o espetaculo do futebol no jornalismo esportivo na internet

Upload: guilherme-coimbra-de-paula

Post on 08-Mar-2016

219 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

A

TRANSCRIPT

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de

    Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    O Espetculo do Futebol no Jornalismo Esportivo na Internet 1

    Marcelo Bechara S. N. FRANGE 2Faculdade Csper Lbero, So Paulo, SP

    RESUMO

    Este estudo ocupa-se da observao do espetculo nos eventos esportivos, em especfico, os jogos de futebol, e pesquisa como o jornalismo esportivo na internet trabalha para reproduzir todo o espetculo nas reportagens, atravs das inmeros tecnologias disponveis no meio digital. Para tanto, foi escolhida a mesma matria observada em trs portais diferentes (GloboEsporte.com, GazetaEsportiva.net e ESPN.com.br). O principal objetivo perceber a relao entre notcia e espetculo na produo jornalstica

    PALAVRAS-CHAVE: jornalismo esportivo; futebol; espetculo; internet; entretenimento.

    TEXTO DO TRABALHO

    1. O Jornalismo na Sociedade do Espetculo

    A teoria crtica da sociedade do espetculo, desenvolvida por Debord e

    publicada pela primeira vez em 1967, se mostra cada vez mais presente nos padres de

    vida das sociedades capitalistas, cujos mtodos de produo tm se transformado com

    os constantes progressos tecnolgicos. O crescimento da cincia e de novas tcnicas

    permitem novos meios de fabricao de contedos, que atingem todo o mundo

    globalizado e contribuem para o aparecimento de tendncias entre a populao.

    Antes de aprofundarmos mais no assunto, preciso entender o conceito

    elaborado por Debord, que afirma:

    Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condies modernas de produo se anuncia como uma imensa acumulao de espetculos. Tudo o que era diretamente vivido se afastou em uma representao (Debord, 1991, p. 9).

    Trabalho apresentado no DT 6 - GP Comunicao e Esporte no XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da 1Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    Mestrando do Curso de Comunicao da Faculdade Casper Lbero -SP, email: [email protected] 2

    ! 1

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de

    Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    Ao associar as palavras espetculo e representao, Debord crtica os modelos

    de existncia que propagaram com o capitalismo e aponta uma separao entre o meio

    existente e o representado. H um conflito entre a imagem retratada e as experincias

    vividas. Estas, em muitos casos, so substitudas por imagens que procuram reproduzir

    a experimentao da prtica em si. A relao social entre as pessoas acabar por ser

    medida pelas imagens, possuidoras de significados bastante expressivos nos dias atuais.

    Debord ainda diz que

    O espetculo apresenta-se ao mesmo tempo como a prpria sociedade, como uma parte da sociedade e como instrumento de unificao. Enquanto parte da sociedade, ele expressamente o sector que concentra todo o olhar e toda a conscincia. Pelo prprio facto de este sector ser separado, ele o lugar do olhar iludido e da falsa conscincia: e a unificao que realiza no outra coisa seno linguagem oficial da separao generalizada. (Debord, 1991, p. 10).

    O espetculo aparece em todas as partes da sociedade. Todo ato quase que

    necessariamente passa a ser um espetculo. Todo o modo de produo segue esta linha

    essencial nos padres da comunidade capitalista, pois a representao se torna a imagem

    da economia. Para sobreviver de acordo com as normas econmicas, o espetculo

    precisa estar inserido em uma sociedade, pois esta concentra todo o seu olhar e o

    consome de forma alienada.

    A maneira de produo se faz presente em todas as empresas do mundo

    globalizado. No jornalismo, obviamente, no diferente. No caso deste artigo, em

    especfico o jornalismo esportivo, os mecanismos de criao de contedo so similares

    ao de qualquer outra companhia, que tem como objetivo principal atingir o maior

    nmero de vendas de seu produto, lgica bsica do capitalismo. Um veculo de

    comunicao online publica uma enorme quantidade de notcias em poucos minutos.

    Como no possui a restrio do limite fsico, diferente do impresso, toda e qualquer

    novidade pode ser transformada em matria e publicada. Inclusive, novas pautas

    surgiram por conta dessa possibilidade e tambm por conta da espetacularizao, tema

    que ser abordado mais adiante.

    ! 2

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de

    Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    Ainda sobre a forma de fabricao em srie, o jornalismo como um todo est

    inserido nos conceitos de indstria cultural, estudados na Escola de Frankfurt por

    Adorno e Horkheimer, que afirmam:

    () a tcnica da indstria cultural levou apenas padronizao e produo em srie, sacrificando o que fazia a diferena entre a lgica da obra e a do sistema social. Isso, porm, no deve ser atribudo a nenhuma lei evolutiva da tcnica enquanto tal, mas sua funo da economia actual (ADORNO E HORKHEIMER, 1947, p. 57).

    A padronizao pode ser refletida na quantidade de contedos parecidos

    encontrados nos jornalismo esportivo digital. Tudo planejado de acordo com o poder

    financeiro, desde os gastos at o retorno do investimento. O planejamento interfere em

    todas as etapas da produo e tambm na definio da pauta. A agenda s ser

    estabelecida em definitivo aps a mensurao detalhada dos possveis resultados que a

    matria pode alcanar. E, pode-se dizer que quanto mais espetacularizada a notcia,

    maior a possibilidade do objetivo ser atingido.

    A relao entre espetculo e notcia mais um produto do desenvolvimento

    histrico do capitalismo. Os trabalhadores, engolidos pelo sistema, contribuem para o

    progresso destes mecanismos, e o vnculo entre a vida real e a reproduo do espetculo

    andam de mos dadas. Cludio Coelho diz

    O espetculo confirma o carter mercantil das relaes sociais capitalistas; a lgica da separao um componente essencial das relaes sociais capitalistas. O capitalismo fruto de um processo histrico que separou os trabalhadores dos meios de produo e tornou possvel a transformao da fora de trabalho em mercadoria (COELHO, C. N. P, 2006, p. 16).

    Hoje, com o avano tecnolgico dos dispositivos mveis, a facilidade de se

    registrar uma imagem ou um acontecimento, juntamente com as redes sociais para a

    divulgao, contribui para que qualquer indivduo possa ser o comunicador de tal fato.

    Reportar um evento nunca esteve to fcil, e isto influencia diretamente na atividade

    jornalstica. Uma pessoa comum pode exercer o papel do jornalista mesmo que de

    forma amadora. Ou seja, a fora de trabalho se tornou mesmo uma mercadoria. Ela faz

    parte da produo em srie dos contedos. J no mais raro encontrar reportagens que

    ! 3

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de

    Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    tiveram origem de vdeos ou fotos registradas por cidados comuns, ou uma mensagem

    numa rede social se torna motivo para as mais diversas pautas.

    O jornalismo esportivo no ambiente online como outro qualquer produto. A

    notcia a base da sustentao de um veculo de comunicao. a partir dela que a

    empresa tem noo de sua grandeza e potencial. A audincia da notcia reflete

    diretamente no faturamento, e o mundo espetacularizado possibilita novos caminhos

    que contribuem para prender ateno do pblico.

    Coelho ainda afirma que o mundo inteiramente dominado pela economia o

    mundo espetacularizado: a representao da realidade aparece como realidade separada

    (COELHO, C. N. P, 2006, p.16). neste meio domado pelo poder do dinheiro que

    encontra os rumos do jornalismo esportivo na internet, e a principal forma de receita a

    publicidade, que ser debatida a seguir.

    2. A Publicidade na Notcia

    No de hoje que a maneira mais comum do jornal obter lucro atravs da

    venda de espaos publicitrios. Impresso ou digital, h lugares reservados para o setor

    comercial realizar a negociao com as propagandas. Com o natural crescimento do

    capitalismo, aumentou tambm a quantidade de produtos, e a concorrncia entre eles foi

    alm da gndola dos mercados. A busca por uma posio de mais destaque, mais fcil

    de ser visualizada pelo cliente, comeou a ser mais um motivo de competio, em que a

    lgica para ser o vencedor simples: quem oferece mais dinheiro, vence.

    Os websites tm disponibilizado as mais diversas formas de obter patrocnio em

    suas notcias. So espaos localizados nas extremidades, banners enquanto a notcia

    lida, embaixo, em cima, por todos os lados. Uma poluio visual, em alguns casos. O

    filsofo francs Baudrillard diz que

    A publicidade constitui no todo um mundo intil, inessencial. Pura conotao. No tem qualquer responsabilidade na produo e na prtica direta das coisas e contudo retorna integralmente ao sistema dos objetos, no somente porque trata do consumo, mas porque se torna objeto de consumo (Baudrillard, 2012, p. 174).

    ! 4

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de

    Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    Embora Baudrillard afirme que a publicidade no tem responsabilidade na

    criao do produto, ela interfere de outra maneira no meio jornalstico. Conforme uma

    determinada pauta gera um alto nmero de visualizaes - principal forma de

    mensurao de audincia na plataforma digital - mais valorizado se torna o site no

    momento da negociao dos espaos publicitrios. A seguir este pensamento, algumas

    matrias so redigidas apenas por significar grande quantidade de cliques. No importa

    se o contedo apelativo, anti-tico ou relacionado a vida particular de alguma

    celebridade, a nota publicada com a inteno simplesmente de obter ganhos de

    audincia e, consequentemente, no futuro, maior poder de barganha.

    Alm do espao comercial destinado, a publicidade conseguiu um novo jeito de

    expor seu produto no meio jornalstico. A instituio envia os produtos, em forma de

    press kit e gratuito, para os reprteres especializado na rea de interesse. O jornalista

    tem a possibilidade de experimentar o objeto, descobrir seus pontos positivos e

    negativos, e redigir um texto apenas sobre o produto. Se ele gostou, ponto positivo para

    a atitude da empresa que ter mais uma avaliao benfica para a mercadoria e no ter

    custos com a compra de mais locais para realizar propagandas. Obviamente, a empresa

    est sujeita tambm a uma anlise negativa. bom ressaltar que esta prtica no

    totalmente incorreta, pois h comum interesse em ambas as partes.

    Existe ainda mais uma parceria entre esses dois profissionais de comunicao

    que interfere na criao de pautas. Diferente da anterior, esta mediada por dinheiro.

    Antes de nos aprofundarmos, constatamos em Baudrillard que "a publicidade tem por

    tarefa divulgar as caractersticas deste ou daquele produto e promover-lhe a venda. Esta

    funo objetiva permanece em princpio sua funo primordial" (2012, p. 174). Os

    publicitrios encontraram mais uma forma de comunicar os detalhes de seus produtos,

    mas no diretamente. Atravs de post patrocinados, o profissional de publicidade

    oferece dinheiro e seu item ao jornalista e, em troca, deseja uma reportagem listando os

    benefcios, caractersticas e despertando o interesse do leitor em adquirir o produto.

    O objeto lhe vendido mas a publicidade lhe ofertada. O jogo publicitrio reconcilia-se assim habilmente com um ritual arcaico de dom e de presente, ao mesmo tempo que com a situao infantil de gratificao passiva pelos pais.

    ! 5

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de

    Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    Todos os dois visam transformar em relao pessoal a relao comercial pura (Baudrillard, 2012, p. 181).

    sob est tica, explicada por Baudrillard, que podemos inserir boa parte a

    imprensa praticada no ambiente online. O jornalismo corre o risco de se tornar refm da

    publicidade, e esta, por sua parte, enxerga uma oportunidade maior de negcios para

    atingir suas metas. No jornalismo esportivo, a propaganda tambm est presente e faz

    parte do espetculo. Assim como ela financia matrias jornalsticas, patrocina

    igualmente os eventos esportivos.

    Todo esses fatores citados influenciam na produo da informao esportiva na

    internet. O espetculo, a publicidade, tudo envolve a maneira como redator escreve a

    matria, como tenta transmitir para o pblico aquilo que acontece atravs de palavras,

    imagens e vdeos.

    Como este artigo tem o foco no jornalismo esportivo, iremos observar nos

    prximos itens a juno do esporte mais popular do planeta, o futebol, com os recursos

    disponveis pela tecnologia para descrever reportagens e o peso da publicidade como

    fator determinante de assuntos no meio digital.

    3. O Espetculo Futebol

    Ningum nunca conseguiu explicar exatamente como o futebol se tornou o

    esporte mais popular do planeta, e nenhum torcedor tambm conseguiu explicar sua

    paixo pelo clube que apoia. O mais impressionante do futebol foi a capacidade de

    atingir todas as classes sociais e se transformar em um dos produtos mais miditicos da

    sociedade contempornea.

    Desde o surgimento, o esporte da bola redonda sempre atraiu multides. As

    primeiras partidas no haviam limites de jogadores por equipes e o tempo no era

    cronometrado. O futebol chegou a ser condenado pelos reis britnicos no incio do

    sculo IV. O jornalista Eduardo Galeano relembra que em 1349, Eduardo III incluiu o

    futebol entre os jogos estpidos e de nenhuma utilidade, e h ditos contra o futebol

    assinados por Henrique IV(2013, p. 30). Entretanto, todas tentativas de conter a

    proliferao do esporte foram em vo.

    ! 6

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de

    Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    Atualmente, o fanatismo pelo futebol pode ser equiparado ao da religio. Os

    dois movimentam milhes de pessoas, exalam devoo por seus dolos, criam mitos que

    possuem a funo de representar os fiis, existem os rituais antes, durante e depois do

    evento. A partida de futebol celebrada para multides da mesma forma com que o

    padre ou pastor celebra a missa. Os jogadores precisam vencer para confortar os

    torcedores, do mesmo modo que o proco procura usar a palavra para confortar seus

    ouvintes. H mais dois ponto em comum entre os dois: atraram dinheiro e se tornaram

    mais um objeto de consumo da sociedade do espetculo.

    O futebol se profissionalizou de vez em 1904, com a criao FIFA, Federao

    Internacional de Futebol Associado, e desde ento, o esporte se tornou alvo favorito de

    grandes empresas em busca de exposio de marca, empresrios de atletas envolvidos

    em transaes milionrias, concorrncia acirrada entre os canais de televiso para obter

    os direitos de transmisso, os clubes dispostos a pagar salrios de exorbitantes aos

    jogadores, alm de executar planos de scio-torcedor com a finalidade de rentabilizar

    a paixo do f e no somente com a venda de ingressos.

    O jogo se transformou em espetculo, com poucos protagonistas e muito espectadores, futebol para olhar, e o espetculo se transformou num dos negcios mais lucrativos do mundo, que no organizado para ser jogador, mas para impedir que se jogue. (GALEANO, E. 2013, p. 10).

    Com o passar dos anos e o crescimento fenomenal, o futebol deixou de ser

    apenas um esporte e comeou a ser visto como um produto de entretenimento. Os

    veculos de comunicao tm no futebol uma das principais mercadorias a serem

    exploradas e vendidas. No papel, TV ou nos websites, grande parte da audincia deve-se

    s notcias relacionadas ao futebol.

    Em 2014, os clubes brasileiros de futebol renegociaram as cotas de transmisso

    com a emissora oficial das competies, a Rede Globo de Televiso. Os nmeros,

    aproximadamente, chegam ao valor de R$ 900 milhes, e est entre as cinco maiores 3

    receitas de TV do mundo. um investimento altssimo, porm com o retorno bem

    possvel de ser atingido.

    Fonte: Futebol Business, http://bit.ly/1zljKA1. Acessado em 7 de dezembro de 2014.3

    ! 7

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de

    Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    Ao mesmo tempo em que o esporte se tornou indstria, foi desterrando a beleza que nasce da alegria de jogar s pelo prazer de jogar. Neste mundo do fim do sculo, o futebol profissional condena o que intil, e intil o que no rentvel (GALEANO, E. 2013, p. 10).

    O produto futebol se torna refm dos principais investidores. So eles que

    planejam o calendrio de jogos, influenciam diretamente nas finanas dos clubes, em

    algumas transaes de jogadores. O futebol se tornou um espetculo to grande que est

    em evidncia praticamente todos os dias. Nos jornais digitais, a pauta do caderno de

    esportes gira em torno da programao dos clubes. Geralmente, os jogos acontecem nas

    quartas-feira e aos domingos. Nestes dias, as matrias so sobre o jogo. No dia seguinte,

    a repercusso do resultado da partida, e, posteriormente, sobre o prximo duelo. uma

    rotina de pautas muito parecidas ao longo dos torneios. Um ciclo vicioso. Este excesso

    de midiatizao uma caracterstica da Sociedade do Espetculo, como lemos em

    Debord O espetculo nada mais seria que o exagero da mdia, cuja natureza, indiscutivelmente boa, visto que serve para comunicar, pode s vezes chegar a excessos. Frequentemente, os donos da sociedade declaram-se mal servidos por seus empregados miditicos (DEBORD, 2003, p. 171).

    O jornalismo esportivo tem sofrido constantes crticas sobre a maneira com que

    tem conduzido as coberturas dos eventos. Direcionado pela audincia, a produo de

    informao esportiva na internet tem tentado de todas as formas reproduzir, na matria,

    o espetculo que se tornou os jogos de futebol. Quanto mais prximo chegar disto, mais

    contedo disponvel o leitor ter para se entreter nas reportagens.

    O espetculo naturalmente atrai os olhares de todos e neste caminho que o

    jornalismo esportivo na internet procura seguir. Os progressos tecnolgicos contribuem

    para estes mtodos de reportagem. O produto precisa ser interessante, de qualidade e

    atraente para ser vendido, como qualquer outro. No item a seguir, iremos observar,

    detalhadamente, o relato de uma das partidas mais miditicas da Copa do Mundo de

    2014, por trs diferentes sites. Examinaremos toda a produo, a forma com que a

    notcia foi elaborada, as imagens, vdeos. Tudo o que foi feito para tentar exibir o

    espetculo acontecido.

    4. A Reproduo do Espetculo no Jornalismo Esportivo na Internet

    ! 8

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de

    Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    Ao relacionar o futebol e espetculo, impossvel no recorrer ao maior evento

    que rene estes dois elementos: a Copa do Mundo. Realizado no Brasil, aps 64 anos, a

    competio que conta com a participao de 32 pases, movimenta toda a economia do

    pas sede. Os nmeros do impacto nas finanas podem chegar prximo aos R$ 30 4

    bilhes, ou quase 1% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com os estudos da

    Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas (Fipe/USP).

    A dimenso da Copa do Mundo tomou propores exorbitantes. A juno da

    paixo do povo pelo esporte com o espetculo do evento de futebol se transformou em

    um dos produtos com mais potencial a serem explorados economicamente, em todas as

    esferas comerciais. Com o jornalismo esportivo na internet no diferente. A atividade

    consiste na tentativa de reproduzir o espetculo nas pginas virtuais, seja com as

    palavras ou com imagens e vdeos. O importante atrair o leitor a, pelo menos, clicar na

    matria e contabilizar como audincia ao final do ms.

    (), os jornais dirios e as revistas semanas fazem um jornalismo cada vez mais preocupado com o sucesso de mercado, regulados por parmetros e metas mercadolgicas. Alguns desses veculos sofreram grandes reestruturaes e passaram a adotar sistemas de controle de produtividade e produziram manuais de redao para orientar seus profissionais a seguirem um padro de trabalho (MARQUES, F. C, 2006, p. 35).

    A estrutura da notcia na web precisa ser concisa e no muito longa. Resultado

    de pesquisa entre os leitores, a informao principal aparece logo no primeiro pargrafo

    ou lead. Para se tornar mais agradvel a leitura na tela do computador, h o uso de

    diversas imagens, vdeos, infogrficos, tudo para no deixar to carregado e pesado. Se

    h muitas informaes, pode-se desdobrar em outras notcias e publicar aos poucos, o

    que at contribui para a quantidade de matrias que entram no ar, algo muito valorizado

    no meio online.

    O que mais valoriza um relato de uma partida de futebol os vdeos com todos

    os lances do confronto. Ser detentor dos direitos de transmisso coloca o veculo

    frente de quase todos os concorrentes que no podem postar as imagens. Alm de atrair

    o leitor, o vdeo contribui para o f de esporte permanecer na notcia por mais tempo.

    Este artifcio tambm contabilizado no momento de negociao de publicidade.

    Dados do Fipe/USP: http://bit.ly/1GeZq3I, acessado em 8 de dezembro de 20144

    ! 9

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de

    Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    Portanto, o reprter no faz isso pensando apenas na qualidade jornalstica, mas em

    colaborar financeiramente para o crescimento da empresa. Marques ressalta essas

    caractersticas na fuso notcia e mercadoria.

    A transformao do jornal e da notcia em mercadoria ocorreu paralelamente ao aumento da importncia do setor comercial na empresa jornalstica. Cada vez mais as diretrizes comerciais da empresa determinam no s o espao das matrias redacionais, mas diversas estratgias comerciais, ao criar promoes de distribuio de outros produtos, como dicionrios, colees temticas e outros brindes, com a finalidade de alavancar os ndices de tirarem e circulao (MARQUES, F. C, 2006, p. 37).

    Nos textos sobre o jogo Brasil e Chile, vlido pelas oitavas de final da Copa do

    Mundo, em Belo Horizonte, possvel identificar as diferenas entre as reportagens dos

    sites escolhidos, principalmente pelo poderio financeiro de cada um.

    No GloboEsporte.com, antes mesmo da crnica, aparece o bloco com vdeos de

    todos os lances da partida, desde o primeiro minuto ao ltimo momento do drama

    brasileiro, inclusive uma filmagem do pr-jogo que resume os principais passos das

    classificaes de ambas as equipes. Ao todo, so 24 vdeos disponveis para o

    espectador. O relato comea com dois pargrafos, que descrevem o resultado final e os

    personagens da partida, alm de uma simples frase do goleiro Jlio Csar, considerado o

    heri do confronto. Logo abaixo, o leitor tem o boto Expandir a crnica completa,

    que, em palavras, o reprter relata os acontecimentos do jogo. Para no deixar a leitura

    carregada com longos textos, h a insero de nove fotografias, todas retratam as

    diferentes emoes, comemoraes e dramas ao longo dos 120 minutos. As imagens

    intercalam, obrigatoriamente, com o texto para que haja uma pausa para o leitor. H,

    ainda, mais um vdeo com outros lances. Alm disso, o jornalista tambm descreve a

    partida em forma de tpicos, entitulando os momentos-chave. Isto facilita a busca por

    uma ocasio especfica caso o f queria procurar.

    O ESPN.com.br possui uma particularidade interessante. A TV ESPN transmitia

    aos jogos da Copa do Mundo, mas no era a detentora oficial dos direitos e isso refletia

    diretamente no site da companhia. A plataforma digital s poderia colocar os vdeos

    com os gols por um perodo de 24 horas aps o encerramento da partida. Logo aps

    ! 10

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de

    Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    disso, era obrigado a retirar do ar. Como alternativa de agradar o f do esporte e tentar

    reproduzir um pouco do espetculo, foram inseridos trs vdeos, sendo um no

    relacionado diretamente com o confronto, com o ttulo de Angstia, festa e pegao:

    Vila Madalena lota de belas mulheres, gringos e famosos durante jogo do Brasil. Este

    um bom exemplo de como o jornalismo esportivo na internet utiliza todos os recursos

    possveis para prender o leitor na matria. Os outros so comemoraes de torcedores,

    fora do estdio. Mais um momento do espetculo Copa do Mundo junto com o

    jornalismo.

    A imprensa contempornea se diferencia bastante da imprensa de algumas dcadas atrs, quando os grandes jornais se importavam mais com a misso jornalstica de formao de uma opinio pblica, obviamente com base na perspectiva poltica de cada jornal, ao contrrio do que acontece na atualidade, em que predomina o padro jornalstico de prestao de servio. Esse conceito de misso foi deixado de lado e substitudo pela preocupao da empresa jornalstica em atingir melhores resultados econmicos. Houve, dessa maneira, uma significativa transformao da imprensa escrita e da notcia em uma mercadoria especfica que deve ser vendida em dois mercados diferentes: dos anunciantes e dos leitores (MARQUES, F. C, 2006, p. 33).

    As diferenas da qualidade da notcia dependem diretamente da situao

    financeira o veculo de comunicao. a mesma lgica de uma mercadoria de

    determinada empresa. Se o investimento alto, a chance de ter um retorno econmico

    so bastante provveis. Ainda no site do ESPN.com.br, h diversos links de outras

    matrias espalhados ao longo da reportagem, conhecidos como Saiba Mais. um

    mtodo utilizado para aguar o leitor a ir para outra matria, sem muito esforo e no

    precisar ir para o site concorrente. Ao todo, so nove notcias inseridas ao longo do

    texto.

    O GazetaEsportiva.com.br sofre com a falta de investimentos, em relao aos

    concorrentes. A plataforma no disponibiliza de colocar nenhum tipo de vdeo, seja de

    gols, repercusso, torcida ou entrevistas, o que empobrece a notcia e a faz ter um pouco

    menos de credibilidade do que as demais. O reprter utiliza apenas trs imagens para

    ilustrar os momentos do confronto e faz o uso do subtpico O jogo, no qual descreve,

    praticamente minuto a minuto, o que aconteceu na partida.

    ! 11

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de

    Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    O reprter precisa publicar o relato instantes depois do encerramento do duelo.

    Diferente do impresso, na internet o jornalista editar a matria depois de publicada. As

    imagens, vdeos, correes e acrscimo de informaes so realizados depois de ter ido

    ao ar. Alm da agilidade para redigir, preciso ser imediato. O mundo digital exige um

    imediatismo constante. Paul Bradshaw afirma que

    Isso cria uma presso para simplificar o processo editorial e o nmero de estgios que o reprter precisa passar at a publicao/distribuio. O fato de que o jornalista pode publicar sem o filtro editorial to significativo quanto o de que qualquer um possa faz-lo. (BRADSHAW, P. 2014, p. 116).

    A qualidade pode ser atingida com o imediatismo. A presso contribui para que

    haja erros, que s sero detectados depois de veicular. Porm, a facilidade dos

    mecanismos de edio no meio online serve no somente para correo, mas para

    rechear a nota de novas imagens, vdeos, udios e tudo o que h de disponvel.

    Inclusive, em alguns casos, muda-se at o ttulo para tornar mais chamativo. nesta

    linha que o pesquisador faz o uso de Wolfgang Haus, em sua teoria da esttica da

    mercadoria. Perante o mundo dos trabalhadores, como mundo de compradores e consumidores, o capitalista, portanto, como escreveu Marx nos Compndios, procura todos os meios para incit-los ao consumo, dar novos estmulos s suas mercadorias e inculcar-lhes novas necessidades - e este trecho importante exatamente para discutir a questo da criao de novas necessidades (HAUG, W. 1997, p.149).

    O jornalista utiliza todos as possibilidades para incitar o leitor a ler a matria, a

    consumir seu produto. O reprter se preocupa com a aparncia, a forma esttica, o

    contedo, a mensagem, da mesma maneira que um empresrio do ramo de alimentos se

    preocupa com a embalagem de seu produto.

    5. Consideraes Finais

    O jornalismo esportivo na internet dispe de inmeras formas de reproduzir o

    espetculo dos eventos do futebol nas reportagens jornalsticas. Com o progresso da

    tecnologia, surgem novos mtodos que colaboram para o enriquecimento e qualidade

    ! 12

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de

    Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    das notcias. Em veculos de comunicao com maior poder aquisitivo, as atividades

    jornalsticas cumprem bem seus objetivos.

    Entretanto, o imediatismo e a velocidade para se produzir contedos fazem com

    que o jornalista fique exposto possveis informaes erradas, texto mal redigidos,

    entre outros problemas que costumamos lidar diariamente nas redaes. Embora

    encontre estas dificuldades, o jornalismo digital se mostra totalmente mergulhado na

    espetacularizao da sociedade e nos conceitos de indstria cultural. O mecanismo de

    produo tem se mostrado eficaz em diversas em representar o que acontece na

    sociedade cada vez mais espetaculariza, na linha dos pensamentos crticos feitos por

    Guy Debord.

    Outro fator que se mostra mais determinante no jornalismo digital atualmente

    a presena macia de publicidade nas matrias. Em forma de banners, pop-ups, entre

    outros tipos, a publicidade a principal fonte de renda para os veculos de comunicao

    e se tornou um fator decisivo na escolha de pautas a serem publicadas. Trabalho no

    texto embasado nas ideias de Baudrillard, a propaganda procura mostrar as

    caractersticas de seu produto, e, em busca deste objetivo, se tornou comum financiar

    matrias para exibir o item a ser vendido. Ao entrar com o dinheiro, jornalismo e

    publicidade trilham o mesmo caminho.

    A produo de informao esportiva na internet tem expandido conforme a

    progresso dos recursos tecnolgicos que facilitam o trabalho dos jornalistas no

    momento de elaborar a matria. preciso saber dosar a quantidade de imagens e vdeos,

    sem esquecer que o elemento principal da reportagem ainda o texto. Embora o vdeo

    ocupe a posio de destaque, no topo da reportagem, o reprter no pode deixar de

    escrever com qualidade e ateno necessria, por mais que a publicao seja urgente, a

    prioridade deve ser sempre a informao correta

    REFERNCIAS

    BAUDRILLARD, J. O Sistema dos Objetos. So Paulo. Perspectiva, 1989, p. 173-190. BRADSHAW. P. Instantaneidade: Efeito da rede, jornalismo mobile, consumidores ligados e o impacto do consumo, produo e distribuio. In: CANAVILHAS, J. (Org). Webjornalismo - 7 caractersticas que marcam a diferena. Covilh. Labcom, 2014, p. 111-136. COELHO, C.N.P. Em torno do conceito de sociedade do espetculo. In: COELHO, C.N.P.;

    ! 13

  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XXXVIII Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao de Cincias da Comunicao - Rio de

    Janeiro - 04 a 07 de setembro 2015

    CASTRO, V. J. (Orgs.). Comunicao e sociedade do espetculo. So Paulo. Paulus, 2006, p.13-30. DEBORD, Guy. A sociedade do espetculo. Lisboa: Mobilis in Mobile, 1971. __________. "Comentrios sobre a sociedade do espetculo. In: A sociedade do espetculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. FERNANDEZ, Martin. Jlio Csar pega dois pnaltis, Chile bate na trave, e Brasil vai s quartas. globoesporte.com. Disponvel em Acessado em 10 de janeiro. 2015. GALEANO, Eduardo. Futebol ao Sol e Sombra. Porto Alegre. L&PM Editores, 2013. HAUG, Wolfgang F. Crtica da Esttica da Mercadoria. So Paulo. Editora Unesp, 1996, p. 279-331. JUNIOR, Helder. Brasil sofre e s vence Chile nos pnaltis para ir s quartas. GazetaEsportiva.net. Disponvel em < http://www.gazetaesportiva.net/noticia/2014/06/selecao-brasileira/brasil-sofre-e-so-vence-o-chile-nos-penaltis-para-ir-as-quartas.html> Acessado em 10 de janeiro.2015. LINARES, A.; MATTOSO, C.; BORGES, L.; COBOS, P. ESPN.com.br. Disponvel em < http://espn.uol.com.br/noticia/421704_julio-cesar-salva-e-brasil-vence-no-estilo-libertadores > Acessado em 10 de janeiro. 2015. MARQUES, F. C. Uma reflexo sobre a espetacularizao da imprensa. In: COELHO, C.N.P.; CASTRO, V. J. (Orgs.). Comunicao e sociedade do espetculo. So Paulo. Paulus, 2006, p.33-59.

    ! 14