o ensino de literatura no segundo · dom bosco. ensino fundamental, médio e profissional, no...
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PARANÁ
GOVERNO DO
ESTADO
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
Ficha para Catálogo Artigo Final
Professor PDE/2010
Título O ENSINO DE LITERATURA NO SEGUNDO ANO DO ENSINO MÉDIO: UMA PROPOSTA DE LEITURA DE TEXTOS NA INTEGRALIDADE
Autor EDNA LUCI GRIGOLIEscola de Atuação COL. EST. DOM BOSCO
Município da Escola CAMPO MOIRÃO
Núcleo Regional de Educação CAMPO MOURÃOOrientador WILSON RODRIGUES DE MOURAInstituição de Ensino Superior UNESPAR- FECILCAMÁrea do Conhecimento/Disciplina LÍNGUA PORTUGUESARelação Interdisciplinar (indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
LITERATURA
Público Alvo (indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...).
ALUNOS DO SEGUNDO ANO DO ENSINO MÉDIO
Localização (identificar nome e endereço da escola de implementação)
COL. EST. DOM BOSCORUA –DUQUE DE CAXIAS- 938
Resumo: (no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)
Desenvolveu-se esse material didático com os alunos do segundo ano do Ensino Médio, regularmente matriculados no Colégio Estadual Dom Bosco. Ensino Fundamental, Médio e Profissional, no município de Campo Mourão, Paraná, sob o norte teórico da Estética da Recepção de Jauss, na Teoria do Efeito, nos postulados de Bakhtin, envolveu a teoria das DCE (Diretrizes Curricular da Educação Básica) e do dialogismo nas propostas de Candido, abordando a realidade do indivíduo aos valores
paradoxais que a literatura traz. Essa proposta permitiu que se tomasse ciência da realidade que cerca o sujeito e estabeleceu uma relação dialógica entre o seu conhecimento de mundo e a prática da leitura /compreensão efetuada. Bordini e Aguiar defendem o exercício das relações discursivas entre textos. Dentro da Metodologia da Mediação Dialética (M.M.D.) de Arnoni, Brefere, o ensino/aprendizagem se efetua com base na concepção crítica de mundo e transformação da sociedade escolar, a qual apresenta ruptura de algumas ideologias possivelmente aplicadas numa sociedade real. Efetuou-se a práxis com leituras dos contos de Machado de Assis. Ao término da implementação do projeto na escola, verificou-se a eficácia da aplicabilidade.
Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) Valorização dos saberes, leitura/integralidade, compreensão.
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SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEEDSUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS –DPPE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ-FECILCAM-UNESPAR- CAMPO MOURÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
- O ENSINO DE LITERATURA NO SEGUNDO ANO DO ENSINO MÉDIO:UMA PROPOSTA DE LEITURA DE TEXTOS NA INTEGRALIDADEEDNA LUCI GRIGOLI
Artigo Final apresentado à Universidade Estadual de Campo Mourão-FECILCAM/UNESPAR e à SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ – SEED, como requisito para conclusão da participação no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, sob orientação do Professor Mestre Wilson Rodrigues de Moura.
CAMPO MOURÃO
2012
O ENSINO DE LITERATURA NO SEGUNDO ANO DO ENSINO MÉDIO:
UMA PROPOSTA DE LEITURA DE TEXTOS NA INTEGRALIDADE
Autora: Edna Luci Grigoli1
Orientador: Wilson Rodrigues de Moura2
RESUMO
Desenvolveu-se esse material didático com os alunos do segundo ano do Ensino Médio, regularmente matriculados no Colégio Estadual Dom Bosco. Ensino Fundamental, Médio e Profissional, no município de Campo Mourão, Paraná, sob o norte teórico da Estética da Recepção de Jauss, na Teoria do Efeito, nos postulados de Bakhtin, envolveu a teoria das DCE-LP (Diretrizes Curricular de Língua Portuguesa da Educação Básica) e do dialogismo nas propostas de Candido, abordando a realidade do indivíduo aos valores paradoxais que a literatura traz. Essa proposta permitiu que se tomasse ciência da realidade que cerca o sujeito e estabeleceu uma relação dialógica entre o seu conhecimento de mundo e a prática da leitura /compreensão efetuada. Bordini e Aguiar defendem o exercício das relações discursivas entre textos, promovendo o enriquecimento do sujeito histórico e sua socialização com obras literárias. Dentro da Metodologia da Mediação Dialética (M.M.D.) de Arnoni, Brefere, o ensino/aprendizagem se efetua com base na concepção crítica de mundo e transformação da sociedade escolar, a qual apresenta ruptura de algumas ideologias possivelmente aplicadas numa sociedade real. Efetuou-se a práxis com leituras dos contos de Machado de Assis e ao término da implementação do projeto na escola, verificou-se a eficácia da aplicabilidade dentro dessa metodologia.
Palavra chave- valorização dos saberes, leitura na integralidade, compreensão.
1 Professora da Rede Publica Estadual do Estado do Paraná, Especialista em Literatura Brasileira, ensino de jovens e adultos-EJA, graduada em Letras pela FECILCAM. E-mail: [email protected] Professor do Departamento de Letras da FECILCAM, Mestre - E-mail: [email protected].
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Este trabalho emanou da observação participativa do processo de leitura dos
alunos do 2 º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Dom Bosco. Esse artigo
relata as dificuldades no processo de leitura de obras literárias e os procedimentos
metodológicos que interferem nos resultados de apreensão, compreensão,
interpretação dos textos literários.
A implementação teve base na Metodologia da Mediação Dialética,
objetivando a leitura na integralidade dos contos de Machado de Assis, ‘A teoria do
medalhão’ e ‘O espelho- esboço de uma nova teoria da alma humana’. Uma
proposta metodológica de Jauss, A Estética de Recepção e a Teoria do Efeito
alicerçando o Método Recepcional nos postulados de Candido, conforme orienta as
Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, (2008), (doravante denominada de
DCE-LP. ).
Pensou-se nesta proposta metodológica, com a finalidade de valorizar o
saber prévio do estudante e sua experiência de mundo em consonância com as
DCE-LP do Estado do Paraná, (2008). Além desses, há outros autores que teorizam
o mesmo processo metodológico, pois um trabalho organizado diante desse método
propõe um estudo baseado nos horizontes de expectativas de cada estudante.
É importante destacar que os estudantes apresentam dificuldades de leitura
compreensiva em variados gêneros textuais conforme dados coletados ou relatos
em conselhos de classe e reuniões pedagógicas.
Diante desse fato percebeu-se a deficiência na prática de leitura de obras
literárias clássicas em sua “integralidade” por causa dos seguintes fatos: primeiro as
leituras acontecem de modo instável e incompletas e segundo a biblioteca não
atende a demanda com determinado número de livros de um mesmo autor por
questões burocráticas. Diante da problemática, os professores procuram despertar o
interesse dos alunos usando diferenciadas metodologias, que serão explicitadas ao
longo desse trabalho.
Na esteira desses esclarecimentos o aluno foi estimulado a ler as obras de
modo lúdico escolhendo o veículo que melhor adaptasse aos seus anseios sendo: a
apostila -preparada com os contos- ou explorando os textos via internet ou ainda
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utilizando o próprio livro de contos de Machado de Assis. Realizou-se a leitura em
grupos no jardim da escola, na biblioteca, no laboratório de informática ou na própria
sala de aula proporcionando-lhes maior conforto para se concentrarem na leitura.
Mas ainda se questiona: Por que os estudantes terminam o ensino médio com
pouca leitura, ou quase sem ter contato com as obras literárias, apesar de todo
encaminhamento técnico da SEED e os esforços dos Professores?
Explicitando essa problemática, aplicou-se o material didático – Caderno
Pedagógico- produzido durante o curso Projeto de Desenvolvimento Educacional –
PDE-LP - com o título: ‘O Ensino de Literatura no Segundo Ano do Ensino Médio:
uma Proposta de Leitura na Integralidade’, possibilitando, ao aluno, amenizar o grau
de deficiência de leitura. Para isso, propôs-se uma práxis, aos professores do 2º
ano, embasada em textos literários curtos, confrontando com os documentos oficiais
que norteiam o ensino de literatura no Ensino Médio: Diretrizes Curriculares
Estaduais, Projeto Político Pedagógico, Plano de Trabalho Docente com o Livro
Didático, visando incentivar os estudantes a lerem as obras literárias na
integralidade.
Frente a essas teorias, buscou-se resgatar a autoestima do estudante,
valorizando o saber prévio de cada ser com atendimento individualizado, porém não
houve manifestação de interesse de 30% dos alunos, pois não demonstraram visão
de futuro escolar ou profissional, tropeçaram na falta de perspectivas e,
consequentemente se recusaram em participar das leituras na integralidade e das
atividades propostas.
Implementou-se essa proposta pedagógica num total de 37 alunos ativos.
Houve um percentual de 68°/° aprovados, 8,1°/° reprovados por nota, 16,22°/°
aprovados por conselho de classe, 8,11°/° reprovados por frequência. Observou-se
que os alunos aprovados por conselho e/ou reprovados são os mesmos que se
recusavam em participar das leituras/atividades propostas, caracterizando descaso
com o saber.
Realizaram-se as atividades individualmente, em duplas ou em grupo,
possibilitando a participação e crescimento de todos, tanto em sala de aula como no
laboratório de informática, momento em que viram em vídeos, pela internet, as
versões dramatizadas dos contos lidos no qual se espelhariam para apresentações
(dramatizadas) no final da aplicabilidade da proposta.
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Inspiraram-se nesses vídeos para teatralizarem os contos escolhidos que
foram apresentados no final do mês de outubro de 2011 e teve ovação dos
expectadores que foi o público escolar, resultando em emocionante possibilidade do
rompimento de expectativas, melhora na autoestima e crescimento intelectual
criativo dos envolvidos no processo de ensino.
2 INVESTIGAÇÃO DO CORPUS DE PESQUISA: 2º ANO DO ENSINO MÉDIO
O projeto que deu base a esse artigo se iniciou em agosto de 2010
primeiramente houve uma investigação qualitativa envolvendo os alunos
participantes. Essa pesquisa envolveu 37 estudantes por meio de investigação de
campo com questionário aberto e fechado. Observou-se a questão da leitura e
compreensão-interpretação textual, sendo que 27% dos alunos demonstraram muita
dificuldade em ler e entender o texto, outros 40% acertaram menos da metade das
questões e 32% dos estudantes acertaram um pouco mais que a metade das
atividades. Em posse desses resultados, observou-se a dificuldade em realizar
leituras de obras literárias, de interpretá-las, de compreendê-las pela pouca
experiência e/ou dificuldade de leitura de textos literários, desconhecimento do
vocabulário e da experiência de mundo que apresentaram. Esses alunos residem na
periferia do bairro, filhos de operários, trabalhadores pertencentes à classe média
baixa, e muitas vezes sentem estigmatizados por morarem neste bairro.
A aplicação desse material didático possibilitou aos estudantes explorarem
seus conhecimentos prévios mais profundos frente a uma obra literária. Foi
proporcionada a eles a oportunidade de crescerem, de alargarem seu mundo,
enriquecendo seus intelectos, somando as informações recebidas com as que estão
atreladas em seu próprio modo de viver ou nas experiências de vida.
3 DESVELANDO O SENTIDO DOS CONTOS MACHADIANO
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Situada a grandeza da pesquisa e de sua aplicação com esses estudantes,
é importante fazer algumas considerações acerca da proposta didático-pedagógica e
direcionar o objetivo pretendido. Assim surgiu o questionamento: Que metodologia
seguir adequando a execução das atividades didáticas às experiências de cada
estudante-leitor?
Explicitando essas colocações, temos os estudos de Candido (1979),
dizendo que literatura é vista como arte, que pode humanizar o homem e a
sociedade atribuindo-lhe três funções: - a psicológicas, a formadora e a social e, por
meio da literatura pode se confirmar, negar, denunciar, apoiar e combater ou
fortalecer a possibilidade de viver dialeticamente os problemas- Candido (1989, p.
113), estabelecendo a catarse do sujeito que pode adquirir papel formador de
personalidades, sem convenções sociais diante de valores paradoxais da sociedade,
concretizando os sentidos construídos pela consciência imaginativa do sujeito e sua
liberdade de pensar.
É nessa perspectiva que esse trabalho explora e desafia nos estudantes a
compreensão de textos literários que de acordo com Candido (1989, p. 113), a
literatura se distingue por três faces:
1- ela é uma construção de objetos autônomos como estrutura e significado;2- ela é uma forma de expressão, isto é, manifesta emoção e a visão do mundo dos indivíduos e dos grupos;3-ela é uma forma de conhecimento, inclusive como incorporação difusa e inconsciente.
Essas fases são construções, formas de expressão e de conhecimento que
auxilia o sujeito a apoderar-se da força da palavra organizada, ordenando sua
mente, seus sentimentos, possibilitando organizar melhor a visão de mundo que
tem.
Essas manifestações ou construções foram constatadas durante a
implementação pedagógica- o Material Didático- com os contos de Machado de
Assis, A teoria do medalhão e O espelho- esboço de uma nova teoria da alma
humana. Foi nesse momento que o aluno foi coautor e estabeleceu relação entre
seu conhecimento de mundo com os contos lidos, vivenciando a verossimilhança.
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Após a introdução sobre os trabalhos a serem desenvolvidos, houve a
entrega dos textos e orientação das leituras que iniciaram com dificuldades e
queixas em executar o ato de ler os contos na integralidade. Reclamaram que eram
longos, ‘chatos’- por causa do vocabulário- diziam que não compreendiam o
discurso, mas havia dicionários á disposição ou mesmo a internet, para pesquisa, já
que muitas aulas se realizaram no laboratório de informática além da disponibilidade
da professora.
Concretizou-se esse processo de leitura iniciando com o conto A teoria do
medalhão, de Machado de Assis, observou-se que a dimensão do conhecimento de
cada estudante que participava era mínima diante da problemática apresentada no
conto, mas com esforço, leitura, pesquisas, ou busca de informações com os pais,
avós e amigos seus horizontes foram crescendo, se consolidando. Desse modo, o
educando pode estabelecer relações de seu mundo interior/exterior com o texto que
aos poucos seus saberes foram acendendo, deixando transparecer os horizontes
com suas informações prévias, oportunizando a reflexão acerca dos sentidos
elaborados, proporcionando a todos a participação voluntária, numa práxis
democrática como estabelecem as Diretrizes.
Nessa perspectiva de aprendizagem, a experiência de cada ser ganha valor
dentro da teoria de JAUSS (1994), pois é o momento em que o conhecimento de
mundo reflete nas ações ou participação em tímidas exposições escritas. A cada
atividade era preciso alertá-los para a questão da participação qualitativa, ou seja,
pela aprendizagem avaliativa. Dificilmente manifestaram suas ideias ou
pensamentos espontaneamente, precisaram de estímulos para enriquecer seus
conhecimentos, porém aos poucos buscaram, em seus horizontes acumulados,
relação textual com o real, desenvolvendo o seu nível de compreensão intelectual
intermediário conforme os estudantes tomaram confiança em suas informações e
conhecimentos.
Diante desse enfoque, a tese de Jauss (1994) justifica “o caráter
emancipatório da obra literária e relaciona a experiência estética com a atuação do
homem na sociedade, permitindo a ele desempenhar um papel atuante no contexto
social”. Desse modo a relação dialógica permite constituir resposta aos
questionamentos embasados na ruptura dos horizontes do estudante que, de acordo
com a Teoria do Efeito de Iser (1996, p. 73) possibilita refletir o resultado estético
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da obra literária no leitor durante sua recepção que pode compartilhar as
experiências de vida com intencionalidade textual.
Iser trabalha também com os conceitos de “leitor implícito”, “estruturas de
apelo”, “vazios dos textos”, o que foi observado nos estudantes durante as leituras.
A complexidade de compreensão acontece conforme vivência do ser leitor e, esses
alunos não possuem uma experiência enriquecida em informações ou
conhecimentos diferenciados, considerando que de acordo com Iser “... no ato da
leitura escrita ocorre uma previsão, por parte do autor, de quem será o interlocutor,
aquele que dará vida/sentido ao seu texto...”. O texto literário permite múltiplas
interpretações, é carregado de pistas direcionando o leitor, orientando-o para uma
leitura coerente dentro da possibilidade interpretativa de cada um.
Realizou-se o processo de leituras em conjunto, por partes, sendo discutido
cada tópico que chamasse a atenção, que mexesse com a curiosidade, valores ou
conhecimento dos envolvido, pois como diz Candido (1989), “a literatura é uma
forma de expressar a manifestação do mundo dos indivíduos, de seus
conhecimentos numa incorporação consciente ou inconsciente do seu ser”, que
pode ser despertada a qualquer momento, conforme o grau de interesse do
estudante.
Nesse processo evidenciou a interação do receptor com o autor mantendo
uma relação de ruptura de horizontes do estudante/leitor, dentre as expectativas de
aproximação ao conteúdo textual. Essa atitude foi se tornando visível durante a
aplicabilidade do projeto em 27,35% dos alunos que iam se destacando com suas
perguntas, exposições, reflexões diante de determinados trechos lidos no conto de
modo escrito, pois a timidez impedia a oralidade nas primeiras aulas.
A dificuldade na oralidade continuou por toda a aplicabilidade do projeto,
pois quase não se expressavam dentro da intencionalidade textual, mas
conversavam muito entre si, dispersavam do foco da aula. Timidamente, esses
estudantes soltaram sua voz, sua imaginação diante do texto literário, mesmo
sobressaindo o modo escrito houve rompimento dos horizontes, ampliando-os de
modo positivo aos participantes.
Precisou-se da intervenção da professora a todos os alunos para
entenderem ou efetivarem suas atividades diante da leitura dos contos iniciado pelo
‘O medalhão’, trazendo o enigma da profissão escolhida pelo pai. Só entenderam o
enigma do Medalhão depois que a professora expôs parte da intencionalidade do
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texto, permitindo que, com isso, se ‘abrisse’ a lente do intelecto, deixando
transparecer os horizontes e as expectativas de cada um, abrindo caminho para
uma compreensão responsiva do conto lido em direção da catarse.
Desenvolveu-se essa ruptura durante toda aplicação do Caderno
Pedagógico, pois houve um acréscimo intelectual de compreensão maior ao do
apresentado no momento da investigação e/ou no início da aplicabilidade
principalmente com 38,10% dos alunos que dialogaram com a obra ou leram na
integralidade os contos. Diante dos estudos das professoras Bordini e Aguiar (1993),
‘o sujeito que desenvolve uma leitura compreensiva crítica adquire conhecimento da
realidade sociocultural, incorpora suas ideias nos discursos num contínuo texto-
puxa-texto’, elevando o entendimento e/ou compreensão.
Observou-se que o enriquecimento cultural ou intelectual foi comprovado,
aos poucos, durante o trabalho com o conto “A teoria do medalhão” e,
posteriormente com “O espelho - esboço de uma nova teoria da alma humana”,
com 32% dos participantes questionando, debatendo momentos de dificuldade de
compreensão textual, buscando alternativas que esboçassem seus anseios
democraticamente. Desse modo, a Teoria do Efeito comprova que formar um leitor é
torná-lo capaz de sentir, de expressar o que sentiu envolvido na subjetividade
expressada pela tríade obra/autor/leitor na interação adquirida por meio da leitura.
Executada a leitura/análise do conto ‘O medalhão’, houve um debate
explicitando os próprios acontecimentos dentro da verossimilhança textual com a
realidade atual/real, buscando relação sobre o comportamento de submissão do filho
em relação ao desejo do pai com as próprias expectativas dos jovens estudantes se
colocando naquela dimensão de diálogo e interesses acometidos entre os
personagens.
Surgiram manifestações de indignação referente à forma com que o ‘pai
colocou ao filho o que deveria fazer para seguir o cargo de Medalhão’, ‘que era um
sonho do próprio pai e não do filho’. Neste momento, a participação foi polêmica,
não concordaram com a maneira do personagem pai ‘obrigar o filho a seguir uma
profissão que não era a de sua escolha’. Demonstrou-se essa consciência ao
explorarem suas expectativas e aprimorem sua criticidade, como é proposto pelo
Método Recepcional com a Estética da Recepção.
No momento de contextualizar seus conhecimentos, no laboratório de
informática, 40% dos estudantes tiveram curiosidade em conhecer outras versões
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dos contos trabalhados. Primeiramente exploraram versões do conto O medalhão,
colocando oralmente, ou por escrito suas conclusões comparativas entre o texto lido
e o vídeo encontrado nos sites.
A participação foi boa, mas com algumas conversas paralelas entre 24% dos
alunos, pois não demonstravam interesse em participar ou em aprender algo mais.
Esse desinteresse foi acrescido pelos problemas enfrentados no laboratório de
informática, pois ao navegarem pelos sites, garimpando informações 24% dos
alunos ficaram alheios, fugindo da obrigatoriedade da atividade, buscando sites de
jogos, brincadeiras ou simplesmente parados se recusando a entrarem no mundo do
saber, sem fazer o léxico.
Entretanto 37,8% dos alunos interessados viajaram por vários endereços
procurando novas versões, enriquecendo seu intelecto, sua cultura, melhorando sua
interpretação, sua construção textual diante das deduções estabelecidas na
construção do sentido ou de efeito experimentado pelo leitor dentro de um diálogo
que envolve o outro leitor e comunidade, como colocou Cosson (2006, p. 64).
Porém, a dificuldade não foi só pelo desinteresse de alguns alunos houve
também o travamento das máquinas, pois a conexão é de péssima qualidade, cai a
todo o momento, dificultando o trabalho, prejudicando o andamento das atividades
propostas pelo material didático. Os próprios estudantes desistem se desestimulam
porque o processo de pesquisa é muito demorado, inibindo a relação de interação
do sujeito/aluno/leitor/pesquisa com a obra/textos/conteúdos pesquisados,
impedindo a solidificação, a concretização de sentidos do individuo, além disso, teve
o efeito borracha que os estressavam, já que não conseguiam concluir suas
pesquisas.
Essa problemática apresentada acima, Coloca em paradoxo as orientações
das Diretrizes (2008) que regem possibilitar, aos alunos, a oportunidade de
conhecer diversos gêneros textual fornecidos por veículos diferenciados. Em vista
aos problemas e dificuldades apresentados, foram poucas as visitas/aulas no
laboratório de informática, os próprios alunos não desejavam ir, pelo motivo já
citado, preferindo ficar na sala, na biblioteca ou mesmo no jardim da escola, onde
algumas aulas se realizaram ao ar livre. Os alunos reclamaram a inexistência de um
sistema de conexão eficiente, que possam usar a internet sempre que necessário
para terem aulas mais práticas, ligados à tecnologia, à internet, vivenciando
ativamente de alguns dos avanços tecnológicos oferecidos pelo estado.
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Precisa-se reformular ou melhorar o sistema tecnológico em nossa escola
pública para ter condições básicas de uso, pois para muitos de nossos alunos, esse
é o único momento de informação formal –tecnológica -informatizado a que ele tem
acesso, portanto, não é justo negar esse direto a ele (estudante), o de ampliar seus
horizontes de expectativas dentro de uma proposta de ensino que prioriza o
aprendizado, valoriza seu conhecimento prévio vivenciado.
Chegou o momento dos alunos pesquisarem versões do conto “O espelho,
o esboço de uma nova teoria da alma humana”, de Machado de Assis, houve a
busca investigativa do bairro Santa Tereza, onde se passou a cena do conto ‘O
Espelho’. Acharam interessante o bonde que ainda serve como transporte de
turistas e/ou trabalhadores.
Percebeu-se a diferença, analisando o texto escrito dos contos com o vídeo
buscado na internet, quanto ao número de personagens, a interação sujeito/leitor
com o enunciador do texto, concretizando algumas informações de época ouvidas,
vistas- como o vestuário das personagens, estilo das casas, meio de transporte.
Além disso, compararam, por intermédio da internet, o local onde se passou a
história narrada no conto com o bairro nos dias atuais.
Incentivou-se os estudantes a conhecerem a evolução do próprio Bairro Lar
Paraná, com pesquisa informativa, geográficas de seu bairro (Lar Paraná),
conheceu-se as entidades, empresas, indústrias, bares, orfanato, praças deste
local. Essa tarefa lúdica trouxe a atemporalidade da obra no cotidiano do aluno
localizando-os no mundo real, em comparativo com a verossimilhança do conto,
observando as principais diferenças geográficas, econômica, e associações
beneficente ou comercial entre os dois locais.
Constatou-se também que muitas dificuldades apresentadas refletiram nos
horizontes de expectativas que não é muito vivenciado/enriquecido o único meio de
edificação/informação que esses estudantes têm é – A Escola - que pode auxiliar e
romper os horizontes de expectativas do educando.
A entidade escolar, não consegue atender aos anseios do estudante em
tomar conhecimento sobre outros horizontes- tecnológicos, devido aos problemas
citados. Entretanto, há também o desinteresse por esse saber formal ou
informatizado, por acreditarem que esse ‘conhecimento’ não mudará sua vida, suas
perspectivas não ultrapassam os ‘muros’ do bairro, se restringindo a um mundo
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profissional limitado as ofertas do local de sua vivência ou a de seus familiares-
pai/mãe, avós, tios.
Revelou-se esse retrato (do indivíduo em questão) já no início da
investigação e foi se concretizando conforme ia surgindo o grau de dificuldade.
Portanto, diante das Diretrizes, as lacunas de um texto devem ser preenchidas pelo
conhecimento de mundo, pelas experiências de vida, ideologias, crenças, que o
leitor carrega consigo. Esses estudantes são agentes repletos de limitação de
informações intelectuais pelo estilo de vida a que vivenciam, pois sua visão de
mundo é construída dentro das possibilidades familiar e social em que estão
inseridos.
Apresentou-se texto visual/verbal para visualizar uma melhor compreensão,
análise e interpretação nos debates textual ocasião em que já conseguiam valorizar
sua própria experiência/conhecimento dentro de um saber formalizado/ direcionado.
Contudo, em média 24% dos alunos, deixaram transparecer certo preconceito contra
si mesmo na ordem social ou intelectual, pois seus valores não se encaixavam com
os dos colegas, seus conhecimentos-limitados, restringiam suas
exposições/produções dentro da proposta da Estética da Recepção sendo
‘empobrecida’ pela pouca experiência de mundo.
Despertou-se a curiosidade discretamente diante da ruptura de expectativas
dos alunos que confrontavam a verossimilhança dos contos com os acontecimentos
reais da sociedade vigente. Proporcionou transformação em seu interior, refletindo
sobre a teorização da Estética da Recepção se percebeu que ela (teoria) pode
auxiliar a passagem do estudante rumo a transição para a aprendizagem revelando
seu saber que não se limita em sala de aula.
Mostrou-se que a sequência dos fatos possibilitou que o grau de
envolvimento ou relacionamento, que é dividido por interesses e amizades em sala
de aula, se estende para além-sala, ficando alheios os já citados, que não trocaram
informações, nem dividiam experiências mesmo quando convidados por outros
grupos. Deixou claro que as atividades não atraiam a atenção ou interesse deles,
preferindo ignorar o estudo a estabelecer contato com a professora ou os colegas,
dificultando o trabalho da proposta de atingir 100% dos estudantes do 2º ano do
Ensino Médio. Comprovando esse argumento, Bakhtin comenta que o “contexto
sócio - histórico estrutura o interior do diálogo da comunicação verbal entre os
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sujeitos históricos e os objetos de conhecimentos, construindo a linguagem de uma
comunidade historicamente situada”.
Efetuar trabalhos em grupo fortalece as ligações de amizades, se
aperfeiçoa a alma do conhecimento, valoriza-se o sentido da vida, como
descobriram estudando o conto “O espelho’- ‘estudo da alma humana”’ de Machado,
3 alunas desvendaram o segredo da alma humana vinculada ao seu interior, indo
ao encontro com seu EU maior- o outro lado da alma- numa junção de almas a
interior com a exterior, formando um único ser que é a valorização do seu ser
num todo. E, de acordo com Platão e Fiorin, (1991, p. 37), esses alunos chegaram
ao 3º nível da compreensão textual, o que denota rompimento dos horizontes
conquistados pela Teoria do Efeito.
Constatou-se perante a situação revelada que a Estética da Recepção e a
Teoria do Efeito permitem que o leitor adquira experiência com o dinamismo da
obra, valorizando a energização dos sentidos nos textos dentro de determinadas
condições históricas responsáveis pelas reações provocadas nos leitores pelo efeito
estético que se estende como interação entre textos e leitor. Em conformidade a
esse entendimento, está o desenvolvimento do ser durante a trajetória da
aplicabilidade do material didático que evidenciou a progressão na interpretação e
compreensão textual, assim como na análise mais profunda de um texto.
Com isso, Perfeito (2005, p. 54), coloca que ao aflorar o conhecimento e
registrar as descobertas, expandir sua catarse, discutir seu saber, entrar em acordo
ou desacordo diante dos valores ideológicos no contexto das obras o
estudante/leitor consegue se localizar no tempo, no espaço e em suas ações entre
os textos tendo a possibilidade em discutir ou não a intencionalidade do texto.
Concretizando essa fala, estão os alunos que conseguiram se identificar em
determinado momento no texto ‘O espelho’, quando o jovem ‘Alferes’ estava
sozinho na fazenda, materializando a práxis pelo conhecimento de mundo e, o
estudante a materializou pela leitura na integralidade. Essa energização não atingiu
a todos os alunos/leitores, porque eles não se inteiraram da obra como deveriam,
houve certo descaso, ou descuido com o modo de leitura praticado, não se
prenderam a detalhes necessários para uma boa interpretação ou compreensão
textual.
Diante disso, as barreiras naturais impostas pelas próprias condições sociais
devem ser rompidas, o que não ocorreu com 24% dos alunos que não se evolveram
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nas atividades, enquanto os outros buscaram alternativas de crescimento, discutindo
em grupo, buscando auxilio com a professora quando necessário, indo ao dicionário
para conhecer novos vocábulos, eles, os alunos citados, ficaram alheios ao
andamento das propostas, enraigados em suas angústias, decepções.
Observou-se, frente à imagem citada acima, que a aplicabilidade do material
didático, na sala de aula, permitiu mostrar o rompimento de expectativas que 37,8%
dos estudantes alcançaram com a participação nos debates, quebrando um pouco a
timidez, abrindo cominho para as atividades orais oportunizadas durante as aulas.
Alicerçando essas ideias, temos os estudos das professoras Bordini e
Aguiar (1993), que dentro da estética da recepção, coloca o sujeito no processo de
leitura tendo como objetivo:
Efetuar leituras compreensivas e críticas; ser receptivo a novos textos e a leitura de outrem; questionar as leituras efetuadas em relação ao seu próprio horizonte cultural; transformar os próprios horizontes de expectativas, bem como os do professor, da escola, da comunidade familiar e social (PARANÁ, 2008, p. 74).
Portanto, desenvolver um bom trabalho com literatura, é necessário que se
tome conhecimento da realidade sociocultural do educando, que lhe proporcione
descobrir o prazer pela leitura literária, que lhe possibilite incorporar seus
conceitos às afinidades discursivas que podem ser constituídas num contínuo texto
puxa texto.
Praticou-se essa atividade com a leitura das versões dos textos “O
medalhão e O espelho”. Durante essa prática, de leitura de textos de autores
díspares que desenvolveram o mesmo tema, 32% dos estudantes perceberam as
diferenças e semelhanças entre os contos lidos, relatando suas descobertas durante
a prática de leitura/análise que se efetivou no laboratório de informática. Essa
‘tímida’ exposição estimulou outros 12 a irem também à busca desses
conhecimentos.
Dialogar entre texto e leitor permitiu descobrir a intencionalidade de cada
conto, possibilitando compreender e refletir sobre a leitura, enriquecendo seu ser
‘sujeito histórico’ e permitir melhor socialização e/ou entendimento das leituras
efetuadas com obras literárias.
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Ao leitor discorrer com os textos facilitou a troca de experiências durante as
aulas expositivas, assumindo valores diferentes diante de cada situação, numa
relação de ensino aprendizagem, concretizados pela retenção de informação que os
estudantes tomaram posses. O instrumento utilizado, para caracterizar essa
aprendizagem, foi à conversação em grupo acompanhada de leitura e análise
orientada. Oportunizou-se também a escrita na compreensão textual, (escrita para
oportunizar aos que ainda não adquiram o hábito da oralidade e precisaram do apoio
da professora ou dos colegas para organizarem suas ideias ou respostas), mas
mesmo com esse apoio, infelizmente 24,3% dos estudantes não participaram,
ficando defasados em sua aprendizagem.
Consequentemente esses mesmos estudantes também apresentam
dificuldades na dimensão econômicas/social, o que provavelmente usam como
justificativa para explicar seu comportamento de distanciamento ou descompromisso
com o saber dirigido. A eles foi oferecido outra forma avaliativa que também não
obteve o sucesso esperado.
Esses estudantes atingiram parcialmente a ruptura de seus horizontes de
expectativas, já que não participaram espontaneamente das atividades. Essa atitude
não correspondeu aos interesses de aprendizagem que, infelizmente atingiu 24,3%
dos alunos que demonstraram pouco crescimento em suas produções de análise
ou leitura.
Concluiu-se a tarefa com o conto O espelho (no laboratório de informática),
onde cada grupo participante expunha sua teorização sobre o tema, explorando os
indicadores que permitem comparação com a vida real como: ações de políticos,
empresários, pessoas pública da sociedade. Momento em que sobressaíram seis
alunas deixando transparecer a habilidade em situar a problemática dentro de um
mundo próximo, efetuando a transição deste para seu crescimento natural em
analisar criticamente cada situação, exemplificando sabiamente cada aprendizado
pela leitura.
Diante dessa premissa, ficou demarcada nas produções, a possível
transformação interior dos alunos que se permitiram romper com seus horizontes e ir
à busca de novos caminhos ou experiências. Interiorizaram as verdades e o saber
de mundo vinculado ao ensino literário, permitindo identificar sua própria percepção,
sua capacidade cognitiva, aprimorando sua práxis por meio da literatura pela leitura
na integralidade.
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A educação pela literatura possibilita viabilizar a relação da atemporalidade
vista no texto O espelho que, ao explicitar suas observações, duas alunas
concordaram que a literatura implica na formação do ser, mesmo quando estudada
por fragmentos ou contos.
Aventando o texto citado, elas alocaram que a expressividade das almas –
no conto O espelho - é representada por uma vela acesa- vela- matéria- corpo,
fogo-alma, espírito, a vivência do corpo é a vela acesa. Outras quatro colocaram
que o conto evidência o conflito entre a essência e a aparência, que é a alma
interior em desordem com a exterior.
É bom ressaltar a influência da obra literária na construção do ser,
enriquecendo seus horizontes, trocando sentido com o autor, compartilhando a visão
de mundo com seus colegas, pois “Os sentimentos despertados pelo texto literário
seriam tão indizíveis que não haveria palavras para dizê-los.” RILDO (2006, p. 28).
Esses sentimentos envolvem experiências místicas nos cinco sentidos, tendo o
cuidado com a verbalização para não empobrecer o colóquio entre leitor/autor,
utilizando seu saber, aprimorando sabiamente a herança cultural pelo processo de
leitura.
O exercício da leitura em diferentes contextos requer uma compreensão das
esferas que envolvem os textos circulantes em nossa sociedade de modo que o
leitor possa reconhecer as ideologias e as vozes sociais presentes nos discursos,
auxiliando-o na abrangência das relações de poder a ele imanente. Esse ‘poder’ foi
percebido, por 6 alunas, durante a leitura/análise do conto ‘O medalhão’, momento
em que interligaram os anseios dos pais nos dias atuais na política brasileira,
posicionando o poder e a posição social que esta traz aos envolvidos - como
sonhava o pai em relação a profissão do filho percebido durante a leitura do conto
em questão.
Rege nas Diretrizes que o processo de leitura é um ato dialógico,
interlocutivo, envolvendo demandas sociais, históricas, políticas, econômicas e
pedagógicas, pois o indivíduo além de buscar conhecimentos, poderá efetivar
ligação entre sua formação cultural num processo recepcional. Perante, essa
demanda estão nossos alunos que recepcionaram conhecimentos variados pela
leitura, permitindo abrir um leque para expandir seu conhecimento.
Observou-se o processo na diversidade de envolvimento com as
atividades/leituras realizadas durante o projeto, sendo que a qualidade das
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respostas, do aluno que lê, envolve um processo dialógico num determinado tempo
e espaço. Ele pode internalizar e/ou externalizar seu conhecimento interligando os
acontecimentos reais registrados em sua experiência de mundo, concretizando a
catarse.
Externalizando a intencionalidade do conto, quatorze estudantes
aperfeiçoaram seus sentidos, compreenderam que precisam se inteirar do hábito de
ler, de conhecer possíveis semelhanças ou ligações com o texto lido e seu
conhecimento de mundo. Neste momento valorizaram o conceito de ‘mundo’ que o
Alferes havia recuperado voltando à ativa, ‘recuperou sua autoestima e uma
vida em sociedade’ disseram.
Focalizar as ações na leitura possibilita que o aluno adquira o ‘gosto’ pelo
trabalho com textos literários. As etapas de leitura foram paulatinamente
trabalhadas, adaptadas conforme a necessidade diante de possíveis dificuldades de
compreensão no ato da leitura ou dos períodos literários.
Constatou-se que o processo realizado nesta proposta desenvolvida no
material didático, comprovou as teorias estudadas, pois mostrou que conhecendo o
histórico do aluno somando com seu conhecimento de mundo, facilita a aceitação
das cicatrizes que cada indivíduo traz em sua caminhada rumo ao saber
acumulado, contribuindo para a valorização de seu interior enriquecendo seu próprio
ser diante de um mundo real.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aplicabilidade do projeto de leitura de textos literários na integralidade,
aplicado no C.E. Dom Bosco, ainda deixou carências a serem superadas, pois as
estratégias dessa intervenção indicaram capacidades ainda não desenvolvidas,
necessitando de apoio para ampliar e aprimorar seus conhecimentos, possibilitando-
lhes entender as intencionalidades diante da atemporalidade da obra.
Acredita-se não ser demais lembrar que o desenvolvimento da proposta foi
efetivada na sala de aula com alunos do 2º ano do Ensino Médio de um Colégio
Público. Possibilitou confrontar as teorias com a prática explorando a vivência de
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cada estudante nas análises dos contos de Machado – A teoria do medalhão e O
espelho-esboço de uma nova teoria da alma humana.
Durante a implementação do projeto ‘O Ensino de Literatura no segundo
ano do Ensino Médio: Uma proposta de leitura na integralidade’, observou-se um
crescimento na compreensão/interpretação textual dos contos em 37,8% dos
estudantes que, com a apropriação dos objetivos da proposta, se destacaram em
suas colocações de produção e analise textual, descobrindo a intencionalidade no
texto.
Outra parcela de 40% dos alunos percebeu aos poucos, a essência da
leitura na vida. Porém, mesmo com todo processo de resgate da autoestima, 24%
dos alunos não se interessaram em participar do projeto, pois a escola ainda não
consegue estimular esses jovens que, de algum modo, não se engajam no mundo
ou na escola, estão sem perspectivas de futuro em sua existência. Não
demonstraram curiosidade nem com uso de computadores, da internet, pesquisas
na biblioteca, atendimento personalizado, aulas no jardim da escola, lugar em que
normalmente os alunos gostam de estudar, não foi suficiente para atrair ou resgatar
a autoconfiança ou estímulo desse grupo.
Com pesquisa efetuada na investigação, se observou que esses alunos
enfrentam problemas socioeconômicos e, dentre eles 8,4% apresentam dificuldade
de assimilação ou de aprendizagem. Além disso, houve a disponibilidade da
conversa paralela entre os grupos.
Exercitou-se leitura de textos literários na integralidade por 40% dos
alunos, que levaram esse hábito para sua vida cotidiana, (cursam hoje, abril de
2012, o 3º ano do ensino médio e estão fazendo leituras de livros clássicos na
integralidade, verbalizando as obras aos colegas, explorando todos os
conhecimentos que adquiriram com o projeto de implementação do PDE).
Acredita-se ter alcançado o objetivo, pelo menos parte dele, pois foi notável
observar a influência na vida, no desenvolvimento intelectual de cada um, fundindo
seus horizontes com os trazidos pela leitura da obra, concretizando os sentidos
construídos pela consciência imaginativa do sujeito e sua liberdade de pensar.
É evidente que a proposição do projeto, não superou a problemática, mas foi
pensada para ser implantada nas condições escolares já mencionadas em busca do
saber literário, ou seja, da efetivação da leitura literária na integralidade. Ficou
entendido que numa democratização de leitura clássica contribuirá para o
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crescimento interno e externo do aluno participante, proporcionando capacidade de
compreender melhor sua própria existência e o mundo que o cerca.
Na importância da aplicabilidade do caderno pedagógico, os mecanismos
adotados foram articulados com a contextualização entre realidade
literária/experiências de vida, verossimilhança textual, procurando ampliar os
horizontes de expectativas dos participantes seguindo os mecanismos dialéticos que
auxiliam na interpretação/compreensão textuais indicados por Platão & Fiorin, (1991)
procurando respeitar o tempo de assimilação de cada um dos participantes.
Em relação à implementação da proposta pedagógica, desenvolvida com o
material didático, incentivou-se o aluno unir seus conhecimentos prévios aos que
estavam adquirindo. Porém, a falta de experiência dificultou a concretização dos
questionamentos ou manifestação de suas ideias. Respeitou-se a diversidade de
assimilação de cada um, explorando a visão de mundo, o senso crítico e o
crescimento de seu intelecto, possibilitando-lhes demonstrar os valores culturais em
seu modo de relatar a compreensão durante o desenvolvimento da leitura e análise
dos contos.
Diante disso, observou-se que houve crescimento no nível de
.compreensão/interpretação durante a leitura na integralidade dos contos. Dessa
forma, conclui-se que na prática do professor é possível propor leitura na
integralidade de textos literários curtos ou longos.
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