o ensino e aprendizagem de química na concepção de alunos e educadores do município de...

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O ensino e aprendizagem de química na concepção de alunos e educadores do município de Ouricuri-PE Silvio Fernandes de Araujo Junior 1 , Edinaira Deodato Nunes 2 , Arthur Francisco de Paiva Alcântara 3 1 Graduando do Curso de Licenciatura em Química do IF Sertão/Campus Ouricuri. e-mail: [email protected] 2 Graduando do Curso de Licenciatura em Química do IF Sertão/Campus Ouricuri. e-mail: [email protected] 3 Professor EBTT - IF Sertão/Campus Ouricuri. Mestre em Química - UFPI. e-mail: [email protected] Resumo: No campo do conhecimento de Química as questões relacionadas à formação dos professores que atuam nessa área são das mais importantes nos dias atuais. As inovações almejadas na área de Química exigem dos professores a obtenção de um conhecimento referente à gestão de aspectos, como relação teoria-prática, produção e socialização do conhecimento, aspectos político- pedagógicos e político-sociais. Para esses pesquisadores, além de conhecer o conteúdo a ser ensinado e dominar métodos e técnicas de ensino, o professor de Química precisa estar atento às necessidades reais de seus alunos e de seu papel na formação de indivíduos capazes de contribuir com suas comunidades, utilizando os conhecimentos e informações adquiridos na escola para transformar a sociedade. Neste trabalho foi realizada uma pesquisa na cidade de Ouricuri-PE, através de questionamentos feitos a pedagogos, professores de Química e alunos do ensino médio de escolas públicas, com o objetivo de identificar as ideias, nestes três grupos, quando se pensa como se deve lecionar esta disciplina, quais competências e habilidades devem ser proporcionadas pelo seu ensino e fatores que devem atrapalhar a aprendizagem. A pesquisa apontou que, tanto do ponto de vista dos pedagogos como professores e alunos, um dos aspectos que atrapalha o ensino se deve à falta de aulas práticas em laboratórios, uma vez que esse campo de conhecimento não pode ser vivenciado somente na teoria. Palavraschave: ensino, aprendizagem, química, Ouricuri 1. INTRODUÇÃO No campo da formação de professores de Química, as questões relacionadas às suas necessidades formativas são das mais importantes nos dias atuais. Ainda existe um número reduzido de material descritivo com respeito à área de Ensino de Química, mas é possível fazer uma aproximação dessas necessidades utilizando algumas concepções de pesquisadores importantes nessa área. Para esses pesquisadores, além de conhecer o conteúdo a ser ensinado e dominar métodos e técnicas de ensino, o professor de Química precisa estar atento às necessidades reais de seus alunos e de seu papel na formação de indivíduos capazes de contribuir com suas comunidades, utilizando os conhecimentos e informações adquiridos na escola para transformar a sociedade. Schnetzler e Santos (2000) defendem que o conhecimento químico se enquadra nas preocupações com os problemas sociais que afetam o cidadão, os quais impõem posicionamentos quanto às possíveis soluções. O ensino de Química pode abordar questões relacionadas à utilização diária de produtos químicos, à análise de problemas gerais referentes à qualidade de vida dos seres humanos e aos impactos ambientais gerados pelo desenvolvimento desordenado dos países, ou seja, contextualizar o ensino dos conteúdos de Química, a fim de desenvolver o pensamento crítico dos alunos sobre o mundo que o cerca (<http://ensquimica.blogspot.com.br/2009/04/formacao-do-professor-de-quimica.html>, 2009). O ensino de Química para os alunos de Ensino Médio implica que eles compreendam as transformações químicas que ocorrem no mundo físico de forma abrangente e integrada e assim possam julgar com fundamentos as informações advindas da tradição cultural, da mídia e da própria escola e tomar decisões autonomamente, enquanto indivíduos e cidadãos. Esse aprendizado deve possibilitar ao aluno a compreensão tanto dos processos químicos em si quanto da construção de um conhecimento científico em estreita relação com as aplicações tecnológicas e suas implicações ambientais, sociais, políticas e econômicas. Tal a importância da presença da Química em um Ensino Médio compreendido na perspectiva de uma Educação Básica (Brasil, 2000).

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  • O ensino e aprendizagem de qumica na concepo de alunos e educadores do municpio

    de Ouricuri-PE

    Silvio Fernandes de Araujo Junior

    1, Edinaira Deodato Nunes

    2, Arthur Francisco de Paiva Alcntara

    3

    1Graduando do Curso de Licenciatura em Qumica do IF Serto/Campus Ouricuri. e-mail: [email protected] 2Graduando do Curso de Licenciatura em Qumica do IF Serto/Campus Ouricuri. e-mail: [email protected] 3Professor EBTT - IF Serto/Campus Ouricuri. Mestre em Qumica - UFPI. e-mail: [email protected]

    Resumo: No campo do conhecimento de Qumica as questes relacionadas formao dos

    professores que atuam nessa rea so das mais importantes nos dias atuais. As inovaes almejadas na

    rea de Qumica exigem dos professores a obteno de um conhecimento referente gesto de

    aspectos, como relao teoria-prtica, produo e socializao do conhecimento, aspectos poltico-

    pedaggicos e poltico-sociais. Para esses pesquisadores, alm de conhecer o contedo a ser ensinado

    e dominar mtodos e tcnicas de ensino, o professor de Qumica precisa estar atento s necessidades

    reais de seus alunos e de seu papel na formao de indivduos capazes de contribuir com suas

    comunidades, utilizando os conhecimentos e informaes adquiridos na escola para transformar a

    sociedade. Neste trabalho foi realizada uma pesquisa na cidade de Ouricuri-PE, atravs de

    questionamentos feitos a pedagogos, professores de Qumica e alunos do ensino mdio de escolas

    pblicas, com o objetivo de identificar as ideias, nestes trs grupos, quando se pensa como se deve

    lecionar esta disciplina, quais competncias e habilidades devem ser proporcionadas pelo seu ensino e

    fatores que devem atrapalhar a aprendizagem. A pesquisa apontou que, tanto do ponto de vista dos

    pedagogos como professores e alunos, um dos aspectos que atrapalha o ensino se deve falta de aulas

    prticas em laboratrios, uma vez que esse campo de conhecimento no pode ser vivenciado somente

    na teoria.

    Palavraschave: ensino, aprendizagem, qumica, Ouricuri

    1. INTRODUO

    No campo da formao de professores de Qumica, as questes relacionadas s suas

    necessidades formativas so das mais importantes nos dias atuais. Ainda existe um nmero reduzido

    de material descritivo com respeito rea de Ensino de Qumica, mas possvel fazer uma

    aproximao dessas necessidades utilizando algumas concepes de pesquisadores importantes nessa

    rea. Para esses pesquisadores, alm de conhecer o contedo a ser ensinado e dominar mtodos e

    tcnicas de ensino, o professor de Qumica precisa estar atento s necessidades reais de seus alunos e

    de seu papel na formao de indivduos capazes de contribuir com suas comunidades, utilizando os

    conhecimentos e informaes adquiridos na escola para transformar a sociedade. Schnetzler e Santos

    (2000) defendem que o conhecimento qumico se enquadra nas preocupaes com os problemas

    sociais que afetam o cidado, os quais impem posicionamentos quanto s possveis solues. O

    ensino de Qumica pode abordar questes relacionadas utilizao diria de produtos qumicos,

    anlise de problemas gerais referentes qualidade de vida dos seres humanos e aos impactos

    ambientais gerados pelo desenvolvimento desordenado dos pases, ou seja, contextualizar o ensino dos

    contedos de Qumica, a fim de desenvolver o pensamento crtico dos alunos sobre o mundo que o

    cerca (, 2009).

    O ensino de Qumica para os alunos de Ensino Mdio implica que eles compreendam as

    transformaes qumicas que ocorrem no mundo fsico de forma abrangente e integrada e assim

    possam julgar com fundamentos as informaes advindas da tradio cultural, da mdia e da prpria

    escola e tomar decises autonomamente, enquanto indivduos e cidados. Esse aprendizado deve

    possibilitar ao aluno a compreenso tanto dos processos qumicos em si quanto da construo de um

    conhecimento cientfico em estreita relao com as aplicaes tecnolgicas e suas implicaes

    ambientais, sociais, polticas e econmicas. Tal a importncia da presena da Qumica em um Ensino

    Mdio compreendido na perspectiva de uma Educao Bsica (Brasil, 2000).

    suporteTextboxISBN 978-85-62830-10-5VII CONNEPI2012

  • O ensino de Qumica nas escolas pblicas tem sido motivo de discusses pelo fato das aulas

    ministradas no proporcionarem ao aluno uma formao cientfica para o exerccio da cidadania. Isso

    pode ser percebido atualmente pelo fato da populao, mesmo com uma formao de nvel mdio em

    sua maioria absoluta, apresentar nveis insuficientes de pensamento crtico e aceitao de informaes

    sem base cientfica.

    Diante dessa problemtica associada ao ensino e aprendizagem de Qumica, este trabalho

    apresenta uma pesquisa realizada nas escolas pblicas do municpio de Ouricuri-PE, com o objetivo de

    compreender quais os vieses do ensino-aprendizagem de Qumica na opinio de alunos e educadores,

    alm de ter uma viso geral do que est faltando para que o aluno possua um melhor rendimento nas

    aulas e compreender melhor as dificuldades encontradas pelos professores e alunos neste processo.

    2. MATERIAL E MTODOS

    O levantamento de concepes a respeito das temticas abordadas no ensino-aprendizagem da

    Qumica teve como tcnica para coleta de dados uma pesquisa exploratria por meio de entrevista

    dirigida, as quais foram gravadas em mdia eletrnica e transcritas posteriormente. Os entrevistados

    compunham trs grupos distintos:

    O primeiro grupo formado por oito professores de Qumica da rede pblica estadual, dos quais seis possuem graduao em Cincias Biolgicas, um em Engenharia de Energias

    Renovveis e um em Pedagogia;

    O segundo grupo constitudo por oito pedagogos;

    O terceiro grupo composto por oito alunos do ensino mdio de escolas pblicas, os quais cursam o 3 ano.

    As entrevistas realizadas aos grupos constituem-se das seguintes questes:

    A primeira pergunta do questionrio versou sobre a prtica docente no ensino de Qumica: como os professores devem ensinar Qumica?

    A segunda pergunta referiu-se s aptides que devem ser engajadas ao aluno pelo ensino desse campo de conhecimento: Que conhecimentos, habilidades e atitudes voc espera que

    o ensino de Qumica proporcione ao aluno?

    A terceira diz respeito aos pontos negativos envolvidos na aprendizagem desta cincia: Que fatores devem atrapalhar o aprendizado da Qumica?

    Aps a transcrio das entrevistas, o grupo responsvel por aplicar o questionrio realizou a

    categorizao das diferentes concepes obtidas pelos entrevistados. Por meio desta classificao,

    organizaram-se as ideias centrais de cada grupo. Na seo seguinte, sero discutidas as questes mais

    proeminentes apresentadas.

    3. RESULTADOS E DISCUSSO

    A Tabela 1 mostra uma viso geral de como o ensino de Qumica deve ser praticado na opinio

    dos professores de Qumica, pedagogos e alunos entrevistados.

  • Tabela 1 - Idealizao da prtica do ensino de Qumica segundo docentes de Qumica, pedagogos e

    alunos

    Categoria Respostas Quantidade Porcentagem

    Professores de

    Qumica

    Aulas tericas e prticas

    Aulas tericas

    Aplicaes da cincia no

    dia-a-dia

    6

    1

    1

    75%

    12,5%

    12,5%

    Pedagogos

    Aulas prticas

    Ensino de forma prtica e

    contextualizada

    Aulas prticas e ensino

    construtivista

    4

    1

    1

    50%

    12,5%

    12,5%

    Explorao de textos e aulas

    dinmicas

    1 12,5%

    Contextualizao do ensino

    1 12,5%

    Alunos

    Aulas tericas e prticas

    Pacincia e companheirismo

    Aulas dinmicas

    6

    1

    1

    75%

    12,5%

    12,5%

    A Tabela 1 mostra que a maioria dos alunos, pedagogos e professores de Qumica defendeu a

    necessidade do desenvolvimento de atividades experimentais no ensino de Qumica. O grupo dos

    alunos alega que, infelizmente, a falta de envolvimento do aluno com laboratrios ou outras atividades

    prticas dificulta a concretizao do conhecimento que construdo em sala de aula. Por sua vez, os

    docentes de Qumica creem que no se deve desvincular a prtica da teoria, visto que por meio dela o

    aluno recebe os fundamentos conceituais necessrios execuo de atividades experimentais. Somente

    um professor de Qumica declarou que o ensino deve superdimensionar o repasse de conceitos.

    Diante do que foi exposto por docentes e alunos, foi observado que a ideia das atividades

    prticas, por parte de alguns, ainda muito limitada e no se adapta s necessidades do ensino de

    Qumica atual: 12,5% dos professores de Qumica, 12,5% dos pedagogos e 50% dos alunos relataram

    na entrevista que as atividades prticas se restringem somente ao laboratrio, onde os alunos seguem

    um roteiro com resultados previamente conhecidos, sem levar em considerao o carter investigativo

    e a possibilidade de relao entre o experimento e os conceitos. Segundo Carvalho (2005), no ensino

    de cincias, o professor no deve trabalhar com a apresentao de leis, conceitos e teorias prontas e j

    elaboradas. O caminho a se seguir diz respeito a propiciar aos educandos a possibilidade de

    construrem o seu conhecimento desde o incio de sua aprendizagem. As aulas prticas devem

    possibilitar ao aluno, atravs do contato direto com experincias concretas, o pensamento crtico,

    elaborao de ideias, soluo de problemas, enfim a compreenso a respeito daquilo que estudado.

    Por sua vez, o aluno adquire independncia para desenvolver atitudes cientficas e analisar percepes

    no cientficas. No se pode, entretanto, colocar a culpa deste problema apenas nos professores. Uma

    das causas desses problemas o curso de formao deficiente que reforam a aprendizagem passiva

    pelo formato expositivo das aulas (Lima et al., 2000).

    No grupo dos alunos do ensino mdio foi apontado que as aulas de Qumica so melhores absorvidas quando ministradas com pacincia e companheirismo. Desta forma, ainda percebe-se a necessidade dos docentes buscarem desenvolver a afetividade no processo de ensino-aprendizagem.

    Por isso, os professores no devem se preocupar somente com o que ensinar e sim de que forma ensinar. Essa difuso de conhecimentos precisa atender as duas partes e a afetividade indispensvel nessa relao de ensino-aprendizagem, pois torna os alunos mais seguros para expressarem opinies,

    questionarem e apresentarem maior desejo pela pesquisa, possibilitando assim o seu avano

    pedaggico e social. Segundo Saltini (2008), a interao afetiva estabelecida entre professor e aluno

  • propicia a troca de informaes atravs do dilogo, em que o aluno vai se desenvolver

    intelectualmente na interao das atividades. Cunha (2008) acrescenta ainda que so as nossas

    emoes que nos ajudam a interpretar os processos qumicos, biolgicos e sociais que experenciamos,

    e a vivncia das experincias que amamos que determinar a nossa qualidade de vida.

    O desenvolvimento do ensino de forma construtivista ainda pouco citado pelos professores de

    pedagogia e no mencionado pelos de Qumica. Apenas 12,5% dos pedagogos pontuou que o

    conhecimento do aluno deve ser construdo na interao com o meio em que vive. Isso mostra que

    ainda existe necessidade de incorporaes construtivistas nas prticas de ensino dos professores, os

    quais so responsveis por proporcionar que os educandos construam seu conhecimento desde o incio

    da aprendizagem. importante lembrar que o construtivismo no deve ser separado da

    contextualizao do ensino, visto que deve se considerar os conhecimentos prvios dos alunos.

    Conforme Piaget (1990), o conhecimento uma construo que vai sendo elaborada desde a infncia,

    atravs de interaes do sujeito com os objetos que procura conhecer, sejam eles do mundo fsico ou

    cultural, ou seja, a aprendizagem se d pela relao do sujeito com o meio ambiente. Na categoria dos

    pedagogos, apenas 12,5% mencionou que o ensino deve ser contextualizado, resumindo-se apenas a

    aplicaes do conhecimento terico no dia-a-dia. Contudo, a definio apresentada pelo entrevistado

    no est em consonncia com os documentos oficiais; contextualizar o ensino no promover uma

    ligao artificial entre o conhecimento e o cotidiano do aluno, citando exemplos como ilustrao ao

    final de algum contedo, mas propor situaes problemticas reais e buscar o conhecimento necessrio para entend-las e procurar solucion-las (Brasil, 2000).

    A dificuldade de aprendizagem dos alunos pode estar associada falta de contextualizao do

    conhecimento pelos docentes de Qumica, pois em muitas vezes o professor exerce apenas o papel de

    transmissor de conhecimentos prontos e acabados e sem qualquer relao com as vivncias dos

    discentes (saberes, concepes etc.) (Germano et al., 2010). A no contextualizao da Qumica pode

    ser responsvel pelo alto nvel de rejeio do estudo desta cincia pelos alunos, dificultando o

    processo de ensino-aprendizagem (Lima, 2000).

    No grupo dos pedagogos nota-se que 12,5% pontuam que deve haver explorao de textos

    durante a prtica de ensino. Dentre os materiais de informao e conhecimento mais usados nas

    escolas, o livro didtico o mais frequente. No entanto importante ressaltar que o uso apenas deste

    recurso torna o ensino limitado. Logo, necessria a busca de outras fontes de informaes

    complementares como jornais, revistas, artigos online, visitas tcnicas, aulas experimentais, vdeos e

    programas educativos.

    A Tabela 2 ilustra as competncias, habilidades e atitudes que devem ser proporcionadas pelo

    ensino de Qumica na viso dos professores de Qumica, pedagogos e alunos entrevistados.

  • Tabela 2 - Competncias, habilidades e atitudes proporcionadas pelo ensino de Qumica

    Categoria Respostas Quantidade Porcentagem

    Professores de

    Qumica

    Desenvoltura da prtica e raciocnio lgico

    Reconhecer o papel da Qumica no mercado de

    trabalho

    Desenvoltura de atitudes procedimentais e

    conceituais

    Desenvoltura da criatividade e atividades

    prticas

    2 25%

    2 25%

    1 12,5%

    1 12,5%

    Desenvoltura do cognitivismo

    NRP *

    1

    1

    12,5%

    12,5%

    Percepo da Qumica no cotidiano 3 37,5%

    Pedagogos

    Compreenso e utilizao dos conceitos bsicos

    de Qumica

    Desenvoltura da curiosidade e interpretao dos

    aspectos qumicos

    Desenvoltura de atividades prticas e percepo

    da Qumica no cotidiano

    Conhecimento sobre aspectos qumicos na

    relao do ser humano com o ambiente

    2

    25%

    1 12,5%

    1 12,5%

    1 12,5%

    Alunos Codificao da linguagem qumica 4 50%

    Codificao da linguagem e aplicaes da

    Qumica no mercado de trabalho

    3 37,5%

    Conhecimento sobre transformaes qumicas 1 12,5%

    * = No respondeu pergunta

    A Tabela 2 mostra uma clara diviso de opinies entre professores de Qumica, pedagogos e

    alunos em relao ao tema proposto. Enquanto a maioria dos alunos julga a codificao da linguagem

    qumica como umas das principais competncias a serem adquiridas pelo ensino de Qumica, 37,5%

    dos pedagogos mencionam que o aluno deve desenvolver a capacidade de percepo da Qumica no

    nosso dia-a-dia. J os professores de Qumica entendem que o raciocnio lgico, o desenvolvimento de

    atividades prticas e o reconhecimento do papel dessa cincia no mercado de trabalho so as

    habilidades e competncias a serem desenvolvidas. importante notar que o domnio da linguagem

    qumica ressalvada pelos alunos aludido pelos Parmetros Curriculares Nacionais do Ensino Mdio

    (Brasil, 2000) e se faz necessrio ao educando, pois permite maior compreenso a cerca dos fatos que

    ocorrem no cotidiano. Frequentemente, as informaes veiculadas pelos meios de comunicao so

    superficiais, errneas ou exageradamente tcnicas. Neste momento, o conhecimento da linguagem se

    torna importante para que as informaes recebidas no levem a uma compreenso unilateral da

    realidade e do papel do conhecimento qumico no mundo Contemporneo (Brasil, 2000).

    De acordo com as declaraes dos entrevistados, percebe-se que os professores desconhecem as

    competncias e habilidades a serem desenvolvidas em Qumica indicadas nos documentos oficiais da

    educao. Dos entrevistados, 25% dos professores de Qumica consideram o raciocnio lgico como

    uma habilidade a ser desenvolvida pelo ensino. Somente um pedagogo destaca a relao da cincia

    com o meio ambiente. Alm disso, em nenhum momento foi feita meno que os conhecimentos

    qumicos podem colaborar para o desenvolvimento cientfico-tecnolgico com importantes

    contribuies especficas cujas decorrncias tm alcance ambientam, social, econmico e poltico

    (Brasil, 2000).

  • Os dados quantitativos da Tabela 2 apontam ainda que apenas 12,5% dos docentes de Qumica

    consideram a cognio como uma competncia a ser desenvolvida pelo aluno, o que sugere que esse

    aspecto ainda pouco considerado pelos professores no processo de ensino e aprendizagem.

    Entretanto, deve-se destacar que as habilidades cognitivas e afetivas so importantes aos alunos, uma

    vez que por meio delas, os mesmos so capacitados a tomarem suas prprias decises em situaes

    problemticas, contribuindo assim para o desenvolvimento do educando como pessoa humana e como

    cidado (Brasil, 2000).

    Ao longo dos anos o ensino de Qumica se reduzia somente difuso de conhecimentos,

    definies e leis isoladas. A cincia era trabalhada de forma memorstica e sem qualquer vnculo com

    a vida do aluno. No entanto, necessrio ressaltar que os Parmetros Curriculares Nacionais (Brasil)

    defendem que a cincia no nasce de forma isolada e sim como um meio de interpretao e utilizao

    do mundo fsico.

    A pesquisa explana que, dos pedagogos entrevistados, apenas 12,5% menciona que o trabalho

    de contedos e conhecimentos deve partir da curiosidade dos alunos, visto que desperta o

    questionamento e construo de conhecimentos e aprendizagens. importante destacar que a insero

    do contexto do aluno se faz necessrio junto curiosidade para o trabalho de diferentes temticas que

    podem ser essenciais para toda a comunidade. Portanto, importante que os professores repensem sua

    prtica pedaggica e conscientizem-se da importncia de serem trabalhados temas que tenham

    significado para os educandos. A contextualizao do ensino, por outro lado, no impede que o aluno

    resolva questes clssicas de Qumica, principalmente se elas forem elaboradas buscando avaliar no apenas a evocao de fatos, frmulas ou dados, mas a capacidade de trabalhar o conhecimento (Chassot, 1993). Segundo Pernio (2008), o desenvolvimento da curiosidade desperta o interesse do

    aluno. Esses dois fatores interagem e ocorrem na medida em que o aluno se sente amparado, entre

    outros aspectos de sua vida pelas prprias perguntas e respostas que sua busca no mundo das cincias

    pode trazer-lhe: a curiosidade "recompensada" com respostas ou outras possibilidades de vivncias e

    experimentaes resultam no despertar do interesse. Quando se consegue obter interao entre

    aspectos do cotidiano e o ensino de cincias, surge interesse e fascnio pelos estudos.

    A Tabela 3 mostra os principais fatores que atrapalham os alunos a aprenderem os contedos de

    Qumica no entendimento dos professores de Qumica, pedagogos e alunos entrevistados.

    Tabela 3 - Aspectos que atrapalham o aprendizado da Qumica

    Grupos Respostas Quantidade Porcentagem

    Professores de

    Qumica

    Defasagem do ensino fundamental

    Desinteresse pela matria

    Aulas exaustivas e sem aplicaes prticas

    Trabalho e defasagem do ensino fundamental

    Falta de planejamento docente

    2

    2

    2

    1

    1

    25%

    25%

    25%

    12,5%

    12,5%

    Pedagogo

    Falta de aulas prticas

    Monotonia das aulas e desinteresse pela

    matria

    Metodologia de ensino tradicional

    Dficit em matemtica e portugus

    3

    3

    1

    1

    37,5%

    37,5%

    12,5%

    12,5%

    Alunos

    Desinteresse pela matria

    Complexidade da matria

    Falta de aulas prticas

    Desinteresse, complexidade da matria e falta

    de aulas prticas

    Supervalorizao de conceitos

    3

    2

    1

    1

    1

    37,5%

    25%

    12,5%

    12,5%

    12,5%

  • A Tabela 3 mostra que a falta de aulas prticas e o desinteresse dos alunos so considerados os

    aspectos que mais atrapalham o aprendizado de Qumica.

    Do total dos entrevistados, 29,2% apontaram a falta de aulas prticas em laboratrios ou at

    mesmo em sala como um dos elementos que atrapalha o aprendizado, dificultando assim a

    compreenso dos conceitos. Outra parcela dos entrevistados (8,3%) afirmou que nas escolas das quais

    participam existem laboratrios, mas no possui profissional adequado para ministrar tais aulas. Isso

    evidencia falhas na formao dos professores de Cincias em sua formao. Alm disso, outro fato a

    ser considerado que os docentes de Qumica da regio no possuem formao acadmica na rea em

    que atuam.

    Os professores apontam como um dos fatores que atrapalha a aprendizagem, alm da falta de

    aulas prticas a aprendizagem defasada no ensino fundamental. Segundo os professores entrevistados,

    o aluno chega ao ensino mdio sem bagagem para que se tenha um bom rendimento no aprendizado.

    Uma situao frequentemente citada pelos professores entrevistados o caso do aluno no conseguir

    interpretar um enunciado de questo de Qumica por falta de conhecimento de outras disciplinas,

    principalmente portugus e matemtica.

    Um ponto negativo a ser mencionado, com 37,5% do total de entrevistados, o quesito

    desinteresse, o qual foi fortemente citado nos trs grupos, como mostra a Tabela 3. Falta de ateno na

    aula, conversas e brincadeiras em horrios inadequados tornam-se assim um forte aliado para o

    desestmulo do aluno ao estar na aula de Qumica, segundo os professores. Foi observado que muitos

    dos alunos entrevistados apontaram a falta de interesse como um obstculo para a aprendizagem,

    alegando que os alunos indisciplinados acabam desanimando os demais integrantes da sala. Muitas

    vezes a falta de interesse dada pela falta da contextualizao, na qual o que ensinado no faz

    sentindo para o aluno, como j foi discutido na Tabela 1. Sabemos que o contexto social no qual a pessoa est inserida influi fortemente em seu modo de pensar e de agir, em seus interesses e

    necessidades e na hierarquizao de seus valores (Lorenzato, 2006).

    6. CONCLUSES

    A compilao de ideias obtidas nesta pesquisa permitiu constatar que:

    Professores, pedagogos e alunos, valorizam a execuo de experimentos nas aulas de Qumica;

    A falta de aula pratica, desinteresse e defasagem do ensino fundamental so os principais fatores que dificultam o aprendizado da cincia em questo;

    O aluno ao sair do ensino mdio, tem que conseguir ligar o que aprendeu em sala de aula ao seu dia-a-dia e saber codificar a linguagem qumica a principal habilidade que

    um aluno deve adquirir;

    A falta de contextualizao da Qumica deve estar associada ao desinteresse e dificuldade dos alunos em compreender esta cincia;

    A afetividade professor-aluno parte essencial para o desenvolvimento do ensino e aprendizagem.

    REFERNCIAS

    BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Mdia e Tecnolgica. Parmetros

    Curriculares Nacionais (Ensino Mdio). Braslia: MEC, 2000.

    CARVALHO, A. M. P. Introduzindo os alunos no Universo de Cincias. Em J. Werthein; C. Cunha.

    (Ed.). Educao cientfica e desenvolvimento: o que pensam os cientistas. (p 61-67)- Instituto

    Sangrari, Braslia: UNESCO, 2005.

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