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II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA
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O DISTRITO COMO UNIDADE DE ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO RURAL E URBANO: o exemplo de Tapuirama (Uberlândia – MG)
Silma Rabelo Montes¹ Beatriz Ribeiro Soares²
Resumo Neste texto, discutimos a importância do distrito na organização territorial e econômica de um
município, que apesar de subordinado política e economicamente ao município contribue para
a organização do território rural e urbano do município. Nesse contexto, analisamos a
organização do território e a interação rural-urbano nos distritos do município de Uberlândia:
Miraporanga, Martinésia, Cruzeiro dos Peixotos e, especialmente, no distrito de Tapuirama.
No distrito de Tapuirama discutimos as mudanças no uso do solo e na organização
socioeconômica a partir do processo de modernização agrícola do município de Uberlândia e
da refuncionalização da rede urbana regional, tornando a cidade de Uberlândia um centro de
referência em toda a região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. Mostramos a influência
deste processo na organização do espaço no distrito de Tapuirama.
Palavras – chave: território – rural-urbano – distrito – Uberlândia – Tapuirama Introdução
O objetivo geral definido para esse artigo é analisar o papel dos distritos no processo de
organização do território rural e urbano de um município.
Analisamos inicialmente, a importância do distrito no estado do Minas Gerais e na
mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e finalmente, no município de Uberlândia,
após discutirmos as definições de município, cidade, distrito e vila.
A discussão sobre os distritos do município de Uberlândia: Miraporanga, Martinésia,
Cruzeiro dos Peixotos e principalmente, do distrito de Tapuirama é parte de nossa dissertação
de mestrado, que está sendo concluída.³
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Mostramos que o processo de estruturação socioeconômica e política de cada um dos
distritos do município de Uberlândia está estritamente ligado à realidade do próprio
município, pois os mesmos mantêm interações com o seu entorno rural e com o distrito sede.
As mudanças ocorridas na estrutura populacional e no modo de vida dos seus habitantes estão
diretamente relacionadas ao processo de modernização agrícola ocorrido no município e da
consolidação da cidade de Uberlândia como centro urbano de referência regional.
1 – Os distritos do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba: uma análise histórica e territorial
De acordo com dados coletados por Pinto (2003) existiam no Brasil, em 2000, 9.688
distritos, sendo 5.507 cidades, ou seja, distritos sedes e 4.181 vilas (sedes distritais).
Considerando-se a divisão administrativa por regiões, o Sudeste contribuía com 3.017
distritos, sendo 1.666 cidades e 1.351 vilas. Minas Gerais era e é o estado brasileiro que
possui o maior número de municípios e conseqüentemente, o maior número de distritos, com
um total de 1.568 distritos, sendo 853 cidades e 715 vilas ou sedes distritais.
O estado de Minas Gerais encontra-se dividido em 12 mesorregiões: Campo das
Vertentes, Central Mineira, Jequitinhonha, Metropolitana de Belo Horizonte, Noroeste de
Minas, Norte de Minas, Oeste de Minas, Sul/Sudoeste de Minas, Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba, Vale do Mucuri, Vale do Rio Doce e Zona da Mata. (Figura 1 e Tabela 1 a seguir).
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Figura 1 – Minas Gerais: mesorregiões geográficas
Tabela 1 – Minas Gerais: número de microrregiões, distritos e vilas por mesorregião – 2005
Mesorregião Microrregião Municípios Distritos Vilas Campo das Vertentes Central Mineira Jequitinhonha Metropolitana de Belo Horizonte Noroeste de Minas Norte de Minas Oeste de Minas Sul/Sudoeste de Minas Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba Vale do Mucuri Vale do Rio Doce Zona da Mata Total
3 3 5 8 2 7 5 10 7 2 7 7 66
36 30 51 105 19 89 44 146 66 23 102 142 853
70 53 99 223 40 175 66 203 120 42 222 267
1.580
34 23 48 118 21 86 22 57 54 19 120 125 727
Fonte: IBGE (2005) Organização: MONTES, S. R. (2006).
Como percebemos na tabela 1 destas mesorregiões, as que apresentam o maior número
de distritos são respectivamente, Zona da Mata, Metropolitana de Belo Horizonte, Vale do
Rio Doce e Sul/Sudoeste de Minas, pois a partes central, sul, leste e a zona da mata fazem
parte da região denominada por Bacelar (2003) e Pinto (2003) de região das “Minas” e
engloba vários municípios de pequena extensão territorial. Já as porções norte, noroeste e
oeste do estado de Minas Gerais abrangem um menor número de municípios e distritos
porém, os mesmos possuem extensões territoriais maiores. Os autores acima citados
denominam essas áreas de região dos “Gerais”. (Figura 2).
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Pinto (2003, p. 68) explica as causas das diferentes formas de ocupação das “Minas” e
das “Gerais”. A ocupação espacial das “Minas” esteve estritamente ligada à exploração do ouro e dos diamantes, que ditavam a formação dos núcleos urbanos. As pessoas aglomeravam-se e estabeleciam-se nas margens dos rios, de onde retiravam o ouro e os diamantes e, ainda, em locais propícios à ocupação e ao abastecimento das regiões das lavras. Desta forma, foi criado um intricado sistema de vilas e arraiais, próximos uns dos outros. Os caminhos e as estradas que foram surgindo a partir do século XVIII interligavam esses núcleos urbanos. Deste modo, percebe-se hoje, que a malha municipal das regiões sul, central e da zona da mata é mais intensa, sendo constituída por municípios de área territorial pequena e sendo muito próximos uns dos outros. Os “Gerais” foram desbravados pelas bandeiras e entradas paulistas, que rumavam em direção a Goiás e Mato Grosso. Essa região foi dividida em enormes sesmarias que, por sua vez, deram origem aos latifúndios, isto é, fazendas que ocupavam territórios imensos, o que acabou dificultando a formação de vilas e arraiais próximos uns dos outros. Assim, explica-se o por quê da malha municipal das regiões oeste, noroeste e norte ser menos intensa e constituída por municípios de área territorial maior.
O Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, com um total de 120 distritos, sendo 66 cidades e
54 vilas (Tabela 2), faz parte da região denominada de “Gerais” e formou-se a partir da
doação de sesmarias, originando-se grandes propriedades rurais, resultando-se em municípios
e conseqüentemente, em distritos de grande extensão territorial. A maior parte dos municípios
do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba possuem apenas o distrito sede. São 39 municípios
apenas com o distrito sede. Somente sete municípios possuem três ou mais distritos cada, a
exceção do distrito sede. Uberlândia encontra-se neste grupo com quatro distritos, além do
distrito sede.
Tabela 2 – Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba: número de municípios,
distritos e vilas por microrregião geográfica – 2005
Microrregião Nº de municípios Nº de distritos Nº de vilas Uberlândia 10 19 09
Uberaba 07 12 05 Ituiutaba 06 09 03
Figura 2 – As “Minas” e as “Gerais” Fonte: Bacelar (2003, p. 63).
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Frutal 12 18 06 Araxá 10 15 05
Patos de Minas 10 25 15 Patrocínio 11 22 11
Total 66 120 54 Fonte: IBGE/SIDRA (2005) Organização: MONTES, S. R. (2006)
Consideramos necessário apresentar as definições de município, cidade, distrito e vila.
Pinto (2003, p. 29) considera município como a menor unidade territorial brasileira com governo próprio, é formado pelo distrito-sede, onde acha-se localizada a cidade, que á a sede municipal e que leva o mesmo nome do município e, que corresponde à zona urbana municipal e; também pelo território ao seu entorno, a zona rural municipal, que pode ser dividida em distritos, cuja maior povoação recebe, geralmente, o nome de vila.
O município é portanto, o conjunto formado pela zona rural e pela zona urbana. De
acordo com Wanderley (2001, p. 4) levando-se em consideração o IBGE, é considerado como
rural “a população e domicílios recenseados em toda a área fora dos limites urbanos, inclusive
os aglomerados rurais de extensão urbana, os povoados e os núcleos” e como urbano “as
pessoas e os domicílios recenseados nas áreas urbanizadas ou não, correspondentes às cidades
(sedes municipais), às vilas (sedes distritais) ou às áreas urbanas isoladas”.
Apesar de alguns autores criticarem essa definição, administrativamente e legalmente
no Brasil, a sede municipal é designada de cidade, independente do número de habitantes que
tenha. Para muitos autores, cidade pode também ser considerada como centro urbano e, nesse
caso existiriam no Brasil muito mais cidades que as que existem, já que muitos núcleos
urbanos se desenvolveram e superam a própria sede do município mas, por não conseguirem
sua emancipação política continuam sendo apenas distritos de algum município.
O distrito é, portanto, uma subdivisão do município, que tem como sede, a vila. Ele não
tem autonomia administrativa e só pode ser criado por meio de lei municipal, porém,
obedecendo os requisitos exigidos pela lei estadual. Pinto (2003) denomina o distrito de
“embrião do Município” pois é o distrito que dá origem ao município através da emancipação
político-administrativa, ou seja, o ato pelo qual o distrito deixa de estar subordinado ao
município de origem e passa a constituir um novo município.
A sede do distrito, ou seja, a vila é considerada como urbana, pois no Brasil, a
localidade onde existe extensão de serviços públicos é considerada como urbana e este é o
caso das vilas dos distritos.
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Mas além da cidade e da vila, tanto o distrito sede como os outros distritos do município
possuem um entorno rural e isto complementa a configuração territorial e aprofunda as
relações rural-urbano num município e numa região.
2 – O município de Uberlândia e seus distritos: formação territorial e político-econômica
O município de Uberlândia localiza-se na mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba e possui uma área de 4.115.09 Km², sendo 3.896 Km² de área rural e 219,09 Km²
de área urbana. Possui o distrito sede e mais quatro distritos: Miraporanga, Martinésia,
Cruzeiro dos Peixotos e Tapuirama. (Figura 3).
Legenda:
1 - Área Urbana2 - Distrito Sede3 - Distrito de Martinésia4 - Distrito de Cruzeiro dos Peixotos5 - Distrito de Miraporanga6 - Distrito de Tapuirama
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5 6
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Fonte:
Autor:
Prefeitura Municipal de Uberlândia
Hélio Carlos Miranda de Oliveira
N.M.
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Figura 3 – Município de Uberlândia: divisão dos distritos – 2006 Fonte: Oliveira; Silva; Paula (2006, p. 78).
Alguns distritos do município de Uberlândia, como Miraporanga e Tapuirama, por
exemplo, são tão antigos quanto o distrito sede. O arraial de Santa Maria (atual Miraporanga)
surgiu quase na mesma época do arraial de São Pedro do Uberabinha (Uberlândia) e a fazenda
da Rocinha, que seria o ponto de origem do distrito de Tapuirama teria sua fundação na
mesma época das primeiras sesmarias, distribuídas no município de Uberlândia, inclusive na
área do distrito sede.
No entanto, desde a sua emancipação política, ou seja, desde que deixou de ser distrito
de Uberaba e tornou-se município, a força política e econômica de São Pedro do Uberabinha
(Uberlândia) sobrepõe-se sobre as demais áreas principalmente, sobre a vila do distrito de
Santa Maria, que naquele período possuía uma importância econômica maior que São Pedro
do Uberabinha, que , entretanto teve um declínio econômico e populacional, em função do
aumento da força política e econômica da já então cidade sede do município.
Os acontecimentos ocorridos nos anos posteriores como: a construção de ferrovia, de
pontes e rodovias, a construção de Brasília, os processos de modernização agrícola e de
urbanização, incentivaram ainda mais o fortalecimento da cidade de Uberlândia frente à área
rural do município, inclusive dos distritos e também em toda a região do Triângulo
Mineiro/Alto Paranaíba.
Desta forma, precisamos estudar a relação campo-cidade para entendermos a
importância econômica da cidade de Uberlândia e o declínio dos quatro distritos
principalmente, das vilas destes distritos.
Tomando como referência o número de domicílios e de habitantes urbanos e rurais da
cidade sede, do sub-distrito (entorno rural do distrito sede) e dos demais distritos podemos ter
uma noção do desenvolvimento socioeconômico dos mesmos e ver a relevância da cidade
sede em relação ao espaço rural. Na tabela 3 podemos verificar que o número de domicílios
existentes nos distritos, principalmente na vila dos mesmos é muito pequeno. A vila do
distrito de Miraporanga, por exemplo, possui apenas 38 domicílios. Em relação aos habitantes
a realidade não é muito diferente, pois os distritos apresentam um pequeno número de
habitantes, principalmente, os distritos de Martinésia e Cruzeiro dos Peixotos. A exceção do
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distrito de Tapuirama, esses habitantes concentram-se na área rural dos mesmos, destacando-
se Miraporanga, com 4.870 habitantes na área rural e apenas 115 na vila. Nesta tabela,
percebe-se a influência que a cidade de Uberlândia exerce sobre a área urbana e rural dos
distritos e como a proximidade física, o desenvolvimento socioeconômico e cultural da cidade
sede e também a modernização agrícola do município fez com que os habitantes rurais e até
das vilas (urbanos) se deslocassem para a cidade sede em busca de melhores oportunidades de
trabalho e estudo e melhores condições de vida.
Tabela 3 – Município de Uberlândia: dados populacionais e de domicílios, por distritos –
2000
Cidade / Sub-distrito e
distritos
Situação de
domicílio
Domicílios População
Urbano - 488.982 Distrito sede (cidade e
sub-distrito Rural - 3.074
Urbano 122 390 Cruzeiro dos Peixotos
Rural 256 786
Urbano 87 330 Martinésia
Rural 170 541
Urbano 38 115 Miraporanga
Rural 1.223 4.870
Urbano 435 1.596 Tapuirama
Rural 166 530 Fonte: IBGE (2000) – Dados obtidos no SEDUR (Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento Urbano). Organização: MONTES, S. R. (2006).
A redução da população rural e o processo de declínio socioeconômico dos distritos são
explicados pela refuncionalização dos centros urbanos em decorrência das transformações no
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campo, da industrialização planejada e das inovações tecnológicas impostas à economia
regional, o que levou à projeção de alguns centros urbanos, como é o caso de Uberlândia.
Como a cidade de Uberlândia consegue, através de seu poder hegemônico, exercer uma
forte influência em nível regional, em relação a seus distritos não seria diferente. É impossível
estudar a estrutura socioespacial e política dos distritos sem levar-se em conta o processo de
urbanização da cidade de Uberlândia e as mudanças que esta conseguiu provocar.
Assim, as múltiplas interações entre o rural e o urbano no município de Uberlândia foram marcadas pelo desenvolvimento capitalista, visto que a modernização agrícola favoreceu a concentração fundiária e a mecanização do campo contribuindo para a expulsão do pequeno agricultor e grande parte da mão-de-obra rural, que ampliou as desigualdades sociais no campo e conseqüentemente, levou ao crescimento urbano da cidade de Uberlândia devido ao seu poder político-econômico. (MONTES, SOARES, 2005, p. 8).
Mas devemos considerar que apesar de sofrer uma forte influência da cidade, os
distritos do município de Uberlândia são economicamente muito importantes para o
município. A área rural dos distritos, especialmente dos distritos de Miraporanga e
Tapuirama, onde desenvolveram-se mais intensamente as lavouras de soja e milho, contribui
para o desenvolvimento econômico do município. Além dessas culturas, desenvolve-se a
pecuária, principalmente leiteira, também nos distritos de Martinésia e Cruzeiro dos Peixotos.
Assim, reforça-se as relações de poder, não só políticas, mas especialmente, econômicas
do distrito sede em relação ao espaço rural, inclusive dos distritos. É por isso que em nível do
município de Uberlândia, no momento, é praticamente impossível que algum de seus distritos
emancipem-se do município, pois a força política e econômica que o mesmo mantêm sobre
esses distritos é muito grande e como a lei federal, através do emenda constitucional número
15, de 1996, agora prevê o plebiscito em todo o município e não mais apenas na área
interessada em emancipar-se, dificilmente haverá interesse do distrito sede de emancipar
algum de seus distritos.
3 – O distrito de Tapuirama: estudo de caso
O distrito de Tapuirama compreende uma área localizada a sudeste do município de
Uberlândia e inclui a parte rural e a vila (área urbana). O acesso à vila do mesmo é pela Br
452, uma rodovia pavimentada e bem conservada até o local.
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Os habitantes da vila do distrito são considerados estatisticamente, como urbanos, no
entanto, em nossa pesquisa detectamos que os mesmos sentem-se muito rurais do que
urbanos, uma vez que as suas relações de trabalho estão muito mais voltadas para o campo do
que para a cidade.
A área rural do distrito é beneficiada pelas condições naturais como o relevo plano; uma
rica rede hidrográfica, com a presença dos rios Araguari e Uberabinha, além de vários
córregos e ribeirões; o clima possui uma estação seca no inverno e uma estação chuvosa no
verão e o solo, que apesar de ácido, através da aplicação de corretivos, torna-se fértil. E com
isso a vegetação natural do cerrado está, aos poucos, sendo substituída por áreas de pastagens
e atualmente, principalmente pelas lavouras e milho e soja.
Com a modernização agrícola do município e conseqüentemente, do distrito de
Tapuirama, tivemos profundas mudanças no uso do solo na região do distrito.
Na década de 1970, apesar de já um pouco transformada, a área ainda mantinha grandes
extensões de cerrado, cerradinho, formações arbóreas, formações hidrófilas (vegetação de
várzea) e formações higrófilas (covoais). Porém, já existia a ação antrópica, com a presença
de áreas de pastagens e de reflorestamento. As áreas de lavouras ainda ocupavam pequenos
trechos.
Já no final da década de 1980, ocorreu uma diminuição da vegetação natural e um
crescimento das áreas de pastagens e de culturas temporárias. O reflorestamento ainda se
mantinha na mesma área da década anterior.
Nos últimos anos, ou seja, já no início do século XXI, percebemos mudanças nítidas no
uso do solo na região do distrito de Tapuirama. Ocorreu uma sensível diminuição das áreas de
pastagens e um grande aumento das áreas de lavouras temporárias principalmente, com o
cultivo de soja e milho. A área de reflorestamento foi substituída por lavouras.
Assim como no restante do município, também no distrito de Tapuirama, a
modernização agrícola permitiu a acumulação capitalista, favorecendo a concentração de
terras nas mãos de grandes proprietários e provocando o êxodo rural através da liberação de
mão-de-obra.
Em decorrência disso os pequenos proprietários, os trabalhadores rurais e os pequenos
arrendatários deixaram o campo e deslocaram-se para a cidade de Uberlândia ou para a vila
do distrito de Tapuirama e tornaram-se moradores urbanos e uma maioria continuou
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exercendo atividades rurais e é por isso que a grande parte da população do distrito é
constituída de trabalhadores rurais.
O distrito passou a exercer uma atração para trabalhadores rurais de outras regiões do
estado de Minas Gerais e até de outros estados como a Bahia, que se deslocaram para a vila
do distrito e se empregam em atividades rurais principalmente, na extração e resina. Esses
trabalhadores moram na vila e são, portanto, moradores urbanos, no entanto deslocam-se
diariamente para o campo, onde são trabalhadores rurais.
A importância das atividades rurais na área do distrito pode ser visualizada na figura 4,
que mostra a plantação de soja nas imediações do distrito. No primeiro plano percebe-se a
plantação de soja e no segundo plano, as construções da vila do distrito, o que demonstra
visualmente a interação campo-cidade na área do distrito.
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Figura 4 – Tapuirama: o rural e o urbano – 2006 Autora: MONTES, S. R. (2006).
Através das entrevistas aplicadas aos moradores do distrito de Tapuirama, os mesmos
enfatizam a importância econômica do distrito para o município de Uberlândia, através das
atividades agropecuárias. Esses mesmos habitantes apontam entre as suas expectativas para o
futuro do mesmo, que este venha a emancipar-se do município. Para eles, o distrito possui
riquezas econômicas que viabilizaria o processo de emancipação, mesmo que a longo prazo.
Entre as riquezas que poderiam gerar renda, apontadas pelos moradores estão
principalmente, a produção agropecuária e a exploração das riquezas naturais e culturais do
mesmo que, se bem organizadas poderiam gerar renda suficiente para a manutenção do
mesmo, até mesmo como município independente. Mas pelas questões históricas, políticas-
jurídicas e econômicas discutidas anteriormente neste texto, sabemos que este é um processo,
no momento, difícil de realizar-se.
Considerações finais
Pelo número de distritos que temos no Brasil, no estado de Minas Gerais e na
mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba podemos concluir que os mesmos são
muito importantes para o município onde se localizam.
Pela legislação vigente no estado de Minas Gerais e até no país, é complicado o
processo de emancipação política de distritos, o que torna ainda mais difícil, quando esses
distritos localizam-se em municípios que possuem uma importância política-econômica e
conseguem exercer uma influência muito grande sobre esses distritos. E esse é o caso dos
distritos do município de Uberlândia.
A modernização agrícola do município e o processo de urbanização da cidade de
Uberlândia reforçaram as relações de poder político e econômico sobre os distritos de
Miraporanga, Cruzeiro dos Peixotos, Martinésia e Tapuirama. Todavia, é importante destacar
que apesar do poder político e econômico que a cidade de Uberlândia exerce sobre os
distritos, os mesmos, principalmente o de Tapuirama, possuem riquezas econômicas
(agropecuária), naturais e culturais que poderiam ser melhor aproveitadas e gerar renda para o
próprio distrito e a longo prazo, viabilizar o seu processo de emancipação política.
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Notas
¹ - Mestranda do curso de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia ² - Profª Drª do curso de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia ³ - Dissertação de Mestrado de Silma Rabelo Montes, sob a orientação da Profª Drª Beatriz Ribeiro Soares, intitulada “Entre o campo e a cidade: as territorialidades do distrito de Tapuirama (Uberlândia – MG) – 1975 a 2005”. Referências
ARAÚJO, F.A.V. de. et al. Relações campo-cidade: estudo da dinâmica sócio-espacial do distrito Cruzeiro dos Peixotos em Uberlândia (MG). In: Simpósio Nacional de Geografia Agrária, III / Simpósio Internacional de Geografia Agrária, II / Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira, I.,2005, Presidente Prudente: UNESP, FCT, 2005. (mimeo). BACELAR, Winston K. de A. Os mitos do “Sertão” e do Triângulo Mineiro: as cidades de Estrela do Sul e Uberlândia nas teias da modernidade. 2003. 211f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2003. BRASIL, Constituição (1988). Disponível em: <http://www.senado.gov.br> Acesso em: jun. 2004. IBGE - Censo 2000. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br> Acesso em mai. 2005. IBGE/SIDRA – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge/sidra.gov.br> Acesso em: mai. 2005. MONTES, S. R., SOARES, B. R. Interação campo e cidade: algumas considerações sobre a realidade socioespacial do município de Uberlândia (MG) e seus distritos. In: ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISAS, I., 2005, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: NEGEF/UERJ, 2005, 1 CD –ROM. OLIVEIRA, Hélio Carlos Miranda de; SILVA, Renata Rastrelo e; PAULA, Dilma Andrade de. Entre o rural e o urbano: modos de vida no distrito de Cruzeiro dos Peixotos no município de Uberlândia (MG). In: SOARES, Beatriz Ribeiro; OLIVEIRA, Hélio Carlos Miranda de; MARRA, Thiago Batista. (Org.). Ensaios Geográficos. Uberlândia: PET Geografia. p. 73-92.
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PINTO, Georges José. Do sonho à realidade: Córrego Fundo – MG: Fragmentação territorial e criação de municípios de pequeno porte. 2003. 248 f. Dissertação ( Mestrado em Geografia) - Instituto de Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2003. SOARES, Beatriz Ribeiro. Uberlândia: da cidade Jardim ao Portal do Cerrado – imagens e representações do Triângulo Mineiro. 1995. 347 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1995. WANDERLEY, Maria de Nazareth B. Urbanização e ruralidade. Relações entre a pequena cidade e o mundo rural e estudo preliminar sobre os pequenos municípios em Pernambuco. Recife, 2001. Disponível em <http://www.ipese.com.br/manabawa>. Acesso em: 07 jul. 2003.