o essencial sobre - imprensa nacional-casa da moeda · jornal oficial o diário da república é o...

74

Upload: others

Post on 04-Jun-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril
Page 2: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

O E S S E N C I A L S O B R E

O Diário da República

Page 3: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril
Page 4: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

O E S S E N C I A L S O B R E

O Diário da RepúblicaGuilherme d’Oliveira Martins

Page 5: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril
Page 6: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

Índice

i7 Jornal oficial

ii11 Origens

iii25 Regime liberal

iv29 Presença de Alexandre Herculano

v35 De novo a guerra civil

vi39 Regeneração

vii43 Rotativismo

viii49 República

ix53 Estado Novo

x57 Democracia

Page 7: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

xi63 Diário da República hoje

69 Bibliografia

Page 8: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

7

iJornal oficial

O Diário da República é o jornal oficial daRepúblicaPortuguesa,comessadesignaçãodesde10 de abril de 1976. O artigo 119.º da Constituiçãoprevêosatosquesãopublicadosnojornaloficial.Através da imprensa oficial, os cidadãos tomamconhecimento dos atos com relevância políticae jurídica que regem a organização da sociedadeportuguesa. A falta de publicidade desses atosgera, nos termos da lei fundamental, a ineficáciajurídica, considerando o direito dos cidadãos deconheceremasnormasjurídicasqueseencontramem vigor. Estamos, assim, perante uma conse‑quência do primeiro dos princípios do Estado deDireito — o primado da Lei. A igualdade de todosperante a Lei pressupõe o seu conhecimento porparte dos cidadãos. Daí a importância da publici‑dadedasleisatravésdaimprensaoficial.NaIdadeMédia não havia imprensa oficial, pelo que, paraevitar que os súbditos alegassem a ignorância dasleis,osprocuradoresdosconcelhospediamcópias

Page 9: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

autenticadas, que pagavam, das resoluções dosmonarcas com interesse para a sua circunscrição.As leis eram publicitadas pelos tabeliães, que asregistavamnosseuslivrosedeviamlê‑lasnostribu‑nais dos concelhos. Além disso, a chancelaria daCortetambémpublicavaasleisemvigor.Nocasoportuguês,desdeasprimeirasordenações,vigoravaoregimesegundooqualquandoasmesmaseramsubstituídasdeveriamserdestruídasemnomedacertezaedaconfiançadosrespetivosdestinatários.No reinado de D.JoãoI, perante queixas formu‑ladas pelas cortes quanto ao estado de confusãodas leis, foi João Mendes, corregedor da Corte,encarregadodeprocederànecessáriareformadasfontesdedireito.PormortedeJoãoMendes,jánoreinado de D.Duarte, foi a tarefa de compilaçãoentregueaodoutorRuiFernandes,queacontinuouno período da regência de D.Pedro — durante oqualfoiterminadaatarefaemjulhode1446,apósoqueoinfanteD.Pedrodeterminouasuarevisãoporumgrupoconstituído,alémdeRuiFernandes,porLopoVasques,corregedordacidadedeLisboa,eporLuísMartinseFernãoRodrigues,dodesem‑bargo do Paço. Assim as Ordenações Afonsinasficaram concluídas no 2.ºsemestre de 1446 ou no1.º de 1447. Não chegaram, porém, até nós exem‑plares completos de tais Ordenações em virtudede, aquando da entrada em vigor das OrdenaçõesManuelinas, ter havido a referida destruição deexemplares,emnomedacertezajurídica.Note‑se,pois,queapublicidadedasleis,asuacompilaçãoeoobjetivodechegaraosdestinatáriosdasnormas,de modo claro, simples e acessível, são preocupa‑çõessubjacentesaoaperfeiçoamentodaimprensa

Page 10: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

9

oficial. Com o tempo, além da compilação dasleis, chegou‑se ao movimento de codificação, noqual se organizam as normas jurídicas de modosistemático segundo as matérias. Hoje, a versãoeletrónica doDiário da República, através do ser‑viçouniversalegratuito,permiteoacessoatodosos cidadãos dos atos normativos publicados— jánãoseexigindoumsistemadecompraoudepaga‑mento de assinaturas.

Page 11: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril
Page 12: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

11

iiOrigens

Aimprensaoficialnasce,comoficadito,origi‑nalmente da necessidade de informar a popula‑ção sobre acontecimentos relevantes e sobre asobrigações, primeiro dos súbditos e depois doscidadãos— em especial para contrariar as tenta‑tivas das potências inimigas para desmoralizaratravés do boato quem pudesse ser vulnerávela essa adulteração das circunstâncias. Assim, secompreende que o séculoxvii tenha sido ummomentofundamentalparadarinícioàpublicaçãodas gazetas. Recorde‑se que esse foi o século daGuerradosTrintaAnos,queculminarianoTratadodeVestefália(164�)enaalteraçãodoparadigmadaorganizaçãoeuropeiaeinternacional.EmPortugal,a Restauração da Independência (1640) corres‑ponde, no essencial, ao novo período em que omodelo«gazeta»vaitenderaassumirumavocaçãomúltipla— desde auxiliar informativo a formadordeopinião.Seumpregador,comoocélebrePadreAntónioVieira,eraaindaemmeadosdoséculoxvii

Page 13: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

12

ograndemediador—oquelevouSampaioBrunoaafirmarque«pregadoreraamaneiraantigadeserjornalista, como jornalista é a maneira modernade ser pregador»—, logo após a Restauração daIndependência (1640) nascem, em Portugal, as«gazetasdaRestauração»,queprocuramdestacaras virtudes militares e diplomáticas alcançadassobreEspanha,comoafirmaAlexandreHerculanoemO Panorama(31demarçode1�3�):«Erapreci‑soanimaropovodepoisdaquelaousadatentativa[aRestauração];convinhanarrar‑lheasvantagensalcançadascontraaEspanha,bemcomoasdificul‑dades em que se via envolvida aquela monarquiae até exagerá‑las»... Desta série, que ainda não sepodequalificarcomoimprensaoficial,o1.ºnúmeroéde1641eapresentaumlongotítulo,segundooshábitosdaépoca:Gazeta em que se relatam as novas todas que houve nesta Corte e que vieram de várias partes no mês de Novembro de 1641.Emboradatadodenovembro,talnúmerosófoipostonomercadoapartirde5dedezembro,sendoopreçode6réis.Em janeiro seguinte, a estrutura da Gazeta sofrealterações, deixando de ser impressa na oficinade Laurent/Lourenço de Antuérpia e passandopara a de Domingos Lopes Rosa. João Pinheiroe Meneses deixa de ser responsável pela publica‑ção,passandoparaJoãoPintoRibeiroeMeneses.EmalgunsnúmerosfiguraonomedeAntónioCoelhode Carvalho. A periodicidade era normalmentemensal,variandoonúmerodepáginas,tendo12o1.ºnúmero e oscilando normalmente os restantesentre as 6 e as 16 com composição a uma colu‑na. Houve meses em que saíram dois números ecircunstâncias em que houve um único número

Page 14: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

13

que compreendia dois meses. O último númeropublicadoédesetembrode1647,aindaimpressonaoficinadeDomingosLopesRosa.Trata‑sedeumainformaçãotornadaperiódica,quecontrastacomairregularidadedeinformaçãousualatéessetempo.O privilégio real estava confiado a Manuel deGalhegos, proprietário da Gazeta, sendo a famíliaMeneses encarregada da administração. Segundooselementosdisponíveis,aredaçãoestariaconfia‑da a Miguel Mascarenhas de Azevedo, cabendodepois de julho de 1645 a função ao cronista‑morfrei Francisco Brandão. Entre julho e outubro de1642 as gazetas foram suspensas na sequência doDecreto de 19 de agosto desse ano, que proibia as«gazetasgerais,comnotíciasdoReinooudefora,em razão de pouca verdade de muitas e do mauestilo de todas elas». Visavam‑se não apenas as«gazetasdaRestauração»,mastambémsobretudoaspublicaçõeseventuaisqueapresentavamimpro‑priamente o título de «gazeta». Esta providênciaexplica‑se pela pouco eficácia do sistema geralcensório, aliás constante das Ordenações Filipi‑nas (títulocii, do livrov), que obriga à aprovaçãoda Lei de 29 de janeiro de 1643, segundo a qual«não se imprimiam livros sem licença d’El‑Rei».Apartirdeoutubroasgazetasdeixaramdepubli‑car notícias internas — passando a inserir «novasfora do Reino».

Durante os longos vinte anos da Guerra daRestauração,JoséManuelTengarrinha,fundamen‑tal estudioso do tema, refere (na sua História da imprensa periódica portuguesa) 2�5 publicaçõesem folhas breves, vendidas em tendas ou bancasnos locais mais concorridos das maiores cidades.

Page 15: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

14

As principais batalhas, como as de Elvas (30 dejunho de 1641), do Montijo (26 de maio de 1644),das Linhas de Elvas (14 de janeiro de 1659), doAmeixial(�dejulhode1663),deCasteloRodrigo(6 de julho de 1664) e de Montes Claros (17 dejunho de 1665), todas deram origem a folhasocasionaisquedeformasucintamasencomiásticadavam notícias do sucesso. Encontramos aindanasgazetasdaRestauraçãonotíciasdeinsucessosou dificuldades sentidas por Espanha na Guerrados Trinta Anos (161�‑164�), o que naturalmentevisa salientar junto da alta nobreza portuguesa aperdadeprestígionascortesestrangeiraseafaltade capacidade para exigir direitos sobre a CoroaPortuguesa.Contudo,omodelodasgazetasnãosereporta ainda, como dissemos, à noção de publi‑cações de caráter oficial. No entanto, o privilégiorealeosistemadecensurapréviagarantiamumanaturezaqueantecipavaaexistênciadaimprensaoficial.Defacto,osistemadepublicidadedasleiseoregimedasuavigênciaénoAntigoRegime,antesdo constitucionalismo, profundamente diferentedo que viria a ser depois da institucionalizaçãoda separação e independência dos poderes. Bastalembrar‑nosdosistemaprevistopelasOrdenaçõessobre a vigência das suas normas. Havia umapreocupação de evitar dúvidas sobre a legislaçãoem vigor, pelo que era ordenada a destruição dosvolumesquecontivessemoslivrosjásubstituídospornovascoleções,emnomedasegurançajurídicados destinatários das leis.

DepoisdoperíododasgazetasdaRestauração,devemos reportar‑nos à fase dos «mercúrios»iniciada pelo Mercúrio Português com as Novas

Page 16: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

15

da Guerra entre Portugal e Castela. Começa noPrincípio do Ano de 1663. Por António de SousadeMacedo.Lisboa.ComtodasasLicençasNeces‑sárias.NaOficinadeHenriqueValentedeOliveira.Impressord’El‑ReiNS.Ano1663».Comarespon‑sabilidadedodoutorAntóniodeSousadeMacedo,notáveldiplomata,oMercúrio Portuguêssaiucomregularidade de janeiro de 1663 a julho de 1667com periodicidade mensal, oscilando entre os 5e os 10réis, consoante o número de folhas: entre3‑4 e 12. O Mercúrio surge na sequência da crisede 1662: D.Luísa de Gusmão, da família MedinaSidonia, assumiu a regência depois da morte deD.JoãoIV (1656), sendo obrigada a ceder o poderem benefício de seu filho D.AfonsoVI (em junhode 1662). O conde de Castelo Melhor assume asprincipaisresponsabilidadesdogovernoeodoutorAntónio de Sousa de Macedo é chamado a dirigiros Assuntos Exteriores em 1663, momento emque funda o Mercúrio Português— que se tornaórgão da política do conde de Castelo Melhor ede D.AfonsoVI e que vai durar essencialmenteatéàcrisepolíticade1666‑166�.Operiódicoaindaprossegueatéjulhode1667comumredatordesco‑nhecido, visto que Sousa de Macedo abandonaraentretanto funções. O Mercúrio é marcado pelagrande qualidade intelectual e literária do seuanimador,diferenciando‑sedasgazetas.Ocaráteréessencialmentenoticioso,visandoinformarsobreos sucessos da guerra com Castela e as reaçõesdas cortes estrangeiras ao conflito. Para Sousa deMacedo havia que reforçar a posição portuguesaaté porque, finalizada a Guerra dos Trinta Anos,a Espanha gozava de maior espaço de manobra

Page 17: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

16

no sentido de fazer prevalecer o seu poderiamilitar. Há uma continuidade entre as gazetasda Restauração e o Mercúrio Português— aindaque este último prenunciasse uma fase diferentequeculminaránoiníciodaimprensaoficial, jánoséculoxviii.Enquantoasgazetasevoluemparaosreportóriosoficiais,osmercúriosespecializar‑se‑ãoà semelhança do que acontecera na história daimprensacomosurgimentodasrevistas.OfimdoMercúrio Português(1667)correspondeaocomeçode um período sem publicações periódicas.

Àparteexemplospoucosignificativos(Mercúrio da Europa,16�9,eGazeta,deCostaDeslandes,deagostoaoutubrode1704),oimportanteéregistaroiníciodaGazeta de Lisboa(10deagostode1715,sábado), que começa por se designar Notícias do Estado do Mundo, mas o n.º2, de 17 de agosto, jáostenta o nome que a celebrizará. O objetivo dapublicação é dar notícias nacionais e estrangeirase nomeações do governo português. É a primei‑ra folha que deve ser considerada como oficial.Oprivilégioparaapublicação foi concedido aumimpressor de Lisboa, António Correia de Lemos,porAlvarárégiode19demaiode1715.AimpressãocomeçouaserfeitanaoficinadeValentimdaCostaDeslandes (como a Gazeta de 1704). A partir de6dejaneirode171�,denomina‑seGazeta de Lisboa Ocidental,devidoàdivisãodeLisboaemOcidentale Oriental, estando a oficina do novo impressor,PascoaldaSilva,naparteocidental.Emsetembrode 1741, tendo acabado a divisão administrativareferida, o título regressou à fórmula originária.Em 1717 passou a ter �páginas, em 1734 chegaàs 12, variando depois. A Gazeta reunia‑se em

Page 18: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

17

volumes anuais que formavam um livro que eraintituladoHistória Anual Cronológica e Política do Mundo e Especialmente da Europa. Começou porter periodicidade semanal, chegando a ser bisse‑manal, desde janeiro de 1742, aquando da GuerradaSucessãoaustríaca.Manteve‑seassimaté1752com um suplemento semanal à Gazeta de Lisboa,de oito páginas. José Freire Montarroio Mascare‑nhas era o responsável, que se manteve em taisfunções durante mais de quarenta anos. Note‑sequeasfolhasavulsas,porocasiãodeacontecimen‑tosespeciais,tinhamgrandesucessocomercial.TalfactosuscitouumaforteconcorrênciaqueobrigouJ. F. Montarroio a insistir na solicitação para eledoprivilégiodaimpressão—queviriaaobterporCartarégiade3dejunhode1752,oitoanosantesda morte do requerente. Em janeiro de 1760, pormorte de Montarroio, termina este capítulo davidadaGazeta.Nesseano,a22dejunho,surgeumsemanáriocomotítuloLisboa,quenãoéumnovoperiódico, apesar da designação, por se situar nacontinuidade do anterior. O decreto da fundação,de 23 de fevereiro de 1760, fala de Montarroio eapontaparaoiníciodeumanovasérie.Noentanto,o privilégio da publicação passa para a SecretariadeEstadodosNegóciosEstrangeiros,criando‑seaImpressão da Secretaria de Estado. Havia, assim,umcontrolodopoderpolíticosobreumórgão,queseassumecomonitidamenteoficial.SãoosoficiaisdaSecretariadeEstadoquetêmaresponsabilida‑de de «imprimir ou mandar imprimir a referidaGazetaemaispapéisdenotícias»,recebendoquan‑tia suplementar, «atendendo a que os oficiais daSecretaria de Estado da repartição dos Negócios

Page 19: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

1�

Estrangeiros e da Guerra não recebem de suasocupações alguns emolumentos, percebendo‑asos oficiais das outras secretarias de Estado».É encarregado da redação o poeta Pedro AntónioCorreia Garção, até 15 de junho de 1762, data emqueoLisboafoisuspensoporordemdogovernodeSebastiãoJosédeCarvalhoeMelo.Noveanosmaistarde, Correia Garção seria preso por motivo nãointeiramente claro. Considerou‑se que o círculode amizades do poeta teria sido decisivo, para asuspensão, já que não era favorável à política dofuturo Marquês de Pombal. A notícia em váriosanúncios do Lisboa da saída da Recriação Filo­sófica, do padre Teodoro de Almeida, oratorianocrítico,poderátersidoumdosmotivosdadecisãode 1762…

DepoisdacriaçãodaRealMesaCensória(176�)e com o reforço da concentração do poder real,não se criou até à morte de D.José (1777) qual‑quer periódico, designadamente que substituíssea imprensa oficial. Só em 4 de agosto de 177�, jáno reinado de D.Maria, reapareceu a Gazeta de Lisboa,redigidaporFélixAntónioCastrioto,conti‑nuando os oficiais da Secretaria com o privilégiode executá‑la (Alvará de 22 de março de 17�1).Entretanto,porAlvaráde24dedezembrode176�,foi criada a Impressão Régia, também designadaRégia Oficina Tipográfica, que só a partir de 1�33passou a ser designada por Imprensa Nacional.Para dar início à nova entidade foi adquirida aoficina tipográfica de Miguel Manescal da Costae arrendado o palácio de D.Fernando Soares deNoronha,àCotovia,naentãodesignadaRuaDireitada Fábrica das Sedas, próximo do Colégio dos

Page 20: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

19

Nobres(futuraEscolaPolitécnica),mascomentra‑dapelaTravessadoPombal,hojeRuadaImprensaNacional. À Impressão Régia, foi, nos termos docitado alvará, «unida a fábrica dos caracteres queaté agora esteve a cargo da Junta do Comércio»,fundada em 1732 por Jean de Villeneuve. Esteviera para Portugal no reinado de D.JoãoV paraensinar a sua arte — tendo‑lhe sido cometida a«continuação do ensino de aprendizes da mesmafábrica de letra, para que não faltem no reinadoosprofessoresdestautilíssimaarte».Emcomple‑mento desta tarefa, para o desenho de estampas,foi nomeado Joaquim Carneiro da Silva como«abridor de estampas conhecidamente perito, oqual terá obrigação de abrir todas as que foremnecessáriasparaaimpressão,eselhespagarãopeloseu justo valor e demais ensinará continuamenteosaprendizes».Maistarde,entre1�02e1�15,teveeste cargo o célebre gravador Francesco Barto‑lozzi, nomeado pelo então presidente do ErárioRégio,D.RodrigodeSousaCoutinho.Emjulhode1769haviasidoincorporadanaImpressãoRégiaaFábricadeCartasdeJogarePapelões,sobadire‑ção do genovês Lorenzo Solesio, cujo monopóliode fabrico e venda de cartas de jogar no «Reino econquistas»foiumdosseusprincipaisrendimen‑tosaté1�32,quandofoiextinto.AGazeta de Lisboaocupava‑se, na maior parte do seu espaço, detemas internacionais. Quanto a Portugal, dava‑‑se especial atenção ao que respeitasse ao rei e àfamíliareal,aosprincipaisacontecimentosdacorte,às principais cerimónias religiosas e académi‑cas, e a poucos acontecimentos nas províncias.Com Montarroio, então só Gazeta, tinha havido

Page 21: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

20

a tentativa de alargar as notícias do reino, e quenãofoibem‑vista nomeadamente no reinado deD.JoãoV, emitindo‑se a advertência no sentidode o noticiário se limitar aos acontecimentossociais da corte. Havia um especial cuidado, emparticular através de censura, quanto aos acon‑tecimentosnacionais.Entretanto,apublicidadeerapermitida,querparaanúnciodeserviçosdeaprendizagemdelínguasouobrasliteráriasquerainda de medicamentos. Internacionalmente, aGazeta recorria a folhas estrangeiras e a umacorrespondência rica e diversa de personali‑dades portuguesas conhecedoras das realida‑des externas sobre que escreviam. A rede decorrespondentes ajudava também à divulgaçãoda Gazeta junto do público. Entre 1740 e 174�cadanúmerotiravamilequinhentosexemplarese os suplementos atingiam os milexemplares.A partir de 1770 houve um aumento de tiragemparaotriplodaproduçãoanterior,oquepermi‑te, com todas as reservas, considerar que nesseperíodohouveindiscutívelsucessodainiciativacom resultados económicos apreciáveis. Apesardisso, a qualidade dos conteúdos não era boa eo papel usado era também de pouco requinte(chamando‑se‑lhe «gazetas pardas»). Na políti‑ca e na cultura, as gazetas foram influentes nadivulgação de obras literárias e científicas, bemcomonacriaçãodeumaredededistribuiçãoedecorrespondentes, o que assegurou uma partilharazoavelmente abundante de informação sobrediplomacia, informações sobre pessoas ilustres,chegada e partida de navios, além das notíciasmais relevantes nas nações civilizadas.

Page 22: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

21

Àparteasnotíciassobrefactosmaisrelevantes(como a Revolução Francesa ou a divulgação dosmovimentos ocorridos no período liberal desdea Revolução de 1�20 até à Abrilada, de 1�24), oimportante é salientar que, depois de uma fasehíbrida,vaicomeçandoaafirmar‑seumaimprensaoficialdependorconstitucional.AGazeta de Lisboacontinuou a ser publicada no mesmo registogenérico, sem grande originalidade e com poucaqualidade literária. Quando ocorreu a primeirainvasão francesa, Pierre François Marie Denis deLagarde(176�‑1�4�),intendentedapolíciadeJunot,tornou‑se redator da Gazeta, sobre cuja ação sepronunciou Luís de Sequeira Oliva, responsávelpelobissemanárioO Lagarde Português ou Gazeta para depois do Jantar(bissemanárioquesepubli‑coude21denovembroa15dedezembrode1�0�).Na «Advertência do Redator» pode ler‑se:

«O inimitável Lagarde, redator francêsda Gazeta de Lisboa, de 1�0�, até o memo‑rável mês de agosto, abandonou a capitalcom tanta precipitação que não se pôdepresumirporquemotivonosprivoudasuaamávelpresença.AGazeta de Lisboatem,éverdade,continuado;masquandoestálongede ser redigida com aquele sal, candidez efrescura com que o era no tempo em queeste hábil gazeteiro nos mimoseava comas suas pitorescas descrições! [...] Por isso,por se chegar o mais possível ao original,condecora o Autor este papel com o títulode Lagarde Português, semelhante nistoaos Espetaculares e Entrepreendedores de

Page 23: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

22

CasasdePastoouCafé,quesempretomamemprestadoumnomefamosoparachamarizdos fregueses.»

Sob a responsabilidade do intendente de polí‑cia e por ordem de Junot, a Gazeta de Lisboa foiobrigada a substituir as armas reais portuguesaspelas águias francesas a 4 de dezembro de 1�07.As notícias publicadas eram mistificatórias, refe‑rindoatranquilidadeeoapoiorecebidodosPortu‑gueses. Merece especial atenção, neste sentido,o número de 3 de junho de 1�0�. Foram muitosignificativasasmanifestaçõesexpressasemfolhasavulsas de resistência contra a presença francesa.EmconsequênciadaBatalhadoVimeiro,de21deagostode1�0�,nãosepublicouaGazeta de Lisboadesde 24 de agosto a 15 de setembro, inclusive,dia da retirada das tropas de Napoleão. Em 16 desetembro recomeçou a publicação da Gazeta, denovo com as armas portuguesas.

NotocanteaoBrasil,aGazeta do Rio de Janeiroapareceuem10desetembrode1�0�,tendoperdu‑radoaté31dedezembrode1�22.TibúrcioJosédaRochafoioseuprimeiroredator,substituídopelobrigadeiroManuelFerreiradeAraújoGuimarães,quefoideputadoàsConstituintesLiberais,aquemsucedeuocónegoFranciscoVieiraGoulart.AGaze­ta tinha caráter noticioso e não era órgão oficial.Publicava informações sobre os acontecimentospolíticosdaEuropa,emespecialsobreaevoluçãodos movimentos de Napoleão, sobre as corteseuropeias e alguns documentos oficiais, avisos denovaspublicaçõesdelivrosenotíciassobreacorte.Não havia informação sobre questões sociais ou

Page 24: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

23

políticas internas, parte significativa do materialprovinhadaGazeta de Lisboaedejornaisingleses,sob a orientação do conde de Linhares e depoisdo conde das Galveias. Só em 14 de novembro de1�22aGazeta do Rio de Janeirosetornouoórgãodo governo do Brasil.

Page 25: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril
Page 26: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

25

iiiRegime liberal

O título Gazeta de Lisboa foi conservado até30 de dezembro de 1�20, nos primeiros meses doregime liberal. A partir de 1 de janeiro de 1�21,uma vez constituída a Câmara Constituinte, até10 de fevereiro, o título foi substituído por Diário do Governo, com o objetivo de tornar clara a pre‑dominância do poder executivo na governação.A partir de 12 de fevereiro e até 4 de julho, diado desembarque do rei D.João VI em Lisboa, adenominação do órgão oficial passou a ser Diário da Regência.Nodiaseguintemudou,denovo,paraDiário do Governo, assim se conservando até 4 dejunhode1�23.Comogolpecontrarrevolucionárioda Vila‑Francada e a entrada de D. João VI emLisboa, voltou‑se à designação antiga de Gazeta de Lisboa — assim prosseguindo até 24 de julhode 1�33, dia da entrada triunfal em Lisboa doexércitoliberal,comandadopeloduquedaTerceirae marquês de Vila Flor. Em 25 de julho, já com apresençadastropasfiéisaD.Pedro,ojornaloficial

Page 27: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

26

mudou para o título Crónica Constitucional de Lisboa, reforçando, assim, a legitimidade do novoregime—comumadesignaçãosemelhanteàusadana cidade do Porto pelos partidários da causaliberal.

Recorde‑se que a 29 de abril de 1�26 D.Pedrooutorgara a Carta Constitucional, sobre a qual sediriaque«deoraemdianteregeráessesmeusReinose Domínios». Aí, no artigo 62.º, falava‑se de modomuito sumário da publicidade das leis— depoisde assinadas pelo rei, referendadas pelo secretáriode Estado competente e seladas pelo selo real,devendoserremetidasatodasascâmarasdoreino,tribunaisedemaislugares«ondeconvenhafazer‑sepúblicas».ACartaConstitucionaldeixoudevigoraremmaiode1�2�,dataemqueD.MiguelconvocouemCortesgeraisostrêsestadosdoreinoqueoacla‑maramreiabsoluto.Comavitórialiberal,consuma‑da na Convenção de Évora‑Monte, iniciou‑se novafase constitucional. Destaca‑se o aparecimento daGazeta Oficial do Governo—deperiodicidadediária(de 1 de julho a 31 de dezembro de 1�34), que foia continuação da Crónica Constitucional de Lisboa(25dejulhode1�33a30dejunhode1�34),dandolugaraoDiário do Governo(de1dejaneirode1�35a 31 de outubro de 1�59). O Diário do Governo éumórgãodedefesadopoderinstituído,publicandoartigos de opinião, em especial de resposta aesparsas críticas aparecidas do lado miguelista,ainda que com intensidade moderada. É intenso odebate político a seguir à implantação do regimeliberal, formando‑se uma corrente importantede crítica da Carta Constitucional, que defendeo regresso à Constituição de 1�22. Esse processo

Page 28: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

27

culminará na Revolução de Setembro, em 1�36,emqueosconstitucionalistasprevalecemsobreoscartistas.Odebatedeixadeenvolverabsolutistaseliberaisparasecentrarnacríticanoprópriocampoliberal,avultandoosataquesaos«chamorros»—osamigos de D. Pedro e partidários da Carta— e os«devoristas»—corruptosedevoradoresdariquezanacional, em consequência da extinção das ordensreligiosas e da venda dos bens nacionais.

ARevoluçãodeSetembrodeflagracomachegada,em9domesmomêsde1�36,dosdeputadosconsti‑tucionaiseleitospeloDouroepelasBeiras,saudadosna Praça do Comércio, em Lisboa, por uma grandemultidão,comvivasàConstituiçãode1�22.Constitui‑‑seoprimeirogovernoconstitucionalista,presididopelo marquês de Sá da Bandeira, acompanhado deManueldaSilvaPassos(PassosManuel),iniciando‑‑se um período de intensa atividade legislativa. Sãomúltiplas as medidas, em especial nos campos dainstrução pública superior, secundária e primária.Passos Manuel propõe a Garrett que apresente umplano para a fundação e organização de um teatronacional.Aagricultura,ocomércioeaindústriasãoigualmente incentivados, e inicia‑se o processo queculminará na abolição da escravatura. AlexandreHerculano levanta a sua pena em A Voz do Profeta,emdefesadaordemdefinidapelaCartaConstitucio‑nal, ainda que reconheça a existência de fronteirasalgo incertas, entre os antagonistas do campo libe‑ral. As Cortes constituintes conheceram intensoscombates políticos que antecederam a aprovaçãoda Constituição de 1�3�, que, na prática, teve umavigência relativamente reduzida— sendo a Cartaformalmenterestauradaem1�42.

Page 29: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril
Page 30: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

29

ivPresença deAlexandre Herculano

Entrejaneiroemaiode1�3�,AlexandreHercu‑lanofoiredatordoDiário do Governo,publicandoaí textos referenciais. Lembrando‑nos da críticasevera feita em A Voz do Profeta à Revolução deSetembro, de 1�36, importa referir que o histo‑riador consideraria a legitimidade da AssembleiaConstituinte e a obra realizada por esta, factosdecisivosparaaafirmaçãodacausaliberal.Assim,na «Introdução», de 1�67, a A Voz do Profeta,HerculanoafirmaasuacoerênciaaosaudaranovaConstituição:

«Vencido na guerra civil, desautorizadoemoralmenteenfraquecido,ocartismoviutriunfar em grande parte as suas ideias nacontexturadaConstituiçãode1�3�,votadapor umas constituintes onde os vencidosestavam representados por insignificanteminoria. Era a condenação solene da revo‑lução, lavrada por um parlamento eleito

Page 31: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

30

debaixo da influência dela. O que no novocódigo político parecia mais oposto à índo‑le da Carta era a organização da segundacâmara, e todavia o cartismo adquiria poraquele meio uma arma poderosa para defuturoreformarconstitucionalmenteoquehaviademaunarecenteorganizaçãodeumdoscorposcolegislativos,demodoquenemserestaurasseoabsurdopariatohereditárioeilimitado,nemaassembleiaconservadorasignificasse apenas a interposição de umaparede entre duas porções de parlamentoúnico.»

AsériedetextosescritosnoDiário do Governo«NosignodaConstituiçãode1�3�»traduzmotivode leitura atenta, merecendo exemplificação osartigos escritos a 17 de março e a 4 de abril de1�3�.(QuerA Voz do Profetaquerasérie«Nosignoda Constituição de 1�3�» estão publicados emOpúsculos,t.i,Questões públicas. Política,org.JoelSerrão, Lisboa, Bertrand, 19�3.) O primeiro sobreos extremos que se tocam, onde o mestre afirma:

«Quandoumpovosobenareligião,aqualestá num meio, como todas as coisas boas,atéaumextremo,qualéofanatismo,torna‑‑se feroz, perseguidor, intolerante, irracio‑nal; quando na religião desce até ao outroextremo, que é a incredulidade, apareceigualmente feroz, perseguidor, intolerante,irracional. No primeiro caso queima os li‑vros dos filósofos, e os filósofos, proscreveas artes e os prazeres; treme tudo quanto

Page 32: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

31

à natureza pertence, até no seu próprionome. No segundo caso extermina oshomensdoespíritoeoslivrosdafé,desterraum sistema completo de recreios morais epopulares,comquemuitasidadessehouve‑rampor contentes ericas; derribatodos osmonumentos do passado, onde se estam‑passe algum caráter religioso; e assusta‑sede tudo que lhe possa lembrar Deus oualma.Ládevasta‑seemnomedoespírito,cádevasta‑seemnomedamatéria:láoarchote,opicãoeoaçoutedeferroandavamnamãodosacerdote,cáandamnamãodofilósofo:osacerdoteéofilósofodosfanáticos;oateué o sacerdote dos incrédulos.»

Estapassagemilustrabemocaráterdostextosde opinião do Diário do Governo desse período.Sem serem assinados, representam uma opiniãoclara e inequívoca, que nem sempre era bemcompreendida. No caso de Alexandre Herculanoverifica‑se a grande qualidade literária e até éticadoautor.Járelativamenteaosegundotextoreferi‑do,ohistoriadorexprime,comosargumentosqueinvocará na edição de 1�67 de A Voz do Profeta, omotivopeloqual,nãotendoaderidoàRevoluçãode1�36,noentantoassumeadefesadaConstituiçãoaprovada pela Assembleia Constituinte, uma vezque se baseava na legitimidade que o historiadordefende:

«Oquequeremosénãoserservos:quere‑mos respeito à nossa propriedade, liberdadeem tudo aquilo que a lei nos não proíbe;

Page 33: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

32

queremospazepão.Asoberaniadeninguémé direito, porque é um facto nascido damesmíssima natureza dos corpos sociais:exerça‑sedomodoqueporexperiênciaeboarazãoseacharmaisconveniente;livremo‑nosdo despotismo de um indivíduo e do aindamais tremendo despotismo da ralé, e dêmosdocumentoàEuropadequesomosdignosdaliberdade. Esperamos achar conformes coma nossa opinião todos os homens sisudos dePortugal.»

Além de considerações como as que referi‑mos, encontramos entre os textos da autoria deHerculano no Diário do Governo, e a título exem‑plificativo, os seguintes temas: emigração para oBrasil, asilos de infância, instituição dos juradosna administração da justiça, condenação da penademorte(«bastariaatenderaosverdadeirosprincí‑piosemqueassentaaordemsocialparaconhecerqueapenademorteéumabsurdo»).Comgrandeindependência política e crítica e com uma gran‑de determinação na salvaguarda das instituiçõesconstitucionais,AlexandreHerculanosurge,nesteperíodo muito fugaz, como um redator probo,defensordacausaliberal,semperdersentidocríti‑co. Um dos maiores vultos da cultura e da línguaportuguesasesteveassimligadoaojornaloficial—emprestando a sua inteligência e a sua escrita àproduçãodeumórgãoqueiamuitoalémdalógicadas publicações legais obrigatórias.

AsoluçãopolíticasaídadaConstituiçãode1�3�revelou‑se frágil. O compromisso constitucionalentre o radicalismo de 1�22 e a conservação da

Page 34: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

33

Carta de 1�26 não apaziguou os ânimos entresetembristas e cartistas. A derrota da esquerdaliberal nos sangrentos confrontos de março de1�3�eaincapacidadedossetembristasparaimpora sua influência determinaram que os cartistasfossem progressivamente tomando o comandoda situação. Em 1�40 já muito pouco existia dopoder setembrista, e um dos setores atingidos foio da imprensa, com ações de proibição e censuraque iriam caracterizar este período político até àRegeneração. José Estêvão Coelho de MagalhãesapresentanasessãodaCâmaradosDeputadosde3 de fevereiro de 1�40 um protesto dos proprie‑tários das oficinas tipográficas. A propósito datentativa revolucionária de 11 de agosto de 1�40,ogovernolançaasuspensãodasgarantiasconsti‑tucionais e suspende diversos periódicos, apósdebateparlamentaremqueintervêmJoséEstêvãoe Almeida Garrett. A Carta de Lei de 14 de agostoproíbeduranteoprazodeummêsapublicaçãodefolhas periódicas, com exceção dos jornais literá‑rios, do Diário das Cortes e do Diário do Governo.A suspensão das garantias e a proibição de publi‑cação viriam a ser renovadas no mês seguinte.

Page 35: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril
Page 36: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

35

vDe novo a guerra civil

Tudo isto culminaria na restauração da CartaConstitucionalporAntónioBernardoCostaCabral.Apesar das promessas de reforma do texto outor‑gadoporD.Pedro,expressasatravésdoDecretode10defevereirode1�42,estasviriamaserincum‑pridas, uma vez que o Decreto de 5 de marçorevogou a pretensão reformadora, marcando‑sedesde logo eleições gerais segundo o regime indi‑reto previsto na Carta. Esse era o ponto decisivoque legitimara a Constituição de 1�3� e alargarao campo partidário a uma melhor representaçãopopular.Entãoosprotestosalargam‑se,econstitui‑‑seumafrenteoposicionistacompostaporsetem‑bristas e cartistas não cabralistas. A tentativa degolpe de Torres Novas (4 de fevereiro de 1�44)é expressão do germinar do descontentamentopolíticoqueculminaránarevoltapopulardeMariada Fonte e na guerra civil da Patuleia. Entrou‑seentão num período de supressão de garantiasconstitucionais— com especial referência para a

Page 37: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

36

suspensãodapublicaçãodeperiódicos.Oslevanta‑mentospopularesdoMinho,deâmbitorural,vãosuscitaraformaçãodejuntasrebeldesnascapitaisde distrito— o que conduzirá ao afastamento deCosta Cabral do poder (20 de maio de 1�46) e àposse do governo presidido por Pedro de SousaHolstein,duquedePalmela,queprometepacificara vida política e suprimir os impostos e as leis dasaúde. Rodrigo da Fonseca Magalhães e AlmeidaGarrett empenham‑se neste período em encon‑trar uma solução política estável, que envolva ossetembristasmoderados.Nessesentido,chegamacontactarPassosManuel,noentantosemsucesso.São marcadas eleições diretas para 11 de outubrocom vista à formação de Cortes constituintes quecumprissem a promessa de reforma da Carta. Noentanto,arainhareceouoradicalismodacoligação«progressista»equeumavitóriaeleitoralprevisívelda mesma levasse à sua abdicação, dado o apoiorégio a Costa Cabral.

Antecipando‑seaoatoeleitoral,arainhapromo‑veoqueviriaaserdesignadocomo«emboscada»de6deoutubro, golpe deEstado emqueo duquede Palmela, chamado ao Paço, é obrigado a assi‑nar o decreto da sua demissão, sendo o marechalSaldanhanomeadoparaformargoverno.Noentan‑to, em lugar de um possível papel conciliador, oduquedeSaldanhanãoconsegueumapacificação,abrindo‑se a guerra civil da Patuleia. As garan‑tias constitucionais são suspensas, os jornais sãoproibidos,osrebeldescriamaJuntaProvisóriadoGoverno Supremo do Reino e surge o Boletim Oficial, da responsabilidade dos anticabralistas,que ataca as «falsas e repugnantes perversidades

Page 38: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

37

escritas no jornal intitulado Diário do Governo,órgão oficial de um ministério bastardo, que sealenta com o crime e com a mais atroz persegui‑ção». Verifica‑se, pois, que a imprensa oficial eraporta‑voz do pensamento governativo e instru‑mentodecombatecontraaoposição.Naimprensarebelde destacam‑se O Eco de Santarém e oEspectro,sendoesteúltimodaresponsabilidadedeAntónioRodriguesSampaio,umexemplodedeter‑minaçãoedeeficáciajornalística—queduraráaté3dejulhode1�47,datadaassinaturadaConvençãode Gramido, que encerra a guerra civil atravésde uma humilhante intervenção estrangeira, daInglaterra, da França e da Espanha. As eleiçõesde 1�47 realizam‑se em condições que a oposiçãonão aceita, verificando‑se que as bancadas reser‑vadasaosnãocabralistasficamquasevazias.CostaCabralregressaaLisboa,assumeapresidênciadoCentro Eleitoral Cartista, e consuma‑se a ruturacomSaldanha—enquantooscabralistasdefendemoregressodoseuchefedefilaaogoverno.Cartistasesetembristasmoderadosreúnem‑se,concordandoem três pontos: eleições diretas, obrigatoriedadede os tributos serem votados anualmente e apro‑vaçãopelasCortesdostratadosexternos.Saldanhadefende um compromisso fusionista entre cabra‑listas e setembristas moderados— que seráconhecido como «dos Pasteleiros». Costa Cabralé convidado, pela rainha, para chefiar o governo,depoisdefracassadasastentativasdeacordocomSaldanha.

Lembre‑se que 1�4� na Europa correspondeà chamada «Primavera dos Povos» e ao insuces‑so de diversos movimentos políticos de caráter

Page 39: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

3�

democrático. Entre nós, vai desencadear‑se umamplo movimento contra Costa Cabral centradonasacusaçõesdecorrupçãodequeébaseacampa‑nha de Rodrigues Sampaio em A Revolução de Setembro — sendo invocados os casos da caleche,do affidavit e do Alfeite, entre outros… Depois dediversas tentativas no sentido da limitação dosdireitos constitucionais, é promulgada a Lei de3 de agosto de 1�50, que ficaria conhecida popu‑larmentecomo«LeidasRolhas»—visandoevitar,segundo a sua própria justificação, a «exploraçãodosescândalos,dosinsultosecalúniasdestempera‑dosquesemostraramnaimprensa,porvezessemfundamentoeperanteadificuldadededefesadosatingidos».Éopingodeáguaquefarátransvazarocopo—sehaviamilrazõesparanãotoleraraaçãodo cabralismo, agora tinha sido dado um passointolerável,queseriarazãosuficienteparaocerrardefileirasdasoposições.Umgrupodeprestigiadaspersonalidadespúblicasassinao«Protestocontraapropostasobrealiberdadedeimprensa»:«seessaliberdadetemdeperecer,aomenosseusnomesnãopassarãodesonradosàposteridadecomamanchadecobardiaoudeconivênciaemsemelhanteaten‑tado». Assinam o documento a 1� de fevereiro de1�50:AlexandreHerculano,AlmeidaGarrett,JoséEstêvão, António Rodrigues Sampaio, OliveiraMarreca, Lopes de Mendonça, Fontes Pereira deMelo, Latino Coelho, Tomás de Carvalho, Gomesde Amorim, Rebelo da Silva, Bulhão Pato, Andra‑de Corvo… Também cem tipógrafos protestam.Omal‑estarfoi‑seavolumando,sendoevidentequeCostaCabralnãodisporiadecapacidadeparavirara seu favor os acontecimentos.

Page 40: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

39

viRegeneração

Só o marechal duque de Saldanha, apesar dehesitante, foi capaz de dar um golpe de mise‑ricórdia na frágil situação cabralista, reunindoconsigo setembristas e cartistas moderados.O golpe vitorioso de 1�51 fez‑se sob a invocaçãoda Regeneração, a bandeira de 1�20. E foi possí‑vel, nessa circunstância, reunir os descontentescontraCostaCabral,comumprogramamoderadode reforma da Carta, na linha do que ainda nãotinha sido conseguido desde que a constituiçãode 1�3� deixara de vigorar. Com o Ato Adicionalde 1�52 foi a legitimidade constituinte, há muitoreivindicada,aserretomada,cumprindo‑seoqueestava subjacente à preocupação de AlexandreHerculano: dar força representativa às institui‑ções, pôr termo à escolha indireta e garantir umcompromisso durável de alternância política quefoiconseguidopelacriaçãodedoispolospolíticos—regeneradorehistórico—,que,pondotermoaoclimadeguerracivil,dariacorpoaorotativismo…

Page 41: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

40

Tratou‑se de reforçar a legitimidade da Cartanão só por via revolucionária, mas também e, emconsequência, pela investidura das Cortes, comos necessários poderes constituintes. Assim, oGoverno apresentou às Cortes, a 24 de janeiro de1�52,umapropostaderevisãodaCartadequefoirelator Almeida Garrett e que se converteria noAtoAdicionalàCartaConstitucional(de5dejulhode 1�52) instrumento que permitiria dar à Cartarenovada a longevidade que veio a ter — até 1910.Trata‑se da Constituição portuguesa com maiorlongevidade. O Ato tinha 16 artigos que previam:a eleição direta dos deputados e o alargamentodosufrágio,emboraestetenhapermanecidonumprimeiro momento censitário; o direito dado àsCortes de intervirem na administração públicamediante comissões de inquérito; a abolição dapena de morte nos crimes políticos; a consagra‑ção do princípio de que as colónias poderiam terleis especiais decretadas pelo Governo ou pelosgovernadores em casos de urgência quando nãofossepossívelrecorreràsCortes.Osdoispartidos(RegeneradoreHistórico)convencionaram,comoindispensável beneplácito real, sucederem‑se umaooutronagovernação,recorrendoaeleiçõesparalegitimaremaalternância.Estafasedurariade1�51a 1�91 e foi certamente uma das mais fecundasda história constitucional portuguesa. AlexandreHerculano desempenhou na criação de condiçõespara a pacificação um papel decisivo, não só napreparaçãodogolpedaRegeneração,mastambém,depoisdasuavitória,nacriaçãodecondiçõesparaoaparecimentodoPartidoHistórico,noqualviriaa pontificar o marquês de Loulé (futuro duque),

Page 42: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

41

que era casado com uma das filhas de D.JoãoVI,D.Ana de Jesus Maria.

A designação de Diário do Governo vaimanter‑se até 31 de outubro de 1�59, alturaem que vai adotar o título Diário de Lisboa,que se manterá até 31 de dezembro de 1�6�.Saliente‑se,atítulodecuriosidade,queaparteoficial do periódico iniciava‑se pela referênciaaoestadodesaúdeouàsdeslocaçõesdafamíliareal — por exemplo:

«SuasMajestadeseSuasAltezassaíramhoje da cidade de Évora, pelas cinco horase meia da manhã, com direção a Lisboa.OsaugustosviajantespassaramemMonte‑moràsdezhorasdamanhãparaasVendasNovas, e, saindo desta vila à uma e trinta esete minutos da tarde, e do Barreiro logodepoisdastrês,chegaramàcapitalàsquatroeumquarto,desembarcandonoarsenaldamarinha. Ao Barreiro foram esperar SuasMajestadestodososmembrosdoMinistério,menos o Ministro da Fazenda, por moti‑vos de moléstia, o Conde de Santa Maria,comandante da primeira divisão militarcom o seu estado‑maior, o inspetor doarsenaldemarinha,eváriosoutrosoficiaisde marinha. No arsenal estava esperandoSuaMajestadeoMarechalDuquedeSalda‑nha, e comandante geral da guarda muni‑cipal, e outras pessoas de distinção. SuasMajestadeseAltezassaíramlogodoarsenal,recolhendo‑se ao Paço das Necessidadescom perfeita saúde.»

Page 43: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

42

Em janeiro de 1�6�, perante o descontenta‑mento gerado pela criação de um novo impostosobre o consumo e pela reforma administrativadoterritório,ocorreuomovimentodaJaneirinha,queviriaaoriginaroPartidoReformista,dirigidopor D.António Alves Martins, bispo de Viseu, epelo marquês de Sá da Bandeira, Bernardo SáNogueira de Figueiredo, e que levaria à formaçãode um governo presidido pelo marquês de Ávila eBolama,AntónioJoséÁvila.OPaísconheceuentãonovo período de instabilidade, em que se inseriuo pronunciamento conhecido como Saldanhada(maio de 1�70), que não teve continuidade porausência nas urnas do sucesso esperado. Poucodepois, lembremos que, num caso absolutamenteexcecional, em 1�71, foi proibida a realização dasConferênciasdoCasinoLisbonense,pordecisãodeÁvila e Bolama… Com a morte de Sá da Bandeira,o Partido Reformista sobreviveria muito pouco,fundindo‑secomoshistóricosnoPactodaGranjaem 1�76, dando origem ao Partido Progressista,dirigido por Anselmo José Braamcamp. A desig‑nação de Partido Progressista era a que tinhasido adotada pelos anticabralistas antes da Rege‑neração.

Page 44: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

43

viiRotativismo

A instabilidade política vivida no País foi‑serepercutindo na vida da Impressão Régia, quetinha a seu cargo a publicação do jornal oficial.Assim, entre 1�33 e 1�3�, depois da chegada aLisboa das tropas liberais vitoriosas de D. Pedro,jácomadesignaçãodeImprensaNacional,osefei‑tosdaguerracivileosdaRevoluçãodeSetembrosignificaram a sucessão de três administradores,personalidadesmuitorelevantesnavidanacional:RodrigodaFonsecaMagalhães,AntóniodeOliveiraMarrecaeJoséLiberatoFreiredeCarvalho.Comeles João Vieira Caldas e Gaspar José Marquesintegravam a comissão administrativa. De 1�3� a1�44agestãocoubeaJoséFredericoPereiraMare‑cos, sucedendo‑lhe o seu irmão Firmo AugustoPereira Marecos, que exerceu funções até 1�7�.Aliás, este último, em 1�4�, com José Estêvão,Rodrigo da Fonseca, Oliveira Marreca, Rebeloda Silva e Tomás Quintino Antunes, será um dosfundadoresdaLigaPromotoradosMelhoramentos

Page 45: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

44

daImprensa,organizaçãoqueexigealiberdadedepensamento e a instrução popular e a qualidadeda arte da impressão. Essa preocupação levará aImprensaNacionalaganhardiversosprémiosnasprincipaisexposiçõesinternacionais.Esseimpulsocontinuará,aliás,sobaadministraçãodeVenâncioDeslandes (1�7�‑1909).

Entre 1�76 e 1�91, tem lugar, de modo institu‑cionalizado, o rotativismobipartidário, emqueaseleições legitimavam a posteriori as escolhas domonarca de um ou do outro partido para gover‑nar.ComodiráJoãodeDeus(emCampo de flores,1�93):

Há entre el­rei e o povoPor certo um acordo eterno:Forma el­rei governo novo,Logo o povo é do governoPor aquele acordo eternoQue há entre el­rei e o povo.Graças a esta harmonia,Que é realmente um mistério,Havendo tantas fações, O governo, o ministérioGanha sempre as eleiçõesPor enorme maioria!Havendo tantas façõesÉ realmente um mistério!

Com o novo Partido Progressista em ação edepoisdeumbreveperíodoemqueAntónioMariaFontes Pereira de Melo deixa a presidência doministério ao marquês de Ávila e Bolama, com oapoio dos dois partidos do sistema, regressam os

Page 46: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

45

regeneradores, entre janeiro de 1�7� e junho de1�79, de novo sob a presidência de Fontes, comumaequipamuitopróximadaqueforaadeÁvila.Nesse período é aprovada a reforma eleitoral(maiode1�7�)queaumentaoscírculoseleitoraise alarga o colégio eleitoral a todos os cidadãos dosexo masculino que soubessem ler e escrever efossem chefes de família. Apesar de os regenera‑dores terem ganhado as eleições de novembro de1�7�,averdadeéqueasuagovernaçãoapresentavafragilidades evidentes, que abriram caminho emjunho de 1�79 ao governo progressista presididopor Anselmo José Braamcamp, sendo ministrodoReinoJoséLucianodeCastro.Graçasaoapoiodos seguidores de Ávila e Bolama, o novo gover‑no obtém uma maioria de 75% dos deputados…O governo dura até março de 1��1, altura em queRodrigues Sampaio forma um gabinete regenera‑dor,cedendorapidamenteapresidênciaaolíderdopartido,AntónioMariaFontesPereiradeMelo,emnovembrodomesmoano—apóseleiçõesvencidasesmagadoramente pelos regeneradores. Inicia‑seentãoumalegislaturamuitoricaemacontecimen‑tos, merecendo especial destaque a aprovação danova lei eleitoral (1��4).

Os regeneradores voltam a vencer em 1��4e em 1��5 é aprovado o Segundo Ato Adicionalà Carta Constitucional — no sentido da redu‑ção da legislatura de quatro para três anos;supressão do pariato hereditário e do númeroilimitado de membros da Câmara Alta, passandoa haver cemmembros vitalícios de nomeaçãorégia, cinquenta membros eleitos indiretamen‑te por categorias institucionais; mantendo‑se

Page 47: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

46

transitoriamente os pares, por direito próprioe hereditário, existentes. Além disso, o podermoderadordoreieralimitado,passandoaserexer‑cido sob a responsabilidade dos ministros, aindao direito de dissolução parlamentar era reguladoe limitado,havendoaconsagraçãodosdireitosdepetição e reunião. Saliente‑se que a nova lei elei‑toralpreviaquemetadedos152deputadosdocon‑tinente proviesse de círculos uninominais, sendoos restantes eleitos em círculos plurinominais,com representação das minorias. Estamos numperíodo pleno de atividade legislativa que, apósuma governação longa de José Luciano de Castro(1��6‑1�90),cederálugaràcrisepolíticasuscitadapeloultimatoinglês(1�90)eàprofundafragmen‑taçãopolítica.Sobopesodacrisefinanceiraedasconsequências da bancarrota portuguesa (1�92),ogovernoHintzeRibeiro‑JoãoFrancoalteraoAtode 1��5 pelo Decreto de 25 de setembro de 1�95,noqualseatribuiuaoreiafunçãodearbitrarpordecreto legislativo as divergências entre as duasCâmaras na elaboração das leis. No ano seguinte,as Cortes foram investidas de poderes de revisãoconstitucional, sem observância do respetivoprocesso regular.

Foi então aprovado o Terceiro Ato Adicionalà Carta, que incluía a supressão dos pares eleti‑vos. Por outro lado, os ministros podiam nomeardelegados especiais para, em nome do governo,tomarem parte na discussão legislativa. Em casodediscordânciaentreasduasCâmaras,deixavadehaver processo de arbitragem, existindo apenas aconvocaçãodeCortesgeraisemreuniãoconjunta.O rei passava a dispor de poderes alargados de

Page 48: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

47

dissoluçãodaCâmaradosDeputados.Noentanto,mais do que os efeitos de uma crise financeira,a monarquia constitucional viria a sofrer depoderosas razões sociais e políticas que pesaramseveramente a favor da implantação do regimerepublicano. O envolvimento do rei D.Carlosna disputa partidária, a humilhação do ultima‑to inglês, o regicídio, a fragmentação política, ainfluênciacrescentedosrepublicanosnoscentrosurbanos—tudocontribuiuparaumavitóriarepu‑blicana.QuandoonovoregimefoiproclamadoemLisboa, a varanda da sede do Município foi usadapelos republicanos, uma vez que tinham ganhadopor via eleitoral o governo municipal.

Page 49: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril
Page 50: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

49

viiiRepública

NodebatequetevelugarnaAssembleiaConsti‑tuinte de 1911, foi afastada qualquer orientaçãopresidencialista, sendo adotada uma orientaçãosemelhanteàdasConstituiçõesde1�22ede1�3�—com inspiração ténue da Constituição brasileirade1�91.OPresidentedaRepúblicaeraeleitopeloCongresso, formado pelas duas Câmaras, detendoapenaspoderesrepresentativos.Omandatotinhaaduraçãodequatroanoseapenasumpresidenteocumpriuintegralmente—AntónioJosédeAlmei‑da.OPresidentenãopodiaserreeleitonomandatoseguinte.Nãohaviavetopresidencialquantoàsleisenãoerapermitidaadissoluçãoparlamentar,nemoadiamentoouprorrogaçãodassessões.Arevisãoconstitucional estava prevista para acontecer dedez em dez anos, prevendo‑se a antecipação decinco anos se houvesse opinião favorável de doisterçosdos membros do Congresso. Foiatribuladaa IRepública, caracterizada pelo multipartidaris‑mo com partido dominante. Desde muito cedo,

Page 51: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

50

surgiram três grupos políticos que emanaram doPartidoRepublicanoPortuguês:oDemocrático,emtornodeAfonsoCosta;oEvolucionista,deAntónioJosédeAlmeida,eoUnionista,deBritoCamacho.Graçasaosistemaeleitoral,oPartidoDemocráticotornou‑seaforçadominante.Até1917prevaleceuo multipartidarismo dos três grupos referidos,surgindo então um multipartidarismo disperso —após o golpe de Sidónio Pais (dezembro de 1917).Estabeleceu‑seentãoumsistemapresidencialista,em que o chefe de Estado era eleito por sufrágiodireto, cabendo‑lhe a condução efetiva do poderexecutivo.OSenadoseriacompostoporrepresen‑tantesdosmunicípios,dosinteresseseconómicosecategoriasprofissionais.Aexperiência,noentanto,foi muito efémera. O Presidente submeteu‑se aosufrágio e foi eleito, mas em 14 de dezembro de191� viria a ser assassinado na Estação do Rossio.Dois dias depois do infausto acontecimento, oCongresso considerou em pleno vigor a Consti‑tuiçãode1911atéquefosseefetivadaumarevisãoconstitucional —encerrando‑se o sidonismo eregressando a «Nova República Velha». A revisãoconstitucionaloperadaporquatroleis(entre1919e1921)concedeaoPresidentedaRepúblicapoderde dissolução parlamentar, mediante consulta doConselho Parlamentar, limitando‑se os poderesdo Governo entre o momento da dissolução e areunião das novas câmaras. Durante o sidonismosurgiu um efémero Partido Centrista sob a chefiade Egas Moniz.

Depois do final do sidonismo, alguns dosseus membros constituíram o Partido Liberal, deorientação conservadora, tendo também surgido

Page 52: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

51

o Partido Popular, com escassa expressão, forma‑do por antigos evolucionistas. No início de 1920,ocorre uma importante dissidência no PartidoDemocrático,quelevaàcriaçãodoPartidoRecons‑tituinte,deÁlvarodeCastro.A«noitesangrenta»(19 de outubro de 1921), que vitimaria AntónioGranjo, Machado Santos e Carlos da Maia, gerouumprofundochoqueemtodaasociedade,suscitouumsentimentodemedoedeimpunidadeecontri‑buiu para a constituição do Partido Nacionalista,fruto da fusão dos liberais e dos reconstituin‑tes— solução não duradoura, que abriria campoàsdissidênciasdoGrupodeAçãoRepublicana,deÁlvarodeCastro,edaUniãoLiberalRepublicana,de Francisco Cunha Leal. Em 1924, haveria aindanovacisãonoseiodosdemocráticos,quelevariaàcriaçãodaEsquerdaDemocrática,deJoséDomin‑gues dos Santos.

Referindo a imprensa oficial, em 1910, com oadvento da República, Luís Derouet foi nomeadodiretor‑geral da Imprensa Nacional, exercendoessas funções até 1927, quando foi assassinado àporta do edifício‑sede, na Rua da Escola Politéc‑nica, por um tipógrafo desempregado. Sob a suaadministração, a Imprensa Nacional teve umaintensaatividadeculturalesocial—sendocriadasaCooperativa«APensionista»,aCaixadeAuxílioa Viúvas e Órfãos e a Previdência Mútua. No seutempo, foi inaugurado o edifício novo, resultantedademoliçãoparareconstrução,em1�95,dovelhopaláciodeD.FernandoSoaresdeNoronha,àCoto‑via, adquirido em 1�16 pelo preço de 16contos deréis,quetornejavaparaaTravessadoPombal,hojeRua da Imprensa Nacional.

Page 53: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril
Page 54: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

53

ixEstado Novo

Em 1926, o Congresso da República deliberouantecipararevisãoconstitucional,masasviolentasdiscussõessobreoregimedaexploraçãodostaba‑cos e depois o golpe de Estado de 2� de maio de1926viriamaimpedirtaldesiderato.AIRepúblicacaiuporrazõespolíticasesociais,jáqueareorgani‑zaçãofinanceiranodecorrerdosanos20,designa‑damentepelaaçãodeÁlvarodeCastro,produziraos seus resultados positivos, a ponto de o últimoministro das Finanças da República, ArmandoMarques Guedes, ter apresentado uma situaçãoorçamentalestável.Odescontentamentoquegras‑savanasForçasArmadas,desdeaGrandeGuerra,somou‑seàinstabilidadegovernativaeinstitucio‑naleaumaincapacidadereformista,denunciadas,porexemplo,pelarevistaSeara NovaeporfigurasprestigiadascomoAntónioSérgio,JaimeCortesãoeRaulProença.OExércitoeaMarinhalançaramummovimentoinsurrecionalcomandadoapartirdeBragapelogeneralGomesdaCosta,comapoios

Page 55: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

54

equívocos,desdecorrentesconservadorasatodososcríticosdoPartidoDemocrático.Ogovernopresi‑didoporAntónioMariadaSilvaeoPresidentedaRepública,BernardinoMachado,foramdestituídose o Congresso dissolvido, suspensa a vigênciada Constituição e instaurada a ditadura militar.Em 192�, um decreto mandou proceder à eleiçãopor sufrágio direto do Presidente da República,fixando o respetivo mandato em cinco anos.FoieleitoogeneralAntónioÓscarFragosoCarmonaparaachefiadoEstado,quenomeouocoronelJoséVicentedeFreitasparaformargoverno,recusando‑‑se, assim, o modelo presidencialista adotado porSidónio Pais. Carmona revelaria uma assinalávelcapacidadedereunirosmilitaresdescontentesemtorno do Estado Novo.

Em1932,oministrodasFinanças,desde192�,AntóniodeOliveiraSalazar,vindodaUniversidadedeCoimbra,apresentouoprojetodeConstituição,sendomarcadoparamarçode1933umplebiscitopara aprovar esse texto— sendo o sufrágio obri‑gatório e considerando‑se como voto positivo ode quantos não acorressem ao ato e não provas‑sem impedimento legal. No plebiscito, e segundoeste método singular, houve cerca de um milhãoe trezentos mil votos positivos e 6190 contra…O Estado era designado como unitário e corpora‑tivo e a forma de regime republicana. Os órgãosdesoberaniaeram:oChefedeEstado(Presidenteda República), o Governo, a Assembleia Nacionale os Tribunais. O Chefe de Estado era eleito paraum mandato renovável de sete anos por sufrágiodireto. Este sistema de designação duraria atéà revisão constitucional de 1959, altura em que

Page 56: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

55

foi adotado o método de eleição indireta — nasequência do apoio popular obtido pelo generalHumberto Delgado na eleição do ano anterior.O sistema por alguns designado como «presiden‑cialismo bicéfalo», na sua conceção, deveria sercaracterizado na prática como «presidencialismode primeiro‑ministro». Por outro lado, durante oEstadoNovo,osistemaeleitoralquerparaoChefedeEstadoquerparaaAssembleiaNacionalestevesempreconcebidodeformaamanteradominânciaoumonopóliodaUniãoNacionaledepoisdaAçãoNacional Popular— quer por via do escrutínioquer pela regulamentação da capacidade eleitoralepelaslimitaçõesparaapresentaçãodecandidatu‑ras, além do método restritivo de recenseamento.Sónaeleiçãopresidencialde195�oregimefoi,defacto,abaladoperanteapopularidadereveladaporum candidato proveniente do regime.

Durante a sua vigência, entre 1933 e 1974,houvediversasrevisõesconstitucionais,avultandoa de 1951, com a incorporação do Ato Colonial; ade 1959, já referida, sobre a eleição presidencial;e a de 1971, na fase terminal do regime, que serevelaria muito tímida — referindo o direito daconcorrêncianodomínioeconómico,bemcomoobem‑estar e o desenvolvimento, admitindo‑se, nocasodascolónias,adesignaçãodeestadosparaasprovíncias onde o progresso social e a complexi‑dade da administração o justificassem.

Entretanto data de 1972 a fusão da Impren‑sa Nacional e da Casa da Moeda. Já em 1969 aImprensaNacionalforatransformadaemempresapública,deacordocomapreocupaçãomoderniza‑dora do tempo. A partir de 1 de janeiro de 1970, a

Page 57: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

56

numeração dos diplomas legais deixou de seguirum sistema contínuo para se reportar a cada ano,com a indicação expressa deste (por exemplo: emvez de Decreto‑Lei n.º 49476, de 30 de dezem‑bro—queaprovaoestatutodaImprensaNacional,passa a numerar‑se como Decreto‑Lei n.º13/70,de 14 de janeiro, que aprova medidas tendentes amaior celeridade e rendimento na administraçãopública).

Page 58: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

57

xDemocracia

Em25deabrilde1974,ogolpedeEstadomili‑tar do Movimento das Forças Armadas (MFA)veiopôrtermoaoregimepolíticodoEstadoNovo.Astendênciasmodernizadorasquesetinhammani‑festado moderadamente na chamada «Primaveramarcelista» viriam então a encontrar expressãoplena—semrestriçõesenumalógicadeabertura,pluralismo e de Estado de direito democrático.A Revolução dos Cravos, feita para implantar oregime democrático no Estado —coração da vidapolítica, económica e social—, fez‑se sob a triplainvocação da Democracia, do Desenvolvimento eda Descolonização… A democratização depressase iniciou pela consagração prática dos direitos,liberdades e garantias dos cidadãos, o que per‑mitiu desde logo a salvaguarda do pluralismo,da liberdade de pensamento, de associação e dereunião,desindicalizaçãoeoreconhecimentodosdireitos dos cidadãos e dos trabalhadores— bemcomo no reconhecimento do direito à autodeter‑

Page 59: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

5�

minaçãoeindependênciadospovosultramarinos.A Constituição de 1976 resultou não só de umcompromisso entre dois princípios —o liberal‑‑democráticoeosocialista—,comoduasfacesdeJano,mastambémdeumentendimentomúltiploediversificado.SegundoJorgeMiranda,osdirei‑tos,liberdadesegarantiaseademocraciapolíticaresultamdaconvergênciaentreoPS,oPPD(hoje,PSD) e o CDS; o socialismo, da confluência doPS, do PPD e do PCP; o sentido personalista, doPPD e do CDS; os direitos sociais, a autogestãoe o planeamento foram defendidos pelo PS; asautonomias regional e local e as garantias juris‑dicionais,peloPPD;adefesadasnacionalizações,de reforma agrária e das organizações popularesde base, pelo PCP, e a Declaração Universal dosDireitosHumanoseainiciativaprivada,peloCDS.(Cf. A Constituição de 1976. Formação, estrutura, princípios fundamentais,Lisboa,LivrariaPetrony,197�.)Estaconfiguraçãopoliédricaeabertafoi‑seadaptando à realidade, graças à renegociação doPacto MFA‑partidos depois dos acontecimentosde 25 de novembro de 1975 e, mais tarde,às revisões constitucionais de 19�2 e de 19�9.Naprimeira,foiextintooConselhodaRevoluçãoe institucionalizada a subordinação das ForçasArmadasaopodercivildemocrático,procedendo‑‑se a uma redistribuição das competências doórgão extinto. Foi criado o Tribunal Constitu‑cional,enaConstituiçãoeconómicaprocedeu‑seà atenuação das fórmulas mais unilateralmenteideológicas. Com a revisão de 19�9 consagrou‑seaaberturaeconómica,pôs‑setermoàirreversibi‑lidadedasnacionalizaçõeseiniciou‑seoprocesso

Page 60: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

59

de reprivatização das empresas nacionalizadasdepois de 1974.

AnovadesignaçãoDiário da República,adotadapelos constituintes, foi aprovada pelo Decreto‑‑Lei n.º 263‑A/76, de 9 de abril, que procuroufazer coincidir a decisão com a publicação danova Constituição da República, «na qual o povoportuguês deposita as maiores esperanças comopedrafundamentalnaconstruçãodademocracia».Ora, «uma vez que a própria Constituição prevêuma nova designação para o jornal oficial, ondehá de publicar‑se a legislação portuguesa, acha‑‑se oportuno operar, desde já, as modificaçõesnecessárias». Assim, «o jornal oficial Diário da República sucede para todos os efeitos legais aoDiário do Governo».

O decreto presidencial de aprovação da Cons‑tituição viria a ser publicado a 10 de abril de1976.Aí,oartigo119.º,sobrepublicidadedosatos,estipula que

«são publicados no jornal oficial, Diário da República:

a) As leis constitucionais;b) As convenções internacionais e os

respetivos avisos a elas respeitantes;c) As leis, os decretos‑leis e os decretos

legislativos regionais;d) Os decretos do Presidente da Repú‑

blica;e) As resoluções da Assembleia da Re‑

pública e das Assembleias Legislativas dasregiões autónomas;

Page 61: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

60

f)OsregimentosdaAssembleiadaRepú‑blica, do Conselho de Estado e das assem‑bleias legislativas das regiões autónomas;

g) As decisões do Tribunal Constitucio‑nal,bemcomoasdosoutrostribunaisaquea lei confira força obrigatória geral;

h)Osdecretosregulamentareseosdemaisdecretos e regulamentos do Governo, bemcomo os decretos dos representantes daRepública para as regiões autónomas e osdecretos regulamentares regionais;

i) Os resultados das eleições para osórgãosdesoberania,dasregiõesautónomase do poder local, bem como para o Parla‑mento Europeu e ainda os resultados dosreferendos de âmbito nacional e regional.»

O mesmo artigo 119.º estabelece que a falta depublicidade dos atos previstos nas alíneas a) a h),bem como de qualquer ato de conteúdo genéricodos órgãos de soberania, das regiões autónomase do poder local, implica a sua ineficácia jurídica.O Diário comporta duas séries. O elenco do n.º1do artigo 119.º corresponde aos atos que têm deserpublicadosna1.ªsériedoDiário.Seaprimeiraparte se reporta aos atos normativos, a segunda(2.ªsérie)tratadeatosecontratosadministrativos,entre outros. A parte A reporta‑se à Presidênciada República; a B, à Assembleia da República; aC, ao Governo e administração direta e indiretadoEstado;aD,aostribunaiseMinistérioPúblico;a E, a entidades administrativas independentes eadministração autónoma; a F, às regiões autóno‑mas;aG,àsempresaspúblicas;aH,àsautarquias

Page 62: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

61

locais;aI,aoutrasentidades(nãoabrangidapelasoutras partes); a parte J, a atos da administraçãopública relativos a concursos de provimento eregimedetrabalho;eaparteL,acontratospúbli‑cos.ODiário da República insere‑se,assim,numaevoluçãomuitoricadahistóriapolíticaportuguesa.OcursodosacontecimentosdaGazeta de LisboaaoDiário do Governoinsere‑se,sempre,nahistóriaenasvicissitudesdosistemaconstitucionalepolíti‑co.Daíapreocupaçãoquetivemosemseguirpari passuopanodefundodosacontecimentos—desdeo tempo em que se tratou de um periódico comopiniãoatéàconsagraçãodeumelementardireitodoscidadãosàpublicidadedosatosfundamentaisda República.

Page 63: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril
Page 64: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

63

xiDiário da República hoje

Mas o que é hoje o Diário da República?Asnovastecnologiasdeinformaçãoecomunicaçãoalteraram os meios. Os computadores, as redes, ainternet,permitemqueainformaçãochegueacadacidadãodeummodomaissimpleserápido.Olongocaminhoqueanalisámossofreudeummovimentouniformemente acelerado. O que há cinquentaanoseraficçãocientíficatornou‑serealidade.Umjornaljuvenildoiníciodosanos1960—Foguetão,dirigido por Adolfo Simões Müller— publicava,na secção intitulada «Jornal de amanhã», umanotícia espantosa: no futuro seria possível obterinformações e comunicar através de um pequenoaparelho transmissor dotado de um visor. Tudoisso parecia naquele momento inverosímil, maso tempo e a inovação humana permitiram quehoje seja realidade. A panóplia de instrumentosquenospermitemteracessofácilaojornaloficialjá não faz parte do mundo da ficção, tendo estasido ultrapassada muitas vezes pela realidade.

Page 65: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

64

Basta lermos o que nos é proposto pelo chamado«Simplex»paraficarmosdevidamenteesclarecidos.Alarga‑seainformaçãoconstantedapartepúblicaegratuitadoportaldre.pt—acabandoasassinatu‑rasdeacessoaoDiário,umavezqueosconteúdossãotodosgratuitos.Emelhoramasfuncionalidadesde pesquisa, havendo mais informação no Diário da República proveniente de outras fontes e dacriação de um sistema de leitura acessível e com‑preensível de imagens, mapas e plantas. E assimocorreu a eliminação integral da publicação dojornal oficial em papel.

As informações oficiais úteis para os cidadãosdeixam de ser dispersas e passam a ser maisacessíveis a todos. A lista das chamadas «funcio‑nalidades» é bastante atrativa, abrangendo adisponibilização aos administradores, dirigentese trabalhadores de instituições e empresas apossibilidade de autenticação e assinatura emrepresentação das respetivas entidades. Prevê‑se,assim, um sistema de certificação de atributosprofissionaisquepermitiráadesmaterializaçãodopacto social e dos atos possíveis para administra‑doreseresponsáveis,comautilizaçãodocartãodecidadãoparaautenticaçãodaassinatura.Há,pois,um alargamento significativo das funcionalidadesassociadas ao cartão de cidadão. E as potenciali‑dades não ficam por aqui, uma vez que se prevêum reforço de articulação entre níveis diferentesda administração — nacional, regional e local,designadamenteatravésdasubmissãoautomáticadas cartas da Reserva Ecológica Nacional (REN)parapublicaçãonoDiário da Repúblicaedepósitono órgão competente da administração pública

Page 66: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

65

central, mediante a utilização da plataformaSistemadeSubmissãoAutomáticaparaPublicaçãoeDepósitodeInstrumentosdeGestãoTerritorial(SSAIGT), permitindo a visualização do SistemaNacionaldeInformaçãoTerritorial(SNIT).Destemodo,amodernizaçãoaplicadaàinformaçãoparaos cidadãos permitirá mais proximidade, maiortransparência e melhor conhecimento.

Dois dos motivos do agravamento dos riscosde corrupção nas sociedades modernas são acomplexidade e a opacidade relativamente às leise à ordem jurídica. Só uma pequena parte dasnormas emanadas dos órgãos do Estado temnatureza ligada aos direitos e liberdades funda‑mentais, a maior parte tem natureza meramentetécnica. Naturalmente que é importante saber deque instrumentos podemos dispor e como elesfuncionam. A sociedade moderna precisa de tercondiçõesparalidarcomosmeiosqueoprogressolhe faculta. E o Estado de direito tem de simplifi‑car ao máximo o acesso dos cidadãos à produçãolegislativaeaosinstrumentosquepermitemareali‑zaçãodobemcomum.Asleisquerem‑sepoucasesimples—distinguindo‑seclaramenteosdomíniosjurídico e meramente técnico. É preponderanteumafuncionalidadequefavoreçaoacessosimplese direto ao Direito, para salvaguarda dos direitos,deveres e liberdades fundamentais. Uma florestalegislativa,incoerenteepoucocompreensível,favo‑receafraudeeacorrupção,umavezquealargaosterritórios de incerteza — nos quais a imaginaçãoe o imediatismo poderão pôr em causa a prote‑ção do bem comum. O projeto «Lei clara» vai aoencontro desta perspetiva— procurando simplifi‑

Page 67: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

66

car a consulta da legislação por cidadãos que nãotenham conhecimentos jurídicos, elaborando‑seexplicaçõesemlinguagemclaraeacessíveldetextosde diplomas em português e em inglês…

Aexistênciadeeventuaismanuaisdeinstruçõesnão dispensa, porém, um esforço efetivo no senti‑do de tornar os diplomas, eles mesmos, simples eclaros— evitando ambiguidades e contradições eprevenindo a corrupção gerada pela dificuldadee proliferação inusitada das normas. Subjacentea todo este conjunto de novas medidas, está adesmaterialização do procedimento legislativo,abrangendo as comunicações de diplomas entre aPresidênciadoConselhodeMinistros,aAssembleiadaRepúblicaeaPresidênciadaRepública—oquefacilitaráoacessodetodosaosdiversospassosqueconduzem à produção legislativa e à sua melhorcompreensão. Aliás, a melhoria nos mecanismosde mediação institucional reforçará a legitimidadedoexercício,essencialnumademocraciamoderna,como a representação dos cidadãos, a sua melhorparticipação (por exemplo, através de orçamentosparticipativos e de outros meios de idêntica natu‑reza que aproximem os cidadãos da vida das insti‑tuições democráticas). Refira‑se, ainda, na mesmalinhadepreocupações,aadesãoaoprojetoeuropeu«EuropeanLegislationIdentifier»(ELI)(acrónimo,eminglês,deIdentificadorEuropeudaLegislação),quevisafacilitaroacesso,apartilhaeainterconexãodeinformaçãolegal,mercêdautilizaçãodesistemasde informação. O identificador será concretizadogradualmente, devendo ser acompanhado de umamaior e mais efetiva participação dos parlamentosnacionais no processo de legitimação europeu.

Page 68: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

67

No domínio da história do Direito, através deumacoordenaçãocomaAssembleiadaRepública,foi facultado o acesso à legislação régia de 1603 a1910.Poroutrolado,foidisponibilizadoaopúblicooTradutorJurídicoealegislaçãoconsolidada(ape‑nas em termos informativos e sem valor oficial)dos principais regimes jurídicos em vigor.

Emsuma,nosdiasdehoje,ojornaloficialbene‑ficiadosmaismodernosinstrumentosdeinforma‑çãoecomunicação,inserindo‑senumprocessodemodernizaçãodoEstadodedireitodemocrático,demodoaaproximá‑lodoscidadãos.Importa,porém,ligar essa tendência no âmbito da transparênciaa uma maior participação cívica e a uma maiorligaçãodaslegitimidadesdaorigemedoexercício.A crise hoje sentida nos regimes constitucionaisobriga, porém, a um reforço da mediação atravésdas instituições democráticas— de modo que oscidadãos se sintam envolvidos, representados eparticipantes, numa lógica de subsidiariedade.Os Estados deixaram de ser peças exclusivas naadministração da causa pública, mas são chama‑dosaarticularospodereslocais,numaperspetivade autonomia e de descentralização, os poderesregionais,osnacionaiseossupranacionais.Porissomesmo, os poderes legislativos nacionais têm deserservidosporumainformaçãorigorosasobreoquefazem,participandoativamentenasinstânciassupranacionais.

Page 69: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril
Page 70: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

69

Bibliografia

BAPTISTA, Jacinto, Alexandre Herculano Jornalista, Lisboa,Bertrand, 1977.

CUNHA, Alfredo da, «O jornalismo. As relações de ManuelSeverim de Faria e as gazetas da Restauração. Os mercú‑rios. Quem foi o primeiro periodista português?», in His­tória da literatura portuguesa ilustrada, Lisboa, Bertrand,1929‑1942, vol. iii.

DIAS,EuricoGomes,Gazetas da Restauração (1641­1648). Uma revisão das estratégias diplomático­militares,ed.transcrita,Lisboa, Instituto Diplomático, Ministério dos NegóciosEstrangeiros, 2006.

HERCULANO, Alexandre, «Gazetas: origem das gazetas emPortugal», O Panorama, n.º 4�, 31 de março de 1�3�.

____,Opúsculos,t.i,Questões públicas. Política,org.JoelSerrão,Lisboa, Bertrand, 19�3.

MARTINS,Guilhermed’Oliveira,Portugal. Instituições e factos,Lisboa, INCM, 1991.

MARTINS, Rocha, Pequena história da imprensa portuguesa,Lisboa, Inquérito, 1942.

MIRANDA,Jorge,A Constituição de 1976. Formação, estrutura, princípios fundamentais, Lisboa, Livraria Petrony, 197�.

RAMOS,Rui(coord.), História de Portugal,Lisboa,EsferadosLivros, 2009.

SARDICA,JoséMiguel,A Regeneração sob o signo do consenso. A política e os partidos entre 1851 e 1861, Viseu, ICS,2001.

TENGARRINHA, José, História da imprensa periódica portu­guesa, Lisboa, Portugália, 1965; 2.ª ed. rev. e aumentada,Lisboa, Caminho, 19�9.

____,Nova história da imprensa portuguesa. Das origens a 1865,Lisboa, Temas e Debates, 2013.

Page 71: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

O Essencial sobre

67 Eduardo Lourenço Miguel Real

6� D. António Ferreira Gomes Arnaldo de Pinho

69 Mouzinho da Silveira A. do Carmo Reis

70 O Teatro Luso-Brasileiro Duarte Ivo Cruz

71 A Literatura de Cordel Portuguesa

Carlos Nogueira

72 Sílvio Lima Carlos Leone

73 Wenceslau de Moraes Ana Paula Laborinho

74 Amadeo de Souza-Cardoso José‑Augusto França

75 Adolfo Casais Monteiro Carlos Leone

76 Jaime Salazar Sampaio Duarte Ivo Cruz

77 Estrangeirados no Século XX

Ana Paula Laborinho

7� Filosofia Política Medieval Paulo Ferreira da Cunha

79 Rafael Bordalo Pinheiro José‑Augusto França

�0 D. João da Câmara Luiz Francisco Rebello

�1 Francisco de Holanda Maria de Lourdes Sirgado

Ganho

�2 Filosofia Política Moderna Paulo Ferreira da Cunha

�3 Agostinho da Silva Romana Valente Pinho

�4 Filosofia Política da Antiguidade Clássica Paulo Ferreira da Cunha

�5 O Romance Histórico Rogério Miguel Puga

�6 Filosofia Política Liberal e Social

Paulo Ferreira da Cunha

�7 Filosofia Política Romântica

Paulo Ferreira da Cunha

�� Fernando Gil Paulo Tunhas

�9 António de Navarro Martim de Gouveia e Sousa

90 Eudoro de Sousa Luís Lóia

91 Bernardim Ribeiro António Cândido Franco

92 Columbano Bordalo Pinheiro

José‑Augusto França

93 Averróis Catarina Belo

94 António Pedro José‑Augusto França

95 Sottomayor Cardia Carlos Leone

96 Camilo Pessanha Paulo Franchetti

Page 72: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

97 António José Brandão AnaPaulaLoureirodeSousa

9� Democracia Carlos Leone

99 A Ópera em Portugal Manuel Ivo Cruz

100 A Filosofia Portuguesa (Séculos XIX e XX)

António Braz Teixeira

101/ O Padre António Vieira102 Aníbal Pinto de Castro

103 A História da Universidade Guilherme Braga da Cruz

104 José Malhoa José‑Augusto França

105 Silvestre Pinheiro Ferreira José Esteves Pereira

106 António Sérgio Carlos Leone

107 Vieira de Almeida Luís Manuel A. V. Bernardo

10� Crítica Literária Portuguesa (até 1940)

Carlos Leone

109 Filosofia Política Contemporânea (1887-1939) Paulo Ferreira da Cunha

110 Filosofia Política Contemporânea (desde 1940) Paulo Ferreira da Cunha

111 O Cancioneiro Infantil e Juvenil de Transmissão Oral

Carlos Nogueira

112 Ritmanálise Rodrigo Sobral Cunha

113 Política de Língua Paulo Feytor Pinto

114 O Tema da Índia no Teatro Português

Duarte Ivo Cruz

115 A I República e a Constituição de 1911

Paulo Ferreira da Cunha

116 O Capital Social Jorge Almeida

117 O Fim do Império Soviético José Milhazes

11� Álvaro Siza Vieira Margarida Cunha Belém

119 Eduardo Souto Moura Margarida Cunha Belém

120 William Shakespeare Mário Avelar

121 Cooperativas Rui Namorado

122 Marcel Proust António Mega Ferreira

123 Albert Camus António Mega Ferreira

124 Walt Whitman Mário Avelar

125 Charles Chaplin José‑Augusto França

126 Dom Quixote António Mega Ferreira

127 Michel de Montaigne Clara Rocha

12� Leonardo Coimbra Ana Catarina Milhazes

129 Pablo Picasso José‑Augusto França

Page 73: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril

O livro o essencial sobreo diário da república

é uma edição daimprensa nacional-casa da moeda

tem como autorguilherme d’oliveira martins

com design e capa do ateliêsilvadesigners

revisão e paginação daincm

tem o isbn 978-972-27-2560-6e o depósito legal 425 418/17.

A primeira ediçãoacabou de ser impressa no mês de junho

do ano dois mil e dezassete.cód. 1021781

www.incm.ptwww.facebook.com/INCM.Livros

[email protected]

Page 74: O ESSENCIAL SOBRE - Imprensa Nacional-Casa da Moeda · Jornal oficial O Diário da República é o jornal oficial da República Portuguesa, com essa designação desde 10 de abril