o ensino da pré-história usando as hq

7/26/2019 O Ensino Da Pr-histria Usando as HQ

1/20

DOI: 10.5433/2238-3018.2014v20n1p223_______________________________________________________________________________

________________________________________________________________Histria & Ensino, Londrina, v. 20, n. 1, p. 223-242, jan./jun. 2014

223

HISTRIAS EM QUADRINHOS NO ENSINO DA PR-

HISTRIA:

RELATO DE EXPERINCIA1

COMICS IN TEACHING OF "PRE-HISTORY": EXPERIENCE REPORT

Geraldo Magella de Menezes Neto2

_______________________________________________________________________RESUMO: O ensino da Pr-histria apresenta-se como um desafio para osprofessores no ensino fundamental, j que um tema de difcil compreenso paraalunos que esto numa fase de transio das chamadas sries iniciais para a fasemaior do ensino fundamental. O objetivo deste trabalho discutir o uso de histriasem quadrinhos (HQs) como recurso didtico para o ensino da Pr-histria. Apartir da leitura da bibliografia e de um relato de experincia de uma atividadedesenvolvida em sala de aula pretende-se sugerir caminhos para o trabalho com asHQs como um meio para auxiliar os alunos na compreenso da Pr-histria, emtemas como as teorias da origem do homem e as diversas espcies humanas.

Palavras-chave:Ensino de Histria. Histrias em quadrinhos.Pr-histria.

_______________________________________________________________________ABSTRACT:The teaching of Prehistory presents itself as a challenge for teachers inelementary school, because is a difficult theme to understand for students who arein a transitional phase calls for the early grades of elementary education majorphase. The objective of this paper is to discuss the use of comics as a didacticresource for teaching Prehistory. From reading the literature and a report of anexperience with an activity developed in the classroom is intended to suggest ways

to work with the comics as a means to assist students in understanding theprehistory, themes and theories the origin of man and the various human species.

Keywords: History Teaching. Comics. Prehistory.

1 Uma verso preliminar deste artigo foi apresentada na 11 Mostra de Saberes da SEMEC/IIColquio de Educao da Regio Metropolitana de Belm, realizados em Belm-PA, nos dias 05 e06 de dezembro de 2013.

2Mestre em Histria Social da Amaznia pela Universidade Federal do Par (UFPA). Professor docurso de Licenciatura em Histria da Faculdade Integrada Brasil Amaznia (FIBRA). Professor do

ensino fundamental da Secretaria Municipal de Educao (SEMEC) de Belm-PA, distritoMosqueiro.


2/20

Geraldo Magella de Menezes Neto___________________________________________________________


224

Introduo

O ensino da Pr-histria um dos desafios do professor de Histria do

ensino fundamental. Tema geralmente trabalhado nas turmas de 5 srie (6ano), aPr-histriase mostra um tema de difcil compreenso para alunos de

10, 11 ou 12 anos, que esto numa fase de transio das chamadas sries

iniciais para a fase maior do ensino fundamental, j que um tema que trabalha

sobretudo com o abstrato.

Desse modo, algumas questes se apresentam no exerccio da docncia do

professor de Histria do ensino fundamental: como trabalhar a Pr-histria?

Qual contedo referente ao tema selecionar para trabalhar com os alunos? Quetipo de metodologia e fontes utilizar para auxiliar a compreenso do aluno?

Como tornar o contedo daPr-histriasignificativo ao aluno?

O presente artigo objetiva apontar alguns caminhos que possam auxiliar

no ensino de Histria. Para tal, prope-se o uso das histrias em quadrinhos

(HQs)3 como recurso didtico no ensino da Pr-histria. Longe de ver os

quadrinhos como uma espcie de soluo mgica para todas as dificuldades

enfrentadas pelos professores de Histria, este texto pretende chamar a ateno

das potencialidades das HQs no trabalho docente com os alunos do ensino

fundamental. Para no ficar apenas na teoria, o artigo tambm relata uma

experincia do uso de HQs no ensino daPr-histriana sala de aula.

Em primeiro lugar, importante referirmos sobre algumas discusses

acerca daPr-histria.

1. APr-histria

: discusso sobre o termo e o ensino

O que a Pr-histria? o que no histria, ou o que vem antes da

histria? Tal conceito aparece revestido de vrios sensos comuns e torna-se

necessrio esclarec-lo.

O conceito de Pr-histriafoi elaborado no sculo XIX, definido como o

campo de estudos do passado mais remoto da humanidade, desde o seu

3

O termo histrias em quadrinhos ser utilizado tambm como HQs ou quadrinhos no decorrerdo texto.


3/20

Histrias em quadrinhos no ensino da pr-histria_______________________________________________________________________________


225

surgimento at o aparecimento da escrita no Egito e na Mesopotmia h cerca de

3000 a 2000 a.C. (SILVA; SILVA, 2013, p. 342). Desde ento, a escrita aparece

como o objeto delimitador do que seria a Pr-histriae a Histria. A inveno

da escrita representaria dessa forma o incio da Histria. No entanto, conformeapontam Kalina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva, essa compreenso do

conceito dePr-histriatem dois srios problemas:

O primeiro o fato de que a escrita no surgiu em todos os lugaresao mesmo tempo, o que torna essa diviso temporal bastantearbitrria. O segundo o etnocentrismo resultante do ato deconsiderar apenas a escrita, um elemento cultural restrito adeterminadas culturas, como o fator determinante de quem se situa

na histria e de quem se situa fora dela. (SILVA; SILVA, 2013, p.343).

De fato, a observao acima bastante relevante. No sculo XIX, quando

o conceito dePr-histriafoi elaborado, havia a compreenso de que as nicas

fontes histricas vlidas eram as fontes escritas, como apontavam os

historiadores da chamada escola metdica ou positivista. Assim, os povos que

no utilizavam a escrita eram vistos como povos sem histria, chamados

pejorativamente de povos que viviam naPr-histria.

J no sculo XX, com a renovao historiogrfica propagada

principalmente pela chamada Escola dos Annales, com Marc Bloch e Lucien

Febvre, o conceito de fonte histrica se amplia, considerando tudo o que se

relaciona ao homem como objeto de estudo do historiador. Assim, as fontes

arqueolgicas, por exemplo, so utilizadas para se conhecer como viviam os

povos sem escrita: restos de cermica, urnas funerrias, pinturas rupestres, etc.

Mesmo reconhecendo as limitaes do termoPr-histria, optamos neste

trabalho por utiliz-lo, haja vista a ampla divulgao do mesmo na pesquisa e noensino de Histria, notadamente nos livros didticos da disciplina.

Problematizando o termo e entendendo o contexto no qual ele foi gerado, no

corremos o risco de reproduzir preconceitos.

Outra confuso comum entre a relao entre a Pr-histriae cincias

como Arqueologia e Paleontologia. Andr Prous esclarece sobre a definio

desses e de outros campos de conhecimento:


4/20



226

frequente as pessoas confundirem-se quando se trata de definir asrelaes entre disciplinas conexas como Arqueologia, Histria, Pr-Histria, Paleontologia, etc. A Paleontologia o ramo da Biologia(estuda as formas de vida) que trata dos seres (vegetais, animaisou homens) extintos; preocupa-se, portanto, essencialmente comos corpos. A Histria tem por objeto de estudo as sociedades, numaperspectiva diacrnica, abordando essencialmente as que possuemescrita. As sociedades sem escrita do passado so, pois, o campo daPr-Histria, enquanto as culturas dos povos grafos atuais ourecentes so principalmente investigadas pela Antropologia Cultural.(PROUS, 2000, p. 19).

Andr Prous destaca uma relao profunda entre Pr-histria e

Arqueologia, j que os pr-historiadorestm de dispor de mtodos especficos

para estudar os vestgios materiais fornecidos pela Arqueologia, pois esta possui

um conjunto de mtodos e tcnicas que permite localizar, analisar e interpretar

os indcios materiais da presena e da atividade dos homens no seu quadro

natural e artificial. (PROUS, 2000, p. 19).

Avanando no tema daPr-histria, tratamos agora das discusses sobre

ela no ensino. Pedro Paulo Funari e Francisco Silva Noelli chamam a ateno para

a pouca ateno dada ao tema daPr-Histriano Brasil:

Em cursos superiores de Histria e Antropologia, raros so os cursosde Pr-Histria, tanto por faltarem estudiosos, como por falta detradio em contratar professores para essas reas, ainda que hajaum grande interesse por parte dos estudantes universitrios. Essasdeficincias refletem-se no pouco conhecimento do tema por partedos professores de ensino fundamental e mdio e no escasso espaodedicado, em livros didticos, aos temas pr-histricos. Tambmnesse caso, no difcil constatar que o grande interesse dos alunospelo tema acaba insatisfeito pela falta de informaes. (FUNARI;NOELLI, 2012, p. 106).

Concordamos com Funari e Noelli quando constatam as deficincias em

relao pesquisa e ao ensino da Pr-Histria no Brasil. De fato, o tema

tratado na maioria das vezes de forma bastante rpida nos cursos superiores.

Alm disso, h poucas pesquisas sobre a Pr-Histria em comparao com

outros temas. E raras so as pesquisas sobre o ensino da Pr-Histria no

ensino fundamental.

Em relao ao que Funari e Noelli apontam como o escasso espao

dedicado, em livros didticos, aos temas pr-histricos, mais relevante se

questionar no o espao que a Pr-histria ocupa nos livros didticos, at


5/20



227

porque impossvel tratar todos os temas da Histria num livro, mas o modo

como eles abordam o tema.

Um dos poucos trabalhos sobre o ensino da Pr-histria o texto de

Isabel Cristina Rodrigues e Mrcia Cristina Marinoci intitulado A Pr-Histria do

Brasil nos livros de Histria para 5 a 8 sries do ensino fundamental, do ano de

2003. As autoras analisaram livros didticos de Histria destinados ao terceiro e

quarto ciclos do Ensino Fundamental 5 a 8 sries das colees

recomendadas pelo Plano Nacional do Livro Didtico para 2002 (PNLD/2002) do

Ministrio da Educao e Cultura (MEC). Rodrigues e Marinoci apontam que

apesar de se ter reservado nos livros didticos um captulo sobre a Pr-

Histria, observa-se que esses conhecimentos pr-histricos so transmitidossem uma preocupao em estabelecer uma relao com as experincias do

aluno, deixando de lado a sua capacidade de reflexo. (RODRIGUES;

MARINOCI, 2003, p. 2).

Alm disso, Rodrigues e Marinoci identificam que na maioria dos livros o

enfoque central dado Pr-Histria num sentido generalizante, fantasioso,

ficcional. (RODRIGUES; MARINOCI, 2003, p. 2).

Assim como Funari e Noelli, Rodrigues e Marinoci sugerem que as

deficincias na abordagem do tema daPr-histriana sala de aula e nos livros

didticos so originrias da pouca ateno dada a ela no ensino superior.

Segundo as autoras, as instituies de ensino superior colocam todos os anos no

mercado muitos profissionais que vo atuar na rea de Histria nas escolas de

ensino fundamental e mdio, das redes pblica e particular de todo o Brasil,

mas muitos deles no tiveram ou tiveram pouco acesso s bibliografias

especializadas de Arqueologia Histrica ou Pr-Histrica em sua vida acadmica.

(RODRIGUES; MARINOCI, 2003, p. 4).Nesse sentido, Rodrigues e Marinoci afirmam que:

preciso considerar que talvez o problema mais srio no estejana simplificao ou generalizao dos livros didticos, mas naausncia da prpria historiografia brasileira, que no possui umaproduo sistemtica nessa rea. (RODRIGUES; MARINOCI, 2003,p. 7).

Entretanto, questionamos o argumento de Rodrigues e Marinoci, assim

como o de Funari e Noelli, que afirmam que a falta de cursos e estudiosos nas


6/20



228

universidades geram o pouco conhecimento do tema por parte dos professores

de ensino fundamental e mdio.(FUNARI; NOELLI, 2012, p. 106). Isso nos d a

ideia de que a universidade o nico centro de saber e conhecimento, e que s a

produo cientfica das instituies superiores basta para garantir um ensino dequalidade nas escolas - no nosso caso especfico o ensino daPr-histria. Ora,

mesmo se a Pr-Histria tivesse a mesma ateno que os outros temas da

Histria, isso no significa que necessariamente ela fosse trabalhada de forma

satisfatria nas escolas. Isso depende fundamentalmente da preparao e da

criatividade do professor, que tem o desafio de tornar a sua aula mais atraente e

compreensvel para alunos que, na 5 srie, por exemplo, tem em mdia, 10 a

12 anos de idade. Dessa maneira, sugerimos que o uso das histrias emquadrinhos pode ajudar o professor no ensino da pr-histria no ensino

fundamental.

2. Histria em quadrinhos: o que so e o seu uso no ensino

Antes de tratarmos das HQs que podem auxiliar o professor nas aulas

sobre aPr-histria, em primeiro lugar devemos entender o que so histrias

em quadrinhos. Flvio Calazans afirma que a HQ uma forma de expresso

tecnolgica tpica da indstria cultural, permitindo que seus autores expressem

questes cientficas, filosficas e artsticas sem patrulhamentos. (CALAZANS,

2008, p. 7).

J Paulo Ramos define a HQ como uma linguagem autnoma, que usa

mecanismos prprios para representar os elementos narrativos. (RAMOS,

2012, p. 17). As HQs possuem vrios tipos de suportes: jornais, revistas,internet, etc. Paulo Ramos assim descreve a narrativa dos quadrinhos:

O espao da ao contido no interior de um quadrinho. O tempoda narrativa avana por meio da comparao entre o quadrinhoanterior e o seguinte ou condensado em uma nica cena. Opersonagem pode ser visualizado e o que ele fala lido em bales,que simulam o discurso direto. (RAMOS, 2012, p. 18).


7/20



229

Uma compreenso bastante comum dizer que os quadrinhos so

literatura.4Tal ideia vem recebendo crticas dos pesquisadores nos ltimos anos,

como Paulo Ramos, que critica a associao entre quadrinhos e literatura:

Chamar quadrinhos de literatura, a nosso ver, nada mais do queuma forma de procurar rtulos socialmente aceitos ouacademicamente prestigiados (caso da literatura, inclusive ainfantil) como argumento para justificar os quadrinhos,historicamente vistos de maneira pejorativa, inclusive no meiouniversitrio. (RAMOS, 2012, p. 17).

O prprio governo federal, por meio do Programa Nacional Biblioteca na

Escola (PNBE)5, associa as histrias em quadrinhos literatura. Ao analisarem os

editais de licitao para a compra de livros de HQs, Waldomiro Vergueiro e PauloRamos, apontam que o governo v os quadrinhos como gneros literrios.

(VERGUEIRO; RAMOS, 2009, p. 17). Essa compreenso expressa na lista de

obras adquiridas pelo governo desde 2006, que conta com vrias adaptaes

literrias na forma de quadrinhos, a exemplo de: Oliver Twist, de Charles

Dickens; O beijo no asfalto, de Nelson Rodrigues; Triste fim de Policarpo

Quaresma, de Lima Barreto; O alienista, de Machado de Assis; Os Lusadas em

quadrinhos; Dom Quixote em quadrinhos, etc. Sobre isso, Waldomiro Vergueiro e

Paulo Ramos afirmam que:

Dizer que quadrinhos so literatura evidencia duas posturas. Aprimeira que se busca um rtulo social e academicamenteprestigiado o literrio para justificara presena dos quadrinhosna escola e, possivelmente, na lista do PNBE. A outra indica umdesconhecimento da rea de quadrinhos, que soma poucos estudosacadmicos, embora em nmero suficiente para afirmar quequadrinhos so quadrinhos e literatura literatura. (VERGUEIRO;RAMOS, 2009, p. 36).

4Em 2011, por exemplo, o quadrinista Maurcio de Sousa, criador da Turma da Mnica, foi eleitomembro da Academia Paulista de Letras (APL), sendo o primeiro quadrinista empossado pelaAcademia. Na ocasio, o presidente da Academia Antonio Penteado Mendona afirmou que"Mauricio , sim, um escritor, de certa forma justificando que os quadrinhos produzidos porMaurcio de Sousa tambm so literatura. Mauricio de Sousa toma posse na Academia Paulistade Letras. Portal Folha.com Disponvel em: Acesso em: 24 nov.2013.

5O objetivo do PNBE permitir aos estudantes o acesso cultura e informao e estimular o

hbito pela leitura. Para isso, o governo abre licitao junto s editoras para montar lotes deobras a serem distribudas nas escolas brasileiras. (VERGUEIRO; RAMOS, 2009, p. 12).
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/915165-mauricio-de-sousa-toma-posse-na-academia-paulista-de-letras.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/915165-mauricio-de-sousa-toma-posse-na-academia-paulista-de-letras.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/915165-mauricio-de-sousa-toma-posse-na-academia-paulista-de-letras.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/915165-mauricio-de-sousa-toma-posse-na-academia-paulista-de-letras.shtml


8/20



230

Seguindo na mesma direo que Vergueiro e Ramos, Marco Tlio Vilela

afirma que a discusso sobre se as HQs so ou no uma forma de literatura j

foi superada, pelo menos para os pesquisadores brasileiros. Enquanto nos

Estados Unidos, ainda h autores que consideram as HQs uma formadiferenciada de literatura, no Brasil, a viso predominante atualmente outra:

HQ no literatura, mas uma linguagem autnoma. (VILELA, 2012b, p. 54).

As HQs sofreram durante muito tempo preconceito por parte de pais e

professores sobre o efeito que elas poderiam causar nas crianas e jovens.

Waldomiro Vergueiro afirma que pais e mestres desconfiavam das aventuras

fantasiosas das pginas multicoloridas das HQs, supondo que elas poderiam

afastar crianas e jovens de leituras mais profundas, desviando-os assim de umamadurecimento sadio e responsvel. Assim, a entrada dos quadrinhos em

sala de aula encontrou severas restries. (VERGUEIRO, 2012, p. 8).

J nas ltimas dcadas do sculo XX as HQs passaram a ter um novo

status,recebendo um pouco mais de ateno das elites intelectuais e passando

a ser aceitas como um elemento de destaque do sistema global de comunicao

e como uma forma de manifestao artstica com caractersticas prprias.

(VERGUEIRO, 2012, p. 17). Nesse sentido, os quadrinhos passaram a ser vistos

como recursos didticos para a sala de aula.

Marco Tlio Vilela sugere dois fatores para o maior interesse hoje dos

educadores pelo uso didtico das HQs:

Em primeiro lugar o fato de que as geraes mais jovens deprofessores so formadas por adultos que leram HQs durante ainfncia e adolescncia. O outro fator que as HQs passaram a servistas como uma opo de leitura como forma de combater o usoexcessivo dos videogames por parte das crianas e adolescentes.

(VILELA, 2012b, p. 89).

As HQs trazem vrias vantagens que auxiliam o professor no ensino.

Waldomiro Vergueiro enumera algumas delas: os estudantes querem ler os

quadrinhos; palavras e imagens, juntos, ensinam de forma mais eficiente; existe

um alto nvel de informao nos quadrinhos; as possibilidades de comunicao

so enriquecidas pela familiaridade com as histrias em quadrinhos; os

quadrinhos auxiliam no desenvolvimento do hbito de leitura; os quadrinhos

enriquecem o vocabulrio dos estudantes; o carter elptico da linguagem


9/20



231

quadrinhstica obriga o leitor a pensar e imaginar; os quadrinhos tm um carter

globalizador; os quadrinhos podem ser utilizados em qualquer nvel escolar e

com qualquer tema. (VERGUEIRO, 2012, pp. 21-25).

Os quadrinhos apresentam tambm um amplo potencial para o ensino deHistria. Tlio Vilela aponta algumas maneiras de utilizao das HQs nas aulas de

Histria: Para ilustrar ou fornecer uma ideia de aspectos da vida social de

comunidades do passado;para serem lidos e estudados como registros da

poca em que foram produzidas; para serem utilizados como ponto de partida

de discusses de conceitos importantes para a Histria. (VILELA, 2012, pp. 109-

110).

3. A Pr-histriaem quadrinhos

Na dissertao de mestrado intitulada A utilizao dos quadrinhos no

ensino de histria: avanos, desafios e limites, Marco Tlio Vilela destaca como a

Pr-histria representada nos quadrinhos. Segundo Vilela, existem muitas

HQs que so ambientadas durante a Pr-Histria, sendo quea maior parte delas

traz representaes anacrnicas, mas essas podem ser teis no ensino de

Histria. (VILELA, 2012b, p. 158). O anacronismo bastante presente, por

exemplo, nas histrias que envolvem homens e dinossauros convivendo juntos.

Tal fato no ocorreu, j que quando os primeiros humanos apareceram na Terra

os dinossauros j estavam extintos h milhes de anos.

Alm do anacronismo, as HQs que so ambientadas na Pr-histria

trazem alguns esteretipos popularizados pela cincia do sculo XIX, tais como:

o esteretipo de homem das cavernas; o esteretipo de mulher dascavernas; e a representao negativa dos chamados homens de Neanderthal.

Segundo Vilela, a maioria das HQs ambientadas na Pr-Histria tem como

protagonistas os chamados homens das cavernas, que so retratados como

indivduos cabeludos e barbudos, vestindo tangas ou restos de peles de animais,

e usando clavas. (VILELA, 2012b, p. 165). Um exemplo clssico desse homem

das cavernas o personagem Piteco, da Turma da Mnica, criao do

quadrinista Maurcio de Sousa.


10/20



232

Quanto s mulheres das cavernas nos quadrinhos, estas possuem um

tipo de aparncia que se encaixa muito mais nos padres de beleza feminina

difundidos pelo cinema de maior apelo comercial e pelas revistas masculinas.

(VILELA, 2012b, p. 167). Alguns exemplos desse clich so Jane, o parromntico de Tarzan, nas vrias verses em diferentes mdias (livros,

quadrinhos, filmes...), e Sheena, a rainha das selvas, personagem de

quadrinhos que tambm ganhou verses para o cinema, criada pelo norte-

americano Will Eisner. (VILELA, 2012b, p. 167).

Marco Tlio Vilela sugere que as HQs cujos protagonistas so homens das

cavernas ou animais pr-histricos se dividem basicamente em dois grupos:as

que utilizam os anacronismos para provocar o efeito de humor e as que utilizamos anacronismos para narrar uma aventura de forte apelo visual. (VILELA, 2012,

p. 168). Vilela assim explica o uso dos anacronismos nessas HQs:

Os anacronismos presentes em HQs ambientadas na Pr-Histriaso muito mais uma licena potica do que erros propriamenteditos. Afinal, essas HQs so obras de fico, de fantasia, produzidaspara fim de entretenimento. No se tratam reconstituies com finsdidticos ou de divulgao cientfica. Essas HQs renem elementos,que embora anacrnicos, possuem mais apelo comercial junto ao

grande pblico do que teria uma obra que priorizasse aautenticidade em detrimento da fantasia, da aventura ou do humor.(VILELA, 2012b, pp. 168-169).

A partir dos estudos de Vilela, podemos considerar que h vrias histrias

em quadrinhos que tem a Pr-histria como pano de fundo. Cabe ento ao

professor o desafio de buscar essas HQs e propor atividades de acordo com a

srie e a faixa etria dos alunos.

4. HQs no ensino da Pr-histria: relato de experincia

Nesta parte final do artigo iremos relatar uma experincia de uso das HQs

no ensino de Histria. As atividades com HQs foram desenvolvidas no primeiro

semestre de 2013 nas turmas de 5 srie (6 ano) da Escola Municipal Professor

Remgio Fernandez, localizada em Belm do Par, no distrito de Mosqueiro.6Em

6Mosqueiro um distrito de Belm, distante cerca de 70 km da capital paraense.


11/20



233

um breve diagnstico das turmas realizado antes das atividades, constatamos

que quase todos os alunos conheciam histrias em quadrinhos e vrios tinham o

hbito de leitura de HQs. Quando perguntamos quais HQs os alunos liam, a

maioria respondeu a Turma da Mnica, de Maurcio de Sousa.Tendo em vista tais informaes, procedemos a um levantamento de quais

histrias em quadrinhos poderamos utilizar nas aulas sobre a Pr-histria.

Para tal, levamos em conta o que sugere Circe Bittencourt em relao ao uso de

documentos no ensino de Histria: na escolha de documentos necessrio

lembrar que eles devem ser motivadores e no se podem constituir em texto de

leitura que produza mais dificuldades do que interesse e curiosidade. O objetivo,

segundo Bittencourt, favorecer sua explorao pelos alunos de maneiraprazerosa e inteligvel, sem causar muitos obstculos iniciais. (BITTENCOURT,

2004, p. 330).

Ao reforar a necessidade da leitura na sala de aula, Vitria Rodrigues e

Silva chama ateno de que fundamental que o professor esteja seguro para o

fato de que os alunos possuem os conhecimentos prvios que viabilizem a

atividade, e que a definio do problema a ser resolvido por meio da leitura lhes

seja significativa, isto , represente de fato um problema para o aluno e no

apenas para o professor. (SILVA, 2004, p. 80). Dessa maneira, antes de

utilizarmos os quadrinhos, trabalhamos primeiramente o contedo com os

alunos, pois as HQs s teriam significado para eles se j tivessem um

conhecimento prvio do assunto, ou seja, aPr-histria.

Decidimos trabalhar com HQs para auxiliar os alunos a compreender

alguns temas daPr-histria, como as diferenas entre a teoria criacionista e

evolucionista da origem do ser humano, e as diversas espcies humanas.

A teoria criacionista, baseada na Bblia Sagrada, no Livro de Gnesis,aponta que o homem foi criado por Deus7; j a teoria evolucionista8, baseada

7E disse Deus: Faamos o homem nossa imagem, conforme a nossa semelhana; e dominesobre os peixes do mar, e sobre as aves dos cus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobretodo o rptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem sua imagem; imagem deDeus o criou; homem e mulher os criou. Gnesis 1:26-27. Bblia online. Disponvel em: Acesso em: 22 nov. 2013.

8 Segundo Diogo Meyer e Charbel Nio El-Hani, a ideia bsica do evolucionismo a de que oestado natural de todas as coisas que existem no mundo a mudana. A permanncia, quandoocorre, uma exceo. As teorias de evoluo biolgica prope, portanto, que os seres vivos no

so imutveis: aqueles que so vistos atualmente nem sempre existiram, nem sempre tiveram amesma forma e nem sempre existiro. (MEYER; EL-HANI, 2005, p. 18).
http://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/1http://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/1


12/20



234

principalmente na obraA origem das espcies, de Charles Darwin (1809-1882),

publicada em 1858, aponta que o homem descende dos primatas a partir de um

processo de evoluo.9

Um recurso interessante neste tema so as tiras cmicas10 do siteUmsbado qualquer, criadas pelo ilustrador Carlos Ruas.11 As tiras de Ruas

abordam de maneira cmica Deus, Ado e Eva, alm de outros personagens

ocasionais, tratando dos problemas da humanidade.

Figura 1:Darwin 4 Um sbado qualquer. Disponvel em: Acesso em: 22 nov. 2013.

9 Uma das grandes inovaes introduzidas por Darwin foi a ideia de que a evoluo no umprocesso linear, mas um processo de divergncia a partir de ancestrais comuns. Duas espciessemelhantes seriam descendentes de uma nica espcie que teria existido no passado. Desdesua origem a partir desse ancestral comum, elas teriam divergido, dando origem s diferenasque vemos. (MEYER; EL-HANI, 2005, pp. 24-25).

10Utilizamos o termo tira cmica a partir das concepes de Paulo Ramos. Para Ramos, a tiracmica um dos gneros das histrias em quadrinhos, tendo como caracterstica a temticaatrelada ao humor, alm de tratar-se de um texto curto (dada a restrio do formatoretangular,que fixo), construdo em um ou mais quadrinhos, com presena de personagensfixos ou no, que cria uma narrativa com desfecho inesperado no final.RAMOS, Paulo.A leiturados quadrinhos. 2 ed. So Paulo: Contexto, 2012, p. 24.

11 Carlos Ruas designer grfico. A inspirao para criar as tiras de Um sbado qualquer explicada por ele da seguinte maneira: Sempre gostei de estudar religies e mitologia, era umhobbie. Comecei a notar a facilidade que eu tinha em criar humor com esse tema quando estavana mesa de bar conversando com amigos. Como sou ilustrador, resolvi criar o meu quadrinho,baseado em fatos religiosos. A idia veio naturalmente, pensando... No comeo queria fazer ummessias que ningum acreditava, e era o verdadeiro! Mas depois cheguei a concluso queningum ser melhor que Deus para o personagem principal.Ver Entrevista Carlos Ruas, por

Fernando Passarelli. Disponvel em: Acesso em 19 nov. 2013.
http://deusnogibi.dominiotemporario.com/doc/ENTR-RUAS.pdfhttp://deusnogibi.dominiotemporario.com/doc/ENTR-RUAS.pdfhttp://deusnogibi.dominiotemporario.com/doc/ENTR-RUAS.pdfhttp://deusnogibi.dominiotemporario.com/doc/ENTR-RUAS.pdf


13/20



235

As tirinhas acima representam um dilogo entre Deus, o personagem

barbudo com uma roupa amarela, e Charles Darwin, o personagem tambm

barbudo, mas com roupa preta. Trata-se de um dilogo com aes: Deus segura

um pequeno pssaro vermelho e o transforma em um pssaro grande que voa.Em seguida, Deus desafia Darwin a fazer o mesmo com a frase Faa melhor!.

J nos quadrinhos da parte de baixo, Darwin segura um pequeno pssaro

verde e o coloca no cho. O humor da tirinha se d no ltimo quadrinho: como o

pssaro de Darwin no se transforma rapidamente como o pssaro de Deus, este

pergunta: Vai demorar muito?. Darwin responde: No no, s mais alguns

milhares de anos.O efeito de humor pressupe certo conhecimento das duas

teorias. Para a teoria criacionista, Deus criou as aves no quinto dia da criao.

12

J a teoria evolucionista considera que as aves foram produto de uma evoluo a

partir dos rpteis, processo este que durou milhes de anos.13

As tirinhas de Carlos Ruas ajudaram os alunos a entender as diferenas

entre a teoria criacionista e evolucionista. A pergunta que orientou a atividade

foi: por que Charles Darwin disse a Deus que o seu pssaro s iria evoluir em

milhares de anos? O ltimo quadrinho foi a chave para que os alunos buscassem

identificar o que era a teoria da evoluo e diferenci-la da teoria criacionista. A

partir da pudemos tambm estabelecer uma conexo com as diferenas entre a

criao do homem por Deus, segundo a teoria criacionista, e a ideia de que o

homem evoluiu dos primatas num processo de milhes de anos, segundo a teoria

evolucionista.

A teoria criacionista mais fcil de entender, haja vista que a maioria dos

alunos de religio crist. No entanto, para quase todos os alunos a teoria da

12E disse Deus: Produzam as guas abundantemente rpteis de alma vivente; e voem as avessobre a face da expanso dos cus. E Deus criou as grandes baleias, e todo o rptil de almavivente que as guas abundantemente produziram conforme as suas espcies; e toda a ave deasas conforme a sua espcie; e viu Deus que era bom. E Deus os abenoou, dizendo: Frutificai emultiplicai-vos, e enchei as guas nos mares; e as aves se multipliquem na terra. E foi a tarde ea manh, o dia quinto. Gnesis 1:20-23. Bblia online. Disponvel em: Acesso em: 22 nov. 2013.

13As aves evoluram a partir dos rpteis e muitas modificaes ocorreram para que elasconquistassem todo esse modo de vida. Os ovos passaram a se desenvolver fora do corpo dafmea, aparecimento de penas, os membros anteriores deram origem asas, a excreonitrogenada o cido rico, num composto pastoso para economizar gua, perda da bexiga,endotermia, separao da circulao venosa e arterial, sacos areos que ajudam na diminuioda densidade e dissipam calor, corpo aerodinmico e elaborao da voz e da audio. As Aves.

Portal S Biologia. Disponvel em: Acesso em 22 nov. 2013.
http://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/1http://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/1


14/20



236

evoluo era uma novidade. Desse modo, o trabalho com os quadrinhos se

mostrou de mais fcil compreenso para os alunos do que os textos escritos para

entender as duas teorias.

Outra atividade desenvolvida com os alunos da 5 srie foi a produo deuma HQ. Tlio Vilela sugere que o professor tambm pode estimular a produo

de histrias em quadrinhos pelos prprios alunos. No entanto para que no se

perca a especificidade da disciplina Histria, deve-se propor a criao de

histrias em quadrinhos que explorem os contedos especficos da disciplina ou

pertinentes ao assunto da aula. (VILELA, 2012, p. 128).

Desse modo, propusemos a produo de uma HQ baseada na teoria

criacionista. Para tal, trabalhamos com os alunos primeiramente a leitura doscaptulos 1 e 2 do livro de Gnesis. Aps a leitura dos dois captulos, dividimos os

alunos em duplas e solicitamos que produzissem desenhos divididos em

quadrinhos representando os seis dias da criao do mundo por Deus. Outra

instruo dada foi que cada quadrinho tivesse uma legenda indicando qual a

criao de Deus em cada dia, baseado na leitura dos dois primeiros captulos do

livro de Gnesis. Seguem abaixo alguns dos desenhos produzidos pelos alunos.

Figura 2:Histria em quadrinhos produzida por alunos da 5 srie representando acriao do mundo segundo a teoria criacionista. Acervo pessoal do autor.


15/20



237

Figura 3:Histria em quadrinhos produzida por alunos da 5 srie representando acriao do mundo segundo a teoria criacionista. Acervo pessoal do autor.

Consideramos essa atividade importante, haja vista que estimulou a

pesquisa e a prtica entre os alunos. A pesquisa porque para fazer o desenho os

alunos tiveram que ler os dois primeiros captulos do Gnesis para produzir os

desenhos, que foi a parte prtica, ou seja, os alunos puderam se expressar a

partir dos desenhos em forma de HQ. A atividade se desenvolveu de forma

satisfatria porque fugiu da rotina qual os alunos estavam acostumados, que

era copiar a matria do quadro e responder s questes do livro didtico. At

mesmo alunos que se mostravam desinteressados nas aulas tiveram uma

participao mais ativa nessa atividade, o que demonstra a sua relevncia como

estratgia de ensino.No tema da Pr-histria, outro assunto abordado so as diversas

espcies humanas que antecederam o Homo sapiens. No livro As primeiras

civilizaes, Jayme Pinsky resume algumas dessas espcies segundo o atual

estgio das pesquisas arqueolgicas: Ramapithecus, Australopithecus africanus,

Australopithecus boisei, Homo habilis, Homo erectus, Homo sapiens

neanderthalensis. (PINSKY, 2012, pp. 20-21). A espcie mais antiga, o

Ramapithecusteria surgido h cerca de 12 milhes de anos.


16/20



238

Nos livros didticos, tal assunto aparece de maneira bastante curta, com o

resumo das caractersticas de cada espcie. Para alunos de 5 srie, muitos

ainda com dificuldades de leitura e escrita, torna-se um assunto de difcil

compreenso. Desse modo, as HQs se mostram como um recurso didtico quepode auxiliar os alunos na compreenso das diversas espcies humanas que

antecederam o homem atual de acordo com a teoria evolutiva.

Para explicar a espcie Homo erectus, recorremos HQ Piteco em:

Homus erectus, do personagem Piteco, da Turma da Mnica. Alm de ser uma

histria relacionada ao contedo trabalhado em sala de aula, essa HQ foi

escolhida porque tem como personagem principal um personagem que faz parte

de um universo de HQs j conhecido pelos alunos: a Turma da Mnica. Deacordo com Flvio Calazans, importante sempre dar preferncia aos hbitos

de leitura que j fazem parte do universo dos alunos. (CALAZANS, 2004, p. 13).

Mesmo que parte dos alunos no conhecesse o personagem Piteco, os traos de

Maurcio de Sousa acabaram sendo reconhecido pelos alunos, acostumados a v-

los em histrias de personagens como Mnica, Cebolinha, Casco, Chico Bento,

etc.

A escolha de Piteco em: Homus erectus procurou tambm estimular a

leitura entre os alunos. Ao contrrio das tirinhas de Carlos Ruas, a histria de

Piteco um pouco mais longa. Entretanto, Maurcio de Sousa se utiliza bastante

do humor nessa HQ, o que a torna uma leitura agradvel, estimulando o hbito

de leitura pelos alunos. Assim, concordamos com a perspectiva de Vitria

Rodrigues e Silva, que observa que os professoresde cada disciplina precisam

agregar ao rol de variveis que orientam seu trabalho mais uma: uma

metodologia para o desenvolvimento da linguagem; j os professores de

Histria, especificamente, precisam estar comprometidos tanto em atingirobjetivos que so prprios da sua disciplina, quanto com o desenvolvimento da

leitura e da escrita (SILVA, 2004, p. 71).

A HQ Piteco em: Homus erectus trata-se de uma interessante histria

produzida por Maurcio de Sousa destacando duas caractersticas do Homo

erectus: o fato de ser bpede, ou seja, andar com os dois ps, e o fato de ele ter

sido responsvel pela inveno do fogo.


17/20



239

Na histria, Piteco encontra uma tribo que andava engatinhando, ou seja,

de quatro, utilizando mos e ps. A tribo caoa de Piteco, pois achava uma

aberrao ele andar com dois ps. A situao muda quando Piteco e membros

dessa tribo so atacados por um tigre-dente-de-sabre: Piteco consegue fugirmais rpido que todos porque anda com os dois ps. Alm disso, Piteco consegue

enfrentar o animal utilizando um tacape com as mos, com as quais briga e

derrota o animal. Assim, a tribo comea a perceber as vantagens de andar com

os dois ps, como demonstra os quadrinhos abaixo:

Figura 4:Piteco em: Homus erectus Disponvel em: Acesso em 22 nov. 2013.

O quadrinho ilustra muito bem as vantagens de ser bpede, como ter asduas mos livres, carregar crianas e pegar as coisas. Jaime Pinsky chama a

ateno para o fato de que h cerca de 1 milho de anos o Homo erectussaiu da

frica para a sia e a Europa. Tal mobilidade tem muito a ver com o fato de a

espcie ser bpede, e a capacidade de transportar coisas com as mos:

Se no sabemos e provavelmente jamais saberemos o quemotivou o xodo do Homo erectus, podemos ao menos conhecer ascondies que permitiram sua mobilidade, as quais, segundoLeackey, se resumem na capacidade de transportar. Primeiro, otransporte de alimentos, permitindo um distanciamento cada vezmaior cm relao ao acampamento-base. Em segundo lugar, otransporte de gua, seja em estado natural, seja em frutas como amelancia. (PINSKY, 2012, pp. 23-24).

Nesse sentido, o quadrinho de Piteco serviu como ponto de partida para se

entender as vantagens de se andar com os dois ps. Vantagens essas que foram

sendo adquiridas ao longo de milhes de anos, o que levou os alunos a
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.461812737171685.111302.435784396441186&type=3https://www.facebook.com/media/set/?set=a.461812737171685.111302.435784396441186&type=3https://www.facebook.com/media/set/?set=a.461812737171685.111302.435784396441186&type=3https://www.facebook.com/media/set/?set=a.461812737171685.111302.435784396441186&type=3


18/20



240

compreender que at uma ao comum que a de andar com os dois ps tem a

sua historicidade.

A HQ Piteco em: Homus erectus tambm ajudou os alunos a

compreender uma inveno importante para a humanidade: a inveno do fogo.Aps ajudar a tribo a andar com os dois ps, Piteco recebe de presente um

pedao de carne crua, j que a tribo tambm no conhecia o fogo. A histria

termina da seguinte maneira:

Figura 5:Piteco em: Homus erectus Disponvel em: Acesso em 22 nov. 2013.

Nos quadrinhos acima, Piteco acende o fogo e esquenta a carne. Tal ao

tambm se mostrou uma novidade para a tribo, que no conhecia o fogo. O

personagem conclui a histria dizendo: Puxa! Depois da era de dois ps...

vamos entrar na era da carne queimada!De fato, o fogo foi uma grande inovao trazida pelo Homo erectus. Jaime

Pinsky aponta que o fogo tambm foi essencial para a capacidade de transporte

do Homo erectus, j que era de auxlio contra os climas temperados e frios,

alm de representar um smbolo de poder, de domnio da natureza. (PINSKY,

2012, p. 24).

Buscando auxiliar os alunos a relacionar a histria com o contedo

trabalhado, alm de estimular a leitura, elaboramos algumas questes
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.461812737171685.111302.435784396441186&type=3https://www.facebook.com/media/set/?set=a.461812737171685.111302.435784396441186&type=3https://www.facebook.com/media/set/?set=a.461812737171685.111302.435784396441186&type=3https://www.facebook.com/media/set/?set=a.461812737171685.111302.435784396441186&type=3


19/20



241

norteadoras, tais como: Quem so os personagens da histria? Quais as

caractersticas da tribo que Piteco conheceu? Para que Piteco utiliza o tacape que

segura na mo? Quais as vantagens de andar com dois ps que so mostradas

na ltima pgina? O que Piteco fez com a carne que ganhou? Por que as pessoasse surpreenderam com a atitude de Piteco?

Assim, os quadrinhos se mostraram uma forma mais eficaz para os alunos

aprenderem as caractersticas das espcies que antecederam o homem atual e a

importncia da inveno do fogo do que a simples leitura de textos escritos.

Consideraes finais

O trabalho procurou mostrar alguns caminhos para o trabalho com as

histrias em quadrinhos no ensino da Pr-histria. Procuramos no nos

limitarmos a propostas e sugestes sem prticas, to comuns em artigos

acadmicos, mas tambm relatarmos algumas experincias no ensino.

Acreditamos que ao socializar experincias de ensino estamos contribuindo de

melhor maneira para uma discusso das prticas do ensino de Histria. O artigo

no busca ver as histrias em quadrinhos como uma receita infalvel para a

sala de aula, mas sim perceb-los como um dos mltiplos recursos disponveis

aos professores de Histria. O trabalho tenta ser no um modelo a ser seguido,

mas sim um objeto de crtica, para que os professores e alunos que o leiam

possam a partir dele procurar outros caminhos para o exerccio da docncia em

Histria, no caso especfico aqui tratado, no tema daPr-histria.

Referncias

BITTENCOURT, C. Ensino de histria: fundamentos e mtodos. So Paulo:Cortez, 2004.

CALAZANS, F. M. de A. Histria em quadrinhos na escola. So Paulo: Paulus,2004.

FUNARI, P. P.; NOELLI, F. S. Pr-Histria do Brasil. So Paulo: Contexto, 2012.


20/20



MEYER, D.; EL-HANI, C. N. Evoluo: o sentido da biologia. So Paulo: EditoraUNESP, 2005.

PINSKY, J.As primeiras civilizaes. So Paulo: Contexto, 2012.

PROUS, A. Arqueologia, Pr-Histria e Histria. In: TENRIO, M. C. (Org.). Pr-Histria daTerra Brasilis. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2000.

RAMOS, P.A leitura dos quadrinhos. 2 ed. So Paulo: Contexto, 2012.

RODRIGUES, I. C.; MARINOCI, M. C. A Pr-histria do Brasil nos livros deHistria para 5 a 8 sries do ensino fundamental. Anais do VI EncontroNacional Perspectivas do Ensino de Histria. Londrina, 2003, p. 2. Disponvel em: Acesso em 22 nov. 2013.

SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionrio de conceitos histricos. 3 ed. So Paulo:Contexto, 2013.

SILVA, V. R. e. Estratgias de leitura e competncia leitora: contribuies para aprtica de ensino em Histria. Histria. So Paulo, 23 (1-2), 2004.

VERGUEIRO, W.; RAMOS, P. (Org.). Quadrinhos na educao: da rejeio prtica. So Paulo: Contexto, 2009.

VERGUEIRO, V. Uso das HQs no ensino. In: RAMA, A.; VERGUEIRO, V. (Org.).Como usar as histrias em quadrinhos na sala de aula. 4 ed. So Paulo:Contexto, 2012.

VILELA, T. Os quadrinhos na aula de Histria. In: RAMA, A.; VERGUEIRO, V.(Org.). Como usar as histrias em quadrinhos na sala de aula. So Paulo:

Contexto, 2012.VILELA, M. T.A utilizao dos quadrinhos no ensino de histria: avanos,desafios e limites. 322 fl. Dissertao (Mestrado em Educao) UniversidadeMetodista de So Paulo, So Bernardo do Campo, 2012.

Recebido em 22 de janeiro de 2014.

Aprovado em 07 de agosto de 2014.
http://www.uel.br/cch/his/arqdoc/aprehistoriadoBrasilnoslivrosdehistoria_PDE2.pdfhttp://www.uel.br/cch/his/arqdoc/aprehistoriadoBrasilnoslivrosdehistoria_PDE2.pdfhttp://www.uel.br/cch/his/arqdoc/aprehistoriadoBrasilnoslivrosdehistoria_PDE2.pdfhttp://www.uel.br/cch/his/arqdoc/aprehistoriadoBrasilnoslivrosdehistoria_PDE2.pdf

o ensino da pré-história usando as hq

Documents