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Revista Educação Especial ISSN: 1808-270X revistaeducaçã[email protected] Universidade Federal de Santa Maria Brasil de Freitas Rossi, Tânia Maria; Soares Carvalho, Erenice Natália Investigando o espectro do autismo: perfil do alunado e intervenção educacional na rede pública do Distrito Federal Revista Educação Especial, núm. 29, 2007, pp. 1-9 Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=313127399007 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Revista Educação Especial

ISSN: 1808-270X

revistaeducaçã[email protected]

Universidade Federal de Santa Maria

Brasil

de Freitas Rossi, Tânia Maria; Soares Carvalho, Erenice Natália

Investigando o espectro do autismo: perfil do alunado e intervenção educacional na rede pública do

Distrito Federal

Revista Educação Especial, núm. 29, 2007, pp. 1-9

Universidade Federal de Santa Maria

Santa Maria, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=313127399007

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Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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07111/11 :: Revistado Centrode Educac;Ao ::

... Cadernos :: edlcáo: 2007 - N° 29 > Editorial> Índice> Resurro > Artigo

Investigando o espectro do autismo: perfil do alunado e interven~io educacional na redep{ibllca do Distrito Federal

Tlnia Maria de Freit•• Ro••i*Erenlce Nilt6111!1 Soares C8rvl!llho**

o projeto de pesquisa Perturba~¡;es do espectro de autisrro - perfil do alunado e lntervencáoeducacional na rede pública do Distrito Federal integra o Progran-e de Apoio a Educa~ao Especial,iniciativa da Secretaria de Educac;ao Especial, em parceria com a Capes, que vem alocandoinvestirrentos técnicos e financeiros para apolar e incentivar a pesquisa em educacño especial. Corrotal, o projeto vojta-se a realízacño de investigac;6es e estudos acerca da inclusáo de pessoas comperturbacñes do espectro do autisrro e a capecftacáo, em nível de pós-qraduacño lato estricto sensude profissionais que atuam na educacáo especial. Pretende ser um, dentre os múltiplos instrurrentos ea~¡;es, que possibilitem o atendirrento das atuais prerrogativas educacionais que regem a PolíticaNacional de Educa~ao: a lnclusño escolar de todos os alunos. A literatura aponta que ainda há umgrande contingente de pessoas com e sem deficiéncia, sem escolerízacño, excluído do processoeducacional e do atendirrento educacional especializado, apesar dos esforc;os até entáo envidadosnesse sentido. O atendirrento educacional especializado aos alunos com deñcléncla vinha sendodesenvolvido, prioritariarrente, em c1asses e escolas especiais, em salas de recursos, por rreio deservkos de ltlneráncla, dentre out ras rrodalidades, situa~ao que a política hodiema pretende reverter,direcionando esfon;os no sentido de oferecer lnsurms técnicos e financeiros para criar condic;6es desustentabilidade a esse atendirrento na classe comum, corro preconiza o princípio da lnclusáo escolar.

Palavras-chave: Espectro de Autisrro. Educa~ao Especial. Incluséo,

T8nla Maria de Freltas Rossl*Erenice Natália Soares Carvalho**

1. íntroducáo

A tendéncia atual da Educa~ao Especial está expressa nas políticas públicas exaradas dosinstrurrentos legais em vigor e levados as últin-es conseqüéncias pela Secretaria de Educa~ao Especialdo Ministério da Educar;ao. Mostra que o atendimento as pessoas com necessidades especiais vemsendo ampliado para garantir a todo aluno acesso a escolaridade regular, em salas de aulas comuns.Trata-se de un-e concepcáo na qual a Educa~ao Especial é compreendida na condi~ao de complerrentona transversalidade que penreia todos os níveis de ensino. A íntencño é tornar disponíveis recursoseducacionais e estratégias de apoio ao aluno, de rrodo a proporcionar-Ihe diferentes altemativas deatendimento, de acordo com as necessidades de cada um. Essa política pressup6e, nao apenas, que secorrolerrente o ensino escolar, mas que se garanta o reconhecimento e atendimento das peculiaridadesde cada pessoa, e, dentre elas, as que sao acometidas pelo espectro de autisrm.

Entende-se que o rrovirrento em prol da educacño inclusiva nao quer instalar a transposícéo desseoutro - a pessoa com autisrro - a temporalidades e espacialidades horrogéneas, conforrre postulado porSkliar (2003). Sequer pretende gestar un-e política que resulte em práticas de un-e pedagogia da supostadiferenr;a, em meio a um terrorisrm de seu anulamento em c1asses cOI11.ms e chamar esse outro parauma relar;ao escolar sem considerar sua rela4;ao com os demais outros. Ao contraríe, o que a políticaatual preconiza é a lncluséo, A oferta e facilitar;ao de acesso ao outro, que ostenta caracteñsticas queparecem estranhas, n-es sem tentar recorrenterrente inventar o outro e transformá-Io em exterioridadedo que se é, corro ocorre no processo da dialética exclusáo-lncluséo (JODELET, 2002; ARRUDA, 2002). Acondi~ao ingente para a lnclusáo da pessoa com autisrro é conhecé-la e lembrar que nao hájustaposícáo e tampouco identidade do conceito do espectro de autisrro enquanto doenca, com apessoa com autisme. E foi calcado nestes pressupostos episterrológicos e visando cooperar com un-epolítica pública de lnclusáo que pergunte pelo outro, e, de fato, o considere que o projeto de pesquisaPerturbacñes do espectro de autisme - perfil do alunado e íntervencáo educacional na rede pública do

Distrito Federal, aprovado pela SEESP-PROESP, em dezembro de 2005, vem sendo desenvolvido naUniversidade Católica de Brasma.

Aqui, pretende-se apresentar, em linhas gerais, as suas bases, os produtos já desenvolvidos e osem desenvolvirrento, nesse curto espaco de vigéncia. Para tanto, este trabalho fol organizado de rrodoa apontar o enquadre da problemática envolvida com as perturbecñes do espectro do autisrro, suaconfluéncia com a politica de lnclusáo, os objetivos do projeto e as acñes envidadas no período de 2005a junho de 2006.

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2. As perturbacñes do espectro do autisrro no arrbito da lnclusác

O autisrro tem sido identificado corro um transtomo precoce do desenvolvimento infantil, afetandoo desenvolvimento mental da enanca por toda a extensáo de sua vida. Os sintomas rrodificam-se aolongo do ciclo vital, senda que algumas caracteñsticas só aparecem rrais tardiarnente e outrasdesaparecem com o tempo (FRITH, 1996), o que toma sua corrpreensño um grande desafio, mesrro paraos pmfissionais da saúde.

O estudo clássico de Wing (1993) com enances autistas inglesas, na década de 70, pemitiu-Iheconcluir que todas as clianc;as com diagnóstico de autlsrm apresentam urna tñade com característicasespecíficas, que veio a ser conhecida e adotada internacionalmente corro Tríade de Loma Wing, porenvolver transtomos da lnteracño social, da corrunlcacéo e da fum;ao sirrbólica. O uso da expressñoespectro do autisrro, cunhada por Wing (1985) em substftuícáo ao terrro autisrro, deve-se aconstatacéo da existencia de amplas varíacñes entre as condlcées dos portadores do transtomorevelando, segundo (MARQUES, 2000), variada caractertzacño: a) maior ou menor gravidade dotranstomo; b) assoclacño com out ras alteracües (corrorbidade); e) diversidade de comportamentos,sinais ou sintomas¡ d) corrpeténcías corrunícatfvas, cognitivas e interpessoais diferenciadas; e) variac;aode condlcñes pessoais em relac;ao ao rresrm transtomo.

O espectro de autisrro a que se refere a autora corresponde aos Transtomos G10bais doDesenvolvimento classificados pela Assccracác Psiquiátrica Americana (2004) no Manual Diagnóstico eEstatístico de Transtomos Mentais - Texto Revisado - DSM-IV-Tr, sendo classificados corro: TranstomoAutista, Transtomo de Rett, Transtomo Desintegrativo da Infancia, Transtomo de Asperger e TranstomoGlobal do Desenvolvimento Sem Outra Especifica~ao.

Padr6es classificatórios sao tarrbém propostos pela Organiza~ao Mundial de Saúde (1992) naClassifica~ao de Transtomos Mentais e de Comportamento CID-lO na categoria dos TranstomosInvasivos do Desenvolvimento: Autisrro Infantil, Autisrro Atipico, Síndrome de Rett, Outro TranstomoDesintegrativo da Infancia, Transtomo de Hiperatividade Associado a Retardo Mental e MovimentosEstereotipados, Síndrorre de Asperger, Outros Transtomos Invasivos do Desenvolvirrento, TranstomoInvasivo do Desenvolvimento, Nao Especificado. Esses sistemas classificatórios sao atualmente utilizadoscorro diretrizes orientadoras para o diagnóstico das Perturba~oes do Espectro do Autisrro.

Os estudos sobre autisrro tem sido intensificados nos últirros anos, tendo em vista seureconhecirrento COrrD quadro clínico diferenciado de outros transtomos rrentais. Estima-se que 21 emcada 10.000 críances nascidas apresentam perturbacées do espectro do autisrro (MARQUES, 2000).

Na última década, em deccrréncla de rrovimentos em prol dos direitos humanos e pela íntervencñoativa de faniliares de autistas, v@m sendo criadas oportunidades educacionais para essa populacñoespecífica.

No Brasil poucas iniciativas tem sido tomadas nesse sentido pelos sistemas educacionals,considerando-se dificuldades das escolas e dos professores em Iidarem com alu nos que, para eles, saovistos como doentes, ísolados, alheios ao mundo, sem perspectivas de aproveitamento pedagógico. Essavlsáo linear e horrogeneizante, nivela todos com perturbacñes do espectro do autisrro, a despeito dacomprovada diferencia~ao entre eles.

A partir de 1994, o autisrro passou a integrar a categoria de portadores de Condutas Típicas naPolítica Nacional de Educa~ao Especial do MEC, elaborada pela Secretaria de Educa~ao Especial, com aseguinte designa~ao: 'manifesta~6es de comportamento típicas de portadores de síndromes e quadrospsicológicos, neurológicos ou psiquiátricos que ocasiona m atrasos no desenvolvimento e prejuízos norelaciona mento social, em grau que requeira atendimento educacional especializado" (MEC/SEESP, 1994,p. 14).

A possibilidade de agrupar certos transtomos mentais de difícil diagnóstico em uma categoria maisampla, encorajou muitos proñsslonels da saúde ou equipe interdisciplinar de institui~oes a lancarem maodessa cateqorízecéo corro altemativa ao diagnóstico das perturbacñes do espectro de autisrro, tendoem vista dificuldades para esse diagnóstico: a enorme dlverslñcacño de comportamentos e atitudesentre as enancas e em relaC;ao a uma mesma crianc;a, ao longo do desenvolvimento; exames clínicos naooferecem indicadores específicos, precisos e consistentes de autisrro; a serrelhanca com outraspatologias caracterizadas por sintomatologias sinilares. Por outro lado, quando identificadas asperturbacñes do espectro de autismo, permanece a dificuldade em definir a síndrome específica dentrodo espectro, de modo a indicar altemativas pedagógicas pertinentes.

No Distrito Federal, o atendimento educacional ao autista iniciou-se na rede pública em 1987, emparceria com uma assoctacáo de pais de autistas -ASTECA- de quem recebia insurros técnicos. Oatendimento realizava-se em classes especiais nas escotas comuns. enances e jovens comsintomatologias mais grave ocupavam espac;o institucional clínico em regime de oito horas diárias. Aolongo dos dezenove anos de atividade, o rrodelo de atendimento educacional rrodificou-se, ampliando-separa a possibilidade de atendimento nos Centros de Ensino Especial descentralizados em diversas regioes

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administrativas do DF.

Dados fomecidos pela Divisao de Ensino Especial da Secretaria de Estado de Educa~ao do DF­SEDF indicam, ao final de 2005, a matricula de aproximadamente quatrocentos alunos na categoria decondutas típicas de síndrome, em espac;os educacionais inclusivos ou segregados. Dentre esses, naoestáo claramente identificados os casos de autlsrro, urna vez que grande número de diagnóstico estáinconcluso, como verificaram Carvalho et al. (2003). Em conseqüéncia, as síndromes dos alunos nao saoidentificadas, de modo a indicar-Ihes onentacáo pedagógica pertinente.

Outra questño demandada pela SEDF diz respeito a incipiente oferta de metodologias de trabalhopedagógico e altemativa didática para a educacño desses alunos (CARVALHO et al., 2002), bem como opouco lntercárrolo interinstitucional para a soclallzacéo do conhecimento na área. Do mesrro rrodo, aescassez de realiza~ao de eventos que divulguem novas altemativas e abordagens de atendimento. Osprofessores, por sua vez, ressentem-se do despreparo para atuar com esses alunos. A determnacáolegal de que seja implantada e implementada a educacño inclusiva, seguem-se muitos óbices ao seucumplimento. Preconiza-se a lnstauracño de urna educacáo inclusiva que abarque a ccndlcáo slmiltáneade paradigma e de movimento. Paradigma, por inscrever-se numa perspectiva de novas propostas detrabalho educativo e de reflexao sobre a educacáo, Movimento, por pressupor transforrracñes querupturem com os critérios horrogeneizantes de classjñcacño, corro demanda o caso do espectro doautisrro.

A literatura, referenda os dados encontrados por Carvalho et al. (2003), na rede de ensino doDistrito Federal e aponta que o sistema educacional, em que pese os esforcos da política de inclusaoescolar, se depara com um conjunto de desafios (DlITRA; GROBlSKI, 2005; HANFF; BARBOSA; KOCH,2002). Por um lado, o despreparo dos professores em todos os níveis de educacáo para atender asdiferen~as em sala de aula leva ao baixo desempenho escolar demonstrado pelo aluno com necessidadesespeciais (via de regra corrparados aos demais alunos e nao consigo rresrm). Por out ro, os cursos deformac;ao continuada oferecidos pelo sistema de educacáo ao professor, em sua grande maioria, naotematizam o conjunto das atividades e práticas em desenvolvirrento na sala de aula, além de naoatualizarem conhecimentos a partir das necessidades concretas demandas e/ou enfrentadas peloprofessor. Este, por sua vez, rrostra carencia na forrracño inicial, principalrrente quando especialista emalguma área do conhecimento (DlITRA; GRIBOSKI, 2005).

Diante dessa conjuntura, é lrrpresclndlvel o desenvolvirrento, a capacltacáo e a quallñcacáo deprofessores para o atendimento as dlferencas dos alunos matriculados nas classes comuns da educacñoinfantil, do ensino fundamental, da educacño de jovens e adultos, da educacáo profissional, do ensinomédio e da educacáo superior, bem como, de professores que presta m o atendimento educacionalespecializado nos servkos complementares e suplementa res (PROESP, 2003). O que se pleiteia éoportunizar rreíos para que possam conduzir, de forma cnlica e reflexiva, o processo de ensinoaprendizagem no arrbito escolar. A qualificac;ao desses profissionais, situados ou nao no Ensino Especial,merece ser pensada no ambito das diferen~as regionais deste País, considerando suas potencialidades eIimita~oes.

No sentido de cooperar para a solucño destes e de outros desafios, principalmente no queconceme a lnclusáo do autista em salas corruns na rede de ensino do Distrito Federal, é que o projetode pesquisa em desenvolvimento pela Universidade católica de Brasília, por lnterrrédlo do Grupo dePesquisa Saúde Mental e Aprendizagem Humana, vem envidando esforcos a fim de viabilizar os atuaisparadigmas da inclusao escolar, previstos na Constitui~ao Federal e documentos intemacionais que temo Brasil como signatário. Dessa forma, tem por objetivo contribuir para a construcáo de conhecimentocientífico sobre as perturbacñes do espectro do autismo, de modo a promover seu atendimentoeducacional no ensino público do Distrito Federal, em confluencia com a política de inclusao nacional. Epara atingir a ccnsecucño desse patamar, tem como objetivos específicos:

- identificar a incidencia de perturbacñes do espectro de autismo na rede pública de ensino do DFe a ocorráncja de síndromes em rela~ao as categorias sintomatológicas e diagnósticas atualmenteaplicadas;

- caracterizar a sintomatologia do conjunto dos alunos dentro das diferentes síndromes a partir deobservac;óes na eseola e depoimentos de professores e famliares;

- identificar as altemativas curriculares aplicadas aos alunos nos diferentes níveis e modalidadesde ensino;

- prormver intercarrbio científico para conhecimento das inovac;6es e intervenc;6es na área;

- produzir material voltado as questóes pedagógicas e curriculares desses alunos;

- contribuir para a capacjtacáo de docentes e profissionais da educacáo na área do autisrm;

- contribuir na producéo e socializa~ao de conhecimentos científicos sobre as perturbacñes doespectro do autlsrm.

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3. Subprojetos, atividades e resultados esperados

O projeto contém quatro subproietos, corrprorretídos com a apropríacéo, sísterratízacéo econstrucáo de conhecimento científico sobre as perturbacñes do espectro do autismo, perspectivas ealtemativas de inclusao da pessoa com autismo no ámbito educacional, a serem desenvolvidos ao longodos quatro anos de sua vigencia.

Considera o conhecimento dos diferentes enfoques teóricos na área e os pressupostos forrruladospor seus autores. Enfatiza, entretanto, o enfoque histórico-cultural, com base nos pressupostosfcrmnados por Vigotski et al. (2001; 1995), pois adnite com o autor que a atividade socialmenteorganizada é que constitui a consciencia e as fum;6es psíquicas superiores. Todos os processospsicológicos mais elevados aparecem em dois planos: no plano intersubjetivo, partilhados nos processossociais e, no plano intrasubjetivo, amedida em que sao intemalizados pelos sujeitos. Estas acepcñes saofundantes para se pensar o estudo do espectro de autismo e o processo de inclusáo das pessoas que opossuem.

Os quatro subprojetos intentam buscar caninhos e elementos que contribuam para o entendimentodo autisrro e para a ínclusáo educacional de seus portadores, bem corro sua tnsercáo cultural econstrucáo de identidade, com base nos pressupostos de lnclusáo social e faniliar.

O primeiro ocupa-se do intercambio de idéias e conhecimentos científicos, a produ~ao de trabalhosna área, por meio da prormcáo de um evento científico que favorec;a a atualizac;ao, conhecimento dosavanc;os técnico-científicos e estfrnno a novas reaüzacñes na área.

O segundo subprojeto propüe-se a investiga~ao das perturbacñes do espectro do autismo entrealunos da rede pública do DF, sua caractenaacño sintomatol6gica e atendimento educacional, de modo acontribuir para a adequacáo cunicular e inclusao escolar desses alunos.

O terceiro trata da elaboracño de producñes bibliográficas para subsidiar a prática pedag6gica deprofessores e apoiar a escola na atuacño educacional com alunos autistas.

O quarto subprojeto tem como foco a capacjtacáo de recursos humanos da educacño e áreasafins, tendo em vista a apllcacéo imediata de sua atuacáo profissional.

3.1. Primeiro subprojeto - realiza~ao de evento científico

Objetiva promover um evento temático, de ambito nacional, o 1 Si"l'ósio Brasileiro de Autismo e

Ciclo de Vida - 1 SIBRA, na Universidade Católica de Brasflia, envolvendo autoridades brasileiras noassunto e possibilitando epresentacño de trabalhos técnico-científicos e de pesquisa realizados porprofissionais que trabalham com o espectro. Os temas a serem focalizados constltulrác aportes iniciais,juntamente com o aprofundamento da revlsáo da bibliografia, para a cormreensáo e terratlzacño dodiagnóstico e avallacño do espectro, das perspectivas de lntervencáo profissional, bem como dasexperíénclas bem-sucedidas e avances na área, focalizando a família e as prátlcas de lnclusáo social eescolar.

Com a realiza~ao do 1 SIBRA pretende-se estabelecer uma rede conversacional entre educadores,profissionais da saúde, estudantes e faniliares envolvidos com as perturbacñes do espectro de autismo.O tema central, autismo e ciclo e vida, remete a reflexlio sobre o espectro em sua pluralidade teóríco­metodológica, pennitindo abordar as dificuldades centrais, tanto do ponto de vista do diagnóstico,quanto da lntervencáo escolar, faniliar e clínica ao longo do ciclo de vida. O evento contará com umadiversidade de trabalhos - pósteres, rresas-redondas, rrinicursos e conferencias, a serem propostospelos prépríos inscritos, bem como por grandes expoentes que investigam o espectro de autismo. Apartícípacño de educadores, estudantes e demais profissionais proporcionará a construcáo de um locusimportante ao fortalecimento da pesquisa, divulga~ao do estado da arte dos estudos sobre autismo einclusao escolar no cenário brasileiro. Pemitirá o estabelecirrento de vínculos entre os participantes, aelaboracño de projetos coletlvos de interesse comum, sua inse~ao e i"l'lica~ao nas dlscussñes atuais,rrorrrente no que diz respeito ao processo de inclusao escolar.

3.2. Segundo subprojeto - pesquisa de campo nas escotes públicas do DF

cormrorreudo com o estudo das perturbacñes do espectro de autismo e, prioritariamente, com oaluno autista, o segundo subprojeto de pesquisa foi concebido para oportunizar a ídentlñcacáo eceractenaacño do alunado da eseola pública do DF com diagnóstico (concluído ou em processo) doespectro, com vistas ao seu atendimento educacional. Sao produtos esperados:

- revisaD de literatura sobre concepcñes, intervenc;oes, pesquisas e teorias sobre as perturbacñesdo espectro do autisrro;

- levantamento de alunos matriculados na rede pública de ensino do DF com diagnóstico de::lI11t'iclTY'l _ I'"nnl'"hlÍnn nll Il:lorn ::lInn::llrY'llCtont'n _ Il:lo CjCt,IIC n=ocnll:lol'"t'i\lnc nÍ\ljCt,ic jCt, ITY'ln::lllin::llnjCt,c nll:lo jCt,ncinn'

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-jdentlñcacño de portadores de espectro de autismo dentre alunos classificados na categoria decondutas típicas por meio de laudos ou registros clinicos oñclals. Essa ldentlñcacáo será feita medianteapllcacño de critérios do DSM-IV- Tr e outros instrumentos padronizados;

- lnvestlqacño sobre quest6es relativas adinamica familiar - pais e irmaos, no que diz respeito aofuncionarrento da familia com um rrerrbro autista, suas expectativas, sentirrentos e vivencias de papéis;- ldentlñcacño das concepcñes e práticas inclusivas em desenvolvimento pelos educadores nas escotasdo DF.;

- compartilhamento dos resultados com educadores da 5EDF de modo a subsidiar seu trabalhoeducacional;

- apresentacéc dos resultados em eventos científicos nacionais e intemacionais;

- forma~ao de 4 mestres em psicologia, vinculados a Iinha de pesquisa Desenvolvimento humanoem contextos sócio-educativos, no Programa de Pós-Graduac;:ao 5tricto Sensu da Universidade Católicade Brasília. As temáticas das drssertacñes versaráo sobre a ínclusáo educacional de pessoas com oespectro de autlsrm e se apcíarño nos dados coletados durante as investigac;:6es a serem realizadas aolongo deste projeto.

3.3. Terceiro subprojeto - elaboracáo de produ~6es científicas, de cunho bibliográfico e técnico,destinadas a profissionais da educacño e áreas afins.

o interesse pela producáo de Iivros surgiu da demanda de professores das eseolas envolvidas eminvestiga~ao preliminar realizada por alunos e professores do curso de Psicologia da UCB sobre asperturbacñes do espectro de autismo. O estudo realizou-se em uma escola comum e dois centros deensino especializado da rede pública do DF. A análise dos dados possibilitou refletir sobre condlcñesfavoráveis e desfavoráveis de aprendizagem envolvendo cunículo, materiais de ensino, atendirrento as

necessidades especiais dos alunos, demanda de capacítacáo de professores e aspectos que possibilitama efetiva educacño dessa populacño específica. Os dados permitiram refletir sobre dificuldades narealiza~ao do diagnóstico e operaclonallzacéo do processo avaliativo na institui~ao escolar. Revelaram,ainda, a demanda dos professores e educadores participantes em ter acesso a material de estudo e naaqulslcáo de conhecirrentos científicos e técnicos que Ihes rruniciassem de lnforrracñes atuais sobreautismo, em Iinguagem acessível e de interesse para a prátlca pedagógica.

Dessa forma, para atender a demanda que errergiu dos estudos anteriores, pretende-se:

- organizar 4 (quatro) Iivros, nos quais seráo apresentados os resultados dos estudos teóricos eempíricos realizados e as contríbulcñes de outros autores, focalizando temas tais corro diagnóstico eavaliaf;ao; teorías do autisrro; commlcacñc, lnteracñes soclets e tncluséo educacional; abordagenseducacionais e psicopedagógicas e questóes relacionadas afamilia;

- produzir 1 (uma) cartilha e 1 (um) vídeo, utilizando-se linguagem acessível, destinados aosprofessores da rede de ensino, com o intuito de descrever as principais características do espectro eapresentar reflex6es acerca do processo de inclusáo educacional e de práticas educativas em sala deaula;

- pmduzir 8 (oito) artigos científicos a serem publicados em periódicos nacionais e intemacionaisindexados, socializando os resultados das investigaf;oes;

- apresentar 10 (dez) cormnícacñes orais e ou rresas redondas em eventos técnico-científicosnacionais e intemacionais;

- realizar 2 (dois) cursos de extensáo acerca da lnclusáo educacional de pessoas autistas, tendocomo clientela alvo professores da rede pública de ensino do DF.

3.4. Quarto subprojeto - prormcéo de um curso de pós-qraduacño lato sensu sobre asperturbacñes do espectro do autismo.

Pretende organizar e oferecer, por intermédio da Universidade Católica de Brasflia, um curso depés-qraduecño lato sensu, com professores locats e convidados, destinado ao público alvo deprofessores e demais profissionais interessados nas perturbacñes do espectro do autismo, para além daforma~ao de 4 (quatro) mestres na área. O foco do curso será a lntervencño pedagógica,particulannente voltada as práticas educacionais que prorrovarn a inclusa o escolar e sua oferta estáprevista para o primeiro semestre de 2008.

4. Produtos do Projeto

4.1. Produtos desenvolvidos em 2005

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Publica~ao de Artigo

ROSSI, T. M. de F.; ALMElDA, S. F., C.; ALENCAR, E. Deficiencia mantal: fragmantación del sujetoen suflimiento psíquico. Construir Descontruir Reconstruir. Mendonza- Argentina, v. 2, p.119-130, 2005.Participar;ao em evento científico e técnico

ROSSI, T. M. F. Apresentacéo de trabalhos acerca do desenvolvimanto atípico na XI SemanaUniversitália da Universidade Católica de Brasma, 2005.

ROSSI, T. M F. O processo de lnclusáo de pessoas com autismo e outros transtomos globais dodesenvolvimanto. Brasma, 2006. Palestra proferída em escala inclusiva de ensino fundamantal e n-édio doDistlito Federal.

ROSSI, T. M. F; ALMEIDA, S. F. C.; PAIXAO, D.L.L; FALElROS, V. F. Combate a vitilTiza~ao: umaquestáo educativa. rv Congresso Norte Nordeste de Psicologia, Salvador - Ba, 2005.

ALMElDA, S. F. C.; ROSSI, T. M. F. Viol@ncia e excjusáo: diálogos entre a psicologia, a psicanálisee a educacáo. rv Congresso Norte Nordeste de Psicologia, Salvador - Ba, 2005.

CAZUMBÁ, L. A.; ROSSI, T. M. F; ALMEIDA, S. F. C. A construcáo da no~ao de tempo na síndromade Down. 300 Congresso Interamalicano da Psicologia - Buenos Aires, 2005.

ROSSI, T. M. F; CAZUMBÁ, L. A. ; ALMElDA, S. F. C. O uso da mamólia em pessoas com síndromade Down. 30° Congresso Interamalicano da Psicologia - Buenos Aires, 2005.

ROSSI, T. M. F; SANTOS, V.M.; CARVALHO, R. P.F.; CAZUMBÁ, L. A. F.. Questoes relevantessobre dificuldade de aprendizagem. I Congresso Latino-amalicano da Psicologia - Ulapsi , Sao Paulo.2005.Publica~ao de Iivro

Em fun~ao das demandas apresentadas pelos professores da rede pública de ensino, está empreparacáo a 2" edi~ao dos Iivros:

ROSSI, T. M. F.; ALMElDA, S. F. C. Psicologia e compromisso social: estudos sobre marginaliza~ao.

Brasma: Editora Universa, 2006.

PERElRA, M. R. S.; ROSSI, T. M. F. O desenvolvimanto do pensamanto e da Iinguagem na paralisiacerebral: o caso de Karina. Brasilia: Editora Universa, 2006.

Outras producñes

Organiza~ao e insen;ao da disciplina Desenvolvimanto Atipico no Mestrado em Psicologia da UCB,como integrante da grade curricular.

Articula~ao com o Laboratólio de Pslcoqénese da Prá-Reitolia de Pós-Gradua~ao e Pesquisa - LaPsida Universidade Católica de Brasma para abligar a~oes do projeto,

4.2. Produtos em desenvolvimanto

Embora o projeto tenha sido aprovado apenas há cinco mases, um conjunto de a~oes envolvendoproducáo técnica e bibliográfica evidencia que os objetivos preconizados sao factíveis de serelcencados. Sao produtos desse período:

Partlclpacéo em evento científico

SECUNHO, C. F.; CARVALHO, E. N. S. de. História Social - Estratégia de Intervencáo Clínica eEducacional nas Perturbacñes do Espectro de Autismo - trabalho submatido a epreclacáo da ColTissaoCientífica do VII Congresso Brasileiro de Autismo - Faces do Autismo para ser apresentado nesse evento,a ser realizado no período de 22 a 25 de novembro de 2006. As autoras do trabalho articulam essapartícípacño com as finalidades do projeto.

Cantatas interinstitucionais

Reunioes de trabalho com a Secretalia de Estado de Educa~ao do Distlito Federal firmandoparcerias e articulando acñes junto a Diretolia de Educa~ao Especial, para realiza~ao de pesquisa sobreas perturbacñes do espectro do autismo, ande sao identificadas demandas relativas as práticaseducacionais que vérn senda aplicadas na escolartaacño dessa populacáo específica, na rede pública deensino do Distlito Federal.

Forrnac;ao de docentes para o ensino superiore pesquisa

Inqresso de dais participantes da equloe do oroteto no Mestrado em Pslcoloqla, enguanto secoralx.ufsm.br/revcelc:eespl2007101/a6.htm 619

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07111/11 ::Revista do Centro de Educac;Ao ::- .. . . .aguarda a disponibiliza~ao e tncorporacño de duas outras bolsas PROESP-CAPES-PROSUP, para lnsercñode mais dols integrantes da equipe.

4.3. Produtos em preperacño:

°I Simpósio Brasileiro de Autismo e Ciclo de Vida - I SIBRA encontra-se em fase de preparacáo epretende atingir cerca de 200 professores e profissionais que se dedicam ao estudo do espectro deautismo. Estao confirmados na programa~ao os seguintes nini-cursos: Sistemas faniliares diante dasperturbacñes do espectro do autismo; Autismo e sexualidade; Contando histórias sociais; Avalia~ao doautismo - instrumentos para o desdobramento do processo diagnóstico; Aprendizagem e lntervencáo noespectro do autismo e Educa~ao física especial.

Contatos foram feitos com importantes pesquisadores na área do autismo que, formalmente,

aceitaram participar corro conferencistas e\ou coordenadores de mesas redondas especiais do evento,dentre eles constam: Walter Camargos Junlor.; Maria Cristina Kupfer; Raymond Rosemberg; Maria IsabelTafuri; Femanda Dreux Femandes; Francisco Baptista Assul1llc;ao Junior; Ceres Alves Araújo; SandraFrancesca Conte de Almeida; Ana Maria Bereohff Bastos; Marii Marques; André faríes Pessoa; JerusaMaria Figueiredo Netto; Maria Alexina Ribeiro; Celiane Ferreira Secunho; Patricia Leao e Cristina MadeiraCoelho.

Além do evento, estño em fase de elaboracño os seguintes trabalhos:

Artigo

ROSSI, T. M. F. & CARVALHO, E. N. S. Perturbacñes do espectro do autismo e inclusao na escolacomum. Brasilia, 2006, a ser publicado em periódico nacional indexado.

Uvros

Intervem;óes educacionais no espectro de autisrro: alternativas ruITD a inclusao, cujos capítulosestáo sendo gerados a partir dos conteúdos ninistrados nos ninicursos do I SIBRA

Desafios atuais da avaliac;ao e lntervencáo no espectro de autisrm, no qual constam ascontrfbulcñes de vários expoentes que investigam a área e que partlclparác das mesas redondas do ISIBRA;

Perturba~6es do espectro de autismo: ccntríbuícñes atuais, com a participa~ao dos conferencistasdo I SIBRA.

Pesquisas de campo

ROSSI, T. M. F.; CARVALHO, E. N. S.; CARVALHO, N. r., FERRElRA, M. M. Levantamento junto aosprofessores da rede acerca de suas concepcñes sobre o espectro de autismo, inclusao do autista epráticas pedagógicas que desenvolvemjunto a essa clientela.

ROSSI, T. M. F.; CARVALHO, E. N. S.; CARVALHO, N. l.; FERRElRA, M. M. Mapeamento dosprofessores que atendem autistas em salas comuns na rede pública de ensino do Distrito Federal.

ROSSI, T. M. F.; CARVALHO, E. N. S.; CARVALHO, N. l.; FERRElRA, M. M. Levantamento dasmodalidades de cepacítacño oferecidas aos professores da rede pública inseridos na inclusao de autistas.ROSSI, T. M. F.; CARVALHO, E. N. S.; CARVALHO, N. l.; FERRElRA, M. M. Levantamento de apelo técnicoe financeiro oferecido pela Secretaria de Educa~ao do Distrito Federal as escolas inclusivas.

5. Considera~6es finais

°espectro do autismo é, confonma já aventado, definido pela altera~ao no desenvolvimento quese manifesta antes da idade de tres anos e pelo característico funciona mento anormal nas áreas delnteracáo social, corrunlcacño e corrportarrento restrito e repetitivo, podendo ou nao haver retardomental ou outras condic;6es associadas. Essas características podem assurrir cunho estigmatizante,prenhe de preconceitos, ou possibilitar o reconhecimento de diferen~as e especificidades que desafiam oprocesso de lnclusáo educacional.

Aa desafiar a escola, o espectro de autisrro desafia políticas as públicas, os rogramas e servic;ossociais e a com.midade a organizar-se para, nao apenas, garantir a nao-exclusao, mas odesenvolvimento pleno, livre e independente de todas as pessoas. Trata-se de tomar inconteste apresenc;a e o reconhecimento do autista no carpo social desde o nascimento. Ou antes, desde aconcepcño. Se nao há corro reverter, de imediato, a ViSaD de sociedade e de pessoa subjacentes asac;6es de vários setores lrrpllcados com a lncluséo, comec;ar desafiando a escala, corro agente doprocesso de transforrracéo, pode ser um bom caminho. Um ponto de partida e que é assunido naintegralidade pelo projeto Perturbacñes do espectro de autismo - perfil do alunado e lntervencáoeducacional na rede eúbuce do Distrito Federal. é nronnr aos omfessores a terretteecáo das eoñttces de

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quanto il ruptura dos padr6es sociaImante deteminados.

Nao se espera, portanto, que a escola rorrpa, reinvente a organiza~ao social, mas que a discuta,no sentido de ter acesso as suas contradic;é5es e corrpreender os ITDtivos que atualmente regem aspráticas de escolarízacáo. É utópico pensar em um modelo de lnclusáo no qual pessoas de diferentesestilos de percepcño, ritmos de processamanto de informa~5es e diferentes modos de expressar-sesejam aceitas sem restrícño, por determnacáo e forca de diplomas legais. Mudar o perfil da escolabrasileira ilr4'lica revogar, por decreto, as modalidades atuais de avalia~ao, corrprorretldes com a média,padráo de aferi~ao do desenvolvimanto, própria de uma dada concepcño de ciencia. Requer instauraruma nova perspectiva de avalia~ao do desenvolvimanto que revele, predomnantemante, os entraves noprocesso de ensino (maios madiacionais e concepcées de escolarízacáo) que resultam em aprendizagensdeficitárias.

a processo de lnclusáo escolar pode ser pensado segundo a legisla~ao que o estabelece,crírrsnajzendo qualquer atitude excludente explícita, que ilr4'e~a ou postergue a lnsercño escolar dapessoa com deficiencia. Urna análise da legislac;ao vigente desvela seus princípios axiológicos,sustentados nos direitos humanos, na eqüidade e nos preceltos democráticos. É da indole da legisla~ao,no entanto, ser írrposítfva. No que tange a lnclusáo escolar, preconiza a implanta¡;ao e a lrrplerrentacñodo processo inclusivo, nao cabendo no seu texto antever condi~ao para o seu efetivo currprtrrento. Porsua vez, o descumprimanto da legisla~ao nao está oculto aos olhos da sociedade.

Já a literatura especializada sobre tncluséo é pródiga em prescrícño. Nao Ihe falta indica~ao demaios para o exito do processo inclusivo. Nesse sentido, Canziani (2002) chama a atencáo para anecessidade da lndlvlduallzacáo do ensino; adequacño matodológica e do contexto escolar; apelofa mliar; participa~ao social e comunitária. Carvalho (2004), por sua vez, dá destaque il participa~ao

ativa do aluno nas atividades escolares, promovendo-se a rermcáo dos obstáculos a aprendizagem. Aodefinir as funt;é5es da escola inclusiva, privilegia, dentre outros: o envolvimento da fam1ia; o tntercárroíoda comunidade escolar; o respeito a diversidade e a cria~ao de ambiente acolhedor. Mantoan (2003)reivindica a total redefinil;ao da escola, a ressignificac;ao de seu papel, "sem ensino aparte para os maise para os manos privilegiados" (p. 8). Enfim, encontra na transtorrracáo da escota a possibilidade darrudanca paradigmática que sustenta a lnclusño. Para isso, propñe o rormírrento institucional com asceteqorzacñes - regular x especial, normal x deficiente, igual x diferente. Sugere a transtcrrracéo dasmantes. amote (2004) focaliza aspectos macros voltados para a concepcáo de educacño, a partir dosobjetivos educacionais e da atencéo ao risco da mara tnsercáo, resultando em inclusao excludente.

Essa dlscussác requer o entendimento serrántko dos conceitos de lnclusáo-excjusño, vistos napsicologia social como num continuo, sem oposícéo em extremos opostos. Sawaia (2001) desenvolveuma abordagem ético-psicossocial da exclusáo social e entende a rela~ao dialética da excjusño com seucorrelato, a inclusáo, Desse modo, o excluido é socia Imante incluido, participando da rranutencáo daordem social. É o que denorrme lnclusáo perversa (ou inse~ao social perversa). Jodelet (2001) entendeo caráter pollssérrtco da excjusño, relacionando-a, como Sawaia (ibidem), ao estado estrutural deorganizac;ao social, desdobrada em relac;oes sociais convergentes.

Trazendo essa reflexao para a escala, entende-se que, em suas origens, foi criada para alguns.Originou-se corro nao-inclusiva. Portanto, a inclusao escolar é um rrovimento constante de fazer viroCorro se pretende no discurso atual, nao se configura, genericamente, corro um rrovimento de retomo ­de inclusao do excluido. A escola nem senpre o acolheu. A camnhada da lnclusáo escolar, portanto,tende a uma jornada em favor da corrpreenslbjlldade, do alarga mento de seus espac;os de acolhimento,para todos os alunos e também para o professor.

Visto desse modo, o carnnho da lnclusáo escolar é auto-pavimentado. Alimanta-se no desejo deinclusao que emana da escala, a fim de fortalecer o processo de vir a ser inclusiva, por meio da culturaconstruida e do clima reinante. a processo de euto-prormcáo il escola inclusiva é tecido pelos valoresconstituidos na convíccño da corrunidade escolar, disposta a construir os processos e as acñes quevira o a qualificá-Ia corro tal. Para isso, nao há prescrícéo externa. É um rrovimento de dentro, emdirec;ao ao reconhecimento, fora.

Assim, o projeto visa contribuir com a prormcéo da educacáo inclusiva, tomando-se parceiro daescala, urna escala cujos profissionais podem ser incitados a pensar e discutir seus próprios valores,repensar categorias, criar alternativas e (re)conhecer esse outro que é portador de autisrro, masdesvinculados de perspectivas ingenuas de quem assuma e reproduz ecepcóes em voga para orromento. Rever concepcñes, comportamentos e práticas socialmente instituidos e aceitas, exige ocorrororrssso rrútuo entre atores da corrunídade escolar e estudiosos do espectro do autisrro e omovimanto dialógico que val da dlnámce interpsicológica il intrapsicológica, pilares do projeto.

Afinal, sao as pessoas com autismo que estáo a desafiar as possibilidades de ínteracño social, decorrunícacáo e de corrportamento das pessoas ditas norrnais, seus códigos e concepcñes,

F. Dll:tofll:toran,.¡;:¡c

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Correspondencia

Tánla M de F. Rossi - Universidade Catolica de Brasflla, Águas Claras, 71966-700 - Taguatinga - DF.E-mail [email protected] em 17 de outubro de 2006Aprovado em 11 de abril de 2007

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