuterios privados de paiacuteses desenvolvidos (3) as

artimanhas judiciais impostas pelos detentores da marca para a continuidade

dos direitos de exploraccedilatildeo de patentes de medicamentos que estejam com o

prazo a expirar (na tentativa de embargar o direito agrave exploraccedilatildeo por

laboratoacuterios de produccedilatildeo de medicamentos geneacutericos impedindo assim o

barateamento do medicamento e buscando uma continuidade comercial com

vistas agrave maximizaccedilatildeo do lucro que ultrapassa a legislaccedilatildeo que daacute aos

detentores da patente a garantia de exploraccedilatildeo do medicamento por 20 anos) e

(4) os artifiacutecios como o ocorrido em janeiro de 2009 quando se deu o embargo

alfandegaacuterio e a retenccedilatildeo da carga embarcada para o Brasil no porto

holandecircs de medicamentos geneacutericos da Iacutendia para tratamento de hipertensatildeo

embarcada para o Brasil em frontal oposiccedilatildeo ao princiacutepio internacionalmente

garantido do acesso universal aos medicamentos a busca pela garantia agrave vida

e agrave sauacutede de todas as naccedilotildees satildeo objetivos incontestes tampouco inegaacuteveis

A pandemia da gripe A (H1N1) ocorrida em 2009 eacute um caso

emblemaacutetico na relaccedilatildeo do acesso a medicamentos evidenciando o quatildeo

vulneraacutevel pode ser tornar um paiacutes o que demonstra a importacircncia estrateacutegica

da cooperaccedilatildeo articulada entre os paiacuteses

195

Isso posto a sauacutede passa a exercer legitimidade e representatividade

nas decisotildees e accedilotildees da poliacutetica externa dos paiacuteses Portanto a centralidade

estaacute no estado de bem-estar do ser humano em sua interface com a base

produtiva e de inovaccedilatildeo em sauacutede Perspectiva essa lanccedilada inclusive na

discussatildeo sobre os Determinantes Sociais da Sauacutede em que a sauacutede eacute

considerada como resultado da interaccedilatildeo de fatores sociais e de poliacuteticas

puacuteblicas

Diante do exposto o Brasil tem fortalecido seu papel de governanccedila nos

assuntos da sauacutede concentrando seus esforccedilos junto aos paiacuteses do eixo Sul-

Sul assim como atuando de forma articulada e proativa junto aos organismos

multilaterais Aleacutem da cooperaccedilatildeo com os paiacuteses do sul satildeo diretrizes da

poliacutetica externa brasileira a busca por maior governanccedila quanto agraves situaccedilotildees

pandecircmicas e pelo efetivo desenvolvimento de mecanismos alternativos para

financiar a pesquisa e a promoccedilatildeo do acesso aos medicamentos

Essa atuaccedilatildeo eacute refletida por exemplo no posicionamento da Unasul

junto agrave Conferecircncia Mundial da Sauacutede ocorrida em 2010 em Genebra em que

o Brasil exerceu forte papel integrador e articulador na defesa ao direito do

acesso a medicamentos como bens puacuteblicos em que se privilegiam os

interesses sociais ao inveacutes dos interesses comerciais 111 Defesa feita tambeacutem

pelo Ministro da Sauacutede do Brasil em maio de 2011 por ocasiatildeo da 64ordf

Assembleacuteia Mundial da Sauacutede em que foi destacado o acesso universal agrave

sauacutede como um dos pilares do governo brasileiro para o desenvolvimento do

paiacutes assim como a erradicaccedilatildeo da pobreza extrema onde para tanto satildeo

necessaacuterias condiccedilotildees de financiamento de incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica e acesso

a medicamentos

Essa situaccedilatildeo tambeacutem apontou o Brasil como lideranccedila junto agrave Unasul e

ao Mercosul na promoccedilatildeo de accedilotildees coordenadas junto agrave 62ordf Assembleacuteia

Mundial da Sauacutede (AMS) ocorrida em maio de 2009 a fim de que fossem

disponibilizados os conhecimentos e inovaccedilotildees relacionados a essa pandemia

(Gripe H1N1) a todos os paiacuteses viacutetimas e potencialmente viacutetimas isto eacute sem

exceccedilatildeo ou priorizaccedilatildeo de paiacuteses representando hegemonia no acesso a

196

soluccedilotildees seja por meio do conhecimento ou pela disponibilizaccedilatildeo de insumos

para a sauacutede que atendessem agraves necessidades das sociedades

Em que pesem os desafios estruturais e econocircmicos a serem

ultrapassados e cuja complexidade e interesses conflituosos satildeo oacutebices que

retardam as condiccedilotildees necessaacuterias para o acesso agrave sauacutede mantendo

vulneraacuteveis os sistemas de sauacutede de uma sociedade cada vez mais o tema da

sauacutede vem requerendo um protagonismo baseado no estado de bem-estar

social de uma naccedilatildeo eou de um conjunto de naccedilotildees

21 Cooperaccedilatildeo Internacional sob a Abordagem da Assistecircncia

Humanitaacuteria

A Constituiccedilatildeo Federal brasileira em seu Tiacutetulo I Art 4 inciso IX prevecirc

que ldquoas relaccedilotildees internacionais do Brasil regem-se entre outras por uma

cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidaderdquo A Constituiccedilatildeo

portanto foi clara estabelecendo que o Brasil fundamente suas relaccedilotildees

internacionais com base na prevalecircncia dos direitos humanos e na cooperaccedilatildeo

entre os povos para o progresso da humanidade [135] Segundo entrevista de

Celso Amorim ex-Ministro das Relaccedilotildees Exteriores ldquoao elaborar e implementar

projetos de cooperaccedilatildeo internacional Sul-Sul fundados na solidariedade para

com paiacuteses mais pobres o Governo brasileiro age em cumprimento ao

disposto em sua Carta Constituinterdquo [136]

A priorizaccedilatildeo aos direitos humanos ao direito humanitaacuterio e agrave

solidariedade brasileira a paiacuteses atingidos por calamidades soacutecio-naturais

marcou a primeira deacutecada do Seacuteculo XXI Passa o Brasil a estruturar-se em

dinacircmicas multidisciplinares em conjunto com oacutergatildeos governamentais e com a

135

Portanto a solidariedade eacute um dos pilares da poliacutetica externa Ao que complementa Amorim

(2009) ao reiterar que o Brasil defende uma atitude de natildeo-indiferenccedila sem descuidar dos princiacutepios

basilares da soberania estatal e da natildeo-intervenccedilatildeo nas relaccedilotildees internacionais Para o ex-Ministro essa

posiccedilatildeo se reflete nas iniciativas do Brasil no Conselho de Direitos Humanos nos projetos de cooperaccedilatildeo

Sul-Sul e na ampliaccedilatildeo da ajuda humanitaacuteria que o Brasil envia ao exterior Fonte Amorim C O Brasil

e os Direitos Humanos em busca de uma agenda positiva publicado na revista Poliacutetica Externa vol 18

nordm 2 - set-out-nov2009 - Brasiacutelia 01092009 Disponiacutevel em wwwitamaratygovbr

136httpportalsaudegovbrportalarquivospdfentrevista_celso_amorimpdf

197

participaccedilatildeo da sociedade civil facilitada pela criaccedilatildeo o Grupo de Trabalho

Interministerial sobre Assistecircncia Humanitaacuteria Internacional (GTI-AHI) criado

por Decreto Presidencial em 2006 e coordenado pelo Itamaraty Essa gestatildeo

habilita o Paiacutes a prestar assistecircncia humanitaacuteria com base na solidariedade e

foco em desenvolvimento sustentaacutevel contemplando aspectos de prevenccedilatildeo

recuperaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo [137]

Segundo Divisatildeo de Projetos da Assessoria Internacional do Ministeacuterio

da Sauacutede [138] as accedilotildees humanitaacuterias solicitadas [139] ao governo brasileiro

tiveram um grande crescimento nos uacuteltimos anos Entre 2006 e 2009 foram

mais de 22 paiacuteses na Aacutefrica na Ameacuterica Latina no Caribe e na Aacutesia atendidos

Accedilotildees que se distribuem no atendimento de emergecircncias diversas tais como

dificuldade de medicamentos essenciais nos estoques dos paiacuteses desastres

de origem natural epidemias dentre outros

O Brasil considera o Projeto de Cooperaccedilatildeo Brasil-Haiti como uma de

suas prioridades na aacuterea internacional Inclusive na cooperaccedilatildeo em sauacutede

como pode ser observado no desenvolvimento de projeto de Banco de Leite

Humano nesse paiacutes e em outras accedilotildees necessaacuterias em funccedilatildeo do terremoto de

2010 Aumentando-se a representatividade dessa aacuterea em accedilotildees bilaterais de

reestruturaccedilatildeo e multilaterais tais como a relacionada ao Memorando de

Entendimento Brasil-Cuba-Haiti para o fortalecimento do Sistema de Sauacutede do

Haiti Na questatildeo relacionada agrave infraestrutura e insumos um dos principais

eixos do Memorando destaca-se a aquisiccedilatildeo de medicamentos insumos e

material meacutedico-hospitalar Cabe destacar tambeacutem a formaccedilatildeo de grupos

teacutecnicos para abordarem os compromissos prioritaacuterios do Memorando [140] O

Grupo Teacutecnico de Imunizaccedilatildeo em sua IV reuniatildeo do Comitecirc Gestor (agosto de

137

Disponiacutevel em httpwwwitamaratygovbrtemasbalanco-de-politica-externa-2003-

20107110-assistencia-humanitaria

138httpsi3govplanejamentogovbrMS_interface_Accedilotildees20Internacionais20para20Rep

araccedilatildeo20de20Desastresdoc ndash Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede para

Prevenccedilatildeo e Reparaccedilatildeo de Desastres - Divisatildeo de Projetos da AISAMS

139 Assim o governo brasileiro presta assistecircncia humanitaacuteria mediante solicitaccedilatildeo do paiacutes

recipiendaacuterio por questatildeo de princiacutepio e respeito agrave soberania dos Estados e em consonacircncia com a

Resoluccedilatildeo 46182 da Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas

140 Disponiacutevel em httpsi3govplanejamentogovbr Acesso em 22062012

198

2010) abordou possibilidades de cooperaccedilatildeo teacutecnica de Cuba e do Brasil para

o Programa de Imunizaccedilatildeo do Haiti com participaccedilatildeo da Fiocruz pelo Brasil e

Instituto Finlay por Cuba para estudo de viabilidade

Na tabela a seguir procuramos correlacionar com base no

Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede para

Prevenccedilatildeo e Reparaccedilatildeo de Desastres comportando o periacuteodo de 2006 a 05-

2010 e no Relatoacuterio de Assistecircncia Humanitaacuteria do Ministeacuterio das Relaccedilotildees

Exteriores relativo ao periacuteodo de 2006 a 2009 a importacircncia do Complexo

Econocircmico-Industrial da Sauacutede do Brasil para o atendimento vigoroso e

imediato das accedilotildees humanitaacuterias realizadas pelo governo brasileiro apontando

para tanto as principais demandas ocorridas nesses periacuteodos

Tabela 4 Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede

em Accedilotildees Vinculadas ao CEIS (Prestaccedilatildeo de Assistecircncia Humanitaacuteria) ndash

Periacuteodo 2006 a 052010

Data da doaccedilatildeo

Paiacutes

beneficiado

Produtos doados relacionados

ao CEIS

Situaccedilatildeo ocorrida

082006 Liacutebano 42 t de medicamentos 5 kits de farmaacutecia baacutesica

Guerrra Hezbolha X Israel

092006 Equador 11 t de medicamentos Erupccedilatildeo do vulcatildeo Tungurahua

012007 El Salvador 1200 frascos de medicamentos para tuberculose

Terremoto

02 e

032007

Boliacutevia 230 kg de medicamentos Enchentes

062007 Repuacuteblica Dominicana

10000 doses de vacinas contra febre amarela

Epidemia

199

Cont

Data da

doaccedilatildeo

Paiacutes beneficiado

Produtos doados relacionados ao CEIS

Situaccedilatildeo ocorrida

082007 Nicaraacutegua 14 t de medicamentos Epidemia

082007 Peru 65 t de medicamentos e 720 caixas de hipoclorito de soacutedio

Terremoto de 8 graus na escala Richter

082007 Jamaica 100 mil doses de vacinas dupla adulta 4 t de medicamentos e 3750 frascos de hipoclorito de soacutedio

Furacatildeo Dean

08 e

092007

Nicaraacutegua 14 t de medicamentos e 2000 doses de soro antiofiacutedico

Ciclone Feacutelix

10 e

112007

Repuacuteblica Dominicana

18 t de medicamentos e 115 t de hipoclorito de soacutedio

Tempestade Noel

112007 Nicaraacutegua 18 t de medicamentos Tempestade Noel

112007 Haiti 18 t de medicamentos 115 t de hipoclorito de soacutedio

Tempestade Noel

112007 Argentina 200 ampolas de soro antiescorpiocircnico

Infestaccedilatildeo de escorpiotildees

022008 Boliacutevia 15 milhotildees de comprimido de rifampicina

Tuberculose

02 a

042008

Boliacutevia 14 t de medicamentos Enchentes

032008 Equador 15 t de medicamentos Enchentes e erupccedilatildeo de vulcatildeo Tungurahua

032008 Guineacute-Bissau 2 t de medicamentos contra malaria

Epidemia de malaacuteria

032008 Angola 2 t de medicamentos contra malaria

Epidemia de malaacuteria

032008 Moccedilambique 3 t de medicamentos e 15000 frascos de rifampicina

Enchentes

032008 Zacircmbia 3 t de medicamentos e 15000 frascos de rifampicina

Enchentes

200

Cont

Data da

doaccedilatildeo

Paiacutes beneficiado

Produtos doados relacionados ao CEIS

Situaccedilatildeo ocorrida

092008 Haiti 73 t de medicamentos Furacotildees Gustav Ike e Hanna

092008 Jamaica 15 t de medicamentos Furacatildeo Gustav

122008 Timor Leste Doaccedilao de vacinas para cooperantes brasileiros

-

012009 Palestina Fator 9 (hemoderivados) 20000 Uis em frascos de 500 UI e 10000 envelopes de sais para reidratacao oral

Guerra Israel X Palestina

022009 Bolivia 10 t de Temefos 300 l de AquakacuteOthrine e envio de velas de andiroba para combate ao mosquito da dengue e transferecircncia de tecnologia pela Fiocruz para produccedilatildeo local de velas

Enchentes epidemia de dengue

012010

a

052010

Haiti 400 t de medicamentos insumos e equipamentos para sauacutede

Terremoto de 70 graus na escala Richter

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do Levantamento da Atuaccedilatildeo Internacional do Ministeacuterio da Sauacutede para Prevenccedilatildeo e Reparaccedilatildeo de Desastres comportando o periacuteodo de 2006 a 2010 ndash disponiacutevel em httpsi3govplanejamentogovbrMS_interface_Accedilotildees20Internacionais20para20Reparaccedilatildeo20

de20Desastresdoc e do Relatoacuterio de Assistecircncia Humanitaacuteria do Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores relativo ao periacuteodo de 2006 a 2009 ndash disponiacutevel em wwwitamaratygovbr

Nota 1 ndash Natildeo eacute intenccedilatildeo deste trabalho fazer o levantamento dos custos decorrentes das doaccedilotildees efetuados e sim ressaltar o impacto do conceito humanitaacuterio e de solidariedade nas accedilotildees de poliacutetica externa brasileira relacionadas agraves necessidades de suprimento de insumos da sauacutede

Nota 2 ndash A tabela acima apresenta um recorte especifico para os produtos relacionados ao CEIS Obviamente a assistecircncia humanitaacuteria brasileira comporta doaccedilotildees diversas (assistecircncia alimentar material de limpeza de assistecircncia a moradia material escolar etc) atendendo a distintas demandas dos paiacuteses tanto por doaccedilotildees provenientes do Brasil como por aquisiccedilotildees locais e contribuiccedilotildees a ONGS Organismos Internacionais e Programa e Fundos diversos entre os quais a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura (FAO) o Programa Mundial de Alimentos (PMA) o Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Refugiados (ACNUR) e o Escritoacuterio das Naccedilotildees Unidas para Coordenaccedilatildeo de Assuntos Humanitaacuterios (OCHA)

201

22 Cooperaccedilatildeo Internacional sob a Abordagem da Cooperaccedilatildeo

Teacutecnica Internacional

Entre 2003 e 2009 [141] no tocante agrave Cooperaccedilatildeo Teacutecnica Internacional

o governo brasileiro promoveu a negociaccedilatildeo aprovaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de

mais de 400 acordos ajustes protocolos e Memorandos de Entendimentos

com governos de paiacuteses em desenvolvimento da Ameacuterica Latina Caribe

Aacutefrica Aacutesia e Oceania O nuacutemero de paiacuteses beneficiaacuterios da cooperaccedilatildeo

brasileira teve um crescimento superior a 150 isto eacute passou de 21 para 56

paiacuteses Dentre os paiacuteses beneficiaacuterios destacam-se primeiramente os paiacuteses

africanos e os paiacuteses da Ameacuterica Latina

Quanto agrave sauacutede sob a perspectiva da CampT a projeccedilatildeo brasileira

fundamenta-se em experiecircncias positivas tais como o Programa de

Imunizaccedilatildeo a implantaccedilatildeo do SUS o acesso universal e gratuito ao

diagnoacutestico agrave prevenccedilatildeo e ao tratamento das pessoas com HIVAIDS a defesa

ao acesso a medicamentos fundamentais sobre os quais pesem patentes

(como foram os casos do Efavirenz em 2007 e do Tenofovir [142] em 2010) a

participaccedilatildeo estrateacutegica no debate internacional pela diminuiccedilatildeo dos preccedilos de

medicamentos importados e pela produccedilatildeo nacional de medicamentos aleacutem

da promoccedilatildeo de accedilotildees articuladas para aprovaccedilatildeo de documentos junto agraves

organizaccedilotildees internacionais como a Estrateacutegia Global sobre Sauacutede Puacuteblica

Inovaccedilatildeo e Propriedade Intelectual aprovada durante a 61ordf AMS em 2008 e a

aprovaccedilatildeo do fundo global para o desenvolvimento de tecnologia e

conhecimento defendido pelo entatildeo Ministro da Sauacutede Joseacute Gomes

Temporatildeo

ldquoo acesso aos frutos do conhecimento humano estatildeo crescentemente segmentados por linhas legais e de mercado Noacutes temos a obrigaccedilatildeo moral de assegurar e tornar o mais acessiacutevel possiacutevel os benefiacutecios do progresso humano para todos Estruturas inovadoras satildeo necessaacuterias para acumular e sustentar o acesso a

141 Segundo dados disponibilizados no portal httpsi3govplanejamentogovbr

142

Medicamento antirretroviral para tratamento de HIVAIDS

202

niacuteveis mais elevados de sauacutede para os paiacuteses em

desenvolvimento do mundordquo [143]

Nesse escopo a visibilidade alcanccedilada pelo Brasil no contexto

internacional eacute reforccedilada por sua voz ativa na defesa por formulaccedilatildeo de

poliacuteticas voltadas para o fortalecimento da capacidade produtiva para

atendimento agraves demandas de sauacutede

Satildeo atrativos portanto que justificam o Brasil como paiacutes que eacute

demandado por outros paiacuteses em desenvolvimento E eacute nessa perspectiva de

cooperaccedilatildeo com os demais paiacuteses em desenvolvimento que o IPEA 79 relata

que o volume de recursos federais investidos em cooperaccedilatildeo teacutecnica cientiacutefica

e tecnoloacutegica aumentou consideravelmente Em 2005 o total anual investido

no contexto da sauacutede foi de R$ 278 milhotildees Em 2009 chegou a R$ 138

milhotildees na aacuterea da sauacutede um aumento de aproximadamente 400 do valor

aplicado em 2005 O volume total da cooperaccedilatildeo teacutecnica cientiacutefica e

tecnoloacutegica segundo a anaacutelise na aacuterea da sauacutede ldquode 2005 a 2009 equivale a

9 do total investido no periacuteodo ou seja quase R$ 24 milhotildeesrdquo 79 (p38)

Dos temas mais presentes na realidade dessa cooperaccedilatildeo em sauacutede

ganham destaques accedilotildees sobre doenccedilas negligenciadas aleacutem da forte

presenccedila e dos recursos investidos pela Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz

ldquoA CTCampT do Brasil na aacuterea da sauacutede contempla diversos outros temas que afligem os paiacuteses em desenvolvimento parceiros como a prevenccedilatildeo e controle da malaacuteria a atenccedilatildeo agrave sauacutede materno-infantil a capacitaccedilatildeo para a produccedilatildeo de vacinas contra febre amarela o diagnoacutestico e o manejo da doenccedila de Chagas () Entre as instituiccedilotildees participantes o Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores concentra 49 dos recursos investidos em projetos de CTCampT na aacuterea da sauacutede seguido pelo Ministeacuterio da Sauacutede (24) e pela Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz (20)rdquo

79 (p38)

Ademais accedilotildees articuladas entre o Ministeacuterio da Sauacutede e o Ministeacuterio

das Relaccedilotildees Exteriores estimulam transferecircncias de tecnologia e de

conhecimento cujo objetivo maior eacute a promoccedilatildeo do desenvolvimento dos

143

Disponiacutevel em httpwwwpanoramabrasilcombrbrasil-propoe-fundo-global-para-pesquisa-

em-saude-id2996html

203

paiacuteses carentes do saber tecnoloacutegico e inovativo E eacute sob esse escopo de

reforccedilar a questatildeo da sauacutede como elemento central para a estrateacutegia de

combate agrave pobreza e para incentivar o desenvolvimento social que os

chanceleres de sete paiacuteses assinaram em 2007 a Declaraccedilatildeo de Oslo [144]

aprovada em dezembro de 2009 pela ONU Essa aprovaccedilatildeo elevou a condiccedilatildeo

da sauacutede global a tema especiacutefico da poliacutetica externa dos paiacuteses membros

O que corrobora a diretriz do governo brasileiro em articulaccedilatildeo com o

Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores pela busca do fortalecimento da presenccedila

brasileira junto ao cenaacuterio internacional Nesse sentido o Brasil por intermeacutedio

das accedilotildees em sauacutede amplia sua presenccedila nos oacutergatildeos e programas de sauacutede

das Naccedilotildees Unidas e principalmente amplia suas accedilotildees de cooperaccedilatildeo com

os paiacuteses da Ameacuterica do Sul da CPLP e da Aacutefrica 106 112

Nessa perspectiva a pauta da sauacutede vem se evidenciando de forma

cada vez mais robusta no Brasil Algumas accedilotildees se destacam (a) o seu

posicionamento na defesa da sauacutede global (b) a coordenaccedilatildeo internacional do

enfrentamento das doenccedilas crocircnicas natildeo transmissiacuteveis (c) a defesa dos

sistemas universais de sauacutede (d) a introduccedilatildeo na agenda global dos

Determinantes Sociais da Sauacutede (e) o processo de reforma da OMS [145] (f) a

sua atuaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo teacutecnica atraveacutes do Centro Internacional de

Cooperaccedilatildeo Teacutecnica em HIVAIDS (CICT) (g) a organizaccedilatildeo da Rede de

Cooperaccedilatildeo Tecnoloacutegica em HIVAIDS (h) a atuaccedilatildeo notadamente na questatildeo

do acesso aos medicamentos (i) o BRICS (j) a constituiccedilatildeo do Tratado da

Unasul e seu papel de forte protagonismo regional inclusive junto ao Mercosul

(k) o estiacutemulo agrave cooperaccedilatildeo regional (oficinas como a de diagnoacutestico de ofertas

e demandas de cooperaccedilatildeo dos paiacuteses da Unasul e o Foacuterum de Cooperaccedilatildeo

Internacional em Sauacutede) (l) a instalaccedilatildeo e inauguraccedilatildeo do Isags e (m) a forte

articulaccedilatildeo e accedilatildeo proativa junto agrave Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua

Portuguesa e junto ao BRICS em assuntos correlatos agrave sauacutede

144

Para mais detalhes Capiacutetulo III 1Sauacutede nas Relaccedilotildees Internacionais e Quadro 2 ndash ―Relaccedilatildeo

de Documentos Internacionais cooperaccedilatildeo Sul-Sul e sauacutede do presente estudo

145

Conforme Botelho E Boletim de Atuaccedilatildeo Internacional Brasileira em Sauacutede nordm 5 ndash

Cooperaccedilatildeo Sauacutede Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede Nov 2011

204

Quanto agrave geopoliacutetica a temaacutetica da sauacutede por ser considerada

estrateacutegica na conduccedilatildeo poliacutetica nacional e internacional eacute amplificada quando

observamos o posicionamento do Brasil ldquona intercessatildeo dos vaacuterios

agrupamentos servindo de ponte entre os processos e interesses de cada

grupo promovendo o entendimento em torno dos temas principais da agenda

globalrdquo [146] Essa intercessatildeo pode ser observada na figura 5

Figura 5 Intercessatildeo Geopoliacutetica do Brasil na Aacuterea da Sauacutede

Elaboraccedilatildeo proacutepria

Nesse sentido a representatividade brasileira agrega valor inegaacutevel e

incontestaacutevel agrave conduccedilatildeo e ao destaque dos assuntos relacionados agrave sauacutede e

o consequente fortalecimento da aacuterea junto aos paiacuteses relacionados

Em que pese a priorizaccedilatildeo brasileira na relaccedilatildeo Sul-Sul eacute imprescindiacutevel

a contiacutenua busca pela minimizaccedilatildeo da vulnerabilidade tecnoloacutegica nacional

Articulaccedilotildees produtivas entre instituiccedilotildees e laboratoacuterios de produccedilatildeo puacuteblica e

empresas privadas ganham contorno estrateacutegico e imprescindiacutevel sobretudo

146

Botelho E Boletim de Atuaccedilatildeo Internacional Brasileira em Sauacutede nordm 5 ndash Cooperaccedilatildeo Sauacutede

Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede Nov de 2011

MERCO-SUL

UNASUL

CPLP

IBAS

BRICS

205

com empresas e instituiccedilotildees de paiacuteses desenvolvidos detentores de

conhecimento e tecnologia de ponta com diferencial em PampD

Podem ser destacados por exemplo os seguintes casos de parcerias

entre o Brasil e naccedilotildees e instituiccedilotildees mais desenvolvidas (a) com o Reino

Unido empresa GlaxoSmithKline - GSK e Fiocruz como contraparte brasileira ndash

desenvolvimento e produccedilatildeo de vacinas contra HIB Triacuteplice Viral Pneumococo

e Rotaviacuterus aleacutem de parceria firmada em 2009 para o desenvolvimento de

vacinas contra dengue e malaacuteria e mais recentemente acordo firmado para

produccedilatildeo de vacinas tetraviral que incluiraacute a varicela agrave atual triacuteplice viral (b)

com a organizaccedilatildeo DNDI ndash Drugs for Neglected Diseases Initiativee Fiocruz ndash

produccedilatildeo de Artemisina + Mefloquina em doses fixas para tratamento contra

malaacuteria (c) com Cuba Poacutelo Cientiacutefico de Cuba e Fiocruz como contraparte

brasileira ndash projetos e produtos tais como Eritropoetina e Interferon Alfa kits

para diagnoacutestico e antineoplaacutesicos (d) com a Ucracircnia ndash Instituto Indar e Fiocruz

como contraparte brasileira ndash produccedilatildeo de insulina e (e) Estados Unidos ndash

empresa Genzyme e Fiocruz (como contraparte brasileira) ndash novos tratamentos

para a doenccedila de Chagas

O Brasil comporta um grande potencial para a aacuterea de vacinas

Inclusive potencial exportador uma vez que haacute demanda internacional

reprimida para vacinas para doenccedilas negligenciadas pelos grandes

laboratoacuterios Nesse sentido vale citar o caso de Bio-Manguinhos da Fundaccedilatildeo

Oswaldo Cruz que mesmo considerando ser uma instituiccedilatildeo puacuteblica voltada

para o atendimento agraves necessidades do SUS tem possibilidade de aumentar

sua capacidade de exportaccedilatildeo que em 2010 chegou a 47 milhotildees de doses

produzidas cerca de 3 da sua produccedilatildeo direcionada para o Brasil nesse

mesmo ano 1501 milhotildees [147]

A Fundaccedilatildeo Bill e Melinda Gates [148] a partir de um novo patamar de

relaccedilatildeo estabelecida com o Ministeacuterio da Sauacutede tambeacutem tem projetos com a

147

Disponiacutevel em httpwwwestadaocombrnoticiasimpressotransferencia-de-tecnologia-

alavanca-bio-manguinhos7206300htm Acesso em 18052011

148

Bill Gates em maio de 2011 convocou os ministros de sauacutede de todos os paiacuteses a vacinar 10

milhotildees de crianccedilas ateacute 2020 a chamada ―deacutecada de vacinaccedilatildeo Fonte

206

Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz e a Fundaccedilatildeo Butantan e projeta o Brasil como um

potencial exportador mundial de vacinas Sua parceria busca fomentar a

capacidade produtiva dessas instituiccedilotildees nacionais que em contrapartida

poderatildeo atender demandas de paiacuteses mais pobres como por exemplo de

paiacuteses africanos que necessitam de vacinas tais como vacina contra a Febre

Amarela Meningite e Pentavalente

Em funccedilatildeo das experiecircncias exitosas e dos resultados alcanccedilados junto

agraves parcerias para produccedilatildeo de vacinas no Brasil vale destacar como exemplo

de sucesso o histoacuterico da parceria entre a empresa GlaxoSmithkline -GSK e a

Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz mais especificamente a sua unidade de produccedilatildeo de

imunobioloacutegicos Bio-Manguinhos

Foi a partir dos anos 80 com a tecnologia para produccedilatildeo de vacina

contra poliomielite obtida por meio de parceria firmada com o Japan

Poliomyelitis Institute que Bio-Manguinhos incorporou a tecnologia de

produccedilatildeo dessa vacina utilizando o concentrado viral adquirido da GSK

produccedilatildeo fundamental para a eliminaccedilatildeo dessa doenccedila no Paiacutes

Desde entatildeo acordos de transferecircncia de tecnologia com a GSK foram

firmados entre as duas instituiccedilotildees O primeiro para a produccedilatildeo da vacina

conjugada contra Haemophilus Influenzae tipo b (HIB) teve a sua tecnologia

transferida totalmente em 2005 Em outubro de 2003 mais um acordo firmado

transferecircncia de tecnologia da vacina combinada de sarampo caxumba e

rubeacuteola com o processo de nacionalizaccedilatildeo de todas as etapas de produccedilatildeo

em andamento com previsatildeo para realizaccedilatildeo de estudos cliacutenicos previstos

para 2013 Mais uma parceria em 2007 contrato de transferecircncia de tecnologia

para produccedilatildeo da vacina contra rotaviacuterus com nacionalizaccedilatildeo completa das

etapas de produccedilatildeo prevista para 2013 Em 2009 firmado acordo de

colaboraccedilatildeo (ineacutedito) entre as instituiccedilotildees para o desenvolvimento e a

produccedilatildeo conjunta de uma vacina contra dengue E em 2010 firmado acordo

de transferecircncia de tecnologia para produccedilatildeo de vacina pneumocoacutecica

conjugada a ser fabricado em Bio-Manguinhos a partir de 2013 Mais

httpwwwestadaocombrnoticiasimpressobill-gates-sonda-laboratorios-do-pais-para-financiar-

producao-de-vacinas7206230htm Acesso em 18052011

207

recentemente iniacutecio de agosto de 2012 foi firmado acordo de transferecircncia de

tecnologia para produccedilatildeo de vacina contra varicela (catapora) a ser combinado

com a triacuteplice viral que inclui vacina contra sarampo caxumba e rubeacuteola

tornando-se uma vacina tetraviral [149]

Ultrapassando as fronteiras da incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica a FIOCRUZ

Instituiccedilatildeo Estrateacutegica de Estado na aacuterea da sauacutede estabelece-se com forte

protagonismo estrateacutegico na poliacutetica setorial de cooperaccedilatildeo internacional O

que seraacute apresentado no decorrer deste estudo

Nesse sentido a inovaccedilatildeo tecnoloacutegica assim como o conhecimento eacute

diferencial determinante para serem estabelecidas como centrais nos ditames

do processo de desenvolvimento do Brasil Essa centralidade eacute observada no

discurso da poliacutetica nacional conforme Lei de Inovaccedilatildeo nordm 10973 de 2004

ldquoo desafio de se estabelecer no Paiacutes uma cultura de inovaccedilatildeo estaacute amparado na constataccedilatildeo de que a produccedilatildeo de conhecimento e a inovaccedilatildeo tecnoloacutegica passaram a ditar crescentemente as poliacuteticas de desenvolvimento dos paiacuteses Nesse contexto o conhecimento eacute o elemento central das novas estruturas econocircmicas que surgem e a inovaccedilatildeo passa a ser o veiacuteculo de transformaccedilatildeo de conhecimento em riqueza e melhoria da qualidade de vida das sociedadesrdquo

Portanto partindo da ideacuteia de atrair empresas ampliar os processos de

transferecircncia de tecnologia implementar a produccedilatildeo em solo brasileiro

valendo-se do mercado continental e do poder de compra do Brasil o Paiacutes se

fortalece e expande sua capacidade produtiva compartilhando oportunamente

os conhecimentos adquiridos com os paiacuteses possuidores de vulnerabilidades

locais que comprometem a sauacutede das suas populaccedilotildees

Isso posto a despeito das consideraccedilotildees financeiras e comerciais

ocorre um processo de formaccedilatildeo de cadeia do conhecimento onde aqueles que

detecircm maiores condiccedilotildees de pesquisa de desenvolvimento de tecnologia e de

inovaccedilatildeo tornam-se multiplicadores do saber junto agravequeles com menor acesso

agrave tecnologia e ao conhecimento

149

Dados extraiacutedos da Agecircncia Fiocruz de Notiacutecias 07082012 Disponiacutevel em

wwwfiocruzbrccs Acesso em 10082012

208

Essa cadeia pode ser ilustrada conforme figura 6 onde o topo comporta

paiacuteses desenvolvidos detentores de tecnologias de ponta e de conhecimento

avanccedilado O topo firma projetos e negociaccedilotildees com a faixa central isto eacute com

paiacuteses como o Brasil que nesse exemplo especiacutefico possui uma base

industrial favoraacutevel e capacidade de PampD instalada com poliacuteticas integradas e

estruturantes amplo poder de compra do Estado programas de fomentos

fortalecidos aleacutem de capacidade regulatoacuteria e de poliacuteticas governamentais

favoraacuteveis para a promoccedilatildeo de parcerias puacuteblico-privadas e acadecircmicas e de

uma agenda internacional favoraacutevel para expansatildeo do conhecimento adquirido

em acircmbito regional e internacional Esses paiacuteses repassam suas tecnologias

para paiacuteses detentores de grandes fragilidades tecnoloacutegicas normalmente

paiacuteses com capacidade de produccedilatildeo em sauacutede nula ou em estaacutegio inicial

inseridos na base da piracircmide desde que haja viabilidade para estruturaccedilatildeo

produtiva e tecnoloacutegica

Figura 6 Formaccedilatildeo da Cadeia de Conhecimentos

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Assim o estaacutegio de desenvolvimento que o Brasil obteve em funccedilatildeo dos

benefiacutecios da cooperaccedilatildeo internacional recebida fez com que o habilitasse a

ofertar determinados conhecimentos e produtos a paiacuteses demandantes e a

organismos internacionais como eacute o caso da vacina contra Febre Amarela e os

Bancos de Leite Humano150 Nesse sentido afirma Amorim 113 [151]

150

Exemplos que seratildeo detalhados no decorrer do Capiacutetulo V

209

ldquoA cooperaccedilatildeo internacional prestada pelo Brasil atua como uma via de duas matildeos beneficiando por um lado os paiacuteses mais pobres com as boas praacuteticas tecnologias e conhecimento desenvolvidos com base na experiecircncia do SUS e por outro nos obrigando a aperfeiccediloar constantemente o universo de iniciativas e programas de sauacutede puacuteblica que atendam a um nuacutemero cada vez maior de seres humanosrdquo

113 (p5)

Na perspectiva da via de ldquoduas matildeosrdquo seria incompleto e limitante

imaginar que a promoccedilatildeo do desenvolvimento ocorra exclusivamente por conta

das accedilotildees exoacutegenas e de inputs externos cuja ldquodependecircncia cegardquo cerceie

movimentos e imobilize a capacidade produtiva quando interesses externos

divergem das escolhas e necessidades nacionais Tampouco se deve

considerar o desenvolvimento como uma questatildeo autoacutectone uma vez que

mesmo em um contexto global assimeacutetrico a realidade contemporacircnea das

relaccedilotildees entre os paiacuteses impotildee-se sob a base de um mundo interligado e

globalizado

Realidade essa que se fundamenta na cada vez maior relevacircncia da

relaccedilatildeo que as bases de conhecimento e os campos da ciecircncia da tecnologia

e da inovaccedilatildeo tecircm com o estado de bem-estar das naccedilotildees A cooperaccedilatildeo

internacional prestada pelo Brasil aos paiacuteses do Sul notadamente junto aos

paiacuteses da Ameacuterica Latina e Central e aos paiacuteses africanos eacute reflexo do

estabelecimento no Brasil de poliacuteticas de incentivo agrave inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e ao

conhecimento aliadas agrave conduccedilatildeo da poliacutetica externa sedimentada sobre os

alicerces da solidariedade e do desenvolvimento

151

Celso Amorim em entrevista Disponiacutevel em Cooperaccedilatildeo Sauacutede Boletim de Atuaccedilatildeo

Internacional Brasileira em Sauacutede do Ministeacuterio da Saude 2010 24-5

210

CAPIacuteTULO V CEIS POLIacuteTICA EXTERNA EM ACcedilAtildeO UM OLHAR SOBRE O SUL

A priorizaccedilatildeo e o fortalecimento das accedilotildees de cooperaccedilatildeo com as

naccedilotildees do Sul focando principalmente os paiacuteses da Ameacuterica do Sul e os

paiacuteses africanos e as recentes diretrizes da poliacutetica externa brasileira

contribuiacuteram para que a agenda da sauacutede ganhasse nas uacuteltimas deacutecadas maior

destaque na poliacutetica externa do Paiacutes

Nessa perspectiva a cooperaccedilatildeo Sul-Sul nas questotildees da sauacutede como

justificado anteriormente fundamenta-se em modelo horizontal e estruturante

cuja perspectiva eacute colaborar na superaccedilatildeo das deficiecircncias e limitaccedilotildees dos

paiacuteses cooperados Nesse sentido busca-se ultrapassar o caraacuteter instrumental

que ateacute hoje se deu a cooperaccedilatildeo brasileira e transformaacute-la em um necessaacuterio

elemento estruturador Situaccedilatildeo essa que obviamente torna possiacutevel uma

diferenciaccedilatildeo na conduccedilatildeo da poliacutetica externa brasileira e solidifica a projeccedilatildeo

internacional do Brasil aleacutem dos ganhos oacutebvios resultantes das mudanccedilas

provocadas pelo processo de desenvolvimento dos paiacuteses beneficiaacuterios da

cooperaccedilatildeo

Uma dimensatildeo da cooperaccedilatildeo internacional da sauacutede notadamente nos

paiacuteses em desenvolvimento eacute a parceria internacional em atividades de

inovaccedilatildeo para o desenvolvimento de produtos para a sauacutede Como exemplo de

diversas iniciativas podemos destacar (a) o apoio aos projetos de cooperaccedilatildeo

Sul-Sul para o desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico cujo objetivo eacute viabilizar

e fortalecer o desenvolvimento da aacuterea de Avaliaccedilatildeo de Tecnologias em Sauacutede

ndash ATS no acircmbito do Mercosul e (b) as Parcerias para Desenvolvimento de

Produtos (PDPs) pesquisa e ao desenvolvimento de insumos voltados para

doenccedilas negligenciadas

No tocante agraves ATS cuja Ata de formaccedilatildeo data de janeiro de 2009 [152] eacute

a partir da formaccedilatildeo do grupo de experts e da construccedilatildeo de uma rede de

avaliaccedilatildeo de tecnologias que promovam a difusatildeo do conhecimento na aacuterea

152

Disponiacutevel em httpsi3govplanejamentogovbr

211

tecnoloacutegica para sauacutede que alguns resultados jaacute foram alcanccedilados Para este

estudo vale destacar a concretizaccedilatildeo de um espaccedilo virtual para troca de

informaccedilotildees e a formaccedilatildeo de bases de dados para comparaccedilatildeo de preccedilos de

medicamentos e produtos para a sauacutede

Sob a perspectiva das doenccedilas antes negligenciadas a Fiocruz inserida

na estrateacutegia abrangente do Ministeacuterio da Sauacutede para a pesquisa e inovaccedilatildeo

em sauacutede comporta diversas iniciativas de parcerias dentre as quais com a

ldquoMedicines for Malaria Venture (MMV) a ldquoGlobal Alliance for TB Drug

Development (TB Alliance) e Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDI)

Essas parcerias se manifestam de forma global poreacutem conforme aponta Morel

[153] o movimento do Brasil no sistema global de inovaccedilatildeo ainda eacute recente

Segundo Morel um dos motivos para que esse movimento ainda natildeo esteja

maduro quando comparado a paiacuteses desenvolvidos eacute o fato de tatildeo somente

recentemente temas como inovaccedilatildeo terem sido priorizados nas discussotildees

poliacuteticas internas (a exemplo da Lei de Inovaccedilatildeo datada de 2005 isto eacute a

menos de uma deacutecada) Para o autor [154] o ateacute entatildeo avanccedilo incipiente foi

decorrente do fato de se descuidar ldquodo sistema educacional da poliacutetica

industrial e da poliacutetica sanitaacuteria que fizessem suas conexotildees com as poliacuteticas

de CampTrdquo ao que exemplifica apontando que foi somente a partir de 2004 que o

Ministeacuterio da Sauacutede montou o Departamento de CampT atualmente inserido na

tambeacutem recente Secretaria de Ciecircncia e Tecnologia e Insumos Estrateacutegicos em

Sauacutede para promover de forma estrateacutegica pesquisa tecnoloacutegica e inovaccedilatildeo

em sauacutede Entretanto vale destacar que este movimento estrateacutegico acelera-

se acentuadamente com a criaccedilatildeo de novas estruturas e poliacuteticas cuja

descriccedilatildeo fugiria aos propoacutesitos desta tese [155]

153

Entrevista concedida pelo pesquisador da Fiocruz Carlos Morel em 12112011 Disponiacutevel

em httpwwwdndiorgbrptcentro-de-documentacaocomunicados-de-imprensa253-12-01-2011-o-

modelo-pdp-e-as-doencas-negligenciadashtml Acesso em 06022012

154

Entrevista concedida ao Informe ENSP em 09032006 Disponiacutevel em wwwenspfiocruzbr

Acesso em 06022012

155

Para mais informaccedilotildees ver PIB - Perspectivas do investimento em sauacutede coordenador

Carlos A Grabois Gadelha Equipe Joseacute Maldonado [et al] Rio de Janeiro UFRJ 20082009

212

Ainda assim para Morel haacute muito que fazer no Brasil para estimular

essas parcerias prejudicadas pelos entraves burocraacuteticos que obstaculizam as

accedilotildees decorrentes Nesse sentido medidas de atraccedilatildeo factiacuteveis e exequiacuteveis

devem ser implementadas para atrair e fortalecer novas parcerias em PDP em

sauacutede entre o Brasil e demais paiacuteses sejam eles representados por

organizaccedilotildees sem fins lucrativos ou por empresas privadas

ldquoNa induacutestria de faacutermacos haacute uma necessidade de

aperfeiccediloar os procedimentos e processos nas

instituiccedilotildees envolvidas bem como estimular e facilitar a

interaccedilatildeo entre as mesmas Universidades institutos

de pesquisa e desenvolvimento hospitais e redes onde

ocorre a pesquisa cliacutenica ANVISA [Agecircncia Nacional

de Vigilacircncia Sanitaacuteria] CONEP [Comissatildeo Nacional

de Eacutetica em Pesquisa] INPI [Instituto Nacional da

Propriedade Industrial] Satildeo instituiccedilotildees criacuteticas e

fundamentais para que nosso Paiacutes possa desenvolver

um verdadeiro sistema nacional de inovaccedilatildeo em sauacutede

componente fundamental do Complexo Industrial da

Sauacutederdquo [153]

Em um sentido mais afirmativo vale ressaltar a existecircncia de resultados

positivos provenientes de esforccedilos dirigidos para doenccedilas negligenciadas

pouco visiacuteveis na agenda global Esses esforccedilos representam benefiacutecios para

paiacuteses que natildeo tecircm condiccedilotildees de promover o desenvolvimento e o

fortalecimento de sua base industrial voltada para a sauacutede tornando o Brasil

um paiacutes estrateacutegico para os seus parceiros do eixo Sul-Sul no Sistema Global

de Inovaccedilatildeo em Sauacutede

Como exemplo concreto brasileiro no esforccedilo global para ampliaccedilatildeo do

acesso a medicamentos tem-se ao final de 2011 o compromisso assumido

pelo Paiacutes no acircmbito da Opas enfatizando o protagonismo do Brasil a se

converter no provedor mundial de medicamentos contra o mal de Chagas

graccedilas agrave estrateacutegia da associaccedilatildeo de laboratoacuterios puacuteblicos e privados [156]

156 O laboratoacuterio privado Nortec entrega mateacuteria-prima ao laboratoacuterio puacuteblico Lafepe que

fabrica o medicamento Vale citar que segundo a Assessoria de Comunicaccedilatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede

em relaccedilatildeo a doenccedilas negligenciadas o Brasil produz diversos medicamentos para ajuda humanitaacuteria

internacional por meio de parcerias entre laboratoacuterios puacuteblicos e privados O investimento em

laboratoacuterios puacuteblicos produtores saltou de R$ 88 milhotildees em 2000 para mais de R$ 54 milhotildees em 2011

―() O Brasil estaacute no topo da lista de paiacuteses que financiam pesquisa em dengue segundo a GFinder List

instituiccedilatildeo inglesa que realiza levantamento anual de pesquisas De 2002 a 2010 o Ministeacuterio da Sauacutede

213

suprindo em conjunto com a logiacutestica da Organizaccedilatildeo Meacutedico Sem Fronteiras

a demanda mundial desse medicamento [157]

Ademais segundo a Divisatildeo de Projetos da Assessoria Internacional do

Ministeacuterio da Sauacutede [158] experiecircncias exitosas relacionadas agrave cooperaccedilatildeo

internacional em sauacutede estatildeo relacionadas aos temas HIVAIDS e Bancos de

Leite Humano

Referentemente ao primeiro tema ndash HIVAIDS eacute a principal referecircncia de

cooperaccedilatildeo com a Aacutefrica representando 37 dos projetos atuais e o 4ordm tema

da agenda de cooperaccedilatildeo brasileira com os paiacuteses da Ameacuterica Latina e Caribe

representando 13 da totalidade dos projetos Dentre os 21 projetos de

cooperaccedilatildeo nessa aacuterea 13 satildeo na Aacutefrica e 8 na Ameacuterica Latina e Caribe

Dentre os programas na aacuterea o Laccedilo Sul-Sul [159] oferece medicamentos

antirretrovirais brasileiros para os paiacuteses da Ameacuterica Latina e os paiacuteses

africanos representando um estrateacutegico instrumento de ampliaccedilatildeo ao acesso a

esses medicamentos

Conforme o Ministeacuterio o Banco de Leite Humano [160] eacute o principal tema

de cooperaccedilatildeo com a Ameacuterica Latina e Caribe representando 39 dos

projetos e o terceiro tema de cooperaccedilatildeo com a Aacutefrica com 17 do total Satildeo

25 projetos registrados entre concluiacutedos em execuccedilatildeo e em negociaccedilatildeo Tem

como principal meta implementar um banco de leite humano de referecircncia

financiou 518 projetos de pesquisa em doenccedilas negligenciadas investindo um total de quase R$ 95

milhotildees Disponiacutevel em wwwsaudegovbr Acesso em 02 de dezembro de 2011

157 Fontes Portal da Sauacutede 2011 e httpenvolverdecombripsinter-press-service-

reportagensbrasil-em-esforco-global-para-ampliar-acesso-a-medicamentos Acesso em 15 de novembro

de 2011

158

Apresentaccedilatildeo ocorrida no Rio de Janeiro durante o I Foacuterum Sul-Americano de Cooperaccedilatildeo

Internacional em Sauacutede em 23 a 25 de novembro de 2011

159

Lanccedilada em 2004 pelo governo brasileiro em alianccedila com a Unicef a iniciativa Laccedilos Sul-

Sul (LSS) reuacutene outros sete paiacuteses Boliacutevia Cabo Verde Guineacute-Bissau Nicaraacutegua Paraguai Satildeo Tomeacute

e Priacutencipe e Timor Leste Busca assegurar o acesso universal agrave prevenccedilatildeo ao tratamento do HIVAIDS e

agrave assistecircncia em uma perspectiva de atenccedilatildeo integral Promove a solidariedade entre paiacuteses em

desenvolvimento e um modelo de cooperaccedilatildeo horizontal Proporciona o intercacircmbio de informaccedilotildees e a

elaboraccedilatildeo conjunta de estrateacutegias e planos de accedilatildeo Disponiacutevel em httpsistemasaidsgovbrlss 160

O BLH eacute fruto de uma accedilatildeo integrada entre o Instituto Nacional Fernandes Figueira da

Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz e o Ministeacuterio da Sauacutede do Brasil Em 2011 recebeu precircmio da OMS como

maior contribuiccedilatildeo para reduccedilatildeo da mortalidade infantil na deacutecada de 90

214

nacional em cada um dos paiacuteses parceiros servindo de instrumento de

combate agrave morbimortalidade e desnutriccedilatildeo infantis conforme preconiza os

Objetivos de Desenvolvimento do Milecircnio

A Rede Brasileira de Banco de Leite Humano atua de forma bastante

ampliada na sua cooperaccedilatildeo internacional O que pode ser observado quando

observamos seus respectivos projetos bilaterais (por intermeacutedio da Agecircncia

Brasileira de Cooperaccedilatildeo do MRE) e seus trabalhos em rede e multilaterais

Satildeo os seguintes paiacuteses em cooperaccedilatildeo com o Brasil no que concerne

aos Bancos de Leite Humano

Quadro 3 ndash Cooperaccedilatildeo Internacional em Sauacutede Relaccedilatildeo de Paiacuteses e Banco de Leite Humano

Projetos Bilaterais ndash Brasil e

Belize

Boliacutevia

Cuba

Panamaacute

Costa Rica

Repuacuteblica Dominicana

El Salvador

Mexico

Nicaragua

Peru e

Haiti

Rede BLH e CPLP ndash Brasil e

Cabo Verde

Moccedilambique

Angola e

Aacutefrica do Sul

Multilaterais ndash Programa Ibero-Americano de Bancos de Leite Humanos ndash IBERBLH [161]

Argentina

Colocircmbia

Espanha

Portugal

Paraguai

Uruguai e

Venezuela

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados disponibilizados no I Foacuterum Sul-Americano de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede ocorrida no Rio de Janeiro em 2011

161

O Programa Ibero-Americano de Bancos de Leite Humano criado na XVII Cuacutepula Ibero-

Americana ocorrida em Novembro de 2007 objetiva apoiar a implantaccedilatildeo de pelo menos um Banco de

Leite Humano em cada paiacutes Iacutebero-americano como um espaccedilo para o intercacircmbio do conhecimento e de

tecnologia no campo da lactacircncia materna focando a reduccedilatildeo da mortalidade infantil Para

maioresinformaccedilotildees Mais informaccedilotildees

httpsegiborguploadFileIniciativa_Bancos_de_Leiteportupdf Acesso em 20 de marccedilo de 2012

215

No tocante aos demais temas da aacuterea da sauacutede vaacuterias satildeo as accedilotildees

exitosas relativas agrave cooperaccedilatildeo internacional em sauacutede sejam relacionadas agrave

Aacutefrica ao Mercosul agrave Unasul agrave Cuba ou agrave Aacutesia A tabela a seguir consolida os

principais resultados alcanccedilados pela poliacutetica externa do Brasil nas questotildees

relacionadas ao CEIS junto aos paiacuteses prioritaacuterios na relaccedilatildeo Sul-Sul

compreendendo o periacuteodo entre 2003 e 2009

Tabela 5 Principais Resultados (2003-2009) CEIS e Poliacutetica Externa

RELACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

EM SAUacuteDE

DESCRICcedilAtildeO DOS PRINCIPAIS RESULTADOS ALCANCcedilADOS ENTRE 2003-2009

BRASIL ndash AFRICA

A poliacutetica externa do periacuteodo foi marcada pela intensificaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo na aacuterea de combate a doenccedilas tropicais como a malaacuteria combate ao HIVAIDS combate a anemia falciforme aleacutem da capacitaccedilatildeo de teacutecnicos estrangeiros e o auxiacutelio ao desenvolvimento do sistema de sauacutede puacuteblica

Instalaccedilatildeo de um escritoacuterio da Fiocruz em Maputo Moccedilambique representando uma forma ineacutedita de cooperaccedilatildeo na aacuterea de sauacutede com potencial para dinamizar a cooperaccedilatildeo em sauacutede com o continente africano

Instalaccedilatildeo da Faacutebrica de medicamentos do governo de Moccedilambique ndash unidade produtora de medicamentos antirretrovirais e demais medicamentos (sendo inaugurado em 2012) Os lotes pilotos dos medicamentos comeccedilam a ser produzidos em 2012 Sua produccedilatildeo prevecirc inicialmente 21 antirretrovirais que estatildeo em domiacutenio puacuteblico aleacutem de outros medicamentos que incluem antibioacuteticos antianecircmicos anti-hipertensivos antiinflamatoacuterios hipoglicemiantes diureacuteticos antiparasitaacuterios e corticosteroacuteides como aacutecido foacutelico diclofenaco de potaacutessio captopril e metronidazol e

Projetos integrados em sauacutede infantil e sauacutede reprodutiva (incluindo Banco de Leite Humano)

BRASIL - MERCOSUL

Atuaccedilatildeo das Comissotildees Intergovernamentais de Poliacuteticas de Medicamentos e Bancos de Preccedilos de Medicamentos do Mercosul de HIV-AIDS dentre outras comissotildees que conduzem os temas prioritaacuterios de sauacutede

Assinatura de 124 acordos pelos Ministros da Sauacutede do Mercosul (entre 2003-2010) envolvendo dentre outros temas Poliacuteticas de Medicamentos e Bancos de Preccedilos de Medicamentos do Mercosul e HIV-AIDS e

Aprovaccedilatildeo pelo Ministeacuterio da Sauacutede da proposta da delegaccedilatildeo brasileira da instituiccedilatildeo de um Regime Comum de Medicamentos e

princiacutepios ativos natildeo fabricados no Mercosul

Aquisiccedilatildeo conjunta de vacinas contra a gripe H1N1 pelo fundo Rotatoacuterio da OPAS

Unasul-Sauacutede ndash Plano quinquenal 2010-2015 ndash Diretriz Acesso Universal a Medicamentos Tem como objetivo estrateacutegico o desenvolvimento de estrateacutegias e planos de trabalho a fim de melhorar o acesso a medicamentos visando alcanccedilar o fortalecimento da coordenaccedilatildeo das capacidades produtivas da regiatildeo promovendo a produccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo de medicamentos geneacutericos

216

BRASIL ndash UNASUL

Criaccedilatildeo do Instituto Sul-Americano de Governo em Sauacutede ndash ISAGS que objetiva apoiar todos os paiacuteses membros no fortalecimento das capacidades nacionais e subregionais para a conduccedilatildeo formulaccedilatildeo implementaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de poliacuteticas e planos de longo prazo no que se refere inclusive ao Complexo Econocircmico e Industrial da Sauacutede Dentre os principais projetos conjuntos entre Brasil e demais paiacuteses destacam-se os seguintes

ARGENTINA ndash (2009) projeto de Fortalecimento das Farmacopeacuteias Brasileira e Argentina com o reconhecimento muacutetuo de substacircncias de referecircncia utilizadas no controle de qualidade dos medicamentos produzidos nesses paiacuteses e estabelecimento de cooperaccedilatildeo bilateral e o intercacircmbio de conhecimentos tecnoloacutegicos para aumentar a produccedilatildeo local de substacircncias de referecircncia contribuindo para reduzir a dependecircncia tecnoloacutegica na importaccedilatildeo dessas substacircncias com impacto direto na reduccedilatildeo de custos para as empresas nacionais

BOLIacuteVIA ndash (2009) apoio agrave implementaccedilatildeo do Banco de Leite Humano

PARAGUAI ndash (2006) instalaccedilatildeo do primeiro Banco de Leite Humano

EQUADOR ndashcriaccedilatildeo de bancos de leite humano

COLOcircMBIA GUIANA e VENEZUELA ndash projetos de estabelecimento de bancos de leite e de tratamento de HIVAIDS

BRASIL ndash CUBA

1

Produccedilatildeo conjunta pelo Instituto Biomanguinhos da Fiocruz e o Instituto Finlay de Cuba da vacina contra meningite A e C no final de 2007 a pedido emergencial da OMS para os paiacuteses africanos do bdquocinturatildeo de meningite‟(Mali Etioacutepia Senegal Burkina Faso Niacuteger Chade etc)

Cooperaccedilatildeo brasileira para a instalaccedilatildeo de faacutebrica de vacinas pertencente ao Instituto Finlay de Havana ocorrida em dezembro de 2008

Apoio a projetos de transferecircncia de tecnologia a fim de viabilizar e fortalecer o desenvolvimento da aacuterea de biotecnologiacutea aplicada agrave sauacutede em Cuba e no Brasil A estruturaccedilatildeo do Comitecirc Gestor Binacional para a cooperaccedilatildeo Bilateral entre Cuba e Brasil na aacuterea de Biotecnologia para a Sauacutede ocorrida em julho de 2010 tem como propoacutesito a promoccedilatildeo do desenvolvimento das aacutereas de interesse comum sob os aspectos da inovaccedilatildeo do direito de acesso a produtos de sauacutede e do desenvolvimento dos complexos industriais dos paiacuteses no que se refere agrave aacuterea da biotecnologia em sauacutede (wwwitamaratygovbr) Realizaccedilatildeo Seminaacuterio Teacutecnico-Cientiacutefico Brasil-Cuba sobre Biotecnologia para Sauacutede (Rio de Janeiro 15 e 16 de julho de 2010)

A Rede Nacional de Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo de Faacutermacos Anticacircncer (Redefac) instituiacuteda em outubro de 2011 pelo Ministeacuterio da Sauacutede fechou parceria de cooperaccedilatildeo tecnoloacutegica com Cuba envolvendo produccedilatildeo nacional via transferecircncia de tecnologia cubana de sete medicamentos oncoloacutegicos (principalmente anticorpos monoclonais)

Acordos de cooperaccedilatildeo em sauacutede firmados recentemente (iniacutecio de 2012) entre os governos do Brasil e de Cuba satildeo relacionados a trecircs eixos temaacuteticos e visando agrave promoccedilatildeo da capacitaccedilatildeo tecnoloacutegica do Complexo Econocircmico e Industrial da Sauacutede ndash setor farmacecircutico diagnoacutestico equipamentos e outros ao aumento do acesso da populaccedilatildeo a produtos de alto valor agregado aleacutem da diminuiccedilatildeo dos custos para os Ministeacuterios da Sauacutede do Brasil e de Cuba e

Cont DESCRICcedilAtildeO DOS PRINCIPAIS RESULTADOS ALCANCcedilADOS ENTRE 2003-

RI EM SAUacuteDE 2009

E

217

diminuiccedilatildeo da vulnerabilidade dos Sistemas de Sauacutede

Desenvolvimento tecnoloacutegico envolvendo pesquisa e produccedilatildeo de medicamentos e outros produtos para a aacuterea da sauacutede

Articulaccedilatildeo regulatoacuteria para harmonizar as exigecircncias para registros de produtos e processos em sauacutede favorecendo a cooperaccedilatildeo e inovaccedilatildeo em sauacutede

Articulaccedilatildeo para a pesquisa cliacutenica em oncologia com terapia e diagnoacutestico de cacircncer

Instalaccedilatildeo de Bancos de Leite Humano

Desenvolvimento da alfapeginterferona 2 b humana recombinante entre Bio-Manguinhos e Centro de Ingenieria Geneacutetica y Biotecnologia de Cuba com Transferecircncia de Tecnologia e estabelecimento da plataforma de peguilaccedilao de proteiacutenas - projeto em andamento

BRASIL ndash AacuteSIA1

INDIA

Acordo de cooperaccedilatildeo para transferecircncia de tecnologia agrave empresa indiana privada Cipla para produccedilatildeo de medicamento antimalaacuterico ndash o ASMQ (combinaccedilatildeo do artesunato e mefloquina) desenvolvida pela Fiocruz e a organizaccedilatildeo internacional DNDI ocorrida em agosto de 2008 tendo como objetivo o abastecimento do sudeste asiaacutetico que tem alta incidecircncia de malaacuteria e

Interesse brasileiro na expertise da Iacutendia na produccedilatildeo de faacutermacos e na aacuterea de produccedilatildeo de geneacutericos

CHINA [

162]

ldquoA China assim como a Iacutendia estaacute conseguindo consolidar sua estrateacutegia de desenvolvimento Esses paiacuteses hoje satildeo parceiros tecnoloacutegicos que podem contribuir para alavancar a competitividade brasileirardquo afirma o ministro da Sauacutede Joseacute Gomes Temporatildeo

2

Dentre os principais interesses manifestados pelo governo brasileiro destacam-se as cooperaccedilotildees em aacutereas estrateacutegicas como biobiofaacutermacos reagentes para diagnoacutestico e parcerias puacuteblico-privadas na aacuterea de medicamentos e equipamentos e

Acordo de TT na sauacutede assinado em 2009 ndash EMS e Shanghai Biomabs ndash produccedilatildeo no Brasil de 6 biotecnoloacutegicos de uacuteltima geraccedilatildeo - anticorpos monoclonais medicamentos indicados no combate a doenccedilas graves e de tratamento de alto custo como cacircncer artrite reumatoacuteide e osteoporose

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados disponiacuteveis nos portais do Itamaraty ndash wwwitamaratygovbr e do Relatoacuterio Balanccedilo de Governo 2003-2010 ndash Brasil disponiacutevel em meio eletrocircnico wwwbalancodegovernopresidenciagovbr

Nota 1 A despeito do recorte de anaacutelise deste estudo se restringir ao Mercosul agrave Unasul e aos paiacuteses africanos optamos por apresentar algumas accedilotildees de grande importacircncia relacionadas agrave Iacutendia Cuba e China dada a relevacircncia desses paiacuteses no cenaacuterio produtivo da sauacutede

Nota 2 Artigo ldquoMinistro da Sauacutede lidera missatildeo para expandir relaccedilotildees com a China na Sauacutederdquo de 03122009 disponiacutevel em httpportalsaudegovbr

162

A China deteacutem 10 do deacuteficit comercial brasileiro em sauacutede (dados de 2008) o que

representa um desafio para o Brasil para construir um caminho de parcerias para desenvolver e produzir

tecnologias de interesse da sauacutede puacuteblica brasileira Segundo o artigo ―Ministro da Sauacutede lidera missatildeo

para expandir relaccedilotildees com a China na Sauacutede de 03122009 disponiacutevel em httpportalsaudegovbr o

mercado de faacutermacos e equipamentos hospitalares estaacute em franco crescimento na China Em 2008 o

Brasil importou neste segmento o equivalente a R$ 617 milhotildees daquele paiacutes mdash um aumento de 83 em

relaccedilatildeo ao ano anterior Por outro lado as exportaccedilotildees brasileiras agrave China somaram R$ 78 milhotildees em

2008 uma queda de 22 em relaccedilatildeo a 2007

Cont DESCRICcedilAtildeO DOS PRINCIPAIS RESULTADOS ALCANCcedilADOS ENTRE 2003-

RI EM SAUacuteDE 2009

E

218

Na Aacutefrica um exemplo a ser citado de cooperaccedilatildeo Sul-Sul

fundamentando em modelo horizontal e estruturante eacute o caso da cooperaccedilatildeo

brasileira na aacuterea de transferecircncia de tecnologia firmada pela Fiocruz [163] para

a implantaccedilatildeo de uma faacutebrica de medicamentos diversos e de antirretrovirais

em Moccedilambique aleacutem de trecircs projetos integrados em sauacutede infantil e sauacutede

reprodutiva (incluindo um Banco de Leite Humano)

A Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz instituiccedilatildeo com forte atuaccedilatildeo na aacuterea da

sauacutede junto aos paiacuteses africanos tem sido crucial na implementaccedilatildeo do Plano

Estrateacutegico de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede (PECS) aprovado pelos ministros da

Sauacutede da Comunidade de Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa ndashCPLP [164]

em 2009 tendo esse plano o objetivo de contribuir para reforccedilar os sistemas de

sauacutede dos Estados partiacutecipes da CPLP visando a garantia do acesso universal

a sauacutede de qualidade

A missatildeo da CPLP inclui apoiar os paiacuteses membros na reduccedilatildeo da

mortalidade infantil melhoria da sauacutede materno-infantil aleacutem do combate ao

HIVAIDS malaacuteria e outras doenccedilas graves que atingem os paiacuteses da regiatildeo

Dentre as diretrizes orientadoras a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento

de um complexo produtivo comunitaacuterio com base no desenvolvimento

tecnoloacutegico que contribua para um maior acesso a insumos estrateacutegicos em

sauacutede e para um maior controle da qualidade dos insumos de sauacutede resultou

no eixo estrateacutegico ldquoDesenvolvimento do Complexo Produtivo da Sauacutederdquo

Sob essa perspectiva foram considerados prioritaacuterios os seguintes

projetos (a) o desenvolvimento da induacutestria farmacecircutica a reduccedilatildeo da

dependecircncia externa de insumos para a sauacutede e a ampliaccedilatildeo da assistecircncia

farmacecircutica ndash accedilotildees estruturantes levantamento da situaccedilatildeo atual

163

Outras iniciativas de atuaccedilatildeo da Fiocruz no continente africano que por natildeo estarem

diretamente relacionadas ao tema do CEIS natildeo seratildeo apontadas no corpo do texto na aacuterea de ensino ndash

cursos de Poacutes-graduaccedilatildeo em diferentes aacutereas capacitaccedilotildees em serviccedilo ensino agrave distacircncia e estruturaccedilatildeo

de uma rede de escolas teacutecnicas em sauacutede implantaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo dos institutos nacionais de sauacutede

dos paiacuteses da Comunidade de Paiacuteses de Liacutengua Oficial Portuguesa - CPLP aleacutem da lideranccedila da Rede de

Institutos Nacionais de Sauacutede Puacuteblica e de diversas outras accedilotildees de cooperaccedilatildeo das unidades teacutecnico-

cientiacuteficas da Fiocruz com muitos paiacuteses da Aacutefrica Vale citar a abertura do escritoacuterio internacional da

Fundaccedilatildeo em Maputo Moccedilambique em outubro de 2008 Dados disponiacuteveis em wwwfiocruzbr

164 A saber Angola Brasil Cabo Verde Guineacute Bissau Moccedilambique Portugal Satildeo Tomeacute e

Priacutencipe e Timor-Leste (conforme apresentado no capiacutetulo anterior)

219

identificaccedilatildeo de oportunidades atividades e financiamento sendo a Fiocruz

responsaacutevel pela articulaccedilatildeo com todos os paiacuteses (b) Centros Teacutecnicos de

Instalaccedilatildeo e Manutenccedilatildeo de Equipamentos (CTIME) - por meio do apoio e

qualificaccedilatildeo da organizaccedilatildeo de serviccedilos de manutenccedilatildeo de equipamentos da

sauacutede sendo Portugal responsaacutevel pela articulaccedilatildeo [165]

A priorizaccedilatildeo do Complexo Produtivo da Sauacutede como eixo estrateacutegico no

Plano Estrateacutegico de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede (PECS) denota a importacircncia que

o tema sucinta para o conjunto de paiacuteses partiacutecipes do CPLP notadamente

paiacuteses africanos A participaccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz na construccedilatildeo e

na implementaccedilatildeo do PECS se fundamenta em accedilotildees estruturantes que visam

agrave concretude exitosa do Plano Estrateacutegico sendo portanto essa instituiccedilatildeo de

grande representaccedilatildeo para o CPLP

No tocante ao Mercosul o Paiacutes visa a integraccedilatildeo com base no

desenvolvimento econocircmico e social dos paiacuteses membros e tem nos seus

partiacutecipes o compromisso de harmonizar suas legislaccedilotildees nas aacutereas

pertinentes a fim de fortalecer esse processo de integraccedilatildeo Nesse sentido a

sauacutede com base na Resoluccedilatildeo GMC 132007 (Grupo Mercado Comum ao qual

se liga o Subgrupo de Trabalho ndash SGT nordm11) firmou a Pauta Negociadora das

accedilotildees em sauacutede que vem sendo conduzida em conformidade a determinadas

diretrizes de accedilatildeo dentre as quais se destacam

1 Harmonizaccedilatildeo de legislaccedilotildees e diretrizes promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

teacutecnica e coordenaccedilatildeo de accedilotildees entre os Estados-Partes na aacuterea da

sauacutede necessaacuterias ao processo de integraccedilatildeo

2 Promoccedilatildeo do aperfeiccediloamento e da articulaccedilatildeo dos sistemas nacionais

voltados agrave qualidade eficaacutecia e seguranccedila dos produtos e serviccedilos

ofertados agrave populaccedilatildeo com o objetivo de reduzir riscos agrave sauacutede

3 Promoccedilatildeo do aperfeiccediloamento e articulaccedilatildeo dos sistemas nacionais

voltados para a regulamentaccedilatildeo e o controle de produtos que trazem

riscos para a sauacutede

165

Plano Estrateacutegico de Cooperaccedilatildeo em Sauacutede da CPLP (PECSCPLP) - 2009-2012 disponiacutevel

em httpwwwcplporgid-1787aspx

220

4 Promoccedilatildeo e gerenciamento de propostas de cooperaccedilatildeo que visem agrave

reduccedilatildeo das assimetrias existentes e a integraccedilatildeo regional no setor

sauacutede

O SGT 11 ldquoSauacutederdquo desenvolve suas atividades em trecircs aacutereas de

trabalho Vigilacircncia em Sauacutede Serviccedilos de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede e Produtos para a

Sauacutede Esta uacuteltima de responsabilidade da Comissatildeo de Produtos para a

Sauacutede Dentre as 95 Resoluccedilotildees que tratam do tema da Sauacutede que foram

elaboradas aprovadas e incorporadas pelos Estados-Parte do Mercosul

destacam-se

Quadro 4 Resoluccedilotildees Mercosul ndash CEIS

RESOLUCcedilOtildeES DO GRUPO AD HOC PRODUTOS MEacuteDICOS

RESOLUCcedilAtildeO

ASSUNTO

Res 495 ldquoPraacuteticas Adequadas para a Fabricaccedilatildeo de Produtos Meacutedicosrdquo

Res 3896 Regulamento Teacutecnico referente agrave Verificaccedilatildeo do Cumprimento de Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo e Controle em Estabelecimentos de Produtos para Diagnoacutestico uso ldquoin vitrordquo

Res 6596 ldquoGuia de Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo e Controle para Reativos de Diagnoacutestico de uso bdquoin vitro‟rdquo

Res 7996 Registro intrazona de produtos de diagnoacutestico de uso ldquoin vitrordquo

Res 13196 Regulamento Teacutecnico sobre a Verificaccedilatildeo do Cumprimento das Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo de Produtos Meacutedicos

Res 2598 Programa de Capacitaccedilatildeo de Inspetores para a Verificaccedilatildeo do Cumprimento das BPF de Produtos Meacutedicos

Res 7298 Regulamento teacutecnico ldquoRequisitos essenciais de seguranccedila e eficaacutecia dos produtos meacutedicosrdquo

Res 4000 Registros de Produtos Meacutedicos (Revoga a Resoluccedilatildeo GMC 3796)

Res 4608 Diretrizes para o Mecanismo de Intercacircmbio de Aviso Alerta sobre Eventos Adversos Causados Por Produtos Meacutedicos Fabricados Intra-Zona

RESOLUCcedilOtildeES DO GRUPO AD HOC MEDICAMENTOS

Res 492 Praacuteticas adequadas para a fabricaccedilatildeo e a inspeccedilatildeo de qualidade de medicamentos

Res 693 Guia para inspeccedilatildeo de estabelecimentos da Induacutestria Farmacecircutica

Res 2395 Requisitos para o registro de produtos farmacecircuticos registrados e elaborados em um Estado-Parte produtor similares a produtos registrados em um Estado-Parte receptor

Res 1396 Regulamento de Boas Praacuteticas na Fabricaccedilatildeo de Produtos Farmoquiacutemicos Substitui a Resoluccedilatildeo 9293

221

Cont RESOLUCcedilOtildeES DO GRUPO AD HOC MEDICAMENTOS

Res 5196 Empresas e Titularidade de Registros requisitos que devem preencher as

empresas no Estado-Parte receptor para serem titulares de registros de produtos farmacecircuticos fabricados em outro EP do Mercosul para aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo 2395

Res 5296 ldquoLista de Informaccedilotildees e Documentaccedilatildeo requerida para o Registro de Produtos Farmacecircuticos Similares de acordo com a Resoluccedilatildeo GMC 2395rdquo

Res 5396 Estabilidade de Produtos Farmacecircuticos

Res 5496 ldquoVigecircncia Modificaccedilatildeo Renovaccedilatildeo e Cancelamento de Registro de Produtos Farmacecircuticos para aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo GMC 2395

Res 5796 ldquoBoas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo de Soluccedilotildees Parenterais de Grande Volumerdquo

Res 3399 Regulamento Teacutecnico para a Produccedilatildeo e Controle de Qualidade de Hemoderivados de Origem Plasmaacutetico (Substitui a Resoluccedilatildeo 9694)

Res 5002 Contrataccedilatildeo de Serviccedilos de Terceirizaccedilatildeo para Produtos Farmacecircuticos no Acircmbito do Mercosul

Res 1308 Diretrizes sobre Combate e Falsificaccedilatildeo e Fraude de Medicamentos e Produtos Meacutedicos no Mercosul

Res 5308 Plano Estrateacutegico de Cooperaccedilatildeo Teacutecnica em Regulaccedilatildeo de Vacinas no acircmbito do Mercosul

Res 5408 Diretrizes sobre Promoccedilatildeo Propaganda e Publicidade de Medicamentos no Mercosul

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de wwwi3govplanejamentogovbr

Com a Comissatildeo de Comeacutercio do Mercosul oacutergatildeo encarregado de

assessorar nos temas comerciais a Coordenaccedilatildeo Nacional da Sauacutede no

Mercosul encontra um espaccedilo para proteger a sauacutede da populaccedilatildeo no que se

refere agrave qualidade e agrave seguranccedila na cadeia de medicamentos Nesse sentido

participa desse Foacuterum atuando nas seguintes frentes [166]

(a) Fortalecimento dos trabalhos para a harmonizaccedilatildeo dos regulamentos

sanitaacuterios que contemplem o tratamento prioritaacuterio agrave regulamentaccedilatildeo

relacionada aos testes de equivalecircncia - biodisponibilidade

bioequivalecircncia e dissoluccedilatildeo in vitro

(b) Estiacutemulo para colocaccedilatildeo em vigecircncia de todas as normativas acordadas

no Mercosul que tratam do registro de produtos farmacecircuticos e da

verificaccedilatildeo do cumprimento das Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo e Controle

ndash BPFC e outros regulamentos de Boas Praacuteticas acordados

166

Disponiacutevel em www3govplanejamentogovbr

222

(c) Atenccedilatildeo das autoridades sanitaacuterias na concessatildeo do registro sanitaacuterio

de medicamentos no sentido de avaliar a relaccedilatildeo riscobenefiacutecio natildeo

somente em termos da qualidade farmacoloacutegica e farmacecircutica mas

tambeacutem em termos das vantagens terapecircuticas e da efetiva

necessidade de cada medicamento quanto aos aspectos econocircmico e

social

(d) Implementaccedilatildeo de programas de fiscalizaccedilatildeo e controle que evitem a

distribuiccedilatildeo comercializaccedilatildeo e uso de medicamentos ilegiacutetimos na

regiatildeo

(e) Definiccedilatildeo de diretrizes e regulamentos harmonizados dirigidos ao

controle da qualidade seguranccedila e eficaacutecia dos medicamentos

importados extrazona

Vale ressaltar a importacircncia do Mercosul na definiccedilatildeo tarifaacuteria das

mercadorias relacionadas ao CEIS O Mercosul realiza periodicamente

modificaccedilotildees pontuais e permanentes agrave Tarifa Externa Comum ndash TEC ldquoEm

siacutentese as estrateacutegias adotadas no Mercosul para modificaccedilatildeo da TEC satildeo a

elevaccedilatildeo forma de proteccedilatildeo agraves produccedilotildees regionais e a reduccedilatildeo mercadorias

sem produccedilatildeo regionalrdquo

No tocante a aacuterea de trabalho que compotildee a Agenda Sul-Americana

da Sauacutede (Unasul-Sauacutede) foi aprovado o Plano de Accedilatildeo 2010-2015 Dentre as

atividades de cada um dos toacutepicos propostos as relacionadas ao ldquoacesso

Universal a Medicamentos (e a outros insumos para a sauacutede e desenvolver o

Complexo Produtivo da Sauacutede na Ameacuterica do Sul)rdquo seratildeo priorizadas neste

estudo a fim de destacar a questatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial da

Sauacutede ndash CEIS

Nesse sentido em conformidade com o Acordo nordm 0109 de 21042009

do Conselho de Sauacutede Sul Americano da Unasul a questatildeo do ldquoacesso

universal a medicamentosrdquo comporta as seguintes atividades

a) Estabelecimento do mapa das capacidades da Ameacuterica do Sul para

produzir medicamentos e outros insumos de sauacutede

223

b) Troca de experiecircncias para instituir mecanismos que permitam enfrentar

de maneira integrada as barreiras que limitam o acesso a medicamentos

essenciais e de alto custo

c) Elaboraccedilatildeo de uma proposta de poliacutetica sul-americana de Acesso

Universal a Medicamentos considerando o complexo produtivo de

sauacutede sul-americano

d) Estabelecimento de um espaccedilo de comunicaccedilatildeo de riscos sobre o

controle da qualidade de medicamentos bem como sobre a falsificaccedilatildeo

de faacutermacos e o traacutefico iliacutecito

Ganha destaque a constituiccedilatildeo do Instituto Sul Americano de

Governanccedila em Sauacutede ndash ISAGS que dentre os desafios assumidos tem como

objetivo valorizar o parque e a capacidade produtiva da regiatildeo Dentre as aacutereas

consideradas como prioritaacuterias do ISAGS destacamos a seguir os principais

desafios relacionados agraves aacutereas ldquoComplexo Econocircmico-Industrial da Sauacutederdquo ndash

CEIS e ldquoSauacutede e Diplomaciardquo temas relacionados ao objeto deste estudo de

doutorado

No que se refere ao CEIS o ISAGS aponta os seguintes desafios a

serem ultrapassados e as questotildees a serem consideradas (1) a relaccedilatildeo do

desenvolvimento produtivo e a soberania (2) a valorizaccedilatildeo do parque e da

capacidade produtiva da regiatildeo (c) os incentivos fiscais (d) a harmonizaccedilatildeo

regional do sistema de compras e de distribuiccedilatildeo (e) os sistemas de regulaccedilatildeo

de preccedilos

Quanto agrave aacuterea da ldquoSauacutede e Diplomaciardquo o ISAGS considera as

seguintes questotildees a serem priorizadas (a) a baixa cultura diplomaacutetica em

sauacutede (b) a distinccedilatildeo entre diplomacia e cooperaccedilatildeo internacional (c) a

negociaccedilatildeo e a construccedilatildeo da posiccedilatildeo estrutural em sauacutede para decisotildees

internacionais coletivas regionais ou globais e (d) o alinhamento de poliacuteticas

regionais para a cooperaccedilatildeo internacional

No tocante ao Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede destaca-se o

estreito viacutenculo que essa questatildeo relaciona com o desenvolvimento dos

sistemas universais de sauacutede e o acesso de toda a populaccedilatildeo 90

224

O atendimento a essa proposta especiacutefica da Agenda Sul-Americana de

Sauacutede fundamenta-se no entendimento da complexidade que esse tema

comporta desde ao que se refere agrave especializaccedilatildeo do complexo produtivo

com suas caracteriacutesticas pautadas na inovaccedilatildeo na articulaccedilatildeo entre os

distintos atores envolvidos tanto no acircmbito governamental acadecircmico ou

privado ateacute ao que representa as questotildees cambiais jaacute que a balanccedila

comercial eacute exponencialmente deficitaacuteria no que se refere aos produtos

relacionados ao CEIS

Ademais em que pesem os desafios apresentados a propriedade

intelectual de produtos farmacecircuticos eacute uma questatildeo que requer uma especial

atenccedilatildeo dos formuladores das poliacuteticas puacuteblicas de paiacuteses em

desenvolvimento Ao que Stiglitz 95 precircmio Nobel de Economia afirma como

uma falha de economia e do direito o fato de milhotildees de pessoas morrerem

todo ano em funccedilatildeo do alto custo dos medicamentos quando poderiam ser

salvas caso houvesse acesso a drogas capazes de salvar suas vidas ou ateacute

mesmo a existecircncia de medicamentos ou vacinas para as doenccedilas dos pobres

Segundo Carlos Correa citado por Buss 90 contar com uma induacutestria

farmacecircutica local capaz de produzir os medicamentos necessaacuterios para

atender agrave sauacutede passou a ser uma questatildeo estrateacutegica e natildeo um simples

objetivo de poliacutetica industrial ao que estende para os demais bens e serviccedilos

do CEIS percepccedilatildeo essa inclusive dos chefes de Estados da Unasul haja

vista a importacircncia dada agrave temaacutetica em questatildeo

Isso posto Buss 90 (p 30-31) destaca no contexto da regiatildeo sul-

americana o estreito viacutenculo entre os sistemas de sauacutede com as estruturas

tecnoloacutegicas

ldquoSistemas de sauacutede poreacutem satildeo estruturas tecnoloacutegicas complexas dependem de equipamentos meacutedico-ciruacutergicos medicamentos vacinas kits para diagnoacutestico oacuterteses e proacuteteses sangue e hemoderivados materiais de consumo e outros insumos aleacutem de instalaccedilotildees cada vez mais especializadas Portanto o acesso a algo desse porte deve ser considerado no marco de poliacuteticas de sauacutede industrial e de ciecircncia e tecnologia Tais recursos satildeo produzidos pelo que se denomina ldquocomplexo produtivo

225

da sauacutederdquo [167

] ou seja pelo conjunto de empresas produtoras e de consumidores institucionais (governos prestadores de serviccedilos de sauacutede hospitais etc) e individuais de bens e serviccedilos de sauacutede aleacutem das instituiccedilotildees que elaboram inovaccedilotildees (universidades e empresas) () A regiatildeo tem enorme deacuteficit comercial na balanccedila relativa a insumos e serviccedilos de sauacutede Sem xenofobia a proposta implica que os insumos em sauacutede necessaacuterios para a populaccedilatildeo sul-americana devam ser produzidos dentro do possiacutevel pelo complexo produtivo da sauacutede instalado no proacuteprio subcontinente Isso aponta para a necessidade de uma articulaccedilatildeo puacuteblico-privada em niacutevel regional que harmonize poliacuteticas industriais nesse complexo aleacutem de enfrentar desafios como o acesso a novos produtos e a regulaccedilatildeo do mercado farmacecircutico frente agraves novas biotecnologias genocircmica e proteocircmicardquo

Com papel estrateacutegico na construccedilatildeo dos pilares do desenvolvimento e

da sauacutede natildeo se restringindo agrave atuaccedilatildeo nacional a Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz

ndash Fiocruz como instituiccedilatildeo estrateacutegica do Estado destaca-se

internacionalmente com accedilotildees efetivas estruturadoras e transformadoras

principalmente junto a paiacuteses da Ameacuterica Latina Ameacuterica Central e a paiacuteses

africanos tendo intensificado suas atividades notadamente no iniacutecio do seacuteculo

XXI Essa instituiccedilatildeo tida como Instituiccedilatildeo Puacuteblica Estrateacutegica de Estado para

a Sauacutede alinhada ao conceito de Sauacutede e Diplomacia em atuaccedilatildeo conjunta

com o Ministeacuterio da Sauacutede e com as orientaccedilotildees do Ministeacuterio das Relaccedilotildees

Exteriores constitui-se como a principal protagonista da poliacutetica setorial de

cooperaccedilatildeo internacional

Dentre os resultados alcanccedilados (que incluem formaccedilatildeo de recursos

humanos capacitaccedilotildees formaccedilatildeo de Institutos Nacionais de Sauacutede Puacuteblica

dentre outros) podemos observar igualmente a importacircncia exercida pelos

segmentos do Complexo Econocircmico Industrial da Sauacutede e que se

correlacionam com o desenvolvimento da estrutura e dos sistemas de sauacutede

dos paiacuteses citados anteriormente (Ver Tabela 6) Accedilotildees essas que ressaltam o

caraacuteter poliacutetico-estrateacutegico da sua atuaccedilatildeo com consequecircncias positivas e

estruturantes para o desenvolvimento dos paiacuteses beneficiaacuterios

167

GADELHA CAG Desenvolvimento complexo industrial da sauacutede e poliacutetica

industrial Revista Sauacutede Puacuteblica [online] 2006 vol 40 (nspe) p 11-23

226

No tocante agrave incorporaccedilatildeo de tecnologia eacute principalmente a partir de

2004 que se tem observado a intensificaccedilatildeo dessas accedilotildees em funccedilatildeo

primordialmente das diretrizes poliacuteticas vigentes que visam a autossuficiecircncia

tecnoloacutegica e comercial para os programas nacionais de sauacutede puacuteblica

E a Fiocruz no contexto da sauacutede e do Complexo Econocircmico-Industrial

da Sauacutede tambeacutem vem representando papel de fundamental importacircncia nas

accedilotildees de incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica Satildeo observadas accedilotildees nas aacutereas

estrateacutegicas para o SUS (imunobioloacutegicos biofaacutermacos e faacutermacos)

principalmente Vale comentar que os ganhos com a incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica

natildeo se esgotam no mercado interno podendo ser replicados em accedilotildees de

cooperaccedilatildeo internacional notadamente como paiacuteses em desenvolvimento

cujos laccedilos Sul-Sul conforme explicado anteriormente satildeo prioridades da

poliacutetica externa brasileira

A tabela 6 apresenta as principais accedilotildees de incorporaccedilatildeo tecnoloacutegica

relacionadas ao CEIS

227

Tabela 6 ndash Incorporaccedilatildeo Tecnoloacutegica ndash Principais Accedilotildees da Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz Relacionadas ao CEIS - Periacuteodo 2003-2009

Tema

Produto

Ano

Comentaacuterios

Kit de Diagnoacutestico Programa AIDS

Teste raacutepido para diagnoacutestico

2004 a 2006

Contrato de transferecircncia de tecnologia entre o

Biomanguinhos e a empresa norte-americana Chembio Diagnostics

Reduccedilatildeo da dependecircncia tecnoloacutegica na aacuterea Favorecimento do diagnoacutestico precoce

comeccedilando pela prevenccedilatildeo da transmissatildeo vertical ndash de matildee para filho

Natildeo necessita de infraestrutura laboratorial e o resultado fica pronto em dez minutos

Entre 2006 a 2009 foram produzidos 36 milhotildees de kits diagnoacutesticos

Medicamentos Programa Aids

Produccedilatildeo do Medicamento Efavirenz

2009

Licenciamento compulsoacuterio decretado pelo

Governo brasileiro em maio de 2007 Um dos projetos mais estrateacutegicos e de

extrema relevacircncia no ano de 2009 no campo da produccedilatildeo e do fornecimento de insumos para a sauacutede

Integra valores agrave cadeia produtiva O IFA eacute produzido no Brasil com expectativa para produccedilatildeo de intermediaacuterios em territoacuterio nacional

Diminuiccedilatildeo da dependecircncia do Brasil em relaccedilatildeo ao mercado farmacecircutico economia de recursos para os cofres puacuteblicos e fortalecimento da participaccedilatildeo nacional no Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

Iniacutecio da produccedilatildeo por Farmanguinhos da Fiocruz

Produccedilatildeo de 18 milhotildees de unidades farmacecircuticas em 2009

Biofaacutermacos

Produccedilatildeo de Eritropoetina Humana e Interferon

2006

Contrato de transferecircncia de tecnologia entre

Bio-Manguinhos da Fiocruz com Cuba Viabilizaccedilatildeo do acesso gratuito agrave populaccedilatildeo a

produtos de alta tecnologia para tratamento de cacircncer hepatites e insuficiecircncia renal crocircnica

Entre 2006 e 2009 foram fornecidos ao SUS cerca de 24 milhotildees de unidades de biofaacutermacos

Biofaacutermaco

Produccedilatildeo de Interferon Peguilado

2009

Contrato de transferecircncia de tecnologia de

Cuba para Bio-Manguinhos

228

Cont

Tema

Produto

Ano

Comentaacuterios

Biofaacutermaco Recombinante

Produccedilatildeo de insulina

2007

Contrato de incorporaccedilatildeo de tecnologia de

biofaacutermacos por DNA recombinante para a produccedilatildeo nacional de insulina com o Instituto Ucraniano CJSC ndash Indar

A geraccedilatildeo de um produto final mais barato e eficaz impactaraacute natildeo soacute em melhorias no cuidado ao diabeacutetico mas tambeacutem na regulaccedilatildeo do mercado e na diminuiccedilatildeo do gasto com esse insumo suprindo a necessidade do Paiacutes e proporcionando desenvolvimento tecnoloacutegico associado visando a outros biofaacutermacos

Medicamento e Kit de diagnoacutestico H1N1

Produccedilatildeo do medicamento Fosfato de Oseltamivir e pesquisa para desenvolvimento do teste de diagnoacutestico

2009

Acordo com a OMS Considerado o medicamento mais eficiente ateacute

o momento no tratamento da influenza A H1N1 Farmanguinhos iniciou em 2009 a produccedilatildeo e

a distribuiccedilatildeo do medicamento Em 2009 foram produzidos cerca de seis

milhotildees de unidades farmacecircuticas Pesquisadores da Fiocruz estatildeo envolvidos em

um projeto que visa aperfeiccediloar o diagnoacutestico laboratorial do viacuterus da influenza A H1N1 hoje fornecido pela OMS visando agrave substituiccedilatildeo por similares nacionais de maior qualidade e sensibilidade aleacutem de promover maior autonomia para o sistema brasileiro economia de recursos puacuteblicos e ampliaccedilatildeo da capacidade de anaacutelises de amostras

Vacina

Produccedilatildeo de vacina contra Rotaviacuterus

2008

Contrato de transferecircncia de tecnologia com a

GlaxoSmithkline (GSK) e Bio-Manguinhos Entre 2008 e 2009 foram fornecidas mais de

16 milhotildees de doses da vacina

Vacina

Produccedilatildeo de vacina Triacuteplice Viral

2004

Contrato de transferecircncia de tecnologia com a

GlaxoSmithKline e Bio-ManguinhosFiocruz para a produccedilatildeo da vacina combinada contra rubeacuteola sarampo e caxumba (chamada Triacuteplice Viral) ateacute entatildeo o uacutenico imunobioloacutegico presente no calendaacuterio baacutesico de vacinaccedilatildeo ainda importado pelo Ministeacuterio da Sauacutede

Medicamento Malaacuteria

Medicamento ASMQ

2008

Parceria com a Iniciativa de Medicamentos para Doenccedilas Negligenciadas ndash Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDI) para o desenvolvimento e produccedilatildeo do medicamento Artesunato + Mefloquina (ASMQ) utilizado por pacientes com malaacuteria

Produto inovador desenvolvido e registrado no Brasil

229

Cont

Tema

Produto

Ano

Comentaacuterios

Vacina

Produccedilatildeo da vacina pneumocoacutecica conjugada

2009

Contrato de transferecircncia de tecnologia com a

empresa GlaxoSmithKline (GSK) e Bio-Manguinhos para a produccedilatildeo da vacina pneumocoacutecica conjugada que protege contra a pneumonia e a meningite por pneumococo a otite meacutedia e as formas de bronquite e de sinusite causadas pela bacteacuteria pneumococo

A produccedilatildeo foi iniciada no final de 2009

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir do relatoacuterio ldquoBalanccedilo de Governo 2003-2010rdquo ndash Brasil ndash disponiacutevel em wwwbalancodegovernopresidenciagovbr

Sob a perspectiva poliacutetica estrateacutegica entre 2000 e 2011 [168] a

Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz protagonizou accedilotildees que resultaram em diferenciais

estrateacutegicos para o fortalecimento da sauacutede puacuteblica e para a inserccedilatildeo da

mesma no contexto das relaccedilotildees internacionais

a) Em referecircncia agrave aacuterea de produccedilatildeo de vacinas (i) atendimento a

Programas de Imunizaccedilatildeo e a situaccedilotildees emergenciais com fornecimento

de vacina contra Febre Amarela e Meningite Meningocoacutecica (ii) aleacutem do

aumento exponencial na sua capacidade de exportaccedilatildeo [169]

168

Conforme dados disponiacuteveis nos portais httpsi3govplanejamentogovbr e

wwwitamaratygovbr e nos Relatoacuterios de Atividades da Fiocruz

169 ―Em decorrecircncia da preacute-qualificaccedilatildeo da vacina febre amarela pela Organizaccedilatildeo Mundial da

Sauacutede obtida em 2001 Bio-Manguinhos da Fiocruz deteacutem o direito de fornecer esse imunobioloacutegico para

as Agecircncias das Naccedilotildees Unidas desde que cumprido o convecircnio com o Ministeacuterio da Sauacutede O excedente

de produccedilatildeo pode ser exportado para governos e instituiccedilotildees puacuteblicas internacionais Mais de 768

milhotildees de doses da vacina febre amarela foram exportadas para agecircncias das Naccedilotildees Unidas entre 2005

e 2009 Com a exportaccedilatildeo deste produto para mais de 70 paiacuteses Bio-Manguinhos consolida-se num curto

espaccedilo de tempo como o maior fornecedor de vacinas febre amarela para as Ameacutericas Latina e Central e

um dos maiores em todo o mundo contribuindo com os esforccedilos para a melhoria das condiccedilotildees de sauacutede

em todo o globo Tambeacutem exporta vacina meningocoacutecica AC que protege contra meningite sorogrupos

A e C De 2007 ano em que comeccedilou a exportar essa vacina ateacute 2009 aproximadamente 85 milhotildees de

doses foram enviadas ao exterior Disponiacutevel em

httpwwwbiofiocruzbrindexphpprodutosfornecimento

230

b) Instalaccedilatildeo do Escritoacuterio da Fiocruz na Aacutefrica em Moccedilambique em 2008

[170]

c) Indicaccedilatildeo pelo governo brasileiro como ponto focal no Comitecirc de

Cooperaccedilatildeo do Conselho de Sauacutede Sul-Americano (Unasul-Sauacutede)

d) Formulaccedilatildeo e implantaccedilatildeo do Instituto Sul-Americano de Governo em

Sauacutede tendo a Fiocruz como Secretaria Executiva Criado pelo

Conselho de Chefes de Estado e de Governo da Unasul o Isags integra

o Conselho de Sauacutede Sul-Americano da Unasul Tem dentre os seus

principais compromissos [171] a promoccedilatildeo do intercacircmbio da reflexatildeo

da criacutetica da gestatildeo do conhecimento e da geraccedilatildeo de inovaccedilotildees no

campo da poliacutetica e governanccedila da sauacutede [172]

e) Indicaccedilatildeo do Instituto Nacional Fernandes Figueira da Fiocruz como

base da nova Secretaria-Executiva da Rede Ibero-Americana de Bancos

de Leite Humano (compartilhamento do conhecimento e tecnologias nos

campos de aleitamento materno e sauacutede da matildee e da crianccedila) [173][174]

170

Decreto Legislativo nordm 2352011 oficializou o acordo entre o Governo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil e o Governo da Repuacuteblica de Moccedilambique para a instalaccedilatildeo da sede do Escritoacuterio

Regional da Fiocruz na Aacutefrica

171

Ademais o Isags tem como compromisso a articulaccedilatildeo dos ministeacuterios da Sauacutede da Ameacuterica

do Sul com vistas agrave qualificaccedilatildeo da gestatildeo da sauacutede na regiatildeo ao desenvolvimento de lideranccedilas de

sistemas serviccedilos organizaccedilotildees e programas na aacuterea da sauacutede e ao apoio teacutecnico agraves instituiccedilotildees de

governodo setor sauacutede

172

Seu plano de trabalho plurianual resulta das prioridades definidas no Plano Quinquenal 2010-

2015 do Conselho de Sauacutede Sul-Americano em que o Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede ganha

caraacuteter estrateacutegico aleacutem das necessidades identificadas pelos ministeacuterios da Sauacutede

173

A cooperaccedilatildeo internacional para a reduccedilatildeo da mortalidade infantil e a promoccedilatildeo da seguranccedila

nutricional neonatal meta estabelecida pela ONU como um dos Objetivos de Desenvolvimento do

Milecircnio tem registrado importantes avanccedilos por meio da expansatildeo com consolidaccedilatildeo da Rede de Bancos

de Leite Humano (rBLH) Liderada pelo Brasil por meio da Fiocruz a iniciativa integra mais de 20 paiacuteses

e constitui uma poliacutetica puacuteblica internacional para a promoccedilatildeo proteccedilatildeo e apoio ao aleitamento materno e

a amamentaccedilatildeo natural de receacutem-nascidos Fonte Relatoacuterio de Atividades da Fiocruz 2009-2011

174

Fiocruz (juntamente com a Agecircncia Brasileira de Cooperaccedilatildeo) apoia teacutecnica e

financeiramente a instalaccedilatildeo qualificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de bancos de leite humano em todo o mundo por

meio de acordos bilaterais ou multilaterais Suas accedilotildees de compartilhamento de experiecircncias saberes e

tecnologias e o fortalecimento de capacidades locais superam a perspectiva de replicaccedilatildeo de um modelo a

ser meramente copiado Ao contraacuterio o objetivo eacute que o conceito de promoccedilatildeo proteccedilatildeo e apoio ao

aleitamento materno preconizado pelos bancos de leite humano seja adaptado aos diferentes contextos

socioeconocircmicos e culturais dos paiacuteses O compromisso assumido pela rBLH para reduccedilatildeo da

231

f) Instalaccedilatildeo da Faacutebrica de medicamentos do governo de Moccedilambique

(Sociedade Moccedilambicana de Medicamentos) ndash unidade produtora de

medicamentos antirretrovirais e demais medicamentos (sendo

inaugurado em 2012) [175] Os lotes pilotos dos medicamentos comeccedilam

a ser produzidos em 2012 Sua produccedilatildeo prevecirc inicialmente 21

antirretrovirais que estatildeo em domiacutenio puacuteblico aleacutem de outros

medicamentos que incluem antibioacuteticos antianecircmicos anti-

hipertensivos antiinflamatoacuterios hipoglicemiantes diureacuteticos

antiparasitaacuterios e corticosteroacuteides como aacutecido foacutelico diclofenaco de

potaacutessio captopril e metronidazol [176]

g) Assinatura de protocolo de intenccedilotildees sobre a possibilidade de

transferecircncia de tecnologia do Brasil para a Argentina para a produccedilatildeo

da vacina febre amarela e

h) Colaboraccedilatildeo com organismos internacionais e atuaccedilatildeo ativa junto agrave

representaccedilatildeo brasileira na Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede Ademais

participa de debates no acircmbito da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

(OMC) e da Organizaccedilatildeo Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO) No

que se refere aos temas afins do CEIS sua atuaccedilatildeo estaacute voltada para

questotildees criacuteticas como propriedade intelectual acesso a medicamentos

em defesa dos interesses dos pacientes sobre as questotildees comerciais e

sobre patentes Ganham destaque parcerias da Fiocruz com o Programa

das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o Fundo das

Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia (UNICEF) o Banco Mundial o Programa

das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (TOMA) e o Programa

Conjunto das Naccedilotildees Unidas sobre HIVAIDS (Unaids) A Fundaccedilatildeo

mortalidade infantil no mundo eacute formalizado pela Carta de Brasiacutelia 2010 assinada por 26 paiacuteses ao final

do 1ordm Foacuterum de Cooperaccedilatildeo Internacional em Bancos de Leite Humano realizado em Brasiacutelia em 2010

175

A responsabilidade brasileira atraveacutes de Farmanguinhos da Fiocruz consiste na transferecircncia

de conhecimentos teacutecnicas e tecnologias relacionadas agrave produccedilatildeo de medicamentos a tecnologia de

construccedilatildeo fabril teacutecnicas de gestatildeo administrativa e laboratorial doaccedilatildeo de equipamentos dentre outras

accedilotildees 176

A estimativa eacute que a faacutebrica produza cerca de 450 milhotildees de unidades farmacecircuticas por ano

300 milhotildees de antirretrovirais e 150 milhotildees de outros medicamentos Dados Relatoacuterio de Atividades ndash

2009-2011 ndash Presidecircncia da Fiocruz

232

tambeacutem estabelece convecircnios com organizaccedilotildees privadas e

associaccedilotildees internacionais

Concluindo a primeira deacutecada do seacuteculo XXI representou superaccedilatildeo de

entraves e desafios concernentes agrave inserccedilatildeo da sauacutede na poliacutetica externa

consolidando-a e ampliando a participaccedilatildeo da sauacutede na poliacutetica exterior

colaborando efetivamente para a construccedilatildeo de uma agenda internacional do

Paiacutes Nesse sentido podemos inferir que uma das principais accedilotildees da sauacutede

na poliacutetica externa eacute a cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento dos sistemas de

sauacutede dos paiacuteses do sul inclusive sob os auspiacutecios da cooperaccedilatildeo humanitaacuteria

o que vem fortalecendo a presenccedila do Paiacutes no cenaacuterio internacional Quando o

enfoque eacute recortado na perspectiva do CEIS a despeito da sua importacircncia

que converge para questotildees de ajuda humanitaacuteria considerando inclusive os

casos exitosos de transferecircncia de tecnologia e os projetos relacionados agrave

produccedilatildeo do CEIS (que apesar de poucos representam grande impacto para a

sauacutede regional e global) dado o curto prazo de tempo de formulaccedilatildeo de

poliacuteticas voltadas para a aacuterea e a necessaacuteria maturaccedilatildeo da implementaccedilatildeo de

accedilotildees fomentadoras e fortalecedoras haacute muito ainda que ser explorado Em

que pese inclusive a demanda de paiacuteses ldquopares e bdquoiacutempares‟rdquo [177] do sul por

conhecimento e transferecircncias de tecnologias o Brasil ainda tem um caminho

a trilhar tanto no que se refere agrave internacionalizaccedilatildeo dos seus processos de

produccedilatildeo assim como na sua capacidade de produccedilatildeo e de inovaccedilatildeo

endoacutegenas e agrave consolidaccedilatildeo de diferenciais produtivos que justifiquem maior

acesso aos produtos e insumos da sauacutede tanto em acircmbito nacional quanto

regional e internacional

Nesta uacuteltima deacutecada o Brasil conforme demostrado no decorrer desta

anaacutelise articulou de forma estrateacutegica a sauacutede e as suas relaccedilotildees

internacionais Formulou e implementou poliacuteticas nacionais que fortalecessem

a aacuterea da sauacutede no Brasil contribuindo para a consolidaccedilatildeo do projeto de

desenvolvimento nacional As accedilotildees delas decorrentes alinhadas com a

necessidade de sauacutede da populaccedilatildeo exercem forte impacto na capacidade de

177

Essa expressatildeo pode ser justificada por considerarmos que mesmo sob a perspectiva

conceitual dos paiacuteses do sul ainda assim haacute heterogeneidade em suas caracteriacutesticas estruturais com

maior ou menor capacidade de desenvolvimento

233

desenvolvimento endoacutegeno e produtivo aleacutem de melhor posicionar o Paiacutes no

contexto geopoliacutetico internacional contribuindo para a ampliaccedilatildeo aleacutem-

fronteiras dos benefiacutecios alcanccedilados pela promoccedilatildeo dessas poliacuteticas

Haacute portanto uma relaccedilatildeo de interaccedilatildeo virtuosa entre a sauacutede e o

desenvolvimento Nesse sentido a poliacutetica de sauacutede vem contribuindo para o

desenvolvimento e ao mesmo tempo ser influenciada por ele Seja em acircmbito

nacional ou internacional

234

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Primeiramente destacamos a sauacutede sob a perspectiva de uma

sociedade comprometida com a cidadania constituiacuteda de valores com forte

impressatildeo social e ambiental cuja base eacute alicerccedilada pelos criteacuterios da ciecircncia

contemporacircnea que resultam de um mundo globalmente tecnoloacutegico

projetando-se para os anos vindouros uma abordagem cuja formaccedilatildeo passa

pelo ldquohumanismo tecnoloacutegico de caraacuteter social-ecoloacutegicordquo 36 (p09)

Nesse sentido o social e o cientiacutefico e o social e o teacutecnico estabelecem

uma relaccedilatildeo de convivecircncia e sobrevivecircncia em um mundo altamente

globalizado e assimeacutetrico Abrigando a constataccedilatildeo de que nas condiccedilotildees de

um mundo tecnologicamente globalizado ldquosomente uma ordenaccedilatildeo racional e

equitativa do conjunto do mundo dispotildee da possibilidade de lhe assegurar um

equiliacutebrio estaacutevel conveniente para todos ()rdquo 36 (p12) isto eacute onde a relaccedilatildeo

do teacutecnico-cientiacutefico com o caraacuteter social e ecoloacutegico pode ser considerada

como antiacutedoto contra o desequiliacutebrio mundial e a favor de um ordenamento

possiacutevel ante a qualquer eminecircncia de antagonismo entre novas e antigas

potecircncias inclusive as militares

Em que pese a vinculaccedilatildeo das accedilotildees humanitaacuterias na questatildeo da sauacutede

e da poliacutetica internacional faz-se pertinente um olhar prudente frente a uma

globalizaccedilatildeo marcada pela assimetria entre naccedilotildees e entre os blocos regionais

que enfatiza o desequiliacutebrio de forccedilas observado entre os paiacuteses inclusive na

atenccedilatildeo de suas prioridades poliacuteticas junto agrave pactuaccedilatildeo de uma nova agenda

global onde o espaccedilo do Estado-Naccedilatildeo se depara com uma contemporacircnea

percepccedilatildeo paradigmaacutetica os Estados-Regiatildeo

Conforme apontado neste estudo [178] essa nova condiccedilatildeo afeta

desproporcionalmente paiacuteses em desenvolvimento de forma desfavoraacutevel em

dois aspectos marcantes o primeiro refere-se agraves dificuldades de governanccedila

governabilidade e de harmonizaccedilatildeo institucional dentre o bloco desses paiacuteses

ocasionando sobre os mesmos uma perda na autonomia na tomada de

178

Ver Capiacutetulo II 2 desta tese ―Estado como Ator Estrateacutegico nas Relaccedilotildees Internacionais

235

decisatildeo que deixa de pautar-se por prioridades nacionais sem que haja

entretanto contrapartida do fortalecimento regional o segundo aspecto em

parte decorrente do anterior refere-se ao desequiliacutebrio geopoliacutetico na definiccedilatildeo

das prioridades da agenda global da sauacutede

Nesse sentido entendendo-se a legitimidade do campo da sauacutede global

e a inescapabilidade da relaccedilatildeo entre sauacutede e poliacutetica externa haacute que se

buscar instrumentalizar os paiacuteses menos desenvolvidos de modo que sejam

ouvidos na definiccedilatildeo das prioridades da agenda de sauacutede Deve-se

pertinentemente garantir que as prioridades impostas pelas condiccedilotildees de

sauacutede da populaccedilatildeo natildeo sejam atropeladas pela agenda internacional aleacutem de

criar condiccedilotildees para o desenvolvimento do ambiente institucional que favoreccedila

a implementaccedilatildeo dos bens puacuteblicos para a sauacutede em seus territoacuterios nacionais

Estas satildeo diretrizes sem as quais o proacuteprio campo de sauacutede global perderia

legitimidade de atuaccedilatildeo e passaria a refletir majoritariamente a imposiccedilatildeo por

parte de paiacuteses mais ricos sobre as accedilotildees de sauacutede no mundo sem para tanto

pensar no benefiacutecio do mesmo como um todo

ldquoA globalizaccedilatildeo eacute irrefreaacutevel sobretudo por corresponder a muitas

exigecircncias dos seres humanosrdquo Essa expressatildeo de Berlinguer 45 (p21) citada

no decorrer deste estudo nos leva a refletir sobre os direitos humanos

fundamentais e suas respectivas conquistas em que a sauacutede se estabelece

com fertilidade

A sauacutede sob esse contexto expande-se na agenda das poliacuteticas de

sauacutede de niacuteveis locais para niacuteveis regionais e global buscando-se os meios

necessaacuterios para restringir os limites e as delimitaccedilotildees inerentes agrave

globalizaccedilatildeo

No que se refere agraves implicaccedilotildees produtivas e tecnoloacutegicas na questatildeo

da sauacutede destaca-se a complexidade do sistema de interdependecircncias entre

economias nacionais apresentada como assimeacutetrica em que o seu poder

efetivo eacute inversamente proporcional agrave sua vulnerabilidade externa A relaccedilatildeo

inversa estabelecida entre o poder efetivo e a vulnerabilidade externa

apontada no Capiacutetulo I desta tese efetivamente relacionada agrave abordagem da

Economia Poliacutetica Internacional sustenta o que Gonccedilalves 21 afirma que

236

quanto maior a capacidade de resistecircncia a pressotildees fatores

desestabilizadores choques externos isto eacute agrave capacidade de sua proacutepria

realizaccedilatildeo maior seraacute o seu poder efetivo no sistema internacional

Ainda no tocante agrave relaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo com a sauacutede e agrave questatildeo da

vulnerabilidade unilateral seja econocircmica ou tecnoloacutegica reconhecida em

grande parte pelos paiacuteses em desenvolvimento inclusive no Brasil sob a

perspectiva da busca por um equiliacutebrio mais pragmaacutetico aspectos favoraacuteveis

podem vir a ser observados desde que as accedilotildees sejam devidamente

articuladas entre os paiacuteses na busca por melhorias nas condiccedilotildees sanitaacuterias

globais Iniciativas globais resultantes da accedilatildeo entre paiacuteses no acircmbito da ONU

e da OMS assim como coalizotildees e alianccedilas intergovernamentais podem

promover o fortalecimento da relaccedilatildeo com a sauacutede Afinal em posiccedilatildeo solitaacuteria

muito pouca coisa pode ser feita ou convencida a ser aceita Assim os

resultados satildeo favoraacuteveis quando uma posiccedilatildeo eacute fortalecida pela uniatildeo de

interesses semelhantes em foacuteruns especiacuteficos sejam regionais inter-regionais

multilaterais ou internacionais relacionados agrave OMS agrave OMC ou a outros que

articulem e tratem direta ou indiretamente de assuntos relacionados agrave sauacutede

O vieacutes entretanto estaacute na relaccedilatildeo da globalizaccedilatildeo com a pobreza e a

iniquidade com impactos diretos na aacuterea da sauacutede e na sua respectiva

capacidade produtiva assim como na percepccedilatildeo anteriormente citada de que

o Estado-Naccedilatildeo perde espaccedilo para os Estados-Regiatildeo com impacto direto nos

limites das condiccedilotildees soberanas de um paiacutes

Sobre essa uacuteltima questatildeo a globalizaccedilatildeo provocadora de intensa

mudanccedila estrutural da economia internacional exerce um peso crescente que

ultrapassa o exerciacutecio soberano do Estado Conforme apresentado no decorrer

dos capiacutetulos o Estado eacute pressionado pela accedilatildeo de muacuteltiplas forccedilas exoacutegenas

que acabam por influenciar a formaccedilatildeo das poliacuteticas de sauacutede seja por meio

de acordos promovidos por agecircncias internacionais e pelo poder de empresas

multinacionais seja pela influecircncia de Organizaccedilotildees Natildeo-Governamentais

Aleacutem disso o crescente protagonismo da sauacutede na agenda de

desenvolvimento e de inserccedilatildeo competitiva global se soma agrave dimensatildeo que a

sauacutede internacional ganhou principalmente nas duas uacuteltimas deacutecadas

237

aumentando a complexidade e assimetria das forccedilas envolvidas na produccedilatildeo

de serviccedilos e insumos de sauacutede na articulaccedilatildeo entre os distintos atores

governamentais e natildeo governamentais e na formaccedilatildeo da agenda internacional

da sauacutede aleacutem do grande desafio que eacute a promoccedilatildeo do acesso aos bens da

sauacutede representando simultaneamente novos desafios e novas

oportunidades para os paiacuteses em desenvolvimento

Da expectativa agrave plena realidade muito haacute que ser superado No tocante

agrave sauacutede esse processo estaacute em formaccedilatildeo contiacutenua mais evidente em tempos

atuais

Entretanto como evidenciado no capiacutetulo III 2 ndash ldquoSauacutede nas Relaccedilotildees

Internacionaisrdquo percebe-se passividades a serem combatidas decorrentes

principalmente por conta da transversalidade das agendas relacionadas agrave

sauacutede seja pela concomitacircncia da interface temaacutetica ou pela relaccedilatildeo de

semelhanccedila da governanccedila dos diversos organismos seja pela crescente perda

de legitimidade observada junto agraves organizaccedilotildees da ONU provocadas

inclusive pela constituiccedilatildeo de organizaccedilotildees de programas e agecircncias cujos

objetivos se interpotildeem refletindo esforccedilos repetidos e diluindo os resultados

almejados

A multiplicidade de atores e de agenda no cenaacuterio internacional e a

ausecircncia de uma coordenaccedilatildeo geral efetiva levam inevitavelmente agrave ineficaacutecia

e agrave ineficiecircncia dos esforccedilos envidados Essa situaccedilatildeo tende a piorar com a

crise econocircmica e a reduccedilatildeo de financiamento Ademais haacute o aspecto poliacutetico

a considerar pois sinaliza distintas camadas ideoloacutegicas aleacutem de representar

uma desconcertante falta de otimizaccedilatildeo de recursos levando a perdas de

recursos por ingerecircncia integrada e eficaz

Satildeo percebidos tambeacutem oportunismos ditados pela forccedila econocircmica

assimeacutetrica

Portanto a fim de natildeo sucumbir agraves dificuldades em sustentar o

dinamismo que as mudanccedilas estruturais demandam por conta do processo da

globalizaccedilatildeo e pela assimetria tecnoloacutegica internacional observada na relaccedilatildeo

entre os paiacuteses detentores de poder produtivo e tecnoloacutegico (isto eacute paiacuteses

238

desenvolvidos) com os paiacuteses com menor capacidade de produccedilatildeo e de PampD

(observado em maior intensidade junto aos paiacuteses em desenvolvimento)

requerem-se accedilotildees e poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o fortalecimento e o

aprimoramento das suas capacidades endoacutegenas notadamente nas aacutereas que

necessitam de maior capacidade de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica e produtiva

Accedilotildees essas que devem ser buscadas considerando-se

simultaneamente uma paradigmaacutetica realidade de que o compromisso com os

direitos humanos e a responsabilidade humanitaacuteria notadamente na questatildeo

relativa agrave sauacutede e ao acesso aos seus bens e insumos natildeo se esgota em suas

proacuteprias fronteiras Questatildeo que vem se discutindo ultimamente de forma

mais ativa por todo o mundo conforme preconizam as Declaraccedilotildees do Milecircnio

de Doha de Oslo dentre outras declaraccedilotildees e acordos internacionais firmados

entre os paiacuteses signataacuterios

Nesse sentido os fundamentos teoacutericos das Relaccedilotildees Internacionais

adotados na abordagem do presente estudo isto eacute os referentes agrave Sociedade

Internacional e agrave Economia Poliacutetica Internacional vinculam-se mutuamente

onde o diaacutelogo se sustenta seja pela caracteriacutestica kantiana a que a sauacutede se

reserva fundamentada por uma sociedade mundial solidaacuteria e humanitaacuteria

seja pelo reconhecimento da complexidade e da alta interdependecircncia

econocircmica entre os paiacuteses e a respectivas relaccedilotildees econocircmicas internacionais

as quais inevitavelmente a sauacutede se insere

Portanto visando a uma ativa inserccedilatildeo sustentaacutevel do Paiacutes junto a um

cenaacuterio internacional de poderes assimeacutetricos tem-se na relaccedilatildeo do poder e do

papel poliacutetico do Estado o agente fundamental na recuperaccedilatildeo e no

fortalecimento das economias nacionais resultando numa relaccedilatildeo direta e vital

da economia com a poliacutetica Essa relaccedilatildeo logra resultados a meacutedio e longo

prazos quando se considera o espaccedilo de autonomia e de articulaccedilotildees

internacionais reforccedilando-se a importacircncia da sintonia entre as agendas

interna e externa

No tocante agrave questatildeo da sauacutede o Brasil principalmente nas duas

uacuteltimas deacutecadas conforme apresentado no decorrer desta tese vem

promovendo o seu diaacutelogo com a poliacutetica exterior e a diplomacia Diaacutelogo esse

239

que vem exercendo forte influecircncia no discurso da poliacutetica externa e na

conduccedilatildeo dos rumos das suas relaccedilotildees internacionais

A representatividade da sauacutede nesse coloacutequio estaacute pautada

(a) na expressatildeo e na consolidaccedilatildeo do SUS

(b) na hegemonia da relaccedilatildeo virtuosa da sauacutede com o desenvolvimento

(c) no reconhecimento de que a ciecircncia a tecnologia e a inovaccedilatildeo promovem a forccedila de uma naccedilatildeo

(d) na formulaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais voltadas para a consolidaccedilatildeo do CEIS

(e) na centralidade do bem-estar e da qualidade de vida do cidadatildeo

(f) no comportamento do Brasil ndash naccedilatildeo prudente e sobrevivente junto aos cenaacuterios de crises econocircmicas internacionais

(g) no crescente protagonismo regional e internacional junto agraves relaccedilotildees Sul-Sul

(h) no crescente e efetivo exerciacutecio do discurso soberano junto agraves relaccedilotildees Norte-Sul

(i) no sentimento de ldquopertencimentordquo agrave arena global [179]

(j) na ampliaccedilatildeo do acesso a bens e serviccedilos de sauacutede e de programas e poliacuteticas exitosas do SUS [180]

(k) nas accedilotildees efetivas junto agrave Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio em defesa ao acesso a tratamentos medicamentos e insumos para a sauacutede

(l) no maior reconhecimento externo quanto ao discurso poliacutetico internacional do Brasil

(m) no protagonismo observado nas relaccedilotildees entre naccedilotildees pares isto eacute entre os paiacuteses Sul-Sul e

(n) nas conquistas que projetam o Brasil no discurso ambiental e soacutecio-cultural [181] promovendo maior consolidaccedilatildeo ldquosoacutecio-ambiental-cultural-econocircmicardquo

179

Elevando o sentido de identidade nacional fundamental para situar o discurso poliacutetico e

diplomaacutetico do Brasil no mundo dadas conquistas recentes como o fato do Brasil ocupar a 6ordf economia

mundial 180

Haja visto o Programa da Sauacutede da Famiacutelia o Programa de Aleitamento Materno o Programa

Nacional de Imunizaccedilatildeo as poliacuteticas para prevenccedilatildeo e para portadores de HIV dentre outros

181

Como a Rio+20 ocorrida em 2012 a Copa do Mundo a realizar-se em 2014 e as

Olimpiacuteadas em 2016

240

Portanto diante da expressiva representatividade a sauacutede aleacutem dos

princiacutepios de cunho social carrega a marca da potencialidade de sua alianccedila

entre o desenvolvimento e a relevacircncia social constituindo mecanismos para a

consolidaccedilatildeo de um sistema de inovaccedilatildeo dinacircmico com efeitos diretos no

desenvolvimento nacional e na sua inserccedilatildeo competitiva internacional

ultrapassando fronteiras e favorecendo caminhos internacionais correlaccedilatildeo

evidenciada no decorrer do Capiacutetulo IV

Dito isto aponta-se o desafio a ser enfrentado que eacute o fortalecimento da

capacidade produtiva nacional da sauacutede para alcanccedilar uma posiccedilatildeo

competitiva em um espaccedilo de diversidade complexidade e conflito onde

intervenccedilotildees e limitaccedilotildees impostas em foacuteruns poliacutetico-econocircmicos

internacionais e ateacute supranacionais precisaratildeo ser traduzidas repensadas e

renegociadas para garantir a sauacutede como condiccedilatildeo de bem-estar social e de

cidadania de desenvolvimento da atividade econocircmica e de garantia agrave

soberania nacional como bases de participaccedilatildeo em um mercado altamente

globalizado

Assim a agenda de formaccedilatildeo de poliacuteticas estrateacutegicas para a

consolidaccedilatildeo dessa poliacutetica de desenvolvimento produtivo e de inovaccedilatildeo para a

aacuterea da sauacutede isto eacute o CEIS ganha diretrizes de forte impacto estruturante

para a sustentabilidade e inserccedilatildeo competitiva de uma naccedilatildeo Formaccedilatildeo essa

que impacta na proteccedilatildeo agrave soberania de uma naccedilatildeo e agrave defesa dos seus

principais interesses

Entretanto eacute sob o impacto resultante de extenso desequiliacutebrio de

poderes observado entre as naccedilotildees - em que poder eacute a mola propulsora das

relaccedilotildees internacionais pois afinal ldquonum mundo em que todos tivessem o

mesmo poder natildeo haveria poderrdquo conforme argumenta Fiori 32 (p 334) citado

no primeiro capiacutetulo do presente estudo - que se acaba influenciando as

agendas de negociaccedilotildees levando os interesses das naccedilotildees menos

competitivas em CTampIS a serem relegados para segundo plano

Conclui-se nesse sentido conforme observado no decorrer da presente

tese que a capacidade de produccedilatildeo de bens de sauacutede deve ser traduzida

como determinante da capacidade soberana de um paiacutes em garantir o direito agrave

241

sauacutede de sua populaccedilatildeo e reduzir a vulnerabilidade da poliacutetica de sauacutede na

medida em que sauacutede eacute preacute-condiccedilatildeo para a soberania de qualquer naccedilatildeo

Afinal ao mesmo tempo em que um paiacutes precisa ampliar o seu acesso a novos

mercados e a novos conhecimentos precisa tambeacutem obter espaccedilo para a

conduccedilatildeo das suas poliacuteticas puacuteblicas

Sob esse aspecto no acircmbito das poliacuteticas sociais e produtivas

nacionais a priorizaccedilatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede tem

potencial para o fortalecimento brasileiro ante o cenaacuterio globalizado motivando

ao paiacutes a capacidade de alcanccedilar uma posiccedilatildeo competitiva em um espaccedilo de

diversidade e assimetria mundial

O setor sauacutede especificamente o seu Complexo Econocircmico-Industrial

incorpora a tendecircncia do desenvolvimento na perspectiva da capacidade

produtiva e inovativa de bens da sauacutede e daacute sustentaccedilatildeo agrave reformulaccedilatildeo das

concepccedilotildees do desenvolvimento que passaram a destacar a aacuterea social como

elemento essencial em que o ser humano tem a centralidade nessas

concepccedilotildees Dada a vulnerabilidade da base produtiva tecnoloacutegica endoacutegena

exerce papel estrateacutegico na dinamizaccedilatildeo da economia e nas articulaccedilotildees da

poliacutetica externa seja no contexto geopoliacutetico internacional seja na promoccedilatildeo

do comeacutercio internacional no fortalecimento da capacidade de

desenvolvimento regional e internacional ou no fortalecimento das condiccedilotildees

de bem-estar social De forma anaacuteloga aponta-se o papel estrateacutegico do

Estado para o fortalecimento do Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede

considerando o espaccedilo diverso pautado pela globalizaccedilatildeo cuja estrutura

desenha-se por forccedilas externas exercendo forte influecircncia sobre processos

econocircmicos e sociais nacionais e internacionais em que o Estado precisa

atuar

Dadas a potencialidade e a complexidade relacionadas agrave sauacutede e ao

desenvolvimento o CEIS estabelece-se sob as premissas do valor social eacutetico

e econocircmico da inovaccedilatildeo tecnoloacutegica Fundamenta-se na inovaccedilatildeo

institucional (a) por meio da articulaccedilatildeo e das dinacircmicas organizacionais com

funccedilotildees inovativas e difusoras de tecnologias (b) sob os fundamentos dos

marcos regulatoacuterios assim como na regulaccedilatildeo da propriedade intelectual (c)

242

pelos criteacuterios de regulaccedilatildeo na introduccedilatildeo e utilizaccedilatildeo de novas tecnologias de

sauacutede estabelecendo-se sob as loacutegicas de intervenccedilatildeo de produccedilatildeo difusatildeo

e utilizaccedilatildeo de tecnologias e pela perspectiva de sustentabilidade da inovaccedilatildeo

tecnoloacutegica por meio da sinergia do modelo de acumulaccedilatildeo econocircmica e o

sistema de proteccedilatildeo social em sauacutede

Com vistas agrave consolidaccedilatildeo e ao fortalecimento do CEIS haacute de se

transformar o conhecimento produzido local ou internacionalmente em

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que melhorem o desempenho do setor produtivo

nacional no campo da sauacutede em sua dimensatildeo nacional e global Eacute nesse

contexto desenvolvimentista que se observa o protagonismo do Estado

nacional junto agrave dinacircmica das relaccedilotildees internacionais Observa-se portanto o

papel estrateacutegico do Estado para o fortalecimento dessa aacuterea da sauacutede Eacute

nesse espaccedilo complexo e conflituoso que o Estado precisa atuar O desafio

entretanto eacute manter o desenvolvimento com inclusatildeo social em um ambiente

de maior liberdade econocircmica fruto da globalizaccedilatildeo e ao mesmo tempo com

restriccedilotildees e limites provocados pelos conflitos de interesses entre os paiacuteses

Esta nova configuraccedilatildeo em que o CEIS tem suas diretrizes fortemente

influenciadas por uma agenda global traz benefiacutecios mas tambeacutem pauta

seacuterios desafios para a implementaccedilatildeo de poliacuteticas de sauacutede dada a assimetria

de forccedilas e de governanccedila dos paiacuteses que definem esta agenda Reich 6 ao

ressaltar as accedilotildees de muacuteltiplas forccedilas exercidas sobre o Estado moderno ndash

como por exemplo a diminuiccedilatildeo do seu papel decorrente da expansatildeo da

descentralizaccedilatildeo ou da crescente influecircncia de organizaccedilotildees natildeo-

governamentais assim como pelos acordos promovidos por agecircncias

internacionais e pelo poder de empresas multinacionais - aponta que as

mesmas trazem seacuterias implicaccedilotildees para a sauacutede puacuteblica

Dito isto reforccedila-se o impacto estruturante que se almeja das poliacuteticas

de desenvolvimento produtivo e de inovaccedilatildeo para a aacuterea da sauacutede para a sua

sustentabilidade e para a defesa dos principais interesses e inserccedilatildeo

competitiva de uma naccedilatildeo

O desafio a ser superado refere-se portanto agrave transformaccedilatildeo do

conhecimento produzido em inovaccedilotildees tecnoloacutegicas para atender ao campo da

243

sauacutede por meio do seu Complexo Econocircmico-Industrial incorporando a

retomada do papel do Estado nacional na dinacircmica da transformaccedilatildeo

econocircmica e da inovaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede

Nesse sentido o maior desafio nacional na arena internacional eacute atuar

de forma equilibrada e pragmaacutetica sem deixar de considerar como relevante a

necessaacuteria harmonizaccedilatildeo da realidade brasileira diante de um contexto

globalizado que abriga vulnerabilidade e assimetrias no sistema internacional

As premissas relacionadas aos valores socioeconocircmicos da inovaccedilatildeo

tecnoloacutegica expandem-se para a orientaccedilatildeo da poliacutetica externa cuja priorizaccedilatildeo

estabelece as relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo Sul-Sul Identifica-se portanto no CEIS

um ferramental apropriado para o estabelecimento de mecanismos que

ultrapassem as vulnerabilidades tecnoloacutegicas unilaterais provocadas pela

relaccedilatildeo de poder internacional observada na conduccedilatildeo dos laccedilos (ou ldquonoacutes

cegosrdquo) entre os paiacuteses do Norte com os paiacuteses do Sul

De forma antagocircnica a essa questatildeo dado o impacto das relaccedilotildees

econocircmicas transnacionais e da representatividade da forccedila da poliacutetica

econocircmica internacional a accedilatildeo do Estado tende a ficar cada vez mais

constrito O que daacute agraves estrateacutegias governamentais importacircncia fundamental no

sentido de se reverter essa condiccedilatildeo de limite Nesse sentido o papel do

Estado e suas poliacuteticas estrateacutegicas governamentais fazem a diferenccedila entre

levar a naccedilatildeo agrave consolidaccedilatildeo e ao fortalecimento ou agrave vulnerabilidade externa

Pode-se inferir que para o governo traccedilar estrateacutegias e poliacuteticas puacuteblicas

estaacuteveis e duradouras para desenvolver e fortalecer o Complexo Econocircmico-

Industrial da Sauacutede favorecendo-se da dinacircmica das relaccedilotildees internacionais e

dela se tornando ativo e potencial protagonista de cooperaccedilotildees internacionais

(a partir de um modelo horizontal e estruturante junto aos paiacuteses do Sul e

pautado pela induccedilatildeo eou pelo fortalecimento da capacidade nacional

cientiacutefica tecnoloacutegica e de inovaccedilatildeo em sauacutede) o Estado deve buscar a

promoccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees complementares e integradas para o

desenvolvimento da ciecircncia da tecnologia e da inovaccedilatildeo em sauacutede em

interface com as poliacuteticas interna e externa cujos resultados esperados estatildeo

244

embasados em forte perspectiva de evoluccedilatildeo tecnoloacutegica e de consolidaccedilatildeo da

gestatildeo estrateacutegica

Dito isto prepara-se a naccedilatildeo simultaneamente para a concorrecircncia

global e para a promoccedilatildeo da sustentabilidade e do acesso aos insumos para a

sauacutede seja no contexto nacional ou frente agraves necessidades das naccedilotildees do eixo

Sul-Sul habilitando assim o Brasil para um papel de forte protagonismo no

contexto geopoliacutetico internacional

Segue-se portanto agrave defesa da ideacuteia de que as influecircncias exercidas

por intermeacutedio das Poliacuteticas de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede

voltadas para o fortalecimento do CEIS visando agrave consolidaccedilatildeo de um sistema

de inovaccedilatildeo dinacircmico com efeitos diretos no desenvolvimento do Brasil e na

soberania nacional tecircm relaccedilatildeo direta com a inserccedilatildeo ativa do Paiacutes no

contexto das suas relaccedilotildees internacionais

Haacute de se considerar entretanto que o jogo de forccedilas assimeacutetricas no

cenaacuterio internacional encerra desafios diversos enfrentados no mercado

nacional A lideranccedila tecnoloacutegica portanto eacute determinante para a condiccedilatildeo

hegemocircnica do Estado no tocante agrave consolidaccedilatildeo de accedilotildees de cooperaccedilatildeo

internacional junto aos paiacuteses detentores de menor capacidade tecnoloacutegica na

aacuterea da sauacutede

Nesse sentido a inter-relaccedilatildeo das poliacuteticas nacionais com as relaccedilotildees

internacionais se daacute efetivamente quando ultrapassados os desafios da

incorporaccedilatildeo do papel do Estado nacional na dinacircmica da transformaccedilatildeo

econocircmica e da inovaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede no Brasil Logo para fundamentar

a relaccedilatildeo de poder existente entre o Estado soberano e a dinacircmica da sua

poliacutetica externa no atual contexto da geopoliacutetica internacional cumpre-se para

tanto uma agenda de transformaccedilotildees internas como preacute-condiccedilatildeo eou como

consequecircncia da exposiccedilatildeo aos mercados externos o que vem sendo

observado notadamente na agenda poliacutetica nacional dos uacuteltimos dez anos

Portanto a evidecircncia da correlaccedilatildeo do Estado no exerciacutecio condutor de

poliacuteticas nacionais especialmente no que se refere ao CEIS e de seus reflexos

na conduccedilatildeo da poliacutetica externa assegura inclusive uma inserccedilatildeo ativa na

245

questatildeo da sauacutede global e na conduccedilatildeo ao acesso universal a bens e insumos

da sauacutede O desafio eacute constante e poliacutetico antecedendo inclusive ao

econocircmico natildeo menos importante requerendo o engajamento ativo e contiacutenuo

dos atores nacionais e internacionais

Cabe considerar no estudo em questatildeo a multiplicidade no exerciacutecio da

poliacutetica externa e da diplomacia e o fato de que certos temas como o da aacuterea

da sauacutede admitam vaacuterios portadores de valores tanto no acircmbito local quanto

nacional regional eou internacional Dado o alcance geopoliacutetico que o tema

projeta aleacutem do exerciacutecio diplomaacutetico a relaccedilatildeo da sauacutede no exerciacutecio

diplomaacutetico requer maior interaccedilatildeo e convergecircncia de informaccedilotildees e interesses

entre todos os atores internacionais envolvidos diplomatas sanitaristas

governantes ONGS Organizaccedilotildees Internacionais Organizaccedilotildees multilaterais

doadores assim como agentes e grupos sociais e sociedade de forma geral

segmentos produtivos ndash puacuteblicos e privados nacionais e internacionais

academias universidades centros de pesquisa aleacutem do proacuteprio discurso

governamental Discursos que se somam para a compreensatildeo mais apurada

dos rumos que se pretende alcanccedilar notadamente no objeto deste estudo

apresentando neste eixo histoacuterico do iniacutecio do Seacuteculo XXI mais e maiores

contornos doutrinaacuterios cuja consistecircncia analiacutetica ainda se encontra em fase

de construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo

Este estudo aponta a sauacutede cada vez mais inserida nas reflexotildees

poliacutetico-diplomaacuteticas em que as questotildees sanitaacuterias estatildeo presentes haacute largo

tempo em diferentes foros de negociaccedilatildeo admitidas em diferentes

instrumentos internacionais ampliando o campo de interesse da sauacutede para

novas percepccedilotildees a respeito do seu significado e de sua inter-relaccedilatildeo com

distintas aacutereas

Portanto em decorrecircncia dos instrumentos institucionais e dos marcos

internacionais disponiacuteveis para os atores e formuladores de poliacuteticas

internacionais de sauacutede que fundamentaram a inserccedilatildeo da sauacutede no contexto

internacional notadamente a partir da Carta das Naccedilotildees Unidas passando

pela Conferecircncia de Alma Ata ateacute a Declaraccedilatildeo de Oslo dentre outros firmados

246

mais recentemente a partir de 2000 [182] vaacuterios satildeo os foacuteruns e mecanismos

de decisatildeo que orientam a sauacutede nas relaccedilotildees internacionais passando pelas

organizaccedilotildees multilaterais oficiais das Naccedilotildees Unidas ateacute instituiccedilotildees mais

recentes como o Grupo dos Oito (G8) Eacute nesse ambiente em raacutepida

transformaccedilatildeo que a aacuterea da sauacutede vem se destacando e solidificando na base

de uma boa governanccedila cuja conduccedilatildeo a priori se sustenta (ou deveria se

sustentar) nos interesses da sociedade e nas suas necessidades de sauacutede e

de bem-estar

Poreacutem uma parte das atividades de PampD principalmente em paiacuteses

desenvolvidos tende a ser protegida dentro dos seus paiacuteses por motivos de

seguranccedila nacional ou proteccedilatildeo agrave propriedade intelectual e industrial Cabe

destacar que o apoio puacuteblico agrave atividade de PampD e inovaccedilatildeo nas empresas eacute

uma praacutetica comum nos paiacuteses desenvolvidos admitida pela Organizaccedilatildeo

Mundial do Comeacutercio [183]

Portanto a definiccedilatildeo da prioridade do foco de desenvolvimento de CampT

pode sofrer influecircncia desproporcional por parte dos paiacuteses industrializados

detentores da maior parte dos recursos de pesquisa

Lee 114 aponta uma seacuterie de experiecircncias no campo da sauacutede global

cujos resultados observados apresentaram diferentes graus de efetividade em

funccedilatildeo de maior ou menor grau de institucionalidade e governanccedila das naccedilotildees

Aleacutem disto chama a atenccedilatildeo que para se alcanccedilar impacto realmente global

reflexotildees mais criteriosas acerca da relevacircncia de accedilotildees selecionadas devem

182

A cada vez maior pactuaccedilatildeo dos documentos internacionais traduz a representatividade e a

importacircncia crescente do tema da sauacutede nas Relaccedilotildees Internacionais - como por exemplo a Declaraccedilatildeo

do MilecircnioONU (2000) a Declaraccedilatildeo de Doha sobre Sauacutede Puacuteblica adotada no acircmbito da OMC ndash

Declaraccedilatildeo sobre o Acordo TRIPS e Sauacutede Puacuteblica (2001) a Declaraccedilatildeo de Oslo ndash Sauacutede Global um

tema urgente da Poliacutetica Externa (2007) ndash mecanismo voluntaacuterio firmado por 7 paiacuteses a Resoluccedilatildeo

6595 das Naccedilotildees Unidas sobre Sauacutede Global e Poliacutetica Externa (2011) a Conferecircncia de

MonterreyONU (2011) e a Conferecircncia Mundial de Determinantes Sociais da SauacutedeOMS(2012)

183

Segundo dados do MCT 2007 - Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo para o Desenvolvimento

Nacional disponiacuteveis em wwwmctgovbr na meacutedia dos paiacuteses europeus por exemplo 35 das

empresas industriais inovadoras no periacuteodo de 2002 e 2004 receberam financiamento puacuteblico para o

desenvolvimento de suas atividades inovativas Segundo o relatoacuterio ―no Brasil a proporccedilatildeo de empresas

industriais com atividades inovativas que satildeo financiadas pelo governo eacute especialmente reduzida - 19

no periacuteodo de 2003-2005 Diferenccedila ampliada quando considera condiccedilotildees inapropriadas em funccedilatildeo do

creacutedito e do respectivo custo Tendecircncia essa que tenderaacute a ser revertida em funccedilatildeo da criaccedilatildeo e da

implantaccedilatildeo de diversos instrumentos de fomentos e programas de estiacutemulos agraves induacutestrias nacionais

puacuteblicas ou privadas

247

ser feitas a priori evitando que o sucesso das accedilotildees natildeo fique ldquoconfinado aos

paiacuteses industrializadosrdquo Ressalta-se ainda a importacircncia de avaliar a

pertinecircncia do estabelecimento de parcerias que podem trazer forccedilas e

interesses antagocircnicos para a conduccedilatildeo das poliacuteticas

No tocante agrave agenda nacional de sauacutede de paiacuteses menos desenvolvidos

em que pesem as diferenccedilas de forccedilas existentes entre os distintos atores

globais as alianccedilas e coalizotildees intergovernamentais promovem e fortalecem a

incorporaccedilatildeo de temas importantes para esses paiacuteses Eacute o caso por exemplo

dos esforccedilos focados em doenccedilas negligenciadas isto eacute doenccedilas que natildeo

fazem parte da plataforma de pesquisa da induacutestria mundial de faacutermacos e que

apresentam graves consequecircncias principalmente para os paiacuteses mais

necessitados

De fato novos atores em projeccedilatildeo como o caso das naccedilotildees do eixo Sul-

Sul instrumentos e a consolidaccedilatildeo de novas e antigas iniciativas multilaterais

regionais e intra-regionais [184] ao dirigirem seus esforccedilos para promover a

sauacutede e o acesso a doenccedilas historicamente negligenciadas que natildeo mais se

restringem agraves fronteiras institucionais territoriais podem representar benefiacutecios

para alguns paiacuteses em especial aqueles sem quaisquer condiccedilotildees de

promover o desenvolvimento e fortalecimento de sua base industrial voltada

para a sauacutede

A constituiccedilatildeo de distintos mecanismos de interface entre os paiacuteses de

relaccedilatildeo Sul-Sul discutidos neste estudo busca fortalecer os paiacuteses parceiros e

criar condiccedilotildees de equiliacutebrio simeacutetrico entre os assuntos relacionados agrave sauacutede

e agrave cooperaccedilatildeo internacional dos paiacuteses onde o diaacutelogo e a negociaccedilatildeo de

temas importantes para a sauacutede global e regional objetos de debates em

foacuteruns internacionais e o ldquocasamentordquo entre a sauacutede e a diplomacia exercem

uma nova condiccedilatildeo paradigmaacutetica na relaccedilatildeo da sauacutede com a aacuterea

internacional

Entretanto dado o caraacuteter humanitaacuterio vinculado agraves questotildees da sauacutede

haacute necessidade de manter prudecircncia antes de generalizar resultados positivos

da fusatildeo da sauacutede internacional com os princiacutepios da poliacutetica externa Afinal eacute

184

Unasul Mercosul CPLP BRICS IBAS dentre outros

248

arriscado generalizar a relaccedilatildeo da sauacutede e da poliacutetica externa como

exclusivamente de inspiraccedilatildeo altruiacutestica Haacute de se ponderar essa tratativa com

as questotildees da economia poliacutetica internacional que refletem as conduccedilotildees

hieraacuterquicas da poliacutetica externa sob o contexto das relaccedilotildees internacionais

Por outro lado a sauacutede exerce uma definiccedilatildeo positivista na agenda da

poliacutetica externa e nas suas relaccedilotildees internacionais na possibilidade da

utilizaccedilatildeo do CEIS como estiacutemulo ao desenvolvimento no estiacutemulo ao estado

de bem-estar do cidadatildeo universal e consequentemente no estimulo agrave paz e agrave

cooperaccedilatildeo internacional de caraacuteter humanitaacuterio e integrador tornando-se uma

resposta efetiva agraves vulnerabilidades e fragilidades decorrentes da dimensatildeo

internacional assimeacutetrica tecnoloacutegica e produtiva agraves quais as naccedilotildees do Sul

estatildeo inseridas

A projeccedilatildeo do tema da sauacutede tambeacutem ganha especial importacircncia

quando se pensa em soberania e seguranccedila nacional O desenvolvimento e a

capacidade produtiva estabelecem uma condiccedilatildeo de seguranccedila e de garantia

de acesso a medicamentos considerados essenciais para a sobrevivecircncia de

uma sociedade Os ditames das condiccedilotildees do capital e a consequente

maximizaccedilatildeo do lucro esperado estabelecem restriccedilotildees e riscos de

consideraacutevel periculosidade tanto em paiacuteses desenvolvidos quanto

principalmente em paiacuteses em desenvolvimento Em 2009 The New York

Times publicou uma reportagem que ressaltava a preocupaccedilatildeo americana com

a fabricaccedilatildeo de medicamentos no exterior e com o fechamento de faacutebricas no

seu paiacutes que forneciam insumos-chave para a produccedilatildeo de medicamentos

essenciais para a sua seguranccedila nacional como por exemplo a penicilina

criando uma dependecircncia da produccedilatildeo externa e uma situaccedilatildeo de

vulnerabilidade que natildeo eacute exatamente muito comum aos americanos

Em que pese o mundo globalizado ser dependente de insumos vacinas

medicamentos dentre outros principalmente em situaccedilotildees pandecircmicas pode

levar uma sociedade ao colapso e deixaacute-la de ldquojoelhosrdquo perante qualquer

situaccedilatildeo de risco internacional A reportagem natildeo distingue o rico do pobre

Portanto pode-se afirmar que o CEIS se estabelece como diferencial entre

ficar em peacute ou de joelhos E que para tanto se estabeleccedilam como propositivas

249

as condiccedilotildees favoraacuteveis da poliacutetica externa quanto agrave integraccedilatildeo regional eou

inter-regional entre paiacuteses pares como eacute o caso do Brasil no eixo Sul-Sul e a

respectiva relaccedilatildeo com a cooperaccedilatildeo internacional otimizando recursos e

maximizando resultados aleacutem da necessaacuteria condiccedilatildeo de assimilaccedilatildeo de

conhecimento avanccedilado o que daacute agrave cooperaccedilatildeo Norte-Sul condiccedilatildeo de

continuidade com vista agrave ampliaccedilatildeo e sustentabilidade do conhecimento e da

capacidade produtiva dos segmentos relacionados ao CEIS

A desvinculaccedilatildeo do conhecimento avanccedilado dos paiacuteses desenvolvidos

por parte dos paiacuteses em desenvolvimento atestaria o suiciacutedio de qualquer

poliacutetica fomentadora de ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo em sauacutede de paiacuteses em

desenvolvimento Portanto a cooperaccedilatildeo Norte-Sul e a cooperaccedilatildeo triangular

ainda satildeo fundamentais balizando a capacitaccedilatildeo e o desenvolvimento

produtivo desses paiacuteses desde que orientadas pelos interesses e

necessidades das naccedilotildees do Sul como eacute o caso do Brasil

Nesse sentido cooperaccedilotildees teacutecnicas bilaterais e principalmente

multilaterais internacionais no campo da sauacutede estatildeo sendo cada vez mais

promovidas e o Brasil tem encontrado nos foacuteruns internacionais espaccedilo e

reconhecimento que o diferencia na governanccedila da sauacutede global e das

relaccedilotildees internacionais

Sob essa perspectiva o CEIS apresenta a convergecircncia adequada entre

o tema social e as questotildees econocircmicas como poliacuteticas puacuteblicas para a sauacutede

e a poliacutetica externa Contempla a possibilidade de o Brasil reforccedilar suas

poliacuteticas estrateacutegicas nacionais modificando situaccedilotildees internas atendendo a

demandas econocircmicas e buscando soluccedilotildees para as deficiecircncias da

capacidade produtiva e inovativa em sauacutede ao mesmo tempo em que se

estabelece como possibilidade de cooperaccedilatildeo no cenaacuterio internacional e se

promove dadas a atual conduccedilatildeo e o protagonismo brasileiro na governanccedila

global em sauacutede um novo posicionamento do Brasil no contexto internacional

De fato o Brasil estabeleceu na primeira deacutecada do Seacuteculo XXI o

fortalecimento das coalizotildees entre os paiacuteses do Sul e nesse sentido a

cooperaccedilatildeo Sul-Sul se tornou ldquoum instrumento duplo na poliacutetica exterior

servindo tanto como uma forma de promover solidariedade entre os paiacuteses

250

como tambeacutem um suporte para a realizaccedilatildeo dos interesses nacionaisrdquo 78 (p

19) isto eacute auxiliando no processo de afirmaccedilatildeo do Brasil como ator relevante

na poliacutetica internacional e na promoccedilatildeo do comeacutercio com paiacuteses do Sul

Podemos inferir inclusive que ao focarmos nos blocos

intergovernamentais como a Unasul o Mercosul e a CPLP destacam-se a

convergecircncia de pontos de vista e estrateacutegias feitas de compromissos e

cooperaccedilotildees intergovernamentais baseadas pela percepccedilatildeo conjunta quanto a

uma visatildeo geoeconocircmica e poliacutetica comum incluindo os assuntos

relacionados agrave sauacutede contornando estrategicamente os multilateralismos

paralisados pelo expressivo nuacutemero de participantes e de interesses

divergentes

Dito isto este estudo aponta accedilotildees e atividades de cooperaccedilatildeo em

sauacutede junto aos paiacuteses do Sul que mesmo ainda incipientes comeccedilam a

refletir alguns resultados provenientes da estruturaccedilatildeo e da consolidaccedilatildeo dessa

aacuterea na poliacutetica externa brasileira

Entretanto desponta como desafio saber apropriar-se de forma

contundente do potencial de cooperaccedilatildeo com Cuba China e Iacutendia e da

retomada das accedilotildees poliacuteticas com os paiacuteses da Aacutefrica especialmente a Aacutefrica

lusoacutefona e com os paiacuteses da Ameacuterica do Sul

Quanto aos planos multilaterais e regionais o engajamento nas diversas

frentes reuniotildees e conferecircncias pode levar agrave diluiccedilatildeo de esforccedilos Natildeo se pode

perder da diretriz que eacute o fortalecimento da regiatildeo e do laccedilo Sul-Sul tampouco

distanciar-se dos benefiacutecios da relaccedilatildeo Norte-Sul

Ademais deve-se fortalecer cada vez mais o diaacutelogo entre os

especialistas das aacutereas da sauacutede da economia e da diplomacia de maneira

que se mobilizem para a importacircncia que o tema deteacutem na formulaccedilatildeo de

poliacuteticas externas que favoreccedilam o discurso da sauacutede em todas as suas

nuances estimulando o debate de ideacuteias e criando condiccedilotildees de

aprimoramento

Obviamente o Estado tem papel central na relaccedilatildeo da sauacutede com a

poliacutetica externa poreacutem outros atores satildeo igualmente importantes como as

251

parcerias puacuteblico-privadas as empresas e as academias de modo a que se

alcancem melhores niacuteveis de sauacutede para a sociedade nacional ou

internacional

Aleacutem disso observa-se a interdisciplinaridade da sauacutede com accedilotildees

intersetoriais envolvendo aleacutem do Ministeacuterio da Sauacutede e o Ministeacuterio das

Relaccedilotildees Exteriores o Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo e o

Ministeacuterio do Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Nesse sentido deve-se

buscar maior transparecircncia nos objetivos fluidez na conduccedilatildeo das poliacuteticas

integradas aleacutem do engajamento dos atoresgestores nacionais e

internacionais evitando interesses corporativistas que impeccedilam integraccedilotildees

regionais e o fortalecimento muacutetuo nas condiccedilotildees de sauacutede puacuteblica

Parafraseando Oswaldo Cruz a ciecircncia faz as naccedilotildees fortes Poreacutem na

atualidade a ciecircncia se expande fortalece e integra paiacuteses Dito isto a ciecircncia

e o poder da sauacutede natildeo soacute fazem as naccedilotildees mais fortes como fortalecem a

sua integraccedilatildeo das naccedilotildees baseada em objetivos humanitaacuterios e em condiccedilotildees

de bem-estar socioeconocircmico

Hoje um seacuteculo depois da afirmaccedilatildeo de Oswaldo Cruz percebemos que

essa noccedilatildeo ateacute entatildeo aceita como incontestaacutevel foi contestada natildeo eacute mais a

riqueza de uma naccedilatildeo que leva agrave sauacutede Eacute a sauacutede que se estabelece como

parte endoacutegena da geraccedilatildeo da riqueza e da forccedila de uma naccedilatildeo Note que natildeo

nos detemos no conceito de forccedila como algo beacutelico voltado para a seguranccedila

ou para a guerra tiacutepico da abordagem realista das relaccedilotildees internacionais A

forccedila e a riqueza emergem no sentido do protagonismo entre os pares em que

as vulnerabilidades tecnoloacutegicas e produtivas satildeo combatidas com base no

fortalecimento da capacidade cientiacutefica e tecnoloacutegica das naccedilotildees

Vale destacar que as parcerias brasileiras e demais paiacuteses do Sul que

visam o acesso ao conhecimento e aos bens e insumos voltados para a sauacutede

vinculam-se a projetos estruturantes promotores e incentivadores do

desenvolvimento autocircnomo do paiacutes parceiro O que pode ser traduzido como

fase inicial e vinculante para uma situaccedilatildeo de maior equiliacutebrio entre os paiacuteses

excluindo a perspectiva de submissatildeo aos ditames ateacute entatildeo observados na

relaccedilatildeo entre os paiacuteses do Norte e paiacuteses do Sul sugerindo que transferecircncias

252

de tecnologia e cooperaccedilotildees teacutecnicas internacionais requerem um paiacutes

receptor com condiccedilotildees adequadas para sustentar a curto e meacutedio prazos a

nova fase tecnoloacutegica Situaccedilatildeo essa ainda observada na totalidade dos paiacuteses

do eixo Sul-Sul em funccedilatildeo da heterogeneidade das condiccedilotildees assimeacutetricas

econocircmicas e produtivas

Foram observados neste estudo resultados ainda iniciais no que se

refere agrave cooperaccedilatildeo teacutecnica internacional Entretanto o CEIS projeta o Brasil

diferenciando o Paiacutes e projetando-o como protagonista nas relaccedilotildees entre os

paiacuteses do eixo Sul-Sul notadamente os destacados neste estudo paiacuteses da

Ameacuterica do Sul da Ameacuterica Central e paiacuteses africanos

A ainda incipiecircncia dos resultados observados pode ser justificada em

funccedilatildeo da contemporaneidade do tema na agenda da recente implantaccedilatildeo das

poliacuteticas nacionais de CTampIS e das caracteriacutesticas produtivas particulares dos

segmentos do CEIS (da maturaccedilatildeo da PampD ao processo produtivo do insumo

para a sauacutede como eacute o caso da produccedilatildeo de faacutermacos)

Portanto a discussatildeo efetiva acerca da cooperaccedilatildeo internacional em

sauacutede eacute recente assim como o reconhecimento do CEIS como propulsor do

desenvolvimento e das condiccedilotildees de sauacutede Considerando a inevitabilidade da

ordem global onde a globalizaccedilatildeo e o capitalismo orientam fortemente os

ditames econocircmicos poliacutetico e internacionais o CEIS eacute restrito se pensado

unicamente entre fronteiras Ao contraacuterio ganha forccedilas se ultrapassaacute-las

tornando-se mais forte para superar as vulnerabilidades e fragilidades

tecnoloacutegicas frutos das assimetrias que imperam no sistema mundial

Portanto o CEIS eacute um recurso que estabelece como possiacutevel a relaccedilatildeo social e

a poliacutetica econocircmica exercendo-se como uma referecircncia no contexto

geopoliacutetico e econocircmico nas questotildees relacionadas agrave sauacutede e

simultaneamente induzindo e estabelecendo o desenvolvimento nacional

assim como o desenvolvimento regionalinter-regional

Em funccedilatildeo do contexto internacional em implantaccedilatildeo em que o

desenvolvimento se sustenta sob as bases das condiccedilotildees humanas ndash o que

pode ser evidenciado nas diretrizes nos consensos e pactos internacionais

formulados - haacute ainda muito a ser refletido sobre a nova abordagem da sauacutede

253

global e sobre os paradigmas relacionados aos temas sociais (sauacutede) e

econocircmicos onde o Estado se insere em uma perspectiva ampliada ao mesmo

tempo em que necessita consolidar novos conhecimentos novas tecnologias e

capacidades produtivas em prol da sauacutede puacuteblica interna A atuaccedilatildeo do Estado

portanto aleacutem de focar na conduccedilatildeo e no fortalecimento dos seus interesses

nacionais deve convergir sua atuaccedilatildeo em conformidade com os interesses

pactuados em foros internacionais e junto aos demais atores externos

fortalecendo seu posicionamento na poliacutetica externa

Projetos e parcerias focadas em relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo humanitaacuteria e

doaccedilotildees satildeo observados com maior frequecircncia entre o Brasil e os paiacuteses

analisados neste estudo O que demonstra o caraacuteter humanitaacuterio assumido

pelo Brasil junto aos paiacuteses mais necessitados

Entretanto uma vertente natildeo estaacute desvinculada da outra isto eacute a

cooperaccedilatildeo com perfil humanitaacuterio natildeo inibe a condiccedilatildeo de existecircncia da

cooperaccedilatildeo teacutecnica internacional Poreacutem condiccedilotildees assimeacutetricas das

capacidades produtivas de cada paiacutes podem justificar timing e condiccedilotildees

diferentes de assimilaccedilotildees dos projetos em parcerias

Vale destacar que haacute um longo caminho a percorrer

Poreacutem em sentido mais positivo alguns resultados provenientes de

esforccedilos do Brasil voltados para paiacuteses que natildeo tecircm condiccedilotildees de promover o

desenvolvimento e o fortalecimento da sua base produtiva para a sauacutede

podem ser destacados como exemplos concretos no sentido de ampliar o

acesso a medicamentos [185]

O estudo destacou experiecircncias exitosas relacionadas agrave cooperaccedilatildeo

internacional em sauacutede no que se refere aos temas HIVAIDS e Bancos de

Leite Humanos

Quanto ao primeiro tema a Aacutefrica eacute a principal referecircncia de cooperaccedilatildeo

brasileira Em que o destaque atualmente eacute a instalaccedilatildeo da faacutebrica de

medicamentos do governo de Moccedilambique para a produccedilatildeo de antirretrovirais

185

Como eacute o caso dos medicamentos para as doenccedilas negligenciadas Em relaccedilatildeo ao Mal de

Chagas o Brasil se estabeleceraacute como provedor mundial de medicamentos em funccedilatildeo da associaccedilatildeo de

laboratoacuterios puacuteblicos e privados e da parceria com a Organizaccedilatildeo Meacutedico Sem Fronteiras

254

e outros medicamentos (antibioacuteticos antianecircmicos anti-hipertensivos

antiinflamatoacuterios hipoglicemiantes diureacuteticos antiparasitaacuterios e

corticosteroacuteides) medicamentos esses que tenderatildeo a atender as demandas

de outros paiacuteses africanos aleacutem da instalaccedilatildeo de um escritoacuterio da Fiocruz em

Moccedilambique com potencial para fortalecer cooperaccedilotildees em sauacutede com o

continente africano

Quanto aos Bancos de Leite Humanos referecircncia da Fiocruz este tema

eacute a principal referecircncia de cooperaccedilatildeo na dimensatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica

com a Ameacuterica Latina e Caribe

Accedilotildees poliacuteticas e atuaccedilatildeo das Comissotildees Intergovernamentais focadas

ao acesso universal a medicamentos e ao fortalecimento da capacidade

produtiva regional tecircm resultado em compromissos pactuados entre os paiacuteses

partiacutecipes do Mercosul da Unasul e da CPLP Dentre eles a criaccedilatildeo do ISAGS

representa uma importante estrateacutegia que alia a coalizatildeo entre a expertise da

sauacutede e da diplomacia dos paiacuteses partiacutecipes da Unasul cuja defesa pela

sauacutede incluindo o fortalecimento do CEIS eacute o seu principal mote

Cuba dentre os paiacuteses da Ameacuterica Central representa a dualidade da

cooperaccedilatildeo internacional brasileira Sua importacircncia estaacute na oferta e na

demanda por accedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses destacando-se acordos de

cooperaccedilatildeo para a promoccedilatildeo da capacitaccedilatildeo tecnoloacutegica do CEIS focados em

produtos de alto valor tecnoloacutegico agregado

Este estudo reconhece o papel estrateacutegico que a Fundaccedilatildeo Oswaldo

Cruz vem exercendo no contexto desta anaacutelise ldquotida como Instituiccedilatildeo Puacuteblica

Estrateacutegica de Estado para a Sauacutede alinhada ao conceito de sauacutede e

diplomaciardquo As principais e a grande maioria das accedilotildees aqui evidenciadas satildeo

protagonizadas por essa instituiccedilatildeo que se destaca internacionalmente com

accedilotildees de grande efetividade estruturaccedilatildeo e transformaccedilatildeo junto aos paiacuteses do

eixo Sul-Sul

Portanto ainda que partam de uma premissa adequada ndash o

desenvolvimento produtivo nacional e a sustentabilidade de suas accedilotildees as

recomendaccedilotildees para a inter-relaccedilatildeo da sauacutede com as relaccedilotildees internacionais

255

tornar-se-atildeo utoacutepicas se natildeo forem adequadamente conciliadas entre os

diversos atores envolvidos Estado instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas e

sociedade civil Accedilotildees que passam pela negociaccedilatildeo da balanccedila comercial de

salvaguardas e de incentivos para proteccedilatildeo da praacutetica do dumping estiacutemulos agrave

produccedilatildeo interna acordos que promovam poliacuteticas que otimizem o aumento de

emprego no setor negociaccedilatildeo de assistecircncia econocircmica e financeira para o

enraizamento das empresas nacionais regulaccedilatildeo e marco regulatoacuterio

transparente poder de compra garantido garantia agrave sustentabilidade

ambiental atendimento prioritaacuterio agraves demandas da sociedade e do SUS dentre

outras

Essas satildeo diretrizes repletas de bom senso mas tornam-se

incompatiacuteveis se natildeo houver coesatildeo entre os atores envolvidos O discurso

dividido movimenta as forccedilas que presidem suas accedilotildees para direccedilotildees

divergentes e opostas entre si

Finalmente este trabalho natildeo tem a pretensatildeo de esgotar o tema em

questatildeo tampouco eacute conclusivo em si mesmo Entretanto oferece subsiacutedios

para novas linhas de pesquisa ampliando alternativas para novos campos de

discussatildeo Apresenta referecircncias e indicaccedilotildees para reflexotildees quanto ao

desenvolvimento cientiacutefico tecnoloacutegico como um meacutetodo apropriado para

enfrentar questotildees complexas como a sauacutede inserida no contexto das relaccedilotildees

internacionais

Os capiacutetulos apresentados neste estudo a partir de pesquisa

exploratoacuteria tecircm no Complexo Econocircmico-Industrial da Sauacutede sua principal

linha condutora Nesse sentido procuramos ampliar a discussatildeo da relaccedilatildeo

intriacutenseca do CEIS com as Relaccedilotildees Internacionais

A Figura 7 a seguir representa os principais elementos destacados no

decorrer desta tese que impactam desafiam e estimulam essa relaccedilatildeo

256

Figura 7 CEIS e Relaccedilotildees Internacionais Categorias Centrais

Elaboraccedilatildeo Proacutepria

Isso posto observamos que o CEIS permite o diaacutelogo entre as teorias

das Relaccedilotildees Internacionais apresentando-se sob a perspectiva humanitaacuteria e

social projetada pela Sociedade Internacional e estabelecendo-se mais

claramente na visatildeo da Economia Poliacutetica Internacional em que se descreve a

perspectiva da inserccedilatildeo brasileira no contexto internacional na interaccedilatildeo

complexa entre poliacutetica e economia entre Estados e mercados 142024 e em que

o poder efetivo do Estado no sistema internacional eacute inversamente proporcional

a sua vulnerabilidade externa 22

Ganha destaque neste estudo o impacto da economia mundial de

mercado sobre as relaccedilotildees dos Estados e as maneiras pelas quais esses

257

Estados tentam tirar vantagem influenciando as forccedilas de mercado 1420 Essa

evidecircncia tem relaccedilatildeo direta com o exerciacutecio efetivo do CEIS

Sob mais uma perspectiva o CEIS encontra na questatildeo da soberania

estatal instituiccedilatildeo estrateacutegica que move o funcionamento hieraacuterquico do poder

global uma estreita relaccedilatildeo entre o desenvolvimento econocircmico e a

sustentabilidade da soberania

Poreacutem relaccedilotildees assimeacutetricas de poder proporcionam fontes de

influecircncia frente agraves relaccedilotildees com os demais atores Logo a interdependecircncia

assimeacutetrica gera relaccedilotildees de poder de um ator sobre os demais 35 O CEIS eacute

desafiado para promover potencialidades para superaccedilatildeo de assimetrias

tecnoloacutegicas assimetrias econocircmicas e de poder provocadas pela

globalizaccedilatildeo a partir de abordagens que promovam o conhecimento e a

inovaccedilatildeo como fatores determinantes das transformaccedilotildees estruturais e do

dinamismo econocircmico

Como consequecircncia observamos no decorrer deste estudo que o

Estado ganha potencialidade na agenda contemporacircnea e na relaccedilatildeo de poder

O exerciacutecio do seu papel poliacutetico eacute central na induccedilatildeo das mudanccedilas nacionais

em uma relaccedilatildeo direta com as estruturas econocircmicas e poliacuteticas internacionais

Logo o CEIS a partir do entendimento do papel estrateacutegico desempenhado

pelo Estado encontra-se inserido na essecircncia das relaccedilotildees internacionais

Em que pesem o pluralismo mundial e a respectiva inserccedilatildeo do Paiacutes no

contexto internacional esta tese ressalta algumas questotildees como

fundamentais para o posicionamento efetivo e sustentaacutevel do CEIS no contexto

das relaccedilotildees internacionais aliando a loacutegica econocircmica e social com o

determinismo na criaccedilatildeo de oportunidades para o desenvolvimento local e

nacional assim como regional inter-regional e global Satildeo fundamentais

portanto (a) o posicionamento do Paiacutes no contexto geopoliacutetico e econocircmico

internacional (b) a base de conhecimentos (c) a estrutura produtiva (d) o niacutevel

de desenvolvimento (e) a relaccedilatildeo de bem-estar social e (f) a interaccedilatildeo dos

segmentos produtivos e de serviccedilos no escopo dos esforccedilos puacuteblicos e

privados nacionais em prol do fortalecimento do desenvolvimento produtivo e

inovativo

258

Fundamenta-se portanto a ligaccedilatildeo do Complexo Econocircmico-Industrial

da Sauacutede na relaccedilatildeo entre a poliacutetica e a economia o desenvolvimento e a

natureza da extensatildeo da globalizaccedilatildeo

A questatildeo do CEIS eacute portanto fio condutor expliacutecito e impliacutecito na

abordagem da economia poliacutetica internacional na medida em que sinaliza as

categorias centrais que se mesclam agrave discussatildeo contemporacircnea das relaccedilotildees

internacionais e da poliacutetica externa globalizaccedilatildeo e localizaccedilatildeo relaccedilotildees

puacuteblico-privadas vulnerabilidades externas e internas assimetrias

tecnoloacutegicas econocircmicas e de poder soberania e estado de Bem-estar

Finalmente sob os argumentos da poliacutetica externa brasileira

apresentados no decorrer desta tese o CEIS a partir do seu caraacuteter

estrateacutegico exerce potencialidades para destacar o Brasil na agenda

internacional com as naccedilotildees do Sul baseadas no exerciacutecio das cooperaccedilotildees

multilaterais e nos laccedilos horizontais

Esperamos portanto que esta tese possa contribuir fornecendo

subsiacutedios para provocar reflexotildees quanto agrave importacircncia e ao papel do CEIS na

agenda da poliacutetica externa brasileira e quanto agrave sua representatividade

estrateacutegica nacional e internacional notadamente junto aos paiacuteses do eixo

Sul-Sul seja na luta contra as vulnerabilidades econocircmicas e tecnoloacutegicas que

comprometem a sauacutede das sociedades seja no fortalecimento nacional

regional e inter-regional seja no estabelecimento do Paiacutes como naccedilatildeo solidaacuteria

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10 2004 Satildeo Paulo UNCTAD 2004 30 p

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ao meacutedico-financeiro Physis Rev Sauacutede Coletiva 2002 12(2)375-390

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Wallerstein I World-system analysis London Duke University Press 2004

World Health Organization Resultados de la conferencia mundial sobre los

determinantes sociales de la salud Reuniatildeo 130 21 jan 2012 Geneva WHO

2012 Disponiacutevel em

lthtppappswhointGbebwhapdf_filesEB130B130_R11-sppdfgt

274

ANEXO I

Relaccedilatildeo de Descritores

Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir da Biblioteca Virtual em Sauacutede

Descritor Traduccedilatildeo (InglecircsEspanhol)

Interpretaccedilatildeo

Cooperaccedilatildeo Internacional

Cooperacioacuten Internacional ndash International Cooperation

ldquoInteraccedilatildeo de pessoas ou grupos de pessoas que representam vaacuterias naccedilotildees na busca de uma meta ou interesse comumrdquo

Agecircncias Internacionais

Agencias Internacionales ndash International Agencies

ldquoOrganizaccedilotildees internacionais que cooperam teacutecnica eou financeiramente no campo da sauacutede ou em outros campos com finalidade de desenvolver poliacutetica programa eou projetos nos acircmbitos federal estadual ou municipalrdquo

Negociaccedilatildeo Negociacion - Negotiation ldquoO processo de barganha para chegar a um acordo ou a um meio-termo em uma questatildeo de importacircncia para as partes envolvidas Tambeacutem se aplica agrave audiecircncia ou resoluccedilatildeo de um caso por uma terceira parte escolhida pelas partes em desacordo assim como agrave interposiccedilatildeo de uma terceira parte para conciliar as partes em desacordordquo

Pol e Coop em Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo

Poliacuteticas y Cooperacioacuten em Ciecircncia Tecnologia y Innovacioacuten

ldquoConjunto de Poliacuteticas planos e programas de cooperaccedilatildeo em ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeordquo

Poliacutetica Nacional de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo

Poliacutetica Nacional de Ciecircncia Tecnologia y Innovacioacuten ndash National Science Technology and Innovation Policy

ldquoConjunto de elementos orientadores de atividades cientificas e tecnoloacutegicas nacionais de forma a interagir com o setor produtor de bem e serviccedilos e contribuir para a soluccedilatildeo de problemas que conduza ao desenvolvimento do Paiacutesrdquo

Poliacutetica de Inovaccedilatildeo e Desenvolvimento

Poliacutetica de Innovacioacuten y Desarrollo - Innovation and Development Policy

ldquoOrientaccedilotildees sobre a abordagem da cultura de inovaccedilatildeo nas empresas atraveacutes de accedilotildees concretas de e desenvolvimento de estrateacutegias tecnoloacutegicas de longo prazordquo

Poliacuteticas Puacuteblicas de Sauacutede

Poliacuteticas Puacuteblicas de Salud ndash Health Public Policy

ldquoConjunto de accedilotildees disposiccedilotildees legais e orccedilamentaacuterias geradas no marco de procedimento e instituiccedilotildees governamentais Satildeo legitimadas atraveacutes de legislaccedilotildees ou regulaccedilotildees e promovem mudanccedilas no comportamento de instituiccedilotildees e indiviacuteduos em relaccedilatildeo a um problema setorial ou temaacuteticordquo

Poliacutetica de Sauacutede

Poliacutetica de Salud ndash Health Policy

ldquoDecisotildees geralmente desenvolvidas por formuladores de poliacuteticas do governo para definiccedilatildeo de objetivos imediatos e futuros do sistema de sauacutedeldquo

Induacutestria Induacutestria ndash Industry ldquoConjunto de empresas de manufatura ou de produccedilatildeo teacutecnica em uma aacuterea particular frequentemente denominado segundo seu produto principal como induacutestria automobiliacutestica induacutestria do accedilo Inclui a propriedade e a administraccedilatildeo de companhias faacutebricas plantas industriais etcrdquo

Organizaccedilatildeo Internacional

Organizacioacuten Internacional - International Organization

Apesar de constar na BVS natildeo haacute definiccedilatildeo atribuiacuteda para o termo

Gestatildeo de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede

Gestioacuten de Ciecircncia Tecnologia e Innovacion em Salud ndash Health Sciences Technology and Innovation

Apesar de constar na BVS natildeo haacute definiccedilatildeo atribuiacuteda para o termo

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