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Anais - IX Encontro de Pesquisa e Extensão do Grupo Música e Educação - MusE, v. 1, n.1, (2019)
O ENSINO PERFORMÁTICO-MUSICAL INICIAL DO SAXOFONE
Resumo: Esta comunicação oral pretende apresentar uma proposta de pesquisa a ser desenvolvida tendo como um dos objetivos futuro a investigação de quais metodologias e qual prática didática é empregada nas aulas de iniciação ao instrumento/performance pelo professor(a) de saxofone, mapeando estas metodologias e didática para jovens estudantes na cidade de Joinville, disponibilizando posteriormente estes procedimentos metodológicos para a prática da docência performática. Um dos critérios a serem investigados é a formação do professor, se ela é em bacharelado, licenciatura, técnico ou autodidata. Buscam-se respostas sobre os aspectos iniciais do conhecimento performático-musical, por meio de um estudo de caso. Pensa-se em realizar entrevistas com professores de escolas alternativas ou com professores autônomos e na sequencia analisá-las, tendo como referencial na Educação Musical Sloboda e no Saxofone Alonso.
Palavras-chave: Educação Musical; Iniciação performática; Saxofone
Contextualização do professor/performer
Em nosso país possuímos performers musicais de alto nível que desenvolveram
seu conhecimento musical e habilidades instrumentais muitas vezes como
“autodidatas”. Ocasionalmente alguns destes músicos, buscam instituições de ensino
superior para aprimorarem o seu conhecimento e habilidade instrumental, bem como
otimizar o tempo de estudo. Nem todos conseguem ou desejam ingressar em um curso
acadêmico, mesmo assim continuam desenvolvendo suas habilidades individualmente
(autodidata) e são reconhecidos por elas atuando no cenário musical em diversas
facetas.
1E-mail: [email protected]
BACKES, Éverton1 Escola de Música Villa-Lobos – Joinville
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O músico-professor é um profissional cuja formação foi orientada para o exercício de atividades artísticas na área da música. Sua atividade docente é colocada em segundo plano, embora ela seja frequentemente, a mais constante e a que assegura uma remuneração regular. A atuação como docente desenvolve-se prioritariamente nas escolas de música alternativas e em aulas particulares, voltadas especialmente para a música popular brasileira. Na perspectiva dos alunos, a competência docente do músico-professor revela-se em seu desempenho artístico-musical, comprovado em situações de performance. (REQUIÃO, 2002)
Desta forma temos duas ramificações na formação: A primeira, é quando
alguns músicos desenvolvem seu conhecimento individualmente (autodidata) ou com
outros músicos (mestres por notório saber) que também não tiveram uma formação
acadêmica. Posteriormente este músico pode se deparar com uma situação similar a sua
própria formação, ou seja, o paradoxo de ministrar aulas para pessoas interessadas em
desenvolver o conhecimento musical ou de um instrumento específico. Sendo que nesta
trajetória de estudos do instrumento e da música não desenvolveram uma formação
pedagógica para transmissão do conhecimento.
No caso específico da educação musical, a formação e a prática musical do professor precisam ser constantemente realizadas junto à sua formação pedagógica. Trata-se do saber disciplinar correspondente ao campo da música e do saber pedagógico da educação sendo vividos e contextualizados por meio de experiências variadas. O educador musical precisa fazer/pensar música e ter condições de repensá-la com base em situações experienciadas e internalizadas no cotidiano de sua prática educativa. (BELLOCHIO, 2003)
A segunda ramificação na formação do músico, é quando ele procura o
aperfeiçoamento acadêmico em performance (bacharelado) e conclui seus estudos neste
meio, mas se depara com a necessidade de ministrar aulas e por vezes não está
preparado para isso, pois também não possui formação pedagógica para transmissão do
conhecimento.
O professor de instrumento musical é o músico instrumentista, embora sua formação no curso de Bacharelado seja direcionada exclusivamente para a execução musical [...] [...] Pela formação específica dirigida para a formação do músico executante, pelo pouco contato com outras áreas do conhecimento, como Pedagogia ou Psicologia, pela ausência de disciplinas voltadas ao ensino do instrumento e pela pouca bibliografia específica a respeito do assunto disponível no Brasil, é comum o músico ter
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dificuldades em complementar sua formação. (GLASER; FONTERRADA, 2007, p. 28 – 29)
Seguindo esta linha de raciocínio podemos perceber que a formação do(a)
professor(a) que compõe o setor de aulas de instrumento (performance) é fragmentada,
não apresentando uma forma continua de saberes relacionados ao oficio docente,
podendo não proporcionar linearmente o desenvolvimento homogêneo do futuro
performer e entrando no seu próprio paradoxo. Podemos entender desta maneira em
algumas situações a distorção dos conteúdos performáticos pela mídia impressa,
televisiva, vídeo aulas e principalmente conteúdos fragmentados na internet.
Historicamente, ser músico e ser professor tem sido uma questão que perpassa o status social e acadêmico, a relação com o conhecimento, a dualidade da identidade profissional e as experiências pessoais, escolares e profissionais. (MATEIRO, 2015)
Prerrogativas de desenvolvimento
Para compreendermos quais prerrogativas o professor de instrumento se utiliza
para abordar os alunos e como ele passa as mesmas para eles é importante ressaltar que
não podemos ficar engessados na técnica, pois a partir do desenvolvimento dos estudos
performáticos-musicais é necessário também apresentar ao aluno algumas alternativas
na compreensão e criação dentro do contexto musical. Pensa-se que a formação de um
performer de alto nível deve ter o preceito de estimular corriqueiramente suas
capacidades, principalmente as lacunas no conhecimento, para desenvolver seu
potencial ao máximo.
Capacidades são qualidades psíquicas da personalidade que permite o indivíduo realizar com êxito determinado tipo de atividade. Elas não são inatas, seu desenvolvimento depende da prática social. Só são inatas as atitudes. As capacidades desenvolvidas ajudam a substituir a ausência de outras, podem auxiliar algumas que estão deficientes ou inclusive modificá-las. O desenvolvimento destas capacidades não tem limite. Pois o talento musical é um complexo de capacidades, por tanto, não se restringe a uma capacidade especifica, desta forma não tendo fim seu desenvolvimento. (ALONSO, 2003, p. 20)
Mostrando desta forma não só conhecimento dos elementos musicais, mas
explorando, além disso, as experiências culturais/artísticas para que em seu repertório
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intelectual o performer desenvolva uma capacidade de dialogar e transitar pelos
conhecimentos musicais, artísticos e paralelos as artes na construção de seu próprio
produto artístico.
O desenvolvimento das capacidades estará sempre influenciado pelo ambiente social, familiar e o meio que cerca o estudante. Assim como pela capacidade de observação do professor para estimulá-lo, tendo em conta as características individuais, psicológicas e físicas do aluno. (ALONSO, 2003, p. 20)
Seguindo este direcionamento no estudo pretendido opta-se pelo
desenvolvimento e analise de entrevistas e vídeos a partir do referencial teórico de
Sloboda no que tange o desenvolvimento cognitivo, simbólico e psicológico bem como
o referencial de Alonso para os critérios metodológicos, didáticos e técnicos do
Saxofone, não descartando a utilização de mais referencial teórico para compreensão
dos procedimentos metodológicos e didáticos no âmbito da Educação Musical.
Considerando que tais atividades são aprendidas, elas podem ser compreendidas como comportamentos baseados em habilidades. Muito embora a composição e a execução sejam universalmente reconhecidas como habilidades de certa complexidade, é preciso lembrar que certas atividades mais comuns, como a capacidade de assobiar uma melodia conhecida, ou de detectar uma “nota errada” em uma melodia desconhecida, também são habilidades complexas capazes de lançar luzes sobre a natureza das representações internas da música. O que torna especial um compositor ou performer é a sua raridade e não qualquer coisa fundamentalmente diferente no que diz respeito a seu equipamento mental. (SLOBODA, 2008, p. 73)
Questão da futura pesquisa
Após a exposição do pensamento que gerou um número significativo de
questões e uma problemática latente sobre o desenvolvimento performático-musical no
Saxofone em nível inicial é possível organizar a questão da pesquisa: Quais
metodologias são utilizadas e através de qual didática que estão sendo aplicadas as aulas
de iniciação performática-musical do saxofone?
Objetivo geral pretendido
• Analisar as metodologias e didática utilizada para o desenvolvimento
performático-musical aplicado ao nível inicial do estudo performático por
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professores de escolas alternativas ou profissionais autônomos da cidade de
Joinville em jovens com diferentes interesses na finalidade de aprender
Saxofone a partir do referencial de Sloboda e Alonso.
Objetivo específico pretendido
• Analisar a abordagem primária do professor ao aluno e como é feito o
diagnóstico inicial.
• Analisar como o professor passa os feedbacks aos alunos.
• Apontar a formação do professor: bacharelado, licenciatura, técnico ou
autodidata.
• Analisar como são trabalhados os seguintes conhecimentos: pulso, teoria
musical básica, prática de leitura rítmica, prática de leitura de nota, percepção
auditiva, estilos de música, duração, intensidade e timbre, sonoridade do
saxofone, mecanismo do saxofone, mecanismo de respiração, articulação,
movimento de língua, percepção da afinação e princípios da improvisação.
• Analisar a manipulação simbólica e desenvolvimento cognitivo.
Metodologia a ser utilizada
Como procedimento técnico para a futura pesquisa pensa-se em adotar o
caráter qualitativo através do estudo de caso instrumental sugerido por Alves-Mazzotti.
No estudo de caso instrumental, ao contrário, o interesse no caso deve-se à crença de que ele poderá facilitar a compreensão de algo mais amplo, uma vez que pode servir para fornecer insights sobre um assunto ou para contestar uma generalização amplamente aceita, apresentando um caso que nela não se encaixa. (ALVES-MAZZOTTI, 2006)
Fica claro que por ser uma abordagem que contribui no conhecimento que
temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais, políticos e de grupo, sendo
esta uma estratégia de pesquisa adotada por várias áreas das ciências humanas, oferta
uma ferramenta que trabalha com critérios pré-estabelecidos se tornando ampla e de
grande valor.
[...] Em todas essas situações, a clara necessidade pelos estudos de caso surgem do desejo de se compreender fenômenos sociais complexos. Em resumo, o estudo de caso permite uma investigação
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para se preservar as características holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real – tais como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de setores econômicos. [...] (YIN, Robert K., 2005, p. 20)
Olhando para o que Yin aborda como sendo o estudo de caso podemos ver com
mais clareza o que essa ferramenta nos oferece para a elucidação da questão da pesquisa
e sua problemática.
Pesquisadores naturalísticos, etnográficos e fenomenológicos relatam seus casos sabendo que eles serão comparados a outros e, por isso, buscam descrevê-los detalhadamente para que o leitor possa fazer boas comparações. Por meio de uma narrativa densa e viva, o pesquisador pode oferecer oportunidade para a experiência vicária, isto é, pode levar os leitores a associarem o que foi observado naquele caso a acontecimentos vividos por eles próprios em outros contextos. (ALVES-MAZZOTTI, 2006)
Sendo assim para uma construção de narrativa a partir de elementos que
possam enriquecer a pesquisa e indicar ao leitor um caminho objetivo pretende-se
utilizar entrevistas semi-estruturadas, gravações de vídeos em aula, e uma revisão
bibliográfica que possa tentar responder a questão da pesquisa e sua problemática.
Considerações finais
Acredita-se que com essa pesquisa será possível chegar mais um passo a frente
no entendimento de procedimentos a serem adotados nas aulas de instrumento.
Estamos nos debruçando dentro da educação musical sobre várias
problemáticas do desenvolvimento da musica nas escolas regulares e obviamente isso é
positivo e necessário, no intuito de contribuir com a fatia de desenvolvimento
performático/performer trago esta possibilidade de pesquisa para área da Educação
Musical, onde os referenciais pedagógicos são explícitos.
A partir desse projeto o que se espera é dar mais um subsídio aos professores
de instrumento, pois o texto tratará centralmente do desenvolvimento da aula de
instrumento/musica e perifericamente da aula de saxofone.
O desenvolvimento da habilidade instrumental só possibilita mais uma forma
de manipulação simbólica exequível de observar na proposta de GARDNER (1997)
sobre os elementos artísticos, onde ele explica que “O criador ou artista é um indivíduo
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que obteve suficiente habilidade no uso de um meio para ser capaz de comunicar através
da criação de um objeto simbólico”.
Ou seja, no caso do artista, este indivíduo cria seus símbolos, ou manipula os
símbolos existentes, conduzindo assim a mente dos espectadores para uma percepção da
sua manifestação e expressão de ideias. Ou conduzindo os espectadores para o que ele
deseja realizar em forma de sentimento ou percepção através do domínio de um
instrumento/voz.
Podemos presumir que a junção de elementos sutis conduz o aluno para uma
formação do performer de alto nível, ou expõem aos alunos que desejam praticar o
estudo do instrumento por hobby o conhecimento o qual pode aflorar sua percepção de
mundo.
Dessa forma na pesquisa pretende-se compreender se o professor, mesmo que
sutilmente disponibiliza estas prerrogativas nas metodologias e didática aplicadas para
as aulas. O saxofone é meramente um catalizador, pois foi com ele que obtive a
formação central em instrumento/performer.
Apontar a formação do professor é um dos objetivos do estudo que certamente
colaboram para a compreensão dos caminhos tomados na escolha das metodologias e
didática.
Outro aspecto importante é a observação a partir de alunos iniciantes, que estão
nos primeiros passos de desenvolvimento do instrumento, pois acredita-se que nesta
faze é onde o professor deve estabelecer uma rotina e passar as prerrogativas as quais
permitirão com que o aluno galgue no futuro um domínio musical/instrumental.
Por fim tentarei dar conta de responder a questão da pesquisa mapeando as
metodologias e como elas são utilizadas, bem como os recursos didáticos. Com isso o
esperado é ter uma coletânea de procedimentos e indicações que possibilitarão outros
colegas pesquisarem e confrontarem sua prática com os resultados obtidos.
REFERÊNCIAS
ALONSO, Roberto Benítez. Saxofon: Guía Metodológica. Instituto Tlaxcalteca de Cultura, México, 2003.
ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith. Usos e abusos dos estudos de caso. Cad. Pesqui., São Paulo , v. 36, n. 129, p. 637-651, Dec. 2006 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010015742006000300007&lng=en&nrm=iso>. Acessado em 20 Mar. 2019.
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BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro. A formação profissional do educador musical: algumas apostas. Revista ABEM Nº 8. Porto Alegre, 2003.
GARDNER, Howard. As Artes e o Desenvolvimento Humano. Tradução: Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto alegre: Artes Médicas, 1997.
GLASER, Scheilla; FONTERRADA, Marisa. Músico-Professor: Uma Questão Complexa. Nº 1, Música Hodie, 2007.
MATEIRO, Teresa. Ensinar música: ocupação individual ou profissional aprendida? Música e Educação: Série diálogos com o som, Barbacena: EdUEMG, v. 2, p.17-230, 2015.
SLOBODA, John A. A mente musical: psicologia cognitiva da música. Tradução Beatriz Ilari e Rodolfo Ilari. Londrina: EDUEL, 2008.
REQUIÃO, Luciana. O Músico-professor: saberes e competências no âmbito das escolas de música alternativas: a atividade docente do músico-professor na formação profissional do músico. Rio de Janeiro: Booklink, 2002.
YIN, Robert K.. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. 3ª edição, Porto Alegre: Bookman, 2005.