o domínio de sí mesmo [port] emile coue

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  • 8/14/2019 O Domnio de S mesmo [port] Emile Coue

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    O domnio de si mesmo

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    O domnio de si mesmo

    A sugesto, ou antes a auto-sugesto, um assunto completamentenovo e ao mesmo tempo to antigo quanto o mundo.

    um assunto novo porque, at hoje, foi mal estudado e, por

    conseguinte, no muito conhecido; antigo, por datar da apario dohomem na terra. De fato, a auto-sugesto um instrumento que nasceconnosco, e este instrumento, ou melhor esta fora, dotada de um poderinaudito, incalculvel, que, conforme as circunstncias, produz osmelhores ou os piores efeitos. O conhecimento desta fora til a cada umde ns e, particularmente, indispensvel aos mdicos, aos magistrados,aos advogados e aos educadores da mocidade.

    Logo que a sabemos pr em prtica, de uma maneira consciente,devemos evitar, em primeiro lugar, provocar nos outros as auto-sugestesmalignas, cujas consequncias podem ser desastrosas; depois provocamos,

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    conscientemente, as auto-sugestes benignas, que levam a sade moral aosque sofrem de nevrose, aos desencaminhados, vtimas inconscientes deauto-sugestes anteriores, e que conduzem ao bom caminho os espritos

    com tendncia a seguirem o mal.

    O ser consciente e o inconsciente

    Para bem compreender os fenmenos da sugesto, ou, maisacertadamente, da auto-sugesto, preciso saber que h em ns doisindivduos completamente distintos um do outro. Ambos so inteligentes,mas enquanto um consciente, o outro inconsciente. a razo pela quala sua existncia, geralmente, passa despercebida.

    Entretanto, esta existncia pode ser facilmente constatada, desdeque se tenha o trabalho de examinar certos fenmenos que sobre eles sequeira reflectir bem, por alguns instantes. Exemplifiquemos:

    Todos sabem o que sonambulismo e que o sonmbulolevantando-se noite,sem estar acordado, sai do quarto depois de mudarou no a roupa, desce as escadas, atravessa corredores e, aps ter praticadocertos actos ou terminado certo servio, volta ao seu dormitrio e deita-senovamente. No dia seguinte, demostra a maior das admiraes porencontrar feito um trabalho, que, na vspera, deixara por acabar.

    Entretanto, foi ele quem o fez, se bem que o no saiba. A que foraobedeceu o seu corpo, seno a uma fora inconsciente, ao seu serinconsciente ?

    Consideremos, agora, o caso muito frequente, de um infelizalcolico atacado de delirium tremens. Como que tomado de um acesso deloucura, ele se apodera de uma arma qualquer, uma faca, um martelo, ummachado, e fere, fere furiosamente aqueles que tm a infelicidade de se lheacharem perto.

    Depois de passado o acesso, o indivduo recobra os sentidos econtempla, horrorizado, a cena de sangue que a sua vista oferece,ignorando ter sido ele mesmo o seu autor. Ainda neste caso, no foi oinconsciente que conduziu esse desgraado ?

    Se compararmos o ser consciente ao ser inconsciente, constatamosque, enquanto o consciente frequentemente dotado de uma memriamuito falha, o inconsciente , ao contrrio, provido de uma memriamaravilhosa, impecvel, que guarda, sem o sabermos, os menoresacontecimentos, os mais insignificantes factos de nossas vidas.

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    E, como ele quem preside o funcionamento de todos os nossosrgos, por intermdio do crebro, d-se um facto, que decerto parecer

    paradoxal: se ele julgar que esse ou aquele rgo funciona bem ou mal, ou julgar que sentimos esta ou aquela impresso, este ou aquele rgo, defato, funciona bem ou mal, ou ento, nos sentimos com esta ou aquelaimpresso.

    O inconsciente no preside somente as funes do nossoorganismo, preside tambm o acabamento de todas as nossas aces,quaisquer que sejam elas.

    A ele que chamamos imaginao, e quem, ao contrrio do quese admite, nos fazsempre agir, mesmo esobretudo contra a nossa vontade,

    desde que haja antagonismo entre essas duas foras.

    Vontade e imaginao

    Se abrirmos um dicionrio e procurarmos saber o significado dapalavra vontade, encontraremos esta definio: Faculdade de praticar ouno, livremente, algum ato. Aceitaremos esta definio como verdadeira,irrepreensvel. Mas no pode haver maior engano, pois esta vontade que

    reivindicamos com tanta altivez, cede sempre o passo imaginao. umaregra absoluta que no padece excepo alguma.

    Blasfmia! Paradoxo! bradaro. De forma alguma. Verdade,pura verdade, lhes responderei.

    E, para se convencerem, abram os olhos, olhem em torno de si esaibam compreender aquilo que vem. Ho de ver, ento, que o que lhesdigo no uma teoria area, produzida por um crebro doente, mas asimples expresso daquilo que realmente .

    Suponhamos que h no solo um tbua de 10 metros decomprimento por 25 centmetros de largura. Est claro que todo mundo capaz de ir de uma ponta a outra dessa tbua, sem pr o p fora dela.Mudemos porm, as condies da experincia e faamos de conta que essatbua est colocada altura das torres de uma catedral. Quem ter, ento acoragem de avanar um metro apenas, nessa estreita passagem ? So ossenhores que me lem ? No, sem dvida. Antes de derem dois passos,comearo a tremer e, apesar de todos os esforos de vontade, fatalmentecairo ao solo.

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    Observem que os senhores tm boa-vontade de avanar; seimaginam que o no podem, ficam na impossibilidade absoluta de faz-lo.

    Se os pedreiros, os carpinteiros so capazes de executar esse ato, porque eles imaginam que o podem fazer.

    A vertigem s causada pela imagem que se nos afigura de quevamos cair; essa imagem se transforma imediatamente em ato, apesar detodos os nossos esforos de vontade, tanto mais depressa quanto maisviolentos so esse esforos.

    Consideremos uma pessoa atacada de insnia. Se ela no fazesforos para dormir, ficar sossegada no leito. Se, ao contrrio, querdormir, quanto mais se esfora mais agitada fica.

    No sei se observaram que, quanto mais a gente procura se lembrardo nome de uma pessoa, que se julga ter esquecido, mais ele foge lembrana, at o momento em que, mudando-se no esprito a ideia de nome lembro pela de j me lembro, o nome nos vem naturalmente sem omenor esforo.

    Aqueles que andam de bicicleta se recordam de que, quandoaprendiam a andar nessa mquina, iam pela estrada, segurando-se noguido, na persuaso de que iriam cair. De repente, enxergando no meio docaminho um cavalo ou, mesmo simplesmente uma pedra, procuravamevitar o obstculo; porm, quanto mais esforos faziam, mais iam emdireco a ele.

    A quem no aconteceu dar uma gargalhada, uma risada queestalava tanto mais impetuosamente quanto maiores eram os esforos quefaziam para a conter ?

    Qual era o estado de esprito de cada um, nestas vriascircunstncias ? Eu no quero cair, mas no posso impedi-lo; querodormir, mas no posso; quero lembrar o nome da senhora Tal, mas no

    posso; quero evitar o obstculo, mas no posso; quero conter a minharisada, mas no posso.

    Como se v, em cada um desses conflitos sempre a imaginaoque sobrepuja a vontade, sem excepo alguma.

    Seguindo a mesma ordem de ideias, no vemos um comandanteque se precipita para diante, frente das suas tropas, e os seussubordinados acompanh-lo, ao passo que o grito: salve-se quem puderdetermina, quase fatalmente, uma derrota ? Por que ? Por isto que, no

    primeiro caso, os homens se persuadem de que devem marchar para a

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    frente, e, no segundo,supem que esto vencidos e que preciso fugir paraescapar morte.

    Panurge no ignorava o contgio do exemplo, isto , a aco daimaginao, quando, para vingar-se de um negociante com quem viajava,comprava o seu maior carneiro e o atirava ao mar, convencido, deantemo, de que a carneirada toda o acompanharia, o que, alis, aconteceu.

    Ns, homens, parecemo-nos mais ou menos com os dessa raalangera e, a contragosto, seguimos irresistivelmente o exemplo alheio

    pensando que no podemos fazer de outro modo.

    Poderia citar outros mil exemplos, mas receio que uma enumeraodessa ordem se torne enfadonha. Entretanto, no posso deixar em silncio

    um fato que pe em evidncia o poder enorme da imaginao, ou poroutra, do inconsciente na sua luta contra a vontade.

    H brios que bem quereriam no mais beber, mas no podemabster-se da bebida alcolica. Indaguem deles, e respondero, com toda asinceridade, que desejariam ser abstmios, que lhes aborrece a bebida, masque so irresistivelmente impelidos a beber, apesar de sua vontade, apesarde saberem o mal que isso lhes faz...

    Assim, tambm, certos criminosos cometem crimes , contra avontade, e quando se pergunta por que agiram dessa maneira, respondem:No pude conter-me, aquilo me dava mpetos, era mais forte do que eu.

    O brio e o criminoso dizem a verdade; eles so forados a fazer oque fazem, pela simples razo de cuidarem que no se podem conter.

    Destarte, ns que somos orgulhosos da nossa vontade, queacreditamos fazer, livremente, aquilo que fazemos, no passamos, narealidade de pobres bonecos, dos quais a nossa imaginao empunha todosos fios. No deixaremos de ser esses bonecos, enquanto no a soubermosdirigir.

    Sugesto e auto-sugesto

    De acordo com o que precede, pudemos comparar a imaginao auma correnteza que arrasta, fatalmente, o desgraado que se deixa apanhar

    por ela, malgrado sua vontade de alcanar a margem. Esta correnteza parece invencvel; todavia a pessoa sabendo faz-lo, a desviar do seu

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    curso, conduzi-la- a uma usina e a transformar a sua fora emmovimento, em calor, em electricidade.

    Se esta comparao no lhes parece suficiente, comparemos aimaginao a um cavalo selvagem que no tem cabresto, nem rdea. Quepode fazer o cavaleiro que o monta, seno deixar-se levar aonde o cavalo oquiser conduzir ? E, se o cavalo se enfurece, como muitas vezes sucede, num fosso que vai terminar a corrida. Se o cavaleiro pe a rdea nessecavalo, os papis mudam. No mais ele que vai aonde o cavalo quer, esim o cavalo que segue o caminho que o cavaleiro deseja.

    Agora, que j explicamos a fora enorme do ser inconsciente ouimaginativo, vou lhes mostrar que este ser, considerado como indomvel,

    pode ser to facilmente domado quanto uma correnteza ou um cavalo

    selvagem.

    Mas, antes de prosseguir , necessrio definir, cuidadosamente,duas palavras frequentemente empregadas sem que sejam bemcompreendidas. So as palavrassugesto e auto-sugesto.

    O que , ento, a sugesto ? Pode-se defini-la: a aco de imporuma ideia ao crebro de outra pessoa. Esta aco existe, realmente ?Propriamente falando, no. A sugesto, com efeito, por si mesma, noexiste, ela no existe e no pode existir seno sob a condiosine qua nonde se transformar, no indivduo, em auto-sugesto. E esta palavra assim sedefine: implantao de uma ideia em si mesmo por si mesmo. Podemsugerir alguma coisa a algum; se o inconsciente deste no aceitou estasugesto, se ele no a digeriu, por assim dizer, a fim de transform-la, emauto-sugesto, ela no produz nenhum efeito.

    Acontece-me, algumas vezes, sugerir qualquer coisa mais ou menosbanal a pessoas ordinariamente muito obedientes, e minha sugesto falhar.A razo disto que o inconsciente dessas pessoas se recusaram a aceitar aminhasugesto e no a transformaram em auto-sugesto.

    Emprego da auto-sugesto

    Volto ao ponto onde dizia que podemos domar e dirigir a nossaimaginao, como se doma uma correnteza ou um cavalo bravo. Para tal,

    basta saber, primeiramente, que isso possvel (o que quase todo mundoignora), e, em seguida, conhecer o meio. Pois bem, esse meio muitosimples; aquele que sem o querermos , sem o sabermos, de maneiraabsolutamente inconsciente de nossa parte, empregamos todos os dias

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    desde que viemos ao mundo, mas que, infelizmente para ns, empregamosquase sempre mal, para nosso maior dano. Este meio a auto-sugesto.

    Enquanto, habitualmente, a gente se auto-sugestionainconscientemente, seria bastante auto-sugestionar-se conscientemente,cujo processo consiste nisto: primeiro meditar convenientemente sobre ascoisas que devem ser o objecto da auto-sugesto e, conforme esta respondasim ou no, repetir muitas vezes, sem pensar noutra coisa: Isto aconteceou isto no acontece; isto vai ser ou isto no vai ser etc., etc., e, se oinconsciente aceita esta sugesto, se ele se auto-sugestiona, veremos nissoas coisas se realizarem ponto por ponto.

    Assim entendida, a auto-sugesto no outra coisa seno ohipnotismo tal como o compreendo e o defino por estas simples palavras:influncia sobre o ser moral e o ser fsico do homem.

    Ora, esta aco inegvel e, sem voltar aos exemplos precedentes,citarei ainda alguns outros.

    Se algum se persuadir de que pode fazer alguma coisa qualquer,contanto que ela seja possvel, esse algum a far ainda que seja difcilfaz-la. Se, ao contrrio, as pessoas crem que no podem fazer a coisamais simples do mundo, torna-se para elas impossvel faz-la, e, nestaordem, os montinhos de areia que as toupeiras erguem so, para essas

    pessoas, como intransponveis montanhas.

    Tal o caso dos neurastnicos que, acreditando-se incapazes domenor esforo, frequentemente se encontram na impossibilidade de daralguns passos apenas, logo se sentindo extremamente cansados. E estesmenos neurastnicos, quando se esforam para sair de sua tristeza, mais emais nela se entranham, semelhana do desgraado que se atola e seafunda no pntano, tanto mais depressa quanto maiores so os esforos quefaz para se salvar.

    Do mesmo modo, basta pensar que uma dor vai passar, para sentir

    que realmente esta dor desaparece, pouco a pouco, e, inversamente, bastante pensar que se sofre para que imediatamente se sinta chegar osofrimento.

    Conheo certas pessoas que prognosticam que, determinado dia,vo sentir dor de cabea, predizendo em que circunstncias, e, de fato, nodia assinalado, circunstncias anunciadas, sentem essa dor de cabea. Essas

    pessoas mesmas causam o seu mal, assim como outras se curam a siprprias pela auto-sugesto consciente.

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    Sei que, geralmente, a gente passa por louco, diante de pessoas,quando se ousa emitir ideias que no esto habituadas a ouvir. Pois bem,arriscando-me a passar por louco, dir-lhes-ei que, se certas pessoas so,

    moral e fisicamente, doentes, porque imaginam estar doentes, sejamoralmente, seja fisicamente; se algumas pessoas so paralticas, semterem leso alguma, que imaginam estar paralticas, e entre estas

    pessoas que se do as curas mais extraordinrias.

    Se alguns so felizes ou infelizes, porque imaginam ser felizes ouinfelizes, porquanto entre duas pessoas colocadas exactamente nas mesmascondies, uma pode se julgarperfeitamente feliz e a outra absolutamenteinfeliz.

    A neurastenia, a gagueira, as fobias, a cleptomania, certas paralisias

    etc., no so outra coisa seno o resultado da aco do inconsciente sobre oser fsico ou moral.

    Mas, se o nosso inconsciente a fonte de muitos de nossos males,tambm pode trazer a cura das nossas doenas morais e fsicas. Ele pode,no somente reparar o mal que nos fez, como tambm curar as doenasreais, to grande a sua aco sobre o nosso organismo.

    Isole-se uma pessoa em um quarto, sente-se numa poltrona, fecheos olhos para evitar distraco e pense unicamente durante algunsinstantes: Tal coisa est para desaparecer, tal coisa vai acontecer.

    Se, foi, realmente, feita a auto-sugesto, isto , se seu inconscienteaceitou a sua ideia, com grande admirao sua ver realizar-se aquilo emque havia pensado. (Note-se que as ideias auto-sugestionadas tm a

    propriedade de existir em ns sem o sabermos, de cuja existncia spodemos ter conhecimento pelos efeitos que essas ideias produzem). Mas,sobretudo, e esta recomendao essencial, a vontade no deve intervir na

    prtica da auto-sugesto; porque, se ela no est de acordo com aimaginao, se a gente pensa: quero que tal coisa acontea, e aimaginao diz: tu queres, mas isso no suceder, no somente no se

    consegue o que se quer, mas ainda se obtm exactamente o contrrio.Esta observao capital, e explica por que os resultados so to

    pouco satisfatrios quando, no tratamento das afeces morais, se fazemesforos para reeducar a vontade. a imaginao que preciso educar,

    pois, graas delicada divergncia entre esta e aquela, o meu mtodo tevesucesso onde outros, e no poucos, fracassaram.

    Das numerosas experincias que fao, diariamente, desde vinteanos, observadas por mim, com atencioso cuidado, pude tirar as condiesque se seguem e que resumi em forma de lei:

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    1. - Quando a vontade e a imaginao esto em luta, sempre

    a imaginao a vencedora, sem excepo alguma;

    2. - No conflito entre a vontade e a imaginao, a fora daimaginao est na razo directa do quadrado da vontade;

    3. - Quando a vontade e a imaginao esto de acordo, uma

    no se ajusta outra, mas uma se multiplica pela outra;

    4. - A imaginao pode ser governada.

    (As expresses na razo directa do quadrado da vontade e semultiplicam no so rigorosamente exactas. So simplesmente imagensdestinadas a fazer compreender o meu pensamento.)

    Consoante o que acabo de dizer, parece que ningum deveria jamais ter adoecido. Isto verdade. Toda doena, quase sem excepo, pode ceder auto-sugesto, por mais ousada e inverossmil que possaparecer a minha afirmao. No digo, cede sempre, digopode ceder, o que diferente.

    Mas para fazer com que as pessoas pratiquem a auto-sugestoconsciente, preciso ensinar-lhes como faz-lo, do mesmo modo que sefaz para lhes ensinar a ler ou escrever, ou para que elas aprendam msicaetc.

    A auto-sugesto , como disse mais atrs, um instrumento quetrazemos connosco ao nascer e com o qual brincamos inconscientementetoda a nossa vida, como um menino brinca com seu marac. Mas uminstrumento perigoso; pode ferir, matar mesmo, se o manejaremimprudentemente, inconscientemente. Ao contrrio, salva quando osouberem empregar de maneira consciente. Pode-se dizer dele o que dalngua dizia Esopo: a melhor e, ao mesmo tempo, a pior coisa domundo.

    Vou explicar-lhes, agora, como se pode fazer para que todo mundoexperimente a aco benfazeja da auto-sugesto, aplicada de um modoconsciente.

    Dizendo todo mundo, exagero um pouco, porque h duas classesde pessoas nas quais difcil provocar a auto-sugesto consciente:

    1. - Os atrasados, incapazes de compreender o se lhes diz;

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    2. -As pessoas que no querem aprender.

    Como ensinar ao paciente a auto-sugestionar-se

    O princpio deste mtodo se resume, pouco mais ou menos, nestaspalavras: S se pode pensar em uma coisa de cada vez, isto , duas ideiaspodem se justapor, mas no se podem sobrepor em nosso esprito.

    Todo pensamento que preocupa inteiramente o nosso espirito,torna-se verdadeiro para ns e possui uma tendncia para transformar-se

    em ato.

    Portanto, se conseguirmos fazer crer a um doente que vai acabarseu sofrimento, este de fato desaparecer; a um cleptmano que no furtarmais, ele no mais furtar, etc.

    Modo de fazer a sugesto consciente

    Diz-se ao paciente: Sente-se e feche os olhos. No quero tentarfaz-lo dormir. intil. Peo que feche os olhos , simplesmente para que asua ateno no seja desviada para os objectos que lhe do na vista. Agora,diga bem direito, que todas as palavras que vou pronunciar vo fixar-se noseu crebro, imprimir-se, gravar-se, incrustar-se nele; que preciso queelas fiquem sempre fixadas, impressas, incrustadas e que, sem o senhorquerer e sem o saber, de uma maneira completamente inconsciente de sua

    parte, o seu organismo e o senhor mesmo devero obedecer-lhes. Digo-lhe,em primeiro lugar, que diariamente, trs vezes por dia, de manh, ao meiodia e noite, hora das refeies, o senhor ter fome, isto , sentir estasensao agradvel que faz pensar e dizer: Oh! Vou comer com prazer!

    Com efeito, comer com prazer, sem, entretanto, comer demais. Comermoderadamente e o suficiente para deix-lo no peso ideal. Ter, porm,cuidado de mastigar demoradamente os seus alimentos, para os transformarem uma pasta bem mole, antes de engolir. Nestas condies, far bem adigesto, e no sentir nem no estmago, nem nos intestinos, nenhumsofrimento, nenhum incmodo e dor nenhuma, qualquer que seja a suanatureza. A assimilao se far bem e o seu organismo aproveitar todos osseus alimentos, para produzir sangue, msculo, fora, energia, numa

    palavra: VIDA.

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    Visto que a digesto vai ser bem feita, a funo da excreo dar-se- normalmente.

    Ademais, todas as noites, a partir do momento em que quiserdormir, at ao momento em que desejar levantar-se, na manh seguinte,dormir um sono profundo, calmo, tranquilo, durante o qual no ter

    pesadelos, e quando acordar, sentir-se- com sade, todo alegre e bemdisposto.

    De outro lado, se lhe acontece, por vezes, estar triste, pensativo,ter aborrecimentos, ter pensamentos ttricos, de agora em diante noacontecer mais. Em vez de ficar triste, melanclico, em vez de ter

    angstias, aborrecimentos, ideias tristes, vai ter alegria, muita alegria, semmotivo algum, talvez, mas ter-la-, como lhe poderia acontecer ter tristezassem motivos. Direi mais: mesmo que tenha motivos verdadeiros, motivosreais para se aborrecer e ter tristezas, no se aborrecer, nem ter tristezas.

    Se lhe acontece, s vezes, ter gestos de impacincia, ou de raiva,estes gestos no os ter mais. Ao contrrio, h de ser sempre paciente,sempre senhor de si mesmo, e as coisas que o aborreciam, provocavam,irritavam, doravante o deixaro absolutamente indiferente e calmo, muitocalmo.

    Se algumas vezes assaltado, perseguido, dominado por ideiasms, que lhe so prejudiciais, e por temores, medos, fobias, tentaes,rancores, sei que tudo isso se afasta, pouco a pouco dos olhos da suaimaginao, e parece desfazer-se, perder-se numa nuvem longnqua. Comoum sonho que desaparece ao acordar, assim se iro todas as imagens vs.

    Digo-lhe mais que todos os seus rgos funcionam bem: o corao

    bate normalmente e a circulao do sangue se faz como deve ser; os pulmes funcionam bem; o estmago, os intestinos, o fgado, a vescula biliar, os rins, a bexiga, nada tm de anormal. Se, dentre eles, algumpresentemente funciona com anormalidade, esta anomalia desaparecer aos poucos, cada dia, de sorte que, brevemente, desaparecer por completo,voltando esse rgo a funcionar normalmente.

    Alm disso, se existe alguma leso num deles, ir cicatrizando diaa dia, sarando com rapidez. (A propsito, devo dizer que no precisosaber qual o rgo afectado, para cur-lo. Sob a influncia da auto-

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    sugesto: todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vezmelhor, o Inconsciente exerce a sua aco sobre esse rgo, que elemesmo no sabe distinguir).

    Acrescento ainda isto, que uma coisa extremamente importante:se at o presente se sentiu com uma certa desconfiana em si, digo-lhe queesta desconfiana desaparece aos poucos para, ao contrrio, se transformarem confiana em si mesmo,fundada nesta fora de um poder incalculvelque existe em cada um de ns. Esta confiana absolutamente

    indispensvel ao ser humano. Sem a confiana em si mesmo, jamais seobtm coisa alguma, ao passo que com ela, pode-se conseguir tudo. (Nodomnio das coisas razoveis, bem entendido). Tenha, pois, confiana em

    si mesmo, que se convencer de que capaz de fazer no somente bem,mas ainda com perfeio, todas as coisas que deseja fazer,sob a condiode que sejam razoveis e tambm tudo aquilo que seja de seu dever.

    Portanto, quando desejar fazer alguma coisa razovel, quandotiver de fazer uma coisa que de seu dever fazer, pense bem que esta coisa fcil de fazer. As palavras difcil, impossvel, no posso, est acima dasminhas foras, no posso evitar, devem ser canceladas do seu vocabulrio.Elas no existem em nossa lngua. Existem, sim, as palavras: fcil e eu

    posso. Considerando a coisa fcil de fazer, ela se torna fcil, ao passo quepara outros parece difcil. O senhor a faz depressa e bem, sem se cansar,porque a faz sem esforo. Se, porm, a considerasse difcil ou impossvelde fazer, ela o seria unicamente porque assim a considerou.

    Por fim, sei que tanto no ponto de vista moral como no fsico, osenhor goza de boa sade, melhor do que a que at hoje pde gozar. Agoravou contar at trs, e quando eu disser trs , o senhor abrir os olhos,

    saindo do estado em que se encontra, bem tranquilamente, sementorpecimentos, sem fadigas de espcie alguma, mas, ao contrrio,sentindo-se forte, alerta, disposto, com vigor, cheio de vida. Alm disso,sentir-se- alegre, bem alegre e bem de sade em todos os pontos de vista.Um, dois, trs.

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    Como se deve praticar a auto-sugestoconsciente

    Todas as manhs, ao acordar, e todas as noites, logo ao deitar,fechar os olhos e, sem fixar a ateno ao que se diz, proferir em voz

    bastante alta, a fim de ouviras prprias palavras , esta frase, repetindo-avinte vezes, tendo para isso um cordo com vinte ns: Todos os dias, sobtodos os pontos de vista, vou cada vez melhor. Como as palavras sobtodos os pontos de vista abrange tudo, intil fazer auto-sugesto paradeterminados casos.

    Esta auto-sugesto deve ser feita da maneira mais simples, maisinfantil, mais maquinal possvel, portanto, sem o menor esforo. Numa

    palavra, a frmula deve ser repetida no tom em que se rezam as ladainhas.

    Destarte, consegue-se introduzi-la mecanicamente no inconsciente, pelo ouvido e, logo que nele penetra, ela age. A pessoa deve seguir essemtodo durante toda vida, porquanto no s curativo como tambm

    preventivo.

    Ademais, cada vez que, durante o dia ou durante a noite, se tem umsofrimento fsico ou moral, a gente deve apegar-se imediatamente a si

    mesma, no propsito de no contribuir conscientemente para esse mal, e para faz-lo desaparecer. A pessoa deve-se isolar o mximo possvel,fechar os olhos e, passando a mo pela fronte ou pelo local dolorido,conforme se trate de uma dor moral ou fsica, repetir rapidamente estas

    palavras: isto passa, isto passa etc., etc., durante o tempo que for preciso.Com um pouco de hbito, consegue-se fazer desaparecer a dor moral oufsica, no espao de 20 a 25 segundos. Deve-se repetir isso a cada vez quefor necessrio.

    Portanto, fcil desempenhar o papel de sugestionador. No serum mestre que ordena, mas um amigo, um guia que conduz, passo a passo,

    o enfermo no caminho da cura. Como todas essas sugestes se do nointeresse do doente o inconsciente deste as procura assimilar e transform-las em auto-sugestes. Quando se d a auto-sugesto, a cura se realizacom mais ou menos rapidez.

    A prtica da auto-sugesto no dispensa o tratamento mdico, mas

    um precioso auxiliar para o doente e para o mdico.

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    Superioridade do mtodo

    Este mtodo d, absolutamente, maravilhosos resultados.Efectivamente, procedendo-se como aconselho, no se falhar nunca, a noser com as espcies de pessoas que falei atrs e que, felizmente,representam apenas 3% do povo.

    Se, ao contrrio, se experimenta agir da primeira vez sobre o paciente, sem explicaes, poder-se- obter resultado, mas somente sobre pessoas extremamente sensveis. Estas, porm, existem em pequenonmero.

    Outrora, parecendo-me que a sugesto no podia agir bem , senodurante o sono, procurava sempre fazer dormir o meu paciente; mas, tendoconstatado que isto era dispensvel deixei de faz-lo para poupar ao

    paciente o temor que sente, quase sempre, quando lhe dizemos que ovamos fazer dormir, temor este que, muitas vezes, sem que ele o queira,faz resistir ao sono. Se, ao contrrio, lhe dissermos que no queremos faz-lo adormecer, porque isso absolutamente intil, ganhamo-lhe a confianae ele houve o que lhe dizemos, sem receio algum, sem nenhuma segundainteno, acontecendo, frequentemente, quando no primeira vez, pelomontono da voz, ficar cheio de admirao por ter adormecido.

    Se entre os senhores h incrdulos, e sei que os h, dir-lhes-ei,simplesmente, que venham ter comigo para verem e se convencerem, vista dos fatos.

    No pensem, entretanto, que seja necessrio agir da maneira queacabo de expor, para empregar a sugesto e determinar a auto-sugesto.Pode-se fazer a sugesto em pessoas sem elas o saberem, e sem preparaoalguma. Se um mdico, por exemplo, que, pela sua autoridade profissional,

    j tem fora sugestiva sobre o doente, lhe diz que nada pode fazer por ele, porque a sua molstia incurvel, provoca no espirito do paciente umaauto-sugesto que lhe poder ter consequncias bem funestas. Se, aocontrrio, lhe diz que a doena realmente grave, mas que com tratamento,tempo e pacincia vir a cura, algumas ou muitas vezes mesmo, poderconseguir resultados que lhe causaro admirao.

    Outro exemplo: se um mdico, depois de haver examinado odoente, passa-lhe uma receita e lhe entrega sem explicao alguma, osremdios prescritos tm pouca probabilidade de produzir efeito. Mas, seexplica ao doente se este ou aquele remdio deve ser tomado em tais e taiscondies e que produziro tais e tais efeitos, quase sempre se verificam osresultados preditos.

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    Se, entre os que me lem, h mdicos ou colegas farmacuticos,peo que no me julguem seu inimigo, pois, ao contrrio, sou seu melhoramigo. De uma parte, desejaria ver no programa das Escolas de Medicina,

    o estudo terico e prtico da sugesto, para maior benefcio dos doentes edos prprios mdicos; de outra parte, espero que, cada vez que um doentev procurar um mdico, este lhe receite um ou mais remdios, mesmo queno sejam necessrios. Com efeito, o doente, quando procura o mdico,quer que ele lhe indique o remdio que o por bom. Ignora, as mais dasvezes, que a higiene e o regime que atuam e a isto liga poucaimportncia. O que lhe necessrio um remdio.

    Parece-me, portanto, que o mdico deve sempre receitar remdiosao seu enfermo e, quando possvel, evitar as receitas de remdiosespecializados, dos quais se fazem grandes reclamos, e que, na maior parte,

    s valem pelo efeito da propaganda. Mas, deve receitar remdiosformulados por ele mesmo, porque inspiram muito mais confiana aodoente do que certas plulas ou certos ps facilmente encontrados em todasas farmcias e que dispensam receita.

    Aco da sugesto

    Para bem se compreender o papel da sugesto ou, por outra, daauto-sugesto, basta saber que o inconsciente o dirigente mor de todasas nossas funes. Faamo-lhe crer, como anteriormente disse, que talrgo que no funciona bem, deve funcionar bem. Instantaneamente oinconsciente lhe ordena e o rgo, obedecendo submissamente, inicia arecuperao de sua funo normal, imediatamente.

    Isto nos d o direito de explicar, de uma maneira simples e claracomo, pela sugesto, pode-se suster as hemorragias, debelar a priso deventre, extinguir os fibromas, curar as paralisias, as leses tuberculosas, asferidas varicosas etc.

    Tomo, como exemplo, um caso de hemorragia dentria, que pudeobservar no gabinete do Sr. Gauth, dentista, de Troyes. Uma mocinha, aquem ajudei a curar-se de uma asma que lhe durou oito anos, me disse umdia que queria extrair um dente. Sabendo-a muito sensvel, ofereci-me paramandar arrancar o dente, sem dor. Naturalmente, ela aceitou com prazer, emarcamos a hora com o dentista.

    No dia combinado, fomos ao seu gabinete. Colocando-me emfrente moa, disse-lhe: A senhorita no sente nada, a senhorita no sentenada etc. .... E, enquanto continuava a minha sugesto, fiz sinal ao

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    dentista. Um momento depois, o dente estava arrancado sem que asenhorita D... tivesse sentido qualquer dor. Como frequentementeacontece, sobreveio uma hemorragia. Ao invs de aplicar um hemosttico

    qualquer, disse ao dentista que iria experimentar a sugesto, sem saber deantemo o que resultaria. Ento, pedi senhorita D... que me olhasse esugeri-lhe que, dentro de dois minutos, a hemorragia cederia, por simesma; e ficamos aguardando o resultado. A jovem expeliu ainda algunsescarros sanguneos e mais nada. Disse-lhe que abrisse a boca, olhamos econstatamos que o sangue coagulara na cavidade dentria.

    Como explicar este fenmeno? Muito simplesmente: sob ainfluncia da ideia a hemorragia deve parar, o inconsciente transmitiu, s

    pequenas artrias e pequenas veias, ordem para no deixar escapar sangue,e elas, com brandura, se foram contraindo naturalmente, como o fariam

    artificialmente, ao contacto de um hemosttico, como por exemplo aadrenalina.

    raciocinando do mesmo modo, que nos dado compreendercomo pode desaparecer um fibroma. O inconsciente, aceitando a ideia ofibroma deve desaparecer, o crebro ordena s artrias que o nutrem, quese contraiam; elas se contraem, recusam o seu auxlio, no alimentam maiso fibroma e este, privado daquele alimento, morre, seca, reabsorve-se edesaparece.

    Emprego da auto-sugesto na cura dasafeces morais e das taras inatas ouadquiridas

    A neurastenia, to comum nos nossos dias, geralmente cede sugesto praticada, frequentemente, do modo como exponho. Tive a

    felicidade de contribuir para a cura de numerosos neurastnicos, para osquais falharam todos os tratamentos. Um deles at passara um ms numestabelecimento especial de Luxemburgo, sem conseguir melhorar. Emseis semanas, ficou completamente bom e sente-se, agora, o homem maisfeliz do mundo, aps ter se considerado o mais desgraado. E nunca maisrecair na sua molstia, porque lhe ensinei a aplicar, a si prprio a auto-sugesto consciente, e ele a sabe fazer maravilhosamente.

    Mas, se a auto-sugesto til no tratamento das afeces morais efsicas, quantos servios ainda maiores no podem prestar sociedade,

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    as associaes Christian Science e Novo Pensamento tm conseguidoresultados idnticos, pelos processos magnticos, pelo hipnotismo etc.

    Essas curas, para a maioria das pessoas, so cheias de mistrios, ederivam de uma fora particular da qual so dotados aqueles que asoperam, quando as devemos atribuir a uma fora inteiramente natural,obedecendo a leis, de que mais adiante trataremos.

    No quero que me tomem, como muita vezes acontece, por uma pessoa que cura doentes, um operador de milagres, que tem suadisposio todas as foras ocultas e tudo pode, mesmo e principalmente oimpossvel.

    Para vos dar apenas uma ideia do juzo que de mim fazem certas

    pessoas, citar-vos-ei alguns pedidos, que me so feitos com muitafrequncia.

    Certa ocasio, escreveu-me uma senhora, dizendo: Senhor, meumarido no pode mais suportar-me. Poderia o senhor conseguir torn-lomais paciente ? Outra me escreveu o seguinte: Senhor, meu filhoarranjou uma amizade m. Poderia o senhor descobrir um meio de desfaz-la ? Uma terceira dirigiu-me uma carta, nestes termos imperativos:Senhor , estou doente, curai-me! (sem assinatura).

    Outra, ainda, comunica-me haver uma sua vizinha rogado pragasobre a sua casa, e me pede para conjurar essa maldio. Enfim, diz-me altima: Meu senhorio quer aumentar o aluguel. Poderia o senhor impedi-lo ?

    Pois bem, se, dentre vs, alguns me querem dar a honra deconsiderar-me capaz de realizar coisas tais como essas que me foramsolicitadas, rogo-vos que abandonem tal suposio, por ser inteiramentefalsa. No somente no curo, nem fao milagres, como tambm no soufeiticeiro, nem tenho o poder especial de que me supem dotado.

    Sou, apenas, um homem, se o quiserem um homem capaz, mas umhomem como os outros homens, cuja funo no de curar, mas,simplesmente, a de ensinar s pessoas o que elas podem fazer, a fim de seajudarem a si prprias, a fim de elas mesmas, conseguirem suas melhoriase se curarem por si mesmas, se a cura for possvel.

    Lavo as mos, quanto aos resultados que possam obter. O benefciodo sucesso, assim como a responsabilidade do insucesso, fica a cargodessas pessoas, porquanto um e outro dependem, exclusivamente, delas.Devo ser comparado ao professor que ensina aos seus alunos as matrias

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    necessrias para se submeterem ao exame, que lhes permitiro obter o graude bacharel, mas que no poder fazer por eles esse exame.

    Por dois motivos deveis acreditar no que vos digo: O primeiro que vos falo a verdade; o segundo que o vosso interesse exige que meacrediteis.

    Suponhamos, um instante, que eu tenha o dom de curar. Emboraduvidando, admito que por estardes em minha presena, eu tenha umacerta influncia sobre vs. Mas, por outro lado, deveis admitir que, quandome tiverdes deixado, quando vos achardes na rua, ou de volta a Londres, a

    Nova Iorque, a Chicago, no poderei ter mais essa influncia. Seadoecerdes, ento, sentir-vos-eis perdidos.

    De minha parte, diminuo a vossa personalidade, deixo crer quedependeis de mim e no de vs mesmos.

    Se, ao contrrio, vos demonstro que o poder que me atribuis noest em mim, mas em vs, e vos ensino como aproveit-lo, tereis a

    possibilidade de utiliz-lo e de conseguir, vs mesmos, a melhoria ou acura, em qualquer parte do mundo, onde vos encontrardes.

    Nesse caso, aumento a vossa personalidade, visto que vos ensino adepender de vs mesmos, e no de uma outra pessoa.

    Contudo, no me acreditais ainda.

    A maioria de vs responder-me-. intil insistir. graas vossa influncia que ns nos curamos. Como acontece, ento, que mevenham, s mos, quase todos os dias, cartas de pessoas, que nunca vi,agradecendo-me por se terem curado somente em observar os conselhosque dou.Melhor ser saber o que elas dizem:

    Primeira carta: Tive a grande felicidade de receber a vossacarta de 13 de maio, e as brochuras que a acompanharam, as quais acheimuito interessantes.

    H cerca de quarenta anos, um mdico aconselhou-me a mandar-me operar as varizes da perna ou, pelo menos, usar meias elsticas. Desdeh seis meses, entretanto, que ponho em prtica o vosso mtodo, e noto queelas j desapareceram. Considerando-se os meus setenta anos de idade,esse resultado no mau.

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    verdade que, quando comecei a pr em prtica os vossosconselhos, no contava com esse efeito. Ademais, sinto-me capaz de jogaras minhas duas partidas degolfe, diariamente.

    W. J. ..., Sydney (Austrlia)

    Segunda carta: Prosseguem os maravilhosos resultados produzidos pelo vosso mtodo. Estou convencido de que no poderia serde outro modo.

    Deveis lembrar-vos que comecei a notar esse efeito, no espao de

    tempo decorrido depois de uma semana a um ms e meio. Naturalmente,tereis o prazer de reler que eu sofria de faringite, de insnia, de enterite e,

    para servir de companhia a esse lindo trio, uma grande depresso fsica emoral. Lembro-vos, ainda, que obtive esses resultados, apenas com estudodo vosso mtodo, sem jamais vos ter visto, nem assistido a nenhumtrabalho de sugesto.

    Actualmente, para me conservar num bom caminho, basta-merepetir, sem esforo, tarde, de noite e pela manh, a vossa famosafrmula. simples. Fiz duas pessoas interessarem-se pelo mtodo, sendouma delas o mdico que me tratou da ultima crise de enterite. Ele estadmirado da mudana que se efectuou em mim, e tenciona ir a Nancy paraassistir aos vossos trabalhos.

    Melhor ainda fiz, auxiliando minha me a curar-se de umreumatismo, no vero passado, quando veio da Provena, onde habita, para

    junto de mim.

    Minha pobre me se arrastava, mancando de uma perna, muitoinchada do joelho ao tornozelo. Meia hora de palestra sobre a existncia doinconsciente e seu prodigioso poder, a experincia das mos cruzadas e

    minha afirmao de que ela ia andar com facilidade, foi o suficiente.Conforme eu havia previsto, caminhou bem, correu e, desde ento, nomais coxeou. Uma semana depois, o edema j estava bem diminudo.Restava-lhe ainda uma outra ferida, uma crista bem grande na arcadasuperciliar direita, em consequncia de uma mordida de mosquito, h seisou sete anos. Vrias pomadas, receitadas pelo mdico, no lhe impediram odesenvolvimento. Da minha parte, fiz algumas sugestes e ela mesma sefez outras. No espao de cinco semanas, tudo desapareceu, sem deixarvestgio de espcie alguma.

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    Eis a, quanto se pode fazer em benefcio prprio e no de outros,quando a gente compreende, perfeitamente, o mtodo.

    C. ..., Saint Nazaire

    Terceira carta: Devo ao vosso mtodo a sorte de encontrar-me,finalmente, livre das enxaquecas, que me atormentavam, desde h vinteanos, para as quais havia tentado vrios tratamentos e consultado inmerosmdicos, no s em Frana como no estrangeiro.

    S. A. ..., Atenas

    Por estes bem numerosos casos, pode-se concluir que no se tratade uma aco pessoal de minha parte. A influncia, que tenho sobre vs, o que chamo uma fora virtual, existindo, apenas, no vosso esprito. Minhainfluncia to somente aquela que cada um de vs me concedeis.

    Admitamos, por um momento, que eu tenha uma fora qualquer eque esta fora medida, digamos, no dinammetro, representasse 100;minha fora, sobre cada um de vs, portanto, seria 100.

    Ser, realmente, isso mesmo? Absolutamente, no. Exerci umainfluncia 0 sobre um, um influncia 10 sobre outro e, sobre outros mais,uma influncia 100, 200, 1.000, at mesmo um milho, e mais ainda,consoante a ideia que cada pessoa fizer dessa influncia.

    Como podeis ver, na realidade ela no existe; apenas, o produtoda imaginao de cada um.

    Compreendereis melhor, com um exemplo. Suponhamos que estaispasseando por uma avenida, em companhia de um amigo; tirais um cigarroda cigarreira e, ao querer acend-lo, verificais que nem vs nem vossoamigo tendes fsforos. Nessa ocasio, passa um senhor, fumando,

    tranquilamente, um charuto. Aproximais dele e lhe pedis fogo. Ocavalheiro, muito gentilmente, apresenta a ponta acesa do charuto, na qualacendeis o cigarro. Ao voltardes para junto do vosso amigo, este vos diz:

    Sabeis quem aquele senhor? No, por que? Pois bem, o reide... No possvel Mas possvel tanto quanto exacto.

    Agora que sabeis quem esse cavalheiro, porventura ireis,novamente, pedir-lhe fogo? No! No vos atrevereis mais. Por que? Porqueessa pessoa tem agora, sobre vs, uma influncia que, anteriormente, notinha, derivada no dela, propriamente, mas to somente do seu ttulo e de

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    sua posio social. Portanto, vs mesmos criastes essa influncia, sem vosaperceberdes.

    Que preciso, ento, fazer para melhorar e curar-se a si mesmo?Para isto, basta apenas, aprender a utilizar, bem e conscientemente, uminstrumento que cada um de ns possui desde o nascimento, usa-o desdelogo e continua usando-o toda a vida, sem o saber, at o momento deexpirar. Este instrumento no outra coisa seno a auto-sugesto, que se

    pode definir assim: a aco de impor a si mesmo uma ideia no esprito.

    Sucede-nos com a auto-sugesto, o mesmo que ao Sr. Jourdain,com relao prosa. Ele admirou-se muito, quando, depois de ultrapassaros cinquenta anos de idade, o seu professor de francs lhe disse que j fazia

    prosa quando comeava a balbuciar estas palavras: Pap, mam, e que

    ainda o fazia quando dizia: Linda marquesa, os vossos olhos me fazemmorrer de amor.

    O mesmo acontece convosco, quando vos afirmo que praticais aauto-sugesto, desde o dia do vosso nascimento e haveis de pratic-la atao vosso derradeiro momento.

    Para vos mostrar que no sou exagerado, vou dar-vos um exemplode um caso que, certamente, se ter passado com algum de vs.

    Suponhamos tratar-se de uma criana recm-nascida, que repousano bero. De repente, ouvem-se uns pequenos gritos e uma das pessoas

    presentes, o pai, se est em casa, imediatamente, corre para a criana e atoma nos braos. Se ela no est realmente doente, ao cabo de algunsinstantes deixa de chorar e, novamente, a deitam no bero. Ela, porm,recomea a chorar. Tiram-na mais uma vez e de novo se cala. Tornam adeit-la e os gritos recomeam. No sei se concordais comigo, mas pensono errar dizendo que essa criana procura auto-sugestionar seus pais ou,

    por outra, procura engan-los, como se diria em linguagem mais corrente.

    Se efectivamente, os pais imaginam que preciso pegar a criana,

    cada vez que ela chora, a fim de evitar o choro, fazem-no em consequnciada auto-sugesto. Destarte, eles se condenam a passar quinze ou dezoitomeses da sua vida, com a criana nos braos, durante uma boa parte dasnoites; ao passo que no seu bero, ela estaria melhor, assim como os pais oestriam na cama. E a criana, ,por sua vez, diz consigo mesma, nalinguagem que ignoramos, mas que ela compreende, perfeitamente: Cadavez que quiser que pap ou mam me tire do bero, basta chorar. E chora.Se, ao contrrio, deixarem-na chorar durante quinze minutos, meia hora oumais ainda, ela, vendo que no surte efeito o choro, diz consigo, na sualinguagemzinha: Oh! No vale a pena chorar. E cala-se.

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    Como v, desde o primeiro dia da nossa existncia, comeamos asugestionar e a auto-sugestionar; e fazemo-lo noite e dia, at hora demorrer. Nossos sonhos so auto-sugestes produzidas pelo inconsciente,

    como tambm tudo o que dizemos, tudo o que fazemos, durante o dia determinado pelas auto-sugestes inconscientes, que s o deixaro de serno dia em que as soubermos tornar conscientes.

    A auto-sugesto um instrumentoperigoso

    Entretanto, mister saberdes que a auto-sugesto um instrumento perigoso, mesmo muitssimo perigoso. a melhor e ao mesmo tempo, a pior coisa do mundo, consoante for bem ou mal aplicada. Quando bemempregada, d sempre bons resultados, por vezes to surpreendentes, que,erradamente, os temos na conta de milagres; quando mal empregada,infalivelmente d maus resultados, muitas vezes de tal modo considerveis,que se tornam verdadeiros desastres, no s no ponto de vista fsico comono ponto de vista moral.

    Mas, que nos acontece, se fizermos uso de um instrumento perigoso, com o qual nunca lidamos? s vezes, muito raramente, porabsoluto acaso, servimo-nos dele, acertadamente; mais frequentementeusamo-lo mal, ferindo-nos mais ou menos gravemente. A mesma coisa severifica com a auto-sugesto. Se, porm, conseguirmos familiarizarmo-noscom tal instrumento, imediatamente ele deixa de ser perigoso para ns.Portanto, em que consiste o perigo de uma coisa? Na ignorncia em quenos achamos desse perigo. Uma vez que o conhecemos, ele desaparece, porisso que o evitamos.

    Pois bem, o meu papel o de ensinar-vos a empregar bem econscientemente este instrumento perigoso por vs inconscientemente

    usado at agora, isto , muito poucas vezes bem quase sempre mal.Antes de vos dar os conselhos com os quais vou terminar, devo

    expor-vos os princpios sobre os quais baseei o meu mtodo, porquanto, aocontrrio do que julgam certos indivduos, que o no queremcompreender, este mtodo no nem emprico, nem infantil, mas sim,cientfico, porque se apoia em bases cientficas e, ao mesmo tempo,

    baseado nas observaes dos factos.

    O primeiro princpio pode ser enunciado deste modo: toda ideia quese forma no esprito, boa ou m, no somente tende a realizar-se, como o

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    diz Bernheim, mas se torna ainda, para ns, uma realidade, dentro do limitedo possvel. Em outros termos, se a ideia vivel, ela se realiza. Se a ideiano realizvel, naturalmente no se realizar, porquanto no podemos

    realizar o irrealizvel. Alm disso, no devemos permitir-nos tersemelhantes ideias.

    Suponhamos, por exemplo, que algum tenha uma perna amputadae imagine que ela v renascer. Subentende-se que essa perna no serenovar mais e disto temos absoluta certeza, porque uma coisainteiramente fora do possvel.

    Mas, se um indivduo sente dores numa parte qualquer do seucorpo; se algum de seus rgos funcionam mais ou menosimperfeitamente; se ele tem ideias tristes, pensamentos tenebrosos,

    lembranas obsessoras, receios, pavores, fobias, e fazendo a auto-sugesto,as dores vo pouco a pouco desaparecendo, os rgos, de melhoria emmelhoria, vo recuperando as funes normais e, igualmente, aos poucos,as ideias tristes, os pensamentos tenebrosos, as lembranas obsessoras, osreceios, os pavores, as fobias tambm se vo acabando, porque essasrealizaes esto no domnio da possibilidade.

    Destarte, a ideia do sono provoca o sono, da mesma forma que aideia da insnia produz a insnia. Como podemos, realmente, definir a

    pessoa que dorme noite? A pessoa que dorme noite aquela que sabeque para dormir que a gente se deita na cama. E a pessoa que no dorme noite, que sofre de insnia habitual? A pessoa que sofre de insniahabitual aquela que sabe que no para dormir que a gente se deita, eque por isso no dorme mesmo. Efectivamente, todas as noites, olhando

    para a cama, ela pensa que vai passar, deitada nela, uma noite todesagradvel como a anterior. Assim pensando, todas as vezes, as noites,

    para ela, se sucedem e se assemelham, contrariamente aos dias que,segundo diz o provrbio, sucedem-se mas no se parecem.

    A ideia da crise da asma determina essa crise. Por exemplo: umasmtico acorda de manh, absolutamente satisfeito e disposto. Passou

    uma noite magnfica, sem ter tido necessidade de queimar, como decostume, p X..... nem fumar cigarros Z..... Como no seu quarto h poucaclaridade, vai janela e corre a cortina. Ento avista, atravs da vidraa,uma cerrao espessa como as de Londres. A expresso do seu rosto logose transforma, a respirao foge e uma terrvel crise de asma se manifesta.Foi por ventura, propriamente, a cerrao que determinou esta crise? No.A cerrao j existia, havia muito tempo, sem que causasse nenhum efeito.A crise irrompeu, somente, depois que o doente a viu, pois que, convmsaber, todo asmtico que se respeita h de ter a sua crise nas ocasies denevoeiro.

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    A ideia de crise nervosa determina essa crise. Creio mesmo poderdizer, sem receio de errar, que parte os epilpticos (e ainda assim), as

    pessoas sujeitas a crises nervosas s tiveram uma crise nervosa verdadeira,

    isto , a primeira. Todas as demais so ocasionadas por elas prprias.

    Eis como explico isso, e creio que a verdade est comigo: A primeira crise sempre determinada por um choque fsico ou moral.Passada essa primeira crise, o doente diz infalivelmente: Contanto queisto no me volte mais. No sei se tereis feito esta observao: cada vezque uma pessoa diz: contanto que... , com relao a um assunto que lhediz respeito, consegue, justamente, o contrrio daquilo que deseja. Se, porexemplo, dizeis: Contanto que eu durma bem esta noite!, podeis tercerteza de que passareis uma noite em claro. Embora l fora esteja gelando,sereis obrigado a sair. Se pensais l convosco: Contanto que eu no

    caia!, antes de dar quarenta passos caireis em cheio ao solo!

    Nestas condies, a crise, fatalmente, se reproduzir. Se a pessoaguarda o nmero de dias decorridos entre a primeira e a segunda crise,digamos uns quinze dias, dir consigo mesma, passada esta ltima crise:Contanto que isso no se repita nestes quinze dias! No fim de quinzedias a crise reaparece, e assim, automaticamente, se repetir duas vezes porms, at a morte do enfermo, salvo se um acontecimento qualquer viermodificar o curso das coisas.

    Se ela no guardar o nmero de dias que transcorrem entre as duascrises, ao terminar a segunda, dir consigo: Contanto que isso no sereproduza! Naturalmente, a crise se repetir em poca no determinada:um dia, dois, uma semana, um ms depois, ou mais ainda. Em suma, essa

    pessoa tem uma espcie de espada de Dmocles suspensa sobre a cabea, aqual algumas vezes cai, contrariamente ao que se dava com a antiga, que seconservava, prudentemente, suspensa sobre a cabea daquele a quemameaava, sem nunca se desprender.

    A ideia de enxaqueca no dia do jantar para o qual fostes convidadas(refiro-me s senhoras), ou no dia do jantar para o qual convidastes

    algum, vos far ter enxaqueca no dia exacto do convite; no ser nem navspera, nem no dia seguinte, que tereis, mais, sim, exactamente no diamarcado.

    A ideia de gagueira faz a pessoa gaguejar; assim como a ideia domedo determina o medo etc.

    Direi mais que bastante pensar: Estou surdo, estou cego, estou paraltico, para ser surdo, cego ou paraltico. No quero dizer,naturalmente, que os surdos, os cegos, os paralticos o sejam por pensaremque o so, mas existe um certo nmero de pessoas que o so, unicamente,

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    porque o julgam ser. Com essa casta de gente que se do os pseudo-milagres que, frequentemente, se verificam em minha casa. Se a genteconsegue convencer a essa espcie de paralticos que eles vo andar,

    observa-se que o surdo ouve, o cego v e o paraltico anda.

    No so to raros tais casos, como se poderia imaginar,principalmente em matria de surdez. Minha experincia, de todos os dias,demostra-me que a metade das pessoas que no ouvem so surdas porconvico. Dentre centenas de casos, eis alguns deles:

    Um dia, uma senhora inglesa vem consultar-me sobre a sua surdez.Usava um aparelho em cada ouvido e, apesar disso (ou talvez por causados aparelhos!), ouvia muito mal. No dia seguinte, volta sem os taisaparelhos, ouvindo muito bem.

    Est claro que se trata de um caso absolutamente psquico. Sehouvesse leses nos ouvidos, seria materialmente impossvel que, num dia,se curassem.

    De outra feita, uma boa mulher do campo vem procurar-me porsofrer de enfisema. Ao chegar para a quarta sesso, diz-me: Deu-secomigo uma coisa interessante, senhor Cou: h dezasseis anos que eu noouvia no ouvido esquerdo, mas, ontem noite, notei que ouvia desteouvido to bem como do outro. E ela continuou ouvindo.

    Outro caso: Por ocasio da minha segunda viagem Amrica,hospedei-me em casa de um dos meus amigos e, noite, algumas pessoasvieram ver-me. Entre elas estava uma senhora que, desde muitos anos, noouvia, absolutamente, de um dos ouvidos. Terminada a sesso, que fiz paraas pessoas presentes, essa senhora estava ouvindo muito bem.

    No dia seguinte, parti de Nova Iorque a fim de fazer uma excurso,que durou cinquenta e seis dias. De regresso, hospedei-me ainda, em casado meu amigo e, noite, as mesmas pessoas vieram de novo falar-me. Adama surda achava-se, naturalmente, entre elas. Fui informado de que,

    durante os trs dias seguintes ao da minha partida, ela ouvira muito bem,mas que, do quarto dia em diante, deixara de ouvir. Assim que me dirigi aela, novamente comeou a ouvir.

    De passagem por Florena, no Instituto Britnico, onde eu faziauma conferncia, encontrava-se um jovem ingls que, durante a guerra,fora ferido na cabea. Desde o dia em que recebeu o ferimento, ficoucompletamente surdo do ouvido direito. Aproximando-me desse lado, fi-lotapar o outro ouvido com o dedo mnimo e gritei bem alto: Estais-meouvindo? Ele respondeu: Sim. Afastei-me um pouco e fiz a mesma

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    coisa. Ouviu-me ainda, perfeitamente, a um metro e meio de distncia,mais ou menos. Da para mais a percepo dos sons no era mais ntida.

    Recomecei, ento, a experincia e, desta vez, s a trs metros dedistncia que deixou de me ouvir. A terceira experincia foi coroada comum completo sucesso: Ele me ouvia de qualquer distncia. To admiradoficou com esse resultado, que no parava de repetir, levantando os braos:Its extraordinary, its extraordinary etc.... Esse foi ainda um caso desurdez psquica, provavelmente, em consequncia de uma surdez real. muito provvel que a ferida recebida na cabea haja determinado as lesesque causaram a surdez real. Aos poucos essas leses sararam e averdadeira surdez foi, progressivamente, desaparecendo. Entretanto, comoo rapaz continuava se julgando surdo, era-o efectivamente. Afinal, a suaverdadeira surdez acabou completamente, ficando, porm, uma surdez

    psquica, que lhe durou at o momento em que o encontrei.

    Em Nancy, apresentou-se-me um caso muito original de cegueira.Veio minha casa, sob recomendao de pessoa amiga, uma moa de 25anos, porque estava completamente cega da vista esquerda, desde a idadede 3 anos. Esse olho no tinha a mnima sensao de sombra, nem de luz.Imediatamente depois da sesso, essa moa pde ver.

    Naturalmente, todos os presentes viram, nessa cura, to rpida, arealizao de um milagre. Quanto a mim, procurei o segredo desse milagree encontrei-o, desaparecendo este porque no passava de um pseudo-milagre. Eis a explicao: A referida moa, na idade de 2 anos, sofreu umamolstia muito grave no olho esquerdo, curando-se ao cabo de um ano.Durante todo esse tempo, conservou uma venda sobre a vista esquerda,que, privada de enxergar pelo espao de um ano, habituo-se a no ver, eguardou esse hbito at ao momento em que veio procurar-me.

    Fiz-lhe a sugesto, dizendo-lhe que as leses, que por venturativesse, iriam pouco a pouco desaparecendo enquanto ela iria enxergandocada vez mais e, que uma vez curada dessas leses, veria perfeitamente

    bem. Como no havia leso alguma, viu imediatamente.

    Sou levado a crer que, se ela no tivesse me procurado, ficariacompletamente cega pela auto-sugesto. Realmente, quando me fez a sua

    primeira visita, comunicou-me que, no tempo em que estudava piano,quase no podia ver as notas.

    Devo dizer mais que essa moa tinha um ligeiro bcio exoftlmicoo qual, pelo emprego contnuo da auto-sugesto, desapareceu bemdepressa.

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    Outro caso anlogo, e no menos curioso, sucedeu com uma joveminglesa que, h algum tempo, veio procurar-me. Quando chegou minhacasa, mal enxergava para caminhar. Logo depois da primeira sesso, pde

    ver, como aconteceu com a senhorita X..., no s o suficiente para dirigiros seus passos, como tambm o necessrio para ler um jornal.

    Esse pseudo-milagre explica-se com a mesma facilidade que oanterior. Oito anos antes, essa moa, tendo sofrido uma molstia nos olhos,

    procurou um mdico especialista. Este, sem dvida, proferiu algumas palavras imprudentes, que a fizeram pensar que ficaria cega. O resultadodesta auto-sugesto no demorou a manifestar-se e, pouco a pouco, a vistada jovem foi enfraquecendo, at o ponto, conforme acabo de vos dizer, demal poder andar na rua. Uma sugesto idntica que fiz no primeiro casocitado, imediatamente operou a cura.

    Em Paris, observei um caso muito notvel de paralisia. Ao primeiroandar de uma casa, onde eu dava uma sesso, trouxeram-me uma mulherque, havia quinze meses, estava completamente hemiplgica. Era-lheimpossvel fazer o menor movimento do lado enfermo. Logo depois dasesso, ela se levantou da cadeira e ps-se a andar, normalmente, movendoo brao paraltico, como se nunca o tivesse deixado de mover.

    bem fcil a explicao desta cura repentina. Quinze meses antes,essa mulher sofrera, indubitavelmente, uma congesto cerebral, que lhecausara uma paralisia real. Como acontece, frequentemente, em tais casos,aos poucos as leses foram desaparecendo, e, na mesma proporo, a

    paralisia verdadeira diminua. Continuando, porm, a doente a pensar:estou paraltica, permanecia sempre no mesmo estado. Em seguida,como as leses foram curadas completamente, a paralisia real desapareceu,mas a pessoa, julgando sempre estar paraltica, continuava no mesmoestado em que ficou no dia do acidente.

    Desde que no havia mais leses a curar, a sugesto de que iriadesaparecer a paralisia assim que as leses tambm desaparecessem, trouxeum resultado sbito.

    Eis ainda alguns casos de molstias incurveis que obtiverammelhorias em propores inacreditveis. O primeiro se deu com a senhoraX..., de Nova Iorque. Assim que chegou, remeteu-me ela uma carta do seumdico, concebida mais ou menos no seguinte teor: Caro senhor, meuscolegas e eu fizemos todo o possvel para que a senhora X... conseguissemelhorar de sade, pois sofria de esclerose mltipla, mas foi em vo.Espero que o senhor seja mais feliz do que ns. Essa senhora entrou emminha casa ajudada do lado esquerdo pelo marido e do lado direito apoiadanuma bengala. intil dizer que caminhava com a maior dificuldade. Nofim de quinze dias, a senhora X... podia atravessar o meu jardim sem

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    auxlio da bengala. Apenas a sua marcha era ainda um pouco dura. H doisanos que vem se mantendo neste estado.

    O segundo caso ocorreu com uma senhora de Haarlem, a quem viem presena do seu mdico. Como no caso precedente, tratava-se de umaesclerose mltipla. Quando entrei no quarto dela, encontrei-a estendidanum div, do qual saa somente de noite para deitar-se na cama, de ondemuito penosamente, pala manh, ia para o div auxiliada por duas pessoas,que a seguravam direita e esquerda. Rapidamente, expliquei-lhe omtodo e obtive, dentro de alguns minutos, que ela caminhasse de um lado

    para outro, apoiando-se, apenas, no meu indicador direito. No somentepde caminhar como tambm subir e descer uma escada a passos largos.

    Algum tempo depois, eu recebia uma carta da me dela,

    informando-me que, no dia imediato de minha visita, a jovem senhorasubira, sozinha, ao andar superior da casa, para ver o quarto dos seusfilhos, onde, havia onze meses, no ia, e que, no segundo dia, descera sala de jantar, a fim de fazer a sua refeio, em companhia dos seus pais.

    Ao cabo de dois meses, a doente mesma escrevia-me paracomunicar-me que continuava melhorando e tinha podido sair e fazervisitas. Mal pude reconhec-la, este ano, por ocasio da minha segundaviagem Holanda. minha chegada, levantou-se para vir-me ao encontro.

    Notei que o seu andar poderia ser inteiramente normal, se lhe no tivesseficado uma pequena dureza nas pernas.

    O terceiro caso de uma ataxia num homem de 50 anos de idade.Com a maior dificuldade subiu, auxiliado pela mulher, os poucos degrausda minha escada. Havia certo tempo que os esfncteres no funcionavammais.

    A partir da primeira sesso, os esfncteres recomearam a funcionare, aos poucos, esse homem foi ficando em condies de andar quasenormalmente, a ponto de mal poder notar-se que era atxico.

    O ltimo caso tambm de ataxia, verificado antes da guerra, emum homem de cerca de 45 anos; tinha o andar habitual dos atxicos eviolentas dores de cabea, que desapareceram bem depressa.

    O andar do doente melhorou rapidamente. Ao cabo de um ms, no precisou mais servi-se da bengala e, algum tempo depois andava,facilmente, orla de um lago assim como dava, alegremente, um passeiode uma dezena de quilmetros.

    Essas melhoras, quase miraculosas, so facilmente explicadas daseguinte maneira: preciso notar que todo doente tem duas doenas: a

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    doena real, para a qual podemos dar o coeficiente 1, e a doena psquica,que se enxerta na primeira, e cujo coeficiente varia de 1 a 5, 10 ou mesmomais.

    Digamos, por hiptese, que, nos casos anteriormente narrados, adoena real era representada por 1, e a doena psquica por 9. Graas sugesto e auto-sugesto, a doena psquica desapareceu mais ou menosdepressa, ficando, apenas, a verdadeira molstia, isto , um dcimo dototal.

    Qual a concluso que tiramos desse primeiro princpio? Ei-la: Setoda ideia, que temos no esprito (quero dizer no inconsciente), se torna

    para ns uma realidade no domnio da possibilidade e, estando doentes,trazemos no esprito a ideia de cura, esta se torna real no domnio da

    possibilidade, isto , se ela possvel, realiza-se; se no naturalmente,no se realizar. Neste ltimo caso, porm, obter-se- toda a melhoriahumanamente possvel de obter, o que j muito vantajoso, quando a curacom frequncia considerada sem probabilidade.

    Vejamos ainda alguma cartas, que me foram dirigidas, as quaismostrar-vos-o o que capaz de fazer a auto-sugesto:

    Primeira carta: H trs anos, aproximadamente, eu sofria,frequentemente, de grandes dores de cabea, que atribua m digesto.

    No dia em que me sentia atacada, no tomava alimento nenhum, julgandoque isso me traria alvio.

    Esse modo de proceder resultou, para mim, muna grande fraquezados nervos e, durante todo o ms de dezembro de 1924, conheci aneurastenia, com todo o seu horroroso cortejo.

    Mas, a partir da primeira semana, em que comecei a por em prticao vosso mtodo, a digesto fez-se perfeitamente, e aos poucos, os meus

    padecimentos morais se dissiparam.Considero-me quase curada, desde os primeiro dias de fevereiro.

    D..., Roanne

    Segunda carta: Consegui, eu mesma, curar-me pelo vossomtodo, h quatro anos, de uma metrite, que, at agora, no reapareceu,

    pelo que vos serei agradecida toda a minha vida. Rogo-vos etc.

    V, Verdun

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    Terceira carta: Tomo a liberdade de enviar-vos, de longe um bom dia. Sou a pessoa que estava sofrendo de um mal no joelho, haviaonze anos, e que no podia quase andar.

    Faz hoje trs semanas que fui vossa casa pela primeira vez.Fizestes-me andar e ainda mais, fizestes-me correr. Agora corro maisactivamente ainda, pois tive, ontem, a ousadia de ir a Ribeauville e, estamanh, fui a Saint-Ulrich e voltei.

    Parece que estou mergulhada num profundo sonho.

    J. B.

    O medicamento um maravilhoso veculode sugesto

    No quero dizer que se deixem de tomar os medicamentos recitadospelos mdicos, ou de obedecer ao tratamento por ele ordenado, quando se pe em prtica a auto-sugesto por mim aconselhada. Com efeito, achoque, independentemente do valor teraputico real, que possa ter, o remdio um maravilhoso veculo de sugesto. Quero mesmo ir alm: minhaopinio que o mdico presta servio ao seu doente, receitando-lheremdios, mesmo que os no julgue necessrios pois que a poo, o p, acpsula que o deve curar, porquanto, em geral, o doente faz pouco casodos conselhos de higiene que se lhe possam dar.

    Acho tambm que os medicamentos formulados pelo prpriomdico exercem mais aco sobre o doente do que os remdiosespecializados, que muitas vezes, no tem real valor e nos quais o pacienteno deposita a mesma confiana que tem naqueles que o mdico formula,

    pessoalmente. Sobretudo, se lhe explica, verbalmente e minuciosamente, omodo de us-los, o seu efeito ser ainda maior.

    Portanto, longe de considerar a auto-sugesto e a medicina como

    rivais, o que, infelizmente, muitas vezes acontece, mister, ao contrrio,consider-las boas amigas, que, em vez de serem incompatveis, devem sedar as mo, reciprocamente, e se completarem uma a outra. Um dos meusmaiores desejos, um dos meus pontos visados conseguir a incluso doestudo obrigatrio da sugesto e da auto-sugesto, nos programas dasescolas de medicina, no s em Frana como tambm no estrangeiro, paramaior utilidade da profisso de mdico, que dispor de mais uma arma nocombate contra a molstia e, sobretudo, para o maior bem dos doentes.

    A falta desse ensinamento lamentvel, porque, se comparamoscada um de ns com um automvel, cujo o corpo a carrosserie e cujo

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    esprito o motor, notaremos que nas escolas os estudantes aprendem acuidar do corpo, isto , da carrosserie, mas ignoram o esprito ou, poroutra, o motor. De maneira que, se se verificar um desarranjo no motor e

    este, por si mesmo, no se consertar, o veculo no poder mais mover-se.Se, porm, os estudantes soubessem, igualmente, cuidar do esprito, isto ,do motor, fariam o veculo facilmente pr-se em marcha.

    A imaginao, a primeira faculdade dohomem

    O segundo princpio, sobre o qual se baseia a minha teoria, o queadiante vou expor. Rogo-vos dispensardes toda a vossa ateno a esse

    princpio, que faz diferenciar o meu de todos os outros mtodos, e que lhe permite obter resultados rpidos e inesperados, nos casos em que outrostratamentos falharam, durante longos anos. Podemos formul-lo assim:Contrariamente ao que nos ensinam e por conseguinte acreditamos, avontade no a primeira faculdade do homem, mas, sim, a imaginao.Efectivamente, toda a vez que se d conflito entre essa duas faculdades, aimaginao sempre vencedora; e toda vez que nos encontramos nesteestado de esprito, infelizmente, para ns, muito frequente: Quero fazer talcoisa, mas no a posso fazer, no somente no fazemos o que queremos,como tambm fazemos o contrrio daquilo que queremos e quanto maistemos vontade, mais fazemos o contrrio do que queremos.

    Tenho certeza de que minha afirmao, para muitos dentre vs,parece mais um paradoxo. Entretanto, a minha ideia no nova, e, antes demim, outros a manifestaram, sem, todavia, afirmarem-na tocategoricamente como eu o fao.

    So Paulo, por exemplo, disse: O bem que eu queria fazer no ofao, mas fao o mal que eu no quereria fazer, isto , quero fazer o bem,

    mas fao o mal; quanto mais quero fazer o bem, tanto mais fao o mal.O poeta Ovdio tambm anunciou a mesma ideia, por intermdio de

    uma das personagens que ele ps em cena, fazendo-a dizer: Vdeomeliora probaqui, atque deterioro sequor. (Vejo o que de melhor tenho afazer e experimento faz-lo, mas fao o contrrio.)

    Para vos provar que tenho razo, vou citar-vos alguns exemplos defatos, muito simples, tirados da vida corrente; os quais vemos todos os diassem, entretanto, os sabermos apreciar.

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    Lembrai-vos deNewton. Um dia, achava-se ele deitado debaixo deuma macieira, na poca da maturao. Pensava, dormia ou descansava,

    pouco importa. O fato que, de repente, cai-lhe no rosto uma ma. Ele

    reflectiu sobre esse fenmeno e, das suas reflexes, nasceu a descoberta dagravitao universal.

    Certamente, concordais comigo nisso, que a ma, que caiu sobre orosto de Newton, no foi a primeira que caiu de uma macieira, desde queexistem macieiras sobre a terra. Caram milhares, milhes, bilhes, eningum, at aquele momento, soubera apreciar o fenmeno, isto ,ningum soube tirar as consequncias que ele permitia.

    A mesma coisa se deu comDenis Papin. Certo dia, aquecia ele os ps na lareira. Pendia da gramalheira uma panela coberta contendo gua

    em ebulio. Papin observava que, de vez em quando, a tampa se erguia,fazendo um rudo crepitante, ao mesmo tempo que um jacto de vapor seescapava, sibilando, L dentro h uma fora, exclamou ele. E, a essesimples reparo de um observador, que devemos os navios a vapor e oscaminhos de ferro.

    Efectivamente, claro que a tampa da panela no foi a primeira quese erguera, quando colocada sobre um vaso contendo gua fervente. No? Ningum, to pouco, soubera apreciar esse fenmeno.

    O mesmo acontece com aqueles que passo a citar.

    O primeiro a insnia. Se uma pessoa, que no dorme noite, noprocura conciliar o sono, certamente no dorme, mas fica na cama calma,tranquila, sem se mexer. Se tem a desdita de querer dormir, de esforar-se

    para dormir, quando mais o quer, quanto mais se esfora, tanto maissobreexcitada fica. Como se v, ela no faz exactamente o que quer, mas

    justamente, o contrrio, pois que procura o sono e, em vez deste, encontrao oposto, que a sobreexcitao.

    O segundo o esquecimento do nome de uma pessoa. Em certas

    ocasies acontece que, quanto mais procuramos nos lembrar do nome dasenhora senhora Tal, mais esse nome nos escapa memria. Se, aocabo de alguns instantes, deixamos de procurar lembrar-nos dele, semdemora, por si mesmo, ele nos vem lembrana. Considerando,atentamente, esse fato, analisando-o, verificamos que dois fenmenossucessivos o formam. Eis aqui como isso sucede: No decorrer de umaconversao, uma pessoa se interrompe para dizer: A propsito, estamanh encontrei com a senhora senhora e vacila para proferir onome. Essa hesitao d lugar a que lhe venha, imediatamente, estaideia: Esqueci. Como toda ideia que temos em mente, dentro do domnioda possibilidade, se torna uma coisa real, a ideia esqueci transforma-se em

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    realidade, sendo debalde, tanto quanto ela durar, tentar recordar-se donome, porque este lhe foge da memria.

    Em geral, passado algum tempo, desistis, dizendo-vos: Oh! Issome vir. Neste momento, a ideia esqueci desaparece, depois de ter sidoverdadeira, e fica substituda por esta outra: Isso me vir, a qual, por suavez, se torna verdadeira. Alguns momentos depois, a pessoa,interrompendo-se, novamente, exclama: Ah! sabe! a senhora X, aquem me queria referir. Depois recomeava a sua conversa.

    O terceiro o riso destemperado. Certas vezes, procuramos suster oriso e, quanto mais o tentamos, mais ainda nos rimos e tanto mais altoquanto mais o procuramos conter.

    Um aprendiz ciclista, quanto mais quer desviar-se do obstculocontra o qual tem receio de ir, mais directo ainda vai sobre ele. Quantomais quer o gago evitar de gaguejar, mais ainda gagueja. A pessoamedrosa, quanto mais quer dominar o medo, mais ainda o faz aumentar.

    Qual o estado de esprito das pessoas nestes diferentes casos: Querodormir, mas no posso; quero lembrar-me do nome da senhora Tal, masno posso; quero evitar de rir-me, mas no posso; quero deixar degaguejar, mas no posso; quero dominar o medo, mas no posso etc. ?

    Notais que sempre no posso, imaginao, que leva vantagemsobre posso, vontade. Portanto, se a imaginao leva vantagem sobre avontade, na luta de uma contra a outra, a imaginao a primeirafaculdade do homem, e no a vontade.

    Este facto pode parecer-vos sem importncia, porque odesconheceis: entretanto, a sua importncia enorme. Quando aconhecerdes e a souberdes aproveitar as consequncias que ela permite,sereis capazes de tornar-vos senhores de vs mesmos, fsica e moralmente.

    Demais, necessrio saberdes que, em cada um de ns, existem

    dois seres bem distintos um do outro. O primeiro o ser voluntrio econsciente que conhecemos, e que acreditamos ser quem nos dirige.Realmente, quase todos nos pensamos ser guiados pela nossa vontade, pelonosso Consciente. Mas, por trs desse primeiro agente, h um outro, oInconsciente ou Subconsciente, ao qual, pela boa razo de noconhecermos, no dispensamos ateno. Isto lamentvel, porquanto,tanto no ponto de vista fsico como no moral, ele que nos dirige.

    Como sempre bom dar uma prova daquilo que se enuncia, vou provar-vos o que acabo de dizer. Todos ns temos no corpo um certonmero de rgos, tais como o corao, o estmago, o fgado, os rins, o

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    bao, etc. Quem, de ns, por sua vontade, seria capaz de fazer um dessesrgos funcionar? Entretanto, eles funcionam de uma modo contnuo, nosomente de noite como de dia, enquanto o nosso consciente dorme,

    porquanto este adormece ao mesmo tempo que o corpo. Se eles funcionam, necessariamente, sob a influncia de uma fora. A fora que chamamoso Inconsciente ou o Subconsciente. Pois bem, assim como o Inconsciente

    preside ao funcionamento do nosso fsico, tambm preside ao do nosso sermoral.

    a seguinte a concluso a tirar desse segundo princpio: se o nossoInconsciente que nos conduz e se aprendemos a dirigi-lo, por seuintermdio aprendemos a nos guiar a ns mesmos.

    Para maior clareza, vou apresentar-vos uma comparao.

    Consideremos cada um de ns assentado em um carro atrelado a um cavaloe que, ao atrelarem esse animal, hajam esquecido de pr-lhe as rdeas,tendo-se-lhe, assim mesmo, dado uma chicotada. Naturalmente, pe-se aandar, mas em que direco? Sem dvida, ir onde quiser; para frente, direita, esquerda, para trs, como lhe convier. Como, porm, ele nosconduz na pequena carruagem que vai puxando, h de nos levar onde lheconvier ir, acontecendo, quase sempre, arrastar-nos por um caminho cheiode rodeiras, barrancos, tendo direita e esquerda uma vala mais oumenos grande, profunda e lamacenta, onde encontra meio de nos fazertombar.

    Se conseguirmos pr as rdeas nesse cavalo, os papis,imediatamente, mudam. Graas s rdeas, podemos gui-lo para ondedesejamos que ele v; e, se, desta vez, vamos por um caminho ruim,culpemos a ns mesmos, pois que a direco do cavalo depende,exclusivamente de ns.

    Meu papel consiste, unicamente, em mostrar-vos como se colocamas rdeas nesse cavalo, que no as tinha e como, graas a ele, podemosconduzir-nos como desejamos.

    uma coisa muito simples, na verdade, muito simples para sercompreendida primeira vista. Muitas vezes, acontece-me dizer aos meusouvintes: Se vos exponho uma coisa complicada, compreendeis, semdvida, muito melhor, ou por outra acreditais compreender melhor; masesta to simples que, ordinariamente, por causa de sua prpriasimplicidade, se torna difcil de discerni-la.

    chegada a ocasio de fazer algumas experincias destinadas ademostrar-vos a veracidade desses princpios. Rogo, portanto, a algunsdentre vs, que venham aqui perto, a fim de me ajudarem a faz-las.Observai bem que nestas experincias, no aquilo que digo o que se

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    realiza, mas sim o que a pessoa tem em mente. Se ela pensa, exactamente,como lhe peo, isso o que se realiza, mas se pensa o contrrio, ser ocontrrio que se realizar. No uso o hipnotismo, nem fao a sugesto, nem

    trato de forar pessoa alguma a fazer uma experincia, mas ensino a faz-lo, o que completamente diferente. Em suma, deveis vos consideraralunos e eu professor, que vos ensina a fazer, conscientemente, a auto-sugesto que, durante toda a vida, passais fazendo inconscientemente.

    Qual o meu intuito mandando-vos fazer essas experincias?Simplesmente demonstrar-vos que a ideia que temos em mente se tornauma realidade no domnio da possibilidade e que, desde que haja conflitoentre a vontade e a imaginao, sempre esta que vence.

    Portanto, qualquer que seja o resultado da experincia, tenho

    sempre razo, ainda que parea estar eu errado. Peo a um dos senhorescruzar as mos e apert-las, com energia, o quanto possvel, e que pense:Quero abrir as mos, mas no posso. Se noto que a pessoa quanto maistenta abrir as mos mais ainda as aperta, sei que pensou como deve ser, isto, no posso, conforme pedi, e tenho razo.

    Se, ao contrrio, vejo que ela as abre, porque pensou posso eainda tenho razo. (Nessa ocasio, fao com vrias pessoas a experinciadas mos cruzadas, dos punhos fechados, das mos comprimidas umacontra a outra, da mo enrijada etc., e peo-lhes que pensem: quero abriras mos, mas no posso, quero abrir o punho, mas no posso; queroseparar as mos, mas no posso etc., experincias que quase sempre so

    bem sucedidas).

    Se fao essas experincias negativas, diante de vos, para vosmostrar aquilo que no deveis fazer, e o que, todavia, passais uma grande

    parte da vossa vida fazendo. Todos aqui presentes, com excepo de umas pessoa (fao sempre excepo de uma pessoa, para que cada um possodizer consigo: sou eu essa pessoa), todos, pelo menos uma vez por dia,usam uma dessas expresses: difcil, impossvel, no posso, est alm dasminhas foras, no posso me abster de etc.

    Se acreditais no que digo, no useis nunca uma s dessasexpresses, porque o seu emprego vos faz pensar e, se pensais, o vosso

    pensamento se realiza, de sorte que a coisa mais simples do mundo se tornauma coisa impossvel.

    Todos vs, desta feita sem excepo, tendes encontrado no vossocaminho, vtimas de idntica auto-sugesto. Todos vs vistes pessoas queno podiam abrir ou fechar a mo, ou que andava com uma perna duracomo se fora de pau. Pois bem, assegurar-vos que, sobre cem pessoas queno podem executar o movimento que desejam, oitenta, seguramente, o

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    no podem somente porque pensam que no o podem e, neste estadoficaro toda a vida, se em seu caminho no encontrarem algum que lhesensine a pensar: posso.

    Concluso: Pensais sempre possoe nunca no posso.

    Aproveitais, todos, este conselho: no podeis imaginar que poderosa fora moral se acha contida nestas duas simples pequenaspalavras eu posso.

    E visto que vos estou dando conselhos, dar-vos-ei mais um que vospermitir realizar muitas coisas sem fadiga.

    Ei-lo: Quando tiveres de fazer uma coisa, formulai logo esta

    pergunta: ou no possvel? Se a razo vos responderno, no tenteisfaz-la, porque ser fatigar-vos inutilmente. Se a razo vos respondersim,dizei imediatamente a vs mesmos que fcil. Que acontecer ento? Seconsiderais essa coisa como fcil, ela se torna, realmente, fcil e, para faz-la, gastareis exactamente a quantidade de foras requerida. Se, porexemplo, vos forem precisos dez cntimos de fora, no gastareis onzecntimos.

    Se, ao contrrio, a considerais difcil, vinte ou quarenta vezes maisdo que na realidade , em vez de gastardes dez cntimos de fora, como nocaso precedente, despendereis dois ou quatro francos. Destarte, seconsidereis como difcil tudo aquilo que tendes a fazer, depressa chegareisao estafamento, ao passo que, se considerais o vosso trabalho como fcil, noite no vos sentireis cansados, como no vos sentis pela manh. A

    propsito, vou citar-vos uma comparao.

    Cada um de ns pode ser comparado a um reservatrio com umatorneira, na parte superior, destinada a ench-lo, e outra, de dimetro um

    pouco maior, na parte inferior. Se abrirmos as duas torneiras o reservatrioficar completamente vazio

    Mas, se tivermos o cuidado de conservar a torneira inferior fechada, pouco a pouco o reservatrio ficar cheio e, uma vez repleto, transbordaexactamente a quantidade que recebe em excesso, pela torneira superior.Pois bem, o segredo para a gente no se cansar consiste em conservarfechada a torneira inferior, e s usar a quantidade de fora que transborda.Essa quantidade nos ser suficiente, se soubermos dispor dela, se a nodesperdiarmos, isto , se no fizermos esforos desnecessrios.

    Observai que os melhores operrios so os que no fazem esforos.O trabalho parece facilmente deslizar entre as suas mos. Esses operrios

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    trabalham muito, seu trabalho bem feito e, ao fim do dia, no se sentemcansados.

    O operrio medocre, pelo contrrio, ainda que muitas vezes tenha boa vontade e se esforce, produz muito menos que os primeiros, o seutrabalho no to bem feito e, quando soa a hora da sada, sente-seaniquilado de fadiga.

    Portanto, trabalhai, sempre, sossegadamente e sem esforo. Imitai oboi que parece nada fazer e, entretanto, no fim do dia, tem uma soma detrabalho produzido.

    Ponho em prtica esse princpio e, graas a isso que, no obstanteos meus sessenta e oito anos de idade, em maro e abril de 1925 pude fazer

    uma excurso de trinta e cinco dias na Sua, durante a qual visitei trinta eduas cidades, tendo feito centenas de sesses e conferncias de cerca deduas horas cada uma.

    No ignorais que o campons, quando tenciona semear o campo,tem sempre o cuidado de lavr-lo. Por que? Porque sabe que se sedescuidar de tomar essa precauo, algumas sementes, apenas, poderogerminar, ao passo que, estando a terra lavrada, quase todas germinaro.Fao como o campons.

    Considero todos aqueles que me vm procurar, como sendo camposno cultivados, os quais cultivo dando-lhes as explicaes que vos dei em

    primeiro lugar e fazendo, em seguida, com cada um , uma dasexperincias, a que acabais de assistir. Uma s experincia suficiente,

    porque, quando se faz uma, podem fazer-se cem. Em tudo, quer no bem,quer no mal, o difcil dar o primeiro passo.

    Tenho a certeza de que, uma vez cultivados, brotar neles asemente e esta eu lano, dirigindo-lhes as seguintes palavras aproveitveisa todo o mundo: Vou pedir-vos para fechardes os olhos ao ouvirdes o quevou dizer, reabrindo-os somente quando vos avisar: Fechai os olhos e

    dizei, convenientemente, que todas as palavras que vou proferir vo fixar-se na vossa mente, gravar-se e incrustar-se nela, que devem nela ficarsempre gravadas, incrustadas e que, sem o quererdes, sem o saberdes, demodo inteiramente inconsciente da vossa parte, o vosso organismo e vsmesmos obedecereis.

    Como estas palavras so todas proferidas unicamente no vossointeresse, deveis aceit-las, adot-las e transform-las em auto-sugestes,que vos proporcionaro o gozo, no ponto de vista fsico como no ponto devista moral, de uma sade no s boa, mas ainda excelente, melhor do queesta que at agora tendes podido gozar.

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    Primeiramente, digo-vos que, a partir deste momento, vossasfunes fsicas executar-se-o cada vez melhor e, em particular ainda, asfunes do tubo digestivo, notavelmente as mais importantes.

    Regularmente, pois, trs vezes ao dia, de manh, ao meio-dia e de noite, naocasio das refeies, sentireis fome. No quero dizer uma fome brbara,doentia e aflitiva, que faz a gente sentir necessidade de precipitar-se sobreo alimento, como faz um co ou um gato sobre a carne. No, a fome queides sentir esta sensao agradvel que faz a pessoa pensar e dizer: Ah!

    pois vou comer com prazer! Nestas condies, comereis com prazer,mesmo com enorme satisfao, sem, entretanto, comer demais. Tereis,

    porm, cuidado de mastigar bem os vossos alimentos. Insisto, particularmente, neste ponto, porque quase ningum sabe comer.Geralmente, a pessoa pe o alimento na boca, d-lhe duas ou trs dentadas,engole-o e pensa ter comido. No isso, absolutamente. Comer pr o

    alimento na boca, mastig-lo muito tempo, lentamente, de maneira quefique transformado numa espcie de pasta mole, que se engole.

    Assim, a digesto se far cada vez melhor; sentireis menossensao de embarao, de indisposio, de dor, mesmo que por venturatenhais sofrido, algumas vezes, do estmago e dos intestinos.

    Se tendes o estmago dilatado, notareis que a dilatao irdesaparecendo, progressivamente. Aos poucos o vosso estmago vairecuperar a fora e a elasticidade perdidas e, proporo que forrecuperando essa elasticidade, ir voltando ao seu volume primitivo, eexecutar, cada vez com mais facilidade, os movimentos necessrios paradar passagem nos intestinos aso alimentos nele contidos, melhorando,assim, a digesto estomacal e a intestinal.

    Do mesmo modo, se sofreis de enterite, havereis de notar que essaenterite ir cedendo; a inflamao intestinal desaparecer,

    progressivamente, e as secrees e membranas que expelis iro,gradativamente, diminuindo, at ao dia em que desaparecerocompletamente, e a cura se ter realizado.

    Naturalmente, a digesto sendo bem feita, a assimilao far-se-igualmente bem; vosso organismo aproveitar todos os alimentos quereceber; dos quais servir para vos produzir sangue, msculo, fora,energia, em uma palavra, vida. Por conseguinte, ireis ficando, diariamente,cada vez mais forte e cada vez mais robusto. A sensao de fadiga efraqueza, que porventura sentis, vai desaparecer, pouco a pouco, para darlugar a uma sensao de fora e de robustez que, todos os dias, iraumentando cada vez mais.

    Se, portanto, tendes anemia, observareis que ela diminui cada dia.Vosso sangue se tornar cada vez mais rico, cada vez mais rubro, cada vez

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    mais generoso, retomar mais e mais, as qualidades de sangue de umapessoa que tem sade. Destarte, a vossa anemia desaparecer, lentamente,levando o squito de aborrecimentos