o esporte com desenvovimento

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    possibilidade de

    desenvolvimento

    O esporte como

    Braslia, 2013

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    2013 Fundao Vale.Todos os direitos reservados.

    Coordenao: Setor de Cincias Humanas e Sociais da Representao da UNESCO no BrasilRedao: Fabiano Marques Cmara e Jos Erb Ubarana Jr.Organizao e reviso tcnica: Luciana Marotto HomrichReviso pedaggica: MD Consultoria Pedaggica, Educao e Desenvolvimento HumanoReviso editorial: Unidade de Publicaes da Representao da UNESCO no BrasilIlustrao: Rodrigo Vinhas FonsecaProjeto grfico: Crama Design EstratgicoDiagramao: Unidade de Comunicao Visual da Representao da UNESCO no Brasil

    O esporte como possibilidade de desenvolvimento. Braslia:UNESCO, Fundao Vale, 2013.30 p. (Cadernos de referncia de esporte; 7).

    ISBN: 978-85-7652-161-7

    1. Educao fsica 2. Esporte 3. Pedagogia 4. Brasil 5.

    Material didtico I. Fundao Vale II. UNESCO

    Esta publicao tem a cooperao da UNESCO no mbito do projeto 570BRZ3002, Formando Capacidades e Promovendoo Desenvolvimento Territorial Integrado, o qual tem o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade de vida de

    jovens e comunidades.

    Os autores so responsveis pela escolha e apresentao dos fatos contidos neste livro, bem como pelas opinies neleexpressas, que no so necessariamente as da UNESCO, nem comprometem a Organizao. As indicaes de nomes e aapresentao do material ao longo desta publicao no implicam a manifestao de qualquer opinio por parte daUNESCO a respeito da condio jurdica de qualquer pas, territrio, cidade, regio ou de suas autoridades, tampouco da

    delimitao de suas fronteiras ou limites.Esclarecimento: a UNESCO mantm, no cerne de suas prioridades, a promoo da igualdade de gnero, em todas suas ati-vidades e aes. Devido especificidade da lngua portuguesa, adotam-se, nesta publicao, os termos no gnero mas-culino, para facilitar a leitura, considerando as inmeras menes ao longo do texto. Assim, embora alguns termos sejamgrafados no masculino, eles referem-se igualmente ao gnero feminino.

    Fundao Vale Representao da UNESCO no Brasil

    Av. Graa Aranha, 26 16 andar Centro SAUS Qd. 5, Bl. H, Lote 6,20030-900 Rio de Janeiro/RJ Brasil Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9 andar

    Tel.: (55 21) 3814-4477 70070-912 Braslia/DF BrasilSite: www.fundacaovale.org Tel.: (55 61) 2106-3500 Fax: (55 61) 3322-4261 Site: www.unesco.org/brasilia

    E-mail: [email protected]/unesconaredetwitter: @unescobrasil

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    possibilidade de

    desenvolvimento

    O esporte como

    Cadernos de referncia de esporteVolume 7

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    Sumrio

    Prefcio ............................................................................................................................................... 7

    1. Introduo ........... ............. ............. ............. ............. ............. ............. ............. ............. ............. ...... 8

    2. Caracterizao do esporte ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............. .... 9

    3. Princpios da pedagogia do esporte ............. ............. ............. ............. ............. ............. ........... 15

    4. Consideraes finais ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............. .. 26

    Bibliografia ......................................................................................................................................... 28

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    O esporte como possibilidade de desenvolvimento

    Prefcio

    O Programa de Esportes da Fundao Vale, intitulado Brasil Vale Ouro, busca promover o esporte como umfator de incluso social de crianas e adolescentes, incentivando a formao cidad, o desenvolvimento

    humano e a disseminao de uma cultura esportiva nas comunidades. O reconhecimento do direito e agarantia do acesso da populao prtica esportiva fazem do Programa Brasil Vale Ouro uma oportunidade,muitas vezes mpar, de vivncia, de iniciao e de aprimoramento esportivo.

    com o objetivo de garantir a qualidade das atividades esportivas oferecidas que a Fundao Vale realiza aformao continuada dos profissionais envolvidos no Programa, de maneira que os educadores sintam-secada vez mais seguros para proporcionar experincias significativas ao desenvolvimento integral das crianase dos adolescentes. O objetivo deste material pedaggico consiste em orientar esses profissionais para aabordagem de temticas consideradas essenciais prtica do esporte. Nesse sentido, esta srie colaborapara a construo de padres conceituais, operacionais e metodolgicos que orientem a prtica pedaggicados profissionais do Programa, onde quer que se encontrem.

    Este caderno, intitulado O esporte como possibilidade de desenvolvimento, integra a Srie Esporte daFundao Vale, composta por 12 publicaes que fundamentam a prtica pedaggica do Programa, assimcomo registram e sistematizam a experincia acumulada nos ltimos quatro anos, no documento da Propostapedaggica do Brasil Vale Ouro.

    Composta de informaes e temas escolhidos para respaldar o Programa Brasil Vale Ouro, a Srie Esporte daFundao Vale foi elaborada no contexto do acordo de cooperao assinado entre a Fundao Vale e aOrganizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO) no Brasil. A srie contoucom a participao e o envolvimento de mais de 50 especialistas da rea do esporte, entre autores, revisorestcnicos e organizadores, o que enriqueceu o material, refletindo o conhecimento e a experincia vivenciadapor cada um e pelo conjunto das diferenas identificadas.

    Portanto, to rica quanto os conceitos apresentados neste caderno ser a capacidade dos profissionais,especialistas, formadores e supervisores do Programa, que atuam nos territrios, de recriar a dimensoproposta com base nas suas prprias realidades.

    Cabe destacar que a Fundao Vale no pretende esgotar o assunto pertinente a cada um dos cadernos,mas sim permitir aos leitores e curiosos que explorem e se aprofundem nas temticas abordadas, por meioda bibliografia apresentada, bem como por meio do processo de capacitao e de formao continuada,orientado pelas assessorias especializadas de esporte. Em complemento a esse processo, pretende-se permitira aplicao das competncias, dos contedos e dos conhecimentos abordados no mbito dos cadernos pormeio de superviso especializada, oferecida mensalmente.

    Ao apresentar esta coletnea, a Fundao Vale e a UNESCO esperam auxiliar e engajar os profissionais de

    esporte em uma proposta educativa que estimule a reflexo sobre a prtica esportiva e colabore para que asvivncias, independentemente da modalidade esportiva, favoream a qualidade de vida e o bem-estar social.

    Fundao Vale Representao da UNESCO no Brasil

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    Caderno de referncia de esporte

    1. Introduo

    O esporte uma atividade humana historicamente criada e socialmente construda

    (BRASIL, 2009). Reflete os costumes, os valores e at mesmo os modos de produo

    de uma sociedade. Na Grcia, por exemplo, os jogos ldicos da Antiguidade eraminspirados na caa, na guerra, na vida, nos hbitos dos animais, assim como nos

    trabalhos de semear, de cultivar e de colher (BRASIL, 2009). No se pode deixar de

    mencionar, portanto, que o esporte um fenmeno sociocultural, considerado

    patrimnio da humanidade (BARROSO; DARIDO, 2006).

    Esse fenmeno social est presente na prtica cotidiana e manifesta-se na escola, na

    televiso e na rua. Da mesma forma, perpetua e evidencia valores, modos e costumes.

    Caracteriza-se, entre outros aspectos, pela sua pluralidade, uma vez que, a cada dia,

    surgem novos significados e ressignificados para a sua prtica (PAES, 2006).

    Ao longo do tempo, o esporte foi moldado de diferentes formas at se tornar umproduto impulsionador do consumo social. Sua evoluo foi acompanhada pelo

    desenvolvimento tecnolgico em geral, desde o avano tecnolgico e qualitativo dos

    materiais esportivos, da criao de indstrias especializadas na produo de

    equipamentos e materiais esportivos, de propostas de patrocnio a atletas, at o acesso

    pela mdia especializada que oferece canais exclusivos sobre esporte, o que aumenta

    a gama de produtos de consumo impulsionados por esse fenmeno (BARROSO;

    DARIDO, 2006). Entretanto, acredita-se que o esporte vai muito alm dessas questes

    meramente mercadolgicas e materiais, que refletem a cultura consumista que envolve

    o ser humano. Nesse sentido, apesar dessa forte influncia consumista, qualquer que

    seja a motivao do praticante, em essncia o esporte tem funo educacional.Esses aspectos mostram, em linhas gerais, que o esporte uma manifestao complexa,

    no sentido amplo do termo. Ubarana Jr. e Darido (2006) sustentam essa afirmao ao

    analisar que esporte hoje uma complexa manifestao cultural de nossos tempos

    e que, por sua complexidade, surgem diversas tentativas de definio e entendimento.

    Antes de apresentar seus princpios pedaggicos, considerando-se a complexidade

    do fenmeno esportivo, importante indicar de que forma o esporte pode contribuir

    para o desenvolvimento humano tal qual proposto pela Fundao Vale. Para tanto,

    cabe caracteriz-lo luz de seus preceitos legais e constitucionais, assim como

    destacar a relevncia de ser reconhecido e legitimado como poltica pblica de Estado,pois tais questes influenciam a conduta pedaggica dos profissionais que atuam no

    desenvolvimento do Programa Brasil Vale Ouro.

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    O esporte como possibilidade de desenvolvimento

    Barroso e Darido (2006) destacam que o esporte um sistema complexo: sempre que

    se tenta classific-lo, faz-se referncia apenas a um fragmento desse universo, que

    eminentemente heterogneo. Em geral, a necessidade de classificar e enfatizarobjetivos e metas para o esporte refere-se a uma tentativa de refor-lo como direito

    de todo o cidado, independente de suas caractersticas, e contextualizar e explicar

    os motivos que conduziram estudiosos, gestores e comunidade esportiva em geral a

    definir o esporte nacional a partir de trs manifestaes esportivas.

    Essa ideia de diferenciar o esporte por meio de suas manifestaes surgiu oficialmente

    em 2002, por meio de iniciativas do governo federal brasileiro para discutir e redefinir

    os rumos da Poltica Nacional do Esporte (PNE), tendo como marco inicial a

    I Conferncia Nacional do Esporte (I CNE), realizada em junho de 2004. Isso pode ser

    deduzido tomando-se como base os documentos preparatrios para a II Conferncia

    Nacional do Esporte (II CNE), realizada em maio de 2006, os quais esclarecem que, a

    partir de 1998, com a promulgao da Lei n 9.615, de 24 de maro de 1998, trs

    manifestaes foram definidas para o esporte, sendo estas: o esporte educacional, o

    esporte de participao e o esporte de rendimento.

    Destaca-se que no artigo 1 da Carta Internacional da Educao Fsica e do Desporto

    (UNESCO, 1978), o esporte direito de todas as pessoas. Para Tubino (2002; 2006), o

    esporte-educao, o esporte-lazere o esporte de desempenho ou rendimento, so formas

    de exerccio desse direito. Como um dos fenmenos mais marcantes da transio do

    sculo XX para o sculo XXI, o esporte teve, na Carta Internacional mencionada acima,

    o marco de mudana do seu paradigma. Anteriormente, ele era entendido apenas naperspectiva do rendimento, mas, aps a Carta, e tendo em mente a teoria do direito

    educao fsica e ao esporte1, o campo dos estudos esportivos recebeu teorizaes

    demarcatrias para as trs manifestaes, expressas no Quadro 1, a seguir.

    2. Caracterizao do esporte

    1 Na tentativa de superar as dificuldades do processo de teorizao da educao fsica e do esporte, Tubino assumiu

    o desafio de propor uma nova epistemologia para as atividades fsicas, inter-relacionando a educao fsica e ofenmeno do esporte em uma proposta maior de cultura fsica, que somente foi possvel a partir do pressupostodo direito educao fsica e ao esporte (TUBINO, 2002, p. 59-60), e apresentando em detalhes a chamada teoria dodireito educao fsica e ao esporte (TUBINO, 2002, cap. 3, p. 62-67).

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    Quadro 1.Caractersticas das manifestaes esportivas

    Fonte: TUBINO, 2002, p. 65; TUBINO, 2006, p. 112; TUBINO, 2010, p. 43.

    Em outras palavras, essa passagem significa a transio de um esporte na perspectiva

    nica do rendimento para um esporte como direito de todos, um direito cujas formas

    de exerccio so o esporte-educao (esporte educacional e esporte escolar), o esporte-

    lazer (esporte participao) e o esporte de desempenho (esporte de rendimento e

    esporte de alto rendimento).

    Com base nas diferentes dimenses do esporte contemporneo e em seuscompromissos, foi possvel formular e adequar os princpios e caminhos para prticas

    esportivas orientadas aos diferentes objetivos propostos pelo Programa Brasil Vale

    Ouro, como apresentado no documento Proposta pedaggica de esporte, parte

    integrante desta srie de materiais didticos da Fundao Vale.

    Tomou-se como base os conceitos oficiais das trs dimenses do esporte (BRASIL,

    2005), segundo os quais:

    a) esporte de rendimento aquele destinado

    formao de atletas de alto nvel, orientado

    participao em competies internacionais

    e com metas de desempenho especficas e

    bem definidas;

    b) esporte de participao refere-se quele

    praticado como lazer, sem comprome-

    timento final ou foco no melhor resultado,

    mas com o propsito de viabilizar a

    participao de todos, sem que exista a

    exigncia de competncias atlticas

    extremas; e

    0

    Caderno de referncia de esporte

    2 Formas assistemticas so prticas de educao informal e no formal.3 Hipercompetitividade a valorizao exarcebada e exagerada da competio.

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    O esporte como possibilidade de desenvolvimento

    c) esporte educacional o esporte utilizado como instrumento de

    educao, com metas bem definidas a serem atingidas por meio da

    prtica; entende-se tambm como aquele praticado nos sistemas

    de ensino e em formas assistemticas de educao2, evitando-se a

    seletividade e a hipercompetitividade3 de seus praticantes; por fim,

    tem por finalidade alcanar o desenvolvimento integral do

    indivduo, a sua formao para o exerccio da cidadania.

    Com efeito, destaca-se que essas definies promoveram importantes discusses nos

    eventos subsequentes, as quais so discutidas a seguir.

    Como ressaltado por Tubino (2010), o processo de consolidao do esporte como

    poltica pblica tem seu marco legal inicial no texto da Constituio Federal de 1988,

    que consolidou o entendimento mais amplo de esporte, no caputdo seu artigo 217,

    quando estabelece o fomento de prticas esportivas formais e no formais como

    dever do Estado e direito de cada cidado, priorizando ainda a destinao dos recursos

    pblicos para o esporte educacional.

    Embora o texto constitucional de 1988 j fizesse referncia a um novo entendimento

    de esporte, o Brasil permaneceu at 1993 sem uma lei especfica que institussenormas gerais sobre o esporte, com base nos preceitos constitucionais. Isso aconteceu

    somente com a promulgao da Lei n 8.672, de 6 de julho de 1993 (a chamada Lei

    Zico), que, de incio, determinou os conceitos e princpios a serem seguidos pelo

    esporte brasileiro, contemplando o reconhecimento das trs dimenses esportivas

    mencionadas anteriormente. Essa lei foi posteriormente revogada pela Lei n 9.615,

    de 24 de maro de 1998 (a chamada Lei Pel), vigente at os dias atuais.

    Outro marco importante no processo de consolidao do esporte no Brasil foram os

    debates coletivos advindos das trs edies da Conferncia Nacional de Esporte,

    institudas pelo Decreto Presidencial de 21 de janeiro de 2004.A III Conferncia, realizada em 2010, consolidou as conquistas anteriores e avanou na

    efetivao do esporte como direito social, conforme preceitua a Constituio Federal.

    Nessa ltima edio, foi aprovado o Plano Decenal de Esporte e Lazer: 10 pontos em

    10 anos para projetar o Brasil entre os 10 mais, que ratificou a necessidade de um

    Sistema Nacional de Esporte e Lazer (SNEL) lastreado em recursos que tornem

    sustentvel um projeto de longo prazo, com o intuito de:

    promover a incluso social e o desenvolvimento humano por meio de programas

    socioesportivos;

    institucionalizar o esporte educacional; atingir resultados inditos nas competies e, assim, projetar o Brasil no ranking do

    alto rendimento;

    incrementar a infraestrutura esportiva do pas; modernizar e valorizar o futebol como

    identidade cultural do Brasil;

    ampliar o leque de modalidades para diversificar a prtica esportiva no pas;

    qualificar a gesto do esporte e do lazer; e

    aproveitar o potencial econmico-social dos grandes eventos, pois eles contribuem

    com o projeto de desenvolvimento nacional gerando empregos, aumentando a

    renda do trabalhador e propiciando a revitalizao de reas urbanas, a melhoria da

    qualidade de vida, a oferta de perspectivas juventude e o fortalecimento dorespeito mundial ao pas.

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    A apresentao desses preceitos serve de guia para demonstrar a amplitude do

    fenmeno esportivo e, por conseguinte, sua complexa delimitao. De fato, sabe-se

    que esses tpicos so fundamentais para o entendimento do esporte e que, levando

    em considerao a sua complexidade, qualquer distino entre as diferentes

    dimenses resultaria em limitaes. Portanto, importante distinguir objetivos

    prioritrios e no separar as diferentes funes do esporte.

    Pode-se concordar com a ideia de que existe uma inter-relao de prticas e interesses

    entre as dimenses do esporte, quando se entende que elas ajudam a balizar seu

    entendimento e sua operacionalizao. No obstante, ainda que as denominaes

    esporte educacional e esporte participao tenham sido criadas em determinado

    momento e contexto histricos, para a sua diferenciao da prtica esportiva de

    rendimento, elas no deixam de exibir a caracterstica inerente ao esporte, que o

    prprio desempenho ou rendimento. Assim, nessas dimenses, o rendimento tambm

    se pode fazer presente.

    Contribuindo com esse debate, o Ministrio do Esporte aponta que

    ir alm das dimenses esportivas de rendimento e participao requer revisar a relaoesporte-cultura e esporte-educao. O ambiente das instituies de ensino pode ser

    espao para a realizao de ambas, sem desconhecer que competies estudantis escolar

    e universitria quando componentes do projeto pedaggico de cada instituio

    funcionam na perspectiva do esporte de rendimento. De outro ngulo, a recreao e o

    acesso ao conhecimento compem os elementos principais do esporte como contedo

    curricular da Educao Fsica, o que, alis, sugere que devem ser estabelecidas melhores

    fronteiras entre as manifestaes esportivas precisando a relao entre esporte e educao,

    o que repercutir na estruturao do Sistema de Esporte e Lazer (BRASIL, 2009, p. 90).

    A crtica tecida pelos redatores dos documentos da III CNE tambm recai sobre um

    posicionamento que contrape as ideias de competitividade e educao na dimenso

    do esporte educacional. Dito de outro modo, tem-se a impresso de que as situaes

    competitivas no esporte no so dignas da prtica educativa, pois enfatizado que a

    competio seria, de um lado, um

    empecilho para alcanar o desenvolvimento integral do indivduo e a sua formao para

    o exerccio da cidadania e a prtica do lazer e, do outro, que o esporte de alto rendimento

    seria uma prtica no educacional por privilegiar a seletividade e a hipercompetitividade

    (BRASIL, 2009, p. 91).

    Na realidade, o processo de debate e construo coletiva estabelecido no mbito das

    Conferncias Nacionais de Esporte objetiva incentivar a reflexo sobre a prtica

    esportiva que privilegia a apreenso do esporte com base nos conceitos restritos e

    descontextualizados de aptido fsica e de tcnica esportiva. H muito, o esporte foi

    reduzido a um conjunto de tcnicas esportivas e capacidades fsicas esvaziadas do seu

    contexto cultural, no relacionadas ao histrico de vida das pessoas e

    de suas percepes e significados estabelecidos a partir da vivncia

    do esporte. Nesse sentido, o documento da III CNE, em especial,

    colabora para uma reflexo crtica sobre a realizao da prtica esportiva

    com base nos conceitos de aptido fsica e de tcnica esportiva. Essa

    preocupao deve estar presente mesmo no chamado esporte de alto

    rendimento. No cabvel, tampouco tico, formar um atleta de rendimento

    isolado da cultura do esporte em geral, desconhecedor da sua prpriaprtica como agente da cultura e, dessa forma, construir um sujeito

    2

    Caderno de referncia de esporte

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    O esporte como possibilidade de desenvolvimento

    heternomo4 no mbito esportivo. Essa reflexo, por sua vez, guarda uma relao de

    afinidade com a compreenso de desenvolvimento humano adotada pela Fundao

    Vale, quando preconiza o desenvolvimento integral do ser humano; nesse caso, pela

    prtica esportiva realizada e (re)construda no mbito dos territrios onde o programa

    se desenvolve.

    Outro ponto importante discutido no documento da III CNE est relacionado

    aparente ciso entre teoria e prtica, a qual pode surgir no momento em que tambm

    se entende o esporte como educacional. Isso diz respeito ao fato de o esporte exigir

    fundamentalmente um movimento humano (por exemplo: correr, saltar ou driblar),

    sendo que tais movimentos, por questes de limitao de espao, no podem ser

    realizados em uma sala de aula, lugar onde, de forma restrita, desenvolvida a teoria. A sala

    de aula de esporte no limitada por quatro paredes com um quadro negro, verde ou

    branco, e um professor frente, mas trata-se de um campo gramado, de uma quadra

    poliesportiva, de uma piscina etc; ou seja, so espaos abertos que permitem e caracterizam

    aprtica. Essa distino equivocada produz a dicotomia teoria/prtica, a qual permite que

    se infira, muitas vezes com veemncia, que pressupostos conceituais, valorativos ou

    atitudinais no podem ser ensinados no campo. Nessa linha de entendimento, eles so

    contedos da teoria da sala de aula, enquanto que, na prtica, trabalham-se exclusivamenteos procedimentos esportivos e a repetio mecnica dos gestos tcnicos.

    Essa dicotomia, alm de ingnua, exibe um desconhecimento do fazer esportivo

    fundamentado e inter-relacional, que leva em conta, independentemente do local ou

    das condies, os debates e as discusses conceituais antes considerados como

    exclusivos da sala de aula.

    claro que essas ideias como um todo assim como a sua aplicao dependem de

    profissionais preparados pedagogicamente e que pactuem com essa viso mais ampla

    do esporte educacional, apesar de entender que toda prtica humana envolve

    relaes de ensino-aprendizagem, inclusive aquelas que se desenvolvem no mbitodo esporte de rendimento.

    Diante disso, concorda-se com o entendimento do Ministrio do Esporte (BRASIL,

    2009) de que o problema no o esporte em si, mas sim o que se faz dele, ou seja,

    de que forma ele instrumentalizado.

    Por isso, a formao docente pautada na formao humana de crucial importncia,

    com destaque ao valor social e autonomia. Se o esporte for considerado uma

    ferramenta educacional, ele no servir apenas funo educacional, mas poder

    tambm prevenir a prtica de atividades pouco desejadas ou nocivas sade.Sendo assim, a concepo de esporte que ser aplicada no dia a dia dos territrios

    depender fundamentalmente da concepo de ser humano e de educao que

    orienta a prtica pedaggica dos gestores e profissionais que atuam nos programas

    e aes esportivas l desenvolvidos.

    Assim, a apropriao das bases tericas do Programa de Esportes da Fundao Vale

    fundamental para que a prtica esportiva nos territrios seja condizente com o ideal

    de desenvolvimento humano preconizado. Para tanto, a formao continuada e

    processual dos recursos humanos envolvidos deve ir alm das capacitaes tcnicas

    de rotina, conforme indicado e estabelecido no documento Proposta pedaggica de

    4 O sujeito heternomo, do ponto de vista moral, obedece a regras impostas pelo mundo exterior, enquanto o sujeitoautnomo obedece quilo que sabe ser o melhor para si e para o mundo.

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    esporte: Programa Brasil Vale Ouro. Para reforar a relevncia do papel do professor

    no processo de ensino e aprendizagem do esporte, destaca-se que o esporte

    traz consigo, na sua origem, a cultura do povo, modificada e transformada em produto

    de consumo, portanto, traz tambm possibilidades contraditrias estabelecidas em sua

    prpria dinmica, de forma que possvel enfatizar situaes que privilegiam a

    solidariedade sobre a rivalidade, o coletivo sobre o individual, a autonomia sobre a

    submisso, a cooperao sobre a disputa, a distribuio sobre a apropriao, a abundncia

    sobre a escassez, a confiana mtua sobre a suspeita, a descontrao sobre a tenso, a

    perseverana sobre a desistncia e, alm de tudo, a vontade de continuar jogando em

    contraposio pressa para terminar o jogo e configurar resultados (BRASIL, 2009, p. 93).

    O trecho acima demonstra o papel do professor de educao fsica que, com base na

    proposta pedaggica do programa, bem como nos pressupostos orientadores de sua

    prtica didtico-pedaggica, deve considerar as tenses implcitas no esporte e

    trabalh-las tendo em vista o desenvolvimento humano, independentemente da

    manifestao ou dimenso esportiva priorizada.

    Diante disso, corrobora-se com o posicionamento de Korsakas e Rose Jr. (2002) de que,

    se qualquer manifestao do esporte educa, a questo a ser respondida em quedireo se deseja educar e, consequentemente, qual pedagogia a mais adequada.

    Assim, no se pode desconsiderar a preocupao de exercer uma prtica pedaggica

    coerente com os princpios norteadores do Programa, explcitos no documento sobre

    a proposta pedaggica (BRASIL, 2009).

    Considerando essa discusso introdutria, destaca-se que a principal preocupao da

    gesto do Programa deve estar em entender melhor e de forma mais abrangente o

    esporte, para que se possa balizar intervenes respaldadas e pautadas na sua prtica.

    As tenses observadas entre rendimento e educao revelam que no possvel

    separar essas duas caractersticas do fenmeno esportivo. Alis, deve-se reiterar, defato, essas separaes.

    Sobre esse ponto, cabe destacar que a fragmentao uma categoria do raciocnio

    cartesiano de Ren Descartes, filsofo francs que viveu nos sculos XVI e XVII que

    separa as partes de um fenmeno para melhor compreender o todo, decompondo as

    relaes que constituem sua complexidade. Deve-se avanar nesse raciocnio e

    compreender que as relaes entre rendimento, lazere educao so imbricadas de tal

    modo que sempre se poder observar uma prtica educativa no mbito do esporte de

    rendimento, certa noo de desempenho no esporte de participao e, por fim mas

    sem querer esgotar essa teia de relaes , lazer e rendimento no esporte educacional.

    Segundo o documento da Proposta pedaggica do Programa Brasil Vale Ouro

    (FUNDAO VALE, 2013), o esporte tem o potencial de construo de prticas e

    vivncias de grande impacto sobre a formao dos valores de crianas e adolescentes.

    Destaca-se ainda que, para que esse potencial possa ser concretizado, preciso que

    exista clareza conceitual sobre o que se deseja atingir por meio das prticas esportivas.

    Isso posto, cabe agora delinear e detalhar mais precisamente as concepes que

    orientam a pedagogia do esporte, permeada pelas discusses e pelas abordagens

    tratadas anteriormente. No tpico seguinte, destacam-se os princpios pedaggicos

    que norteiam as prticas esportivas, com nfase na formao humana e no esporte

    dentro de uma perspectiva ampla e educacional, com vistas ao desenvolvimento humano .

    4

    Caderno de referncia de esporte

    Ren Descartes

    (1596-1650)

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    15

    O esporte como possibilidade de desenvolvimento

    Feitas as consideraes sobre a caracterizao do esporte, neste ponto, prudente

    tecer um esclarecimento. Entende-se com clareza que a distino entre esporte

    educacional e esporte de rendimento limitada, e que ambas as categorias somutuamente relacionadas. A abordagem de que se trata aqui quanto ao esporte

    educacional confere nfase no ao rendimento mximo, mas sim prtica esportiva

    com vistas formao do cidado autnomo, crtico e consciente de sua prtica. Por

    outro lado, essa prtica deve-se distanciar da reproduo mecnica de procedimentos

    tcnicos esportivos, ou melhor, de habilidades especficas sem contexto, sem sentido

    e sem significado. Assim, tratando-se de uma prtica pedaggica do esporte,

    necessrio realizar um delineamento da conduta educacional, coerente com os

    objetivos que se deseja alcanar e com o homem e o cidado que se pretende formar.

    Vale iniciar essa discusso tomando como base os questionamentos propostos por

    Ubarana Jr. e Darido (2006), que pretendem esclarecer a proposta do esporte

    educacional: como deve ser, ento, o chamado esporte educacional? Mais ainda: como

    deve ser a sua prtica pedaggica?

    Para responder a essas perguntas, imprescindvel observar atentamente o histrico

    do(s) participantes do programa, que tem como alicerce a famlia, a escola e a

    comunidade onde vive. Inicialmente, prioritrio entender que, muitas vezes, a

    educao fsica pode entrar na escola pela contramo do caminho feito por outras

    reas de conhecimento, e isso fundamental para a compreenso do contexto atual

    do esporte, abordado como um ou o mais importante dos contedos trabalhados por

    essa disciplina no mbito escolar.

    A educao fsica entra na escola como atividade e, principalmente nos anos 1970, ela

    se caracteriza como prtica esportiva, com nfase no treinamento e na aptido fsica,

    3. Princpios da pedagogia do esporte

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    6

    Caderno de referncia de esporte

    dentro da escola. Segundo Fensterseifer (2001), a educao fsica nas escolas, naquele

    momento histrico, era considerada apenas atividade fsica. Por ser tachada como

    simples atividade, no podia ser caracterizada como disciplina, pois no entendimento

    dos educadores, no possibilitava a reflexo e a construo do conhecimento quando

    sua nfase estava no desenvolvimento da aptido fsica com um fim em si mesmo,

    tornando-se o que naquela poca era indicado como fazer pelo fazer.

    Dito isso, como poderia o esporte ser considerado educacional, levando-se em conta

    a forma como era compreendido no momento e contexto apresentado anteriormente,

    ou seja, apenas como atividade restrita ao ambiente e ao contexto da educao fsica

    escolar? importante ressaltar que na prtica esportiva existe uma relao de ensino-

    aprendizagem, mas ela no pode ser aleatria ou espontnea, como se poderia esperar

    do esporte-atividade indicado anteriormente.

    No caso de que trata este caderno, refora-se o trabalho do programa com base na

    compreenso do esporte relacionado educao, que pode igualmente ser

    compreendido como projeto educacional, tanto na criao de vivncias e experincias

    como na transferncia de conhecimentos tcnicos e de apoio a expresses culturais5

    (como as danas locais, a capoeira, o prprio futebol etc.), estabelecendo a relaoentre diferentes elementos cognitivos e no cognitivos, bem como garantindo a

    existncia de pluralidades de valores e nveis de desempenho, envolvendo os

    participantes e a famlia nos diferentes contextos.

    Por desenvolvimento cognitivo, Heckman entende o conjunto formado por quociente

    de inteligncia (QI), a boa comunicao e o rpido processamento de informaes.

    Para o mesmo autor, o desenvolvimento no cognitivo compreende caractersticas

    como perseverana, motivao, autoestima, confiabilidade, autocontrole e preferncias

    por lazer (HECKMAN, 2010).

    O debate acerca dos conceitos de desenvolvimento cognitivo e no cognitivo

    colaboram para expandir os entendimentos tradicionais e mais restritos sobre o que

    significa ter conhecimento, normalmente baseados unicamente em elementos

    cognitivos, em direo a elementos chamados no cognitivos. Essa diviso possibilita,

    assim, que novas formas de conhecimento sejam consideradas. Ela compatvel com

    a teoria das inteligncias mltiplas de Howard Gardner e leva a considerar o impacto

    de uma ampla gama de experincias de vida de crianas e adolescentes sobre o seu

    prprio desenvolvimento (GARDNER, 1995).

    5

    A cultura esportiva pode ser enunciada, resumidamente, como: o conjunto de aes, valores e entendimentos querepresentam o modo predominante de ser e estar na sociedade globalizada, em relao ao seu mbito esportivo,cujos significados so simbolicamente incorporados, principalmente, pela influncia dos meios de comunicaode massa (PIRES, 2000, p.15).

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    O esporte como possibilidade de desenvolvimento

    Inicialmente, cabe destacar aqui que a perspectiva do esporte educacional

    adotada para o Programa, no contra o desenvolvimento da aptido fsica ou

    contra o alto rendimento esportivo, o que vem ao encontro da compreenso de

    desenvolvimento humano da Fundao Vale. No entanto, o estmulo aptido

    fsica ou ao alto rendimento sem sentido ou significado, fora de contexto e sem

    relao com outros contedos no especficos ao esporte, mas que permitem

    interao com ele6, uma prtica que no condiz com a compreenso de

    desenvolvimento humano adotada pelo Programa de Esportes da Fundao Vale.A prtica mecanizada do esporte, que no exige reflexo nem construo, e que

    se caracteriza como mera reproduo mecnica, no contempla as necessidades

    do desenvolvimento humano proposto, em especial quando favorece uma

    minoria que demonstra aptido ou habilidades esportivas, e no permite trabalhar

    com aqueles alunos que no possuem as condies tcnicas exigidas pelo alto

    rendimento.

    Reforando a questo educacional da prtica esportiva, Gerez (2006) escreve que, na

    atuao profissional da educao fsica, independentemente do local em que

    realizada se em escolas, clubes, academias de ginstica ou hospitais , sempre existeuma relao de ensino e aprendizagem, de educador e educando, permeada pelas

    concepes de homem e de sociedade que se pretende desenvolver.

    No entanto, na maioria dos programas de educao fsica e esporte, no se observa a

    preocupao com os aspectos educacionais de sua prtica, pois o conhecimento de

    elementos antropomtricos, metablicos e funcionais direciona o planejamento das

    aulas ministradas, e pouca ateno direcionada ao ser humano que existe para alm

    dos mecanismos fisiolgicos. H algum tempo, Manuel Srgio (1990) j propunha que

    no faz sentido dizer que se educam os corpos fsicos: educam-se homens.

    Nos anos 1980, passou-se a repensar a relao da educao fsica com o esporte, em

    um momento em que se testemunhou uma escassez de propostas para justificar a

    educao fsica na escola como rea de desenvolvimento do saber cultural (UBARANA;

    DARIDO, 2006). Avanos significativos aconteceram nos anos 1990, um perodo em

    que ainda se observava a atuao da educao fsica pautada no treinamento do

    esporte como um fim em si mesmo, dividindo espao com uma abordagem mais

    ampla que considerava o esporte como contedo da cultura corporal, para alm da

    repetio mecnica. Com isso, legitimou-se o esporte e a educao fsica como reas

    eminentemente educacionais (UBARANA; DARIDO, 2006).

    Em 1998, os Parmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998b) incluram a educao

    fsica como uma das oito reas de conhecimento que configuram o saber no ensino

    bsico. Portanto, esse documento legitimou oficialmente o exerccio e o esporte como

    instrumentos de educao.

    de crucial importncia destacar que, com a publicao desses Parmetros,

    explicitou-se a necessidade de a educao fsica assumir objetivos distintos em

    relao ao esporte chamado profissional (ou de rendimento), oferecendo

    oportunidades a todos os alunos, de forma mais ampla do que seletiva ou exclusiva

    (UBARANA; DARIDO, 2006). Nesse ponto, tambm essencial enfatizar que se acredita

    ser possvel priorizar objetivos e alinhar condutas em favor das metas fsicas previstas,6 Nesse caso, entenda-se os anseios, as expectativas e os interesses despertados nos participantes pelo contato com

    uma determinada prtica esportiva.

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    Caderno de referncia de esporte

    mas, por outro lado, deve-se estar ciente de que a distino total entre rendimento e

    educao improvvel, como ser discutido a seguir.

    Na tentativa de se diferenciar esporte de rendimento e esporte educacional, tentou-se

    abolir o esporte exclusivista e com objetivo nico de aprimoramento da tcnica tendo

    em vista o rendimento mximo e, por conseguinte, resultados expressivos. Essa prtica

    denominada por Paes (2002)prtica esportivizada, pois reproduz o nvel esportivo de

    rendimento dentro do ambiente de ensino formal, sem espao para a aprendizagem

    de outros contedos indicados como no cognitivos no conceito de desenvolvimento

    humano adotado para o Programa Brasil Vale Ouro. Alm disso, quando se utiliza o

    esporte com caractersticas de rendimento em um contexto educacional, ocorre a

    situao de favorecimento de um pequeno grupo predisposto ao melhor desempenho

    que experimentar o sucesso nessa forma de esporte (de rendimento), enquanto, ao

    mesmo tempo, ocorre o insucesso da maioria excluda; isso, segundo Kunz (1994),

    representa um grande erro pedaggico.

    Freire e Scaglia ressaltam que no se deve confundir aprofundamento dos

    conhecimentos esportivos com treino para o rendimento (FREIRE; SCAGLIA, 2003).Portanto, conhecer a tcnica relevante para a apreenso do esporte; no entanto, esse

    conhecimento no deve ser desenvolvido de forma isolada, assim como no deve ser

    levado a nveis mximos de desempenho, ainda que, sem a tcnica, o prprio esporte

    seria descaracterizado.

    Reconhece-se que a prtica esportiva como meio de educao, em sua trajetria,

    principalmente no ambiente escolar, foi tratada, sobretudo, de maneiraprocedimental,

    com alguma parcela de perspectiva conceitual (factual), como se a nica forma de

    aprendizagem do esporte ocorresse por meio dos procedimentos tcnicos de cada

    modalidade. Pouco se avanou alm disso; apenas observaram-se algumas iniciativasquanto ao estudo das regras, dos fatos e da histria das modalidades (UBARANA; DARIDO,

    2006). Aprofundando e incrementando essa discusso, Santana e Reis afirmam que

    se justificaria ensinar esporte para que as crianas: a) aprendam uma manifestao

    cultural construda historicamente e valorizada pela nossa sociedade h longa data, de

    modo que, ao aprend-la, ganhassem autonomia para pratic-la por toda a vida, nos

    mais diferentes ambientes em que esta se manifestar; b) para que vivam melhor

    individualmente e em sociedade (SANTANA; REIS, 2006).

    Como afirmaram Tubino e Silva (2006), no a simples prtica do esporte que resultar

    nos milagres da conquista da paz, da incluso social, da promoo da sade, dofomento educao e compreenso desse fenmeno (esporte). Da mesma maneira,

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    O esporte como possibilidade de desenvolvimento

    a prtica pura e simples no resultar nos benefcios propagados pelo esporte entre

    eles, o desenvolvimento de valores como cooperao e respeito s regras, ao

    adversrio e aos integrantes da equipe e no pode ser o nico instrumento do

    processo de desenvolvimento integral e de formao da cidadania (TUBINO; SILVA,

    2006, p. 15). importante destacar ainda o fato de que o esporte no um fim em si

    mesmo [...], mas sim um meio de que se valem os profissionais de educao fsica para

    que os benefcios dos praticantes sejam alcanados (TUBINO; SILVA, 2006, p. 15).

    Agora, importante destacar que o esporte educacional tem estrutura e princpios

    bem definidos, os quais o justificam como meio de formao e de desenvolvimento

    humano, a saber:

    a) participao garantida em cada faixa etria, devem existir turmas com exigncias

    motoras diferentes e com diferentes possibilidades de expresso motora;

    b) reconhecimento de dificuldades e potencialidades individuais o aluno deve perceber

    o binmio treinamento/competio como algo possvel de ser realizado, o que lhe traz

    motivao. A atividade fsica bem orientada, dentro de um conhecimento prtico do

    esporte, tendo como valor intrnseco e motor da competio a ludicidade e a prpria

    competio, como exerccio com o outro, garante a motivao da prtica solidria,concreta, comunitria e de busca de objetivos pessoais, na qual o aluno respeitado

    em sua individualidade. Assim, pressupe-se a utilizao do conceito de jogo possvel,

    vindo do universo da pedagogia do esporte (PAES, 2002) que, metodologicamente,

    pode ser trabalhado com jogos ou com aes motoras adaptadas;

    c) representatividade de forma geral, grupos representativos so selecionados, em

    termos esportivos. Nessa proposta, a possibilidade de representar a escola em

    jogos e competies, para mostrar e aplicar o que foi aprendido, garantida e

    vista com naturalidade pelos alunos. Os eventos esportivos so planejados para

    cada categoria e para cada modalidade, de forma que no estejam aqum nem

    alm da possibilidade de realizao de cada grupo. O modelo pode ser o de jogosamistosos, festivais, torneios ou campeonatos, envolvendo ou no outras

    instituies escolares; de qualquer forma, importante que nesses eventos sejam

    promovidos debates sobre o convvio em grupo. Assim, deve-se destacar que os

    eventos esportivos so de fundamental importncia para a dimenso

    educacional do esporte;

    d) vida comunitria e ampliao da viso de currculo vivenciar a escola e/ou o

    ambiente educacional em que se estuda ou se passa a maior parte do dia, com

    colegas e amigos de outras turmas e perodos, garante aos alunos o acesso a uma

    das dimenses mais ricas e pouco exploradas, a dimenso de participao,

    promotora da vida comunitria. Esta envolve no apenas o contato entre os alunos,mas tambm entre as suas famlias, que, em funo das aulas e de outras atividades

    ou eventos, passam a acompanhar mais de perto a vida dos alunos;

    e) prtica esportiva vinculada a um projeto educacional diferentemente do que ocorre

    em grande parte dos clubes sociais, a ao pedaggica extracurricular segue um

    projeto educacional comum, que acompanha a histria dos alunos.

    A partir daqui, importante levantar algumas perspectivas e discusses que devem

    permear a metodologia de desenvolvimento do esporte no mbito do Programa de

    Esportes da Fundao Vale.

    A principal discusso consiste em retomar a aparente tenso produzida pela presenada tcnica esportiva no esporte educacional, sendo que, nessa perspectiva, tem-se a

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    Caderno de referncia de esporte

    utilizao do esporte como elemento de formao para a cidadania e como elemento

    de desenvolvimento humano.

    Para poder dar resposta aos objetivos propostos pelo Programa de Esportes da

    Fundao Vale7, tomando como base os pilares da educao estabelecidos no Relatrio

    Jacques Delors, Educao: um tesouro a descobrir (DELORS et al., 2012), o esporte com

    foco educacional deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais

    que, ao longo de toda a vida, sero, de algum modo e para cada indivduo, os pilares

    do conhecimento:

    a) aprender a conhecer isto , adquirir os instrumentos da compreenso;b) aprender a fazer para poder agir sobre o meio envolvente;c) aprender a conviver (aprender a viver juntos) a fim de participar e cooperar com os

    outros em todas as atividades humanas; ed) aprender a ser conceito essencial que integra os trs precedentes.

    claro que essas quatro vias do saber constituem apenas uma, dado que existementre elas mltiplos pontos de contato, de relacionamento e de permuta.

    Partindo desses quatro pilares da educao, o Instituto Ayrton Senna (2004)

    aprofundou essa abordagem, indicando as competncias que cada uma das

    aprendizagens poderia desenvolver nos educandos:

    a) aprender a conhecer competncias cognitivas;

    b) aprender a fazer competncias produtivas;c) aprender a conviver competncias relacionais;d) aprender a ser competncias pessoais;

    Com base nessas premissas, acredita-se que tais competncias se traduzem em

    atitudes diante da vida, ou seja, todas as crianas no caso do Programa de Esportes

    da Fundao Vale so vistas como detentoras de potenciais que sero transformados

    em competncias, por meio da educao para o desenvolvimento humano. Assim, medida que a ao educativa se processa, crianas e adolescentes vo transformando

    as competncias em atitudes que iro tomar em todos os campos da vida.

    Dentro dessa lgica, pode-se relacionar que:

    a) aprendendo a ser, as crianas podem vir a desenvolver competncias pessoais que

    vo formar novas atitudes ser elas mesmas e desenvolver um projeto de vida.

    b) aprendendo a conviver, as crianas podem desenvolver competncias relacionais

    que vo formar a atitude de conviver com as diferenas, de cultivar novas formas

    de interagir e de participar na vida social, fundamentadas na corresponsabilidade8;

    c) aprendendo a conhecer, as crianas podem desenvolver competncias cognitivasque vo lev-las a aprender a aprender, ao apropriarem-se dos instrumentos do

    conhecimento e utiliz-los para o bem comum;

    d) aprendendo a fazer, as crianas podem desenvolver competncias produtivas que

    vo lev-las a atuar produtivamente, facilitando o ingresso e a permanncia no

    novo mundo do trabalho.

    Tomando como base a compreenso de desenvolvimento humano da Fundao Vale,

    deve-se explorar o esporte no apenas como um elemento de fortalecimento da

    7 Esses objetivos esto relacionados no documento Proposta pedaggica de esporte: Brasil Vale Ouro

    (FUNDAO VALE, 2013).8 Corresponsabilidade (prefixo co = em conjunto) social a capacidade do ser humano de compartilhar

    responsabilidades entre dois ou mais atores envolvidos em uma situao ou contexto a ser vivenciado.

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    O esporte como possibilidade de desenvolvimento

    autonomia dos indivduos, mas tambm de construo de cenrios cooperativos que

    possam levar a um fortalecimento do capital social9 nos territrios trabalhados.

    As propostas de construo e de aplicao desses cenrios cooperativos so

    abordadas e apresentadas didtica e pedagogicamente no caderno de referncia

    12 desta mesma srie, intitulado Pedagogia da cooperao, no qual so

    relacionadas, dentro do possvel, aos quatro pilares da educao, especificados e

    abordados anteriormente.

    Alm disso, deve ficar claro, considerando-se o estudo de Bracht (2000), que o que se

    prope como esporte educacional no a abolio do ensino da tcnica, das destrezas

    esportivas ou das habilidades especficas, mas sim a subordinao desses aspectos a

    outros fins, com um novo sentido para o ser humano e para o prprio esporte.

    Um equvoco importante dessa discusso pedaggica ocorre em relao ao

    chamado tecnicismo pedaggico. Bracht (2000) v um tratamento pedaggico para

    o esporte, em especial no ambiente escolar, e aponta ainda que existe uma confuso

    entre o tecnicismo esportivo e o tecnicismo pedaggico, esclarecendo que no

    o fato de o professor trabalhar as tcnicas do esporte que o faz um tecnicista, do

    ponto de vista pedaggico.

    A partir da, pode-se pensar que, para alm da lgica do sistema esportivo, onde [sic]

    o rendimento almejado o mximo, no o possvel ou o timo, considerando as

    possibilidades individuais e dos grupos (BRACHT, 2000, p. 17), existe uma possibilidade

    de tratamento que pode ampliar essa lgica no esporte educacional, com o ensino

    da tcnica esportiva.

    Essas reflexes apresentadas por Bracht (2000) trazem discusso outro ponto

    importante: a presena do pensamento reflexivo na prtica esportiva. Observa-se

    claramente que, na formao humana por meio do esporte, necessria a ampliao

    das estratgias de ensino com vistas apreenso do esporte, bem como de outroscontedos no especficos ou exclusivos dessa prtica.

    No entanto, no se trata aqui de sair do contexto do campo ou da quadra para refletir

    o ou sobre o esporte: preciso combinar a prtica esportiva reflexo intencional e

    ao planejamento. No entanto, preciso tambm no reduzir a mudana apenas ao

    ato de acrescentar a reflexo prtica, e sim entender que a prpria prtica a prpria

    forma do movimentar-se esportivo precisa ser reconstruda (BRACHT, 2000, p. 18).

    Essa relao antagnica entre o esporte educacional e de rendimento aparece

    igualmente na medida em que se considera a presena da ludicidade na prtica

    esportiva. O rendimento ou desempenho esportivo sempre foi visto como oposto aoldico, como se a presena do ldico fosse possvel sem um contexto, como se fosse

    tratado a priori, como se no sofresse a influncia do momento histrico ou da razo

    cientfica. Ora, o ldico est presente em todas as aes humanas, e no porque se

    trata de uma atividade de aprimoramento tcnico que no se pode ter uma

    perspectiva ldica envolvida (BRACHT, 2000).

    O ldico, segundo Bracht (2000), no existe em sua forma pura; pelo contrrio, ele est

    presente em vrias formas de manifestao humana, pois moldado culturalmente.

    Nesse ponto, cabvel um pequeno relato de experincia vivenciada nas aulas de

    9 O conceito de capital social utilizado aqui segue a teoria de Coleman referenciadas nas obras de Robert Putnam(1993, 2000). A nfase est no encontro presencial das pessoas e nas aes de fortalecimento dos elos de confiana,de cooperao e de reciprocidade entre os indivduos.

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    futebol do Programa Brasil Vale Ouro: quando eram propostas algumas atividades com

    materiais diferenciados e regras estabelecidas, muitas vezes os alunos sugeriam o

    seguinte Professor, vamos brincar de correr na pista, pois mais legal!.

    Assim, parece claro que o ldico se manifesta e est presente em quase todos os

    momentos, apresentando relaes importantes com a existncia e com o percurso

    histrico dos sujeitos, e no precisa necessariamente ser moldado com base em uma

    brincadeira pr-concebida. Portanto, deve-se superar a competio da turma do

    rendimento versus a turma do ldico entre tantas outras polaridades , em favor de

    uma abordagem complexa ou sistmica do esporte como ferramenta de educao

    (BRACHT, 2000). Para ilustrar ainda melhor esse debate, destaca-se a afirmao de Paes,

    para quem o jogo possvel possui um carter ldico e ao mesmo tempo pode ser um

    facilitador para os alunos compreenderem a lgica tcnica-ttica do esporte (PAES, 2002).

    Essa uma discusso que avana muito quanto ao entendimento do esporte

    educacional na atualidade. Por isso, necessrio que se superem os jarges e os

    preconceitos sobre o tema, uma vez que o que se discute aqui o direito dos alunos

    a terem acesso de qualidade aos conhecimentos que envolvem o esporte.

    Considerando-se a heterogeneidade da populao e dos participantes deste

    Programa de Esportes da Fundao Vale, essencial utilizar-se de estratgias didticas

    para ensinar o esporte a todos. Assim, sempre existe algo a ser desenvolvido: aos que

    j sabem, deve-se oferecer desafios para que se aprimorem; aos outros menos aptos,

    deve-se propor estratgias de aprendizagem visando, o mnimo possvel, prtica

    esportiva da modalidade. Muitas vezes a nfase pode ser diferenciada em termos de

    estratgias, mas no quanto inteno pedaggica de se propiciar o esporte a todos.

    Quando se discute qualidade, est-se tratando do respeito ao aluno, s suas possibilidades

    e s suas peculiaridades. Alguns autores, como Freire (2003), confirmam essa perspectiva

    destacando princpios pedaggicos para se tratar do esporte; no caso, o futebol, mas quepodem facilmente, ser aplicados e utilizados em todas as demais modalidades ou prticas

    esportivas. Esses princpios so mostrados na Figura 1, a seguir.

    Figura 1.

    Assim, nas assertivas acima, pode-se substituir o termo futebol por esporte, que o

    significado permanecer o mesmo. Segue-se adiante com base nesse entendimento,

    com o intuito de ampliar e de justificar cada uma dessas assertivas.

    Na medida em que se prope ensinar o esporte a todos, toma-se como base a reflexo

    de Freire (2003) com relao ao que ele chama depedagogia da rua. A rua, literalmente

    sem a mediao de um mestre, foi e ainda um espao de diversas aprendizagens

    Caderno de referncia de esporte

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    O esporte como possibilidade de desenvolvimento

    esportivas. Alis, no se pode desconsiderar essa bagagem informal, pois ela enriquece

    o planejamento pedaggico. A dinmica de aprendizagem do esporte na rua no

    Brasil, em especial do futebol, como bem sabido muitas vezes no condizente

    com as concepes de mundo, de ser humano e de educao constantes dos

    pressupostos tericos que orientam o Programa de Esportes da Fundao Vale. Freire

    (2003) ilustra essa preocupao com a situao clssica da organizao dos times de

    futebol: as crianas comumente excluem os mais fracos. Com isso, obviamente no

    so criadas situaes de participao coletiva; quem no fosse habilidoso o suficientepara participar teria de ser, ao menos, o dono da bola.

    Talentos esportivos como Ronaldo Fenmeno10 tm o potencial de desenvolver

    suas habilidades e capacidades e, assim, obter um retorno promissor sem muito

    esforo e orientao. Infelizmente, tais casos so excees. Educadores entusiastas

    do esporte de rendimento que direcionam sua ateno apenas para esses

    talentos, limitam sua atuao quilo e queles que no lhes demandam

    muito trabalho. Para Freire (2003), os profissionais adeptos dessa

    conduta praticam quase que um darwinismo esportivo: uma seleo

    natural baseada em uma determinada caracterstica gentica, inata.Contudo, no essa a abordagem que se prioriza e defende no

    Programa de Esportes da Fundao Vale.

    Assim, no se trata apenas de ensinar a todos: deve-se fazer bem feito. Assim,

    ensinar bem o esporte a todos significa envolver-se, debruar-se sobre a

    fundamentao terica, analisar o perfil do grupo, avaliar, resolver os problemas que

    surgem nas atividades. Enfim, para essa tarefa necessrio um docente comprometido

    e com planejamento. Principalmente em comunidades mais pobres, comum o

    entendimento de que o projeto esportivo suficiente quando a bola est em campo,

    quando o jogo acontece e quando o lanche servido. Na verdade, o que importa

    ensinar todos os alunos com qualidade, independentemente do nvel de habilidadeque eles apresentem, das condies do espao de ensino-aprendizagem ou das

    condies sociais em que eles vivem. Concorda-se com Freire (2003) quando ele diz

    que todos podem aprender bem um esporte, com mais ou menos tempo.

    O terceiro princpio de Freire (2003) se aproxima e muito daquilo que h pouco

    foi definido como esporte educacional. Se se propuser a ensinar mais que o esporte a

    todos, outras habilidades, assim como atitudes, valores, fatos e conceitos devem estar

    explcitos na prtica do ensino do esporte.

    Na prtica do futebol, por exemplo, alm de passar, receber, finalizar e cabecear

    fundamentos tcnicos dessa modalidade , os alunos so tambm desafiados acorrer, saltar, melhorar a percepo espacial, aprimorar a lateralidade, condicionar o

    corao a maiores esforos, dentre outros benefcios do esporte, ampliando suas

    possibilidades de movimento e estimulando o ser humano a uma vida mais saudvel.

    Esses saberes ou conhecimentos cognitivos sero aliados aprendizagem de outras

    modalidades, como instrumentos para a melhoria da vida cotidiana, e muito

    provavelmente da sade dos sujeitos. No entanto, esse foco ainda est baseado na

    questo fsica e no conhecimento cognitivo. Com relao aos outros e inmeros

    10 Ronaldo Lus Nazrio de Lima, mais conhecido como Ronaldo Fenmeno ou ainda Ronaldinho (Rio de Janeiro,22 de setembro de 1976), um ex-futebolista brasileiro que atuava como atacante. Maior artilheiro na histria dasCopas do Mundo (com 15 gols), eleito trs vezes o melhor do mundo pela FIFA, Ronaldo foi revelado pelo Cruzeiro(MG), em 1993, e transferiu-se para o PSV (Holanda), em 1994 (Informaes disponveis em sites de esporte como:).

    RonaldoFenmeno

    (1976-)

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    saberes da formao humana, Freire (2003) exemplifica alguns deles: a convivncia

    em grupo, a construo das regras, a reflexo sobre essas regras, assim como a sua

    mudana, com importante contribuio para a formao moral e social dos sujeitos,

    o que se associa diretamente aos conhecimentos no cognitivos.

    Entretanto, essas aprendizagens no ocorrem automaticamente: elas devem ser

    estimuladas e mediadas pelos professores. Os alunos devem ser estimulados a resolver

    os conflitos nas aulas e os problemas do grupo, a fim de compreender suas aes

    individual e coletivamente. Deve-se estimular o desenvolvimento da autonomia, do

    ser humano integral e no apenas do craque , por meio das situaes vividas na

    prtica do esporte (FREIRE, 2003). Aqui, vale a proposio de Santana e Reis, quando

    afirmam que

    o esporte ensinado deveria contribuir para alm do aprendizado dos gestos esportivos,

    do bom posicionamento, do conhecimento das regras, para que a criana se

    descobrisse, transpusesse limites, aprendesse cooperao e conquistasse autonomia

    (SANTANA; REIS, 2006).

    Os mesmos autores apontam, ainda, a necessidade de haver um procedimento deeducar para a autonomia (SANTANA; REIS, 2006). Cabe, aqui, fazer uma ressalva

    importante sobre essa questo. Por muito tempo, principalmente na rea do

    exerccio fsico, aproximou-se o conceito de autonomia da ideia de independncia

    fsica, ou seja, a realizao de uma tarefa motora sem ajuda ou orientao especfica.

    Contudo, no se trata disso, pois o desenvolvimento da autonomia envolve questes

    muito mais amplas.

    Na viso de Gerez e outros (2007), a autonomia entendida como a capacidade que

    a pessoa tem para o exerccio do seu autogoverno, e construda a partir do

    conhecimento que ela tem de si e do mundo que a rodeia. Em uma ao autnoma,

    a pessoa deve ser capaz de levar em conta seus valores e necessidades individuais,assim como os valores sociais e a responsabilidade para com a coletividade, em uma

    escolha consciente. Do ponto de vista filosfico, uma vez que a autonomia

    a condio primeira de humanidade, no se pode negar, ento, que a possibilidade de

    constru-la, bem como de mant-la torna-se imprescindvel para o alcance de uma vida

    satisfatria e do aumento da sade entre os sujeitos, pois ser autnomo significa ser

    responsvel tanto do ponto de vista individual como coletivo (GEREZ et al., 2007, p. 56).

    Ou seja, se a autonomia um dos objetivos da pedagogia do esporte, ao conceito

    acima que se reporta, para alm da repetio independente e sem sentido de gestos

    motores e de padres mecnicos, o Programa de Esportes da Fundao Vale.

    A toda essa gama de conhecimentos que a formao em pedagogia do esporte

    engloba, pode-se acrescentar agora, tomando como base o pensamento de Paulo

    Freire (1983), a necessidade de se preocupar em ensinar o aluno a ser mais. Gerez e

    outros sintetizam esse discurso, apontando que a busca pelo ser mais

    jamais poder ser um ato solitrio, pois somente somos na medida em que os outros

    tambm so, o que inevitavelmente gera a necessidade de selar um compromisso

    solidrio com os outros homens em busca da libertao e transformao da realidade

    desumanizadora. Aprender criticamente , em suma, formar a autonomia. No um estado

    de apropriar-se do conhecimento do professor, mas um ato de formao e de interaoda prpria capacidade cognitiva do indivduo com o meio (GEREZ et al., 2007, p. 228).

    4

    Caderno de referncia de esporte

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    O esporte como possibilidade de desenvolvimento

    Aps essa citao, e com a anlise do conceito de autonomia, passa-se ao

    entendimento do quarto princpio proposto por Freire (2003): ensinar a gostar do

    esporte. claro que, nesse caso, deve-se prezar por uma prtica pedaggica que se

    utiliza de situaes motivadoras, que faam que o aluno passe a gostar do esporte.

    Assim, essa vivncia deve estimul-lo a levar o esporte para outros momentos e para

    outras esferas de sua vida. Para tanto, a prtica deve ser realizada com ateno, com

    liberdade, com um dilogo rico em sentidos e significados, sem exaurir os alunos com

    discursos autoritrios e impositivos, ainda to comuns na prtica do esporte.

    A compreenso de desenvolvimento humano defendida pela Fundao Vale concilia

    a promoo da autonomia individual com a busca pelo bem comum, como um

    convite para a reflexo sobre o valor dos valores na vida de todos e de cada um dos

    alunos.

    Considerando o estudo de Reverdito, Scaglia e Paes (2009), ao avanar no processo

    das reflexes comprometidas com a transformao e com a problematizao do

    esporte, o Programa Brasil Vale Ouro prope, de acordo com a abordagem

    anteriormente apresentada, por meio da prtica pedaggica:

    transcender a simples repetio de movimentos, para que eles sejam conscientes,

    crticos e reflexivos;

    assumir o compromisso com o ensinamento, com a transformao e com a

    autonomia dos sujeitos, fundamentados sobre princpios e procedimentos

    pedaggicos, valorizando sua cultura corporal e social, sobre os pilares da

    diversidade orientada para todos, independentemente dos pr-requisitos;

    contextualizar a ao e promover a valorizao de um ambiente formativo, mediador

    e facilitador por meio do educador;

    estabelecer um corpo referencial para que se tenha uma ao educativa no esporteque transcenda a simples repetio de movimentos, na qual o jogo constitui uma

    ferramenta e um contexto formativo por excelncia, dependendo da metodologia.

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    Ao final deste caderno de referncia, opta-se no por concluir, mas sim por considerar.

    Isso porque diante dos inmeros pontos apresentados, pela origem recente da

    pedagogia do esporte e pela necessidade de se avanar em direo a umacompreenso de seus objetivos e desafios quanto compreenso de

    desenvolvimento humano proposta, ainda se est longe de esgotar, em um nico

    livro-texto, os temas aqui expostos.

    Entende-se que os tpicos e os apontamentos apresentados sobre o esporte no

    poderiam ter a pretenso de esgotar a temtica proposta, diante de sua dimenso e

    complexidade, mas eles servem como reflexo e orientao para uma prtica esportiva

    mais humana, assim como para complementar e reforar tpicos e questes

    consideradas fundamentais para este debate, conforme apresentadas nos demais

    volumes desta srie, em especial os cadernos de referncia 10, intitulado Valores no

    esporte, e 12, Pedagogia da cooperao.

    Desse modo, os professores ou tcnicos, revestidos dos princpios e procedimentos

    pedaggicos aqui relacionados, podero ampliar seus valores educacionais e

    formativos, sustentados por uma ao educacional consciente de sua funo e sua

    personalidade pedaggica.

    prioritrio destacar que, para a aplicao dos preceitos e sugestes discutidas neste

    caderno, necessria uma formao docente especfica e de qualidade. Isso exige que

    o professor de educao fsica passe a apoiar-se em reas correlatas, como a educao,

    a filosofia, a sociologia e a histria.

    Diante das indicaes anteriores, pretende-se, assim, que esse novo conceito seja coerente

    e possvel, para a construo de uma pedagogia do esporte pautada em princpios ticos

    da formao humana, para alm dos preciosismos acadmicos e cientficos que,

    paradoxalmente, muitas vezes desaceleram o avano da prtica do esporte.

    Como diz Tubino (2002), as modalidades esportivas necessitam de uma forma

    especfica de aprendizagem, que estimulem as pessoas a procurar suas prticas. Por

    isso, deve haver uma pluralidade de mtodos utilizados na educao fsica e no

    esporte, cujas circunstncias sero decisivas na escolha de uma dessas opes.

    Dito de outro modo, a pedagogia do esporte em geral, e a sociologia em particular,

    devem ser experimentadas e refletidas constantemente no dia a dia da prtica

    esportiva. Para se aprender sobre elas, imprescindvel dar aula. Pois na aplicao no

    campo do esporte que os problemas so manifestados, resolvidos e respaldados pela

    reflexo coerente, continuada, sistematizada e rigorosa. Com efeito, essa construo no

    solitria: faz-se com os alunos e com outros professores, visando a uma pedagogia do

    esporte que contemple os anseios e as necessidades de todos os envolvidos.

    Em regra, o ensino do esporte deve orientar-se essencialmente se no

    exclusivamente pelo aprender a conhecere, em menor escala, pelo aprender a fazer.

    As duas outras aprendizagens dependem, na maioria das vezes, de circunstncias

    aleatrias, quando no so obtidas, de algum modo, como consequncia natural dasduas primeiras.

    6

    Caderno de referncia de esporte

    4. Consideraes finais

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    O esporte como possibilidade de desenvolvimento

    Pensa-se que cada um dos quatro pilares do conhecimento deve ser objeto de igual

    ateno por parte do ensino estruturado, a fim de que a educao ocorra como uma

    experincia global a ser realizada ao longo de toda a vida, nos planos cognitivo e no

    cognitivo e, ainda, no plano prtico, para o sujeito como pessoa e membro da sociedade.

    Isso pressupe que se supere a viso puramente instrumental da educao,

    considerada como a via obrigatria para se obter certos resultados (aquisio de

    capacidades diversas e fins de ordens econmicas), e se passe a consider-la em toda

    a sua plenitude: como realizao da pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser.

    Por fim, esse pode ser considerado o maior desafio do Programa de Esportes da

    Fundao Vale.

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